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26 Nkosi Johnson POR QUE NKOSI É NOMEADO? Nkosi Johnson é nomea- do postumamente (após a sua morte) à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta pelos direitos das crianças portadoras do HIV/AIDS. Ele lutou pelo direito destas crian- ças de frequentar a esco- la e serem tratadas como qualquer outra criança. Ele fundou um lar para mães e crianças carentes com AIDS. Ele solicitou insistentemente que o governo da África do Sul oferecesse às mães por- tadoras do HIV/AIDS os medicamentos para sal- var a vida de dezenas de milhares de crianças sul- africanas anualmente. Mesmo depois de sua morte, Nkosi ainda é um exemplo tanto para as crianças vítimas da AIDS, como para aquelas que, graças a ele, aprenderam a respeitar e a não temer os portadores da doença. Nkosi Johnson, o menino de olhos gran- des, deu às crianças vítimas da AIDS na África do Sul, uma voz que ecoou no mundo inteiro... N kosi tinha AIDS e mor- reu, aos 12 anos, no dia 1 de Junho de 2001. Nesta data, a África do Sul comemora o Dia da Criança - um dia dedicado à promover o bem-estar das crianças. Apesar de sua cur- ta vida, Nkosi teve muito tempo para perguntar-se, porquê o governo da África do Sul e os adultos do mun- do não faziam todo o possí- vel para evitar que tantas crianças nascessem soropo- sitivas. E porquê não se pre- ocupam em cuidar bem de todos aqueles que nascem soropositivos. A AIDS se desenvolve nestas crianças gradualmente e elas morrem muito jovens. Nkosi também viu como as crianças se tor- navam órfãs, porque seus pais e suas mães morreram de AIDS. AIDS afeta muita gente! 2,1 milhões de crianças no mundo vivem com HIV/ AIDS. Desse total, 280 000 vivem na África do Sul. 15 milhões de crianças no mun- do são órfãs, porque seus pais morreram de AIDS. 1,4 milhões dessas crianças vivem na África do Sul. A luta de Nkosi Quando Nkosi não teve per- missão para frequentar a escola, ele concedeu uma série de entrevistas e salien- tou que ele não era um peri- go para outras crianças. A discussão sobre o acesso de Nkosi à escola culminou na decisão de que todas as crianças vítimas da AIDS têm direito de ir à escola na África do Sul. Nkosi e sua mãe de criação Gail lutaram durante dois anos para poderem fundar um lar - Nkosi’s Haven – onde as mães carentes e doentes com AIDS poderiam morar com os seus filhos sem nenhum custo. Nkosi sabia que teria nas- cido saudável, se sua mamãe Daphne tivesse tido acesso aos medicamentos anti-HIV, enquanto ela estava grávida. Ele refletia muito sobre por- quê tantas crianças têm que tolerar adoecer e morrer de AIDS, quando isto poderia ser evitado. Em um discurso divulgado no mundo inteiro, (cujos trechos você pode ler na página seguinte), Nkosi desafiou o ex-presidente sul- africano Thabo Mbeki. Sem remédios para todos Em 14 de dezembro de 2001, um tribunal na África do Sul decidiu que o governo sul- africano deveria fornecer medicação anti-HIV às mulheres grávidas portado- ras de HIV/AIDS. Porém, poucos dias após a decisão do tribunal, o governo declarou que recorreria da decisão. As crianças da África do Sul e muitos adul- tos lembram-se do que disse Nkosi: – O governo deveria forne- cer a medicação às mães, que tão urgentemente neces- sitam, para que mais crianças não venham a falecer! NOMEADO • Páginas 26–30 Nkosi & Mimi.

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Nkosi Johnson, o menino de olhos gran- des, deu às crianças vítimas da AIDS na África do Sul, uma voz que ecoou no mundo inteiro... A luta de Nkosi Quando Nkosi não teve per- missão para frequentar a AIDS afeta muita gente! 2,1 milhões de crianças no mundo vivem com HIV/ AIDS. Desse total, 280 000 vivem na África do Sul. 15 milhões de crianças no mun- do são órfãs, porque seus pais morreram de AIDS. 1,4 milhões dessas crianças vivem na África do Sul. 26 Nkosi & Mimi.

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Nkosi Johnson Nkosi Johnson POR QUE NKOSI É NOMEADO?Nkosi Johnson é nomea-do postumamente (após a sua morte) à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta pelos direitos das crianças portadoras do HIV/AIDS. Ele lutou pelo direito destas crian-ças de frequentar a esco-la e serem tratadas como qualquer outra criança. Ele fundou um lar para mães e crianças carentes com AIDS. Ele solicitou insistentemente que o governo da África do Sul oferecesse às mães por-tadoras do HIV/AIDS os medicamentos para sal-var a vida de dezenas de milhares de crianças sul-africanas anualmente. Mesmo depois de sua morte, Nkosi ainda é um exemplo tanto para as crianças vítimas da AIDS, como para aquelas que, graças a ele, aprenderam a respeitar e a não temer os portadores da doença.

Nkosi Johnson, o menino de olhos gran-des, deu às crianças vítimas da AIDS na África do Sul, uma voz que ecoou no mundo inteiro...

Nkosi tinha AIDS e mor-reu, aos 12 anos, no dia 1 de Junho de

2001. Nesta data, a África do Sul comemora o Dia da Criança - um dia dedicado à promover o bem-estar das crianças. Apesar de sua cur-ta vida, Nkosi teve muito tempo para perguntar-se, porquê o governo da África do Sul e os adultos do mun-do não faziam todo o possí-vel para evitar que tantas crianças nascessem soropo-sitivas. E porquê não se pre-ocupam em cuidar bem de todos aqueles que nascem soropositivos. A AIDS se desenvolve nestas crianças gradualmente e elas morrem muito jovens. Nkosi também viu como as crianças se tor-navam órfãs, porque seus pais e suas mães morreram de AIDS.

AIDS afeta muita gente! 2,1 milhões de crianças no mundo vivem com HIV/AIDS. Desse total, 280 000 vivem na África do Sul. 15 milhões de crianças no mun-do são órfãs, porque seus pais morreram de AIDS. 1,4 milhões dessas crianças vivem na África do Sul.

A luta de NkosiQuando Nkosi não teve per-missão para frequentar a

escola, ele concedeu uma série de entrevistas e salien-tou que ele não era um peri-go para outras crianças. A discussão sobre o acesso de Nkosi à escola culminou na decisão de que todas as crianças vítimas da AIDS têm direito de ir à escola na África do Sul. Nkosi e sua mãe de criação Gail lutaram durante dois anos para poderem fundar um lar - Nkosi’s Haven – onde as mães carentes e doentes com AIDS poderiam morar com os seus fi lhos sem nenhum custo.

Nkosi sabia que teria nas-cido saudável, se sua mamãe Daphne tivesse tido acesso aos medicamentos anti-HIV, enquanto ela estava grávida. Ele refl etia muito sobre por-quê tantas crianças têm que tolerar adoecer e morrer de AIDS, quando isto poderia

ser evitado. Em um discurso divulgado no mundo inteiro, (cujos trechos você pode ler na página seguinte), Nkosi desafi ou o ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki.

Sem remédios para todosEm 14 de dezembro de 2001, um tribunal na África do Sul decidiu que o governo sul-africano deveria fornecer medicação anti-HIV às mulheres grávidas portado-ras de HIV/AIDS. Porém, poucos dias após a decisão do tribunal, o governo declarou que recorreria da decisão. As crianças da África do Sul e muitos adul-tos lembram-se do que disse Nkosi:

– O governo deveria forne-cer a medicação às mães, que tão urgentemente neces-sitam, para que mais crianças não venham a falecer!

NOMEADO • Páginas 26–30

Nkosi & Mimi.

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Oi, meu nome é Nkosi Johnson. Eu tenho 11 anos e estou perdendo

a vida devido à AIDS. Quando eu nasci, já era HIV positivo. Quando eu tinha dois anos, fui morar em um lar para pessoas infectadas pela AIDS. Minha mãe não teve coragem de ficar comi-go, pois tinha medo que as outras pessoas da comuni-dade onde morávamos nos expulsassem, se descobris-sem que nós dois estávamos doentes.

Eu sei que ela me amava muito e que iria me visitar sempre que pudesse. Entretanto, o lar foi obrigado a fechar suas portas porque não tinha dinheiro para con-tinuar funcionando. Então, minha mãe de criação, Gail Johnson, que trabalhava no lar, disse aos outros que ela poderia tomar conta de mim. Ela me levou para a sua casa e eu já moro lá há oito anos. Ela me explicou tudo sobre a minha doença, e como eu devo me cuidar se me machucar e começar a sangrar.

Eu sei que o meu sangue só é perigoso para outras pessoas, se elas tiverem uma ferida aberta na pele, e o meu sangue entrar no machucado. Essa é a única situação em que alguém tem de ter cuidado ao me tocar.

Em 1997, mamãe Gail foi até a escola primária Melpark para me matricular.

Eles perguntaram se eu tinha alguma doença e ela respondeu que sim, eu tinha AIDS. Depois de um tempo, ela ligou para a escola e eles responderam que fariam uma reunião para conversar a respeito de mim. Metade dos pais e dos professores presentes à reunião foram contra a minha entrada na escola. Então, foram promo-vidos cursos sobre a AIDS para professores e pais na escola, para explicar que não era preciso ter medo de uma criança com AIDS. Hoje, eu estou super orgu-lhoso de dizer que existe uma lei que proíbe discrimi-nar crianças com AIDS, e que todas as crianças porta-doras de AIDS têm direito de frequentar a escola.

Eu odeio ter AIDS porque fico tão doente, e fico muito triste ao pensar em todas as crianças e bebês que tam-bém têm AIDS. Eu realmente gostaria que o governo começasse a fornecer o AZT para todas as mulheres grávidas portadoras do vírus HIV. Assim, seus bebês não iriam contrair a doença no parto. Eu me lembro de um pequeno bebê abandonado chamado Micky, que morou conosco um tempo. Ele não podia comer nem respirar, porque estava muito doente. Micky era um bebezinho tão lindo. Eu queria realmente que o governo desse o remédio às mães, porque

não quero ver mais nenhuma criança morrer!

Mamãe Gail e eu sempre sonhamos abrir um lar para mães e crianças portadoras da AIDS. Estou muito orgu-lhoso de poder contar que o primeiro Nkosi’s Haven foi aberto no ano passado.

Eu quero que as pessoas saibam o que é a AIDS e sejam cautelosas, mas nin-guém contrai AIDS por estar perto de alguém que é por-tador da doença.

Cuidem de nós e nos acei-

tem. Somos seres humanos normais, temos pés e mãos, podemos falar e andar! Nós temos as mesmas necessi-dades que todos os outros. Não tenham medo de nós, pois somos exatamente como vocês!”

Extraído do discurso de Nkosi em julho de 2000, diante de um público de 10 000 pessoas e das câmeras de TV:

Oi, eu me chamo Nkosi e tenho AIDS

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Nkosi significa rei, cacique ou líder na língua Zulu. Nkosi Johnson certamen-te tornou-se um líder para as crian-ças portadoras de AIDS. Quando Nkosi falou em defesa dos direitos das crianças, o mundo o ouviu, apesar de ele ter apenas 11 anos.

Nkosi tornou-se o super- herói de uma revista em quadrinhos.

O super-herói Nkosi pode voar.

Durante sua curta vida, Nkosi alcançou muitos êxitos importantes em

sua luta pelos direitos das crianças doentes com AIDS.

Direito à escola Quando metade dos profes-sores e pais foram contra deixá-lo frequentar a escola

Melpark, Nkosi foi entrevis-tado 35 vezes em apenas cin-co dias. Ele tornou-se conhe-cido em toda a África do Sul. Até mesmo o governo pas-sou a discutir se uma criança portadora de AIDS poderia frequentar a mesma escola que outras crianças ou não.

Três meses depois foi deci-dido que Nkosi poderia começar a frequentar a esco-la Melpark e, graças a ele, foi decidido também que todas as crianças com AIDS na África do Sul poderiam ir para a escola. Bem cedo, numa manhã de 1997, o menino Nkosi de sete anos,

pálido porém feliz, entrou pela primeira vez em uma sala de aula.

Lar para os pobres Nkosi queria criar um lar onde as mães portadoras de AIDS e seus filhos pudessem viver juntos. Já que muitas delas eram tão pobres quan-to a sua mãe, ele gostaria que todas elas morassem em um lar totalmente gratuito.

Ele queria também que as crianças pudessem permane-cer nesse lugar quando suas mamães viessem a morrer, de modo que elas não termi-nassem nas ruas, e sim conti-nuassem na escola.

Para conseguir dinheiro, Nkosi deu palestras sobre AIDS e Gail procurou empresas para financiar o lar que ele desejava. Dois anos mais tarde, em 1999, Nkosi conseguiu inaugurar o lar. O seu nome é Nkosi’s Haven.

Mandela telefonouNa mesma tarde, o ex-presi-dente da África do Sul, Nelson Mandela ligou para ele. Ele queria saber se Nkosi gostaria de visitá-lo. Nkosi sempre admirou Mandela e, é claro que ele queria ir! Mandela perguntou à Nkosi se ele desejava se tornar pre-sidente quando crescesse.

– Não, não penso nisso. Parece-me que é trabalho demais! respondeu Nkosi. Mandela riu.

Discurso em Durban O estado de saúde de Nkosi agravou-se e ele pensava muito sobre sua doença. Em julho de 2000, uma impor-tante conferência sobre AIDS iria acontecer na cida-de de Durban. Nkosi foi convidado a fazer um dis-curso na cerimônia de aber-tura. Ele aceitou imediata-mente. Agora ele teria uma grande oportunidade de dizer ao presidente, o que pensava sobre o que o gover-no deveria fazer por todas as crianças com AIDS! Quando Nkosi soube que haveria um público de mais de 10 000 pessoas e que o discurso seria transmitido pela TV

Nosso herói Nkosi

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29Nkosi & Badie.

Mandela & NkosiNelson Mandela ligou e desejava encontrar Nkosi.

em todo o mundo, ele ficou muito nervoso. Mesmo assim, ele subiu ao palco e disse:

Eu desejo realmente que o governo comece a fornecer o AZT para as mulheres grávi-das portadoras do vírus HIV, para que seus bebês não contraiam a doença no parto. Eu não quero ver mais nenhuma criança morrer!

Nkosi foi ovacionado ao final. Os jornais do mundo inteiro noticiaram que, durante a conferência, Nkosi ergueu sua voz em nome de mais de um milhão de crianças portadoras da AIDS, e que ninguém teve tanta importância na luta contra a AIDS quanto ele.

Sentimos a sua falta... Seis meses depois, Nkosi ficou gravemente enfermo. Muitas pessoas, tanto crian-ças quanto adultos, vieram visitá-lo. Elas desejavam que

Nkosi volta-se a ser quem era. Mas não aconteceu. Em uma manhã, bem cedo, do dia 1 de junho de 2001 – o Dia da Criança na África do Sul – , Nkosi morreu em paz, enquanto dormia. Ele tinha apenas 12 anos de idade.

Crianças de toda a África do Sul enviaram cartas e bichos de pelúcia para Nkosi. Uma menina, Leepile Manyaise, escreveu:

“Nkosi, eu amo você, você é o meu herói. Você lutou até o fim, mas agora desejo que você finalmente possa des-cansar em paz. Eu vou sentir saudades de você.”

Nkosi ensinou o diretor a não ter medo

OI AMIGO! nas 11 línguas da África do Sul: Muitas crianças na África do Sul falam vários idiomas. Aprenda a dizer ”Oi amigo!” nas 11 línguas oficiais da África do Sul: “Eu e Nkosi convivemos muito

perto. Ao final, éramos como irmãos. Mas de início, eu e muitos professores tínhamos receio dele e não queríamos tocá-lo. Entretanto, Nkosi ensi-nou-me que ninguém pega AIDS por que abraça, beija ou toca em um portador da doença. Apesar de ser eu o adulto, foi ele quem me ensinou coisas! Todas as manhãs, ele vinha ao meu escritório e nós tomávamos chocolate quente e conversáva-mos. Ele trazia comida de casa para o lanche do recreio tal como as outras crianças, mas ele cos-tumava esconder o lanche e vinha me dizer que estava famin-to! Eu não conseguia contrariá-lo, então eu ia à rua, comprava pizza e nós a comíamos juntos em meu escritório. Pizza era o seu prato predileto! Até a terceira série, sua saúde estava bem, mas depois ele foi ficando cada vez mais fraco. Apesar de estar seriamente doente, ele preferia vir para a escola e dormir aqui em meu sofá, ao invés de ficar em casa. Alguns achavam que eu o mima-va, mas eu queria somente que o seu último período de vida fosse tão bom quanto possível. Eu sinto uma imensa falta dele, especialmente agora no inverno. Ele costumava sentar em uma cadeira ao sol, do lado de fora da sala dos professores, e esperar por mim. Algumas manhãs, eu ainda me surpreendo a esperar

por ele. Nkosi modificou todo o sistema escolar sul-africano e ele tornou esta escola muito espe-cial. Um dia, mais tarde, quando todos esquece-rem de mim, a escola Melpark ainda será lem-brada como a escola de Nkosi.”Badie Badenhorst

Zulu: Sawubona mngani wami! Xhosa: Molo mhlobo wami! Pedi: Dumela mogwera! Sotho: Dumela motswale wa ka! Swazi: Sawubona mngani wami! Tswana: Agge tsale ya mi!Venda: Hu ita hani khonani yanga!

Tsonga/ Shangaan: Avhushani mgana wamena! Ndebele: Sawubona mngani wami! Afrikaans: Goeie dag my vriend! Inglês: Hello my friend!

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Nkosi & Hector lutaram pelos direitos das crianças

Nkosi ensinou-me, devemos ser solidários

O Rádio fala sobre Nkosi

“Nkosi foi super corajoso antes de morrer, pois ele falou sobre a sua doença. Quando Nkosi falava, todos compreen-diam quão grave é a AIDS. Ele dizia que uma criança com AIDS deve ser amada tal como as outras crianças e eu acho isso muito importante. Nkosi empenhou-se para que outras crianças com AIDS pudessem frequentar a escola.

A minha escola tem o nome de um menino chamado Hector Pieterson*. Quando a África do Sul ainda era um país racista, Hector lutou para que as crianças negras tivessem acesso à uma boa educação e por isto ele foi morto a tiros. Ele tinha apenas 12 anos quando morreu, e eu acho que Nkosi e Hector são muito parecidos. Ambos lutaram pelos direitos das crianças.”Octavia Lebohang Gumede Escola Primária Hector Pieterson, Soweto

* Hector recebeu postumamente (após a sua morte) o Prêmio de Honra das Crianças do Mundo, no ano 2000.

“Antes de ter ouvido falar a respeito de Nkosi, eu tinha muito medo de pessoas com AIDS. Porém, ele me fez compreen-der de tal forma que agora eu realmente me importo com elas. Eu viajo percorrendo várias escolas para falar sobre a AIDS, exatamente como fizemos hoje. Nós organizamos fes-tas nas escolas com música e dança e aproveitamos a oca-sião para falar sobre a AIDS. Eu procuro mostrar aos mais novos que um amigo com AIDS continua sendo um amigo. Qualquer um pode ser vítima da AIDS, minha irmã, meu irmão ou meus amigos, de modo que é importante ser solidário. Nkosi me fez perceber isto.”Nonhlanhla Ngcobo Soweto

“Eu costumo ouvir o rádio todas as noites antes de dormir. O rádio funciona a bateria, pois nós não temos eletricidade. Uma noite, eu e minhas irmãs mais velhas estávamos deita-das em nosso colchão, quando ouvimos falar de Nkosi Johnson, que vivia longe em Johannesburg. Eles disseram que ele sofria de AIDS e que estava muito doente. Nós acha-mos terrível um menino tão pequeno padecer de uma doen-ça tão sinistra. Era injusto! Ao mesmo tempo, ele foi muito corajoso, pois ousava falar sobre a sua doença e ajudar os outros. Aqui no vilarejo ninguém ousa falar sobre isso. Nkosi dizia que as crianças com AIDS devem ser tratadas iguais a todas as outras crianças, e eu também penso assim. É erra-do tratar mal crianças doentes, pois se alguém faz pouco caso delas, elas ficam ainda mais tristes. Eu tenho medo da AIDS, pois não existe cura.”Kgop0tso Ntsane, Vila Kotsoana, Transkei

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