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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração
RICARDO LUIZ VANZELLI BERNI
Desafios da responsabilidade ambiental de uma empresa de distribuição de combustíveis: Um estudo de caso sobre a disseminação da estratégia ambiental de uma distribuidora junto a seus postos revendedores de
combustíveis
Belo Horizonte 2014
Ricardo Luiz Vanzelli Berni
Desafios da responsabilidade ambiental de uma empresa de distribuição de combustíveis: um estudo de caso sobre a disseminação da estratégia ambiental de uma distribuidora junto a seus postos revendedores de
combustíveis
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Linha de pesquisa: Sustentabilidade Orientador: Professor doutor Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Belo Horizonte 2014
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Berni, Ricardo Luiz Vanzelli
B528d Desafios da responsabilidade ambiental de uma empresa de distribuição de combustíveis: um estudo de caso sobre a disseminação da estratégia ambiental de uma distribuidora junto a seus postos revendedores de combustíveis / Ricardo Luiz Vanzelli Berni. Belo Horizonte, 2014.
135f.: il.
Orientador: Armindo dos Santos de Sousa Teodósio Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Administração.
1. Responsabilidade ambiental. 2. Sustentabilidade. 3. Gestão ambiental. 4. Redes de negócios. I. Teodósio, Armindo dos Santos de Sousa. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título.
CDU: 658:577.4
Autorizo a reprodução e a divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Berni, Ricardo Luiz Vanzelli.
Ricardo Luiz Vanzelli Berni
Desafios da responsabilidade ambiental de uma empresa de distribuição de
combustíveis: um estudo de caso sobre a disseminação da estratégia
ambiental de uma distribuidora junto a seus postos revendedores de
combustíveis.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovada em Belo Horizonte, no dia 21 de Fevereiro de 2014, pela seguinte banca examinadora:
Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Orientador)
Profa. Dra. Sylmara Lopes Francelino Gonçalves-Dias Universidade de São Paulo
Prof. Dr. Roberto Patrus Mundim Pena
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
À memória de meus pais amados, pela inspiração, pela dedicação,
pelo exemplo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço os muitos dias dedicados a este trabalho, primeiramente a minha família por compreender a importância e a razão maior para a continuidade e o aperfeiçoamento de meus estudos. Agradeço a todos os profissionais e clientes da Raízen, que apoiaram este estudo com suporte, conhecimento e informações; sem eles, todos os achados e conclusões deste trabalho não teriam sido possíveis. Agradeço aos professores da PUC Minas e da Fundação Dom Cabral, bem como aos outros mestrandos com os quais convivi nos últimos dois anos, pela convivência tão talentosa e inspiradora. Por fim, agradeço a sabedoria e a generosidade do Professor Armindo dos Santos de Sousa Teodósio, meu orientador neste estudo; sem ele, esta etapa da minha vida acadêmica e profissional não teria sido concluída.
Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência.
Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia
pobreza no mundo, e ninguém morreria de fome.
Mahatma Gandhi
RESUMO
BERNI, R. L. V. (2014). Desafios da responsabilidade ambiental de uma empresa de distribuição de combustíveis: um estudo de caso sobre a disseminação da estratégia ambiental de uma distribuidora junto a seus postos revendedores de combustíveis. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais. A longevidade dos negócios e a necessidade de se ampliar e manter uma base de
clientes cada vez mais conscientes têm estimulado as empresas a revisar suas
atividades produtivas e de comercialização de produtos, para legitimar sua atuação
perante a sociedade. Nesse contexto, a responsabilidade ambiental de grandes
corporações, especialmente aquelas com atuação em redes de negócios, passa a
ocupar uma prioridade estratégica, buscando atender não somente a uma legislação
ambiental cada vez mais abrangente, mas também a distintos interesses de
diferentes atores sociais. Para dar cumprimento a essa prioridade, empresas adotam
políticas e sistemas de gestão ambiental como meio para que consigam crescer e se
desenvolver de forma sustentável. Através de um estudo de caso, nesta dissertação,
são analisados os desafios, as oportunidades e as limitações para uma cultura
preventiva de respeito ao meio ambiente, na empresa distribuidora de combustíveis
Raízen Combustíveis S/A, prioridade desejada pela matriz e que precisa ser
disseminada entre os postos revendedores de combustíveis de sua marca.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Gestão Ambiental, Responsabilidade Ambiental
Empresarial, Estratégia de Negócios, Redes de Negócios.
ABSTRACT
BERNI, R. L. V. (2014). Challenges of environmental responsibility of a company's fuel distribution: a case study on the spread of environmental strategy of a distributor and their fuel sites dealers. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais. The business longevity and the need to expand and maintain a consumer base
increasingly aware has encouraged companies to revise their production activities
and products commercialization to legitimize their actions in society. In this context
the environmental responsibility of large corporations, especially those acting in
business networks come to occupy a strategic priority, seeking to meet different
interests and demands of different actors. This study will seek to understand which
are the challenges, opportunities and limitations for a preventive culture of respect for
the environment in a business network, a priority desired by the head office, but it
may need examples and practices so that a preventive culture might spread and
perpetuate itself among its affiliates and between their operators and employees. To
support this piece of work, a case study will be presented about a petroleum
company, Raízen Combustíveis S/A, that will be focused on evaluate how the
company (head office) can disseminate the environmental responsibility among their
sites (gas stations).
Key-words: Sustainability, Environmental Management, Corporate Environmental
Responsibility, Business Strategy, Business Networks.
LISTA DE FIGURAS
Quadro 1 - Características das Abordagens Ambientais.................................... 60 Quadro 2 - Modelos de Gestão Ambiental............................................................ 64 Quadro 3 - Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).............................. 73 Quadro 4 - Principais Marcos Regulatórios para Postos de Combustíveis...... 76
Quadro 5 - Postos Revendedores de Combustíveis Pesquisados............................................................................................................ 82 Quadro 6 - Motivadores para a Estratégia Ambiental...........................................88 Quadro 7 - Engajamento dos Atores na Implementação da Política Ambiental..................................................................................................................92 Quadro 8 - Avaliação das Práticas e Ferramentas da Empresa...........................93 Quadro 9 - Avaliação das Práticas e Ferramentas Ambientais..........................111
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: As Três Esferas da Sustentabilidade.....................................................36 Figura 2 - Mudança do foco da sustentabilidade no meio empresarial..............42 Figura 3 - Interação de Atores sobre Meio Ambiente...........................................44 Figura 4 - Evolução da Questão Ambiental nas Empresas..................................55 Figura 5 - Dimensões da Gestão Ambiental..........................................................59 Figura 6 - Prevenção da Poluição..........................................................................62 Figura 7 - Similaridades dos Programas de TQM e TQEM..................................63
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Social
CEO - Chief Executive Officer
CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CMMAD - Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNUMAD - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
GMC - Grupo do Mercado Comum
GRI - Global Reporting Initiative
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
IGAC - Índice da gestão ambiental corporativa
INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial
ISO - International Organization for Standardization
EEA - Executivo da Empresa Analisada
MERCOSUL - Mercado Comum do Cone Sul
NAFTA - North American Free Trade Agreement
OMC - Organização Mundial do Comércio
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
PIB - Produto Interno Bruto
PRC - Posto Revendedor de Combustíveis
RSE - Relatório de Sustentabilidade Empresarial
SGA - Sistema de Gestão Ambiental
SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente
SMA - Secretaria do Meio Ambiente
SSMA - Segurança, Saúde e Meio Ambiente
TQEM - Total Quality Environmental Management
TQM - Total Quality Management
WWF - World Wildlife Fund for Nature
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 14
2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: AVANÇOS E DESAFIOS.................
26
3. AMBIENTALISMO EMPRESARIAL..................................................................
36
4. ATORES SOCIAIS E INVESTIMENTOS AMBIENTAIS EMPPRESARIAIS.....
44
5. GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL: ABORDAGENS E MODELOS........
54
6. ESTRATÉGIAS EM REDES DE NEGÓCIOS....................................................
66
7. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E GESTÃO EMPRESARIAL NO BRASIL..........
71
7. 1 - Legislação Ambiental no Setor de Combustíveis.................................... 75
8. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................................
78
9. DIFUSÃO DE ESTRATÉGIAS AMBIENTAIS DA RAÍZEN............................
85
9.1 - Orientação Estratégica Ambiental da RAÍZEN.......................................... 85
9. 2 - Desafios Ambientais dos Postos de Combustíveis.............................. 104
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................
119
REFERÊNCIAS......................................................................................................
124
ANEXOS................................................................................................................
131
14
1. INTRODUÇÃO
Um novo cenário empresarial mais competitivo requer das corporações maior
adaptabilidade para conseguir atender, além das demandas do mercado, o
cumprimento da legislação vigente e as expectativas socialmente construídas acerca
de seu desempenho ambiental. Observa-se que, cada vez mais, empresas fazem
disso uma oportunidade de ampliar os negócios ou uma possibilidade de redução
dos custos através da prevenção, mais do que pela correção dos danos que causam
ao meio ambiente, e pelo aprimoramento da ecoeficiência de seus processos. Nessa
direção, mostram-se necessários o envolvimento e o engajamento de diferentes
atores que se relacionam com a empresa em suas atividades, a depender do grau
do tipo de negócio ou segmento em que a empresa está inserida.
No campo da gestão empresarial, observa-se, nos últimos tempos, a
introdução de novas tendências, as quais são assimiladas pelas empresas e que
fazem parte da agenda dos gestores preocupados em modernizar as estratégias
organizacionais. Nesse contexto, a sustentabilidade tem adquirido um status central
e, apesar de não ser um tema recente no repertório social e empresarial, tem sido
apropriada por diferentes grupos sociais, desde movimentos ambientalistas, ONGs,
governos alcançando o universo das empresas, fazendo com que a sustentabilidade
seja uma força muito significativa na forma como são pensadas e geridas as
organizações empresariais em nossos tempos (Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011).
A gestão ambiental empresarial tem tido, nas iniciativas ambientais globais,
regionais e locais, os estímulos principais para seu contínuo aperfeiçoamento.
Múltiplas abordagens e sistemas de gestão têm sido usados e colaboram para o
aumento do diálogo e da interação com outros atores da sociedade, entre eles,
governos, instituições multilaterais, ONGs, institutos de pesquisa, clientes e
consumidores.
O enfrentamento dos problemas ambientais por parte das empresas tem
adquirido uma dimensão estratégica na gestão empresarial, à medida que aumenta
o interesse da opinião pública sobre as essas questões. Assim, posicionar-se na
direção do pleito da sociedade em geral pode ajudar a garantir às corporações uma
real vantagem competitiva no futuro e a manutenção de suas atividades e negócio
(Barbieri, 2012).
15
A sustentabilidade nos negócios e a responsabilidade ambiental das
empresas têm sido cada vez mais debatidas dentro das organizações. Os gestores
têm levado para suas reuniões de planejamento uma preocupação recorrente com o
tema, embora ainda pareçam acreditar que o principal desafio nessa área seja o
desenvolvimento de produtos e serviços ―verdes‖ compatíveis com suas expectativas
de rentabilidade (Abramovay, 2012).
Na visão de Teodósio e Gonçalves-Dias (2006), os debates das empresas
podem gerar desdobramentos positivos. Trata-se, em muitos casos, não de mera
tentativa de dar respostas mínimas às demandas e às pressões de governos e
sociedade civil, mas de se adotar um padrão mais sustentável de operação dos
negócios.
No Brasil, a virada do século XX para o XXI pareceu mostrar avanço na
priorização da gestão ambiental nas empresas, especialmente quando
consideramos que, há pouco mais de uma década, a lógica dominante era a de
modelos de negócios que visavam manter os patamares de lucratividade, sem se
importar quão bem posicionadas estivessem as empresas na sua atuação ambiental
e social. Nas organizações atuais, a preocupação com a longevidade dos negócios e
a necessidade de se ampliar e manter uma base de consumidores estimula a
revisão das atividades produtivas e de comercialização de produtos e serviços, de
forma a melhorar as bases nas quais as empresas legitimam seu negócio, atividade
e atuação frente à sociedade (Barbieri, 2012).
Por essa razão e várias outras ligadas ao controle estatal e social das
atividades empresariais, organizações privadas têm passado a internalizar alguns
dos efeitos advindos da difusão do chamado ―consumo sustentável‖, que se
configuraria como uma tendência para o tratamento da questão dos impactos
gerados pelo consumismo e tem passado a ser adotado por parte de alguns
consumidores, em alguns casos também estimulados pelas próprias grandes
corporações (Paiva, 2009).
Ainda segundo esse autor, a noção de consumo sustentável passa a exigir de
diferentes atores de mercado também um compromisso com a moralidade pública
através das ações coletivas e estimula a implementação de políticas multilaterais de
controle tanto da produção quanto do consumo. Isso envolveria mudanças de
postura aliadas à necessidade de transformação do sistema de valores e de ações
dos cidadãos, governos e empresas.
16
Para fazer frente a essas mudanças, as operações das empresas precisam
passar por uma transformação que poderá incluir não somente uma revisão da sua
forma de gerenciamento para cumprir uma legislação ambiental cada vez mais
rigorosa, mas, principalmente, a implementação de práticas mais sustentáveis e
proativas na relação com o meio ambiente e seus diversos atores (Abramovay,
2012).
Como exemplo desse debate, tem-se a indústria do petróleo ou mais
comumente o segmento de distribuição de combustíveis, que passa por uma
transformação e expansão dentro do mercado brasileiro. Em razão da grande
produção de veículos nos últimos anos e do forte crescimento da produção e
comercialização dos derivados de petróleo, tornou-se necessário um controle
ambiental mais intenso nesse setor, que se faz sujeito a uma legislação específica
em função do perfil do produto que comercializa e pelo potencial dano ambiental
inerente ao perfil de sua operação.
Embora a humanidade conheça o petróleo desde a Idade Antiga, tendo sido
relatados seu uso no Egito Antigo, China e Ásia Menor, é no final do século XVIII
que o petróleo passa a ser explorado como fonte primária de energia, após o
desenvolvimento do processo de refino e do motor a combustão (Cardoso, 2005).
Podemos datar que o início significativo da indústria do petróleo tem origem na
Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, quando em 1859, Edwin Drake
encontrou petróleo a partir de um poço de 21 metros, iniciando, então, uma
comercialização do insumo numa nova fonte de energia, que se tornaria depois
essencial ao mundo moderno.
Em poucas décadas, o setor do petróleo e gás assumiu lugar de destaque na
matriz energética americana e na matriz energética mundial. Atualmente, o petróleo
representa 37% da energia primária consumida no mundo e o gás natural, 24%,
perfazendo, esses dois tipos de energia, 61% do consumo mundial. O carvão
mineral vem em terceiro lugar, com 27%. A energia hidroelétrica e a nuclear vêm
empatadas em quarto lugar, com 6% do consumo mundial.
O rápido crescimento das empresas petrolíferas e o aumento da importância
do petróleo como fonte de energia para os países desenvolvidos transformou esse
setor em um dos mais importantes em todo o mundo. Observamos a importância do
petróleo para a humanidade, mesmo nos tempos atuais. Do petróleo cru, obtemos a
gasolina para os automóveis, o óleo diesel para os caminhões e embarcações, e o
17
querosene para a aviação. Seus derivados também servem para movimentar
fábricas, apoiar hospitais, impulsionar distintas indústrias permitindo o uso de
incontáveis, máquinas e equipamentos. A indústria química usa seus derivados para
a fabricação de plásticos, pesticidas agrícolas e muitos outros elementos que, direta
ou indiretamente, fazem parte do dia a dia das comunidades e países (Shell, 2004).
No século XX, surgiram várias indústrias do petróleo nos Estados Unidos,
Rússia, Extremo Oriente, Oriente Médio e também na América do Sul. O petróleo
passou a ser cobiçado e disputado a ponto de ser reconhecido como o ―ouro negro‖.
No Brasil, a história do petróleo tem seu início na Bahia, quando o Marquês
de Olinda concede a José Barros Pimentel, em 1858, o direito de extrair mineral
betuminoso, em Ilhéus, obviamente não aparecendo nessa época uma atividade
industrial de extração e refino, como se viu sofisticar tempos mais tarde (Santos,
2005).
Em 1913, o então presidente do Brasil, Hermes da Fonseca, concede licença
a algumas empresas estrangeiras, dentre elas, a Shell, sob a denominação de Anglo
Mexican Ltd. para comercializarem, via importação, os derivados de petróleo.
Destacam-se, nessa abertura de mercado no país, o querosene e óleo combustível,
boa parte deles para fins industriais (Shell, 2004).
Em 1938, o governo brasileiro cria o Conselho Nacional do Petróleo (CNP),
que normatizaria o uso das jazidas de petróleo, bem como regularia a expansão da
produção e do refino no Brasil. Em 1939, um poço de petróleo é descoberto em
Lobato (BA) e, em 1941, foi perfurado o primeiro poço comercial brasileiro, em
Candeias, também no estado da Bahia (Santos, 2005).
A indústria brasileira do petróleo, que já vinha assumindo importância, ganha
destaque fundamental a partir da sua nacionalização, em 1953, com a criação da
Petrobrás, Petróleo Brasileiro S.A. Inicialmente, a indústria nacional do petróleo foi
planejada para atuar no refino de óleos importados.
Nas décadas seguintes, como efeito da nacionalização da produção do
petróleo pelos países produtores, as grandes empresas privadas perdem o domínio
das reservas mundiais e o preço do petróleo eleva-se paulatinamente no mercado
internacional.
Na década de 1970, ocorrem dois grandes saltos no preço do barril de
petróleo. A preços de 2004, o barril chega, em 1974, a US$44,55 e, em 1979, atinge
US$78,46. Essa nova situação e o desenvolvimento da exploração em águas
18
profundas viabilizaram uma mudança na estratégia inicial da indústria brasileira do
petróleo que, a partir dos anos 1970, começa a concentrar investimentos nas
atividades de exploração e prospecção.
Até essa fase, não se perceberam quaisquer avanços significativos do ponto
de vista ambiental para a exploração e uso do petróleo e seus derivados, fato que
começaria a mudar apenas um pouco antes da virada do século, de acordo com
Santos (2005). Ainda segundo esse autor, ao longo de sua trajetória, as empresas
de petróleo se instalaram em diversos locais do país, desenvolveram atividades que
impactaram o solo e as águas, também através de seus terminais de armazenagem,
do transporte de derivados ou da comercialização em postos de combustíveis.
Ao longo do século passado, empresas globais desenvolveram-se
impulsionadas pela necessidade crescente do petróleo e seus derivados e se
tornaram conglomerados globais como Exxon, Chevron, Mobil, Texaco, Gulf, British
Petroleum e Shell. Atualmente, empresas globais e brasileiras são chamadas a
responder para uma crescente demanda de oferta de seu produto principal, mas
também são cobradas por seus acidentes ambientais passados e presentes, com os
quais enfrentam elevados custos das remediações necessárias.
Na década de 1980, as gigantes indústrias petroquímicas estavam
preparadas para incrementar seus gastos com controle da poluição, tendo
orçamentos limitados a correções de processo. Em 1982, algumas empresas
planejavam investir, em média, 46% mais do que nos anos anteriores nesse controle
e, como demonstração da mudança dessa visão em prol de uma produção mais
sustentável, um artigo da revista ―Chemichal Week‖ mostrava que as indústrias em
geral estavam movidas para uma mudança cultural definitiva, na qual o
gerenciamento ambiental estaria sendo elevado a um patamar de função
administrativa chave dentro das corporações. Finalmente, os grandes investidores
das grandes companhias químicas e petroquímicas com expressão mundial, como
Allied Signal, Bristol-Myers Squibb, DuPont, Chevron, Exxon, Occidental, Mobil e
Procter & Gamble estavam decididos a participar, incluindo não somente os temas
nas reuniões com acionistas, mas, principalmente, ampliar significativamente o
investimento preventivo que melhora a imagem e reduz os dispêndios de correção
que corroem a sua própria reputação (Hoffman, 2001).
A década de 1980 foi marcada por grandes acidentes industriais, que tiveram
graves consequências ambientais e de saúde pública. A maior parte desses
19
acidentes envolveu a indústria química, a petrolífera e a energética. Em termos
econômicos, muitos analistas consideraram essa como uma década perdida, já que,
em diversos países, principalmente naqueles em desenvolvimento, as dívidas
externas aumentaram rapidamente e seus problemas sociais se agravaram (Barbieri,
2007).
A partir dos anos 1990, há uma clara caracterização de maior conscientização
sobre a responsabilidade socioambiental, incluindo-se nesse tema também o Brasil,
com o crescimento e fortalecimento das ONGs ambientais e a realização da Rio 92,
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992, que ajudou a trazer mais ainda
as questões ambientais para o centro dos debates sociais.
Normas como a ISO 14000 para a gestão ambiental, o Global Reporting
Initiative (GRI) e os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social foram alguns dos
muitos exemplos de ações de traduzidas como mudança obrigatória de foco na
direção de uma maior responsabilidade ambiental das empresas, desenvolvidos nos
últimos anos, dentre outros fatores, para fazer frente à mudança de expectativas da
sociedade como a performance das empresas em termos ambientais e sociais
(Barbieri, 2011). Com a indústria de petróleo não foi diferente, com as exigências
ambientais começando a aparecer, gradativamente, lado a lado na consideração da
importância desse recurso para o funcionamento das sociedades contemporâneas.
O relacionamento das empresas e seus atores deve ser considerado uma via
de mão dupla, em que as empresas influenciam e são influenciadas pelos agentes
sociais. No caso das empresas distribuidoras de combustíveis, a relação da
comercialização dos produtos nos postos de serviços passa a ser uma grande
prioridade da matriz, considerando-se os riscos do transporte, da armazenagem e da
comercialização junto aos consumidores finais. Trata-se de etapas de risco, que são
normatizadas e devem ser averiguadas e fielmente cumpridas. A relação dessas
empresas com funcionários, revendedores, empregados dos postos e os
consumidores influenciam a difusão (ou não) de uma cultura de respeito ao meio
ambiente, mas são, da mesma forma, impactadas por eles.
A legislação e a normatização crescente no setor de combustíveis têm sido o
aspecto-chave para atrair a atenção dos atores do segmento. Por exemplo, São
Paulo foi o primeiro Estado a criar, em 2000, um cadastro de áreas contaminadas
20
típicas das operações de distribuição e comercialização de combustíveis e, a partir
desse controle, iniciou-se um melhor acompanhamento dessas áreas pela
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), órgão responsável
pela indicação de responsáveis, da localização, das fontes e do estágio de
contaminação, além da situação das áreas.
No ano de 2000, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) publicou
a Resolução n. 273/00, a qual estabeleceu em âmbito nacional a obrigatoriedade do
licenciamento ambiental dos postos de combustíveis, um importante marco que
estimula um maior cuidado com vazamentos de combustíveis em postos de serviços
e aumenta o cuidado real pela armazenagem dos produtos, com aumento da
fiscalização, novas regras e condutas, além de punição e multas financeiras para os
infratores.
Com isso, o assunto, que já era alvo de preocupação nesse Estado, ganhou
destaque e amparo legal, e a gestão ambiental nos postos passou a ser uma
questão ainda mais relevante para seus operadores e proprietários. A exemplo do
Estado de São Paulo, percebe-se um incremento gradual nas exigências da
legislação sobre postos de combustíveis também em outros Estados da federação,
trazendo novos desafios e complexidades para a gestão ambiental empresarial que
deve servir não só ao cumprimento da legislação específica, mas também ao
controle preventivo e gerenciado das atividades que podem impactar o meio em que
vivemos.
A gestão ambiental refere-se às diretrizes e às atividades administrativas e
operacionais realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio
ambiente. Pode ser aplicada a uma variedade de iniciativas por meio de três
dimensões principais: a espacial, que concerne à área, na qual se espera que as
ações de gestão tenham eficácia; a dimensão temática, que delimita as questões
ambientais às quais as ações se destinam; e a dimensão institucional, relativa aos
agentes que tomaram as iniciativas de gestão (Barbieri, 2007).
É na dimensão institucional, conforme a entende Barbieri (2007), que esta
dissertação volta seu foco, buscando analisar como a matriz de uma empresa
consegue fazer disseminar sua estratégia ambiental entre seus diferentes níveis e
agentes que compõem sua cadeia de postos de combustíveis. As distribuidoras de
combustíveis, objeto deste estudo, deparam-se com o desafio de conscientizar um
segundo nível operacional, para apoiar a criação de uma cultura de gestão e
21
prevenção ambiental junto aos operadores, donos dos postos de serviços,
normalmente composto por empresários de diferentes perfis. A partir dessa ação,
podem-se prevenir as contaminações ambientais na oferta e na venda de produtos
que, por sua natureza, têm potencial poluente e contaminante, e envolvem múltiplas
e, muitas vezes, complexas e delicadas operações de recebimento,
comercialização, armazenamento e descarte de produtos e resíduos do setor de
combustíveis.
Nesta pesquisa, portanto, foram analisados os avanços e desafios da
responsabilidade ambiental de empresas bem como essa estratégia dissemina-se
num conglomerado de negócios. Para dar concretude a essa investigação,
recorremos ao estudo de caso, que terá como unidade de análise uma empresa de
grande porte de distribuição de combustíveis em atuação no mercado nacional. O
foco de análise se voltou para a implementação da estratégia ambiental da empresa
matriz junto aos seus postos de serviços, discutindo em que medida isso pode se
concretizar numa cultura preventiva de danos ambientais.
Um dos desafios desse estudo é confrontar a pretendida responsabilidade
ambiental das empresas que comercializam produtos combustíveis perante a
capacidade da matriz em implementar e difundir sua estratégia em uma rede de
pequenas empresas, caracterizada pela presença de uma extensa rede de postos
de serviços, que são demandados a construir uma cultura preventiva e de respeito
ao meio ambiente em suas atividades cotidianas.
Para se analisar a dinâmica de difusão de inovações ambientais entre as
empresas, deve-se perguntar sempre quais forças e interesses sociais vão
prevalecer nos processos de mudança organizacional característicos da
responsabilidade socioambiental das corporações (Gonçalves-Dias & Teodósio,
2011).
Segundo Cropper et al. (2008), as redes de negócios formadas entre
empresas constituem organizações complexas, que aglutinam distintos interesses
com o intuito de tornar possível a obtenção de ganhos coletivos. Vistas dessa forma,
as redes inter organizacionais possuem um desafio adicional para a implementação
da diretriz ambiental, já que as normatizações oriundas da matriz para a
implementação das ações necessitam do apoio, da concordância e da atuação de
outras empresas secundárias ligadas à sua esfera de negócios.
22
Normalmente, empresas que atuam em redes de negócios enfrentam o
paradoxo da escolha individual em oposição à escolha social ou coletiva. Em regra,
esse é um dos desafios mais complexos de ser superado. Percebe-se, ainda, um
crescente número de iniciativas de redes e relações inter organizacionais, os quais
têm demonstrado que é possível transpor essa barreira e realizar ações
colaborativas entre atores através de estratégias mais eficazes de cooperação
(Coleman, 1990; Child et al., 2005).
Além disso, a cooperação e as redes de empresas têm se constituído em alvo
de grande interesse na atualidade. Tanto a literatura científica sobre o tema quanto
as diretrizes que se disseminam no mundo dos negócios têm sido enfáticos em
destacar a importância da capacidade de colaboração e da estruturação em rede
como condições para o êxito organizacional (Prahalad & Hammond, 2005).
Nesse contexto, a problemática do presente estudo inclui compreender a
dimensão real e as características das redes de negócios, pretendendo contribuir
para o entendimento dos desafios da difusão da sustentabilidade e da gestão
ambiental nessa dinâmica de relações empresariais.
Como pergunta central, razão deste estudo, analisamos como se dissemina a
estratégia de responsabilidade ambiental de uma distribuidora de combustíveis entre
seus postos de serviços, de forma a se discutir se ela é capaz de fomentar e
fortalecer uma cultura de respeito ao meio ambiente.
As justificativas práticas deste estudo concentram-se na relevância de se
discutir como a evolução da responsabilidade ambiental das empresas encontra
paralelo na indústria de distribuição de combustíveis e em que medida o
cumprimento de uma legislação específica, as expectativas socialmente construídas
acerca do desempenho adequado dessa rede de empresas e outras motivações
ligadas a uma cultura preventiva de cuidados ambientais objetivados pela matriz
(distribuidora de combustíveis) podem influenciar seus negócios afiliados (postos de
serviços).
Adicionalmente, analisamos como as redes de negócios, representadas neste
estudo pela indústria de distribuição de combustíveis, gerenciam seus princípios
estratégicos através de uma implementação descentralizada entre seus ramos
periféricos de negócios, que são outras empresas constituídas, as quais, muitas
vezes, apresentam interesses comuns e também outros divergentes em relação à
matriz.
23
A análise de uma empresa de um segmento específico permitirá ilustrar qual
o nível de cooperação que permeia uma rede de negócios, especialmente no
tocante a compartilhar a gestão, a prática e os procedimentos da sua estratégia
ambiental. Analisamos, empiricamente, como a responsabilidade ambiental de uma
distribuidora de combustíveis pode ser disseminada através do seu canal varejista -
os postos de serviços, responsáveis pelo elo final de contato com os consumidores
finais.
Para dar materialidade à dissertação, o estudo de caso foi baseado na
empresa Raízen Combustíveis S/A, originada em 2011, após processo de
integração (joint-venture) dos negócios das empresas Shell e Cosan, no Brasil.
Segundo o relatório Maiores e Melhores (2011) da Revista Exame, a Raízen
figuraria entre as dez maiores companhias em faturamento bruto do Brasil.
Conforme dados públicos divulgados em seu sítio eletrônico, a empresa tem 24
usinas de açúcar e etanol, 53 terminais de distribuição e comercializa
aproximadamente 22 bilhões de litros de combustíveis por ano, através de vários
canais de negócios, entre eles, o varejo (postos de serviços), que conta com mais de
4.700 postos revendedores de combustíveis no Brasil.
A justificativa teórica deste estudo concentra-se no campo da
sustentabilidade, com foco na responsabilidade ambiental das empresas e sua
disseminação numa rede de outras empresas afiliadas (redes), tema que vem cada
vez mais sendo debatido dentro das próprias organizações e na sociedade em geral.
As lacunas teóricas para as quais esta dissertação tentará contribuir para
superar estão concentradas, portanto, nos componentes da sustentabilidade; na
evolução histórica da responsabilidade e gestão ambiental das empresas; na
interação de seus principais atores e na sua perspectiva de aprimoramento da
performance da empresa, em diferentes dimensões, desde a financeira até a de
eficiência dos processos, convivendo e se articulando com as crescentes exigências
legais e investimentos necessários para a preservação e a conservação do meio
ambiente. Há particular intenção em analisar como se dissemina uma estratégia
ambiental em redes empresariais, focalizando os aspectos de cooperação e
competição que podem coexistir entre uma empresa matriz e suas afiliadas.
Para Abramovay (2012), a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental de
empresas receberão cada vez mais atenção da sociedade. Segundo o autor, nos
países mais ricos do planeta acumulam-se os estudos em que é mostrado que a
24
elevação na disponibilidade de bens materiais e de renda está longe de ser
proporcional ao sentimento de melhoria na qualidade de vida.
A fim de aprofundar a análise sobre as redes empresariais, nesta dissertação
foram discutidas as organizações interdependentes, modelos complexos que
aglutinam distintos interesses entre seus atores, além de avaliar as formas mais
utilizadas de cooperação e disseminação de seu posicionamento através de uma
organização, com objetivo voltado ao ganho coletivo. Enquanto duas empresas
estão interagindo, desafios e problemas são confrontados com eventuais soluções,
habilidades são confrontadas com necessidades, dinâmicas fundamentais de uma
rede inter organizacional (Hakansson & Snehota, 2006).
Dessa forma, a presente dissertação organiza-se em torno do seguinte
objetivo geral, a saber, analisar como a estratégia de responsabilidade ambiental de
da Raízen dissemina-se entre seus postos de serviços e quais os seus
desdobramentos na difusão de uma cultura preventiva de respeito ao meio
ambiente.
Para alcançar esse objetivo, são também contemplados os seguintes
objetivos específicos: a) discussão acerca da evolução da estratégia de
responsabilidade ambiental nas empresas e os elementos para a construção de uma
política de sustentabilidade, em especial, no setor de distribuição de combustíveis no
Brasil; b) análise da implementação de sistemas de gestão ambiental em empresas
de distribuição de combustíveis e quais são as diretrizes para a sua execução em
postos de combustíveis; c) análise dos avanços e desafios para a execução das
estratégias de gestão ambiental entre os postos de combustíveis da Raízen; d)
indicação de oportunidades de melhorias para a implementação de práticas
ambientais na empresa e sua rede de empresas.
Esta dissertação é composta de 11 capítulos (CONFERIR). O marco teórico
envolve os capítulos 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8. Na teorização, inicialmente foi discutida a
noção de desenvolvimento sustentável segundo diferentes visões, além de serem
analisados e interpretados os componentes e os atores da envolvidos na dinâmica
da sustentabilidade (capítulo 2). A seguir, no capítulo 3, foi analisada a difusão dos
princípios do ambientalismo no ambiente empresarial; e, no capítulo 5, discutiu-se o
papel de diferentes atores sociais sobre a difusão de estratégias de sustentabilidade
nas empresas e os desafios para retorno de investimentos nas organizações. No
capítulo 5, foram tratadas as diferentes abordagens e os modelos que envolvem a
25
chamada Gestão Ambiental Empresarial. O tema das redes empresariais e a difusão
de estratégias, nessa forma de coordenação de negócios, foram analisados no
capítulo 6. Já no capítulo 7, enfocamos a evolução da legislação ambiental
brasileira. Após a apresentação dos procedimentos metodológicos no capítulo 8, foi
feita a análise do estudo de caso, subdividida em dois sub tópicos no capítulo 9, um,
no qual se analisou o esforço estratégico da Raízen na questão ambiental; e outro,
em que se discutiram os desafios da operacionalização dessas estratégias na rede
de postos de combustíveis desse grupo empresarial.
26
2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: AVANÇOS E DESAFIOS
A responsabilidade empresarial em relação ao meio ambiente pode ser
entendida através da ideia de que sociedades e corporações devem buscar um
desenvolvimento sustentável, reconhecendo que, pelos antigos padrões de
crescimento das economias e de gestão empresarial, as organizações não
cumpriam seu papel esperado na defesa do meio ambiente.
Desenvolvimento sustentável refere-se, portanto, ao crescimento da
economia que preza as limitações e o respeito aos recursos naturais disponíveis. É
o crescimento que não impede a industrialização ou consumo, mas que busca
encontrar os meios de atender a suas necessidades atuais sem comprometer as
necessidades das gerações. É o crescimento que se preocupa com componentes
globais de desenvolvimento, como controle da população, segurança alimentar,
recursos de ecossistemas, consumo de energia, dentre outros (Shrivastava, 1995).
Um conceito de desenvolvimento sustentável que deveria ser perseguido
pelos povos é o proposto por Abramovay (2013), pelo qual interpreta, em sua visão,
o que seria o ideal ―mundo de abundância‖:
Um mundo de abundância, em que a concepção criativa e o uso adequado dos produtos representam o caminho para superar as fronteiras em que o desenvolvimento sustentável está hoje enclausurado. Um mundo em que cidades funcionam como florestas, recuperando o que é comumente tratado como lixo, em que a melhor energia é a que vem do sol, do vento, e onde as emissões fósseis ainda remanescentes convertem-se em alimentos para nutrientes biológicos e não em aquecimento global. Uma economia que não se restringe a reduzir danos, a fazer menos mal, mas tem como objetivo central regenerar os ecossistemas degradados e, por aí, oferecer novas fontes de dinamismo às sociedades humanas, cultivando aquilo que Emerson, o precursor americano do ambientalismo contemporâneo, chamava de profusão calculada. Em suma, um mundo em que a matéria, a energia e os recursos bióticos dos quais dependemos não respondem a uma lógica linear (extrair-produzir-usar-jogar), nem mesmo a uma lógica circular de ciclo fechado, mas a um movimento em espiral em que a atividade econômica resulta num conjunto de nutrientes técnicos e biológicos para a produção de novos bens e serviços (Abramovay, 2013, p. 10).
Ainda que neste estudo tenhamos buscado uma conceituação para
desenvolvimento sustentável, um conceito único não seria possível segundo a visão
27
de José Eli da Veiga (2012), pois segundo esse autor, desenvolvimento sustentável
deixou de ser um simples conceito para se transformar num valor, uma vez que:
Desenvolvimento sustentável não é conceito. Desenvolvimento sustentável pode ser visto como um novo valor. A era moderna foi inaugurada com três grandes ideais, representados pelas cores da bandeira francesa. O azul da liberdade, o branco da igualdade (ou equidade) e o vermelho da solidariedade. São três ideais que nada têm a ver com a nossa relação com o meio ambiente, porque no final do século 18 havia a percepção de que a natureza era infinita. E isso continuou mais adiante, por exemplo, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, um documento importante, mas nada do que tem lá se refere às responsabilidades com a natureza. É muito recente a consciência de que há um problema da humanidade com o ambiente (Veiga, 2012, p.30).
Os problemas ambientais que podem ser vistos atualmente como um
malefício para a humanidade decorrem do próprio progresso social ao longo do
tempo, provocados por nós, seres humanos, e são gerados a partir da extração e do
uso dos recursos naturais para produzir os bens e serviços de que necessitamos.
Por muito tempo, o uso desses recursos não gerou uma degradação do ambiente e
a relação homem-natureza era, por assim dizer, ―pacífica‖, inclusive há versões que
sustentam que, nas comunidades onde o homem convivia mais diretamente em
contato com o meio natural, a preservação do meio ambiente acontecia de forma
mais visível e integrada. Ao contrário, na maioria das grandes cidades, percebe-se
maior deterioração ou degradação do meio natural.
É comum apontar que a Revolução Industrial teria sido um marco no qual a
devastação ambiental intensificou-se devido a diversos efeitos como as emissões
ácidas das empresas, pela extração inadequada de recursos naturais, pelo descarte
inadequado dos resíduos em solo e águas, pelo aumento do uso de pesticidas e
fertilizantes, pela crescente demanda de insumos para dar conta das produções em
massa das grandes indústrias (Barbieri, 2011).
Ainda segundo esse autor, a maneira como a produção e o consumo ocorrem
desde esse período exigem recursos e deixam resíduos, ambos em quantidade
vultuosas, que já ameaçam a capacidade de suporte do próprio planeta, pela
quantidade de seres vivos que ele pode suportar sem se degradar (Barbieri, 2011).
O final do século XX foi marcado pelo aumento do debate entre o meio
cientifico e a opinião pública para uma série de questões de abrangência global
28
derivadas da relação homem e ambiente, como o controle da população, escassez
de alimentos e de água potável, a finitude das fontes não renováveis de energia,
entre outras. A essas questões que expressam condição de limitação ou
degradação, adicionaram-se outras de caráter social, relacionadas à crescente
dicotomia entre riqueza e pobreza, e a reflexão de que as gerações atuais
precisarão responsabilizar-se pelas gerações futuras.
Nesse cenário e acrescentando-se o crescimento populacional, a
necessidade de gerar empregos, o aprimoramento das tecnologias e o crescimento
e fortalecimento de empresas, além do fato de as sociedades estarem em busca de
melhor qualidade de vida e também de inclusão social, fundamenta-se um
comportamento mais responsável, social e ambientalmente, por parte de todas as
organizações que atuam nos mercados.
Sobre o controle sustentável da população, é importante não somente refletir
sobre a taxa de crescimento puramente, o que já ocorre, especialmente nos países
desenvolvidos, mas sobre o aumento dos impactos sobre o meio ambiente derivado
da mimetização pelas nações em desenvolvimento do estilo de vida dos países
industrializados. Mesmo com taxas de crescimentos menores, os países
industrializados são responsáveis pela maior poluição e consumo de recursos do
que os países com maiores taxas de crescimento da população e que não sejam
industrializados (Shrivastava, 1995).
A visão mais pessimista de alguns estudiosos sobre o futuro reforça a
necessidade de reflexão. Segundo Hobsbawn (1995):
Uma taxa de crescimento econômico como a da segunda metade do breve
Século XX, se mantida indefinidamente (supondo-se isso possível), deve ter
consequências irreversíveis e catastróficas para o ambiente natural deste
planeta, incluindo a raça humana que é parte dele. Não vai destruir o planeta,
nem torná-lo inabitável, mas certamente mudará o padrão de vida na biosfera,
e pode muito bem torná-la inabitável pela espécie humana, como a
conhecemos, com uma base parecida a seus números atuais (Hobsbawn,
1995, p. 547).
Desenvolvimento sustentável envolve ainda segurança alimentar para o
mundo. Sem comida, não seria possível manter a ordem política e social. O mundo
29
produz alimento para toda a sua população, mas ainda existem desigualdades e
milhões pessoas morrendo de fome ou desnutrição todos os anos. Desenvolvimento
sustentável deve buscar a forma de garantir o equilíbrio na justa distribuição dos
alimentos. Isso deveria encorajar novas práticas agrícolas e diferentes formas de
armazenagem e comercialização (Shrivastava, 1995).
O uso sustentável dos ecossistemas significaria limitar o uso natural dos
recursos nos territórios, de forma que eles possam se renovar através de processos
naturais. Isso envolveria ajustar as taxas de uso dos recursos para as taxas de
renovação natural, tornando a extração e uso, mais ecologicamente saudáveis.
Nesse contexto, um recurso chave é energia, cujo uso per capita tem sido muito
elevado nos últimos tempos. O uso sustentável das energias requer conservação e
redução de desperdício e, ainda, substituição do uso de recursos fósseis
gradualmente para outras fontes renováveis de energia (Shrivastava,1995).
A observância de que os recursos naturais não podem ser considerados independentes e o uso perdulário dos mesmos compromete as funções ambientais que, por sua vez, interferirão na sua utilização nos períodos ou gerações seguintes. O Conselho Econômico e Social da ONU estima que 2 bilhões de hectares estejam degradados no mundo colocando em risco a subsistência de 1 bilhão de pessoas e a água, assim como o solo também dá sinais de esgotamento e seus prognósticos, segundo algumas interpretações, são alarmantes e já se tornou comum, as previsões de que este será o recurso mais escasso do século XXI (Barbieri, 2011, p. 35).
O avanço da produção e o limite do que a natureza pode suportar é ponto de
intenso debate entre especialistas e acadêmicos, e seus posicionamentos pendem
entre as mais devastadoras previsões até as propostas de que a humanidade terá
plena capacidade de resolver todos os seus problemas. Como citado, esse debate
aparece com mais intensidade com a Revolução Industrial, principalmente após a
obra de Malthus, intitulada Ensaio sobre a população de 1978. Com ela, o termo
malthusiano passou a demonstrar um exemplo de pessimismo especialmente
pontuado entre o crescimento demográfico e a incapacidade das nações,
especialmente as mais pobres, em se evitar a degradação do ambiente (Barbieri,
2011).
Ainda segundo Barbieri (2011), em outro extremo, observamos um grupo de
pessoas otimistas com relação ao futuro, fiando-se na crença de que os problemas
atuais de escassez e degradação natural serão continuamente resolvidos seja pela
30
substituição de insumos ou pela reinvenção dos processos de produção. O exemplo
mais contundente desses teóricos poderia ser encontrado em Julian Simon,
economista da University of Maryland. Pelas estudos que fez, esse pesquisador
procura mostrar que, ao longo dos séculos, a qualidade de vida da humanidade em
geral só cresceu em relação ao passado, apesar das previsões pessimistas sobre o
esgotamento do solo e água (Barbieri, 2011)
A despeito da análise pendular dos teóricos sobre o futuro da humanidade,
muitos concordarão que ampliar o conhecimento e os padrões de desenvolvimento
dos diferentes países e dos grupos sociais pode ampliar as chances de se buscar
um crescimento social sustentável e, por isso, cada vez mais as expressões
desenvolvimento sustentável e sustentabilidade tratam da associação de variáveis
sociais, ambientais e econômicas como forças conjuntas para que haja um
crescimento e desenvolvimento de um país, um território, uma comunidade e,
também, uma corporação.
Segundo Claro et al. (2008), dependendo da forma como é elaborado, o
termo sustentabilidade está correndo o risco de perder significado. Soma-se a isso
ainda o fato de que tem sido conceituado de inúmeras e diferentes maneiras.
...o discurso dos gestores e dos empreendedores sobre sustentabilidade é dirigido a seus funcionários, ao mercado consumidor, aos concorrentes, aos parceiros, às Organizações Não-Governamentais (ONGs) e aos órgãos governamentais. Esses discursos buscam vincular práticas gerenciais ambientais, sociais e econômicas a uma imagem positiva da empresa. No entanto, várias empresas têm dificuldade em associar seus discursos e práticas gerenciais a uma definição completa de sustentabilidade. Algumas focam questões sociais; outras, questões ambientais; e muitas, questões exclusivamente econômicas. O que predomina, na realidade, apesar de tantos esforços teóricos, é falta de consenso sobre o significado atribuído à sustentabilidade. As inúmeras definições levam à argumentação de que sustentabilidade é um conceito sem significado algum e com muitos ao mesmo tempo... (Claro et al., 2008, p. 56).
Desenvolvimento sustentável precisaria ser, portanto, construído sobre base
sólida e economias sustentáveis. Políticas econômicas deveriam guiar os processos
de industrialização, ciência e tecnologia, uso da energia, urbanização e comércio
internacional para serem consistentes com esse desenvolvimento (Shrivastava,
1995).
31
Outra noção importante seria a de ―capitalismo sustentável‖, quando se
considera a necessidade de se construírem economias sustentáveis. Segundo
Abramovay (2012), essa noção está baseada em três ideias centrais. Em primeira
instância, com a ruptura do modelo econômico dos últimos 30 anos, que inspira a
tomada de decisões habituais nas empresas que buscam resultados financeiros de
curto prazo. Rompendo-se com esse modelo, melhores investimentos seriam
escolhidos, de forma a se evitar a destruição ou degradação socioambientais. Várias
empresas, segundo o autor, já começam a insurgir-se contra uma forma de operar
unicamente baseada em critérios financeiros.
A segunda ideia busca aquilo que poderia ser chamado de ―necessidades
reais‖. Não se trata unicamente do julgamento do que se precisa para produzir algo,
nem tampouco da busca permanente da eficiência, mas trata-se de entender se o
sistema econômico está preenchendo as ―necessidades reais‖ ou se tem gerado
produção e demanda além do que é necessidade primária, causando excessos e
desperdícios no uso dos recursos naturais. Por fim, os investimentos ambientais no
curto prazo não deveriam ser considerados custos de atividade no meio empresarial,
visto que, se considerados os custos derivados do enfrentamento de problemas
ambientais graves no futuro, os lucros das empresas, especialmente aqueles
vislumbrados no médio e longo prazo, estarão severamente comprometidos
(Abramovay, 2012).
O conceito de sustentabilidade, apesar de ter sido introduzido nos debates
sobre o desenvolvimento geral a partir das preocupações ambientais, traz também
outras dimensões fundamentais como a social, cultural, ambiental ou ecológica,
territorial, econômica, política e do sistema internacional, além da educação e
tecnologia. Essas dimensões podem ser melhor compreendidas dentro de uma visão
sistêmica de mundo que conduziria ao desenvolvimento sustentável, segundo
advoga Heimbecher (2011). Ainda segundo a autora, tem-se como base do
crescimento sustentável o crescimento econômico e desenvolvimento sustentável
obtidos como resultados de um processo; a sustentabilidade significando uma
condição, um conjunto de dimensões para a consecução do desenvolvimento
sustentável; e as questões sociais como também como dimensões relevantes da
sustentabilidade como um todo.
Segundo o relatório Nosso futuro comum, produzido pela Comissão Mundial
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) no final da década de 1980, o
32
conceito de desenvolvimento sustentável implica que a humanidade será capaz de
tornar o desenvolvimento sustentável e de garantir que ele atenda as necessidades
do presente, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem
também às suas, conceito adotado nesta dissertação. Seria, ainda, um processo de
transformação no qual a exploração de recursos, a direção dos investimentos, a
orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional harmonizam-
se e reforçam as responsabilidades e o potencial presente e futuro dos diferentes
atores sociais na busca pelo atendimento das necessidades e aspirações humanas
(CMMAD, 1991).
Segundo Sachs (1995), o conceito de sustentabilidade seria formado por
cinco componentes: a sustentabilidade social, que abrange a gritante desigualdade;
a sustentabilidade econômica, voltada para a discrepância na concentração de bens
e riquezas em poucos; a sustentabilidade ecológica, ligada à preservação da
biodiversidade e à qualidade ambiental; a sustentabilidade espacial, que se referiria
à distribuição adequada dos assentamentos humanos e, consequentemente, a
distribuição territorial; e, por fim, a sustentabilidade cultural, voltada para a
necessidade de se evitarem conflitos culturais entre povos. Para Abramovay (2010),
desenvolvimento sustentável é o processo de ampliação permanente das liberdades substantivas em condições que estimulem a manutenção e a regeneração dos serviços prestados pelos ecossistemas às sociedades humanas. Ele é formado por uma infinidade de fatores determinantes, mas cujo andamento depende, justamente, da presença de um horizonte estratégico entre seus protagonistas decisivos. O que está em jogo nesse processo é o conteúdo da própria cooperação humana e a maneira como, no âmbito dessa cooperação, as sociedades optam por usar os ecossistemas de que dependem (Abramovay, 2010, p. 30).
A inserção mais contundente da ideia de sustentabilidade na agenda
internacional se deu em 1971, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente Humano, e unia as discussões sobre o meio ambiente e o
desenvolvimento econômico. A discussão central sobre sustentabilidade mudava a
compreensão, vigente até essa época e amplamente aceita sem maiores
questionamentos, de que o crescimento se faria em expansão indefinidamente, ao
passo que, implicitamente, os recursos naturais eram considerados infinitos. Ou, em
outras palavras, a ideia era a de que os recursos naturais não limitariam de forma
alguma o crescimento econômico, visto que eram considerados variáveis exógenas
33
aos modelos de crescimento econômico nos debates e na compreensão pública
sobre os desafios do desenvolvimento que aconteciam na época. A partir desse
período, os debates sucederam-se na tentativa de encontrar um princípio unificador
que extrapolasse os índices de crescimento econômicos, sem referência à limitação
dos recursos naturais (Pereira et al., 2010).
Em 1972, na Conferência de Estocolmo, buscava-se um caminho novo às
posições ―desenvolvimentistas‖ do início dessa década e, em 1974, na ONU, cria-se
a Declaração de Cocoyoc, com a novidade da abordagem da relação entre explosão
populacional e destruição ambiental.
Em 1980, no documento World Conservation Strategy, produzido pela World
Wildlife Fund for nature (WWF), a expressão ―desenvolvimento sustentável‖ aparece
pela primeira vez. No entanto, é a partir da publicação do relatório Bruntland, de
1987, denominado Nosso Futuro Comum, que a expressão passou a ser
reproduzida mais amplamente ao ser definida como o desenvolvimento que satisfaz
as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as futuras
gerações satisfazerem as suas próprias necessidades. (Pereira et al., 2010). O
Relatório Brundtland (1991, p. 88) já apontava os desafios institucionais e de
articulação de diferentes atores sociais, inclusive as empresas, em torno dos
objetivos do desenvolvimento sustentável, já que
o desenvolvimento sustentável será um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas.
Sobre a importância do relatório Brundtland como elemento de avanço nos
debates e nas tentativas de articulação dos atores sociais em uma governança
internacional mais favorável ao meio ambiente, Claro et al. (2008) destacam que,
em termos de política internacional, o Relatório Brundtland enriquece o debate, uma vez que introduz o conceito de equidade entre grupos sociais (ricos e pobres), países (desenvolvidos e em desenvolvimento) e gerações (atuais e futuras). Tais conceitos são definidos como os princípios básicos da sustentabilidade: equidade, democracia, princípio precaucionário, integração política e planejamento. O princípio de equidade mostra que os problemas ambientais estão relacionados a desigualdades sociais e econômicas. O princípio da democracia mostra a importância de resolver problemas
34
ambientais de forma democrática, levando em consideração os anseios dos mais pobres e com mais desvantagens, incentivando a participação da comunidade envolvida no planejamento político e na tomada de decisão (Claro et al., 2008, p. 72).
Já para Pereira et al. (2010), é nos anos 1990 que a noção de
desenvolvimento sustentável ganha maior repercussão internacional, mobilizando
diferentes atores sociais, inclusive, já naquela época, empresas privadas, na
discussão sobre desenvolvimento e suas implicações para a sustentabilidade, uma
vez que,
durante a Eco-92, no Rio de Janeiro popularizou-se o conceito de desenvolvimento sustentável. O seu principal objetivo foi o de vincular desenvolvimento e meio ambiente através da conciliação de três critérios: equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica. Ou seja, mais uma vez o (nosso) futuro seria comum, no sentido que um mundo único colocar-se-ia frente à ameaça generalizada das catástrofes – tanto aquelas provocadas pela natureza como as provocadas pela humanidade. Tal futuro seria moldado na crença de uma política de consenso, que seria capaz de dissolver divergências e reconduzir pontos de vistas para um mesmo foco (Pereira et al., 2010, 34).
Da forma descrita, evidencia-se que, na verdade, a necessidade e a urgência
de se compatibilizarem crescimento econômico, tecnologia e meio ambiente — com
o intuito de minimizar as desigualdades sociais, configurando-se uma nova tentativa
de revitalizar o desenvolvimento, mas agora considerando o patrimônio ambiental
(Sachs, 2000), permitem concluir que
a reflexão sobre os problemas ambientais precisaria ampliar o enfoque de forma a dotar a discussão de uma visão mais ampla do que aquela restrita à economia de recursos ou reciclagem de resíduos. O consumo sustentável se configuraria como uma das possibilidades de tratamento da questão dos impactos gerados pelo consumismo. Ele envolve mudanças de atitude aliadas à necessidade de transformação do sistema de valores e atitudes dos cidadãos. Apesar de ainda não se observar a predominância de um novo modelo civilizatório com capacidade de superar os dramas da sociedade do consumo, existem alternativas que podem ajudar a torná-lo mais sustentável. Esse esforço sugeriria a construção de articulações diferentes entre setores e instâncias do governo, da sociedade civil e da esfera privada, para atender as demandas da população e adotar boas práticas de produção e consumo sustentáveis, podendo oferecer possibilidades de ação política e exercício da cidadania (Teodósio & Viegas, 2009, p. 3).
35
Sachs (2004) salienta que o conceito de desenvolvimento sustentável está
baseado na solidariedade sincrônica da geração atual com a solidariedade
diacrônica com as gerações futuras. Segundo o autor, desenvolvimento sustentável
compele-nos a trabalhar com escalas múltiplas de tempo e espaço, desarticulando a
convencional forma econômica preocupada apenas com os resultados do presente,
e não com a perpetuidade esperada para o futuro.
Diante da evolução da noção desenvolvimento sustentável e das várias
tentativas de construção de arranjos cooperativos entre diferentes atores sociais
para a promoção da sustentabilidade, resta avançar nas reflexões sobre como as
empresas têm incorporado esses princípios às suas estratégias e à gestão de seus
negócios.
36
3. AMBIENTALISMO EMPRESARIAL
As corporações são um dos principais atores do desenvolvimento. Para que
esses grupos possam buscar um desenvolvimento sustentável, empresas precisam
buscar se tornar ―sustentáveis ecologicamente‖. Por isso, deveriam desenvolver
estratégias e assumir compromissos e metas claros e precisos com relação ao meio
ambiente, ajustando produtos e sistemas de produção. Empresas poderiam
promover tecnologias para considerar maior conservação de energia ou redução de
poluição, além de minimizar e gerenciar perdas, reciclando materiais. Por fim,
poderiam engajar seus consumidores e funcionários como parte da cidadania plena
de educar sobre os desafios ambientais (Shrivastava, 1995).
Elkington (2004) cunhou o termo Tripple Bottom Line, para caracterizar as três
esferas da sustentabilidade que deveriam ser aplicadas à análise dos negócios: a
econômica, a social e a ambiental. A partir da noção de Tripple Bottom Line, os três
aspectos, quando conectados entre si, gerariam ações e situações sustentáveis para
o mundo real, num ciclo positivo através do qual todas as pessoas ganhariam.
Nesse contexto, os recursos naturais e o meio ambiente seriam preservados, a
economia não atuaria como um agente isolado e, distante das realidades ambiental
e social, a qualidade de vida das pessoas seria continuamente aprimorada. Na figura
3, a seguir, ilustram-se as três esferas da sustentabilidade e são apresentados
exemplos principais das sinergias que podem ser obtidos nas relações entre elas.
Figura 1: As Três Esferas da Sustentabilidade
37
No verdadeiro ambiente sustentável, o ecossistema manteria populações e as
biodiversidades em equilíbrio por um longo período de tempo ou de forma
continuada. Idealmente, decisões deveriam promover um equilíbrio dentro de nossos
sistemas naturais e procurar encorajar um desenvolvimento que traga efeitos
positivos para esse processo. Distúrbios desnecessários ao ambiente deveriam ser
evitados sempre que possível e, quando acontecessem, ações para mitigar seus
efeitos deveriam ser rapidamente tomadas em máxima extensão, reforçando-se,
assim, a cultura da preservação (Elkington, 2004)
Interfaces com o componente econômico poderiam ser exemplificados como
subsídios a empresas menos poluidoras, que emitem menos gás carbônico na
atmosfera ou, ainda, que promovam ações claras de eficiência energética de
empresas e sociedades. Interfaces com o componente social poderiam ser
exemplificadas como leis de preservação e maior envolvimento público e privado
para as questões de reportes preventivos e corretivos de danos ambientais.
Sustentabilidade econômica seria o ato de balancear rentabilidade e custo,
sendo que as decisões deveriam estar balanceadas em relação aos impactos
ambientais e sociais dos seus resultados. Tal componente envolveria a criação de
valor econômico para qualquer projeto ou decisão que venham a ser tomados por
empresas ou comunidades, significando equilibrar e fiscalizar ações que prefiram
benefícios de longo prazo, ao contrário dos projetos de curto prazo, combinando
boas práticas de negócios com aspectos sociais e ambientais da sustentabilidade
(Elkington, 2004).
Na esfera dos negócios, a pressão por resultados crescentes no curto prazo
pode afastar a sustentabilidade do leque de variáveis a serem consideradas nas
decisões empresariais. Mas, cada vez mais, observa-se que decisões do presente
nas corporações precisam levar em conta os impactos ambientais e sociais em sua
decorrência e que, continuamente, clientes, consumidores e fornecedores parecem
estar atentos à ação das corporações em termos de sustentabilidade. Como
exemplos de interfaces do componente econômico com os aspectos sociais e
ambientais, poderíamos destacar o apoio de empresas a universidades, aos
programas educacionais e de pesquisa e a promoção do desenvolvimento em áreas,
produtos e serviços que buscam um equilíbrio sustentável, além de redução de
taxas ou subsídios aos ―produtos verdes‖.
38
Muito tem sido falado sobre sustentabilidade, ambientalismo, ou ainda sobre a
responsabilidade socioambiental no meio empresarial; entretanto, esse não é um
tema recente. Desde a gênese da Sociedade Industrial já se falava em
responsabilidade social, apesar de o conceito estar restrito, naquela altura, à
geração de lucros e empregos. A abrangência para incluir meio ambiente e
desenvolvimento para as pessoas não eram tão relevantes para as empresas e
essas funções eram restritas ao Estado e as empresas tinham a responsabilidade de
empregar e pagar impostos (Barbieri, 2010).
Essa visão perdurou até as décadas de 1970 e 80, nas quais avanços e
mudanças significativas foram percebidas. Nessa mesma época, acreditava-se que
os recursos naturais seriam infinitos, não oferecendo restrições à produção, e de
que o livre mercado deveria encarregar-se do bem-estar social. Como a economia
tradicional tratava apenas da alocação de recursos escassos e a natureza não era
vista como um limitador, a variável meio ambiente não era incorporada aos modelos
econômicos da época (Tachizawa, 2004).
Ao se falar de sustentabilidade e responsabilidade ambiental de empresas,
está se falando de algo portador de sentidos diversos, tantos quantos forem
necessários, para que os atores sociais legitimem suas práticas e necessidades na
sociedade e, assim, se fortaleçam nas disputas travadas com outros atores, que
defendem valores e interesses diversos. Tudo isso impacta decisivamente a forma
como se difunde a responsabilidade ambiental entre empresas e a maneira como
seus sistemas de gestão ambiental são pensados e reorganizados, ou não
(Abramovay, 2012).
Acrescente-se, ainda, o grau de incerteza das decisões sobre o destino dos
bens ambientais, mesmo quando há utilização do melhor conhecimento disponível
sobre a questão e transparência no processo decisório. Estudos demonstram que a
percepção de riscos ambientais e tecnológicos, mesmo entre peritos, é mediada por
seus valores e crenças. Isso sem perder de vista que essas decisões são tomadas
num jogo de pressões e exercidas por atores sociais na defesa de seus valores e
interesses. Daí a importância de estarem subjacentes ao processo decisório, de um
lado, a noção de limites: seja da disponibilidade dos bens ambientais, seja da
capacidade de auto regeneração dos ecossistemas, ou ainda, do conhecimento
científico e tecnológico para lidar com a problemática e, de outro, os princípios que
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garantam transparência e justiça social, na prática da gestão ambiental pública
(Hoffman, 2010).
Deve-se ainda considerar que não é necessariamente óbvio, para as
comunidades afetadas pela ação empresarial, a existência de um dano ou risco
ambiental, tampouco as suas causas, consequências e interesses subjacentes
àquilo ocorrência deles. O processo de contaminação de um rio por poluentes
emitidos por uma indústria, por exemplo, pode estar distante das comunidades
afetadas, especialmente (os objetos são lançados a vários quilômetros rio acima) e
temporalmente (começou há muitos anos, e ninguém lembra quando). O processo
pode, também, não apresentar um efeito visível (a água não muda de sabor e de
cor), mas pode estar contaminada por metal pesado, por exemplo) e nem imediato
sobre o organismo humano (ninguém morre na mesma hora ao beber a água)
(Hoffman, 2000).
Segundo Abramovay (2007), o ambientalismo corporativo seria
...o termo usado nos Estados Unidos para descrever uma transformação recente e significativa nas estratégias empresariais dos grandes grupos econômicos. Não se trata apenas de cumprir a legislação ou de evitar os desastres ambientais que marcaram a vida de tantas empresas, sobretudo no setor químico ou petrolífero. O que há de novo é que os temas de natureza ambiental deixam de ser abordados pelas firmas como um limite, como algo exterior a seus interesses, ou (para usar a linguagem dos economistas) como ―externalidades‖, cuja gestão caberia apenas ao setor público por meio de taxas, proibições ou incentivo (Abramovay, 2007, p.???).
Nas discussões acerca do ambientalismo corporativo ou empresarial, duas
perguntas são fundamentais: como a indústria moveu-se de uma postura de
resistência veemente ao ambientalismo para uma postura proativa de
gerenciamento ambiental?; e como essa transformação ocorreu? Hoffman (2001)
mostra-nos que essas questões precisam de um resgate histórico para serem
devidamente compreendidas e discutidas.
O resgate histórico que leva ao avanço pode ser descrito como multifacetado,
composto por inúmeros fatos e momentos que, para a realidade da indústria de
petróleo, especificamente do setor de distribuição de combustíveis, discutiremos nos
capítulos seguintes. Apesar dos desafios presentes, a maneira com que empresas e
sociedade deram continuidade a um movimento ambientalmente desde as lutas e
conflitos ambientais dos anos 1970 até os dias atuais pareceu configurar um
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caminho sem retorno para as corporações, que não conseguiriam mais atuar, sem
levar em consideração a pressa e as demandas sociais em torno da sustentabilidade
(Hoffman, 2001). Para Gonçalves-Dias e Teodósio (2010),
desde os anos 1960, as empresas estão reavaliando as formas de gerir os problemas ambientais e desenvolvendo novas estratégias para lidar com seus desafios. Nos anos 1970, as corporações viam sua relação com o meio ambiente como uma ameaça externa à lucratividade e às práticas empresariais estabelecidas (2001). Mas ao longo das três décadas, com a redefinição do papel do Estado, o fortalecimento das modernas ONGs ambientalistas, as batalhas judiciais e legislativas em torno do meio ambiente e uma crescente atenção da opinião pública com relação ao tema, aconteceu um amplo processo de mudança institucional, que teria dado origem ao chamado ambientalismo empresarial (Gonçalves-Dias & Teodósio, 2010, p. 52).
Para Gonçalves-Dias e Teodósio (2011), a história do ambientalismo
corporativo, desenvolvida por Hoffman (2000), mostra que ―(...) uma mudança
organizacional é produto da mudança institucional (...)‖, denotando como o meio
ambiente tornou-se um componente estratégico na vida das empresas. Nesse
sentido, as instituições não seriam criadas instantaneamente, mas seriam produto
da história (North, 1990); ou mesmo poderiam ser entendidas como construções
sociais da realidade (Berger & Luckman, 2002).
Montibeller (2001) definiu de forma simplificada que, a cada década,
percebeu-se uma evolução do movimento ambientalista, desde seu surgimento até
ele se constituir em fenômeno global. Desse modo e segundo o autor, a década de
1950 foi o cenário do ―ambientalismo dos cientistas‖, visto que foi através da ciência
o surgimento da inquietação ecológica em esfera mundial. Já a década de 1960 foi
delineada, segundo o autor, como a das organizações não governamentais, que
foram se expandindo de forma exponencial, movidas por distintos interesses, mas,
em sua maioria, tendo em comum a noção de preservação das espécies e do meio
ambiente em sintonia com a proteção a populações tradicionais, grupos oprimidos e
outras causas sociais.
A década seguinte, os anos 1970, teria sido marcada pela institucionalização
do ambientalismo devido especialmente à Conferência de Estocolmo, em 1972,
sobre meio ambiente, a qual evidenciou uma preocupação global acerca do sistema
político, dos governos e partidos, e da própria Igreja Católica, com a questão
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ecológica e ambiental. É importante mencionar, inclusive, que, nesse período,
surgiram diferentes agências estatais em vários países atreladas à questão
ambiental (Montibeller, 2001).
O autor supracitado ainda relata que a década de 1980 foi fortemente
marcada pela atuação da Comissão de Brundtland, iniciando seus trabalhos no ano
de 1983 e, quatro anos mais tarde, publicando seu reconhecido relatório intitulado
Nosso Futuro Comum, que serviu para orientar países, governos, ONGs, grupos
sociais e corporações em direção à promoção do desenvolvimento sustentável
(Montibeller, 2001).
Na década de 1990, observou-se forte e crescente presença do setor
empresarial no engajamento em questões relacionadas ao meio ambiente.
Entretanto, tal presença foi explicada pela oportunidade de aproveitamento de um
emergente mercado verde, que tem por característica a valorização ou imposição ao
produtor do cuidado com o bem ambiental, além do início de uma legislação e
fiscalização mais específica sobre cuidados ambientais.
Gonçalves-Dias e Teodósio (2010) também apontam estágios evolutivos do
foco das empresas sobre o ambientalismo, a saber:
... identificam-se quatro momentos diferentes na história do ambientalismo corporativo, caracterizados pelo realinhamento de interesses no campo organizacional: (i) ambientalismo industrial (1960-1970), que enfatiza a resolução interna de problemas como um adjunto da área de operações; (ii) ambientalismo regulatório (1970-82), cujo foco era sobre a conformidade com as regulamentações, dada a imposição externa de novas leis ambientais cada vez mais rigorosas; (iii) ambientalismo como responsabilidade social (1982-88), cujo foco era sobre a redução da poluição e minimização de resíduos dirigidos externamente por associações de indústrias e iniciativas voluntárias; e (iv) ambientalismo estratégico (após 1990), que dá ênfase à integração de estratégias ambientais pró ativas a partir da alta administração. (Gonçalves-Dias & Teodósio, 2010, p. 45).
Na figura 4, demonstra-se, de forma resumida, a mudança do foco da
sustentabilidade no meio empresarial:
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Figura 2 - Mudança do foco da sustentabilidade no meio empresarial Gonçalves-Dias (2009) (Adaptado).
Nos dias atuais, vê-se um estágio mais avançado, no qual as empresas
passam a liderar a discussão ambiental, apesar do governo. Por que apesar do
governo? Porque as decisões governamentais dependem de entendimentos,
negociações e consensos com diferentes atores, o que, muitas vezes, tornam lento
o processo. As empresas, nesse contexto, atualizam-se em práticas e iniciativas,
visando prevenir-se de custos, danos à reputação ou obrigações futuras ainda não
plenamente definidas ou fiscalizadas pelos governos (Barbieri, 2010).
A presença cotidiana das empresas na vida social parece ser cada vez mais
percebida como uma variável importante a ser considerada pelos gestores na
construção de estratégias corporativas. Nesse fenômeno também poderíamos
encontrar caminhos para a mudança e inovação em direção à sustentabilidade no
mundo contemporâneo. Para isso, seria fundamental reconhecer a dependência
mútua entre as empresas e sociedade. Se as empresas ignoram suas
responsabilidades socioambientais, muitos custos implícitos podem se tornar
explícitos no futuro, segundo Gonçalves-Dias e Teodósio (2011).
Apesar dos aparentes avanços, é importante destacar que existem barreiras
sociais e psicológicas dentro das organizações, que impedem um avanço ou
mudança de foco com maior celeridade. Parece haver uma gama considerável de
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aspectos que operam para manter comportamentos antigos, por exemplo, o
imediatismo que simplifica estratégias, sem considerar o todo ambiental, mantendo a
habitual forma de fazer as coisas — estudiosos consideram esse fator um cognitivo
cultural e permanente, que impulsiona companhias e pessoas a evitarem as
mudanças, ainda que existam ferramentas e mecânicas para o gerenciamento disso.
Ainda, organizações podem tornar-se filtros através dos quais o mundo externo é
visto e sentido. Nesse contexto, interpretações internas podem alterar
―racionalmente‖ expectativas e ações dirigidas, além do fato de que gerentes e
indivíduos poderão resistir às evidências de mudança climática ou escassez de
recursos, por entenderem que isso pode afetar seu trabalho. Esses fatores somados
podem mudar uma resistência à mudança cultural e à transformação dos valores da
organização e retardar uma estratégia e política de responsabilidade ambiental mais
consistente, para além dos discursos e boas intenções (Hoffman, 2010).
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4. ATORES SOCIAIS E INVESTIMENTOS AMBIENTAIS EMPRESARIAIS
O relacionamento entre as empresas e os atores sociais interessados em
suas atividades, ou seja, seus stakeholders, deve ser considerado uma via de mão
dupla, em que as empresas influenciam e são influenciadas pelos diversos agentes
da sociedade. Se, por um lado, as empresas podem ser impelidas a mudar a forma
como gerenciam seus negócios diante de um mercado consumidor mais consciente
e exigente, por outro, as empresas podem contribuir para a disseminação de
práticas responsáveis de gestão à medida que influenciam seus clientes e
fornecedores a adotar os conceitos do desenvolvimento sustentável e da
responsabilidade ambiental e social corporativa (Hoffman, 2000).
As preocupações ambientais dos empresários são influenciadas por três
grandes conjuntos de forças que interagem reciprocamente: o governo, a sociedade
e o mercado. No que tange à sociedade, um fenômeno importante é o aumento das
preocupações da população em geral e, principalmente, dos consumidores em
relação às questões ambientais, o que poderia ampliar a preferência por produtos e
serviços ambientalmente corretos (Barbieri, 2012).
A figura 3, a seguir, ilustra a interação primária dos atores sobre o meio
ambiente.
Figura 3 - Interação de Atores sobre Meio Ambiente (Barbieri, 2011).
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O papel dos atores sociais é influenciar e cobrar das empresas um
engajamento total em prol da construção de uma sociedade mais justa, um meio
ambiente mais saudável e uma economia menos excludente. Além disso, outro
papel exercido por atores da sociedade, em especial ONGs com expertise em
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