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Brasília 2009 VOLUME 1 SUBSÍDIOS À ELABORAÇÃO DA 1ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE AMBIENTAL: Plano Nacional de Qualidade do Ar MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE SECRETARIA DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E QUALIDADE AMBIENTAL DEPARTAMENTO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL E SAÚDE DO TRABALHADOR MINISTÉRIO DAS CIDADES SECRETARIA NACIONAL DE TRANSPORTE E DA MOBILIDADE URBANA DEPARTAMENTO DE MOBILIDADE URBANA

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A partir do “ Compromisso Pela Qualidade Do Ar E Saúde Ambiental, o Governo Federal assumiu a responsabilidade de trazer à reflexão as necessidades e desafios atuais, que visem a proteção da qualidade do ar e da saúde ambiental no Brasil, como parte integrante de um “Plano Nacional de Qualidade do Ar - PNQA” a ser concebido de forma coletiva, com os Estados, as demais instituições afetas ao tema e a sociedade.O objetivo do PNQA será “... proteger o meio ambiente e a saúde humana dos efeitos da contaminação atmosférica, por meio da implantação de uma política contínua e integrada de gestão da qualidade do ar no país”.

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Brasília2009

VOLUME 1

SUBSÍDIOS À ELABORAÇÃO DA 1ª CONFERÊNCIA

NACIONAL DE SAÚDE

AMBIENTAL:

Plano Nacional de

Qualidade do Ar

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTESECRETARIA DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E QUALIDADE AMBIENTAL

DEPARTAMENTO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

MINISTÉRIO DA SAÚDESECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE

DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL E SAÚDE DO TRABALHADOR

MINISTÉRIO DAS CIDADESSECRETARIA NACIONAL DE TRANSPORTE E DA MOBILIDADE URBANA

DEPARTAMENTO DE MOBILIDADE URBANA

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Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministério do Meio AmbienteMinistro Carlos Minc

Secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade AmbientalSuzana Kahn Ribeiro

Diretora do Departamento de Mudanças ClimáticasBranca Bastos Americano

Ministério da SaúdeMinistro José Gomes Temporão

Secretário de Vigilância em SaúdeGérson de Oliveira Penna

Diretor do Departamento de Saúde Ambiental e do Trabalhador Guilherme Franco Netto

Ministério das CidadesMinistroMárcio Fortes de Almeida

Secretário Nacional de Transporte e da Mobilidade UrbanaLuiz Carlos Bueno de Lima

Diretor do Departamento de Mobilidade UrbanaDeusdith de Souza Junior

Ministério do Meio AmbienteSecretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade AmbientalEsplanada dos Ministérios, Bloco B, 8º andar70068-900, Brasília-DFTel.: (61) 23317 1230

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SUMÁRIO1. Introdução ...................................................................................................................................... 6

1.2-.1. Marcos legais e normativos .................................................................................................. 8a. Constituição Federal de 1988 ................................................................................................9b. Qualidade do ar na legislação infraconstitucional: Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA e o PRONAR. ...............................................................................10

1.2.2. Estrutura institucional da gestão da qualidade do ar .............................................................131.2.3. Estado atual da gestão da qualidade do ar no Brasil .............................................................151.2.3.1. Ação a ser implementada: “Programa Nacional de Fortalecimento da Gestão da Qualidade do Ar” ........................................................................................................24

2. Fontes Móveis ................................................................................................................................. 262.1. Contexto ................................................................................................................................. 262.2. Ações em andamento ..............................................................................................................292.2.1. PROCONVE ........................................................................................................................292.2.1.1. Resultados .........................................................................................................................412.2.2. PROMOT ............................................................................................................................. 472.2.2.1. Resultados .........................................................................................................................522.2.3. Inspeção e Manutenção Veicular .........................................................................................542.2.4. Inventário de Emissões de Poluentes do Ar por Fontes Móveis .............................................572.2.5. Nota Verde ..........................................................................................................................582.3. Ações a serem implementadas ................................................................................................582.3.1. Elaboração das normatizações que comporão as novas fases dos programas PROCONVE/PROMOT, .......................................................................................................592.3.2. Implementação da Comissão de Acompanhamento e Avaliação do PROCONVE /CAP ...............................................................................................................592.3.3 -. Prestar auxílio técnico e institucional aos estados e municípios na implantação dos Programas I/M, ...........................................................................................................592.3.4 Viabilizar a logística de distribuição para o produto ARLA 32 ..............................................602.3.5. Resolução CONAMA sobre Inventário de Fontes Móveis .....................................................60

3. Fontes Fixas ................................................................................................................................... 603.1. Contexto ................................................................................................................................. 603.1.1. Principais poluentes ............................................................................................................663.1.2. Instrumentos de Gestão de Emissões de Fontes Fixas ...........................................................72

a. Monitoramento das Fontes Fixas..........................................................................................72b. Controle Tecnológico das Fontes Fixas ................................................................................73c. Controle de NOX da indústria: ............................................................................................75

3.1.3. PRONAR .............................................................................................................................. 753.2. Ações em andamento ..............................................................................................................783.2.1. Regulamentação dos Limites de Emissão para Fontes Fixas ..................................................783.2.3. RETP - Registro de Emissão e Transferência de Poluentes .....................................................803.2.4. Controle de Dioxinas e Furanos: aplicação da Convenção de Estocolmo .............................823.3. Ações a serem implementadas ................................................................................................843.3.1. Inventário de Emissões Atmosféricas de Fontes Estacionárias ..............................................843.3.2. Regulamentação para a prevenção e o controle de emissões de COVs ................................863.3.3. Estabelecimento de Áreas Críticas de Poluição Atmosférica e Programas de Compensação de Emissões .......................................................................................................87

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4.Fontes Agrossilvopastoris ................................................................................................................ 904.1 Contexto .................................................................................................................................. 904.2 Queimadas na Amazônia .........................................................................................................924.2.1 O diagnóstico das atividades responsáveis pelas queimadas .................................................944.2.2 Indicadores de poluição atmosférica na Amazônia ..............................................................964.3. – Ações em Andamento .........................................................................................................994.3.1 - SIPAM -SISTEMA DE PROTEÇÃO DA AMAZÔNIA ...........................................................994.3.1.1 – Resultados ....................................................................................................................1004.3.2 - PPCDAM - Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal ................................................................................................................1014.3.3 - PPCerrado - Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado .............................................................................................1024.3.4 - Sistema Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais - PREVFOGO. ............1034.3.4.1– Monitoramento e Rotina de Combate a Incêndios ..........................................................1044.3.4.2 – Formação de Brigadas ...................................................................................................1054.3.4.3 – Educação Ambiental e Capacitação .............................................................................1064.3.4.4 – Comitês Estaduais/Municipais de Controle de Queimadas, Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais” ................................................................................1074.3.5 - Programa Amazônia Sem Fogo .........................................................................................1084.3.6 - Programas de restrição das queimadas de cana-de-açúcar ................................................1094.3.7 - Zoneamento Agroecológico da Cana: ...............................................................................1094.4 – Ações a serem implementadas ............................................................................................1104.4.1 SIPAM .................................................................................................................................1104.4.2 - Prevenção e Combate a Incêndios Florestais nas Unidades de Conservação - ICMBIO ....................................................................................................111

5. Saúde e Qualidade do Ar .............................................................................................................. 1145.1. Contexto ...............................................................................................................................1145.1.1. Relação Existente entre Poluição Atmosférica e o setor saúde ............................................1155.1.2. Impacto econômico da poluição atmosférica no setor saúde .............................................1225.1.3. Relação entre queima de biomassa e saúde humana ..........................................................129

a. Queima de biomassa no interior de residências ...............................................................130b. Queima da biomassa na Região do Arco do desmatamento ..............................................132c. Queima de Biomassa no ciclo produtivo da cana de açúcar .............................................135

5.1.4. Impactos da pulverização de agrotóxicos na saúde humana .............................................1375.1.5. A atuação do setor saúde frente aos impactos da poluição atmosférica ..............................139

a. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador – DSAST ........139b. Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental - CGVAM ....................................141c. Coordenação Geral de Saúde do Trabalhador - CGSAT ....................................................141

5.2. Ações em andamento ............................................................................................................1425.2.1. VIGIAR ..............................................................................................................................1425.2.2. Interface entre saúde e licenciamento ambiental ................................................................1435.2.3. Saúde do Trabalhador ........................................................................................................1455.3. Ações a serem implementadas .............................................................................................146

6. Bibliografia Consultada ................................................................................................................. 147

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1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento industrial e urbano, o crescimento da frota automotiva, os atuais padrões de consu-mo, o desmatamento, as queimadas decorrentes, entre outros, têm como consequência o aumento das emissões de poluentes do ar. O crescente aumento das concentrações de substâncias contaminantes no meio aéreo, sua deposição no solo, nos vegetais e nos materiais, é responsável por danos à saúde, por reduções importantes na produção agrícola e, de uma forma geral, desequilíbrios nos ecossistemas.

Algumas substâncias e compostos podem permanecer na atmosfera por longos períodos de tempo e al-cançar grandes distâncias, devido às características da circulação, intensidade e velocidade dos ventos ou das chuvas. Essas características imprimem a alguns tipos de poluição um potencial de abrangência transfronteiriça responsável por alterações de grande escala, o que obriga a conjugação de esforços em âmbito local, nacional e global.

Ações de gestão são necessárias para prevenir ou reduzir as emissões de poluentes e os efeitos da de-gradação do meio aéreo, o que já foi demonstrado ser compatível com o desenvolvimento econômico e social. A gestão da qualidade do ar envolve, portanto, medidas mitigadoras que tenham como base a definição de limites permissíveis de concentração dos poluentes na atmosfera, a restrição de emissão dos mesmos, bem como um melhor desempenho na aplicação dos instrumentos de comando e controle, entre eles o licenciamento ambiental e o monitoramento. A criação de estruturas de controle da poluição em áreas especiais, como bacias aéreas saturadas e APPs, além de estímulo à implantação de tecnologias menos poluentes, também são iniciativas valiosas.

Políticas efetivamente comprometidas com a melhoria ambiental devem basear-se em metas claras de qualidade do ar, como procedimentos a serem alcançados pelo sistema de gestão. Os objetivos dessas políticas podem representar a adoção de concentrações aceitáveis de certos poluentes no ambiente, doses mínimas de exposição, limites de saturação das bacias aéreas ou concentrações-limites resultantes do controle de uma dada instalação. Esses aspectos devem constituir o ponto de partida de um compro-misso eficaz para melhoria da qualidade do ar. Os esforços não devem se limitar aos monitoramentos necessários e devem atualizar os marcos normativos destinados à gestão, adotar medidas preventivas e corretivas, e permitir a retomada de políticas públicas que corrija assimetrias nacionais profundas no trato desse tema.

A partir do “ Compromisso Pela Qualidade Do Ar E Saúde Ambiental, o Governo Federal assumiu a res-ponsabilidade de trazer à reflexão as necessidades e desafios atuais, que visem a proteção da qualidade do ar e da saúde ambiental no Brasil, como parte integrante de um “Plano Nacional de Qualidade do Ar -PNQA” a ser concebido de forma coletiva, com os Estados, as demais instituições afetas ao tema e a sociedade.

O objetivo do PNQA será “... proteger o meio ambiente e a saúde humana dos efeitos da contaminação atmosférica, por meio da implantação de uma política contínua e integrada de gestão da qualidade do ar no país”.

SEUS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS SERÃO:

Reduzir as concentrações de contaminantes na atmosfera de modo a assegurar a melhoria da quali-• dade ambiental e a proteção à saúde, compatibilizando o alcance de metas de qualidade do ar com

desenvolvimento econômico;

Integrar políticas públicas e instrumentos que se complementem nas ações de planejamento terri-• torial, setorial e de fomento, e na aplicação de mecanismos de comando e controle necessários ao

alcance de metas de qualidade do ar temporalmente definidas;

Contribuir para a diminuição da emissão de gases do efeito estufa. •

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O PNQA TERÁ COMO PRINCIPAIS LINHAS DE AÇÃO:

Fortalecimento do SISNAMA no trato da gestão de qualidade do ar;•

Redução de emissões geradas pelo setor de transportes;•

Redução de emissões da indústria e do setor de serviços (produção mais limpa de bens e serviços);•

Redução e monitoramento das emissões causadas pelas atividades agrossilvopastoris; •

Integração de políticas de desenvolvimento urbano, transporte, saúde e qualidade do ar;•

Realinhamento e cumprimento dos marcos normativos e regulatórios, incluindo a revisão dos pa-•

drões de qualidade do ar e limites de emissão;

Geração de conhecimento, desenvolvimento tecnológico e acesso à informação;•

Ampliação de co-benefícios decorrentes da redução de contaminantes locais e de gases de efeito estufa.•

1.2. CONTEXTO REGULATÓRIO E INSTITUCIONAL DA GESTÃO DA QUALIDADE DO AR

1.2.1. MARCOS LEGAIS E NORMATIVOS

A proteção da qualidade do ar no país encontra respaldo legal tanto na Constituição Federal de 1988 como na legislação ordinária, tendo como corolário a Lei 6.938/81, que delimita os objetivos, princípios e instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA).

O objetivo principal da PNMA, tal qual disposto no seu art.2º, é a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, conceituando o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (art.3º, I)”. Mais do que isso, a Lei reconhece a relação intrínseca entre saúde e meio ambiente, definindo poluição como a “degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta e indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população”1.

Para fazer valer esse objetivo, a referida Lei adotou diretrizes gerais como a da ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, a racionalização do uso dos recursos naturais (incluindo o ar), a proteção dos ecossistemas, o controle e o zoneamento das atividades potencial ou efetivamente polui-doras, o incentivo à pesquisa e desenvolvimento tecnológico, o acompanhamento do estado da quali-dade ambiental, a recuperação de áreas degradadas, a proteção de áreas ameaçadas de degradação e a educação ambiental (art.4º).

Além de prever regras gerais sobre conservação e preservação da biodiversidade e controle de outras formas de poluição (hídrica e do solo), a Política Nacional do Meio Ambiente traz as diretrizes gerais de suporte, direto ou indireto, àquelas que deveriam compor as principais medidas de gestão da qualidade do ar, como monitoramento, padrões de qualidade do ar, zoneamento ambiental, recuperação de áreas degra-dadas, controle de fontes de emissão, desenvolvimento tecnológico-científico e informação ambiental.

As disposições da PNMA têm sido continuamente normatizadas por meio de Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), sendo as mais importantes a Resolução 05/1989, que institui o Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar (PRONAR); a Resolução 03/1990, que define os padrões de qualidade do ar; a Resolução382/2006, que estabelece limites de emissão de poluentes atmosféricos para determinadas fontes estacionárias e um conjunto de resoluções disciplinadoras do Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE).

1 Nos termos do art.3º, III, a Lei também incorpora ao conceito de poluição a “degradação da qualidade ambiental, resultan-te de atividades que direta e indiretamente: (...) b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas, c) afetem desfavoravelmente a biota, d) afetem as condições estéticas ou sanitárias ao meio ambiente, e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Também conceitua, no inciso IV poluidor como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta e

indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”.

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Complementarmente à legislação federal em vigor, os estados também provêm uma série de normas legais destinadas a medidas de controle da poluição e prevenção da degradação da qualidade do ar. A legislação estadual decorre da competência legislativa concorrente em matéria ambiental, estabelecida pela Constituição Federal de 1988. Por meio da competência concorrente, à União cabe a definição de normas federais básicas e gerais, podendo os estados complementarem-nas conforme suas especificida-des e, em inexistindo norma geral federal, cabem aos estados competência legislativa plena para regular o uso e a proteção de determinado recurso ambiental.

Há também outras disposições legais, que têm como objeto aspectos outros que não a proteção da qualidade do ar, mas que, indiretamente, impactam e influenciam a gestão desse recurso ambiental. Este é o caso das leis sobre zoneamento industrial (Lei 6.803/1980 e Decreto-Lei), o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998), o Código Florestal (Lei 4.771/1965), a lei do SUS (Lei 8.080/1990) e a Política Energética Nacional (Lei 9.478/1997), dentre outros. Em alguns casos, essa relação é facilmente perceptível, como a Lei de Crimes Ambientais, mas, em outros, a interconexão com a gestão da qualidade é absolutamente indireta, como no caso das normas sobre planejamento urbano.

a. Constituição Federal de 1988

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, incorporou a proteção da qualidade do ar (enquan-to elemento do meio ambiente) como bem comum do povo, indispensável ao equilíbrio ecológico e à qualidade de vida. Também atribuiu tanto ao Poder Público como à coletividade o dever de defendê-la e preservá-la para as presentes e futuras gerações.

A proteção constitucional da qualidade do ar tem como pressuposto o reconhecimento de sua função vital à dignidade da pessoa humana (art.1º, III) e à inviolabilidade do direito fundamental à vida (art.5º, caput). Daí porque a Constituição Federal eleva a proteção ambiental como um dos princípios norteadores da atividade econômica (art.170, VI), incorporando-a na noção de função social da propriedade (art.5º, XXIII e 186, II).

Por meio do artigo 225, a Constituição Federal de 1988 sacramenta princípios de direito ambiental, fundamentais à proteção da qualidade do ar, como a prevenção, a precaução, a reparação do dano, a informação, o poluidor pagador etc. Assim é que a Constituição obriga a preservação dos processos eco-lógicos essenciais, a definição de espaços territoriais a serem especialmente protegidos e o controle da produção, comercialização e emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportam risco à vida e à qualidade ambiental. Também eleva o estudo prévio de impacto ambiental ao status de instrumento constitucional e acata a responsabilidade objetiva pelo dano ambiental. No intuito de ordenar as ações e medidas de proteção da qualidade ambiental, a Constituição Federal atribuiu competências ge-rais aos entes da Federação. Definiu como concorrente a competência para legislar, como mencionado, e como comum a competência administrativa, obrigando a que União, estados e municípios atuem de forma cooperada e coordenada na proteção ambiental.

O art.1º do decreto federal 99.274 de 1990, que regulamenta a lei 6.938 de 1981, atribui competências comuns aos órgãos das três esferas de governo para:

manter a fiscalização permanente dos recursos ambientais, visando à compatibilização do desenvol-• vimento econômico e a proteção do meio ambiente;

manter o controle permanente das atividades potencial ou efetivamente poluidoras, de modo a com-• patibilizá-las com os critérios vigentes de proteção ambiental;

incentivar o estudo e a pesquisa de tecnologias para o uso racional e proteção dos recursos am-• bientais, utilizando, neste sentido, os planos e programas regionais ou setoriais de desenvolvimento

industrial e agrícola;

implantar, nas áreas críticas de poluição, um sistema permanente de acompanhamento dos índices • locais da qualidade ambiental;

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identificar e informar, aos demais órgãos do sisnama, a existência de áreas degradadas ou ameaçadas • de degradação, propondo medidas de recuperação;

orientar a educação, em todos os níveis, para a participação ativa do cidadão e da comunidade na • defesa do meio ambiente.

b. Qualidade do ar na legislação infraconstitucional: Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA e o PRONAR.

Instituída pela Lei 6.938 de 1981, a PNMA foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, tor-nando-se o principal marco legal de proteção ambiental do país. Ao delimitar os objetivos, princípios, diretrizes e instrumentos de proteção ambiental, a Política já traz todos os elementos básicos e gerais à defesa da qualidade do ar; nela, a atmosfera é colocada como um recurso ambiental, razão pela qual sua degradação, provocada pela poluição, deve ser prevenida e controlada.

Assim, foram previstos nessa Lei uma série de instrumentos de proteção ambiental, amplamente aplicá-veis na defesa da qualidade do ar, são eles:

acompanhamento do estado da qualidade ambiental, o que é feito pelo monitoramento da qua-• lidade do ar;

adoção de padrões de qualidade do ar; • zoneamento ambiental;• recuperação de áreas degradadas;• controle de fontes de emissão de poluentes (o que é feito comumente pelo licenciamento am-•

biental), a definição de limites de emissão por poluente e fontes, a exigência de melhor tecnologia

disponível etc;

desenvolvimento tecnológico-científico; • responsabilidade objetiva pelo dano ambiental;•

disponibilização da informação ambiental.•

A PNMA também criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), dando origem a es-trutura institucional sob a qual se dá o ordenamento da atuação dos órgãos ambientais da União, dos Estados e dos Municípios, além do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, atribuindo-lhe competências consultivas e normativas.

A mesma Lei 6.938/81 iluminou também a elaboração do Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar-PRONAR, instituído por meio da Resolução 05/89 do CONAMA. Tal Programa foi criado, portan-to, com o objetivo de “permitir o desenvolvimento econômico e social do país de forma ambientalmente segura, pela limitação dos níveis de emissão de poluentes por fontes de poluição atmosférica, com vistas à melhora da qualidade do ar, ao atendimento dos padrões estabelecidos e o não comprometimento da qualidade do ar nas áreas consideradas não degradadas”.

Para alcançar tais objetivos, o PRONAR definiu como meio principal a limitação dos níveis de emissão de poluentes, e adotou como estratégia básica limitar as emissões por tipologia de fontes e poluentes prioritários, sendo a definição dos padrões de qualidade do ar considerada uma ação complementar de controle. Além disso, previu medidas de classificação das áreas conforme o nível desejado de qualida-de do ar, de monitoramento, licenciamento ambiental, inventário nacional de fontes e poluentes do ar, interface com outras medidas de gestão e capacitação dos órgãos ambientais.

Sob a perspectiva conceitual, o PRONAR tem uma ótica de gestão, e como meio de instrumentalizar suas medidas, cria, ou incorpora através da Resolução CONAMA 005/1989 programas como: (i) Programa de Controle da Poluição por Veículos Automotores (PROCONVE); (ii) Programa Nacional de Controle

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da Poluição Industrial (PRONACOP); (iii) Programa Nacional de Avaliação da Qualidade do Ar; [4] Programa Nacional de Inventário de Fontes Poluidoras do Ar e (iv) Programas Estaduais de Controle da Poluição do Ar. De modo a complementar à CONAMA 005/1989, foram aprovadas tanto a Resoluções 003/1990, que define os padrões de qualidade do ar e critérios mínimos para o monitoramento, quanto a Resolução 382/2006, com limites de emissão para poluentes e fontes específicos, delineando regras mínimas sobre o monitoramento dessas emissões.

O PRONAR também definiu metas de aprimoramento da gestão da qualidade do ar a serem cumpridas no curto, médio e longo prazo, sem, contudo, definir os limites temporais de cada categoria. Assim é que as metas de curto prazo seriam: (i) definição dos limites de emissão para fontes poluidoras prioritárias e dos padrões de qualidade do ar, (ii) enquadramento das áreas na classificação de usos pretendidos, (iii) apoio à formulação dos Programas Estaduais de Controle de Poluição do Ar, (iv) capacitação laborato-rial e capacitação de recursos humanos. As de médio prazo contemplariam: (i) a definição dos demais limites de emissão para fontes poluidoras, (ii) a implementação da Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade do Ar; (iii) a criação do Inventário Nacional de Fontes e Emissões, (iv) a continuidade da capa-citação laboratorial e de recursos humanos, esta última também colocada como meta de longo prazo.

Nota-se, portanto, que no ordenamento jurídico brasileiro há leis, em sentido estrito, ordenadoras dos sistemas de proteção dos recursos hídricos, da biodiversidade e da fauna, definindo diretrizes claras so-bre competências, princípios, instrumentos, recursos financeiros etc, regramento este não suprível pelo PRONAR, por questões formais e materiais.

Sob a perspectiva formal, sendo o PRONAR instituído por uma Resolução do CONAMA, isso lhe dá uma competência normativa muito limitada. Sob a perspectiva material, o PRONAR não pode ser tido como um sistema de gestão. O uso dos limites de emissão como principal estratégia, evidencia seu pouco alcance para a gestão da qualidade do ar, pois parte de uma visão estreita de comando e controle focada na fonte de polui-ção e não na qualidade do meio. Isso propicia situações em que, apesar do controle das fontes, perseveram problemas de degradação da qualidade do ar, não sendo, portanto, condizente com a operacionalização coordenada dos instrumentos de gestão presentes no ordenamento jurídico brasileiro.

Fato é que, passados quase 20 anos desde a criação do PRONAR, nenhum dos programas nele previstos foi implantado, com exceção do PROCONVE. Os mesmos padrões de qualidade do ar vigoram desde 1990. Os padrões nacionais de emissão por tipologia de fonte e poluente foram estabelecidos apenas em 2006 e para fontes novas. Além disso, aspectos importantes à implantação do PRONAR não foram regu-lados, como a definição de áreas de Classe I e III, a definição de metodologia padrão para o Inventário Nacional de Fontes e Emissões, procedimentos, critérios e regras de dimensionamento, redimensiona-mento e localização da rede de monitoramento etc, o que evidencia a demanda por uma ação política contundente para proteção da qualidade do ar no país.

1.2.2. ESTRUTURA INSTITUCIONAL DA GESTÃO DA QUALIDADE DO AR

De modo a viabilizar o exercício dos instrumentos de gestão ambiental previstos na Constituição Fede-ral, na PNMA e nas demais normas legais pertinentes, existe uma série de órgãos e entidades da Admi-nistração Pública, direta e indireta, no nível de cada ente federativo, cuja atuação coordenada é regrada pelo SISNAMA. Sob a perspectiva da gestão da qualidade do ar, os órgãos do SISNAMA apresentam as seguintes atribuições:

Conselho de Governo: assessorar o Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes •

para a proteção da atmosfera.

CONAMA: tem importante papel normativo, especialmente sobre normas, critérios e padrões re-•

lativos: (i) ao licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; (ii) ao controle da

poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios

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competentes; (iii) ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso ra-

cional dos recursos ambientais; (iv) a critérios técnicos para a declaração de áreas críticas, saturadas

ou em vias de saturação; e (v) sistemática de monitoramento, avaliação e cumprimento das normas

ambientais.

Ministério de Meio Ambiente (MMA): compete planejar, coordenar, supervisionar e controlar as me-•

didas de gestão da qualidade do ar, contempladas na política de meio ambiente.Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA): responsável pela implan-• tação e execução dos instrumentos de gestão da qualidade do ar previstos na legislação federal;Órgãos ambientais de meio ambiente dos estados e dos municípios: responsáveis pela implantação • e execução dos instrumentos de gestão da qualidade do ar em suas respectivas áreas de competên-cia.

Nos termos das regras do SISNAMA, a gestão da qualidade do ar, como parte da gestão ambiental, há de ser feita de forma cooperada e coordenada entre os órgãos dos três entes da Federação. Dessa forma, cabe ao IBAMA uma atuação de coordenação geral da política ambiental a ser concretamente implementada no nível dos estados e dos municípios. Contudo, a realidade da gestão ambiental e da qualidade do ar tem apresentado uma série de problemas e conflitos, muitos dos quais decorrentes da falta de objetividade e clareza das normas legais sobre a distribuição das competências administrativas entre os entes do SISNAMA.

Como dito, a Constituição Federal de 1988 consagrou a competência administrativa comum em ma-téria ambiental, estabelecendo que seu detalhamento haveria de ocorrer por lei complementar. Acon-tece que, passados mais de 20 anos, referida lei complementar ainda não foi promulgada, fato a fun-damentar entendimento de juristas, como Paulo Afonso Leme Machado, de ocorrência de cumulação de competências, autorizando, por exemplo, situações de sobreposição de atribuições de fiscalização e licenciamento.

Para outros juristas, as normas disciplinadoras do SISNAMA, presentes na PNMA, foram recepciona-das como lei complementar pela Constituição Federal de 1988, devendo ser tomadas como parâmetro para a definição das competências entre os três entes da Federação. Uma vez que tais regras não são suficientemente claras, a doutrina jurídica é forçada a lançar mão de uma série de critérios orientado-res da divisão de competências. Dentre estes, pode-se destacar a preponderância do interesse, segun-do o qual os órgãos ambientais federais devem atuar nas hipóteses de interesse nacional ou que afete mais de um estado.

Os problemas da definição de competência administrativa entre os entes da Federação acabam crian-do situações de conflitos positivos (sobreposição de medidas entre dois ou mais entes federativos) e negativos (omissão por parte dos três entes), que quando transpostos para a gestão da qualidade do ar, acabam por ser agravados pela falta de clareza das normas reguladoras dos instrumentos existentes, a começar pela Resolução do CONAMA 05/1989.

Nos termos de referida Resolução, deveriam ser estabelecidos o Programa Nacional de Avaliação da Qualidade do Ar e o Programa Nacional de Inventário de Fontes Poluidoras do Ar, bem como uma Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade do Ar. Ocorre que esta mesma Resolução atribuiu ao IBAMA o gerenciamento do PRONAR, condizente com o apoio à formulação, controle, avaliação e inventário desse programa. Assim, se aos Estados foi dada a atribuição pelo estabelecimento e a implantação dos Programas Estaduais de Controle da Poluição do Ar, e ao IBAMA foi dada atribuição gerencial de apoio aos estados, falta objetividade na definição de atribuições específicas para elaborar, implementar e coordenar os programas de escala nacional. A verdade é que, desde a aprovação do

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PRONAR, ainda não foram estabelecidos nem o Programa Nacional de Avaliação da Qualidade do Ar, tampouco o Inventário de Fontes Poluidoras do Ar.

Está posto, assim, um cenário atual de poucos ganhos na gestão da qualidade do ar no país. No âm-bito do SISNAMA, os avanços outrora obtidos, hoje, se limitam a ações isoladas em alguns poucos estados e municípios, que se concentram na aplicação de instrumentos de comando e controle, mas que não refletem o planejamento setorial, territorial ou ambiental em sua forma mais ampla. Em outras palavras, o PRONAR estabeleceu-se no plano das intenções e aquilo que poderia ter se configurado como um embrião de Política para Qualidade do Ar não se desenvolveu como tal, restando como de-safios a demanda por sua revisão e implantação em bases mais ajustadas aos avanços tecnológicos e à atual configuração de relacionamentos entre políticas, instituições e setores.

1.2.3. ESTADO ATUAL DA GESTÃO DA QUALIDADE DO AR NO BRASIL

O quadro de competências impresso no SISNAMA mostra que as ações para proteção da qualida-de do ar devem ser executadas coordenada e compartilhadamente, segundo diretrizes elaboradas em escala nacional. Assim, sob a perspectiva executiva do PRONAR, sua gestão é uma atribuição preponderante dos Estados, que através de seus Órgãos Estaduais de Meio Ambiente (OEMA) são o fio condutor da implantação de planos e programas direcionados para tal. Realça o papel protago-nista dos estados a competência para operar outros instrumentos correlatos, como o planejamento territorial expresso no Zoneamento Ecológico Econômico e por ter a maior parte das atribuições em licenciar, além de competência para controlar e monitorar atividades potencialmente poluidoras.

Nessa perspectiva, para dimensionar o alcance, as oportunidades e dificuldades da implantação de um Plano Nacional de Ação, foram consultados os OEMA dos 27 estados da Federação, dos quais 22 descreveram como estão organizados segundo: a) estrutura institucional; b) existência de programas de gestão da qualidade do ar; c) adoção de padrões de qualidade e limites de emissão; d) monitoramento; e) identificação de áreas críticas de poluição do ar; f) inventário de fontes de emissão de poluentes; g) ações de controle e fiscalização e h) gerenciamento da informação sobre qualidade do ar.

A consulta mostrou que por conta do SISNAMA a organização de instituições em torno de instru-mentos, como o licenciamento ambiental e seus componentes, além de ações de controle, levou algumas unidades a se mobilizarem em torno desse tema. Mesmo operando segundo regimes insti-tucionais e administrativos bastante diferenciados (secretarias, institutos, fundações, agências e uma única companhia, a CETESB), ainda são os Órgãos Estaduais de Meio Ambiente os responsáveis di-retos, ou coordenadores da gestão da qualidade do ar em todo o país, com exceção do Amapá, onde a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia tem hoje esse papel. Isso não significa, no entanto, que existe uma regra de criação de um nicho exclusivo nos respectivos organogramas dedicado à gestão da qualidade do ar, o que torna necessária a articulação com diferentes áreas e, ainda que não desejável, é comum sua subordinação a outras áreas temáticas, que deveriam estar no mesmo patamar de importância.

Em face das características técnicas e dificuldades de obter e operar orçamentos direcionados para ações contínuas nessa área, os OEMA têm buscado nas universidades e outros centros os parceiros preferenciais (diretos e indiretos), sobretudo pela sua liderança em atividades de pesquisa. Mas, os vínculos desses órgãos com as Universidades são, em sua maioria, informais e esporádicos, não trazendo retorno significativo para sua atuação. O mesmo vale para cooperações internacionais e aporte de recursos diretos, ou apoios indiretos vindos do exterior (dentre os Estados pesquisados apenas o RS, SP e MG têm, ou tiveram, iniciativas dessa natureza (tabela 2).

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Tabela 2: Estágio de implementação dos instrumentos de gestão da qualidade do ar (Fonte MMA/IEMA, 2009)

Norte Centro-Oeste Nordeste Sul SudesteInstitucional PA TO AP AM RR RO AC MT MS GO DF BA SE AL PE PB RN CE PI MA RS SC PR SP MG ES RJ

cooperações interinstitucionais

Legislaçãopara gestão

para aplicação de penalidades

para implantar o PRONAR

Gestãoplanos e programas

cooperação internacional/financiamentos

Padrões de qualidade e limites de emissãopadrões mais restritivos que CONAMA 03/90

limites mais restritivos que os nacionais

Monitoramentoprograma

equipe técnica própria

feito por terceiros

exigência do licenciamento

Áreas Críticas de poluição do arenquadramento em áreas críticas

plano de emergência

fontes naturais

Inventários de emissõesbanco de dados sobre fontes

elaboração de inventários

Controle e Fiscalizaçãointerface licenciamento e monitoramento

amostragem de chaminés

acompanhamento dos programas dos EIA

Sistema de informaçõesbanco informatizado

validação de dados do monitoramento

aplicação de modelos de dispersão

comunicação de dados de qualidade do ar

incorporação de dados da rede privada

SIM NÃOPREVISTO INSTRUMENTO IMPLANTADO PARCIALMENTE OU ATVIDADE EM ANDAMENTOSEM INFORMAÇÃO

No plano normativo, são poucos os estados que contam com legislações de apoio à gestão (GO, PE, RS, PR, SP, MG e RJ), ou para aplicação de penalidades em caso de descumprimento dos padrões de qualidade do ar e dos limites de emissão de poluentes (RO, BA, PE, PR, SP e MG) e quando se trata da previsão legal para implantação de programas estaduais de proteção da qualidade do ar nos moldes do PRONAR, apenas SP e RJ mostraram algum avanço. Mas, a simples adoção de uma base regulatória não necessariamente resulta, a exemplo de GO e PE, em planos e programas robustos de gestão.

Outro aspecto importante para a gestão, como dispõe a própria Resolução CONAMA Nº 03/90, é a apli-cação diferenciada de padrões primários e secundários de qualidade do ar, que requer que o território nacional seja dividido em classes I, II e III conforme o uso pretendido. A mesma resolução estabelece ainda que enquanto não for estabelecida a classificação das áreas pelos órgãos ambientais competen-tes, os padrões aplicáveis serão os primários. Os parâmetros regulamentados pela legislação ambiental são os seguintes: partículas totais em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, dióxido de enxofre, mo-nóxido de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio. A mesma Resolução estabelece ainda os critérios para episódios agudos de poluição do ar. Ressalte-se que a declaração dos estados de atenção, alerta e emergência requer, além dos níveis de concentração atingidos, a previsão de condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos poluentes.

Quando se trata, portanto, dos padrões de qualidade do ar e dos limites de emissão, observa-se que a quase totalidade dos estados (exceção feita a RO, PR, SP e MG) ainda não adotou números mais restritivos do que aqueles definidos pelo CONAMA. O mesmo vale para o enquadramento em áreas críticas de poluição de acordo com o padrão primário e secundário de qualidade do ar, nesse parti-cular, apenas PR, SP, MG e RJ fizeram algum tipo de enquadramento, mas que não necessariamente se desdobraram em estratégias de controle associadas ao planejamento territorial-setorial. Na mes-ma tabela, pode-se verificar que, passados quase 20 anos, nenhum estado concluiu a elaboração do plano de emergência para episódios críticos de poluição do ar conforme previsto na Resolução CONAMA no3, de 1990.

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As ações de controle e fiscalização (parte das estratégias de gestão), quando aplicadas de forma integrada com os demais instrumentos, são bons indicadores da capacidade operacional dos órgãos e da adequa-ção das ferramentas disponíveis em cada estado. Além do mais, prestam-se para aferir o cumprimento das condicionantes do licenciamento ambiental e do sucesso, ou insucesso, das medidas de planeja-mento territorial-setorial. Quando se trata de controle da qualidade do ar, portanto, a amostragem em chaminés é uma atividade valiosa para aferição do cumprimento dos limites de emissão, sendo efetuada rotineiramente, de forma direta ou com acompanhamento dos técnicos do próprio órgão, apenas em SP e no RJ. Estados, como BA e PR, estão organizando um programa nesse sentido, enquanto SE, AL e RS apenas o previram (Tabela 2). Deve-se salientar que, em outras localidades, tal procedimento compõe as atividades de auto-monitoramento exigido no licenciamento ambiental de alguns tipos de empresas.

Quando se trata da elaboração de inventários pelos órgãos ambientais (incluindo os federais), notam-se poucos avanços no país, seja quanto aos bancos de dados sobre fontes fixas, móveis ou agrossilvopas-toris, seja quanto aos poluentes do ar, regulados ou não. Na mesma tabela 2, observa-se que apenas estados das Regiões Sul e Sudeste mantêm um banco de dados, não necessariamente informatizado, principalmente sobre fontes industriais. Mas, quando se trata da elaboração dos inventários de emissões em si, mesmo dentre esse grupo, apenas RS, SP e ES concluíram ao menos um; MG e RJ estão em fase de elaborá-los e PR e CE têm esta atividade prevista como de execução futura (Tabela 2). É importante destacar que apenas o ES e SP elaboraram inventários de fontes móveis e na escala nacional só agora está sendo feito o primeiro estudo detalhado desse tipo.

A pesquisa junto aos Estados mostrou também que, dentre os instrumentos do PRONAR, o monitoramen-to foi o que recebeu maior atenção, como se nele se resumisse a totalidade da gestão da qualidade do ar. Esse entendimento em alguma medida inibiu avançar com as demais ferramentas, até mesmo anteriores ao esforço oneroso de monitorar, como a elaboração de inventários de fontes e emissões, estudos de mo-delagem de dispersão, desenvolvimento de mecanismos de financiamento para manutenção de redes, ou mesmo a preparação da infra-estrutura para recepcionar, armazenar e comunicar dados.

Mesmo que seja detalhado adiante, alguns dados sobre monitoramento já merecem destaque. Dos 22 OEMA incluídos nessa análise, 16 relataram ser esse instrumento parte das exigências do licenciamento ambiental, no entanto apenas o MT, GO, BA, RS, PR, SP, MG, ES e RJ têm rotinas de monitoramento implantadas atualmente. Nem sempre para condução desse trabalho, os órgãos dispõem de equipes técnicas exclusivamente dedicadas, ao contrário, afora os Estados do Sul e Sudeste, apenas GO, MT e SE mantêm um núcleo muito restrito diretamente responsável pela atividade. Como alternativa, outros mo-delos de operação das estações de monitoramento foram adotados, como a terceirização desses serviços para empresas especializadas ou executados, individualmente ou em grupo, pelas próprias empresas li-cenciadas (auto-monitoramento), a exemplo do que se observa na BA, SE, MA, PR, MG e ES (Tabela 2).

Nesse contexto, atenção deve ser dispensada à interface e complementaridades entre o monitoramento e o licenciamento, sendo que apenas o MT, BA, PR, MG, SP RJ e ES relataram ser essa uma prática usual no funcionamento do OEMA. Quanto ao acompanhamento posterior dos programas de gestão da qualidade do ar previstos nos Estudos de Impactos Ambientais – EIA a serem conduzidos pelos empreendimentos, o quadro de atuação dos órgãos ambientais é bastante diferenciado; podendo-se afirmar que essa ainda não é uma ação em pleno andamento em pelo menos 2/3 dos Estados envolvidos na pesquisa.

Se o conjunto de informações resultantes do licenciamento, dos estudos preliminares de base e do próprio monitoramento da qualidade do ar geram uma base de dados importante para a tomada de decisão quanto ao controle, para reorientar planos e programas, avaliar danos ambientais e à saúde, e mesmo para subsidiar a revisão de parâmetros e restrições diferenciadas para as emissões, seria esperado que a gestão da informação se constituísse em um ponto-chave para o sucesso da atuação nesse tema. Contudo, não é comum a validação dos dados oriundos das estações de medição dos parâmetros de qualidade do ar, uma vez que somente SE, RJ, ES, SP, PR e RS empenham-se nessa rotina e até como reflexo da pouca estrutura física e de pessoal, também são poucos os bancos de dados informatizados (restringem-se a SP, RS e ES). Todos esses fatores se refletem diretamente nas estratégias de comunicação

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externa sobre qualidade do ar, assim a internet tem sido o veículo mais usualmente utilizado para divul-gação de boletins periódicos, como se observa em GO, SE e nos Estados do Sul e Sudeste (Tabela 2).

Numa análise mais ampla, o diagnóstico empreendido sobre o estágio de implantação dos instrumentos previstos no PRONAR e de suas ferramentas auxiliares revela que proteção da qualidade do ar não tem tido o necessário destaque no rol de prioridades da gestão ambiental no país.

Enquanto o sistema de proteção e uso adequado dos recursos hídricos, só para exemplificar, vale-se de uma política com instrumentos muito bem definidos e um plano nacional (com a maioria dos programas já detalhado e em fase de implantação), a gestão da qualidade do ar sofreu a partir dos anos 90, por assim dizer, um retrocesso ou, no mínimo, estagnação. Parte disso, seguramente se deve à pouca atuação da esfera federal na articulação dos estados, no seu fortalecimento institucional e no aperfeiçoamento dos instrumentos de gestão, que lhes permitiriam aplicar e ampliar as normas concebidas nacionalmente. Os inexpressivos investimentos públicos federais para apoiar a implantação de redes de monitoramento e capacitação de agentes técnicos (incluindo os da própria esfera federal) também marcam esse período, fazendo-se urgente a retomada de ações programáticas que orientem todos os entes da Federação para o adequado reposicionamento desse tema na agenda ambiental brasileira.

Como se viu, os poucos instrumentos que hoje estão na base da gestão da qualidade do ar no Brasil encontram-se em patamares de implantação bastante diferenciados. Seja pela pouca qualidade técnica empreendida na sua concepção, seja pelos parcos recursos investidos, o quadro nacional revela as difi-culdades político-institucionais de compreender a extensão dos benefícios ambientais dessas ferramentas. Entre elas, o monitoramento tem sua importância e necessidade reconhecidas na Resolução CONAMA nº 05 de 1989, a mesma que, em vista da necessidade de melhor avaliar a eficiência das ações de controle, também estabeleceu como estratégica a criação de uma Rede Nacional de Monitoramento. Contudo, a referida Resolução não explicitou a quem cabe implantar e manter a rede, uma lacuna que foi parcialmente suprida pela Resolução CONAMA 03/1990, que atribui aos Estados tal responsabilidade.

Ocorre que uma Rede Nacional de Monitoramento não resulta simplesmente do somatório das redes re-gionais, já que pressupõe alguma participação do nível federal na elaboração de diretrizes gerais e como fomentador de ações que repercutam nacionalmente.

Como mostra um estudo em andamento do Instituto de Energia e Meio Ambiente – IEMA em parceria com o MMA e com os OEMA, que busca detalhar o atual estágio das redes de monitoramento operadas por esses órgãos: passados 30 anos dos primeiros marcos normativos, revelam-se ainda insuficientes para dar as respostas esperadas quando da sua concepção. A figura 1 mostra quais as redes estaduais ativas e aquelas que operaram em algum período, evidenciando um aspecto de descontinuidade, que tem gran-des implicações na formação de séries históricas de dados.

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Figura 1: Histórico da operação das redes de monitoramento da qualidade do ar operadas pelos OEMA (Fonte IEMA/MMA, 2009)

O estudo evidencia a existência de redes bastante antigas como as do Rio de Janeiro (operando desde 1968), São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e destaca também que, em 2008, das 27 Unidades da Federação, apenas 12 Estados e o Distrito Federal realizavam algum tipo de monitoramento.

Esforços descontinuados marcam o monitoramento no país. Observa-se que em áreas metropolitanas como a de Porto Alegre, Recife, Fortaleza e mesmo no Distrito Federal ocorreram períodos de interrupção impor-tantes; além disso, nenhum estado do Norte do país monitora hoje os chamados “poluentes locais”.

É também relevante identificar qual o impacto dos marcos normativos e/ou de programas de fomento na implantação e ampliação dessas atividades. As Resoluções CONAMA 05/89 e 06/90 parecem não ter impactado de imediato a formação de redes, ao menos na mesma medida observada com a che-gada da Resolução 237/97, que trata do licenciamento, o que corrobora a análise anterior do efeito da sobreposição desse último instrumento sobre os demais. Nem mesmo o PRONACOP (Programa Nacional de Controle da Poluição Industrial, instituído no final dos anos 80 e princípio de 90 (quando o IBAMA distribuiu aos OEMA equipamentos para amostragem de PTS e SO2), foi capaz, por inúme-ros motivos, de alavancar e manter uma atividade de monitoramento satisfatória em grande parte dos Estados contemplados.

O levantamento atual também indicou que dos poluentes regulados, PTS e SO2 são monitorados por cerca de 40% dos Estados. NOx, CO, MP10 , O3 e fumaça são monitorados por menos de 30% dos Es-tados, sendo que o monitoramento dos poluentes não regulados (MP2,5, HCs, NH3, COVs e TRS) ocorre em menos de 20% das Unidades da Federação (Figura 2).

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Figura 2 – Parâmetros monitorados e porcentual de Estados que realizam o monitoramento (IEMA/MMA,2009).

Uma análise mais detalhada das redes de cada Estado reforça a visão da enorme heterogeneidade entre o tipo e o número de parâmetros medidos. A Tabela 3, a seguir, apresenta tais informações.

Tabela 3 – Parâmetros monitorados no Brasil em 2008-2009 (IEMA/MMA, 2009).

Estado PTS SO2 CO NOx O3 MP10 FMC HCs MP2,5 NH3 TRS COVs PbMeteo-rológi-

cos.

Número de parâmetros

monitorados

São Paulo X X X X X X X X X X X X 12

Bahia X X X X X X X X X 9

Paraná X X X X X X X X X 9Espírito Santo

X X X X X X X X 8

Rio de Janeiro X X X X X X X X 8

Maranhão X X X X X X X X 8

Minas Gerais X X X X X X X X 8Rio Grande do Sul

X X X X X X X 7

Distrito Federal

X X X 3

Mato Grosso X X X 3

Sergipe X X X 3

Goiás X 1

Ao verificar o percentual de estados por região do país que executam atividade de monitoramento, nota-se que no Sudeste, Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte, tais percentuais são, respectivamente, de 100%, 75%, 66,7%, 33,3% e 0%, e uma vez que inexistem registros oficiais em contrário, pode-se considerar

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que em pelo menos 10 Estados pesquisados (Acre, Alagoas, Amapá, Ceará, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rondônia e Tocantins), não são executadas quaisquer atividades dessa natureza pelos OEMA.

Além disso, as diferenças observadas quanto aos tipos e número de poluentes medidos reforçam a tese de que não existem critérios comuns para estruturar e dimensionar as redes nas diferentes regiões.

Dados preliminares obtidos junto aos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente indicam a ocorrência de altas concentrações de poluentes, sobretudo nas regiões metropolitanas, nas proximidades de pólos industria-lizados, áreas densamente ocupadas e com frotas de veículos relevantes. Em São Paulo, por exemplo, embora haja indícios de decréscimo das concentrações de material particulado (PTS, MP10), o mesmo não ocorre com o ozônio, poluente que frequentemente ultrapassa os padrões de qualidade do ar.

O ozônio é fonte de preocupação também em Minas Gerais, no Paraná e no Rio de Janeiro, onde, em 2005, foram relatadas concentrações da ordem 400-500 µg O3/m

3 e mais de 180 ultrapassagens horárias no ano.

Os particulados também são poluentes críticos no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná e no Rio Gran-de do Sul. Nesse último estado, até 2003, material particulado, além do ozônio, eram os poluentes com maior incidência de ultrapassagens dos padrões de qualidade do ar. Desde então, ocorreu um desman-telamento gradativo da rede de monitoramento local, de modo que a carência atual de medições desses poluentes não permite precisar se os mesmos ainda estão entre os mais preocupantes. Dados recentes de estações da iniciativa privada que compõem a rede da FEPAM no Rio Grande do Sul indicam também registros esporádicos de alta concentração de SO2 no entorno de uma refinaria de petróleo.

Na Bahia, duas redes essencialmente privadas cobrem, respectivamente, o entorno do Pólo Petroquímico de Camaçari e da Refinaria Landulpho Alves (RLAM). Os dados, também preliminares, sugerem concentra-ções abaixo dos padrões de qualidade do ar, entretanto a cobertura destas redes, por estar circunscrita ao entorno destes empreendimentos, não parece ser suficiente para caracterizar a qualidade do ar do sotero-politano. O Órgão Ambiental de Mato Grosso só recentemente investiu em atividades de monitoramento, constituindo uma rede ainda muito limitada, e os poucos dados obtidos mostram que as partículas totais em suspensão estão presentes em concentrações muito elevadas nos períodos de queimadas, constituindo períodos de impacto agudo para o cotidiano das cidades e das populações atingidas.

A rede maranhense também é relativamente nova e privada. Os poucos dados disponíveis naquele Es-tado indicam poucos episódios de ultrapassagem nos locais onde se encontram as estações. Mas, dados passados de auto-monitoramento de empresas siderúrgicas indicavam valores muito além dos padrões de qualidade do ar para PTS, sendo necessário aprofundar a análise dessas informações. Da mesma forma, o que se observa em Sergipe e Goiás são atividades temporal e espacialmente bastante restritas e demandam, por diferentes motivos, investimentos e estratégias inovadoras para sua expansão e aperfeiçoamento.

Deve-se atentar para o fato que os dados apresentados não incluem todas as estações de monitoramento implantadas voluntariamente e operadas pelos empreendedores privados, pelas empresas públicas de capital misto, ou aquelas que compõem os programas de monitoramento meteorológico e do clima.

O quadro nacional apresenta, portanto, realidades muito distintas tanto em termos dos problemas, quan-to dos meios para compreender a extensão dos danos ambientais provocados pela poluição atmosférica. Muitas dessas deficiências têm origem: na pouca atenção dada à implantação dos instrumentos previstos no PRONAR e no que trata especificamente do monitoramento; na capacidade dos órgãos e gestores am-bientais em operar e dar sustentação às redes, tratar e comunicar dados, seja internamente melhorando a eficiência, eficácia dessas ferramentas, seja externamente para a sociedade.

Coloca-se, portanto, o desafio de aperfeiçoar, em todos os níveis, procedimentos técnicos e institucio-nais, sob a ótica de uma gestão integrada da qualidade do ar, onde, não só o monitoramento, mas o licenciamento e as demais ações de controle terão papel proeminente.

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Nesse processo, o papel da esfera federal (Ministério do Meio Ambiente, IBAMA, ICMBio, Mi-nistérios da Saúde e das Cidades, só para citar alguns), é buscar outro patamar de atuação que permita estabelecer: (i) o Sistema Nacional de Qualidade do Ar; (ii) a Rede Integrada de Monitoramento da Qualidade do Ar, tal como previsto na Resolução CONAMA no 05 de 1989; (iii) criar meios para forta-lecimento institucional e técnico dos órgãos executores da gestão da qualidade do ar nos Estados; (iv) definir estratégias gerais para integração e otimização dos instrumentos de gestão; (v) atualizar os marcos normativos, que orientem para os critérios mínimos de composição das redes e gerenciamento de infor-mações e (vi) integrar esses esforços com as demais políticas, planos e programas das áreas de saúde, desenvolvimento urbano e de outros setores produtivos.

1.2.3.1. AÇÃO A SER IMPLEMENTADA: “PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA GES-TÃO DA QUALIDADE DO AR”

Ações estratégicas a serem implantadas:

Estruturação dos “Sistemas Estaduais de Gestão da Qualidade do Ar”• Constituição da “Rede Integrada de Monitoramento da Qualidade do Ar” e do “Portal Nacional de • Informações sobre Qualidade do Ar”

Revisão normativa e definição de diretrizes técnicas necessárias à operação dos instrumentos de • gestão da qualidade do ar: Revisão da Resolução CONAMA no 05 de 1989.

2. FONTES MÓVEIS

2.1. CONTEXTO

A poluição do ar causada pela atividade de transporte em razão da grande expansão experimentada pela indústria automobilística nos últimos anos tem sido razão de preocupação constante pelos setores de meio ambiente e saúde. São crescentes as quantidades de automóveis em circulação, que, frequente-mente, poluem em escala bem maior do que seria absorvível pelo ambiente. O aumento da motorização individual, decorrente da deficiência crônica dos sistemas de transporte de massa, tem intensificado o tráfego nos grandes centros urbanos, causando congestionamentos constantes e, com isso, gerando de-gradação ambiental em razão das formas de poluição do ar e sonora. O crescimento desordenado do número de veículos em circulação eleva os custos socioeconômicos pela necessidade premente de mais obras de infraestrutura que atendam a demanda crescente, bem como provoca sérios danos à saúde hu-mana, devendo ser controlados através da adoção de políticas públicas eficazes de controle da poluição veicular, direta ou indiretamente.

Os veículos motorizados lançam para a atmosfera gases como o monóxido de carbono , os óxidos de enxofre (SOx) e de nitrogênio (NOx), além e outras substâncias químicas como os hidrocarbonetos oriundos dos combustíveis fósseis e que não são queimados no processo de combustão (denominadas “emissões evaporativas”). Essas substâncias, por sua vez, em geral apresentam toxicidades significativas para os seres vivos.

Dados da CETESB para o ano de 2003 demonstram que 97% destes poluentes na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) são emitidos por veículos em circulação ou em processos evaporativos de seus re-servatórios. Os veículos movidos à gasolina são responsáveis pela emissão anual de 790,2 mil toneladas de monóxido de carbono (CO), 84,2 t de hidrocarbonetos e 51,8 mil t de óxidos de nitrogênio(NOx). Os veículos a álcool respondem por 211,5 mil toneladas de monóxido de carbono (CO), 22,9 mil t de hidrocarbonetos e 12,6 mil t de óxidos de nitrogênio(NOx). Os veículos a diesel respondem por 444,4 mil toneladas de monóxido de carbono (CO), 72,4 mil t de hidrocarbonetos, 324,5 t de dióxidos de

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nitrogênio(NOx), 11,2 mil t de dióxidos de enxofre (SOx) e 20,2 mil t de materiais particulados. Não se esquecendo de que, as motocicletas na Região Metropolitana de São Paulo emitem anualmente 238,9 mil toneladas de monóxido de carbono.

As áreas urbanas mais atingidas pela poluição atmosférica veicular são as zonas centrais, devido à con-centração dos serviços e, por isso, a grande intensidade de trânsito de automóveis. A gravidade do pro-blema se expressa por meio de prejuízos à saúde da população em geral e em particular das pessoas ido-sas e das crianças, sendo que a poluição atmosférica oriunda de fontes móveis e fixas é responsável pela maior incidência ou agravamento dos problemas de saúde na população humana. Com destaque para as doenças cardiorrespiratórias a exemplo da bronquite, do enfisema, da asma e do câncer pulmonar.

As plantas e os animais são também gravemente afetados por este tipo de poluição. Altas concentrações de gases tóxicos no ar e a deposição de material particulado perturbam o desenvolvimento normal da vegetação, acarretando a queda ou saturação das folhas e, com isso, cessando ou diminuindo a fotos-síntese, a respiração e a transpiração. Some-se a isto o fato de que as plantas expostas a esse tipo de poluição tornam-se menos resistentes às intempéries, às doenças e aos parasitas. Da mesma forma, a saúde dos animais é igualmente afetada não só pelo contato direto com o ar poluído como também pela ingestão de vegetais com certo grau de contaminação.

Por fim, a poluição atmosférica veicular contribui para o aumento do efeito estufa pela emissão de dióxido de carbono oriundo da queima completa dos combustíveis (fósseis e renováveis), além da acumulação persistente de substâncias tóxicas no ecossistema global. A presença crônica de poluentes no ar acaba por prejudicar a qualidade de vida de todos aqueles que moram em cidades onde o tráfego de veículos é maior, exigindo assim que novas soluções sejam apresentadas, objetivando a minimização do problema.

O Brasil foi o primeiro país a adotar uma legislação destinada a reduzir as emissões veiculares na Améri-ca do Sul. Em 1976, o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) estabeleceu, com o advento da Reso-lução nº 507/76, o controle das emissões de gases e vapores do cárter. Nesse mesmo ano, o Governo do Estado de São Paulo promulgou a Lei nº 997 que, por intermédio do Decreto nº 8.468/76, estabeleceu, entre outras exigências, o padrão nº 2 da Escala de Ringelmann2 como limite de emissão de fumaça emitida por veículos a diesel em circulação (revisto em 1980), bem como condicionou a autorização de comercialização de veículos novos no Estado somente para aqueles em conformidade com limites de emissão de monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC) e NOx.

No ano de 1986, foi instituído, por meio da Resolução nº 18 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - PROCONVE, que se constitui, até a data atual, no programa oficial do governo federal de redução da poluição do ar causada por poluentes de origem veicular.

Em 29 de outubro de 1993 foi publicada a Lei nº 8.723, que reforçou a área de atuação do PROCONVE, obrigando os fabricantes de motores e veículos automotores e de combustíveis à adoção de providências necessárias para reduzir os níveis de emissão de poluentes atmosféricos nos veículos comercializados no país. Esta Lei ainda hoje se constitui no marco legal da poluição veicular no país.

No ano de 2002, de forma complementar ao PROCONVE, surgiu o Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares – PROMOT, que veio a contribuir de forma decisiva para a redução da poluição por fontes móveis.

2 Escala Ringelmann-escala inventada na década de 1890, pelo Prof. Maximilian Ringelmann, Engº Agrônomo do Institute National Agronomique e Diretor da Station d’Essais de Machines de Paris, França. O propósito dessa escala foi de permitir o controle da queima das caldeiras a vapor então comuns, através da observação das matizes de cinza da fumaça emi-tida pelas chaminés. Essa escala foi adotada quando do surgimento dos veículos diesel (na década de 1920), e permaneceu até o aparecimento dos opacímetros. A Escala de Ringelmann é a referência para a fiscalização rodoviária e urbana, da emissão de fumaça no Brasil, conforme a resolução 510/77 do CONTRAN.

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Em que pese as peculiaridades locais, as principais linhas de ação dos programas de controle das emis-sões veiculares, adotadas na maioria dos países que possuem este tipo de programa e que são similares as adotadas no Brasil, encontram-se listadas a seguir:

Tecnologias voltadas para otimização da combustão no motor - Injeção eletrônica, ignição eletrôni-• ca mapeada – outros benefícios além da redução das emissões.

Sistemas de contenção das emissões – recirculação dos gases de cárter e de escapamento e o con-• trole das emissões evaporativas.

Sistemas de pós-tratamento dos gases de escapamento – conversores catalíticos, filtros para partícu-• las e componentes acessórios.

Mudanças nos combustíveis – restrição ao uso do chumbo (gasolina), redução do teor de enxofre, • adição de oxigenados na gasolina, redução dos teores de aromáticos/olefinas, ajuste da curva de

destilação, uso de aditivos, aumento do índice de cetano (para o diesel) etc.

2.2. AÇÕES EM ANDAMENTO

2.2.1. PROCONVE

O Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - PROCONVE, foi criado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, através da Resolução Nº 18, de 6 de maio de 1986, e vem sendo implementado por um rol de resoluções específicas que estabelecem diretrizes, prazos e padrões legais de emissão admissíveis para as diferentes categorias de veículos automotores, nacionais e importados.

O PROCONVE foi baseado na experiência internacional e tem como meta principal a redução da poluição atmosférica causada pelas fontes móveis, através da fixação dos limites máximos de emis-são dos veículos novos leves (automóveis dos ciclos Otto3 e Diesel4) e pesados (ônibus e caminhões do ciclo Diesel), e da especificação da qualidade dos combustíveis no sentido da minimização de seu potencial poluidor. Desta forma, o PROCONVE induz o desenvolvimento tecnológico dos fa-bricantes e estabelece exigências tecnológicas para veículos, cuja comprovação é feita através de ensaios padronizados.

Como citado anteriormente, o PROCONVE considera a qualidade do combustível e a concepção tec-nológica do motor como os principais fatores da emissão dos poluentes. Para obter a menor emissão possível, é necessário dispor de tecnologias avançadas de combustão e de dispositivos de controle de emissão, bem como de combustíveis “limpos” (baixo potencial poluidor). Com relação a esse aspecto, o Brasil, pelo fato de ter adicionado 22% de álcool à gasolina, passou a produzir um combustível de elevada qualidade sob o ponto de vista ambiental e foi colocado como um dos países pioneiros na utilização em larga escala na adição de compostos oxigenados à gasolina e no uso de combustíveis renováveis. Além disso, a compatibilidade entre o motor e o combustível é fundamental para o pleno aproveitamento dos benefícios que podem ser obtidos, tanto para a redução das emissões, quanto para a melhoria do desempenho, dirigibilidade, consumo e manutenção mecânica. A disponibilidade do etanol hidratado e da mistura etanol – gasolina, comum no mercado nacional desde o princípio da década de 80, trouxe diversos benefícios para o meio ambiente e para a saúde pública, destacando-se a redução drástica das concentrações de chumbo na atmosfera. Isto se deu pelo fato do etanol também se prestar a utilização como anti-detonante substituto do aditivo a base de chumbo (chumbo tetraeti-la), que foi totalmente retirado do combustível nacional desde 1991. Além disso, a adição de etanol à gasolina trouxe reduções imediatas da ordem de 50% na emissão de monóxido de carbono da frota antiga dos veículos.

3 Ciclo OTTO - motores de ignição por faísca, onde a centelha inicia o processo de combustão.4 Ciclo Diesel - motores de combustão espontânea nos quais a combustão é gerada por compressão do ar, aquecendo-o para injeção do combustível líquido e gerando o processo de combustão.

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Sob esta ótica, o PROCONVE impõe ainda a certificação de protótipos e linhas de produção, a autoriza-ção especial do órgão ambiental federal para uso de combustíveis alternativos, o recolhimento e preparo dos veículos ou motores encontrados em desacordo com o projeto e proíbe a comercialização dos mo-delos de veículos não homologados segundo seus critérios.

Em resumo, o PROCONVE é um programa de caráter nacional que incorpora o controle das emissões em dois momentos distintos. O primeiro momento se traduz no cumprimento de limites rígidos de emissão de poluentes estabelecidos pelo CONAMA para os veículos novos comercializados pela indústria, bem como da especificação dos combustíveis. O segundo momento é de responsabilidade dos proprietários que passam a cumprir o importante papel da manutenção dos veículos em uso, de forma a preservar os ganhos ambientais decorrentes das inovações tecnológicas incorporadas nos veículos.

Os objetivos do PROCONVE são:

reduzir os níveis de emissão de poluentes por veículos automotores, visando o atendimento aos Pa-•

drões de Qualidade do Ar, especialmente nos centros urbanos;

promover o desenvolvimento tecnológico nacional, tanto na engenharia automobilística, como tam-•

bém em métodos e equipamentos para ensaios e medições da emissão de poluentes;

criar programas de inspeção e manutenção para veículos automotores em uso; •

promover a conscientização da população com relação à questão da poluição do ar por veículos •

automotores;

estabelecer condições de avaliação dos resultados alcançados; •

promover a melhoria das características técnicas dos combustíveis líquidos, postos à disposição da •

frota nacional de veículos automotores, visando a redução de emissões poluidoras da atmosfera;

Principais ações do PROCONVE:

atua diretamente sobre os veículos leves e pesados novos;• estabelece limites máximos para emissão de poluentes ;• fases sucessivas com limites de emissão cada vez mais severos;• estabelece metodologias de ensaios;• concede prazos para desenvolvimento dos veículos, adaptação da indústria de autopeças e a melho-• ria de especificações dos combustíveis;

não estabelece tecnologia específica;• promove a homologação prévia dos produtos através da concessão da Licença para Uso da Configu-• ração de Veículos ou Motor (LCVM);

acompanha a conformidade da produção;• prevê a implantação dos programas de inspeção e manutenção.•

São denominadas “fases” do PROCONVE os interregnos de tempo entre a vigência de um determinado limite de emissão, dado pela legislação, e a entrada em vigor de novos limites de emissão mais restri-tivos. Ressalte-se que, como já citado, nessas fases se deram inovações tecnológicas nos veículos que possibilitaram a redução das emissões.

No início, o PROCONVE deu prioridade ao segmento de veículos leves em razão de seu maior quantitativo no total da frota brasileira, além de sua utilização intensiva, o que caracterizava este segmento como sendo o maior problema em termos de poluição veicular. Assim, de pronto foram estabelecidos limites de emissão de poluentes no escapamento desses veículos. De maneira a viabilizar o cumprimento destes limites, foi

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necessário conceder prazos para que a indústria automobilística nacional viesse a promover as adaptações necessárias. As inovações tecnológicas dos motores que se seguiram, objetivando a otimização de seu fun-cionamento como forma de obtenção de uma queima mais equilibrada de combustível, apresentaram como reflexos imediatos a adaptação da indústria de autopeças e a melhoria nas especificações dos combustíveis.

Outro ponto importante a ressaltar é que o controle pelo PROCONVE é executado a partir da classifi-cação dos veículos em razão de seu Peso Bruto Total - PBT, sendo as fases caracterizadas por “L” para veículos leves” e “P” para veículos pesados”, conforme descrito a seguir:

1 - Veículo leve de passageiros (automóveis):

Definição: É o veículo automotor com massa total máxima até 3.856kg e massa do veículo em ordem de marcha5 até 2.720kg, projetado para o transporte de até 12 passageiros, ou seus derivados para o transporte de carga.

O controle de emissão destes veículos foi escalonado nas seguintes fases, a saber:

Fase L-1(período: 1988-1991/ situação: já cumprida): Com base nos limites de emissão estabelecidos pela Resolução CONAMA 18, de 6 de maio de 1986, esta fase foi caracterizada pela eliminação dos modelos mais poluentes e aprimoramento dos projetos dos modelos já em produção. Iniciou-se tam-bém nesta fase o controle da emissão evaporativa.

As principais inovações tecnológicas que ocorreram nesta fase foram: reciclagem dos gases de esca-pamento para controle das emissões de NOx; injeção secundária do ar no coletor de exaustão para o controle de CO e HC; implantação de amortecedor da borboleta do carburador para controle do HC e a otimização do avanço da ignição.

Fase L-2 (período: 1992-1996/ situação: já cumprida): a partir dos limites verificados na legislação para 1992 (constantes na Resolução CONAMA 18, de 6 de maio de 1986), foi intensificado o desafio tecnológico, principalmente para permitir a adequação de catalisadores e sistemas de injeção eletrôni-ca para uso com mistura de etanol, em proporção única no mundo. Esta fase teve como principais ino-vações nos veículos a injeção eletrônica, os carburadores assistidos eletronicamente e os conversores catalíticos. Nesta fase, foi intensificado o desafio tecnológico, principalmente para permitir a adequa-ção de catalisadores e sistemas de injeção eletrônica para uso com mistura de etanol, em proporção única no mundo. No ano de1994 se iniciou o controle de ruído dos veículos.

Fase L-3 (período: 1997- 2004/ situação: já cumprida): através do atendimento aos limites estabele-cidos a partir de 1º de janeiro de 1997 pela Resolução CONAMA 15, de 13 de dezembro de 1995 (ocorrendo reduções bastante significativas em relação aos limites anteriores), o fabricante/importador empregou, conjuntamente, as melhores tecnologias disponíveis para a formação de mistura e controle eletrônico do motor como, por exemplo, o sensor de oxigênio ( denominado “sonda lambda”).

Fases L-4 (período: 2005 - 2008/ situação: já cumprida): com base nos limites de emissão estabele-cidos na Resolução CONAMA Nº 315 de 29 de outubro de 2002, a prioridade nesta fase, que teve início no ano de 2005 e continua em 2009, é a redução das emissões de HC e NOx, por serem essas substâncias precursores de Ozônio. Para o atendimento desta fase, se deu o desenvolvimento de mo-tores com novas tecnologias como a otimização da geometria da câmara de combustão e dos bicos de injeção, o aumento da pressão da bomba injetora e a injeção eletrônica.

5 Ordem de marcha-É o peso de um automóvel usado como referência na indústria automotiva. Para atingir esse valor é preciso deixar o veículo com todos os elementos essenciais para o funcionamento. O tanque de combustível cheio e o nível de todos os líquidos, como óleos e água, no ponto máximo. Além disso, o estepe deve estar calibrado bem como todas as ferramentas, como a chave de rodas, em seus devidos lugares.

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Fase L-5 (período: 2009-2013/ situação: em curso): Com os limites de emissão estabelecidos agora pela Resolução CONAMA Nº 315 de 29 de outubro de 2002, da mesma forma que na fase L-4, a prioridade na fase L-5 é a redução das emissões de HC e NOx, por serem precursores de Ozônio. De maneira análo-ga a fase L-4, as inovações tecnológicas se deram na otimização da geometria da câmara de combustão e dos bicos, o aumento da pressão da bomba injetora e a injeção eletrônica.

Nesta fase, deu-se a redução de 31% das emissões de hidrocarbonetos não-metano para os veículos le-ves do ciclo Otto e de 48% e 42% para as emissões de NOx para os veículos leves do ciclo Otto e Diesel, respectivamente. Além disso, as emissões de aldeídos foram reduzidas em, aproximadamente, 67% para os veículos do ciclo Otto.

2 - Veículo leve comercial (utilitários):

Definição : É o veículo automotor não derivado de veículo leve de passageiro com massa total máxima até 3.856 kg e massa do veículo em ordem de marcha até 2.720kg, projetado para o transporte de carga, ou misto ou seus derivados, ou projetado para o transporte de mais que 12 passageiros, ou ainda com características especiais para uso fora de estrada. Na prática, são as vans, os furgões e as picapes.

Da mesma maneira que os veículos leves de passageiros, as fases para os veículos leves de carga são denominadas pela letra “L”:

Fase L1 - (período: 1988-1991/ situação: já cumprida): atendendo as determinações da Resolução CONA-MA 18, de 6 de maio de 1986 e de forma análoga com que se deu com os veículos leves de passageiros, esta fase foi caracterizada pelo aprimoramento dos projetos dos modelos já em produção. Iniciou-se também nesta fase o controle da emissão evaporativa.

As principais inovações tecnológicas que ocorreram nesta fase foram: reciclagem dos gases de esca-pamento para controle das emissões de NOx; injeção secundária do ar no coletor de exaustão para o controle de CO e HC; implantação de amortecedor da borboleta do carburador para controle do HC e a otimização do avanço da ignição. Nesta fase, deu-se o início do controle da emissão evaporativa.

Fase L2 - (período: 1992-1997/situação: já cumprida): também em atendimento as determinações da Resolução CONAMA 18, de 6 de maio de 1986, deu-se nesta fase a maior redução das emissões para este tipo de veículo, tendo o monóxido de carbono (CO) sido reduzido em, aproximadamente, 83 %; os hidrocarbonetos (HC) em 85 %, os óxidos de nitrogênio (NOx) em 70%, os aldeídos totais (CHO) em 80% e o Monóxido de Carbono em marcha lenta em 83%, respectivamente.

Fase L3 - (período: 1998-2006/situação: já cumprida)- Esta fase, dada pela Resolução CONAMA Nº 15, de 13 de dezembro de 1995, originou-se o controle dos veículos importados dessa categoria, tanto do Mercosul, como proveniente dos demais países.

Fase L4 (período:2007-2008/situação: já cumprida) - com os limites estabelecidos pela Resolução CO-NAMA Nº 315, de 29 de outubro de 2002, nesta fase, deu-se reduções significativas para as emissões de CO e NOx para esta categoria de veículos, notadamente os do ciclo Otto. Também nesta fase, iniciou-se o monitoramento dos hidrocarbonetos não metano (NMHC) para motores dos ciclos Otto e Diesel, bem como do material particulado (MP) para os motores do ciclo Diesel.

Fase L5 (período:2009-2014 /situação: em curso): foi estabelecido novos limites de redução para, praticamente, todos os parâmetros, notadamente óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos não metano (NMHC) e aldeídos totais.

3 - Veículo Pesado (ônibus e caminhão):

Definição: É o veículo automotor para o transporte de passageiros e/ou carga, com massa total máxima maior que 3.856kg ou massa do veículo em ordem de marcha maior que 2.720kg, projetado para o transporte de passageiros e/ou carga.

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Fases P-1 e P-2 (período: 1990-1993/situação: já cumprida): com relação aos veículos pesados, ônibus e caminhões, o PROCONVE estabeleceu seis fases específicas, conforme pode ser visto na tabela 4. Os fabricantes, já em 1990, estavam produzindo motores com níveis de emissão menores que os requeridos para 1993, ano em que teve início o controle de emissão para veículos deste tipo com a introdução das fases P-1 e P-2. Nesse período, os limites para emissão gasosa (fase P-1) e material particulado (fase P-2) não foram exigidos legalmente.

Fase P-3 (período:1994-1997/situação: já cumprida): para atender aos limites da fase três, vigente a partir de 1994, o desenvolvimento de novos modelos de motores visaram a redução do consumo de combus-tível, aumento da potência e redução das emissões gasosas de óxidos de nitrogênio (NOx) por meio da adoção de intercooler e motores turbo.

Nesta fase, deu-se a redução drástica das emissões de CO (43%) e HC (50%) para este tipo de veículo.

Fase P-4 (período: 1998-2002/situação: já cumprida): Em 1998, a fase quatro (P-4) reduziu ainda mais os limites criados pela fase três (P-3).

Fase P-5 -(período: 2003-2008/situação: já cumprida): Em 2004, foi implantada a quinta fase para veícu-los pesados, que teve como objetivo a redução de emissões e de material particulado (MP), NOx e HC.

Fase P-6 (período: 2009-2011/situação: em curso): Em janeiro de 2009, deveria ter sido iniciada a fase seis para veículos pesados, conforme aprovado pela Resolução CONAMA nº 315/2002, e cujo objetivo principal, assim como na fase cinco, era a redução de emissões de material particulado (MP), NOx e HC. Na tabela a seguir, estão demonstradas as fases do Programa para veículos pesados do Ciclo Diesel com as respectivas reduções de emissões:

Tabela 4: Limites de poluentes nas respectivas fases do PROCONVE

LIMITES DO PROCONVE PARA VEÍCULOS DIESEL (g/kW.h) CO HC NOx MP

P-1 14,00* 3,50* 18,00* xxx*P-2 11,20 2,45 14,40 0,60*P-3 4,90 1,23 9,00 0,40P-4 4,00 1,10 7,00 0,15P-5 2,1 0,66 5,00 0,10P-6 1,5 0,46 3,5 0,02

*Emissão Gasosa (fase) 1 e MP ( fase 2) não foram exigidos legalmente.

Fonte: IBAMA

Entretanto, a fase P-6 não foi implantada na data prevista, em razão de atrasos que ocorreram na especi-ficação do combustível (diesel) a ser comercializado no interior e nas regiões metropolitanas.

A redução de enxofre presente no combustível se constitui em condição sine qua non para o atendimen-to dos limites estabelecidos na fase P-6, vez que a formação de compostos de enxofre na combustão contribui para o denominado “envenenamento” do catalisador, não propiciando o bom funcionamento dele na redução das emissões de NOx e HC. Desta forma, procedeu-se no ano de 2005 a especificação do diesel em 2.000 ppm (partes por milhão) de enxofre como limite máximo a ser comercializado no interior (denominado “diesel S 2000”) e de 500 ppm de enxofre para o diesel comercializado nas regiões metropolitanas (denominado “diesel S 500”), propiciando-se uma diminuição expressiva das emissões de enxofre nestes últimos dez anos. A concentração de enxofre no diesel passou de treze mil ppm para quinhentos ppm.

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Por força da Resolução mencionada, em 1º de janeiro de 2009, a fase P-6 do PROCONVE deveria se iniciar com o diesel especificado para 500 ppm (“diesel S 500”) no interior, e 50 ppm (“diesel S 50”) nas regiões metropolitanas, conforme se vê a seguir:

Distribuição de diesel no BrasilEspecifi cação Metropolitano Comum

Teor de Enxofre (máx) 500 ppm 2.000 ppmFonte: IBAMA/PROCONVE

Em 2009Especifi cação Especial Comum

Teor de Enxofre (máx) 50 ppm 500 ppmFonte: IBAMA/PROCONVE

Todavia, como dito anteriormente, tal fato não veio a ocorrer, desta forma, atrasando a implantação da fase P-6, cujo relato dos acontecimentos que impediram tal acontecimento se encontram a seguir .

Vale aqui ser apresentado um breve histórico sobre o não-atendimento da Fase P-7 do Proconve. Em 2002, quando se iniciaram os entendimentos entre os setores de meio ambiente e energia do Governo Federal sobre os novos passos do PROCONVE e que, por sua vez, resultariam na Resolução CONAMA 315/02, o setor ambiental procurou demonstrar para a área de energia o quão importante seria definir a especificação da qualidade dos combustíveis para o atendimento aos limites de emissão que seriam im-postos aos veículos a diesel a partir de 1/1/2009. Naquela ocasião, a legislação previa a disponibilização de um diesel para as regiões metropolitanas com teor de enxofre de 50 ppm (máx), ou seja, dez vezes menor que o do seu antecessor, da ordem de 500 ppm.

Em reuniões envolvendo os setores mencionados, sugeriu-se a inserção de artigo em Resolução do CONAMA, que conteria o conjunto de especificações mínimas para os óleos diesel padrão de ensaio e comercial. Todavia, o setor de energia se manifestou contrário, alegando ingerência em sua área de competência. Assim sendo, na redação final da minuta da Resolução 315/02, a então Agência Nacional do Petróleo - ANP, concordou com a redação de artigo onde se condicionava o fornecimento de óleo diesel de qualidade ao atendimento de artigos da Lei 8.723/83 e das Diretivas Européias.

Após a publicação da Resolução CONAMA em tela, o setor de energia, capitaneado pela ANP, convocou os demais setores envolvidos com a questão, objetivando a constituição de um Grupo de Trabalho para discutir as especificações dos óleos diesel padrão de ensaio e comercial para a fase P6 do PROCONVE.

A partir de 2003, este GT começou a se reunir, objetivando a adoção de medidas que permitissem a implantação da fase P-6, todavia, apesar dos esforços envidados pela área ambiental, tal fato não veio a ocorrer por razões afetas à qualidade, disponibilidade e distribuição do novo diesel, conforme alegado pelo setor de energia.

Desta forma, a falta de sintonia entre os setores impediu que o GT alcançasse o seu objetivo de estabe-lecer, em tempo hábil, o conjunto de especificações dos óleos diesel padrão de ensaio e comercial, com 50 ppm de enxofre.

Posteriormente, ainda no período 2004/2005, foi solicitado à ANP pelo MMA a agilização da especi-ficação do combustível (diesel), conforme os dispositivos constantes da Lei nº 8.723, contudo, não se obteve sucesso. Apenas ao final de 2007, em atendimento a ações desenvolvidas por entidades do setor ambiental e ONGs e pela pressão dos Ministérios do Meio Ambiente e da Saúde, a ANP veio a regula-mentar o óleo diesel comum com 50 ppm. Entretanto, o prazo se mostrou exíguo para que os demais atores envolvidos (PETROBRÁS e ANFAVEA) promovessem ações concretas no sentido do atendimento da legislação, a primeira produzindo o novo diesel com baixos teores nas refinarias e a segunda adap-tando os motores para recebimento deste combustível em atendimento aos limites da fase P-6.

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No início do ano de 2008, a fase P-6 do PROCONVE corria sério risco de não ser atendida, o que obri-gou o CONAMA, através de seu presidente, a adotar medidas enérgicas para proteger o PROCONVE, mantendo-se a fase P-6 e exigindo o adiantamento no estabelecimento de uma nova fase de controle das emissões de veículos a diesel, com limites mais restritos e introdução de um óleo diesel com 10 ppm de enxofre (denominado “diesel S10”).

Para garantir o empenho das entidades envolvidas e garantir as determinações do CONAMA, o MPF in-terveio, interpondo uma Ação Civil Pública, que posteriormente deu origem a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em 29/10/2008, que determina as seguintes principais responsabilidades:

Determinação para a ANFAVEA desenvolver, conjuntamente com a CETESB, a construção de labo-• ratório de emissão veicular para monitoramento de veículos a diesel;

A cargo da ANFAVEA promover campanhas educativas e de treinamento de frotistas no Estado de • São Paulo;

Prestação de subsídios ao IBAMA na elaboração de minutas de resoluções e outros documentos/• ações previstas no TAC;

Ficou a cargo do IBAMA estabelecer todos os documentos, ações ambientais, resoluções previstos • no TAC;

Ficou a cargo da ANP regulamentar todos os combustíveis comerciais e para padrão de ensaio cita-• dos no TAC, respeitando as datas então firmadas.

Estão previstas as seguintes ações para as novas fases do PROCONVE:

1. Veículos Leves (passageiros e comerciais)

O CONAMA em sua 95ª reunião ordinária realizada nos dias 2 e 3 de setembro de 2009 aprovou a Resolução nº 415, de 25 de setembro de 2009, que dispõe sobre a nova fase do PROCONVE para veícu-los leves (Fase L-6). A nova Resolução, basicamente, estabelece novos limites máximos para a emissão de poluentes do escapamento de veículos automotores leves novos de passageiros de massa menor ou igual a 1.700 quilogramas e veículos comerciais com massa superior a 1.700 quilogramas. Ambas as categorias são para uso rodoviário e contemplam os veículos dos ciclos Otto e Diesel. Os novos limites devem entrar em vigor a partir de 1º janeiro de 2013 para veículos do ciclo Diesel e 1º de janeiro de 2014 para os novos modelos de veículos do ciclo Otto, além da data de 1º janeiro 2015 para os modelos já existentes.

Para o futuro, ainda está prevista a introdução de catalisadores de oxidação, de filtro de particulados e de recirculação de gases.

Os novos limites se encontram discriminados a seguir:

I - Veículos automotores leves de passageiros (ciclos Otto e Diesel), de uso rodoviário, com vigência em 2013 para veículos do ciclo diesel e 2014 para os novos modelos e 2015 para os demais, ambos do ciclo Otto

Poluentes Limites monóxido de carbono (CO) 1,30 g/km;hidrocarbonetos totais (THC), somente p/ veículos a gás natural 0,30 g/km hidrocarbonetos não metano (NMHC) 0,05 g/km; óxidos de nitrogênio (NOx) 0,08 g/km; aldeídos (CHO) p/ ciclo Otto 0,02 g/km;material particulado (MP) p/ ciclo Diesel 0,025 g/km; monóxido de carbono em marcha lenta p/ ciclo Otto: 0,2% em volume.

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II - veículos automotores leves comerciais (ciclos Otto e Diesel), de uso rodoviário, com massa do veícu-lo para ensaio menor ou igual a 1.700 quilogramas, com vigência em 2013 para veículos do ciclo diesel e 2014 para os novos modelos e 2015 para os demais, ambos do ciclo Otto

Poluentes Limites monóxido de carbono (CO) 1,30 g/km;hidrocarbonetos totais (THC), somente p/ veículos a gás natural 0,30 g/km hidrocarbonetos não metano (NMHC) 0,05 g/km; óxidos de nitrogênio (NOx) 0,08 g/km; aldeídos totais (CHO) p/ ciclo Otto 0,02 g/km;material particulado (MP) p/ ciclo Diesel 0,030 g/km; monóxido de carbono em marcha lenta p/ ciclo Otto: 0,2% em volume.

III- veículos automotores leves comerciais, de uso rodoviário, com massa do veículo para ensaio maior que 1.700 quilogramas,com vigência em 2013 para veículos do ciclo diesel e 2014 para os novos mo-delos e 2015 para os demais, ambos do ciclo Otto

Poluentes Limites monóxido de carbono (CO) 2,00g/km;hidrocarbonetos totais (THC), somente p/ veículos a gás natural 0,50 g/km hidrocarbonetos não metano (NMHC) 0,06 g/km; óxidos de nitrogênio (NOx) para ciclo Otto 0,25 g/km;óxidos de nitrogênio (NOx) para ciclo Diesel 0,35 g/km aldeídos totais (CHO) p/ ciclo Otto 0,03 g/km;material particulado (MP) p/ ciclo Diesel 0,040 g/km; monóxido de carbono em marcha lenta p/ ciclo Otto: 0,2% em volume.

2. Veículos Pesados

Em novembro de 2008, foi aprovada pelo CONAMA a Fase P-7 para veículos pesados (Resolu-ção nº 403, de 11/11/08), com limites mais rígidos de emissão de poluentes e estando prevista a entrada em operação em 1º de janeiro de 2012. Como anteriormente explicado, tal fase implicará na disponibili-zação ao mercado de um óleo diesel com teor, aproximado, de 10 ppm de enxofre, competindo a tarefa de especificar o novo combustível e a logística de abastecimento a Agência Nacional do Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis - ANP.

Pelo cronograma em vigor, as indústrias automobilísticas e de combustíveis têm até 2016 para se adap-tarem às novas normas técnicas, disponibilizando no mercado brasileiro diesel e motores nos padrões que já são adotados na Europa, onde os veículos movidos a diesel emitem uma quantidade de enxofre até 200 vezes menor do que é lançado pelos ônibus e caminhões brasileiros. Com a mudança, que cria a fase P-7 do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - PROCONVE, a ex-pectativa é de redução significativa das emissões.

Desta forma, no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2012, será admitido o fornecimento do diesel comercial que atenda a especificação de que trata a Resolução ANP nº 32/07, para utilização em veículos da fase P-7, no lugar do diesel S-50 comercial, ficando a cargo do IBAMA regulamentar a aplicação de tecnolo-gias de controle de emissão específica para permitir o gerenciamento adequado de sistemas que visem a in-troduzir sensores de óxidos de nitrogênio, além da especificação do agente redutor líquido de NOx (solução de uréia) com base nas características estabelecidas nas normas DIN 70070 e ISO 22241-1:2006.

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Os novos limites se encontram discriminados a seguir:

Limites de Emissão(g/kWh)

NOx HC CO CH4(2) MP NMHC Opacidade(m-1)

NH3(ppm)valor médio

Ensaio ESC(4)/ELR(5) 2,00 0,46 1,50 N.A. 0,02 N.A. 0,50 25,00

Ensaio ETC(1) 2,00 N.A. 4,00 1,10 0,03(3) 0,55 N.A. 25,00(1)Ciclo E.T.C. - denominado Ciclo Europeu em Regime Transiente - ciclo de ensaio que consiste de mil e oitocentos modos transientes, segundo a segundo, simulando condições reais de uso. Motores a gás são ensaiados somente neste ciclo.

(2)Somente motores a gás são submetidos a este limite.

(3)Motores a gás não são submetidos a este limite.

(4) Ciclo E. S. C - denominado Ciclo Europeu em Regime Constante - consiste de um ciclo de ensaio com 13 modos de operação em regime constante;

(5) Ciclo E.L.R. - denominado Ciclo Europeu de Resposta em Carga - ciclo de ensaio que consiste numa sequência de quatro patamares a rota-ções constantes e cargas crescentes de dez a cem por cento, para determinação da opacidade da emissão de escapamento.

Fonte:http://agendasociedadecivil.blogspot.com/2008/10/conama-delibera-sobre-nova-fase-do.html

2.2.1.1. RESULTADOS

Passados 23 anos de sua criação, os resultados alcançados pelo PROCONVE, até então, mostram que a estratégia para implantação no Brasil de programas de controle de emissão de poluentes por veículos au-tomotores foi montada acertadamente. O êxito do PROCONVE se deve a cronogramas bem elaborados, com etapas cada vez mais restritivas, e sempre em sintonia com a realidade brasileira.

Os expressivos resultados ambientais alcançados, bem como a eficácia na implantação das fases, de-monstram que o PROCONVE se constitui num dos programas mais bem sucedidos em termos de políti-cas públicas para o setor ambiental adotado pelo Governo Brasileiro

Como forma de atuação nas áreas de acompanhamento e controle, o PROCONVE, desde a sua implan-tação, determina que todo modelo de veículo automotor, para ser comercializado no território brasileiro, deve possuir, em nome do seu fabricante ou importador, a Licença para Uso da Configuração de Veículo ou Motor/LCVM. Cabe ao IBAMA, como entidade executora na área federal da política de meio ambien-te, a realização deste controle.

Pode-se enumerar, como resultados mais expressivos atingidos pelo PROCONVE, o que se segue: modernização do parque industrial automotivo brasileiro; adoção, atualização e desenvolvimento de novas tecnologias; melhoria da qualidade dos combustíveis automotivos; formação de mão-de-obra técnica altamente especializada; aporte no Brasil de novos investimentos, de novas indústrias e de laboratórios de emissão.

No tocante as emissões, desde a implantação do programa, ocorreu a redução no escapamento dos veícu-los em até 97% de poluentes. Antes do programa, a emissão média de monóxido de carbono, por exemplo, por veículo era de 54 g/km, hoje essa emissão é de 0,3 g/km. Mesmo com o significativo aumento da frota brasileira de veículos automotores, estes resultados fizeram com que tivéssemos condições de exercer um melhor controle sobre a poluição atmosférica, garantindo a qualidade do ar em nossas grandes cidades e contribuindo, sobremaneira, para a melhoria da saúde de seus habitantes. Com os resultados alcançados, a qualidade do ar melhorou nos últimos 23 anos mesmo com o crescimento de 215% da frota desde 1980 (cerca de 12 vezes mais que o crescimento da população, da ordem de 18%).

O país também foi o primeiro do mundo a produzir gasolina sem chumbo (a partir de 1991), reduzindo as emissões desse metal nocivo, e a utilizar combustíveis alternativos, como o álcool, o óleo de dendê e gasogênio (inclusive na navegação fluvial). Atualmente, também não se usa mais a gasolina pura, e sim uma mistura de gasolina e álcool, menos poluente.

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Os gráficos a seguir demonstram os resultados alcançados pelo PROCONVE no controle das emissões, discriminados por veículos leves e pesados:

EVOLUÇÃO DOS LIMITES DE EMISSÃO - VEÍCULOS LEVES

Monóxido de Carbono - CO(g / km)

24,0

12,0

2,0 2,0 2,0

0

5

10

15

20

25

30

1988 1992 1997 2007 2009

Hidrocarbonetos - HC(g / km)

2,1

1,2

0,3 0,3 0,30,05

0,16

0

0,5

1

1,5

2

2,5

1988 1992 1997 2006 2009

THCNMHC

Aldeídos Totais - CHO(g / km)

0,15

0,03 0,030,02

0

0,04

0,08

0,12

0,16

1988 1992 1997 2007 2009

Óxidos de Nitrogênio - NOx(g / km)

2,00

1,40

0,60

0,250,12

0,6

0,25

0

0,5

1

1,5

2

2,5

1988 1992 1997 2007 2009

Ciclo OTTOCiclo DIESEL

FONTE: IBAMA/PROCONVE

Legenda:

THC -Hidrocarbonetos totais

NMHC -Hidrocarbonetos não metano

EVOLUÇÃO DOS LIMITES DE EMISSÃO - VEÍCULOS LEVES POR CADA FASE

FONTE: IBAMA/PROCONVE

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EVOLUÇÃO DOS LIMITES DE EMISSÃO - VEÍCULOS PESADOS

Monóxido de Carbono - CO(g / kWh)11,2

4,94,0

2,1 1,5

0

2

4

6

8

10

12

1994 1996 2000 2006 2009

Hidrocarbonetos - HC(g / kWh)

2,45

1,23 1,100,66 0,46

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

1994 1996 2000 2006 2009

Material Particulado - MP(g / kWh)

0,70

0,250,16

0,030

0,10,20,30,40,50,60,70,8

1994 1996 2000 2006 2009

Óxidos de Nitrogênio - NOx(g / kWh)

14,4

9,07,0

5,03,5

02468

10121416

1994 1996 2000 2006 2009

FONTE: IBAMA/PROCONVE

CARACTERÍSTICA DOS COMBUSTÍVEIS – GASOLINA

Em 2005Especifi cações Comum PremiumTeor de Enxofre (máx) 400 ppm 200 ppmTeor de Aromáticos (máx) 40% 45%Teor de Olefi nas (máx) 25% 25%Teor de Benzeno (máx) 1% 2%

Fonte:IBAMA/PROCONVE

Em 2008Especifi cações Comum Premium

Teor de Enxofre (máx) 80 ppm 80 ppmTeor de Aromáticos (máx) Em estudo/negociação

Teor de Olefi nas (máx)Teor de Benzeno (máx)

Fonte:IBAMA/PROCONVE

Assim como nos demais países onde programas similares de redução da poluição atmosférica oriunda de fontes móveis foram implantados, o objetivo principal do PROCONVE é o desenvolvimento tecnológico gradual de veículos e combustíveis até um protótipo derradeiro, cujas emissões se deem em níveis pouco significativos (“Emissão Zero”).

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Assim sendo, a fase L-6 do PROCONVE para veículos leves, prevê a comercialização de veículos menos poluentes e a distribuição do combustível com menor teor de enxofre, que foi espelhada na fase EURO 4 e prevê limites idênticos aos que já entraram em vigor na Europa em 2005. A fase EURO 5 entrou este ano em vigor na Europa com redução significativa dos valores de NOx. Já estão estabelecidas também as normas para a fase 7 do PROCONVE, que deverá entrar em vigor por volta de 2012, quando na Europa deverá estar vigente a EURO 6.

Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental - EPA (Environment Protection Agency) estabele-ceu seus limites de emissões de forma bastante complexa e com procedimentos de testes diferentes dos europeus. Pelo procedimento americano, os fabricantes de veículos devem ter a média de sua produ-ção, enquadrada em determinados índices e para cada categoria de veículos existem limites próprios. A classificação americana chamada TIER, teve sua primeira fase estabelecida em 1998 (TIER I), ficando em vigor até 2002, quando entrou a TIER II, substituída pela TIER III em 2007. Também é adotada uma terminologia para faixas mais limitantes de emissões, como TLEV, LEV, ULEV e ZEV para Transitional Low, Low, Ultra Low e Zero Emission Vehicle, que significam desde veículos de transição para baixas emissões até o veículo que emite zero de poluentes.

No gráfico a seguir está demonstrado um comparativo entre as reduções de emissões dos programas europeu, americano e brasileiro:

Figura 3:

Fonte: http://www.lubes.com.br/revista/ed07n03.html (consultado em 09/10/2009)

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Nos quadros abaixo, estão apresentados os limites para veículos leves do ciclo Otto, bem como para ve-ículos pesados do ciclo Diesel, correlacionando este último as fases do programa de controle de emissão veicular europeu (limites “EURO”)

Fonte: disponível em http://www.lubes.com.br/revista/ed07n03.html, consultado em 09/09/2009

2.2.2. PROMOT

O vertiginoso crescimento do segmento das motocicletas e veículos similares nos últimos anos no país e seu perfil de utilização, notadamente no segmento econômico de prestação de serviços de entregas em regiões urbanas, tornou necessário o estabelecimento de um programa específico para o controle das emissões dessa categoria de veículo automotor, muito em razão dos elevados fatores de emissão dos mesmos quando comparados aos automóveis novos.

Um estudo publicado no jornal americano Environmental Science & Technology alertou a comuni-dade mundial para a poluição causada pelos motociclos. Segundo o estudo em tela, em comparação com os automóveis, as motocicletas emitem 16 vezes mais hidrocarbonetos, três vezes mais monóxido de carbono e uma quantidade altíssima de outros poluentes na atmosfera. Uma única motocicleta, com motor de quatro ou dois-tempos, emite muito mais poluentes do que um utilitário-esportivo de grande porte.

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Legislações ou pesquisas a respeito das emissões das motocicletas nunca foram efetivamente desenvol-vidas e, sendo assim, os fabricantes desses veículos nunca foram incentivados a instalar catalisadores ou sistemas de controle de emissões.

A pesquisa atentou para o fato de que é principalmente no caótico trânsito urbano que as motocicletas aceleram mais, gastando combustível de forma ineficiente e aumentando ainda mais as suas emissões.

Outro ponto importante verificado é que, apesar da pesquisa salientar a alta nas emissões de hidrocar-bonetos nos países desenvolvidos como, por exemplo, Japão, Alemanha e Itália, as motocicletas nunca foram os meios mais populares de transporte nestes países. Com efeito, quase 90% das motocicletas em circulação no mundo são produzidas e comercializadas na Ásia, onde correspondem a 75% da frota de veículos. Coincidência ou não, é lá que se encontram algumas das cidades mais poluídas do mundo.

Em Taiwan, as motocicletas chegam a 85% dos veículos em circulação. Na Índia, os veículos de duas ou três rodas são 70% da frota. Com o desenvolvimento econômico da região, estes valores podem crescer na mesmo proporção dos problemas de saúde pública decorrentes da poluição.

Nos EUA, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) está atualizando, após 25 anos, a regulamentação para emissões das motocicletas, estabelecendo uma redução de 60% nas emissões de hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio a partir de 2010. Com a medida, espera-se deixar de emitir 54 mil toneladas de poluentes, além de economizar 12 milhões de litros de combustível.

Nas grandes metrópoles, a preocupação com a poluição das motocicletas é ainda maior. Enquanto um carro roda em média 30 quilômetros por dia, as motos de entrega percorrem até 180 quilômetros, po-luindo tanto quanto 120 automóveis.

Assim nasceu no ano de 2002 o Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares – PROMOT, por meio da Resolução nº 297/2002 do CONAMA, com o objetivo de complementar o controle do PROCONVE e contribuindo, sobremaneira, para reduzir a poluição do ar por fontes móveis no Brasil.

A legislação que fundamenta o PROMOT foi baseada nas legislações vigentes na Europa, principalmente na Diretiva das Comunidades Européias de nº 97/24/EC, sendo que os primeiros limites de emissão pro-postos para vigorar a partir de 01 de janeiro de 2003 (limites EURO I), levaram em consideração o está-gio tecnológico em que se encontrava a indústria nacional de motociclos e similares. Seguem-se as fases posteriores com reduções significativas nas emissões, em equivalência aos limites estabelecidos pela CEE (limites EURO II e EURO III).Na sequência dos fatos, foram publicadas a Instrução Normativa IBAMA nº 17/2002 e a Resolução CONAMA 342/2003, complementando a Resolução 297/2002, estabelecendo limites EURO III para os motociclos e cuja entrada em vigor se deu neste ano de 2009.

O estabelecimento destes marcos legais posicionam o Brasil apenas uma fase de controle atrás da Comu-nidade Européia e foram bem recepcionados pelo segmento de fabricantes e importadores de motociclos no país. Isso resultou na redução em 2/3 da emissão de monóxido de carbono em relação aos modelos anteriores sem controle de emissão.

Em síntese, o PROMOT estabeleceu limites de emissão para gases poluentes provenientes de motocicletas novas e previu exigências quanto à durabilidade das emissões, o controle da qualidade da produção, os crité-rios para a implantação de programas de inspeção e manutenção periódica e a fiscalização em campo.

Ainda segundo a Abraciclo6, representante do setor, seria incorreto dizer que as motocicletas poluem mais do que os automóveis, porque o controle da poluição das duas modalidades têm históricos diferentes e o das motos é 18 (dezoito) anos mais recente: além do monóxido de carbono, as tabelas do PROMOT e da Cetesb registram valores para a emissão de hidrocarbonetos (HC) e óxido de nitrogênio (NOx) – em ambas, os valores emitidos pelas motocicletas novas ainda são mais elevados do que os dos automóveis.

6 ABRACICLO- Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares

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Da mesma forma que o PROCONVE, a base normativa do PROMOT são Resoluções específicas que estabelecem diretrizes, prazos e padrões legais de emissão admissíveis para as diferentes categorias de motociclos e veículos similares nacionais e importados.

As ações do PROMOT podem ser resumidas da seguinte forma:

atua diretamente sobre as categorias de ciclomotores•

estabelece limites máximos para emissão de poluentes;•

estabelece metodologias de ensaios;•

fases sucessivas com limites cada vez mais severos;•

concede prazos para desenvolvimento dos veículos, adaptação da indústria de auto-peças;•

não estabelece tecnologia específica;•

promove a homologação prévia dos produtos através da concessão de Licença para Uso de da Con-•

figuração de Ciclomotores, Motociclos e Similares - LCM;

acompanha a conformidade da produção;•

prevê a implantação dos programas de inspeção e manutenção• .

De maneira análoga ao PROCONVE, são denominadas “fases” do PROMOT os interregnos de tempo entre a vigência de um determinado limite de emissão dado pela legislação e a entrada em vigor de novos limites de emissão mais restritivos. Ressalte-se que, como já citado, nessas fases estão contem-pladas inovações tecnológicas nos ciclomotores e similares que possibilitam a redução das emissões.

Outro ponto importante é que o controle pelo PROMOT é executado a partir da classificação dos ciclomotores em razão de seu deslocamento volumétrico (cilindradas), sendo as fases caracterizadas por “M – motociclos”.

Fase M-1 (período: 2003-2005/situação: já concluída): em atendimento as determinações estabele-cidas na Resolução CONAMA 297, de 26 de fevereiro de 2002, esta fase que teve início em janeiro de 2003 e perdurou até 2005, estabeleceu os limites iniciais máximos de emissão de gases de esca-pamento pra ciclomotores novos (veículos de duas rodas e seus similares, providos de um motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda a cinquenta centímetros cúbicos em que a velocidade máxima de fabricação não exceda a cinquenta quilômetros por hora), motociclos (veículos dotados de motor de combustão interna com cilindrada superior a cinquenta centímetros cúbicos e cuja velocida-de máxima ultrapasse cinquenta quilômetros por hora) e veículos similares novos. Nesta fase, deu-se o aprimoramento tecnológico desses veículos com a transferência dos controles de emissão utilizados no exterior para os veículos nacionais.

Fase M-2 (período:2006-2008/situação: já concluída): Também em atendimento a Resolução Nº 297, de 26 de fevereiro de 2002, no ano de 2006, iniciou-se a segunda fase com reduções drásticas dos limites estabelecidos pela 1ª fase (CO = redução de 83% na emissão ; Hidrocarbonetos + NOx = redução de 60%).

Fase M-3 (período: 2009 em diante7/situação: em curso): a terceira fase, cuja vigência se deu em 1º de janeiro de 2009, conforme previsto na Resolução CONAMA Nº 342, de 25 de setembro de 2003, e contemplou todos os modelos de ciclomotores, motociclos e veículos similares novos e veículos em produção. Nesta fase, também ocorre uma redução significativa das emissões de poluentes, sendo,

7 Até o presente momento, não foi elaborada Resolução do CONAMA contemplando os novos limi-tes para o PROMOT

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em alguns casos, superiores a 50% dos limites previstos na fase anterior, conforme pode ser visto no quadro a seguir:

Limites de emissão para Ciclomotores, Motociclos e Similares, de acordo com as fases previstas pelo PROMOT

LIMITES DE EMISSÕES VEICULARES APROVADOS PELO CONAMA(Ciclomotores, Motociclos e Similares)

CategoriaData de Vi-gência

Limites

CO(g/km)

HC + NOx(g/km)

Ciclomoto-res

1/1/2003 6,0 3,0

1/1/2005 (1)1,0

1,2

1/1/2006 (2)

Obs.:(1) Para os novos lançamentos de modelos(2) Para todos os modelos

CategoriaData da Vi-gência

Motor

Limites

CO(g/km)

HC(g/km)

NOx(g/km)

CO Marcha Lenta% em volume

<250 cc > 250 cc

Motociclos e Similares

1/1/2003 Todos 13,0 3,0

0,3

6,00% 0

1/1/2005 (1)< 150 cc

5,5

1,2

≥150 cc 1,0

1/1/2006 (2)< 150 cc 1,2

≥150 cc 1,0

1/1/2009< 150 cc

2,00,8

0,15 ≥150 cc 0,3

Obs:(1) Para os novos lançamentos de modelos(2) Para todos os modelos

Fonte: IBAMA/PROMOT

Apesar de ainda não regulamentadas, as perspectivas são de novas fases para o programa PROMOT, en-globando inovações tecnológicas que permitirão a redução das emissões pelos ciclomotores e similares. Muito provavelmente, os limites constantes nas novas regulações brasileiras serão baseadas nas diretri-zes européias que sucederão os respectivos limites EURO III no que couber.

Como inovação tecnológica, deverá ocorrer a implantação de injeção eletrônica nos motociclos para atingir o objetivo proposto pela fase 3 do PROMOT. Pelo mecanismo da injeção eletrônica, o controla-dor eletrônico determina qual a melhor proporção de combustível para cada situação, independente de qualquer vácuo e, por isso, normalmente é mais econômico e menos poluente que o carburador, pois não há desperdício de combustível.

Os novos passos também preveem novos limites de emissão para motocicletas “flex fuel” (bicombustí-vel), controle de emissões de aldeídos, controle de emissão evaporativa, controle da produção quanto à emissões, durabilidade de emissões .

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2.2.2.1. RESULTADOS

Os principais resultados alcançados pelo PROMOT, até então, mostram de forma inequívoca que a estratégia para implantação de programas de controle de emissão de poluentes por veículos automo-tores foi montada acertadamente.

Em 2000, uma motocicleta nova emitia uma quantidade 16 vezes superior de monóxido de carbono que um veículo novo (12 gramas por quilômetro rodado para 0,73 grama por quilômetro de um automóvel). Já no ano de 2006, esse índice baixou para 2,3 g/km em motos contra 0,33 g/km dos carros (os dados referem-se a motos com motores de 150 cilindradas ou menos).

Com a implantação do programa, houve redução das emissões em cerca de 80% para o monóxido de carbono e 70% para os hidrocarbonetos, sendo que neste ano de 2009, os limites de emissão de gases poluentes para motociclos e automóveis serão bastante similares.

Desde a implantação do programa PROMOT, todo modelo de veículo automotor (os motociclos são espécies do gênero), para ser comercializado no território brasileiro, deve possuir, em nome do seu fa-bricante ou importador, a Licença para Uso da Configuração de Veículo ou Motor - LCVM ou a Licença para Uso de Motos ou Similares - LCM.

Figura 4 - Evolução cronológica do programa PROMOT no país:

PROMOT III

Maior baixa53 mil motos/ano

Resolução CONAMA 297/02- Estabelece o PROMOT- Fixa a Fase I

Resolução CONAMA 342/03- Fixa as Fases II e III

EvoluEvoluçção Cronolão Cronolóógicagica

19831983

FASE 2 FASE 3

PROMOT

começa a fabricação no Brasil

Ápice da produção 219 mil motos/ano

O INÍCIOHistórico da Motocicleta no Brasil

2000Implantação do PROCONVEQtde. motocicletas na frota urbana não

justificava a aplicação de um controle

19861975 2006 20091992 20032002

FASE 1

Mais de meio milhãode motos / ano

Fonte: ABRACICLO

Como dito anteriormente, o programa brasileiro implantado em 2000 foi baseado no programa europeu para controle de emissões de motociclos e similares, muito pelo fato de que o uso de ciclomo-tores em diversas cidades européias ser mais intenso quando comparado ao seu similar norte-americano. Os programas americanos de controle da poluição veicular, nos seus primórdios, apesar de serem mais

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restritivos para automóveis e veículos pesados, não eram tanto com as motocicletas, porque essa não se constituía em uma necessidade dos EUA.

Assim, os novos limites de emissão do programa brasileiro devem acompanhar as fases do programa europeu, até porque a metodologia internacional se encontra globalizada, todavia deve considerar as particularidades individuais como, por exemplo, a grande vantagem que o Brasil conta que é a gasolina com cerca de 20 a 25% de álcool misturado. Essa particularidade se mostra bastante diferenciada no tocante a redução de emissões e dos gases do efeito estufa.

Similarmente ao PROCONVE e demais países onde programas de redução da poluição atmosférica oriunda de fontes móveis foram implantados, o objetivo primordial do PROMOT é o desenvolvimen-to tecnológico gradual de ciclomotores e similares até atingir níveis pouco significativos de emissão (“Emissão Zero”).

2.2.3. INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO VEICULAR

A redução dos níveis de emissão dos veículos novos é fator fundamental, mas não garante, por si só, a melhoria da qualidade do ar. É necessário garantir também que os veículos sejam mantidos ao lon-go de sua vida útil conforme as especificações do fabricante. Assim sendo, as regulamentações que criaram os Programas PROCONVE e PROMOT, analogamente a programas similares implantados em diversos países, preveem em seus escopos a implantação de programas de inspeção ambiental e ma-nutenção de veículos em uso.

Os programas de inspeção e manutenção (denominados “Programas I/M”) são considerados como uma das principais linhas de ação ao combate da poluição atmosférica veicular. Esse tipo de programa en-coraja a manutenção correta dos veículos e desestimula a adulteração dos dispositivos de controle de emissões, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar e para a economia de combustível. Em ou-tras palavras, objetiva manter as emissões aprovadas no licenciamento do veículo dentro dos padrões ambientais estabelecidos. Esses programas foram implantados em diversos países, visando, inicialmente, aumentar a segurança veicular (inspeção de segurança), e, posteriormente, objetivando também reduzir as emissões de poluentes.

A Inspeção Ambiental Veicular é uma forma eficaz de controlar a emissão de gases poluentes liberados pelos escapamentos dos veículos. Atualmente, cerca de 50 países do mundo fazem a inspeção veicular, cujas peculiaridades na sistematização dos mesmos variam em função, principalmente, dos tipos de combustíveis utilizados no país. No caso brasileiro, os programas de inspeção veiculares a serem adota-dos medirão nos veículos que utilizam gasolina, álcool ou gás natural, gases poluentes como Monóxido de carbono (CO), Dióxido de Carbono (CO2) e Hidrocarbonetos (HC), e nos veículos à diesel, a emissão de material particulado (MP).

No Brasil, cabe aos governos estaduais e municipais o estabelecimento das normas e procedimentos para a manutenção dos veículos em circulação, a inspeção periódica e a fiscalização das emissões, conforme disposto na Lei nº 8.723, de 28/10/93. Entretanto a Lei nº 10.203, de 22/02/01, estabeleceu a possibilidade dos municípios, com frota igual ou superior a três milhões de veículos, implantarem pro-gramas próprios de inspeção.

As diretrizes básicas para a implementação dos Programas de Inspeção e Manutenção de Veículos Auto-motores em Uso – I/M, foram regulamentadas pela Resolução CONAMA nº 7, de 31/8/93. No decorrer dos anos, foi necessário que o CONAMA promovesse atualizações do programa quanto a sua forma de execução e operação por meio das Resoluções CONAMA nº 18, 251, 252 e 256.

A Lei nº 9.503, de 23/9/97, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro - CTB, determinou no artigo 104 que os veículos em circulação tivessem suas condições de segurança, controle de emissões e de ruídos avaliadas mediante inspeção obrigatória, cabendo ao CONAMA os itens de meio ambiente e ao

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Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN – os de segurança. Tal determinação levou o CONTRAN a aprovar a Resolução nº 84, de 19/11/98, estabelecendo as normas referentes a Inspeção Técnica de Veículos. Essa resolução foi suspensa pela Resolução nº 107, de 21/12/99.

A edição da Resolução nº 84/98 fez com que o Ministério do Meio Ambiente e o Departamento Nacio-nal de Trânsito – DENATRAN buscassem juntos uma solução que viabilizasse a realização, no mesmo local, da inspeção ambiental e de segurança. Nessa linha, foi aprovada a Resolução Conama nº 256, de 30/6/99, que abriu a possibilidade de celebração de convênios entre os órgãos estaduais de meio ambiente e o DENATRAN para a implementação conjunta das duas inspeções. A necessidade de harmo-nização foi ratificada pela mencionada Lei nº 10.203/2001.

Há outra iniciativa de implementação conjunta da inspeção veicular, oriunda da Câmara dos Deputados com o Projeto de Lei nº 5.979/2001, que cria a Inspeção Técnica Veicular – ITV e unifica as inspeções de segurança e ambiental, respeitadas as normas técnicas do CONAMA e CONTRAN. Este Projeto de Lei encontra-se em tramitação, sem previsão para sua aprovação.

No início do ano de 2009, o MMA retomou o processo de implantação dos Programas I/M e, por meio da Portaria nº 38, de 27/1/2009, instituiu Grupo de Trabalho para proceder, entre outros, a revisão das Resoluções do CONAMA.

Em abril de 2009, por iniciativa do Presidente do CONAMA, a proposta de minuta de Resolução, con-templando, aperfeiçoando e consolidando a legislação dos Programas I/M, foi apresentada ao Plenário do CONAMA, na sua 53ª reunião extraordinária, para votação em regime de urgência.

No mês de maio de 2009, a Secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do MMA fez apresentação sobre os principais pontos da proposta de Resolução na 36ª Reunião da Câmara Técnica de Controle e Qualidade Ambiental (CTCQA) do Conselho. Na ocasião, ficou decidida pelos conselheiros a realização de um seminário sobre o assunto, com a presença de especialistas, antes que se prosseguisse a discussão na Câmara Técnica. Este seminário foi realizado em junho de 2009 na sede da Confederação Nacional do Transporte – CNT.

Em julho, a proposta original de Resolução foi apresentada na 37ª Reunião da CTCQA, tendo-se de-liberado pela criação de um Grupo de Trabalho para aperfeiçoar tecnicamente o texto da Resolução (denominado de “GT INSPEÇÂO VEICULAR”). O MMA foi designado como Coordenador do GT, tendo a Organização Não Governamental ECOJURÉIA como relatora e sendo dado um prazo de 60 dias para conclusão dos trabalhos.

O GT de Inspeção Veicular se reuniu em duas ocasiões no mês de julho de 2009 para deliberar sobre a consolidação e revisão das Resoluções CONAMA nº 7/93, 15/94; 16/95; 18/95; 227/1997; 251/99; 252/99 e 256/99. A composição do GT se mostrou de grande multidisciplinaridade, contando com a participação das seguintes instituições: Ministério do Meio Ambiente na Coordenação, Ministério das Minas e Energia, Ministério das Cidades; Ministério da Saúde; IBAMA; FEAM/MG; CETESB/SP; INEA-RJ; IMA-AL; SEMARH-AL; SEMASA-PSA-SP; Prefeitura de São Paulo; IPT; CREA/DF; Petrobrás; EnvironMentality (PMSP); CNI/ANFAVEA; CNT; Abraciclo; AMMA-GO; CREA-RS; FURPA e IEMA.

Já no mês de setembro/2009, a proposta de resolução foi apresentada na 38ª Reunião da CTCQA, tendo sido aprovada com emendas e encaminhada a 53ª Reunião da Câmara Técnica de Assuntos Jurídicos (CTAJ) daquele Conselho para apreciação. Após análise e deliberação na CTAJ, em reunião realizada no início do mês de outubro/2009, a proposta com emendas foi então encaminhada a Plenária na 54ª Reunião Extraordinária do CONAMA, sendo aprovada por unanimidade. No presente momento, a Reso-lução se encontra em fase de publicação.

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2.2.4. INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE POLUENTES DO AR POR FONTES MÓVEIS

O Inventário de Emissões de Poluentes do Ar por Fontes Móveis representa, no nível federal e estadual, um marco importante para a efetiva implantação dos instrumentos de gestão da qualidade do ar institu-ídos pela Resolução CONAMA no 05/89. Alguns poucos Estados e mesmo setores e corporações vêm tentando (ou tentaram em algum momento), elaborá-lo de forma tímida e descontínua e com diferentes metodologias, o que resultou em dificuldades para sua plena aplicação em quaisquer escalas.

Inventários de Emissões podem ser compartimentados segundo diferentes fontes e permitem, em última forma, a realização de diagnósticos mais precisos da poluição atmosférica. Idealmente, devem ser feitos de forma contínua e atualizada em escala local, regional e nacional, distinguindo, por exemplo, a carga de poluentes lançados por segmento industrial e não industrial, incluindo os de fontes móveis, assim como sua contribuição hierarquizada no conjunto das emissões. Para tanto, sua realização depende de trabalhos basilares tais como a formação de bancos de dados com a caracterização das fontes, a defini-ção de metodologias de cálculo, com modelos alimentados tanto a partir de dados secundários, quanto de medições diretas nas fontes ou durante outros processos como os de testes para homologação de veículos e motores.

Assim, no que trata dessa tipologia de fontes, existe uma demanda urgente para elaboração desse ins-trumento, mas que esbarra na definição de uma metodologia a ser aplicada nacionalmente, além da definição das bases técnicas e normativas que garantam sua atualização sistemática. O acesso às fontes de dados também representam um arranjo importante a ser feito, para que dados sobre a frota nacional sejam fornecidos pelo DENATRAN, ANTT, FENABRAVE, ANFAVEA; os dados de consumo de combus-tíveis pela ANP; as projeções do PNE;os dados dos processos de homologação de veículos e motores e Relatórios de Valores de Emissão da Produção – RVEP , obtidos junto ao IBAMA/CETESB, desde a da vigência do PROCONVE, em 1986.

Esse esforço permitirá elaborar e publicar o “1o Inventário Nacional de Emissões de Poluentes do Ar por Fontes Móveis”, contendo a distribuição geral das emissões de material particulado, monóxido de carbono , óxidos de nitrogênio e de enxofre, aldeídos e hidrocarbonetos e gases do efeito estufa (CO2, CH4, N2O), relativa à frota de veículos comerciais leves e motociclos em conformidade com as categorias instituídas pelo PROCONVE, por idade e tipo de combustível (gasolina, álcool, gás natural e diesel), por ano-modelo, e com detalhamento nas principais Regiões Metropolitanas do país.

Em um momento em que desafios cada vez maiores são postos para redução de emissões veiculares, tornam-se fundamentais os esforços para melhoria da qualidade dos combustíveis, da tecnologia dos motores e de mecanismos de comando/controle mais afinados com planos e programas para redu-ção de poluentes convencionais e de gases de efeito estufa. No entanto, não se pode apostar nesses como os únicos meios. Medidas como a inspeção e manutenção de veículos em uso, melhoria da mobilidade urbana, transferência modal, só para citar alguns exemplos, compõem o conjunto de temas que demandam negociações e alterações profundas na forma como se decidem as políticas públicas voltadas à qualidade ambiental no país e que encontra em inventários dessa natureza um dos principais elementos para a tomada de decisões mais seguras.

2.2.5. NOTA VERDE

O Nota Verde é um instrumento que promove a classificação dos veículos leves vendidos hoje no país de acordo com suas emissões. Esse instrumento tem o objetivo de ampliar o consumo consciente, uma vez que o comprador poderá agregar aos já tradicionais parâmetros de escolha de marcas e modelos de automóveis outros itens, que permitam comparar os automóveis novos, segundo os níveis de emissão de poluentes controlados e de CO2, que contribui para o efeito estufa.

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2.3. AÇÕES A SEREM IMPLEMENTADAS

As medidas para controle da poluição atmosférica oriunda de fontes móveis que compõem os planos de gestão da qualidade do ar apresentam um rol de linhas de ação que são similares nos países que detém esse tipo de plano. Desta forma, iniciativas como a publicação de regulamentações contendo limites gradativos de emissão, a adoção de rodízios para circulação de veículos nas áreas urbanas, inventários de emissão para fontes móveis, implantação de programas de inspeção e manutenção e outras medidas similares, compõem a maioria dos programas governamentais. As maiores diferenciações apresentadas pelos diversos programas se dão em razão das peculiaridades de cada país em que foram implantados, bem como das priorização em função das necessidades . Assim, diferenças como a magnitude, idade e a distribuição espacial da frota, os tipos de combustíveis utilizados, a existência ou não de infraestrutura de mobilidade urbana, os modais de transporte de carga existentes, o relevo da região, além da implantação em períodos distintos em razão de suas prioridades são fatores que fazem com que os planos se tornem “suis generis” para cada país ou mesmo para certa região.

No caso brasileiro, já existem várias medidas em andamento e outras por implantar, objetivando o con-trole da poluição veicular, conforme discriminado a seguir:

2.3.1. ELABORAÇÃO DAS NORMATIZAÇÕES QUE COMPORÃO AS NOVAS FASES DOS PROGRA-MAS PROCONVE/PROMOT,

Seguindo a dinâmica dos programas de controle da poluição veicular, para os anos seguintes estão pre-vistas a publicação de novas regulamentações trazendo limites cada vez mais restritivos na emissão de poluentes atmosféricos por veículos automotores.

De maneira análoga, deve ocorrer a elaboração das novas especificações para os combustíveis, que deverão ser implementadas de maneira a possibilitar a redução das emissões.

2.3.2. IMPLEMENTAÇÃO DA COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DO PROCONVE /CAP

Como forma de garantir a excelência do Programa PROCONVE, sua continuidade ao longo do tempo e promover as adequações quando necessárias, faz-se mister a implementação da CAP. A CAP, imbuída na sua missão de avaliar os resultados do PROCONVE, é responsável direta pelo seu bom desempenho na redução da poluição atmosférica veicular.

2.3.3 -. PRESTAR AUXÍLIO TÉCNICO E INSTITUCIONAL AOS ESTADOS E MUNICÍPIOS NA IM-PLANTAÇÃO DOS PROGRAMAS I/M,

Os programas I/M revestem-se de grande importância para a redução da poluição veicular, constituindo-se, juntamente com os limites de emissão, em alicerce do Programa PROCONVE.

Desta forma, propõe-se uma ação no sentido de prestar assistência, na forma do desenvolvimento e repasse de metodologias, aos estados e municípios que demandarem auxilio na implantação desses pro-gramas, notadamente na elaboração dos respectivos Planos de Controle da Poluição Veicular – PCPV.

2.3.4 VIABILIZAR A LOGÍSTICA DE DISTRIBUIÇÃO PARA O PRODUTO ARLA 32

Para atendimento, a fase P – 7 do PROCONVE, que exige a adoção de um produto que possibilite o controle das emissões do NOx, o MMA, em conjunto com os Ministérios do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior-MDIC e das Minas e Energia – MME, deverá promover a especificação, produção, comercialização e distribuição, no país, do ARLA 32 ( Agente Redutor Líquido Automotivo à base de solução de uréia ).

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2.3.5. RESOLUÇÃO CONAMA SOBRE INVENTÁRIO DE FONTES MÓVEIS

Elaboração de Resolução do CONAMA detalhando a metodologia de inventário de fontes móveis a ser aplicada nacionalmente, além da definição das bases técnicas e normativas que garantam as atualização sistemática.

3. FONTES FIXAS

3.1. CONTEXTO

São assim denominadas as fontes lançadas à atmosfera por um ponto específico, fixo, como uma chami-né, por exemplo. Dessa forma, as fontes fixas de emissões atmosféricas compreendem as que resultam dos processos produtivos industriais e dos processos de geração de energia, como é o caso das termelé-tricas. Esses processos liberam, para a atmosfera, uma série de substâncias, conforme as matérias-primas, insumos e combustíveis empregados, sendo que algumas delas podem apresentar elevada toxicidade, comprometendo a qualidade do ar, da água e do solo.

É incontestável a importância do setor industrial na economia das sociedades modernas como fator de desenvolvimento das nações e também que os produtos manufaturados fazem parte, cada vez mais, dos padrões de vida contemporâneos, atendendo a uma série de necessidades humanas.

Contudo, os impactos exercidos pelas atividades produtivas sobre o meio ambiente estão presentes em todas as fases do processo: a exploração e a extração das matérias–primas, a transformação dessas nos pro-dutos finais, o uso da energia, insumos e água, até o uso e descarte dos produtos pelos consumidores.

No Brasil, a exemplo do que ocorre em muitos países em desenvolvimento, a maior parte das grandes instalações industriais como refinarias, pólos petroquímicos e siderúrgicas, responsáveis pelas emissões de poluentes para a atmosfera, está concentrada em áreas urbanas. Soma-se a isso o fato de que as áreas industriais atraem a população para seu entorno, cuja ocupação, na maioria das vezes, se dá de maneira desordenada, sem o planejamento necessário, o que faz com que a população fique exposta diretamente aos efeitos de suas emissões.

Os impactos da cadeia produtiva sobre o meio ambiente ficam mais evidentes quando as atividades se localizam próximas a regiões densamente urbanizadas, uma vez que atingem os ecossistemas, a atmos-fera, o solo e os recursos hídricos, os quais são utilizados pelas populações.

Uma vez que é fato inevitável que a crescente industrialização das diversas regiões do país traz como consequência o aumento da emissão de poluentes atmosféricos e a degradação da qualidade do ar, são necessárias ações e políticas voltadas à prevenção, ao controle e à mitigação dos efeitos da poluição at-mosférica, tendo em vista a necessidade de compatibilização do desenvolvimento sócio- econômico do país com a preservação da qualidade ambiental, da saúde humana e do equilíbrio ecológico de nossos ecossistemas.

Na prática, o controle das fontes fixas pode ser feito por meio de medidas que promovam a redução dos poluentes em suas fontes: uso de matérias-primas e insumos com menor impacto ambiental, uso de tec-nologias de produção mais limpas (reuso, reutilização e reciclagem), melhoria na eficiência dos proces-sos industriais, mudanças na matriz energética (uso de combustíveis mais limpos) e adoção de sistemas de tratamento das emissões antes do seu lançamento à atmosfera.

Em seu último relatório anual – Industrial Development Report 2005, a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) analisou o desempenho da indústria mundial na última dé-cada e meia e apontou que, em 2003, o Brasil respondia por um percentual de 2,1 % do produto indus-trial mundial, ocupando a 9ª posição entre as nações mais desenvolvidas.

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Os resultados da Pesquisa Industrial Anual do IBGE (PIA) de 2008 mostram uma tendência de aumento na participação e consequente especialização da indústria em setores intensivos em recursos naturais. Atualmente, mais da metade da produção industrial (50,3%) se concentra em apenas quatro setores, sendo que três estão associados ao processamento de recursos naturais: fabricação de coque, refino de petróleo e produção de álcool (16,5%), fabricação de produtos alimentícios e bebidas (16,0%) e meta-lúrgica básica (7,9%).

O mesmo estudo mostra a taxa de investimento da indústria, medida pela participação do investimento no total do valor da transformação industrial (VTI), que, no período de 1996 a 2006, situou-se em uma média de 12,9%. Os setores que apresentaram taxa de investimento acima da média da indústria por maior número de anos foram os de extração de minerais não-metálicos e de fabricação de celulose, pa-pel e produtos de papel.

O setor de bens intermediários (minerais não metálicos, metalúrgica, papel e celulose, e química), domi-nantes na estrutura industrial brasileira, tem implicado em mudanças na relação com o meio ambiente, já que estas atividades são consumidoras mais intensivas de recursos naturais e energia (BARCELLOS e ANDRADE, 2002). Os mesmos autores, ao analisarem a relação entre a indústria nacional e seu impacto sobre o meio ambiente, verificaram que os ramos de atividades mais significativos da indústria brasi-leira: química–petroquímica, metal-mecânica, material de transportes, papel e celulose e minerais não metálicos, todos possuem uma forte carga de impactos ambientais, incorporando padrões tecnológicos avançados para a base nacional, mas ultrapassados no que se refere a relação com o meio ambiente, com escassos elementos tecnológicos de tratamento, reciclagem e processamento.

Em resumo, o que se constata na produção industrial brasileira hoje é uma intensificação do crescimento dos setores industriais mais poluidores, como é o caso dos segmentos de metalurgia, química, refino de petróleo, minerais não metálicos, entre outros. Esses setores demandam elevado consumo de recursos naturais e energia, além de serem geradores de grandes volumes de emissões, efluentes e resíduos, o que faz com que seja necessária a regulamentação, a implementação de políticas de controle mais eficazes e de ações de fiscalização ambiental.

No Brasil, a política ambiental expressa na legislação e na organização institucional define os instrumentos de intervenção do Estado na administração dos recursos e na qualidade do meio ambiente. Na esfera do controle da poluição industrial, o II Plano Nacional de Desenvolvimento, em seu capítulo sobre o desenvolvimento urbano, controle da poluição e preservação do meio ambiente, definiu prioridade para o controle da poluição industrial através do zoneamento, dando atenção aos problemas de localização industrial e estabelecimento de normas antipoluição, dentro da idéia de que a política mais eficaz é a de caráter preventivo.

Essa abordagem foi consolidada pelos Decretos Federais 1.413/75 e 76.389/75, que definiram medidas de prevenção e controle da poluição gerada pelas indústrias.

A Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA, regulamentada pela Lei no 6.938/81, trouxe como prin-cípio o controle das atividades potencial ou efetivamente poluidoras, a fim de preservar, melhorar e recu-perar a qualidade ambiental. Esta Lei estabeleceu instrumentos de gestão ambiental como os padrões de qualidade, o zoneamento industrial, as avaliações de impactos ambientais, o licenciamento e o sistema nacional de informações sobre meio ambiente.

O zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição, regido pela Lei Nº 6.803, de 1980, estabelece que “as zonas destinadas à instalação de indústrias devem ser definidas em esquema de zoneamento ur-bano, aprovado por lei, que compatibilize as atividades industriais com a proteção ambiental”. Segundo esta Lei, as zonas de uso industrial devem ser classificadas em: não saturadas, em vias de saturação e saturadas. Os programas de controle de poluição e o licenciamento para instalação, operação ou am-pliação de indústrias, em áreas críticas de poluição, devem ser objeto de normas diferenciadas, segundo o nível de saturação, para cada categoria de zona industrial.

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O licenciamento de atividades poluidoras é o procedimento administrativo realizado pelo órgão ambien-tal competente, federal, estadual ou municipal, para licenciar a instalação, a ampliação, a modificação e a operação de atividades e empreendimentos que utilizam recursos naturais, ou que sejam potencial-mente poluidores, ou ainda que possam causar degradação ambiental. No licenciamento ambiental, são avaliados os impactos causados pelo empreendimento, tais como: seu potencial ou sua capacidade de gerar líquidos poluentes (despejos e efluentes), resíduos sólidos, emissões atmosféricas, ruídos e o poten-cial de risco, como, por exemplo, explosões e incêndios.

O Balanço Energético Nacional 2009, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, mostrou que, em 2008, a oferta interna de energia atingiu 252,2 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo), correspondendo a um crescimento de cerca de 5,6 % em relação ao ano anterior.

A oferta interna de energia elétrica, por sua vez, foi de 479,4 TWh (Terawatts-hora), registrando um cres-cimento de 2,4 % em relação a 2007. A oferta per capita de energia cresceu de 1.261 para 1.314 tep/hab, enquanto que o consumo per capita de eletricidade aumentou de 2.177 para 2.234 kWh/hab.

No gráfico abaixo, é possível visualizar a composição das fontes de energia no Brasil em 2008:

Figura 5:

A participação das fontes não- renováveis na matriz energética brasileira em 2008 foi de 54,9%, havendo um ligeiro aumento em relação ao ano anterior (54,1%). Em uma análise comparativa por fonte, observou-se, em relação ao consumo em 2007, um ligeiro declínio na participação do petróleo e derivados e do carvão mineral, maiores geradores de emissões atmosféricas. Contudo, houve um aumento de um ponto percentual no consumo de gás natural e de 0,5 % no consumo de etanol.Con-siderando somente a geração de energia elétrica, foram observadas mudanças significativas na matriz entre 2008 e 2007. Embora a participação das fontes renováveis na geração de energia elétrica ainda seja muito mais expressiva, cerca de 85 %, houve um significativo aumento na participação das fontes não- renováveis que, de 10,8 % em 2007, passou para 14,6 % em 2008.

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Destaca-se o aumento de 92,8% no consumo do gás natural, 13,4 % no consumo de derivados de pe-tróleo e de 6,3 % no consumo de carvão mineral. A participação da geração hidráulica decresceu 2,7 % durante o mesmo período.

Os gráficos abaixo mostram a oferta interna de energia elétrica em 2008 e 2007:

Figura 6:

Figura 7:

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O aumento de 37,9 % da geração de energia termelétrica ocorrido entre 2007 e 2008 traz consigo a preocupação com as emissões atmosféricas advindas dessa mudança na matriz elétrica brasileira. As termelétricas produzem energia elétrica a partir da queima de carvão, óleo combustível ou gás natural, sendo esse o de menor impacto para a poluição atmosférica.

Com relação à infra-estrutura de energia elétrica, o Brasil possui no total 2.117 empreendimentos em operação , gerando 105.490.963 kW de potência. Está prevista para os próximos anos uma adição de 36.821.689 kW na capacidade de geração do País, proveniente dos 177 empreendimentos atualmente em construção e mais 434 outorgados (ANEEL, 2009).

Contudo, o Plano Nacional de Energia- PNE 2030 e o Plano Decenal de Energia- PDE 2016 indicam a expansão do uso da energia termelétrica no Brasil, em função do aumento da demanda.

O PDE prevê a construção de 81 novas unidades de usinas térmicas até 2017, sendo que 68 delas são baseadas em combustíveis fósseis. Com isso, a participação dessas fontes na matriz elétrica brasileira, que hoje é de cerca de 10,2% no total de geração, com a construção das novas unidades térmicas, po-derá chegar próxima dos 20 % até 2017.

Diante desse quadro, se faz necessário um controle ambiental mais rigoroso, com a intensificação da fiscalização sobre o cumprimento dos limites de emissão da resolução Conama 382/06, além do estabe-lecimento de limites de emissão para termelétricas a carvão, que apresentam uma tendência de aumento no sul do país.

3.1.1. PRINCIPAIS POLUENTES

As indústrias e termelétricas geram poluentes dos mais diversos, entre os quais podemos destacar:

a) Material Particulado:

O material particulado compreende uma classe de materiais sólidos ou líquidos que pode ser subdividi-da, conforme seu tamanho, em: partículas totais em suspensão e partículas inaláveis.

As partículas totais em suspensão compreendem as de tamanho inferior a 100 micra, suspensas sob a forma de poeiras, neblinas, aerossóis, fumaça ou fuligem. Podem ter origem natural, tais como solo, pó-len e aerossóis marinhos, ou antropogênica, cujas fontes principais são os processos industriais, os canos de descarga dos veículos automotores, a queima de biomassa e a poeira da rua em suspensão.

As partículas inaláveis são as que mais merecem atenção, pelo seu tamanho inferior a 10 micra, capazes de transpor as barreiras naturais do aparelho respiratório humano e se alojarem nos alvéolos pulmonares. Além das emissões primárias oriundas dos sistemas de combustão, também existe a contribuição dos aerossóis secundários, quimicamente formados na atmosfera a partir dos precursores SO2, NOx, NH3 e COVs (compostos orgânicos voláteis).

A queima de óleo combustível é uma das mais significativas fontes de material particulado. Os óleos combustíveis são produzidos a partir de petróleo das mais diversas composições, o que faz com que haja grandes variações em suas características. As especificações dos mesmos são determinadas pelo Departamento Nacional de Combustíveis/ DNC (Resolução CNP Nº’ 03/86), em função da viscosidade e dos teores de enxofre.

São considerados óleos combustíveis convencionais os tipos 1 e 2, destilados, de menor viscosidade, utilizados para os fins industriais gerais. Os óleos dos tipos 3 a 9 são ditos óleos combustíveis ultra-viscosos, são residuais no processo de refino e utilizados em grandes fornos e caldeiras, onde o consumo de combustível é bem elevado. Seu uso requer cuidados no manuseio e equipamentos especiais para o aquecimento, armazenagem, transferência e nebulização.

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Quanto ao teor de enxofre, os óleos combustíveis de alto teor de enxofre (A) são normalmente empre-gados em combustão contínua, enquanto que os óleos combustíveis de baixo teor de enxofre (B) são utilizados nas indústrias em que o teor de enxofre é muito importante na qualidade do produto fabricado, como por exemplo, certos tipos de cerâmicas, vidros finos, metalurgia de metais não ferrosos.

Sabe-se que a escolha do óleo combustível para um processo de combustão se dá em função de uma economia maior na fábrica e, portanto, é mais comum o uso dos tipos mais viscosos e mais baratos que são, consequentemente, os que mais emitem poluentes atmosféricos. No material particulado de sistemas de combustão de óleo, são encontrados, além dos esperados compostos de enxofre, também diversos metais pesados, presentes em pequenas quantidades do combustível.

b) Óxidos de Nitrogênio (NOx):

O termo NOx representa a combinação entre monóxido e dióxido de nitrogênio, que, na maioria das vezes, ocorrem juntos, embora algumas fontes emitam um em maior proporção do que o outro, em fun-ção da cinética das reações.

A formação do NOx se dá por três mecanismos fundamentais: (a) dissociação térmica e subsequente reação entre o Nitrogênio e o Oxigênio naturalmente presentes no ar (NOx térmico); (b) reação entre o nitrogênio presente no combustível com o oxigênio do ar (NOx combustível) e (c) formação intermediá-ria do ácido cianídrico (HCN) seguida de oxidação a NO (NOx prompt).

São fontes de NOx os processos industriais em geral, as usinas termelétricas e os demais processos tér-micos, como a incineração, além dos veículos automotores. Combustíveis fósseis como o carvão e os óleos combustíveis residuais possuem altos teores de nitrogênio em sua composição, formando elevadas quantidades de NOx por todas as vias.

A formação dos NOx depende da temperatura da combustão, da razão entre ar e combustível e da umida-de. As emissões dos sistemas de aquecimento e das caldeiras dependem da composição do combustível utilizado, dos parâmetros de projeto e das condições operacionais. Os tipos de queimadores, o pré-aqueci-mento do ar para a combustão, a temperatura da câmara de queima, a quantidade de ar em excesso e a car-ga de combustível aplicada são fatores que devem ser levados em conta quando se deseja minimizar essas emissões indesejáveis. As reações endotérmicas causam um efeito de resfriamento na zona de combustão, fazendo com que haja menor dissociação térmica e, dessa forma, menor formação de NOx térmico.

A quantidade de nitrogênio do combustível é a principal causa de emissões de NOx de uma caldeira ou sistema de aquecimento. Assim, o carvão emite mais do que o óleo combustível que, por sua vez, emite mais do que o gás natural.

Os queimadores podem ser do tipo convencional ou por estágios, sendo a emissão de NOx diretamente proporcional à temperatura de queima diretamente. O desenho da câmara de combustão e a relação ar/ combustível também contribuem fortemente para as emissões. Nas turbinas, onde a eficiência depende da temperatura de queima, quanto mais alta a temperatura do ar de entrada, maiores serão as emissões de NOx. O uso de queimadores do tipo low- NOx reduz significativamente as emissões (EPA,1991).

O uso de queimadores do tipo dry-low-NOx ou o resfriamento da câmara de combustão por injeção úmida são exemplos de medidas de controle das emissões de NOx de turbinas. Em caldeiras, pode-se reduzir a quantidade de ar em excesso, utilizar queimadores do tipo low- NOx, reduzir a temperatura ou a taxa de queima ou, ainda, recircular os gases das emissões. Nos motores de combustão interna, é possível controlar a formação de NOx pelo uso da pré- ignição, pelo controle da razão ar/ combustível ou pela injeção úmida.

Técnicas de redução pós-combustão incluem o uso da redução catalítica seletiva (SCR) e da redução catalítica não-seletiva, que utiliza amônia ou uréia como agente redutor.

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Além dos efeitos nocivos à saúde humana, os óxidos de nitrogênio são causadores de chuva ácida e de danos à vegetação. Contudo, a maior preocupação destes como poluentes decorre de sua condição de precursor, juntamente com os hidrocarbonetos, das reações fotoquímicas que provocam a formação do ozônio troposférico.

Nos EUA, a constatação de um crescente aumento nos níveis de ozônio no entorno das grandes cidades, a ocorrência de chuvas ácidas, as dificuldades técnicas para o controle das emissões e as perspectivas de aumento da atividade industrial levaram o órgão ambiental governamental a adotar medidas específicas para a quantificação e para o controle da geração de NOx. Dentre elas, podemos citar: programas de inventários para a identificação das fontes, edição de normas de desempenho para caldeiras e sistemas de aquecimento, plantas de produção de ácido nítrico e fertilizantes, incineradores, turbinas a gás e termelétricas. Em 1991, a EPA editou uma compilação de uma série de tecnologias, detalhando os me-canismos de formação de poluentes por tipo de combustão e controle final, apresentando os limites de emissões atingidos para cada uma das tecnologias utilizadas.

c) Dióxido de enxofre (SO2)

Poluente gerado principalmente pela queima de carvão, óleo combustível, refinarias de petróleo, in-dústria de papel e celulose e pelos veículos a diesel. Está fortemente associado à ocorrência de doen-ças respiratórias e cardiovasculares e à ocorrência de chuvas ácidas, uma vez que reage com o vapor d´água, formando ácido sulfúrico. É, ainda, um precursor dos sulfatos que fazem parte da composição do material particulado inalável.

Seu controle se dá, basicamente, pelo uso de combustíveis de baixo teor de enxofre, razão pela qual as refinarias de petróleo e as plantas de beneficiamento de carvão possuem unidades de dessulfurização em seus processos.

d) Monóxido de carbono (CO)

Gás incolor, insípido e inodoro, porém muito tóxico, subproduto da combustão incompleta dos combus-tíveis fósseis. De efeito asfixiante, sua inalação interfere na oxigenação dos tecidos, causando confusão mental, prejuízo dos reflexos, inconsciência e até a morte, em doses elevadas.

A emissão de CO indica problemas na combustão e deve ser controlado por meio do uso de uma relação ar/combustível adequada, pois uma variação na demanda por potência calorífica pode estar associada a variações na vazão de gás (e/ou de ar) de modo que a relação ar/combustível se afaste das situações de melhor qualidade de combustão em termos de eficiência e de emissões de poluentes.

e) Compostos orgânicos voláteis (COVs)

Grupo de substâncias que incluem hidrocarbonetos olefínicos e aromáticos, podendo ainda conter em sua estrutura, além do carbono, oxigênio, nitrogênio, enxofre e halogênios e volatilizam facilmente em condições de pressão e temperatura ambientes. Seu efeito poluidor deve-se ao potencial desses compos-tos participarem de reações fotoquímicas, quando a corrente de gás é emitida para o ambiente, catalisan-do a formação de ozônio e de outros oxidantes fotoquímicos, causando também a formação do “smog” fotoquímico nas camadas inferiores da atmosfera, onde tem um efeito oxidante altamente prejudicial à vida animal e vegetal. Diversos hidrocarbonetos presentes na gasolina apresentam propriedades tóxicas, como por exemplo, o benzeno e derivados.

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O quadro a seguir mostra as principais classes de compostos orgânicos voláteis:

COMPOSTOS ORGÂNICOS VOLÁTEISParafi nas (Propano, butano, octano) Álcoois (metanol, etanol)

Olefi nas (Eteno,butadieno) Aldeídos (formaldeído)Acetileno Cetonas (metil etil cetona)

Aromáticos (Benzeno, Tolueno,benzopireno) Ácidos (ácido fórmico)

Hidroperóxidos (peroxiacilnitrito – PAN) Haletos (cloreto de vinila, bromobenzeno)

Compostos de enxofre (dimetil sulfeto)

Compostos de nitrogênio (trimetilamina)Fonte: Hunter et al. (2000a)

A taxa de evaporação dos líquidos voláteis depende da pressão de vapor de cada substância. Quanto maior a pressão de vapor, maior é a volatilidade da substância e menor será sua temperatura de ebulição. Dentre os líquidos orgânicos, muitos são os que apresentam alta pressão de vapor e cada um apresenta caracterís-ticas bem definidas em relação aos efeitos tóxicos a partir de exposições curtas ou prolongadas.

Os vapores mais densos que o ar podem se concentrar em áreas mais baixas, conduzindo a uma ex-plosão quando encontram uma fonte de ignição ou eletricidade estática. Sua minimização, portanto é recomendável também por motivos de segurança.

As principais atividades econômicas industriais que utilizam em larga escala os COVs são: produção de negro de fumo, adesivos, tintas e vernizes, farmacêuticos, plásticos, fibras sintéticas, borracha sintética, extração de óleos vegetais e outros, além dos veículos automotivos do ciclo Otto (movidos a álcool e a gasolina).

O quadro seguinte apresenta algumas fontes de emissões de COVs :

CLASSE EXEMPLO

Fontes de Combustão Estacionárias Caldeiras, fornos, turbinas, tochas, etc.

Fontes de Combustão Móveis Embarcações, veículos pesados, aeronaves, auto-móveis

Fontes Pontuais Vents(Respiros) de Processo Emissões evaporativas das atividades de carga e descarga de produtos

Fontes Não Pontuais Emissões Fugitivas Tratamento de Efl uentes

Outras AtividadesManutenção de equipamentos, operações de emergência (abertura de válvulas de segurança, paradas de emergência)

f) Ozônio:

O ozônio troposférico é um poluente secundário, ou seja, não é emitido diretamente na atmosfera e sim produzido a partir de reações fotoquímicas (em presença de luz solar) entre os óxidos de nitrogênio e os compostos orgânicos voláteis.

Diversamente do ozônio estratosférico, que protege a superfície da Terra dos raios ultravioleta, o ozônio troposférico é um poluente muito prejudicial à saúde humana, estando associado a uma série de proble-mas respiratórios.

Para haver sua formação, são necessários dois grupos de precursores: os óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (VOC). A radiação solar é requerida como reagente para iniciar e manter

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o ciclo fotoquímico de produção de ozônio. Segundo o químico alemão Dieter Klockow, pode-se dizer, genericamente, que a formação de ozônio é favorecida pelos sistemas climáticos de alta pressão com deslocamento lento, criando pronunciadas inversões, forte insolação e razões COV / NOx suficiente-mente altas (IEA, 2003).

Nas áreas urbanas, é comum a formação de uma névoa densa, de cor avermelhada/marrom, denominada “smog” fotoquímico, que contém diversos poluentes, destacando-se o ozônio e o nitrato de peroxiacetila (PAN). Esse fenômeno ocorre com maior frequência nos meses de verão, devido a maior incidência de luz solar.

g) Dioxinas e Furanos:

As Dibenzo-para-dioxinas policloradas (Polychlorinated dibenzo-p-dioxins) (PCDDs) e dibenzofuranos policlorados (Polychlorinated dibenzofurans) (PCDFs), comumente conhecidos como dioxinas e furanos, são compostos extremamente persistentes no meio ambiente. Existem 75 congêneres das PCDDs e 135 dos PCDFs, mas somente 17 são tóxicos. De origem, principalmente, antropogênica, são um subproduto indesejado de processos térmicos que envolvem matéria orgânica e cloro como resultado de combustão incompleta ou reações químicas.

Tendo sido detectados em todas as matrizes ambientais – ar, água, solo, sedimentos e também em ani-mais, plantas e alimentos, são considerados Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). São resistentes à degradação e possuem grande potencial acumulativo nos ecossistemas terrestres e aquáticos. As prin-cipais rotas de exposição são a dispersão atmosférica e a deposição com subsequente acumulação na cadeia alimentar. Devido às suas características lipofílicas e persistência no meio ambiente, estes com-postos se acumulam nos tecidos adiposos, sendo os alimentos de origem animal aqueles que apresentam as maiores concentrações.

Em estudos realizados com animais, estes compostos foram precursores de neoplasias, deficiência imu-nológica, disrupção endócrina incluindo diabetes mellitus, alteração nos níveis de testosterona e do hormônio da tiróide, danos neurológicos incluindo alterações cognitivas e comportamentais em recém-nascidos de mães expostas às PCDDs, danos ao fígado, danos à pele e elevação de lipídios no sangue, o que se constitui em fator de risco para doenças cardiovasculares.

As categorias de fontes industriais que têm potencial de formação e liberação comparativamente altas dessas substâncias químicas no ambiente são:

a) incineradores de resíduos, incluindo co-incineradores de resíduos urbanos, perigosos ou dos serviços de saúde ou de lodo de esgoto;

b) queima de resíduos perigosos em fornos de cimento;

c) produção de celulose com utilização de cloro elementar ou de substâncias químicas que gerem cloro elementar em processos de branqueamento;

d) os seguintes processos térmicos na indústria metalúrgica: produção secundária de cobre; plantas de sinterização na indústria siderúrgica e produção secundária de alumínio e zinco.

3.1.2. INSTRUMENTOS DE GESTÃO DE EMISSÕES DE FONTES FIXAS

a. Monitoramento das Fontes Fixas

A caracterização das emissões atmosféricas pode ser feita de forma qualitativa, em função de coloração da pluma, sua densidade e opacidade ou, de forma mais precisa, pela análise quantitativa, que expressa os resultados em termos de concentração ou vazão (mássica ou volumétrica) de um determinado po-luente na atmosfera.

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Para a análise quantitativa, é necessária a amostragem da fonte emissora, procedimento que também é conhecido como Monitoramento de Fontes.

O monitoramento de fontes é uma exigência dos órgãos ambientais reguladores aos empreendedores, que são os responsáveis pela execução do mesmo, devendo ter em seus registros os resultados da ca-racterização de suas emissões, não somente para o cumprimento do controle regulatório (padrões de emissão), mas também como parâmetros de controle da eficiência de seus processos.

Os órgãos ambientais, por sua vez, utilizam essas informações para o controle e fiscalização dos empre-endimentos, para a elaboração de seus inventários de emissões e para a realização de estudos de mode-los de dispersão, subsidiando a avaliação da qualidade do ar de determinada região e a localização de instalações de monitoramento da qualidade do ar.

b. Controle Tecnológico das Fontes Fixas

O controle tecnológico da poluição atmosférica parte do princípio de que as emissões da fonte podem ser reduzidas, de modo a atender aos valores pré-determinados pelas normas ambientais regulamenta-doras, que definem os padrões de qualidade do ar e os limites de emissão na fonte.

As principais formas de controle das emissões atmosféricas são:

Controle por diluição dos gases na atmosfera, que utiliza o parâmetro altura da chaminé para reduzir a concentração de poluentes ao nível do solo por meio do movimento turbulento natural da atmosfera, permitindo que os poluentes se dispersem no ar antes de alcançarem os receptores e causar danos à saúde humana e aos materiais.

Esta prática, no entanto, não é a ideal, uma vez que a descarga contínua dos poluentes pelas chaminés aumenta sua concentração na atmosfera e os mesmos podem ser transportados a longas distâncias pelo movimento convectivo, causando danos em outras áreas ou regiões.

Controle na fonte, que pode ser realizado utilizando o princípio da prevenção através da redução da geração de poluentes na fonte, ou através da destruição química, retenção física ou alteração das pro-priedades dos poluentes antes que alcancem a atmosfera, podendo ser empregada uma das seguintes ações:

Os estudos de modelagem e dos efeitos dos poluentes atmosféricos sobre determinada comunidade permitem determinar o local mais adequado para a instalação de um empreendimento, cujo potencial causador de problemas de poluição atmosférica é elevado.

A realocação para áreas que contam com condições atmosféricas mais favoráveis pode tornar os níveis de emissões toleráveis sob o ponto de vista da qualidade do ar da região e proteger a população de seus efeitos nocivos.

A fonte pode ser fechada ou paralisada por um certo período de tempo, enquanto os índices de poluição estiverem representando uma ameaça à saúde pública, seja pela quantidade de poluentes emitidos, ou pela presença de condições meteorológicas adversas, capazes de causar graves episódios de poluição atmosférica.

A troca de combustíveis pode ser a melhor alternativa em certos casos como, por exemplo, a substituição do carvão ou do óleo combustível pelo gás natural. Grandes avanços na melhoria da qualidade do ar podem ser alcançados pela mudança no uso de combustíveis fósseis para fins energéticos por energia hidráulica, elétrica, eólica, solar ou geotérmica.

A remoção de um determinado contaminante da matriz energética também é uma forma eficiente de diminuição das emissões, que é o que ocorre quando se diminui o teor de enxofre dos combustíveis

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automotivos, principalmente o óleo diesel ou, em um processo industrial, a adição de um tratamento pré-combustão, como exemplo a dessulfurização do carvão e do óleo combustível.

Além de reduzir a emissão de poluentes, as melhorias tecnológicas dos processos produtivos e de obtenção de energia promovem economia para o empreendimento, em função do aumento da eficiência energética.

Um exemplo típico é o processo da indústria de aço que, com a mudança dos fornos de câmara aberta para fornos à base de oxigênio ou elétricos, consegue emitir menor quantidade de poluentes para a at-mosfera, reduzindo material particulado, monóxido de carbono e fumos metálicos.

A adoção de boas práticas na operação dos processos industriais e de geração de energia sempre pode contribuir significativamente para a redução das emissões atmosféricas, além de gerar economia para a empresa em função da redução das perdas.

Os equipamentos e instalações devem ser adequadamente instalados, operados e freqüentemente vis-toriados para minimizar as emissões de poluentes. É importante, também, que se faça a manutenção preventiva e o controle da qualidade das matérias-primas com frequência.

Um exemplo dessas boas práticas é a manutenção regular do sistema de combustão para assegurar a atomização e, consequentemente, minimizar a quantidade de combustível não queimado.

Em muitas situações, a troca de combustível, as boas práticas e as mudanças no processo não são sufi-cientes para garantir níveis satisfatórios de emissões, sendo necessário o uso de equipamentos de contro-le adicionais, que extraem os poluentes das correntes gasosas, antes que essas atinjam a atmosfera.

A escolha da técnica e dos equipamentos de controle adequados para cada caso dependerá do tipo e da concentração dos poluentes presentes na corrente gasosa, bem como das propriedades dessa.

Os diferentes métodos de remoção de poluentes gasosos incluem sistemas de: adsorção, absorção, com-bustão, sistemas de recuperação de vapor, meios de mascaramento e contra-ação (remoção de odor), cor-respondendo a diversos equipamentos como: absorvedores, lavadores de gases, incineradores, flares etc.

Para a remoção dos poluentes particulados, os principais instrumentos são os precipitadores eletrostáti-cos, os ciclones e os filtros de manga.

c. Controle de NOX da indústria:

Em função da preocupação com os níveis crescentes de ozônio na atmosfera, está previsto um capítulo espe-cífico para o controle das fontes industriais de NOx, incluindo nessas diretrizes normas de desempenho para caldeiras e sistemas de aquecimento, siderúrgicas, refinarias de petróleo, plantas de produção de ácido nítrico e fertilizantes, incineradores, turbinas a gás e termelétricas, visando a redução das emissões de NOx.

3.1.3. PRONAR

Os limites de emissão, estabelecidos entre os instrumentos do PRONAR (Resolução Conama no 05/1989), podem ser determinados em função das matérias-primas, das melhores práticas em processos e equipa-mentos, dos combustíveis e insumos utilizados; ou ainda serem pré-definidos em função dos padrões de qualidade do ar requeridos para determinada região. O estabelecimento desses limites deve ter como base as melhores tecnologias disponíveis e ambientalmente adequadas, abrangendo todas as fases da elaboração de um produto ou da produção de energia. Além desses aspectos, sua aplicação deve estar associada aos critérios de capacidade de suporte do meio ambiente, ou seja, ao grau de saturação da atmosfera da região onde se encontra o empreendimento.

A primeira norma brasileira regulamentadora dos limites de emissão visando o controle da poluição at-mosférica foi a Resolução Conama 08/1990, que trouxe limites máximos para processos de combustão

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externa. Com a publicação da Resolução Conama no 382/06, a primeira foi revogada e hoje estabeleceu-se os limites máximos de emissão dos poluentes atmosféricos para fontes novas das seguintes tipologias industriais: processos de geração de calor pela combustão externa (fornos e caldeiras) de óleo combus-tível, gás natural, bagaço de cana-de-açúcar e derivados de madeira; turbinas para geração de energia elétrica; processos de refino de petróleo, de fabricação de celulose, de fusão secundária de chumbo; indústria do alumínio primário; fornos de fusão de vidro; indústria de cimento Portland, produção de fer-tilizantes e ácidos fosfórico, sulfúrico e nítrico; indústrias siderúrgicas integradas e usinas de pelotização de minério de ferro.

Os limites de emissão propostos pela Resolução 382 foram baseados no uso das tecnologias mais ade-quadas sob o ponto de vista ambiental e, ao mesmo tempo, economicamente viáveis para a indústria nacional, abrangendo todas as fases do processo industrial, desde a concepção, instalação, operação e manutenção das unidades, bem como o uso de matérias primas e insumos. A definição dos limites de emissão não contemplou, à época, tecnologias em fase de pesquisa e desenvolvimento para o controle dos poluentes. Nesse cãs, os valores-limite foram determinados a partir de informações técnicas (carac-terização das matérias-primas e combustíveis utilizados), bibliografia nacional e internacional, medidas de emissões efetuadas no país e no exterior em termos de fabricação e uso de equipamentos e exigências dos órgãos ambientais licenciadores.

A norma definiu assim valores máximos, válidos para todo o território nacional. O lançamento dos efluentes gasosos na atmosfera deverá ser realizado através de dutos ou chaminés, cujo projeto deve levar em consideração as edificações do entorno à fonte poluidora e os padrões de qualidade do ar estabelecidos. Portanto, deve ser considerada a capacidade de suporte da atmosfera do entorno do em-preendimento, de modo que, nas áreas impactadas, os órgãos licenciadores poderão estabelecer limites de emissão mais restritivos do que o nacional.

Outras resoluções do Conama também estabelecem limites de emissão para processos térmicos especí-ficos: a resolução no 264/2000, que define procedimentos, critérios e aspectos técnicos específicos de licenciamento ambiental para o co-processamento de resíduos em fornos rotativos de clínquer para a fabricação de cimento, enquanto a resolução no 316/2002 dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos, fixa limites de emissão e critérios de desempenho, controle, tratamento e disposição final de efluentes.

Quanto aos padrões de qualidade do ar (PQAr) segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005) esses variam de acordo com a abordagem adotada para balancear riscos à saúde, viabilidade técnica, considerações econômicas e vários outros fatores políticos e sociais, que por sua vez dependem, entre outras coisas, do nível de desenvolvimento e da capacidade dos países de gerenciar a qualidade do ar. As diretrizes recomendadas pela OMS levam em conta esta heterogeneidade e, em particular, reconhe-cem que ao formularem políticas de qualidade do ar, devem-se considerar cuidadosamente suas circuns-tâncias locais antes de adotarem os valores propostos como padrões nacionais.

No Brasil, a Resolução CONAMA nº 03 de 28/06/1990 define como poluente atmosférico “qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente ao bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e à flora ou preju-dicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade”.

A Resolução define ainda os padrões de qualidade do ar primários e secundários. São padrões primários de qualidade do ar as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da popula-ção. Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes atmosféricos, constituindo-se em metas de curto e médio prazo.

São padrões secundários de qualidade do ar as concentrações de poluentes atmosféricos abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem estar da população, assim como o mínimo dano à fauna e a

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flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podem ser entendidos como níveis desejados de concen-tração de poluentes, constituindo-se em meta de longo prazo. O objetivo do estabelecimento de padrões secundários é criar uma base para uma política de prevenção da degradação da qualidade do ar.

Como prevê a própria Resolução CONAMA Nº 03/90, a aplicação diferenciada de padrões primários e secundários requer que o território nacional seja dividido em classes I, II e III conforme o uso pretendido. A mesma resolução estabelece ainda que enquanto não for estabelecida a classificação das áreas pelos órgãos ambientais competentes, os padrões aplicáveis serão os primários.

Os parâmetros regulamentados pela legislação ambiental são os seguintes: partículas totais em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio. A mesma resolução estabelece ainda os critérios para episódios agudos de poluição do ar. Ressalte-se que a declaração dos estados de Atenção, Alerta e Emergência requer, além dos níveis de concentração atingidos, a previsão de condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos poluentes.

3.2. AÇÕES EM ANDAMENTO

3.2.1. REGULAMENTAÇÃO DOS LIMITES DE EMISSÃO PARA FONTES FIXAS

Implementação dos trabalhos para regulamentação dos limites de emissão de fontes fixas trata-dos em GT específico do CONAMA, com a proposição novos limites para tipologia de fontes já relacio-nadas na Resolução 382/2006, bem como a definição de limites para novas tipologias de fontes fixas não incluídas na resolução retromencionada.Os novos limites de emissão de fontes existentes serão estabelecidos a partir de dados estatísticos das emissões medidas e das tecnologias disponíveis viáveis técnica e economicamente.

Entende-se ainda que, em função do crescente aumento dos níveis de poluentes atmosféricos no entor-no das grandes cidades, principalmente o ozônio e das melhorias tecnológicas industriais, tanto para o aproveitamento energético quanto para o próprio controle das emissões, são necessários limites de emissão mais restritivos para o futuro, já visando a inclusão de metas futuras para a revisão da Resolução Conama 382.

Um exemplo desses casos é o que ocorre com os processos de geração de calor a partir a combustão in-terna de óleo combustível, para os quais são estabelecidos os limites de emissão de material particulado, NOx e SO2, conforme a potência térmica do equipamento, como se pode visualizar na tabela abaixo:

Potência térmica nomi-nal (MW)

MP NOX SO2

>10 300 1600 270010>P>70 250 1000 2700

P>70 100 1000 1800Resultados expressos em mg/Nm3, base seca e a 3% de excesso de O3

Se a legislação brasileira for comparada com a de outros países mais avançados, constata-se que os emis-são para o material particulado se aproximam dos limites utilizados pela EPA/USA, válidos para indústria instaladas a partir de 1985:

300 mg/Nm• 3 para instalações até 30 MW

150 mg/Nm• 3 para instalações entre 30 e 70 MW

100 mg/Nm• 3 para instalações acima de 70 MW

Isso não significa, entretanto, que não é possível estabelecer metas futuras de redução, uma vez que as

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empresas buscam cada vez mais a eficiência energética em seus processos.

Contudo, para os poluentes NOX e SO2, os limites ainda são considerados bastante elevados. Em 2007, surgiu uma Proposta de Regulamentação do Parlamento Europeu e do Conselho de Emissões Industriais, estabelecendo os seguintes limites de emissão para a queima de combustíveis em caldeiras:

Tabela x- limites de emissão de NOX para caldeiras

Potência térmica nomi-nal (MW)

Carvão e linhite Biomassa e turfa Óleo combustível

50-100 300 300 450100-300 200 250 200

>300 200 200 150Resultados expressos em mg / Nm3 base seca e a 3% de excesso de O3

Tabela y- limites de emissão de SO2 para caldeiras

Potência térmica nominal (MW) Carvão e linhite Biomassa Turfa Óleo combustível

50-100 400 200 300 350100-300 200 200 300 250

>300 200 200 200 200Resultados expressos em base seca e a 3% de excesso de O3

Fonte:- proposta de revisão da Diretiva 2001/80/CE

Essa proposta da Comunidade Européia, bastante mais restritiva do que os limites brasileiros, traduz uma preocupação premente com os níveis crescentes de ozônio e com as chuvas ácidas em áreas já bastante impactadas. No Brasil, onde também se constata o aumento dos níveis de ozônio na atmosfera, a mag-nitude de tais impactos poderá ser evitada com a adoção de medidas de redução das emissões de NOx e SOx , que devem incluir a adoção de limites de emissão mais rigorosos, de normas de desempenho operacional e de combustíveis com menor teor de enxofre.

A proposta de ação, nesse caso, é de realização de um estudo de avaliação dos limites de emissão já pro-postos e que podem ser revistos e colocados como meta futura para a regulamentação das Fontes Fixas.

3.2.3. RETP - REGISTRO DE EMISSÃO E TRANSFERÊNCIA DE POLUENTES

A sigla RETP em língua inglesa corresponde a Pollutant Release and Transfer Registers, PRTR. Trata-se de um sistema de levantamento, tratamento e divulgação pública de emissões e transferências de subs-tâncias e produtos, que causam ou têm potencial para causarem danos ou risco de danos para a saúde humana e o ambiente, sob a forma de dados (elementos alfanuméricos) e informações (dados tratados e com juízo de valor).

A implementação do RETP faz parte do compromisso governamental do Brasil, assumido durante a reali-zação do III Foro Intergovernamental de Segurança Química – FISQ, Salvador, Bahia, 2000 e que atende às Prioridades para Ação Além de 2000 e o Plano de Ação de Registro de Emissão e Transferência de Poluentes/Inventário de Emissão. O RETP é também uma das áreas de trabalho da Conferência Interna-cional de Gerenciamento de Segurança Química (ICCM).

Mais relevante ainda, enquanto compromisso de governo, a Convenção de Estocolmo prevê, em seu artigo 10, parágrafo 5º, que cada parte deve se esforçar na realização de estudos sobre a possibilidade de desenvolvimento de mecanismos, como o Registro de Emissão e Transferência de Poluentes, para a coleta e disseminação de informações sobre estimativas das quantidades anuais de químicos listados nos Anexos A, B ou C que são liberados ou eliminados.

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O RETP está sendo realizado pelo MMA no âmbito do Projeto TAL - Projeto de Assistência Técnica para a Agenda de Sustentabilidade Ambiental, que visa apoiar o Governo Brasileiro no avanço do crescimento econômico com desenvolvimento social e a manutenção e melhoria da qualidade ambiental no Brasil. De modo específico, o programa busca ajudar a aumentar a eficiência e eficácia do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e inserir o tema do meio ambiente e uso sustentável dos recursos naturais transversalmente nas instâncias e setores governamentais.

Os países que implantaram o RETP passaram a dispor de um sistema de informação dinâmico que gerou uma base de dados e informações, adequada para a construção de:

(a) inventário nacional de poluentes, representados por substâncias e produtos selecionados que causam ou que têm potencial de causarem danos ou riscos para a saúde humana e a qualidade ambiental;

(b) elementos factuais para formulação de políticas públicas, negócios e planejamento estratégico em empresas de negócios e organizações sem fins lucrativos; e

(c) orientação das demais partes interessadas da sociedade, com destaque para segurança alimentar, segurança química, produção e consumo sustentáveis de bens e serviços, de maneira geral.

O RETP proporcionará um sistema de informação sobre emissões e transferência de poluentes e seus riscos potenciais para a saúde pública e o meio ambiente. Permitirá ao governo ter estimativas das descargas e transferências de poluentes originadas em plantas industriais, em atividades de tratamento e destinação de resíduos, entre outras. Às autoridades detectar problemas, verificar tendências, estabelecer prioridades de prevenção e controle, e informar ao público interessado a respeito de emissão e transferência de poluentes.

Para as empresas, o RETP representará importante fonte de informações para inovação de tecnologias e introdução de melhores práticas de produção de bens e serviços que resultarão em redução de custos e aprimoramento de produtos.

Para núcleos de pesquisa e desenvolvimento, servirá de referência para atividades de ensino, capacita-ção e treinamento de recursos humanos, em diferentes níveis de atuação profissional.

Dessa forma, o RETP poderá ser utilizado como um importante instrumento de gestão ambiental para todas as partes envolvidas, além de atender aos compromissos da Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.

As informações necessárias para atender aos objetivos do RETP são fornecidas pelas organizações decla-rantes, por meio do preenchimento anual do formulário eletrônico do Cadastro Técnico Federal (CTF) e do Relatório de Atividades, administrado pelo Ibama, conforme a Lei nº 6938/81, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente. O RETP Brasil tem por estratégia a criação de janela única para o fornecimento de dados pelas organizações declarantes. Para tanto, os requisitos do RETP são incorpo-rados e harmonizados ao formulário do CTF/Ibama, para que a organização declarante não tenha que repetir esforços no fornecimento das informações ambientais solicitadas. Os dados e informações são concentrados no Portal RETP Brasil, de acesso livre e gratuito, na página do MMA.

A lista de poluentes selecionados foi produzida com base no levantamento bibliográfico de substâncias contidas em protocolos internacionais e de RETP implantados em outros países. Lista Geral de poluentes, com 316 substâncias químicas, que foram avaliadas frente à realidade nacional, quanto aos volumes de importação, exportação e produção, uso de matéria prima, segundo as fontes críveis disponíveis, abrangendo dados oficiais nacionais (MDIC Aliceweb, CTF/Ibama) e de organizações nacionais não-governamentais (Abiquim) e legislação nacional. Feito isso e mantidas as substâncias natas, expurgando-se as substâncias sem informações pelas fontes brasileiras, resultou a Lista de Base com 194 substâncias, incluindo-se quatro grupos especiais de substâncias [Perfluorcarbonos (PFCs); Hidroclorofluorocarbone-tos (HCFCs ou CFCs), Bromofluorcabonos, Bromoclorometano e Bromocarbono; Hidrocarbonetos Aro-máticos Policíclicos (HAP) e Dioxinas e Furanos].

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Definida a lista de substâncias e a metodologia de implementação do RETP, foram elaborados manuais de gerenciamento para os gestores para manter o Portal atualizado, por meio da disponi-bilização de relatórios, dados e informações públicas e gratuitas e a partir de janeiro de 2010, será realizada uma oficina de capacitação aos gestores do RETP e capacitações de âmbito nacional para os multiplicadores - órgãos ambientais estaduais, associações representativas das indústrias e entidades afins, organizações não-governamentais, sindicatos, universidades, sociedade técnico-científica, dentre outros.

3.2.4. CONTROLE DE DIOXINAS E FURANOS: APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO DE ESTOCOLMO

Com o objetivo de proteger a saúde humana e o meio ambiente dos POPs, em 23 de maio de 2001, foi adotada e assinada a Convenção de Estocolmo de Poluentes Orgânicos Persistentes, em Estocolmo, na Suécia, por 92 países e a Comunidade Europeia.

O Anexo C da Convenção de Estocolmo refere-se à Produção não-Intencional, incluindo, além das dioxinas e furanos, o hexaclorobenzeno (HCB) e as bifenilas policloradas (PCB) e elenca as categorias de fonte de emissão dos POPs produzidos não intencionalmente, sendo a maioria das fontes encon-tradas no Brasil.

O Brasil ratificou a Convenção de Estocolmo em 16 de junho de 2004, e o Decreto Executivo nº 5.472, de 20 de junho de 2005, promulgou o seu texto internamente. Está estabelecido no seu artigo 7º que “cada país signatário deverá elaborar um plano para a implementação (NIP) de suas obrigações decor-rentes da Convenção e envidar esforços para sua execução”.

A Convenção especifica obrigações no que diz respeito à produção não intencional de POPs (Artigo 7) e salienta que as partes devem, como parte do NIP, requisitado pelo Artigo 7, desenvolver e implementar um plano de ação, aplicando medidas disponíveis, viáveis e práticas para alcançar rapidamente níveis de redução de emissão ou eliminação de fonte realistas e significativas.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA), com assistência do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), preparou um Projeto para o desenvolvimento do NIP com recursos do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF).

O projeto aborda as questões visando fornecer uma melhor avaliação das emissões de POPs produzidos não intencionalmente, o desenvolvimento de diretrizes apropriadas e a promoção de mecanismo para encorajar a utilização das Melhores Técnicas Disponíveis e Melhores Práticas Ambientais (BAT/BEP8), revendo os sistemas existentes de monitoramento e controle, e formulando um plano de ação para re-duzir as emissões.

Encontram-se previstas no projeto as seguintes atividades:

- Desenvolver uma avaliação do potencial de liberações de POPs produzidos não intencionalmente no país, a partir de fontes antropogênicas, mediante inventários de fontes e estimativas de emissões

- Rever o Guia BAT/BEP, determinando técnicas e práticas apropriadas, exequíveis e disponíveis no Brasil.

- Rever as políticas, as orientações e os sistemas regulatórios relevantes existentes e fazer recomendações compatíveis com as obrigações da Convenção.

- Avaliar a capacidade e as necessidades analíticas e de monitoramento.

- Formular estratégias e um plano de ação para a redução progressiva das emissões de POPs produzidos não intencionalmente, de fontes antropogênicas.

8 BAT/BEP -

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No tocante ao monitoramento das liberações de poluentes industriais, é um requisito do licenciamento ambiental da indústria no Brasil a apresentação regular de relatórios. Porém, atualmente, com poucas exceções, o monitoramento não inclui as liberações dos POPs produzidos não intencionalmente listados no Anexo C da Convenção. Por esta razão, estimativas confiáveis de produção não intencional total de POPs no Brasil ainda não são possíveis. Para o desenvolvimento do inventário previsto no projeto, a prio-ridade para o Brasil será o enriquecimento dos modelos de avaliação de emissões, com dados analíticos baseados em fontes.

3.3. AÇÕES A SEREM IMPLEMENTADAS

3.3.1. INVENTÁRIO DE EMISSÕES ATMOSFÉRICAS DE FONTES ESTACIONÁRIAS

No Brasil, não há, até o momento, um inventário nacional de emissões das indústrias potencial-mente poluidoras, com registro preciso de sua localização e dos poluentes por elas gerados, a metodo-logia de estimativa e projeção de emissão de poluição.

Propõe-se, então, a constituição de um Grupo de Trabalho para elaborar o Inventário Nacional de Poluentes por Fontes Fixas e uma metodologia para os Inventários Estaduais, a exemplo do que está sendo realizado para as Fontes Móveis. O trabalho deverá ter como resultados:

Inventário Nacional simplificado (metodologia • Top- Down9);Metodologia de Inventário detalhado para elaboração dos Inventários Estaduais•

Para a gestão da poluição do ar, é fundamental não só a definição das áreas mais impactadas, como também a identificação, qualificação e quantificação das fontes emissoras de poluentes atmosféricos.

O inventário de fontes é um instrumento de planejamento dos mais importantes para a gestão das emis-sões atmosféricas, ao definir qualitativa e quantitativamente as atividades poluidoras do ar e fornecer in-formações sobre as características dessas fontes, definindo localização, magnitude, frequência, duração e a contribuição relativa de cada uma delas.

Usualmente, um inventário de emissões deve conter as seguintes informações: área geográfica; inter-valo de tempo considerado para a estimativa; informações econômicas e sociais do empreendimento; tipologias de fontes; metodologia de coleta de dados; métodos utilizados para se fazer a extrapolação dos dados não recebidos e, outras considerações realizadas; fatores de emissão utilizados; métodos de cálculo das emissões e referências bibliográficas.

Esse instrumento tem como consequência a possibilidade de elaboração de diagnósticos que fortalecem os órgãos ambientais nas tomadas de decisão relativas ao licenciamento de atividades poluidoras e as eventuais ações de controle necessárias.

A preparação do inventário de emissões é um processo contínuo que envolve uma série de etapas inter-relacionadas, como a busca e compilação de dados, vistorias em plantas industriais, envio de questioná-rios e cálculos de emissões, devendo ser executadas com um prévio planejamento em vários níveis de aplicação para a obtenção de resultados consistentes e para o bom desempenho das atividades.

O levantamento de emissões identifica as principais fontes emissoras e suas respectivas características, permitindo priorizar os esforços de controle. Dessa forma, tendo-se identificado o problema e verificado a necessidade de redução das emissões, estratégias de controle deverão ser elaboradas e suas eficácias poderão ser avaliadas com o auxílio de modelos de simulação, ou outros procedimentos, que indiquem a melhor forma de atender aos níveis de qualidade do ar definidos na legislação.

9 Metodologia para inventário de emissões atmosféricas que utiliza informações consolidadas sobre o consumo total de energia e combustíveis.

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A maior parte dos órgãos ambientais dos Estados não possuem inventários de fontes atualizados e abran-gentes, mas existem informações, advindas principalmente do licenciamento ambiental e da amostra-gem em chaminés, que podem ser devidamente sistematizadas para a criação de um futuro inventário de fontes e poluentes.

O emprego da gestão da poluição do ar, seja através do fortalecimento da regulamentação com a inserção de medidas como os padrões de qualidade ambiental, ou do desenvolvimento contínuo dos sistemas tec-nológicos de controle, ou, ainda, de medidas de averiguação da manutenção dos padrões definidos através dos programas de monitoramento, necessita da caracterização prévia das emissões liberadas na atmosfera para atingir um nível de eficácia capaz de trazer um benefício real para as populações urbanas.

O inventário detalhado permite conhecer a natureza, a extensão e a magnitude das cargas de poluentes atmosféricos, a fim de fornecer subsídios à implementação de políticas de controle e ao planejamento ambiental.

A ação deve prever a elaboração e a disseminação da metodologia para os Inventários Estaduais de Fon-tes Fixas, bem como a capacitação dos técnicos dos OEMAS para a construção de seus inventários.

3.3.2. REGULAMENTAÇÃO PARA A PREVENÇÃO E O CONTROLE DE EMISSÕES DE COVS

A Comunidade Européia aprovou a Diretiva 94/63/EC, cuja proposição básica era estabelecer o controle de emissões da gasolina automotiva na cadeia de suprimento, desde a refinaria até a estocagem final do produto, passando pelos terminais de distribuição e o transporte do produto aos postos de abastecimento.

A Diretiva estabeleceu um cronograma de ações a serem desenvolvidas, cujo período de implementa-ção foi dividido em três fases, de três anos cada, tendo sido iniciado em 1996. Dentre essas ações, foi determinada a modificação da forma de carregamento para “bottom loading” (carregamento pelo fundo) em caminhões-tanque e a instalação de Unidades de Recuperação de Vapores (URV) nos terminais de distribuição de movimentação superior a 150.000 t/a na Fase 1 (1996 a 1998), acima de 25.000 t/a na Fase 2 (1999 a2001) e maior que 10.000 t/a na Fase 3 (2002 a 2004).

Para terminais com movimentação inferior a 25.000 t/a, foi permitida a instalação de sistemas de balanço de vapor interligados aos tanques de armazenamento em lugar das URVs. No sistema de balanço de vapor, os próprios tanques de armazenamento de gasolina recuperam os vapores emitidos para dentro do próprio tanque durante a descarga do produto, evitando, assim, que os vapores sejam lançados na atmosfera.

Para a estocagem de gasolina, foi exigida a instalação de selos flutuantes internos ou externos (tetos flutuantes) nos tanques de armazenamento, com eficiência de 90 a 95% para a redução da emissão de vapores. Até a Fase 3, todos os tanques de gasolina deverão atender a essas exigências, independente da capacidade dos tanques. As medidas de controle também incluem os postos de abastecimento, que deverão se adequar através da instalação de sistemas de balanço de vapor interligados a seus tanques de armazenamento (SMITHERS, 1995).

O limite de emissão de gasolina na Europa, estabelecido pela Diretiva Européia para as Unidades de Recuperação de Vapores foi de 35g de COV total por m3 de gasolina carregada. A Alemanha adotou pa-drões de regulação de emissões bem mais rigorosos que os da Diretiva Européia, sendo o limite máximo permitido de 0,15g de COV por m3 de gasolina carregada.

Similarmente, a EPA, nos Estados Unidos, estabeleceu um limite de emissão de 10g de COV total por m3

carregado (PEZOLT, 1997).

O Brasil ainda não possui nenhuma iniciativa de regulamentação das emissões de COVs. Por essa ra-zão, propõe-se a criação de um Programa Nacional de redução das emissões de COVs, que conterá os seguintes elementos:

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1. Inventário contendo um levantamento de informações relativas à quantidade, localização e natureza dos COVs no país. O mesmo deve ser atualizado, na medida em que se verifiquem alterações consideráveis nas quantidades de emissões, instalação de novas indústrias e aumento da frota automotiva.;

2. Definição das regiões prioritárias para a implementação do programa, em função de critérios como: o valor absoluto de emissão por ano, a quantidade de emissão por habitante.ano e a quantidade de emissão por área.ano.

3. Monitoramento das emissões, comunicando os objetivos a serem alcançados em relação à poluição provocada pela movimentação de COVs para cada região eleita, informando prazos e metas a serem alcançados.

4. Estabelecer medidas especiais em áreas críticas para COVs: bases ou pólos de distribuição, indústrias ou serviços que movimentam mais de 500.000 litros/mês de COVs; indústrias ou postos de serviços localizados próximos a residências, escolas e hospitais, em áreas consideradas críticas em relação à concentração de óxidos de nitrogênio e ou ozônio.

3.3.3. ESTABELECIMENTO DE ÁREAS CRÍTICAS DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E PROGRAMAS DE COMPENSAÇÃO DE EMISSÕES

Em 2004, o Estado de São Paulo editou o Decreto no 48.523, como medida de gerenciamento da quali-dade do ar direcionada às qualidade áreas saturadas ou em vias de saturação.

Áreas saturadas são aquelas onde o aporte de emissões atmosféricas é de tal magnitude que não é pos-sível se alcançar os padrões de qualidade do ar estabelecidos pelo órgão ambiental regulamentados (Resolução Conama no 03/1990). As áreas em vias de saturação são aquelas onde já se atinge 90 % do padrão de qualidade do ar e, dessa forma, já são necessárias medidas preventivas mais urgentes para evitar a condição de saturação.

Para a compensação de emissões, todo o novo empreendimento que deseje se instalar em uma área saturada, deve reduzir 110 % de suas emissões, o que é possível mediante um consórcio das empresas existentes na área, ou seja, essas devem reduzir suas emissões para permitir a entrada de outras. Em uma área em vias de saturação, o novo empreendimento deverá reduzir 100% de suas emissões e, da mesma forma, para atingir um grau de “emissão zero”, será necessário reduzir as emissões dos empreendimentos vizinhos.

Outro Decreto Estadual paulista, o de nº 52.469/2007, trata dos critérios para estabelecimento dos graus de saturação da qualidade do ar de uma sub- região quanto a um poluente específico. Dentre as modifi-cações, destaca-se a inserção do critério de classificação das áreas consideradas saturadas, em termos do grau de severidade, o que possibilita ao órgão ambiental paulista, nas sub-regiões em vias de saturação e nas saturadas, fazer exigências especiais para as atividades em operação, com base nas metas, planos e programas de prevenção e controle de poluição.

Para o licenciamento de novas instalações ou ampliação das já existentes em sub-regiões com qualquer grau de saturação e severidade serão consideradas as exigências dos programas de recuperação e melho-ria da qualidade do ar. Nas sub-regiões saturadas ou em vias de saturação será exigida a compensação das emissões, com ganho ambiental, para a inclusão de novas fontes de poluição do ar.

A partir de uma série histórica de dados de monitoramento e de inventários de emissões, é possível determinar, dentro dos limites do território nacional, as áreas críticas ou saturadas quanto às emissões atmosféricas.

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Ações SituaçãoElaboração de Manual contendo as diretrizes para o monitoramento e o controle tecnológico das Fontes Fixas com o objetivo de orientar os órgãos estaduais licen-ciadores das atividades industriais e de produção de energia

A empreender

Revisão da Resolução CONAMA Nº 382/2006 que regulamenta os limites de emis-são de fontes fixas, com redução dos limites e a inclusão de novas tipologias de fontes fixas

Em curso

Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas de Fontes Estacionárias contem-plando as indústrias potencialmente poluidoras, com registro preciso de sua loca-lização e dos poluentes por elas gerados, a metodologia de estimativa e projeção de emissão de poluição.

A empreender

Apoio à elaboração dos Inventários Estaduais de Fontes e Poluentes Atmosféricos: A empreenderRegulamentação para a prevenção e o controle de emissões de COVs A empreenderRETP - Registro de Emissão e Transferência de Poluentes como um sistema de levantamento, tratamento e divulgação pública de emissões e transferências de substâncias e produtos que causam ou têm potencial para causarem danos ou risco de danos para a saúde humana e o ambiente

Em curso

Controle de Dioxinas e Furanos: aplicação da Convenção de Estocolmo Em cursoFortalecimento da integração entre os setores responsáveis pelo Licenciamento Ambiental e pelo Controle da Qualidade do Ar nos Estados

A empreender

Capacitação para aplicação de modelagem matemática aplicada à qualidade do ar com utilizando as informações geradas nos estudos de impacto ambiental solicitados para o licenciamento para alimentar os modelos matemáticos de dispersão de poluentes

A empreender

Estabelecimento de Áreas Críticas de Poluição Atmosférica e Programas de Com-pensação de Emissões

A empreender

4.FONTES AGROSSILVOPASTORIS

4.1 CONTEXTO

São denominadas fontes agrossilvopastoris aquelas cujas emissões lançadas à atmosfera decorrem de práticas agrícolas como queimadas, movimentação do solo e pulverização de fertilizantes e agrotóxicos. Devido a sua elevada ocorrência e dos graves impactos associados a esta prática, neste plano trataremos dos problemas associados às emissões de queimadas.

As queimadas continuam muito presentes na agricultura até os dias de hoje. Estima-se que mais de 98% das queimadas praticadas no Brasil sejam de natureza agrícola, sendo essa prática utilizada para a pre-paração do solo para a lavoura. São queimados resíduos de colheita, áreas de savana, pastagens nativas e plantadas e palha da cana-de-açúcar para facilitar a colheita.

O uso do fogo está fortemente presente na lógica cultural e econômica dos agricultores e fazendeiros de algumas regiões do país. A queimada é utilizada como método mais barato para a conversão da floresta em áreas agrícolas, para manutenção do pasto e limpeza das propriedades. No entanto, seu uso acarreta o empobrecimento do ecossistema e uma baixa produtividade ao longo do tempo.

O fogo destrói a flora e a fauna e empobrece o solo, pela perda de nutrientes do solo que são emitidos junto com a fumaça e a fuligem. Além disso, a cinza, onde fica grande parte dos nutrientes, muitas vezes é levada pela água da chuva, para os igarapés e rios. Somada a essa perda significativa de nutrientes, o solo descoberto, exposto ao sol, vento e chuva, e, portanto à erosão, é definitivamente exaurido.

As florestas, uma vez queimadas, deixam de exercer função de barreiras naturais à expansão do fogo ao longo das paisagens agrícolas. As queimadas podem levar à substituição das florestas por uma vegetação altamente inflamá-vel e dominada por gramíneas, processo denominado “savanização”, que é perpetuado pela ação do fogo.

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Com a troca das florestas densas por uma vegetação mais empobrecida perde-se a função de regulação do clima e da umidade, associada a cobertura florestal, assim a tendência é que os períodos de seca fiquem cada vez mais intensos e freqüentes, configurando-se um ciclo vicioso, que se retroalimenta. As-sim, um dos mais importantes efeitos do incêndio florestal de larga escala é o aumento da suscetibilidade das florestas aos incêndios subsequentes.

As queimadas florestas são também importantes fontes de emissão de gases de efeito estufa, em particular o CO2. O Inventário Nacional de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal, submetido pelo Brasil em 2004 como parte de sua Comunicação Nacional Inicial à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, constata que 75% das emissões nacionais de CO2 provêm do setor “mudança no uso da terra e florestas”. Essa estimativa tem como base o ano de 1994. O desmatamento e as queimadas na Amazônia e no Cerrado são responsáveis pela maior parte dessas emissões.

A conversão de grandes áreas de florestas em pastagens na Amazônia também pode levar a uma redução de chuvas e a um aumento da temperatura na região. A substituição da floresta nativa, com cerca de 300 toneladas de biomassa por hectare e alta diversidade de espécies, por gramíneas com apenas 10 tonela-das e poucas espécies, influencia o ciclo do carbono e da água. A pastagem reflete 50% mais radiação solar para o espaço e libera 10% a 20% menos água para a atmosfera através da evapotranspiração, quando comparado a uma floresta primária.

Danos à saúde e danos econômicos causados por incêndios são também de grande relevância. As emis-sões oriundas do uso do fogo provocam doenças respiratórias, interrupções no fornecimento de energia, fechamento de aeroportos e incômodos domésticos.

O processo de queima de biomassa produz primariamente água e dióxido de carbono, de acordo com a seguinte reação química:

[CH• 2O] + O2 → CO2 + H2O, onde o elemento [CH2O] representa a composição média da biomassa.

Devido ao fato de as queimadas resultarem de um processo de combustão incompleta, além destes ele-mentos também são produzidos monóxido de carbono (CO), material particulado, cinzas e compostos orgânicos voláteis e semi-voláteis, entre eles os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, as dioxinas e furanos, sendo estes três últimos reconhecidos por sua alta toxicidade.

Como a combustão se processa com a participação do ar atmosférico, há também emissões de óxidos de nitrogênio (NOx), em especial o óxido nítrico (NO) e o dióxido de nitrogênio (NO2), formados pelo processo térmico e pela oxidação do nitrogênio presente no vegetal (Assunção & Helena, 2002).

Também é importante citar a produção de CH4 (metano) e de N2O (oxido nitroso) pela queima de solos e resíduos agrícolas, que junto com o CO2, representam gases de efeito estufa. Cabe destacar ainda que estes possuem um potencial de aquecimento, respectivamente, 21 e 310 vezes maiores do que o CO2, resultando assim em efeitos importantes no equilíbrio climático e biogeoquímico do planeta.

As emissões diretas também são precursoras de outras. De caráter secundário, formadas por meio de reações fotoquímicas com importante participação da radiação ultravioleta do sol, resultando em compostos que po-dem ser mais tóxicos que os seus precursores: o ozônio (O3), os peroxiacil nitratos (PAN) e os aldeídos. Tam-bém há emissão de SO2, pois, mesmo em pequenos teores, os vegetais contém enxofre em sua composição.

Durante a estação seca nas regiões Amazônica e Brasil Central, compreendida entre os meses de julho a outubro, é comum observar a ocorrência de queimadas de origem antrópica em áreas de Cerrado e de Floresta Equatorial (Coutinho et al. 2002). A concentração de material particulado inalável e gases traços, medidos ao nível da superfície na região tropical do Brasil, apresenta forte sazonalidade, com má-ximos durante este período do ano. Estudos sobre a composição elementar das partículas de aerossol na região têm mostrado que, durante a estação seca, a emissão de carbono grafítico (‘black-carbon’), o qual se sabe ser majoritariamente fuligem proveniente da combustão, está associada a elementos conhecidos como traçadores de emissões de queimadas como, por exemplo, S, K, Cl, Ca e Zn (Artaxo et al., 2002).

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Os estudos de Artaxo et al. (2002) reportam para a estação seca na região de Rondônia, valores máximos de concentração de aerossol de até 250 mg m-3 e de até 8 ppm e 16 ppb para CO e NO2, respectivamen-te. Durante a estação úmida, segundo estes autores, as concentrações típicas para estas espécies são bem menores, em torno de 2,9 mg m-3, 0,15 ppm e 0,67 ppb, respectivamente.

As partículas de aerossol emitidas pelas queimadas têm um tempo de residência na atmosfera da ordem de uma semana e compõem uma espessa camada de fumaça, que pode ser visualizada durante a estação seca sobre as regiões Norte e Centro Oeste do Brasil (Kaufman, 1995).

As altas temperaturas das chamas da combustão e a ocorrência de circulações associadas às nuvens devido à entrada de frentes frias provenientes da região Sul do Brasil, favorecem o movimento convec-tivo ascendente e podem ser responsáveis pela elevação destes poluentes até a troposfera, onde podem ser transportados para regiões distantes das fontes emissoras. Este transporte resulta em uma distribui-ção espacial de fumaça sobre uma extensa área, em muito superior à área onde estão concentradas as queimadas. Os efeitos destas emissões excedem, portanto, a escala local e afetam regionalmente toda a composição e propriedades físicas e químicas da atmosfera na América do Sul.

4.2 QUEIMADAS NA AMAZÔNIA

Representando a maior extensão de floresta tropical do mundo, e também o bioma com a maior porcentagem de cobertura florestal preservada, cerca de 82% (PPCDAM 2009), é na Amazônia que es-tão concentradas as principais frentes de movimentação da fronteira agrícola no país. Este bioma ocupa posição de destaque quando se trata de avaliar os impactos negativos sobre a qualidade do ar relacio-nados com o avanço das atividades agrossilvopastoris

Fazem parte da Amazônia Legal, os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte do Maranhão e cinco municípios de Goiás. Ela representa 59% do território brasileiro, distribuído por 775 municípios, onde viviam em 2000, segundo o IBGE, 20,3 milhões de pessoas, sendo que 68,9% desse contingente em zona urbana. O arco do desmatamento é como é cha-mada região de avanço da fronteira agrícola na Amazônia, que desenha um arco nos limites ao longo da fronteira Sul / Sudeste da Amazônia, como podemos observar na figura abaixo.

Figura 8. Imagem de Satélite (Landsat: 2000) - Mosaico da Amazônia Legal

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Os estados inseridos no Arco do Desmatamento têm suas economias fundamentadas em atividades agro-pecuárias extensivas, principalmente a criação de gado e a plantação de soja, e atividades de exploração extrativista, tanto de origem florestal quanto mineral. Tratam–se, portanto, de estados onde predominam atividades econômicas primárias.

A Amazônia é, portanto, uma região de extremos, com metrópoles como Belém e Manaus, que possuem mais e 1 milhão de habitantes e municípios outros como Santa Rosa do Purus no Acre com menos de 4.000 habitantes, segundo o censo do IBGE de 2007. Nestes grandes centros, a vida não difere muito dos demais grandes centros do país, com todas as facilidades a serviços públicos, bens de consumo e problemas sociais. Por outro lado, existe um grande número de municípios, nos quais as dificuldades de acesso limitam o crescimento econômico e até mesmo a presença do Estado.

A problemática das queimadas na Amazônia ganha destaque frente às demais fontes potenciais de polui-ção, tais como a frota veicular e emissões de fontes fixas, devido ao avanço das frentes de desmatamento e manejo do fogo em áreas agropastoris.

4.2.1 O DIAGNÓSTICO DAS ATIVIDADES RESPONSÁVEIS PELAS QUEIMADAS

Um dos sistemas utilizados no acompanhamento dos focos de queimadas é o SIPAM – Sistema de Pro-teção da Amazônia, vinculado à Casa Civil, e coordenado pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam/Ministério da Defesa), que atualmente cobre os estados do Mato Grosso, Acre e Rondônia.

Com base nas informações registradas, o SIPAM vem acompanhando a evolução das queimadas, ge-rando cenários que qualificam as mesmas de acordo com os cruzamentos de focos de calor (INPE) e a base de dados do SIPAM. Um esforço foi empreendido para correlacionar os dados de focos de calor no ano de 2008, com informações sobre o desmatamento, o tipo de uso do solo associado e as atividades econômicas predominantes.

Em relação ao cruzamento das informações de queimadas com o desmatamento (figura 9), é possível constatar, através da análise da figura abaixo, que as ocorrências de focos de calor concentram-se na região considerada como fronteira antiga, entretanto eventos na região de fronteiras intermediárias tam-bém são significativos, sugerindo que o avanço das fronteiras da exploração madeireira para o interior da Amazônia traria posteriormente o avanço das queimadas sobre a região.

Figura 9 – Mapa das ocorrências de focos de calor nos estados do Acre, Mato Grosso e Rondônia em 2008 (SIPAM/INPE) e Faixas de expansão das zonas madeireiras (IMAZON)

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Ainda com relação ao cruzamento de dados do desmatamento com focos de calor, foi feito o cruzamen-to dos dados do SIPAM com os dados do PRODES. O resultado parece mostrar a utilização de fogo para abertura de novas áreas nos estados do arco do desmatamento, onde são altas o número de ocorrências sobre polígonos classificados como floresta: 59% Acre, 26% no Mato Grosso e 41% em Rondônia. Mes-mo considerando que os pontos de focos de calor possam conter erros de precisão em sua localização, qualitativamente podemos inferir que áreas de florestas estão sendo queimadas. A Figura a seguir aponta que na média dos três estados, a ocorrência de focos de calor nas áreas de floresta é de 35% do total de focos registrados no último ano, superando inclusive a ocorrência em áreas desmatadas, onde o manejo do fogo é usual.

Figura 10- Ocorrência de focos de calor em 2008 x PRODES 2007 nos estados do arco do desmatamento.

Com relação ao cruzamento dos dados de focos de calor e o tipo de uso do solo definido nos zonea-mentos ecológicos econômicos dos estados, revela-se que a presença de focos de calor incide em maior porcentagem nas áreas de usos agropastoris: 58% no Acre, 42% no Mato Grosso e 66% em Rondônia, áreas onde o uso do fogo só poderia ser realizado sob controle, dependendo da legislação estadual. Já os 50% das ocorrências restantes incidem sobre áreas protegidas, frágeis, de usos restritos, de manejo, entre outras, onde o uso do fogo deve ser extinto.

O cruzamento da informação sobre a situação fundiária dos estados, em especial as áreas especiais como unidades de conservação, terras indígenas e assentamentos com os focos de queimadas, mostra a presença do fogo sobre estas áreas,. Em todos os estados a maior parte das ocorrências de focos de calor se dá sobre áreas particulares ou com destinação indefinida, sendo que no Acre este valor é de 50%, e em Mato Grosso e Rondônia, estas porcentagens são maiores, o que também se justifica pelo maior manejo agropastoril. Também são detectados focos de calor em assentamentos , sendo Acre (35%) e Rondônia (23%), enquanto que o Mato Grosso apresenta maior número de focos em terras indígenas. Em relação às unidades de con-servação, o estado com maior ocorrência de focos, no ano de 2008 , foi Rondônia.

Por fim, com o cruzamento das informações sobre o comportamento das ocorrências de focos de calor e a evolução do rebanho bovino nos estados da Amazônia Legal, verifica-se a maior presença de fogo nos estados com os maiores rebanhos (Barreto et all 2008). O autor revela que a pecuária continua como a principal ocupação das áreas desmatadas na Amazônia, ocupando de 75% a 81% do total desmatado entre 1990 e 2005. Essa estimativa é compatível com a estimativa do IBGE de que 70% das áreas desma-tadas eram ocupadas por pastos em 1995.

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A conclusão dos estudos acima com base na análise conjunta dos cruzamentos de dados acima de-monstra que durante o ano de 2008, como nos anos anteriores, ocorreu o uso efetivo do fogo tanto para manejo agropastoril como para abertura de novas áreas. Levantamentos futuros sobre qualidade do ar e valores das emissões de carbono poderão reforçar ou trazer novas informações a respeito da dinâmica destes processos na atmosfera e nos organismos vivos, em especial na saúde humana.

4.2.2 INDICADORES DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NA AMAZÔNIA

Com as taxas de desmatamento elevadas, não é de surpreender a ocorrência de níveis de poluentes atmosféricos em vastas regiões da Amazônia superiores aos limites da legislação brasileira em vigor, apresentando valores de concentração em níveis muito mais elevados que em áreas urbanas como São Paulo, por exemplo.

A taxa de desmatamento nos anos recentes tem estado na faixa de 10.000 a 15.000 Km² por ano, que é uma taxa extremamente elevada. Levando em conta que a maior parte da área da Amazônia contem em torno de 150 a 300 toneladas de biomassa por hectare, as emissões de queimadas lançam na atmosfera grandes quantidades de material particulado e gases de efeito estufa, além de precursores de ozônio, entre muitos outros gases.

Estas altas taxas de desmatamento implicam em níveis de material particulado inalável que passam de 300 µg/m³, conforme o gráfico da Figura 11. Ele mostra as concentrações de material particulado fino (PM2.5) material particulado grosso (PM2.5-10) e material particulado inalável (PM10) para a região de Alta Floresta de 1992 a 2000. Valores tão altos quanto 400 ou 500 µg/m³ foram medidos. O limite estipu-lado pela resolução do CONAMA para PM10 é de uma média anual de 50 µg/m³, com um valor máximo diário de 150 µg/m³. Estes valores foram sistematicamente ultrapassados nos últimos 10 anos.

Figura 11 – Registros da concentração de material particulado fino (PM2.5) e material particulado grosso (PM2.5-10) para a região de Alta Floresta, ao longo de 1992 a 2000.

Alta Floresta Aerosol Mass Concentration 1992-2000

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Fonte: Instituto de Física da USP

Estes altos níveis de concentrações ao nível do solo refletem-se em altíssimos valores de concentração total de aerossóis na coluna total da atmosfera medido pela rede de fotômetros solares operada pelo Instituto de Física da USP em parceria com a NASA. O valor normal de espessura ótica na Amazônia sem o efeito de queimadas é de 0.1 no comprimento de onda de 500 nm. Valores cerca de 30 vezes

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mais elevados são normalmente observados em vastas regiões da Amazônia, como mostra a Figura 12, para 7 localidades de 2000 a 2007 (Alta Floresta, Rondônia, Balbina, Belterra, Ji Paraná, Cuiabá, Campo Grande e Rio Branco).

Figura 12 - Valores de concentração total de aerossóis na coluna total da atmosfera medido pela rede de fotômetros solares, no período de 1993 a 2008. Fonte: Instituto de Física da USP e NASA

Paralelamente, medidas da concentração de ozônio em várias regiões da Amazônia (Rondônia, Santarém, Balbina, Rio Branco e outras) apontam para valores que atingem 100 ppb (partes por bilhão), muito acima dos padrões de qualidade de ar e acima dos valores observados normalmente em São Paulo no período de inverno com inversões térmicas. Medidas de monóxido de carbono em Rondônia apontam concentrações de 2000 a 4000 ppb, enquanto que as concentrações naturais na Amazônia são de 100 a 150 ppb.

Em função destes altos níveis poluentes, é fundamental a implantação de um plano nacional de mo-nitoramento da qualidade do ar, com estações na Amazônia, que auxiliem na formulação de políticas de proteção da saúde humana e do ecossistema. Os principais parâmetros a serem monitorados são os estipulados na legislação em vigor, que permitiriam a verificação do cumprimento ou não da legislação em vigor. Estes cinco parâmetros seriam:

a)Material particulado PM 10 e PM2.5b)Concentração de black carbon ou carbono grafíticoc)Concentrações de ozôniod)Concentrações de monóxido de carbonoe)Concentrações de óxidos de nitrogênio.

4.3. – AÇÕES EM ANDAMENTO

4.3.1 - SIPAM -SISTEMA DE PROTEÇÃO DA AMAZÔNIA

O monitoramento de focos de calor (termo utilizado para os pontos registrados a partir de emissões de calor da Terra) vem sendo realizado pelo SIPAM desde 2005 e mais recentemente também pelas OEMAS dos estados do Acre, Mato Grosso e Rondônia.

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O objetivo geral do Sistema de Proteção da Amazônia é Integrar informações acerca da qualida-de do ar na Amazônia e gerar conhecimento atualizado para o planejamento e coordenação de ações de Governo no combate às queimadas na Região por meio de informações. Como objetivos específicos da ação, destacam-se:

Identificação de estações existentes;• Fortalecimento e articulação dos grupos de monitoramento atuantes na região Amazônica – atuação • em rede de informações;Inventário de fontes fixas;• Quantificação dos custos / impactos sobre a saúde humana e serviços aeroportuários;• Redução e quantificação da parcela de contribuição brasileira no aquecimento global por meio da • queima de biomassa.

Parte das atividades realizadas também são de coordenação política entre três estados da Amazônia Le-gal, para que estes fortaleçam a atuação conjunta de suas instituições de forma a potencializar e horizon-talizar os esforços. Esta iniciativa deu base à realização de encontros anuais entre representantes dos três estados reunidos no evento nomeado “Pré-Seca”, para levantar os pontos em comum, as dificuldades e as ações desenvolvidas em cada estado, com vistas a reduzir o uso do fogo.

Em 2009, outro encontro “PRÉ-SECA” aconteceu em Cuiabá-MT onde foi realizado um mini-curso mi-nistrado pela responsável da área de telemetria da CETESB – SP. Além da capacitação, que esclareceu questões operacionais sobre estações de qualidade do ar, verificou-se ao longo das apresentações que há inúmeras especificidades em relação à qualidade do ar nos estados amazônicos. Estas especificidades referem-se, entre outros pontos, a escala de abrangência da área atingida por este tipo de poluição e aos tipos de emissões, mas também às dificuldades logísticas de acesso, manutenção e estrutura institucional para garantir o funcionamento das estações com eficiência.

O monitoramento de qualidade do ar nos estados da Amazônia Legal, por meio do estabelecimento de uma rede, deve preencher uma lacuna de informações necessárias para orientar os gestores em políti-cas públicas direcionadas para o controle de emissões. O conhecimento do impacto via diagnóstico e monitoramento deve auxiliar aos tomadores de decisão e formuladores das políticas públicas para a Amazônia a convergirem para as ações de controle e redução dos poluentes.

É possível contar atualmente com poucas estações de monitoramento da qualidade do ar em cada esta-do ainda com necessidade de alguns arranjos institucionais para que os dados sejam disponibilizados e integrados em rede. Sendo necessária uma gestão junto aos órgãos estaduais, legalmente responsáveis por esta ação, para que se alcance o número necessário de estações.

No tocante à integração das informações, o Sistema de Proteção da Amazônia foi criado com a missão de abrigar o repositório de dados sobre a Amazônia para suprir os Governos, nas três esferas de poder. Seu banco de dados está equipado para o armazenamento das informações a serem obtidas, e devido a sua capilaridade espacial na Amazônia, com três centros integrados, em Porto Velho, Belém e Manaus é possível estabelecer acordos de cooperação técnica com os estados, oferecendo a aplicação de modela-gens para a avaliação da presença de poluentes atmosféricos.

Em relação á iniciativas estaduais, é possível destacar a iniciativa da Secretaria Estadual de Meio Am-biente (do Pará SEMA/PA), que está desenvolvendo o o inventário das fontes existentes no estado. Este trabalho está em sua fase inicial e inventariou as carvoarias.

Já em Mato Grosso, a modelagem dos poluentes oriundos das queimadas (material particulado e mo-nóxido de carbono) é realizada atualmente através da ferramenta de modelagem CATT-BRAMS, dis-ponibilizada via WEB pelo INPE. Esta ferramenta é utilizada pelo estado como auxiliar no processo de monitoramento da qualidade do ar e pela Secretaria de Saúde como auxiliar no processo de gestão da vigilância em saúde.

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4.3.1.1 – RESULTADOS

Considera-se que as ações integradas entre governos federal, estadual e municipal, a intensificação da prevenção com disseminação de alternativas ao uso do fogo, o comando e controle efetivados pelos ór-gãos federais, a organização dos comitês estaduais de combate ao fogo junto às defesas civis dos estados, entre outras ações são atividades fundamentais para enfrentar as queimadas e incêndios florestais e já vem dando resultados positivos conforme mostra o gráfico abaixo em que se vê uma queda no número de focos de calor detectados desde que o monitoramento foi iniciado.

Figura 13 – Comparativo das ocorrências de focos de calor, no período de 2004 a 2008 nos Estados do Acre, Mato Grosso e Rondônia.

4.3.2 - PPCDAM - PLANO DE AÇÃO PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA LEGAL

O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM) tem como objetivo reduzir substancialmente a taxa de desmatamento nessa região. É preciso destacar que, no ano de lançamento do Plano, a taxa de desmatamento atingiu 27 mil km², o segundo maior índice da série histórica do sistema PRODES do INPE. Entre os anos de 2004 e 2007, a redução do desmatamento foi de cerca de 59%.

O PPCDAM está estruturado de acordo com os seguintes eixos: i) ordenamento fundiário e territorial; ii) monitoramento e controle ambiental; e iii) fomento a atividades produtivas sustentáveis. Nos três eixos, foram estabelecidas 32 ações estratégicas e 149 atividades. O Plano conta com ações de diversos minis-térios sob a coordenação da Casa Civil da Presidência da República, sendo eles: Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério da Defesa, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministério da Integração Nacional, Ministério da Justiça, Ministério do Meio Ambiente, Ministério das Minas e Energia, Ministério dos Transportes, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e Ministério das Relações Exteriores.

Conforme já comentado, o desmatamento na Amazônia Legal concentra-se numa região conhecida como Arco do Desflorestamento. No total, segundo dados do PRODES, a Amazônia já perdeu 18% de sua cobertura vegetal. Destaca-se que o desmatamento geralmente é um processo que se realiza com

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auxílio do fogo, seja para fragilizar a floresta, seja para limpar o terreno ao final da retirada das madeiras comerciais. Algumas regiões da Amazônia sofrem bastante com as queimadas e incêndios florestais ile-gais e criminosos, ou mesmo acidentais, acarretando transtornos na saúde da população. No âmbito do PPCDAM, as queimadas constituem problema associado a desmatamento, daí que a atuação do Ministé-rio do Meio Ambiente e de suas instituições vinculadas na prevenção e controle dos incêndios florestais é permanente, principalmente nas Unidades de Conservação.

4.3.3 - PPCERRADO - PLANO DE AÇÃO PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DO DESMATAMENTO E DAS QUEIMADAS NO CERRADO

O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCer-rado), atualmente em elaboração pelo Departamento de Articulação de Políticas para a Amazônia e Controle do Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, integra e articula ações deste Ministério e suas instituições vinculadas, visando a redução do desmatamento no Cerrado. Incorpora as diretrizes e operacionaliza o Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado (Programa Cerrado Sustentável). O PPCerrado é uma ação estratégica do Governo Federal articulada às políticas nacionais, como a Política Nacional da Biodiversidade e a Política Nacional dos Recursos Hídricos. Articula-se ainda com o Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) e com os planos estaduais de redução e controle de desmatamento e queimadas.

O Plano Operativo prevê um conjunto de ações com o horizonte de execução de três anos (2009 a 2011). As ações estão estruturadas com base em três eixos estruturantes: 1) Controle e Monitoramento; 2) Áreas Protegidas e Ordenamento Territorial e 3) Fomento às Atividades Sustentáveis. As ações de contro-le e monitoramento priorizam a proteção das unidades de conservação, por meio da melhoria da infra-estrutura, elaboração de planos de proteção e capacitação e contratação de agentes de proteção. Ações de prevenção e combate a incêndios florestais são previstas por meio da aquisição de equipamentos de combate ao fogo, capacitação, contratação de brigadistas e implementação de bases operativas.

Apesar da maioria da vegetação nativa do bioma Cerrado ser adaptada à ocorrência do fogo, as quei-madas e os incêndios florestais causados pelo homem são muito frequentes no Cerrado, prejudicando a biodiversidade de seus ecossistemas. As queimadas antrópicas acontecem principalmente no auge da estação seca (diferentemente das queimadas naturais no início do período chuvoso causado por relâm-pagos), sendo de maior intensidade e frequência dos que os naturais aos quais a vegetação se adaptou, causando sérios danos aos ecossistemas.

Além das queimadas com o objetivo de acelerar o processo de desmatamento, as unidades de conserva-ção e os fragmentos de vegetação nativa são atingidos pelo fogo pela propagação de queimadas que são feitas nas pastagens de gramíneas exóticas com a finalidade de renovar o pasto. Esse processo é bastante comum no Cerrado e acarreta sérios problemas para a qualidade do ar, além de reduzir a fertilidade do solo pela mineralização da matéria orgânica ali presente. Ao contrário do que se justifica, a queima das pastagens empobrece ainda mais o solo, sendo o efeito de “adubação” do solo pelas cinzas efêmero. No caso do Cerrado, a atuação do Prevfogo, coordenado pelo IBAMA; das brigadas das Unidades de Con-servação, coordenadas pelo ICMBio; assim como os procedimentos preventivos, tais como a construção de aceiros e até mesmo queimadas controladas para reduzir o estoque de biomassa, são realizados para reduzir o impacto negativo do fogo sobre a vegetação nativa da região.

4.3.4 - SISTEMA NACIONAL DE PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS - PREVFOGO.

Em 1989, por ocasião da formação do Ibama, foi criado o Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais – Prevfogo, (Decreto nº 2.661/98) com o papel institucional de desenvolver programas integrados entre diversos níveis de governo, destinados a ordenar, monitorar, prevenir e com-bater incêndios florestais, cabendo-lhe ainda o papel de desenvolver e difundir técnicas de manejo con-trolado do fogo, capacitar recursos humanos para difusão das respectivas técnicas e o desenvolvimento de medidas para conscientizar a população sobre os riscos do emprego inadequado do fogo.

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Em 2002, o Prevfogo assumiu, por meio da Portaria nº 85, a condição de Centro Especializado, estru-turado em uma Coordenação Nacional, na Sede do IBAMA em Brasília e apoiado por Coordenações Estaduais, em 25 estados brasileiros e no Distrito Federal.

Um dos princípios que orienta o trabalho do Prevfogo é o fato de que é improvável conhecer todas as consequências das queimadas e incêndios florestais dado à complexidade dos sistemas sócio-ambientais. Então, é melhor prevenir, evitar as queimadas e utilizar outras formas de produção sem o uso do fogo.

Sabe-se que os avanços na supressão do uso do fogo como elemento de manejo em muitos países se deu com base em mudanças políticas, mudanças sociais, avanço tecnológico, maior compreensão do papel do fogo nos ecossistemas e a promoção da educação ambiental. Tais processos foram fomentados por cooperação interagências, programas integrados de manejo de fogo (prevenção e combate), treinamento, formação e pesquisa. Estes conjuntos de atividades oreintam então as prioridades de ação do Prevfogo.

No Brasil, o Prevfogo acumula conhecimento considerável oriundo de experiências sobre o fogo na vegetação. A sua atuação configura uma contribuição efetiva à redução dos danos reconhecidos aos ecossistemas e à socie-dade, à mudança climática global e aos esforços internacionais para ajustamentos a este novo cenário.

4.3.4.1– MONITORAMENTO E ROTINA DE COMBATE À INCÊNDIOS

O Prevfogo executa relevantes atividades relacionadas ao monitoramento de queimadas, com base no sensoriamento remoto por satélites, que aliado ao uso de programas de geoprocessamento, são capazes de analisar grande volume de dados, e fornecer informações rápidas, precisas e detalhadas aos tomado-res de decisão sobre os focos de calor10, auxiliando a atuação dos órgãos ligados às atividades de contro-le e combate (Setzer et al., 2004).

Para suas atividades de gestão, o Prevfogo adota que cada foco é a indicação de uma queima em an-damento – seja queima controlada, seja incêndio. Porém, há de se salientar que esta detecção é uma indicação indireta de queima, e desta forma está sujeita a falhas. Sua aplicação se justifica, pois é a única base de dados uniforme sobre ocorrências de incêndios florestais no Brasil.

A rotina de monitoramento se baseia em consulta à plataforma online de focos de calor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, pelo endereço http://www.dpi.inpe.br/proarco/bdqueimadas/, e ava-liação de áreas possivelmente atingidas por incêndios florestais.

Um desdobramento da rotina de monitoramento é a emissão de boletins e notas informativas. Tais docu-mentos têm por objetivo divulgar aos diversos setores da sociedade dados atualizados sobre focos de calor e eventos de fogo em áreas ecologicamente importantes – tais como Amazônia Legal, Terras Indígenas e Unidades de Conservação Federais. Uma maior difusão de informações sobre incêndios e queimadas per-mite que ações preventivas estejam na agenda do dia, nas três esferas de governo e na iniciativa privada.

Para aperfeiçoar o sistema de informações sobre queimadas e incêndios florestais no país, o Prevfogo vem desenvolvendo o Sistema Nacional de Informações sobre Fogo, uma plataforma online (http://siscom.IBAMA.gov.br/sisfogo/) que pretende concentrar todas as informações relativas ao tema.

Outro desdobramento da rotina de monitoramento é o preenchimento de Planos Operativos de Preven-ção e Combate, cujo objetivo é consolidar as rotinas específicas para cada região é elaborar um plano de atividades locais. A proteção contra incêndios em determinada região, obedece a particularidades locais que demandam ajustes nas rotinas realizadas, como maneira de otimizar o emprego dos recursos direcionados a essas atividades.

10 Os focos de calor são indicações de queimadas ou incêndios sobre a superfície terrestre. Um foco de calor é o pixel de uma imagem de satélite que apresenta temperatura bem mais alta que a área em volta, indicando a possibilidade de ocorrência de incêndio no local. Para a maioria das imagens utilizadas pelo INPE, o pixel representa aproximadamente 1 km2 da superfície e a temperatura mínima para detecção pelo sensor termal é de 47aC.

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Desde 1999, o Prevfogo passou a produzir uma série de documentos que visavam o planejamento de ações preventivas e de controle dos incêndios florestais em Unidades de Conservação Federais. Diante dos resultados positivos, foi criado em 2005 o Roteiro Metodológico para Elaboração de Planos Opera-tivos de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais em Unidades de Conservação.

Fruto desta experiência, em 2009 foi publicado um roteiro voltado para áreas diversas, que não Uni-dades de Conservação: o Roteiro Metodológico para Elaboração de Planos Operativos de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais. Seu objetivo é estabelecer um método de elaboração de Planos Operativos aplicável a diferentes situações de risco, áreas de abrangência e esferas de governo, e que ainda pode ser utilizável por qualquer profissional com conhecimentos básicos de meio ambiente e aplicável em qualquer região do país. Publicações elaboradas pelo Prevfogo estão disponíveis na In-ternet: www.IBAMA.gov.br/prevfogo.

4.3.4.2 – FORMAÇÃO DE BRIGADAS

Merecem destaquem entre as atividades de combate a incêndios e capacitação: as formação de brigadas. Uma das maneiras de se evitar ou reduzir os danos causados pelos incêndios florestais é capacitar pessoas para que possam dar rápidas respostas aos incêndios, além de trabalharem a prevenção com os moradores da região.

De 2007 a 2009, foram capacitadas 6063 pessoas para trabalhar com Prevenção e Combate aos Incên-dios Florestais, através da atuação de 63 instrutores lotados no IBAMA, ICMBio, Corpo de Bombeiros – MS e 3 colaboradores eventuais. O Prevfogo atualmente contrata aproximadamente 1400 brigadistas para atuar em 64 municípios entre os que têm maiores índices de queimadas no Brasil. O IBAMA assume a capacitação, contratação, equipamentos, uniformes, veículos, salários e benefícios, enquanto as pre-feituras e outras Instituições apóiam com a sede para a brigada, uma sala de situação onde o Brigadista Gerente Municipal se estabelece, geralmente com telefone, computador com acesso à internet e impres-sora, além de outros materiais de uso em escritório.

A atuação das brigadas tem como objetivo maior a diminuição da ocorrência de incêndios florestais. No momento, é possível verificar o alcance dessa meta apenas de forma indireta, por meio da contagem de fo-cos de calor detectados durante o período do projeto em relação aos anos anteriores. Embora não estejam associadas diretamente com a extinção de incêndios, outras atividades são realizadas, principalmente com o apoio a ações preventivas. Assim, consideram-se também como indicadores de efetividade do projeto: combates realizados, número de parcerias formais entre Coordenações Estaduais e Prefeituras, número de palestras para escolas e proprietários rurais, quantidade de atendimentos de apoio à queima controlada, número de participações em eventos etc. Uma vez que a realidade e as condições de trabalho podem va-riar bastante entre os municípios, não são aqui estabelecidas metas para cada um dos indicadores.

Cabe destacar também que as brigadas do Prevfogo, depois da sua contratação, recebem outros tipos de capacitações mais adequadas às realidades locais para trabalhos de prevenção junto à comunidade, como a confecção de viveiros de mudas e cursos de educação ambiental.

4.3.4.3 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CAPACITAÇÃO

O Centro Especializado Prevfogo investe sistematicamente em atividades educacionais com o objetivo de promover a percepção sobre as causas e consequências das queimadas e incêndios florestais, suas possí-veis alternativas de soluções e suas contribuições ao aumento das concentrações dos gases de efeito estufa, indutores de mudanças climáticas globais. O processo ocorre por meio da promoção de seminários, cursos de formação, oficinas, exposições, palestras, simulações, peças teatrais e produção e distribuição de mate-riais educativos e recursos instrucionais, tanto para os técnicos do Prevfogo como para o público externo.

O Prevfogo fornece aos produtores rurais, principalmente pequenos produtores, o curso de Queima Con-trolada, com vistas a auxiliá-los no uso correto do fogo, diminuindo os riscos de acidentes e incêndios florestais. Em 2007, foi incluída ainda uma nova vertente que são as técnicas de cultivo sem o uso do

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fogo, atendendo as novas tendências de redução do uso do fogo na agricultura. Esse curso também foi ministrado no “Programa de formação técnica sobre as alternativas ao uso do fogo no processo de de-senvolvimento sustentável da Região Amazônica”, ao longo do ano de 2008, capacitando 400 técnicos dos órgãos públicos e lideranças locais de 8 pólos da região Amazônica.

Além das atividades descritas anteriormente, diversos outros cursos e capacitações foram realizados, em âmbito nacional, internacional, ou ambos. Destacam-se entre estes o Mini-cursos, destinados à for-mação de professores de escolas, brigadistas, lideranças comunitárias, agricultores, voltado para ques-tões relacionadas as queimadas e o clima, as mudanças climáticas globais, as vulnerabilidades sociais, econômicas e ecológicas da Amazônia. Um Curso de Investigação de Incêndios Florestais – realizado também na Colômbia, a Capacitação dos Instrutores do Prevfogo, a Capacitação de Gerentes do Fogo de UCs e Coordenadores Estaduais do Prevfogo e os Cursos Sobre Sistema de Comando de Incidentes, além de Reuniões Técnicas com os Coordenadores do Prevfogo. Também foi estabelecida parceria com o SENAR-DF (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), com o objetivo de sensibilizar as comunidades rurais do DF para evitar o uso do fogo nas atividades agropecuárias, e implantado o Projeto Piloto de Controle de Queimadas em Quatro Municípios da Bacia do Rio São Francisco.

4.3.4.4 COMITÊS ESTADUAIS/MUNICIPAIS DE CONTROLE DE QUEIMADAS, PREVENÇÃO E COM-BATE AOS INCÊNDIOS FLORESTAIS”

A limitação de recursos orçamentários, humanos e materiais das Instituições que desenvolvem ações de prevenção e controle de queimadas e incêndios florestais, demonstram que uma atuação isolada é ine-ficaz e que a união de esforços se traduz em melhores resultados. Nesse sentido, uma das atividades do Centro Prevfogo, é o Programa de Ação Interagências, que tem como objetivo ampliar a capacidade de resposta em todo o território nacional, no âmbito das questões relacionadas ao controle de queimadas, prevenção e combate aos incêndios florestais.

Neste sentido, foram elaborados planos de ação integrados e fomentada a criação de Comitês estaduais e municipais“. Esses Comitês somam esforços e otimizam recursos humanos, financeiros e materiais na busca de uma estratégia de ação integrada para atuar efetivamente no controle de queimadas, prevenção e combate aos incêndios florestais.

Figura 14 – Mapa com os estados em que os Comi atuam.

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4.3.5 - PROGRAMA AMAZÔNIA SEM FOGO

Este programa é uma parceria entre o governo Italiano e o Ministério do Meio Ambiente do Brasil com a participação do Prevfogo-IBAMA. O programa pode ser dividido em quatro fases:

Fase I - 1999 a 2002, desenvolvimento do programa: “Fogo! Emergência Crônica”, com atuação • direta, a nível local, em 29 municípios dos Estados do Acre, Mato Grosso e Pará;

Fase II – 2003, programa: “Amazônia Encontrando Soluções”, foi dada a continuidade às ações ini-• ciadas na fase anterior e adotada a metodologia de implantação de Unidades Demonstrativas – UD’s para a difusão de tecnologias sustentáveis acessíveis aos produtores rurais;

Fase III – 2004 a 2007, ampliou-se a participação efetiva do MMA, através do Programa de Prevenção • e Controle dos Incêndios na Floresta Amazônica. Parcerias foram estabelecidas com organizações não governamentais e o programa foi ampliado para 34 municípios, nos quais foram estabelecidos protocolos municipais para manejo sem uso do fogo ou com uso do fogo de forma controlada;

Fase IV – 2008, desenvolvimento do Programa de Formação Técnica sobre as alternativas ao uso do • fogo no processo de desenvolvimento sustentável da Região Amazônica, conhecido também como Programa “Amazônia sem Fogo”. O objetivo foi o de difundir e aplicar em maior escala as técnicas alternativas ao uso do fogo em atividades agropecuárias, adquiridas durante as fases anteriores do programa, assim como qualificar os técnicos, selecionados pelo MMA, para a transferência e apli-cação das metodologias inerentes à contenção dos incêndios e a prática da produção sem o uso do fogo na região amazônica. Esta fase consistiu em um curso ministrado em 10 módulos em 8 pólos na região amazônica ao longo do ano de 2008. Foram formados 400 multiplicadores, distribuídos em 173 municípios da região norte do país.

4.3.6 - PROGRAMAS DE RESTRIÇÃO DAS QUEIMADAS DE CANA-DE-AÇÚCAR

A queima da palha da cana-de-açúcar é prática usual neste cultivo, por facilitar e, segundo os produtores que a adotam, aumentar o rendimento do corte pela eliminação da palha e folhas secas. Como já foi descrito, essas queimas causam impactos sobre o meio ambiente e comprovados efeitos danosos à saúde humana, além do incômodo causado pela emissão de partículas e risco de fogo em áreas como redes elétricas e rodovias.

A mecanização da colheita de cana-de-açúcar no Brasil foi efetivamente implantada na década de 1980 e vem crescendo ao longo dos anos. O aumento das áreas colhidas mecanicamente se deu pela necessidade das usinas atenderem seus cronogramas em épocas em que a mão-de-obra tornou-se extremamente escassa e cresceu motivada pela redução de custo e pela pressão ambiental para colheita de cana sem queimar.

Alguns Estados já proibiram o uso do fogo na colheita da queima e vem trabalhando com prazos de re-dução. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária (Embrapa) desenvolvem a campanha “Alternativas para a prática de queimadas na agricultura” em parceria com os ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário, governos estaduais, prefeituras, setor privado, organizações não-governamentais, cooperativas e órgãos de assistência técni-ca e extensão rural.

4.3.7 - ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO DA CANA:

O Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar, lançado dia 17 de setembro de 2009 pelo Governo Federal, objetiva fornecer subsídios técnicos para formulação de políticas públicas, visando ao ordena-mento da expansão e a produção sustentável de cana-de-açúcar no território brasileiro. Os principais indicadores utilizados foram a vulnerabilidade das terras, o risco climático, o potencial de produção agrícola sustentável e a legislação ambiental vigente.

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O zoneamento proíbe a construção de novas usinas e a expansão do plantio em qualquer área da Ama-zônia, do Pantanal, da Bacia do Alto Paraguai ou em vegetação nativa de outros biomas. Essas áreas, somadas àquelas onde o plantio já não é permitido, como as unidades de conservação e terras indígenas, fazem com que fique proibido o plantio da cana em 92,5% do território brasileiro.

As proibições previstas pelo zoneamento estabelecem que estarão aptos ao plantio da cana-de-açúcar 64 milhões de hectares. Considerando os novos critérios, a expansão da cana-de-açúcar poderá ocorrer em 7,5% do território nacional. Atualmente, o cultivo de cana ocupa uma área de 8,89 milhões de hectares, o que representa menos de 1% do território nacional. Adicionalmente, foram excluídas algumas áreas, dentre elas as terras com declividade superior a 12%, observando-se a premissa da colheita mecânica e sem queima para as áreas de expansão.

Na avaliação do governo, o zoneamento tornará a produção de etanol ainda mais eficiente, estimulando o comprovado benefício ambiental do uso do biocombustível produzido com a cana-de-açúcar. Já há a intenção do governo de chegar a 2017 com um aumento de quase 100% na produção de etanol em relação à produção atual, o que elevaria a área plantada para cerca de 1,7% do território do país.

Para atingir plenamente, os objetivos apresentados no zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar, o governo pretende permitir a produção apenas em áreas que não necessitem irrigação e possam ter mecanização (declividade inferior a 12 %), eliminando a prática de queimadas. Para isso, foi assinado um decreto presidencial que orienta o Conselho Monetário Nacional a estabelecer novas condições, critérios e vedações para o crédito rural e agroindustrial.

4.4 – AÇÕES A SEREM IMPLEMENTADAS

4.4.1 SIPAM

Uma importante lacuna detectada pelo SIPAM no que diz respeito aos instrumentos de gestão da qua-lidade do ar na Amazônia é a implantação efetiva de uma rede de monitoramento da qualidade do ar integrada para toda a região amazônica. E, paralelamente é importante haver a união dos estados e in-tegração das políticas que visem a melhoria da qualidade de vida dos amazônicos. O catalizador entre os estados da região consiste no enfrentamento de problemas semelhantes, tais como a ocorrência de episódios agudos de poluição do ar em virtude de queimadas e incêndios florestais. O SIPAM mantém um fórum anual de discussão sobre o assunto nos eventos de Pré-Seca, onde os estados podem compar-tilhar metodologias, parâmetros, entre outras informações.

A almejada rede de monitoramento poderá ser criada em etapas crescentes de investimentos, com parti-cipação dos estados: (i) cadastro das estações já existentes, (ii) acessibilidade aos dados monitorados; (iii) inventário das fontes de emissão fixas; (iv) desenho de uma rede mínima com a definição dos parâmetros e sua aplicação; e (v) aquisição de equipamentos.

A princípio a rede deve priorizar as concentrações urbanas de municípios-pólo, que já tiveram proble-mas recorrentes no passado em virtude da poluição do ar. Estas estações, monitoradas por equipes dos órgãos ambientais dos estados teriam seus dados armazenados no banco de dados do SIPAM.

A união dos estados em torno de uma rede de operação deve minimizar a problemática a respeito da manutenção das estações fixas. Na abordagem conjunta, o projeto da rede deve incluir um plano de ca-pacitação para as equipes estaduais de manutenção. A manutenção é um processo-chave para o efetivo funcionamento de uma rede de monitoramento da qualidade do ar, considerando que os equipamentos sofrem desgaste com o uso e o tempo e são, em sua maioria, fabricados fora do Brasil, encarecendo os custos para manutenção da rede.

As ações de monitoramento também deverão ser executadas pelos órgãos estaduais de meio ambiente, nos municípios-polos escolhidos para o monitoramento sistemático. Em todos os estados, deverá ocorrer

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uma padronização dos parâmetros e metodologias utilizados. Os equipamentos utilizados também de-verão ser padronizados, para possibilitar posterior comparação dos dados.

Outra etapa importante é o inventário das fontes fixas dentro de uma estratégia comum pelos estados da região. O mesmo é um instrumento poderoso para nortear a gestão da qualidade do ar e para aprimorar as ferramentas de modelagem da qualidade do ar utilizadas pelos estados.

4.4.2 - PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - ICMBIO

Até dezembro de 2008, as ações de prevenção, controle e combate eram conduzidas pelo Prevfogo do IBAMA, a partir de então o ICMBio (Lei nº 11.516/07) passou a se responsabilizar pela prevenção e combate a incêndios florestais nas Unidades de Conservação federais, tendo, até a presente data, resul-tado na realização da Oficina Incêndios Florestais em Unidades de Conservação, em fevereiro de 2009, tratando de diversos temas. A oficina resultou em sugestões que atualmente tem sido adotadas pela CGPRO/ICMBio como orientação geral e definição das prioridades de ação, dentre as quais podemos destacar as seguintes atividades em inicio de desenvolvimento:

Bases operativas• – foi detectado a necessidade de 11 bases operativas para a Monitoramento, Pre-venção, Controle e Combate a Incêndios Florestais. Estas deverão estar equipadas para serem as estruturas de suporte regional às Unidades de Conservação, compostas de equipe e equipamentos a serem disponibilizados em caso de incêndios de maiores proporções.Capacitação de instrutores• – em fevereiro de 2009, foi realizado um curso para instrutores de bri-gadistas, envolvendo instrutores do ICMBio e convidados, com o treinamento de 15 multiplicadores aptos para capacitar os candidatos as vagas de brigadistas.Capacitação de brigadistas• – até o momento já foram capacitados 2378 pessoas em 76 Unidades de Conservação Federais.Contratação de brigadistas • – a partir do exercício de 2009, a contratação de brigadistas teve sig-nificativos avanços. O processo de cadastramento passou a ser pela rede interna de computadores do Instituto, proporcionando agilidade. Até o momento foram contratados 1131 brigadistas de um universo de 1407 brigadistas previstos para 86 Unidades de Conservação.Licitações e aquisições • – foram licitados e estão sendo entregues Kits de Equipamentos de Proteção Individual - EPI para os brigadistas contratados ou voluntários e para as equipes das unidades de conservação. Até o momento já foram entregues Kits para 68 unidades de conservação. Além disso, foram licitados equipamentos de prevenção e combate a incêndios florestais, com base em estima-tiva de necessidade.Contratação de aeronaves• – foi contratado o aluguel de 04 aeronaves de combate a incêndios florestais que serão disponibilizadas quando o incidente tomar proporções que justifiquem a sua utilização.Termos de cooperação, de reciprocidade e convênios• – estão sendo negociados termos de cooperação, reciprocidade e convênios com o IBAMA, o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais, o Corpo de Bombeiros Militares do Distrito Federal, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Mato Grosso e a Secretaria de Estado de Justiça, Segurança Pública do Mato Grosso do Sul e Governo do Estado do Rio de Janeiro para ampliar a capacidade do ICMBio em combater incêndios florestais de grandes propor-ções em todo o território nacional, com reforço de equipe, aeronaves e equipamentos.

5. SAÚDE E QUALIDADE DO AR

5.1. CONTEXTO

O crescimento industrial e o desenvolvimento das atuais estruturas e aglomerados urbanos criaram as condições propicias para uma permanente exposição de grandes contingentes populacionais à poluição atmosférica oriunda de fontes fixas e móveis de emissão, de acidentes com produtos químicos e da quei-ma de biomassa, provocando efeitos adversos sobre a saúde das populações expostas1.

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Hoje, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), quase metade da humanidade vive nas cidades e a população urbana está crescendo duas vezes e meia mais rápido que a rural (ONU, 2006) 1. Esse fator acaba contribuindo ao aumento do risco de exposição, pois se estima que o número de mortes causadas por problemas decorrentes da poluição atmosférica no mundo é de cerca de 3 milhões. Esse valor representa 5% do total de 55 milhões de mortes que ocorrem anualmente no mundo e, em algumas populações, cerca de 30% a 40% dos casos de asma e 20% a 30% de todas as doenças respiratórias podem ser relacionadas à poluição atmosférica (WHO, 2000)1.

A questão da poluição atmosférica e seus impactos sobre a saúde tem sido foco de vários estudos epi-demiológicos realizados pela comunidade científica em vários países do mundo, inclusive no Brasil. Os resultados obtidos têm demonstrado que, mesmo que a concentração de poluentes atmosféricos possa ser compatível com os padrões estabelecidos por normatizações, a exposição contínua a esses poluentes segue causando efeitos adversos sobre a saúde, em especial sobre os grupos mais vulneráveis represen-tados por crianças e idosos.

Os impactos mais sérios dos poluentes atmosféricos são observados, sobretudo no sistema respiratório. Também podem ser transportados através do sangue para outras áreas do organismo. Esses poluentes se depositam no solo, nas plantas e na água, contribuindo para aumentar o espectro de exposição humana2.

Com base nessas premissas, o Setor Saúde tem envidado esforços para desenvolver ações de promoção, prevenção e proteção da saúde considerando as populações expostas aos poluentes atmosféricos.

5.1.1. RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E O SETOR SAÚDE

Nos últimos anos, vem crescendo a preocupação da população acerca dos possíveis efeitos adversos à saúde causados pela exposição à poluição do ar.

Esta preocupação, porém, não é um fato recente. A questão da poluição do ar, há pelo menos três dé-cadas, vem gerando apreensão nos habitantes das principais áreas metropolitanas brasileiras. Em 2002, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – conduziu a Pesquisa de Informações Básicas Municipais, apresentando o Perfil dos Municípios Brasileiros no que tange à questão ambiental. Um dos resultados dessa pesquisa de percepção aponta que 22% dos 5.560 municípios do país, ou seja, 1.224 do total, informaram a ocorrência de poluição do ar frequente e impactante, tendo como origem dife-rentes causas3.

Do ponto de vista da saúde, os efeitos nocivos da poluição do ar vêm sendo mais claramente vivenciados desde a primeira metade do século passado, durante episódios de alta concentração de poluentes como os observados no Vale Meuse, na Bélgica, em 1930; em Donora, na Pensilvania, em 1948; e em Londres, Inglaterra, no inverno de 1952-19534.

Tais episódios de exposição aguda contribuíram para a criação de leis e normas que atuaram de forma positiva no controle das emissões e no disciplinamento de níveis de concentração e metodologias de análise referentes aos poluentes. No entanto, a poluição atmosférica deixou de ser uma característica as-sociada exclusivamente às grandes metrópoles ou aos pólos industriais. Seus impactos também se fazem sentir em situações onde se observa a queima de biomassa externa ou interna, a execução de atividades de mineração, o uso da técnica de pulverização de agrotóxicos, entre outras.

Nas áreas metropolitanas, é fato notório que o aumento da frota veicular tem contribuído para a dete-rioração da qualidade do ar nessas áreas. Temos hoje uma situação onde um dos maiores geradores da poluição atmosférica nos grandes centros urbanos são as fontes móveis em circulação nas rodovias e avenidas. No caso da cidade de São Paulo, por exemplo, já se comprovou que 80% das emissões é pro-veniente das fontes móveis2. A tabela apresentada a seguir reflete os principais efeitos observados sobre a saúde humana decorrentes da exposição aos poluentes atmosféricos gerados por fontes fixas e móveis.

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Tabela 5 - Fontes, características e efeitos na saúde dos principais poluentes da atmosfera.

Poluente Características Principais fontes Efeitos gerais sobre a saúde humana

Partículas Totais em Suspensão

(PTS)

Partículas de material sólido ou líquido que fi cam suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aerossol, fumaça, fuligem, etc.

Faixa de tamanho < 100 micra

Processos industriais, veícu-los motorizados, poeira de rua ressuspensa, queima de bio-massa. Fontes naturais: pó-len, aerossol marinho e solo

Quanto menor o tamanho da partícula, maior o efeito sobre a saúde. Causam efeitos signifi cativos em pessoas com doença pulmonar, asma e bronquite.

Partículas inaláveis (MP10) e fumaça

Partículas de material sólido ou líquido que fi cam suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aerossol, fumaça, fuligem, etc.

Faixa de tamanho < 10 micra

Processos de combustão

(indústria e veículos automo-tores), aerossol secundário (formado na atmosfera)

Aumento de atendimentos hospitala-res e mortes prematuras.

Dióxido de enxofre (SO2)

Gás incolor, com forte odor. Pode ser transformado em SO3, que na presen-ça de vapor de água passa a H2SO4. É um importante precursor dos sulfa-tos, um dos principais componentes das partículas inaláveis

Processos que utilizam quei-ma de óleo combustível, refi -naria de petróleo, veículos a diesel, polpa e papel

Desconforto na respiração, doenças respiratórias, agravamento de doen-ças respiratórias e cardiovasculares já existentes. Pessoas com asma, do-enças crônicas de coração e pulmão são mais sensíveis ao SO2.

Dióxido de nitro-gênio

(NO2)

Gás marrom avermelhado, com odor forte e muito irritante. Pode levar à formação de ácido nítrico, nitratos e compostos orgânicos tóxicos

Processos de combustão envolvendo veículos automo-tores, processos industriais, usinas térmicas que utilizam óleo ou gás, incineração

Aumento da sensibilidade à asma e à bronquite, diminuição da resistência às infecções respiratórias.

Monóxido de car-bono (CO) Gás incolor, inodoro e insípido Combustão incompleta em

veículos automotores

Altos níveis de CO estão associados a prejuízos dos refl exos, da capacida-de de estimar intervalos de tempo, no aprendizado, de trabalho e visual.

Ozônio (O3)Gás incolor, inodoro nas concentra-ções ambientais, sendo o principal componente da névoa fotoquímica

Não é emitido diretamente à atmosfera. É produzido foto-quimicamente pela radiação solar sobre os óxidos de ni-trogênio e os compostos or-gânicos voláteis

Irritação nos olhos e nas vias respiratórias, diminuição da capacidade pulmonar.

Exposição a altas concentrações pode resultar em sensações de aperto no peito, tosse e chiado na respiração. O O3 tem sido associado ao aumento de admissões hospitalares.

Fonte: Relatório de Qualidade do Ar no Estado de São Paulo - 2008, CETESB, 2009.

Um fator importante relacionado aos desdobramentos da exposição aos poluentes atmosféricos diz res-peito ao fato de que essa exposição leva a uma resposta inflamatória no aparelho respiratório induzida pela ação de substâncias oxidantes. Tais substâncias acarretam o aumento da produção, da acidez, da viscosidade e da consistência do muco produzido pelas vias aéreas, levando, consequentemente, à dimi-nuição da resposta e/ou eficácia do sistema mucociliar4. Por isso, se observa a exacerbação de doenças respiratórias pré-existentes, sobretudo na população infantil e idosa.

Diante dessa premissa, hoje, a poluição atmosférica é considerada com um dos maiores desafios tanto para países desenvolvidos, quanto para aqueles que se encontram em vias de desenvolvimento, já que seus impactos se refletem no ambiente e na saúde humana, não respeitando fronteiras geográficas e nem especificidades ligadas ao nível social dos indivíduos expostos.

Nos últimos anos, vários estudos epidemiológicos vêm demonstrando a existência da associação entre a exposição a poluentes atmosféricos e efeitos deletérios sobre a saúde, mesmo quando os níveis médios destes poluentes não são tão altos. Esses efeitos têm sido observados tanto na mortalidade geral, quanto por causas específicas como doenças cardiovasculares e doenças respiratórias5.

Efeitos na morbidade também têm sido observados e incluem: aumento em sintomas respiratórios em crianças, diminuição na função pulmonar, aumento nos episódios de doença respiratória ou simples-mente aumento no absenteísmo escolar. Atualmente, diversos estudos vêm usando o número de interna-ções hospitalares como um indicador dos efeitos da poluição na saúde da população5.

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No Brasil, alguns estudos investigatórios dos efeitos da poluição do ar sobre a saúde, realizados desde 1990, vêm demonstrando a existência de associações estatisticamente significativas com mortalidade infantil e de idosos, além de hospitalizações nesses mesmos grupos por causas respiratórias6.

Começando na década de 1990, as primeiras estimativas de efeito da poluição do ar mostraram que a mortalidade total de idosos está diretamente associada com a variação do material particulado inalável (PM10), pois variações de 10 µg/m3 nas suas concentrações aumentam as mortes de idosos em 1,3 % (Sal-diva et al., 1995). Entre essas mortes, a maior parte se deve às doenças respiratórias e cardiovasculares (Miraglia et al., 1997). Além do PM10, outros poluentes como o dióxido de enxofre (SO2) e o monóxido de carbono (CO) também estão diretamente ligados a efeitos adversos à saúde.

Se os poluentes podem aumentar o número de óbitos, antes disso podem adoecer as pessoas. Aumento no número de atendimentos em pronto-socorro por doenças respiratórias em idosos (Martins et al., 2002 a,b) e doenças isquêmicas do coração (Lin et al., 2003) também estão ligados a aumentos de concentra-ções de PM10, SO2, CO, NO2, poluentes primários, e O3, poluente secundário. Todos esses são poluentes comuns em grandes centros urbanos. Mais recentemente, Martins demonstrou que os efeitos dos po-luentes nas doenças cardiovasculares se manifestam também em adultos e que as mulheres podem ser mais acometidas que os homens (Martins et al., 2004, Martins et al, 2006).

Entre as crianças e os adolescentes, os efeitos adversos dos poluentes se mostram amplamente distribuídos por diferentes grupos etários. Ainda no período fetal, aumentos agudos de NO2 e SO2 podem precipitar mortes fetais tardias (Pereira et al., 1998) enquanto a exposição crônica ao longo da gestação pode acarre-tar diminuição do peso de nascimento (Gouveia et al., 2004). Após o nascimento, nos primeiros 28 dias de vida, a mortalidade neonatal é influenciada pelos poluentes (Lin et al., 2004) e esse efeito adverso pode ser notado, de modo mais intenso, até os cinco anos de idade (Saldiva et al., 1994; Conceição et al., 2001).

Os atendimentos de pronto-socorro e as internações hospitalares por doenças respiratórias são bons indicadores dos efeitos da poluição do ar na saúde de crianças e adolescentes e têm sido amplamente utilizados nos estudos realizados na região metropolitana de São Paulo. Desses estudos, pode-se con-cluir que tanto as doenças infecciosas quanto as doenças inflamatórias são afetadas pelos poluentes (Lin et al., 1999, Braga et al., 1999, Martins et al., 2002 ab, Farhat et al., 2005). Entretanto, o impacto é maior entre as crianças com menos de 2 anos e entre os adolescentes com mais de 13 anos de idade (Braga et al., 2001), mostrando, dentro desse grupo etário, diferentes suscetibilidades. Dentre as cidades da Região Metropolitana, os maiores efeitos dos poluentes sobre as doenças respiratórias são encontrados na cida-de de São Paulo e nas cidades do ABC paulista (Freitas et al., 2002).

Além dos grupos suscetíveis, os estudos realizados na RMSP identificaram alguns aspectos muito im-portantes para os estudos de epidemiologia ambiental. Mesmo entre crianças, adolescentes e idosos, os efeitos dos poluentes podem ser modulados pela condição socioeconômica daqueles que estão expostos (Sobral, 1989; Martins et al., 2004, Martins et al. 2002, Martins et al. 2006). Os indivíduos apresentam respostas diferentes a estímulos semelhantes em função das suas condições basais de vida. Esse ponto é de fundamental importância na formulação de políticas públicas voltadas para o estabelecimento de metas de redução de emissão de poluentes.

Outro ponto de destaque é a possibilidade de encontrar alterações clínicas e metabólicas, que são pre-cursoras de doenças respiratórias e cardiovasculares, entre indivíduos sadios, mas expostos aos poluen-tes do ar. Esse é o caso do estudo que mostra controladores de tráfego da Companhia de Engenharia de Tráfego da Prefeitura Municipal de São Paulo apresentando alterações da pressão arterial e de marcado-res inflamatórios sanguíneos em dias mais poluídos (Santos et al., 2005). Essas alterações podem não ser suficientes para desencadear doenças em indivíduos normais mais podem explicar o que leva as pessoas com doenças prévias à descompensação clínica nos dias mais poluídos.

Um fator importante relacionado aos desdobramentos da exposição aos poluentes atmosféricos diz res-peito ao fato de que essa exposição leva à uma resposta inflamatória no aparelho respiratório induzida

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pela ação de substâncias oxidantes. Tais substâncias acarretam o aumento da produção, da acidez, da viscosidade e da consistência do muco produzido pelas vias aéreas, levando, consequentemente, à dimi-nuição da resposta e/ou eficácia do sistema mucociliar6. Por isso, se observa a exacerbação de doenças respiratórias pré-existentes, sobretudo na população infantil e idosa.

Assim, se pode concluir que a poluição atmosférica gera uma enorme degradação da qualidade de vida da população, provocando uma série de doenças respiratórias, cardiovasculares e possíveis neoplasias. Deve-se ressaltar que essas três categorias de morbidade compõem as principais causas de morte nos grandes centros urbanos. Além disso, acarretam ainda um decréscimo no sistema imunológico do indi-víduo, tornando-o mais susceptível às infecções agudas.

A degradação da saúde das populações expostas à contaminação atmosférica resulta no aumento das consultas médicas, das admissões hospitalares e das mortes, ocasionando também um incremento no consumo de medicamentos. Todos esses desdobramentos acabam impactando o Setor Saúde.

Segundo dados disponibilizados no site do DATASUS, no período de 2003 a 2007, as doenças respirató-rias foram a segunda causa de atendimentos, só perdendo para os atendimentos ligados ao Capítulo XV da CID10 (gravidez, parto e puerpério). Nesse período, foram contabilizados 8.124.723 eventos, repre-sentando 13% do universo total (conforme exposto na Tabela 6). Também se caracteriza como a quinta causa geral de mortalidade no mesmo período (Tabela 7).

Tabela 6 - Número de atendimentos médicos e demais serviços hospitalares prestados pelo SUS no pe-ríodo de 2003 a 2007 (AIH Pagas por Capítulo CID-10).

CAPÍTULO CID 10

ANO

TOTAL2003 2004 2005 2006 2007

XV. Gravidez, parto e puerpério

2.642.696 2.645.411 2.640.438 2.527.056 2.486.305 12.941.906

X. Doenças do apare-lho respiratório

1.748.391 1.715.463 1.567.015 1.542.198 1.551.656 8.124.723

IX. Doenças do apare-lho circulatório

1.248.084 1.223.407 1.198.441 1.162.525 1.174.782 6.007.239

I. Algumas doenças in-fecciosas e parasitárias

1.067.609 963.537 993.078 996.836 915.979 4.937.039

XI. Doenças do apare-lho digestivo

950.727 959.210 974.990 979.503 996.386 4.860.816

XIX. Lesões envene-namentos e algumas outras conseqüências de causas externas

734.225 755.895 788.799 794.413 833.728 3.907.060

XIV. Doenças do apare-lho geniturinário

767.591 773.219 751.012 745.191 762.459 3.799.472

V. Transtornos mentais e comportamentais

730.921 686.070 670.910 639.026 630.802 3.357.729

II. Neoplasias (tumores) 572.578 586.307 601.299 614.406 640.875 3.015.465IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabó-licas

307.769 289.050 289.549 284.140 281.613 1.452.121

XIII.Doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo

260.851 259.275 262.657 264.447 268.518 1.315.748

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VI. Doenças do sistema nervoso

200.253 206.268 214.786 216.304 216.287 1.053.898

XVI. Algumas afecções originadas no período perinatal

198.170 201.500 211.256 206.994 210.298 1.028.218

XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo

147.165 152.102 153.512 152.158 158.274 763.211

XXI. Contatos com ser-viços de saúde

124.290 141.328 144.150 162.930 182.989 755.687

XVIII.Sintomas sinais e achados anormais em exames clínicos e laboratoriais

140.071 150.154 148.914 152.752 163.071 754.962

XVII.Mal formação congênita deformidades e anomalias cromossô-micas

92.221 89.824 88.692 86.509 88.495 445.741

III. Doenças sangue órgãos hematologia e transtornos imunitários

78.396 76.715 77.199 74.792 77.264 384.366

VII. Doenças do olho e anexos

61.123 60.453 64.814 73.312 79.199 338.901

VIII.Doenças do ouvido e da apófise mastóide

17.165 16.963 17.858 18.369 18.405 88.760

CID 10ª Revisão não disponível ou não pre-enchido

3.379 2 - 25.717 - 29.098

XX. Causas externas de morbidade e mortali-dade

1.200 1.703 2.125 1.834 1.873 8.735

TOTAL 12.094.875 11.953.856 11.861.494 11.721.412 11.739.258 59.370.895

Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

Tabela 7 - Número de óbitos por residência por ano do óbito, segundo Capítulo CID-10 para o período 2003-2007

Óbitos p/Residência por Ano do Óbito, segundo Capítulo CID-10

Período: 2003-2007Capítulo CID -10 2003 2004 2005 2006 2007

IX. Doenças do aparelho circulatório

274.068 285.543 283.927 302.817 308.466

II. Neoplasias (tumores) 134.691 140.801 147.418 155.796 161.491XX. Causas externas de mor-bidade e mortalidade

126.657 127.470 127.633 128.388 131.032

XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais em exames clínicos e laboratoriais

133.434 126.922 104.455 85.543 80.244

X. Doenças do aparelho res-piratório

97.656 102.168 97.397 102.866 104.498

IV. Doenças endócrinas nutri-cionais e metabólicas

51.190 53.134 53.983 58.904 61.860

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XI. Doenças do aparelho digestivo

46.894 48.661 50.097 51.924 53.724

I. Algumas doenças infeccio-sas e parasitárias

46.533 46.067 46.628 46.508 45.945

XVI. Algumas afecções origi-nadas no período perinatal

32.040 31.011 29.799 28.336 26.898

XIV. Doenças do aparelho geniturinário

15.858 17.094 18.365 17.421 18.301

VI. Doenças do sistema ner-voso

13.750 15.156 16.384 19.166 20.413

XVII. Malformação congênita, deformidades e anomalias cromossômicas

10.143 10.210 9.927 10.397 10.262

V. Transtornos mentais e comportamentais

7.356 8.158 8.931 10.256 10.948

III. Doenças sangue órgãos hematologia e transtornos imunitários

5.354 4.978 4.999 5.496 5.719

XIII. Doenças do sistema oste-omuscular e tecido conjun-tivo

3.001 3.002 3.084 3.597 3.789

XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo

1.977 1.886 2.014 2.466 2.475

XV. Gravidez, parto e puer-pério

1.597 1.672 1.661 1.637 1.615

VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastóide

120 119 112 145 118

VII. Doenças do olho e ane-xos

21 21 13 28 26

TOTAL 1.002.340 1.024.073 1.006.827 1.031.691 1.047.824

Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM

5.1.2. IMPACTO ECONÔMICO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NO SETOR SAÚDE

Já não cabe dúvida sobre a relação existente entre a exposição a poluentes atmosféricos e repercussões sobre a saúde humana. Hoje, grande parte da poluição atmosférica é oriunda das fontes móveis de emis-são. Com vistas a disciplinar as emissões oriundas dessa fonte, desde a década de 80, o país tem buscan-do acompanhar as mudanças estabelecidas a nível mundial no que diz respeito ao controle e adequação das emissões oriundas de fontes móveis. Para tanto foi desenvolvido um programa específico que até o momento tem se apresentado como um importante passo no sentido de diminuir essas emissões.

O Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE) é um programa de caráter nacional, criado em 1986. O Brasil foi o primeiro país na América do Sul a adotar um programa governamental de redução da poluição do ar causada pela emissão de poluentes de origem automotiva e a incorporar o controle das emissões.

Desde sua criação, o Programa vem sendo consolidado por meio de um extenso arcabouço legal, cons-tituído de Resoluções do PROCONVE que estabelecem diretrizes, prazos e padrões legais de emissão para as diferentes categorias de veículos e motores, nacionais e importados.

Atualmente, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA é o responsável pela coordenação, implementação e execução das ações do PROCONVE, com o apoio téc-nico da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB.

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Na comemoração de 20 anos de vigência do PROCONVE, foi evidenciada a importância do referido Programa sobre a saúde pública dos grandes centros urbanos, onde a poluição da frota automotiva ainda representa mais de 80% da poluição do ar. Nessa oportunidade também foi apresentado estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que analisou os resultados do PROCONVE sobre a saúde dos paulistanos entre 1996 e 2005.

O estudo concluiu que, neste período, foram evitadas cerca de 15 mil mortes, apenas na Região Me-tropolitana de São Paulo, provocadas por doenças cardiovasculares e respiratórias, representando uma economia de US$ 1,3 bilhão em internações e em procedimentos.

O estudo mostrou, ainda, que, neste período, houve crescimento de 15% da população e de 60% da frota de veículos. Mas, o cenário, que a princípio poderia ser pessimista para a qualidade do ar em São Paulo, não se concretizou graças ao PROCONVE.

Com o propósito de prosseguir na redução das emissões de poluentes em escapamentos de veículos, na promoção do desenvolvimento tecnológico nacional e na adequação dos combustíveis automotivos às exigências ambientais e à saúde pública, o CONAMA, por meio da Resolução nº 315, de 29 de outubro de 2002, instituiu as novas etapas do PROCONVE, como resultado de um processo de discussão desen-volvido desde 1999, que inclui a melhoria da qualidade dos combustíveis.

A referida Resolução define metas cujos cumprimentos dependem da oferta de óleo Diesel com teor de enxofre de 50 ppm (partes por milhão) até 2009, a ser consumido pelos veículos novos conforme o cronograma:

Fase L4 - veículos leves de passageiros e comerciais: 1/1/07;• Fase P5 - veículos pesados: 1/1/06;• Fase L5 - veículos leves de passageiros e comerciais: 1/1/09;• Fase P6 - veículos pesados: 1/1/09.•

As Fases L4 e P5 foram cumpridas, uma vez que os veículos novos, nacionais e importados, utilizando os combustíveis produzidos nas refinarias brasileiras, já atendem aos limites especificados pela Resolução CONAMA nº 315/02.

Quanto à Fase L5, a parte correspondente a veículos movidos a álcool, gasolina e gás natural foi imple-mentada no prazo previsto, ou seja, em janeiro de 2009.

Entretanto, o possível não atendimento aos limites de emissão de poluentes no prazo previsto, para veí-culos movidos a diesel (parte da Fase L5 e Fase P6), começou a se configurar em janeiro de 2006, com a não especificação do óleo diesel de referência (36 meses antes do início de comercialização) pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis - ANP, e se concretizou com a proposta de postergação para 2013, apresentada pelo Ministério de Minas e Energia - MME e defendida pela ANP, Petrobras e Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores - ANFAVEA.

O advento motivador da solicitação de postergação se baseou no período mínimo requerido, após dis-ponibilidade do combustível de referência, para que a indústria desenvolvesse os projetos de novos motores e a Petrobras produzisse e disponibilizasse o diesel com 50 ppm de enxofre nos postos de abas-tecimento.

Nesse contexto, o Ministério da Saúde foi solicitado a participar das discussões e a se pronunciar no que se refere aos custos dos efeitos adversos à saúde, decorrentes da exposição às emissões poluentes da frota de veículos diesel nos centros urbanos do país e apresentar estimativa econômica da compensação, no âmbito da saúde, decorrente da circulação da nova frota de veículos automotores movidos com o diesel não especificado, conforme fixa a Fase P-6 na Resolução CONAMA 315/02.

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A equipe técnica da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental - CGVAM elaborou nesse período dois ensaios diferentes que subsidiaram documentos, dentre os quais a proposta de criação de um Grupo de Trabalho, no âmbito do Ministério da Saúde, com diversos especialistas no assunto, o que ocorreu em 25 de fevereiro de 2009, com a publicação da Portaria nº 118 pelo Secretário de Vigilância em Saúde.

No texto da Portaria, foi definido que esse grupo de trabalho adotasse como objetivo a avaliação dos custos dos danos a saúde das populações expostas aos poluentes atmosféricos, notadamente a queima do combustível de origem fóssil óleo diesel, no âmbito do Sistema Único de Saúde.

Paralelamente, foram definidas ações específicas abaixo descritas:

I - Elaborar levantamento através de dados secundários, fornecidos pelo Poder Público, do potencial de geração de poluentes atmosféricos da queima de óleo diesel por veículos pesados nas 10 (dez) prin-cipais Regiões Metropolitanas do Brasil;

II - Identificar a população potencialmente vulnerável pela exposição direta e/ou indireta aos poluentes atmosféricos, com origem na queima de óleo diesel por veículos pesados;

III - Quantificar o custo ao Sistema Único de Saúde (SUS) da população afetada; e

IV - Apresentar proposta de compensação monetária ao pela internalização do dano ambiental da quei-ma de diesel nas 10 (dez) principais Regiões Metropolitanas;

Foram realizadas três reuniões do grupo de trabalho, nas quais foram definidas a metodologia de traba-lho e as responsabilidades de levantamento de dados, análise e tratamento das informações.

Como resultado desse trabalho, consta um relatório preliminar dos resultados obtidos pelo grupo e que são sintetizados abaixo.

Como metodologia foram seguidas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (2006), para os estudos de avaliação dos efeitos da poluição atmosférica em saúde, onde os dados de concentração de poluentes atmosféricos, informações de incidências de doenças ou de mortes, dados ambientais, e funções dose-resposta estabelecidas na literatura são analisados em modelo epidemiológico.

A partir dessa estimativa de efeito para mortalidade, são empregadas técnicas de valoração econômica seguindo o modelo desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde e pela Universidade de Harvard, chamado “Disability Adjusted Life Years - DALY” que significa “Anos de vida perdidos ou vividos com incapacidades” (Murray e Lopez,1996).

Quanto às estimativas de morbidade, são consideradas como desfecho, as internações hospitalares su-portadas pelo Sistema Único de Saúde, SUS. São empregadas duas metodologias para a valoração eco-nômica desse desfecho: a do custo da doença (CD) e a da disposição a pagar (DAP). A primeira mede os custos diretos e indiretos da morbidade, enquanto a segunda estima quanto a população se dispõe a pagar para evitar o efeito em saúde.

Foi utilizada a concentração média diária de material particulado inalável fino, PM2,5, como poluente ambiental, seguindo a recomendação da OMS (2006). O valor desse poluente foi obtido através de amostragem realizada em cada uma das cidades definidas para esse estudo e que compõem projetos anteriormente desenvolvidos.

A fração desse poluente associada às emissões por veículos pesados, movidos à diesel, foi estimada em 40% com base em informações da agência ambiental do Estado de São Paulo, CETESB, e confirmada pela realização de estudos de modelos receptores realizados pelo grupo de pesquisas.

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As funções referentes à dose-resposta adotadas nesta avaliação são as mesmas empregadas em estudos similares anteriormente desenvolvidos para o Ministério do Meio Ambiente e que dizem respeito às mes-mas cidades objeto desse estudo de valoração de custos sobre a saúde.

Tanto o total de internações hospitalares suportadas pelo SUS, quanto as informações de mortes foram elaboradas em base anual, de 2007, a partir de informações disponíveis no DATASUS. São selecionadas as internações hospitalares por causas respiratórias, nas faixas de 0 a 4 anos, e de 40 anos em diante, e por causas cardiovasculares, nas faixas de 40 anos em diante, enquanto para mortes aquelas por causas não violentas para adultos de 40 anos em diante.

Para este estudo de valoração de custos na Saúde, foram consideradas as Regiões Metropolitanas com dados de concentração média diária anual de PM2,5 referentes a: Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

Os resultados obtidos no estudo espelham os cálculos realizados a partir das concentrações de material parti-culado PM2,5 nos cenários com o cumprimento da resolução 315 e com o adiamento de implantação confor-me dados de não abatimento de emissões do acordo MMA/Petrobrás/ANFAVEA, de onde se estima o excesso na concentração de PM2,5 atribuível ao não cumprimento da resolução. Com o excesso de PM2,5 e utilizando a taxa de mortalidade recomendada pela OMS, é possível calcular o número de mortes atribuível a esse ex-cesso. Esses cálculos são apresentados para cada uma das regiões metropolitanas do estudo, considerando o período de 2009 a 2030, ou seja, realiza-se prognóstico considerando os próximos 20 anos.

Da mesma forma é resumido na tabela abaixo o número total de mortes ano a ano, para cada região metropolitana:

Tabela 8 – Número de mortes atribuível ao excesso de concentração de PM2,5 pelo não cumprimento da resolução 315, no período de 2009 a 2030, para todas as Região Metropolitana do estudo.

Ano-inventário Belo Horizonte Curitiba Porto Alegre Recife Rio de Janeiro São Paulo

2009 12 10 15 8 52 1042010 24 19 29 15 102 2032011 37 29 44 23 155 3092012 50 39 60 31 211 4182013 62 48 75 38 261 5202014 60 46 72 37 253 5032015 59 45 70 36 246 4892016 56 43 67 34 235 4662017 53 41 64 33 223 4422018 51 40 62 32 216 4302019 49 38 59 30 207 4112020 48 37 57 29 200 3982021 44 34 53 27 186 3702022 40 31 48 25 169 3352023 36 28 43 22 151 3002024 32 24 38 19 133 2642025 28 21 33 17 117 2322026 27 20 32 16 111 2212027 26 20 31 16 110 2182028 26 20 31 16 109 2172029 26 20 32 16 111 2202030 26 20 31 16 109 217

TOTAL 872 672 1.048 537 3.667 7.287Fonte: Relatório Parcial desenvolvido pelo Grupo de Trabalho instituído pela Portaria nº 118/ SVS.

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Na tabela abaixo, é apresentado o resumo dos custos das internações hospitalares e das mortes em cada região metropolitana atribuíveis ao adiamento da resolução 315.

Tabela 9 – Custos de morbidade, em Reais, considerando as internações hospitalares atribuíveis ao excesso de concentração de PM2,5 pelo não cumprimento da resolução 315, no período de 2009 a 2030, para todas as Regiões Metropolitanas consideradas nesse estudo.

Ano-inventário Belo Horizonte Curitiba Porto Alegre Recife Rio de Janeiro São Paulo

2009 34.170 29.009 45.028 14.797 68.945 227.4662010 66.861 56.764 88.108 28.954 134.907 445.0892011 101.682 86.326 133.994 44.033 205.166 676.8892012 137.674 116.882 181.423 59.619 277.787 916.4842013 170.947 145.131 225.269 74.028 344.923 1.137.9822014 165.589 140.582 218.209 71.708 334.113 1.102.3172015 160.796 136.513 211.893 69.632 324.441 1.070.4082016 153.449 130.275 202.211 66.451 309.616 1.021.4972017 145.521 123.544 191.764 63.017 293.621 968.7232018 141.377 120.026 186.303 61.223 285.259 941.1362019 135.333 114.895 178.338 58.606 273.064 900.9022020 130.851 111.090 172.432 56.665 264.021 871.0662021 121.893 103.485 160.627 52.785 245.946 811.4322022 110.343 93.679 145.407 47.784 222.641 734.5432023 98.629 83.734 129.971 42.711 199.006 656.5672024 86.880 73.760 114.489 37.623 175.300 578.3562025 76.468 64.920 100.768 33.114 154.292 509.0442026 72.857 61.855 96.010 31.551 147.006 485.0072027 71.757 60.921 94.560 31.074 144.786 477.6832028 71.257 60.496 93.901 30.858 143.778 474.3562029 72.339 61.415 95.327 31.326 145.960 481.5582030 71.280 60.516 93.931 30.868 143.824 474.508

TOTAL 2.397.956 2.035.816 3.159.962 1.038.428 4.838.401 15.963.013Fonte: Relatório Parcial desenvolvido pelo Grupo de Trabalho instituído pela da Portaria nº 118/ SVS

A tabela a seguir demonstra, em forma de resumo, que para as 6 regiões metropolitanas avaliadas e considerando o não abatimento informado pela PETROBRAS/ANFAVEA, apenas com as internações hospitalares, o SUS empenhará R$ 29,4 milhões.

TABELA 10 – Número total de mortes e custos de morbidade atribuíveis ao excesso de concentração de PM2,5 pelo não cumprimento da resolução 315, para todas as Região Metropolitana do estudo.

REGIÃO METROPOLITANA MORTES AIH (R$)

Belo Horizonte 872 2.397.956,07Curitiba 672 2.035.816,22Porto Alegre 1.048 3.159.962,38Recife 537 1.038.427,72Rio de Janeiro 3.667 4.838.400,85São Paulo 7.287 15.963.013,34TOTAL 14.085 29.433.576,60

Fonte: Relatório Parcial desenvolvido pelo Grupo de Trabalho instituído pela da Portaria nº 118/ SVS

O custo da mortalidade adicional para a sociedade ainda está em processo de determinação, mas os dados preliminares indicam que o mesmo será da ordem de R$ 1,5 bilhão.

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Considerando os resultados preliminares obtidos, o Grupo de trabalho definiu que devem ser estudados futuramente:

Incorporação de outros custos de saúde, tais como dias perdidos e medicação.• Estimativas dos custos da rede privada.• Determinação dos custos da mortalidade por DALY.• Validação da metodologia e dos resultados por consultores internacionais•

5.1.3. RELAÇÃO ENTRE QUEIMA DE BIOMASSA E SAÚDE HUMANA

A poluição atmosférica pode ser ocasionada por processos naturais ou antrópicos, que podem interferir direta ou indiretamente na saúde humana. Erupções vulcânicas e queima acidental de biomassa podem ser consi-deradas as mais antigas fontes de poluição atmosférica. A queima de biomassa, tanto em ambientes internos como externos, é uma prática muito antiga utilizada desde a pré-história. Com a revolução industrial, surgi-ram outras fontes de poluição, como a queima de combustíveis fósseis utilizados hoje em grande escala.

Define-se como biomassa qualquer matéria de origem animal ou vegetal utilizada como fonte de ener-gia, constituindo-se na maior fonte doméstica de energia utilizada por metade da população do planeta e em mais de 90% das casas, na região rural, dos países em desenvolvimento. Entre as suas formas, tem-se a madeira, o carvão, o esterco de animais e resíduos agrícolas, que, quando utilizados, elevam os índices de poluição do ar em ambientes internos e aumentam o risco de infecção respiratória, que é a maior causa de mortalidade infantil nesses países.

A queima deliberada ou acidental de vegetação causa poluição devido à fumaça que impacta negativa-mente a saúde das populações expostas, resultando no aumento da mortalidade, admissões hospitalares, consultas de emergência e utilização de medicamentos para doenças respiratórias e cardiovasculares.

A combustão, também conhecida como queima, é o processo químico, pelo qual um material reage rapidamente com oxigênio do ar, produzindo luz e calor intenso. A maior fonte de produção de gases tóxicos, material particulado e gases do efeito estufa no planeta é a combustão de biomassa, que influen-cia a química e a física atmosférica, produz substâncias químicas que mudam significativamente o pH da água da chuva e afeta o balanço térmico da atmosfera pela interferência na quantidade de radiação solar refletida pra o espaço.

Os principais poluentes provenientes da queima de biomassa são partículas, aldeídos (acroleina e formal-deído), ácidos inorgânicos (CO, ozônio e NO2), hidrocarbonetos (benzeno), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (Benzopireno). Dentre esses poluentes, o material particulado (PM), tanto em ambientes in-ternos quanto abertos, é o que apresenta maior toxicidade. O aumento dos níveis de PM10 no ar favorece a manifestação de infecção respiratória aguda, de asma e rinite; o aumento do número de internações por pneumonia, bronquite, laringite aguda e bronqui-ectasias e de consultas ambulatoriais.

A constituição do material particulado é de 94% de partículas finas e ultrafinas, que podem atingir as porções mais profundas do sistema respiratório, ao transporem a barreira epitelial, atingindo o interstício pulmonar. Seus efeitos adversos podem ser atribuídos à produção de agentes oxidantes intracelulares que seriam a resposta inicial e que estimulariam a inflamação.

A OMS em sua publicação denominada Diretrizes de Saúde para Eventos de Fogo em Vegetação escla-rece que a queima de biomassa gera problemas basicamente em duas áreas ambientais (WHO, 1999):

Poluição atmosférica – impacto direto da fumaça na saúde humana e economia, influência de gases • e emissões de partículas na composição da atmosfera;Biodiversidade – consequências deletérias no desempenho dos ecossistemas e na estabilidade da • paisagem.

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Considerando o enfoque da Saúde, a queima de biomassa será apresentada sob três ângulos, descritos a seguir: queima de biomassa no interior de residências, queimadas no arco do desmatamento e queima-das no ciclo produtivo da cana de açúcar.

a. Queima de biomassa no interior de residências

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde – OMS, a queima de biomassa em ambientes internos se constitui como um dos principais fatores de risco para a saúde humana no mundo. Está é uma realidade presente principalmente em países em desenvolvimento, o que produz altos índices de poluição do ar em ambientes internos, onde, geralmente, permanecem por mais tempo as mulheres que cozinham, além de crianças e idosos.

A lenha, o carvão vegetal e resíduos orgânicos são os principais combustíveis sólidos queimados para a geração de energia para realizar tarefas que atendam necessidades básicas como cozinhar, ferver a água e aquecer o ambiente em grande parte do mundo. De acordo com os dados do Ministério das Minas e Energia, aproximadamente 38% da energia utilizada em residências do Brasil são oriundas da queima de lenha e carvão vegetal (MME 2008).

Os efeitos sobre a saúde, decorrentes da exposição por longos períodos à fumaça produzida pela queima de biomassa em ambientes fechados, têm sido associados com infecções respiratórias agudas em crianças, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), pneumoconiose, catarata e cegueira, tuberculose pulmonar e efeitos adversos na gestação (Tabela 11). Esses efeitos foram bem do-cumentados em países em desenvolvimento, onde mulheres acompanhadas de seus filhos per-manecem várias horas cozinhando em fogõe em locais sem abertura para eliminar a fumaça para o exterior (ARBEX et al. 2004). Segundo dados publicados por Kirk e Ezzati (2005), 2,6% de todas as causas de morte do mundo são decorrentes da exposição a poluentes atmosféricos oriundos da queima de comsbutíveis sólidos no interior de residências.

Um estudo realizado no México, em 2003, demonstrou que nas cozinhas onde se queimava biomassa em fogões abertos, as concentrações de partículas em suspensão superaram amplamente os limites es-tabelecidos pelas normas de qualidade do ar para ambiente externo. Por exemplo, as concentrações de partículas em suspensão inaláveis (PM10) encontradas nas cozinhas que usavam biomassa variou entre 300 e 3.000g/m3 em 24 horas de medição, o que significa um montante entre 3 e 25 vezes mais alto que a norma federal mexicana que atribui valor máximo de 120g/m3 para essas concentrações em ar externo.

Tabela 11 – Mecanismos que podem aumentar o risco de doenças ocasionadas pela fumaça gerada a partir da queima de biomassa

Poluente Mecanismo Efeitos Potenciais

Partículas inferiores a 10 µm (em especial as meno-res que 2.5 µm)

Agudo: irritação dos brônquios, infla-mação e maior reatividade

Redução da atividade de limpeza muco-ciliar

Redução da resposta dos macrófagos e da imu-nidade local

Reação fibrótica

Sibilâncias, exacerbação da asma

Infecções respiratórias

Bronquite crônica e doença pulmonar obstrutiva crônica

Exarcebação da doença pulmonar obs-trutiva crônica

Monóxido de carbonoUnião da hemoglobina para produzir carbo-xihemoglobina (redução do transporte de oxi-gênio pra órgâos chave e para o feto)

Insuficiência ponderal do recém-nascido (carboxihemoglobina fetal: 2% - 10%, ou maior)

Aumento da mortalidade perinatal

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Hidrocarbonetos aromá-ticos policíclicos, como o benzopireno

Carcinogênese

Câncer de pulmão

Câncer de boca, trato naso-faríngeo e laringe

Dióxido de nitrogênio

A exposição aguda aumenta a reativi-dade bronquial

A exposição a longo prazo aumenta a sucetibilidade a infecções bacterianas e viróticas

Sibilâncias e exacerbação da asma

Infecções respiratórias

Redução da função pulmonar em crianças

Dióxido de enxofre

A exposição aguda aumenta a reatividade bronquial

A longo prazo seu efeito pode se dissociado das partículas

Sibilâncias e exacerbação da asma.

Exacerbação da doença pulmonar obs-trutiva crônica e de doenças cardiovas-culares

Condensações de fumaça de biomassa, incluídas as substâncias aromáticas po-licíclicas e ións metálicos

Absorção de toxinas pelo cristalino, causando oxidação

Cataratas

Fonte: Boletim da Organização Mundial de Saúde – OMS, 2000, 78 (9)

b. Queima da biomassa na Região do Arco do desmatamento

Quando se fala em poluição urbana do ar, a referência mais comum diz respeito às atividades industriais e de transporte. Entretanto, é importante destacar que o impacto dessas fontes de emissão de poluentes é mais frequentemente estudado em regiões economicamente consolidadas, tanto nos países desenvolvi-dos como naqueles que se encontram em vias de desenvolvimento. Contudo, no caso do Brasil, observa-se a existência de regiões com características especiais, como a Amazônia e o Planalto Central, onde as atividades econômicas predominantes estão ligadas ao setor primário (extrativismo florestal, mineração, pecuária, agricultura e pesca). Nesta área, os principais núcleos urbanos são pontos de apoio a essas atividades, cuja implantação, em geral, requer desmatamento seguido por queimadas que trazem sérias consequências para o equilíbrio do ecossistema e para as populações urbanas e rurais.

Nos últimos anos, tem-se observado um aumento significativo no numero de focos de calor na região do arco do desmatamento, como exemplo, foram detectados 68.000 focos de queimada em 2006/2007 e 101.000 focos de queimada em 2007/2008, com dados do satélite AQUA.

Relatório do SIPAM (2009) mostra que episódios monitorados em algumas capitais demonstram que há uma relação direta entre a poluição atmosférica provocada por queimadas na Amazônia e a saúde da população. Em Cuiabá, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA) reporta que, no ano de 2007, durante o episódio agudo de poluição atmosférica ocorrido no mês de setembro, foram registrados com equipamento amostrador de material particulado total em suspensão (PTS) cerca de 418 µg/m3 de mate-rial particulado total. Esta concentração de material particulado excede os padrões primários e secundá-rios de qualidade do ar instituídos na Resolução CONAMA nº 03/1990, por poder causar efeitos danosos à saúde humana. De fato, foi observado o aumento na demanda de atendimento na rede básica de saúde e, em conseqüência, o aumento no número de internações hospitalares.

Segundo análise dos dados epidemiológicos no período, o número de internações por doenças do apare-lho respiratório apresentou tendência de elevação para os meses de outubro, novembro e dezembro do ano de 2007. Nesse ano, foram registrados 181 mil focos de calor, representando um aumento de 56% sobre as ocorrências registradas em 2006. A grande incidência de focos de calor em Mato Grosso e do episódio agudo de poluição em Cuiabá.

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Em 2008, ano que ocorreu redução de 60% no número de focos de calor no estado, os impactos da poluição do ar sobre a saúde humana também foram reduzidos. Dados de pesquisa do SIPAM (2009) mostram uma tendência de queda no número de internações hospitalares por doenças do aparelho respi-ratório. Segundo dados fornecidos pela SES-MT, os gastos com internações hospitalares também tiveram redução significativa. Os comparativos financeiros, entre os meses de agosto a dezembro de 2007 e 2008, apontaram uma redução de 38,8 %, e quando comparados o mês de dezembro.

Figura 14 – Distribuição espacial dos focos de calor observados nos anos de 2006/2007 e 2007/2008.

Fonte: INPE, 2008.

O Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) mantém um programa de monitoramento da Amazônia Legal por sensoriamento remoto composto por quatro sistemas operacionais e complementares: Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (PRODES), Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER), Sistema de monitoramento de Queimadas e Sistema de Mapeamento da De-gradação Florestal na Amazônia Brasileira (DEGRAD).

Adicionalmente, o INPE realiza, desde 1985, o monitoramento de queimadas, via satélite, com metodo-logia que identifica focos de calor em imagens de satélite, dentre eles o NOAA, GOES, TERRA, AQUA e METEOSAT. Em 2008, foi desenvolvido o DEGRAD que mapeia áreas em processo de desmatamento, em detalhe, com a observação das imagens LANDSAT e CBERS e desenvolveu também o modelo CATT- BRAMS (Coupled Aerosol and Tracer Transport Model to the Brazilian developments on the Regional Atmospheric Modeling System) que estima, diariamente, a concentração de material particulado com di-âmetro aerodinâmico de 2.5m (PM2.5) em células com resolução espacial de 48 x 48 km2, com resultados armazenados a cada 3 horas, no ponto de grade do modelo mais próximo da sede do município.

Assim, considerando a metodologia de modelagem matemática desenvolvida pelo INPE e a escassez de informações sistematizadas sobre o impacto das queimadas na saúde, em 2007, a Secretaria de Vigi-lância em Saúde - SVS, por meio da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental – CGVAM, firmou uma cooperação técnico-científica com o referido instituto. O objetivo dessa cooperação foi a

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construção e operação de um banco de dados de informações ambientais por intermédio de um sistema de geoprocessamento integrado ao Painel de Informações em Saúde Ambiental – PISA e ao Sistema de Informações Geográficas Aplicadas ao Meio Ambiente – SIGMA/INPE.

Adicionalmente, para conhecer de forma pontual os impactos na saúde, com um enfoque epidemiológi-co, gerados pela queima de biomassa na região do Arco do Desmatamento, foi encomendado em 2006 um estudo para a Fundação Osvaldo Cruz - FIOCRUZ, por meio da Escola Nacional de Saúde Pública, intitulado Avaliação dos Efeitos das Queimadas para a Saúde Humana na Área do Arco do Desmatamen-to: a construção de indicadores para gestão integrada de saúde ambiental.

c. Queima de Biomassa no ciclo produtivo da cana de açúcar

A monocultura extensiva da cana provoca impactos no meio ambiente e na saúde, pois envolve a quei-ma do solo, a utilização de produtos químicos, a poluição de ecossistemas, gerando resíduos a partir das usinas processadoras de álcool e açúcar. Ocorre morte de peixes e da vegetação fluvial devido à deposição de dejetos da cana nos cursos d’água, além da poluição de lençóis freáticos e de águas sub-terrâneas pelo uso de agrotóxicos e pesticidas. Um relatório da World Wildlife (WWF), de novembro de 2004, alerta para a indústria da cana como principal ramo da monocultura poluidor do meio ambiente e destruidor da fauna e da flora.

A queimada como etapa do processo produtivo que facilita a colheita, ao mesmo tempo em que favorece a produtividade e o corte da cana, pois mata e afugenta animais peçonhentos, gera uma grande quan-tidade de elementos particulados negros (fuligem da cana), modificando as características do ambiente nas regiões onde a cana é cultivada, colhida e industrializada. A queimada modifica negativamente o meio ambiente, fazendo adoecer os trabalhadores (exposição ocupacional) e a população que reside próximo às áreas de cultivo (exposição ambiental).

Em ambientes abertos, a fumaça decorrente da queima de biomassa11 produz efeitos adversos indire-tos sobre a saúde. Um deles é a redução da fotossíntese que contribui para a diminuição das culturas agrícolas. Também bloqueia os raios ultravioletas A e B, o que leva ao aumento de microorganismos patogênicos no ar e na água e de larvas de mosquitos transmissores de doenças e podem levar à queda da umidade relativa do ar a níveis críticos (13% e 15%).

De acordo com as considerações de Franco (1992), sobre a relação entre a queima da cana e agravos à saúde, há piora da qualidade do ar na região e a população fica exposta aos poluentes, do final de abril ao início de novembro. A queimada dos canaviais não é o único fator de agravamento da qualidade do ar, mas, devido à extensão da área plantada e da duração das queimadas, as descargas de poluentes na atmosfera não devem ser menosprezadas porque a população de risco é bastante significativa.

Muitos pacientes com doenças crônicas do aparelho respiratório, principalmente bronquite crônica, en-fisema e asma, referem agravamento dos seus sintomas no período do ano que coincide com a queimada da cana. Enquanto que indivíduos hígidos referem, com frequência, irritações em vias aéreas superiores com ardor no nariz e na garganta.

Ribeiro, em um de seus artigos, comenta estudos publicados no período de 1996 a 2006, que tratam dos efeitos na saúde advindos da queima da cana e dos poluentes atmosféricos por ela produzidos. Eles sugerem que uma parcela da população, sobretudo de idosos, crianças e de asmáticos, tem sua saúde agravada pela queima da cana-de-açúcar, demandando um maior número de atendimentos, onerando os serviços de saúde e suas famílias.

Outros efeitos e riscos associados às queimadas são neoplasias, doenças cardiovasculares, impacto nas atividades diárias das pessoas afetadas, re-hospitalização de idosos e riscos biológicos devido ao trans-porte de esporos de fungos e bactérias por longas distâncias, disseminando microorganismos patogêni-cos. O uso de agrotóxicos no cultivo da cana e a fuligem das queimadas podem aumentar o risco de câncer relacionado ao trabalho.

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A análise da composição química das partículas de fuligem da palha da cana-de-açúcar queimada têm revelado a presença de concentrações significativas de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), compostos tóxicos cujo potencial cancerígenos e mutagênicos já foi cientificamente comprovado. Con-cluindo, pode-se dizer que a poluição atmosférica decorrente das queimadas nos canaviais por ocasião da safra da cana-de-açúcar é um importante fator de risco para a carga de doença nas populações que vivem nas regiões canavieiras.

Do ponto de vista da saúde pública, vários autores descrevem os efeitos deletérios consequentes do ma-terial particulado proveniente da queima da palha da cana na vida da população. Zancul (1998) cita os seguintes problemas relatados por moradores localizados em áreas impactadas:

Sujeira em casas, comércio e locais públicos;

Aumento do consumo de água de abastecimento público para garantir a limpeza dos locais afetados com maior freqüência.Aumento dos acidentes em rodovias devido à falta de visibilidade;

Problemas respiratórios, notadamente em crianças e idosos;

Interrupção de serviços de energia elétrica por problemas causados em linhas de transmissão próxi- mas a área de queimadas;Desperdício de energia;

Eliminação de animais silvestres, pássaros etc.;

Emissão de gases prejudiciais ao meio ambiente;

Destruição da palha que não se incorpora ao solo.

Devido a importância desse setor produtivo e dos impactos por ele gerados sobre os ecossistemas e a saúde, foi proposto o desenvolvimento do projeto CANASAT, que fornece informações sobre a distribui-ção espacial da área cultivada com cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil, utilizando imagens de satélites de sensoriamento remoto.

5.1.4. IMPACTOS DA PULVERIZAÇÃO DE AGROTÓXICOS NA SAÚDE HUMANA

A crescente necessidade de produção de alimentos, decorrente do aumento da população e aliada ao incremento do comércio internacional, implica no aumento da área plantada e na degradação do meio ambiente. Neste sentido, os agrotóxicos têm sido utilizados em grande escala por vários setores produti-vos e mais intensamente pelos setores de agropecuária, silvicultura, no tratamento de madeiras em geral, construção, armazenamento de grãos e sementes, produção de flores e combate aos vetores transmisso-res de doenças, entre outras.

O Brasil está entre os maiores consumidores mundiais de agrotóxicos, embora vigore a Lei Federal de agrotóxicos 7802 de 11 de julho de 1989, que objetiva sua avaliação e controle no âmbito nacional.

Os agrotóxicos12 estão entre os mais importantes fatores de risco para a saúde da população. No Brasil, conforme o II Informe Unificado das Informações sobre Agrotóxicos no SUS, foram notificados, no ano de 2007, cerca de 20.000 casos de intoxicação por agrotóxicos.

Segundo o Sindag(1) – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola, em 2006, as ven-das mundiais de agrotóxicos alcançaram US$ 35,5 bilhões de dólares. O mercado brasileiro de agrotóxicos atingiu em 2007 vendas de US$ 5,3 bilhões de dólares e um volume de mais de 350.000 toneladas/ano.

Mesmo que os agrotóxicos sejam usados de modo correto e criterioso, acabam por acarretar problemas, provocando (1) desequilíbrios biológicos, favorecendo o aparecimento de novas pragas ou surto de pra-gas secundárias, (2) efeitos adversos em insetos polinizadores, (3) resíduos nos alimentos, através de sua

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persistência, causando problemas de saúde pública ou de comércio externo, (4) resistência das pragas aos inseticidas, exigindo aplicações em maior número e produtos mais concentrados e (5) contamina-ção do meio ambiente, tanto local como de áreas adjacentes ou distantes, principalmente de deriva de aplicações aéreas ou terrestres, acarretando mortalidade de peixes, aves etc, que não foram os alvos ori-ginais visados, acumulando-se nos organismos, na natureza e sendo, ainda, transportados, via biológica, através das cadeias tróficas.

A exposição humana por agrotóxicos pode ocorrer de duas maneiras gerais: através da exposição ocu-pacional, no manuseio dos agrotóxicos desde a sua fabricação até a sua aplicação, e pela exposição am-biental. A exposição ambiental do homem aos agrotóxicos ocorre principalmente através dos alimentos contaminados ingeridos, mas também pela água, pelo ar respirado e durante seu trabalho na denomi-nada exposição ocupacional. Devido às dificuldades de percepção dos riscos, os agrotóxicos atingem de maneira imediata os trabalhadores que vendem, transportam, manipulam/pulverizam estes insumos e, indiretamente, suas famílias, que moram nas áreas de plantações e higienizam as roupas e EPIs (Equi-pamentos de Proteção Individual), assim como através do armazenamento desses produtos dentro ou próximo de suas residências.

Os agrotóxicos utilizados na rotina das atividades são múltiplos, variados e muitas vezes combinados entre si, o que aumenta a dificuldade de controlar a ação dos seus princípios ativos e efeitos à saúde. A saúde humana, qualquer a maneira de contaminação do meio ambiente, pode ser atingida, quando não diretamente, por seu desgaste gradativo, ocasionado por frequentes exposições a agrotóxicos.

Em relação à veiculação pelo ar, a aplicação de agrotóxicos sob a forma de spray ou pó constitui um processo não muito eficiente à medida que uma quantidade substancial do princípio ativo aplicado não atinge a plantação, nem a superfície do solo. As gotículas do aerosol, resíduos de agrotóxicos aderidos à poeira e agrotóxicos sob a forma gasosa constituem fontes potenciais de contaminação do ar, tornando-se, portanto, um problema em larga escala.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA – acrescenta que os atuais equipamentos de pulverização, mesmo com calibração, temperatura e ventos ideais, deixam cerca de 32% dos agrotóxi-cos pulverizados retidos nas plantas, 49% vão para o solo e 19% vão pelo ar para outras áreas circunvi-zinhas da aplicação.

O vento é o fator atmosférico que mais afeta a dispersão do agrotóxico, resultando na deriva que provoca a contaminação ambiental de áreas não visadas. A deriva pode ser definida como parte da pulverização agrícola que é carregada para fora da área-alvo, pela ação do vento, onde o agrotóxico pode ser trans-portado da área não planejada na forma de gotas ou vapor. A perda na forma de vapor pode ocorrer du-rante ou posteriormente à aplicação, sendo muito dependente da pressão de vapor e das características da formulação do produto. Cabe observar, que a temperatura e umidade relativa do ar afetam a evapo-ração das gotas aspergidas, recomendando-se evitar operações com temperaturas superiores a 30÷C e umidade inferior a 55%.

Como resultante da toxicidade, seletividade, persistência (durabilidade de propriedades tóxicas) e do uso indiscriminado, esses resíduos vêm sendo encontrados no meio ambiente (atmosfera, águas de chuva, águas superficiais e subterrâneas e solos), em quantidades cada vez maiores, acumulando-se na cadeia alimentar e chegando até o homem.

Os agrotóxicos podem causar diversos efeitos sobre a saúde humana, sendo muitas vezes fatais. Clas-sicamente tais efeitos são divididos em intoxicação aguda e intoxicação crônica. Estas podem se mani-festar de varias formas, tais como: problemas ligados à fertilidade, indução de defeitos teratogênicos e genéticos, câncer. Também são relatados efeitos deletérios sobre os sistemas nervoso, respiratório, car-diovascular, genito-urinário, gastro-intestinal, pele, olhos, além de alterações hematológicas e reações alérgicas a estas substâncias.

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Neste contexto, foi constituído um grupo de trabalho no âmbito do Ministério da Saúde, de caráter per-manente, por meio da Portaria nº. 397, MS/SE, de 09 de outubro de 2007, com o objetivo de elaborar o Plano Integrado de Ações de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos que se constitui em uma estratégia de harmonização de ações na esfera federal do SUS.

5.1.5. A ATUAÇÃO DO SETOR SAÚDE FRENTE AOS IMPACTOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Considerando os impactos da poluição atmosférica e sua repercussão sobre a saúde humana, deve-se ressaltar que o Setor Saúde tem dado a essa questão a devida importância. Dentro da estrutura e atribui-ções definidas por meio de legislação específica, ao Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador compete, por meio da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental, desenvolver ações que contribuam para a prevenção, promoção e proteção da saúde humana frente à exposição aos contaminantes químicos, incluídos aí os poluentes atmosféricos.

a. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador – DSAST

A partir de 1999, a partir do Projeto VIGISUS, foi possível o estabelecimento de ações que contribuí-ram, diretamente, para o fortalecimento da Vigilância Epidemiológica, criando também condições para o desenvolvimento da Vigilância em Saúde Ambiental, em âmbito nacional. O objetivo do projeto foi dar ênfase à capacitação de recursos humanos, à sistematização de informações fidedignas, com a con-sequente consolidação de planos e programas de saúde, com vistas à melhoria da saúde da população. Portanto, a incorporação da vigilância ambiental no campo das políticas públicas de saúde é uma de-manda relativamente recente no Brasil, resultando na necessidade de vencer uma gama de desafios para seu fortalecimento.

A referência normativa que respalda a consolidação e a atuação da saúde ambiental no país encontra-se expressa na Constituição Federal de 1988, através dos seguintes artigos:

Art. 23, incisos II, VI, VII e IX, que estabelece a competência comum da União, dos estados, do Dis-• trito Federal e dos municípios de cuidar da saúde, proteger o meio ambiente, promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico, além de combater a poluição em qualquer de suas formas e preservar as florestas, a fauna e a flora;Art. 196, que define a saúde como “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas • sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso uni-versal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”;Art. 200, incisos II e VIII, que fixa, como atribuições do Sistema Único de Saúde – SUS, entre outras, a • execução de “ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador” e “colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”.Art. 225, no qual está assegurado que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-• librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para a presente e futuras gerações”;

No âmbito do setor saúde, ao definir, no art. 6º, o campo de atuação do SUS, a Lei Nº 8.080/90 inclui as ações inerentes à vigilância sanitária; à vigilância epidemiológica; à participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico; à colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido, o trabalho; o controle e fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde; à participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos, entre outras.

A estruturação da Vigilância em Saúde Ambiental no Brasil começa a institucionalizar-se apartir do Decreto nº 3.450, de 09 de maio de 2000, que assegura a sua implantação em todo território nacional. Essa ação se constituiu na resposta do setor saúde ao movimento mundial em que todas as atividades humanas se associam em busca do desenvolvimento sustentável.

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Em junho de 2003, a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) absorveu as atribuições do antigo Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi) e, com base no Decreto nº 3.450, de 9 de maio de 2000, assumiu tam-bém a gestão do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e de Saúde Ambiental5.

No ano de 2005, foi publicada a Instrução Normativa nº 1, de 7 de março, a qual regulamentou o Subsis-tema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental (SINVSA) e definiu suas atribuições de coordenação, avaliação, planejamento, acompanhamento, inspeção e supervisão das ações de vigilância relacionadas às doenças e agravos à saúde no que se refere a:

água para consumo humano;• contaminações do ar e do solo;• desastres naturais;• contaminantes ambientais e substâncias químicas;• acidentes com produtos perigosos;• efeitos dos fatores físicos; e• condições saudáveis do ambiente de trabalho.•

Recentemente, foi publicado o Decreto nº 6.860, de 27 de maio de 2009, o qual versa sobre a aprovação da Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério da Saúde, integrando o Centro de Referência Professor Hélio Fraga à estrutura da Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, alterando e acrescendo artigo ao Anexo I e alterando o Anexo II ao Decreto no 4.725, de 9 de junho de 2003, que aprova o Estatuto e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Co-missão e das Funções Gratificadas da FIOCRUZ, e dá outras providências. No Artigo 40 da Seção II (Dos Órgãos Específicos Singulares), Capítulo III do Anexo I, especifica-se as competências do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, órgão subordinado à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, as quais encontram-se descritas a seguir:

Gerir o Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental, incluindo ambiente de trabalho; • coordenar a elaboração e acompanhamento das ações de Vigilância em Saúde Ambiental e do Tra-• balhador; propor e desenvolver metodologias e instrumentos de análise e comunicação de risco em vigilância • ambiental; planejar, coordenar e avaliar o processo de acompanhamento e supervisão das ações de Vigilância • em Saúde Ambiental e do Trabalhador; e gerenciar o sistema de informação da vigilância ambiental em saúde.•

Assim, a partir da oficialização da nova estrutura regimental do Ministério da Saúde, regulamentada em maio de 2009, o DSAST foi consolidado, no âmbito da Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS. Esse departamento é composto por duas coordenações: Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambien-tal - CGVAM e Coordenação de Saúde do Trabalhador.

b. Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental - CGVAM

Em sua definição mais ampla, o campo da saúde ambiental compreende a área da saúde pública afeta ao conhecimento científico e à formulação de políticas públicas relacionadas à interação entre a saúde hu-mana e os fatores do meio ambiente natural e antrópico que a determinam, condicionam e influenciam, com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano, sob o ponto de vista da sustentabilidade.

Em uma conceituação atual, considera-se a vigilância em saúde ambiental como o processo contínuo de coleta de dados e análise de informação sobre saúde e ambiente, buscando orientar a execução de ações de controle de fatores ambientais que interferem na saúde e contribuem para a ocorrência de doenças e agravos. Desse modo, a vigilância contempla as ações executadas pelo setor saúde e também ações de outros setores promovidas e articuladas em conjunto com este mesmo setor.

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A nova estrutura regimental do Ministério da Saúde propiciou a reorganização das áreas técnicas que a constituem, enfatizando as populações expostas a riscos ambientais, no que se refere aos componentes: ar, áreas contaminadas e substâncias químicas; formou-se a área de Vigilância em Saúde das Popula-ções Expostas a Contaminantes Químicos - VIGIPEQ, cujo objetivo está pautado no desenvolvimento de ações de vigilância em saúde, visando adotar medidas de prevenção, promoção e atenção integral de populações expostas a contaminantes químicos. No entanto, vale ressaltar que as áreas técnicas, que integram o VIGIPEQ (VIGIAR, VIGISOLO e VIGIQUIM), continuam desenvolvendo suas ações como previstas, porém de forma integrada.

c. Coordenação Geral de Saúde do Trabalhador - CGSAT

A Saúde do Trabalhador é o campo do saber que visa compreender as relações entre o trabalho e o proces-so saúde-doença e, através de políticas públicas, garantir que o trabalho seja realizado em condições que contribuam para a qualidade de vida, realização pessoal e social dos trabalhadores, sem afetar a saúde.

O Art. 6º da LEI 8080, de 19 de setembro de 1990, em seu § 3º diz: “Entende-se por saúde do trabalha-dor, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epide-miológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa a recuperação e a reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho...”.

Em 2002, foi publicada a Portaria nº. 1679 criando a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), que foi ampliada pela Portaria nº 2437, de dezembro de 2005. Essa rede cons-titui-se em uma estratégia para a implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador (PNST), que busca, de acordo com suas diretrizes, a redução dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho, através de ações de promoção e vigilância na área da saúde, sem prejuízo das ações assistenciais para os trabalhadores que sofreram agravos relacionados ao trabalho.

A Política em Saúde do Trabalhador visa à promoção da saúde e à redução da morbi-mortalidade da população trabalhadora, por meio da integração contínua das diversas políticas e ações de saúde que intervenham nos determinantes dos agravos decorrentes dos modelos de desenvolvimento e processo produtivos. Esta abordagem integrada traz o fortalecimento do poder dos diferentes órgãos públicos en-volvidos nas questões de saúde-trabalho-ambiente (Meio Ambiente, Ministério do Trabalho e Emprego, SUS, Ministério Público do Trabalho etc).

“A Vigilância em Saúde do Trabalhador compreende uma atuação continua e sistemática, ao longo do tempo, no sentido de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social, organizacional e epidemiológico, com a finalidade de planejar, executar e avaliar intervenções sobre esses aspectos de forma a eliminá-los ou controlá-los”, (BRASIL, 1998).

Os objetivos da vigilância em Saúde do Trabalhador podem, resumidamente, serem expressos nas se-guintes atuações: conhecer a morbi-mortalidade, processos e ambientes de trabalho, ou seja, pesquisar a realidade de saúde do trabalhador; intervir nos determinantes, fiscalizar, negociar, avaliar os impactos e divulgar os resultados; e, subsidiar o planejamento e tomada de decisões.

Em suma, há que se desenvolver políticas integradas de saúde-trabalho-ambiente de modo inter e trans-diciplinar, considerando a complexidade sistêmica das relações em foco e reconhecendo que as solu-ções para os problemas de saúde e qualidade de vida não se completam, nem se esgotam em uma única instância (Rigotto, 2003).

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5.2. AÇÕES EM ANDAMENTO

5.2.1. VIGIAR

Em 2001, foi constituída a Vigilância em Saúde Ambiental relacionada à Qualidade do Ar (VIGIAR) como parte integrante do Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental (SINVSA), que vem sendo estruturado pelo Ministério da Saúde desde 2001, cabendo à secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), por meio do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador – DSAST e da Coorde-nação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM), a estruturação e a gestão desse sistema.

O VIGIAR definiu como seu principal objetivo a promoção da saúde da população exposta aos fatores ambientais relacionados aos poluentes atmosféricos. Essa vigilância prioriza regiões onde existam dife-rentes atividades de natureza econômica ou social que gerem poluição atmosférica que caracterize um fator de risco para as populações expostas, denominadas Áreas de Atenção Ambiental Atmosférica de Interesse para a Saúde – 4AS.

Nesse sentido, o campo de atuação do VIGIAR passou a ser constituído por localidades onde as popu-lações estão expostas aos poluentes atmosféricos provenientes de regiões metropolitanas, centros indus-triais, áreas sob impacto de mineração, áreas sob influência de queima de biomassa.

Para promover sua operacionalização, foram definidas as seguintes estratégias de atuação:

identificação dos municípios prioritários para atuação, por meio da aplicação de um Instrumento de • Identificação dos Municípios de Risco;conhecimento da situação de saúde da população ante os agravos respiratórios e cardiovasculares • associados à exposição à poluição atmosférica, por meio de estudos epidemiológicos;identificação e mapeamento das Áreas de Atenção Ambiental Atmosférica de Interesse para a Saúde;• avaliação do risco a que estão submetidas populações expostas aos poluentes atmosféricos;• implantação de Unidades Sentinelas em localidades consideradas prioritárias.•

No entanto, é importante ressaltar que essa proposta de atuação é recente, tendo sido fruto de discussões realizadas durante as reuniões temáticas do Vigiar, ocorridas em maio de 2005, sendo consolidada após plenária decorrente do I Seminário Nacional de Vigilância em Saúde Relacionada à Qualidade do Ar, re-alizado em abril de 2006. Essa proposta recebeu aprovação da assembléia composta por representantes dos setores de saúde e do meio ambiente, dos níveis federal e estadual, além de colaboradores das áreas acadêmicas, de pesquisa e de organismos internacionais.

5.2.2. INTERFACE ENTRE SAÚDE E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

A participação do setor saúde nos processos de avaliação de impacto ambiental (AIA) tem sua importân-cia associada à efetivação de uma política de saúde ambiental, onde as questões de saúde sejam tratadas de forma integrada com os fatores ambientais e sócio-econômicos.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS (OPAS, 2005), para o enfrentamento das situ-ações negativas decorrentes de mudanças ambientais é necessário que se façam ajustes e reformas nos processos de tomada de decisões, objetivando a integração dos diversos fatores econômicos aos sociais.

Dentre os princípios que guia o Direito Ambiental Brasileiro, o Principio da Precaução, tem um papel importante no procedimento de Licenciamento Ambiental, uma vez que objetiva afastar o perigo de dano ambiental em situações de incerteza quanto aos efeitos provocados por uma atividade. A Avaliação de Impacto Ambiental – AIA – é um instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente, instituída pela Lei 6.938/81, que preconiza a elaboração do EIA e seu respectivo Relatório de Impacto de Impacto Ambiental – RIMA – nos processos de licenciamento de empreendimentos, como instrumento básico de análise.

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É nesse contexto que a saúde ambiental, inserida sob o marco da Promoção à Saúde, faz a interseção entre o campo ambiental e o campo da saúde, articulando a vigilância ambiental com o saneamento, a educa-ção ambiental e de saúde, assim como as propostas de Atenção Primária Ambiental e Agenda 21 Local.

O objeto preponderante da vigilância em saúde ambiental é a saúde de pessoas expostas a problemas ambientais. Dessa forma, atuar nos instrumentos preventivos da política ambiental, tais como o licencia-mento, é atuar com prevenção e promoção da saúde ambiental, no sentido do que preconiza a Consti-tuição Federal de 1988 e a Lei 8.080/1990.

A área de licenciamento tem como objetivos:

Avaliar os riscos ou perigos decorrentes dos impactos ambientais negativos de empreendimentos • sobre a saúde das populações;Construir agendas específicas no âmbito do Estado, dos movimentos sociais e da academia que pos-• sibilitem abordagens integradas para os problemas de saúde frente aos potenciais riscos emanados pelo processo produtivo e de desenvolvimento;Gerar informações para a tomada de decisão dos gestores estaduais e municipais.• Fomentar uma Avaliação de Impacto à Saúde – AIS – como metodologia que engloba a identificação, • predição e avaliação das esperadas mudanças nos riscos na saúde, causadas por uma política, um programa, um plano ou projetos de desenvolvimento em uma população definida (OMS).

As ações de saúde no campo do licenciamento ambiental se intensificaram a partir de 2005, após a realização da Oficina “Avaliação de empreendimentos pelo SUS”, que propiciou o fortalecimento da vigilância em saúde ambiental no que concerne à articulação com o órgão licenciador federal, qual seja o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA – e em 2008 ocorreu a oficina para apropriação de metodologia sobre Avaliação de Impacto à Saúde.

Abaixo algumas experiências positivas:

Elaboração, pelo PNCM/SVS, as diretrizes técnicas para o Plano de Ação de Controle da Malaria no • município de Porto Velho/ RO - emissão do Atestado de Condições Sanitárias para os Aproveitamen-tos Hidrelétricos no Rio MadeiraComplementação ao EIA das Hidrelétricas do Rio Madeira, a qual suscita a necessidade de estabele-• cer ações detalhadas de monitoramento e de medidas de controle em respeito à exposição humana ao mercúrio, durante a instalação e a operação do empreendimentoParticipação nas Conferências Estaduais - na Conferência Estadual Rondônia, aprovada a moção: • participação do setor saúde no licenciamento ambiental das Hidroelétricas do Rio MadeiraElaboração de Documento Técnico aos Programas de Saúde do Plano Básico Ambiental (PBA) do • Projeto de Integração do Rio São Francisco, com o envolvimento de diversos setores do Ministério da SaúdeElaboração de Minuta de Instrumento Normativo para estruturar a participação do setor saúde nos • processos de licenciamento ambiental de empreendimentos que causem riscos e impactos à saúde.

A área atua em projetos de desenvolvimento federais (grandes empreendimentos), juntamente com o IBAMA, que, de acordo com a legislação ambiental vigente, deve considerar os exames técnicos dos Órgãos Ambientais dos Estados envolvidos e demais Instituições que necessariamente agregam-se ao processo (Resolução CONAMA 237/97).

Além disso, o Ministério da Saúde tem recomendado a inclusão de ações, visando instituir medidas de promoção à saúde e a prevenção dos fatores de risco para as populações na área de influência do empre-endimento através de emissões de pareceres e notas técnicas de Termos de Referência (TR), EIA/RIMA, PBA e demais documentos pertinentes ao processo de licenciamento ambiental para a emissão das três licenças (LP, LI, LO).

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Os tipos de empreendimentos que o Ministério vem participando do processo de licenciamento são: gasodutos, unidades de tratamento de gás, linhas de transmissão, hidrelétricas, pequenas centrais hidre-létricas (PCH), usinas termelétricas e rodovias.

Além dessas outras ações são realizadas pelo Ministério da Saúde:

Reunião/oficina para construção de propostas para a inserção do setor saúde no processo de licen-• ciamento ambiental, com base nas experiências das esferas federal, estadual e municipal Participação em Reunião Pública para apresentação de proposições do setor saúde no processo de • licenciamento de diversos empreendimentos;Criação do Comitê Interno de Licenciamento – CIL - apoiar e analisar conjuntamente TR, EIA/RIMA, • PBA; discutir e propor linhas de atuação do setor saúde nos processos de licenciamento ambiental.

5.2.3. SAÚDE DO TRABALHADOR

As ações de Saúde do Trabalhador, quanto à poluição atmosférica, devem estar voltadas, a princípio, para o reconhecimento, avaliação e controle de perigos por poluentes atmosféricos no ambiente de trabalho, mas, sem desconsiderar o meio externo aos processos produtivos, visando além da saúde e segurança do trabalha-dor, a saúde do meio ambiente e da população em geral. Ainda, as ações devem contemplar a assistência a trabalhadores acometidos por agravos relacionados à exposição a esses poluentes no ambiente de trabalho.

Especificamente, quanto aos processos produtivos com emissão de poluentes atmosféricos, algumas ações e atividades são sugeridas a seguir:

Conhecer o território (região) e os processos produtivos, com emissão de poluentes atmosféricos, • nele existentes.Promoção do conhecimento sobre os impactos causados na saúde pelos poluentes atmosféricos pre-• sentes no ambiente de trabalho.Monitorar a saúde dos trabalhadores e inclusive de crianças e adolescentes trabalhadores ou que já • trabalharam, expostos a poluentes atmosféricos.Monitorar o impacto do trabalho através do processamento de informações de rotina sobre agravos • ou acidentes com crianças, adolescentes e trabalhadores em geral:Rede Básica (Cadastro de Atividades Domiciliares (Ficha A) e Prontuário da Família (acima de cinco anos).• Eventos Sentinelas (CEREST, PSF, regulação, média e alta complexidade).• Pesquisas com populações trabalhadoras específicas, envolvidas nos seguintes setores produtivos: • setor agropecuário (queima da cana-de-açúcar, agrotóxicos); setor industrial (indústrias de lona e pastilha de freio, de juntas e graxetas, de cimento e de cerâmica); setor de mineração (carvão, pedrei-ra, níquel); setor de serviços (cavador de poços, jateamento com areia, pintores etc.). Alguns indicadores de efeito que se relacionam diretamente com a saúde da população e dos indi-• víduos expostos a ambientes com poluição atmosférica, seja no trabalho ou fora dele, são: efeitos agudos e crônicos em pessoas sadias, exacerbação de doença respiratória pré-existente, fenômenos de hipersensibilidade ou hiperatividade brônquica não específica. Estabelecer ações interdisciplinares e intersetoriais na discussão e no enfrentamento dos impactos do • trabalho com exposição a poluentes atmosféricos.Implementação das ações de vigilância sanitária e epidemiológica realizadas nos diversos níveis de • atenção do SUS, com ênfase no processo produtivo com exposição a poluentes atmosféricos.Estabelecimento de fluxos de referência e contra-referência articulados entre: Atenção Primária, Mé-• dia e Alta Complexidades e Cerest.Notificação dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho (Intoxicações exógenas, Pneumoco-• nioses, Câncer relacionado ao trabalho). Notificações – SINAN/ST, CAT, notificações para outros órgãos e instâncias.

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Organizar sistemas de informações em saúde do trabalhador e de notificação de situações de risco, a • partir de instrumentos e bancos de dados como: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS-MTE), Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD-IBGE), Comunicação de Acidente de Traba-lho (CAT) e demais instrumentos de informação utilizados nos vários níveis de atenção do SUS.

5.3. AÇÕES A SEREM IMPLEMENTADAS

Considerando as informações descritas ao longo desse capítulo, o Setor Saúde entende que é im-portante considerar as seguintes recomendações no que tange às ações necessárias para garantir a saúde da população frente à questão da exposição aos contaminantes atmosféricos:

Regulamentar a participação do SUS nos procedimentos de licenciamento ambiental e estabelecer • linhas de atuação e medidas específicas para o desenvolvimento de ações de saúde nas diferentes etapas do licenciamento de empreendimentos. Definir instrumentos de avaliação de riscos e impactos à saúde humana decorrentes da implantação • de empreendimentos.Identificação de grupos populacionais expostos à poluição atmosférica, para o desenvolvimento de • ações de promoção, proteção e prevenção à saúde.Ampliação da “Rede de Unidade Sentinela para Asma Infantil.”• Definição de valores máximos de concentração de PM 2,5.• Elaboração do diagnóstico nacional de queima de combustíveis sólidos no interior das residências • para a orientação de políticas públicas intersetoriais que garantam a qualidade de vidas das popula-ções que utilizam uso desse tipo de energia.Criação do “Programa de Redução da Queima de Combustíveis Sólidos no Ambiente Doméstico”, • incentivando, por exemplo, a utilização de fogões a lenha com a eliminação dos gases por chaminés para fora das residências, modificar as técnicas de geração de calor utilizando combustíveis sólidos.Definição de critérios para o uso de agrotóxicos na pulverização aérea. •

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada à Qua-lidade do Ar. Brasília, 2006

2. ESTEVES, G.R.T.; BARBOSA, S. R. C. S; SILVA, E. P.; ARAÚJO, P. D. Estimativa dos efeitos da Poluição Atmosférica sobre a Saúde Humana: algumas possibilidades metodológicas e teóricas para a cida-de de São Paulo. Proposta de artigo baseada em trechos da Tese de Doutorado intitulada: Custos da Poluição dos Transportes na Saúde Pública da Região Metropolitana de São Paulo, desenvolvida no Programa de Planejamento de Sistemas Energéticos, NIPE/FEM/Unicamp, 2007.

3. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2002 – MUNIC. Rio de Janeiro, Brasil, 2004.

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30. MENDONÇA, M. L. A OMC e os Efeitos Destrutivos da Indústria da Cana no Brasil, 2006.

31. FRANCO, A. R. Aspectos epidemiológicos da queimada de canaviais na região de Ribeirão Preto. Centro de Estudos Brasileiros, Ribeirão Preto, 31/03/1992.

32. RIBEIRO, H. Queimadas de cana-de-açúcar no Brasil: efeitos à saúde respiratória. Revista de Saúde Pública 2008; 42(2):370-6.

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34. In: (http://189.28.128.100/portal/arquivos/pdf/folder_cgvam_2008_web.pdf). Consultada em 02/ 10/ 2009.

35. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 3.908, de 30 de outubro de 1998. Aprova a Norma Ope-racional de Saúde do Trabalhador no SUS - NOST/SUS. Diário Oficial da União, Brasília, p.17, 10 nov. 1998. Seção 1.

36. RIGOTTO, R.M. Saúde Ambiental & Saúde dos Trabalhadores: uma aproximação promissora entre o Verde e o Vermelho. Revista Brasileira de Epidemiologia 4(6): 388-404. 2003.

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Tabela 1 – Principais normas que, direta e indiretamente, regulam a proteção da qualidade do ar.

Tipo Número Tabela 1: Legislações e normas aplicadas à gestão da qualidade do arConstituição Federal de 1988

DEC-LEI

2.848/1940 Institui o Código Penal

3.688/1941 Lei de Contravenções Penais

1.413/1975 Dispõe sobre o controle ambiental da atividade industrial

LEI

4.771/1965 Institui o Código Florestal

6.803/1980 Dispõe sobre o zoneamento industrial

6.938/1981 Institui a Política Nacional do Meio Ambiente

7.347/1985 Dispõe sobre a ação civil pública por dano ao meio ambiente, dentre outros

8.080/1990Dispõe sobre a promoção, proteção e recuperação da saúde e sobre a organização do SUS

8.723/1993 Dispõe sobre o controle da poluição veicular

9.478/1997 Institui a Política Energética Nacional

9.605/1998Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e ativida-des lesivas ao meio ambiente.

10.257/2001 Institui o Estatuto da Cidade

10.650/2003Dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do SISNAMA

DEC

76.389/1975 Regulamenta o Dec-Lei 1.413/75

99.274/1990 Regulamenta a Política Nacional de Meio Ambiente

2.661/1998 Regulamenta a queima controlada

4.297/2002 Regulamenta o zoneamento ecológico-econômico

6.514/2008 Dispõe sobre as infrações administrativas em matéria ambiental

RESOLUÇÃO CONAMA

001/1986 Dispõe sobre o Estudo de Impacto Ambiental (EIA)

006/1986 Dispõe sobre modelos de publicação de pedidos de licenciamento

018/1986Institui o PROCONVE – Programa Nacional de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores

006/1987 Dispõe sobre licenciamento ambiental de obras do setor de geração elétrica

009/1987 Dispõe sobre a realização de audiências públicas

003/1989 Define limites de emissão de aldeídos

004/1989 Dispõe sobre emissão evaporativa

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005/1989 Institui o PRONAR – Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar

003/1990 Dispõe sobre os padrões de qualidade do ar

007/1993Dispõe sobre a inspeção veicular ambiental: padrões de emissão máximos para CO, HC, diluição, velocidade angular e ruído p/ Ciclo OTTO e opacidade de fuma-ça e ruído para Ciclo DIESEL – revogada pela Res.CONAMA ***

008/1993 Institui fase do PROCONVE

016/1993Torna obrigatório o licenciamento para especificações, fabricação, comercializa-ção e distribuição de novos combustíveis

015/1994Dispõe sobre os programas de inspeção veicular ambiental: Plano de Controle da Poluição por Veículos em Uso – PCPV - revogada pela Res.CONAMA ***

014/1995Estabelece prazo para os fabricantes de veículos automotores leves de passageiros equipados com motor de ciclo Otto apresentarem ao IBAMA um programa trienal para a execução de ensaios de durabilidade por agrupamento de motores.

015/1995Dispõe sobre a nova classificação dos veículos automotores para o controle da emissão veicular de gases, material particulado e evaporativo, e dá outras provi-dências.

016/1995

Dispõe sobre os limites máximos de emissão de poluentes para os motores destina-dos a veículos pesados novos, nacionais e importados, e determina a homologação e certificação de veículos novos do ciclo Diesel quanto ao índice de fumaça em aceleração livre.

020/1996 Disciplina sobre itens de ação indesejada

26/1997Estabelece limites máximos de emissão de fuligem de veículos automotores, as es-pecificações para óleo Diesel comercial e o cronograma de implantação do crono-grama de Melhoria do Óleo Diesel.

227/1997 Altera artigos da Res. 007/93 - revogada pela Res.CONAMA ***

237/1997 Dispõe sobre o licenciamento ambiental, trazendo regras sobre competência

241/1998Dispõe sobre os prazos para o cumprimento das exigências relativas ao PROCON-VE para os veículos importados

242/1998Dispõe sobre limites de emissão de MP para veículos leves comerciais e limite má-ximo de ruído emitido por veículos com características especiais

251/1999Estabelece limites máximos de emissão para fins de inspeção veicular ambiental - revogada pela Res.CONAMA ***

256/1999

Dispõe sobre a responsabilidade dos órgãos estaduais e municipais de meio am-biente na inspeção de emissão de poluentes e ruídos, como exigência para o licen-ciamento de veículos automotores nos municípios abrangidos pelo Plano de Con-trole da Poluição por Veículos em Uso – PCPV - revogada pela Res.CONAMA ***

264/1999Dispõe sobre licenciamento de fornos rotativos de produção de clínquer para ativi-dades de co-processamento de resíduos

015/2006 Dispõe sobre o diesel metropolitano e sua especificação

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291/2001 Regulamenta os conjuntos para conversão de veículos para uso de GNV

297//2002 Institui o PROMOT – Programa Nacional de Controle de Poluição do Ar por Ciclomotores

299/2001Estabelece procedimentos para elaboração de relatório de valores para controle de emis-sões de veículos

315/2002 Dispõe sobre novas fases do PROCONVE

321/2003 Dispõe sobre combustível diesel

342/2003 PROMOT - estabelece limites de emissão

354/2004 Dispõe sobre requisitos para adoção do OBD (on board diagnosis)

373/2006 Define critérios para recebimento do diesel com baixo teor de enxofre

382/2006 Estabelece limites de emissão de por fonte e poluente

403/2008 Dispõe sobre nova fase de exigência do PROCONVE para veículos pesados novos (Fase P-7)

414/2009Altera a resolução CONAMA 18/86 e reestrutura a Comissão de Acompanhamento e Avaliação do PROCONVE-CAP, em seus objetivos, competência, composição e funcionamento

415/2009Dispõe sobre nova fase de exigências do PROCONVE para veículos automotores leves novos (FASE L6)

** Dispõe sobre a inspeção veicular ambiental

PORT. IBAMA

085/1996Torna obrigatório um programa interno de autofiscalização da correta manutenção da frota quanto à emissão de fumaça preta para empresas que tenham frota própria de trans-porte de carga e passageiros

94-N/1998 Disciplina sobre o procedimento de queima controlada no âmbito federal

IN. IBA-MA

086/1996 Disciplina sobre a licença de configuração do veículo ou motor (LCVM)

015/2002Disciplina sobre a homologação e certificação de conjunto de componentes de sistema GNV

017/2002 Disciplina sobre a homologação de ciclomotores

028/2002Disciplina sobre procedimentos para realização de ensaios de emissão para fins de ho-mologação

184/2008 Disciplina sobre o procedimento de licenciamento ambiental no nível federal

RES. ANP

006/2002Especifica os combustíveis álcool e gasolina, para fins da Res.CONAMA 315/2002, pa-drão de ensaio

005/2005Especifica os combustíveis álcool e gasolina, para fins da Res.CONAMA 315/2002, fins comerciais

015/2006 Dispõe sobre o diesel metropolitano e sua especificação

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40/2008 Especifi ca óleo diesel de referência para fi ns da Res. CONAMA 403/2008 (PROCONVE P-7).

21/2009 Especifi ca gasolina de referência para fi ns da Res. CONAMA 415/2009 (PROCONVE L-6).

29/2009 Especifi ca gás combustível veicular de referência para ensaios de avaliação de consumo de combustível e emissões veiculares para testes de homologação, certifi cação e desenvolvimento de veículos automotores leves e pesados

ANEXO 2Estágio de implantação dos instrumentos de gestão da qualidade do ar nos Estados

(Fonte MMA, 2009)

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