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Poemas de Sophia

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Page 1: Poemas de Sophia

Os dias de Verão

Os dias de verão vastos como um reino Cintilantes de areia e maré lisa

Os quartos apuram seu fresco de penumbra Irmão do lírio e da concha é nosso corpo

Tempo é de repouso e festa O instante é completo como um fruto

Irmão do universo é nosso corpo O destino torna-se próximo e legível

Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem

Como se em tudo aflorasse eternidade Justa é a forma do nosso corpo

Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem: Umberto Boccioni

Page 2: Poemas de Sophia

Sacode as nuvens

Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos, Sacode as aves que te levam o olhar.

Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras. Porque eu cheguei e é tempo de me veres, Mesmo que os meus gestos te trespassem

De solidão e tu caias em poeira, Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras

E os teus olhos nunca mais possam olhar.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem: Maki Horanai

Page 3: Poemas de Sophia

Quem és tu

Quem és tu que assim vens pela noite adiante, Pisando o luar branco dos caminhos, Sob o rumor das folhas inspiradas?

A tua perfeição nasce do eco dos teus passos, E a tua presença acorda a plenitude

A que as coisas tinham sido destinadas.

A história da noite é o gesto dos teus braços, O ardor do vento a tua juventude,

E o teu andar é a beleza das estradas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem: Misti Pavlov

Page 4: Poemas de Sophia

Tarde

O que eu queria dizer-te nesta tarde

Nada tem de comum com as gaivotas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem: Suzanne Nocera

Page 5: Poemas de Sophia

Poema de amor de António e Cleopatra

Pelas tuas mãos medi o mundo

E na balança pura dos teus ombros

Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem: John William Waterhouse