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Revista Olhares Sociais / PPGCS / UFRB, Vol. 03. Nº. 02 – 2014/ pág. 86 POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO RURAL: ESTUDO DE CASO SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS IMPLEMENTADAS POR MEIO DAS SUAS REPRESENTAÇÕES SINDICAIS EM MUNICÍPIOS DO BAIXO PARAGUAÇU Gerinaldo da Silva Lima 1 RESUMO A pesquisa avalia a eficiência do Estado brasileiro na aplicação de determinadas políticas públicas, como as agrícolas, agrárias, pesqueiras e de promoção humana ou desenvolvimento rural, implementadas por meio dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, que engloba assalariados, pequenos e médios agricultores, parceiros, arrendatários, meieiros e pescadores artesanais. A avaliação se deu nos municípios baianos de Cachoeira, São Félix e Maragogipe, na região denominada Baixo Paraguaçu, e tentou mensurar os efeitos das políticas sobre os beneficiados, os sindicalizados, quanto à melhoria da qualidade de vida, ao aumento da produtividade e adoção de novas tecnologias. Trata-se de uma pesquisa empírica, utilizando questionários, com base em amostra de sindicalizados. Os dados sugerem que as políticas são compensatórias, no que se refere à renda e que não demonstraram eficiência no aumento da produção. Palavras-chave: Políticas públicas; Desenvolvimento rural; Sindicatos Rurais Abstract: The study evaluates the efficiencyof Brazilian state in the implementation of certain policies, such agricultural, fisheries and human development or rural development policies, implemented by Trade Union of Rural Workers, which includes employees, small and medium farmers, partners, tenants, meieiros and fisherfolk. The evaluation took place in the Bahia municipalities of Cachoeira, Sao Felix and Maragogipe, in the region called Low Paraguaçu, and tried to measure the effects of policies on beneficiaries, unionized, in improving the quality of life, increased productivity and adoption new technologies. It is an empirical research using questionnaires, based on a sample of unionized. The data suggest that policies are compensation, in relation to income and did not demonstrate increased efficiency in production. Key-words: Public policy; rural development; Rural unions 1 Mestre em Ciências Sociais PPGCS/UFRB

POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO RURAL: … · ... (1997 e 1998) sobre o novo ... internacional e sem compromissos com a economia ... pesaram muito na formação da sociedade

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Revista Olhares Sociais / PPGCS / UFRB, Vol. 03. Nº. 02 – 2014/ pág. 86

POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO RURAL:

ESTUDO DE CASO SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS

IMPLEMENTADAS POR MEIO DAS SUAS

REPRESENTAÇÕES SINDICAIS EM MUNICÍPIOS DO

BAIXO PARAGUAÇU

Gerinaldo da Silva Lima1

RESUMO

A pesquisa avalia a eficiência do Estado brasileiro na aplicação de determinadas políticas

públicas, como as agrícolas, agrárias, pesqueiras e de promoção humana ou

desenvolvimento rural, implementadas por meio dos Sindicatos dos Trabalhadores

Rurais, que engloba assalariados, pequenos e médios agricultores, parceiros,

arrendatários, meieiros e pescadores artesanais. A avaliação se deu nos municípios

baianos de Cachoeira, São Félix e Maragogipe, na região denominada Baixo Paraguaçu, e

tentou mensurar os efeitos das políticas sobre os beneficiados, os sindicalizados, quanto à

melhoria da qualidade de vida, ao aumento da produtividade e adoção de novas

tecnologias. Trata-se de uma pesquisa empírica, utilizando questionários, com base em

amostra de sindicalizados. Os dados sugerem que as políticas são compensatórias, no que

se refere à renda e que não demonstraram eficiência no aumento da produção.

Palavras-chave: Políticas públicas; Desenvolvimento rural; Sindicatos Rurais

Abstract: The study evaluates the efficiencyof Brazilian state in the implementation of

certain policies, such agricultural, fisheries and human development or rural development

policies, implemented by Trade Union of Rural Workers, which includes employees,

small and medium farmers, partners, tenants, meieiros and fisherfolk. The evaluation

took place in the Bahia municipalities of Cachoeira, Sao Felix and Maragogipe, in the

region called Low Paraguaçu, and tried to measure the effects of policies on

beneficiaries, unionized, in improving the quality of life, increased productivity and

adoption new technologies. It is an empirical research using questionnaires, based on a

sample of unionized. The data suggest that policies are compensation, in relation to

income and did not demonstrate increased efficiency in production.

Key-words: Public policy; rural development; Rural unions

1 Mestre em Ciências Sociais PPGCS/UFRB

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INTRODUÇÃO

As políticas públicas são intervenções feitas pelo Estado com vistas a promover o

crescimento econômico e o bem estar, no seu sentido mais amplo. As políticas de

aumento da produção, denominadas produtivistas, e de geração de bem estar e promoção

humana no meio rural têm como formuladores os Ministérios da Agricultura, Pesca e

Desenvolvimento Rural. Na medida em que são os sindicalizados rurais os beneficiários

diretos das políticas públicas para o meio rural intermediadas pelas associações sindicais,

é de absoluta pertinência a investigação do quanto estas políticas estão mudando seus

sistemas produtivos e melhorando as condições de vida.

Surge assim a necessidade de verificar quais políticas públicas agrícolas,

pesqueiras, agrárias e de promoção social têm sido ofertadas pelo Estado brasileiro, ao

meio rural, tendo os Sindicatos como parceiros permanentes, principalmente a eficiência

das mesmas no meio rural.

Para tal análise foi fundamental o diagnóstico socioeconômico dos municípios

envolvidos na pesquisa, o que possibilitou uma visão geral dos diversos aspectos

referenciais das políticas dos ministérios acima citados, pois ao iniciar-se a pesquisa

empírica já se tinha visão de cada município na sua individualidade, e quais políticas

públicas estão presentes em cada um deles.

Os Sindicatos Rurais por sua vez são organizações sociais, que se dedicam a

defender os interesses de seus associados, interesses econômicos, culturais, públicos e

sociais nas diversas esferas públicas. Seus principais interesses se voltam para a defesa da

categoria a qual representa, pensando no bem comum e na organização coletiva.

Por meio dos Sindicatos Rurais, muitos dos programas e projetos do Governo

Federal são aplicados ao meio rural, com vistas ao aumento da produção e obtenção de

melhorias nas condições de vida de toda uma população que está em atividade no campo.

REFERENCIAL TEÓRICO

Na execução da pesquisa levou-se em consideração dois tipos de abordagem teórica: 1)

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estudos sobre a as políticas agrícolas e agrárias e sobre a relevância dadas a elas pelo

Estado brasileiro e 2) pesquisas recentes sobre a diversidade do rural, focalizando a

categoria trabalhador rural, que inclui assalariados, pequenos e médios agricultores,

parceiros, arrendatários, meieiros e pescadores artesanais.

No que toca à política pretende-se abordar as contribuições de Lafer, (1970) sobre

o nascimento do Estado interventor no Brasil, bem como examinar a natureza do mesmo

após a Revolução de 1930. Em continuação examinar-se-á a trajetória da intervenção

voltada para o meio rural, por meio dos enfoques de Mellor (1967), Araújo, et alii (1983)

e Paiva (1973).

Em continuação discutir-se-á as mudanças ocorridas no Estado interventor após a

crise dos anos 80 com Offe (1984), continuando com Guimarães (1990), Affonso (1990)

na análise do caso brasileiro. Serão objeto de reflexão as tentativas, na esteira da onda

neo-liberal, de redefinir papéis do Estado, com Osborne e Gaebler (1994) . A visão da

intervenção dirigida para o desenvolvimento agrícola nos anos oitenta será abordada em

Delgado (1985), A leitura da intervenção dirigida para o desenvolvimento agrícola nos

anos noventa será feita via Kageyama, (1990), Baiardi (1966) e Finalizar-se-á a

abordagem sobre políticas para o meio rural focalizando dos anos noventa até a

contemporaneidade, marcada pela criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário, as

contribuições de Paulillo (1997), Barros (1998), Graziano da Silva (1998), Baiardi (1998)

Abramovay, R e Veiga, J.E. ( 2001).

No que se refere à diversidade da pluralidade do rural, a abordagem inclui desde

Chayanov (1974), Kautsky (1974) e Lênin (1973) buscando as raízes da natureza do

trabalho familiar agrícola e sua inserção no mercado, passando por Tepicht (1970) até

chegar a Abramovay (1992) focalizando os tipos contemporâneos no Brasil e no exterior

de organização produtiva no capitalismo avançado. As contribuições de Angela

Kageyama (1987), sobre a formação dos Complexos Agroindustriais, CAIs, cuja gênese e

evolução passou a ser chamada ‘caificação serão de utilidade porque na região predomina

a verticalização na produção de aves

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Os recentes trabalhos de Graziano (1997 e 1998) sobre o novo rural têm o grande

mérito de apresentar, sistematicamente, aquilo que já era evidente para muitos analistas

dentro e fora do mundo acadêmico e que já era captado pelas estatísticas dos órgãos

oficiais: parte considerável da capacidade de trabalho da família rural está hoje

comprometida com atividades não agrícolas.

Aprofundar este conhecimento e mostrar o potencial da pluriatividade nas várias

formas combinantes da atividade agrícola com a pequena indústria, caseira ou não, com o

artesanato, com serviços diversos e com o turismo rural compatível com a agricultura

sustentável, ou o da tridimensionalidade (eco-agro-turismo), é missão de suma

importância. Por meio dela é possível orientar as expectativas de amplos segmentos da

população rural - produtores assentados e não assentados, trabalhadores sem terra

organizados ou não no MST e uma ampla faixa de agricultores que operam na escala

familiar, média e patronal – que vêem nesta diversificação rural não agrícola a

possibilidade de ascender a estratos de renda mais elevados e, conseqüentemente,

melhorar a condição de vida.

A adaptação à polivalência ou pluriatividade não se dá de forma igual entre os

estabelecimentos integrantes desta ampla categoria que é a agricultura familiar brasileira

Baiardi (1999). Dependendo de quanto mais articulada com o mercado esteja e do quanto

menos imperfeito seja este mercado, a agricultura familiar tende a assumir fisionomia

diversa. Este amplo esforço de revisão permitirá um rigor maior na conceituação e na

representação da diversidade encontrada nos sindicatos

CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS

A região do Baixo Paraguaçu é formada pelos cinco principais municípios banhados pelo

rio antes da Foz, que são: Cabaceiras do Paraguaçu, Muritiba, São Félix, Cachoeira e

Maragogipe. Do ponto de vista físico, é possível detectar os mesmos três ecossistemas: o

denominado como de Mata Atlântica, hegemônico e caracterizado por vegetação

remanescente densa e por um clima úmido, o Litorâneo de Manguezais e o de Transição

para o Semi-Árido.

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São Félix fica à margem direita do Rio Paraguaçu, sua população estimada em

2009 era de 16.208 habitantes e sua área territorial compreende 96 Km (IBGE/2009). É

bastante conhecida pela sua historia que caminha de mãos dadas com Cachoeira. Sua

principal atividade é agropecuária, a pesca é desenvolvida apenas como meio de

subsistência para a população de baixa renda, principalmente no trecho estuário dado à

presença de extensas áreas de manguezais.

Cachoeira fica a margem esquerda do Rio Paraguaçu, sua população estimada em 2009

era de 33.782 com área territorial que compreende 398 Km (IBGE/2009).Bastante

conhecida por seu valor histórico à cidade de Cachoeira tem como principal característica

seus antigos casarões e sua principal atividade além do turismo são a pecuária e

agricultura.

Maragogipe fica, exatamente, no ponto de encontro do Rio Paraguaçu com o Rio

Guaí, sua população estimada em 2009 era de 43.29 (IBGE/2009) e sua área territorial

compreende 436 Km . É bastante rica no que diz respeito aos recursos naturais,

apresentando um ótimo potencial para o desenvolvimento de atividades ligadas ao

turismo ecológico, rural e principalmente o turismo náutico, incluindo a pesca desportiva.

O território do Baixo Paraguaçu foi incorporado ao circuito internacional de

comércio devido a atividades extrativistas, denominadas também de economia do saque.

Estas atividades desenvolveram-se principalmente na Mata Atlântica e há registros de

extração do “Pau Brasil” e de outros produtos vegetais, além de minerais e animais. O

extrativismo é parte da participação das regiões periféricas no movimento mundial de

acumulação de capital, mediante formas predatórias de captação de recursos naturais que

são estabelecidas por agentes econômicos financiados e ligados ao comércio

internacional e sem compromissos com a economia futura (PEDRÃO, 1998).

Ao extrativismo, segundo Tavares (2001), segue-se a partir do século XVI a

produção de açúcar, atividade que combinava a agricultura com o processamento

industrial da cana, constituindo o denominado complexo açucareiro. As demais

atividades econômicas nesta fase colonial da história regional eram subsidiárias à

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produção açucareira, entre elas a criação

extensiva de bovino, que se estendia pela zona de transição para o semi-árido, a mata fina

ou agreste, e entrava no semi-árido. Raízes e tubérculos como a mandioca, frutas, poucos

cereais e posteriormente fumo e algodão, estes últimos também se constituindo

mercadorias do comércio internacional, integravam o elenco de atividades conduzidas no

período pelos agentes econômicos que participavam do extrativismo, tinham aí obtido

uma acumulação primitiva, e que utilizavam mão de obra escrava e por pequenos

produtores independentes. Estas outras atividades não chegaram, contudo, a ter o peso da

cana de açúcar, que pela sua hegemonia, moldou no Nordeste brasileiro relações de

produção e uma sociedade que viria a ser a marca do Brasil, influenciando a construção

do conjunto de instituições, de mentalidades e de valores.

Estes componentes da superestrutura, ou da base espiritual de uma sociedade,

pesaram muito na formação da sociedade rural regional e na definição dos papéis sociais

e produtivos, levando a que no Baixo Paraguaçu a classe patronal tivesse um

entendimento diferente do que deveria ser a relação capital-trabalho após a abolição da

escravidão, o que exigiu do nascente operariado rural e urbano uma longa batalha para

obter direitos que já haviam se generalizado em outras partes do país. Tentativas de re-

escravização, de servilismo e de controle racial com baixos salários foram as condutas

mais comuns tomadas pela classe de senhores de engenho e pelos empresários de outros

setores, não lhes ocorrendo buscar a viabilidade econômica na modernização produtiva,

gerencial e em relações de produção estritamente capitalistas, é o que sugere Cunha

(2004).

No momento ainda se percebe na sociedade rural traços da sociedade patriarcal

escravista, sobretudo no distanciamento de uma mentalidade mais próxima à burguesa,

em termos de assunção de riscos capitalistas e menor dependência do Estado. Os

trabalhadores rurais do Baixo Paraguaçu, uma categoria ampla que engloba assalariados,

pequenos e médios agricultores, parceiros, arrendatários, meieiros e pescadores artesanais

ainda exibe em termos de padrões culturais uma certa herança desse passado.

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METODOLOGIA

A avaliação das políticas citadas anteriormente foi procedida por meio de uma pesquisa

empírica com aplicação de questionários amostra probabilística e não probabilística de

associados nos municípios selecionados.

A metodologia utilizada foi composta por sete passos principais como: a) Coleta

da relação do rol de sindicalizados como a diretoria dos Sindicatos, constando apenas os

nomes dos que mantêm em dias suas atividades junto ao respectivo sindicato. b) Contato

inicial com os atores locais pesquisados, sendo feito levantamento dos seguintes dados:

localização, telefone de contato, melhor forma de acesso e de comunicação preliminar,

Nesta etapa também, foi melhor identificada cada localidade, verificando distâncias entre

a sede e os principais espaços de concentração de sindicalizados c) Identificação dos

Atores Locais em que se aplicariam as pesquisas, já definido antecipadamente neste caso

os sindicalizados, d) Em seguida foram realizadas as entrevistas previamente selecionada

pela estratificação utilizando o software Excel, e guiadas por um questionário

estruturado, com espaço para coleta de dados por meio de um roteiro previamente

construído e referenciado à teoria constante da literatura consultada. e) Após a realização

das entrevistas foi feita a revisão e a formação do banco de dados utilizando planilhas do

software Excel. f) Em seguida procedeu-se a transformação dos dados em tabelas e

indicadores e validando os dados junto às comunidades pesquisadas. g) Finalizando

foram construídos os relatórios finais e artigos em grupo.

Ressalta-se que previamente à elaboração dos questionários e dimensionamento

da amostra a equipe aprofundou conhecimento da realidade por meio de trabalhos já

elaborados e realizará leituras e re-leituras consideradas de utilidade para melhor

entendimento do objeto e sua representação. Os questionários foram aplicados nos

municípios que integram a área de estudo e com base na análise e coleta dos dados

levantados que posteriormente constituiu um banco de dados que viabilizou ulteriores

tabulações, tratamento dos dados e redação do relatório final.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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As análises realizadas nestes municípios tiveram como principal foco a verificação da

efetiva aplicação das Políticas públicas disponibilizadas pelo diversos Ministérios, assim

como observação acurada da eficiência das mesmas, e em que medida tem sido mudada

as realidades destes produtores rurais, partindo o pressuposto que estas políticas possuem

uma de melhorar significativamente as produções agrícolas e agrárias.

Coube ainda nesta análise, observar como estes beneficiários compreendem as

potencialidades que podem contribuir para aumentar a receita, melhorando sua produção,

assim como o incentivo à cooperação. Pode-se notar que grande número de produtores

eximiu-se de respostas sobre questões que indicariam a compreensão desta proposta.

Diversas políticas contemplam estes municípios, os Sindicatos são efetivamente

os mediadores legais para que haja liberação. Entretanto não se observou maior apelo à

cooperação. Os sindicalizados são muito individualizados, o que sugere resultados pouco

positivos na produção, e que se promova incentivo a criação de espaços de discussões

permanentes de melhorias de aplicação destas Políticas.

As tabelas apontam de maneira mais definida os resultados. Em diversos

momentos a ausência de respostas, não favorece a leituras sobre a realidade encontrada e

revelada pelos entrevistados.

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Fica evidenciado pela tabela 1 um alto número de casos em que os entrevistados figuram

com mais de 4 (quatro) filhos, o que indica serem as famílias do mundo rural maiores que

as da cidade. Este fenômeno está associado a baixos índices educacionais, ausência de

planejamento familiar e também extratos sociais de renda mais baixos.

Tabela 2. Distribuição de renda da população investigada dos municípios estudados

Constata-se nessa tabela, que a faixa 510-800 reais é a que apresenta maior incidência de

respostas, o que provavelmente revela que os programas de distribuição de renda estão

contemplando mais de um membro por família do mundo rural, à exceção do município

de Cabaceiras do Paraguaçu.

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Observa-se de acordo com a Tabela 3 que a condição educacional de obtenção

incompleta do ensino fundamental é a de maior freqüência. Observa-se também que esta

condição é quase o dobro da condição de “não alfabetizados” e de fundamental

Completo, o que sugere um índice de evasão elevado do Ensino Fundamental, que é uma

condição freqüente no mundo rural.

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Os dados da Tabela 4 revelam que a condição de pequeno produtor destaca-se em relação

às demais e que quando se soma essa categoria à de meeiro/parceiro conclui-se que a

renda real da população, incorporando a produção própria seguida do alto consumo, é

mais elevada que a renda nominal.

A análise da Tabela 5 revela que entre os entrevistados na maioria absoluta se considera

gestor ou responsável pelas atividades produtivas. A tabela revela também que são

inexpressivos os casos de cooperação para produção, o que poderia sugerir baixa

incidência de cooperação na produção, o que não significa inexistência de outros tipos de

cooperação.

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A Tabela 6. Demonstra que entre as políticas de apoio à produção o maior destaque vem

do PRONAF, com exceção para o município de Maragogipe que não houve registro de

investimentos. Isto significa que é o MDA o maior provedor de políticas para essa

categoria de homens do campo. Não foi mencionada a utilização do crédito de custeio

que é essencial no meio rural, pois visa custear as atividades agrícolas, pecuárias e de

beneficiamento ou industrialização de produtos agropecuários.

Dentre as políticas de seguridade o maior destaque é o Seguro Especial Rural. Há

que se levar em conta que sendo beneficiado pelo SER o pequeno produtor poderá

subjetivamente e objetivamente estar sendo estimulado a investir na pequena produção e

propriedade.

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No que concerne às políticas de benefícios sociais há uma maior incidência do programa

Bolsa Família na região. Em segundo plano aparecem diversos tipos de auxílios, tais

como Auxílio Maternidade e Auxílio Doença. Chama atenção a inexistência do acesso à

política de Segurança Alimentar. Também merece destaque a inexistência de benefícios

da LOAS/BPC, que provavelmente ocorre em função da acessibilidade do SER.

De acordo com a Tabela 8 observa-se que na população investigada as políticas de

fomento à produção não repercutiram de modo esperado constatando-se até redução da

área cultivada em Cachoeira e Cabaceiras do Paraguaçu, porém aumento ainda que pouco

expressivo em Marogogipe. Esta informação está de certa forma condicionada ao elevado

número de “não respostas”, o que pode relativizar esse entendimento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O meio rural brasileiro evolui permanentemente, inclusive em conseqüência das diversas

políticas públicas que vêm sendo implementadas há décadas, resultando em alguns casos

em benefícios em termos de qualidade de vida e melhoria significativas na produção. Há

em certos casos também o registro da adoção de novas tecnologias. As intervenções do

Estado brasileiro por meio de Políticas públicas específicas ao meio rural, principalmente

programas como o PRONAF criado em 1995, remodelam a agricultura, especificamente

os grupos de agricultores excluídos socialmente e que desenvolvem atividades

tipicamente familiares, que contribuem para manter as populações no campo reduzindo o

êxodo rural e contribuindo para aumento da oferta de alimentos e matérias primas. Não

fora estas intervenções do Estado certamente o quadro de carências e de pobreza seria

maior do que é atualmente.

A intermediação sindical de alguma forma conferiu normas que atendiam

requisitos para ter acesso a tais políticas, principalmente para se conseguir

financiamentos, Nestes casos os sindicatos operaram como “avalistas” da condição de

trabalhadores rurais, uma categoria ampla que engloba assalariados, pequenos e médios

agricultores, parceiros, arrendatários, meieiros e pescadores artesanais.

O Sindicalismo Rural que foi instituído no Brasil no início da década de sessenta

do século passado pelo Presidente João Goulart jogou e joga um papel essencial ao

mediar estas políticas, se bem que não se pode excluir que esta intermediação também

seja um fator de consolidação de grupos que se mantêm por tempo indeterminado á frente

destas organizações. Infelizmente esta foi uma realidade detectada na pesquisa quando se

verificou que algumas diretorias sindicais tentaram manter os associados inacessíveis aos

entrevistadores.

A pesquisa revelou que cada município possui características peculiares de como

estas políticas são aplicadas, e nem sempre seus resultados são alcançados de modo a

justificar os recursos aplicados, cabendo se propor estudos mais minuciosos, na tentativa

de compreender que fenômenos ou razões concorrem para se ter um quadro não tão

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favorável, em termos de retorno.

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