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Política de Concorrência da União Europeia XXXII Relatório sobre a Política de Concorrência 2002 Comissão Europeia Direcção-Geral da Concorrência

Política de Concorrência da União Europeia · 2019. 8. 16. · onais, como também que o ajustamento à nova si-tuação de concorrência se traduza efectivamente em benefícios

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Política de Concorrência da União Europeia

XXXII Relatório sobre a Política de Concorrência

2002

Comissão EuropeiaDirecção-Geral da Concorrência

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Encontram-se disponíveis numerosas outras informações sobre a União Europeia na rede Internet, via servidor Europa (http://europa.eu.int)

Uma ficha bibliográfica figura no fim desta publicação

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2003

ISBN 92-894-4509-2

© Comunidades Europeias, 2003Reprodução autorizada mediante indicação da fonte

Printed in Belgium

IMPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO

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PREFÁCIO DE MARIO MONTIMembro da Comissão responsável pela política de concorrência

Se olharmos para a evolução da política de con-corrência em 2002, destaca-se um denominadorcomum: a modernização — na acepção mais latado termo. Quer se pense no sucesso dos nossosambiciosos esforços para a adopção de nova le-gislação, como no domínio antitrust, ou nas fasesintermédias essenciais para a reforma do controlodas concentrações na UE, ou ainda nas novas me-didas para reforçar o controlo dos auxílios esta-tais, o impulso da modernização constitui umaprova da determinação da Comissão em adaptarcontinuamente a sua política e os seus instrumen-tos de execução a um quadro económico em rá-pida mutação, mas também da sua vontade de ga-rantir que o processo de tomada de decisõesrespeita os critérios mais rigorosos em matéria dedireitos da defesa. A modernisação necessáriapara assegurar uma aplicação sistemática, efici-ente e legítima das regras de concorrência numaUnião alargada, cujos objectivos últimos são au-mentar os benefícios para os consumidores de-correntes de mercados concorrenciais e manterum incentivo insubstituível para que as empresasaumentem a sua competitividade.

Uma das condições para o nosso êxito é que as re-gras de concorrência existentes sejam aplicadasde forma sistemática e adequada, o que determi-nou a nossa acção em 2002. Este ano foi adoptadoo Regulamento n.o 1/2003, que oferece um qua-dro processual radicalmente novo para a aplica-ção das regras antitrust na União. Baseando-se naexperiência obtida ao longo dos últimos 40 anos,este novo instrumento cria condições para umaaplicação mais efectiva das regras de concorrên-cia numa União alargada. O enorme êxito danossa luta contra os cartéis em 2002, que eviden-cia cada vez mais a ênfase dada pela Comissão àrepressão das infracções mais graves, constitui jáuma demonstração clara das futuras alterações.Mas o nosso esforço para melhorar a execuçãotambém se aplica ao controlo das concentrações.O processo exaustivo de revisão realizado aolongo do ano abrangeu tanto os aspectos proces-

suais como os substantivos. Deverá dar origemem breve a outra reforma de vulto que contribuirádecisivamente para melhorar a aplicação da nossapolítica de concorrência.

É necessário aplicar as regras, mas é também es-sencial, para qualquer política de concorrência sã,garantir que o conteúdo dessas regras esteja ade-quadamente ajustado às necessidades da nossaeconomia. Os êxitos alcançados em 2002 ilustramigualmente o nosso empenho em reexaminar per-manentemente os aspectos substantivos das nos-sas regras. Não só continuámos a adaptá-las à rá-pida evolução dos sectores da economia a que seaplicam, mas também nos esforçámos por simpli-ficá-las, a fim de reduzir ao máximo os custos dasua aplicação.

Tudo isto seria inútil se fosse feito de forma iso-lada do resto do mundo. No actual mundo econó-mico globalizado, a intensificação da cooperaçãointernacional constitui a chave de uma acção efi-caz. Isto implica um esforço contínuo de diálogoe de coordenação com todos os nossos parceirose também no contexto do nosso compromissoglobal com a promoção da concorrência.

A caminho de uma aplicação mais sistemática e eficaz, que respeite os mais rigorosos critérios dos direitos da defesa

Os resultados obtidos em 2002 reflectem a deter-minação com que a Comissão prosseguiu o seuobjectivo de promover uma melhor aplicação dasua política de concorrência.

Política antitrust: um novo quadro para uma melhor aplicação

A experiência adquirida até agora pelas empre-sas, bem como pelas autoridades e pelos tribunaisnacionais, permitiu concluir que era não só dese-jável, mas também exequível, uma descentraliza-

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ção significativa da aplicação da legislaçãocomunitária em matéria antitrust. Mesmo no fi-nal de 2002, o Conselho aprovou o Regulamenton.o 1/2003, que traça um novo quadro para a apli-cação dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE, tendoem vista tornar possível, após o alargamento,uma execução mais ampla, mas simultaneamentemais rigorosa. Tal como o seu número simboliza,este regulamento abre um novo capítulo na apli-cação conjunta de um corpo único de regras porparte da Comissão, das autoridades nacionais deconcorrência e dos tribunais nacionais em toda aEuropa. No entanto, a descentralização por si sónão é suficiente: também são necessários meca-nismos eficazes, baseados em critérios precisos,que atribuam responsabilidades ao nível maisadequado. A nova rede de autoridades europeiasde concorrência (REC) terá um papel essencialneste âmbito a partir de 1 de Maio de 2004, datado início de aplicação do novo regulamento.

A descentralização da aplicação das regras anti-trust, bem como a supressão do sistema de notifi-cação, permitirá que a Comissão se concentre nassuas tarefas essenciais. Poderá assim, mais doque nunca, encontrar-se em melhores condiçõespara detectar e sancionar as infracções mais gra-ves. Os resultados alcançados em 2002 mostramque a Comissão está pronta para reforçar esta pri-oridade. Após um brilhante 2001, o ano de 2002foi outro ano excepcional na luta contra os acor-dos e as práticas anticoncorrenciais das empre-sas, em especial contra os cartéis. Foram adopta-das dez decisões de proibição, que se traduziramna aplicação de coimas de mais de mil milhões deeuros.

No entanto, para estar à altura dos métodos cadavez mais sofisticados para ocultar os comporta-mentos ilegais, é necessário que os organismos deexecução disponham de instrumentos apropria-dos. O novo programa de imunidade ou de redu-ção de coimas, adoptado em 2002, reforça consi-deravelmente a capacidade da Comissão paradetectar e sancionar os cartéis, oferecendo incen-tivos interessantes às empresas implicadas paraque colaborem e apresentem o mais cedo possívelinformações que ajudem a Comissão a descobrire a pôr termo aos cartéis. Esta nova política declemência já produziu resultados substanciais ecombinada com os poderes de investigação maisvastos previstos no Regulamento n.o 1/2003 per-mitirá à Comissão prosseguir e intensificar a suaactividade de aplicação das regras no domíniodos cartéis.

Progressos na revisão aprofundada do controlo das concentrações

A preocupação de uma repartição óptima de res-ponsabilidades de execução também tem inspi-rado o processo de reforma no domínio das con-centrações. É evidente que deve ser mantida umadas principais características positivas do sistemacomunitário de controlo das concentrações, a sa-ber, um «balcão único» para exame das concen-trações com dimensão comunitária. No entanto,tal não deve impedir que certos aspectos de umdeterminado caso sejam remetidos para as autori-dades nacionais, quando estas possuam maior ex-periência no domínio em questão. Em 2002 regis-tou-se um aumento significativo deste tipo dereenvios; pela primeira vez, dois casos foram re-metidos conjuntamente pelos Estados-Membros àComissão, uma vez que esta tinha uma melhor vi-são de conjunto da situação nos mercados relevan-tes. Esta evolução deverá confirmar-se em breveatravés da simplificação dos procedimentos de re-messa nas duas direcções, proposta no âmbito darevisão do Regulamento das Concentrações.

Após uma ampla consulta sobre o projecto, a Co-missão apresentou ao Conselho, em 11 de De-zembro, uma proposta de reforma exaustiva doRegulamento n.o 4064/89. Embora a propostamantenha o critério substantivo até agora apli-cado no âmbito do Regulamento das Concentra-ções — que demonstrou em geral ser perfeita-mente adequado para a complexidade dasoperações actuais — reconhece também a neces-sidade de precisar mais claramente alguns dosseus aspectos. Além disso, foi já adoptado pelaComissão um projecto de comunicação sobre aapreciação das concentrações com carácter hori-zontal, de forma a garantir que a fundamentaçãodas decisões da Comissão se torne mais transpa-rente; seguir-se-ão outras comunicações destetipo. Outro objectivo da proposta consiste em to-mar mais em consideração os ganhos de eficiên-cia susceptíveis de resultar das operações de con-centração, que devem ser tidos em conta naanálise, desde que beneficiem directamente osconsumidores e sejam substanciais, verificáveis edirectamente decorrentes da operação.

A qualidade das nossas regras substantivas teriapouca importância, contudo, se não conseguísse-mos aplicá-las num processo de tomada de deci-sões que satisfaça as normas mais rigorosas emmatéria de garantias processuais e de transparên-cia. A anulação pelo Tribunal de Primeira Instân-

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cia, no ano passado, de três decisões de proibiçãono domínio das concentrações acentuou a necessi-dade de a fundamentação económica da Comissãoser inatacável. As medidas propostas pela Comis-são têm plenamente em conta esta exigência. Su-gere-se uma maior flexibilização dos prazos denotificação e de apreciação das medidas de cor-recção. Além disso, o acesso atempado e sistemá-tico de todas as partes em causa aos documentosdo processo e às informações sobre a análise daComissão devem contribuir para garantir os direi-tos da defesa. Prevê-se igualmente um reforço dopapel atribuído aos auditores e do estatuto dos ter-ceiros interessados e dos consumidores. A fim demelhorar a qualidade das investigações e aumen-tar as competências económicas da DG Concor-rência, decidi nomear um economista principal,que contribuirá para aumentar o nosso empenhoem garantir a excelência. Por último, procedeu-sea uma completa remodelação dos mecanismos desalvaguarda, que estão a ser reforçados, por exem-plo através da criação periódica de painéis de aná-lise nos casos mais complexos.

Adaptar o conteúdo das nossas regras às exigências da nossa economia e reduzir os custos do seu cumprimento

Modernizar significa também dar às nossas nor-mas um conteúdo mais adequado, a fim de ter emconsideração a forma como os mercados funcio-nam hoje em dia, sem perder de vista os objectivosde integração consagrados no Tratado. Isto dizrespeito concretamente aos sectores em que asforças da concorrência só apareceram recente-mente. O desenvolvimento de novas normas regu-lamentares mediante um processo gradual de libe-ralização garante não apenas a introdução decondições de concorrência, que ofereçam novasoportunidades comerciais, tanto aos novos parti-cipantes no mercado como aos operadores tradici-onais, como também que o ajustamento à nova si-tuação de concorrência se traduza efectivamenteem benefícios para os consumidores. No entanto,também é necessário rever as regras nos casos emque a acção da concorrência não produziu os efei-tos esperados, apesar de os operadores terem es-tado sujeitos à concorrência durante muito tempo.

Reagir às alterações económicas, provocando-as quando necessário

A Comissão demonstrou uma vez mais em 2002o seu empenho a favor dos objectivos de compe-

titividade e desenvolvimento estabelecidos noConselho Europeu de Lisboa. A este respeito, asdiscussões no Conselho e no Parlamento Europeusobre a nova legislação proposta registaram pro-gressos positivos. No sector da energia foi alcan-çado um acordo político em Novembro relativa-mente às novas directivas «aceleração» e a umregulamento para acelerar a liberalização dosmercados da electricidade e do gás. A nova legis-lação eliminará as distorções da concorrência re-sultantes das diferentes velocidades a que os Es-tados-Membros têm aberto os seus mercados emelhorará as condições concorrenciais para umaliberalização efectiva. O regulamento relativo aocomércio transfronteiras da electricidade consti-tuirá outro passo importante para um genuínomercado interno da electricidade. Todavia, esteprogresso legislativo exigirá um maior controlopor parte das autoridades de concorrência, a fimde garantir que as novas oportunidades de mer-cado não serão prejudicadas por comportamentosrestritivos e/ou abusivos por parte das empresasde energia e, em especial, dos operadores tradici-onais verticalmente integrados, nem que estes re-ceberão auxílios estatais incompatíveis, que lhespermitam falsear a concorrência nos mercadosliberalizados. Noutro campo, a nova DirectivaPostal adoptada em Junho abre caminho a umamaior concorrência entre operadores no que sepretende que venha a ser um verdadeiro mercadoúnico dos serviços postais. Por seu lado, o novoquadro regulamentar das redes e serviços de co-municações electrónicas, adoptado em Feve-reiro, atribui um papel mais decisivo à análisedas condições concorrenciais, tendo em vista umrecurso o mais limitado possível ao controlo «exante». Por esta razão, os instrumentos de concor-rência devem demonstrar a sua eficácia para san-cionar rapidamente qualquer comportamentoabusivo que possa ocorrer, bem como para evitara utilização de auxílios estatais para falsear aconcorrência.

A Comissão necessita também de desenvolver oseu papel catalisador da mudança, quando osmercados não funcionam satisfatoriamente à luzdos objectivos do Tratado. A adopção em Julhodo novo regulamento de isenção em matéria dedistribuição de veículos automóveis pode servirde exemplo concreto. Já é altura de termos umverdadeiro mercado único dos veículos automó-veis, para benefício dos consumidores, mas tam-bém no interesse da competitividade da indústriaeuropeia. A análise da situação existente revelouclaramente que a integração do mercado efectu-

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ada através do antigo regulamento aplicável aosector não tinha sido alcançada como se esperavae que os consumidores não tinham obtido a suaparte dos benefícios resultantes das restrições ob-jecto de isenção. Foi assim criado um novo sis-tema para relançar a integração do mercado, demodo que os consumidores possam beneficiar demelhores preços, de uma escolha mais vasta e demelhores serviços. Simultaneamente, alarga-se oâmbito da iniciativa empresarial. Os esforços daComissão para prosseguir uma abordagem im-parcial reflectiram-se na ampla consulta de todosos intervenientes que precedeu e permitiu a adop-ção do novo regulamento.

Minimizar os custos de cumprimento: o exemplo do controlo dos auxílios estatais

Outro factor que influencia o funcionamento dosmercados é a intervenção do Estado. Para reali-zar os objectivos de integração dos mercados, énecessário manter uma disciplina rigorosa emmatéria de auxílios estatais no mercado interno.Em 2002 foram registados progressos no sen-tido da simplificação e da clarificação das regrasaplicáveis aos auxílios estatais. O novo enqua-dramento multissectorial para grandes projectosregionais, adoptado em Março, estabelece re-gras mais claras para a avaliação de grandes pro-jectos de investimento e elimina o requisito denotificação prévia dos auxílios concedidos noâmbito de um regime já aprovado. Um novo re-gulamento relativo aos auxílios ao emprego,adoptado em Novembro, facilita as iniciativasdos Estados-Membros para promover a criaçãode emprego, eliminando a notificação obrigató-ria de certas medidas de auxílio. Esta aborda-gem facilita a adopção de medidas apropriadas eatempadas por parte dos Estados-Membros paraimpulsionar o crescimento económico e a cria-ção de novos postos de trabalho. Do mesmomodo, retoma e antecipa um pacote de reformasmais ambiciosas no domínio dos auxílios esta-tais destinado a flexibilizar os procedimentos e apermitir à Comissão centrar-se nos auxílios es-tatais com maior probabilidade de falsear a con-corrência.

Promoção da concorrência através da cooperação internacional: uma ambição permanente

Esta rápida panorâmica dos principais avanços dapolítica comunitária da concorrência em 2002ilustra bem o tipo de desafios com que as autori-dades da concorrência de todo o mundo se con-frontam diariamente. Estes esforços serão inúteisse perdermos de vista que a globalização impõeque discutamos com os nossos parceiros comer-ciais as questões de concorrência. A nossa acçãosó produzirá frutos se noutros países forem toma-das medidas semelhantes. Por essa razão, sempreme esforcei por fomentar a cooperação internaci-onal, a nível bilateral e multilateral. Tambémneste aspecto se registaram em 2002 progressospositivos. A fim de preparar o alargamento, os pa-íses candidatos continuaram a desenvolver esfor-ços para implementar o acervo comunitário, par-ticularmente no domínio dos auxílios estatais, oque permitiu concluir as negociações com a Re-pública Checa, a Hungria, Malta, a Polónia e aEslováquia antes do final do ano. No que diz res-peito à cooperação bilateral, avançou-se clara-mente para a conclusão de um acordo de coopera-ção com o Japão, com a adopção de uma propostade decisão do Conselho para esse efeito. Final-mente, a nível multilateral, os trabalhos progredi-ram de forma satisfatória. A Conferência inaugu-ral da Rede Internacional da Concorrência (RIC)realizou-se em Nápoles, em Setembro, e o grupode trabalho da OMC sobre comércio e concorrên-cia continuou os seus debates em reuniões emque apresentámos propostas muito concretas.

** *

Os resultados de 2002 são consideráveis e inse-rem-se numa lógica global. Estou certo que re-flectem a nossa preocupação permanente em pre-parar os desafios do futuro que, não tenhamosilusões, serão consideráveis. Com a aplicação donovo regulamento antitrust, a reforma do con-trolo das concentrações, a modernização da polí-tica de controlo dos auxílios estatais e a conclu-são do processo de alargamento, muito temos afazer em 2003, para garantir que aquilo que se-meámos em 2002 possa dar os seus frutos.

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XXXII Relatório sobre a Política de Concorrência2002

(publicado conjuntamente com o Relatório Geralsobre a Actividade da União Europeia — 2002)

SEC(2003) 467 final

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ÍNDICE

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Caixa 1: Um papel mais relevante para os consumidores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

I — Acordos, decisões e práticas concertadas e abusos de posição dominante — artigos 81.o e 82.o; monopólios estatais e direitos exclusivos — artigos 31.o e 86.o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

A — Modernização do quadro legislativo e das regras de interpretação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151. Termo de vigência do Tratado CECA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152. Modernização das regras de execução dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE . . . . . . . . . . 163. Revisão da política da Comissão em matéria de não aplicação ou redução de coimas . . . 184. Revisão do regulamento de isenção por categoria dos veículos a motor . . . . . . . . . . . . . . 19

B — Aplicação dos artigos 81.o, 82.o e 86.o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191. Artigo 81.o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192. Artigos 82.o e 86.o. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

C — Evolução sectorial da concorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261. Energia: liberalização dos sectores da electricidade e do gás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262. Serviços postais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293. Telecomunicações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 304. Transportes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325. Meios de comunicação social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 366. Distribuição de veículos automóveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397. Serviços financeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 458. Sociedade da informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 469. Profissões liberais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

D — Estatísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

II — Controlo das operações de concentração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

A — Política geral e novos desenvolvimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 531. Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 532. Controlo jurisdicional em 2002 das decisões em matéria de concentrações . . . . . . . . . . . 563. Compensações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 604. Remessa de processos nos termos dos artigos 9.o e 22.o — Novos desenvolvimentos . . . 645. Reforma do controlo das operações de concentração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 686. Cooperação internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

B — Estatísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

III — Auxílios estatais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

A — Política geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 791. Modernizar o controlo dos auxílios estatais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 792. Alargamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

B — Noção de auxílio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 831. Origem dos auxílios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 832. Vantagens para uma empresa ou empresas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 833. Especificidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 884. Distorção da concorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 895. Efeito sobre o comércio entre Estados-Membros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

C — Apreciação da compatibilidade dos auxílios com o mercado comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . 901. Auxílios horizontais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 902. Auxílios com finalidade regional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

Caixa 2: Novo enquadramento multissectorial dos auxílios com finalidade regional para grandes projectos de investimento, incluindo novas regras relativas aos sectores dos veículos automóveis e das fibras sintéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

3. Transportes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104Caixa 3: Empresas de transporte rodoviário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

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4. Agricultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1105. Pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

D — Procedimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1161. Auxílios existentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1162. Auxílios isentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1173. Recuperação de auxílios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1174. Não execução de decisões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1185. Acórdãos do Tribunal de Justiça e do Tribunal de Primeira Instância . . . . . . . . . . . . . . . . 119

E — Estatísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

IV — Serviços de interesse geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

1. Princípios gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1232. Evolução recente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124

Caixa 4: Deutsche Post . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1283. Antitrust (incluindo a liberalização dos mercados) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1294. Liberalização através de medidas legislativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

V — Actividades internacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133

A — Alargamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1331. Preparação e negociações de adesão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1332. Progressos na aproximação das regras de concorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1343. Instrumentos no âmbito de acordos de associação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1354. Assistência técnica aos países candidatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136

B — Cooperação bilateral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1361. Estados Unidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1362. Canadá. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1373. Japão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1374. Outros países da OCDE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138

C — Cooperação multilateral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1381. Rede Internacional da Concorrência (RIC) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1382. Grupo de Trabalho da OMC sobre Comércio e Concorrência (WGTCP) . . . . . . . . . . . . . 1393. Comité da Concorrência da OCDE (CC) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1404. Grupo Intergovernamental de Peritos da CNUCED . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

VI — Perspectivas para 2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143

1. Antitrust e liberalização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1432. Concentrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1443. Auxílios estatais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1444. Domínio internacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144

Anexo — Processos analisados no Relatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145

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INTRODUÇÃO

1. As vantagens de uma concorrência efectiva nomercado como meio para conseguir uma afecta-ção eficaz dos recursos e para promover a inova-ção e o desenvolvimento técnico são, em geral,mundialmente reconhecidas. Contudo, garantirou criar as condições que permitem que os merca-dos funcionem de forma concorrencial constituium desafio permanente, tanto no que se refere aocomportamento dos intervenientes nesses merca-dos, como no que diz respeito aos obstáculoscriados por medidas estatais. Por conseguinte, apolítica de concorrência prossegue um duplo ob-jectivo: por um lado, ultrapassar as deficiênciasdo mercado resultantes de um comportamentoanticoncorrencial por parte dos operadores e dealgumas estruturas de mercado e, por outro, con-tribuir para um quadro global de política econó-mica, em todos os sectores económicos, que per-mita uma concorrência efectiva. Num mundo emcontínua globalização, é essencial que a defesa daconcorrência num espaço económico integrado,como a União Europeia, encontre também a suaexpressão externa que garanta condições equitati-vas na cena internacional.

2. A política de concorrência da União Europeiaassenta em três pilares estreitamente relaciona-dos, que contribuem, todos eles, para repercutiros benefícios de uma concorrência efectiva noconsumidor e, simultaneamente, para promover acompetitividade da indústria europeia. Em pri-meiro lugar, uma aplicação firme das regras emmatéria de acordos, decisões e práticas concerta-das e abusos de posição dominante, que proíbemas empresas de concluírem acordos ou práticasrestritivos e de abusarem das posições dominan-tes que detêm no mercado. Esta actividade cen-tra-se cada vez mais em impedir que as formasmais graves de comportamento anticoncorrencialpor parte dos intervenientes no mercado, taiscomo os cartéis de fixação de preços ou de repar-tição dos mercados, perturbem a concorrênciaefectiva. Simultaneamente, é necessário contro-lar as concentrações para evitar que sejam criadasou reforçadas posições dominantes num determi-nado mercado através de fusões e aquisições. Emsegundo lugar, prossegue a abertura de sectoreseconómicos em que a concorrência efectiva nãoestá ainda firmemente enraizada, através de umapolítica de liberalização gradual que vem acom-panhar medidas legislativas destinadas a prosse-guir a integração do mercado único. Em terceirolugar, a política de concorrência da União Euro-peia inclui o controlo dos auxílios estatais a nívelsupranacional, por forma a garantir que a inter-

venção estatal não falseie a situação concorren-cial no mercado através de subsídios e de isen-ções fiscais.

3. Os principais desafios que a política de con-corrência da União Europeia tem vindo a enfren-tar ao longo dos últimos anos e que moldaram asprioridades legislativas e de aplicação da legisla-ção da Comissão são bem conhecidos: o alarga-mento iminente da União Europeia para 25 mem-bros implica um esforço significativo tantodentro da União como por parte dos 10 paísescandidatos, por forma a preparar as condiçõesde uma aplicação efectiva das regras de concor-rência do Tratado a partir da adesão dos novosEstados-Membros. A globalização dos merca-dos exige uma cooperação reforçada entre os res-ponsáveis pela tomada de decisões no domínio dapolítica de concorrência em todo o mundo. Porúltimo, as alterações do contexto económico, taiscomo as fracas perspectivas de crescimento eco-nómico ou as dificuldades que enfrentam algunssectores, que observámos em 2002, não podemser ignoradas, embora não constituam motivopara comprometer a lógica fundamental de umapolítica de concorrência efectiva.

4. Para além desta luta contínua contra os cartéishorizontais graves, que constituem uma das in-fracções mais sérias à legislação de concorrência,a Comissão realizou com êxito uma série de pro-jectos de reforma em todos os domínios da polí-tica de concorrência por forma a dar resposta aestes desafios. Há que realçar, em 2002, uma re-formulação ambiciosa e fundamental das regrasem matéria de acordos, decisões e práticas con-certadas e abusos de posição dominante, de apli-cação dos artigos 81.o e 82.o do Tratado, que le-vou à adopção de um novo regulamento de basepelo Conselho. Este novo regulamento anunciauma nova era na aplicação da legislação neste do-mínio na União Europeia, que envolverá mais di-rectamente as Autoridades Nacionais de Concor-rência e os tribunais nacionais na aplicação dasregras de concorrência do Tratado, no âmbito deuma rede europeia de autoridades da concorrên-cia. O novo regulamento de isenção por categoriaaplicável ao sector dos veículos automóveis con-sagra uma reformulação importante das regras deconcorrência neste sector. A revisão do Regula-mento das Concentrações avançou igualmentecom a adopção, pela Comissão, de uma propostade novo regulamento baseada numa consultaalargada das partes interessadas e utilizando a ex-periência obtida com a aplicação do primeiro Re-

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gulamento das Concentrações. É também de real-çar que o reconhecimento da importância de umfuncionamento correcto do controlo dos auxíliosestatais se concretizou na adopção de diversosprojectos de reforma significativos destinados asimplificar os procedimentos em matéria de auxí-lios estatais, com o objectivo de reforçar o papelfundamental deste instrumento no âmbito da po-lítica de concorrência da União Europeia.

5. Em 2002, o número total de processos novossituou-se em 1 019, englobando 321 no domínioantitrust (ao abrigo dos artigos 81.o, 82.o e 86.o doTratado CE), 277 processos de concentrações e421 processos no domínio dos auxílios estatais.Para efeitos de comparação, os dados relativos a2001 foram de 1 036 processos novos no total, in-cluindo 284 no domínio antitrust, 335 processosde concentrações e 417 processos de auxílios es-tatais (excluindo denúncias). A evolução globalverificada a nível dos novos processos não revela,consequentemente, qualquer tendência uniformenos diversos pilares da política de concorrência.Embora se possa verificar um aumento significa-tivo no domínio antitrust, o número de processosde concentrações desceu claramente e o númerode novos processos de auxílios estatais man-teve-se estável.

6. No domínio antitrust, o número de novas noti-ficações permaneceu a um nível relativamentebaixo, tendo sido iniciado em 2002 um númerosignificativamente superior (91) de novos proces-sos a título oficioso relativamente a 2001 (74).Esta tendência prepara o terreno para a supressãodo sistema de notificação que decorrerá damodernização das regras antitrust. O número dedenúncias continuou a aumentar durante esteano (129 em 2002 relativamente a 116 em 2001 e112 em 2000).

7. O número total de processos encerradosem 2002 ascendeu a 1 283, englobando 363 pro-cessos antitrust, 268 no domínio das concentra-ções e 652 no domínio dos auxílios estatais(excluindo denúncias). Os dados comparativos

relativos a 2001 foram de 1 204 processos encer-rados, abrangendo 378 no domínio antitrust,346 no domínio das concentrações e 480 de auxí-lios estatais. Embora a redução do número deprocessos antitrust encerrados se possa atribuirao facto de continuar a ser dada prioridade aosprocessos de cartéis que exigem grande intensi-dade de recursos, o número de processos encerra-dos excede o número de processos novos, contri-buindo assim para uma nova redução do númerode processos pendentes.

8. Em 2002, a actividade da Comissão em maté-ria de análise de concentrações e alianças conti-nuou a decrescer significativamente, após uma es-tagnação inicial da tendência de crescimentoverificada em 2001, mantendo-se contudo a umnível elevado (277 novos casos). Em termos de re-sultados, foram adoptadas durante o ano 275 deci-sões formais (contra 340 em 2001). O número deprocessos que exigiram uma investigação apro-fundada desceu consideravelmente, voltando aonível registado em meados da década de noventa(7 processos de segunda fase iniciados em 2002,contra cerca de 20 por ano entre 1999 e 2001).Contudo, tiveram de ser consagrados recursosadicionais ao acompanhamento de decisões toma-das anteriormente e que foram objecto de proces-sos no Tribunal.

9. No domínio dos auxílios estatais, o número denotificações e de novos casos de auxílios não no-tificados aumentou comparativamente com 2001,enquanto os pedidos de análise de regimes de au-xílio voltaram ao nível dos anos anteriores, apósum aumento em 2001. O número de processosiniciados manteve-se estável (62 em 2002 contra66 em 2001), enquanto as decisões finais negati-vas aumentaram ligeiramente (37 em 2002 contra31 em 2001). Na globalidade, o número de pro-cessos pendentes no domínio dos auxílios estataisrevela uma clara redução (de 621 em 2001 para582 em 2002, dos quais 255 resultantes dedenúncias).

Caixa 1: Um papel mais relevante para os consumidores

Um dos principais objectivos da política de concorrência europeia consiste em promover os interesses dosconsumidores, ou seja, garantir que os consumidores beneficiam da riqueza gerada pela economia euro-peia. Este objectivo, que o comissário Monti realçou em diversas ocasiões e continua a considerar umadas suas principais prioridades, é um objectivo de carácter horizontal, na medida em que a Comissãointegra o interesse dos consumidores em todos os aspectos da sua política de concorrência, nomeadamente

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INTRODUÇÃO

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reagindo contra os acordos anticoncorrenciais, em especial os cartéis mais graves, e abusos de posiçãodominante, mas também no controlo das concentrações e dos auxílios estatais concedidos pelosEstados-Membros.

A Comissão está bem ciente de que normalmente os consumidores têm dificuldade em apreciar o impactoda política de concorrência na sua vida quotidiana. Tal deve-se à complexidade de muitos dos processosde concorrência e ao facto de a acção da Comissão neste domínio ter muitas vezes um impacto indirectonos seus interesses. Enquanto, por exemplo, a eliminação de um cartel relacionado com bens de consumoou com a proibição de preços excessivos praticados por um operador de telecomunicações dominantepode directamente provocar uma descida imediata dos preços que é sentida no orçamento familiar, umsistema eficiente de controlo das concentrações pode não ser necessariamente considerado benéfico pelosconsumidores que dele tiram partido. Isto deve-se, com efeito, ao facto de o controlo das operações deconcentração na União Europeia se destinar a evitar os efeitos negativos das concentrações no bem-estardos consumidores, que de outra forma poderiam ocorrer.

Por conseguinte, é frequente que os resultados positivos do controlo das concentrações apenas se façamsentir a longo prazo. Da mesma forma, o controlo dos auxílios estatais tem um papel a desempenhar emtermos de uma afectação eficaz dos recursos na economia europeia, contribuindo assim para um contextoeconómico saudável para as empresas e os consumidores. Nas suas decisões em matéria de auxílios esta-tais, a Comissão toma em consideração aspectos relacionados com o funcionamento correcto dos serviçosde interesse geral (1).

Por forma a receber informações essenciais dos consumidores e a sensibilizá-los para o trabalho quedesenvolve no domínio da concorrência, a Comissão prossegue diferentes vias. Duas vezes por ano temlugar um «Dia Europeu da Concorrência» no país que detém a Presidência da União Europeia (2), queconta com a participação activa da Comissão e do Parlamento Europeu. Estes eventos servem para tornaras questões de concorrência mais acessíveis aos consumidores e aos seus representantes. A Comissãocoopera também activamente com organizações de consumidores, em especial o BEUC (3), a AssociaçãoEuropeia dos Consumidores, e encoraja as organizações nacionais de consumidores a participarem maisactivamente na detecção de áreas de particular interesse para os consumidores. O presente relatório cons-titui outro canal de comunicação com os consumidores.

A reforma actualmente em curso no domínio antitrust e no que se refere ao controlo das concentraçõescontribuirá para que o processo de decisão se aproxime mais dos consumidores. Em especial, a apli-cação descentralizada das regras antitrust permitirá que os consumidores apresentem as suas queixasàs Autoridades Nacionais de Concorrência que participarão plenamente na aplicação das regras anti-trust europeias. Estas regras são directamente aplicáveis em todos os Estados-Membros e a reformavem também reforçar o papel dos tribunais nacionais na sanção das infracções (4). No contexto dareforma proposta do Regulamento das Concentrações, está prevista a criação de uma função de ligaçãocom os consumidores no âmbito da Comissão (5), a fim de lhes proporcionar, bem como aos seus repre-sentantes, maiores possibilidade de darem a conhecer, atempadamente, as suas opiniões sobre concen-trações específicas.

Igualmente importante foi a revisão efectuada este ano da isenção por categoria no sector dos veículosautomóveis, que virá introduzir alterações, a nível europeu, tanto na venda de veículos automóveis, comona prestação de serviços pós-venda (6). Uma vez que a aquisição de um veículo (novo) constitui uma dasmais importantes decisões de investimento da maior parte dos consumidores, estas alterações fundamen-tais do sistema de distribuição e do serviço pós-venda no sector dos veículos automóveis assumem, semdúvida, a maior relevância para os consumidores, apesar de ser nesta altura ainda prematuro avaliar osefeitos da reforma sobre os preços dos veículos automóveis na União Europeia e sobre a qualidade edisponibilidade do serviço pós-venda.

(1) Ver capítulo IV.(2) Dias europeus da concorrência em 2002: 26.2.2002 (Madrid) e 17.9.2002 (Copenhaga).(3) IP/02/415 de 14.3.2002.(4) Ver capítulo I.A.2, em especial o ponto 17.(5) Ver pontos 312-313.(6) Ver capítulo I.C.6.

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No que se refere aos processos de 2002, os consumidores deverão em especial consultar a decisão anti-cartel no processo placas de estuque (1), visto tratar-se de um produto conhecido de todos aqueles queconstruíram ou fizeram obras nas suas casas. O processo Nintendo (2), no âmbito do qual foi posto termoaos acordos anticoncorrenciais entre a Nintendo e os seus distribuidores no que se refere aos cartuchospara consolas de jogos, merece também uma atenção especial neste contexto.

Em conclusão, chama-se a atenção dos consumidores para a parte C do Relatório «Evolução Sectorial daConcorrência», de que constam informações relativas aos sectores da energia, das telecomunicações,postal e dos transportes, de crucial importância para os consumidores. Também de relevo para os inte-resses dos consumidores são as informações relativas aos processos antitrust nos sectores dos meios decomunicação social, dos serviços financeiros, das profissões liberais e da sociedade da informação.

(1) Ver ponto 50 e seguintes.(2) Ver ponto 61 e seguintes.

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I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE — ARTIGOS 81.O E 82.O; MONOPÓLIOS ESTATAIS E DIREITOS EXCLUSIVOS — ARTIGOS 31.O E 86.O

A — Modernização do quadro legislativo e das regras de interpretação

1. Termo de vigência do Tratado CECA

10. O Tratado que institui a Comunidade Euro-peia do Carvão e do Aço (CECA) chegou ao seutermo de vigência em 23 de Julho. Tal significaque, a partir de 24 de Julho, os sectores anterior-mente abrangidos pelo Tratado CECA e as regrasprocessuais e outra legislação secundária deri-vada deste Tratado passarão a ser abrangidos pe-las regras do Tratado CE, e também pelas regrasprocessuais e outra legislação secundária deri-vada do Tratado CE.

11. Por forma a contemplar as questões relacio-nadas com esta transição e que surgem especifi-camente nas áreas antitrust, concentrações eauxílios estatais, os serviços competentes da Co-missão (DG COMP, DG TREN) elaboraram umaComunicação da Comissão relativa a certos as-pectos do tratamento dos processos de concorrên-cia decorrentes do termo de vigência do TratadoCECA (1) que foi adoptada em 21 de Junho. EstaComunicação pretende proporcionar uma orien-tação às empresas abrangidas pelas regras no do-mínio antitrust e das concentrações, bem comoaos Estados-Membros que estão sujeitos às re-gras em matéria de auxílios estatais, fornecendoinformações, garantias e segurança em termos deplaneamento, no contexto do termo de vigênciado Tratado CECA. Sem prejuízo da interpretaçãodas regras dos Tratados CECA e CE pelo Tribu-nal de Primeira Instância e pelo Tribunal deJustiça das Comunidade Europeias, a Comunica-ção resume as alterações mais importantes no quese refere ao direito material e processual aplicá-vel e explica a forma como a Comissão tencionaabordar questões específicas suscitadas pela tran-sição.

12. A Comunicação explica, na generalidade,que as alterações materiais e processuais decor-rentes do termo de vigência do Tratado CECAnão deverão causar problemas importantes, de-vido aos esforços que têm vindo a ser envidadoshá vários anos para alinhar a prática ao abrigo dosTratados CECA e CE.

13. As alterações mais importantes entre o an-tigo e o novo regime são as seguintes:

a) Antitrust

— No âmbito do regime CE, a Comissãodeixa de ter competência exclusiva comoacontecia nos termos do Tratado CECA.

— Contrariamente ao que acontecia no Tra-tado CECA, é necessário que o comércioentre Estados-Membros seja afectado paraque estas regras sejam aplicadas.

b) Controlo das concentrações

— A Comissão deixa de ter competência ex-clusiva independentemente de quaisquerlimiares, como acontecia no âmbito doTratado CECA.

14. A Comunicação aborda igualmente questõesespecíficas suscitadas pela transição, em especialnos casos que, de um ponto de vista factual ou le-gal, foram iniciados antes mas prosseguem após otermo de vigência do Tratado CECA. O princípiode base em matéria processual é o de as regrasaplicáveis serem as vigentes na altura da adopçãoda medida processual em questão.

Antitrust, concentrações e auxílios estatais

A Comissão aplicará as regras processuais CE emtodos os processos pendentes e novos a partirde 24 de Julho. Salvo disposição em contrárioprevista na Comunicação, considera-se que asmedidas processuais adoptadas de forma válidaao abrigo das regras CECA antes do termo devigência do Tratado CECA preenchem, após otermo da vigência deste Tratado, os requisitos damedida processual equivalente ao abrigo dasregras CE.

Além disso, a Comunicação aborda diversasquestões nas três áreas:

a) Antitrust

— As disposições de isenção previstas non.o 2 do artigo 65.o do Tratado CECA e non.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE são nageneralidade semelhantes e, tendo emconta a próxima modernização das regrasde aplicação no domínio antitrust, a acçãoda Comissão neste domínio deveria cen-trar-se nos processos de proibição. Destaforma,¥1∂ JO C 152 de 26.6.2002.

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— a Comissão informa as empresas de quenão tenciona dar início a processos nos ter-mos do artigo 81.o do Tratado CE relativa-mente à aplicação futura de acordos ante-riormente autorizados ao abrigo do regimeCECA, sem prejuízo, no entanto, dequalquer evolução significativa em termosfactuais ou legais subsequente, que possaclaramente pôr em causa a possibilidade debeneficiar de uma isenção ao abrigo don.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE.

b) Controlo das concentrações

— O tratamento das empresas comuns é dife-rente, uma vez que o número de empresascomuns classificadas como concentraçõesseria superior nos termos do artigo 66.o doTratado CECA do que nos termos do Regu-lamento das Concentrações CE, que apenasabrange as empresas comuns de pleno exer-cício. Nos casos em que notificações de em-presas comuns apresentadas nos termos doTratado CECA estejam pendentes na datado termo de vigência desse Tratado, algu-mas delas poderão deixar de ter de ser noti-ficadas enquanto concentrações ao abrigodo Regulamento das Concentrações CE.

— A Comunicação refere que estas notifica-ções poderão ser convertidas em notifica-ções de acordos de cooperação, nos termosdo Regulamento n.o 17/62, caso estejampreenchidas as condições previstas no ar-tigo 5.o do Regulamento de execução, emespecial se as partes notificantes solicita-rem tal conversão.

c) Auxílios estatais

— Nos casos em que, após o termo de vigên-cia do Tratado CECA, a Comissão tiver deadoptar uma decisão de apreciação dacompatibilidade de um auxílio concedidosem aprovação prévia da Comissão antesdo termo de vigência, levanta-se a questãodos critérios a aplicar.

— A Comissão aplicará a sua Comunicaçãorelativa à determinação das regras apli-cáveis à apreciação dos auxílios estataisconcedidos ilegalmente (1). Segundo estaComunicação, a Comissão apreciará sem-pre a compatibilidade dos auxílios estatais

ilegais em conformidade com os critériosmateriais estabelecidos em cada instru-mento em vigor no momento em que taisauxílios foram concedidos.

2. Modernização das regras de execução dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE

15. Em 16 de Dezembro, o Conselho adoptou oRegulamento n.o 1/2003 (2). Este novo regula-mento, relativamente ao qual a Comissão tinhaapresentado a sua proposta em Setembro de 2000,consagra a mais ampla reforma no domínio anti-trust realizada desde 1962. Com efeito, o Regula-mento n.o 1/2003 vem substituir regras processu-ais de há 40 anos, consagradas no Regulamenton.o 17, que regem a aplicação das disposições doTratado relativas aos acordos entre empresas querestringem a concorrência (artigo 81.o do TratadoCE) e em caso de abuso de posição dominante (ar-tigo 82.o do Tratado CE). As novas regras serãoaplicáveis a partir de 1 de Maio de 2004, data doalargamento da União Europeia aos 10 novosEstados-Membros.

16. Sem alterar o conteúdo fundamental dos arti-gos 81.o e 82.o do Tratado CE, a reforma simplifi-cará de forma significativa a aplicação das regrasantitrust do Tratado em toda a União Europeia.Ao mesmo tempo que reduz os encargos para asempresas, ao abolir o sistema de notificação paraos acordos entre empresas, o novo regulamentopermitirá uma aplicação mais firme da legislaçãoantitrust através de uma partilha mais correcta emais eficaz das tarefas de aplicação entre a Co-missão e as Autoridades Nacionais de Concorrên-cia (ANC). Permitirá que tanto a Comissão comoessas autoridades centrem os seus recursos naluta contra as restrições e abusos mais prejudici-ais para a concorrência e para os consumidores.

17. Os principais aspectos da reforma são os se-guintes:

1. A passagem de um sistema de autorização, porforça do qual todos os acordos têm de ser notifi-cados à Comissão para efeitos de aprovação, paraum sistema de excepção legal.

A manutenção do sistema de notificação apósdécadas de jurisprudência do Tribunal de Justiça

¥1∂ JO C 119 de 22.5.2002, p. 22.

¥2∂ Regulamento do Conselho relativo à execução das regras de con-corrência estabelecidas nos artigos 81.o e 82.o do Tratado, JO L 1de 4.1.2003, p. 1.

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I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADASE ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE — ARTIGOS 81.O E 82.O;

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e de prática da Comissão em matéria de aplicaçãodos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE tradu-zir-se-ia num prolongamento injustificado deburocracia e de custos desnecessários para asempresas. Também na perspectiva do alarga-mento, considerou-se que o sistema de notifica-ção tinha deixado de ser exequível. A reformaatribui, assim, uma maior responsabilidade àsempresas que deverão apreciar elas próprias se osseus acordos restringem a concorrência e, emcaso afirmativo, se tais restrições podem benefi-ciar de uma isenção nas condições previstas non.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE. É obvio que noscasos de verdadeira incerteza devido ao facto deapresentarem questões novas e não resolvidas noque se refere à aplicação das regras de concorrên-cia CE, as empresas poderão pretender obter orien-tações informais da Comissão. Esta última poderánesse caso decidir emitir um parecer escrito.

2. Aplicabilidade directa do n.o 3 do artigo 81.o doTratado CE

O facto de se pôr termo à competência exclusivada Comissão para conceder isenções ao abrigo don.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE, permite que aComissão, as Autoridades Nacionais de Concor-rência e os tribunais nacionais apliquem, em con-junto, as regras em matéria de práticas restritivas.Todas as autoridades de concorrência envolvidascooperarão estreitamente na aplicação das regrasantitrust. Uma vez que o tratamento de um ele-vado número de processos individuais contribuiupara o estabelecimento de uma jurisprudência doTribunal de Justiça e de uma prática da Comissãorelativamente aos critérios de isenção previstosno n.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE, a ComissãoEuropeia, as Autoridades Nacionais de Concor-rência e os tribunais nacionais poderão recorrer aesta jurisprudência para determinar as condiçõesem que tais disposições podem ser aplicadas. Porforma a prestar assistência às Autoridades Nacio-nais de Concorrência e aos tribunais nacionaisnesta matéria, a Comissão tenciona igualmentepublicar uma comunicação relativa à aplicação don.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE, que contem-plará os principais aspectos do acervo relevante.

A aplicação das regras de concorrência comuni-tárias pelos tribunais nacionais será também faci-litada através da possibilidade alargada de estestribunais solicitarem informações à Comissão ouo seu parecer no que se refere a questões relativasà aplicação destas regras. Tanto a Comissão comoas Autoridades Nacionais de Concorrência terãotambém a possibilidade de apresentar comunica-

ções amicus curiae aos tribunais nacionais queaplicam os artigos 81.o ou 82.o do Tratado CE.

3. A Rede Europeia da Concorrência

A Comissão e as autoridades de concorrência dosEstados-Membros criarão uma rede de autorida-des de concorrência, denominada Rede Europeiada Concorrência (REC), que constituirá um ele-mento fulcral do novo sistema de aplicação dalegislação. Permitirá a consulta, a cooperação e ointercâmbio de informações entre as autoridadesde concorrência europeias, no que se refere àaplicação dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE.Estas acções estão previstas em qualquer fase doprocesso de tomada de decisão, desde o momentoda atribuição do caso a uma autoridade de con-corrência até à tomada da decisão final. Enquantoguardiã do Tratado, a Comissão será em últimaanálise responsável, no âmbito da rede, porgarantir uma aplicação coerente das regras deconcorrência comunitárias. As modalidades decooperação entre a Comissão e as AutoridadesNacionais de Concorrência estão estabelecidasna declaração conjunta do Conselho e da Comis-são sobre o funcionamento da rede de autoridadesde concorrência, em anexo ao novo Regulamento.

4. Relação entre os artigos 81.o e 82.o do TratadoCE e as legislações nacionais de concorrência

Embora as Autoridades Nacionais de Concorrên-cia e os tribunais nacionais possam continuar aaplicar as regras nacionais de concorrência aosacordos, decisões de associações de empresas oupráticas concertadas susceptíveis de afectar ocomércio entre Estados-Membros, são obrigadosa aplicar simultaneamente o artigo 81.o ou 82.o doTratado CE, não podendo a aplicação das regrasnacionais de concorrência levar a um resultadodiferente do obtido mediante a aplicação doartigo 81.o do Tratado CE. A consequente conver-gência das regras aplicáveis às operações que sãoabrangidas pelo artigo 81.o do Tratado CE, ouseja, uma situação de igualdade de tratamento,facilitará a actividade comercial na Europa e éfundamental em termos de realização do mercadointerno e de uma aplicação coerente da legislaçãocomunitária da concorrência quando a Comissãotiver abandonado o seu monopólio de concessãode isenções, ao abrigo do n.o 3 do artigo 81.o doTratado CE.

5. Poderes de investigação alargados da Comissão

Por forma a manter o papel central da Comissãoenquanto responsável pela aplicação das regras

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de concorrência comunitárias da forma maiseficaz possível, os seus poderes de investigaçãoforam alargados. Este alargamento traduz-se,nomeadamente, na possibilidade de a Comissãoentrevistar qualquer pessoa que possa estar naposse de informações úteis no âmbito de umainvestigação específica e na possibilidade de aporselos pelo período necessário à inspecção. AComissão poderá também aceder a todas as insta-lações onde se encontrem registos da empresa,incluindo residências privadas. A Comissão ape-nas pode aceder a residências privadas se existiruma suspeita razoável de que encontrará nessasinstalações informações incriminatórias e apósautorização do tribunal nacional. Esta autoriza-ção dependerá, nomeadamente, da proporcionali-dade da busca domiciliária relativamente à gravi-dade da infracção presumida e da importância dasprovas procuradas.

3. Revisão da política da Comissão em matéria de não aplicação ou redução de coimas

18. Em 13 de Fevereiro, a Comissão adoptouuma nova política em matéria de não aplicação ouredução de coimas que prevê maiores incentivospara que as empresas denunciem uma das maisgraves violações das regras antitrust. A nova po-lítica não só aumenta a segurança jurídica propor-cionada às empresas que pretendem cooperar,mas melhora igualmente a transparência e a pre-visibilidade globais da prática da Comissão nestecontexto. Desta forma, a «Comunicação da Co-missão relativa à imunidade em matéria de coi-mas e à redução do seu montante nos processosrelativos a cartéis» (1) de 2002, constitui um novopasso importante para detectar e eliminar os acor-dos de fixação de preços e outros cartéis graves.As novas regras actualizam a anterior Comunica-ção de 1996 relativa à não aplicação ou reduçãode coimas e aplicam-se aos denominados cartéishorizontais clássicos (2).

19. Nos termos da Comunicação de 2002, a Co-missão concederá imunidade em matéria de coi-mas à primeira empresa a fornecer elementos deprova de um cartel de que a Comissão não tivesse

conhecimento ou que a Comissão não pudessecomprovar. De forma mais específica, é conce-dida imunidade completa nos seguintes casos:

— a empresa seja a primeira a fornecer elemen-tos de prova que, na opinião da Comissão, lhepossam permitir adoptar uma decisão no sen-tido de efectuar uma investigação na acepçãodo n.o 3 do artigo 14.o do Regulamento n.o 17(ou dos regulamentos processuais equivalen-tes no que se refere a sectores específicos) re-lativamente a um cartel alegado que afecte aComunidade; ou

— a empresa seja a primeira a fornecer elemen-tos de prova que, na opinião da Comissão, lhepermitam verificar a existência de uma in-fracção ao artigo 81.o do Tratado CE, relativa-mente a um cartel alegado que afecte a Comu-nidade, nos casos em que a Comissão dispõejá de informações suficientes para levar a cabouma inspecção mas não para verificar a exis-tência da infracção. Este tipo de imunidade sópode ser concedido se não tiver sido conce-dida a qualquer outro membro do cartel «imu-nidade condicional» (ver ponto 21 infra) nascondições previstas no primeiro travessão.

20. Por forma a obter uma imunidade completa,a empresa deve igualmente:

— cooperar plenamente e de forma permanentecom a Comissão e fornecer-lhe todos os ele-mentos de prova na sua posse;

— pôr imediatamente termo à infracção; e

— não ter exercido qualquer coacção sobre outrasempresas no sentido de participarem no cartel.

21. Uma empresa que preencha as condições re-sumidas no ponto 19 supra receberá imediata-mente uma carta da Comissão confirmando quelhe será concedida imunidade completa, se foremobservadas as condições previstas na Comunica-ção.

22. A Comunicação de 2002 prevê igualmenteuma redução das coimas para as empresas quenão podem beneficiar de imunidade mas que for-neçam elementos de prova que apresentem «umvalor acrescentado significativo» relativamenteaos elementos de prova de que a Comissão já dis-põe e que ponham termo à sua participação nocartel. A primeira empresa que preencha estascondições beneficia de uma redução de 30-50%da coima que lhe seria de outra forma aplicada. Asegunda empresa que preencha as condições be-

¥1∂ JO C 45 de 19.2.2002; ver igualmentehttp://europa.eu.int/comm/competition/antitrust/leniency.

¥2∂ Por oposição aos casos em que a fixação ilícita de preços ocorreentre empresas que mantêm uma relação vertical, ou seja, entreintervenientes de níveis diferentes da cadeia de produção e/ou dis-tribuição, por exemplo entre um produtor e os seus distribuidores.

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neficiará de uma redução de 20-30% e as restan-tes empresas de uma redução até 20%. Dentro decada um destes intervalos de variação, o mon-tante final de qualquer redução dependerá do mo-mento e da qualidade dos elementos de prova for-necidos.

23. As empresas que beneficiam de uma reduçãodas coimas receberão igualmente uma carta queindica o intervalo de variação que, em princípio,lhes será aplicado. Esta carta será enviada, o maistardar, na data de notificação da comunicação deobjecções.

24. A Comunicação de 2002 entrou em vigor em14 de Fevereiro e aplica-se às empresas que soli-citem a não aplicação ou redução de coimas numprocesso de cartel após essa data, salvo se umaoutra empresa estiver já a cooperar com a Comis-são numa investigação do mesmo cartel nos ter-mos da Comunicação de 1996.

4. Revisão do regulamento de isenção por categoria dos veículos a motor

25. Em Julho, a Comissão adoptou o Regula-mento n.o 1400/2002 relativo à aplicação do n.o 3do artigo 81.o do Tratado a certas categorias deacordos verticais e práticas concertadas no sectorautomóvel. Embora este Regulamento diga res-peito a problemas sectoriais específicos, ba-seia-se na política geral da Comissão em matériade apreciação das restrições verticais, tal comoprevista no Regulamento n.o 2790/1999 e nas cor-respondentes orientações da Comissão. Na sec-ção C.6 são apresentados, de forma pormenori-zada, os elementos das novas regras aplicáveis àdistribuição vertical no sector automóvel.

B — Aplicação dos artigos 81.o, 82.o e 86.o

1. Artigo 81.o

1.1. Cartéis

1.1.1. Evolução da actividade de aplicação da legislação anticartel e da Comunicação de 2002 sobre a não aplicação ou redução de coimas

26. Os cartéis graves contam-se entre as viola-ções mais sérias das regras de concorrência. O

que os distingue de todas as outras práticas anti-concorrenciais é o facto de consistirem em acor-dos secretos ou práticas concertadas entre con-correntes, característica que leva a considerá-loscomo «pecados mortais». Os cartéis são particu-larmente prejudiciais para a indústria e os consu-midores europeus. Diminuem o bem-estar social,geram ineficácias em termos de afectação de re-cursos e transferem a riqueza dos consumidorespara os participantes no cartel, ao alterarem a pro-dução e os preços em relação aos níveis que de-corriam do funcionamento do mercado. Os car-téis também são prejudiciais a longo prazo. Aparticipação em cartéis para evitar o rigor da con-corrência pode resultar na criação de estruturasartificiais, economicamente inadaptadas e instá-veis para a indústria, na perda de ganhos de pro-dutividade ou numa redução dos avanços tecno-lógicos, bem como no aumento sustentado dospreços. Além disso, o enfraquecimento da con-corrência conduz a uma perda de competitividadee põe em risco oportunidades de emprego susten-táveis.

27. Por todos estes motivos, a detecção, a instru-ção e a sanção dos mais graves acordos secretosde cartel constitui um dos elementos centrais dapolítica de concorrência da Comissão. Para oefeito, foi criada uma vasta panóplia de instru-mentos.

28. A Comissão tem vindo a consagrar recursosespecificamente designados para a luta contra oscartéis desde 1998, com a criação de uma unidadeespecial anticartel no âmbito da DG Concorrên-cia. A decisão de criar uma unidade especial foisuscitada pelo facto de os membros dos cartéisutilizarem instrumentos cada vez mais sofistica-dos que lhes permitem ocultar as suas actividadessem deixar traços.

29. Em 2002, este aumento gradual dos recursosculminou com a criação de uma segunda unidadeno domínio dos cartéis. Estas duas novas unidadestêm vindo a beneficiar da introdução de uma me-todologia de gestão mais flexível e eficiente. Utili-zam as tecnologias de informação mais avançadasdesenvolvidas internamente, para a realização dasinspecções e para o tratamento de documentos. Osfuncionários são formados especificamente emtécnicas de investigação e são também especiali-zados nos aspectos processuais complexos de pro-cessos contenciosos de grande envergadura.

30. A prioridade consagrada, em 2001, à lutacontra os cartéis e ao tratamento dos processos

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deste tipo manteve-se e intensificou-se mesmoem 2002. O aumento do número de casos tratadosfoi superior, em termos proporcionais, aos recur-sos adicionais disponibilizados para esta activi-dade durante este período.

31. Após 2001, o ano de 2002 foi novamente umano ímpar em termos de decisões no domínio doscartéis. A Comissão adoptou 9 decisões em queforam aplicadas coimas num total de cerca de milmilhões de euros: «Bancos austríacos», «Metio-nina» «Gases industriais e medicinais», «Leiloei-ras de arte», «Placas de estuque», «Metilgluca-mina», «Varões para betão», «Grafites especiais»e «Intensificadores de sabor».

32. O número de inspecções surpresa aumentoutambém de forma considerável, tendo a Comis-são efectuado a sua maior inspecção de sempre.Este aumento resulta do facto de a Comissão teratribuído a máxima prioridade à eliminação dasactividades ilícitas dos cartéis e a fazê-lo rapida-mente. Neste contexto, deverá realçar-se que,quando toma conhecimento de um cartel ilegal, operíodo de reacção é extremamente curto, situ-ando-se entre quatro e seis semanas. A experiên-cia até ao momento revela que, na sequência dainspecção, os cartéis normalmente se desmoro-nam e cessam as suas actividades ilegais.

33. Muito importante em termos políticos foi aadopção da nova comunicação relativa à não apli-cação ou redução de coimas de Fevereiro de2002 (1). Desde 1996, que a políti ca de não apli-cação ou redução de coimas da Comissão temconstituído uma das pedras angulares da políticaanticartel da Comissão. A nova Comunicaçãovem melhorar em diversos aspectos a Comunica-ção de 1996. Inclui diversas alterações destinadasa tornar mais atractivo para as empresas contacta-rem a Comissão, reforçando assim ainda mais aeficácia da luta contra os cartéis levada a cabopela Comissão. Os elementos principais da novaComunicação são os seguintes: em primeiro lu-gar, é concedida imunidade completa relativa-mente a coimas à primeira empresa que contactea Comissão; em segundo lugar, os elementos deprova fornecidos deverão ser suficientes para quea Comissão dê início a uma inspecção; em ter-ceiro lugar, a Comissão prevê apresentações hi-potéticas quando os elementos de prova apenasdevam ser apresentados numa segunda fase; emquarto lugar, o facto de as decisões relativas à

concessão de imunidade condicional serem to-madas no prazo de algumas semanas, proporci-ona, desde o início, segurança jurídica ao reque-rente; em quinto lugar, mesmo após a Comissãoter levado a cabo uma inspecção, continua a serpossível a obtenção de imunidade, em determina-das circunstâncias; em sexto lugar, caso a imuni-dade tenha já sido concedida, ou caso a Comissãodisponha já de elementos de prova suficientespara determinar a existência de uma infracção,continuam a ser possíveis reduções de coimas até50% para as empresas que apresentem um valoracrescentado significativo para o processo da Co-missão; em último lugar, mas igualmente impor-tante, com o objectivo de introduzir uma maiorcerteza relativamente às reduções, a Comissãotoma uma decisão preliminar sobre o intervalo devariação das reduções a aplicar, o mais rapida-mente possível após a apresentação do pedido.

34. O facto de a nova Comunicação ter condu-zido, nos primeiros dez meses do seu funciona-mento, à detecção de cerca de dez cartéis diferen-tes na Europa, constitui um indício claro da suaeficácia. Mas os seus efeitos são mais vastos. Oreceio de que um membro do cartel possa contac-tar as autoridades e obter imunidade, tende, nageneralidade, a desestabilizar a actividade do car-tel. Nesta base, é provável que a aplicação da Co-municação de 2002 venha não só a garantir a de-tecção e a sanção de um número mais elevado decartéis no futuro, mas também a perturbar, deforma significativa, a estabilidade dos cartéisainda existentes.

35. Durante 2002, a Comissão teve oportunidadede salientar outro elemento dissuasivo no que serefere à participação das empresas em activida-des de cartel e que consiste no aumento das coi-mas em caso de infracções repetidas às regras deconcorrência. A decisão «Placas de estuque»constitui um exemplo desta abordagem. Nesteprocesso, duas empresas que tinham anterior-mente cometido uma infracção semelhante, rela-tivamente à qual lhes tinha sido aplicada umacoima, foram sujeitas a coimas mais elevadas de-vido a reincidência. Neste contexto, e em ligaçãocom o programa relativo à não aplicação ou redu-ção de coimas, deverá realçar-se, contudo, quemesmo as empresas reincidentes podem benefi-ciar da Comunicação relativa à não aplicação ouredução de coimas se optarem por cooperar coma Comissão.

36. O efeito dissuasivo é também o objectivosubjacente nos casos em que a Comissão aplica¥1∂ JO C 45 de 19.2.2002, p. 3 a 5.

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coimas ou sanções mais elevadas por forma acontrariar as práticas de obstrução e recusa decooperação por parte das empresas durante asinspecções. Em resposta a certas práticas de obs-trução e não cooperação que ocorreram principal-mente em 2002, a Comissão tomará as medidasnecessárias para garantir o cumprimento das re-gras de concorrência, em especial no que se re-fere às inspecções.

37. Em contrapartida, futuramente, a Comissãonão considerará, nos termos das Orientações parao cálculo das coimas, como circunstância agra-vante, na determinação do montante de uma san-ção pecuniária a aplicar a uma empresa, o factode os juristas internos da empresa terem avisado adirecção da ilegalidade da conduta objecto da de-cisão da Comissão. Todavia, tal comunicaçãopode ser utilizada para provar a existência de umainfracção.

38. Por último, em 2002, manteve-se um elevadonível de cooperação internacional. Foram especi-almente bem sucedidas as actividades de coorde-nação de investigações e de intercâmbio de infor-mações não confidenciais com as autoridadesanticartel dos Estados Unidos e do Canadá. Alémdisso, a Comissão participou em três processoscivis norte-americanos que suscitavam questõesno que se refere ao impacto dos procedimentos deinvestigação dos Estados Unidos sobre a políticada Comissão em matéria de redução ou não apli-cação de coimas.

1.1.2. Processos individuais em 2002

Bancos austríacos (1)

39. Em 11 de Junho, a Comissão aplicou coimasnum total de 124,26 milhões de euros a oitobancos austríacos devido à sua participação numamplo cartel de preços. Para mais informações,deverá ser consultado o capítulo relativos aos ser-viços financeiros (2).

Metionina (3)

40. Em 2 de Julho, a Comissão aplicou coimas àDegussa AG e à Nippon Soda Company Ltd, res-pectivamente, de 118 milhões e 9 milhões de eu-ros, devido à sua participação num cartel de fixa-

ção de preços no sector da metionina, juntamentecom a Aventis SA (com a sua filial a 100%, Aven-tis Animal Nutrition SA). A metionina é um dosmais importantes amino-ácidos utilizados em ali-mentos compostos e pré-misturas para animais detodas as espécies. Na sequência de uma investiga-ção iniciada em 1999, a Comissão verificou queestas empresas participaram num cartel mundialentre Fevereiro de 1986 e Fevereiro de 1999.

41. A Aventis SA (anteriormente Rhône-Pou-lenc) beneficiou de imunidade completa relativa-mente a coimas nos termos da Comunicação daComissão relativa à não aplicação ou redução decoimas, uma vez que revelou a existência do car-tel à Comissão e forneceu elementos de prova de-cisivos relativos ao seu modo de funcionamento.

Gases industriais e medicinais (4)

42. Em 24 de Julho de 2002, a Comissão aplicoucoimas à AGA AB, à Air Liquide BV, à Air Pro-ducts Nederland BV, à BOC Group plc, à MesserNederland BV, à NV Hoek Loos e à WestfalenGassen Nederland NV, num total de 25,72 mi-lhões de euros, devido à sua participação numcartel secreto no sector dos gases industriais emedicinais nos Países Baixos.

Carlsberg e Heineken (5)

43. Em 4 de Novembro, a Comissão encerrou asua investigação relativa a um alegado acordo departilha de mercado entre a cervejeira dinamar-quesa Carlsberg e a cervejeira neerlandesa Hei-neken, uma vez que não encontrou elementos quecomprovassem a prossecução da infracção presu-mida após Maio de 1995. Qualquer eventual in-fracção seria abrangida pelo prazo de prescriçãoem matéria de aplicação de coimas.

44. Em 1 de Março de 2002, a Comissão enviouuma comunicação de objecções à Carlsberg e àHeineken, alegando que as duas cervejeiras ti-nham concluído um acordo informal para limitaras suas actividades, em especial as suas activida-des de aquisição, nos respectivos «mercados na-cionais» durante o período compreendido entre1993 e 1996 (6). O processo da Comissão base-ava-se em documentos encontrados durante ins-

¥1∂ Processo Comp/D-1/36.571, IP/02/844 de 11.6.2002.¥2∂ Ver pontos 190 e seguintes.¥3∂ Processo COMP/37.519; IP/02/976 de 2.7.2002.

¥4∂ Processo COMP/36.700; JO L 84 de 1.4.2003.¥5∂ Processo COMP/F-3/37.851.¥6∂ IP/02/350 de 1.3.2002.

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pecções surpresa realizadas nas duas empresas naPrimavera de 2000.

45. As partes responderam por escrito à comuni-cação de objecções, rejeitando as alegações daComissão e realçando as dificuldades de entrar nomercado nacional uma da outra. A Carlsbergapresentou igualmente a sua defesa numa audi-ção oral. À luz dos argumentos apresentados pe-las partes, a Comissão decidiu completar a sua in-vestigação, realizando novas inspecções nosescritórios das duas cervejeiras em Agosto de2002. Contudo, destas inspecções não resultaramquaisquer novos elementos de prova que pudes-sem não ser abrangidos pelo prazo de prescriçãode cinco anos em matéria de aplicação de coi-mas (1). Neste sentido, a Comissão decidiu encer-rar o processo (2).

Leiloeiras de arte (3)

46. Numa decisão adoptada em 30 de Outubro, aComissão concluiu que a Christie’s e a Sotheby’s,as duas principais leiloeiras mundiais de arte, co-meteram uma infracção às regras de concorrênciacomunitárias ao realizarem uma colusão para fi-xar as comissões e outras condições comerciaisentre 1993 e o início de 2000. O objectivo doacordo de cartel consistia em reduzir a concorrên-cia entre as duas mais importantes leiloeiras, quese tinha vindo a desenvolver durante a década deoitenta e início da década de noventa. Se o as-pecto mais importante do acordo consistia no au-mento da comissão paga pelos vendedores à lei-loeira (denominada comissão do vendedor), oacordo colusivo dizia igualmente respeito a ou-tras condições comerciais, tais como os adianta-mentos pagos aos vendedores, as garantias dadasrelativamente aos resultados do leilão e as condi-ções de pagamento.

47. Aplicando a Comunicação relativa à nãoaplicação ou redução de coimas de 1996, a Co-missão considerou que a Christie’s devia benefi-ciar de uma imunidade completa, uma vez queforneceu provas decisivas do cartel numa alturaem que a Comissão não tinha dado início à inves-

tigação e visto ter sido a primeira empresa a apre-sentar tais elementos de prova. A coima aplicadaà Sotheby’s foi fixada em 20,4 milhões de euros,ou seja, 6% do seu volume de negócios mundial.O montante inclui uma redução de 40% devido àsua cooperação na investigação.

Metilglucamina (4)

48. Em 27 de Novembro, a Comissão aplicouuma coima à Aventis Pharma SA e à Rhône-Pou-lenc Biochemie SA (solidariamente responsá-veis), no montante de 2,85 milhões de euros, de-vido à sua participação num cartel de fixação depreços e de partilha de mercado no sector da me-tilglucamina, juntamente com a Merck KgaA. Ametilglucamina é um produto químico utilizadopara a síntese de meios de raio-x, produtos farma-cêuticos e corantes. A Comissão concluiu que es-tas empresas participaram num cartel mundialentre Novembro de 1990 e Dezembro de 1999.

49. A Merck KgaA beneficiou de imunidadecompleta relativamente a coimas nos termos daComunicação da Comissão relativa à não aplica-ção ou à redução de coimas, uma vez que revelouà Comissão a existência do cartel e forneceu ele-mentos de prova decisivos relativamente ao seumodo de funcionamento.

Placas de estuque (5)

50. Em 27 de Novembro, a Comissão adoptouuma decisão em que aplicou coimas num mon-tante total de 478 milhões de euros à SociétéLafarge SA, à BPB PLC, à Gebrüder KnaufWestdeutsche Gipswerke KG e à Gyproc Bene-lux SA/NV. A Comissão considerou o comporta-mento destas empresas como uma infracçãomuito grave ao direito europeu da concorrência.A investigação da Comissão, iniciada oficiosa-mente, permitiu estabelecer que os principaisprodutores europeus de placas de estuque tinhamparticipado num cartel clandestino que abrangiaos quatro principais mercados da União Europeia(Alemanha, Reino Unido, França e Benelux),através do qual se concertaram para reduzir aconcorrência nestes mercados em função dosseus interesses e trocaram informações sobre osvolumes de vendas e os aumentos de preços nosmercados britânico e alemão. O valor dos merca-dos em questão é um dos mais elevados que foi

¥1∂ Regulamento (CEE) n.o 2988/74 do Conselho, de 26 de Novem-bro de 1974, relativo à prescrição quanto a procedimentos e exe-cução de sanções no domínio do direito dos transportes e daconcorrência da Comunidade Económica Europeia (JO L 319 de29.11.1974, p. 1). Neste caso, o prazo de prescrição começou acorrer em Maio de 1995, ou seja, cinco anos antes da data daprimeira inspecção realizada pela Comissão nas instalações daCarlsberg.

¥2∂ IP/02/1603 de 4.11.2002.¥3∂ Processo COMP/37.784.

¥4∂ Processo COMP/37.978; IP/02/1746 de 27.11.2002.¥5∂ Processo COMP/37.152.

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objecto de uma decisão da Comissão em matériade cartéis desde há cerca de dez anos. A BPB, aKnauf e a Lafarge participaram no acordo entre1992 e 1998 e a Gyproc associou-se a estas em-presas em 1996.

51. O elevado montante das coimas justifica-sepela duração da infracção e, no que se refere àLafarge (249,60 milhões de euros) e à BPB(138,60 milhões de euros), pelo facto de estasempresas serem reincidentes numa infracção aoartigo 81.o, o que constitui uma circunstânciaagravante. Apenas a BPB e a Gyproc colabora-ram com os serviços da Comissão, tendo benefi-ciado a este título de uma redução da coima quelhes foi aplicada.

52. Esta decisão constitui uma nova prova da de-terminação da Comissão para detectar e sancio-nar as infracções ao direito da concorrência, queratravés de investigações iniciadas oficiosamente,quer com base num pedido de aplicação da suapolítica em matéria de não aplicação ou reduçãode coimas. Na sua luta contra os cartéis, a Comis-são consagra prioridade aos sectores importantesda economia europeia e, nomeadamente, aos sec-tores em que a sua acção é directamente susceptí-vel de melhorar o bem-estar dos consumidores.Por outro lado, esta decisão confirma a determi-nação da Comissão em punir de forma adequadaas empresas reincidentes em comportamentosnotoriamente anti-concorrenciais, aumentandoneste caso o montante da coima aplicada.

Intensificadores de sabor (1)

53. Em 17 de Dezembro de 2002, a Comissãoaplicou coimas à Ajinomoto Co. Inc. (Japão), àCheil Jedang Corporation (Coreia do Sul), à Dae-sang Corporation (Coreia do Sul), respectiva-mente, de 15,54 milhões de euros, 2,74 milhõesde euros e 2,28 milhões de euros, devido à suaparticipação num cartel de fixação de preços e derepartição de clientes no domínio dos nucleóti-dos, juntamente com a Takeda Chemical Indus-tries Ltd (Japão). Os nucleótidos ou ácidos nu-cleicos são formados por glicose e são utilizadosna indústria alimentar para intensificar o sabordas preparações alimentares. Na sequência deuma investigação iniciada em 1999, a Comissãoconcluiu que estas empresas participaram numcartel mundial entre 1988 e 1998.

54. No que se refere à Comunicação relativa ànão aplicação ou redução de coimas, será impor-tante realçar que a Takeda Chemical IndustriesLtd (Japão) beneficiou de imunidade completarelativamente a coimas porque forneceu elemen-tos de prova decisivos relativos ao funcionamentodo cartel numa altura em que a Comissão delenão tinha conhecimento.

Grafites especiais (2)

55. Em 17 de Dezembro, a Comissão aplicoucoimas à SGL Carbon AG, à Le Carbone-Lor-raine S.A., à Ibiden Co., Ltd., à Tokai Carbon Co.,Ltd, à Toyo Tanso Co., Ltd., à NSCC Techno Car-bon Co., Ltd., à Nippon Steel Chemical Co., Ltd.,à Intech EDM B.V. e à Intech EDM AG, num totalde 51,8 milhões de euros, devido à sua participa-ção num cartel de fixação de preços no mercadodas grafites especiais isostáticas (3). Além disso,foi aplicada à SGL Carbon AG uma coima de8,81 milhões de euros, devido à sua participaçãonuma outra colusão em matéria de fixação de pre-ços, que afectou o mercado das grafites especiaisextrudidas. A GrafTech International, Ltd. (ante-riormente UCAR), que também foi consideradaresponsável por ambas as infracções, beneficioude uma redução de 100% das coimas, uma vezque revelou a existência do cartel à Comissão eforneceu elementos de prova decisivos sobre oseu modo de funcionamento.

Varões para betão (4)

56. Em 17 de Dezembro, a Comissão adoptouuma decisão em que aplicou coimas num mon-tante total de 85 milhões de euros a nove empre-sas, correspondentes a onze sociedades (Alfa Ac-ciai SpA, Feralpi Siderurgica SpA, Ferriere NordSpA, IRO Industrie Riunite Odolesi SpA, LealiSpA e Acciaierie e Ferriere Leali Luigi SpA emliquidação, Lucchini SpA e Siderpotenza SpA,Riva Acciaio SpA, Valsabbia Investimenti SpA eFerriera Valsabbia SpA) e a uma associação de em-presas (Federacciai) devido à sua participaçãonum cartel que abrangeu o mercado italiano dosvarões para betão. Trata-se de uma violação muitograve ao n.o 1 do artigo 65.o do Tratado CECA.

¥1∂ Processo COMP/37.671; IP/02/1907 de 17.12.2002.

¥2∂ Processo COMP/37.667; IP/02/1906 de 17.12.2002.¥3∂ «Grafites especiais» é a expressão geral, utilizada correntemente

no sector, para descrever um grupo de produtos de grafite desti-nado a diversas aplicações.

¥4∂ Processo COMP/37.956.

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57. Este acordo único, complexo e contínuo arti-culava-se em torno de diversos vectores: a fixaçãode preços para os «tamanhos extra» (suplementode preço, em função do diâmetro do varão parabetão, que se vem acrescentar ao preço de base),a fixação dos preços de base, a fixação dos prazosde pagamento e a limitação ou controlo da produ-ção e/ou das vendas.

58. Às empresas em questão foram aplicadascoimas de 26,9 milhões a 3,57 milhões de euros.A Comissão teve em consideração o facto de aRiva e a Lucchini serem grandes grupos com umvolume de negócios significativamente superiorao dos outros participantes no cartel.

59. Nos termos da jurisprudência Eurofer (1), aFederacciai é destinatária da decisão da Comis-são mesmo se não lhe foi aplicada qualquercoima. A Ferriere Nord era reincidente na infrac-ção, o que constitui uma circunstância agravante;simultaneamente, foi a única a colaborar com osserviços da Comissão, tendo consequentementesolicitado uma redução da coima, tal como pre-visto na Comunicação sobre a não aplicação ouredução das coimas.

60. Neste processo, a Comissão aplicou as dispo-sições do Tratado CECA após o seu termo de vi-gência, nos termos da sua Comunicação de 26 deJunho de 2002 relativa a certos aspectos do trata-mento dos processos de concorrência decorrentesdo termo de vigência do Tratado CECA (2), naqual indicava sua intenção de seguir os princípiosgerais de direito em matéria de sucessão de leis.Segundo esta comunicação: «Se a Comissão iden-tificar, ao aplicar as regras comunitárias de con-corrência a acordos, uma infracção num domínioabrangido pelo Tratado CECA, o direito materialaplicável será, independentemente da data de apli-cação, o direito vigente no momento em que ocor-reram os factos constitutivos da infracção. Dequalquer forma, no que se refere aos aspectos pro-cessuais, a legislação aplicável após o termo de vi-gência do Tratado CECA será a legislação CE».

1.2. Acordos verticais

Nintendo (3)

61. Em 30 Outubro de 2002, a Comissão aplicoucoimas num total de 167,9 milhões de euros à

Nintendo Corporation Ltd e à Nintendo of Eu-rope GmbH (a última empresa-mãe do grupoNintendo e a sua principal filial europeia), à JohnMenzies plc, à Soc. Rep. Concentra LDA, à LineaGIG S.p.A, à Nortec S.A., à Bergsala A.B., à Ito-chu Corporation e à CD-Contact Data GmbH.

62. Na decisão, a Comissão concluiu que os des-tinatários tinham participado numa infracção aon.o 1 do artigo 81.o do Tratado CE e ao n.o 1 doartigo 53.o do Acordo EEE ao restringirem o co-mércio paralelo das consolas e cartuchos Nin-tendo em todo o EEE. Para além dos acordos for-mais de distribuição que restringiam asexportações paralelas, as partes colaboraram es-treitamente para detectar a origem do comércioparalelo e identificar os operadores paralelos.

63. A infracção foi orquestrada pela Nintendo,mas os restantes destinatários, distribuidores in-dependentes da Nintendo em diversos países doEEE, cooperaram activamente e, na maior partedos casos, voluntariamente, com a Nintendo naprossecução da infracção e beneficiaram damesma. Ao determinar as coimas a aplicar, as em-presas foram agrupadas em função do impactoefectivo sobre a concorrência do comportamentoilícito de cada uma, dadas as grandes disparida-des entre elas. Além disso, foi aplicado um factormultiplicador ao montante de base da coima esta-belecido para a Nintendo, a John Menzies plc e aItochu Corporation, por forma a garantir umefeito suficientemente dissuasivo tendo em contaa sua dimensão e recursos globais.

64. Diversas circunstâncias agravantes determi-navam aumentos nos montantes da coima: líder einstigador da infracção (Nintendo), prossecuçãoda infracção após o início da investigação pelaComissão (Nintendo e John Menzies plc) e tenta-tiva de induzir a Comissão em erro no que se re-fere ao verdadeiro âmbito da infracção forne-cendo informações incorrectas em resposta a umpedido formal de informações (John Menziesplc). A Comissão reconheceu igualmente a exis-tência de circunstâncias atenuantes no presentecaso: um papel puramente passivo (Soc. Rep.Concentra LDA) e cooperação efectiva com aComissão durante o procedimento administrativo(Nintendo, John Menzies plc).

65. Ao conceder reduções assinaláveis à Nin-tendo e à John Menzies plc, na sequência da suacooperação, a Comissão salientou a importânciaque atribui a esta cooperação mesmo quando setrata de infracções de carácter vertical relativa-

¥1∂ Acórdão de 11.3.1999 proferido no processo T-136/94.¥2∂ JO C 152 de 26.6.2002, p. 5.¥3∂ Processos COMP/C-3/35.587, COMP/C-3/35.706 e COMP/C-3/36.321.

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mente às quais a Comunicação relativa à não apli-cação ou redução de coimas não é aplicável. Porúltimo, foi tomado em consideração o facto de aNintendo ter oferecido uma compensação finan-ceira significativa aos terceiros que sofreram umprejuízo financeiro decorrente da infracção.

66. Tal como esta decisão salienta, as restrições aocomércio paralelo constituem uma infracçãomuito grave ao artigo 81.o do Tratado CE e serãoobjecto de instrução e sanção pela Comissão damesma forma que os cartéis horizontais clássicos.

2. Artigos 82.o e 86.o

2.1. Artigo 82.o

67. Embora não tenham sido adoptadas duranteo ano quaisquer decisões formais relativas a abu-sos de posições dominantes, a Comissão continuaa estar muito atenta aos efeitos perturbadores docomportamento abusivo por parte de empresasdominantes sobre a concorrência nos mercados.Diversos casos, tanto suscitados por denúnciascomo iniciados oficiosamente, estão actualmenteem investigação, no que se refere a uma grandevariedade de sectores, tais como as telecomunica-ções, os transportes e os meios de comunicaçãosocial (1).

IMS Health (2)

68. Durante 2002, registaram-se diversos desen-volvimentos neste processo, no âmbito do qual aComissão havia decidido aplicar medidas provi-sórias (3) à IMS Health em 3 de Julho de 2001.Esta decisão foi subsequentemente suspensa peloTribunal na pendência de uma apreciação finaldo recurso de anulação (4). Este último processoestá suspenso na pendência da resposta a um pe-dido de decisão prejudicial (5) do Landgericht deFrancoforte sobre questões relacionadas com adecisão da Comissão.

69. Embora a Comissão tenha prosseguido a suaapreciação da conduta da IMS no processo prin-cipal em 2002, os tribunais alemães proferiramdiversas decisões relevantes para os direitos depropriedade intelectual da IMS sobre a estruturade 1 860 módulos (6). A decisão da Comissãotinha-se baseado na premissa de que a estruturae seus derivados estavam cobertos por um direitode autor (7). A decisão mais recente, proferidapelo Oberlandesgericht de Frankfurt, em 17 deSetembro, no processo IMS/Pharma Intranet(PI) (8), considerava que a IMS não estava quali-ficada para agir ao abrigo da legislação relativaaos direitos de autor, no que se refere a um direitode autor ou a um direito sui generis, mas podia re-querer uma ordem de cessação em relação à in-fracção da IP à legislação da concorrência alemã.Contudo, o tribunal considerou que este últimodireito não permitia que a IMS monopolizasse to-das as estruturas semelhantes ou derivadas da es-trutura de 1 860 módulos. A Comissão continuaráa acompanhar os processos que correm nos tribu-nais nacionais, por forma a decidir das medidas aadoptar no processo principal.

2.2. Artigo 86.o

70. No seu acórdão max.mobil, proferido em30.1.2002 no processo T-54/99, o Tribunal de Pri-meira Instância tinha de decidir sobre o recursode anulação interposto, nos termos do artigo 230.o

do Tratado CE, pelo segundo operador de tele-fone móvel austríaco max.mobil. Este recurso ti-nha por objecto uma carta, através da qual a Co-missão tinha informado a max.mobil de que nãodaria seguimento a uma denúncia na qual se soli-citava que a Comissão interviesse contra a Áus-tria, com base no n.o 3 do artigo 86.o do TratadoCE, uma vez que a Áustria tinha alegadamentecometido uma infracção ao n.o 1 do artigo 86.o,em articulação com o artigo 82.o, no contexto dafixação dos encargos de concessão.

71. O n.o 3 do artigo 86.o do Tratado CE conferepoderes à Comissão para garantir a aplicação dosn.os 1 e 2 do artigo 86.o e, sempre que necessário,para adoptar as directivas ou decisões apropria-das destinadas aos Estados-Membros. Durantemuito tempo, os juízes comunitários confirma-

¥1∂ Para elementos mais pormenorizados ver as secções sectoriais dopresente relatório: secção I.C.4.3. sobre o transporte ferroviário,ponto 133; secção I.C.8. sobre a Sociedade da Informação,ponto 196.

¥2∂ Processo COMP/38.044 IMS Health/NDC.¥3∂ Decisão de 3.7.2001, JO L 59 de 28.2.2002 que ordenou que a IMS

concedesse licenças relativamente à sua «estrutura 1860 módulos»,que segmenta a Alemanha em 1 860 zonas de vendas.

¥4∂ Decisões de 26.10.2001 no processo T-184/01 R e de 11.4.2002no processo C-481/01 P(R).

¥5∂ Processo C-418/01.

¥6∂ Segmentação do território nacional em 1860 áreas geográficas, demódulos, para efeitos de agregação dos dados de vendas da indús-tria farmacêutica na Alemanha.

¥7∂ Decisão, ponto 36.¥8∂ A Pharma Intranet AG foi adquirida pela NDC em 16 de Outubro

de 2000.

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ram a opinião da Comissão, segundo a qual estapode decidir se utiliza e de que forma utiliza ospoderes que lhe são conferidos pelo n.o 3 do ar-tigo 86.o, sem estar limitada pela existência de de-núncias apresentadas por terceiros. Tal significaque, quando a Comissão não actuava na sequên-cia de uma denúncia apresentada por um particu-lar contra um Estado-Membro devido a umainfracção ao n.o 1 do artigo 86.o ou quando a Co-missão se recusava a actuar, essa pessoa não tinhao direito de interpor um recurso por omissão oude anulação, consoante o caso. Num acórdão de20 de Fevereiro de 1997 (1), embora tenha nova-mente rejeitado por inadmissibilidade o recursode anulação então interposto por um requerenterelativamente à recusa da Comissão de intervirnos termos do n.o 3 do artigo 86.o, o Tribunal deJustiça considerou que não se podia excluir que,em circunstâncias excepcionais, um particular ti-vesse direito a interpor um recurso deste tipo (2).

72. No acórdão max.mobil acima referido, o Tri-bunal de Primeira Instância desviou-se significa-tivamente da jurisprudência anterior. Defendeuque os particulares que apresentam uma denún-cia, nos termos do n.o 3 do artigo 86.o, tinham odireito a que a Comissão apreciasse a sua denún-cia de forma diligente e imparcial. Segundo o Tri-bunal de Primeira Instância, essa obrigação erapassível de um controlo judicial, o que signifi-cava que o autor da denúncia tinha direito, nostermos do artigo 230.o do Tratado CE, a interporum recurso de anulação contra um acto através doqual a Comissão se recusava a exercer os poderesque lhe são conferidos pelo n.o 3 do artigo 86.o

Fundamentalmente, o acórdão decidiu que o pa-pel dos juízes comunitários se limitava a contro-lar o acto da Comissão no que se refere a três pon-tos, ou seja: 1) se incluía uma fundamentaçãoprima facie coerente e que demonstrasse que ti-nham sido devidamente tomados em considera-ção os aspectos relevantes do caso; 2) se os factos

em que se baseava eram rigorosos em termos ma-teriais; e 3) se, prima facie, a apreciação dessesfactos não estava viciada por qualquer erro mani-festo.

73. Seguindo estes critérios ao considerar a cartada Comissão em questão, o Tribunal de PrimeiraInstância considerou infundado o pedido damax.mobil. Contudo, dado que este caso suscitouimportantes questões de princípio, a Comissãointerpôs recurso junto do Tribunal de Justiça,solicitando que o acórdão do Tribunal de Pri-meira Instância fosse anulado e que o recurso damax.mobil fosse considerado inadmissível (3).

C — Evolução sectorial da concorrência

1. Energia: liberalização dos sectores da electricidade e do gás

74. O ano de 2002 foi extremamente importantepara a liberalização dos mercados europeus daelectricidade e do gás. Foram alcançados pro-gressos significativos no sentido da adopção denova legislação (directiva relativa à realizaçãodos mercados internos do gás e da electricidade— a seguir designada «Directiva aceleração», re-gulamento relativo ao comércio transfronteirasde electricidade, bem como directiva sobre a se-gurança de fornecimento no sector do gás). Si-multaneamente, a Comissão concluíu diversosprocessos de concorrência extremamente impor-tantes relacionados com o sector da energia.

75. O acontecimento mais marcante deste anofoi o Conselho Energia de 25 de Novembro de2002, durante o qual os Estados-Membros daUnião Europeia chegaram a um acordo políticosobre a Directiva aceleração (4) (alterações da Di-rectiva 96/92/CE no que se refere à electricidadee da Directiva 98/930/CE no que se refere ao gás)e quanto ao regulamento relativo ao comérciotransfronteiras de electricidade. Este acordo polí-tico constitui um importante passo na via da libe-ralização da energia e, quando for formalmenteadoptado (previsto para o Verão de 2003), propor-cionará aos participantes no mercado a segurançajurídica necessária para desenvolverem as suas

¥1∂ Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias, 20.2.1997, Pro-cesso C-107/95 P Bilanzbuchhalter.

¥2∂ Com base no acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça no pro-cesso Bilanzbuchhalter, foi pela primeira vez considerado admis-sível pelo Tribunal de Primeira Instância, no seu acórdão TF 1(3.6.1999, processo T-17/96) um recurso por omissão interpostocontra a Comissão. O Tribunal de Primeira Instância decidiu queo requerente se encontrava numa situação excepcional. Contudo,uma vez que a Comissão adoptou uma posição antes da data doacórdão, não foi necessário tomar uma decisão quanto ao recursopor omissão. Tendo sido interposto recurso, o Tribunal de Justiça(12.7.2001, processos apensos C-302/99 e C-308/99 P) confirmouque uma vez que a Comissão tinha definido a sua posição e assimdesprovido o recurso por omissão do seu objecto, não era neces-sário que o Tribunal de Primeira Instância apreciasse a admissibi-lidade desse recurso.

¥3∂ Ver JO C 169 de 13.7.2002, p. 15.¥4∂ Documento do Conselho 14867/02 de 27.11.2002, no que se

refere ao gás, e documento do Conselho 14869/02 de 27.11.2002,no que se refere à electricidade.

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actividades comerciais no sector da energia nospróximos anos.

76. No que se refere à directiva aceleração, oselementos essenciais do compromisso político al-cançado entre os Estados-Membros da União Eu-ropeia em Novembro de 2002 podem ser resumi-dos da seguinte forma: 1) abertura de mercadopara todos os clientes não domésticos de gás eelectricidade a partir de 1 de Julho de 2004 epara todos os outros clientes — isto é, incluindoresidências privadas — a partir de 1 de Julhode 2007; 2) obrigações reforçadas de serviço uni-versal no sector da electricidade (garantia de for-necimento a preços razoáveis); 3) separação jurí-dica e funcional dos operadores das redes detransporte, a partir de 1 de Julho de 2004 (no quese refere aos operadores de sistemas de distribui-ção, separação funcional a partir de 1 de Julhode 2004 e separação jurídica a partir de 1 de Julhode 2007); 4) introdução de um regime regulamen-tado de acesso de terceiros para as redes de trans-porte e distribuição e para as instalações deGNL (1). No que se refere ao armazenamento, osEstados-Membros da União Europeia podem op-tar entre regimes de acesso de terceiros regula-mentados e negociados; 5) devem ser estabeleci-das entidades reguladoras que tenham pelomenos competência para fixar ou aprovar, antesda sua entrada em vigor, as metodologias a utili-zar para o cálculo das tarifas de acesso às redes;6) a Comissão poderá autorizar derrogações rela-tivamente às tarifas regulamentares no que se re-fere a importantes novas infra-estruturas de gás.

77. O regulamento relativo ao comércio trans-fronteiras de electricidade destina-se a fixar regrasjustas para o comércio transfronteiras de electrici-dade, melhorando assim a concorrência no mer-cado interno da electricidade. Os elementos essen-ciais do compromisso político alcançado entre osEstados-Membros da União Europeia podem serresumidos da seguinte forma: 1) estabelecimentode um mecanismo de compensação a favor dosoperadores de redes de transporte, no que se re-fere aos custos decorrentes do acolhimento dosfluxos de electricidade transfronteiras, sendo acompensação paga pelos operadores das redes detransporte nas quais os fluxos transfronteiras têmorigem e da rede de transmissão em que esses flu-xos terminam; 2) estabelecimento de princípiosharmonizados relativos aos encargos de trans-

porte transfronteiras, em especial a aplicação deencargos para a utilização da rede não discrimi-natórios, transparentes e não determinados emfunção da distância, embora sejam permitidossinais para reflectir o equilíbrio entre a produçãoe o consumo (2); 3) estabelecimento de regraspara maximizar a disponibilidade de capacidadede transporte; 4) estabelecimento de princípiospara fazer face ao congestionamento; 5) estabele-cimento de regras sobre a utilização das receitasprovenientes da gestão do congestionamento;6) participação das autoridades reguladoras emquestões tarifárias e de atribuição de capacidade;7) fixação de sanções pelos Estados-Membros emcaso de infracção e obrigação de apresentação deum relatório pelos Estados-Membros à Comis-são, que controla a aplicação do regulamento.

78. O acordo político alcançado pelos Esta-dos-Membros da União Europeia está na genera-lidade em conformidade com a proposta alteradada Comissão relativa à directiva aceleração e como regulamento relativo ao comércio transfrontei-ras no sector da electricidade, adoptado em Junhode 2002 (3). Esta proposta integrava os resultadosdo Conselho Europeu de Barcelona e as discus-sões nos grupos de trabalho do Conselho e to-mava em consideração diversas alterações adop-tadas pelo Parlamento Europeu durante a suaprimeira leitura do pacote legislativo. A Comis-são tinha contudo proposto uma data anteriorpara a plena liberalização do mercado.

79. Para além do pacote relativo ao mercado in-terno, a Comissão adoptou uma proposta de di-rectiva destinada a garantir a segurança do apro-visionamento em gás natural (4). Esta propostadestina-se a clarificar e definir as responsabilida-des dos operadores nos mercados europeus libe-ralizados do gás, no que se refere à segurança doaprovisionamento. Neste contexto, a propostaprevê, em primeiro lugar, que os Estados-Mem-bros introduzam determinadas normas mínimaspara o abastecimento dos consumidores ininter-ruptíveis, ou seja, capacidade e volume disponí-vel caso se verifiquem condições meteorológicasrigorosas ou no caso de perturbação grave doabastecimento. Contudo, estas regras não seaplicarão a empresas com pequenas quotas demercado.

¥1∂ GNL significa gás natural liquefeito.

¥2∂ Os denominados «sinais de localização».¥3∂ COM(2002) 304 final de 7.6.2002.¥4∂ COM(2002) 488 final de 11.9.2002.

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80. O projecto de directiva salienta igualmente aimportância dos contratos de fornecimento de gása longo prazo em termos da segurança europeia deaprovisionamento no sector do gás. Embora a pro-posta de directiva defenda que o actual nível decontratos de fornecimento de gás a longo prazo émais do que satisfatório a nível comunitário, in-troduz um mecanismo que permite o controlo des-tes contratos e a adopção de medidas adequadas,caso o nível dos contratos a longo prazo deixar deser considerado satisfatório. Neste contexto, serátambém importante salientar que se os contratosde fornecimento de gás a longo prazo não são,ipso facto, incompatíveis com a legislação comu-nitária de concorrência, a Comissão controlará setal incompatibilidade se verifica em casos indivi-duais. Na medida em que sejam necessárias restri-ções aos contratos de fornecimento de gás comobase para investimentos significativos, por exem-plo num novo campo de gás, a Comissão tomaráeste facto em consideração.

81. A adopção da legislação destinada a liberali-zar os mercados europeus da energia deve seracompanhada por uma aplicação rigorosa da le-gislação europeia em matéria de concorrência. Acontribuição da legislação europeia da concor-rência para o processo de liberalização viráprovavelmente a aumentar ao longo dos anos, àmedida que as disposições legislativas dos Esta-dos-Membros da União Europeia estabeleceremo enquadramento jurídico adequado para a intro-dução de uma concorrência efectiva nos merca-dos da energia. Neste contexto, cabe às autori-dades de concorrência europeias e nacionaisgarantir que as medidas estatais, que impedem acriação de um mercado comum da energia, nãosejam substituídas por medidas adoptadas pelosoperadores de mercado.

82. Face ao exercício de modernização que le-vará à descentralização da aplicação da legislaçãoeuropeia da concorrência, será necessária umacooperação estreita entre a Comissão e as autori-dades nacionais. Por forma a fixar as prioridadesadequadas, esta cooperação não se deverá limitaràs Autoridades Nacionais de Concorrência, de-vendo também abranger — na medida do possí-vel — as entidades reguladoras nacionais que têmum papel decisivo a desempenhar para concreti-zar na prática a política de liberalização.

83. A Comissão considera que os mercados daenergia estão ainda em muitos casos dominadospor líderes nacionais, o que exige uma aplicaçãoestrita das regras antitrust, que o processo de li-

beralização irá provavelmente conduzir a umamaior actividade no domínio das concentrações,o que implica uma aplicação rigorosa da legisla-ção em matéria de controlo destas operações, eque determinadas empresas do sector energéticopoderão tentar beneficiar de auxílios estatais paramelhorar a sua situação concorrencial nos merca-dos da energia liberalizados, o que exigirá umaaplicação rigorosa das regras em matéria de auxí-lios estatais.

84. No sector antitrust, a Comissão continua acentrar-se na concorrência a nível do fornecimentoe nas questões relativas às redes. A Comissão con-sidera que os acordos entre fornecedores podemreduzir artificialmente, para os clientes, as possibi-lidades de escolha e de mudarem de fornecedor.No que se refere ao acesso às redes, a Comissão éde opinião que, sem a introdução de um regime deacesso de terceiros efectivo, transparente e não dis-criminatório, os fornecedores alternativos não po-derão apresentar aos clientes ofertas competitivas.

85. No que se refere à concorrência a nível dosfornecimentos, o principal desenvolvimento veri-ficado em 2002 foi a resolução do processo ditoGFU (1). Este processo dizia respeito à comercia-lização conjunta de gás norueguês através de umcomité de negociação de gás (GFU). Era estecomité, e não cada empresa, que decidia quempodia adquirir o gás norueguês e a que preço. Oregime GFU tinha por efeito que os clientes euro-peus não podiam escolher entre os produtores degás noruegueses que, no total, representavam10% da procura europeia, mas apenas podiamtratar directamente com o GFU. A Comissão en-cerrou o processo após as empresas se teremcomprometido a comercializar o seu gás indivi-dualmente no futuro e após os dois mais impor-tantes operadores, a Statoil e a Norsk Hydro,terem adoptado determinadas medidas de acom-panhamento a favor dos novos clientes.

86. Um outro processo relacionado com a me-lhoria da estrutura de fornecimento é o processoSynergen (2). Dizia respeito à construção de umacentral eléctrica em Dublim, na Irlanda, pelo pro-dutor histórico de electricidade irlandês, a ESB, ea empresa de gás e petróleo norueguesa Statoil. AComissão chegou à conclusão de que os acordosda empresa comum entre a ESB e a Statoil elimi-navam a Statoil enquanto concorrente potencial do

¥1∂ Processo COMP/E-4/36.072, IP 02/1084 de 17.7.2002.¥2∂ Processo COMP/E-4/37.732, IP 02/792 de 31.5.2002.

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mercado irlandês da electricidade, um mercadoaltamente concentrado. Desta forma, decidiu au-torizar os acordos notificados apenas após as em-presas se terem comprometido a disponibilizarelectricidade através de leilões ou vendas directas.Estes volumes podem ser utilizados pelos novosparticipantes no mercado para criar uma base declientes ao construírem uma nova central eléctrica.

87. No que se refere à melhoria do regime deacesso à rede, a Comissão realizou diversas in-vestigações importantes que, na sua maioria, nãoestão ainda concluídas. Em 2002, a Comissão de-bruçou-se, em especial, sobre o funcionamentodo interconector de gás entre o Reino Unido e aBélgica (1). A Comissão concluiu esta investiga-ção, após ter determinado que as empresas emcausa tinham adoptado, ou iriam adoptar num fu-turo próximo, determinadas medidas no sentidode facilitar o acesso de terceiros a este gasodutoimportante que liga o Reino Unido e a Bélgica.

88. A actividade no domínio das concentraçõesno sector de energia prosseguiu em 2002, a nívelnacional e também comunitário. Contudo, a nívelcomunitário, a tendência observada sugere umaligeira diminuição do número de operações emcomparação com os anos anteriores. Existem, noentanto, certos indícios de que o actual processode liberalização no sector do gás pode levar a ummaior número de concentrações nesta área. Oprincipal domínio em que se realizaram concen-trações foi o da produção e fornecimento deelectricidade e o da actividade comercial. Não foirealizada em 2002 qualquer investigação apro-fundada relativamente a operações de concentra-ção no sector da electricidade.

89. No sector do gás, realizou-se em 2002 umaoperação de concentração de importância parti-cular. A Comissão Europeia autorizou, mediantecondições, a aquisição conjunta do grossista regi-onal de gás do Land Baden-Vurtemberga, GasVersorgung Süddeutschland (GVS) pela empresade electricidade alemã Energie Baden-Württem-berg AG (EnBW) e pela empresa de gás e petró-leo italiana ENI S.p.A (2). A operação, tal comoinicialmente notificada à Comissão, teria condu-zido ao reforço da posição dominante da GVS nomercado do gás regional por grosso, garantindouma parte substancial dos clientes da GVS, actu-almente controlados pela EnBW. Por forma a

dissipar estas preocupações de concorrência, aspartes comprometeram-se a conceder a possibili-dade de rescisão antecipada dos contratos a todosos distribuidores locais de gás que concluíramcontratos de fornecimento a longo prazo com aGVS ou outras filiais da empresa actualmentecontroladas pela EnBW.

90. O ano de 2002 foi igualmente marcante noque se refere ao controlo dos auxílios estatais nosector da energia. As investigações disseram prin-cipalmente respeito à questão dos custos ocio-sos (3). Neste contexto, os serviços da Comissãopublicaram um primeiro inventário dos auxíliosestatais concedidos a diferentes fontes energéti-cas (4). O inventário identifica e regista as diver-sas medidas nacionais e da União Europeiaadoptadas no domínio da energia, quando estãodisponíveis as informações relevantes. O inventá-rio ultrapassa o conceito jurídico estrito de auxí-lio estatal e destina-se a constituir um instru-mento de controlo do impacto futuro das medidasde auxílio nos diversos mercados.

2. Serviços postais

2.1. Nova directiva relativa aos serviços postais

91. Em 10 de Junho, o Conselho e o ParlamentoEuropeu adoptaram a nova Directiva Postal2002/39/CE (5). Na sequência de uma propostada Comissão, o Conselho tinha chegado a umaposição comum sobre um texto destinado a alte-rar a actual directiva postal em 15 de Outubro de2001. As principais alterações introduzidas peloConselho nessa altura foram a seguintes:

— Uma nova abertura do mercado, com uma redu-ção progressiva da área reservada a partir de1 de Janeiro de 2003 e de 1 de Janeiro de 2006 (6).

¥1∂ Processo COMP/E-4/38.075, IP 02/401 de 13.3.2002.¥2∂ Processo COMP/M.2822, IP 02/1905 de 17.12.2002.

¥3∂ Ver neste contexto, a secção relativa aos auxílios estatais, pontos386 e seguintes.

¥4∂ http://europa.eu.int/comm/dgs/energy_transport/home/aids/energy_en.htm

¥5∂ Directiva 2002/39/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de10 de Junho de 2002, que altera a Directiva 97/67/CE no que res-peita à prossecução da abertura à concorrência dos serviços pos-tais da Comunidade.

¥6∂ Em especial, a partir de 2003 a área não reservada incluirá cartascom um peso superior a 100g; este limite de peso não será aplicá-vel se o preço for igual ou superior ao triplo da tarifa pública deum envio de correspondência do primeiro escalão de peso da cate-goria mais rápida. A partir de 2006, a área não reservada incluirácartas com um peso superior a 50g; este limite de peso não seráaplicável se o preço for igual ou superior ao triplo da tarifapública de um envio de correspondência do primeiro escalão depeso da categoria mais rápida.

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— A possibilidade de realizar o mercado in-terno postal em 2009 (1), através de uma pro-posta da Comissão a ser aprovada pelo Parla-mento Europeu e pelo Conselho.

— A liberalização do correio transfronteiriço desaída, excepto nos Estados-Membros em queeste deve integrar os serviços reservados porforma a garantir a prestação do serviço uni-versal.

— A proibição de subvenções cruzadas a servi-ços universais não incluídos no sector reser-vado através de receitas provenientes dos ser-viços do sector reservado, excepto naeventualidade de tal se revelar absolutamentenecessário para o cumprimento de obriga-ções específicas de serviço universal impos-tas na área aberta à concorrência.

— A aplicação dos princípios de transparência ede não discriminação sempre que os presta-dores de serviços universais aplicam tarifasespeciais.

92. O texto foi subsequentemente revisto e apro-vado pelo Parlamento Europeu com três outrasalterações que, contudo, não afectam os novoselementos acima enumerados.

3. Telecomunicações

3.1. Novo quadro regulamentar para as redes e serviços de comunicações electrónicas

93. Em 14 de Fevereiro, o Conselho adoptou umnovo quadro regulamentar para a regulação exante das redes e serviços de comunicações elec-trónicas, que entrou em vigor em 24 de Abril.Este novo pacote legislativo, composto no totalpor cinco directivas (2), consagra uma reformu-lação importante do quadro regulamentar das te-lecomunicações, destinada a reforçar a concor-rência neste sector fundamental da economiaeuropeia. Quatro das directivas (Directiva-Qua-dro 2002/21/CE, Directiva relativa ao acesso

2002/19/CE, Directiva relativa à autorização2002/20/CE e Directiva relativa ao serviço uni-versal 2002/22/CE) deverão ser transpostas parao direito nacional até 25 de Julho de 2003 e apli-cadas a partir dessa data, enquanto a Directiva re-lativa à privacidade no sector das comunicaçõeselectrónicas, 2002/58/CE, deverá ser transpostaaté 31 de Outubro de 2003.

94. O novo pacote regulamentar pretende serneutro do ponto de vista tecnológico, tratando to-das as redes de transmissão de forma equivalente.Garante que os intervenientes no mercado apenasserão regulados quando necessário e o serão deforma coerente em toda a União Europeia, nome-adamente conferindo à Comissão poderes paraexigir que as autoridades reguladoras nacionaisretirem projectos de decisão em áreas fundamen-tais relacionadas com o funcionamento do mer-cado interno.

95. Uma das mais importantes características donovo quadro é a nova definição do conceito de«poder de mercado significativo» (PMS) quepassa a basear-se na definição de posição domi-nante nos termos do artigo 82.o do Tratado CE(ver artigo 14.o da directiva-quadro). Na sequên-cia desta alteração de definição, só podem ser im-postas obrigações regulamentares ex ante, regrageral, às empresas que detêm uma posição domi-nante individual ou colectiva na acepção do ar-tigo 82.o Nos termos do anterior quadro regula-mentar, uma empresa estava sujeita a umaregulamentação ex ante se tivesse uma quota demercado de 25%. A nova definição de PMS teráassim como efeito aumentar a barreira regula-mentar, garantindo simultaneamente coerênciaentre a regulamentação ex ante e a aplicação expost das regras da concorrência relativas às em-presas em posição dominante.

96. Um outro aspecto importante do novo qua-dro é a obrigação, imposta às autoridades regula-doras nacionais (ARN), de realizarem uma aná-lise de mercado adequada antes de imporemqualquer tipo de obrigação regulamentar às em-presas com PMS. Em especial, as ARN terão dedefinir os mercados do produto e geográfico rele-vantes por forma a apreciar se uma empresa de-tém um PMS. Neste contexto, a Comissão (3)adoptou orientações relativas à análise e avalia-ção do PMS (4), que estabelece a metodologia e

¥1∂ Em 2006, a Comissão concluirá um estudo que avaliará, relativa-mente a cada Estado-Membro, o impacto, sobre o serviço univer-sal, da realização do mercado interno postal em 2009. Com baseneste estudo, a Comissão apresentará um relatório ao ParlamentoEuropeu e ao Conselho acompanhado de uma proposta que con-firmará, se adequado, a data de 2009 para a realização completado mercado interno postal ou que determinará qualquer outramedida à luz das conclusões do estudo.

¥2∂ JO L 108 de 24.4.2002 e JO L 201 de 31.7.2002, p. 37.¥3∂ Nos termos do artigo 15.o da directiva-quadro.¥4∂ JO C 165 de 11.7.2002.

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os princípios de direito da concorrência a seguirpelas ARN quando realizam as suas análises demercado. Na prática, espera-se que as ARN cen-trem a sua análise nos mercados que justificamuma regulamentação ex ante em função de certoscritérios. Estes mercados estão enumeradosnuma recomendação que a Comissão adoptouem 11 de Fevereiro de 2003 (1), nos termos do ar-tigo 15.o da directiva-quadro. Caso uma ARN de-cida regular um mercado que não está enumeradona recomendação, terá de solicitar a aprovaçãoprévia da Comissão e seguir o procedimento pre-visto no artigo 7.o da directiva-quadro.

97. Por último, o novo quadro prevê que as ARNcolaborem com as Autoridades Nacionais deConcorrência (ANC) ao efectuarem as suas aná-lise de mercado. O papel das ANC será assim re-forçado, uma vez que terão de garantir que as de-finições de mercado ou as questões relativas àsposições dominantes serão tratadas de forma co-erente numa perspectiva ex ante e ex post. Nocontexto desta cooperação, as ARN e as ANC po-derão igualmente trocar informações confidenci-ais, desde que a autoridade de recepção assegureo mesmo nível de confidencialidade que a autori-dade de origem (n.o 5 do artigo 3.o da direc-tiva-quadro).

98. Na sua comunicação «Para um novo quadrodas infra-estruturas das comunicações electróni-cas e serviços conexos. Análise das comunica-ções — 1999» (2), a Comissão tinha previsto, pa-ralelamente à adopção de um novo quadroregulamentar para as redes e serviços de comuni-cações electrónicas, codificar e simplificar a Di-rectiva 90/388 relativa à concorrência nos merca-dos dos serviços de telecomunicações (3).

99. Na sequência de um primeiro projecto de di-rectiva, adoptado em 12 de Julho de 2000 e sub-metido a consulta pública (4), a Comissão proce-deu à sua reformulação por forma a garantir acoerência e a estabelecer uma ligação com asdirectivas do novo quadro regulamentar. A novaDirectiva 2002/77/CEE, adoptada em 16 Setem-bro (5), prossegue os mesmo objectivos funda-mentais que a Directiva 90/388/CEE, ou seja: a) aabolição dos direitos exclusivos e especiais exis-

tentes e a proibição da concessão de novos di-reitos exclusivos e especiais no sector das co-municações electrónicas em sentido lato; b) oreconhecimento do direito das empresas de exer-cerem a sua liberdade fundamental de estabeleci-mento e de fornecerem serviços num quadro con-correncial não falseado.

100. Mais especificamente, apenas foram manti-das as disposições que continuam a ser necessá-rias para atingir os objectivos das directivas origi-nais, baseadas no artigo 86.o Diversas disposiçõesque entretanto se tornaram obsoletas foram supri-midas, assim como as disposições da anterior di-rectiva «concorrência» que foram retomadas nonovo quadro regulamentar e que dizem respeito àharmonização das condições de acesso às redes eserviços.

3.2. Encerramento do inquérito sectorial sobre as linhas alugadas

101. Em Novembro, a Comissão decidiu encer-rar o seu inquérito sectorial sobre as linhas alu-gadas lançado em 1999, uma vez que as preocu-pações relativas aos preços elevados e àsquestões de uma eventual discriminação estãoagora a ser abordadas de forma adequada tanto anível nacional, através da aplicação do regula-mento sectorial específico da União Europeiapelas autoridades reguladoras nacionais (ARN),como a nível dos processos oficiosos iniciadospela Comissão Europeia e relativos a Esta-dos-Membros específicos (6).

102. As conclusões da primeira fase do inquéritorealçaram a existência de elevados preços e depolíticas de preços divergentes na União Euro-peia, que não se justificavam devido a diferençasde custos (7). Em Novembro de 2000, a DG Con-corrência tinha dado início, a título oficioso, acinco investigações relativamente a eventuaispreços excessivos e/ou comportamento discrimi-natório no fornecimento de linhas alugadas naBélgica, Itália, Grécia, Portugal e Espanha. Doisanos mais tarde, a Comissão verificou que se re-gistava uma redução considerável nos preços daslinhas alugadas em toda a União Europeia. Porexemplo, desde o lançamento do inquérito secto-rial em Julho de 1999, os preços das linhas aluga-

¥1∂ C(2003) 497.¥2∂ COM(1999) 539.¥3∂ Com a redacção que lhe foi dada sucessivamente pelas Directivas

94/46, 95/51, 96/2, 96/19 e 1999/64.¥4∂ JO C 96 de 27.3.2001, p. 2.¥5∂ JO L 249 de 17.9.2002, p. 21.

¥6∂ IP/02/1852 de 11.12.2002.¥7∂ Para elementos mais pormenorizados sobre as conclusões do

inquérito sectorial ver documento de trabalho de Setembro de2000 no seguinte endereço: http://europa.eu.int/comm/competi-tion/antitrust/others/sector_inquiries/leased_lines/

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das internacionais de 2Mbps desceram de 30% a40%, em média (1). Uma segunda conclusão im-portante consiste numa atitude activa por partedas ARN, tanto no que se refere à fixação de pre-ços como ao fornecimento das linhas alugadas.

103. Por esse motivo, a Comissão decidiu encer-rar as suas investigações oficiosas no que serefere à Bélgica e à Itália, face aos indícios demelhoria significativa da situação concorrencialnestes Estados-Membros. Da mesma forma,desde que se verifique uma nova descida dos pre-ços das linhas alugadas internacionais entre paí-ses vizinhos ou próximos da União Europeia ouuma nova justificação do seu nível, o processo es-panhol poderá também ser encerrado. A DG Con-corrência continuará a acompanhar de perto a si-tuação em Portugal e na Grécia.

4. Transportes

4.1. Transportes aéreos

4.1.1. Prorrogação do Regulamento de isenção por categoria n.o 1617/93

104. Em 25 de Junho, a Comissão adoptou o Re-gulamento (CE) n.o 1105/2002 (2), que prorrogaaté 30 de Junho de 2005, a isenção por categoriano que se refere às conferências sobre tarifas depassageiros para efeitos de interlining, previstano Regulamento (CE) n.o 1617/93. Esta prorroga-ção está condicionada a uma obrigação, impostaàs transportadoras aéreas que participam em con-ferências, de recolher determinados dados sobrea importância relativa das consultas em termos deinterlining. O interlining verifica-se quando umpassageiro viaja com mais do que uma compa-nhia aérea ou aliança no mesmo bilhete.

105. A isenção por categoria aplica-se apenas auma organização, a International Air TransportAssociation (IATA). A maior parte das compa-nhias aéreas do EEE (incluindo todas as transpor-tadoras nacionais) são membros da IATA e parti-cipam em consultas realizadas duas vezes por anoem que chegam a acordo sobre as tarifas para asviagens em interline. Tendo analisado os argu-

mentos apresentados pelas partes que se pronun-ciaram sobre o documento de consulta que a DGConcorrência emitiu em 2001, a Comissão con-cluiu que a isenção por categoria deveria ser pror-rogada por um novo período de três anos. As con-ferências tarifárias apresentam a vantagem deassegurarem um interlining plenamente flexível eé pouco provável que esta vantagem possa ser ob-tida actualmente, ao mesmo nível, através demeios menos restritivos. Embora a proibição dasconferências tarifárias não significasse o fimcompleto do interlining, viria reduzir os produtostarifários que estão disponíveis para um númerosignificativo de consumidores e, pelo menos acurto prazo, tornaria mais difícil a concorrênciapor parte das pequenas companhias aéreas.

106. Contudo, à medida que as alianças se de-senvolvem, poderá argumentar-se que, a longoprazo, a necessidade de conferências tarifárias setornará menos óbvia, em especial nas rotas comelevado volume de tráfego. Por forma a poderanalisar a necessidade de uma isenção por cate-goria no futuro, a Comissão impôs uma outracondição às companhias aéreas que participamnas conferências, no sentido de recolherem dadosque forneçam informações concretas sobre o vo-lume dos bilhetes com tarifa IATA relativamenteaos bilhetes emitidos no EEE e a importância re-lativa de tais bilhetes em termos de interlining.

107. O novo regulamento prorroga igualmente aactual isenção por categoria no que se refere àafectação de faixas horárias e aos horários dos ae-roportos até 30 de Junho de 2005. Esta isençãopor categoria está estreitamente relacionada como Regulamento (CEE) n.o 95/93 do Conselho, de18 de Janeiro de 1993, relativo às normas comunsaplicáveis à atribuição de faixas horárias nos ae-roporto da Comunidade. Em conjunto, a isençãopor categoria e o regulamento do Conselho esta-belecem as condições em que as transportadorasaéreas podem participar nas conferências de atri-buição de faixas horárias, onde são atribuídas asfaixas nos aeroportos mais congestionados. AComissão propôs algumas alterações ao Regula-mento (CEE) n.o 95/93 do Conselho e estão actu-almente a ser analisadas as possibilidades de no-vas alterações que ultrapassam as meramentetécnicas. A prorrogação da isenção por categoriano que se refere à atribuição de faixas horáriasnos aeroportos garantirá igualmente uma sincro-nização das duas outras isenções, previstas noRegulamento (CEE) n.o 1617/93, e permitirá que

¥1∂ Para elementos mais pormenorizados sobre as conclusões doinquérito sectorial e dos processos oficiosos individuais, verexposição de motivos de Novembro de 2002, no seguinte ende-reço: http://europa.eu.int/comm/competition/antitrust/others/sector_inquiries/leased_lines/

¥2∂ JO C L 167 de 26.6.2002, p. 6.

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a Comissão analise este regulamento na sua glo-balidade antes de 30 de Junho de 2005.

4.1.2. Política da concorrência na aviação internacional

108. O facto de a Comissão dispor de instrumen-tos de aplicação da legislação efectivos e eficien-tes constitui uma condição prévia essencial paragarantir que a concorrência seja preservada e pro-movida no domínio do transporte aéreo internaci-onal. No passado, a Comissão apresentou diver-sas propostas ao Conselho, as mais recentes em1997, no sentido de alargar o âmbito de aplicaçãodos Regulamentos (CEE) n.o 3975/87 e (CEE)n.o 3976/87 aos transportes entre a Comunidade epaíses terceiros. Até ao momento, o Conselho nãoadoptou qualquer decisão sobre estas propos-tas (1). O acórdão do Tribunal relativo aos proces-sos «céu aberto», que confirmou a necessidade deuma política de transportes aéreos internacionalcoordenada, implica igualmente a necessidade deuma revisão e de um relançamento destas propos-tas (2). Uma política de concorrência plenamenteefectiva no domínio da aviação internacional sópoderá ser alcançada se forem ultrapassadas asactuais limitações da Comissão em matéria deinvestigação e de aplicação da legislação. A Co-missão está actualmente a elaborar uma novaproposta que tenciona apresentar ao Conselhodurante 2003.

4.1.3. Alianças transatlânticas

109. Em 21 de Fevereiro, a British Airways e aAmerican Airlines confirmaram que tinhamposto termo aos seus acordos de aliança objectode uma investigação da Comissão em estreita co-laboração com o Office of Fair Trading do ReinoUnido. Consequentemente, a Comissão decidiuencerrar o processo a que tinha dado início nestecaso.

110. Em 28 de Outubro (3), a Comissão decidiuencerrar o processo a que tinha dado início em1996 para analisar, nos termos das regras comu-nitárias da concorrência, a aliança entre a KLM eo seu parceiro norte-americano NorthWest e a ali-ança entre a Lufthansa, a SAS e a transportadora

norte-americana United Airlines. No processoLH/SAS/UA, a Comissão chegou a esta conclu-são com base num conjunto de compromissosproposto pelas partes, para resolver as preocupa-ções de concorrência em diversas rotas a partir doaeroporto de Frankfurt para os Estados Unidos, etambém com base numa declaração do Governoalemão que suprimia eventuais barreiras regula-mentares à entrada de novos operadores nessas ro-tas. No processo da KLM/ NorthWest, conside-rou-se que não seriam necessários compromissos.

111. Em Novembro, a Comissão encerrou igual-mente a sua investigação no processo british mi-dland/United Airlines. Neste caso, a Comissãonão tinha dado início a um procedimento formal,mas tinha cooperado activamente com o Office ofFair Trading (OFT) do Reino Unido (4). O OFTadoptou uma decisão formal em 1 de Novembro,concedendo à aliança uma isenção individual aoabrigo do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado. Ambasas autoridades tinham chegado à conclusão que oacordo de aliança entre a bmi e a United Airlinespreenchia os requisitos necessários para benefi-ciar de tal isenção.

112. A Comissão prossegue a investigação daSkyteam Alliance, entre a Air France, a Alitalia, aDelta, a CSA, a Korean Air e a AerMexico, lan-çada oficialmente em Julho de 2000. Para oefeito, foi publicada uma comunicação no JornalOficial da União Europeia em Março de 2002,convidando os terceiros interessados a apresenta-rem observações (5). A Comissão está actual-mente a analisar as observações apresentadas eoutras informações entretanto recebidas.

4.1.4. Alianças e concentrações intra-europeias

113. Em 1 de Julho, a Comissão enviou umacarta à Air France e à Alitalia em que expressavasérias dúvidas no que se refere à sua cooperação

¥1∂ COM(97) 218 final.¥2∂ Processos C-466/98, C-467/98, C-468/98, C-469/98, C-471/98,

C-472/98, C-475/98 e C-476/98 contra o Reino Unido, Dina-marca, Suécia, Finlândia, Bélgica, Luxemburgo, Áustria e Ale-manha.

¥3∂ JO C 264 de 30.10.2002.

¥4∂ Por razões processuais, foi o OFT que conduziu este processo,utilizando os seus poderes nos termos dos regulamentos de execu-ção do Direito Comunitário da Concorrência de 2001. Deveránotar-se que o Regulamento (CE) n.o 3975/87 do Conselho, queestabelece o procedimento de execução dos artigos 81.o e 82.o,apenas diz respeito ao transporte aéreo entre aeroportos da Comu-nidade. Contudo, o OFT tem poderes, nos termos dos regulamen-tos de execução, para adoptar uma decisão sobre a aplicação dosartigos 81.o e 82.o no que se refere (nomeadamente) ao transporteaéreo entre Estados-Membros e países terceiros. Na ausência detais poderes, a Comissão seria obrigada a investigar esta aliançautilizando as suas competências nos termos do artigo 85.o, aoabrigo do qual apenas poderia ter proposto a adopção de medidaspara pôr termo às infracções.

¥5∂ JO C 76 de 27.3.2002, p. 12.

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em determinadas rotas entre a França e a Itália. AComissão está convicta de que este acordo de co-operação não pode ser aprovado na sua actualforma, uma vez que iria eliminar a concorrêncianum elevado número de rotas entre a Itália e aFrança. O envio de uma «carta» de sérias dúvidasconstitui o primeiro passo formal no processo deinvestigação da Comissão. Poderá conduzir auma decisão de proibição, a não ser que as empre-sas apresentem soluções para dissipar as preocu-pações da Comissão.

114. Em 5 de Julho, a Comissão aprovou a asso-ciação entre a Lufthansa e a Austrian Airlines,mediante compromissos significativos das par-tes (1). As condições impostas nesta decisãodestinam-se a reduzir as barreiras à entrada e apromover a concorrência intermodal. Face aosefeitos graves da aliança sobre a concorrência,comparativamente com anteriores decisões, aComissão impôs às partes um certo número denovas medidas de correcção, em especial um me-canismo de redução dos preços e a obrigação deconcluir acordos especiais prorata e acordos in-termodais.

115. Durante 2002, a Comissão deu também iní-cio a uma investigação sobre os acordos dealiança entre a British Airways, a Iberia e aGB Airways e também entre a British Airways ea SN Brussels Airlines. Neste último caso, foipublicada uma comunicação de resumo dos acor-dos de cooperação no Jornal Oficial da UniãoEuropeia (2).

116. A Comissão analisou igualmente a fusãoentre a SAS e a Spanair e adoptou uma decisãoque autorizava essa concentração em Março de2002 (3). Por outro lado, a Comissão não se opôsa um canal de distribuição global de capacidadede frete, criado pela Lufthansa, pela BritishAirways e pela Air France.

4.2. Transportes marítimos

4.2.1. Desenvolvimento da jurisprudência

117. Em 28 de Fevereiro, o Tribunal de PrimeiraInstância (TPI) proferiu três acórdãos de grande

significado para a política de concorrência comu-nitária no sector dos transportes marítimos (4).

118. Estes três casos dizem respeito à aplicaçãodo Regulamento n.o 4056/86 do Conselho, o prin-cipal regulamento relativo à concorrência nostransportes marítimos. O regulamento prevê umaisenção por categoria para diversas actividadesdas conferências marítimas. O artigo 3.o do Regu-lamento n.o 4056/86 permite assim que as confe-rências marítimas não só fixem uma tarifa de fretecomum, mas também, nomeadamente, que regu-lem a capacidade oferecida por cada membro daconferência (5).

119. No processo TAA, o TPI concluiu que aTAA não era uma conferência marítima, vistonão preencher o critério de base de funcionar uti-lizando taxas de frete comuns ou uniformes. Nãosendo uma conferência, não podia obviamentebeneficiar da isenção por categoria das conferên-cias marítimas. As suas actividades — que con-sistiam não só na fixação de preços dos trans-portes marítimos e terrestres mas também nalimitação colectiva da capacidade disponível denavios — não podiam também beneficiar de umaisenção individual, uma vez que não preenchiam,em vários aspectos, as condições do n.o 3 do ar-tigo 81.o relativas à melhoria da produção, ao seucarácter indispensável e à não eliminação da con-corrência.

120. O processo FEFC dizia respeito à demarca-ção entre o Regulamento n.o 1017/68 do Conselho(transportes terrestres) e o Regulamento n.o 4056/86(transportes marítimos). As partes na FEFC alega-ram que quando era fornecido transporte terrestreenquanto parte de uma operação de transporte in-termodal (terrestre e marítimo), o regulamentoaplicável em ambos os segmentos de transporte se-ria o Regulamento n.o 4056/86. Daqui resultava, naopinião da FEFC, que a isenção por categoria dasconferências marítimas se aplicava não só ao seg-mento marítimo da operação intermodal, mas tam-bém ao segmento terrestre, e que a conferência ti-nha por conseguinte direito a fixar tarifas paraambos os segmentos. O TPI rejeitou esta interpre-

¥1∂ JO L 242 de 10.9.2002, p. 25.¥2∂ JO C 306 de 10.12.2002, p. 4.¥3∂ JO C 93 de 18.4.2002, p. 7.

¥4∂ Processos:— T-18/97, Atlantic Container Line e outros/Comissão (TACA),

Col. 2002 p. II-1125;— T-395/94, Atlantic Container Line/Comissão (TAA), Col. 2002

p. II-875; e— T-86/95, Compagnie générale maritime e outros/Comissão

(FEFC), Col. 2002 p. II-1011.¥5∂ Segundo a Comissão, esta disposição apenas permitia a regulação

da capacidade mediante determinadas condições muito estritas(ver infra).

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tação, concluindo que o transporte terrestre,mesmo quando fornecido no âmbito de uma opera-ção intermodal, constituía um serviço distinto dotransporte marítimo, sendo por conseguinte regu-lado pelo Regulamento n.o 1017/68 e não pelo Re-gulamento n.o 4056/86.

121. A isenção por categoria das conferênciasmarítimas não poderia assim abranger a fixaçãodo preço dos transportes terrestres por parte deuma conferência.

122. As partes na FEFC não tinham também de-monstrado que os seus acordos de fixação de pre-ços eram necessários para alcançar o alegado ob-jectivo de estabilidade, o que os tornaria elegíveispara isenção individual.

123. No seu acórdão no processo TACA Imu-nidade, o TPI concluiu que o sistema de fixaçãode preços do transporte terrestre é abrangido peloâmbito de aplicação do regulamento dos trans-portes terrestres (1), ou seja, o Regulamenton.o 1017/68, e uma vez que este último não con-tém qualquer disposição de concessão de imuni-dade relativamente a coimas, a decisão da Comis-são (2), que alegadamente retirava a imunidaderelativamente a coimas, não vinha alterar a posi-ção jurídica das partes no TAA. Desta forma, orecurso das partes foi considerado inadmissível.

124. Para chegar a esta conclusão, o TPI rejeitouo argumento segundo o qual, apesar de o Regula-mento n.o 1017/68 não prever expressamente aimunidade relativamente a coimas, deveria consi-derar-se, como princípio geral do Direito Comu-nitário da Concorrência, que a notificação formaltem essa consequência.

4.2.2. Revisão do Regulamento n.o 4056/86

125. Em Abril, o Secretariado da OCDE publi-cou o seu relatório final sobre a política de con-corrência nos transportes marítimos regulares (3).O relatório, que apresentava diferenças menoresrelativamente a um projecto discutido pelos peri-tos de concorrência e de transportes marítimosnuma conferência da OCDE realizada em De-

zembro de 2001 (4), concluía que a imunidadeantitrust ou a isenção no que se refere a acordosde fixação de preços ou tarifas era injustificada.

126. A isenção por categoria das conferênciasmarítimas, prevista no artigo 3.o do Regulamenton.o 4056/86, parte do pressuposto de que a fixaçãocolectiva de tarifas pelos membros de um confe-rência marítima constitui um requisito prévioindispensável para a prestação de serviços detransporte marítimos regulares fiáveis. Não seprocedeu a qualquer exame desta isenção extre-mamente importante em termos económicos du-rante os quinze anos que se seguiram à sua en-trada em vigor, o que é contrário à prática normalda Comissão. Por esse motivo, e tendo em contaas importantes alterações ocorridas no mercado,a Comissão decidiu proceder a um exame da isen-ção por categoria e de outras disposições impor-tantes do Regulamento n.o 4056/86.

127. A Comissão lançou agora um processo deexame, consistindo a sua primeira fase num docu-mento de consulta que será publicado em Janeirode 2003. O documento de consulta convidará osgovernos e o sector a apresentarem observações eelementos de prova relativamente a determinadasquestões fundamentais relevantes para apreciarse se justifica uma prorrogação da isenção porcategoria para as conferências marítimas. Soli-citará igualmente observações sobre a necessi-dade de simplificar e modernizar o Regulamenton.o 4056/86 no que se refere a outras questões defundo.

4.2.3. Processos individuais

128. Em 14 de Novembro, a Comissão Europeiaadoptou uma decisão em que concedia uma isen-ção das regras de concorrência comunitárias aoAcordo de Conferência Transatlântica (TACA),um agrupamento de companhias marítimas queprestam serviços de transportes regulares de con-tentores entre portos do Norte da Europa e dosEstados Unidos (5). A decisão vem na sequênciade uma longa investigação durante a qual osmembros do TACA (1) concordaram em fazerconcessões significativas.

129. O acordo que foi autorizado sucede directa-mente ao acordo TACA que a Comissão conside-rou ilegal numa decisão de 1998 que aplicava coi-

¥1∂ O TPI fazia referência ao acórdão FEFC. ¥2∂ A decisão foi adoptada apenas enquanto medida cautelar, para

tomar em consideração a possibilidade de o TPI ou o TJCE consi-derarem que o segmento terrestre da operação de transporte inter-modal fosse abrangido pelo âmbito de aplicação do Regulamento4056/86, que prevê a imunidade relativamente a coimas caso umacordo seja notificado formalmente.

¥3∂ Documento OCDE DSTI/DOT/(2002)2 «Competition Policy inLiner Shipping — Final Report», Paris, 16 de Abril de 2002.

¥4∂ Ver XXXI Relatório sobre a Política de Concorrência, ponto 159.¥5∂ JO L 26 de 31.1.2003, p. 53.

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mas num total de 273 milhões de euros aosmembros do TACA — uma quantia ímpar nessaaltura. O novo acordo, normalmente conhecidocomo «TACA Revisto» — torna as actividades daconferência TACA compatíveis com as principaisorientações relativas ao comportamento das con-ferências estabelecidas na decisão TACA.

130. Na sequência da decisão TACA de 1998 ede alterações favoráveis à concorrência na legis-lação norte-americana dos transportes marítimos,os membros do TACA enfrentam actualmente umaumento significativo no volume e intensidade daconcorrência. Este factor desempenhou um papelfundamental na decisão da Comissão de concederuma isenção ao TACA revisto.

4.3. Transportes ferroviários

131. Em Janeiro, a Comissão apresentou um se-gundo pacote de propostas legislativas para a in-tegração das redes ferroviárias nacionais numaárea ferroviária europeia única. O pacote inclui aabertura dos mercados de transporte de mercado-rias nacionais e de cabotagem, o estabelecimentode uma abordagem europeia em matéria de segu-rança ferroviária (incluindo medidas destinadas agarantir um acesso justo e não discriminatório datripulação dos comboios à formação) o reforço dainteroperabilidade dos sistemas ferroviários e acriação de uma Agência Ferroviária Europeia. AComissão continuou entretanto os seus trabalhosnum comité de comitologia por forma a assistiros Estados-Membros na sua transposição do pri-meiro pacote (1) para o direito nacional.

132. Em Maio, o comissário Monti apresentou aabordagem da Comissão no que se refere à polí-tica de concorrência no mercado dos transportesferroviários. Identificou três deficiências estrutu-rais que continuam a prejudicar a integração domercado e a concorrência efectiva: a falta de umaseparação adequada entre as entidades de gestãoda infra-estrutura ferroviária e os operadores dosserviços ferroviários; a falta de transparência dosacordos relativos à atribuição de rotas ferroviá-

rias internacionais; e a inexistência de uma con-corrência efectiva do lado da oferta.

133. A Comissão continuou os seus processoscontra a Ferrovie dello Stato (FS) (2) e a DeutscheBahn (DB) (3). Ambos os casos diziam respeito aum comportamento discriminatório e excludenteadoptado pelos operadores estabelecidos relati-vamente a um novo operador. A Comissão deuinício a processos formais em 2001. No primeirocaso, uma pequena empresa ferroviária privadaalemã apresentou uma denúncia contra a FS, ale-gando que esta última a tinha impedido de pene-trar no mercado para fornecer serviços ferroviá-rios internacionais de passageiros de Basileiapara Milão. No segundo caso, o autor da denúnciaalegou que a DB tinha aplicado um tratamentodiscriminatório na prestação de serviços de trac-ção e impedido que o novo operador mantivesseum serviço internacional de passageiros da Ale-manha para a Suécia. Em ambos os casos proce-deu-se a uma audição, que suscitou a realizaçãode investigações.

5. Meios de comunicação social

134. O sector dos meios de comunicação socialestá a sofrer uma reestruturação significativa re-sultante de uma estagnação do mercado da publi-cidade, de custos em espiral dos conteúdos degrande audiência e de uma transição difícil para asplataformas digitais. Consequentemente, a con-centração horizontal e vertical, especialmente noque se refere aos direitos televisivos de programasdesportivos de grande audiência e a consolidaçãodas plataformas (4), levaram a diversos processoscomplexos durante o ano e proporcionaram à Co-missão uma oportunidade de estabelecer princí-pios orientadores para o tratamento de futuros ca-sos neste domínio.

5.1. Acesso aos conteúdos de grande audiência

135. A UEFA e a maior parte das associações na-cionais de futebol vendem conjuntamente os di-reitos televisivos de jogos de futebol, em nome

¥1∂ Directiva 2001/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de26 de Fevereiro de 2001, que altera a Directiva 91/440/CEE doConselho relativa ao desenvolvimento dos caminhos-de-ferrocomunitários. Directiva 2001/13/CE do Parlamento Europeu e doConselho, de 26 de Fevereiro de 2001, que altera a Directiva95/18/CE do Conselho relativa às licenças das empresas de trans-porte ferroviário. Directiva 2001/14/CE do Parlamento Europeu edo Conselho, de 26 de Fevereiro de 2001, relativa à repartição decapacidade da infra-estrutura ferroviária, à aplicação de taxas deutilização da infra-estrutura ferroviária e à certificação da segu-rança (JO L 75 de 15.3.2001).

¥2∂ Processo COMP/37.685.¥3∂ Processo COMP/37.985.¥4∂ Comparar a fusão entre as duas plataformas espanholas de televi-

são por assinatura, Canal Satélite Digital e Vía Digital, processoCOMP/M.2645 Sogecable/Canalsatélite Digital/Via Digital,objecto de um recurso às autoridades espanholas, e a concentra-ção entre as duas plataformas de televisão por assinatura italianasStream e Telepiú, processo COMP/ M. 2876 Newscorp/Telepiú.

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dos clubes de futebol. A Comissão concluiu queestes acordos conjuntos de venda, juntamentecom a prática de venda de direitos num pacote enuma base exclusiva, produziam um efeito im-portante sobre a estrutura dos mercados de radio-difusão televisiva. Na generalidade, todos os di-reitos televisivos da totalidade de um campeonatosão vendidos num pacote exclusivo a um únicoorganismo de radiodifusão por um longo período.Uma vez que um único organismo obtém todosos direitos, verifica-se uma concorrência ferozquando esses direitos são oferecidos e, em últimaanálise, os direitos apenas podem ser obtidos pe-los organismos de radiodifusão de maiores di-mensões. Esta situação é susceptível de aumentara concentração dos meios de comunicação sociale prejudicar a concorrência entre organismos deradiodifusão.

136. A Comissão considera que a venda con-junta restringe a concorrência, na acepção don.o 1 do artigo 81.o do Tratado CE, uma vez queos clubes que participam na liga não podem ven-der individualmente quaisquer direitos de trans-missão em concorrência entre si.

137. Contudo, um acordo de venda conjunta de-vidamente alterado poderá constituir uma formaeficiente de organizar a venda dos direitos detransmissão dos acontecimentos desportivos epoderá beneficiar de uma isenção ao abrigo don.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE. Em primeirolugar, o acordo poderá promover a produção deum produto da liga (abrangendo os principais jo-gos da liga), o que é diferente de outras emissõesde futebol. Além disso, um ponto de venda únicodos direitos de transmissão poderá constituir ummétodo comercial eficiente para as partes envol-vidas. A venda conjunta pode igualmente ser umaforma eficiente de promover o nome de uma liga.

Liga dos Campeões da UEFA

138. Num caso importante que dizia respeito àvenda conjunta dos direitos televisivos da Ligados Campeões da UEFA (1) chegou-se a umacordo em Junho, tendo sido publicada emAgosto uma comunicação nos termos do n.o 3do artigo 19.o (2). O acordo materializou-se num

compromisso, por parte da UEFA, de vender osdireitos em questão através de processos de con-curso justos, abertos e não discriminatórios, paraum período não superior a três anos; de segmentaros direitos em diversos pacotes, por forma a permi-tir o acesso de um maior número de participantes;e de dar igualmente acesso aos novos meios de co-municação social (Internet; UMTS) (3).

139. A Comissão irá analisar acordos semelhan-tes a nível nacional e europeu, utilizando os mes-mos princípios.

5.2. Acesso a direitos de difusão nos novos meios de comunicação

140. Durante o ano de 2002, a Comissão consa-grou grande atenção aos novos meios de comuni-cação social no contexto de diversos casos nestedomínio. Embora a maior parte dos casos recen-tes relativos aos direitos de difusão de jogos defutebol apenas dissessem respeito à televisão porassinatura ou à televisão gratuita, estão a surgirnovos processos que dizem respeito às novas pla-taformas de meios de comunicação, tais como aInternet e as redes móveis UMTS.

141. Para o desenvolvimento de novos serviçosnestas duas plataformas são necessários conteú-dos de grande audiência. Os fornecedores po-tenciais de conteúdo nestes novos mercadoscontactaram a Comissão no que se refere à dis-ponibilidade de conteúdos de grande audiência,em especial direitos relativos a manifestaçõesdesportivas. Existem essencialmente dois tiposde proprietários de conteúdos desportivos: os ti-tulares de direitos, como as federações e os clu-bes desportivos, e os agentes que actuam comoagregadores que juntam em pacotes e estruturamos conteúdos proveniente de diferentes fontes. Ainformação de que a Comissão actualmente dis-põe revela que os proprietários de conteúdos evi-tam disponibilizar esses conteúdos às novas pla-taformas.

142. O futebol poderá constituir um conteúdoimpulsionador para o desenvolvimento de servi-ços nas novas plataformas de meios de comunica-ção. Contudo, este potencial não parece estar a seractualmente explorado e existem indícios de queos direitos desportivos estão a ser retidos pelosrespectivos proprietários, por forma a salvaguar-dar o valor dos respectivos direitos televisivos.

¥1∂ Processo COMP/37.398; a UEFA notificou o seu acordo de vendaconjunta em 1 de Fevereiro de 1999 e recebeu uma comunicaçãode objecções em 19 de Julho de 2001. A UEFA respondeu em 16de Novembro de 2001 e pouco tempo depois iniciaram-se negoci-ações para chegar a um acordo.

¥2∂ JO C 196 de 17.8.2002, p. 3. ¥3∂ Comunicado de imprensa IP/02/806 de 3.6.2001.

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143. Uma potencial preocupação de concorrênciaconsiste no facto de a recusa de fornecimento porparte dos proprietários de conteúdos poder consti-tuir uma infracção ao artigo 82.o do Tratado CE. Aretenção de direitos para impedir a utilização porparte dos novos meios de comunicação apenascom o objectivo de proteger posições de mercadonos mercados de televisão tradicionais, poderá serconsiderada uma restrição da produção que limitaa prestação de serviços aos consumidores.

144. Um acordo relativo à venda de direitos tele-visivos que proíba ou que impeça a comercializa-ção de direitos nos novos meios de comunicaçãorestringe a concorrência, uma vez que constituiuma restrição à produção e ao desenvolvimentotecnológico do mercado, na acepção do artigo 81.o

do Tratado CE. Outras restrições, como as limita-ções dos horários de transmissão, poderão produ-zir o mesmo efeito. Por último, a exclusividadepoderá também restringir a concorrência se en-cerrar significativamente o mercado, principal-mente quando a exclusividade for excessiva emtermos de duração ou de âmbito.

145. A Comissão continuará a analisar o domí-nio dos novos meios de comunicação com espe-cial atenção e dará início a investigações quandonecessário.

5.3. Acordos de gestão colectiva de direitos de autor e de concessão de licenças

146. A gestão colectiva e a concessão de licençasde direito de autor na Europa tem vindo a suscitarimportantes preocupações de concorrência há jávários anos (1). Actualmente, a Comissão está atratar diversos casos relativos à adaptação da ad-ministração tradicional dos direitos de autor (te-levisão, rádio, discotecas, etc.) ao novo contextotecnológico resultante do desenvolvimento co-mercial da Internet e da transmissão por satélite.

147. Em 8 de Outubro (2), foi adoptada uma de-cisão de isenção importante, mediante condições

e obrigações, no que se refere às condições deconcessão de licenças impostas pelas sociedadesde gestão colectiva aos utilizadores de direitosde autor, na sequência da notificação de umacordo-tipo entre sociedades de gestão colectivapor conta de sociedades de produção. Este acordodestina-se a facilitar a concessão através «de umbalcão único» de licenças internacionais relativasaos direitos conexos relevantes (direito de radio-difusão e direito de representação e execuçãopúblicas) a empresas de rádio e de televisão quedesejam transmitir em «simulcasting» (3), dispo-nibilizando assim ao público obras musicais atra-vés da Internet.

148. Trata-se da primeira decisão da Comissãoque incide sobre a gestão colectiva e a concessãode licenças de direitos de autor para efeitos da ex-ploração comercial de obras musicais na Internet.Por forma a obter uma isenção, as partes aceitarameliminar as restrições territoriais (inicialmente pre-vistas) dos seus acordos de licenças cruzadas, per-mitindo que seja introduzida a concorrência entresi no que se refere à concessão de direitos de autorna Europa para os serviços com base na Internet. Aconcorrência é agora possível, tanto no que se re-fere ao serviço a ser fornecido, como aos encargosadministrativos a pagar pelos licenciados. Os orga-nismos de radiodifusão estabelecidos no EEE po-derão consequentemente escolher a sociedade degestão colectiva estabelecida no EEE junto da qualpretendem obter a sua licença de simulcasting atra-vés de um «balcão único».

149. Uma vez que as partes aceitaram igual-mente estabelecer uma distinção entre as royal-ties de direitos de autor propriamente ditos e osseus encargos administrativos com a concessãoda licença, concordando igualmente em procedera uma cobrança separada, a transparência em ter-mos dos custos incorridos pelas sociedades degestão colectiva será reforçada. Uma maior trans-parência em matéria de custos significa que os or-ganismos de radiodifusão estabelecidos no EEEpodem escolher a sociedade de gestão colectivamais eficiente, entre aquelas que estão estabeleci-das no EEE, para a sua licença de simulcasting.Neste contexto, a eficácia é entendida tanto emtermos de preços (royalties), como do nível deencargos administrativos.

¥1∂ Ver, por exemplo, a decisão da Comissão no processo IV/26.760GEMA, a decisão de 2.6.1971, JO L 134 de 20.6.1971, p. 15 e adecisão de 6.7.1972, JO L 166 de 24.7.1972, p. 22; processoIV/29.971 Estatuto da GEMA, decisão de 4.12.1981, JO L 94 de8.4.1982, p. 12; processo 29.839 GVL, decisão de 29.10.1981, JOL 370 de 28.12.1981, p. 49; ou os acórdãos do Tribunal de Justiçanos processos Phil Collins, Col. 1993, p. I-5145; Musik-Vertriebmembran, Col. 1981, p. 147; Tournier, Col. 1989, p. 2521; Luca-zeau, Col. 1989, p. 2811.

¥2∂ Processo COMP/C-2/38.014 IFPI «Simulcasting» (FederaçãoInternacional da Indústria Fonográfica).

¥3∂ Simulcasting é a transmissão pelas empresas de radiodifusãosonora e televisiva do seu sinal original simultaneamente e semalterações, tanto através dos meios tradicionais como através daInternet.

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150. Uma vez que os custos das sociedades degestão colectiva são normalmente repercutidosnos utilizadores finais pelos organismos de radio-difusão, a pressão exercida tanto nos preços comonos encargos tornará a gestão dos direitos e oacesso dos organismos de radiodifusão a estes di-reitos para a prestação de serviços através da In-ternet mais eficientes, aumentando assim as van-tagens para os consumidores. A criação de ummercado legítimo para o simulcasting garantiráque os consumidores não só beneficiarão de umleque mais vasto de programas sonoros e de vídeomusicais através da Internet, mas também que osdetentores dos direitos e os artistas serão devida-mente remunerados.

5.4. Imprensa escrita

151. No sector da imprensa escrita, em especial noque se refere aos livros, a Comissão tem vindo atratar, desde há muito, de acordos de fixação de pre-ços transfronteiras. A Comissão não se opõe a acor-dos verdadeiramente nacionais de manutenção dopreço de revenda para os produtos da imprensa es-crita, desde que não afectem de forma apreciável ocomércio entre Estados-Membros. Os principaiscasos, em especial os referentes à Alemanha, foramresolvidos e encerrados durante este ano (1).

152. O reforço da transparência em matéria depreços no sector da imprensa escrita, em especialno que se refere ao jornais, na sequência da intro-dução efectiva do euro em 1 de Janeiro de 2002,suscitou um fluxo considerável de denúncias in-formais por parte de cidadãos da União, acerca dediferenciais de preços alegadamente injustifica-dos para o mesmo jornal em países diferentes. Noâmbito das publicações académicas e profissio-nais, a Comissão verifica contínuos aumentos depreços, em especial no que se refere às revistas ci-entíficas, técnicas e médicas, por parte das gran-des editoras internacionais.

153. Estas questões continuarão a ser objecto deanálise, e serão realizadas investigações quandonecessário.

6. Distribuição de veículos automóveis

154. Durante este ano, a actividade da Comissãocentrou-se principalmente na adopção do novo

regulamento de isenção para o sector automóvel,da sua brochura explicativa e do relatório semes-tral sobre os preços no interior da União Euro-peia.

6.1. Adopção do novo regulamento de isenção para o sector automóvel

6.1.1. Contexto

155. Até 30 de Setembro de 2002, data do seutermo de vigência, o Regulamento (CE) n.o 1475/95isentava da proibição consagrada no n.o 1 do ar-tigo 81.o os acordos de distribuição selectiva e ex-clusiva para os veículos a motor de mais de trêsrodas, relativamente aos quais os produtores esta-belecem concessionários no interior de territóriosexclusivos; estes concessionários podem venderveículos quer a clientes finais, ou aos seus inter-mediários, quer a outros concessionários homo-logados pelo produtor (2).

156. Após um longo e frutuoso processo de con-sulta e de avaliação iniciado em 1999, a Comis-são adoptou o novo regulamento relativo à aplica-ção do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado a certascategorias de acordos verticais e práticas concer-tadas no sector automóvel: Regulamento (CE)n.o 1400/2002 da Comissão de 31 de Julhode 2002 (3). Este regulamento entrou em vigorem 1 de Outubro de 2002 e chegará ao seu termode vigência em 31 de Maio de 2010. Prevê igual-mente um período de transição geral de um ano,durante o qual os acordos verticais existentes nãosão abrangidos pelo âmbito de aplicação do n.o 1 doartigo 81.o se preencherem as condições de isençãoprevistas no Regulamento (CE) n.o 1475/95.

157. O novo regulamento de isenção por catego-ria representa uma importante evolução relativa-mente ao anterior regulamento no que se refere adois aspectos. Em primeiro lugar, e embora setrate de um regulamento sectorial, inspira-se nafilosofia do Regulamento n.o 2790/1999 no quediz respeito à análise económica das restriçõesverticais e, como corolário, ao abandono dascláusulas autorizadas, a favor de uma abordagemque consiste em excluir da isenção as restriçõesde concorrência qualificadas. Em segundo lugar,

¥1∂ Processos COMP/C-2/34.657 Sammelrevers; COMP/C-2/37.906Internetbuchhandel; COMP/C-2/38.019 Proxis/KNO e outros;Comunicado de Imprensa IP/02/461 de 22.3.2002.

¥2∂ Regulamento (CE) n.o 1475/95 da Comissão, de 28 de Junho de1995, relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado a cer-tas categorias de acordos de distribuição e de serviços de venda epós-venda de veículos automóveis, JO L 145 de 29.6.1995;IP/02/1073 e MEMO/02/174 da Comissão de 17.7.2002.

¥3∂ JO L 203 de 1.8.2002, p. 30.

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embora tenha deixado de prescrever o único sis-tema de distribuição isento, a favor de uma maiorflexibilidade de escolha pelos próprios operado-res económicos, o novo regulamento estabeleceregras mais estritas, tanto em matéria de vendade veículos novos e das suas peças sobressalen-tes, como em matéria de prestação de serviçospós-venda.

158. A Comissão viu-se obrigada a aplicar estaabordagem mais estrita na sequência dos resulta-dos do relatório de avaliação sobre o Regula-mento (CE) n.o 1475/95 que concluía, por umlado, que algumas das suas premissas estavamdesactualizadas e, por outro, que os seus objecti-vos não tinham sido atingidos na íntegra, nomea-damente em matéria de concorrência intramarca,de integração de mercado e de vantagens para osconsumidores (1). A Comissão verificou que oRegulamento (CE) n.o 2790/1999 relativo à apli-cação do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado a determi-nadas categorias de acordos verticais e de práti-cas concertadas (2) não permitia solucionar osproblemas identificados (3), tanto mais que exis-tia um efeito cumulativo no sector automóvel de-vido à semelhança dos acordos de distribuiçãoem vigor e das restrições de concorrência que in-cluem, o que justificava um regime mais rigoroso.A adopção de um regulamento específico para osector automóvel constituía o único meio de in-troduzir soluções adequadas para os problemasidentificados.

6.1.2. Etapas significativas que levaram à adopção do regulamento

159. Este novo regulamento foi adoptado nocontexto de uma ampla consulta de todos os ope-radores económicos em causa, afectados e poten-ciais, bem como dos consumidores.

160. O relatório da avaliação do Regulamento(CE) n.o 1475/95 baseou-se em informações re-colhidas junto dos construtores de veículos auto-móveis, dos fabricantes de equipamentos, dosconcessionários oficiais de venda e de serviçospós-venda, dos vendedores independentes de veí-culos, de intermediários, oficinas independentes,grossistas e retalhistas independentes de peçassobressalentes, novos participantes potenciais,bem como junto dos consumidores e de certascategorias de clientes, como por exemplo as socie-dades de locação financeira. Após a adopçãodeste relatório, a Comissão convidou todas aspartes interessadas a apresentarem as suas obser-vações e organizou uma audição em que partici-param, para além das categorias de operadoresacima referidas, associações de consumidores,bem como as Autoridades Nacionais de Concor-rência, representantes do Parlamento Europeu ede parlamentos nacionais (4).

161. Além disso, a Comissão encomendou qua-tro estudos independentes, todos de natureza con-sultiva e que não incluíam qualquer recomenda-ção quanto à natureza do futuro regime. Em 2000,dois estudos incidiram, por um lado, na ligaçãoentre a venda de veículos novos e os serviçospós-venda e, por outro, nos diferenciais de preçosna Comunidade (5). Em 2001, a Comissão lançouum estudo destinado a identificar e avaliar o im-pacto de futuros cenários legislativos eventuaissobre todas as partes interessadas (6). Paralela-mente, foi também encomendado um estudo so-bre as expectativas dos consumidores, a fim dedeterminar a sua posição face ao sistema actualde distribuição de veículos automóveis e possí-veis alternativas para o futuro (7). A Comissão to-mou igualmente em consideração todas as outras

¥1∂ Relatório sobre a avaliação do Regulamento (CE) n.o 1475/95relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 85.o do Tratado CE a certascategorias de acordo de distribuição de serviço de venda epós-venda de veículos automóveis, de 15.11.2000, COM(2000)743 final; ver igualmente o relatório da concorrência de 2000,pontos 112 a 115.

¥2∂ JO L 336 de 29.12.1999, p. 21.¥3∂ Por exemplo em matéria de acesso dos reparadores independentes

à informação técnica, aos instrumentos de diagnóstico e de repa-ração, à formação ou ainda em matéria de acesso ao mercado daspeças sobressalentes produzidas pelos fabricantes de equipa-mento. Além disso, a aplicação deste regulamento não tomava emconsideração o efeito cumulativo de acordos praticamente idênti-cos na distribuição automóvel. Em matéria de venda de veículos,este regulamento não permitira, pelo contrário, qualquer evoluçãoem favor da integração dos mercados ou por exemplo em matériade multimarcas.

¥4∂ Esta audição realizou-se em 13 e 14 de Fevereiro de 2000 e reu-niu mais de 350 participantes. As contribuições dos participantespodem ser consultadas na secção «sector automóvel», em «audi-ções, discursos» no sítio Internet da Direcção-Geral da Concor-rência.

¥5∂ Estes dois estudos podem ser consultados no sítio Internet daDirecção-Geral da Concorrência: http://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/. «Ligação natural entre venda e pós-venda»(Autopolis), «Análise económica das diferenças de preços naComunidade» (Hans Degryse e Frank Verboven — KU Leuven eCEPR). Ver igualmente o Relatório da Concorrência de 2000,ponto 113.

¥6∂ O mandato deste estudo, bem como o estudo, podem ser consulta-dos no sítio Internet da Direcção-Geral da Concorrência:http://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/. Este estudorealizado pela Arthur Andersen pode ser consultado no endereçoInternet acima referido.

¥7∂ «Preferências dos consumidores em matéria de alternativas exis-tentes ou potenciais para a venda e os serviços pós-venda na dis-tribuição automóvel» Dr. Lademan & Partner (http://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/).

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fontes de informação, tais como outros estudosdisponíveis (1).

162. Na sequência desta ampla consulta e tendoem conta a sua própria experiência, nomeada-mente no âmbito do tratamento de processos deinfracção graves ao artigo 81.o (2), a Comissãoadoptou um projecto de regulamento em 5 de Fe-vereiro, que foi discutido com os Estados-Mem-bros por ocasião de um primeiro Comité Consul-tivo realizado em 7 de Março (3). Na sequênciada sua publicação, a Comissão recebeu cerca de350 observações escritas por parte dos construto-res, concessionários, consumidores, revendedo-res, intermediários, oficinas de reparação, forne-cedores de peças sobressalentes e numerososconselheiros jurídicos. Após análise destas obser-vações, bem como das observações e sugestõesdos Estados-Membros formuladas aquando doprimeiro Comité Consultivo, a Comissão apre-sentou um projecto alterado aos Estados-Mem-bros, em 6 de Maio de 2002, na perspectiva do se-gundo Comité Consultivo de 6 de Junho de 2002.

163. Paralelamente, após a adopção do primeiroprojecto de regulamento em Fevereiro de 2002, aComissão tomou a iniciativa de consultar o Parla-mento Europeu e o Comité Económico e SocialEuropeu, que emitiram os seus pareceres em29 de Maio (4) e 30 de Maio (5), respectivamente.O Parlamento Europeu e o Comité Económico eSocial Europeu partilharam tanto a conclusão daComissão relativa à necessidade de uma alteraçãosubstancial do conteúdo do Regulamento (CE)n.o 1475/95, como a orientação geral do projecto.O Parlamento Europeu formulou nomeadamenteuma série de recomendações que a Comissão to-mou em grande medida em consideração, nome-adamente no que se refere ao período transitóriopara além do qual a proibição das cláusulas de lo-calização se tornaria efectiva. A Comissão alar-gou esse período transitório, inicialmente de um

ano no projecto de regulamento publicado, para30 de Setembro de 2005 como desejado pelo Par-lamento Europeu.

6.1.3. Principais características do Regulamento (CE) n.o 1400/2002

Considerações gerais

164. Contrariamente ao Regulamento (CE)n.o 1475/95, o novo regulamento não isenta, in-dependentemente do poder de mercado das em-presas partes no acordo, um único sistema identi-ficado de distribuição de veículos novos e deprestação de serviços pós-venda, obrigatoria-mente ligados um ao outro.

165. Na eventualidade de os acordos verticaisconcluídos no sector automóvel serem abrangi-dos pela proibição prevista no n.o 1 do artigo 81.o

do Tratado, o Regulamento (CE) n.o 1400/2002isenta tais acordos mediante determinadas condi-ções. Estes acordos verticais são aqueles que di-zem respeito às condições de compra, de vendaou de revenda de veículos novos (6), das peças so-bressalentes para estes veículos e da prestação deserviços de manutenção e reparação destes veícu-los. O âmbito de aplicação do novo regulamentoabrange assim diversas categorias de acordos ver-ticais, com um objecto mais vasto e diversificadoque o do Regulamento n.o 1475/95.

166. Além disso, como no regime geral vertical,a isenção passa agora a estar ligada a limiares dequota de mercado (30% em geral e 40% em casode distribuição selectiva quantitativa para a vendade veículos automóveis). Desta forma, a Comis-são continua a ter a possibilidade de analisar indi-vidualmente as condições de isenção previstas non.o 3 do artigo 81.o quando as partes no acordovertical detenham uma quota de mercado supe-rior aos limiares, mesmo para os acordos verti-cais que preencham as condições específicas pre-vistas no artigo 5.o do regulamento e que nãoincluam qualquer das restrições de concorrênciaqualificadas enumeradas no artigo 4.o

167. O novo regulamento baseia-se, consequente-mente, também na análise económica das restriçõesverticais, de forma semelhante à utilizada aquando

¥1∂ Entre estas fontes, pode mencionar-se o estudo encomendado pelaassociação dos construtores europeus de automóveis (ACEA), queincide igualmente sobre os efeitos económicos dos sistemas dedistribuição alternativos.

¥2∂ Ver os processos Volkswagen I (Decisão da Comissão de28.1.1998, JO L 124 de 25.4.1999) e Volkswagen II (decisão daComissão de 29.6.2001, JO L 262 de 2.10.2001), Opel (decisãoda Comissão de 20.9.2000, JO L 59 de 28.2.2001) e Daimler-Chrysler (decisão da Comissão de 10.10.2001, JO L 257 de25.9.2002).

¥3∂ Projecto publicado no JO C 67 de 16.3.2002, p. 2.¥4∂ Relatório do Dr. Konrad — A5-0144/2002, publicado no sítio

Internet do Parlamento Europeu, na secção actividades — Comis-sões — Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários(www2.europarl.eu.int).

¥5∂ JO C 221 de 17.9.2002, p. 10.

¥6∂ No n.o 1, alínea n), do artigo 1.o, veículo a motor é definido comoo veículo provido de um dispositivo de propulsão destinado a serutilizado na via pública e que disponha de três ou mais rodas (ouseja, veículos de passageiros, veículos comerciais ligeiros, cami-ões e autocarros).

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da adopção do Regulamento n.o 2790/1999. Destaabordagem decorre um regulamento de isençãoque, em vez de estabelecer um único modelo ad-missível de distribuição de produtos, como era ocaso do Regulamento n.o 1475/95, exclui do âm-bito de isenção uma série de restrições cujos efei-tos negativos em matéria de distorção grave daconcorrência no sector automóvel não são, na ge-neralidade, neutralizados por eventuais efeitosbenéficos, mesmo aquém dos limiares de quotade mercado até aos quais a isenção é automatica-mente concedida.

168. Por último, a adopção de um regime maisestrito em matéria de distribuição selectiva quan-titativa para a venda de veículos e veículos co-merciais ligeiros justifica a adopção de um limiarde quota de mercado de 40%, em vez de 30%como no regime geral vertical.

Venda de veículos novos

169. Em matéria de distribuição de veículos no-vos, as principais condições de isenção do novoregulamento são as seguintes.

— Doravante, os produtores devem, na prática,optar entre um sistema de distribuição de na-tureza selectiva (qualitativa ou quantitativa)ou de natureza exclusiva. A combinação des-tes dois sistemas deixou de ser autorizada,porque a análise e a experiência adquirida re-velam que a combinação da protecção terri-torial e da proibição de venda a membros nãohomologados no sector automóvel constituium obstáculo à concorrência efectiva entremembros da rede e ao objectivo de integra-ção do mercado interno.

— Não é concedida isenção a qualquer restriçãodas vendas passivas, às restrições de vendasactivas num sistema de distribuição selectiva,à restrição imposta aos distribuidores de veí-culos de passageiros ou de veículos comer-ciais ligeiros membros de um sistema dedistribuição selectiva que limite a sua possi-bilidade de criar instalações de venda ou deentrega suplementares nos territórios no inte-rior do mercado comum onde é aplicável adistribuição selectiva (1). Estas disposiçõestêm por objectivo reforçar a concorrência in-tramarca entre distribuidores e aumentar a in-

tegração do mercado, facilitando a escolhaentre mercados com diferenciais de preçosimportantes.

— A ligação obrigatória entre as actividades devenda e a prestação de serviços pós-vendadeixa de ser isenta. Também não é isenta aproibição, imposta ao concessionário, de sub-contratar a prestação de serviços pós-vendajunto de oficinas de reparação homologadaspelo construtor. A reorganização da ligaçãoentre a venda e a prestação de serviçospós-venda tem por objectivo permitir a en-trada no mercado de operadores exclusiva-mente interessados numa dessas actividades,bem como promover uma melhor afectaçãodos investimentos específicos por parte dosoperadores existentes, que poderão concen-trá-los no domínio que preferirem.

— A proibição do sistema multimarcas (2)dentro de um mesmo local de exposição nãoé isenta pelo novo regulamento. Em contra-partida, o construtor pode impor que as dife-rentes marcas sejam expostas em locais espe-cificamente reservados a cada uma delas, nointerior do local de exposição.

— Os acordos verticais que limitam o direito deum distribuidor vender veículos automóveiscom características diferentes dos modelosequivalentes da gama objecto do acordo nãosão isentos. Desta forma, qualquer consumi-dor tem o direito de adquirir um veículo numoutro Estado-Membro, com as característi-cas habituais dos veículos normalmente ven-didos no seu país (aquilo que se chama habi-tualmente «cláusula de disponibilidade») (3).

— As actividades dos intermediários mandata-dos por um consumidor deixam de estar su-jeitas a qualquer condição. Estes interme-diários constituem um poderoso instrumentode desenvolvimento do comércio transfron-teiras.

— Por último, a independência dos distribuido-res de veículos face aos construtores é refor-çada, uma vez que lhes é dada a possibilidadede representar livremente diversas marcas de

¥1∂ Esta não isenção das cláusulas de localização produzirá efeitos apartir de 1 de Outubro de 2005. Ver n.o 2, alínea b), do artigo 5.o en.o 2 do artigo 12.o do Regulamento n.o 1400/2002.

¥2∂ Por sistema multimarcas, entende-se a possibilidade de represen-tar diversas marcas concorrentes que pertencem a grupos distintosde empresas.

¥3∂ Esta cláusula disponibilidade permite, por exemplo, aos consumi-dores da Irlanda e do Reino Unido adquirirem veículos comvolante à direita no Continente.

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veículos, através do reforço dos critérios mí-nimos de protecção contratual (nomeada-mente em matéria de duração mínima decontrato e em matéria de período e funda-mentação do aviso prévio de rescisão). Estaindependência aumenta também significa-tivamente devido à liberdade de venda dasua actividade a outros membros homolo-gados da rede a que pertencem. Além disso,só será concedida uma isenção ao acordovertical se as partes contratantes puderemsubmeter os litígios surgidos no âmbito docontrato a um terceiro independente ou aarbitragem.

Prestação de serviços pós-venda e venda de peças sobressalentes

170. A prestação de serviços pós-venda (manu-tenção e reparação) representam um custo de uti-lização do veículo automóvel equivalente aocusto de compra (da ordem de 40% do custo to-tal). Assim, afigurou-se essencial melhorar igual-mente as condições de concorrência neste sector,tanto mais que se um consumidor pode decidiradquirir o seu veículo no Estado-Membro onde opreço é inferior, tal possibilidade está excluídaem matéria de prestação de serviços pós-vendapor evidentes razões de proximidade.

171. Por esta razão, o novo regulamento fixoucomo objectivos aumentar a concorrência entremembros homologados das redes pós-venda, au-mentar igualmente a concorrência entre membroshomologados e oficinas de reparação indepen-dentes (1) e melhorar as condições de acesso àspeças sobressalentes, preservando, a fim de man-ter a qualidade e a segurança, o direito de os cons-trutores fixarem os critérios de qualificação quedeverão ser preenchidos pelos respectivos mem-bros homologados.

172. A concorrência entre oficinas de reparaçãohomologadas irá aumentar, uma vez que, a partirde agora, quando o construtor de veículos auto-móveis fixar critérios de selecção puramente qua-litativos, qualquer operador que preencha estescritérios tem o direito de se tornar membro darede homologada de reparação, no local que

deseje (2). Além disso, no que se refere à reestru-turação das redes de venda de veículos, os con-cessionários cujo contrato tenha sido rescindido,poderão assim facilmente tornar-se membro ho-mologado das redes pós-venda, contribuindoassim para a manutenção de pontos de serviçopróximos dos consumidores. Os reparadores in-dependentes que o desejam poderão igualmentetornar-se membros homologados desde que satis-façam os critérios estabelecidos.

173. A concorrência entre os membros homolo-gados e as oficinas de reparação independentesaumentou igualmente, tendo sido alargadas ascondições de acesso à informação técnica vistoque as oficinas independentes passam a ter dora-vante acesso à mesma formação que as oficinasde reparação homologadas e também aos meiosde diagnóstico. Desta forma, a competência téc-nica, que é cada vez mais complexa, está acessí-vel às oficinas de reparação independentes nasmesmas condições que as aplicadas às oficinas dereparação homologadas. Desta forma, estes ope-radores independentes não só continuarão a con-correr, em melhores condições, com as oficinasde reparação oficiais, como contribuirão tambémpara a preservação da segurança em matéria demanutenção e reparação automóvel em geral. Ou-tros operadores contribuem igualmente para estasituação, como os clubes de automobilistas ou asempresas de assistência rodoviária, o que justificaque este tipo de operadores beneficie igualmentedo mesmo acesso alargado à informação téc-nica (3).

174. Por último, os fabricantes de componentesde veículos a motor e de peças sobressalentesverão facilitado o seu acesso aos canais de distri-buição de peças e às oficinas de reparação homo-logadas. Estes fabricantes poderão fornecer livre-mente peças sobressalentes de origem ou peçasde qualidade equivalente tanto às oficinas dereparação homologadas como às oficinas de repa-ração independentes. Os distribuidores e repara-dores homologados deverão também poder abas-tecer-se em peças de origem e peças de qualidadeequivalente, junto do fornecedor da sua escolha.Um construtor de veículos a motor deixa, conse-

¥1∂ Estes últimos agrupam diversas categorias de operadores, desde agaragem independente ao ponto de serviço especializado (porexemplo em carroçaria ou electrónica), passando por cadeias quedesenvolvem actividades em todas as reparações e manutençõesnormalizadas.

¥2∂ As quotas de mercado dos construtores em matéria de prestaçãode serviços pós-venda são em princípio superiores ao limiar de30% do Regulamento (CE) 1400/2002 no que se refere à venda depeças sobressalentes e à prestação de serviços pós-venda. Conse-quentemente, as prestações de serviço pós-venda serão regidaspor um sistema selectivo qualitativo.

¥3∂ Ver a lista não exaustiva destes operadores independentes no n.o 2do artigo 4.o do Regulamento n.o 1400/2002.

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quentemente, de ter a exclusividade do forneci-mento de componentes ou de peças sobressalen-tes que não produz ele próprio. Esta evolução éimportante porque actualmente os fabricantes deequipamento representam mais de 80% da produ-ção destes produtos e os construtores de veículosautomóveis apenas 20%. Além disso, serão dora-vante consideradas como peças sobressalentes deorigem não só as fornecidas pelo construtor auto-móvel, mas também as fabricadas pelo fabricantede equipamento tanto as destinadas à montageminicial do veículo, como as produzidas por essemesmo fabricante de equipamento segundo as es-pecificações e as normas de fabrico fornecidaspelo construtor para o fabrico das componentesou peças sobressalentes de origem destinadas aoveículo a motor em questão.

Conclusão

175. Os objectivos do Regulamento (CE)n.o 1400/2002 em matéria de reforço da concor-rência tanto no que se refere à venda de veículosnovos, das suas peças sobressalentes e da presta-ção de serviços pós-venda, acompanham de pertoos objectivos de melhoria do funcionamento domercado interno e de obtenção de vantagens sig-nificativas para os consumidores. De qualquerforma, a fixação destes objectivos não altera demodo algum o controlo qualitativo exercido pelosprodutores em causa sobre as suas redes de distri-buição, nem sobre a segurança e a fiabilidade dosseus produtos. Uma vez que este novo regula-mento prevê uma série de oportunidades comer-ciais que deverão ser aproveitadas pelos operado-res em causa, a realização dos objectivos acimacitados dependerá inteiramente das decisões co-merciais susceptíveis de aproveitarem tais opor-tunidades que cada categoria de operadores to-mar ao respectivo nível.

176. A introdução de parâmetros de diferenciaçãodos sistemas de distribuição deverá permitir que osoperadores em causa se adaptem de forma mais fá-cil e mais eficaz às condições de mercado e às ne-cessidades dos consumidores que, cada vez mais,são susceptíveis de evoluir ao longo do tempo.

6.1.4. Brochura explicativa

177. A brochura explicativa de 30 de Setembro de2002 relativa ao Regulamento (CE) n.o 1400/2002adopta a mesma abordagem pragmática que abrochura que explicava as implicações práticasdo anterior regulamento. Considerou-se ser útil,

dadas as alterações substanciais introduzidaspelo novo regime de isenção. Tanto os consumi-dores como os operadores económicos em causaaguardavam a sua publicação. O Parlamento Eu-ropeu recomendou igualmente a sua elaboração.Esta brochura foi divulgada ao público ao mesmotempo que a entrada em vigor do novo regula-mento, ou seja, no dia 1 de Outubro de 2002 (1).

178. A brochura explicativa serve de guia práticodestinado aos consumidores e a todos os operado-res implicados em acordos verticais no sector dosveículos a motor. Tem também por objectivo con-tribuir para a análise, pelas próprias empresas, daconformidade dos respectivos acordos verticaiscom as regras da concorrência.

179. A brochura explicita a filosofia e os objecti-vos do regulamento, explica a sua estrutura e de-terminados aspectos jurídicos e, sobretudo, dáresposta a questões práticas que poderão ser colo-cadas pelos consumidores e pelos operadoreseconómicos interessados, tanto em matéria devendas de veículos, como de peças sobressalentese de prestação de serviços pós-venda. Por último,uma secção é consagrada, através de exemplos,aos princípios subjacentes à definição de mer-cado no sector automóvel, bem como ao cálculodas quotas de mercado (2). Esta secção é extrema-mente importante visto que o novo regulamentose baseia na aplicação de limiares de quota demercado.

6.2. Avaliação geral da aplicação do Regulamento de isenção (CE) n.o 1475/95 no que se refere aos preços dos veículos novos

180. Tal como exigido pelo Regulamento (CE)n.o 1475/95, a Comissão procedeu à comparaçãodos preços dos veículos novos antes de impostosna Comunidade. Esta comparação é efectuadaduas vezes por ano com base nos preços de vendarecomendados pelos produtores para cada país

¥1∂ A brochura explicativa da Direcção-Geral da Concorrência estádisponível nas onze línguas oficiais em versão papel, mas tambémno sítio Internet da Direcção-Geral da Concorrência(http://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/). Não temqualquer valor jurídico. Ver igualmente o comunicado deimprensa da Comissão IP/02/1392 de 30.9.2002.

¥2∂ Para o efeito, a Comissão encomendou ao Professor Verboven daKatholieke Universiteit van Leuven um «Estudo quantitativosobre a definição de mercado dos veículos de passageiros». Esteestudo pode ser consultado no endereço Internet «sector automó-vel» da Direcção-Geral de Concorrência, na secção estudos. Esteestudo é de natureza puramente consultiva e não prejudica oresultado da análise de mercado efectuada pela Comissão emcasos individuais.

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membro da Comunidade, em Maio e Novembrode cada ano (1).

181. Tanto a comparação dos preços de 1 de No-vembro de 2001 como a realizada em 1 de Maiode 2002 revelam que não se registou qualquerconvergência notória dos preços, apesar da intro-dução do euro em 1 de Janeiro de 2002.

182. Tal como nos dois últimos relatórios sobresos preços dos veículos, a Espanha, a Grécia, a Fin-lândia e a Dinamarca, país que não pertence à zonado euro, continuam a constituir os mercados ondeos preços dos veículos antes de impostos são geral-mente mais baixos. Por outro lado, a Alemanha, omaior mercado em termos de volume, bem como aÁustria, continuam a ser os países com preçosmais elevados na zona do euro. O Reino Unidopermanece, em geral, o mercado mais caro.

183. Tal como aconteceu com o relatório sobre ospreços de 1 de Maio de 2001 (2), a diferença depreço médio no interior da zona do euro é muitomais importante (muito superior a 20%) nos qua-tro primeiros segmentos de veículos (A a D), ondeo número elevado de modelos oferecidos pelosconstrutores concorrentes deveria, normalmente,ser sinónimo de forte concorrência, do que nossegmentos E, F e G (3). Esta conclusão é válidatanto para os preços em 1 de Novembro de 2001como para os preços em 1 de Maio de 2002.

184. Em termos absolutos, estas diferenças depreços representam quantias consideráveis (porexemplo entre 4 000 a 7 000 euros para certosmodelos do segmento D). Estas importantes dife-renças de preços explicam a razão por que diver-sos consumidores continuam a adquirir o seu au-tomóvel noutros países da Comunidade, apesarde certas dificuldades, como o prova o númeroconstante de consumidores que se queixam à Co-missão, no que se refere, por exemplo, aos prazosde entrega excessivamente longos ou a outrosobstáculos como medidas de proibição de expor-tação entre Estados-Membros (4).

185. Estes problemas persistentes a nível dasaquisições verificados nos últimos anos revelamque o funcionamento do mercado interno podeainda ser significativamente melhorado no sectorautomóvel. Esta melhoria constitui um dos objec-tivos do novo regulamento de isenção adoptadopela Comissão, em benefício dos consumidores edos operadores económicos. Por este motivo, aComissão anunciou, por ocasião da adopção doRegulamento (CE) n.o 1400/2002 que continua-ria a acompanhar a evolução dos preços e a pu-blicar os relatórios sobre os preços duas vezespor ano.

7. Serviços financeiros

186. Em 2002 registaram-se desenvolvimentossignificativos na aplicação da legislação de con-corrência ao sector dos serviços financeiros. Noque se refere a processos individuais, a Comissãoadoptou duas decisões, a primeira relativa à co-missão interbancária multilateral da Visa Interna-tional e a segunda que aplica coimas a oito bancosaustríacos devido à sua participação num cartelde preços de grande envergadura. A nível regula-mentar, a Comissão publicou um projecto de re-visão de um regulamento de isenção por catego-ria no sector dos seguros, com o objectivo deobter observações e de adoptar um novo regula-mento no início de 2003.

Visa International (comissão interbancária multilateral) (5)

187. Em 24 de Julho, a Comissão adoptou umadecisão no processo da Visa International, rela-tivo à comissão interbancária multilateral (CIM).A CIM é um pagamento interbancário realizadopara cada transacção efectuada com um cartão depagamento. No sistema Visa, é paga ao banco dotitular do cartão pelo banco do retalhista e consti-tui um custo para este último, que é normalmenterepercutido nos retalhistas integrando o encargoque pagam ao banco por cada pagamento atravésde cartão Visa. A taxa CIM da Visa, aplicável poromissão caso dois bancos não tenham chegado aacordo em contrário, é fixada pelo Conselho Visae estabelecida nas regras do cartão de pagamentoVisa Internacional, que foram notificadas à Co-missão.

¥1∂ Ver comunicados de imprensa IP/02/305 de 25.2.2002 eIP/02/1109 de 22.7.2002.

¥2∂ Ver comunicado de imprensa IP/01/1051 de 23.7.2001.¥3∂ Segmento A e B (pequenos veículos), C (veículos médios), D, E

(grandes veículos), F (veículos de luxo) e G (todo-terreno/desportivos).¥4∂ A este respeito, a Volkswagen introduziu um recurso de anulação

do acórdão do Tribunal de Primeira Instância de 6 de Julho de 2000(processo T-62/98; Col. 2000, p. II-02707) que confirmava ampla-mente a decisão de infracção com aplicação de coimas adoptadapela Comissão em 28 de Janeiro de 1998 (JO L 124 de 25.4.98,p. 60). As conclusões de 17 de Outubro de 2002 do advo-gado-geral DÁMASO RUIZ-JARABO COLOMER no processoC-338/00/P propõem que o Tribunal rejeite o recurso. ¥5∂ Processo Comp/D-1/29.373, JO L 318 de 22.11.2002, p. 17.

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188. A decisão concede uma isenção condicio-nal a determinadas CIM da Visa, nomeadamenteas relativas às transacções de pagamentos trans-fronteiras com cartões Visa «consumidor» no Es-paço Económico Europeu. Esta decisão não seaplica às CIM relativas a pagamentos Visa nacio-nais dentro dos Estados-Membros, nem às CIMaplicáveis aos cartões Visa de empresa. A isençãoé válida até 31 de Dezembro de 2007.

189. Em Setembro de 2000, a Comissão tinhaemitido uma comunicação de objecções relativa-mente ao anterior sistema de CIM da Visa, tendocontudo sido possível conceder uma isenção apósa Visa ter proposto importantes reformas do seusistema CIM.

Bancos austríacos (1)

190. Em 11 de Junho, a Comissão aplicou coi-mas num total de 124,26 milhões de euros a oitobancos austríacos devido à sua participação numcartel em matéria de preços. Na sequência de in-formações que surgiram na imprensa austríaca, aComissão realizou em Junho de 1998 inspecçõessurpresa em diversos bancos austríacos. Os docu-mentos encontrados revelaram um sistema de fi-xação de preços altamente institucionalizado,que abrangia a totalidade da Áustria e todos osprodutos e serviços bancários, bem como a publi-cidade ou, aliás, a inexistência de publicidade. Osdirectores dos bancos reuniam-se todos os meses,excepto em Agosto, enquanto «Lombard Club».Além disso, em relação a cada produto bancárioexistia um comité separado em que participava ofuncionário competente, ao segundo ou terceironível de gestão.

191. O cartel começou muito antes da adesão daÁustria ao Espaço Económico Europeu em 1994.Contudo, neste caso, a Comissão aplicou coimasapenas para o período iniciado com a adesão àUnião Europeia (1995) até Junho de 1998, dataem que as inspecções surpresa puseram termo aocartel.

192. A Comissão considerou que o comporta-mento dos bancos austríacos correspondia a umainfracção muito grave às regras de concorrênciaprevistas no artigo 81.o do Tratado CE.

Projecto de regulamento de isenção por categoria para o sector dos seguros (2)

193. Em 9 de Julho, a Comissão publicou, convi-dando à apresentação de observações de tercei-ros, um projecto de revisão do regulamento deisenção por categoria no sector dos seguros, naperspectiva de uma eventual substituição do ac-tual Regulamento 3932/92, na data do seu termode vigência, em 30 de Março de 2003. O prazopara a apresentação de observações foi fixado em30 de Setembro de 2002. Foram recebidas vinte etrês contribuições de terceiros, incluindo organis-mos do sector dos seguros, associações de consu-midores do sector dos seguros e autoridades pú-blicas. A Comissão analisou subsequentementeoutras eventuais alterações ao seu projecto, à luzdas observações recebidas, tendo em vista aadopção do novo regulamento no início de 2003.

8. Sociedade de informação

194. A Comissão prosseguiu os seus trabalhosrelativos à criação de condições favoráveis a umcontexto aberto e concorrencial para o desenvol-vimento da Internet e do comércio electrónico. OPlano de Acção eEurope 2005, que o ConselhoEuropeu de Sevilha de 2002 subscreveu, des-tina-se promover a divulgação e a utilização daInternet na Europa, em especial no sentido de es-timular serviços, aplicações e conteúdos segurosbaseados numa infra-estrutura de banda largaamplamente disponível. A iniciativa eEurope fazparte da estratégia de Lisboa para tornar a UniãoEuropeia a economia baseada no conhecimentomais competitiva e mais dinâmica, melhorando oemprego e a coesão social até 2010.

195. Subsistem preocupações em matéria de po-lítica de concorrência, principalmente no que dizrespeito à infra-estrutura de telecomunicaçõesutilizada para o tráfego Internet. Estas preocupa-ções relacionam-se em especial com o acesso aosmercados da Internet, tanto de banda larga (ele-vada capacidade) como de banda estreita (baixacapacidade).

196. Mais uma vez surgiram problemas de con-corrência no que se refere ao governo da Internet.A Comissão continua a tratar de denúncias relati-vas aos registos de nomes de domínios de nívelsuperior, nos termos do artigo 82.o A Comissãonão tem quaisquer dúvidas de que as regras de

¥1∂ Processo Comp/D-1/36.571, ainda não publicado no JO. ¥2∂ JO C 163 de 9.7.2002.

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I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADASE ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE — ARTIGOS 81.O E 82.O;

MONOPÓLIOS ESTATAIS E DIREITOS EXCLUSIVOS — ARTIGOS 31.O E 86.O

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concorrência da União Europeia se aplicam aosistema de nomes de domínio. Tal como acontececom outros produtos mais tradicionais, os nomesde domínios são comercializados nos mercados.Os clientes pagam o direito de explorar os nomesde domínios para fins próprios, do que resultam lu-cros para os registos e para os agentes de registo.

9. Profissões liberais

9.1. Aplicação do Direito Comunitário da Concorrência às profissões liberais

197. As profissões liberais são ocupações queexigem uma formação especial no domínio dasletras ou das ciências, por exemplo advogados,notários, engenheiros, arquitectos, médicos econtabilistas. O sector caracteriza-se normal-mente por um elevado nível de regulamentaçãoimposta pelos governos nacionais ou de auto-re-gulamentação imposta pelos organismos profissi-onais. Esta regulamentação pode afectar, nomea-damente, o número de participantes na profissão;os preços que os profissionais podem cobrar e ascondições de cobrança de honorários permitidas(por exemplo, provisões); a estrutura organizativadas empresas de serviços profissionais; os direi-tos exclusivos de que beneficiam e a possibili-dade de publicidade. É óbvio que esta regulamen-tação é susceptível de afectar a concorrência equando é decidida por associações de empresaspode ser abrangida pelo âmbito de aplicação don.o 1 do artigo 81.o do Tratado CE.

198. A política da Comissão no que se refere àsprofissões liberais consiste em aplicar integral-mente as regras de concorrência a este sector, re-conhecendo embora as suas especificidades, talcomo a assimetria de informação entre o cliente eo fornecedor de serviços. Esta política não põeem causa a existência dos organismos profissio-nais enquanto tais, mas exige, por exemplo, queestes organismos profissionais utilizem os seuspoderes de auto-regulamentação em benefíciodos consumidores e não apenas na defesa dos in-teresses dos seus próprios membros. O objectivoglobal consiste em melhorar o bem-estar do con-sumidor de serviços das profissões liberais.

9.1.1. Implicações dos acórdãos do Tribunal de Justiça

199. Em 1998, o Tribunal de Justiça das Comu-nidades Europeias (TJCE) afirmou claramenteque os serviços profissionais estavam sujeitos à

aplicação das regras de concorrência do TratadoCE. Decidiu no processo CNSD (1) que a lei queexigia que os despachantes alfandegários italianosadoptassem uma decisão de fixação de uma tabelauniforme para todos os despachantes alfandegá-rios era contrária ao artigo 81.o (ex-artigo 85.o) emarticulação com o artigo 10.o (ex-artigo 5.o). AComissão tinha já concluído que a participaçãodo organismo profissional na fixação desta tabelaconstituía também uma infracção ao artigo 81.o,tendo esta posição sido posteriormente confirmadapelo Tribunal de Primeira Instância (TPI) (2). Em2001, o TPI tinha também sustentado, na genera-lidade, uma decisão da Comissão na qual estaconcluía que o Institute of Professional Repre-sentatives before the European Patent Office (3)cometera uma infracção ao artigo 81.o, em espe-cial no que se refere à sua regra que proibia osmembros de realizarem publicidade comparativa.

200. Em Fevereiro de 2002, dois novos acórdãosdo Tribunal de Justiça das Comunidades Euro-peias contribuíram para clarificar o âmbito de ac-ção, nos termos da legislação de concorrência, nodomínio das profissões liberais. Tinha sido solici-tado ao Tribunal que decidisse sobre a fixação depreços dos advogados na Itália e sobre uma dis-posição de auto-regulamentação que proibia asparcerias entre advogados e auditores nos PaísesBaixos. O TJCE decidiu, no processo Arduino (4),que um Estado-Membro pode fixar uma tabela dehonorários se tal se revelar necessário em termosde interesse público e se tiver a última palavra epuder controlar a proposta que lhe é apresentadapor um organismo profissional. No processoWouters (5), o TJCE decidiu que um organismoprofissional incumbido da missão de proteger ointeresse público pode proibir as associaçõesmultidisciplinares susceptíveis de provocaremconflitos de interesses graves. Estabeleceu umaregra geral segundo a qual se deve examinar emque medida os efeitos restritivos da concorrênciaresultantes, para os membros do organismo pro-fissional, de uma medida de auto-regulamentaçãoultrapassam o que é de forma razoável necessáriopara garantir a prática adequada da profissão noEstado-Membro em causa.

¥1∂ Processo C-35/96, Comissão/Itália, Acórdão de 18.6.1998(Col. 1998, p. I-3851).

¥2∂ Processo T-513/93, Consiglio Nazionale degli Spedizionieri Doga-nali/Comissão, acórdão de 30.3.2000 (Col. 2000, p. II-1807).

¥3∂ Processo T-144/99. Conhecido como processo IMA (em francês)ou EPI (em inglês), acórdão de 28.3.2001 (Col. 2001, p. II-01087).

¥4∂ Processo C-35/99, acórdão de 19.2.2002 (Col. 2002, p. I-01529).¥5∂ Processo C-309/99, acórdão de 19.2.2002, (Col. 2002, p. I-01577).

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201. No que se refere às tabelas de honoráriosfixas, a Comissão crê que é possível uma inter-venção quando a tabela comum não é fixada peloEstado. De modo mais preciso, poderão ser con-testadas as seguintes situações:

— «as aprovações automáticas», incluindo asimples validação e a aprovação tácita conce-dida pelos Estados-Membros no que se re-fere a acordos ou decisões em que os proce-dimentos legislativos em vigor não prevêemmecanismos de controlo e/ou não prevêemque a autoridade realize consultas;

— as práticas em que as autoridades dos Esta-dos-Membros apenas podem rejeitar ousubscrever as propostas de organismos pro-fissionais, sem que lhes seja possível alterar oseu conteúdo ou substituir estas propostaspor decisões próprias;

— as propostas apresentadas por operadoreseconómicos por iniciativa própria, que nãoestão expressamente previstas na legislação erelativamente às quais não está previsto qual-quer procedimento específico com o objec-tivo de proceder a uma revisão activa, a umapossível alteração ou rejeição ou a uma adop-ção expressa;

— as propostas com efeitos vinculativos ou decoordenação para os profissionais, antes dasua adopção por parte das autoridades esta-tais competentes.

202. No que se refere às associações multidisci-plinares, as conclusões são menos óbvias. Os Es-tados-Membros podem proibir estas associaçõesentre determinadas profissões, em função dos re-gimes legais aplicáveis e do facto de tal proibiçãogarantir o interesse público que o Estado-Mem-bro considera estar em causa. No essencial, cadacaso deverá ser examinado em função dos seusméritos próprios.

203. Contudo, o acórdão Wouters proporcionaalgumas orientações no que se refere à análise dasregras puramente «deontológicas» (ética profissi-onal). Qualquer análise destas regras em termosde concorrência deverá tomar em consideração aconclusão do Tribunal de Justiça segundo a qualas regras deontológicas não deverão ser postasem causa se, de forma razoável, forem necessá-rias para garantir o exercício adequado da profis-são e, nessa medida, não são abrangidas pelo âm-bito de aplicação do n.o 1 do artigo 81.o As regrasque não são, de forma razoável, necessárias para

garantir este objectivo, deverão ser apreciadaspor forma a determinar se são elegíveis para umaisenção ao abrigo do n.o 3 do artigo 81.o Destaforma, o acórdão Wouters afectará a abordagemda Comissão no que se refere a outros tipos de re-gras e práticas restritivas nesta área, tais comorestrições em matéria de publicidade, angariaçãode clientes e acesso à profissão.

9.1.2. Estudo sobre o impacto económico da regulamentação

204. Os consumidores e as empresas deparam-seainda com dificuldades consideráveis para tira-rem partido das vantagens do mercado interno noque se refere aos serviços das profissões liberais.Esta situação decorre provavelmente da regula-mentação estatal e da auto-regulamentação pelasprofissões, que produzem efeitos sobre as condi-ções de concorrência. Apesar do objectivo princi-pal desta regulamentação consistir, presumivel-mente, em garantir a qualidade do serviço, épossível que algumas das regulamentações actu-ais produzam mais custos do que benefícios. Pelomenos, são mantidas algumas regras alegada-mente deontológicas sem uma justificação claraquanto ao benefício que proporcionam aos con-sumidores. Caso se venham a identificar e asuprimir restrições não justificadas, os consumi-dores beneficiarão de uma maior escolha e de me-lhores preços, e os fornecedores de serviços terãouma maior margem para a criatividade e a inova-ção e para adaptar as suas actividades à procura.

205. Tendo em conta o atrás exposto, a DG Con-corrência lançou em Abril um estudo sobre as re-gulamentações aplicáveis às profissões liberais,cujos resultados deverão estar disponíveis no pri-meiro semestre de 2003 (1). Em primeiro lugar, oestudo deverá fornecer à DG Concorrência factosrelevantes e actualizados no que se refere à regu-lamentação aplicada aos advogados e notários,arquitectos e engenheiros, auditores e contabilis-tas, médicos e farmacêuticos. Relativamente acada área, serão realizadas comparações factuaisque cobrirão todos os Estados-Membros. Tor-nou-se já claro, na actual fase, que o volume deregulamentação é extremamente variável naUnião Europeia, o que sugere que nalguns Esta-dos-Membros se considera que os objectivos deinteresse público exigem uma legislação especí-

¥1∂ O contratante, escolhido na sequência de um concurso público, éo Institute for Advanced Studies, uma organização sem fins lucra-tivos com sede em Viena.

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I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADASE ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE — ARTIGOS 81.O E 82.O;

MONOPÓLIOS ESTATAIS E DIREITOS EXCLUSIVOS — ARTIGOS 31.O E 86.O

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fica, enquanto noutros a situação é vista de formadiferente.

206. Em segundo lugar, os consultores deverãorealizar uma análise custos/benefícios da regula-mentação de algumas profissões num número su-ficientemente representativo de Estados-Mem-bros. Através deste estudo, pretende-se ilustrar osefeitos económicos das diversas opções regula-mentares. Os resultados do estudo deveriam, ide-almente, permitir que a Comissão classificasse osEstados-Membros de acordo com a ‘qualidade’da sua regulamentação nesta área, e fornecer ele-mentos económicos suficientes para pelo menossugerir que um certo nível de liberalização, aindaa determinar, seria benéfico para toda a economiaeuropeia e, em especial, para os consumidores. Apriori, os benefícios potenciais nas trocas em-presa a empresa (B2B) deverão ser maiores doque os benefícios para os consumidores privados,principalmente porque a procura das empresasrelativamente a novos tipos de serviços e a umamaior flexibilidade parece ser maior, e tambémporque a prestação de serviços B2B é mais im-portante em termos de volume.

9.1.3. Acções coordenadas com as Autoridades Nacionais de Concorrência

207. É neste contexto que a DG Concorrênciapretende lançar um debate sobre os aspectos deconcorrência relativos às profissões liberais. ADG Concorrência tem estado em contacto com asAutoridades Nacionais de Concorrência (ANC), afim de obter informações sobre os seus casos ante-riores e actuais neste sector, em primeiro lugarnuma reunião de Directores-Gerais das ANC rea-lizada em 26 de Julho de 2002 e, posteriormente,numa reunião entre peritos dos Estados-Mem-bros, realizada em 28 de Outubro de 2002.

208. A reunião de Directores-Gerais baseou-senas respostas a diversas questões previamente en-viadas às ANC e relativas à sua experiência naaplicação da legislação de concorrência nestesector. As respostas recebidas revelaram que,embora a legislação nacional de concorrênciaabranja o sector das profissões liberais em quasetodos os Estados-Membros, a aplicação, na prá-tica, da legislação de concorrência é limitada pelalegislação nacional que impõe restrições à con-corrência. Na generalidade, as ANC não têm po-deres para agir quando tal legislação existe. As-sim, as ANC limitam-se nesta área a emitirpareceres sobre os projectos legislativos. Namaior parte dos casos, os processos disseram res-peito à fixação de preços pelas associações profis-sionais, a condições discriminatórias de acesso àprofissão e a restrições à publicidade. AlgumasANC aplicaram ou estão a aplicar um programageral de liberalização do sector.

209. Em 28 de Outubro, um Comité Consultivoad hoc de peritos dos Estados-Membros reu-niu-se em Bruxelas para discutir a interpretaçãodos acórdãos Arduino e Wouters e para analisarque tipo de intervenção em matéria de concor-rência estes acórdãos permitem. Os peritos dosEstados-Membros acolheram favoravelmente apossibilidade de debaterem em conjunto e derealizarem um intercâmbio de experiênciasneste sector. Concordaram com a interpretaçãoque a Comissão deu aos dois acórdãos, tal comoacima referida. Uma outra conclusão da reuniãofoi que, uma vez que muitas das restrições pare-cem resultar da legislação nacional, poderia serbenéfico iniciar um diálogo com os organismosdos Estados-Membros responsáveis por tal le-gislação (por exemplo Ministérios da Justiça),bem como com os Ministérios dos AssuntosEconómicos.

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D — Estatísticas

0

100

200

300

400

500

600

Gráfico 1 — Processos novos

1997 1998 1999 2000 2001 2002

499 509

388

297 284321

101

177

221

101

192

216

77

149

162

84

112

101

74

116

94

91

129

101

Notificações Denúncias Processos de iniciativa da Comissão

Gráfico 2 — Processos tratados

1997 1998 1999 2000 2001 2002

Procedimento informal

0

100

200

300

400

500

600

Decisões formais

517

581 582

400378 363

27

42 68

3854 33

490539

514

362 324 330

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I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADASE ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE — ARTIGOS 81.O E 82.O;

MONOPÓLIOS ESTATAIS E DIREITOS EXCLUSIVOS — ARTIGOS 31.O E 86.O

51

0

200

400

600

800

1 000

1 200

1 4001 262

1 204

1 013935

840805

Gráfico 3 — Evolução do número de processos pendentes no final do ano

1997

499 517 509581

388 400 378

284

582

297

1998 1999 2000 2001 2002

Processos novos

363321

Processos encerrados

Processos pendentes em 31 de Dezembro

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

A — Política geral e novos desenvolvimentos

1. Introdução

210. Em consonância com o declínio das Bolsasmundiais, o número de fusões e aquisições notifi-

cadas à Comissão recuou em 2002 para os níveisregistados no final da década de 90. Enquanto em2001 tinham sido notificadas 335 operações deconcentração com dimensão comunitária, o quejá indicava uma ligeira diminuição em relação a2000 (345), em 2002, registaram-se apenas277 notificações (ver quadro).

211. Para além da diminuição em termos quanti-tativos, a percentagem de operações de concen-tração que suscitaram problemas de concorrênciae que, por conseguinte, exigiram uma investiga-ção aprofundada (segunda fase), conduzindo auma decisão nos termos do artigo 8.o, diminuírammais de dois terços, passando de 20 casos, em2001, para 7, em 2002. Estas 7 operações acaba-ram por ser todas aprovadas, ou porque as empre-sas envolvidas assumiram compromissos que eli-minaram os problemas de concorrência (5 casos),ou porque os problemas iniciais em matéria deconcorrência não se confirmaram após uma in-vestigação aprofundada (2 casos). Além disso, aComissão adoptou duas decisões nos termos don.o 4 do artigo 8.o, relativas a operações que ti-nham sido objecto de uma decisão de proibiçãoem 2001. Em ambos os casos, Tetra Laval/Si-del (1) e Schneider/Legrand (2), as partes tinhamapresentado ofertas de aquisição incondicionais,de acordo com as regras da Bolsa francesa e já ti-nham adquirido mais de 90% das acções objectoda oferta no momento da decisão de proibição.Excepcionalmente, no caso de ofertas públicas deaquisição, o Regulamento das Concentrações co-munitário (RCCE) autoriza tais aquisições antesda decisão final da Comissão. Nos termos do n.o 4do artigo 8.o do RCCE, a Comissão teve de orde-nar a cisão das empresas de acordo com umcalendário e modalidades que restabeleçam con-dições de uma concorrência efectiva, proporcio-nando ao mesmo tempo a melhor protecção dosinteresses das duas empresas.

212. A Comissão não adoptou decisões de proi-bição em 2002, enquanto no ano anterior tinhaadoptado cinco decisões deste tipo. A evoluçãodo número de proibições sublinha a pequena per-centagem de operações de concentração notifica-

das que é, de facto, proibida. Até mesmo o «má-ximo» de cinco proibições em 2001 representaapenas 1,7% das operações de concentração comdimensão suficiente para atingir os limiares doRCCE nesse ano. A estes níveis, os efeitos aleató-rios ultrapassam facilmente qualquer tendênciacoerente que se pretenda vislumbrar nestes dados.

213. No total, a Comissão tomou 275 decisões fi-nais em 2002, das quais 7 na sequência de investi-gações aprofundadas (0 proibições, 2 autorizaçõessem condições e 5 decisões de autorização sujeitasa condições), e 10 foram autorizações condicio-nais na sequência de uma investigação inicial(«primeira fase»). A Comissão autorizou 252 ope-rações na primeira fase, das quais, 111 (44%) deacordo com o procedimento simplificado introdu-zido em Setembro de 2000. A Comissão adoptou1 decisão ao abrigo do artigo 66.o do TratadoCECA. Além disso, adoptou 13 decisões de re-messa ao abrigo do artigo 9.o do RCCE e deu inícioa investigações aprofundadas em 7 casos.

214. Em 17 de Abril, a Comissão decidiu autorizarcondicionalmente a aquisição pela Bayer da Aven-tis Crop Science (ACS) (3). A divisão de saúde ani-mal do grupo Bayer produz uma vasta gama de me-dicamentos veterinários e de vacinas destinados àsaúde dos efectivos pecuários e dos animais do-mésticos, bem como diversos produtos de higienepara animais. A Aventis Crop Science foi fundadaem 1999, na sequência da fusão da AgrEvo (antigaempresa comum da Hoechst e da Schering) e da di-visão de agricultura da Rhône-Poulenc. Após umainvestigação inicial de um mês, a Comissão deci-diu, em 4 de Dezembro de 2001, examinar maisem pormenor o impacto da operação sobre ascondições de concorrência em diversos mercadosda protecção das culturas e da saúde animal. A in-vestigação aprofundada, que foi conduzida em

90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 Total

Número de notificações

12 63 60 58 95 110 131 172 235 292 345 335 277 2 185

¥1∂ COMP/M.2416 — Tetra Laval/Sidel de 30.1.2002.¥2∂ COMP/M.2283 — Schneider/Legrand de 30.1.2002. ¥3∂ M.2547.

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estreita cooperação com a Comissão Federal doComércio dos Estados Unidos, revelou que a ope-ração, tal como notificada, suscitaria numerososproblemas em matéria de concorrência nos secto-res dos insecticidas, herbicidas e fungicidas agrí-colas, bem como a nível do tratamento dassementes, dos moluscicidas, dos produtos profis-sionais para a luta contra os parasitas e de certosprodutos da saúde animal (produtos para eliminaras pulgas em gatos e cães). A Comissão decidiuautorizar a operação, sob reserva de um volumesubstancial de alienações. Nos termos da notifi-cação inicial, a operação teria conduzido à cria-ção ou ao reforço de posições dominantes emcerca de 130 mercados nos sectores da protecçãodas culturas, da luta profissional contra os parasi-tas e dos produtos para a saúde animal. Porém, aBayer propôs um conjunto alargado de compro-missos, incluindo a venda em bloco do insecti-cida líder do mercado, o Fipronil, e de uma sériede fungicidas, que em conjunto constituem a tota-lidade da actividade da ACS no mercado europeudo tratamento de sementes. Os compromissosdissiparam plenamente as preocupações da Co-missão em matéria de concorrência, permitindoque esta tomasse uma decisão de autorização aoabrigo do n.o 2 do artigo 8.o

215. A Comissão autorizou três operações queenvolviam a Haniel Baustoff-Industrie Zus-chlagstoffe GmbH («Haniel»), uma empresaalemã do sector dos materiais de construção.As operações Haniel/Fels (1), Haniel/Ytong (2) eHaniel/Cementbouw/JV (CVK) (3) foram todasautorizadas após uma investigação aprofundadae, em dois casos, após uma proposta de compro-missos substanciais.

216. A primeira operação consistia na aquisiçãoda Fels-Werke GmbH («Fels»), uma empresaalemã também do sector dos materiais de cons-trução. A Comissão examinou cuidadosamente oimpacto da operação no mercado neerlandês dosmateriais para a construção de paredes. Nessemercado, as actividades da Haniel consistiamnuma participação indirecta de 50% no capital daCVK, uma cooperativa que engloba todas asunidades de fabrico de produtos sílico-calcáriosexistentes nesse país. Os restantes 50% da CVKsão detidos indirectamente pelo Cementbouw,um grupo neerlandês do sector dos materiais de

construção. A Comissão concluiu que a Haniel,através da CVK, tinha já uma posição dominanteno mercado dos materiais para a construção deparedes de suporte, com uma quota de mercadosuperior a 50%. Todavia, concluiu-se que a aqui-sição da Fels não iria reforçar esta posição domi-nante, uma vez que a quota da Haniel no mercadosó aumentaria ligeiramente. Consequentemente,a aquisição foi autorizada (4).

217. A segunda operação examinada pela Co-missão diz respeito à proposta de aquisição pelaHaniel da Ytong Holding AG («Ytong»), outraempresa alemã do sector dos materiais de cons-trução. A aquisição da Ytong iria reforçar a posi-ção dominante da Haniel no mercado dos materi-ais para a construção de paredes. A Haniel era jáo único fornecedor de produtos sílico-calcáriosdos Países Baixos e através da aquisição da Ytong,tornar-se-ia igualmente o primeiro fornecedor debetão alveolar. Consequentemente, os comerci-antes de materiais de construção e as empresas deconstrução passariam a depender ainda mais dosprodutos da Haniel, dando assim a esta empresaum poder adicional de elevar os preços acima donível concorrencial em detrimento dos seus clien-tes. Dado que a proposta de alienação das activi-dades da Ytong nos Países Baixos eliminaria asobreposição neste país, a Comissão autorizou aoperação.

218. O terceiro caso consistiu, de facto, numaautorização com efeitos retroactivos da aquisiçãorealizada em 1999 da empresa comum neerlan-desa de produtos sílico-calcários CVK pelogrupo alemão Haniel e pela empresa neerlandesaCementbouw. O acordo só chegou ao conheci-mento da Comissão no decurso da sua investiga-ção relativa à aquisição pela Haniel da Fels e daYtong. A Haniel e a Cementbouw adquiriram ocontrolo da CVK e, indirectamente, dos seusmembros em 1999 através de uma série de acor-dos, mas não os notificaram à Comissão. Apósuma cuidadosa análise do acordo CVK de 1999,notificado em Janeiro de 2002, a Comissão che-gou à conclusão que a concentração conduziria auma posição dominante da entidade resultante daconcentração no mercado neerlandês dos materi-

¥1∂ COMP/M.2495 — Haniel/Fels de 21.2.2002.¥2∂ COMP/M.2568 — Haniel/Ytong de 9.4.2002.¥3∂ COMP/M.2650 — Haniel/Cementbouw/JV (CVK) de 26.6.2002.

¥4∂ Em Outubro de 2001, ao mesmo tempo que iniciava a sua investiga-ção aprofundada no mercado dos materiais de construção neerlan-dês, a Comissão transmitiu a apreciação do impacto transnacionalda operação no mercado relevante alemão ao Bundeskartellamt.Subsequentemente, remeteu igualmente os aspectos alemães daaquisição da Ytong pela Haniel ao Bundeskartellamt. Ambas as ope-rações foram posteriormente autorizadas mediante a aceitação decompromissos.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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ais para a construção de paredes de suporte, comuma quota de mercado substancialmente superiora 50%. A CVK passaria a ser, juntamente comuma das suas empresas-mãe (Cementbouw), oúnico fornecedor de produtos sílico-calcários,que são os produtos para a construção de paredesmais procurados pelas empresas de construçãonos Países Baixos. Os comerciantes de materiaisde construção e as empresas de construção neer-landesas, um sector importante para a economiadeste país, ficariam assim dependentes da CVK.

219. A fim de dissipar as preocupações em maté-ria de concorrência da Comissão, a Haniel e a Ce-mentbouw assumiram o compromisso de pôrtermo ao controlo conjunto da CVK e dos seusmembros. Além disso, as vendas e actividades demarketing conjuntas através da CVK cessarão.Em consequência deste compromisso, dois gru-pos de empresas de produtos sílico-calcários se-rão concorrentes no sector neerlandês dos materi-ais de construção e a concentração não irá criar(ou reforçar) uma posição dominante no mercadorelevante.

220. Em Maio, a oferta de aquisição da P&OCruises feita pela Carnival Corporation (1) foi au-torizada sem condições, após uma investigaçãoaprofundada. Em 16 de Dezembro de 2001, aCarnival Corporation, uma empresa de cruzeirosque opera a nível mundial, fez uma oferta deaquisição da totalidade do capital da P&O Prin-cess Plc, uma empresa de cruzeiros estabelecidano Reino Unido, que também opera a nível mun-dial. As autoridades de concorrência do ReinoUnido solicitaram a remessa do processo nos ter-mos do artigo 9.o do RCCE. A Comissão não ace-deu ao pedido na medida em que, inicialmente, oprocesso também suscitou preocupações noutrosEstados-Membros, nomeadamente na Alemanha.

221. A Carnival e a P&O Princess representa-ram, em 2000, cerca de um terço do volume depassageiros de cruzeiros no EEE, verificando-se amaior sobreposição no Reino Unido e na Alema-nha. As quotas de mercado eram igualmente ele-vadas em Itália e Espanha, mas nestes países ajunção das actividades de cruzeiro da P&O eramínima. Foi iniciada uma investigação aprofun-dada devido às preocupações iniciais acerca daforte posição das partes no mercado dos cruzeirosno Reino Unido e na Alemanha. No entanto, apósuma análise aprofundada concluiu-se que o forte

crescimento do mercado, a ausência de barreirassignificativas à entrada e a possibilidade de osconcorrentes no mercado transferirem a capaci-dade, por exemplo dos Estados Unidos para oReino Unido, exerceria uma pressão concorren-cial suficiente sobre a Carnival. O acordo foi sub-sequentemente autorizado. No decurso das suasinvestigações, a Comissão contactou a Comissãoda Concorrência do Reino Unido, que tinha ana-lisado e autorizado uma oferta de aquisição con-corrente da P&O Princess pela Royal Caribbean,bem como a Comissão Federal do Comércio dosEstados Unidos, que examinou e autorizou asduas propostas.

222. Em Dezembro, a Comissão autorizou, comalgumas condições, a aquisição do controlo con-junto do distribuidor regional alemão de gás GasVersorgung Süddeutschland (GVS) pela empresade electricidade alemã Energie Baden-Württem-berg AG (EnBW, controlada pela Electricité deFrance) e pela empresa italiana de gás e petróleoENI S.p.A (2). A operação, de acordo com a noti-ficação inicial à Comissão, iria reforçar a posiçãodominante da GVS no mercado de distribuição degás em Baden-Würtemberg, no Sudoeste da Ale-manha, assegurando a participação da GVS nosdistribuidores locais da EnBW. A fim de dissiparestas preocupações em matéria de concorrência,as partes propuseram, na fase inicial da investiga-ção aprofundada, conceder a possibilidade derescisão antecipada de todos os contratos de for-necimento a longo prazo celebrados entre os dis-tribuidores locais de gás e as filiais da GVS ou daEnBW, ou seja, a Neckarwerke Stuttgart AG(NWS) e a EnBW Gas GmbH. Os compromissosassumidos pelas partes são susceptíveis de liber-tar uma procura significativa, uma vez que os dis-tribuidores locais podem mudar de fornecedorgrossista de gás. O momento em que foram assu-midos estes compromissos corresponde manifes-tamente ao início do aumento da concorrência emBaden-Würtemberg, com a finalização do novogasoduto da Wingas, que se prevê que comece afuncionar no final de 2004. A Wingas explora oseu próprio sistema de gasodutos na Alemanha eeste novo gasoduto atravessará a região deBaden-Würtemberg de leste para oeste, dandoacesso à zona de elevado consumo de gás de Es-tugarda.

¥1∂ COMP/M.2706 — Carnival Corporation/P&O Cruises de 24.7.2002. ¥2∂ COMP/M.2822 — ENBW/ENI/GVS de 17.12.2002.

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2. Controlo jurisdicional em 2002 das decisões em matéria de concentrações

223. Durante o ano de 2002, o Tribunal de Pri-meira Instância Europeu (TPI) proferiu três acór-dãos em três processos de proibição de concen-trações. A rapidez com que dois destes acórdãosforam proferidos foi possível graças à aplicaçãode um novo procedimento acelerado introduzidoem 2000, que reforçou substancialmente a eficá-cia do controlo jurisdicional do procedimento decontrolo das concentrações da Comissão. No fi-nal de 2002 estavam pendentes no TPI e no Tribu-nal de Justiça das Comunidades Europeias 16 re-cursos contra decisões da Comissão. Algumasdecisões deram origem a mais de um recurso.

2.1. Airtours/Comissão (1)

224. Em 6 de Junho, o Tribunal de Primeira Ins-tância (TPI) anulou a decisão da Comissão queproibiu uma operação de concentração entre aAirtours e a First Choice, dois operadores turísti-cos com sede no Reino Unido. A Comissão tinharecebido, em 29 de Abril de 1999, a notificaçãoda proposta da Airtours de aquisição do controloda First Choice. Após uma investigação aprofun-dada da segunda fase, a Comissão decidiu, em22 de Setembro de 1999, proibir a concentraçãoporque esta iria criar no Reino Unido uma posi-ção dominante colectiva no mercado das viagensorganizadas para destinos próximos no estran-geiro (2).

225. Após a concentração ficariam a existir trêsgrandes operadores turísticos no mercado: a en-tidade resultante da concentração (com 19,4%+ 15,0% = 34,4% de quota de mercado), a Tho-mas Cook (20,4%) e a Thomson (30,7%). Todosos outros operadores teriam menos de 3% domercado. Segundo a Comissão, os três grandesoperadores poderiam coordenar o seu comporta-mento através da restrição da capacidade posta àvenda, provocando assim um aumento dos preçossuportados pelos consumidores britânicos.

226. A recorrente argumentou que a Comissãoutilizou uma nova e incorrecta definição de posi-ção dominante colectiva. A Comissão declararana decisão que não é condição necessária para a

existência de uma posição dominante colectivaque os oligopolistas se comportem tacitamentecomo se fossem um cartel. A posição dominantecolectiva no contexto da regulamentação em ma-téria de concentrações poderia ocorrer igual-mente numa situação em que «na sequência daconcentração, os oligopolistas, adaptando-se àscondições de mercado, adoptem comportamen-tos individuais que reduzam consideravelmente aconcorrência entre si, permitindo-lhes agir, emlarga medida, de forma independente dos seusconcorrentes, clientes e consumidores» (3). Estaafirmação não era de relevância imediata no casoem apreço, na medida em que a Comissão tinhacom efeito concluído que estavam reunidas ascondições para uma coordenação tácita. Conse-quentemente, o TPI não examinou a questão desaber se a noção de posição dominante colectivapodia abranger outras situações (isto é, situaçõesdiferentes da coordenação tácita). O TPI concluiuque «constituindo a decisão um acto de aplica-ção do artigo 2.o do Regulamento n.o 4064/89 auma determinada operação de concentração, oTribunal, na fiscalização da legalidade dessa de-cisão, deve ater-se à posição da Comissão relati-vamente à operação notificada» (4).

227. Algumas características do mercado tinhamlevado a Comissão a concluir que existia umincentivo para que os grandes operadores se co-ordenassem tacitamente. A investigação revelouque os operadores eram interdependentes, que osmercados financeiros eram hostis a estratégiasagressivas baseadas no crescimento orgânico eque os investidores institucionais tinham partici-pações significativas em muitos dos operadores.

228. No entanto, o TPI concluiu que a Comissãonão tinha apresentado provas suficientes paraapoiar as suas afirmações. Em 1997, a Comissãoda Concorrência do Reino Unido (MMC) publi-cou um estudo pormenorizado sobre o mercadodas viagens organizadas no estrangeiro. O estudoconcluiu que em 1997 o mercado era altamentecompetitivo. O TPI conferiu grande importânciaa algumas conclusões deste relatório e não ficouconvencido de que a situação no momento daconcentração tivesse mudado suficientementedesde que fora analisada pelo relatório da MMCao ponto de justificar as preocupações suscitadaspela Comissão.

¥1∂ Acórdão do Tribunal de Primeira Instância proferido em 6.6.2002no processo T-342/99 Airtours plc/Comissão das ComunidadesEuropeias.

¥2∂ Processo n.o IV/M.1524 — Airtours/First Choice.

¥3∂ Ponto 54 da Decisão.¥4∂ Ponto 53 do acórdão.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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229. O TPI concluiu que a Comissão tinha co-metido um erro de apreciação ao estabelecer quese a operação se realizasse os três principais ope-radores turísticos teriam um incentivo para deixarde concorrer entre si. Considerou que a Comissãonão tinha provado suficientemente a sua afirma-ção, segundo a qual já existia neste sector umatendência para a posição dominante colectiva, eque não tinha considerado adequadamente a vo-latilidade das quotas de mercado (1). O TPI consi-derou igualmente que a Comissão fez uma inter-pretação incorrecta dos dados de que dispunharelativos ao crescimento da procura (2).

230. No que diz respeito à apreciação geral sobrea coordenação tácita, o TPI especificou três con-dições necessárias para que uma situação de posi-ção dominante colectiva, tal como definida nesteprocesso, possa existir: transparência, existênciade factores de dissuasão e ausência provável dereacções por parte dos concorrentes e dos consu-midores (3).

Transparência

231. Para que a coordenação tácita seja credível,cada membro do oligopólio deve poder conhecero comportamento dos outros membros, a fim deverificar se estes estão a adoptar uma linha de ac-ção comum colusiva. A Comissão concluiu nasua apreciação que o mercado era suficiente-mente transparente devido, por um lado, à inte-racção frequente entre os oligopolistas e, por ou-tro, à publicação de brochuras que permitem acada operador controlar rigorosamente a capaci-dade dos outros. O TPI contestou esta aprecia-ção (4).

Factores de dissuasão

232. Para que a coordenação tácita seja sustentá-vel devem existir mecanismos de sanção ou de re-taliação que dissuadam os oligopolistas de seafastarem da linha de acção comum. A Comissãoconsiderou que existiam vários mecanismos san-cionatórios. O aumento de capacidade de umoperador poderá afectar gravemente os outros euma vez que cada operador vende os produtosdos outros na sua cadeia de agências de viagens,os produtos do operador que se afastar da linha de

acção comum podem ser retirados. O TPI rejeitouestes factores de dissuasão, uma vez que nãoeram credíveis ou a sua implementação era one-rosa (5).

Reacções dos concorrentes e dos consumidores

233. Uma coordenação tácita só pode ser estávelse os concorrentes actuais e futuros, bem como osconsumidores, não puderem pôr em causa os re-sultados esperados da linha de acção comum. AComissão não considerou que as franjas constitu-ídas por pequenos operadores pudessem condici-onar os oligopolistas porque a integração verticaldos grandes operadores conduzira essas franjas auma situação de dependência em relação aosmembros do oligopólio. O TPI concluiu que aapreciação da Comissão era incorrecta e que su-bestimara a capacidade dessas franjas para reagi-rem como contrapeso susceptível de contrariar acriação de uma posição dominante colectiva (6).

234. Apesar da sua conclusão negativa, o acór-dão deve ser saudado como um avanço significa-tivo, na medida em que esclarece qual o nível deprova necessário nos casos de criação de uma po-sição dominante colectiva.

2.2. Schneider/Comissão

235. Em 22 de Outubro, o Tribunal de PrimeiraInstância, decidindo pela primeira vez segundo oprocedimento acelerado em matéria de concen-trações, anulou a decisão da Comissão de 10 deOutubro de 2001 que declarara a concentraçãoentre os fabricantes de material eléctrico france-ses Schneider e Legrand (7) incompatível com omercado comum.

236. A anulação da decisão da Comissão assentaem duas séries de elementos: erros de análise e deapreciação, por um lado, e violação dos direitosda defesa, por outro.

237. Relativamente à análise económica do im-pacto da operação de concentração realizada pelaComissão, o TPI considerou que esta continha er-ros de análise e de apreciação susceptíveis de aprivar de valor de prova.

¥1∂ Ponto 120 do acórdão.¥2∂ Ponto 133 do acórdão.¥3∂ Ponto 62 do acórdão.¥4∂ Ponto 180 do acórdão.

¥5∂ Ponto 207 do acórdão.¥6∂ Ponto 277 do acórdão.¥7∂ Processo T-310/01, Schneider Electric. SA/Comissão das Comu-

nidades Europeias.

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238. Em primeiro lugar, o TPI registou que a Co-missão tinha considerado factores como a gamade produtos e a diversidade de marcas de que iriadispor a entidade resultante da concentração emtodo o território do EEE, para apreciar o seu po-der económico em cada um dos diferentes merca-dos nacionais afectados pela operação. Sem ex-cluir a priori a possibilidade de ter em conta, atítulo complementar, factores transnacionais naanálise dos efeitos de uma concentração nos mer-cados de dimensão nacional, o TPI considerouque, no caso concreto, a Comissão não tinha de-monstrado a existência destes efeitos em cada umdos mercados nacionais afectados.

239. Em segundo lugar, o TPI considerou que aComissão não tinha, erradamente, atendido àsvendas internas de certos concorrentes vertical-mente integrados, o que a tinha levado a sobresti-mar o poder da entidade resultante da concentra-ção. Com efeito, o Tribunal considerou que ospreços dos fabricantes não integrados, tal como aSchneider e a Legrand, sofriam directamente aconcorrência dos fabricantes integrados no qua-dro da realização de grandes projectos de cons-trução através de concursos públicos.

240. Nesta fase, o TPI estabeleceu o importanteprincípio de que qualquer que seja a importânciadas lacunas de uma decisão da Comissão em quese declara a incompatibilidade com o mercadocomum de uma concentração, as mesmas não po-dem provocar a anulação da decisão se se con-cluir dos outros elementos nela contidos que a re-alização da operação conduzirá à criação oureforço de uma posição dominante que tenha porefeito a criação de um entrave substancial à con-corrência efectiva. Ora, o TPI verificou que a con-centração entre a Schneider e a Legrand conduziaa um resultado deste tipo nos mercados franceses.

241. Todavia, no que se refere a estes mercados,o TPI considerou que a Comissão violou os di-reitos da defesa da Schneider, porque tinha in-troduzido na decisão de incompatibilidade umaobjecção que não figurava na comunicação deobjecções. A objeccão em questão dizia respeitoà posição de poder em relação aos grossistas deque iria beneficiar a entidade resultante da con-centração. O TPI considerou que esta violaçãodos direitos da defesa da Schneider tinha afectadoo resultado do processo sob dois aspectos. Emprimeiro lugar, a Schneider não teve ocasião deapresentar em tempo útil as suas observações so-bre esta objecção, tanto na sua resposta à comuni-cação de objecções, como no decurso da audição.

Em segundo lugar, a Schneider não beneficiou daoportunidade de apresentar em tempo oportunopropostas de alienação de activos com dimensãosuficiente para permitir resolver os problemas deconcorrência identificados pela Comissão nosmercados franceses.

242. Por outro lado, o TPI considerou que,tendo em conta a necessidade de celeridade quecaracteriza a economia geral do Regulamenton.o 4064/89, o prazo de doze dias, correspondentea cinco dias úteis, fixado pela Comissão para aspartes responderem a um pedido de informaçõesnos termos do n.o 5 do artigo 11.o do referido re-gulamento era razoável, não obstante o grandenúmero de questões colocadas (322).

243. Num acórdão distinto (1) proferido nomesmo dia, o TPI, decidindo igualmente segundoo procedimento acelerado, anulou a decisão daComissão, de 30 de Janeiro de 2002, que orde-nava à Schneider a cisão da Legrand. O TPIconsiderou que, uma vez que a decisão de incom-patibilidade tinha sido anulada, a decisão que or-denava a cisão deixava de ter base legal.

244. Nestes dois processos o TPI proferiu umacórdão cerca de dez meses após o registo do re-curso e cerca de doze meses após a adopção dadecisão de incompatibilidade. Além disso, o TPIpronunciou-se antes do termo do prazo impostopara que a Schneider se separasse da Legrand.

245. Após uma apreciação cuidadosa, a Comis-são decidiu não recorrer do acórdão proferidoneste processo.

2.3. Tetra Laval/Comissão (2)

246. Em 25 de Outubro, o TPI anulou a decisão daComissão de 30 de Outubro de 2001 que declaravaa operação de concentração entre a Tetra Laval,uma empresa do sector das embalagens com sedena Suíça e que exerce a sua actividade principal-mente no sector das embalagens de cartão, com aSidel, uma empresa francesa do sector das embala-gens, que opera principalmente no sector dos equi-pamentos para embalagens de plástico PET, in-compatível com o mercado comum.

247. Este processo é extremamente importante.Trata-se, com efeito, do primeiro processo em

¥1∂ Processo T-77/02.¥2∂ Acórdão do Tribunal de Primeira Instância proferido em

25.10.2002 no processo T-05/02, Tetra Laval/Comissão dasComunidades Europeias.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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que o TPI examinou formalmente uma operaçãode concentração que envolvia questões relativas aconglomerados e estabeleceu uma nova jurispru-dência, potencialmente controversa, neste domí-nio, decidindo directamente questões como aapreciação de concentrações com conglomeradosà luz do RCCE, a relação entre o artigo 82.o e oRCCE e o papel das compensações de tipo com-portamental. Este processo foi objecto do proce-dimento acelerado do TPI.

A decisão da Comissão

248. A decisão da Comissão centrou-se princi-palmente nos possíveis efeitos de conglomeradoanticoncorrenciais da operação. A Comissão con-cluiu que as duas empresas estavam presentes emmercados de produtos distintos, isto é, o mercadodas embalagens de cartão e o dos equipamentospara embalagens PET que, no entanto, são merca-dos vizinhos estreitamente ligados. O PET é umsubstituto técnico para os produtos sensíveis, tra-dicionalmente embalados em cartão (os produtoslácteos líquidos, os sumos de frutas, as bebidasaromatizadas de fruta sem gás e as bebidas à basede chá e de café), e cuja penetração deverá, numfuturo próximo, aumentar sensivelmente nestessegmentos em concorrência com o cartão. A ope-ração de concentração iria criar uma estrutura demercado que permitiria à nova entidade explorara sua posição dominante sobre o mercado das em-balagens de cartão para transformar a sua posiçãode líder no mercado dos equipamentos para em-balagens PET em posição dominante. A operaçãode concentração reforçaria ainda a posição domi-nante da Tetra no mercado das embalagens decartão, eliminando a concorrência efectiva e po-tencial da Sidel, a empresa líder de um mercadovizinho e concorrente. A Comissão rejeitou oscompromissos propostos pela Tetra, que consis-tiam principalmente na promessa de não se dedi-car a práticas abusivas, de manter a Sidel comoempresa distinta e de conceder a um terceiro in-dependente uma licença relativa às máquinas demoldagem por sopro (SBM) da Sidel. A Comis-são concluiu que estas compensações não eramviáveis, sendo igualmente impossíveis de verifi-car e insuficientes para eliminar os graves proble-mas de concorrência suscitados pela operação deconcentração.

O acórdão do TPI

249. O recurso interposto para o TPI solicitava aanulação da decisão da Comissão com base em

argumentos processuais e materiais. Em termosprocessuais, a recorrente defendia que lhe tinhasido negado ilegalmente o acesso completo aoprocesso, na medida em que um relatório de umperito e as respostas a um inquérito de mercadorealizado sobre a sua proposta de compromissosnão lhe tinham sido comunicados. Em relação àmatéria de fundo, a Tetra defendeu que a Comis-são não tinha demonstrado que a operação deconcentração provocaria a criação ou o reforço deuma posição dominante, porque o efeito de ala-vanca seria impossível, não se poderia verificar oencerramento do mercado e a eliminação de umconcorrente potencial não dissuadiria a Tetra deinovar e de baixar os seus preços no mercado dasembalagens de cartão.

250. O Tribunal rejeitou os argumentos proces-suais da recorrente, concluindo que esta tinhatido acesso adequado ao relatório do perito e quetinha tido a possibilidade de o compreender e deapresentar observações a seu respeito. No que serefere ao inquérito de mercado sobre os compro-missos, o TPI considerou que a Comissão tinha odireito de só permitir o acesso sob forma de resu-mos, a fim de proteger a identidade dos autoresdas respostas, que receavam medidas de retalia-ção. O Tribunal rejeitou igualmente as alegaçõesda Tetra de que os questionários eram imprecisose enganadores e concluiu que destes questioná-rios não decorria que as pessoas interrogadastivessem sido induzidas em erro ou confundidas.Os direitos da defesa não tinham, por conse-guinte, sido violados pela utilização de resumos.

251. Quanto à matéria de fundo, o Tribunal con-firmou que a Comissão estava habilitada a apre-ciar os eventuais efeitos de conglomerado anti-concorrenciais da operação, ainda que considereque uma concentração entre empresas activas emmercados distintos não é normalmente susceptívelde criar problemas de concorrência (ponto 150). OTPI observou que, em certas circunstâncias, podeacontecer que os meios e capacidades reunidospela concentração com efeitos de conglomeradocriem imediatamente condições que permitem ànova entidade adquirir, num prazo relativamenterápido, uma posição dominante num mercado pró-ximo através de um efeito de alvanca (ponto 151).Com efeito, o Tribunal reconheceu que a Comis-são tinha demonstrado no caso concreto, combase em provas sólidas e objectivas, que os doismercados em causa estavam estreitamente liga-dos e que a nova entidade teria a possibilidade deexercer o efeito de alavanca (ponto 199).

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Efeito de alavanca

252. Contudo, salientando que, como a posiçãodominante prevista só se concretizaria após umcerto período de tempo a análise da Comissãosobre a futura posição deveria, sem prejuízo dasua margem de apreciação, ser «particularmenteplausível» (ponto 162), o TPI concluiu que nascircunstâncias do caso em apreço a nova entidadenão seria susceptível de exercer o efeito de ala-vanca com efeitos anticoncorrenciais significati-vos de encerramento do mercado.

253. O Tribunal baseou-se em três elementos:em primeiro lugar, a Comissão deveria ter exami-nado em que medida os incentivos para que anova entidade utilizasse o efeito de alavanca se-riam reduzidos ou eliminados em razão da ilega-lidade dos comportamentos em questão, daprobabilidade da sua detecção, do seu sanciona-mento por parte das autoridades competentestanto a nível comunitário como nacional e dassanções pecuniárias que poderiam decorrer dessefacto (ponto 159). Além disso, deveria igualmenteter em conta as compensações do tipo comporta-mental propostas pela recorrente, a fim de apre-ciar se era provável que a nova entidade exercesseum efeito de alavanca ilegal (ponto 161). Não dis-pondo desta apreciação, o Tribunal baseou a suaanálise do efeito alavanca unicamente nos com-portamentos «que, pelo menos provavelmente,não seriam ilegais (ponto 162)». Em segundo lu-gar, o Tribunal contestou as perspectivas de cres-cimento do PET no segmento dos produtos lác-teos e dos sumos de frutas apresentadas pelaComissão, considerando que não se baseavam emprovas convincentes (pontos 203 a 214). Em ter-ceiro lugar, o TPI concluiu que a decisão não for-necia elementos de prova suficientes para justifi-car a definição de submercados distintos dasmáquinas SBM segundo a sua utilização final(ponto 269) e que não existia um mercado dis-tinto de máquinas SBM para produtos sensíveis.Por último, o TPI considerou que a Comissão ti-nha subestimado a importância dos concorrentesda nova entidade nos mercados das embalagensde cartão e do PET, bem como a importância dainteracção entre estes dois materiais e os outrosmateriais de embalagem, tais como o vidro, ascaixas metálicas e o PEAD, mercados em que anova entidade não estaria presente ou teria apenasuma reduzida quota de mercado. Nesta base, oTribunal considerou que a Comissão tinha come-tido um erro manifesto de apreciação ao concluirque seria criada uma posição dominante nos mer-

cados dos equipamentos para embalagens PET,em especial nos das máquinas SBM de baixa eelevada capacidade (ponto 308).

Redução da concorrência potencial no mercado do cartão

254. Do mesmo modo, o Tribunal reconheceuque a Comissão estava habilitada para examinarpossíveis efeitos de conglomerado anticoncorren-ciais, nomeadamente a importância para os mer-cados do cartão de uma redução da concorrênciapotencial dos mercados vizinhos dos equipamen-tos PET (ponto 323). No entanto, o Tribunal con-siderou que a operação não teria incidência nocomportamento da Tetra em matéria de fixaçãodos preços e de inovação no mercado do cartão,porque neste mercado a concorrência existenteera suficiente, assegurando que a Tetra teria decontinuar a lutar e a inovar. Por conseguinte, o TPIconcluiu que a Comissão não tinha demonstradoque a posição da nova entidade seria reforçada emrelação à dos seus concorrentes nos mercados docartão.

255. A Comissão interpôs recurso do acórdão doTPI.

3. Compensações

256. Em 2002 foram autorizadas 10 operaçõesapós uma investigação da primeira fase alargada(seis semanas) e depois as partes participantes naconcentração terem proposto compromissos queforneceram uma solução precisa para problemasde concorrência identificados, dando lugar auma decisão nos termos do n.o 2 do artigo 6.o doRCCE). Muitos dos casos descritos a seguir fo-ram objecto de discussões aprofundadas entre aComissão e as partes na concentração antes danotificação, que permitiram identificar problemasde concorrência potenciais. Esta pode ser umaforma eficaz de as empresas obterem luz verde daComissão para uma operação notificada, em es-pecial quando estão conscientes dos problemasde concorrência que poderão verificar-se e já pre-viram eventuais alienações.

SEB/Moulinex (1)

257. A decisão SEB/Moulinex constituiu a pri-meira decisão deste tipo em 2002. Envolvia a

¥1∂ COMP/M.2621 — SEB/Moulinex de 8.1.2002.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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SEB, um fabricante francês de pequenos apare-lhos electrodomésticos (nomeadamente, frita-deiras, torradeiras, máquinas de café, chaleiras,robôs de cozinha e ferros de engomar) comercia-lizados sob diferentes marcas, como Tefal, Ro-wenta, Calor e SEB. A Moulinex, igualmentefrancesa, é um concorrente directo da SEB e de-tém marcas mundiais, como Moulinex, Krups eSwan no Reino Unido. Previa-se que a aquisiçãoda Moulinex pela SEB tivesse uma incidênciasignificativa sobre a concorrência em França,onde a SEB é líder do mercado para certos produ-tos e a Moulinex para outros. Estes aspectos daoperação foram remetidos para as autoridadesfrancesas, em aplicação do n.o 2, alínea a), do ar-tigo 9.o, na sequência do pedido que estas apre-sentaram em 7 de Dezembro de 2001. Esta aqui-sição poderia igualmente suscitar preocupaçõesem matéria de concorrência em Portugal, Grécia,Bélgica e Países Baixos, onde uma ou outra dasduas empresas tinham elevadas quotas de mer-cado antes da operação de concentração. Na Ale-manha, Áustria, Dinamarca, Suécia e Noruega aoperação iria alterar significativamente as condi-ções de concorrência em vários mercados de pro-duto, nomeadamente no mercado das fritadeiras.Os aspectos não franceses da operação foram au-torizados, após a SEB ter proposto conceder li-cenças exclusivas para a utilização da marcaMoulinex, durante um período de cinco anos,para a venda de pequenos electrodomésticos emnove países (Portugal, Grécia, Bélgica, PaísesBaixos, Alemanha, Áustria, Dinamarca, Suécia eNoruega). A SEB não voltará a introduzir a marcaMoulinex nestes países durante um período adici-onal de três anos, após o termo da licença exclu-siva, por forma a que o adquirente da licença te-nha tempo para lançar gradualmente a sua própriamarca.

Masterfoods/Royal Canin (1)

258. A Masterfoods, uma filial francesa da em-presa americana Mars Inc., notificou um projectode aquisição da empresa francesa de alimentospara animais domésticos Royal Canin SA em Ja-neiro de 2002. A Mars fabrica produtos de ali-mentação ligeira (snacks), gelados e alimentospara animais domésticos e detém as marcas Pedi-gree, Advance, Cesar, Whiskas e Sheba, presen-tes a nível mundial, e marcas nacionais/regionaiscomo a Canigou e a Brekkies. A Royal Canin é

uma empresa líder de alimentos secos para ani-mais domésticos e desenvolveu a sua actividadede marca principalmente através das vendas emlojas especializadas na União Europeia. A inves-tigação de seis semanas da operação identificoualguns problemas em matéria de concorrêncianos mercados de alimentos secos para animaisdomésticos na França e na Alemanha. Para elimi-nar estas preocupações a Mars assumiu o compro-misso de ceder as suas actividades na Europa rela-tivas a cinco marcas de alimentos para animaisdomésticos da nova entidade, isto é, Advance,Premium, Royal Chien, Playdog e Brekkies, bemcomo duas grandes unidades de produção e oconjunto de activos ligados às actividades cedi-das. A operação de concentração em questão nãopode concretizar-se antes do cumprimento destascondições. A Comissão só apreciou o impacto daaquisição a nível da União Europeia, uma vez queos alimentos para animais domésticos não estãoabrangidos pelo acordo EEE.

Solvay/Montedison/Ausimont (2)

259. Em Fevereiro, o grupo químico e farmacêu-tico belga Solvay notificou à Comissão um pro-jecto de aquisição da Ausimont, uma empresaquímica italiana que exerce a sua actividade emItália, na Alemanha, no Japão e nos Estados Uni-dos. A operação suscitou preocupações sérias emdois mercados: nos mercados dos persais, umamatéria-prima que contém um agente branquea-dor utilizado na produção de detergentes; e nomercado do polifluoreto de vinilideno (PVDF),que é um fluoropolímero de alto desempenho. Nocaso do mercado dos persais, a operação iria criaruma ligação directa entre a Solvay, o primeiroprodutor europeu, e a Degussa, o seu principalconcorrente, através da MedAvox, uma empresacomum criada pela Degussa e pela Ausimont. ASolvay, a Degussa e a MedAvox controlam maisde 75% do mercado dos persais no EEE. Para eli-minar as dúvidas da Comissão, a Solvay propôsalienar a participação da Ausimont (50%) naMedAvox, a fim de romper efectivamente qual-quer ligação entre a Solvay e a Degussa. O mer-cado do PVDF destinado à extrusão e à injecçãoera, por seu lado, já muito concentrado, contandoapenas quatro operadores: Solvay, Ausimont,Atofina e Kureha. A Solvay e a Atofina, com maisde 90% do mercado, são de longe os primeirosoperadores neste mercado. A investigação condu-

¥1∂ COMP/M.2544 — Masterfoods/Royal Canin de 15.2.2002. ¥2∂ COMP/M.2690 — Solvay/Montedison — Ausimont de 9.4.2002.

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zida pela Comissão mostrou que, tendo em contaas características do mercado, a operação podiacolocar a Solvay e a Atofina em situação de posi-ção dominante colectiva. Em resposta às dúvidasexpressas pela Comissão, a Solvay comprome-teu-se a alienar a sua unidade de produção dePVDF destinado à extrusão e à injecção situadaem Decatur, nos Estados Unidos. Trata-se de umadas seis unidades de produção de PVDF desti-nado à extrusão e à injecção e representa cerca de20% da capacidade mundial. A Solvay compro-meteu-se igualmente a ceder a sua participaçãona Alventia, uma empresa comum de produçãode difluoreto de vinilideno (VF2) em Decatur. OVF2 é a principal matéria-prima utilizada para aprodução de PVDF. A Comissão Europeia e a Co-missão Federal de Comércio dos Estados Unidoscooperaram na apreciação da aquisição da Ausi-mont pela Solvay.

Imperial Tobacco/Reemtsma Cigarettenfabriken (1)

260. Este processo envolveu dois dos maioresprodutores de cigarros do mundo. A ImperialTobacco fabrica e vende uma vasta gama de pro-dutos de tabaco, incluindo as marcas de cigarrosSuperkings, Lambert and Butler, Embassy, JohnPlayer Special, Regal e Richmond, o tabaco paracigarros feitos à mão Drum e o papel para cigar-ros Rizla. A Reemtsma, a empresa objecto daaquisição, é o quinto fabricante mundial de cigar-ros e fornecedor das marcas de cigarros West eDavidoff. As actividades das partes são, na maiorparte, complementares e a investigação identifi-cou problemas de concorrência significativosapenas no mercado britânico de cigarros. A Impe-rial Tobacco e a Gallaher são de longe os líderesneste mercado, estando a Gallaher presente es-sencialmente no segmento das marcas de luxo e aImperial Tobacco sobretudo no segmento de pro-dutos de preço reduzido. Embora a sua quota demercado seja relativamente modesta, a Ree-mtsma goza de uma posição única no mercadodos cigarros com marca do distribuidor, para osquais é o único fornecedor importante. Ao contrá-rio do que é habitual, a Reemtsma tem um grandenúmero deste tipo de marcas de cigarros, talcomo a Red Band no Reino Unido, embora sejaconcedida exclusividade aos distribuidores. Con-sequentemente, a aquisição da Reemtsma permi-

tiria à Imperial Tobacco não apenas aceder a umaposição forte no sector dos cigarros de preço re-duzido, mas igualmente tornar-se no único distri-buidor de cigarros «com marca do distribuidor».Dado que este último tipo de cigarros são umafonte significativa da concorrência no mercadobritânico, nomeadamente no sector dos produtosde preço reduzido, esta situação suscitava gravesproblemas de concorrência.

261. Para resolver estes problemas, a ImperialTobacco comprometeu-se a não desenvolver asmarcas comerciais por sua própria conta e amanter a exclusividade de que beneficiam actual-mente os distribuidores. A empresa previu igual-mente, na hipótese de os distribuidores «commarcas próprias» encontrarem outros fornecedo-res no futuro, que estes distribuidores poderiamconservar as marcas. Estes compromissos deve-riam pôr fim à dependência dos distribuidores emrelação à Imperial Tobacco, garantindo que os ci-garros «com marca do distribuidor» continuem aser uma fonte de concorrência efectiva no mer-cado britânico.

Barilla/BPL/Kamps (2)

262. A Barilla e o banco italiano Banca Popolaredi Lodi S.c.a.r.l. (BPL) lançaram uma ofertapública de aquisição sobre todas as acções daKamps cotadas na bolsa, o que daria à Barilla e àBPL o controlo conjunto da Kamps. A Barilla de-senvolve actividades de fabrico e venda de mas-sas alimentícias e de molhos para massas, produ-tos de padaria (pão, substitutos de pão e bolos),bem como gelados. Embora a maior parte dasoperações do sector da padaria da empresa seconcentrem em Itália, a sua filial Wasa é um dosmais importantes fabricantes de tostas em váriospaíses europeus, nomeadamente a Alemanha. AKamps fabrica e vende produtos de padaria emtoda a Europa. Entre as marcas que possui con-tam-se a Lieken Urkorn e a Golden Toast. A ope-ração reforçaria a posição de líder da Barilla nomercado das tostas na Alemanha. A Barilla já de-tém a marca Wasa, que é de longe líder do mer-cado na Alemanha e a junção da marca LiekenUrkorn da Kamps reforçaria esta posição. Pararesolver estas preocupações, a Barilla compro-meteu-se a alienar as actividades de produção detostas Lieken Urkorn a um concorrente viávelcom experiência no sector alimentar.

¥1∂ COMP/M.2779 — Imperial Tobacco/Reemtsma Cigarettenfabri-ken de 8.5.2002. ¥2∂ COMP/M.2817 — Barilla/BPL/Kamps de 25.6.2002.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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BP/VEBA OEL (1)

263. Este processo envolveu a aquisição pela BPPlc do controlo exclusivo da Veba Oel, uma em-presa comum entre a BP e a E.ON, cuja criaçãotinha sido autorizada pela Comissão em Dezem-bro de 2001 (2) e pela autoridade da concorrênciaalemã. A criação desta empresa comum tinhasido autorizada sob reserva do cumprimento decertas condições destinadas a resolver os proble-mas de concorrência resultantes da junção das ac-tividades da BP e da Veba Oel no sector petrolí-fero. A aquisição do controlo exclusivo da VebaOel pela BP não levantava novos problemas deconcorrência. Todavia, na medida em que algu-mas das condições impostas à empresa comumBP/E.ON pela Comissão e pelo Bundeskartel-lamt ainda não tinham sido cumpridas, os proble-mas de concorrência iniciais não tinham sidocompletamente resolvidos. A fim de encontraruma solução para estes problemas, a BP compro-meteu-se a respeitar plenamente os compromis-sos propostos à Comissão e ao Bundeskartellamtno processo BP/E.ON. Consequentemente, a Co-missão autorizou esta operação na condição deeste compromisso ser plenamente respeitado.

Telia/Sonera (3)

264. A aquisição do grupo finlandês de teleco-municações Sonera Corp. pela empresa sueca Te-lia AB também foi autorizada na sequência deuma investigação da primeira fase. A Telia e a So-nera são os operadores de telecomunicações líde-res nos respectivos países. A operação provocariasobreposições directas nas actividades das partesna Finlândia, no que se refere aos serviços de co-municações móveis aos clientes a retalho, aosserviços de itinerância internacional por grosso eaos serviços da rede local sem fios (WLAN). Aspreocupações suscitadas por estas sobreposiçõespuderam ser dissipadas pelo compromisso assu-mido pelas partes de alienarem as actividades decomunicações móveis da Telia na Finlândia, in-cluindo as suas actividades WLAN. As preocupa-ções em matéria de concorrência deviam-se tam-bém às fortes posições de mercado das partesnum certo número de mercados relacionados ver-ticalmente, em especial certos mercados retalhis-tas, de entrega de chamadas a nível grossista nasredes de telefonia fixa e móvel da Telia/Sonera

(em que beneficiam de uma posição de monopó-lio) e no mercado grossista da itinerância interna-cional na Suécia e na Finlândia. A integraçãovertical neste contexto conferiria à entidade re-sultante da concentração o incentivo e a possibili-dade de impedir a entrada de concorrentes nosmercados dos serviços a retalho nos dois países,provocando o reforço das posições já muito fortesdas partes nos mercados dos serviços de comuni-cações móveis e nos mercados das soluções agru-padas de comunicações de voz e de dados. Estesriscos de encerramento do mercado foram com-pensados pela proposta das empresas de estabele-cer uma separação legal entre as suas redes fixase móveis, bem como entre os serviços respectivosna Finlândia e na Suécia. As partes compromete-ram-se igualmente a conceder acesso não discri-minatório às suas redes. Por último, as partes pro-puseram alienar as actividades nacionais detelevisão por cabo da Telia na Suécia. As redes detelevisão por cabo são consideradas como o subs-tituto mais credível para a infra-estrutura dosoperadores históricos de telecomunicações.

RAG/Degussa (4)

265. A aquisição da empresa alemã de especiali-dades químicas Degussa AG pelo grupo alemãodos sectores mineiro e tecnológico RAG suscitouinicialmente problemas de concorrência no sec-tor dos materiais de construção. A RAG Aktien-gesellschaft é um grupo mineiro e tecnológicointernacional com sede na Alemanha. Exerce ac-tividades nos domínios da exploração de carvão,produção de electricidade, tecnologias ambien-tais, produtos químicos e plásticos. A DegussaAG é uma empresa internacional com sede naAlemanha que produz especialidades químicas.As suas actividades abrangem os aditivos alimen-tares, os produtos químicos para a construção, osrevestimentos e os polímeros especializados. ADegussa é actualmente detida em 64% pelo grupoalemão de serviços de utilidade pública E.ON. Ainvestigação da operação realizada pela Comis-são mostrou que a unificação das actividades daRAG e da Degussa poderia levar à criação de umaposição dominante no domínio dos aditivos queentram na composição das misturas de betão. Es-tes produtos agem sobre a viscosidade e o teor emágua do betão para o tornar mais dúctil. Para eli-minar estes problemas de concorrência, a RAGpropôs ceder a sua actividade de produção na UE

¥1∂ COMP/M.2761 — BP/VEBA OEL de 1.7.2002.¥2∂ Ver COMP/M.2533 — BP/E.ON de 20.12.2001.¥3∂ COMP/M.2803 — Telia/Sonera de 10.7.2002. ¥4∂ COMP/M.2854 — RAG/ Degussa de 18.11.2002.

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de naftaleno sulfonato, um elemento importanteque entra na composição dos aditivos para betão,incluindo as unidades de produção em Itália, Es-panha e Alemanha. Estes compromissos elimina-ram a sobreposição das actividades da RAG e daDegussa e permitiram a criação de um novoconcorrente viável para resolver a questão da eli-minação da Degussa como fornecedor indepen-dente.

4. Remessa de processos nos termos dos artigos 9.o e 22.o — novos desenvolvimentos

4.1. Introdução

266. O ano de 2002 foi caracterizado por umforte aumento da remessa de processos nos ter-mos do artigo 9.o do RCCE (7 em 2001 e 11 em2002) (1), e pela primeira vez desde a entrada emvigor deste regulamento, em 21 de Setembro de1990, em dois casos Estados-Membros apresen-taram um pedido conjunto de remessa à Co-missão nos termos do n.o 3 do artigo 22.o doRCCE (2). Surpreendentemente, metade dos pe-didos introduzidos nos termos do artigo 9.o deramlugar a uma remessa do processo para as autori-dades nacionais competentes em Janeiro e emFevereiro deste ano. Um destes processos (3) re-fere-se a uma remessa para o governo norueguês,em aplicação do artigo 6.o do Protocolo 24 doAcordo EEE. No processo Leroy Merlin/Brico,pela primeira vez foi remetido um processo paratrês Estados-Membros diferentes. A Comissãocongratula-se com esta evolução, porque está deacordo com o processo de reforma do sistema decontrolo das concentrações que, como a seguir seindica, tem como um dos objectivos principaisuma melhor repartição dos processos entre a Co-missão e os Estados-Membros. Além disso, a uti-lização do n.o 3 do artigo 22.o do RCCE pelos Es-tados-Membros demonstra o êxito da cooperaçãoentre a Comissão e as Autoridades Nacionais de

Concorrência em benefício das empresas euro-peias.

267. Outra evolução notável deste ano consiste nonúmero de recursos contra as decisões adoptadasem aplicação do artigo 9.o Estes recursos foram in-troduzidos tanto por concorrentes como pelas par-tes numa operação de concentração. A decisão deremessa tomada no processo SEB/Moulinex foi aprimeira objecto de recurso. Em Setembro, foiapresentado um recurso contra a decisão de re-messa no processo BAM NBM/Hollandsche BetonGroep. Contudo, na sequência da decisão deautorização das autoridades neerlandesas de con-corrência, este recurso foi retirado. No processoSogecable/Canalsatélite/Via Digital foram intro-duzidos recentemente dois recursos contra a deci-são de remessa.

268. A seguir são dadas mais informações sobreas remessas acima referidas nos termos dos arti-gos 9.o e 22.o

4.2. Remessa de processos nos termos do artigo 9.o do RCCE

SEB/Moulinex

269. Em 8 de Janeiro de 2002 a Comissão auto-rizou a SEB a adquirir o controlo exclusivo daMoulinex, na condição de respeitar os compro-missos assumidos. Na mesma data, a Comissãoremeteu às autoridades francesas da concorrênciao exame da incidência da operação em França. ASEB e a Moulinex (4) são duas empresas francesasque produzem pequenos aparelhos electrodomés-ticos, como fritadeiras, torradeiras, máquinas decafé e de café expresso, chaleiras, pequenos fornoseléctricos, aparelhos eléctricos para aquecer san-duíches, «gaufres» e refeições ligeiras, grelhado-res e aparelhos para churrasco, robôs de cozinha eferros de engomar. O estudo aprofundado do mer-cado mostrou a dimensão nacional dos mercadosde pequenos aparelhos electrodomésticos. No quese refere ao mercado francês, o estudo de mercadopôs igualmente em evidência que a operação ame-açava reforçar sensivelmente a posição do líder domercado e eliminar um concorrente.

270. Em 15 de Julho de 2002, o ministro francêsdas Finanças, Economia e Indústria autorizou aparte francesa da operação, baseando-se na teoriada empresa insolvente. A Comissão não conside-

¥1∂ M.2621, SEB/Moulinex de 8.1.2002; M.2502, Cargill/Cerestar de18.1.2002; M.2683, Aker Maritime/Kvaerner (II) de 23.1.2002;M.2662, Danish Crown/Steff-Houlberg de 14.2.2002; M.2639,Compass/Restorama/Rail Gourmet de 26.2.2002; M.2730, Con-nex/DNVBVG/JV de 24.4.2002; M.2760, Nehlsen/Rethmann//SWB/Bremerhaven de 30.5.2002; M.2845, Sogecable/Canalsaté-lite/Via Digital de 14.8.2002; M. 2881, Koninklijke BAMNBM/HBG de 3.9.2002; M.2898, Leroy Merlin/Brico de 13.12.2002e M.2857, Electrabel Customer Solutions/Intercommunale d’Elec-tricité du Hainaut de 23.12.2002.

¥2∂ M.2698, Promatech/Sulzer de 17.4.2002; M.2738, GEES/Unisonde 17.4.2002.

¥3∂ Aker Maritime/Kvaerner II. ¥4∂ Ver acima.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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rou este argumento na apreciação dos outros mer-cados nacionais da União Europeia. A Babyliss ea Philips recorreram para o Tribunal de PrimeiraInstância da decisão de remessa, bem como dadecisão de autorização na primeira fase.

Cargill/Cerestar (1)

271. Este processo dizia respeito à aquisição daempresa francesa Cerestar pela empresa ameri-cana Cargill Inc. A Cargill é um operador interna-cional de primeiro plano em diferentes sectoresagro-alimentares, tais como o comércio de pro-dutos de base e a transformação de cereais. A Ce-restar é o primeiro produtor europeu de amido ede derivados do amido. O Reino Unido pediu aremessa do projecto de concentração no que serefere às suas repercussões no mercado britânicodo xarope de glicose e das misturas à base de gli-cose. A Comissão autorizou a operação relativa-mente ao Espaço Económico Europeu, com ex-cepção do mercado do Reino Unido dos xaropesde glicose e das misturas à base de glicose, cujaapreciação foi remetida para as autoridades britâ-nicas da concorrência em 21 de Janeiro de 2002.Na sequência de uma investigação aprofundada,as autoridades britânicas autorizaram a operação.

Aker Maritime/ Kvaerner (II) (2)

272. Em Janeiro, a Comissão remeteu para a au-toridade norueguesa da concorrência o exame doimpacto nos mercados das instalações de gás e depetróleo da proposta de aquisição da empresa an-glo-norueguesa Kvaerner pela Aker Maritime daNoruega. Foi a primeira vez que a Comissão re-meteu um processo para um Estado da EFTA. Noque se refere ao sector da construção naval, aComissão autorizou a operação. As autoridadesnorueguesas tinham solicitado à Comissão a re-messa do processo porque consideravam que aprevista junção das actividades das partes nossectores do petróleo e do gás levantaria proble-mas de concorrência principalmente no mercadonorueguês, em especial no mercado das novasinstalações petrolíferas e de gás (contratos de tipoEPC, isto é, de engenharia, fornecimento de ma-teriais e construção) e no mercado da manutençãoe modificação de plataformas (MMO). O artigo 6.o

do Protocolo n.o 24 do Acordo EEE autoriza aComissão a remeter um processo às autoridades

competentes de um Estado da EFTA se a opera-ção incidir principalmente nesse Estado. Reco-nhecendo que as autoridades nacionais noruegue-sas estavam em melhor posição para apreciar oimpacto da operação nos mercados do petróleo edo gás na placa continental norueguesa, a Comis-são anuiu ao pedido de remessa do processo. Asautoridades norueguesas autorizaram subsequen-temente a operação sem compromissos.

Danish Crown/Steff-Houlberg (3)

273. O processo Danish Crown/Steff-Houlbergdizia respeito à fusão dos dois maiores matadou-ros da Dinamarca. Os problemas de concorrênciasuscitados por esta operação limitavam-se ao mer-cado dinamarquês. Em 28 de Dezembro de 2001,as autoridades dinamarquesas apresentaram umpedido para que o processo lhes fosse remetido,pelo facto de a operação poder vir a criar gravesproblemas em matéria de concorrência em cincomercados: aquisição de porcos vivos, venda decarne de porco fresca destinada ao consumo hu-mano directo, abastecimento de carne de porcofresca para transformação, fornecimento de pro-dutos transformados à base de porco e recupera-ção de subprodutos dos matadouros na Dina-marca. Em 14 de Fevereiro, a Comissão decidiuaceitar o pedido dinamarquês e remeter o examedo impacto da operação no mercado dinamarquêsàs autoridades dinamarquesas da concorrência.Foi a primeira vez que a Dinamarca, que adoptoua sua legislação em matéria de controlo das ope-rações de concentração em Outubro de 2000,apresentou um pedido de remessa. As autorida-des dinamarquesas da concorrência autorizaramsubsequentemente a operação, no decurso da se-gunda fase, na condição do cumprimento de de-terminados compromissos.

Compass/Restorama/Rail Gourmet/Gourmet Nova (4)

274. Esta operação referia-se ao projecto deaquisição à empresa suíça SAirlines, da RailGourmet, Restorama e Gourmet Nova, três em-presas do sector da restauração colectiva, peloCompass Group Plc, uma das maiores empresasbritânicas do sector da restauração. O exame doprocesso pela Comissão revelou que os proble-mas de concorrência se limitavam ao mercado

¥1∂ COMP/M.2502 — Cargill/Cerestar de 18.1.2002.¥2∂ COMP/M.2683 — Aker Maritime/Kvaerner (II) de 23.1.2002.

¥3∂ COMP/M.2662 — Danish Crown/Steff-Houlberg de 14.2.2002.¥4∂ COMP/M.2639 — Compass/Restorama/Rail Gourmet/Gourmet

Nova de 26.2.2002.

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britânico da restauração a bordo dos comboios,onde as partes passariam a deter, na sequência daoperação, uma quota de mercado cumulada com-preendida entre 85% e 95%. Na sequência do pe-dido apresentado pelas autoridades britânicas, aComissão Europeia remeteu a proposta de aquisi-ção da Rail Gourmet UK pela Compass ao Officeof Fair Trading do Reino Unido. A Comissãoautorizou o resto da aquisição à SAirLines, in-cluindo as actividades da Rail Gourmet fora doReino Unido, parte da actividade da GourmetNova e a Restorama. Após uma investigaçãoaprofundada, a operação foi autorizada pelas au-toridades do Reino Unido.

Connex/DNVBVG/JV (1)

275. Em 19 de Março de 2002, a Comissão re-meteu para o Bundeskartellamt um processo refe-rente a uma empresa comum entre a ConnexVerkehr GmbH, filial do grupo francês Vivendi, ea Deutsche Nahverkehrsgesellschaft mbH para aprestação de serviços de transporte público localna zona de Riesa (Saxónia, Alemanha). Este pro-cesso foi remetido à autoridade alemã da concor-rência porque a incidência da operação sobre aconcorrência se limitava a mercados locais naAlemanha. Em especial, a empresa comum cria-ria ligações estruturais entre o operador de trans-portes públicos em Hanôver e a Connex que,apoiando-se na base já estabelecida no mercadovizinho de Schaumburg, ficaria em melhor posi-ção para concorrer no mercado de Hanôver. Aoperação de concentração prevista ligaria algunsdos principais intervenientes num mercado queacabava de se abrir à concorrência dos operadoresprivados. Ainda que outros operadores da Europapossam, em teoria, concorrer para a obtenção deuma licença de exploração dos serviços de trans-portes públicos locais na Alemanha, só os con-correntes já presentes no mercado geográfico vi-zinho conseguiram até agora penetrar em antigosmercados monopolísticos. Após uma investiga-ção da segunda fase, o Bundeskartellamt autori-zou a operação.

Nehlsen/Rethmann/SWB/Bremerhavener Entsorgungsgesellschaft (2)

276. Por decisão de 24 de Abril de 2002, a Co-missão Europeia remeteu a proposta de aquisição

do controlo conjunto da Bremerhavener Entsor-gungsgesellschaft mbH pela Karl Nehlsen GmbH& Co KG, Rethmann EntsorgungswirtschaftGmbH & Co KG e swb AG à autoridade alemã daconcorrência. O Bundeskartellamt apresentouum pedido de remessa, uma vez que a operaçãoameaçava criar posições dominantes nos merca-dos regionais da incineração de resíduos munici-pais e comerciais na Baixa Saxónia, Bremen eHamburgo. Em 17 de Dezembro de 2002, esta au-toridade da concorrência proibiu a operação com oargumento de que a mesma iria conduzir à criaçãoou ao reforço de uma posição dominante nalgunsmercados dos sectores da recolha, transporte e eli-minação de resíduos industriais e domésticos.

Sogecable/Canalsatélite Digital/Vìa Digital (3)

277. Em 3 de Julho, a Comissão recebeu umanotificação nos termos do RCCE solicitando au-torização para a aquisição pela Sogecable, o ope-rador dominante de televisão mediante paga-mento na Espanha, da DTS Distribuidora deTelevisión Digital (Vía Digital), o segundo maioroperador de televisão mediante pagamento emEspanha. A DTS é controlada pelo grupo espa-nhol Admira Media, que pertence ao grupo Tele-fónica. A Sogecable é controlada conjuntamentepelo grupo espanhol do sector dos media Pro-motora de Informaciones (Prisa) e pelo grupoCanal +, que pertence à Vivendi Universal. O Go-verno espanhol pediu à Comissão a remessa doprocesso com o argumento de que a operação deconcentração ameaçava criar uma posição domi-nante que iria impedir a concorrência nalgunsmercado distintos em Espanha. A Comissão deci-diu remeter o processo, uma vez que a sua apreci-ação do caso tinha confirmado que a concentra-ção iria ameaçar a criação ou o reforço de umaposição dominante nos seguintes mercadosgeograficamente limitados à Espanha: televisãomediante pagamento, aquisição de direitos exclu-sivos para filmes de sucesso, aquisição e explora-ção dos direitos de transmissão de jogos de fute-bol e de outros desportos, e a comercialização decanais de televisão. Além disso, a Comissão in-vestigou os efeitos da operação em vários merca-dos de telecomunicações. A investigação mostrouque a criação de uma ligação estrutural entre osoperadores dominantes no sector da televisãomediante pagamento e as telecomunicações em

¥1∂ COMP/M.2730 — Connex/DNVBVG/JV de 24.4.2002.¥2∂ COMP/M.2760 — Nehlsen/Rethmann/SWB/Bremerhavener Ent-

sorgungsgesellschaft de 30.5.2002.

¥3∂ COMP/M.2845 — Sogecable/Canalsatélite Digital/Vía Digital de14.8.2002.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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Espanha ameaçava reforçar a posição dominanteda Telefónica num certo número de mercados detelecomunicações. Em 29 de Novembro de 2002,as autoridades espanholas autorizaram a opera-ção, sob determinadas condições. Dois grupos deconcorrentes activos na prestação de serviços detelevisão por cabo mediante pagamento interpu-seram recurso para o Tribunal de Primeira Instân-cia contra a decisão de remessa.

Hollandsche Beton Groep//Koninklijke BAM NBM (1)

278. A operação diz respeito à aquisição da em-presa de construções neerlandesa HollandscheBeton Groep pela sua concorrente KoninklijkeBAM NBM. A autoridade neerlandesa da concor-rência (Nederlandse Mededingingsautoriteit) pe-diu a remessa dos aspectos da proposta de aquisi-ção que diziam respeito aos Países Baixos, umavez que era da opinião que a proposta de concen-tração ameaçava criar ou reforçar uma posiçãodominante num certo número de mercados dosector da construção civil, bem como num certonúmero de mercados do sector da produção de as-falto nos Países Baixos. O exame da Comissão naprimeira fase revelou que podia existir de factouma ameaça em relação a um eventual mercadode grandes projectos de construção, em que aBAM e a HBG eram particularmente fortes, bemcomo em vários mercados regionais do asfalto.Dado que as preocupações a nível da concorrên-cia se limitavam ao mercado neerlandês, a Co-missão considerou que a autoridade neerlandesada concorrência estava mais bem colocada paraapreciar o impacto deste processo em termos deconcorrência. O processo foi remetido à autori-dade neerlandesa da concorrência por decisão de3 de Setembro de 2002. Na mesma data, a Comis-são autorizou a operação em relação ao mercadobelga. Em 27 de Setembro, as partes interpuse-ram recurso da decisão de remessa. Todavia, apósuma investigação aprofundada e uma decisão deautorização por parte da autoridade neerlandesada concorrência em 24 de Outubro de 2002, aspartes renunciaram ao recurso.

Leroy Merlin/Brico (2)

279. A operação dizia respeito à aquisição dospontos de venda localizados em França, Espanha

e Portugal pertencentes ao grupo belga Brico pelaempresa francesa Leroy Merlin. A Brico e a Le-roy Merlin são especializadas na distribuição deprodutos «faça você mesmo» em grandes superfí-cies de venda. A operação iria provocar sobre-posições horizontais significativas num certonúmero de mercados locais nestes três países. Pe-rante este facto, as autoridades francesas, espa-nholas e portuguesas pediram a remessa do pro-cesso relativamente ao mercado de distribuição,uma vez que consideravam que a proposta deconcentração ameaçava criar ou reforçar uma po-sição dominante a nível da distribuição. O exameda primeira fase da Comissão revelou que poderiade facto existir esta ameaça em relação a umapossível definição do mercado de grandes arma-zéns de produtos «faça você mesmo», as denomi-nadas GSB («Grande Surface de Bricolage»).Dado que a análise da concorrência devia reali-zar-se em relação a cada mercado local onde aspreocupações a nível da concorrência poderiamsurgir, a Comissão considerou que as autoridadesnacionais estavam mais bem colocadas para apre-ciar o impacto desta operação sobre a concorrên-cia. O processo foi remetido para os três Esta-dos-Membros em 13 de Dezembro de 2002. Emrelação ao mercado de abastecimento de produtos«faça você mesmo», a Comissão autorizou a ope-ração na mesma data, uma vez que não foramidentificadas quaisquer preocupações em termosde concorrência.

Electrabel Customer Solutions//Intercommunale d’Electricité du Hainaut (3)

280. Muito recentemente, a Comissão remeteupara as autoridades belgas a proposta de operaçãopela qual a Electrabel Customer Solutions(«ECS») iria adquirir à Intercommunale d’Elec-tricité du Hainaut («IEH») as actividades relati-vas ao fornecimento de electricidade a clientesadmissíveis. Foi pedida a remessa uma vez que aoperação ameaçava criar ou reforçar uma posiçãodominante no mercado do fornecimento de elec-tricidade a clientes admissíveis na Bélgica. Alémdisso, as autoridades belgas indicaram que umaremessa do processo iria ajudar a uma tomada deposição coerente, uma vez que tinha tratado nesseano cinco concentrações semelhantes nesse mer-cado. De acordo com a legislação belga de libera-lização que regula o mercado da electricidade, asempresas de serviços de utilidade pública, «inter-

¥1∂ COMP/M.2881 — Hollandsche Beton Groep/Koninklijk BAMNBM de 3.9.2002.

¥2∂ COMP/M.2898. ¥3∂ COMP/M.2857 — ECS/IEH de 23.12.2002.

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communales», não podem exercer a sua activi-dade no fornecimento de electricidade a clientesadmissíveis e gerirem ao mesmo tempo a rede dedistribuição. A legislação relevante estabeleceque deve ser designado um fornecedor de substi-tuição pelas «intercommunales», a fim de separarestas duas funções e garantir o fornecimentoconstante de electricidade a clientes admissíveisque não tiverem escolhido um fornecedor. Todasas «intercommunales» em que a Electrabel parti-cipa («intercommunales» mistas), entre as quaisa IEH, designaram a ECS como fornecedor desubstituição. Consequentemente, a operação po-deria provocar uma transferência de clientes daIEH para a ECS; para compensar as «intercom-munales» pela perda de receitas destes clientes,as partes reequilibraram os seus interesses finan-ceiros. Por esta razão o processo era susceptívelde notificação nos termos do RCCE. Na sequên-cia de um estudo aprofundado do mercado queconfirmou que a operação ameaçava reforçar aposição dominante da Electrabel no mercado dofornecimento de electricidade a clientes admissí-veis na Bélgica e após ter concluído que os com-promissos propostos pelas partes eram insufici-entes para eliminar as preocupações identificadasem matéria de concorrência, a Comissão decidiuremeter o processo para as autoridades belgas em23 de Dezembro. Esta decisão de remessa foi mo-tivada principalmente pelos objectivos de eficiên-cia administrativa e coerência na tomada de deci-sões.

Processos remetidos nos termos do n.o 3 do artigo 22.o do RCCE

Promatech/Sulzer Textil (1)

281. Na sequência da remessa conjunta desteprocesso pelas autoridades de concorrência daÁustria, França, Alemanha, Itália, Portugal, Es-panha e Reino Unido, nos termos do n.o 3 doartigo 22.o do RCCE, a Comissão autorizou aaquisição da Sulzer Textil, a divisão de máquinastêxteis da empresa suíça Sulzer Ltd, pela empresaitaliana Promatech SpA, outro produtor de tearespara o sector têxtil. Uma investigação aprofun-dada mostrou que a operação iria criar uma posi-ção dominante no mercado de teares por lançasna Europa Ocidental. Para responder aos proble-mas levantados pela Comissão, a Promatech pro-

pôs a alienação das unidades de produção de tea-res por lanças da Sulzer Textil situadas em Schio,perto de Verona (Itália), e em Zuchwil, perto deSolothurn (Suíça). Estes compromissos permiti-ram evitar a sobreposição criada pela aquisição edissiparam totalmente as objecções da Comissãoem relação à operação.

GEES/Unison (2)

282. O processo GEES/Unison dizia respeito aoprojecto de aquisição da Unison Industries, umaempresa americana líder no fornecimento de aces-sórios e comandos para motores de aeronaves,pela GE Engine Services Inc., uma filial a 100%da General Electric Company. A operação foi ini-cialmente notificada a vários Estados-Membrosda UE (Reino Unido, Alemanha, França, Itália,Espanha, Áustria e Grécia), uma vez que não atin-gia o limiar do volume de negócios estabelecidopelo artigo 1.o do RCCE. Na sequência da remessaconjunta por estes Estados-Membros em aplica-ção do n.o 3 do artigo 22.o do RCCE, o exame daoperação realizado pela Comissão mostrou quenão existiam sobreposições horizontais entre asactividades da GEES e da Unison. Assim, a apre-ciação limitou-se à integração vertical das activi-dades das GE e da Unison. Contudo, a Comissãoconcluiu que não havia risco de encerramento nosmercados de acessórios para motores produzidospela Unison, nem nos mercados de motores paraaeronaves. Em 17 de Abril foi concedida a autori-zação.

5. Reforma do controlo das operações de concentração

283. Em 11 de Dezembro de 2002, a Comissãoadoptou propostas globais para a reforma do sis-tema de controlo das operações de concentraçãona UE. Estas propostas vêm na sequência de umano de consultas e debates sobre o documento deconsulta, o livro verde relativo à revisão do Regu-lamento (CEE) n.o 4064/89 do Conselho (3), de-nominado Regulamento das Concentrações (4). Olivro verde solicitou opiniões sobre a forma demelhorar a eficácia do enquadramento jurídico docontrolo comunitário das concentrações, adap-tando-o melhor às realidades de uma economia

¥1∂ COMP/M.2698 — Promatech/Sulzer Textil de 16.4.2002.

¥2∂ COMP/M.2738 — GEES/Unison de 17.4.2002.¥3∂ COM(2001) 745 final.¥4∂ JO L 395 de 30.12.1989, p. 1; versão rectificado no JO L

257 de 21.9.1990, p. 13.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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global, no contexto de uma Comunidade em viasde se alargar e cada vez mais integrada. O Regu-lamento das Concentrações prevê uma revisãoperiódica de algumas das suas disposições, no-meadamente as que se referem ao âmbito da com-petência da Comissão em matéria de controlo dasconcentrações (1). Desde a sua adopção em 1989,o Regulamento das Concentrações foi substanci-almente alterado uma vez, em 1997 (2). Contudo,a actual revisão contém propostas que vão paraalém das questões de competência e incluem umexame mais aprofundado e mais virado para o fu-turo do funcionamento do Regulamento das Con-centrações como um todo. Estas reformas in-cluem: uma proposta de alteração do actualRegulamento das Concentrações; um projecto decomunicação da Comissão relativa à apreciaçãodas concentrações horizontais, que está aberto àconsulta pública até ao final de Março de 2003; euma série de recomendações de boas práticas eoutras medidas administrativas destinadas a au-mentar a transparência, bem como a melhorar osprocedimentos e sistemas internos existentes aonível da DG Concorrência.

5.1. Objectivos da reforma

284. As propostas de revisão baseiam-se na ex-periência obtida pela Comissão na aplicação doRegulamento das Concentrações ao longo demais de doze anos. Estas propostas destinam-se amelhorar a eficácia do Regulamento e têm emconta as alterações que ocorreram nesse períodoem termos do aumento do número de processos eda maior complexidade económica dos mesmos eigualmente os níveis acrescidos de concentraçãoindustrial, que exigem uma maior sofisticação daanálise económica das decisões fundamentadasda Comissão. A proposta de reforma pretendeigualmente ultrapassar as limitações que têmvindo a revelar-se ao longo dos anos. A este res-peito, foi dada particular atenção aos três acór-dãos do Tribunal Europeu de Primeira Instânciaque anularam as decisões de proibição da Comis-são nos processos Airtours/First Choice, Schnei-der/Legrand e Tetra Laval/Sidel.

285. A reforma prossegue o duplo objectivo de,por um lado, consolidar os aspectos positivos dosistema de controlo comunitário das concentra-ções e, por outro, procurar garantir a continuaçãoda eficácia do Regulamento das Concentrações,como instrumento de controlo das operações deconcentração, permitindo-lhe enfrentar os novosdesafios colocados à economia da União Euro-peia, incluindo nomeadamente o próximo alarga-mento.

Reacções ao livro verde

286. O livro verde lançou uma ampla consultapública sobre diversas ideias concretas para areforma do regime comunitário de controlo dasoperações de concentração. A consulta cen-trou-se em questões de competência, de caráctermaterial e de carácter processual do controlo dasconcentrações. Contudo, o livro verde incluiutambém um debate sobre questões sistémicas,pretendendo obter opiniões sobre a eficácia geraldo sistema administrativo, incluindo os direitosda defesa e os mecanismos reguladores que fa-zem parte do sistema. Procurou-se também obteropiniões sobre a eficácia do controlo jurisdicio-nal, esclarecendo que as alterações nesta área ul-trapassam o âmbito das propostas que podem serapresentadas pela Comissão.

287. As reacções ao livro verde foram considerá-veis, tendo sido recebidas mais de 120 respostas.Perto de metade destas respostas vieram do sectorempresarial (associações industriais e empresasindividuais) e mais de um quarto de gabinetes ju-rídicos. Além disso, foram também recebidas ob-servações de sindicatos, de organizações de con-sumidores e do meio académico. DiversosEstados-Membros apresentaram igualmente ob-servações escritas, o que também aconteceu comdois países candidatos à adesão. A maior partedas reacções expressou satisfação pelo espírito deabertura revelado pela Comissão no que se refereà possível reforma do Regulamento das Concen-trações, e os amplos objectivos prosseguidos pelolivro verde contaram com o apoio da maior partedos autores das observações. No sítio Web da DGConcorrência encontra-se o resumo completo dasreacções ao livro verde (3).

288. No que se refere às questões de carácter sis-témico, a maior parte das respostas ao livro verde

¥1∂ No seu relatório ao Conselho, de 28 de Junho de 2000, sobre aaplicação dos limiares previstos no Regulamento das Concentra-ções, a Comissão concluiu que existem fortes indicações de queos actuais limiares deviam ser revistos, por forma a abrangeremmelhor todas as concentrações com interesse comunitário. Alémdisso, indica algumas questões jurisdicionais, materiais e proces-suais que mereceriam um debate mais aprofundado [verCOM(2000) 399 final — 28.06.2000].

¥2∂ Regulamento (CE) n.o 1310/97 do Conselho, JO L 180 de9.7.1997, p. 1; versão rectificada no JO L 40 de 13.2.1998, p. 17.

¥3∂ http://europa.eu.int/comm/competition/mergers/review/comments.html

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da Comissão louvaram os méritos do sistema decontrolo comunitário das concentrações, nomea-damente os prazos curtos e fixos, bem como a pu-blicação de decisões fundamentadas. Alguns de-fenderam o abandono ou uma alteração radical doactual sistema ou sugeriram, por exemplo, umamudança para o sistema de tipo acusatório inspi-rado no regime dos Estados Unidos. Ao mesmotempo, algumas reacções exprimem dúvidasquanto à eficácia das garantias dos direitos da de-fesa e quanto às possibilidades de um controlo ju-risdicional efectivo das decisões da Comissão emmatéria de concentrações.

5.2. A proposta de reforma

5.2.1. Questões materiais

Alteração do critério material do Regulamento das Concentrações

289. O livro verde da Comissão lançou uma re-flexão sobre o mérito do critério material previstono artigo 2.o do Regulamento das Concentrações(o critério de posição dominante). Em especial,solicitou observações sobre a comparação entre aeficácia deste critério e a eficácia do critério da«redução substancial da concorrência» utilizadoem várias outras jurisdições (nomeadamente nosEUA). A consulta provocou uma vasta gama deobservações, quer a favor, quer contra a alteração.O principal argumento dos que defendem a mu-dança para o critério da redução substancial daconcorrência consiste no facto de este critério seadequar mais ao leque e à complexidade dos pro-blemas de concorrência a que as concentraçõespodem dar origem e, em especial, ao facto de po-der haver uma ou mais lacunas no actual critério.

290. Contudo, a Comissão concluiu, com basena sua experiência, que as eventuais desvanta-gens em manter o critério de posição dominanteestavam empoladas e que, na prática, o critério deposição dominante e o critério da redução subs-tancial da concorrência têm vindo a produzir re-sultados geralmente convergentes, em especial naUE e nos EUA, nos últimos anos. Manter o crité-rio de posição dominante permitiria igualmentepreservar melhor a jurisprudência desenvolvidapelos tribunais ao longo dos anos em termos deinterpretação do seu significado, garantindo as-sim um elevado grau de segurança jurídica. Con-tudo, com vista a assegurar a segurança jurídica ea aumentar a transparência em relação ao âmbitode aplicação do actual critério, a Comissão pro-

pôs uma clarificação da noção de posição do-minante contida no actual critério material aacrescentar à redacção do artigo 2.o (através doaditamento de um novo número ao artigo 2.o e deoutros considerandos ao Regulamento), porforma a tornar claro que o critério se aplica igual-mente quando uma concentração provoca os de-nominados «efeitos unilaterais» nas situações deoligopólio, uma potencial lacuna apontada por al-guns observadores. A clarificação proposta é coe-rente com a forma como o Tribunal de Justiça Eu-ropeu definiu a posição dominante nos casos deconcentração (1), mas pretende dar mais atençãoao impacto económico das concentrações.

Projecto de comunicação relativa à apreciação das concentrações horizontais

291. Para além da clarificação do âmbito doartigo 2.o do Regulamento das Concentrações, aComissão adoptou igualmente um projecto de co-municação relativa à apreciação das concentra-ções «horizontais», conferindo assim transparên-cia e previsibilidade à análise da Comissão emmatéria de concentrações e, consequentemente,uma maior segurança jurídica nesta matéria. AComissão anunciou igualmente que tencionaadoptar, numa fase posterior, mais orientaçõessobre a sua abordagem no domínio da apreciaçãodas concentrações «verticais» e de «conglomera-dos».

292. A primeira série de projectos de orientaçõesfoi elaborada com vista a estabelecer um enqua-dramento económico sólido para a apreciação dasoperações de concentração em que as empresasenvolvidas são vendedores que operam nomesmo mercado relevante ou potenciais concor-rentes nesse mercado (concentrações horizon-tais). Através destas orientações a Comissão ex-plicará como deve ser analisado o efeito de umaconcentração num mercado em termos de con-corrência, esclarecendo, entre outras questões,como é que a Comissão aplicará a noção de posi-ção dominante colectiva. O projecto de orienta-ções trata igualmente de factores específicos quepoderão atenuar os efeitos aparentemente preju-diciais para a concorrência encontrados numaprimeira análise. Entre estes factores contam-senomeadamente o poder dos compradores, a faci-lidade de acesso ao mercado, o facto de a opera-ção de concentração poder constituir a única al-

¥1∂ Processo T-102/96, Gencor/Comissão, [1999] Col. II-753, ponto 200.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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ternativa à insolvência da empresa a adquirir, e aexistência de ganhos de eficiência.

Apreciação dos ganhos de eficiência

293. Em relação à apreciação dos ganhos de efi-ciência, o projecto de comunicação da Comissãoestabelece que esta tenciona considerar cuidado-samente qualquer argumento de ganhos de efici-ência no contexto da apreciação global de umaoperação de concentração e poderá eventual-mente decidir, em consequência dos ganhos deeficiência resultantes da operação de concentra-ção, que a mesma não cria nem reforça uma posi-ção dominante que prejudique a concorrência deforma significativa.

294. Esta abordagem está em consonância comas respostas ao livro verde, que defendem que épossível o reconhecimento dos ganhos de eficiên-cia específicos de uma operação de concentraçãosem alterar a actual redacção do critério materialdo Regulamento das Concentrações. O n.o 1, alí-nea b), do artigo 2.o do Regulamento das Concen-trações fornece uma base jurídica clara a este res-peito, ao estabelecer que a Comissão deve ter emconta, nomeadamente, a «evolução do progressotécnico e económico, desde que tal evolução sejavantajosa para os consumidores e não constituaum obstáculo à concorrência».

295. O projecto de comunicação indica que o ar-gumento de ganhos de eficiência só será aceitequando a Comissão estiver em posição de con-cluir com suficiente certeza que os ganhos de efi-ciência gerados pela operação de concentraçãosão susceptíveis de reforçar o incentivo para quea entidade resultante da concentração se com-porte de uma forma pró-concorrencial em benefí-cio dos consumidores, porque esses ganhos deeficiência contrariarão quaisquer efeitos adversosem detrimento dos consumidores ou tornarão taisefeitos pouco prováveis. Para que a Comissãochegue a esta conclusão, os ganhos de eficiênciadevem beneficiar directamente os consumidorese ser específicos de uma operação de concentra-ção, substanciais, realizados em tempo útil e veri-ficáveis. O ónus da prova cabe às partes, in-cluindo o ónus de demonstrar que os ganhos deeficiência são de tal dimensão que contrariam osefeitos anticoncorrenciais que poderiam eventu-almente advir da concentração. O projecto de co-municação indica igualmente que não é provávelque os ganhos de eficiência possam ser aceitescomo suficientes para que uma concentração que

conduza a um monopólio ou a uma situação dequase monopólio seja autorizada.

5.3. Reforma do processo de controlo das operações de concentração

296. Tal como acima exposto, a reforma obrigaráa algumas alterações ao próprio Regulamento dasConcentrações, mas implicará igualmente medi-das não legislativas. Essas medidas destinam-se agarantir que as investigações da Comissão sobreuma concentração sejam mais exaustivas, maiscentradas e assentes mais firmemente num racio-cínio económico sólido. Assim, será reforçada asolidez das decisões da Comissão em matéria deoperações de concentração.

5.3.1. Medidas legislativas

Prazos

297. A Comissão propõe algumas alterações sig-nificativas às disposições do regulamento em ma-téria de prazos. Em primeiro lugar, o período du-rante o qual as partes na concentração podempropor compromissos na primeira fase seráalargado de três para quatro semanas (1). Estaalteração proporcionará mais uma semana paraa resolução dos problemas de concorrência. Emsegundo lugar, a apresentação de compromissosna segunda fase levará a que sejam acrescentadasmais três semanas, a menos que os mesmos sejamapresentados no início do procedimento (antes do55.o dia útil), permitindo assim mais tempo parauma apreciação adequada desses compromissos,incluindo a consulta dos Estados-Membros. Emterceiro lugar, o projecto de regulamento propõeque sejam acrescentadas até quatro semanas à se-gunda fase com o objectivo de assegurar uma in-vestigação exaustiva nos casos complexos. Aspartes terão um direito inicial de acrescentar estetempo adicional. Contudo, também poderá seracrescentado a pedido da Comissão (mas com oacordo das partes na concentração), sempre queesta considerar que se justifica um período adici-onal para a investigação. Por último, o projecto deregulamento prevê a introdução, através de umacomunicação da Comissão, de derrogações geraisda proibição da realização de uma operação de

¥1∂ O cálculo dos prazos estabelecido no Regulamento das Concen-trações e no Regulamento de Execução será simplificado e tor-nado mais transparente, passando-se a utilizar sempre o conceitode dia útil, calculando geralmente cinco dias úteis por semana,excepto se incluir um feriado oficial da Comissão.

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concentração na pendência de autorização paraos casos que não sejam problemáticos.

Momento das notificações

298. Outra proposta diz respeito à necessidade deuma maior flexibilidade em relação ao momentodas notificações à Comissão. A alteração propostatornará possível proceder à notificação antes daconclusão de um acordo vinculativo. Propõe-seigualmente que o actual prazo para a notificaçãode uma semana após a celebração desse acordoseja eliminado, desde que não tenham sido dadopassos para a implementação da operação. Estasregras mais flexíveis deverão permitir que as em-presas organizem melhor as suas operações semterem de adequar o seu planeamento a aspectos rí-gidos e desnecessários da legislação e facilitará aomesmo tempo a cooperação internacional nosprocessos de concentração, em especial quando setrata de sincronizar o calendário das investigaçõesentre diferentes entidades responsáveis.

Reforço dos poderes de investigação

299. No que se refere às disposições do Regula-mento das Concentrações relativas ao apuramentodos factos, a Comissão propõe, com algumas ex-cepções, alinhar os seus poderes de investigação,incluindo as disposições relativas à aplicação decoimas, com as propostas do novo regulamento deexecução dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE.Isto permitirá à Comissão obter informações maisfacilmente para efeitos de uma investigação e in-clui a possibilidade de impor coimas mais eleva-das no caso de não serem respeitados os pedidosde prestação de tais informações.

300. Estas medidas são importantes, inclusiva-mente em relação ao ónus de recolha de elemen-tos comprovativos que cabe à Comissão e que setorna evidente sobretudo nos casos em que esta sepropõe intervir. Não obstante, não é proposta aintegração no Regulamento das Concentraçõesde certos poderes previstos no contexto dos arti-gos 81.o e 82.o, principalmente buscas em resi-dências privadas e inquéritos sectoriais.

Uma repartição dos processos mais simples e mais flexível

301. Outro dos principais objectivos da reformaconsiste em optimizar a repartição dos processosentre a Comissão e as autoridades nacionais daconcorrência, em conformidade com o princípioda subsidiariedade, resolvendo ao mesmo tempoo fenómeno persistente das «notificações múlti-

plas» (isto é, a notificação simultânea a várias au-toridades de concorrência na UE).

302. No livro verde, a Comissão pôs em discus-são a hipótese que lhe ser concedida competênciaexclusiva em relação a todos os processos de con-centração que fossem notificáveis em pelo menostrês Estados-Membros (a «proposta 3+»). Estemecanismo era considerado um meio simples eeficiente para reduzir o número de operações deconcentração que exigiriam notificações múlti-plas. O objectivo de reforçar a aplicação do prin-cípio da subsidiariedade na repartição dos pro-cessos teve grande apoio nas reacções ao livroverde. Contudo, os resultados da consulta públicarevelaram uma série de eventuais desvantagensda proposta inicial, em especial a incerteza jurí-dica que pode provocar.

303. À luz destas reacções, a Comissão decidiunão prosseguir com a «proposta 3+», propondoem vez disso a simplificação do mecanismo de re-messa, tornando-o ao mesmo tempo mais flexí-vel. A Comissão propõe, em primeiro lugar, quesejam simplificados os critérios de remessa, in-cluindo um paralelismo mais estreito dos crité-rios de remessa em ambos os sentidos e, em se-gundo lugar, que sejam permitidas remessas na fasede pré-notificação. Será dada às partes notificanteso direito exclusivo de iniciativa nesta fase inicial e,no caso de considerarem que uma remessa poderáaumentar a eficiência do procedimento do controlodas concentrações, poderão apresentar um pedidofundamentado para a remessa antes da notificaçãoem qualquer dos sentidos. O pedido terá de seraceite pela Comissão e pelas Autoridades Nacio-nais de Concorrência envolvidas dentro de umcurto prazo, evitando-se assim situações de im-passe. Em terceiro lugar, a Comissão propõe que,se pelo menos três Estados-Membros concordaremque um processo seja remetido para a Comissão, omesmo deverá ser considerado da competência ex-clusiva desta. Estas alterações ao Regulamento dasConcentrações serão complementadas com umasérie de princípios de orientação relativos aos crité-rios em que se devem basear as decisões de remessae que serão a seu tempo apresentados para aprova-ção da Comissão.

5.3.2. Medidas não legislativas

Reforço das competências económicas da DG Concorrência

304. A Comissão prevê que seja criado na Direc-ção-Geral da Concorrência um novo lugar de

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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economista principal, que contará com o pessoalnecessário para fornecer um ponto de vista eco-nómico independente aos responsáveis pelas de-cisões a todos os níveis, bem como para dar umaorientação ao longo do processo de investigação.Este lugar deverá ser ocupado por um economistareputado, que será destacado temporariamentejunto da Comissão, assegurando assim que o titu-lar do lugar seja alguém com um grande conheci-mento do pensamento actual no domínio daeconomia industrial. O papel do economista prin-cipal não se limitará ao seu envolvimento nocontrolo das operações de concentração, sendotambém alargado à aplicação da legislação daconcorrência em geral, incluindo o controlo dosauxílios estatais.

305. Pretende-se igualmente acelerar o recruta-mento na DG Concorrência de economistas in-dustriais e aumentar o recurso a especialistas eco-nómicos externos. Em particular, prevê-se quesejam encomendados com maior frequência estu-dos econométricos independentes nas investiga-ções da segunda fase das concentrações.

Reforço da avaliação mútua

306. Outra alteração consiste no reforço e no usomais sistemático do sistema de um «painel» deavaliação mútua na segunda fase dos processosde concentração. Será nomeado um painel com-posto por funcionários com experiência para to-das as investigações aprofundadas, que terá amissão de examinar as conclusões da equipa res-ponsável pelo caso com «novos olhos» nos pon-tos-chave da investigação. Os funcionários dopainel serão escolhidos de todos os serviços daDirecção-Geral. Alguns funcionários de outrosserviços relevantes da Comissão serão convida-dos para contribuir para o debate. Para este efeito,pretende-se criar uma nova unidade para fornecero apoio e a estrutura necessários que permita a es-tes painéis realizar um controlo interno efectivoda solidez das conclusões preliminares dos inves-tigadores. Além disso, pretende-se que este sis-tema de painel seja utilizado em toda a Direc-ção-Geral, melhorando a capacidade de decisãoda Comissão nas áreas da concorrência e dos au-xílios estatais.

Novo código de boas práticas — Melhorar o tratamento equitativo em geral

307. A Comissão anunciou igualmente que ten-ciona alterar as suas regras internas para permitir

o acesso ao processo da Comissão mais cedo doque é actualmente possível. Em primeiro lugar, aspartes na concentração poderão ter um acesso to-tal ao processo num curto prazo após o início dainvestigação aprofundada (isto é, na sequência daemissão de uma decisão nos termos do n.o 1, alí-nea c), do artigo 6.o do Regulamento). Em se-gundo lugar, pretende-se assegurar que as partesna concentração tenham um acesso ad hoc du-rante a investigação às principais observações deterceiros que contrariem os pontos de vista daspartes na concentração — sem prejuízo, obvia-mente, do respeito da protecção de informaçõesconfidenciais. Este facto irá reforçar ainda mais atransparência dos procedimentos e permitir àspartes contestarem essas observações numa faseinicial da investigação e não, como actualmente,só após a emissão de uma comunicação de objec-ções.

308. Propõe-se, além disso, que seja dada opor-tunidade às partes na concentração de poderemdiscutir com os terceiros «queixosos», num en-contro que de preferência deverá realizar-se antesda emissão de uma comunicação de objecções.Esta reunião permitirá que sejam confrontadosmais cedo argumentos opostos em relação aosefeitos prováveis da proposta de concentração,ajudando assim a elaborar uma comunicação deobjecções mais precisa.

309. Pretende-se igualmente introduzir maiordisciplina e transparência na condução das inves-tigações, oferecendo às empresas que são partena concentração a possibilidade de participaremnas denominadas reuniões da «situação dos tra-balhos» com a Comissão em momentos decisivosdo procedimento. Este facto deverá garantir queas partes na concentração sejam mantidas cons-tantemente informadas sobre a evolução da inves-tigação e que lhes seja dada oportunidade de dis-cutirem em qualquer momento o processo com osserviços responsáveis da Comissão.

310. Algumas destas medidas não legislativasestão contidas no projecto de código de boas prá-ticas sobre a condução das investigações em ma-téria de concentrações, que será discutido com osmeios jurídicos e empresariais antes de ser finali-zado. Estas boas práticas deverão abranger a ges-tão quotidiana dos processos de concentraçõespor parte da DG Concorrência, bem como as rela-ções da Comissão com as partes na concentraçãoe com os terceiros interessados, e dizem respeito,em especial, ao calendário das reuniões, à trans-parência, aos contactos antes da notificação e ao

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direito da defesa nos processos em matéria deconcentrações. O projecto de código de boas prá-ticas está publicado para observações na páginaInternet da DG Concorrência.

Reforço dos auditores

311. Um reforço adicional do papel dos audito-res constitui também um dos aspectos das refor-mas previstas. Pretende-se que os auditores sejamdotados de recursos suficientes, incluindo funcio-nários de categoria A, para um desempenho cabaldas suas responsabilidades. Nas reacções ao livroverde é amplamente defendido um reforço do pa-pel dos auditores.

Participação dos consumidores e de outros terceiros interessados

312. Outras reformas incluem a criação de umcontacto com os consumidores, para facilitar e in-centivar o envolvimento das associações de consu-midores, que frequentemente carecem de recursos.O objectivo consiste em reforçar o envolvimentodos consumidores nos procedimentos em matériade concorrência. Apesar de o objectivo final docontrolo das concentrações consistir na protecçãodo bem-estar dos consumidores, estes e as suas or-ganizações raramente exprimem o seu ponto devista à Comissão em relação ao provável impactode operações de concentrações específicas.

313. A Comissão pretende igualmente alterar oformulário de notificação de uma concentração,por forma a incluir um aviso às empresas quantoà necessidade de respeitarem as suas obrigaçõesem termos da legislação nacional e comunitáriano que diz respeito à consulta aos representantesdos trabalhadores.

Reforço do Comité Consultivo

314. Prevê-se também o reforço do envolvi-mento do Comité Consultivo em matéria de con-centrações (composto por especialistas da con-corrência dos Estados-Membros). Este órgãodesempenha um papel fundamental na aprecia-ção externa das investigações da Comissão, emespecial quando se trata de concluir uma investi-gação aprofundada. Embora qualquer alteraçãoreleve em última instância da organização internado próprio Comité Consultivo, a Comissão pro-pôs que o Estado-Membro «relator» esteja envol-vido mais estreitamente no acompanhamento dasinvestigações das operações de concentraçãodesde o início de uma investigação da segunda

fase. O Comité Consultivo pode igualmente con-siderar a hipótese de nomear «examinadores»para apoiar o relator nas suas funções, por exem-plo, explorando mais aprofundadamente aspectosespecíficos de investigação. A Comissão poderáfacilitar este desenvolvimento estabelecendo li-nhas de comunicação entre o relator e os exami-nadores numa fase inicial da investigação e asse-gurando que as informações relevantes lhessejam prontamente transmitidas. O tempo adicio-nal que se propõe acrescentar às investigações dasegunda fase para uma adequada ponderação daspropostas de compensações (ver acima) deverátambém facilitar este reforço do papel do ComitéConsultivo.

Melhoria da gestão dos processos e da investigação

315. Por último, a Comissão pretende igual-mente tomar medidas práticas para melhorar aforma como as investigações são conduzidas, emespecial tendo em conta o pesado ónus de apre-sentação de elementos de prova que cabe à Co-missão em todos os processos. Quando se propu-ser intervir, é necessário em especial assegurarque a Comissão disponha de recursos de gestãosuficientes para apreciar todas as operações deconcentração que devem ser examinadas, que asequipas sejam suficientemente amplas e que este-jam dotadas da capacidade necessária para pode-rem realizar as investigações aprofundadas. Deveigualmente garantir-se que será prestada a devidaatenção à qualidade das provas em que se ba-seiam as decisões.

Controlo jurisdicional

316. A Comissão anunciou igualmente que ten-ciona continuar a pressionar para que o controlojurisdicional das decisões seja mais rápido. A in-trodução pelo TPI de um procedimento aceleradorepresenta um importante passo em frente, de-monstrando que o controlo jurisdicional pode re-alizar-se com relativa rapidez: a eficiência comque o TPI apreciou os recursos nos casos Schnei-der/Legrand e Tetra Laval/Sidel representa umprogresso real.

317. A Comissão, em paralelo com as discussõesno Conselho sobre a revisão do Regulamento dasConcentrações, anunciou a intenção de discutircom os Estados-Membros as diferentes opçõesdisponíveis para garantir um controlo jurisdicio-nal mais rápido dos processos de concentrações.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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A Comissão prosseguirá os contactos com o Tri-bunal de Justiça e com o TPI neste domínio.

6. Cooperação internacional

6.1. Rede internacional da concorrência (RIC)

318. A Comissão tem participado activamenteno grupo de trabalho da RIC sobre o controlomultijurisdicional das concentrações desde queesta rede foi criada no final de 2001. As activida-des do grupo de trabalho têm-se organizado emtrês subgrupos: um sobre técnicas de investigaçãoem matéria de concentrações, outro sobre oquadro analítico subjacente ao controlo das con-centrações e outro sobre a notificação e os proce-dimentos nos regimes de controlo das concentra-ções. Algumas organizações e individualidadesdo sector privado estão a contribuir para o traba-lho dos subgrupos. A Comissão participa activa-mente nos três subgrupos.

O subgrupo da notificação e procedimentos

319. O objectivo deste subgrupo é triplo: refor-çar a eficácia de cada jurisdição, facilitar a con-vergência e reduzir o ónus de natureza pública eprivada em termos do controlo jurisdicional dasconcentrações. Para o efeito, este subgrupo, emcolaboração com consultores do sector privado,elaborou um inventário da legislação em matériade controlo das concentrações e está a recolherinformação sobre os custos e encargos no domí-nio do controlo das concentrações. Além disso, osubgrupo desenvolveu uma série de princípiosorientadores no domínio da notificação das con-centrações e dos procedimentos de apreciação,que foram aprovados na reunião alargada dosmembros da rede na primeira conferência anual daRIC, realizada em Nápoles em Outubro de 2002.

320. Pretende-se igualmente que estes princípiosorientadores sejam desenvolvidos numa série derecomendações globais de boas práticas («práti-cas recomendadas»). Os trabalhos já começarame já foram aprovados pelos membros da RICpráticas recomendadas relativas a três tópicos[1) nexo suficiente entre os efeitos da operação ea jurisdição de apreciação; 2) limiares de notifica-ção claros e objectivos; e 3) momento da notifica-ção das concentrações]. Estão em preparação ou-tras práticas recomendadas a apresentar nasegunda conferência anual da RIC (em 2003).

Subgrupo das técnicas de investigação

321. Estes subgrupo centra os seus trabalhos nodesenvolvimento das boas práticas de investiga-ção das concentrações, incluindo em especial:i) os métodos para recolha de elementos de provafiáveis; ii) o planeamento eficaz da investigaçãode uma concentração; e iii) o recurso a economis-tas para avaliação dos elementos de prova de ca-rácter económico. O programa de trabalho para opróximo ano prevê o desenvolvimento de um«Compêndio de técnicas de investigação», queconterá uma recolha de exemplos de instrumen-tos de investigação de várias jurisdições.

322. O subgrupo organizou uma Conferência In-ternacional sobre Concentrações, de dois dias,que se realizou em Washington DC em 21 e 22 deNovembro de 2002, destinada a juristas e econo-mistas. A conferência consistiu em vários pai-néis/seminários sobre os instrumentos de investi-gação utilizados em diferentes jurisdições, sobre aexperiência dos organismos da concorrência nautilização destes instrumentos, bem como sobre opapel dos economistas nas investigações de con-centrações e as possibilidades de reforçar a coope-ração internacional nos casos de concentrações.

Subgrupo do quadro analítico

323. Este subgrupo centra as suas actividades noquadro analítico geral da apreciação das concen-trações, incluindo os parâmetros materiais paraanálise das concentrações e os critérios para apli-cação desses parâmetros. O subgrupo tem vindo arecolher informação sobre os parâmetros materi-ais aplicados em cada jurisdição, incluindo infor-mação sobre orientações de aplicação e outro ma-terial interpretativo. Foi realizado um estudomais aprofundado sobre o impacto dos diferentesparâmetros em quatro jurisdições diferentes(Austrália, África do Sul, Alemanha e EUA).

324. Até à data, o subgrupo preparou um docu-mento global sobre «questões», que procuraestabelecer os principais objectivos políticos sub-jacentes ao controlo das concentrações. Alémdisso, o subgrupo prossegue um plano de traba-lho pormenorizado para o ano a seguir à primeiraconferência anual. O plano de trabalho consisteem quatro projectos: 1) uma análise das orienta-ções em matéria de concentrações em todo omundo; 2) uma análise da abordagem no domíniodos ganhos de eficiência das concentrações a ní-vel mundial; 3) uma comparação dos critérios deposição dominante e de redução substancial da

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concorrência; 4) uma análise das questões não li-gadas à concorrência na apreciação de uma con-centração. Foi dada prioridade aos primeiros doisprojectos.

6.2. Grupo de trabalho das concentrações UE/EUA

325. Na sequência do acordo entre o vice-minis-tro da Justiça, Charles James, o presidente daFTC, Timothy Muris, pelos EUA, e o comissárioMario Monti concluído na reunião bilateralUE/EUA (Comissão/DoJ/FTC) em Washington,em 24 de Setembro de 2001, segundo o qual asactividades do grupo de trabalho UE/EUA emmatéria de concentrações deviam ser alargadas eintensificadas, a DG Concorrência acordou comos organismos norte-americanos que o grupo detrabalho devia criar um certo número de subgru-pos (1). Um subgrupo tem vindo a tratar questõesprocessuais e dois outros subgrupos debruça-ram-se sobre questões materiais (um sobre os as-pectos de conglomerado das concentrações e ooutro sobre o papel dos ganhos de eficiência naanálise do controlo das concentrações).

326. Até à data foi concluído o trabalho nossubgrupos sobre questões processuais e sobre osaspectos de conglomerado das concentrações.Em cada um destes subgrupos foi realizada umasérie de videoconferências, envolvendo apresen-tações e discussões sobre cada abordagem e sobreas lições a tirar da apreciação das concentrações.Os funcionários envolvidos realizaram igual-mente uma visita aos organismos homólogos(reuniões em Bruxelas para o subgrupo sobrequestões processuais) e em Maio (reuniões emWashington para o subgrupo dos conglomerados).Em Julho de 2002, o subgrupo dos conglomera-dos apresentou as suas conclusões na reunião bi-lateral UE/EUA realizada entre o vice-ministroda Justiça, Charles James, o presidente da FTC,Timothy Muris, e o comissário Mario Monti emBruxelas. Embora subsistam algumas diferençasde opinião e de ênfase na questão das concentra-ções de conglomerados, é claro que as discussõesajudaram a conseguir um melhor conhecimentomútuo de cada uma das abordagens nesta maté-ria. Os trabalhos do subgrupo que trata dos gan-

hos de eficiência no controlo das concentraçõesprosseguem.

Boas práticas na cooperação UE/EUA no domínio das concentrações

327. Em 30 de Outubro, o comissário MarioMonti, juntamente com os seus homólogos ame-ricanos Timothy Muris, presidente da FTC, eCharles James, vice-ministro da Justiça, estabele-ceram um conjunto de boas práticas no domínioda cooperação na apreciação das concentraçõesque requerem a aprovação de ambos os lados doAtlântico, com vista a minimizar o risco de resul-tados divergentes e para reforçar a boa relaçãodesenvolvida ao longo da última década (2). Es-tas boas práticas decorrem de deliberações dosubgrupo sobre questões processuais do Grupode Trabalho UE/EUA em matéria de concentra-ções, que reúne funcionários experientes dos trêsorganismos e que tem vindo a estudar com aten-ção o modo de melhorar a eficácia da cooperaçãoUE/EUA nos processos de concentrações.

328. As boas práticas estabelecem uma basemais estruturada para a cooperação na apreciaçãode casos de concentração específicos e reconhe-cem que a cooperação é mais eficaz quando os ca-lendários da investigação dos organismos que re-alizam a apreciação são mais ou menos paralelos.Assim, às empresas partes na operação de con-centração será dada a possibilidade de reunirnuma fase inicial com aqueles organismos paradiscutir questões de calendário. As empresas sãotambém encorajadas a permitir que os organismostroquem as informações por elas apresentadas nodecurso de uma investigação e, quando for ade-quado, a permitir reuniões conjuntas UE/EUAcom as empresas envolvidas. Além disso, as boaspráticas definem pontos-chave nas investigaçõesUE e EUA das concentrações, quando podem seradequados contactos directos entre funcionáriosresponsáveis de ambos os lados.

¥1∂ O grupo de trabalho das concentrações UE/EUA foi criado inici-almente em 1999 e a sua principal actividade até Setembro de2001 consistiu em discutir as abordagens comunitária e ameri-cana em relação às compensações a aplicar nos processos deconcentrações. Este grupo de trabalho demonstrou ser uma expe-riência altamente produtiva para os três organismos.

¥2∂ A Comissão tem vindo a cooperar estreitamente com os seushomólogos americanos, a Divisão Antitrust do Ministério de Jus-tiça e a Comissão Federal do Comércio dos Estados Unidos,desde a entrada em vigor do Regulamento das Concentraçõescomunitário em 1990. Esta cooperação criou bases sólidas com aconclusão de um acordo UE/EUA sobre a aplicação dos respecti-vos direitos da concorrência em 1991. A cooperação UE/EUAtem sido particularmente estreita na investigação de muitas dasoperações de concentração transfronteiriças abrangidas porambas as jurisdições. Os contactos entre os organismos responsá-veis nesta matéria serviram para minimizar o risco de resultadosdivergentes e criaram bases para um processo de convergênciasubstancial nas suas abordagens analíticas.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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B — Estatísticas

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Gráfico 4 — Número de decisões finais adoptadas anualmente desde 1996 e número de notificações

19971996 1998 1999 2000 2001 2002

Decisões finais (R. 4064/89)

Notificações (R. 4064/89)

Decisões finais (artigo 66.o Tratado CECA)

1

125 131142

172

238 235

270

292

345 345 340 335

7

10

10

9

13 9

275 277

Gráfico 5 — Repartição por tipo de operações (1993-2002)

OPA 8% Empresas

comuns/controlo conjunto

45%

Aquisição de participação

maioritária 41%

Outras6%

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

A — Política geral

329. O controlo dos auxílios estatais centra-senos efeitos sobre a concorrência dos auxílios con-cedidos pelos Estados-Membros às empresas. Oobjectivo consiste em assegurar que as interven-ções públicas não comprometam o funciona-mento harmonioso do mercado interno, nemprejudiquem a competitividade das empresas co-munitárias, visando igualmente reforçar as refor-mas estruturais. É atribuída particular atençãopara que os efeitos benéficos da liberalização nãosejam comprometidos por auxílios estatais. Emconsonância com os objectivos políticos defini-dos pelo Conselho Europeu, os Estados-Mem-bros devem prosseguir os seus esforços com vistaa reduzir os níveis de auxílio, em termos de per-centagem do PIB, reorientando simultaneamenteos auxílios para objectivos horizontais no inte-resse comunitário, como por exemplo o reforçoda coesão económica e social, o emprego, a pro-tecção do ambiente, a promoção da I&D e o de-senvolvimento das PME. O montante do auxílioatribuído deve ser proporcional aos objectivosprosseguidos.

330. O controlo dos auxílios estatais é assegu-rado através da implementação de instrumentosregulamentares. Estes podem assumir a forma deinstrumentos jurídicos que vinculam tanto a Co-missão como os Estados-Membros, ou textos le-gislativos que vinculam apenas a Comissão,como orientações, enquadramentos ou comuni-cações. Os regulamentos definem os procedimen-tos para a notificação e o exame de auxílios eisentam da obrigação de notificação determina-dos tipos de auxílios que não suscitam proble-mas. Alguns textos específicos definem igual-mente as regras em matéria de auxílios estataisaplicáveis a determinados sectores (por exemplo,construção naval). Os instrumentos não vincula-tivos destinam-se a clarificar a situação jurídicano que diz respeito aos auxílios estatais e explicaros critérios com base nos quais a Comissão exa-mina casos específicos.

331. Além disso, a Comissão acompanha deperto a recuperação de auxílios ilegais pelos Esta-dos-Membros, bem como os auxílios isentos daobrigação de notificação. Esse acompanhamentoserá progressivamente alargado a todas as deci-sões em matéria de auxílios estatais que estabele-cem condições a respeitar pelos Estados-Mem-bros.

1. Modernizar o controlo dos auxílios estatais

1.1. Abordagem geral

332. Um importante projecto de reforma comvista a reformular as regras em matéria de auxí-lios estatais, tanto do ponto de vista processualcomo substantivo, tem vindo a registar progres-sos consideráveis, devendo ser ultimado antes doalargamento, de molde a que as novas regras pos-sam ser aplicadas nos 25 países a partir da data doprimeiro alargamento, o mais tardar.

333. Um dos principais objectivos desse con-junto de reformas consiste em racionalizar osprocedimentos e suprimir a carga processualdesnecessária no âmbito do exame dos auxíliosestatais, facilitando assim a adopção rápida dedecisões na maioria dos casos e reservando os re-cursos mais importantes para as questões mais li-tigiosas no domínio dos auxílios estatais. A re-forma destina-se igualmente a assegurarimportantes melhorias a nível da cooperação comos Estados-Membros, mediante a sensibilizaçãodas autoridades regionais, locais e nacionais, bemcomo das autoridades judiciárias nacionais, paraas questões que se colocam no domínio dos auxí-lios estatais.

334. Simultaneamente, têm vindo a ser empre-endidos esforços com vista a inserir o controlodos auxílios estatais num contexto mais lato, afim de contribuir para a consolidação de um ver-dadeiro mercado interno e para a modernizaçãoda indústria europeia no intuito de reforçar a suacompetitividade a longo prazo. Procedimentossimples, previsíveis e transparentes, bem comocritérios económicos sólidos para a implementa-ção das medidas de auxílio estatal deverão ser ocorolário deste processo de reforma.

1.2. Transparência

335. Num mercado interrelacionado como é omercado interno, é óbvio que o objectivo fixadode comum acordo no sentido de modernizar aeconomia só pode ser alcançado através de umaacção concertada e um intercâmbio de informa-ções sobre as melhores práticas, constituindo osinstrumentos básicos para esse intercâmbio o re-gisto dos auxílios estatais e o painel de avaliaçãodos auxílios estatais. Ambos os instrumentosforam desenvolvidos mais aprofundadamentedesde a sua criação inicial em 2001.

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1.3. Desenvolvimento de instrumentos estatísticos

336. Os Estados-Membros apresentam actual-mente informações pormenorizadas sobre os au-xílios estatais através de uma série de relatóriosanuais e estatísticas respeitantes aos regimes deauxílio estatal. As regras que regem esta obriga-ção (carta da Comissão aos Estados-Membros)estão actualmente a ser reexaminadas. Será adop-tado um formato de relatório revisto e simplifi-cado após uma consulta aos Estados-Membros.

337. Os Estados-Membros devem ser incentiva-dos a respeitar plenamente esta obrigação em ma-téria de apresentação de informações, no intuitode tornar os auxílios estatais mais transparentes eassegurar uma melhor panorâmica geral sobre asetapas do processo de controlo dos auxílios esta-tais em que se revelam necessárias ou desejáveismelhorias.

1.4. Painel de avaliação dos auxílios estatais

338. Um dos principais objectivos do painel deavaliação dos auxílios estatais é controlar os pro-gressos envidados pelos Estados-Membros nosentido de implementarem os compromissos as-sumidos nos Conselhos Europeus de Estocolmo eBarcelona, ou seja, reduzir o montante total dosauxílios estatais e reorientar esses auxílios paraobjectivos horizontais de interesse comum, taiscomo a investigação e o desenvolvimento e as pe-quenas e médias empresas.

339. A qualidade do painel de avaliação dos au-xílios estatais assenta em grande medida nas in-formações recebidas dos Estados-Membros pelosserviços da Comissão. Os Estados-Membros de-vem sentir-se incentivados a recorrer ao painel deavaliação igualmente como um fórum para deba-ter as diferentes práticas no sector dos auxílios es-tatais, a fim de analisar as melhores práticas. AComissão entende que deve desempenhar um pa-pel de incentivo neste processo, mais do que ac-tuar como uma instância de controlo. Neste con-texto, é de observar que aproximadamente 80%dos auxílios notificados são aprovados sem serdado início a um procedimento formal de investi-gação, cerca de 5% são objecto de uma investiga-ção formal e cerca de 15% são retirados pelos Es-tados-Membros. A apresentação de informaçõesmais completas pelos Estados-Membros poderiacontribuir para reforçar ainda mais a qualidadedeste painel de avaliação.

340. A maioria dos elementos contidos nos rela-tórios sobre os auxílios estatais anteriormentepublicados foi integrada no painel de avaliação,que é actualmente publicado na Primavera e noOutono, constituindo a versão da Primaverauma compilação dos dados recebidos dos Esta-dos-Membros no que se refere ao ano transacto ea versão do Outono uma análise mais aprofun-dada das informações recebidas à luz dos objecti-vos fixados nas conclusões dos Conselhos Euro-peus no que respeita aos auxílios estatais. Umaedição especial do painel de avaliação, publicadana página Internet da Comissão em 28 de Novem-bro de 2002, analisa a situação nos países candi-datos tendo em vista a sua adesão à UE.

1.5. Revisão dos enquadramentos e orientações existentes

1.5.1. Enquadramento multissectorial

341. Após a conclusão das consultas realizadasaos Estados-Membros, foi adoptado em 2002 umnovo enquadramento multissectorial dos auxílioscom finalidade regional para grandes projectos deinvestimento (1). No entanto, a entrada em vigorda parte principal do enquadramento foi adiadaaté 1 de Janeiro de 2004. O novo enquadramentoestabelece um conjunto de regras muito mais cla-ras para a avaliação dos auxílios estatais a favorde grandes projectos de investimento a nível regi-onal e, simultaneamente, elimina a necessidadede notificação prévia de muitos projectos de auxí-lio, na condição de o auxílio ser concedido noâmbito de um regime de auxílios regionais auto-rizado. Simultaneamente, o enquadramento re-úne e consolida num único texto os diferentestextos sectoriais que eram anteriormente aplicá-veis aos sectores da siderurgia, das fibras sintéti-cas e dos veículos automóveis. Como anunciadono enquadramento, iniciaram-se os trabalhoscom vista a identificar os sectores que se defron-tam com dificuldades estruturais e que devem sersujeitos a regras mais estritas em matéria de auxí-lios estatais.

1.5.2. I&D

342. De igual forma, a Comissão empreendeurecentemente uma revisão do enquadramento co-

¥1∂ Comunicação da Comissão, enquadramento multissectorial dosauxílios com finalidade regional para grandes projectos de inves-timento, JO C 70 de 19.3.2002, p. 8.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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munitário dos auxílios estatais à investigação edesenvolvimento (1). Para o efeito, publicou umconvite aos Estados-Membros e a outros interes-sados para apresentarem observações sobre a suaexperiência no âmbito do enquadramento actual ea necessidade de alterações. Após ter apreciadoestas observações, a Comissão concluiu que asregras actuais não obstam à prossecução do ob-jectivo fixado pelo Conselho Europeu de Barce-lona no sentido do aumento das despesas globaisem matéria de I&D e de inovação na União a fimde atingirem 3% do PIB até 2010, devendo doisterços deste investimento ser assegurado pelosector privado. Por conseguinte, a Comissão de-cidiu prorrogar o enquadramento actual até ao fi-nal de 2005 e, nessa data, procederá ao seu ree-xame à luz dos progressos realizados em direcçãoao objectivo de Barcelona e da análise em cursosobre a eficácia dos diferentes tipos de medidaspúblicas de apoio à I&D, bem como do exercíciode aferimento das políticas nacionais no domínioda I&D.

1.5.3. Auxílios ao emprego

343. A Comissão adoptou, em 6 de Novembro,um regulamento relativo aos auxílios ao em-prego (2) destinado a facilitar a adopção de inici-ativas em matéria de criação de postos de traba-lho nos Estados-Membros. O novo regulamentoconfere aos Estados-Membros a possibilidade deconcederem auxílios para a criação de novos pos-tos de trabalho e o recrutamento de trabalhadoresdesfavorecidos e deficientes sem terem de solici-tar a autorização prévia da Comissão. Em relaçãoaos desempregados de longo duração e outros tra-balhadores desfavorecidos, os Estados-Membrospodem suportar até 50% dos custos salariais e dascontribuições obrigatórias para a segurança so-cial durante um ano. No caso de trabalhadores de-ficientes, os Estados-Membros podem suportaraté 60% destes custos.

344. O regulamento destina-se a acelerar a im-plementação das medidas de criação de postos detrabalho adoptadas pelos Estados-Membros, su-primindo a necessidade da sua notificação àComissão, na condição de preencherem as con-dições estabelecidas no regulamento. São abran-gidas as duas categorias de auxílios ao empregomais frequentes, designadamente os auxílios à

criação de novos postos de trabalho e os auxíliospara a promoção do recrutamento de trabalhado-res desfavorecidos e deficientes. Outros tipos deauxílio não são proibidos, mas devem ser notifi-cados.

345. A iniciativa coaduna-se com as conclusõesde vários Conselhos Europeus, que apelam paraque a tónica passe a ser colocada em objectivoshorizontais de interesse comum, em detrimentoda ênfase atribuída até à data ao apoio a favor deempresas ou sectores individuais. Permite aos Es-tados-Membros uma maior flexibilidade na con-cepção e implementação de medidas destinadas aapoiar o emprego, facilitando assim a prossecu-ção dos objectivos definidos neste domínio peloConselho Europeu de Lisboa em 2000.

346. As regras em matéria de auxílios ao em-prego estão alinhadas, em grande medida, com asregras aplicáveis aos auxílios a favor das PME eaos auxílios com finalidade regional (3), exceptono que diz respeito ao período de manutenção dospostos de trabalho. As regras prevêem que os pos-tos de trabalho devem ser mantidos durante trêsanos, sendo este período reduzido para dois anosno caso das PME. O regulamento diverge em re-lação a este aspecto dos auxílios às PME ou comfinalidade regional, uma vez que se tornou evi-dente que o requisito de os postos de trabalho se-rem mantidos durante cinco anos era demasiadoexigente, nomeadamente para as PME, em rela-ção às quais se revela necessária uma maior flexi-bilidade do mercado do trabalho.

1.5.4. Carvão e aço (Tratado CECA)

347. No que se refere aos sectores do carvão e doaço, a Comissão adoptou uma comunicação queclarifica certos aspectos do tratamento dos pro-cessos de concorrência, incluindo a aplicação dosprocedimentos em matéria de auxílios estataisapós o termo de vigência do Tratado CECA, em23 de Julho de 2002 (4).

348. Em relação ao sector siderúrgico, a Comis-são decidiu manter a abordagem restritiva relati-vamente aos auxílios a favor deste sector, conti-nuando a proibir os auxílios ao investimento

¥1∂ JO C 111 de 8.5.2002.¥2∂ JO L 337 de 13.12.2002, p. 3.

¥3∂ JO L 10 de 13.1.2001, p. 33-42.¥4∂ Comunicação da Comissão relativa a certos aspectos do trata-

mento dos processos de concorrência decorrentes do termo devigência do Tratado CECA, pontos 18-21 (JO C 152 de26.6.2002, p. 5).

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regional (1) e os auxílios de emergência e à rees-truturação (2).

349. O Conselho aprovou, em 23 de Julho, o Re-gulamento CE n.o 1407/2002 (3) relativo ao trata-mento dos auxílios estatais à indústria do carvãoapós o termo de vigência do Tratado CECA, in-centivando simultaneamente a prossecução dosesforços com vista à reestruturação e à moderni-zação da produção europeia de carvão no intuitode garantir um abastecimento básico de energiana União Europeia.

1.5.5. PME

350. Após a conclusão da revisão da definição de«pequenas e médias empresas» (4) utilizada pelaComissão para diversas finalidades, a Comissãoproporá uma alteração às actuais isenções por ca-tegoria aplicáveis às PME e aos auxílios à forma-ção, a fim de integrar a nova definição. Simulta-neamente, a Comissão examinará a possibilidadede alargar o âmbito de aplicação da isenção porcategoria aplicável às PME no intuito de incluiros auxílios à I&D. Este reexame está agendadopara 2003.

1.5.6. Auxílios estatais e política fiscal

351. Após a adopção no Conselho ECOFIN doCódigo de Conduta relativo ao tratamento fiscaldas empresas, foi atribuída particular atenção esteano aos casos relacionados com os auxílios esta-tais concedidos ao abrigo de diferentes medidasfiscais. A Comissão aplicou a sua comunicaçãosobre a aplicação das regras relativas aos auxíliosestatais às medidas que respeitam à fiscalidadedirecta das empresas (5) e, em 11 de Julho de 2001,iniciou uma investigação alargada sobre as dife-rentes medidas fiscais nos Estados-Membros (6).Alguns processos foram concluídos até ao finalde 2002, tendo as medidas em causa sido altera-das ou suprimidas pelos Estados-Membros. Alémdisso, a Comissão, no contexto da discussãosobre a proposta de directiva relativa à energia,esclareceu a forma como as regras dos auxílios

estatais são aplicadas às medidas fiscais relacio-nadas com produtos de energia e com a electrici-dade.

1.5.7. Bairros urbanos desfavorecidos

352. Foi suprimido o «Enquadramento da Co-missão dos auxílios estatais às empresas nos bair-ros urbanos desfavorecidos». Os auxílios relacio-nados com este problema e com os problemas derecuperação noutras zonas são actualmente exa-minados com base no respectivo mérito, tendoem vista a sua eventual aprovação nos termos don.o 3, alínea c), do artigo 87.o do Tratado, sem pre-juízo das outras regras em vigor em matéria deauxílios estatais como, por exemplo, as regras re-lativas aos auxílios com finalidade regional. Taldeverá permitir à Comissão adquirir a experiên-cia necessária para determinar se são necessáriasnovas regras neste domínio.

2. Alargamento (7)

353. As negociações foram coroadas de êxito,tendo sido encerrados os capítulos relativos à con-corrência no que respeita a dez países candidatos.As negociações prosseguem em relação aos res-tantes dois países candidatos. No que se refere àTurquia, foi dado início ao exame analítico da le-gislação turca no domínio da concorrência.

354. No que respeita aos auxílios estatais, é desalientar que os países candidatos assumiam, noâmbito do seu sistema económico anterior, umaposição bastante favorável aos auxílios estatais.Os Acordos Europeus já convidavam estes paísesa adaptarem a sua legislação às regras em vigornas Comunidades Europeias. Apesar de a maioriados países candidatos ter envidado esforços legis-lativos neste domínio, procuraram simultanea-mente atrair investimento estrangeiro através deuma série de incentivos que podem ser clara-mente classificados como auxílios estatais nostermos dos artigos 86.o e 87.o do Tratado.

355. Um dos objectivos principais das negocia-ções tem consistido em tornar estes incentivoscompatíveis com as regras existentes em matériade auxílios estatais a partir da data de adesão, afim de evitar importantes distorções da concor-rência.

¥1∂ Comunicação da Comissão, enquadramento multissectorial dosauxílios com finalidade regional para grandes projectos de inves-timento, ponto 27 (JO C 70 de 19.3.2002, p. 8).

¥2∂ Comunicação da Comissão, Auxílios de emergência e à reestrutu-ração e auxílios ao encerramento no sector siderúrgico (JO C 70de 19.3.2002, p. 21).

¥3∂ JO L 205 de 2.8.2002.¥4∂ JO L 107 de 30.4.1996, p. 4-9.¥5∂ JO C 384 de 10.12.1998, p. 3.¥6∂ IP/01/982. ¥7∂ Ver capítulo distinto infra.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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B — Noção de auxílio

1. Origem dos auxílios

356. No acórdão proferido no processo Stardust,o Tribunal de Justiça (1) confirmou, uma vezmais, que para constituir um auxílio estatal oapoio financeiro deve ser considerado como re-sultante de fundos públicos. O simples facto de aempresa que atribui os fundos ser uma empresapública não é suficiente. O elemento decisivo seráo facto de o Estado controlar e exercer efectiva-mente uma influência sobre as empresas que de-sembolsam os fundos. Se tal facto não puder sercomprovado, o apoio financeiro não pode ser im-putado ao Estado, pelo que não constitui um auxí-lio estatal.

357. Na sequência de denúncias apresentadas, aComissão examinou alguns aspectos do sistemainstituído pelo Governo alemão a fim de incenti-var os operadores a produzirem electricidade apartir de fontes de energia renováveis (2). No âm-bito deste sistema, os distribuidores de electrici-dade são obrigados a assegurar a ligação das suasredes a instalações de produção de electricidade«verde». Esta obrigação é associada à imposiçãode compra a um preço mínimo superior ao preçode mercado da electricidade em questão.

358. Contrariamente às alegações apresentadaspelos autores das denúncias, a Comissão conside-rou que o sistema não comportava qualquer ele-mento de auxílio. Confere efectivamente umavantagem económica às empresas que produzemelectricidade a partir de fontes renováveis, masesta vantagem não é financiada através de recur-sos estatais. Não é relevante o facto de a obriga-ção de compra a preços regulados ser imposta aosdistribuidores, entre os quais se encontram algu-mas empresas públicas, dado que todos os distri-buidores, independentemente do seu estatutojurídico, se encontram sujeitos aos mesmos con-dicionalismos. O caso em apreço constitui assimo primeiro caso de aplicação da jurisprudênciaPreussen Elektra (3) a um conjunto de operadorespúblicos.

359. No caso da imposição com vista à transiçãopara um quadro concorrencial (4), o Governo

britânico impôs uma taxa ao consumidor final deelectricidade. Esta taxa era paga directamente aofornecedor de electricidade, não sendo assim as-segurada por intermédio de um organismo res-ponsável pela cobrança dessas taxas a nível cen-tral e pela sua posterior redistribuição. As taxasdeverão compensar os custos adicionais resultan-tes de contratos de fornecimento a longo prazo apreços efectiva ou potencialmente mais elevadosdo que os preços do mercado. Uma vez mais, a Co-missão respeitou neste contexto a jurisprudênciaPreussen Electra (5), tendo considerado que estastaxas não constituíam recursos públicos, pelo quenão havia qualquer elemento de auxílio estatal.

2. Vantagens para uma empresa ou empresas

360. Em 2002, a Comissão Europeia iniciou umprocedimento formal de investigação relativa-mente a seis casos de transferência de capital eactivos para Landesbanken na Alemanha (Lan-desbank Berlin, Landesbank Schleswig-Holstein,Hamburgische Landesbank, Norddeutsche Lan-desbank, Landesbank Hessen-Thüringen e Baye-rische Landesbank). Dado o possível impacto doprocedimento relativo ao Landesbank Berlin so-bre a investigação referente ao auxílio à reestrutu-ração a favor do Bankgesellschaft Berlin, a que oprimeiro pertence, este procedimento foi anteci-pado para Julho de 2002. Os restantes cinco pro-cessos foram iniciados em Novembro de 2002.

361. No decurso da década de 90, os Landes-banken tinham recebido capital dos seus accio-nistas, ou seja, dos respectivos Länder alemães,através da transferência de activos imobiliárioscomo, por exemplo, organismos de crédito hipo-tecário. Estas transferências aumentaram osfundos próprios dos Landesbanken, cujo nível écrucial para determinar a capacidade de conces-são de empréstimos, permitindo-lhes assimproceder a uma expansão significativa das suasactividades. Os bancos privados queixaram-seque os Länder em causa tinham concedido fundosem condições favoráveis, conferindo assim umavantagem concorrencial significativa aos Landes-banken em causa. Com base numa apreciaçãopreliminar, a Comissão manifestou dúvidasquanto ao facto de os Länder terem recebido umaremuneração adequada no que se refere aos capi-

¥1∂ C-482/99 France v Commission [2002] ECR I-4397.¥2∂ NN 27/2000 de 22 de Maio de 2002.¥3∂ C-379/98 de 13.3.2001 Preussen Elektra AG v Schleswag AG

[2001] ECR I-2099.¥4∂ N 661/99 de 1.3.2002.

¥5∂ C-379/98 de 13.3.2001 Preussen Elektra AG v Schleswag AG[2001] ECR I-2099.

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tais transferidos, ou seja, uma taxa de remunera-ção de mercado susceptível de ser considerada«normal» para esse tipo de capital na época emcausa. Na eventualidade de as remunerações te-rem sido efectivamente mais reduzidas do que astaxas de mercado normais, a diferença deve serconsiderada um auxílio.

362. Estes casos são idênticos ao caso que envol-veu a transferência da Wohnungsbauförderanstaltpara o WestLB, no âmbito do qual a Comissão de-cidiu em 1999 recuperar o auxílio atribuído, queascendia nessa época a cerca de 800 milhões deeuros. A Comissão anunciou que examinaria ou-tros casos de transferências para os bancos dosLänder à luz do processo WestLB ainda pendenteno TPI. A decisão de dar início a um procedi-mento não prejudica os resultados das investiga-ções. As conclusões do Tribunal no âmbito doprocesso WestLB serão evidentemente tomadasem consideração no âmbito de cada uma das in-vestigações.

363. Na sequência do memorando de acordo de17.7.2001 relativamente às garantias estatais a fa-vor dos Landesbanken e das caixas económicasalemãs, verificaram-se intensas discussões entrea Comissão e as autoridades alemãs sobre a trans-posição do acordo para o direito alemão. Duasquestões não puderam ser resolvidas até ao finalde 2001: em primeiro lugar, os elementos preci-sos a inserir nos textos jurídicos, considerandosou compromissos a serem assumidos pelas auto-ridades alemãs a fim de assegurar a substituiçãoefectiva do Anstaltslast e, em segundo lugar, oconteúdo exacto da cláusula de anterioridade(Gewährträgerhaftung) relativamente às respon-sabilidades assumidas durante o período transitó-rio (19 de Julho de 2001 até 18 de Julho de 2005).

364. Em 28 de Fevereiro de 2002, o comissárioMario Monti e os representantes do Estado Fe-deral, dos Länder e das caixas económicas che-garam a um consenso sobre as duas questõessupramencionadas, bem como sobre outros doisaspectos distintos identificados após o memo-rando de acordo de 17.7.2001. Estas duas novasquestões incidiam, em primeiro lugar, na obriga-ção que recai nalguns Länder sobre as filiais (Na-chschusspflicht) no sentido de os proprietáriosdas caixas económicas dotarem os fundos de se-gurança institucional (Institutssicherungsfonds)de meios financeiros e, em segundo lugar, sobreas garantias estatais a favor das denominadascaixas económicas livres. As conclusões dasnegociações representam um acordo relativo aos

elementos a inserir nos textos jurídicos, conside-randos e compromissos separados a serem assu-midos pelas autoridades alemãs.

365. O memorando de acordo de 17.7.2001 e asconclusões de 28.2.2002 relativamente aos Lan-desbanken e às caixas económicas, bem como omemorando de acordo de 1.3.2002 respeitante ainstituições de créditos específicas, foram trans-formados numa decisão da Comissão em 27 deMarço de 2002, que alterou a recomendação da Co-missão de 8 de Maio de 2001, com efeito a partir de31 de Março de 2002. Esta alteração foi aceite peloGoverno alemão em 11 de Abril de 2002. Na se-quência de novas discussões, todas as alteraçõesnecessárias a nível das disposições legislativasrelativas aos Landesbanken e caixas económicasforam subsequentemente adoptadas pelas autori-dades alemãs atempada e devidamente até ao fi-nal de 2002.

366. A Comissão Europeia estabeleceu, em22 de Agosto de 2002, que algumas medidas fis-cais italianas introduzidas em 1998 e 1999 a fa-vor das fundações bancárias não estavam sujeitasàs regras da União Europeia em matéria de auxí-lios estatais (1). Tal deve-se ao facto de a Comis-são considerar que a gestão de fundos próprios ea utilização das receitas para a concessão de sub-venções a entidades sem fins lucrativos não cons-tituem uma actividade económica. Por conse-guinte, as fundações bancárias não devem serconsideradas como empresas na acepção das re-gras relevantes da UE.

367. As medidas fiscais que foram objecto da de-cisão da Comissão haviam sido introduzidas pelaLei n.o 461, de 23 de Dezembro de 1998, e pelocorrespondente Decreto Legislativo n.o 153, de17 de Maio de 1999, e diziam respeito à atribui-ção do estatuto jurídico de «entidades não comer-ciais» às fundações bancárias. Este estatuto jurí-dico pressupõe uma redução de 50% do impostonormal sobre o rendimento das sociedades emItália (IRPEG). Outras vantagens prendem-secom a isenção fiscal que recai sobre a venda pelasfundações das suas participações em instituiçõesde crédito ou sobre a aquisição de bens instru-mentais.

368. A Comissão decidiu que, uma vez que a do-ação de fundos não representa uma actividadeeconómica, as fundações que não exercem outras

¥1∂ C 54/00.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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funções não podem retirar qualquer vantagemconcorrencial dessas medidas legislativas num«mercado» específico. Consequentemente, asmedidas não constituem um auxílio estatal. A Co-missão só chegou a esta conclusão após o Go-verno italiano ter reforçado a demarcação entreos bancos e as fundações no artigo 11.o da Lein.o 448, de 28 de Dezembro de 2001. A nova le-gislação impede o controlo conjunto das institui-ções bancárias por mais de uma fundação e intro-duz regras estritas quanto à incompatibilidadeentre cargos de gestão. Tal exclui o exercício daactividade bancária pelas fundações (através debancos por elas controlados).

369. Contudo, a decisão indica que, na eventua-lidade de as fundações passarem a exercer activi-dades económicas e na medida em que estas acti-vidades sejam susceptíveis de afectar o comércioentre os Estados-Membros, qualquer vantagemfiscal pode constituir um auxílio estatal e deve sernotificado à Comissão.

370. Após uma segunda investigação, a Comis-são Europeia confirmou, em 30 de Outubro de2002, a sua aprovação inicial de um auxílio nomontante de 647 milhões de euros a favor daconstrução da refinaria Leuna 2000 na Saxó-nia-Anhalt, na Alemanha (1). A Comissão reexa-minou os custos do projecto e concluiu que asalegações que tinha recebido quanto ao facto deos custos de investimento terem sido sobrestima-dos no intuito de beneficiarem de subvençõesmais avultadas careciam de fundamento.

371. O beneficiário do auxílio é a MitteldeutscheErdöl Raffinerie GmbH (MIDER), proprietáriada refinaria Leuna em Leuna/ Spergau, na Saxó-nia-Anhalt, e ela própria uma filial da TotalFinaElf S.A. Em 1993 e 1994, a Comissão autorizouum conjunto de auxílios a serem pagos pelo Treu-handanstalt, o antigo organismo de privatizaçãona Alemanha Oriental, para a construção de umanova refinaria nas antigas instalações químicas daLeuna. A maioria das medidas de auxílio foi con-cedida com base em programas regionais autori-zados pela Comissão.

372. Em 1996, a Comissão recebeu informaçõesque indicavam que os custos apresentados pelaELF, que havia sido entretanto objecto de fusãocom a TotalFina, eram bastante superiores aoscustos de construção normais para instalações

comparáveis. As decisões da Comissão de 1993 e1994 baseavam-se nas estimativas de custos daELF. Após uma análise preliminar das alegações,a Comissão deu início a uma investigação formalem Julho de 1997, uma vez que tinha dúvidasquanto à implementação das suas decisões inici-ais e quanto às estimativas de custos em que assuas decisões se haviam baseado. A apresentaçãode dados inflacionados no que diz respeito aoscustos de investimento elegíveis para efeitos deauxílio poderia ter resultado num montante de au-xílio mais elevado do que o estritamente necessá-rio para a realização do projecto e numa maior in-tensidade de auxílio do que o limite máximoautorizado para a região.

373. No entanto, a investigação não apurouquaisquer elementos comprovativos de custos so-brestimados ou uma utilização inadequada doauxílio, tendo confirmado que o montante doscustos elegíveis para o projecto de investimentoglobal ascendia a 2 403,1 milhões de euros. AComissão verificou igualmente se os pagamentospara a construção da refinaria tinham sido desem-bolsados e devidamente contabilizados. Alémdisso, a intensidade do auxílio, em termos brutos,para os custos de investimento elegíveis é de26,9%, o que se situa muito abaixo do limiar deauxílio autorizado para a Saxónia-Anhalt de35%. Consequentemente, o auxílio era legal e oprocedimento de investigação pôde ser encer-rado. O montante de auxílio desembolsado atéOutubro de 2002 cifrava-se em 585,7 milhões deeuros. O montante total de auxílio atingirá647 milhões de euros e incluirá um montante re-manescente de 61,4 milhões de euros contabili-zado numa denominada conta de garantia bloque-ada. A Comissão deixou de se opor ao pagamentodeste montante.

374. A Comissão recebeu várias denúncias rela-tivas ao financiamento da realização, emMainz-Lerchenfeld (2), na Alemanha, de um par-que mediático cujas atracções seriam assegura-das pela cadeia de radiotelevisão pública alemãZDF. A fim de determinar se as características dofinanciamento contestado conduziam a classi-ficá-lo como auxílio estatal na acepção do Tra-tado, a Comissão investigou a eventual vantagemfinanceira de que beneficiaria a entidade respon-sável pela exploração do parque devido aos servi-ços prestados pela ZDF. Dado que a entidade ges-

¥1∂ C 47/97. ¥2∂ NN 2/2002 de 4.6.2002.

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tora do parque adquire os direitos de difusão dosprogramas à filial comercial da ZDF a preços domercado, não dispondo assim de qualquer vanta-gem em relação aos seus concorrentes, o financi-amento em questão não constitui um auxílio.

375. No caso belga relativo ao regime fiscal doscentros de coordenação, a Comissão decidiu darinício a um procedimento sobre o regime fiscalaplicável aos centros de coordenação em causaapós as autoridades belgas terem recusado aadopção das medidas adequadas propostas. Comefeito, a Comissão considera que o regime deveser adaptado à evolução das regras comunitáriase, nomeadamente, à sua Comunicação sobre aaplicação das regras relativas aos auxílios estataisàs medidas que respeitam à fiscalidade directadas empresas (1).

376. A selectividade do regime é irrefutável,atendendo aos critérios de elegibilidade para efei-tos da autorização administrativa. As dúvidasmanifestadas pela Comissão incidem, pelocontrário, na isenção da contribuição predial(«précompte immobilier»), nas taxas de registorelativas às entradas de capital, bem como na ex-clusão das despesas financeiras da base de cál-culo da matéria colectável dos centros de coorde-nação. A Comissão considera que o método detributação «cost plus» aplicável ao caso em con-sideração, apesar de ser em princípio aceitável,deve estar sujeito à condição de não conferir umavantagem económica às sociedades autorizadas autilizar este método.

377. Deste modo, na fase actual não pode ser ex-cluída a possibilidade de o desagravamento fiscalde que beneficiam os centros de coordenação bel-gas constituir um auxílio ao funcionamento, in-compatível em princípio com o Tratado, visto queas sociedades que não se encontram em condi-ções de instituir centros de coordenação devemsuportar a totalidade da carga fiscal aplicável noEstado-Membro relevante (2).

378. A Comissão, na sua decisão final relativa àscondições de isenção do imposto ecológico britâ-nico (3), optou por classificar como uma medidageral e não como um auxílio estatal a isenção emcaso de dupla utilização (isto é, a utilização de umproduto simultaneamente como combustível ecomo matéria-prima), instituída pelo programa

do Governo britânico com vista a reduzir as emis-sões de dióxido de carbono.

379. A Comissão recordou, em primeiro lugar, oprincípio consagrado segundo o qual um impostoinstituído a nível do consumo de produtos ener-géticos não constitui, como tal, um auxílio esta-tal. Precisa que tal não é válido em relação àsisenções estabelecidas ao abrigo de um regimesempre que estas tenham como efeito favorecercertas empresas ou certas produções, salvo se asreferidas isenções forem justificadas pela natu-reza ou pela lógica subjacente ao regime emquestão. No caso em apreço, a Comissão conside-rou que a isenção em caso de dupla utilização sópoderia beneficiar as empresas que utilizamcertos processos de produção de energia, enume-rados de forma exaustiva na regulamentação bri-tânica. Foi assim estabelecido o critério de selec-tividade do auxílio.

380. No entanto, dado que a repartição entre autilização de um mesmo produto como combustí-vel e para outros fins não pode, segundo os peri-tos, ser utilizada para fins fiscais como soluçãoalternativa à isenção dos produtos de dupla utili-zação, a Comissão considerou que a medida erajustificada pela lógica e pela natureza do sistemado regime fiscal global instituído a favor da polí-tica relativa às alterações climáticas.

381. A Comissão encerrou o processo iniciadoem 2002 relativamente às subvenções públicas deque o parque de atracções «Terra Mitica» teriabeneficiado na província de Alicante, segundouma denúncia apresentada (4). A decisão positivada Comissão baseia-se, em parte, na natureza dofinanciamento das infra-estruturas necessárias aofuncionamento do parque.

382. O parque «Terra Mitica» suportou os custosdas obras de ligação às infra-estruturas gerais; es-tas últimas foram colocadas à disposição da co-lectividade geral, pelo que o seu financiamento, acargo dos poderes públicos, não constitui um au-xílio. Os motivos na origem de um financiamentopúblico são, com efeito, irrelevantes para a Co-missão no âmbito da sua apreciação dos auxílios.Basta apenas considerar a especificidade da me-dida projectada. No caso em apreço, esta condi-ção não estava preenchida.

383. A Comissão decidiu dar início a um proce-dimento no que se refere ao regime fiscal aplicá-

¥1∂ JO C 384 de 10.12.1998, p. 3-9.¥2∂ E 1/00.¥3∂ C 18/2001 (ex N123/2000) de 3.4.2002. ¥4∂ N 42/2001 (ex NN 14/2001) de 22.6.2002.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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vel às FSC americanas implantadas na Bélgica (1).Tal assenta num ruling, ou seja, num acordo pré-vio emitido pela administração fiscal quanto aotratamento favorável de que beneficiarão certasoperações comerciais entre empresas ligadas, de-vido ao facto de serem excluídas da matéria co-lectável das FSC. A decisão da Comissão nãocompromete a possibilidade de os Estados-Mem-bros utilizarem um método de montante fixo paraa determinação da matéria colectável das socie-dades. No entanto, impõe à administração fiscaluma obrigação em matéria de objectivo, a fim deassegurar, em relação às transacções deste tipo,uma tributação comparável à imposição que teriasido obtida com base na metodologia clássica nocaso de dois operadores independentes.

384. Num caso semelhante, a Comissão justifi-cou no essencial a adopção de uma decisão finalnegativa pela vantagem de que beneficiam oscentros de coordenação alemães ao abrigo do re-gime em análise (2). Com efeito, tal institui ummétodo de cálculo dos lucros tributáveis denomi-nado «cost plus», juntamente com a possibilidadede o centro de coordenação em causa optar pelaaplicação de uma taxa de imposição sobre os lu-cros inferior a 10%, mesmo nos casos individuaisem que a administração fiscal alemã estaria emcondições de exigir a aplicação de uma taxa supe-rior. Deste modo, a Comissão concluiu que o re-gime em causa limita o montante do imposto so-bre as sociedades a suportar pelos centros decoordenação, constituindo assim uma vantagempara estes últimos.

385. Por outro lado, o desencadear de um proce-dimento permitiu comprovar que, dada a exclu-são efectiva das sociedades alemãs do âmbito deaplicação deste regime, o seu carácter selectivoafigura-se irrefutável, tendo a Comissão conside-rado o regime de auxílio em causa como incom-patível com o Tratado.

2.1. Custos irrecuperáveis

386. Uma questão específica suscitada no âm-bito da liberalização do mercado interno da elec-tricidade, tal como resulta da Directiva 96/92 (3),conduziu a Comissão a identificar um conjuntode encargos específicos ao sector, não amortiza-

dos antes da liberalização. Trata-se dos denomi-nados custos irrecuperáveis.

387. Os poderes públicos podem instituir meca-nismos destinados a restabelecer, no respectivoterritório nacional, a igualdade de condições en-tre os antigos e os novos operadores no sector. AComissão deve assim examinar os mecanismosem causa, a fim de determinar as condições emque os auxílios estatais que os mesmos eventual-mente comportam podem ser autorizados no in-tuito de compensar os custos irrecuperáveis su-portados pelas empresas.

388. No que diz respeito ao caso britânico (4), oscustos irrecuperáveis imputáveis à sociedade pri-vada Northern Ireland Electricity resultavam deobrigações instituídas por contratos anteriores defornecimento a longo prazo a preços superioresaos preços do mercado, ou susceptíveis de o se-rem. A fim de compensar o excesso de encargosdaí resultante para a empresa, o governo decidiuinstituir uma contribuição a pagar pelos consumi-dores finais de electricidade e a cobrar pelos dis-tribuidores, sem a intervenção de um organismointermédio, responsável pela centralização e dis-tribuição da referida contribuição.

389. A Comissão considerou que os recursos emcausa eram recursos privados, cuja qualificaçãoreleva da jurisprudência Preussen Elektra, peloque o mecanismo em causa não constitui um au-xílio estatal.

390. O caso belga levou a Comissão a especifi-car, à luz da metodologia de análise dos auxíliosestatais relacionados com custos irrecuperáveis,adoptada pela Comissão em 26.7.2001 (5), os cri-térios que aplicará para determinar as condiçõesem que a derrogação prevista no n.o 3, alínea c), doartigo 87.o do Tratado é aplicável aos custos irre-cuperáveis que constituem auxílios. A Comissãoidentificou assim três vertentes neste contexto.

391. Uma primeira vertente prende-se com odesmantelamento de instalações nucleares expe-rimentais cujos produtores de electricidade são,juntamente com o Estado Federal, co-responsá-veis desde 1990, ou seja, seis anos antes da adop-ção da directiva. A Comissão, após ter referidoque a sua decisão não prejudica o disposto noTratado Euratom, considerou que as compensa-ções de que beneficiam a Electrabel e a SPE sa-

¥1∂ NN 36/2002–C30/02.¥2∂ C 47/2001 (ex NN 42/2000).¥3∂ JO L 27 de 30. 1.1997, p. 20.

¥4∂ N 661/1999.¥5∂ Carta da Comissão SG (2001) D/290869 de 6.8.2001.

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tisfazem os critérios definidos nos pontos 4.1. a4.3. da metodologia.

392. No que se refere, em contrapartida, à ver-tente relativa às pensões de reforma dos trabalha-dores do sector de electricidade, a Comissão ma-nifestou dúvidas baseadas, nomeadamente, nocarácter não específico dos compromissos assu-midos neste contexto pela Electrabel e pela SPEperante os respectivos trabalhadores assalaria-dos. Com efeito, todas as empresas abrangidaspela Convenção Colectiva de Electricidade e doGás, incluindo assim os novos operadores, se en-contram sujeitas a obrigações idênticas. Outrosaspectos reforçaram as dúvidas da Comissão,dado que o mecanismo não parece prever qual-quer limitação no tempo, nem qualquer modula-ção da compensação em função da evolução dospreços do mercado de electricidade e dos ganhosde produtividade previsíveis das empresas emcausa, conforme indicado nos pontos 3.12, 4.1 e4.5 da metodologia.

393. A terceira vertente incide sobre a promoçãodas energias renováveis e a utilização racional daenergia, financiada pela imposição aos consumi-dores finais de electricidade de um preço superiorao preço de mercado. Uma vez que os dados eramanálogos aos existentes no caso britânico supra-mencionado, a Comissão retomou a análise reali-zada anteriormente e considerou, em aplicação dajurisprudência Elektra, que a vertente em causanão comportava qualquer elemento de auxílio.

3. Especificidade

394. Num caso semelhante ao citado acima(ponto 375), a Comissão encerrou, medianteadopção de uma decisão negativa, um procedi-mento iniciado em 11 de Julho de 2001 relativa-mente ao regime espanhol que privilegiava oscentros de coordenação, sem todavia acompanhara sua decisão de uma injunção no sentido do re-embolso dos auxílios já pagos.

395. Em relação a este último aspecto, reconhe-ceu que, atendendo às semelhanças existentes en-tre a legislação aplicável aos centros de coorde-nação de Vizcaya e a aplicável aos centros decoordenação belgas, as autoridades espanholaspoderiam legitimamente considerar que o sis-tema basco não comportava qualquer elementode auxílio. Com efeito, a Comissão havia adop-tado em 1984 uma decisão neste sentido no quediz respeito ao sistema belga.

396. Em relação ao fundo da questão, resulta doexame da Comissão que os centros de coordena-ção de Vizcaya conferem às empresas elegíveispara efeitos do regime uma vantagem fiscal, porexcluírem do cálculo da sua matéria colectável oscustos financeiros das suas operações. Alémdisso, uma das condições de elegibilidade dasempresas para efeitos do regime prendia-se com aobrigação de realizarem 25% do seu volume denegócios no sector da exportação, pelo que a Co-missão considerou que, no caso em apreço, ofacto de as trocas comerciais serem afectadas re-forçava a especificidade do regime.

397. A Comissão encerrou o procedimento for-mal de investigação do regime fiscal preferencialde que beneficiam as ilhas de Aland (Finlân-dia) (1) através de uma decisão em que classifi-cava como «auxílio estatal» este regime, que as-senta na implantação de empresas seguradorascativas no território das referidas ilhas.

398. Afigurou-se à Comissão que a única funçãodestas sociedades consistia em assegurar a cober-tura dos riscos das empresas de que faziam parte. Oregime contribuía para uma especificidade de factoentre as empresas. É evidente que qualquer em-presa, independentemente da respectiva dimensãoou sector de actividade, dispõe da possibilidade le-gal de instituir a sua própria sociedade de resse-guro. No entanto, apenas algumas grandes empre-sas se encontram em condições de tirar partido daseconomias de escala que advêm da utilização destesistema. Deste modo, o critério de selectividade éapreciado pela Comissão como correspondendo auma realidade concreta no caso em consideração.

399. Em Maio de 2002 a Comissão adoptou umadecisão negativa relativamente a um auxílio a fa-vor do fabricante de porcelana GEA, encerrandoassim o procedimento de investigação que haviasido iniciado em Setembro de 2001 (2). Já em1997, a Comissão tinha autorizado um auxílio afavor do Grupo de Empresas Álvarez («GEA»)na condição de não serem concedidos novos au-xílios a este grupo durante a implementação doseu plano de reestruturação. Contudo, em 2001, aComissão recebeu várias denúncias que indica-vam que a empresa tinha beneficiado, pelo menosa partir de Janeiro de 1997, de um tratamento fa-vorável no que diz respeito às suas dívidas à segu-rança social e à administração fiscal. A Comissão

¥1∂ C 55/01.¥2∂ C 71/01.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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considerou que o não pagamento contínuo e siste-mático das contribuições para a segurança socialconstitui uma transferência de recursos públicospara a GEA e a VANOSA. Esta transferência con-fere-lhes uma vantagem concorrencial uma vezque, contrariamente aos seus concorrentes, nãotêm assim de suportar estes custos, como sucede-ria em circunstâncias normais. Por conseguinte,esta situação corresponde a um auxílio na acep-ção do n.o 1 do artigo 87.o do Tratado.

400. O simples facto de a legislação nacional in-vocada pela Espanha ser aplicável a qualquer em-presa objecto de um plano de recuperação de dí-vidas sob supervisão judicial ou que tivessecontraído dívidas perante a segurança social e oMinistério das Finanças não era suficiente parapermitir que as medidas adoptadas pela Espanhafossem automaticamente excluídas de seremclassificadas como auxílios na acepção do artigo87.o do Tratado. A vantagem resultante do não pa-gamento persistente e sistemático das contribui-ções para a segurança social, pelo menos duranteo período compreendido entre Janeiro de 1997 eJaneiro de 2001, advém do facto de a Espanhanão ter tomado as medidas previstas nos termosdo direito espanhol (diversos procedimentos comcarácter executório) no sentido de evitar que asempresas prosseguissem as suas actividades semrespeitarem as obrigações fiscais e sociais. Ocomportamento do Estado em nada parece suge-rir que tenha actuado como um credor privado,procurando recuperar pelo menos uma pequenaparte dos impostos e contribuições sociais quenão haviam sido ainda pagos.

401. Em 17 de Julho de 2002, a Comissão deci-diu não levantar objecções à privatização da «So-ciété Française de Production». A SFP é uma em-presa pública e desenvolve actividades no sectorda produção audiovisual. No âmbito da privatiza-ção, a França prevê o financiamento de medidassociais a favor dos trabalhadores despedidos. Namedida em que estas medidas sociais não exi-mem a empresa de suportar os encargos que nor-malmente oneram o seu orçamento devido àssuas obrigações jurídicas e contratuais, a Comis-são considerou que o plano social a ser financiadopelo Estado não envolve um auxílio estatal a fa-vor da SFP.

4. Distorção da concorrência

402. O Tribunal de Justiça confirmou a sua inter-pretação lata no que diz respeito ao vínculo em

matéria de efeitos sobre o comércio, ou seja, é su-ficiente considerar que o auxílio reforça a posiçãoconcorrencial do beneficiário em relação aos seusconcorrentes, distorcendo assim a concorrên-cia (1). A distorção não deve ser forçosamentesubstancial nem significativa. Deste modo, ofacto de o auxílio se reduzir a um pequeno mon-tante não exclui, por si, a distorção da concorrên-cia, salvo em casos abrangidos pelo regulamentode minimis.

5. Efeito sobre o comércio entre Estados-Membros

403. Em Julho de 2001, a Comissão propôs àsautoridades italianas, no quadro do seu examedos auxílios fiscais em vigor nos Estados-Mem-bros, a adopção de medidas adequadas destinadasa assegurar a conformidade do regime em causacom a sua Comunicação, recentemente adoptada,sobre a aplicação das regras relativas aos auxíliosestatais às medidas que respeitam à fiscalidadedirecta das empresas (2). As autoridades italianasnão adoptaram nos prazos fixados as medidaspropostas, pelo que a Comissão iniciou um pro-cedimento em Fevereiro, tendo adoptado em De-zembro uma decisão final negativa relativamentea este regime que nunca havia, contudo, entradoem vigor (3).

404. O regime em causa assenta na concessão devantagens fiscais aos organismos financeiros,empresas de seguros e organismos de crédito es-tabelecidos no Centro e que colaboram com ospaíses da Europa Central. A Comissão haviaaprovado este regime em 1995, dado favorecer amobilização de capitais privados destinados aodesenvolvimento dos mercados financeiros dospaíses da Europa Central.

405. Actualmente, à luz da sua Comunicação so-bre a aplicação das regras relativas aos auxíliosestatais às medidas que respeitam à fiscalidadedirecta das empresas (4), considera que o regimeconstitui um auxílio ao funcionamento que nãosatisfaz as características previstas na referida co-municação. Além disso, a aplicação do regimeafectaria doravante as trocas comerciais no mer-cado dos serviços financeiros, devido aos acordos

¥1∂ Ver, por exemplo, os acórdãos proferidos nos processos C-05/01,Bélgica/Comissão, T-269/99, T-271/99, T-272/99 e T-346-348/99,Diputación Foral de Guipúscoa e outros/Comissão.

¥2∂ JO C 384 de 10.12.l1998.¥3∂ C 16/2002 (ex E 5/2000).¥4∂ C 48/2001 (ex NN43/2000).

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celebrados entre a Comunidade e os países candi-datos à adesão.

C — Apreciação da compatibilidade dos auxílios com o mercado comum

1. Auxílios horizontais

1.1. Auxílios de emergência

406. Em 13 de Novembro de 2002, a Comissãodecidiu autorizar, sob determinadas condições, oauxílio de emergência concedido à Bull pelaFrança (1). A decisão encerra o procedimento ini-ciado em 9 de Abril de 2002. O Governo francês,accionista da Bull, concedeu empréstimos deemergência no valor de 450 milhões de euros emDezembro de 2001 e novamente durante o pri-meiro semestre de 2002. Uma vez que a Comis-são tinha dúvidas quanto à conformidade desteauxílio de emergência com as orientações comu-nitárias dos auxílios estatais de emergência e àreestruturação concedidos a empresas em dificul-dade, decidiu dar início a um procedimento for-mal. As preocupações da Comissão incidiamsobretudo sobre o facto de o auxílio se inseriraparentemente num processo de reestruturação alongo prazo, enquanto as orientações prevêemque um auxílio de emergência deve assumir umcarácter excepcional, destinando-se exclusiva-mente a manter a empresa em funcionamento du-rante um período limitado, a fim de apreciar o seufuturo. Além disso, a Comissão manifestou dú-vidas quanto ao facto de a Bull poder utilizar oauxílio de emergência para a cobertura dos cus-tos de reestruturação. Uma vez que a Bull já ha-via recebido um auxílio à reestruturação em1993-1994, um novo auxílio deste tipo não pode-ria ser normalmente aceite à luz do «princípio doauxílio único» contido nas orientações dos auxí-lios de emergência e à reestruturação.

407. Durante o procedimento de investigação, asautoridades francesas apresentaram elementos deprova suficientes que demonstravam que as ori-entações dos auxílios de emergência e à reestru-turação haviam sido respeitadas: o empréstimode emergência justificava-se por motivos relacio-nados com graves dificuldades sociais e tinhasido concedido a uma taxa de juro pelo menos

comparável à taxa que seria paga por uma em-presa em boas condições financeiras, em condi-ções normais de mercado, restringindo-se aomontante necessário para manter a empresa emactividade por um período de seis meses. As auto-ridades francesas sustentaram que este emprés-timo constituía um auxílio de emergência a curtoprazo e que os custos de reestruturação haviamsido financiados pela venda de activos e não poreste empréstimo.

408. Em conformidade com as Orientações dosauxílios estatais de emergência e à reestrutura-ção (2), o auxílio de emergência deve ser reem-bolsado no prazo de doze meses a contar do paga-mento da última prestação do empréstimo à Bull.Por conseguinte, a Comissão decidiu sujeitar asua autorização à condição expressa de as autori-dades francesas apresentarem elementos de provaquanto ao reembolso do empréstimo pela Bull atéao termo deste período de doze meses a partir dodesembolso da última prestação. Além disso, aComissão examinou cuidadosamente se o auxíliose restringia ao montante necessário para mantera empresa em actividade durante um período deseis meses e, nomeadamente, se o auxílio rece-bido não tinha sido utilizado para realizar novosinvestimentos. Por último, a decisão da Comissãoestabelecia claramente a impossibilidade de serconcedido qualquer apoio adicional sob a formade auxílio à reestruturação antes de 31 de Dezem-bro de 2004. De igual forma, também não poderáser concedido um novo auxílio de emergência àBull, uma vez que este tipo de auxílio é, por defi-nição, uma operação única que se destina a man-ter uma empresa em actividade durante um perí-odo limitado.

409. A Comissão autorizou, em 27 de Novembrode 2002, um auxílio de emergência concedidopelo Governo do Reino Unido à British Energyplc (3). A British Energy plc é um dos operadoresmais importantes no mercado britânico da electri-cidade. Esta empresa consagra-se sobretudo àexploração de centrais nucleares. A redução nospreços grossistas de electricidade, registada na se-quência da introdução do novo sistema de comer-cialização da electricidade em Inglaterra e no Paísde Gales, conduziu a uma importante diminuiçãodo fluxo de tesouraria gerado pelas centrais nucle-ares do grupo. Em 9 de Setembro de 2002, oGoverno britânico decidiu conceder à British

¥1∂ C 29/02.¥2∂ JO C 288 de 9.10.1999, p. 2-18.¥3∂ NN 161/02.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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Energy plc duas facilidades de crédito que tinhamcomo principal finalidade permitir à empresa su-portar os seus custos de funcionamento e respei-tar os seus contratos comerciais e requisitos regu-lamentares durante um período de seis meses.Estas facilidades de crédito poderão ser eventual-mente substituídas por garantias estatais aplicá-veis a empréstimos concedidos por bancos priva-dos à British Energy plc.

410. Após ter estabelecido que a decisão nãoprejudicava a observância das regras e obrigaçõesconsignadas no Tratado Euratom, nomeadamenteno que diz respeito às medidas a tomar no con-texto de um plano de reestruturação ou liquida-ção, a Comissão considerou que o montante doauxílio se circunscrevia ao necessário para man-ter o grupo em funcionamento. Neste contexto, oGoverno do Reino Unido instituiu um meca-nismo muito rigoroso destinado a assegurar que odinheiro só é levantado no momento e no mon-tante estritamente necessários. A necessidade detodos os pagamentos solicitados pelo beneficiárioserá comprovada antecipadamente por peritos in-dependentes em matéria de auditoria. Em todo ocaso, o montante máximo do auxílio foi fixadoem 899 milhões de libras esterlinas, acrescidoeventualmente de 276 milhões de libras para im-previstos devidamente identificados, a utilizar ex-clusivamente para essas finalidades específicas.A Comissão concluiu que as facilidades de cré-dito em causa preenchem as condições definidasnas «Orientações Comunitárias dos auxílios esta-tais de emergência e à reestruturação concedidosa empresas em dificuldade». Justifica-se pelasgraves dificuldades sociais, é concedido sob aforma de empréstimos que devem ser reembolsa-dos a uma taxa de juro de mercado ou sob a formade garantias estatais aplicáveis a esses emprésti-mos, restringe-se ao montante mínimo necessárioe não tem repercussões nefastas sobre os outrosEstados-Membros.

411. A Comissão decidiu, por conseguinte, auto-rizar o auxílio por seis meses. A aprovação do au-xílio de emergência baseia-se no compromissoassumido pelo Governo britânico de apresentar àComissão, no prazo de seis meses, um plano dereestruturação global da British Energy plc. Alémdisso, o Reino Unido comprometeu-se a apresen-tar um relatório mensal à Comissão sobre os pa-gamentos efectuados a favor da British Energyplc e a informá-la de quaisquer alterações signifi-cativas a nível da situação do grupo. Eventuaisauxílios futuros à British Energy plc a conceder

no contexto do plano de reestruturação deverãoser notificados à Comissão e apreciados com baseno respectivo mérito.

1.2. Auxílios à reestruturação

412. Em 9 de Abril de 2002, a Comissão deuinício a um procedimento relativo ao Bankgesel-lschaft Berlin AG, no intuito de realizar uma in-vestigação aprofundada sobre o auxílio à reestru-turação concedido ao banco pelo Land de Berlim,na Alemanha (1). O Bankgesellschaft Berlin écontrolado pelo Land de Berlin, sendo o décimobanco mais importante da Alemanha e a principalinstituição de crédito em Berlim. Em virtude deoperações imobiliárias de alto risco, como porexemplo as garantias concedidas a investidoresde fundos na década de 90 em matéria de rendi-mentos, o banco defrontou-se com uma gravecrise em 2001. No Verão de 2001 revelou-se ne-cessário proceder a um aumento de capital no va-lor de 2 mil milhões de euros, a fim de evitar aintervenção das autoridades de supervisão bancá-ria. O Land assegurou uma injecção de capital de1,8 mil milhões de euros, que a Comissão autori-zou a título de auxílio de emergência numa baseprovisória, na pendência da apresentação e daaprovação de um plano de reestruturação. Devidoà identificação de novos riscos, o Land foi obri-gado a intervir uma vez mais, em Dezembro de2001, tendo atribuído ao banco uma denominada«cobertura do risco», englobando garantias decrédito e de valor contabilístico num montantemáximo nominal teórico de aproximadamente21 mil milhões de euros. Apesar de se tratar deum montante hipotético que não deverá ser atri-buído ao abrigo de cenários realistas, as garantiasao longo dos próximos 25 a 30 anos ascenderãoprovavelmente a vários milhares de milhões deeuros.

413. O aumento de capital e as garantias associ-adas à cobertura dos riscos constituem a base doplano de reestruturação apresentado à Comissãono final de Janeiro de 2002. Após uma primeiraanálise, a Comissão manifestou dúvidas quanto àcompatibilidade do auxílio de reestruturação como mercado comum. Estas dúvidas prendiam-sesobretudo com a futura viabilidade do banco e ocarácter adequado das medidas previstas, tendoem vista a contracção das actividades do bancono mercado. Na sequência da publicação da deci-

¥1∂ NN 5/02.

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são de início de procedimento em Junho de 2002,a Comissão recebeu observações de terceiros in-teressados e diversas outras contribuições, in-cluindo dados concretos das autoridades alemãs.Dada a complexidade de alguns dos aspectos emcausa, designadamente o impacto de um outroprocedimento iniciado em Julho de 2002 relativa-mente a uma anterior transferência de capital e deactivos para a filial da Bankgesellschaft Berlin,ou seja, o Landesbank Berlin, a investigação con-tinuava a decorrer ainda no final de 2002.

1.3. Auxílios ao ambiente

414. A Comissão tomou três decisões relativa-mente aos impostos especiais de consumo sobreos biocombustíveis, na sequência da notificaçãode medidas análogas pelo Reino Unido (1), pelaItália (2) e pela França (3). As três decisões foramtomadas com base nas decisões do Conselhoadoptadas em 25 de Março de 2002 e 27 de Junhode 2002, nos termos do n.o 4 do artigo 8.o da Di-rectiva 92/81/CEE do Conselho relativa à harmo-nização das estruturas do imposto especial sobreo consumo de óleos minerais. A medida italianaconsistia na prorrogação de um regime fiscal a fa-vor da produção de bio-diesel. No âmbito da me-dida britânica, o bio-diesel produzido a partir doéster metílico de colza ou de óleo vegetal recupe-rado devia ser elegível para efeitos do novo desa-gravamento fiscal em matéria de impostos especi-ais de consumo. No que respeita à França, adecisão foi tomada na sequência de um acórdãoproferido pelo Tribunal de Primeira Instância em27 de Setembro de 2000, que anulou parcial-mente a Decisão da Comissão de 9 de Abril de1997 pela qual declarou o auxílio a favor dos és-teres de óleos vegetais e de éter etil-t-butílico ouETBE compatível com o mercado comum.

415. Nos três casos, o auxílio foi aprovado combase na sua compatibilidade com o enquadra-mento relativo aos auxílios a favor do ambiente e,mais especificamente, nos termos da secçãoE.3.3. Em conformidade com esta secção, os au-xílios ao funcionamento a favor da produção deenergias renováveis podem normalmente seraprovados. No intuito de apreciar se se justificavauma isenção fiscal temporária, a Comissão exa-minou se o auxílio ao funcionamento se limitavaa cobrir a diferença entre o custo de produção da

energia a partir de fontes de energia renovável e opreço de mercado dessa energia. A Comissãoconcluiu, nos três casos, que estava excluída a so-brecompensação na acepção do enquadramentodos auxílios a favor do ambiente e que o auxíliose limitava a cobrir a diferença entre os custos deprodução a partir de uma fonte de energia renová-vel e o preço de mercado da energia. No casofrancês, contudo, o auxílio foi igualmente apro-vado atendendo ao facto de não afectar adversa-mente as condições comerciais numa medidacontrária ao interesse comum. Podia assim bene-ficiar da isenção prevista no n.o 3, alínea c), do ar-tigo 87.o do Tratado CE.

416. Em 3 de Abril de 2002, a Comissão aprovoua denominada «isenção em caso de dupla utiliza-ção» no âmbito do imposto sobre as alteraçõesclimáticas do Reino Unido (4). Trata-se de um im-posto ambiental aplicável à utilização não do-méstica de energia a título de combustível. Cons-titui uma componente fundamental da estratégiado Governo britânico no sentido de conseguiruma redução de 12,5% nas emissões de gasescom efeito de estufa, acordada ao abrigo do Pro-tocolo de Quioto. Esta isenção é aplicável aosprodutos energéticos utilizados tanto como com-bustíveis como para outros fins. A Comissão deuinício a um procedimento formal de investigaçãoem Março de 2001 relativamente a esta isenção,devido a dúvidas quanto aos seus efeitos de dis-torção sobre a concorrência. No entanto, estas dú-vidas foram dissipadas e a Comissão decidiu quea isenção em questão não constituía um auxílioestatal. Além disso, a Comissão aprovou igual-mente como auxílio compatível outra isenção queengloba uma gama limitada de processos de pro-dução que concorrem directamente com os pro-cessos que beneficiam da referida isenção emcaso de dupla utilização.

417. Em 24 de Abril de 2002, a Comissão deci-diu não formular objecções à imposição sobre osagregados, isto é, um imposto ambiental aplicadoà exploração comercial de rocha, areia e gravilhaquando utilizados como agregados no sector daconstrução civil (5). Com base no enquadramentocomunitário dos auxílios estatais a favor do ambi-ente, a Comissão aprovou a introdução progres-siva desta imposição na Irlanda do Norte, sob aforma de uma isenção degressiva do imposto du-rante um período de cinco anos.

¥1∂ N 804/01, JO C 238 de 3.10.2002.¥2∂ N 461/01, JO C 146 de 19.6.2002.¥3∂ C 64/00, ainda não publicada.

¥4∂ C 18/C19/2001.¥5∂ N 863/2001.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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418. A Comissão considerou que a economia doregime justificava a instituição pelas autoridadesneerlandesas (1) de um mecanismo global deapreciação da evolução dos preços de terrenosapós a respectiva descontaminação. A aplicaçãodeste mecanismo deverá conduzir a que a intensi-dade dos auxílios financiados pelo regime seja li-mitada a 70% dos custos elegíveis.

419. O projecto alemão de auxílio à construçãode uma central solar (2) constitui o primeiro casoad hoc de auxílio ao investimento no domínio dasenergias renováveis examinado pela Comissão.Este auxílio foi autorizado à luz das disposiçõesrelevantes do enquadramento dos auxílios a favordo ambiente (3) e, nomeadamente, do seu ponto37, que determina os custos de investimento ele-gíveis para efeitos de auxílio.

420. Dado tratar-se da energia solar, ou seja, deuma fonte de energia renovável, só são considera-dos os sobrecustos suportados pela empresa queoptou por não realizar uma instalação de produçãode energia tradicional. As autoridades alemãs utili-zaram, a fim de determinar os sobrecustos do in-vestimento subvencionado, um método de cálculoque se afigurou adequado para a Comissão e cujoselementos figuram na sua decisão favorável.

1.4. Auxílios à I&D

421. A França, no quadro de um regime apro-vado, notificou um auxílio à I&D (4), atendendoaos limiares de notificação dos projectos de auxí-lios Eureka. O objectivo geral de MEDEA+ con-siste em assegurar, através da cooperação entre oslaboratórios públicos ou universitários e os centrosde investigação industrial de vários Estados-Mem-bros, o desenvolvimento de componentes necessá-rias para a concepção da «rede de arquitecturaeléctrica e electrónica» de módulos. A Comissãoconsiderou que a importância, tanto quantitativacomo qualitativa, da cooperação em causa justifi-cava a sua aprovação nos termos do n.o 3, alínea b),do artigo 87.o do Tratado como um «projecto im-portante de interesse europeu comum».

422. A Comissão autorizou o financiamento doprograma estabelecido pela fundação KLICT (5),uma ONG neerlandesa, que tem como objectivo

incentivar a investigação em matéria de estrangu-lamentos, nomeadamente nos domínios da circu-lação, da poluição e da utilização do espaço, tantopelos particulares como pelas empresas. A funda-ção é a principal beneficiária do auxílio, muitoembora não realize ela própria qualquer activi-dade de investigação. A fundação define os temasde trabalho, selecciona, em função de critériospré-definidos, os contratantes externos que serãoos derradeiros beneficiários dos auxílios e im-põe-lhes a criação de grupos de investigação.

423. O regime KLICT preenche as condiçõesenunciadas nos pontos 5.4 e 5.3, bem como noanexo 1 do enquadramento dos auxílios à I&D,no que diz respeito tanto à definição como aos li-mites de intensidade dos auxílios à investigaçãoindustrial e à investigação fundamental.

424. O exame do regime BSIK (6) deu à Comis-são a oportunidade de precisar o teor da obriga-ção de notificação de um projecto de auxílio fi-nanciado ao abrigo de um regime de auxílios àI&D que tenha sido por ela anteriormente apro-vado.

425. O ponto 4.7 do respectivo enquadramento (7)limita, em princípio, esta obrigação de notificaçãoaos projectos de investigação que excedam umcusto de 25 milhões de euros e beneficiem de umauxílio que ultrapasse um equivalente-subvençãobruto de 5 milhões de euros.

426. O projecto de auxílio deve ser concebidopor forma a beneficiar consórcios que reúnamcentros públicos de investigação e empresas quemanifestem o seu interesse no projecto de inves-tigação fundamental ou industrial realizado porcada um dos intervenientes. Os direitos de propri-edade intelectual decorrentes dos resultados dainvestigação apenas poderão ser explorados peloscentros públicos. As empresas participantes noprojecto disporão da vantagem indirecta de seremmembros do consórcio. A intensidade do auxílioa favor de cada empresa será apreciada em con-formidade com uma metodologia estabelecidapelas autoridades neerlandesas com o objectivode identificar os projectos individuais de investi-gação de custo superior a 12 milhões de euros re-alizados por empresas que beneficiam global-mente de um auxílio num montante superior a3,5 milhões de euros.

¥1∂ N 520/01, JO C 146 de 19.6.2002.¥2∂ N 345/2002 de 14.11.2002.¥3∂ C 71/01.¥4∂ N 702/B/01 de 3.8.2002.¥5∂ N 652/2001 de 1.2.2002.

¥6∂ N 291/2002 de 8.8.2002.¥7∂ C 71/01.

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427. Neste contexto, a Comissão pôde conside-rar que os limites de notificação dos auxílios indi-viduais concedidos ao abrigo do regime BSIK se-riam consentâneos com o disposto no ponto 4.7do enquadramento dos auxílios à I&D. Conse-quentemente, a Comissão autorizou o regime emcausa.

2. Auxílios com finalidade regional

428. Em 17 de Julho, a Comissão aprovou a apli-cação de uma taxa reduzida do imposto especialsobre o consumo de rum tradicional produzido nosterritórios ultramarinos franceses (1). Mediante de-cisão de 18 de Fevereiro de 2002, o Conselho ha-via já autorizado esta redução do ponto de vista fis-cal (artigo 3.o da Directiva 92/84/CEE). O custoorçamental (receitas não cobradas) eleva-se acerca de 46 milhões de euros por ano. A Comis-são pode autorizar este tipo de auxílio ao financi-amento para as regiões ultraperiféricas com baseno ponto 4.16 das Orientações relativas aos auxí-lios estatais com finalidade regional, tal comoalteradas em 2000. A dependência económicadestes territórios ultramarinos em relação aosector da cana-de-açúcar e do rum constituiu umimportante factor na apreciação da medida pelaComissão.

429. A Região dos Açores (Portugal) instituiu,em conformidade com as competências que lhesão conferidas pela Constituição portuguesa, umregime fiscal favorável aos agentes económicosque operam no seu território (2). A Comissão exa-minou o regime à luz das orientações relativas aosauxílios com finalidade regional (3) e considerouque as reduções previstas das taxas de impostoconstituíam auxílios ao funcionamento. Dadoque estas se destinam a beneficiar uma região ul-traperiférica, são susceptíveis de beneficiar deuma derrogação nos termos do n.o 3, alíneas a) oub), do artigo 87.o, na condição de contribuírempara compensar os custos adicionais resultantesdo exercício de uma actividade económica local.

430. Uma vez que este ponto não se afiguravademonstrado, nomeadamente no que se refere àlocalização de actividades económicas terciárias,que não são afectadas numa medida significativapela existência de desvantagens regionais, a

Comissão decidiu iniciar em Abril um procedi-mento relativamente a este regime.

431. Atendendo nomeadamente às observaçõesformuladas pelas autoridades portuguesas, a Co-missão pronunciou-se sobre o carácter selectivodas medidas fiscais adoptadas por entidades regi-onais em benefício de todas as empresas sujeitas àsua autoridade normativa. Dado tratar-se do do-mínio fiscal, a própria existência de uma vanta-gem selectiva em benefício de uma empresa é de-terminada em relação a um quadro tributário dereferência. No caso em apreço, dadas as compe-tências atribuídas à Região no sentido de reduzir,a título de derrogação, a taxa de um imposto apli-cável em todo o território de Portugal, o quadro dereferência adequado é o sistema fiscal nacional.

432. Consequentemente, dada a especificidadeterritorial em que se baseia, a Comissão conside-rou a derrogação fiscal em benefício da região dosAçores como um auxílio com finalidade regional,mais do que uma medida geral. Uma vez que nãoestava comprovada a sua compatibilidade com oTratado, a Comissão decidiu iniciar em Abril umprocedimento relativamente a este regime, a fimde verificar se o nível de auxílio era proporcionalaos custos adicionais que visava compensar.

433. A Comissão encerrou o seu exame em De-zembro mediante a adopção de uma decisão po-sitiva condicional nos termos do n.o 3, alínea a),do artigo 87.o, sob reserva de as empresas queexercem actividades financeiras ou do tipo «ser-viços intragrupo» serem excluídas do âmbito deaplicação do regime. Contudo, visto que já pode-riam ter sido concedidas vantagens fiscais a estasempresas, a Comissão acompanhou a sua deci-são de um pedido de recuperação dos auxíliosatribuídos ilegalmente.

434. A Comissão autorizou o financiamento deum novo regime de auxílios fiscais destinados afavorecer a implantação de actividades económi-cas tendo em vista a criação de postos de trabalhona zona franca da Madeira (4). À luz do objectivodeste regime, que consiste em superar as desvan-tagens estruturais permanentes da região da Ma-deira, resultantes da sua distância geográfica doscentros económicos no continente, as medidasem análise foram consideradas como auxílios aofuncionamento.¥1∂ N 179/02.

¥2∂ C 35/02 (ex NN 10/2000).¥3∂ Comunicação da Comissão, enquadramento multissectorial dos

auxílios com finalidade regional para grandes projectos de inves-timento, JO C 70 de 19.3.2002, p. 8. ¥4∂ N 222/A/02.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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435. A Comissão considerou que, tratando-se deauxílios deste tipo, as condições restritivas esta-belecidas pelas orientações relativas aos auxílioscom finalidade regional eram equilibradas pelaelegibilidade da Madeira para efeitos da derroga-ção prevista no n.o 3, alínea a), do artigo 87.o doTratado. Tal como o regime a favor da zona espe-cial das Canárias (ZEC), os benefícios fiscais sãoconcedidos em proporção do impacto das activi-dades em causa no desenvolvimento local. A Co-missão considerou que o auxílio proposto eraproporcional e específico em relação ao objectivovisado, em conformidade com a Comunicação daComissão sobre a aplicação das regras relativasaos auxílios estatais às medidas que relevam dafiscalidade directa das empresas. A Comissãoaprovou, por conseguinte, o regime em causa.Esta decisão favorável inclui precisões com vistaa excluir do seu âmbito de aplicação as empresasque exercem actividades sem qualquer impactoefectivo sobre o desenvolvimento regional como,por exemplo, as actividades financeiras e os ser-viços intergrupos (centros de coordenação, de te-souraria ou de distribuição).

2.1. Processos multissectoriais

436. Em 9 de Abril de 2002, a Comissão decidiunão levantar objecções no que se refere a um novoinvestimento importante no domínio dos semi-condutores a realizar pela StMicroelectronics naCatânia, Sicília (1). Este projecto constituiu umdos maiores projectos de investimento individu-ais jamais apreciados pela Comissão. O auxílioproposto elevava-se a 542,3 milhões de euros emrelação a um montante total de custos elegíveis de2 066 milhões de euros. O projecto consistia naconstrução de novas instalações, concebidaspara a utilização de pastilhas de silício de12 polegadas para produzir sobretudo memórias«flash» para a nova geração tecnológica NOR. AComissão concluiu que a intensidade proposta de26,25% ESL correspondia à intensidade máximade auxílio passível de ser autorizada ao abrigo doenquadramento multissectorial aplicável a esteprojecto específico. Na apreciação da compatibi-lidade do auxílio, a Comissão teve em conta a si-tuação do mercado, o número de postos de traba-lho directamente criados pelo projecto (1 150) eos efeitos benéficos do investimento para a eco-nomia das regiões assistidas, devido à criação de650-800 postos de trabalho indirectos.

437. Nessa mesma data, a Comissão aprovou umauxílio ao investimento no montante de 219 mi-lhões de euros a favor da Infineon TechnologiesSC 300 para a construção de novas instalações emDresden, Saxónia, para a produção de DRAMs(Dynamic Random Access Memory — semicon-dutores para a armazenagem de dados binários)com uma capacidade de armazenagem equiva-lente ou superior a 512 megabits (2). O auxílio re-presentava 19,8% da totalidade dos custos do in-vestimento num montante de 1 106 milhões deeuros. A Comissão deu início a um procedimentoformal de investigação em Outubro de 2001, umavez que duvidava se a intensidade projectada de19,8% do auxílio era consentânea com a intensi-dade máxima de auxílio aceitável, calculada combase no enquadramento multissectorial. A investi-gação aprofundada levou a Comissão a concluirque o mercado não se encontra de modo algum emdeclínio e que o projecto terá um impacto positivosobre a economia da região. Deste modo, foi con-siderado que o montante de auxílio era compatívelcom o enquadramento multissectorial.

438. Em 9 de Abril de 2002, a Comissão aprovoufinalmente três quartos do auxílio proposto afavor da empresa de papel Hamburger AG (3). AAlemanha pode subvencionar o projecto até26,25% dos custos de investimento elegíveis de153 milhões de euros, ou seja, num montanteaproximado de 40 milhões de euros, em vez dos35% inicialmente notificados, correspondente aum montante de 54 milhões de euros. O projectoincide sobre a construção de novas instalaçõespara a produção de papel em Brandenburgo. AComissão deu início a um procedimento formalde investigação em Outubro de 2001, uma vezque questionava nomeadamente se podia ser ex-cluído o facto de o sector relevante se encontrarnum relativo declínio e se o número total de pos-tos de trabalho indirectos indicado pela Alema-nha poderia ser tomado em consideração paraefeitos de apreciação da compatibilidade do auxí-lio. Após a investigação, a Comissão concluiuque o sector se defrontava efectivamente comuma situação de relativo declínio e que nem todosos postos de trabalho a serem alegadamente cria-dos poderiam ser tomados em consideração.

439. Em 19 de Junho de 2002, a Comissão apro-vou um auxílio estatal de cerca de 250 milhões deeuros com vista a apoiar a construção de novas

¥1∂ N 844/01.¥2∂ C 86/01.¥3∂ C 72/01.

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instalações de pasta de papel pela Zellstoff Sten-dal GmbH na região de Saxónia-Anhalt, na Ale-manha (1). O investimento, cujo custo total seeleva a aproximadamente 800 milhões de euros,resultará na criação de 580 postos de trabalho di-rectos nas instalações de produção de pasta de pa-pel, que produzirão pasta kraft branqueada de re-sinosas enquanto matéria-prima para todos ostipos de papel. Além disso, serão criados cerca de1 000 postos de trabalho indirectos na própria re-gião ou em zonas assistidas limítrofes. Dado oimpacto positivo sobre o emprego, bem como ofacto de o sector relevante não se caracterizar porum excesso de capacidade estrutural, a intensi-dade de auxílio notificada (aproximadamente31%) pode ser aceite no que respeita a este pro-jecto de grande envergadura. A intensidade de au-xílio normal para as grandes empresas na regiãoem causa é de 35%.

440. Em 16 de Outubro de 2002, a Comissão de-cidiu não levantar objecções no que se refere aum novo projecto de investimento importante aser realizado pela Schott Lithotec em Hermsdorf,Turíngia (2), uma zona assistida da Alemanha. Oauxílio proposto ascende a 80,5 milhões de euros,em relação a um montante total de 230 milhõesde euros de custos elegíveis. O projecto prende-secom a construção de novas instalações para aprodução de cristais de fluoreto de sódio para li-tografia óptica utilizados para fabricar processa-dores passo-a-passo (wafer-steppers). A Comis-são concluiu que a intensidade proposta de 35%ESB correspondia à intensidade máxima de auxí-lio passível de ser autorizada ao abrigo do enqua-dramento multissectorial no que se refere a esteprojecto específico. Na apreciação da compatibi-lidade do auxílio a Comissão teve em conta, no-meadamente, o facto de o projecto criar 350 pos-tos de trabalho directos, bem como os efeitosbenéficos dos investimentos sobre a economia daregiões assistidas, que se traduzirão na criação de190 postos de trabalho indirectos.

441. Em 30 de Outubro de 2002, a Comissão Eu-ropeia autorizou a Alemanha a conceder um auxí-lio no valor de 371 milhões de euros, sob a formade subvenções ao investimento e reembolsos fis-cais, bem como uma garantia de empréstimo afavor da Communicant Semiconductor Techno-logies AG para a construção de novas instalaçõesde produção de semicondutores em Franco-

forte/Oder, na região oriental alemã de Branden-burgo. No total, a intensidade de auxílio pro-posta ascendia a 23,9%, com base em custos deinvestimento elegíveis de 1 553 milhões de eu-ros. De acordo com a Alemanha, o projecto con-duzirá à criação de 1 318 postos de trabalho di-rectos. Prevê-se a criação de cerca de 725 postosde trabalho indirectos na região. A Comissãoconcluiu que o mercado de aplicação de circuitosintegrados específicos, em que os produtos daCommunicant Semiconductor Technologies AGse inserem, não se encontrava em declínio, tendona realidade registado um crescimento mais rá-pido do que o sector de transformação na sua glo-balidade ao longo dos últimos anos. Tendo emconta s situação do mercado, bem como a criaçãode postos de trabalho directos e indirectos ine-rente ao projecto, a Comissão considerou, emconformidade com o disposto no enquadramentomultissectorial, que um auxílio até 26% dos cus-tos de investimento seria, neste caso, compatívelcom as regras da UE.

442. A Comissão decidiu em 13 de Novembro de2002 que parte do auxílio proposto pela Alema-nha a favor da Capro Schwedt GmbH para aconstrução de um novo complexo de caprolactamexcedia o montante máximo admissível ao abrigodo enquadramento multissectorial (3). A Alema-nha havia notificado em Agosto de 2001 um auxí-lio de 92,7 milhões de euros a favor da CaproSchwedt GmbH para um importante investi-mento num parque industrial químico recém-cri-ado em Schwedt (Brandenburgo). O complexo deprodução, que inclui igualmente três empresasfornecedoras, produzirá caprolactam, a principalmatéria-prima para a produção de fibras sintéti-cas. Os custos de investimento elegíveis cifra-vam-se em 331 milhões de euros. A intensidadede auxílio global proposta ascendia a 28%, o quecorresponde ao limiar regional aplicável às gran-des empresas na área assistida. No decurso doprocedimento de investigação, iniciado pela Co-missão em Janeiro de 2002, dois concorrentes euma associação industrial agrícola manifestaramas suas reservas quanto ao projecto, subscrevendoas dúvidas manifestadas pela Comissão. A Co-missão encerrou o procedimento de investigação,tendo concluído que o mercado de caprolactam seencontra em relativo declínio (comparativamenteao sector de transformação em geral). Conse-

¥1∂ N 240/02.¥2∂ N 319/02.

¥3∂ Comunicação da Comissão, enquadramento multissectorial dosauxílios com finalidade regional para grandes projectos de inves-timento, JO C 70 de 19.3.2002, p. 8.

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quentemente, o nível de auxílio passível de serautorizado foi reduzido para 21,00% dos custosde investimento, ou seja, para um montante apro-ximado de 69,5 milhões de euros. Além disso, a

última prestação do auxílio só pode ser desem-bolsada após a Comissão ter comprovado que to-dos os 528 postos de trabalho anunciados foramefectivamente criados.

Caixa 2: Novo enquadramento multissectorial dos auxílios com finalidade regional para grandes projectos de investimento, incluindo novas regras relativas aos sectores dos veículos automóveis e das fibras sintéticas

Em 13.2.2002, a Comissão Europeia adoptou uma importante reforma destinada a instituir um sistema decontrolo mais rápido, mais simples e mais transparente no que respeita ao apoio público a favor degrandes projectos de investimento na UE. O novo «Enquadramento multissectorial dos auxílios com fina-lidade regional para grandes projectos de investimento» entrará em vigor em 1 de Janeiro de 2004 e subs-titui o actual enquadramento, em vigor desde Setembro de 1998. Inclui uma obrigação de notificaçãolimitada aos grandes projectos, que é compensada por uma redução significativa nos níveis de auxíliosadmissíveis. As novas regras serão igualmente aplicáveis aos sectores das fibras sintéticas e dos veículosautomóveis, em relação aos quais eram previstas regras distintas.

A necessidade de uma abordagem mais restritiva no que se refere aos auxílios com finalidade regionalpara os grandes projectos de investimento que se caracterizam pelo sua mobilidade (ou seja, projectos quea empresa relevante poderia realizar em vários locais) era geralmente reconhecida:

— o efeito de distorção deste tipo de auxílios tem vindo a tornar-se mais acentuado à medida que sãoeliminadas outras distorções da concorrência induzidas pelos governos e os mercado se tornam maisabertos e integrados;

— os grandes projectos de investimento podem efectivamente contribuir para o desenvolvimento regional.No entanto, são menos afectados pelos problemas específicos das regiões nas zonas desfavorecidas;

— além disso, as empresas que realizam investimentos avultados dispõem normalmente de um poder denegociação considerável perante as autoridades que concedem o auxílio, o que pode conduzir a umaespiral de promessas de auxílio cada vez mais generosas, eventualmente até um nível mais elevado doque o necessário para compensar as respectivas deficiências regionais.

Nos termos do novo enquadramento, a intensidade de auxílio efectiva que um grande projecto podereceber corresponde ao limiar de auxílio estabelecido nos mapas para efeitos dos auxílios com finalidaderegional, sendo automaticamente ajustada com base na seguinte tabela de redução:

Exemplo: numa área com um limiar de auxílio regional de 20%, um projecto com custos de investimentoelegíveis no valor de 80 milhões de euros pode obter até 13 milhões de euros sob a forma de auxílio, ouseja, 10 milhões de euros para a primeira parcela de 50 milhões do investimento, acrescidos de 3 milhõesde euros para os restantes 30 milhões de euros deste investimento.

Uma «bonificação de coesão» pode ser concedida aos grandes projectos co-financiados com base nosrecursos dos fundos estruturais da CE. Em relação a esses projectos, a intensidade de auxílio máximaadmissível, calculada ao abrigo da tabela supramencionada, será multiplicada pelo factor 1,15. Destemodo, o novo sistema tomará em consideração o valor acrescentado destes grandes projectos co-financi-ados para a coesão económica e social da Comunidade.

Os projectos devem continuar a ser notificados e apreciados numa base individual se o auxílio projectadofor mais elevado do que o autorizado a favor de um projecto de 100 milhões de euros. Se esse projecto

Dimensão do projecto Limite de auxílio ajustado

Até 50 milhões de euros Nenhuma redução. 100% do limite regional

Parte entre 50 milhões e 100 milhões de euros 50% do limite regional

Parte superior a 100 milhões de euros 34% do limite regional

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2.2. Auxílios ao desenvolvimento das actividades internacionais das empresas

443. A Comissão decidiu dar início a um proce-dimento no que diz respeito a um projecto deauxílio português no sector dos serviços, queconstitui um caso de aplicação de um regime an-teriormente aprovado e destinado a favorecer asestratégias das empresas (1). O projecto insere-seefectivamente na categoria de investimentosabrangidos pelo regime, a saber, os investimentosrelacionados com a internacionalização dos agen-tes económicos. No caso em consideração, a Co-missão devia pronunciar-se sobre a possibilidadede uma empresa de turismo portuguesa obter, embenefício da sua filial brasileira, a concessão deuma subvenção a fim de transformar um edifícioinacabado num hotel de luxo.

444. Sem se opor, por princípio, ao financia-mento deste projecto, a Comissão emitiu dúvidasquanto ao respeito pelas autoridades portuguesasdo critério da necessidade do auxílio. Na fase ac-tual, não se afigura comprovado que os riscos po-lítico-económicos incorridos pelo investidor co-munitário no Brasil devam ser compensados porum auxílio.

445. A Comissão deu início a um procedimentono que se refere a um auxílio destinado a favo-recer a internacionalização da economia sicili-ana (2). Ao abrigo deste regime de auxílios, po-dem ser financiados dois tipos de actividade: arealização de investimentos estáveis em merca-dos estrangeiros (centros de exposição e gabine-tes de representação) e o lançamento de opera-ções internacionais de promoção por parte deconsórcios de PME criados com essa finalidade.

446. Na fase actual, a Comissão não pode excluirque os auxílios destinados a assegurar o financia-mento de investimentos estáveis sejam incompa-tíveis com o mercado comum.

447. Na opinião da Comissão, os auxílios aosconsórcios afiguram-se ser, a priori, auxílios aofuncionamento. O carácter incompleto das infor-mações de que dispõe não lhe permite apreciar aproporcionalidade dos auxílios face às deficiên-cias regionais que pretendem suprir.

2.3. Auxílios sociais

448. A Comissão aprovou, nos termos do n.o 3,alínea c), do artigo 87.o, um regime de auxílios fi-nanciado por Veneza, em Itália (3), que tem como

contribuir para reforçar uma quota de mercado elevada (>25%) ou para aumentar a capacidade numsector que não se encontre em expansão em mais de 5%, não será autorizado qualquer auxílio a favor domesmo.

O enquadramento prevê igualmente uma «lista de sectores com problemas estruturais». Não será autori-zado qualquer auxílio regional para projectos de investimento nestes sectores, salvo se o Estado-Membrodemonstrar que, apesar de se considerar que o sector se encontra em declínio, o mercado do produto rele-vante denota um rápido crescimento (normalmente, a produção de um determinado produto é apenas umadas actividades realizadas num sector). A Comissão elaborará esta lista até 31 de Dezembro de 2003.

O novo enquadramento será aplicável a partir de 1 de Janeiro de 2004 e até 31 de Dezembro de 2009. Sãoprevistas algumas regras transitórias. Em relação a 2003, os projectos no sector das fibras sintéticas nãoserão elegíveis para efeitos de auxílios com finalidade regional. Os projectos no sector dos veículos auto-móveis serão autorizados até 30% do respectivo limiar regional para 2003. Apesar desta percentagem de30% do limiar regional se poder afigurar bastante reduzida é de lembrar que, comparativamente às regrasem vigor, serão elegíveis para efeitos de auxílio um maior número de projectos no sector dos veículosautomóveis, podendo os custos elegíveis em relação a alguns projectos individuais ser mais elevados queos autorizados actualmente. Prevê-se que a regra transitória de 30%, num quadro mais simples e menosmoroso, se traduza num resultado basicamente comparável ao do actual enquadramento no que se refereao sector dos veículos automóveis. A partir de 2004, o sector das fibras sintéticas e o sector dos veículosautomóveis poderão constar da «lista de sectores». A sua inclusão deve ser ainda apreciada e depende daquestão de saber se estes sectores se caracterizam ou não por «graves problemas estruturais».

¥1∂ C 47/2002 (ex N 137/2002) de 2.7.2002.¥2∂ N 285/01.¥3∂ N 599/A/2001.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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objectivo assegurar alojamento aos trabalhadoresnão comunitários da região. Muito embora sejamas empresas que recebem as subvenções, estasapenas beneficiarão em pequena medida do auxí-lio concedido.

449. Com efeito, afigurou-se à Comissão que oregime se revela principalmente no interesse dostrabalhadores e que o montante das subvençõesconcedidas às empresas servirá essencialmentepara cobrir os custos incorridos no âmbito daprocura e disponibilização de um alojamentoadequado. A Comissão considerou, não obstante,que os benefícios concedidos aos trabalhadoresabrangidos não são destituídos de efeitos quantoà escolha do respectivo empregador, favorecendoassim as empresas da região de Veneza. A dispo-nibilização de alojamentos decentes foi reconhe-cida pelo Conselho como constituindo um dosvectores da integração dos nacionais de paísesterceiros, residentes legalmente no território daUnião. Deste modo, a Comissão pôde apreciar fa-voravelmente o regime em causa, dado prosse-guir um objectivo de interesse comunitário, ouseja, a luta contra a exclusão social, e atendendotambém ao reduzido montante do auxílio emcausa a conceder às empresas.

450. A Comissão adoptou em 2 de Outubro de2002 uma decisão que classifica como medidageral o regime francês instituído pela Lei de 1 deAgosto a favor do emprego. O grupo de benefici-ários é constituído por jovens com idade compre-endida entre 16 e 22 anos, não titulares de umdiploma do segundo ciclo do ensino geral, tecno-lógico ou profissional. A apreciação da Comissãoassenta no carácter não selectivo e não discricio-nário do regime, bem como no facto de estarempreenchidos, no caso em questão, os outros crité-rios cumulativos susceptíveis de permitir identifi-car um auxílio.

451. A Comissão remeteu para a sua Comunica-ção sobre o controlo dos auxílios estatais e reduçãodo custo do trabalho (1) para apreciar o regime,segundo a qual uma «redução geral, automática enão discricionária dos custos não salariais damão-de-obra não é, evidentemente, abrangida peloâmbito de aplicação das regras de concorrênciaem matéria de auxílios estatais». A comunicaçãoacrescenta que «a selecção de certas categorias detrabalhadores» não justifica a sua análise «desde

que as medidas se apliquem de forma automática,sem discriminação entre empresas».

452. A decisão da Comissão sublinha, por outrolado, que o regime de apoio ao emprego de jovenspreenche também as condições estabelecidas nasorientações relativas aos auxílios ao emprego (2).

2.4. Auxílios sectoriais

2.4.1. Instalações por cabo

453. A Comissão Europeia adoptou, em 27 deFevereiro de 2002, duas decisões relativas a auxí-lios estatais a favor de instalações por cabo emItália (3) e na Áustria (4). Neste contexto, clarifi-cou a aplicação das regras em matéria de auxíliosestatais a este sector. A Comissão estabeleceuuma distinção entre as instalações destinadas asatisfazer necessidades gerais em matéria detransportes e as instalações para a prática de des-porto. Lembrou igualmente que só existe auxílioestatal quando as medidas de apoio público afec-tam as trocas comerciais entre os Estados-Mem-bros. Deste modo, o apoio público a favor deinstalações tendo em vista uma utilização mera-mente local não constitui um auxílio estatal. Poroutro lado, os auxílios a favor de instalações emcomplexos que concorrem com as instalações deoutros Estados-Membros devem ser progressiva-mente reduzidos para a intensidade admissível aoabrigo da legislação e das orientações existentesao longo de um período transitório de cinco anos.

454. Na apreciação do apoio público a favor dasinstalações por cabo, a Comissão considerou queo financiamento de instalações destinadas aapoiar uma actividade susceptível de atrair utili-zadores não locais será geralmente consideradocomo produzindo efeitos sobre o comércio entreos Estados-Membros. No entanto, tal pode nãoser válido no que se refere a instalações desporti-vas em áreas caracterizadas por um reduzido nú-mero de infra-estruturas e uma capacidade limi-tada em matéria de turismo. No que respeita àsinstalações que se destinam sobretudo a satisfa-zer as necessidades gerais da população em ter-mos de mobilidade, estas apenas terão efeitos so-

¥1∂ JO C 1 de 3.1.1997, p. 10.

¥2∂ JO C 334 de 12.12.1995, p. 4. Após a decisão supramencionada, aComissão adoptou em 12 de Dezembro de 2002 o Regulamenton.o 2204/2002 (JO L 337 de 13.12.2002, p. 3), em conformidadecom o qual se pronunciará doravante em circunstâncias idênticas.Esta inovação não altera a análise do caso em apreço.

¥3∂ N 376/01.¥4∂ N 860/01.

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bre o comércio entre os Estados-Membros seexistir uma concorrência transfronteiras a nívelda prestação de serviços de transportes.

455. Consequentemente, a Comissão concluiuque, de entre as 82 instalações que deviam bene-ficiar de financiamento público no quadro da pri-meira aplicação do regime italiano, apenas se ve-rificava um elemento de auxílio estatal emrelação a 40. Nestes casos, devia ser estabelecidauma distinção entre as instalações para efeitos ge-rais de transporte, que foram todas apreciadas eisentas ao abrigo do artigo 73.o do Tratado CE, eas instalações para finalidades desportivas, queforam também isentas no seu conjunto nos ter-mos do n.o 3, alínea c), do artigo 87.o

456. De igual forma, no caso do projecto de Mut-terer Alm no Tirol, Áustria, a Comissão conside-rou o apoio público a favor do investimento emelevadores de esqui e «canhões de neve», desti-nado a dinamizar o complexo de esqui, como umauxílio compatível ao abrigo do n.o 3, alínea c), doartigo 87.o

457. A Comissão considerou que a prestação deserviços no âmbito dos desportos de Inverno temvindo a tornar-se objecto de uma crescente con-corrência transfronteiras. Esta intensificação daconcorrência está a transformar a natureza dosproblemas e aumenta os efeitos de distorção dosauxílios ao sector das instalações por cabo. Porestes motivos, foi considerado que no futuro a po-lítica da Comissão neste sector precisa de sermais claramente definida, interpretada de formamais estrita e aplicada de modo uniforme. A Co-missão reconheceu que as empresas do sector be-neficiaram anteriormente e numa medida signifi-cativa de diversas formas de apoio económico porparte das autoridades nacionais, regionais e lo-cais. Alguns destes apoios foram consideradosauxílios compatíveis nos termos do n.o 3, alíneac), do artigo 87.o Deste modo, uma alteração dapolítica por forma a fixar limites mais estritos emmatéria de compatibilidade não pode ser demasi-ado abrupta, sendo necessária uma aplicação pro-gressiva das regras normalizadas.

458. A Comissão apreciará os projectos de auxí-lio no sector com base num conjunto de regrasnormalizadas clarificadas, nomeadamente, noRegulamento da Comissão relativo aos auxíliosestatais para as pequenas e médias empresas e nasorientações relativas aos auxílios nacionais comfinalidade regional. No entanto, durante um perí-odo transitório de cinco anos (1 de Janeiro de 2002

até 31 de Dezembro de 2006) aceitará uma majo-ração temporária, mas degressiva, dos níveis deauxílio, que sejam justificados de outro modo aoabrigo da legislação e orientações em vigor, ma-joração essa que pode ser quantificada da se-guinte forma:

— 25 pontos percentuais adicionais para osauxílios concedidos em 2002;

— 20 pontos percentuais adicionais para osauxílios concedidos em 2003;

— 15 pontos percentuais adicionais para osauxílios concedidos em 2004;

— 10 pontos percentuais adicionais para osauxílios concedidos em 2005;

— 5 pontos percentuais adicionais para osauxílios concedidos em 2006.

459. Esta abordagem parece estabelecer umequilíbrio entre, por um lado, a necessidade depermitir a adaptação dos beneficiários à novaabordagem, assegurando simultaneamente, poroutro lado, a harmonização do tratamento dasinstalações por cabo com o tratamento aplicável aoutros sectores dentro de um período de temporazoável.

2.4.2. Construção naval

460. O Conselho aprovou a estratégia dupla daComissão contra as práticas desleais coreanas nosector da construção naval, mediante a adopçãodo mecanismo de defesa temporário (MDT) (1),por um lado, e a introdução de uma acção contraa Coreia no âmbito da OMC, por outro. O MDTconstitui uma medida excepcional e limitada,destinada a apoiar a acção comunitária no quadroda OMC (será apenas activada após ter sido de-sencadeada a acção na OMC). Este papel doMDT enquanto mecanismo de apoio à acção noquadro da OMC é claramente reflectido no seuteor.

461. Um auxílio ao funcionamento num mon-tante máximo correspondente a 6% do valor con-tratual pode ser autorizado apenas no que se re-fere aos dois tipos de embarcações em relação aosquais o sector comunitário regista um prejuízomaterial em consequência das práticas desleaiscoreanas, a saber, os porta-contentores e os na-vios-tanque de transporte de produtos químicos e

¥1∂ Regulamento n.o 1177/2002 do Conselho, de 27 de Junho de 2002.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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outros. Os navios-tanque de transporte de GNL(gás natural líquido) serão igualmente elegíveispara efeitos de auxílio, se as investigações apro-fundadas da Comissão a levarem a concluir que osector comunitário da construção naval tambémregista danos materiais neste segmento.

462. Os auxílios só podem ser autorizados paracontratos em relação aos quais se verifique umaconcorrência por parte de um estaleiro coreanoque propõe um preço mais baixo que o estaleirocomunitário. O MDT cessará em 31 de Marçode 2004, a fim de coincidir com a conclusãoaproximada do processo no âmbito da OMC. Seeste último for encerrado ou suspenso antesdessa data, não serão autorizados quaisquer au-xílios suplementares. No que respeita aos aspec-tos processuais, qualquer auxílio que um Es-tado-Membro projecte conceder ao abrigo doMDT deve ser aprovado pela Comissão, quersob a forma de um regime, quer enquanto auxí-lio ad hoc.

463. A Comissão Europeia decidiu, em 5 de Ju-nho de 2002, autorizar um auxílio estatal no valorde 29,5 milhões de euros a favor da empresagrega Hellenic Shipyards (1), a fim de assegurar acobertura dos custos relacionados com a reformaantecipada de cerca de 200 trabalhadores do sec-tor da construção naval civil. A Comissão decidiuigualmente dar início a uma investigação apro-fundada no que se refere a outros auxílios a con-ceder à mesma empresa, uma vez que não se en-contrava em condições de comprovar se todos osauxílios atribuídos à empresa satisfaziam os cri-térios estabelecidos no regulamento relativo aosector da construção naval.

464. Nessa mesma data, a Comissão Europeiaaprovou 51,1 milhões de euros, de entre um mon-tante total de auxílio de 55,1 milhões de eurosconcedido pelas autoridades neerlandesas paraapoiar a reestruturação da Koninklijke ScheldeGroep (KSG), associada à venda dessa empresa àDamen Shipyards Group (Damen) (2). A Comis-são considerou que o plano de reestruturação daDamen para a KSG assegura uma base sólidapara a viabilidade da empresa, restringindo-se oauxílio ao mínimo necessário. No entanto, vistonão haver qualquer redução da capacidade a nívelda construção naval civil, conforme exigido peloregulamento relativo aos auxílios à construção

naval, a Comissão considerou 4,0 milhões de eu-ros deste auxílio global incompatível com o mer-cado comum. As autoridades neerlandesas proce-deram à recuperação desta parte do auxílio juntodo beneficiário. As autoridades neerlandesasalegaram que todas as medidas eram abrangidaspelo âmbito de aplicação do artigo 296.o do Tra-tado CE relativo às medidas necessárias para aprotecção de interesses essenciais no domínio dasegurança. A Comissão não pôde aceitar este ar-gumento, uma vez que as medidas afectavam cla-ramente as condições de concorrência no mer-cado comum no que diz respeito a produtos quenão se destinam a fins especificamente militares.

2.4.3. Sector dos veículos automóveis

465. O «Enquadramento comunitário dos auxí-lios estatais no sector dos veículos automóveis»chegou ao termo do seu prazo de vigência em De-zembro de 2002. Nos termos do enquadramento,a Comissão deve velar para que qualquer auxílioconcedido a este sector seja necessário e propor-cional. Em termos de necessidade, o beneficiáriodo auxílio deve demonstrar claramente que dis-põe de uma localização alternativa, economica-mente viável, para o seu projecto. Por outras pa-lavras, o projecto deve ser «móvel» e o auxíliodeve ser necessário para a sua realização no localprojectado. Para apreciar a proporcionalidade doauxílio, deve ser realizada uma análise «cus-tos-benefícios», que compara os custos que o in-vestidor deve suportar a fim de realizar o projectona região em causa com os custos inerentes a umprojecto idêntico numa localização alternativa,permitindo assim determinar as desvantagens re-gionais específicas do projecto. O auxílio nãopode exceder o limite do auxílio regional aplicá-vel aos novos investimentos na zona assistida,nem a desvantagem regional calculada no âmbitoda análise custos-benefícios.

466. A partir de 2004, o sector dos veículos auto-móveis será plenamente integrado no novo en-quadramento multissectorial dos auxílios com fi-nalidade regional para grandes projectos deinvestimento (3). As regras estabelecidas no novoenquadramento multissectorial tornam-se pro-gressivamente mais estritas consoante a dimen-são do investimento. Os projectos de grande en-vergadura continuarão a ser elegíveis para efeitos

¥1∂ N 513/01.¥2∂ C 64/01.

¥3∂ Comunicação da Comissão, enquadramento multissectorial dosauxílios com finalidade regional para grandes projectos de inves-timento, JO C 70 de 19.3.2002, p. 8.

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de auxílio estatal, mas o montante máximo ad-missível será inferior ao autorizado actualmente.Entretanto, em 2003 serão aplicáveis regras tran-sitórias muito simples ao sector. Em conformi-dade com estas regras, os projectos no sector dosveículos automóveis serão elegíveis para efeitosde auxílio até 30% do montante máximo aceitá-vel para cada região (comparativamente ao mon-tante máximo de 100% ao abrigo das regras emvigor).

467. O ano de 2002, último ano de vigência doenquadramento aplicável ao sector dos veículosautomóveis, caracterizou-se por um aumento donúmero de casos notificados.

468. Em 22 de Maio de 2002, a Comissão deci-diu dar início a uma investigação aprofundada noque respeita a um auxílio no montante de 61 mi-lhões de euros destinado às instalações da Vo-lkswagen em Pamplona (1). O projecto de auxílioregional refere-se à produção do novo modeloPolo. No início do procedimento, a Comissãomanifestou dúvidas quanto ao facto de as instala-ções da Volkswagen em Bratislava poderem serefectivamente consideradas como uma alterna-tiva viável ao projecto. Além disso, a Comissãoduvidava que a desvantagem em matéria de cus-tos das instalações em Pamplona, comparativa-mente a Bratislava, tivesse sido correctamentequantificada na notificação.

469. Em 2 de Outubro de 2002, a Comissãoaprovou um auxílio ao investimento regional a fa-vor da Opel Portugal (grupo GM) relativamenteàs suas instalações na Azambuja, na região deLisboa, após uma investigação aprofundada (2).O auxílio prendia-se com um investimento nomontante de 124 milhões de euros para a instala-ção de linhas de produção de um novo veículomisto de transporte de passageiros e mercadorias,o Corsa Combo. A investigação aprofundada teveinício em Março de 2002 e conduziu à autoriza-ção de um auxílio com finalidade regional no va-lor de 35 milhões de euros. No âmbito da mesmadecisão, a Comissão autorizou uma subvenção de3 milhões de euros a favor de custos de formaçãono montante global de 7 milhões de euros para aformação interna na Opel Portugal relacionadacom o projecto de investimento. A subvenção au-torizada foi mais reduzida que o montante pro-posto pelas autoridades portuguesas (3,4 milhões

de euros), uma vez que a Comissão considerou queuma série de acções de formação incidiam sobrecompetências apenas parcialmente transferíveispara outras empresas ou domínios de trabalho.

470. A Comissão aprovou igualmente em 2 deOutubro de 2002 um auxílio ao investimento re-gional a favor da Iveco (3) (grupo Fiat), para assuas instalações em Foggia (Itália), após umainvestigação aprofundada. O auxílio foi conce-dido a favor de um investimento no montante de323 milhões de euros para a produção de umnovo motor denominado F1, orientado para veí-culos comerciais ligeiros. A investigação apro-fundada foi desencadeada em Dezembro de 2001e conduziu à aprovação do auxílio regional no va-lor de 121 milhões de euros. O projecto situa-sena região de Puglia, reconhecida pela Comissãocomo elegível para efeitos de auxílio regional até35% dos custos de investimento elegíveis.

471. Por último, a Comissão decidiu, em 2 deOutubro de 2002, dar início a uma investigaçãoaprofundada no que se refere ao auxílio a favordas instalações de fabrico de motores da BMWem Steyr (4), na região da Alta Áustria. Em Abrilde 2002, a Áustria havia notificado planos no sen-tido de conceder um auxílio ao desenvolvimentoregional, bem como à formação, investigação edesenvolvimento, inovação e protecção do ambi-ente. O auxílio proposto ascende a aproximada-mente 40,25 milhões de euros e destina-se acontribuir para a realização de diversos investi-mentos na referida fábrica, que produz motores agasolina/diesel de 4 e 6 cilindros e desenvolve atecnologia dos motores diesel.

472. Em 27 de Novembro de 2002, a Comissãodecidiu dar início a uma investigação aprofun-dada sobre um auxílio proposto num montante de30 milhões de euros, relacionado com um investi-mento de 440 milhões de euros a ser realizadopela Opel nas suas instalações de veículos auto-móveis em Saragoça (5), Espanha. O projecto in-cide sobre a produção do Opel Meriva, um novoveículo pequeno e polivalente, baseado na plata-forma do Opel Corsa. Na sua decisão de dar iní-cio a um procedimento, a Comissão manifestoudúvidas quanto à mobilidade do projecto, bemcomo no que se refere à determinação da desvan-

¥1∂ N 121/2001.¥2∂ C 23/02.

¥3∂ C 92/02.¥4∂ N 316/02.¥5∂ C 75/02.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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tagem regional da região de Saragoça, conformecalculada na análise custos-benefícios.

473. A Comissão decidiu, em 11 de Dezembrode 2002, que a Alemanha deveria reduzir o auxí-lio regional projectado a favor da BMW para aconstrução de novas instalações de veículosautomóveis em Leipzig (Saxónia) (1). O mon-tante total de investimentos elegíveis ascende a1 204,9 milhões de euros. O objectivo do auxílioprevisto, no montante de 418,6 milhões de euros,consistia em atrair a empresa a investir em Leip-zig, uma área regionalmente assistida na acepçãodo n.o 3, alínea a), do artigo 87.o do Tratado CE.Dado a Comissão manifestar dúvidas quanto àcompatibilidade do auxílio com as regras em ma-téria de auxílios estatais aplicáveis ao sector dosveículos automóveis, decidiu iniciar um procedi-mento formal de investigação sobre este auxílioem 3 de Abril de 2001. A Comissão considerouque o projecto era móvel e que Kolin, na Repú-blica Checa, havia constituído uma localizaçãoalternativa viável. Por conseguinte, o auxílio eranecessário para a realização do projecto na regiãoassistida de Leipzig. As dúvidas da Comissãoprendiam-se com a proporcionalidade do auxílio.Após ter examinado a análise custos-benefícios, aComissão concluiu que a desvantagem regionalinerente à realização do projecto em Leipzig (emrelação a Kolin) se cifrava em 31,14%, uma per-centagem mais reduzida do que a inicialmente in-dicada pela Alemanha. Consequentemente, a des-vantagem de Leipzig em matéria de custos tinhasido sobrestimada pela Alemanha. Devido ao au-mento significativo da capacidade de produção, orácio de auxílio aceitável foi reduzido em maisum ponto percentual, cifrando-se em 30,14%.Consequentemente, a Comissão autorizou ummontante de auxílio correspondente a 30,14% doinvestimento elegível de 1 204,9 milhões de eu-ros, o que representa 363,16 milhões de euros. Omontante remanescente de 55,4 milhões de eurosdo auxílio notificado foi considerado incompatí-vel com o mercado comum.

2.4.4. Carvão

474. Quatro Estados-Membros produzem actu-almente carvão na UE. Devido às condições geo-lógicas desfavoráveis, a maioria das minas comu-nitárias não são concorrenciais face ao carvãoimportado. Até ao termo do prazo de vigência do

Tratado CECA, em 23 de Julho de 2002, os auxí-lios estatais estavam sujeitos ao disposto na Deci-são 3632/93/ECSC (2), que estabelecia as moda-lidades e condições de concessão deste tipo deauxílios. O Conselho adoptou em 23 de Julho de2002 um regulamento relativo aos auxílios esta-tais à indústria do carvão no intuito de definir otratamento aplicável aos auxílios estatais a con-ceder a partir de 24 de Julho de 2002 (3). O novoregime baseia-se numa produção mínima de car-vão, que contribuirá para manter a nível internouma parte de fontes de energia primária, no in-tuito de reforçar a segurança do abastecimentoenergético da UE.

475. Os auxílios estatais à indústria do carvãoapoiarão igualmente a reestruturação deste sec-tor, atendendo às repercussões sociais e regionaisque advêm da redução desta actividade. Por con-seguinte, os Estados-Membros notificarão os au-xílios estatais numa base anual. A Comissão au-torizou regimes de auxílios estatais que permitemà Alemanha (4), França (5), Espanha (6) e ReinoUnido (7) conceder o financiamento público ne-cessário para a indústria do carvão em 2002. Es-tes auxílios asseguram a cobertura da diferençaentre os custos de produção e o preço do carvãocomercializado internacionalmente, bem comouma compensação para o pagamento dos encar-gos sociais.

476. No que se refere à aquisição em 1998 da Saar-bergwerke AG e da Preussag Anthrazit GmbH pelaRAG Aktiengesellschaft (RAG), produtores de car-vão alemães, a Comissão declarou (8) que a aquisi-ção da Saarbergwerke pela RAG à República Fede-ral da Alemanha e ao Land alemão do Sarre nãoenvolvia qualquer elemento de auxílio estatal.

2.4.5. Aço

477. A Comissão deu início a um procedimentocontra um auxílio no domínio do ambiente a con-

¥1∂ C 26/02.

¥2∂ JO L 329 de 30.12.1993, p. 12.¥3∂ JO L 205 de 20.8.2002, p. 1.¥4∂ Decisão da Comissão de 2.10.2001, JO L 56 de 27.2.2002, p. 27

(auxílios respeitantes a 2002) e Decisão da Comissão de2.10.2002 (auxílios respeitantes à cobertura dos custos a partir de24 de Julho de 2002).

¥5∂ Decisão da Comissão de 2.10.2002.¥6∂ Decisão da Comissão de 20.7.2002 (auxílios respeitantes à cober-

tura dos custos até 23 de Julho de 2002).Decisão da Comissão de 12.6.2002 (auxílios respeitantes à cober-tura dos custos a partir de 24 de Julho de 2002).

¥7∂ Decisão da Comissão de 20.3.2002, Decisão da Comissão de5.6.2002 e Decisão da Comissão de 17.7.2002.

¥8∂ Decisão da Comissão de 7.5.2002.

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ceder às empresas Ilva SpA, Acciaierie di SiciliaSpA, Duferdofin SpA e Acciaerie Valbruna SpA,Itália. A Comissão encerrou o procedimento, tendofeito alusão à retirada da notificação no que se re-fere à Duferdofin SpA (1) e à Acciaerie ValbrunaSpA (2) e autorizando o auxílio no que diz respeitoà Ilva SpA (3) e à Acciaierie di Sicilia SpA (4).

478. A Comissão encerrou o procedimento inici-ado em 2001 relativamente a um auxílio à I&Dconcedido ilegalmente a várias empresas siderúr-gicas no País Basco, mediante a adopção de umadecisão parcialmente negativa (5). A Comissãodecidiu igualmente alargar o procedimento inici-ado em 2001 no que se refere a determinadas me-didas adoptadas pelo Governo regional galego afavor de uma empresa recém-criada, a saber, a Si-derúrgica Añón (6).

479. Num caso respeitante à Bélgica, a Comis-são deu início a um procedimento contra a parti-cipação da região da Valónia numa empresa re-cém-criada, denominada Carsid (7).

480. A Comissão deu também início a um proce-dimento no que se refere a um auxílio no domíniodo ambiente a conceder à Sollac SA, em França.Subsequentemente, a Comissão encerrou o pro-cedimento devido à retirada da notificação (8).

3. Transportes

3.1. Transportes ferroviários

481. A dinamização do sector ferroviário repre-senta um vector fundamental da política comumda Comunidade no sector dos transportes, quevisa desenvolver um sistema de transportes sus-tentável mediante a modificação do equilíbrio en-tre os diferentes meios de transporte. Com efeito,como declarado no livro branco da Comissão so-bre a política europeia de transportes (9), o sectorferroviário constitui o sector estratégico em queassenta o êxito dos esforços destinados a alterar oequilíbrio modal. Deste modo, a Comissão en-cara favoravelmente o financiamento público

que promove o transporte ferroviário e, nomea-damente, os investimentos na infra-estrutura fer-roviária. Consequentemente, a Comissão autori-zou em 2002 várias medidas públicas destinadasa desenvolver o sector ferroviário.

482. No que diz respeito ao Reino Unido, duasdecisões da Comissão referiam-se à entidade ges-tora da infra-estrutura da principal rede ferroviá-ria nacional na Grã-Bretanha. As autoridadesbritânicas notificaram um pacote de assistênciafinanceira concedido a título de emergência, a fimde assegurar a prossecução da prestação de servi-ços no domínio da infra-estrutura ferroviária, semo qual o sector ferroviário britânico se defrontavacom o risco de um colapso iminente. O auxílio deemergência foi autorizado pela Comissão em13 de Fevereiro de 2002 por um período de12 meses, durante o qual devia ser definida umasolução mais sustentável (10). Subsequentemente,em 17 de Julho de 2002, a Comissão aprovou umpacote financeiro que permitiria a uma empresarecém-criada, a Network Rail, assumir sem finslucrativos a responsabilidade pela gestão e explo-ração da rede ferroviária da Grã-Bretanha e queporia termo à incerteza quanto ao futuro destarede (11). Em 24 de Abril e 18 de Setembro de2002, a Comissão autorizou modificações e alte-rações aos mecanismos financeiros que as autori-dades britânicas tinham instituído para a constru-ção da ligação ferroviária do túnel da Mancha(Channel Tunnel Rail Link) (12).

483. No que respeita a outros Estados-Membros,a Comissão autorizou em 27 de Fevereiro de 2002um regime instituído na Dinamarca no sentido deanular anteriores empréstimos públicos concedi-dos praticamente sem juros ou sem necessidade dereembolso a 13 empresas ferroviárias locais (13).Em 19 de Junho de 2002, autorizou igualmenteum regime de auxílios austríaco tendo em vista aconcessão de apoio público para a construção,extensão e modernização de linhas ferroviáriassecundárias privadas no âmbito da principal redeferroviária nacional (14). Além disso, em 18 de

¥1∂ C 9/2002.¥2∂ C 12/2002.¥3∂ C 10/2002.¥4∂ C 8/2002.¥5∂ C 20/2001.¥6∂ C 95/2001.¥7∂ C 25/2002.¥8∂ C 27/2002.¥9∂ «A política europeia de transporte no horizonte 2010: a hora das

opções».

¥10∂ NN 170/2001, decisão da Comissão de 13.2.2002, JO C 98 de23.4.2002, p. 36.

¥11∂ N 356/2002, Network Rail, Decisão da Comissão de 17.7.2002,JO C 232 de 28.9.2002, p. 2.

¥12∂ N 706/02, JO C 130 de 1.6.2002, p. 5, e N 523/02, JO C 262 de29.10.2002.

¥13∂ N 784/2001 — Auxílio a favor de empresas ferroviárias dinamar-quesas. Decisão da Comissão de 27.2.2002, JO C 88 de12.4.2002, p. 17.

¥14∂ N 643/2001 — Áustria — Programa de auxílio para o desenvol-vimento de linhas ferroviárias secundárias. Decisão da Comissãode 19.6.2002, JO C 178 de 26.7.2002.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

105

Setembro de 2002, a Comissão autorizou um au-xílio a favor do Land da Saxónia-Anhalt (Alema-nha) para promover a transferência do fluxo detráfego inerente ao transporte de mercadorias dosistema rodoviário para o ferroviário. O regimedestina-se a salvaguardar e a desenvolver o sis-tema de centros de tráfego de transporte de mer-cadorias, bem como as áreas de manipulação ecarregamento (1). Por último, em 11 de Dezem-bro de 2002, a Comissão autorizou a prorrogaçãopor quatro anos de um regime dinamarquês quecompensa o efeito dos encargos associados à in-fra-estrutura ferroviária mediante a introdução deuma subvenção ambiental para o transporte demercadorias por via ferroviária (2).

3.2. Transporte combinado

484. A Comunidade tem vindo a prosseguirdesde há alguns anos uma política com vista aalcançar um sistema de transporte intermodalequilibrado. O fomento da competitividade dotransporte combinado em relação ao transporterodoviário faz parte integrante desta política. Oobjectivo fulcral da política comunitária detransporte combinado consiste numa transferên-cia modal do transporte rodoviário para outrosmeios de transporte. Neste sentido, a Comissãoadopta uma abordagem favorável no que res-peita aos regimes de auxílios que se destinam apromover estes meios de transporte mediante aaquisição de equipamento destinado ao trans-porte combinado e à construção de infra-estrutu-ras específicas (3).

485. Em 13 de Fevereiro de 2002, a Comissãoautorizou um regime de auxílios a favor do trans-porte combinado para a província autónoma deBolzano-Alto Adige (Itália) (4). O regime pren-dia-se com a concessão de subvenções a empre-sas no sector logístico, que prestam serviços fer-roviários para o transporte combinado, comorigem ou destino no seu território e, nomeada-mente, na rota Bolzano-Brenner. As subvençõespermitirão reduzir o preço pago pelos utilizado-res das infra-estruturas de transporte combinado,

por forma a permitir a sua concorrência com otransporte rodoviário em condições de mercadosemelhantes. No intuito de evitar uma eventualdistorção da concorrência, foi lançado um con-curso relativamente à prestação de serviços ferro-viários durante um período limitado.

486. A Comissão aprovou, em 27 de Fevereirode 2002, um auxílio para o arranque de um novoserviço-piloto privado entre a Alemanha e a Itá-lia (5) com o objectivo de transferir o tráfego dainfra-estrutura rodoviária para a infra-estruturaferroviária na rota entre Munique e Verona (viaBrenner). Este serviço-piloto com uma vigênciade um ano, que beneficiou já de apoio ao abrigodo programa europeu PACT (6), contribuirá parareduzir o tráfego numa auto-estrada com intensautilização neste corredor muito importante.

487. Em 14 de Maio de 2002, após ter iniciadoum procedimento formal de investigação, a Co-missão declarou que não existia qualquer ele-mento de auxílio estatal na acepção do n.o 1 do ar-tigo 87.o no que diz respeito à relação entre aempresa pública Deutsche Bahn AG (7)(Alema-nha) e a sua filial, a empresa de transporte de mer-cadorias, BahnTrans.

488. Em 17 de Julho de 2002, a Comissão deci-diu iniciar um procedimento de investigação noque se refere a um auxílio neerlandês para a cons-trução de um terminal de contentores em Alk-maar a favor da Huisvuilcentrale Noord-Holland(HVC) (8). Mediante a sua implantação em Alk-maar, na proximidade imediata das instalações deincineração de resíduos exploradas pela HVC, oterminal de contentores incentivará o transportede resíduos domésticos por via navegável, em de-trimento do transporte rodoviário. A Comissãoconsiderou necessário analisar a proporcionali-dade do auxílio e a eventual distorção da concor-rência entre os terminais de navegação interior,bem como o impacto da subvenção sobre o mer-cado de gestão de resíduos.

489. Em 24 de Julho de 2002, a Comissão apro-vou o corpo principal das disposições especiaispara o sector dos transportes da Província Autó-noma de Trento com vista a incentivar a transfe-

¥1∂ N 308/2002 — Promoção de investimentos na infra-estrutura fer-roviária. Decisão da Comissão de 18.9.2002, JO C 277 de14.11.2002.

¥2∂ N 287/02, ainda não publicado.¥3∂ N 644/2001 — Empréstimos bonificados ao sector dos transpor-

tes na Áustria. Decisão da Comissão de 27.2.2002, JO C 88 de12.4.2002, p.16; N 406/2002 — «Förderrichtlinie». Decisão daComissão de 2.10.2002, JO C 292 de 27.11.2002.

¥4∂ N 638/2001, JO C 88 de 12.4.2002, p. 16.

¥5∂ NN 134/2002 (ex N 841/01) — «Lokomotion», JO C 88 de12.4.2002, p. 16.

¥6∂ Programa de acções-piloto para o transporte combinado. Decisãoda Comissão de 25 de Julho de 2001.

¥7∂ C 63/2000 (ex NN 102/00), JO L 211 de 7.8.2002.¥8∂ C 51/2002 (ex N 840/2001), JO C 212 de 6.9.2002.

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rência do tráfego de mercadorias das infra-estru-turas rodoviárias para meios de transportealternativos (1). Não obstante, a Comissão deci-diu dar início ao procedimento previsto no n.o 2do artigo 88.o do Tratado CE relativamente aoauxílio ao investimento em vagões ferroviários eequipamento ferroviário novo ou renovado, umavez que existiam dúvidas quanto à sua compati-bilidade com o Regulamento (CE) n.o 70/2001da Comissão, de 12 de Janeiro de 2001, relativoà aplicação dos artigos 87.o e 88.o do Tratado CEaos auxílios estatais a favor das pequenas e mé-dias empresas (2).

3.3. Transporte rodoviário

490. Em 27 de Fevereiro de 2002, no contexto doaumento dos preços do petróleo verificado em2000, a Comissão decidiu dar início a um proce-dimento formal de investigação relativamente adois regimes de auxílio tendo em vista a conces-são de subvenções a um tipo específico de veícu-los mediante a redução das portagens (3). Naapreciação dos casos, a Comissão manifestou dú-vidas quanto à adequação das medidas para a pro-tecção do ambiente e a sua compatibilidade coma política comum de transportes.

491. Foram adoptadas várias decisões relativa-mente a auxílios ao investimento no sector dos

transportes (4). No entanto, a Comissão salientaque nos sectores caracterizados por um excessode capacidade, tal como o transporte rodoviário,não pode em princípio ser concedido qualquerauxílio para a aquisição de veículos de transporte.Não obstante, é possível a concessão de um auxí-lio relacionado com a aquisição de novos veícu-los, se esse incentivo visar a protecção do ambi-ente ou objectivos associados à segurança e talrepresentar efectivamente uma compensação pe-los custos incorridos devido a normas técnicasmais elevadas do que as prescritas pela legislaçãonacional ou comunitária.

492. Consequentemente, a Comissão autorizouum regime de auxílios espanhol para a aquisiçãode motociclos eléctricos ou mistos no territórioda Comunidade Autónoma de Castela e Leão (5)e um regime que tem como objectivo a entradaem funcionamento de veículos adaptados a pes-soas de mobilidade reduzida (6). Outras decisõesprendem-se com um regime de auxílio dinamar-quês que se destina a promover a utilização de ca-miões menos poluentes (7) e uma série de regimesde auxílio a favor do emprego instituídos nas As-túrias (Espanha) (8) para 2001 e 2002 no sectordos transportes, no intuito de criar e preservarpostos de trabalho nesta área.

¥1∂ N 833/2001, JO C 242 de 8.10.2002.¥2∂ JO L 10 de 13.1.2001, p. 33.¥3∂ C 11/2002 (ex N 382/01) — Itália (Piemonte) — Redução das

taxas de portagem a favor de determinados veículos pesados detransporte rodoviário de mercadorias tendo em vista desviar a cir-culação da estrada nacional 33 (no Lago Maggiore) para aauto-estrada A/26, JO C 87 de 11.4.2002; C 14/02 (ex NN 72/01)— Portugal — Redução das taxas de portagem a favor de deter-minados veículos pesados de transporte rodoviário de mercado-rias e de passageiros adoptada na sequência do aumento de preçosdo petróleo no Verão — Outono de 2000, JO C 88 de 12.4.2002.

¥4∂ N 762/2001 — «Regime de auxílio ao investimento na regiãoautónoma da Madeira», decisão da Comissão de 27.2.2002; N646/00 — Itália, decisão da Comissão de 7.05.2002; N 507/2001— Portugal «Siriart», decisão da Comissão de 7.5.2002, JO C146 de 19.6.2002.

¥5∂ N 203/2002, decisão da Comissão de 18.9.2002, JO C 9 de15.1.2003.

¥6∂ N 337/02 — Espanha (Comunidade de Madrid) — «Auxílio para aaquisição de veículos de transporte público adaptados a pessoasde mobilidade reduzida», decisão da Comissão de 27.11.2002,ainda não publicada.

¥7∂ N 100/01 — «Lei relativa às subvenções concedidas aos camiõesrespeitadores do ambiente», decisão da Comissão de 22.5.2002,JO C 154 de 28.6.2002.

¥8∂ Ver nota N 600/B/2001, decisão da Comissão de 16.10.2002.

Caixa 3: Empresas de transporte rodoviário

Em Maio de 2002, o Conselho adoptou, por unanimidade, três decisões relativas à concessão de umauxílio a nível nacional pelos Países Baixos, Itália e França (1) a favor das empresas de transporte rodovi-ário. Estas decisões asseguram que as medidas de derrogação adoptadas pelo Conselho (2001/224/CE)em 12 de Março de 2001, que autorizavam os Países Baixos, a Itália e a França a aplicarem taxasreduzidas do imposto especial de consumo sobre determinados óleos minerais a favor dos transporta-dores rodoviários são consideradas compatíveis com o mercado comum. É de lembrar que, em 2001, oConselho decidiu autorizar os Países Baixos (até 1 de Outubro de 2002), bem como a Itália e França

(1) Países Baixos (doc. 8032/02 + COR1); Itália (doc. 8033/02 + COR1); França (doc. 8034/02 + COR1).

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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3.4. Passageiros

493. Em 2 de Outubro de 2002, a Comissão deci-diu não levantar objecções a diversos acordosinstituídos pelo Governo britânico para a renova-ção e melhoria do metropolitano de Londres, aoabrigo de uma parceria público-privado (1). O ob-jectivo das medidas britânicas consiste em desen-volver um melhor metropolitano em Londresatravés da cooperação entre um operador do sec-tor público eficiente e uma infra-estrutura melho-rada gerida pelo sector privado. A Comissão en-tende que estes acordos e, designadamente, acompensação a pagar às empresas de infra-estru-tura não constituem um auxílio estatal. Comefeito, são o resultado de procedimentos de con-curso que suprimem uma eventual vantagem doponto de vista da concorrência.

3.5. Vias navegáveis

3.5.1. Transporte por vias navegáveis internas

494. O livro branco sobre a política europeia detransportes para 2010 (2) apelava para a promo-ção de meios de transporte menos nefastos para oambiente e que dispunham de capacidades nãoutilizadas, tal como a navegação interior. As acti-vidades que favorecem a transição do transportede mercadorias por via rodoviária para a navega-ção interior assumem assim um interesse comum,na acepção do n.o 3, alínea c), do artigo 87.o Em27 de Novembro de 2002 (3), a Comissão decla-rou que a venda de uma parte substancial da ErsteDonau-Dampfschiffahrt-Gesellschaft m.b.H, pro-priedade a 100% da República da Áustria, à ci-

dade de Viena não podia ser considerada comoum auxílio estatal.

3.5.2. Transportes marítimos

495. Em 30 de Janeiro de 2002, a Comissão au-torizou um regime francês tendo em vista a co-bertura até 30% dos custos de exploração de no-vos serviços de transporte marítimo de curtadistância, por um período de três anos (4). Às me-didas de apoio comunitário para o transporte ma-rítimo de curta distância acresce um auxílio naci-onal a ser concedido pelas autoridades francesassob a forma do financiamento de projectos quenão são elegíveis para efeitos de financiamentocomunitário, devido ao facto de abrangerem ape-nas operadores nacionais.

496. A Comissão aprovou vários regimes fiscaisem função da arqueação (5) que permitem às em-presas pagar impostos consoante a capacidade dasua frota e não com base nos lucros realizados. Aestes regimes acresce uma série de impostos emfunção da arqueação anteriormente aprovadospela Comissão no que diz respeito aos Países Bai-xos, Alemanha e Reino Unido. Estas medidas pa-recem estar já a revelar o seu êxito no sentido deinverter o declínio dos transportes marítimos co-munitários.

497. Em 19 de Junho de 2002, a Comissão adop-tou uma decisão negativa relativamente à conces-são de um auxílio estatal no domínio do trans-porte marítimo a favor das operações de reboqueneerlandesas realizadas dentro dos portos da UEe na sua proximidade (6). Uma vez que o reboque

(até 31 de Dezembro de 2002), a aplicarem taxas reduzidas do imposto especial de consumo sobre ocombustível diesel para os transportadores rodoviários. No entanto, à luz da decisão da Comissão deiniciar um procedimento em relação a estes três países nos termos do n.o 2 do artigo 88.o do TratadoCE (1), os três Estados em causa solicitaram e obtiveram uma decisão por parte do Conselho em que erareconhecida a existência de circunstâncias excepcionais na acepção do terceiro parágrafo do n.o 2 doartigo 88.o, tornando assim possível considerar esses auxílios compatíveis com o mercado comum.

(1) C 24/2001 — Itália; C 25/2001 — França; C 26/2001 — Países Baixos.

¥1∂ C 65/2002 (ex N 264/2002), JO C 309 de 12.12.2002.¥2∂ COM(2001) 370.¥3∂ N 471/2002 — Áustria.

¥4∂ C 65/2000 (ex N 679/2000), JO L 196 de 25.7.2002.¥5∂ N 736/01 — Espanha, decisão da Comissão de 27.2.2002.

N 563/01 — Dinamarca, decisão da Comissão de 12.3.2002, JO C146 de 19.6.2002.N 195/02 — Finlândia, decisão da Comissão de 16.10.2002.N 504/2002 — Irlanda, decisão da Comissão de 15.12.2002.

¥6∂ C 56/2001, JO L 314 de 18.11.1997.

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é considerado um serviço portuário, não consti-tuindo assim uma actividade de «transporte marí-timo», a concessão de um auxílio em relação aesses serviços portuários foi considerada incom-patível com o Tratado CE. Dado o facto de teremsido anteriormente concedidos auxílios dessetipo, a Comissão decidiu que os Países Baixos de-viam recuperar esse auxílio desde 12 de Setem-bro de 1990.

498. A Comissão decidiu dar início a um proce-dimento formal de investigação em 20 de Dezem-bro de 2001 relativamente a um regime de auxílioitaliano (1) que incentivava os proprietários deembarcações a eliminarem os navios-cisterna decasco único com mais de 20 anos. No entanto, em17 de Julho de 2002 a Comissão concluiu que oregime de auxílios representava um importantecontributo para a protecção do ambiente e para asegurança marítima.

499. Em 2 de Julho de 2002, a Comissão apro-vou um auxílio relativo às obrigações de serviçopúblico no que respeita aos serviços marítimos naCórsega (2). Em 17 de Julho de 2002, a Comissãoautorizou um auxílio sob a forma de empréstimono montante de 22,5 milhões de euros a favor da«Société nationale maritime Corse-Méditerra-née» (SNCM) (3). O auxílio será concedido peloEstado francês através de uma empresa pública, a«Compagnie générale maritime et financière»(CGMF). Além disso, a Comissão iniciou em19 de Agosto de 2002 um procedimento formalde investigação no que refere a um auxílio à rees-truturação a favor da SNCM (4).

500. A Comissão não levantou objecções àprorrogação, em 2002, de um regime de auxíliositaliano que reduz os encargos sociais para as em-presas de transporte marítimo no sector da cabo-tagem (5). O regime havia sido já aprovado pelaComissão para o período de 1999-2001.

501. Em 2 de Outubro de 2002, a Comissão deci-diu dar início a um procedimento formal de investi-gação sobre um projecto de auxílio ao investimentono Reino Unido a favor da Clydeboyd Ltd (6) para a

criação de instalações portuárias de maior dimen-são e de infra-estruturas para movimentação decarga. A Comissão manifestou dúvidas quanto àproporcionalidade da contribuição do Estado eum eventual impacto nefasto sobre as infra-estru-turas existentes.

502. A Comissão aprovou igualmente um auxílioà formação marítima na Alemanha para 2002 (7),tal como havia já autorizado anteriormente regi-mes alemães análogos para 1998, 1999, 2000 e2001. O regime de auxílios contribuirá para preser-var o saber-fazer marítimo e os conhecimentos es-pecializados no âmbito da marinha mercantealemã. Decidiu também não levantar objecções àconcessão de subvenções públicas por parte da re-gião da Flandres para financiar capitanias nos por-tos marítimos belgas (8).

503. Em 13 Novembro de 2002, a Comissão apro-vou medidas dinamarquesas de redução doimposto sobre o rendimento (9) aplicável a tra-balhadores marítimos a bordo de embarcações di-namarquesas, inscritas quer no registo normal(DAS), quer no registo secundário (DIS). Em 2 deDezembro de 2002, a Comissão não levantou ob-jecções a uma ligeira alteração a um regime de de-sagravamento fiscal (10). Além disso, a Comissãoconsiderou que a redução de 169 para 161 dias noque se refere à duração mínima do período noalto-mar para efeitos de elegibilidade do regime deredução do imposto sobre o rendimento dos traba-lhadores marítimos irlandeses (11) não prejudica-ria as conclusões da sua decisão de 2 de Marçode 1999, tendo sustentado que o regime alteradocontinuaria a ser compatível com o mercadocomum.

3.6. Transportes aéreos

504. Perante as consequências dos acontecimen-tos terroristas de 11 de Setembro de 2001, que le-varam o sector dos seguros a reavaliar a situaçãoe a suprimir a curto prazo praticamente toda a co-bertura em relação aos riscos de guerra e de terro-rismo, a Comissão prosseguiu a aplicação da suapolítica, tal como definida na Comunicação de

¥1∂ C 97/2001 (ex N93/2001) «Segurança do transporte marítimo»,decisão da Comissão de 20.12.2001.

¥2∂ N 781/01 «Serviços marítimos na Córsega», JO C 186 de 6.8.2002.¥3∂ NN 27/2002, ainda não publicado.¥4∂ C 58/02 (ex N 118/2002), JO C 308 de 11.12.2002.¥5∂ N 519/02 «Prorrogação do regime de desagravamento fiscal das

contribuições para a segurança social no sector da cabotagemmarítima», decisão da Comissão de 6.9.2002, JO C 262 de29.10.2002.

¥6∂ C 62/02 (ex-N 221/02), JO C 269 de 5.11.2002.

¥7∂ NN 94/2002 — Alemanha. Decisão da Comissão de 30.10.2002,ainda não publicada.

¥8∂ N 438/02 — Bélgica. Decisão da Comissão de 16.10.2002, JO C284 de 21.11.2002.

¥9∂ NN 116/1998 — Dinamarca. Decisão da Comissão de13.11.2002.

¥10∂ N 662/2002 — França — Decisão da Comissão de 2.12.2002.¥11∂ N 661/2002 — Irlanda. Decisão da Comissão de 2.12.2002, JO C

15 de 22.1.2003.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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10 de Outubro de 2001 (1). Com efeito, a Comis-são havia sublinhado na referida comunicaçãoque, se viesse a perdurar a situação no que se re-fere a uma cobertura de seguro insuficiente, osEstados-Membros poderiam decidir continuar apropor uma garantia complementar de seguro ouassumirem eles próprios o risco directamente.Deste modo, a possibilidade de intervenção a ní-vel nacional foi prorrogada três vezes, a saber, até31 de Março, 30 de Junho e, por último, 31 de Ou-tubro de 2002 (2). A Comissão definiu igualmentena sua Comunicação as condições com base nasquais consideraria as medidas tomadas pelos go-vernos em matéria de seguros consentâneas como n.o 2, alínea b), do artigo 87.o do Tratado. Comefeito, esta disposição permite aos Estados-Mem-bros concederem auxílios destinados a «remediaros danos causados por acontecimentos extraordi-nários». Por conseguinte, aquando de cada pror-rogação dos auxílios, a Comissão examinou asmedidas que lhe foram notificadas com baseneste artigo (3).

505. A Comissão autorizou igualmente os regi-mes de indemnização instituídos por vários Esta-dos-Membros para compensar as perdas das com-panhias aéreas provocadas pelo encerramento decertas partes do espaço aéreo no período compre-endido entre 11 e 14 de Setembro de 2001. No en-tanto, a Comissão considerou que um certo nú-mero de critérios, definidos na sua Comunicação,deviam ser preenchidos para que estes auxíliosfossem autorizados.

506. Neste contexto, a Comissão aprovou os re-gimes instituídos pela França, Reino Unido eAlemanha, respectivamente mediante as suas de-cisões de 30 de Janeiro, 12 de Março e 2 de Julhode 2002 (4). Ao invés, a Comissão decidiu, em5 de Junho de 2002, dar início a um procedi-mento formal de investigação no que respeita àprorrogação, notificada pela França, da medidade auxílio a favor dos custos incorridos após

14 de Setembro de 2002 (5), tendo adoptado umadecisão final negativa neste caso em 11 de De-zembro de 2002 (6). Por último, em 16 de Outu-bro de 2002, a Comissão decidiu, no que diz res-peito ao regime previsto pela Áustria, aprová-loparcialmente, mas também dar início ao procedi-mento formal de investigação no que se refere àindemnização dos custos posteriores a 14 de Se-tembro de 2001 (7). A Comissão prossegue a aná-lise da compatibilidade de regimes de auxílio deurgência semelhantes notificados por outros Es-tados-Membros.

507. Por outro lado, a Comissão decidiu iniciar,em 6 de Março de 2002 (8), o procedimento de in-vestigação previsto no n.o 2 do artigo 88.o do Tra-tado CE relativamente à Grécia sobre a utilizaçãode auxílios estatais anteriormente autorizados em1994 e 1998 (9), utilização essa susceptível de serabusiva, bem como a concessão de um novo auxí-lio à companhia aérea Olympic Airways (OA) eàs suas filiais. Em 11 de Dezembro de 2002, aComissão verificou a incompatibilidade com oTratado de uma parte dos auxílios anteriormenteconcedidos pelo Estado grego (10) e a concessãode novos auxílios que não lhe haviam sido notifi-cados. A Comissão solicitou assim à Grécia queprocedesse à recuperação dos auxílios desembol-sados após 14 de Agosto de 1998.

508. Em 9 de Abril de 2002, a Comissão decidiunão levantar objecções relativamente às medidasde financiamento previstas pela TAP (11). A Co-missão considerou que o plano da companhiaportuguesa no sentido da liberação de várias ga-rantias e da utilização dos activos liberados comvista a assegurar meios financeiros suplementa-res não constituía um auxílio estatal.

509. A Comissão autorizou igualmente, em19 de Junho de 2002 (12), duas medidas financei-ras respeitantes à Alitalia, em Itália. Por um lado,a Comissão considerou o pagamento da terceiraparcela de 129 milhões de euros de auxílio à rees-truturação aprovada em 1997 compatível com oTratado CE. Por outro, considerou que o futuroaumento de capital, num montante máximo de1,4 mil milhões de euros, a ser proposto aos acci-

¥1∂ Comunicação da Comissão Europeia de 10 de Outubro de 2001sobre as consequências dos atentados nos Estados Unidos no sec-tor do transporte aéreo, COM(2001) 574.

¥2∂ Comunicação de 2.7.2002, COM(2002) 320 final.¥3∂ Irlanda NN 34/2002, Regime de seguro no sector da aviação,

decisão da Comissão de 27.2.2002.Países Baixos NN 35/2002, Maatregeleninzake overheisdekkingvoor molestsc en luchtvaartsector, decisão da Comissão de27.2.2002.Reino Unido NN 43/2002, Prorrogação do seguro no sector dostransportes aéreos, decisão da Comissão de 27.2.2002.Finlândia NN 45/2002, decisão da Comissão de 6.3.2002.

¥4∂ França: N 806/2001, JO C 59 de 6.3.2002, p 25; Reino Unido: N854/2001, JO C 98 de 23.4.2002, p. 36; Alemanha: N269/2002,ainda não publicada no JO.

¥5∂ C 42/2002 (ex N 286/2002), JO C 170 de 16.7.2002, p 11.¥6∂ C 42/2002 (ex N 286/2002), ainda não publicada no JO.¥7∂ C 65/2002 (ex N 262/2002), JO C 309 de 12.12.2002.¥8∂ C 19/2002 (ex NN 133/2000), JO C 98 de 23.4.2002, p.8.¥9∂ JO L 128 de 21.5.1999, p.1, e JO L 273 de 25.10.1994, p.22.¥10∂ Nos termos do n.o 1 do artigo 87.o do Tratado.¥11∂ N 132/02.¥12∂ C 54/96 e N 318/02, ainda não publicadas no JO.

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onistas da companhia, não constitui um auxílioestatal visto satisfazer o critério do investidor pri-vado numa economia de mercado.

510. Por último, em 11 de Dezembro de 2002, aComissão decidiu iniciar um procedimento for-mal de investigação sobre as vantagens de que acompanhia Ryanair teria beneficiado aquando dainstalação da sua primeira base na Europa conti-nental em Charleroi, em 2001. Estas vantagensforam concedidas pela Região da Valónia (redu-ção das taxas aeroportuárias de forma não trans-parente e discriminatória) e pela entidade gestorado aeroporto, uma empresa pública controladapela Região (subvenções para a exploração de no-vas rotas, despesas hoteleiras de pessoal, assun-ção dos encargos em matéria de publicidade/ma-rketing, etc.).

511. Nessa mesma data, a Comissão decidiutambém iniciar um procedimento no que se refereaos auxílios concedidos à companhia aérea Inter-mediacion Aérea (Intermed) no âmbito dos voosregulares entre Gerona e Madrid. Manifestou dú-vidas quanto ao respeito das condições específi-cas que permitem a um Estado-Membro imporobrigações de serviço público.

4. Agricultura

4.1. Evolução política e iniciativas legislativas em 2002

4.1.1. Novas orientações comunitárias para os auxílios estatais relativos aos testes de detecção de encefalopatias espongiformes transmissíveis, aos animais mortos e aos resíduos de matadouros

512. Em 27 de Novembro, a Comissão adoptounovas orientações no que se refere aos auxíliosestatais relativos aos testes de detecção de encefa-lopatias espongiformes transmissíveis, aos ani-mais mortos e aos resíduos de matadouros (1). Es-tas novas regras precisam e alteram a políticacomunitária em matéria de auxílios estatais nes-tes sectores. Esta medida revelava-se necessária,uma vez que a diversidade das políticas adopta-das pelos Estados-Membros representava umrisco significativo em termos de distorção da con-corrência.

513. A legislação relativa à EEB alterou profun-damente os aspectos financeiros relacionadoscom os resíduos de matadouros. Os produtos pas-síveis de serem anteriormente valorizados repre-sentam, hoje em dia, resíduos cuja eliminação éainda por cima onerosa.

514. A fim de permitir a este sector adaptar-se àsituação, a Comissão autorizou o pagamento deavultados fundos públicos. No entanto, tal apre-senta o risco de falsear a concorrência. Muito em-bora alguns Estados-Membros concedam efecti-vamente auxílios importantes, outros optam pornão fazê-lo. Deste modo, impunha-se um ree-xame da política prosseguida neste domínio. Asnovas regras têm em conta a necessidade de pro-teger a saúde humana e o ambiente, o que justificaa concessão de auxílios, sem criar distorçõesanormais da concorrência.

515. Estas novas orientações não afectam, demodo algum, a possibilidade de conceder auxí-lios estatais, nem a obrigação legal, prevista porregulamentos específicos do Conselho, de com-pensar as perdas incorridas pelos agricultores seos seus animais forem afectados pela EEB ou porqualquer outra doença comparável. Visam sobre-tudo reduzir a carga financeira permanente ine-rente à obrigação geral de efectuar testes de de-tecção e de separar os materiais de risco dosanimais sãos.

516. Doravante, deixará de ser concedida qual-quer assistência pública para assegurar a cober-tura dos custos de eliminação dos resíduos dematadouros, independentemente da forma quepossam assumir. A título excepcional, os Esta-dos-Membros podem ainda subvencionar até50% dos custos de eliminação de materiais derisco específicos e das farinhas de carne e de os-sos, que deixaram de poder ser comercializadasem 2003.

517. No que se refere aos testes de detecção daEET, os Estados-Membros deverão respeitar umlimite máximo de 40 euros para os auxílios a fa-vor dos testes de bovinos (testes de detecção daEEB) abatidos para consumo humano após 1 deJaneiro de 2003. Actualmente não está previstoqualquer montante máximo deste tipo. Tal com-preende o custo total dos testes, ou seja, o kit deteste, bem como as despesas de colheita desangue, de transporte, testes, armazenagem edestruição da amostra. É de lembrar que, actual-mente, dos 40 euros 15 são pagos pela Comuni-dade (10,5 euros em 2003). Este limite máximo¥1∂ JO C 324 de 24.12.2002.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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foi considerado suficiente para cobrir o preço dosmais competitivos fornecedores de kits de testeda União Europeia. Esta limitação evitará distor-ções da concorrência e incentivará os fornecedo-res mais caros a descerem os respectivos preços.Para outros testes de detecção da EET (por exem-plo, a bovinos ou ovinos já mortos), a Comissãodecidiu continuar a autorizar auxílios estatais até100% das despesas, sem qualquer limitação domontante.

518. No caso dos animais encontrados mortosna exploração, e unicamente neste caso, os Esta-dos-Membros podem igualmente conceder umapoio público por forma a assegurar a coberturaaté 100% dos custos de retirada (recolha e trans-porte) e 75% das despesas de destruição (armaze-nagem, transformação, destruição e eliminaçãofinal). Em matéria de destruição, poderá ser con-cedido em certas circunstâncias um auxílio de100%, por exemplo, se tal for financiado atravésde imposições ou contribuições do sector dacarne. A fim de permitir aos Estados-Membrosadaptarem os seus mecanismos de financiamentoactuais, a Comissão autorizará, até ao final de2003, a concessão de auxílios até 100% das des-pesas.

519. Estas orientações serão aplicáveis aos no-vos auxílios estatais, incluindo as notificações emcurso dos Estados-Membros, a partir de 1 de Ja-neiro de 2003. A Comissão propõe a estes últimosa adaptação dos seus actuais regimes de auxílioestatais às presentes orientações até 31 de De-zembro de 2003, o mais tardar. Estas orientaçõesvigorarão até 31 de Dezembro de 2013.

4.2. Panorâmica geral dos processos

520. A Comissão recebeu 341 notificações deprojectos de medidas de auxílio estatal a favor dosector agrícola e agro-industrial e iniciou igual-mente o exame de 34 medidas de auxílio, que nãohaviam sido anteriormente notificadas nos ter-mos do n.o 3 do artigo 88.o do Tratado CE. Não foidado início, nem concluído qualquer exame demedidas de auxílio existentes ao abrigo do n.o 1do artigo 88.o do Tratado CE. No total, a Comis-são não formulou objecções em relação a 250 me-didas. Algumas destas medidas foram aprovadasapós os Estados-Membros em questão as teremalterado ou assumido um compromisso nessesentido a fim de assegurar a sua conformidadecom as regras comunitárias em matéria de auxí-lios estatais. A Comissão deu início ao procedi-

mento previsto no n.o 2 do artigo 88.o do TratadoCE em 5 casos, em que as medidas relevantes sus-citavam graves dúvidas quanto à sua compatibili-dade com o mercado comum. A Comissão encer-rou o procedimento previsto no n.o 2 do artigo88.o do Tratado CE em relação a 4 casos, tendo to-mado em três deles uma decisão final negativa.Nos casos em que foi adoptada uma decisão ne-gativa e em que os auxílios estatais já haviam sidoconcedidos pelo Estado-Membro em causa, aComissão solicitou a recuperação dos auxíliospagos.

521. A panorâmica geral dos processos apresen-tada a seguir inclui uma selecção dos processosque suscitaram as questões mais interessantes doponto de vista da política dos auxílios estatais afavor dos sectores agrícola e agro-industrial em2002.

4.2.1. Calamidades naturais

522. A Comissão Europeia aprovou cinco regi-mes de auxílio destinados a indemnizar as víti-mas no sector agrícola pelos danos provocadospelas recentes inundações na Alemanha. Os regi-mes foram examinados com celeridade, tendosido concluído que a indemnização proposta pelaAlemanha podia ser paga na íntegra. As medidasforam consideradas compatíveis com o n.o 2,alínea b), do artigo 87.o do Tratado CE, que esta-belece que a Comissão pode aprovar auxílios des-tinados a reparar os danos causados por calami-dades naturais. As medidas aprovadas prevêem oseguinte:

— uma indemnização financeira correspon-dente, no máximo, a 20% (30% nas zonasdesfavorecidas), a conceder aos agricultoresa título das receitas perdidas devido às inun-dações e aos danos provocados a nível dosolo (1);

— pagamentos automáticos até 50% do mon-tante total no que se refere aos danos provo-cados pelas inundações e, nomeadamente,perda, destruição e danificação de benseconómicos, tais como plantas, máquinas,terrenos e animais. Os agricultores serãocompensados pelo capital circulante, bemcomo pelos custos de evacuação (2);

¥1∂ N 567/2002.¥2∂ N 581/2002.

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— serão igualmente atribuídos auxílios tendoem vista uma indemnização total ou parcialdas perdas a nível de investimentos imobi-liários a fim de manter a empresa em activi-dade (1);

— o programa especial no sector da agricultura(Gemeinschaftsaufgabe) relativo aos danosprovocados pelas inundações abrange no-meadamente auxílios para a recuperação dealdeias e de ruas em zonas rurais, florestas eactividades de aquicultura. Será atribuídoparticular destaque à renovação que seja res-peitadora do ambiente (2);

— os empréstimos concedidos pelo Landwirts-chaftliche Rentenbank serão apoiados por umagarantia de 80% para os empréstimos destina-dos a assegurar a liquidez ou os investimentosem explorações agrícolas e florestais (3).

523. Em 18 de Setembro, a Comissão aprovouum grande regime de auxílios destinados a com-pensar as perdas provocadas por calamidades na-turais na Grécia (4). O método de cálculo das per-das não assenta na produção global dos anos dereferência, que constitui o principal método decálculo preconizado pelas Orientações comunitá-rias para os auxílios estatais no sector agrícola,mas sobre os rendimentos regionais (as orienta-ções supramencionadas prevêem a possibilidadede utilizar outros métodos de cálculo que não oindicado, desde que a sua adequação seja com-provada). O orçamento deste regime é muito ele-vado: mais de 171 milhões de euros para os auxí-lios estatais e mais de 126 milhões de euros paraos auxílios em relação aos quais as autoridadesgregas pretendem obter um co-financiamento porparte da União Europeia e que estão a ser actual-mente examinados.

4.2.2. Promoção e publicidade

524. Em 13 de Fevereiro, a Comissão autorizoua Alemanha (Baviera) a conceder um auxílio nummontante global de 3,5 milhões de euros para2002 no que se refere à introdução de um novo ró-tulo de certificação da qualidade. Para 2003 e2004, foi aprovado um orçamento anual superiora 2 milhões de euros. O rótulo de qualidade in-sere-se num programa alargado de controlo e cer-

tificação da qualidade, introduzido a fim de resta-belecer a confiança dos consumidores após umadescida significativa das vendas de carne bovinana sequência da crise da EEB. Todas as empresasna União Europeia podem aceder ao rótulo dequalidade, se respeitarem os requisitos estabele-cidos no programa em questão.

525. O auxílio destina-se a cobrir o custo de di-versas medidas individuais, tais como:

— controlo e certificação das empresas que par-ticipam no programa;

— medidas de informação destinadas a explicaro rótulo e o seu objectivo aos consumidores;

— acções de promoção de vendas e medidas depublicidade.

526. O auxílio será concedido a grupos de utili-zadores do rótulo de qualidade, tais como associ-ações de marketing ou outras empresas na área daprodução alimentar. Os utilizadores do rótulo de-vem satisfazer as condições fixadas no domínioda produção, transformação e comercialização degado e de carne bovina e deverão evidentementerespeitar normas de controlo mais estritas do queas normais. Prevê-se igualmente, numa fase pos-terior, alargar o rótulo a outros produtos que nãoa carne bovina.

527. A Comissão autorizou este auxílio com basenas novas directrizes comunitárias para os auxíliosestatais à publicidade de produtos agrícolas, queentraram em vigor em 1 de Janeiro de 2002. Estasdirectrizes permitem, pela primeira vez, conjugarinformações sobre a qualidade do produto e a suaorigem no âmbito de um rótulo deste tipo. O rótuloem relação ao qual a Comissão autorizou a conces-são de auxílios estatais permite aos produtores pro-venientes de todo o território na Comunidade indi-car a origem dos seus produtos.

528. Em 27 de Fevereiro, a Comissão aprovou umregime nacional de auxílios à promoção e à publi-cidade (5) em Itália. Este regime altera regimesanálogos já aprovados pela Comissão no âmbitodos auxílios N 558/2000 (6) e N 729/A/2000 (7), afim de assegurar a sua conformidade com as di-rectrizes comunitárias para auxílios estatais à pu-blicidade de produtos incluídos no anexo I doTratado CE e de determinados produtos não in-

¥1∂ N 595/2002.¥2∂ N 647/2002.¥3∂ N 682/2002.¥4∂ N 143/2002.

¥5∂ N 30/2002.¥6∂ Cf. carta SG(2001) D/286564 de 28.2.2001.¥7∂ Cf. carta SG(2001) D/286847 de 13.3.2001.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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cluídos no anexo I (1) no que se refere aos auxí-lios estatais à eliminação dos resíduos de mata-douros e dos animais encontrados mortos, bemcomo aos custos dos testes de detecção de encefa-lopatias espongiformes.

529. Trata-se de um dos primeiros casos deaplicação em grande escala das directrizes supra-mencionadas (todas as formas de associaçãorepresentativas dos produtores agrícolas são be-neficiários potenciais do regime). A aplicação doregime será verificada nos relatórios anuais atransmitir pelas autoridades italianas.

4.2.3. Aumento do custo do combustível

530. Em 11 de Dezembro, a Comissão adoptouuma decisão parcialmente negativa no que se refereàs medidas de apoio adoptadas pela Espanha na se-quência do aumento dos preços de combustível eem relação às quais havia iniciado um procedi-mento formal de investigação em Abril de 2001 (2).A Comissão considerou que diversas medidas di-rectamente relacionadas com este aumento depreços não são abrangidas pelo âmbito de aplica-ção das regras em matéria de auxílios estatais.Em contrapartida, em relação a duas medidascontidas no pacote apresentado (bonificação deempréstimos e garantias, bem como determina-das vantagens fiscais), considerou que a Espanhanão havia demonstrado que tal se limitava a com-pensar os danos incorridos na sequência deste au-mento de preços do combustível. Por conse-guinte, a Comissão considerou que estas medidaseram auxílios ao funcionamento, incompatíveiscom as regras da concorrência.

531. A Comissão decidiu que nos termos do Tra-tado as medidas a seguir referidas não constitu-íam auxílios:

— alteração da lei relativa ao imposto sobre ovalor acrescentado;

— medidas fiscais a favor das cooperativas agrí-colas;

— medidas fiscais relativas ao imposto sobre orendimento das pessoas singulares e ao im-posto sobre o valor acrescentado, incluindoas medidas seguintes:

— em relação ao exercício de 2000, a aplicaçãoa certas actividades de exploração sujeitas ao

regime de estimativa objectiva de um índicede correcção para os alimentos do gado ad-quirido a terceiros;

— em relação ao exercício de 2001, a reduçãodo rendimento líquido no quadro do regimede estimativa objectiva do imposto sobre orendimento de pessoas singulares para as ac-tividades agrícolas e de exploração;

— igualmente em relação ao exercício de 2001,a redução da percentagem destinada a deter-minar os pagamentos trimestrais no quadrodo regime simplificado do imposto sobre ovalor acrescentado para determinadas activi-dades agrícolas e a medida fiscal que consisteno aumento da percentagem das despesas di-fíceis de justificar no quadro do imposto so-bre o rendimento das pessoas singulares.

532. A Comissão decidiu, pelo contrário, que osauxílios estatais concedidos a favor dos titularesde explorações agrícolas sob a forma de bonifica-ção de empréstimos e de garantias, bem como amedida de prorrogação para os exercícios de2000 e 2001 das vantagens fiscais aplicáveis noquadro do imposto sobre o rendimento das pes-soas singulares à transmissão de certas terras eexplorações agrícolas, são incompatíveis com omercado comum. Em relação a estas medidas, aEspanha não apresentou quaisquer informaçõesque demonstrassem a existência de um vínculoentre o aumento do preço do petróleo e os danossofridos pelos agricultores. Dado tratar-se de au-xílios ilegais, a Espanha deve anular estes auxí-lios e recuperá-los junto dos seus beneficiários omais rapidamente possível. A Espanha dispõe deum prazo de dois meses para informar a Comis-são das medidas tomadas para anular e recuperarestes auxílios.

4.2.4. Início do procedimento formal de investigação

Auxílios às indústrias de extracção, refinação e engarrafamento de óleo de bagaço de azeitona

533. Em 14 de Março, a Comissão decidiu darinício a um procedimento de investigação no quese refere a um regime de auxílio concedido pelaEspanha a favor das indústrias de extracção, refi-nação e engarrafamento de óleo de bagaço deazeitona (3). Os auxílios são atribuídos pelo Mi-

¥1∂ JO C 252 de 12.9.2001, p. 5.¥2∂ C 22/2001. ¥3∂ C 21/2002 (ex NN 14/2002).

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nistério da Agricultura sob a forma de emprésti-mos num montante global máximo de 5 000 mi-lhões de pesetas (30,05 milhões de euros), comuma taxa de juro bonificada, sendo igualmentepossível a bonificação das garantias relativas a es-tes empréstimos.

534. Na fase actual, a Comissão considera que es-tes auxílios constituem auxílios estatais destinadosa melhorar a situação financeira das empresas, masque não contribuem de maneira nenhuma para odesenvolvimento do sector. Por conseguinte, pode-riam constituir auxílios ao funcionamento incom-patíveis com o mercado comum. Além disso, estesauxílios poderiam constituir uma infracção à regu-lamentação comunitária (OCM).

Auxílios às organizações de produtores de azeite

535. Em 19 de Julho, a Comissão decidiu dar iní-cio a um procedimento relativamente a um re-gime de auxílio regional (Estremadura, Espanha)a favor das organizações de produtores de azeite.O auxílio reveste a forma de uma subvençãocalculada em função do número dos pedidos deauxílio apresentados em matéria de auxílio à pro-dução de azeite e de azeitonas de mesa e comple-menta a assistência comunitária prevista no Re-gulamento (CEE) n.o 136/66.

536. Na fase actual, a Comissão considera queuma subvenção concedida às organizações deprodutores, calculada em função do número depedidos apresentados em matéria de auxílio àprodução de azeite e de azeitonas constitui umauxílio estatal destinado a melhorar a situação fi-nanceira das referidas organizações, não contri-buindo de maneira alguma para o desenvolvi-mento do sector. Por conseguinte, estes auxíliosdevem ser considerados como auxílios ao funcio-namento incompatíveis com o mercado comum.Além disso, trata-se de auxílios susceptíveis deinterferir com os mecanismos que regem as orga-nizações comuns de mercado, constituindo assimuma infracção em relação aos mesmos e, por con-seguinte, à regulamentação comunitária.

Auxílio destinado a financiar o serviço público de transformação de subprodutos animais

537. Em 10 de Julho, a Comissão decidiu dar iní-cio a um procedimento formal de investigação re-lativamente a determinados aspectos do sistemade transformação de subprodutos animais em

França (1). A Comissão recebeu diversas denún-cias que apontavam para o carácter de distorçãoda concorrência inerente à taxa de transformaçãode subprodutos animais. Esta taxa tem como ob-jectivo financiar um serviço público que consistena recolha e na eliminação dos cadáveres de ani-mais e de resíduos de matadouros reconhecidosimpróprios para consumo humano e animal. Ataxa foi instituída a partir de 1 de Janeiro de 1997e incide sobre as compras de carne e outros pro-dutos específicos por qualquer pessoa que pro-ceda à venda retalhista destes produtos, assen-tando a respectiva matéria colectável no valordessas compras, excluindo o IVA, independente-mente da respectiva proveniência.

538. O exame da Comissão prende-se sobretudocom o facto de a taxa de transformação de sub-produtos animais, introduzida para financiar osistema, incidir igualmente sobre a carne prove-niente de outros Estados-Membros, sem que es-tes possam tirar partido do sistema em questão.Além disso, o carácter gratuito do serviço afi-gura-se ter como consequência que os beneficiá-rios directos do sistema, designadamente os ma-tadouros, os criadores de gado e os detentores defarinhas animais são eximidos de suportar as des-pesas inerentes à eliminação de resíduos produzi-dos no exercício das suas actividades. Tal poderiaconstituir um auxílio estatal a favor destes opera-dores, eventualmente incompatível com o mer-cado comum.

539. A Comissão examina igualmente o facto dea taxa ser imposta a partir de um determinado ní-vel do volume de negócios total de um estabeleci-mento comercial, não assentando a referida taxano volume das vendas de carne. Com efeito, algu-mas empresas seriam isentas da taxa, mesmo se oseu volume de vendas de carne fosse superior aode outra empresa que realiza um volume de negó-cios mais elevado com base noutros produtos.Esta isenção poderia constituir um auxílio estatalincompatível para as empresas que não estão su-jeitas a esta taxa.

540. Por outro lado, foi submetida ao Tribunal deJustiça das Comunidades Europeias uma questãoa título prejudicial no que diz respeito à interpre-tação do n.o 1 do artigo 87.o do Tratado (2), no

¥1∂ C 49/2002.¥2∂ Processo C-126/01, Ministério da Economia, das Finanças e da

Indústria/S.A. GEMO.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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quadro da taxa de transformação de subprodutosanimais.

Regime de auxílios à racionalização de matadouros de suínos

541. Em 28 de Dezembro de 2001, a ComissãoEuropeia decidiu iniciar um procedimento formalde investigação no domínio dos auxílios estataisrelativamente a um regime notificado de raciona-lização dos matadouros de suínos nos Países Bai-xos (1). À luz do acórdão proferido pelo Tribunalde Primeira Instância no processo Weyl BeefProducts BV e outros/Comissão (2), considerou-senecessário examinar se a medida notificada, queenvolvia um acordo entre empresas tendo emvista a redução da capacidade, era consentâneocom o artigo 81.o do Tratado CE. A Comissão ma-nifestou dúvidas quanto ao facto de a medida po-der ser isenta enquanto cartel em época de crise,uma vez que não existia aparentemente qualquerexcesso de capacidade estrutural no sector e dadoafigurar-se duvidoso, além disso, que a medidamelhorasse a produção. Por último, a Comissãomanifestou igualmente dúvidas quanto à compati-bilidade da medida proposta com o disposto na sec-ção 9 das orientações para os auxílios estatais nosector agrícola. Por carta de 5 de Agosto de 2002,as autoridades neerlandesas retiraram a notifica-ção da medida. Por conseguinte, não foi adoptadaqualquer decisão final neste processo.

5. Pesca

542. O sector da pesca, devido às suas caracterís-ticas sociais e económicas, continuou a ser ob-jecto, durante o período em análise, de uma inter-venção pública significativa, tanto a nívelcomunitário como a nível nacional.

543. Com base nas linhas directrizes para oexame dos auxílios estatais no sector das pescas eda aquicultura (3), a Comissão analisou a compa-tibilidade com o Direito Comunitário dos regi-mes nacionais que concedem auxílios no sectordas pescas.

544. Em Dezembro de 2002, o Conselho chegoua um acordo sobre a reforma da política comumno sector da pesca. O Regulamento n.o 2369/2002

do Conselho (4) simplificou o disposto no ar-tigo 19.o do Regulamento (CE) n.o 2792/1999,que determina em que medida as regras em maté-ria de auxílios estatais consignadas no Tratadosão aplicáveis ao sector da pesca.

545. A fim de acelerar o pagamento dos fundosestruturais comunitários e reduzir os encargos ad-ministrativos que recaem tanto sobre os Esta-dos-Membros como sobre a Comissão em conse-quência da adopção de decisões positivas emmatéria de auxílios estatais com carácter de «ro-tina», sem todavia tornar menos estrito o regimede controlo dos auxílios estatais, foi estabelecidoque, a partir de 1 de Janeiro de 2003, os artigos 87.o

a 89.o deixarão de ser aplicáveis aos pagamentosanteriores ou futuros dos Estados-Membros quesejam obrigatórios para o co-financiamento naci-onal no que se refere às despesas ao abrigo das re-gras aplicáveis no quadro do Instrumento Finan-ceiro de Orientação das Pescas. No entanto, osartigos 87.o a 89.o continuam a ser aplicáveis aosauxílios que transcendam o que seja obrigatórionos termos destas regras. De igual forma, serámantido o controlo ex post aquando do reembolsodos Estados-Membros ao abrigo das regras dosfundos estruturais.

546. A Comissão aprovou em 27.11.2002 um re-gime de auxílios notificado pelas autoridades ne-erlandesas, tendo em vista a aquisição, em 2003,de licenças de pesca «reservadas» (5). Estas licen-ças conferem o direito de desenvolver actividadesde pesca e não estão vinculadas a uma determi-nada embarcação, mas são colocadas no mercadopelo respectivo proprietário. Podem ser adquiri-das pelo armador de um navio de pesca em qual-quer momento num período máximo de dois anosa contar da respectiva data de emissão.

547. O regime de auxílios notificado, cujo mon-tante se eleva a 900 000 euros, tem como objec-tivo a aquisição de licenças reservadas por partedo Estado neerlandês a preços do mercado, tendoem vista a sua retirada da circulação, inserindo-seesta iniciativa na óptica do desaparecimento des-tas licenças em 1 de Janeiro de 2004. Os PaísesBaixos apresentaram garantias de que não serãodesembolsados novos auxílios para o efeito e queo sistema de licenças reservadas cessará em 2004.

¥1∂ C 91/2001 (ex N 568/2002), JO C 37 de 9.2.2002, p. 17.¥2∂ Processos apensos T-197/97 e T-198/97 de 31.1.2001.¥3∂ JO C 19 de 20.1.2001.

¥4∂ Regulamento n.o 2369/2002 do Conselho, que altera o Regula-mento (CE) n.o 2792/1999 que define os critérios e as condiçõesdas acções estruturais comunitárias no sector das pescas, JO L358 de 31.12.2002, p. 49.

¥5∂ N 546/2001.

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548. Em Novembro de 2002, a Comissão tomouduas decisões finais positivas (1) relativamente aregimes destinados a compensar os pescadoresque haviam sido obrigados a interromper tempo-rariamente as suas actividades de pesca em 2000.No que se refere a um regime, a interrupção tem-porária da actividade de pesca foi provocada porum fenómeno de poluição e, em relação ao outro,esta interrupção da actividade havia sido previstano âmbito de um plano com vista à protecção dosrecursos marítimos. Nessa mesma data, a Comis-são decidiu que não tinha objecções a formular noque se refere a regimes do mesmo tipo, instituí-dos no quadro de planos para a protecção de re-cursos em 2001 e 2002 (2).

D — Procedimentos

1. Auxílios existentes

549. Em 16 de Outubro de 2002, a Comissão deuinício a um procedimento formal de investigaçãono que respeita a auxílios existentes pagos aosprodutores alemães de aguardente à base decereais (Kornbranntwein (3)). Esta decisão foitomada na sequência da recusa por parte dasautoridades alemãs de darem cumprimento à Re-comendação da Comissão adoptada em 19 deJunho de 2002, que convidava as referidas autori-dades a integrarem na sua legislação, até ao termode 2003, medidas adequadas destinadas a refor-mular a sua lei relativa ao monopólio de aguar-dente à base de cereais «Kornbranntwein».Conforme vigora actualmente, o regime alemãoinstitui um auxílio a favor dos produtores nacio-nais, em detrimento dos produtores de outrosEstados-Membros. As autoridades alemãs enten-dem que são aplicáveis ao produto em causa asregras agrícolas, pouco restritivas, enquanto aComissão considera que a aguardente à base decereais, a título de bebida alcoólica, está sujeita àsregras enunciadas nos artigos 87.o e 88.o do Tra-tado CE.

550. A posição comum da UE sobre o capítuloda concorrência adoptada em Novembro de 2001definiu um procedimento para a apreciação dasmedidas de auxílio estatal, que deverá entrar em

vigor antes da data de adesão efectiva e que de-verá ser respeitada pelos países candidatos apósessa data.

551. O projecto de Tratado de Adesão prevê queas seguintes medidas de auxílio devem ser consi-deradas como auxílios existentes na acepção don.o 1 do artigo 88.o do Tratado CE a partir da datade adesão:

a) as medidas de auxílio implementadas antesde 10 de Dezembro de 1994;

b) as medidas de auxílio enumeradas num apên-dice ao Tratado de Adesão (a denominada«lista do Tratado»);

c) as medidas de auxílio que, antes da data deadesão, foram examinadas pela autoridadede controlo dos auxílios estatais do novoEstado-Membro e consideradas compatíveiscom o acervo e em relação às quais a Comis-são não formulou objecções com base emgraves dúvidas quanto à compatibilidade damedida com o mercado comum (o denomi-nado «procedimento provisório»).

552. Todas as medidas que constituem auxíliosestatais e não preenchem as condições acima in-dicadas devem ser consideradas como novos au-xílios após a adesão para efeitos de aplicação don.o 3 do artigo 88.o do Tratado CE.

553. As disposições supramencionadas não seaplicam aos auxílios no sector dos transportes,nem às actividades relacionadas com a produção,transformação ou comercialização dos produtosenumerados no anexo I do Tratado CE, à excep-ção dos produtos de pesca e produtos derivados.As disposições supramencionadas também nãoprejudicam as medidas transitórias no que dizrespeito à política da concorrência definida noprojecto de Tratado de Adesão.

554. No decurso de 2002, foi elaborada a lista doTratado com base nas medidas apresentadas pe-los países candidatos. Até ao final de Outubro de2002, os países candidatos haviam apresentado322 medidas de auxílio estatal (57% referiam-sea auxílios individuais e 43% a regimes de auxí-lios). Os serviços da Comissão apreciaram estasmedidas com base nas informações prestadas pe-los países candidatos e concluíram que 69% dasmedidas notificadas eram compatíveis com oacervo. Foi assim proposta a inclusão destas me-didas na lista do Tratado.

¥1∂ C 83 e C84/2001.¥2∂ NN 159/2001 e NN 107/2002.¥3∂ E 47/2002.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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2. Auxílios isentos

555. Foram adoptados regulamentos de isençãopor categoria no intuito de facilitar a concessãode auxílios a determinados sectores pelos Esta-dos-Membros. Do ponto de vista prático, tal temcomo consequência que os Estados-Membrosdeixam de estar sujeitos à obrigação de notificaroficialmente a Comissão dos seus projectos deauxílio antes da respectiva concessão.

556. No entanto, a fim de permitir à Comissãodesempenhar as suas funções em matéria decontrolo igualmente no que se refere a estes sec-tores, os Estados-Membros devem informar aComissão, numa base anual, dos auxílios conce-didos ao abrigo dos regulamentos de isenção porcategoria.

557. A apresentação de informações pelos Esta-dos-Membros deve ser melhorada. A ComissãoEuropeia desencadeou uma importante iniciativade formação orientada para os Estados-Mem-bros, no intuito de demonstrar a utilidade da in-formação neste contexto, tendo em vista umamaior transparência no sector dos auxílios esta-tais, bem como os requisitos mínimos a respeitarpara assegurar a apresentação de informaçõesadequadas, a fim de permitir à Comissão respeitaras suas obrigações em matéria de controlo.

3. Recuperação de auxílios

558. Em 12 de Março, a Comissão solicitou a re-cuperação de um auxílio no montante de 7,83 mi-lhões de euros junto da Neue Erba Lautex GmbH(NEL), na Alemanha, bem como junto da sua em-presa-mãe, declarada em situação de falência, aErba Lautex GmbH. As duas entidades jurídicasconstituem um grupo que se mantém artificial-mente em actividade devido a este novo auxílio ea outro auxílio não recuperado no montante de61,36 milhões de euros, que havia sido já decla-rado incompatível em Julho de 1999. A Comissãonão podia permitir que uma empresa que não ha-via reembolsado um auxílio declarado incompa-tível há já dois anos e meio instituísse uma filialmeramente como um instrumento para obter no-vos auxílios estatais e distorcer ainda mais a con-corrência. Na sua decisão, a Comissão estabele-ceu, em primeiro lugar, que a NEL não constituíauma nova empresa independente, mas fazia partede um grupo em que se inseria a sua em-presa-mãe, a Erba Lautex GmbH, declarada emsituação de falência. Em segundo lugar, a Comis-são estabeleceu que o auxílio não era compatível

com o mercado comum, uma vez que não preen-chia claramente as condições estabelecidas nasOrientações relativas aos auxílios de emergênciae à reestruturação. Por último, a Comissão fez no-tar que o novo auxílio, juntamente com o auxílionão recuperado e declarado incompatível em Ju-lho de 1999, produzia um efeito negativo cumula-tivo sobre a concorrência, uma vez que a distor-ção da concorrência apenas havia sido agravadadesde essa data.

559. Em 30 de Outubro, a Comissão concluiuuma investigação de três anos e solicitou a recu-peração de um auxílio incompatível no valor de15,7 milhões de euros concedido à Kahla, um fa-bricante de porcelana na Alemanha Oriental (Tu-ríngia) (1). A decisão diz respeito a duas entida-des jurídicas distintas: a Kahla Porzelham GmbH(Kahla I), uma empresa de porcelana privatizadaem 1991 e declarada em situação de falência em1993, após ter sofrido elevados prejuízos, e o seusucessor legal, a Kahla/Thüringem PorzelhamGmbH (Kahla II), criada em 1993 no intuito deadquirir os activos da primeira e prosseguir assuas actividades de produção de porcelana e cerâ-mica. O procedimento formal de investigação foiiniciado em Novembro de 2000 e prorrogado emNovembro de 2001. A investigação englobou, nototal, 33 medidas a favor de Kahla I e Kahla II,num montante total de cerca de 79 milhões de eu-ros. Em relação às dez medidas a favor de KahlaI, a Comissão concluiu que aproximadamente37 milhões de euros não constituíam um auxílioestatal e os outros 19 milhões de euros estavamcobertos por regimes de auxílios autorizados. Os3 milhões de euros remanescentes foram aprecia-dos ao abrigo das Orientações relativas aos auxí-lios de emergência e à reestruturação, mas dadonão estarem preenchidos os critérios estabeleci-dos nessas orientações, o referido montante foideclarado incompatível. A Comissão considerouque as 23 medidas a favor da Kahla II constituíamum auxílio. No que respeita ao montante total emcausa, cerca de 7,3 milhões de euros estavam co-bertos por regimes de auxílios aprovados, tendoos restantes 12,7 milhões de euros sido conside-rados como um auxílio ad hoc. Relatórios elabo-rados aquando da criação da empresa indicamque Kahla II se tinha defrontado com dificuldadesdesde a sua criação até 1996. Deste modo, o auxí-lio atribuído durante esse período foi analisadocom base nas Orientações relativas aos auxílios

¥1∂ C 62/00.

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de emergência e à reestruturação. No entanto, naausência de um plano de reestruturação sólido ede uma contribuição substancial a favor da rees-truturação, este auxílio foi declarado incompatí-vel. O auxílio concedido a partir de 1996 foi apre-ciado a título de auxílio ao investimento regional.Contudo, dado constituir claramente um auxílioao funcionamento não relacionado com qualquerinvestimento inicial, também foi declarado in-compatível. O auxílio incompatível no montantede 15,7 milhões de euros deve ser assim recupe-rado junto da Kahla I e da Kahla II.

Recuperação dos auxílios e aplicação pelo Conselho do n.o 2 do artigo 88.o do Tratado

560. Em 27 de Fevereiro de 2002, a ComissãoEuropeia decidiu introduzir uma acção junto doTribunal de Justiça relativamente a uma decisãodo Conselho (1) de 21 de Janeiro de 2002, tendoem vista a anulação da referida decisão, que auto-rizava Portugal a conceder um auxílio estatalnum montante máximo de 16,3 milhões de eurosaos produtores de suínos. O montante deste auxí-lio era equivalente ao montante a ser restituídopor 2 116 produtores por força de duas decisõesfinais negativas da Comissão de 25 de Novembrode 1999 (2) e 4 de Outubro de 2000 (3).

561. A Comissão considerou que estas medidasdeviam ser consideradas como auxílios incompa-tíveis com os artigos do Tratado em matéria deauxílios estatais (artigos 87.o e 88.o), tendo assimexigido que Portugal tomasse medidas com vistaa recuperar os montantes ilegalmente concedi-dos. Estas decisões não foram impugnadas, vistoque Portugal não interpôs recurso para o Tribunalde Justiça.

562. As autoridades portuguesas lançaram efec-tivamente um processo de recuperação dos auxí-lios incompatíveis, mas mudaram de opinião e,por carta de 23 de Novembro de 2001, solicita-ram formalmente autorização ao Conselho, aoabrigo do procedimento previsto no artigo 88.o

do Tratado, para conceder um auxílio no mon-tante total de 16,3 milhões de euros aos 2 116 be-neficiários visados pelas duas decisões negativasda Comissão.

563. O Conselho de ministros de 21 de Janeirode 2002 adoptou uma decisão favorável em que

autorizava a concessão do auxílio em causa. Estadecisão, baseada formalmente no n.o 2 do artigo88.o do Tratado, é considerada pela Comissãocomo uma aplicação abusiva desta disposição nocaso em apreço. O Conselho adoptou esta decisãodecorridos mais de quinze meses após a adopçãodas decisões pela Comissão. Pela primeira vez, oConselho recorreu a este procedimento excepcio-nal para aprovar um auxílio que visa exclusiva-mente anular os efeitos económicos de duas deci-sões finais da Comissão. Trata-se da segurançajurídica das decisões da União Europeia que é as-sim gravemente comprometida por esta decisãodo Conselho.

564. Para a Comissão, a utilização pelo Conse-lho do procedimento previsto no artigo 88.o doTratado para anular «de facto» e sem limitação notempo os efeitos económicos das duas decisõesfinais supramencionadas:

— comporta um risco inaceitável para a segu-rança jurídica de todos os interessados;

— implica que o Conselho intervém como se-gunda instância, comprometendo assim si-multaneamente o poder decisório da Comis-são e o poder jurisdicional do Tribunal deJustiça;

— suscita uma questão de princípio quanto àautoridade da Comissão para decidir da polí-tica em matéria de auxílios estatais e sobre arepartição das competências entre as institui-ções, conforme consignada no próprio Tra-tado.

A Comissão introduziu assim uma acção peranteo Tribunal de Justiça relativamente a estaquestão (4).

4. Não execução de decisões

565. Mediante acórdão de 3 de Julho de 2001, oTribunal de Justiça declarou verificada a não exe-cução da decisão da Comissão de 4 de Dezembrode 1996 que ordenava a recuperação de auxíliosconcedidos ilegalmente no âmbito do regimebelga MARIBELbis/ter, baseado em reduções dascontribuições para a segurança social para os sec-tores mais expostos à concorrência internacional.

¥1∂ Decisão 2002/114/CE de 21.1.2002, JO L 43 de 14.2.2002, p. 18.¥2∂ JO L 66 de 14.3.2000 p. 20.¥3∂ JO L 29 de 31.1.2001 p.49.

¥4∂ Processo C-110/02, Comissão das Comunidades Europeias/Con-selho da União Europeia.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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566. A Bélgica adoptou efectivamente em 24 deDezembro de 1999 uma lei de recuperação «Ma-ribel quarter». No entanto, a Comissão conside-rou que esta lei não permitia a recuperação inte-gral dos auxílios em causa. Com efeito, a leiconferia às empresas que reembolsavam o auxílioa possibilidade de deduzir novamente da sua ma-téria colectável o montante reembolsável, o quese traduzia na concessão indevida de um novo au-xílio a favor das mesmas. Além disso, a aplicaçãopelas autoridades belgas da regra de minimis afi-gura-se abusiva para a Comissão, nomeadamentepor permitir às empresas de sectores excluídos(transportes, agricultura, carvão, aço) beneficiardessa regra.

567. Como o acórdão do Tribunal de Justiça nãofoi executado correctamente, a Comissão trans-mitiu em 20 de Março de 2002 uma notificaçãopara cumprir às autoridades belgas com base noartigo 228.o do Tratado. Daí resultou a supressãodo duplo desagravamento fiscal. O problema sus-citado pela regra de minimis não pôde, em contra-partida, ser sanado nesta fase do processo.

568. Consequentemente, em 17 de Julho de 2002,a Comissão decidiu transmitir às autoridades bel-gas um parecer fundamentado por não execuçãodo acórdão. Na eventualidade de as suas exigên-cias não serem satisfeitas, a Comissão poderia re-correr ao Tribunal de Justiça a fim de a Bélgicaser condenada a pagar uma sanção pecuniáriacompulsória. Tal constituiria assim o primeiro re-curso deste tipo iniciado no domínio dos auxíliosestatais.

5. Acórdãos do Tribunal de Justiça e do Tribunal de Primeira Instância

569. Em 17 de Outubro, o Tribunal de PrimeiraInstância, refutando o carácter de auxílio estataldas medidas impugnadas, anulou a decisão daComissão Europeia de 18 de Janeiro de 2000 (1)em que esta havia considerado incompatível umauxílio a atribuir à Linde AG. Em 1996/7, o orga-nismo de privatizações do Estado alemão, Treu-handanstalt (THA/BvS), proprietário de uma fá-brica de produção de monóxido de carbono nasinstalações químicas de Leuna, incorreu em pre-juízos significativos devido ao facto de ter aceiteuma obrigação de abastecimento a longo prazo,economicamente desfavorável, a favor da Union

Chimique Belge (UCB). O preço do monóxido decarbono nem sequer cobria os custos de produ-ção. No intuito de reduzir os seus prejuízos, oTHA/BvS subvencionou, no montante de 9 mi-lhões de marcos alemães, a construção de novasinstalações de monóxido de carbono pela Linde.Em contrapartida deste subsídio, a Linde assumiua obrigação de abastecimento contraída peloTHA/BvS perante a UCB.

570. A Comissão considerou que, não obstante ofacto de a subvenção a favor da Linde ser econo-micamente vantajosa para o Estado alemão, talconstituía um auxílio, dado permitir à Linde obternovas instalações de produção sem ter de supor-tar os respectivos custos. O Tribunal de Justiça re-futou esta conclusão, devido às condições demercado específicas do produto em causa e, no-meadamente, ao facto de o produto ter de ser pro-duzido no local de consumo. Nos fundamentosdo acórdão do Tribunal de Justiça é confirmada aimportância do princípio do investidor numa eco-nomia de mercado, muito embora não seja feitaqualquer alusão directa a esse princípio.

571. Apesar de o Tribunal de Justiça considerar,em termos gerais, que o comportamento doTHA/BvS é economicamente racional devido aofacto de permitir ao Estado economizar fundos,acaba por aplicar como principal critério o princí-pio do investidor numa economia de mercado,conforme interpretado pela Comissão. O Tribu-nal de Justiça estabelece que somente a parte (hi-potética) da subvenção susceptível de ser maiselevada que o preço de mercado (equivalente) datransferência da obrigação de abastecimento demonóxido de carbono poderia constituir um auxí-lio estatal. Para o efeito, a Comissão deveria terexaminado se o montante da subvenção reflectiao preço (de mercado) que teria sido acordado en-tre operadores económicos numa situação idên-tica, tal como a Comissão interpreta o acórdão.

572. Tal exigia que a Comissão determinasse umpreço de mercado para a assunção do obrigaçãode abastecimento e comparasse o mesmo com omontante de 9 milhões de marcos alemães pagopelo Estado alemão. A subvenção concedida peloEstado alemão não teria constituído um auxílio seum investidor numa economia de mercado tivessepago um montante idêntico, ou seja, se a Alema-nha tivesse actuado como um «homo economi-cus». Consequentemente, se parte da referidasubvenção excedesse o preço de mercado, essaparte poderia ser considerada um auxílio estatal.

¥1∂ Processo n.o COMP C 18/99, 2000/524/CE, JO L 211 de 22.8.2000,p. 7.

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A Comissão iniciou novamente uma investigaçãoneste âmbito.

573. Em 11 de Julho, o Tribunal de PrimeiraInstância pronunciou-se sobre o recurso de anula-ção da Decisão 1999/484/CE da Comissão, de3 de Fevereiro de 1999 (1), que declarava ilegais eincompatíveis com o mercado comum os auxíliosestatais concedidos pelo Governo espanhol à em-presa Hijos de Andrés Molina SA (HAMSA), re-curso esse apresentado por esta empresa e apoi-ado pela Espanha.

574. A empresa beneficiária (HAMSA) haviasido objecto de várias medidas de apoio finan-ceiro desde 1993, designadamente empréstimos egarantias concedidas pelo organismo públicoIFA, conversão em capital de uma parte das suasdívidas contraídas perante o IFA e remissão de dí-vidas contraídas perante diversas autoridades pú-blicas. Entre os oito fundamentos de anulaçãoapresentados pela requerente, com o apoio do Es-tado espanhol, no que diz respeito à decisão daComissão, o único aceite pelo TPI prende-se como conjunto de auxílios concedidos sob a forma deremissão de dívidas por organismos estatais.

575. No seu acórdão, o TPI reconheceu que aComissão avaliou «a situação global dos credorespúblicos relativamente à dos credores privados,tirando conclusões decisivas de uma simplescomparação entre o montante total dos créditospúblicos e o dos créditos privados e entre apercentagem média de remissão dos credores pú-blicos e a dos credores privados, bem como daconstatação de que os credores públicos, contra-riamente à maior parte dos credores privados, de-tinham privilégios, ou mesmo hipotecas». O TPIconsidera que incumbia à Comissão «determinar,quanto a cada um dos organismos públicos emcausa e tendo nomeadamente em conta os facto-res acima referidos, se a remissão de dívidas quecada um concedeu era manifestamente mais im-portante que a que teria concedido um hipotéticocredor privado que se encontrasse, relativamenteà requerente, numa situação comparável à do or-ganismo público em causa e que procurasse recu-perar as quantias que lhe eram devidas». Foi as-sim a abordagem global adoptada pela Comissãoe pouco adaptada às circunstâncias específicasque conduziu à anulação desta parte da decisão.

576. Ao invés, o Tribunal rejeitou todos os ou-tros argumentos da requerente, nomeadamenteno que se refere à não aplicação do princípio dadisciplina regional a um auxílio sectorial ad hoc eno que respeita ao facto de as trocas comerciaisterem sido consideradas afectadas à luz de dadosglobais, sem uma demonstração analítica con-creta.

577. Foram interpostos dois recursos para o Tri-bunal de Justiça contra as decisões da Comissãon.o 2000/237/CE (2) e 2000/0240/CE (3), de 22 deDezembro de 1999, que declaravam incompatí-veis com o Tratado dois regimes de auxílios exe-cutados pela Espanha (1) a favor das produçõeshortícolas destinadas a transformação industrial,no primeiro caso, e (2) a favor do financiamentode um fundo de maneio, no segundo. Em ambosos processos o Tribunal de Justiça confirmou quea importância relativamente reduzida de um auxí-lio ou a dimensão bastante modesta da empresabeneficiária não exclui, a priori, a possibilidadede vir a ser afectado o comércio entre os Esta-dos-Membros, tendo igualmente confirmado queos auxílios no sector agrícola não são abrangidospela regra de minimis.

578. Quanto à falta de fundamentação no que serefere ao facto de o comércio ser afectado, o Tri-bunal de Justiça confirmou que a Comissão não éobrigada a demonstrar o efeito dos auxílios. Si-multaneamente, sublinhou que as decisões im-pugnadas comportavam dados sobre as trocas co-merciais entre os outros Estados-Membros e aEspanha, apresentando assim o contexto globalem que se inseriam os auxílios, bem como indica-ções quanto ao efeito geral dos auxílios sobre oscustos de produção e sobre a existência de umaorganização comum de mercados.

579. Deste modo, o Tribunal de Justiça confir-mou em ambos os acórdãos o seguinte:

— a utilização dos termos «anormalmente» e«grave» na derrogação prevista no n.o 3,alínea a), do artigo 87.o demonstra que talapenas diz respeito a regiões em que a situa-ção económica é extremamente desfavorávelem relação ao território da Comunidade noseu conjunto, enquanto a derrogação contidana alínea c) deste artigo se caracteriza por umâmbito de aplicação mais alargado, dado per-

¥1∂ JO L 193 de 26.7.1999, p. 1.¥2∂ JO L 75 de 24.3.2000, p. 54.¥3∂ JO L 76 de 25.3.2000, p.16.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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mitir o desenvolvimento de determinadasregiões de um Estado que sejam desfavore-cidas em relação à média nacional. Acres-centa que, em relação aos auxílios aofuncionamento não concebidos sob a formade auxílios regionais ao investimento ou àcriação de emprego e não abrangidos poruma outra prática como, por exemplo, a rela-tiva aos créditos de gestão, a análise sobre oimpacto sectorial sobrepõe-se à análise sobreo impacto regional;

— os auxílios em causa comportariam um in-centivo financeiro no sentido de vender e ad-quirir matérias-primas da região e, destemodo, constituem uma restrição à livre circu-lação de mercadorias, ou seja, mais concreta-mente, uma medida de efeito equivalente auma restrição quantitativa, proibida pelo Tra-tado. Consequentemente, não podiam serdeclaradas compatíveis com o mercado co-mum, dado ser afectada a organização co-mum do mercado relevante.

E — Estatísticas

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

Auxílios notificados Auxílios não notificados Auxílios existentes Denúncias

Gráfico 6 — Evolução do número de casos registados (excepto agricultura, pescas, transportes e indústria hulhífera) entre 1997 e 2002

1997 1998

656

1999

444

2000

569

2001

663

2002

5691

5

294

152

140

515

97

342

98

469

86

473

4946

322

10

613

192

67

349

5

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200

19971998

19992000

20012002

300

400

500

600

700

800

502

460

460475

451444

100

0

Gráfico 7 — Evolução do número de decisões adoptadas pela Comissão (excepto agricultura, pescas, transportes e indústria hulhífera) entre 1997 e 2002

0 100 200 300 400 500

Gráfico 8 — Número de decisões por Estado-Membro em 2002 (excepto agricultura, pescas, transportes e indústria hulhífera)

Reino Unido

FinlândiaPortugal

ÁustriaPaíses Baixos

ItáliaIrlandaFrança

EspanhaGrécia

AlemanhaDinamarca

Bélgica

União Europeia

Luxemburgo

Suécia38

91311

25

6114

4456

14121

821

444

4

5

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IV — SERVIÇOS DE INTERESSE GERAL

1. Princípios gerais

580. A importância que a União Europeia con-fere à manutenção e desenvolvimento a nível eu-ropeu de serviços de interesse geral de elevadaqualidade foi reiterada de diferentes formas nosúltimos anos, em especial pelos sucessivos Con-selhos Europeus, e reflecte-se na grande atençãoque o Parlamento Europeu dá a esta matéria. Opresente capítulo apresenta os principais desen-volvimentos relativos aos serviços de interesseeconómico geral (SIEG) (1) em 2002, na prosse-cução dos esforços especiais iniciados no Relató-rio Anual do ano passado por forma a facilitar oacesso de uma mais vasta camada de público àsinformações relevantes sobre SIEG (2).

581. No seu relatório ao Conselho Europeu deLaeken, a Comissão indicou nomeadamente que«pretende definir, em 2002, em estreita colabora-ção com os Estados-Membros, um enquadramentocomunitário dos auxílios estatais concedidos àsempresas encarregadas de assegurar serviços deinteresse económico geral. Este enquadramentopermitirá informar os Estados-Membros e as em-presas acerca das condições em que a Comissãopoderá autorizar a concessão de auxílios estataisconcedidos a título de compensação pela imposi-ção de obrigações de serviço público. Pode tam-bém contribuir para clarificar as condições de au-torização de regimes de auxílios estatais pelaComissão, simplificando assim a obrigação de no-tificação dos auxílios individuais. Na segunda fase,a Comissão irá avaliar a experiência adquirida coma aplicação deste enquadramento e, caso venha aentender necessário, adoptará um regulamentopara isentar de notificação prévia certos tipos deauxílios no sector dos serviços de interesse econó-mico geral».

582. A Comissão preparou este relatório à luz dajurisprudência do Tribunal de Primeira Instân-cia (3), segundo a qual as compensações relativasao serviço público constituem auxílios estatais naacepção do n.o 1 do artigo 87.o do Tratado CE. To-

davia, o Tribunal de Justiça proferiu entretanto oacórdão Ferring (4), no qual indica que as com-pensações cujo montante não exceda os custos doSIEG não conferem qualquer vantagem às em-presas beneficiárias, pelo que não constituemauxílios estatais na acepção do artigo 87.o do Tra-tado CE. Em contrapartida, eventuais compensa-ções excessivas são susceptíveis de constituir au-xílios estatais.

583. Na sequência do acórdão Ferring, o Advo-gado-Geral Léger apresentou as suas conclusõesno processo Altmark Trans (5), nas quais propõeao Tribunal de Justiça a alteração do seu acórdãoFerring, a fim de regressar à jurisprudência doTPI nos processos FFSA e SIC. Além disso, em30 de Abril de 2002, o Advogado-Geral Jacobsapresentou as suas conclusões no processoGEMO SA (6), em que propõe que seja estabele-cida uma distinção segundo duas categorias decasos, em função da natureza da relação entre ofinanciamento concedido e os encargos decorren-tes da missão de interesse geral imposta e da pre-cisão com que esses encargos são estabelecidos.Os casos em que o vínculo entre, por um lado, ofinanciamento estatal concedido e, por outro, asobrigações de interesse geral claramente defini-das é directo e manifesto seriam incluídos numaabordagem compensatória, como defendido noacórdão Ferring. Em contrapartida, os casos emnão é evidente que o financiamento estatal se des-tina, a título de estrita contrapartida, a obrigaçõesde interesse geral claramente definidas seriam inte-grados no contexto dos auxílios estatais. Afigura-seque, nas suas conclusões de 7 de Novembro de 2002relativas ao processo Enirisorse SpA (7), a Advo-gada-Geral Stix-Hackl segue a abordagem defen-dida pelo Advogado-Geral Jacobs.

584. No seu relatório ao Conselho Europeu deSevilha (8), a Comissão recordou a evolução dajurisprudência e salientou que, em razão das in-certezas a nível da qualificação jurídica das com-pensações de serviço público, não é possível ela-borar um texto final sobre esta matéria, tal comoprevisto no relatório ao Conselho Europeu de La-eken. Um texto elaborado à luz da jurisprudênciaactual não proporcionaria a segurança jurídica

¥1∂ Em conformidade com as definições estabelecidas em váriascomunicações da Comissão, os serviços de interesse geral (SIG)incluem os serviços de interesse geral de natureza económica enão económica, enquanto os serviços de interesse económicogeral (SIEG) se circunscrevem aos serviços de interesse geral denatureza económica.

¥2∂ Para um breve resumo dos princípios gerais aplicáveis nestesdomínios, ver secção IV.1, pontos 487-489, do Relatório sobre aPolítica de Concorrência de 2001.

¥3∂ Em especial, acórdão FFSA, de 27 de Fevereiro de 1997, pro-cesso T-106/95, e acórdão SIC de 10 de Maio de 2000, processoT-46/97.

¥4∂ Acórdão de 22 de Novembro de 2001, processo C-53/00.¥5∂ Conclusões de 19 de Março de 2002, processo C-280/00.¥6∂ Processo C-126/01.¥7∂ Processos apensos C-34/01 a C-38/01.¥8∂ Relatório relativo à situação dos trabalhos referentes às orienta-

ções em matéria de auxílios estatais no domínio dos serviços deinteresse económico geral, COM(2002) 0280 final.

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que os Estados-Membros e as empresas encarre-gadas de SIEG pretendem.

585. Com efeito, se o Tribunal de Justiça consi-derar, em acórdãos futuros, que as compensaçõesde serviço público constituem auxílios estatais, aabordagem avançada pela Comissão no seu rela-tório ao Conselho Europeu de Laeken poderá serprosseguida. Pelo contrário, se o Tribunal deJustiça confirmar a jurisprudência Ferring, ascompensações cujo montante não exceda o estri-tamente necessário para o funcionamento dosSIEG não constituem auxílios estatais, pelo quenão necessitam da notificação prévia estabelecidano n.o 3 do artigo 88.o do Tratado.

586. No que respeita ao fundo, convém salientarque, de qualquer modo, o debate jurídico sobre aqualificação da compensação de serviço públiconão prejudica o bom funcionamento dos SIEG.Admitindo que a jurisprudência Ferring é confir-mada, os Estados-Membros podem atribuir com-pensações que, correctamente calculadas, nãoconstituem auxílios. Caso a jurisprudência Fer-ring não seja confirmada, a compensação consti-tui um auxílio estatal, mas se não for excessiva, écompatível com o Tratado em aplicação do n.o 2do artigo 86.o Qualquer que seja o caso, as empre-sas responsáveis por SIEG estão, por conse-guinte, seguras de que disporão dos recursos ne-cessários para o seu funcionamento.

587. No seu relatório ao Conselho Europeu de Co-penhaga (1), a Comissão recordou estes princípios eanunciou a preparação de um documento que de-verá abordar, em especial, as seguintes questões:

— O conceito de SIEG e a liberdade dos Esta-dos-Membros para definirem os respectivosSIEG.

— O âmbito de aplicação das disposições em ma-téria de auxílios estatais, em especial no que serefere aos conceitos de actividade económicae de afectação das trocas comerciais.

— As relações entre os Estados e as empresasresponsáveis por SIEG, em especial a neces-sidade de dispor de uma definição precisa dasobrigações que incumbem às empresas eeventuais compensações por parte do Estado.

— As modalidades de selecção das empresasresponsáveis por SIEG.

— O financiamento do serviço público. Inde-pendentemente da qualificação da compen-sação, convém que o seu montante sejacorrectamente calculado, no intuito de evitarcompensações excessivas que constituamauxílios estatais incompatíveis.

588. Após um primeiro debate com os peritosdos Estados-Membros, em Dezembro de 2002,baseado num documento de trabalho dos servi-ços, a Comissão propõe-se prosseguir os seus tra-balhos em 2003 e preparar um documento à luzda jurisprudência do Tribunal de Justiça.

2. Evolução recente

2.1. Projecto de livro verde sobre uma directiva-quadro relativa aos SIG

589. No seu relatório ao Conselho Europeu deLaeken (2001), a Comissão prometeu examinar asugestão de consolidar e de especificar numa di-rectiva-quadro os princípios do serviço de inte-resse geral subjacentes ao artigo 16.o do TratadoCE. Em resposta a um pedido do Conselho Euro-peu de Barcelona realizado no corrente ano, a Co-missão prestou informações sobre a situação dosseus trabalhos no final de 2002. Explicou que co-meçaria por elaborar um documento de consultasob a forma de livro verde referente a uma even-tual directiva-quadro, empenhando-se assim numexercício que tome em consideração todas as po-líticas da UE em matéria de SIG e procedendo auma revisão das mesmas numa preocupação decoerência e consistência. O livro verde, cujaadopção está prevista para o primeiro trimestrede 2003, permitirá à Comissão lançar um debatea nível europeu sobre uma vasta gama de assun-tos relacionados com os SIG e retirar conclusõesoperacionais com base nos resultados deste de-bate e na sua própria análise.

2.2. Casos de auxílios estatais que a Comissão apreciou

Crédit Mutuel

590. Em 15 de Janeiro de 2002, a Comissão de-cidiu que o Crédit Mutuel tinha recebido do Es-tado francês uma compensação excessiva pelagestão do mecanismo do «Livret Bleu» (2). A Co-

¥1∂ COM(2002) 636/3. ¥2∂ C 88/97.

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IV — SERVIÇOS DE INTERESSE GERAL

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missão não criticava nem comprometia, de modoalgum, a conta poupança do «Livret Bleu», umproduto financeiro concebido pelo Estado fran-cês, reconhecendo mesmo na sua decisão queeste mecanismo proporcionava um benefício paraos consumidores, na medida em que colocava àdisposição de um vasto público um produto depoupança isento de impostos.

591. Uma missão de serviço público tem simul-taneamente obrigações e compensações que po-dem ser traduzidas em custos e receitas. Emboraa prossecução de uma missão de serviço públicopossa em si mesmo conferir vantagens a umaempresa, considera-se que tal não viola as dispo-sições em matéria de auxílios estatais se as com-pensações forem comparáveis aos custos adicio-nais decorrentes desta missão.

592. A título de despesas, a Comissão teve emconta a parte dos custos de funcionamento de bal-cões para distribuição do «Livret Bleu», o paga-mento de juros isentos de impostos a titularesdessa conta, bem como as despesas gerais relaci-onadas com a gestão deste mecanismo, como atransferência de fundos para a Caisse des Depôtset Consignations (CDC) ou para projectos de in-vestimento seleccionados. A título de receitas, aComissão teve em conta e considerou como re-cursos estatais a comissão paga pela empresa pú-blica CDC, por instrução do Estado, de 1,3% dosfundos nela depositados e o reembolso da vanta-gem fiscal. Dado que o Crédit Mutuel também foiresponsável pela gestão de parte dos fundos dopróprio «Livret Bleu», quer investindo os mes-mos segundo instruções do Estado, quer tomandoas suas próprias decisões de investimento, asmargens líquidas decorrentes destas operaçõesintegravam também o mecanismo do «LivretBleu». Dado que, durante muito tempo, o ráciocustos/receitas foi favorável para o Crédit Mu-tuel, a Comissão concluiu que o mesmo tinha re-cebido uma compensação excessiva por este ser-viço. O Crédit Mutuel foi obrigado a reembolsarestas receitas adicionais e as autoridades france-sas tiveram de alterar e controlar o sistema decompensação em conformidade com as disposi-ções do Tratado.

593. A decisão da Comissão encerrou um proce-dimento moroso e complexo, que reiterou o seuapoio à prestação, pelo Estado-Membro, de servi-ços considerados de interesse público e o seu pa-pel, que visa assegurar que os intermediáriosneste processo não retirem vantagens financeirasou comerciais injustificadas suportadas pelos

contribuintes e por outros concorrentes nomercado.

Ente Poste Italiane

594. Em 1997, a Comissão recebeu uma denún-cia alegando que a Itália adoptou, no âmbito datransformação da Amministrazione Poste e Tele-grafi em Ente Poste Italiane (EPI) (1), váriasmedidas de concessão de auxílios estatais sem asnotificar à Comissão. Em Julho de 1998, a Co-missão deu início a um procedimento formal deinvestigação, identificando também como even-tual auxílio estatal diversas outras medidas quenão tinham sido referidas pelo autor da denúncia,tendo alargado o âmbito do procedimento em1998. Posteriormente, a EPI foi transformada emPoste Italiane Spa.

595. No âmbito da sua apreciação, o primeiropasso da Comissão foi calcular o montante de au-xílio financeiro concedido através destas medidasà EPI entre 1994 e 1999. Neste período, o auxíliofinanceiro prestado pelo Estado à Poste Italianeascendeu a 17,960 biliões de liras (quase 9 milmilhões de euros). Seguidamente, comparou omontante do apoio com os custos adicionais su-portados pela EPI decorrentes do exercício deserviço público que o Estado lhe confiara. Efecti-vamente, para apreciar a compatibilidade com oTratado de medidas financeiras que favorecemuma empresa investida de uma missão de inte-resse geral, é importante verificar se essas medi-das proporcionam um apoio financeiro superioraos custos adicionais suportados por essa em-presa no cumprimento da missão de interesse ge-ral. Como o Tribunal de Justiça tem defendidosistematicamente, os Estados-Membros podemassegurar-se de que as empresas investidas deuma missão de interesse geral realizam essa mis-são numa situação de equilíbrio económico. As-sim, se o apoio prestado não ultrapassar os custosadicionais, as medidas não colocam problemasna perspectiva das disposições em matéria de au-xílios estatais.

596. Para calcular o custo adicional a Comissãotomou em consideração as contas separadas cer-tificadas da EPI. Efectivamente, antes da entradaem vigor da Directiva Serviços Postais, a EPI ti-nha já estabelecido um plano contabilístico sepa-rado que respeita a letra e o espírito da Directivae permite um cálculo do custo adicional de cada

¥1∂ C 47/98.

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serviço que a EPI tem de prestar no âmbito daobrigação de serviço geral.

597. A Comissão concluiu que entre 1994 e1999 o custo adicional da missão de serviço geralconfiada à EPI ascendeu a cerca de 3 biliões deliras (1 500 milhões de euros) por ano. Este ele-vado custo pode ser explicado por uma série defactores, em especial o encargo muito pesado de-corrente da tarifa preferencial para a imprensa epublicações não lucrativas. O custo adicional lí-quido suportado pela Poste Italiane no âmbito documprimento das diversas obrigações de serviçogeral de que foi investida ultrapassou os 18 bili-ões de liras.

598. A comparação entre a importância do custoadicional da missão de serviço geral e o montantedo apoio concedido à EPI revelou que esta nãobeneficiou de uma compensação excessiva relati-vamente à missão de serviço geral. Na medida emque o auxílio financeiro concedido à EPI até 1999através das medidas apreciadas na investigaçãoda Comissão não é superior ao custo adicionallíquido da missão de serviço geral confiada àempresa, a Comissão decidiu encerrar a sua in-vestigação de auxílio estatal com uma decisãopositiva.

599. Baseando-se em comparações análogas en-tre os custos adicionais decorrentes da prestaçãode serviços de interesse económico geral e os pa-gamentos conexos do Governo, a Comissão deci-diu não levantar objecções relativamente a quatronotificações no sector dos serviços postais apre-sentadas pelas autoridades britânicas, suecas e ir-landesas. Em todos estes casos, os respectivosgovernos pretendem que a rede mantenha uma di-mensão económica importante por forma a asse-gurar, em todo o país, o acesso a serviços da ad-ministração pública e a serviços de pagamento.

600. Na Suécia, o Governo efectua um paga-mento para compensar a rede de serviços postaispelo custo líquido associado às instalações parapagamentos básicos e manutenção de contas cor-rentes, tanto através de balcões não rendíveis, osquais são definidos como sendo os situados emlocais onde não existem bancos, como através doserviço de carteiros em meios rurais, que serve700 000 particulares e 5 000 empresas em áreasremotas. Na Irlanda, a injecção de capital de12,7 milhões de euros destinada a reestruturar arede e assegurar a sua viabilidade é claramenteinferior ao custo adicional líquido decorrente daprestação de serviços públicos na parte não rendí-

vel da rede que o próprio Governo se comprome-teu a manter aberta. Analogamente, os pagamen-tos compensatórios do Governo do Reino Unidono âmbito da proposta de «reinvenção de umarede urbana de serviços postais» visa garantir acontinuidade da prestação de serviço público. Fi-nalmente, na proposta britânica de «serviço ban-cário universal», destinada a permitir a migraçãoobrigatória dos benefícios da segurança socialpara transferências automáticas de crédito emcontas bancárias e a facilitar o acesso a contascorrentes por parte dos cidadãos que não têmacesso a serviços bancários, os pagamentos com-pensatórios do Governo à rede de serviços postaispelas operações efectuadas não excedem as des-pesas líquidas do serviço público em causa.

601. Visto que os mecanismos existentes se des-tinam a impedir compensações excessivas e, naeventualidade de estas se verificarem, a assegurarque as mesmassejam recuperadas num prazo ra-zoável, a Comissão decidiu não levantar objec-ções às notificações acima referidas.

Empresas italianas de serviços públicos

602. Neste processo (1), a Comissão teve de apre-ciar certas vantagens concedidas a empresasestabelecidas nos termos da legislação italiana re-ferente à eventual criação de empresas com parti-cipação pública maioritária ou mesmo minoritária.Estas empresas poderiam assumir a prestação deserviços como transportes, água, gás, electrici-dade, eliminação de resíduos e produtos farmacêu-ticos, tradicionalmente prestados pelos municí-pios. A reforma permitiu uma maior participaçãodo capital privado no sector e a gestão de tais acti-vidades de forma mais empreendedora.

603. Estas empresas beneficiam de uma isençãode três anos do imposto sobre as sociedades e deuma isenção fiscal relativa à transferência de arti-gos, bem como da possibilidade de contrair em-préstimos junto da «Cassa Depositi e Prestiti»,um organismo administrativo italiano. A Comis-são considerou que a facilidade de empréstimo ea isenção do imposto sobre os rendimentos cons-tituíam auxílios estatais, dando às empresas emcausa acesso privilegiado tanto a capitais priva-dos como a empréstimos.

604. A Comissão rejeitou o argumento apresen-tado pelas autoridades italianas segundo o qual

¥1∂ C 27/99.

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IV — SERVIÇOS DE INTERESSE GERAL

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estas vantagens deviam ser consideradas umacompensação pelos serviços públicos. Indepen-dentemente de o acórdão do TPI no processo Fer-ring ser ou não mantido pelo TJCE, para apreciareste caso foram aplicados os princípios da neutra-lidade, do mandato e da definição, bem como daproporcionalidade. A Comissão entendeu que ne-nhum destes princípios tinha sido respeitado nocaso em apreço. O auxílio não estava associado aqualquer obrigação de missão de serviço geral e alegislação italiana que autoriza os municípios acriar essas empresas não permite inferir qualquerobrigação de serviço geral A legislação não defi-niu claramente a missão de serviço público nemconfiou explicitamente tais tarefas à nova catego-ria de empresas. Por outro lado, não foi possívelavaliar a proporcionalidade das vantagens, talcomo não pôde ser quantificado o montante dosrecursos públicos concedidos a estas empresas.

605. Apreciadas com base na Comunicação daComissão Europeia de 2001 (1), as vantagens emcausa devem ser consideradas auxílio estatal naacepção do artigo 86.o do Tratado.

Organismos públicos de radiodifusão

606. Em 2002 a Comissão adoptou duas deci-sões de aprovação do financiamento estatal deserviços públicos de radiodifusão após notifica-ção pelos Estados-Membros.

607. Em 13 de Fevereiro de 2002, a Comissãoaprovou um apoio financeiro a estações locais detelevisão na comunidade francófona na Bélgica(N 548/01) (2). Este apoio financeiro devia emprincípio compensar as estações locais de televi-são pelas suas obrigações de serviço público. AComissão concluiu que a obrigação de serviçopúblico não continha qualquer erro evidente eque tinha sido oficialmente confiada a essas esta-ções. No que se refere à proporcionalidade, a Co-missão entendeu que existiam disposições legaisque asseguravam a utilização correcta do auxílio,exclusivamente destinado às obrigações de ser-viço público, assim como mecanismos de con-trolo destinados a impedir subvenções cruzadas afavor de actividades de serviço não público. Porconseguinte, a Comissão não levantou objecçõesao auxílio.

608. Em 22 de Maio de 2002, a Comissão apro-vou o financiamento estatal do Reino Unido prove-niente da taxa cobrada pela BBC para o funciona-mento de nove novos canais digitais (N 631/2001).A Comissão concluiu que os novos canais digi-tais fazem parte da obrigação de serviço públicoda BBC, que não existia qualquer erro manifestoe que essa obrigação foi oficialmente confiada àBBC. Além disso, a Comissão entendeu que acompensação do Estado era proporcional aoscustos líquidos dos novos canais. Por isso, a Co-missão concluiu que a medida não constituía umauxílio estatal, na acepção do n.o 1 do artigo 87.o

do Tratado CE.

Acordo relativo a instituições de crédito especializadas

609. Em 1 de Março de 2002, o comissárioMario Monti e o Secretário de Estado CaioKoch-Weser chegaram a acordo quanto às insti-tuições de crédito especializadas no quadro doexercício global sobre a concessão de garantiasestatais aos bancos públicos alemães. Tais insti-tuições podem continuar a beneficiar destas ga-rantias na medida em que estiverem incumbidasde actividades de promoção, em conformidadecom as disposições comunitárias em matéria deauxílios estatais. A prossecução de actividades depromoção reger-se-á pelo respeito da proibiçãode discriminação, em conformidade com o DireitoComunitário. Outra missão pública que tambémserá futuramente autorizada com o apoio de ga-rantias estatais é a participação no financiamentode projectos no interesse da Comunidade, co-fi-nanciados pelo Banco Europeu de Investimento.Além disso, as instituições de crédito especializa-das podem exercer actividades de carácter pu-ramente social, financiamento do Estado e dosmunicípios, bem como financiamento das exporta-ções fora da UE, do EEE e dos países candidatos,o que está de acordo com as disposições da OMC ede outras obrigações internacionais vinculativaspara a Comunidade. O acordo não prejudica aapreciação destas actividades à luz da legislaçãocomunitária em matéria de auxílios estatais.

610. O acordo de 1 de Março de 2002 estabeleceque as autoridades alemãs terão de especificarclaramente as missões públicas na respectiva le-gislação até ao final de Março de 2004. As acti-vidades comerciais deverão cessar ou ser disso-ciadas das garantias estatais mediante cisão,passando para empresas legalmente independen-tes sem o apoio do Estado. Estes aspectos devemser implementados até ao final de 2007.

¥1∂ JO C 17 de 17.1.2001, p. 4-23.¥2∂ JO C 150 de 22.6.2002, p. 7.

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611. O acordo aborda a relação entre as activida-des comerciais dos bancos e as actividades de in-teresse público do ponto de vista dos auxílios es-tatais. Está-se em presença de um novo campo deanálise. Se as actividades de uma empresa incluí-rem simultaneamente actividades comerciais eactividades de interesse público, é essencial que oauxílio às actividades de interesse público nãobeneficie a área comercial. A Comissão teve queexaminar esta situação em especial relativamenteà Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW). Con-

cluiu que o auxílio poderia produzir tal efeito eque era necessária uma separação efectiva dosdois domínios de actividade. A Comissão con-cluiu que se a KfW pretendesse manter o auxíliosob a forma de garantias estatais teria de alienaras actividades comerciais a favor de uma pessoacolectiva distinta sem qualquer apoio do Estado.Esta solução constitui uma referência, à luz daqual a Comissão examinará no futuro regimes deauxílios análogos a favor de instituições comerci-ais investidas de missões de serviço público.

Caixa 4: Deutsche Post

Em 19 de Junho de 2002, a Comissão encerrou o processo relativo a diversas formas de auxílios estatais afavor da Deutsche Post, concluindo que a empresa do sector postal alemão utilizou 572 milhões de eurosdos recursos estatais que recebeu para financiar as suas missões de serviço público no financiamento deserviços de entrega porta-a-porta de encomendas a preços inferiores ao preço de custo entre 1994 e 1998.Segundo a Comissão, as empresas históricas do sector postal que recebem financiamento público para aprestação de serviços de interesse geral não podem utilizar esses recursos para subvencionar actividadesabertas à concorrência, propondo preços inferiores aos preços de custo.

Em 1994, a United Parcel Service (UPS), um operador privado especializado em serviços de entregaporta-a-porta destinados a empresas, tinha apresentado uma denúncia acusando a Deutsche Post AG(DPAG) de vender os seus próprios serviços de entrega de encomendas a um preço inferior ao preço decusto. Em 1997, a associação alemã de empresas privadas do sector de entregas de encomendas, BIEK,aderiu a esta denúncia, declarando que sem o apoio estatal a DPAG não teria podido sobreviver nestesector comercial.

Contrariamente ao serviço geral de correspondência, a entrega de encomendas na Alemanha está aberta àconcorrência. A partir dos anos 70, as empresas privadas entraram neste mercado, especializando-se noschamados serviços «porta-a-porta» destinados a empresas. Desde então surgiram vários operadoresprivados, criando novas oportunidades de trabalho e, pela primeira vez, as empresas e consumidorespassaram a dispor de maiores possibilidade de escolha de prestadores do serviço, do que resultaramserviços de maior qualidade e concorrência de preços. Nos anos 90, o mercado assistiu ao aparecimentode serviços de entrega mais rápidos e mais seguros, exemplificados pelos serviços porta-a-porta 24 horaspor dia, prestados por inúmeros operadores privados. Para além da Deutsche Post e da UPS existemmuitos outros prestadores destes serviços, como a Deutscher Paket Dienst, a German Parcel ou a HermesVersand Service.

Para a Deutsche Post, este novo ambiente concorrencial criou novos desafios. Inicialmente limitado porum controlo regulamentar alemão sobre os preços praticados, em 1994 a Deutsche Post passou a poderoferecer descontos aos seus clientes nos serviços de entrega de encomendas porta-a-porta.

Estes serviços de entrega porta-a-porta são prestados a empresas que expedem encomendas volumosas eque, por conseguinte, preferem que as mesmas sejam recolhidas directamente pela DPAG nas suas insta-lações, em vez de as transportar ao balcão dos correios local. A DPAG apenas oferece preços especiaisaos clientes que não utilizam o balcão dos correios. Os utentes do serviço «de balcão» tradicional pagama tarifa uniforme geralmente aplicável.

Entre 1994 e 1998, a DPAG praticou uma política agressiva de descontos relativamente aos serviçoscomerciais de entrega porta-a-porta. Durante este período, algumas empresas clientes pagaram sensivel-mente menos do que a tarifa uniforme oferecida aos restantes utentes. Esta política originou um prejuízototal de 572 milhões de euros no sector da entrega de encomendas entre 1994 e 1998, que foi coberto pelofinanciamento que a DPAG recebeu do Estado a título de compensação pela sua missão de serviçopúblico. Esta situação foi corrigida em 1999, quando as receitas passaram a cobrir os custos das activi-dades da entrega de encomendas porta-a-porta.

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IV — SERVIÇOS DE INTERESSE GERAL

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3. Antitrust (incluindo a liberalização dos mercados)

612. Em 2002, vários acórdãos do Tribunal deJustiça clarificaram o alcance de serviços aosquais as regras da concorrência não se aplicam ecomo podem ser prestados SGEI de uma formacompatível com estas disposições.

613. O Tribunal de Justiça das Comunidades Eu-ropeias (TJCE) tinha classificado anteriormentecomo actividade não económica a gestão dos sis-temas obrigatórios (ou seja, imposto pelo Estado)de segurança social baseados essencialmente noprincípio de solidariedade (1). As organizaçõesresponsáveis pela gestão destes sistemas obriga-tórios de segurança social não são empresas naacepção do Direito Comunitário da Concorrên-cia. Esta abordagem foi confirmada pelo TJCE noseu acórdão INAIL (2), em que declarou que umorganismo investido por lei da gestão de um sis-tema obrigatório de seguro contra acidentes notrabalho e doenças profissionais não exercia umaactividade económica. O TJCE baseou estas con-clusões em dois aspectos:

— o regime de seguro baseava-se essencial-mente no princípio da solidariedade, dadoque o índice de contribuições não era siste-maticamente proporcional ao risco seguradoe o montante dos benefícios não era necessa-riamente proporcional aos rendimentos daspessoas seguradas. A ausência de qualquerrelação directa entre as contribuições pagas e

os benefícios concedidos implicava portantoa solidariedade entre trabalhadores mais bempagos e trabalhadores que, em razão dos seusbaixos salários, ficariam privados de cober-tura social adequada caso não existisse essevínculo. O TJCE também sublinhou que ainscrição obrigatória nesse regime de seguroera essencial para o seu equilíbrio financeiroe para a aplicação do princípio da solidarie-dade;

— o montante dos benefícios e contribuiçõesestavam sujeitos a controlo estatal, sendo, emúltima análise, por ele fixados.

614. No seu acórdão Aeroportos de Paris (ADP) (3),o TJCE confirmou plenamente um acórdão (4) doTribunal de Primeira Instância (TPI) que, por seuturno, confirmara uma decisão da Comissão nostermos do artigo 82.o do Tratado CE referente aum abuso de posição dominante pela ADP en-quanto entidade de gestão dos aeroportos de Pa-ris. Uma questão-chave neste caso era a de saberse, e até que ponto, a ADP devia ser consideradaempresa na acepção das regras comunitárias daconcorrência. Neste contexto, o TPI e o TJCE su-blinharam a abordagem funcional centrada na ac-tividade em causa para apreciar este assunto. Porconseguinte, o TPI deixou claro que a mesma en-tidade pode ter uma função dupla. Pode, por umlado, dedicar-se ao exercício de poder público,uma actividade da natureza não económica, e, poroutro, a actividades económicas relativamente àsquais será considerada empresa se essas activida-des puderem ser isoladas do exercício de poder

Na sequência de um processo nos termos do artigo 82.o do Tratado CE (abuso de posição dominante),também iniciado por denúncia da UPS, a Deutsche Post decidiu no ano passado criar uma empresadistinta para evitar que esta situação de subvenções cruzadas se volte a verificar.

A Comissão observou que o comportamento da Deutsche Post não pode ser explicado pelos obstáculosregulamentares ou pelas obrigações de serviço público. A missão de serviço público não obrigava aDPAG a favorecer os clientes do serviço porta-a-porta praticando preços substancialmente inferiores àtarifa geral. Por conseguinte, não há qualquer relação entre as perdas decorrentes da política de descontose o serviço público confiado à DPAG.

Embora não tenham sido causados pela missão de serviço público, os prejuízos de 572 milhões de eurosforam financiados por recursos estatais, o que era ilegal. Verificou-se assim uma distorção da concor-rência no mercado da entrega de encomendas, em detrimento dos operadores privados. Para ultrapassaresta situação, as autoridades alemãs têm de recuperar o montante do apoio estatal utilizado para eliminardo mercado os concorrentes deste sector.

¥1∂ Os benefícios pagos desempenham uma função exclusivamentesocial quando exigidos por lei e não são proporcionais ao mon-tante das contribuições obrigatórias.

¥2∂ Acórdão de 22.1.2002 no processo C-218/00.¥3∂ Acórdão de 24.10.2002 no processo C-82/01 P.¥4∂ Acórdão de 12.12.2002 no processo T-128/98 Aeroportos de Paris.

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público. No caso em apreciação, o facto de a ADPser uma empresa pública sob a autoridade do mi-nistro responsável pela aviação civil e de geririnstalações propriedade do Estado não signifi-cava, por si só, que a ADP não pudesse, no que serefere a algumas das suas actividades, ser consi-derada empresa na acepção do artigo 82.o O TPIconfirmou a ligação entre as actividades pura-mente administrativas e de supervisão da ADP(em especial a supervisão do controlo de tráfegoaéreo, embarque e desembarque de passageiros),que constituiriam exercício do poder público, e osserviços da ADP enquanto gestora dos aeroportosde Paris, prestados a outros operadores nos aero-portos (linhas aéreas, serviço de assistência emterra, etc.) e que eram remunerados segundo tari-fas comerciais em função do volume de negócios.O TPI e o TJCE confirmaram a posição da Co-missão segundo a qual a prestação destes últimosserviços constitui uma actividade económica.

615. No seu acórdão UPS (1), o Tribunal de Pri-meira Instância (TPI) confirmou uma decisão daComissão que rejeitara uma denúncia nos termosdo artigo 82.o do Tratado CE apresentada pelaUPS contra a Deutsche Post. A UPS alegou que aDeutsche Post tinha abusado da sua posição do-minante no mercado de correio tradicional, noqual beneficiava de um direito exclusivo, utili-zando os lucros obtidos neste mercado reservadopara financiar a aquisição de uma empresa queoperava no mercado da entrega de encomendas,mercado este aberto à concorrência. A UPS argu-mentava que o direito exclusivo foi concedido àDeutsche Post unicamente para garantir o exercí-cio de um serviço de interesse económico geral,ou seja, o serviço universal de distribuição de cor-reio, preservando o equilíbrio económico desteserviço. A Deutsche Post, por conseguinte, infrin-giria o artigo 82.o utilizando as receitas decorren-tes da exclusividade para outros fins, como aaquisição de empresas activas em mercados vizi-nhos liberalizados.

616. No seu acórdão, o TPI assinalou em pri-meiro lugar que o simples facto de ser concedidoum direito exclusivo a uma empresa para garantirque a mesma presta um serviço de interesse eco-nómico geral não impede a mesma de obter lu-cros nas actividades que lhe são reservadas nemde expandir a sua actividade para áreas não reser-vadas. Em segundo lugar, o TPI indicou que a

aquisição de uma empresa activa num mercadovizinho liberalizado podia suscitar problemas àluz das regras comunitárias da concorrênciaquando os recursos utilizados pela empresa emposição de monopólio resultassem de preços ex-cessivos ou discriminatórios ou de outras práticasdesleais no seu mercado reservado. Nesta situa-ção, em que existiam motivos para suspeitar deuma infracção ao artigo 82.o do Tratado CE, eranecessário examinar a origem dos recursos utili-zados para a aquisição em causa, com vista a de-terminar se essa aquisição decorria de um abusode posição dominante. No entanto, relativamenteao caso em apreço, o TPI concluiu por fim que osimples facto de a Deutsche Post possuir fundossuficientes para a aquisição em causa não impli-cava necessariamente uma conduta abusiva nomercado reservado. Na ausência de provas de queos recursos utilizados pela Deutsche Post para aaquisição em causa eram o resultado de práticasabusivas na sua parte reservada do mercado doscorreios tradicionais, o simples facto de essesfundos serem utilizados para adquirir o controloconjunto de uma empresa activa num mercado vi-zinho aberto à concorrência não suscitava, em simesmo, ainda que a fonte desses recursos fosse omercado reservado, qualquer problema do pontode vista das regras de concorrência, pelo que nãopoderia constituir uma infracção ao artigo 82.o doTratado CE nem dar lugar a uma obrigação para aComissão de estudar a fonte desses fundos à luzdo mesmo artigo.

4. Liberalização através de medidas legislativas

617. Em conformidade com as conclusões doConselho Europeu de Lisboa de Março de 2000,a Comissão continuou em 2002 a promover aabertura dos mercados e a concorrência, apresen-tando e acompanhando propostas legislativas econtrolando a aplicação da legislação vigente daUE. Como em anos anteriores, esta actividade in-cluiu as áreas em que existem serviços de inte-resse económico geral, tendo em conta o princí-pio de proporcionalidade e as especificidades decada sector.

Transportes

618. No sector dos transportes prosseguiram asdiscussões relativas à proposta alterada da Co-missão relativa a um regulamento que introduzuma concorrência controlada no sector dos trans-

¥1∂ Acórdão de 20.3.2002 no processo T-175/99 United Parcel Ser-vices Europe SA.

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IV — SERVIÇOS DE INTERESSE GERAL

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portes rodoviários, via férrea e via navegável (1).É provável que num futuro próximo grande partedos transportes públicos na UE necessite de apoiofinanceiro público, existindo uma longa tradiçãode intervenção das autoridades públicas desti-nada a assegurar um nível de serviços superiore/ou preços mais baixos do que os determinadospelo mercado. Tradicionalmente, esta interven-ção passa pela criação de um operador público,propriedade e/ou controlado por essa autoridadee ao qual são concedidos direitos exclusivos demonopólio e uma compensação financeira pelasobrigações de serviço público.

619. O facto de tais serviços serem SIEG (2) nãoimpediu diversos Estados-Membros de legisla-rem a nível nacional para introduzir alguma con-corrência nos respectivos mercados de transpor-tes públicos nacionais. Existe actualmente cercade uma dúzia de operadores europeus que pres-tam serviços deste tipo. No entanto, partes subs-tanciais do mercado permanecem fechadas aqualquer forma de concorrência.

620. Em razão das características específicas dostransportes públicos, a liberalização do mercadoassumiu frequentemente a forma de «concorrên-cia controlada» (concursos sujeitos a concorrên-cia para a concessão de direitos exclusivos e/oude subvenções durante um período determinado),sendo precisamente este o modelo proposto pelaComissão.

Serviços postais

621. Em 10 de Junho, o Conselho e o ParlamentoEuropeu, na sequência de uma proposta da Co-missão, adoptaram a nova directiva relativa aosserviços postais (Directiva 2002/39/CE) (3), quealterou a Directiva 97/67/CE. A nova Directivarelativa aos serviços postais abre claramente a viapara a realização do mercado interno dos serviçospostais, através de uma liberalização gradual econtrolada destes serviços, conjugada com aprestação contínua de um serviço universal deelevada qualidade. Este objectivo será obtidoatravés de uma redução progressiva da área reser-

vada. A necessidade de conjugar a realização domercado interno dos serviços postais com a ma-nutenção de um serviço universal de alta quali-dade é reiterada por outros elementos da nova Di-rectiva relativa aos serviços postais. Antes demais, o envio de correio transfronteiras foi abertoà concorrência, excepto nos Estados-Membrosonde as receitas dele decorrentes são considera-das necessárias para assegurar a prestação do ser-viço universal. Em segundo lugar, a subvençãocruzada de serviços universais alheios à área re-servada com receitas de serviços da área reser-vada é proibida, a menos que tal seja estritamentenecessário para realizar as obrigações específicasdo serviço universal impostas na área sujeita aconcorrência. A nova directiva estabelece aindaque sempre que os prestadores de serviços uni-versais pratiquem tarifas especiais, devem fazê-lode forma transparente e não discriminatória.

Telecomunicações

622. Em 14 de Fevereiro, o Conselho adoptouum novo quadro para a regulação ex ante das re-des e serviços de comunicações electrónicas, queentrou em vigor em 24 de Abril. Este novo pacotelegislativo, composto por quatro directivas, alteraprofundamente o quadro regulamentar aplicávelàs telecomunicações e visa reforçar a concorrên-cia neste sector essencial para a economia euro-peia. As directivas devem ser transpostasdas até25 de Julho de 2003. A directiva relativa ao ser-viço universal e aos direitos dos utilizadores, quefaz parte deste pacote, tem como principais ob-jectivos, por um lado, assegurar a disponibilidadedo serviço universal de comunicações electróni-cas e, por outro, salvaguardar os interesses dosutentes e dos consumidores, nomeadamente atra-vés da regulamentação das tarifas a retalho se aregulamentação das tarifas por grosso não for su-ficiente.

Energia

623. No sector da energia, a Comissão propôsduas novas directivas, que contribuirão para me-lhorar a segurança dos abastecimentos de petró-leo e de gás da UE (4). No sector do petróleo, adirectiva propõe novas medidas a acrescentar àsjá existentes. A proposta prevê o aumento dasactuais obrigações de reservas de segurança de90 para 120 dias de consumo, bem como a cria-

¥1∂ Proposta relativa à acção dos Estados-Membros em matéria deobrigações de serviço público e adjudicação de contratos de ser-viço público no sector do transporte de passageiros por via férrea,estrada e via navegável interior, COM(2002)0107 final.

¥2∂ Ibid., considerandos 11, 14 e 17.¥3∂ Directiva 2002/39/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de

10 de Junho de 2002, que altera a Directiva 97/67/CE no que res-peita à prossecução da abertura à concorrência dos serviços pos-tais da Comunidade. ¥4∂ COM(2002) 488 final, 11.9.2002; ver também IP/02/1288.

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ção de um organismo público de armazenamentode reservas de petróleo, que deverá contar comreservas equivalentes a pelo menos 40 dias deconsumo. A proposta prevê também a adopçãopela UE de uma estratégia comum em caso decrise energética. Por último, as reservas poderãoser utilizadas não só em caso de crise do petróleo,mas também caso exista um risco de volatilidadeperigosa dos mercados.

624. No sector do gás, a directiva proposta prevêque os Estados-Membros definam uma políticageral e normas de segurança para o abasteci-mento de gás baseadas numa definição clara dospapéis e das responsabilidades dos diversos inter-venientes no mercado. Em caso de crise, serãoaplicados mecanismos comuns e coordenados.Os Estados-Membros deverão ainda definir ob-jectivos nacionais para o abastecimento de gás eoutras medidas que assegurem o fornecimentocontínuo a clientes que necessitam permanente-mente de gás.

625. Para além destas medidas destinadas a me-lhorar a segurança de abastecimento, a Comissãoadoptou uma proposta alterada das directivas re-lativas à realização do mercado interno do gás e

da electricidade (1). Esta proposta integra uma sé-rie de alterações às obrigações de serviço univer-sal e público sugeridas pelo Parlamento Europeuaquando da primeira leitura da proposta da Co-missão. O Conselho alcançou, em 25 de Novem-bro, um acordo político, aprovando as propostasda Comissão destinadas a reforçar especialmentea protecção dos clientes mais vulneráveis. Umavez adoptada, esta directiva contribuirá significa-tivamente para o elevado nível das obrigações deserviço universal, em especial a nível das famíliase pequenas empresas consumidoras de electrici-dade, que terão direito a fornecimentos de electri-cidade de qualidade e a preços razoáveis. Alémdisso, as disposições relativas à etiquetagem daenergia exigem que a contribuição de cada fonteenergética para o produto final seja incluída nasfacturas, tal como as consequências para o ambi-ente pelo menos das emissões de CO2 e dos resí-duos radioactivos. Os elementos desta propostareferentes à abertura do mercado estão descritosno capítulo sectorial sobre a energia (2).

¥1∂ COM(2002) 304 final, 7.6.2002.¥2∂ Ver secção I.C.1 supra.

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V — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

A — Alargamento

1. Preparação e negociações de adesão

626. Em 2002, a União Europeia continuou apreparar a adesão a nível da concorrência com osdoze países candidatos, a saber, Bulgária, Chipre,Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letó-nia, Lituânia, Malta, Polónia, República Checa eRoménia. Com a Turquia deu-se início à aprecia-ção analítica da legislação turca em matéria deconcorrência.

627. Tendo em vista a observância dos critériosde adesão, os países candidatos devem demons-trar que possuem uma economia de mercado emfuncionamento, bem como capacidade para rea-gir à pressão competitiva e às forças de mercadona União. A nível de política da concorrência, istoimplica que os países candidatos devem mostrar,muito antes da adesão, que as suas empresas e au-toridades estão capacitadas para operar num am-biente como o da UE e, por conseguinte, queestão prontas para enfrentar as pressões competi-tivas do mercado interno. Neste contexto, a UEestabeleceu nas negociações três condições quedevem estar reunidas nos países candidatos: i) oquadro legislativo necessário (nos domínios dosacordos, decisões e práticas concertadas e dos au-xílios estatais); ii) a capacidade administrativanecessária; e iii) uma demonstração credível daaplicação efectiva do acervo comunitário em ma-téria de concorrência.

628. Com base numa avaliação destes critérios, aUE pôde concluir provisoriamente as negocia-ções no capítulo da concorrência, tal como pro-posto pela Comissão, com a Estónia, Letónia, Li-tuânia e Eslovénia nas Conferências de Adesãode Novembro de 2001.

629. Em Junho de 2002, foram encerradas provi-soriamente as negociações com Chipre. Estas ne-gociações implicaram alterações substanciais aocódigo fiscal, tendo posteriormente os auxíliosfiscais ficado sujeitos à disciplina do controlo dosauxílios estatais. As empresas internacionais po-dem continuar a beneficiar de uma taxa reduzidade imposto sobre os rendimentos das sociedadesaté 31 de Dezembro de 2005.

630. Os progressos verificados nos restantes paí-ses, em especial a nível da aplicação do acervoem matéria de concorrência no domínio docontrolo dos auxílios estatais, permitiram à Co-missão propor, em Setembro de 2002, o encerra-

mento das negociações com a Eslováquia, Hun-gria, Malta, Polónia e a República Checa. Combase na proposta da Comissão, finalmente a UEencerrou primeiro as negociações com aEslováquia, Malta e a República Checa, em Ou-tubro, e depois com a Polónia em Novembro e aHungria em Dezembro.

631. De um modo geral, sempre que foram iden-tificadas medidas de auxílio estatal consideradasincompatíveis com o acervo da UE, os países can-didatos tiveram de as suprimir ou transformar emregimes de auxílios conformes com os princípiosdo acervo. Em casos excepcionais, foram negoci-ados acordos que permitirão suprimir progressi-vamente os auxílios incompatíveis. Além disso,foram excepcionalmente autorizados auxílios àreestruturação em certos casos, tendo como con-trapartida uma redução das capacidades de pro-dução das empresas beneficiárias, por forma aminimizar o risco de distorções da concorrência.

632. Com base nesta abordagem restritiva, a UEaceitou arranjos transitórios limitados no domíniodos auxílios fiscais e da reestruturação de sectoressensíveis (siderurgia e construção naval) a favor daEslováquia, Hungria, Malta e Polónia (1).

633. No que respeita à República Checa, foiacordado um período transitório para a reestrutu-ração da siderurgia, que precisa as condições apreencher para assegurar a viabilidade das em-presas siderúrgicas checas, a proporcionalidadedos auxílios e as reduções de capacidade.

634. O período previsto no Protocolo n.o 2 doAcordo Europeu, que permite conceder a títuloexcepcional auxílios à reestruturação no sectorsiderúrgico foi também prolongado. Esta decisãofoi tomada com base no programa de reestrutura-ção da indústria siderúrgica apresentado pelas au-toridades checas no final de Junho de 2002 e quefoi considerado aceitável pela UE.

635. No que respeita à Hungria, foram negocia-dos arranjos transitórios limitados relativamenteà conversão e supressão progressiva dos benefí-cios fiscais incompatíveis concedidos em confor-midade com a anterior legislação fiscal. O es-quema de conversão acordado estabelece limitesmáximos rigorosos para as isenções fiscais jáconcedidas ao abrigo de dois regimes de auxílioem caso de investimento, enquanto as vantagensdecorrentes das reduções fiscais anteriormente

¥1∂ Para além de Chipre, já mencionado.

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concedidas a empresas off-shore e de certas isen-ções fiscais concedidas pelas autoridades locaisdeverão ser progressivamente eliminadas até2005 e 2007, respectivamente.

636. No que respeita a Malta, foram negociadosarranjos transitórios limitados que prevêem o ajus-tamento, até 2005, do mercado da importação, ar-mazenamento e venda por grosso de produtos pe-trolíferos, em aplicação do artigo 31.o do TratadoCE. Além disso, foram acordados arranjos transi-tórios limitados relativos à conversão e supressãoprogressiva dos auxílios fiscais incompatíveis con-cedidos ao abrigo da anterior legislação fiscal, im-pondo limites máximos rigorosos às isenções fis-cais já concedidas. Por outro lado, foi dada a Maltaa possibilidade de manter, até 2008, um regime fis-cal com taxa de imposto reduzida no âmbito decertos regimes de auxílios fiscais e de conceder au-xílios à reestruturação aos seus estaleiros navais,sujeitos a condições relacionadas com os níveis deprodução e com reduções de capacidade.

637. No que respeita à Polónia, foi criado, noâmbito das negociações, um enquadramento paraa aprovação de auxílios à reestruturação da side-rurgia, com base no programa de reestruturaçãorevisto, o qual prevê condições rigorosas a níveldas reduções de capacidade. Antes de os arranjostransitórios relativos aos auxílios à reestruturaçãoentrarem em vigor nos termos do Tratado de Ade-são, o período previsto no Protocolo n.o 2 doAcordo Europeu para a admissão de auxílios à re-estruturação terá ainda de ser prolongado.

638. Relativamente às medidas de auxílio apli-cadas nas Zonas Económicas Especiais da Poló-nia, os auxílios fiscais concedidos ao abrigo da le-gislação fiscal polaca e que são incompatíveiscom as regras em matéria de auxílios estatais daUE devem ser convertidos em regimes de auxílioque prevejam a imposição de limites máximos ri-gorosos às isenções fiscais já concedidas. No ati-nente às medidas aplicáveis às PME, a Polóniapoderá aplicar as medidas fiscais durante um pe-ríodo reduzido, ou seja, até 2011 no caso das pe-quenas empresas situadas nestas zonas e até 2010no caso das médias empresas.

639. Por fim, em certas regiões, as empresas po-lacas poderão, durante um período limitado, be-neficiar de auxílios estatais aos investimentosambientais destinados a satisfazer as disposiçõescomunitárias em matéria de ambiente.

640. No que respeita à Eslováquia, os arranjostransitórios incidem sobre medidas de auxílio fis-

cal a duas empresas. Os auxílios fiscais incompa-tíveis concedidos a uma empresa siderúrgica de-vem ser suprimidos no final de 2009 ou quandoatingirem um determinado montante, consoanteo que ocorra primeiro. Este auxílio visa facilitar aracionalização estruturada do excesso de traba-lhadores, cujo custo total é equiparável ao auxí-lio. Além disso, auxílios fiscais incompatíveis auma empresa do sector dos veículos automóveisforam convertidos em auxílio regional ao investi-mento, limitado no máximo a 30% dos custos deinvestimento elegíveis.

641. Um aspecto crucial das negociações de ade-são no domínio da concorrência refere-se ao pro-cedimento em matéria de auxílios que os paísescandidatos pretendem continuar a aplicar após aadesão. Será enviada à Comissão uma lista de to-das as medidas de auxílio existentes (regimes deauxílio ou auxílios ad hoc) apreciadas pelas auto-ridades competentes dos respectivos países can-didatos e consideradas compatíveis com o DireitoComunitário. Caso a Comissão não levante ob-jecções, essas medidas serão consideradas auxí-lios existentes. Todas as medidas de auxílio con-sideradas auxílios estatais nos termos do acervo eque não estejam incluídas nessa lista serão consi-deradas novos auxílios após a adesão.

2. Progressos na aproximação das regras de concorrência

642. A Comissão Europeia apresenta regular-mente relatórios sobre os progressos alcançadospor cada um dos países candidatos à adesão. Osquintos relatórios periódicos dos dez países daEuropa Central e Oriental (PECO), Chipre, Maltae Turquia, adoptados pela Comissão Europeia emOutubro de 2002, avaliam os progressos efectua-dos desde os relatórios anteriores de 2001.

643. Os resultados alcançados no domínio dosacordos, decisões e práticas concertadas e dasoperações de concentração são em geral satisfa-tórios, quer de um ponto de vista legislativo, querno que diz respeito à criação da capacidade admi-nistrativa necessária. Todos os países candidatosadoptaram a legislação de base em matéria deconcorrência, que retoma os elementos essenci-ais dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE, e amaior parte deles estabeleceu também um con-trolo das operações de concentração. Foram insti-tuídas autoridades responsáveis pela concorrên-cia de uma forma relativamente rápida.

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V — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

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644. Especialmente tendo em conta a moderni-zação e descentralização previstas da aplicaçãodo Direito Comunitário da Concorrência, devemprosseguir os esforços para melhorar os resulta-dos neste domínio e reforçar a capacidade admi-nistrativa das autoridades, privilegiando os casosque suscitem maiores distorções da concorrênciae impondo sanções mais dissuasivas. Do mesmomodo, importa prosseguir os esforços de consci-encialização para esta problemática e asseguraruma maior participação das autoridades judiciaisnos casos de antitrust.

645. Em contraste com os progressos alcançadosno domínio antitrust, a introdução do controlodos auxílios estatais nos países candidatos de-monstrou ser muito mais controversa, lenta e po-liticamente sensível. Contudo, as negociações deadesão contribuíram para acelerar a criação dequadros jurídicos e processuais para o controlodos auxílios estatais. No final de 2002, a maiorparte dos países candidatos efectua já um con-trolo dos auxílios estatais à luz de critérios análo-gos aos vigentes na Comunidade.

646. Todos os países candidatos criaram autorida-des nacionais encarregadas do controlo dos auxí-lios estatais. A Turquia aceitou fazê-lo até 1 de Ja-neiro de 2003. A Comissão sublinhou que estasautoridades deverão controlar efectivamente osauxílios estatais novos e existentes, independente-mente das autoridades que os concedem.

647. A fim de garantir a transparência necessária,a maior parte dos países candidatos procederam àcriação de inventários exaustivos dos auxílios exis-tentes, que são permanentemente actualizados.Para além disso, a Comissão prosseguiu a sua cola-boração com as autoridades de controlo dos paísescandidatos a fim de garantir que os seus relatóriosanuais em matéria de auxílios estatais estão con-formes com a metodologia do relatório da Comis-são nesta matéria. Em 2002 foram pela primeiravez incluídos no painel de avaliação dos auxíliosestatais da Comissão dados referentes aos paísescandidatos. Este instrumento constitui uma fontede informação transparente e acessível ao públicosobre a situação global dos auxílios estatais naUnião Europeia e nos países candidatos.

3. Instrumentos no âmbito de acordos de associação

648. Tendo em vista completar o quadro jurídicodas relações entre a Comunidade e os dez paísesassociados da Europa Central e Oriental no domí-

nio da concorrência, foram discutidos com essespaíses dois conjuntos de regras de execução (1). Oprimeiro diz respeito à execução das disposiçõesdos acordos europeus em matéria de concorrên-cia aplicáveis às empresas (antitrust). O segundorefere-se às regras relativas aos auxílios estatais.

649. As regras de execução das disposições anti-trust foram já adoptadas nos anos anteriores emtodos os PECO [República Checa (2), Polónia (3),Eslováquia (4), Hungria (5), Bulgária (6), Romé-nia (7), Estónia (8), Lituânia (9), Eslovénia (10) eLetónia (11)]. No entanto, dados certos problemasconstitucionais relativos à aplicação das regras deexecução na Hungria, o Conselho de Associaçãoadoptou, em 2002, regras de execução antitrust al-teradas para a Hungria (12). Anteriormente já ti-nham sido adoptadas regras de execução no domí-nio dos auxílios estatais relativamente a 8 PECO(República Checa (13) Lituânia (14), Letónia (15),Roménia (16), Eslovénia (17), Polónia (18), Bulgá-ria (19) e Eslováquia (20)) e em 2002 estas regrasforam adoptadas relativamente à Estónia (21).

¥1∂ O Conselho de Associação CE-Turquia, de Dezembro de 2001,adoptou regras de execução especiais como solicitado ao abrigoda Decisão da União Aduaneira de 1995, relativamente tanto àsempresas como ao controlo dos auxílios estatais.

¥2∂ Decisão 1/96 do Conselho de Associação CE-República Checa de30 de Janeiro de 1996 (JO L 31 de 9.2.1996).

¥3∂ Decisão 1/96 do Conselho de Associação CE-Polónia de 16 deJulho de 1996 (JO L 208 de 17.8.1996).

¥4∂ Decisão 1/96 do Conselho de Associação CE-Eslováquia de 15 deAgosto de 1996 (JO L 295 de 20.11.1996).

¥5∂ Decisão 2/96 do Conselho de Associação CE-Hungria de 6 deNovembro de 1996 (JO L 295 de 20.11.1996), substituída pelaDecisão 1/2002, ver nota 403.

¥6∂ Decisão 2/97 do Conselho de Associação CE-Bulgária de 7 deOutubro de 1997 (JO L 15 de 21.1.1998).

¥7∂ Decisão 1/99 do Conselho de Associação CE-Roménia de 16 deMarço de 1999 (JO L 96 de 10.4.1999).

¥8∂ Decisão 1/99 do Conselho de Associação CE-Estónia de 28 deabril de 1999 (JO L 144 de 9.6.1999).

¥9∂ Decisão 4/99 do Conselho de Associação CE-Lituânia de 26 deMaio de 1999 (JO L 156 de 23.6.1999).

¥10∂ Decisão 4/2000 do Conselho de Associação CE-Eslovénia de21 de Dezembro de 2000 (JO L 130 de 12.5.2001).

¥11∂ Decisão 5/2001 do Conselho de Associação CE-Letónia de 25 deabril de 2001 (JO L 183 de 6.7.2001).

¥12∂ Decisão 1/2002 do Conselho de Associação CE-Hungria de 29 deJaneiro de 2002 (JO L 145 de 4.6.2002).

¥13∂ Decisão 1/98 do Conselho de Associação CE-República Checa de24 de Junho de 1998 (JO L 195 de 11.7.1998).

¥14∂ Decisão 2/2001 do Conselho de Associação CE-Lituânia de 22 deFevereiro de 2001 (JO 98, 7.4.2001).

¥15∂ Decisão 4/2001 do Conselho de Associação CE-Letónia de 20 deMarço de 2001 (JO L 163 de 20.6.2001).

¥16∂ Decisão 4/2001 do Conselho de Associação CE-Roménia de10 de Abril de 2001 (JO 138, 22.5.2001).

¥17∂ Decisão 2/2001 do Conselho de Associação CE-Eslovénia de 3 deMaio de 2001 (JO 163, 20.6.2001).

¥18∂ Decisão 3/2001 do Conselho de Associação CE-Polónia de 23 deMaio de 2001 (JO L 215 de 9.8.2001).

¥19∂ Decisão 2/2001 do Conselho de Associação CE-Bulgária de 23 deMaio de 2001 (JO L 216 de 10.8.2001).

¥20∂ Decisão 6/2001 do Conselho de Associação CE-Eslováquia de22 de Novembro de 2001 (JO L 48 de 20.2.2002).

¥21∂ Decisão 1/2002 do Conselho de Associação CE-Estónia de 15 deJaneiro de 2002 (JO L 299 de 1.11.2002).

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650. No que se refere aos mapas de auxílios regi-onais, a adoptar pelos respectivos Comités deAssociação, o Conselho aprovou, em 2002, osmapas para a Estónia, Letónia, Lituânia e Eslové-nia apresentados pela Comissão com base empropostas dos países associados. Neste ano, a Co-missão apresentou ainda ao Conselho projectosde mapas de auxílios regionais para a Polónia eRoménia.

651. Na indústria siderúrgica, o período previstono Protocolo n.o 2 do Acordo Europeu para aaprovação de auxílios à reestruturação da siderur-gia foi prolongado em 2002 (1), incluindo a apro-vação de um programa de reestruturação, para aRepública Checa. Está previsto, na pendência daaprovação dos programas de reestruturação, umprolongamento semelhante para a Polónia, Ro-ménia e Bulgária.

4. Assistência técnica aos países candidatos

652. A assistência técnica no domínio da con-corrência continuou a ser um instrumento essen-cial para a preparação dos países candidatos àadesão. Estão a ser desenvolvidas acções especí-ficas no âmbito dos programas Phare. No quadrodo acordo relativo ao reforço das instituições(«geminação»), os peritos dos Estados-Membrosda UE estão a fornecer serviços de consultoria,numa perspectiva de longo prazo, às autoridadesem matéria de concorrência e de auxílios estataisdos PECO. Além disso, em Abril de 2002 foramorganizadas sessões conjuntas de formação emmatéria de concorrência para funcionários dospaíses candidatos com responsabilidades no do-mínio da concorrência. Estas sessões centra-ram-se na explicação do novo acervo em matériade concorrência aos países candidatos, bem comona execução e aplicação das regras da concorrên-cia. Em Outubro de 2002 foi organizada uma ses-são de formação no domínio da concorrência parajuízes dos países candidatos.

653. A Comissão Europeia prosseguiu uma polí-tica voluntariosa de intensificação dos seus con-tactos com as autoridades responsáveis pelaconcorrência dos países candidatos. Em Junho de2002, realizou-se em Vilnius, Lituânia, a OitavaConferência Anual de Concorrência entre os ser-viços de concorrência dos países candidatos e a

Comissão Europeia. As delegações incluíramfuncionários de alto nível das respectivas autori-dades responsáveis pela concorrência e pelo con-trolo dos auxílios estatais, incluindo o comissárioMario Monti. A conferência anual serve de fórumpara o intercâmbio de pontos de vista e experiên-cias. Permite igualmente estabelecer e reforçarcontactos profissionais entre funcionários res-ponsáveis pela política de concorrência. A confe-rência deste ano centrou-se especialmente na pre-paração prática para a adesão em matéria deconcorrência.

654. A DG Concorrência continuou a organizardurante o ano de 2002 várias reuniões bilateraiscom as autoridades responsáveis pela concorrên-cia e pelo controlo dos auxílios estatais dos paísescandidatos. Realizaram-se discussões técnicas anível de peritos em matéria de aproximação dasregras da concorrência, do reforço das institui-ções e do cumprimento da legislação. Realiza-ram-se também reuniões semelhantes em matériade aproximação das legislações no domínio dosauxílios estatais, da criação de autoridades decontrolo dos auxílios estatais, e de questões espe-cíficas em matéria de auxílios estatais, tais comoa elaboração dos relatórios anuais, os mapas deauxílios regionais, a incidência das medidas deincentivo ao investimento e das zonas económi-cas especiais, e a apreciação de casos individuaisnos sectores sensíveis.

B — Cooperação bilateral

1. Estados Unidos

655. A cooperação bilateral com os Estados Uni-dos baseia-se no acordo de cooperação em maté-ria de concorrência de 23 de Setembro 1991. AComissão informa anualmente e em pormenor oConselho e o Parlamento Europeu das suas acti-vidades de cooperação com os EUA no âmbito doAcordo de cooperação de 1991 (2) e do Acordo decortesia positiva de 1998 (3). O último relatóriocobriu o período de 1 de Janeiro de 2001 até 31 de

¥1∂ Ver ponto 634.

¥2∂ Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo dos Esta-dos Unidos da América relativo à aplicação dos respectivos direi-tos da concorrência (JO L 95 de 27.4.1995, rectificado no JO L131 de 15.6.1995).

¥3∂ Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo dos Esta-dos Unidos da América relativo aos princípios de cortesia positivana aplicação dos respectivos direitos de concorrência (JO L 173de 18.6.1998).

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V — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

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Dezembro de 2001 (1). O relatório de 2002 serápublicado em 2003.

656. Durante o ano de 2002, a Comissão prosse-guiu a sua cooperação estreita com a Divisão Anti-trust do Departamento de Justiça americano (DoJ)e com a Comissão Federal do Comércio (FTC).Foi apreciado simultaneamente pela Comissão epelas autoridades competentes norte-americanasum grande número de operações no domínio daconcorrência. As discussões entre serviços euro-peus e americanos da concorrência tendem a cen-trar-se em questões como a definição dos merca-dos, o eventual impacto sobre a concorrência deuma operação nesses mercados e a viabilidade daseventuais medidas compensatórias propostas.

657. As investigações relativas a concentraçõesque implicaram uma estreita cooperação transa-tlântica incluíram nomeadamente os processosBayer/Aventis Crop Science, HP/Compaq e Sol-vay/Ausimont. A Comissão cooperou tambémestreitamente com os seus homólogos america-nos em várias investigações não relacionadascom concentrações. Mais concretamente, gran-des processos relativos a cartéis são frequente-mente objecto de apreciação simultânea pela Co-missão e pelo DoJ. A cooperação UE/EUA eminvestigações relacionadas com cartéis incluiigualmente a coordenação de medidas de investi-gação, como a sincronização das inspecções. Oscasos concretos de cooperação UE/EUA são ex-postos mais circunstanciadamente no capítulo dopresente relatório consagrado ao controlo dasoperações de concentração.

658. Em 2002, tiveram lugar inúmeros contactosbilaterais entre a Comissão e as autoridades com-petentes dos EUA, assim como visitas frequentesde responsáveis americanos e europeus. Em23 de Julho, o comissário Mario Monti reuniu-seem Bruxelas com os chefes das autoridades daconcorrência dos EUA, o vice-ministro da Jus-tiça, Charles James, e o presidente da FTC, Timo-thy Muris, no âmbito da reunião bilateral anualUE/EUA.

659. O grupo de trabalho UE/EUA em matériade concentrações prosseguiu os seus trabalhosem 2002. Este grupo compreende vários subgru-pos, um dos quais se debruça sobre problemasprocessuais e os restantes sobre questões materi-ais. Em Outubro, a Comissão e as autoridades de

defesa da concorrência dos Estados Unidos, oDoJ e a FTC, chegaram a acordo quanto às «boaspráticas» de cooperação em investigações de ope-rações de concentração. Nestas orientações, aComissão e as autoridades dos EUA estabelecemas práticas a observar na apreciação da mesmaoperação.

2. Canadá

660. A cooperação bilateral com o Canadábaseia-se no Acordo de cooperação em matériade concorrência que entrou em vigor em Junhode 1999 (2). A Comissão informa anualmente empormenor o Conselho e a Parlamento Europeudas suas actividades de cooperação com o Ca-nadá. O último relatório cobriu o período de 1 deJaneiro de 2001 até 31 de Dezembro de 2001 (3).O relatório para 2002 será publicado em 2003.

661. As autoridades da concorrência de ambasas partes estão a examinar um número crescentede casos. Os contactos entre a Comissão e o seuhomólogo canadiano, o Canadian CompetitionBureau, foram frequentes e úteis. As discussõestêm incidido tanto sobre aspectos relativos a ca-sos concretos, como sobre aspectos de políticageral. Os responsáveis pelos serviços encarrega-dos das operações de concentração e cartéis dasautoridades respectivas reuniram-se para discutirproblemas específicos suscitados nas respectivasjurisdições. Além disso, pela primeira vez em2002, foi organizado um intercâmbio de funcio-nários durante um período de seis meses, tendoum funcionário da Comissão e outro do CanadianCompetition Bureau sido destacados para o orga-nismo homólogo.

3. Japão

662. Para além de inúmeras reuniões e contactosoficiais entre a Comissão e as autoridades japone-sas, realizou-se em Bruxelas em 25 de Outubro areunião bilateral anual entre a Comissão e a FairTrade Commission do Japão. As duas partes dis-cutiram a recente evolução das respectivas políti-cas nesta matéria, assim como outras possibilida-des de cooperação bilateral.

¥1∂ Adoptado em 17.9.2002 [COM(2002) 505 final].

¥2∂ Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo do Canadásobre a aplicação dos respectivos direitos de concorrência (JO L175 de 10.7.1999).

¥3∂ Adoptado em 17.9.2002 [COM(2002) 505 final].

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663. A Comissão concluiu com êxito as negoci-ações com o Governo de Japão sobre um acordode cooperação bilateral. Por conseguinte, em 8 deMaio a Comissão adoptou uma proposta de deci-são do Conselho e da Comissão relativa à conclu-são do Acordo entre as Comunidades Europeias eo Japão respeitante à cooperação no âmbito dasactividades anticoncorrenciais (1). Em anexo aesta proposta encontra-se um projecto do acordobilateral EU/Japão previsto. Este projecto resul-tou de intensas negociações entre a Comissão e oGoverno do Japão — em Tóquio e em Bruxelas— entre Junho de 2000 e Maio de 2002. A Comis-são conduziu as negociações do projecto deacordo com base nas directrizes aprovadas peloConselho em 8 de Junho de 2000. O acordo aconcluir revela-se de grande utilidade na medidaem que reforçará a rede em expansão de acordosde cooperação bilaterais no domínio da con-corrência, a par dos Acordos de 1991 e de 1998UE/EUA, do Acordo de 1999 UE/Canadá (2) e doAcordo de 1999 EUA/Japão (3). Antes de tomaruma decisão sobre o texto proposto pela Co-missão, o Conselho consultou o ParlamentoEuropeu, que o aprovou em 3 de Julho. O proce-dimento de adopção e assinatura do acordo pros-seguirá agora no Conselho. O acordo proposto re-forçará a capacidade de cooperação entre aComissão e a Fair Trade Commission do Japão,esperando-se que conduza a uma relação mais es-treita entre as duas autoridades da concorrência ea uma maior compreensão das respectivas políti-cas de concorrência.

4. Outros países da OCDE

664. Em 2002, a Comissão empenhou-se na co-operação com as autoridades da concorrência deoutros países da OCDE, especialmente a Austrá-lia, Nova Zelândia e Coreia. Estes contactos refe-riam-se tanto a casos concretos como a proble-mas mais relacionados com a própria política deconcorrência.

665. Neste ano, a Comissão prosseguiu ainda asua estreita colaboração com o Órgão de Fiscali-

zação da EFTA no que se refere à implementaçãodo Acordo sobre o Espaço Económico Europeu.

C — Cooperação multilateral

1. Rede Internacional da Concorrência (RIC)

666. A Rede Internacional da Concorrência(RIC) é uma iniciativa recente que proporcionaum fórum para as autoridades da concorrência detodo o mundo discutirem possibilidades de con-vergência em áreas pertinentes da política da con-corrência internacional. A Comissão esteve nabase do lançamento da RIC por 14 autoridades daconcorrência, em Nova York, em Outubro de 2001.Um ano depois, 77 autoridades da concorrênciade 68 países representando cinco continentesaderiram à RIC. Uma das suas característicasconsiste no facto de integrar muitas das mais re-centes autoridades da concorrência de economiasem desenvolvimento e em transição. A RIC foicriada como rede virtual, empenhada em projec-tos específicos que, espera-se, venham a facilitara cooperação prática entre autoridades da concor-rência. Visa, a termo, recomendar «boas práticas»susceptíveis de contribuir para o reforço da go-vernação no contexto da globalização.

667. No primeiro ano, as actividades da RIC in-cidiram inicialmente sobre dois projectos: umgrupo de trabalho estudou os aspectos processu-ais e materiais do controlo das operações de con-centração que afectam mais do que um país. O se-gundo projecto estudou diversas abordagens dadefesa da concorrência, expressão que se refere àmissão específica das autoridades da concorrên-cia de prevenir e corrigir distorções da concorrên-cia devidas à intervenção dos poderes públicos.Os resultados destes projectos foram apresenta-dos a altos responsáveis da concorrência, a repre-sentantes de outros organismos internacionais damesma área e a consultores não governamentaisdurante a conferência inaugural da RIC, que serealizou em Nápoles, Itália, de 27 a 29 de Setem-bro. Em especial, os membros da RIC aprovaramuma série de «Princípios orientadores para a noti-ficação e os procedimentos das concentrações»não vinculativos, tendo discutido algumas «práti-cas recomendadas» de carácter operacional pelasquais se deve reger o controlo internacional dasconcentrações. Em Nápoles, os membros da RICdiscutiram ainda um quadro analítico para oexame das operações de concentração. Por seu

¥1∂ COM(2002) 230 final, 8.5.2002, disponível em linha no seguinteendereço: http://europa.eu.int/eur-lex/en/com/pdf/2002/com2002_0230en01.pdf

¥2∂ Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo do Canadárelativo à aplicação dos respectivos direitos da concorrência, JO L175 de 10.7.1999.

¥3∂ Disponível em linha no endereço http://www.usdoj.gov/atr/public/international/docs/3740.htm

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V — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

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turno, o grupo de trabalho da RIC sobre a defesada concorrência apresentou um estudo exaustivosobre as actividades das autoridades membros daRIC na matéria e sobre os instrumentos que utili-zam. As conclusões deste exame sem precedentes,no qual a Comissão teve um papel preponderante,baseiam-se em grande medida num inquérito aosmembros da RIC. Todos os documentos destaRede podem ser consultados no sítio Internetwww.internationalcompetitionnetwork.org.

668. Em Nápoles, os membros da RIC criaramainda outro grupo de trabalho para examinar asnecessidades específicas das economias em de-senvolvimento e em transição e solicitaram à Co-missão Europeia e ao Tribunal da Concorrênciasul-africano que partilhassem a presidência desteprojecto, denominado «Reforço das capacidadese implementação da política da concorrência». Ogrupo de trabalho privilegiará inicialmente trêstemas: i) vantagens decorrentes da aplicação dodireito da concorrência nos países em desenvolvi-mento; ii) avaliação dos desafios que se colocamaos países em desenvolvimento na aplicação daspolíticas de concorrência e na criação de autori-dades de execução credíveis, incluindo as estraté-gias que estes países utilizaram para superar taisdesafios; e iii) modelos de apoio prestado por pa-íses parceiros e organismos multinacionais.

2. Grupo de Trabalho da OMC sobre Comércio e Concorrência (WGTCP)

669. Na 4.ª Conferência Ministerial da OMC, reali-zada em Doha, Qatar (9 a 14 de Novembro de 2001),os ministros reconheceram «os argumentos a favorde um quadro multilateral [relativo à política deconcorrência] destinado a melhorar a contribuiçãoda política de concorrência para o comércio inter-nacional e o desenvolvimento (...)». Foi atribuídoao WGTCP um mandato mais centrado para a suaactividade até à 5.ª Conferência Ministerial. Osministros chegaram ainda a acordo quanto aofacto de as negociações da OMC se iniciaremapós a 5.ª Conferência Ministerial. A reunião doWGTCP de 23 e 24 de Abril foi a primeira desdea reunião ministerial da OMC em Doha e do man-dato claro inscrito no plano de acção de Dohapara o desenvolvimento, para «clarificar» os as-pectos relacionados com a negociação de umacordo multilateral sobre o comércio e a concor-rência no âmbito da OMC. O ponto principal daordem de trabalhos para esta reunião dizia res-peito às necessidades, a curto e longo prazo, deassistência técnica e reforço das capacidades dos

países em desenvolvimento, por forma a compre-enderem os problemas relevantes das futuras ne-gociações e para implementar sistemas nacionaiscredíveis no domínio da concorrência. Tendo emvista os debates, o Secretariado apresentou umdocumento de informação sobre a assistência téc-nica e reforço das capacidades. Além disso, oSecretariado apresentou ainda, em 2002, trêsdocumentos de informação sobre cooperaçãovoluntária, cartéis gravosos e princípios funda-mentais do comércio e da concorrência. A CEapresentou uma contribuição (1) sobre a assistên-cia técnica e modalidades de cooperação voluntá-ria à escala internacional. Durante os debates aCE sublinhou a necessidade de prestar um apoioem matéria de assistência técnica e de reforço dascapacidades, a fim de, por um lado, contribuirpara a aquisição das capacidades institucionais deque os países necessitam para analisar a sua eco-nomia e o mercado e implementar a legislação e,por outro, sensibilizar os cidadãos para os objec-tivos da política da concorrência e divulgar umacultura de concorrência.

670. A segunda reunião do WGTCP, realizadaem 1 e 2 de Julho, deu lugar a uma animada dis-cussão de fundo sobre os dois pontos em agenda:cartéis gravosos e cooperação voluntária entre au-toridades de concorrência. A CE apresentou umacontribuição sobre os cartéis gravosos (WT/WG-TCP/W/193). As discussões abordaram as diversaspossibilidades de proibição destes cartéis (apenascartéis internacionais; todos os cartéis com im-pacto no comércio internacional; todos os cartéissem excepção), bem como a articulação entreproibições «per se» e abordagens do tipo «regrado bom senso». Outro aspecto em foco foi o dascaracterísticas mínimas de uma proibição multila-teral (por exemplo, proibição expressa, obrigaçãode prever sanções efectivas, etc.). Os participantesexaminaram ainda os aspectos gerais da coopera-ção (discussão multilateral, Comité da OMC, ava-liação pelos pares, metodologias, etc.), bem comoa cooperação em casos específicos (incluindo umadiscussão sobre a cortesia positiva).

671. A terceira reunião WGTCP realizou-se em26 e 27 de Setembro e abordou os princípios fun-damentais do comércio e da concorrência. A po-sição da CE foi apresentada oralmente e à luz decomentários feitos e de questões suscitadas du-rante a reunião de Setembro, a CE apresentou um

¥1∂ WT/WGTCP/184.

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documento sobre «princípios fundamentais» paraa reunião de Novembro. A Nova Zelândia apre-sentou outros documentos e estudos para a reu-nião de Setembro (propondo a introdução de umnovo «princípio de inclusão» que exige que asisenções/derrogações sejam aplicadas de forma aminimizar as distorções económicas), tal como aAustrália, a Coreia, a Tailândia (que propôs umprincípio distinto relativo a «tratamento especiale diferenciado»), a Suíça, os EUA (incluindoquestões pormenorizadas sobre o teor da «impar-cialidade processual»), o Japão, a Índia (que alu-diu a um possível acordo caso o período transitó-rio antes da aplicação fosse suficientementedilatado) e a República Checa.

672. A última reunião WGTCP do ano teve lugarem 20 de Novembro. O documento comunitáriosobre «princípios fundamentais» (a única contri-buição de fundo) foi bem acolhido e contou comalgumas reacções positivas, apesar da notória au-sência de funcionários oriundos das diferentescapitais. No que se refere aos aspectos processu-ais, houve acordo quanto à realização de duasreuniões importantes do grupo em 2003, antes daquinta Reunião Ministerial da OMC, a realizarem Cancun em Setembro de 2003, onde serãoacordadas pelos ministros as modalidades de ne-gociação.

3. Comité da Concorrência da OCDE (CC)

673. Em 2002 realizaram-se três reuniões doCC, em 12 de Fevereiro, 5 e 6 de Junho e 23 e24 de Outubro. A primeira reunião do CC abor-dou a avaliação da Turquia pelos seus pares e orelatório da Turquia salientando os seus esforçoscrescentes em matéria de implementação dalegislação. O Secretariado do CC apresentouigualmente a sua nota sobre a concorrência nomercado de produto, em relação à qual a CE ma-nifestou uma posição favorável, tendo acrescen-tado que os indicadores de eficiência deviam serdesenvolvidos e actualizados.

674. A segunda reunião do CC reviu os planospara futuras reuniões do Fórum Global sobre aConcorrência (FGC) e agendou a próxima reu-nião desta instância para Fevereiro de 2003 (1),

concomitantemente com as reuniões do CC daOCDE. Além disso, o CC discutiu os descontosde lealdade/fidelidade. Alguns países são partidá-rios de proibir tais descontos sempre que ofereci-dos por empresas em posição dominante, en-quanto outros insistem na necessidade de provarque os compradores são efectivamente prejudica-dos por um comportamento que, pelo menos ini-cialmente, deveria beneficiar os compradores queos recebem. Houve consenso, no entanto, quantoao facto de o poder de mercado aumentar a proba-bilidade de os descontos de fidelidade terem efei-tos anticoncorrenciais. Finalmente, o CC realizouuma mesa redonda sobre a apreciação das opera-ções de concentração em novos mercados (forte-mente inovadores). Os delegados acordaram queembora não seja necessária uma abordagem espe-cial para a apreciação das operações de concen-tração em mercados fortemente inovadores, asautoridades de concorrência experimentarão difi-culdades especiais a nível da definição dos mer-cados, da avaliação das barreiras à entrada e daprevisão da evolução dos mercados. Essas difi-culdades especiais diminuem a importância dascaracterísticas estruturais, ou seja, dos índices deconcentração. Por outro lado, reforçam a impor-tância de melhorar a compreensão dos mercadosfortemente inovadores, nomeadamente através daplena utilização das informações recolhidas noâmbito da defesa de concorrência relativamente amercados caracterizados por infra-estruturas derede. As autoridades da concorrência estão plena-mente conscientes que, no caso de operações deconcentração em tais mercados, os efeitos favorá-veis ou prejudiciais à concorrência manifes-tar-se-ão tendencialmente sobre a eficiência dinâ-mica em detrimento da eficiência estática. De ummodo geral, o interesse principal reside nos mer-cados de produtos e tecnológicos, sendo prestadaespecial atenção à concorrência potencial. A dife-rença mais óbvia entre a apreciação de operaçõesde concentração em mercados emergentes e nou-tros mercados reside nas medidas compensató-rias aplicadas. No que diz respeito aos mercadosemergentes, recorre-se muito mais a medidas ela-boradas essencialmente em função do comporta-mento em causa ou de medidas mistas elaboradasem função do comportamento/estrutura para eli-minar os efeitos anticoncorrenciais líquidos.

675. A última reunião do CC realizou uma mesaredonda sobre comunicação e política face aosmeios de comunicação social, tendo o debate in-cidido nos métodos para melhorar a comunicaçãona área da política de concorrência. Uma outra

¥1∂ A ordem de trabalhos incluirá os seguintes temas: 1) uma análiseaprofundada das instituições de concorrência da África do Sul;2) uma discussão sobre a estrutura óptima das instituições deconcorrência e sobre os objectivos da legislação e da política deconcorrência; 3) uma discussão sobre o papel da política de con-corrência numa economia de pequenas dimensões.

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V — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

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mesa redonda abordou os critérios materiais utili-zados para avaliar as operações de concentração ediscutiu os prós e os contras do critério da «dimi-nuição substancial da concorrência» e do critérioda «posição dominante». Finalmente, foi acor-dado realizar uma mesa redonda sobre as medidascompensatórias nas concentrações (Primavera de2003), sobre encerramento excessivo dos merca-dos (Outono de 2003), sobre problemas de protec-ção dos consumidores (Outono de 2003) e sobreconcorrência e inovação (Primavera de 2004).

4. Grupo Intergovernamental de Peritos da CNUCED

676. A 4.ª sessão do Grupo Intergovernamentalde Peritos da CNUCED realizou-se em Genebrade 3 a 5 de Julho e contou com uma participaçãosatisfatória de peritos em matéria de concorrênciaoriginários de países em desenvolvimento e deorganizações regionais. Na sequência do discursodo presidente da FTC coreana, o Sr. Nam KeeLee, os delegados tomaram a palavra referindo-seà evolução actualmente registada nos respectivospaíses a nível da política da concorrência e da suaimplementação; tomaram a palavra, nomeada-mente, os representantes da Rússia, França,Ucrânia, Irão, Índia, Cuba, África do Sul, Zimba-bwe, Zâmbia, Qatar, Sri Lanka, Venezuela, Ro-

ménia, China (1), Costa do Marfim, Malásia,Marrocos, Argentina, República Dominicana,Burkina Faso, Líbano, Bangladesh, Costa Rica,Coreia, Benin e as organizações regionais africa-nas Uemoa e Comesa. As intervenções sublinha-ram as necessidades específicas e as exigênciasdas economias em desenvolvimento e solicitaramo reforço da cooperação e da assistência técnicapara melhorarem as suas capacidades, na pers-pectiva das próximas negociações na OMC. A de-legação da CE interveio no painel sobre a inter-face entre a regulação do sector e agênciasgeneralistas de concorrência, e apresentou osprincípios básicos subjacentes à decisão de abriros serviços de utilidade pública à concorrência, arepartição de trabalho entre os reguladores e asagências de concorrência, e a experiência da UEem várias áreas (por exemplo, as telecomunica-ções ONP, separação do lacete local, regulamen-tação assimétrica ex ante, etc.). A CE interveioainda no debate sobre actividades de assistênciatécnica e de desenvolvimento de capacidades.

¥1∂ Em 1993, foi adoptada uma lei da concorrência, tanto em matériade antitrust como de concorrência desleal. Em 2001, as autorida-des chinesas trataram 285 casos relativos a práticas empresariaisrestritivas e 203 relativos a tentativas de monopolização (em2001, o número de casos apreciados foi superior ao número totalde casos apreciados nos cinco anos anteriores, ou seja, entre 1995e 2000).

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VI — PERSPECTIVAS PARA 2003

1. Antitrust e liberalização

Novos instrumentos no contexto da modernização das disposições de execução dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE

677. No intuito de preparar a aplicação efectivado Regulamento n.o 1/2003 (1), a partir de 1 deMaio de 2004, a Comissão adoptará em 2003 umregulamento de execução e diversas comunica-ções, destinadas a dar apoio às autoridades nacio-nais da concorrência, tribunais nacionais, consu-midores e empresas a nível do funcionamento donovo regime de execução. A Comissão deveráadoptar comunicações em matéria de cooperaçãocom as Autoridades Nacionais de Concorrência etribunais nacionais, de aplicação do n.o 3 do ar-tigo 81.o do Tratado CE e do critério «efeito sobreo comércio entre os Estados-Membros», de pu-blicação de orientações e de tratamento das de-núncias.

Actividades de execução

678. A parte principal das actividades da DGConcorrência ligadas à aplicação do direito daconcorrência no domínio antitrust continuará aser constituída pela apreciação de casos individu-ais. Continuarão a fazer-se esforços para reduzirainda mais o tempo médio dos processos e paraafectar os recursos aos casos que suscitem um in-teresse jurídico, económico ou político particularpara a UE, nomeadamente medidas que impeçama total integração do mercado e lesem os interes-ses dos consumidores.

679. Os casos de comportamento abusivo porempresas dominantes, em especial em sectorescaracterizados por um desenvolvimento econó-mico ou tecnológico rápido (por exemplo, teleco-municações ou comunicação social) serão a prin-cipal prioridade.

680. O exame dos processos constituirá a princi-pal prioridade da Comissão no que se refere àssuas actividades em matéria de aplicação da le-gislação relativa aos cartéis. A luta contra os car-téis mais gravosos só poderá ser ganha se as me-didas de dissuasão forem suficientes. Se não fordetectado e desmantelado um número relevantede cartéis secretos e se os mesmos não forem

constantemente sancionados através de decisõesque apliquem coimas, este tipo de comporta-mento ilegal não cessará de se registar. Com baseno trabalho realizado em 2002, é de prever aadopção em 2003 de numerosas decisões relati-vas à imposição de sanções a cartéis.

681. No âmbito das suas actividades de examedos processos, a Comissão continuará a dar prio-ridade aos sectores importantes da economia eu-ropeia, onde as acções de aplicação da legislaçãocontribuem directamente para a melhoria dobem-estar dos consumidores.

682. Quanto aos aspectos processuais da aplica-ção da legislação no domínio antitrust, o acessoao processo é uma das principais garantias desti-nadas a proteger o direito de defesa. Para ter emconta a experiência até agora adquirida no âmbitoda Comunicação da Comissão sobre as regras in-ternas relativas aos pedidos de acesso ao pro-cesso (2), bem como para adaptar esta comunica-ção à jurisprudência recente, prevê-se que aComissão adopte em 2003 uma comunicação re-vista.

683. Continuarão a ser envidados esforços paramelhorar as competências associadas às inspec-ções no terreno, tendo em conta os novos poderesque a modernização da legislação no domínio an-titrust confere à Comissão, incluindo em especialos métodos e as qualificações para a obtenção deinformações electrónicas. As novas disposiçõesno domínio antitrust reforçarão a capacidade daComissão para obter provas, especialmente con-cedendo a possibilidade de examinar residênciasparticulares onde possam ser guardados docu-mentos das empresas.

684. Por último, mas não menos importante, o VSeminário Internacional sobre Cartéis tambémintegra a ordem de trabalhos da Comissão para2003, por forma a demonstrar a prioridade confe-rida à cooperação internacional. Trata-se de umaconferência anual que reúne cerca de 200 repre-sentantes de autoridades de defesa da concorrên-cia de todo o mundo, é organizada numa base ro-tativa, onde as «boas práticas» das respectivasautoridades podem ser objecto de intercâmbio,por exemplo a nível das técnicas de investigação,da realização de investigações electrónicas, dacooperação internacional e de outros problemasrelacionados com cartéis.

¥1∂ Regulamento do Conselho relativo à execução das regras deconcorrência estabelecidas nos artigos 81.o e 82.o do Tratado,JO L 1 de 4.1.2003, p. 1. ¥2∂ JO C 23 de 23.1.1997, p. 3.

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685. Com base no processo de Lisboa, a priori-dade em matéria de liberalização será dada àsmedidas de controlo da abertura dos mercados daelectricidade e do gás, bem como aos processosno sector dos transportes. Além disso, será pres-tada especial atenção à concorrência em secto-res/áreas sensíveis onde a Comissão está a imple-mentar medidas associadas ao mercado único,como serviços financeiros e profissões liberais.

2. Concentrações

686. Em matéria de controlo das operações deconcentração, a tarefa mais importante é a inicia-tiva para um quadro revisto, no qual as operaçõesde dimensão comunitária devem ser tratadas pelaComissão (revisão do regulamento de base doConselho e das medidas regulamentares deriva-das). Outro ponto importante para 2003 será aadopção de uma comunicação relativa à aprecia-ção de operações de concentração de carácter ho-rizontal e o reforço da cooperação com outras au-toridades de concorrência a nível internacional,no sentido de uma eventual convergência de pro-cedimentos e de análise de fundo.

3. Auxílios estatais

687. A política de auxílios estatais será desen-volvida em 2003, tendo em vista a sua moderni-zação e simplificação, visando ainda proporcio-nar a todos os interessados um quadro fiável eclaro onde possam operar. Os seus objectivos efundamentos deverão ser descritos mais explici-tamente numa comunicação da Comissão. Osinstrumentos actualmente existentes de controlo

dos auxílios estatais deverão ser analisadoscircunstanciadamente, por forma a eliminar pos-síveis conflitos entre si e simplificá-los substanci-almente. Sempre que possível, tentar-se-á simpli-ficar e racionalizar os procedimentos.

688. As prioridades específicas para 2003 inclui-rão a elaboração de um regulamento de isençãopor categoria no domínio dos auxílios à investiga-ção e desenvolvimento a favor das PME e a ela-boração de uma lista de sectores que sofrem degraves problemas estruturais e nos quais os auxí-lios ao investimento regional são objecto de res-trições. Serão preparadas novas regras para o sec-tor da construção naval, dado que as actualmentevigentes caducam em 2003. Será ainda conferidauma elevada prioridade à elaboração de orienta-ções referentes à atribuição de compensaçõespelo exercício de serviços de interesse econó-mico geral. A cooperação com os países candida-tos continuará em 2003, no intuito de estabeleceras listas de auxílios existentes que devem ser in-cluídas nos Tratados de Adesão.

4. Domínio internacional

689. No que se refere ao alargamento, a Comis-são acompanhará de perto a observância, pelos10 países candidatos, das condições e dos requisi-tos acordados para a adesão.

690. Com o objectivo de promover a convergên-cia internacional, a Comissão continuará o seutrabalho no âmbito da Rede Internacional daConcorrência e da preparação da 5.ª Reunião Mi-nisterial da OMC, que deverá realizar-se em Can-cun, em Setembro de 2003.

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Anexo — Processos analisados no Relatório

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1. Artigos 81.o, 82.o e 86.o

Processo Publicação Ponto

Acordo de Conferência Transatlântica (TACA) JO L 26 de 31.1.2003 128 e segs.

Air France/Alitalia 113

Aliança «Skyteam» no sector dos transportes aéreos JO C 76 de 27.3.2002, p. 12 112

Aromatizantes de alimentos IP/02/1907 de 17.12.2002 53, 54

Bancos austríacos IP/02/844 de 11.6.2002 39, 190 e segs.

Carlsberg e Heineken IP/02/1603 de 4.11.2002 43 e segs.

Deutsche Bahn AG (DB)/Georg Verkehrsorganisation (GVG) e Statens Järnvägar (SJ) 133

Deutsche Lufthansa+Austrian Airlines JO L 242 de 10.9.2002, p. 25 114

Federação Internacional da Indústria Fonográfica (FIIF) IP/02/1436 de 08.10.2002 147 e segs.

Ferrovie dello Stato (FS)/Georg Verkehrsorganisation (GVG), 133

Gases industriais e medicinais IP/02/1139 de 24.7.2002 42

Grafites especiais IP/02/1906 de 17.12.2002 55

IMS Health JO L 59 de 28.2.2002 68, 69

KLM/Northwest Airlines JO C 264 de 30.10.2002, p. 11 110

Leiloeiras de arte IP/02/1585 de 30.10.2002 46, 47

Liga dos Campeões da UEFA 138 e segs.

Linhas alugadas IP/02/1852 de 11.12.2002 101 e segs.

Lufthansa/SAS/United Airlines JO C 264 de 30.10.2002, p. 5 110

Metilglucamina IP/02/1746 de 27.11.2002 48, 49

Metionina IP/02/976 de 2.7.2002 40, 41

Nintendo IP/02/1584 de 30.10.2002 61 e segs.

Placas de gesso IP/02/1744 de 27.11.2002 50 e segs.

United Air Lines/SAS JO C 264 de 30.10.2002, p. 5 110

United Airlines/Lufthansa. JO C 264 de 30.10.2002, p. 5 110

Varões de betão IP/02/1908 de 17.12.2002 56 e segs.

Visa International (Comissão interbancária multilateral) JO L 318 de 22.11.2002, p. 17 187 e segs.

2. Controlo das operações de concentração

Processo Publicação Ponto

Airtours/First Choice JO L 93 de 13.4.2000JO C 191 de 10.8.2002

224 e segs.

Aker Maritime/Kvaerner (II) 272

Barilla/BPL/Kamps IP/02/914 de 26.6.2002 262

Bayer/Aventis Crop Science IP/02/570 de 17.04.2002 214

BP/VEBA OEL IP/02/974 de 2.7.2002 263

Cargill/Cerestar IP/02/97 de 21.1.2002 271

Carnival Corporation/P&O Cruises IP/02/552 de 11.4.2002IP/02/1142 de 24.7.2002

220 e segs.

Compass/Restorama/Rail Gourmet/Gourmet Nova IP/02/319 de 26.2.2002 274

Connex/DNVBVG/JV IP/02/267 de 25.4.2002 275

Danish Crown/Steff-Houlberg IP/02/260 de 15.2.2002 273

Electrabel Customer Solutions/Intercommunale d’Electricité du Hainaut IP/02/1962 de 23.12.2002 280

ENBW/ENI/GVS IP/02/1312 de 17.12.2002 222

GEES/Unison IP/02/578 de 18.4.2002 282

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Haniel/Cementbouw/JV (CVK) IP/02/313 de 25.2.2002IP/02/933 de 26.6.2002

215 e segs.

Haniel/Fels IP/01/1438 de 18.10.2001IP/02/288 de 21.2.2002

215 e segs.

Haniel/Ytong IP/01/1709 de 30.11.2001IP/02/530 de 9.4.2002

215 e segs.

Hollandsche Beton Groep/Koninklijke BAM NBM IP/02/1267 de 4.9.2002 278

Imperial Tobacco/Reemtsma Cigarettenfabriken IP/02/692 de 8.5.2002 260 e segs.

Leroy Merlin/Brico IP/02/1881 de 13.12.2002 279

Masterfoods/Royal Canin IP/02/263 de 15.2.2002 258

Nehlsen/Rethmann/SWB/Bremerhavener Entsorgungsgesellschaft

IP/02/785 de 31.5.02 276

Promatech/Sulzer Textil IP/02/569 de 17.4.2002 281

RAG/Degussa IP/02/1698 de 19.11.2002 265

Schneider/Legrand IP/01/481 de 30.3.2001IP/01/1393 de 10.10.2001IP/02/173 de 31.1.2002

235 e segs.

SEB/Moulinex IP/02/22 de 9.1.2002 257, 269 e segs.

Sogecable/Canalsatélite Digital/Vía Digital IP/02/1216 de 16.8.2002 277

Solvay/Montedison/Ausimont IP/02/532 de 9.4.2002 259

Telia/Sonera IP/02/1032 de 10.7.2002 264

Tetra Laval/Sidel IP/01/965 de 5.7.2001IP/01/1393 de 10.10.2001IP/02/173 de 31.1.2002IP/02/1952 de 20.12.2002JO C 19 de 25.1.2003

246 e segs.

3. Auxílios estatais

Processo Publicação Ponto

Apoio devido ao aumento do custo dos combustíveis Ainda não publicado 530

Auxílio aos danos causados pelas cheias na Alemanha Ainda não publicado 522

Auxílio de emergência à Bull Ainda não publicado 406 e segs.

Auxílio de emergência a favor da British Energy plc. IP 02/1747 409 e segs.

Bancos regionais alemães IP 02/354 360 e segs.

Bankgesellschaft Berlin JO C 141 de 14.6.2002 412

BMW Leipzig Ainda não publicado 473

BSIK JO C 18 de 22.1.2002 424

Calamidades naturais na Grécia JO C 257 de 24.10.2002 523

Centros de coordenação alemães Ainda não publicado 384

Centros de coordenação belgas JO C 384 de 10.12.1998 375

Custos da passagem para a situação de concorrência — Grã-Bretanha JO C 113 de 14.5.2002 359

Electricidade – Irlanda do Norte JO C 113 de 14.5.2002 388

Empresas seguradoras cativas JO L 329 de 5.12.2002 397

FSC americanos Ainda não publicado 383

GEA JO L 329 de 5.12.2002 399

Hamburger AG JO L 296 de 30.10.2002 438

Imposto especial de consumo sobre o rum produzido nos departamentos ultramarinos JO C 252 de 19.10.2002 428

Imposto sobre as alterações climáticas JO L 229 de 27.8.2002 416

Imposto sobre os agregados — Irlanda do Norte JO C 133 de 5.6.2002 417

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ANEXO — PROCESSOS ANALISADOS NO RELATÓRIO

Infineon, Alemanha JO L 307 de 8.11.2002 437

Instalações por cabo — Itália JO C 172 de 18.7.2002 453

Isenção aplicada pelo Reino Unido no caso de impostos ecológicos

JO L 229 de 27.8.2002 378

KLICT JO C 88 de 12.4.2002 422

KSG Ainda não publicado 464

Medidas fiscais a favor dos bancos em Itália 366 e segs.

Mutterer Alm — Áustria JO C150 de 22.6.2002 456 e segs.

Parque de lazer ZDF JO C 137 de 8.6.2002 374

Primeira central de energia solar — Alemanha Ainda não publicado 419

Produtores alemães de energia a partir de fontes renováveis JO C 164 de 10.7.2002 357

Refinaria Leuna na Saxónia-Anhalt Ainda não publicado 370

Regime fiscal dos Açores Ainda não publicado 429 e segs.

Regime fiscal existente em Itália JO L 296 de 30.10.2002 403

Schott Lithotec Ainda não publicado 440

STMicroelectronics — Sicília JO C 146 de 19.6.2002 436

Terra Mitica Ainda não publicado 381

Zellstoff Stendal JO C 232 de 28.9.2002 439

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Comissão Europeia

Política de Concorrência da União Europeia — 2002

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias

2003 — 147 p. — 21 x 29,7 cm

ISBN 92-894-4509-2

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