Política, identificação e subjetivação - Ranciere

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  • 7/28/2019 Poltica, identificao e subjetivao - Ranciere

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    POLTICA, IDENTIFICAO E SUBJETIVAAOJ. RANCIERE

    Todo o problema do meu manuscrito est envolvido com uma questo

    preliminar: em qual lingua ele pode ser endereado? Nem na minha nem

    na lingua de vocs mas, mais do que isto, numa dialtica entre o

    francs e o ingls, uma lingual especial portanto, uma dialtica que no

    possui nenhuma identificao com nenhum dos grupo. Assim nem uma

    dialtica tribal, nem uma lngua universal, somente uma dialtica in-between, construda para o objetivo desta discusso e guiada pela idia

    que a atividade de pensar primordialmente uma atividade de traduo

    e que qualquer um capaz de fazer esta traduo. Latente a esta

    capacidade de traduo est a eficcia de igualdade, que o mesmo

    que dizer, a eficcia de humanidade.

    Eu irei diretamente para a questo que enquadra nossa discusso. Eu

    examinarei o terceiro ponto da lista de questes que ns temos aqui

    debatido: o que o politico?

    De maneira breve e grosseiramente falando, eu responderia: o politico

    o encontro entre dois processos heterogeneos. O primeiro processo

    aquele da governana e ele induz a criao de um consenso

    comunitrio, atravs do qual pressupoe-se a distribuio dos lugares e

    as hierarquias deles e suas funes. Eu chamarei este processo de

    polcia.

    O segundo processo aquele da igualdade. Ele consiste em um

    conjunto de prticas guiado pela suposio que todo mundo igual e

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    capaz de fazer a verificao desta suposio. O nome apropriado para

    este conjunto de prticas pode ser emancipao. A despeito da tese

    de Lyotard, eu no concebo um necessrio vnculo entre a idia de

    emancipao e a narrativa de um universal da injustia e uma vtima

    universal. verdade que h manuseio da injustia contm uma forma

    universal dado pelo encontro entre dois processos da polcia e da

    igualdade. Ns devemos interrogar este encontro. Ns podemos arguir,

    por exemplo, que qualquer polcia nega igualdade e que no h

    comensurabilidade entre os dois processos.

    Em meu livro, O Mestre Ignorante, eu defendi a tese do pensador

    francs da emancipao, Joseph Jacotot, para quem emancipao pode

    somente ser uma emancipao individual intelectual. Ento isto

    significa que no h um estgio da poltica, somente a lei da polcia e a

    lei da igualdade. Para existir um estgio da poltica, ns devemos

    mudar esta abordagem. Ento, ao invs de advogar que a polcia negaigualdade, eu diria que polcia confunde a igualdade e eu tomaria o

    politico como sendo o lugar onde a verificao da igualdade obrigada

    a encontrar o manuseio da injustia acima.

    Ento temos trs termos: polcia, emancipao e o politico. Se ns

    queremos enfatizar o jogo interrelacional entre eles, ns podemos dar

    ao processo de emancipao o nome de poltica. Ento eu distinguirei

    polcia, poltica e o politico o politico como sendo o campo de

    encontro entre emancipao e a polcia no tratamento da injustia

    Uma consequncia pode ser j pensada aqui a partir desta nomeao:

    poltica no a encarnao de um princpio, a lei ou o corpo de uma

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    comunidade. Em outras palavras, poltica no tem arche1, ela

    anrquica. O prprio nome democracia sustenta este ponto. Como

    Plato notou, democracia no tem arche, no tem medida. A

    singularidade do ato do demos a cratein ao inves do arche

    dependente de um conflito, de uma desordem original: o demos ou

    povo , ao mesmo tempo, o nome de uma comunidade e o nome para

    sua diviso no tratamento da injustia. E alm de uma particular

    injustia, a poltica do povo ameaa a polcia porque o povo sempre

    mais ou menos que ele mesmo. o poder de um-mais, o poder de

    qualquer um, o qual confunde o direito de ordenao da polcia.

    Agora, para mim, o principal desparecimento da reflexo e ao poltica

    a sua identificao com o corpo de uma comunidade. Isto pode

    ocorrer em uma grande comunidade ou nas menores; pode ser a

    identificao do processo de governana com o princpio da

    comunidade sob a noo de tratamento da universalidade, o reino dalei, a liberal democracia e etc. Ou pode ser, ao contrrio, o apelo de

    uma identidade como parte das to denominadas minorias contra a lei

    hegemonica da cultura e identidade dominantes. A comunidade grande

    e a menor pode ser entendida, uma ou outra, como tribalismo ou

    barbarismo e ambas estaro adequadas neste entendimento e

    equivocadas em suas reivindicaes. Eu no assumo que elas so

    praticamente equivalente, que as consequncias so as mesmas. Eu

    apenas estou dizendo que elas tm a mesma questionavel

    identificao. Para o primius movensda polcia, ela teria a inteno de

    agir como o corpo da comundiade, transformar a tcnica de governar

    em lei natural da ordem social. Mas se poltica algo diferente de

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    polcia, ela no pode se encaixar em tal identificao. Algum poderia

    objetar que a idia de emancipao historicamente relacionada com a

    idia de self, na formulao de uma emancipao dos trabalhadores.

    Mas a primeira motivao de qualquer movimento de auto emancipao

    sempre a luta contra egosmo. Este no somente um estatuto

    moral (por exemplo, a dedicacao individual para a militancia

    comunitaria), tambm um estatuto lgico: a poltica de emancipacao

    a poltica do selfcomo um outro ou, em termos gregos, um heteron.

    A lgica da emancipao a heterologia.

    Peo permisso para colocar isto de outra forma: o processo de

    emancipao a verificao da igualdade de qualquer ser falante com

    qualquer outro ser falante. Est sempre envolvido no nome de uma

    categoria negada ou o principio ou as consequncias daquela igualdade.

    : trabalhadores, mulheres, negros ou outros. Mas o postulado de

    igualdade no , para todos estes, o postulado do self, dos atributosou propriedade de uma tal comunidade em questo. O nome de uma

    comunidade humilhada que evoca seus diretios sempre um nome

    annimo, o nome de qualquer um.

    H valores universais transcendentes identificaes particulares? Se

    ns queremos ir alm do desesperado debate entre universalidade e

    identidade, ns devemos responder que o nico universal em poltica

    a igualdade. Mas ns temos que dizer ainda que aquela igualdade no

    um valor dado na essncia de uma humanidade ou de uma razo.

    Igualdade existe e faz valores universais existirem para alm daquilo

    que lei. Igualdade no um valor que alguem faz aparecer, um

    universal que pode ser suposto verificado e demonstrado em cada

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    caso. Universalidade no o eidos2 da comunidade para o qual

    situaoes particulares esto opostas; , antes de tudo, um operador

    lgico. O modo da efetividade da verdade ou universalidade na poltica

    a construo discursiva e prtica de uma verificaao polmica, no

    caso, uma demonstrao. O lugar da verdade no a raiz ou um ideal,

    sempre um topos, o lugar de uma subjetivacao em um enredo

    argumentativo. Sua linguagem sempre idiomatica, a qual, ao

    contrario, no tem o sentido tribal. Quando grupos oprimidos tem que

    lidar com o dano eles aparecem como ser humanos ou Homens. Mas a

    universalidade no est nestes conceitos, ela est no caminho dademonstraao das consequencias retiradas disso do trabalhador ser

    um cidado, negros serem seres humanos e etc. O esquema logico do

    protesto social, genericamente falando, pode ser resumido assim: ns

    pertencemos ou no a categoria homens ou humanos ou seres

    humanos e quais consequencias isto implica? A universalidade no est

    contida no ser humano ou na cidadania, ela est envolvida nasconsequncias de sua representao prtica e discursiva.

    Tal universalidade deve se desenvolver atravs da mediao de

    categorias particulares. Por exemplo, na Frana do sec. XIX,

    trabalhadores deveriam construir as lgicas das greves na forma de um

    silogismo: trabalhadores franceses pertencem a categoria de homem

    francs? Se no, a Declarao dos Direitos tem que ser mudada. Se

    sim, eles teriam que ser tratados como iguais e eles atuaram para

    demonstrar isto. A questo pode ser ainda mais paradoxical. Seguindo

    o exemplo, ser que a mulher francesa pertence a categoria de homem

    francs? A questo pode soar escandalosa ou sem sentido. No

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    entanto, tal sentena sem sentido pode ser muito mais produtiva no

    processo de igualdade do que uma mera afirmativa que a mulher uma

    mulher ou um trabalhador um trabalhador. Assim eles trazem estes

    temas no somente para um especfico vazio lgico mas, desta forma,

    eles no somente descortinam uma diviso social mas tambm

    articulam esta diviso como uma relao, um no lugar em lugar, o

    lugar para uma polmica construo. A construo destes casos de

    igualdade no um ato de uma identidade nem a demonstrao de

    valores especficos para o grupo. um processo de subjetivao.

    O que um processo de subjetivao? a formao de um que no

    um self mas a relaao do eu com o outro. Permita-me demonstrar

    isto com o nome o proletariado. Um dos seus primeiros usos ocorre

    na Frana do sec XIX, quando um lder revolucionrio, Blanqui, foi

    processado por rebelio. O juiz perguntou a ele: Qual a sua profisso?

    Ele respondeu: proletrio. Ento o juiz disse: isto no uma profisso.E a resposta de Blanqui foi: a profisso da maioria do nosso povo que

    est privado de direitos politicos. Desde o ponto de vista da polcia, o

    juiz estava certo: proletrio no uma profisso. E obviamente

    Blanqui no era o que ns usualmente chamaramos de trabalhador.

    Mas, desde o ponto de vista da poltica, Blanqui estava certo:

    proletrio no era o nome de um grupo social qualquer que poderia ser

    sociologicamente definido. o nome de um resto. Um resto que no o

    lixo da humanidade, um resto o nome daqueles que tem negada sua

    identidade na ordem dada da polcia. Em latim proletariisignifica povo

    que prolifera povo que procria, que simplesmente vive e reproduz

    sem nome, sem ser contado como parte da ordem simblica de uma

    cidade. Proletrios foram ento transformados em trabalhadores como

    um nome de ningum, um nome de pria: aqueles que no pertencem a

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    ordem das castas, de fato, aqueles que esto envolvidos em desfazer

    esta ordem (a classe que dissolve a classe, como Marx disse). Desta

    compreenso, o processo de subjetivacao um processo de

    desindentificacao ou desclassificao.

    Deixe-me dizer isto novamente: um sujeito um outsiderou mais um

    in-between. Proletrio era o nome dado para um povo que estava junto

    quanto mais eles eram entre algo: entre diferentes nomes, status e

    identidades, entre humanidade e desumanidade, entre cidados e sua

    negao, entre o status de homem com habilidade de status de serespensantes e falantes. Subjetivao poltica o postulado da igualdade

    ou o enfrentamento da injustia pelo povo que est junto pela

    extenso daquilo que ele est entre. um atravessamento de

    identidades, postos em nomes atravessados: nomes que vinculam o

    nome de um grupo ou classe com o nome de nenhum grupo ou

    nenhuma classe, vincula um ser humano a um no humano ou a umainda no humano.

    Esta rede tem uma propriedade importante: est sempre envolvida

    com uma identificao impossvel, uma identificao que no pode ser

    encorporada por algum que a assuma. Nos somos os condenados

    da terra o tipo de afirmativa que nenhum miservel do mundo

    deveria sentir. Ou para tomar um exemplo pessoal, para minha gerao,

    a poltica na Frana se dava atravs de uma identificao impossvel

    identificao com os corpos dos Algerianos espacandos at a morte ou

    jogados no rio Sena pela polcia, em nome do povo francs, em

    outubro de 1961. Ns no pudiamos nos identificar com aqueles

    corpos algerianos mas ns podamos questionar nossa identificao

    com o povo francs em nome de quem os algerianos eram mortos.

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    Isto significa dizer que ns podemos atuar como sujeitos politicos no

    intervalo ou no hiato entre duas identidades, no entanto, nenhuma

    delas podemos assumir. Este processo de subjetivao no possui

    nome prprio mas ele encontra seu nome, seu nome cruzado no

    tema de 1968 Nos somos todos Alemes Judeus uma

    identificao errada, uma identificao em termos de uma negao, de

    um absoluto equvoco. Se o movimento comeou com aquela

    sentena, seu declnio pode ser simbolizado por uma declaraao

    antagnica, a qual serve como ttulo de um ensaio publicado alguns

    anos depois por um lider do movimento: ns no somos todos nascidosproletrios. Certamente, ns no fomos, ns no somos. Mas o que se

    segue a partir disso uma inabilidade em perceber as consequ&encias

    de um ser que um no-ser, de uma identificao com todo mundo

    que no tem corpo prprio. Na demonstrao da igualdade, a lgica

    silogistica do ou/ou (somos ou no somos cidados e seres humanos?)

    entrelaada com a lgica paratctica de ns somose

    no somos.

    Em resumo, a lgica da subjetivao poltica, da emancipaao a

    heterologia3, a lgica do outro, por trs razes principais: 1. Nunca

    uma simples afirmao identitria, sempre, ao mesmo tempo, a

    negao de uma identidade atribuda pelo outro, dada pelas regras de

    ordenao da polcia. Polcia se trata de nomes corretos, nomes que

    designam as pessoas para seus lugares e suas atividades. Poltica se

    trata de nomes incorretos termos imprprios que articulam um

    hiato e o conectam com a injustia. 2. uma demonstrao e uma

    demonstrao sempre supe um outro, mesmo quando este outro

    recusa argumentos ou evidncias. um estgio de lugar comum que

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    nao um lugar para a busca de consenso no sentido habermasiano.

    No h consenso, no h comunicao sem danos, nem a resoluo de

    um conflito. Mas existe um polmico lugar comum para o tratamento

    da injustia e a demonstrao da igualdade. 3. A lgica da subjetivao

    sempre implica numa impossvel identificao.

    Somente por indeferir a complexidade desta lgica, algum pode opor

    as grandes narrativas e as vtimas universais s presentes pequenas

    narrativas de hoje. A to chamada grande narrativa do povo e o

    proletariado foi de fato produzido por uma multiplicidade de jogoslingusticos e demonstraes. E o conceito de narrativa tal qual o

    conceito de cultura altamente questionvel. Ele implica a

    identificao de um enredo argumentativo com uma voz e de uma voz

    com um corpo. A vida da subjetivacao poltica produzida pela

    diferena entre voz e corpo, pelo intervalo entre identidades. Assim,

    narrativa e cultura implicam a reverso da subjetivao paraidentificao. O processo de igualdade um processo de diferena.

    Mas a diferena no significa a assuno de uma identidade diferente

    ou o simples confronto de duas identidades. O espao para lidar com a

    diferena no o self ou a cultura do grupo. o topos de um

    argumento. E o lugar para tal argumento o intervalo. O espao para a

    subjetivacao politica o intervalo ou o hiato. Estamos juntos na

    medida que estamos in-between entre nomes, entre culturas, entre

    identidades e assim por diante.

    Esta , para estar certo, uma posio no confortvel, e o desconforto

    abre caminho para um discurso metapoltico. Metapoltica a

    interpretao da politica desde o ponto de vista da policia. Sua

    tendncia interpretar a heterologia como iluso e intervalos e hiatos

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    como sinais de falsidades. O paradigma da interpretao metapoltica

    a abordagem Marxista sobre a Declarao dos Direitos do Homem e do

    Cidado de 1789. Ele assume que a diferena entre homem e cidado

    era a marca da iluso: escondida atrs da identidade celestial do

    cidado, estava a identidade mundana do homem que era de fato o

    proprietrio. Hoje o estilo corrente da metapoltica nos ensina, ao

    contrario, que o homem e o cidado, so o mesmo indivduo liberal

    aproveitando-se de valores universais encorporados nas constituies

    de nossas democracias. Mas o estilo da politica como emancipao

    outro: ele assume que a universalidade da declarao de 1789 auniversalidade do argumento a que deu forma e isto devido ao

    intervalo entre dois termos, o qual abriu a possibilidade de um apelar

    ao outro, de fazer eles como termos de inumerveis demonstraes de

    direitos, incluindo os direitos daqueles que nunca foram contados como

    cidados nem como homens.

    Minha concluso dupla: otimista e pessimista. Primeiro, ns no

    estamos presos dentro da oposio entre universalismo e identidade. A

    distino melhor entre lgica de subjetivao e lgica de

    identificao entre duas ideias de multiplicidade, no entre

    universalismo e particularismo. O discurso do universalismo pode ser

    to tribal como o discurso identitrio. Ns experienciamos isto

    durante a Guerra do Golfo, quando muitos dos porta-vozes do

    universalismo se transformaram em porta-vozes da limpeza, bombas

    universais e mortes no particularizadas. A verdadeira oposio entre

    o tribal e o idiomtico. Politicas idiomticas constroem localmente o

    lugar do universal, o lugar para demonstrao da igualdade. Ela retira o

    dilema desesperado: ou a grande comunidade ou a pequena ou a

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    comunidade ou nada. Nos permite falar de uma nova politica in-

    between.

    Minha segunda concluso menos otimista: muitas das discusses

    anteriores lidam com racismo e xenofobia e nosso fracasso em

    formular boas respostas. H mais para explorar aqui. Neste momento

    na Franca, o novo racismo e a xenofobia no deveriam ser vistos como

    consequncia de problemas sociais que ns no podemos enfrentar

    neste momento, como um problema objetivo efeito da migrao

    populacional. Mas muito mais, eles so um efeito do que evitamos, deum prvio colapso, o colapso da politica emancipatria como uma

    politica para o outro. Vinte anos atrs, ns ramos todos Alemes

    Judeus, que quer dizer, ns estvamos na lgica heterolgica dos

    nomes no corretos, da cultura poltica do conflito. Agora ns s

    temos nomes corretos: ns somos europeus e xenfobos. a

    destruio da forma politica, do poliformismo politico do outro que criaum novo tipo de outro, aquele que infrapoltico. Objetivamente, ns

    no temos mais populao imigrante que tivemos vinte anos atrs.

    Subjetivamente ns nunca tivemos tanto. A diferena : vinte anos

    atrs o imigrante tinha outro nome, eles eram trabalhadores ou

    proletrios. No atual momento, este nome tem se perdido como um

    nome politico, eles mantiveram seu nome e um outro que no tem

    outro nome se torna o objeto de medo e rejeio.

    O novo racismo o dio do outro que vem a tona quando os

    procedimentos polticos das polmicas sociais entra em colapso. A

    cultura politica do conflito pode ter tido consequncias amargas, mas

    ela era tambm um jeito de chegar a um acordo com algo que est

    antes e abaixo da poltica: a questo do outro como figura de

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    identifcao de um objeto de medo. Mais cedo Cornell West disse para

    ns que identidade algo sobre desejo e morte. Eu diria que

    primeiramente identidade algo sobre medo: o medo do outro e o

    medo do nada, o qual encontra no corpo do outro o seu objeto. E a

    cultura polmica da emancipao, o postulado heterolgico do outro

    tambm um caminho para civilizar o medo. As novas consequncias do

    novo racismo e xenofobia revelam ento o atual colapso da politica, a

    reverso da politica do tratamento da injustia para o dio primal. Se

    minha anlise est correta, a questo no somente como ns iremos

    encarar os problemas polticos mas sim como ns iremos reinventar aprpria politica