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Poderes do Supremo Tribunal de Justiça Matéria de facto Recurso de agravo em segunda instância Admissibilidade Do acórdão da Relação que, interpretando e aplicando a norma do art.º 490, n.º 1, do CPC, considera que a impugnação de factos pela ré não é eficaz como impugnação, considerando, por isso, admitidos por acordo tais factos, anteriormente levados ao questionário, porque traduz actividade que se situa no domínio da apreciação de direito, é admissível recurso de agravo para o STJ. 08-01-2004 Revista n.º 2233/03 - 7.ª Secção Araújo de Barros (Relator) * Oliveira Barros Salvador da Costa Acta de julgamento Documento autêntico Força probatória plena Alteração do pedido Admissibilidade Conhecimento oficioso I - A acta da audiência de discussão e julgamento tem a natureza de documento autêntico, fazendo prova plena dos factos que integram o seu conteúdo e a sua força probatória, ressalvada a possibilidade da sua rectificação nos termos do n.º 3 do art.º 159 do CPC, só pode ser ilidida através de prova da falsidade dos actos que nela se consubstanciam, no respectivo incidente de falsidade. II - A modificação objectiva da instância por alteração do pedido inicialmente formulado, fora da situação expressamente admitida pelo art.º 273, n.º 2, do CPC, obsta à apreciação do respectivo mérito, constituindo, desta forma, excepção dilatória inominada, de conhecimento oficioso pelo tribunal. 08-01-2004 Agravo n.º 2330/03 - 7.ª Secção Araújo de Barros (Relator) * Oliveira Barros Salvador da Costa Contrato de cessão de estabelecimento comercial Coisa alheia Negócio de disposição Nulidade Convalidação Contrato de arrendamento para comércio ou indústria Contrato-promessa Documento particular Nulidade por falta de forma legal I - O contrato de cessão de exploração comercial, também denominado de locação de estabelecimento, consiste numa forma de negociação do estabelecimento comercial traduzida numa transferência temporária e onerosa da sua exploração e em que o explorador não recebe qualquer remuneração como se fora um gerente, tendo, antes, de pagar uma renda ao locador, explorando o estabelecimento por sua conta e risco. II - A cessão de exploração concedida por quem não detinha a posse material do estabelecimento, que só viria a adquirir no dia seguinte, constitui negócio de disposição de coisa alheia, nulo por força do

Poderes do Supremo Tribunal de Justiça Matéria de facto ... · consciência do que declarou (na outorga do testamento) nem o significado do acto e não compreendia o sentido e alcance

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  • Poderes do Supremo Tribunal de Justia Matria de facto Recurso de agravo em segunda instncia Admissibilidade

    Do acrdo da Relao que, interpretando e aplicando a norma do art. 490, n. 1, do CPC, considera que a impugnao de factos pela r no eficaz como impugnao, considerando, por isso, admitidos por acordo tais factos, anteriormente levados ao questionrio, porque traduz actividade que se situa no domnio da apreciao de direito, admissvel recurso de agravo para o STJ.

    08-01-2004 Revista n. 2233/03 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) * Oliveira Barros Salvador da Costa

    Acta de julgamento Documento autntico Fora probatria plena Alterao do pedido Admissibilidade Conhecimento oficioso

    I - A acta da audincia de discusso e julgamento tem a natureza de documento autntico, fazendo prova

    plena dos factos que integram o seu contedo e a sua fora probatria, ressalvada a possibilidade da sua rectificao nos termos do n. 3 do art. 159 do CPC, s pode ser ilidida atravs de prova da falsidade dos actos que nela se consubstanciam, no respectivo incidente de falsidade.

    II - A modificao objectiva da instncia por alterao do pedido inicialmente formulado, fora da situao expressamente admitida pelo art. 273, n. 2, do CPC, obsta apreciao do respectivo mrito, constituindo, desta forma, excepo dilatria inominada, de conhecimento oficioso pelo tribunal.

    08-01-2004 Agravo n. 2330/03 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) * Oliveira Barros Salvador da Costa

    Contrato de cesso de estabelecimento comercial Coisa alheia Negcio de disposio Nulidade Convalidao Contrato de arrendamento para comrcio ou indstria Contrato-promessa Documento particular Nulidade por falta de forma legal

    I - O contrato de cesso de explorao comercial, tambm denominado de locao de estabelecimento, consiste numa forma de negociao do estabelecimento comercial traduzida numa transferncia temporria e onerosa da sua explorao e em que o explorador no recebe qualquer remunerao como se fora um gerente, tendo, antes, de pagar uma renda ao locador, explorando o estabelecimento por sua conta e risco.

    II - A cesso de explorao concedida por quem no detinha a posse material do estabelecimento, que s viria a adquirir no dia seguinte, constitui negcio de disposio de coisa alheia, nulo por fora do

  • art. 892 do CC (ex vi do seu art. 939), mas que se convalida nos termos do art. 895 do mesmo cdigo.

    III - No pode ter-se como celebrado um contrato de arrendamento comercial entre a proprietria do prdio em que est instalado o estabelecimento comercial e o outro contraente apenas porque aquela interveio na celebrao do negcio como scia gerente e representante da sociedade dona do estabelecimento transaccionado.

    IV - Quer o contrato de cesso de explorao comercial, quer o de arrendamento comercial, cuja data de celebrao se situou em 9 de Abril de 1997, reduzidos a mero escrito particular, so nulos por falta de forma, e insusceptveis de produzir efeitos jurdicos, por fora das disposies dos art.s 80, n. 2, als. l) e m) do CN (aditadas pelo DL n. 40/96, de 7 de Maio), 7, n. 2, al. c), do RAU e 220 do CC. 08-01-2004

    Revista n. 3093/03 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) *

    Oliveira Barros Salvador da Costa

    Acesso Renda Contrato de comodato Benfeitorias volupturias Expropriao Indemnizao

    I - A acesso supe a inexistncia de uma relao jurdica que vincule a pessoa coisa beneficiada. II - No pode considerar-se renda uma contrapartida constituda por vantagens imateriais. III - Temporria a cedncia, o que caracteriza o contrato de comodato e o contradistingue do de locao,

    a gratuitidade do emprstimo, isto , a inexistncia de retribuio ou remunerao. IV - As benfeitorias no so, enquanto tal, coisas, e no podem, por conseguinte, ser objecto do direito

    de propriedade. V - Integradas em terreno expropriado, as benfeitorias so necessariamente coenvolvidas na adjudicao

    do mesmo, determinante da caducidade de contrato, e consequente extino da relao, de comodato.

    VI - Equiparado o comodatrio, para este efeito, ao possuidor de m f, as benfeitorias volupturias, sem outro valor ou serventia que no o recreio de quem o benfeitorizante para tanto admita, no so indemnizveis.

    08-01-2004 Revista n. 3787/03 - 7. Seco Oliveira Barros (Relator) *

    Salvador da Costa Ferreira de Sousa Acidente de viao Danos no patrimoniais Incapacidade parcial permanente Danos futuros Montante da indemnizao

    A incapacidade parcial permanente constitui fonte de um dano futuro de natureza patrimonial, traduzido na potencial e muito previsvel frustrao de ganhos, na mesma proporo do handicap fsico ou psquico, independentemente da prova de prejuzos imediatos nos rendimentos do trabalho da vtima.

    08-01-2004

  • Revista n. 4083/03 - 7. Seco Quirino Soares (Relator) * Neves Ribeiro Arajo de Barros

    Contrato de seguro-cauo Contrato de locao financeira Sub-rogao Fiador Incumprimento do contrato

    I - No mbito do seguro do ramo Cauo, uma vez verificado o sinistro, que o mesmo dizer, no cumprida a obrigao garantida, a seguradora responsvel do mesmo modo que o o fiador, e, uma vez satisfeita a obrigao, ela fica subrogada, nos mesmos termos em que o ficaria o fiador (art. 644 do CC), nos direitos do credor, na medida em que estes foram por ela (seguradora) satisfeitos.

    II - Igual consequncia decorre da norma especial do art. 441 do CCom includa no captulo daquele cdigo reservado aos seguros contra riscos, j que, no seguro-cauo, o prprio tomador do seguro que causa o sinistro, com o incumprimento da obrigao segurada.

    08-01-2004 Revista n. 4102/03 - 7. Seco Quirino Soares (Relator) * Neves Ribeiro Arajo de Barros

    Nulidade de sentena Erro na apreciao das provas Omisso de pronncia Poderes do Supremo Tribunal de Justia Baixa do processo ao tribunal recorrido

    I - O Supremo Tribunal de Justia s pode sindicar o conhecimento da matria de facto fixada pela Relao quando esta considerar como provados factos sem produo da prova por fora da lei indispensvel para demonstrar a sua existncia ou se tiver infringido as normas reguladoras da fora probatria dos meios de prova admitidos no ordenamento jurdico.

    II - As questes a que se referem os art. 660, n. 2, e 668, n. 1, alnea d), ambos do CPC no so os meros argumentos ou razes de facto ou de direito das partes, porque, alm do mais, o tribunal livre na sua apreciao.

    III - As referidas questes consubstanciam-se nos pontos fctico-jurdicos estruturantes das posies das partes na causa, designadamente as que se prendem com a causa de pedir, o pedido e as excepes.

    08-01-2004 Revista n. 4168/03 - 7. Seco Salvador da Costa (Relator) * Ferreira de Sousa

    Armindo Lus

    Testamento Vontade do testador Matria de facto

    I - O Assento de 19-10-1954, hoje com o valor de jurisprudncia uniformizada, no caducou com a

    revogao do Cdigo Civil de 1867.

  • II - A inteno do testador, objecto de prova complementar nos termos do n. 2 do art. 2187 do CC, constitui matria de facto.

    III - Determinada essa inteno pelas instncias, o STJ no pode censur-la, limitado como est matria de direito.

    13-01-04 Revista n. 3822/03 - 6. Seco Afonso de Melo (Relator) * Fernandes Magalhes Azevedo Ramos

    Suspenso da instncia Causa prejudicial Poder paternal I - Nulidade de deciso e erro de julgamento so figuras distintas. II - O poder paternal no um conjunto de faculdades de contedo egosta e de exerccio livre, mas de

    faculdades de contedo altrusta, que devem ser exercidas primariamente no interesse do menor (e no dos pais), e de exerccio vinculado ou funcional.

    III - Em face da primazia de que o interesse do menor deve gozar e prevenindo a eventualidade de conflito de decises em aces visando (numa com base numa deciso temporria de um tribunal italiano e na outra invocando-se a Conveno de Haia sobre os Aspectos Civis do Rapto Internacional de Crianas) o mesmo efeito prtico (o regresso dos menores a Itlia para ficarem confiados guarda do pai) e em que a defesa da recorrida (a me) integrada por um ncleo de matria de facto comum a ambas as aces, ocorre causa prejudicial justificativa da suspenso da instncia de recurso na que se encontra em fase menos avanada.

    13-01-2004 Agravo n. 3642/03 - 1. Seco Lopes Pinto (Relator) * Pinto Monteiro Lemos Triunfante

    Servido predial Sinais visveis e permanentes I - Pretendendo-se o reconhecimento de uma servido predial no basta identificar o prdio dominante

    mas ainda o serviente. II - Objecto da servido uma utilidade susceptvel de ser gozada por intermdio do prdio serviente,

    pelo que tem ser caracterizada a concreta utilidade objecto da servido cujo reconhecimento se pede.

    III - Os sinais visveis e permanentes que revelam a servido predial constituda por usucapio evidenciam externamente a relao entre os dois prdios, no se reportam aos caracteres da posse.

    13-01-2004 Revista n. 4066/03 - 1. Seco Lopes Pinto (Relator) * Pinto Monteiro Lemos Triunfante

    Competncia material Tribunal comum Tribunal administrativo Expropriao Indemnizao

  • Arrendamento rural I - da competncia dos tribunais comuns, e no dos tribunais administrativos, a aco em que uma

    pessoa de direito privado demanda outra pessoa de direito privado, pedindo a condenao desta a restituir-lhe metade do valor por ela efectivamente recebido a ttulo de indemnizao do rendeiro por prdio ocupado e expropriado, ao abrigo da Lei 199/98, de 05 de Maio, em consequncia de um acordo societrio celebrado entre ambos, segundo o qual, havendo interesse em manter a explorao agrcola em actividade, o Ru exploraria a herdade expropriada, mas mantendo-se indivisos os respectivos bens, com a inteno e compromisso de virem a integrar todas as responsabilidades e direitos do contrato de arrendamento numa sociedade que viriam a constituir.

    II - O que seja decidido por Despacho Ministerial, proferido ao abrigo da Portaria 65/91, de 06-03-91, no faz caso julgado para a aco em referncia. 13-01-2004 Agravo n. 3850/03 - 1. Seco Reis Figueira (Relator) * Barros Caldeira Faria Antunes

    Testamento Incapacidade acidental Documento autntico Fora probatria I - Se nas instncias se provou que a testadora, j com 97 anos data do testamento, tinha um dfice

    muito acentuado de viso e de audio, se sentia desorientada no tempo, indiferente de si e das outras pessoas e coisas, estava demenciada (com deteriorao das faculdades mentais), com ecolalia (repetindo o que lhe diziam ou o que ouvia), estado este que no lhe permitia compreender o acto do testamento, nem compreender o seu significado; e, mais concretamente ainda: que no teve conscincia do que declarou (na outorga do testamento) nem o significado do acto e no compreendia o sentido e alcance das palavras utilizadas no referido acto (testamento) a situao corresponde a incapacidade acidental para testar, a gerar nulidade do testamento, no quadro do art. 2199 do CC, no havendo que falar, concreta ou directamente, em arteriosclerose ou senilidade.

    II - O testamento outorgado em escritura pblica um documento autntico, que faz prova plena quanto aos factos que refere como praticados pela autoridade ou oficial pblico respectivo, assim como quanto aos factos que nele so atestados com base nas percepes da entidade documentadora.

    III - A afirmao feita pelo Notrio no instrumento (escritura de testamento) de que este foi lido e explicado em voz alta testadora, na presena simultnea de todos os intervenientes, no fornece qualquer prova de que a testadora se encontrava em condies de testar.

    IV - E se o Notrio tivesse feito constar que a testadora parecia em condies de testar, isso constituiria simples juzo pessoal do documentador, como tal de livre apreciao do julgador.

    13-01-2004 Revista n. 3899/03 - 1. Seco Reis Figueira (Relator) * Barros Caldeira Faria Antunes

    Contrato de arrendamento Propriedade horizontal Obras de conservao I - O art. 12 do RAU no pode ter o sentido de obrigar o senhorio de fraco autnoma arrendada a

    fazer obras de conservao ordinria em partes comuns do prdio, porque isso iria conflituar com o que se estabelece no art. 1424 do CC para a propriedade horizontal.

  • II - Sendo o arrendado fraco autnoma de um prdio em propriedade horizontal, o dever do senhorio fazer obras de conservao cabe ao senhorio apenas se a sua necessidade se situa na prpria fraco, porque, se se localiza em parte comum, o senhorio no pode ser obrigado a fazer a obras, nem as pode fazer.

    13-01-2004 Revista n. 3958/03 - 1. Seco Reis Figueira (Relator) * Barros Caldeira Faria Antunes

    Caminho pblico Fim pblico Tempo imemorial Desafectao tcita nus da prova I - So pblicos os caminhos e terrenos que, desde tempos imemoriais, esto no uso directo e imediato

    do pblico, entendendo-se tal uso como o destinado satisfao de fins de utilidade pblica comum relevantes, sem necessidade, para essa classificao, da apropriao, produo, administrao ou jurisdio do caminho ou terreno por pessoa colectiva de direito pblico.

    II - Para se decidir da relevncia dos interesses pblicos a satisfazer por meio da utilizao do caminho ou terreno para este poder ser classificado como pblico, h que ter em conta, em primeira linha, por um lado, o nmero normal de utilizadores, que tem de ser uma generalidade de pessoas, como a hiptese de uma percentagem elevada dos membros de uma povoao, e, por outro lado, a importncia que o fim visado tem para estes luz dos seus costumes colectivos e das suas tradies e no de opinies externas.

    III - Tempo imemorial um perodo de tempo cujo incio to antigo que as pessoas j no o recordam por ter desaparecido da memria dos homens, que em consequncia daquela antiguidade perderam a recordao da sua origem pelo simples recurso sua prpria memria dos factos a que assistiram ou dos quais tiveram conhecimento por intermdio dos seus antecessores.

    IV - A desafectao tcita da utilidade colectiva por o caminho ou terreno ter entretanto deixado de ser utilizado pelo pblico implica que o leito desse caminho, ou o terreno, passem a integrar o domnio privado da pessoa colectiva pblica sua proprietria, mas s ocorre desde que essa falta de utilizao resulte do desaparecimento da utilidade pblica a cuja satisfao se encontravam afectos.

    V - O nus da prova desse desaparecimento de utilidade pblica recai sobre quem impugne o carcter pblico do caminho ou terreno.

    13-01-2004 Revista n. 3433/03 - 1. Seco Silva Salazar (Relator) * Ponce de Leo Afonso Correia

    Contrato-promessa Nulidade atpica Resoluo Sinal I - Integrando o objecto mediato do contrato-promessa de compra e venda um edifcio, mesmo que

    apenas em construo, a falta de reconhecimento presencial das assinaturas dos outorgantes e/ou de certificao notarial da existncia de licena de construo constitui uma nulidade atpica, invocvel a todo o tempo pelas partes mas insusceptvel de conhecimento oficioso pelo Tribunal.

    II - Resolvido o contrato-promessa de compra e venda com base em incumprimento do promitente comprador, o promitente vendedor tem direito a fazer suas apenas as quantias que lhe foram

  • efectivamente entregues a ttulo de sinal, e no a exigir a parte do sinal que no lhe tenha sido paga mesmo que titulada por cheque sem proviso.

    13-01-2004 Revista n. 3929/03 - 1. Seco Silva Salazar (Relator) * Ponce de Leo Afonso Correia

    Documento particular Fora probatria I - Os documentos particulares s tm fora probatria plena no tocante aos factos confessados por meio

    das declaraes neles includas contrrias aos interesses do prprio declarante, e quando invocados contra este pelo declaratrio.

    II - Quanto a terceiros, as declaraes constantes desses documentos valem apenas como elemento de prova a apreciar livremente pelo Tribunal.

    13-01-2004 Revista n. 3985/03 - 1. Seco Silva Salazar (Relator) * Ponce de Leo Afonso Correia

    Matria de facto Alterao Poderes da Relao Responsabilidade civil Terceiro Proteco da sade Servio Nacional de Sade Constitucionalidade

    I - Se no foi transcrito o depoimento de testemunhas que depuseram a certo ponto da base instrutria,

    no pode a Relao usar da faculdade de alterar a matria de facto, nos termos do art. 712 n. alnea a) do CPC.

    II - O princpio constitucional da tendencial gratuitidade do servio nacional de sade no tem de ser atendido, quando o responsvel pelo valor dos cuidados de sade um terceiro, uma vez que, neste caso, o que est em questo a sua responsabilidade civil e no o seu direito sade. 15-01-2004 Revista n. 2748/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Fundamentao por remisso Contrato de fornecimento Energia elctrica Prescrio

    I - O art. 713 n. 5 do CPC consagra a possibilidade da pura remisso para a deciso recorrida, quando

    for o caso a sua confirmao. II - Ainda que se entenda que o art. 10 n. 1 do DL 23/96 de 26-7, ao excepcionar do prazo curto de

    prescrio o valor dos fornecimentos em alta tenso, engloba neste ltimo termo os fornecimentos

  • feitos em mdia tenso, no ocorre essa excepo se o fornecimento em causa foi contado em baixa tenso, dado que a razo de ser da mesma econmica e no tcnica. 15-01-2004 Revista n. 3325/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Transaco Trnsito em julgado Legitimidade Desistncia do pedido Renncia Fundo de Garantia Automvel Sub-rogao

    I - Homologada por sentena transitada em julgado a transaco, no pode vir mais tarde a ser alegado a

    ilegitimidade de um dos intervenientes nessa transaco. II - Ficando a parte satisfeita com o pagamento efectuado por um dos responsveis e, assim, j nada

    querendo do outro responsvel, a sua posio processual exprime-se pela desistncia do pedido em relao a este ltimo.

    III - O que, em termos substantivos, no significa a renncia ao direito que pretendia fazer valer. IV - Tratando-se de pagamento feito pelo Fundo de Garantia Automvel, esto preenchidas as condies

    para a sub-rogao legal do direito em questo, conforme prev o DL 522/85. 15-01-2004 Revista n. 3423/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Relatrio dos peritos Laudo Matria de facto Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    O laudo dos peritos no pode ser reapreciado pelo Supremo Tribunal de Justia, por se tratar de matria

    de facto, excluda, pelo art. 729 n. 2 do CPC, dos poderes de deciso deste Tribunal. 15-01-2004 Revista n. 3504/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Absolvio da instncia Efeitos Instncia Renovao Petio inicial

    I - Uma vez absolvidos os rus da instncia, no possvel a sua renovao, nos termos do art. 289 n. 1

    do CPC, apresentando nova petio inicial.

  • II - Alis, estando definitivamente decidido que a petio inicial no pode ser aproveitada, no existe qualquer instncia processual que possa ser salva ou reaberta. 15-01-2004 Agravo n. 3746/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Responsabilidade civil Acidente de viao Incapacidade parcial permanente Clculo da indemnizao Equidade

    I - O montante compensador duma incapacidade permanente no pode basear-se apenas nas tabelas

    financeiras, sendo conhecida, como , a volatilidade dos pressupostos econmicos em que se fundam.

    II - A equidade aconselha a que, mais do que assegurar um rendimento fixo, se facultem aos lesados os meios que lhes permitam, em cada momento, a melhor remunerao do capital recebido. 15-01-2004 Revista n. 3919/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Sociedade comercial Assembleia geral Presidente Exerccio de funes Cessao Manuteno

    I - A norma do art. 391 n. 4 do CSC, no excepcional e nada impede, por isso, que seja aplicada

    extensivamente aos cargos de presidente e vogais da assembleia geral das sociedades comerciais. II - Assim, ultrapassado o perodo para que foram eleitos o presidente e demais elementos da mesa da

    assembleia geral, e ressalvadas situaes excepcionais que claramente desaconselhem a continuao no exerccio das funes, devem eles manter-se nos cargos at nova designao nos termos estatutrios. 15-01-2004 Revista n. 3827/03 - 2. Seco Duarte Soares (Relator) * Ferreira Giro Loureiro da Fonseca Recurso para o Supremo Tribunal de Justia Admissibilidade do recurso Valor da causa Sucumbncia

    I - Um dos graves problemas que afectam os tribunais a enorme pendncia processual salientando-se,

    quanto a este Supremo Tribunal, o enorme volume de servio e a insignificncia de grande parte de questes que chamado a decidir.

  • II - Impe-se, pois a aplicao de critrios rigorosos para avaliao do real valor da sucumbncia em ordem a uma adequada aplicao da norma do n. 1 do art. 678 do CPC.

    III - Assim, em aco a que se atribui o valor de 3.000.001$00 e na qual se pede o reconhecimento da propriedade sobre uma parcela de terreno com 134 m2, e se decidiu, sem contestao quanto ao domnio, pelo reconhecimento do direito invocado e pela condenao do R. a restituir ao A. apenas uma rea de 44 m2 da referida parcela, deve entender-se, inexistindo qualquer referncia quanto ao real valor da rea a restituir, que o valor da sucumbncia no atinge metade do valor correspondente alada do Tribunal da Relao.

    IV - Da que no sendo sequer admissvel a apelao nos termos do n. 1 do art. 678 do CPC, muito menos o ser o recurso para o Supremo Tribunal de Justia. 15-01-2004 Revista n. 3895/03 - 2. Seco Duarte Soares (Relator) * Ferreira Giro Loureiro da Fonseca

    Loteamento urbano Alvar Nulidade do contrato Aplicao da lei no tempo Aco de reivindicao Usucapio Aquisio derivada

    I - O DL 400/84, de 31-12, veio estabelecer, nos seus art.s 57 e 60, a nulidade dos actos e negcios

    jurdicos nos quais se no se indicassem as datas dos respectivos alvars de loteamento. II - Por fora das disposies combinadas dos art.s 84, n. 2, al. a) do DL 400/84 e do art. 22, n. 2 do

    DL 289/73, os pedidos de loteamento formulados ao abrigo do regime anterior continuaram a regular-se por esse DL 289/73 e respectiva legislao complementar.

    III - Os DLs 400/84 e 448/91, passaram a admitir a figura do destaque de uma nica parcela de prdio inscrita na matriz sem o sujeitar a licenciamento administrativo, desde que do destaque no resultassem mais de duas parcelas que confrontassem com arruamentos pblicos e desde que a construo a erigir na parcela a destacar dispusesse (ela sim) de projecto aprovado pela cmara municipal (conf. art. 5 alneas a) e b)).

    IV - As operaes de loteamento efectivadas ainda na vigncia do DL 46673, de 29-11-1965, nenhum vcio de nulidade poderiam ter gerado por falta de alvar, pois que tal diploma o no exigia, atento o princpio tempus regit actum.

    V - Para que exista uma operao de loteamento torna-se necessria a criao (instituio) de dois ou mais lotes (parcelas), no podendo traduzir uma tal realidade a simples desanexao (de um determinado prdio) de uma s parcela de terreno destinada construo.

    VI - Se a parte, por si e antepossuidores, vinha e vem usufruindo o questionado prdio (parcela), sem interrupo, h mais de 20 anos, vista e com conhecimento de toda a gente, e sem oposio de qualquer pessoa e sempre com a convico de ser sua proprietria e legtima possuidora, tudo conduzir aquisio da propriedade desse prdio por usucapio, sendo que os efeitos da invocada a usucapio se retrotraem data do incio da respectiva posse - conf. art.s 1287, 1288 e 1316 do CC, e sendo que uma tal forma de aquisio originria torna despicienda a invocao de uma qualquer forma de aquisio derivada. 15-01-2004 Revista n. 3611/03 - 2. Seco Ferreira de Almeida (Relator) * Ablio Vasconcelos Duarte Soares

  • Responsabilidade civil Acidente de viao Danos futuros Incapacidade parcial permanente Danos patrimoniais Danos no patrimoniais Montante da indemnizao Equidade

    I - O recurso s frmulas matemticas ou de clculo financeiro para a fixao dos cmputos

    indemnizatrios por danos futuros/lucros cessantes no poder substituir o prudente arbtrio do julgador, ou seja a utilizao de sos critrios de equidade, de resto em obedincia ao comando do n. 3 do art. 566 do CC.

    II - Uma IPP de 10% representar para o lesado um agravamento da penosidade (de carcter fisiolgico) para a execuo, com regularidade e normalidade, das tarefas prprias e habituais de qualquer mnus que implique a utilizao do corpo, a esse ttulo se justificando o arbitramento da indemnizao por danos patrimoniais futuros.

    III - O lesado tem direito a ser indemnizado por danos patrimoniais futuros resultantes de incapacidade permanente, prove-se ou no que, em consequncia dessa incapacidade, haja resultado diminuio dos seus proventos do trabalho (diminuio da capacidade geral de ganho).

    IV - Se a lesada possua apenas 24 anos data do evento, sendo de presumir que venha a trabalhar pelo menos at aos 65 anos, e sendo por isso de cerca de 41 anos a sua esperana de vida til e de cerca de 58 a sua esperana de vida cronolgica, se se tiver em ateno a sua actividade profissional previsvel futura como docente, a sua juventude e a IPP de que ficou a padecer, reputa-se de no excessiva uma indemnizao arbitrada a ttulo de danos patrimoniais futuros no montante de 29.928 (6.000.000$00 aprox).

    V - Se do acidente resultaram para a lesada cicatrizes vrias, no sobrolho esquerdo, no rosto, na zona ilaca, na coxa e no joelho direitos, tendo ainda a mesma sofrido enormes dores, quer fsicas, quer morais, emergentes quer do acidente em si, quer das trs intervenes cirrgicas a que foi submetida e dos internamentos e tratamentos mdicos a que teve de sujeitar-se, tendo ainda ficado com uma cicatriz com a extenso de cerca de 22 cm de comprimento, na coxa direita, que a marca do ponto de vista psicolgico e esttico, para alm de ter vivido, durante um ano, atormentada com as possibilidades de cura e com as possveis sequelas, e se v agora confrontada no dia a dia com as suas cicatrizes que lhe desfeiam o corpo e lhe trazem amargura, tem-se como justo e adequado atribuir-lhe, a ttulo de danos no patrimoniais, a indemnizao de 19,951,92 (4.000.000$00 aprox). 15-01-2004 Revista n. 3926/03 - 2. Seco Ferreira de Almeida (Relator) * Ablio Vasconcelos Duarte Soares

    Direito patrimonial Direito integridade fsica Coliso de direitos Princpio da proporcionalidade

    I - No se pode - em abstracto e a priori - sacrificar radicalmente os direitos de natureza patrimonial aos

    direitos inerentes integridade fsica ou moral do indivduo. II - Perante as contradies e colises normativas desses direitos deve o intrprete, caso a caso,

    estabelecer limites e condicionalismos de forma a conseguir - dando assim cumprimento ao princpio constitucional da proporcionalidade (artigo 18, n. 2 da CRP) - uma harmonizao ou concordncia prtica entre eles.

  • 15-01-2004 Revista n. 3589/03 - 2. Seco Ferreira Giro (Relator) * Loureiro da Fonseca Lucas Coelho

    Responsabilidade civil Acidente de viao Culpa Poderes do Supremo Tribunal de Justia Comissrio Presuno de culpa Excluso

    I - No cabe nos poderes do Supremo a apreciao da culpa assente na inobservncia dos deveres gerais

    de diligncia, mas to s a da culpa normativa, resultante da infraco de normas legais ou regulamentares.

    II - A culpa efectiva faz excluir a culpa presumida, pelo que, provada a culpa efectiva e exclusiva do lesado num acidente de viao, deixa de funcionar a presuno de culpa do comissrio a que alude o n. 3 do artigo 503 do CC, quer por fora do disposto no artigo 505, quer por fora do disposto no artigo 570 do mesmo diploma. 15-01-2004 Revista n. 3718/03 - 2. Seco Ferreira Giro (Relator) * Loureiro da Fonseca Lucas Coelho

    Servido por destinao do pai de famlia Pressupostos Sinais visveis e permanentes Meios de prova

    I - A existncia de inequvocos sinais visveis e permanentes requisito fundamental da constituio de

    servido predial aparente por destinao do pai de famlia. II - S por si, a existncia de uma porta um sinal equvoco de serventia (para acesso e entrada de luz

    natural) de um prdio a favor de outro. III - A equivocidade dos sinais pode ser destruda pelo recurso a elementos estranhos aos prprios sinais,

    atravs de quaisquer meios de prova. 15-01-2004 Revista n. 3802/03 - 2. Seco Ferreira Giro (Relator) * Loureiro da Fonseca Lucas Coelho

    Respostas aos quesitos Analogia Responsabilidade pr-contratual Venire contra factum proprium Pressupostos

    I - Por aplicao analgica do disposto no n. 4 do artigo 646 do CPC, deve dar-se por no escritas as

    respostas sobre a matria de facto da base instrutria constitudas essencialmente por terminologia conclusiva e de duplo uso (corrente e tcnico-jurdico) - como direito de propriedade e poderes

  • inerentes a um proprietrio -, quando a vertente conceitual dessa terminologia constitui o thema decidendum.

    II - O sancionamento da responsabilidade por confiana faz-se no s pela proibio do venire contra factum proprium, mas tambm pela via indemnizatria, nos termos do artigo 227 do CC (responsabilidade pr-contratual).

    III - A aplicao da proibio de venire contra factum proprium pressupe a irremobilidade por outro modo dos danos provocados contra-parte. 15-01-2004 Revista n. 3834/03 - 2. Seco Ferreira Giro (Relator) * Loureiro da Fonseca Lucas Coelho

    Contrato-promessa de compra e venda Fraco autnoma Licena de utilizao Escritura pblica Mora Presuno de culpa Incumprimento definitivo Interpelao admonitria Resoluo do contrato

    I - Resultando da lei - artigos 44, n. 1, da Lei n. 46/85, de 20 de Setembro, e 10 do Decreto-Lei n.

    268/94, de 25 de Outubro - e, por interpretao normativa, do contrato-promessa de compra e venda de fraco autnoma construda a obrigao de obteno, pelos rus promitentes vendedores, da licena de utilizao do imvel dentro do prazo fixado no contrato, com vista celebrao do contrato prometido dentro do mesmo prazo, a falta de obteno tempestiva da licena, todavia ainda possvel, por culpa dos rus constitui mora imputvel independentemente de interpelao (artigos 798, 804, n. 2, e 805, n. 2. alnea a), do CC).

    II - Com efeito, merc da presuno definida no n. 1 do artigo 799 do CC incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento no procede de culpa sua, dispondo o n. 2 do mesmo artigo que a culpa apreciada nos termos aplicveis responsabilidade civil, ou seja, de harmonia com o artigo 487, aferindo-se em abstracto, pelo padro de diligncia tpica de um bonus pater familiae em face das circunstncias concretas do caso, e no em concreto, pela diligncia habitual do obrigado.

    III - No pode, pois, considerar-se em sintonia com esses parmetros, de forma a ilidir a presuno, a actuao dos rus que, havendo-se obrigado obteno da licena e celebrao da compra e venda no prazo mximo de 150 dias a contar da data da promessa, apenas requereram a emisso daquela ao rgo autrquico competente mais de 4 meses volvidos sobre a consumao do aludido prazo.

    IV - A relao obrigacional emergente de contrato sinalagmtico, tal como o contrato-promessa delineado em I, II e III, compreende os correspectivos deveres de prestao - deveres de prestao primrios, ou principais, que determinam o tipo da relao obrigacional, definindo-a como tal na sua peculiar especificidade, e deveres de prestao secundrios, revestindo carcter acessrio relativamente queles, conquanto participando ainda na configurao da relao obrigacional -, alm de originar ademais outros deveres de conduta de mbito limitado, funcionalmente auxiliares, deveres de recproco respeito e considerao pelos interesses da contraparte que decorrem do princpio da boa f (artigo 762, n. 1, do CC), traduzindo um tipo de comportamento prprio em geral dos contraentes probos e leais.

    V - As aludidas obrigaes dos rus emergentes do mesmo contrato-promessa no se caracterizam, porm, como deveres de conduta, mas como deveres de prestao, na acepo sumariada em IV: a obrigao de celebrao da compra e venda mediante a emisso da correspondente declarao negocial, indubitavelmente como dever de prestao primrio; a obrigao, por sua vez, de

  • obteno da licena de utilizao, assumindo ainda, pela sua instrumentalidade determinante daquela, uma natureza muito prxima tambm dos denominados deveres de prestao primrios.

    VI - Dependendo a celebrao do contrato prometido estritamente, por fora de lei e do contrato-promessa, da obteno da licena de utilizao, a mora no cumprimento deste dever de prestao implica a mora no cumprimento daquele, possibilitando aos autores promitentes compradores a sua converso em incumprimento definitivo com esta extenso mediante interpelao admonitria (artigo 808, n. 1, segunda parte, do CC), e abrindo-lhes a via da resoluo do contrato, alm do pagamento do sinal em dobro, com os juros moratrios a que houver lugar. 15-01-2004 Revista n. 4122/03 - 2. Seco Lucas Coelho (Relator) * Santos Bernardino Bettencourt de Faria

    Contrato de prestao de servios Revogao Justa causa Obrigao de indemnizar Impossibilidade do cumprimento Extino da obrigao nus da prova

    I - Tendo o contrato de prestao de servios sido celebrado no interesse de ambas as partes, no pode

    ser revogado unilateralmente pela r, ora recorrente, dependendo de acordo, salvo havendo justa causa.

    II - No havendo justa causa nem acordo para a revogao, a denncia unilateral do contrato no produz efeitos jurdicos, mantendo-se o contrato vigente.

    III - Mantendo-se o contrato vigente, no tem aplicao o disposto no art. 1172 do CC que pressupe a revogao vlida do contrato.

    IV - Quando a prestao se torna impossvel por causa no imputvel ao devedor, a obrigao extingue-se.

    V - O credor no fica desobrigado da contraprestao quando a prestao se torna impossvel por causa que lhe imputvel.

    VI - Se o devedor tiver algum benefcio com a exonerao, o valor do benefcio descontado na contraprestao.

    VII - Compete r alegar e provar factos relacionados com o benefcio auferido pela autora, decorrente da extino da sua responsabilidade, pois trata-se de factos modificativos do direito da autora. 15-01-2004 Revista n. 3804/03 - 2. Seco Loureiro da Fonseca (Relator) * Lucas Coelho (declarao de voto) Santos Bernardino

    Recurso de revista mbito do recurso Ilaes Negcio jurdico Interpretao da vontade Poderes do Supremo Tribunal de Justia Contrato de seguro de garagista Legitimidade para recorrer Parte vencida

  • I - O mbito do recurso de revista limita-se exclusivamente a questes de direito. II - O recurso de revista no pode ter por objecto o erro na apreciao das provas e fixao dos factos

    materiais da causa, salvo no caso de ter havido ofensa duma disposio expressa da lei que exija certa espcie de prova para a existncia do facto ou que fixe a fora de determinado meio de prova.

    III - O STJ deve aceitar os factos tidos por assentes nas instncias e tambm todas as ilaes da matria de facto (juzos de valor sobre factos que no envolvem interpretao de normas jurdicas).

    IV - A garantia de responsabilidade civil do contrato de seguro de garagista limita-se aos casos em que o segurado utiliza o veculo por virtude das suas funes, no mbito da sua actividade profissional.

    V - A interpretao da vontade negocial matria de facto que no cabe na competncia do STJ, cabendo a este apenas, como questo de direito, decidir se nessa interpretao foram infringidas as regras dos art.s 236, n. 1 e 238, n. 1 do CC.

    VI - A parte principal, apenas se for vencida, pode interpor recurso. VII - A parte principal diz-se vencida quando for objectivamente prejudicada pela deciso.

    15-01-2004 Revista n. 3904/03 - 2. Seco Loureiro da Fonseca (Relator) * Lucas Coelho Santos Bernardino

    Caso julgado Limites do caso julgado Contrato de arrendamento para habitao Direito a novo arrendamento Ocupao ilcita de prdio urbano Obrigao de indemnizar

    I - So abrangidas pelo caso julgado as questes apreciadas que constituem antecedente lgico da parte

    dispositiva da sentena. II - Tendo sido reconhecido em sentena transitada em julgado o direito a novo arrendamento,

    constituindo tal questo um antecedente lgico da parte dispositiva da sentena, aquele direito a novo arrendamento est abrangido pelo caso julgado.

    III - O direito a novo arrendamento conferia ao ru ttulo vlido para ocupar o andar. IV - Tendo-se recusado o ru, sem razes vlidas, a celebrar o novo contrato de arrendamento proposto

    pelo autor, perdeu o direito a ocupar o andar. V - Tendo o ru frudo o andar, pelo menos desde 1-3-93, sem retribuir a fruio pois no paga qualquer

    renda ou outra prestao, deve indemnizar o autor, dono e possuidor do andar, pelo prejuzo que este teve, o qual, enquanto existiu ttulo vlido (direito a novo arrendamento) corresponde ao valor que o autor receberia, caso tivesse celebrado o novo contrato de arrendamento de renda condicionada.

    VI - A partir da extino do ttulo, o ru deve indemnizar o autor pelo valor mensal pedido que inferior ao valor comercial do arrendamento da referida fraco, at efectiva entrega ao autor. 15-01-2004 Revista n. 3992/03 - 2. Seco Loureiro da Fonseca (Relator) * Lucas Coelho Santos Bernardino

    Oposio aquisio de nacionalidade Ligao efectiva comunidade nacional

    Procede a oposio aquisio de nacionalidade portuguesa de uma cidad brasileira, casada com

    portugus e vivendo no Brasil onde tem amigos portugueses e onde participa nas actividade de uma associao de amizade Luso-Brasileira, por falta de ligao comunidade nacional.

  • 15-01-2004 Apelao n. 3941/03 - 2. Seco Moitinho de Almeida (Relator) * Ferreira de Almeida Ablio Vasconcelos

    Execuo Tribunal competente Indemnizao Juros de mora IRS Reteno

    Os tribunais comuns so competentes para apreciar, em processo executivo, se devido IRS no que

    respeita aos juros de mora devidos por uma seguradora e relativos ao pagamento de indemnizao. 15-01-2004 Agravo n. 4010/03 - 2. Seco Moitinho de Almeida (Relator) * Ferreira de Almeida Ablio Vasconcelos

    Contrato de arrendamento para habitao Arrendatrio Direito de preferncia Contrato de cesso da posio contratual

    I - Concebido para determinada situao de facto, e conquanto, assim, s realmente possa considerar-se

    adquirido quando efectivamente ocorra a situao prevista, o direito de preferncia existe j virtualmente na titularidade de quem, concretamente, estiver em condies de poder vir a encontrar-se nessa situao.

    II - O direito de preferncia do arrendatrio, que efectivamente nasce, e lhe assiste, no caso de venda do local arrendado, resulta directamente da lei.

    III - O arrendatrio h mais de um ano , assim, consoante art. 47, n. 1, RAU, um preferente virtual. IV - O contrato de cesso da posio contratual tem como principal efeito a substituio do cedente pelo

    cessionrio como a contraparte do cedido na relao contratual bsica, tal como esta existia data da cesso.

    V - Tal assim tambm em termos de antiguidade do arrendamento para o efeito da preferncia em eventual venda ou dao em pagamento, para o que releva a data do contrato-base (de arrendamento) e no a do contrato-instrumento (de cesso da posio contratual firmada naquele primeiro).

    VI - A exigncia temporal - alis expressa, objectivamente, referida ao local arrendado - exarada na parte final do n. 1 do art. 47 RAU no pode deixar de interpretar-se como relativa durao do contrato-base, e, assim, como reportada data do incio do arrendamento, e no de eventual sucesso no mesmo quando transmitido, sendo, para esse efeito, irrelevantes eventuais modificaes subjectivas.

    VII - A natureza intuitu personae do arrendamento tem sido afirmada em relao ao arrendamento para habitao, e no quando se destine a qualquer outro fim. 15-01-2004 Revista n. 3832/03 - 7. Seco Oliveira Barros (Relator) * Salvador da Costa Ferreira de Sousa

  • Revista ampliada Nulidade de acrdo

    No constitui nulidade a falta de sugesto do relator, de qualquer dos adjuntos ou do Presidente da

    Seco no sentido de o julgamento se fazer com interveno do plenrio das seces cveis, em virtude de a deciso a proferir se encontrar em eventual contradio com anterior jurisprudncia do STJ. 15-01-2004 Incidente n. 2343/03 - 2. Seco Santos Bernardino (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Poderes do Supremo Tribunal de Justia Matria de direito Matria de facto Culpa Pareceres Fora probatria Responsabilidade civil Actividades perigosas

    I - O STJ conhece da matria de facto apenas nas duas hipteses contempladas na 2. parte do art. 722

    do CPC: ofensa de uma disposio expressa de lei que exija certa espcie de prova para a existncia do facto ou ofensa de preceito expresso de lei que fixe a fora de determinado meio de prova.

    II - Salvo nestes casos, o erro na apreciao das provas e na fixao dos factos materiais da causa no pode ser objecto do recurso de revista.

    III - O Supremo no pode censurar o no uso, pela Relao, dos poderes conferidos pelo art. 712 no que concerne alterao da deciso do tribunal da 1. instncia sobre a matria de facto (hiptese em que a Relao no anulou tal deciso); mas j cabe no mbito da sua competncia cognitiva a censura do uso que de tais poderes tenha feito a Relao (hiptese em que esta anulou aquela deciso), se ela no se conteve dentro dos condicionalismos legais constantes do n. 1 do citado art. 712.

    IV - Um parecer tcnico que tem por objecto uma questo de facto um documento testemunhal, cuja fora probatria apreciada livremente pelo tribunal.

    V - A verificao da culpa, fundada na inobservncia dos deveres gerais de diligncia, constitui matria de facto, da exclusiva competncia das instncias, s constituindo matria de direito quando resultar da infraco de normas legais ou regulamentares.

    VI - Actividade perigosa, para os efeitos do art. 493/2 do CC aquela que, por fora da sua natureza ou da natureza dos meios utilizados, tem nsita ou envolve uma probabilidade maior de causar danos do que a verificada nas restantes actividades em geral.

    VII - Trata-se de matria a apreciar, em cada caso, segundo as circunstncias. 15-01-2004 Revista n. 3074/03 - 2. Seco Santos Bernardino (Relator) * Bettencourt de Faria Moitinho de Almeida

    Impugnao pauliana Efeitos Pedido Reduo

  • I - O acto impugnado pela aco pauliana no tem nenhum vcio gentico, sendo, em si, totalmente

    vlido e eficaz, pois que o devedor, mesmo que carregado de dvidas, no est impedido de dispor dos seus bens: o que ele no pode fazer , conscientemente, de m f, prejudicar os credores.

    II - Por isso, mesmo que triunfantemente impugnado, no deixa esse acto de manter a sua validade e eficcia, apenas sofrendo um certo enfraquecimento: os bens transmitidos respondem pelas dvidas do alienante, na medida do interesse do credor, falando-se, a propsito, de uma ineficcia relativa, uma ineficcia em relao ao credor.

    III - Tendo o autor formulado o pedido de que seja declarada ineficaz e de nenhum efeito a compra e venda de um prdio urbano que, por escritura pblica, foi efectuada entre os rus, a fim de que o prdio volte ao patrimnio do vendedor, de modo a que o demandante possa executar o patrimnio deste at satisfao do crdito que sobre ele detm, e tendo a Relao, em recurso interposto da deciso da 1. instncia, que havia deferido tal pretenso, alterado esta, declarando a compra e venda ineficaz em relao ao autor na medida do interesse deste, podendo ele executar tal bem no patrimnio do comprador, nos termos do art. 616 e 818 do CC, de concluir que a Relao operou apenas uma reduo quantitativa em relao ao pedido (excessivo) do autor, limitando-se a reconduzir a deciso da 1. instncia aos justos limites decorrentes da adequada interpretao da norma aplicvel, no sofrendo, por isso, de qualquer vcio, designadamente o da nulidade a que se reporta o art. 668/1 c) do CPC.

    IV - O consabido carcter pessoal da pauliana e os efeitos meramente obrigacionais que da sua procedncia decorrem, levam a concluir que a sentena a julgar a aco procedente possui mera eficcia inter partes, no afectando os eventuais subadquirentes ou os terceiros titulares de direitos sobre os bens transmitidos, em relao aos quais o credor s pode exercer o direito de restituio em aco contra eles intentada dentro do condicionalismo do art. 613 do CC, se este se verificar. 15-01-2004 Revista n. 3106/03 - 2. Seco Santos Bernardino (Relator) * Bettencourt de Faria Moitinho de Almeida

    Responsabilidade civil Acidente de viao Culpa Matria de facto Matria de direito Responsabilidade pelo risco Concorrncia de culpas

    I - A determinao da culpa e a respectiva graduao constituem matria de direito - como tal, sujeitas

    censura do Supremo - quando essa forma de imputao subjectiva se funda na violao ou inobservncia de normas legais ou regulamentares; e constitui matria de facto, de que ao Supremo vedado conhecer, quando no haja, para aqueles efeitos, que aplicar ou interpretar qualquer regra de direito - o que sucede quando ela se baseia em inconsiderao ou falta de ateno, isto , em inobservncia dos deveres gerais de diligncia.

    II - Se a matria de facto apurada relativamente etiologia do acidente, no permite atingir, com clareza, o modo como este ocorreu e a medida em que cada um dos comportamentos contra-ordenacionais dos condutores intervenientes para ele contribuiu, dever, por fora do disposto no n. 2 (2. parte) do art. 506 do CC, considerar-se igual a contribuio da culpa de cada um deles. 15-01-2004 Revista n. 4171/03 - 2. Seco Santos Bernardino (Relator) * Bettencourt de Faria Moitinho de Almeida

  • Reviso de sentena estrangeira Fotocpia Despacho de aperfeioamento Omisso

    I - A reviso de sentenas estrangeiras luz do direito interno portugus de origem interna, em

    conformidade com o disposto no artigo 1096, alneas a) e e), do CPC, depende, alm do mais, da inexistncia de dvida sobre a autenticidade da sentena e a inteligncia da deciso, e da regularidade da citao segundo a lei do foro de origem e da observncia no processo dos princpios do contraditrio e da igualdade das partes.

    II - Os referidos elementos devem constar da certido ou cpia autenticada da sentena revidenda, documento essencial ou estruturante da aco de reviso, e ou dos concernentes documentos complementares, incluindo o de traduo autenticada para a lngua do foro revisor.

    III - Apresentando o autor na aco de reviso mera cpia da sentena revidenda escrita em castelhano da Colmbia, com traduo para a lngua portuguesa, mas sem indicao da pessoa que a realizou, e sem qualquer meno citao do ru no processo do foro de origem deve o relator, no termo da fase dos articulados, nos termos do artigo 508, n.s 1 e 2, do CPC, convidar o autor a suprir aquelas insuficincias.

    IV - A omisso pelo relator do mencionado despacho de aperfeioamento tem que ser suscitada no mbito da aco ou, no limite, sob a arguio da nulidade do acrdo proferido pela Relao perante esta.

    V - No procedendo o autor desse modo, no obstante o seu nus de cumprir as referidas exigncias legais com vista reviso da sentena, no pode, no recurso de revista, obter a revogao ou a anulao do acrdo da Relao a fim de o relator proferir despacho de aperfeioamento. 15-01-2004 Revista n. 4263/03 - 7. Seco Salvador da Costa (Relator) * Ferreira de Sousa Armindo Lus

    Herana indivisa Personalidade judiciria Cabea de casal Legitimidade Princpio da estabilidade da instncia

    I - A herana indivisa aceite pelos sucessores do seu autor no tem personalidade judiciria, nem se

    subsume, para esse efeito, figura de patrimnio autnomo semelhante de titular no determinado. II - A legitimidade do cabea de casal para cobrar os direitos de crdito da herana quando a cobrana

    possa perigar pela demora, a que se reporta o artigo 2089 do CC, ocorre, por exemplo, nos casos de receio de insolvncia do devedor e inexistncia de garantia real, de necessidade de reclamao de crditos em aco executiva ou de proximidade do termo do prazo de prescrio.

    III - A afectao do princpio da estabilidade da instncia no plano subjectivo s pode ocorrer em consequncia da substituio de alguma das partes na relao jurdica substantiva, ou no quadro dos incidentes de interveno de terceiros ou no caso de alguma das partes haver sido julgada ilegtima por no estar em juzo determinada pessoa.

    IV - Tendo a aco declarativa de condenao sido intentada pela herana indivisa e prosseguido at fase da condensao na perspectiva de ser dotada de personalidade judiciria e de legitimidade ad causam prpria, no pode considerar-se intentada pela cabea de casal ao abrigo do artigos 2089 do CC e 26, n. 3, do CPC. 15-01-2004 Agravo n. 4310/03 - 7. Seco

  • Salvador da Costa (Relator) * Ferreira de Sousa Armindo Lus

    Contrato-promessa de compra e venda Princpio da equiparao Venda de coisa defeituosa

    aplicvel promessa de compra e venda, por fora do princpio da equiparao consagrado no n. 1 do art. 410 do CC, o regime fixado nos art.s 913 e seguintes do mesmo diploma para o contrato de compra e venda de coisa defeituosa, mesmo antes de outorgado o contrato prometido.

    19-01-2004 Revista n. 4117/03 - 6. Seco Afonso Correia (Relator) * Ribeiro de Almeida Nuno Cameira

    Contrato de arrendamento Caducidade Venda executiva

    I - A transferncia para o adquirente dos direitos do executado sobre a coisa vendida nos termos do art. 824, n. 1, do CC, uma aquisio derivada, tal como sucede na venda voluntria, a que se aplica o disposto no art. 1057 do mesmo Cdigo.

    II - Deve considerar-se porm o disposto no art. 819, tambm do CC, aplicando-se a regra do art. 1057 locao quando registada ou constituda antes da penhora.

    III - O n. 2 do citado art. 824 no previu a caducidade do arrendamento porque o art. 1057 estabeleceu a regra da sua transmisso; no h, assim, lacuna legal que permita a sua aplicao analgica ao arrendamento.

    IV - No exacto que o art. 695 do CC compreende nos nus dos bens hipotecados o arrendamento porque este caduca no caso de venda judicial, contra o disposto no art. 1057 do CC, por estar includo na previso do art. 824, n. 2.

    19-01-2004 Revista n. 4098/03 - 6. Seco Afonso de Melo (Relator) * Fernandes Magalhes Azevedo Ramos

    Prescrio extintiva nus da prova

    I - A prescrio deduzida pelo ru constitui excepo peremptria extintiva do direito do autor (art.s 487, n. 2, e 493, n. 3, do CPC); cabe ao ru que alegou a prescrio a prova dos factos que a produzem - art. 342, n. 2, do CC.

    II - Provado que o autor efectuou o pagamento da indemnizao pelo acidente que fundamentou o seu direito de regresso, decidido que com o pagamento se iniciou o prazo de prescrio mas no se apurando a sua data, cabe ao ru prov-la.

    III - No procede o argumento da dificuldade de prova que passaria pelo acesso aos documentos do autor, pois se deles tivesse necessidade o ru para provar a data do pagamento podia ter recorrido ao disposto no art. 528 do CPC.

    19-01-2004 Revista n. 4148/03 - 6. Seco

  • Afonso de Melo (Relator) * Fernandes Magalhes Azevedo Ramos

    Aco de divrcio Abandono do lar nus da prova Cnjuge principal culpado

    I - Para que o abandono do domiclio conjugal constitua fundamento de divrcio necessrio que o cnjuge abandonado prove a culpa do cnjuge que praticou o acto de abandono, por tal constituir elemento constitutivo do direito daquele ao divrcio, no podendo presumir-se a culpa de cnjuge que abandonou o lar conjugal.

    II - Tendo a r/reconvinte abandonado a casa de morada de famlia para definitivamente romper com a sociedade conjugal, e o autor/reconvindo dois dias depois passado a viver naquela casa com outra mulher more uxorio, portanto como se de marido e esposa se tratasse, no dando margem a qualquer hiptese de reconciliao com a sua ainda verdadeira esposa, no possvel declarar qual dos dois cnjuges foi o principal culpado do divrcio, j que o art. 1787, n. 1, do CC impe que s seja declarado cnjuge principal culpado aquele cuja culpa for qualificvel de consideravelmente superior do outro.

    19-01-2004 Revista n. 3903/03 - 1. Seco Faria Antunes (Relator) * Moreira Alves Alves Velho

    Acidente de viao Matria de facto Matria de direito Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    I - questo de direito, cognoscvel pelo STJ, valorar os factos luz da normatividade, para apurar se a factualidade assente era ou no adequada produo do acidente de viao, e tambm para determinar a culpa na produo do sinistro, apenas sendo o substracto material do nexo de causalidade entre o facto ilcito e os danos, e da culpa, em princpio insindicvel pelo STJ, por se tratar, a sim, de pura matria de facto.

    II - No possvel estabelecer o nexo de causalidade adequada entre a conduta do condutor de um furgo que invadiu parcialmente a hemifaixa de rodagem contrria dotada de 3 metros de largura, e os danos sofridos pelo autor que, conduzindo o seu ciclomotor em sentido contrrio ao do furgo, pela referida hemifaixa de rodagem e junto respectiva berma, ao aperceber-se da referida invaso parcial guinou subitamente para a direita, estatelando-se no leito da estrada aps embater numa casa que a marginava.

    III - Com efeito, o furgo no interveio naturalisticamente no acidente, j que no houve contacto entre ele e o ciclomotor, e desconhece-se a parcela da faixa de rodagem contrria invadida por tal veculo, sendo que na hiptese de a referida invaso ter sido diminuta nada justificava a manobra de salvamento alegada pelo autor, s compreensvel, nessa circunstncia, por precipitao, excesso de velocidade ou inabilidade do prprio autor que ento dispunha de espao mais do que suficiente para prosseguir a marcha sem qualquer perigo de coliso.

    IV - No tendo sido minimamente comprovada a profundidade da invaso da hemifaixa de rodagem contrria, ficou por demonstrar que a contra-ordenao foi causal do sinistro.

    19-01-2004 Revista n. 3991/03 - 1. Seco Faria Antunes (Relator) *

  • Moreira Alves Alves Velho

    Acidente de viao Culpa do lesado Alcoolmia

    I - exclusivo culpado do acidente de viao quem, como peo, sai da parte traseira de um veculo estacionado sem previamente se certificar da inexistncia de trnsito automvel vindo a ser atropelado.

    II - O facto de o condutor do veculo atropelante conduzir com a taxa de lcool no sangue de 0,52 g/l no por si s causal de um acidente de viao.

    19-01-2004 Revista n. 3509/03 - 6. Seco Fernandes Magalhes (Relator) * Azevedo Ramos Silva Salazar

    Presunes nus da prova

    I - Na redaco dos quesitos deve o tribunal respeitar as regras sobre a repartio do nus da prova. II - Propondo-se uma parte ilidir a presuno legal que beneficia a contraparte, o quesito deve ser

    redigido tendo em conta os factos por aquela alegados e no o facto que se presume se no houver iliso.

    19-01-2004 Revista n. 4150/03 - 1. Seco Lopes Pinto (Relator) * Pinto Monteiro Lemos Triunfante

    Contrato de arrendamento Nulidade por falta de forma legal Restituio Sociedade irregular

    I - Celebrado contrato de arrendamento com sociedade comercial a constituir, os seus scios respondem pelas rendas vencidas entre a escritura da sua constituio e o registo definitivo do contrato de sociedade.

    II - A nulidade do contrato, por vcio de forma, no obsta a que seja devida contrapartida pela ocupao e que esta tenha expresso pecuniria coincidente com a renda que fora convencionada.

    III - A restituio por efeito da nulidade no se confunde com a repetio do indevido. 19-01-2004 Revista n. 4184/03 - 1. Seco Lopes Pinto (Relator) * Pinto Monteiro Lemos Triunfante

    Contrato de mtuo Nulidade por falta de forma legal Juros de mora Litigncia de m f

  • I - Declarada a nulidade do mtuo, por falta de forma, so devidos juros de mora desde que o muturio

    ficar constitudo em mora da obrigao de restituio. II - No h identidade de situaes nem de regimes entre a restituio em consequncia da declarao de

    nulidade e a repetio do indevido. III - A qualificao da litigncia como de m f h-de ser feita individualmente, em relao a cada

    litigante. 19-01-2004

    Revista n. 4292/03 - 1. Seco Lopes Pinto (Relator) * Pinto Monteiro Lemos Triunfante

    Contrato de mediao Requisitos Revogao

    I - O contrato de mediao pressupe, essencialmente, a incumbncia, a uma pessoa, de conseguir interessado para certo negcio, feita pelo mediador, entre o terceiro e o comitente, e a concluso do negcio, entre estes, como consequncia adequada da actividade do mediador.

    II - A concluso da mediao , assim, condio essencial para que o mediador tenha direito remunerao.

    III - Tendo a entidade interessada na aquisio dos produtos recusado confirmar a encomenda pelo facto de o preo ser demasiado elevado, ficou sem efeito o negcio em vista por desistncia do terceiro, o que significa que, no tendo sido concludo o negcio, ficou revogado o acordo de mediao.

    IV - Tendo posteriormente aquela entidade adquirido do anterior comitente esses mesmos (e outros) produtos por preo inferior, aproximado do preo anterior deduzido da prometida comisso, no tem o mediador direito a qualquer remunerao, pois que o nexo de causalidade s tem de colocar-se perante um contrato ainda vlido ou subsistente e se trata de um novo negcio sem interferncia do mediador, efectuado aps a revogao do acordo de mediao.

    19-01-2004 Revista n. 4092/03 - 1. Seco Moreira Camilo (Relator) * Lopes Pinto Pinto Monteiro

    Cheque Ttulo executivo Prescrio Documento particular Endosso

    I - No mbito das relaes credor originrio/devedor originrio, e para execuo da obrigao fundamental (causal), o cheque prescrito pode valer como ttulo executivo, agora na veste de documento particular assinado pelo devedor.

    II - Para isso, no entanto, necessrio que na petio executiva (no na contestao dos embargos execuo) o exequente alegue aquela obrigao e que esta no constitua um negcio jurdico formal.

    III - O regime previsto no art. 458 do CC para as declaraes unilaterais de reconhecimento de dvida s vlido nas relaes estabelecidas entre credor e devedor originrios.

    IV - Assim, quem adquiriu um cheque prescrito por endosso do tomador no pode execut-lo contra o emitente a coberto dos art.s 46, alnea c), do CPC, e 458 do CC.

  • 19-01-2004 Revista n. 3881/03 - 6. Seco Nuno Cameira (Relator) * Sousa Leite Afonso de Melo

    Sociedade cooperativa Personalidade judiciria

    O rgo de fiscalizao da sociedade cooperativa tem personalidade judiciria activa contra a prpria sociedade em que se integra mas apenas para aces destinadas a obter a declarao de nulidade ou a anulao de deliberaes sociais desta, e j no para obter declarao de confirmao de validade de tais deliberaes.

    19-01-2004 Revista n. 4073/03 - 6. Seco Silva Salazar (Relator) * Ponce de Leo Afonso Correia

    Contrato de seguro Interpretao da vontade Proporcionalidade

    I - Ao Supremo Tribunal de Justia s cabe exercer censura sobre o resultado da interpretao das declaraes de vontade negocial feita pelas instncias quando, tratando-se da hiptese prevista no n. 1 do art. 236 do CC, tal resultado no coincida com o sentido que um declaratrio normal, colocado na posio do real declaratrio, pudesse deduzir do comportamento do declarante, ou, tratando-se da situao contemplada no art. 238, n. 1, do mesmo Cdigo, no tenha um mnimo de correspondncia no texto do documento, ainda que imperfeitamente expresso.

    II - Sendo o bem a que se refere o contrato de seguro, no uma grua fixa, mas uma auto grua para todo o terreno, destinada construo de uma estrada com vrios quilmetros de comprimento, e incluindo o contrato de seguro uma clusula segundo a qual ficavam garantidos por ele os eventos ocorridos quando tal mquina se encontrasse em laborao ou em repouso, e outra clusula que indicava genericamente que o local do risco era diversos locais, no merece censura a interpretao da Relao segundo a qual, apesar de o dito contrato no garantir os prejuzos resultantes de transporte ou mudana dos bens seguros para fora do local do risco, este abrangia a deslocao da auto grua, pelos seus prprios meios, de um local onde se encontrava em laborao, pelo nico acesso disponvel, para outro local em que iria laborar na construo da mesma estrada, tudo no decurso da execuo da mesma empreitada a que se destinava.

    III - A regra da proporcionalidade consagrada no art. 433 do CCom tem carcter supletivo, pelo que h que atender ao estipulado a tal respeito pelas partes no contrato de seguro.

    IV - Acordando estas em que o valor seguro dever corresponder, na data do sinistro, ao valor de substituio da mquina segura por uma nova data de cada renovao anual, tem o segurado de proceder actualizao do valor seguro em cada renovao anual se pretender que a seguradora suporte integralmente o risco e os danos.

    19-01-2004 Revista n. 4108/03 - 6. Seco Silva Salazar (Relator) * Ponce de Leo Afonso Correia

    Propriedade horizontal Ttulo constitutivo

  • Licena de construo Vistoria Restrio de direitos Norma de interesse e ordem pblica Nulidade Abuso do direito

    I - A propriedade horizontal um direito novo, diferente e distinto da propriedade singular e que implica um estatuto jurdico completamente separado desta, estatuto esse que se corporiza no ttulo constitutivo, sem embargo de ter este que se conformar com as normas legais de carcter imperativo.

    II - O destino das fraces autnomas no pode afastar-se, contrariando-o, do que constar da respectiva licena de utilizao, concedida em funo do contedo de vistoria realizada pelos servios competentes, a qual, para o efeito, desempenha as mesmas funes que a aprovao do projecto apresentado na Cmara Municipal, licena aquela que sem a referida vistoria no seria concedida.

    III - Havendo clara desconformidade entre o constante da escritura de constituio da propriedade horizontal e aquilo que na vistoria efectuada, pressuposto da concesso da licena de utilizao, se afirma como no coincidente com o projecto aprovado, ser parcialmente nulo, em tudo o que contrariar aquela vistoria, o ttulo constitutivo da propriedade horizontal, constante de escritura comprovadamente feita com base no auto de vistoria.

    IV - As limitaes impostas aos proprietrios, em mbito de propriedade horizontal, visam salvaguardar tambm regras de interesse e ordem pblica atinentes organizao da propriedade, que bolem com os interesses de todos os condminos do prdio.

    V - Nada traduz de abusivo, pautando-se pelo exerccio de um direito potestativo, de mais a mais conferido por razes de interesse e ordem pblica, a actuao dos condminos que, em contratos-promessa de compra e venda celebrados, antes da constituio da propriedade horizontal, com a sociedade dona do prdio prometido vender em fraces, aceitaram que no dia da escritura pblica passariam uma declarao e uma procurao para se mudar a propriedade horizontal do prdio em questo, a fim de a referida sociedade poder continuar com o seu escritrio no rs-do-cho que ali funcionava, e vieram depois requerer a nulidade do ttulo constitutivo por desconformidade com o fim que constava do projecto ou da licena de utilizao aprovados.

    VI - O que releva para efeito de os vestbulos serem partes comuns do edifcio no o seu efectivo ou permanente uso ou utilizao para passagem por dois ou mais condminos, antes ser a simples potencialidade ou possibilidade de tais uso ou passagem, situao que naturalmente se presume face s regras de experincia e que se deduz, por exemplo, do facto de a se encontrar a instalao de electricidade da escada comum do prdio.

    22-01-2004 Revista n. 3615/03 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) * Oliveira Barros Salvador da Costa

    Relatrio mdico-legal Fora probatria Matria de facto Poderes do Supremo Tribunal de Justia M f

    I - O valor probatrio de um relatrio de percia mdica no pode ser reapreciado pelo Supremo Tribunal de Justia, uma vez que se trata de matria de facto.

    II - Incorre na previso do art. 456 n. 2 do CPC, devendo ser condenado como litigante de m f, a parte que afirma factos pessoais, cuja disparidade com os factos provados to grande que no pode ser tida como confuso desculpvel.

  • III - Incorre em idntica previso, quem omite na petio inicial que os factos em causa j haviam sido objecto de anterior processo, por ter deduzido pretenso cuja falta de fundamento no desconhecia.

    22-01-2004 Revista n. 3048/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Danos no patrimoniais Actualizao da indemnizao Sentena Fundamentao Declarao expressa

    I - Se na sentena nada se disser sobre a actualizao da quantia arbitrada a ttulo de danos no patrimoniais, tem de se entender que essa quantia corresponde ao valor dos danos no momento da sua ocorrncia.

    II - Isto de acordo com a regra de que no existem presunes de fundamentao. 22-01-2004 Revista n. 3704/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Livrana em branco Devedor solidrio Garantia do pagamento Impugnao pauliana Requisitos

    I - A emisso duma livrana em branco tem subjacente um contrato de preenchimento que vincula, desde logo, os contraentes, pelo que o crdito objecto do mesmo contrato surge com essa emisso.

    II - Sendo tal crdito o saldo que se vier a apurar, a eficcia jurdico-econmica da garantia patrimonial impe que seja considerado no seu valor mximo.

    III - Havendo diversos devedores solidrios, a garantia patrimonial constituda, no pelo montante que resulta da soma dos respectivos patrimnios, mas pelo facto de existirem diversos patrimnios e cada um deles poder responder integralmente pela totalidade do crdito.

    IV - Assim, quando um deles deixa de poder responder pela totalidade do crdito, h perda de garantia patrimonial, nomeadamente para efeitos da impugnao pauliana, apesar dos restantes poderem ser suficientes para o cumprimento da obrigao.

    22-01-2004 Revista n. 3854/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Enriquecimento sem causa Requisitos nus da prova

    No enriquecimento sem causa, compete ao empobrecido a alegao e a prova de que no existem outros

    meios para fazer valer o seu direito.

  • 22-01-2004 Revista n. 4095/03 - 2. Seco Bettencourt de Faria (Relator) * Moitinho de Almeida Ferreira de Almeida

    Contrato-promessa de trespasse Nulidade do contrato Estabelecimento comercial Encerramento do estabelecimento

    nula por inexistncia do objecto do contrato prometido, a promessa de trespasse de estabelecimento comercial j definitivamente encerrado.

    22-01-2004 Revista n. 3927/03 - 2. Seco Duarte Soares (Relator) * Ferreira Giro Loureiro da Fonseca

    Enriquecimento sem causa Requisitos Factos negativos nus da prova nus da alegao Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    I - A falta originria ou subsequente de causa justificativa do enriquecimento assume no tipo legal do

    artigo 473 do Cdigo Civil a natureza de elemento constitutivo do direito, devendo os respectivos factos integradores ser, pois, qualificados como constitutivos do direito restituio, mesmo em caso de dvida, e cabendo por consequncia ao autor deste pedido o concernente nus probatrio, cujo incumprimento se resolve em seu desfavor (artigo 342 n.s 1 e 3).

    II - No plano da interpretao e aplicao do direito envolvido na repartio do nus da prova no relevam as dificuldades probatrias dos factos negativos.

    III - Competindo ao autor do pedido de restituio o nus da prova da falta de causa do enriquecimento, prova que neste sentido seja lograda pode o ru opor contraprova destinada a tornar essa falta duvidosa, de forma que, alcanando sucesso, a questo decidida contra o autor (artigo 346).

    IV - No quadro das proposies antecedentes, a alegao pelo ru de factos integradores de uma causa justificativa do enriquecimento compreende-se unicamente como exerccio de contraprova, e a falta de prova dos factos neste sentido alegados apenas surte consequentemente efeitos jurdico-processuais desfavorveis ao ru caso seja cumprido pelo autor o correspectivo nus probatrio. Tanto assim que no do nus de alegao que se infere o nus da prova, mas justamente o inverso.

    22-01-2004 Revista n. 1815/03 - 2. Seco Lucas Coelho (Relator) * Santos Bernardino

    Bettencourt de Faria Acidente de viao Responsabilidade civil Prescrio Prescrio do procedimento criminal Interrupo da prescrio

  • Contagem dos prazos Fundo de Garantia Automvel

    I - Sendo o prazo de prescrio do procedimento criminal previsto no Cdigo Penal inferior ao estabelecido no art. 498, n. 1, do CC, seria, em princpio, de aplicar o prazo neste ltimo previsto de 3 anos.

    II - O pedido de indemnizao civil fundado na prtica de um crime deduzido no processo penal respectivo, (princpio da adeso) s o podendo ser em separado, perante o tribunal civil, nos casos previstos na lei art. 71 do CPP. Da que, em princpio, se haja de admitir que o prazo de prescrio no corre enquanto pender a aco penal, nos termos do disposto no art. 306, n. 1, do CC.

    III - Tendo sido instaurado processo crime contra o lesante pela alegada prtica de um crime semi-pblico, mediante a apresentao oportuna da competente queixa por parte do lesado, deve entender-se que o lesado manifestou, ainda que de forma indirecta, a sua inteno de exercer o direito a ser indemnizado pelos danos que lhe foram causados pelo arguido/lesante.

    IV - A pendncia do processo crime (inqurito) como que representa uma interrupo contnua ou continuada (ex vi, do art. 323, n.s 1 e 4, do CC), quer para o lesante, quer para aqueles que com ele so solidariamente responsveis pela reparao dos danos, interrupo esta que cessar naturalmente quando o lesado for notificado do arquivamento (ou desfecho final) do processo crime adrede instaurado.

    V - S depois de esgotadas as possibilidades de punio criminal ficar o lesado habilitado a deduzir, em separado, a aco de indemnizao, face ao disposto no n. 1 do art. 306 do CC. Com a participao dos factos (em abstracto criminalmente relevantes) ao MP ou s entidades policiais competentes, se interromper o prazo de prescrio contemplado no n. 1 do art. 498 do CC, no comeando, de resto, este a correr enquanto se encontrar pendente o processo penal impeditivo da propositura da aco cvel em separado.

    VI - A interrupo, (bem como o alargamento do prazo da prescrio nos casos em que admissvel), aplica-se ( oponvel) aos responsveis meramente civis (seguradoras e ao Fundo de Garantia Automvel), na medida em que estes representam (substituem) em ltima ratio, o lesante civilmente responsvel.

    22-01-2004 Revista n. 4084/03 - 2. Seco Ferreira de Almeida (Relator) * Ablio Vasconcelos Duarte Soares

    Matria de facto Poderes da Relao Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    I - O STJ, na sua qualidade de tribunal de revista, s conhece, em princpio, de matria de direito. II - No tendo os recorrentes, em sede de apelao, dado cumprimento ao preceituado nas alneas a) e b)

    do n. 1 do citado art. 690-A, nus processual esse de observncia obrigatria, e a cuja falta de satisfao a lei faz corresponder a rejeio do recurso, deve a Relao recusar-se a reapreciar o julgamento da matria de facto.

    22-01-2004 Revista n. 4153/03 - 2. Seco

    Ferreira de Almeida (Relator) * Ablio Vasconcelos Duarte Soares

    Aco de divrcio Reviso de sentena estrangeira Registo civil

  • Nome Averbamento

    No constitui obstculo reviso da sentena de divrcio, proferida em Frana, o facto de o nome prprio do Ru figurar no registo civil francs em termos distintos dos constantes do nacional, quando no subsistam dvidas no que respeita sua identidade. 22-01-2004

    Revista n. 4078/03 - 2. Seco Moitinho de Almeida (Relator) * Ferreira de Almeida Ablio Vasconcelos

    Aco de reivindicao Requisitos Aco de apreciao positiva

    I - Nem todas as aces reais, isto , destinadas a fazer valer um direito real, so aces de

    reivindicao. II - A aco de reivindicao caracteriza-se pelos pedidos de reconhecimento do direito invocado

    (pronuntiatio), de natureza formal, e de entrega do bem reivindicado (condemnatio). III - Quando limitada a pretenso submetida a juzo declarao do direito invocado estar-se- perante

    aco de simples apreciao positiva, e no perante aco de reivindicao, que uma aco de condenao.

    22-01-2004 Revista n. 3959/03 - 7. Seco Oliveira Barros (Relator) * Salvador da Costa Ferreira de Sousa

    Denominao social Nome de estabelecimento Marcas Confuso Novidade Princpio da exclusividade

    I - Existe uma inadmissvel confuso entre a denominao social Filrent e os diversos sinais distintivos

    da AIP (Associao Industrial Portuguesa), tais como o nome de estabelecimento FIL e as marcas FIL.

    II - A proibio do uso da denominao social Filrent, com registo posterior, no viola os princpios da liberdade comercial, da novidade e da exclusividade das denominaes sociais.

    22-01-2004 Revista n. 4294/03 - 7. Seco Quirino Soares (Relator) * Neves Ribeiro Arajo de Barros

    Divrcio litigioso Causa de pedir Suspenso da instncia Prazo Notificao

  • Excepo dilatria Litispendncia Conveno de Lugano Conveno de Bruxelas Aplicao da lei no tempo

    I - Tendo sido decretada a suspenso da instncia, por tempo determinado, a requerimento das partes, e estas notificadas da deciso que a decretou, a suspenso cessa quando o respectivo prazo tiver decorrido, no exigindo a lei qualquer interveno do juiz a declar-la finda, nem nova notificao s partes do decurso daquele prazo.

    II - A litispendncia uma excepo dilatria, cujo efeito, no quadro da nossa lei processual, a absolvio da instncia, decretada na aco proposta em segundo lugar, e no a suspenso do processo.

    III - Na aco de divrcio litigioso, a causa de pedir constituda pelos factos materiais e concretos que se invocam como fundamento para a obteno do efeito jurdico pretendido a dissoluo do casamento.

    IV - No se verifica a identidade de causa de pedir - um dos requisitos da excepo de litispendncia - entre duas aces de divrcio litigioso, uma intentada pelo varo contra a mulher, na Alemanha, e outra intentada por esta contra aquele, num tribunal portugus, com base em factos concretos que configuram a violao culposa, grave e reiterada, pelo ru, dos seus deveres conjugais de fidelidade, respeito, cooperao e assistncia; um dado irrecusvel que estes factos materiais e concretos aqui invocados pela autora no so, obviamente, os mesmos que, na aco intentada na Alemanha, o autor alegou para fundar o seu pedido de divrcio contra aquela.

    V - A Conveno de Lugano e a Conveno de Bruxelas no tm aplicao em matria de divrcio, j que o art. 1 de ambas exclui expressamente, do seu mbito de aplicao, as questes relativas ao estado das pessoas singulares.

    VI - O Regulamento (CE) n. 1347/2000, de 29-05-2000, que entrou em vigor em 2 de Maro de 2001, aplica-se apenas s aces judiciais intentadas posteriormente sua entrada em vigor.

    22-01-2004 Revista n. 3319/03 - 7. Seco Santos Bernardino (Relator) * Bettencourt de Faria Moitinho de Almeida

    Nulidade de acrdo Falta de fundamentao Oposio entre fundamentos e deciso Omisso de pronncia Boa f Abuso do direito Venire contra factum proprium

    I - O vcio de nulidade dos despachos, sentenas e acrdos a que se reporta o art. 668, n. 1, alnea b), do CPC pressupe a falta absoluta de fundamentao, pelo que insusceptvel de ser integrado pela errada, medocre ou insuficiente fundamentao.

    II - O vcio de nulidade dos despachos, sentenas e acrdos a que se reporta o art. 668, n. 1, alnea c), do CPC pressupe a contradio lgica entre os fundamentos e a deciso, pelo que insusceptvel de ser integrado pela errada interpretao dos factos ou do direito ou da aplicao deste.

    III - O vcio de nulidade dos despachos, sentenas e acrdos a que se reporta o art. 668, n. 1, alnea d), 1. parte, do CPC pressupe a omisso do conhecimento de pontos essenciais de facto e ou de direito em que as partes centram o litgio, incluindo as excepes, pelo que insusceptvel de ser integrado pela omisso de pronncia sobre a motivao ou argumentao fctico-jurdica formulada pelas partes.

  • IV - A omisso da insero no instrumento documental do contrato-promessa dos elementos previstos no art. 410, n. 3, do CC consubstancia uma nulidade atpica por falta de pontos essenciais de forma, insusceptvel de declarao oficiosa pelo tribunal ou invocada por terceiros e com limites apertados de invocao por parte do promitente vendedor.

    V - Agir nos contratos de boa f faz-lo com lealdade, correco, diligncia e lisura exigveis s pessoas normais face ao circunstancialismo envolvente, abrange o comportamento integral, segundo o critrio da reciprocidade, ou seja, o devido e esperado s partes nas relaes jurdicas.

    VI - A excepo peremptria imprpria do abuso do direito na modalidade de venire contra factum proprium traduz-se na conduta anterior do seu titular que, objectivamente interpretada no confronto da lei, da boa f e dos bons costumes, gerou a convico na outra parte de que o direito no seria por ele exercido e, com base nisso, programou a sua actividade.

    22-01-2004 Revista n. 4278/03 - 7. Seco Salvador da Costa (Relator) * Ferreira de Sousa Armindo Lus

    Embargos de executado Recurso de apelao Legitimidade Ampliao do mbito do recurso Excesso de pronncia Alimentos devidos a menores Prescrio extintiva

    I - Vencido o embargante-executado quanto ilegitimidade ad causam da embargada-exequente, mas vencedor quanto prescrio do direito de crdito exequendo, podia ampliar o objecto do recurso de apelao interposto pela ltima com vista ao conhecimento pela Relao da primeira das aludidas excepes.

    II - No tendo ampliado o objecto do recurso de apelao no podia a Relao conhecer da excepo da ilegitimidade ad causam e, porque dela conheceu, confirmando o decidido na 1. instncia, afectado ficou o acrdo de nulidade parcial por excesso de pronncia.

    III - Como a referida nulidade no foi suscitada pela embargada-recorrida, o Supremo Tribunal de Justia, no recurso de revista interposto pelo embargante-recorrente, podia conhecer da aludida excepo de ilegitimidade ad causam.

    IV - Sendo o ttulo executivo uma sentena condenatria do pai entregar me prestaes alimentares para o sustento dos filhos, ela tem legitimidade ad causam singular na execuo, no obstante os filhos j haverem atingido a maioridade.

    V - Concretizado o direito de crdito relativo aos alimentos por via de sentena condenatria de pagamento de prestaes futuras, no vencidas, no tornado controvertido depois da sua constituio, o respectivo prazo de prescrio o quinquenal a que se reporta a alnea f) do artigo 310 do Cdigo Civil.

    22-01-2004 Revista n. 4352/03 - 7. Seco Salvador da Costa (Relator) * Ferreira de Sousa Armindo Lus

    Contrato de locao financeira Interpretao do negcio jurdico Matria de facto Poderes do Supremo Tribunal de Justia Teoria da impresso do destinatrio

  • I - O contrato de locao financeira aquele pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuio, a

    conceder outra o gozo temporrio de uma coisa adquirida ou construda por indicao da ltima que, num prazo determinado ou determinvel, a pode comprar.

    II - Determinar o sentido da declarao negocial damos o presente contrato por resolvido apurar um facto da vida real, consubstanciado num determinado contedo de vontade, pelo que se traduz em questo de facto.

    III - O Supremo Tribunal de Justia s pode sindicar a matria de facto apurada pela Relao se esta considerou provados factos sem produo de prova por fora da lei necessria para o efeito ou desrespeitou, nesse juzo, normas reguladoras da fora probatria dos meios probatrios admitidos no ordenamento jurdico.

    IV - Nesse mbito de excepo, pode o Supremo Tribunal de Justia sindicar o sentido juridicamente relevante de declaraes negociais segundo o critrio estabelecido nos art.s 236, n. 1, e 238, n. 1, do CC fixado pela Relao.

    22-01-2004 Revista n. 4387/03 - 7. Seco Salvador da Costa (Relator) * Ferreira de Sousa Armindo Lus Alimentos Fundo de Garantia dos Alimentos Maioridade Despesas de educao I - No h paridade entre o dever paternal e o dever do Estado, quanto a alimentos. II - Embora o Fundo de Garantia dos Alimentos devidos a Menores fique sub-rogado, nos termos

    previstos no art. 6, n. 3, da Lei 75/98, de 19-11, e no art. 5, n. 1, do DL 164/99, de 3 de Maio, em todos os direitos dos menores a quem sejam atribudas prestaes, com vista garantia do respectivo reembolso, a verdade que a entidade sub-rogada, quando procede ao pagamento de prestao de alimentos, em conformidade com as disposies legais citadas, f-lo no cumprimento de uma obrigao prpria e no alheia.

    III - A obrigao de garantia das referidas prestaes respeita apenas a crianas e a menores. IV - Tal obrigao de garantia daquelas prestaes cessa com a maioridade e no se estende s despesas

    educacionais de maiores, que se encontrem na situao do art. 1880 do CC.

    27-01-2004 Agravo n. 3648/03 - 6. Seco Azevedo Ramos (Relator) * Silva Salazar Ponce de Leo

    Caso julgado Na hiptese de ofensa do caso julgado, o objecto do recurso de agravo interposto com fundamento no

    art. 678, n. 2, do CPC, fica circunscrito apreciao da ofensa do caso julgado, sendo vedado conhecer de questes estranhas a esse tema.

    27-01-2004 Agravo n. 4072/03 - 6. Seco Azevedo Ramos (Relator) * Silva Salazar Ponce de Leo

  • Contrato de seguro Proposta Aplice de seguro Prova I - O contrato de seguro deve ser reduzido a escrito num instrumento, que constituir a aplice de

    seguro. II - Tal significa que o contrato de seguro um negcio formal e que a forma escrita do contrato ad

    substantiam. III - Sem aplice no h seguro, sendo aquela, ao mesmo tempo, ttulo constitutivo e documento

    probatrio do contrato de seguro. IV - A exigncia de forma prescrita no art. 426 do CCom apenas se aplica aplice, funcionando esta

    como instrumento bastante para a existncia do prprio contrato de seguro. V - Emitida a aplice, o contrato de seguro existe e vale com o contedo que consta da aplice, que o

    nico e necessrio ttulo do contrato, a menos que se prove que este contedo no foi contratado.

    27-01-2004 Revista n. 4107/03 - 6. Seco Azevedo Ramos (Relator) * Silva Salazar Ponce de Leo

    Depoimento de parte Admissibilidade

    I - O depoimento de parte sobre factos co-alegados pela prpria parte que o requer, sem que tenha por

    objectivo o reconhecimento de qualquer facto desfavorvel ou cujo nus de prova recaia sobre a parte contrria, traduz-se num uso indevido desse meio de prova, por falta de correspondncia funcional e teleolgica entre o meio processual e o objecto do meio de prova fixado na lei.

    II - O art. 553-3 CPC apenas permite que se exija o depoimento de comparte se este toma posio ou alega factos diferentes do comparte que requer o seu depoimento, favorveis a este e desfavorveis quele.

    III - Essa limitao legal admissibilidade do depoimento de parte no encerra uma diminuio da tutela efectiva do "direito prova", com violao do princpio acolhido no art. 20 da CRP. 27-01-2004 Revista n. 3530/03 - 1. Seco Alves Velho (Relator) * Lopes Pinto Pinto Monteiro

    Contrato-promessa Impossibilidade superveniente Aces Falncia I - Se num contrato bilateral uma das prestaes se torna impossvel, fica o credor desobrigado da

    contraprestao se aquela impossibilidade no resultar de culpa sua, retroagindo a caducidade de contrato, resultante da superveniente impossibilidade de uma das prestaes, data da sua celebrao, que se tem por no realizada, desaparecendo as obrigaes no passado.

    II - Tendo os Rus prometido comprar aces de uma sociedade que entretanto foi declarada falida por sentena transitada em julgado, sem se provar que tiveram culpa nessa falncia, tornou-se impossvel a execuo especfica do respectivo contrato-promessa, com efeitos retroactivos extensivos ao pedido de capital e dos juros.

  • III - Mantendo a sociedade falida personalidade apenas para efeitos de liquidao, no faria sentido obrigar os Rus, promitentes adquirentes de aces da falida, a comprar e pagar, com juros, parte do capital da sociedade j dissolvida.

    27-01-2004 Revista n. 4114/03 - 1. Seco Faria Antunes (Relator) * Moreira Alves Alves Velho Competncia material Tribunal comum Tribunal administrativo Tribunal fiscal

    I - A competncia material tem de ser aferida pelos termos em que o Autor prope a aco, seja quanto

    aos elementos objectivos, seja quanto aos elementos subjectivos. II - O Tribunal Judicial incompetente em razo da matria para conhecer do pedido de declarao de

    nulidade de um despacho do Chefe de Repartio de Finanas relativo a matrizes prediais. 27-01-2004 Agravo n. 4065/03 - 6. Seco Fernandes Magalhes (Relator) * Azevedo Ramos Silva Salazar

    Negcio jurdico Representao sem poderes Ratificao Clusula penal Reduo

    I - O negcio que uma pessoa, sem poderes celebra em nome de outrem ineficaz em relao a este, se

    no for por ele ratificado - art. 268 n. 1 CC. II - A ineficcia superveniente tem lugar se os efeitos inicialmente produzidos desaparecem por fora de

    facto ulterior com alcance retroactivo. III - A reduo da clusula penal no pode ser feita oficiosamente, tendo de ser pedida pelo devedor.

    27-01-2004 Revista n. 4080/03 - 6. Seco Fernandes Magalhes (Relator) * Azevedo Ramos Silva Salazar

    Responsabilidade extracontratual Actividades perigosas Construo de obras I - A construo civil no deve ser considerada uma actividade perigosa para efeitos do disposto no n. 2

    do art. 493 do CC. II - So elementos constitutivos da responsabilidade extra contratual: o facto, a ilicitude, a imputao do

    facto ao lesante, o dano e o nexo de causalidade entre o facto e o dano. III - O art. 563 do CC acolheu a doutrina da causalidade adequada. IV - A frmula a usada deve interpretar-se no sentido de que no basta que o evento tenha produzido

    (naturalstica ou mecanicamente) certo efeito para que este, do ponto de vista jurdico, se possa

  • considerar causado ou provocado por ele; para tanto, necessrio ainda que o evento danoso seja uma causa provvel, adequada, desse efeito.

    V - Sendo certo que o aludido preceito comporta qualquer das variantes da formulao da teoria da causalidade adequada, provindo a leso de facto ilcito, dever ter-se por acolhida a sua formulao negativa segundo a qual s deixar de haver nexo causal adequado se o facto que actua como condio, segundo a sua natureza geral, era de todo indiferente para surgir um tal dano, e s se tornou condio dele em resultado de outras circunstncias extraordinrias que intervieram no caso concreto.

    VI - Tendo a Autora, num Domingo em que ningum se encontrava num prdio em construo, entrado ali sem ter solicitado R construtora autorizao para isso, nem lhe pedido para a acompanhar na visita, na companhia de uma filha, e, chegando ao 2. andar, onde pretendia ver um apartamento que sua filha e outro viriam a comprar, e tendo reparado numa entrada que se lhe apresentava pela frente e que se lhe afigurava ser o hall de tal fraco, avanado sem que nada assinalasse ou lhe fizesse prever da existncia imediata de uma abertura no solo nenhum sinal existia no local advertindo da existncia da referida abertura destinada ao ascensor, nem qualquer guarda-corpos e cado desamparada no fosso, a ela deve ser imputada a responsabilidade pela produo do acidente, apesar de a R ter violado o disposto no art. 40 do DL n. 41.821, de 11-08-1958, pois a conduta omissiva da R no pode ser considerada adequada produo do sinistro.

    VII - No existe, assim, o nexo de causalidade entre tal facto e o dano sofrido pela Autora, antes, foi o comportamento da Autora a causa adequada ocorrncia desse dano, a causa jurdica dessas consequncias danosa