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ano cinco | nº 29 | maio / junho 2012 | R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE www.plurale.com.br FOTO DE ISMAR INGBER - CALÇADÃO DA PRAIA DE COPACABANA (RJ) Edição Especial RIO + 20 ARTIGOS INÉDITOS ENSAIOS: AS BELEZAS DA CIDADE MARAVILHOSA DEPOIMENTOS: OS FILHOS DA ECO92

plurale em revista ed.29

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ano cinco | nº 29 | maio / junho 2012 | R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTEano cinco | nº 29 | maio / junho 2012 | R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

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Edição Especial • RIO+20ARTIGOSINÉDITOS

ENSAIOS: AS BELEZAS DA CIDADE MARAVILHOSA

DEPOIMENTOS:OS FILHOS DA ECO92

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PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 20124 PLURALE EM REVISTA EM REVISTA EM REVISTA | Maio / Junho 20124

Editorial

Em 1992, quando cobrimos a Conferência das Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento, a cha-mada Eco-92, o mundo era outro. Computadores já existiam, é verdade que não com as facilidades que hoje temos, mas a Internet e todos os recursos de co-

nexão ainda engatinhavam.Quando os líderes globais estiverem reunidos no Riocentro,

na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sus-tentável (Rio+20), o cenário será bem diferente. Antes, nem se-quer se usava e praticava o conceito de sustentabilidade, agora arraigado e cobiçado por uma boa parte da sociedade. Houve sim alguns contratempos no processo de organização – como a disparada de tarifas hoteleiras e por conta de situações locais, foi confi rmada ausências de lideranças relevantes como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a primeira-ministra alemã, Angela Merckel.

Os resultados a serem esperados destes dias de Conferência não há mesmo como prever. Para os articuladores da Confe-rência, sejam representantes da ONU ou do Governo Brasileiro, que convocou e é anfi trião do evento, “é um sucesso desde já”. Ambientalistas, acadêmicos e representantes da sociedade civil se

preocupam com a falta de ambição no documento prévio apresen-tado e revelam baixas expectativas.

A urgência de diálogo e direcionamentos é mais do que claro. O planeta, hoje conectado, manda SOS. A fome, falta de saneamen-to básico e insumos mínimos para uma vida digna ainda assolam não só países mais carentes da África, mas também outras nações. A tsunami que matou tantos, metaforicamente no movimento de arrastar o que vê pela frente, também “arrastou” até mesmo econo-mias antes desenvolvidas, envoltas em crise econômica e fi nancei-ra. Que mundo é este? Para onde vamos? O que pode ser feito?

Para tentar delinear melhor este cenário, Plurale em revista preparou esta Edição Especial pela Rio+20. Trazemos artigos inéditos de especialistas, matérias também de fôlego e material de apoio para que nossos leitores possam acompanhar melhor estas rodadas de negociação e diálogo da sociedade civil.

Procuramos jovens na faixa de 20 anos que pudessem relatar suas expectativas para o futuro do planeta. Os fi lhos da Eco 92 mostraram-se preparados e engajados na causa socioambiental.

Confi ra as próximas páginas e confi ra a cobertura on-line atra-vés do portal Plurale em site (www.plurale.com.br). Boa leitura, juntos e conectados!

20 anos depois, um planeta conectado que emite SOS

Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista

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28.ONGS:

PROTAGONISMO SOCIAL PARA

FAZER A DIFERENÇA

Conte xto

PELO BRASIL

34

CARBONO E ENERGIA

64CINEMA VERDE

65

ESTANTE

60

24.OS FILHOSDA ECO 92

22. e 42.ENSAIOS

FOTOGRÁFICOS: O RIO PELAS LENTES DE ISMAR INGBER E

FERNANDO GONÇALVES

ARTIGOSINÉDITOS

32.

BAZAR ÉTICO10.

FOTO: ISMAR INGBER

FOTO: FERNANDO GONÇALVES

PROTAGONISMO

5

FOTO: PAULO LIMA

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DiretoresCarlos [email protected]ônia Araripe [email protected]

Plurale em site:www.plurale.com.brPlurale em site no twitter:http://twitter.com/pluraleemsite

Comercial

[email protected]

ArteSeeDesignMarcos Gomes e Marcelo Tristão

Fotografi aLuciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto);

Agência Brasil e Divulgação

Colaboradores nacionaisAna Cecília Vidaurre, Geraldo Samor,

Isabel Capaverde, Isabella Araripe

(estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima

e Sérgio Lutz

Colaboradores internacionaisAline Gatto Boueri (Buenos Aires),Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato(Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston)

Colaboraram nesta ediçãoAlana Gandra (Agência Brasil) Alexandra Lichtenberg, Alexandre Mansur (Revista Época), Alfredo Sirkis, André Trigueiro (TV Globo), Carolina Gonçalves (Agência Brasil), Cecília Corrêa, Christian Travassos, Edmilson Oliveira, Elizabeth Oliveira, Equipe IHU On-Line, Fernando Gonçalves, Ilan Goldfajn, Ismar Ingber, Jéssica Lipinski (Instituto Carbono Brasil), Lília Gianotti, Marcelo Pinto, Marcus Quintella, Matilde Silveira, Paulo Lima, Raquel Ribeiro, Romildo Guerrante, Rubens Harry Born e Verônica Couto.

Plurale é a uma publicaçãoda SA Comunicação Ltda(CNPJ 04980792/0001-69)Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certifi cado, proveniente de refl orestamentos certifi cados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais.

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

São Paulo | Alameda Barros, 122/152CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947

Os artigos só poderão ser reproduzidoscom autorização dos editores

© Copyright Plurale em Revista

c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

CartasQuem faz

Plurale em revista, Edição 28

“Agradeço o envio de exemplar de Plurale em revista. Receba meus cumprimentos. Atenciosamente, “Michel Temer, Vice-Presidente da República, Brasília (DF)

“Senhora Sônia, Acuso o recebimento e agradeço a gentileza do envio do exemplar da Edição de número 28 de Plurale em revista, Especial Água, que traz a matéria sobre a RPPN SESC Pantanal. Parabéns pela reportagem e belíssimas fotos. Na oportunidade reitero manifestações de distinta consideração. Cordialmente, Antônio Oliveira Santos, Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Rio de Janeiro (RJ)

“Foi um privilégio poder contribuir com Plurale em revista pela seriedade e a densidade com que ela traduz os seus artigos. Da mesma forma a diversidade dos temas e a qualidade dos seus colunistas mostram a realidade da questão ambiental no Brasil e no mundo. Obrigado pela oportunidade.”David Zee, Coordenador do Mestrado Profi ssional em Meio Ambiente da Universidade Veiga de Almeida

“Mais um belo número de Plurale em revista que vocês conseguiram consolidar (como me lembro do lançamento!). Está muito bom, como sempre, mas gostei do destaque da entrevista feita por Sônia Araripe que abre o número, com o oceanógrafo David Zee, na qual ele chama atenção para a importância decisiva de se dar mais prioridade aos cuidados de prevenção na exploração do pré-sal. Há uma euforia natural, mas o açodamento pode pôr tudo a perder. É uma exploração tecnicamente muito complicada e perigosa, e pode virar uma atividade maldita. Todo o cuidado é pouco; realmente, todo cuidado é pouco. Parabéns pelo alerta.”Roberto Saturnino Braga, escritor e ex-senador, Rio de Janeiro (RJ)

Excelente texto do Professor Luiz Antônio Gaulia, publicado na última edição de Plurale em revista. Mais uma vez esclarece que as relações internas devem ser pautadas pela transparência e a confi ança, através de processos de comunicação frequentes capazes de “hidratar” a organização de maneira saudável em todos os níveis hierárquicos. Parabéns à Plurale pela edição 28!Alessandro Monteiro, Rio de Janeiro (RJ)

“Adorei a matéria sobre água com status gourmet, de Letícia Koeler, publicada na Edição 28 de Plurale

em revista. Nunca tinha ouvido falar dessa variedade e que podíamos harmonizar água de qualidade com comida. Ótima sugestão!” Fernanda Galvão, Rio de Janeiro (RJ)

“Agradecemos a atenção e comprometimento dos gestores de Plurale em Revista na parceria fi rmarda com a Biblioteca do Campus CCTA/UFCG, quanto à disponibilização periódica dos exemplares para nossa Unidade de Informação. Salientamos a satisfação e gratidão pela contribuição que enriquece sobremaneira o acervo informacional da Biblioteca deste Campus.”Jacqueline de Castro Rimá, bibliotecária da Biblioteca Campus Pombal do Centro de Ciência e Tecnologia Agroalimentar, da Universidade Federal de Campina Grande (PB)

Adorei a nova edição da Revista Plurale. A edição especial sobre a água fi cou excelente estou utilizando em sala com meus alunos. Parabéns à toda equipe pelo belíssimo trabalho! Clara Portela, professora, Joinville (SC)

Edição 27

“Parabéns ao corpo editorial da Plurale pelo excelente trabalho que vem realizando ao longo destes anos e prestando um enorme serviço à sociedade brasileira. Atenciosamente,” Melicia Galdeano, pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Rio de Janeiro (RJ)

“Gostei muito de Plurale em revista, Edição 27. De tudo. Artigos inteligentes, informações atualizadas, ilustração limpa. Vocês conseguiram tratar de Sustentabilidade como um todo. Ela aparece de forma transversal, em temas específi cos ambientais e em temas socioculturais. Muito úteis as dicas de alimentação, também. Vou divulgar no meu humilde blog (www.guidapv.wordpress.com), com sua permissão. Forte abraço,”Fernando Guida, Secretário Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade de Niterói (RJ)

“Trabalhar para o Terceiro Setor parece algo utópico. Pensar que a sociedade civil se organiza para buscar alternativas para os problemas sociais dos quais o Estado não dá conta.O artigo da senhora Maria Elena Johannpeter, publicado na Edição 27 de Plurale em revista, é certo ao falar que estamos vivenciando uma nova realidade social. Os Valores Humanos que norteiam as ONGs e Entidades sem fi ns lucrativos já formam as bases dessas redes de engajamento cívico e ações de promoção humana. Não há desenvolvimento econômico ou político que consiga persistir sem que venha acompanhado de desenvolvimento social.”Débora Cabral, do Departamento de Comunicação e Treinamento Lar de Maria, Belém (PA)

Presidente da República,

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Frases

“A crise afeta os três pilares do desenvolvimento sustentável, o social, o ambiental e o fi nanceiro. Se a ideia é ter um mundo diferente, sob novos paradigmas, o efeito da crise contribui para a discussão de mudanças signifi cativas. A crise ajuda a pensar em alternativas”

Embaixador ANDRÉ CORRÊA DO LAGO, negociador-chefe do Governo Brasileiro na Rio + 20, sobre o impacto da crise em países desenvolvidos, em entrevista coletiva

“A Rio + 20 já é um sucesso.”IZABELLA TEIXEIRA, Ministra do Meio Ambiente, em entrevista coletiva, descartando a hipótese da ausência de alguns líderes globais, como Barack Obama e Ângela Merckel enfraquecer a Conferência

“A Rio+20 pode não fazer diferença se não avançar nos assuntos já tratados desde 1992”JOSÉ GOLDEMBERG, físico, professor da Universidade de São Paulo, em artigo

“O business as usual acabou”.

SÉRGIO BESSERMAN VIANNA, economista, principal articulador pela Prefeitura doRio na ConferênciaRio + 20, ementrevista à Veja

“O Rio recebe a Rio+20 mais preparado,passando menos vergonha do que passouem 1992. A Rio+20, como primeiro deuma série de grandes eventos – a Copadas Confederações (2013), aJornada Mundial da Juventude (2013), a Copa do Mundo (2014) e os JogosOlímpicos (2016) - é uma oportunidadede a gente receber bem, mas é um eventoque traz mais autoridades do que massa.”

EDUARDO PAES, Prefeito da cidade do Rio de Janeiro, em entrevista paraO Estado de S. Paulo

PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 20128

“É importante que cada país tenha espaço político para defi nir e perseguir o seu próprio caminho para uma economia verde. Mas há coisas que nós, como comunidade internacional, precisamos fazer juntos para nos colocar no caminho do desenvolvimento sustentável”

SHA ZUKANG, Secretário-Geral da Rio + 20 para a Folha de S. Paulo

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Bazar ético

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Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.

A graça do Rio embelas criações

O Rio de Janeiro respira e inspira moda. Artesãs ca-riocas têm ganho espaço no cada vez mais com-petitivo segmento de moda criada por cooperativas e ONGs a partir de material reciclado. Plurale em revista, nesta Edição Especial Rio + 20, apresenta

uma pequena, mas representativa, amostra desta diversidade tendo como tema pontos turísticos, cenas e toques que lem-brem este clima carioca descontraído. As artesãs da Rede Asta, impulsionada pela jovem Alice Freitas e equipe, apresentam a ecobag estampada com o Cristo Redentor e a escultura lem-brando o Bondinho do Pão de Açúcar. Da Providência, trouxe-mos bijuterias coloridas e divertidas, inspiradas na graça das garotas da Cidade Maravilhosa. A ONG Ressurgir mostra almo-fada para apoiar laptop com belo desenho da silhueta do Rio, assim como uma prática ecobag também temática. Outra boa notícia é que a Coopa-Roca, da Rocinha, uma das primeiras cooperativas a fazer esta linha direta da moda com o Terceiro Setor, abriu uma loja no afamado e luxuoso Shopping Fashion Mall, em São Conrado, bem próximo da comunidade. As almo-fadas bordadas em fi o de seda foram o item mais procurado, assim como as luminárias com crochê feito a que ilustra esta página. Vale conhecer o trabalho destas e de tantas outras em-preendedoras sociais carioca. Boas compras! É sempre bom lembrar que além de estar adquirindo um produto social, você está ajudando a gerar renda as artesãs de comunidades, que poderão se capacitar ainda mais.

brem este clima carioca descontraído. As artesãs da Rede Asta, impulsionada pela jovem Alice Freitas e equipe, apresentam a ecobag estampada com o Cristo Redentor e a escultura lem-brando o Bondinho do Pão de Açúcar. Da Providência, trouxe-mos bijuterias coloridas e divertidas, inspiradas na graça das garotas da Cidade Maravilhosa. A ONG Ressurgir mostra almo-fada para apoiar laptop com belo desenho da silhueta do Rio, assim como uma prática ecobag também temática. Outra boa notícia é que a Coopa-Roca, da Rocinha, uma das primeiras cooperativas a fazer esta linha direta da moda com o Terceiro Setor, abriu uma loja no afamado e luxuoso Shopping Fashion Mall, em São Conrado, bem próximo da comunidade. As almo-fadas bordadas em fi o de seda foram o item mais procurado, assim como as luminárias com crochê feito a que ilustra esta página. Vale conhecer o trabalho destas e de tantas outras em-preendedoras sociais carioca. Boas compras! É sempre bom lembrar que além de estar adquirindo um produto social, você está ajudando a gerar renda as artesãs de comunidades, que poderão se capacitar ainda mais.

REDE ASTAEcobag em jeans com detalhe em retalhos

do grupo Toque de Mão– R$ 89,90

PROVIDÊNCIAColar em miçangas e canutilhos coloridoR$ 65,00

RESSURGIRBandeja/almofada para apoiar laptopR$ 69,90

RESSURGIREcobag com Cristo pintada a mão R$ 25,00

COOPA-ROCALuminária de mesa, de 20 cm com crochê R$ 220 (cada)

REDE ASTAEscultura do Pão de Açúcar feita pelo grupo

produtivo Cerâmica Negra – R$ 55,00

Contatos:• ASTA – Site com loja virtual: www.asta.org.br

Lojas: Rua Mário Portela, 253, Laranjeiras, Zona SulRua Diacuí, 81 - Moema - São Paulo - Telefone: (21) 3217 9967

[email protected]• COOPA- ROCA – Site com loja virtual: http://www.coopa-roca.org.br

[email protected] - Loja no Shopping Fashion Mall,2º andar, São Conrado, Zona Sul - Tel (21) 2259 2618

• PROVIDÊNCIA – Site com loja virtual: www.grifeprovidencia.org.brQuiosque no 4º piso do Shopping RioSul, Botafogo, Zona Sul

Tel: (21) 3257 2769• RESSURGIR – Site: http://www.ressurgir.org.br

Telefone (21) 2213-4440/ramal 30 ofi [email protected]

Quiosque no Metrô do Largo da Carioca (Centro) até 30 de Junho RESSURGIRBandeja/almofada para apoiar laptopR$ 69,90

Site com loja virtual: http://[email protected] - Loja no Shopping Fashion Mall,

Site com loja virtual: www.grifeprovidencia.org.br

Quiosque no Metrô do Largo da Carioca (Centro) até 30 de Junho RESSURGIRBandeja/almofada para apoiar laptop

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COOPA-ROCACOOPA-ROCALuminária de mesa, de 20 cm com crochê R$ 220 (cada)

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Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.

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Entrevista

GOVERNANÇA AMBIENTAL

GLOBAL: UMA DISCUSSÃO

PRECARIZADA

PEDRO ROBERTO

JACOBI, professor da USP

Da IHU On-Line

A governança ambiental global, um dos temas cen-trais que nortearão as discussões da Rio+20 no próximo mês, tem ganhado menos destaque nos debates que antecedem o evento, mas é tão ou mais importante que as discussões sobre a eco-

nomia verde para definir os rumos do planeta em relação às questões ambientais. “Se essa discussão não tomar outra forma, ainda viveremos uma situação de muita in-certeza”, diz o professor da Universidade de São Paulo – USP, Pedro Roberto Jacobi. E ressalta: “O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA não tem recursos nem estrutura suficiente para exercer um pa-pel norteador de políticas globais como, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde – OMS, a Organização Mundial do Comércio – OMC etc.”

Para ele, os chefes de Estados precisam se empenhar na formulação de uma governança ambiental global, pois, sem a defi nição de agenda política comum, é impossível projetar e defi nir alternativas planetárias para o meio ambiente. Na avaliação do pesquisador, as discussões sobre a governança global na Conferência Rio+20 serão prejudicadas pela não participação do presidente dos EUA, Barack Obama, e da chanceler da Alemanha, Ângela Merkel. “Na medida em que

os chefes de Estados entendem que não se torna necessária a vinda deles no encontro, desqualifi cam o evento. Obvia-mente esse é um elemento de frustração para o encontro, pois as justifi cativas deles não fi caram claras”, aponta na en-trevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line.

Jacobi destaca ainda que não existe uma receita para construir uma governança ambiental global, mas é preciso insistir neste projeto, já que a “experiência que se tem de governança global no caso da ONU tem se demonstrado extremamente frágil por conta das guerras e todos os dile-mas internacionais”. E dispara: “As grandes mudanças não acontecem a partir de eventos como a Rio+20. As grandes mudanças acontecem pela perseverança, pela consistência, pela visão mais democrática de debates e discussão ao longo dos anos, ao longo dos dias. Nesse sentido, é fundamental fortalecer as práticas educativas em todos os níveis”.

Pedro Roberto Jacobi é graduado em Ciências Sociais e Economia pela Universidade de São Paulo – USP, mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Graduate School of Design – Harvard University, e doutor em Sociologia pela USP, onde leciona atualmente. Jacobi e Sonia Maria Flores Gianesella são os organizadores da obra A sustentabilidade socioambiental: diversidade e cooperação (São Paulo: Anna-blume, 2012). O pesquisador também é um dos editores da revista eletrônica Ambiente & Sociedade.

PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 201212

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Confi ra a entrevista.

IHU On-Line – Que concepção ambiental se propõe na Rio+20, considerando os temas mais pertinentes da conferência: economia verde, erradicação da pobre-za e governança global? Propõem-se de fato mudanças para garantir a preservação do meio ambiente e o de-senvolvimento sustentável, ou a mercantilização da questão ambiental?

Pedro Roberto Jacobi – Diria que um pouco de tudo. A Rio+20 é um evento que curiosamente está acontecendo de uma forma na qual se verifi ca muita falta de informação sobre o evento em si e sua dinâmica. Isso acaba tendo um efeito psicológico de frustrações, pois não se sabe qual será o nível de participação da sociedade e nem os resultados que podem surgir.

Os temas a serem discutidos na Rio+20 dizem respeito à contemporaneidade e demandam discussão. Haverá, do meu ponto de vista, resultados que de certa forma estarão presentes tanto para agradar como para desagradar os parti-cipantes. É preciso entender que o lado econômico não pode ser desconsiderado dessa discussão. Ou seja, as organizações econômicas estão buscando novas formas de se posicionar no mercado. Então, temos de lidar com isso de uma forma muito concreta. Por outro lado, uma das grandes questões hoje é a capacidade que a sociedade civil tem de ampliar essas ques-tões além do momento que precede um evento. Ou seja, en-tre o antes e o depois, o que está acontecendo? Esse é um lado bastante frustrante porque, de certa forma, nós observamos que, do ponto de vista das transformações da lógica produtiva, a discussão não é colocada. Essa questão aparece muito mais numa abordagem associada ao papel da mudança vinculada com as ecoefi ciências, ou com a substituição de combustíveis fósseis por não fósseis, de petróleo por energias renováveis etc. Então, a essência das necessidades que as pessoas focadas no tema ambiental discutem – vinculadas inclusive ao consu-mo – é abordada de uma forma muito genérica e superfi cial.

Pessoalmente estou preparado para conviver com o avanço, mas também estou preparado para que haja pouco resultado nesse encontro. De todo modo, gostaria de ressal-tar que é fundamental que esses eventos aconteçam. Nós vi-vemos, depois de setembro de 2001, um processo de perda do multilateralismo. Por isso, o encontro em si é importante, independentemente do resultado de fortalecer debates pla-netários sobre temas que ainda poucas pessoas efetivamente estão sintonizadas, como mudar padrões de consumo, mudar a lógica produtiva etc.

– Em que sentido o senhor percebe que há falta de in-formação acerca da Rio+20? Refere-se no sentido de que muitos não compreendem que o tema central desta discus-são diz respeito à mudança dos padrões de produção e de consumo, ou aos temas que serão abordados no evento?

– Quero dizer que é um encontro que está sendo organi-zado de uma forma bastante atabalhoada, que as pessoas têm poucas informações sobre a Rio+20 e também sobre o even-to dos movimentos sociais, a Cúpula dos Povos. Isso indica um problema no seguinte sentido: Como as pessoas participa-rão desses eventos? Como se organizarão? O próprio governo brasileiro tem tido um envolvimento discreto em relação ao evento, considerando que é o organizador da Rio+20.

– As discussões antecessoras à Rio+20 focam bastante no tema da economia verde, mas pouco se fala na questão da governança ambiental global. Está se dando pouca im-portância para essa questão?

– A meu ver, muito além da discussão acerca da economia verde, o tema da governança ambiental global é fundamental nesse evento. Se essa discussão não tomar outra forma, ainda viveremos uma situação de muita incerteza.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA não tem recursos nem estrutura sufi ciente para exer-cer um papel norteador de políticas globais como, por exem-plo, a Organização Mundial da Saúde – OMS, a Organização Mundial do Comércio – OMC etc. Do meu ponto de vista, precisamos de uma resposta dos governantes em relação à importância da governança ambiental global.

– Chefes de Estados de alguns países, como Barack Oba-ma e Ângela Merkel, cancelaram a vinda a Rio+20. Como fi ca a discussão acerca da governança global no encontro?

– Esse é o ponto. A discussão fi cará bastante precarizada. É obvio que o Obama, na medida em que está às vésperas do processo eleitoral, entende que a participação na Rio+20 não será muito conveniente, e enviará seus representantes. Na medida em que os chefes de Estados entendem que não se torna necessária a vinda deles no encontro, desqualifi cam o evento. Obviamente esse é um elemento de frustração para o encontro, pois as justifi cativas deles não fi caram claras. A Alemanha de fato é um país estratégico. O novo presidente francês provavelmente não virá. Entendo que, mesmo com pouca representatividade, talvez o tema da governança seja tema de encontros intermediários. A falta de alguns presi-dentes desvaloriza também a tomada de decisões, apesar de eu ser bastante pessimista em relação a uma possível tomada de decisões na Rio+20.

– Qual a necessidade de se estabelecer uma governan-ça ambiental global? Que ações e políticas deveriam fazer parte dessa governança? É possível haver uma maior coor-denação entre as políticas de governo, considerando que os países têm interesses econômicos diferentes?

– Estamos chegando a uma situação na qual ninguém po-derá escamotear mais por muito tempo, por conta do aqueci-mento da global, da camada de ozônio e todos os impactos que demonstram necessidade de respostas planetárias. Então, como se constrói essa governança global? Talvez seja preciso muitas reuniões para se defi nir isso, mas o fato de se colocar esse tema numa agenda planetária é algo estratégico. Essa pergunta, de como se constrói a governança global, nos dá margem para mui-tas dúvidas, porque a experiência que se tem de governança glo-bal no caso da ONU tem se demonstrado extremamente frágil por conta das guerras e todos os dilemas internacionais.

Necessitamos de atores que induzam cada vez mais essa questão. Talvez o exemplo mais concreto seja o fracasso do Pro-tocolo de Kyoto. Embora ele tenha sido um fracasso global, ele abriu pautas, agendas e caminhos para a discussão de processos que são desdobramentos de articulações.

Cada momento é um momento. Então, se o presidente Oba-ma não pode tomar decisões porque ele é refém de um Congresso conservador, está colocado um problema sério, porque um dos maiores emissores de gás carbônico do mundo está de mãos atadas.

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Continua na página 16...

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Beleza não é só o que a gente vê e admira. Beleza é o que a gente faz.Há 22 anos.

Animais, plantas, flores, rios, florestas.

Nada é tão urgente quanto manter o equilíbrio dessa diversidade.

Nada é tão importante quanto agir para isso. A Fundação Grupo Boticário

de Proteção à Natureza foi criada com esse objetivo. Há 22 anos, atuamos em

todos os biomas e conservamos a Mata Atlântica e o Cerrado, adquirindo e

preservando mais de 11 mil hectares. Assim como investimos em pesquisa e

projetos, ajudando a preservar muitas espécies. Porque entendemos que beleza

é o que a gente realiza, de fato, para preservar o que a vida tem de mais belo.

AfAnFundacao420x280mm_plurare.indd 1 6/4/12 5:41 PM

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Beleza não é só o que a gente vê e admira. Beleza é o que a gente faz.Há 22 anos.

Animais, plantas, flores, rios, florestas.

Nada é tão urgente quanto manter o equilíbrio dessa diversidade.

Nada é tão importante quanto agir para isso. A Fundação Grupo Boticário

de Proteção à Natureza foi criada com esse objetivo. Há 22 anos, atuamos em

todos os biomas e conservamos a Mata Atlântica e o Cerrado, adquirindo e

preservando mais de 11 mil hectares. Assim como investimos em pesquisa e

projetos, ajudando a preservar muitas espécies. Porque entendemos que beleza

é o que a gente realiza, de fato, para preservar o que a vida tem de mais belo.

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PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 201216 PLURALE EM REVISTA EM REVISTA EM REVISTA | Maio / Junho 201216

Entrevista

Agora, qual será o comportamento da China? Ela é contradi-tória: ao mesmo tempo em que está poluindo e trabalhando com carvão, está investindo em energias alternativas etc. En-tão, é difícil. Qualquer resposta vai ter um viés. Não quero parecer tão afi rmativo, que pareça que a minha resposta cir-cunscreve um momento. Eu quero olhá-la como uma resposta que tem vários momentos. Se nesse momento se coloca um espaço de refl exão e de avanço, que se desejaria em relação há vinte anos, muitos que olham o momento de hoje podem achar que poucos avanços ocorreram. Entretanto, apesar de 20 anos na história da humanidade representar pouco tempo, os avanços conceituais e metodológicos têm sido relevantes. O próprio fato de se constituir um Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima – IPCC é um avanço importante para uma convergência do que se possa falar da relação do co-nhecimento científi co com aplicações concretas nas políticas públicas. Se olharmos essa discussão de uma forma estática, não conseguiremos ver essas questões.

PERSPECTIVAS

Todos os embates que acontecerem na Rio+20 podem, pós-evento, nos dar uma sensação de que não aconteceu nada, justamente porque não se avançou nas Convenções anteriores. Mas houve avanços em relação à biodiversidade e vários outros temas.

Ninguém tem a receita da governança, mas temos de cha-mar a atenção de que a governança global não se dê a partir de um epicentro, mas sim a partir de uma articulação de epi-centros decisórios e de pactos que terão de ser assumidos em nível regional, nacional e internacional.

– O senhor identifi ca atores potenciais que possam pro-por uma agenda de governança ambiental global?

– Poucos. O Brasil, se se dispusesse – mas não parece muito disposto –, poderia ser um provocador. Se o presiden-te Obama for reeleito, talvez possa assumir parte dessa agen-da que não pode assumir antes por conta da reeleição.

Outro agente seria a China. Mas também não é muito provável. Li recentemente que as emissões do planeta au-mentaram em 2011 na relação com 2010, justamente num período em que o capitalismo está em crise. Não parece uma contradição? Que resposta se dá a isso? Há um total descuido dos governos com as emissões, e 99,9% da po-pulação não entende nada sobre essas discussões. De todo modo, quanto mais os governantes trouxerem esses temas para a discussão, melhor.

– Como avalia o discurso e a prática da agenda ambiental brasileira?

– A prática demonstra um governo claramente focado no desenvolvimentismo e, pelo fato de ter uma área signifi cativa do seu território composta por ecossistemas com rara biodi-versidade, constrói um telhado de vidro. A política do governo tem favorecido as formas tradicionais de desenvolvimento.

Apesar de haver muitas críticas ao texto do Código Flores-tal, houve avanços resultantes da pressão da sociedade civil. O governo tem uma agenda desenvolvimentista, por isso frustra

o movimento ambientalista. Com o passar dos anos, esperamos es-tar à frente da agenda das políticas públicas, esperamos ter pessoas que assumam uma visão mais transversal sobre um processo que tem de garantir o desenvolvimento, a questão social, e o desenvol-vimento sustentável. O Código Florestal atingiu o que o governo estava disposto a conceder como limite máximo.

– O senhor também estuda a governança da água. Em que con-siste essa proposta? Como tem acontecido o processo no Brasil? É possível pensar uma governança global desse aspecto?

– Tenho trabalhado a governança da água em nível nacional, regional e local. Uma argumentação sobre a governança da água já existe no Brasil a partir de 1997, na Política Nacional de Recursos Hídricos. A visão de governança transcende uma visão de gestão, porque é uma construção conceitual, teórica e operacional associa-da a uma visão hidropolítica. Ou seja, a água como um recurso que não pode ser administrado apenas sob uma perspectiva técnica.

Qual é o desdobramento disso quando falamos na governança da água? É a aplicação de uma legislação nacional na qual prevale-cem três componentes: a gestão descentralizada por bacias hidro-gráfi cas; a gestão integrada; e a gestão participativa.

Quando falo em descentralização, quero dizer da importância que assume a gestão por bacias hidrográfi cas. Praticamente todo o país, com exceção da região amazônica, está organizado nos seus estados a partir da existência de comitês de bacias hidrográfi cas, ou consórcios. Nesses comitês envolvem-se quatro segmentos: os estados, os municípios e os diferentes segmentos da sociedade ci-vil, além da União. Quando falamos de governança, nos referimos a essa articulação sociopolítica institucional, essa forma de gestão que não depende apenas de uma visão tecnicista, mas também de uma negociação entre os atores.

AVANÇOS

O Brasil avançou muito, se comparado ao resto da América La-tina, em relação a sua governança. Talvez o outro país que tenha avançado em forma mais recente seja o Peru, que tem uma institu-cionalidade maior, e talvez a Colômbia.

Agora quando falamos de governança global da água, nos refe-rimos à governança de rios transfronteiriços. No caso do Brasil, nós temos duas situações muito concretas: a situação da Bacia do Prata e a situação da Bacia Amazônica. Essas são governanças intrana-ções. Ou seja, são governanças transfronteiriças. São situações de água transfronteiriça que demandam governanças internacionais, mais amplas.

DESAFIOS

O importante é que hoje existam capacidades de governanças por países. É necessário que se avance sobre a governança trans-fronteiriça. Porque uma grande questão é garantir a qualidade da água de forma que ela seja sufi ciente para a provisão. O que acon-tece em muitos casos é a contaminação da água, que tem prejudi-cado a dimensão quantitativa, além de, obviamente, a qualitativa, e isso é um componente altamente negativo do ponto de vista de direitos humanitários. Não podemos esquecer que também po-dem existir situações em que essa potencialidade de governança seja prejudicada por confl itos políticos, guerras etc. Pessoalmente, não considero que haja situações que possam provocar a guerra da água, como tem sido dito por algumas pessoas.

Continuação da página 13

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Temas centrais:

Os dois temas centrais da Rio+20 – a econo-mia verde no contexto do desenvolvimento sus-tentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável – foram aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas de forma consensual entre os 193 países que integram a ONU. Nas reuniões do pro-cesso de preparação, os países têm apresentado propostas sobre esses temas, buscando resultados que possam ser adotados na Conferência.

Temas centrais:

Para entender a Rio+20

18181818 PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 2012

Rio+20

O que é?

A Rio+20 é uma Conferência das Nações Unidas sobre De-senvolvimento Sustentável que não faz parte do calendário das reuniões periódicas das Nacoes Unidas. Pertence a um conjun-to de reuniões que acontecem esporadicamente em torno de temas ambientais — conhecidas popularmente como Earth Sum-mits ou Cúpulas da Terra, quan-do tem participação signifi cativa de chefes de governo - e que, ao longo do tempo, foram in-corporando ao tema ambiental, questões econômicas e sociais. A primeira dessas reuniões foi a de Estocolmo em 1972, a segunda, a Rio 92, a terceira, a de Joanesbur-go em 2002 e agora a Rio+20, que marca os 20 anos da Rio 92, a mais importante desse conjunto de Conferencias.

Por que precisamos da Rio+20?

Se desejamos deixar um mundo ha-bitável para nossos filhos e netos, os desafios representados pela pobreza generalizada e pela destruição do meio ambiente precisam ser enfrentados e re-solvidos agora.

• O mundo tem hoje 7 bilhões de pessoas – em 2050, seremos 9 bilhões. • Uma em cada cinco pessoas – 1,4 bilhão de pessoas – vive atualmente com um dó-lar e 25 centavos ou menos por dia. • 1 bilhão e meio de pessoas no mundo todo não têm acesso a eletricidade. • 2 bilhões e meio de pessoas não têm vaso sanitário. • Quase um bilhão de pessoas passam fome todo dia.• A emissão de gases de efeito estufa continua a crescer, e mais de um terço de todas as espécies conhecidas podem de-saparecer se as mudanças climáticas con-tinuarem sendo desconsideradas.

A Cúpula da Terra de 1992 estabeleceu princípios fundamentais. A Rio+20 repre-senta uma nova oportunidade para pensar-mos globalmente, de modo que possamos todos agir de forma local e assim assegurar-mos um futuro comum para todos nós.

Onde vão acontecer os eventos:

A Conferência acontece no Riocen-tro, que tem acesso restrito apenas aos credenciados pela ONU. Ali, os líderes globais irão se encontrar em área reser-vada. A Conferência será precedida pela terceira sessão da reunião do Comitê Pre-paratório, que ocorrerá de 13 a 15 de ju-nho de 2012 também no Riocentro. Além deste “quartel-general”, o Rio terá even-

tos espalhados por toda a cidade. Na Barra da Tijuca também o Parque dos Atletas e a Arena Multifuncional vão abrigar Pavi-lhões, Exposições, Seminários e Palestras. A Cúpula dos Povos será realizada no Ater-ro do Flamengo; vários encontros aconte-cem no Forte de Copacabana; no Museu de Arte Moderna, Pier Mauá e Galpão Cidada-nia (Centro); etc

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Para entender a Rio+20

Línguas oficiais da Conferência: As seis línguas oficiais da Con-

ferência são: Árabe, Chinês, In-glês, Francês, Russo e Espanhol, as mesmas das Nações Unidas

Diálogo sobre Desenvolvimento

Sustentável:

Com o objetivo de garantir que a Rio+20 observe os pilares do desenvolvimento sustentável, o Governo brasileiro criou, no âmbito do Comitê Nacional de Organização, uma Coordenação de Sustentabilidade. Sua função é analisar e propor ações para reduzir, mitigar ou compensar os impactos ambientais e sociais ge-rados pela conferência.

As ações estão organizadas em nove dimensões: gestão das emis-sões de gases de efeito estufa, re-cursos hídricos, resíduos sólidos, energia, transporte, construções sustentáveis, compras públicas sustentáveis, turismo sustentável e alimentos sustentáveis.

O que são os “Major Groups”?

Desde o início da Pri-meira Cúpula da Terra, em 1992, percebeu-se que o desenvolvimento susten-tável não poderia ser al-cançado apenas através da atuação de governos, mas que seria necessária a par-ticipação ativa de todos os segmentos da sociedade e tipos de pessoas – con-sumidores, trabalhadores, empresários, agricultores, estudantes, professores, pesquisadores, ativistas, comunidades nativas e outras comunidades inte-ressadas.

A Agenda 21 formalizou nove destes grupos como categorias principais, atra-vés das quais todos os ci-dadãos podem participar das atividades da ONU para alcançar o desenvol-vimento sustentável. Estes grupos são ofi cialmen-te chamados de “Major Groups”. Acesse a página individual de cada Major Group em inglês (www.uncsd2012.org/rio20/ma-jorgroups.html) ou na ver-são em português do site (www.rio20.info/2012/major-groups-2).

Como a sociedade em geral

pode deixar um recado

Foi lançado um site, o Futuro que que-remos aberto para a participação das pes-soas em geral. Pode ser através de um vídeo, foto ou texto.

Os procedimentos para credenciamen-to da sociedade civil estão disponíveis em www.onu.org.br/rio20/rio20-abre-credencia-mento-para-sociedade-civil-e-inscricoes-em-eventos-paralelos/

O que é a Cúpula dos

Povos

A Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental é um evento organizado pela socieda-de civil global que acon-tecerá entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo – paralelamen-te à Conferência das Na-ções Unidas sobre Desen-volvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20. As inscrições para alguns ti-pos de atividades durante a Cúpula dos Povos estão abertas no site do evento.

• Portal Plurale: www.plurale.com.br• Plurale em site no twitter: @pluraleemsite• Portal Rio+20 da ONU (em inglês): http://www.uncsd2012.org/rio20/index.html• Portal Rio+20 do Governo brasileiro: www.rio20.gov.br• Portal Agenda total: http://www.agendatotal.org/

Transmissão do evento pela Internet

As Nações Unidasrealizarão transmissões ao vivo pela Internet (webcast) da Conferência ofi cial e de alguns eventos paralelos no endereço www.un.org/webcast .

Também a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) fará a transmissão de vários eventos. Acesse desde já a página especial da EBC em http://rio20.ebc.com.br

Acompanhe a cobertura da Rio + 20, Cúpula dos Povos e outros eventos também pelo Portal Plurale (www.plurale.com.br) e pelas nossas re-des sociais – Twitter: @pluraleemsite ; Facebook -http://www.facebook.com/plurale e Blog http://revistaplurale.blogspot.com.br/

Como a

• Portal O futuro que queremos: http://www.ofuturoquenosqueremos.org.br/• Portal da Cúpula dos povos: http://cupuladospovos.org.br/• Portal Rio+20 da ONU (em português): http://www.onu.org.br/rio20/• Guia CEBDS/FBDS: http://fbds.org.br/spaw/uploads/fi les/RioMais20.pdf• Publicação De olho no meio ambiente em mutação: (Do Rio à Rio+20): http://www.onu.org.br/relatorio-do-pnuma- mostra- desafi os-e-oportunidades-para-o-desenvolvimento-sustentavel-rumo-a-rio20/

Fonte e indicação para pesquisar mais:

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2020

“ O sonho acabou. Ainda bem ”ALEXANDRE MANSUR, EDITOR-EXECUTIVO DA REVISTA ÉPOCA

Mesmo quem não estava embalado nos sonhos da Nova Era entende que uma con-junção astral única favoreceu a Rio92. O Muro de Berlim estava no chão. A União So-

viética tinha acabado de se dissolver. Novas tecnologias, como o fax e as antenas parabólicas de TV, ajudavam na livre troca de informações. As pessoas estavam descobrindo que podiam se juntar livremente em organizações não-governamentais, com alcance até internacional. Os povos indígenas e tradicionais se olharam no espelho e perceberam que estavam vivos e, em muitos casos, se recuperando. Os povos indígenas e tradicio-nais se olharam no espelho e perceberam que estavam vivos e, em muitos casos, se recuperando. No vácuo deixado pela queda dos comunistas, uma causa ganhava relevância global:

o desenvolvimento sustentável. O termo era tão vago naquele tempo quanto a sustentabilidade hoje. Mas serviu para agregar várias aspirações de um mundo melhor, mais justo, limpo e pe-rene. Dentro do generoso guarda-chuva da Rio92, cabia o movi-mento feminista, manifestações de sincretismo religioso, orga-nizações sindicais e até algumas bandeiras ambientalistas, como “salvem as baleias”, “Chernobyl nunca mais” e “não queimem a Amazônia”. Os transgênicos nem tinham sido inventados. Todo mundo podia escrever seus desejos na Árvore da Vida, uma escultura no meio do Fórum Global, a reunião das ONGs no Aterro do Flamengo, enquanto os chefes de estado no Riocen-tro assinavam uma Carta da Terra inspiradora. Daqueles dias felizes para cá, a ingenuidade acabou. As evidências científi cas das mudanças climáticas roubaram a relevância de outros te-mas ambientais. A globalização fez mais pelo desenvolvimento e pelo fi m da pobreza do que qualquer perdão da dívida. Hoje, no rugido de uma crise econômica internacional, ninguém mais levanta a bandeira de uma economia verde sem considerar seus custos – e seus benefícios mais para alguns do que para outros. Os limites naturais do crescimento estão sendo assimilados por governos e empresas. Essa é a boa notícia. O preço disso é que o sonho acabou.

No cenário internacional, nada mais simbólico destes 20 anos do que os atentados terroristas, a hecatombe do sistema fi nanceiro capitalista, arrastando impérios e enfraquecendo forças hegemônicas e a revolta popular em países árabes. No Brasil, basta conferir a foto histórica da Eco-92 para lembrar que a pressão da sociedade foi decisiva para o impeachment do então presidente era Fernando Collor de Mello. Isso sem falar que o computador estava ainda “de-

sembarcando” por aqui e que o termo sustentabilidade nem era conhecido pela maioria dos brasileiros.Mas afi nal, que planeta é este, 20 anos depois? E o quê esperar desta Conferência das Nações Unidas

sobre Desenvolvimento Sustentável? Fomos ouvir jornalistas especializados no tema, que cobriram a Eco-92 e agora estarão também trabalhando na Rio + 20.

A opinião de jornalistas que cobriram a conferência em 1992 e agora estarão novamente acompanhando as decisões 20 anos depois

Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista

Eu participei da Eco 92 e, agora, o que espero da Rio+20?

Depoimentos

o cenário internacional, nada mais simbólico destes 20 anos do que os atentados terroristas, a hecatombe do sistema fi nanceiro capitalista, arrastando impérios e enfraquecendo forças hegemônicas e a revolta popular em países árabes. No Brasil, basta conferir a foto histórica da

o cenário internacional, nada mais simbólico destes 20 anos do que os atentados terroristas, a hecatombe do sistema fi nanceiro capitalista, arrastando impérios e enfraquecendo forças

“ O sonho acabou.

Nsembarcando” por aqui e que o termo sustentabilidade nem era conhecido pela maioria dos brasileiros.

Mas afi nal, que planeta é este, 20 anos depois? E o quê esperar desta Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável? Fomos ouvir jornalistas especializados no tema, que cobriram a Eco-92 e agora estarão também trabalhando na Rio + 20.

Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista

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“A Rio+20: evento incobrível ”ANDRÉ TRIGUEIRO, JORNALISTA DA TV GLOBO — DO BLOG MUNDO SUSTENTÁVEL

AS REDES SOCIAIS

A Rio+20 pertence à categoria de even-to “incobrível”. Simplesmente não há como acompanhar tudo o que vai acontecer no Rio de Janeiro neste mês de junho. Mas na era das redes sociais os provedores de conteúdo estão por toda a parte, registrando e envian-do as informações que pareçam importantes. Uma boa pescaria nas redes poderá reduzir a frustração de não poder acompanhar tudo de interessante que vai acontecer por aí.

Se algo que você considera digno de regis-tro fi cou de fora dessa lista, compartilhe. Para todos os efeitos, a Rio+20 já tem pelo menos um resultado concreto: transformar o Brasil numa imensa plataforma de lançamento de novas ideias em favor de um mundo melhor e mais justo, um mundo sustentável.

CÚPULA DOS POVOS

Tal como se deu há 20 anos no Aterro do Flamengo – eu cobri o evento pela fale-cida Rádio JB/AM e guardo dele as melhores recordações – ONGs do mundo inteiro vol-tarão a ocupar o Aterro do Flamengo num gigantesco caldeirão sócio-cultural, étnico e religioso. Pode-se acompanhar os debates ou simplesmente curtir a experiência de tes-temunhar in loco a nossa bela e instigante biodiversidade humana.

DIÁLOGOS SOBRE SUSTENTABILIDADE COM A SOCIEDADE CIVIL

Nunca se viu nada igual na história das Conferências da ONU: convidados especiais de diferentes países debaterão dez temas es-tratégicos e sintetizarão os resultados em reco-mendações que serão posteriormente enca-minhadas pessoalmente aos chefes de Estado no Riocentro. Alguns dos conferencistas serão escolhidos para entregar os documentos em mãos e trocar ideias com os governantes. A iniciativa é do governo brasileiro e, se der cer-to, poderá inspirar encontros semelhantes em outras conferências da ONU. Terei a honra de mediar o debate sobre Cidades Sustentáveis, um dos dez temas escolhidos.

“A melhor riqueza é a advinda da sustentabilidade em todos os níveis”

EDMILSON SILVA, JORNALISTA

O governo Dilma Roussef tem parte de sua sustentação, do ponto de vista midiático, por um slogan que reivindica que país rico é país sem po-breza. Ao axioma que os marqueteiros criaram para o Palácio do Planalto, proporia uma modifi ca-ção ampliada globalmente: mundo rico é mundo sustentável. E explico o porquê.

Há duas décadas, quando se realizou a Rio 92, chegou-se a uma carta de princípios para que o mundo pudesse melhorar ambientalmente. Mesmo sem a adesão dos Estados Unidos para a redução da emissão dos gases prejudiciais à nos-sa atmosfera, o mundo avançou, principalmente no que diz respeito à conscientização necessária quanto à ameaça associada à fi nitude dos bens ver-des, digamos assim. Verdes aqui usado como ter-mo simbólico, para tudo o que nós transformamos a partir da natureza, com o propósito de assegurar a continuidade da vida. Da vida em sociedade.

Sede daquele encontro emblemático para a sustentabilidade da Terra, o Brasil demorou a fazer o dever de casa. Apenas um exemplo: só em 2012, conseguimos avançar em algo básico, como o uso de sacolas retornáveis nas principais redes merca-distas dos principais centros urbanos do País. O nosso lixo ainda não pode ser descartado com a separação adequada sugerida há 20 anos, e medida colocada em prática por cidades do interior de ou-tros países, caso da pequena London, no Oeste do Canadá. Uma vergonha para nós brasileiros, mas um dia chegaremos lá.

Neste junho de 2012, a Rio + 20 tem que ser mais que a Rio 92: apesar de não ter sido incluída a saúde como um dos eixos principais desta farra cívica, o maior exercício de cidadania mundial que será colocado em prática no Brasil tem a obrigação de dar a si próprio não apenas uma nova carta de princípios, mas passar a crescer a consciência de que os recursos naturais são fi nitos. Daqui para frente, temos a obrigação de nos unirmos para co-locar em prática a fórmula que será capaz de unir capitalismo com cidadania planetária: a exploração sustentável de Gaia, pois mundo rico é mundo sustentável. E em todos os níveis, pois a susten-tabilidade é o conceito mais ampliado de saúde, o equilíbrio do nosso planeta.

Como diz o poeta: luxo para todos! Chega de lixo, inclusive o conceitual. Vamos nos reciclar.

“Ecos de Esperança”

HIRAM FIRMINO, JORNALISTA E AMBIENTALISTA, EDITOR DA REVISTA ECOLÓGICO

Como a natureza não dá saltos, a nossa também caminha de forma aparentemente lenta. Foi assim na Eco/92. Quando o mundo e a opi-nião pública internacional espera-vam um desenrolar impactante de atitudes pós-evento, o que a mídia respondeu também sem pensar na sua lentidão de observar e regis-trar os fatos? Que foi um fracasso, nada aconteceu. Ou seja, naquela ocasião, quem viu apenas a chama-da “Ressaca da Eco”, não viu a re-volução interna e silenciosa que se iniciou ali. De maneira irreversível, tal como Freud já tinha nos ensina-do: a verdadeira e primordial revo-lução acontece primeiro na nossa consciência. Isso aconteceu há 20 anos atrás, no Rio. Agora, a trans-formação de uma nova consciência em atitude, isso leva tempo, surra da natureza, surra dos nossos erros e falta de sabedoria. O que a gente não faz por amor, faz pela dor. Estão aí as mudanças climáticas para ace-lerar nossa escolha.

Capra também nos ensinou em sua obra revolucionária, chamada “O Ponto de Mutação” (quem não leu, já tem nas locadoras), que tudo que é vivo no universo – e nós faze-mos parte deste universo, além do nosso ego – tem três características básicas que se repetem desde que mundo é mundo: a vida é criativa, adaptativa e multiplicativa. Ou seja, por mais que a ferimos e nos feri-mos também, a vida nasceu para dar certo. Está no seu DNA.

Isso signifi ca que, independente do que acontecer, de antemão a Rio + 20 já deu certo. O seu recado já aconteceu. Nada será como antes. Só não vê nem acredita quem não tem paciência, é cego ou pessimista. E como mostra o fi lme “Home”, é tarde demais para sermos pessimistas.

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E n s a i o

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Fotos:

ISMAR INGBER

Com a experiência de anos em redações como foto-jornalista, Ismar Ingber está acostumado a cobrir

e documentar diferentes situações no Rio de Janeiro. No sentido horá-rio: o momento de felicidade e descon-tração das crianças da comunidade do Complexo do Alemão, após o processo de pacifi cação; o colorido dos pratican-tes do kite surf na Barra da Tijuca; o por do sol inesquecível avistando o Dois Ir-mãos e a Pedra da Gávea; a beleza do desenho de Oscar Niemeyer na passa-rela de São Conrado; luz e sombra nos Arcos da Lapa e o treino dos remadores na Lagoa Rodrigo de Freitas.

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Sociedade

ADRIELLE SALDANHA CLIVE, 25 ANOS: ATIVISTA INCANSÁVEL:

Adrielle Saldanha Clive é uma jovem, de 25 anos, que está sempre envolvida com causas que possam melhorar o mundo ao seu redor. Ela conta que iniciou sua militância quando tinha 13 anos e até hoje não parou. Para nos conceder este

depoimento, ela teve que abrir uma brecha entre uma e outra reunião da Cúpula dos Povos durante dois dias seguidos de ho-ras intermináveis. Mas qual a opinião da jovem sobre a Rio+20? Bem, ela considera que o evento ainda está longe de ser o que muitos da Sociedade Civil desejam, sobretudo no que diz respeito à Economia Verde. “O que estão impondo à sociedade mundial é muito desrespeitoso, diria que inadmissível”, lamenta Adrielle que aos 16 anos uniu-se a vários jovens para a criação do programa de Voluntários do Parque Nacional da Tijuca

Atualmente, ela desenvolve projetos para a Superintendên-cia de Juventude do Estado do Rio de Janeiro. Incansável, Adriel-le também participa dando sugestões em políticas públicas em outros municípios como Araruama, Teresópolis, Paracambi, Rio de Janeiro, Duque de Caxias. Embora esteja envolvida, até a ponta dos últimos cachinhos de seus cabelos, com a organiza-ção e participação dos jovens na Rio+20, Adrielle não acredita que muita coisa vá mudar. Principalmente, como ressalta a jo-vem, porque muitos chefes de governo não virão na Rio+20.

“Como será essa a Conferência se os principais líderes de governo, ou seja, líderes das oito maiores economias do mun-

do, que detêm o poder político e fi nanceiro, não estiverem presentes? Que tipo de acordos serão feitos se os principais co-laboradores para a degradação ambiental não estarão presen-tes?”, questiona a jovem que apesar das críticas, ainda espera se surpreender, sobretudo, com os eventos paralelos, como a Cúpula dos Povos que ela considera ser o grande diferencial nesta Rio+20.

“Quem sabe seja, realmente, um espaço onde a sociedade civil possa dizer quais são as suas metas para o desenvolvimen-to sustentável”, acredita a jovem, que está quase perdendo a esperança nos líderes governamentais, ainda mais aqueles que prometem e não cumprem o que foi acordado. Sempre em movimento, Adrielle mantém cerca de cinco sites da Internet, sobre o tema juventude e engajamento social . Ah, ela ainda arruma tempo para escrever crônicas. Para conferir, é só aces-sar o link: http://adriellesaldanha.blogspot.com.br/2011/11/promessa-de-um-futuro-bom.html?showComment=1322286964976#comment-c7022039494277944386

GERAÇÃO SAÚDE EM COPACABANA: CASSIANO RODRIGUES RELUZ, 27 ANOS

Carioca, 27 anos, formado em Administração de Empresas e tra-balhando na UBC – União Brasi-leira de Compositores, Cassiano Rodrigues Reluz não é um ativista, mas cultiva hábitos saudáveis - não bebe, não fuma e pratica esporte

Os fi lhos da Eco 92Jovens na faixa dos 20 anos contam como vivem e o que esperam que possa sair de contribuição da Conferência Rio + 20 para o futuro do planeta

Nenhum outro retrato espelha de forma mais clara o que mudou em 20 anos a sociedade. Os jovens que estavam nascendo na época da Eco-92, ou que ainda eram bem pequenos, são os porta-vozes das boas e más notícias. Plurale em

revista procurou encontrar alguns destes “embaixadores” do meio ambiente em diferentes regiões do Rio de Janeiro.

Alguns são mais engajados na causa sustentável, outros, à sua maneira, também participam pela defesa de uma socie-

Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista (*)Fotos: Arquivo pessoal

dade ambientalmente mais justa e democrática. Os nomes mudam, os endereços, atividades e personalidades também. Em comum, o discurso forte, a garra e determinação.

Conheça os “filhos” da Eco-92: o que fazem, o que pensam, seus sonhos e, principalmente, o que esperam da Rio + 20.

(*) Com reportagens de Cecília Corrêa, Isabel Capaverde, Lou Fernandes e Raquel Ribeiro.

vivem e o que esperam que possa sair de contribuição da Conferência Rio + 20 para o futuro do planeta

dade ambientalmente mais justa e democrática. Os nomes mudam, os endereços, atividades e personalidades também.

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diariamente - e sustentáveis. “Sozinho não vou mudar o mun-do, mas faço minha parte para que meus fi lhos e netos não sejam prejudicados. São atitudes simples no dia a dia que se transformaram em hábitos como fechar o chuveiro quando vou me ensaboar no banho ou a torneira ao me barbear, separar o lixo que possa ser reciclado, poupar energia não deixando apa-relhos ligados que não estejam em uso”. Da Eco-92 ele lembra da movimentação. “Eu era criança e algumas vezes passava as tardes no trabalho da minha mãe, na Bloch Editores, em frente ao Aterro do Flamengo. Ficava olhando pela janela espantado, pois ainda não compreendia do que se tratava toda aquela mo-vimentação”. Otimista em relação ao futuro do planeta, ele vê com bons olhos a realização da Rio+20. “Gostaria muito de participar como voluntário e acompanhar mais de perto, mas infelizmente não daria para conciliar com o meu trabalho. Creio que será muito positivo o encontro, pois o homem tem todas as ferramentas para reverter o quadro de desmatamento, aque-cimento global, poluição das águas e exclusão social em que nos encontramos. Basta aumentar a conscientização da socie-dade sobre essas questões e eventos como a Rio+20 ajudam ao informar e trazer a sustentabilidade para debate”.

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA EM JAPERI: JOÃO VINÍCIUS VIEIRA DA SILVA, 22 ANOS

João Vinícius Vieira da Silva, 22 anos, nasceu na Baixada Fluminen-se, um dos municípios com menor IDH da região Sudeste, é técnico em contabilidade e trabalha na As-sociação Golfe Público de Japeri. “Uma vez que a escolinha e o cam-

po público de golfe estão abrigados em uma área de preserva-ção ambiental de 70 hectares, o convívio ecológico faz parte do nosso dia a dia aqui na ONG. Por isso, a consciência ambiental é uma rotina tanto dos alunos como da equipe de profi ssionais da AGPJ”, conta.

Além dos ensinamentos do curso de agentes mirins am-bientais, as crianças também recebem orientação de como eco-nomizar água e energia. “Em casa, eu e minha família temos o hábito de encher galões de água e reaproveitá-la o máximo que podemos. Essa economia é uma atitude consciente e também é uma necessidade, porque em Japeri falta muita água. Eu me orgulho de trabalhar aqui e de poder levar às 120 crianças mais educação e cidadania, além de fazer parte de um projeto de consciência ambiental e ecológica”, diz João Vinícius.

SUSTENTABILIDADE PRATICADA NO DIA-A-DIA: MÔNICA MARELLA CORRÊA, 20 ANOS, DA TIJUCA

Em junho de 1992, quando as atenções mundiais estavam volta-das às questões ambientais, Mônica Marella Corrêa tinha apenas oito meses de vida. Hoje, aos 20 anos, a jovem moradora da Tijuca é um

exemplo de como a ECO-92 contribuiu para mudar a menta-lidade de uma geração. Mônica adota práticas sustentáveis no

dia a dia, como separação de lixo, consumo consciente, além de ter escolhido o tema como opção profi ssional: ela integra a primeira turma do curso de Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde até o ritual de ingresso, o fa-moso trote, é sustentável.

“A turma se organizou para comprar luvas e sacos apropria-dos para coleta e levamos os calouros a uma praia do entrono da faculdade para que eles catassem o lixo”, conta Mônica. Se-gundo a jovem, o que mais a motivou a optar por este curso foi a abordagem diferente. “O curso não trata apenas de meio ambiente, mas das questões culturais, sociais, de saúde e de comportamento muito importantes para o entendimento am-biental do mundo de hoje.”, destaca. Mônica lembra que alguns dos desafi os da faculdade envolvem simulações de projetos de grandes empresas explorando áreas indígenas ou comunidades ribeirinhas para abrir fábricas ou explorar recursos.

“Temos como tarefa buscar caminhos e soluções, levando em conta que a empresa precisa se desenvolver economica-mente, mas de forma que as comunidades (questão social) e os recursos naturais da região (questão ambiental) sejam res-peitados e preservados. Não há mais espaço pra um discurso eco-chato. É preciso que cada um tenha respeito pelo meio em que vivemos e que adote ações sustentáveis na rotina do dia a dia”, frisa. A estudante da UFF acredita que este é um desa-fi o diário, já que reciclar lixo não depende só da separação em casa, envolvendo principalmente da coleta especial da prefeitu-ra, da destinação adequada. “Mas cada um tem que começar a fazer sua parte. Lá na UFF a gente adota uma série de posturas sustentáveis no dia a dia, coisas simples, como comprar menos coisas supérfl uas e usar uma caneca própria para beber água, ao invés dos copinhos descartáveis”.

DE ALUNO A INSTRUTOR: ALAN FERREIRA DA SILVA, 25 ANOS, DO BOREL

Alan Ferreira da Silva, ex-aluno do projeto Roda Viva, 25 anos, é hoje instrutor de informática desta ONG e Educador Social, atuando na comunidade do Borel onde nasceu e ainda vive. “No morro, a coleta de lixo é muito precária e

não há saneamento básico na grande maioria das áreas. Essa realidade levou a comunidade a procurar soluções caseiras, mas que muitas vezes ajudam a minimizar os problemas”, conta. No Roda Viva, explica Alan, os instrutores trabalham com as crian-ças várias questões relacionadas à educação com o meio am-biente, desde as coisas mais simples como não jogar um papel de bala no chão. Também promovem passeios com as crianças pela comunidade para que elas catem o lixo da vizinhança e para que reaproveitem alguns dos materiais recolhidos nas au-las de artes. “Este ano, eu já passei pros alunos alguns vídeos mostrando as consequências que o lixo traz à natureza, como aquela tartaruguinha que cresceu em volta de um anel de plás-tico, no oceano Pacífi co. As crianças fi cam chocadas e vendo esses vídeos elas entendem porque não podem jogar lixo na rua, óleo de cozinha na pia, fazer grandes fogueiras, soltar ba-lões etc”, diz. Alan lembra que só começou a ter consciência sobre a questão ambiental quando saiu do Ensino Fundamen-

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tal e começou o Ensino Médio. “Foi nessa época que eu percebi que cada um fazendo a sua parte, por menor que seja, podemos fazer a diferença.” Hoje em dia, Alan relata que faz sua parte na destinação correta de equipamentos eletrônicos, pilhas e com-putadores. “Algumas das lojas e mercados que vendem produtos eletrônicos têm um lugarzinho para você depositar esse tipo de lixo. Eu estoco tudo na minha casa e vou levando aos poucos pra descartar de forma certa.” Sobre a Rio+20, ele diz que os educadores e as crianças do projeto estão pesquisando o que é a Conferência, qual a importância política dele e “como nós, do morro do Borel, podemos contribuir”.

OTIMISTA DE PLANTÃO: TÁSSIA DA SILVEIRA MARTINS, 22 ANOS, DE NITERÓI

A estudante de Direito da Uni-versidade Federal Fluminense (UFF), Tássia da Silveira Martins, 22 anos, poderia chamar a atenção apenas por sua beleza. Mas tem dado baten-te em estágio na Defensoria Pública pensando no dia em que poderá vir

a advogar em defesa dos menos assistidos. E que mundo é este, na visão da jovem? “Como é usual se observar em jovens, vejo o mundo a partir de uma ótica otimista. É inegável que nos últimos tempos houve uma maior conscientização das pessoas no sentido de pensarem além do agora”, resume. Mas não se trata mais, se-gundo Tássia, de se preocupar com um futuro distante e abstrato, lembrando que se a expectativa de vida da população continuar aumentando no mesmo ritmo dos últimos anos, não serão os ne-tos ou bisnetos dos que vivem hoje os prejudicados pelos abusos cometidos, mas os próprios agentes dessa destruição. “Essa toma-da de consciência do indivíduo em relação a pertencer a um todo ocorre concomitante a um movimento de preocupação por um estilo de vida mais saudável, o que é um progresso importante, pois a mudança do indivíduo é fundamental para a mudança do todo”, destaca. A bem articulada estudante de Direito lembra que nunca se deu tanto apreço à saúde e à alimentação correta, bem como jamais se refl orestou e reciclou tanto.

Quando houve a Eco 92, ela ainda era ainda era muito pe-quena e o assunto chegou até ela apenas quando se prepara-va para o vestibular, durante uma aula de História. “Sei que foi de extrema importância pois consagrou a ideia de desenvolvi-mento sustentável, contribuindo para a tomada de consciência dos efeitos negativos gerados por um modelo de crescimento econômico tão consumista”, diz. E fi cou claro também para a estudante de Niterói que esses danos ao meio ambiente “são majoritariamente de responsabilidade dos países de alto poder econômico, que promoveram seu crescimento com base em um modelo insustentável”. Infelizmente, frisa, são alguns deles, como Alemanha e Estados Unidos, que não enviarão seus chefes de Estado para a Rio + 20, diferentemente do que ocorreu em 1992. “Mas como o mundo vem mudando rapidamente desde a crise de 2008, quem sabe mesmo com a ausência desses países a cúpula consiga promover avanços que benefi ciem toda a huma-nidade?”, questiona.

DANDO VOZ AOS EXCLUÍDOS: MAIRA RENOU, 22 ANOS, ESTUDANTE DE COMUNICAÇÃO NA UFF, DE BELFORT ROXO

A futura jornalista Maira Renou, 22 anos conta que os pais são muito politizados e envolvidos com movimentos sociais. “Eles me criaram neste ambiente; então, sempre fui sensível aos problemas da sociedade, às pessoas excluídas e em situação de risco”, conta. A jovem moradora de Belfort Roxo, na Baixada Fluminense não che-ga a fazer parte de alguma ONG ou grupo, mas como futura jorna-lista procura fazer reportagens com estas pessoas, para que tenham voz. “Tenho especial identifi cação com a causa indígena e dos Sem Terra”, destaca. Na sua avaliação, a Eco-92 apesar de ter sido um marco importante – trouxe discussões, debates e preocupações que não constavam na agenda internacional –, pouco gerou em termos de ações. “Minha expectativa em relação ao Rio + 20 é que os debates se aprofundem, ganhem mais corpo e talvez apoio. Mas não acredito que a partir deste momento as coisas mudem”, diz. Destaca que é cética em relação ao futuro do planeta Terra. “Acho improvável uma transformação geral de consciência, mas acredito que podemos caminhar aos poucos para isto. Se pudesse dar um recado a todos, diria ‘veja e cuide do outro com mais humanidade’. Aos organizadores do Rio + 20, indicaria três ações: garantir água a todos os habitantes da Terra; ações para uma agricultura sustentá-vel; aumentar o uso de energias renováveis”, sugere.

PREOCUPADO COM AS QUESTÃO SOCIAIS: LEON EGÍDIO DE MATTOS, MESTRANDO EM ECONOMIA DA UNICAMP, 25 ANOS

O mestrando em Economia da Universidade de Campinas, Leon Egídio de Mattos nasceu em 1987, na região da Baixada Fluminense. Mora, desde então no mesmo lugar, o município de Mesquita. Ele conta que, como em qualquer outra cidade de periferia, a pobreza e a precariedade das condições de vida da maioria da população “são gri-tantes”. O convívio contínuo e direto com essa condição despertou o interesse dos jovens para as questões sociais e políticas e, posterior-mente, ambientais. “Com relação ao Rio+20, minha visão é pessi-mista: os organizadores não levam em conta a dimensão social mais ampla da questão; tentam resolver apenas os problemas ambientais”, avalia. Segundo Leon, o problema fundamental não é discutido – porque a nossa sociedade está cada vez menos humana. “O sistema cria mazelas, dentre as quais ambientais, e a causa desses problemas não é questionada. Em um mundo em que a lógica do lucro submete as relações sociais, é necessário pensar em que tipo de sociedade se deseja viver. Por isso, acredito que a lógica do sistema deve ser ques-tionada, caso contrario qualquer proposta será paliativa”, critica. Nos-sa atitude, sugere o jovem mestrando, deve ser de conscientização no que diz respeito à sociedade em que vivemos e, além disso, “buscar um contato maior com os problemas concretos que se apresentam com o intuito de uma sociedade mais solidária”.

Sociedade

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SEVERN SUZUKI, jovem canadense que se tornou símbolo da Eco-92 tem hoje dois fi lhos

>> No detallhe, Severn Suzuki aos 12 anos de idade discursana Eco-92 e comove os líderes globais presentes.Acima Severn, em 2012, com 33 anos.

Há 20 anos, uma criança canadense de apenas 12 anos conseguiu calar e comover líderes globais com um discurso inquietante e acabou se tornando uma espécie de símbolo da participação da sociedade civil na Eco-92. Hoje, aos 33 anos, Severn Suzuki ain-da guarda na memória aquele momento e sonha em um mundo

sustentável para criar seus dois fi lhos.Ela deu entrevistas para a equipe da TV Globo e alguns outros veículos.

Falou sobre as lembranças da participação na Conferência da ONU, realiza-da no Rio, há 20 anos. Ela ainda é ativista pelo meio ambiente e educação. Severn dirige a Fundação David Suzuki, criada por seu pai no Canadá para alertar sobre questões ambientais, como o aquecimento global. Ela tam-bém é palestrante e em 2010 foi a personagem central do documentário “Severn, a voz de nossas crianças”, dirigido por Jean-Paul Jaud.

Depois da Eco-92, seu discurso fi cou gravado na memória. “Estou aqui para falar em nome das gerações que estão por vir. Estou aqui para defen-der as crianças que passam fome pelo mundo e cujos apelos não são ou-vidos. Estou aqui para falar em nome das incontáveis espécies de animais que estão morrendo em todo o planeta, porque já não têm mais aonde ir. Não podemos mais permanecer ignorados”, disse Severn Suzuki.

Em recente entrevista para a Folha de S. Paulo, Severn destacou que a mobilização é essensical e defendeu que as pessoas “trabalhem individual-mente para reduzir seus impactos na natureza” e ainda se tornem mais ati-vas política e socialmente, cobrando ações, sabendo exercer os direitos e compartilhando conhecimento e informação, para que possam ser ouvidas.

Na entrevista para a TV Globo ela também destacou a importância do amor pelos fi lhos.

“Estou aqui para falar em nome das gerações que estão

por vir. Estou aqui para defender as crianças que passam fome

pelo mundo e cujos apelos não são ouvidos. Estou aqui para

falar em nome das incontáveis espécies de animais que estão

morrendo em todo o planeta, porque já não têm mais

aonde ir. Não podemos mais permanecer ignorados”

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PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 201228 PLURALE EM REVISTA EM REVISTA EM REVISTA | Maio / Junho 201228

Texto: Elizabeth Oliveira, Especial para Plurale em revistaFotos: Divulgação

Protagonismo Social pode fazer a diferença

ONGs

“A crise econômica internacional já puxou a Rio+20 pra debaixo do tapete, mas, assim como ocorreu com a Rio-92, a marca desta conferência tem que ser a de participação da sociedade”. Quem afi rma é o diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica,

Mario Mantovani. O ambientalista não tem esperanças quanto aos resultados dos debates ofi ciais, mas confessa que o prota-gonismo social pode provocar uma reviravolta nos rumos da Cúpula da ONU. Um dos sinais positivos nesse sentido é o re-sultado da campanha Veta,Dilma que se fortaleceu nas redes sociais, ganhou espaço na mídia e levantou apoio inesperado contra as reformas no Código Florestal, demonstrando que o povo brasileiro está atento à agenda ambiental.

Mantovani recorda que a SOS Mata Atlântica teve um papel de protagonismo na Rio-92, quando atuou fortemente nas atividades do Fórum de ONGs, programação paralela re-alizada no Aterro do Flamengo que mobilizou a sociedade de forma inédita, abrindo caminho para que as Convenções da ONU, dali por diante, passassem a ser monitoradas pelos mo-vimentos e organizações sociais. Por conta desse histórico,

que só contribuiu para o fortalecimento do terceiro setor nas décadas seguintes, e pelos avanços que o Brasil vinha con-quistando na área ambiental, as expectativas dele em relação à Rio+ 20 já foram bem altas, mas deixaram de ser.

“O Brasil que vinha despontando com um conjunto avançado de leis ambientais e ganhando espaço no debate de questões globais, entre outros avanços, agora vai entrar pela porta dos fundos da Rio+20. Além de não ter tido responsabilidade na organização da conferência, o país to-mou decisões equivocadas às vésperas do evento, demons-trando total falta de habilidade.” Para o ambientalista, “o Brasil rasgou a Convenção sobre Diversidade Biológica (a CDB, da qual é signatário), ao tirar proteção das Unidades de Conservação por medida provisória” (referência à MP 558, que alterou os limites de 8 UCs federais na Amazônia Legal). Já em relação às polêmicas propostas de fl exibiliza-ção do Código Florestal, Mantovani opina: “é como se o país estivesse voltando ao século XVII, optando por investir no uso insustentável de recursos naturais como solo, água e fl orestas para produzir bens primários”.

Texto:

ProtaProta pode fazer

“A crise econômica internacional já puxou a Rio+20 pra debaixo do tapete, mas, assim como ocorreu com a Rio-92, a marca desta conferência tem que ser a de participação da sociedade”. Quem afi rma é o diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica,

Mario Mantovani. O ambientalista não tem esperanças quanto aos resultados dos debates ofi ciais, mas confessa que o prota-gonismo social pode provocar uma reviravolta nos rumos da

ProtaProta

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Manifestação no

Parque Ibirapuera

/ SP - SOS Mata

Atlântica, WWF

Brasil e

outras ongs

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A Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) é uma das orga-nizadoras de uma passeata, pro-gramada para o dia 18 de junho, que promete marcar as atividades dos movimentos sociais durante a Rio+20. A expectativa é que a mobilização comece por volta do meio-dia, no Aterro do Flamengo

(onde ocorre a programação da Cúpula dos Povos que também prepara uma marcha pela cida-de no dia 20 de junho) e siga em direção à Cinelândia, tradicional palco de manifestações políticas e culturais no Centro do Rio. As or-ganizações que apoiam a iniciativa querem expressar, durante todo o trajeto, um posicionamento de crí-tica à proposta de economia verde como solução para a crise global.

Justamente pelo posiciona-mento crítico à organização dos eventos ofi ciais, centrados na discussão da economia verde e da governança, o Comitê Facilita-dor da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20 (CFSC) divulgou uma nota, no dia 2 de maio, in-formando que não participará da série Diálogos para o Desenvol-vimento Sustentável - DDS (reu-niões preparatórias à convenção da ONU organizadas pelo gover-no brasileiro para o período de 16 a 19 de junho).

AGENDA AMBIENTAL NA CONTRAMÃO

Preocupado, também, com retrocessos na agen-da ambiental, Fábio Scarano, vice-presidente sênior da Divisão Américas da organização ambientalista Conservação Internacional, revela uma de suas principais expectativas para a Rio+20: “Espero que uma luz desça sob as cabeças dos governantes para que percebam o tamanho das contradições exis-tentes nas políticas públicas ambientais brasileiras”. Como exemplo de uma situação contraditória, ele menciona que, por um lado o país está bem posicio-nado em termos de controle de emissões de gases de efeito estufa e é o que mais criou áreas protegi-das nos últimos dez anos. Mas, por outro, aprovou alterações no Código Florestal às vésperas de sediar a conferência da ONU.

Segundo Scarano, não faltam questionamentos para o movimento ambientalista brasileiro: “Como é que pode o Brasil querer liderar políticas, tendo proposto medidas de redução dos riscos de perda de biodiversidade em 20 anos (no âmbito dos com-promissos como signatário da CDB) e, por outro lado, reduzir áreas de Unidades de Conservação para ampliar hidrelétricas na Amazônia?”. Alguns

elementos contribuem para a elaboração das suas próprias respostas: “Falta coerência na tomada de decisão. As políticas não dialogam”, pondera.

Ele ainda ressalta que o tempo é curto diante das urgências da agenda ambiental: “Não avan-çamos muito dede a Rio-92 e não podemos mais esperar por uma RIO+30 ou Rio+40. Já passou da hora de tomadas de decisões mais enérgicas”, opina. Para fazer frente à complexidade que envolve essa temática, o executivo da CI espera que o go-verno assuma um posicionamento fi rme durante a Rio+20. “Esta é uma questão de honra para o país, por ser o anfi trião e pela sua condição de liderança global em termos de patrimônio natural”.

Entre medidas factíveis que poderiam indi-car uma tentativa de acertar o passo em relação à agenda ambiental, Scarano sugere a criação de um

CRÍTICAS E MANIFESTAÇÕES SOCIAIS

Fábio Scarano

Segundo a nota, as redes e entidades que compõem o CFSC e que organizam a Cú-pula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental vêm historicamente lutando por es-paços de diálogo que contribu-am para a consolidação de polí-ticas públicas socioambientais. Mas os seus integrantes con-cluíram que “o método estabe-lecido pelos DDS não recolhe essa dinâmica de diálogo que temos tentado fazer avançar”. A publicação diz, ainda, que “a proposta dos DDS foi estabele-cida de cima para baixo, tendo o governo brasileiro escolhido os temas, os participantes e os facilitadores, indicando de for-ma inequívoca que os diálogos e seus resultados serão contro-lados pelo governo”.

Diante da recusa de enviar seus representantes aos even-tos oficiais e posicionadas con-tra os atuais padrões de produ-ção e consumo, considerados excludentes e insustentáveis, as organizações e movimen-tos sociais pretendem buscar outros canais de participação ativa na Rio+20. Para isso vão promover as atividades autô-nomas no âmbito da Cúpula dos Povos, para as quais é es-timada uma mobilização de 40 mil pessoas. Entre 15 e 23 de junho, o Aterro do Flamengo e adjacências devem concentrar a maior parte dos integrantes identificados com as causas socioambientais planetárias. Será uma espécie de caleidos-cópio cultural representando a sociobiodiversidade global.

A programação vem sendo organizada com apoio de um Grupo de Articulação Interna-cional, vinculado ao CFSC e formado por 35 redes, organi-zações e movimentos sociais de 13 países.

Saiba mais em: http://cupuladospovos.org.br/

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Fundo Fiduciário que destine recursos das compensações ambientais (vinculadas a pro-jetos de potenciais impactos) para fomentar novas práticas de desenvolvimento local, com enfoque no equilíbrio entre inclusão social e proteção da natureza. Ele estima que o país tenha como arrecadar mais de US$ 3 bilhões, o triplo do montante destinado ao Fundo Amazônia, para manter projetos com esse viés de sustentabilidade. “O Brasil tem tudo para assumir uma posição de liderança em busca de um novo modelo econômico, sobretudo porque ainda tem um grande contingente populacional pra tirar da pobre-za, mas não pode mais pensar em manter seu ritmo de crescimento às custas do capital natural”, conclui.

Adriana Ramos, secretária executiva ad-junta do Instituto Socioambiental (ISA) con-sidera que não é possível esperar grandes resultados da Rio+20 porque a Conferên-cia que tinha, na sua origem, que funcionar como uma oportunidade de balanço dos erros e acertos dos últimos 20 anos em re-lação à pauta ambiental, mudou o rumo das discussões, ao eleger economia verde e go-vernança como temas centrais. “A tendência natural era que ocorresse uma avaliação dos acordos de 1992, a fi m de identifi car gargalos e avanços. Mas da forma como o evento está sendo conduzido, as questões ambientais passam ao largo da discussão.” A situação, afi rma, é no mínimo contraditória para uma convenção que se denomina de Desenvolvi-mento Sustentável e na qual se busca ofuscar o reconhecimento de que o limite da susten-tabilidade esbarra em uma base cada vez mais

limitada de recursos naturais. “Sem o reconhecimento dessa questão, a nomenclatura da sustentabilidade não passa de mais do mesmo e, assim, não se pode esperar muito desta conferência”, comenta.

Mas levando em consideração que o debate central vai de encontro ao fortaleci-mento da economia verde - conceito ainda em construção e que vem sendo rejeitado pelo movimento ambientalista - Adriana opina que é fundamental aprofundar os deba-tes sobre a inconsistência de manutenção da utilização do Produto Interno Bruto (PIB) como principal forma de mensuração da geração de riquezas. Para ela, outros indica-dores precisam ser agregados à contabilidade do desenvolvimento (ainda fortemente percebido como sinônimo de crescimento econômico). Como pano de fundo dessa problemática, a ambientalista acredita que o diálogo sobre a manutenção da natureza precisa sair do nível de um debate periférico para fazer parte das decisões políticas.

Na perspectiva da governança, Adriana opina que a discussão de transformação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em uma agência in-ternacional é um debate pouco ambicioso. “A proposta de fortalecimento do PNUMA, apoiada pelo governo brasileiro, carece de consistência, já que não há detalhamen-to que demonstre como ele pode ser fortalecido para cumprir o papel necessário dentro da ONU. Não sei como as demais organizações estão se posicionando, mas nós acreditamos que uma agência com poder para assegurar a implementação dos acordos ambientais (tais como os compromissos dos países signatários da CDB e da Convenção do Clima) seria um caminho mais efetivo para garantir a devida priorida-de à agenda ambiental.”

A ambientalista reconhece que, como obstáculo, uma instância de decisão nesses moldes teria que enfrentar os altos custos de manutenção, o que certa-mente, contribuiria para inviabilizar as mudanças necessárias em pro-gramas da ONU como o PNUMA.

Para Virgílio Viana, superinten-dente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), apesar de todas as críticas e das expectativas pes-simistas de vários segmentos, em relação à Rio+20, “a sociedade brasileira não deve perder de vista o legado da Rio-92”. Analisando a partir dessa perspectiva, ele con-fessa que está confi ante em relação à conferência da ONU.

Viana afi rma que existem avan-ços a comemorar nas duas últimas décadas e que são resultado de toda a mobilização pós-Rio-92. “Seja pelo papel que vem sendo desempenha-do por governos locais, empresas e organizações do terceiro setor, bem como pelo governo federal, entre outros segmentos, percebe-se que há um novo paradigma de desenvolvimento em construção, às vezes subestimado”, observa.

Como parte dos avanços em busca de uma nova via de desenvolvimento, Viana menciona a Lei de Mudanças Climáticas do Governo do Amazonas, de 2007, a primei-ra do Brasil. A criação da Fundação Amazonas Sustentável, segundo ressalta, é outro exemplo de que há um movimento positivo em curso, envolvendo uma parceria en-tre o setor privado e o poder público, em prol da conservação da biodiversidade e da melhoria da qualidade de vida na Amazônia.

Quanto à polêmica elaboração do documento-base da Rio+20, um dos outros pontos de descontentamento do movimento ambientalista, Viana pondera: “O docu-mento pode ser considerado acanhado do ponto de vista de objetivos mais quanti-tativos, mas é importante por reafi rmar compromissos assumidos há duas décadas. Além disso, gerar documento de consenso não é tarefa fácil quando se envolve a discussão com uma grande quantidade de países”, conclui.

ONGs

Adriana Ramos

Virgílio Viana

Participe da maior conversa sobre o futuro: ofuturoquenosqueremos.org.br

A ONU está oferecendo a você a oportunidade de participarda próxima conferência sobre desenvolvimento sustentável. Uma conferência que se transfor-mou em uma conversa aberta,com foco em três grandes pilares:

E você também é nós. Todos somos nós. Se nós queremos, nós podemos. Se nósimaginamos, nós vamos fazer acontecer.Porque o futuro será como nósquisermos que ele seja.

social, ambiental e econômico.Você só precisa imaginar como gostaria que fosse o futuroe enviar um texto, foto ou vídeo com seu ponto de vista.Para que o futuro seja como nós quisermos que ele seja.

ofuturoquenosqueremos.org.br

19639 An Rio+20 Plurale 21x28.pdf 1 5/16/12 4:36 PM

PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 201230

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Participe da maior conversa sobre o futuro: ofuturoquenosqueremos.org.br

A ONU está oferecendo a você a oportunidade de participarda próxima conferência sobre desenvolvimento sustentável. Uma conferência que se transfor-mou em uma conversa aberta,com foco em três grandes pilares:

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PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 201232

ArtigoRubensHarry Born

Estamos nos aproximando de mais uma Conferência das Nações Unidas, com a expectativa da presença de muitos Chefes de Go-verno, mas, passados mais de dois anos do início da preparação da Rio+20, são muitas ainda as incertezas sobre resultados e desdobramento de mais um processo global de debates sobre

os desafi os do desenvolvimento sustentável.O propósito anunciado da Conferência das Nações Unidas sobre Desen-

volvimento Sustentável em 2012, a Rio+20, é renovar compromissos políti-cos e fomentar arranjos institucionais globais adequados para a transforma-ção da economia com vistas à superação da pobreza, levando-se em conta os princípios e perspectivas da sustentabilidade ambiental, social, cultural, entre outras. Seus dois temas principais, economia “verde” no contexto da erradicação da pobreza e promoção do desenvolvimento sustentável e o tema de arranjos institucionais globais para esse desenvolvimento, trazem novos elementos para um debate já antigo.

RIO+20: PALCO DE UM NOVO

DEBATE ANTIGO: que desenvolvimento,

com quem e para quem?

Como pano de fundo temos o debate so-bre as características do novo desenvolvimen-to, para que fi m e a quem ele deve servir. Ou seja, como os seres humanos devem garantir as condições determinantes de sua sobrevivência e convivência digna em diferentes territórios, e também o desafi o de organizar os critérios, instituições e sistemas que defi nem normas ou defi nem quem terá o acesso, em que forma e a que tempo a tais condições. Isto é, que arranjos políticos e institucionais governarão o rumo da civilização humana.

Vale lembrar que os milhares de partici-pantes do encontro da ONU e de dezenas de iniciativas da sociedade civil programadas para a cidade do Rio de Janeiro ou outras localidades antes e durante a Rio+20, o enorme trabalho de coordenação da Cúpula dos Povos, levarão em conta as decisões e o desafi o consagrado pela Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente. Há 20 anos, aquela conferência serviu para disse-minar conceituações sobre desenvolvimento sustentável e estabelecer princípios - como o da precaução; da equidade; da cooperação; da res-ponsabilidade dos Estados, das corporações e das pessoas; da participação e do acesso à infor-mação. Também estabeleceu acordos, instru-mentos e processos – como o de planejamento

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e gestão participativos de programas e ações que permitissem à Humanidade iniciar efetivamente a alteração do padrão de de-senvolvimento ainda antes do início do século XXI. Para isso, a comunidade internacional gerou a Agenda 21, as convenções sobre mudanças de clima e biodiversidade, bem como planos e declarações que resultaram de outras conferências da ONU que abordaram, depois da ECO-92, outras perspectivas ineren-tes ao desenvolvimento humano.

De lá para cá surgiram muitas questões. Por exemplo, que diferenças poderá gerar a Rio+20 no campo da imple-mentação das promessas e dos direitos, por meio de ações efetivas e transformadoras do modelo de desenvolvimento? Quem serão os atores fundamentais na transição e consoli-dação de formas de convivência e bem estar humano, que lidarão com os limites ecológicos do planeta, face à grave crise que se evidencia com os impactos do aquecimento global e das mudanças do clima? Como ampliar oportuni-dades de empregos dignos e saudáveis em processos pro-dutivos ambientalmente apropriados dos diversos setores econômicos, sem perder de vista a valorização de iniciativas comunitárias, locais e ou integradas?

Há dúvidas se o documento “O Futuro que queremos”, que a ONU pretende obter com a Rio+20, servirá como alavanca política para acelerar as ações de transição do modelo de desen-volvimento, de cuidado com as populações mais vulneráveis e a proteção dos processos ecológicos essenciais que garantem a Vida no planeta. Apesar de não ter caráter legalmente vinculan-te (ou seja, as decisões terão caráter político, sem obrigatorieda-de legal quanto ao seu cumprimento), espera-se que o texto a ser acordado traga forte compromisso e claras recomendações relacionadas a protocolos e convenções já vigentes ou a serem desenvolvidos, quer pela ONU, quer pelos países signatários. O que aparece, por enquanto, não dá sinais de ser substancial-mente inovador, e a situação é preocupante.

Para alguns, o documento conterá medidas paliativas, insufi cientes para alterar o sistema capitalista atual, que pro-move produção e consumo incompatíveis com os aspectos éticos, ecológicos e de justiça. Para outros, eventualmente, a ONU poderá dar alguns passos adiante na gradativa cons-trução da governança, ou seja, da capacidade de controle democrático do poder político e econômico, nas esferas global, nacional ou local, para que possamos reorientar o rumo da civilização humana.

Enquanto a dinâmica da sociedade civil avança, com ou sem articulação integrada, os governos seguem em seu rit-mo, tentando contemporizar opiniões e interesses diame-tralmente opostos.

Avançar hoje, a 30 dias do evento, signifi cará começar a co-locar em marcha a participação do maior número possível de pessoas no evento para que as pressões se façam sentir e pos-samos ter mudanças concretas. Se olharmos nossa evolução no tema da sustentabilidade em 20 anos, vemos que muita coisa mudou, mas que também muita coisa não avançou de forma alguma. Houve rearranjos, mas não mudanças profundas.

Metas, meios e mobilização – Ora, se objetivos, razões e ações para o desenvolvimento sustentável já foram aponta-dos nas anteriores conferências da ONU e, no caso do Brasil, nas conferências nacionais, na Agenda 21 brasileira, nos planos

diretores participativos, etc, o que se faz urgente e necessário? Metas mensuráveis e meios de implementá-las, mediante instru-mentos políticos e fi nanceiros, além de avaliações contínuas das ações e de seus impactos, e de maior rapidez na justa transição para novos padrões de consumo e produção. Precisamos de ações que tenham também caráter sistêmico e transformador.

Em recente documento intitulado “Chega de Mesmice” assinado por relevantes instituições não governamentais do mundo, alguns outros pontos nevrálgicos do debate foram também apontados. Só para destacar alguns, cito a impor-tância de se decretar reformas do sistema de governança global para garantir instituições fortes, com poder real de implantar regras e compromissos internacionais relacio-nados ao meio ambiente e ao desenvolvimento, e iniciar negociações sobre um tratado global para garantir o direito de acesso público a informação, justiça e maior participação da população, a fi m de reforçar a transparência, prestação de contas, responsabilização e monitoramento do desem-penho em relação a questões ambientais e do desenvolvi-mento para cidadãos nos níveis nacional, regional e global. Pode parecer uma tarefa enorme e inviável, mas não é.

Trata-se sim de um longo processo e ele já está em marcha. Resta saber se as defi nições avançarão a ponto de não termos que tomar decisões por bem ou por mal, ou seja, sem muita alternativa a não ser fazer.

Outro ponto importante do documento trata da necessária eliminação gradativa de subsídios prejudiciais ao meio ambien-te, como os destinados a manter e ampliar a exploração e pro-dução de combustíveis fósseis, e realocar tais recursos para a promoção da pesca sustentável, ao acesso a energia renovável e sustentável e à agricultura familiar e de base ecológica.

Como se vê, o desafi o é enorme e não se admite que as conferências da ONU sejam pouco ambiciosas em bus-car procedimentos e soluções que resolvam os desafi os da sustentabilidade.

Rubens Harry Born ([email protected])é coordenador do Vitae Civilis – Institutopara o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz(www.vitaecivilis.org.br ) e do FBOMS – Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Desenvolvimento e Meio Ambiente e representante desse na Comissão Nacional da Rio+20. Também integra o Grupo de Articulação do Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20.

“ Enquanto a dinâmica da sociedade civil avança, com

ou sem articulação integrada, os governos seguem em seu

ritmo, tentando contemporizar opiniões e interesses

diametralmente opostos.”

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Estudantes de 14 a 18 anos de todo o Brasil podem se inscrever no Prêmio FINEP Jovem Inovador, que vai selecionar as melhores fotografias sobre energia susten-tável. O objetivo é levar o conceito de inovação para as escolas e despertar o interesse dos mais jovens por tec-nologia. O tema é uma homenagem à Rio+20 e ao ano de 2012, escolhido pela Assembléia Geral das Nações Unidas como o Ano Internacional da Energia Sustentá-vel para Todos.

Segundo André Calazans, chefe do Departamento de Marketing da FINEP, o prêmio foi criado para aumentar a participação dos jovens em questões relevantes para o País. “Queríamos criar um prêmio voltado para o públi-co pré-universitário, com uma temática diferente a cada ano. Por isso, escolhemos como suporte para a primeira edição a fotografia, que é de fácil acesso e gera bastante interesse entre os jovens. A intenção é fazer com que eles tenham ideias inovadoras e, quem sabe, concorram ao Prêmio FINEP no futuro”, afirma André.

As fotos podem ser de paisagens, máquinas, pessoas, objetos, construções e instalações. “Como exemplos de energia sustentável, podemos citar a energia solar, a eó-lica e a gerada pela biomassa. Queremos que os jovens pesquisem e que as escolas e as famílias se envolvam no processo”, explica André Calazans. A divulgação do Prê-

mio FINEP Jovem será realizada em parceria com secreta-rias de educação, e instituições de ensino públicas e privadas.

Cada participante pode concorrer com até três fotogra-fi as, que devem ser digitais e inéditas. O arquivo deve estar no formato JPEG ou TIFF, com no mínimo 500 KB e, no máximo, 5 MB. As inscrições devem ser feitas até 16 de agosto. Um comitê de jurados da FINEP avaliará as fotos em até 120 dias após o término das inscrições. Os critérios serão a originalidade, a qualidade técnica e estética da foto, e a adequação ao tema proposto. Serão escolhidas as três melhores fotos de cada região do Brasil, e os fotógrafos serão homenageados com troféus em cerimônias de pre-miação. As fotografi as classifi cadas em primeiro lugar na etapa regional concorrerão ao Prêmio Nacional. Os primei-ros lugares de cada região e o vencedor nacional receberão ainda um prêmio no valor de R$ 2,5 mil.

REGULAMENTO

http://premio.fi nep.gov.br/images/regulamento_pre-mio_fi nep_jovem2012.pdf

FORMULÁRIO

http://premio.fi nep.gov.br/images/formulario_pre-mio_fi nep_jovem_2012.doc

RIO+20: FINEP LANÇA CONCURSO DE FOTOGRAFIA PARA ESTUDANTES SOBRE ENERGIA SUSTENTÁVEL

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BARES DO PAVÃO-PAVÃOZINHO E DO CANTAGALO VÃOVENDER PRATOS SOFISTICADOS DURANTE A RIO+20

Por Alana Gandra, Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20 será também uma oportunidade para os turistas conhecerem pratos sofi stica-dos, porém com ingredientes genuinamente brasileiros e preços reduzidos. A comida será preparada por moradores das comunidades Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, localiza-das em Ipanema e Copacabana, zona sul da cidade.

A programação começará no dia 13 de junho e se es-tenderá até o fi nal da Rio+20, no dia 22. O organizador é o professor de Varejo da Fundação Getulio Vargas Daniel Plá. Dez pequenos bares (biroscas) dos morros estão sen-do preparados por quatro chefes de cozinha de restauran-tes do Rio para oferecer aos visitantes estrangeiros pratos com toques nacionais, como uma paella carioca, que leva até feijão, ou o ravióli recheado de rabada.

As vendas foram “escolhidas a dedo”, em função de sua localização e, também, da qualidade dos serviços presta-dos, disse Daniel Plá à Agência Brasil. Durante todos os dias da Rio+20, elas oferecerão os pratos diferenciados aos visitantes.

“Cada um dos birosqueiros vai aprender dez frases em in-glês. Os pratos serão oferecidos aos turistas a R$ 45, com apre-sentação de pratos de restaurantes cinco estrelas. Será cobra-do um preço especial para quem mora na comunidade. Isso já está combinado”, explicou. O cardápio para os turistas inclui, além do prato principal, o serviço e uma dose de caipirinha.

Os pequenos bares dos morros sempre chamaram a atenção do professor pela criatividade, alegria e música que a maioria deles oferece. “É um mundo à parte. É como se ti-vesse uma cidade do interior do Brasil no miolo de Ipanema e Copacabana”, disse. Segundo o professor da FGV, o momento é bom para mostrar que “se for bem trabalhada na questão do turismo, a favela se autossustenta”.

O projeto tem a fi nalidade de fazer com que a comunida-de do morro ganhe dinheiro com a Rio+20 e não apenas as agências de turismo, disse Daniel Plá. A expectativa é que, com a conferência, as dez vendas faturem em torno de R$ 6 mil cada. “O dinheiro vai direto para os birosqueiros envolvidos e os quatro guias turísticos, todos jovens das comunidades, dois dos quais falam inglês com fl uência”.

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Organizada pela Fundação Proamb e realizada no Parque de Eventos de Bento Gonçalves (RS) no fi nal do mês de abril, a quinta edição da Fiema Brasil teve a participação de 256 exposi-tores de todos os estados brasileiros e de dez países, mantendo o crescimento de 30% em relação à edição passada. Empresas que levaram para a feira soluções ambientais – equipamentos, servi-ços e muitas inovações – gerando, apenas durante o evento, um volume de negócios em torno de R$ 10 milhões e atraindo um público de 22 mil pessoas nos quatro dias de realização.

Eventos simultâneos paralelos à feira, o II Congresso Interna-cional de Tecnologia para o Meio Ambiente focado no tema Eco-efi ciência dos Processos e o Seminário de Legislação Ambiental em tempos do polêmico Código Florestal, foram destaques, as-sim como duas novidades na grade de programação: o Meeting Empresarial e o Fórum de Jornalismo Ambiental. No Meeting para abordar a gestão dentro dos pilares da sustentabilidade a organiza-ção convidou como palestrantes, Ricardo Voltolini, autor do livro “Conversas com líderes sustentáveis” e idealizador da Plataforma Liderança Sustentável, os empresários Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak e Mario Pino, gerente corporativo de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Braskem. Todos foram unânimes em dizer que dentro de uma década as empresas que não estiverem em conformidade com a sustentabilidade não sobreviverão e que elas

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5ª EDIÇÃO DA FIEMA BRASIL ATRAI EMPRESAS DE 10 PAÍSESPor Isabel Capaverde, de Plurale em revista (*) De Bento Gonçalves (RS) serão julgadas pelo próprio consumidor. No Fórum de Jornalis-

mo Ambiental, profi ssionais especializados, estudantes de jorna-lismo e interessados pelo assunto discutiram as melhores formas de comunicar o tema ambiental, esclarecendo e informando, já que hoje ele surge em todas as editorias de forma transversal.

Andando pela feira, o estande do Sebrae chamava atenção pela expressiva participação de 41 micro e pequenas empresas nacionais, oferecendo as mais variadas soluções como contro-le e contenção de vazamentos de óleo e outros produtos quí-micos desenvolvidos pela Ebio ou os telhados verdes e jardins verticais da Ecotelhado. A preocupação com o lixo eletrônico, ainda um desafi o para sociedade e governo, também estava pre-sente em alguns estandes como o da empresa Lixo Digital que trabalha com a logística reversa de tecnológicos. Com sede no interior paulista a empresa planeja espalhar ecopontos - postos para recolhimento de equipamentos eletrônicos – pelo país. E se na edição de 2010 a Casa Sustentável foi uma das maiores atrações, esse ano o conceito foi transportado para uma Vila Sustentável que abrigava uma praça e alguns estabelecimentos demonstrando que essas construções são viáveis não apenas para residências, mas também para o comércio.

Para a organização da Fiema meio ambiente deixou a muito tempo de ser somente um tema para ser um negócio rentável.

(*) A repórter viajou a convite da Fiema.

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CENTRO DE RECICLAGEM É INAUGURADO EM LINHARES

Numa parceria entre governo, empresas privadas e terceiro setor o Pro-jeto CRIAR - Centro de Reciclagem, Inovação, Aprendizagem e Renovação – que teve início em 2009 e tem como objeto desenvolver, implantar e colocar em operação um sistema inovador de coleta seletiva foi inaugurado em 16 de maio na cidade de Linhares, no Espírito Santo.

Inicialmente o programa contará com cerca de 30 catadores, auxiliados pela Secretaria de Assistência Social do Município, que receberão treinamen-to e capacitação. “Agora não vai ser tão cansativo igual nós trabalhávamos puxando carrinho”, diz a catadora Pedrolina Nunes, que trabalha há mais de quinze anos com coleta. O projeto é uma parceria entre a Prefeitura de Linhares, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Cidade, a Sucos Mais (SABB Coca-Cola), o Instituto Coca-Cola Brasil, a ONG Doe seu Lixo e a empresa de limpeza urbana Vital Engenharia Ambiental, além da comunidade de Linhares.

O projeto é o que um dos mais inovadores na área de reciclagem, disse Thais Vojvodic, gerente de projetos do Instituto Coca-Cola Brasil. De acor-do com o gerente de sustentabilidade da SABB Coca-Cola, Fabiano Rangel, o grande diferencial que esse projeto tem em relação aos outros de recicla-gem é o fato de trabalhar com a esteira mecanizada, que consegue controlar

o tempo de passagem dos resíduos “Isso permite que com uma boa capacitação dos catadores faça com que você tenha uma melhor produtividade no processo de separação dos resíduos”, diz.

Entre os objetivos primordiais do CRIAR está a ca-pacitação dos catadores de resíduos, que passarão a trabalhar organizados em cooperativa, na nova central de triagem capaz de separar 160 toneladas de resíduos ao mês. “A SABB Coca-Cola tem o orgulho de fazer parte desse projeto, contribuindo com um aporte fi -nanceiro de R$ 200 mil. Esperamos levar este mesmo formato de gestão de resíduos para outras cidades onde estamos presentes, como Fazenda Rio Grande, no Paraná”, diz Mauro Ribeiro, diretor de Relações Ins-titucionais da empresa. A SABB Coca-Cola é a gestora da fábrica Sucos Mais que emprega diretamente 1% da população de Linhares.

Segundo o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, a necessidade da criação veio do cresci-mento da cidade de Linhares, com 142 mil habitantes, que é uma das que mais se desenvolvem no Estado. Com um investimento total de R$ 500 mil reais Li-nhares passa a fazer parte de um seleto grupo de 443 municípios brasileiros, segundo relatório do Compro-misso Empresarial para a Reciclagem, CEMPRE, que realizam algum tipo de projeto de gestão de resíduos voltada à reciclagem. Segundo o governador, oito dos 78 municípios do Espírito Santo contam com progra-mas de coleta seletiva.

Além do investimento em equipamentos, a prefei-tura irá custear cerca de R$ 300 mil reais em 24 meses, prazo que o projeto precisa pra se consolidar e come-çar a se autossustentar. “Se chegar daqui a 24 meses e não tiverem condições de tocarem o projeto com a renda do produto que eles trabalharem a prefeitura vai estar presente, isso é fundamental”, diz o prefeito da cidade, Guerino Luiz Zanon.

(*) A repórter viajou a convite da SABB Coca-Cola.

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Por Isabella Araripe, de Plurale em siteDe Linhares (ES) *

Catadores do projeto com o governador do Espírito Santo,Renato Casagrande (à esquerda), Axel de Meeûs (ao centro)e o prefeito de Linhares, Guerino Zanon.

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ArtigoAlfredoSirkis

Rio Climate Challenge

Desde a Conferência de Bali, em 2007, o Brasil, que contribui com cerca de 4% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), vem ocupando um papel proeminente nas negociações climá-ticas. Naquela ocasião foi praticamente o único país a trazer boas noticias ao anunciar um corte de emissões de 14%, no ano anterior, resultante da queda de desmatamento na Amazônia. Nos últimos cinco anos essa tendência vem se mantendo. Na conferência de Copenhagen, dois anos

mais tarde, o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a apresentar metas de redução de emissões no agre-gado. Anunciou sua disposição de reduzir entre 36% e 39% de suas emissões contra a chamada curva Business as Usual (BAU), o que representaria uma redução, em termos absolutos, de mais de 20% em relação ao ano base de 2005. O anúncio de 2009 foi feito, projetando um aumento médio do PIB brasileiro entre 6% e 4%, até 2020, o que, neste momento, parece bastante acima da realidade. Isso, eventualmente, facilitará ao país alcançar essas suas metas voluntárias anunciadas em Copenhagen.

Na Conferência COP 17, em Durban, o Brasil deu alguns passos mais ao jogar um importante papel diplomá-tico articulador entre o grupo BASIC --que compõe juntamente com a África do Sul, Índia e China-- a UE e os EUA para que, pela primeira vez, fosse aceito (ainda que genericamente) o princípio de metas obrigatórias de redução de emissões para todos os países, a partir de 2020. Sua diplomacia foi também bem sucedida em negociar uma

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sobrevida ao Protocolo de Kioto, junto com o prazo de 2015 para um novo acordo. O Brasil foi o protagonista diplomático mais destacado no processo, que acabou surpreendendo a maior parte dos observadores que apostavam no fracasso da conferência de Durban. . Na verdade a COP 17 fi cou na metáfora do copo, meio cheio, meio vazio.

Meio cheio, pelo fato de ter conseguido manter e de algum modo fazer avançar a governança internacional em torno do imenso risco das mudanças climáticas, esse complexo e confuso sistema da UN FCCC (United Nations Framework Climate Change Conference). Meio vazio, porque subsiste enorme distância entre o conjunto de compromissos tanto obrigatórios (Anexo I do Protocolo de Kio-to, atualmente restritos à UE) quanto os voluntários, enunciados pelos demais países em Copenhagen e Cancun, em relação à necessidade de se manter a concentração de GEE na atmosfera abaixo de 450 ppm para ter uma chance razoável de limitar o aquecimento médio do planeta neste século a 2 graus centigrados, conforme o consenso científi co do IPCC. A distância entre o máximo que a diplomacia consegue e o mínimo que a ciência consegue continua abissal.

A atenção internacional agora se volta para a Conferência Rio + 20 a ser realizada no Rio de Janeiro de 13 a 22 de junho. Ela formalmente não abordará a questão climática que tem seu próprio canal de negociação na ONU, as COP (Conferences of Parties) sob a égide da UN FCCC. Evita-se também pro-ceder um balanço sistemático da implementação dos grandes acordos fi rmados na Conferência Rio 92, as convenções do Clima, Biodiversidade e Desertifi cação e a Agenda 21, como seria recomendável numa conferência que se refere explicitamente àquela anterior, há vinte anos, na mesma cidade.

Mas paralelamente, será realizado de 13 a 21 de junho, o Rio Climate Challange (RCC), uma ini-ciativa envolvendo grupos facilitadores, não-ofi ciais, provenientes de países grandes emissores e de alguns países de grande vulnerabilidade, para simular e modelar um esforço comum mais ambicioso, visando um compromisso internacional sobre Clima, capaz de atender à demanda da ciência face ao aquecimento global.

A ideia é “negociar” um “acordo” envolvendo os maiores emissores e alguns dos mais vulneráveis. Isso contribuirá para sensibilizar e mobilizar a opinião pública internacional, mostrando que existem caminhos factíveis desde que os contextos políticos nacionais se tornem mais favoráveis. Isso pode facilitar a negociação dos governos no âmbito da COP 18 e de conferências subseqüentes, oferecendo-lhes uma modelagem já previamente simulada entre quadros políticos, científi cos, acadêmicos e em-presariais infl uentes destes países.

O RCC propiciará ao Rio de Janeiro manter o status de cidade de referência internacional nas ques-tões ambientais globais conquistado na Rio 92, quando foi assinada a Convenção do Clima.

Alfredo Sirkis, Deputado Federal (PV-RJ), escritor e jornalista, é o presidente da subcomissão Rio + 20 da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

Rio Climate Challenge

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PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 201240

ArtigoIlan Goldfajn

O Brasil vem crescendo aceleradamente nos últimos oito anos. Entre 2004 e 2011, o PIB cresceu, em média, 4,5% ao ano, quase o do-bro da tendência dos 20 anos anteriores. Mas será que o crescimento maior tem se traduzi-

do em ganhos de qualidade de vida para a população?Há evidências de que as medidas tradicionais de de-

sempenho econômico, como PIB e consumo, não necessa-riamente refletem a evolução do bem-estar da sociedade. Uma economia pode ter seu PIB, renda e consumo cres-cendo bem, mas sem o equivalente progresso em termos de bem-estar, medido, por exemplo, através da educa-ção, da saúde e da desigualdade de renda da sociedade. O processo de desenvolvimento pode gerar elevação da desigualdade, da poluição, da jornada de trabalho, da cri-minalidade, etc.

De fato, não se encontra evidência clara de uma relação entre crescimento do produto per capita e aumento da feli-cidade (ou do bem-estar) medido por pesquisas de opinião (veja sumário em “Will GDP Growth Increase Happinness in Developing Countries?”, Texto para Discussão IZA, no. 5595, março 2011, Andrew E. Clark e Claudia Senik). Os re-sultados mostram que ao longo do tempo, em um mesmo país, os dados não comprovam que pessoas que enriquecem fi cam mais felizes. Apesar de existir, sim, uma tendência de os habitantes de países mais ricos serem mais felizes.

Crescimento ebem-estar no Brasil

Porque isso acontece? Os estudos levantam algumas hi-póteses. Primeiro, há um elemento relativo: o bem-estar de uma pessoa somente melhora se sua renda elevar-se em comparação com a renda média de seu grupo de re-ferência. Segundo, há uma certa adaptação a níveis mais elevados de renda. O aumento de renda corrente tem forte impacto imediato sobre o bem-estar e a satisfação pessoal, mas se dilui ao longo do tempo. Ambas as hipóteses encon-tram algum respaldo nos testes empíricos, embora expli-quem apenas parcialmente a baixa correlação entre renda e satisfação pessoal.

A explicação mais aceita é que há outros fatores (além da renda) que infl uenciam o bem-estar e podem compensar o ganho gerado pelo crescimento maior. O fato de várias ex-periências de crescimento elevado virem acompanhadas de aumento da desigualdade social – por exemplo, o Brasil nos anos do milagre econômico – indica que episódios de cresci-mento elevado não devem ensejar necessariamente aumento da felicidade média da população.

Nesse espírito, a equipe econômica do Itaú construiu um indicador para tentar medir o bem-estar da população bra-sileira e responder a pergunta da introdução do artigo “O Índice Itaú de Bem-Estar Social” (bit.ly/itau_bemestar). O indicador leva em consideração, além das condições econô-micas, as condições humanas e a distribuição de renda. Há vários subindicadores que compõem o índice.

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Um dos subindicadores leva em conta as condições econômicas (apesar de não serem suficientes para ga-rantir bem-estar). O aumento do poder de compra e a capacidade de pagar as contas no final do mês represen-tam uma parcela importante da qualidade de vida de uma sociedade. Para caracterizar o subindicador de condições econômicas, foram incorporadas informações sobre con-sumo varejista, mercado de trabalho e inflação.

Para caracterizar o subindicador de condições hu-manas, levamos em conta questões de saúde e sanea-mento (mortalidade infantil, expectativa de vida, acesso à rede de esgoto), educação (anos de escolaridade) e segurança (taxa nacional de homicídios). São questões que não apenas impactam o dia a dia das pessoas, como permitem que elas se sejam melhor preparadas – e mais produtivas – no futuro.

Finalmente, para medir a evolução da distribuição de renda usamos os tradicionais índices de Gini e Theil. Op-tamos por criar um subindicador apenas para desigualda-de social a fim de aumentar sua importância no índice. Ao contrário dos outros dois subindicadores anteriores, a desigualdade social não necessariamente é uma carac-terística que melhore diretamente o bem-estar individual. O ganho vem indiretamente, através da vida cotidiana em uma sociedade mais equânime.

O índice final é composto pela média geométrica dos três subindicadores. Portanto, condições econômicas, humanas e de desigualdade têm peso igual no resultado final.

O resultado, com dados desde 1992, está no gráfico,

que compara a evolução do bem-estar com o PIB brasileiro. A reforma monetária de 1994 produziu não apenas uma reversão abrupta da piora de bem-estar que vinha se ob-servando no Brasil até aquele ano, como impulsionou ra-pidamente o índice nos anos seguintes. Os anos de 1994 a 1996 registraram a maior elevação marginal de bem-estar no período analisado, que cresceu mais do que o PIB.

Entre 1997 e 2001 o PIB seguiu crescendo moderada-mente, mas o bem-estar experimentou uma fase de estag-

nação. A melhora das condições humanas (exceto segu-rança) e da desigualdade (a taxas baixas) foi compensada pela piora nas condições econômicas, resultado das crises sequenciais nos países emergentes, inclusive no Brasil.

A partir de 2002, no entanto, o bem-estar volta a me-lhorar, com avanços sistemáticos nos três subindicadores. PIB e bem-estar passam a crescer em ritmo semelhante. Não houve grandes impulsos de bem-estar como obser-vado em 1994/5, mas foram notadas variações positivas ininterruptas.

De 2008 em diante, o bem-estar seguiu melhorando, mas a taxas um pouco mais lentas. A desaceleração está ligada à crise financeira global, de um lado, e ao aumento na taxa de homicídios no período, de outro. Os avanços em educação e saúde e saneamento também foram um pouco mais lentos entre 2008 e 2010.

De forma geral, o Índice Itaú de Bem-Estar Social mos-tra que houve um avanço importante da qualidade de vida nos últimos 20 anos no Brasil.

Em que medida o indicador traz novidades diante de outros indicadores já consagrados, como por exemplo, o IDH da ONU? Em primeiro lugar, o índice do Itaú caracte-riza melhor e em maiores detalhes os aspectos econômi-cos e humanos. Especialmente por levar em consideração aspectos mais relevantes para a economia brasileira, como saneamento básico e violência urbana. Em segundo, dá um peso maior à desigualdade social, outro quesito parti-cularmente relevante para o Brasil.

Mas ainda existe espaço para que o índice seja ainda mais completo. Por falta de dados, um aspecto importante para a qualidade de vida da sociedade ficou fora de nossa análise: a saturação do ambiente físico.

Essa “saturação” tem diversos aspectos. Pode ser congestionamento das vias públicas nos grandes cen-tros – que tem reflexo em aspectos fundamentais da vida das pessoas, como o tempo perdido no ônibus ou no carro para chegar ao trabalho. Ou pode dizer res-peito à ecologia, à saturação do meio ambiente. Variá-veis como qualidade do ar, poluição e desmatamento poderiam ser consideradas.

Em suma, o recém-lançado Indicador Itaú de Bem-Estar social mostra que o Brasil avançou de forma impor-tante nos últimos 20 anos não apenas do ponto de vista de crescimento econômico, mas também de bem-estar e qualidade de vida das pessoas. Para a frente, o bem-estar vai depender do “bem-fazer”: ou seja, da capacidade de “fazer” mais e melhor. Não basta consumir mais. Será cru-cial estimular mais o investimento (público e privado) e a melhora na produtividade. Só assim será possível manter a trajetória de crescimento da economia e a promoção do bem-estar da população que experimentamos nos úl-timos anos.

Ilan Goldfajn é economista-chefe do Itaú Unibanco e sócio do Itaú BBA.

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Índice Itaú de Bem-Estar Social

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Gráfico 5: Índice Itaú de Bem-Estar Socialvs. PIB Real

Fonte: ItaúFonte: Itaú

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O jornalista Fernando Gonçalves adora sair com sua máquina para tentar capturar um pou-co da alma do carioca. Este ensaio mostra di-ferentes ângulos destes passeios de Fernando. No sentido horário: o jovem artista na Praça São Salvador que reproduz casas da favela; o passeio dos barcos na Baía de Guanabara; o mico que faz alerta para os homens; por do sol; a Lagoa Rodrigo de Freitas de noite; o sono das crianças catadoras de latinhas após os blocos de Carna-val e o Corcovado visto do Forte do Leme.

FOTOS:FERNANDO GONÇALVES

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APRENDER E FAZER

No Centro de Formação Profi ssional da FAM, em Novo Airão, Netúsia de Araujo Silva, 45 anos, sete fi lhos, dá os retoques fi nais numa arraia e vai contando que, graças ao curso que fez na Fundação Almerinda Malaquias, hoje é artesã e ali mesmo trabalha diariamente para incrementar a renda familiar. Seu marido, Clemente Marinho da Silva, é o presidente da Nov`Arte, associação criada para que os arte-sãos possam comercializar sua produção. Dois fi lhos estão na universidade e Daniel, 19 anos, já é artesão pela FAM.

“As ondas do rio embalaram a canoa que me serviu de berço, enquanto minha mãe lavava a roupa nas suas margens. O canto dos macacos guariba, mes-clado com mil sons do canto dos passarinhos, me induziram ao sono, debaixo dos galhos da árvore

que me amparava com sua sombra. Eu e os meus irmãos, todos, vivemos a maior parte das nossas vidas no ventre da Floresta Amazônica. É por isso que meu sangue tem o cheiro da clorofi la.”

Este trecho do livro do amazonense Miguel Rocha da Sil-va, fi lho da índia Almerinda e do pernambucano Malaquias, revela sua paixão pela fl oresta e explica sua vida de trabalho e dedicação à preservação da Amazônia. Ele foi o idealizador e preside a Fundação Almerinda Malaquias, nome escolhido em homenagem a seus pais. A ONG existe desde o ano 2000, em Novo Airão (AM), na margem direita do Rio Negro, numa região que abrange áreas de preservação, como o Parque Na-cional Jaú e a Estação Ecológica das Anavilhanas.

Miguel acredita que é fundamental cuidar ao mesmo tem-po da natureza e da vida dos ribeirinhos, chamados de cabo-clos, cuja sobrevivência depende daqueles rios oceânicos e daquelas terras de fl ora e fauna exuberantes. Em busca de uma resposta para os seus anseios, ele pergunta: ”Até quando estes povos da fl oresta serão ignorados?”

E vem à tona a velha questão: o que é preciso salvar pri-meiro? A fl oresta ou os caboclos? O que priorizar? O Planeta ou os seres que o habitam? Especialistas que defi nem o que desejam para o futuro, durante a Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, optaram por dar o mesmo peso aos três pilares: social, ambiental e econômico. Buscam vida saudável para todos. Enquanto isso, Miguel e seu parceiro, o suíço Jean- Daniel Vallotton vão bo-tando em prática o que o mundo ainda tenta botar no papel.

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Raina, Radriele, Priscila e Klaiver, aprendem arte e preservação do meio ambiente.

No Centro de Formação Profi ssional da FAM, em Novo Airão, Netúsia de Araujo Silva, 45 anos, sete fi lhos, dá os retoques fi nais numa arraia e vai contando que, graças ao curso que fez na Fundação Almerinda Malaquias, hoje é artesã e ali mesmo trabalha diariamente para incrementar a renda familiar. Seu marido, Clemente Marinho da Silva, é o presidente da Nov`Arte, associação criada para que os arte-sãos possam comercializar sua produção. Dois fi lhos estão na universidade e Daniel, 19 anos,

Raina, Radriele, Priscila e Klaiver, aprendem

No Centro de Formação Profi ssional da FAM, em Novo Airão, Netúsia de Araujo Silva, 45 anos, sete fi lhos, dá os retoques fi nais numa arraia e vai contando que, graças ao curso que fez na Fundação Almerinda Malaquias, hoje é artesã e ali mesmo trabalha diariamente para incrementar a renda familiar. Seu marido, Clemente Marinho da Silva, é o presidente da Nov`Arte, associação criada para que os arte-sãos possam comercializar sua produção. Dois fi lhos estão na universidade e Daniel, 19 anos,

Raina, Radriele, Priscila e Klaiver, aprendem

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Texto e fotos: Nícia Ribas, de Plurale em revistaDe Novo Airão (AM)

No interior do Amazonas,a FAM bota em prática os três pilares da RIO+20

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que se desdobra nos papéis de secretária da Fundação e mestra-artesã. Ela fez curso na FAM, pesquisou muito na Internet e sabe usar sua criatividade aliada aos recursos que tem a mão. Ao fazer uma demonstração para Plurale, durante o processo, ela deu dois passos, catou no terreno um ramo de citronela, e acrescen-tou à mistura, dizendo: “Isso vai dar cor e aroma ao papel”.

DE FILHO PARA PAI

A FAM investe na conscientização ambiental de alunos da rede pública, através do Ateliê das Crianças, que há dois anos conta com apoio do Município. Hoje, atende a 120 crianças de cinco a 12 anos, com seis horas semanais de educação ambiental. “Nossa intenção é conscientizar os pais através de seus fi lhos, pois as crianças se tornam multiplicadoras em suas famílias. Nosso contato com os pais ocorre em três reuniões anuais”, informa Jean-Daniel.

Na fachada da sala de aula, em coloridos desenhos feitos pelas crianças, está retratada a história da vida de Almerinda e Malaquias, numa homenagem ao seu fundador, Miguel Rocha da Silva.

Todos os programas da FAM têm foco na educação integral. Para trabalhar como autônomo, o caboclo precisa saber calcular o custo e lidar com fornecedores, por exemplo. “Visamos sem-pre a formação de profi ssionais autônomos e a melhoria da sua qualidade de vida”, diz Jean-Daniel.

Já o programa Profuturo, destinado a jovens de 13 a 15 anos, prepara adolescentes para a vida profi ssional, o associa-tivismo e valorização do ser humano. Com ferramentas mo-dernas, como o computador, a FAM realiza programas para va-lorizar a cultura dos antepassados. Seus professores também fi cam de olho nos valores morais e na saúde dos alunos: “É muito comum por aqui vermos meninas de 13, 14 anos engra-vidando e entregando os fi lhos aos pais”.

EKOBÉ – VIDA, EM TUPI

A seis quilômetros do centro de Novo Airão, em 32 hecta-res de fl oresta, terreno cedido pela Prefeitura, a FAM está ins-

“Além de ser um trabalho lucrativo, é um pra-zer; passo mais tempo aqui do que em casa”, diz Clemente, mais conhecido pelo apelido de Pastor. Ex-técnico de eletrônica, hoje ele consegue faturar, com o artesanato, em torno de R$ 2 mil mensais numa região em que emprego é coisa rara. No seu entender, a FAM melhorou signifi cativamente a vida de muitas famílias dentre os 16 mil habitantes de Novo Airão.

Miquéias Rodrigues de Souza, Fernando da Cos-ta Melo, Edmilson Daniel Barreto e Domingos Sá-vio Lima também já se formaram mestres-artesãos e hoje ensinam seus alunos a transformar resíduos de madeira, recolhidos em estaleiros navais e serra-rias, em obras de arte: sapos, arraias, jacarés, cobras, macacos, da fauna local; utensílios, como pratos, tigelas, colheres, garfos; caixas trabalhadas com marchetaria, com dobradiças também de madeira, enfi m, mais de 70 produtos diferentes. “Procuramos adequar a necessidade de gerar renda com o apren-dizado porque essa comunidade ribeirinha não pode fi car só estudando, eles precisam sobreviver. Para isso, nossos alunos vendem o que produzem” diz Jean-Daniel, o marceneiro suíço que ensina a transformar restos de madeira em arte.

Hoje, a FAM já contabiliza cerca de 500 profi s-sionais formados, 200 famílias de produtores e um movimento anual de cerca de R$ 500 mil. Seus pro-dutos têm feito grande sucesso por todo o Brasil e já conquistaram duas vezes um prêmio nacional: o Top 100 Artesanato Brasil, do Sebrae. Eles se orgulham de mostrar a diversidade da madeira da sua Floresta. Seu próximo passo será a fabricação de móveis.

Desde 2005, a FAM trabalha, também, com pa-pel reciclado, produzindo álbuns de fotos, blocos, porta-retratos, cartões, cadernos, embalagens, sob a coordenação de Rosimeire Alves do Nascimento,

“Além de ser um trabalho lucrativo, é um pra-

Clemente, artesão e presidente da Nova`Arte.

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No interior do Amazonas,a FAM bota em prática os três pilares da RIO+20

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Ele trabalha como voluntário, cuidando de tudo. Des-de a administração da FAM, a captação de recursos, a montagem dos cursos, a orientação profi ssional em todo o trabalho de marcenaria e marchetaria, sem des-cuidar nem por um momento da formação das pessoas e da preservação do ambiente. Acompanhando um gru-po de crianças em visita ao Ekobé, ao passar por um pé de urucum, ele esmaga a fruta entre os dedos e sugere que se pintem. “Foi um sucesso, elas adoraram!”, vibra o mestre carpinteiro.

Um homem feliz com o caminho que escolheu, casa-do com a amazonense Marta, ele está sempre buscando as melhores – e mais econômicas – soluções para melhorar a vida do povo da fl oresta que aprendeu a amar. Só se ressente da falta de apoio fi nanceiro para seu trabalho, principalmente agora: “O Brasil está com fama de rico lá fora, por isso fi ca mais difícil conseguir doações.”

Mas o presente maior, a Amazônia já ganhou. É o amor desses homens que dedicam sua vida à preservação da natureza e à melhoria da vida dos ribeirinhos.

talando o Ekobé, com apoio fi nanceiro do governo japonês. Foi inaugurado em abril de 2011, quando o cônsul do Japão, Hajime Naganuma plantou um fl amboayant no local.

Com mais de 50 espécies diferentes, tais como macucu sangue, seringa, louro, rabo de arraia, itauba, ingarana, sapucaia, abacatura-na, ocuuba, enviras, cipós, palmeiras, jabuti, urucum, mata mata e outras, além de um pomar rico, com banana, laranja, pitanga, caju, jabuticaba, açaí e cupuaçu, o Ekobé será um centro de estudo do meio ambiente: “Queremos trazer pessoas para conhecer a nossa realidade e aprender a fazer manejos fl orestais e a permacultura.”

Para Jean-Daniel, é preciso encontrar o equilíbrio entre o social e o econômico, de modo que a população local tenha condições de sobreviver, preservando a natureza. Eles perseguem três objeti-vos simultaneamente: geração de renda, educação ambiental e uso sustentável dos recursos naturais.

O Ekobé dispõe de alojamento para 20 pessoas interessadas em estudar a fl oresta, sua diversidade e fragilidade. Para atrair lei-gos em visita à Amazônia, Miguel e Jean-Daniel tiveram a idéia de explorar o ecoturismo. Estão montando uma trilha ecológica den-

tro do terreno do Ekobé, com direito à observação da fl oresta, com guias, e banhos refrescantes nos igarapés de águas cristalinas.

Todo esse trabalho – feito de acordo com os pilares social, ambiental e econômico – só foi possível graças ao encontro, de Miguel Rocha da Silva, a alma amazonense, e Jean-Daniel Vallot-ton, o mestre marceneiro suiço. Em 1992, quando visitava pela primeira vez a Floresta Amazônica, o suíço contratou Miguel e seu barco de turismo e ali nasceu uma amizade e o interesse em trabalhar pela preservação da Floresta e a melhoria da vida da-quela gente sofrida.

Marceneiro formado em curso de cinco anos, Jean-Daniel, antes de se estabelecer no Amazonas, criou uma ONG na Suiça, a Associação Ailleurs Aussi, já pensando em obter apoio fi nancei-ro para o projeto que pretendia desenvolver em Novo Airão. No Amazonas, estabeleceu parceria com a Fundação Vitória Ama-zônia, que trabalha com tecelagem de fi bras. So-mente trës anos depois, em junho de 1997, con-seguiu juntar o dinheiro e o material necessários para voltar ao Brasil e iniciar seu projeto.

Jean-Daniel mostra a tinta do urucum no Ekobé

Netúsia e o fi lho Daniel, também artesão.

Miquéias é artesão e caixa da loja de produtos artesanais Nova ’Arte.Miquéias é artesão e caixa da loja de produtos artesanais Nova ’Arte.

a Associação Ailleurs Aussi, já pensando em obter apoio fi nancei-a Associação Ailleurs Aussi, já pensando em obter apoio fi nancei-ro para o projeto que pretendia desenvolver em Novo Airão. No ro para o projeto que pretendia desenvolver em Novo Airão. No Amazonas, estabeleceu parceria com a Fundação Vitória Ama-Amazonas, estabeleceu parceria com a Fundação Vitória Ama-

talando o Ekobé, com apoio fi nanceiro do governo japonês. Foi talando o Ekobé, com apoio fi nanceiro do governo japonês. Foi talando o Ekobé, com apoio fi nanceiro do governo japonês. Foi talando o Ekobé, com apoio fi nanceiro do governo japonês. Foi talando o Ekobé, com apoio fi nanceiro do governo japonês. Foi talando o Ekobé, com apoio fi nanceiro do governo japonês. Foi talando o Ekobé, com apoio fi nanceiro do governo japonês. Foi inaugurado em abril de 2011, quando o cônsul do Japão, Hajime inaugurado em abril de 2011, quando o cônsul do Japão, Hajime inaugurado em abril de 2011, quando o cônsul do Japão, Hajime inaugurado em abril de 2011, quando o cônsul do Japão, Hajime inaugurado em abril de 2011, quando o cônsul do Japão, Hajime inaugurado em abril de 2011, quando o cônsul do Japão, Hajime inaugurado em abril de 2011, quando o cônsul do Japão, Hajime Naganuma plantou um fl amboayant no local. Naganuma plantou um fl amboayant no local. Naganuma plantou um fl amboayant no local. Naganuma plantou um fl amboayant no local. Naganuma plantou um fl amboayant no local. Naganuma plantou um fl amboayant no local.

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Amazônia

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Jean-Daniel mostra a tinta do urucum no EkobéPatrocinadores Ouro

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Minha expectativa para a Rio + 20 é a pior possível”, afi rma, sem meias pala-vras, o fi lósofo André Campos da Ro-cha, um dos raros que se dedicam hoje a divulgar a Filosofi a Ambiental no Bra-

sil. Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-consultor do Museu do Amanhã – que está sendo construído na região do Porto do Rio e cuja mis-são será promover o debate sobre o desenvolvimento sustentável -, André leciona na Faculdade de São Bento, onde coordena há três anos o programa de iniciação científi ca e inaugurou, em abril deste ano, a primeira turma do curso de extensão em Filosofi a Ambiental.

Com estas credenciais, André não hesita em fazer o papel de “gambá da festa”, como o próprio se defi ne em tom de brincadeira, antes de explicar as razões que o levam a crer seriamente no fracasso da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que se realiza no Rio de Janeiro, em junho. Para ele, os acordos das últimas conferências para reduzir o aquecimento glo-

Texto: Marcelo Pinto, Especial para Plurale em revista Foto: Milena Renee

bal, preservar a biodiversidade e proteger as fl orestas do mundo, bem como a meta de diminuir a pobreza mundial, até agora não passaram de “mera retórica”. Com “muita expectativa para poucos ou inexpres-sivos resultados”, a Rio + 20 estaria caminhando para repetir, na opi-nião dele, o fracasso de Copenhague, em 2009.

“Para que a Rio + 20 não redundasse em fracasso, ela deveria se articular a partir de temas como a relação dos homens com os outros animais, as tradições culturais diversas e, sobretudo, pensar a questão da justiça ambiental não apenas como braço de questões econômicas”, enumera André, para quem a decisão de estudar ética ambiental foi mo-vida “por uma questão de responsabilidade social”.

Este carioca de 40 anos, crescido em Vila Isabel numa família de classe média como outras tantas – pai engenheiro, mãe dona de casa – defende que o papel do fi lósofo é “ir para o debate franco com a sociedade, gerar ações e não apenas discussões, debates intermináveis na academia, que se resolvem por ali mesmo.” André, inclusive, revela a preocupação de que a fi losofi a ambiental venha se transformar “mera-mente numa disciplina acadêmica”, o que, segundo ele, esvaziaria seu poder de mobilização.

Não é por outra razão que André participará do encontro da Asso-ciação Internacional de Economia Verde, que acontece paralelamente a Rio + 20. Em uma tese escrita em parceria com a professora de en-genharia de produção da Unirio, Heloísa Helena, e intitulada Towards an ethical-philosophical agenda for the Green Economy. (“Para uma agenda ética e fi losófi ca para a Economia Verde”), ele defende que a mera propaganda da economia verde como contraponto da economia marrom, hoje vigente, apresentando esta como perniciosa para a vida no planeta, é insufi ciente para a consolidação do modelo de desen-volvimento sustentável. Em outras palavras, usar exclusivamente argu-mentos econômicos para provar que a economia verde nos trará um futuro melhor seria o mesmo que trocar um número por outro, sem que valores éticos e uma necessária educação ambiental estivessem envolvidos no debate. “Como você vai incutir na cabeça das pessoas, só com argumentos economicistas, que elas têm responsabilidade com as gerações futuras? Ou que você não pode extinguir determi-nada espécie? Isso passa radicalmente por uma discussão prévia, de cunho ético-fi losófi co, para que a economia verde seja encarada de

Academia

Filosofando sobre a Economia VerdeProfessor André Campos da Rocha, da UFRJ, pesquisa Filosofi a Ambiental e fala sobre sua expectativa para a conferência

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fato como uma alternativa não apenas eco-nomicista, mas humana”, argumenta.

A raiz do problema está, segundo An-dré, nas ideias do fi lósofo inglês Francis Ba-con (1561-1626), “pai da visão cientifi cista que impera até hoje”. Para Bacon, a nature-za deve fornecer tudo que é de direito do homem, mesmo que sob tortura. “Isso foi engendrando uma relação binomial entre conhecer e lidar com a natureza que de-sembocou na situação insustentável na qual nos encontramos”, explica. Essa tradição inaugurada por Bacon tem seu ápice com Galileu Galilei (1564- 1642) e Isaac Newton (1643-1727), e, mais recentemente, com a mecânica relativista e o tão propalado pro-jeto Genoma, de decodifi cação do DNA. “O pensamento hegemônico passa a ser o seguinte: eu, como ente privilegiado da natureza, porque dotado de razão, tenho o direito de dominá-la. A partir daí, meu amigo, você faz o que bem entende com a natureza”, resume.

Foi justamente o ato de questionar o pen-samento hegemônico que levou André ao en-contro da Filosofi a Ambiental. Ainda na gra-duação, percebeu que para compreender “o fenômeno da arte” teria que investigar “outro pressuposto”: a teoria do conhecimento, ou seja, “como chegamos a distinguir de forma inequívoca o que é conhecimento daquilo que não é”. Sua tese de graduação enveredou por essa trilha – não o conhecimento científi -co ou religioso, mas conhecimento de modo geral. Nesse estudo – que teve como base o fi -lósofo, historiador e economista inglês David Hume (1711-1776) – André descobriu que a ciência – aquela que é aceita no Ocidente – pode ser apenas um tipo de conhecimento. Descobriu aí singularidades do conhecimen-to científi co que o levaram a desenvolver, já no mestrado, uma pesquisa sobre a teoria da relatividade de Einstein, até então tida como uma teoria que revolucionou radicalmente a mecânica clássica e a visão do mundo na-tural. Logo, novas questões surgiriam. Uma delas: de que seria um mito a máxima de que o conhecimento científi co é o único capaz de fornecer respostas seguras. André tratou, então, de desconstruir tal mito. A partir daí, como diz, passou “de médico a monstro.” Da grande reverência que tinha para com o co-nhecimento científi co, tornou-se um profun-do crítico. Mais tarde, durante o doutorado, desenvolveu a outra refl exão: o conhecimen-to científi co tem uma característica em geral negada pela ciência mais tradicional, a de que ele é, acima de tudo, determinado pela cul-tura. “Dependendo da cultura em que você

está, o conhecimento científi co se altera. Há uma ilusão eurocêntrica de crer que o co-nhecimento científi co da matriz europeia é o conhecimento científi co por excelência”, afi rma. Após estudar a relação dos tibetanos com a agricultura e a de tribos africanas com a matemática, André constatou que, por mais heterodoxos que aqueles métodos possam nos parecer, eles produzem resultados sa-tisfatórios há milênios, portanto, devem ser considerados como ciência.

Retornamos, então, ao ponto inicial. E ao questionamento do nosso professor: por que não considerar as outras tradições, os outros conhecimentos, na hora de se discutir o futuro – logo, a economia verde - que queremos?

André cita um exemplo comum no dia a dia de praças e condomínios. Por que é tão difícil, ao menos no Brasil, fazer com que os vasilhames de coleta seletiva sejam usados adequadamente, com plástico no lugar de plástico, lata no de lata e assim por diante? Simplesmente, diz ele, porque essas pessoas ainda não compreenderam profundamente a refl exão que está por trás dessa ação, e tal mudança de comportamento não virá ape-nas com argumentos econômicos.

Apesar da atuação incansável de orga-nismos ambientalistas como WWF e Gre-enpeace, e de debates nacionais como o despertado pela tramitação do projeto do Código Florestal – que, após uma aprova-ção controversa, gerou o “Veta Dilma!” nas redes sociais –, a Filosofi a Ambiental, para-doxalmente, é uma área de pesquisa quase que totalmente abandonada pelos fi lósofos brasileiros. “Uma aberração, considerando que há tanto material para refl exão aqui”, analisa André, que lamenta o fato dos fi ló-sofos, atualmente, “serem as pessoas mais isoladas do mundo que se possa imaginar”.

O desafi o hoje é conciliar o avanço desta disciplina no meio acadêmico com uma atu-ação fora dos muros da universidade. Evi-tando, enfi m, que se repita o que ocorreu à época da criação da primeira universidade, em Bolonha, na Itália, no início da Renas-cença, quando, a partir da formalização da Filosofi a como atividade acadêmica, o fi ló-sofo deixa de exercer o papel de protagonis-ta que mantinha em sua comunidade.

Sempre inquieto, André já está com a cabeça em um novo projeto: concluir, em parceria com o presidente da Academia Bra-sileira de Filosofi a, João Ricardo Carneiro Moderno, o primeiro Manual de Filosofi a Ambiental produzido no Brasil. Em tempo: alguma editora se habilita?

A Filosofi a Ambiental é uma corrente relativamente nova dentro da Filosofi a. Teve início nos anos 1970, mais ou menos na mesma época em que ocor-reu aquele que é considerado o marco do ativismo ambiental.

Havia um bosque numa cida-de dos EUA que era muito usado pela comunidade para práticas esportivas e lazer. Um dia a pre-feitura informou que ele seria derrubado para a construção de um condomínio. Os usuários do bosque se revoltaram e protes-taram, sem resultado. Até que um advogado resolveu usar o expediente jurídico de defesa de incapazes - o bosque tem vida, portanto, pode ser considerado um ser vivo incapaz – para re-presentar na corte o seu direito inalienável de permanecer ali. O processo correu e o juiz deu ga-nho de causa para o bosque. Tal fato abriu as portas para um tipo de ativismo ambiental que pas-sou a ser chamado deep ecology (ecologia profunda), que trata das questões ambientais em sua radicalidade.

Como lembra André, a eco-logia profunda resgata a mensa-gem dos fi lósofos pré-socráticos (antes de Cristo), que defendiam que tudo na natureza está inte-grado. “Tudo é um”.

No início do século 20, o inaugurador da ética da Terra, o engenheiro fl orestal Aldo Leo-pold, lançou o imperativo que se tornaria célebre entre os ambien-talistas: “Devemos pensar como a montanha”.

Atualmente, o professor de Filosofi a da Universidade de Nova York, Dale Jameson, tornou-se uma referência. Em 2008, a edi-tora Senac publicou dele “Intro-dução à Ética Ambiental”, em que as teorias mais relevantes sobre o tema são apresentadas.

MARCO DO ATIVISMO AMBIENTAL

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VIDA Saudável Apoio:

Durante a Rio+20, o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds) e o Instituto Visão do Fu-turo, com o apoio da Unimed-Rio, realizam o seminário “Felicida-de: novos indicadores para o desenvolvi-mento”. O evento tem

como objetivo apresentar e discutir os parâmetros necessários para a implementação do indicador FIB (Felicidade Interna Bru-ta), teoria que complementa o conceito de PIB (Produto Interno Bruto), pois, além da ótica econômica, também considera valores ambientais e humanos, como, por exemplo, o uso do tempo pelos indivíduos para o lazer e a vitalidade dos grupos sociais.

Em uma atuação inovadora, a Unimed-Rio adotou a FIB como critério norteador de sua fi losofi a de Investimento Socioambien-tal. “Trata-se de uma nova forma de pensar e agir, que demonstra a preocupação da Unimed-Rio com a valorização do bem-estar social”, afi rma Ana Vargas, gerente de Relações Públicas e Susten-tabilidade da Unimed-Rio. O evento acontece no Teatro NET, em Copacabana, no dia 19 de junho. As inscrições são gratuitas. Mais informações em http://fi brio.org.br.

O hit para-de no momento nas lojas de pro-dutos naturais é o óleo de coco. Fala-se muito de suas possíveis p r o p r i e d a d e s para ajudar no emagrecimento, principalmente

da gordura abdominal, além de suas funções para ajudar o intestino a funcionar melhor e no combate a radicais livres. O produto é encontrado em óleo líquido ou em cápsulas, mas especialistas recomendam que é bom garantir que o produto tenha sido extraído frio, garantindo todos os seus benefícios. Leia no rótulo se é extra virgem. Caso não solidifi que e fi -que amarelado, não é de boa qualidade. Mas toda atenção: há pesquisas há favor e outras contra. Nutricionistas contrários a modismos alertam que poder ser pura ilusão os benefícios para perder peso e que como uma gordura saturada, o óleo de coco pode não ter tantos benefícios, gerando efeitos ruins sobre o organismo.

Óleo de coco em alta

Esta é uma dica p r i n c i p a l men te para quem estará em junho acompa-nhando os eventos de Sustentabilida-de no Rio de Janei-ro, como a Rio + 20, a Cúpula dos povos e vários ou-tros. A cidade con-vida para uma vida saudável. Encontre uma forma de se

exercitar, curtindo a beleza dos mais diferentes cantos do Rio: ande no calçadão das praias, alugue uma bicicleta e passeie em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, conheça a Floresta da Tijuca, etc. E aproveite também para conhecer a infi nidade de ofertas de lanchonetes e restaurantes mais saudáveis. Prove sucos naturais e curta comidinhas que fazem bem ao corpo e ao espírito.

Rio saudável

Indicador FIB

Da fl oresta para a maquiagemOs povos in-

dígenas e popu-lações ribeirinhas da Amazônia sa-bem muito bem as propriedades de frutos regio-nais para pintar o corpo. A in-dústria da bele-za também tem apostado fi rme neste potencial. A Beraca, fabricante brasileira de tecnologias sustentáveis, acaba de lançar novos extratos naturais e orgâ-nicos da linha BioFunctional Extracts provenientes de quatro frutos amazônicos: urucum, acerola, guaraná e açaí. Além disso, a empresa também marcou o lançamento da linha Beraclays, composta de 13 argilas naturalmente coloridas e extraídas de forma sustentável do solo de diversas regiões do Brasil. O foco é a indústria cosmética: por não sofrerem interferência de água, mantêm a ação do ativo por um período prolongado e são me-nos suscetíveis à contaminação. Podem ser usados em maquia-gens, cremes e loções corporais e produtos para os cabelos.

Foto: ROMILDO GUERRANTE

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Para mais informações acesse: www.congressoapimec.com.br

Em agosto temos um encontro marcado. O Congresso Apimec. Momento oportuno para avaliar o Mercado de Capitais. Participe.

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ColunistaAlexandraLichtenberg

O cenário é diferente? Podemos dizer que sim. A subida íngreme e tortuosa da ladei-ra Ari Barros, no Leme, intimida os mo-toristas mais cautelosos, ainda mais agora que está toda esburacada por conta das

obras do Morar Carioca. Estas obras vêm trazer melhorias na coleta do esgoto sanitário e no escoamento das águas pluviais das duas comunidades. A maior parte do tempo contamos com apenas uma pista para o transito das pes-soas, dos caminhões e dos moto-taxis.

O que mais chama a atenção a um olhar atento é sem duvida a difi culdade de acesso. Assim que chegamos ao fi nal da ladeira Ari Barroso, na Babilônia, encontramos escadarias que dão acesso às moradias, à Associação dos Moradores e aos diversos comércios locais. Todos tem que subir diariamente com suas compras ladeira e escadarias acima, e descer com lixo e outros materiais escadarias e ladeira abaixo (sem contar os carrinhos de bebê, eventuais bicicletas, e as pessoas idosas e com difi culdade de loco-moção que necessitam ser carregadas). O mesmo cenário se repete na comunidade do Chapéu Mangueira.

Em meio a este cenário, o Conselho Empresarial Bra-sileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) de-cide lançar o projeto Rio Cidade Sustentável em abril de 2011, cujo principal objetivo foi juntar um grupo de em-presas dispostas a investirem em um projeto de cunho pratico visando a melhoria da qualidade de vida destas duas comunidades – através da disponibilização de seus produtos e/ou serviços sustentáveis, ou de outras ino-vações/tecnologias de terceiros. Este desafi o foi pronta-mente aceito pela Axia Sustentabilidade empresa contra-tada para a co-gestão e implementação do projeto, cujos trajeto e aprendizado serão apresentados na Rio+20.

A primeira iniciativa foi tratar de conhecer esta comu-nidade mais de perto. Elaboramos um questionário de umas 80 questões envolvendo demografi a, tipo e tamanho das casas, principais problemas das casas, profi ssão e ocu-pação dos moradores, o que as pessoas mais desejavam, escolaridade, creche, escola, mobilidade, emprego, renda.

Com isto conseguimos muita informação sobre estes 7000 mora-dores, distribuídos em algo como 1200 casas. Informação, bem en-tendido. Porque conhecer a comunidade, mesmo após um ano de contato quase que diário, estamos só começando a conhecer!

Entrevistamos vários especialistas, políticos, formadores de opi-nião, ongs, acadêmicos, associação de moradores, empresários, aqui no Rio de Janeiro e em Brasília, para entender um pouco das políti-cas publicas e quais tipos de iniciativas já existiam em andamento.

Então, logo após esta primeira fase investigativa, iniciamos o processo de “visioning” para podermos determinar o que pode-ria/deveria ser priorizado para execução neste um ano de prazo de projeto, que pudesse realmente impactar positivamente a vida das pessoas destas comunidades, tornando-se um modelo para ser replicado em outras cidades Brasil e mundo afora.

Aí iniciava-se a fase de construção participativa – realizamos varias reuniões, fóruns, workshops, conversas, tudo para chegar-mos a uma visão conjunta do que seria a Cidade Sustentável. O resultado deste trabalho conjunto das empresas patrocinadoras do projeto, dos lideres comunitários, dos moradores, dos agentes da UPP social, das Secretarias Municipais de Habitação e de Urba-nismo, do IPP, do Cebds e da Axia espelham quais os principais atributos necessários para a Cidade Sustentável:

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Lições de campo

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1. Uma rede de atores coordenados e focalizados em objetivos econômicos sustentáveis; 2. Uma cultura cujos valores fundamentais refl etem a sustentabilidade; 3. Uma cidade menos emissora e de baixo consumo; 4. Um lugar onde pessoas coexistem, se respeitam e valorizam a diversidade; 5. Um lugar onde se vive perto do trabalho; 6. Um lugar onde lixo gera renda e receita; 7. Um lugar onde a beleza natural é um dos principais ativos; 8. Um lugar onde o “como” é tão importante quanto o “quê”; 9. Uma cidade como a nossa casa; 10. Cada casa como nossa cidade.

Gostaram? Espero que sim. Eu gostei muito. Daí o brains-torming da equipe produziu seis Frentes de Trabalho que de-veriam responder aos anseios expressos na visão de Cidade Sustentável apresentada acima. Cada uma destas ideias foi apre-sentada à comunidade para que os moradores ratifi cassem que aquilo realmente era algo que eles consideravam importante e que poderia trazer mudanças e melhorias para sua qualidade de vida – melhorias habitacionais sustentáveis, agricultura urbana orgânica, infraestrutura verde, empreendedorismo/turismo, re-síduos sólidos, sustentabilidade nas escolas e lares.

A frente de trabalho de Melhorias Habitacionais Sustentáveis acabou se tornando a principal iniciativa do projeto. Faz senti-do, uma vez que nossa pesquisa inicial mostrou que a grande maioria dos moradores queria ver sua comunidade mais bonita (segurança apareceu em segundo lugar) e queriam consertar, melhorar e ampliar suas casas.

A grande maioria das habitações foram construídas pelos pró-prios moradores, com ajuda de parentes e amigos, sem conheci-mentos básicos necessários em estruturas, instalações elétricas e hidráulicas e em conforto ambiental. São todas obras em anda-mento há décadas, pois o recurso necessário para investir nisto é sempre disputado por outras prioridades.

Qual o processo construtivo utilizado nestas moradias? O de sempre, oras, em estrutura de concreto e paredes em alvenaria de tijolos cerâmicos – tecnologia passada de pai para fi lho há muitas e muitas gerações! O que ainda não analisamos do ponto de vista prático é se este método construtivo está alinhado com a realidade e as necessidades destas comunidades e das tantas outras similares existentes nesta cidade e neste País. Porque esta conversa agora? A verifi cação por parte da equipe, do esforço necessário para os moradores transportarem este material de construção para o local da obra – na maioria das vezes longe do “ponto fi nal” de acesso de veículos– é surpreendente. Carregar sacos de cimento de 50kg, sacos de areia de 50kg, ferragens, esquadrias, tijolos, é um esforço hercúleo. Sem contar ainda com o calor que faz nesta terra! Quem não tem condições físicas, como as mulheres, e nem dinheiro para pagar alguém para fazer este carregamento, não pode fazer obras em sua residência, simples assim!

Não está convencido? Vamos fazer umas continhas básicas para esclarecer: para se construir uma parede de 10m2 este morador precisa carregar 305 tijolos cerâmicos (do grande), 7 sacos de 50kg de argamassa para assentamento de tijolos, 2 sa-cos de 50kg de cimento, 880kg de areia e 60 kg de cal. Qualquer

casinha de 50m2 de área construída tem pelo menos 100m2 de área de paredes....! Deu para cansar?

Estou discorrendo sobre isto para iniciarmos uma refl exão sobre o tipo de serviços e produtos que são oferecidos aos mo-radores das comunidades. Não acreditamos que possam ser os mesmos oferecidos aos moradores de locais com acesso atra-vés de ruas asfaltadas que levam até a porta da casa. Precisamos de produtos e tecnologias construtivas que sejam adequadas a estas condições geográfi cas e de acesso já estabelecidas.

E se estes moradores tivessem acesso a casas pré-fabrica-das, com paredes feitas de materiais sustentáveis e leves, onde duas pessoas pudessem carregar cada módulo pronto escada-ria acima (e sem gerar entulho, que acaba fi cando espalhado por todos os cantos)? Se a estrutura destas casas fosse feita também de materiais leves e sustentáveis, já calculada na fabri-ca especifi camente para o modulo vendido ao morador? Esta moradia poderia ser edifi cada em poucos dias com o trabalho de poucas pessoas sem muita especialização. E já estaria embu-tida neste pacote a tão necessária assessoria técnica estrutural, de conforto e livre de patologias construtivas crônicas. Este é um grande legado aprendido neste projeto, precisamos buscar soluções adequadas para situações especifi cas que afl igem mi-lhões de pessoas nesta Cidade Maravilhosa.

(*) Alexandra Lichtenberg ([email protected]) é Colunista de Plurale, colaboran-do com artigos sobre sustentabilidade. É Consultora Se-nior da Axia Sustentabilidade

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Lições de campo

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ArtigoChristianTravassos

Há indícios que nos permitem associar as décadas de 1990 e 2000 a um período de convivência e disputa entre duas vi-sões macro do desenvolvimento: uma, “antiga”, de base produtivista e com o

olhar no curto prazo, e outra, relativamente “jovem”, de base ecológica e com foco no longo prazo (TRAVAS-SOS, 2010). A essencial discussão sobre como compa-tibilizar as atividades humanas com a manutenção de suas bases naturais (VEIGA, 2007).

No caso brasileiro, o desafio encontra-se sobretu-do na insusten-tabilidade social, que, por sua vez, acaba por gerar pressões sobre o ambiente: na d e s i g u a l d a d e da renda e do acesso a serviços básicos de qua-lidade, bens de consumo, terra e outros recur-sos naturais. Em outras palavras, ainda que con-quistemos o for-talecimento da cidadania e do espírito comu-nitário, restará combater o desperdício e o descaso para com o bem público, em meio a elementos elitistas e pouco demo-cráticos (PÁDUA, 1999).

Para Chaves e Ashley (2005), o maior desafio do Brasil está em conquistar a igualdade no acesso a ser-viços públicos essenciais e de qualidade, como tam-bém na distribuição da renda, na medida em que a

desigualdade socioeconômica impediu historicamente e ainda impede grande parte da população de usufruir be-nefícios do progresso tecnológico e econômico.

As oportunidades para a disseminação e fortalecimen-to de um discurso voltado ao longo prazo contrapõem-se a desafios ainda hegemônicos. Para Gray (1999), as inse-guranças do recente capitalismo moderno impactaram al-guns dos principais valores de instituição da própria vida burguesa, como as necessidades de segurança e identida-de social.

A crise fi nanceira mundial, defl agrada em setembro de 2008, nos EUA, e com refl exos, no Brasil, especial-mente no quarto trimestre de 2008 e no primeiro se-mestre de 2009, resultou em gra-ves conseqüên-cias sociais, como desemprego e perdas patrimo-niais. Neste caso, as opiniões di-vergiram. De um lado, aqueles que acreditam que sua ocorrência, em meio às cres-centes evidências quanto ao agrava-

mento dos efeitos da mudança climática, incentivaria práticas mais sustentáveis. De outro, os que consideram que reduziria bastante o peso destas no planejamento de empresas e con-sumidores, o que afetaria em cheio o Terceiro Setor. Por sinal, hoje, vivemos o segundo capítulo desta mesma crise, com o problema da dívida pública na Zona do Euro e o crescimento hesitante norte americano.

O fim pelos meios

O fim pelos meios

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Ainda assim, como dissemos, aspectos sociais e ambientais tem ganhado crescente espaço na socieda-de – e no mercado. Tais processos intensificam-se na mesma proporção de crises e previsões catastróficas anunciadas por entidades científicas internacionais, com destaque para o IPCC (ONU). Hoje, acompanhar o noticiário permite-nos perceber evidências abundan-tes a confirmar o cenário de crise socioambiental que recai principalmente sobre populações mais vulnerá-veis, em muitos casos associada à leniência do poder público face à gravidade do problema.

No Brasil, em meio a enxurradas que têm causado centenas de mortes e prejuízos materiais, a justificativa de que “choveu em tantas horas o esperado para o mês inteiro”, ao mesmo tempo em que expõe a fragilidade da infraestrutura nacional e a visão imediatista historica-mente hegemônica, deixa claro, por sua repetição cada vez mais frequente, que as previsões do passado não servem mais para o presente. Nem para o futuro.

Neste cenário, os resultados de uma pesquisa da Fe-comércio-RJ/Ipsos sobre Segurança Pública no Brasil, re-alizada desde 2007, merecem destaque. O levantamento enfoca a opinião do brasileiro sobre como enfrentar o problema da insegurança pública, que estratégias, afi-nal, seriam mais eficientes no combate à criminalidade.

A principal conclusão da versão divulgada em 30 de março último está no fato de que, para o brasileiro, cada vez mais, medidas com foco no médio e no longo prazos devem ser prioritárias. Ou seja, combater a vio-lência com repressão perdeu a adesão de uma parcela significativa da população.

Neste ano, para 71% dos brasileiros, a melhor solu-ção para a criminalidade está em prestar mais atenção nas condições de vida da população – leia-se educa-ção, emprego, saúde e moradia – ante 59% de cinco anos atrás. Já para 28%, uma forte política de seguran-ça pública, com mais policiais nas ruas, leis e punições mais severas e um número maior de presídios, seria o ideal para combater a violência. Em 2007, esta propor-ção era de 39%.

Não é para menos. Numa outra pesquisa, divulgada em nove de abril último, o Conselho Nacional de Jus-tiça (CNJ) concluiu que quatro em cada dez crianças e adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em estabelecimentos com restrição de liberdade são reincidentes. E as infrações que os levam de volta a instituições (a princípio) reabilitadoras costumam ser ainda mais graves do que as anteriores. Os casos de homicídio, por exemplo, revelaram-se muito mais fre-quentes na segunda internação, passando de 3% para 10%, no país.

Provavelmente por isso, hoje, um em cada três bra-sileiros acredita na implementação de programas de primeiro emprego para jovens como uma das princi-pais formas de reduzir a criminalidade – pela pesquisa Fecomércio-RJ/Ipsos. Em 2007, essa proporção era de 24%. Dar mais opções de lazer e atividades para crian-ças entre 7 e 14 anos fora do horário escolar também foi estratégia citada por 17% dos entrevistados, ante 14%, em 2007.

A aposta em ações estruturais tem a ver com a pre-ocupação em relação à impunidade, com a migração de território ou de atividade do crime face à repressão do Estado e com a frágil capacidade de recuperação das unidades prisionais brasileiras.

Às vésperas da realização da Rio+20, vale ressaltar a relevância e eficiência de ações pautadas por edu-cação e emprego na estrutura social brasileira, vis à vis a lógica contumaz da remediação. Em suma, como efetivamente alcançar o fim pelos meios – mais apro-priados -, de olho em um futuro verdadeiramente se-guro e sustentável para todos. Não apenas em termos de segurança pública, mas também nos campos social, econômico e cultural.

Christian Travassos ([email protected]) é economista e mestre em Ciências Sociais (CPDA/UFRRJ)

“ Às vésperas da realização da Rio+20, vale ressaltar a relevância e eficiência de ações pautadas por educação e emprego na estrutura social brasileira, vis à vis a lógica contumaz da remediação. Em suma, como efetivamente alcançar o fim pelos meios – mais apropriados -, de olho em um futuro verdadeiramente seguro e sustentável para todos ”

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Colunista

As grandes cidades brasileiras vêm sofrendo de-masiadamente com congestionamentos diários, cujos resultados são os velhos conhecidos male-fícios para a saúde física e mental da população: perda de tempo, poluição atmosférica, excesso

de ruídos, stress, desconforto e insegurança. Essa insustentá-vel situação decorre da falta de sistemas de transporte públi-co ambientalmente sustentáveis, econômicos, regulares, ade-quados, abrangentes, confortáveis e integrados, que geram benefícios para todos os cidadãos e promovem a inclusão social das populações mais pobres.

A propósito, o ranking 2011 das melhores cidades em qualidade de vida, elaborado pela consultoria internacional Mercer, por meio de pesquisas em 221 cidades do mundo, leva em consideração quesitos como política, sociedade, eco-nomia, saúde, saneamento, escolas, serviços públicos, mora-dia e transporte. A metodologia de pesquisa da Mercer tem a cidade de Nova Iorque como referência de comparação e as condições de vida das cidades são analisadas de acordo

com 39 fatores, agrupados em 10 categorias. Dessas ca-tegorias, uma das mais importantes são os serviços de transporte público e os problemas com congestionamen-tos, que pesam bastante na avaliação das pessoas sobre qualidade de vida.

Segundo o ranking da Mercer, Viena possui o melhor padrão de vida do mundo, seguida por Zurique e Auckland. Munique ocupa o quarto lugar. Düsseldorf e Vancouver es-tão empatadas na quinta posição. Frankfurt está em sétimo lugar, Genebra, no oitavo lugar, Berna e Copenhagen, em nono e décimo lugares, respectivamente. Pela lista das dez primeiras colocadas, podemos observar que as cidades eu-ropéias são as melhores no ranking mundial de qualidade de vida. As três últimas cidades do ranking são N’Djamena, no Chade, 219º lugar, Bangui, na República Centro-Africa-na, 220º lugar, e Bagdá, no Iraque, 221º lugar. Das cidades brasileiras mais bem colocadas, encontramos Brasília, em 101º lugar, e Rio de Janeiro e São Paulo, 114º e 116º luga-res, respectivamente.

MarcusQuintella

Transporte público e Qualidade de VidaTransporte público e Qualidade de VidaTransporte público

e Qualidade de VidaTransporte público

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Devemos notar que as cidades que ocupam as dez melhores posições do ranking de qualidade de vida possuem sistemas de transporte público de ex-celência, baseados nos modos sobre trilhos, ou seja, metrôs, trens metropolitanos e bondes modernos, devidamente alimentados e integrados pelos mo-dos sobre pneus. Essa mesma constatação ocorre também nas trinta primeiras colocadas do ranking. Por outro lado, a maioria das cidades com baixa classificação possui sistemas de transporte público desorganizados, sem qualquer tipo de integração, geralmente baseado em ônibus e veículos clandes-tinos. As cidades intermediárias do ranking estão tentando progredir no quesito transporte público e possuem sistemas sobre trilhos incipientes e em evolução, que ainda não conseguem atender suas populações de forma abrangente, econômica e inte-grada com os demais modos de transporte.

O trabalho da Mercer sugere uma correlação do trans-porte público com a qualidade de vida das populações urbanas e serve como motiva-ção para que as cida-des brasileiras invis-tam cada vez mais em mobilidade urbana baseada em sistemas de transporte de mas-sa, preferencialmente sobre trilhos.

Felizmente, os go-vernantes brasileiros já se convenceram que não há solução diferente dos siste-mas de transporte público de massa para os gravíssimos problemas de mobilidade urbana das nossas grandes cidades. Eles perceberam que os metrôs, trens, veículos leves sobre trilhos (VLT) e bus rapid transit (BRT) são indutores de desenvolvimento econômico sustentável, promotores da integração com os demais modos de transporte, causadores de valorização imobiliária e gera-dores de empregos em diversos setores da economia, além de importantes vetores de reaquecimento da enge-nharia nacional e da indústria. O transporte metroferro-viário, por exemplo, consegue reduzir expressivamente o número de acidentes e mortes no trânsito, economizar combustível, melhorar signifi cativamente os índices de poluição sonora e atmosférica e proporcionar mais con-forto e ganhos de tempo a seus usuários.

Na prática, a solução para as cidades brasileiras deve ter por base sistemas de transporte de massa baseados em metrôs, trens metropolitanos, VLT e BRT, alimen-tados e integrados aos sistemas de média e baixa ca-

pacidade sobre pneus, como os próprios BRT, ônibus convencionais, barcas, teleféricos, funiculares, táxis, entre outros.

No quesito tempo de viagem, os modos de trans-porte público de grande e média capacidade podem levar benefícios signifi cativos para as populações da periferia, que moram a grandes distâncias dos locais de trabalho e chegam a fi car de 3 a 5 horas por dia dentro de um meio de transporte. O tempo é um va-lioso bem intangível e a economia de tempo que pode ser proporcionada pelo transporte público efi ciente e efi caz é um benefício inestimável para as pessoas, que podem usar o tempo ganho com suas famílias, des-cansando, em atividades de lazer ou de qualquer outra forma. A qualidade de vida está diretamente relaciona-da ao tempo livre das pessoas. Posso dizer que não há vida para aqueles que não têm tempo.

Segundo o Banco Mundial, em termos econômicos, o transporte público é a seiva que dá vida às cidades e, em termos sociais, pode contri-buir com a redução da pobreza, pelo fato de ser o meio de acesso (ou de impedimento) ao trabalho, saúde, educação e serviços sociais essenciais ao bem-estar dos menos favorecidos.

Salvo maior juí-zo, penso que não deve haver outra solução diferente do

transporte público de massa para resolver os gra-ves problemas de mobilidade urbana nas grandes metrópoles brasileiras. Não tenho dúvida alguma que, se as cidades brasileiras dispuserem de siste-mas de transporte baseado em trilhos urbanos, ou seja, metrôs, trens e VLT, associados ou comple-mentados por sistemas de BRT, competentemente integrados e abrangentes, suas populações serão mais felizes e seus cidadãos usufruirão de melhor qualidade de vida.

Marcus Quintella ([email protected]) é Colunista de Plurale, colaborando com arti-gos sobre Sustentabilidade e Transportes. Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia, considerado um dos principais es-pecialistas em transportes urbanos. Professor da FGV e do IME.

“Segundo o Banco Mundial, em termos econômicos, o

transporte público é a seiva que dá vida às cidades e, em termos sociais, pode

contribuir com aredução da pobreza”

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P elo Mundo

Acesso à energia com baixo custo é vitalna luta contra a pobreza, afi rma ONU

Da ONUO Presidente da Assembleia Geral,

Nassir Abdulaziz Al-Nasser, destacou no fi m de maio a necessidade urgente de fornecimento satisfatório de energia a custo baixo para pessoas em todo o mundo que não têm acesso ao recurso. Al-Nasser enfatizou que facilitar a dispo-nibilização de energia pode contribuir fortemente para os esforços de erradica-ção da pobreza extrema.

“Mais de um bilhão de pessoas conti-nuam vivendo sem acesso à eletricidade”, disse Al-Nasser em conferência organi-zada pela Associação de Política Externa com o tema O Futuro da Energia. “É claro que as necessidades básicas de energia da vida cotidiana dessas pessoas não es-tão sendo atendidas. Hoje, mais do que

em qualquer época, há uma necessidade urgente para garantir o uso sustentável da energia e para enfrentar o desafi o da po-breza energética” , acrescentou.

Al-Nasser frisou ainda que é amplamen-te reconhecido que, quanto mais energia disponível para as comunidades, maior o impacto sobre a segurança alimentar, saú-de, educação, transportes, comunicações, água e saneamento.

“Energia, portanto, virou um com-ponente importante, se não um meio essencial, para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). In-felizmente, ao longo da última década, a comunidade internacional não conse-guiu chegar a um acordo sobre medidas signifi cativas para enfrentar o desafi o da

mudança climática, incluindo a pobreza energética”, afi rmou.

O Presidente da Assembleia fez um apelo pela adoção de um novo paradig-ma de consumo e de produção projeta-do para limitar as emissões de gases de efeito estufa; desenvolver mecanismos para melhorar a efi ciência energética e garantir que tecnologias limpas sejam aplicadas a combustíveis fósseis; cons-truir capacidades; facilitar o acesso à energia renovável e transferir tecnologia. A cooperação entre governos, universi-dades, setor privado e sociedade civil é fundamental nesse processo.

Economia verde? No, gracias

Quem acompanha de perto a política ambiental da Argentina já imaginava: o país sustentará uma posição contrária ao modelo de economia verde que está na agenda da Conferência das Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

Segunda a agência de notí-cias governamental, a subsecre-tária de Planejamento e Política Ambiental do país, Sílvia Révora, declarou que o modelo proposto pela ONU “não está dirigido a na-ções em desenvolvimento e exi-ge um nível de tecnologia que só os países como os da União Eu-ropeia têm e que funciona como barreira comercial encoberta.”

Funcionários do governo e movimentos sociais de base se reuniram na última semana de maio para defi nir a agenda hermana no encontro e lançaram uma declaração conjunta na qual

Argentina dirá não à economia verde na Rio+20

alegam que a economia verde pode ser uma desculpa para fechar os mercados a países que não possam implementá-la e acusam os países desenvolvidos de criar condições para um “protecionismo verde.”

Enquanto isso, ambientalistas criticam o modelo de desenvolvi-mento implementado pelo gover-no de Cristina Fernández Kirchner, que faz cara de quem não viu para a extração de minério a céu aberto e para cultura da soja, fontes im-portantes de ingresso no país. Este ano, o governo também restringiu as importações com o argumento de proteção à indústria nacional, o que, na prática, tem gerado au-mentos de preço e escassez de pro-dutos como eletrodomésticos nas prateleiras dos comércios.

Por Aline Gatto Boueri, Correspondente de Plurale na Argentina

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EstanteOS 50 + IMPORTANTES LIVROS SOBRE SUSTENTABILIDADE Por Waine Visser, Editora Peirópolis, 272 págs, R$ 30,00

O Instituto Jatobás, em par-ceria com a Editora Peirópolis, patrocínio da Braskem e, co-patrocinio da WWF e da Universidade Paulista - UNIP, acaba de lançar a obra Os 50 + importantes livros em sustentabilidade – edição inédita em português do tra-balho do autor Wayne Visser e da Universidade de Cam-bridge. O livro é resultado de uma enquete realizada, em 2008, entre líderes seniores e ex-alunos do Cambridge Programme for Sustainability Leadership (CPSL). Dentre as entrevistas e biografi as dos autores selecionados, es-tão nomes de destaque como: Aldo Leopold,

Rachel Carson, Donella H. Meadows, E.F. Schuma-cher, Al Gore , Jeffrey Sachs, Max Neef, Peter Senge, John Elkington e o brasileiro Ricardo Semler.

GOVERNANÇA DA ORDEM AMBIENTAL INTERNACIONAL E INCLUSÃO SOCIALorganizado por Wagner Costa Ribeiro, Editora Annablume, 278 págs, R$ 31,85

O livro Governança da Ordem Ambiental Internacional e Inclu-

são Social, foi produzido pelo Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do IEA e organizado por Wagner Costa Ribeiro, reunindo artigos de pesquisadores da USP sobre temas que estarão em debate na Rio+20. A obra é dividida em duas partes: “Ordem Ambiental Internacional, Governança e Inclusão Social”, que trata de questões sobre governança ambiental internacional, impasses da ordem ambiental internacional e papel da economia nesse contexto; “Saúde, Pobreza e Mudan-ças Climáticas” traz refl exões sobre as relações entre economia verde, inclusão social e saúde, os avanços da ciência do clima e os recursos hídricos.

A SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: DIVERSIDADE E

COOPERAÇÃOAorganizado por Sônia Maria Flores Gianesella e Pedro Roberto Jacobi,

Editora Annablume, 448 págs, R$ 45,00

O livro A Sustentabilidade Socioam-biental: Diversidade e Cooperação, é o sétimo volume da coletânea de dissertações e teses do Procam/IEE-USP. Seus 14 textos estabelecem um diálo-go com a contemporaneidade. Destaca-se nessa obra a gestão socioambiental participativa, transformações nas lógicas agrícolas e impactos nos ecossistemas, medidas judiciais e controle de áreas contaminadas, questões de direitos do cidadão, negociação, questões de empodera-mento, respeito à diversidade e cooperação e educação para a sustentabilidade. Os temas abordados indicam o desenvolvimento socioambiental como um caminho para atingir a sustentabilidade, caracterizando um retrato da evolução da discussão ambiental.

ANO + 20: A RECICLAGEM NA VIDA DO BRASILEIROPor Sérgio Adeodato, com fotos de André Pessoa, patrocinado pelo CEMPRE, 134 págs

Para celebrar seus 20 anos, o Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) reuniu as principais informações de sua trajetória no livro Ano + 20: a reciclagem na vida do brasileiro. A obra, escrita pelo jornalista Sérgio Adeo-dato, aproxima a reciclagem ao dia a dia das pessoas, relatando a história da organização, associando com a evolução da reciclagem no Brasil.

O livro conta com um ensaio fotográfi co sobre grafi tes produzidos por um grupo de artistas convi-dados pelo CEMPRE no muro de uma cooperativa de catadores, retratando a visão deles sobre lixo e re-ciclagem. O autor do ensaio, o fotógrafo André Pes-soa, é especializado em registrar pinturas rupestres impressas em paredões rochosos por nossos ances-trais. Há também algumas imagens em 3D de mate-riais recicláveis, distribuídas ao longo dos capítulos, tiradas pelo fotógrafo Marcos Muzi, especialista em ilusão óptica e fotografi a 3D.

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Não basta ser sustentável, tem que comunicar. Participe desta rede e faça a sustentabilidade ir além.

A Aberje acredita na importância da comunicação para a transmissão dos valores de sustentabilidade. Pioneira no Brasil, é uma das poucas instituições no mundo com certi�cação no Global Report Initiative. Desde 2007, já formou cerca de 400 pro�ssionais no curso de Relatórios de Sustentabilidade GRI. Além de cursos, promove eventos, comitês e premia os melhores projetos de Comunicação da Sustentabilidade todos os anos.

www.aberje.com.br

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ISABELLA ARARIPEP elas Empr esas ISABELLA ARARIPEP elas Empr esasP elas Empr esasP elas Empr esasP elas Empr esasP elas Empr esasP elas Empr esas

Presidente da Tetra Pak Brasil é homenageadoDurante o 11º Fórum de Comandatuba, realizado em maio,

o presidente da Tetra Pak Brasil, Paulo Nigro, recebeu o Prêmio LIDE 2012, como o Líder de Sustentabilidade do ano. O evento, promovido pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais – ainda homenageou outras oito personalidades, entre elas Viviane Sen-na, presidente do Instituto Ayrton Senna, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmim.

De acordo com Paulo Nigro a conquista reconhece seus esfor-ços realizados à frente da Tetra Pak, em prol da conservação do meio ambiente, da promoção da coleta seletiva do lixo e da reci-clagem, bem como a favor do desenvolvimento do esporte como instrumento de transformação social. “Acredito que o respeito ao ser humano é o que nos leva a cuidar do nosso templo maior, que é o planeta em que vivemos”, completa Nigro.

A Fundação Getulio Vargas e a Fundação Telefônica lançaram em maio o primeiro de uma série de estudos sobre inclusão digital, no sentido de mapear as diversas formas de acesso à tecnologia digital, sua qualidade, seu uso e seus retornos. Uma das revelações do estudo é que enquanto a Suécia lidera a lista com 97% da população tendo acesso à rede em casa, a taxa brasileira é de 33% - ocupa a 63ª posição entre 154 países no mundo.

Para a Fundação Telefônica, o estudo dá subsídios para traçar novas estra-tégias no crescimento da rede de internet banda larga pelo país. “A inclusão digital é vista por nós como uma forma de inserção social e faz parte do negócio da companhia. Esta pesquisa é importante para aceleração do cres-cimento da internet no País”, disse Luciene Dias, diretora regional da Vivo.

O estudo revelou como o brasileiro vem acessando a Internet em seu pró-prio domicílio. E constatou que São Caetano (SP) apresenta o maior índice do país de acesso a internet em casa (69%). Em compensação, em Aroeiras (PI), esse percentual é igual a zero. No Brasil, 33% das pessoas têm acesso à rede em suas casas. Isso o põe em 63º lugar entre os 158 países mapeados pela FGV. O líder é a Islândia, com 94% de domicílios conectados – um índice igual ao da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Já Rio das Pedras, a favela vizinha, possui o menor percentual da cidade (21%), parecido com o do Panamá.

Fundação Telefônica eFGV lançam Mapa da

Inclusão Digital

Unimed-Rio apoia ofi cina Papel PinelO grupo do Papel Pinel participou, em maio, de Ato

público do Dia Nacional de Luta Antimanicomial. O evento buscou sensibilizar a sociedade sobre diferentes formas de atendimento, além dos manicômios. O Pa-pel Pinel é uma ofi cina de artesanato feita por pacien-tes atendidos pelo ambulatório do Instituto Municipal Philippe Pinel, em Botafogo. 20 participantes fazem ca-

dernos, blocos, camisetas e bolsas com estampas criadas por colagem ou pintura utilizando materiais recicláveis. A Unimed-Rio é uma das empresas parceiras do projeto desde 2006. Iniciou seu apoio com a doação de papel, que era convertida em recurso para o projeto, e atualmente a instituição participa de capacitações oferecidas pela em-presa e é fornecedora de brindes sociais para eventos.

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ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA [email protected]

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ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA [email protected]

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Coca-Cola Brasil: 5º ano da Semana de otimismo que transforma “Coleta seletiva sem catador é lixo”. Citando a frase do ex-presidente

Lula, Tião Santos, líder do Movimento Nacional dos Catadores, deu início ao encontro com 20 blogueiros de todo o Brasil, que marcou o lançamento da Semana Otimismo que Transforma. Durante a iniciativa, realizada pela Coca-Cola Brasil de 20 a 27 de maio, parte da receita obtida com a venda de todos os produtos do portfolio da empresa será revertida ao programa “Reciclou, Ganhou”, do Instituto Coca-Cola Brasil, criado em 1996.

Protagonista da campanha da Semana, veiculada na TV, cinema, tea-tro e mídia impressa e digital, Tião falou sobre a realidade do dia-a-dia dos catadores. “Ao contrário do que imaginam, trabalhamos com ale-gria. Como já não é atividade fácil, se formos exercê-la com rancor, ela se tornaria mais difícil ainda”.

Fundação Grupo Boticário cria Brigada de Incêndio ComunitáriaA época da seca se aproxima no Planalto Central e com ela surge a preocupação com

os impactos do fogo sobre a biodiversidade do Cerrado. A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza – que administra a Reserva Natural Serra do Tombador, localizada em Cavalcante (GO), uma das maiores Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) do bioma – está trabalhando para prevenir e minimizar o problema. Para isso, a instituição conta com uma importante aliada: uma brigada voluntária comunitária de combate a incêndios, pioneira na região de Cavalcante.

O treinamento que ofi cializou a formação da Brigada Voluntária Comunitária da Reserva Natural Serra do Tombador e Vizinhos do entorno foi realizado nos dias 21 e 22 de maio, na própria Reserva, em parceria com a Coordenação Geral de Proteção Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CGPro/ICMBio). A Reserva Natural Serra do Tombador é a primeira RPPN no Brasil a fi rmar uma parceria com o CGPro para treina-mento de combate a incêndios. Participaram 22 pessoas, sendo 5 da equipe da Reserva e 17 moradores de propriedades e fazendas da região.

Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis tem nova

categoria para trabalhos relacionados à Rio + 20

Realizado a cada dois anos, o Prêmio Itaú de Finan-ças Sustentáveis traz uma novidade este ano: uma pre-miação especial para trabalhos relacionados à Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, além de uma categoria exclusiva para cola-boradores e estagiários das empresas Itaú Unibanco.

Para participar do Prêmio Itaú de Finanças Susten-táveis, o autor responsável pelo trabalho deverá se ins-crever até 6 de julho de 2012. A inscrição é gratuita e deverá ser feita de forma eletrônica direto no site http://ww2.itau.com.br/sustentabilidade/_/No-itau-unibanco/premio-itau-de-fi nancas-sustentaveis.aspx

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ENERGIA & CARBONO

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INDÚSTRIA DO AÇO LANÇA PROTOCOLO DE SUSTENTABILIDADE DO

CARVÃO VEGETAL

(da esq. para dir.): Presidente do Conselho do Instituto Aço Brasil André Gerdau, Deputado Federal Leonardo Quintão, Ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, Diretor do MDIC Alexandre Comin e Presidente-Executivo do Aço Brasil Marco Polo de Mello Lopes.

De Brasília/ Do Portal Instituto Aço Brasil

Em cerimônia presidida pela Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o Instituto Aço Brasil e empresas associadas lançaram, no dia 3 de abril, em Brasília, o “Protocolo de Sustentabilidade do Carvão Vegetal”, no qual ratifi cam o compromisso do setor com a produção sustentável desse insumo.

O evento contou com a presença de represen-tantes do governo, da cadeia minero metalúrgica e da imprensa. “Considero que a divulgação des-se protocolo pelos produtores do aço é impor-tante contribuição ao esforço do Poder Público em conscientizar os demais segmentos da cadeia produtiva em também terem compromissos de sustentabilidade social e ambiental na produção de carvão vegetal”, afi rmou a Ministra.

Um dos pontos mais relevantes do documento é o compromisso da indústria do aço de atingir, em até quatro anos, 100% de fl orestas plantadas para

atender à sua demanda de carvão vegetal. Em 2011, 80% do carvão vegetal consumido pela indústria do aço foi proveniente de fl o-restas plantadas próprias, 10% de fl orestas plantadas de terceiros e 10% de resíduos fl orestais legalizados.

O presidente do Conselho Diretor do Ins-tituto Aço Brasil, André Gerdau Johannpeter, também reiterou a importância dessa inicia-tiva voluntária do setor: “Com o lançamento do Protocolo, a indústria do aço reafi rma seu permanente compromisso com a sustentabi-lidade. Nesse sentido, o uso de biomassa na produção de aço é uma vantagem compara-tiva do Brasil em relação aos demais países, por se tratar de um recurso natural renovável e, além disso, contribuir para a redução das emissões dos gases de efeito estufa”.

BM&FBOVESPA E SANTANDER ANUNCIAM PARCERIA PARA DESENVOLVER MERCADO DE CARBONO NO BRASIL

A BM&FBOVESPA e o Santander Brasil fi rmaram parceria para estimu-lar o mercado de créditos de carbono no Brasil. O objetivo é estudar a cria-ção de novos produtos referenciados em créditos de carbono para negocia-ção em bolsa, como contratos deri-vativos e produtos à vista. Por meio do acordo, as duas instituições vão avaliar conjuntamente o desenvolvi-mento de produtos direcionados aos mercados brasileiro e internacional, e também desenvolverão estudos para analisar a viabilidade econômica e su-gerir medidas regulatórias necessárias ao lançamento destes produtos. A ini-ciativa também prevê a criação de um Programa de Formador de Mercado (Market Maker) voltado aos produtos resultantes da parceria.

PROTESTO DO GREENPEACE NO MARANHÃODesmatamento, invasão de terras indígenas

e trabalho escravo. Foi contra esse cenário que o Greenpeace protestou no dia 18 de maio último: a 20 quilômetros da costa de São Luís (MA), ativistas escalaram e bloquearam a ânco-ra de um navio que estava prestes a receber toneladas de ferro gusa que seriam levadas aos Estados Unidos, com um banner escrito “Dil-ma, desliga a motosserra”. Largamente expor-

tado para aquele país, onde vira aço para a fabricação de carros, o ferro gusa carrega des-truição e violência em sua cadeia de produção. As evidências estão no relatório “Carvoaria Amazônia”, que pode ser encontrado no site do Greenpeace Brasil.

O protesto no mar em frente à capital maranhense levantou questões embaraçosas so-bre o comprometimento da presidente Dilma Rousseff e seu governo quanto à proteção ambiental às vésperas da Rio+20. Dependentes de grandes quantidades de carvão vegetal para alimentar seus fornos, onde o minério de ferro se transforma em ferro gusa, siderúrgi-cas como Viena – dona da carga do navio – e Sidepar negociam com carvoarias repletas de irregularidades no Maranhão e no Pará. A lista inclui a extração ilegal de madeira e o uso de trabalho análogo ao escravo. Apesar de a investigação ser um pequeno recorte da cadeia de produção, tanto Viena quanto a Sidepar exportam quase 80% do ferro gusa que produzem na Amazônia para os EUA, onde vira aço usado por montadoras de veículos americanas.

FGV REÚNE EM SEMINÁRIO ESPECIALISTAS EM ENERGIA

No fi m de maio, a Fundação Getúlio Var-gas reuniu, no Rio, especialistas para debater sobre a matriz energética. Foram dois dias intensos de palestras com a participação de representantes do Governo, iniciativa priva-da e entidades do setor. A jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista, foi a moderadora do evento. Na foto (da esquerda para a direita), com o Secretário de Ambien-te do Estado do Rio de Janeiro, o ex-ministro Carlos Minc; o professor Werner Grau Neto, sócio do Escritório Pinheiro Neto Advogados e Marcelo Moraes, Coordenador do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico. Fo

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CINEMA Verde ISABEL CAPAVERDE

Fomentando o cinema nacional IO concurso de curtas-metragens promovido pelo Sistema

FIRJAN, através do SESI Cultural, quer dar voz e vez aos novos ta-lentos, para que recebam seu primeiro reconhecimento e se mo-tivem a seguir carreira na indústria audiovisual. As inscrições para 5ª edição do Curta Criativo estão abertas até o dia 20 de setem-bro e podem ser feitas gratuitamente através do site www.fi rjan.org.br/sesicultural. Quem pode participar? Estudantes e recém-formados em Cinema, Comunicação, Design, Belas Artes e Produ-ção Cultural, além de alunos de cursos livres e técnicos de cinema do Estado do Rio de Janeiro. O tema é livre e os curtas-metragens podem concorrer nas categorias animação, fi cção e documentá-rio. Os fi lmes devem ter no máximo cinco minutos, incluindo os créditos. Os primeiros e segundos lugares receberão prêmios de R$ 10 mil e R$ 8 mil respectivamente, em cada categoria.

Fomentando o cinema nacional IIFilma Brasil é um concurso online de roteiros que está em

sua segunda edição. Roteiros de curta e média-metragens são inscritos pela internet e depois de uma prévia avaliação fi cam disponíveis no portal e passam pelo crivo dos internautas e ju-rados que podem ler e votar. Filma Brasil é aprovado pelo ar-tigo 18 da Lei Rouanet de incentivo à cultura, podendo receber apoio de empresas que estiverem alinhadas com o fomento ao cinema nacional, pois ao fi nal do concurso os melhores roteiros recebem até R$ 135 mil em prêmios. O apoio aos jovens rotei-ristas também podem vir através de viagens para polos cinema-tográfi cos, equipamentos, curso de capacitação para roteiristas, licenças de softwares de áudio e vídeo. As inscrições para o Fil-ma Brasil 2 iniciam no dia 1º de julho. Mais informações no site www.fi lmabrasil.com.

Defensor das minoriasO jornalista Tim Lopes, que foi barbaramente assassinado em

2002 por trafi cantes em meio a uma reportagem investigativa sobre a exploração sexual de menores na favela da Vila Cruzeiro no Rio de Janeiro, terá sua vida documentada no fi lme Histórias de Arcanjo (nome de batismo de Tim) desde a infância no Rio Grande Sul. Com estreia prevista para setembro, o fi lme é dirigido por Guilherme Aze-vedo. Quem conduz a história é o fi lho de Tim, Bruno Quintella.

Recomendado no site oficial da Rio+20 e disponível no You Tube em duas partes (Parte 1 http://www.youtube.com/watch?v=T2xDkCO8IK8 e Parte 2 http://www.youtube.com/watch?v=4f9VqmUQBlw&feature=related) o filme Neste Chão Tudo Dá é um documentário que registra o trabalho do fazendeiro e pesquisador Ernst Gotsch, jovem suíço que transformou uma área de terra que no início da década de 1980 estava degradada no sul do estado da Bahia, em recupe-rada e considerada hoje, 30 anos depois, uma das regiões mais férteis e biodiversas. Ele desenvolveu um método de plantio e gerenciamento que busca imitar os processos de sucessão na-tural de espécies das florestas e dessa forma aumentar a quan-tidade e a qualidade da vida em todas as suas formas. Como resultado surge a chamada Agrofloresta, um sistema que com-bina culturas agrícolas e florestais, trazendo benefícios para o ecossistema e para o produtor. As práticas de Ernst mudaram e melhoraram a vida de várias famílias da região.

No segundo semestre estará nas salas de cinema do país o fi lme Colegas, o primeiro longa nacional protagonizado por três atores com Síndrome de Down: Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola. Dirigido por Marcelo Galvão, o fi lme trata de coisas simples da vida sob a ótica dos três personagens. Apaixonados por cinema, eles tra-balham na videoteca do instituto onde vivem e um belo dia, inspi-rados pelo fi lme Thelma & Louise, decidem fugir no Karmann-Guia do jardineiro em busca dos sonhos de cada um deles: ver o mar, voar e casar. O longa, que foi exibido em sessão privada no Festival de Cannes, teve além dos três protagonistas, mais 60 atores com Síndrome de Down no elenco de apoio. Uma ideia inclusiva que merece nota.

Em tempo de Rio+20

E viva a diferença!

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Não por acaso, o Rio de Janeiro tem sido cantado em verso e prosa ao longo da história. O sergipano Paulo Lima, quase um carioca de alma, brinda os leitores com este “postal” com vista panorâmica do Pão de Açúcar, Enseada de Botafogo e Flamengo. Foi justamente neste ponto da Baía de Guanabara, bem do lado direito, onde hoje está um marco bastante visitado, que Estácio de Sá descobriu a região. Em junho, o Rio – de norte a sul, de leste a

oeste – estará tomado pelas mais variadas ações da Rio + 20, Cúpula dos povos e dezenas de eventos simultâneos e paralelos. Será a “capital” da sustentabilidade. Os chefes de Estado estarão concentrados no Riocentro, na Zona Oeste. Já as atividades da Cúpula dos povos acontecerão no Aterro do Flamengo, com vista para esta exuberante paisagem. Ali próximo, na Praça Mauá, acontecerão também encontros e do outro lado, em Copacabana, haverá palestras também no Forte.

I m a g e m

PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 201266

Foto: Paulo Lima

Capital da Sustentabilidade

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