34
Poemas de Rogério Sena 1 Sobre Rogério Sena O pintor, escritor e ator mineiro, Rogério Sena desenha desde criança. Apesar da habilidade nata, só passa a produzir com intensidade quando inicia o tratamento no serviço de saúde mental. Em 1993 Rogério conheceu o movimento da reforma psiquiátrica, desde então se tornou militante atuante de vários movimentos sociais, como o movimento negro e dos direitos humanos, além de ter participado da fundação da Luta Antimanicomial em Salvador em 1993. Em 2000, participou de uma série de oficinas de comunicação comunitária realizadas pela Associação Imagem Comunitária (AIC), em centros de convivência para usuários da rede pública de saúde mental. Essas oficinas culminaram no surgimento da Rede Parabolinoica de Arte e Loucura, desde então Rogério Sena atua nesse coletivo que atrela arte, loucura e comunicação, que é voltado á reflexão sobre o tratamento destinado pela sociedade aos portadores de sofrimento mental, que os marginaliza e subestima. Rogério atuou na peça Aqui não tem doido não!!!” - Criação Coletiva - Teatro ICBEU. B.H. Em 2009 recebeu premiação da Bienal de Piracicaba em 2009, e em 2010 foi homenageado na mesma Bienal. Em 2010 ainda participou da Feira Nacional da Artesanato expondo os seus trabalhos no stand da Expominas reservado aos artistas mineiros.

Poemas de Rogério Sena

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Livro que reune diversos poemas de Rogério Sena

Citation preview

Poemas de Rogério Sena 1

Sobre Rogério Sena

O pintor, escritor e ator mineiro, Rogério Sena desenha desde criança. Apesar da habilidade

nata, só passa a produzir com intensidade quando inicia o tratamento no serviço de saúde

mental. Em 1993 Rogério conheceu o movimento da reforma psiquiátrica, desde então se

tornou militante atuante de vários movimentos sociais, como o movimento negro e dos

direitos humanos, além de ter participado da fundação da Luta Antimanicomial em Salvador

em 1993.

Em 2000, participou de uma série de oficinas de comunicação comunitária realizadas pela

Associação Imagem Comunitária (AIC), em centros de convivência para usuários da rede

pública de saúde mental. Essas oficinas culminaram no surgimento da Rede Parabolinoica de

Arte e Loucura, desde então Rogério Sena atua nesse coletivo que atrela arte, loucura e

comunicação, que é voltado á reflexão sobre o tratamento destinado pela sociedade aos

portadores de sofrimento mental, que os marginaliza e subestima.

Rogério atuou na peça Aqui não tem doido não!!!” - Criação Coletiva - Teatro ICBEU. B.H. Em

2009 recebeu premiação da Bienal de Piracicaba em 2009, e em 2010 foi homenageado na

mesma Bienal. Em 2010 ainda participou da Feira Nacional da Artesanato expondo os seus

trabalhos no stand da Expominas reservado aos artistas mineiros.

Poemas de Rogério Sena 2

NORDESTE

Sim como um asfalto,

Onde não cresceste ficaste esticado

Em cima dessa terra socada

Sem nunca sido molhada

Se fosses pelo menos o asfalto

De um aeroporto internacional

Ou da pista de Interlagos

Seria olhado com mais cuidado

Mas é apenas um asfalto

Inacabado pra vender lote de voto

Longe lançado e depois ti abandonaste

Como lua várias crateras

Onde todos se transformam

Em seres do espaço

Sem espaçonaves para

Voar para outros ares

E dançam com tradição

O baião no bailão

Para esquecer a sofridão

Esperando que venha

Uma resolução para

A população do sertão

Poemas de Rogério Sena 3

BANDEIRA

Com os ventos

Vieram as andorinhas

Cantando uma antiga ladainha

Avisando qual tempo que vinhas

Escondendo nos telhados daquela

Ainda velha capelinha

Circulam nos céus

Que já no total escuro

Os amados urubus

Que nos diziam quase tudo

Tinha chegado o esperado futuro

Não queremos sobreviver nuclear

Queremos apenas poder viver

Ou mesmo morrer com o puro ar

E o frescor do mar

Queremos o verde da bandeira

Junto com o azul e as estrelas

O amarelo até deixamos

Que se administra pelo antigo ministério

Mas que seja sério

E o povo marchará em honra

Todas as letras fixadas na

Faixa e será a paz desejada

Poemas de Rogério Sena 4

ESTRALAR DO CORAÇÃO

Estrala coração fala:

Dessas luzes estranhas que cobrem o batismo,

Numa alquimia ocultando os cascavéis nos troncos

De uma eterna galeria, como se fosse tesouro dos reis

Que não podemos cantar em melodias e nas palavras falar,

Os riscos dessas pazes de mentiras.

Suspiro em versos mil a desentoar

No zelo de um veneno letal, lograrem conosco.

Jogando-nos flagelamente nas sepulturas da vida

Pedindo a sorte desculpa e ferem sem ternura,

Com conversas fiadas, perversas e perigosas

Estrala coração e fala!

Nos lamentos das viúvas

Nos olhos presos

Abafando os sonhos de uma simples realidade

Nas adorações de crespas serpentinas serenas

Com cadências convidativas nos corpos nus adolescentes

E também nos filhos aos braços, presentes e pacientes.

Estrala coração fala!

São famintos, são ratos, são serpentes com sede

Nas bocas ardentes de conquistas insanas e desgraçadas

Dessas raças culpadas....

Estralou o coração e falou a dor caprichosa:

Poemas de Rogério Sena 5

Firme tua força, fortaleça as esperanças, encha os peitos de amor e alegria

Note nas perfeições da natureza e perdoa, marcando um encontro

Para eterna paz

O PARQUE

Alegria da infância

Atração do êxodo

Que vem dos interiores

Tentando ali colherem

As tuas esperanças em flores

Passarela dos gays

E antigas furtivas paqueras

Angustias dos desempregados

Lagoas dos patos

Passeios de pedalinhos e barcos

Grandes árvores com jacas

E outros tipos de árvores

Teatro popular de apelido, Chico,

Se ouve canto dos pássaros

A misturar com a sinfonia do palácio das artes

Ao expressar, nos famosos clássicos,

Quando principalmente ao ar livre do parque.

Mas me salta uma lágrima, com tantos espaços,

Ver lindos bichos presos...

Passeios em jegue

E charretes de cabras

No meio desta crescente

Poemas de Rogério Sena 6

Cidade ( Belo Horizonte )

Roda carrosséis

Balança gangorras,

Vê as faunas brasileiras

Presas no viveiro

Pombos livres ao chão

Penso até estar em piso de Londres

Poemas de Rogério Sena 7

ESPÍRITOS

Os espíritos não passam

De lágrimas e risos.

De todos se julgam

Ativo ou passivo.

Os espíritos vão sempre

Existir a insistir, enquanto

Todos os indivíduos de ter

Uma fé em morte e vida,

Como um sinal alegre e sinistro.

E por dentro se brigar

Se o bom e o mal e se o mal e o bom.

E ao pensar porque as chuvas e

Sol em uma catástrofe

Da tempestade e seca o incomoda

Poemas de Rogério Sena 8

ATOS

Rirei o pior riso que já ri

Sou maldito, Deus se não acredito, eu sou maldito.

Pronto já desabafei

Acabei a emoção

Você... você acha que falar é tudo

A minha longa escada dupla da vida

Em direção ao céu ou inferno

Virada para cima e para baixo

A base dos meus pés até dói

Guardando a pressão da escada dupla

Sinto a escada dupla da vida balançar.

Fico ouvindo uns sons retumbantes, um canto.

Que todos já ouviram na vida

Mas o balanço não a curvaria para sempre,

O canto é alto que faz até parecer

Que vão desmoronar a cúpula e descer para o inferno.

E não perecem se quebrar, embora tenha se curvado

Tão baixo tanto tempo.

Gostaria de ir subindo em direção ao céu,

Poemas de Rogério Sena 9

Até que a escada não aguentasse, e se vergar toda

Me recolocando ao chão

As duas coisas seriam boas

Tanto ir como voltar a nirvania

ESPELHOS

Inúmeras vezes tento não acreditar,

No que os olhos, coração e cérebro,

Que a cortesia da história

Faz-me mostrar

Nos homens que carregam em seus peitos

Um grande espelho que reflete silhuetas

De suas verdadeiras imagens...

Alguns se mostram tão magníficos

Que pajem, um passo forte de um soldado.

Como se estes estarem certos e límpidos,

Com ocultos olhares bofejados pela morte

Revetados, patenteados, condecorados e sepultados

Que se puseram nas mutações da terra, aos meteoritos

E galvanismos as circulações dos sangues, nas ondas das luzes,

Até a gravidade...

O que se mostra além do espelho,

São também outros

Que viveram e nasceram repetindo as mesmas coisas,

Poemas de Rogério Sena 10

No presente e no futuro

E se julgaram patriotas, pelas lutas idiotas,

Aos direitos de cinco palmas numa cova

Ornamentadas de desconhecidas rosas e vinte e um salmos

De tiros de guerras,

Onde os homens se vestem de suas vestes, de papéis ou de bornéis,

Se achando donos da terra, mar e quem sabe até do céu

SERPENTINAS

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar

E comemorar os martírios inconscientes das crenças

Serpentes grandes: boca de males nos dentes,

Que tem só um ponto ideal, ambições, e como sempre,

Desejos macabros nas visões...

Sob as arcarias das sobrancelhas: odeio de quando de malefícios

Se aparelhas nos momentos festeiros.

Aos sons de violas, cuícas batuques e pandeiros,

Tangidos como se fosses legítimo brasileiro

Abjuro as utopias, abro as pálpebras para a visão,

Que me desarranjava no sonho de olhos hipnotizados

E lhe digo que que tua alma se vai

Que bata no teu peito:

Uma lança o notificando...

Com todas as pompas de pecados de outros carnavais

Poemas de Rogério Sena 11

De remorsos que fez rirem e chorarem.

Vai, vai para a onda dos mares, porque já é a quarta estrofe

É como quarta feira de cinzas, está acabado

SEPARATA

Um segredo tenho

Quando vem a sina

Como vozes que vem

Lá de cima e me mostram

Parecendo um clima de mediunidade

A que todos tiveram na terra

Nas suas personalidades.

Sonho com sons cansados

Morro com os consolos dos mortos

Que como uma navalha de gelo,

Que corta e aniquila pulverizando

As ideias sombrias, escuras ou claras.

Que apenas pretendia mostrar sem nunca importunar

Ou hipnotizar...

E vagueia nos meus olhos, lágrima.

Poemas de Rogério Sena 12

Sentido tão magoado desta vida

Em que me corta e não dando nada em troca

Ao céu até tento bater nos olhos e rogar uma prece.

CARRUAGEM DE FOGO

Minha alma que tinha

Liberta a vontade

Agora já sente um

Queimar de saudade

Busco em lembranças

De muitas coisas vividas

Em muitos caminhos percorridos

Sonho a voltar à infância

A mata virgem

A serra viva

A máquina vem

O concreto monta

O progresso é que conta

Os casebres que descem

Poemas de Rogério Sena 13

Os prédios que sobem

Os pedestres que morrem

Nos asfaltos que cobrem

O chão de barros que correm

Os passarinhos que vão

Pras gaiolas e dali

Ao céu não se vê mais

O verde só nas paredes

Ou nas mãos negras

Das portas bandeiras

Das escolas de samba brasileiras

Mata o Beija-flor

Serra a Mangueira e o Salgueiro

Máquina do Império Serrano

Concreta a Imperatriz para o progresso

Da Mocidade Independente

Unidos da Vila que descem

Caprichosos que sobem

As Rosas que morrem

Nos jogos que cobrem

Os carnavais de carruagens de fogo

Dos pobres que neles concorrem.

Poemas de Rogério Sena 14

LAMENTO DOS RIOS

Quando vi meu leito esplendido,

A morte de meus peixes violentamente

Pela ganância do instante do tempo

No derrame da indústria de sempre

Um leite espumoso irritante

Uma revolta torna latente

No que destrói dentro da vida intima da gente

Na agua fria e corrente

Agora parada e quente

Caio numa vida minguante

Não sou mais lua mais lua crescente

Sou uma estrela cadente

Poemas de Rogério Sena 15

Afetada pelos raios marcantes

Do mercúrio ardente

No repúdio dos rios do mundo

Promete uma vingança de tudo

Ao ver o tamanho absurdo.

DESEJOS

Dos beijos já sinto desejos,

De um crime; que me foram

Roubados perfeitos

Dos abraços já sinto atraços

Que deixaram marcas como

Cortes de navalhas...

Dos teus seios sinto falta

Do leite e cheiro que me

Lembra quando ainda usava frauda

Do sexo sinto um ébrio

Que me embriagava como

Poemas de Rogério Sena 16

Se toma muito vinho

Oferecido me na taça

No corpo sinto-me morto

Por não ter mais o teu

Amor que se foi...

ALEGRO

era quinta ou sexta ou sábado?

Ah, sei lá, entrei assim mesmo como

Se não quisesse nada e pedi uma carteira de tabaco

E também um trago de uma garrafa amarga

Bem, acho que era mesmo sábado

E a bebida descia goela abaixo,

Como um perfeito veneno de um condenado

Os insetos : eles ali não estavam mais e

Felizmente eu poderia falar em voz alta

Uma coisa banal sabendo por mim mesmo

Poemas de Rogério Sena 17

Que ninguém queria ouvir – me

Que eu fale bem ou mal de modo que a ti igual,

Que ninguém também saiba a mim a você espera

Discretamente formosura a mulher amada

Enquanto com a gentil cortesia do ar que com

Frescor a namoro me espalha a lira de esperança

Brilhantemente quando passo contigo

Goza gostosamente

Te que tu tem ainda a flor da mocidade,

Que o tempo trata com toda sua ligeireza

Tentando imprimir como em toda flor pisada

Não, não aguardes que madura – lhe a idade

E não converte nesta flor tua beleza

De dentro da sua espiritualidade,

Em terra, em cinza, pó , sombra, ou em nada

Sentado neste lugar

Quando o sol no poente

Me despeço e o mundo é tomado de surpresa

A gente olha pra cima

E vê umas coisas voando

Entre o dia e a noite andorinhas

Entre o dia e a noite, andorinhas.

Como novelo de linho escuro costurando

Cada sombra a outra, onde a luz se intromete ainda

Pois bem, vamos fingir que nada sabemos

E vejamos quem ganha neste astuto jogo de blefes:

Poemas de Rogério Sena 18

O homem ou o mosquito

Nada sabe que eu existo

E nem sei que tu existe

Então vamos brincar de amor.

EXALTAÇÃO

Como é tão bom estar com você

Ouvir e amar todas as coisas que

Você disse e faz é tão bom ver

Você mostrar a paz

Em todos os sentidos

Já estou convencido

Você me traz emoção

Dentro do meu coração

Poemas de Rogério Sena 19

És algo tão natural

Que se torna normal

Amar você é uma arma contra todos os males

A noite vai chegando

Pelo teu nome

Vou clamando

Como uma oração de insônia

Na escuridão

Você como um sonho vem a iluminação

Como é tão bom estar com você dentro do coração

Você nunca será um passado deixado

E será sempre um presente amado

E no futuro viverá para caminhar a meu lado

ESTILO

Agora transbordante de vida

Sólido e visível

Dedico estes cantos

Tenho a impressão de que estou morrendo.

Para terminar, eu envio o que vem depois de mim

Oh, como tudo isto me envolve por todos os lados

Desbravarei caminhos por minha própria conta

Poemas de Rogério Sena 20

Oferecerei a todos o meu estilo

Que percorri os caminhos de passe confiante

Lanço meu grito elétrico recorrendo a atmosfera

Avanço em marcha desabalada, mas me detenho

Ponho a prova os músculos do cérebro

Findo o que resta apenas um eco melodioso

Acomodado em meu túmulo

Alguém que morrera pela verdade.

Nem vi nunca estive no céu

E nem vi Deus

Saem de mim sem valor desconhecidos.

NIRVANIA

Voa bem alto, quase a se perder de vista

Meu pássaro pensamento e volta trazendo

Em minha boca de palavras sábias para cantar

E mostrar em versos vários tons, os caminhos a nirvania

Bem baixinho eu vou tentar contar e mostrar

Poemas de Rogério Sena 21

O que trouxeste lá do alto, ao modo das palavras

Ouve-se em silêncio no neurônio central, como se

Estivesse cantando um lindo livre passarinho na árvore do quintal

Mantenha a mente sã, profundamente e respire

O oxigênio limpo que esta virgem mata, o ar , o ar

Ajeita-se devagarinho a coluna cervical

E colocando em posição ereta e o coração tranquilo...

E deixa voar seu pensamento para o além

Que você ouvira as vozes sábias de vários tons à nirvania

Lados abertos

Atlantes ao

Badalar que

Induzirá todo

Objetivo do teu

Saciar

Poemas de Rogério Sena 22

Notável és

Apreciada é

Desejada ao

Erotizar-te o

Galvanismo que

Adjetiva todo

Sensualismo em você

Alvado a tornaria

Ninfomaníaca

E o ufania

Ao lhe saborear

Preferido sempre

Ereto

Nedio quando

Infubula a tua

Sede

Histórias e tradições

Importância nenhuma

Membrana apenas que

Esconde a incerteza de nunca amar totalmente

Semente

Especial

Metempsicose que lhe

Envolve tão nirvaniamente

Poemas de Rogério Sena 23

MENTIAS

Caminha para mim

Para as coisas aonde é

O extremo do meu ser

Poemas de Rogério Sena 24

O sentir do viver e o morrer

Ao ver aquelas mesmas velhas prosas

Serem ouvidas como novidades por idiotas

Como nunca, nunca houve derrotas,

Mas sim, sim, muitas vitórias

Nunca chorar por tristezas ou

Por sementes e alegrias...

Para onde vamos parar com

Tantas mentiras em que faça

A nos acreditar que mentias

Mente, mentias, mentirás, mentemente...

SUPLÍCIO

Os ossos já gemem

Os sonos já chegam

Poemas de Rogério Sena 25

Os passos já não se movem

E nem já espero mais um trem

Deus meu deus

De crentes descrentes

De católicos apostólicos

De espíritas e xiitas

De cristãos ou budistas

E de outras seitas que exista

Tudo, tudo que quero é ti

Nesse início ou último dia

Dos cotidianos de uma vida

Sem pais, sem choro

Sem filhos

Quero festas, que nunca tive.

Não chores sorria sorrias

Estou passando para outro plano,

Ou estou chegando

Ao espaço ou embaixo, digamos:

Vida viva, morte morre, fica em vós

Vida morte, viva morre

PIEDADE

As infelizes vem chegando de todos os lugares

Poemas de Rogério Sena 26

Carregando um abafado e interno sonho

São famintas são cativas da vida afetiva

São morenas , louras, negras, ruivas

E todas as raças mais

Expulsadas do jardim do éden

Que sempre as consome

Fecundando-lhes os ovários

Nos seus dias de cios

São Evas são Adões

São Marias Madalenas sem perdão

À chama de tudo que no signo da palavra

É absurdo e soturno e maligno

Por sem detalhes oferecer-lhes tudo

No olhar da estátua que ri e chora

Para padecer perdão pelo mundo

Das infelizes aceita convites para torna-las felizes

Dos adultos aceita convite para torna-los potentes

Dos deficientes recebe convites para torna-los eficientes

Dos adolescentes recebe convites para torna-los adultos

Das outras recebe convites para se tornar suas utopias reais

Das outra recebe convites para tornar sua loba

Talvez até um poeta surpreso a convida ao poema dizer amem

Depois de todas essas cadeias de martírio

Destas crucificações de sua honra para os iguais e desiguais

Normais e anormais

Agora na rua lua de todas as luas cheias, novas

Poemas de Rogério Sena 27

Crescente e minguantes

Sente a decadência (aids)

Sente ausências das adorações serenas sente agora

O gosto salgado na boca da lágrima que chorava até doce

Nesta vida dura da forçada profissão mais antiga do mundo

A Deus roga piedade e perdão por estar nesta posição.

BRIGUELA

Poemas de Rogério Sena 28

Sentado neste lugar

Quando o sol no poente

Se despede e o mundo é

Tomado de surpresa

A gente olha pra cima

E vê umas coisas voando

Entre o dia e anoite

Andorinhas como novelos de linho escuro

Costurando cada sombra a outra

Onde a lua se intromete ainda

Pois vem vamos fingir que nada sabemos

E vejamos quem ganha neste astuto jogo de blefes

O homem ou o mosquito

Não sabe que eu existo

E nem sei que tu existes

Então vamos brincar de fantoche.

Poemas de Rogério Sena 29

APOTEOSE HUMANA

A mata virgem

A serra viva

A máquina vem

O concreto monta

O progresso é que conta

Os casebres é que crescem

Os prédios que sobem

Os pedestres que morrem

Nos asfaltos que cobrem

Os chãos de barro que,

Agora é do que nele corre correm

O passarinho que vai

Pra gaiola e ali

Ao céu não se vê mais

O verde só nas paredes

Ou nas mãos negras da porta bandeira

Das escolas de samba brasileiras

Mata o beija flor

Serra a mangueira

Máquina do império serrano

Concreto da imperatriz para o

Progresso da mocidade independente

Unidos da vila que descem

Poemas de Rogério Sena 30

Os caprichosos que sobem

As rosas que morrem

Nos jogos que cobrem

O carnaval dos pobres

Que nele concorrem

Para a apoteose de Niemeyer

No monumento como a águia

Se torna rainha e não

Sai mais.

Poemas de Rogério Sena 31

“CONFETES”

Chamam-lhe Pelé, zé, pivete

Um pé de moleque que vende na grande cidade

Por ter na derme

A marca da escravatura e

Viver na miséria

Numa imensa e farta terra

Enquanto na crua escola muda

Onde um sonho brotara em volúpia

Em ser um doutor daquela flor

Em que a professorinha

Com tanta ênfase

Do livro a ele

Uma bela poesia declamou

Ao enamorar-se desta

Sentiu uma ânsia

Que poderia ter asas

Comum a todos os anjos

E voaria aos céus distantes

Encantando

Profundamente os grandes

Mas ao notar que estas asas ansiosas

Não surgia no corpo

Poemas de Rogério Sena 32

Onde não devia

Normal a todos os anjos para voarem aos céus

As asas surgiram em outras partes do corpo

Sim, sim aos pés que apenas os serviria para

Voarem um pouco acima de uma bola esportiva

Não, não nos lugares em que ensinava a muda escola

Agora, agora serve apenas para as escolas de sambas

Onde se torna parasita ou atleta bamba

Para poder voar na cidade dos grandes

O9nde a polícia não prende os grandes culpados

Dessas asas surgirem em partes tão distantes

Poemas de Rogério Sena 33

SONHO E HORA

À Ana Cristina César

Ah como fugiste desta atmosfera

Foi assim como as aeronaves alienígenas

Parece que só a noite escutou tuas palavras

Que saia de tua alma

Semelhante a uma caudas do cometa brilhante

Como uma musa que inspira poesia

Quem sabe?

Mesmo até pelas fotografias, Ana

Que às vezes parecem tão frias

Que abjuro a uma fantasia

Assemelho-a

Como Cleópatra

Qual teve teu Marco e Cesar

A lutarem pelo amor do teu sorriso

A inteligência em ti será sempre a tal

Que tua alma não sei por que

Esquivou-se desse ideal

Aprisionando a esperança no peito de uma serpente

Numa rara fulgência da poeta

Poemas de Rogério Sena 34

No sonho tropeça-te

Ao mundo que é jogado a teus pés