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PONTES entre o Comércio e o Desenvolvimento Sustentável Abril 2008 Vol. 4 No. 2 Crescimento anual em percentagem PIB Exportações Importações 2005 2006 2007 2005 2006 2007 2005 2006 2007 Mundo 3,3 3,7 3,4 6,5 8,5 5,5 6,5 8,0 5,5 Estados Unidos da América 3,1 2,9 2,2 7,0 10,5 7,0 5,5 5,5 1,0 América do Sul, Central e Caribe 5,6 6,0 6,3 8,0 4,0 5,0 14,0 15,0 20,0 União Européia (27) 1,8 3,0 2,7 4,5 7,5 3,0 4,0 7,0 3,0 África e Oriente Médio 5,6 5,5 5,5 4,5 1,5 0,5 14,5 6,5 12,5 Ásia 4,2 4,7 4,7 11,0 13,0 11,5 8,0 8,5 8,5 China 10,4 11,1 11,4 25,0 22,0 19,5 11,5 16,5 13,5 Índia 9,0 9,7 9,1 21,5 11,0 10,5 28,5 9,5 13,0 Economias recentemente industrializadas (4) * 4,9 5,5 5,6 8,0 12,5 8,5 5,0 8,5 7,0 * Hong Kong, Coréia, Cingapura e Taipei chinesa. - Fonte: Secretariado da OMC De acordo com a Organização Mundial do Comércio a desaceleração econômica em países desenvolvidos (PDs) é parcialmente contrabalanceada pelo contínuo crescimento nos países em desenvolvimento (PEDs). A atual perspectiva de crescimento econômico para PDs é de 1,1% e para PEDs, 5%. Juntas, essas projeções podem representar um crescimento mundial de 2,6% e uma expansão do comércio global de 4,5% em termos reais. Em 2007, os PEDs representaram 34% do comércio mundial de mercadorias (exportações mais importações). A desvalorização do dólar estadunidense em relação ao euro e às demais moedas européias inflacionou as transações comerciais internacionais. O valor das exportações mundiais de mercadorias em dólar aumentou 15% (US$ 13,6 trilhões) e das exportações mundiais de serviços, 18% (US$ 3.3 trilhões). 1 UNCTAD XII: daqui para onde? 5 Doha: propostas técnicas do Grupo dos Seis diminuem o ritmo das negociações agrícolas 7 Bens Usados x Remanufaturados: as prováveis mudanças nos cenários comerciais internacional e brasileiro 10 Inflação dos Alimentos: a nova crise mundial 12 Organização Mundial da Propriedade Intelectual: luta pelo desenvolvimento ainda é tímida 15 Biomassa tropical e o mercado global de biocombustíveis 17 Bolívia retira-se do CIRDI 19 Medidas antidumping e liberalização comercial 21 Propriedade industrial e inovação em saúde no Brasil VOCê SABIA? PONTES está disponível on-line em: http://www.ictsd.org/monthly/pontes e http://www.edesp.edu.br/ Para receber o PONTES via e-mail, por favor, escreva uma mensagem para [email protected], informando seu nome e profissão UNCTAD XII: daqui para onde? Como distribuir os benefícios advindos da globalização de forma mais igualitária? Esta é a per- gunta que orientou a programação e o debate da décima segunda conferência inter-ministerial da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, sigla em inglês). A reunião foi realizada em Accra, Gana, entre os dias 20 e 25 de abril. Para o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, a realização da Con- ferência na África promove países como Gana. A UNCTAD cumpre o papel que lhe foi atribuído em conferências anteriores e direciona maior atenção a países de menor desenvolvimento relativo (PMDRs) 1 . A decisão de escolher pela terceira vez 2 um PMDR como sede de suas conferências também contribui para tornar as demandas específicas desses países mais evidentes. É nesse sentido que Ban Ki-moon lembrou 3 o Secretário-Geral da UNCTAD, Supachai Panitchpadki, e os representantes dos países partici- pantes da Conferência que os frutos da globalização devem atingir a parcela da população mundial abaixo da linha da pobreza. Fazendo presentes suas atribui- ções de Secretário-Geral da ONU, Ki-moon encami- nhou à UNCTAD propostas para a Conferência, cujo objetivo central foi o fortalecimento do pilar relativo a desenvolvimento da ONU. À luz do que foi debatido nos cinco dias da progra- mação central da UNCTAD XII, este artigo busca analisar em que aspecto a UNCTAD XII difere das conferências anteriores, principalmente no tocante a sua proposta de discutir o papel da instituição na promoção do desenvolvimento. Além disso, busca-se examinar os interesses levados à UNCTAD pelos dife- rentes grupos de países (países desenvolvidos – PDs, países em desenvolvimento – PEDs e PMDRs), a fim de verificar eventuais conflitos. Que o crescimento do comércio mundial caiu de 8,5%, em 2006, para 5,5%, em 2007, e que deverá crescer em torno de 4,5%, em 2008?

PONTES entre o Comércio e o Desenvolvimento · Que o crescimento do comércio mundial caiu de 8,5%, em 2006, para 5,5%, em 2007, e que deverá crescer em torno ... e desafiosda globalização

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PONTES entre o Comércio e o Desenvolvimento SustentávelAbril 2008

Vol. 4 No. 2

Crescimento anual em percentagemPIB Exportações Importações

2005 2006 2007 2005 2006 2007 2005 2006 2007

Mundo 3,3 3,7 3,4 6,5 8,5 5,5 6,5 8,0 5,5

Estados Unidos da América 3,1 2,9 2,2 7,0 10,5 7,0 5,5 5,5 1,0

América do Sul, Central e Caribe 5,6 6,0 6,3 8,0 4,0 5,0 14,0 15,0 20,0

União Européia (27) 1,8 3,0 2,7 4,5 7,5 3,0 4,0 7,0 3,0

África e Oriente Médio 5,6 5,5 5,5 4,5 1,5 0,5 14,5 6,5 12,5

Ásia 4,2 4,7 4,7 11,0 13,0 11,5 8,0 8,5 8,5

China 10,4 11,1 11,4 25,0 22,0 19,5 11,5 16,5 13,5

Índia 9,0 9,7 9,1 21,5 11,0 10,5 28,5 9,5 13,0

Economias recentemente industrializadas (4) * 4,9 5,5 5,6 8,0 12,5 8,5 5,0 8,5 7,0

* Hong Kong, Coréia, Cingapura e Taipei chinesa. - Fonte: Secretariado da OMC

• DeacordocomaOrganizaçãoMundialdoComércioadesaceleraçãoeconômicaempaísesdesenvolvidos(PDs)éparcialmentecontrabalanceadapelocontínuocrescimentonospaísesemdesenvolvimento(PEDs).

• AatualperspectivadecrescimentoeconômicoparaPDséde1,1%eparaPEDs,5%.Juntas,essasprojeçõespodemrepresentarumcrescimentomundialde2,6%eumaexpansãodocomércioglobalde4,5%emtermosreais.

• Em2007,osPEDsrepresentaram34%docomérciomundialdemercadorias(exportaçõesmaisimportações).

• Adesvalorizaçãododólarestadunidenseemrelaçãoaoeuroeàsdemaismoedaseuropéiasinflacionouastransaçõescomerciaisinternacionais.Ovalordasexportaçõesmundiaisdemercadoriasemdólaraumentou15%(US$13,6trilhões)edasexportaçõesmundiaisdeserviços,18%(US$3.3trilhões).

1 UNCTAD XII: daqui para onde?

5 Doha: propostas técnicas do Grupo dos Seis diminuem o ritmo das negociações agrícolas

7 Bens Usados x Remanufaturados: as prováveis mudanças nos cenários comerciais internacional e brasileiro

10 Inflação dos Alimentos: a nova crise mundial

12 Organização Mundial da Propriedade Intelectual: luta pelo desenvolvimento ainda é tímida

15 Biomassa tropical e o mercado global de biocombustíveis

17 Bolívia retira-se do CIRDI

19 Medidas antidumping e liberalização comercial

21 Propriedade industrial e inovação em saúde no Brasil

Você saBIa?

PONTES está disponível on-line em: http://www.ictsd.org/monthly/pontes e http://www.edesp.edu.br/Para receber o PONTES via e-mail, por favor, escreva uma mensagem para [email protected], informando seu nome e profissão

UNcTaD XII: daqui para onde?

Comodistribuirosbenefíciosadvindosdaglobalizaçãodeformamaisigualitária?Estaéaper-guntaqueorientouaprogramaçãoeodebatedadécimasegundaconferênciainter-ministerialdaConferênciadasNaçõesUnidasparaoComércioeDesenvolvimento(UNCTAD,siglaeminglês).AreuniãofoirealizadaemAccra,Gana,entreosdias20e25deabril.

ParaoSecretário-GeraldaOrganizaçãodasNaçõesUnidas (ONU),BanKi-moon, a realizaçãodaCon-ferência naÁfrica promove países comoGana.AUNCTADcumpreopapelquelhefoiatribuídoemconferênciasanterioresedirecionamaioratençãoapaísesdemenordesenvolvimentorelativo(PMDRs)1.Adecisãodeescolherpela terceiravez2umPMDRcomo sede de suas conferências tambémcontribuipara tornar as demandas específicas desses paísesmais evidentes. É nesse sentido queBanKi-moonlembrou3oSecretário-GeraldaUNCTAD,SupachaiPanitchpadki,eosrepresentantesdospaísespartici-pantesdaConferênciaqueosfrutosdaglobalizaçãodevematingiraparceladapopulaçãomundialabaixodalinhadapobreza.Fazendopresentessuasatribui-

çõesdeSecretário-GeraldaONU,Ki-moonencami-nhouàUNCTADpropostasparaaConferência,cujoobjetivocentralfoiofortalecimentodopilarrelativoadesenvolvimentodaONU.

Àluzdoquefoidebatidonoscincodiasdaprogra-mação central daUNCTADXII, este artigo buscaanalisaremqueaspectoaUNCTADXIIdiferedasconferências anteriores, principalmenteno tocanteasuapropostadediscutiropapeldainstituiçãonapromoçãododesenvolvimento.Alémdisso,busca-seexaminarosinteresseslevadosàUNCTADpelosdife-rentesgruposdepaíses(paísesdesenvolvidos–PDs,paísesemdesenvolvimento–PEDsePMDRs),afimdeverificareventuaisconflitos.

Queocrescimentodocomérciomundialcaiude8,5%,em2006,para5,5%,em2007,equedeverácresceremtornode4,5%,em2008?

PONTES - abril 2008 2

PONTESentre o Comércio e o Desenvolvimento SustentávelPONTEStemporfimreforçaracapacidadedosagentesnaáreadecomérciointerna-cionaledesenvolvimentosustentável,pormeiodadisponibilizaçãodeinformaçõese análises relevantes parauma reflexãomais aprofundada sobre esses temas. Étambém um instrumento de comunica-çãoedegeraçãode idéiasquepretendeinfluenciartodosaquelesenvolvidosnosprocessosdeformulaçãodepolíticaspú-blicasedeestratégiasparaasnegociaçõesinternacionais.

PONTES foi publicado pelo CentroInternacional para oComércio e oDe-senvolvimento Sustentável (ICTSD) epelaEscola deDireito de SãoPaulo daFundaçãoGetulioVargas(DireitoGV).

Comitê EditorialMaximilianoChab MichelleRattonSanchez

EditoraMônicaSteffenGuiseRosina AdrianaVerdier

EquipeManuelaTrindadeViana DanielaHelenaOliveiraGodoy LeonardoMargonatoRibeiroLima

ISSN: 1813-4378

ICTSDDiretorexecutivo:RicardoMeléndez-Ortiz 7,chemindeBalexert 1219,Genebra,Suíça [email protected] www.ictsd.org

DireitoGVDiretorGeral:AryOswaldoMattosFilho RuaRocha,233-8°andar-BelaVista 01330-000,SãoPaulo-SP,Brasil [email protected] www.edesp.edu.br

As opiniões expressadas nos artigos assinados em PONTES são exclusivamente dos autores e não refletem necessariamente as opiniões do ICTSD, da DireitoGV ou das instituições por eles representadas.

Espaço aberto

O caminho até a UNCTAD XII

Criada em 1964, aUNCTAD realiza, acada quatro anos, conferências intermi-nisteriaisquedebatemquestões relacio-nadasaocomércioeaodesenvolvimentoedefinemoseumandatoesuasprioridadesdetrabalhoparaosquatroanosseguintes.Nesse sentido, tais conferências consti-tuemocorpomaiselevadodeformulaçãopolíticadaUNCTAD.

Senadécadade1990a ênfasedas con-ferências pareceu incidir sobre PEDsdemodo geral, desde a UNCTADXI,realizada emBangcoc,Tailândia (2000),os debates concentraram-se na reflexãode oportunidades especificamente paraPMDRsno contexto da globalização.AatençãodaONUemrelaçãoataispaísesédirecionadaparaaformulaçãodemedidaselaboradascomvistasàreduçãodesuasdesvantagenscompetitivasnaeconomiamundial e ao desenvolvimento de suainfra-estruturafísica,bemcomodeseusrecursoshumanos.AênfasesobrePMDRstornou-se evidente na declaração ado-tadaaofinaldaconferênciaemBangcoc(TD/387),fundadano“ProgramadeAçãoparaosPaísesdeMenorDesenvolvimentoRelativo”(A/CONF.191/11)4.

Adécima segunda ediçãoda conferêncianãomostroutendênciadiferente:asviagensdo Secretário-Geral daUNCTAD ante-riormenteàUNCTADXIItiveramcomoprincipais destinos os PMDRs. Exemplodisso foi a reunião entre os Ministros do ComérciodePMDRsrealizadaemMaseru,Lesoto(27a29defevereiro),comoapoiodaUNCTAD.Osrepresentantesdessegrupodepaísesnãoseencontravamdesde2005,quandodaReuniãoMinisterial daOrga-nizaçãoMundialdoComércio (OMC)deHongKong.Naocasião,ospaísesavaliaramformasdeconvergirseusinteressesemproldealgumprogressonaRodadaDohaparaoDesenvolvimento.OgovernodaTurquiaofereceu-separasediarumworkshopparaPMDRsafricanos,denominado“ComércioeDesenvolvimentoparaaProsperidadedaÁfrica:açãoedireção”,de4a5demarço5 .Cabedestacar, ainda, apublicação inti-tulada“Competitividadeemexportaçãoedesenvolvimento emPMDRs: diretrizes,questões e prioridades dos PMDRs paraaaçãoduranteeposteriormenteàUNC-TADXII”, lançada pelo Secretariado daUNCTAD em 8 de abril passado e quetemcomoobjetivoorientareestimularaparticipaçãodePMDRsnospré-eventoseduranteaconferência6.

Globalização e desenvolvimento: os temas da UNCTAD XII

AprogramaçãodaUNCTADXIIfoiestru-turadacombasenotema“oportunidadese desafiosda globalização aodesenvolvi-mento”eemseusquatrosub-temas,sobreos quais é interessante lançar umolharmaisatento.Oprimeirodeles,“aumentodacoerênciaparaodesenvolvimentoeco-nômico e redução da pobreza”, entendecoerênciacomoformasdefazercomqueas políticas internacionais estejam emconformidade comos objetivos comunsdaOrganização,oqueincluiagarantiadeque regimesmultilaterais e regionais decomérciobusquemobjetivosrelacionadosaodesenvolvimento.Acoerênciatambémdeve estar relacionada com o sistemafinanceiro global, considerado falho pelaUNCTADnosentidodenãoprotegereco-nomiasmaisvulneráveisdeimpactosdoschoqueseconômicosexternos.

Osegundosub-tema,relativoàs“questões-chaveparaocomércioeodesenvolvimentoe anovas realidadesna geografiada eco-nomiamundial”,partedaconstataçãodequeosPEDstêmrespondidoporumacres-centeparceladecomércioeinvestimentointernacionais.Oaumentodademandaedepreçosdopetróleo,dogásedeoutrascommodities significaum grandeboom econômico para alguns destes países edificuldades econômicas para outros.Osub-tema foi escolhido sob a expectativadequeodebatebuscassemeiosparaqueosPEDsquedesfrutamdesseboom possam melhortraduzirsuareceitaemganhosdedesenvolvimentodelongoprazo.

A“criaçãodeumambiente favorável aofortalecimentodecapacidadesprodutivas,comércioe investimentos”, terceiro sub-tema,entendequeumambientefavorávelprecisaoperarsimultaneamentenosníveisglobalenacional–pormeiodepolíticasquepromovamcrescimento,investimentoe empreendedorismo, assim como tecnolo-gia,inovaçãoeemprego.

Porfim,o quarto sub-tema, referente ao“fortalecimentodaUNCTAD”,sustenta-senacrençadequeaOrganizaçãoprecisarenovarconstantementeseusesforçosemrelação aos PEDs, demodo a:melhorarseusmétodosdetrabalhoegarantirqueaelaboraçãodepesquisaseanálisessejadealtaqualidade;tornaramaquinariainter-governamental daOrganização cada vez

3 abril 2008 - PONTES

Espaço aberto

maisorientadaparaaação;efazercomquesuacooperaçãotécnicaauxilienacriaçãodesinergiasbenéficas.

AagendadaUNCTADXIIteveinícioemmaiode2007,quandoforaminauguradosos pré-eventos da Conferência. Essesobjetivavamapurarodebateefacilitaroconsensoentreospaísesparticipantes7.Aprogramaçãoprincipalcontou,dentreoutroseventos,comumdebategeral(noqual os EstadosMembros expressaramsuas posições); um debate específicosobreaÁfrica(denominado“High level segment on Africa”);novemesas-redon-das temáticas8; o fórum da sociedadecivil; e um fórum sobre investimentomundial (queexploroudesenvolvimen-tosfuturosnosfluxosdeinvestimentosestrangeirosdiretos–IEDs).

Fortalecimento institucional da UNCTADPara além da reflexão sobre formas deauxiliarPEDs,fiocondutordotrabalhodaUNCTADdesdeoseusurgimento,outrotemapersistentenaagendadasconferên-ciasinter-ministeriaisdizrespeitoàrevisãodopapeleimpactosdaaçãodaOrganização.Isso porque tais conferências têm comoobjetivoacontínuarevisãoeareformula-çãodomandatodaUNCTAD;assimsendo,o debate também passa pelo (re)desenho institucionaldaOrganização,maispreci-samentecomrelaçãoaostrêspilaresdessa,quaissejam:pesquisaeanálise;formaçãodeconsenso;ecooperaçãotécnica.

Notocanteaesseponto,aúltimareformainstitucionalsignificativadesdeadécadade1990ocorreuem1996,apósaUNCTADIX,em Midrand, África do Sul9.Emsuadecla-raçãofinal,osparticipantesdaconferênciaacordaram a respeito de uma reforma insti-tucionalnaUNCTAD,comafinalidadedeconcentrarotrabalhodaOrganizaçãoemalgumasquestõesprioritáriasrelacionadasacomércioedesenvolvimentoemrelaçãoàsquaisaUNCTADpoderiaapresentarumimpactosubstancialsobreosPEDs.

Assim,aDeclaraçãodeMidranddefiniuumprocessodereestruturaçãodamaquinariainter-governamentaldaUNCTAD:o“Con-selhode ComércioeDesenvolvimento”(TDB,siglaeminglês),corpoexecutivodaOrganização,ficouresponsávelporgaran-tir a consistência geral das atividadesdaUNCTAD;eavaliaroprogressoobtidonoprogramadeAçãodosPMDRsedaNovaAgendadaONUparaoDesenvolvimento

daÁfrica, comatenção direcionada paraexperiências bem-sucedidas que possamservirdeinspiração.Foramcriados,ainda,trêsórgãossubsidiáriosdoTDB:ComissãoparaComérciodeBenseServiços,eCom-modities;ComissãosobreInvestimentos,TecnologiaeQuestõesFinanceirasRelacio-nadas;eComissãosobreEmpresas,Facili-taçãodeNegócioseDesenvolvimento.Acadaumadessascomissões,cabeexaminar,emsuasreuniõesanuais,políticasadequa-dasemsuasrespectivasáreas.

Demodogeral,omandatodaUNCTADfoi reformulado em conformidade com os seguintes objetivos: aprimorar seusmecanismosdecooperação,porexemplo,comaOrganizaçãoparaaCooperaçãoeoDesenvolvimentoEconômico(OCDE),a fim de evitar duplicação de trabalho;inclusãodenovostemasdeanáliseparaaOrganização, como “concorrência” e“políticas ambientais”; e dar continui-dade à facilitação da integração entrePEDsedepaísesemtransiçãonosistemainternacionaldecomércio.

AUNCTADXI10,realizadaemSãoPaulo(2004), pode ser considerada um marco, na medidaemque,pelaprimeiravez,asocie-dadecivilfoiincorporadaàprogramaçãocentraldaconferência.Aparticipaçãodosrepresentantesdasociedadecivilocorreucom certa antecedência à realização dodebate geral, no qual os EstadosMem-brosexpressaramsuasposições,demodoque o documento produzido por essesmovimentos sociais pudesse ser levadoem consideração para a formulação dodocumentodaconferência.

Para a sociedade civil organizada, osresultados das conferências anterioresforam tímidos e o enfraquecimento daUNCTADconstituioprincipal temadepreocupação. Isso porque, na leitura deseusrepresentantes,aUNCTADfoiins-tituída para promover os interesses dos“países do Sul”, notadamente PEDs.AOrganização, nesse sentido, foi pensadacomoumespaço de reflexão sobre “umoutro desenvolvimento, que dá sentidomais humanitário ao capitalismo”.Naleituradasociedadecivil,aregulaçãodocomércio e dos fluxos financeiros podeser ummeio para alcançar o desenvol-vimento,mas não pode constituir umfimemsimesma.Ofocodascríticasdasociedade civil tem sidouma tendênciaàminimização daUNCTAD, traduzidana nomeação de Supachai Panitchpadkicomo Secretário-Geral daOrganização.

De acordo com Iara Pietricovsky, repre-sentantedaRedeBrasileirapelaIntegraçãodosPovos(Rebrip),oex-Secretário-Geralda OMC, Panitchpadki representa aincorporação,pelaUNCTAD,detendên-ciasneo-liberais, as quais caminhamnacontra-mãodaconstruçãodaeqüidadeedodesenvolvimentosustentável,aosquaisaUNCTADdeveservir11.

Para oMinistro dasRelações Exterioresdo Brasil, Celso Amorim, o principalresultadoatingidopelaUNCTADXI foiapreservaçãodaOrganizaçãocomouma“usina de idéias”: “Ela [a UNCTAD]pode não ter poder de decisão, mas o seu poderdeinspiraçãoémuitoimportante”.O então Secretário-Geral,RubensRicu-pero,destacouosseguintespontosfortesdaUNCTADXI: o lançamento da novarodadadenegociaçõesdoSistemaGeraldePreferênciasComerciais(SGPC)–queprevêareduçãodebarreirasentre44paísesdoSulecontribuiparaaintegraçãoentreosPEDs;olançamentodeumaforça-tarefapara acompanhar o mercado de commo-dities;eainiciativadeelaborarrelatóriosfreqüentessobreossetoresmaisdinâmi-cosdaseconomiasdosPMDRs.

AposiçãodosPEDscomrelaçãoao for-talecimento daUNCTAD reivindica, demodogeral,umtrabalhodaOrganizaçãomais voltado para a ação e que ofereçaorientações de políticas públicas, comofoco especial aos PMDRs.Os represen-tantes de PEDs apóiam a continuidadedealgumasiniciativas jáemandamentodaUNCTAD,porexemplo,aelaboraçãodo World Investment Report,publicaçãoanualqueanalisaastendênciasnosfluxosdecapitalnomundo,que,naleituradosPEDs contribui para a difusão de infor-maçõessistemáticassobreaevoluçãodaconstrução de um ambiente favorável àrecepçãodeIEDsemPMDRs.

Alémdisso,existeumeixonoqualPDsePEDsapresentaminteressesdivergentes,quedizrespeitoaopapeldaOrganização.Deumlado,osPDsreivindicamumaaçãomais prática daUNCTAD no forneci-mentodeassistênciatécnicaemalgumasáreas específicas, com competências jáestabelecidas.JáosPEDsacreditamqueaUNCTADdeveser,também,umespaçodereflexãosobredesenvolvimento,comoobjetivodepensarasgrandesquestõesdaeconomiamundialsegundoaperspectivade umPED.Nesse sentido, a satisfaçãoexpressadapelosrepresentantesdoBrasilnaUNCTADXIjustifica-secombasena

PONTES - abril 2008 4

Espaço aberto

crençadequeosresultadosdestaConfe-rênciagarantemumaaçãoindependentedoSecretariadodaUNCTAD.

Resultados da UNCTAD XII

ADeclaração de Accra12, produto das negociações levadas a cabo entre 20 e25deabrilúltimo,definiuummandatomais fortalecido e dotado de maior subs-tância, em comparação àquele formu-ladonaUNCTADXI.Avaliadopositi-vamentepelosPEDs,odocumentofinaldaconferênciaampliaolequetemáticode trabalho da UNCTAD,modifica aestruturadesuascomissõeseampliaomandatodaOrganizaçãocomrelaçãoacommoditiesagrícolas.

Maisumavez,adeclaraçãoministerialinsistiunanecessidadede aUNCTADfirmarparceriascomoutrasorganizaçõesque tratam de temáticas tangenciais àsua.Essepontojáhaviasidolevantadonastrêsúltimasdeclaraçõesetemcomoobjetivoevitaraduplicaçãodetrabalho,demodoqueaUNCTADpossa,emtra-balhoconjuntocomoutrasorganizações,produzir informaçõesmais precisas edirecionar esforços ao pilar relativo àassistênciatécnica.

UmdostemasmaiscontroversosduranteasnegociaçõesemAccrafoioda“migra-ção”. Nesse sentido, a delegação doMéxico propôs que aUNCTADfizessepesquisaseanálisessobrearelaçãoentremigraçãoedesenvolvimento.ApropostafoijustificadacombasenaconstataçãodequeosfórunsdaONUnãoabordamotemadamigraçãosobaperspectivadodesenvol-vimento.OrganismoscomoaOrganizaçãoInternacionalparaaMigração,aOMCeaOCDEdebatemotema,massobenfoquesespecíficosemgestãoeadministraçãoouem“modo4”deserviços.

OsPEDs,quehaviamsereunidoem21de abril e preparadoumaposiçãounifi-cada para aUNCTADXII – expressadanaDeclaraçãoMinisterialdoGrupodos77 mais China13 – apresentaram algunsinteresses conflitantes aos dos PDs.Exemplodissofoiodebateacercadofor-talecimentoinstitucionaldaUNCTAD,em que a reestruturação das comissõescriadasemMidrandestavaempauta.Adelegação estadunidense levou à nego-ciação a proposta de eliminar as trêscomissões, diferentemente da posiçãodoG-77edaChina,quedefendiaacria-çãodeumaquartacomissão,relativaao

temadaglobalização.Oprodutofinaldasnegociações,coincidentecomapropostaapresentadapelaUniãoEuropéia,definiuafusãodeduasdascomissõesemuma,restando apenas a Comissão de Comércio, Desenvolvimento e Investimento; e aComissãosobreEmpresas,FacilitaçãodeNegócioseDesenvolvimento.

AincorporaçãodenovostemasàagendadetrabalhodaUNCTADparaospróximosquatro anos também foi alvodedisputaentrePEDsePDs.Diferentementedapro-postadosPEDs,favoráveisàdiversificaçãodapautadaOrganização,adelegaçãoesta-dunidense buscou limitar o trabalho da UNCTADatemasvinculadosdiretamenteacomércioedesenvolvimento.ApropostadoG-77 foi incorporada ao documentofinal, demodo que os temasmigração,mudançasclimáticaseenergia(incluídootemarelativoaos“biocombustíveis”,queficaradeforadoConsensodeSãoPaulo)foramincluídosnaagendadaUNCTAD.

ApesardaênfasedaatividadedaUNCTADXII sobreosPMDRs,asnegociaçõesemAccra definiramumanova categoria depaísescomaqualtrabalharáaUNCTAD:países de rendamédia (middle income countries).Propostapeladelegaçãoperu-ana,a incorporaçãodareferidacategoriaobjetivaevitarqueaUNCTADseconvertaemuma agência de cooperação técnicaexclusivamente para PMDRs,mas quetrabalhetambémemproldeoutrosgruposde países como, por exemplo, pequenasilhas-estadoemdesenvolvimento,paísessemcostamarítimaeeconomiaspequenasevulneráveis,conformedeterminadopeloponto11daDeclaração.

Similarmenteaoutrasorganizaçõesinter-nacionais,aUNCTADXIItambémincluiuaaltanopreçodealimentosemsuapauta

dediscussão.Notocanteaessatemática,aDeclaraçãofazmençãoàrecentecriaçãode uma atividade específica sobre essascommodities,incorporadaàagendadetra-balhodoSecretário-GeraldaUNCTAD.Anteriormente a essa decisão, o tema era abordado de formamarginal, umavezinseridonaunidadedecomércio.Talmedidafoicomemoradapelospaísesafri-canos,quepassarãoadispordediretrizeseestratégiasrelativasaotemaespecíficasàrealidadedeseuspaíses.

Umabreveanálisedatrajetóriadascon-ferênciasinterministeriaisdaUNCTADnospermiteverificaralgumastendênciasinteressantes.Emprimeirolugar,ospaísestêmexigidorecorrentementeaintersecçãodotrabalhodediferentesorganizaçõesàaçãodaUNCTAD.Comisso,entravesquetêmsurgidoemoutrosâmbitossãoleva-dosàsnegociaçõesdasconferênciasinter-ministeriaisdaUNCTAD,natentativadecriarnovasmoedasdetrocaemecanismosdepressão.Também,essatendênciaexigeque aUNCTAD se dediquemais forte-menteaparceriascomorganizaçõesquetrabalhamcomastemáticasdecomércioe desenvolvimento.Mais precisamente,osPEDsreivindicamadiversificaçãodosparceiros daUNCTAD, uma vez que aOCDEtemsemostradoumparceiroquasequeexclusivodaOrganização.

Além disso, tem havido uma notóriadiversificação da agenda de trabalho daUNCTAD. Conformemanifestado emdiversasocasiõesnessaconferênciaenasanteriores,exige-sequeaagendadetraba-lhoeodesenhoinstitucionaldaUNCTADacompanhemasrápidastransformaçõesdomundonocontextodaglobalização.

Por fim, parece ter havido uma certaresistência de alguns países em conferirdemasiadaênfaseaosPMDRsnotrabalhodaUNCTAD,ênfaseessaquesetornaraevidentenasúltimasconferências.Algu-masdelegaçõesdemandarammaisatençãopor parte da UNCTAD nesse sentido,ao sugerirem, por exemplo, a inclusãodacategoria“paísesderendamédia”naDeclaraçãofinaldaUNCTADXII.

Assim,aUNCTADsegueparaadécimaterceiraediçãodesuaconferênciaintermi-nisterial–queserealizaráemQatarem2012–comumaagendaeestruturamaisdiversificadas,mas com a reivindicaçãodealgumasdelegaçõesemsuspenso,quecolocaramemquestãoaênfaseaosPMDRsconferidapelaUNCTAD.

Apesar da ênfase da atividade da UNCTAD

XII sobre os PMDRs, as negociações em Accra definiram uma nova categoria de países

com a qual trabalhará a UNCTAD: países de

renda media…

5 abril 2008 - PONTES

CrawfordFalconer,presidentedoComitêdeNegociaçõesAgrícolas,afirmoudurantea reuniãode 30de abril últimoquenãodivulgaráseutextorevisadoantesdosnego-ciadoreschegaremaumacordosobreumasériedeassuntoscontroversos.Acirculaçãodotextoestavaprevistaparaofinaldomêsdeabrile,umavezmais,foiadiada.

Umdessestemascontroversosrefere-seaotratamentoquedeverãoreceberoschamados“produtosagrícolassensíveis”.Osprodutosclassificados como tais estarão sujeitos areduçõestarifáriasmenores,desdequesuasquotas de importação sejamelevadas.Oobjetivoéampliaroacessoamercadodessesprodutos, ainda quecomreduçãotarifáriapequena.

Outro tema proble-mático é a tensãoentre o mandato para a rápida libera-lizaçãocomercialdeprodutos tropicais e o tratamentoqueserádadoàerosãodepre-ferênciascomerciaispara determinados produtos,comoaçú-carebanana.

Produtos sensíveis: o conflito permaneceNoqueserefereaosprodutossensíveis,osdesacordos mais recentes deram-se entre países exportadores e importadores e suaincapacidade de definir umcritério paraocálculodoconsumodiretodediferentesalimentos–basepara calcularoníveldeexpansãodasquotasdeimportação.Partedessa complicação deve-se ao fato de ainformação sobre o consumo não estardisponíveldeformasuficientementedeta-lhada–muitospaísesnãoclassificamseus

produtos a umnível de detalhe de oitodígitos.Issodificultaaindicaçãodoqueospaísesimportadorespodemdesignarcomo“sensíveis”, inclusiveparaquesejapossí-velsaberquaisosprodutosespecíficosqueprotegerão.Afaltadeinformaçãodetalhadasobreoconsumotornanecessárioorecursodeestimativas.

Proposta de acordo

Noiníciodeabril,umgrupodeseispaíses–exportadoreseimportadores–compostoporAustrália,Brasil,Canadá,Japão,UniãoEuro-péia (UE) e Estados Unidos da América, che-gouaumatentativadeacordosobrecomo

calcularosníveisdeconsumodoméstico.Por conta do altograu de complica-çãomatemática daproposta, os demais Membros da OMC solicitaramexplica-ções adicionais aospaíses proponen-tes. Esses últimoscircularam, então, notas explicativassobresuaproposiçãodurante a reunião de

18de abril passado.Tais propostas estãosendodiscutidasentregruposmenoresdeMembrosebilateralmente.

Emlinhasgerais,apropostadeacordodivideosprodutossensíveisemduascategorias:ascommodities principais (não processadas) e aquelasprocessadas–porexemplo,alinhatarifáriapara“açúcar”estásubdivididaemdiversascategoriasdeprodutosprocessados(atéoitodígitos)quecontémaçúcaremsuacomposição,comoos refrigerantes.Comoos países importadores não têm dadossuficientes, namaioria dos casos, para oconsumo de tais produtos, torna-se muito difícil determinar qual a quantidade de

OMC em foco

Por conta do alto grau de complicação

matemática da proposta, os demais Membros da OMC

solicitaram explicações adicionais aos países

proponentes.”

1AdotadapelaUNCTADparareferir-seaumgrupoespecíficodepaísesdentrodospaísesem desenvolvimento, a categoria PMDRsfoidefinidapelaprópriaONUem1971:umgrupode49países–dosquais33situam-senaÁfrica.Oscritériosempregadosparaessaclas-sificaçãosãobasicamentetrês(2003):(i)PIBpercapita;(ii)debilidadederecursoshumanos(weakhumanasstets),medidacombasenoHumanAssets Index;e (iii)vulnerabilidadeeconômica,medidaemfunçãodoEconomicVulnerability Index.O status do progressode cada país pode ser acessado em<http://www.integratedframework.org>.Acesso em22abr.2008.

2Três conferências daONU foram realiza-das em PMDRs, todas sob a liderança daUNCTAD:em1981,em1990eem2001.

3 Emdiscurso proferido em3 demarço de2008.

4OProgramafoilançadoemjunhode2001e encontra-se disponível em: <http://www.unctad.org/en/docs/aconf191d11.en.pdf>.Acessoem:23abr.2008.

5 Os resultados desteworkshop estão di-sponíveis em: <http://www.unctad.org/en/docs//td432_en.pdf>. Acesso em: 22. abr.2008.

6Disponívelem:<http://www.unctad.org/Tem-plates/Page.asp?intItemID=4503&lang=1>.Acessoem:2mai.2008.

7A programação completa dos pré-eventospodeseracessadaem:<http://www.unctadxii.org/en/Programme/Pre-Conference-events/>.Acessoem:17abr.2008.

8Ostemaseobreveconteúdodetaismesas-redondas podemser acessados em: <http://www.unctad.org/sp/docs/iaosmisc200721_sp.pdf>.Acessoem:23abr.2008.

9AUNCTADIXocorreude27deabrila1ºdemaio, em 1996.O documento “Decla-ração deMidrand eParceria para oCresci-mento e Desenvolvimento” (TD/377),produtodaConferência,podeseracessadoem:<http://www.unctad.org/Templates/Meeting.asp?intItemID=4303&lang=1>.Acesso em:18abr.2008.

10AConferênciadeBangcoc,porsuavez,deumaiorênfaseàreformulaçãodeumplanodeaçãoparaimpulsionaraparticipaçãodePEDs,mais precisamente, PMDRs, na economiamundial.

11VerPlenário3doAnexoII,sessãodaComis-sãodeRelaçõesExterioreseDefesaNacionaldaCâmaradosDeputados,naqualfoidefinidaaposiçãodogovernobrasileiroqueserálevadaàUNCTADXII.

12Disponível em: <http://www.unctad.org/en/docs/tdl413_en.pdf>.Acesso em2mai.2008.

13A“DeclaraciónMinisterialdelGrupodelos77yChinaenocasióndelaXIIUNCTAD”en-contra-sedisponívelem:<http://www.unctad.org/sp/docs//td436_sp.pdf>.Paraumaanálisedos principais pontos, ver: <http://www.ictsd.org/pont_quinze/08-04-28/BM.htm#1>.Acessoem:2mai.2008.

Doha: propostas técnicas do Grupo dos seis diminuem o ritmo das negociações agrícolas

AnovaversãodoesboçodetextosobreasnegociaçõesagrícolasdaOrga-nizaçãoMundialdoComércio(OMC)deverácircularapenasemmeadosdemaio.OsnegociadoresagrícolaspedirammaistempoaoEmbaixadorCraw-fordFalconerparafinalizarasdiscussões.Talprorrogaçãoreduzaindamaisapossibilidadedeumamini-ministerialemmaio.

PONTES - abril 2008 6

OMC em foco

Oprocessode“sub-alocação”–quepermiteousodemaisdeumaquotatarifáriaparadeterminada categoria de produto – per-manece controverso.A proposta inicialautorizavaosMembrosamanteremduasquotas tarifárias separadas para até trêscategoriasdiferentesdeprodutos.Mesmoquehouvesserestriçãoacategoriasdepro-dutoscomdezoumaislinhastarifáriasaumníveldeseisdígitos,anotaexplicativaressaltouquegrãos,carnes,açúcarealgunsprodutoslácteoscumpririamocritério.

Emgeral,ospaísesimportadoresdiscordamdo processo de sub-alocação porquenãoaceitamumaexpansãodaquota tarifáriamínima,semquepossamterflexibilidadepara seus interesses particulares.Nessesentido,aUEmencionouqueasflexibilida-despropostassãomeiosessenciaisparaqueresultados ambiciosos em acesso a mercado sejamalcançados.

Contrapontos à proposta do Grupo dos SeisUmadasprincipiascríticaslevantadaspordiversos países à proposta é, entretanto,o fato de o acordo lidar somente com as preocupaçõesdosseisMembrosproponen-tes.AArgentina,porexemplo,criticouaproposta,acusando-adenãorefletiraspre-ocupaçõesdosdemaisMembrosdaOMC.Algunsoutrospaísesemdesenvolvimentonãoconcordamcomaidéiadequecatego-riasdeprodutoscomofrutasevegetaissejadefinidade forma tão restritiva.China eÍndia,porexemplo,argumentaramqueseasmodalidadesparaprodutossensíveisforemdesenhadas de acordo com as necessidades dealgunspaíses,omesmodeveriaserfeitoparaos“produtosespeciais”1.

Outraimportantedisputanasnegociaçõesrefere-seaogrupodepaísesquedefendem

a liberalização comercial para produtostropicais e àqueles paísesMembros dogrupoÁfrica,CaribeePacifico (ACP)querecebempreferênciastarifáriasparaalgunsprodutosagrícolas.ACostaRica,emnomedogrupodeprodutostropicais,afirmouestartrabalhandojuntoapaísesimportadoresparachegaraumacordoquantoaumalistadeprodutosdesignadoscomotropicais.Fontesafirmamque,segundoapropostadosseispaíses,abananateriasidoremovidadeumapotencial listadeprodutos sensíveis. IssoseriacontrárioàpropostadospaísesACP,querequeremquealgunsdeseusprincipaisprodutosde exportação sejamdesignadoscomosensíveisparaque,destaforma,pos-sampreservartarifasrelativamentealtase,assim,mantersuaspreferênciastarifárias(jáconcedidaspormeiodeoutrosacordos).

Próximos passos

Opossívelacordosobreprodutossensíveisdeverá ser examinado por um grupo deaproximadamente36paísesquerepresen-tam o espectro dos diferentes interesses dosMembrosdaOMC.Taisconsultassãoconhecidascomoreuniõesde“SalaE”.

Noqueserefereaoprocessodenegociaçõeshorizontal–queenvolvetrocasdeinteressesentreagriculturaeacessoamercadosnãoagrícolas(NAMA,siglaeminglês)–,existemduas possibilidades para seu desenvolvi-mento.Numaprimeira, oprocesso –porfaltadetempo–inicia-selogoapósapubli-caçãodosesboçosdetextosobreagriculturaeNAMA, devidamente revisados pelospresidentes dos respectivos comitês.Nasegunda,oprocessocomeçaapenasdepoisdeostextosseremcuidadosamenteanalisa-dospelosnegociadoresedeostemasmaistécnicos seremacordados.Neste últimocaso,restariamsomentedecisõespolíticasa serem tomadas pelos ministros e funcio-náriosdealtoescalãodosMembros.

Nocasodeasegundaopçãoprevalecer,ébastante improvávelque aindahajaumareuniãomini-ministerialdaOMCemGene-bradurante estemêsdemaio, conformeanteriormenteprevistopelosnegociadores.Porisso,fontesespeculamqueumcenáriomais realista seria a ocorrência damini-ministerialapenasemjulhopróximo.

1No casodos produtos especiais apenas osPEDs poderão isentá-los, total ou parcial-mente, dos cortes tarifários, com base naaplicação de critérios para segurança ali-mentar,garantiadosmeiosdesubsistênciaedesenvolvimentorural.

açúcar (importado)utilizadana fabricaçãodeprodutosprocessadosequantoporcentoda commodity importada não é processada nopaísimportadore,portanto,utilizadain natura.Ospaísesqueexportam,namaioria,commoditiesprimárias,tememqueainclu-sãodosprodutosprocessadosnocálculodoconsumo total de determinada commodity afetenegativamenteaquantidadedequotastarifáriasàsquaisbeneficiarãosuasexporta-ções.Assimsendo,apropostarequerqueamaior parte do consumo doméstico de pro-dutossensíveis–aomenos90%–sejaclas-sificadacomocommoditynãoprocessada.Entretanto, a definiçãodosprodutosqueserão considerados como não processados no cálculodoconsumodomésticoeaproporçãodeconsumodomésticoreservadaaelesaindanãofoiacordadaentreosMembrosetêmsidotemasrecorrentesnasnegociações.

Para os produtos sensíveis designados aumníveldeseisouoitodígitosdosistemaharmonizado,anotaexplicativade18deabrildescrevedoisestágios: inicialmente,o consumo doméstico de um produto é determinadoaumníveldeseisdígitos;emumsegundomomento,utiliza-seumnívelaproximadodeconsumoaumníveldeoitodígitos–paraoqual,comomencionado,háaindapouquíssimainformaçãodisponível.

Os termos do acordo para o tratamento de diferentes tipos de produtos também estão longedeestarformalmentedefinidos.Atémesmoseusseisproponentestêmdisputadoentresienogrupoconhecidopor“Friends of the Chair”,compostopor12Membrosquesereúnemdesdeoanopassadoparadiscutirotema(produtossensíveis).

Doisdosaspectosmaiscontrovertidosdasnegociaçõestêmsidoasub-categorizaçãodeprodutoseasub-alocaçãodequotastari-fárias.Oprocessodesub-categorizaçãoper-mitiriaaumMembrodividirumacategoriaemduaspartes.Assim,oproduto“queijo”poderiasersub-categorizadocomo“indus-trial”etambémcomo“outro”.Emseguida,oprocessodedoisestágiosseriaaplicadonadefiniçãodoconsumodomésticoparacadaumadassub-categorias.Anotaexplicativade 18 de abril prevê que esse processopoderia resultar emuma quantidade deconsumodomésticoinferioràquelaobtidapara“queijo”seesseprodutofosseconsi-deradocomoumaúnicacategoria.Poressarazão,sugere-sequecertascondiçõessejamimpostasnoprocessodesub-categorização,como,porexemplo,anecessidadedeumaquotamínimadeexpansão.

Dois dos aspectos mais controvertidos

das negociações têm sido a sub-

categorização de produtos e a sub-

alocação de quotas tarifárias.

7 abril 2008 - PONTES

OMC em foco

Bens Usados x Remanufaturados: as prováveis mudanças nos cenários comerciais internacional e brasileiro

Renata Vargas amaral*

NaRodadaDoha,osEstadosUnidosdaAmérica(EUA)introduziramadiscussãodebensremanufaturadosnoâmbitodasnegociaçõessobrebarreirasnãotarifáriaslevadasaefeitonogrupodeAcessoaMercadosNão-Agrícolas(NAMA,siglaeminglês).ApesardeosacordosdemercadoriasdaOrganizaçãoMundialdoComércio(OMC)nãoabordaremotema,asdiscussõessobreacessoamercadosdebensremanufaturadosavançam.Emdescompasso,alegislaçãobrasileirapermaneceprotecionistanoqueserefereàimportaçãodequalquertipodematerialusado.

depaísesdesenvolvidos(PDs),emespecial.ExemplodissoéocasoemcursonoÓrgãode Solução de Controvérsias (OSC) daOMC,noqualasComunidadesEuropéias(CEs) contestarama proibição, por partedoBrasil,daimportaçãodepneususados.OBrasilalegouaConvençãodaBasiléia,queregulaocomérciotransfronteiriçoderesíduosperigosos2,umaconvençãomulti-lateralquedeterminaquepneususadossãoresíduosindesejadosereconhece,pormeiodemanualdegerenciamento,asdificulda-desdedestinaçãofinaldestesmateriais.

Com o intuito de ampliar o acesso a mercadosparabensusados,osEUAtêmdefendido, sobretudo nos acordos prefe-renciaisdecomércio,aflexibilizaçãodasrestriçõesaocomérciodebensremanufa-turados.Paraalegislaçãobrasileiraatual,porexemplo,essesbensconstituemumacategoriadebensusados.

É importante estabelecer, antes de pros-seguir, queparaosfinsdeste artigo e deacordocomasdenominaçõesutilizadasnoâmbitodaOMC,bensusadosincluemosbens recondicionados, reciclados, remolda-dosedesegunda-mão;aopassoqueosbensremanufaturadossãoaquelesque,devidoaoprocessoindustrialporquepassaram,sãoconsideradosequivalentesecomumavidaútilidênticaàdeumbemnovo3.

A OMC e os bens remanufaturadosNenhumdos acordos demercadorias daOMC (Antidumping,NAMA,Salvaguar-das,Têxteis,entreeles)versasobreotrata-mentodebensusadosouremanufaturados.Oqueefetivamenteocorremsãodiscussões“paralelas”sobreotemaentreosMembrosdaOrganização.

Desde 2004, uma discussão sobre bensremanufaturados tem sido travada no

grupo NAMA, no que diz respeito abarreiras não tarifárias.Omovimento,iniciadopelosEUA,CoréiadoSuleJapão,teve como objetivo colocar em pauta adiscussão sobre bens remanufaturados de segunda-mão(usados)efacilitaroacessoamercadosparaessesprodutos.

Adiscussãoteveumdifícilinício.Conformesepoderiaintuir,asrestriçõesaimportaçõestendemavariardeprodutoparaproduto.Alémdisso,muitas restrições dependemtambémdepolíticasdecomércioespecíficasadotadaspelopaísimportador.

Em2004,aproximadamenteumterçodosrelatóriosdeTrade Policy Review(TPR)daOMCconstataramalgumtipodeproibiçãoà importaçãodecertosprodutosusados,conformeevidenciaatabelaabaixo.Essesdados são reforçados, segundo o estudo,pela base de dados de acesso a mercados dasCEs,queverificaumelevadonúmerodesetoresnosquaisaimportaçãodepro-dutosusadosestáproibida,comdestaqueparaosetordeautomóveis4.

UmaanálisedosrelatóriosdeTPRmostraque os bens usadosmais atingidos porbarreiras não tarifárias são: automóveise suaspartes,maquinário, roupasepro-dutosmédicos.Observa-se,ainda,queasrestrições comerciais sãomais comunsem países em desenvolvimento (PEDs):muitospaísesdaAméricaLatina,ÁfricaeÁsianãopermitemaimportaçãodeumasérie de produtos. Entre essas regiões,encontram-segrandesmercados,comoéocasodoBrasil,daChinaedaÍndia,quepossuemregimesdeimportaçãobastanterestritivosparabensusados5.

Emgeral,asjustificativasdessesgovernoséqueasproibiçõesbuscamprotegerasaúdepública e omeio ambiente. Suspeita-se,porém, de eventuaismotivações econô-micasparataisrestrições,sobretudopara

O comércio internacional de bens usados temsidoobjetodetratamentodiferenciado,mais restritivo que o comércio de bensnovosounãousados. Isso sedáhojepormeiode legislaçõesnacionais específicasaplicadas ao comércio comoutrospaísese de acordos comerciais preferenciais, de caráterbilateralouplurilateral,queestabe-lecemlimitesquantitativosequalitativosàimportaçãodematerialusado(inclui-seaqui bens recondicionados, reciclados,remoldadoseremanufaturados).NoBrasil,alegislaçãoquedisciplinaaimportaçãodematerialusadoéaPortarianº235/2006,doMinistériodaIndústria,DesenvolvimentoeComércioExterior(MDIC),quealterouaPortarianº8/1991doDepartamentodeOpe-raçõesdeComércioExterior(DECEX).

DadosdaOrganizaçãoparaaCooperaçãoeoDesenvolvimentoEconômico(OCDE)de 20051mostramqueo comércio inter-nacional de produtos usados é bastante significativoemsetorescomooautomo-tivo,deautopeçasepartes(comopneus),demáquinas,equipamentoseinstrumentosmédico-hospitalares,entreoutros.Atítulodeexemplo,oestudodaOCDEmostraqueoJapãoexportouU$1bilhãoemveículosusadosem2003,aopassoqueocomérciomundial de partes usadas e remanufatura-das de motores e seus componentes é atual-menteestimadoemUS$60–70bilhões.

Muitas vezes, taisfluxos comerciais sãoobjetoderestriçõesaplicáveisa importa-ções(éesseocasodoBrasil).Asrestriçõespodemserabsolutasouaplicadasquandooproduto usado não atende a determinados requisitostécnicosepodemterporobjetivonãoapenasadefesadepolíticaspúblicaslegítimas,mastambémmascararumcertoprotecionismoà indústrianacional. Essetipo de tratamento diferenciado e outros congêneres,concedidospormuitospaísesàimportaçãodebensusados,têmsidoalvodecríticasnosforoscomerciaisporparte

PONTES - abril 2008 8

OMC em foco

aproteçãoda indústria internaedeseusnovosprodutosemrelaçãoaosbaixospre-çosdeprodutosusadosouremanufaturadoscompotencialdeimportação.

NoâmbitodaOMC,ainiciativacomandadapelosEUA,iniciadaem2004,ganhounovovigorno ano passado.Umpoucomenospreocupada com produtos usados, a proposta estadunidense tem seu foco no mercado crescentedeprodutosremanufaturados.

Aofinalde2005,osEUAapresentaramumdocumento(TN/MA/W/18/Add.11)6, que contém duas idéias centrais: (i)a necessidade de distinguir produtosremanufaturados7 de bens usados; e (ii)aidéiadequeotratamentoaserconce-dido a bens remanufaturados independe dosetor,oquelegitimariaapropostadeumtratamentohorizontal–enãoseto-rial–dotemanaOMC.Deacordocomodocumento, para ser considerado remanu-faturadoobemdevesersubmetidoaumprocessoindustrialespecífico–remanu-fatura–queotransformeemumprodutocapazdeatenderaosrequisitosepadrõestécnicos, de segurança e ambientais deumprodutonovoeque,emconseqüên-cia, recebadaempresaresponsávelpelaoperação uma garantia de desempenhoequivalenteàdeumbemnovo;aopasso

emqueobemusadonãonecessariamentepassa por processos similares antes de ser colocadonomercado.

Emmarçode2007,adelegaçãoestaduni-dense voltou a apresentar o documentoem reunião informal – com asmesmasproposições do documento apresentadoem 2005 –,mas osMembros presentesposicionaram-seclaramentecontraadefi-niçãodebens remanufaturadosexpressanaproposta.Adelegaçãobrasileiraques-tionouofatodeapropostanãogarantirainspeçãoeostestesdosbens,alémdesercontráriaaumadefiniçãoquenãoprevejaaofertaobrigatória,porpartedofabricante,degarantiasobreosprodutoscomerciali-zados,comosenovosfossem.

OsEUAinsistiramemseusobjetivosori-ginais–eforamacompanhadosporoutrospaísesquepossuemgrandeinteressenaabertura do mercado de remanufatura-dos – ao circularem, em 26 de outubrode 2007, uma proposta de minuta sobre amelhoria das condições de acesso amercadoparaessesbens(documentoTN/MA/W/18Add.16).

Em linhas gerais, além de introduziro tema dos bens remanufaturados na agendadediscussõesregularesdaOMC,

apropostaestadunidensesugereumaclaradefiniçãoparaosmesmos.OdocumentodeclaraqueoregimedecomérciodecadaMembro deve encontrar umamaneirade estimular o acesso a mercado de bens remanufaturados.Emoutraspalavras,osEUAsugeremqueosMembrosregulamen-temsuasmedidasnãotarifáriasdemodoaassegurarqueasmesmasnãorepresentemproibiçõesourestriçõesàimportaçãodebensremanufaturados.

A posição brasileira na OMC

O Brasil, que possui uma política decomércioparaimportaçãodebensusadosbastanterestritivasecomparadoaoutrosMembros da OMC, apresentou, em rea-ção ao documento estadunidense (TN/MA/W/18/Add.11) e em sintonia com aÍndia,algunsquestionamentosrelevantes,sobretudoparaosPEDs.

Primeiramente, o Brasil questionou acapacidadedeoconsumidoraferiraqua-lidade do bem remanufaturado, sobretudo quando apenas partes de um bem sãoremanufaturadas. Em outras palavras,como pode o consumidor ter certeza de queestácomprandooequivalenteaumbemnovoseoqueelecompraématerialusadoemsuaessência?

Veículosmotorizados Pneus Roupas Maquinaria Aparelhos elétricos Equipamentomédico

Argentina X X X

Bolívia X X

Brasil X X

Brunei X

Canadá X

Chile X

Egito X

ElSalvador X

Equador X X X

Gana X

Índia X

Israel X

Maldivas X

Moçambique X X

Nicarágua X

Nigéria X X(1)

Paquistão X

Peru X X X

RepúblicaDominicana X X X

SriLanka X

Tailândia X

Tanzânia X

Venezuela X X X

Fonte: CZAGA, Peter. Analysis of Non-Tariff Measures: The Case of Prohibitions and Quotas”. In: OECD Trade Policy Working Papers, No. 6, OECD Publishing, 2004, p. 22.

9 abril 2008 - PONTES

OMC em foco

Ainda, as delegações brasileira e indianaquestionaramoimpactoambientaldecor-rentedalimitadaduraçãodavidadosbensreciclados.OBrasil, emparticular, temetransformaropaísemumgrande lixeiroaoflexibilizaraentradadebensusadosouremanufaturadosemterritórionacional.

Embora os EUA tenham aumentado a pressão sobre esse temanasnegociaçõesdeNAMA,nãopareceprovávelqueapro-postaestadunidensesejaaprovadaemseuformatooriginal.Demaneirageral,PEDscommaiorpesonasnegociações(lideradosporBrasileÍndia)opõem-sefrontalmentea umaflexibilização das restrições hojevigentes – ainda que essa vise apenas areduzir o caráter distorcivo demedidaspraticadasunilateralmente.

Comércio de bens remanufaturados: uma atividade sustentável?

Os acordos sobre comércio de mercadorias daOMCnãoregulamentamaquestãodetrocas comerciais de produtos usados nem de remanufaturados.O comércio de taisprodutosérealizadohojenasentrelinhase paralelamente aos acordos multilaterais decomércio.Nãosetratadeumcomércioilegal,mas,porenquanto,deumcomérciosemregulamentaçãojurídica.

Aspropostasdediscussãodotema“bensremanufaturados”feitaspelosEUAtêmganhadoforçaeadeptos–sobretudoemmercados que contam com poderosasindústrias de remanufatura, como oJapão.Em2007,foirealizadoumesboçode uma DeclaraçãoMinisterial sobreo tema de acesso a mercado de bens remanufaturados,apartirdasdiscussõeslevadasacaboemNAMA.

Éimportantesempreterclaroqueapro-posta estadunidense é bastante incisivanoquediz respeitoàdiferenciaçãoentrebens usados e bens remanufaturados.OgovernodosEUAadotouaposturadequebens remanufaturados constituem uma terceiracategoriadebens,àpartedaquelesusadosounovos.Sãobensapresentamasmesmascondiçõesdeumnovo,asmesmasgarantias,masaumpreçomaisbaixo.Naverdade,esseéograndetrunfodapropostadosEUA–umpreçomaisacessívelapaí-sesmaispobres–propostarespaldadapelomanto do discurso do desenvolvimentosustentável, já que, segundo os EUA, aremanufatura de produtos contribui para

adiminuiçãodoconsumodeenergiaedemateriais, bem como para a redução daprodução de resíduos sólidos (resultadodo reaproveitamentodepartesepeças) eemissõesdegasesqueprovocamoefeitoestufa,menor consumo de água,menorgeraçãodelixoetc.

OsPDs,representados,sobretudoporEUAe Japão, tambémdefendemque a ativi-dade de remanufatura é interessante para osPEDsnamedida emque implica emreduçãodecustosparaosconsumidoresfinaiseindustriais,semquehajaperdadequalidadedosatributosdegarantiaasso-ciados à aquisiçãodeumbemnovo.OsPEDs,porsuavez,questionamoimpactoambientaldecorrentedalimitadaduraçãodavidadosbensreciclados.

Ofatoéqueasnegociaçõesemcurso,emespecialnoquetangeàpropostaestaduni-dense,encontram-sefortementeinfluencia-das pelos interesses de empresas industriais queinvestemcrescentementeemserviçosderemanufaturaemPDs.

Enquanto as negociações progridemnaOMC no contexto deNAMA, a legis-lação brasileira parece ficar para trás.Diferentementedemuitospaísestambémenquadradosnacategoria“emdesenvolvi-mento”daOMC,oBrasilcontacomumgrandesetorindustrial,diversificadoeemcontínuo progresso, o que explica umalegislaçãoclaramenteprotecionista.Nota-se, por outro lado, uma tendência geralnasdiscussõesemNAMAde liberalizaro acesso a mercado para bens remanufa-turados,atividaderentávelnamedidaemquereduzospreçosdosprodutosparaosconsumidoresfinais.

* Mestre em Direito dos Negócios Interna-cionais pela Universidad Complutense de Madrid e Mestranda em Direito, área de Relações Internacionais, da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

1Disponívelem:<http://www.oecdobserver.org/news/fullstory.php/aid/1505/Used_goods_trade.html>.Acessoem:21jan.2008.

2 A Convenção da Basiléia entrou emvigoremmaiode1992.Seusobjetivossão:minimizar a geração de resíduos perigosos(quantidade e periculosidade); controlar ereduzirmovimentos transfronteiriços deresíduosperigosos;disporosresíduosomaispróximopossíveldafontegeradora;proibirotransportederesíduosperigososparapaísessem capacitação técnica, administrativa elegal para tratar os resíduos de forma am-bientalmente adequada; auxiliar os paísesemdesenvolvimentoecomeconomiasemtransição na gestão dos resíduos perigosospor eles gerados; e trocar informações etecnologias relacionadas ao gerenciamentoambientalmenteadequadoderesíduosperi-gosos.OBrasileaComunidadeEuropéiasãosignatários destaConvenção. InformaçõesdisponíveisnositedoComitêBrasileirodoPrograma dasNaçõesUnidas para oMeioambiente:<www.brasilpnuma.org.br>

3 Proposta estadunidense na OMC paranegociaçãode acesso amercadospara bensremanufaturadosafirmaque:“Forpurposesof thisDeclaration, remanufactured goodmeans a non-agricultural good that is en-tirelyorpartiallycomprisedofparts(i)thathavebeenobtainedfromthedisassemblyofusedgoods;and(ii)thathavebeenprocessed,cleaned, inspected, or tested to the extentnecessarytoensuretheyareinoriginalwork-ing condition”.O documento encontra-sedisponível em: <http://www.tradeobserva-tory.org/library.cfm?refID=97913>.Acessoem:20jan.2008.

4 CZAGA, Peter. Analysis ofNon-TariffMeasures: The Case of Prohibitions andQuotas”. In:OECDTrade PolicyWorkingPapers,No.6,OECDPublishing,2004,p.22.Disponívelem:<http://caliban.sourceoecd.org/vl=1290737/cl=13/nw=1/rpsv/cgi-bin/wppdf?file=5lgp18rzj35k.pdf>.Acesso em:28jan.2008.

5Idem,p.23.

6Documento disponível no site daOMC:<www.wto.org>.Acessoem24jan.2008.

7O documento apresenta a definição uti-lizadapeladelegaçãodosEUAparaoprocessode remanufatura: “Remanufacturing is thegeneric term that describes the process inwhich a recovered good, or core, is trans-formedthroughcleaning,testing,andotheroperations into a product that is tested and certified tomeet technical and/or safetyspecificationsandhasawarrantysimilartothatofanewproduct.Differentindustriessometimes apply other terms, such as re-furbishing,reconditioning,orrebuilding,todescribeessentiallythesameprocess”.

Os PDs … também defendem que a atividade de remanufatura é

interessante para os PEDs na medida em que implica em redução de custos

para os consumidores finais e industriais …

PONTES - abril 2008 10

Outros temas multilaterais

Inflação dos alimentos: a nova crise mundial

QuedadopresidentenoHaiti,panelaçosnaArgentina,protestosmarcadospormortesnoEgito,CamarõeseMoçam-bique.Oseventoscitadostêmemcomumumarazão:sãoexemplosdaondadetensõeseconflitosgeradapelaelevaçãodospreçosdosalimentosemtodoomundo.

Mundial, os líderes de três instituiçõesdepesonocenárioeconômicoalertaramparaanecessidadedeestudarofenômenodo aumentonos preços dos alimentos eadvertiram para os riscos envolvidos: oSecretário-GeraldasNaçõesUnidas,BanKi-Moon,oPresidentedoBancoMundial,RobertZoellick,eoDiretordaOrganiza-çãoMundialdoComércio(OMC),PascalLamy,mostraram-sepreocupadoscomopotencialsurgimentodeumanovageraçãoprivadadoacessoaalimentos.

Mais recentemente, naConferência daFAOparaaAméricaLatinaeCariberea-lizadaemBrasíliaentre14e18deabrilenareuniãodeprimaveradoFundoMone-tárioInternacional(FMI)eBancoMundial(BIRD),adiscussãodotemaacirrou-se:foipermeadapordeclaraçõesmaisveementeseacusaçõesporpartedealgunsdelegados.ODiretor-Gerente do FMI,DominiqueStrauss-Kahn,observouqueaescaladadospreçoscolocaemriscooquefoialcançadopelos países em termos de controle deinflação, alémde ameaçar a estabilidadepolítica.NaConferênciadaFAO,orelatordaONUparaodireitoàalimentação,JeanZiegler, apontou o uso e a produção debiocombustíveiscomofatorprimordialnoaumentodepreços,qualificandoosprogra-masdeincentivoàproduçãocomocrimecontraahumanidade.

Apesardoataquegeneralizadoaosbiocom-bustíveis, vários especialistas e a própriaFAOreconhecemqueesseéapenasumdosfatoresqueconcorremparaoaumentodospreços1. Em termosdeoferta, asúltimassafrassofreramreduçãoemnívelglobaleos estoquesmundiais encontrarambaixarecorde.Ascolheitasde2005e2006diminu-íram7%emrelaçãoa2004emsetedosprin-cipaispaísesexportadores,querespondempormetadedaproduçãomundial.Aindaqueem2007avalorizaçãotenhapromovidoarecuperaçãodoscereais,osdemaisprodutosagrícolassofreramreduçãoaindamaior.

Asmudanças climáticas também têminfluenciadoaaltanospreçosdosalimentos,aoagravaremascondiçõeseadisponibili-dadederecursosnaturais.Exemplodissosão

O encarecimento dos alimentos, drastica-mente acentuadonaúltimadécada, temalarmadotantoapopulaçãoquantodirigen-teselíderesdomundotodo.Contrariandoasprevisõesotimistasdosanos70,quandoa produção agrícola trazia vislumbres deumaeranaqualacomidaseriamaisfartaeacessível,hojemilhõesdepessoasenfren-tammaisdificuldadesparaserviramesa.

Umacaracterísticadistintivadacriseésuauniversalização.SegundodadosdaOrgani-zaçãoparaAgriculturaeAlimentaçãodasNaçõesUnidas(FAO,siglaeminglês),opreçogeraldosalimentosaumentouporvoltade75%desdeaviradadoséculo.Oíndicegeraldepreços elaboradopela instituição tevevariaçãode37%entre2006e2008.Osdadosservemparademonstrarquãobrusca foiamudança frenteaoquadrodeestabilidadedesfrutadonosdecêniosanterioreseexplica,emparte,otomdealarmequepermeiaasmanchetessobreotema.

A elevação doméstica de preços é aindamaisproblemática,jáqueporvezesafetaprodutos sensíveis ao consumo local.NoEgito,porexemplo,opão–alimentobásicodadietanacional–aumentou50%no iníciodoano,obrigandoapopulaçãoa enfrentar filas diárias para comprar oprodutosubsidiadopelogoverno.

Oquedistingueasituaçãoatualdavolati-lidade normal do mercado é o fato de pra-ticamente todas as principais commodities alimentares sofreremaumento, somadoàtendênciadecontinuidadenaelevaçãodospreçosmesmoapósadissipaçãodoscho-quesdecurtoprazo.Asprevisõesnãosãoanimadoras.ParaJosetteSheeran,diretoradoProgramaMundialparaAlimentação(WFP,siglaeminglês),ospreçosdevemcontinuarasubiraté2010.AestimativadaFAOparaaestabilizaçãoéaindamenosotimista:2017.

Tema em pauta: causas em focoApreocupação como problema ganhoudestaquenasreuniõesdosfórunsmultilate-raiseregionaisdesseano.EmDavos,Suíçadurante a reunião do FórumEconômico

asfortessecasnaAustráliaenaArgentina–doisgrandesexportadoresdetrigo–,quecontribuírampara a reduçãodaofertadoprodutonomercadomundial.

Areduçãononíveldosestoquesmundiais,especialmente de cereais, também tem impacto significativo nomercado. Taldeclínio,commédiaanualde3,4%desde1995,decorreemgrandemedidadapróprialiberalizaçãodo comércio – daí coincidircom a conclusão daRodadaUruguai doGATT.Emdecorrênciadessaabertura,osestoquesforamafetadospeloaltopreçodearmazenamento de produtos perecíveis,peloaumentononúmerodepaísesaptosaexportarepelosavançosnastecnologiasde comunicação e transportes. Com osestoques baixos, o impacto causadopelareduçãoprodutiva–comoocorridoem2005e2006–émaior,jáqueospreçostendemasofrermaiorvolatilidade.

Oaumentonopreçodoscombustíveisedos fertilizantes também contribui para a elevaçãodoscustosdeproduçãoagrícola.Osadubos,querespondempor25a30%docustototal,sofreramvariaçãode150%nos últimos cinco anos. Além disso, ocusto de transporte das commodities é outrofatorquepesafrenteàescaladanopreçodopetróleo,cujobarril,quecustavacercadeUS$30em2003,hojeultrapassaacasadosUS$100.

No lado da demanda, é significativa ainfluênciadoconsumodospaísesemer-gentes–comdestaqueparaChinaeÍndia–namodificaçãoestruturaldaprocuraporalimentos.Essaspopulaçõestêmvistoseuníveldevidaelevar-se,oquetransformaopadrãodeconsumoe,conseqüentemente,aestruturadademandamundialporgêne-ros alimentícios.Omaior consumo decarneelaticíniosafetaexponencialmentea demanda por cereais, principal insumo naproduçãoderação.Paracadaquilodecarne bovina produzida são necessários8,5quilosdecereal;paraasuína,de5a7 quilos.A expressiva participação daseconomiasemergentesnoconsumomun-dialtem,assim,afetadoarelaçãoentreosdiferentestiposdeprodutos.

11 abril 2008 - PONTES

Outros temas multilaterais

Soma-seaissoacorridaespeculativaemtorno do mercado de commodities:dianteda crise estadunidense e da contínuadepreciaçãododólar,osmercadosdecafé,trigo,sojaeoutrosprodutosbásicostêmservidoderefúgioaocapital.Investidorestambém apostamna expansão dos bio-combustíveisquandobuscamaplicaçõesem commodities, corrida que colaboraparaofechamentodociclodevalorizaçãodosgênerosalimentícios.

Quanto aos biocombustíveis, se é dis-cutível sua alardeada condição de vilãodoaumentonospreçosdosalimentos,éinegávelqueelesdetêmumaparceladecontribuiçãoaofenômeno.Oincrementono uso desse tipo de energia promovedemandaextraporcereaiseóleosvegetais,quelheservemdeinsumo.Some-seaissoa competição por terra, água e recursosentreessescultivoseosdeoutrosgêne-rosalimentícios.Essessãoosfatoresqueensejaramascríticaslançadasnosfórunsmencionadosàspolíticasgovernamentaisdos Estados Unidas da América e da União Européia(UE)–asquaisestipulamametade participação dos biocombustíveis em10%desuamatrizenergética.

A despeito da polêmica que cerca ousodos biocombustíveis e amedida de suacontribuição para o aumentonos preçosdos alimentos1,especialistasressalvamqueaproduçãodessafonteenergéticatambémsofrecomainflaçãodascommodities, jáque constituem igualmente suamatéria-prima.Uma segunda causa apontada sãoossubsídioseincentivosgovernamentais,semosquaisaproduçãoapenasémantidaconforme seja lucrativa em relação aopetróleo.Issodependenãosódavariaçãodesteúltimo,mastambémdoprópriocustorepresentadopelosinsumosagrícolas2.

Repercussões: os diferentes interesses envolvidosAvalorizaçãodascommodities agrícolastemefeitosdistintosparaosdiversosato-res.Paísesexportadorespodembeneficiar-se da situaçãomundial, bemcomo seusprodutores.O FMI, em suas propostas,destaca o potencial de desenvolvimentorepresentadopelaatualconjunturaesugereapromoçãodaagroindústriacomoformaassociadademaximizaraspossibilidadesdelucropropiciadaspelomercado.

OBrasiléumdospaísesquesebeneficiamcomoaumentodospreços.Sobainfluência

defortedemanda,apróximasafracaminhaparaum recordehistórico, comcolheitaprevistade140milhõesdetoneladas,oquerepresenta aumento de 6,8%em relaçãoao ciclo anterior.Omilho é o principalmotor do incremento e seu aumento de 9,5% responde ao desvio da produçãoamericana para o etanol.A soja, porém,continuasendoocarro-chefedaproduçãoeexportação,comprojeçãode60milhõesde toneladasa seremcolhidasnoano.Oarroz,cujospreçosestãoemfrancaascensãonomercado internacional, temprojeçãode elevação de 5,7%, o que significa 13milhõesdetoneladas.

Aproduçãobrasileiraé30%maiordoqueoconsumointerno,dadoquerefleteatradi-cionalvocaçãoexportadoradopaís.Poressemotivo,oBrasiltemsidoapontadocomoumadaspossíveissoluçõesàcrise.Umadassugestõespararealizaçãodessepotencialéareversãoparaproduçãodegrãosdeterrashoje destinadas à pecuária. Isso poderiaser feito sem implicarna diminuiçãodorebanhoseaatividadetomarformamaisintensiva,ouseja,peloaumentodonúmerodecabeçasporhectare.

Nemtodosospaíses,porém,vislumbrambenefícioscomoaumentonospreçosdosalimentos.Paraospaísesdemenordesen-volvimentorelativo (PMDRs)quedepen-demdaimportação,asituaçãoéopostaàdosPDs: o aumentodos preços agrava adependênciaegeracrisesdedesabasteci-mento e tensão social3.

Adisparidadedepercepçãodasvantagensnão se dá apenas entre diferentes paísesou setores de comércio, mas também tem reflexosinternos.Mesmonospaísesbene-ficiadospeloincrementonasexportações,os consumidores por vezes são afetadospelacarestiadosalimentos.NoBrasil,porexemplo,emcontra-pontoaosganhosdosetorprodutoreexportador,oconsumidorenfrentainflaçãonasgôndolas.Oarrozeofeijão,queformamabasedadieta,ficaram168%e21%maiscaros,respectivamente,emapenasummês.

Em locais onde boa parte da renda per capitaégastacomalimentação,avaria-ção dos preços traz impactos nefastossobreopoderdecompradapopulaçãoearrastamaispessoasparabaixoda linhadepobreza.NoHaiti,porexemplo,ondeamaiorpartedapopulaçãovivecomcercadeUS$2pordia,arevoltaprovocadapelaescassezecarestiadecomidaprovocouarecentequedadopresidente.

Acuados com a perda de popularidade decorrente da dificuldade de abasteci-mento,váriospaísestêmadotadomedidaseconômicasecomerciaiscomafinalidadedecombateroproblema.Elasconsistememvariaçõesoucombinaçõesdecontroledepreços,restriçõesàexportaçãoeincentivoàimportaçãodeprodutosbásicos,bemcomosubsídiosàproduçãoeaoconsumo.Maisde30paísesrecorreramaessesmecanismos,entre elesVenezuela,Argentina,Rússia,Ucrânia,ChinaeÍndia.Muitasdasmedi-dastêmsériasrepercussõessociais,comoadosprodutoresargentinosquereagiramfortementeàsretençõesàexportação,sen-timentorecentementerefletidoemgrevesepanelaçosnacapital4.

Asmedidasmodificam a equação tradi-cionaldoprotecionismoagrícolanoquetoca ao comércio internacional, em certo aspecto na direção idealizada no bojodos tratados da OMC, como a abertura a importações.Ainda assim, relatórios doBancoMundial e da FAO alertam paraos efeitosmeramente paliativos de taisrecursos.Asrestriçõesàexportaçãosãoasmaiscriticadas,soboargumentodeacar-retaremaindamaiorpressãoinflacionárianomercadoeimpediremaadaptaçãodaprodução,emmédioe longoprazo,pararesponderàdemandaexterna5.

Emcontrapartida,nosprincipaisfórunsmultilaterais as propostas têm sidodirecionadas de modo a promover o

A produção brasileira é 30% maior do que o consumo interno, dado que reflete a

tradicional vocação exportadora do país.

Por esse motivo, o Brasil tem sido apontado como

uma das possíveis soluções à crise.

PONTES - abril 2008 12

Outros temas multilaterais

potencial agrícola das regiões aindasubaproveitadaseotimizartodaacadeiaprodutivaecomercialpara fomentaracapacidadederespostanoladodaoferta.Emrelaçãoàdemanda,sugere-sequeassubvenções,reconhecidamentepaliati-vas,sejamdirecionadasaossetoresmaisvulneráveisdapopulação6.

Pressões sobre a Rodada DohaAproblemáticadospreçosdosalimentostambémrepercutiusobreasexpectativasem relação ao avanço daRodadaDohadenegociaçõescomerciaisdaOMC.OssubsídiosconcedidosporPDsaseuspro-dutoresforamnovamentecolocadosemfoco,sobaacusaçãodedesestimularemaproduçãoemPEDsePMDRs,ondeessaémaiseficiente.

A conjuntura atual, contudo, tende afavorecer o desbloqueio das tratativas,segundoalgunsanalistas.IssoaconteceriaporqueosPDsestariammaisinclinadosa abrir mão do apoio doméstico diante do patamar elevado dos preços inter-nacionais dos produtos agrícolas. Taisprognósticos, porém, ainda não foramverificadosemGenebra,ondeamaioriados delegados não acena commudançaemsuasposturastradicionais.

Vários países, porém,manifestammaiorpreocupação com a liberação diante doatualcenário.Elesalegamquemaioraber-tura,semantidososatuaisníveisdesub-sídios,resultariaemprejuízoaindamaiorà produção local. Eles sustentam, ainda,queacompetiçãocomosprodutossubsi-diadosdosPDsenfraqueceriaacapacidadedeofertalocal,oquecomprometeriaaindamaisasegurançaalimentar.

Frente a esse quadro, a governança docomércio internacional parece desconec-tadadarealidadenoquetocaaregulaçãopara os gêneros alimentícios. Jean-PierreLehman, do Instituto deAdministraçãodeLausanne,SuíçadefineaRodadaDohacomoumgrupodepaísesbloqueadosemposiçõestáticasepolíticasrígidas,incapa-zesdeflexibilidade,enquantoarealidademudadramaticamente.

Assim, a esperançamanifestadaporPas-calLamy,no encontrodoFMI, dequeocomércio volte a desempenhar o papelassumidonaúltimacriseasiática–fontedeestabilidadeparagovernos,corporaçõese consumidores – ainda parece distante.

agenda Multilateral oMc*

21 e 23.05.08 Reunião do Órgão de Revisão de Políticas Comerciais – China

22.05.08 Reunião do Conselho sobre Comércio de Bens

09 e 11.06.08 Reunião do Órgão de Revisão de Políticas Comerciais – Estados Unidos da América

17-18.06.08 Reunião do Conselho sobre Aspectos Relacionados ao Comércio da Propriedade Intelectual

24.06.08 Reunião do Órgão de Solução de Controvérsias

25 e 27.06.08 Reunião do Órgão de Revisão de Políticas Comerciais – Oman

25-26.06.08 Reunião do Comitê sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias

30.06.08 Início da Semana de Genebra

*TodasasreuniõesocorrerãoemGenebra,Suíça

Restaseuapeloàboa-vontadepolíticadosMembrosdaOMCparaqueaconclusãodaRodadasejaaomenosvisível.

Masaindaqueaviacomercialpossibiliteaeliminaçãodasdistorções,essanãoseráa única resposta aomanejo da crise.Asituaçãoémuitomaiscomplexaerequermedidas em todas as esferas. AONU,reunindosuas27agências,buscaexpandirseusprogramasdeassistênciaeestimularaproduçãoagrícola.Oproblema,porém,teminúmerasimplicaçõespolíticas,sociaise econômicas: perpassa antigasquestões,comodesigualdadederendaemáalocaçãoderecursos,etambémpreocupaçõesrecen-tes,comoasmudançasclimáticas.Políticaspúblicasnacionaiseinternacionaisterãodelevaremcontaasvariadasfacetasdanovacrise se pretenderem combater a fome e evitarqueelaseestendaaindamaiscomoaumentonospreçosdosalimentos.

1OrelatóriodaFAO,Crescimentodademan-dasobreagriculturaeelevaçãodospreçosdascommodities, ressalta quenenhumfatorpodeser identificado comoomaior responsávelpelaaltanospreços.Atéomomentoseriaim-possívelfazerumaavaliaçãoquantitativadacontribuiçãodosfatoresquetêminfluenciadoofenômenonosúltimosanos.2JaneEarleyéumadasanalistasquedefendemessa posição, sustentadano trabalhoBiofu-els: Food vs. FuelRevisited, publicado emBridgesMonthlyReview,No.2,Ano12,mar.2008.Disponívelem:<http://www.ictsd.org/monthly/bridges/BRIDGES_12-2.pdf>.3SegundodadosdaUNCTAD,aprevisãodeaumentonafaturadeimportaçãodecereaisédeU$6,5biparaU$14,6biparaaÁfrica,U$7biparaU$15,4binaÁsia,emcomparaçãoentre2002/03e2007/08.4Paramaisdetalhessobreareaçãodosprodu-tores agropecuários argentinos àsmedidasrestritivas impostas pelo governo, verPon-tesQuinzenal,Vol.3,No.6,31mar.2008.Disponível em:<http://www.direitogv.com.br/subportais/publica%C3%A7%C3%B5e/PQ_3-6%202.pdf>.5Acaracterísticacomumatodasasmedidascitadaséqueelasterminamporprejudicarosagricultoreseproverproteçãoindiferenciadaelimitadaaconsumidores,semdirecioná-lasaos gruposmais afetados, segundo estudorelatadonotrabalhoFighting food inflationthrough sustainable investment, do BancoEuropeu paraReconstrução eDesenvolvi-mento.Disponível em: <http://www.fao.org/newsroom/common/ecg/1000808/en/FAOEBRD.pdf>.6Partedessaspropostastomacorponopro-gramalançadapeloBancoMundial,chamado“NewDealalimentar”.Paramaioresdetalhes,ver BancoMundial lançaplano alimentar, PontesQuinzenal,Vol.3,No.7,14abr.2008.Disponível em:<http://www.direitogv.com.br/subportais/publica%C3%A7%C3%B5e/PQ_3-7.pdf>

13 abril 2008 - PONTES

A União Européia (UE) e os Estados Uni-dosdaAmérica(EUA)tentaramassegurarqueaimplementaçãodaspropostasparaaumentoderecursoshumanosefinancei-rossomentesejapossívelseinformaçõescompletas quanto a suas implicaçõesestejamdisponíveis.

Diversas organizaçõesda sociedade civilpedirammaior transparênciaeequilíbrionas atividades de assistência técnica daOMPIeapresentaramsugestõesparaumaaproximaçãodesuasatividadesdepreocu-paçõesdeinteressepúblicoedeaspectosda propriedade intelectual relacionados ao desenvolvimento(comoacessoaoconheci-mentoeexpansãododomíniopúblico).

Conclusões definitivas sobre propostas específicas: sem avanços

O exame das propostas concretas teveum lento progresso. Depois de umalonga discussão sobre procedimentos emetodologiadetrabalho,apenasseisreco-mendaçõesforamdiscutidasemdetalhe– todas relativasaassistência técnicaecapacitaçãoinstitucional.

Aspropostaspediam:• que a assistência técnica da OMPIsejadirecionadaaodesenvolvimento,mo t i v a d a p e l a d eman d a e atransparência, com atenção aosdiferentesníveisdedesenvolvimentodosMembrosdaOrganização;

• a concessão de fundos adicionais àOMPI, o estabelecimento de fundosespecíficosdeajudaapaísesdemenordesenvolvimento relativo (PMDRs) eamanutenção da alta prioridade dasatividadesdefinanciamentonaÁfrica,asquaispromovemaexploraçãolegal,comercial, cultural e econômica dapropriedadeintelectualnaregião;

• obrigatoriedade, por parte daOMPI,de publicar em sua página eletrônicainformações gerais sobre todas asatividadesdeassistênciatécnica,além

AAssembléiaGeral daOMPI aprovou,emsetembropassado, 45 recomendaçõesquebuscavam tornar o desenvolvimentooobjetivo central daOrganização.Nessesentido, foi enfatizada a necessidade de uma mudançadefocoemrelaçãoàcompreensãodosdireitosdepropriedadeintelectual:maisquegarantidoresdedireitosprivados,cadavezmaisfortes,taisdireitosprecisampassaraseremvistoscomoeficazesinstrumentosparaapromoçãodeinovaçãoedetransfe-rênciaedisseminaçãodetecnologia.

Dezenovedaspropostasqueversamsobreaagendaparaodesenvolvimentosugeremsuaimplementaçãoinstantânea;aopassoqueas26restantesacreditamqueaagendasó deve ser implementada após estudosmaisaprofundadossobresuasimplicaçõeshumanas e financeiras. Foi criado umComitêsobreDesenvolvimentoeProprie-dade Intelectual, que temcomoobjetivomonitoraraevoluçãodaspropostasdeaçãoeabrirocaminhoparareformasfuturas.

Areunião inauguraldoComitê,ocorridaemmarçodesteano,foiaprimeiraopor-tunidadedeavaliaçãodoníveldecompro-metimentodosMembrosdaOrganização,emespecialnoquetangeaessamudançadeculturainstitucional.

Antigas divergências ainda persistemOsdiscursosevidenciaramasdiferentesperspectivas entre aqueles a favor e oscontráriosàagendadedesenvolvimento–essesúltimosmuitocautelososquantoareformasmaisprofundas.Ospaísesemdesenvolvimento(PEDs)–emparticularoGrupoAfricanoeoGrupodeAmigosdo Desenvolvimento – destacaram aimportânciadessafasedeimplementa-ção.AÍndiaressaltouqueodesafiomaioréestabelecerodesenvolvimentocomoaprincipaldimensãodetodasasatividadesdaOMPI.VáriosPEDsenfatizaramqueocomitêdeveriaencararodesafioapartirdeumaperspectivaholística,propondotomadadeaçõesemrelaçãoa todasas45recomendações.

de fornecer aos Membros detalhes de atividadesespecíficas;

• colaboraçãodaOMPIcominstituiçõesdepesquisaeempresas,demodoaauxiliarPEDsaestabelecerembancosdedadosmaiseficazesparabuscasdepatentes;

• criação, por parte daOMPI, de umbancodedadosqueatendanecessidadesespecíficasdosPEDs,deformaasuperarabarreiradigital;e

• assistência aosMembros na área deinfra-estrutura, demodo a garantirmaioreficiênciadosinstitutosnacionaisdepropriedade intelectualepromovermaior equilíbrio entre proteção einteressepúblico.

Antesdapróximareuniãodocomitê,pre-vistaparajulho,osecretariadodaOMPIdeveavaliarospedidosde recursoshumanosefinanceirosparaaimplementaçãodasativi-dades propostas, bem como outras recomen-dações.Consultasinformaisserãorealizadasparatal.Emjulho,osecretariadotambémdeveelaborarumrelatóriosobreaevoluçãodas19propostasde“açãoimediata”.

Ênfase em objetivos, não em processosNareuniãodemarço,diversosdelegadosafir-maramnãoestarsuficientementepreparadosparaapresentarsugestõesconcretasàimple-mentaçãodasrecomendações,sobaalegaçãodeumprazomuitocurtoentreadivulgaçãodosdocumentosiniciaiseoencontro.

Asdeliberações,portanto,centraram-senasatividades propostas para o secretariado,oquemuitosPEDsacreditaramserumaopção restrita de atividades previamenterealizadas ouplanejadas.Amaior críticafoiofatodetaisatividadesnãoteremclararelação como objetivo de construir umsistema de propriedade intelectual mais equilibrado, inclusivo e orientadopara odesenvolvimento – propósito central detodasasdiscussões.

OBrasilafirmouqueatarefadocomitênãodeveriaseraentregadeum“certificadode

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organização Mundial da Propriedade Intelectual: luta pelo desenvolvimento ainda é tímidaOsMembrosdaOrganizaçãoMundialdaPropriedadeIntelectual(OMPI)avançaram(aindaquetimidamente)rumoàimple-mentaçãodeumaagendadedesenvolvimentonoâmbitodainstituição.Verifica-se,entretanto,umafrustraçãocrescentedevidoàausênciadeprogressossignificativosemmatériadeproteçãoarecursosgenéticoseconhecimentotradicional.

PONTES - abril 2008 14

IGC.Países daAméricaLatina,Caribe eÁfricaafirmaramqueseriamaisapropriadoconcentrar as discussões em expressõesculturais tradicionais, visto que as deli-berações sobre esse tópico encontram-semais adiantadas.OsMembros acabarampor concordar que a próxima reunião doIGCnãooferecerá tempo suficienteparaadiscussãodostemasrecursosgenéticos,conhecimentostradicionaisefolclore.

Logonoiníciodareunião,oIGCaprovouocredenciamentodeváriosgruposindígenaseorganizaçõesnão-governamentais(ONGs).

Aparticipaçãodecomunidadesindígenastornou-se um elemento importante das discussões. Esta foi a primeira sessãodoICGapósaONUteradotadoumaDecla-raçãosobreDireitosdosPovosIndígenas,que reconheceuodireitode taispovos amanter,controlar,protegeredesenvolversua herança cultural, conhecimentos eexpressõesculturaistradicionais.

Faltam ainda discussões substanciaisApesardeestaremdeacordoquantoaregrasprocedimentais, vários delegados admiti-ramsuafrustraçãodiantedaausênciadediscussões substanciais.Diversos repre-sentantes–tantodepaísesdesenvolvidosquantodePEDs–notaramainexistênciadeevoluçõesperceptíveisquantoaposiçõesjáconhecidaspeloComitê,duvidandoqueestudosadicionaispudessemlevarasdis-cussõesaumtérmino.DelegadosdePEDsconsultadospelaequipedoInternational Centre for Trade and Sustainable Develo-pment (ICTSD)emGenebramostraram-sepreocupadosquantoàverdadeiramotivaçãoportrásdarecentemudançadeposiciona-mentodaUE,queagorapressionaparaaanálisedotemarecursosgenéticos.Teme-sequetalmudançanãosejamotivadaporumacrençaverdadeiranaOMPI,comoainstânciaapropriadaparaalcançarsoluçõesefetivasquantoàbiopirataria,massimpelointeresseemdesviarosesforçosdosPEDsde mudar os critérios de patenteabilidade noâmbitodaOMC.

ApróximareuniãodoIGC,queocorreráentreosdias13a17deoutubropróximo,deveráconsideraracriaçãodemecanismosperma-nentespara fazeravançarasdiscussõesdemaneiramaisestruturadaeconcentrada.

Tradução e adaptação de artigo originalmente publicado em Bridges Monthly Review, Ano 12, No. 2, março de 2008.

Demodo geral, osPEDs ricos embiodi-versidadeentendemqueaelaboraçãoeaadoçãodeumtratadosobreessamatériaseriamaconclusãológicadotrabalhodoComitê. Países industrializados – comoEUA, Japão eCanadá – opõem-se a essavisão.Durante a reuniãode fevereiro doIGC,taispaísescontinuaramasustentarqueumaanálisemais aprofundada sobrea relação entre propriedade intelectual erecursos genéticos, conhecimentos tradi-cionaisefolcloreserianecessária.

OsPEDs, por outro lado, reforçaramseupedidodenegociaçãodeumtratadolegal-mentevinculante.OGrupoAfricanosugeriuoestabelecimentodeumgrupodeespecia-listasquetivessecomofocoexclusivoajudarosMembrosachegaremaumconsenso.Asugestãofoimuitobemrecebidaeconside-radaumbompontodepartidaparaapróximareuniãodoComitê.Nogeral,contudo,houvepoucadiscussãosubstancial.

AÍndiaafirmouqueasexperiênciasdomés-ticaseasvisõesnacionaisdosMembrosjáeram suficientemente conhecidas, sendochegadaahoradeexploraroportunidadesparaaconclusãodasnegociações.OBrasildeclarouqueasdiscussõesdeveriamsupe-raroplanodosdiscursos.

Análise de divergências: alguma esperança?Diantedoimpasse,osMembrosdaOMPIconcordaramemconduzir uma“análisede divergências”, demodo a identificarpontosdediscordâncianostemasconheci-mentostradicionaiseexpressõesculturaistradicionais.Aomesmotempo,procuramreorientaroIGCquantoaostemassobreosquaisjáexisteconsenso.

Taisanálisesdevemdescreverasobriga-çõesinternacionaisexistentesepossibili-dadesdeproteção.Consideraçõesrelevan-tesdevemidentificaromelhortratamentopara as divergências existentes e definiropçõesparasuapossívelsuperação.

Os documentos serão disponibilizados pelo secretariadodaOMPInodia31demaiopróximo.OsparticipantesdoIGCterãoaoportunidadedecomentarosesboçosdosdocumentosatéofinaldejunho.Versõesfinais serão publicadas até meados de agostoparaanáliseemoutubrodesteano.

Devido a limitações temporais, recursosgenéticosnãoforamdiscutidos.AUEsuge-riupriorizarotemanapróximareuniãodo

Outros temas multilaterais

conformidadecomaagendadodesenvol-vimento”,massimacriaçãodepropostaspara trabalhos futuros.Umdelegado dogrupoAmigosdoDesenvolvimentomos-trou-sereceosoqueasdeliberaçõessobreaagendadodesenvolvimentoenvolvessemdiscordâncias conceituais sobre temascomo recursos genéticos, conhecimentostradicionais e folclore. Embora tenhareconhecidoqueosprogressosdomêsdemarço foram limitados, outro delegado,representante de umpaís desenvolvido,afirmouque a implementaçãoda agendaparaodesenvolvimentodeveria servistacomoumprocessodelongoprazo.

Recursos genéticos: busca de novas soluçõesAreuniãodoComitêInter-GovernamentalsobrePropriedade Intelectual eRecursosGenéticos,ConhecimentoTradicionaleFol-clore(IGC,siglaeminglês),ocorridaaofinaldefevereiro,alcançouprogressosmodestos.

OComitêfoicriadoem2000paradelibe-rarsobreapropriaçãoindevidaderecursosgenéticos, conhecimento tradicional efolclore,questõesaindanãocobertaspeloatualsistemainternacionaldeproteçãoàpropriedadeintelectual.Aregulamentaçãodoacessoarecursosgenéticosedeconhe-cimentos tradicionais e os conseqüentesbenefícios econômicos advindos de suautilização também está sendo discutidano âmbito daConvençãodaONUsobreDiversidadeBiológica(CDB).

Emcadaumadessasinstâncias,opontomais controverso diz respeito ànecessi-dadedeumacordo internacional vincu-lanteesuaabrangência.

Os impasses persistem

MuitosvêemocomitêdaOMPIcomoumatentativadedesviarocalordasdiscussõesdaOrganizaçãoMundialdoComércio(OMC),ondeháumacrescentepressãoporpartedosPEDsparaalteraroAcordosobreDireitosdePropriedadeIntelectualrelacionadosaoComércio(TRIPS,siglaeminglês).Taispro-postasvisamobrigarospedidosdepatentesainformarquaisqueraspectosrelacionadosarecursosgenéticosouconhecimentostradi-cionaisqueguardemrelaçãocomainvençãoemquestão.O próprio IGC, entretanto,enfrentouumimpassequantoànecessidadede um instrumento internacional para a proteçãodetaisrecursos,conhecimentoseexpressõesculturaisdepovosindígenasououtrascomunidadeslocais.

15 abril 2008 - PONTES

OMC em focoAnálises Regionais

Biomassa tropical e o mercado global de biocombustíveisFrancis Johnson*

Aprodutividademédiadabiomassaculti-vadaemclimas tropicais e subtropicais émais de cincovezes superior à biomassaproduzidaemregiõesdeclimatemperadodaEuropaeAméricadoNorte.Aomenosemteoria,essefatodeveriaconferirPEDsumaextraordináriavantagemcomparativa.

Noentanto,amaioriadosfundosdepes-quisaedesenvolvimentoexistentes,bemcomoumaquantidadeconsideráveldesub-sídiosdiretos,sãoconcedidospelaUniãoEuropéia(UE)eAméricadoNorteparaaproduçãodebiomassaemseusterritórios.Assim,atecnologiaeavastainfra-estruturacompensam,emgrandemedida,asdesvan-tagensnaturaisdessasáreas.

Existemdistinçõesfundamentaisentreosrecursosbioenergéticosdeorigemtropicaleaquelesdeorigemtemperadanoquetangeaosrecursosnaturaisquelhesservemdebase, à produtividade física, à tecnologiaa ser empregada e à disponibilidade decapital.TaisdistinçõesjustificamofatodeocomércioNorte-Suldebiocombustíveisservircomomecanismoparaalcançarapro-dutividadedabiomassatropical–desdequeocomérciosejajustoeeqüitativo–,umavezquepodepromoverodesenvolvimentosustentável e gerar benefícios emescalaregionaleglobal.Paraentenderocontextodocomérciodebiocombustíveiseseupapelpara o desenvolvimento sustentável, énecessárioreveralgunsprincípiosbásicoseavaliaraatualsituaçãodautilizaçãodabioenergiaedabiomassa.

Uso da biomassa na atualidadeDo total de toda energiaprimária consu-mida nomundo, 11% são respondidospelabiomassa–oqueémaisdoquetodasas outras fontes renováveis e a energianuclear consideradas conjuntamente.Oscombustíveis fósseis continuam a res-ponder por impressionantes 80% dessetotal.Abiomassaéafonterenovávelmaissignificativano seu grupo: 80%do total

tornou-seumagrandesimplificação,poisignoravaopapeldasinstituiçõesinformais.Comunidadeslocaisquedetinhamocon-trolesobreseusprópriosrecursosnormal-mente contavam comumapronunciadahabilidade para implementar costumes e instituições informais que preservassemterrenoseflorestasparautilizaçãofutura.

Biomassa e subsistência

Éimportanteanalisarabioenergiadentrodoquadrogeraldosrecursosdebiomassa,levandoemconsideraçãoocontextosocio-econômicodascomunidadesafetadas.Osbenefíciosdosdiversostiposdeutilizaçãodebiomassasãofrequentementeresumi-dosemtermosdealimentaçãohumana,ração animal,fibras e combustíveis (eminglês, os “4Fs”: food, feed, fiber, fuel).Ainda que essa divisão seja demasiada-mente simplificada, a biomassa afeta funções e serviços essenciais e interco-nectados,dentreosquais,destacam-seamoradia,materiaisemgeral,manutençãodebiodiversidade,integridadedeecossis-temas,ciclosdenutrientes,qualidadedaágua,controledeerosãoelazer.Agestãoeautilizaçãocorretadabiomassaedabio-energiatambémajudamadelinearopapeldos cidadãos e das comunidades como agentesquedevemserresponsáveispelosrecursosdeixadosàsgeraçõesfuturas.

Odesenvolvimentodeestratégiasdebioe-nergiapararegiõesespecíficasdeveriaserbaseadoemprioridadessócio-econômicas,considerandoosrecursosnaturaisdisponí-veiseaparceladetaisrecursosquepodeserempregadaparaobterbioenergia.Aanálisedetemasmaisamplosdeveincluirauti-lizaçãoderecursosdebiomassaparacriar,mantereexpandirmeiosdesubsistênciasustentável à população do local, bemcomoadeoutroslocaisqueestejamsocial,econômicaeecologicamentevinculadosataiscomunidades.

Ian Scoones, do Instituto de Estudos doDesenvolvimento da Universidade de

Abiomassarepresentahoje11%dototaldetodaenergiaprimáriaconsumidanomundo,suaprodutividadenaturaléestimuladapornovastecnologias,entretanto,variamuitoentreogrupodepaísesdesenvolvidos(PDs)eospaísesemdesenvolvimento(PEDs)eaolongodahistória.

mundial.Asoutrasfontesrenováveis,comoohidrogênio,representammenosde3%dototaldaenergiaconsumida.Estima-sequeabioenergiamoderna (comoobioetanol,biodieselebiogás)superaráautilizaçãodohidrogênionospróximosanos,dadooele-vadograudecrescimentodautilizaçãodebiomassasólidaelíquida,alémdarelutânciadealgumasregiõesdomundoemaceitarautilizaçãodohidrogênioemlargaescala.

Usos tradicionais da biomassaMais de 80% da utilização de energiaoriunda da biomassa ocorre combaixosníveisdeeficiência,geralmenteemcozi-nhas, calefação e iluminação. Essa fonteé utilizada pormais de dois bilhões deconsumidores,quedependemdoempregotradicionaldaqueimadebiomassaporquenãotêmacessoaserviçosmaismodernosdeenergia.Adependênciadoempregotra-dicional de biomassa na África sub-Saariana émais intensadoque emoutras regiõesdomundo.Osimpactosdafaltadeacessoafontesmodernasdeenergiasãosentidosdediversasmaneiras:osefeitosdapoluiçãodomésticapodemserfatais,aquantidadede tempoempregadapara recolher lenhaégrandedemaiseosserviçosdesaúdeeeducação são comprometidos pela faltade fornecimentodeenergia, entreoutrosproblemas. Combustíveis renováveismenospoluentesemaisseguros,comoogel combustível, feito a partir do etanol,têmsidopropostoscomoumasoluçãoaosproblemasdesaúdeesegurança.

Odesflorestamento observado emPEDsdurante os anos 70 foimajoritariamenteatribuído,emumprimeiromomento,aoconsumo doméstico de lenha e carvãovegetal.Contudo, pesquisas posterioresdemonstraramqueseuprincipalcausadorfoi a indústria, que vendia amadeira eutilizavaaterraparafinsagrícolas.Alémdisso,anoçãodequeascomunidadeslocaisacabariam por gerar uma “tragédia doscomuns”emseuusoderecursosflorestais

PONTES - abril 2008 16

Análises regonais

Sussex, noReinoUnido, aponta váriosindicadoresdesubsistência,emtermosdemelhoriadocapitalsocial,daqualidadedotrabalho e da garantia dadisponibilidadefuturaderecursosnaturais.

• Criaçãodediasdetrabalho;

• Reduçãodepobreza;

• Bemestarecapacidades;

• Ad ap t a ç ã o d o me i o d e v i d a ,vulnerabilidadeeresiliência;e

• Sustentabilidadedosrecursosnaturais.

A bioenergia geramuitomais empregosdoquequaisqueroutras fontesenergéti-cas–renováveisounão.Alémdisso,taisempregossãocriadosprincipalmenteemáreasrurais,ondeapobrezaémaisintensae, portanto, podem ajudar a reverter amigração aos centros urbanos. Émaisdifícil tratar dos impactos da bioenergiaquantoaosoutrosquatro indicadores.Arápidadegradaçãodasflorestasedosolopara lucros de curto prazo certamente não contribuiàmelhoriadevidadaspessoas,masestratégiasdecrescimentocuidado-samente executadas podemnão apenaspreservar os recursos naturais,mas emalgunscasos,incrementá-los.

Potencial bioenergético mundialUm estudo realizado em 2004 por Edward Smeets, daUniversidade deUtrecht, naHolanda,concluiuqueopotencialdebio-energia daÁfrica sub-Saariana – levandoemconsideraçãoaproduçãoalimentareaslimitaçõesdosrecursosdisponíveis–eraomaiordetodasasregiõesdomundo.Oaltopotencialadvémdasimensasáreasagricul-táveisdaregião,atualmenteocupadasporvastas áreas de pastagens, bemcomodabaixaprodutividadeatualmenteempregadanossistemasdeproduçãoagrícola.Estima-tivasdopotencialdebioenergiadelongoprazoparaaregiãopodemservirdelinhasmestrasaodesenvolvimentodeestratégiasparaautilizaçãosustentáveldosrecursosdebiomassa.

É importante notar que tal potencial étécnico-econômico, sendo inevitável quefatores culturais e sociais possam vir arestringirousodealgumasdasterrasparaaproduçãodeenergia.Entretanto,oenormepotencial para bioenergia, descontada anecessidadedeproduçãoalimentar,repre-sentaumasignificativamargemdedesen-

volvimentofuturoparaaregião.Aconcen-traçãodepotencialnaÁfricasub-SaarianacombinadaàfaltadepotencialnaEuropaensejaquestõesinteressantesemrelaçãoaofuturodabioenergia.Nessesentido,aspolí-ticas de bioenergia e biocombustíveis daUEpodemoferecernovasoportunidadesdemercadoaospaísesdaÁfricasub-Saariana,bemcomoaoutrosPED.

Biocombustíveis líquidos

Osbiocombustíveis existemhámais deumséculoeoetanol jáerautilizadosig-nificativamente no início do séculoXX.AntesdaeradopetróleobaratoeduranteconflitoscomoodaIIGuerraMundial,osbiocombustíveisforamreconhecidoscomovaliosasalternativasnacionaisaopetróleoimportado.A retomada do interesse porbiocombustíveisnosúltimosanosdeve-separcialmente a razões similares de segu-rançaenergética.Novos temasdedesen-volvimentoruralemitigaçãodasmudançasclimáticas,contudo,fazemcomqueacausadosbiocombustíveissejamaisatrativa.Osúltimosanostestemunharamuminteressecrescentepeloetanol,eficientesubstitutoaopetróleoparaosetordetransportes.Aproduçãodebioetanolpraticamentedobrouemcincoanos,aopassoqueadebiodieselquadruplicou,aindaqueessaúltimatenhapartidodevolumesmaismodestos.

Entreasváriasopçõesdebiomassaebio-combustíveis,nocurtoprazo,obioetanoleobiodiesel serãoosmaissignificativosparaocomérciointernacional.Noentanto,astendênciasdosmercadosatéapresentedata demonstramuma preferência peloconsumo doméstico, o que se deve pri-mariamenteapreocupaçõesdesegurançaenergética–oúnicograndeexportadoréoBrasil.Ademais,comsubsídiosàproduçãointernanamaioriadospaísesprodutores,ascondiçõesparaummercadointernacionalcompetitivodacommodity ainda não estão presentes.O futuro dos biocombustíveisestávinculadoàreformaagrícolanocasodobioetanol.ObiodieseléclassificadocomoumprodutoindustrialenãoestásujeitoàsaltastarifasdeimportaçãonaUE,EstadosUnidosdaAmérica,entreoutros.

Alimentos versus combustíveisEm função do alto nível de pobreza edesnutriçãodediversosPEDs,verifica-seumacrescentepreocupaçãocomoeventual

comprometimento da segurança alimen-tarporforçadaexpansãodaproduçãodebioenergia.O debate “alimentosversus combustíveis”éutilizadoparadesencorajaro desenvolvimentoda produçãode bioe-nergia,aindaqueacorrelaçãoentreosdoisfatoresnãosejanecessariamentenegativa.Osaumentosdaproduçãodealimentosedecombustíveispodemcaminharjuntos,especialmentequandonovosmétodosdetecnologiaagroindustrialsãoempregados.Alémdisso,noquedizrespeitoaofinancia-mentodeoperaçõesagrícolas,pode-sedizerqueareceitaoriundadaproduçãodebio-energiapode,emalgunscasos,compensarodeslocamentodaproduçãodealimentos.Casoissoocorraemlargaescala,évitalqueasinstituiçõesredirecionemsuaspolíticasereceitasdemodoainvestirnoaumentodaprodutividadeagrícola.

Outrotemaque inevitavelmentesurgirá,emespecialquantoàsregiõesdaÁfricasub-Saariana,éadisponibilidadedeáguaparairrigaçãonaagricultura.Adisponibilidadedeáguaemlargaescalaparaaexpansãodabioenergiatendeaserglobalmenterestrita.Emalgumas regiões, particularmentenaÁfricadoSul,prevê-seumdéficitdeáguaaté 2015 ou 2020.Nas demais regiões,entretanto,jáexisteumvolumerazoáveldeirrigação,demodoqueoprincipaltemadediscussãoseriaadimensãodautilizaçãodairrigaçãoemzonashidrológicasdiferen-tes.Ademais,aindaháespaçosignificativoparamelhoriasna irrigaçãoagrícolaenaproduçãodebiomassa.

Critérios de sustentabilidade

Duranteosúltimos anos, esforços consi-deráveis foramdirecionadosaodesenvol-vimento de critérios de sustentabilidadepara a produção de biomassa e biocom-bustíveis,ambosnocontextodocomérciointernacional.Valereiterarquenãoexistemsoluções-padrãoparabioenergiaebiocom-bustíveis:osimpactossócio-econômicoseambientaisdevemseravaliadosdentrodocontextodossistemasecológicos,culturais,agroindustriaisefundiáriosexistentes,quesãoespecíficosacadaáreaaserconsiderada.Contudo,épossívelestabelecerumalistade critérios de sustentabilidade mais rele-vantesaumprojetodebioenergia.Emestu-dosdecasonaUcrâniaenoBrasil,Smeetsidentificouosseguintescritérios-chave:

• Padrõesdeusodeterras:desflorestamento,concorrência alimentar, proteção dehabitatsnaturais;

17 abril 2008 - PONTES

OMC em focoAnálises Regionais

Em 1996, a empresa nacional de telecomu-nicações boliviana foi semi-privatizada.Metade das ações foram adquiridas pelaitalianaSTET,queposteriormentetransfe-riusuasaçõesàEuroTelecomInternationalNV (ETI,empresacomsedenaHolanda,masquenãorealizaatividadescomerciaisnaquelepaís),filialdeTelecomItália.

Emsuacampanhaderenacionalizaçãodosativos estatais, o Presidente da Bolívia,EvoMorales, focou as atenções de 2007nosetordetelecomunicações.Ogovernoboliviano alegava que a ETI não haviacumpridocomsuasobrigaçõestributáriase de investimentos- pois teria evadidoUS$25milhõesemimpostos e inves-tido somente US$466milhões.AETI,por sua vez, insisteque o montanteinvestidofoideUS$720milhões, o quesuperava seu com-promisso inicial de US$ 620milhões,assumido durante a privatização,enegareiteradamente quet enha s oneg adoimpostos. A empresa questiona: (i) osdecretosquedeterminaramatransferênciadasaçõesaoEstado; (ii)a instauraçãodeumcomitêcomafinalidadedenegociartaltransferência;e(iii)aderrogaçãodacertifi-caçãodequeaempresacumpriucomsuasobrigações.ParaaETI,aaçãodogovernoboliviano caracteriza expropriação, e aeliminaçãodacertificaçãoseriaumatenta-tivadereduzirovalordasaçõesdaempresaantesdesuacomprapelaBolívia.

Comoestratégiadedefesa,em1o de maio de2007ogovernobolivianodenunciouaConvençãoparaaSoluçãodeControvérsiasrelativasaInvestimentosentreEstadose

Bolívia retira-se do cIRDIMax Valverde soto*

AdemandainterpostacontraoEstadobolivianoperanteoCentroInternacio-nalparaaResoluçãodeDisputasRelativasaInvestimentos(CIRDIouICSID,nasiglaeminglês)porpartedeumamultinacionalitaliana,concomitanteàsaídadaBolíviadoórgão,suscitouodebatesobreaadmissibilidadedaação.OcasoéinteressantenamedidaemqueconstituiumprecedenteparafuturoslitígiosentreinvestidoreseEstados.

Nacionais (conhecida comoConvençãodeWashingtonde1965),tornando-seopri-meiropaísnahistóriaadeixaroCIRDI.AsaídadaBolívia,entretanto,nãoocorreudemaneiraimediata.Oartigo71daConven-çãoestipulaqueadenúnciatorna-seefetivaseismesesapósanotificaçãodadenúncia.Ademais, em pelo menos 19 tratados bilateraisdeinvestimentosestãovigentescláusulasqueestipulamaobrigatoriedadederecorreraoCIRDIparadirimireventuaisconflitossurgidosentreinvestidoreEstado.Valendo-sedesseprazo,em12deoutubrode2007, aETIoficializouumademandacontraoEstadoboliviano–duassemanas

antes da expiraçãodo prazo de seis meses. Para defen-derseusinvestimen-tos na Entel, a ETIlevantou oAcordosobre Promoção eRecíproca Proteçãode Investimentosentre a RepúblicadaBolíviaeoReinoda Holanda, umtratado bilateral de investimento entreosdoispaíses.

Por força de suadenúncia ao tratado, a Bolívia esperavaqueoCIRDIrejeitasseademanda.ASecre-tariadoCIRDIinformouàspartesqueasregrasdeprocedimentodoCentrolimitamsuacompetênciapararejeitardemandasacasosnos quais a ausência de jurisdiçãoé manifesta, cabendo, pois, ao tribunal arbitraldecidirtalquestão.OargumentodedefesadaBolívia,entretanto,vaialém:fundamenta-senaopiniãodeChristophH.Schreuer, professor de direito internacional daUniversidadedeViena.ParaSchreuer,não somente os Estados, mas também os investidores, devem consentir expli-citamenteparafiguraremumademandaperante oCIRDI. Surgem, assim, duas

• Consideraçõessocioeconômicas:trabalhoinfantil, saláriomínimo, emprego,serviçosdesaúdeeeducação;e

• Considerações ambientais: erosão dosolo, utilização de água, fertilizantes,poluiçãoequímicaagrícola.

Osestudosavaliaramoscustosdaaplica-çãodessescritérios,tantodeformapoucorigorosaquantodemodoestritoemrela-çãoaseuspreceitos.Nesseúltimocaso,aaplicaçãoestritafoiestabelecidacomoaquelaquenãosóminimizaosimpactosnegativos,mastambémbuscamelhoriaspositivas, notadamente quanto à pro-visão de serviços de saúde e educação.É importante indagar se o conceito desustentabilidadeemprojetosdebioener-giadeveapenasdeterminaroquantoascondiçõesauferidasdeacordocomtaiscritérioscausamounão impactonega-tivoouseéaverdadeirasustentabilidadequedevegerarmelhoriaspositivas.Aomesmotempo,énecessárioreconhecerqueabioenergiasubstituirá,emalgunscasos,oscombustíveisfósseisequeoscustos e benefícios devem ser compa-rados com aqueles dos combustíveisfósseisquesubstituirão.

Os critérios de sustentabilidade para a bio-energiaterãoinevitavelmentedelidarcomalgunscritérioscentrais,queapresentarãodiferençasconsideráveisemdistintasregi-õesecultivos.Taiscritérioscobrem:

• Uso da terra e propriedade, incluindo segurançaalimentar;

• Manutençãodabiodiversidade;

• Reduçãoeminimizaçãodeemissõesdegasesquecausamefeitoestufa;

• Erosãodosoloedegradação;

• Utilizaçãodaáguaecontaminação;e

• Impactossócio-econômicos.

Os critérios tambémdevemde ser apli-cadosemdiversosníveis:local,regional,nacional e internacional (particularmente no que diz respeito ao comércio). Semdúvida, haverá conflitos quanto às pro-porções,eosistemadegovernança–ouregime ambiental – deverá ser flexível,aindaquecapazdemanterníveisrelati-vamentealtosdeproteção.

* Francis Johnson pesquisa questões rela-cionadas a energia e clima no Stockholm Environment Institut.

Para a ETI, a ação do governo

boliviano caracteriza expropriação, e a eliminação da certificação seria uma tentativa de

reduzir o valor das ações da empresa...

PONTES - abril 2008 18

Análises regonais

perguntasbásicas: (i) comoé constituídoo consentimentoperante oCIRDI; e (ii)quandotalconsentimentofoioutorgadonopresentecaso,seéqueeleexistiu.

Em relação àprimeirapergunta, o artigo9.6 do tratado entreHolanda e Bolíviaestipulaquequaisquerdesavençasdevemsersubmetidasàarbitrageminternacionaleque,casoambososlitigantessejampartedoCIRDI, este será o ente adjudicador.Entende-se,assim,queoconsentimentodaBolíviafoioutorgadocomaassinaturadotratado.Noentanto,odireitointernacionalmuitasvezesaceitaqueoconsentimentosejaaperfeiçoadoemrelaçãoaoinvestidorquando esse omanifeste expressamente(pormeiodeumademanda,porexemplo).Enquanto talmanifestação não ocorra,nãohaveriaexpressãodeconsentimento,que seria apenas potencial ou implícita.Emoutraspalavras,osconsentimentosdoEstadoedoinvestidordevemcoexistir.

Nestesentido,aETIapresentoudoisdocu-mentos que revelariam consentimentoexpresso.Emumacartade30deabril, aempresamanifestouaogovernobolivianosuadiscordânciacomosdecretosjámencio-nados,ressaltandoseusdireitosderivadosdotratadobilateralentreHolandaeBolívia.Osegundodocumentofoiademandade12deoutubro.ParaaBolívia,aprimeiracartanãomanifestaconsentimentoexpressoquantoàjurisdiçãodoCIRDI.Ademandasim,masaBolíviaafirmaqueàdatadaproposituradademanda suamanifestaçãoanteriordeconsentimentojáhaviasidoanulada.

No que diz respeito ao segundo ques-tionamento, o tratado bilateral entre Holanda e Bolívia entrou em vigor em1994 e foi denunciado em 1omaiode2007.Segundooartigo71doCIRDI,adenúnciaapenasproduzefeitosseismesesapósorecebimentodanotificação.Contudo,oartigo72afirmaqueadenúncianãoafetadireitos e obrigações de umEstado (oude seus nacionais) nascidos a partir do consentimento à jurisdição doCIRDI efornecidos anteriormente ao recebimento danotificaçãopelodepositário.

Conformepode ser verificado,háméritotantonos argumentos bolivianos quantonos da empresa, umavez que os artigoscitadosgeramumaleituracircular.

Porumlado,épossívelafirmarqueparatodos os efeitos, a vigência daConven-çãodoCIRDI estende-se por seismeses

posterioresasuarenúnciaequetalprazohavia expirado em 1o de novembro de2007. Durante o prazo de seismeses,todos os direitos e obrigações préviossãomantidos.Assim,aindaqueaBolíviatenhadenunciadoaConvenção,seucon-sentimentopersisteporseismeses.Dentrodesse prazo, a ETI podemanifestar seuconsentimento faceaoCIRDI,medianteainterposiçãodeumademanda.

Por outro lado, tambémé possível argu-mentar,combasenoartigo72,queaETIdeveriaterdadoinícioasuaaçãoantesdadenúnciaboliviana,paraqueseuconsenti-mentocoexistissecomodaBolívia,comoocorredecostumeemdireitointernacional.Para essa linha argumentativa, qualquerinvestidor que não tiver explicitado aoCIRDI seu consentimento para futurasdisputasnãopoderápleitearperanteoórgãocombaseemtratadosdeinvestimento.

ÉimportanteesclarecerqueaBolívianãoestá livredesofrernovasdemandasarbi-trais,masfoiliberadaapenasdepossíveisdemandasperanteoCIRDI.Seustratadosbilateraisdeinvestimentocontêmcláusu-lasquesubmetemaresoluçãodeeventuaisdisputas investidor-Estado a tribunaisarbitrais,emmuitoscasosespecificamenteaoCIRDI,semprequeasparteshouveremratificadoaConvenção.Emoutraspalavras,trata-sesomentedeumamudançadeforo,pois,paraevitarquaisquernovasdemandasinternacionais,aBolíviateriaquedenun-ciartodosseustratadosdeinvestimentos.

Decertomodo,aBolívianãoaumentaseuníveldeproteçãocontrademandas,masunicamenteeliminaalgunsdospossíveisforosdeadjudicação.Pode-seatémesmodizerqueseuníveldeproteçãodiminuiu,umavezqueaETIpoderiaapresentarsuademanda ante qualquer outro tribunalarbitral do mundo, com procedimentos e árbitrosdefinidosad hoc.Ademais,casonãodenuncieourenegocieseustratados– alguns dos quais inclusive remetemexpressamenteaoCIRDI–aBolíviapode-ria ser demandada por descumprimento de uma obrigação internacional, desta veznãomaisporuminvestidor,massimporoutroEstadocontratante.

No fundo, aBolívia fazecoàscríticasdemuitospaíses com relação ao sistemaderesoluçãodedisputasinvestidor-EstadodoCIRDI.Muitossustentam,entretanto,queopaísnãofezamelhoropção,nãoapenaspornãoterconseguidoevitarasdemandas

arbitrais,mas tambémporque, conformemostramasestatísticas,osistemadoCIRDInãoétãoiníquocomoafirmamalguns.

Em dezembro de 2007, 40 casos foram apresentados contra aAmérica Latina.Dentreesses,36%alcançaramumacordoantesdolaudo,12,5%dospedidosforamrejeitados por questões de jurisdição e50%dasdemandaschegaramaumlaudoarbitral.Dentre tais casos, 12,5% foramfavoráveis ao Estado, ao passo que 36%deramrazãoaoinvestidoremaomenosumdeseuspedidos.SeaoscasosfavoráveisaoEstadofossemsomadosos12,5%doscasosrejeitadosporquestõesdejurisdição–quecertamenterepresentamumavitóriaparaosEstados–, teríamosumaporcentagemdeêxitode25%dototaldecasosparaosEstados latino-americanos. Finalmente,nasdisputasnasquaisoinvestidorganhouao menos um de seus pedidos, o montante final da compensação representou, emmédia,28%domontantesolicitado(deUS$250milhõessolicitados,sãodeferidos,emmédia,US$70milhõesemcondenações).

É interessante notar que, dentre os 15casos apresentados contra a América Latinanosquaisos investidoresganha-ramparcialoutotalmente,70%dospedi-dos baseados emviolações ao princípiodo“tratamentojustoeeqüitativo”pros-peraram,massomente30%dospedidosfundados em expropriação resultaramvitoriosos.Nessesentidoimpõe-seumarenegociaçãomaiscuidadosadasnormassubstantivas e da definição de termoscomo “tratamento justo e eqüitativo”ou“expropriaçãoindireta”.Àpartedoscustos, que efetivamente importamemtermos de acesso (cada disputa perante oCIRDIcustaaomenosUS$1milhão,comfaturasdeatéUS$20milhões),edainexistência do recurso de apelação, osistemadoCIRDIpodeseraperfeiçoadoeparecesersegurotantoparainvestido-res quanto para Estados. Se os Estadoslatino-americanos não estão felizes com asprerrogativasdosinvestidoresestran-geiros,seusolharesdevemserdirigidos,emprimeirolugar,aosacordosdeinvesti-mentosquedãolugarataisdisputas.

Tradução e adaptação de artigo originalmente publicado em Puentes entre el Comercio y el Desarrollo Sostenible, Vol. IX, No. 1, março de 2008.

* Advogado especialista em comércio inter-nacional.

19 abril 2008 - PONTES

Brasil

Medidas antidumping e liberalização comercialWelber Barral*

ana carolina Peres**

OSistemaMultilateraldeComércioapregoaaaberturacomercialdospaísesqueseengajamnastrocasinterna-cionais.Apartirdestalógicabásica,qualquerentravequetenhaporefeitoimpedirocomérciointernacionaleaconcorrênciaestrangeiranosmercadosinternostraduzir-se-iaemumamedidaprotecionista.Acomplexarealidadedocomérciointernacional,noentanto,nãopermiteasimplesoposiçãomaniqueístaentrelivrecomércioeprote-cionismo.Umadasáreasdocomércioemqueaexistênciadestaoposiçãopodeserlevadaàprovadizrespeitoàsmedidas antidumping.

tarifas e queométodopróprio seria aimposição de direitos especiais sobrebensapreçosdedumping2.

Em1947,oAcordoGeralsobreTarifasAdu-aneiraseComércio(GATT,siglaeminglês)incorporouapossibilidadedeaplicaçãodedireitos antidumping em seuArtigoVI.A introdução deum instrumento defen-sivo emum sistemamultilateral liberalexplica-senãosócomomeiodelimitaçãoda ingerência estatal no comércio,mastambémcomomoedadetrocaparaqueossetores produtivos nacionais aceitassemsemmaioresprotestosaspolíticaspúblicasde abertura comercial3.

Após cinco rodadas de negociaçõescomerciaismultilaterais,quetiveramporobjetivoareduçãodastarifasaduaneiras,tornou-se cada vezmais generalizada apercepçãodequeasnovasbarreirasnão-tarifáriastomaramolugardastarifascomoobstáculos inibidores ao livre fluxo docomércio.Domesmomodo,cresceuapre-ocupaçãocomosefeitosqueasmedidasantidumping poderiam trazer ao comércio internacional,quando,emsuaadministra-çãoeaplicação,asmesmaspudessemter

São inúmeras as situações que podemlevarumaempresaavenderseusprodutosapreçosmenoresnomercadoexternodoque nomercado interno, sem que issonecessariamente configure prática dedumping1 com intuito predatório.Alémdisso, émais comumdoque se imaginaaexistênciadesetoresnosquaisadiscri-minaçãodepreçoséaregra,comonocasodas empresas localizadas empaíses quemantêmbarreiras tarifárias elevadas oudaquelessetoresintensivosemcapitaloudebensperecíveis.Maisdifícil,porém,queaelaboraçãodeumateoriageralparacon-denar o dumpingéatentativadeexplicar,pormeioseconômicos,aracionalidadedasmedidas antidumping.

Asconsideraçõeseconômicas,entretanto,geralmenteselimitamàsconseqüênciasdaaplicaçãodasmedidasdedefesacomercialsobreaconcorrênciaemumdadosetordomercado nacional e costumam não conside-rar o papel desempenhado pelos instrumen-tosdedefesacomercialparaapromoçãodolivrecomércioeparaaaberturacomercialdoconjuntodaeconomianacional.

Esse papel pode ser mais bem compre-endidoapartirdeumaanálisehistórica.As medidas antidumping surgem noinício do séculoXX, quando, ao invésdepromoverumaelevaçãogeneralizadanatarifaaduaneiraaplicávelàsuapautade importações, os governos optavampor uma solução pontual e seletiva,semquehouvessemaiorprejuízoparaaaberturacomercialpromovidacomaredução das tarifas. Esse fundamentopode ser encontrado na frase do Minis-trodasFinançasdoCanadá,WilliamS.Liedingque,em1904,afirmouquenãoeracientíficoenfrentarcasosespeciaise temporários de dumping com uma elevaçãogeneralizadaepermanentede

efeitosprotecionistas, reduzindoovalordosesforçosfeitosdesdeoGATT-47paraaremoçãodebarreirascomerciais.

Assim,apartirde1964,aevoluçãodadisci-plina multilateral antidumping foi direcio-nada a estabelecer disciplinas comuns para as autoridades investigadoras nacionais,tornandoasuaaplicaçãomaistransparenteeprevisível.Essemovimentoresultounaassinatura,duranteaRodadaKennedy,doprimeiroCódigoAntidumping, que foiaprimoradoumaprimeiraveznaRodadaTóquio,emseguida,naRodadaUruguai,incorporado como parte do empreendi-mentoúnico(single undertaking).

NocasodoBrasil,osrelatóriosdoSecreta-riadodaOrganizaçãoMundialdoComér-cio(OMC)paraoMecanismodeRevisãodePolíticasComerciaisdaOrganizaçãodescrevemopaíscomoumgrandeusuário(active user) das medidas antidumping, apontando,contudo,atendênciadecres-centedautilizaçãodoinstrumentopelopaís4. De fato, a prática nacional nãopermite enquadrar o país entre os quese valem dasmedidas antidumping de forma protecionista. Quando observa-dos os números notificados àOMC, dejaneirode1995ajunhode2007,oBrasilé,empatadocomaChina,o8ºpaísquemaisiniciouinvestigaçõesantidumping(138).Suaposição,porém,éinferiornoranking dospaísesqueaplicarammedidasdefini-tivas(com67medidas).Aanálisedessesnúmeros absolutos, contudo, é poucosignificativaquandoseconsideraarepre-sentatividadedoimpactodetaismedidasnas trocas comerciais.Conforme dadosdoDepartamentodeDefesaComercial,as medidas de defesa comercial impostas peloBrasil,noanode2005,corresponde-ram,emvalores,amenosde0,02%dasimportaçõestotaisdoperíodo5.

Mais difícil, porém, que a elaboração de

uma teoria geral para condenar o

dumping é a tentativa de explicar … a

racionalidade das medidas antidumping.

PONTES - abril 2008 20

Brasil

permitam democraticamente a tomada de decisõesdogovernocomrelaçãoàdefesadaindústriabrasileira.Umsistemadedefesacomercialsólidocertamenteépreferívelaumapolíticacomercialfundadaemdeci-sões unilaterais sobre elevação tarifária,preçosmínimosde importaçãoeacordosderestriçãovoluntáriadeexportações,cujoprocesso decisórionunca é precedido deconsultapúblicanemdaanálisedo inte-ressedetodosossetoresenvolvidos.

* Secretário de Comércio Exterior.

** Coordenadora Geral do DECOM. As opini-ões manifestadas são pessoais e não refletem o posicionamento institucional da Secretaria de Comércio Exterior.

1SegundooArtigo2.1doAcordoAntidump-ing,considera-sehaverpráticadedumping, isto é, oferta de um produto no comércio de outropaísapreçoinferioraseuvalornormal,nocasodeopreçodeexportaçãodoprodutoserinferioràquelepraticado,nocursonormaldas atividades comerciais, para omesmoproduto quando destinado ao consumonopaís exportador.Não se trata, portanto, doconceitoeconômicodedumping,queimplicaemvendasefetuadasabaixodocusto.2“(…)itwasunscientifictomeetspecialandtemporarycasesofdumpingbyageneralandpermanentraisingofthetariffwallandthatthepropermethodwas(…)toimposespecialduties upon dumped goods.”Apud STEW-ART,TerenceP.TheGATTUruguayround.Anegotiationhistory (1986-1992). Boston:Kluwer,1993,p.1390.3Neste sentido, Jackson afirmouque a de-fesa comercial é uma “interface” entre asdemandasdesetoresespecíficosdaindústrianacional e o interesse na continuidade da liberalização comercial. JACKSON, John.Theworldtradingsystem:Lawandpolicyofinternationaleconomicrelations.MITPress:Cambridge(MA),1994.p.2244Oúltimo resultado daRevisão de políti-cas comerciais do Brasil, de 2004, apontaque“Brazil remains an activeuser of anti-dumpingmeasures, notwithstanding thefallinthenumberofinvestigationsinitiatedsince 2000.”OdocumentoWT/TPR/S/140encontra-se disponível em:www.wto.org.Acessoem:24abr.2008.5RelatórioDECOM2006,p.16.6Arazãomedidasaplicadas/investigaçõesini-ciadas para os 10 maiores aplicadores de dire-itos antidumpingéaquesegue:Índia(73%),EUA eUE (65%),Argentina (71%),ÁfricadoSul(60%),Turquia(100%),China(70%),Canadá (62%),México (87%) eAustrália(38%).OsdadosestatísticosdaOMCsobreinvestigações iniciadas emedidas aplicadaspornotificaçãoencontram-sedisponíveisem:<http://www.wto.org/english/tratop_e/adp_e/adp_e.htm>.Acessoem:10abr.2008.7Dados compilados a partir do documentoWT/DSB/W/362/Add.1. Disponível em:<www.wto.org>.Acessoem:24abr.2008.

é precedida de análise do interessenacional.Empelomenosoitocasosnosúltimocincoanos,aCAMEXdecidiupelasuspensão de direitos ou aplicação emprazos inferiores aos recomendados pelo DepartamentodeDefesaComercial.

Apesardosargumentosacimaapontados,écertoquetantoasregrasdaOMCcomoapráticabrasileiraaindapodemserapri-moradas quanto a questões procedimen-tais, de devido processo, contraditórioe transparência e, em termosmateriais,para reduzir a discricionariedade das auto-ridadesinvestigadorasemtodoomundo,comvistasatrazeraindamaissegurançajurídica e evitar autilização abusiva dosinstrumentosdedefesacomercial.EssetemsidooposicionamentodoBrasilnoâmbitodoGrupoNegociadordeRegras,ondeopaísbuscaconciliarsuasituaçãoambíguaentregrandeusuárioealvorecorrentedemedidasantidumpingaplicadasporoutrospaíses.

Pode-seconcluir,apartirdessabrevedes-crição, que as regrasmultilaterais sobremedidas de defesa comercial não necessa-riamente se limitam a efeitos protecionis-tas.Aocontrário, suaexistênciapermiteatenderademandaspontuaisegaranteocontínuoavançodosganhoscomaconso-lidaçãoeareduçãotarifária.

No casodoBrasil, a análisehistórica dautilização dasmedidas de defesa comer-cialevidenciaqueopaístem-sevalidodoinstrumento de forma bastante criteriosa em relação às regrasmultilaterais e emconsonância com o interesse nacional.Nestalógica,acontinuidadedaliberaliza-ção comercial passa pelo fortalecimentodos instrumentos da defesa comercial, comregrasmaisclarasetransparentes,que

Comparando-se a aplicação demedidasdefinitivasvis-à-visonúmerodeinvestiga-çõesiniciadas,opercentualdeaçõesanti-dumping que efetivamente culminaramcomaaplicaçãodefinitivadedireitoséumdosmaisbaixosdomundo(49%),estandooBrasilatrásdetodososdezmaioresusu-áriosdasmedidas,àexceçãodaAustrália6.Esses números parecem evidenciar quea aplicação de direitosantidumping no Brasil dá-se de formabastante criteriosaenãopermitemconcluirqueautilizaçãonacional do instrumento efetive-se deformaabusivaouprotecionista.Corroboratalpercepçãoofatodeque,entrejaneirode1995eoutubrode2007,oÓrgãodeSolu-çãodeControvérsiasrecebeuapenasdoispedidos de consultas a respeito de direitos antidumpingaplicadospeloBrasil,contra30 pedidos referentes ao mesmo tema con-tra os Estados Unidos da América (EUA)7.

É certo que existemparticularidades dosistemadedefesacomercialdoBrasilquecontribuemparaaexistênciadepadrõesdeanálisemais rígidosemrelaçãoàs regrasmultilateraiseàpráticainternacional.Noque se refere às regrasprocedimentais, oBrasil,demaneirasistêmica,garanteprazose prorrogações superiores ao previstonoAcordo Antidumpingparaaapresentaçãoderespostaaosquestionários,oquecon-tribuiparaoincrementodocontraditórioedaampladefesa.Ademais,emtodososcasossãorealizadasverificaçõesin loco na indústriadoméstica,deformaavalidarosdadosfornecidosparaaanálisededano.

No que se refere às regrasmateriais,enquantooAcordoAntidumping permite quesejaminiciadasinvestigaçõesquecon-temcomdadosdeapenas25%daproduçãonacional,noBrasilsomentesãoanalisadaspetições comdados de danos relativos aumpercentual de 50%daproduçãobra-sileira.Ademais, quando do cálculo dosdireitosaseremaplicados,oBrasilsempreavalia a conveniência da aplicação daregradodireitoinferior(lesser duty rule), demaneira que os direitosantidumping podem ser aplicados em patamares infe-rioresàmargemdedumpingexistente,seessepatamarforsuficienteparaeliminarodanoàindústriadoméstica.

Finalmente,umavezencerradaainves-tigaçãocomumadeterminaçãopositivadaexistênciadedumping ou subsídios,danos à indústria doméstica e nexo decausalidade,aaplicaçãodedireitospelaCâmaradeComércioExterior(CAMEX)

No caso do Brasil… o país tem-se valido do instrumento de forma

bastante criteriosa em relação às regras

multilaterais e em consonância com o interesse nacional.

21 abril 2008 - PONTES

OMC em focoBrasil

O complexo industrial da saúde no BrasilOComplexoIndustrialdaSaúdebrasileiroécompostoporumaredequeenvolveuni-versidades,institutosdepesquisa,empresasfarmacêuticas,empresasdeequipamentosmédico-hospitalares,agênciasgovernamen-taiseregulatóriasehospitais.Talcomplexoapresenta similaridades e especificidadesemrelaçãoaoutrossistemas,localizadosemPDsePEDs.Oaspectomaismarcantedo sistema brasileiro é uma infra-estrutura científicavoltadaparaapesquisabiomé-dicaeorganizadadesdeofinaldoséculoXIX, com investimentos governamentaisdotadosdealgumaregularidade.Trabalhosanteriores apontam barreiras ao pleno apro-veitamentodasoportunidadeserecursos:deficiênciasnosistemaeducacional,combaixoíndicedeescolaridadeealtoíndicede analfabetismo1,epoucoenvolvimentodas empresas (multinacionais e locais) em atividadesdeinovaçãoemsaúde.

OComplexoestáconectadoàimplemen-tação das reformas de caráter estruturalno campo da saúde vivenciadas peloBrasilemmeadosdadécadade80.Como processo de redemocratização do Paíse a criação do SistemaÚnico de Saúde(SUS), o direito constitucional2 de acesso universal (público e gratuito) à saúdepassouaserrealizadopormeiodeaçõesdescentralizadas,sejaemnívelestadualoumunicipal,pormeiodecooperaçãotécnicaefinanceiracomogovernofederal.

Aperspectiva comos investimentos eminovação é poder gerar riqueza e outrosbenefícios,taiscomoodesenvolvimentodeterapiasemedicamentosespecíficosparaasmoléstiasqueassolamoBrasileareduçãodegastoscomimportaçãodemáquinaseequi-pamentos.Gastosessesque,em2003,foramestimadosemtornodeUS$1bilhão3.

Atividades de pesquisa e inovação emsaúde,entretanto,aindaestãofortementeconcentradas em instituições públicas.Promover a absorção de pesquisadores

pelas empresas é, portanto, um dos atuais desafiosbrasileiros4.DadosdaCoordenaçãodeAperfeiçoamento dePessoal deNívelSuperior(CAPES)edoInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística (IBGE)atestamque, em 2000, as empresas privadas noBrasil empregavam4mil pesquisadorescom mestrado ou doutorad5.Universidadese institutos de pesquisa, laboratórios deempresas estatais eOrganizaçõesNão-Governamentais (ONGs), por sua vez,empregavam42milpesquisadores.

Quantoaospesquisadoresdosetordasaúde,suaqualificaçãoésimilaràencontradanoconjuntodasatividadesdepesquisa,sendoqueamaioriadelespossuiograudedoutor.Dos10.938doutoresqueatuamemdiversasáreasdeconhecimentorelacionadasaosetor,53,8%pertencemàgrandeáreadasaúde.OsdadosdoDiretóriodeGruposdePesquisadoConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoeTecnológico(CNPq)mostramqueosgruposquerealizampesquisasemsaúde apresentamvolume apreciável deprodução, de caráter predominantementebibliográfico-acadêmico.

Umavez que a fronteira da pesquisanocampodasaúde,fortementeinfluenciadapor avanços no campo da tecnologia dainformação,dosnovosmateriais,dasnano-tecnologiaseporoutrosavanços,expande-se rapidamente, cobrir o diferencial entre o BrasileosPDsnoquetangeàcapacidade

científicaeinovadoraficamaisdifícilecus-tosoacadaano,comseverasconseqüênciasparaapopulaçãobrasileira.

Geração e gestão de inovações em saúdeAdinâmicadagestãoegeraçãodeinova-çõesnocampodasaúdeé,notadamente,interdisciplinar,pautadaporumesforçodemédicos, biólogos, engenheiros, gestores,químicos,farmacólogose,eventualmente,usuários.Faz-senecessárioumaarticulaçãopermanenteentreabasedepesquisaeossetoresindustriaispúblicoeprivado.Estu-dosressaltamadimensãodaciênciaedapós-graduaçãoparaaevoluçãodaáreadesaúde.Mas,notocanteàapropriação,emnenhum outro campo do conhecimento as patentesagregamtantovalorestratégico.Porisso,captar,coordenareregulartantasdimensões é um desafio complexo paraPEDscomooBrasil.

A promoção da pesquisa em saúde noBrasil é também fortalecida pelos ecos-sistemas diversificados encontrados emdiversos pontos do país (RegiãoAmazô-nica,Caatinga,Cerrado, Pantanal,MataAtlântica,eFlorestaAraucária).Diversasinstituições investem na estruturaçãode coleções vivas e não-vivas (Embrapa,FundaçãoOswaldoCruz,JardimBotânicodoRiodeJaneiro,UniversidadeEstadualdeCampinas,UniversidadedeSãoPauloetc),sobaperspectivadeexploraçãosus-tentáveldessesrecursosgenéticos.

Noâmbitoestadual,encontram-sediversosinstitutosdepesquisavinculadosàssecreta-riasestaduaisdesaúdeeagênciasestaduaisdefomento.Umadasmaisbem-sucedidasagênciaséaFundaçãodeAmparoàPesquisadoEstadodeSãoPaulo (Fapesp),quetemdesenvolvidoprogramasdeapoioàpesquisaestratégicaemsaúde,dealtoimpactonacio-naleinternacional.NoâmbitodaFundaçãodeAmparoàPesquisadoEstadodoRiodeJaneiro (Faperj), também foi lançadoumprogramadeapoioàpesquisaemsaúdeeoutras fundaçõesdopaís têmconvergido

Propriedade industrial e inovação em saúde no Brasilclaudia Inês chamas*

Esteémaisumartigosobreaspolíticasdebilateralizaçãocomercialquetêmproliferadonoatualcenáriodocomérciointernacional.Apósumano,estasériedapublicaçãoPontesencerra-secomumestudosobreapolíticacomercialedeintegraçãonaÁsia,regiãocujaimportânciapolíticaeeconômicatemcrescidoapassosrápidosnosúltimosanos.

… cobrir o diferencial entre o Brasil e os

PDs no que tange à capacidade científica e inovadora fica mais

difícil e custoso a cada ano …

PONTES - abril 2008 22

Brasil

médicas e biomédicas tem aumentado e representa 40% da produçãomundial e36%dabrasileira.

No Brasil, a pesquisa emmedicina, porexemplo, com uma produção de 7.365artigosnoperíodo1997-2001(0,9%daáreano mundo) ocupa a 23aposiçãonoranking mundial e a terceirana produção interna–issorepresenta16,9%dototaldeartigosindexadosdopaísnabasestandarddoISI.Aáreabiomédicaapresentouumaproduçãoligeiramente superior à áreamédica, com8.366artigosnoperíodo(0,9%daáreanomundo).Comessaprodução,oBrasilocupaa 21aposiçãonorankingmundialdaáreaeasegundanaproduçãointerna,representando19%dototaldeartigosindexadosdopaísnabase deluxedoISI.

Alémdoaspectoquantitativodaspublica-ções,entraemanáliseaabordagemqua-litativadaspesquisasemsaúde.Emboradeconteúdoumpoucomaissubjetivo,épossíveltrazeràtonaexemplosdeproje-tosquealcançaramgrandeprestígioemnívelinternacional.Odesenvolvimentorecentemaismarcante foi, semdúvida,oenvolvimentodoBrasilnoseqüencia-mentodediversosgenomas.

Emcontraposiçãoaocrescimentodepubli-caçõescientíficas,aparticipaçãobrasileirana obtençãomundial de patentes é aindamuitobaixa,conformepodeserverificadonas recentes estatísticas daOrganizaçãoMundialdaPropriedadeIntelectual(OMPI).Esses dados reforçam a necessidade dedesenvolvimentodeprogramaslocaisparaa capacitação em gestão da propriedadeintelectual.A Lei de Inovação, de 2004,buscatrazerefeitospositivosnessadireção,poisestimulaasparceriaspúblico-privadaseoestabelecimentodeescritóriosdepro-priedade intelectual nas universidades e

instituições de pesquisa.No Brasil, naavaliaçãodeprojetosnoâmbitodeagências,ospesquisadoresaindasãojulgados,priori-tariamente, pelos resultados em termos de publicações.Demodoprogressivo,patentese outros ativos intangíveis passama serincorporadosàsanálisesdeprodutividadedepesquisadores,masaindanão se tratade uma rotina estabelecida para a comuni-dadeacadêmica.Contudo,oenvolvimentosignificativodeempresascomatividadesdeinovaçãoemsaúdenopaísaindaéumapromessa,refletindo-senosínfimosnúme-rosdedepósitosdepatentes.

Esforços nacionais para a promoção da inovação em saúde

Na esfera dosmedicamentos, destaca-seaPolíticaNacionaldeMedicamentosdoMinistério da Saúde (1998), que visa aestimular odesenvolvimentodemedica-mentosetecnologiasparaprodutosfarma-cêuticosdeorigemsintéticaenatural,paraatender àsnecessidadesdeprogramasdoMinistério,dosestadosedosmunicípios.APolíticaenglobadiferentesações:(i)adoçãoda relação demedicamentos essenciais;(ii) regulamentação sanitária demedica-mentos; (iii) reorientação da assistênciafarmacêutica;(iv)promoçãodousoracionaldemedicamentos; (v) desenvolvimentocientíficoetecnológico;(vi)promoçãodaproduçãodemedicamentos; (vii)garantiada segurança, eficácia e qualidade dosmedicamentos;e(viii)desenvolvimentoecapacitaçãoderecursoshumanos.

Em 1999, foi aprovada a Lei n. 9.787,que estabelece a política de adoção demedicamentos genéricos no Brasil. Em2000,foramregistradososprimeirosseisgenéricos; em2004, essenúmero subiupara 1.033. Segundo aAssociação Bra-sileira das Indústrias deMedicamentosGenéricos,cercade80%dasunidadesdegenéricos comercializadasnoBrasil sãoproduzidasnoPaís.Valeressaltarqueaconstruçãodacapacitaçãoprodutivaofi-cial(muitasvezesemparceriacomosetorprivado) deu o suporte necessário paraa política brasileira de acesso aos anti-retrovirais.Tantoapolíticadegenéricoscomoapolíticadeanti-retroviraisforamformuladas com base no supracitado direitouniversaldeacessoàsaúde.Nesseescopo,agestãodapropriedadeindustrialéopontocríticoparaosucessodasaçõesrelacionadasaessaspolíticas.

quanto a essas preocupações (como é ocasodaFundaçãodeAmparoàPesquisadoEstadodeMinasGerais).

Aspolíticaseaçõesdefomentoàciênciaetecnologiaemsaúdevêmsendo,crescen-temente,debatidassobacoordenaçãodoMinistériodaSaúde.Nesseâmbito,aSecre-taria deCiência, Tecnologia e InsumosEstratégicosabrigaaarticulaçãodapolíticanacional,pesquisaedesenvolvimentoemsaúde,deacordocomasobrigaçõesdaLein°9.639/98,modificadapelaMedidaPro-visórian°2.143/2001.

DoiseventosforamdeespecialrelevânciaparaaconstruçãodaPolíticaNacionaldeCiência,TecnologiaeInovaçãoemSaúde:aIeaIIConferênciaNacionaldeCiênciaeTecnologiaemSaúde(1994e2004respec-tivamente).Outrasiniciativascontribuemparaavalorizaçãodaárea,comooPrêmiodeIncentivoemCiênciaeTecnologiaparaoSUS(2002,2003,2004)eAgendaNacionaldePrioridadesdePesquisaeDesenvolvi-mentoTecnológicoemSaúde(2004).

Indicadores de pesquisa: publicações versus patentesDos indicadoresda evoluçãodapesquisaemsaúdenoBrasil,omaisrelevante,atéomomento,éovolumedepublicações.Essenúmero,conformeevidenciadoaseguir,é,noentanto,contrastantecomonúmerodepatentesdepositadasnopaísnosúltimosanos.Observa-seissoapartir,porexemplo,doartigopublicadopelaNational Science Foundation(2004)queatestaocrescimentodas publicações científicas naAméricaLatina6.Onúmerodeartigoslatino-ame-ricanos triplicou no período 1998-2001,destacando-se o elevado percentual deautores brasileiros, argentinos, chilenosemexicanos.Considerando-sesomenteacontribuiçãobrasileira,onúmerodearti-gosquadruplicouparaomesmoperíododeobservação.Noperíodo1999-2001,oBrasilproduziu, aproximadamente, 39 artigoscientíficosper capita.

Além disso, nas duas últimas décadas,oBrasilsubiuda27ªparaa18ªposiçãono ranking global de ciência e tecno-logia. Em 1981, 1.887 artigos forampublicadosemperiódicosindexadosnoInstitute for Scientific Information(ISI),oquecorrespondea0,44%daproduçãomundial; em 2001, esse número subiupara 10.555 artigos, ou 1,44%do totalmundial.Onúmerodeartigosdasáreas

Em contraposição ao crescimento de publicações científicas, a

participação brasileira na obtenção mundial de patentes é ainda

muito baixa …

23 abril 2008 - PONTES

OMC em focoBrasil

agenda Regional MERcosUL

13-16.05.08 Reunião do Comitê Técnico Nº 1 sobre Tarifas, Nomenclaturas e Classificação de Mercadorias Buenos Aires, Argentina

14.05.2008IX Reunião Regional Grupo de Alto Nível Estratégia Mercosul para o Crescimento do EmpregoBuenos Aires, Argentina

16.05.08Reunião Técnica Mercosul-UE de apoio à Secretaria do Tribunal Permanente de RevisãoBuenos Aires, Argentina

19-20.05.08Reunião do Grupo Ad Hoc de Especialistas do Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSULMontevidéu, Uruguai

20.05.08Reunião de Agências Nacionais de Acreditação do Setor EducativoBuenos Aires, Argentina

22.05.08Reunião do Grupo Ad Hoc sobre Integração ProdutivaBuenos Aires, Argentina

27-30.05.08IX Reunião Especializada de Agricultura FamiliarBuenos Aires, Argentina

CabelembraropapeldoInstitutodeTec-nologiaemFármacos(Farmanguinhos),queé a unidade da FundaçãoOswaldoCruzresponsávelpelaproduçãode66medica-mentos,entreeles,antibióticos,antiinfla-matórios, antinfecciosos, antiulcerantes,analgésicos e produtos dermatológicos,medicamentos para doenças endêmicas(comomaláriaetuberculose),drogasanti-retrovirais para aAIDS,medicamentospara doenças do sistema cardiovasculare do sistema nervoso central e para osprogramas dehipertensão e diabetes.Asatividadesdepesquisaedesenvolvimentonaindústriafarmacêuticabrasileira,entre-tanto,reforçamaprofundadependênciadoPaísnessecampodoconhecimento,postoquenemasempresasmultinacionaisnemas locais realizamesforços significativosparasuperaressafragilidade.

Quanto à capacitação em vacinas, em2006,foicriadooProgramaNacionaldeCompetitividadeemVacinas(Inovacina),comvistasacriarcondiçõesparaalcançara auto-suficiência nacional na fabrica-ção das vacinas incluídas no ProgramaNacionaldeImunização(PNI).OBrasiléum dos maiores mercados do mundo em vacinasecontacomumprogramadeimu-nizaçãodealtoalcance.Opaísé,ainda,auto-suficiente na produção de sorosantiofídicos,antipeçonhentos,antitóxicosparausoterapêuticoeoitovacinas:BCG,poliomielite, hepatite B recombinante,difteria, tétano,coqueluche (DTP), febreamarela, Haemophilus influenzae tipo b (Hib)–apresentadacombinadacomDTP–einfluenzaparaidosos.Doisproduto-resnacionais–oInstitutodeTecnologiaem Imunobiológicos (Bio-Manguinhos,daFundaçãoOswaldoCruz)eoInstitutoButantan–concentramcercade90%dasvendasaoMinistériodaSaúde.

Estáprevistapara2009ainauguraçãodoCentrodeDesenvolvimentoTecnológicoem Saúde (CDTS) da Fiocruz.OCDTSofereceráacientistasapossibilidadedetransformar resultados promissores da pesquisabásicaemvacinas,medicamen-tos e kitsparadiagnósticoemprodutospara a área da saúde brasileira. Aliadoaos esforços das unidades já existentes(InstitutoOswaldoCruz,Farmanguinhos,Biomanguinhos, Instituto de PesquisaClínica EvandroChagas, centros regio-nais,entreoutras),oCentropermitiráqueaFiocruzseapresenteaindamaisativa-mentenasáreasdegenômica,proteômica,transgêneseeterapiagênica.

Propriedade Industrial: avanços e desafios

No campo da propriedade industrial, ogovernobrasileirotemparticipadointen-samente emnegociações internacionaisparaoaperfeiçoamentoebalanceamentodeacordosqueregulamentamapropriedadeintangível.O Brasil busca desenvolvernegociaçõesembasadasnosprincípiosdamultilateralidadeeequilíbrio,bemcomonoreconhecimentodequemuitospaísesencontramdificuldadesparaalcançarcon-diçõesjustasdeacessoaprodutoseserviçosnastransaçõesregularesdemercado.

Podem-se destacar as seguintes atuaçõesdoBrasilnopapeldenegociador:oAcordosobreDireitosdePropriedade Intelectualrelacionados aoComércio (TRIPs, siglaeminglês),de1994;aDeclaraçãodeDohasobreoacordoTRIPseSaúdePública,de2001;aAgendaparaoDesenvolvimento,de2007;aComissãodePropriedadeInte-lectual do Subgrupo de Trabalho-7 doMercosul;eoGrupodeTrabalhoIntergo-vernamentalsobreSaúdePública,InovaçãoePropriedade IntelectualdaOrganizaçãoMundialdaSaúde(OMS).Noplanointerno,opaístemdemonstradocompetênciaparaconstruirumacomplexa rede regulatóriacomimpactoemsaúde:LeidePropriedadeIndustrial(1996);LegislaçãosobrePatrimô-nioGenético (2001); Política Industrial,TecnológicaedeComércioExterior(2004);LeidaInovação(2004);PolíticadeDesen-volvimentodaBiotecnologia(2007);entreoutrosinstrumentos.

A implementação daLei dePropriedadeIndustrial, compatível com os compro-missosfirmadospeloBrasilnoâmbitodaOrganizaçãoMundialdoComércio(OMC),nãoocorresemdificuldadesecontrovér-sias.Aadoçãodoinstrumentodopipeline7 (medidanãoprevistapeloacordoTRIPs),aincorporaçãode invenções farmacêuticasebiotecnológicascomomatériaspatente-áveiseoaumentodavigênciadapatenteconstituírammudanças que trouxeramefeitoseconômicosimportantesnasaúdeenapolíticadeacessouniversal.HojeváriasdisputassãotravadasnoPoderJudiciáriobrasileiro.Muitasdelasenvolvempatentesfarmacêuticasepatentespipeline, com ten-tativasdeextensãodavalidadedaspatentesemanutençãodomonopólio.ValedestacarquehouveumprocessodeespecializaçãodoPoderJudiciárioemmatériadeproprie-dadeindustrial.ForamcriadasquatroVarasespecializadas (35a, 37a, 38a e 39a Varas

PONTES - abril 2008 24

Brasil

agenda Regional MERcosUL(cont.)

28-30.05.08Reunião do Grupo Ad Hoc sobre Biotecnologia AgropecuáriaBuenos Aires, Argentina

03-05.06.08Reunião do Subgrupo de Trabalho Nº 8 sobre AgriculturaBuenos Aires, Argentina

Reunião da Comissão de ComércioMontevidéu, Uruguai

04-05.06.08Reunião do Grupo Técnico da Reunião de Ministros e Autoridades de Desenvolvimento SocialBuenos Aires, Argentina

10.06.08Reunião do Grupo Ad Hoc sobre BiocombustíveisBuenos Aires, Argentina

18.06.08XIV Reunião do Comitê Mercosul Livre de Febre AftosaMontevidéu, Uruguai

LXXIV Reunião do Comitê de Cooperação TécnicaBuenos Aires, Argentina

20.06.08Reunião do Subgrupo de Trabalho Nº 6 sobre Meio AmbienteBuenos Aires, Argentina

26.06.08Reunião de Altas Autoridades em Direitos HumanosBuenos Aires, Argentina

FederaisdoRiodeJaneiro),bemcomoduasTurmasespecializadasempropriedadeinte-lectualnoTribunalRegionalFederalda2ªRegião.EssasduasTurmascompõema1aSeçãodoTribunal,tambémespecializadanamesmamatéria.Alguns casos podemchegaraoSuperiorTribunaldeJustiça(STJ)eaoSupremoTribunalFederal(STF).

Em2006,aorigemdosrecursosgenéticosfoiassociadaaosdireitosdepatentes.AResolu-çãonº134normalizaosprocedimentosrela-tivosaorequerimentodepedidosdepatentescujoobjetotenhasidoobtidoemdecorrênciade um acesso a amostra de componente do patrimôniogenéticonacional.AquelequesolicitaapatentedeveinformaraoInstitutoNacionaldaPropriedade Industrial (INPI)seoobjetodopedidofoiobtidoounãoemdecorrênciadeumacessoacomponentedopatrimôniogenéticonacional.

Em2007,oMinistériodaSaúdeliderouoprocessodaprimeira licençacompulsóriabrasileiraparapatentesdemedicamentos.APortarianº886declaroudeinteressepúblicoosdireitospatentáriossobreomedicamentoEfavirenz.ODecretonº6.108fezconcederolicenciamentocompulsóriodaspatentes1100250-6 e 96088397 com base no interesse público.Essaopçãopelalicençacompulsóriagarantiuaviabilidadedoprogramabrasileirodemedicamentosanti-retrovirais.

Éimportanteobservarqueoquadroepide-miológicobrasileiroébastantecomplexoe envolve enfermidades do tipo infecto-parasitárias(doençasnegligenciadasedoen-çasmuitonegligenciadas)eenfermidadescrônicascomgrandeprevalênciaemPDs(diabetes, doenças cardiovasculares etc).Em 2004, os dados de mortalidade da popu-laçãobrasileiraconfirmaramumpadrãodeóbitosjáidentificadonosanosanteriores,nasseguintesproporções:algumasdoençasinfecciosaseparasitárias(5,3%);neoplasias(tumores) (16,0%); doenças endócrinas,nutricionais emetabólicas (6,1%); doen-ças do sistemanervoso (1,7%); doençasdoaparelhocirculatório(32,5%);doençasdoaparelhorespiratório(11,6%);doençasdo aparelhodigestivo (5,5%); doençasdoaparelho geniturinário (1,9%); algumasafecções originadasno período perinatal(3,5%);malformações congênitas (1,2%);causas externasdemorbidade emortali-dade(14,5%).Essespadrõesimpactamnaspolíticas de prevenção enas tomadas dedecisãona gestãoda saúde.Atualmente,osistemadesaúdebrasileiroenfrentadoisimensos desafios: (i) prover à população

acessoaprodutoseserviçosdesaúdeparaenfrentaresseconjuntodedoenças;e (ii)promoveroesforçodeinovaçãonasáreaspública e privada, associado à gestão dapropriedade industrial e aos interesses do complexoindustrialdasaúde.

Odiálogoentreapolíticadesaúdepúblicaeapolíticadepropriedadeindustrialaindaé tarefa pouco trivial.Não obstante asobrigaçõesdo acordoTRIPs, que reduziuenormementeosgrausde liberdadeantespossíveissobagovernançadaConvençãodeParis,aindaexisteespaçoparacertosajustes,taiscomoaexclusãodematériapatenteávelnoslimiteslegalmentepermitidos,aadoçãodoprincípiodeexaustãodedireitos,aesco-lhadasrazõesparaaconcessãodelicençascompulsórias,ousoexperimental,aexceçãoBolareaanuênciapréviaparaoexamedepatentes(noBrasil,feitapelaAgênciaNacio-naldeVigilânciaSanitária–ANVISA,órgãodoMinistériodaSaúde).

* Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Ministério da Saúde

1Operfildoníveldeescolaridadeatualcon-tribuiparaamanutençãodasdesigualdadesregionais,comimpactosnegativosnoíndicededesenvolvimentohumanobrasileiro.Esseperfil atuademododesfavorável na imple-mentaçãodepolíticaspúblicasdesaúdeedemeioambiente.2 Saúde comodireito social e dever doEs-tado.3NoBrasil, cerca de 52%do gasto que asempresas realizamempesquisaedesenvol-vimento destina-se à compra demáquinaseequipamentos(dadosdapesquisaPINTEC–IBGE,2002).4Nãoobstante relevante conjuntode com-petênciastecnológicasacumuladoporempre-sasbrasileiras,ébaixooperfildecooperaçãode empresas com outras empresas e com outros elementos do SistemaNacional deInovação.NaopiniãodoProf.CarlosAméricoPacheco,daUnicamp,talmodeloaindarefleteos comportamentos adotados na época da políticabrasileiradesubstituiçãodeimporta-ções,emplenovigornosanos50,60e70.5Paratodososcamposdoconhecimento.6O trabalho considerou as seguintes data-bases:CHIResearch,Inc.fromISI’sScienceCitationIndex(SCI)eSocialScienceCitationIndex(SSCI).7 O mecanismo pipeline possibilita a con-cessãonacional de patentes outorgadas empaísesestrangeiroseaplica-separaoperíodono qual a legislaçãonacional não permitiao patenteamento da invenção emquestão.NoBrasil, omecanismo encontra-se regu-lamentadopelosartigos230e231daLeidePropriedadeIndustrial,de1996.