88
POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA DIRETORIA DE INSTRUÇÃO E ENSINO UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CAMPUS BIGUAÇU CURSO DE GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA A LEGITIMIDADE DA AÇÃO DA POLÍCIA MILITAR NA LAVRATURA DO TERMO CIRCUNSTANCIADO DIANTE DOS CRIMES DE ABUSO E MAUS-TRATOS AOS ANIMAIS DARVI ANTÔNIO SAVI NETO FLORIANÓPOLIS (SC) 2009

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

  • Upload
    doanque

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA DIRETORIA DE INSTRUÇÃO E ENSINO

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CAMPUS BIGUAÇU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

A LEGITIMIDADE DA AÇÃO DA POLÍCIA MILITAR NA LAVRATURA DO TERMO

CIRCUNSTANCIADO DIANTE DOS CRIMES DE ABUSO E MAUS-TRATOS AOS

ANIMAIS

DARVI ANTÔNIO SAVI NETO

FLORIANÓPOLIS (SC)

2009

Page 2: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

1

DARVI ANTÔNIO SAVI NETO

A LEGITIMIDADE DA AÇÃO DA POLÍCIA MILITAR NA LAVRATURA DO TERMO

CIRCUNSTANCIADO DIANTE DOS CRIMES DE ABUSO E MAUS-TRATOS AOS

ANIMAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em

Segurança Pública pela Universidade do Vale do

Itajaí.

Orientador: 1º Ten PMSC Miguel Ângelo Silveira

FLORIANÓPOLIS (SC)

2009

Page 3: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

DARVI ANTÔNIO SAVI NETO

A LEGITIMIDADE DA AÇÃO DA POLÍCIA MILITAR NA LAVRATURA DO TERMO

CIRCUNSTANCIADO DIANTE DOS CRIMES DE ABUSO E MAUS-TRATOS AOS

ANIMAIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado e aprovado em sua

forma final pela Coordenação do Curso de Segurança Pública da Universidade do

Vale do Itajaí, em 25 de junho de 2009.

___________________________________

Prof. Msc. Moacir José Serpa

Univali – CEJURPS Florianópolis

Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

____________________________________

1º Ten PMSC Miguel Ângelo Silveira

Professor e Orientador

_____________________________________

Cap PMSC Falco Barrozo Tolentino

Membro

_____________________________________

2º Ten PMSC Joamir Rogério Campos

Membro

Page 4: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

Dedico este trabalho a todas as pessoas que

labutam em favor da preservação da natureza, em

especial, no combate aos atos de crueldade

cometidos contra os animais.

Page 5: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

1

AGRADECIMENTOS

Primeiramente ao arquiteto do Universo, pela sua

presença constante, revelada através da existência

de pessoas valiosas e concretizada por meio de

oportunidades únicas;

Aos meus familiares, que sempre deram o melhor de

si, me incentivando nos momentos mais difíceis.

Deram-me todo amor e apoio necessário para que

eu não desanimasse diante da longa caminhada à

conquista dos meus sonhos;

A minha namorada, Amanda, que de uma forma

especial me confortou nos momentos mais difíceis e

comemorou junto a mim cada batalha vencida;

Aos meus amigos que, de alguma forma, me

acompanharam, torceram e entenderam a minha

ausência durante esta tão importante etapa da vida;

Ao meu orientador, 1º Ten PM Miguel Ângelo

Silveira, por atender ao convite e se propor à

orientação, estando sempre disposto e

demonstrando grande atenção e comprometimento;

Aos membros da banca avaliadora, Cap PM Falco

Barrozo Tolentino e 2º Ten PM Joamir Rogério

Campos por suas colaborações;

E por fim, à Academia de Polícia Militar da Trindade,

pela oportunidade de realizar o sonho de me tornar

Oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.

Page 6: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

“A compaixão para com os animais é das mais

nobres virtudes da natureza humana. Não há

diferença fundamental entre o Homem e os animais

nas suas faculdades mentais. Os animais, como o

Homem, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e

sofrimento”.

Charles Darwin

Page 7: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como principal objetivo analisar a legitimidade da ação da Polícia Militar, para efetuar a lavratura do Termo Circunstanciado diante dos crimes de abuso e maus-tratos aos animais. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, analisando as legislações e doutrinas pertinentes ao tema. Inicialmente foram apresentados alguns comentários a respeito das relações do homem com a natureza, além de conceitos relacionados ao meio ambiente, sendo estes conceitos de suma importância para a posterior abordagem do crime em tela. Em seguida, tratou-se da missão da Polícia Militar de preservação da Ordem Pública, do poder de polícia e da Polícia Ostensiva, relacionando, quando necessário e viável, com o conceito de autoridade policial perante a Lei 9.099/95, buscando nela, nas doutrinas e jurisprudências que sobre ela tratam, chegar a um entendimento satisfatório quanto a lavratura do termo circunstanciado pela Polícia Militar. O presente estudo tratou de algumas relações do Direito Ambiental com a preservação do meio ambiente, partindo da análise deste ramo do Direito, passando pela Lei 9.605/98, até chegar ao crime de abuso e maus-tratos aos animais, presente no art. 32 da mesma lei. A partir daí, percebeu-se a importância da atuação da Policia Militar diante da prática de atos que afetam a integridade dos animais, visto que tal prática fere bens tutelados pela Constituição Federal, indo de encontro aos interesses da sociedade. Ao final, apreciou-se, com base nas legislações, doutrinas e jurisprudência averiguadas, que é sim legítima a ação da Polícia Militar ao efetuar a lavratura do termo circunstanciado diante de crime de abuso e maus-tratos aos animais. Palavras-chave: Polícia Militar; Termo Circunstanciado; Crime de Abuso e Maus-tratos aos Animais.

Page 8: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

ABSTRACT

The main objective of the present final graduation project is to analyze the legitimacy of the police action in order to effectuate the police report issuance towards the animal abuse and animal mistreatment crimes. To accomplish the study, a bibliographic research was conducted. It analyzed the legislations and the opinion of jurists which are pertinent to the theme. Initially, some comments concerning the relation between men and nature were presented as well as concepts related to environment, being these concepts extremely important to the subsequent approach of the focused crime. Afterwards, the police‟s public order maintenance mission was approached as well as police power and ostensible police, relating, when, necessary and viable, to the concept of police authority according to 9.099/95 statutory law. It was searched in this law, in the precedents and in the opinions of jurists that concern it, a satisfactory understanding about the police report issuance by the police. The present study considered some relations between environmental law and environmental preservation, beginning with this law field analysis, then observing 9.605/98 statutory law and finally discussing the animal abuse and mistreatment crimes present in paragraph 32 of the same law. From this point on, it was noted the importance of police action towards the practice of the acts which affect animals‟ physical integrity, considering that such practice harms rights protected by the Federal Constitution and goes against the society‟s interests. Finally, based on the legislations, opinion of jurists and precedents investigated, it was evaluated that the police action that effectuates the police report issuance is legitimate towards the abuse and mistreatment animal crime. Key Words: Police; Term thereon; Animal abuse and mistreatment crime.

Page 9: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FATMA – Fundação de Amparo à Tecnologia e Meio Ambiente

IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

TC – Termo Circunstanciado

CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

PM – Polícia Militar

TJSC – Tribunal de Justiça de Santa Catarina

Page 10: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11

1.1 TEMA .................................................................................................................. 13

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA .............................................................................. 13

1.3 OBJETIVOS ....................................................................................................... 13

1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 13

1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 14

1.4 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 14

1.5 APRESENTAÇÃO GERAL DO TRABALHO ...................................................... 16

2 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................. 18

2.1 MÉTODO ............................................................................................................ 18

2.2 TÉCNICAS DE PESQUISA ................................................................................ 19

2.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA ..................................................................... 20

2.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ................................................................... 21

3 RELAÇÃO HOMEM X NATUREZA ...................................................................... 22

3.1 A QUESTÃO AMBIENTAL ................................................................................. 22

3.2 CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA ............................................................................ 24

3.3 MEIO AMBIENTE ............................................................................................... 27

3.3.1 A flora e a fauna ............................................................................................. 28

3.3.1.1 A flora ........................................................................................................... 29

3.3.1.2 A fauna ......................................................................................................... 30

3.4 CRIME DE ABUSO E MAUS TRATOS AOS ANIMAIS ...................................... 30

4 A POLÍCIA MILITAR E O TERMO CIRCUNSTANCIADO ................................... 34

4.1 COMPETÊNCIA LEGAL DA POLICIAL MILITAR .............................................. 34

4.1.1 Aspectos legais e doutrinários .................................................................... 34

4.1.1.1 Preservação da Ordem Pública .................................................................... 35

4.1.1.2 Poder de Polícia ........................................................................................... 37

4.1.1.3 Policia Ostensiva .......................................................................................... 40

4.2 TERMO CIRCUNSTANCIADO ........................................................................... 42

4.2.1 Lei 9.099/95 e os Juizados Especiais Criminais ......................................... 42

4.2.2 Autoridade Policial Frente à Lei 9.099/95 .................................................... 45

4.2.3 Conceituação e Finalidade do TC ................................................................ 49

Page 11: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

4.2.4 A Legalidade da Lavratura de TC pela Policia Militar ................................ 52

4.2.5 Vantagens da Lavratura do TC pela PM ...................................................... 57

5 A LAVRATURA DO TERMO CIRCUNSTANCIADO PELA POLÍCIA MILITAR

FRENTE AO CRIME DE ABUSO E MAUS TRATOS AOS ANIMAIS .................... 62

5.1 COMPETÊNCIA LEGAL ..................................................................................... 62

5.2 CRIME DE PREVARICAÇÃO ............................................................................ 69

5.3 RESPONSABILIDADE ECOLÓGICA E AMBIENTAL DA POLICIA MILITAR .... 72

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 77

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 80

Page 12: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

11

1 INTRODUÇÃO

O ser humano, desde o surgimento de sua espécie no Planeta Terra, sem

fazer menção às diferentes teorias a respeito de sua origem, convive com uma

infinidade de outros seres vivos. Com estes se relaciona cotidianamente, ainda que

sem se dar conta disso e, algumas vezes, não percebendo a importância de todos

estes para a manutenção da vida. Isto pode explicar as ações antrópicas realizadas

de forma indiscriminada à utilização dos recursos naturais, incluindo a fauna e a

flora.

A superioridade intelectual do homem sobre as outras formas de vida

possibilitou a dominação gradativa da natureza. Com isso, o ser humano consegue,

muitas vezes, satisfazer seus desejos, superar seus limites e acrescer diversas

formas de poder. Para tanto, acaba intervindo irresponsavelmente nos elementos

naturais, comprometendo a integridade de outras espécies, até mesmo a sua,

lembrando que esta também é parte integrante da natureza, fato que muitos seres

humanos desconhecem.

Diante do acima exposto, o presente trabalho tem como uma de suas

finalidades, examinar a incidência do art. 32 da Lei 9.605/98, que trata do crime de

abuso e maus-tratos aos animais. A Lei 9.605/98 é conhecida como Lei de Crimes

Ambientais e através dela ocorreu a sistematização dos crimes contra a natureza,

bem como a garantia do direito da sociedade de ter o meio ambiente

ecologicamente equilibrado, visto que esse é um bem de uso comum e essencial à

sadia qualidade de vida, como prevê o artigo 225 da Carta Magna.

Nesta senda, é plausível dizer que as questões ambientais são de

responsabilidade de todos, muito embora os Estados-membros e a União tenham o

dever, através de seus órgãos competentes, de tomar as medidas necessárias para

resolução dos problemas ambientais. Essas medidas não se restringem apenas à

reparação de danos ao meio ambiente, mas também à tomada de providências para

a apuração dos fatos diante de danos ambientais causados por pessoas físicas ou

jurídicas, bem como da aplicação das penas cabíveis aos infratores.

O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é inerente

ao cidadão, obviamente que dentro das possibilidades e sem ferir qualquer

dispositivo legal. Por outro lado, o dever de atuar, na mesma situação, é das

Page 13: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

12

autoridades competentes das instituições públicas responsáveis pela preservação

da natureza. Essas instituições podem ser municipais, estaduais e nacionais. No

âmbito do Estado tem-se como exemplo a Fundação de Amparo à Tecnologia e

Meio Ambiente – FATMA, e na esfera nacional o Instituto Brasileiro de Meio

Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.

As polícias militares dos estados brasileiros, assim como os corpos de

bombeiros militares, são instituições estaduais. A Polícia Militar, órgão competente a

garantir a preservação da ordem pública, possui amparo legal para atuar diante das

infrações penais, lembrando sempre que somente dentro do que lhes for permitido

pela lei.

Em se tratando das infrações de caráter ambiental, a atuação da Polícia

Militar exige cautela especial, diferente das situações mais comuns onde

comumente atua, uma vez que outros órgãos, já citados anteriormente, também

atuam exercendo o poder de polícia. Por isso, é imprescindível que cada autoridade,

das diversas instituições responsáveis pela preservação da natureza, tenha

elucidadas suas áreas de atuação e suas competências. Além disso, é necessária a

legitimidade de suas ações diante das infrações de cunho ambiental.

A atuação da Polícia Militar frente às infrações penais segue os

procedimentos cabíveis de acordo com o tipo penal. Para os casos de crimes de

abuso e maus-tratos aos animais, para os quais está previsto na Lei 9.605/98 pena

de detenção até dois anos ao infrator, a Polícia Militar como autoridade competente

tem o dever de atuar coibindo esses tipos de infrações. Todavia, é diante dessas

situações que se questiona os limites da atuação da Polícia Militar, uma vez que um

dos caminhos a ser tomado pelas autoridades da referida instituição é a lavratura do

Termo Circunstanciado.

A decisão pela referida forma de atuação é possível somente diante dos

crimes com previsão de pena privativa de liberdade não superior a dois anos,

considerados crimes de menor potencial ofensivo, de acordo com os artigos 60 e 61

da Lei nº 9.099/95, instituidora dos juizados especiais cíveis e criminais.

O crime de abuso e maus-tratos aos animais, como foi dito anteriormente,

está previsto em uma lei especial, a Lei 9.605/98. Além disso, esse crime é

classificado como de menor potencial ofensivo. Portanto, ante o exposto no

parágrafo acima, o procedimento adotado pela autoridade que atua diante do crime

citado pode tomar o rumo a uma lavratura de Termo Circunstanciado.

Page 14: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

13

Considerando cabível a possibilidade de lavratura de Termo

Circunstanciado para os crimes de abuso e maus-tratos aos animais, é imperioso

saber se há legitimidade da ação da Polícia Militar para realizar tal procedimento.

Esse é o direcionamento dessa pesquisa.

1.1 TEMA

O tema delimitado à elaboração deste trabalho é “A legitimidade da

ação da Polícia Militar na lavratura do Termo Circunstanciado diante dos

crimes de abuso e maus-tratos aos animais”.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

A partir da contextualização do tema e considerando a competência

constitucional das polícias militares dos estados brasileiros, bem como os princípios

constitucionais que resguardam as questões ambientais questiona-se: É legítima a

ação das polícias militares dos estados brasileiros quando da lavratura do Termo

Circunstanciado diante dos crimes de abuso e maus-tratos aos animais?

1.3 OBJETIVOS

Para atender o problema desta pesquisa foram delineados os objetivos a

seguir:

1.3.1 Objetivo Geral

Page 15: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

14

Analisar a legitimidade da ação da Polícia Militar para efetuar a lavratura do

Termo Circunstanciado diante dos crimes de abuso e maus-tratos aos animais.

1.3.2 Objetivos Específicos

Apresentar conceitos pertinentes à relação e interação do ser humano e o meio

ambiente;

Identificar as legislações que visam à preservação do meio ambiente, em

especial à preservação da integridade dos animais;

Levantar informações acerca das questões relacionadas aos crimes de maus-

tratos aos animais de modo a contribuir com as autoridades policiais em suas

atuações;

Definir autoridade competente para efetuar a lavratura do Termo

Circunstanciado, através da abordagem constitucional e processual penal do

termo autoridade policial, analisando-se ainda tal expressão frente à Lei nº

9.099/95 e, dimensionando-se também da relação Polícia Militar e a lavratura do

aludido termo;

Explicar a possibilidade e a oportunidade, legal, da lavratura do Termo

Circunstanciado pelas Polícias Militares dos estados brasileiros para os casos

de crimes de abuso e maus-tratos aos animais.

1.4 JUSTIFICATIVA

Para se concretizar a contribuição trazida pelo cadete à Polícia Militar, ao

término dos cursos de Segurança Pública, nível bacharelado, e de Formação de

Oficiais, o acadêmico tem a missão de realizar um Trabalho de Conclusão de Curso,

obedecendo aos critérios do Ministério da Educação e da Cultura – MEC, além de

depender de aprovação por parte da Diretoria de Instrução e Ensino da Polícia

Militar de Santa Catarina.

Page 16: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

15

A presente pesquisa sustenta-se num rol de dados e de informações que

servem de base para que o acadêmico cumpra o requisito à conclusão dos cursos

supracitados. Conseqüentemente, vem atendendo o interesse do cadete em

aprimorar seus conhecimentos relacionados à temática. De certa forma, contribui

para uma possível atuação, num futuro próximo, quando o mesmo estiver pronto

para agir diante das situações típicas relacionadas com o tema do trabalho,

circunstâncias estas que o policial militar pode se deparar durante o exercício de

suas funções.

O policial militar, assim como outras autoridades investidas do poder de

polícia, tem o poder-dever de atuar frente às infrações penais. No entanto, o que

pode acabar por intimidá-lo, dificultando sua ação é a incerteza de ser, ele, a

autoridade competente para agir numa determinada situação. Para tanto, o mesmo

não pode ter dúvida quanto a legitimidade de sua atuação diante das infrações

penais. É neste sentido que os trabalhos com direcionamentos semelhantes ao

desta pesquisa podem contribuir para melhorar o desempenho das autoridades, que

rotineiramente enfrentam diversas situações que demandam conhecimento da

técnica e da doutrina.

A sociedade, de forma geral, tem condenado as ações antrópicas que

degradam o meio ambiente, e isso diz respeito também aos crimes de abusos e

maus-tratos aos animais. No entanto, nem todas as pessoas dispõem de meios para

intervir de forma que venha coibir as ações de devastação da natureza. Diante

disso, é razoável dizer que esta pesquisa pode contribuir, não só com as

autoridades policiais, mas também com os cidadãos que não acolhem a banalização

das práticas de ações que destroem a natureza.

Quando se fala em meio ambiente está se referindo a uma infinidade de

seres, incluindo as diversas formas de vida. Os animais, na sua totalidade, são parte

integrante da natureza. Por sua vez, esses seres possuem características

semelhantes aos humanos e estão sujeitos a sensações muito parecidas, o que faz

com que as pessoas se sensibilizem no trato com os animais, ao ponto de criarem

leis que visam sua proteção.

O ser humano sempre dependeu dos animais para sobreviver, utilizando-

os de várias formas, mas nem sempre os tratando bem. Os maus-tratos aos animais

são práticas muito comuns na história da humanidade e perduram até a atualidade.

Portanto, as autoridades que têm o dever de combater essa crueldade devem estar

Page 17: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

16

preparadas para agir com eficácia, uma vez que são investidas do poder de polícia,

sendo que os procedimentos mais dinâmicos aplicados para coibir os abusos e

maus-tratos aos animais são de sua competência.

O policial militar, sendo autoridade investida de poder de polícia, tem o

poder-dever de agir ao se deparar com uma situação em que um animal está sendo

vítima de abusos e maus-tratos, uma vez que, em tese, nesta situação ocorreu um

crime. No entanto, para cumprir sua missão com êxito, o policial militar deve realizar

os procedimentos cabíveis, obviamente que dentro do que lhe for legalmente

permitido.

Ante o exposto acima, é neste sentido que essa pesquisa pode conter

relevância quando se indaga sobre o procedimento a ser adotado pelo policial militar

perante a infração penal exemplificada no parágrafo anterior. Em casos que

possibilitam a lavratura do Termo Circunstanciado pela autoridade competente que

se depara com a situação, o policial militar precisa estar certo de que, caso venha

decidir pela aplicação do referido procedimento, estará agindo dentro da legalidade,

sendo plenamente legítima sua ação.

1.5 APRESENTAÇÃO GERAL DO TRABALHO

Além do capítulo introdutório, que aqui se encerra, serão trabalhados

outros cinco capítulos dispostos em seqüência lógica que, por assim ser, espera-se

que culmine na integral e fácil compreensão de seu teor.

O segundo capítulo descreve a metodologia empregada para expor os

conhecimentos estudados e pesquisados, subdividindo-se em método, técnicas e

instrumentos de pesquisa, além da coleta e análise dos dados.

No terceiro capítulo, com o objetivo de contextualizar o estudo, procurou-

se fazer uma abordagem da relação do homem com a natureza, discorrendo sobre

temas referentes às questões ambientais e a conscientização ecológica, bem como

a abordagem de conceitos fundamentais dentro da temática do meio ambiente e do

crime de abuso e maus-tratos aos animais, além das legislações que norteiam tal

temática.

Page 18: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

17

No quarto capítulo, abordou-se a missão constitucional da Polícia Militar

com base nos aspectos legais e doutrinários vigorantes. Além disso, fez-se uma

relação da sua competência legal com o termo circunstanciado no tocante a

elaboração deste pelos policiais militares, embasando-se no ordenamento jurídico,

nas doutrinas e nas jurisprudências que contribuem com tal discussão.

No quinto capítulo, além da abordagem das leis e doutrinas que discorrem

sobre a competência legal da Polícia Militar para atuar na esfera ambiental, realizou-

se um apanhado geral dos fundamentos explanados nos capítulos anteriores com o

intuito de convergir para a resposta do problema de pesquisa.

Por fim, no sexto capítulo realiza-se um apanhado geral do trabalho,

sendo apresentadas as considerações finais do autor, que analisa os resultados

obtidos, dando real relevância à solução do problema de pesquisa.

Page 19: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

18

2 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho acadêmico foi realizado com base em pesquisas,

abrangendo principalmente literaturas nacionais que forneceram informações acerca

do assunto e das legislações nacionais relacionadas à temática deste projeto.

Importante destacar, conforme Pasold (2005), duas categorias de

pesquisa que se encontram implícitas à metodologia. Trata-se do método e da

técnica, categorias que serão abordadas a seguir.

2.1 MÉTODO

Inicialmente, conceituando o método segundo Lakatos e Marconi (2006,

p. 83), tem-se que este é:

[...] o conjunto das atividades sistemáticas e reacionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.

Para Pasold (2005, p. 104) o método “é a base lógica da dinâmica da

pesquisa cientifica, ou seja, Método é a forma lógico-comportamental na qual se

baseia o Pesquisador para investigar, tratar os dados colhidos e relatar os

resultados.” Na mesma obra, o referido autor enumera os métodos de pesquisa

científica, sendo: método indutivo, método dedutivo, método dialético, método

comparativo e método sistêmico.

Depois de analisar as características de cada um dos métodos de

pesquisa, acima mencionados, foi possível determinar que para o desenvolvimento

deste trabalho de conclusão de curso, o método mais adequado foi o dedutivo.

Segundo Pasold (2005, p. 104), este método busca “estabelecer uma

formulação geral e, em seguida, buscar as partes do fenômeno de modo a sustentar

a formulação geral”. O autor considera que o método dedutivo proporciona um maior

grau de dificuldade em relação ao método indutivo, por exemplo, uma vez que exige

Page 20: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

19

do investigador a seleção prévia de uma formulação geral, cuja sustentação será

buscada pela pesquisa.

Seguindo a mesma guia, Lakatos e Marconi (2006, p. 93) chamam a

atenção para essa dificuldade, observando que:

Os argumentos, no método dedutivo, ou estão corretos, ou estão incorretos, ou as premissas sustentam de modo completo a conclusão ou, quando a forma é logicamente incorreta, não a sustenta de forma alguma. Portanto, não há graduações intermediárias.

2.2 TÉCNICAS DE PESQUISA

Primeiramente, delineando um conceito de que se pode entender como

pesquisa, tem-se que:

“[...] é um procedimento intelectual em que o pesquisador tem como objetivo adquirir conhecimentos por meio da investigação de uma realidade e da busca de novas verdades sobre um fato (objeto, problema)”, (FACHIN 2001, p. 123).

Ainda segundo Fachin (2001, p.125), “a pesquisa bibliográfica constitui o

ato de ler, selecionar, fichar, organizar e arquivar em tópicos de interesse”.

Consequentemente, o presente trabalho será realizado com base em pesquisa

bibliográfica, uma vez que se utiliza de materiais já elaborados.

Reforçando a idéia acima exposta, de acordo com Pasold (2005, p. 122),

a pesquisa bibliográfica se dá com base em livros, artigos científicos, periódicos,

repertórios jurisprudenciais e em coletâneas legais, posto que “a pesquisa

bibliográfica diz respeito ao conjunto de conhecimentos humanos reunidos nas

obras”, (FACHIN, 2001, p. 125).

De acordo com Gil (1999) e segundo os níveis de pesquisa, estas podem

ser exploratórias, descritivas ou explicativas. Seguindo o autor, entende-se que esta

pesquisa se caracteriza como de nível exploratório, uma vez que através dela

buscar-se descrever, elucidar e modificar conceitos, assim como, apresentar uma

visão geral em relação a um determinado fato.

Page 21: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

20

2.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Com a finalidade de alcançar os objetivos propostos, foram utilizadas

como instrumentos de pesquisa, as fichas bibliográficas e as fichas de citações.

Com relação às fichas bibliográficas, segundo Marconi (2001, p.61), elas referem-se

à indicação de toda referência bibliográfica relativa a determinado texto (legislação,

jurisprudência, regulamentos, doutrina etc.) pontuando o campo do saber que é

abordado, os problemas significativos tratados, as conclusões alcançadas, as

contribuições especiais em relação ao assunto do trabalho, as fontes dos dados e os

métodos de abordagem e dos procedimentos utilizados pelo autor.

De acordo com Parra Filho e Santos (2003, p. 150), a elaboração da ficha

bibliográfica tem por finalidade “Identificar o objetivo da obra; os problemas a que a

obra pretende responder, os resultados obtidos, bem como a metodologia utilizada e

a sua contribuição para o aumento do conhecimento do assunto abordado”.

Em se tratando das fichas, nestas são reproduzidas integralmente, todo o

conteúdo da obra que o pesquisador tiver interesse. (PARRA FILHO E SANTOS,

2003, p. 148).

A coleta dos dados foi realizada através da produção de fichas sobre o

material bibliográfico e documental. Nesta senda, Marconi e Lakatos (2006, p. 49-50)

explanam que:

Para o pesquisador, a ficha é um instrumento de trabalho imprescindível. Como o investigador manipula o material bibliográfico, que em sua maior parte não lhe pertence, as fichas permitem: a) identificar as obras; b) conhecer seu conteúdo; c) fazer citações; d) analisar o material e; e) elaborar críticas.

Sobre a interpretação dos dados coletados obtidos por meio da pesquisa

bibliográfica Lakatos e Marconi (2006, p. 170) afirmam quanto à interpretação que:

É a atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às respostas, vinculando-as a outros conhecimentos. Em geral, a interpretação significa a exposição do verdadeiro significado do material apresentado, em relação aos objetivos propostos e ao tema. Esclarece não só o significado do material, mas também faz ilações mais amplas dos dados discutidos.

Page 22: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

21

A busca por dados que viessem contribuir com essa pesquisa foi

realizada encima de materiais em acervos de bibliotecas, internet e livrarias, tais

como: livros, artigos, monografias, teses e revistas que abordavam a respeito do

tema.

2.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Para atingir o pretendido com essa pesquisa foram coletados nas fontes

bibliográficas, assuntos referentes à temática. Num segundo momento foi realizada

a análise e interpretação dos dados com a finalidade de se estabelecer a

fundamentação teórica deste trabalho. A análise, segundo Lakatos e Marconi (2006,

p.169), “é a tentativa de evidenciar as relações existentes entre o fenômeno

estudado e outros fatores”.

Para Pasold (2005, p. 228), análise diz respeito a

[...] apreciação fundamentada sobre o conteúdo examinado, tendo como desiderato uma crítica cientificamente responsável, ou seja, logicamente coerente com a fundamentação do exame efetuado; a crítica pode, obviamente, ser positiva e/ou negativa, e incidir sobre o todo ou partes do conteúdo em questão.

Com relação à interpretação dos dados obtidos por meio da pesquisa,

esta é entendida como:

[...] a atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às respostas, vinculando-as a outros conhecimentos. Em geral, a interpretação significa a exposição do verdadeiro significado do material apresentado, em relação aos objetivos propostos e ao tema. Esclarece não só o significado do material, mas também faz ilações mais amplas dos dados discutidos. (LAKATOS e MARCONI, 2006, p. 170).

A metodologia adotada tem como escopo atingir os objetivos e responder

ao problema de pesquisa proposto neste trabalho, por meio de um método que

permite optar por materiais que possibilitem a elaboração desta pesquisa. É nesta

senda que se busca adequar os fundamentos metodológicos abordados neste

trabalho, de maneira a alcançar o seu intento.

Page 23: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

22

3 RELAÇÃO HOMEM X NATUREZA

3.1 A QUESTÃO AMBIENTAL

A relação entre o homem e a natureza vem se afirmando como uma das

principais preocupações, tanto no campo das políticas públicas quanto no da

produção de conhecimento. Porém, no período da divisão mundial Bipolar, logo após

a Segunda Guerra Mundial, a preocupação com o meio ambiente estava em

segundo plano. Esse tipo de preocupação advinha apenas dos movimentos

ecológicos e de alguns estudiosos que alertavam a humanidade sobre os riscos de

catástrofes ambientais.

O que provocava inquietação, principalmente das grandes potências

mundiais, era a Guerra Fria. O maior risco que parecia existir era o da Terceira

Guerra Mundial, um conflito entre as superpotências, Estados Unidos e União

Soviética. Contudo, com o fim da ordem mundial bipolar e da Guerra Fria, esse

quadro mudou. A partir dos anos 90 as questões ambientais tornam-se um novo

tópico das discussões internacionais entre uma das principais preocupações das

Nações.

Antes mesmo da década de 80 os problemas ecológicos começavam a

preocupar as grandes potências mundiais da época, mas sem grandes destaques.

Em 1972, na Suécia, na cidade de Estocolmo, aconteceu a Primeira Conferência

Mundial sobre o Meio Ambiente, promovida pela ONU e com a participação de

dezenas de Estados. Naquele momento, a questão ambiental começava a se tornar

uma preocupação internacional, como se pode observar de acordo com Mele (2004,

p.11):

A preservação ambiental sempre foi associada à proteção da fauna e da flora, ou seja, ao meio ambiente natural. O meio ambiente humano evoluiu esse raciocínio, entendendo como fundamental não só meio ambiente natural, mas todos os locais onde o homem vive e a forma como ela o faz, passando então a ser objeto de toda a questão, a qualidade de vida, independentemente de estar relacionada ao meio ambiente natural ou meio ambiente artificial (aquele criado e produzido pelo homem).

Page 24: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

23

Entretanto, foi a Segunda Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, a

ECO-92 ou RIO-92, realizada no Brasil vinte anos depois da primeira, que contou

com maior número de participantes, sendo cada país representado por políticos e

cientistas de alto poder de decisão. Este encontro serviu para tratar de estratégias

de conservação de recursos naturais. Segundo Mele (2004, p.11) “a conservação

incorpora o raciocínio do uso direto e indireto de bens ambientais, utilizando-os de

forma a atender às necessidades sociais e ambientais.”

Estes movimentos constituíram em mudanças na percepção do homem

como parte integrante do meio ambiente, buscando a evolução da coletividade para

uma consciência ecológica, uma consciência que “está intimamente ligada à

preservação do meio ambiente”, (SIRVINSKAS, 2003, p. 3).

Um dos pontos mais positivos da ECO-92 foi o surgimento da Agenda 21.

Este documento estabeleceu a importância de cada país a se comprometer a refletir,

global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações

não-governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo

de soluções para os problemas sócio-ambientais.

De acordo com Milaré (2007. p. 88), a Agenda 21 é uma peça de natureza

programática, que foi oficializada por ocasiao da “Cúpula da Terra”, quando se

reuniu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

“Trata-se de um texto assumido oficialmente pelos paises representados na referida

conferência e, simultaneamente pelo Fórum das Organizacões Não-

Governamentais”.

Ainda de acordo com Milaré (2007. p. 88), a Agenda 21 é um documento

que:

[...] tem como objetivo preparar o mundo para os desafios do século XXI. Se, de um lado, preconizas mudanças, de outro ela se apresenta com um caráter aglutinador, um marco referencial, seja na abordagem dos problemas, seja no seu equacionamento. Para tanto, deve ser considerada a sua condição de documento consensual que se liga diretamente a interesses internacionais e supranacionais. Vale reforçar que, na Agenda 21, as considerações ambientais abrem caminho para o tratamento das questões sócio-econômicas estruturais, e vice-versa, (MILARÉ, 2007, p. 89).

Diante da quebra de paradigmas da concepção homem e natureza inicia-

se uma caminhada a um processo de conscientização com relação às questões

ambientais, com a finalidade de promover a proteção do meio ambiente e dos

Page 25: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

24

recursos naturais necessários à qualidade de todos os seres vivos, inclusive do

homem.

3.2 CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

O problema ecológico, em nossa sociedade, assumiu, nos últimos anos,

posição de destaque na vida cotidiana. Tem feito parte da vida das pessoas, a

cultura do tempo, assim como as subjetividades individual e coletiva. Raro são os

dias em que não faz referência a esta realidade e seus efeitos abrangentes. São

constantes, podendo-se dizer diárias, as agressões do homem à natureza,

lembrando da devastação de florestas, a contaminação da água, a caça e a pesca

predatórias, os vazamentos de petróleo nos mares dizimando os peixes, a liberação

de gases venenosos e partículas radioativas à atmosfera e outros fatos que estão

pondo a natureza em desequilíbrio, pondo em risco a vida na Terra.

Neste contexto, a Ecologia firma-se como ciência revestida de

fundamental importância, uma vez que trata do destino da natureza. Conhecendo tal

ciência, o homem se torna capaz de racionalizar os desmatamentos, explorar

racionalmente os recursos naturais, de controlar a poluição urbana e monitorar de

forma eficaz o crescimento das populações.

Com relação ao conceito de Ecologia, Milaré (2007, p.107) afirma em sua

obra que:

[...] Ecologia é a ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e com seu meio físico. Este, por sua vez, deve ser entendido, no contexto da definição, como o cenário natural em que esses seres se desenvolvem. Por meio físico entendem-se notadamente seus elementos abióticos, como solo, relevo, recursos hídricos, ar e clima.

O autor, acima mencionado, ainda faz menção ao biólogo e médico

alemão Ernst Heinrich Haeckel que, em sua obra “Morfologia geral dos seres vivos”,

como proposta de uma nova disciplina científica, a partir dos radicais gregos oikos

(casa) e logia/logos (estudo), relata que Ecologia é o estudo das relações dos seres

vivos com o ambiente em que vivem, (MILARÉ, 2007).

Page 26: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

25

A consciência ecológica, conforme Sirvinskas (2003) detém estreita

ligação com o meio ambiente e passou a ser preocupação mundial, de modo que

nem uma nação poderá fugir de suas responsabilidades. Diz ainda que a

necessidade de proteção ambiental é antiga, entretanto, no início, não era tão

relevante como é hoje. Em outros tempos, talvez não se cogitasse ou fosse dada

importância, por exemplo, à extinção de espécies, animais ou florestais. Havia sim,

um certo respeito para com a natureza, muito mais como sendo esta proveniente da

criação divina.

Embora se tenha, desde os tempos remotos, certo respeito com aquilo

que provém da criação divina, os interesses da acumulação de capital se colocam,

muitas vezes, como principal preocupação, sendo este o maior responsável pela

presente crise ambiental.

Os requisitos inerentes ao sucesso da empresa capitalista rematam

incompatibilidades flagrantes com as propostas de preservação da vida. Entre tais

requisitos pode-se destacar: a necessidade de volumes sempre crescentes de

investimentos, a perspectiva de tempo econômico pautado nos curtos e curtíssimos

prazos, já que a rentabilidade depende da maior rotatividade do capital, e os

objetivos centrais visando o crescimento ilimitado e lucros imediatos. Essas

características pressupõem um consumo crescente de recursos naturais e

energéticos, um comportamento consumista por parte dos compradores e um

estímulo obsessivo na busca do ganho rápido e fácil, distante de quaisquer

considerações éticas.

Essa conjugação de características e objetivos resulta numa equação

insustentável, com impactos perversos sobre a vida humana – em especial da força

de trabalho que torna tal sistema possível – e sobre o meio ambiente,

(CAVALCANTI, 1998).

Num resgate histórico da consciência ecológica, Sirvinskas (2003)

destaca a antepassada relação de espírito entre homem e natureza, que, contudo,

não deixava de ser manifestação de evolução das ideais de defesa dos recursos

naturais, mediante o resgate de papiros integrantes do Livro dos Mortos,

encontrados com as múmias do Novo Império Egípcio. Tal material remontando três

milênios e meio, denomina-se como a “famosa Confissão Negativa”. Parte do teor

desses papiros, cuja preocupação expressa, como dito, vincula a divindade com a

natureza, a seguir se transcreve:

Page 27: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

26

Homenagem a Ti, grande Deus, Senhor da Verdade e da Justiça! / Não fiz mal algum... / Não matei os animais sagrados/ Não prejudiquei as lavouras... / Não sujei a água/ Não usurpei a terra/ Não fiz um senhor maltratar um escravo... / Não repeli a água em seu tempo/ Não cortei um dique... / Sou puro, sou puro, sou puro!, (SIRVINSKAS, 2003, p. 12).

Somente na atualidade, segundo Sirvinskas (2003), o mundo direcionou o

olhar para as questões ambientais. Com relação ao surgimento e atuação das

Organizações Não Governamentais (ONGs) que, com representantes em

praticamente todos os países, estas geralmente atuam direcionadas a alertar o

Poder Público, principalmente, e a comunidade de modo geral, quanto à

necessidade de proteger o meio ambiente contra agentes nocivos à saúde e à

qualidade de vida da atual geração.

Para Fiorillo (2007, p. 43), “a prevenção e a preservação devem ser

concretizadas por meio de uma conscientização ecológica, a qual deve ser

desenvolvida através de uma política de educação ambiental”. Desde a Conferência

de Estocolmo, o princípio da prevenção tem sido objeto de profundo estima, sendo

considerado imperioso princípio do direito ambiental. Diante disso, Fiorillo (2007, p.

43), faz menção ao Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento criado durante a ECO 92:

Para proteger o meio ambiente medidas de precaução devem ser largamente aplicadas pelos Estados segundo suas capacidades. Em caso de risco de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não deve servir de pretexto para procrastinar a adoção de medidas efetivas visando a prevenir a degradação do meio ambiente.

O crescimento econômico e o avanço tecnológico não têm dados sinais

de cessação, nem tampouco de diminuição neste duradouro e, aparentemente,

infindável período de globalização. Diante desta constatação, surge a idéia do

Desenvolvimento Sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico

com a preservação ambiental e, ainda, ao fim da pobreza no mundo.

De acordo com a ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem

Brundtland, que presidiu a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento

em 1987, o desenvolvimento sustentável "satisfaz as necessidades presentes, sem

comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias

necessidades". Ou seja, é o desenvolvimento econômico, social, científico e cultural

Page 28: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

27

das sociedades garantindo mais saúde, conforto e conhecimento, sem exaurir os

recursos naturais do planeta. (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2007).

A defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado

conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços, e de seus processos de

elaboração e prestação é um dos princípios gerais da atividade econômica

assegurados pela Carta Magna em seu artigo 170. Com relação ao desenvolvimento

ambiental e desenvolvimento sustentável, Machado (2004, p. 132) afirma que o meio

ambiente é item obrigatório na agenda econômica pública e privada. “A defesa do

meio ambiente não é uma questão de gosto, de ideologia e de moda, mas um fator

que a Carta Maior manda levar em conta”. Afirma ainda, que no anseio de

desenvolvimento ambiental, econômico e social, implica em integrá-los no que se

idealiza por desenvolvimento sustentável.

3.3 MEIO AMBIENTE

O conceito de meio ambiente utilizando-se de uma linguagem mais

técnica é “a combinação de todas as coisas e fatores externos ao indivíduo ou

população de indivíduos em questão”, (NEBEL apud MILARÉ, 2007, p. 110).

Segundo Milaré, o meio ambiente é constituído por seres bióticos e

abióticos e suas relações e interações. Diz ainda que não se trata de mero espaço

circunscrito, e sim de realidade complexa e marcada por múltiplas variáveis.

A Constituição da República Federativa do Brasil através do art. 225 faz

referência ao meio ambiente como bem de uso comum do povo, sendo o mesmo

essencial à sadia qualidade de vida. Além de garantir esse direito prolixo, a referida

Constituição impõe ao Poder Público e a coletividade o dever de defesa do meio

ambiente. A definição legal de meio ambiente encontra-se no artigo 3º da Lei

6.938/811:

Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; [...] (BRASIL, 1.981).

1Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação

e aplicação, e dá outras providências.

Page 29: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

28

Em se tratando do conceito exposto acima, Sirvinskas (2003) assegura

que a terminologia (meio + ambiente) é objeto de crítica perante a doutrina, em face

da possível sinonímia ou pleonasmo entre os vocábulos que a compõem. Contudo,

mesmo criticada, a nomenclatura meio ambiente é consenso na legislação, doutrina,

jurisprudência e inclusive na consciência popular. Já Machado (2004, p. 140),

considera ampla a definição federal, uma vez que, segundo ele, a mesma atinge

tudo aquilo que permite a vida, abriga e rege.

Para Milaré (2007, p. 110), o conceito jurídico de meio ambiente oferece

duas perspectivas, uma stricto sensu e outra lato sensu. A primeira restringe meio

ambiente ao patrimônio natural e relações do ecossistema. A visão lato sensu

entende que meio ambiente é o meio ambiente natural (natureza) e o meio ambiente

artificial. Fiorillo (2007) parte da visão lato sensu para classificar meio ambiente em

natural, artificial, cultural e do trabalho. Tal classificação decorre da observação do

autor ao artigo 225 da Constituição Federal, quando a mesma vale-se da expressão

sadia qualidade de vida.

3.3.1 A flora e a fauna

As variadas formas de vida da Terra compreendem a fauna e a flora.

Sejam ambas selvagens ou não, são de suma importância para a manutenção da

biosfera da terra e consequentemente para o ser humano. Sua preservação é

primordial para que se mantenha a qualidade de vida na Terra, bem como a própria

vida do referido planeta. Por esse motivo, as formas de vida, seja quais forem elas,

bem como os demais recursos naturais devem ser protegidos pelo Poder Público e

pela coletividade, para que se possa prosperar um meio ambiente equilibrado e

sadio, por sinal um direito de todos, nos termos do artigo 225 da Constituição

Federal.

A fauna e a flora estão abarcadas dentre os recursos ambientais, como

prevê a Lei 6.938/81 em seu artigo 3º, inciso V. Esta lei considera como recursos

ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os

estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a

flora.

Page 30: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

29

Quando a lei supracitada se refere aos elementos da biosfera como

recursos naturais, leva em conta inclusive o ecossistema humano. A categoria dos

recursos naturais é parte de um conjunto mais amplo: os recursos ambientais.

Sendo assim, todo recurso natural é ambiental, mas nem todo recurso ambiental é

natural. Além dos recursos citados no parágrafo anterior, bens culturais e históricos

também se inserem entre os recursos ambientais, como meio construído pelo

homem, associado ao patrimônio natural. (MILARÉ, 2007).

3.3.1.1 A flora

Segundo Fiorillo (2007, p. 105), o conceito de flora difere-se do conceito

de floresta, sendo que o primeiro é um termo mais amplo. A flora “é o coletivo que

engloba o conjunto de espécies vegetais de uma determinada região, enquanto

floresta, por sua vez, é um dos conteúdos do continente flora”.

Ao conceituar flora, Milaré (2007, p. 238) se estende um pouco mais,

explicando que:

A flora é entendida como a totalidade de espécies que compreende a vegetação de uma determinada região, sem qualquer expressão de importância individual dos elementos que a compõem. Elas podem pertencer a grupos botânicos os mais diversos, desde que estes tenham exigências semelhantes quanto aos fatores ambientais, entre eles os biológicos, os do solo e o do clima.

Freitas e Freitas (2006, p. 134) utilizam o conceito do glossário de

Ecologia da Academia de Ciências do Estado de São Paulo em sua obra, dizendo

que flora “é o conjunto de plantas de uma determinada região ou período listadas

por espécies e consideradas como um todo”. À floresta, o mesmo autor deu o

conceito de “qualquer sociedade de seres vivos na qual os habitantes mais

importantes são as árvores”.

3.3.1.2 A fauna

Page 31: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

30

O conceito de fauna, a partir da obra de Freitas e Freitas (2006, p. 85),

pode ser entendido como “o conjunto dos animais próprios de uma região”.

Ao tratar da fauna em sua obra, Fiorillo (2007, p. 123) define-a como “o

coletivo de animais de uma dada região”. O autor ainda classifica a fauna como

silvestre e doméstica. A primeira o autor descreve como “o conjunto de animais que

vivem em liberdade, fora do cativeiro”, e a segunda como “aquela que não vive em

liberdade, mas em cativeiro, sofrendo modificação do seu hábitat natural”.

Acrescenta ainda, que a fauna doméstica convive geralmente de forma harmoniosa

com o ser humano, inclusive estabelecendo com ele um vínculo de dependência

para sobreviver.

Antes de conceituar fauna, Milaré (2007, p. 244) faz referência a ela como

um dos indicadores mais impressionantes da evolução da vida sobre a Terra, e

também um indicador das ameaças que pairam sobre o conjunto da vida no Planeta.

Em seguida, conceitua a fauna como “o conjunto dos animais que vivem numa

determinada região, ambiente ou período geológico”.

Para Machado (2004, p. 780), fauna é “o conjunto de espécies animais de

um determinado país ou região”. Quanto à fauna silvestre, para o referido autor, o

animal silvestre pode ser o da selva como também aquele não domesticado.

Acrescenta ainda que fauna silvestre “não quer dizer exclusivamente a fauna

encontrada na selva”.

3.4 CRIME DE ABUSO E MAUS TRATOS AOS ANIMAIS

O ordenamento jurídico brasileiro atual prevê que maltratar animais, quer

sejam eles, domésticos ou selvagens, caracteriza-se crime ambiental, conforme o

artigo 32 da Lei 9.605/98, com detenção de três meses a um ano, e multa, para

quem praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,

domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Ou seja, maltratar animais é

crime.

Embora a aludida lei seja atual, há um antigo Decreto Federal em vigor

que já tratava da questão dos atos de crueldade contra os animais. Trata-se do

Decreto-Lei 24.645/34, que quanto ao que se pode considerar maltratar, elenca nos

Page 32: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

31

artigos 3º ao 8º os atos assim considerados. Existe ainda legislação específica que

disciplina a utilização de animais em experiências científicas. (SANTOS, 2000).

O crime de abuso e maus-tratos aos animais configura-se mediante a

conduta delitiva prevista no já mencionado artigo 32 da Lei 9.605/98, que descreve o

seguinte:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

O dispositivo legal supracitado revogou o artigo 64 da Lei de

contravenções penais, que discorria em torno da proibição das práticas de crueldade

contra animais. Entretanto, sem desviar o foco, apenas adequando a atualidade.

Com relação ao § 1º do referido artigo, Machado (2004, p. 749) discorre

sobre as experiências em animais vivos para fins didáticos ou científicos orientando

que “[...] não pode ser mais entendida como atividade realizada sem a preocupação

do uso de método alternativo.” Para o autor, o crescimento ético da comunidade

científica ocorrerá a partir do momento em que dirigir suas pesquisas na busca por

“[...] possibilidades atuais ou futuras de serem abandonadas algumas dessas

experiências”.

O aumento da pena previsto no § 2º do artigo mencionado ocorrerá em

casos que houver a prática das condutas previstas no caput do mesmo artigo. Na

dosimetria da pena, o Magistrado ao fixar o quantum do aumento da pena, deverá

avaliar se a morte do animal ocorreu de forma dolosa ou culposa (CONSTANTINO,

2002).

Quanto ao sujeito do delito, os doutrinadores possuem opiniões

divergentes. A primeira linha de pensamento defende que apenas a pessoa física é

passível de cometer o crime em tela. Milaré (2004, p. 86) afirma que “o crime é

comissivo e comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Naturalmente a

pessoa jurídica não pode ser sujeito agente do crime”. No mesmo pensamento,

Constantino (2002, p. 122) diz que o sujeito ativo é “qualquer pessoa física”,

excluindo por omissão a pessoa jurídica.

Page 33: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

32

Diversamente, a segunda linha de pensamento defende que tanto a

pessoa física como a pessoa jurídica podem ser sujeitos agentes do crime. Desta

forma defende Calhau (2005), que existirá responsabilização quando forem

preenchidos os requisitos para a responsabilização da pessoa jurídica. O sujeito

passivo é a coletividade.

Milaré (2004, p. 86) tem o entendimento de que o animal não faz parte do

sujeito passivo, “já que os animais constituem objeto material da conduta”. Com

relação ao tipo subjetivo do delito, o mesmo autor afirma que o crime de maus tratos

exige o dolo direto, devendo existir a consciência do abuso. Ressalta ainda que

inexista forma culposa.

A definição do que venha a constituir o abuso e os maus tratos a um

animal não se encontra no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais. Todavia, alguns

autores trazem definições de fundamental importância para o entendimento do que

pode vir a caracterizar tal crime.

Para Constantino (2002) a prática de ato de abuso pode ser separada em

duas partes: praticar consiste em realizar, efetuar; abuso seria o uso errado ou

excessivo. Conseqüentemente, praticar ato de abuso configura no uso exagerado ou

errado do animal nas atividades impostas a ele.

No entendimento de Costa (2002, p.212), ferir é ofensa física ao animal,

independente do instrumento utilizado. Acrescenta que “tal ação representa a

correspondente para a fauna do delito de lesão corporal existente para o ser

humano”. Mutilar consiste em retirar, privar uma parte do corpo do animal.

Ainda seguindo os ensinamentos do autor supracitado (2002, p. 211),

maus-tratos pode ser definido “como exposição a perigo de vida ou à saúde, através

da sujeição ao trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando dos meios de

correção, quer privando-o de alimentação ou cuidados”. Todavia, Constantino (2002,

p.122) relata que “a expressão maus-tratos foi utilizada, aqui, impropriamente pelo

legislador, uma vez que o mesmo termo é empregado no art. 136 do CP, em relação

a seres humanos”.

A tentativa é possível, tanto para os casos de crime de dano, como nos

casos de crime de perigo. Constantino (2002) explica que a configuração da forma

tentada dependerá do caso concreto. Milaré (2004, p. 88), contribuindo com o

mesmo entendimento, fornece um exemplo esclarecedor: “imaginemos que uma

Page 34: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

33

briga de galos, quando proibida, estivesse por realizar-se e o agente governamental

a impedisse, antes de seu início”.

A consumação ocorrerá com o efetivo ferimento ou mutilação do animal,

sendo que, ferir ou mutilar são condutas que caracterizam o crime de dano. A prática

de abuso ou maus-tratos configura crimes de perigo, de forma que o crime estará

consumado “com a exposição do objeto material a perigo de dano, mediante

tratamento abusivo ou violento”, (CONSTANTINO, 2002, p. 123).

Alguns esportes que utilizam animais como a "briga de galo" e a "briga de

canários", que se constituem verdadeiros costumes culturais enraizados em certas

regiões do Brasil, estão sendo combatidos. Importante destacar também a tourada

na Espanha e México e a "farra do boi" no sul do Brasil existindo, sendo que há uma

crescente mobilização popular contra estes costumes, além de várias associações

de defesa dos animais, (SANTOS, 2000).

Com relação à “farra do boi”, felizmente, o Supremo Tribunal Federal

acabou de vez com as intenções daqueles que queriam emplacar um princípio de

adequação social no caso para afastar a responsabilidade penal dos envolvidos.

Em muitos países já existem leis que tutelam os animais, no sentido de

evitar os atos de crueldade. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais, da

UNESCO, celebrada na Bélgica em 1978, e subscrito pelo Brasil, elenca entre os

direitos dos animais o de "não ser humilhado para simples diversão ou ganhos

comerciais", bem como "não ser submetido a sofrimentos físicos ou comportamentos

antinaturais", (SANTOS, 2000).

Page 35: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

34

4 A POLÍCIA MILITAR E O TERMO CIRCUNSTANCIADO

Dando seqüência à marcha pelos caminhos traçados para encontrar a

resposta à pergunta do problema da presente pesquisa, imprescindível é a

passagem pelo estudo da competência legal da Polícia Militar e sua relação com a

Lei nº 9.099/95, nomeadamente dos juizados especiais criminais, focando no tocante

a Polícia Militar como autoridade policial perante a referida lei.

Na mesma senda, aborda-se a conceituação e finalidade do termo

circunstanciado, como medida de progresso judicial, num modelo processual penal

inovador que afasta ou amaina a aplicação de penas privativas de liberdade,

buscando o consenso através da transação penal.

Para prosseguir com o entendimento a proposta acima exposta é

imperioso o conceito de transação penal, que segundo o artigo 76 da Lei 9099/95

trata-se da aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas. Da mesma

forma, Damásio de Jesus diz tratar-se de um negócio entre o Ministério Público e a

defesa, possibilitando-se ao juiz, de imediato, aplicar uma pena alternativa ao

autuado, justa à acusação e defesa (JESUS, 1995, p. 62).

4.1 COMPETÊNCIA LEGAL DA POLICIAL MILITAR

Para melhor organização e compreensão deste item fez-se necessário

eleger alguns assuntos que são imprescindíveis ao entendimento das questões

referentes à competência legal da Polícia Militar, de forma a contribuir para que as

metas traçadas nesta pesquisa sejam atingidas.

4.1.1 Aspectos legais e doutrinários

As questões legais referentes à Polícia Militar são primeiramente tratadas

na Constituição Federal de 1988, no artigo 42, colocado no Título III “Da

Page 36: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

35

Organização do Estado”, Capítulo VII “Da Administração Pública”, Seção III “Dos

Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”. A primeira referência

que a Carta Magna faz é a de que as corporações são baseadas na hierarquia e

disciplina, sendo que os Policiais e Bombeiros Militares são colocados na categoria

de Militares Estaduais. Na mesma carta política, a Polícia Militar é abordada no

Título V, “Da Defesa dos Estados e das Instituições Democráticas”, no Capítulo III

“Da Segurança Pública”. Contudo, é em seu artigo 144 V e § 5º que a CRFB faz

menção mais concisa da missão constitucional da Polícia Militar:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...] § 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. (BRASIL, 1988).

Outros dispositivos, sejam legais ou doutrinários, também versam sobre a

competência, bem como amparam juridicamente a atuação da Polícia Militar quando

do exercício de sua função. Dentre eles destacam-se as Constituições Estaduais, o

Decreto no 88.777 (R-200)2, datado de 30 de dezembro de 1983, o Parecer nº GM-

253, de 29 de julho de 2001 e o Decreto-lei nº 6674, de 2 de julho de 1969.

4.1.1.1 Preservação da Ordem Pública

A Preservação da Ordem Pública, missão constitucional delegada à

Polícia Militar, no seu pleno entendimento demanda diretamente o conceito de

Ordem Pública, sendo que as questões relacionadas aos referidos termos

encontram-se, principalmente, na CRFB e nas Constituições Estaduais, no R-200,

no Parecer nº GM-25 e no Decreto-lei nº 667, todos já citados anteriormente.

2 Aprova o regulamento às policias militares e corpos de bombeiros militares

3 PARECER Nº AGU/TH/02/2001 da Advocacia Geral da União. Trata da atuação

emergencial e temporária das Forças Armadas na preservação da ordem pública. 4 Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, dos

Territórios e do Distrito Federal, e dá outras providências.

Page 37: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

36

A Constituição Federal de 1967 trazia em seu texto o termo “manutenção”

da Ordem Pública quando se referia à missão constitucional da Polícia Militar. O

atual diploma, de mesmo nome, reproduziu um novo texto, sendo que no que se

refere à Ordem Pública, seguindo um rumo diferenciado e inovador, adotou a

terminologia “preservação”, que de início pode parecer apenas uma mudança na

nomenclatura. Contudo, essa mudança se fez intencionalmente, pois preservação

da ordem pública é um termo mais abrangente.

Reforçando a idéia acima, Lazzarini (1999), define preservação da ordem

pública como sendo o exercício do poder de polícia na área de Segurança Pública,

onde se manifesta através de um conjunto de ações de policiamento ostensivo,

visando prevenção e repressão de delitos, com o intuito de estabelecer a

tranqüilidade pública. Neste sentido, tem-se a preservação da Ordem Pública como

uma parte a missão constitucional da Polícia Militar. Para melhor entendimento tem-

se o conceito de Ordem Pública segundo o R-200 em seu artigo 2º que versa o

seguinte:

Art. 2º - Para efeito do Decreto-lei nº 667, de 02 de julho de 1969 modificado pelo Decreto-lei nº 1.406, de 24 de junho de 1975, e pelo Decreto-lei nº 2.010, de 12 de janeiro de 1983, e deste Regulamento, são estabelecidos os seguintes conceitos: [...] 21) Ordem Pública - Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum.

Segundo Meirelles apud Marcineiro e Pacheco (2005, p. 43), Ordem

Pública é a “situação de tranqüilidade e normalidade de que o Estado assegura – ou

deve assegurar – às instituições e a todos os membros da sociedade, consoante as

normas jurídicas legalmente estabelecidas”. O referido autor acrescenta ainda que

não se trata apenas de um conceito jurídico, mas também como uma situação fática

de respeito ao interesse da coletividade e aos direitos individuais que o Estado

assegura, pela Constituição da República e pelas leis, a todos os membros da

comunidade.

Ante o exposto acima, é importante salientar que Lazzarini divide a ordem

pública em três elementos: a Segurança Pública, a Tranqüilidade Pública e a

Salubridade Pública. Com relação a primeira, o autor versa o seguinte conceito:

Page 38: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

37

[...] é o estado antidelitual, que resulta da observância dos preceitos tutelados pelos códigos penais comuns e pela lei de contravenções penais, com ações de polícia repressiva ou preventiva típicas, afastando-se, assim, por meio de organizações próprias, de todo o perigo, ou de todo o mal que possa afetar a ordem pública em prejuízo da vida, da liberdade ou dos direitos de propriedade das pessoas, limitando as liberdades individuais, estabelecendo que a liberdade de cada pessoa, mesmo em fazer aquilo que a lei não lhe veda, não pode ir além da liberdade assegurada aos demais, ofendendo-a, (LAZZARINI, 2003, p. 144).

Com relação a tranqüilidade pública e a salubridade pública o mesmo

autor expõe que:

Tranqüilidade Pública – exprime o estado de ânimo tranqüilo, sossegado, sem preocupações nem incômodos, que traz às pessoas uma serenidade, ou uma paz de espírito. A tranqüilidade pública, assim, revela a quietude, a ordem, o silêncio, a normalidade das coisas, que, como se faz lógico, não transmitem nem provocam sobressaltos, preocupações ou aborrecimentos, em razão dos quais se possa perturbar o sossego alheio. A tranqüilidade, sem dúvida alguma, constitui direito inerente a toda pessoa, em virtude da qual está autorizada a impor que lhe respeitem o bem-estar, ou a comodidade do seu viver. Salubridade Pública – referindo-se às condições sanitárias de ordem pública, ou coletiva, a expressão salubridade pública designa também o estado de sanidade e de higiene de um lugar, em razão do qual se mostram propícias as condições de vida de seus habitantes, (LAZZARINI 2003, p. 245, grifo do documento).

De acordo com Curcino Neto (2008, p. 61), além da salubridade,

tranqüilidade e segurança pública, elementos mais utilizados para analisar a ordem

pública, sendo a partir deles que se pode ter a noção da abrangência e

complexidade que este conceito representa para a sociedade e para os órgãos de

segurança pública, tem-se também, no atual contexto, o elemento denominado:

dignidade da pessoa humana. Trata-se de um dos princípios fundamentais

estipulados na Constituição Federal em seu art. 1º, III, na atual conjuntura de Estado

Democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana como é um dos

fundamentos da organização social.

Entende-se por dignidade da pessoa humana no entendimento de Sarlet

(2002, p. 43-44):

[...] a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover

Page 39: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

38

sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Em se tratando da preservação da Ordem Pública, cabe à Polícia Militar o

exercício da polícia ostensiva. Contudo, também lhe cabe a competência residual de

exercício de toda atividade policial se segurança pública não atribuída aos demais

órgãos, (LAZZARINI, 1999). Ambos os assuntos serão tratados adiante, uma vez

que demandam um entendimento prévio sobre poder de polícia, assunto que será

tratado a seguir.

4.1.1.2 Poder de Polícia

O exercício do papel constitucional da Polícia Militar, a preservação da

ordem pública, como fora citado anteriormente, concretiza-se mediante a aplicação

do poder de polícia, que, segundo Meirelles (2004, p. 129), “é a faculdade de que

dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens,

atividades e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado”.

De acordo com Cooley apud Meirelles (2004, p. 130) o poder de polícia:

[...] (police power), em seu sentido amplo, compreende um sistema total de regulamentação interna, pelo qual o Estado busca não só preservar a ordem pública, senão também estabelecer para a vida de relações dos cidadãos aquelas regras de boa conduta e de boa vizinhança que se supõem necessárias para evitar conflito de direitos e para garantir a cada um o gozo ininterrupto de seu próprio direito, até onde for razoavelmente compatível com o direito dos demais.

Contribuindo para um melhor entendimento do conceito de poder de

polícia dado até o momento, é oportuno acrescentar que a Polícia tem a

possibilidade de agir, em concreto, pondo em ação todo o arsenal logístico de que

dispõe, isso se deve ao que lhe confere o poder de polícia, sendo que este

fundamenta o poder da polícia. Este sem aquele seria arbitrário, segundo Cretella

Júnior (2000).

Ainda segundo o autor supracitado (2000) o poder de polícia, diante do

atual Estado de direito satisfaz o tríplice objetivo, qual seja, o de assegurar à

tranqüilidade, a segurança, a salubridade, enfim, o bem-estar, mediante uma série

Page 40: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

39

de medidas, traduzidas na prática, pela ação policial, que se propõe atingir tal fim.

Nesta concepção o Código Tributário Nacional (Lei n.º 5.172, de 25 de outubro de

1966), em seu artigo 78 apresenta uma completa acepção do que vem a ser poder

de polícia:

Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

Ao desempenhar o seu poder de polícia, o Estado o faz em quatro fases

distintas: a ordem de polícia, o consentimento de polícia, a fiscalização de polícia e a

sanção de polícia. Para cada uma dessas expressões o Parecer nº GM-25 traz os

seguintes conceitos:

A ordem de polícia se contém num preceito, que, necessariamente, nasce da lei, pois se trata de uma reserva legal (art. 5º, II), e pode ser enriquecido discricionariamente, consoante as circunstâncias, pela administração. O consentimento de polícia, quando couber, será a anuência, vinculada ou discricionária, do Estado com a atividade submetida ao preceito vedativo relativo, sempre que satisfeitos os condicionamentos exigidos, (BRASIL, 2001, grifo do autor).

Com relação à fiscalização e sanção de polícia, o mesmo Parecer traz

que:

A fiscalização de polícia é uma forma ordinária e inafastável de atuação administrativa, através da qual se verifica o cumprimento da ordem de polícia ou a regularidade da atividade já consentida por uma licença ou uma autorização. A fiscalização pode ser ex officio ou provocada. No caso específico da atuação da polícia de preservação da ordem pública, é que toma o nome de policiamento. A sanção de polícia é a atuação administrativa auto-executória que se destina à repressão da infração. No caso da infração à ordem pública, a atividade administrativa, auto-executória, no exercício do poder de polícia consoante as circunstâncias, pela Administração, se esgota no constrangimento pessoal, direto e imediato, na justa medida para restabelecê-la, (BRASIL, 2001, grifo do autor).

O poder de polícia possui atributos próprios como a auto-executoriedade,

a discricionariedade e a coercibilidade. Para Meirelles (2004, p. 134-136) a auto-

executoriedade “[...] é a faculdade de Administração decidir e executar diretamente

Page 41: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

40

sua decisão por seus próprios meios, sem intervenção do judiciário [...]”; a

discricionariedade “[...] traduz-se na livre escolha, pela Administração, da

oportunidade e conveniência de exercer o poder de polícia [...]” e a coercibilidade

significa que “[...] todo ato de polícia é imperativo (obrigatório para seu destinatário),

admitindo até o emprego da força pública para seu cumprimento, quando resistido

pelo administrado”.

Os campos de atuação do poder de polícia dividem-se em dois. São eles:

a polícia judiciária e a polícia administrativa. Lazzarini (1999, p. 192), afirma que:

[...] polícia administrativa é a que se destina a assegurar o bem-estar geral, impedindo, através de ordens, proibições e apreensões o exercício anti-social dos direitos individuais, o uso abusivo da propriedade, ou a prática de atividades prejudiciais à coletividade. A polícia administrativa se expressa no conjunto de órgãos e serviços públicos incumbidos de fiscalizar, controlar e deter as atividades individuais (não os indivíduos) que se revelem contrários, inconvenientes ou nocivas à comunidade, no tocante à segurança, à higiene, à saúde, à moralidade, ao sossego, ao conforto público e até mesmo à estética urbana.

Com relação ao poder de polícia judiciária, o mesmo autor expõe que a

polícia judiciária é "[...] regida pelas normas de direito processual penal e incide

sobre as pessoas" (1999, p. 240). A polícia administrativa pode agir de forma

preventiva e também repressiva. Nas duas hipóteses a sua função é tentar impedir

que a conduta do indivíduo cause prejuízo para a coletividade.

4.1.1.3 Policia Ostensiva

A Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 144 V e § 5º mencionado

no início deste capítulo, conferiu às polícias militares a atividade de polícia

ostensiva, frisando que tal atividade é de exclusividade da Polícia Militar através do

exercício do poder de polícia, considerando que o entendimento deste, explanado

anteriormente, é de suma importância para compreender o que se refere à polícia

ostensiva.

A definição de Polícia Ostensiva para Valla (2005, p. 74) é:

Page 42: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

41

A polícia ostensiva, segundo os especialistas, é uma expressão nova, não só texto constitucional, como na terminologia da especialidade. Foi adotada para estabelecer a exclusividade constitucional e para marcar, frise-se, a expansão da competência policial das polícias militares, além do policiamento ostensivo.

O mesmo autor discorre ainda que o policiamento corresponde apenas a

uma das fases do poder de polícia qual seja a atividade de fiscalização de polícia,

enquanto a expressão “Polícia Ostensiva” amplia a atuação da Polícia Militar à

totalidade das fases do exercício do poder de polícia. Nesse contexto, é importante

elucidar que polícia ostensiva é diferente de policiamento ostensivo. Desta forma,

verifica-se que o policiamento ostensivo é apenas uma das ações de Polícia

Ostensiva, a qual é exercida com exclusividade pela Polícia Militar.

Segundo o Decreto nº 88.777(R-200), em seu artigo 2º, policiamento

ostensivo é “a ação policial, em cujo emprego do homem, ou a fração de tropas

engajadas, sejam identificadas de relance, quer pela farda, quer pelo equipamento,

armamento ou viatura, objetivando a manutenção da Ordem Pública”, (BRASIL,

1983).

Com relação às diferenciações de ambos os termos referenciados, Jesus

apud Rodrigues (2006, p. 26) discorre que o termo polícia ostensiva, nas

constituições anteriores a de 1988 não era conhecido. É uma expressão nova que

fora adotada por dois motivos:

[...] o primeiro, para estabelecer a exclusividade constitucional, e o segundo, para marcar a expansão da competência policial das policias militares, além do policiamento ostensivo. Portanto, o policiamento é apenas uma fase da atividade de polícia. Este policiamento exercido pela polícia militar corresponde, apenas, uma fase da atividade de fiscalização e, por tal motivo, a nova expressão utilizada na Constituição de 1988, polícia ostensiva (art. 144 § 5º), expande a integralidade das fases do exercício do poder de polícia, a saber: a ordem de polícia o consentimento de polícia, a fiscalização de polícia, e a sanção de polícia.

Embora a polícia ostensiva seja a principal atividade exercida pela Polícia

Militar na preservação da ordem pública, sua ampla competência engloba, também,

a de outros órgão policiais, quando na falência deles ao exercerem seu poder de

polícia. Nestes casos, impetra a competência residual exercida pela Polícia Militar

para cumprir com as atribuições dos demais órgãos responsáveis pela preservação

da ordem pública.

Page 43: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

42

Para Lazzarini (1989), quando o policial militar encontra-se na sua

atividade preventiva de polícia ostensiva, ao se deparar com uma infração penal,

deverá proceder à repressão, tomando todas as providências elencadas no

ordenamento processual penal brasileiro. Essa repressão, inclusive as com ações

iniciais de polícia judiciária, não viola dispositivo constitucional, uma vez que quem

tem a obrigação de preservar a ordem tem também o dever de restaurá-la, quando

da violação.

Ainda referente à competência residual, para uma melhor compreensão,

extraiu-se do mesmo autor que:

De outro lado, às Polícias Militares, instituídas para o exercício da polícia ostensiva e preservação da ordem pública, compete todo o universo policial, que seja atribuição constitucional prevista para os demais seis órgãos elencados no artigo 144 da Constituição da República de 1988. Em outras palavras, no tocante à preservação da ordem pública, às Polícias Militares não só cabe o exercício da polícia ostensiva, na forma retro examinada, como também a competência residual de exercício de toda atividade policial de segurança pública não atribuída aos demais órgãos, (LAZZARINI, 1989, p. 233, grifo nosso).

Ante o exposto sobre a competência residual por parte da Polícia Militar,

percebe-se o quão abrangente é sua missão perante a sociedade, perseguindo a

realização do interesse da coletividade, lógico que demandando sempre a existência

de uma norma preceptiva, estando sua conduta assegurada pelo ordenamento

jurídico que versa, algumas vezes, quando o policial pode agir, outras vezes, quando

o mesmo deve agir em benefício da coletividade.

4.2 TERMO CIRCUNSTANCIADO

Para melhor compreender o Termo Circunstanciado (TC), bem como a

relação que este tem com a Polícia Militar no tocante a suas atribuições legais, fez-

se necessário organizar e discorrer sobre alguns assuntos pertinentes e

indispensáveis a tal compreensão. Sendo assim, seguem os subitens trazendo a

fundamentação necessária para a referida designação.

Page 44: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

43

4.2.1 Lei 9.099/95 e os Juizados Especiais Criminais

O acesso à justiça, o direito de ação, o ressarcimento à vítima, e a rápida

resposta da Justiça Criminal, apta a conter a proliferação de delitos, são valores

almejados pela comunidade jurídica brasileira com vistas à efetividade do processo,

sobretudo a instrumentalidade do sistema processual. Ainda, que às infrações de

pequena monta, a solução poderia ser efetivada pelo método consensual, em

procedimento oral, baseado no material probatório colhido e argumentações das

partes, em face da percepção de que “a celeridade acompanha a oralidade, levando

à desburocratização e simplificação da Justiça”, (GRINOVER et al, 2002, p. 31).

A mesma autora acrescenta (2002, p. 32), com base no que foi citado

acima, que se tem a idéia da participação popular na administração da justiça, ao

que observa o princípio democrático do envolvimento do corpo social na solução das

lides, bem como a tendência das vias conciliativas, mais amplas que a solução da

lide em litígio, chegando à pacificação social.

Buscando solução de boa parte dos problemas da Justiça Criminal

Brasileira, o legislador, com o advento da Lei nº 9.099/95, reconheceu a

necessidade de separar os delitos de menor potencial ofensivo, dos de maior

complexidade, inovando conceitos e formas processuais.

Sobre os Juizados Especiais e a Lei 9.099/95, a obra de Carvalho e

Carvalho Neto (2006, p. 166), fornece um breve histórico:

Os Juizados Especiais têm origem na necessidade de se promover uma Justiça mais rápida e eficiente, proporcionando aos cidadãos a rápida solução das questões que lhe são postas. [...] Mesmo sendo criado sem condições materiais e humanas de ser colocado em prática, todos os Tribunais do país têm encontrado solução para aplicação das disposições da Lei dos Juizados. [...] Os autores dos projetos que resultaram na lei nº 9.099/95, foram os Deputados Michel Temer e Nelson Jobim. O Projeto de nº 1.480-A/89, de autoria do Deputado Michel Temer, regulava os Juizados Especiais Criminais, somente. Já o projeto de nº 3.698/89, do Deputado Nelson Jobim, dispunha sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A Comissão de Constituição e Justiça e de Redação deu parecer pela aprovação de ambos os projetos, sendo então apresentado um substitutivo, aproveitando os dois projetos.

Page 45: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

44

A Carta Magna de 1988 em seu artigo 98 inciso I determinou a criação

dos Juizados Especiais no Distrito Federal e Estados membros, dispondo o referido

artigo:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos orais e sumaríssimos, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; [...].

O Juizado Especial Criminal defende uma redução do sistema penal para

a resolução dos conflitos sociais evitando ao máximo o encarceramento, tendo em

vista o julgamento das infrações penais de menor potencial ofensivo, por meio de

conciliação das pessoas envolvidas ou a aplicação de penas que não a prisão.

Sendo assim o artigo 1° da Lei 11.3135, de 2006 dando novo rótulo ao artigo 60 e 61

da Lei 9.099, ampliou para Justiça Estadual aquilo que já ocorria na Justiça Federal:

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitada as regras de conexão e continência. Parágrafo único: Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis. Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa.

Analisando a necessidade de reforma das leis processuais os Juizados

Especiais Criminais seguem na busca pelo rompimento nas falhas da organização

judiciária no que concerne à lentidão do Judiciário e à impunidade de infratores que

sempre obtinham a extinção da punibilidade devido à morosidade dos processos,

(Ferreira, 2004).

Essa nova gerência normativa proporcionou rapidez à Justiça tanto na

marcha processual quanto na solução dos conflitos a ela elevados. Ainda, deu

espaço aos órgãos atuantes na Justiça Penal para que pudessem se dedicar com

5 Altera os arts. 60 e 61 da Lei n

o 9.099, de 26 de setembro de 1995, e o art. 2

o da Lei n

o

10.259, de 12 de julho de 2001, pertinentes à competência dos Juizados Especiais Criminais, no âmbito da Justiça Estadual e da Justiça Federal, (BRASIL, 2006).

Page 46: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

45

mais afinco aos graves problemas procedentes dos crimes de elevado potencial

ofensivos, como estupro, tráfico de drogas, etc., evitando-se – desta forma – a

sobrecarga de processos, fato que retiram dos Juízes, representantes do Ministério

Público e Autoridades Policiais, a dedicação aos processos de maior complexidade,

(TOURINHO FILHO, 2003, p. 4).

Ainda seguindo o autor acima referido (2003, p. 5), o surgimento da Lei

dos Juizados Especiais Criminais buscou soluções à pequena criminalidade, ou

seja, infrações de menor potencial ofensivo, através da substituição da aplicação da

pena privativa de liberdade por uma simples multa ou medida restritiva de direitos.

Os princípios que regem o Juizado Especial Criminal, expressos no artigo

62 da Lei 9.099/95, reforçam a ideia de que o novo modelo processual deu mais

agilidade à Justiça quando versa que:

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vitima e a aplicação da pena não privativa de liberdade.

Desta forma, o critério informativo dos Juizados Especiais Criminais,

segundo Capez (2008, p.553), reside na busca da reparação dos danos à vítima, da

conciliação civil e penal, da não-aplicação de pena privativa de liberdade e na

observância dos critérios dispostos no artigo 62 da Lei 9.099/95 citado

anteriormente.

De certa forma, a Lei 9099/95, gerou a revisão de antigos conceitos e até

mesmo de tradicionais dogmas do processo. Trata-se de um novo sistema, com

filosofia e princípios próprios. Através desta lei a CRFB, em seu artigo 98, I, permitiu

a conciliação entre Estado e autor do fato nas infrações penais de menor potencial

ofensivo, revolucionou a metódica até então imperante, ao realizar uma verdadeira

revisão de antigos conceitos e até mesmo de tradicionais dogmas do processo,

(JESUS,1997, p. 57).

Consoante ao exposto acima, pode-se dizer que a referida lei apresenta

quatro medidas despenalizadoras, com a finalidade de evitar a pena de prisão,

sendo: 1ª) segundo o artigo 74, § único, pela composição civil, resta extinta a

punibilidade nas infrações de menor potencial ofensivo de iniciativa privada ou

pública condicionada; 2ª) o artigo 76 apresenta da aplicação imediata de pena

Page 47: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

46

alternativa (restritiva ou multa), no caso de não ter sido possível a composição civil,

tratando-se de ação pública incondicionada; 3ª) diz o artigo 88 que as lesões

corporais culposas ou leves passaram a exigir representação da vítima; 4ª) prevê o

seu artigo 89 que os crimes, cuja pena mínima não ultrapasse há um ano permite-se

a suspensão condicional do processo, (GRINOVER et al, 2002, p. 46).

Em conformidade com esta forma para utilização de uma justiça

restaurativa que se baseia em técnicas de mediação, conciliação e transação para

se alcançar o resultado restaurativo, seguindo os ensinamentos de Pinto (2006), que

tem como finalidade um acordo que visa suprir as necessidades individuais e

coletivas das partes e se conseguir a reintegração social da vítima e do infrator.

4.2.2 Autoridade Policial Frente à Lei 9.099/95

Ao se iniciar a busca pelo entendimento do presente item deste capítulo,

no primeiro instante é imperioso o conceito da expressão autoridade policial

elencado no artigo 69 que, segundo a Comissão Nacional de Interpretação da Lei nº

9.099/95 “a expressão autoridade policial referida no artigo 69 compreende quem se

encontra investido em função policial”, ou seja, tanto o policial civil quanto o policial

militar.

O entendimento do conceito de autoridade policial dá-se inicialmente com

suporte no direito administrativo, sendo qualquer agente público com poder legal

para implicar na vida de outrem, o epíteto „policial‟ serve para indicar os agentes

públicos, encarregados do policiamento, seja preventivo ou repressivo. Sendo

assim, conceitua-se autoridade como todo servidor público dotado do poder legal de

submeter pessoas ao exercício da atividade de policiamento. (JESUS, 2000, p. 36).

A atividade policial, segundo Lazzarini (1999, p. 45 e 52), é exercida pelos

órgãos administrativos dotados de poder de polícia, indelegáveis, tendentes ao

controle dos direitos e liberdades das pessoas, incidentes sobre elas e, também,

sobre seus bens e atividades.

Em outra obra, o mesmo autor (1999, p. 269) define autoridade policial

como sendo um agente administrativo que exerce atividade policial, investido do

poder de se impor mediante outras pessoas nos termos a lei, conforme em

Page 48: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

47

conformidade daqueles mesmos sobre os quais a sua autoridade é exercida,

conformidade essa que se sintetiza nos poderes que lhe são conferidos pela mesma

lei, derivada do Estado em nome de seus cidadãos.

Retornando ao entendimento de autoridade policial frente à Lei nº

9.099/95, têm-se no art. 69 do conteúdo normativo desta que:

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários. Parágrafo único: Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança

6,

(BRASIL, 2003, p. 1617).

Ante o exposto acima, é razoável dizer que a expressão autoridade

policial para a lavratura do TC, não restringiu claramente a qualquer uma das

autoridades policiais tal atividade, causando discussões, dando margens às

construções doutrinárias e jurisprudenciais, das quais se busca a corrente

predominante.

Partindo de uma conceituação abrangente Marino Filho et alli alega que

"será possível que todos os órgãos encarregados constitucionalmente da segurança

pública (art. 144 da CF), tomando conhecimento da ocorrência, lavrem o termo

circunstanciado e remetam os envolvidos à Secretaria do Juizado Especial, no

exercício do ato de polícia".

Contribuindo com entendimento explanado acima, Laura Tucci (1996), em

artigo publicado na Revista Literária de Direito, assevera que:

Qualquer órgão específico da administração direta, regularmente investido no exercício de função determinante, quer interna, quer externamente, da segurança pública, subsume-se no conceito de polícia e, como tal, é dotado de autoridade policial. E integra a polícia judiciária, sempre que sua atividade, não obstante de índole administrativa, se faça concretamente, na repressão à criminalidade, auxiliar da ação judiciária penal, de competência dos Juízos e Tribunais Criminais.

Reforçando a elucidação do conceito em questão, Mirabete (1998, p. 60),

cientifica que determinados autores têm entendido que na seara das infrações

penais de menor potencial ofensivo, qualquer agente público legalmente investido da

6 Parágrafo único com redação determinada pela Lei nº 10.455, de 13.05.2002.

Page 49: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

48

função policial, conforme previsão do art. 144 da CRFB/88, é considerado

autoridade policial, posto estar investido do poder de polícia. Não apenas as policiais

federal e civil, que guardam função institucional de polícia judiciária da União e dos

Estados, respectivamente (art. 144, §1º, inc. IV, e §4º da CRFB), mas também a

polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal e policiais militares (art. 144, II, III

e V, da CRFB).

Tourinho Filho (2003, p. 74) tratando da Polícia Militar como autoridade

policial para o artigo 69, traz em sua obra a decisão do brioso Conselho Superior da

Magistratura paulista, in verbis:

Sem embargo, o Egrégio Conselho Superior da Magistratura paulista, partindo do entendimento de que a expressão „autoridade policial‟ apta a tomar conhecimento da ocorrência, lavrando o Termo Circunstanciado, encaminhando-o, imediatamente, ao Poder Judiciário, é o agente do Poder Público investido legalmente para intervir na vida da pessoa natural, atuando no policiamento ostensivo ou investigatório, pelo Provimento n. 758/2001, determinou que o Juiz de Direito responsável pelas atividades do Juizado é autorizado a tomar conhecimento dos Termos Circunstanciados elaborados por Oficial da Polícia Militar.

Na obra de Kuehne et al (1998, p. 28, grifo do autor), tem-se a menção ao

artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, em 03/11/1995 (cad. 3, p. 2) em que

Álvaro Lazzarini, Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo observa que

„autoridade‟ é todo policial, seja civil ou militar fato reconhecido através da Lei

Orgânica da Magistratura, bem como através da Lei Orgânica do Ministério Público,

existindo tal reconhecimento por parte do STF. Que tal entendimento tem sustento

nos enunciados do art. 62 da Lei nº 9.099/95, o qual exige, para o Juizado Especial,

a observância dos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e

celeridade. E, transcreve parte do que diz este autor, ipsis litteris:

[...] o policial (civil ou militar) deverá encaminhar a ocorrência ao Juizado Especial, salvo aquelas de autoria desconhecida, própria da repressão mediata, que demandam encaminhamento prévio ao distrito policial para apuração e encaminhamento ao juizado competente, (LAZZARINI apud KUEHNE et al, 1998, p. 28).

Numa análise ao referido artigo publicado no jornal Folha de São Paulo,

Lazzarini sobre a intenção do legislador quanto à questões que acabam convergindo

no tocante à competências de cada das autoridades policiais, disse:

Page 50: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

49

O Constituinte de 1988 e o legislador infraconstitucional não mais quiseram a desnecessária intervenção do delegado de polícia nas infrações penais de menor potencial ofensivo, salvo nas hipóteses de ser necessária alguma investigação, como apuração da autoria ou coleta de elementos da materialidade da infração.

Na seqüência, o autor supracitado utiliza-se de uma situação hipotética

que aproxima a denominação de autoridade policial às polícias de ordem pública e

judiciária, aduzindo que:

A autoridade decorre do fato de o agente ser policial civil ou militar, razão de, na repressão imediata, comum à polícia de ordem pública (militar) e à polícia judiciária (civil), o policial deverá encaminhar a ocorrência ao Juizado Especial, salvo aquelas de autoria desconhecida, própria da repressão imediata, que demandam encaminhamento prévio ao distrito policial para apuração e encaminhamento ao juizado competente.

Na seqüência, o ilustre magistrado finaliza:

Daí concluir pelo acerto do posicionamento daqueles, que diante da filosofia que animou o constituinte e o legislador infraconstitucional para a oralidade, informalidade, economia processual e celeridade do processo, ao policial militar ou civil, não se deve exigir o seu prévio encaminhamento ao distrito policial e de lá para o Juizado Especial Criminal, prejudicando a atividade da corporação com formalidades burocráticas desnecessárias. Juizados Especiais pedem mudança de mentalidade, advertiu Walter Ceneviva (Folha 7/10/95), mudança que também deve ser na mentalidade policial, que não pode ser classista. O policial é autoridade nos limites da sua investidura legal e independentemente da denominação do cargo público que ocupa.

Acrescenta Kuehne et al (1998, p. 28) que se deve observar o

posicionamento de Luiz Vicente Cernicchiaro, o qual ensina que a expressão

autoridade deve sim ser entendida de forma ampla, “não podendo o intérprete se

ater à conclusão que se extrai do Código de Processo Penal, onde, aí sim, seria o

Delegado de Polícia propriamente dito”.

Enfim, até o presente momento com base nos fundamentos explanados

acerca da definição de autoridade policial prevista no art. 69 da Lei nº 9.099/95 é

plausível dizer que se trata de todo policial investido do poder de polícia, oriundo de

sua função policial, e que, tais profissionais ao depararem-se com a ocorrência de

uma infração de menor potencial ofensivo, possuem o poder-dever de lavrar o termo

circunstanciado e demais providências narradas na lei em comento. É neste

Page 51: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

50

contexto que seguem os próximos itens, discorrendo sobre a legalidade da Polícia

Militar para lavrar o TC, bem como a conceituação e finalidade deste.

4.2.3 Conceituação e Finalidade do TC

Antes de procurar um entendimento no tocante à legalidade do ato da

lavratura do TC pela polícia militar, autoridade policial em conformidade com o

exposto no item anterior do presente trabalho, é indispensável saber o que vem a

ser o TC, bem como a finalidade deste.

Ante o acima exposto, inicia-se com um conceito explicativo do TC

através dos ensinamentos de Capez (2008, p. 564) quando instrui que:

[...] um relatório sumário, contendo a identificação das partes envolvidas, a menção à infração praticada, bem como todos os dados básicos e fundamentais que possibilitem a perfeita individualização dos fatos, a indicação das provas, com rol de testemunhas, quando houver, e, se possível, um croqui, na hipótese de acidente de trânsito. Tal documento é denominado “termo circunstanciado”, uma espécie de boletim ou talão de ocorrência.

De forma mais simplificada e prática, Jesus (1997, p. 58) leciona que:

Trata-se de um breve, embora circunstanciado, registro oficial da ocorrência, sem qualquer necessidade de tipificação legal do fato, bastando a probabilidade de que constitua alguma infração penal. Não é preciso qualquer tipo de formação técnico-jurídica para se efetuar esse relato, (JESUS, 1997, p. 58).

Segundo Grinover et al (2002, p. 111) “o termo circunstanciado a que

alude o dispositivo nada mais é do que um boletim de ocorrência um pouco mais

detalhado”.

O Superior Tribunal de Justiça posiciona-se da seguinte forma:

RHC – PROCESSUAL PENAL – LEI N. 9.099/95 – TERMO CIRCUNSTANCIADO – DILIGENCIA POLICIAL – A LEI N. 9.099/95 INTRODUZIU NOVO SISTEMA PROCESSUAL-PENAL. NÃO SE RESTRINGE A MAIS UM PROCEDIMENTO ESPECIAL. O INQUÉRITO POLICIAL FOI SUBSTITUIDO PELO TERMO CIRCUNSTANCIADO. AQUI, O FATO É NARRADO RESUMIDAMENTE, IDENFICIANDO-O E AS PESSOAS ENVOLVIDAS. O JUIZ PODE SOLICITAR A AUTORIDADE

Page 52: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

51

POLICIAL ESCLARECIMENTOS QUANTO AO TC. INADMISSÍVEL, CONTUDO, DETERMINAR ELABORAÇAO DE INQUÉRITO POLICIAL. A DISTINÇÃO ENTRE AMBOS É NORMATIVA, DEFINIDA PELA FINALIDADE DE CADA UM. TOMADAS DEDEPOIMENTOS É PRÓPRIO DO INQUERITO, QUE VISA A CARACTERIZAR INFRAÇÃO PENAL. O TC, AO CONTRÁRIO, É BASTANTE PARA ENSEJAR TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO, (STJ – 6ª Turma – RHC nº 6.249-SP. Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, Julgado em 24/11/1997).

Retomando a linha de pensamento de Grinover et al (2003, p. 111) com

relação ao termo circunstanciado, a autora cita o Projeto de Lei nº 4.209/2001, ao

dar nova redação ao art. 4º do Código de Processo Penal brasileiro, assim profere:

Art. 4º. Sendo a infração penal de ação pública, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência, de ofício, a requerimento do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo ou mediante requisição do Ministério Público, procederá, na função essencial de Polícia Judiciária, ao correspondente registro e a investigação por meio de: I – termo circunstanciado, quando se tratar de infração penal de menor potencial ofensivo; II – inquérito policial, em relação às demais infrações.

Na seqüência, na mesma obra, a autora cita o art. 5.º do referido Projeto

que versa o seguinte:

Se a infração for de menor potencial ofensivo, a autoridade lavrará, imediatamente, termo circunstanciado, de que deverão constar: I – narração sucinta do fato e de suas circunstancias, com indicação do autor, do ofendido e das testemunhas; II – nome, qualificação e endereço das testemunhas; III – ordem de requisição de exames periciais, quando necessários; IV – determinação da sua imediata remessa ao órgão do Ministério Público oficiante no juizado criminal competente, com as informações colhidas, comunicando-as ao juiz; V – certificação da intimação do autuado e do ofendido, para comparecimento em juízo nos dia e hora designados.

Nos ensinamentos de Tourinho Filho (2003), o Termo Circunstanciado

deve conter não somente a qualificação dos envolvidos e de eventuais testemunhas,

mas também o indicativo dos números de seus telefones, uma súmula de suas

versões e o compromisso de comparecer perante o Juizado que cada uma das

partes assumiu.

Deste modo, Mirabete (1998, p. 62), compreende que o termo

circunstanciado da ocorrência, não demanda requisitos formalísticos, porém são

imperiosos alguns elementos, que demonstrem a existência de um ilícito penal, das

circunstâncias e da autoria, citando-se sumariamente o relato da vítima, do suposto

Page 53: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

52

autor, de testemunhas, de policiais, etc., enfim, responder as questões: Quem?

Quais meios? O quê? Por quê? e Quando?. E sugere formulários impressos com

espaços para preenchimento, facilitando a feitura e evitando omissões.

Em concordância com o supra mencionado com o fito de mencionar o que

de fato possui maior relevância na confecção do termo circunstanciado, Lagrasta

Neto et al (1998, p. 45) traz em sua obra a decisão do Tribunal da Alçada Criminal

de São Paulo, ipsis litteris:

Juizado especial criminal. Termo circunstanciado sem descrição minuciosa dos fatos. Indeferimento. Necessidade: o termo circunstanciado do art. 69 da Lei n. 9.099/95 deve ser devidamente preenchido, contendo a descrição minuciosa de fatos que possam configurar, pelo menos em tese, infração de menor potencial ofensivo, devendo ser indeferido, caso isso não ocorra, (Processo 1048787 – recurso sentido estrito – Tacrim relator: Ricardo Feitosa – 10. Câmara – julgado em: 02/04/1997 – votação unânime – rolo/flash: 1097/357).

Partindo para a finalidade do termo circunstanciado nas palavras de Vitor

Gonçalves (1998, p. 19), o autor diz ser “a mesma do inquérito policial, mas aquele é

realizado de maneira menos formal e sem a necessidade de colheita minuciosa de

provas”.

Para Mirabete (1998, p. 62), o termo circunstanciado constitui a própria

informatio delicti, ou seja, o instrumento necessário para se fornecer os elementos

ao titular da ação penal para que tenha condições de exercer o seu direito.

Contribuindo com os demais autores, Lanfredi et al (2004, p. 32), em se

tratando da finalidade do termo circunstanciado é a de aprovisionar a Justiça para

operacionalizar a transação penal e/ou a suspensão condicional do processo, com

conseqüente extinção da punibilidade. Considerando este fato como uma grande

revolução no sistema penal processual brasileiro, compreende-se ainda, na mesma

obra do referido autor, que tal revolução ocorreu no julgamento dos crimes

ambientais, a previsão da Lei nº 9.605/98, que admite expressamente, a aplicação

da transação penal e da suspensão condicional do processo, com a conseqüente

extinção da punibilidade, prevendo como requisito indispensável, a reparação do

dano ambiental, salvo impossibilidade comprovada.

Oportuno salientar que a Lei Penal Ambiental n° 9.605/98 já previu em

seu texto a aplicação da Lei nº 9.099/95 em seus artigos 27 e 28, crimes ambientais

de menor potencial ofensivo, havendo a proposta de aplicação imediata de pena

Page 54: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

53

restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099. Neste sentido,

Freitas e Freitas (2003, p. 63), dá como exemplo o crime previsto no artigo 29 da

mencionada Lei Ambiental (matar espécime da fauna, art. 29), caso este em que a

atuação da policia “se limitará a elaboração de um termo circunstanciado, que será

enviado ao Juízo Federal competente (Lei 9.099/95, art. 69).”

4.2.4 A Legalidade da Lavratura de TC pela Policia Militar

A Comissão Nacional de Interpretação da Lei nº 9.099/95, citada

anteriormente, dá o entendimento que tanto o policial civil quanto o policial militar

encontram-se investido em função policial. Por esse motivo, ambos compreendem a

expressão autoridade policial referida no artigo 69 da lei em questão. E assim sendo,

cursa-se uma trilha convergindo incisivamente na concepção de Polícia Militar como

autoridade amparada legalmente a lavrar TC.

Com o advento da Lei nº 9.099/95, vislumbra-se que o legislador buscou

agilizar e ampliar o acesso à justiça, melhorando a prestação jurisdicional. Para

tanto, procurou além de incutir os princípios que regem o procedimento sumaríssimo

do Juizado Especial Criminal, a oralidade, informalidade, economia processual e

celeridade do processo, também definiu quais autoridades policiais são competentes

para realizar tal procedimento.

Paralelamente ao que foi explanado anteriormente ao artigo 69 da Lei nº

9.099/95, do artigo elaborado por Andréia Cristina Fergitz (2007) extraiu-se a

conclusão exarada no XVII Encontro Nacional do Colégio dos Desembargadores

Corregedores Gerais de Justiça do Brasil, reunidos em São Luís do Maranhão, nos

dias 04 e 05 de março de 1999, emitindo a "Carta de São Luís do Maranhão, em seu

item III declarou que não se restringe o conceito de autoridade policial da lei

9.099/95 ao delegado de Polícia:

“Autoridade policial, na melhor interpretação do art. 69 da Lei nº 9.099/95, é também o policial de rua, o policial militar, não constituindo, portanto, atribuição exclusiva da polícia judiciária a lavratura de Termos Circunstanciados. O combate à criminalidade e a impunidade exigem atuação dinâmica de todos os Órgãos da Segurança Pública.”

Page 55: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

54

Contribuindo com o exposto acima, Jesus (2000, p. 39) defende que:

Seria uma superposição de esforços e uma infringência à celeridade e economia processual sugerir que o policial militar tendo lavrado o respectivo talão de ocorrência, fosse obrigado a encaminhá-lo para o Distrito Policial, repartição cujo trabalho se quis aliviar, a fim de que o Delegado, após um período variável de tempo, repetisse idêntico relato, em outro formulário, denominado boletim de ocorrência. O policial militar perderia tempo, tendo de se deslocar inutilmente ao Distrito. O Delegado de Polícia passaria a desempenhar a supérflua função de repetir registros em outro formulário. O Juizado não teria conhecimento imediato do fato.

De acordo com o Parecer 229/02 da Procuradoria Geral do Estado de

Santa Catarina, o termo autoridade policial é extremamente polêmico na doutrina e

pacífico na Jurisprudência, sendo que o policial militar é autoridade competente para

a lavratura do termo circunstanciado, que não constitui função de polícia judiciária,

tendo em vista que dispensa qualquer investigação. Destaca este parecer que:

A autoridade policial a que se refere o parágrafo único do art. 69 da lei 9.099/95 é o policial civil ou militar, exegese esta orientada pelos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade prescritos nos arts. 2º e 62 da citada lei e art. 98, I, da Constituição Federal.

Segundo Freitas e Freitas (2000, p. 265) a lavratura do TC pela Polícia

Militar não representa qualquer forma de cooptação à Polícia Judiciária, e sim visa a

atender aos princípios da celeridade e informalidade previsto, de forma cristalina na

Lei nº 9.099/95, em seu artigo 62.

Seguindo o mesmo caminho, se posicionou o Dr. Paulo Tadeu Rodrigues

Rosa, frisando que:

A divisão que existe nos Estados-membros em polícia civil e militar não pode e não deve impedir a prestação efetiva dos serviços de segurança pública. A Lei 9099/95 não fez qualquer diferenciação quanto à expressão autoridade policial conforme decisão proferida pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina ao julgar o HC n.º 0.002902-2, publicado no Diário Oficial de Santa Catarina n.º 10.10.2000, p. 34, (SÃO PAULO, 2001, p. 34).

Para o professor Luiz Flávio Gomes (2005), ex-delegado, promotor e juiz

de direito, “Juridicamente, não se pode invocar qualquer nulidade no Termo lavrado

por PM”, lembrando que apenas os atos previstos para “autoridades policiais de

carreira” são privativos de delegado concursado. Isto se dá pelo fato de, como

assegura o professor, em pelo menos metade do país – ou seja, em cerca de 2.800

Page 56: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

55

municípios brasileiros – não há delegacias e as ocorrências policiais já são

reproduzidas por policiais militares. Sobrepõe ainda que do ponto de vista prático, o

policial militar teria até melhores condições de descrever os fatos, por comparecer

ao local destes, tem noção mais concisa do que ocorreu, podendo, assim, descrever

melhor o relato das testemunhas, (GOMES, 2005).

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (2003), através do

Provimento 806/03 passou a aceitar o termo circunstanciado lavrado pelo policial

militar baseando no entendimento de que:

Considera-se autoridade policial apta a tomar conhecimento da ocorrência e a lavrar termo circunstanciado, o agente do Poder Público, investido legalmente para intervir na vida da pessoa natural, que atue no policiamento ostensivo ou investigatório.

Partindo da contribuição jurisprudencial como subsídio para sustentar a

competência da Polícia Militar como autoridade a lavrar TC, o Superior Tribunal de

Justiça, em julgamento de Hábeas Corpus impetrado em razão de suposto

constrangimento ilegal quando da lavratura de termo circunstanciado por policial

militar, decidiu pelo indeferimento fundamentando que: [...] é da competência da

autoridade policial, não consubstanciando, todavia, ilegalidade a circunstância de

utilizar o Estado o contingente da Polícia Militar, em face da deficiência dos quadros

da Polícia Civil.

O Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, em julgamento de

Hábeas Corpus, de forma a corroborar com o exposto acima, entendeu que:

Para o procedimento penal previsto na Lei n. 9.099/99, específico na persecução aos crimes de menor potencial ofensivo, na adequada interpretação ampliativo-sistemática da regra do art. 69, da Lei n. 9.099/95, o policial militar, como autoridade policial, pode lavrar termo circunstanciado, sem exclusão de idêntica atividade do Delegado de Polícia, ou servidor competente.

Recentemente o Supremo Tribunal Federal, em julgamento de ação direta

de inconstitucionalidade, ajuizada pelo Partido Social Liberal (PSL) questionando a

competência do policial militar para a lavratura de termo circunstanciado, pacificou

definitivamente a questão e proferiu, por unanimidade, a seguinte decisão:

É de se concluir, pois, que a presente ação direta de inconstitucionalidade não pode ser conhecida. No concernente ao mérito, também, não assiste

Page 57: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

56

razão ao Partido requerente, porquanto inexiste afronta ao art. 22, inciso I, da Constituição Federal, visto que o texto impugnado não dispõe sobre direito processual ao atribuir à autoridade policial militar competência para lavrar termo circunstanciado a ser comunicado ao juizado especial. Não se vislumbra, ainda, nem mesmo afronta ao disposto nos incisos IV e V, e § 4º e 5º, do art. 144, da Constituição Federal, em razão de não estar configurada ofensa à repartição constitucional de competências entre as polícias civis e militares, além de tratar, especificamente, de segurança nacional.

A Corregedoria Geral da Justiça do Estado de Santa Catarina, através do

Provimento nº. 04/99, dispõe que a autoridade policial que tomar conhecimento da

ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado

com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames

periciais necessários (art. 69, da Lei nº 9.099/95), faz disposição expressa de que a

Polícia Militar pode lavrar termo circunstanciado.

Igualmente, o Parecer nº. 233/PGE/01 da Procuradoria Geral do Estado

catarinense, concluiu que:

[...] é de ser reconhecido que a lavratura do Termo Circunstanciado não é ato da polícia judiciária, pois desprovido da necessidade de investigação dos fatos nos moldes do Inquérito Policial e a autoridade policial que se refere ao parágrafo único do art. 69 da lei 9.099/95 é o policial civil o militar, exegese esta orientada pelos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade prescritos nos arts. 2º e 62 da citada lei e art. 98, I, da Constituição Federal.

O Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de

São Paulo, através do Provimento nº 758/2001 e das Resoluções nº 403/2001 e

517/2002, da Secretaria de Segurança Pública do Estado paulista, reconheceram e

disciplinaram a lavratura de termos circunstanciados pela Polícia Militar de São

Paulo.

Nesta mesma senda, tem-se o Ofício nº 244/2003 do Centro de Apoio

Operacional Criminal do Ministério Público catarinense (SANTA CATARINA, 2003)

destinado ao Senhor Secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa do

Cidadão, apresentando várias considerações, dentre elas, fundamentando que a

Polícia Militar é autoridade competente para efetuar a lavratura do termo

circunstanciado, fundamenta que:

[...] a Polícia Militar dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, dentre outros, já realizam de forma regular o Termo Circunstanciado por infrações de menor potencial ofensivo no âmbito dos seus Estados.

Page 58: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

57

[...] a Polícia Civil, via de regra, não tem elaborado o Termo Circunstanciado no ato da prisão/condução pelo policial militar, mas sim, dias após, causando morosidade na prestação jurisdicional.

No mesmo ofício é feito referência a ao enunciado 34 do VII Encontro

Nacional de Coordenadores do Juizado Especial Criminal, deferindo que "[...] o

Termo Circunstanciado poderá ser lavrado pela Polícia Civil ou pela Polícia Militar".

Na seqüência menciona a decisão consolidada pelo TJSC em Habeas corpus n.º

00.002909-2, de cujo Acórdão extrai-se que “[...] dando-se adequada interpretação

sistemática à expressão "autoridade policial" contida no art. 69 da Lei nº 9.099/95,

admite-se lavratura de termo circunstanciado por policial militar, sem exclusão de

idêntica atividade do Delegado de Polícia".

Complementando que não faz desta forma, sentido algum limitar

exclusivamente à polícia civil a competência para lavrar o termo circunstanciado e

tomar as medidas previstas no artigo 69 da Lei nº 9.099/95. Posto que, quanto maior

for o número de servidores públicos disponível à realização da tarefa, maior será a

probabilidade da lide penal ser resolvida no menor tempo possível. “Não custa

sublinhar que o juizado Especial - seja Cível ou Criminal - é regido pelo princípio da

informalidade (art. 2º da citada lei), de sorte que fugiria do espírito da lei restringir o

alcance da norma apenas à polícia civil”.

Após a disponibilização de um arcabouço doutrinário e jurisprudencial

orientando o entendimento da lavratura do termo circunstanciado pela Polícia Militar,

obteve-se um rol de fundamentos favoráveis à concordância de que a Polícia Militar

seja percebida como autoridade policial competente para efetuar a lavratura do TC.

E assim sendo, o policial militar, ao constatar ocorrência de menor potencial

ofensivo, encontra-se investido do poder e do dever de tomar as providências

correspondentes ao art. 69 da Lei nº 9.099/95. Desta forma, lavrará o TC.

4.2.5 Vantagens da Lavratura do TC pela PM

Após apontar fundamentos favoráveis à anuência da Polícia Militar como

autoridade policial competente a lavrar termo circunstanciado diante das infrações

penais de menor potencial ofensivo, cabe neste item explanar os benefícios que a

Page 59: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

58

atuação do policial militar pode prover em prol da Justiça na resolução das lides,

bem como no interesse comum da sociedade em ter seus conflitos solucionados e

seus danos reparados.

Por si só, o termo circunstanciado já traz os benefícios supra

mencionados pelo fato de ser um procedimento regido na observância dos princípios

da oralidade, da informalidade, da economia processual e da celeridade. Todavia,

em se tratando do policial militar como autoridade competente para efetuar o

procedimento aludido, convém mencionar o que alguns autores assoalham como

vantagens calhadas para tal processo.

O Coronel PM da Reserva Remunerada, Carlos Alberto de Camargo

(2001), Ex-Comandante Geral da Polícia Militar do Espírito Santo, esclarece que são

muitos os benefícios da lavratura do termo circunstanciado pela Polícia Militar:

Apenas para se ter uma idéia do que essa medida representa em termos de economia de tempo das viaturas em atividades de registro e conseqüente disponibilização para trabalho preventivo, basta lembrar que o tempo médio de permanência num distrito policial para registro desses casos gira em torno de duas horas e meia e, a cada mês, a Polícia Militar atende em todo Estado a algo próximo de 150 mil ocorrências. Vale dizer, a cada mês se deixam de realizar, aproximadamente, 350 mil horas de patrulhamento preventivo por conta da desnecessária atividade cartorial nas infrações menores.

Em seguida, o referido policial militar reforça a idéia exposta

anteriormente. Para tanto, utiliza-se de um exemplo prático para melhor

compreender: o policial militar que se deparar com uma ocorrência de lesão corporal

leve (pena de 3 meses a 1 ano) lavrará o TC no próprio local do fato, encaminhando

a vítima para exame de corpo de delito, não havendo mais necessidade de

encaminhar as partes a uma Delegacia. O Termo Circunstanciado elaborado pelo

PM será encaminhado pelo Comandante da sua Unidade PM, um ou dois dias

depois ao Juizado Especial Criminal que, por sua vez, dará uma rápida solução ao

caso.

Na visão do Coronel Carlos Alberto de Camargo (2001) esse novo ciclo

de atendimento policial é simples e rápido, sendo que apresenta vantagens para

todos os envolvidos.

Para as partes envolvidas e para a Polícia Militar, responsável pela

elaboração do TC, o autor supra mencionado assevera o seguinte:

Page 60: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

59

1) No caso das partes (autor e vítima): não haverá a necessidade de deslocamento até uma Delegacia de Polícia que, principalmente nos finais de semana e feriados, é somente a de plantão, muitas das vezes situada em local distante daquele do registro dos fatos. 2) A Polícia Militar: dará uma pronta-resposta ao ocorrido, registrando os fatos e orientando as partes, retornando imediatamente à missão que lhe compete - o policiamento ostensivo. Note-se: não ocorrerá mais o congestionamento de viaturas da PM defronte às abarrotadas Delegacias de Polícia, no aguardo do registro de Boletins de Ocorrência (BO-PM), principalmente nos horários de “pico”. Isso sem contar a valorização do trabalho do patrulheiro, que terá um adendo na sua autoridade, todavia, com o conseqüente aumento de sua responsabilidade funcional. A elaboração do TCO por parte do PM não significa a execução de um trabalho investigativo, constitucionalmente afeto às Polícias Civis. Constitui-se no simples registro de fatos e identificação de pessoas que estão presentes e à disposição do policial, no sítio dos acontecimentos, (CAMARGO, 2001).

Conseqüentemente, o benefício também se estende à Polícia civil, como

afirma o referido Coronel PM:

3) A Polícia Civil: em decorrência da lavratura do TCO por parte da PM, livre dessa sobrecarga de trabalho burocrático nas Delegacias, poderá envidar esforços na sua real vocação, quer seja, na investigação dos crimes mais graves, como homicídios, latrocínios, estupros, etc., (CAMARGO, 2001).

Na seqüência, o mesmo autor explana acerca dos benefícios que teriam

os Poderes Executivo e Judiciário, e, por fim, à sociedade:

4) O Poder Executivo (Governo do Estado): com a adoção desse novo modelo de atuação policial, economizará parcela considerável de recursos materiais (viaturas, combustível, gastos com formulários policiais, etc.) e humanos (pois haverá uma racionalização dos trabalhos dos policiais civis e militares). 5) O Poder Judiciário: dará uma resposta célere e eficaz aos delitos de menor potencial ofensivo, em razão das características peculiares dos procedimentos dos Juizados Especiais Criminais, valorizando ainda mais seu papel no controle social, como órgão pacificador de conflitos e solucionador de lides. 6) A sociedade: será a maior beneficiada, pois os crimes mais corriqueiros terão uma resposta rápida e contundente, ainda no local do registro dos fatos, gerando uma sensação de segurança em decorrência da instantânea resposta estatal a um fato ilícito e socialmente reprovável, (CAMARGO, 2001).

Com o novo modelo em tela de autuação policial, sociedade só tem a

ganhar uma vez que não perderá a valiosa proteção e segurança decorrente do

serviço de policiamento ostensivo efetuado pela Polícia Militar, (AYRES, 2003).

Ainda em relação aos benefícios da lavratura do TC pelo policial militar,

Cláudio Roberto Monteiro Ayres aduz:

Page 61: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

60

O maior objetivo é a melhoria do atendimento de ocorrências pelos órgãos policiais. O enfoque da questão deve se concentrar no ganho para o cidadão, decorrente da maior segurança propiciada à população, derivada da eficaz atuação policial, somada a uma rápida e célere resposta jurisdicional aos delitos menores, bem como na efetiva repressão criminal aos delitos de maior lesividade social.

Lisiane Barbosa Carvalho, Juíza Titular do 1º Juizado Criminal do Foro

Central de Porto Alegre, declarou em entrevista concedida ao Jornal da Associação

dos Oficiais da Brigada Militar, de Porto Alegre, em março de 2004, que:

Os Termos Circunstanciados elaborados pela Brigada Militar caracterizam-se pela precisão da narrativa, individualização das partes envolvidas, com respectivos dados qualitativos e rol de testemunhas quando existentes. Ademais, atendem o imperativo legal, detalhando, por vezes, manifestação das testemunhas e circunstâncias que rodearam o fato, propiciando maior conhecimento pelo agente ministerial das peculiaridades do evento, e facilitando a análise futura.

Ainda tomando como exemplo o Estado acima mencionado, Maria da

Graça Fernandes Fraga, Juíza Pretora Titular do Juizado Especial Criminal de

Gravataí, reforça a idéia da autora supracitada quando se refere ao TC elaborado

pela Brigada Militar (BM), esclarecendo, em entrevista concedida também ao Jornal

da Associação dos Oficiais da Brigada Militar, que:

Se compararmos o trabalho da BM com o da Polícia Civil, evidentemente que o trabalho da BM é mais qualificado. [...] Os relatos são mais claros, mais sérios, as vítimas ficam mais seguras ao relatar. A forma de apresentação mostra que é um trabalho mais qualificado, mais completo. Quando vem da delegacia a ocorrência é tão precária que a promotora pede o arquivamento ou devolve à delegacia e fica esperando um tempão; para dar continuidade ao processo.

Oportuno salientar que o Comandante-Geral da Brigada Militar do Rio

Grande do Sul, os oficiais e as praças em comando de fração destacada são

autoridades policiais militares, conforme versa a Constituição Estadual do referido

Estado em seu artigo 129, parágrafo único. Ou seja, a Brigada Militar possui missão

constitucional federal de preservação da ordem pública, contida no artigo 144, V da

Carta Magna.

Contribuindo com a polêmica em questão, Andréia Cristina Fergitz (2007)

corrobora com os autores citados anteriormente, afirmando que “a lavratura do

termo circunstanciado pelo policial militar surge como uma ferramenta de cidadania,

Page 62: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

61

visto que só irá trazer benefícios a população”. Em seguida, de forma sucinta, porém

em conformidade com o que versam outros autores sobre a referida polêmica, a

autora esclarece que:

O policial militar é, na grande maioria das vezes, a primeira autoridade policial a chegar ao local da ocorrência, terá melhores condições de prestar auxílio imediato ao cidadão, reduzindo o tempo de resposta na solução dos problemas. A lavratura do Termo Circunstanciado no local da ocorrência agiliza o atendimento, evita transtornos e dispensa a condução das partes à Delegacia de Polícia, localizada, por vezes, a grandes distâncias.

Ante o exposto acima, percebe-se, de acordo com Andréia Cristina

Fergitz (2007), que a celeridade presenciada em tal procedimento contribui na

valorização do trabalho policial militar pela comunidade, tornando-os profissionais

mais motivados. Em seguida faz menção ao beneficio fornecido à Polícia Civil,

afirmando que:

Cabe ainda destacar que as infrações penais de menor potencial ofensivo, em razão, sobretudo da falta de efetivo nas Delegacias da Polícia Civil, deixava de ser registrada e coibida. Este risco passa a ser minimizado com a atuação da Polícia Militar, que possui efetivo disponível em quantidade superior e com condições de prestar um verdadeiro “atendimento em domicílio”.

Diante dos fundamentos explanados até o presente momento, vislumbra-

se que o policial militar ao lavrar o termo circunstanciado atende a determinação

legal disposta na Lei 9.099/95, com isso harmoniza ao cidadão a certeza de que o

conflito será rapidamente encaminhado ao Juizado Especial Criminal.

Page 63: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

62

5 A LAVRATURA DO TERMO CIRCUNSTANCIADO PELA POLÍCIA MILITAR

FRENTE AO CRIME DE ABUSO E MAUS TRATOS AOS ANIMAIS

Após dispor um arcabouço de fundamentos norteadores da trilha pela

busca à resposta para a pergunta do problema do presente trabalho, pretende-se

neste capítulo relacionar os embasamentos dos capítulos anteriores. Desta forma,

procurando convergir para um entendimento satisfatório no tocante a polêmica em

torno da legitimidade da ação da Polícia Militar para lavrar TC em caso de crime de

abuso e maus tratos aos animais.

Quanto ao termo “legitimidade”, é imperioso saber que diz respeito à

aceitação e a vontade do povo, indo além do que seja legal ou que está de acordo

com a lei, como leciona Schröder (2001, p. 55):

A legitimidade exterioriza-se pela vontade do povo, ou o que a sociedade espera do detentor do poder. Portanto, toda e qualquer ação legítima será a resultante consensual do interesse coletivo. Para que o Estado use a força e tenha sua ação legitimada pelo povo, este deve aprovar sua utilização.

Para alcançar o intento deste capítulo, faz-se necessário elencar alguns

itens basilares para tal finalidade. Para tanto, buscou-se em cada item a seguir como

elementos basilares, ordenadas pelas descobertas textuais exploratórias, as leis,

doutrinas e jurisprudências que contemplem a busca pelos conhecimentos

específicos que apontem para o alcance ao aludido intento.

5.1 COMPETÊNCIA LEGAL

A apreciação da competência legal da Polícia Militar para lavrar TC em

caso de crime de abuso e maus-tratos aos animais demanda, além do conceito de

Poder de Polícia, já comentado neste trabalho, também o conceito de Poder de

Polícia Ambiental. Isso porque, em tese, e como já foi explanado anteriormente, o

crime em tela trata- se de um crime ambiental.

Page 64: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

63

Destarte, seguindo os ensinamentos de Machado (2004 p. 308-309), o

Poder de Polícia Ambiental refere-se:

[...] atividade da Administração Pública que limita ou disciplina direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato em razão de interesse público concernente à saúde da população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas ou de outras atividades dependentes de concessão, autorização/permissão ou licença do Poder Público de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza.

Prossegui Machado (2004, p. 309) aferindo que o poder de polícia

ambiental, expressamente atribuído por lei, tem seu exercício conferido não só à

administração direta, como também à administração indireta (empresa pública,

sociedade de economia mista ou fundação).

No tocante às fases do poder de polícia, já abordadas anteriormente

neste trabalho, Meirelles e Moreira Neto apud MACHADO (2004, p. 309) em

analogia a essas fases, esclarecem que o poder de polícia ambiental se opera por

ordens e proibições, normas limitadoras e sancionadoras, agindo em todas as

ordens imagináveis de campo de atuação. Diz ainda que o poder de polícia é

privativo do Poder Público (direta ou indiretamente), não podendo ser concedido a

um particular, bem como não pode a Administração privar-se de suas

responsabilidades neste mister.

Contribuindo com o entendimento do autor anterior, Mukai (2002, p. 42),

apresenta conceito doutrinário prescrevendo seu entendimento sobre Poder de

Polícia na seara ambiental:

É através do poder de polícia que o Poder Público protege, fundamental e precipuamente, o meio ambiente. Salvo raras exceções, a grande maioria das leis administrativas tendentes à proteção ambiental veicula restrições ao uso da propriedade e às atividades em geral, visando ao equilíbrio ecológico.

De acordo com o mesmo autor, é atributo maior do poder de polícia do

Estado, limitar, restringir, o uso da propriedade, das liberdades e atividades dos

particulares individualmente considerados, em benefício da coletividade, (MUKAI,

2002, p. 42).

Convém ressaltar que a competência à proteção ao meio ambiente não é

atribuída somente ao Estado, conforme o artigo 23, inciso VI, disposto na CRFB/88:

Page 65: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

64

Art. 23 – É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...] VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas. (BRASIL, 2006, p. 41).

Os crimes ambientais trazem à tona as questões atinentes à degradação

do meio ambiente, bem este que a CRFB/88 dispõe no artigo 225 o seguinte:

Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo às presentes e futuras gerações.

Desta forma, conjetura-se que a preservação do meio ambiente,

considerando este um interesse público, inclui-se dentre as ações que contribuem

para que a Ordem Pública seja preservada, e esta missão, como já foi visto

anteriormente, compete à Polícia Militar. Logo, é razoável dizer que a Polícia Militar

é competente para atuar em situações onde ocorra ato infracional que agrida o meio

ambiente, circunstâncias estas que ocasionam o desdouro à Ordem Pública como

um todo, ou a partir de um de seus elementos componentes, a segurança, a

tranqüilidade ou a salubridade pública.

Reforçando a idéia acima, Vedel apud CRETELLA JÚNIOR (1978, p. 370)

considera que a preservação ambiental materializa-se como interesse de segurança

pública e, está também como fundamento à ordem pública, uma vez que é

“constituída por um mínimo de condições essenciais a uma vida social conveniente.

E, a segurança dos bens e das pessoas, a salubridade e a tranqüilidade formam-lhe

o fundamento”.

Retomando como ponto de partida a Ordem Pública, Milaré (2004),

tratando da relação da polícia com o meio ambiente, enfatiza que a ação da força

policial buscará garantir a segurança, tranqüilidade e salubridade pública, estas,

como já dito, três componentes da Ordem Pública. Na mesma oportunidade aponta

ainda como objetivo dessa ação policial, assegurar o bem-estar social prevenindo e

reprimindo, mediante fiscalização e investigação, práticas ofensivas ao bem

ambiental.

Completando o entendimento acima exposto, Antunes (2005 p.102)

fornece um entendimento específico para ordem pública do meio ambiente, que

segundo o autor, esta ordem concretiza-se mediante o respeito aos parâmetros

Page 66: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

65

estabelecidos, bem como se os níveis ambientais legalmente estabelecidos estão

sendo observados para que, desta forma, a ordem pública ambiental esteja sendo

cumprida. Oportuno salientar que a garantia dessa ordem é considerada pelo autor

como dever da Administração Pública.

Buscando uma compreensão da Ordem Pública no tocante ao meio

ambiente, o Coronel da Polícia Militar de São Paulo João Leonardo Mele (2004), em

seu artigo Segurança Ambiental e Segurança Pública, faz uma relação envolvendo a

questão da dignidade da pessoa humana, colocando a Ordem Pública Ambiental

como um estado de equilíbrio, uma relação estável entre os seres humanos e o meio

ambiente, sendo que esse equilíbrio proporciona a vida, a salubridade, a segurança

e a dignidade da pessoa humana.

Da mesma forma que compete à União, aos Estados, ao Distrito Federal

e aos Municípios proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de

suas formas, de acordo com o artigo 23, inciso VI, disposto na CRFB/88, já

mencionado anteriormente, a eles também competem preservar as florestas, a fauna

e a flora. Isto porque, no mesmo dispositivo constitucional, no seu inciso VII, é

estabelecido e está prevista tal atribuição.

Analogamente à Constituição Federal, a Constituição Estadual de Santa

Catarina, de 1989, em seu artigo 181, também confere ao Poder Público o dever da

Proteção Ambiental. E, da mesma forma, no artigo 182, inciso III, elenca, dentre

várias outras delegações ao Estado no que tange a preservação do meio ambiente,

a de proteção aos animais, versando que incumbe ao Estado: “[...] III - proteger a

fauna e a flora, vedadas as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,

provoquem extinção de espécie ou submetam animais a tratamento cruel”.

No que se refere à proteção aos animais, percebe-se que é dever do

Estado do estado garanti-la, sendo que isto se faz através da dos órgãos

competentes, incluindo a Polícia Militar. Esta, portanto, possui competência para

atuar nos casos em que animais são vítimas de tratamento cruel que afetam a

integridade dos mesmos. Neste contexto, entende-se que o policial militar que se

deparar com uma situação onde ocorreu determinado ato que configurou abuso ou

maus-tratos de animais, o mesmo tem o poder/dever de intervir, tomando as

providências que lhe couber, primando pela resolução do problema.

Diante da abrangente atuação da Polícia Militar nas questões ambientais

exercendo seu poder de polícia, missão para qual enxerga-se que seja sua

Page 67: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

66

competência perante apresentação dos fundamentos pertinentes até o presente

momento, demanda-se uma abordagem do referido modo de atuação direcionado às

situações em que o dano ambiental caracteriza-se pela afronta à integridade dos

animais. A partir daí, trilha-se um estudo direcionado à apreciação da atuação da

Polícia Militar diante de casos em que a ofensa à integridade dos animais configure

crime de abuso e maus-tratos aos animais, buscando a razoabilidade ao tratar da

forma de atuação em questão de competência da Polícia Militar. Em relação a esta,

num segundo momento, ainda verificar se há legitimidade para que lavre TC diante

de casos em que configure o crime em tela. Todavia, faz-se necessária uma

investigação prévia para verificar se a lavratura do TC diante de crimes ambientais,

dentre aqueles possíveis de se aplicar tal procedimento, é de competência da

Polícia Militar.

Quanto à confecção do TC pela Polícia Militar na esfera ambiental,

trilhando os ensinamentos de Freitas e Freitas (2006), tem-se que, via de regra, este

será lavrado e enviado diretamente à autoridade judiciária pela autoridade policial,

onde caberá tal competência à Polícia Judiciária Federal nos crimes federais, e no

âmbito de competência da Justiça Estadual, pelo delegado de Polícia Civil, nada

impedindo, entretanto, que a Polícia Militar lavre tal termo através de seus órgãos

especializados (por exemplo: Polícia Florestal em SP, Polícia Ambiental no RS, etc.).

Ante o acima exposto, Vladimir Passos de Freitas (2002, p 158) cita em

seu artigo, alguns órgãos especializados em atuar na esfera ambiental, in verbis:

Na Polícia Militar, vários Estados possuem órgãos especializados, denominados Polícia Ambiental ou Florestal. Assim, entre outros, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul atuam com eficiência, preparando seus integrantes e prestando serviços relevantes à sociedade.

Em se tratando da possibilidade da lavratura do TC pela Polícia Militar

Ambiental, no Estado de São Paulo o Conselho Superior da Magistratura, através do

Comunicado nº 43/04 datado de 29 de março de 2004, mostrou-se favorável,

expressando o seguinte:

O CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA comunica aos MM. Juízes de Direito do Estado de São Paulo que, em consonância com o Provimento CSM 806, de 24/07/2003, e em obediência à Resolução SSP nº 329, de 25/09/2003, a Polícia Militar do Estado de São Paulo ampliou a competência para a lavratura do Termo Circunstanciado para as Unidades do Comando de Policiamento Ambiental e Comando de Policiamento Rodoviário.

Page 68: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

67

Publicado no Diário Oficial do Poder Judiciário do Estado de São Paulo, de 30 de março de 2004, Seção I, Subseção I (Atos e Comunicados da Presidência, SÃO PAULO, 2004, p. 123).

Contribuindo com a ideia acima exposta, Venâncio (2003, p. 26) expõe

seu argumento que, diga-se de passagem, dá credibilidade ao procedimento de

lavratura de TC pela Polícia Militar na esfera ambiental:

In fine, restringir à Polícia Judiciária a confecção dos respectivos Termos Circunstanciados, incluindo a apuração das infrações ambientais de menor potencial ofensivo, é contribuir para a impunidade dos infratores ambientais, uma vez que os crimes e condutas lesivas ao meio ambiente, não raras vezes, são socialmente aceitas e exige-se um tratamento diferenciado em sua condução, divergindo do tratamento convencional destinado aos crimes ditos comuns, destacando-se, desta forma, a necessária atuação das Polícias Militares através de seus segmentos especializados na proteção do meio ambiente.

Tomando como exemplo algumas Polícias Militares dos Estados

brasileiros, representadas pelos seus segmentos especializados na proteção do

meio ambiente, percebe-se uma significativa aceitação por parte do Poder judiciário

de cada Estado. Isto porque, por exemplo, no Estado do Paraná, a Polícia Militar,

vem lavrando termos circunstanciados na esfera ambiental desde o ano de 1997,

sendo que, numa média de 1.000 (mil) procedimentos ao ano, não se tem registro

de não aceitabilidade pelo Poder Judiciário paranaense, (PARANÁ apud DEZORDI,

2006).

Na mesma proporção, no que tange a lavratura do termo circunstanciado

na esfera ambiental, o Estado do Rio Grande do Sul (apud DEZORDI, 2006) obteve

resultado semelhante, através da Brigada Militar, a partir do ano de 2003, lavrando-

se em média um total de 750 (setecentos e cinqüenta) procedimentos ao ano.

Igualmente, a Polícia Militar de Santa Catarina já tem realizado desde o

ano de 1998 a lavratura do TC na esfera ambiental, sendo que, pelo menos até o

ano de 2005, nenhum procedimento destes teve inaceitabilidade pelo Poder

Judiciário catarinense, (SANTA CATARINA, 2005).

Com relação ao Estado de São Paulo, Dezordi (2006) descreve o

desempenho do Estado mencionado, ao trazer que a Polícia Militar do mesmo

registra a lavratura de termos circunstanciados na esfera ambiental desde o ano de

2002, sendo lavrados 3.861 (três mil oitocentos e sessenta e um) procedimentos no

Page 69: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

68

ano de 2005. Neste Estado, também não há registro de que o Poder Judiciário tenha

apresentado qualquer preterição aos termos circunstanciados lavrados.

Portanto, percebe-se com relação ao fato de o crime de abuso e maus-

tratos aos animais ser considerado crime ambiental, que nada impede a Polícia

Militar de atuar diante deste delito, mesmo porque, como explanado anteriormente

por Mukai, é através do poder de polícia que o Poder Público protege o meio

ambiente, e ainda, lembrando a menção feita a Antunes que frisava que a ordem

pública do meio ambiente concretiza-se mediante o respeito aos parâmetros

estabelecidos.

Considerando que o crime de abuso e maus-tratos aos animais, previsto

no artigo 32 da já mencionada Lei 9.605/98, é classificado como de menor potencial

ofensivo, ou seja, crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois)

anos, cumulada ou não com multa, vislumbra-se que diante do referido delito a

autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência procederá a lavratura do

TC, de acordo com o Projeto de Lei nº 4.209/2001, ao dar nova redação ao artigo 4º

do Código de Processo Penal brasileiro. Deve-se levar em conta que todo crime

ambiental, é por força do art. 26 da lei 9.605/98, de ação penal pública

incondicionada7, característica esta que possibilita a lavratura do TC, conforme o

referido artigo do Código de Processo Penal brasileiro.

De acordo com Milaré (2004), a proteção do meio ambiente é de interesse

público, portanto a ação ser privativa do Ministério Público, visto que o art. 24 do

Código Processo Penal brasileiro prevê que nos crimes de ação pública, esta será

promovida por denúncia do referido órgão.

Diante da idéia exposta acima, e com base nas fundamentações

amparadas na legislação, na doutrina e jurisprudência pátrias pertinentes, é razoável

afirmar que há embasamento a favor do entendimento de que a Polícia Militar é

autoridade policial competente para efetuar a lavratura do termo circunstanciado

diante de casos em que ocorra, em tese, crime de abuso e maus tratos aos animais.

Portanto, nas ocorrências em que configure o referido crime, é cabível o

procedimento do TC, sendo que este pode ser lavrado pela Polícia Militar.

7 Quando o seu exercício não se subordina a qualquer requisito. Significa que pode ser

iniciada sem a manifestação de vontade de qualquer pessoa.(JESUS, 2004, p. 325).

Page 70: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

69

5.2 CRIME DE PREVARICAÇÃO

Partindo do entendimento de que o policial militar é autoridade policial

competente para lavrar o TC diante do crime de abuso e maus-tratos aos animais,

isto com base no que foi abordado anteriormente a respeito do referido argumento,

conjetura-se, de acordo com o artigo 23, inciso VII, disposto na CRFB/88, que aos

Estados compete a preservação das florestas, da fauna e a flora. Neste contexto, é

razoável afirmar que o policial militar, representando o Estado no cumprimento de

sua missão constitucional de preservação da Ordem Pública, possui o poder/dever

de agir diante de situações em que ocorra prática de atos que comprometam a

integridade dos animais.

Na hipótese da referida situação, pode-se dizer que estaria quebrada a

Ordem Pública Ambiental, sendo que à Polícia Militar caberia restabelecer esta

ordem. Pressupondo que diante desta situação hipotética o policial militar,

presenciando o fato, deixe de agir em favor do restabelecimento da Ordem Pública

do meio ambiente, poderia o mesmo estar cometendo crime de prevaricação,

disposto no Código Penal brasileiro (Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de

1940), em seu artigo 319:

Art. 319 – Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Art. 319-A – Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Considerando, no mesmo contexto, que o agente seja um policial militar,

o crime de prevaricação poderia, em tese, ser tratado como crime militar previsto no

Código Penal Militar brasileiro (Decreto-Lei 1.001, de 21 de outubro de 1969) em seu

artigo 319, dispondo, em analogia com código anterior, o seguinte:

Page 71: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

70

Art. 319 – Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Desta forma, nota-se que o texto pouco muda de uma legislação penal

comum para a penal militar, percebendo-se uma mudança vultosa na pena prevista

em cada uma dela para o mesmo crime, sendo que a segunda prevê uma pena mais

grave com relação ao tempo mínimo e máximo de detenção se comparada à

primeira. Impende salientar que no Código Penal comum, o crime de prevaricação é

tratado dentre aqueles contra a Administração Pública e praticados por funcionário

público contra a Administração em geral, enquanto no Código Penal Militar, o

mesmo crime é considerado contra a Administração Militar, requisito essencial para

que seja enquadrado como crime militar, e contra o dever funcional.

Percebe-se, então, que o Código Penal Militar, ao dividir os capítulos que

tratam dos crimes contra a Administração Militar, utiliza-se para classificar o capítulo

que aborda o crime de prevaricação, o texto “dos crimes contra dever funcional”,

consolidando a ideia de que o ato que configura a prevaricação diz respeito ao não

cumprimento do dever, no caso, do militar.

Para melhor compreensão do crime de prevaricação, alguns autores

dispõem de conceitos que aproximam o entendimento em torno do referido crime. A

prevaricação no entendimento de Drumond apud GOMES & CUNHA (2008, p. 383)

consiste basicamente:

[...] no fato de espontaneamente o funcionário se desgarrar do sentido de finalidade pública que deve ser a de toda a sua vida funcional, para, no caso, em vez disto, ter a sua ação norteada para o que se lhe afigure o seu interesse ou lhe pareça condizente com sentimento seu, pessoal.

No entendimento de Magalhães Noronha apud Capez (2008, p. 453),

prevaricação diz respeito a: [...] infidelidade ao dever do ofício, à função exercida. É

o não-cumprimento das obrigações que lhe são inerentes, movido o agente por

interesse ou sentimentos próprios.

O crime em tela é considerado próprio, uma vez que somente funcionário

público, sujeito ativo do crime, pode cometê-lo. Contudo, não se exclui a co-autoria

ou participação de terceiros não qualificados, ou seja, que não são funcionários

públicos. (JESUS, 2004, p. 987). Lembrando que, para efeitos penais, é considerado

Page 72: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

71

funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função pública, ainda que

transitoriamente ou sem remuneração, conforme prevê o Código Penal brasileiro em

seu artigo 327. Destaca ainda, o mesmo autor, e na mesma obra, que o Estado é o

sujeito passivo do crime.

Quando tratado como crime militar, o delito de prevaricação é

considerado impróprio, pois “[...] exige, entretanto a qualidade de funcionário

(servidor) público do agente, que pode ser civil ou militar. [...]”. Neste contexto,

considera-se o Estado como sujeito passivo, sendo o mesmo representado pela

Administração Militar, (ASSIS, 2007, p. 704).

Com relação aos elementos subjetivos do tipo do artigo 319 de ambos os

códigos penais mencionados, tanto Jesus (2004, p. 988), quanto Assis (2007, p.

704) trazem como primeiro elemento o dolo, vontade livre e consciente. Da mesma

forma, trazem como segundo elemento a expressão “para satisfazer interesse ou

sentimento pessoal”.

A consumação do referido crime dá-se de três formas: por omissão, pelo

retardamento ou perante a realização do ato (JESUS, 2004, p. 988). Todavia,

considerado que o presente trabalho está focado no crime de abuso e maus-ratos

aos animais, a atenção volta-se à forma omissiva de consumação do delito, sendo

esta a mais possível de acontecer caso o policial militar presencie uma ação que

configure o aludido delito ambiental. Isto porque o policial militar há de decidir entre

agir ou não. Caso deixe de agir diante da situação em que ocorreu o delito, ou seja,

omitindo-se, obviamente que sem motivo de força maior, em tese, estaria

cometendo crime de prevaricação.

Contribuindo com a idéia acima, extraído da obra de Assis (2007, p. 706)

inclui-se o julgado do Egrégio Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais:

Ementa: Prevaricação. Dever do militar ao presenciar uma agressão. Observação do art. 243 do CPM. Aquele que presencia uma agressão tem o dever de deter o agressor, sob pena de cometer o delito de prevaricação. Norma contida no art. 319 do CPM. Unânime, (TJM/MG – Ap. 2.099 – Rel. Juiz Dr. Décio de Carvalho Mitre – J. em 15.10.1998 – O Minas Gerais, 06.11.1998)(grifo do autor).

Analisando o julgado citado acima, a respeito da agressão presenciada

pelo policial militar, entende-se por analogia que, ao presenciar qualquer prática de

crueldade contra animais que caracterize o crime de abuso e maus-tratos aos

Page 73: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

72

animais, o mesmo tem o dever de deter aquele que realiza tal prática. Lembrando

que, segundo Lazzarini (1999), como fora abordado anteriormente, “a autoridade

decorre do fato de o agente ser policial civil ou militar [...]”, esclarecendo que na

repressão imediata cabe as polícias de ordem pública e judiciária “[...] encaminhar a

ocorrência ao Juizado Especial, salvo aquelas de autoria desconhecida [...]”.

Neste contexto, compreende-se que é dever do policial militar atuar diante

de qualquer situação de quebra da Ordem Pública, sendo autoridade policial

competente para coibir a ação que provocou tal quebra, inclusive de proceder a

lavratura do TC se a infração penal cometida for de ação pública e de menor

potencial ofensivo, em conformidade com o Projeto de Lei nº 4.209/2001, ao dar

nova redação ao art. 4º do Código de Processo Penal brasileiro.

Ante o acima exposto, tem-se a presunção de que o policial militar não

pode deixar de atuar ao presenciar um crime de abuso e maus-tratos aos animais,

uma vez que, como visto anteriormente, trata-se de uma situação de quebra da

Ordem Pública do meio ambiente, pelo fato deste delito tratar-se de um crime

ambiental. E ainda, por se tratar de uma infração penal de ação pública, como todo

delito ambiental, e por ser de menor potencial ofensivo, cabe a lavratura do TC pelo

policial militar capacitado, ou seja, integrante dos segmentos da Polícia Militar

especializados na proteção do meio ambiente. Por fim, na incapacidade do policial

militar em lavrar o TC, cabe ainda o encaminhamento à autoridade competente a

realizar tal procedimento.

Desta forma, se a atitude do policial militar não seguir os caminhos

delineados acima, o mesmo pode estar cometendo o crime de prevaricação por

estar se omitindo, uma vez que esta é uma das três formas de consumação deste

delito.

5.3 RESPONSABILIDADE ECOLÓGICA E AMBIENTAL DA POLICIA MILITAR

O texto da Constituição Federal de 1988 prevê, em seu artigo 225, a

todos o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, preceituando uma

série de obrigações ao poder público e às pessoas físicas e jurídicas. Este

dispositivo e seus desdobramentos compõem a base constitucional de toda

Page 74: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

73

legislação ambiental. Prevê também, como já foi dito anteriormente, que é

competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios a proteção ao

meio ambiente (CF/88, artigo 23, inc. VI e VII), havendo competência legislativa

concorrente para as questões ambientais (CF/88, artigo 24, inc. VI).

Para garantir aos seus cidadãos um meio ambiente ecologicamente

equilibrado, cumprindo com suas atribuições constitucionais contidas nos artigos e

incisos da CF/88 acima citados, o Estado dispõe da Polícia Militar como órgão

fundamental para o cumprimento de tais atribuições. Isto porque, como já foi dito, a

preservação Ordem Pública do meio ambiente cabe à Polícia Militar, lembrando

ainda que, de acordo com a ideia de Vedel citada anteriormente, a preservação

ambiental materializa-se como interesse de segurança pública, sendo esta dever do

Estado.

Como já fora dito anteriormente, através dos ensinamentos de Milaré

(2004), para assegurar o bem-estar social, a força policial competente promove

ações de prevenção e repreensão, mediante fiscalização e investigação, às práticas

ofensivas ao bem ambiental. Nesta senda, a Polícia Militar atua através de seus

segmentos especializados na proteção do meio ambiente na preservação da Ordem

Pública Ambiental, sendo autoridade competente para esta missão.

Com relação aos segmentos especializados na proteção ambiental da

Polícia Militar, estes são comumente denominados Polícia Ambiental ou Florestal,

variando de um Estado brasileiro para outro, (Freitas, 2002, p. 158).

A Polícia Ambiental, ou Florestal quando for o caso, se faz presente, em

26 dos 27 Estados brasileiros, somando um efetivo de quase 10.000 homens, que

garantem a segurança da biodiversidade da nação, (POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL

BRASIL, 2009).

Em alguns dos Estados brasileiros, a Polícia Militar Ambiental possui

competência para aplicar a legislação ambiental em vigor. Em Santa Catarina, por

exemplo, a Polícia Militar Ambiental, através do Termo de Convênio N. 09/20068,

teve afirmada a competência para proceder à lavratura da Notícia de Infração Penal

Ambiental – NIPA, para os crimes cujo quantum da pena em abstrato for superior a

dois anos, e do TC, ambos concernente às infrações penais ambientais de que o

8 Termo de Convênio de Cooperação Técnica que celebram entre si, o Ministério Público do

Estado de Santa Catarina - Ministério Público, e a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão, com interveniência da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina - PMSC.

Page 75: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

74

policial militar tomar conhecimento. É de sua competência também, a elaboração do

Auto de Exame do Local e de Avaliação do Dano Ambiental, nas infrações penais de

resultado, utilizando, se necessário for, o empréstimos de profissionais da área

correlata, através de convênios de sua responsabilidade, (SANTA CATARINA,

2006).

Cabe ainda à Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina, encaminhar a

Notícia de Infração Penal Ambiental juntamente com os documentos e perícias que

lhe são relativos, ao órgão do Ministério Público com atribuição na área criminal

ambiental, procedendo às diligências requisitadas pelo mesmo e, por fim, elaborar,

quando requisitado pela Justiça competente, o Laudo de Constatação de Reparação

do Dano Ambiental, de que trata o artigo 28, I, da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de

1998, (SANTA CATARINA, 2006).

As Polícias Militares Ambientais atuam na preservação e conservação

ecológica através de ações que vão além da fiscalização e controle nas áreas de

mineração, poluição, queimadas, caça e pesca ilegais. Suas ações estendem-se

também à prevenção através da conscientização ecológica e da educação

ambiental. As atribuições destas polícias especializadas são:

1) Fiscalizar: as explorações florestais; o transporte de produtos e subprodutos florestais; o transporte e o comércio de pescados; o transporte e o comércio de plantas vivas, procedentes de florestas; os desmatamentos e queimadas; os criadouros de animais silvestres; as atividades de pisciculturas; 2) Coibir as atividades poluidoras do meio ambiente; 3) Implementar campanhas educativas na área ambiental; 4) Cooperar com as Promotorias de Justiça do Meio Ambiente, fornecendo relatórios e laudos necessários para dar início à ação penal e civil de reparação de danos ao meio ambiente, (POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL BRASIL, 2009, grifo do documento).

Na última década, a ação eficiente da Polícia Militar Ambiental nos

diversos ecossistemas do país contribuiu para a conservação mostrando os

seguintes resultados:

Redução do contrabando e comércio ilegal de animais silvestres;

Maior controle de desmatamento da Mata Atlântica;

Controle total da caça ilegal de jacaré no Pantanal;

Elaboração e implantação de programas para capacitação interna;

Page 76: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

75

Implantação e execução de diversos programas de educação ambiental, e;

Controle das ações ilegais de extração mineral; Apoio a diversos programas de

pesquisas.

A busca por melhores resultados nas ações das Polícias Militares

Ambientais do Brasil seguem de forma integrada com o IBAMA, Secretarias

Estaduais de Meio Ambiente, Universidades, ONGs e outras instituições. Através

dessas parcerias é que se torna possível obter uma ação eficaz de fiscalização e

preservação, (POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL BRASIL, 2009).

Diante das atuações das Polícias Militares Ambientais expostas

anteriormente, percebe-se a imperiosa responsabilidade que detêm estes

seguimentos especializados na proteção do meio ambiente.

Entende-se “responsabilidade como a obrigação de responder pelas

próprias ações ou por alguma coisa que lhe foi confiada”, (Dicionário Priberam da

Língua Portuguesa, 2009), e, no caso das Polícias Militares Ambientais, foram-lhe

confiadas às atribuições comentadas anteriormente no tocante às questões

ambientais. Nesta conjuntura, Meirelles (2002, p.101) ensina diante da execução de

suas atribuições “[...] cada agente administrativo é investido da necessária parcela

de poder público [...]”. Assevera ainda que, o referido poder deve ser usado

normalmente, como atributo do cargo ou da função, e não como prerrogativa da

pessoa que o desempenha.

Diante do exposto acima, é plausível pautar a responsabilidade das

Polícias Militares Ambientais, embora diferenciadas das demais atividades da trivial

da Polícia Militar, como os vocábulos poder e dever, que é nas palavras de Meirelles

(2002, p.101):

O poder tem para o agente público o significado de dever para com a comunidade e para com os indivíduos, no sentido de que quem o detém está sempre na obrigação de exercitá-la [...] O poder do administrador público, revestido ao mesmo tempo o caráter de dever para a comunidade, é insuscetível de renúncia pelo titular.

Logo, a obrigatoriedade de atuação do agente público está ligado à

âmbito de suas funções. Em se tratando da Polícia Militar, perante sua missão

constitucional, entende-se que tenha o dever de agir nos casos de perturbação da

Page 77: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

76

Ordem Pública. O mesmo vale para seus segmentos especializados na proteção

ambiental nos casos de perturbação da Ordem Pública do meio ambiental.

Partindo do princípio de que a Segurança Pública é dever do Estado,

direito e responsabilidade de todos (artigo 144, CF/88) e que qualquer do povo

poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que

seja encontrado em flagrante delito, conforme disposto no artigo 301 do Código de

Processo Penal brasileiro, visualiza-se de forma mais elucidada a diferença entre os

vocábulos poder e dever. Percebe-se também que, embora a Polícia Militar, assim

como Estado, tenha o dever de assegurar o direito de todos ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, é responsabilidade de todos zelar pela garantia de tal

direito coletivo, lembrando que a Constituição Federal impõe, não somente ao Poder

Público, mas também à coletividade o dever de defender e preservar o meio

ambiente para as presentes e futuras gerações.

Page 78: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

77

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há algumas décadas a proteção ambiental é objeto de discussões em

inúmeros debates entres as Entidades Públicas e Privados e a comunidade científica

que trata das questões ambientais. Isso acontece em decorrência da desenfreada

destruição dos diversos ecossistemas do Planeta Terra, causadas pelas ações do

homem, ser vivo este que, tendo direcionado seus interesses, muitas vezes, na

obtenção de ganhos financeiros, pouco se importa com a preservação da natureza.

Diante disso, todas as formas de vida na Terra são afetadas direta ou indiretamente

por ações ou omissões relacionadas à degradação dos ecossistemas.

A proteção do meio ambiente é dever e responsabilidade de todos, tanto

do poder público como da coletividade, uma vez que o meio ambiente equilibrado é

essencial à vida humana na Terra, estando a existência dos humanos intimamente

condicionada a qualidade ambiental. Daí a necessidade do homem proteger a

natureza para as gerações atuais e futuras. Nesta conjuntura de proteção ao meio

ambiente, estão inseridas as questões voltadas à preservação da integridade dos

animais, seres vivos estes que, da mesma forma que o ser humano, é parte

integrante da natureza.

Diante da necessidade de proteger o meio ambiente, o legislador pátrio

criou leis de proteção aos recursos naturais. O conjunto dessas leis forma o Direito

Ambiental, sendo este ramo do Direito, ferramenta de suma importância para a

preservação dos ecossistemas, através de princípios e regras que dão proteção

contra a destruição e degradação da natureza.

Tal necessidade fez com que fossem criados inúmeros órgãos para

proteger o patrimônio ecológico, considerando que a preocupação mundial acerca

da preservação ambiental passou a ter um enfoque extraordinário. A criação dos

referidos órgãos se deu em todas as esferas, Federal, Estadual, Municipal e

particular. Neste contexto, foi conferida à Polícia Militar a competência de atuar de

forma mais abrangente diante das infrações penais ambientais através de seus

segmentos especializados na proteção do meio ambiente, as Polícias Militares

Ambientais.

Ao término da presente pesquisa, é imprescindível apontar que sua trilha

permaneceu alicerçada na concepção de que, persistindo a imprecisão acerca da

Page 79: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

78

atuação do policial militar como autoridade competente a efetuar a lavratura do TC,

ainda que tal circunstância esteja conjugada pela Lei nº. 9.099/95, fragiliza-se

consideravelmente a atuação policial no cumprimento dos objetivos atinentes à

citada lei, bem como dos objetivos relativos à própria missão policial. O mesmo

ocorre com os segmentos especializados da Polícia Militar, incluindo aqueles

destinados à proteção do meio ambiente.

Sabe-se que o policial, representante do Estado, ao deparar-se com a

ocorrência de um crime ou contravenção penal, está investido do poder-dever de

agir, dando início à jurisdicionalização estatal sucedida em conformidade com o que

esteja previsto no ordenamento jurídico. Para tanto, é imperioso que o policial

conheça os limites estabelecidos pelo ordenamento jurídico relativos à sua atuação.

Nesta senda, extraiu-se da legislação, doutrina e jurisprudência pátrias,

embasamentos teóricos norteadores do entendimento jurídico predominante, a cerca

da expressão autoridade policial.

Seguindo a trilha que leva à resposta para a pergunta do problema desta

pesquisa, invoca-se novamente a polêmica da expressão autoridade policial tratada

pela Lei nº. 9.099/95. Através do entendimento de renomados autores acerca desta

lei, além das jurisprudências colhidas e analisadas, percebe-se cada vez mais

reforçada a idéia de que o policial militar é autoridade competente a realizar a

lavratura do TC. Não obstante, trata-se ainda de um tema polêmico, motivo de

acirradas discussões entre discentes, docentes, operadores do direito em geral,

debates jurídicos nos tribunais, conforme demonstrado no decorrer desta pesquisa.

A atuação da Polícia Militar na esfera ambiental também tem se mostrado

matéria de discussões entre os estudiosos do Direito Ambiental, uma vez que, como

visto, as infrações penais ambientais demandam um tratamento diferenciado em sua

condução, divergindo do tratamento convencional destinado aos crimes ditos

comuns. Nesta situação é que nota-se o quão necessária é a atuação das Polícias

Militares através de seus segmentos especializados na proteção do meio ambiente.

Por esse motivo, tal polêmica tende a minimização pelo fato de que é cada vez mais

admissível, também conveniente, a atuação da Polícia Militar na esfera ambiental,

sendo que esta representa o Estado, ao qual competente a preservação dos

ecossistemas.

Comprova-se o cumprimento de parte das metas traçadas nesta pesquisa

no que diz respeito às informações de grande relevância, para que seja respondida

Page 80: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

79

a pergunta do problema deste trabalho, e, principalmente com relação aos

conhecimentos que venham contribuir para que o policial militar atue dentro da

legalidade, mesmo porque, não pode ter dúvida quanto à legitimidade de sua

atuação diante das infrações penais, incluindo as infrações penais ambientais.

Considerando que o crime de abuso e maus-tratos aos animais é um

crime ambiental, e, como visto nesta pesquisa, é competente a Polícia Militar para

atuar diante das infrações penais ambientais, o mesmo serve para o delito em

questão. Desta forma, aproxima-se da resposta para a pergunta do problema desta

pesquisa, através da qual se indaga se “é legítima a ação das polícias militares dos

estados brasileiros quando da lavratura do TC diante dos crimes de abuso e maus-

tratos aos animais”. Para tanto, é indispensável considerar que o referido crime é de

menor potencial ofensivo, e, como visto no decorrer deste trabalho, cabe a lavratura

do TC.

Visto através dos fundamentos explanados na pesquisa, que o policial

militar é autoridade competente para atuar na esfera ambiental, inclusive lavrando o

TC quando for cabível, compreende-se que, se tratando do crime de abuso e maus-

tratos aos animais, crime ambiental de menor potencial ofensivo, o policial militar é

autoridade competente para atuar diante do delito, inclusive procedendo à lavratura

do TC.

É Importante lembrar que a atuação da PM diante das infrações penais

ambientais, inclusive efetuando a lavratura do TC, não se restringe aos policiais

militares dos segmentos especializados na proteção ambiental, sendo que os

demais policiais militares, de outros segmentos, são, também, competentes para

efetuar o referido procedimento.

Assim sendo, tem-se alcançado o objetivo geral desta pesquisa e, ao

mesmo tempo, respondida a pergunta do problema. Com isso, pode-se considerar

legítima a ação das polícias militares dos estados brasileiros quando da lavratura do

TC diante dos crimes de abuso e maus-tratos aos animais.

Importante salientar que não só o policial militar pode ser beneficiado com

as informações fornecidas nesta pesquisa no tocante a legitimidade de sua atuação,

mas também a sociedade. Esta, almeja, e deve receber, uma resposta rápida e

eficaz para os crimes ambientais, embora os crimes e condutas lesivas ao meio

ambiente tenham se tornado banais e aceitos por parte da sociedade que muitas

vezes se conforma com tal banalização. Diante disso, a lavratura do TC pelo policial

Page 81: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

80

militar diante dos crimes contra a natureza, só viria a contribuir com a necessidade

da sociedade em receber uma resposta rápida e eficaz diante de tais delitos.

Page 82: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

81

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 8. ed. rev. amp. e atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005. ASSIS, Jorge César de. Comentários ao código penal militar: parte geral artigos 1º a 135: parte especial artigos 136 a 410. 6. ed. Curitiba: Juruá, 2007. AYRES, Cláudio Roberto Monteiro. A Polícia Militar e sua atuação junto aos Juizados Especiais Criminais. Disponível em: <http://www.pm.ms.gov.br/Artigos/POL%C3%8DCIA%20MILITAR%20E%20OS%20JUIZADOS%20ESPECIAIS.pdf>. Acesso em: 15 mai. 2009. BRASIL. Advocacia Geral da União. Parecer da Advocacia Geral da União – GM 25, de 10 de agosto de 2001. Dispõe sobre a competência das Polícias Militares – Preservação da Ordem Pública e Polícia Ostensiva. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/agu/agu.htm>. Acesso em: 15 mar. 2009. _____. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. 6. ed. atual. até 31/01/2005. São Paulo: RT, 2005. _____. Constituição Federal, Coletânea de Legislação de Direito Ambiental. Organizadora Odete Medauar, obra coletiva de autoria da Editora Revista dos Tribunais. 5. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. _____. Decreto Federal n. 88.777, de 30 de setembro de 1983. Aprova o regulamento para as policias militares e corpos de bombeiros militares (R-200). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/ D88777.htm>. Acesso em: 28 ago. 2008. _____. Decreto-Lei 1.001, de 21 de outubro de 1969. Código Penal Militar. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 20 abr. 2009. _____. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 20 abr. 2009. _____. Lei n 11.313 de 28 de Junho de 2006. Altera os arts. 60 e 61 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e o art. 2o da Lei no 10.259, de 12 de julho de 2001, pertinentes à competência dos Juizados Especiais Criminais, no âmbito da Justiça Estadual e da Justiça Federal. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-006/2006/Lei/L11313.htm >. Acesso em: 11 mai. 2008. _____. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Lei da Política Nacional do Meio Ambiente. Brasília. D.O.U. de 02.09.1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm>. Acesso em: 19 nov. 2008.

Page 83: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

82

_____. Lei n° 9.099, de 26 de setembro de 1995. Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Brasília. D.O.U. de 27.09.1995. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L9099.htm>. Acesso em: 20 nov. 2008. CALHAU, Lélio Braga. Meio Ambiente e Tutela Penal nos Maus-Tratos contra Animais. Disponível em: <http://trinity.ritterdosreis.br/phl5/images/CAN/SP/SP013224_08.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2007. CAMARGO, Carlos Alberto de. Cel PM-RR, Ex-Cmt G da PMESP. Celeridade Policial. 09 out 01. Disponível em: http://www.estado.com.br/editorias/01/10/09/aberto002.html>. Acesso em: 11 fev. 2009. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 4 v. _____. Curso de direito penal. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 3 v. CARVALHO, Roldão Oliveira de; NETO, Algomiro Carvalho. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Comentários à Lei 9.099, de 26 de setembro 1995. 4 ed. São Paulo: Bestbook, 2006. CAVALCANTI, Clóvis de Vasconcelos. Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1998. CONSTANTINO, Carlos Ernani. Delitos Ecológicos: a lei ambiental comentada artigo por artigo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. COSTA, Diego Marzo. Educação Ambiental na Polícia Militar de Santa Catarina: Uma contribuição para o atendimento de ocorrências policiais, Florianópolis: UNIVALI, 2002. CRETELLA JÚNIOR, José. Dicionário de Direito Administrativo. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978. CRETELLA JÚNIOR. José. Curso de direito administrativo. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. CURCINO NETO, Nycia Francielle. A preservação da ordem pública na atividade de polícia ostensiva. Trabalho de Conclusão do Curso de Segurança Pública da Universidade do Vale do Itajaí, 2008. DEZORDI, Sadiomar Antônio. Competência da Polícia Militar de Santa Catarina como autoridade policial para efetuar a lavratura do Termo Circunstanciado na esfera ambiental. Trabalho de Conclusão de Curso – Curso de Segurança Pública. Florianópolis, UNIVALI, 2006. FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

Page 84: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

83

FERGITZ, Andréia Cristina. Policial Militar: autoridade competente para lavratura do termo circunstanciado, do Curso de Segurança Pública da UNIVALI, 2009. Disponível em: <http://www.pm.sc.gov.br/website/rediranterior.php?site=40&act=1&id=2193>. Acesso em 14 mai. 2009 FERREIRA, Glayciele Rodrigues Gonçalves. O art. 61 da Lei dos Juizados Especiais Criminais estaduais (Lei nº 9.099/95) com o advento da Lei dos Juizados Especiais Criminais na Justiça Federal, 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6191&p=1>. Acesso em 27 mar. 2009. FILHO, Marino Pazzaglini et alli, Juizado Especial Criminal: Aspectos Práticos da Lei nº 9.099/95, São Paulo: Atlas, 1998, p. 33. FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 8. ed. ampl. São Paulo: Saraiva, 2007. FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza: (de acordo com a Lei 9.605/98). 8. ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. _____. Crimes contra a natureza: de acordo com a lei 9.605/98. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. FREITAS. Vladimir Passos de. A polícia na proteção ao meio ambiente. In Revista de direito ambiental. Ano 7, out.-dez. 02, nº 28. São Paulo: RT, 2002. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GOMES, Luiz Flávio. PM PODE LAVRAR BO. Revista Consultor Jurídico. Disponível em: <http://www.advogadocriminalista.com.br/home/casosenoticias/0042.html>. Acesso em 14 abr. 2009. GOMES, Luiz Flávio; CUNHA, Rogério Sanches. Direito penal: parte especial. 3. v. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. Juizados Especiais Criminais: Doutrina e Jurisprudência atualizadas. São Paulo: Saraiva, 1998. GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados Especiais Criminais: comentários à lei 9.099, de 26.09.1995. 4. ed. ver., ampl. e atual. de acordo com a Lei 10.259/2001. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. JESUS, Damásio Evangelista de. Código de Processo Penal Anotado. 21 Ed. São Paulo: Saraiva, 2004. _____. Código penal anotado. 15. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2004.

Page 85: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

84

_____. Lei dos Juizados Especiais Anotada. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. _____. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. KUEHNE, Maurício et al. Lei dos juizados especiais criminais: Lei nº 9.099/95. Curitiba: Juruá, 1996. LAGRASTA NETO, Caetano et al. A lei dos juizados especiais criminais na jurisprudência. São Paulo: Oliveira Mendes, 1998. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006. LANFREDI, Geraldo Ferreira et al. Direito penal, na área ambiental: os aspectos inovadores do estatuto dos crimes ambientais e a importância da ação preventiva em face desses delitos: doutrina, legislação, jurisprudência, documentários. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. LAURIA TUCCI, Rogério. As Leis dos Juizados Especiais Criminais e a Polícia Militar, in Revista Literária de Direito de maio/junho de 1996, p. 27 – 31. LAZZARINI, Álvaro apud Kuehne et at. Folha de São Paulo, artigo publicado em 03 nov. 1995, p. 8. LAZZARINI, Álvaro. A segurança pública e o aperfeiçoamento da polícia no Brasil. Força Policial. São Paulo, n. 5. jan/mar, 1995. _____. Da Segurança Pública na Constituição de 1988. Revista de Informação Legislativa, n. 104, 1989, p. 233-236. _____. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: RT, 1999. _____. Estudos de direito administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. _____. Temas de direito administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. MARCINEIRO, Nazareno; PACHECO, Giovani Cardoso. Polícia Comunitária: evoluindo para a polícia do século XXI. Florianópolis: Insular, 2005. MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica: para o curso de direito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 29. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2004.

Page 86: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

85

MELE, Coronel PM João Leonardo. Segurança Ambiental e Segurança Pública. São Paulo, n. 1, p. 9-39, 2004. _____. Segurança Ambiental e Segurança Pública: Segurança Ambiental, São Paulo, ano 1, n. 1, 2004. MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 5. ed. ref., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1998. MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002. PARRA FILHO, Domingos; SANTOS, João Almeida. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Futura, 2003. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. São Paulo: OAB Editora, 2005. PINTO, Renato Sócrates Gomes. Justiça Restaurativa: É possível no Brasil? Disponível em: <http://www.idcb.org.br/documentos/artigos3001/art_justicarestau.doc>. Acesso em: 10 ago. 2008. POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL BRASIL. Os anjos do meio ambiente. Disponível em: <http://www.pmambientalbrasil.org.br/>. Acesso em 14 abr. 2009. RODRIGUES, Givanildo. Polícias militares estaduais e desobediência civil no estado democrático de direito. Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Segurança Pública. Florianópolis: PMSC / UNIVALI, 2006. SANTA CATARINA, Estado de. Ministério Público. Termo de Convênio N. 09/2006. Florianópolis, 2006. Disponível em: <http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_impressao.asp?campo=5632&conteudo=fixo_detalhe>. Acesso em: 15 abr. 2009. SANTA CATARINA, Estado de. Poder Judiciário. Parecer n.º 233/PGE/01. Procuradoria Geral. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/pauta/verTema.asp?id=25995>. Acesso em: 15 mai. 2009. _____. Poder Judiciário. Provimento nº 04/99. Corregedoria Geral da Justiça. SANTA CATARINA, Policia Militar de. Guarnição Especial de Polícia Militar Ambiental. P-3, 2005. SANTA CATARINA, Tribunal de Justiça de. Jurisprudências. Pesquisa Avançada. Disponível em: <http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/PesquisaAvancada.do>. Acesso em: 03 fev. 2009.

Page 87: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

86

SANTA CATARINA. Constituição do Estado de Santa Catarina, de 5 de outubro de 1989. Disponível em: <http://www.alesc.sc.gov.br/al/index.php#>. Acesso em 03 fev. 2009. SANTA CATARINA. Procuradoria Geral do Estado. Parecer 229/02. Disponível em: <http://www.policiaeseguranca.com.br/pgesc.htm>. Acesso em: 11 mai. 2009 SANTOS, Antônio Silveira R. dos. Maus-tratos e crueldade contra animais: aspectos jurídicos . Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 43, jul. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1718>. Acesso em: 08 jun. 2009. _____. Maus-tratos e crueldade contra animais: aspectos jurídicos . Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 43, jul. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1718>. Acesso em: 11 abr. 2009. SÃO PAULO, Polícia Militar do Estado de. A FORÇA POLICIAL: órgão de informação e doutrina da instituição policial militar. Ano 8. n. 31. Setembro de 2001. Revista trimestral nº 31/2001 (julho/agosto/setembro/2001). SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de. Provimento 806, 2003. SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 2. ed. rev. ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HC7199/PR; 1998/0019625-0. Relator: Ministro Vicente Leal. DJ 28.09.1998. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=HC+7199&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1>. Acesso em: 21 mar. 2009. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Ação Direta de Inconstitucionalidade. ADI-AgR 2618/ PR – PARANÁ. Relator: Ministro Carlos Velloso. 12/08/2004. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp>. Acesso em: 02 abr. 2009. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais. 3. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, Provimento Conselho Superior da Magistratura: Provimento nº 806/2003 de 10/11/03. Disponível em: <http://www.biblioteca.tj.sp.gov.br/acervo/normas.nsf/0/1DAB9C96A6EFBF1A03256D7F0051B07E?OpenDocument>. Acesso em: 15 mai. 2009. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Desenvolvimento Sustentável. Brasília, 2007. Disponível em: <http://www.unb.br/temas/desenvolvimento_sust/o_que_e.php.> Acesso em: 06 dez. 2008. VALLA, Wilson Odirley. Doutrina de emprego de Polícia Militar e Bombeiro Militar. 2ª ed revista e ampliada. Curitiba: AVM, 2005.

Page 88: POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO …siaibib01.univali.br/pdf/Darvi Antonio Savi Neto.pdf · O direito de atuação para coibir a prática de crimes ambientais é

87

VENÂNCIO, Valdez Rodrigues. A Polícia Militar e o meio ambiente: breves comentários sobre a apuração de infrações ambientais. Revista Direito Militar, n. 41, mai/jun, 2003.