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Poética é um dos principais poemas do Modernismo brasileiro. Em seus versos, nega-se a estética rígida da poesia parnasiana e propõe-se um novo paradigma para o conceito de lirismo. Pertencente à primeira fase do Modernismo brasileiro, o poema é composto em versos livres e é figurativo tanto da experiência pessoal de Manuel Bandeira no ato de sua composição quanto de sua experiência social, desenhando claramente um panorama histórico de mudanças característico dos anos 1930. Para além de uma análise conceitual do poema, é possível estudá-lo materialmente, valorizando seus traços formais e destacando o rigor com que Bandeira compunha seus versos. Trata-se, sem dúvida alguma, de um opus expoente da obra bandeiriana, por denotar com clareza uma das características que fizeram do poeta um dos maiores em Língua Portuguesa: sua habilidade de combinar técnica e sensibilidade artística. Nas páginas que se seguem, será feita uma análise do poema, que se dividirá sistematicamente em comentário e interpretação. Segundo Antônio Cândido, em “O estudo analítico do poema” (1967, p. 27), o comentário corresponde a “uma espécie de tradução, feita previamente à interpretação”. Nele, analisam-se elementos formais da poesia, como metro, rimas, sonoridade e ritmo. Destrincham-se as partes do poema. Já a interpretação, embora possa “constituir algo demasiado pessoal” (p. 23), diz respeito à leitura de um todo, considerando inclusive fatores exteriores ao poema, como dados históricos e filológicos. Embora processos distintos, os dois se complementam na medida em que a análise das partes leva à análise do todo e a análise do todo só pode se dar a partir do estudo das partes. O VERSO LIVRE “Poética” foi escrito em versos livres. A esse respeito, vale delimitar as diferenças entre o versolivrismo e a técnica parnasiana de metrificação. Alguns autores, como Etiemble (Etiemble, “La Poésie: expérience mystique ou plaisir musculaire?”, p. 151) defendem que o verso metrificado é o único verdadeiro, pois têm seu valor baseado nos sons, isto é, possuem unidade rítmica. Para eles, o verso livre - por

Poética - Manuel Bandeira

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Análise do poema Poética, de Manuel Bandeira. FFLCH-USP, 2014

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PoticaumdosprincipaispoemasdoModernismobrasileiro. Emseusversos, nega-seaestticargidadapoesiaparnasianaeprope-seumnovoparadigmaparaoconceitodelirismo. Pertencente primeira fase do Modernismo brasileiro, o poema composto em versoslivres e figurativo tanto da experincia pessoal de Manuel andeira no ato de sua composi!"o#uanto de sua experincia social, desen$ando claramente umpanorama $ist%rico demudan!as caracterstico dos anos &'().Para almde uma an*lise conceitual do poema, possvel estud*-lo materialmente,valori+andoseustra!osformaisedestacandoorigor com#ueandeiracompun$aseusversos. ,rata-se, sem d-vida alguma, de um opus expoente da obra bandeiriana, por denotarcomclare+aumadas caractersticas #uefi+eramdopoetaumdos maiores em.nguaPortuguesa/ sua $abilidade de combinar tcnica e sensibilidade artstica.0as p*ginas #ue se seguem, ser* feita uma an*lise do poema, #ue se dividir*sistematicamenteemcoment*rioeinterpreta!"o. 1egundo 2nt3nio45ndido, em67estudoanaltico do poema8 9&':;, p. estrinc$am-seaspartesdopoema. ?*ainterpreta!"o, emborapossa 6constituir algo demasiado pessoal8 9p.