Poluição vs tratamento de água

Embed Size (px)

Citation preview

  • 21

    :

    QUMICA NOVA NA ESCOLA Poluio e Tratamento de gua N 10, NOVEMBRO 1999

    QUMICA E SOCIEDADE

    O que poluio?Antes de podermos discutir algu-

    mas questes ligadas qualidade dasguas, temos que entrar em acordo so-bre o que entendemos por poluio. uma palavra com muitos signifi-cados: alguns tcnicos, outros emocio-nais; uns rigorosos, outros flexveis.

    Sem a pretenso de definir o termo,podemos, para os fins deste artigo, en-carar a poluio como um caso dematria no lugar errado: a poluioocorre quando h excesso de umasubstncia, gerada pela atividade hu-mana, no stio ambiental errado.

    Esse tipo de definio, embora noseja adequada para uma anlise cien-tfica rigorosa, extremamente til pornos permitir a discusso de uma sriede pontos de vital importncia.

    Critrio de pureza ambientalO primeiro desses pontos o ques-

    tionamento do que entendemos porpureza do meio ambiente. Se, quandopensamos em pureza, imaginamosalgo que no est contaminado pornenhuma outra substncia, ento noexiste uma nica gota dgua pura emnosso ambiente. As guas dos poos,fontes, lagos, rios, mares e oceanos

    contm quantidades extremamentevariveis de uma srie de sais dissol-vidos. Mesmo a gua da chuva chegaao solo j contaminada pelo gs car-bnico presente na atmosfera (entreoutros). A gua mais pura que se co-nhece aquela encontrada nos labo-ratrios, aps ter sido passada vriasvezes por resinas trocadoras de onsou destilada repetidamente. Aindaassim, ela no ser totalmente livre deoutras substncias.

    Alis, o prprio conceito de pureza muito relativo. No caso da gua, eledepende fundamen-talmente de dois fa-tores: o uso a que elase destina e a apa-relhagem utilizada pa-ra medir o grau de pu-reza. Uma gua quese considere adequa-da para fins recreati-vos, por exemplo,muito provavelmenteno se encaixar nospadres de potabilidade exigidos paraa ingesto humana. Alm disso, setemos hipoteticamente gua com99,9988% de pureza e utilizamos uminstrumento de medio que no

    apresenta casas decimais, a leitura doinstrumento ir nos informar de que agua 100% pura (0% de impurezas).Por outro lado, se dispomos de uminstrumento capaz de nos fornecer umresultado com preciso de quatrocasas decimais, ele nos indicar quea gua possui 0,0012% de impurezas.

    Segundo o mesmo raciocnio, noexiste ar puro. Alm do fato de aatmosfera ser uma mistura de vriosgases, ela se encontra freqentementecontaminada com oznio (produzidopelos relmpagos e outros fenmenosnaturais) e por compostos orgnicosvolteis produzidos pelos animais epelas plantas.

    Assim, quando falamos de purezaambiental estamos nos referindo ao arou gua que sejam agradveis deconsumir e que estejam livres de pro-dutos qumicos ou microorganismosque possam causar doenas.

    Poluente:substncia + localizao

    O segundo ponto importante queno podemos rotular um determinado

    produto qumico (ouuma mistura deles) co-mo poluente, a menosque especifiquemosonde ele est. O queconta em termos depoluio ambiental acombinao de subs-tncias e localizao.Um bom exemplo des-se fato nos dado pe-lo oznio e pelos clo-

    rofluorcarbonos (CFCs). O oznio umgs irritante e txico. Na troposfera (acamada da atmosfera que toca o solo),ele claramente um poluente. J osCFCs, por outro lado, so gases no-

    A seo Qumica e sociedade apresenta artigos que focalizamdiferentes inter-relaes entre cincia e sociedade, procurandoanalisar o potencial e as limitaes da cincia na tentativa decompreender e solucionar problemas sociais. Este artigo discute demaneira geral a poluio do meio ambiente e, mais especificamente,a das guas. Apresenta as vrias formas de poluio que afetam asnossas reservas dgua, exemplos de minimizao de rejeitos e umasntese das tecnologias disponveis para o tratamento de efluentes.

    gua, meio ambiente, poluio, tratamento de gua

    duas faces da mesma moedaEduardo Bessa Azevedo

    Pode-se definirpoluio como matria

    no lugar errado; elaocorre quando hexcesso de uma

    substncia, geradapela atividade humana,

    no stio ambientalerrado

  • 22

    QUMICA NOVA NA ESCOLA Poluio e Tratamento de gua N 10, NOVEMBRO 1999

    inflamveis, de baixa toxicidade, baixareatividade qumica e quase sem odor.Portanto, na troposfera, so pratica-mente inofensivos (Tolentino e Rocha-Filho, 1998). O panorama completa-mente invertido na estratosfera (de 30a 35 km acima da superfcie terrestre).O oznio torna-se um gs fundamen-tal manuteno da vida, por protegeros seres vivos dos efeitos devas-tadores da radiao ultravioleta vindado Sol, ao passo que os CFCs tornam-se poluentes por destruir o oznio.

    Fontes de poluioO terceiro e ltimo ponto a discutir

    a sugesto de usarmos o termo po-luio para a degradao do meioambiente causada pelas atividades hu-manas, sobretudo a partir de meadosdo sculo XX resultado do intensodesenvolvimento industrial desses lti-mos 50 anos. Essa idia importanteporque a prpria natureza polui omeio ambiente. Para entendermos me-lhor o conceito, comparemos as emis-ses de dixido e de trixido de enxo-fre resultantes das erupes vulcnicascom as resultantes das atividades hu-manas. Em junho de 1991, o vulcodo monte Pinatubo, nas Filipinas, en-trou em erupo. Estima-se que cercade 15 a 20 milhes de toneladas dedixido de enxofre tenham sido lana-das na atmosfera. Embora dramticase com severas conseqncias, erup-es dessa magnitude so raras. Poroutro lado, somente os Estados Unidostm lanado cerca de20 milhes de tonela-das de xidos de enxo-fre por ano no ar, des-de 1950.

    Poluio dasguas

    A poluio e seucontrole costumam sertratados em trs categorias naturais:poluio das guas, poluio do ar epoluio do solo. Dessas trs, a polui-o das guas talvez seja a mais preo-cupante, devido basicamente a trsfatores.

    O primeiro a necessidade impe-riosa que ns, seres vivos, temos degua. Ela representa cerca de 70% damassa do corpo humano. Um ser hu-

    mano com aproximadamente 70 kg demassa corporal precisa ingerir diaria-mente cerca de dois a quatro litros degua. Podemos sobreviver 50 dias semcomer, mas, em mdia, morremosaps quatro dias sem gua (Syder,1995).

    O segundo fator que os lenis subter-rneos, os lagos, osrios, os mares e osoceanos so o destinofinal de todo poluentesolvel em gua quetenha sido lanado noar ou no solo. Assim,alm dos poluentes jlanados nos corposreceptores, as guasainda sofrem o aportede outros poluentes vindos da atmos-fera e da litosfera.

    Por ltimo, mas no menos impor-tante, vem o fato de que, excluindo-seas guas salinas usadas para recrea-o, a gua disponvel para os usosdo nosso dia-a-dia escassa. Issomesmo! Acostumados a viver num pascomo o Brasil, que conta com um incr-vel potencial hidrogrfico, no nosconscientizamos de que, em termosmundiais, a gua doce disponvel paraas atividades humanas encontradaem quantidades diminutas.

    Para entendermos as propores,estima-se que o volume total de guana Terra (excetuando-se a gua conti-da na atmosfera na forma de vapor

    dgua) gira em tornode 1,4 x 109 km3, oequivalente ao volu-me de uma esfera de1 380 km de dime-tro. De acordo com aTabela 1, apenas cer-ca de 0,3% desse to-tal constitudo degua doce facilmente

    utilizvel! Trata-se de uma situaocrtica. No entanto, o quadro aindapior do que parece. Levando-se emconta que cerca de 67% da gua doceque retiramos do meio ambiente utilizada na irrigao e 23% em outrasnecessidades da agricultura, restaapenas aproximadamente 10% dagua doce disponvel para nossas ne-cessidades de ingesto, limpeza e

    outras atividades domsticas ouseja, apenas 0,03% do volume total degua do planeta!

    Percebemos, ento, que manter aqualidade das nossas parcas reservasde gua (alm de no desperdi-las)

    uma questo ur-gente, se quisermosgarantir a nossa so-brevivncia neste pla-neta. Em contrapar-tida, ao nos utilizar-mos da gua, sem-pre introduzimos nelaalgum tipo de polu-ente, algumas vezesem pequenas quanti-dades, outras emquantidades enor-mes.

    Formas de poluio aquticaVrias formas de poluio afetam

    as nossas reservas dgua, podendoestas serem classificadas em biol-gica, trmica, sedimentar e qumica.

    A contaminao biolgica resultada presena de microorganismospatognicos, especialmente na guapotvel.

    A poluio trmica ocorre freqen-temente pelo descarte, nos corposreceptores, de grandes volumes degua aquecida usada no arrefecimentode uma srie de processos industriais.O aumento da temperatura da gua

    Tabela 1: Distribuio aproximada dagua na crosta terrestre e na hidrosfera.

    Volume x 103 (km3)gua salgada (97,3%)

    Oceanos 1 340 000

    Mares interiores elagos salgados 100

    gua doce, facilmente disponvel (0,3%)

    gua subterrnea, a menosde 800 m da superfcie 4 000

    Lagos 100

    Rios 1

    gua doce, dificilmente disponvel (2,4%)

    Capa polar antrtica 26 100

    gua subterrnea, a maisde 800 m da superfcie 4 100

    Capa polar rtica e glaciais 2 800

    Total (arredondado) 1 377 000

    ...manter a qualidadedas nossas parcas

    reservas de gua (almde no desperdi-las) uma questo urgentese quisermos garantira nossa sobrevivncia

    neste planeta

    Sugere-se o uso dotermo poluio para a

    degradao do meioambiente causadapelas atividades

    humanas, sobretudo apartir de meados do

    sculo XX resultadodo intenso

    desenvolvimentoindustrial dessesltimos 50 anos

  • 23

    QUMICA NOVA NA ESCOLA Poluio e Tratamento de gua N 10, NOVEMBRO 1999

    causa trs efeitos deletrios: A solubilidade dos gases em

    gua diminui com o aumento da tem-peratura. Assim, h um decrscimo naquantidade de oxignio dissolvido nagua, prejudicando a respirao dospeixes e de outros animais aquticos.

    H uma diminuio do tempo devida de algumas espcies aquticas,afetando os ciclos de reproduo.

    Potencializa-se a ao dos polu-entes j presentes na gua, pelo au-mento na velocidade das reaes.

    A poluio sedimentar resulta doacmulo de partculas em suspenso(por exemplo, partculas de solo ou deprodutos qumicos insolveis, org-nicos ou inorgnicos). Esses sedimen-tos poluem de vrias maneiras:

    Os sedimentos bloqueiam a en-trada dos raios solares na lmina degua, interferindo na fotossntese dasplantas aquticas e diminuindo a capa-cidade dos animais aquticos de ver eencontrar comida.

    Os sedimentos tambm car-reiam poluentes qumicos e biolgicosneles adsorvidos.

    Mundialmente, os sedimentosconstituem a maior massa de poluen-tes e geram a maior quantidade de po-luio nas guas.

    Talvez a mais problemtica de to-das as formas seja a poluio qumica,causada pela presena de produtosqumicos nocivos ou indesejveis. Apoluio qumica um pouco diferentee um pouco mais sutil que as outrasformas de poluio. Apoluio trmica tempouco efeito sobre apotabilidade da gua.A poluio sedimentar normalmente muitovisvel e facilmente re-movvel. Mesmo apoluio biolgica parece em algunscasos menos perigosa do que apoluio qumica, uma vez que a maio-ria dos microrganismos podem serdestrudos pela fervura da gua queeles estejam infectando, ou pelo trata-mento com substncias qumicas,como o hiploclorito de sdio e a calviva. J a poluio qumica no assimto simples. Os efeitos nocivos podemser sutis e levar muito tempo para se-rem sentidos.

    Os agentes poluidores mais co-muns nas guas so:

    Fertilizantes agrcolas. Usados emgrandes quantidades para aumentaras colheitas, so arrastados pela irriga-o e pelas chuvas para os lenissubterrneos, lagos e rios. Eles contmprincipalmente os ons NO3

    e PO43.

    Quando os fertilizantes e outros nu-trientes vegetais entram nas guas pa-radas de um lago ou em um rio deguas lentas,causam um r-pido cresci-mento de plan-tas superficiais,especialmentedas algas. medida que es-sas plantascrescem, for-mam um tapete que pode cobrir asuperfcie, isolando a gua do oxigniodo ar. Sem o oxignio, os peixes eoutros animais aquticos virtualmentedesaparecem dessas guas ( ofenmeno chamado de eutroficao).

    Compostos orgnicos sintticos.Principalmente aps a Segunda Guer-ra Mundial, aumentou muito a produ-o industrial de compostos orgnicossintticos: plsticos, detergentes, sol-ventes, tintas, inseticidas, herbicidas,produtos farmacuticos, aditivos ali-mentares etc. Muitos desses produtosdo cor ou sabor gua, e alguns sotxicos.

    Petrleo. A existncia de poos depetrleo no fundo domar e o uso de super-petroleiros para otransporte desse pro-duto tm dado ori-gem a acidentes queespalham grandesquantidades de pe-

    trleo pelo mar; isso acaba causandoa morte de grandes quantidades deplantas, peixes e aves marinhas.

    Compostos inorgnicos e mine-rais. O descarte desses compostospode acarretar variaes danosas naacidez, na alcalinidade, na salinidadee na toxicidade das guas. Uma classeparticularmente perigosa de compos-tos so os metais pesados (Cu, Zn, Pb,Cd, Hg, Ni, Sn etc.). Alm de muitosdeles estarem ligados a alteraes

    degenerativas do sistema nervoso cen-tral, uma vez que no so metaboli-zados pelos organismos, produzem ofenmeno da bioacumulao: quantomais se ingere gua contaminada commetais pesados, maior o acmulo des-tes nos tecidos do organismo.

    Controle da poluio importante considerar que a

    poluio gerada pelas atividadesindustriais e suas conse-qncias para o meio ambi-ente eram, at recentemen-te, uma preocupao quaseexclusiva de organizaesambientais, governamentaisou no. Numa sociedadecomo a nossa, orientadapara o lucro e no para obem-estar da sociedade,

    essa questo s comeou a ser tratadaseriamente pela maioria das indstriascom a promulgao e a fiscalizao deleis que exigem o controle dos rejeitosgerados.

    O controle da poluio tem seguidoatualmente duas abordagens. A abor-dagem tradicional (a nica a existir atalguns anos atrs) tenta consertar omal feito, ou seja, tratar os efluentesgerados pelos esgotos domsticos,pela agricultura e pelas indstrias, demodo a reduzir a nveis apropriados aconcentrao dos poluentes. A segun-da abordagem visa a evitar o mal,atacando o problema em dois flancos:a educao da sociedade, buscandoa conscientizao das pessoas para anecessidade da diminuio do volumede lixo gerado, e a alterao de proje-tos e processos industriais com vistas minimizao dos rejeitos (Quadro 1).

    O grau de tratamento requerido porum dado efluente depende principal-mente dos padres de lanamento emquesto, que, por sua vez, esto ligadoss caractersticas do corpo receptor.

    O arsenal de tecnologias de trata-mento de efluentes muito amplo. OQuadro 2 contm um resumo dastecnologias disponveis.

    Os tratamentos primrios so em-pregados para a remoo de slidosem suspenso e de materiais flutuan-tes. O tratamento secundrio visa a re-mover as substncias biodegradveispresentes no efluente (por meio de

    Talvez a maisproblemtica de todas

    as formas seja apoluio qumica,

    causada pela presenade produtos qumicos

    nocivos ouindesejveis

    Mundialmente, ossedimentos constituem

    a maior massa depoluentes e geram amaior quantidade depoluio nas guas

  • 24

    QUMICA NOVA NA ESCOLA Poluio e Tratamento de gua N 10, NOVEMBRO 1999

    tratamentos biolgicos convencionais).O tratamento tercirio emprega tcni-cas fsico-qumicas e/ou biolgicas pa-ra a remoo de poluentes especficosno removveis pelos processos biol-gicos convencionais.

    Recentemente, tem-se feito cadavez mais uma distino importante en-tre as tecnologias de tratamento exis-tentes. Elas so separadas em tecno-logias de transferncia de fase e tec-nologias destrutivas. As primeiras,como o prprio nome indica, transfe-rem os poluentes da fase aquosa parauma outra (como exemplo podemoscitar a adsoro em carvo ativo, naqual os poluentes ficam adsorvidos nasuperfcie do carvo: so transferidosda fase aquosa para a fase slida). Ao

    lado das muitas vantagens dessas tec-nologias, uma desvantagem salta aosolhos: a poluio no destruda: ape-nas deixa de ser veiculada pelo meioaquoso para ser emitida para a atmos-fera ou transformada em resduos s-lidos.

    As tecnologias destrutivas so ba-seadas na oxidao qumica da mat-ria orgnica (MO), levando-a a esp-cies cada vez mais oxidadas e, even-tualmente, sua total mineralizao:

    MO Agente oxidante

    CO2 + H2O

    Como se observa, a vantagem des-sas tecnologias a ausncia de sub-produtos, ou seja, a real remoo dapoluio.

    A oxidao qumica normalmenterealizada utilizando-se oznio, perxidode hidrognio ou algum outro oxidanteconvencional. Entretanto, na maioria doscasos a oxidao de compostos org-nicos, embora seja termodinamica-mente favorvel, cineticamente lenta.Assim, a oxidao completa geral-mente invivel do ponto de vista econ-mico.

    Vrios estudos tm demonstradoque as limitaes cinticas podem sersuperadas pelo uso de radicais extre-mamente oxidantes e pouco seletivos(radicais hidroxila, OH e/ou radicaissuperxido, O2

    ) nas reaes de oxida-o.

    Nas aplicaes comerciais, essesradicais so gerados pelo uso com-binado de (i) radiao ultravioleta (UV)e perxido de hidrognio, (ii) radiaoUV e oznio, (iii) oznio e perxido dehidrognio, (iv) radiao UV e fotoca-talisadores (TiO2, ZnO, CdS etc.) e (v)

    Quadro 1: Exemplos de minimizao de rejeitos e custosenvolvidos

    1. A 3M iniciou em 1975 o Pollution Prevention Program, o famoso 3P. Desdeento, o 3P j resultou numa reduo de 110 mil toneladas de poluentesatmosfricos, 13 mil toneladas de poluentes aquticos, 290 mil toneladas delodo e slidos e seis bilhes de litros de efluentes. A economia gerada pelas 90indstrias instaladas nos EUA da ordem de 390 milhes de dlares.

    2. O programa da Dow Chemical Company chama-se Waste Reduction Al-ways Pays (WRAP) (traduzindo, a reduo de rejeitos sempre lucrativa) efoi lanado em meados de 1987. De acordo com a indstria, j forameconomizados 15 milhes de dlares num investimento de seis milhes. Noestado da Louisiana, a emisso de hidrocarbonetos numa das fbricas da Dowfoi reduzida em 92% e de hidrocarbonetos clorados, em 98%. A fbrica deltex, na Califrnia, recupera 90% dos slidos presentes no efluente.

    3. De acordo com a Dupont, o custo operacional envolvido no tratamentode resduos era da ordem de 100 milhes de dlares, em 1985, crescendo de25 a 30% anualmente. As instalaes petroqumicas do Texas, que geravam800 gales/min na produo de adiponitrila, tiveram que ser otimizadas, e essaquantidade foi reduzida em 50%. O cido adpico, um subproduto dessa fbrica,foi utilizado na remoo do SO2. Essas modificaes trouxeram uma economiade dez milhes de dlares ao ano para essas instalaes.

    4. A Borden Company, na sua fbrica qumica (resina) na Califrnia, tambmimplementou um programa de minimizao via ozonizao. O volume deefluentes caiu de 268 m3/dia para 19 m3/dia, com uma economia de 50 mildlares por ano.

    5. Nos efluentes vermelhos dos matadouros, a recuperao do sangue podeser feita pela adio de cido actico e etanol e posterior centrifugao. Oproduto pode ser utilizado como protena para rao animal.

    6. Da protena existente nos efluentes de instalaes de tratamento decamaro e lagosta, 35% podem ser recuperados por simples ajuste de pH.

    7. Peneiras de polister (de 200 mm) foram utilizadas na remoo de slidospresentes em efluentes de abatedouro de aves (90 m3/h no abate de 250 milaves por semana). O teor de slidos diminuiu de 900 mg/L para 300 mg/L(67%), com uma economia anual de 60 mil dlares.

    Quadro 2: Tipos detratamento de efluentesTratamento primrio

    GradeamentoDecantaoFlotaoSeparao de leoEqualizaoNeutralizao

    Tratamento secundrioLagoas de estabilizaoLagoas aeradasLodos ativados e suas variantesFiltros de percolaoRBCs (sistemas rotativos)Reatores anaerbicos, etc.

    Tratamento tercirioMicrofiltraoFiltraoPrecipitao e coagulaoAdsoro (carvo ativado)Troca inicaOsmose reversaUltrafiltraoEletrodiliseProcessos de remoo de nu-

    trientes (N, P)CloraoOzonizaoPAOs (processos avanados de

    oxidao), etc.

  • 25

    QUMICA NOVA NA ESCOLA Poluio e Tratamento de gua N 10, NOVEMBRO 1999

    radiao UV, fotocatalisador e perxidode hidrognio. Esses processos socomumente conhecidos como proces-sos avanados de oxidao ou PAOs.

    ConclusesO questionamento final talvez seja:

    poderemos viver num mundo sem po-luio? A resposta categrica: no.Como quer que definamos poluio,encarando-a como proveniente dasatividades humanas ou da prprianatureza, sempre haver fontes de po-luio ambiental.

    Mesmo que minimizemos ao m-ximo nossos rejeitos domsticos, daagricultura ou industriais , que os re-ciclemos e os tratemos com tecno-logias destrutivas, ainda assim algumtipo de poluente ser sempre gerado(lembremos que um dos produtosfinais dos processos oxidativos oCO2, que, emitido para a atmosfera,contribui para o efeito estufa Tolen-tino e Rocha-Filho, 1998).

    Muito longe dessa hiptese idealesto as presentes estatsticas:

    So conhecidas 5 milhes desubstncias qumicas.

    S existem dados ecotoxicol-

    Referncias bibliogrficasTOLENTINO, M. e ROCHA-

    FILHO, R.C. A qumica no efeitoestufa. Qumica Nova na Escola n.8, p. 10-14, 1998.

    SNYDER, C.H. The extraordinarychemistry of ordinary things. NovaIorque: John Wiley & Sons, 1995.

    Para saber maisRAMALHO, R. Controle de polui-

    o de guas. Madri: Revert, 1983.MAGOSSI, L.R. e BONACELLA,

    P.H. Poluio das guas. So Paulo:Editora Moderna, 1997.

    BRANCO, S.M. gua: origem,uso e preservao. So Paulo: Edi-tora Moderna, 1998.

    BAIRD, C.. Environmental che-mistry. So Francisco: W.H. Free-man, 1998.

    MANAHAN, S.E. Environmentalchemistry. Atlanta: Tappi Press,1994.

    gicos para cerca de mil substncias. Aproximadamente 66 mil produ-

    tos qumicos so comercializados hojesomente nos EUA, como frmacos,pesticidas, cosmticos e outros.

    Cerca de 45 mil substncias socomercializadas internacionalmente.

    A produo de substncias org-nicas sintticas estimada em 300 mi-lhes de toneladas anuais; 150 produ-tos qumicos so produzidos em taxassuperiores a 50 mil toneladas por ano.

    Estima-se que mil novos produ-tos qumicos so lanados anualmenteno mercado.

    Os mais pessimistas, diante dessequadro, diriam que em termos de polui-o ambiental a situao deses-peradora. Ns, os otimistas, diramosque a situao desafiadora. Sem falarnos profissionais de outros ramos doconhecimento humano, aos qumicoscompete a tarefa de, cada vez mais,aumentar o entendimento que temosda qumica do nosso mundo e des-cobrir substncias menos nocivas aomeio ambiente, e aos engenheiros qu-micos, o desenvolvimento de proces-sos que produzam os nossos bens deconsumo com um mnimo de rejeitose um mximo de reciclagem, alm deeficientes esquemas de tratamentodos efluentes gerados. Outra questoimprescindvel a constante e gradualmudana nas polticas econmicas eambientais no sentido de garantir so-ciedade os bens de consumo de queela necessita, sem para isso prejudicaro meio ambiente.

    A partir de todas as questes abor-dadas, evidente o papel mpar doseducadores na conscientizao dasociedade quanto s questes am-bientais. imprescindvel que os profis-sionais de todas as reas do saber

    tragam esse tema para o cotidiano dassalas de aula. Temos que dar nossacontribuio para a construo de umacidadania ecologicamente correta,pela eliminao de hbitos cristaliza-dos de desperdcio de nossas reservasnaturais e da triste mania de retirar olixo de nossa casa jogando-o no quin-tal do vizinho. Devemos ter cons-cincia de que, em termos do descartede poluentes em nosso meio ambiente,vale a regra do bumerangue: tudo quevai acaba voltando...

    Eduardo Bessa Azevedo, engenheiro qumicoe licenciado em qumica pela UERJ, mestre emcincias (rea de tecnologia ambiental) pela COPPE/UFRJ, professor de fsico-qumica da Escola TcnicaFederal de Qumica do Rio de Janeiro.

    XI ENCONTRO CENTRO OESTEDE DEBATES SOBRE OENSINO DE QUMICA

    O XI ECODEQ (Encontro CentroOeste de Debates sobre o Ensino deQumica) foi realizado paralelamenteao XXXIX Congresso Brasileiro de

    Qumica - tradicional promoo daAssociao Brasileira de Qumica, noCentro de Cultura e Convenes dacidade de Goinia, Gois nos dias 26a 30 de setembro de 1999. O eventocontou com a participao de 1220participantes entre estudantes, profes-sores e convidados. Foram realizadas

    Aos qumicos competea tarefa de descobrirsubstncias menos

    nocivas ao meioambiente; aos

    engenheiros qumicos,o desenvolvimento de

    processos queproduzam bens deconsumo com um

    mnimo de rejeitos eum mximo de

    reciclagem

    30 conferncias relacionadas a diver-sas reas da Qumica. Num total de35 minicursos oferecidos, 8 foram rela-cionados a questes de ensino. Fo-ram apresentados 30 trabalhos tam-bm na rea da Educao Qumica.

    Evento