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Poesias Imaturas - PerSe€¦ · e eu cuido de mim." Mas não foi desse jeito a vida toda? ... eu inventei prá ti uma primavera mas tu queria a primavera de verdade. 11. Almoço

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Page 1: Poesias Imaturas - PerSe€¦ · e eu cuido de mim." Mas não foi desse jeito a vida toda? ... eu inventei prá ti uma primavera mas tu queria a primavera de verdade. 11. Almoço

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Edição autônoma

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Publicadas ou não, todas as minhas poesias são inacabadas. Toda elas comportam um ajuste, uma mudança, um acréscimo ou uma subtração. Todas precisam que uma palavra seja trocada com outra, ou então que seja trocada por outra, todas têm um verso ou uma estrofe no lugar errado – ou no poema errado. Às vezes uma poesia soa meio estranha e preciso corrigi-la, outras vezes é preciso fazer o contrário e deixá-la um pouco estranha, principalmente quando as coisas estão por si só meio estranhas.

Li uma vez, não me lembro onde e nem de quem, que seus textos eram publicados apenas para livrar-se deles, pois senão passaria a vida inteira editando-os, alterando-os e corrigindo-os, e que por isto todas as suas publicações lhe causavam um certo pesar – pois depois de publicado o texto, sempre via alguma coisa que poderia ter modificado. Publicar um texto sempre causa, na mesma medida, orgulho e frustração, alívio e tensão. O maior motivo para se publicar um texto é se livrar daquele texto, para que ele não passe os anos rondando a pessoa, como uma alma penada de si mesma que não pode ser nem libertada, nem simplesmente esquecida.

As minhas poesias, publicadas ou não, mostradas a outra pessoa ou não, escritas ou não, sempre são imaturas, adolescentes que não sabem bem o que é que está sobrando ou faltando, mas sabem que ainda há algo por fazer.

A imaturidade está em tudo o que escrevo, incluindo as poesias, mas como as pessoas adultas, às vezes elas dão a entender que já estão prontas e querem ir viver a própria vida. Daí eu as publico, como estas que estão neste livro.

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Este livro é uma publicação independente e autônoma. A impressão e a venda on-line são feitas pelo PerSe, um portal que existe justamente para isto, e funciona no endereço www.perse.com.br

Eu dedico este livro à Rita, à Márcia Fernanda, ao Ray, à Fernanda, à Andréa, à Gerusa, à Adrissa, às ex-colegas e chefes

do NAPPI, à minha mãe, meu pai e minhas irmãs, à Kellen, à Francine, à Deoni, à Carolina, à Denelise, ao Rafael, à Simone, à

Morgana, à Kênya, ao BG, à Patrícia, ao Israel, à Renata, às minhas duas afilhadas, à Cecília, à Carina, à Miriana, ao

Ânderson, ao Vithor, à Juliana, à Camila e à família dela, às minhas madrinhas e padrinhos, a quem eu esqueci de mencionar

e a você que está lendo este livro.

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As poesias imaturas

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Setembro

Leia nos meus olhos o amorQue só tu pode receberLeia, se quiser lerPois tu não tem nenhuma obrigaçãoDe o receber.

O fogo ilumina mesmo sem ser vistoInicia sem ter sido provocadoAquece porque é calor, e não porque há frioE é chama sem ser chamado.

O fogo do amor alimenta-se a si mesmoE ele não está aqui para te sustentarO teu fogo também sustenta-se a si mesmoO que podem as chamas é uma a outra se tocar.

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Matéria

Uma poesia é feita apenas para ser feitae todo o resto tem sua beleza, sua importânciae também sua poesia.

Se ela será escritaSe ela será impressaSe ela será publicadaSe ela será lidaSe ela será boaSe ela será malditaSe ela será rimadaSe ela será vivida

Para ser criadaela precisa apenas De poesia.

E ela é o motivo de si mesma.

todo o amor e toda a tristezatoda a dor e toda a belezatodo a magia e o imaginárioo que é principal, e o que é secundáriotoda imagem, símbolo ou folha de papelTudo é poesia

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Marcas e feridas

As marcas que carrego no meu corpoForam as marcas impressas pela VidaOutras marcas que carrego, entretantoNo meu corpo já marcado são feridas.

E não sou para o olho externoAs marcas que dizem quem eu souMe vê antes, esse olhar supérfluoNas feridas feito marcas quem não sou.

Minhas feridas estão expostasAplaudidas e vaiadas mundo afora

Das minhas marcas, nem eu conheço a todasMas só eu conheço todas elas

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A lua renasce de si

Quando a lua começa a minguarO que a espreita nesta escuridão?Ela só renasce depois de enfrentarAs sombras que tem nessa sua dimensão.

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No fim daquilo que nunca acaba

E então terminou assim:“você cuida de vocêe eu cuido de mim."

Mas não foi desse jeito a vida toda?cuidar de si não era tambémcuidar da outra pessoa?

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í A gravidade desprendeu-se de mimE meu coração tornou-se um balão a voarSobrevoei o oceano e caíE o meu coração tornou-se um fruto do mar

Lancei meu coração outrora em cavernasE sob o solo inclusive senti ele baterJá morou nas brumas de escuridões eternasE nos picos gelados de ermas montanhas também

Que lugares meu coração ainda não viveu?Que alegrias e desgraças já não conheceu?Todas ou algumas, eu não quero saberpois onde ele esteve ele buscava era você.

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Era para ser

Eu comprei seu amor com um sorrisoe um punhado de boa intençãoSim, eu acreditava naquilonem eu sabia que eu era ilusão.

Eu apenas queria lhe conquistare não sabiaque não era amor aquilo que eu tinhapara te dar entre flores e um carinho

Eu também acreditei no que não eramas que era para ser – e aí está a maldade:eu inventei prá ti uma primaveramas tu queria a primavera de verdade.

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Almoço noturno

- Me vê um xis de coração partido ao meio,um dos pedaços pode embalar para viagem,e um litro de uísque, por favor, sem gelo,para ajudar a engolir toda essa saudade;

se não tiver aí coração de galinhapode usar esse meu mesmo,que só me serve para doer todo diae me partir de sofrimento.

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Ipsílone

Eu sou a terra seca rachada pelo soluma fachada discreta pro restoda casa destruída poderruir em paz.

Sou o restante do que nunca começouque perde a todo tempo o tempo todoque passou.

Eu ainda não nasci e não sei quandoe nem mesmo como sem ter nascido eu passeia existir

Sou lago seco e o leitodo rio exposto à falta d’água que nunca em sua margem sentiu água correr

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Estrangeira

Estrangeira em todos os reinos do mundo, nem as tribos nômades vêem em mim uma igual.Fora de órbita pode ser muito interessante, mas depois de um certo tempo, passa mal.Fora da casinha, me dizem, mas e quando eu encontro minha casa, o que faço?Sou estrangeira e me dizem: “fique e te amaremos, mas nunca serás do nosso espaço”.

(21 de junho de 2012)

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O que é que se faz?

Quando o céu pesa sobre o corpoe o amor vira uma asa quebradao melhor a fazer é...

Ah, se eu completasse essas reticências!não seria eu, pode ter certezaeu nem sei o que fazer no cotidiano mais simplesque dirá saber ser adequadamente alegre ou triste!

O que fazer quando me roubam no cigarro(eu sei que estão cobrando o preço mais caro)?O que fazer quando me pegam de surpresafazendo algo que não devia sob a mesa?O que fazer quando não tenho a menor idéia de com quem estou falando?E quando acaba o leite e os biscoitos, com a barriga roncando?O que fazer quando me fura o pneualém de brincar “antes ele do que eu”?O que fazer quando a chave quebra na fechadura?E eu sem dinheiro a altas horas da madruga?O que fazer quando no caixa eu lembro que esqueci da carteira(“moça, eu só lembro de ter colocado dentro da geladeira”)?O que fazer quando me roubam em Brasíliacriando leis prá acabar com a alegria?O que fazer quando chega o verãoe eu não posso ir prá Imbéporque não tenho um tostão?O que fazer quando me usurpam direitos?O que fazer quando o dia está feio?O que fazer quando a visita é vegetarianalogo no dia que eu comprei carne prá toda a semana?O que fazer quando acaba a cervejaa água, ou o refrigerante?Ou quando começa a tristeza constante?Ou quando começa a vir a lembrança

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do tempo em que havia alguma esperança?Ou quando só resta me fechar em mim?Ou quando me esqueço que não está aquiquem me fez tanto sofrermas ainda me faz me sentir tão feliz?

Eu juro que nada disso eu sei.

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Lar que não conheço

A noite foi salva e eu não seise foi a vida ou a morte o que eu encontrei.Se foi a vida ou a morte, prá que perguntar?Nisto que vivo – vida ou morte –foi onde encontrei um lar.

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Som de caneta

Este poema não deveria ter sido escritoesta seria sua melhor expressãomas agora que escrevi este poema é um gritoque de tanto peso cai no chão

Esta caneta era um instrumento gráficoque apenas deixava no papel uma cormas agora neste momento dramáticoacabou imprimindo esse inaudível som.

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Poetas do dia inteiro

A gente tenta ficar tristee curtir toda a depressão quedá,daí uma pessoa ligae outra avisa que vai voltar.

Puxa vida!, assim não tem como se entristecer da maneira corretaEu posso até fazer poesia mas as pessoas em minha volta é que são mesmo as poetas.

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Éliuá

a lua brilha o teu corpo de sia lua ilumina a rua que voua lua prateia tudo que eu sofrie trás às vezes consigo um pouco de amor

Luar, luar, luar, luar, luar,quero um dia quem sabe ir morar em tie um dia voltar de ti sabendo amar

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Qual palavra?

Palavra estranha, que não encontroonde ficam as palavras perdidas?Embaixo d’água, ou em um morroou em canteiros de flores lindas?

Palavra estranha, que não conheçovocê tem mesmo um sentido?Como uma seta, ou como um preço,ou o sentido sou eu que crio?

Ah, palavra, palavra... palavra que não seifiz este poema te procurandomas no fim não te encontrei.

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Mendicância

Oh, como eu detesto esta mendicância,que me assola diariamente pelas ruas

me pedindo um dinheiro na esperançade convencer pela insistência ininterrupta.

Mas me incomodam mesmo todo o diaimpondo até ao meu olhar sua presença,

me trazendo toda a angústia e a agoniade me abordar sem nem pedir licença!

E elaboram muito bem os seus pedidos:à mendicância não lhes falta criatividade.

(mas não me referi à pedinte ou ao mendigoe sim à funesta mendicante publicidade).

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Vinil

As ondas congeladas preservam o momentoe para poder fazer isto elas abrem mão do movimento.

Pois não pude te preservar ao meu ladoe por isto então recorri a este artifício:te transformei em memória e não passado(ah, como este truque é mesmo antigo...)

Mas como eu poderia jogar fora minha lembrança como se fosse lixose essa lembrança que é minha é tua – já que já foi feito o sacrifício(do meu coração no altar da Grande Perda),

Terminado então o movimento das nossas ondaspermanece a memória, música ao infinito repetidacontando sempre esta mesma história, tocando a canção da minha vida.

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Do amor e de amor

eu gostoda vida da filhada fita da fonteda falha da ilhada folha do fonedo filme da vilado sono da fomeda feira da vindada finta do finode amor do amor

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O mesmo fim

Somente uma angústia está no fim deste túnel,qualquer caminho e rua levam a este infortúniode se angustiar com o que não é da conta de quem se angustia,de no fim só restar desconforto, o escuro, a tristeza e a agonia.

Mas é só invenção, dorme(dói-me saber ser só ilusão).Aproveita agora que chovee dorme, dorme bem este coração.

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Transições

Acordei morrendo durante uma semanaque durou trinta e dois anos e vinte e nove diasMas morri sorrindo todas as noites do dia anteriorque durou todo o tempo de uma vida.

Agora eu já não sei mais nemo que é que foi que acabouou se apenas é o iníciode algum outro dia.

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Placar final

Eu lanço os dados sobre meu corpoe aposto minha vida em cada jogadamas não me importo nem um poucose eu ganhei ou se não deu em nada.

Eu sei que pareço estar jogando, é verdadee se estivesse, seria um jogo infelizmas quando me lembro que não é um jogo é tardecada ponto que faço é dado nesta outra cicatriz.

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Crime e marginalidade

Qualquer poesia sempre comete o crimede atentado violento ao pudor

mas não contra o pudor de quem assistee sim contra o de quem poetou.

Qual poesia não é uma transgressãoa sabe-se se lá o quê de quem a escreve?

Qual poesia não rasga o coraçãomesmo que faça de conta que é bem leve?

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Até as flores de plástico já murcharamE mesmo assim eu ainda espero a tua voltaNo deserto, no deserto já caiu águaE como ele esperava pela chuvaEu também ainda espero a tua volta.Os alimentos imperecíveis que eu guardavaJá pereceramE mesmo assim ainda espero tu voltarA nossa casa já foi pintadaE as crianças já cresceramPlutão já voltou a ser planeta(e prá mim nunca deixou de sê-lo)a amoreira que plantamos já caiuderrubada por um cano de concretoe até mesmo aconteceu, quem diria,vi no calendário um trinta de fevereiro.E mesmo que muita coisa já tenha acontecidoE até mesmo o impossível já tenha se realizadoAinda assim eu mantenho o que disse, o que sinto:Mesmo que já dure tanto tempo tua jornadaA minha consiste em te esperarE também eu da minha não desisto.

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Toda a inutilidade do amor

Com amor não se constrói uma casamas sim com tijolos, cimento e tintaCom amor não se ferve nem uma águanem se compra a panela prá fazer a comida

Com farinha, ovos e leite se faz um boloe com farinha, água e fermento, um pãoO amor não alimenta nem levado ao fornoporque sem comida ninguém tem coração

O amor não paga as contas nem levanta aviõesO amor não é aceito no comércio em geralnão esquenta no inverno, nem resfria os verõesE ninguém procura amor em um hospital

O amor não calça os pés nem veste o corpoO amor também não me trás nenhuma alegriaO amor não serve prá nada no mundo todoE ainda assim sem amor eu não viveria.

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Viver sem ti

h!!... Viver sem ti o meu ldoé possível, m s é muito estr nhoé como f lt r de mim um ped çoou nunc m is poder tom r b nho

Eu vivi sem ti tod vid de ntese por isso posso pass´-l sem ti t mbémM s é dolorido, em todos inst ntes gora que descobri o qu nto te m r me f z bem

Eu sigo, entret nto, desse jeito vivendoescrevendo minh vid , sem m´go sM s é como se eu estivesse escrevendoum poesi sem letr “ ” n s p l vr s.

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