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A GRANJA | 67 SPD e produção de soja sustentável: quais os BENEFÍCIOS PLANTIO DIRETO Cid Sanches, consultor externo da RTRS no Brasil Gabriel Faria/Embrapa Agrosilvipastoril O sistema de plantio direto é uma técnica de cultivo conservacio- nista efetuada sem as etapas do preparo convencional. Dessa forma, é realizado o mínimo revolvimento do solo, cobertura permanente e rotação de culturas. No Brasil, todas as proprieda- des com certificação RTRS têm aderido ao sistema, uma vez que promove diversos benefícios aos produtores rurais – como redução do risco de erosão, menor custo de produção e desgaste do maquinário – e, ainda, promove o aumen- to da vida microbiológica no solo. Tam- bém proporciona o sequestro de carbo- no e a redução das emissões da proprie- dade, pois este fica incorporado na palha e plantas vivas no solo. O sistema de plantio direto promove a redução da erosão, que, por consequência, melhora a qualidade da água, diminuindo o assoreamento dos rios e nascentes, além de proporcionar o aumento da vida no solo. Inclusive, a maior parte da recarga dos aquíferos é feita dentro das fazendas que utilizam o sistema de plantio direto e que respeitam as legislações ambientais. Sendo assim, os produtores que mantêm o solo co- berto com palhas ou plantas vivas são capazes de conservar a água de dentro da própria propriedade. A principal diferença entre o plantio direto e o convencional é que, enquanto o primeiro não realiza nenhuma interven- ção, no segundo, o solo é preparado para receber a cultura, o que envolve o uso de implementos arados e grades para o revolvimento e a inversão das camadas, deixando o solo exposto às ações do tempo que promovem a erosão. Os be- nefícios da utilização do sistema de plantio direto estão totalmente relacionados aos ganhos que os produtores certificados Unir os benefícios da certificação com os do sistema de plantio direto é uma excelente ferramenta para expandir a rentabilidade da produção de soja

PLANTIO DIRETO SPD e produção de soja sustentável: quais

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Page 1: PLANTIO DIRETO SPD e produção de soja sustentável: quais

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SPD e produção de sojasustentável: quais os

BENEFÍCIOS

PLANTIO DIRETO

Cid Sanches, consultor externo da RTRS no Brasil

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O sistema de plantio direto é umatécnica de cultivo conservacio-nista efetuada sem as etapas do

preparo convencional. Dessa forma, érealizado o mínimo revolvimento do solo,cobertura permanente e rotação deculturas. No Brasil, todas as proprieda-des com certificação RTRS têm aderidoao sistema, uma vez que promovediversos benefícios aos produtores rurais– como redução do risco de erosão,menor custo de produção e desgaste domaquinário – e, ainda, promove o aumen-to da vida microbiológica no solo. Tam-bém proporciona o sequestro de carbo-no e a redução das emissões da proprie-dade, pois este fica incorporado na palhae plantas vivas no solo.

O sistema de plantio direto promovea redução da erosão, que, porconsequência, melhora a qualidade daágua, diminuindo o assoreamento dosrios e nascentes, além de proporcionaro aumento da vida no solo. Inclusive, amaior parte da recarga dos aquíferos éfeita dentro das fazendas que utilizam osistema de plantio direto e que respeitamas legislações ambientais. Sendo assim,os produtores que mantêm o solo co-berto com palhas ou plantas vivas sãocapazes de conservar a água de dentroda própria propriedade.

A principal diferença entre o plantiodireto e o convencional é que, enquantoo primeiro não realiza nenhuma interven-ção, no segundo, o solo é preparado parareceber a cultura, o que envolve o usode implementos arados e grades para orevolvimento e a inversão das camadas,deixando o solo exposto às ações dotempo que promovem a erosão. Os be-nefícios da utilização do sistema de plantiodireto estão totalmente relacionados aosganhos que os produtores certificados

Unir os benefícios dacertificação com os do sistema

de plantio direto é umaexcelente ferramenta para

expandir a rentabilidade daprodução de soja

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PLANTIO DIRETO

possuem, já que o padrão RTRS é uminstrumento que garante a produção desoja ambientalmente correta, socialmen-te justa, adotando práticas agrícolasapropriadas e economicamente viáveis.

Unir os benefícios da certificaçãocom os do sistema de plantio direto éuma excelente ferramenta para expandira rentabilidade da produção de soja. En-tretanto, gostaria de ressaltar que a cer-tificação é neutra e que propriedades querealizam plantio convencional tambémpodem ser certificadas, já que nossoprincipal objetivo é a gestão eficiente e asustentabilidade em todos os elos dacadeia. Somos uma plataforma global, enosso intuito é fazer com que cada vezmais produtores tenham conhecimentode nossa missão, que é garantir umaprodução de soja que siga todos os pre-ceitos de sustentabilidade.

O volume de soja produzidoatualmente, de acordo com os padrõesmais rigorosos, transparentes eholísticos em matéria de certificaçãoambiental e social, aumenta todos osanos, sem que a produção causequalquer desmatamento. Acreditamosque a oportunidade é enorme no Brasilcomo um mercado exigente. Inclusive,as fazendas de soja no País são maissustentáveis do que costumavam ser.Muitos agricultores da região do MatoGrosso, por exemplo, já cumpremdiversas normas, o que facilita amudança na certificação.

Produtores de Sorriso/MT: exem-plos de sustentabilidade — Sabemosque produtores rurais do mundo inteiroestão cada vez mais se preocupandocom questões ambientais e de respon-sabilidade social, seguindo princípiosbásicos, como as boas práticas no cam-po, os cuidados com o meio ambiente ea sustentabilidade. Com isso, tambémcresce o interesse em tornar suas pro-priedades certificadas pelo selo de pa-drão RTRS de produção.

A RTRS envolve personalidades queatuam em diferentes áreas, como pro-dutores, representantes da indústria,sociedade civil organizada e observado-res. Um desses protagonistas é o ClubeAmigos da Terra (CAT), localizado emSorriso/MT e que atua por meio do pro-jeto Gente que Produz e Preserva. Onúmero de fazendas certificadas nomunicípio vem crescendo a cada ano,com o compromisso firmado por pro-

dutores em produzir e, ao mesmo tem-po, preservar o meio ambiente. Atual-mente, o CAT conta com 26 fazendascertificadas, sendo que três delas en-traram neste ano. E já existem mais pro-priedades interessadas. Os vizinhos con-versam entre si e trocam informaçõessobre os benefícios da certificação, edespertam o interesse em certificar suaspropriedades também.

Os padrões que devem ser seguidossão implantados ao longo de três anos detrabalho junto à propriedade. Para obter acertificação, é necessário que o produtorse adapte, de forma gradual, a todas asexigências, como, por exemplo, boaspráticas empresariais e agrícolas,condições de trabalho e responsabilidadeambiental. O documento comprova queas propriedades atendem às demandas eàs tendências do mercado e da sociedadepor um produto diferenciado, fazendo comque todo processo tenha o menor impactosocioambiental possível, assegurandomelhores resultados financeiros aoprodutor e possibilitando melhorias nagestão da propriedade e nas práticasagrícolas, minimizando riscos de inciden-tes, de multas e de autuações por partedos órgãos ambientais e trabalhistas.

O acompanhamento da propriedadeno processo de certifica-ção é realizado de formaconjunta. A proprieda-de, geralmente, recebeequipes técnicas, e oCAT é responsável emreunir as informações e

passar para a certificadora. Os produto-res certificados pelo projeto Gente queProduz e Preserva contam que são inú-meras as vantagens de fazer parte desseseleto grupo. Uma dessas produtoras éJanete Missio, proprietária da Fazenda SãoFelipe, de 450 hectares, onde são produ-zidos soja, milho e feijão em rotatividade.Ela aponta que os benefícios dacertificação são muitos, sendo um dosprincipais se enquadrar no cumprimentoda legislação brasileira. E ressalta que aparte organizacional da propriedadetambém evoluiu muito, pois havia uma de-ficiência em relação à parte documental.

A produtora lembra que o início foiintenso e trabalhoso, mas já está na retafinal para completar todos os quesitosexigidos – como, por exemplo, o des-carte correto de embalagens dedefensivos e resíduos que sãoproduzidos na propriedade. Em relaçãoao lixo, ela já possuía um projeto dedescarte do material reciclável, e naparte de estopas, óleos e outros resíduosforam firmadas parcerias para adestinação correta. Os defensivostambém foram organizados em seus de-vidos lugares e dentro das normas exi-gidas, tanto na legislação brasileiraquanto para a RTRS.

Também localizadaem Sorriso, a FazendaSantana, de 1.460hectares, possui milhectares ocupados porsoja, milho e pasto parao gado, em sistema de

O SPD reduz a erosão,melhorando a qualidadeda água, o que diminui oassoreamento dos rios,além de proporcionar o

aumento da vida no solo

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integração lavoura--pecuária. A propri-etária e produtorarural, Dudy Paiva,comenta que a certi-ficação ajudou amanter em ordem afazenda e a obtermelhores resultados. Além de toda aorganização na parte física e docu-mental, o setor de recursos humanostambém passa por uma qualificaçãoprofissional, o que contribui para amelhoria no desempenho dasatividades. Os colaboradores das fa-zendas certificadas realizam cursos dequalificação em segurança do trabalho,ministrados por meio da parceria entreo Senar, o CAT e o sindicato rural.

O compromisso de trabalharem parceria faz parte dos princípiosbásicos da RTRS, unindo forças comoutras organizações, encontran-do novas formas de trabalhar einovando para avançarmos em direçãoa um futuro com 100% de soja res-ponsável. Acreditamos que o conhe-cimento e a utilização de tecnologiassão ferramentas para promover umaprodução sustentável, contribuindo

para que as expor-tações de soja res-ponsável aumentemno cenário interna-cional, que está cadavez mais rigorosoem relação à origeme à qualidade dos

produtos.Ao adquirir soja RTRS, uma em-

presa pode demonstrar seu interessee empenho em incentivar uma formade produção ambientalmenteadequada, socialmente correta eeconomicamente viável. Precisamos,agora, adentrar a próxima fase doprocesso de crescimento e desenvol-vimento. Além de gerar mais deman-da, principalmente na Europa, vamosfirmar ainda mais alianças estratégi-cas com governos, ONGs e marcasde consumo para fortalecer o apelo àresponsabilidade em todos os pontosda cadeia. Vamos apoiar forças-tarefanacionais e específicas em mercadosindividuais. Nosso desejo é continuartrabalhando para ser uma mesa-redonda que reúne todos os atores domundo da soja para discutir osassuntos que importam.

Produtora Janete Missio, emSorriso/MT, lembra que são

muitos os benefícios dacertificação, sobretudo por se

enquadrar no cumprimento dalegislação brasileira