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303 Poesia Poesia Sergio Luiz Moreira Rumores de asas Sob o foco de luz de um verso antigo, palavras são insetos cintilantes fugindo ao comodismo das estantes, fingindo abandonar o próprio livro. Vejo as palavras livres, ao abrigo desses remotos brilhos viajantes. O passado tem lá os seus rompantes de poeta a um só tempo amargo e amigo. Onde irá a poesia, quando forem as palavras pousando já cansadas e foco algum de luz, memória ou nada puder reavivar os seus fulgores? Onde está a poesia, além de estar esvoaçando aqui em meu olhar? Carioca, engenheiro elétrico. Publicou os seguintes livros de poesia: Escape (1984); A árvore amorosa (1996); Trilhas urbanas (1998); Quintal do tempo (2009); Safra e entressafra (2010) – prêmio Jorge de Lima da UBE. No mesmo gênero, estão no prelo Costurando nuvens e West Side.

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Po e s i a

Poesia

Sergio Luiz Moreira

Rumores de asasSob o foco de luz de um verso antigo,palavras são insetos cintilantesfugindo ao comodismo das estantes,fingindo abandonar o próprio livro.

Vejo as palavras livres, ao abrigodesses remotos brilhos viajantes.O passado tem lá os seus rompantesde poeta a um só tempo amargo e amigo.

Onde irá a poesia, quando foremas palavras pousando já cansadase foco algum de luz, memória ou nada

puder reavivar os seus fulgores?Onde está a poesia, além de estaresvoaçando aqui em meu olhar?

Carioca, engenheiro elétrico. Publicou os seguintes livros de poesia: Escape (1984); A árvore amorosa (1996); Trilhas urbanas (1998); Quintal do tempo (2009); Safra e entressafra (2010) – prêmio Jorge de Lima da UBE. No mesmo gênero, estão no prelo Costurando nuvens e West Side.

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Sergio Luiz Moreira

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Porta chuvaEsta chuva caindo, não se sabese é para envelhecer a pitangueiracom o branco das flores, não se sabese é para entristecer a sexta-feira.

Esta chuva, esta porta que não abree a manhã de si mesma prisioneira.A poesia fluindo, não se sabese vai de uma fronteira a outra fronteira.

Esta chuva, esta sombra derramadasobre coisas precárias como nós,tornando mudo o canto, muda a voz.

E tudo mudo, resta à chuva o nadapara cantar ou não o seu dilemade entristecer sozinha no poema.

O hospedeiroNas pipas empinadasmora o subúrbio.

Nas mangueiras carregadasno fundo dos quintaismora o subúrbio.

Nos paralelepípedosdas vilas acanhadasmora o subúrbio.

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Poes ia

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Nas peladas de ruanos olhos amendoadosdas namoradasmora o subúrbio.

Nos sonsnos cheiros vivosdas coisas inacabadaso subúrbio moraem mime dóide tão calado.

Nas entrerrimasProcurar uma rima para amordentre todas as rimas tão vulgares,tão vivas. Flor de ritmos estrelarese faiscante cor, crescente amor.

Lua, luar, nudez de todo amor,este ar que falta agora ou outros arese mares e marés, dragões solaressubindo pela espinha, ardor de amor.

Também ardil e dor, clima e anticlima,sabor de fim de festa, fim de linha,outro quebrado andor, morta andorinha.

Procurar um amor para uma rimae reencontrar, na imagem procurada,a visão sutilíssima do nada.

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Sergio Luiz Moreira

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Fábrica paradatudo tão igualque parece inéditoa mesma temáticao mesmo descrédito

palavras varridaspor um sopro assépticoo falso equilíbrioe sentido estético

a falta de estiloo metro assimétricoo verbo perdidoo verso patético

e o poeta forade prumo poéticocomo um anjo longede seu céu e séquito

Baile de máscarasMuitas vezesconfuso entre escolhera pele do cordeiro ou a do lobo.Afinal, todas as camuflagenscaem como luvasou não caeme dá no mesmo.Quem vai perceber,

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se o baile é de máscaras?Mascarada,deixa-me ver teus disfarcespor baixo da máscara!Deixa-me querer,não o que transpiras de verdade,mas o que me inspiras!Deixa-me transformar-menuma de tuas fantasias mais secretasou nelas todas reunidas!Reparacomo me dou a ti, negando a doação;como te dás a mim, sem te mostrares;como nos damos a todos, ocultando-nos.Deus meu,quanto me escondo de mim mesmo!Por que não me esconderia de vós?

Arte de ouroDe manhãzinhao ouro novoroubo-o todopara o cantovindouro.

Vindo o ourovenha o versoque o ilustre e lustrecomo um solduradouro.

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Sergio Luiz Moreira

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Dourado o ourono áureo olhoda poesiadevolvo o rouboao nascedouro.

Ver/de virarOs olhos nunca mais viram balõesnem pipas nem papéis ao vento virambrinquedos, inocências, liberdadesde vivas cores mortas de saudades.

Os olhos nunca mais viram do avessotravessos, travestidos de visõesos olhos veem e não e cegos voltamo tempo para o tempo poder vê-los

se viram verdes, vastos e vadiosestes olhos repletos de horizontesou viram cinzas e desolações

outros olhos paupérrimos de sonhos– meninos nunca mais viram balõesnem virarão nem pipas nem verão.

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Po e s i a

Graduada no Direito, mestre em Literatura Brasileira, doutora em Letras Vernáculas / Literatura Portuguesa. Dedicou-se ao estudo dos textos poéticos, especializando-se n’Os Lusíadas, sobre o qual publicou o livro O Canto Molhado e ensaios em periódicos acadêmicos. É investigadora do Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra e do Instituto de Estudos Portugueses da Universidade Nova de Lisboa.

Poesia

Luiza Nóbrega

PartidaOs pássaros fechavam suas gargantase adormeciam. A Rainha cruelobrigava-me a jogar.

– Tenho sono – implorei –deixa-me dormir!

Mas ela não consentiue jogamos até o amanhecer

Ainda que pareça obscuroeu creio que minha mortedecidiu-se naquela partida.

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Luiza Nóbrega

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Eu e os bichosImito a abelha:ela no mel,eu no pincel.

E a borboleta:Ela nas florese eu nos horrores.

Depois o cão:ele no osso,eu no almoço.

E o elefante:Desengonçado,mas triunfante.

Só não o bichano:bicho tranquilo.Como segui-lo?

Nem o escorpião:bicho inclementee eu displicente.

TartarugaEncontrei a tartarugacujo projeto era a fuga.

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Poes ia

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1. LauraLaura era aquela que morava num sobrado.Seu pai tinha o peito levantado do soldado,a mãe tinha o ar sério e desconfiado,os irmãos andavam não de frente mas de lado.Vocês se lembram? A Madre Inês Alcoforadodizia: – com essa há que se ter muito cuidado.

DestinoVês essas éguas mansasque pastam no ermo?Tu te assemelhas a elas.Transformei tuas mãosem aves, em velas.

Teceste teu pano,fizeste um engano.Deixa partirem as aves,acende as velas.São de fogo as estrelas.Tuas mãos são de águas,não guardarão nem tuas mágoas.

Nada terás, nada queiras.Repara nas aranhas fiandeiras.

Nem as tristezas são tuas.Aceita-te das praias nuas.

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Luiza Nóbrega

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GatosOs meus dois gatos são filhos da neve,antiguidades de loja chinesa.Ligeiros seguem minha mão que escrevea deslizar sobre a face da mesa.

São brancos e graúdos como lebres,rosas nas patas, ouvidos, focinhos.Na alta noite são tangidos por febrese saltam sobre um chão cheio de espinhos.

Os gatos sonham, têm pesadelosde peixes, pombos, ratos, cães, novelose de outras eras desaparecidas

que eles trazem na ancestral memóriae esfregam, como seus troféus de glória,em longas e fleumáticas lambidas.

QuedaFoi uma flor soberba, triunfante.Ao chão lançou solitário desprezo.O desdém – rouge em seu frio semblante –cintilava como um palácio aceso.

Ai! Que das rosas trágico é o destino,tão presunçosas mas tão indefesas!Seu rico veludo, seu traje tão fino,despedaçado sobre chãos e mesas!

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Poes ia

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Culpa do vento, do inverno, das feras,das mãos humanas, tensas e ansiosas,que tudo trama a desgraça das rosas.

Breves se vão ruidosas primaverase a rubra febre jaz na pedra dura.Assim tombou a flor de sua altura.

VexameOlhem só o vexame.Reparem – que horror!Era o palco da vidae ela escorregou.

Convidada para a festatropeçou à partidae bateu com a testana soleira da vida.

Essa moça sem regrashoje anda em apuros.Sua vida é um barco todo cheio de furos.

De vexame em vexamedespencou do degraue foi ter com os cãesnum fundo de quintal.Au! Au! Au! Au! Au!

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Luiza Nóbrega

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MascaradaMamãe – quero um casaco cor de sanguerasgado em seda pura cintilante.Papai – quero um vestido cor de trevaigual à que meu peito levaigual à que meu peito leva.

Mamãe – eu vou virar velocidade.Papai – ninguém vai me encontrarEm nenhum ponto da cidade.

Do jeito como ando não é possívelsó há uma saídaé virar invisível.

A noite é tão escuraa rua é tão desertaa dor não tem mais curaa solidão me aperta.

Eu ando bem vestidaeu ando perfumadanão sou reconhecidasó saio mascarada.

A noite me estimulaa treva me resguardaeu mudo de figurameu brilho se propaga.

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Poes ia

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Mamãe – quero um casaco cor de sanguerasgado em seda pura cintilante.Papai – quero um vestido cor de trevaigual à que meu peito levaigual à que meu peito leva.

Tarde à flâneurAo cabo de alongado período ausenteretorno à livraria que frequenteiquando levava vida mais convenientee sento-me à poltrona onde muito sentei.

Mas cá não venho – como outrora – comprar livros.Sequer suspeitara-me aqui neste momento.Como, porém, sobraram-me duas horas livres,achei por bem vir transcorrê-las a contento.

Rapazes de óculos, cavalheiros de terno –malgrado a crise, persiste um movimento.À poltrona onde sento vem-me o sentimentode regressar – enfim – duma saison no inferno.

Quem dera eu fosse uma escritora de famacomo essas que há por aí – ai! Quem dera!Mesmo que dos cafés noturnos gauche damaaureolada em mistério – isto é que era!

Que se deu com a minha vida afinal –foi destino ou desleixo? Recusa ou mau jeito?Onde os leitores curadores do meu mal?Ai! Hoje por força ponho isso direito!

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Luiza Nóbrega

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Sento-me à poltrona e folheio Orpheu –Pessoa, Almada, Campos e o Sá-Carneiro.Um tipo ao lado confere o que escolheue com a outra mão deita a cinza ao cinzeiro.

Salta-me à página em torpor e frissonum do Esfinge Gorda composto em Paris.É o Cinco Horas – um poema muito bomque sabe à menta e tem o traço dos croquis.

Sá-Carneiro eu fosse, comporia um poemacomo os escritos pelo órfico em Paris.Ai! Que esta vida hoje sai-me um pouco ao grise era o mesmo estar aqui ou num cinema.

Fosse eu ao menos alguém que se reconhece,um mito qualquer – específico prodígio!Se uma dessas coisas quaisquer eu tivesseque nos conferem admiração e prestígio!

Ai! Que a vida hoje sabe-me a tabaco louroestou quase que peço a taça com anis...E isto não é – bem sei – Lisboa nem Paris,mas tenho cá a Dispersão e Indícios de Ouro.

Há lançamentos na estante ao lado –Baudelaire por Benjamin agora é o que se lê.Em pé Rimbaud retraduzido e perfiladoapanho e abro – salta o Elle est retrouvée.

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Poes ia

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Enfim! Viva esta vida sem rumo ou meta,fiar o tempo de janeiro a janeiro.Sou um arqueiro a quem se partiu a seta,sou a seta lançada de um sumido arqueiro.

E viva afinal essa saga dos poetasque as horas sem emprego têm por suas.Gente de bordo – filósofos com canetas –perambulando em labirintos de ruas.

Ai! Que esta jornada à flâneur sai-me a cinema,a um fingimento qualquer de poemado Esfinge Gorda nos cafés de Paris –onde mesmo à deriva alguém se acha feliz.

Mas fosse eu alguém assim – com uma facereconhecida e já de todo aceita –se consentida imagem eu aparentassede modo a transitar – permitida e insuspeita –

aí, sim, é que a coisa ia valer a pena!Escrever textos cinquenta vezes cinquenta,até exasperar completamente a penae então dizer – vamos à taça com menta!

Pois dizem ser assim a vida – um mal sem cura,que se recomenda aturar com apatia.Seja lá como for, salve a literatura,em quem sempre se pode achar companhia.

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Luiza Nóbrega

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Tarde interposta em temporada à flâneur –acha-se o que fazer até mesmo no inferno! –Como se andasse a esmo num dia qualquer,ou estivesse outra vez em Lisboa no inverno.

E viva afinal este intermezzo ao acaso,passado com Orpheu, Baudelaire e Rimbaud.E viva esta antecipação ou atrasoque me fez à cabeça um certo torpor.

Horas com Mário, Pessoa, Almada, Baudelairee o voraz Rimbaud – na livraria ao ocaso,em tarde que sabe a estadia en enfer –eles lá e eu aqui. Faz sentido? Vem ao caso?

AsasSes ailes de géant l’empêchent de marcher

Podei as asas –era preciso.Perdi altura,ganhei juízo.

Boa notícia –planeta anão.Adeus espaços,bom dia chão.

Notícia boa –podei as asas.Voo mais baixo,caibo nas casas.

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Aparo as asas –estavam enormes!Que vale tê-las,mas não disformes.

Estão mais leves,mais diminutas,mais cautelosas,menos abruptas.

Menos agudas,mais contornadas,menos pontudas,mais disfarçadas.

Estão mais firmes,mais aprumadas.São uns bons remospara as calçadas.

Podei as asascomo os cabelos,que embaraçadosmelhor não tê-los.

Licença, pois –tripulação.Adeus espaços,sem proporção.

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Adeus risadas –povo do chão.Já não vos sirvode distração.

Podei as asas –melhor assim.No chão não possovoar... enfim...

Antes as asasdo papagaioque as de Ícaro –assim não caio.

No chão as asasnão servem bem.Um pé bem firmemelhor convém.

Podei as asas(estavam imensas),melhor não tê-lasque tê-las pensas.

Mas é precisoque deixe claro:ainda souum bicho raro.

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Cuidado ó vós –povo da linha.Fui albatroz,não sou galinha.

Podei as asaspor precaução.Adeus – alturas,bom dia – chão.

DilemaPorque eu era labirintocomigo me desavime hoje quando me sintosou posto em todo perigonão posso viver comigonem posso fugir de mimmal sem meio e mal sem fimperdi-me dentro de mim.

Nô maisNô mais, musa, nô mais, que a língua tenhodesidratada e seca de estertorese rouco me falece todo engenho.Como trovas entre tantos horrores?