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ano um | nº 5 | março/abril 2008 | R$ 10 ,00 | AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE plurale A FORÇA DO MICROSSEGURO NA INCLUSÃO SOCIAL ETANOL E UM ENSAIO SOY LOCO POR TI AMERICA ENTREVISTA O RIO DO IRMÃO DO BUSSUNDA 200 ANOS DESMATAMENTOS UM DEBATE E UM FÓRUM NACIONAL em revista

Plurale em revista edição 5

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Plurale em revista edição 5

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ano um | nº 5 | março/abril 2008 | R$ 10 ,00 | AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

plurale

A FORÇA DO

MICROSSEGURONA INCLUSÃO SOCIAL

ETANOL E UM ENSAIO

SOY LOCO POR TIAMERICA

ENTREVISTA

O RIO DO IRMÃODO BUSSUNDA

200 ANOS

DESMATAMENTOSUM DEBATE E UM FÓRUM NACIONAL

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28.�

Contexto

ENSAIODEORQUESTRA

4 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

�12.

BPELO BRASIL18 A 21

A HERANÇA DE D. JOÃO VI32 A 41

RECIFES DECORAIS50

CARBONO NEUTRO64

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42. 8.PELO MUNDO

TODASAS CORES

DOMICROCRÉDITO

DEBATE PLURALPEGADA ECOLÓGICA EDESMATAMENTOS

ENTR

EVIS

TASÉ

RGIO

BES

SERM

AN

SANAA CIDADE ONDE

O TEMPONÃO PASSA

52.

LORD JAY,LULA EA DEFESADO ETANOL

47.

22.MICROSSEGURO

FATOR DE INCLUSÃO

Bazar66ético

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Quem faz a pluraleDiretores

Carlos Franco

[email protected]

Sônia Araripe

[email protected]

Diretor comercial

Henrique Bertini

[email protected]

Editor de arte

Marcelo Begosso

[email protected]

Fotografia

Luciana Tancredo, Cacalos

Garrastazu, Agência Brasil e

Maradentro

Colaboradores nacionais

Múcio Bezerra, Isabel Capaverde,

Marcelo Pinto, Vicente Senna, Nícia

Ribas, Geraldo Samor, Sérgio Lutz e

Tiago Ribeiro

Colaboradores internacionais

Renata Mondelo, Virginia Silveira,

Yume Ikeda, Marta Lage e Ivna Maluly

Plurale é a uma publicaçãoda Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75)

em parceria com a SA Comunicação Ltda

(CNPJ 04980792/0001-69)

Impressão: Gráfica Ideal

Revista impressa em papel reciclado

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202

CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-39040932

São Paulo | Alameda Barros, 66/158

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Uberlândia (MG) | Avenida Afonso Pena, 547/sala

95

CEP 38400-128 | Tel.: 0xx34-32530708

Os artigos só poderão ser reproduzidos com

autorização dos editores

� Copyright Plurale em Revista

6 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

com sabor decana caíana

Chegamos a março e A abril. O carnaval passou. E, há 200anos, no dia 7 de março de 1808, D. João VI desembarcavana hospitaleira e ensolarada cidade do Rio de Janeiro.

A sua chegada marcou novo tento na história do País, quedeixou de ser apenas um quintal de exploração de riquezasnaturais e foi elevado à condição de Império Ultramarino.

Ganhamos o Banco do Brasil. Aprendemos a usar talhe-res, a andar de liteiras, a produzir aqui o que antes era proi-bido e, com a abertura dos portos, a conviver com outrospovos. O resultado foi o desenvolvimento de um "jeitinho"peculiar de ser; o chamado "jeitinho brasileiro", fruto da con-vivência entre os então súditos com uma Corte européia fugi-tiva das tropas de Napoleão Bonaparte e que se viu em meioa bananeiras e matas verdejantes, além de um mar e um céuazul profundos.

A aventura nada segura dessa redescoberta do Brasil é oponto de partida dessa edição, na qual trazemos uma entre-vista com Sergio Besserman, o irmão do falecido e saudosoBussunda, e uma reportagem especial sobre o microsssegu-ro. Uma atividade que cresce e dá sustentação a projetosdaqueles que sonham construir redes de negócios e contri-buem diretamente para o melhor ambiente e a geração de ren-da. São, afinal, micro, pequenos e médios empresários osmaiores empregadores desse País.

Reforçamos ainda o convite para a reflexão desses 200anos formulado pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Vello-so, coordenador do Fórum Nacional que revigora, a cada ano,o pensar com foco no Brasil.

Numa América Latina conturbada por crises, algumas devaidades como a do arrogante presidente colombiano Álva-ro Uribe, a colocar em risco a vida de reféns da guerrilha emseu país, pegamos carona em belas imagens tiradas porirmãos argentinos. No melhor estilo "easy rider", aquela tur-ma que saía por aí sem fronteiras e sem destino, eles cruza-ram a América Latina e registraram tudo em fotos. Alguns fica-ram pelo caminho, em Sana, no Estado do Rio de Janeiro,como relata Múcio Bezerra. Na capa, a força da cana-de-açú-car no debate sobre aquecimento global e mudanças climá-ticas que reuniu em Brasília parlamentares dos países ricos eemergentes. Que a garapa e a mistura plural desses assuntostenha o sabor doce da cana caíana. Boa leitura!

editorial

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A “Uma delícia o número 4 de Plurale. Li aos poucos, entreti-da com o debate plural e tão salutar. Gostei especialmente docontraponto de cartas sobre o polêmico projeto da trans-posição do Rio São Francisco, com Dom Luiz Cappio e a atrizLetícia Sabatella se opondo e o deputado e ex-ministro CiroGomes a favor. Interessantíssimo para que cada um forme suaopinião.”Gilda Vieira de Mello, Rio de Janeiro

“Fiquei entusiasmado com Plurale: a revista está muito bemelaborada com papel reciclado, ótima paginação, fotografia eartigos muito bem trabalhados. Parabéns e que continuemsempre com este trabalho de altíssima qualidade”.Lucio Marques –Vice-presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio de Janeiro e Espírito Santo e DiretorComercial da Previdência do Sul

"Há duas grandes recompensas quando se faz um trabalhosocial: a inclusão de pessoas, que passam a ter o destino naspróprias mãos, e a disseminação de conceitos, que passam agerar novas iniciativas, numa progressão benéfica a toda asociedade. Parabéns pela bela matéria sobre as várias iniciati-vas sociais na comunidade da Mangueira. Possam outras sejuntar a estas".José David Martins Júnior, diretor da Bolsa de Mercadorias& Futuros-BM&F

"Plurale, tal qual o Programa Social da Mangueira, é fruto daousadia e da responsabilidade social que precisam pautar àspessoas de bem que querem viver num mundo melhor".Chiquinho da Mangueira, Deputado Estadual e Vice-Presi-dente de Esportes e Desenvolvimento Social da EstaçãoPrimeira de Mangueira

"Nesta época, quando muito se fala sobre inclusão e respons-abilidade sociais, a Plurale está de parabéns por abrir espaçopara mostrarmos à sociedade uma nova maneira de ver e lidarcom o mundo." Bárbara Machado, Coordenadora do Programa Social daMangueira

“A revista está um primor! Na qualidade gráfica em papel reci-clado, nas fotos e na arte, com belo uso de cor e tipologias,por Simone e Heloneida (apesar do José Dirceu), na outrahomenagem verde-rosa e na entrevista praticamente inédita deCartola. Sem falar nos anunciantes adequadíssimos ao projeto.E valeu o bazar ético! Ótimo! Já estou distribuindo a revista,que vai chegar a cantos e recantos. O povo daqui tambémadorou! Vida longa ao projeto, vou sugerir pautas.Flavio Lenz, assessor de imprensa daOng Davida e da Daspu, RJ

Plurale é uma revista extremamente classuda, eclética e bemfeita. Tomara que faça muito sucesso.Ivan Sant`Anna, escritor, Rio de Janeiro

“Plurale é muito interessante, tanto pelo conteúdo, quandopelo visual.”Luiz Miguel da Rocha, Assessor para Assuntos Políticos eEconômicos e Assessor Interino para Assuntos de Educaçãoe Diplomacia Pública da Embaixada do Canadá, Brasília(DF)

“Agradecemos em nome do Governador José Serra o envio dePlurale em revista. Aproveitamos para transmitir os nossossinceros cumprimentos.”Luiz Carlos de Carvalho SilvaDiretor Técnico do Departamento de Gestão da Documen-tação Técnica do Governo do Estado de São Paulo

“Que bela revista! Além do conteúdo interessantíssimo e bemescrito, que prende a atenção do leitor.”Wellington Moreira Franco, vice-presidente da CaixaEconômica Federal

“Muito interessante a abordagem do número 4 dePlurale. Só não li o artigo do ex-ministro José Dirceu sobreHeloneida Studart.”Ubiratan Iorio, economista, Rio de Janeiro

“Recebi o número 4 de Plurale. Fiquei muitíssimo contente.Ficou genial a revista! Parabéns a todos pelo conteúdo, design,relevância e abordagem dos temas discutidos. Contem comigosempre que precisaremArmindo dos Santos de Sousa Teodósio (Téo), Professor daPUC Minas (MG)

Desejamos sucesso no projeto de Plurale. É uma revista mod-erna, com um conteúdo muito bom e uma apresentação fan-tástica”Odin Leandro, Porto Alegre (RS)

Parabéns a toda equipe pela revista e suas reportagens queabordam vários assuntos de grande importância para aspessoas. Gostaria de sugerir uma matéria sobre novas idéiase o que elas podem contribuir para a qualidade de vida. Souinventor e tenho um projeto que pode economizar até 9.000de água na descarga de banheiro por pessoa por ano. O pro-jeto é uma caixa de descarga com cordinhas para banheiroem dois estágios. A atual descarrega 9 litros cada vez que éacionada. Trocando estas caixas já teremos uma enormeeconomia.Álvaro Almiro Ignácio, Blumenau (SC)

p l u r a l e @ p l u r a l e . c o m . b r

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Artigos MARCIAPIMENTA

PEGADA ECOLÓGICA

ltimamente as questões ambientais vêm gan-hando cada vez mais espaço na mídia. Cos-tumo dizer que se por um lado isso é bom,porque permite que grande parcela da socie-dade se informe a respeito dos problemasambientais que nos afetam, por outro sina-liza que a crise é grave e todos os diasnovos conflitos se estabelecem e são notícia.

O aquecimento global é o tema domomento, e a mídia vem cobrindo o assun-to com freqüência, embora não contextua-

lize de forma eficiente suas causas e conseqüências. Os efeitos das mudançasclimáticas são ameaças que pairam sobre nossas cabeças, mas ao mesmo tem-po não sabemos o que fazer para reverter os impactos da degradação ambien-tal que causamos ao planeta.

Embora o aquecimento global esteja no cerne das discussões, a degra-dação ambiental do planeta assume outras formas, como a desertificação, per-da de solo, poluição das águas, buraco na camada de ozônio, contaminaçãode alimentos e da água por fertilizantes e agrotóxicos, entre outros. Mundial-mente estas questões tendem a ser observadas como problemas ambientais,quando na verdade trata-se da falta de uma perspectiva sustentável para odesenvolvimento.

Todos estes impactos negativos são frutos dos atuais padrões de produçãoe consumo, que pressupõem um crescimento infinito sobre uma base fini-ta, que é o planeta Terra. Um modelo que não tem futuro, e celebra o triun-fo individual (lucros) sobre os interesses coletivos (saúde dos ecossistemas).

Porém, alheios a esta realidade, persistimos em buscar no crescimento

a solução para o fim da pobreza e dadesigualdade na distribuição de rendae exaltamos o aumento do PIB - Pro-duto Interno Bruto - ignorando queeste índice não contabiliza a perdados serviços ambientais dos quais ahumanidade depende para sobrevi-ver. Além disso, contabiliza como cus-tos, investimentos em áreas importan-tes, como a educação.

Índices alarmantes do desmata-mento da Amazônia divulgados recen-temente expõem a fragilidade desseíndice. Apontado como o principalresponsável pelo desmatamento imo-ral da floresta Amazônica, o agronegó-cio responde por 1/3 do PIB brasilei-ro e foi responsável por 93% do supe-rávit comercial brasileiro de US$ 46 bi,segundo o Ministério da Agricultura. Ooutro lado da moeda que a mídia nãocomenta é a concentração de renda,perda de empregos, contaminação dosolo e da água pelo uso de fertilizan-tes e agrotóxicos e a destruição de bio-mas. E a ameaça só tende a crescercom a febre dos biocombustíveis. Nocálculo do PIB nenhuma dessas perdasé computada.

Não é difícil concluir que o PIBnão é a melhor escolha para quantifi-car o progresso e o bem estar dassociedades, conclusão que nos leva abuscar outros índices que possammensurar de uma forma mais realistao desenvolvimento. Para avaliar atéque ponto nossos impactos e consu-mo já ultrapassaram os limites, WillianRees e Mathis Wackernagel criaram oconceito da pegada ecológica quebusca revelar quanto de área produti-va de terra e de mar do planeta énecessário para prover os recursos eassimilar os resíduos gerados pelasatividades humanas.

Em 1961, a humanidade usava 70%da capacidade produtiva da Terra.Porém com o crescimento populacio-nal a partir dos anos 80 e o conse-qüente aumento do consumo, a capa-

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“O mundo tem o suficiente para as necessidades de todos, masnão para a ganância de todos”. GANDHI, Mahatma

Como o nosso estilo de vida pressionaa oferta de recursos naturais

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O desmatamento elevado está de volta na Amazônia. Após trêsanos de queda houve uma retomada no ritmo de desmatamen-to no ultimo semestre de 2007, o que é largamente explicadoprincipalmente pela alta nos preços dos produtos agropecuá-rios especialmente, soja e carne. Em grande parte, a floresta estásendo derrubada para dar lugar à agropecuária porque no cur-to prazo (e para alguns segmentos econômicos) é mais lucra-

tiva do que as opções sustentáveis de uso da floresta (por exemplo, manejo flo-restal sustentável). Para entender por que esse problema persiste e porque esta-mos encalhados há mais de três décadas na busca de uma solução efetiva, éimportante olhar um pouco para trás para entender as causas e é só então pro-por algumas saídas para essa crise.

O desmatamento é relativamente recente na história amazônica e foi impul-sionado a partir da década 70 pelo governo federal por meio de incentivos paraa ocupação e integração da Amazônia ao resto do País. Naquela época o gover-no pagava para quem desmatasse. De fato, a política oficial era por abaixo meta-de das florestas existentes nas propriedades. Nas décadas de 1980 e 1990 e ogoverno reduziu os incentivos para o desmatamento e diminuiu drasticamen-te os investimentos em infra-estrutura (abertura de estradas, construção de hidre-létricas, linhas de transmissão de energia etc). Porém, ao invés de reduzir o ímpe-to a ocupação da fronteira se intensificou com o forte crescimento da ativida-de madeireira associada ao crescimento da pecuária, e da especulação de terraspúblicas.

FLORESTA EM PERIGO Resultado em pouco mais de três décadas, o desmatamento passou de

meros 0,5% do território da floresta original (em 1975) para quase 18% oumais de 730 mil quilômetros quadrados em 2007 (uma área equivalente asoma dos Estados de Minas Gerais e Paraná). Além disso, das florestas quepermanecem estima-se que cerca de um terço já tenha sofrido algum tipode pressão tais como exploração madeireira predatória e incêndios flores-tais. Isto significa que a situação é muito mais crítica do que sugere apenasos dados do desmatamento.

Como qualquer sistema biológico a Amazônia tem um ponto limite (thres-hold) além do que não será possível recuperá-la. Muitos cientistas temem quese o desmatamento atingir 30% da área total, a Amazônia poderá entrar em umprocesso irreversível em direção a savanas. As implicações disso para o aque-cimento global, ciclos hidrológicos e biodiversidade seriam catastróficas

O PAPEL DA FLORESTA AMAZÔNICAA floresta Amazônica tem um papel chave na regulação do clima regional

e global Por exemplo, a Amazônia é “provedora” de chuvas o sul-sudeste doBrasil. Isto significa que a maior parte da riqueza brasileira é gerada a partir daschuvas da Amazônia. Chuva que garante as safras do agronegócio nacional. Chu-

cidade do planeta em fornecer os recur-sos necessários para as atividades huma-nas começou a mostrar-se insuficiente.Por volta de 1999 já consumíamos 25%a mais do que a capacidade de regene-ração do planeta. Em outras palavras, oplaneta precisaria de um ano e trêsmeses para gerar os recursos usadospela humanidade num único ano. Des-sa forma, criamos um déficit insuportá-vel para as gerações futuras.

Constatou-se que a área produtivadisponível a cada habitante do planetaé 1,8 hectares (ha), mas hoje os norte-americanos já usam mais do que o quín-tuplo, ou seja, 9,71ha. Como será pos-sível equacionar esta questão, se os paí-ses do sul, em desenvolvimento, aindaprecisam satisfazer necessidades básicasdo seu povo, em um planeta que usarecursos naturais além da sua capacida-de de regeneração? Optarão os paísesmais ricos pelo decrescimento em soli-dariedade àqueles que não têm atendi-das necessidades básicas como alimen-tação, saúde, saneamento e educação?Dificilmente...

Apesar de ter alcançado pouca visi-bilidade se comparado a outros índices,o cálculo da pegada ecológica ofereceuma boa pista para entender como paí-ses e indivíduos utilizam seus recursosnaturais. Individualmente podemospressionar nossos governantes a adota-rem posturas que fortaleçam a sustenta-bilidade em seus processos produtivose também calcular como nosso estilo devida impacta negativamente a capacida-de da oferta dos ecossistemas

Quer saber qual é a sua “pegada”?Acesse: http://www.footprintnet-work.org/. Além do cálculo, o sítiooferece informações detalhadas sobremetodologia, fontes de dados, hipóte-se e definições.

� Márcia Pimenta é tutora docurso de Instrumentos de GestãoAmbiental da FGV Online

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O DILEMA DA AMAZÔNIA

O

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Artigos ADALBERTOVERÍSSIMO

vas que abastecem as hidrelétricas do Sudeste e possibilitam a geração deenergia que supre o crescimento econômico nacional.

Estima-se também A bacia Amazônica (incluindo também os outros paí-ses Amazônicos e não apenas o Brasil) abriga entre 120-150 bilhões de tone-ladas de carbono (acima do solo), os quais se liberados para a atmosfera atra-vés de desmatamento poderiam tornar ainda mais catastrófico o aquecimen-to global.. De fato, o desmatamento e a degradação florestal, principalmen-te em florestas tropicais, representam 17% das emissões globais dos gasesdo efeito estufa (GEE) com uma contribuição significativa do desmatamen-to da Amazônia1.

RISCOS E OPORTUNIDADES E se o problema do desmatamento já era crítico na década passada ele

agora tende a se agravar. Nesse início de milênio, as forças que atuam naAmazônia são mais complexas e incluem, por um lado, os investimentos compotencial de ampliar o desmatamento e a degradação ambiental, tais comoos gastos públicos (principalmente construção de estradas, construção dehidrelétricas, oferta crédito barato), a expansão de assentamentos de refor-ma agrária (uma política que teima em persistir na região) e o aporte de capi-tal privado para atender o mercado global nas áreas de mineração, agrope-cuária e exploração madeireira. Por outro lado, há iniciativas de conservaçãoe uso sustentável dos recursos naturais, tais como a criação de Unidades deConservação, o combate à grilagem de terras públicas e o aprimoramentodo sistema de licenciamento, monitoramento e fiscalização ambiental.

CAUSAS DO DESMATAMENTO Porque o desmatamento persiste na Amazônia ? A explicação mais plau-

sível é que o desmatamento gera benefícios econômicos e políticos paraalguns segmentos com atuação na Amazônia. O Imazon chama isso depadrão de “Boom- Colapso”.Ou seja, nas novas áreas que estão sendo des-matadas (municípios de fronteira) ocorre um rápido e efêmero crescimen-to na renda e emprego (Boom). Mas os custos são altos com a violência rurale o desmatamento expressivo. No médio prazo (após uma década), os indi-cadores socioeconômicos pioram e essas regiões entram em colapso social,econômico e ambiental. Esse é o pior dos mundos: natureza destruída emanutenção ou agravamento da pobreza.

Há três causas principais para a persistência do desmatamento edegradação ambiental na Amazônia.

Economia florestal Incipiente (sustentável) é ainda periférica e, por-tanto, insuficiente para conter a ocupação baseada no uso predatório dosrecursos naturais (exploração madeireira predatória, soja, pecuária etc).Esse padrão é mais comum em Rondônia, Mato Grosso e Pará onde avançodo desmatamento tem gerado o pior dos cenários: recursos naturais exau-ridos, manutenção ou agravamento da pobreza.

Escassa presença do Estado (Governo) para ordenar e promover o uso

racional dos recursos naturais. Oresultado disso é a proliferação deatividades ilegais e a degradaçãoambiental (inclusive nas áreas fron-teiriças). Na medida em que a fron-teira econômica avança na Amazô-nia torna-se ainda mais difícil para oEstado acompanhar esse processooferecendo segurança, saúde, edu-cação e ordenamento territorial.

Escassez de Políticas Pró-Flo-resta. Os investimentos na agendade desenvolvimento florestal susten-tável é insuficiente para se contraporao modelo do agronegócios. Seminvestimento vultuosos e de longoprazo vai ser muito difícil promovera nova economia florestal sustentá-vel na Amazônia.

Agenda para uma AmazôniaSustentável

Portanto, para enfrentar e domarde vez as forças do Boom-Colapsoque impulsionem o desmatamento,a Amazônia precisa de um grandeplano de desenvolvimento sustentá-vel capaz de se contrapor ao mode-lo de rapina em vigor. Para isso ogoverno precisa conter a agrope-cuária restrita as áreas já desmatadasao mesmo tempo em que fortaleçaa economia e a conservação da flo-resta. O governo tem muitos instru-mentos disponíveis para fazer isso.Pode por exemplo, condicionar ocrédito rural oferecido pelos bancospúblicos (Banco do Brasil, Bancoda Amazônia e BNDES) somentepara os proprietários que respeitemo código florestal, o qual exige 80%de cobertura florestal na proprieda-de, e para aqueles que estejam comsuas terras legalizadas e cadastradasnos órgãos ambientais.

O fundamental é deve havermudanças de base na economia da

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região. A supremacia das atividades primárias com baixovalor agregado deve ser substituída por uma economia ondeos produtos e serviços da floresta sejam valorizados e a ren-da dessas atividades contribua com a melhoria da qualida-de de vida da população. Para isso, é necessário rediscu-tir as diretrizes do desenvolvimento da Amazônia e ampliarsignificativamente os investimentos em cência e tecnologiapara favorecer a economia da floresta. Iniciativas parareduzir drasticamente o desmatamento e até mesmo ces-sá-lo por completo (moratória como proposta pelas prin-cipais ONGs com atuação na Amazõnia) devem ser perse-guidas no curto prazo. Esse esforço deve reunir não ape-nas o governo, mas também o setor privado, as organi-zações sociais e ambientalistas, assim como toda a socie-dade brasileira.

Para garantir o cumprimento dessa política, o governopode por em prática as tecnologias já disponíveis que per-mite monitorar com imagens de satélite as propriedadesrurais e, portanto, saber em tempo quase real, quais são osproprietários que estão respeitando ou não a lei. Outrasmedidas precisam ser contempladas incluindo o aprofun-damento das ações de combate à grilagem de terras e a sus-pensão definitiva de novos assentamentos de reforma agrá-ria. Precisa também aprofundar as ações em curso deordenamento territorial e garantir que as áreas protegidas(Terras Indígenas e Unidades de Conservação) sejam efe-tivamente implementadas.

O desafio de manter a integridade da floresta amazôni-ca é imenso e urgente. As ameaças contra a floresta persis-

tem e se ampliam com o avanço da fronteira. De fato,se não forem adotadas medidas mais profundas denatureza econômica para valorizar a floresta em pé,o ciclo do “boom-colapso” poderá gerar impactosambientais severos ao mesmo tempo em que agravaa situação social na Amazônia. As oportunidades parapromover um desenvolvimento com

base na floresta é que melhore a qualidade de vidada população e o respeito à natureza estão presentes,mas precisam evoluir do caráter piloto e periférico parao pilar central da vida política, econômica e social daregião.

Por último, tão importante sobre o que fazer écomo fazer. Além de medidas de grande alcance e queprecisam ser tomadas logo, o governo precisa apro-veitar esse momento de crise para construir um pac-to político envolvendo todos os segmentos represen-tativos interessados no desenvolvimento sustentável econservação da Amazônia. Sem um pacto políticomínimo e um plano vigoroso de investimento na flo-resta, o problema do desmatamento não terá solução.Mas, é preciso agir rápido, com persistência, pois algu-mas medidas levam tempo para vingar e com dispo-sição de enfrentar os interesses menores de grupospara fazer valer os interesses maiores e fundamentaisdo País.

� Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon

A TELEFONIA TOCA

F E C H A M E N T O P U B L I C I TÁ R I O 5 D E M A I O D E 2 0 0 8

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SérGioBESSERMAN

Enrevista

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Uma tese de mestrado sobre o governo Vargas o levou para oBNDES. “Na época, o primeiro prêmio funcionava como concursopúblico”, esclarece o economista Sérgio Besserman Vianna, 50anos, que após ser diretor de planejamento da estatal, passou pelapresidência do IBGE, até ser convidado pela prefeitura do Rio deJaneiro para dirigir o Instituto de Urbanismo Pereira Passos (IPP).

O episódio do BNDES, na verdade, revela a síntese entre teoria e prática expressa navida deste carioca, capaz de conciliar paixões variadas – e quase sempre complementares– como ambientalismo, justiça social, História, Flamengo e Rio, a cidade, aliás, para a qualprojeta, hoje, seu pensamento e sua ação como presidente do IPP.

Professor da PUC-RJ desde 1984, Besserman, que há cerca de 15 anos estuda asmudanças climáticas do planeta, é também membro da ONG World Wide Found for Natu-re (WWF) e secretário-executivo do Protocolo do Rio, programa da prefeitura para ameni-zar os efeitos do aquecimento global na cidade.

Além de promover a educação ambiental entre os alunos da rede municipal de ensino,outro desafio assumido por ele é o de devolver ao Rio o título de detentor da maior flo-resta urbana do mundo, hoje pertencente à cidade do Cabo, na África do Sul. Para isso, pro-jetou a união de dois parques florestais: Pedra Branca e Tijuca. “Já estamos reflorestandono ponto em que elas se encontram, depois vamos criar uma ponte ecológica, mais pelolado simbólico, claro, porque os macacos, pássaros e outros bichos não vão precisar dis-so para migrar de um lado pro outro”, explica, Besserman, sem perder o humor. Para ele,o principal “ativo econômico” da Cidade Maravilhosa está no verde.

Fale de seu trabalho à frente do Instituto Pereira Passos.O IPP tem um papel importante na cidade do Rio. Fomos a primeira cidade do Brasil

a fazer um seminário técnico, em parceria com o laboratório de gestão territorial da UFRJ,sobre mudança global do clima.

Pessoalmente, tem sido uma benção essa oportunidade, porque eu sempre trabalhei nomacro: na juventude, quando eu queria fazer a revolução mundial, e depois na macro-eco-nomia brasileira. Esta é a primeira vez que tenho a chance de descer a um grau de con-cretude e de detalhe da atividade profissional, numa cidade espetacular, complexa, que mepermite conhecer bairros, favelas e atividades setoriais diversas. O IPP é único no Brasil.Nosso esforço é conciliar as duas personalidades do instituto: a diretoria de urbanismo, quelida com as áreas de planejamento da cidade, com as intervenções urbanísticas; e a dire-toria que trata de informação, conhecimento e gestão, mais ligada à minha experiência naárea de estatística e cartografia – próximo ao que eu fazia no IBGE. O IPP, aliás, tornou-seo principal case de uso das informações censitárias do IBGE em âmbito municipal.

O Rio foi também a primeira cidade brasileira a fazer seu inventário de emissão de gasesdo efeito estufa, em 1998. Este ano vamos atualizar esses dados para fazer um primeiro com-parativo.

Além disso, há espaço e é conveniente para a cidade um crescimento constante da redecicloviária. A cidade detém hoje a maior malha cicloviária do país e a segunda da Améri-

O IRMÃO DO BUSSUNDA, SONHA COM UM RIO DE JANEIRO VERDE E COM

PASSEIOS DE

BICICLETATEXTO [MARCELO PINTO]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

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ca Latina. Porém, mais do que o crescimento das linhas, estamos inves-tindo em iniciativas como os bicicletários. Acaba de ser firmada par-ceria com a Sul América Seguros nesse sentido (N.R.: a empresa inves-tirá R$ 3 milhões na instalação, revitalização e ampliação dos bicicle-tários). Cogitamos implantar, ainda em 2008, um programa com bici-cletas públicas, que deu certo em Paris. Vamos adaptar à nossa reali-dade. E vamos investir no “software” também, ou seja, na educação dapopulação para o uso da bicicleta.

As informações e ações geradas pelo IPP têm sido divulgadas pelaweb e através de publicações. Basta entrar no Google e digitar Arma-zém de Dados que você entra no mais completo site de informaçãosobre um município brasileiro.

Hoje, 80% da população mundial vive em cidades. Qual o papeldas metrópoles na adoção de medidas para enfrentar o aqueci-mento global?

Não apenas o mundo, mas o Brasil tem uma população fortemen-te urbana. Se você utilizar o critério do IBGE, de população que viveno perímetro urbano, o número vai a 80%. Portanto, as agressões aomeio ambiente que originalmente eram locais, progressivamente tor-naram-se regionais. A chuva ácida da América do Norte, por exemplo,vem da Europa ocidental e da Escandinávia. Mas, na segunda metadedo século XX, e cada vez mais, as agressões passaram a ser, também,globais. A mudança do clima, a degradação dos oceanos, a crise de águadoce, a desertificação, o buraco da camada de ozônio e a crise de bio-diversidade são agressões com uma dinâmica global. Com esse percen-tual de população urbana, o enfrentamento da crise ambiental, prin-cipal item da Agenda do século XXI, passa obrigatoriamente pelas cida-des. Passa por mudanças, inicialmente, na forma de fazer as coisas, nadireção de uma maior eficiência, maior sustentabilidade. Mudanças nopróprio modo de ser das cidades. É isso o que nós vamos passar a ver.E no caso do Rio, por diferentes razões, a questão do meio ambienteé fundamental. Em primeiro lugar, porque a essência do Rio é essa dinâ-mica maravilhosa entre ambiente construído e ambiente natural. Emsegundo lugar, por razões econômicas. O “verde”, na medida em quese torna escasso no planeta, adquire maior valor. Ele é hoje o princi-pal ativo da cidade do Rio de Janeiro, se pensarmos num horizonte detempo considerável. Não estou falando de quantas pessoas vêm visi-tar a Floresta da Tijuca. Isso também é importante. Mas a marca da cida-de, a forma como o Brasil e o mundo vêem a cidade, passa por aí. Porrazões históricas, não só relacionadas à manutenção do verde, somoshoje uma região metropolitana com 12 milhões de pessoas. E é eviden-te que para a população pobre, ou alguns desses milhões, seria mui-to mais econômico ocupar o verde. De algum modo, embora o cres-cimento demográfico pressione, a cidade conseguiu manter seu verde.Hoje, não se trata mais de propiciar acesso a ambientes saudáveis, masdo fato de que o meio ambiente da cidade está ligado ao acesso à águapotável e à saúde de seus habitantes. O IPP tem uma tradição de apoionesse setor, principalmente depois que o Rio criou, de forma pionei-ra no país, sua secretaria de Meio Ambiente. Desde então, o IPP, pelolado do pensamento urbanístico, da cartografia e das estatísticas, tra-balha junto com esta secretaria. Mais recentemente, recebemos aincumbência de participar de programas, projetos e políticas públicas

Entrevistarelacionadas com a sustentabilidade dacidade. Esse trabalho é integrado comoutras secretarias além da do Meio Ambien-te. A gente costuma dizer aqui que o IPP écomo o Gérson (meio-campista da seleçãotricampeã de 70). Se o Gérson ficasse lá nafrente a coisa não funcionava, porque aí oJairzinho e o Pelé iam ter que jogar atrás.Então nosso papel, como qualquer órgãoque trabalha com informação e planejamen-to, é participar junto com as diversas secre-tarias. Quem faz o gol é o executivo, e issopode ser também através das secretarias deUrbanismo, de Educação, de Transportes.Com eles nós participamos de atividadescujo foco é a sustentabilidade da cidade.

Qual sua avaliação do movimentoambientalista hoje?

Houve um momento importante no iní-cio da década de 90 que, a seguir, foi sen-do diluído pelas diversas crises da econo-mia mundial e, posteriormente, pela eleiçãode George Bush para a presidência dosEUA. Esse refluxo do tema na agenda inte-rrompeu a crescente percepção de que asagressões ambientais, especialmente amudança global do clima, são não só mui-to graves como também de enfrentamentourgente.

O movimento ambientalista não só tempressionado efetivamente políticas públicaslocais – nacionais –, como também é umexemplo embrionário de sociedade civilorganizada no plano global, através deONGs como o WWF, Greenpeace, Conser-vation International etc. Sua contribuiçãoextrapola as questões ambientais para fazerparte da construção de uma globalizaçãomais democrática. Ainda assim, pareceimportante que no século XXI o movimen-to ambientalista evolua para uma partici-pação menos compartimentalizada e maisintegrada às discussões da economia e dapolítica mundial.

O licenciamento ambiental tem sidoacusado de travar o desenvolvimentoeconômico?

O licenciamento ambiental não é entra-ve nenhum ao desenvolvimento econômi-co, pelo contrário. É preciso não confundirfalhas nas leis, equipes técnicas de análise

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desfalcadas ou sem meios de trabalho, com os problemas decorrentes da necessidade de licenciamento.É incrível como empresas grandes, que às vezes gastam fortunas com os estudos de viabilidade econô-mico-financeira dos projetos, ainda realizem trabalhos precários e mal arranjados quando se trata de aten-der às exigências do licenciamento ambiental.

Até a queda do Muro de Berlim, a grande utopia era o socialismo. Ser revolucionário hoje élutar por um mundo sustentável?

Acompanhei o prefeito do Rio César Maia na última reunião do C-40 (que reúne as 40 maiores cida-des do mundo na luta contra o aquecimento global), em Nova Iorque. Lá estavam também o prefeito deCuritiba, Beto Richa, e o de São Paulo, Gilberto Kassab. E lá eu vi o prefeito de Londres, Ken Livingsto-ne, conhecido internacionalmente como “Ken, o vermelho” (original da ala esquerdista do Partido Tra-balhista, ele saiu do partido para se candidatar à prefeitura, ganhou a eleição e voltou ao partido). Nes-sa reunião, em que eram discutidos temas como reflorestamento, gestão de lixo e transportes, eu vi o pre-feito de Londres dizer: “No século XXI, o vermelho é verde”.

Claro, seria um ato de covardia intelectual e política não olhar de frente para a queda do Muro de Ber-lim e o fracasso do socialismo real. Isso não me impede de dizer que eu sou uma pessoa de esquerda,tanto pelo lado do combate à desigualdade, quanto por acreditar que o grande desafio do século XXI écolocar o caráter ecologicamente destrutivo do capital sob controle, em nível planetário. Por exemplo,todo mundo tem que reduzir as emissões dos seus gases de efeito estufa, tanto a população norte-ame-ricana quanto a chinesa ou brasileira. Há necessidade crescente de controles globais também em relaçãoà água e em questões não ambientais, como a desigualdade global e a opressão de culturas locais. É pre-ciso democratizar a globalização. Hoje, ela é uma globalização só dos mercados. A questão ambiental édecisiva, embora não seja propriedade da esquerda. Há uma esquerda que não percebe a importânciada discussão ambiental e continua com uma visão de progresso basicamente de acumulação quantitati-va e despreza o tema ambiental. Assim como há uma direita moderna. O líder da União Européia coma proposta mais radical para redução da emissão de gases é a chanceler alemã, a democrata-cristã Ange-

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la Merkel. Na Alemanha, inclusive, o chanceler anterior, osocial-democrata Gerard Schroeder, ganhou a eleição como tema do aquecimento global.

A população australiana fez seu governo aderir ao Pro-tocolo de Quioto. O mesmo pode ocorrer nos EUA, após aeleição presidencial?

Claro que eu torço para que ganhe um candidato demo-crata, mas quem decide isso é o eleitorado. E já está decidi-do. O programa ambiental do (John) McCain, por exemplo,é muito bom, assim como o programa do governador da Cali-fórnia, o Schwarzenegger, ambos republicanos. Mas quemprovocou essa mudança, de fato, foi a consciência do elei-torado.

Bush contribuiu para isso?Ajudou com sua radicalização, ao ponto de censurar um

dos heróis do combate ao aquecimento global, o cientistaJames Hanson, da Nasa, que após ter um relatório alteradovirou herói. Junto com a rejeição a várias de suas políticas,com destaque para a Guerra do Iraque, veio uma enormerejeição ao seu comportamento na questão da mudança glo-bal do clima. Bush enfim recuou. É um recuo envergonha-

do, tímido, mas já é um primeiro prego batido.

Qual a importância do relatório do IPCC?O século XXI começou no dia 2 de fevereiro de 2007,

com a divulgação do relatório do IPCC (Painel Intergover-namental sobre Mudanças Climáticas). Mas não por causa dorelatório em si, pois ele não tem tanta novidade científica –apenas traz mais certeza e mais detalhe, o que sem dúvidafacilitou o entendimento do impacto na vida das cidades. Ofundamental mesmo foi o surgimento da opinião públicamundial, embrião de uma futura sociedade civil planetária.Pois foi a primeira vez que as parcelas mais bem informa-das das populações da África, América Latina, Ásia, Europa,EUA, Rússia, Japão, prestaram atenção ao relatório de umarede internacional de cientistas, produzido para a ONU, e rea-giu ao que foi divulgado.

Leia mais:http://www.rio.rj.gov.br/ipp (IPP)http://www.arma-zemdedados.rio.rj.gov.br (Dados doRio)http://portalgeo.rio.rj.gov.br/protocolo.index.asp (Protocolo do Rio)

Entrevista

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A prática do surfe ganha espaço para além

das ondas. Com o crescimento do mercado

mundial, a modalidade iniciada por reis tai-

tianos em 900 D.C. gera, atualmente, milhões

de empregos ao redor do mundo. No Brasil,

só o surfwear movimenta um faturamento

anual na ordem de R$ 2,5 bilhões. Segundo

a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e

de Confecção (Abit), os segmentos relaciona-

dos à moda praia representam 15% da indús-

tria têxtil nacional.

Para entender este mercado, a USP - Uni-

versidade de São Paulo, iniciou em março o

curso Surfe: Administração, Marketing e

Gestão de Negócios. Com a realização do Ins-

tituto Brasileiro de Desenvolvimento do Surf

(IBRASURF), em parceria com a Escola de

Educação Física e Esporte da USP, o curso terá

a carga horária de 42 horas.

Reconhecidamente prática de convívio

saudável com a natureza, o surfe agora

entrou, de vez, para a academia.

Em breve, três novas cultivares de uvas brasileiras sem

sementes - BRS Linda, BRS Clara e BRS Morena, desenvolvidas

pela Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves,RS), serão culti-

vadas em solos africanos.

A iniciativa foi garantida pela assinatura do contrato entre

a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

empresa vinculada ao Ministério da Agricultura Pecuária e

Abastecimento e a Colors Fruit Ltd.

Além do continente africano, as cultivares sem sementes

também têm despertado o interesse de outros pólos produto-

res tradicionais de uva de mesa, como Chile e Espanha, que

já negociam o direito de uso.

No final de outubro de 2007, Tersia Marcos, diretora de pes-

quisa e desenvolvimento da Colors Fruit, assinou o contrato

de cooperação técnica na presença de pesquisadores da

PELO BRASIL

NA ACADEMIA SURFANDO

UVA BRASILEIRA

AFRICANOEM SOLO

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Apesar de ser proibida por lei federal desde 1987, a pesca de

botos na Amazônia continua sendo praticada. De acordo com o

Instituto Chico Mendes, na fronteira Brasil-Colômbia, a pesca

desses animais foi intensificada nos últimos anos, o que caracte-

riza uma preocupante situação de caça predatória na região.

Para combater esse problema, um grupo formado por repre-

sentantes do Instituto Chico Mendes, do Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Secreta-

ria de Meio Ambiente do Amazonas e ainda de instituições

ambientais colombianas dará início ao Plano de Ação Emergen-

cial para Redução e Interrupção da Caça de Botos-da-Amazônia.

O plano inclui uma série de atividades, a começar pela identifi-

cação e fiscalização das áreas críticas e pelas ações de educação

ambiental na região.

De acordo com o analista ambiental do Instituto Chico Men-

des, Paulo Flores, o problema se intensificou há pelo menos um

ano, quando brasileiros descobriram que poderiam comercializar

na Colômbia um peixe característico da Amazônia.

EM DEFESA DO

TEXTO [AGÊNCIA BRASIL] | FOTO [DIVULGAÇÃO]

Embrapa Uva e Vinho e de Ana Paula A.

Vaz, pesquisadora e Edison Antonio Bol-

son, gerente do Escritório de Negócios de

Campinas da Embrapa Transferência de

Tecnologia.

Este contrato prevê a realização dos tes-

tes de VCU (Valor de Cultura e Uso) e proce-

dimentos para a proteção das três cultivares

de uva na África do Sul. Segundo Bolson, tra-

ta-se de uma excelente oportunidade de

negócios, com a divulgação e inserção no

mercado mundial, dos produtos desenvol-

vidos pela Embrapa.

"Garantimos os direitos de propriedade

intelectual sobre as cultivares brasileiras e

também protegemos nossos viticultores da

concorrência no mercado com nossas pró-

prias variedades", comenta Umberto Camar-

go, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e

coordenador da equipe de melhoramento

genético de videira.

Durante sua visita à Estação Experimen-

tal de Viticultura Tropical da Embrapa Uva

e Vinho, localizada em Jales (SP), Tersia

Marcos participou do processo de degus-

tação de novas seleções de uvas de mesa sem

sementes.

BOTO

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PELO BRASIL

Aos que ainda torcem o nariz para os cinco dias em que o país lite-

ralmente pára e só quer cantar e dançar é bom dizer que existe no car-

naval, em especial no carnaval carioca, uma rica e promissora cadeia pro-

dutiva. Durante cerca de dois anos um grupo de pesquisadores coorde-

nados por Luiz Carlos Prestes Filho estudou minuciosamente as etapas da

folia que no Rio de Janeiro culmina com os desfiles das escolas de sam-

ba na Avenida Marquês de Sapucaí. Citando um dos trechos da pesqui-

sa, que se transformará em livro a ser lançado em junho desse ano, "tra-

ta-se da fabricação, forçando a analogia, de um entretenimento. Desde a

produção da matéria-prima que será transformada em fantasias e carros

alegóricos, passando pela elaboração de projetos criativos, por obtenção

de recursos financeiros, divulgação e marketing, até a recepção pelo públi-

co do produto final - o grandioso desfile - miríades de fases são percorri-

das para entrega ao consumo do entretenimento procurado. Poderia se

dizer que emoção e encantamento são, de fato, o produto final procura-

do pelo consumidor".

Essa não é a primeira incursão de Prestes Filho e equipe - que se man-

tém basicamente com os mesmos pesquisadores há dez anos - por

TEXTO [EISABEL CAPAVERDE]

FOTO [DIVULGAÇÃO]

muito alémdo

cadeias produtivas da economia

de bens intangíveis. De 1999 a

2000, eles estudaram a economia

da cultura no Rio de Janeiro, con-

cluindo que o setor representa

cerca de 4% do PIB do estado

fluminense. Mais adiante, de 2002

a 2005, o grupo se debruçou sobre

a economia da música, também

no estado do Rio de Janeiro,

reconhecendo a cidade de Con-

servatória, capital mundial das

serestas e serenatas como um APL

- Arranjo Produtivo Local de entre-

tenimento. No estudo que o gru-

po formado por Sérgio Cidade de

Rezende, Carlos Saboya Monte,

Clarissa Alves Machado, Sydney

Limeira Sanches, Antônio Carlos

Alkmin, Pedro Argemiro e Jair

Martins de Miranda, fez a respei-

to da economia do carnaval cario-

ca, a grande descoberta foram às

ZIRIGUIDUM

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bordadeiras de Barra Mansa. "Ao visitar o site da cida-

de, quando se fala da economia de Barra Mansa

encontramos apenas o setor industrial, com destaque

para empresas como Nestlé, Metalúrgica Matarazzo,

Du Pont do Brasil e outras instaladas na região. Em

nenhum momento, são mencionadas as bordadeiras

locais que produzem em torno de 39 milhões de

peças por ano, injetando cerca de R$ 50 milhões na

economia. Mais da metade do que elas produzem, ou

seja, 53% são vendidos para as escolas de samba do

Rio. Aproximadamente 28% vão para as escolas de

samba de São Paulo e o restante da produção é

exportado para a França, Portugal, Inglaterra, Estados

Unidos e Japão", conta o coordenador da pesquisa,

Prestes Filho.

Além das descobertas, Prestes Filho acredita que

a maior contribuição dos estudos que sua equipe tem

realizado - primeiro dando uma visão macro da eco-

nomia da cultura e depois visões mais específicas por

segmentos - seja a criação de uma metodologia sobre

o assunto. "A cultura é um setor da economia que

infelizmente ainda não está listado no Catálogo Nacio-

nal de Atividades Econômicas. Mas reconhecemos que

de 1999 para cá houve avanços. Hoje já existe dentro

do BNDES um departamento de economia da cultura.

Também há na Secretaria de Estado de Desenvolvimen-

to Econômico do Rio de Janeiro, uma superintendên-

cia cuidando do assunto. E o IBGE está lançando estu-

dos sobre a economia da cultura. Nossa equipe cola-

borou na mudança da maneira de olhar a cultura no

país".

Entre os elos da cadeia produtiva do carnaval cario-

ca mencionados no estudo, estão atividades indiretas

como o turismo, o audiovisual, as indústrias fonográfi-

ca, editorial, gráfica e de bebidas, o entretenimento.

Também os direitos de propriedade intelectual e de ima-

gem, as políticas públicas (investimentos em infra-

estrutura, fomento e incentivos fiscais), os desfiles de

blocos e bandas, o comércio e exportação, além das ati-

vidades sociais, culturais e profissionais. Sintetizando, os

pesquisadores estimam que em valores aproximados,

a folia no Rio de Janeiro mobilize uma massa de trabal-

hadores não inferior a 500 mil pessoas movimentando

mais de R$ 700 milhões. Números que segundo eles,

poderão ser melhorados havendo continuidade dos pro-

jetos sociais em andamento, fazendo da festa criada pelo

povo brasileiro uma fonte de novas e maiores riquezas.

se depender de Prestes Filho a próxima pesquisa do

grupo irá ultrapassar as fronteiras do estado do Rio de

Janeiro. "Estive em Nova Jerusalém, em Pernambuco,

e fiquei muito impressionado com A Paixão de Cristo.

Em meio ao sertão pernambucano, o espetáculo que

acontece em dez palcos, é visto por um público de 12

mil pessoas que se desloca na mais absoluta escuridão

por aquela cidade cenográfica, com o maior respeito

pelo trabalho e sem acontecer um acidente. No entor-

no há milhares de barracas com artesanato, CDs, comi-

da, enfim, comercializando de tudo. Tive, inclusive, uma

reunião com o responsável por Nova Jerusalém, Rob-

son Pacheco. Minha idéia é desenvolver um projeto

sobre a economia dos eventos religiosos de Pernambu-

co. Somente no estado existem 350 representações da

Paixão de Cristo. Isso significa a geração de centenas

de empregos, enfim, uma outra cadeia produtiva a ser

estudada".,

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reportagem especial

SOCIAL

22 PPLLUURRAALLEE EEMM RREEVVIISSTTAA || MMaarrççoo//AAbbrriill 22000088

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MICROSSEGURO

PROMOVE INCLUSÃO.

EXPECTATIVAÉ DE GRANDE POTENCIAL DE

CRESCIMENTO DESTE

MERCADO

TEXTO [SÔNIA ARARIPE]

FOTO [DIVULGAÇÃO]

Já ficou muito claro para amaioria dos brasileiros que oEstado todo-poderoso,capaz de garantir o presen-te e prover o futuro doscidadãos não existe. Quiçáalgum dia existiu. Assim,seguindo modelos de paí-

ses desenvolvidos, brasileiros começam ater a cultura de formar e zelar pelo seu futu-ro. No lugar de esperar, deitado em berçoque nada tem de esplêndido, a atitudetem sido cada vez mais partir para a açãoe formar, por si próprio, prudentemente,garantias de um futuro sem sobressaltos.

Diante do déficit da Previdência, milha-res de consumidores decidiram fazer umplano de previdência privada complemen-tar, provocando um boom neste tipo demercado. De algum tempo para cá, dian-te da melhoria da renda e da estabilidadedo emprego, chegou a vez dos segurospopulares. Com preços a partir de R$ 10 aomês, existem apólices que podem garantira proteção não só de pessoas, mas tambémde bens. O próximo movimento esperadoserá o do chamado microsseguro, voltadopara massas, com forte apelo social.

Há quem defenda, por exemplo, aligação do microsseguro ao programa Bol-sa Família, dando uma proteção para afamília caso a figura principal – homem oumulher – venha a falecer. Outra idéia paradisseminar o novo produto é envolver nãoapenas lojas voltadas para a classe popu-

lar, mas também o Terceiro Setor, contando com a ajuda deONGs, associações de moradores e igrejas.

Baseado em conceitos de mutualismo e do cooperativismo, ins-pirado no microcrédito do indiano Muhammad Yunnus, o micros-seguro apenas engatinha em solo verde-e-amarelo. Poucas empre-sas já estão operando produtos que ainda nem chegam a ser con-siderados exatamente nesta categoria: estão mais próximos dosseguros populares. Especialistas explicam que, antes de avançar,será preciso debater amplamente modificações e os benéficos des-te mercado para que realmente possa se multiplicar.

“Este é um mercado para massas. E, como tal, precisa ter umarcabouço completo voltado para a massificação”, explica PedroBulcão, diretor da Sinaf Seguros, voltada, desde a sua fundação,há 25 anos, para o público popular. A companhia vende segurosde vida tradicionais e ganhou fama pelos produtos que oferecemauxílio funeral, principalmente para as classes C, D e E. Com aexperiência de quem conhece como a palma da mão as peculia-ridades em discussão, Bulcão adverte que há muito a ser estuda-do.

Por exemplo: a tributação que incide sobre todos os seguros,que, se continuar assim, no caso do microsseguro pode acabarinviabilizando-o. Há também a questão dos canais de venda e, prin-cipalmente, as exigências de capital para as seguradoras operareme a facilidade para vender e registrar o ocorrido (ou sinistro, comose diz no mercado de seguros). “Já vi concorrente vendendo estetipo de seguro simplificado com débito em conta e carência de 12meses. Não dá. Muitas vezes, este cliente nem tem conta. Imagi-no que é um mercado para algumas seguradoras com expertiseneste nicho operarem. E não obrigatoriamente para todos”, ques-tiona Bulcão.

A Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e deCapitalização (Fenaseg) e a Federação Nacional de Previdência Pri-vada e Vida (Fenaprevi) estão acompanhando o debate de perto,com grande intereresse e importante participação. O presidente daFenaseg, João Elisio Ferraz de Campos, destaca o papel social doseguro como um todo e especificamente do novo segmento. “Nos-so setor, em qualquer lugar do mundo, sempre cresce mais e mel-hor nas economias equilibradas, com indicadores sociais elevados.Se compararmos a produção do mercado segurador com os índi-ces de desenvolvimento humano, vamos observar que quantomaior o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano ) de um país,maior a busca pela proteção dos seguros. Em outras palavras:menos pobreza, mais seguro.”

O dirigente da Fenaseg lembra que, além de proteger pesso-as e garantir patrimônios, o seguro tem a capacidade de formarpoupança para investimentos de longo prazo. Formando umaespécie de colchão de segurança para a economia, ajudando nocrescimento sustentado. “As reservas, constituídas pelo patrimôniolíquido e pelas provisões técnicas das companhias, se situam hojena casa dos R$ 175 bilhões, número que deve dobrar nos próxi-mos três anos.”

Com a definição das regras do microsseguro, este crescimen-to será ainda mais acelerado. O presidente da Fenaprevi, AntonioCássio dos Santos, conhece bem a experiência de outros países que

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estão mais avançados nesta matéria, como China, Índia e alguns da América Lati-na e África. Por onde passa, em congressos e seminários, ele tem sido chamadopara opinar sobre o tema. Nestas palestras, o líder segurador apresenta as pecu-liaridades próprias de um produto que precisa ser vendido para gente simples, sem-pre de forma simples. Assim, vendedores de lojas populares e agentes comunitá-rios estão mais acostumados a lidar com este público de baixa renda. Nova cate-goria de corretores também pode ser criada, os microcorretores, mas este é outrotema a ser debatido. Quanto às possíveis fraudes, Antonio Cássio, que também épresidente da Mapfre no Brasil, garante não haver motivos para assustar ou afu-gentar empresas interessadas no ramo. “É gente humilde sim, mas que honra seuscompromissos.”

Se os números recentes indicam forte crescimento da economia, principalmen-te puxado pelo consumo – através do crédito –, economistas acreditam que ago-ra pode ser boa hora para planejar. Avançar além do imediatismo da compra a pra-zo (muitas vezes por impulso), para se preocupar em prover, em assegurar a tran-qüilidade futura de si e, principalmente, da família. Ainda mais em um quadro decidades violentas, inseguras, agitadas e de pouca qualidade de vida. É neste cená-rio que o microsseguro se encaixa.

E qual o tamanho deste mercado? Projeção da especialista da Superintendên-cia de Seguros Privados (Susep), órgão regulador de seguros, Regina Lídia Simões,coordenadora de Relações Internacionais e que participa dos grupos de discussõesem fóruns internacionais sobre microsseguros, é que o potencial seja de cerca de100 milhões de pessoas. Este contingente, de acordo com dados do IBGE, ganhade um a três salários mínimos. Ao contrário de outros países, onde o microssegu-ro tem um caráter principalmente rural, no Brasil, lembra Regina, a maior concen-tração destas pessoas é em áreas urbanas, em grandes cidades. A Susep está crian-do um grupo de trabalho para debater todos estes aspetos, com participação deintegrantes do mercado.

A Escola Nacional de Seguros (Funenseg) também está estudando o potencialdo microsseguro. Contratou o economista francês Jean-François Estienne, profes-sor da Escola Nacional de Seguros e Resseguros da França, para desenvolver estetrabalho técnico. “O microsseguro e o seguro de vida popular devem ser confir-mados dentro das prioridades do Governo e do mercado. Os órgãos governamen-tais, o setor acadêmico, corretoras e ONGs poderão trabalhar juntos na área domicrosseguro e da assistência social”, recomenda Estienne.

Recentemente, a Funenseg publicou revista técnica sobre o tema. Lúcio Mar-ques, diretor comercial da Cia. de Seguros Previdência do Sul, participou do deba-te. “O microsseguro é uma necessidade, um desafio. Precisamos vencer este desa-fio imposto pelos organismos de fomento internacionais, privilegiar os menos favo-recidos e transformar tudo isto em uma grande e rentável oportunidade.”

O professor Cláudio Contador, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Funen-seg, considera muito relevante o papel do governo neste debate. “O microssegu-ro deve ser visto como instrumento social. E aí, o Estado precisará estudar algu-ma forma de incentivo. Pode ser, por exemplo, no Bolsa Família.” Contador acres-centa ainda que em se tratando de seguro, o lado social, de proteção é importan-tíssimo.

A idéia de trazer o microsseguro para próximo do Bolsa Família não chega aser nova. O economista René Garcia, ex-titular da Susep, hoje professor da Fun-dação Getúlio Vargas, foi um dos primeiros a citar esta possibilidade. “Pode ser umaboa idéia. Mas o que defendo é que as pessoas precisam pagar nem que seja umaparcela muito pequena para dar valor. É possível, por exemplo, pensar ummicrosseguro por R$ 3,00 ao mês, atingindo uma camada da população hoje intei-ramente descoberta. Se for um contigente de 10 milhões de brasileiros, por exem-

reportagem especialplo, o microsseguro atingirá seu papelsocial e terá volumes mais do queexpressivos”, calcula Garcia. O presi-dente da Fenaseg, João Elisio Ferraz deCampos, chegou a apresentar oficial-mente a proposta para o presidenteLuiz Inácio Lula da Silva. Lula, aliás, temse mostrado um entusiasta da idéia domicrosseguro como ferramenta deinclusão social.

Pedro Bulcão, da Sinaf Seguros,também bate na tecla da relevânciado papel social de um seguro quepode ser a única alternativa para umafamília em momento crítico. “O paimorre e a esposa não sabe como farápara garantir o sustento dela e dos fil-hos. A indenização cai do céu na horacerta. É determinante para definir seaquela família vai conseguir se manterou acabará engrossando a linha abai-xo da pobreza.”

Rodolfo Ern, Superintendente Téc-nico de Novos Negócios da BradescoAuto/RE, observa que o microsseguronão é um produto específico, nemuma linha de produtos. “É o instrumen-to de transferência de riscos que provêcobertura contra os perigos a que estãosubmetidas às pessoas de baixa renda,em troca de pagamento do prêmioadequado à cobertura dada. É a mes-ma definição do seguro normal, exce-to que dela consta expressamente queele é desenhado para as pessoas debaixa renda.”

Há alguns meses, uma comitiva deseguradores e especialistas esteve naChina para ver de perto o que aconte-ce por lá em termos de microsseguros.“Lá, o Estado incentiva. E a indeni-zação é paga em dinheiro porque mui-tos nem têm contas”, conta PauloTomáz, diretor da Federação Nacionalde Corretores (Fenacor), que estavano grupo. Diante de toda expectativaem torno do impacto que o Programade Aceleração do Crescimento, o PAC,possa ter na economia e principalmen-te para as populações mais carentes,Tomáz sugere que o microssegurodeveria ser pensado rapidamente parapegar uma “carona” nesta fase.

“Hoje, infelizmente, o traficanteexerce o papel de agente social fortenaquela comunidade. Ajuda no ente-rro, em uma necessidade. Com o Esta-

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do presente e o microsseguro ativo, seria uma boa oportunidade de mostrar o papel social des-te produto”, sugere o diretor da Fenacor. O debate está em curso. E o mercado aguarda, ansio-so, a luz para trilhar o caminho. Várias empresas esperam posicionamento mais preciso dasautoridades para entrar neste nicho.

Considerando as características deste público mais popular, o produto precisaria, na ava-liação de Rodolfo Ern, da Bradesco Auto/RE, ter um valor a ser pago (o chamado prêmio nomercado de seguros) baixo. Portanto, o suposto lucro seria muito pequeno em uma apóliceisolada. “Assim, uma operação bem sucedida pressuporia um grande volume de apólices. Nes-te sentido, seria uma operação massificada”, insiste.

E que fatores deveriam ser garantidos? Rodolfo Ern enumera vários: criar uma cultura deseguro entre as pessoas de baixa renda; compreender as necessidades de cobertura daquelemercado; envolver o próprio mercado no desenho de produtos simples endereçados a ele; con-seguir, atuarialmente, o custo adequado; educar o mercado, conseguir a sua confiança e mantê-la; encorajar as reclamações de sinistros (apólices simples de compreender, simplicidade noaviso de sinistros e rapidez no seu pagamento); grande universo de segurados e altas taxasde renovação (manutenção da clientela); maximizar eficiências e, finalmente, trabalhar com pers-pectivas de longo prazo.

Assim, avalia o dirigente da Bradesco, o tamanho do caminho a ser percorrido no Brasilvai depender do grau de sucesso em se alcançar simultaneamente estes fatores. O desafio estálançado. As partes envolvidas - mercado segurador, Governo e sociedade civil – já começa-ram a debater a importância de avançar na criação da cultura do seguro.

Não foi por acaso que o economistaindiano Muhammad Yunnus ganhou oNobel da Paz de 2006. Ele deixou bem claropara o mundo que o pobre precisa de opor-tunidade e não de esmola. Criou o modelode microcrédito e no lugar do “peixe”, deucondições para que cada um pudesse ter sua“vara de pescar”. Começou emprestando seupróprio dinheiro e, em algum tempo, criou

uma rede azeitada de empréstimo para quem tinha garra e disposição, masnão se encaixava no perfil tradicional para ter acesso aos recursos. Foireconhecido mundialmente e o case virou sucesso global.

Os programas de microcrédito na Índia já beneficiaram 32 milhões depessoas, com um volume total de US$ 1,5 bilhão. O microsseguro é baseadoem princípios bem parecidos que inspiraram Yunnus. Está ligado especial-mente ao falecimento do provedor da família – portanto, costuma ser umseguro de vida – mas pode ter outras características. Pode também ajudar aquitar dívidas do falecido, nos moldes do chamado seguro prestamista.

Na Índia, também é possível fazer um tipo de apólice popular para prote-ger as vacas sagradas. Outra opção é o auxílio funeral. Na China, país comforça agrícola, há também esta modalidade. Lá acontecem grandes catástro-fes naturais e várias enfermidades causadas por animais. O microssegurofunciona muito bem: valores baixos, rapidez no atendimento, pagamentosimediatos e, normalmente, em dinheiro vivo.

reportagem especial

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EXPERIÊNCIAS BEM-SUCEDIDAS

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PLURALE

TOMHÁ 50 ANOS, NASCIA A BOSSA NOVA.

O MAESTRO ANTÔNIO CARLOS BRASILEIRO

JOBIM, NA BELA FOTO DE OTTO

STUPAKOFF, FOI O SEU MAIS

IMPORTANTE MENESTREL. FICA AQUI,

A HOMENAGEM NA IMAGEM QUE A

AGÊNCIA DE PUBLICIDADE LEO,BURNETT

TROUXE DE VOLTA EM FORMA

DE EXPOSIÇÃO.

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jobim27

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inclusão social

A primeira impressão de um leigo no assunto - seja empresário ou simples cidadão - é que patrocinar umaorquestra, apoiar um jovem estudante de música clássica é caro, empreitada de milhões e coisa para multinacio-nais. Afinal, ao assistirmos uma apresentação da OSPA – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre ou da OSESP – Orques-tra Sinfônica do Estado de São Paulo vemos lá no programa patrocinadores como Grupo Gerdau, Souza Cruz,Ipiranga, Vonpar e Eletropaulo Tietê, Hospital e Maternidade São Luiz, Nossa Caixa, Unibanco e Votorantim, res-pectivamente. Para o consagrado violinista, regente e professor Bernardo Bessler, que há quase 20 anos se dedi-ca a projetos sociais de inclusão pela música, é preciso desmistificar essa idéia. “Existem muitas formas de apoio.Pode-se dar apoio financeiro a um projeto de aulas para um pequeno grupo de crianças, um projeto de criação

MÚSICA CLÁSSICA

APOIAR NEM SÓ COM MUITOS MILHÕES SE FAZ UMA ORQUESTRA

TEXTO [ISABEL CAPAVERDE]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

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É PRECISOe manutenção de uma orquestra jovem. Também viabilizar infra-estru-tura para projetos já em andamento com a cessão de espaço paraensaios. Com R$ 2 mil mensais, por exemplo, é possível conceder bol-sas para jovens talentosos que não tem acesso ao estudo da música.Ou com R$ 10 mil mensais começar a apoiar projetos de iniciativa pró-pria. Enfim, as possibilidades são muitas e podem ser adequadas aoapoiador. Música clássica não é algo inacessível”, esclarece.

Carioca, Bessler começou seus estudos de violino aos cincoanos. Aos 14 fazia sua primeira aparição pública como regente fren-

te ao Coral Contraponto. É consideradoum dos mais importantes músicos dopaís, respeitado internacionalmente porcrítica e público. Eclético não se restrin-giu só ao clássico, participando de inú-meras gravações com artistas da MPBcomo Caetano Veloso, Gal Costa, Egber-to Gismonti, Gilberto Gil, entre outros.Além de regente, solista e camerista, ele

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inclusão social

desen-volve ativida-

des didáticasem seu Centro

Musical BernardoBessler, em Nite-rói, é coordenadorpedagógico da Fun-dação OrquestraSinfônica Brasileira,nos projetos patrocinados pela Prefeitura doRio na Fundação José Bonifácio, na ONG Meninos deLuz (Morro Pavão/Pavãozinho) e no projeto “Vale

Música” nas cidades de Corumbá (MS), Belém (PA) eVitória(ES). “Hoje cuido desde a questão gerencial, passando pelo recrutamento de pro-

fessores, a adequação acústica do local de ensaios, a grade pedagógica, até a seleçãodos alunos. Não se forma um músico apenas lhe dando um instrumento e aulas de músi-

ca. Essa simplificação é perigosa. O aluno precisa treinar seus sentidos, sua concentração, seutato. Não só aprender, mas desenvolver sua sensibilidade. No caso dos projetos sociais, o obje-

tivo não é formar grandes músicos, é mudar a forma como as crianças e jovens se relacionam como mundo. A música vai fazê-los conhecer outras manifestações artísticas, pois para tocar uma peça

de Mozart e entender o que está tocando, ele terá que conhecer ópera. Para tocar Mendelssohn,teatro. Quem nunca assistiu um balé não entenderá a música de Tchaikovisk, tão pouco a de Pro-

kofiev se nunca tiver ido ao cinema”.Segundo Bessler, a situação dos projetos sociais focados em música no país é muito heterogê-

nea. “Em alguns falta treinamento aos professores, em outros a metodologia é falha. Mas é importanteque se diga que especialmente nas artes, metodologia não se aprende nos livros. Implica em relacio-namento humano, em contato pessoal. Às vezes o problema é na formação da orquestra. Mais de doisterços das orquestras é formada por instrumentos de corda e de repente encontramos o inverso, ou seja,30 flautas e dois violinos. E não é uma questão de custo, pois os violinos são mais baratos que as flau-tas”. Apesar de não citar nomes, comenta que há bons projetos sendo desenvolvidos na região de BeloHorizonte (MG), alguns no Estado do Rio, muitos bem-sucedidos em São Paulo e belas iniciativas indi-viduais no Nordeste. “Defendo que temos que oferecer oportunidade a todos, democraticamente. Masnão podemos obrigar a todos, porque há jovens que não tem mesmo talento para música. Nesses casosao invés de elevarmos a auto-estima, corremos o risco do efeito contrário. É necessário identificaros talentos”. Conta como exemplo sua experiência em Corumbá, na escola de artes Moinho Cul-tural, no projeto de formação da orquestra com crianças brasileiras e bolivianas oriundas de famí-

lias de baixa renda, com idades entre oito e 14 anos. “Quando cheguei lá, tinham criançasinscritas para a música e com talento para balé. Outras com talento para música estavam

no balé e o mesmo se dava nas com vocação para o canto. Em resumo: criamosuma orquestra, um coral e um grupo de balé. No final de 2007 fizemos uma

apresentação completa, com todas as crianças do projeto e foi lin-do ver as famílias emocionadas”.

Para ele todas as iniciativas privadas depatrocínio são louváveis, mas sen-

te falta

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de uma política mais elaborada e coordenada na questão cul-tural. É favorável a criação de centros culturais de bairros,locais para onde as pessoas pudessem se dirigir a fim deaprender música, dança, pintura, escultura. Nada muito com-plexo, luxuoso e caro. Um espaço adequado às artes, aces-sível a todos e que fizesse parte do dia-a-dia da população.“A contra-partida seria a diminuição nos índices de violência”.

NA ROTA DAVIA DUTRA

Os patrocinadores podem estar mais perto do queimaginamos. Na casa ou até na estrada ao lado. É o caso daConcessionária NovaDutra que há cerca de três anos apóiaatravés da Lei Municipal de Incentivo Fiscal de São José dosCampos, a Orquestra e o Coro Sinfônico Municipais, manti-dos pela Prefeitura da cidade através da Fundação CulturalCassiano Ricardo. Originária de uma oficina de cordas da Fun-

dação, a orquestra foi sendo ampliada até se tornar uma sinfô-nica em 2004. Em 2006, foi totalmente reformulada e reestru-turada, realizando licitação para escolha de músicos e maes-tro. Já o Coro Jovem Sinfônico oferece 150 vagas para jovenscom idades entre 16 e 25 anos, cursando o ensino médio ousuperior, que recebem aulas de canto e teoria musical. “Oscoralistas que em sua maioria são de comunidades de baixarenda, recebem uma bolsa-auxílio de R$ 75 mensais para cus-tear despesas de transporte e alimentação para participaremde ensaios e aulas. Temos também cursos de música erudi-ta que são gratuitos e abertos a interessados a partir de oitoanos, sendo que a orientação pedagógica é do Centro deEstudos Musicais Tom Jobim, de São Paulo”, explica AntôniaVazotto, diretora-presidente da Fundação Cultural CassianoRicardo.

Com orquestra, coro e cursos a intenção da Fun-dação é criar oportunidades para que os alunos estudem essegênero musical, ampliando seu campo de trabalho e colocan-do São José dos Campos no circuito da música clássica.

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Depois de cinco semanas em Salvador, na Bahia, a esquadara que trou-xe ao Brasil Dom João VI, chegou ao Rio de Janeiro no dia 7 de março de1808. Era o começo de uma nova era, da redescoberta do Brasil e da elevaçãode sua condição de colônia a Império Ultramarino e, desta, a um país comidentidade própria e riquezas próprias.

Antes da chegada de D. João VI, o Brasil não passava de uma colônia extra-tivista. Sua gente não tinha uma visão nacional nem o País tinha importân-cia política. A vida era provisória e os índios, donos de uma identidade úni-ca, iniciam o caminho de fuga pelas matas, deixando livre o litoral onde por-tugueses e aventureiros explorarem e extraírem as riquezas, sonhando regres-sarem para Europa com as burras carregadas de dinheiro, glória e títulos.

A vinda de D. João VI, escoltado pela Inglaterra e fugindo das tropas doimperador francês Napoleão Bonaparte, colocou o País no mapa do mundo.

A viagem tumultuada e o desembarque, no Rio de Janeiro, da família reale da nobreza foi marcada por pitorescas histórias. Uma delas é um dos pon-tos altos do filme "Carlota Joaquina", de Carla Camuratti, que teve ainda omérito de reconciliar o público com a produção cinematográfica nacional. Éque tomada por piolhos, durante a viagem que durou três meses, mais as cin-co semanas de estadia na Bahia, as mulheres da Corte, incluindo Carlota Joa-quina, decidiram raspar os cabelhos e usar turbantes. As mulheres dosexploradores locais, que viviam no Rio de Janeiro, ao verem a mulher de S.João VI, suas filhas e toda a nobreza, acreditaram ser aquela a última modaeuropéia e trataram de raspar a cabeça o mais rápido e usarem turbantes.

A cessão de casas para a nobreza é outro capítulo à parte. Foi inscrito nasportas o PR, de Princípe Regente, naquelas que foram requisitadas para alo-jar os nobres. Alguns despejados se orgulharam de ceder suas casas, outrasjuravam que haviam virado nobres.

Mas, além dos fatos pitorescos, a realidade é que a chegada de D. JoãoVI foi um marco. A abertura dos portos, a permissão para a industrializaçãode produtos aqui, as importações da Europa, a vinda de missões artísticas ea criação do Banco do Brasil, uma rica biblioteca e o Jardim Botânico.

Plurale em revista irá abordar esses assuntos nas suas próximasedições, até o fim do ano, onde várias datas serão lembradas, inclusiveo Fórum Nacional, coordenado pelo ex-ministro João Paulo dos ReisVelloso, que pretenderá debater essa herança. Nessa edição, a históriase redime diante do monarca.

Ahistória

200 anosaventurada históriaTEXTO [CARLOS FRANCO] FOTOS [DIVULGAÇÃO]

DOM JOÃO VI DEIXOU DE HERANÇA A CULTURA, UM BANCO

E UM JEITINHO DE SER BRASILEIRO

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Quem assistiu ao filme "Carlota Joaquina", de Carla Camurati, ou àminissérie "Quinto dos infernos", da Rede Globo, deve se lembrar dafigura caricata do rei Dom João VI, apresentado como glutão, indeci-so, obeso, medroso e dominado pela mulher, Carlota Joaquina.

Pois quem acreditou nessa versão pode se preparar para uma gran-de mudança do personagem. O D. João que está sendo apresentado nascomemorações dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil temas mesmas características físicas do anterior, mas uma revisão históricaem curso revela uma faceta pouco conhecida do pai de D. Pedro I: ode um estadista tolerante, com visão estratégica suficiente para iludirNapoleão Bonaparte, manter seu trono enquanto praticamente todos osmonarcas europeus perdiam os seus e, de quebra, lançar as bases paraa transformação do Brasil em país. Sem contar que voltou para Portu-gal como rei e deixou o filho para fundar outra dinastia aqui.

Os 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil, epi-sódio fundamental da nossa história, foram o tema do programaExpressão Nacional, da TV Câmara. Participaram do debate Dom Ber-trand de Orleans e Bragança, descendente direto de D. João VI; Fran-cisco Seixas da Costa, embaixador de Portugal no Brasil; e os deputa-dos Chico Alencar (PSOL-RJ), que é historiador, e Bonifácio de Andra-da (PSDB-MG), descendente de José Bonifácio de Andrada e Silva, o"Patriarca da Independência".

"A vinda para o Brasil foi uma saída pensada, uma estratégia inteli-gente", disse D. Bertrand, que se auto-intitula "princípe imperial do Bra-sil". Ele é o segundo na linha sucessória da dinastia dos Bragança, logodepois de seu irmão D. Luiz, o chefe da família imperial brasileira. Elessão bisnetos da Princesa Isabel e trinetos de Dom Pedro II, que por suavez era neto de D. João.

"Os historiadores do século XIX puniram D. João", admitiu o embai-xador de Portugal. Francisco Seixas da Costa ocupou a cadeira ao ladoda de D. Bertrand, mas fez questão de deixar claro o fato de ser repu-blicano. Ele falou das conseqüências da vinda da família real para o povoportuguês. "A vinda da corte para o Brasil provocou a massa crítica queresultou no movimento pela constitucionalidade em Portugal", disse.

A família real deixou Lisboa em 29 de novembro de 1807, quandoas tropas de Napoleão estavam nas cercanias da cidade. Os portugue-ses se sentiram abandonados e só a proteção de homens armados evi-tou uma revolta popular. A bordo dos navios, escoltados pela Marinhainglesa, um número que varia de 4 mil a 15 mil pessoas segundo o his-toriador. Eles deixaram para trás a ameaça de deposição feita porNapoleão Bonaparte em direção a uma colônia que nunca mais seriaa mesma.

Foi a primeira vez que um soberano europeu pisava nas terras des-cobertas além-mar. Ao chegar aqui, o futuro rei de Portugal plantoua semente da independência do Brasil – além de abrir os portos, fun-dar uma escola de Medicina, a Biblioteca Real (Biblioteca Nacional)e a Real Academia de Belas Artes (Museu Nacional de Belas Artes).Sem contar o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, inde foram planta-das as primeiras mudas de uma planta que iria revolucionar a eco-

A HISTÓRIA REDIMEDOM JOÃO VI

nomia brasileira, o café.Em seu livro recém-lançado, "1808", o jor-

nalista Laurentino Gomes defende a tese deque, caso D. João VI não tivesse fugido de Por-tugal para o Rio de Janeiro, o Brasil não exis-tiria como é hoje. "Provavelmente teria se pul-verizado em pequenas repúblicas, como acon-teceu com a América espanhola. Seria umaconstelação de países irrelevantes na Américado Sul, cuja liderança caberia à Argentina",arrisca.

A cidade que primeiro viu a família real foiSalvador, em janeiro. Lá, D. João abriu os por-tos da até então fechadíssima colônia. Issobeneficiou em um primeiro momento a Ingla-terra, elevada à categoria de parceira comercialprioritária em detrimento de Portugal, que ficouliteralmente a ver navios. A chegada ao Rio oco-rreu em março de 1808. Na cidade de 60 milhabitantes, 40 mil eram escravos. Na época,navios despejavam entre 18 mil e 22 mil escra-vos por ano no mercado do Valongo, no Rio.Chico Alencar considerou a escravidão umachaga que atrasou até mesmo o desenvolvi-mento econômico do país.

Mas, no início do século XIX, a escravidãoera o motor da economia, ainda basicamenteextrativista. Tanto que o Palácio da Quinta daBoa Vista, onde D. João passou a morar, foi umpresente do traficante de escravos Elias Antô-nio Lopes. A ajudinha, para Laurentino Gomes,tinha razão de ser em função dos altos custosde manutenção de uma corte cara e perdulá-ria. Em um relatório escrito em 1817, o embai-xador alemão von Flemming afirmava que"nenhuma outra corte tem tantos empregados,guarda-roupas, assistentes, servos uniformiza-dos e cocheiros".

D. Bertrand não concorda com a afirmação."A Corte não tinha cabide de emprego como aRepública", disse, ao negar o excesso de gas-tos. "Mas de onde vinham os recursos?", per-guntou Chico Alencar. De acordo com o livro"1808", vinham dos comerciantes agraciadoscom favores reais e do recém-fundado Bancodo Brasil, que acabou praticamente falido detanto emitir moeda sem lastro.

"O grande legado da vinda da corte portu-guesa para o Brasil é a democracia cristã",concluiu Bonifácio de Andrada. A história temmúltiplas interpretações. Mas, para D. João,está começando a ser levada a sério avaliaçãojá sugerida pelo próprio Napoleão Bonaparteem suas memórias: "Foi o único que me enga-nou".

� Antonio Vital é apresentador do pro-grama Expressão Nacional, da TV Câmara.

TEXTO [CANTONIO VITAL]

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Ponto EDUARDONEVES MOREIRA

PORTUGALE O DESMATAMENTO NO BRASIL

Na história da preservação ambien-tal no Brasil, verifica-se que, diferen-temente do que passou a ocorrer noséculo XX, principalmente na segun-da metade do século, quando seacentuou o processo de desmata-mento das florestas brasileiras, sem-pre assistimos ao surgimento dedeterminações e atos governamen-tais cujo teor tinha por objetivo amanutenção das riquezas florestaisdo território brasileiro.

Apesar das agressões ao meio ambiente, verificadasem grande parte do território brasileiro e mais acentua-damente na região amazônica, o país ainda mantém64,9% de suas florestas primitivas, o que ainda lhe dáautoridade bastante para rebater as críticas que lhe têmsido formuladas pelos defensores das políticas anti-des-matamento e em particular pelas instituições internacio-nais que lutam pela preservação do meio ambiente.

Em recente artigo, publicado no jornal “O Estado deSão Paulo”, o Dr. Evaristo Eduardo de Miranda, Chefegeral do projecto “Embrapa Monitoramento por Satélite”,acaba por nos trazer uma série de dados históricos sobrecomo, desde o descobrimento, Portugal sempre adotoumedidas governamentais visando a preservação das flo-restas encontradas, além das medidas de plantação denovas espécies de vegetação, algumas das quais, passa-ram, desde há séculos, a fazer parte da paisagem do“habitat” brasileiro.

Desde o século XVI, foram as Ordenações Manuelinase Filipinas que primeiro estabeleceram regras e limites

para exploração de terras, águas e vegetação.Havia listas de árvores reais, protegidas por lei, oque deu origem à expressão “madeira de lei”. ORegimento do Pau Brasil, de 1605, estabeleceu odireito de uso sobre as árvores, e não sobre asterras. As áreas consideradas reservas florestais daCoroa não podiam ser destinadas à agricultura.

Essa legislação garantiu a manutenção e aexploração sustentável das florestas de pau-bra-sil até 1875, quando entrou no mercado a anili-na. Ao contrário do que muitos pensam e divul-gam, a exploração racional do pau-brasil mante-ve boa parte da Mata Atlântica até o final do sécu-lo XIX e não foi a causa do seu desmatamento,que ocorreu muito tempo depois. Os manguesaisforam protegidos por um alvará real de DomJosé I, expedido em 1760 e em 1797, uma sériede cartas régias consolidou as leis ambientais: per-tencia à Coroa toda mata à borda da costa, de rioque desembocasse no mar ou que permitisse apassagem de jangadas transportadoras de madei-ras.

O surgimento dos Juízes Conservadores, aosquais coube aplicar as penas previstas na lei, foioutro marco em favor das florestas. As penasvariavam podendo ser de multa, prisão, degredoe até pena capital para os incêndios dolosos.Também foi criado o Regimento de Cortes deMadeiras, que estabeleceu regras, bastante rigo-rosas, para a derrubada de árvores, além de outrasrestrições à implantação de roçados.

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A primeira unidade de conservação, o Real Horto Botânico do Rio de Janeiro, foi criadopor D. João VI em junho de 1808, possuindo mais de 2.500 hectares, hoje reduzido a ape-nas 137 hectares. Uma Ordem, de 9 de abril de 1809, deu liberdade aos escravos que denun-ciassem contrabandistas de pau-brasil e um Decreto de 3 de agosto de 1817, proibia o cor-te de árvores nas áreas das nascentes do Rio Carioca. Em 1830, o total de áreas desmatadasno Brasil era inferior a 30 mil km². Hoje se corta mais do que isso a cada dois anos. Em 1844,o então ministro Almeida Torres propôs desapropriações e plantios de árvores para salvaros mananciais do Rio de Janeiro. Por Decreto Imperial, em 1861, do imperador Dom PedroII, foi dado início ao plantio da Floresta da Tijuca.

Essa política florestal da Coroa portuguesa, continuada pelo Império brasileiro, conseguiumanter preservada a cobertura vegetal do território até ao final do século XIX, sendo notó-rio que o desmatamento brasileiro se iniciou no século XX, começando por São Paulo, San-ta Catarina e Paraná, estendendo-se numa marcha para o oeste, atingindo assim e aos pou-cos quase a totalidade do território nacional.

O que fica absolutamente claro é que, enquanto Portugal geria o território brasileiro, sem-pre houve uma política voltada para a preservação ambiental, antecipando-se à política recen-temente implantada pela maioria dos países, de estímulo à manutenção das florestas e domeio ambiente.

A verdade é que essa política colonial é a principal razão por ter o Brasil, hoje, 28,3% dasflorestas mundiais, podendo em breve, desde que observadas e devidamente fiscalizadas aspolíticas ambientais vigentes, vir a ter cerca de 50% de todas as florestas primárias do pla-neta, tal é o nível de desmatamento que se observa em todos os continentes.

Eduardo Neves MoreiraPresidente do Elos Clube do Rio de JaneiroEx-Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Brasil

Agência Brasil

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XICOGRAZIANO

UMA

odos estão certos, ninguém tem razão.Assim se parece a discussão sobre odesmatamento na Amazônia. Dadosdesencontrados, governo perdido, acu-sações múltiplas. A hiléia sucumbe naincompetência coletiva.

O assunto começou a embaralhar aopinião pública quando, há dois anos,numa jogada política, o Ministério doMeio Ambiente declarou que a quedano desmatamento, então apontado,era obra do seu governo. Não era crí-vel. Analistas da matéria, incluindo

boas organizações ambientalistas, sabedoras da inépciagovernamental, creditavam o arrefecimento da devastação àcrise da agropecuária.

Na época, a arroba do boi amargava o pior preço em 30anos. Os parlamentares ruralistas defendiam, na Câmarados Deputados, a criação da CPI da carne, para averiguar aformação de cartel entre os frigoríficos. Na soja, a quebra-deira era geral, motivada pela sucessiva queda do dólar. Porduas vezes seguidas, os agricultores semearam a safra comcâmbio melhor, colhendo a produção em pior situação,estraçalhando sua renda. Em Mato Grosso, o custo do fretee os buracos nas rodovias recomendavam nem plantar.

Segundo afirmava Marina Silva, porém, o ciclo da agro-pecuária era irrelevante. ?Fomos nós?, assegurava a Ministra,Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Natu-rais Renováveis (Ibama) à frente, Polícia Federal atrás, posan-do de heroína. O desmatamento estava sendo controlado?como nunca na história deste país?... Uma chatice.

Agora que aumentou o fogaréu, virou no avesso o argu-

mento. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),antes impoluto, se vê desacreditado pelo governo. E a cul-pa da desgraceira recai, vejam só, sobre o boi e a soja. Quan-do a notícia é positiva, sorte, a responsabilidade cabe aogoverno federal. Piora o quadro, azar, lavam-se as mãos, cul-pa da agropecuária. Política da lorota.

A virtude, sempre, mora no meio. É certo que medidaspositivas de fiscalização se implementaram, a começar dasmalfadadas guias florestais, substituídas por sistema eletrôni-co no comércio de madeiras. Sabe-se que muita sem-vergon-hice ainda se esconde por detrás desse famigerado mercadode toras. Mas melhorou, sem dúvida, o controle público.

É igualmente inegável que a expansão das pastagens e dasojicultura pode acelerar o desmatamento. A ?moratória dasoja?, porém, pacto assinado entre grandes traders (quecomercializam 92% da leguminosa do País) e entidadesambientalistas, Greenpeace à frente, amainou o estrago.Quem plantou soja em terrenos desmatados, após julho de2006, dificilmente encontrará bom comprador.

Quem é do ramo sabe que, normalmente, após a derru-bada da mata virgem surge a pastagem. O solo recém-des-bravado impede a mecanização. Muita gente planta arroz oumilho, espécies gramíneas como o pasto, para ?abrir? o terre-no, ainda cheio de tocos e raizame. Somente no cerradoamazônico a lavoura de soja se instala de imediato.

Processo distinto ocorre na floresta úmida e densa. Comose sabe, a Amazônia legal, uma invenção dos militares, defi-ne um território maior que o ?bioma Amazônia?. A região deRondonópolis (MT), por exemplo, conta na Amazônia, masé dominada pelo cerrado. Cuidado com os conceitos.

Na floresta densa, ao contrário do cerrado, a rapinaambiental chega muito antes da agropecuária. Entender esseponto é fundamental. Quando vem a derrubada, em corteraso, as serrarias já extraíram a melhor madeira de lei. Primei-ro, caem as cobiçadas árvores de mogno, ipê e cedro.Depois, deitam o jatobá e a maçaranduba. Tudo escondido.

t

PontoContra

VISÃO SOBRE OS DESMATAMENTOS

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O crime ecológico, quando detectado pelo satélite doInpe, estoura na mídia e bate na cara do agricultor, masapenas resvala nos verdadeiros ladrões da floresta. Aqui,no comércio da valiosa madeira, reside a origem do pro-blema. Ou se enfrenta a lógica dessa economia perver-sa ou nada restará da floresta amazônica.

Esse processo histórico, um conluio entre o poderpúblico e o privado, madeireiros e proprietários rurais,posseiros e assentados de reforma agrária, exige duas for-mas de controle: primeira, a fiscalização do transporte,vistoriando os caminhões nas rodovias que partem daRegião Norte. As cargas são volumosas, notórias. A polí-cia, armada nas barreiras, não pega ladroagem se nãoquiser.

Segunda, urge reduzir o uso da madeira de lei naconstrução civil, substituindo-a por floresta plantada(pinus e eucalipto) na confecção de telhados e que tais.São Paulo consome 15% do rico lenho extraído daAmazônia. Nos tempos de aquecimento global, esse cos-tume, quase uma adoração, pelo uso da madeira de lei,inclusive na movelaria, precisa ser repensado. Gosto anti-go, oligárquico.

Calma. Para liquidar o assunto falta ainda burilar numdogma: a legislação agrária do País continua confundin-do floresta com terra improdutiva. Resultado: para esca-par da reforma agrária, ao adquirir uma mata virgem, oproprietário manda derrubar, rápido, tudo o que puder.Vem sendo assim desde os anos 60, com o Estatuto daTerra.

Ora, os tempos mudaram. Terra de onça não podeser sinônimo de latifúndio. É verdade que, averbando aReserva Legal à margem da escritura, o Instituto Nacio-nal de Colonização e Reforma Agrária (Incra) fica impe-dido de considerá-la improdutiva. Nesse caso, a área pre-servada fica exposta, sem perdão, aos invasores deterra. Triste sina.

A corrente da devastação somente se inverterá quan-do um pedaço de floresta, mantido em pé, valer maisque tombado. A equação é complexa, dispensa raciocí-nio fácil. Um dia a sociedade vai premiar, e não castigar,a conservação ambiental.

� Xico Graziano, agrônomo, é secretário doMeio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail:[email protected]

Site: www.xicograziano.com.br

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Fórum Nacional

DEBATETEXTO [SÔNIA ARARIPE]

FOTO [DIVULGAÇÃO]

FÓRUM NACIONAL DE REIS VELLOSO COMPLETA 20 ANOS DE DEBATES E

APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

38 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

Plural

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Page 39: Plurale em revista edição 5

Passados os “anos de chumbo”, o exercício dademocracia, do diálogo, nos anos 80 precisavaurgentemente ser exercitado. Mas diante de tan-tos anos de autoritarismo não foi fácil criar esteespaço. Um encontro plural anual conseguiupraticar a ação de dar voz e repercussão a dife-rentes interlocutores. Coube a um ex-ministro degovernos militares, João Paulo dos Reis Velloso,

autor dos famosos Planos Nacional de Desenvolvimento Econômi-co – primeiro e segundo PND – e criador do Instituto de Pesqui-sa Econômica e Aplicada (Ipea), a missão de praticar este ofício.Com a crença de um abnegado religioso e a obstinação de quemsabe fazer História, Reis Velloso formou um dos mais famosos thinkthanks tupiniquins. Com fama internacional.

Contou com o apoio de intelectuais de matizes diversas epatrocinadores fiéis. Como o Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico Social (BNDES), onde são sempre realizados osencontros, além de uma dezena de empresas privadas e estatais.Logo no primeiro, em 1988, percebeu que não seria tarefa fácil. “Umgrupo não aceitava a presença do presidente fundador do Partidodos Trabalhadores. Fiz pé firme. Disse que sem o Plínio de Arru-da Sampaio, não teria Fórum. Deu certo. Ele veio, foi um bomcomeço e estamos aí até hoje promovendo os debates e apresen-tando propostas para o país”, conta Reis Velloso à Plurale em revis-ta.

O PT participou ativamente não só do primeiro Fórum, mas deoutros, assim como economistas de várias tendências. Centros desaber como a Unicamp, USP, Fundação Getúlio Vargas, UFRJ, etcse alternaram em propostas nos últimos 20 anos. Também partici-param ativamente as autoridades, políticos e empresários.

Foi em uma solenidade de abertura do Fórum, em 1998, queo então presidente Fernando Henrique discursou para uma platéialotada de cerca de 400 pessoas. Estava tão à vontade que chamoude “vagabundos” os aposentados pelo INSS que seguiam a regra,mas paravam de trabalhar com idade inferior a 50 anos. “Pessoasque se aposentam com menos de 50 anos são vagabundos e selocupletam de um país de pobres e miseráveis", afirmou o entãopresidente FHC. A imprensa – que sempre acompanhou todos osdebates com disposição – alardeou a polêmica. Lembrou que o pró-prio professor perseguido pela Ditadura aposentou-se nesta faixade idade e poderia, portanto, ser considerado, “um vagabundo”.

As histórias são tantas e tão interessantes que renderiam um liv-ro. Mais uma para a extensa coleção editada pelo Fórum que encheprateleiras não só na sede do Instituto Nacional de Altos Estudos(Inae), associação civil, sem fins lucrativos, que realiza o Fórum,mas também de gabinetes ilustres. Em Brasília, em São Paulo, noRio de Janeiro e em bibliotecas de todo o país. O prestígio pesso-al do fundador é certo. Nos últimos 20 anos não houve um sóencontro que não fosse aberto por um presidente da República. Láestiveram, portanto, José Sarney, Fernando Collor de Mello, ItamarFranco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Alista de ministros de Estado e do Judiciário é tão extensa que ocu-paria outras tantas páginas. Economistas e intelectuais também

foram vários.O modelo é simples: estudos com

propostas, ou policy papers, como oministro prefere chamar, são apresenta-dos a cada rodada. E debatidos. Depois,a peça de resistência é apresentada naforma de livro para a sociedade. Anti-gamente era só um encontro a cadaano. Depois, o Fórum passou a termais do que uma edição anual, englo-bando discussões tão atuais como aviolência urbana e a falta de segurança,a desigualdade social, a política doconhecimento, informática, saneamen-to, reforma do Judiciário, etc. Este ano,entre 26 a 30 de maio (a programaçãocompleta pode ser conseguida no siteh t t p : / / f o r u m n a c i o n a l . o r g .br/sec.php?s=110&i=pt), quando todosvoltarem a se reunir para debater ofuturo do Brasil, uma novidade: refle-tir sobre o amor em tempos de desa-mor, homenageando o poeta britânicoJohn Donne .

Para quem não se lembra, é deDonne o célebre “nenhum homem éuma ilha, sozinho em si mesmo, cadahomem é parte do continente, parte dotodo...” inspirou, mais tarde, o poetaErnest Hemingway. E agora, inspiratambém o Fórum. O tema central esteano será “Um novo mundo nos Trópi-cos”, baseado em Gilberto Freyre, deba-tendo os 200 anos de independênciaeconômica. “Procuramos sempre estarà frente, trazer inovações, mas tambémnos basear nos clássicos. Os livros nosensinam muito”, sugere Reis Velloso,dono de um saber inestimável. As refor-mas começaram a ser debatidas noFórum muitos anos antes dos temposatuais. Também a proposta de um póloexportador no Nordeste. Sem falar naparte socioambiental.

Foi assim, com voz fraca, corpofranzino, mas memória aguçada aos 77anos, que este ilustre filho de Parnaíba,Piauí, conseguiu conquistar interlocuto-res internacionais e colecionar amigos.A cada ano o time de “estrelas” é defazer inveja a muitos seminários orça-dos com verbas realmente siderais. OFórum já trouxe ao Rio de Janeiro, porexemplo, Helmut Schmidt, Robert

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Page 40: Plurale em revista edição 5

Fórum NacionalMcNamara, Manuel Castells, Barry Eichengreen e vários intelectuais russos. Para maio deste ano a grande estre-la é o Nobel de Economia de 2006, o americano Edmond Phelps.

Não foi tarefa fácil convencê-lo a aceitar o convite. O cachê verde-e-amarelo passa longe do padrão globalao qual um Nobel está acostumado. Foi preciso, então, partir para o jeitinho brasileiro. E rezar. Reis Velloso sem-pre mantém sua fé. “Já tinha oferecido tudo o que poderíamos. Até hotel tradicional em Copacabana. Ele ape-nas balançava a cabeça e não falava nada. Foi quando vi dois livros de um mesmo autor em cima da mesa dele.Foi a minha salvação.” O ex-ministro tinha lido, no original, os dois livros de um historiador americano. E foicerteiro. “Disse que um livro era excelente, mas o outro... E também fiquei calado.”

O economista americano se despediu polidamente, agradeceu o convite, pedindo um tempo para pensare consulta a esposa. A estratégia deu certo. Alguns dias depois, Phelps aceitava o convite. E assegurou que ocomentário sobre os livros tinha sido decisivo. Alguém ainda duvida da capacidade de persuasão pelo debatedo “pai” do Fórum?

"O Fórum Nacional, lide-rado pelo ministro JoãoPaulo dos Reis Velloso,vem ao longo dos últimosvinte anos contribuindopara o enriquecimento eaprofundamento do deba-te de questões fundamen-tais para o desenvolvi-mento do país, não só nocampo econômico, mastambém no social, políti-co, cultural e educacional.Um debate rico que, pau-tado pela diversidade deidéias e opiniões, colabo-ra para a construção deuma agenda de interessepúblico, em prol dodesenvolvimento econô-mico e social do Brasil".Luciano Coutinho,presidente do BNDES

“Diante dos desafioscada vez mais complexoscom que se defronta aeconomia brasileira, oFórum Nacional é um dospoucos eventos do tipoque procura discutir afundo esses desafios, pro-curando ouvir todos oslados, tendências, e incli-nações políticas diversas.”Raul Velloso, economista

“A iniciativa do ex-ministro foi um dos mar-cos na minha vida derepórter. A megacoberturaanual sempre foi vista pornós, jornalistas, comosinônimo de muito trabal-ho, mas também muitoaprendizado. Freqüenteimuitos fóruns e nelesacompanhávamos, comatenção, as palestras deministros, consultores eeconomistas convidadospelo anfitrião ilustre. Acobertura era intensa eagitada nos corredores doandar da Presidência doBNDES. Era uma correriasó. Ali, os jornalistasfaziam muitas fontes paramatérias futuras, disputa-vam os famosos “papers”e as cobiçadas entrevistasexclusivas. Era umambiente rico em infor-mações e análises econô-micas. Velloso soubeintroduzir a política nestesdebates convidando figu-ras de relevo do Congres-so. E deu-lhes tambémum viés social. Apesar dacobertura intensiva, oFórum foi o primeiroespaço democrático aber-

to para se discutir os pro-blemas do país, após ogoverno militar. Coinci-dentemente, isto foi umarealização de um ministroque serviu aos generaisMédici e Geisel, mas quesoube aproveitar o cargopara tomar iniciativas à laGetúlio Vargas. Nos seusmandatos, no tempo doverde-oliva, nos anos dechumbo, Velloso, quesempre teve os olhos vol-tados para o futuro, criouo Ipea e ajudou a tornarrealidade a indústria debens de capital brasileiracom o 2º PND, sustentadocom recursos do BNDES.Uma obra inesquecívelpara o Brasil”.

Vera Saavedra Durão -Repórter Especial, ValorEconômico

“O mais importanteespaço aberto de debatesobre as grandes questõesque confrontam o país”. Cláudio R. Frischtak, eco-

nomista

“Como repórter deEconomia da Gazeta Mer-cantil, que fui durantequase vinte anos, cobripara o jornal praticamentetodos os fóruns realizadospelo ex-ministro ReisVelloso ao longo dos últi-mos vinte anos. O debatedos grandes temas nacio-nais se aprofundava, gan-hava maior força e reper-cussão nos principais jor-nais do país, garantindo,muitas vezes, as manche-tes do dia. Para mim, umaprendizado muito ricoprofissionalmente e pes-soalmente. Há dois anosna assessoria de imprensado BNDES, tenho a felizoportunidade de conti-nuar a acompanhar oFórum nacional, que tra-dicionalmente se realizano Banco.”

Lívia Ferrari, jornalis-ta, assessora do BNDES

depoimentos ...

40 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

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Page 41: Plurale em revista edição 5

GRANDES DESCOBERTAS EPROGRESSOS INVARIAVELMENTE

ENVOLVEM A COOPERAÇÃO DEVÁRIAS MENTES

PERDER TEMPOEM APRENDER

COISAS QUE NÃO INTERESSAM,

PRIVA-NOS DEDESCOBRIR

COISASINTERESSANTES

CARLOSDRUMMONDDE

ANDRADE

TOMJOBIN

OSCARWILDE

A VERDADEIRA VIAGEM DA DESCOBERTACONSISTE NÃO EM BUSCAR

NOVAS PAISAGENS, MAS EM TER OLHOS NOVOS

MARCEL PROUST

GRANDES DESCOBERTASE PROGRESSOS

INVARIAVELMENTEENVOLVEM ÀCOOPERAÇÃO DE

VÁRIAS MENTES

SE FIZDESCOBERTAS

VALIOSAS, FOIMAIS POR TER

PACIÊNCIA DOQUE QUALQUER

OUTRO TALENTO

O BRASIL NÃOÉ PARA

PRINCIPIANTES."

GRAHAMBELL

Frases

OS TRÊS MAIORES GÊNIOS BRASILEIROS,NA MINHA OPINIÃO: ALEIJADINHO,

MACHADO DE ASSIS E VILLA-LOBOS, SÓ FORAMPORQUE FORAM PROFUNDAMENTE BRASILEIROS.

CELSOFURTADO

ALEXANDERGRAHAM BELL

ISAACNEWTON

O DESCOBRIMENTO É OPRIMEIRO PASSO

NA EVOLUÇÃO DE UMHOMEM OU DE UMA

NAÇÃO

HEITORVILLA-LOBOS

MEU PRIMEIROLIVRO FOI O

MAPA DOBRASIL

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Page 42: Plurale em revista edição 5

A reciclagem de roupas ganhou

forte apelo nos mercados internacio-

nais mais maduros, como Londres. O

fenômeno conhecido como "fast fas-

hion", aquelas pessoas que economi-

zam até na comida para comprar pro-

dutos de grifes e são tomadas por uma

febre consumista, ajuda a indústria,

mas empresas preocupadas em cons-

truir uma imagem de sustentabilidade

estimulam a reciclagem.

Como na Inglaterra a quantidade

de roupa descartada chega a 1 milhão

de tonelada por ano, algumas iniciati-

vas começam a ganhar corpo.

A sofisticada Marks & Spencer, por

exemplo, ganhou visibilidade com

campanha que estimular seus consu-

midores a reciclar o armário e as rou-

pas, levando as peças para serem

entregues na rede, com a exigência

de que pelo menos uma peça tenha

sido comprada na loja. O consumidor

pode acompanhar a reciclagem dessas

peças que serão doadas para a

Oxfam's, uma instituição de caridade

das mais respeitadas de Londres.

A busca pelas novas tecnologias ecologicamente corretas

parece não ter fim. Desde que o aquecimento global virou

assunto diário em todos os jornais e as campanhas institucio-

nais se rechearam de precoupações com o meio ambiente,

não param de inventar gadgets verdes para amenizar a

situação. Agora o que esta IN é manter-se GREEN.

O brinquedinho da foto é um belo exemplo de toda essa

onda verde. Ele é um celular feito de plástico biodegradável,

extratos de bambu e milho. Quando é jogado fora, existe um

invólucro dentro dele que contêm sementes e gera novas

mudas de bambu onde for plantado. O designer holândes

Gert-Jan van Breugel foi quem surgiu com essa idéia, a fim de

contrapor os danos que a fabricação do celular têm para o

meio ambiente.

Para carregar o gadget, basta dar corda. 3 minutos é o bas-

tante para uma ligação. A desculpa que a bateria do celular aca-

bou não existe com ele, é energia inacabável. E além de tudo,

a natureza agradece.

RECICLE SUASROUPAS

TEXTO [WAGO FIGUEIRA]

TEXTO [WAGO FIGUEIRA]

PÉ DE BAMBUCELULAR VERDE VIRÁ

42 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

PELO MUNDO

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Page 43: Plurale em revista edição 5

A rede espanhola de supermercados Bon Preu, presente na região da Cata-

lunha, dará dois centímos de euro a seus clientes, por cada dez euros de com-

pra, se não utilizarem sacolas de plástico para guardar suas compras. O obje-

tivo da campanha, segundo a rede, que conta com o apoio da Agência de Resí-

duos da Catalunha e da Fundação Catalã para a Prevenção de Resíduos e Con-

sumo Responsável, é conscientizar seus clientes sobre a necessidade de não

utilizar sacolas de plástico e de reduzir em 10 milhões o número de sacolas

utilizadas em 2008.

Com a campanha intitulada “ Melhor que uma sacola de plástico”, Bon Preu

pretende reduzir em 20% o consumo anual de sacolas de plástico na rede, que

atualmente gira em torno de 51 milhões de unidades. Da mesma forma o gru-

po quer reduzir em 25% a quantidade de plástico usada na fabricação das refe-

ridas sacolas. Segundo um estudo da Agência de resíduos da Catalunha, a região

consome ao redor de 10 milhões de sacolas de plástico por semana.

Ao invés das sacolas de plásticos, a rede Bon Preu oferecerá aos seus clien-

tes a opção de levar suas compras em sacolas recicláveis e biodegradáveis, além

de estimular o uso de carrinhos ou cestas de compra levados pelos próprios

clientes. O grupo Bom Preu possui um total de 110 estabelecimentos de ali-

mentação na Catalunha, distribuídos entre as empresas Bonpreu, Esclat e Oran-

gután.

O projeto da rede Bon Preu é uma iniciativa pioneira na região da Cata-

lunha, mas a Agência de Resíduos da região espera que ele se torne um acor-

do de referência para o setor. Desde 2004 a agência apóia 115 projetos para

reduzir o consumo de sacolas de plástico em entidades locais e sem fins lucra-

tivos, além de universidades

ECOLOGIA RENDE

ESPANHAEUROS

NA

TEXTO [VIRGÍNIA SILVEIRA - MADRI]

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Page 44: Plurale em revista edição 5

PELO MUNDO

É sempre a mesma coisa. A grife italiana Benetton lança uma campan-

ha publicitária e o mundo abre os olhos, inclusive aqui, onde são amen-

doados. A campanha de 2008, cujo mote global é Africa Works, chama a

atenção para a força do microcrédito. Foi lançada, em fevereiro, no Sene-

gal, em conjunto com a cooperativa de crédito Birima, do cantor senegalês

Youssou N´Dour.

O fotógrafo James Mollison, que sucede o famoso Arturo Toscanini,

retratou trabalhadores africanos com as ferramentas de suas empresas. Den-

tre os trabalhadores estão um pescador, um decorador, um músico, um

joalheiro, um fazendeiro, um alfaiate, dois vendedores têxteis e um boxe-

ador, entre outros. Essas pessoas comuns se tornam símbolos reais de uma

África que usa a dignidade do

trabalho para combater a

pobreza, promover desenvolvi-

mento equilibrado, maximizar

seus recursos e ter a responsa-

bilidade de criar o futuro.

Youssou N’Dour, um dos

cantores africanos mais conhe-

cidos e um homem comprome-

tido com projetos humanitá-

rios, comenta: “Minha expe-

riência pessoal me ensinou a

perceber que quando um

empréstimo, mesmo pequeno,

é usado para desenvolver uma

idéia ou realizar um projeto, é

um caminho efetivo para o

combate da pobreza. Por isso

todo mundo deveria entender o

valor do micro-crédito. A Áfri-

ca não quer caridade, quer sub-

sídios financeiros”.

Alessandro Benetton, vice-

presidente executivo do Grupo

Benetton, disse, em comunica-

do à imprensa. os motivos que

o levaram a apoiar esse proje-

to. “Nós escolhemos apoiar e

promover este importante pro-

jeto porque, diferente dos tradi-

cionais atos de solidariedade,

ele oferece apoio tangível para

pequenos produtores regionais

através do uso efetivo do

micro-crédito. “

Oxalá outros sigam esses

exemplos.

MICROCRÉDITO NA MODATEXTO [YUME IKEDA - TÓQUIO]

44 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

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Page 45: Plurale em revista edição 5

PARLAMENTO EUROPEU

CINQÜENTÃONas celebrações dos 50 anos do Parlamento Euro-

peu (PE), no dia 12 de março, os presidentes do PE,

da Comissão e do Conselho destacaram os poderes

conquistados pela instituição parlamentar ao longo

de meio século, bem como o exemplo de democra-

cia na história da União Europeia. Com o Tratado de

Lisboa, os poderes do PE serão ainda mais alarga-

dos, a par dos desafios de servir mais de 500

milhões de cidadãos europeus.

Na cerimónia que decorreu no hemiciclo de

Estrasburgo, o atual presidente do PE, Hans-Gert

Pöttering, recordou o "longo caminho de parlamen-

tarismo europeu" percorrido nos últimos 50 anos,

com avanços "a par e passo e com muita paciência".

A instituição reuniu-se pela primeira vez a 19 de

,arço de 1958, então com o nome Assembléia Parla-

mentar Européia.

A celebração – antecipada para dia 12 para coin-

cidir com a sessão plenária de Estrasburgo – contou

com a presença de antigos presidentes do PE, depu-

tados dos vários parlamentos nacionais e presiden-

tes de outras instituições européias.

"Há quase 50 anos, no seu discurso inaugural, o

primeiro presidente, Robert Schuman, disse que a

Assembleia Parlamentar Européia tinha um papel

fundamental no desenvolvimento do espírito euro-

peu. Hoje representamos cerca de 500 milhões de

cidadãos e somos um fator de poder na política

européia", salientou Hans-Gert Pöttering.

Durante a cerimónia de comemoração dos 50

anos do PE, houve um concerto da Orquestra da

TEXTO [IVNA MALULY DE BRUXELAS, BÉLGICA]

Juventude da União Europeia, constituída por 22

jovens de 18 nacionalidades, que interpretou obras

de Jeremiah Clarke, Nielsen, Mozat, Wolf e Strauss,

terminando com o hino europeu (Ode à Alegria), de

Beethoven.

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Page 46: Plurale em revista edição 5

PELO MUNDO

Coqueluche do momento nos países de primeiro mundo, os veículos ecoló-

gicos, mais conhecidos como híbridos, já estão fazendo a cabeça de muita gen-

te por aqui.

A Suíça, que acaba de ganhar o prêmio de país com melhor política ambien-

tal do mundo, na última Semana do Verde realizada em Berlim, em janeiro pas-

sado, adotou mais que rapidamente o conceito de dirigir ajudando a natureza

e, mais uma vez, saiu na frente 'patrocinando' essa iniciativa de respeito ao meio

ambiente.

O carro híbrido é um veículo que cruza um motor de combustível tradicio-

nal com um de motor elétrico. Uma tecnologia que fornece a possibilidade de

operar com altos níveis de eficiência em consumo de combustível e baixa

emissão de contaminantes, como por exemplo, o dióxido de carbono-CO2.

Felizmente, a combinação desses motores em nada implica na capacidade de

gerar excelente desempenho ao carro. Os motores híbridos atingem a mesma

PRA QUEM NÃO QUER POLUIR OCARROS

PLANETATEXTO [RENATA MONDELO LAUSANNE, SUÍÇA ]

potência que a de veículos com

motores convencionais. Ótima notí-

cia para

aqueles que temiam perder a

sensação de prazer e segurança de

dirigir um bom carro nas grandes

vias e estradas de alta velocidade.

Uma questão negativa que ain-

da paira sobre a discussão dos híbri-

dos é a que diz respeito ao preço

das frotas.

Esse, ainda está bem longe de

ser considerado econômico, mas

os fabricantes já se empenham em

ativar meios para resolver esta

questão. Atualmente na Suíça, já

existem mais de 2500 unidades à

venda nas concessionárias e, o mel-

hor, é que o consumidor continua

podendo dar seu último carro como

valor de entrada para pagamento.

Na verdade, o povo por aqui já

está bastante acostumado com

outros híbridos que sempre estão

por todos os lados como as bicicle-

tas motorizadas, locomotivas,

carros-testes,etc.

Atualmente a maior parte das

fábricas em todo o mundo já yem

planos de fabricar suas próprias

versões, mas para o Brasil, pensar

nisso ainda será mais demorado.

Para os interessados em conhe-

cer melhor os híbridos, visite o site

http://www.ecocar4.ch, atestado

pela ATE (Association Transports et

environnement).

46 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

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Page 47: Plurale em revista edição 5

Michael Hastings Jay, o Barão Jay de Ewelme, um dos mais influentes políticos inglesesda Câmara dos Lordes, é presença obrigatória nos fóruns globais sobre sustentabilidade e meioambiente.

Sua atuação firme e o poder de concisão na elaboração de textos diplomáticos foram fun-damentais para a aprovação de documento de especial interesse do Brasil na reunião de par-lamentares do G8+5, que reúne os países ricos mais os países emergentes, realizada em Bra-sília, em fevereiro. O documento reconhece biocombustíveis, incluindo o etanol que o Paíspretende propagar o uso, como aliados no controle das emissões de gás carbônico para queas metas estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto, sejam atingidas até 2012. Esse protocolo assi-nado por diversas países não conta com o apoio dos Estados Unidos.

Nascido em junho de 1946, em Hampshire e educado no Winchester College , Magda-len College e Oxford, Lord Jay é "fellow" honorário da London University's School of Orien-tal and African Studies (SOAS).

Homem de gestos nobres, esse inglês teve uma conversa reservada com o presidente LuizInácio Lula da Silva, minutos antes da aprovação do documento de interesse do Brasil. Paraesse barão, "as questões do meio-ambiente não podem esperar e as decisões devem ser rápi-das de forma a não comprometerem o futuro da humanidade".

Com bom trânsito nos países emergentes, Lord Jay atuou, ainda jovem, como professorvoluntário na Zâmbia, antes de chegar ao Ministério do Desenvolvimento Ultramarino, em 1969,servindo em Londres, Washington (no Banco Mundial) e no Alto Comissariado Britânico em

JAPerfil Lordy

TEXTO [CARLOS FRANCO]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

O CAVALEIRO DA RAINHA DÁ O TOM DOS BIOCOMBUSTÍVEIS NO G8+5

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Page 48: Plurale em revista edição 5

Nova Deli, na Índia. Em 1981, começou a trabalharna Foreign and Commonwealth Office. Entre julhode 1996 e setembro de 2001, foi embaixador britâ-nico para a França. Desde então, voltou-se suavisão sobre questões humanitárias e meio ambien-te. Em julho de 2001, por sua atuação diplomática,levando em conta diferentes realidades e visões demundo, foi nomeado sub-secretário permanenteno Foreign Office e, assim, chefe do Serviço Diplo-mático Britânico, cargo que assumiu em 14 deJaneiro de 2002.

Em 2005, esse cavaleiro da rainha - aqueles tra-tados por Sir - serviu como o primeiro-ministro daRepresentante Pessoal (Sherpa), para preparar acimeira do G8 em Gleneagles. Assim, foi se desta-cando nesses fóruns e voltando cada vez mais suaatenção para as questões relacionadas ao meioambiente.

Em entrevista a Plurale em revista disse que "ohomem tem que ter uma preocupação constantecom futuro, tanto para o fortalecimento dos negó-cios, como da garantia dos bens essencias à vida,como a água, o ar e os alimentos". Lord Jay nãoesconde seu entusiasmo com combustíveis limpos.Para ele, produtos como o etanol são essenciais paraa preservação da vida e das cidades. É um críticodo desperdício e do consumo ostensivo de produ-tos de difícil descarte. Sempre elegante, alto e com

ternos bem talhados, embora formalmente inglesese excessivamente sóbrios, mostrou em sua viagemde cinco dias ao Brasil que repetir roupa não é peca-do, basta ter um bom par de gravatas e lenços paradiferenciar a cada dia o mesmo terno, e duas calçasque possam casar com o paletó.

Casado com Sylvia Mylroie, Lady Jay de Ewel-me, ele sabe que desperdício não rima com elegân-cia. Lady Jay foi vice-presidente da L'Oreal no Rei-no Unido, presidente da Alimentação De Bretanhadesde janeiro de 2006 - um órgão independente esem fins lucrativos - e é ainda diretora da St-Gobain.

Sempre solicito, inclusive a pedidos de entrevis-ta, Lord Jay se mostra cauteloso quanto tem de falardos textos, extremamente diplomáticos. Para ele,diferentes ponto de vista devem ser levados em con-ta em fóruns globais, e o mais importante é que umalinha mestra seja aprovada. "Não vamos detalharquais dos combustíveis, mas é importante que sechegue a um termo comum que favoreça a pro-dução daqueles que são limpos, os biocombustíveis.Se do milho, da cana-de-açúcar ou de outros pro-dutos naturais, essa é uma outra discussão". Ele nãonegou, porém, seu entusiasmo com a produção doetanol brasileiro a partir da cana-de-açúcar. "Estásendo testado na prática e parece ter escala, masalguns países temem pela produção de alimentosem detrimento dessas plantações".

Lord Jay, no entanto, foi rápido nas conversas debastidores para que parlamentares da China e daAlemanhas viessem a assinar o documento. A Chi-na discorda de futuras regras para a emissão de gáscarbônico que venham a limitar o seu crescimento,enquanto a Alemanha alega temer o comprometi-mento de áreas hoje usadas para o plantio de ali-mentos em detrimento de lavouras como a cana-de-açúcar para a produção de combustíveis limpos.Lord Jay conversou individualmente com essasdelegações para aprovarem esse documento.

Não teve, porém, o mesmo êxito nas metasque começou a esboçar para o documento quedeve substituir o Protocolo de Kyoto. "É bomcomeçar o debate, começar a discutir metas, amssobretudo trazer para a discussão parlamentares dosEstados Unidos, que têm influência sobre o futuro".A preocupação com a adesão americana faz todoo sentido. E, nesse campo, Lord Jay acaba porfazer eco a Al Gore, prêmio Nobel da Paz, que aler-tou seu País para as questões do aquecimento glo-bal. O mundo de Jay, de gestos nobres, ganhaagora a visão ecológica de um barão, o Barão Jayde Ewelme. Membro da Câmara dos Lordes e comforte influência no G8+5, quer por sua habilidadee diplomácia, quer por sua postura firme e intran-sigente na construção de um novo e duradouro pac-to em torno do meio-ambiente.

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Diplomacia

Ele não veio no primeiro dia. Ele foi esperado em três horários dife-rentes no último dia, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aindaassim, foi a estrela principal do Fórum de Legisladores G8+5, que reu-niu em Brasília 130 parlamentares dos países ricos e de cinco países emer-gentes - o próprio Brasil, África do Sul, Índia, China e México entre osdias 20 e 21 de fevereiro de 2008. Durante 48 minutos, Lula traçou umpanorama das ações do País em defesa do meio ambiente, dando núme-ros da redução dos desmatamentos. E centrou fogo na defesa, apaixo-nada, diga-se, do etanol.

Deu um pito nos países ricos, de alto e bom tom, dizendo que os paí-ses pobres, continuarão ainda mais pobres se continuarem a serem víti-mas do aquecimento global e do esquecimento. Derrubou argumentosde que a produção de etanol pelo Brasil poderia implicar em novos des-matamentos, deu detalhes da área do País de 810 milhões hectares, dosquais 220 milhões agriculturáveis, onde a cana-de-açúcar ocupa apenas5% desse total.

Lembrou que os povos pobres também sonham em trabalhar, comere consumir e que aos ricos caberia compensar aquelas riquezas que ain-da não usufluem mantendo vivos biomas e florestas. Descartou a possi-bilidade de que se pare de produzir alimentos para produzir cana-de-açú-car. Do seu jeito, sem muita cerimônia, Lula deu o seu recado. Lembrouque, em 1995, o País produziu 57,9 milhões de toneladas em área de 37milhões de hectares, enquanto no ano passado a produção chegou a 133milhões de toneladas de grãos em área de 46 milhões de hectares. Res-saltou que o avanço da tecnologia e da produtividade estão permitindo

o tom de Lula

TEXTO [CARLOS FRANCO]

FOTOS [AGÊNCIA BRASIL]

DISCURSO FIRME EM DEFESA DO ETANOL

essse crescimento e que o Brasil ain-da dispõe de muita terra, sem sernecessário derrubar uma árvore daAmazônia para produzir.

O resultado foi imediato. Os par-lamentares dos países ricos, capitane-ados pelo Reino Unido, em especial obarão Michael Jay, encerraram oencontro com a divulgação de doisdocumentos: o primeiro sobre bio-combustível, reconhecendo a lide-rança brasileira no segmento e o eta-nol como combustível limpo e reno-vável. Pode parecer pouco, mas foiuma vitória da diplomacia brasileira. Opresidente do Globe International, oinglês Hon Elliot Murley, disse que odiscurso de Lula foi extremamenteimportante e compensou os atrasos.

O outro documento assinado pelosparlamentares do G8+5 refere-se aomanejo sustentável das florestas. Maisuma vez o Brasil desponta liderandoesse projeto. Mas aí, os méritos reca-em sobre a ministra Marina Silva, hojereferência global no assunto, respeita-da em todo o mundo.

O documento que pretende listarcompromissos pós 2012, quando che-ga ao fim as metas estipuladas noProtocolo de Kyoto, não foi aprovado.As divergências ainda são muitas, mascertamente o mundo está mudando.Movido, quem sabe, a etanol.

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Meio Ambiente

2008 É O ANO INTERNACIONAL

DE DEFESA DESSE PATRIMÕNIO

DA HUMANIDADE

VIAGEM AOS RECIFES DECORAIS

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Oano de 1997, dez anos atrás, foi declaradoo primeiro ano Internacional dos Recifes deCoral. Essa iniciativa foi uma estratégia de sechamar a atenção para o aumento das ame-aças e perdas de recifes de coral e ecossis-temas associados, tais como manguezais ebanco de algas. O Ano Internacional foi umesforço global para aumentar a consciência

e o conhecimento sobre recifes de coral e apoiar esforços de conser-vação, pesquisa e manejo e foi considerado um sucesso tendo a par-ticipação de mais de 225 organizações em 50 países e territórios, 700artigos publicados, centenas de pesquisas científicas que deram ori-gem a novas áreas marinhas protegidas, além do surgimento denumerosas organizações locais e globais dedicadas a conservação doscorais.

Reconhecendo que depois de 10 anos do primeiro Ano Interna-cional dos Recifes continuamos com a necessidade de divulgar e dis-seminar os valores e importância de se conservar e manejar sustenta-velmente os recifes de coral e ecossistemas associados, a Iniciativa Inter-nacional para os Recifes de Coral (ICRI) designou o ano de 2008 comoo segundo Ano Internacional dos Recifes.

E Dessa forma, 2008 será um ano de cam-panhas e iniciativas coordenadas por gover-nos e organizações não governamentais quetrabalham no mundo todo em prol da con-servação desse valioso ecossistema.

Por que o Ano Internacional dosCorais é importante?

Recifes de Coral são um dos mais antigose diversos ecossistemas do planeta. Eles pro-duzem serviços e recursos que são estimadosem 375 milhões de dólares por ano. Milhõesde pessoas e milhares de comunidades aoredor do mundo dependem dos corais paraalimentação, geração de emprego e renda,fabricação de remédios, lazer, recreação,além de serem estruturas importantes para aproteção da costa.

Infelizmente, muitos dos recifes de coral(incluindo os habitats associados como ban-co de algas e manguezal) foram muito afe-tados ou destruídos, nos últimos anos, devi-do ao aumento dos impactos humanos,mudanças climáticas e outros fatores. Deacordo com o relatório -Status dos Recifes deCoral no mundo- de 2004 , 70% dos recifesde coral do mundo estão ameaçados ou jáforam destruídos, 20% desses foram total-mente destruídos e, somente no Caribe, mui-tos recifes perderam mais de 80% de espé-cies. O fenômeno do branqueamento de1998, um dos anos mais sérios da história,danificou imensas áreas de coral em todo omundo, aumentando seriamente a quantida-de de recifes degradados. Poluição denutrientes e sedimentos, mineração de areiae rocha, o uso de explosivos e cianeto (ououtras substâncias tóxicas) na pesca, sobre-pesca e turismo desordenado também estres-sam os recifes em todas as partes do globo.

� Para mais informações sobreeventos no Brasil acesse a página doMMA (www.mma.gov.br)

� Para mais informações globaisacesse www.iyvor.org

TEXTO [EQUIPE PLURALE]

FOTO [DIVULGAÇÃO]

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Page 52: Plurale em revista edição 5

A Vivo recolheu, em 2007, mais de

131 mil aparelhos e cerca de 105 mil

baterias pelo projeto Vivo Recicle seu

Celular, programa pioneiro que faz a

coleta de aparelhos, baterias e acessó-

rios usados e os encaminha para a reci-

clagem. Aparelhos de qualquer opera-

dora, marca e tecnologia podem ser

doados nas principais lojas próprias

da companhia. O processo é simples,

basta comparecer a um estabelecimen-

to da Vivo, assinar um termo de doação

e depositar o material em uma urna

especializada . O recurso obtido com a

reciclagem dos produtos é doado ao

Instituto Vivo que o repassa à Audiote-

ca Sal&Luz, instituição que produz e

empresta áudio livros para pessoas com

deficiência visual, em todo o território

nacional, de forma gratuita. Só no ano

passado, a instituição recebeu mais de

R$ 45 mil. Implantado em novembro de

2006, o projeto Vivo Recicle Seu Celular

está presente nas lojas da Vivo nos esta-

dos: São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito

Federal Espírito Santo, Goiás, Sergipe,

Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Cata-

rina e será levado até o segundo semes-

tre deste ano a outras regiões.

PELAS EMPRESAS

Proteger o meio ambiente reciclando sobras de alu-

mínio, isopor ,titânio, ferro, papel, papelão, espuma, plás-

tico, óleo de cozinha, madeira, lâmpada e alimentos, faz

com que a Embraer se torne referência nesse assunto.

O Programa de Reciclagem da Empresa reciclou 84,2%

dos resíduos produzidos em 2007 que representa um

crescimento de 5,7% se comparado ao ano de 2006,

quando foram reciclados 79,6%. O destino correto des-

tes resíduos é o foco principal desta atividade que tam-

bém é fonte de receita para a Companhia, tendo gera-

do US$ 9.6 milhões em 2007. Um aumento de 36,8 % em

relação a 2006 (US$ 6,6 milhões).

EMBRAER RECICLA SOBRAS

Uma grande folia responsável: é o que foi o Carna-

val patrocinado pela AmBev este ano. A companhia pro-

moveu ações conscientizando os foliões sobre os riscos

de beber e dirigir em todos os eventos realizados por suas

marcas. Uma destas ações foi o concurso “Foto de Res-

ponsa”: o folião que curtiu o Carnaval e resolveu voltar

para casa de táxi, ônibus ou metrô, encaminhou à

AmBev sua foto com motorista e concorreu a brindes da

companhia, que também serão distribuídos ao motoris-

ta "amigo da vez". Além disso, a companhia doou cerca

de 8 mil bafômetros na semana do carnaval para os esta-

dos do Rio de Janeiro, Goiás, Bahia e Ceará, sendo 6 mil

para a Polícia Rodoviária Federal do DF, que distribuirá

para outros estados. Desde o início de seu programa de

consumo responsável, em 2001, 58 mil bafômetros foram

doados para os órgãos governamentais.

CARNAVAL RESPONSÁVEL COM APOIO DA AMBEV

VIVO RECOLHEAPARELHOS E

BATERIAS

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A Fiat Automóveis formalizou parceria com um dos maiores representantes

do balé mundial. A montadora é a mais nova apoiadora da Escola de Teatro Bols-

hoi no Brasil, cuja única sede fora da Rússia está localizada em Joinville (SC).

A união entre a montadora e a instituição vai incentivar ações de inclusão social

através da cultura. Em 2008, a Escola vai beneficiar mais de 240 alunos, de 9 a

20 anos. Desse total, 94% são bolsistas e têm todas as despesas custeadas pela

instituição. “A parceria vai possibilitar que muitas crianças e adolescentes acre-

ditem ainda mais em seus sonhos. A Fiat confia na Escola de Teatro Bolshoi no

Brasil porque além de formar bailarinos, a instituição preocupa-se com o cres-

cimento desses jovens como cidadãos”, afirma o Diretor de Comunicação Cor-

porativa da Fiat, Marco Antônio Lage.

A MRN plantou, em 2007, 413 mil novas árvores. Nos 28 anos de operação,

somam-se quase 7 milhões de árvores plantadas, numa área de 3.860 hectares,

cerca de 3.184 campos de futebol. Anualmente, a empresa produz meio milhão

de mudas e adquire outras 150 mil de comunidades do alto rio Trombetas, geran-

do renda para famílias ribeirinhas. Os recursos aplicados em ações de controle

e manutenção ambiental somaram R$ 28,4 milhões, em 2007. Desse total, R$ 750

mil são destinados à conservação da Reserva Biológica do Rio Trombetas (Rebio)

e da Floresta Nacional Saracá-Taquera (Flona).

O BALÉ DA FIAT EM JOINVILLE

MRN PLANTA ESPÉCIES AMAZÔNICAS

A Bradesco Capitali-

zação, em parceria com

a Fundação SOS Mata

Atlântica, inaugurou dia

12 de fevereiro, na cida-

de de Piracicaba (SP),

um viveiro comunitário

com capacidade de pro-

dução de 250 mil

mudas de árvores nati-

vasde mais de 80 espé-

cies diferentes. Elas

serão plantadas em pro-

priedades da região

com foco em áreas prio-

ritárias para a restau-

ração da mata atlântica.

As árvores que serão

plantadas no local vão

permitir a neutralização

completa da emissão de

CO² (gás carbônico),

resultante do trabalho

realizado pelos mais de

82 mil colaboradores da

Organização Bradesco.

As iniciativas socioam-

bientais da Bradesco

Capitalização fazem par-

te das ações do Banco

do Planeta.

BRADESCOCAPITALIZAÇÃOPATROCINAVIVEIRO

ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS.

ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA [email protected]

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responsabilidade social

A CRUZADA DABOA AÇÃO

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DE UM

SHOPPING TEVE UM PODER

TRANSFORMADOR NO PROJETO

QUE NASCEU DO SONHO DE DOM HÉLDER CÂMARA

Um ano depois da sua inauguração, oShopping Leblon, erguido entre uma comu-nidade carente e os imóveis mais valoriza-dos da cidade, parece ter vencido o desa-fio de conquistar uma vizinhança heterogê-nea. Graças a estudos realizados com aPrefeitura e a Cet Rio, a malha viária foiremanejada para atender ao aumento do flu-xo de veículos, evitando problemas no trân-sito temidos pelos moradores no início doempreendimento.

Por outro lado, os quase cinco mil habi-tantes da Cruzada São Sebastião, convivemharmoniosamente com o centro comercialde alto luxo, participando de projetos quevêm contribuindo para a melhoria da suaqualidade de vida. “A atenção que estamosrecebendo do Shopping mexeu com a auto-estima das pessoas, que já se sentem valo-rizadas e mais animadas”, avalia MarildaGomes, 50 anos, nascida e criada na Cruza-da e atual presidente da Associação deMoradores:

O Shopping Leblon estabeleceu parce-rias com a Prefeitura Municipal, ONGs einstituições sociais e culturais para oferecercondições de crescimento pessoal e profis-sional àquela população. Pela primeira vez,um empreendimento de luxo daquelaregião nobre demonstrou interesse em bus-

TEXTO [NICIA RIBAS]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

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ba de completar 13 anos e não tem mais direitoa participar do curso: “Acho uma injustiça nãoaceitarem maiores de 12 anos.”

A cada mês, o Shopping avalia, através dequestionários, a performance das crianças. “Cons-tatamos que 90% daquelas que participam do Pro-jeto apresentaram melhoria no desempenho esco-lar, no relacionamento com a família e com ami-gos; constatamos também crescimento no espíri-to cooperativista”, informa Mônica Orcioli, supe-rintendente do Shopping. Este ano, o número devagas vai crescer para 80 e a meta é chegar aos100 em cada nova turma.

CAPACITAÇÃO PROFISSIONALGraças às parcerias com o Senac Rio e a

Secretaria Municipal de Trabalho e Emprego foipossível qualificar profissionalmente, em 2007, 141moradores maiores de 18 anos, em atividadescomo porteiro de hotel, agente de turismo, bar-man e língua estrangeira. Os alunos tambémrecebem ensinamentos sobre legislação trabal-hista e segurança no trabalho

“Foi um grande passo porque as aulas, prin-cipalmente as de inglês e espanhol, tiveram exce-lente aceitação,” garante Marilda Gomes. Os cur-sos de segunda à sexta, das 18 às 22h, na EscolaMunicipal dos Santos Anjos, que fica dentro daCruzada, vão continuar este ano. Para DanielaLacombe, da consultoria Cult & Arte, contratadapela Aliansce para atuar em todos os seus empre-endimentos no Rio, “a iniciativa foi bem sucedi-da porque permite conciliar as aulas com o horá-rio de trabalho e tem a vantagem de funcionardentro da comunidade, evitando deslocamen-tos.”

Merece destaque a atuação da Paróquia dosSantos Anjos, especialmente do Padre Marcos e dacoordenadora Penha Cristina Freitas, que apóiame divulgam as atividades propostas pelo Shopping,incentivando os moradores a participar. Pelo quetudo indica, a integração moradia/escola/trabalho/igreja, pregada por Dom Hélder Câmara, funda-dor da Cruzada São Sebastião, está se concretizan-do e pode ser a alavanca para tirar as crianças dasruas e o Rio de Janeiro do caos social.

car integração com a Cruzada e está dando cer-to. Prova que o caminho para a superação dosproblemas sociais brasileiros passa pelo envolvi-mento de toda a sociedade.

Com a experiência de quem já instalou eadministra 20 shopping centers no Brasil e 260 nosEstados Unidos, sempre preocupada com a popu-lação do entorno, a Aliansce Shopping Centers vol-tou seus olhos para a Cruzada São Sebastião des-de o início da construção do centro comercial noLeblon, formando e recrutando mão- de-obra nacomunidade, através do Projeto Caminhando Jun-tos. Hoje, um grande contingente de profissionaisque trabalham nas 200 lojas do Shopping sãooriundos da Cruzada.

MELHOR AMIGOO censo de 2006, realizado em parceria com

a PUC Rio, detetou que 40% das famílias da comu-nidade são monoparental, isto é, possuem um che-fe de família, que é sempre a mulher. Com basenesse dado, os administradores do Shopping cons-tataram que as crianças ficavam ociosas, sem aatenção da mãe, que saía para trabalhar. Por isso,um dos projetos tocados por eles foi o MelhorAmigo, voltado para o público infantil.

Residem na Cruzada 920 crianças entre um e12 anos. Desde julho do ano passado, turmas de60 crianças participam do Projeto Melhor Amigo,que oferece cursos de arte-educação e reforçoescolar. Concebido em parceria com a Oficina

de Desenho Daniel Azulay e a ONG AçãoComunitária do Brasil, o Projeto também tem oapoio da Cult & Art, Senac Rio e Escritório deIdéias. Eventualmente, alguns lojistas integram-seao esforço, como a Livraria da Travessa, que dooulivros para a criação de uma biblioteca infantil nacomunidade; e o restaurante Outback, que desti-nou ao projeto a renda obtida durante o seu pri-meiro dia de funcionamento no Shopping.

Segundo Marilda, “as crianças que passarampelo Projeto Melhor Amigo estão muito mais feli-zes”. Ela revela que já existe uma fila de esperapara o próximo período. Só uma pessoa não estásatisfeita e aproveita para fazer sua reivindicação.É Natália Cristina de Barros Gonçalves, que aca-

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responsabilidade socialO sonho de Dom Hélder

Em 1955, quando era secretário-geral da CNBB - Conferência Nacio-nal dos Bispos do Brasil, Dom Hélder Câmara tentou transformar emrealidade o sonho de acabar com as favelas do Rio. Convenceu o entãopresidente da República, Café Filho, a construir um conjunto habita-cional, como piloto para atingir seu objetivo. No dia 29 de outubrodaquele ano, foi fundada a Cruzada São Sebastião, um conjunto de10 prédios de sete andares, com 945 apartamentos. Nos blocos 8, 9e 10, ficam os de sala e dois quartos; nos blocos 4, 5, 6 e 7, os de quar-to e sala; e nos blocos 1,2 e 3, está a grande maioria de apartamen-tos conjugados, num total de 483.

A localização da Cruzada garante aos moradores todas as como-didades dos bairros de classe alta, como comércio farto, escolas, hos-pital e posto de policiamento. No entanto, eles se sentem vítimas depreconceito e chegam a trocar de endereço na hora de preencherfichas para se candidatar a empregos. A Igreja dos Santos Anjos, comsua escola municipal, e a ONG Crescendo em Graça, com programasesportivos para a comunidade, funcionam entre os prédios da Cruza-da. Além disso, eles dispõem de creche e um posto ambulatorial.

Os primeiros moradores vieram da extinta favela Praia do Pinto,que existia no terreno onde hoje está o condomínio Selva de Pedra.Naquele ano, o Rio tinha 150 favelas. Hoje, são 600. O Projeto deDom Hélder não foi avante e a Cruzada sintetiza a contradição dacidade em que ricos e carentes convivem de perto, entre os morrose o asfalto.

Beleza e arte na fachada da Cruzada

A partir de março, os moradores da Cruzada São Sebastião terão umbom motivo para se orgulhar do seu endereço: será inaugurado omuseu Os Grandes Personagens da História do Brasil nas paredes exter-nas dos 10 prédios do conjunto habitacional do Leblon. Em eleição oco-rrida em outubro de 2007, eles escolheram as figuras que serão retra-tadas: Dom Hélder Câmara, Ayrton Senna, Zumbi, Monteiro Lobato,Princesa Isabel, Aleijadinho, Vinicius de Moraes, Betinho, SantosDumont e Tiradentes.

O projeto da empresa Soluções Urbanas, dirigida por Bertrand Rigot-Muller, tem como madrinha a atriz Zezé Motta, que estudou na esco-la da Cruzada, e como patrocinador, a Oi. Os seis primeiros painéis aserem colocados em março e seus autores serão:

Monteiro Lobato - Ziraldo, Vinicius de Morais - Chico Caruso,Zumbi - Airá o Crespo, Aleijadinho - Marcello Quintanilha, SantosDumont -Vladimir Machado, Dom Hélder Câmara - Tilher

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turismo

TEXTO [MÚCIO BEZERRA]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

O TEMPO PARECE TER PARADO EM SANA,

UMA PEQUENA E PACATA CIDADE DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO, ONDE

SER HIPPIE NÃO É

COISA DO PASSADO

Parece que o tempo parou ali para des-cansar nos anos 1960 e foi ficando.Estamos em Sana, distrito de Macaé, nafronteira com Lumiar, em Nova Fribur-go, Estado do Rio, um reduto debichos-grilos nas roupas, nos hábitos,na maneira de falar. O acesso é pelarodovia Mury-Casimiro de Abreu, asfal-

tada, mas para chegar à Sana é preciso entrar à esquerdae passar por um perregue de um bom trecho de estradade chão da pior qualidade. O lugarejo é pontilhado desítios, pousadas e acampamentos para todos os gostos. Ditoisto, vamos à vaca fria, mesmo porque lá têm muitas emseus campos.

Descontadas as diferenças, Sana deve ser o último res-quício que sobrou de Woodstock - até pelo cheiro. O révei-llon do lugar, onde passei este ano com uma filha, seunamorado e um casal de amigos deles foi uma festa de paz,amor e tranqüilidade, como convém no caso de um lugardesses. Com a rua principal cheia de gente, os baresapinhados e inundados de boa música - dos anos 60 e 70naturalmente, e o inevitável Raul Seixas - não vi uma bri-

ONDE OS BICHOS-GRILOSAINDA CANTAM

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SANA

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turismoga, uma discussão, uma desavença. Para falar a verdade, a única reclamação que ouvi nos três dias emque fiquei lá, foi um sujeito acampado onde eu estava, gritar:

- Cala a boca, Evanilda!Não por Evanilda estar falando alto, mas, talvez, por ela se chamar Evanilda, o que é um tipo de

condenação que alguns pais costumam fazer contra os filhos e filhas em cartório. A confraternizaçãonas ruas no pipocar do ano novo lembrava coisa de velhos amigos, embora quase ninguém ali, na maio-ria visitantes, se conhecesse há muito tempo. No acampamento, onde a troca de favores é comum, tomeibanho com sabonetes esquecidos nos banheiros que pareciam festas de crianças: no final, sempre haviamuns pentelhos esquecidos que ninguém sabia de quem era. Mas tudo era uma festa e só me senti umafigura estranha ao lugar quando duas bonitas mocinhas foram até a minha barraca e perguntaram:

- E aí, tio, tem uma seda para arranjar pra gente?Seda, na gíria da turma, é aquele papel usado para enrolar vocês sabem bem o quê. Não tinha. Eu

nunca consumo esse vegetal tão festejado pelo Gabeira, não por uma questão moral, mas porque mefaz um mal danado - me dá forte arritmia - mas, dada a beleza das moças, me arrependi na hora desó criar gatos e cachorros. Às vezes a gente perde boas oportunidades por não ter, pelo menos, umamodesta colônia de bichos-da-seda.

Me surpreendi com uma simpática artista plástica, dona de um camping e de uma loja de artesa-nato, que recentemente ganhou o segundo lugar de um prêmio de artes plásticas na Espanha. De Sanapara Santiago de Compostela! E com um casal de jovens macaenses que, em vez de cair na orgia comum,todas as manhãs praticava jiu-jitsu e muay-tay. Também tinha o zelador do lugar, que gentilmente seoferecia para subir nos pés de jaca e distribuir os frutos para todo mundo.

A viagem de ida e volta foi aos trancos e barrancos - e estes eram um grande problema, porquecom a bagagem e as cinco pessoas no carro, um Santana pré-Henry Ford e com espírito de jegue tei-moso, todo mundo precisou descer para empurrá-lo em várias ocasiões do percurso. Foi divertido? Foi.E surrealista, como as placas de avisos plantadas ao longo de toda a estrada do perrengue e nas ruasde Sana: "Não use drogas". Então tá. Já estou providenciando uma colônia de bichos-da-seda e, quemsabe, no próximo réveillon, eu amarei uma mulher em Sana.

Em Sana há uma miscelânea de artistas para todosos gostos, cujos trabalhos estão expostos em lojinhase nas ruas. Então, não é de se espantar que, em 2007,uma mulher que mora ali tenha ganhado o segundolugar do Prêmio Cultural da Secretaria Geral de Imi-gração de Santiago de Compostela, na Espanha. A nite-roiense Lucila Proença, casada, mãe de dois filhos, ex-figurinista da Rede Manchete e ex-funcionária doDepartamento Cenográfico da Rede Globo, abiscoitoua invejável premiação na categoria pintura, uma das ati-vidades que ela faz por gosto e por força do ofício na

ARTISTA DE SANA GANHA PRÊMIO INTERNACIONAL

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turismo

ATÉ OS MOSQUITOSACORDAM COM

"LARICA"Serras lindas, rios com corredeiras suaves, cachoei-

ras e, como era de se esperar nessa mata atlântica, mui-tos mosquitos que, geralmente, acordam com "larica"(somente os três que aporrinharam a minha barraca pro-curavam Sonrisal de madrugada). Em Sana, onde funcio-na um pequeno posto policial, há também esportistas devida saudável, como o jovem casal Maicon da Silva Ara-újo e sua namorada, Renata da Silva Freiman, ambosmacaenses de 18 anos, que todos os dias, de manhãcedo, treinavam artes marciais no Camping da Praça, ondeela trabalha vigiando a entrada e a saída de seus hóspe-des, todos marcados por pulseiras plásticas cujas coresindicam o tempo em que cada um pode permanecer ali,já que o pagamento é antecipado.

Maicon é faixa verde em caratê, já lutou jiu-jitsu e,atualmente, gosta também de dar seus golpes de muaythay. O rapaz é campeão regional de lutas marciais daRegião dos Lagos, vice-campeão do campeonato internoda Academia Kime Kan, em Macaé, e também instrutorda modalidade.

Renata, uma bonita moça, diz que não luta, mas ape-nas incentiva o namorado, o que é uma deslavada men-tira: pelos golpes que vi aquela jovem aplicando em Mai-con, eu não gostaria de enfrentá-la nem em campeona-to de vídeo game.

Como em Sana noite e dia são irmãos gêmeos, inse-paráveis, andam sempre juntos e aqueles três mosquitosnão paravam de zoar nos meus ouvidos, resolvi sair poraí de madrugada à procura de uma farmácia, para ver selá encontrava Sonrisal para eles. Ou, sei lá, uns quatroEngov. Um pra mim, e claro.

sua loja Arte & Manhas, narua principal do lugarejo,onde também é dona doArte & Café Camping.

Lucila se orgulha de tersido elogiada pela maisprestigiada crítica de teatrobrasileira, Bárbara Heliodo-ra, pela cenografia que fezpara a peça "Concerto paraVirgulino sem orquestra"(1996).

Atualmente, além dededicar-se à pintura e aoseu camping, ela ganha avida projetando e produ-zindo roupas no estilo dacultura que ela chama debrasileira - o que, em Sana,tem a graça da confecçãopara bichos-grilos. O nomeda grife é Adelaide e Dag-mar, homenagem a tias quelhe deram a primeiramáquina de bordar. Encon-trar Lucila e suas artes éuma tarefa quase religiosa:sua loja fica bem defronte àigreja católica de Sana. Nainternet, seus trabalhospodem ser vistos emwww.adelaidedagmar.blog-ger.com.br.

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PLURALE 60 >

Cor

Ensaio“Viajar pela Américado Sul é como entrarem um estado deconsciência”, garanteo fotógrafo argentinoFernando Madro, 29anos, ao final de umatravessia estendidapor nove países,13 meses e mais de25.000 km. Detalhe:tudo dentro de umakombi adaptada.Para a esposa etambém fotógrafaMaria EugeniaTombacco, 27, aBolívia foi um doslugares maismarcantes. “A paisagemdo Altiplano éimponente, inóspita,solitária. Viajar poressas montanhas tãoaltas, e em meio aessa gente tãosimples, me ensinoua ser maisespeitosa, a falarmais lenta epaudamente”, revela.Talvez só as imagenspossam dar conta dessaexperiência, que embreve estará expostaem uma galeria deBuenos Aires.

SOY LOUCOPOR TIAMÉRICA

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Cordilheira de Sal: região de colorido incomum e intenso apesar da aridez de suas mutantes crateras

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UM CASAL. UMÚNICO DESTINO:A AMÉRICALATINA

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s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

CARBONO NEUTRO SÔNIA ARARIPE

Já voou, ainda

em fase de testes,

sem passageiros,

um avião com bio-

combustível, da

companhia Virgin

Atlantic. O primei-

ro vôo aconteceu

no fim de feverei-

ro, entre Londres e

Amsterdã. O bio-

querosene foi feito

a partir de óleos

de coco e babaçu

da Amazônia. O

avião teve um de

seus quatro moto-

res abastecidos

apenas com o

novo combustível

- o que representa

uma mistura de

25% de bioquero-

sene ao querosene

de avião conven-

cional. A iniciativa

faz parte de um

projeto que reúne

a Boeing, a Gene-

ral Eletric.

Esta quem nos sugere é a colega Paula Scheidt,

do site CarbonoBrasil (www.carbonobrasil.com).

Foi lançado, e é muito interessante, segundo Paula,

o livro “Earth: The Sequel” (Terra: a seqüência). Os

autores são Fred Krupp, presidente do Fundo de

Defesa Ambiental, Fred Krupp, e a jornalista

Miriam Horn. O livro traz uma vastidão de reporta-

gens especiais, documentários, fotografias, livros e

até filmes sobre as conseqüências das mudanças

climáticas apareceram na mídia nos últimos anos.

A SUSTENTÁVELLEVEZA DEVOAR

GENTE QUE FAZ

Estudo de um grupo internacional de pesquisadores, publicado na

revista Science, alerta que 40% dos mares foram severamente afetados e

apenas 4% ainda permanecem razoavelmente inalterados. As regiões

mais atingidas incluem o Mar do Caribe (foto), o Mar do Norte, o Mar

do Mediterrâneo e as águas em torno do Japão. As menos afetadas são

aquelas próximas aos pólos. A costa brasileira não está entre as áreas

criticamente afetadas, consideradas zonas mortas.

AL MARE

64 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

Div

ulga

ção

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Outro dado impressionante foi divulgado

pela ONG Imazon, sediada em Belém. De

acordo com o estudo, 31% do território da

Amazônia são supostamente privados sem

validação de cadastro. Mas, na verdade, não se

sabe a quem pertence e a que se presta esta

região. Um verdadeiro continente: equivale à

soma de países como a Alemanha, Espanha,

França, Hungria e República Checa. Também

estão incluídos aí os posseiros, processos em

trâmite e sem informação.

“DONOS” DAFLORESTA

Contra fatos e números não há argumen-

tos. O mercado de créditos de carbono do

país movimentou no ano passado por volta

de R$ 1 bilhão. Essa estimativa foi divulgada

pelo Ibraexpo (Instituto Brasileiro de Feiras

de Negócios), que organizou recente feira

sobre o tema. Estudos BNDES apontam ain-

da que, até 2012, quando termina o atual

período do Protocolo de Kyoto, há potencial

para US$ 1,2 bilhão (pouco mais de R$ 2

bilhões) por ano.

FATOS ENÚMEROS

O OÁSIS DE O BOTICÁRIOIniciativa da Fundação O Boticário, o Projeto Oásis começa a premiar financeiramente proprietários parti-

culares de terras que se comprometem a conservar integralmente áreas de remanescentes de Mata Atlântica,

localizadas na bacia de Guarapiranga e nas Áreas de Proteção Ambiental Municipais Capivari-Monos e Bororé-

Colônia, na Região Metropolitana de São Paulo. Atualmente, nove proprietários participam da iniciativa.

Ao incentivar a proteção dessas áreas naturais, o Projeto Oásis contribui para a conservação de um manan-

cial estratégico, que garante o abastecimento de água para quase quatro milhões de habitantes da Grande São

Paulo. “É de conhecimento geral que São Paulo enfrenta um risco crescente de colapso do sistema de abaste-

cimento de água, e a perda de um manancial como o da Guarapiranga terá custos econômicos e sociais altís-

simos para toda a região metropolitana. Com o Projeto Oásis, esperamos contribuir decisivamente para a pro-

dução de água de boa qualidade, o que acarretará em menores custos de tratamento para potabilidade”, diz a

diretora executiva da Fundação O Boticário, Maria de Lourdes Nunes.

A Fundação O Boticário também espera que o Projeto Oásis sirva de estímulo para governos e outras insti-

tuições investirem em iniciativas similares, ampliando assim as ações voltadas para a conservação da natureza.

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BOM EXEMPLOQuem costuma viajar sempre para a Europa e Estados Unidos já se acostumou a neutralizar. Esta é a moda

do momento. Serve tanto para quem compra uma passagem aérea, quanto para o trajeto de táxi do aeroporto

até o grande centro. Empresas brasileiras estudam trazer a novidade também para cá. O modelo é simples:

basta optar, na hora da compra, por pagar um pouquinho a mais para que a neutralização seja feita.

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GRANDES DESCOBERTAS EPROGRESSOS INVARIAVELMENTE

ENVOLVEM A COOPERAÇÃO DEVÁRIAS MENTES

PERDER TEMPOEM APRENDER

COISAS QUE NÃO INTERESSAM,

PRIVA-NOS DEDESCOBRIR

COISASINTERESSANTES

CARLOSDRUMMONDDE

ANDRADE

TOMJOBIM

OSCARWILDE

A VERDADEIRA VIAGEM DA DESCOBERTACONSISTE NÃO EM BUSCAR

NOVAS PAISAGENS, MAS EM TER OLHOS NOVOS

MARCEL PROUST

GRANDES DESCOBERTAE PROGRESSOS

INVARIAVELMENTEENVOLVEM ÀCOOPERAÇÃO DE

VÁRIAS MENTES

SE FIZDESCOBERTAS

VALIOSAS, FOIMAIS POR TER

PACIÊNCIA DOQUE QUALQUER

OUTRO TALENTO

O BRASIL NÃOÉ PARA

PRINCIPIANTES."

GRAHAMBELL

Frases

OS TRÊS MAIORES GÊNIOS BRASILEIROS,NA MINHA OPINIÃO: ALEIJADINHO,

MACHADO DE ASSIS E VILLA-LOBOS, SÓ FORAMPORQUE FORAM PROFUNDAMENTE BRASILEIROS.

CELSOFURTADO

ALEXANDERGRAHAM BELL

ISAACNEWTON

O DESCOBRIMENTO É OPRIMEIRO PASSO

NA EVOLUÇÃO DE UMHOMEM OU DE UMA

NAÇÃO

HEITORVILLA-LOBOS

MEU PRIMEIROLIVRO FOI O

MAPA DOBRASIL

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