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Políticas públicas na Justiça: o que queremos? João Tiago Silveira Fórum das Políticas Públicas /20 de março de 2014 ISCTE/CIES/IUL

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Políticas públicas na Justiça: o que queremos?

João Tiago Silveira

Fórum das Políticas Públicas /20 de março de 2014

ISCTE/CIES/IUL

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Dados sobre a Justiça

Os meios aumentaram...•Crescimento exponencial de recursos humanos:

- Juízes: 1.059 (1993) => 1.803 (2012)- MP: 850 (1993) => 1.474 (2012)- Oficiais de justiça: 6.194 (1993) => 7. 180 (2012)

•Meios informáticos: Portugal é um dos 4 países do Conselho da Europa (entre 48) com melhor índice de informatização na Justiça.

•Número de tribunais por 100.000 habitantes é superior à média do Conselho da Europa e tem aumentado.

•Parte do Orçamento de Estado dedicado à Justiça (não considerando o apoio judiciário) é superior à média europeia. Fonte. Direção-Geral de Política de Justiça/Estatísticas da Justiça e European judicial systems, Efficiency and quality of justice, Edition 2012, European Commission for Efficiency of Justice, Council of Europe.

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Dados sobre a Justiça

Mas a produtividade não melhorou...•A pendência aumentou, mas não por existirem mais processos a entrar nos tribunais:

- Em 1994 entraram 868.081 processos;

- Em 2012 entraram 841.046 processos O número de processos terminados raramente superou o número de entrados.

- Só houve redução em 2006, 2007 e 2008 em resultados de políticas públicas de descongestionamento e desmaterialização no setor. (Fonte: Direção-Geral de Política de Justiça/Estatísticas da Justiça).

• Mudança no perfil dos processos entre 1994 e 2012: tribunais têm hoje muito mais processos que são tramitados e trabalhados fora dos tribunais.

(Fonte: Direção-Geral de Política de Justiça/Estatísticas da Justiça).

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Processos entrados, findos e pendentes

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Meios e pendências processuais

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O Memorando de Entendimento e a Justiça

Na versão inicial tinha aspetos positivos, mas faltava o essencial

•Tinha algumas medidas interessantes:

Alargamento de um regime de processo civil experimental desburocratizado e com apenas cerca de 20 artigos a mais tribunais;

Aposta nos meios de Resolução Alternativa de Litígios (Julgados de Paz e arbitragem na ação executiva);

Algumas medidas de agilização processual;

Algum foco na gestão, embora insuficiente.

•Faltava o essencial: Ausência de medidas de transparência e qualidade para melhorar o serviço público de Justiça;

•Privilegiava soluções clássicas já testadas e sem resultados

Revisões de códigos como solução (Código de Processo Civil);

Criação de novos tribunais.

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O Memorando de Entendimento e a Justiça

O MdE na Justiça foi mesmo imposto pela Troika?•Não. Troika só se preocupou verdadeiramente com:

Eliminação de pendências estatísticas.

• Aumento dos processos terminados e redução de pendentes já se começou a verificar nas estatísticas da ação executiva;

• Mas é um resultado meramente estatístico, porque estes processos já não eram tramitados. Estavam parados e apenas à espera que alguém os retirasse do sistema.

Qualquer coisa que tenha a palavra "concorrência” era sempre muito importante para a Comissão Europeia: tribunal da concorrência em Santarém.

Transformação de estrutura orgânica para gerir agentes de execução em substituição da que já existia.

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O Memorando de Entendimento e a Justiça

As revisões do MdE: a legitimação de uma política antiquada e sem resultados.

•MdE foi sendo revisto para se acomodar às políticas governativas.

•Revisões de códigos foram assumidas como “fórmula mágica” para os problemas da Justiça.

Abandono do Regime Processual Civil Experimental (um “codigo” de processo civil desburocratizado, com pouco mais de 20 artigos), que estava na primeira versão do MdE (1.ª revisão do MdE, 1/9/2011);

Preferiu-se a revisão legislativa do Código de Processo Civil, com mais de um milhar de artigos;

Declaracão da MJ ao “Diário Económico” de 12/10/2012: com a revisão do CPC, processos terão duração média de 3 a 6 meses.

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O Memorando de Entendimento e a Justiça

As revisões do MdE: a legitimação de uma política antiquada e sem resultados.

•Paralisação no desenvolvimento das políticas RAL:

Nem um Julgado de Paz foi criado com o atual Governo. MdE passou a referir apenas uma alteração à lei (2.ª revisão, 9/12/2011).

A mediação laboral, familiar e penal não evoluíram, mas fez-se uma nova lei.

No processo e procedimento administrativo fazem-se novas leis, mas a utilização da arbitragem do CAAD pelo Estado não teve evoluções.

Arbitragem na ação executiva não foi criada, foi retirado do MdE e mudou-se a lei para deixar de estar prevista (3.ª revisão, 15/3/2012).

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O Memorando de Entendimento e a Justiça

As revisões do MdE: a legitimação de uma política antiquada e sem resultados.

•Paralisação na desmaterialização de processos e informática:

MdE não dedica uma linha ao tema;

Evolução do CITIUS para se tornar uma ferramenta de gestão aperfeiçoada continua por concretizar;

CITIUS não foi alargado a tribunais superiores;

CITIUS continua sem ser obrigatório no penal;

Tribunais administrativos continuam com sistema informático diferente;

Foi prometida uma irrealista nova aplicação informática para substituir todas as existentes em todos os setores da Justiça, que não foi feita.

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O Memorando de Entendimento e a Justiça

As revisões do MdE: a legitimação de uma política antiquada e sem resultados.

•Gestão deixada para órgãos que cidadãos não podem avaliar através do seu voto.

É o resultado de ausência de política de gestão do MJ para os tribunais.

Outra consequência:

• Concurso para administrador judicial reservado apenas para funcionarios de secretarias judiciais (aviso de 29 de agosto de 2013 para o preenchimento de 50 vagas de administrador judiciário);

• Oportunidade perdida para trazer técnicas de gestão para os tribunais.

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O Memorando de Entendimento e a Justiça

As revisões do MdE: a legitimação de uma política antiquada e sem resultados.

•A partir da 8.ª revisão (21/10/2013) do MdE: pressa da Troika e do Governo em dar o programa por concluído e dizer que já há resultados;

•Mas os resultados foram afirmados quando ainda não podiam existir:

Novo CPC tinha entrado em vigor há menos de 2 meses;

O “Mapa Judiciário” ainda não tinha entrado em vigor.

•O aumento dos processos terminados e redução dos pendentes na ação executiva resultou da eliminação de processos já sem tramitação e não de um aumento da eficiência do sistema.

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Um bom futuro: gestão, qualidade e transparência

O que a Justiça Económica precisa:

Gestão

Qualidade

Transparência

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Um bom futuro: gestão, qualidade e transparência

O que a Justiça não precisa

-Política baseada em revisões de códigos como “solução mágica”. Já foi muito testada, sem resultados;

-A entrega total da gestão na Justiça em favor de órgãos que não são responsabilizados democraticamente;

-Populismo e demagogia;

-Utilização da Justiça para fins de combate político ou sindical.

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Um bom futuro: gestão, qualidade e transparência

• Gestão

Sistema não é congestionado com processos que entram. Deixa-se congestionar porque tem problema de gestão e não consegue gerir processos que entram.

Sempre que houve alguma gestão, sistema melhorou: menos processos pendentes e redução dos tempos médios de decisão com descongestionamento e desmaterialização em 2006, 2007 e 2008.

É preciso ir muito mais longe:

• Objetivos: Compromisso quantificado de diminuição da duração dos processos entre Governo e Conselho Superior da Magistratura, com metas e objetivos + prémios de produtividade por equipas;

• Verdadeiro administrador de tribunal, dedicado à gestão processual;

• Segmentação de tarefas, com estruturas especificamente dedicadas para a componente burocrática dos processos;

• Voltar à desmaterialização dos processos.

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Um bom futuro: gestão, qualidade e transparência

• Qualidade Serviço público prestado tem de cumprir requisitos de qualidade :

• Justiça a tempo e horas, com menos revisões de códigos e mais revisão de procedimentos: Decisões devem ser mais rápidas, com diminuição de rotinas e praxes;

• Um mau serviço não deve ser cobrado: As custas devem ser devolvidas se processo exceder os prazos fixado nos objetivos;

• Audiências a tempo e horas: Cidadãos e empresas têm direito a um atendimento de qualidade, sem atrasos ou adiamentos;

• Previsibilidade: quanto tempo vai durar este processo? Cidadãos e empresas devem poder conhecer a informação sobre a duração estimada do seu processo.

• Respostas para problemas das pessoas e não para as questões das corporações (ex: problemas de regulação do poder paternal resolvidos rapidamente).

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Um bom futuro: gestão, qualidade e transparência

• Transparência Mais meios RAL: Alargar e divulgar os meios de

resolução alternativa de litígios. • Julgados de paz e centros de arbitragem já hoje julgam em 2

meses.

Linguagem clara: As notificações e decisões devem ser escritas em linguagem clara, compreensível por todos.

Como está o meu processo? O cidadão deve poder conhecer o estado do seu processo com um simples “clique”, através da Internet.

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Um bom futuro: sem fugas nem desculpas

Dois problemas para o Estado de Direito.•A indesculpável violação das fugas ao segredo de Justiça e a duração de inquéritos durante anos com arguidos constituídos:

Quem tem processos à sua guarda é responsável por evitar fugas;

É inaceitável a impunidade e a manutenção de arguidos durante anos, com prejuízo para o bom nome das pessoas.

•A ausência de responsabilidade: prescrições de contraordenações de ex-responsáveis de bancos e o “passa culpas” entre o Conselho Superior da Magistratura e o BdP.

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Políticas públicas na Justiça: o que queremos?

João Tiago Silveira

Fórum das Políticas Públicas /20 de março de 2014

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