9
Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1 ISSN (on-line): 2448-0533 ISSN (on-line): 2448-0533

Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1

ISSN (on-line): 2448-0533ISSN (on-line): 2448-0533

Page 2: Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

2 Pneumologia Paulista | Novembro 2017

Presidente: Regina Maria de Carvalho PintoVice-Presidente: Roberto Rodrigues JúniorSecretária Geral: Silvia Carla Souza Rodrigues1ª Secretária: Roberta Pulcheri RamosDiretora de Finanças: Frederico Leon Arrabal FernandesDiretor de Assuntos Científicos: Willian Salibe FilhoDiretor de Divulgação: José Gustavo Barian RomaldiniDiretor Assuntos do Interior: Ciro de Castro BottoDiretor de Informática: Claúdio Ricardo Frison

COMISSÕES

Defesa Profissional: Lilia Azzi Collet da Rocha CamargoEnsino: Suzana Erico Tanni MinamotoPromoções: Luis Renato AlvesAssuntos da Grande São Paulo: Lilian Ballini CaetanoPublicações: Rodrigo Abensur Athanazio

DEPARTAMENTOS

Cirurgia Torácica:Marcos Naoyuki SamanoCelso Murilo Nálio Matias de FariaErika Rymkiewicz

Endoscopia Respiratória:Evelise LimaFelipe Nominando Diniz OliveiraViviane Rossi Figueiredo

SOCIEDADE PAULISTA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIABIÊNIO 2016/2017

Diretoria

Pediatria:Marina Buarque de AlmeidaAdyleia Aparecida Dalbo Contrera ToroClaudine Sarmento da Veiga

Fisioterapia Respiratória:Luciana Dias ChiavegatoAdriana Claudia LunardiLara Maris Nápolis Goulart Rodrigues

CONSELHO FISCAL

Efetivos:Élcio dos Santos Oliveira ViannaJoão Marcos SalgeMaria Vera Cruz de Oliveira Castellano

Suplentes:Ricardo Mingarini TerraLiana Pinheiro dos SantosMaria Raquel Soares

CONSELHO DELIBERATIVO

Oliver Augusto NascimentoMônica Corso PereiraJaquelina Sonoe Ota ArakakiJosé Eduardo Delfini CançadoRafael StelmachRoberto StirbulovAna Luisa Godoy FernandesMário Terra FilhoEliana Sheila Pereira da Silva MendesJorge NakataniAlberto CukierCarlos Alberto de Castro PereiraMiguel BogossianFrancisco Vargas SusoManuel Lopes dos SantosNelson Morrone

Page 3: Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

Pneumologia Paulista | Novembro 2017 3

REGIONAIS

Regional do ABCPresidente: Claudia Maria de Medeiros PachecoSecretária: Mônica Silveira Lapa

Regional de Araraquara / Bauru / BotucatuPresidente: Marcos Abdo ArbexSecretário: José Eduardo Bergami Antunes

Regional de CampinasPresidente: Mauricio Sousa de Toledo LemeSecretário: Paulo Roberto Tonidandel

Regional de MaríliaPresidente: Gisele César de Rossi AgostinhoSecretária: Maria de Lourdes Marmorato Botta Hafner

Regional de Ribeirão PretoPresidente: Adriana Ignácio de PáduaSecretária: Fabíola Galhardo Rizzatti

Regional de SantosPresidente: Alex Gonçalves MacedoSecretário: Thiago Fernandes Leomil

Regional de São José dos CamposPresidente: José Eduardo de OliveiraSecretária: Márcio Adriano Leite Bastos

Regional de São José do Rio PretoPresidente: Clélia Margarete Trindade BorralhoSecretário: Leandro Cesar Salviano

SUB-COMISSÕES

Asma - Maria Amélia Carvalho da Silva Santos

Câncer - Teresa Yae Takagaki

Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes

Distúrbios Respiratórios do Sono - Pedro Rodrigues Genta

Doenças Intersticiais - Regina Célia Carlos Tibana

Epidemiologia - Maria Cecília Nieves Teixeira Maiorano

Infecções Respiratórias e Micoses - Mauro Gomes

Pleura - Ricardo Milinavicius

Doenças Ambientais e Ocupacionais - Ubiratan de PaulaSantos

Tabagismo - Aldo Agra de Albuquerque Neto

Terapia Intensiva - Eduardo Leite Vieira Costa

Tuberculose - Suzana Pimenta

Função Pulmonar - Andréa Gimenez

Imagem - Gustavo de Souza Portes Meirelles

Doença Pulmonar Avançada - José Eduardo Afonso Júnior

Exercício e Atividade Física - André Luis Pereira deAlbuquerque

Page 4: Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

4 Pneumologia Paulista | Novembro 2017

Apresentação

Caro(a) sócio(a),

Nesta edição do Pneumologia Paulista reforçamos a importância de um atendimentomultidisciplinar dos nossos pacientes portadores de patologias pulmonares. Nos últimos anos,grande ênfase tem sido dada ao treinamento físico, sobretudo à reabilitação pulmonar. Diversaspatologias apresentam benefício inequívoco desta abordagem como, por exemplo, a DPOC.Entretanto o caso clínico deste mês discute os benefícios desta estratégia nas bronquiectasiasnão fibrose cística que ainda carecem de tratamentos farmacológicos com adequado nível deevidência.

Dr. Rodrigo AthanazioEditor-chefe do Pneumologia PaulistaDiretor de Publicações da SPPT

Page 5: Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

Pneumologia Paulista | Novembro 2017 5

Reabilitação pulmonar no paciente comBronquiectasia não-Fibrose CísticaJosé Carlos Rodrigues Junior1, Anderson Alves de Camargo2, Simone Dal Corso3

1Especialização em Fisioterapia Cardiorrespiratória pelo InCor – HCFMUSP. Mestrando em Ciências daReabilitação pela Universidade Nove de Julho – SP.2Doutor em Ciências da Reabilitação pela Universidade Nove de Julho – SP. Professor da UniversidadeNove de Julho (UNINOVE).3Pós-doutorado pela Universidade Federal de São Paulo e Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica.Doutora em Ciências (Reabilitação) pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professora doPrograma de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE).

José Carlos Rodrigues JuniorRua Vergueiro 235/249, CEP 01504-001,2o Sub Solo, MESTRADO. São Paulo-SP.Tel: (11) 3385-9060.E-mail: [email protected]

Tabela 1. Dados demográfico, antropométricos e de funçãopulmonar.

CVF: Capacidade vital forçada; % prev: porcentagem do previsto; VEF1:Volume expiratório forçado no primeiro segundo; IMC: Índice de massacorpórea; kg: quilograma; m: metros; L: litros.

VariáveisIdade (anos) 48Peso (kg) 65,60Altura (m) 1,66IMC (kg/m2) 23,81CVF (L) 2,36CVF (% prev) 57VEF1 (L) 1,30VEF1 (% prev) 39VEF1/CVF 0,55

Caso Clínico

Paciente do sexo masculino, 48 anos, com diagnósticode bronquiectasia associada à panbronquiolite difusa,FACED 5, em avaliação para o transplante pulmonar.Encaminhado à reabilitação pulmonar com queixa dedispneia ao caminhar ao próprio passo em terreno plano(MRC 3). Relatava três episódios de exacerbação nosúltimos dois anos. Ao exame físico encontrava-se comíndice de massa corporal de 23 Kg/m2, sem queixa dedispneia no repouso, eupneico em ar ambiente, saturaçãode pulso de oxigênio (SpO2) de 91%, tosse produtiva comexpectoração clara, ausculta pulmonar com murmúriovesicular reduzido globalmente com roncos difusos.

Submetido à espirometria pré e pós broncodilatador, comdistúrbio ventilatório obstrutivo com capacidade vital forçadareduzida, sem resposta ao broncodilatador (tabela 1).

O teste cardiopulmonar de exercício incremental com10 watts/minuto e de carga constante com 75% da cargamáxima alcançada no teste incremental foram realizadosem cicloergômetro antes e após a reabilitação (tabela 2).Também foram realizados o teste de caminhada de seisminutos (TC6m), shuttle walk test incremental (SWTI),avaliação da atividade física na vida diária por meio de umpedômetro, e a qualidade de vida foi avaliada peloSaint George’s Respiratory Questionnaire (SGRQ) (tabela 3).

Um teste incremental na esteira foi realizado comobjetivo de determinar a intensidade do treino aeróbio,utilizando o protocolo de Balke modificado, alcançandouma velocidade de 4,8 km/h e uma inclinação de 11% em

11 minutos e 42 segundos de teste.A força muscular periférica foi mensurada através do

teste de uma repetição máxima (1-RM) para os músculosbíceps braquial, deltóide médio e quadríceps femoral,alcançando 8, 7 e 34 quilogramas, respectivamente.

O programa de fisioterapia foi constituído por técnicasrespiratórias para higiene brônquica e treinamento físico,durante oito semanas, duas vezes por semana. Durante afisioterapia respiratória foram realizadas as técnicas deexpiração lenta e total com a glote aberta em decúbitoinfralateral, drenagem autógena e oscilação oral de altafrequência.

O treinamento físico consistiu em exercício aeróbio emesteira por 30 minutos em uma intensidade inicial de 60%da carga máxima obtida no teste incremental na esteira,que foi aumentada progressivamente até 80%, a fim deque a fadiga e/ou dispneia fossem mantidas entre osescores 4 a 6 na escala de Borg modificada. O treinamentoresistido foi realizado para os músculos bíceps braquial,deltóide médio e quadríceps femoral, com três séries deoito repetições. A intensidade foi de 40 a 70% da cargaobtida no teste de 1-RM. A carga foi incrementada

Page 6: Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

6 Pneumologia Paulista | Novembro 2017

Pré-reabilitação Pós-reabilitaçãoTCPE incrementalVO2 pico, L/min (% prev) 1,16 (58%) 1,41 (71%)Carga máxima, watts (% prev) 91 (65%) 105 (77%)RER 1,22 1,19PuO2, mL/bat (% prev) 8 (67%) 10 (84%)VE/VVM 1,06 1,28FC, bpm (% prev) 150 148SpO2, % 80% 79%∆VO2/∆W, mL/min/W 8,06 9,22TCPE constanteTempo de teste 6’ 03" 10’ 43"

TCPE: teste cardiopulmonar de exercício; VO2: consumo de oxigênio; % prev:porcentagem do previsto; RER: equivalente metabólico; PuO2: pulso de oxigênio;VE: volume minuto; VVM: ventilação voluntária máxima; FC: frequência cardíaca;SpO2: saturação de pulso de oxigênio; W: watts; bpm: batimentos por minuto; L:litros; min: minutos; mL: mililitros; min: minuto.

Tabela 2. Teste cardiopulmonar de exercício no pré e pósreabilitação pulmonar

Pré-reabilitação Pós-reabilitaçãoTC6, metros (% prev) 536 (91%) 593 (101%)SWTI, metros (% prev) 368 (56%) 468 (71%)Número de passos/dia 8026 8658Qualidade de VidaSintomas (% escore total) 501 (75,62%) 285,3 (43,06)Atividades (% escore total) 801,7 (66,31%) 724,2 (59,9%)Impactos (% escore total) 628 (29,68%) 520,8 (24,59%)Total 1930,7 (48,41%) 1530,3 (38,36%)

Tabela 3. Resultados pré e pós reabilitação pulmonar

TC6: teste de caminha de seis minutos; % prev: porcentagem do previsto; SWTI:shuttle walk test incremental.

semanalmente em 5% conforme a tolerância do paciente.A sessão de treinamento encerrou com exercícios dealongamento para os principais grupos muscularestrabalhados no treinamento aeróbio e de força. O pacientefoi orientado a realizar uma terceira sessão semanal nãosupervisionada.

Os resultados pós-reabilitação podem ser vistos nastabelas 2 e 3.

Discussão

A bronquiectasia não-fibrocística (BCQ) é caracterizadapor dilatações brônquicas associadas à insuficiência nadepuração mucociliar e acúmulo de secreção pulmonar1.Comumente os pacientes apresentam tosse crônica comprodução de escarro, dispneia e fadiga1,2. Possui causasdiversas, sendo que em cerca de um terço dos casos aetiologia é pós-infecciosa, entretanto podem havervariações em diferentes regiões geográficas3.

Em virtude de sua natureza multidimensional, agravidade da BCQ não pode ser adequadamente definidautilizando uma única variável1. Dessa forma, foi criado oFACED, um sistema de classificação multidimensional

composto por cinco variáveis: idade, aspectos clínicos(dispneia), função pulmonar, microbiologia e achadosradiológicos4. A pontuação obtida por esse escoreapresenta uma boa capacidade preditiva de mortalidadeem pacientes com BCQ, já sendo validado para apopulação latino-america5.

A panbronquiolite difusa é uma doença inflamatóriaidiopática, rara em países ocidentais, porém bemreconhecida na população asiática. Afeta principalmenteos bronquíolos respiratórios, causando um distúrbiorespiratório obstrutivo e supurativo progressivo, equando não tratada, progride para bronquiectasias,insuficiência respiratória e morte6.

Capacidade de exercício

Além do comprometimento respiratório, anormalidadesdo músculo estriado esquelético são encontradas emindivíduos com doença pulmonar crônica em virtude dainflamação, alterações da troca gasosa, desequilíbrioeletrolítico, inatividade, desnutrição e uso demedicamentos como corticoesteróides. A fraquezamuscular periférica e a dispneia afetam negativamente a

Page 7: Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

Pneumologia Paulista | Novembro 2017 7

capacidade de exercício destes indivíduos7. Em pacientesbronquiectásicos, a fadiga está presente em 45-75% doscasos8,9,10, trazendo comprometimento funcional e daqualidade de vida11. As razões específicas para a fadigapodem incluir a presença de infecções crônicas eexacerbações, descondicionamento físico, dispneia,ansiedade e depressão9.

Já foi demonstrado que a distância percorrida duranteo TC6 está reduzida neste grupo de pacientes, com maiorpercepção de dispneia durante o esforço, quandocomparado a um grupo saudável9. O TC6 se correlacionapositivamente com a qualidade de vida sendo que umamaior sensação de dispneia e uma menor capacidade dedifusão pulmonar estão associados a um piordesempenho durante o teste13.

O SWTI também tem sido utilizado para avaliar acapacidade funcional de pacientes com BCQ. A distânciacaminhada se correlaciona de forma negativa com asensação de dispneia e de forma positiva com acapacidade aeróbia, carga de trabalho máxima durante oteste cardiopulmonar de exercício e atividade física navida diária14.

A capacidade aeróbia, refletida pelo consumo deoxigênio (VO2) no pico do exercício durante um testeincremental máximo, encontra-se reduzida em pacientesadultos com BCQ15. Entretanto, na população pediátricatal resultado não foi confirmado, sendo encontrado nessafaixa etária um limiar anaeróbio mais precoce emcomparação ao grupo controle16. Além disso, umadessaturação induzida pelo exercício pode estar presenteem alguns pacientes, reduzindo a tolerância ao exercício15.

Mediante tais alterações, observa-se umcomportamento sedentário entre os pacientesbronquiectásicos17, com a prática de atividade físicaabaixo das recomendações internacionais18, sugerindo anecessidade de intervenção terapêutica com a prática deexercício físico nesta população.

Reabilitação pulmonar

As diretrizes internacionais recomendam aincorporação da reabilitação pulmonar para o tratamentodos pacientes com BCQ, com objetivo de aumentar atolerância ao exercício e a qualidade de vida relacionadaà saúde19, entretanto ainda há poucos estudos a respeito.

A duração da reabilitação pulmonar na maior partedos estudos em pacientes com BCQ varia entre seis a oitosemanas, com uma frequência de três sessões semanais,sendo uma não supervisionada21,22,23. Em apenas um estudoa duração foi de três semanas, com uma frequência decinco sessões semanais24. O treinamento físico écomumente realizado incluindo exercício aeróbio emesteira e/ou bicicleta ergométrica 21,22,23,24, em alguns casossendo associado ao treinamento de força para membrossuperiores e inferiores23,24, treinamento muscular

inspiratório e sessões educacionais21,24.Os resultados após a reabilitação pulmonar incluem

melhora da capacidade funcional, refletida por aumentoda distância percorrida no TC622,23,24 e no SWTI21,23, ganhode força muscular inspiratória e da capacidade deendurance da musculatura periférica21, redução dafadiga23 e dispneia23,24, aumento da qualidade de vida22 eredução do número de exacerbações ao longo de 12meses23. Entretanto, o ganho da capacidade funcional nãose mantém a longo prazo, sugerindo a necessidade de umprograma de manutenção dos resultados ao término dareabilitação pulmonar23.

Apesar do ganho na capacidade funcional, Newall ecolaboradores não encontraram aumento do consumo deoxigênio no pico do exercício após a reabilitaçãopulmonar em pacientes com BCQ21. Todos os estudospublicados aplicaram os princípios da prescrição deexercício para o paciente com doença pulmonarobstrutiva crônica (DPOC). Os resultados encontrados sãopromissores, porém a ausência de mudança dacapacidade aeróbia sugere que a melhor forma para otreinamento físico na BCQ ainda não foi identificada25.Uma possível explicação pode estar no fato de que taisindivíduos tendem a ser mais jovens, com menoscomorbidades e menor limitação musculoesquelética, emcomparação aos pacientes com DPOC26.

No caso clínico relatado, observamos um aumento de57 metros na distância caminhada no TC6 e de 100 metrosno SWTI após a reabilitação pulmonar. A diferença mínimaclinicamente importante (DMCI) para tais testes já foiestabelecida para pacientes com BCQ, sendo 25 e 35metros, respectivamente27. A DMCI reflete qual deve ser amelhora mínima de um parâmetro após uma intervençãopara que esta seja perceptível ao paciente, traduzindo osucesso da terapêutica.

No teste incremental em cicloergômetro houve umacréscimo de 14 watts na carga máxima alcançada, e de280 segundos no tempo total do teste de carga constante.Na BCQ, a DMCI importante para esses valores ainda nãofoi estabelecida. Para pacientes com DPOC, um aumentode 4 watts na carga máxima do teste incremental28 e de100 segundos na duração do teste de carga constante sãoconsiderados clinicamente significantes29.

Com relação ao VO2, foi observado um aumento de 12%após a reabilitação pulmonar. Para pacientes com DPOC,uma melhora média de 11% já foi relatada na literatura30.Na bronquiectasia, apenas um estudo avaliou tal variável,e, como citado anteriormente, não foi encontrada diferençasignificativa após a reabilitação pulmonar21.

No Saint George’s Respiratory Questionnaire (SGRQ),observamos uma redução da pontuação de todos os seusdomínios, com uma queda de 10% da pontuação total,refletindo uma maior qualidade de vida após areabilitação pulmonar. Em pacientes com DPOC, a DMCIpara o SGRQ foi definido como uma alteração de quatro

Page 8: Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

8 Pneumologia Paulista | Novembro 2017

pontos na porcentagem da pontuação total31,32,33.Entretanto, um estudo mais recente sugeriu uma DMCIcomo alteração de 7 pontos34. Para pacientes com BCQainda não foi investigada a DMCI para o SGRQ.

A reabilitação pulmonar no paciente combronquiectasia apresenta resultados promissores,entretanto permanece como um grande campo de pesquisaem aberto, propício ao desvendamento de inúmerasindagações a respeito desse grupo com considerávelpresença dentro dos centros de tratamento de doençaspulmonares.

Referências Bibliográficas

1. McShane PJ, Naureckas ET, Tino G, Strek ME. Non-cystic fibrosisbronchiectasis. Am J Respir Crit Care Med 2013;188:647–656.

2. King PT, Holdsworth SR, Freezer NJ, et al. Outcome in adultbronchiectasis. COPD 2005; 2: 27-34

3. Shoemark A, Ozerovitch L, Wilson R. Aetiology in adult patients withbronchiectasis. Respir Med 2007; 101: 1163–1170.

4. Martinez-Garcia MA, de Gracia J, Vendrell Relat M, et al.Multidimensional approach to non-cystic fibrosis bronchiectasis: theFACED score. Eur Respir J 2014;43:1357-67.

5. Athanazio R, Pereira MC, Gramblicka G, et al. Latin America validationof FACED score in patients with bronchiectasis: an analysis of sixcohorts. BMC Pulmonary Medicine 2017;17:73.

6. Poletti V, Casoni G, Chilosi M, et al. Diffuse panbronchiolitis. EurRespir J 2006; 28: 862–871.

7. Macintyre NR. Mechanism of functional loss in patients with chroniclung disease. Respir Care 2008;53:1177-84.

8. Hester KL, Macfarlane JG, Tedd H, Jary H, McAlinden P, Rostron L,Small T, Newton JL, De Soyza A. Fatigue in bronchiectasis. QJM2012 105(3):235–240.

9. Ozalp O, Inal-Ince D, Calik E, et al. Extrapulmonary features ofbronchiectasis: muscle function, exercise capacity, fatigue, and healthstatus. Multidiscip Respir Med 2012;11(7(1)):3.

10. King PT, Holdsworth SR, Freezer NJ, Villanueva E, Holmes PW.Characterisation of the onset and presenting clinical features of adultbronchiectasis. Respir Med 2006;100:2183–2189.

11. Fisk J., Ritvo P., Ross L., Hasse D., Marrie T., Schlech W. Measuringthe functional impact of fatigue: initial validation of the FIH . Clin Inf Dis1994; 18(suppl 1): S79-83.

12. Lee AL, Button B., Ellis S., Stirling R., Wilson J., Holland A., et al.Clinical determinants of the 6-minute walk test in bronchiectasis. RespirMed 2009; 103: 780-785.

13. Guan WJ, Gao YH, Xu G, Lin ZY, Tang Y, Li HM, et al. Six-minutewalk test in Chinese adults with stable bronchiectasis: association withclinical indices and determinants. Curr Med Res Opin 2015;31(4):843–852.

14. de Camargo AA, Amaral TS, Rached SZ, et al. Incremental shuttlewalking test: a reproducible and valid test to evaluate exercise tolerancein adults with noncystic fibrosis bronchiectasis. Arch Phys Med Rehabil2014;95(5):892-9.

15. Swaminathan S, Kuppurao KV, Somu N, Vijayan VK. Reducedexercise capacity in non-cystic fibrosis bronchiectasis. Indian J Pediatr2003; 70: 553–556.

16. Rosenthal M, Narang I, Edwards L, Bush A. Non-invasive assessmentof exercise performance in children with cystic fibrosis (CF) and non-cystic fibrosis bronchiectasis: is there a CF specific muscle defect?Pediatr Pulmonol 2009;44:222–230.

17. Bradley JM, Wilson JJ, Hayes K, Kent L, McDonough S, Tully MA,et al. Sedentary behaviour and physical activity in bronchiectasis. Across-sectional study. BMC Pulm Med 2015;15(1):61.

18. O’Donovan G, Blazevich AJ, Boreham C, Cooper AR, Crank H,Ekelund U, Fox KR, Gately P, Giles-Corti B, Gill JM, Hamer M,McDermott I, Murphy M, Mutrie N, Reilly JJ, Saxton JM, StamatakisE: The ABC of Physical Activity for Health: a consensus statementfrom the British Association of Sport and Exercise Sciences. J SportsSci 2010, 28: 573-591.

19. Pasteur MC, Bilton D, Hill AT; British Thoracic Society Bronchiectasisnon-CF Guideline Group. British Thoracic Society guideline for non-CF bronchiectasis. Thorax 2010;65:i1–i58.

20. Chang AB, Bell SC, Byrnes CA, Grimwood K, Holmes PW, KingPT, et al: Chronic suppurative lung disease and bronchiectasis inchildren and adults in Australia and New Zealand. Med J Aust 2010,193: 356-365.

21. Newall C, Stockley RA, Hill SL. Exercise training and inspiratorymuscle training in patients with bronchiectasis. Thorax 2005;60:943-48.

22. Ong HK, Lee AL, Hill CJ, Holland AE, Denehy L. Effects of pulmonaryrehabilitation in bronchiectasis: a retrospective study. Chron RespirDis 2011;8:21–30.

23. Lee AL, Hill CJ, Cecins N, et al. The short and long term effects ofexercise training in non-cystic fibrosis bronchiectasis- a randomisedcontrolled trial. Respir Res 2014; 15: 44.

24. Zanini A, Aiello M, Adamo D, et al. Effects of pulmonary rehabilitationin patients with non-cystic fibrosis bronchiectasis: a retrospectiveanalysis of clinical and functional predictors of efficacy. Respiration2015; 89:525–533.

25. Lee AL , Hill CJ , McDonald CF , Holland AE . Pulmonary rehabilitationin individuals with non-cystic fibrosis bronchiectasis: a systematicreview. Arch. Phys. Med. Rehabil. 2016.

26. Zan Zellar M, Caetano P, Amorim A, Viana P, Martins P, Gaspar L,Hespanhol V, Gomes I: Pulmonary rehabilitation in patients withbronchiectasis: pulmonary function, arterial blood gases and the 6-minute walk test. J Cardiopulm Rehabil Prev 2012, 32: 278-283.

27. Lee AL, Hill CJ, Cecins N, Jenkins S, McDonald CF, Burge AT,Rautela L, Stirling RG, Thompson PJ, Holland AE. Minimal importantdifference in field walking tests in non–cystic fibrosis bronchiectasisfollowing exercise training. Respir Med 2014;108:1303–1309.

28. Puhan MA, Chandra D, Mosenifar Z, Ries A, Make B, Hansel NN, etal. The minimal important difference of exercise tests in severe COPD.Eur Respir J 2011;37:784-90.

29. Laviolette L, Bourbeau J, Bernard S, Lacasse Y, Pepin V, Breton MJ,Baltzan M, Rouleau M, Maltais F. Assessing the impact of pulmonaryrehabilitation on functional status in COPD. Thorax 2008;63:115–121.

30. Troosters T, Casaburi R, Gosselink R, Decramer M. Pulmonaryrehabilitation in chronic obstructive pulmonary disease. Am J RespirCrit Care Med 2005;172:19–38

31. Jones PW, Quirk FH, Baveystock CM. The St George’s RespiratoryQuestionnaire. Respir Med 1991~ (Suppl):25¬31.

Page 9: Pneumologia Paulista | Novembro 2017 1pneumologiapaulista.org.br/wp-content/uploads/2017/11/PP01112017-1.pdf · Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes Distúrbios Respiratórios

Pneumologia Paulista | Novembro 2017 9