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Poesia Concreta

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POESIA CONCRETA

1956 - 2006

FACULDADES JORGE AMADOCURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIALMônica Rodrigues da Costa

apresentação em aulas, 2007 , 2008 nas disciplinas: Semiótica Geral

e Semiótica Aplicada

Seleção de Poemas de: Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Apollinaire, Blaise Cedrars, Marcel Duchamp, Mallarmé, Maiakovski, Hans, Arp, Ezra Poud, Eugen Gomringer, Erthos Albino de Souza, Edgard Braga, José Lino Grünevald, Arthur Rimbaud, Seiichi Nikuni, Li Po (Rihaku), Matsuó Bashô em ensaio verbi – voco – visual realizado com a colaboração do poeta Paulo Pedro Pepeu

50 ANOS

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Poesia concreta, um manifesto

- a poesia concreta começa por assumir uma responsabilidade total perante a linguagem: aceitando o pressuposto do idioma histórico como núcleo indispensável de comunicação, recusa-se a absorver as palavras com meros veículos indiferentes, sem vida sem personalidade sem história - túmulos-tabu com que a convenção insiste em sepultar a idéia.

- o poeta concreto não volta a face às palavras, não lhes lança olhares oblíquos: vai direto ao seu centro, para viver e vivificar a sua facticidade.

- o poeta concreto vê a palavra em si mesma - campo magnético de possibilidades - como um objeto dinâmico, uma célula viva, um organismo completo, com propriedades psicofisicoquímicas tacto antenas circulação coração: viva.

- longe de procurar evadir-se da realidade ou iludí-la, pretende a poesia concreta, contra a introspecção autodebilitante e contra o realismo simplista e simplório, situar-se de frente para as coisas, aberta, em posição de realismo absoluto.

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- o velho alicerce formal e silogístico-discursivo, fortemente abalado no começo do século, voltou a servir de escora às ruínas de uma poética comprometida, híbrido anacrônico de coração atômico e couraça medieval.

- contra a organização sintática perspectivista, onde as palavras vêm sentar-se como "cadáveres em banquete", a poesia concreta opõe um novo sentido de estrutura, capaz de, no momento histórico, captar, sem desgaste ou regressão, o cerne da experiência humana poetizável.

- mallarmé (un coup de dés-1897), joyce (finnegans wake), pound (cantos-ideograma), cummings e, num segundo plano, apollinaire (calligrammes) e as tentativas experimentais futuristasdadaistas estão na raíz do novo procedimento poético, que tende a imporse à organização convencional cuja unidade formal é o verso (livre inclusive).

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Poesia concreta, um manifesto

- o poema concreto ou ideograma passa a ser um campo relacional de funções.

- o núcleo poético é posto em evidencia não mais pelo encadeamento sucessivo e linear de versos, mas por um sistema de relações e equilíbrios entre quaisquer parses do poema.

- funções-relações gráfico-fonéticas ("fatores de proximidade e semelhança") e o uso substantivo do espaço como elemento de composição entretêm uma dialética simultânea de olho e fôlego, que, aliada à síntese ideogrâmica do significado, cria uma totalidade sensível "verbivocovisual", de modo a justapor palavras e experiência num estreito colamento fenomenológico, antes impossível.

- POESIA-CONCRETA: TENSÃO DE PALAVRAS-COISAS NO ESPAÇO-TEMPO. (Publicado originalmente na revista AD - Arquitetura e

Decoração, n° 20, São Paulo, novembro/dezembro de

1956)

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... mallarmé (un coup de dés -1897), joyce (finnegans wake), pound (cantos-ideograma), cummings e, num segundo plano, apollinaire (calligrammes) e as tentativas experimentais futuristasdadaistas...

GUILLAUME APOLLINAIRE1880 -1918

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num segundo plano, apollinaire (calligrammes) e as tentativas experimentais futuristasdadaistas...

MARCEL DUCHAMP 1887 – 1968

pintura sobre vidroready madescartaz dadaista

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La Prose Transsiberienet de la Petite Jehanne de France, 1913

Pourtant, j’etais fort mauvais poète.Je ne savais pas aller jusqu’ au bout.J’avais faim.

No entanto, eu eraum poeta muito ruim.Não sabia ir até o finalEu tinha fome.

MODIGLIANI

BLAISE CENDRARS1887 - 1961

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Augusto de Campos

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1973

1953

1970

POETAMENOS

1960

ENIGMAGENS

EQUIVOCÁBULOS

1953

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ouça o poeta

POETAMENOS 1953

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POPCRETOS 1966

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flor da boca da pele do céu

pele do céu da flor da boca

céu da flor da boca da pele

boca da pele do céu da flor

1954 - 1960

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ENIGMAGENS 1973

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atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipliorganiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveraivivaunivoracidadecity cité

atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipli

organiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveraivivaunivoracidade

city

cité

atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipliorganiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenavelo

veraivivaunivoracidadecity cité

1963

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1961

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1965

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1975

Caetano Veloso

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1975

ouça o poeta

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2002

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Décio Pignatari

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r a t e r r a t e rr a t e r r a t e rr a t e r r a t e rr a t e r r a t e r r a t e r r a t e rr a t e r r a t e r ra r a t e r r a t e rr a r a t e r r a t er r a r a t e r r a te r r a r a t e r r at e r r a r a t e r r a

1958NOIGANDRES 4

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“Quem é que passa neste rio – ele ou eu? Rio da vida...Com barragens e barreiras de livros religião medo e um amor que se odeia a se mesmo, detive o ímpeto desse riso, inverti seu curso, joguei torrente contra nascente, agora é preciso derruir tudo – e partir!”

a, rosa e lixa maum perfume deio e os RR encium

Noa Noa Noa Noa Noa Noa

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Quando os raios do sol penetraram na caverna da mente deserta, pôs-se a lamber, bonita e coquete, o sangue das patas e do focinho; ao bocejar, exibia a sua terrível máquina dental e uma língua estupenda, rosa e lixa macia. Em ondulações de intensidade variável, um perfume denso acompanhava os movimentos do seu corpo e os RR enciumados: rru... rru... Como em mulher formosa, passava as mãos pelos pêlos da fera, dos cabelos à cauda nervosa de músculos sensíveis; arranhava devagar a nuca e os flancos sedosos e quentes; ela recolhia as garras nos estojos das paras feitos de veludo vivo, num ronrosnar de prazer: rru... rru... Artimanhosamente, entremostrava, exibia os seus indefiníveis encantos. O deserto passou a ficar como que povoado, passou a revelar-lhe todas as suas belezas sublimes – e a solidão, todos os seus segredos.

1992

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nossas (vozes de (corpo (se entediam)

e (o tempo (dentadura (vagarosa (das máguas carniceiras) vai cariando) e curando) a caicol) o sentimento)como os novos) ares) a um)

ovo furado

polpa (tremente e (surpresa (onde só

longe na pele a (minha (sua mão na (nucasentem o nu (do tato: (viram seus olhos esse (gomo (vermelho ( que eu fui na

onde (se vive um (corpo (inteiro (gozando de (gritar e (devorado?

e esse (corte na sombra (sorriso na

face de um (pêssego (inclinado

verna da mente desert

o sangue das patas

sua (boca

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Haroldo de Campos

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o azul é puro?o azul é pus

de barriga vazia

o verde é vivo?o verde é vírus

de barriga vazia

o amarelo é belo?o amarelo é bile

de barriga vazia

o vermelho é fúcsia?o vermelho é fúria

de barriga vazia

a poesia é pura?a poesia é para

de barriga vazia

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NASCEMORRE

senascemorre nascemorre nasce morre renasce remorre renasce remorre renasce remorre re

redesnasce

desmorre desnasce desmorre desnasce desmorre

nascemorrenascemorrenascemorrese

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umaunhade estóriao quartzocrescente

oolho centralrosácearosaberta

palafitassuspendemojejum

estesmínimosmins

sangrabertaa rosáceao olhoo centro ao sul

o azulcônsulruiu

tetopassárofogossolroxoorouxinol

uguísuum nítidorisco

suspenasapenaspenso

POEMANDALA

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na

gaiola do lá

entrar

sem que os

passáros-nomes

arrulhem

VIA CHUANG-TSÉ 1

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os cupins se apoderaram da bibliotecaouço o seu áfono rumoro canto zero das térmitasos homens desertaram a bibliotecapalavras transformadas em papelos cupins ocupam o lugar dos homensgulosos de papel peritos em celuloseo orgulho dos homens se abate madeiraroída

tudo é vão

a lepra dos cupins corrói o papel os livroso gorgulho mina o orgulhoassim ficaremos cadáveres verminosos

escrevo este elogio da térmita

POEMA QOHELÉTICO 2 : ELOGIO DA TÉRMITA

Crisantempo, 1988

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1.

se a mente é clarao quarto escurotem um céu azul :se a mente é escurao quarto claroescurece de sol

2.

o olho vê a mãoe não se vêo tacto é o olhoda mãoo olho táctila mão vidente

o tactolharda mão-olhotactilvê-se

Crisantempo, 1988

VARIAÇÕES SOBRE AFORISMO ZEN

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circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá

soando como um shamisen e feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para outros não existia aquela música não podia porque não podia popular aquela música se não canta não é popular se não afina não tintina não tarantina e no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria física e doendo doendo como um prego na palma da mão um ferrugem prego cego na palma espalma da mão coração exposto como um nervo tenso retenso um renegro prego cego durando na palma polpa da mão ao sol

circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá

o povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro da maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia azeitava o eixo do sol

circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá

e não peça que eu te guie não peça despeça que eu te guie desguie que eu te peça promessa que eu te fie me deixe me esqueça me largue me desamargue que no fim eu acerto que no fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim me reservo e se verá que estou certo e se verá que tem jeito e se verá que está feito que pelo torto fiz direito que quem faz cesto faz cento se não guio não lamento pois o mestre que me ensinou já não dá ensinamento

circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu

circuladô de fulô Caetano Veloso

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poetas

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SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO

SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO

SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO

SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO

SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO SILÊNCIO

EUGEN GOMRINGER

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ras gar gar rasras gar gar rasras gar gar ras

ERTHOS ALBINO DE SOUZACÓDIGO 1976

Page 44: Poesia Concreta

toda regra tem exceção

esta regra tem exceção nem toda regra tem exceção

nem esta regra tem exceção

JOSÉ LINO GRUNEVALDvai e vem nº 3

CÓDIGO 1976

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EDGAR BRAGAvocábulo 1966

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EDGAR BRAGAalfabegrama

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poetas & ideogramas

They who are skilled in fire

shall read tan the dawn

Ezra Pound, Canto 91

O ideograma Aurora, dialoga com o texto em inglês como imagem do nascer do sol.

Eles que são hábeis em fogo

devem ser a cor do amanhecer

femme

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MATSUÓ BASHÔ

1686

sapo(ideograma chinês)

furu ike yakawasu tobikomumizu no oto

velha lagoao sapo salta o som da água

(Paulo Leminski)

velho tanque rã salt’ tomba rumor de água

(Haroldo de Campos)

velha lagoa

uma rã merg ulha uma rã

águaágua. (Décio Pignatári)

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Ode 274DA “ANTOLOGIA CLÁSSICADEFINIDA POR CONFÚCIO

EZRA POUNDAugusto de Campos

Mão de Rei Wunão cai, só sua.Não faz qual solluz só de dia.

Shang- Ti (no céu)fez reis Ch’eng e K’ang;mol dou os réis;ta lhou -lhes luz.

Gongo, flau ta soam,tam- tam no tom,som do bom grãose ou ve en tão.

Quem faz, faz bem.Quem não tem fim.Um dom do chãovem com o grão.

A idéia do que seria a América se os clássicos tivessem ampla circulação perturba o meu sono.

Cantico del sole

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CathayEZRA POUND, 1915Augusto de Campos

Lamento do guardião da fronteiraLAMENT OF THE FRONTIER GUARD

By the north gate, the wind blows full of sand,Lonely from the beginning of time until now!Trees fall, the grass goes yellow with autumn,I climb the towers and towersto watch out the barbarous land:Desolate castle, the sky, the wide desert.There is no wall left to this village.Bones white with a thousand frosts,High heaps, covered with trees and grass;Who brought this to pass?Who was brought the flaming imperial anger?Who has brought the army with drums and with kettle-drums?Barbarous kings.A gracious spring, turned to blood-ravenous autumn,A turmoil of wars-men, spread over the middle kingdom,Three hundred and sixty thousand,And sorrow, sorrow like rain.Sorrow to go, and sorrow, sorrow returning.Desolate, desolate fields,And no children of warfare upon them,No longer the men for offence and defense.Ah, how shall you know the dreary sorrow at the North Gate,With Rihaku's name forgottenAnd we guardsmen fed to the tigers

Pelo Portão do norte sopra o vento carregado de areia,Solitário desde a origem do tempo até agora!Árvores caem, no outono a relva amarelece.Galgo torres e torres para vigiar a terra bárbara:Desolado castelo, o céu, o amplo deserto.Nenhum muro de pé sobre esta aldeia.Ossos alvos com milhares de geadas,Altas pilhas, cobertas de árvores e grama;Quem fez com que isso acontecesse?Quem trouxe a cólera imperial flamante?Quem trouxe o exército com tambores e atabales?Bárbaros reis.De uma primavera suave a um outono de saque e sangue,Tumulto de guerreiros dispersos pelo reino,Trezentos e sessenta mil,E tristeza, tristeza como chuva.Tristeza para ir, tristeza no regresso.Desolados, desolados campos,E nenhuma criança da campanha sobre eles, Não mais os homens para a ofensa e a defesa.Ah! Como sabereis de toda tristeza no Portão do Norte,Como o nome de Rihaku esquecidoE nós, guardiões, pasto dos tigres?

Alan Davis-DrakeGutemberg Project

RIHAKU(Li Po)

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The moon’s snow falls on the plum tree;

A neve da lua cai sobre a ameixeira;

Its boughs are full of bright stars.

Seus galhos estão cheios de estrelas brilhantes.

We can admire the bright turning disc;

Podemos admirar o brilhante disco que gira;

The garden right above there, casts its pearls to our weeds.

O jardim lá de cima, lança suas pérolas sobre as ervas daninhas.

ERNEST FENOLLOSAEzra PoundHaroldo de Campos

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Li Po / Haroldo de Campos

montanha verdeazul além da torre norte

água clara em redor da cidade este

aqui afinal nos separamos:

milhas e milhas através da relva seca

nuvens voláteis: a ânimo de quem viaja

o adeus sol posto a um velho amigo

mãos ondulando na partida

ao ríspido nitrido dos cavalos

o texto chinês esta disposto à maneira ocidental – esquerda -> direita

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12. Eu Qohélet O-que-Sabe § eu fui rei §de Israel § em Jerusalém

13. E do meu coração eu me deia indagar e inquirir § com saber §§sobre o todo § de tudo o que é feito § sob o céu §§§

17. E do meu coração eu me dei § a saber o sabere saber da loucura § e da sandice §§soube §§ também isto § é o vento-que-some

18. Pois § em muito saber § muito sofrer §§§E onde a ciência cresce § acresce a pena

II1. Eu disse § para o meu coração §§vem § vou provar-te no prazer § e prover-te do melhor §§§E isto também isto § névoa-nada

III1. Para tudo § seu momento §§§E tempo para todo evento § sob o céu

2. Tempo de nascer § e tempo de morrer §§§Tempo de plantar §§ e tempo § de arrancar a planta

3. Tempo de matar § e tempo de curar §§Tempo de destruir § e tempo de construir

4. Tempo de pranto § e tempo de riso §§

do ECLESIASTES QOHÉLET ( O-QUE-SABE)Haroldo de Campos

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minha especialidade é viver - era a legenda de um homem (que não tinha renda porque não estava à venda)

olhar à direita - replicaram num segundo dois bilhões de piolhos púbicos do fundo de um par de calças (morimbundo)

o céu era açuc ar lu minoso comestível vivos cravos tímidos limões verdes frios s choc olate s. so b, uma lo co mo tiva c uspi ndo vi o letas .

E. E. CUMMINGS1894 – 1962Augusto de Campos

Page 56: Poesia Concreta

MAIAKÓVSKI

poema-anel Liu bliú (Amo) na tradução gráfica de Lissitzki, para o livro Dliá Gólossa (Para Voz), publicado em berlim, 1923

1893 - 1930

BORIS SCHNAIDERMAN

AUGUSTO E HAROLDO

DE CAMPOS, 1982

Page 57: Poesia Concreta

a tarde ardia com cem sóis

Augusto de Campos

MAIAKÓVSKI

Page 58: Poesia Concreta

Euà poesiasó permito uma forma:concisão,precisão das fórmulasmatemáticas.Às parlengas poéticas estou acostumado,eu ainda falo versos e não fatos.Porémseeu falo “A”este “a”é uma trombeta - alarma para Humanidade.Se eu falo“B”É uma nova bomba na batalha do homem.

Augusto de Campos

MAIAKÓVSKI

Page 59: Poesia Concreta

Sei o pulso das palavras a sirene das palavrasNão as que se aplaudem do alto dos teatrosMas as que arrancam os caixões da trevae os põem a caminhar quadrúpedes de cedroÀs vezes as regalam inauditas inéditasMas a palavra galopa com a cilha tensaressoa os séculos e os trens rastejam para lamber as mãos calosas da poesiaSei o pulso das palavras Parecem fumaçaPétalas caídas sob o calcanhar da dançaMas o homem com lábios alma carcaçaMAIAKÓVSKI

Augusto de Campos

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MAIAKÓVSKIAugusto de Campos

A chuva lúgubre olha de travésAtravés.da gra-de magraos fios elétricos da idéia férrea –colchão de penas.Apenas as pernasdas estrelas ascendentesapoiam nele fácilmente os pés.Mas o destroçar dos faróis,reisna coroa do gásse faz mais doloroso aosbuquêshostisdasprostitutasdotrotoar.No aro troardo riso-espinho dos motejos –das venenosas rosasamarelas se propagaem zig-zag.Ag-rada olhar detrás do alardee do medo:ao escravodas cruzesquieto-sofrido-indiferentes,e ao esquife das casas suspeitaso orientedeita no mesmo vaso em cinza e brasas.

Vad

im R

igin

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o ma

i.com

Page 61: Poesia Concreta

MAIAKÓVSKI

Talvez quem sabe um dia Por uma alameda do zoológicoEla também chegará Ela que também amava os animaisEntrará sorridente assim como estáNa foto sobre a mesaEla é tão bonita Ela é tão bonita que na certa Eles a ressuscitarãoO Século Trinta vencerá O coração destroçado já Pelas mesquinharias Agora vamos alcançar Tudo o que não podemos amar na vidaCom o estrelar das noites inumeráveisRessuscita-meAinda que mais não sejaPor que sou poeta E ansiava o futuro

O Amor (Sobre o poema de Wladimir Maiakovski)

Ressuscita-me Lutando contra as misériasDo cotidiano Ressuscita-me por isso Ressuscita-meQuero acabar de viver o que me cabeMinha vida Para que não mais existam Amores servis Ressuscita-me Para que ninguém mais tenha De sacrificar-se Por uma casa, um buracoRessuscita-me Para que a partir de hoje A partir de hoje A família se transforme E o pai seja pelo menos o Universo E a mãe seja no mínimo a Terra A Terra, a Terra

Caetano Veloso

Gal Costa

Page 62: Poesia Concreta

fragmento 1

o ovo de fogo. o ovo de água. o ovo de vento

no saco de seda. o ovo de ar.

o homem de pé e a mulher de pé. o homem sentado

e a mulher sentada. o homem deitado e a mulher deitada

a escada de osso encostada no tronco de carne

o homem tem uma bengala de osso. a mulher

tem uma bengala de carne

o ovo de pé. o ovo sentado. o ovo deitado.

fragmento 5

o ovo. o fogo. a água. a terra. o ar o

homem. a mulher.

o ovo veste um chapéu e um avental de fogo.

a água veste uma blusa com um botão de ar.

o homem veste uma gravata de fogo.

a mulher veste um avental de água.

isto excita as flo

res masculinas.

HANS ARP(1886 - 1966) tradução: Mônica Costa / Anita HirschbruchCORPO EXTRANHO 1982

Page 63: Poesia Concreta

UM LANCE DE DADOS

STÉPHANE MALLARMÉ

(1842 – 1898)

tradução Haroldo de Campos, 1974

Page 64: Poesia Concreta

JAMAIS

MESMO QUANDO LANÇADO EM CIRCUNSTÂNCIAS

ETERNAS

DO FUNDO DE UM NAUFRÁGIO

Page 65: Poesia Concreta

SEJA que o Abismo

branco estanco iroso sob uma inclinação plane desesperadamente

de asa a sua de

antemão retombada do mal de alçar o vôo e cobrindo os escarcéus cortando cerce os saltos

no mais íntimo resuma

a sombra infusa no profundo por esta vela alternativa

até adaptar à envergadura

sua hiante profundeza enquanto casco de uma nau pensa de um ou de outro bordo

Page 66: Poesia Concreta

O MESTREexsurto inferindo dessa conflagração

que se

como se ameaça o único Número que não pode

hesita cadáver pelo braçoantes de jogar maníaco encanecido a partida em nome das ondas uma naufrágio esse

fora de antigos cálculosonde a manobra com a idade olvidada

outrora ele empunhara o leme

a seus pés do horizonte unânimeprepara se agita e mescla no punho que o estreitavaum destino e os ventosser um outro Espírito para o arrojar na tempestade repregar-lhe a divisão e passar altivo apartado do segredo que guarda

invade a cabeçaecoa barba submissa

direto do homem

sem nau não importa onde vã

Page 67: Poesia Concreta

ancestralmente em não abrir a mão crispada para além da inútil testalegado na desaparição a alguém ambíguo o ulterior demônio imemorial tendo de regiões nenhumas induzidoo velho versus esta conjunção suprema com a probabilidade

aquele sua sobra puerilafagada e polida e devolta e lavada suavizada pela vaga e subtraída aos duros ossos perdidos entre as pranchas nato de um embate as águas pelo ancião tentando ou o ancião contra as águas Núpcias cujo véu de ilusão ressurto ânsia instante como o fantasma de um gesto vacilará se abaterá insânia

JAMAIS ABOLIRÁ

Page 68: Poesia Concreta

COMO SE Uma insinuação simples ao silêncio enrolada ironia ou o mistério precipitado uivado nalgum próximo turbilhão de hilaridade e horror

esvoaça em torno ao vórtice sem o juncar nem fugir

e lhe embalança o indício virgem

COMO SE

Page 69: Poesia Concreta

que a encontre ou eflore um gorro de meia-noite e imobilize no veludo enrugado por uma gargalhada sombria

essa brancura rígida derrisória em oposição ao céu muito para não marcar exiguamente quem quer que

príncipe amargo do escolho

dela se coife como de algo heróico irresistível mas contido por sua pequena razão viril relâmpago

pluma solitária perdida

salvo

Page 70: Poesia Concreta

angustioso expiatório e púbere mudo

o lúcido e senhorial penacho à fronte invisível cintila então sombreia uma estatura frágil tenebrosa em sua torsão de sereia

com impacientes escamas últimas

riso que

SE

de vertigem

ereta

o tempo de esbofetear bifurcadas

uma rocha solar falso de súbito evaporado em brumas que chantava um marco no infinito

Page 71: Poesia Concreta

Cai a pluma rítmico suspense do sinistro sepultar-se nas espumas primordiaisde onde há pouco sobressaltara seu delírio a um cimo fenescidopela neutralidade idêntica do abismo

FOSSEêxito estelar

O NÚMERO

EXISTIRIA diverso da alucinação esparsa da agonia

COMEÇARIA E CESSARIAsurdindo assim negado e ocluso quando aparente enfimpor alguma profusão expandida em raridade

CIFRAR-SE-IA

evidência da soma por pouco una

ILUMINARIA

SERIA pior não mais nem menos indiferentemente mas tanto quanto

O ACASO

Page 72: Poesia Concreta

NADA

da memorável crise ou se houvesse

o evento

cumprido em vista de todo resultado nulo humano

TERÁ TIDO LUGAR uma elevação ordinária verte a ausência

SENÃO O LUGAR

inferior marulho qualquer como para dispersar o ato vazio abruptamente que senão por sua mentira teria fundado a perdição

nessas paragens do vago onde toda realidade se dissolve

Page 73: Poesia Concreta

EXCETO

à atitude TALVEZ tão longe que um local

se funde com o além

afora o interesse quando a ele assinalado em geralsegundo tal obliqüidade por tal declive de fogosversus deve ser o Setentrião também Norte

UMA CONSTELAÇÃO

fria de olvido e dessuetude não tanto que não enumere sobre alguma superfície vacante e superior o choque sucessivo sideralmente de um cálculo total em formação

vigiando duvidando rolando brilhando e meditando

antes de se deter em algum ponto último que o sagre

Todo Pensamento emite um Lance de Dados

Page 74: Poesia Concreta

RIMBAUD

www.sciam.comVOWELS

Page 75: Poesia Concreta

AA negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais, Ainda desvendarei seus mistérios latentes: A, velado voar de moscas reluzentes Que zumbem ao redor dos acres lodaçais;

E, nívea candidez de tendas e areais, Lanças de gelo, reis brancos, flores trementes;

I, escarro carmim, rubis a rir nos dentes Da ira ou da ilusão em tristes bacanais;

U, curvas, vibrações verdes dos oceanos, Paz de verduras, paz dos pastos, paz dos anos Que as rugas vão urdindo entre brumas e escolhos;

O, supremo Clamor cheio de estranhos versos, Silêncios assombrados de anjos e universos: - Ó! Ômega, o sol violeta dos Seus Olhos!

VOGAISAUGUSTO DE CAMPOS

RIMBAUD

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A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu:voyellesJe dirai quelque jour vos naissances latentes:Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,

Golfes d'ombres; E, candeurs de vapeurs et des tentes,Lances de glaciers fiers, rois blancs, frissons d'ombelles;

I, pourpres, sang craché, rire de lèvres bellesDans la colère ou les ivresses pénitentes;

U, cycles , vibrements divins des mers virides,Paix de pâtis semés d'animaus, paix des ridesQue l'alchimie imprime aux grands fronts studiex;

O, suprême Clairon plein de strideurs étranges,Silences traversés des Mondes et des Anges:

- O! 'oméga , rayon violet des Ses Yeux!

VOYELLES

RIMBAUD

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EDGAR BRAGAcanto das vogais

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Referências / agradecimentos

www.ubu.comwww.poesiaconcreta.com.brThe Project Gutenberg, EBook – E Pound Cathay Revistas: Código; Qorpo Estanho; Poesia em GreveMusa Paradisíaca, Josely Vianna BaptistaCaetano Veloso, (Você; Circulador; Gal Costa)Edgar Braga, DesbragadaHaroldo de Campos, (Xadrez de Estrelas, Eclesiastes Ideograma, lógica, poesia e linguagem)Décio Pignatári (Toda Poesia; Panteros)Augusto de Campos (Poesia 1949-1979, Poesia em risco)www2.uol.com.br/augustodecampos/poesiaconc.htmMallarméMarjorie Perlof O Movimento Futurista

e desculpas à algumas fontes www não citadas