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Poemas
flores e amores
Cláudio Roberto de Pinho
Créditos
Capa: PerSe
Diagramação: PerSe
Fotos: Mirian Malzyner
Cláudio Roberto de Pinho
Poemas flores e amores
Primeira Edição
São Paulo
2013
Prefácio
Poemas Flores e Amores: Lirismo, nostalgia, eternidade
A poesia de Claudio Roberto de Pinho é uma doce recusa à urgência, ao tumulto, à aceleração e à artificialidade da vida contemporânea. Hoje, o grande gesto de coragem e ousadia é responder aos excessos modernizantes e tecnológicos com a suavidade da poesia evocatória, com o pensamento e a metáfora prenhes de nostalgia, com o lirismo, o romantismo, o culto à beleza, com a crença, a fé, a transcendência.
Poemas Flores e Amores ousa ser este delicado reduto de resistência a um mundo de rudeza e violência tendo por arma a doçura, o afago, a devoção, a sutileza, a emoção. Os poemas deste livro nos conduzem de volta a uma realidade bucólica, delineando uma Natureza intocada, tal como nossa Gaia deveria ter permanecido para sempre. É um tributo “à sinfonia da vida”, que se revela e desvela nas coisas pequenas, as quais povoam nosso humano e terreno planeta. É um convite a que nossos poros se abram à experiência dessa sinfonia por meio da mais poderosa arma que a experiência nos oferece: o amor.
O alvo deste amor se encarna no princípio feminino. Este surge na poesia de Claudio Roberto de Pinho idealizado, sublimado, eternizado. Por vezes, o que é etéreo é flagrado em problemas curtos e compactos, os quais parecem endossar a máxima de Ezra Pound, segundo a qual, poesia é igual a condensar.
Caminhando entre o intangível, transcendente e o tangível, o natural e o passional, o poeta atinge “a claridade do infinito”, o “sol que deflora”, a “lua grávida”. Na sua poesia, tudo brilha, a treva se ilumina, a noite se enche de luz.
O leitor percorrerá com gratidão esta rota de suavidade e doçura. E não só poderá conhecer o que já está inscrito e escrito, mas também antecipará aquilo que está por nascer. Ou, na voz do próprio poeta, aquilo que resistiu à escrita: “Cada vez gosto menos daquilo / que eu escrevo / Cada vez gosto mais daquilo / que eu deixei de escrever”. Bela rota. Em direção ao inatingido e ao inatingível. Vislumbre do eterno.
Silvia Simone Anspach
Sumário
Caminho da Roça ____________________ 11
Maturidade _________________________ 13
A Dama da Noite _____________________ 15
Minha Mulher ________________________ 16
Perdido ____________________________ 17
Registro ____________________________ 18
Plantação ___________________________ 19
Verde ______________________________ 20
Flor Feminina ________________________ 21
A Liberdade e suas Nuances ____________ 22
Mulher _____________________________ 23
A Morena e o Tecelão _________________ 25
O Mar e a Moça ______________________ 26
Longevidade ________________________ 27
Hora Vazia, Hora Morta ________________ 28
Confuso ____________________________ 29
Desejo _____________________________ 30
Cinzas da Quarta-Feira ________________ 31
Tributo à Bahia ______________________ 32
Música da Vida ______________________ 33
A Princesinha ________________________ 34
Onipresença ________________________ 35
Incertezas __________________________ 37
Menina dos Olhos ____________________ 38
Meu Tesouro ________________________ 39
O Amor que a Vida Traz _______________ 40
A Esperada _________________________ 42
Clareza ____________________________ 43
Metamorfose ________________________ 44
A Flor do Dia ________________________ 45
Uma Primavera de Verão ______________ 46
Flores de Maio _______________________ 47
Sua Imagem ________________________ 48
Onde Está? _________________________ 49
Concepção __________________________ 50
A Luz do Mundo ______________________ 51
Rejeição ____________________________ 52
O Poeta Confuso, o Pássaro Sem Asas e a Bailarina que Perdeu o Tom ____________ 53
Imaginação _________________________ 54
Inconsciente, Sonhos, Verdades e Mentiras 55
Eterna / Idade _______________________ 56
Clariceando _________________________ 57
O Véu, o Ventre, o Corpo e a Dança _____ 59
Morenar ____________________________ 60
Sonhos de Outono ____________________ 61
O Sol e a Lua ________________________ 62
O Guerreiro foi Vencido ________________ 63
Pela Janela, numa Manhã Qualquer ______ 64
Meu Infinito, meu Fim _________________ 65
O Caminho _________________________ 66
Sagrado e Profano ____________________ 67
Carinhoso __________________________ 68
Mãezinha ___________________________ 69
Menina e Mulher _____________________ 71
A Voz do Silêncio _____________________ 72
Desmedida Infidelidade ________________ 73
Loucuras de Amor ____________________ 74
Paralisia ____________________________ 75
Fada de Luz/Ave Sagrada ______________ 76
Lamentações Palestinas _______________ 77
Lágrimas Amargas ____________________ 78
Brincando de Brincar __________________ 79
Perguntando as Respostas / Respondendo às
Perguntas __________________________ 80
Nas Minas do Horizonte ________________ 81
Mortalha ___________________________ 82
Vida Bela, Vida Boa ___________________ 83
Alma Seca __________________________ 84
Amando o Amor _____________________ 85
O Poeminha de Papel _________________ 86
Descaminhos ________________________ 87
Caro Poeta __________________________ 88
Jardim dos Sonhos ___________________ 89
Versos Adormecidos __________________ 90
Ausência Envelhecida _________________ 91
As Quatro Estações ___________________ 92
Remanso ___________________________ 93
A Lua e Eu __________________________ 94
Quem me dera... _____________________ 95
Poemas flores e amores
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Caminho da Roça
Chora o dia uma saudade inquieta, sentida ausência de passos vazios.
A ânsia e o frêmito de um passado vivo e latente, lembranças que vêm
a galope brincar e bailar nas minhas recordações juvenis. O caminho da
roça eu ainda guardo em segredo no meu livro de memórias e o cheiro
da terra molhada continua impresso no ar que eu respiro.
O pasto verdinho onde eu colhia e bebia o leite matinal
e o vento assoviando uma cantiga antiga no bambuzal. Me
lembro das frutas maduras colhidas no quintal do vizinho e o canto do
passarinho livre sem gaiolas a aprisionar. A macieira em flor pacientemente espera para oferecer
um novo sabor e a preguiça na rede ao cair da tardinha. A roupa
lavada a mão a secar no varal, eu ainda vejo as margaridas nos
jardins despertando a beleza para olhos vidrados admirar. Os
balões coloridos iluminavam o céu de inverno e a fogueira
ardendo nas
Cláudio Roberto de Pinho
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noites frias de São João. A lua morena, cheia, dengosa e serena no céu orgulhosa
se fazendo notar. São fotos, imagens que trago coladas
nas minhas retinas, um menino que pulava e corria alegre e feliz.
Mas o futuro chegou apressado, rápido e sorrateiro, passado
distante que falta você me faz!
Poemas flores e amores
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Maturidade
Na casa o fogão era a lenha, as panelas de barro, o piso feito com sobras de madeiras, as camas eram folhas de coqueiro que serviam como esteira, o telhado, coitado, cheio de buracos e goteiras, até dava pra ver um pedacinho do céu salpicado de estrelas. A vida era lenta e suave feito um trem que nunca chega à estação. Recordações e saudades que hoje na maturidade eu aceito com dignidade que elas se foram e jamais voltarão. O leite, o jornal, o pão, de manhãzinha, eram deixados no portão. O almoço de domingo era sagrado, toda a família reunida em volta da mesa em santa comunhão. Dias felizes, paz, harmonia, amizade, união. Pobreza é não ter o que lembrar, é chegar ao final da vida vazio sem história pra contar... É não poder compartilhar antigas lembranças, sorrisos, lágrimas, fatos e fotos que os olhos já cansados continuam a enxergar.
Cláudio Roberto de Pinho
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Poemas flores e amores
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A Dama da Noite
Seu perfume, meu sabor. Seu jardim, meu canteiro. Minha dama da noite, flor da madrugada, lírios, rosas azuis, margarida desfolhada. Existe uma mulher tão linda como você? Não sei! Os meus olhos se recusam a enxergar e o seu canto paralisador, sereia carmesim. Âmbar, esmeraldas a reluzirem, a clarear. Seus encantos estão sempre nos meus olhos e só então eu percebo o que é belo. (Art Nouveau) obra de arte é seu retrato emoldurado, Dalí numa tela surreal. Macio corpo feminino, delicada maçã escolhida nesse pomar tão numeroso. Então te ofereço meu beijo, meu leito, meu gozo e o meu amor de colhedor faminto, de curador guloso.