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Ingredientes Massa base: 385g de manteiga; 250g de açúcar; 10g de açúcar baunilha; cascas de 1 limão; 2 ovos; 1 gema; 100 ml de leite; 500g de farinha de trigo; 3 co- lheres (chá) de fermento quími- co; 1/2 colher (chá) de sal. Faro- fa: 250g de manteiga; 350g de farinha de trigo; 250g de açúcar; 20g de açúcar baunilha. Re- cheio: 400g de maçãs picadas e refogadas. Preparo Bata os ingredientes da massa na batedeira em velocidade bai- xa. Unte quatro formas redon- das pequenas, despeje a massa, cubra com maçãs e sobre elas a farofa (peneire farinha com açú- car, três vezes, misture à man- teiga gelada, até obter grumos). Asse a 170 ˚ por 45 min. Parece bolo, assa como bolo... e não é bolo. Acertou quem disse cuca, um pão doce perfumado, molhadinho e recheado trazido por imigrantes alemães no século 19. O segredo do sucesso? Simplicidade e carinho de vovó Nem precisa ser a cuca de sua avó alemã, a melhor que a profes- sora gaúcha Lissi Bender Azam- buja já provou, mas cada mordi- da no pão doce famoso em sua ci- dade, Santa Cruz do Sul (RS), traz de volta o gosto da infância. Doutora em antropologia cul- tural, Lissi trata a cuca como um legado precioso de seus antepas- sados e se dedica a protegê-lo, passando a tradição às novas ge- rações. Com essa ideia, já lançou dois livros de receitas bilíngues (em português e alemão) Forno e Fogão – Como no Tempo de Nos- sos Avós e Forno e Fogão – Para os Dias Festivos, publicados pela Edi- tora da Universidade de Santa Cruz do Sul. Em entrevista ao Pa- ladar, Lissi compartilha a cultu- ra da cuca e fala sobre sua “histó- ria de amor” com o doce. Como começou a se interessar pelas cucas a ponto de escrever um livro sobre o doce? Cuca faz parte da minha vida. É o elo com as gerações que me antecederam. E à medida que cultivarmos essa preciosidade, ela permanecerá presente na mesa das futuras gerações. Por meio dos livros tento recupe- rar, valorizar e fixar um pouco dessa memória viva. Qual é a importância da cuca nas mesas do Sul do País? Gosto de mergulhar no meu passado e reviver momentos bons – e a cuca coroou muitos deles. Participou de todos os meus aniversários na infân- cia. Em nossa família não ha- via o hábito de festa, mas nunca faltou uma delicio- sa cuca. E também estava sempre sobre a mesa na ceia de Natal. Qual foi a melhor cuca que já experimentou? Hum… a que a minha avó fazia. Cada cuca que saboreio, lembro da minha infância, da minha wo- wa (avó). Cuca se come quente ou fria? É uma questão de gosto. Para mim, quanto mais fresquinha, melhor. Adoro quando ainda es- tá morna, bem fofinha, recém- saída do forno. E ela tem companhia ideal? Cuca não se come para matar a fome e sim para coroar um mo- mento feliz. Prefiro a cuca acompanhada de um café passa- do na hora, com leite bem quen- tinho e sem açúcar – basta o do- ce da própria cuca. Não há festa de aniversário em Santa Cruz do Sul, a 150 km de Porto Alegre, sem uma cuca na mesa. Parece pouco? Pois a cida- de faz também uma festa anual em homenagem ao doce de ori- gem alemã. A Festa das Cucas, nos primeiros dias do mês de ju- lho, faz parte do calendário oficial da cidade desde 2001. O povo da cidade tem tanto orgu- lho de sua cuca que resolveu fazer o mesmo que pelotenses fizeram com seus doces: criar um selo de origem.Ainiciativapartiudaasso- ciação de panificadoras da cidade e teve o respaldo da prefeitura e do Sebrae. Uma comissão técni- ca, formada por especialistas em panificação, nutricionistas e re- presentantes do Ministério da Agricultura está elaborando as normasdepreparodacucadeSan- ta Cruz do Sul. Uma das idealizadoras do selo ‘cuca D.O.C’, a empresária Augus- ta Kessler, diz que a intenção é va- lorizar a identidade regional e tor- nar as cucas da cidade conhecidas nacionalmente. “É impor- tantequetodososingre- dientes sejam liga- dosàregião,dafari- nha até as frutas”, diz Augusta. O que torna tão especial a cuca de Santa Cruz do Sul? Ca- da cuqueiro tem sua explicação. Ma- thias Beltram, da Lisa- ruth Cucas, diz que a dife- rença está na massa, macia e doce. “Para cada quilo de farinha, uso 200g de açúcar”, diz. Para Ubira- tan Pereira, da Casa de Cucas Waechter,osegredoestánaquali- dade dos ingredientes. “Usamos fruta fresca e a massa leva mantei- ga, em vez de banha.” Na Casa de Cucas Waechter, que faz o doce desde 1965, à receita original fo- ram acrescidas frutas. Ali tem cuca de morango, uva, laranja, ba- nana,framboesa,maçã,abacaxi,fi- go, pêssego e pera. Natural de Santa Cruz do Sul, a professora Lissi Bender Azambu- ja, doutoranda em antropologia cultural e autora de dois livros so- bre a cuca (leia entrevista abaixo), tem seus truques para pre- parar o doce. “Deixo crescer e sovo nova- mente. Depois de assar, borrifo mel diluído em um pouco de água, ou espa- lho manteiga derretida”. A pesquisado- raressaltaquequan- do aportou em terras brasileiras, a cuca encon- trou nas frutas disponíveis um no- vo mundo de possibilidades. “O curiosoéquehoje,existememSan- taCruzcucascomfrutasdesconhe- cidas dos alemães, e na Alemanha outras com frutas desconhecidas dos santa-cruzenses”, diz. Mandamentos da Cuca de maçã cuca Foi na antiga região da Silé- sia (cujo território hoje com- preende partes da Polônia, República Checa e Alema- nha) que a cuca nasceu. Depois, chegou à vizinha Prússia, de onde saíram mui- tos dos alemães que imigra- ram para o Rio Grande do Sul, a partir de 1849. O pão doce chegou simples ao Brasil, mas por aqui, com a disponibilidade de frutas frescas, acabou inspirando novas versões. Hoje, em cidades do Sul do país, como a gaúcha Santa Cruz do Sul, se faz tanto a receita tradicional a streusel- kuchen, quanto as que levam frutas, especialmente as áci- das maçãs verdes, framboe- sa e ameixa Deixe a cuca fresca fácil Lissi Bender Azambuja, professora 4 cucas Ela tem cara de bolo, vai ao for- no em assadeira de bolo e até seu nome vem da palavra alemã para bolo, Kuchen. Tecnicamente, po- rém, cuca não é bolo, e sim um tipo de pão. Um pão doce. Quem mora no Sul do país de- ve estar estranhando tanta expli- cação para uma receita que em mesas gaúchas, catarinenses e paranaenses dispensa apresen- tações. Cuca lá é comida de in- fância, reconfortante e nostálgi- ca. Um pão doce macio e úmido, caracterizado pela cobertura fa- rofenta, um crumble feito com manteiga, farinha e açúcar. Só estamos entrando em tan- tos detalhes porque a receita tra- zida por imigrantes alemães é pouco conhecida nas outras re- giões do Brasil – a não ser quan- do algum descendente de ale- mão “se perde” por lugares co- mo o bairro paulistano de Santo Amaro, onde saborosas cucas são vendida todos os dias (pági- na à direita). No Sul, ao contrário, as crian- ças são educadas desde cedo a não terem medo da cuca... E o pão doce é levado tão a sério que uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, Santa Cruz do Sul, quer criar um selo de origem semelhante ao dos do- ces de Pelotas (leia abaixo). Lá a preferida é a tradicional, a Streu- selkuchen, que leva apenas uma farofinha doce por cima. Há tam- bém as clássicas, de maçã, fram- boesa e ameixa. Mas quando a receita chegou aqui os brasileiros logo a adapta- ram à abundância de frutas locais como jabuticaba e goiaba, e até ao doce de leite. “A cuca é o ale- mão no Brasil. Ele encontrou o coco, as frutas daqui e combinou com astécnicas depanificação de- les”, diz a chef boulangère Ana Zi- ta Ferreira, dona da Barbarella Ba- kery,emPortoAlegre.“Éoencon- tro da matéria-prima daqui com a cultura do pão de fora. Nós não tínhamos pão nem fermento.” E por falar nisso, por que cuca é pão, e não bolo? “Bolo leva fer- mento químico e cuca é feita com fermento biológico, como um pão. É um pão molhadinho, bem recheado, rico.” Bom, se você não mora no Sul e não tem intimidade com a cuca, pode começar aprendendo a identificar uma cuca boa no quadro abaixo. O Paladar não quer que você tenha medo da cuca. Deixa ela te pegar, deixa? Entrevista MARGHI A melhor é a da oma, sem nenhuma dúvida 1 hora Cuca, só, não: cuca D.O.C. ! Cobertura A crosta adocicada, feita de fa- rinha, manteiga e açúcar, é atestado de identidade da cuca, indispensável. Mas ela deve ser ao mesmo tempo cro- cante e macia Casa Santa Luzia O mercado fabrica suas próprias cucas (Al. Lorena, 1471, 3897-5000), sempre no sabor tradicional de maçã. A textura é de bolo, mas a farofa doce por cima ainda evoca as cucas feitas no Sul FOTOS: FELIPE RAU/AE Forma As origens “Deixe crescer, sove de novo e, depois de assar, borrife mel diluído em água ou espalhe manteiga derretida” BOLO QUE NÃO É BOLO É PÃO Textura Sabor Recheio Delíxia Em 2010, Carolina Grossenbacher resolveu levar a sério o ofício de “cuqueira”. Vende por encomenda e para a Quinta dos Pães (R. Pirapora, 197, Paraíso, 3884-6944) nos sabores abacaxi, coco, morango, maçã e banana (foto). É umida e de recheio que parece mingau de tão cremoso Dica DIVULGAÇÃO Tradicionalmente, a cuca é fei- ta em tabuleiro e cortada em formato retangular. Mas no Paraná e em São Paulo não é raro encontrar versões redon- das do pão doce alemão Por fora ela é crocante sem ser rígida. Por dentro, macia. Eis o segredo de uma boa cuca. Os truques? A massa fi- ca macia com banha e boa so- va. A crosta leva mais farinha e manteiga e menos açúcar Pouco açúcar é a regra núme- ro um do sabor da cuca, seja ela pura ou recheada. Alemão gosta de cortar o doce da mas- sa com a acidez de frutas usa- das no recheio Rechear a cuca não é regra. As receitas tradicionais dispen- sam frutas, geleias ou canela. Mas tanto no Brasil como na Alemanha, há cucas de frutas, especialmente maçãs, amei- xas e framboesas P4 paladar 3 A 9 DE NOVEMBRO DE 2011 O ESTADO DE S. PAULO

ÉPÃO Deixe cuca fresca - · PDF fileRepública Checa e Alema-nha) que a cuca nasceu. Depois, chegou à vizinha Prússia, de onde saíram mui- ... receita tradicional a streusel-kuchen,

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Page 1: ÉPÃO Deixe cuca fresca - · PDF fileRepública Checa e Alema-nha) que a cuca nasceu. Depois, chegou à vizinha Prússia, de onde saíram mui- ... receita tradicional a streusel-kuchen,

● IngredientesMassa base: 385g de manteiga;250g de açúcar; 10g de açúcarbaunilha; cascas de 1 limão; 2ovos; 1 gema; 100 ml de leite;500g de farinha de trigo; 3 co-lheres (chá) de fermento quími-co; 1/2 colher (chá) de sal. Faro-fa: 250g de manteiga; 350g defarinha de trigo; 250g de açúcar;20g de açúcar baunilha. Re-cheio: 400g de maçãs picadas erefogadas.● PreparoBata os ingredientes da massana batedeira em velocidade bai-xa. Unte quatro formas redon-das pequenas, despeje a massa,cubra com maçãs e sobre elas afarofa (peneire farinha com açú-car, três vezes, misture à man-teiga gelada, até obter grumos).Asse a 170 ˚ por 45 min.

Parece bolo, assa como bolo... e não é bolo. Acertou quem disse cuca, um pão doce perfumado, molhadinho e

recheado trazido por imigrantes alemães no século 19. O segredo do sucesso? Simplicidade e carinho de vovó

Nem precisa ser a cuca de suaavó alemã, a melhor que a profes-sora gaúcha Lissi Bender Azam-buja já provou, mas cada mordi-da no pão doce famoso em sua ci-dade, Santa Cruz do Sul (RS),traz de volta o gosto da infância.

Doutora em antropologia cul-tural, Lissi trata a cuca como umlegado precioso de seus antepas-sados e se dedica a protegê-lo,passando a tradição às novas ge-rações. Com essa ideia, já lançoudois livros de receitas bilíngues

(em português e alemão) Fornoe Fogão – Como no Tempo de Nos-sos Avós e Forno e Fogão – Para osDias Festivos, publicados pela Edi-tora da Universidade de SantaCruz do Sul. Em entrevista ao Pa-ladar, Lissi compartilha a cultu-ra da cuca e fala sobre sua “histó-ria de amor” com o doce.

● Como começou a se interessarpelas cucas a ponto de escreverum livro sobre o doce?Cuca faz parte da minha vida. É

o elo com as gerações que meantecederam. E à medida quecultivarmos essa preciosidade,ela permanecerá presente namesa das futuras gerações. Pormeio dos livros tento recupe-rar, valorizar e fixar um poucodessa memória viva.

● Qual é a importância da cucanas mesas do Sul do País?Gosto de mergulhar no meupassado e reviver momentosbons – e a cuca coroou muitosdeles. Participou de todos osmeus aniversários na infân-cia. Em nossa família não ha-via o hábito de festa, masnunca faltou uma delicio-sa cuca. E também estavasempre sobre a mesa naceia de Natal.

● Qual foi a melhor cuca que jáexperimentou?Hum… a que a minha avó fazia.Cada cuca que saboreio, lembroda minha infância, da minha wo-wa (avó).

● Cuca se come quente ou fria?É uma questão de gosto. Paramim, quanto mais fresquinha,melhor. Adoro quando ainda es-tá morna, bem fofinha, recém-saída do forno.

● E ela tem companhia ideal?Cuca não se come para matar afome e sim para coroar um mo-mento feliz. Prefiro a cucaacompanhada de um café passa-do na hora, com leite bem quen-tinho e sem açúcar – basta o do-ce da própria cuca.

Não há festa de aniversário emSanta Cruz do Sul, a 150 km dePorto Alegre, sem uma cuca namesa. Parece pouco? Pois a cida-de faz também uma festa anualem homenagem ao doce de ori-gem alemã. A Festa das Cucas,nos primeiros dias do mês de ju-lho, faz parte do calendário oficialda cidade desde 2001.O povo da cidade tem tanto orgu-lho de sua cuca que resolveu fazero mesmo que pelotenses fizeramcom seus doces: criar um selo deorigem.Ainiciativapartiudaasso-ciação de panificadoras da cidadee teve o respaldo da prefeitura edo Sebrae. Uma comissão técni-ca, formada por especialistas empanificação, nutricionistas e re-presentantes do Ministério daAgricultura está elaborando asnormasdepreparodacucadeSan-ta Cruz do Sul.

Uma das idealizadoras do selo

‘cuca D.O.C’, a empresária Augus-ta Kessler, diz que a intenção é va-lorizar a identidade regional e tor-nar as cucas da cidade conhecidasnacionalmente. “É impor-tantequetodososingre-dientes sejam liga-dosàregião,dafari-nha até as frutas”,diz Augusta.

O que tornatão especial acuca de SantaCruz do Sul? Ca-da cuqueiro temsua explicação. Ma-thias Beltram, da Lisa-ruth Cucas, diz que a dife-rença está na massa, macia e doce.“Para cada quilo de farinha, uso200g de açúcar”, diz. Para Ubira-tan Pereira, da Casa de CucasWaechter,osegredoestánaquali-dade dos ingredientes. “Usamosfruta fresca e a massa leva mantei-

ga, em vez de banha.” Na Casa deCucas Waechter, que faz o docedesde 1965, à receita original fo-ram acrescidas frutas. Ali temcuca de morango, uva, laranja, ba-nana,framboesa,maçã,abacaxi,fi-go, pêssego e pera.

Natural de Santa Cruz do Sul, aprofessora Lissi Bender Azambu-ja, doutoranda em antropologiacultural e autora de dois livros so-bre a cuca (leia entrevista abaixo),

tem seus truques para pre-parar o doce. “Deixo

crescer e sovo nova-mente. Depois de

assar, borrifomel diluído emum pouco deágua, ou espa-lho manteiga

derretida”.A pesquisado-

raressaltaquequan-do aportou em terras

brasileiras, a cuca encon-trou nas frutas disponíveis um no-vo mundo de possibilidades. “Ocuriosoéquehoje,existememSan-taCruzcucascomfrutasdesconhe-cidas dos alemães, e na Alemanhaoutras com frutas desconhecidasdos santa-cruzenses”, diz.

Mandamentosda

Cuca de maçã

cuca

Foi na antiga região da Silé-sia (cujo território hoje com-preende partes da Polônia,República Checa e Alema-nha) que a cuca nasceu.Depois, chegou à vizinhaPrússia, de onde saíram mui-tos dos alemães que imigra-ram para o Rio Grande doSul, a partir de 1849.O pão doce chegou simplesao Brasil, mas por aqui, coma disponibilidade de frutasfrescas, acabou inspirandonovas versões.Hoje, em cidades do Sul dopaís, como a gaúcha SantaCruz do Sul, se faz tanto areceita tradicional a streusel-kuchen, quanto as que levamfrutas, especialmente as áci-das maçãs verdes, framboe-sa e ameixa

Deixea cucafresca

fácil

Lissi Bender Azambuja, professora

4 cucas

Ela tem cara de bolo, vai ao for-no em assadeira de bolo e até seunome vem da palavra alemã parabolo, Kuchen. Tecnicamente, po-rém, cuca não é bolo, e sim umtipo de pão. Um pão doce.

Quem mora no Sul do país de-ve estar estranhando tanta expli-cação para uma receita que emmesas gaúchas, catarinenses eparanaenses dispensa apresen-tações. Cuca lá é comida de in-fância, reconfortante e nostálgi-ca. Um pão doce macio e úmido,caracterizado pela cobertura fa-rofenta, um crumble feito commanteiga, farinha e açúcar.

Só estamos entrando em tan-tos detalhes porque a receita tra-zida por imigrantes alemães épouco conhecida nas outras re-giões do Brasil – a não ser quan-do algum descendente de ale-

mão “se perde” por lugares co-mo o bairro paulistano de SantoAmaro, onde saborosas cucassão vendida todos os dias (pági-na à direita).

No Sul, ao contrário, as crian-ças são educadas desde cedo anão terem medo da cuca... E opão doce é levado tão a sério queuma pequena cidade do interiordo Rio Grande do Sul, SantaCruz do Sul, quer criar um selode origem semelhante ao dos do-ces de Pelotas (leia abaixo). Lá apreferida é a tradicional, a Streu-selkuchen, que leva apenas umafarofinha doce por cima. Há tam-bém as clássicas, de maçã, fram-boesa e ameixa.

Mas quando a receita chegouaqui os brasileiros logo a adapta-ram à abundância de frutas locaiscomo jabuticaba e goiaba, e até

ao doce de leite. “A cuca é o ale-mão no Brasil. Ele encontrou ococo, as frutas daqui e combinoucomastécnicas depanificaçãode-les”, diz a chef boulangère Ana Zi-taFerreira,donadaBarbarella Ba-kery,emPortoAlegre. “Éoencon-tro da matéria-prima daqui coma cultura do pão de fora. Nós nãotínhamos pão nem fermento.”

E por falar nisso, por que cuca épão, e não bolo? “Bolo leva fer-mento químico e cuca é feita comfermento biológico, como umpão. É um pão molhadinho, bemrecheado, rico.”

Bom, se você não mora no Sule não tem intimidade com acuca, pode começar aprendendoa identificar uma cuca boa noquadro abaixo. O Paladar nãoquer que você tenha medo dacuca. Deixa ela te pegar, deixa?

Entrevista

MARGHI

A melhor é a da oma,sem nenhuma dúvida

1 hora

Cuca, só, não:cuca D.O.C. !

CoberturaA crosta adocicada, feita de fa-rinha, manteiga e açúcar, éatestado de identidade dacuca, indispensável. Mas eladeve ser ao mesmo tempo cro-cante e macia

● Casa Santa LuziaO mercado fabrica suaspróprias cucas (Al. Lorena,1471, 3897-5000), sempre nosabor tradicional de maçã. Atextura é de bolo, mas a farofadoce por cima ainda evoca ascucas feitas no Sul

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As origens

“Deixe crescer, sove denovo e, depois de assar,borrife mel diluído em

água ou espalhemanteiga derretida”

BOLO QUENÃO É BOLOÉ PÃO

Textura

Sabor

Recheio

● DelíxiaEm 2010, CarolinaGrossenbacher resolveu levar asério o ofício de “cuqueira”.Vende por encomenda e para aQuinta dos Pães (R. Pirapora,197, Paraíso, 3884-6944) nossabores abacaxi, coco,morango, maçã e banana (foto).É umida e de recheio queparece mingau de tão cremoso

Dica

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Tradicionalmente, a cuca é fei-ta em tabuleiro e cortada emformato retangular. Mas noParaná e em São Paulo não éraro encontrar versões redon-das do pão doce alemão

Por fora ela é crocante semser rígida. Por dentro, macia.Eis o segredo de uma boacuca. Os truques? A massa fi-ca macia com banha e boa so-va. A crosta leva mais farinhae manteiga e menos açúcar

Pouco açúcar é a regra núme-ro um do sabor da cuca, sejaela pura ou recheada. Alemãogosta de cortar o doce da mas-sa com a acidez de frutas usa-das no recheio

Rechear a cuca não é regra. Asreceitas tradicionais dispen-sam frutas, geleias ou canela.Mas tanto no Brasil como naAlemanha, há cucas de frutas,especialmente maçãs, amei-xas e framboesas

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P4 paladar 3 A 9 DE NOVEMBRO DE 2011 O ESTADO DE S. PAULO