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*Os autores agradecem aos participantes dos seminários no IPEA, em Brasília, e no BNDES, no Rio de Janeiro, às numerosas agências do governo, institutos e pesquisadores brasileiros, incluindo o Ministério da Fazenda, Banco Central, Ministério da Agricultura, Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, incluindo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e a Câmara de Comércio Exterior (Camex), Agência de Promoção de Exportações (Apex), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do Rio de Janeiro e de Brasília, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Confederação Nacional da Indústria (CNI), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fundação Getulio Vargas (FGV), Cláudio Fritschak, Francisco Ferreira, Marcelo Neri, Renato Flores, Armando Castelar Pinheiro, Octávio Tourinho, Lia Valls Pereira e William Tyler. Os autores agradecem também aos pesquisadores e funcionários do Banco Mundial, incluindo Peter Lanjouw, Maurice Schiff, Dominique van der Mensbrugge, Daniel Lederman, Joachim von Amsberg, Alberto Valdes, Mauricio Carrizosa, Claudia Paz Sepulveda, Mark Thomas, Vinod Thomas, Aaditya Mattoo, Carsten Fink, Bernard Hoekman e Maria Kasilag, pela ajuda e pelos comentários. As opiniões expressas no trabalho são de responsabilidade dos autores, não sendo esta a visão oficial do Banco Mundial. Este trabalho foi preparado como parte do relatório do Banco Mundial para o governo brasileiro — Trade Policies to Improve Efficiency, Increase Growth and Reduce Poverty. POLÍTICAS DE COMÉRCIO REGIONAIS, MULTILATERAIS E UNILATERAIS DO MERCOSUL PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO E A REDUÇÃO DA POBREZA NO BRASIL* Glenn W. Harrison Da Universidade da Carolina do Sul Thomas F. Rutherford Da Universidade do Colorado David G. Tarr Do Banco Mundial Angelo Gurgel Da Universidade Federal de Viçosa Este trabalho utiliza um modelo de equilíbrio geral multirregional e multissetorial para avaliar os impactos de opções de política comercial do Mercosul sobre a economia brasileira, incluindo impactos setoriais e sobre a distribuição de renda. Os acordos Alca e UE–Mercosul, bem como mudanças mul- tilaterais na política comercial do Mercosul, trazem benefícios para o Brasil. Um acordo com a UE é cerca de duas vezes mais benéfico para o Brasil do que com a Alca, porém, se os Estados Unidos e a UE não permitirem o acesso aos seus mercados mais protegidos, a Alca trará maiores benefícios para o Brasil do que o acordo entre a UE e o Mercosul. Estima-se que os domicílios mais pobres ganham de três a quatro vezes mais que a média dos ganhos para o Brasil, devido a um aumento na demanda por produtos dos setores mais intensivos em trabalho não-qualificado e à elevação dos salários a partir da liberalização comercial. 1 INTRODUÇÃO Opções de políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais estão na mesa de negociação do governo brasileiro. Em termos de acordos regionais, o Brasil faz parte da União Aduaneira do Mercosul, junto com a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. As negociações para implementar a Área de Livre Comér- cio das Américas (Alca) com os países membros do Mercosul estão em discussão. O mais notável acordo bilateral que o Mercosul está negociando é um potencial

POLÍTICAS DE COMÉRCIO REGIONAIS, MULTILATERAIS E ... · de Comércio (OMC) [ver World Trade Organization (2000)]. O Brasil é mem-bro do grupo de Cairns, que apóia a liberalização

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*Os autores agradecem aos participantes dos seminários no IPEA, em Brasília, e no BNDES, no Rio de Janeiro, às numerosasagências do governo, institutos e pesquisadores brasileiros, incluindo o Ministério da Fazenda, Banco Central, Ministério daAgricultura, Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, incluindo aSecretaria de Comércio Exterior (Secex) e a Câmara de Comércio Exterior (Camex), Agência de Promoção de Exportações(Apex), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do Rio de Janeiro e de Brasília, Financiadora de Estudos e Projetos(Finep), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior(Funcex), Confederação Nacional da Indústria (CNI), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fundação GetulioVargas (FGV), Cláudio Fritschak, Francisco Ferreira, Marcelo Neri, Renato Flores, Armando Castelar Pinheiro, Octávio Tourinho,Lia Valls Pereira e William Tyler. Os autores agradecem também aos pesquisadores e funcionários do Banco Mundial, incluindoPeter Lanjouw, Maurice Schiff, Dominique van der Mensbrugge, Daniel Lederman, Joachim von Amsberg, Alberto Valdes,Mauricio Carrizosa, Claudia Paz Sepulveda, Mark Thomas, Vinod Thomas, Aaditya Mattoo, Carsten Fink, Bernard Hoekman eMaria Kasilag, pela ajuda e pelos comentários. As opiniões expressas no trabalho são de responsabilidade dos autores, nãosendo esta a visão oficial do Banco Mundial. Este trabalho foi preparado como parte do relatório do Banco Mundial para ogoverno brasileiro — Trade Policies to Improve Efficiency, Increase Growth and Reduce Poverty.

POLÍTICAS DE COMÉRCIO REGIONAIS, MULTILATERAIS EUNILATERAIS DO MERCOSUL PARA O CRESCIMENTOECONÔMICO E A REDUÇÃO DA POBREZA NO BRASIL*

Glenn W. HarrisonDa Universidade da Carolina do Sul

Thomas F. RutherfordDa Universidade do Colorado

David G. TarrDo Banco Mundial

Angelo GurgelDa Universidade Federal de Viçosa

Este trabalho utiliza um modelo de equilíbrio geral multirregional e multissetorial para avaliar osimpactos de opções de política comercial do Mercosul sobre a economia brasileira, incluindo impactossetoriais e sobre a distribuição de renda. Os acordos Alca e UE–Mercosul, bem como mudanças mul-tilaterais na política comercial do Mercosul, trazem benefícios para o Brasil. Um acordo com a UE écerca de duas vezes mais benéfico para o Brasil do que com a Alca, porém, se os Estados Unidos e aUE não permitirem o acesso aos seus mercados mais protegidos, a Alca trará maiores benefícios parao Brasil do que o acordo entre a UE e o Mercosul. Estima-se que os domicílios mais pobres ganham detrês a quatro vezes mais que a média dos ganhos para o Brasil, devido a um aumento na demanda porprodutos dos setores mais intensivos em trabalho não-qualificado e à elevação dos salários a partir daliberalização comercial.

1 INTRODUÇÃO

Opções de políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais estão namesa de negociação do governo brasileiro. Em termos de acordos regionais, oBrasil faz parte da União Aduaneira do Mercosul, junto com a Argentina, oUruguai e o Paraguai. As negociações para implementar a Área de Livre Comér-cio das Américas (Alca) com os países membros do Mercosul estão em discussão.O mais notável acordo bilateral que o Mercosul está negociando é um potencial

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1. Como exemplo pode-se citar o trabalho de Rossi Jr. e Ferreira (1999).

acordo de livre-comércio com a União Européia (UE). O Brasil também temapoiado avanços nas negociações multilaterais no âmbito da Organização Mundialde Comércio (OMC) [ver World Trade Organization (2000)]. O Brasil é mem-bro do grupo de Cairns, que apóia a liberalização do comércio de produtos agrí-colas, e acredita que o melhor fórum de negociação para alcançar o livre-comércioagrícola é a OMC. As negociações da OMC com o lançamento da Agenda deDesenvolvimento de Doha sugerem avanços na liberalização comercial multila-teral. Finalmente, embora falte apoio político para maior liberalização unilateralde comércio no Brasil e no Mercosul, houve redução de barreiras de forma con-siderável nos últimos dez anos. Vários pesquisadores brasileiros1 têm relatado umaumento significativo na produtividade brasileira associada com a liberalizaçãocomercial, e isso tem cimentado o apoio intelectual por um regime de comércioaberto.

Enquanto o Mercosul considera as opções de política comercial para ospróximos anos, seria útil para os formuladores de políticas brasileiros obteremrespostas para algumas das seguintes perguntas: Qual é o impacto da Alca ou dapotencial área de livre-comércio UE–Mercosul? Se a UE excluir produtos agríco-las do acordo, ou se os Estados Unidos aplicarem ações antidumping aos seussetores mais protegidos, esses acordos perderão suas atratividades? Quais são osganhos potenciais da liberalização multilateral comparados com a liberalizaçãoregional? Como o Brasil e o Mercosul podem combinar de forma ótima essasopções de política comercial? A Alca e o acordo UE–Mercosul poderiam trazermaiores benefícios se adotados em conjunto? Maior liberalização unilateral po-deria contribuir para o aumento do bem-estar, seja de forma independente ou emcombinação com acordos regionais? Este trabalho apresenta estimativas quanti-tativas para responder a essas e a outras perguntas.

É do conhecimento comum que muitos resultados de bem-estar provenien-tes de acordos regionais são tipicamente ambíguos em nível teórico, e que muitasquestões são quantitativas em vez de qualitativas. A partir dessa consideração,utiliza-se um modelo computável de equilíbrio geral (CGE) global com 16 regiõespara avaliar quantitativamente os acordos regionais, unilaterais e multilaterais. Omodelo inclui a economia brasileira, bem como as economias de Argentina, Uru-guai, Chile, México, Estados Unidos, Canadá, América Central, Venezuela, Co-lômbia, Peru, Resto do Pacto Andino, Resto da América do Sul, UE, Japão e umagregado do Resto do Mundo. Conseqüentemente, pode-se estimar os impactossobre os países participantes e excluídos de cada um dos acordos.

Em vista da preocupação a respeito dos impactos de mudanças na políticacomercial sobre a distribuição de renda e o nível de pobreza, um significativo

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3Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

2. Todos os apêndices podem ser encontrados no site http://dmsweb.moore.sc.edu/Glenn/brazil/.

3. Análises de sensibilidade permitem inferir que os resultados são consideravelmente diferentes quando não se observamdevidamente os detalhes a respeito das parcelas dos fatores.

enfoque deste trabalho se volta para os efeitos das mudanças de política comercialsobre a pobreza. Foram incorporadas 20 classes diferentes de domicílios no modelo,sendo dez rurais e dez urbanas, classificadas de acordo com o nível de renda. Estetrabalho é inovador nessa área em várias dimensões empíricas, como descrito nosApêndices A, C e D.2 Um cuidadoso e detalhado trabalho empírico de mapeamentode dados de parcelas de fatores e de renda advindos do survey sobre domicíliospossibilitou obter resultados que podem ser sensivelmente usados para analisar adimensão da pobreza em um cenário aplicado de mudanças na política comercial.3

Os resultados básicos de políticas são apresentados nas Tabelas 5A e 5B (emtermos percentuais) e nas Tabelas 6A e 6B (em dólares). Os resultados sugeremque os acordos regionais sob consideração pelo Mercosul, como o da Alca e oacordo com a UE, podem ambos resultar em ganhos para o Brasil. Quer dizer,para os padrões de acordos preferenciais de comércio, esses acordos potenciaissão relativamente benéficos — Harrison, Rutherford e Tarr (2002) e Bakoup eTarr (2000) apresentam avaliações quantitativas que revelam impactos negativosde alguns acordos regionais. Um acordo com a UE traria ganhos quase duas vezesmaiores do que com a Alca, porque permitiria o acesso aos mercados agrícolasaltamente protegidos da Europa. Os dois acordos combinados trariam ganhosmaiores do que os obtidos pela soma dos acordos separadamente, devido a umaredução no desvio de comércio. Esse resultado mostra que a estratégia brasileira debuscar os acordos combinados, em vez de um ou outro separadamente, é benéfica.

Contudo, tanto os Estados Unidos quanto a UE podem tentar protegerseus mercados, apesar dos acordos preferenciais. Qual será o custo para o Brasil sefor negado o acesso preferencial aos mercados dos Estados Unidos e/ou da UE?Se a UE excluir seus produtos agrícolas mais protegidos do acordo UE–Mercosul,os ganhos para o Brasil serão reduzidos para apenas 1/9 do valor dos ganhosobtidos com total acesso preferencial ao mercado europeu. Se os Estados Unidosempregarem ações antidumping para excluir o acesso brasileiro aos mercados dosprodutos mais protegidos naquele país, os ganhos para o Brasil poderão ser redu-zidos para 2/3 dos ganhos que seriam obtidos com o total acesso aos mercados daAlca. Se ambos os acordos forem implementados com a exclusão de produtos, aAlca será mais valiosa para o Brasil do que o acordo com a UE.

Os resultados revelam que tanto uma redução unilateral das tarifas doMercosul quanto uma uniformidade tarifária nesse bloco produzem benefíciospara o Brasil. Estimou-se que tarifas uniformes no Mercosul — mantendoinalterada a receita tarifária arrecadada pelo Brasil — podem render benefíciosmais elevados que uma redução unilateral de 50% nas tarifas do bloco.

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4. Esses resultados são consistentes com outras duas análises do impacto da liberalização comercial sobre a pobreza noBrasil. Barros, Corseuil e Cury (2000) empregaram um modelo CGE para o Brasil, calibrado para dados de 1995. Esses autoressimularam um aumento nos níveis de proteção para aqueles prevalecentes em 1985 no Brasil. Eles observaram que a liberalizaçãocomercial traz benefícios para a economia como um todo, porém residentes urbanos e rurais pobres apresentam ganhosrelativamente maiores com a liberalização comercial. O extenso estudo sobre a pobreza rural no Brasil realizado pelo BancoMundial (2001, p. iv) conclui que “considerando que a agricultura comercial é responsável pela produção das culturas deexportação no Brasil, um regime de política comercial com tarifas relativamente baixas para importações (tanto de insumosquanto de produtos finais) pode melhorar significativamente a competitividade internacional do setor, o que, por sua vez,levaria a níveis mais elevados de salários reais e aumentaria as oportunidades de emprego, tanto ao nível da produçãoprimária quanto para os setores a jusante de processamento e transporte”.

Para o Brasil, muitas opções de política comercial avaliadas, regional, mul-tilateral ou unilateralmente, resultam em uma distribuição progressiva dos ganhospara os diferentes domicílios, de modo que as famílias mais pobres experimen-tam maior percentagem de aumento em suas rendas. Esse resultado ocorre por-que as mudanças na política comercial no Brasil tendem a realocar recursos desetores manufatureiros intensivos em capital para setores agrícolas e manufatureirosintensivos em trabalho não-qualificado, induzindo um aumento no salário detrabalhadores não-qualificados em relação a outros fatores de produção. Em geral,os setores de sementes oleaginosas, outros produtos da agricultura (excluindogrãos e trigo), outras culturas (que incluem frutas, vegetais e trigo), outros ali-mentos e produtos de couro apresentam aumentos em produção e exportações,enquanto diversos setores manufatureiros, como os de veículos automotores, outrosprodutos metálicos e o setor denominado outros manufaturados sofrem contração.

Esse resultado reflete o padrão de proteção relativa no Brasil, que favorecemais os setores manufatureiros intensivos em capital em comparação com os se-tores agropecuários e de alimentos processados. Quando a proteção comercial éreduzida, recursos são transferidos em direção aos setores agropecuários e de ali-mentos, que estavam em relativa desvantagem em relação aos setores manufatu-reiros. Esse efeito, por sua vez, resulta em um aumento na renda dos domicíliosmais pobres no Brasil relativamente aos mais ricos. O aumento percentual narenda das oito classes de domicílios mais pobres — quatro rurais e quatro urba-nos — é várias vezes maior do que o aumento percentual da renda média naeconomia como um todo. Em um nível de desagregação maior, algumas famíliasmais pobres podem perder, principalmente no curto prazo. Essa constataçãoenfatiza a necessidade de serem colocadas em prática políticas efetivas de ajusta-mento. Contudo, uma vez que os setores importantes para os domicílios pobressão desfavorecidos pela estrutura de proteção, os efeitos dessas reformas de polí-tica comercial no médio e no longo prazo devem ser positivos para as famíliaspobres.4

As estimativas deste trabalho revelam que a aparente estratégia brasileira debuscar simultaneamente acordos do Mercosul com a UE e com a Alca, ao mesmotempo que apóia a liberalização comercial multilateral no âmbito da OMC, tam-

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5Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

5. Neste trabalho, muitas das opções de política comercial são avaliadas em um modelo de “estado de equilíbrio comparati-vo” (comparative steady state), similar ao trabalho dos autores com um modelo de equilíbrio comparativo estático sobre aRodada Uruguai. Porém, como a taxa de rentabilidade do capital se reduz em muitos dos cenários, o estoque de capital nonovo equilíbrio não se eleva, e os ganhos de bem-estar estimados para a economia também não se elevam. Em geral, osganhos não precisam necessariamente aumentar em um modelo de equilíbrio de estática comparativa, como explicado notrabalho de Rutherford e Tarr (2003). Alguns autores, como Burfisher, Robinson e Thierfelder (2002), especificam a mudançatécnica neutra de Hicks como uma função da parcela do PIB que é comercializada, ou comercializada com países industriais.Embora essa especificação permita atingir maiores estimativas de bem-estar advindas da liberalização comercial, escolheu-seevitá-la aqui, uma vez que não possui qualquer fundamento microeconômico. Essa especificação ignora a inovação da litera-tura sobre crescimento endógeno referente a mudança tecnológica.

bém é acertada. O Brasil pode otimizar sua escolha de políticas comerciais pelacombinação de acordos regionais tanto nas Américas quanto na UE, concomitantescom a liberalização multilateral. Se uma uniformidade tarifária for adicionada àsliberalizações regionais e multilateral, ganhos adicionais poderão ser obtidos.

Os acordos da Alca e da UE–Mercosul apresentam efeitos líquidos de cria-ção de comércio para os países envolvidos, porém países excluídos quase sempreperdem com os acordos. As estimativas mostram que a liberalização multilateralde comércio na forma de uma redução de 50% nos níveis de tarifas às importa-ções e de subsídios às exportações resulta em ganhos para o mundo mais quequatro vezes superiores aos ganhos obtidos com a Alca ou com o acordo UE–Mercosul. Esse resultado indica a importância da continuidade das negociaçõesmultilaterais para a comunidade mundial de comércio.

Este modelo não incorpora crescimento ou efeitos endógenos específicos depolítica comercial sobre o crescimento. Vários pesquisadores brasileiros, comoFeijó e Carvalho (1994), Bonelli e Fonseca (1998), Moreira (1999), Rossi Jr. eFerreira (1999), Pinheiro e Moreira (2000) e Ferreira e Rossi Jr. (2001), têmevidenciado uma correlação entre a abertura brasileira para o mercado externo noinício dos anos 1990 e um aumento na produtividade no setor manufatureirobrasileiro. Recentemente, Muendler (2001) foi capaz de inferir uma relação causalentre a liberalização comercial e o aumento na produtividade total dos fatores.Esses estudos têm contribuído para impulsionar o avanço na liberalização comer-cial brasileira. Um modelo que incorpore efeitos endógenos de crescimento, comoo desenvolvido por Rutherford e Tarr (2002), pode produzir ganhos advindos daliberalização comercial várias vezes superiores aos ganhos estimados no nossomodelo de retornos constantes à escala (CRTS).

Modelos numéricos de crescimento endógeno que possam produzir resulta-dos em nível setorial ou para domicílios desagregados, como requerido aqui, po-rém, ainda não estão disponíveis. Por essa razão, adotou-se uma modelagem maisconvencional de estática comparativa. Pode-se, em geral, considerar que a ordemdos resultados e ganhos estimados (ou perdas em alguns casos) para a economiadeve ser múltipla dos ganhos ou perdas estimados neste trabalho.5 Existem,

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porém, exceções a esses múltiplos dos benefícios ou perdas. Espera-se que o co-mércio (direto e indireto) com países tecnologicamente avançados promova maio-res aumentos na produtividade do que o comércio com países menos avançados.Neste caso, a Alca pode trazer efeitos dinâmicos para a Argentina, por exemplo,embora os efeitos estáticos aqui estimados sejam negativos.

O texto está estruturado da seguinte forma. A Seção 2 apresenta uma descri-ção do modelo e dos dados utilizados. A Seção 3 apresenta e discute os resultadosde políticas para o Brasil, as implicações para a distribuição de renda e a realocaçãoda produção entre setores. Os resultados para os demais países no modelo tam-bém são explicados nessa seção. Os impactos nos países parceiros e nos excluídosdos acordos regionais também são avaliados e comparados aos impactos obtidossob liberalização comercial multilateral. A Seção 4 examina as combinações dasdiversas opções de política comercial para otimizar os resultados para o Brasil.Por fim, a Seção 5 apresenta as conclusões do trabalho.

2 UM MODELO MULTIRREGIONAL DE COMÉRCIO

2.1 Características gerais

O modelo quantitativo desenvolvido para avaliar as opções de política comercialpara o Brasil é multirregional e multissetorial. A Tabela 1A apresenta as 16 regiõesexplicitamente representadas no modelo, bem como os 23 setores, 22 de produ-ção de bens e serviços mais o setor de bens de capital, incluídos em cada região. Omodelo é bastante desagregado para as Américas, onde foram caracterizados 13países ou regiões. Fora das Américas, foram caracterizadas as regiões União Euro-péia (15 países), Japão e Resto do Mundo. Essa especificação procura incorporartodos os países e regiões de importância para a política comercial brasileira. Aespecificação geral do modelo utilizado aqui segue o modelo multirregional de-senvolvido anteriormente pelos autores para medir os efeitos da Rodada Uruguaie, de forma mais aproximada, o modelo usado para estudar opções de políticacomercial para o Chile [Harrison, Rutherford e Tarr (1977c e 2002)].6 Existem,contudo, diversas diferenças importantes em dados e modelagem entre a presentepesquisa e os modelos anteriores. A inovação mais importante refere-se à desagre-gação de domicílios no Brasil. A desagregação dos domicílios brasileiros no mo-delo permite avaliar os impactos distributivos de políticas comerciais e não ape-nas os efeitos agregados. Em particular, o impacto de opções de política comercialsobre pobreza pode ser avaliado devido à desagregação dos domicílios (Tabela 1B).Diferentemente do Brasil, as demais economias são modeladas da maneira maistradicional em que todos os consumidores são representados por um “agenterepresentativo”.

6. O modelo e as publicações relacionados podem ser encontrados no web site http://dmsweb.badm.sc.edu/glenn/ur_pub.htm.

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7Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

TABELA 1ALISTA DE COMMODITIES, REGIÕES E FATORES

Commodities Regiões Fatores

PDR Arroz em casca BRA Brasil CAP Capital

GRO Cereais ARG Argentina LAB Trabalho não-qualificado

OSD Sementes oleaginosas URY Uruguai LND Terra

AGR Outros produtos da agricultura CHL Chile RES Recursos naturais

OCR Outras culturasa COL Colômbia SKL Trabalho qualificado

CMT Produtos de carne bovina PER Peru

OMT Outras carnes VEN Venezuela

MIL Produtos de laticínios XAP Resto do Pacto Andino

PCR Arroz processado MEX México

SGR Açúcar XCM América Central e Caribe

OFD Outros alimentos XSM Resto da América do Sul

ENR Energia e mineração CAN Canadá

TEX Têxteis USA Estados Unidos

WAP Vestuário EUR União Européia (15 países)

LEA Produtos de couro JPN Japão

LUM Produtos da madeira ROW Resto do Mundo

MAN Outros manufaturados

I_S Ferro e aço

FMP Outros produtos metálicos

MVH Veículos automotores, peças e

acessórios

SER Serviços

CGD Bens de capital

DWE Serviços domésticos

a O setor outras culturas é uma agregação dos seguintes setores dos dados originais do GTAP: trigo, vegetais e frutas, plantas

fibrosas, lã, produtos florestais, pescados e a categoria other crops do GTAP.

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9Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

7. Dimaranan e McDougall (2002, Cap. 4) apresentam a documentação do GTAP e descrevem a elaboração dos dados sobreproteção comercial.

8. Um exemplo é a aproximação adotada por Bond (1996). Esse autor desenvolve uma especificação simplificada de equilí-brio geral para avaliar os efeitos de acordos preferenciais de comércio para o Chile, com um impressionante nível de detalhesem relação aos dados de tarifas. Os resultados para o Chile quando esse país se une ao Nafta, porém, diferem significativa-mente dos resultados do presente modelo, uma vez que o modelo CGE usado por esse autor não incorpora os impactosadvindos do acesso chileno aos mercados do Nafta.

Foi aplicada a base de dados do GTAP5,7 que faz uso dos dados de comér-cio internacional compatíveis com o ano de 1997, reconciliando esses dados deforma que se tornem consistentes com o PIB e outros dados macroeconômicosde 1997. Com relação ao Brasil, os dados do GTAP5 foram atualizados ou modi-ficados em diversos aspectos neste trabalho. As modificações mais importantessão: atualização da matriz de insumo-produto utilizando a matriz de 1996, umavez que os dados do GTAP5 baseiam-se na matriz de insumo-produto brasileirade 1985; os dados sobre proteção comercial para o Brasil foram alterados deforma a caracterizar melhor a economia brasileira (e alguns problemas nos dadossobre proteção comercial foram corrigidos para alguns países); foram utilizadosdados de pesquisa do IBGE sobre despesas domiciliares para elaborar informa-ções desagregadas para múltiplos domicílios no Brasil; e foram estimadas de for-ma independente as participações dos fatores primários no valor adicionado dasindústrias brasileiras. Os principais dados em nível dos setores produtivos estãodescritos na Tabela 2. As modificações na base de dados original são explicadas deforma mais detalhada no corpo do trabalho e nos apêndices.

Foi adotado um modelo multirregional, em vez de um modelo de umapequena economia aberta, uma vez que é preciso considerar os possíveis efeitosde uma redução das tarifas de importação do Mercosul para países parceiros forado bloco sobre a economia brasileira De maneira crucial, também foi necessáriolevar em conta os efeitos do acesso das exportações brasileiras aos mercados apartir de uma redução nas tarifas de importação pela UE, pelo North AmericanFree Trade Agreement (Nafta), ou por outras regiões com as quais, separada oucoletivamente, o Brasil concorde em estabelecer livre-comércio.

Embora a teoria geral sobre efeitos de bem-estar advindos de acordos prefe-renciais de comércio considere os impactos de mudanças nas tarifas comerciaisde países parceiros sobre os termos de comércio do país considerado [ver Wooton(1986) e Harrison, Rutherford e Wooton (1989 e 1993)], algumas aproximaçõesempíricas para avaliar acordos preferenciais de comércio ignoram tais impactos.8

O presente modelo permite estimar explicitamente a importância para o Brasilda ampliação do acesso aos mercados de regiões como a UE e as Américas, bemcomo avaliar as perdas que o Brasil pode sofrer se países parceiros aumentarem ospreços de suas exportações para o Brasil.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200310

TABELA 2ESTRUTURA DA ATIVIDADE ECONÔMICA NO BRASIL

VA VA% UNSK% SKL% CAP% LAN% Export Export%Export

intensityImport Import%

Import

intensity

PDR 763 0,1 72 8 19 110 4

GRO 2.449 0,3 71 8 18 3 47 1 144 3

OSD 2.780 0,4 36 4 50 10 1.795 3 28 419 8

AGR 15.471 2,2 67 8 21 4 2.986 5 7 646 1 2

OCR 33.643 4,8 81 9 7 2 3.923 7 7 2.832 3 5

ENR 24.736 3,5 9 4 87 4.441 8 6 7.742 9 9

CMT 2.421 0,3 23 12 65 260 2 262 2

OMT 1.088 0,2 23 12 65 1.488 3 20 36 1

MIL 2.473 0,4 13 13 74 596 1 5

PCR 168 23 24 52 252 6

SGR 483 0,1 28 25 47 1.576 3 22

OFD 13.699 1,9 17 18 65 1.866 3 3 1.936 2 3

TEX 4.068 0,6 21 9 70 1.060 2 5 1.726 2 8

WAP 3.545 0,5 32 14 54 205 1 710 1 4

LEA 1.554 0,2 40 14 46 2.300 4 31 573 1 10

LUM 4.676 0,7 30 11 59 1.765 3 12 383 3

MAN 60.391 8,6 19 14 67 16.615 29 9 41.537 46 19

I_S 3.359 0,5 12 4 84 4.203 7 16 746 1 3

FMP 6.788 1,0 39 17 44 725 1 3 1.231 1 5

MVH 9.865 1,4 15 7 79 5.378 9 12 10.273 11 21

SER 509.359 72,4 27 24 49 7.536 13 1 18.046 20 2

Fonte: Matriz de insumo-produto brasileira de 1996 e base de dados do GTAP (versão 5).Obs.: VA = valor adicionado líquido de impostos (US$ milhões); VA% = valor adicionado setorial como percentagem do valoradicionado agregado; UNSK% = participação percentual do trabalho não-qualificado no valor adicionado; SKL% = participaçãopercentual do trabalho qualificado no valor adicionado; CAP% = participação percentual do capital no valor adicionado; LAN% =participação percentual da terra no valor adicionado; Export = valor das exportações; Export% = participação percentual dasexportações setoriais no total das exportações agregadas; Export intensity = participação percentual das exportações setoriais naprodução doméstica setorial; Import = valor das importações; Import% = participação percentual das importações setoriais no totaldas importações agregadas; e Import intensity = participação percentual das importações setoriais no total da demanda domésticasetorial.

Apesar de existirem numerosas listas de exceções à tarifa externa comum(TEC) do Mercosul, e, em muitos casos, essas listas serem alteradas ao longo dotempo, este trabalho admite que os países do Mercosul aplicam a TEC. Argenti-na e Uruguai são representados explicitamente no modelo, enquanto o Paraguai

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11Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

é incluído na região Resto da América do Sul. Desse modo, foram consideradasas tarifas nulas nas importações de bens entre Argentina, Brasil e Uruguai, e aaplicação da TEC do Mercosul por esses três países. As tarifas brasileiras (da basede dados do GTAP5) foram admitidas como sendo a TEC para todos os paísesdo Mercosul. As alíquotas tarifárias, dentro do conceito de nação mais favorecida(NMF), para todos os países do modelo, são apresentadas na Tabela 3.

TABELA 3

ESTRUTURA DA PROTEÇÃO COMERCIAL PARA TODOS OS PAÍSES NA AMOSTRAa

BRAb

USA CAN MEX ARG CHL COL PER VEN URY XCM XAP XSM EUR JPN ROW

PDR 12 5 * 15 12 11 13 22 13 12 25 12 15 65 409 7

GRO 7 1 9 38 7 11 12 12 12 7 9 11 5 44 20 77

OSD 6 18 * 3 6 11 11 12 11 6 5 8 4 3 76 52

AGR 10 3 12 17 10 11 17 12 17 10 12 17 7 13 18 24

OCR 8 14 2 12 9 11 12 16 12 9 9 9 7 10 46 20

ENR 4 0 1 7 5 11 9 12 6 5 6 6 4 1 –1 5

CMT 12 5 16 35 12 11 19 15 19 12 15 18 11 95 36 34

OMT 14 4 72 68 14 11 18 20 18 14 20 19 13 61 58 33

MIL 19 42 215 38 19 11 19 19 17 19 24 18 16 90 287 43

PCR 15 5 1 15 15 11 20 20 20 15 36 20 18 86 409 19

SGR 19 53 5 4 19 11 18 12 18 19 20 17 24 76 116 17

OFD 18 8 29 22 18 11 18 15 19 18 16 18 17 28 34 32

TEX 16 11 16 15 16 11 17 16 17 16 16 11 16 10 8 16

WAP 20 13 21 33 20 11 20 20 20 20 24 15 23 12 13 17

LEA 26 13 15 25 26 11 16 18 18 23 15 15 19 8 15 13

LUM 15 2 7 13 13 11 17 12 16 14 15 15 20 3 3 11

MAN 13 2 3 10 13 11 9 12 10 13 9 9 11 4 1 7

I_S 13 3 5 8 12 11 10 12 12 12 6 9 11 3 3 8

FMP 16 4 6 14 16 11 14 12 15 16 10 12 16 4 1 12

MVH 26 2 5 14 26 10 21 12 25 29 13 20 14 5 13

a Tarifa média de importação ponderada pelas parcelas de importações dos países sujeitos a tarifas positivas.

b Ver a Tabela 1A para a definição de regiões e commodities.

* Existem apenas importações oriundas dos Estados Unidos, que não estão sujeitas a tarifas.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200312

Em adição ao Mercosul, considerou-se que o Nafta se encontra em opera-ção como uma área de livre-comércio, com tarifas nulas entre os Estados Unidos,Canadá e México, porém cada um dos três países tem sua própria tarifa externaao Nafta. Apesar de existirem muitos outros acordos preferenciais de comércionas Américas que são implementados em diferentes níveis de efetividade, a basede dados utilizada não incorpora essas tarifas preferenciais. O Apêndice B apre-senta maiores considerações a respeito das alíquotas tarifárias na base de dados doGTAP5.

2.2 Especificação formal

2.2.1 O modelo

A especificação geral do modelo segue os trabalhos anteriores dos autores para aRodada Uruguai e para o Chile. Concentra-se aqui no que será denominado“modelo-base”, que é estático e admite CRTS.9 A estrutura do modelo para qual-quer país ou região é bem parecida com o modelo básico desenvolvido por Meloe Tarr (1992), a não ser pelo fato de, no presente modelo, importações e exporta-ções serem distinguidas por regiões de origem e múltiplos domicílios serem con-siderados no modelo.10

De forma resumida, a produção requer o uso de insumos intermediários efatores primários (trabalho, capital e terra). Fatores primários são móveis entresetores dentro de uma região, porém imóveis internacionalmente. Admitem-sefunções de elasticidade de substituição constante (CES) para o valor adicionado,e funções de produção Leontief para a combinação de insumos intermediários evalor adicionado. A produção é diferenciada entre produção doméstica e expor-tações, porém exportações não são diferenciadas por país de destino.

Excetuando o Brasil, cada região possui um agente consumidor representa-tivo que maximiza sua utilidade, bem como um simples agente representando ogoverno. No caso do Brasil, existem 20 domicílios (consumidores): dez rurais edez urbanos. Domicílios urbanos e rurais são distinguidos por nível de renda,como discutido a seguir. Em Harrison, Rutherford e Tarr (1997b, Apêndice C)são caracterizadas formalmente a estrutura da demanda e as elasticidades que sãocríticas para os resultados. A demanda é caracterizada por uma função de utilida-de CES de múltiplos estágios. No nível mais alto, a demanda é uma função Cobb-

9. Uma vez que o trabalho expande o modelo multirregional e multissetorial de forma a incluir múltiplos domicílios, o focosobre CRTS foi escolhido por se acreditar que tal estrutura é crucial para se obter um entendimento claro dos mecanismosbásicos através dos quais mudanças de políticas comerciais impactam sobre a pobreza no Brasil. Extensões do modelo incor-porando retornos crescentes à escala, assim como questões relativas a crescimento endógeno e decisões de investimentos,certamente seriam de interesse, porém vão além do escopo do trabalho, como discutido na introdução.

10. Para uma explicação detalhada das equações, ver Melo e Tarr (1992, Cap. 3).

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13Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

11. Uma interessante extensão dessa análise seria considerar elasticidades-renda não-unitárias para as diferentes famílias noBrasil. Contudo, dada a maneira com a qual o sistema de demanda é calibrado, usando as parcelas de despesa no ano-base,elasticidades-renda não-unitárias teriam muito pouco impacto nos resultados. A razão para isso é que nas simulações aplica-das as mudanças na renda real são tipicamente inferiores a 5%. Considera-se que o esforço extra necessário para calibrarelasticidades-renda não-unitárias não deve mudar os resultados consideravelmente, porém esse julgamento deve ser verifica-do em trabalhos futuros.

Douglas para os compostos agregados “Armington” dos 23 bens listados na Tabe-la 1A. Os consumidores escolhem primeiro quanto consumir de cada bem agre-gado Armington, como trigo, sujeito a renda agregada e preços compostos decada bem agregado. A parcela inicial das despesas de cada um dos 20 consumido-res determina a elasticidade da demanda para a função de demanda de cada con-sumidor. Essas parcelas de despesa (que determinam as elasticidades da demandados domicílios) diferem entre cada domicílio e são apresentadas na Tabela 4A. Aelasticidade da demanda para cada bem Armington agregado é, por sua vez, umcomposto CES da produção doméstica e de importações agregadas. Consumido-res decidem quanto gastar com o agregado de bens importados e com os bensdomésticos sujeitos à decisão anterior de quanta renda será gasta nesse setor, euma função de utilidade CES representa as preferências por bens importadosagregados e bens domésticos. Finalmente, os consumidores decidem como alocardespesas entre importações das outras 15 regiões com base em suas funções deutilidade CES por bens importados de regiões diferentes e na renda alocada parao consumo de importações, escolha essa tomada no nível da decisão anterior.

No Brasil, embora a estrutura da demanda seja idêntica entre domicílios, aselasticidades da demanda com respeito a renda e preços diferem entre eles. Issoocorre porque os padrões iniciais de despesa são diferentes entre os domicílios(Tabela 4A). Desse modo, para que os dados observados sejam conciliados comas formas funcionais assumidas para a demanda, os parâmetros da função dedemanda devem diferir entre as famílias.11

Vários pesquisadores brasileiros, como Feijó e Carvalho (1994), Bonelli eFonseca (1998), Moreira (1999), Rossi Jr. e Ferreira (1999), Pinheiro e Moreira(2000) e Ferreira e Rossi Jr. (2001), apontaram uma correlação entre a aberturabrasileira ao comércio exterior no princípio da década de 1990 e um aumento naprodutividade na indústria manufatureira brasileira. Recentemente, Muendler(2001) foi capaz de inferir uma relação causal entre a liberalização comercial e oaumento na produtividade total dos fatores. Essas constatações têm contribuídopara impulsionar o avanço na liberalização comercial brasileira. Um modelo queincorporasse efeitos endógenos de crescimento, como o desenvolvido porRutherford e Tarr (2002), poderia produzir ganhos advindos da liberalização co-mercial várias vezes superiores aos ganhos estimados neste modelo de retornosconstantes à escala. Modelos numéricos incorporando crescimento endógeno quepossam produzir resultados em nível setorial ou de domicílios desagregados, como

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15Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200316

requerido em nossa análise, porém, ainda não estão disponíveis. Por essa razão,adota-se uma modelagem convencional de estática comparativa. Acredita-se, emgeral, que a ordem dos resultados e ganhos estimados (ou perdas em alguns casos)para a economia serão múltiplos dos ganhos ou perdas estimados aqui. Existem,porém, exceções a esses múltiplos de benefícios ou perdas. É esperado que ocomércio (direto e indireto) com países tecnologicamente avançados promovamaiores aumentos na produtividade do que o comércio com países menos avan-çados. Nesse caso, a Alca pode trazer efeitos dinâmicos positivos para a Argenti-na, por exemplo, embora os efeitos estáticos aqui estimados sejam negativos.

2.2.2 Dados e elasticidades

Exceto onde indicado, foi utilizada a base de dados do GTAP5, que se tornoudisponível em novembro de 2001. A versão desse modelo com 16 regiões incluitodas as regiões da base de dados do GTAP5 que são diretamente relevantes para assimulações de políticas em questão. A versão original completa do GTAP5 contém57 setores, porém para efeitos desta pesquisa eles foram agregados em 23 setores, oque resulta em um modelo com aproximadamente 2.500 equações. Todavia, foramconsiderados aqueles setores de maior importância para a política comercial brasi-leira, uma vez que foram preservados setores com elevadas proteções comerciais nosEstados Unidos, na UE e no Mercosul. A desagregação de setores adicionais pode-ria ser de interesse para especialistas brasileiros nesses setores, porém, até onde vai apreocupação com resultados de bem-estar, a agregação de setores com níveis simila-res de proteção não deve afetar os resultados de forma significativa.12

A parcela do valor adicionado setorial atribuído ao capital é notoriamentemal representada em tabelas de insumo-produto.13 Conseqüentemente, as parce-las de participação dos fatores nas indústrias brasileiras foram estimadas de formaindependente neste trabalho. Detalhes sobre esse procedimento são apresentadosno Apêndice C. Dados sobre a estrutura de produção advindos da matriz deinsumo-produto atualizada, estimativas independentes de participação dos fato-res no valor adicionado e participações das exportações e importações são apre-sentados na Tabela 2. A Tabela 3 apresenta um sumário das tarifas médias ponde-radas por setores e países do modelo.

Geralmente admite-se que a elasticidade de substituição entre importaçõesde diferentes regiões (σMM ) é igual a 30 e que a elasticidade entre importações

12. Foram agregados setores que não são importantes no comércio ou que possuem reduzidas taxas de proteção. É sensocomum que a agregação pode mudar de maneira significativa os resultados em análises aplicadas de políticas comerciais.Contudo, o procedimento adotado para agregação neste trabalho resulta em pequeno viés para análise de política comercial.Os autores reconhecem que os setores ligados a serviços não são abordados de forma relevante neste modelo, porém foidesenvolvido um trabalho específico ao setor de serviços por pesquisadores do Banco Mundial [Mattoo et alii (2002)] dentrodo mesmo projeto deste trabalho.

13. Para maiores detalhes, ver Harrison, Rutherford e Tarr (2003).

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17Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

agregadas e produção doméstica (σDM

) é igual a 15. Esses valores são considera-dos elasticidades centrais no modelo. Estudos econométricos, como os conduzi-dos por Reinert e Roland-Holst (1992) e Shiells e Reinert (1993), sugerem valo-res de elasticidades menores que esses. Porém, Reidel (1988) e Athukorala e Reidel(1994) argumentam que, quando o modelo é especificado corretamente, as elas-ticidades da demanda não são estatisticamente diferentes de valores infinitos, e asestimativas pontuais desses autores são próximas aos valores de elasticidades esco-lhidos como centrais neste trabalho.14 Além disso, espera-se que as elasticidadesaumentem ao longo do tempo, e o presente modelo supõe um ajustamento deaproximadamente dez anos, um período bastante longo no contexto dessas esti-mativas econométricas.

De forma mais clara, o valor de σMM

= 30 significa que, se o Brasil tentasseaumentar seus preços em 1% nos mercados mundiais em relação a uma médiadas importações agregadas, as importações brasileiras iriam declinar 30% emrelação às importações agregadas. Considerando que devem existir economistasque prefiram menores estimativas de elasticidades, muitas das simulações de po-líticas foram também realizadas com σ

MM = 8 e σ

DM = 4. Essas elasticidades são

denominadas elasticidades baixas na apresentação e discussão dos resultados. Navisão dos autores, um cenário com elasticidades altas para uma economia como abrasileira, com pouco poder de mercado para a maioria dos produtos nos merca-dos mundiais, deve ser uma especificação que melhor caracteriza esse menor po-der de mercado para as exportações, como ocorre com os populares modelosteóricos de comércio internacional, em que os bens são homogêneos.

A elasticidade de transformação entre exportações e produtos domésticos éconsiderada como igual a cinco para cada setor. Elasticidades de substituiçãoentre fatores primários de produção são unitárias. Coeficientes fixos são admiti-dos entre todos os insumos intermediários e o valor adicionado.

2.2.3 Distorções de comércio

Todas as distorções comerciais são representadas na forma de diferenças ad valoremem preços. As estimativas das proteções comerciais combinam proteções tarifáriase barreiras não-tarifárias na forma de tarifas equivalentes.

No Apêndice B é explicado em detalhes como os dados do GTAP5 forammodificados para refletir melhor a estrutura de proteção comercial brasileira. Esseapêndice mostra que, excluindo serviços, os níveis tarifários do GTAP refletemde forma próxima os níveis legais da TEC do Mercosul para as categorias deprodutos do GTAP. Em adição, quando a média é considerada sobre todas as

14. Em adição, as estimativas de Schiff e Chang (2003) sugerem valores elevados para essas elasticidades.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200318

commodities, tanto a TEC do Mercosul na base NMF quanto a alíquota da tarifacoletada de países fora do Mercosul usando dados do GTAP situam-se entre 12%e 13%. Para os setores de serviços, contudo, a base de dados do GTAP contémtanto subsídios significativos às importações em alguns setores quanto níveis tarifáriosconsideráveis em outros. Julgou-se que ambas as distorções não são razoáveis, sen-do impostas tarifas nulas em serviços na base de dados para o Brasil (e para osdemais países). Em adição, contrário à base de dados do GTAP, foram impostastarifas nulas nas importações dentro do Mercosul. Após essas correções, a tarifacoletada na base de dados corrigida do GTAP passou a ser 9,2%, que é um poucosuperior à tarifa média atualmente coletada no Brasil, de aproximadamente 8%.15

Diferenças remanescentes no nível da tarifa coletada refletem acordos preferenciaisnão incorporados na base de dados do GTAP e exceções às tarifas como drawbackde impostos. Conclui-se que as alíquotas em bases NMF consideradas neste traba-lho para o Brasil são precisas e a alíquota da tarifa coletada resultante dessas corre-ções é próxima da alíquota observada atualmente no Brasil.

As tarifas originais do GTAP foram consideradas para os demais países. Elassão tarifas médias ponderadas e, por conseqüência, diferem tipicamente de acor-do com o parceiro comercial. Quer dizer, uma vez que existem milhares de linhastarifárias nas agendas de tarifas de muitos países, literalmente centenas de linhastarifárias devem ser mapeadas em um único setor na base de dados do GTAP.Uma vez que o mix de importações difere entre países, a alíquota tarifária médiaponderada irá diferir de acordo com o país de origem.16 Pode-se observar pelaTabela 3 que a proteção aos setores agropecuários na UE (e no Japão) é relativa-mente elevada. Esse fato desempenhará um importante papel na análise. Emboraa TEC brasileira tenha sido imposta para a Argentina e o Uruguai como a TECdo Mercosul, as tarifas médias ponderadas não são precisamente iguais em todosos produtos para esses três países, por causa das diferenças no mix de produtosadvindos dos países de origem das importações.

Outras distorções incluem impostos aos fatores de produção, impostos aovalor adicionado, subsídios às exportações (especialmente sobre exportações deprodutos agropecuários pela UE, porém de amplitude limitada em outras regiões)e impostos às exportações em produtos têxteis e do vestuário.17 Geralmente,

15. Informações sobre a tarifa coletada foram obtidas junto ao Ministério da Fazenda e Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior.

16. Como exemplo, considere-se a categoria do GTAP de veículos, peças e componentes automotivos no Brasil. As importa-ções de veículos automotivos estão sujeitas a uma tarifa de 35%. Porém, peças e componentes de veículos automotores, bemcomo tratores, estão tipicamente sujeitos a tarifas de 22% ou menores. Se um país A exporta principalmente partes para oBrasil, a tarifa média ponderada para esse país não excederá 22%. Se um país B exporta principalmente carros para o Brasil,a tarifa média ponderada para as exportações desse país com destino ao Brasil será próxima de 35%.

17. A Rodada Uruguai conseguiu um grande progresso na eliminação de barreiras não-tarifárias ao comércio, especialmenteno caso da agropecuária. O Acordo Multifibras, contudo, é um exemplo da persistência de barreiras não-tarifárias. Admite-seneste trabalho que as barreiras não-tarifárias não são alteradas pelas políticas comerciais em consideração.

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19Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

acredita-se que as receitas das distorções relativas ao Acordo Multifibras sejamcapturadas pelos países exportadores. Dessa forma, essas distorções são represen-tadas como um imposto ad valorem à exportação. No caso do Brasil, os impostosàs exportações de têxteis e vestuário são estimados em cerca de 4%. Impostos ousubsídios de reposição (lump-sum) asseguram que a renda do governo em cadaregião permaneça constante aos níveis do equilíbrio inicial.

2.2.4 Domicílios brasileiros

Os padrões de despesas e rendas dos domicílios brasileiros foram extraídos daPesquisa sobre Padrões de Vida (PPV) — conhecida internacionalmente comoLiving Standards Measurement Survey (LSMS) — para o Brasil. Essa pesquisa foiplanejada e conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).A PPV compõe-se de uma amostra estratificada, em que cada domicílio represen-ta uma parcela da população total na área amostrada. A PPV abrange as regiõesSudeste e Nordeste do Brasil, e estima-se que represente uma população de 103,6milhões de pessoas nessas regiões, sendo 22,3 milhões da população rural e 81,3milhões da população urbana. Esses números representam cerca de 63% do totalda população brasileira. Apesar de a maior parte do país não fazer parte da amos-tra da PPV, especialistas que trabalham com dados sobre pobreza no Brasil acre-ditam que as pessoas de baixa renda estão proporcionalmente representadas naamostra, ou ao menos não estão sendo sub-representadas.18 O coeficiente de Ginicalculado para a amostra total da pesquisa é de 0,585 e o gráfico a seguir apresen-ta a curva de Lorenz para as populações rural e urbana da amostra.

18. Os autores agradecem a Peter Lanjouw e Francisco Ferreira pelas informações fornecidas sobre vários aspectos importan-tes na avaliação da pobreza no Brasil.

CURVAS DE LORENZ PARA DOMICÍLIOS RURAIS E URBANOS

Parcela da população

40

30

20

10

00 0,750,50,25 1

Renda de domicílios ruraisper capita Renda de domicílios urbanosper capitaper capita per capita

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200320

Os cerca de 5 mil domicílios da amostra foram agregados em 20 domicílios,dez urbanos e dez rurais. Dentro das categorias de rurais e urbanos, os domicíliosforam classificados de acordo com a renda, do mais pobre ao mais rico. Caracte-rísticas importantes dos domicílios na PPV estão listadas na Tabela 1B.

As parcelas de renda que cada domicílio gasta por grupo de commodity fo-ram extraídas da PPV. Em adição, as parcelas de renda que cada domicílio recebedos fatores capital, terra, trabalho não-qualificado e trabalho qualificado tam-bém foram extraídas da PPV. Os resultados desse trabalho são apresentados naTabela 4B e os detalhes são explicados no Apêndice D.

Uma questão natural que pode ser formulada é qual a percentagem de do-micílios que pode ser considerada pobre, com base na PPV. Níveis de pobreza sãodefinidos de diferentes formas. Duas medidas bem conhecidas são US$ 1 por diapor pessoa ou US$ 2 por dia por pessoa a uma taxa de câmbio expressa na formade paridade do poder de compra. Com base nos dados da PPV, calcula-se que7,3% da população vivem com US$ 1 por dia ou menos, e 17,8% da populaçãovivem com US$ 2 ou menos. Para calcular o nível de pobreza no Brasil, Ferreira,Lanjouw e Neri (1999) desenvolveram uma medida de pobreza equivalente à“cesta mínima de alimentos” na região de referência, a região metropolitana deSão Paulo, que deveria fornecer a quantidade mínima de 2.288 calorias a seringerida por dia, sugerida pela FAO. Esses autores também desenvolveram índicesque permitem definir níveis de renda “equivalentes” entre os domicílios indivi-duais em diferentes regiões da PPV. Foi estimado aqui que esta medida — amenor das três medidas desenvolvidas por Ferreira, Lanjouw e Neri (1999) —,ajustada pela paridade do poder de compra para 1996, é de US$ 1,5 per capitapor dia.19 Usando as medidas de pobreza para cada região do Brasil, reportadaspor Ferreira, Lanjouw e Neri (1999, Tabela 3), e os pesos da amostra para osindivíduos de cada região da PPV no Brasil, as medidas desses autores implicamum índice nacional de pobreza de 13,03% para o Brasil pelos dados da PPV.20

19. Especificamente, esses autores reportam um nível de indigência de R$ 65,07 por mês. Esse número é dividido por 30,417— o número médio de dias em um mês — e então dividido por 1,44 para obter a equivalente paridade do poder de compraem dólares americanos. O resultado é de US$ 1,48656, que é arredondado para US$ 1,5.

20. Esses autores informam números de uma pesquisa alternativa, conhecida como PNAD, que implica um índice de pobrezanacional de 24,7% usando medidas de renda comparáveis. Ferreira, Lanjouw e Neri (1999, p. 13) apontam diferenças impor-tantes que podem contribuir para um maior índice de pobreza derivado dos dados da PNAD: contrário à PPV, a PNAD levantaapenas um agregado de fontes de renda não-salariais, usando uma simples questão no questionário da pesquisa, apesar deexistir uma heterogeneidade de fontes de renda não-salariais no Brasil. Ainda, esses autores notam que podem existir errosde mensuração associados com a forma na qual a pergunta sobre renda salarial é feita, particularmente devido ao fato de aquestão ser a mesma aplicada para empregados de firmas e indivíduos autônomos.

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21Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

Fundamentado na medida de incidência de pobreza de Ferreira, Lanjouw eNeri (1999), estimou-se neste trabalho que 13% dos indivíduos no Brasil estãoabaixo da linha de pobreza. Calculou-se que 82% dos domicílios nas duas classesmais pobres do modelo — Uhhd1 e Rhhd1 — encontram-se abaixo dessa linhade pobreza. Alguns indivíduos nos grupos de domicílios numerados como doisou três podem ser mais pobres do que indivíduos do domicílio um, pois aqueles

TABELA 4BPARTICIPAÇÃO DOS FATORES DE PRODUÇÃO E TRANSFERÊNCIAS NA RENDA DOS DOMICÍLIOS[em %]

Domicíliosa Trabalho

qualificadoTrabalho

não-qualificadoRenda do

capitalRenda da

terraTransferências Total

Rhhd1 5,7 68,1 2,9 1,1 22,2 100,0

Rhhd2 8,3 80,2 0,2 0,0 11,3 100,0

Rhhd3 10,8 86,7 0,2 1,7 0,7 100,0

Rhhd4 8,5 64,5 2,9 1,9 22,2 100,0

Rhhd5 10,9 56,8 32,3 0,0 0,0 100,0

Rhhd6 22,0 47,3 30,6 0,0 0,0 100,0

Rhhd7 8,8 49,2 41,7 0,3 0,0 100,0

Rhhd8 15,4 62,0 20,1 2,5 0,0 100,0

Rhhd9 18,3 45,0 35,3 1,4 0,0 100,0

Rhhd10 7,3 75,3 14,8 2,7 0,0 100,0

Uhhd1 0,6 70,4 0,2 0,4 28,4 100,0

Uhhd2 18,1 67,2 0,6 0,3 13,9 100,0

Uhhd3 9,6 73,7 2,9 0,2 13,6 100,0

Uhhd4 13,4 67,8 8,5 0,2 10,1 100,0

Uhhd5 27,2 56,5 15,6 0,0 0,6 100,0

Uhhd6 28,1 52,4 19,4 0,0 0,0 100,0

Uhhd7 27,1 30,4 42,5 0,0 0,0 100,0

Uhhd8 32,9 27,9 39,2 0,0 0,0 100,0

Uhhd9 29,8 21,0 49,2 0,0 0,0 100,0

Uhhd10 16,6 14,8 68,6 0,0 0,0 100,0

Fonte: Cálculos dos autores com base na PPV de 1996 do IBGE.a

Os tipos de domicílios estão definidos na Tabela 1B.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200322

fariam parte de famílias numerosas e os grupos são definidos por renda do domi-cílio, e não por renda per capita.21

2.2.5 Algoritmo de solução

O modelo é formulado usando o software GAMS-MPSGE desenvolvido porRutherford (1999) e solucionado usando o algoritmo PATH, de Ferris e Munson(2000). Embora o modelo possua 16 regiões e 22 setores de produção de bens eserviços mais o setor de bens de capital, sendo grande para padrões históricos, seutamanho é menor do que o modelo desenvolvido pelos autores para o estudo daRodada Uruguai. O uso de valores elevados de elasticidades da demanda como osempregados aqui pode trazer problemas numéricos em geral, porém este modeloapresentou solução sem maiores dificuldades. Detalhes a respeito do software ne-cessário para replicar e ampliar o modelo são fornecidos no Apêndice E.

3 RESULTADOS DE POLÍTICAS

Primeiramente, discute-se como o Brasil e os demais países do modelo serão afe-tados pelas diversas opções de política comercial em nível agregado. Mudançasem bem-estar são reportadas como uma percentagem do consumo22 e em dólaresde 1996. A mudança em bem-estar é a “variação equivalente hicksiana”, que, emtermos menos técnicos, pode ser considerada como a variação na renda real. Aestimativa agregada da mudança em bem-estar no Brasil é a soma das mudançasem bem-estar para os 20 domicílios no modelo. Os resultados sob o nível centralde elasticidades são enfatizados, porém os resultados para elasticidades baixas sãotambém apresentados,23 bem como os resultados de impactos na taxa real decâmbio e a mudança percentual na renda do governo resultante das reduçõestarifárias. Subseqüentemente, apresentam-se os resultados do modelo para os se-tores brasileiros, com estimativas dos impactos em preços, produção, importa-ções e exportações. Finalmente, os impactos das opções de políticas comerciaissobre as múltiplas classes de domicílios são examinados, com um foco nas famí-lias mais pobres.

21. Em um trabalho posterior pretende-se investigar o impacto da definição dos domicílios de forma que indivíduos na classede domicílios mais pobres recebam menos de US$ 1 por dia, indivíduos na classe seguinte recebam entre US$ 1 e US$ 1,49,e aqueles seguintes recebam entre US$ 1,50 e US$ 1,99. Tal definição pode permitir uma estimativa mais detelhada dosimpactos sobre a pobreza, de acordo com diferentes medidas. Por outro lado, os resultados do modelo são geralmente muitouniformes para os domicílios pobres, de forma que as principais conclusões políticas com respeito aos efeitos sobre o nível depobreza não seriam alteradas.

22. Mudanças no bem-estar como percentagem do PIB corresponderiam a cerca de 70% das mudanças de bem-estar estima-das como percentagem do consumo.

23. Análises de sensibilidade sistemáticas sobre os efeitos de diferentes elasticidades nos principais resultados do trabalhoencontram-se em andamento, usando os métodos de Harrison e Vinod (1992) e Harrison, Jones, Kimbell e Wigle (1993). Essesresultados serão reportados posteriormente. Resultados preliminares mostram que as conclusões deste trabalho são qualita-tivamente robustas.

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23Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

3.1 Resultados agregados para o Brasil e outros países

Os resultados gerais de impactos das opções de política comercial do Mercosulsobre o bem-estar são apresentados na Tabela 5A para as elasticidades centrais(resultados para as elasticidades baixas estão na Tabela 5B). Impactos no bem-estar nessas tabelas são apresentados como uma mudança percentual no consumopessoal do respectivo país ou região. Essa medida representa mudanças em basesanuais recorrentes, de forma que um ganho de 1% no bem-estar deve ser interpre-tado como um aumento de 1% na renda real em cada ano futuro. Nas Tabelas 6A e6B são apresentados resultados mensurados em dólares de 1996 para os mesmoscenários. Na Tabela 7 são apresentados os impactos sobre variáveis macroeconômicasno Brasil como um resultado das diversas opções de política comercial.

a) A Alca

Nesse cenário considerou-se que todos os países nas Américas concordam emoferecer acesso livre de tarifas, de forma recíproca, para todos os produtos, en-quanto suas tarifas externas para países fora das Américas não são afetadas pelaAlca. Os resultados para a Alca com elasticidades centrais são apresentados naprimeira coluna da Tabela 5A. Os ganhos estimados para o Brasil advindos daformação da Alca são de cerca de seis décimos de percentagem do consumo bra-sileiro (ou cerca de US$ 3 bilhões, pela Tabela 6A).

Os impactos de acordos regionais têm sido discutidos, freqüentemente, pelouso dos conceitos de desvio de comércio e criação de comércio. Acordos regio-nais de comércio poderão produzir efeitos negativos no bem-estar sobre os paísesparticipantes, se o comércio for desviado de parceiros eficientes e de baixos custoscomerciais, excluídos do acordo, em direção a importações de membros dentroda área do livre acordo que não estão sujeitos à tarifa. Essa situação é conhecidacomo desvio de comércio. A criação de comércio ocorre quando o país parceiro éum fornecedor mais eficiente de produtos nos mercados mundiais, de forma que,embora as tarifas sejam reduzidas apenas preferencialmente, o resultado é umaumento nas importações de produtos do fornecedor mundial mais eficiente.Quando o acordo se dá apenas entre países pequenos, a falta de competição entreos membros do acordo pode levar a um aumento significativo no custo das im-portações para os países membros, ou seja, desvio de comércio. No caso da Alca,o acordo inclui uma grande área econômica. Para muitos produtos, existem su-pridores dentro das Américas que são os mais eficientes supridores de produtosno mercado mundial ou estão entre os mais eficientes. Além disso, competiçãoentre muitos países e supridores evita o aumento significativo do preço de ofertadas importações advindas de países parceiros.

Por essas razões, estima-se que o Brasil e muitos outros países das Américasalcançarão ganhos com a Alca. Uma exceção a esse padrão dentro das Américas é

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200324

TABELA 5AIMPACTOS DAS OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL DO MERCOSUL SOBRE DIFERENTES PAÍSES(MUDANÇAS EM BEM-ESTAR COMO PERCENTAGEM DO CONSUMO — ELASTICIDADESCENTRAIS)

Acordosa

Países

Alca

(1)

Alca

(produtos

excluídos)

(2)

UE–

Mercosul

(3)

UE–

Mercosul

(produtos

excluídos)

(4)

Alca e

UE–

Mercosul

(5)

Redução

tarifária

unilateral

de 50%

(6)

Liberaliza-

ção tarifária

multilateral

de 50%

(7)

Alca sem

liberali-

zação no

Mercosul

(8)

Brasil 0,6 0,4 0,9 0,1 1,8 0,4 0,9 0,4

Argentina –0,2 –0,2 2,3 0,2 2,2 0,2 0,8 0,2

Uruguai 1,7 1,6 43,9 1,2 43,4 1,4 7,8 0,4

Chile 1,1 1,1 –0,2 0,0 0,9 0,1 1,3 0,8

Colômbia 1,7 2,0 –0,1 –0,1 1,7 0,0 1,0 1,7

Peru 1,0 1,0 –0,1 0,0 0,9 0,0 1,3 1,0

Venezuela 1,1 1,1 0,0 –0,1 1,1 0,0 0,9 1,1

Resto do Pacto Andino 1,9 2,0 0,0 0,0 1,9 0,1 2,5 1,8

México 0,3 0,4 0,0 0,0 0,3 0,0 0,5 0,0

América Central e Caribe 4,3 4,8 0,0 0,0 4,4 0,0 2,1 4,6

Resto da América do Sul 0,8 0,8 –1,2 0,1 0,0 0,3 4,1 0,1

Canadá 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,1

Estados Unidos 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0

União Européia (15 países) –0,1 0,0 0,5 0,1 0,4 0,0 0,8 –0,1

Japão 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,8 0,0

Resto do Mundo –0,1 –0,1 0,0 0,0 –0,1 0,0 2,3 –0,2

a Alca.

Alca (produtos excluídos). Com políticas antidumping nos Estados Unidos impedindo o acesso de produtos dos seus quatro setoresmais protegidos.

UE–Mercosul. Área de livre comércio entre Mercosul e UE.

UE–Mercosul (produtos excluídos). Área de livre comércio entre Mercosul e UE, com a exclusão do acordo dos sete produtosagrícolas e alimentos mais protegidos na UE.

Alca e UE–Mercosul. Alca combinada com uma área de livre comércio entre Mercosul e UE.

Redução tarifária unilateral de 50%. Redução em 50% das tarifas apenas do Mercosul.

Liberalização tarifária multilateral de 50%. Todas as regiões reduzem suas tarifas e seus subsídios às exportações em 50%.

Alca sem liberalização no Mercosul. Alca, porém o Mercosul não altera sua TEC para o resto das Américas.

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25Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

TABELA 5BIMPACTOS DAS OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL DO MERCOSUL SOBRE DIFERENTES PAÍSES(MUDANÇAS EM BEM-ESTAR COMO PERCENTAGEM DO CONSUMO — ELASTICIDADES BAIXAS)

Acordosa

Países

Alca

(1)

Alca

(produtos

excluídos)

(2)

UE–

Mercosul

(3)

UE–

Mercosul

(produtos

excluídos)

(4)

Alca e

UE–

Mercosul

(5)

Redução

tarifária

unilateral

de 50%

(6)

Liberali-

zação

tarifária

multilateral

de 50%

(7)

Alca

sem libe-

raliza-

ção no

Mercosul

(8)

Brasil 0,2 0,1 0,6 0,0 1,1 0,2 0,6 0,2

Argentina –0,2 –0,2 1,2 0,0 1,3 0,0 0,5 –0,2

Uruguai 0,0 0,0 17,3 0,2 17,3 0,6 3,4 0,0

Chile 0,6 0,6 –0,2 –0,1 0,4 0,1 0,9 0,6

Colômbia 1,0 1,2 0,0 0,0 1,0 0,0 0,7 1,0

Peru 0,5 0,5 –0,1 0,0 0,4 0,0 0,7 0,5

Venezuela 0,7 0,7 0,0 0,0 0,7 0,0 0,6 0,7

Resto do Pacto Andino 1,3 1,4 0,0 0,0 1,3 0,1 1,8 1,3

México 0,2 0,2 0,0 0,0 0,1 0,0 0,1 0,2

América Central e Caribe 3,1 3,3 –0,1 0,0 3,1 0,0 1,5 3,1

Resto da América do Sul 0,2 0,2 –0,9 0,1 –0,4 0,4 1,9 0,2

Canadá –0,1 0,0 0,0 0,0 –0,1 0,0 0,1 –0,1

Estados Unidos 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1

União Européia (15 países) –0,1 0,0 0,2 0,1 0,1 0,0 0,4 –0,1

Japão 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,0

Resto do Mundo –0,1 –0,1 0,0 0,0 –0,1 0,0 1,4 –0,1

a Ver Tabela 5A para a descrição dos acordos.

a Argentina, para a qual foram estimadas perdas modestas com a Alca. A razão dese estimarem essas perdas para a Argentina é que, antes da formação da Alca, essepaís desfrutava de acesso preferencial aos mercados dos demais países do Mercosul.A Alca permite equivalente acesso para os demais países das Américas aos merca-dos do Mercosul, erodindo, assim, o acesso preferencial da Argentina. Os efeitosda perda de acesso preferencial pela Argentina, combinados com os efeitos dedesvio de comércio, são maiores do que os efeitos de criação de comércio.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200326

TABELA 6AIMPACTOS DAS OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL DO MERCOSUL SOBRE DIFERENTES PAÍSES(GANHOS DE BEM-ESTAR EM U$ BILHÕES DE 1996 — ELASTICIDADES CENTRAIS)

Acordosa

Países

Alca

(1)

Alca

(produtos

excluídos)

(2)

UE–

Mercosul

(3)

UE–

Mercosul

(produtos

excluídos)

(4)

Alca e

UE–

Mercosul

(5)

Redução

tarifária

unilateral

de 50%

(6)

Liberali-

zação

tarifária

multilateral

de 50%

(7)

Alca

sem libe-

raliza-

ção no

Mercosul

(8)

Brasil 3,1 2,3 5,0 0,5 9,5 1,9 4,6 2,3

Argentina –0,5 –0,5 5,9 0,5 5,7 0,5 2,0 0,5

Uruguai 0,2 0,2 6,5 0,2 6,4 0,2 1,2 0,1

Chile 0,5 0,6 –0,1 0,0 0,5 0,1 0,7 0,4

Colômbia 1,1 1,3 –0,1 –0,1 1,1 0,0 0,6 1,1

Peru 0,4 0,4 0,0 0,0 0,4 0,0 0,6 0,4

Venezuela 0,7 0,7 0,0 0,0 0,7 0,0 0,5 0,6

Resto do Pacto Andino 0,4 0,4 0,0 0,0 0,4 0,0 0,5 0,3

México 0,9 1,0 0,0 0,0 0,7 0,0 1,2 0,0

América Central e Caribe 3,4 3,8 0,0 0,0 3,5 0,0 1,7 3,6

Resto da América do Sul 0,1 0,1 –0,1 0,0 0,0 0,0 0,3 0,0

Canadá 0,1 0,3 0,0 0,0 –0,1 0,0 0,8 0,2

Estados Unidos 2,3 2,0 –0,4 –0,4 1,7 0,3 3,0 –0,5

União Européia (15 países) –2,6 –2,2 25,0 5,6 21,2 1,6 39,3 –3,2

Japão –1,0 –0,9 0,7 0,4 –0,5 0,3 45,7 –1,2

Resto do Mundo –4,8 –4,2 –0,2 –0,2 –5,0 1,3 83,6 –5,6

Total de impactos para

países incluídos 12,7 12,4 42,3 6,9 51,6 n.d. n.d. 9,1

Total de impactos para

países excluídos –8,4 –7,2 –0,2 –0,4 –5,5 n.d. n.d. –9,9

Total geral 4,3 5,2 42,1 6,5 46,1 n.d. 186,0 –0,8

a Ver Tabela 5A para a descrição dos acordos.

n.d. = não-disponível.

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27Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

TABELA 6BIMPACTOS DAS OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL DO MERCOSUL SOBRE DIFERENTES PAÍSES(GANHOS DE BEM-ESTAR EM U$ BILHÕES DE 1996 — ELASTICIDADES BAIXAS)

Acordosa

Países

Alca

(1)

Alca

(produtos

excluídos)

(2)

UE–

Mercosul

(3)

UE–

Mercosul

(produtos

excluídos)

(4)

Alca e

UE–

Mercosul

(5)

Redução

tarifária

unilateral

de 50%

(6)

Liberali-

zação

tarifária

multilateral

de 50%

(7)

Alca

sem libe-

raliza-

ção no

Mercosul

(8)

Brasil 1,2 0,7 3,1 –0,1 5,6 1,2 3,3 1,2

Argentina –0,4 –0,5 3,2 –0,1 3,3 0,1 1,3 –0,4

Uruguai 0,0 0,0 2,6 0,0 2,5 0,1 0,5 0,0

Chile 0,3 0,3 –0,1 0,0 0,2 0,1 0,5 0,3

Colômbia 0,6 0,7 0,0 0,0 0,7 0,0 0,5 0,6

Peru 0,2 0,2 0,0 0,0 0,2 0,0 0,3 0,2

Venezuela 0,4 0,4 0,0 0,0 0,4 0,0 0,4 0,4

Resto do Pacto Andino 0,2 0,3 0,0 0,0 0,3 0,0 0,3 0,2

México 0,5 0,5 0,0 0,0 0,3 0,0 0,2 0,5

América Central e Caribe 2,4 2,6 –0,1 0,0 2,4 0,0 1,2 2,4

Resto da América do Sul 0,0 0,0 –0,1 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0

Canadá –0,2 –0,1 0,0 0,0 –0,2 –0,1 0,4 –0,2

Estados Unidos 3,5 3,3 –0,6 –0,6 2,6 0,4 2,7 3,5

União Européia (15 países) –2,5 –2,3 8,7 4,2 5,3 1,2 21,3 –2,5

Japão –0,9 –0,9 0,2 0,2 –0,8 0,3 26,3 –0,9

Resto do Mundo –3,6 –3,3 –1,1 –0,7 –4,5 0,9 51,8 –3,6

Total de impactos para

países incluídos 8,8 8,5 17,5 4,1 23,6 n.d. n.d. 8,8

Total de impactos para

países excluídos –7,0 –6,5 –1,9 –1,2 –5,3 n.d. n.d. –7,0

Total geral 1,8 2,0 15,6 2,9 18,3 n.d. 110,9 1,8

a Ver Tabela 5A para a descrição dos acordos.

n.d. = não-disponível.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200328

Por outro lado, todos os países excluídos do acordo (UE, Japão e Resto doMundo) perdem com a formação da Alca. As somas das perdas equivalem aUS$ 8,4 bilhões. A explicação para tal é que os países excluídos sofrem um declíniona demanda pelas suas exportações nas Américas na medida em que os importa-dores nessa região mudam suas demandas em direção aos supridores dentro daárea de livre-comércio. As perdas estimadas para a UE são de US$ 2,6 bilhões,valor pouco maior que os US$ 2,3 bilhões estimados como ganhos para os Esta-dos Unidos.

Pela Tabela 7 pode-se observar que a perda da receita tarifária no Brasil éestimada em cerca de seis décimos de percentagem do PIB. Esse valor é mais quea metade da receita tarifária disponível no equilíbrio inicial do modelo. As auto-ridades brasileiras devem estar cientes da necessidade de repor as receitas tarifáriascom impostos alternativos para não contribuírem com o aumento do déficit fiscal.

TABELA 7IMPACTOS DAS OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL SOBRE VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS NOBRASIL (MUDANÇAS PERCENTUAIS — ELASTICIDADES CENTRAIS E BAIXAS)

Acordosa

Elasticidade

Alca

(1)

Alca

(produtos

excluídos)

(2)

UE–

Mercosul

(3)

UE–

Mercosul

(produtos

excluídos)

(4)

Alca e

UE–

Mercosul

(5)

Redução

tarifária

unilateral

de 50%

(6)

Liberali-

zação

tarifária

multilateral

de 50%

(7)

Alca

sem libe-

raliza-

ção no

Mercosul

(8)

Taxa de câmbioreal

CentralBaixa

2,61 1,86

2,732,01

2,25 1,08

2,70 1,89

3,00 1,98

1,97 1,82

1,43 1,20

–0,2 1,9

Mudança nareceita tarifáriacomo % do PIB

CentralBaixa

0,60 0,52

0,560,50

0,56 0,50

0,55 0,48

0,69 0,72

0,10 0,20

0,12 0,24

0,0 0,5

Taxa de saláriodo trabalhonão–qualificado

CentralBaixa

2,91 1,61

1,871,05

4,24 2,51

2,42 1,38

5,81 3,64

0,94 0,73

3,02 2,04

0,0 0,7

Taxa de saláriodo trabalhoqualificado

CentralBaixa

0,97 0,66

1,010,65

1,12 0,85

0,60 0,44

1,77 1,37

0,54 0,46

0,31 0,48

1,1 1,6

Taxa derentabilidadedo capital

CentralBaixa

–0,13 0,17

0,180,32

–0,47 0,00

–0,39–0,04

–0,31 0,22

–0,08 0,10

–0,59–0,09

–0,1 0,2

Taxa derentabilidadeda terra

CentralBaixa

14,21 6,31

9,193,94

25,1213,19

14,84 7,38

31,0016,76

5,79 3,56

30,0016,27

4,4 6,3

a Ver Tabela 5A para a descrição dos acordos.

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29Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

Estima-se que a taxa de câmbio real no Brasil sofrerá uma depreciação, comoresultado da Alca, de cerca de 2,6%. Em geral, uma redução nas tarifas da região(Mercosul) leva a um aumento na demanda por importados. A taxa de câmbioreal nos países do Mercosul terá de sofrer uma depreciação para restaurar o equi-líbrio na balança comercial. Uma depreciação real resulta em um aumento naoferta de moeda estrangeira advinda das exportações e uma diminuição na de-manda por moeda estrangeira advinda das importações, o que, em conjunto,restaura o equilíbrio na balança comercial. O maior acesso ou aumento nos ter-mos de comércio nos mercados dos parceiros comerciais exerce efeito contrário àdepreciação da taxa real de câmbio. A melhora nos termos de comércio nos paísesparceiros resulta em um aumento na oferta de moeda estrangeira e induz umaapreciação na taxa de câmbio real. No balanço, a redução de tarifas no Mercosuldomina os efeitos sobre a taxa real de câmbio.

b) O acordo UE–Mercosul

Nesse cenário, admite-se que o Mercosul e a UE concordam em oferecer, recipro-camente, acesso livre de tarifas em todos os seus mercados. Na coluna (3) dasTabelas 5A e 6A são apresentadas as estimativas dos impactos de um acordo delivre-comércio entre o Mercosul e a UE sob elasticidades centrais, em percenta-gem do consumo e dólares americanos, respectivamente (estimativas sob elastici-dades baixas são apresentadas nas Tabelas 5B e 6B).

Os ganhos para o Brasil advindos de um acordo do Mercosul com a UE sãoquase duas vezes maiores do que os da Alca. Os ganhos para a Argentina e Uru-guai são dramaticamente maiores do que os obtidos com a Alca, como mostra aTabela 3: a UE possui vários produtos agropecuários e alimentos com tarifasmuito elevadas. Se o Brasil, a Argentina e o Uruguai puderem obter livre acesso aesses mercados europeus, enquanto a UE mantém essas tarifas para outros países,os países do Mercosul poderão obter elevados ganhos nos termos de comércionos mercados da UE. No caso da economia uruguaia, relativamente pequena, ogrande aumento em preços pela queda de barreiras na UE induz a uma grandemudança nas exportações para a UE, de forma a obter vantagem com o aumentoem preços.

Assim como no caso da Alca, países excluídos do acordo tipicamente so-frem perdas devido à mudança na demanda em direção aos países parceiros supri-dores. Exceção a esse comportamento é o Japão. Com a mudança da UE e doMercosul em direção aos mercados um do outro, o Japão obtém um pequenoaumento em seus termos de comércio nos mercados do Resto do Mundo. Osganhos do Japão, contudo, são bem pequenos, de cerca de um décimo de percen-tagem do consumo, aproximadamente igual a zero.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200330

c) Produtos excluídos do acordo UE–Mercosul

Pode-se argumentar que o Mercosul terá grande dificuldade na negociação de umacordo com a UE que permita o livre acesso de produtos agrícolas, altamenteprotegidos nesse bloco. A UE tem constantemente recusado tal medida em seusacordos de associação com os países da Europa Central e Oriental, no acordo deunião aduaneira com a Turquia, e em sua área de livre-comércio com vários paísesdo Mediterrâneo, como Marrocos e Tunísia. Conseqüentemente, é pouco prová-vel que a UE conceda ao Mercosul tal acesso, já que o tem recusado a outrospaíses com os quais tem mais a ganhar geopoliticamente. Qual é o custo para oBrasil dessa restrição ao livre acesso no acordo Mercosul–UE? Nesse cenárioadmite-se que a UE se nega a permitir o acesso privilegiado de produtos advindosdo Mercosul aos mercados dos seus produtos mais fortemente protegidos. Essesprodutos e suas alíquotas tarifárias na UE, na base de dados utilizada, são: arrozcom casca (65%), cereais (44%), arroz processado (86%), outros produtos alimen-tícios (28%), produtos de carne bovina (95%), produtos de laticínios (90%),carnes de outros animais (61%) e açúcar (76%).

Os resultados para as elasticidades centrais são apresentados nas Tabelas 5Ae 6A. Para o Brasil, pode-se perceber que, se a UE se negar a fornecer total acessoaos seus mercados, o valor do acordo UE–Mercosul será reduzido de nove déci-mos de percentagem do consumo para um décimo de percentagem, ou seja, oacordo passa a ter muito pouco valor. Os ganhos estimados para o Uruguai sãoreduzidos drasticamente. Os produtos agrícolas mais protegidos nos mercadosda UE são aqueles que, nos países do Mercosul, possuem uma elevada vantagemcomparativa. Conseqüentemente, se um acordo de livre-comércio entre a UE e oMercosul excluir esses produtos, os benefícios esperados poderão ser significati-vamente reduzidos. Esses resultados demonstram a importância do acesso prefe-rencial em acordos comerciais, enfatizado por Wonnacott e Wonnacott (1981);ainda, os ganhos para a UE são reduzidos de 0,5% do seu consumo para 0,1%,refletindo a importância da liberalização agrícola na UE para que esta regiãoobtenha ganhos.

d) Produtos excluídos da Alca (pelos Estados Unidos contra o Brasil)

Existe também um potencial para a exclusão de produtos na Alca, embora essaexclusão deva ser implícita em vez de explícita. Os Estados Unidos têm apresen-tado forte resistência para limitar o uso de ações antidumping na Alca, apesar daproposta apresentada pelo Chile nesse sentido. Em adição, as autoridades brasi-leiras têm expressado o receio de que os benefícios do aumento do acesso aomercado norte-americano sejam reduzidos pelas ações antidumping. Nesse cená-rio estimam-se os custos da formação da Alca para o Brasil, considerando a con-tinuidade da proteção aos mercados mais protegidos dos Estados Unidos. Os

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31Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

produtos mais fortemente protegidos seriam: sementes oleaginosas (18%), outrasculturas (14%),24 produtos de laticínios (42%) e açúcar (53%). Assim, conside-ra-se que os Estados Unidos empregam direitos antidumping, na forma de tarifasaos produtos mais sensitivos e mais fortemente protegidos, para neutralizar oimpacto das exportações brasileiras na Alca. Isso significa que a tarifa norte-ame-ricana aplicada às exportações daqueles produtos com origem brasileira não éalterada nas simulações de implementação do cenário da Alca, com exceções emprodutos para os Estados Unidos.

Essa não é uma abordagem total do uso potencial de medidas antidumpingdentro da Alca ou dos impactos no Brasil. Tal abordagem deveria considerartambém direitos antidumping pelos Estados Unidos contra outros parceiros nasAméricas e o uso de ações antidumping por outros países além dos Estados Uni-dos. Além disso, essas ações, em setores como, por exemplo, o aço, limitam oacesso das exportações brasileiras em relação aos níveis tarifários empregados noestudo, com base no conceito de NMF. Porém, esse cenário pode fornecer umaavaliação dos custos potenciais para o Brasil, caso os Estados Unidos recorram àsações antidumping.

O impacto da exclusão de produtos pelos Estados Unidos é de redução dosbenefícios para o Brasil em cerca de 2/3 do que o país receberia com total acesso aosmercados da Alca. Essa redução nos benefícios não é tão severa quanto a exclusãode produtos no acordo com a UE. Existem duas razões principais para que a limi-tação do acesso aos mercados seja mais importante no acordo com a UE do que naAlca. Primeiro, os picos tarifários nos mercados norte-americanos não são tão altosquanto os picos tarifários na UE. Os maiores impactos tendem a ser influenciadospelos picos tarifários, de forma que o impacto da exclusão dos produtos com picostarifários na UE é muito pronunciado. Segundo, existem outros mercados nasAméricas que se abrem para o Brasil, como parte da Alca. Se os Estados Unidosimpedem o acesso preferencial dos produtos brasileiros aos seus mercados maisprotegidos, o Brasil pode vender esses produtos em outros mercados das Américas,uma vez que, com a Alca, o Brasil obtém acesso preferencial a esses mercados. Poroutro lado, se a UE se nega a oferecer acesso preferencial como parte do acordo delivre-comércio entre o Mercosul e a UE, não existem mercados alternativos dentrodesse acordo nos quais o Brasil recebe acesso preferencial para seus produtos.

24. A categoria outras culturas é um agregado dos seguintes setores da base de dados do GTAP: trigo, vegetais e frutas,plantas fibrosas, lã, produtos da silvicultura, pescados e a categoria outras culturas do GTAP. Simulações considerando acommodity trigo como parte da categoria grãos, em vez de ser incluída na categoria outras culturas, também foram realizadas.Nesse caso, a Argentina apresenta maiores ganhos com os acordos UE–Mercosul, porém as mudanças na maioria dos resul-tados são muito pequenas.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200332

25. Esses resultados são similares aos encontrados por Harrison, Rutherford e Tarr (2002) para o Chile, onde a estratégia de“regionalismo aditivo” resultou em benefícios significativamente maiores para esse país do que a adoção dos acordos sepa-radamente.

e) Combinando o acordo de livre-comércio das Américas com o acordoMercosul–UE

Algumas autoridades brasileiras expressaram o desejo de que fosse efetivado, aomesmo tempo, um acordo com a UE e a formação da Alca. Os resultados dessecenário, nas Tabelas 5A, 5B, 6A e 6B, mostram que os benefícios para o Brasil dosdois acordos realizados em conjunto excedem a soma dos benefícios de cada acordorealizado separadamente. Tal resultado é explicado pelo fato de as áreas econômi-cas combinadas das Américas e do Mercosul–UE serem muito vastas, de formaque o Brasil é capaz de encontrar supridores mundiais mais eficientes nessas áreaseconômicas combinadas do que em cada região separadamente. Quer dizer, osdesvios de comércio que ocorreriam em cada acordo separadamente são reduzi-dos com a combinação dos dois acordos. Dessa forma, a negociação de um acor-do com a UE em adição à Alca apresenta-se como uma estratégia útil, que prova-velmente aumentará os ganhos de bem-estar para o Brasil.25

f ) Liberalização comercial unilateral de 50%

Estimou-se que uma redução de 50% nas tarifas do Mercosul resultaria em umaumento no bem-estar de cerca de quatro décimos de percentagem no consumobrasileiro, ou cerca de US$ 1,9 bilhão ao ano. Dessa forma, os ganhos da Alcacom exclusão do acesso aos mercados norte-americanos de produtos selecionadosresultam, aproximadamente, nos mesmos ganhos que uma redução unilateral de50% nas tarifas do Mercosul.

g) Liberalização comercial multilateral

Autoridades brasileiras também têm encorajado negociações multilaterais de co-mércio e dado apoio à Agenda de Desenvolvimento de Doha. Em parte, essaposição é conseqüência da visão de que a OMC é o caminho mais certo para aliberalização dos mercados agrícolas (de grande importância para o Brasil). Con-siderou-se um cenário em que todos os países do mundo reduzem suas barreirastarifárias e subsídios às exportações em 50%.

O Brasil aufere ganhos de cerca de oito décimos de percentagem do consu-mo pessoal a partir da liberalização de comércio multilateral no modelo estático,que equivale a um ganho de cerca de US$ 4,5 bilhões. Esse ganho é maior que osganhos advindos da Alca e maior que os advindos de um acordo com a UE queexclua os produtos agrícolas e alimentos mais protegidos na UE. Considerando aesperada exclusão de produtos agrícolas do acordo entre Mercosul e UE, essesresultados dão suporte à estratégia das autoridades brasileiras, de que é importan-

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33Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

te buscar a liberalização multilateral junto com as opções regionais. Na verdade,essa estratégia mostra-se a mais importante.

h) Alca sem mudanças na TEC do Mercosul

Pode-se avaliar também o impacto da Alca na situação em que não seja oferecidoum maior acesso aos mercados dos países do Mercosul. Quer dizer, nesse cenárioadmite-se que os países das Américas, excetuando os do Mercosul, reduzem suastarifas preferencialmente a todos os países dentro da Alca (de forma que o Brasilobtenha maior acesso aos mercados), porém os países dentro do Mercosul nãoreduzem a TEC contra os demais países parceiros das Américas (de forma que oBrasil não oferece qualquer acesso preferencial aos seus mercados). O propósitodesse cenário é avaliar quanto dos ganhos auferidos pelo Brasil pode ser atribuídoao maior acesso aos mercados nas Américas e quanto desses ganhos é oriundo daredução de tarifas pelo Mercosul, através de uma alocação melhor de recursos noBrasil. Pode-se supor, também, o uso ativo de políticas antidumping no Brasil ena Argentina que negariam aos demais países das Américas maior acesso aos mer-cados do Mercosul. Essa situação é análoga ao cenário anterior, em que se consi-derou a implementação da Alca com restrições antidumping impostas pelos Esta-dos Unidos no acesso dos produtos brasileiros aos seus mercados.

Na coluna (8) da Tabela 5A pode-se observar que os ganhos para o Brasilsão reduzidos para 0,4% do consumo, ou seja, cerca de 2/3 dos ganhos permane-cem. Esse resultado mostra que o maior acesso aos mercados é responsável porcerca de 2/3 dos ganhos do Brasil com a Alca; 1/3 restante dos ganhos é resultadoda redução das tarifas do Mercosul dentro da Alca. Pelas Tabelas 9A e 10A, con-tudo, pode-se perceber que os ganhos para os domicílios mais pobres são reduzi-dos de forma mais dramática. Quer dizer, os domicílios pobres ganham maiscom a redução das tarifas do Mercosul quando do acordo Alca do que com oaumento no acesso aos mercados. A explicação para esse resultado é fornecidamais adiante.

i) Impactos nos países parceiros e excluídos — comparação com a liberali-zação multilateral

A experiência com acordos regionais de comércio tem mostrado que, quando umacordo não for mutuamente benéfico para todos os parceiros, a efetiva implemen-tação ou sustentabilidade deste será pouco provável [Banco Mundial (2000)].Acordos poderão existir de fato, porém não serão implementados efetivamente.Dessa forma, os impactos da Alca ou da UE–Mercosul sobre os parceiros comer-ciais do Brasil são relevantes para o sucesso esperado dos acordos no longo prazo.Além disso, mesmo que sejam benéficos para o Brasil e seus parceiros, mas osbenefícios sejam derivados de perdas para os países excluídos, os acordos nãoserão, claramente, atrativos na perspectiva do sistema de comércio multilateral.

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26. A Argentina sofre pequenas perdas com a Alca no cenário de elasticidades centrais devido à erosão do seu acessopreferencial aos mercados do Mercosul. Usando os dados e o software de modelagem do GTAP, Cardoso Teixeira (2002) eValls Pereira (1999) também encontraram resultados de perdas para a Argentina e ganhos para o Brasil com a formação daAlca.

27. Quando se consideram casas decimais adicionais, ocorrem perdas para muitos países onde são reportadas mudanças nobem-estar iguais a zero.

Portanto, torna-se importante estimar também os impactos nos países parceiros eexcluídos. Comparam-se os resultados dos acordos com aqueles obtidos com aredução multilateral em 50% nas tarifas às importações e subsídios às exporta-ções. Para comparar ganhos e perdas entre países, as estimativas em dólares dototal de impactos para países incluídos nos acordos e para países excluídos sãoadicionadas às Tabelas 6A e 6B.

Todos os acordos considerados resultam em benefícios líquidos para os paísesmembros.26 Todos esses acordos são criadores de comércio. Tal resultado reflete ofato de todos os acordos criarem grandes áreas econômicas, onde se pode esperarque prevaleça a competição para a maioria dos produtos e os fornecedores maiseficientes estejam, provavelmente, entre os mais eficientes do mundo.

Com relação aos países excluídos, virtualmente todos perdem quando ex-cluídos dos acordos regionais (o impacto da UE–Mercosul sobre o Japão é umaexceção, por questões mencionadas anteriormente).27 Contudo, os acordos sãosuficientemente criadores de comércio, considerando os ganhos gerados para omundo como um todo. Estima-se que a liberalização multilateral gere ganhospara o mundo de ordem quatro vezes superior aos gerados pelo melhor dos acor-dos regionais considerados. Esse resultado enfatiza a importância das negocia-ções da comunidade mundial de comércio.

3.2 Impactos nos setores produtivos: mudanças na produção, preços,importações e exportações

Nas Tabelas 8A e 8B são apresentadas as estimativas dos impactos das opções depolítica comercial sobre a produção setorial. As tabelas contêm as mudançaspercentuais na produção, exportações, importações e preços ao consumidor noBrasil. Embora os impactos nos setores sejam dependentes do acordo específicoem consideração, existe um padrão comum nas mudanças. Em geral, os setoresde sementes oleaginosas, outros produtos da agricultura (excluindo grãos e tri-go), outras culturas (que inclui frutas, vegetais e trigo), alimentos processados eprodutos de couro expandem produção e exportações, enquanto vários setoresmanufatureiros, incluindo veículos automotores, outros produtos metálicos e osetor denominado manufaturas, sofrem impactos negativos. Esse resultado refle-te o padrão de proteção relativa existente no Brasil, que favorece produtos manu-faturados em relação a produtos agropecuários e alimentos. Quando a proteção éreduzida na economia, recursos produtivos são deslocados em direção aos setores

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39Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

agrícolas e de alimentos, que estavam relativamente menos protegidos que osmanufaturados. Percebe-se ainda que os setores em expansão tendem a ser menosintensivos em capital que os setores em contração, o que tem implicações impor-tantes para os impactos sobre a pobreza.

A redução nas tarifas geralmente desvaloriza a taxa de câmbio real (Tabela 7).Isso ocorre porque o aumento na demanda por importações que acompanha odeclínio nas tarifas induz um aumento no preço da moeda estrangeira. A desvalo-rização da taxa de câmbio estimula as exportações e inibe a expansão das impor-tações. A taxa de câmbio real desvalorizada faz com que os setores exportadorestenham um estímulo para exportar, mesmo que as tarifas nos mercados de expor-tação não tenham sido alteradas. Essa é uma das razões, por trás da afirmativafeita pelos economistas que estudam o comércio internacional, por que uma tari-fa à importação é equivalente a um imposto às exportações. Considerando a visãode que o Brasil não vá ceder nem receber um “mercado livre” do resto do mundono longo prazo, presume-se que deverá haver um aumento no valor das exporta-ções para igualar o aumento no valor das importações que acompanha a reduçãotarifária. A taxa real de câmbio seria a variável principal no restabelecimento doequilíbrio a partir das mudanças nas importações e exportações.

No nível setorial, percebe-se que a expansão nas exportações é bastante amplanos cenários da Alca e de liberalização multilateral e unilateral. Os maiores aumen-tos nas exportações são advindos de setores que estão expandindo a produção,que são aqueles que estão recebendo relativamente pouca proteção no equilíbrioinicial. O aumento combinado das exportações dos setores em expansão devecompensar o aumento nas importações mais o declínio nas exportações daquelespoucos setores que apresentam redução em exportações. Uma vez que o setor demanufaturados é o mais intensivo em exportações no Brasil (Tabela 2) entre ossetores do modelo (cerca de 29% do valor da produção doméstica) e apresenta osvalores mais elevados de exportações iniciais, pode-se inferir que a expansão dasexportações em outros setores deve ser mais substancial.

Diferentes acordos possuem impactos discrepantes em setores variados. Oacordo UE–Mercosul pode induzir um enorme crescimento nas exportações agrí-colas e de alimentos. Estima-se que as exportações dos produtos mais protegidosna UE se expandem entre 63% (grãos) e vários múltiplos do nível corrente deexportações no caso dos produtos de carne bovina. Contudo, se a UE excluir doacordo os produtos agrícolas e alimentos mais protegidos, o aumento nas expor-tações desses produtos deverá ser bastante modesto.

Os resultados para o cenário de baixa elasticidade são apresentados na Tabe-la 8B. Em geral, como previsto pela teoria econômica, o impacto setorial é menosexpressivo com elasticidades baixas.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200340

28. Burfisher, Robinson e Thierfelder (2002) encontram apenas pequenos aumentos nas importações agrícolas dos EstadosUnidos como um resultado da Alca.

29. O coeficiente de Gini melhora com os principais cenários de políticas aqui considerados. Por exemplo, esse coeficientemuda de 0,5850 no equilíbrio inicial para 0,5822 no cenário da Alca. Por questões explicadas em Harrison, Rutherford e Tarr(2003), contudo, sugere-se cautela no uso de medidas simples de desigualdade, como o coeficiente de Gini, quando a preo-cupação é realmente o impacto sobre o nível de pobreza. É possível, como ilustrado por aqueles autores, que o coeficiente deGini indique uma melhoria na distribuição do bem-estar (na forma de uma distribuição mais igualitária), enquanto a pobrezaaumenta. Existem formas de modificar o coeficiente de Gini de modo a dar maior peso para o nível de pobreza, porém seprefere utilizar diretamente os resultados detalhados das simulações, em vez de debater as virtudes de estatísticas alternativas.

Estima-se também que a liberalização comercial multilateral tem um im-pacto positivo nas exportações agrícolas e de alimentos, e produz um forte im-pacto na redução das importações brasileiras de bens agrícolas e alimentos. Aredução nas importações desses produtos é explicada pelo fato de serem admiti-das reduções de 50% nos subsídios às exportações (mais relevantes na UE) naliberalização multilateral.

Estima-se que a Alca conduz a uma expansão substancial do setor de courosbem como do setor de açúcar. As exportações desses produtos, bem como as deóleos vegetais e de “outras culturas”, aumentam significativamente com a Alca,até mesmo se for admitido que os Estados Unidos excluem o acesso brasileiro aosseus mercados mais protegidos.28

3.3 Impactos sobre os domicílios e sobre a pobreza

Embora as mudanças consideradas na política comercial sejam, em geral, benéfi-cas para a economia brasileira como um todo, nesta subseção são apresentadasestimativas e explicações dos impactos das mudanças na política comercial sobreas diferentes categorias de domicílios no Brasil. Enfocam-se principalmente osimpactos sobre os domicílios mais pobres.

No modelo são consideradas 20 classes de domicílios no Brasil: dez rurais edez urbanos, agrupados de acordo com a renda. Nas Tabelas 9A e 9B são apresenta-dos os resultados para os domicílios em termos percentuais e nas Tabelas 10A e 10Bsão apresentados os impactos em US$ bilhões. Como exemplo, considere o acordoAlca. Sob elasticidades centrais, a Tabela 9A mostra que, enquanto o impacto totalde aumento no bem-estar no Brasil é de seis décimos de percentagem no consumo,o impacto no bem-estar dos domicílios rurais e urbanos mais pobres é cerca dequatro vezes superior a esse valor, ou seja, um aumento de 2,5% no valor do consu-mo dos domicílios. Para os sete cenários básicos considerados nas Tabelas 9A e 9B,estima-se que as famílias pobres ganham vários múltiplos dos ganhos agregadospara a economia, expressos como percentagem do consumo do domicílio.

Embora o impacto na renda dos domicílios não seja estritamente progressivo,os quatro tipos de domicílios urbanos e rurais mais pobres estão entre os domicí-lios mais beneficiados com as reformas em termos de percentagem do consumodomiciliar próprio.29 A razão para esse resultado, como apresentado na Tabela 4B,

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41Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

TABELA 9AIMPACTOS DAS OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL DO MERCOSUL SOBRE OS DOMICÍLIOSBRASILEIROS (MUDANÇA NO BEM–ESTAR EM PERCENTAGEM DO CONSUMO —ELASTICIDADES CENTRAIS)

Acordosa

Classes de domicílios

Alca

(1)

Alca

(produtos

excluídos)

(2)

UE–

Mercosul

(3)

UE–

Mercosul

(produtos

excluídos)

(4)

Alca e

UE–

Mercosul

(5)

Redução

tarifária

unilateral

de 50%

(6)

Liberali-

zação

tarifária

multilateral

de 50%

(7)

Alca

sem libe-

raliza-

ção no

Mercosul

(8)

Rhh1 2,5 1,7 4,0 2,1 5,5 1,5 2,9 0,8

Rhh2 2,3 1,5 3,9 1,8 5,4 1,2 2,8 1,0

Rhh3 2,5 1,5 4,5 1,9 6,2 1,1 3,5 1,3

Rhh4 2,5 1,8 3,9 2,2 5,4 1,5 3,1 0,8

Rhh5 1,3 0,8 2,3 0,7 3,5 0,6 1,8 0,8

Rhh6 1,5 1,0 2,3 0,8 3,6 0,7 1,7 0,8

Rhh7 1,3 0,9 2,0 0,7 3,2 0,6 1,6 0,7

Rhh8 3,1 2,0 4,8 2,4 6,9 1,2 4,1 1,4

Rhh9 0,9 0,4 1,7 0,6 2,6 0,4 1,8 0,7

Rhh10 3,7 2,3 6,0 2,8 8,3 1,4 4,9 1,6

Uhh1 2,5 1,8 3,8 2,1 5,2 1,5 2,7 0,7

Uhh2 2,3 1,6 3,8 1,8 5,2 1,3 2,6 0,8

Uhh3 2,2 1,4 3,6 1,7 5,0 1,2 2,6 0,9

Uhh4 2,0 1,3 3,1 1,5 4,5 1,0 2,4 0,8

Uhh5 1,3 0,7 2,4 0,8 3,5 0,7 1,8 0,8

Uhh6 1,6 1,0 2,6 1,0 3,9 0,7 1,9 0,8

Uhh7 0,4 0,3 0,9 0,0 1,6 0,3 0,7 0,4

Uhh8 0,3 0,2 0,7 –0,1 1,4 0,3 0,7 0,4

Uhh9 –0,5 –0,4 –0,3 –0,7 –0,1 0,0 0,1 0,2

Uhh10 0,0 0,2 –0,2 –0,5 0,5 0,1 0,0 0,2

a Ver Tabela 5A para a descrição dos acordos.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200342

TABELA 9BIMPACTOS DAS OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL DO MERCOSUL SOBRE OS DOMICÍLIOSBRASILEIROS (MUDANÇA NO BEM–ESTAR EM PERCENTAGEM DO CONSUMO —ELASTICIDADES BAIXAS)

Acordosa

Classes de domicílios

Alca

(1)

Alca

(produtos

excluídos)

(2)

UE–

Mercosul

(3)

UE–

Mercosul

(produtos

excluídos)

(4)

Alca e

UE–

Mercosul

(5)

Redução

tarifária

unilateral

de 50%

(6)

Liberali-

zação

tarifária

multilateral

de 50%

(7)

Alca

sem libe-

raliza-

ção no

Mercosul

(8)

Rhh1 1,2 0,9 2,0 1,1 3,0 1,1 1,8 1,2

Rhh2 1,1 0,7 2,0 0,9 3,0 0,8 1,8 1,1

Rhh3 1,1 0,6 2,4 0,9 3,5 0,7 2,2 1,1

Rhh4 1,2 0,9 2,0 1,1 2,9 1,1 1,9 1,2

Rhh5 0,6 0,3 1,3 0,3 2,0 0,4 1,2 0,6

Rhh6 0,7 0,5 1,4 0,4 2,2 0,5 1,2 0,7

Rhh7 0,6 0,4 1,2 0,3 1,9 0,4 1,1 0,6

Rhh8 1,5 0,9 2,7 1,2 4,0 0,8 2,6 1,5

Rhh9 0,2 0,0 0,9 0,1 1,3 0,2 1,0 0,2

Rhh10 1,8 1,0 3,4 1,4 4,9 1,0 3,1 1,8

Uhh1 1,2 0,9 1,9 1,1 2,8 1,2 1,7 1,2

Uhh2 1,1 0,7 2,0 0,9 2,9 0,9 1,7 1,1

Uhh3 1,0 0,6 1,9 0,8 2,8 0,8 1,6 1,0

Uhh4 0,9 0,6 1,6 0,7 2,5 0,7 1,5 0,9

Uhh5 0,5 0,2 1,3 0,3 1,9 0,4 1,1 0,5

Uhh6 0,7 0,4 1,5 0,4 2,3 0,5 1,3 0,7

Uhh7 0,1 0,0 0,5 –0,1 0,9 0,2 0,5 0,1

Uhh8 0,0 –0,1 0,4 –0,2 0,7 0,1 0,4 0,0

Uhh9 –0,4 –0,4 –0,3 –0,6 –0,3 –0,2 0,0 –0,4

Uhh10 0,1 0,1 0,1 –0,2 0,5 0,1 0,2 0,1

a Ver Tabela 5A para a descrição dos acordos.

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43Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

TABELA 10AIMPACTOS DAS OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL DO MERCOSUL SOBRE OS DOMICÍLIOSBRASILEIROS (GANHOS DE BEM–ESTAR EM U$ BILHÕES DE 1996 — ELASTICIDADES CENTRAIS)

Acordosa

Classes de domicílios

Alca

(1)

Alca

(produtos

excluídos)

(2)

UE–

Mercosul

(3)

UE–

Mercosul

(produtos

excluídos)

(4)

Alca e

UE–

Mercosul

(5)

Redução

tarifária

unilateral

de 50%

(6)

Liberali-

zação

tarifária

multilateral

de 50%

(7)

Alca

sem libe-

raliza-

ção no

Mercosul

(8)

Rhh1 0,07 0,05 0,11 0,06 0,15 0,04 0,08 0,0

Rhh2 0,09 0,06 0,15 0,07 0,21 0,05 0,11 0,0

Rhh3 0,10 0,06 0,18 0,08 0,25 0,04 0,14 0,1

Rhh4 0,10 0,07 0,16 0,09 0,22 0,06 0,12 0,0

Rhh5 0,05 0,03 0,09 0,03 0,14 0,02 0,07 0,0

Rhh6 0,07 0,05 0,10 0,04 0,17 0,03 0,08 0,0

Rhh7 0,04 0,03 0,06 0,02 0,09 0,02 0,05 0,0

Rhh8 0,09 0,06 0,14 0,07 0,21 0,04 0,12 0,0

Rhh9 0,02 0,01 0,04 0,01 0,06 0,01 0,04 0,0

Rhh10 0,97 0,61 1,59 0,75 2,21 0,37 1,30 0,4

Uhh1 0,07 0,05 0,11 0,06 0,14 0,04 0,07 0,0

Uhh2 0,14 0,10 0,23 0,11 0,33 0,08 0,16 0,1

Uhh3 0,22 0,14 0,37 0,17 0,51 0,12 0,26 0,1

Uhh4 0,28 0,19 0,45 0,22 0,65 0,15 0,34 0,1

Uhh5 0,26 0,15 0,50 0,16 0,73 0,14 0,37 0,2

Uhh6 0,38 0,24 0,62 0,24 0,93 0,17 0,47 0,2

Uhh7 0,18 0,12 0,38 0,00 0,69 0,15 0,32 0,2

Uhh8 0,16 0,09 0,33 –0,04 0,67 0,14 0,33 0,2

Uhh9 –0,39 –0,36 –0,26 –0,56 –0,06 –0,01 0,06 0,2

Uhh10 0,10 0,48 –0,49 –1,12 1,04 0,23 –0,01 0,4

a Ver Tabela 5A para a descrição dos acordos.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200344

TABELA 10BIMPACTOS DAS OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL DO MERCOSUL SOBRE OS DOMICÍLIOSBRASILEIROS (GANHOS DE BEM–ESTAR EM U$ BILHÕES DE 1996 — ELASTICIDADES BAIXAS)

Acordosa

Classes de domicílios

Alca

(1)

Alca

(produtos

excluídos)

(2)

UE–

Mercosul

(3)

UE–

Mercosul

(produtos

excluídos)

(4)

Alca e

UE–

Mercosul

(5)

Redução

tarifária

unilateral

de 50%

(6)

Liberali-

zação

tarifária

multilateral

de 50%

(7)

Alca

sem libe-

raliza-

ção no

Mercosul

(8)

Rhh1 0,03 0,02 0,05 0,03 0,08 0,03 0,05 0,0

Rhh2 0,04 0,03 0,08 0,03 0,12 0,03 0,07 0,0

Rhh3 0,05 0,02 0,10 0,03 0,14 0,03 0,09 0,0

Rhh4 0,05 0,04 0,08 0,05 0,12 0,04 0,08 0,1

Rhh5 0,02 0,01 0,05 0,01 0,08 0,01 0,04 0,0

Rhh6 0,03 0,02 0,06 0,02 0,10 0,02 0,05 0,0

Rhh7 0,02 0,01 0,03 0,01 0,05 0,01 0,03 0,0

Rhh8 0,04 0,03 0,08 0,04 0,12 0,02 0,08 0,0

Rhh9 0,01 0,00 0,02 0,00 0,03 0,00 0,02 0,0

Rhh10 0,47 0,27 0,90 0,38 1,29 0,25 0,81 0,5

Uhh1 0,03 0,02 0,05 0,03 0,08 0,03 0,05 0,0

Uhh2 0,07 0,04 0,12 0,06 0,18 0,06 0,11 0,1

Uhh3 0,10 0,06 0,19 0,08 0,28 0,08 0,17 0,1

Uhh4 0,13 0,08 0,24 0,10 0,36 0,10 0,22 0,1

Uhh5 0,11 0,04 0,27 0,06 0,41 0,08 0,24 0,1

Uhh6 0,18 0,10 0,36 0,11 0,55 0,11 0,31 0,2

Uhh7 0,05 0,01 0,22 –0,05 0,39 0,08 0,22 0,1

Uhh8 0,02 –0,03 0,18 –0,09 0,35 0,06 0,22 0,0

Uhh9 –0,38 –0,38 –0,22 –0,47 –0,22 –0,13 –0,03 –0,4

Uhh10 0,11 0,25 0,18 –0,53 1,04 0,26 0,44 0,1

a Ver Tabela 5A para a descrição dos acordos.

Page 45: POLÍTICAS DE COMÉRCIO REGIONAIS, MULTILATERAIS E ... · de Comércio (OMC) [ver World Trade Organization (2000)]. O Brasil é mem-bro do grupo de Cairns, que apóia a liberalização

45Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

é que os domicílios mais pobres recebem sua renda principalmente do trabalhonão-qualificado, e a taxa do salário para esse trabalho aumenta significativamentemais que a taxa salarial do trabalho qualificado e que a renda do capital (Tabela7). As famílias pobres não possuem significativos ativos reais ou ativos financei-ros acumulados, de maneira que elas não recebem renda significativa do capitalou do aluguel da terra; nem possuem muito capital humano acumulado, de ma-neira que participações muito menores da renda dessas famílias são advindas dotrabalho qualificado, em comparação com as famílias com renda de classe média.Embora esses comentários sejam intuitivos, eles estão documentados no Apêndi-ce D, com base na PPV brasileira.

A rentabilidade da terra aumenta mais intensamente que o salário do traba-lho não-qualificado. Duas categorias de domicílios rurais entre os mais ricos sãoas maiores beneficiadas com as reformas, como conseqüência do padrão de pro-priedade da terra. Para documentar essa interpretação, os impactos da Alca sobreos domicílios são decompostos e os resultados apresentados na Tabela 11. Nacoluna (1) da tabela são reproduzidos os resultados básicos da Tabela 9A a respei-to da Alca. Na coluna (2) admite-se na simulação que todos os domicílios conso-mem as commodities na mesma proporção. Observa-se que, enquanto os ganhospara os domicílios mais pobres são levemente reduzidos, comparados com osganhos para a economia como um todo, os ganhos percentuais na renda dosdomicílios mais pobres permanecem cerca de três a quatro vezes maiores do queos ganhos percentuais de todos os domicílios em conjunto. Dessa forma,disparidades nas parcelas de consumo não explicam por que os consumidorespobres ganham mais com as mudanças na política comercial. Por outro lado, acoluna (3) apresenta os resultados do cenário Alca admitindo-se na simulaçãoque todos os domicílios recebem suas rendas dos fatores de produção na mesmaproporção.

Quer dizer, ignoram-se os dados da Tabela 4B advindos da PPV a respeito decomo os diferentes domicílios recebem suas rendas. Ao contrário, admite-se quetodos os domicílios recebem as mesmas parcelas de suas rendas originadas de salá-rios ao trabalho não-qualificado, salários ao trabalho qualificado, renda do capital erenda da terra. Pode-se perceber, pela coluna (3), que a maioria dos domicíliospobres iria apenas obter um leve aumento de renda se recebessem sua remuneraçãodo mesmo modo que a média da economia como um todo, em comparação com osganhos médios de seis décimos de percentagem. Esse resultado confirma que oaumento no preço do fator de produção, que é importante para a renda das famíliaspobres, é o ponto crítico na explicação de o porquê dos domicílios mais pobresapresentarem ganhos estimados maiores com as opções de políticas comerciaisdelineadas. Pela Tabela 4B pode-se perceber que o fator mais importante para ospobres é o trabalho não-qualificado. Dados da Tabela 7 mostram que a taxa salarial

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200346

TABELA 11DECOMPOSIÇÃO DOS IMPACTOS DO ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS SOBRE OSDOMICÍLIOS BRASILEIROS (MUDANÇAS PERCENTUAIS NO BEM–ESTAR — ELASTICIDADESCENTRAIS)

Acordosa

Classes de domicílios

Alca

(1)

Alca

participação

uniforme no

consumo

(2)

Alca

participação

uniforme na renda

(3)

Alca

com participação

dos fatores do

GTAP

(4)

Total de impactos sobre os domicílios 0,6 0,6 0,6 0,5

Rhh1 2,5 2,0 1,0 0,5

Rhh2 2,3 1,8 0,7 0,3

Rhh3 2,5 2,0 0,5 0,1

Rhh4 2,5 2,1 0,9 1,0

Rhh5 1,3 0,8 0,5 0,4

Rhh6 1,5 0,7 0,9 0,7

Rhh7 1,3 0,6 0,7 0,5

Rhh8 3,1 2,8 1,0 2,2

Rhh9 0,9 1,2 0,0 0,8

Rhh10 3,7 3,2 1,1 2,0

Uhh1 2,5 2,0 1,0 0,4

Uhh2 2,3 1,8 0,9 0,2

Uhh3 2,2 1,8 0,7 0,0

Uhh4 2,0 1,6 0,7 0,9

Uhh5 1,3 1,0 0,3 0,1

Uhh6 1,6 1,4 0,6 0,4

Uhh7 0,4 0,2 0,3 0,1

Uhh8 0,3 0,3 0,2 0,0

Uhh9 –0,5 0,0 –0,3 –0,3

Uhh10 0,0 0,1 0,9 0,9a Ver Tabela 5A para a descrição dos acordos.

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47Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

do trabalho não-qualificado apresenta maiores aumentos em relação às remunera-ções dos demais fatores importantes para a renda dos domicílios.

Por que as estimativas mostram que a taxa salarial do trabalho não-qualifi-cado aumenta mais intensamente entre os fatores de produção (com exceção dofator terra)? A teoria de comércio internacional discute que, após a liberalizaçãocomercial, o preço do fator de produção usado intensivamente no setor protegidodeve ser reduzido, em relação ao preço do fator de produção usado intensivamen-te no setor menos protegido.30 Em países onde o trabalho não-qualificado é rela-tivamente abundante (como em muitos países em desenvolvimento), cada umtem uma vantagem comparativa nos bens que usam intensivamente trabalho não-qualificado, e esses países freqüentemente protegem setores intensivos em capital,que não têm capacidade de competir nos mercados mundiais abertos. A liberali-zação comercial, portanto, move recursos dos setores intensivos em capital para ossetores intensivos em trabalho não-qualificado, e pode-se esperar um incrementonos salários dos trabalhadores não-qualificados. Esse resultado é o que precisa-mente ocorre nos cenários de políticas comerciais para o Brasil. Setores como osde veículos automotores, outros produtos metálicos e outros manufaturados, queestão entre os setores mais intensivos em capital no Brasil, são os que sofremdeclínio. Por outro lado, são os setores agropecuários que, devido ao aumento dasexportações, apresentam expansão da produção, sendo esses setores os mais in-tensivos em trabalho não-qualificado nos dados deste modelo.

Para verificar essa explicação, é realizada uma simulação adicional na coluna(4) da Tabela 11. Como explicado no Apêndice C, tabelas de insumo-produtonotoriamente apresentam informações imprecisas sobre parcelas de fatores.31 Emparticular, as estimativas de intensidade de capital para a agricultura costumamser fortemente viesadas para cima. Desse modo, parcelas de fatores foram estima-das a partir de informações adicionais externas à matriz de insumo-produto bra-sileira, apresentadas na Tabela 2. Na coluna (4) da Tabela 11 apresentam-se osganhos percentuais para os domicílios brasileiros estimados, a partir da formaçãoda Alca, caso fossem usadas as parcelas de fatores viesadas disponíveis nos dadosoriginais do GTAP. Os resultados mostram que se forem usadas as parcelas defatores da base de dados do GTAP, diferenças dramáticas ocorrerão nos resulta-dos. Os ganhos estimados para o grupo domiciliar rural (urbano) mais pobreseriam cinco décimos (quatro décimos) de percentagem do seu consumo, igualou ligeiramente menor que o ganho percentual médio agregado. Esse resultadomostra que as correções realizadas nos dados sobre parcelas dos fatores são cruciais

30. Conhecido como teorema de Stolper-Samuelson.

31. Pesquisadores do International Food Research Institute, como Arndt et alii (1998), Thomas e Bautista (1999) e Hausner(1999), têm apontado este problema.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200348

para os resultados em nível de domicílios e dão suporte para a interpretação deque a mudança de recursos em direção à agricultura é importante para aumentaras rendas das famílias pobres e reduzir o nível de pobreza.

Os resultados também evidenciam, na coluna (8) das Tabelas 5A, 5B, 6A,6B, 9A, 9B, 10A e 10B, que a realocação interna de recursos é relativamente maisimportante para as famílias pobres do que o maior acesso aos mercados. Comoexplicado, nesse cenário o Mercosul não altera suas tarifas, porém obtém maioracesso aos mercados das Américas. Em média, os ganhos para a economia caempara cerca de 1/3 dos ganhos com a Alca, porém os ganhos para os domicíliosmais pobres se reduzem em cerca de 2/3. Esse resultado ocorre porque a alocaçãointerna de recursos é responsável pelo aumento dos salários para trabalhadoresnão-qualificados em relação aos preços dos demais fatores, e não ao maior acessoaos mercados. As famílias pobres ganham quando se considera apenas o aumentono acesso aos mercados fora do Mercosul, porém não progressivamente comoocorre com a liberalização de tarifas do Mercosul.

Embora os resultados mostrem que as reformas são significativamente emprol das classes mais pobres, o modelo considera implicitamente um tempo lon-go para restabelecer o equilíbrio após alguns choques de políticas. Dessa forma, épossível que durante a transição para um novo equilíbrio algumas famílias pobressejam prejudicadas. Tal fato é especialmente provável entre as famílias que estãose deslocando dos setores em declínio, como aqueles setores manufatureiros maisintensamente protegidos. Esse resultado enfatiza a necessidade de se ter medidasefetivas de assistência para auxiliar essas famílias pobres.

Em nível metodológico, essas decomposições das fontes de mudanças embem-estar entre domicílios representam uma analogia e extensão de equilíbriogeral do tipo de decomposição das fontes de desigualdade proposto por Shorrocks(1982). As decomposições desse autor permitiram uma exata identificação dacontribuição de cada um dos componentes na renda dos fatores, admitindo oquanto aqueles componentes contribuem para a renda dos fatores para cada umadas unidades de análise. O procedimento adotado neste trabalho considera acontribuição dos fatores na renda (agregada) para as mudanças de bem-estar, bemcomo as contribuições do padrão de despesas.

4 OTIMIZANDO A POLÍTICA COMERCIAL BRASILEIRA

Nesta seção, admite-se que o resultado mais provável das negociações com a UEé de que esse bloco econômico irá excluir os produtos agrícolas mais protegidosdo acordo com o Mercosul, e que os Estados Unidos continuarão a aplicar açõesantidumping contra nações nas Américas quando da formação da Alca. Conside-rando que esses acordos provavelmente terão esses “produtos excluídos”, como o

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49Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

Brasil poderá combinar diferentes políticas para otimizar sua escolha de políticacomercial para o Mercosul? Na Tabela 12 são apresentados cinco cenários, querepresentam combinações de políticas para avaliar os impactos dessas opções.

a) Alca com produtos excluídos nos Estados Unidos e 50% de reduçãounilateral das tarifas do Mercosul

Na coluna (1) da Tabela 12 são avaliados os impactos de uma redução unilateralem 50% nas tarifas aplicadas pelo Mercosul a terceiros países em combinação coma formação da Alca com os Estados Unidos excluindo produtos do acordo. Querdizer, a política antidumping dos Estados Unidos nega o acesso das exportaçõesbrasileiras aos produtos — sementes oleaginosas, outras culturas, produtos delaticínios e açúcar — mais intensamente protegidos nos Estados Unidos. Osganhos estimados para o Brasil são de 0,72% no consumo brasileiro. Compareesse resultado com a coluna (2) da Tabela 5A, onde o Brasil ganha apenas quatrodécimos de percentagem no consumo com a formação da Alca na hipótese deexclusão de produtos. Pela redução de forma unilateral da TEC do Mercosul,Brasil, Uruguai e Argentina reduzem os custos de desvios de comércio com aAlca, enquanto continuam obtendo acesso preferencial aos mercados das Américas.Em adição, ocorrem efeitos mais pronunciados na alocação de recursos, advindosda redução da tarifa do Mercosul, independentemente dos impactos regionais.Dessa forma, os ganhos para os três países do Mercosul oriundos da formação daAlca, com a exclusão de produtos nos Estados Unidos, podem aumentar casohaja uma redução de 50% nas tarifas externas do Mercosul. No caso da Argenti-na, os efeitos de bem-estar deixam de ser negativos e passam a ser positivos (resul-tado não mostrado nessa tabela).

b) Combinando a Alca com o acordo Mercosul–UE com exclusão de pro-dutos

Os acordos da Alca e do Mercosul com a UE podem estar sujeitos a exclusõesde produtos agrícolas e alimentos no livre-comércio com a UE e a neutralizaçãopor direitos antidumping na Alca, pelas razões discutidas na Seção 3. Dessaforma, foram também estimados os impactos de bem-estar sobre o Brasil eoutros países causados pelos efeitos combinados desses acordos com as mesmasexclusões discutidas anteriormente para esses acordos. Os ganhos dos acordoscombinados para o Brasil, considerando a exclusão de produtos (0,85% doconsumo), excedem a soma dos ganhos dos acordos com exclusões avaliadosseparadamente (0,5% do consumo). Novamente, a razão para tal é que os acor-dos de forma combinada reduzem os impactos de desvio de comércio de ambosos acordos avaliados separadamente.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200350

TABE

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de d

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Alca

(pro

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de

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tarif

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(1)

Alca

+ U

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(pro

duto

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os)

(2)

Alca

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sul

(pro

duto

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50%

de

redu

ção

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tera

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tarif

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(3)

Alca

+ U

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erco

sul

(pro

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os) +

liber

aliza

ção

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tilat

eral

de 5

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(5)

Alca

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erco

sul

(pro

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liber

aliza

ção

mul

tilat

eral

de 5

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uni

form

idad

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rifár

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o M

erco

sul

(6)

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l de

impa

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micí

lios

0,72

0,85

0,97

1,15

0,66

1,36

Rhh1

2,24

3,07

3,26

3,26

1,54

4,70

Rhh2

1,93

2,79

2,96

2,96

1,34

4,32

Rhh3

1,90

2,97

3,13

3,13

1,24

5,19

Rhh4

2,29

3,16

3,34

3,34

1,54

4,95

Rhh5

1,12

1,61

1,75

1,75

0,86

2,65

Rhh6

1,41

1,88

2,04

2,04

1,11

2,85

Rhh7

1,26

1,71

1,85

1,85

0,95

2,68

Rhh8

2,44

3,71

3,86

3,86

1,43

6,44

Rhh9

0,72

1,15

1,25

1,25

0,55

2,34

Rhh1

02,

764,

304,

464,

461,

557,

53

(con

tinua

)

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51Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

(con

tinua

ção)

Acor

dosa

Clas

ses

de d

omicí

lios

Alca

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ção

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(1)

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(2)

Alca

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(3)

Alca

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200352

c) Alca mais UE–Mercosul (ambos com produtos excluídos) e 50% de re-dução nas tarifas do Mercosul

Na coluna (3) da Tabela 12 são apresentados os resultados de uma combinação daAlca e de um acordo do Mercosul com a UE (com a exclusão de produtos emambos os acordos regionais) adicionados de uma redução unilateral de 50% nastarifas externas do Mercosul. Os ganhos estimados para o Brasil são de 0,97% deaumento no consumo. Comparando as colunas (2) e (3) da tabela, os ganhosadicionais da liberalização unilateral derivam tanto da redução do desvio de co-mércio nos acordos preferenciais, quanto da melhoria na alocação de recursosquando do movimento em direção aos preços mundiais de importações.

d ) Alca mais UE–Mercosul (ambos com produtos excluídos) combinadoscom 50% de reforma multilateral sobre os bens

Na coluna (4) da Tabela 12 são apresentados os resultados para uma combinaçãodos acordos regionais com um acordo multilateral. Admite-se que o acordo UE–Mercosul exclui os produtos agrícolas mais fortemente protegidos, porém essessão incluídos no acordo de liberalização multilateral. Essa é a estratégia que al-guns líderes no Brasil têm defendido — buscar acordos regionais de comércio e,ao mesmo tempo, perseguir liberalização comercial multilateral, uma vez que sepresume que apenas negociações multilaterais serão bem-sucedidas em atingirreduções tarifárias e de subsídios às exportações para produtos agrícolas. Consi-derando as negociações em curso na Agenda de Desenvolvimento de Doha, exa-mina-se o impacto de uma redução multilateral em 50% nas tarifas em todas asregiões (incluindo o Mercosul), enquanto o Mercosul também participa da Alcae de uma área de livre-comércio com a UE (com a exclusão de produtos). Anali-ticamente, esse cenário é similar ao anterior, exceto pela redução de 50% nastarifas em todo o mundo, não apenas no Mercosul. Nesse cenário, os países doMercosul conseguem maiores acessos aos mercados do Resto do Mundo e Japão(comparado ao cenário de acordo regional com a UE e a Alca), porém o acessopreferencial que o Mercosul negociou nesses acordos regionais é erodido pelaliberalização multilateral. Dessa forma, existem efeitos da liberalização multilate-ral que contrabalançam os acordos regionais em questão para os países do Mercosul.Porém, a liberalização multilateral produz um saldo de ganhos para os países doMercosul — para o Brasil são de 1,14% do consumo pessoal agregado. Compa-rado com os resultados da coluna (3) da tabela, que inclui a liberalização unilate-ral no Mercosul, os ganhos maiores são provocados pelo acesso adicional aosmercados do Resto do Mundo e Japão, junto com a liberalização dos produtosexcluídos dos acordos regionais pelos Estados Unidos e UE.

As quatro categorias de domicílios rurais e as quatro de domicílios urbanosmais pobres ganham substancialmente mais com esse cenário, em percentagem

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53Políticas de comércio regionais, multilaterais e unilaterais do Mercosul

de aumento do consumo pessoal. Esse resultado ocorre, como explicado na Seção3, porque os setores que usam intensivamente trabalho não-qualificado crescemrelativamente mais que outros setores, elevando de forma mais acentuada o salá-rio do trabalhador não-qualificado em relação aos preços dos demais fatores deprodução. Uma vez que as famílias pobres dependem mais dos salários advindosdo trabalho não-qualificado, suas rendas aumentam bem mais que a média.

e) Uniformidade tarifária

Na coluna (5) da Tabela 12 são apresentadas estimativas do impacto do Mercosul,adotando uma tarifa uniforme. Quer dizer, foi imposta uma tarifa uniforme noMercosul e permitiu-se que a alíquota se ajustasse de forma que a receita tarifáriacoletada no Brasil permanecesse inalterada ao nível inicial. Observou-se que atarifa uniforme é capaz de reduzir a alíquota tarifária para 7%.

Os resultados desse cenário mostram que um movimento em direção a umatarifa uniforme no Mercosul pode trazer benefícios consideráveis para o Brasil,de 0,66% de aumento do consumo pessoal. De fato, os ganhos são maiores doque aqueles obtidos pelo Brasil quando da redução de 50% na tarifa externa doMercosul. A razão pela qual a uniformidade tarifária traz benefícios é que oscustos da distorção de um regime tarifário aumentam mais que proporcional-mente com o aumento da tarifa. Assim, os ganhos acentuados são oriundos docorte dos picos tarifários.

Esses resultados são consistentes com o trabalho anterior dos autores[Harrison, Rutherford e Tarr (1993 e 2002)], que mostraram que um movimen-to em direção à uniformidade tarifária proporcionará a uma significativa parcelados benefícios mover-se em direção ao livre-comércio, para o caso de os níveistarifários serem originalmente muito desiguais. Em adição, Martinez de Prera(2000) avaliou as conseqüências do movimento em direção a tarifas uniformespartindo da estrutura tarifária atual em modelos CGE para 13 países separados.Essa autora concluiu que devem existir ganhos de bem-estar advindos da unifor-midade da tarifa em todos os 13 países. Evidentemente, tarifas não deveriamdiferir da uniformidade nessas economias graças a razões de eficiência na tributa-ção.32 Ao contrário, os elevados ganhos de bem-estar advindos da liberalizaçãocomercial são tipicamente derivados da redução de picos tarifários, que é, efetiva-mente, executada com a uniformidade tarifária. A redução de tarifas baixas resul-ta em ganhos proporcionalmente menores e pode até mesmo resultar em perdas,

32. O conjunto de elasticidades escolhidas neste trabalho, contudo, torna a uniformidade tarifária benéfica em geral. Querdizer, a regra de taxação ótima de Ramsey sugere que altos impostos devem ser estabelecidos nos bens com menores elasti-cidades da demanda. Com a escolha de elasticidades virtualmente homogêneas neste trabalho, a tarifa ótima de Ramsey serápróxima da uniformidade.

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pesquisa e planejamento econômico | ppe | v.33 | n.1 | abr 200354

se o país importador possuir poder de monopsônio.33 Assim, revela-se que a unifor-midade tarifária no Mercosul pode trazer benefícios consideráveis para o Brasil.

Em adição, pode-se perceber que a uniformidade tarifária é levemente pro-gressiva. Os quatro grupos de domicílios mais pobres ganham proporcionalmen-te mais, em termos de aumentos percentuais, no consumo.

f ) Alca mais UE–Mercosul (com produtos excluídos) combinados com re-forma multilateral de comércio de 50% em bens, combinados com uniformida-de tarifária no Mercosul

Na coluna (6) da Tabela 12 são apresentadas estimativas dos impactos de se bus-car todos os caminhos — regional, multilateral e unilateral (onde a ação unilate-ral é a uniformidade da tarifa). Quer dizer, avalia-se o impacto combinado daAlca (com a exclusão de produtos pelos Estados Unidos), mais um acordo entre aUE e o Mercosul (com produtos agrícolas excluídos) e mais uma liberalização decomércio multilateral (em tarifas e subsídios às exportações), mais uniformidadeda TEC do Mercosul. Esse cenário acrescenta a uniformidade da tarifa à estraté-gia do cenário da coluna (4) dessa tabela.

Os ganhos promovidos por esse cenário, como esperado, são os maioresdentre as opções consideradas. Comparando as colunas (4) e (6) da tabela pode-se perceber que, adicionando a uniformidade tarifária, acrescenta-se cerca de 0,21%ao ganho total de bem-estar na economia. Os ganhos originados da adição dauniformidade são menores do que quando se considera a uniformidade sozinha.A uniformidade alcança benefícios de remoção dos picos tarifários, e os benefíciosaumentam geometricamente com o peso da tarifa. Uma vez que as políticas regio-

33. O Mercosul pode ter uma tarifa ótima baixa apesar de ser pequeno nos mercados mundiais de muitos produtos. Se asexportações brasileiras são diferenciadas dos produtos de outros países, de forma que o Brasil, no agregado, enfrenta umacurva de demanda de inclinação descendente para um produto, mesmo que os produtores brasileiros individuais não perce-bam essa curva de demanda de inclinação negativa, existe um imposto ótimo de exportação que maximiza os lucros dasexportações brasileiras. O peso desse imposto ótimo de exportações é inversamente relacionado com a elasticidade da de-manda com a qual o Brasil se depara nos mercados mundiais, que, por sua vez, é determinada pela substituibilidade dosprodutos brasileiros por aqueles de outros países. No limite, quando os produtos brasileiros são substitutos perfeitos para osprodutos de todos os outros países em todos os mercados brasileiros de exportação, o Brasil não tem habilidade para obterum preço maior por restringir suas exportações. Nesse caso, o imposto ótimo de exportação é zero.

Embora o Brasil virtualmente não imponha impostos às exportações, o teorema da simetria de Lerner prega que, emgeral, tarifas de importação de equilíbrio são equivalentes a impostos de exportação. Uma tarifa de importação significa umataxação aproximadamente uniforme sobre todos os setores exportadores. Contudo, com diferenciação de produtos em muitossetores, o poder de mercado nas exportações difere entre setores e mercados de destino. Conseqüentemente, a tarifa deimportação não é um instrumento tão eficiente quanto os impostos às exportações variando por setor e destino. Todavia, seimpostos às exportações são desconsiderados, existe uma tarifa de importação ótima.

Neste modelo, nos cenários de elasticidades centrais, considerou-se que todos os países possuem uma elasticidadede substituição entre importações de diferentes países (σMM ) igual a 30. Harrison, Rutherford e Tarr (1997b, Apêndice C)mostram que a tarifa ótima t’ é limitada inferiormente por t’= {[σMM /( σMM – 1)] – 1}. Dessa forma, mesmo com σMM = 30, atarifa ótima é superior a 3%; porém, nos cenários de elasticidades baixas, com σMM = 8, a tarifa ótima é superior a 14%.Devido à existência de uma tarifa média de importação de 12% no Mercosul, a tarifa ótima é menor do que a tarifa existenteno cenário com elasticidades centrais.

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nais e multilaterais reduzem os picos tarifários consideravelmente, menos ganhossão promovidos pela uniformidade. Todavia, esse cenário combinado produz osmaiores ganhos agregados para o Brasil.

5 ANÁLISES SISTEMÁTICAS DE SENSIBILIDADE

Uma vez que as estimativas de elasticidades estão sujeitas a uma margem de erro,o “remédio” para esse problema, que é endêmico a qualquer modelo de largaescala desse tipo, é realizar análises de sensibilidade sistemáticas para os principaisresultados, considerando os limites plausíveis dessas elasticidades. Esses procedi-mentos remetem a um exercício de simulação de Monte Carlo, em que um amploconjunto de elasticidades é alterado independente e simultaneamente a partir dosseus valores assumidos no equilíbrio inicial, seguindo distribuições de probabili-dade prescritas. Os resultados da simulação dos impactos da Alca repetidos 500vezes foram tabulados em uma distribuição, sendo atribuído igual peso (por cons-trução) para cada simulação de Monte Carlo. O resultado é uma distribuição deprobabilidade definida sobre as variáveis endógenas de interesse. Neste estudopreocupou-se apenas com os impactos de bem-estar do cenário Alca completo.

Com base na distribuição dos resultados, virtualmente não parece existirnenhuma chance de o Brasil ganhar menos que 0,3% do valor do consumo coma Alca. Os membros da Alca devem ganhar no mínimo US$ 12 bilhões por anocom uma virtual certeza, e países excluídos irão perder no mínimo US$ 6,7 bi-lhões com a Alca com uma virtual certeza. A UE irá perder cerca de US$ 3bilhões por ano com uma virtual certeza. O bem-estar global irá crescer mais queUS$ 3 bilhões por ano com uma virtual certeza. Os resultados de sensibilidadeconfirmam a conclusão traçada a partir das estimativas pontuais a respeito dequais serão os ganhadores e os perdedores em nível agregado dos países.

Os resultados sugerem que os domicílios rurais e urbanos mais pobres irãoganhar mais que 1% do valor do seu consumo, com probabilidade próxima aum. Em geral, as estimativas pontuais são robustas com respeito às distribuiçõesde probabilidades assumidas.

6 CONCLUSÕES

Os resultados deste trabalho sugerem que os acordos regionais sob consideraçãopelo Mercosul, quais sejam a Alca e um acordo com a UE, podem ambos resultarem ganhos para o Brasil. O acordo com a UE é cerca de 1,5 vez mais valioso quea Alca devido ao acesso a mercados agrícolas extremamente protegidos na UE.Os ganhos combinados de ambos os acordos são maiores que os ganhos obtidosda soma dos acordos separadamente, devido à redução de desvios de comércio.Os maiores países, contudo, podem excluir dos acordos seus produtos mais pro-

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tegidos. Nesse caso, a Alca será mais vantajosa para o Brasil que o acordo do Mer-cosul com a UE.

Os resultados revelam que a uniformidade tarifária também traz ganhospara o Brasil. Aplicações unilaterais de tarifas uniformes no Mercosul, mantendoa receita tarifária no Brasil inalterada, podem render benefícios até mesmo maio-res que uma redução unilateral de 50% na tarifa do Mercosul.

Muitas das políticas comerciais avaliadas, tanto regional, multilateral ouunilateralmente, resultam em uma distribuição progressiva dos ganhos para asdiferentes classes de domicílios, de forma que as famílias mais pobres experimen-tam os maiores aumentos percentuais em suas rendas. Isso ocorre porque as mu-danças na política comercial tendem a deslocar recursos de setores manufatureirosintensivos em capital para setores agrícolas intensivos em mão-de-obra não-qua-lificada, que, por sua vez, induzem um aumento no salário do trabalho não-qualificado em relação aos preços dos outros fatores de produção. Como conse-qüência, ocorre um aumento percentual na renda dos domicílios mais pobres noBrasil em comparação aos ricos. O aumento percentual na renda dos domicíliospobres é três a quatro vezes superior ao aumento médio percentual na renda daeconomia como um todo.

As estimativas indicam ser uma boa estratégia para o Brasil perseguir umacordo do Mercosul com a UE ao mesmo tempo que a Alca, enquanto apóia aliberalização comercial multilateral no âmbito da OMC. O Brasil pode otimizarsua escolha de políticas de comércio pela combinação de acordos regionais nasAméricas e com a UE com a liberalização multilateral. Se for adicionada unifor-midade tarifária à liberalização regional e multilateral, ganhos ainda maiores po-derão ser realizados.

Tanto a Alca quanto o acordo UE–Mercosul são criadores líquidos de co-mércio para os países envolvidos, porém países excluídos quase sempre perdemcom os acordos. A liberalização comercial multilateral resulta em ganhos para omundo mais que quatro vezes superiores a qualquer um desses acordos regionaisrelativamente benéficos, mostrando a importância das negociações multilateraispara a comunidade mundial de comércio.

ABSTRACT

We employ a multiregional and multisectorial general equilibrium model to examine the impacts ofregional, unilateral and multilateral trade policy options of Mercosur on the Brazilian economy, includingsectoral effects and impacts on the poor. We estimate that the FTAA, a EU–Mercosur agreement andmultilateral trade policy changes will be beneficial for Brazil. The agreement with the EU is almosttwice as valuable for Brazil as the FTAA. But if the United States and the EU do not permit access to

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their most highly protected markets, the FTAA will be much more valuable to Brazil than the EU–Mercosur agreement. We estimate that the poorest households gain roughly three to four times theaverage for Brazil due to the increase in demand for labor-intensive sectors and in the wage ratefollowing trade liberalization.

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