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ECONOMIA INTERNACIONAL I - CIÊNCIAS ECONÔMICAS Prof. MARDEN ARBUÉS TARIFAS - (TEXTO 05) “O imposto sobre importações -denominado tarifa- é cobrado quando a mercadoria entra no país. Pode ser específico, “ad valorem” ou misto. No caso do imposto específico, cobra-se determinado valor por unidade importada. Um exemplo é a tarifa de US$ 454,00, cobrada por tonelada de suco de laranja brasileiro importada pelos Estados Unidos, independentemente do preço do produto. A cobrança do ad valorem é a mais usual na atualidade e significa que o imposto é calculado como uma porcentagem do preço do produto, como a Tarifa Externa Comum (TEC), de 20%, acordada entre os membros do Mercosul, para importações procedentes de países que não sejam membros desse bloco econômico. O sistema misto implica cobrança de determinado montante por unidade importada do produto, além de um percentual sobre o preço. Pode-se cobrar, por exemplo, US$ 50,00 por unidade de produto importada e 20% sobre preço do produto. No passado, o governo brasileiro impunha tarifa específica sobre o comércio. Com a reforma tarifária de 1957, o sistema predominante passou a ser do tipo ad valorem. Esse é também o sistema preferido pela maioria dos países, em particular pela maior facilidade de administração. A tarifa é uma das formas mais antigas de tributação e, no passado, era utilizada como importante fonte de receita de governos. Ainda hoje, em muitos países menos desenvolvidos, representa parcela expressiva da receita pública, como é o caso, por exemplo, de Belize, Guiné ou Lesoto, onde cerca de metade das receitas do governo corresponde a tributos sobre o comércio. Essa participação elevada se deve, em grande parte, à maior facilidade de arrecadação relativamente a outras formas de tributação, pois, para arrecadar esse imposto, basta controlar os ingressos de mercadorias dos portos e fronteiras, enquanto a tributação da renda ou do consumo, por exemplo, exige um aparato burocrático expressivo. Nesse particular, o Brasil equipara-se às economias mais desenvolvidas do mundo. Em 1992, a participação dos tributos sobre o comércio era de 1,51% da receita total do governo, percentual pouco abaixo do observado, por exemplo, nos Estados Unidos, que, em 1994, tiveram 1,55% da receita pública procedente dessa fonte. Para os países com participação expressiva no comércio, o principal objetivo das tarifas é oferecer vantagem ao produtor doméstico frente à concorrência estrangeira. Na verdade, qualquer que seja o objetivo da política tarifária, sua adoção provoca várias alterações na economia. Uma análise desses efeitos é apresentada a seguir, sob a perspectiva de um país pequeno. Por país pequeno entenda-se aquele que pode importar ou exportar tanto quanto queira, sem afetar os preços internacionais. O Brasil pode ser considerado país pequeno na troca da maioria dos produtos, dada sua reduzida participação no comércio mundial, sobretudo em relação a produtos manufaturados. Café e açúcar são

Política Comercial Internacional - Tarifas

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ECONOMIA INTERNACIONAL I - CIÊNCIAS ECONÔMICAS – Prof. MARDEN ARBUÉS

TARIFAS - (TEXTO 05)

“O imposto sobre importações -denominado tarifa- é cobrado quando a mercadoria entra no país. Pode ser específico, “ad valorem” ou misto.

No caso do imposto específico, cobra-se determinado valor por unidade importada. Um exemplo é a tarifa de US$ 454,00, cobrada por tonelada de suco de laranja brasileiro importada pelos Estados Unidos, independentemente do preço do produto.

A cobrança do ad valorem é a mais usual na atualidade e significa que o imposto é calculado como uma porcentagem do preço do produto, como a Tarifa Externa Comum (TEC), de 20%, acordada entre os membros do Mercosul, para importações procedentes de países que não sejam membros desse bloco econômico.

O sistema misto implica cobrança de determinado montante por unidade importada do produto, além de um percentual sobre o preço. Pode-se cobrar, por exemplo, US$ 50,00 por unidade de produto importada e 20% sobre preço do produto.

No passado, o governo brasileiro impunha tarifa específica sobre o comércio. Com a reforma tarifária de 1957, o sistema predominante passou a ser do tipo ad valorem. Esse é também o sistema preferido pela maioria dos países, em particular pela maior facilidade de administração.

A tarifa é uma das formas mais antigas de tributação e, no passado, era utilizada como importante fonte de receita de governos. Ainda hoje, em muitos países menos desenvolvidos, representa parcela expressiva da receita pública, como é o caso, por exemplo, de Belize, Guiné ou Lesoto, onde cerca de metade das receitas do governo corresponde a tributos sobre o comércio. Essa participação elevada se deve, em grande parte, à maior facilidade de arrecadação relativamente a outras formas de tributação, pois, para arrecadar esse imposto, basta controlar os ingressos de mercadorias dos portos e fronteiras, enquanto a tributação da renda ou do consumo, por exemplo, exige um aparato burocrático expressivo.

Nesse particular, o Brasil equipara-se às economias mais desenvolvidas do mundo. Em 1992, a participação dos tributos sobre o comércio era de 1,51% da receita total do governo, percentual pouco abaixo do observado, por exemplo, nos Estados Unidos, que, em 1994, tiveram 1,55% da receita pública procedente dessa fonte.

Para os países com participação expressiva no comércio, o principal objetivo das tarifas é oferecer vantagem ao produtor doméstico frente à concorrência estrangeira. Na verdade, qualquer que seja o objetivo da política tarifária, sua adoção provoca várias alterações na economia. Uma análise desses efeitos é apresentada a seguir, sob a perspectiva de um país pequeno.

Por país pequeno entenda-se aquele que pode importar ou exportar tanto quanto queira, sem afetar os preços internacionais. O Brasil pode ser considerado país pequeno na troca da maioria dos produtos, dada sua reduzida participação no comércio mundial, sobretudo em relação a produtos manufaturados. Café e açúcar são exceções importantes, pois a participação brasileira no mercado internacional destes bens é significativa, embora declinante. Assim, um país pequeno, que depende de importações da mercadoria M para atender ao excesso de demanda domestica, é o ponto de partida dessa análise.

Observe-se na Figura (4.2) que, sob regime de liberdade de comércio, o preço de M P*m, o que leva os produtores domésticos a ofertar a quantidade Q1, enquanto os consumidores demandam Q2. Como, a esse preço, a produção é insuficiente para atender à demanda, a diferença é complementada com importação da quantidade Q2 - Q1.

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Como partimos de uma situação de total liberdade de comércio, então o preço internacional de M é igual ao próprio preço praticado no mercado doméstico. A introdução de uma tarifa t sobre a importação de M alterará seu preço doméstico, tornando-o mais elevado do que o preço internacional. Então:

Pm= (1+t ) P*m A análise de equilíbrio parcial é útil para compreender algumas implicações desse fato. Vimos que a introdução da tarifa alfandegária eleva o preço no mercado doméstico para Pm, o que provoca aumento da produção nacional de Q, para Q3, mas diminuição na quantidade demandada para Q4-Q3. Concluindo, aumenta a produção nacional e diminuem a importação e o consumo do produto protegido.

CUSTOS E BENEFÍCIOS DAS TARIFAS

O objetivo básico da tarifa é proteger o produtor doméstico da concorrência internacional. Vimos que uma de suas conseqüências é o aumento do preço do produto protegido no mercado do país importador. Os custos e benefícios dessa elevação de preços a ser avaliados a partir dos conceitos de excedentes do consumidor e dos conceitos de excedente do consumidor e do produtor.

Sob liberdade de comércio, ao preço internacional P*m, os produtores nacionais venderiam Q1, mas os consumidores demandariam Q2 (figura (4.3a)). O excedente do produtor localiza-se abaixo da linha de preço até a curva da oferta ( triângulo A). O excedente do consumidor é representado pela área acima P*m e abaixo da curva de demanda (áreas B + C).

Após imposição de tarifa, o preço passa de P*m para Pm (Figura (4.3b)). A perda dos consumidores domésticos é dada pelas áreas a+b+c+d. Os produtores tem acréscimo de excedente igual a área a. A área c mede a receita do governo decorrente a introdução da tarifa. Observe-se que o saldo líquido é negativo e corresponde às áreas dos triângulos b+d.

O triângulo b representa a distorção causada pelo aumento da produção doméstica, menos eficiente. A melhor alocação de recursos seria atingida por meio de importação, uma vez que os produtores estrangeiros são mais eficientes na produção de M, o que é comprovado pelo fato de serem capazes de atender à demanda ao preço Pm.

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O triângulo d indica a distorção no consumo, que sofre redução após a tarifa, em conseqüência do aumento de preço no mercado interno. A soma desses triângulos (b+d) representa a redução do bem-estar social resultante da barreira tarifária.

Quadro 4.3 – Custos e benefícios da tarifa em um país pequenoMudança no excedente do consumidor - a - b - c - dMudança no excedente do produtor + aMudança na receita do governo + cSaldo líquido - b - d

Em resumo, a tarifa provoca perda para os consumidores, não compensada integralmente pelos ganhos dos produtores e receita de governo. Isso acontece num país pequeno, cujo comércio é incapaz de afetar as relações de troca internacionais. Nesse caso, qualquer restrição ao comércio implica perdas para a comunidade.

Uma vez que há perdas para a comunidade, o que explicaria a continuidade da adoção de políticas protecionistas num país pequeno? Uma explicação interessante é o fato de as perdas serem difusas e os benefícios, concentrados. O maior perdedor de consumidores, cada um acaba pagando uma pequena parte dos custos das medidas protecionistas e tem pouca motivação para se contrapor a elas.

Produtores e trabalhadores do setor protegido são os maiores beneficiários. Como são em menor número e, com freqüência, encontram-se concentrados em determinadas áreas geográficas do país, quando sentem-se ameaçados pela concorrência estrangeira têm coesão suficiente para formar lobbies e pressionar as autoridades para implementação de medidas protecionistas.

CARVALHO, M. A; SILVA, C. R. L. Economia Internacional. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.