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Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes e Comunicação Departamento de Comunicação e Cinema Exercício apresentado à Universidade Federal de Pernambuco, junto ao curso de Bacharelado em Cinema, dentro do contexto da disciplina de Estética e Cultura Visual, ministrada pela professora Angela Prysthon. Recife, Novembro de 2010 POLÊMICO? TERRY RICHARDSON E O FLERTE COM O GROTESCO por Alan Tonello* Conhecido por seus numerosos e polêmicos ensaios fotográficos, Terry Richardson, nascido em Nova York, em 1965, e criado em Hollywood, herdou seu interesse pela fotografia diretamente do seu pai, Bob Richardson, também fotógrafo. Bob, que a princípio era designer gráfico, tornou-se fotógrafo aos 35 anos e consolidou-se como tal, entretanto possuía uma estética diferente, urbana – de rua mesmo – representada de forma visceral nas fotografias de moda. “Eu quis jogar a realidade nas minhas fotografias. Sexo, drogas e rock "n" roll. Aquilo é o que acontecia. E eu estava ajudando a acontecer.” 1 , dizia Bob Richardson. Seu legado foi totalmente absorvido por seu filho, Terry. Terry Richardson fotografa autobiograficamente. São fotos de amigos e conhecidos, mas ele também possui um apreço por personagens do acaso, pessoas totalmente desconhecidas que acha pelas ruas e que possuem características peculiares, bizarras. Notado pelo grande caráter sexual de suas fotos, Terry desenvolveu a habilidade * Aluno do 4º período do bacharelado em Cinema pela Universidade Federal de Pernambuco. 1 New Yorker, 1995 apud Horyn, "Bob Richardson".

Polêmico? Terry Richardson e o flerte com o grotesco

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Uma breve análise da vida/obra do fotógrafo Terry Richardson.

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Page 1: Polêmico? Terry Richardson e o flerte com o grotesco

Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes e Comunicação Departamento de Comunicação e Cinema Exercício apresentado à Universidade Federal de Pernambuco, junto ao curso de Bacharelado em Cinema, dentro do contexto da disciplina de Estética e Cultura Visual, ministrada pela professora Angela Prysthon. Recife, Novembro de 2010

POLÊMICO? TERRY RICHARDSON E O FLERTE COM O GROTESC O

por Alan Tonello*

Conhecido por seus numerosos e polêmicos ensaios fotográficos, Terry Richardson,

nascido em Nova York, em 1965, e criado em Hollywood, herdou seu interesse pela

fotografia diretamente do seu pai, Bob Richardson, também fotógrafo. Bob, que a princípio

era designer gráfico, tornou-se fotógrafo aos 35 anos e consolidou-se como tal, entretanto

possuía uma estética diferente, urbana – de rua mesmo – representada de forma visceral

nas fotografias de moda. “Eu quis jogar a realidade nas minhas fotografias. Sexo, drogas e

rock "n" roll. Aquilo é o que acontecia. E eu estava ajudando a acontecer.”1, dizia Bob

Richardson. Seu legado foi totalmente absorvido por seu filho, Terry.

Terry Richardson fotografa autobiograficamente. São fotos de amigos e

conhecidos, mas ele também possui um apreço por personagens do acaso, pessoas

totalmente desconhecidas que acha pelas ruas e que possuem características peculiares,

bizarras. Notado pelo grande caráter sexual de suas fotos, Terry desenvolveu a habilidade

* Aluno do 4º período do bacharelado em Cinema pela Universidade Federal de Pernambuco. 1 New Yorker, 1995 apud Horyn, "Bob Richardson".

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de extrair a essência crua de qualquer um que apareça diante de suas lentes, capturando um

ar cômico, trágico, muitas vezes belo, mas sempre provocativo.

Suas investidas na fotografia se iniciaram quando Terry ainda frequentava o

colégio, em Hollywood, e era integrante de uma banda de punk rock. Desde então, nunca

mais parou e hoje é um grande ícone da fotografia mundial, tendo passado inclusive por

diversos editoriais de marcas famosas como Gucci, Levi's, Tommy Hilfiger, Nike, Carolina

Herrera e tendo uma lista de nomes famosos que já passaram por suas lentes, como Daniel

Day Lewis, Leonardo DiCaprio, Jay Z, Kanye West, Johnny Knoxville, Luiza e Yasmin

Brunet, Jared Leto e até o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Richardson já teve seu trabalho taxado de misógino e explorador, como

consequência da elevação de sua contracultura ao máximo. No entanto, ele construiu na

área artística uma figura carismática e persuasiva, o que é claramente notado em suas

fotografias, as quais são famosas por quase sempre trazerem pessoas famosas em situações

ou roupas certamente inusitadas, como no caso das já citadas Luiza e Yasmin Brunet, mãe

e filha, que posaram nuas para o artista.

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Suas manifestações artísticas possuem um tom grotesco que, desde o que já dizia

Bakthin, “representam um mundo infinito de formas e expressões do riso que se opõem à

cultura oficial, ao tom sério”3 que ainda hoje causam grande impacto no grande público.

2 Luiza e Yasmin Brunet em sessão para Terry Richardson, 2007 3 BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara Frateschi Vieira. São Paulo/Brasília: Hucitec/Editora

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Entretanto, este estilo polêmico, e até mesmo parodista, que choca o público é o

que ganha a audiência de suas exposições e cria um público cada vez maior para seu

trabalho. “A contrafação dos cânones esteticamente corretos seduz amplas faixas de

audiência, predispostas a rir diante das situações chocantes que desfilam em telas e

imagens.”5

Seu trabalho se expande por vários meios, passando pela gravação de videoclipes e

comerciais e também participações no cinema, onde trabalhou na fotografia do filme “Skin

Gang”, de Bruce La Bruce, outro adepto da estética grotesca e de alto teor (homo)erótico, e

atualmente desenvolve seu primeiro longa-metragem.

Universidade de Brasília, 2008 apud DUARTE, André L. B. Cultura popular na Idade Média e no Renascimento: Revistando um clássico. Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Abr/Mai/Jun 2008, Vol. 5, Ano 5. 4 Integrantes do grupo de bizarrices norte-americano Jackass. O grotesco e o inusitado estão majoritariamente presente na obra de Richardson. Mai/2008 5 MORAES, Dênis de. A hegemonia do grotesco no imaginário da mídia, Mai/2002. Disponível em http://www.lainsignia.org/2002/mayo/cul_036.htm, acessado em 25 Nov/2010.