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Universidade Nova de Lisboa - Escola Nacional de Saúde Pública - Pneumonias adquiridas durante o internamento hospitalar: impacte na saúde e implicação nos custos Trabalho de Projeto Trabalho de Projeto de Candidatura ao grau de Mestre do curso de Mestrado em Gestão da Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública Orientador: Prof. Doutor Carlos Costa, Professor na Escola Nacional de Saúde Pública Ana Rita Castelo Branco Oliveira julho 2012

Pneumonias adquiridas durante o internamento hospitalar ... - Dissertação de... · Conclusão: O trabalho foi elaborado tendo em vista a quantificação do fenómeno em Portugal,

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Universidade Nova de Lisboa

- Escola Nacional de Sade Pblica -

Pneumonias adquiridas durante o internamento hospitalar: impacte na sade e implicao nos custos

Trabalho de Projeto

Trabalho de Projeto de Candidatura ao grau de Mestre do curso de Mestrado em Gesto da Sade pela Escola Nacional de Sade Pblica

Orientador: Prof. Doutor Carlos Costa, Professor na Escola Nacional de Sade

Pblica

Ana Rita Castelo Branco Oliveira

julho 2012

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 ii

"Toda a nossa cincia, comparada com a

realidade, primitiva e infantil - e, no entanto,

a coisa mais preciosa que temos."

Albert Einstein

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 iii

Dedicatria

Aos meus pais e ao meu irmo Joo.

Ao Rui.

Agradecimentos

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 iv

Agradecimentos

Agradeo a todas as pessoas do meu ainda pequeno mundo que acreditaram e contriburam,

mesmo que indiretamente, para a concluso deste Projeto, das quais destaco:

Os meus pais, Teresa e Franklin, pelo amor incondicional e pela pacincia. Por me terem dado a

estabilidade necessria e me proporcionarem esta oportunidade, eles que sempre me incentivaram a

estudar. Ao meu irmo Joo, por todo o apoio e contributo nesta etapa da minha vida bem como em

toda a minha vida acadmica. A toda a minha famlia que sempre me ajudou e acreditou em mim.

Ao Rui, por compreender a importncia deste percurso, pela fora e motivao, apoiando-me nos

melhores e nos piores momentos.

Ao meu amigo Francisco Lucas e colega da ENSP pela ajuda e parceria nesta etapa conjunta.

Aos meus amigos de Torres Novas por perceberem a minha falta de tempo e de pacincia.

Aos meus amigos Andreia Marques, Andreia Marranita, Cludio Gabriel, Francisco Costa, Joana Vieira

e Ricardo Vinhais pela amizade infinita.

Aos meus colegas de trabalho dos Servios Partilhados da Universidade de Lisboa (SPUL), Mrcia Vila,

Sandra Ferreira, Carla Farelo, Andr Amaral e Ricardo Ferreira pelo apoio demonstrado ao longo

deste percurso.

Por ltimo, mas no menos importante, um agradecimento especial Prof. Cu Mateus,

coordenadora do Mestrado em Gesto da Sade da Escola Nacional de Sade Pblica (ENSP), pelo

seu acompanhamento e disponibilidade.

Ao Prof. Carlos Costa pela sua orientao, por toda a ateno, pelos seus conselhos e o modo como

sempre me apoiou e incentivou, tornando possvel a realizao deste trabalho.

Resumo

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 v

Resumo

Introduo: O presente estudo pretende analisar o impacte na sade e a implicao nos custos da

Pneumonia adquirida durante o internamento hospitalar. Est comprovado que as infees

hospitalares constituem um problema de Sade pblica dos hospitais em todo o mundo.

Metodologia: A populao em estudo abrange 97 033 episdios de internamento, ocorridos em 10

hospitais, no ano de 2010. O trabalho compreende trs fases: i) caracterizao da populao em

estudo; ii) identificao das variveis que influenciam os resultados em sade; iii) estimao dos

custos do internamento com Pneumonia.

Resultados: Os episdios de internamento com Pneumonia ocorreram maioritariamente no sexo

masculino (58.1%). A faixa etria com mais episdios foi a dos 80 aos 89 anos. A taxa de Prevalncia

foi de 4.16% e a taxa de Mortalidade foi de 34.56%. Os doentes com Pneumonia tiveram uma

demora mdia superior em 13 dias em relao aos doentes sem Pneumonia para o mesmo conjunto

de GDH. Pertencer ao sexo masculino e os episdios de internamento ocorridos em hospitais no

universitrios levam a um aumento da probabilidade de morrer. Por sua vez apresentar uma maior

durao de internamento e um nmero superior de comorbilidades levam a uma diminuio deste

risco. Os custos em excesso dos episdios de internamento devido aquisio de Pneumonia como

doena secundria foram de aproximadamente 18 milhes de euros.

Concluso: O trabalho foi elaborado tendo em vista a quantificao do fenmeno em Portugal, tanto

em termos da carga da doena, como das implicaes financeiras. Os valores encontrados so

preocupantes, pelo que se torna necessrio tomar medidas e introduzir prticas na atividade

hospitalar que minimizem as infees hospitalares em geral e da Pneumonia em particular. Por sua

vez expectvel, face ao descrito na literatura internacional, que a introduo destas prticas

melhor os resultados em sade e o desempenho financeiro dos hospitais.

Palavras Chave: Infees Nosocomiais; Pneumonia, Mortalidade, Dias de internamento, Custos.

Abstract

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 vi

Abstract

Introduction: The main goal of this study is to analyze the health and the costs due to acquired

Pneumonia during hospital stay. There is evidence that hospital infections are a public health

problem in hospitals worldwide.

Methods: The population analyzed is 97,033 hospital admissions, occurred in 10 hospitals in the year

2010. The work comprises three phases: i) characterization of the population, ii) identification of

variables that influence health outcomes, iii) estimating the costs of acquired Pneumonia.

Results: Admissions with acquired Pneumonia are more frequent on males (58.1%). The most

relevant age group was from 80 to 89 years. The prevalence rate was 4.16% and the in-hospital

mortality rate was 34.56%. The patients with acquired Pneumonia had an increase of the length of

stay circa 13 days compared with patients without acquired Pneumonia for the same set of GDH. The

males and admissions on non-teaching hospitals lead to an increased risk of hospital death.

Moreover larger length of stay and higher number of comorbidities had decreased the risk of

hospital death. The increase on admissions costs due to acquired Pneumonia were circa 18 million

euros.

Conclusions: The study presents some poor health outcomes, as well as costs increase due to

acquired Pneumonia in Portuguese public hospitals. These results should be considered as a real

problem in Portugal, and therefore it is necessary to be more evidenced based on hospital guidelines

definition and in clinical management practice in order to increase hospitals effectiveness and

efficiency.

Keywords: Nosocomial infections; Pneumonia, Mortality, Length of stay, Costs

ndice

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 vii

ndice

SIGLAS E ACRNIMOS

CONCEITOS

I - Introduo 1

1. Importncia do tema 1

2. Estrutura do Trabalho 3

II - Enquadramento terico 5

1. Produo Hospitalar e Custos 5

2. Infeo Hospitalar 8

3. Pneumonia 22

4. Controlo e Preveno das Infees Hospitalares 25

III - Objetivos 32

1. Objetivo Geral 32

2. Objetivos Especficos 32

IV - Metodologia 33

1. Fontes de dados 34

2. Populao em estudo 35

3. Variveis 36

4. Plano de anlise dos dados 38

5. Tratamento de dados 40

V - Caracterizao da Populao em estudo 41

1. Caracterizao da Populao Inicial 41

2. Caracterizao da Populao com Pneumonia e da Populao sem Pneumonia 45

VI - Resultados 50

VII - Discusso 69

1. Discusso Metodolgica 69

2. Discusso de Resultados 73

VIII - Recomendaes 83

IX - Concluses 85

Referncias Bibliogrficas 88

ANEXOS

ndice

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 viii

ndice de Figuras

Figura 1. Populao em Estudo ......................................................................................................... 35

ndice de Grficos

Grfico 1. Dias de internamento com Pneumonia ............................................................................. 48

Grfico 2. Dias de internamento sem Pneumonia .............................................................................. 48

Grfico 3. N de episdios de internamento por Meses do ano para a Populao com Pneumonia ... 54

Grfico 4. N de episdios de internamento por Meses do ano para a Populao sem Pneumonia ... 54

ndice

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 ix

ndice de Quadros

Quadro 1. Estatsticas Globais ........................................................................................................... 15

Quadro 2. Estatsticas Europeias ....................................................................................................... 16

Quadro 3. Estatsticas Amrica Central e Sul ..................................................................................... 16

Quadro 4. Variveis em estudo ......................................................................................................... 38

Quadro 5. Metodologia de Calculo dos Custos .................................................................................. 40

Quadro 6. Dimenso da Populao ................................................................................................... 41

Quadro 7. Caractersticas da Populao Inicial ................................................................................. 42

Quadro 8. Caractersticas da Populao Total (Inicial) Dias de internamento e N Diagnsticos

Secundrios, N de Comorbilidades e N de Complicaes de cuidados ............................................ 44

Quadro 9. Caractersticas da Populao Com e Sem Pneumonia ....................................................... 45

Quadro 10. Populao Com e Sem Pneumonia - N Dias de internamento, N de Comorbilidades e N

de Complicaes ............................................................................................................................... 47

Quadro 11.Destino aps Alta para Populao com e sem Pneumonia .............................................. 49

Quadro 12. Doena Principal ............................................................................................................. 52

Quadro13. Data de entrada no internamento dos episdios com e sem Pneumonia ......................... 53

Quadro 14. Diferena nos Dias de internamento ............................................................................... 55

Quadro 15. Regresso para a Cerebrovascular Disease ...................................................................... 58

Quadro 16. Regresso para a Pneumonia Bacterial ........................................................................... 60

Quadro 17. Regresso para a Coronary Artery Disease without Prior Coronary Revascularization ...... 62

Quadro 18. Regresso para a Essential Hypertension ........................................................................ 64

Quadro 19. Regresso para a Human Immunodeficiency Virus Type I (HIV) Infection ......................... 65

Quadro 20. Regresso para a Urinary Tract Infections ....................................................................... 67

Quadro 21. Resumo do Teste de Hipteses ....................................................................................... 77

Quadro 22. Resumo da Regresso para a varivel Mortos_Vivos ....................................................... 79

Quadro 23. Designao dos cdigos da doena NEU04 Cerebrovascular Disease .......................... 114

Quadro 24. Designao dos cdigos da doena GUS10 - Urinary Tract Infections ............................ 114

Quadro 25. Designao dos cdigos da doena CVS 11 -Coronary Artery Disease without Prior

Coronary Revascularization ............................................................................................................. 115

Quadro 26. Designao dos cdigos da doena IMM01 - Human Immunodeficiency Virus Type I (HIV)

Infection ......................................................................................................................................... 116

Quadro 27. Designao dos cdigos da doena RES15 Pnuemonia Bacterial ................................. 116

Quadro 28. Designao dos cdigos da doena CVS13 - Essential Hypertension .............................. 117

Quadro 29. Custos acrescidos dos episdios de internamento com Pneumonia como doena

scundria, por GDH ......................................................................................................................... 121

file:///C:/Users/Ritinha/Desktop/Tese%20Final%20-%20Acordo%20Ortogrfico%20-%2019.07.2012.docx%23_Toc330507304file:///C:/Users/Ritinha/Desktop/Tese%20Final%20-%20Acordo%20Ortogrfico%20-%2019.07.2012.docx%23_Toc330507307

SIGLAS E ACRNIMOS

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 x

SIGLAS E ACRNIMOS

CCI Comisso de Controlo de Infeo

GCD Grande Categoria de Diagnstico

CDC Centers for Diseases Control and Prevention

ENSP Escola Nacional de Sade pblica

IACS Infees Associadas com a prestao de Cuidados de Sade

GDH Grupo de Diagnstico Homogneo

IH Infeo Hospitalar/ Nosocomial

ITRI Infeo do Trato Respiratrio Inferior

ITUs Infees do Trato Urinrio

OMS Organizao Mundial da Sade

PNCIAC Programa Nacional de Preveno e Controlo da Infeo Associada aos Cuidados de Sade

SIGIC Sistema Integrado de Gesto de Inscritos para Cirurgia

CONCEITOS

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 xi

CONCEITOS

Admisso: Internamento de um doente, num servio de internamento, com estadia mnima de pelo

menos 24 horas. No caso de permanncia inferior a 24 horas, por abandono, alta contra parecer

mdico, falecimento ou transferncia para outro estabelecimento de sade, considera-se um dia de

hospitalizao (INE, 2005).

Admisso programada: Quando decorre duma calendarizao a partir da consulta externa, com

organizao do respetivo processo e passando ou no por uma lista de espera (Portal de Codificao

e dos GDH).

Admisso urgente: quando no passa por qualquer calendarizao (Portal de Codificao e dos

GDH).

Case-mix: Variedade das situaes clnicas dos doentes tratados por cada hospital, organizao de

sade ou prestador (Lichtig cit. por Costa, 2011) Coeficiente global de ponderao da produo que

reflete a relatividade de um hospital face aos outros, em termos da sua maior ou menor proporo

de doentes com patologias complexas e, consequentemente, mais consumidoras de recursos. O ICM

determina-se calculando o rcio entre o nmero de doentes equivalentes ponderados pelos pesos

relativos dos respetivos GDH e o nmero total de doentes equivalentes (Portal ACSS)1.

Comisso de Controlo de Infeo (CCI): Equipa multidisciplinar de profissionais das unidades de

sade, apoiada pelos rgos de gesto e que tem por misso planear, implementar e monitorizar um

plano operacional de preveno e controlo da Infeo, de acordo com as diretivas Ministeriais,

nacionais e regionais e as caractersticas e especificidades das unidades de sade (PNPCIACS, 2008).

Complexidade dos casos: Medida que expressa a quantidade de recursos necessrios para tratar

determinado caso. diferente do conceito intensidade, visto que nesta perspetiva pretende medir-se

os recursos necessrios para tratar determinado caso por dia de internamento (Luke cit. por Costa,

2011). Os casos mais complexos podem estar concentrados nalguns hospitais, atendendo

essencialmente s exigncias tecnolgicas e de recursos humanos que esto associadas a estas

situaes (Hornbrook, 1982).

1 www.acss.min-

saude.pt/Portals/0/C%C3%A1lculo%20do%20doente%20equivalente%20e%20ICM_2009_Final.pdf

http://portalcodgdh.min-saude.pt/index.php/Consulta_Externahttp://portalcodgdh.min-saude.pt/index.php/Lista_de_espera

CONCEITOS

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 xii

Destino aps Alta: Destino de um doente que tem alta dum servio de internamento hospitalar

(Portal de Codificao e dos GDH).

Diagnstico Principal: Afeo ou a situao que, depois do estudo do doente, se considera ser a

responsvel pela sua admisso no hospital, para tratamento (Portal de Codificao e dos GDH).

Doentes Equivalentes: Num dado GDH, correspondem aos episdios de internamento que se obtm

aps a transformao dos dias de internamento dos episdios de curta durao e dos doentes

transferidos de cada GDH, em episdios equivalentes aos episdios tpicos ou normais do respetivo

GDH (Portal da ACSS)2.

Doente internado: Indivduo admitido num estabelecimento de sade com internamento, num

determinado perodo, que ocupe cama (ou bero de neonatologia ou pediatria), para diagnstico ou

tratamento, com permanncia de, pelo menos, vinte e quatro horas, excetuando -se os casos em que

os doentes venham a falecer, saiam contra parecer mdico ou sejam transferidos para outro

estabelecimento, no chegando a permanecer durante vinte e quatro horas nesse estabelecimento

de sade. Para efeitos de faturao, e para doentes que no cheguem a permanecer vinte e quatro

horas internados, apenas sero considerados os doentes sados contra parecer mdico ou por bito

(Portaria n. 132/2009 de 30 de janeiro de 2009).

Episdio de curta durao: Episdio cujo tempo de internamento igual ou inferior ao limiar inferior

de exceo do respetivo grupo de diagnstico homogneo (GDH) (Portaria n. 132/2009 de 30 de

janeiro de 2009).

Episdio de internamento: Perodo de tempo de internamento que decorre ininterruptamente

desde a data da admisso de doentes at data da alta, em regime de internamento, excetuando-se

o dia da alta (Portaria n. 132/2009 de 30 de janeiro de 2009).

Episdio normal: Episdio cujo tempo de internamento se situa entre o limiar inferior de exceo e o

limiar mximo de exceo do GDH a que pertence (Portaria n. 132/2009 de 30 de janeiro de 2009).

Fonte: Microrganismos que provocam Infeo podem ter origem no prprio doente (endgenas) ou

resultarem da transmisso de microrganismos de uma fonte externa ao doente. Posteriormente foi

introduzido o termo de fonte endgena secundria (autgena) para as situaes em que

2 www.acss.min-

saude.pt/Portals/0/C%C3%A1lculo%20do%20doente%20equivalente%20e%20ICM_2009_Final.pdf

http://portalcodgdh.min-saude.pt/index.php/Altahttp://portalcodgdh.min-saude.pt/index.php/Servi%C3%A7o_de_internamento

CONCEITOS

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 xiii

microrganismos externos colonizam o doente e posteriormente provocam Infeo. As caractersticas

microbiolgicas do microrganismo podem por vezes ajudar a fazer a distino (Rodrigues, 2008).

Gravidade ou Severidade: Probabilidade de morte ou falncia de um rgo (Thomas; Ashcraft e

Zimmerman; Costa; Iezzoni cit. por Costa e Lopes, 2005).

Grande Categoria de Diagnstico: Grupos de Diagnsticos Homogneos (GDH) so organizados por

Grandes Categorias de Diagnstico (GCD), exclusivas entre si e que correspondem a um sistema

orgnico ou etiologia estando, geralmente, associadas a uma especialidade mdica em particular. A

diviso em Grande Categoria de Diagnstico (GCD) o primeiro passo no agrupamento dos episdios

de Grupos de Diagnsticos Homogneos (GDH) fazendo-se de acordo com o diagnstico principal

(Portal de Codificao de GDH)3.

Hospital Universitrio: Hospital que tem ensino e que est ligado a uma universidade (Portal de

Codificao e dos GDH).

ndice de Case-mix: Valor que expressa a diversidade dos casos tratados em cada hospital (Lichtig cit.

por Costa, 2011).

Infeo Associada aos Cuidados de Sade (IACS): Conceito alargado de Infeo adquirida pelos

utentes e profissionais, associada prestao de cuidados, onde quer que estes sejam prestados e

independentemente do nvel dos mesmos (agudos, reabilitao, ambulatrio, domicilirios)

(PNPCIACS, 2008).

Infeo: Permanncia no organismo de um micro-organismo estranho (bactria, fungo, parasita ou

vrus) capaz de se multiplicar e provocar doenas ou alteraes patolgicas de maior ou menor

gravidade (Infopdia).

Infeo endgena: Infeo devida a um micro-organismo j existente no organismo, e que, por

qualquer razo, se torna patognico (Infopdia).

Infeo exgena: Infeo provocada por micro-organismos provenientes do exterior (Infopdia).

Infeo nosocomial: Infeo adquirida em meio hospitalar (Infopdia).

3 http://portalcodgdh.min-saude.pt/index.php/Grandes_Categorias_Diagn%C3%B3sticas_%28GCD%29

http://portalcodgdh.min-saude.pt/index.php/Grupos_de_Diagn%C3%B3sticos_Homog%C3%A9neos_%28GDH%29http://portalcodgdh.min-saude.pt/index.php/Grupos_de_Diagn%C3%B3sticos_Homog%C3%A9neos_%28GDH%29

CONCEITOS

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 xiv

Infeo Prevenvel: Em geral, relacionadas com o uso de equipamentos ou procedimentos

especficos e apresentam na sua origem de um evento que poderia ter sido diferente ou alterado,

evitando, assim, o seu aparecimento (Wenzel, 1981).

Peso relativo do GDH: Coeficiente de ponderao que reflete o custo esperado de tratar um doente

tpico desse GDH, expresso em termos relativos face ao custo mdio do doente nacional, que tem,

por definio, um coeficiente de ponderao de 1.0 (ACSS, 2006).

Programa Nacional de Preveno e Controlo da Infeo Associada aos Cuidados de Sade (PNCI):

Programa concertado de interveno a nvel nacional, proposto pela Direo-Geral da Sade, para

aplicao nas unidades de sade, com o objetivo global de prevenir e controlar as infees

associadas aos cuidados de sade. Deve abranger as seguintes vertentes de interveno: vigilncia

epidemiolgica, elaborao e divulgao de normas de boas prticas clnicas, formao e

consultadoria, definindo objetivos, metas, estratgias, intervenientes, nveis de responsabilidade,

temporalidade e metodologias de avaliao (PNPCIACS, 2008).

Reservatrio: Local onde o microrganismo se mantm, metaboliza e multiplica. Todos os

microrganismos tm o seu reservatrio prprio e as medidas de preveno devem ser dirigidos a ele

em primeiro lugar. Os vrus tm em geral reservatrios humanos assim como as bactrias gram

positivas. Os gram negativos podem ter reservatrios humanos, animais e ambientais (Rodrigues,

2008).

Servio domicilirio: Conjunto de recursos destinados a prestar cuidados de sade, a pessoas

doentes ou invlidas, no seu domiclio, em lares ou instituies afins (Portaria n. 132/2009 de 30 de

janeiro de 2009).

SIGIC: Sistema Integrado de Gesto de Inscritos em Cirurgia (SIGIC) foi criado em 2004 com o

objetivo de minimizar o perodo que decorre entre o momento em que um doente encaminhado

para uma cirurgia e a realizao da mesma, garantindo, de uma forma progressiva, que o tratamento

cirrgico decorra dentro do tempo clinicamente admissvel, dando resposta tradicional falta de

informao relativa s listas de espera cirrgicas (Portal de Codificao de GDH)4.

Sistema de Classificao de Doentes em Grupos de Diagnsticos Homogneos (GDH): Sistema de

classificao de episdios agudos de doena tratados em internamento, que permite definir

operacionalmente a produo de um hospital. Os GDH so definidos em termos das seguintes

4 http://portalcodgdh.min-saude.pt/index.php/Sistema_Integrado_de_Gest%C3%A3o_de_Inscritos_para_Cirurgia_%28SIGIC%29

CONCEITOS

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 xv

variveis: diagnstico principal, intervenes cirrgicas, patologias associadas e complicaes,

procedimentos clnicos realizados, idade, sexo do doente, destino aps a alta e peso nascena. Os

grupos foram concebidos de modo a serem coerentes do ponto de vista clnico e homogneos em

termos de consumo de recursos. Os diagnsticos, intervenes cirrgicas e outros atos mdicos

relevantes so codificados de acordo com a Codificao Internacional das Doenas, 9. reviso,

Modificao Clnica (CID -9 -MC). A tabela tem por base o agrupador de GDH, All Patients DRG,

verso 21.0, desenvolvido nos EUA, cuja verso correspondente da CID-9-MC a do ano 2004.

obrigatria a utilizao deste agrupador para efeitos de classificao de episdios agudos de doena

tratados nas instituies referidas no n. 1 do artigo 2. Para efeitos de codificao necessria a

utilizao da verso da CID -9 -MC do ano 2004 ou de anos posteriores, devendo os hospitais optar

pela utilizao da verso mais recente disponvel (Portaria n. 132/2009 de 30 de janeiro de 2009).

Durao de internamento: Total de dias utilizados por todos os doentes internados nos diversos

servios de um estabelecimento de sade com internamento num perodo, excetuando os dias das

altas dos mesmos doentes nesse estabelecimento de sade (Portaria n. 132/2009 de 30 de janeiro

de 2009).

I Introduo 1. Importncia do tema

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 1 -

I - Introduo

O trabalho incidir sobre as infees hospitalares, mais especificamente no impacte que a

Pneumonia tem na sade e nos custos para a sociedade.

1. Importncia do tema

A prestao de cuidados de sade , atualmente, uma rea de grande complexidade e em constante

transio (P. Barros cit. por Serranheira , 2010), em particular porque se trata de um sistema scio -

tcnico onde interagem mltiplos atores (profissionais de sade e outros, doentes e seus familiares

ou amigos). A esse contexto acrescem ainda as orientaes da prestao de cuidados, hoje centradas

no cidado e que visam, cada vez mais, aumentar a sua participao, responsabilizando-o e

atribuindo-lhe um papel mais ativo na gesto da sua sade (L. Lapo cit. por Serranheira , 2010).

A complexidade das organizaes de sade um fato inegvel. Nesse contexto, fundamental que

se perscrutem todos os potenciais problemas/incidentes/acontecimentos imprevistos/adversidades,

no sentido de os documentar num processo de classificao adequado realidade, que permita

aprender e agir por antecipao. Martins cit. por Ferreira (2010) refere que os hospitais so

instituies onde os avanos cientficos so utilizados para fornecer aos pacientes os servios

diagnsticos e teraputicos mais atualizados. Mas a aplicao de tecnologia no isenta de riscos,

estando as infees hospitalares entre os mais antigos dessas organizaes.

Segundo Bennet e Brachman cit. por Martins; Franco; Duarte, (2007) a Infeo Hospitalar (IH) um

dos maiores problemas de Sade pblica dos hospitais em todo o mundo, pelo impacte que as

infees apresentam sobre os doentes, profissionais, famlia e comunidade. Constituem um

problema de Sade pblica de grande transcendncia, tanto para doentes, por afetar um grande

nmero deles, como para a sociedade, pelas considerveis consequncias que delas derivam.

Podem-se apontar como principais causas: um maior nmero de pessoas em condies de

aglomerao (nmero de pessoas/espao); uma maior frequncia de alteraes da imunidade (idade,

doena, tratamentos); novos micro-organismos e aumento da resistncia bacteriana aos antibiticos

(Dulcel cit. por Rodrigues, 2008).

Para Paterson cit. por Santos (2006), cada progresso mdico traz consigo, virtualmente, um efeito

indesejvel nos mecanismos de defesa do hospedeiro. Alm disso, o desenvolvimento extraordinrio

da tecnologia mdica, com aumento da sobrevida de pacientes graves e da expectativa de vida,

proporcionou expressivo aumento na sobrevida.

I Introduo 1. Importncia do tema

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 2 -

Tambm Lacerda cit. por Santos (2006), afirma que a histria da ocorrncia das IHs, o seu conceito e

as prticas de preveno e controlo mantm uma relao estreita com a prpria histria da ateno

dada sade. A compreenso da dinmica de aquisio de IHs tem vindo a evoluir desde que foram

criados os primeiros hospitais, na Idade Mdia.

As caractersticas de manifestao, assim como os fatores de risco e causalidade, modificaram-se

com a evoluo das concees dominantes sobre o processo sade-doena na sociedade ocidental e

com as formas de insero e de interveno nos servios de sade.

Para Australia cit. por Santana (2005), a varivel utilizada para medir o consumo de recursos a

durao de internamento, tornando-se, portanto, o fator-chave para os ganhos e perdas ao nvel do

financiamento. Visto que a cada produto corresponde uma durao de internamento prevista, esta

pode ser encarada no apenas como uma indicao do consumo de recursos, mas tambm como

uma medida de eficincia (Stephan e Smith cit. por Santana, 2005), pois permite efetuar

comparaes entre valores esperados e observados, resultando dessa comparao situaes de

ganho ou perda ao nvel do financiamento. Stephan e Smith cit. por Santana (2005), referem ainda a

possibilidade de se afirmar que uma diminuio da durao de internamento poder provocar uma

reduo nos custos por episdio de internamento e consecutivamente um aumento de eficincia,

coeteris paribus5.

5 todo o mais constante

I Introduo 2. Estrutura do Trabalho

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 3 -

2. Estrutura do Trabalho

Para melhor compreender a organizao deste estudo, o presente documento encontra-se dividido

em nove captulos. A sua organizao foi estruturada de uma forma sequencial onde referida a

importncia do tema, os objetivos gerais e especficos, a metodologia, os resultados alcanados,

adiscusso dos principais aspetos da metodologia utilizada, dos resultados obtidos e por ltimo, a

concluso onde se resumem as dedues mais importantes do estudo.

Daqui resulta um Trabalho com a seguinte estrutura:

Captulo I: Introduo neste captulo apresenta-se de uma forma resumida o tema que ser

estudado, explica-se os motivos da realizao do estudo e destaca-se a sua importncia. Tambm

se descreve sumariamente a estrutura do trabalho.

Captulo II: Enquadramento terico consiste na reviso da literatura da temtica sobre a qual

ir incidir o trabalho. Os temas abordados so: a Produo Hospitalar e os Custos, a Infeo

Hospitalar, a Pneumonia e o Controlo e Preveno das Infees Hospitalares.

Captulo III: Objetivos neste captulo apresentam-se os propsitos do estudo que nortearo o

desenvolvimento do trabalho. Os objetivos dividem-se em objetivo geral e objetivos especficos.

Captulo IV: Metodologia descrio completa dos procedimentos metodolgicos que permitem

justificar, em funo do problema de investigao e dos objetivos definidos, a qualidade

cientfica dos dados obtidos. Foi necessrio dividir este captulo em cinco subcaptulos: Fonte de

dados, Populao em estudo, Variveis, Plano de anlise de dados e Tratamento de dados.

Captulo V: Caracterizao da Populao em estudo apresenta-se uma caracterizao e

descrio da populao em estudo, divide-se em Caracterizao da Populao Inicial e

Caracterizao da Populao com e sem Pneumonia.

Captulo VI: Resultados expem-se os resultados obtidos atravs da metodologia usada e luz

do que a reviso da literatura refere.

Captulo VII: Discusso este captulo divide-se em Discusso Metodolgica e Discusso de

Resultados. Na primeira parte, analisa-se as opes metodolgicas adotadas para a realizao

deste estudo. Na Discusso de Resultados pretende-se discutir, interpretar e analisar os mesmos,

I Introduo 2. Estrutura do Trabalho

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 4 -

tendo em vista demonstrar que as hipteses foram verificadas e que os objetivos propostos

foram atingidos.

Captulo VIII: Recomendaes este captulo refere algumas limitaes encontradas ao longo da

realizao do estudo e faz-se recomendaes para trabalhos futuros, visando continuar a linha

de pesquisa desenvolvida por este trabalho.

Captulo IX: Concluses sntese do assunto que foi defendido na discusso e ao longo do

trabalho.

II Enquadramento terico 1. Produo Hospitalar e Custos

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 5 -

II - Enquadramento terico

1. Produo Hospitalar e Custos

Entendendo a organizao como o local onde se estabelecem decises em funo das atividades

produtivas (Friedman; Lipsey e Steiner, cit. por Hornbrook, 1982), o hospital pode ser encarado de

duas formas (Hornbrook, 1982). Como uma organizao constituda por uma variedade de

departamentos que produzem produtos distintos (hoteleiros ou de meios complementares de

diagnstico e teraputica, por exemplo) para os responsveis pelo tratamento (mdicos), ou como

uma organizao em que os proprietrios, administradores e prestadores so conjuntamente

responsveis pela produo de cuidados de sade.

Na primeira situao, o produto o servio, enquanto na segunda alternativa o caso tratado

(episdio) o produto do hospital.

A conjugao destas questes permite identificar o caso tratado (episdio) como o produto relevante

do hospital, designadamente em funo das preferncias dos consumidores, os quais privilegiam o

resultado final do tratamento, em detrimento da quantidade dos produtos intermdios (meios

complementares de diagnstico e teraputica, por exemplo) que lhe so disponibilizados

(Hornbrook, 1982).

A Infeo nosocomial constitui uma realidade atual e assustadora, representando cada vez mais um

problema de sade a que as instituies de sade e os seus profissionais devem prestar particular

ateno, por todos os custos que envolve, quer econmicos, quer sociais e psicolgicos (Palma et al.,

cit por Lima, 2008).

J h algum tempo que a escassez de recursos financeiros tem requerido dos administradores e dos

profissionais de sade uma especial ateno, procurando a eficcia do tratamento ao menor custo

possvel. Em doentes com Infeo hospitalar, os custos adicionais na prestao de cuidados so

bastante avultados e tm vindo a ser alvo de preocupaes acrescidas, em vrios pases, pela presso

crescente que se tem vindo a sentir num apelo reduo de custos com este tipo de complicaes.

Os hospitais constituem lugares onde o risco de Infeo muito elevado devido existncia de uma

flora diversificada e da permanncia de utentes/doentes em situao debilitada muito suscetveis ao

desenvolvimento da Infeo, mas, para alm disso, comea a existir uma preocupao a nvel

II Enquadramento terico 1. Produo Hospitalar e Custos

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 6 -

mundial no que se refere resistncia antimicrobiana sendo esta um sinal evidente de alerta de que

no se tem levado a srio a ameaa das doenas infeciosas.

A Infeo hospitalar causa uma complicao social e humana importante, e muitas das suas

consequncias no so mensurveis nem valorizveis economicamente, tais como o sofrimento e a

dor, e estas so uma preocupao tanto do doente como da sua famlia. Absentismo laboral e

transmisses posteriores so outras das consequncias desta Infeo. Estas so consideradas como

custos intangveis e indiretos (Rodriguez-Rumayor et al., cit. por Martins; Franco; Duarte, 2007).

Cit. por Martins; Franco; Duarte (2007), Garca-Rodrguez afirma que a Infeo hospitalar constitui

um tema de extraordinria qualidade pela sua incidncia, gravidade e repercusso econmica.

De fato, decorrem das infees hospitalares custos que so normalmente elevados, quer para o

hospital quer para os doentes, refletindo-se em geral sobre a sociedade. Os doentes so afetados

pela aquisio de uma nova patologia que leva ao prolongamento do internamento, ao aumento da

demora mdia, ao aumento de atos, de meios complementares de diagnstico e teraputica, e de

medicamentos, como consequncias das infees hospitalares que elevam os custos institucionais

(Martins cit. por Rezende, 2005). As infees hospitalares/nosocomiais so um problema importante,

pois retardam a recuperao do doente, aumentam a durao do internamento ou do origem

readmisso no hospital, com consequncias econmicas bvias.

Os avanos da tecnologia permitem hoje tratar muitos pacientes de doenas antes consideradas

fatais, havendo, por outro lado, uma proporo crescente de cuidados de sade prestados na

comunidade, e no no hospital (Wilson cit. por Lima 2008). O impacte das infees hospitalares

verifica-se a vrios nveis, sendo mesmo consideradas uma das principais causas de morte. Estas

agravam a incapacidade funcional, o sofrimento e o stress emocional do doente e podem, nalguns

casos, levar a situaes que diminuem a sua qualidade de vida. Os seus custos econmicos so

considerveis, sendo o prolongamento do internamento o que mais contribui para esse fato.

O prolongamento dos internamentos, no s aumenta os custos diretos dos doentes ou dos

pagadores, como tambm os custos indiretos devidos perda de produtividade. Da mesma forma, o

aumento da utilizao de frmacos, a necessidade de isolamento e o recurso a posteriores estudos

laboratoriais e outros meios de diagnstico tambm contribuem para aumentar os custos (Ducel et

al.; Alves et al., cit. por Lima 2008). Segundo os mesmos autores, a Infeo nosocomial favorece o

desequilbrio entre os recursos atribudos aos cuidados primrios e secundrios de sade, atravs do

desvio de fundos, j de si escassos, para a gesto de problemas potencialmente evitveis.

II Enquadramento terico 1. Produo Hospitalar e Custos

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 7 -

Nos Estados Unidos, alguns autores estimam que, em relao s infees nosocomiais, surgem 300

mil casos de spsis anualmente e cerca de 200 mil de Pneumonia, que resultam num acrscimo de

2.3 milhes dias de hospitalizao, $8100 milhes em custos hospitalares diretos e 48 mil mortes

atribuveis s infees. Alm disso, 80 mil casos de bacteriemia6 associada ao cateter venoso central,

causam 28 mil mortes e acarretam um custo de $2.3 mil milhes. As infees da ferida cirrgica

conduzem a um importante aumento da mortalidade, morbilidade e custos (durante o internamento

e nos meses seguintes, pela maior necessidade de cuidados). Embora os nmeros sejam diferentes

consoante o local do corpo em que se intervm, globalmente, causam uma mortalidade,

aproximadamente duas vezes maior. Estima-se que, na Unio Europeia, 4 milhes de doentes

adquirem uma Infeo nosocomial, resultando em cerca de 35 a 50 mil mortes. Segundo dados do

Instituto Nacional de Estatstica (2007), as despesas correntes em cuidados de sade em Portugal

atingiram cerca de 14 449 milhes de euros em 2005. Em 2001, este valor situava-se

aproximadamente em 10 928 milhes de euros, o que significa um crescimento mdio anual de 7,2%.

Os hospitais representaram uma fatia considervel do valor de 2005 (38%; 5481 milhes), dos quais

cerca de 3185 milhes (58%) foram aplicados no internamento.

Plowman et al., (1999), concluram que a nvel de custos hospitalares, os doentes com uma Infeo

hospitalar durante o internamento tiveram, em mdia, um internamento 2,5 vezes superior aos que

no tiveram Infeo, ou seja, equivalente a mais 11 dias por caso. Tiveram tambm, custos 2,8 vezes

superiores aos no infetados.

Atualmente, devido globalizao da economia, a racionalizao de custos passou a ser uma

vantagem competitiva das empresas, devendo fazer parte de sua estratgia. Para isso, os velhos

conceitos da contabilidade de custos devem ser substitudos por novos conceitos. A perseguio do

menor custo, sem afetar a funcionalidade e a qualidade dos produtos/ servios, deve ser um objetivo

permanente nas organizaes que procuram a excelncia empresarial.

Abordar a questo econmica quando se trata de sade, especificamente de vidas humanas,

indubitavelmente algo bastante delicado.

Por ano, gastam-se bilies de euros no desenvolvimento de novas drogas para o tratamento de

infees, quando na realidade se pode prevenir a multirresistncia de microrganismos atravs da

aplicao de uma poltica correta do uso de antimicrobianos. Neste contexto, acentua-se a

necessidade de investigar os resultados em sade proporcionados pelo internamento hospitalar,

bem como a eficincia na utilizao deste tipo de cuidados de sade.

6 Bacteriemia a presena de bactrias viveis na corrente sangunea.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 8 -

2. Infeo Hospitalar

Etimologicamente, a palavra hospital vem do latim medieval hospitale (lugar onde se recebem

pessoas que necessitam de cuidados, alojamento, hospedaria), do latim hospitalis, relativo a

hospites, hspedes ou convidados (Graa cit. por Lima, 2008). Na realidade, o que ir caracterizar o

hospital moderno ser, sobretudo, a rutura conceptual, ou seja, a evoluo do conceito primordial de

hospitalidade e caridade para com os pobres, como irmos de Cristo, para um outro conceito

consideravelmente oposto, de prestao tcnica de cuidados de sade.

As organizaes de sade, segundo Chiavenato cit. por Lima (2008), esto sujeitas a numerosas e

mutveis influncias, nomeadamente: demogrficas e de mobilidade, econmico-financeiras, sociais

e culturais, legislativas, tecnolgicas e funcionais. Constata-se assim, que os servios de sade, e os

hospitais em particular, constituem organizaes bastante peculiares, concebidas quase

exclusivamente em funo das necessidades dos utentes, na medida em que, embora constituam um

espao de normalizaes e prescries, jamais podero ser vistos como limitados a esse aspeto, uma

vez que deve ser tida em considerao a sua constante variabilidade.

Continuamente, Kunin (1997), define uma Infeo nosocomial, tambm chamada Infeo adquirida

no hospital ou Infeo hospitalar, como uma Infeo adquirida no hospital por um doente que foi

internado por outra razo que no essa Infeo ( uma Infeo que ocorre num doente internado

num hospital, ou noutra instituio de sade, e que no estava presente, nem em incubao data

da admisso). Esto includas as infees adquiridas no hospital que se detetam aps a alta, assim

como infees ocupacionais nos profissionais de sade (CDC guideline, 1983).

Segundo o Conselho da Europa cit. por Amaral (1994), a Infeo hospitalar deve ser entendida como

toda a doena contrada no hospital devido a microrganismos, clnica ou microbiologicamente

reconhecida, que afeta tanto o doente pelo fato da sua admisso no hospital ou pelos cuidados que

a recebe enquanto hospitalizado ou em tratamento ambulatrio, como tambm o pessoal hospitalar

devido sua atividade, quer os sintomas da doena apaream ou no durante o tempo em que o

interessado se encontra no hospital. Para Martins cit. por Rezende (2005), todas as infees que

surjam em consequncia do internamento que no estavam presentes ou em perodo de incubao

na altura da admisso enquadram-se no conceito de Infeo hospitalar.

Segundo critrios do Centers for Diseases Control and Prevention (CDC, Estados Unidos da Amrica)

Infeo nosocomial uma situao localizada ou sistmica que resulta de uma reAo adversa da

presena de agente(s) infecioso(s) ou a(s) sua(s) toxina(s) e que no estava presente ou em

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 9 -

incubao na altura da admisso no hospital. Mudanas na organizao/prestao de cuidados de

sade tm levado a internamentos mais curtos e ao aumento da prestao de cuidados no

ambulatrio. Desta forma, foi sugerido que o termo Infeo nosocomial deveria abranger as infees

que ocorrem em doentes tratados em qualquer instituio de sade, assim como aquelas adquiridas

pelo pessoal do hospital ou de outra instituio, ou at pelas visitas (Ducel et al., cit. por Lima 2008).

Para Boas cit. por Silva (2007), Infeo nosocomial ou hospitalar uma Infeo adquirida aps o

internamento, que se manifesta durante o internamento ou aps a alta. H relao com intervenes

hospitalares de diagnstico ou de tratamento quando, na mesma topografia7 em que foi

diagnosticada Infeo comunitria, foi isolado um microrganismo diferente, seguido do agravamento

das condies clnicas do doente.

Hoje em dia, a definio de Infeo nosocomial tem um conceito mais abrangente e engloba os

cuidados de sade primrios (Centros de Sade, Lares de Idosos, Cuidados Domicilirios).

Para o Conselho da Europa, a Infeo hospitalar ou nosocomial atinge o doente internado e o pessoal

hospitalar, passando de uns para outros (Infeo cruzada) diretamente ou por contgio indireto,

especialmente pelos atos mdicos e aes sanitrias.

Numa perspetiva mais prtica, pode considerar-se como Infeo nosocomial toda a Infeo que

ocorre como consequncia do internamento no hospital ou de um tratamento a recebido, podendo

manifestar-se durante o tratamento ou aps a alta.

Uma Infeo nosocomial no afeta apenas os doentes, pois, qualquer pessoa que frequente o

hospital como trabalhador ou como visita, corre esse risco (Tavares et al., cit. por Lima 2008).

Segundo Taylor (1991), o problema da Infeo hospitalar torna-se to mais relevante quanto maiores

forem as suas consequncias. Taylor (1991), refere um estudo de prevalncia conduzido pela

Organizao Mundial de Sade (1986), onde se conclui que, por dia, em todo o mundo, cerca de um

milho de utentes internados contraem uma Infeo hospitalar.

Para a maioria das infees nosocomiais bacterianas isto significa que a Infeo geralmente se torna

evidente 48 horas, ou mais, aps a admisso. Contudo, como o perodo de incubao varia com o

tipo de agente e, em certa medida, com a doena subjacente ao doente, cada Infeo deve ser

avaliada individualmente para se verificar se h evidncia de associao com o internamento

7 Descrio anatmica.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 10 -

hospitalar. Assim sendo, as infees que se manifestam mais de 48 horas depois do internamento

costumam considerar-se nosocomiais (PNCI 2003).

Recentemente, introduziu-se o conceito de Infeo Associada aos Cuidados de Sade (IACS) sendo

definida como uma Infeo adquirida pelos doentes em consequncia dos cuidados e procedimentos

de sade prestados e que pode, tambm, afetar os profissionais de sade durante o exerccio da sua

atividade. Este conceito de IACS torna-se mais vasto relativamente designao de Infeo

Nosocomial (IN) anteriormente citada, uma vez que este ltimo excluiu, por exemplo o ambulatrio.

Assim sendo, a designao IACS refere-se a todas as unidades prestadoras de cuidados de sade,

dando nfase ao assegurar da comunicao e da articulao entre as diversas unidades de sade

(cuidados primrios, hospitalares e continuados), para a identificao destas infees a fim de se

reduzir o risco de Infeo cruzada (DGS cit. por Lima 2008). Segundo Silva (2008), no sendo um

problema novo, as IACs, assumem cada vez maior importncia em Portugal e no mundo, uma vez

que, medida que a esperana de vida aumenta e que se encontram ao dispor tecnologias cada vez

mais invasivas, bem como um maior nmero de doentes em teraputica imunossupressora, aumenta

tambm o risco de Infeo. Segundo a mesma autora, estudos internacionais revelam que cerca de

um tero das infees adquiridas no decurso da prestao de cuidados so seguramente evitveis.

As Infees Hospitalares (IH) existem desde que surgiram os hospitais (sculo XIX), devido elevada

incidncia de doenas epidmicas, que acometiam s comunidades pobres e, tambm, s precrias

condies de higiene e de saneamento em que vivia a populao (Moura et al., cit. por Ferreira,

2010). As infees em servios de sade representam, ainda hoje, um problema de abrangncia

mundial, constituindo uma das principais causas de morbilidade e mortalidade associadas a

procedimentos clnicos, diagnsticos e teraputicos prestados populao (Lacerda cit. por Lima,

2008). Para alm da magnitude relacionada com o utente, est presente a problemtica, de igual

importncia, do profissional de sade, que est exposto a um risco ocupacional permanente.

As caractersticas principais destas infees tm apresentado mudanas de acordo com o tipo de

assistncia mdica prestada ao longo do tempo. Assim, a Infeo adquirida no meio externo

(exgena), mais frequente nas dcadas de 50 e 60, foi suplantada pela importncia de germes

oportunistas da prpria flora do paciente, que se tornam patognicos na presena da depresso dos

seus mecanismos de defesa (Eickhoff cit. por Chor, 1990). Esta determinada pela doena bsica ou

por agresso diagnstica e teraputica relacionada com a ampla utilizao de procedimentos

diagnsticos invasivos e teraputicas imunodepressoras, que passaram a fazer parte da assistncia

hospitalar a partir dos anos 70.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 11 -

Foi na Idade Mdia que se iniciaram as suspeitas de que alguma coisa slida pudesse transmitir

doenas de um indivduo a outro (Fontana cit. por Ferreira, 2010).

Desde que existem os hospitais existem as infees hospitalares. Apesar de no existirem dados

registados, sabe-se que era elevada a incidncia de infees adquiridas no hospital medieval,

principalmente devido enorme prevalncia de doenas epidmicas na comunidade e s precrias

condies de higiene. No entanto, apenas na primeira metade do sculo XIX a questo da Infeo

hospitalar passou a ser uma preocupao dos profissionais de sade.

A elevada incidncia de doenas epidmicas que acometiam as comunidades pobres e, tambm, as

condies precrias de higiene e de saneamento em que vivia a populao, foram fatores decisivos

no irromper de tais infees.

At ao incio do sculo XX, as infees relacionadas com a assistncia sade estavam associadas

presena de pacientes com doenas contagiosas e ao desconhecimento das regras elementares de

higiene e assepsia. Dessa forma, a tuberculose, a difteria, a febre puerperal e as infees de feridas

eram os principais problemas.

O progresso da Medicina, especialmente em relao descoberta dos antibiticos e vacinas fez

pressupor que essas infees estariam hoje controladas e seriam um problema de menor

importncia. Porm, essa previso no se concretizou e todos os anos milhes de pessoas em todo o

mundo adquirem infees durante os cuidados em instituies de assistncia sade.

Estima-se que em pases desenvolvidos, 5 a 10% dos pacientes admitidos em hospitais adquirem pelo

menos uma Infeo hospitalar e em pases em desenvolvimento essa taxa pode ser superior a 25%

(Pittet et al., cit. por Corra, 2008). Em meados do sculo XIX, Oliver Wendell Holmes, nos Estados

Unidos, e Ignaz Philip Semmelweis, na Europa, estabeleceram as bases para a compreenso da

aquisio da febre puerperal e dos riscos da hospitalizao para as parturientes. Holmes, em 1840

responsabilizou os obstetras pela disseminao das infees entre purperas, com base em

observaes clnicas (Eickhoff cit. por Chor, 1990). Semmelweis, em 1847, concluiu um estudo

epidemiolgico sobre a correlao entre a assistncia mdica e um maior risco de contrair a febre

puerperal, onde comparou a ocorrncia de bitos entre gestantes atendidas por obstetras e entre

aquelas auxiliadas por parteiras. O primeiro grupo apresentou at trs vezes mais bitos e dez vezes

mais infees que o segundo (Pedrosa cit. por Santos, 2006).

Mais que isto, Semmelweis, com base nas suas observaes clnicas e epidemiolgicas, desenvolveu

a hiptese da transmisso da febre pelas mos dos mdicos e estudantes, que transportariam

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 12 -

partculas cadavricas das salas de autpsia para as pacientes (La Force cit. por Santos, 2006). A

hiptese foi substanciada pela reduo na ocorrncia dessas infees, no Hospital Geral de Viena, de

18,3% em abril, para 1,2% em dezembro de 1847, quando obstetras e estudantes foram obrigados a

lavar as mos com soluo clorada, antes do atenderem as gestantes (Cline cit. por Santos, 2006).

Vrios outros contriburam para a evoluo da preveno das infees hospitalares. Florence

Nightgale, a partir de 1858, destacou-se pelos seus esforos na melhoria da organizao e da higiene

dos hospitais de campanha, que culminaram na reduo importante da mortalidade de soldados

ingleses durante a guerra da Crimeia (Shaffer cit. por Santos, 2006). Outra grande contribuio de

Nightgale, para a organizao dos hospitais, foi a criao da Escola de Enfermeiras Saint Thomas, em

Londres, em 1860. Isto marcou o incio da consolidao da enfermagem moderna, com introduo da

organizao, mtodo e lgica racional no trabalho da enfermagem, mas mantendo a postura de

abnegao e sacrifcio das irms de caridade (Pereira Neto cit. por Santos, 2006).

Com o avano do conhecimento sobre o corpo, com maior domnio da anatomia, fisiologia,

mecnica, etc., as intervenes invasivas tambm evoluram, principalmente as cirurgias. A partir da,

o controlo do meio no se mostrou suficiente para evitar uma nova forma de Infeo que comeou a

surgir a partir da introduo desses procedimentos (Lacerda cit. por Santos, 2006).As infees

deixaram de ter apenas etiologia exgena e passaram a ter origem, tambm, na microbiota da

topografia corporal onde ouve a interrupo dos mecanismos de defesa. No caso das cirurgias, alm

das fontes ambientais (equipa, instrumentos etc.), tambm a pele do paciente passou a ter

importncia na etiopatogenia das IHs (Zanon cit. por Santos, 2006).

A utilizao de medicamentos antimicrobianos sistmicos em larga escala, iniciada na dcada de

1940, possibilitou o tratamento das doenas infeciosas e a reduo das infees em pacientes

hospitalizados (Haley cit. por Santos, 2006). Pensava-se que os problemas com as infees tinham os

dias contados. No entanto na mesma poca, foi constatada a inevitabilidade do surgimento de

resistncia a estes medicamentos. Microrganismos resistentes aos antimicrobianos surgiram

inicialmente nos hospitais, local de maior uso de antimicrobianos (Levy cit. por Santos, 2006). Na

dcada de 1930, os hospitais militares depararam-se com Streptoccoccus pyogenes resistentes a

sulfonamida, medicamento muito utilizado nas feridas infetadas (Levy cit. por Santos, 2006). Da

mesma forma, a resistncia do Mycobacterium tuberculosis estreptomicina deu-se pouco depois da

introduo deste medicamento no mercado (Crofton cit. por Santos, 2006).

Na dcada de 1940, aturdia pelas infees por Staphylococcus aureus nos hospitais, a comunidade

mdica recebeu com grande entusiasmo os medicamentos antimicrobianos. Inevitavelmente, logo

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 13 -

aps o incio do uso da penicilina, no incio da mesma dcada, os hospitais confrontaram-se com a

emergncia da resistncia dos Staphylococcus aureus a este antimicrobiano (Barber cit. por Santos,

2006). J em meados da dcada de 1950, surtos de infees por estafilococos resistentes foram

identificados praticamente no mundo inteiro, caracterizando assim o fenmeno da resistncia como

uma pandemia (Haley cit. por Santos, 2006).

Mais tarde, na dcada de 1960, novos microrganismos, especialmente as bactrias Gram negativos e

os fungos, vo substituindo os estafilococos como agentes das infees nos hospitais. Porm, o

problema da resistncia persiste (Selwyn cit. por Santos, 2006).

Condies sanitrias insatisfatrias e disponibilidade de antimicrobianos sem receita mdica,

favoreceram o aumento vertiginoso da resistncia nos pases em desenvolvimento, cujos oramentos

para a sade reduzidos, impossibilitaram tratamentos racionais e o acesso a novas drogas mais

potentes (Levy cit. por Santos, 2006).

A maioria dos estudos sobre infees nosocomiais incidem sobre doentes internados em Unidades

de Cuidados Intensivos (UCI). Os doentes internados nestas unidades, apesar de representarem,

normalmente, uma pequena parte dos doentes internados num hospital, proporcionam informao,

em quantidade e qualidade, tima para o desenvolvimento destes estudos devido s suas patologias

e exposio a um maior nmero de dispositivos e tcnicas invasivas.

A Infeo nosocomial (IN) comum a todo o mundo, tanto aos pases desenvolvidos como aos pases

pobres, estando estas infees entre as mais importantes causas de morte e aumento da

morbilidade nos doentes hospitalizados, o que faz com que sejam consideradas, um peso

significativo tanto para os doentes como para a sade pblica. Um estudo de prevalncia, sob alada

da Organizao Mundial de Sade (OMS), em 55 hospitais de 14 pases representativos de 4 regies

da OMS, revelou que aproximadamente 8,7% dos doentes hospitalizados apresentavam infees

nosocomiais (Tikhomirov cit. por Rodrigues, 2008). A frequncia mxima de infees nosocomiais foi

notificada por hospitais das regies do Mediterrneo Oriental e da sia Oriental (11,8 e 10,0%,

respetivamente), com uma prevalncia de 7,7 e de 9,0%, respetivamente, nas regies da Europa e do

Pacfico Ocidental (Mayon-White cit. por Rodrigues, 2008). Vrios estudos estimam taxas de Infeo

nosocomial que rondam os 10% (RT; Vaqu; Javaloyas, Vilella, cit. por Rodrigues, 2008).

Pina, cit. por Lima (2008), refere que, nos estudos efetuados em 1988 e 1993, cerca de 10% dos

doentes internados nos hospitais portugueses adquiriram uma Infeo nosocomial.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 14 -

A Infeo nosocomial constitui um dos principais problemas sanitrios mais frequentes nos pases

desenvolvidos, onde os nmeros de incidncia globais oscilam entre 4 e 9 casos por cada 100

internamentos hospitalares (Eggimann; Pittet, cit. por Rodrigues, 2008).

De acordo com dados recolhidos pelo CDC, as taxas de Infeo hospitalar diferem de pas para pas,

assim como de instituio para instituio, de acordo com os planos de preveno implementados,

apresentando variaes gerais de 1,7% em instituies mais pequenas e com internamentos curtos,

para 11% em instituies maiores, que prestam cuidados especialmente a doentes crnicos e por

consequncia apresentam perodos de internamento mais longos (Rebelo et al., cit. por Lima, 2008).

Na Europa, um estudo com doentes adultos, revelou uma taxa de Infeo nosocomial de 17,5%

(Dumpis cit. por Rodrigues, 2008). Enquanto num hospital universitrio em Inglaterra, doentes da

mesma faixa etria apresentaram uma taxa de Infeo nosocomial de 15% (Freeman cit. por

Rodrigues, 2008).

Num hospital universitrio em Portugal, o Hospital Geral de Santo Antnio, de acordo com os dados

da sua Comisso de Controlo de Infeo (CCI), a incidncia da Infeo hospitalar nas Unidades de

Medicina foi cerca de 15% na primeira metade da dcada de 1990, tendo diminudo para cerca de 8%

nos anos seguintes. Quanto taxa global de Infeo nosocomial, esta tem variado nos ltimos cinco

anos entre 16,4 e 17,6% em doentes internados (CCI cit. por Rodrigues, 2008).

A nvel europeu, os estudos apontam para uma prevalncia de 5 a 10 % de infees em doentes

hospitalizados (Humphreys cit. por Pina, 2010). Em toda a Unio Europeia estima-se que haver

aproximadamente 3 milhes de casos identificados anualmente com 50 000 mortes relacionadas

(Proux; Gerbier; Metzger cit. por Pina, 2010). Em Portugal, no Inqurito Nacional de Prevalncia de

Infeo realizado em maro de 2009 pelo Programa Nacional de Controlo de Infeo (PNCI-DGS) no

mbito da Campanha da Organizao Mundial da Sade Prticas Simples Salvam Vidas foram

estudados 21 459 doentes internados em 144 hospitais, tendo-se observado uma prevalncia de

11,03 % IACS em 9,8 % doentes hospitalizados (dados no publicados). Estima-se que as taxas de

incidncia so geralmente metade das taxas de prevalncia observadas. Isto significa que pelo menos

5 em cada 100 doentes tratados nos hospitais portugueses podero ter adquirido uma Infeo em

consequncia do seu internamento.

De aproximadamente 40 milhes de hospitalizaes por ano nos Estados Unidos da Amrica (EUA),

estima-se que 2 milhes de pacientes (cerca de 5 % do total) adquirem infees nosocomiais, sendo

que em 1995, aproximadamente 88 mil mortes foram relacionadas com infees hospitalares, e

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 15 -

totalizaram em um custo de 4,5 bilhes de dlares (Burton; Engelkirk cit. por Souza e Figueiredo,

2008). A nvel mundial, diariamente, cerca de 1,4 milhes de doentes adquiram infees nos

hospitais. Tambm nos EUA, cerca de 5-10% dos doentes hospitalizados desenvolvem Infeo

associada aos cuidados e sade (IACS) correspondendo a cerca de 2 milhes de IACS, a que se associa

uma mortalidade hospitalar de cerca de 100 000 mortes anuais (Klevens ; Edwards; Richards cit. por

Souza Dias, 2010).

Em Cuba, a incidncia de Infeo hospitalar variou com o tipo de instituio, de 4,8% nas

maternidades, 5,2% em hospitais peditricos, 6,5% em hospitais gerais at 11,8% nos hospitais

especializados (Organizao Pan-Americana da Sade, OMS, 2000).

Nos quadros seguintes, encontram-se resumidas algumas informaes relativas a diferentes estudos

sobre prevalncia de Infeo:

Regio

Prevalncia/

Taxa de Infeo de IH

Nvel

Global

Amrica Latina 11.4%

sia 11.4%

Europa 9.3%

EUA 8.7%

Canad 8.6%

Quadro 1. Estatsticas Globais

Fonte: Ferreira N. - Principais Infees Hospitalares que se desenvolvem nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e quais os procedimentos bsicos para evitar sua proliferao, 2010.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 16 -

Pas Prevalncia/

Taxa de IH

Ano do

estudo

Nvel Europeu

Dinamarca 9.0% 1979

Esccia 9.0% 1993/94

Espanha 9.9% 1990

Frana 6.3% 1986

Inglaterra 9.0% 1993/94

Irlanda 9.0% 1993/94

Itlia 6.8% 1983

Noruega 6.3% 1991

Pas de Gales 9.0% 1993/94

Portugal * 11.03% -

Sucia 15.5% 1975

Quadro 2. Estatsticas Europeias

Fonte: Organizao Pan-Americana da Sade, OMS, 2000.

*Pina, E. Infeo relacionada com a prestao de cuidados de sade: infees da corrente sangunea

(septicemia), 2010.

Pas Prevalncia/

Taxa de IH

Ano do

estudo

Amrica

Central /

Amrica do Sul

Buenos Aires 9.6%; 8.9% 1986; 1987

Chile 4.5% 1988

Mxico 15.0% -

Quadro 3. Estatsticas Amrica Central e Sul

Fonte: Organizao Pan-Americana da Sade, OMS, 2000.

Segundo Ducel et al., cit. por Lima (2008), as infees nosocomiais mais frequentes so as infees

da ferida cirrgica, as infees das vias urinrias e as infees das vias respiratrias inferiores8.

Segundo as recomendaes para preveno da Infeo do local cirrgico do Plano Nacional de

Controlo de Infeo (PNCI), o local cirrgico , conjuntamente com a Pneumonia, a Infeo urinria e

a bacteriemia relacionada com os cateteres vasculares centrais, uma das infees nosocomiais mais

frequentes (PNCI 2004, cit. por Lima, 2008). Para este autor, o estudo da OMS, assim como outros

estudos, demonstraram que a prevalncia das infees nosocomiais mais elevada em unidades de

8 rgos localizados na cavidade torcica: parte inferior da traqueia, brnquios, bronquolos, alvolos e pulmes. As camadas das pleuras e os msculos que formam a cavidade torcica tambm fazem parte do trato respiratrio inferior.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 17 -

cuidados intensivos e em servios cirrgicos e ortopdicos, sendo a taxa de Infeo maior em

doentes com aumento da suscetibilidade devido idade avanada, comorbilidade9 ou quimioterapia.

Nos inquritos de prevalncia efetuados em Portugal em 1988, 1993 e 2003, a Infeo do local

cirrgico representou, respetivamente, 20%, 16% e 13,03% das infees nosocomiais detetadas,

tendo sido o tipo de Infeo mais frequente nos servios de Cirurgia.

Em 1995, uma prevalncia de 20,6% foi descrita por Vincent et al. cit. por Rodrigues (2008), no

European Prevalence of Infection in Intensive Care study, que incluiu 10 038 doentes de 1 417

Unidades de Cuidados Intensivos Europeias. A Pneumonia foi a Infeo nosocomial mais comum

(46,9%), seguida pela Infeo do Trato respiratrio inferior (17,8%), infees da Trato urinrio

(17,6%) e sepsis confirmadas laboratorialmente (12%).

Nos EUA, a Infeo do trato respiratrio inferior (traquete, traqueobronquite, bronquite,

Pneumonia) responsvel por 13 a 18% de todas as infees nosocomiais e a principal causa de

morte por Infeo hospitalar (Rufino R., 2010).

Segundo Cavaleiro (2011), as infees mais frequentes so as ITUs (28%), seguidas das infees do

Trato respiratrio (25%) principalmente Pneumonia, infees da ferida cirrgica (17%), bacteriemia

(10%) e outras, destacando-se a diarreia associada ao C. difficile, sendo que metade das infees que

resultam na morte dos doentes so causadas por infees por bactrias multirresistentes.

As IACS tm sido abordadas de forma diversa de acordo com: o risco, a frequncia, a gravidade, a

mortalidade e os custos. Assim, embora as infees urinrias sejam as mais frequentes, as infees

da corrente sangunea e as Pneumonias esto associadas a maior mortalidade e custos.

A estadia prolongada dos doentes infetados nos hospitais constitui o fator que mais contribui para os

custos (Fortes e Ruiz; Rocha; Pittet; Taraara e Wenzel; Kirkland et al., cit. por Rodrigues, 2008).

Uma Infeo nosocomial acresce, em mdia, 5 a 10 dias ao perodo de internamento. Alm disso, os

gastos relacionados com procedimentos diagnsticos e teraputicos da Infeo nosocomial fazem

com que o custo seja elevado (Wenzel; Pittet e Wenzel cit. por Rodrigues, 2008).

O custo direto das infees hospitalares despendido no diagnstico e tratamento do doente que

adquire a Infeo, inclui internamento adicional, novos exames laboratoriais ou imagiolgicos, a

remunerao dos profissionais de sade, os gastos com material de isolamento, medicao e

9 Doena ou transtorno, presente ao mesmo tempo que a doena ou transtorno principal de um paciente.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 18 -

alimentao. Lnnroth cit. por Silva (2007), refere que data da publicao, o custo mdio de

desenvolvimento de um novo frmaco estava na ordem dos 500 milhes de euros e os incentivos

industriais pareciam insuficientes na transposio suficientemente rpida dessa barreira para

garantir o acesso continuado a medicamentos anti-infeciosos eficazes.

A escassez de recursos financeiros requer por parte dos administradores e dos profissionais de sade

uma ateno especial, na procura da eficcia do tratamento ao menor custo possvel. Em doentes

com Infeo hospitalar, os custos adicionais na prestao de cuidados so bastante avultados e tm

vindo a ser alvo de preocupaes acrescidas, em vrios pases, pela presso crescente que se tem

vindo a sentir num apelo reduo de custos com este tipo de complicaes.

De fato, decorrem das infees hospitalares custos que so normalmente elevados, quer para o

hospital quer para os doentes, refletindo-se em geral sobre a sociedade. Os doentes so afetados

pela aquisio de uma nova patologia que leva ao prolongamento do internamento, ao aumento da

demora mdia, ao aumento de atos, de meios complementares de diagnstico e teraputica e de

medicamentos, como consequncias das infees hospitalares que elevam os custos institucionais

pois retardam a recuperao do doente, aumentam a durao do internamento ou do origem

readmisso no hospital, com consequncias econmicas bvias (Martins cit. por Rezende, 2005). As

infees hospitalares/nosocomiais so um problema importante.

Quando se trata um doente com uma Infeo hospitalar pode vir a gastar-se trs vezes mais o valor

que a instituio disponibilizaria para resolver o problema base de internamento do doente (Wilson

cit. por Martins, 2007). Uma das razes que apontada para o desenvolvimento de infees

cirrgicas, prende-se com o tipo de cirurgia. Hernandez cit. por Martinset al. (2007), indica que, na

cirurgia programada, o risco de Infeo cirrgica menor do que na cirurgia urgente. Este tipo de

cirurgia com mais frequncia contaminada e efetuada com menor rigor que a cirurgia eletiva.

O aumento do tempo de internamento (dias) uma medida baseada em unidades facilmente

compreensvel pelos mdicos e gestores, que traduz ocupao de recursos sanitrios para tratar uma

complicao e, portanto, um custo de no qualidade. Fields cit. por Martins et al. (2007), refere que o

desenvolvimento de infees do local cirrgico leva ao aumento de ndices de novas hospitalizaes,

com um consequente e significativo aumento dos custos para uma Instituio hospitalar. Por esse

motivo, ressalta a importncia da vigilncia ps-alta, sem a qual os casos de Infeo seriam

subestimados.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 19 -

Para Plowman et al. (1999), os doentes, quando adquirem uma Infeo, acarretam cerca de trs

vezes mais custos do que os que no as adquirem. Estes custos adicionais (inerentes ao

prolongamento do internamento) incluem servios de hotelaria, lavandaria, cuidados mdicos e de

enfermagem, administrao de antibiticos, exames complementares de diagnstico, para alm de

outros que podem ser includos nos custos.

Ainda associado ao tempo de internamento, surge o que se designa por dias extra de internamento,

que resultam do prolongamento do tempo de internamento, quando se comparam os casos com

controlos em situaes patolgicas semelhantes. Bennet e Brachn cit. por Martins et al.(2007),

referem que, muita da literatura cientfica que versa a Infeo nosocomial unnime em referir as

seguintes consequncias prolongamento do internamento e custos adicionais.

Com base nos resultados obtidos num estudo de Martins et al., (2007), verificou-se que em doentes

com Infeo, o custo cerca de 2,5 vezes superior verificada em doentes sem Infeo, o que

origina um custo adicional de 2 186,41 euros, sendo que os maiores custos adicionais recaram sobre

a Unidade de Cuidados Intensivos (595,16 euros), Medicina Homens (426,77 euros) e Cirurgia

Homens (395,28 euros).

Estudos realizados nos Estados Unidos pelo Centro para Controlo de Doenas (CDC) de Atlanta

(atravs do Projeto SENIC - Study on the Efficacy of Nosocomial Infection Control) mostram que a

Infeo hospitalar prolonga a permanncia de um paciente no hospital em pelo menos 4 dias, ao

custo adicional de U$ 1.800,00. Para reduzir o problema, a Organizao Mundial de Sade

recomenda a adoo de polticas nacionais de preveno e controlo de Infeo hospitalar

estimulando a constituio de comisses de controlo de Infeo em todos os hospitais.

As infees hospitalares so as complicaes mais frequentes e importantes adquiridas por pacientes

hospitalizados. No Brasil, estima-se que 5% a 15% dos pacientes internados contraem alguma Infeo

hospitalar.

No h estimativas fidedignas do impacte mundial dessas infees. Mas estima-se que anualmente

nos Estados Unidos ocorrem cerca de dois milhes de infees relacionadas com a assistncia na

sade, sendo responsveis por 60.000 a 90.000 bitos e por cerca de 17 a 29 bilhes de dlares

(Corra, 2008). Cerca de 75% das infees que afetam pacientes hospitalizados so constitudas por

infees do trato urinrio, infees da corrente sangunea e do local cirrgico. As duas ltimas esto

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 20 -

especialmente associadas elevada morbimortalidade10, ao aumento de custos e ao prolongamento

significativo da estadia hospitalar.

Se a disponibilizao de informao sobre custos se revela fundamental para a gesto das

organizaes de sade, tambm a definio da metodologia adequada para a sua obteno

particularmente importante, pois dela dependem os graus de exatido e fiabilidade capazes de

influenciar os resultados obtidos e consequentemente as decises a tomar pelos responsveis.

Tratando-se de vidas humanas no fcil fazer a abordagem econmica das infees hospitalares,

uma vez que os custos mensurveis decorrentes da doena, como a dor, o sofrimento, o isolamento,

a ansiedade e mesmo a morte, so de difcil avaliao econmica e financeira (Wilson cit. por Lima,

2008).

A aquisio de mecanismos de resistncia aos antimicrobianos e aos desinfetantes, assim como a

capacidade de sobrevida no meio hospitalar, permite a persistncia deste agente como causador de

surtos hospitalares importantes. A exposio contnua e por vezes exagerada a antibiticos de largo

espectro faz com que haja uma presso seletiva sobre o Acinetobacter promovendo a sobrevida de

estirpes mais resistentes e a disseminao de mecanismos de resistncia entre bactrias diferentes.

Portanto, deve ser fundamental a utilizao criteriosa de antibiticos utilizando esquemas

teraputicos combinados, de modo a prevenir o aparecimento de resistncias (Peleg et al., cit por

Silva, 2009).

Nas ltimas dcadas com o aumento da utilizao de antibiticos de largo espectro e com a maior

capacidade de sobrevivncia dos doentes crticos, alguns agentes infeciosos antes considerados

praticamente inofensivos, tornaram-se um problema srio nos sistemas de sade a nvel mundial.

Segundo a Comisso Europeia - Investigao Europeia em Ao (Lnnroth cit. por Silva, 2007) em

muitos pases europeus os antibiticos so a classe de medicamentos mais utilizada precedida pelos

medicamentos analgsicos. Numerosos antibiticos so prescritos para infees respiratrias

superiores ainda que a maior parte sejam infees vricas no confirmadas laboratorialmente.

Hoje em dia, apesar dos progressos no tratamento das doenas infeciosas, estas continuam a ser um

problema grave de sade pblica. Embora a descoberta dos antibiticos tivesse levado alguns a

pensar que as doenas infeciosas tinham sido erradicadas, as grandes esperanas quanto sua

erradicao, no se vieram a concretizar.

10

impacto das doenas e das mortes que incorrem em uma sociedade.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 21 -

Verifica-se at que:

continuam a surgir resistncias aos antimicrobianos;

doenas infeciosas que se julgavam desaparecidas voltam a surgir;

surgem novos agentes infeciosos;

identificam-se novos agentes causais infeciosos noutras doenas.

Nas ltimas duas dcadas, este problema tem sido colocado em vrias reunies cientficas e polticas.

Na conferncia da Unio Europeia (UE) de setembro de 1998, "A Ameaa Microbiana", que decorreu

em Copenhaga, todos os estados membros da UE concordaram, por unanimidade, que a resistncia

aos antibiticos j no constitua um problema nacional, mas um assunto internacional de grande

importncia, que necessitava de uma estratgia comum a nvel europeu.

Em Portugal, a vigilncia da resistncia aos antibiticos monitorizada pela Unidade de Resistncia

aos Antibiticos, que faz parte do Instituto Nacional de Sade, desde 1989, e pelo Laboratrio de

Microbiologia da Universidade de Lisboa desde 1993.

Nos pases desenvolvidos, segundo a Comisso Europeia Investigao Europeia em Ao, 60% das

infees hospitalares devem-se a microrganismos que resistem aos medicamentos e nos mais

recentes inclui-se o Staphylococcus aureus resistente meticilina (MRSA) como um dos maiores

responsveis por infees nosocomiais. J na dcada de 1980 um dos principais microrganismos

causador de Infeo hospitalar era o Staphylococcus aureus (Lowy cit. por Silva, 2007).

Bratzler et al., cit. por Pina (2010), concluram que embora seja relativamente fcil que seja

selecionado o antibitico indicado mais difcil conseguir que ele seja administrado dentro do tempo

previsto (uma hora ou menos antes da inciso) e que no seja prolongado alm do tempo necessrio

(mximo 24 horas). Tal como acontece com outros tipos de IACs, essencial que haja um

envolvimento da gesto, disponibilizao de recursos adequados e ateno aos pormenores da

implementao para se conseguir resultados significativos e duradouros.

II Enquadramento terico 2. Infeo Hospitalar

3. Pneumonia

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 22 -

A monitorizao da utilizao de antibiticos a nvel nacional tornou-se um processo de vigilncia

essencial em medicina humana e efetuada em todos os pases europeus.

A organizao responsvel por esta monitorizao de antibiticos varia dependendo do pas:

institutos de sade, organizaes de seguros, a indstria farmacutica, as organizaes nacionais de

mdicos, ministrios da sade e comits governamentais especficos (Silva, 2010).

Todos os profissionais de sade, particularmente os mdicos, devem estar conscientes da

importncia da utilizao adequada de antibiticos (Andrade, 2006).

Os profissionais que atuam em equipas de controlo de antimicrobianos devem compreender que

antes de proibir o emprego de determinado antimicrobiano, o principal objetivo o de orientar e

educar sobre sua utilizao adequada, aprimorando o atendimento ao paciente hospitalizado e

tentando diminuir, e at mesmo evitar, o aparecimento de bactrias multirresitentes (Andrade,

2006).

Os mecanismos de combate resistncia aos antibiticos devem ser atingveis e reais para todos os

profissionais de sade porque todos esto envolvidos. Devem assentar na elaborao de uma

abordagem integrada que possa explorar igualmente as vrias estratgias intrainstitucionais (Silva,

2007).

3. Pneumonia

A Pneumonia a manifestao clnica mais comum da IACS pelo Acinetobacter (Gaynes et al., cit. por

Silva, 2009). A maioria das quais ocorre em indivduos previamente colonizados por este

microrganismo (Bergogne-Brezen e Towner; Peleg et al., cit. por Silva, 2009).

O fator predisponente mais importante para a Pneumonia a ventilao mecnica, especialmente

aps perodos prolongados de entubao (Kanafani e Kanj cit. por Silva, 2009).

O tipo e a gravidade das doenas subjacentes so determinantes importantes da mortalidade pela

bacteriemia, sendo que as neoplasias e as queimaduras esto associadas a um pior prognstico que o

trauma. A presena concomitante da Pneumonia por este microrganismo tambm est associada a

uma maior mortalidade.

II Enquadramento terico 3. Pneumonia

Ana Rita Castelo Branco Oliveira Julho 2012 - 23 -

Perante uma IACS pelo Acinetobacter torna-se fundamental a interrupo da cadeia epidemiolgica

da Infeo por este agente atravs de medidas rigorosas de isolamento, higiene, desInfeo e

esterilizao.

A importncia do Acinetobacter baumannii tem aumentado nos ltimos anos devido sua grande

capacidade em adquirir mecanismos de resistncia s diferentes classes de antibiticos e sua

grande aptido em sobreviver e se adaptar a condies adversas. Todos estes fatores tornam-no

responsvel por uma morbilidade e mortalidade elevada, especialmente, nos doentes crticos

(Gaynes et al.; Falagas et al., cit. por Silva, 2009).

O A. baumannii pode sobreviver no ambiente hospitalar em diversos locais., nomeadamente, no

equipamento hospitalar como nos ventiladores mecnicos, nas mquinas de dilise (Bernards et al.,

cit. por Silva, 2009) nos sistemas de ventilao (McDonald et al., cit. por Silva, 2009) nas fontes de

gua (Penna et al., cit. por Silva, 2009) na pele e nas mucosas dos profissionais de sade e dos

doentes (Joly-Guillou et al., cit. por Silva, 2009) nas preparaes medicamentosas (Gusten et al., cit.

por Silva, 2009) e nos desinfetantes (Landman et al., cit. por Silva, 2009).

Este agente sobrevive em condies ambientais adversas como a dessecao, a solues

desinfetantes e variaes de temperatura, o que contribui para o seu potencial de transmissibilidade

atravs de objetos inanimados (Kanafani e Kanj cit. por Silva, 2009).

Durante muito tempo o Acinetobacter foi considerado um agente oportunista de baixa

patogenicidade. No entanto, tm sido descritos vrios fatores de virulncia que possibilitam a sua

sobrevivncia no ambiente hospitalar e a capacidade de causar doena, particularmente nos doentes

debilitados (Kanafani e Kanj cit. por Silva, 2009).

A transmisso intra-hospitalar responsvel pela grande maioria das infees pelo Acinetobacter

(Fournier et al., cit. por Silva, 2