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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-graduação em Letras O DISCURSO PUBLICITÁRIO NO MÍDIUM RÁDIO: encontro de vozes Manoel Ricardo Moreira Belo Horizonte 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-graduação em Letras

O DISCURSO PUBLICITÁRIO NO MÍDIUM RÁDIO:

encontro de vozes

Manoel Ricardo Moreira

Belo Horizonte

2014

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Manoel Ricardo Moreira

O DISCURSO PUBLICITÁRIO NO MÍDIUM RÁDIO:

encontro de vozes

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras da Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre em

Linguística e Língua Portuguesa.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Jane Quintiliano G.

Silva.

Belo Horizonte

2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Moreira, Manoel Ricardo

M838d O discurso publicitário no mídium rádio: encontro de vozes / Manoel Ricardo

Moreira. Belo Horizonte, 2014.

93f.: il.

Orientadora: Jane Quintiliano Guimarães Silva

Dissertação (Mestrado)- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Letras.

1. Discurso. 2. Análise prosódica (Lingüística). 3. Publicidade. 4. Persuasão

(Retórica). 5. Radialistas. I. Silva, Jane Quintiliano Guimarães. II. Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Letras. IV.

Título.

CDU: 82.085

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Manoel Ricardo Moreira

O DISCURSO PUBLICITÁRIO NO MÍDIUM RÁDIO:

encontro de vozes

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa.

Prof.a Dr.a Jane Quintiliano G. Silva — PUC Minas (Orientadora)

Prof.a Dr.a Juliana Alves Assis — PUC Minas

Prof.ª Dr.ª Ada Magaly Matias Brasileiro (Faculdades Pitágoras, MG)

Prof.ª Dr.ª Arabie Bezri Hermont (PUC Minas – Suplente)

Belo Horizonte, 13 de junho de 2014.

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A Deus, fonte da vida, luz e misericórdia.

Aos meus pais, exemplos de luta, perseverança

e vitória.

Aos amores de minha vida, Regina e Matheus,

família fiel e companheiros eternos em todos os

momentos.

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AGRADECIMENTOS

À Prof.ª Jane Quintiliano Guimarães, por ser um exemplo de vida, sabedoria,

dedicação e profissionalismo. Minha orientadora e amiga, que acolheu e aceitou a

árdua missão de tornar-me Mestre.

Com muito carinho a todos os professores do corpo docente desta conceituada

instituição de ensino, que grandiosamente contribuíram para a minha formação.

Às secretárias Maria Berenice e Rosária, sempre prontas para atender e dar a devida

atenção, quando necessária.

Ao Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Minas.

À CAPES, pela concessão parcial da bolsa de estudos.

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RESUMO

A partir de procedimentos linguísticos, prosódicos e sonoplásticos, vistos como

elementos geradores de sentido e construtores da persuasão, este estudo analisa o

funcionamento discursivo de três peças publicitárias radiofônicas criadas pelo

Sindicato das Empresas de Rádio e TV de Minas Gerais (SERT/MG), e veiculadas

pela Rádio Sucesso FM 101,7, de Barbacena (MG). Mais precisamente, nosso

objeto de estudo é a trama multissemiótica fundada por elementos verbais e não

verbais que constituem cada uma dessas peças. Além disso, considerando-se a

natureza do mídium aqui em estudo, analisa-se um ponto fundamental: a

representação do locutor/radialista. A encenação vocal consiste em uma atividade

discursiva e interacional, mas é, sobretudo, um trabalho cênico, que ex ige do

locutor/radialista uma atuação ou performance sustentada caracteristicamente pela

voz. O quadro teórico-conceitual formulado para abordar esse objeto inspira-se, sob

um viés dialógico, em estudos discursivos e enunciativos advindos da Análise do

Discurso francófona e das Teorias da Enunciação. Aliado a isso, tendo em vista os

objetivos de análise e a natureza do discurso em pauta em termos de sua

materialidade, lança-se mão de estudos da prosódia, cujos colaboradores

consideramos relevantes para alcançar nossa meta, entre eles: Cagliari (1999;

2003), Crystal (1988), Hirst e Di Cristo (1998), Nunes (2000), Morais (2010) e

Scarpa (1999). Para realizar o trabalho de análise, recorremos ao programa

PRAAT, uma ferramenta para análise de voz desenvolvida em 2010 por Paul

Boersma e David Weenink, do Institute of Phonetic Sciences, Universidade de

Amsterdã. Por meio desta pesquisa, foi possível constatar que, para acentuar o

poder de sugestão incorporado nas palavras articuladas pela voz e,

consequentemente, atrair a escuta do auditório/radiouvinte, a prosódia, a trilha e os

efeitos sonoros assumem funções e finalidades ímpares, a fim de signif icar o seu

universo imagético. Além disso, foi possível perceber que o discurso persuasivo

das peças publicitárias, projetando um ethos de suas instâncias de produção,

constrói-se a partir de uma materialidade linguística definida por condições de

produção que se concretizam em formações discursivas, determinado o que pode e

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o que deve ser dito no rádio, e revelando a função dialógica que ele exerce como

um sistema de comunicação, seja ele analógico ou digital.

Palavra-chave: Discurso. Persuasão. Ethos. Prosódia. Mídium Rádio.

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ABSTRACT

Starting from linguistic, prosodic and related to sound effects procedures, seen as

generating elements of sense and constructors of persuasion, this study analyzes the

discursive functioning of three pieces of radiophonic advertising created by Radio

and TV Companies Syndicate of Minas Gerais (SERT/MG), and broadcasted by

Sucesso FM 101,7 Radio Station, from Barbacena (MG). More precisely, our object

of study is the multi-semiotic scheme founded by verbal and non-verbal elements

that constitute each one of these pieces. Besides, considering the nature of the

medium here being studied, a fundamental point is analyzed: the representation of the

presenter/broadcaster. The vocal acting consists in a discursive and interactional

activity, but it is, above all, a scenic work, that demands from the

presenter/broadcaster an action or performance sustained typically by the voice. The

theoretical-conceptual framework formulated to broach this object gets inspiration,

under a dialogic perspective, in discursive and enunciative studies resulting from the

Francophone Discourse Analysis and from the Enunciation Theories. In addition to

it, considering the objectives of analysis and the nature of the discourse on the

agenda in terms of its materiality, we made use of studies of the prosody, whose

collaborators are considered relevant to reach our goal, among them: Cagliari (1999;

2003), Crystal (1988), Hirst e Di Cristo (1998), Nunes (2000), Morais (2010) e

Scarpa (1999). To realize the work of analysis, we appealed to PRRAT program, a

tool for the analysis of the voice, developed in 2010 by Paul Boersma and David

Weenink, from the Institute of Phonetic Sciences, University of Amsterdam. By

means of this research, it was possible to notice that to accentuate the power of

suggestion incorporated in the words articulated by the voice and, consequently, to

attract the listening of the audience/radio listener, the prosody, the soundtrack and

the sound effects assume functions and unique finalities, in order to signify its

universe of images. Besides, it was possible to perceive that persuasive discourse of

the advertising pieces, projecting an ethos of its instances of production, is

constructed from a linguistic materiality defined by conditions of production which

are accomplished in discursive formations, determining what is allowed and what

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must be told on the radio, and revealing the dialogic function that it exerts as a

communication system, it being analogical or digital.

Keywords: Discourse. Persuasion. Ethos. Prosody. Medium Radio.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Cantoras do rádio .......................................................................................... 24

Figura 2 – Emilinha Borba .............................................................................................. 24

Figura 3 – As radionovelas .............................................................................................. 25

Figura 4 – Repórter Esso ................................................................................................. 26

Figura 5 – Verbo-voco-sonoplástico ............................................................................... 59

Figura 6 – PRAAT da peça publicitária “Banho” ........................................................ 62

Figura 7 – PRAAT da Peça publicitária “Banho” ........................................................ 63

Figura 8 – Sistema verbo-voco-sonoplástico ................................................................. 65

Figura 9 – PRAAT da peça publicitária “Lasanha” .................................................... 68

Figura 10 – Organograma ............................................................................................... 70

Figura 11 – PRAAT da peça publicitária “Carro” ...................................................... 72

Figura 12 – produção acústica lexical do fenômeno linguístico “Nossa”,

pronunciado na peça publicitária “Carro” ................................................. 75

Figura 13 – Esquema para a definição da prosódia ..................................................... 77

Figura 14 – PRAAT da peça publicitária “Lasanha” .................................................. 79

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Peça publicitária “Banho” .................................................................. 56

Quadro 2 – Peça publicitária “Carro” ................................................................... 66

Quadro 3 – Peça publicitária “Lasanha” ............................................................... 73

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas

FM – Frequência Modulada

GPR – Grupo de Profissionais do Rádio

OC – Ondas Curtas

OM – Ondas Médias

OT – Ondas Tropicais

Radcom – Radiodifusão comunitária

SBRD – Sistema Brasileiro de Rádio Digital

SBTV-T – Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre

SERT/MG – Sindicato das Empresas de Rádio e TV de Minas Gerais

TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação

TV – Sons e imagens

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SUMÁRIO

1. INTRODUZINDO A PROPOSTA DE ESTUDO ............................................ 11

2. RÁDIO: UM BREVE HISTÓRICO ................................................................. 21

2.1. A função social do rádio ..................................................................................... 22

2.2. As TIC: conquistas e desafios ............................................................................ 29

3. ENUNCIAÇÃO, DISCURSO PUBLICITÁRIO E CENOGRAFIA .............. 34

3.1. Enunciação: o lugar da intersubjetividade ...................................................... 34

3.2. Discurso publicitário e persuasão ..................................................................... 41

3.3. A cenografia do discurso publicitário .............................................................. 49

4. CENOGRAFIA, ASPECTOS VERBAIS E NÃO VERBAIS NA

CONSTITUIÇÃO DO ETHOS DO MÍDIUM RÁDIO: ORIENTAÇÕES

PARA UM TRABALHO DE ANÁLISE DO CORPUS DA PESQUISA ....... 54

4.1. Entre o “ver” e o “enxergar” – Imagens sonoras e as contribuições de

Barthes ................................................................................................................. 63

4.2. A contribuição da prosódia para a persuasão e o ethos ................................. 69

4.3. Os elementos segmentais e não segmentais e as concepções de Cagliari ...... 75

5. À GUISA DE CONCLUSÃO ............................................................................. 80

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 83

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1. INTRODUZINDO A PROPOSTA DE ESTUDO

Neste trabalho, o foco de nossa atenção recai sobre a construção e o

funcionamento do discurso publicitário no mundo radiofônico, particularmente em

três peças radifônicas1 criadas pelo Sindicato das Empresas de Rádio e TV de Minas

Gerais (SERT/MG), e veiculadas pela Rádio Sucesso FM 101,7, de Barbacena (MG).

As três peças que compõem o corpus investigado – aqui identificadas por “Banho”,

“Carro” e “Lasanha”, em razão do tema que cada uma delas desenvolve – afiguram-

se como uma trilogia que fez parte de uma campanha estadual, no âmbito de Minas

Gerais, lançada em 2005 pelo Grupo de Profissionais do Rádio 2 (GPR), com o

propósito de valorizar as emissoras mineiras como um espaço de publicidade, e

também os profissionais que trabalham nesse mídium3.

Essas peças foram veiculadas em várias emissoras mineiras, dentre elas, na

Rádio Sucesso FM 101,7, de Barbacena, no período pré-natalino do referido ano. Ao

que se nota, o propósito da emissora era promover a sua própria imagem, dotada de

capacidade e eficiência para divulgar os produtos dos lojistas da cidade, como

objetiva o GPR. As peças foram coletadas com a concessão da diretoria e do

departamento comercial da emissora, que autorizaram a gravação das publicidades

em um CD. O acesso ao estúdio de gravação e transmissão da emissora também foi

autorizado, com o objetivo de conhecer melhor um estúdio de gravação e transmissão

da rádio.

Nosso objeto de estudo é a trama multissemiótica, fundada por elementos

verbais e não verbais que constituem cada uma dessas peças. O quadro teórico-

conceitual formulado para abordar esse objeto inspira-se, sob um viés dialógico, em

1 “Peças radiofônicas” e “peças publicitárias” serão as expressões utilizadas para se fazer referência ao objeto de

pesquisa deste trabalho. Da Silva (2005), em seu artigo intitulado A Peça Radiofônica e a Contribuição de

Werner Klipper, revela que Klipper, teórico do rádio, teatrólogo, dramaturgo e produtor alemão, foi o precursor e

especialista do jogo de rádio, ou seja, da Hörspiel (peça radiofônica), palavra de origem alemã cujo significado

remete à escuta/jogo. 2 Trata-se de uma empresa jurídica de direito privado constituída em 22 de julho de 1999. Com sede em São Paulo, o GPR é uma associação sem fins lucrativos, que tem como objetivo maior promover e valorizar o rádio e

seus profissionais mediante cursos de qualificação e aperfeiçoamento. E, para alcançar seus objetivos, enaltece o

rádio e os profissionais que atuam no contexto radiofônico em todos os meios de comunicação. Uma de suas

atribuições é fomentar a criatividade e a produção de campanhas publicitárias para o meio. Para mais

informações, ver o site www.gpr.com.br. 3 Terminologia empregada por Maingueneau (2005) para definir o suporte, ou seja, o canal material usado para

veicular uma mensagem não apenas do rádio, mas também dos meios de comunicação em geral. Para o autor,

uma mudança importante no mídium modifica todo o conjunto de um gênero de discurso.

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estudos discursivos e enunciativos advindos da Análise do Discurso francófona e das

Teorias da Enunciação. Aliado a isso, tendo em vista os objetivos de análise e a

natureza do discurso em pauta em termos de sua materialidade, lança-se mão de

estudos da prosódia, cujos colaboradores consideramos relevantes para alcançar

nossa meta, entre eles: Cagliari (1999; 2003), Crystal (1988), Hirst e Di Cristo

(1998), Nunes (2000), Morais (2010) e Scarpa (1999). Antes, porém, de investir em

uma discussão teórico-conceitual sobre o objeto de estudo, entende-se como

oportuno e importante trazer algumas considerações, ainda que amplas, relativamente

ao lugar e à função do rádio nos cenários político e social brasileiro.

Na sociedade contemporânea, tecnologicamente complexa como a nossa, os

meios de comunicação social exercem, em grande escala, uma forte influência sobre

a população. Para Rubim (2001), isso se deve à cultura midiatizada, o que está

associado ao capitalismo. Esse sistema econômico, mediante a tecnologização e a

globalização das comunicações, por meio da linguagem publicitária, transformou a

informação, a notícia e o entretenimento em mercadorias para fomentar o consumo.

Hoje, o estatuto mercadológico, regido pela oferta de produtos fabricados por

empresas que necessitam vender exacerbadamente, encontrou no rádio, na TV, na

impressa escrita, na internet e na webradio um suporte ideal para ser o “promotor” da

chamada lógica do consumo.

Nessa conjuntura econômica, entram em cena gêneros discursivos próprios

desse universo mercantilista que interferem direta ou indiretamente na economia

mundial. Diante dessa ordem social, Rocha (1990) adverte que há dois domínios

fundamentais que regem o sistema mercantilista: a produção e o consumo. Para o

autor, enquanto na produção o homem é “rei”, no consumo, ele se torna “escravo”.

Se, por um lado, o consumismo fundamenta-se na troca, por outro, a produção

relaciona-se diretamente com a publicidade. Rocha (1990, p. 67) acrescenta ainda

que “a publicidade omite os processos objetivos de produção, é uma linguagem que

cala o produto e fala do bem de consumo. E o social se transforma num objeto

imerso em fábulas e imagens.”

É justamente nesse universo estabelecido entre produção e consumo que novas

representações de compra e venda, e, portanto, de poder, a todo o momento, são

elaboradas e adquirem um potencial altamente persuasivo por meio do (e com o)

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discurso publicitário. O rádio, para atender aos anseios do mundo globalizado,

fazendo uso de inúmeras ferramentas tecnológicas e de sua linguagem radiofônica,

trava, hoje, um confronto obstinado com a concorrente TV para assegurar seu espaço

midiático, no qual, aliás, durante um bom tempo ele reinou absoluto no Brasil.

Entretanto, com o advento da internet e da webradio4, tal confronto tem ficado ainda

mais acirrado, estendendo-se também para essas mídias.

Apesar das conquistas tecnológicas de comunicação à longa distância e dos

avanços obtidos em pesquisas relacionadas ao universo digital, visando a ampliação e

fusão de emissoras e a sofisticação de aparelhos eletrônicos (de uso doméstico ou

não), o rádio perpetua, sem sombra de dúvidas, e está muito presente no cotidiano

dos brasileiros. Esse mídium tem procurado se afigurar como um forte investimento

publicitário. Para Meditsch (1998, p. 15), “a era intelectual eletrônica redefine a

função do rádio informativo.” Se, na década de 1990, o referido autor já demonstrava

uma visão futurista em decorrência dos impactos das novas tecnologias, que ,

segundo ele, iriam ocasionar significativas mudanças não só nas configurações, mas

também nos formatos, no modo de produzir e no conteúdo do mídium rádio, imagine

hoje, em pleno século XXI, com o advento da internet e , por conseguinte, da

webradio?

Ao empregar a terminologia mídium, Maingueneau (2001; 2005) adverte que

não se trata apenas de associá-la ao suporte 5 ou canal de veiculação de uma

mensagem, como se concebia no quadro de algumas teorias da comunicação. Mais

que isso, o mídium, dada suas condições de produção e circulação, reveste-se de uma

complexidade associadas às velhas e novas tecnologias e instituições, que

4 No Capítulo 2, faremos uma explanação mais detalhada e abrangente em relação à Webradio e ao impacto

desse mídium no universo radiofônico tradicional. 5 Para Marcurschi (2003), a noção de suporte não está relacionada ao simples sentido estabelecido pelos

Dicionários Aurélio e Houaiss, que, apesar de correto, não é suficiente para suprir o sentindo atribuído neste

trabalho e estabelecido pelo autor. Diante disso, nos filiarmos às concepções de Marcuschi (2003), para quem o

suporte de um gênero é como um locus físico ou virtual agregado a um formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado, no caso, o discurso publicitário radiofonizado. Segundo

Maingueneau (2005), o suporte de um gênero, no sentido estrito (oral, escrito, manuscrito, televisivo,

radiofônico etc.), é a base material que adquire um formato específico que suporta, fixa, mostra e veicula um

texto. Para Maingueneau (2005), os textos se realizam em algum gênero que comporta uma ou mais sequências

tipológicas, e são produzidos em certo domínio discursivo, que, por sua vez, encontra-se atrelado a uma

formação discursiva, que se fixa em algum suporte pelo qual atinge a sociedade. Percebe-se que, para ambos os

autores, o suporte é uma espécie de base que porta contextos específicos, podendo proporcionar algum tipo se

influência, o que, de certa forma, reflete em diferentes modos e formas de recepção.

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configuram as instâncias midiáticas e os discursos nelas produzidos postos em

circulação.

Aliado a esse aspecto, enfatizando a mídia radiofônica, Maingueneau (2001 , p.

73) assinala que o locutor, nas interações com o ouvinte, assume um lugar ímpar para

a realização do discurso, uma vez que:

[...] o mídium radiofônico permite à fala introduzir-se individualmente na casa

de qualquer pessoa, surpreendendo-a em sua intimidade familiar. O locutor

não pode mais contar com a cumplicidade do auditório, visto que será ouvido

por todos amigos, inimigos ou indiferentes e que seus ouvintes não precisam

se deslocar para ouvi-lo.

O autor destaca, ainda, que o rádio, para fazer cumprir suas metas, objetivos

institucionais, interacionais e garantir sua sustentabilidade no universo

tecnologicamente midiático, tem criado modelos publicitários dinâmicos, criativos e

complexos em sua elaboração discursiva. Ou seja, na construção de textos

publicitários, segundo Cagliari (1999), imbrica-se um sistema multissemiótico

formado por correlatos acústicos, lexicais e não lexicais que constituem um rico

material de análise. A linguagem auditiva do rádio pode ser delimitada, segundo

Meditsch (2001), como um sistema semiótico complexo, composto por subsistemas,

como a palavra veiculada pelo suporte (rádio) pronunciada através do discurso do

locutor repleto de constituintes prosódicos que revelam o timbre, a altura, a

intensidade e a duração da fala. Ou seja, são elementos linguísticos e paralinguísticos

que se somam à trilha sonora e demais efeitos sonoplásticos, todos responsáveis pela

efetivação do funcionamento das Hörspeils (peças radiofônicas), constituindo um

sistema multissemiótico, em que cada um desses componentes exerce uma série de

convenções preestabelecidas.

Aqui, juntamente à proposta de Meditsch (2001), acreditamos ser coerente nos

filiarmos à Rojo (2009), que, ao discorrer sobre a gênese da palavra “multi”, nos

revela que ela está associada ao contexto estabelecido pelas tecnologias da

comunicação e da informação, gerando, assim, a multiculturalidade, que, para a

autora, é a marca das sociedades globalizadas, ou seja, a mola propulsora de

letramentos contemporâneos, múltiplos, intersemióticos, haja vista o emprego de

novas tecnologias digitais que requerem de seus usuários cada vez mais

competências leitoras e produção de significados. Segundo a autora, essa notável e

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inovadora transformação dos suportes midiáticos, sobretudo o/no rádio, possibilita a

criação de textos que se constituem por meio de uma multiplicidade de linguagens,

entre elas, os sistemas linguísticos lexicais e não lexicais que exigem do receptor

(radiouvinte) muito mais do que uma simples audição (leitura) para abstrair um

sentindo, assegurando uma melhor resposta para a emissora em relação ao ethos que

constrói. Rojo (2009) complementa dizendo que a multimodalidade, a multissemiose,

ou a multiplicidade de linguagens propiciam a renovação do conceito de letramento.

Considerando-se a natureza do mídium aqui em estudo, analisa-se um ponto

fundamental: a representação do locutor/radialista. A encenação vocal consiste em

uma atividade discursiva e interacional, mas é, sobretudo, um trabalho cênico, que

exige do locutor/radialista uma atuação ou performance sustentada

caracteristicamente pela voz. Assim, para Abdalla Júnior (2005, p. 141), o

profissional do rádio é um “encenador vocal”, tendo em vista os efeitos de fala que

envolvem a locução e a interpretação carregados de constituintes prosódicos que

revelam o timbre, a altura, a intensidade e a duração da fala do locutor/radialista.

Em se tratando de publicidade radiofônica, pode-se dizer que, no processo de

sua edição (refletida na gravação), um plano de produção complexo se impõe na

feitura de cada uma das peças radiofônicas. Nessa produção, diferentes aspectos e

procedimentos multissemióticos se entrelaçam: sejam os linguísticos (na construção

formal e textual do discurso); sejam os suprassegmentais 6 (prosódicos, acústicos,

gerados pela locução da voz do locutor/radialista, a enunciação do texto); seja a

trilha sonora7 (seleção de fragmentos musicados que buscam envolver o ouvinte de

forma a fazê-lo sentir, ouvir, inconscientemente ou não, uma musicalidade que

6 Embora esse termo seja discutido com mais vagar no Capítulo 4, seção 4.3, adianta-se que, para Massini-

Cagliari (2003), ele não deve ser empregado como sinônimo de prosódia. O termo suprassegmental está mais

relacionado à fonética e fonologia para os elementos segmentais, ou seja, para o sistema prosódico lexical, para

os aspectos de produção relacionados à fonologia cognitiva. 7 Trilha Sonora (ou sonoplastia) é um termo técnico próprio do universo do sistema de radiodifusão para designar a trilha sonora e os efeitos, ruídos, entre outros elementos sonoros produzidos e que são ouvidos nas

peças publicitárias em análise. Segundo Jung (2004), na década de 1960, no alvorecer do teatro radiofônico no

Brasil, a terminologia surgiu com o intuito de retratar nos estúdios de gravação das emissoras de rádio os efeitos

sonoros, ruídos e trilhas sonoras que acompanhavam as locuções. Segundo Ortiz e Marchamalo (2005), a

sonoplastia abrange todas as formas sonoras e permite que o áudio amplie os sentimentos e as emoções do

radiouvinte. Por ser um poderoso recurso comunicativo, é muito usado em outros mídiuns. Atualmente, a trilha

sonora é normalmente conhecida como BG, e deve ser rigorosamente adequada à cena de enunciação, de modo

que não prejudique a voz do locutor radialista ou televisivo.

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contribui para compor a cena em pauta e aplicar-lhe um dado efeito de sentido); seja,

ainda, o chamado trabalho de sonoplastia efeitos especiais).

Em suma, a nosso ver, todos esses aspectos, de natureza distinta, não se

apresentam uns em uma relação aos outros como meramente completares, mas, sim,

como elementos verbais e não verbais constitutivamente imbricados na feitura das

peças publicitárias, isto é, do discurso em pauta, para levar a efeito o objetivo em

mente. Dessa perspectiva, considerando-se as múltiplas nuances que organizam e

constituem tal atividade discursiva, o trabalho de editação (e gravação) de uma

publicidade radiofonizada não é feito de improviso, sem preparação ou estudo, tanto

da parte do locutor/radialista quanto de outros técnicos profissionais, partícipes dessa

tarefa ou projeto. Admitindo-se tal fato, interessa-nos ressaltar que, no rádio, a fala

do locutor/radialista adquire qualidades vocálicas e propriedades dinâmicas de voz

importantes para a construção do texto e os efeitos de sua veiculação, o que, segundo

Gomes e Dantas (2010), pode despertar sentimentos que vão além do simples gosto

de ouvir rádio. Segundo esses autores, mesmo na ausência da imagem (do elemento

visual), a fala do locutor/radialista, impregnada de ricos elementos prosódicos, pode

“evocar situações próprias do imaginário do ouvinte.” (GOMES; DANTAS, 2010, p.

186).

A articulação entre as dimensões textual-discursiva e prosódica pauta-se no

pressuposto de que as palavras, do ponto de vista da materialidade acústica, em

situações de comunicação, expressam sentimentos e afetos do falante no ato da

enunciação. Nessa direção, Morais (2010) aponta que a intencionalidade do uso da

linguagem na produção do discurso, os recursos prosódicos e seus contornos

entonacionais são mobilizados pelo locutor/radialista para capitalizar a atenção, o

envolvimento e a adesão da audiência.

Para Irvine (2001), por exemplo, as modalidades da fala apresentam variações

que ocorrem tanto intrassujeito (no próprio locutor/radialista) quanto intragrupo (na

audiência, considerando a singularidade de cada ouvinte). As trocas interacionais

diárias, as mais comuns em nossas relações sociais, nas quais se emprega a fala,

geralmente, são espontâneas e revelam, pela voz e alocução do locutor/radialista,

traços entonacionais eivados de subjetividade. No rádio , isso é notório. A fim de

assegurar a audiência, constrói-se uma trama interacional mediada por um discurso

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mais próximo, doméstico e envolvente entre o locutor/radialista e o

auditório/radiouvinte. A alocução ganha contornos que lembram os de uma conversa

supostamente íntima e amigável.

A interação entre o auditório/radiouvinte e o locutor/radialista, mediada pela

voz, pela fala de um sujeito que está à frente de um microfone, contando histórias do

cotidiano, promovendo informação, prestando serviços, fazendo entretenimento,

divulgando produtos a serem consumidos e/ou formando opinião, parece pautar-se,

estrategicamente, numa relação simétrica, mas, curiosamente, jurídica em relação à

responsividade do auditório/radiouvinte. Isto é, na grande maioria dessas interações,

busca-se instaurar um vínculo entre o auditório/radiouvinte e o locutor/radialista, que

nasce da escuta de uma voz que, diariamente, entra nos lares, escritórios, carros e

tantos outros espaços em que o rádio estiver ligado e sintonizado, compartilhando

emoções, informações, entretenimento e fazendo companhia a milhões de brasileiros.

Sobre essa questão, Nunes (2000, p. 58), em uma pesquisa investigativa sobre

o papel da voz no rádio, afirma que “o rádio, por suas características intimistas,

acaba estabelecendo uma ilusão de proximidade com quem o utiliza. A voz vai se

tornado familiar, cativando o ouvinte, sugerindo ideias, convencendo as pessoas .”

Cria-se, conforme a autora, uma sintonização fina entre locutor /radialista e

auditório/radiouvinte, demandando deste, porque toda escuta é ativa, uma adesão ou

compromisso com a figura do locutor/radialista, um sentimento e/ou comportamento

que parece sugerir uma certa cumplicidade, pois “a voz, a distância, age no corpo do

radiouvinte.” (NUNES, 2000, p. 92).

Sensível a essa realidade forte na nossa cultura e focalizando a temática da

publicidade radiofônica, especialmente, a do comercial da rádio sobre o “poder” do

rádio em ações publicitárias, este estudo, inscrito numa abordagem discursiva, filiada

à Análise de Discurso proposta por Maingueneau (2001; 2005; 2008), às Teorias da

Enunciação, de Benveniste (2005; 2006), bem como às concepções relativas aos

processos interacionais advindos de Bakhtin/Voloshinov (1992; 2006), tem como

interesse central desenvolver uma análise integrada dos elementos textual-

discursivos e prosódicos constitutivos da trama multissemiótica de três peças

publicitárias radiofonizadas, enfatizando a formação do ethos do SERT-MG, do

mídium rádio e da emissora responsável pela veiculação das peças publicitárias.

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Como o objeto em estudo não se constitui apenas de elementos verbais, mas

também de elementos vocais e acústicos, para a construção do quadro teórico -

conceitual e metodológico desta investigação, recorreu-se também às contribuições

da Prosódia, para empreender uma leitura mais fina das peças em exame, no que toca

à fala do locutor/radialista, isto é à sua locução.

Não muito diferente de outras cidades do interior do Brasil, o rádio em

Barbacena, além de ser um mídium de maior poder de penetração e abrangência em

suas classes sociais, também assume um importante papel socioeconômico, uma vez

que não há nenhuma emissora de TV local. Isso o faz um meio de comunicação por

excelência, o que não quer dizer que o sistema de radiodifusão da referida cidade não

esteja sujeito às transformações tecnológicas advindas do universo informatizado e

digital que regem a economia globalizada.

Para levar a efeito os objetivos deste estudo no que se refere aos aspectos

metodológicos e analíticos, a escolha do corpus em exame não é arbitrária.

Primeiramente, em termos históricos, investiga-se um fenômeno midiático,

contextualmente situado, que ganha uma particularidade no cenário de uma

sociedade global, em que se conjugam o micro e o macrossistema midiático em

vigência em uma cultura da comunicação, da informação e da tecnologia complexa,

como nos alerta Canclini (1999). Em segundo lugar, tendo em vista esse fato e por

razões de ordem analítica, o foco de nossa investigação, traçado a partir da escolha

da trilogia em pauta, dadas as suas condições de produção e circulação, explica-se

pela singularidade desse fenômeno espaciotemporial na cidade de Barbacena (MG),

visto no processo da produção do sentido e da função exercida pela prosódia para a

construção do ethos que se revela no discurso publicitário do corpus em análise.

Em suma, como a publicidade comercial busca sempre uma reação – a compra

– e, para isso, procura um envolvimento com a audiência, mediado por um trabalho

de persuasão, este estudo se volta para verificar, no discurso das peças em exame,

relativamente ao modo de dizer, a sua trama textual e enunciativa, focalizando um

conjunto de elementos linguísticos e procedimentos entonacionais que constituem a

composição dos enunciados que se prestam a dar “vida” às publicidades. Integrado a

isso, embora não exatamente como objeto de análise, buscaremos realçar a ação da

sonoplastia. Os elementos inscritos nessa trama se mostram como pistas, rastros , que,

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como estratégias, compõem a cena enunciativa das peças publicitárias investigadas e

contribuem para persuadir o consumidor, no caso, os supostos empresários que

poderiam eleger a Rádio Sucesso FM 101,7 para divulgar seus produtos.

Para realizar o trabalho de análise do material vocal, prosódico, recorremos ao

programa PRAAT, uma ferramenta para análise de voz desenvolvida em 2010 por

Paul Boersma e David Weenink, do Institute of Phonetic Sciences, Universidade de

Amsterdã. Esse programa foi obtido gratuitamente, por download, pela página

oficial: http://www.praat.org.

Com base nesse programa como uma ferramenta metodológica e à luz do

referencial teórico em pauta, este estudo propõe como objetivo uma análise integrada

dos elementos textual-discursivos e prosódicos constitutivos da trama

multissemiótica de três peças publicitárias radiofonizadas, enfatizando a formação do

ethos instituído em três publicidades radiofônicas criadas pelo Sindicato das

Empresas de Rádio e TV de Minas Gerais (SERT/MG).

Desse objetivo norteador do estudo, propõem-se como desdobramentos os

seguintes objetivos específicos:

a) descrever e analisar os principais mecanismos enunciativos verbo-voco-

sonoplástico que entram na constituição do quadro cênico das peças em

exame;

b) identificar e analisar os sistemas multissemióticos gerados no corpo das

peças publicitárias, tendo em vista os efeitos de sentido que o discurso

publicitário nelas atualizado pretende alcançar;

c) investigar os correlatos acústicos (prosódicos) lexicais ou não lexicais e

acentuados e não acentuados que podem (ou não) interferir no trabalho de

persuasão e na construção do ethos do SERT/MG, do mídium rádio e da

emissora Rádio Sucesso FM 101,7, no quadro cênico agenciado pelas

publicidades em exame, recorrendo à ferramenta software PRAAT;

d) apresentar, por meio do software PRAAT, os principais gráficos que

possam descrever e demonstrar a qualidade vocálica e as propriedades de

dinâmica de voz, a fim de apontar a relevância dos fenômenos prosódicos

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nas três peças radiofônicas, bem como a sua função e importância no

trabalho persuasivo desse discurso.

Imbuídos dessa tarefa, tentaremos cumprir os propósitos estabelecidos

amparados por uma metodologia que dê condições de manter um diálogo entre os

objetivos, o suporte teórico e a análise do objeto.

Posto isso, esta dissertação organiza-se por um plano estrutural dividido em 5

capítulos. O Capítulo 2 descreve, de modo sucinto, o percurso histórico do rádio,

destacando o período áureo, sua função social e os desafios e conquistas do rádio

diante das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). O Capítulo 3 descreve

o quadro teórico-conceitual, estabelecendo um diálogo entre a Análise do Discurso

francófona e as Teorias da Enunciação. Tendo em vista a natureza dos objetivos

traçados, fez-se necessário agregar também uma fundamentação teórica relativa aos

conceitos prosódicos. Na sequência, à luz dos pressupostos teóricos elencados, no

Capítulo 4, apresenta-se uma análise de determinados elementos verbais e não

verbais das três peças publicitárias radiofônicas que constituem a trama

multissemiótica sustentada pela performance da voz do locutor/radialista em plena

atividade discursiva e interacional. O Capítulo 5 propõe uma reflexão sobre os

resultados das análises realizadas.

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2. RÁDIO: UM BREVE HISTÓRICO

Para refletir sobre a linguagem radiofônica no domínio da publicidade, e

compreender sob que condições históricas e políticas a propaganda instaura-se no

rádio, este capítulo apresenta um rápido percurso pela história do rádio no Brasil, o

que nos possibilitará contextualizar em que momento em nossa sociedade esse

mídium ganhou prestígio e reconhecimento social, político e econômico.

A radiofonia brasileira demorou muito para se consolidar e se tornar presente

no cotidiano da sociedade brasileira. No princípio, em 1923, o rádio não tinha

programação estabelecida e muito menos profissionais especializados, por isso os

programas eram feitos de forma amadora, fator preponderante para não demandar

credibilidade. Segundo Jung (2004), as notícias radiofonizadas eram retiradas dos

principais jornais impressos do país e lidas naturalmente sem a mínima adaptação

para tal mídium.

O rádio não era um meio de comunicação democrático e popular, mas seleto.

Os ouvintes pertenciam a uma classe mais abastada, eram contribuintes financiadores

e responsáveis pelos passos primários do rádio no Brasil nos anos de 1920. Essas

pessoas representavam uma elite, detinham poder e status social, por conseguinte,

dividiam os custos dos transmissores porque apostavam nas novidades propostas

pelos conceitos da época. Como acontece na atualidade em relação a algumas mídias

sociais, o rádio na década de 1920 era privilégio de poucos.

Entretanto, apesar de muitos percalços, o rádio conseguiu romper as primeiras

barreiras. Segundo o publicitário Manuel Leite (1990), no final de 1930, o país já

contava com uma rede de rádio difusora em sociedade que contabilizava 21

emissoras, todas patrocinadas pela alta classe do país. O aparelho não era um meio

de comunicação de massa, mas, sim, algo de valor possuído por poucos, e

simbolizava ostentação. A programação determinada pelos patrocinadores era

pautada por óperas, músicas clássicas e concertos de piano.

Em troca do entretenimento oferecido pelo custeio dos transmissores, as

emissoras se comprometiam em citar os nomes das empresas eletrônicas que lhes

prestavam manutenção. Segundo Jung (2004), percebeu-se que o fato de divulgar,

durante a programação, o nome das empresas que ofereciam tais serviços, era um

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diferencial que refletia positivamente no percentual de vendas de equipamentos

eletrônicos. O mesmo acontecia com os colaboradores que, sem interesses lucrativos,

emprestavam os discos de vinil para fazer a programação musical. No dia seguinte,

os ouvintes procuravam em lojas de departamentos os discos que continham as

músicas tocadas no rádio para comprá-los. Para Leite (1990), essas constatações

foram essenciais para promover e repensar uma nova modalidade e concepção do

rádio.

De tudo isso, o que merece destaque foi a estratégia empregada por Roquette

Pinto 8 , um apaixonado pelo rádio, que coordenava o clube de associados e

patrocinadores responsáveis pelas emissoras. Ao ler as principais notícias veiculadas

na mídia impressa e transformá-las em linguagem radiofônica, Roquette Pinto

propiciou à sociedade da época perceber que o mídium radiofônico poderia oferecer

muito mais do que um restrito entretenimento musical e informacional. Roquette

acreditava que o texto verbal, manifestado pela linguagem radiofônica por

intermédio do radialista, deveria ser a essência fundamental desse meio de

comunicação.

2.1. A função social do rádio

Mesmo diante de muitos contratempos políticos e dificuldades financeiras,

mas ciente da função que o rádio exerceria na sociedade, Roquette Pinto não poupou

esforços para fundar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que, apesar de rudimentar,

já contava com a concorrência da Rádio Clube do Brasil. Segundo Jung, (2004), em

1930, as emissoras se espalharam para outros Estados. Em meio à grande expansão e

com o objetivo de acompanhar as tendências ditadas pela radiodifusão por quase todo

o território brasileiro, em 1931, fundou-se, em São Paulo, a Rádio Record, marco e

modelo de uma nova emissora, que tinha como proposta renovar os conceitos do

meio comunicativo, observando a ordem mercadológica e comercial.

8 Roquette Pinto é considerado o precursor da radiodifusão no Brasil. No início de 1923, convicto da importância

da educativo-cultural do rádio, sensibilizou com suas ideias o presidente da Academia Brasileira de Ciências, e

fundou, em 20 de abril daquele mesmo ano, a primeira estação de rádio no Brasil, a Sociedade Rádio do Rio de

Janeiro, instituição de caráter basicamente educativo-cultural. Anos depois, para não transformá-la em um

veículo comercial, Roquette Pinto preferiu doá-la ao Ministério da Educação e Cultura. Nascia, assim, a atual

Rádio MEC, em 1927. Para saber mais: www.fm94.rg.gov.br.

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A Rádio Record teve como fomento o decreto-lei nº 21.111, assinado por

Getulio Vargas, que regulamentava a propaganda comercial no rádio, fixando um

limite de 10% da programação da emissora (JUNG, 2004). Não demorou muito e, em

1934, as emissoras foram obrigadas a elaborar sua programação destinando 20% aos

interesses comerciais. Gerando seus próprios recursos, as emissoras investiram em

novos profissionais, preparando-os não só para exercer a locução, mas também para

realizar programas de auditório. Diante dessa inovadora concepção radiofônica,

constatou-se que era preciso reformular o quadro de funcionários, incluindo músicos

e cantores, pois os comerciais eram veiculados ao vivo pelos próprios

apresentadores. Mais tarde, essa modalidade recebeu o nome de testemunhal 9. Da

mesma forma que os testemunhais, os jingles 10 foram modalidades que

potencializaram o rádio.

Não faltou apoio político para que, em 12 de setembro de 1936, fosse

inaugurada, no Rio de Janeiro, a Rádio Nacional, emissora pioneira de grande

alcance. Conquistando audiência, prestígio e glamour, ela arrebatou para os estúdios

os principais nomes da música popular brasileira, como Ângela Maria, Ari Barroso,

Orlando Silva, Emilinha Borba, Marlene, Carmem Miranda, Francisco Alves,

Vicente Celestino, e muitos outros. Para Jung (2004), ser artista ou cantor de rádio na

época era sonho de muitos. Fazer parte do elenco de uma emissora como a Rádio

Nacional era garantia de sucesso e fama em todo o país. Tal período, denominado de

9 Terminologia empregada pelos profissionais de rádio, e será discutida especificamente no Capítulo 3, seção 3.4. 10

Para Mello Vianna (2004, p. 30), há alguns aspectos recorrentes que merecem ser considerados no que se

refere ao jingle e ao spot: “O jingle diferencia-se do spot por se tratar de uma peça publicitária que transmite a

mensagem principalmente através de uma melodia cantada, cuja letra geralmente é composta pelos principais

conceitos da marca anunciada, do slogan e, possivelmente, do telefone ou endereço do anunciante. Pode

apresentar, além da voz cantada, um texto breve interpretado por um locutor – que em geral encerra a peça –

denominado assinatura. O jingle, assim como o spot, não está necessariamente associado a um programa

patrocinado pelo anunciante, podendo ser veiculado em qualquer horário da programação de uma rádio.” Mello

Vianna (2004) esclarece, ainda, que spot é uma terminologia muito recorrente no contexto publicitário

radiofônico, constituído de fala, trilha musical e efeitos sonoros, podendo ser classificado em duas categorias:

spot dramatizado e spot informativo. O primeiro, segundo Mello Vianna (2004), é uma peça publicitária que recorre a simulacros do cotidiano ou de situações oníricas, fantásticas, capazes de envolver o produto ou o

serviço anunciado. “Essas situações estão relacionadas com o repertório do ouvinte, sugerindo-lhe sentido por

meio de elementos sonoros, como a performance de voz, efeitos sonoros, música, silêncio e tratamento técnico.

Esses elementos cumprem funções diversas: criar personagens, ambientes e cenários sonoros.” (MELLO

VIANNA, 2004, p. 162). Já o segundo, como o próprio nome diz, tem um caráter informativo, por isso funda-se

unicamente na performance do locutor, que, excepcionalmente, faz uso de recursos sonoros. Nessa modalidade,

o locutor “se apresenta como um sujeito especialista no assunto que informa, destaca o conceito da marca, as

qualidades e benefícios do produto sem representar nenhum papel.” (MELLO VIANNA, 2004, p. 162).

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Era de Ouro do Rádio Brasileiro, foi um marco histórico no sistema de comunicação

radiofônico. A seguir, apresentamos imagens que ativam algumas reminiscências

dessa época:

Figura 1 – Cantoras do rádio

Fonte: Silva (2014)

Figura 2 – Emilinha Borba

Fonte: Silva (2014)

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Outro grande feito da Era de Ouro do Rádio foi a primeira radionovela do

país, intitulada “Em busca da felicidade”, lançada pela Rádio Nacional, em 1941.

Surgia, então, uma forma de entretenimento dinâmico, capaz de aguçar o imaginário

do auditório/radiouvinte. Segundo Castro (2012), não se pode negar que as

radionovelas lançadas na Era de Ouro do Rádio foram essenciais para provocar

mudanças e propor novas configurações de programas de auditório que despontavam

na época.

Figura 3 – As radionovelas

Fonte: Silva (2014)

A figura acima, de certa forma, contribui para confirmar o fascínio das

famílias pela dramaturgia radiofônica, que ficavam paralisadas, atônitas diante do

rádio. Mesmo sem muitos recursos tecnológicos, se comparados aos tempos

modernos, a sonoplastia, somada à voz, era capaz de propor um entretenimento

notório, que ativava a imaginação dos radiouvintes, o que era inovador para a

realidade da época.

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A Era de Ouro do Rádio no Brasil funda-se numa trilogia cuja programação

abrangeu programas de auditório, radionovelas e o Repórter Esso, programa especial

lançado durante a II Guerra Mundial, que tinha como meta “cobrir” os fatos

acontecidos em relação à Guerra, obviamente, sob o ponto de vista dos aliados. Com

o slogan “A Testemunha Ocular da História”, o Programa ficou no ar até 1968. Tal

programa foi um marco ousado, inovador, fundamental para conquistar a

credibilidade do jornalismo do rádio brasileiro. O Repórter Esso, segundo Castro

(2012), foi, sem dúvida, referência para muitos estudantes de jornalismo e até mesmo

para a TV.

Figura 4 – Repórter Esso

Fonte: Silva (2014)

Com uma grade de programas que envolvia diversos gêneros culturais,

entretenimento e informação, a Rádio Nacional conquistou as massas, demonstrando

um grande poder de penetração. No dia 8 de março de 1940, tornou-se a primeira

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emissora privatizada, sendo a emissora oficial do governo brasileiro. Não obstante,

com a chegada da TV, na década de 1950, o rádio perdeu artistas, profissionais e

poder de influência, devido à transferência das verbas publicitárias. Visando retomar

o seu espaço e potencial no mercado e no meio comunicativo, as emissoras de rádio

ousaram ao elaborar uma nova estrutura de programação, agora, contando com o

jornalismo, o esporte e o entretenimento. Os artistas de renome ou no início de

carreira lançavam seus discos e tinham preferência pelos programas de auditórios,

pois os cachês eram maiores. Entretanto, eles contavam com as emissoras de rádio

para tocar suas músicas, já que a proximidade entre o rádio e o ouvinte era muito

maior, considerando que nem todos tinham aparelhos de TV em casa.

A partir dos anos 1990, o rádio se digitaliza e, assim como todos os meios de

comunicação de massa, sofre fortes influências e mudanças com o impacto das novas

tecnologias e da globalização. Vive-se, no universo radiofônico, um período de

descobertas, desafios e conquistas tecnológicas relacionadas ao advento da Rede

Mundial de Computadores. No Brasil, mudanças significativas foram realizadas no

que se refere à transmissão, recepção de informação e entretenimento ofertados pelas

mídias tradicionais. Segundo Zuculoto (1998), fez-se acreditar que, mediante a

grande variedade de canais de informação, o discurso social promovido pelos novos

mídiuns seria plural e, em decorrência dessa pluralidade, seriam mais democráticos.

Mas isso não passou de uma utopia, corrobora a autora.

Na visão de Zuculoto (1999), apesar de a sociedade estar inserida nas

Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) 11 , falta muito para que a

comunicação, de fato, cumpra o ideal de atender aos anseios e direitos da sociedade

no que se refere à circulação informacional. No entanto, de acordo com Ford (1999),

direta ou indiretamente, as TIC tem interferido na circulação e democratização da

11 “As Tecnologias da Informação e Comunicação ou TIC correspondem a todas as tecnologias que interferem e mediam os processos informacionais e comunicativos entre as pessoas, e podem ser entendidas como um

conjunto de recursos tecnológicos integrados entre si, que proporcionam, por meio das funções de hardware,

software e telecomunicações, a automação e a comunicação dos processos de negócios, da pesquisa científica e

de ensino e aprendizagem. As TIC são utilizadas em diversas maneiras e em vários ramos de atividades, podendo

se destacar nas indústrias (processo de automação), no comércio (gerenciamento e publicidade), no setor de

investimentos (informações simultâneas e comunicação imediata) e na educação (processo de ensino

aprendizagem e Educação a Distância). Pode-se dizer que a principal responsável pelo crescimento e

potencialização da utilização das TIC em diversos campos.” (WIKIPÉDIA, 2014) .

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informação, facilitando, modernizando e ofertando muito mais velocidade à produção

e transmissão de informações.

Para Dantas (1996), tanto a história da descoberta da radiofusão quanto as

pesquisas que retratam o seu desenvolvimento mostram que as tecnologias

informacionais estão intimamente imbricadas aos interesses políticos, militares e

econômicos dos estados nacionais. Dantas (1996) destaca que a rede mundial de

computadores e os novos suportes que dela se originam – aqui, fazemos uma ressalva

à webradio12 e às emissoras de rádio consideradas “tradicionais”, mas que também já

utilizam a internet para veicular seus programas e produtos – são novos mecanismos

para o capital processar e transmitir informação: a informação que lhe serve e lhe

interessa. De acordo com o autor,

[...] todas essas inovações resultam de investimentos feitos diretamente pelas

grandes corporações, por agentes financeiros privados ou pelo Estado,

investimentos estes orientados para a busca de soluções técnicas que tornem

cada vez mais rápido, eficiente e barato o transporte da informação que

interessa ao capital. (DANTAS, 1996, p. 49).

Não há dúvidas de que grande parte das emissoras de rádio brasileiras já

aderiu aos implementos tecnológicos de digitalização e tem consciência da

importância desses recursos, uma vez que o público radiouvinte está mais exigente.

Para atendê-lo, explica Dantas (1996), os mídiuns radiofônicos precisam acompanhar

e se adequar às tendências propostas pelas mídias sociais, e claro, ao perfil do

auditório/radiouvinte. Percebe-se que a era da sociedade tecnológica, apesar de

informacional, continuará dessocializando a função dos meios de comunicação. Para

Zuculoto (1999), até mesmo as mídias tradicionais, principalmente, o secular rádio,

estão devendo à humanidade o uso do espaço e o cumprimento do importante papel

social que deveriam desempenhar. Na visão de Castells (1999), a mediamorphosis13

pode manter e até ampliar os excluídos do processo notório proposto pela Federação

12 Webradio, conforme explica Prata (2008, p. 2), “é uma emissora radiofônica que pode ser acessada por meio

de uma URL (Uniform Resource Locator), um endereço na internet, não mais por uma frequência sintonizada no

dial de um aparelho receptor de ondas hertzianas tradicional.” 13 Cunhada por Roger Fidler (1997), metamorphosis está diretamente ligada aos processos de transformação dos

meios midiáticos, haja vista as imposições políticas, comerciais e evolucionais da sociedade e dos aparatos

tecnológicos. Ao identificar os fenômenos que interferem no processo de sobrevivência e transformação dos

mídiuns, Fidler (1997) os denomina como midiamorfose, que, para ele, significa coevolução, coexistência,

metamorfose, propagação, sobrevivência, oportunidade, necessidade e atraso na adoção.

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Nacional dos Jornalistas (FENAJ) de se respeitar o interesse público a que deve estar

sujeita a área das comunicações e suas práticas.

A função social das mídias social e tradicional, segundo Brittos (2009),

deveria centralizar-se, acima de tudo, na capacidade de desempenhar um ideal mais

democrático das sociedades, criando na esfera pública a precípua participação em

assuntos cívicos referentes às identidades nacional e cultural, promovida e mediada

pela linguagem através da expressão dialogal exercida pelos sistemas de

comunicação. Mas, diante da lógica do consumo, esses sistemas evidenciam o

modelo mercantilista para viabilizar recursos sem perder o foco dos benefícios

advindos, ou seja, o aumento do acesso aos meios de comunicação. Na visão de

Brittos (2009, p. 26), “isso exige de qualquer empresa, de qualquer indústria, uma

redefinição de sua estrutura de operações e fontes de receita para manter-se no

mercado.”

A grande questão é que, atendendo a esses objetivos, muito se perde no ideal

de construir um sistema comunicacional verdadeiramente democrático, capaz de

atender aos interesses da sociedade em termos de circulação e pluralidade. Se não

fosse por essa meta, e, sobretudo, pelo poder de influência que os mídiuns sociais e

tradicionais exercem, eles poderiam se tornar poderosos mecanismos

transformadores, cuja força produtiva e geradora de interação social seria fator

importante para uma democracia.

Não só o rádio, mas também os demais mídiuns deveriam ser instrumentos

“amplificadores” de mais ações sociais, ações comunicativas capazes de conduzir e

propiciar, acima de tudo, a ascensão do homem moderno em seu espaço público. De

acordo com Zuculoto (1999, p. 3), mesmo estando em falta com as funções sociais

que deveria desempenhar em comparação com outros mídiuns, o rádio “é o veículo

que apresenta mais possibilidade e facilidade para cumprir a função social da

comunicação. Isto porque reúne grandes condições para tanto.”

2.2. As TIC: conquistas e desafios

Apesar de a humanidade está inserida na mediamorphosis, segundo Zuculoto

(1998, p. 2), dificilmente pode-se dizer que “a comunicação está mais perto de

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cumprir sua função, seu ideal. O ideal de se democratizar e realmente atender aos

interesses e direito da sociedade em termos de circulação e pluralidade da

informação, de não existirem excluídos tanto da recepção quanto da transmissão.”

(ZUCULOTO, 2004, p. 1).

Sobre isso, Meditsch (1998), nove anos após o período de implantação da rede

mundial de computadores no Brasil, já advertia que, por consequência da “era

intelectual eletrônica”, o rádio sofreia sérias configurações no que se refere ao

formato e ao modo de produzir e veicular conteúdo. Pelo visto, muito se concretizou,

mas a democratização midiática ainda está distante de se cumprir. Em uma entrevista

concedia a Egypto (2001), do Observatório da Imprensa, Medistch afirma que

[...] o rádio se tornou a interface sonora da sociedade com este mundo de informação. Uma interface que poderia estar ao alcance também dos excluídos,

mas não é exatamente o que ocorre numa segmentação orientada apenas pelo

mercado: esta tende a reproduzir e aprofundar a exclusão.

Segundo Prata (2008), a adesão do homem contemporâneo ao universo

tecnológico, de certa forma, propiciou rupturas e adequações no que se refere à

linguagem midiática. Para a pesquisadora, o mundo tecnológico instaura e impõe

dois marcos divisores na história da radiofonia. O primeiro se deu na década de

1950, com o advento da TV; o segundo, tema de grande relevância, configura-se na

implantação da webradio, um novo modelo de radiofonia que teve início no Brasil a

partir de 1998, cujo diferencial centra-se na construção de emissoras de rádio com

existência apenas na internet. Prata (2008) pontua que a dinamicidade evolutiva

desse processo, denominado “radiomorfose”, demanda a necessidade de novas

pesquisas, tendo em vista a reconfiguração dos gêneros e os novos modelos

interacionais propostos pelo rádio.

Para Piovesan (2004), a webradio possibilitou novos formatos interativos, uma

vez que o radiouvinte internauta tem a oportunidade de elaborar sua própria

programação. Já o anunciante pode contar com a inserção de banners para mostrar

seus produtos. Com a facilidade de poder contar com novas ferramentas

proporcionadas pela tecnologia informacional no universo midiatizado, a ideia de

“fique ligado” pode ser entendida muito mais a fundo que uma simples configuração

perceptiva e afetiva que demanda uma nova geração imbuída de conhecimentos que

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vão além da capacidade de codificar e decodificar elementos linguísticos básicos do

processo de comunicação.

Diante da necessidade de se constituir como sujeitos idealizadores e

assumirem de modo real o seus papéis nas mais variadas instâncias comunicativas,

emergem emissoras de rádio, que, além de argumentativas e consensuais, produtoras

de normas e sentidos, e associadas a um contexto intersubjetivo de livre discussão,

são repletas de elementos multissemióticos capazes de oferecer ao

auditório/radiouvinte um referencial estético diferenciado, em que as paixões podem

ganhar formas e valores discursivos que propiciam interações que vão muito além do

ver e enxergar, do ouvir e escutar.

Para a realidade contemporânea, as peças radiofônicas / publicitárias, sob a

égide da emoção como um aspecto poderoso das operações mentais, ganham força e

poder. Desde os anos de 1990, por meio do processo de digitalização do áudio, as

emissoras de rádio brasileiras vêm sofrendo mudanças significativas, que

proporcionaram melhorias em relação à qualidade da produção e transmissão de

áudio. As inovações não param e, com a criação de emissoras de rádio virtuais, as

transmissões via internet tem possibilitado um acesso muito maior às informações.

Para Piovesan (2004), o rádio na internet deixa de ser unissensorial e torna-se

híbrido, ao oferecer além de música, textos e imagens, e, com isso, o acesso a

informações complementares por meio de hipertextos (links), que, por sua vez,

facilitam o acesso a outros textos e imagens. Além disso, nas palavras de Piovesan

(2004, p. 47), “o rádio alcança as pessoas por meio de estímulos sonoros que entram

pelos ouvidos, mas que permeiam todo corpo e afetam todos os sentidos. Sendo

assim, trata-se de uma experiência envolvente, holística, total e apaixonante cheia de

sabores, cheiros, cores e imagens.

Nas sociedades contemporâneas, fontes competitivas e, muitas vezes,

contraditórias de informações propostas pelos meios de comunicação de mas sa

disputam a atenção do indivíduo para fornecer-lhe definições e instruções sobre qual

comportamento deve ser imitado, que regras de ação devem ser seguidas, que

sentidos e discursos são verdadeiros, enfim, o mundo midiático vem se configurando

como uma poderosa ferramenta formuladora e criadora de opiniões, saberes, normas,

valores e subjetividades. Se, na década de 1930, o rádio já apresentava, ainda que

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embrionários, impactos na vida cotidiana das pessoas, hoje, aliado aos outros meios

de comunicação de massa, ele interfere, forma e transforma a realidade, as

motivações e os modos de pensar e de agir do homem.

Nesse discurso, em que se cruzam relatos de fatos históricos e informações

relativas ao advento da era informacional tecnológica sobre o rádio no Brasil, este

trabalho focaliza esse mídium como mediador de um dos processos comunicativos

mais presentes na sociedade. Obviamente, por trás da caixa de ressonância, em que

perpassam as tradicionais ondas hertzianas14 e/ou a webradio associadas aos suportes

não convencionais agregam-se componentes linguísticos e paralinguísticos, bem

como correlatos acústicos lexicais e não lexicais que revelam aspectos prosódicos e

estilísticos presentes nas três peças radiofônicas aqui analisadas.

Nesse construto multissemiótico, são estabelecidas regras normativas da

entonação das palavras que carregam a expressão dos sentimentos e afetos do falante

reveladas no ato da enunciação. Presentes em extremos distintos, mas mediados pelas

ondas sonoras do rádio, enunciador (locutor/radialista) e coenunciador

(auditório/radiouvinte) interagem, se comunicam e se tornam próximos, rompendo

muitas barreiras socioculturais. Em oposição aos apontamentos de Zuculoto (1999),

Brittos (2009, p. 196) ressalta que

[...] o consumo e a presença dos aparatos tecnológicos, especialmente da

internet e da televisão (com todos os hibridismos construídos entre e com

esses meios), vem modificando o modo como os indivíduos estão se

comunicando, se relacionando e construindo novos conhecimentos, sendo a

informação e a comunicação encaradas como elementos essenciais nesse

processo.

Como afirma o pesquisador, objetivando alcançar novas metas, o governo

caminha, ainda em passos lentos, na busca por estímulos e incentivos para a inserção

14 Ondas hertzianas – Expressão técnica empregada pelo Sistema de Radiodifusão para fazer referência ao sinal

de captação e transmissão de vídeo ou áudio por meio de ondas eletromagnéticas. Atualmente, as novas

tecnologias proporcionaram o avanço desse sistema que hoje é realizado por fibra de carbono, sistema ótico e

digital. Para o Ministério das Comunicações, segundo Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997, Lei Geral de Telecomunicações do Brasil, radiodifusão é o serviço de telecomunicações que permite a transmissão de sons

(radiodifusão sonora), ou a transmissão de sons e imagens (televisão), destinados ao recebimento direto e livre

pelo público. Segundo Nunes (2000), a radiodifusão é a propagação de sinais de rádio, televisão, telex, telefone e

internet. Tanto a TV quanto o rádio usam o sistema de radiodifusão para receber sinais e transformá-los em

áudio-vídeo ou áudio, respectivamente. A diferença está em como a informação é codificada, mas não é apenas

isso: a inserção das TIC, segundo o Ministério das Comunicações, afetou diretamente todos os mídiuns

tradicionais. No Brasil, a era tecnológica contribuiu muito para a implantação do sistema digital de radiofusão

sonora.

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das TIC, principalmente, no âmbito da educação. Segundo Brittos (2009), no que se

refere à área comunicacional, a migração dos aparatos tecnológicos analógicos para o

digital tem ocorrido de modo acelerado, o que oferece ganhos em produtividade,

eficiência e confiabilidade, tendo em vista o potencial de armazenamento de dados.

Essas são algumas contribuições advindas das TIC, que muito irão favorecer a

construção e a divulgação do conhecimento.

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3. ENUNCIAÇÃO, DISCURSO PUBLICITÁRIO E CENOGRAFIA

No quadro das reflexões deste trabalho e para fundamentar a análise das peças

radiofônicas em exame, procuramos compreender o discurso radiofônico de caráter

publicitário sob um enfoque que contempla, numa relação articulada, as dimensões

enunciativa e persuasiva da linguagem e a cenografia que envolve o discurso das

peças em exame. Nessa direção, para abordarmos a relação do locutor/radialista com

língua e com o discurso, um ponto de partida que elegemos é o da enunciação. Para

isso, recorremos aos estudos da teoria da enunciação, que será aqui abordada tanto

por Benveniste (1989; 2005; 2006) quanto por Bakhtin/Voloshinov (1992; 2006),

estudiosos que, embora guardem posicionamentos teóricos específicos, dão -nos

contribuições, cada um à sua maneira, para focalizar a ação do eu em relação ao tu.

3.1. Enunciação: o lugar da intersubjetividade

Começamos por dizer que a linguagem é uma atividade que envolve e constrói

o lugar da (inter)subjetividade, posição defendida por Benveniste (1976, p. 289), que

postula que

[...] a linguagem é, pois, a possibilidade da subjetividade, pelo fato de conter

sempre as formas linguísticas apropriadas à sua expressão; e o discurso

provoca a emergência da subjetividade, pelo fato de consistir de instâncias

discretas. A linguagem de algum modo propõe formas “vazias” das quais cada

locutor em exercício de discurso se apropria e as quais refere à sua “pessoa”,

definindo-se ao mesmo tempo a si mesmo como eu e a um parceiro como tu.

Ainda, para esse linguista, “o emprego da língua trata-se de um mecanismo

total e constante que afeta a língua inteira. [...] A enunciação é este colocar em

funcionamento a língua por um ato individual de utilização.” (BENVENISTE, 1976,

p. 82). Desse ponto de vista, entendemos que o locutor/radialista, na construção do

discurso publicitário radiofonizado, na produção da propaganda, se define como o

sujeito que coloca a língua em funcionamento e dela se apropria, isto é, age com e

sobre ela nos eventos interacionais. Nessa concepção, o ato de enunciar implica a

emergência de um EU e um TU que se mostram, linguística e discursivamente, na

materialidade dos enunciados. Resumidamente, nas palavras de Benveniste (1974 , p.

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85), “como forma de discurso, a enunciação coloca duas figuras igualmente

necessárias, uma, constituindo a fonte e, a outra, o alvo da enunciação. É a estrutura

do diálogo.”

A dimensão enunciativa da linguagem está intrinsecamente implicada com a

sua dimensão (inter)subjetiva. Isso porque, como explica Benveniste (1974, p. 286),

[...] a consciência de si mesmo só é possível se experimentada por contraste.

Eu não emprego eu a não ser dirigindo-me a alguém, que será na minha

alocução um tu. Essa condição de diálogo é que é constitutiva da pessoa, pois

implica em reciprocidade – que eu me torne tu na alocução daquele que por

sua vez se designa por eu.

É, sob essa perspectiva, pressupondo a relação (inter)subjetiva como condição

para a enunciação, que Benveniste oferece a este estudo ferramentas conceituais e

metodológicas para empreendermos uma leitura do corpus em exame. Nessa direção,

tendo em vista a natureza do material analisado, entende-se aqui que é através de

uma linguagem multissemiótica, isto é, “verbo-voco-sonoplático”, nos termos de

Silva (1999), que se constrói a enunciação, e, portanto, se instaura o fenômeno da

intersubjetividade: os indivíduos que fazem parte do processo comunicativo

radiofônico – o locutor/radialista e o auditório/radiouvinte) –, ao assumirem o lugar

do EU nessa troca dialógica, afiguram-se como TU, tornando-se sujeitos, figuras

enunciativas. Como explica Benveniste (1989, p. 87): “o que caracteriza a

enunciação é a acentuação da relação discursiva com o parceiro, seja este real ou

imaginário, individual ou coletivo.”

A essa perspectiva, procuramos associar as contribuições do dialogismo, que

também toma como objeto de estudo a enunciação sob o viés sócio histórico. Nessa

abordagem, a atenção ao fenômeno da linguagem e da língua está voltada para a

relação do homem, ser histórico, com a sociedade. É nesse sentido que, para

Bakhtin/Voloshinov (2006, p. 116),

[...] a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente

organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser

substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o

locutor. A palavra dirige-se ao interlocutor: ela é a função da pessoa desse

interlocutor: variará se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não.

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A enunciação é uma atividade fundamentalmente dialógica. Se, para

Benveniste, a dialogicidade da língua está inscrita no processo de enunciação, que é

pautado pela emergência de EU e do TU, para Bakhtin/Voloshinov (2006), essa

condição ultrapassa a dimensão linguística, tendo em vista o caráter histórico da

enunciação. A enunciação só se realiza no curso da comunicação verbal,

contextualmente situada, em que elementos extralinguísticos – os fatores sociais,

culturais, ideológicos, por exemplo – orientam a interlocução entre o EU e TU. Nessa

abordagem, a relação entre o EU e o TU é mediada pela palavra/enunciado, na qual

se cruzam outras palavras/enunciados, outras vozes/discursos. É com a (e através da)

palavra que o sujeito se define em relação ao outro. A palavra é o territó rio comum

do locutor e do interlocutor, pressupondo-se, da parte do interlocutor, uma

compreensão responsiva, uma atitude que se instaura na alteridade discursiva

(BAKHTIN/VOLOSHINOV, 2006).

Sob essa visão, buscamos compreender a enunciação presente nas peças

publicitárias em exame como uma atividade dialógica, interacional, condicionada por

fatores sociais, históricos e ideológicos – como se expôs no Capítulo 2 – que

regulam, direta ou indiretamente, o dizer do locutor e a sua recepção. A enunciação é

uma forma de colocar a língua em funcionamento, como preconiza Benveniste, mas ,

nessa atividade, entrecruza-se um conjunto de valores e crenças. Dessa perspectiva,

percebe-se que a enunciação do discurso publicitário, no caso das peças radiofônicas,

consiste na efetivação da atividade linguageira, multissemiótica, em que o linguístico

se conjuga com outros sistemas semióticos para atualizar um discurso que tem como

alvo, em termos de interlocução, o pretenso consumidor. Mediante essa enunciação,

que se materializa na voz do locutor/radialista, em articulação com o verbal e o não

verbal do discurso, buscam-se despertar estímulos sensoriais no auditório/radiouvinte

que vão além da mera audição dos enunciados radiofonizados Há, nessa enunciação,

um trabalho discursivo da parte do locutor/radialista e, portanto, da emissora do

rádio, que opera com o jogo de persuasão para conferir ao que é dito, ou seja, ao

discurso publicitário ali em produção e circulação, uma credibilidade. Sob esse viés,

resumidamente, operamos com o posicionamento segundo o qual a enunciação, no

âmbito das peças radiofônicas, implica colocar a língua em funcionamento (por parte

do locutor/radialista), mas também mobilizar outros tantos sistemas semióticos

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relacionados à prosódia, à voz e sua impostação, ao ritmo e à sonoplastia, que

integram a tessitura do discurso.

Em suma, para falar de enunciação, considerando o campo aqui investigado,

demanda-se operar, numa relação de convergência, as contribuições de Benveniste e

de Bakhtin/Voloshinov, vez que enunciar é uma atividade dialógica que pressupõe

colocar a língua em funcionamento e, junto a isso, conforme os efeitos de sentido

que se busca provocar, manipular outras linguagens, que integram, num sentido

amplo, a sintaxe do discurso em processo de produção e de recepção, instância aqui

pressuposta.

É importante considerar que a enunciação do discurso radiofônico das peças

publicitárias em exame está vinculada a uma teia de processos de produção que

envolvem inúmeros atores, suas ações e artefatos de linguagem, sustentando e

viabilizando a atuação do locutor/radialista, como, por exemplo, o operador de som,

o sonoplasta, os operadores de áudio da mesa, o programador da trilha sonora e o

redator do texto escrito a ser oralizado pelo radialista. Para a composição das peças

radiofônicas, a enunciação, em eventos concretos de interação social, reveste -se de

complexidade ao colocar em funcionamento múltiplas linguagens. O

locutor/radialista, nessa cena, afigura-se como um orquestrador de sistemas

multissemióticos, assumindo performances enunciativas conforme o papel social que

encena. Isso se reflete nos modos de dizer, de enunciar, como procuraremos mostrar

no Capítulo 4. Nesse trabalho de orquestração, que envolve o que Maingueneau

(2001; 2008) chama de cenografia, o locutor/radialista tem em mãos não só um texto

escrito a ser oralizado, mas também diferentes aparatos tecnológicos que permitem

agregar à sua voz sistemas extralinguísticos, extraverbais, que estão presentes e

compõem os modernos estúdios de gravação e transmissão. Segundo Gomes e Dantas

(2010, p. 185),

[...] a linguagem radiofônica, bem o sabemos, reúne elementos da oralidade,

muitos de natureza paralinguística. Sendo a linguagem falada, ainda que, ao

narrar, o locutor venha a se apoiar em texto escrito, o espaço simbólico que daí

resulta, permite a inserção de componentes que vão além do simples gosto por

ouvir rádio. Na ausência de imagens eletrônicas, o rádio passa a evocar

situações próprias do imaginário do ouvinte.

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Conforme se verifica no corpus analisado (conferir o CD anexo), a linguagem

nas peças publicitárias radiofonizadas consegue exercer uma função pré-determinada

pelos seus idealizadores, porque está inserida em um “quadro cênico”

(MAINGUENEAU, 2001; 2008) construído por múltiplos mecanismos sensoriais,

cuja finalidade é atuar como recursos de persuasão que também objetivam imitar

situações “reais” do cotidiano do auditório/radiouvinte.

Para reiterar essa reflexão, encontramos em Fiorin (2003) a discussão segundo

a qual o enunciador (o locutor/radialista) faz uso de estratégias argumentativas e de

outros procedimentos da sintaxe discursiva para criar efeitos de sentido da verdade

ou da realidade com vistas a convencer o seu interlocutor. Todo esse processo se

efetua pela enunciação do locutor/radialista por meio das ondas sonoras analógicas

ou digitais do sistema de rádio. Tais condições de produção são especificidades

impossíveis a outros mídiuns, mesmo porque eles fazem uso de outras linguagens,

suportes e espaços, que demandam outras estratégias e objetivam alcançar outro

público (MERAYO PÉREZ, 1992).

Nesse sentido, frizamos que, com o seu alto potencial de sugerir e, ainda, com

a sua capacidade de propor imagens semiotizadas, o rádio estreita e estabelece

vínculos afetivos capazes de suscitar uma sensação de intimidade com o

auditório/radiouvinte que escuta a mensagem nos mais variados contextos, nos quais

há uma luta assirrada para atrair a adesão do auditório/radiouvinte (PERELMAN;

OLBRECHTS-TYTECA, 2005). Isso porque o locutor/radialista “sabe” o que está

acontecendo quando participa de um evento discursivo, e tem, ao participar dele,

intenções que ele busca tornar conhecidas, bem como objetivos a concretizar. Essa

reflexão nos leva novamente a Bakhtin/Voloshinov (1992, p. 279), para quem

[...] todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão

sempre relacionadas com a utilização da língua. A utilização da língua efetua -

se em forma de enunciados [...]. O enunciado reflete as condições específicas e

a finalidade de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e

por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua –

recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais –, mas também, e sobretudo, por

sua construção composicional.

Nessa abordagem dialógica, conforme se apreende na obra do Círculo de

Bakhtin, especialmente na Estética da Criação Verbal (1992), enunciado equivale a

gênero discursivo, discussão que aqui não será desenvolvida, mas assumimos, com

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Bakhtin (1992), que todo gênero discursivo participa de uma relação humana, de uma

atividade humana. Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao

uso da linguagem, sendo que o caráter e as formas desse uso são tão multiformes

quanto os campos da atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade

nacional de uma língua.

A perspectiva bakhtiniana enfatiza também que as relações estabelecidas entre

os signos possuem uma carga ideológica e estão vinculadas a múltiplas linguagens,

semioses, que envolvem as vozes sociais que se fazem ouvir. Reconhece-se que isso

não é diferente nas peças publicitárias radiofonizadas, isto é, as vozes sociais ou

discursos da esfera publicitária, articulada com os discursos da esfera comercial, que

intenta vender algo, e com os discursos de outrem, como os da vida cotidiana, ecoam

na voz do locutor/radialista. Nesse sentido, para o trabalho de análise do objeto em

estudo – propagandas radiofônicas, que pertencem ao gênero da esfera da

publicidade –, é preciso que se considere não apenas a singularidade do material

linguístico articulado a outras linguagens presentes nas peças, portanto, nos textos,

mas também o modo como as vozes se engendram, se articulam, para construir

efeitos de sentido no auditório/radiouvinte.

Nessa direção, entendemos, com Bakhtin/Voloshinov (2006), que o

auditório/radiouvinte não tem como tarefa apenas a mera missão de decodificar,

reconhecer a forma utilizada no processo comunicativo instaurado, mas também

compreender a complexidade desse processo num contexto situado, compreender sua

significação numa enunciação particular, no caso, nas peças publicitárias, produzidas

e postas em circulação em um momento em que o rádio está em plena concorrência

com outras mídias.

Sob esse viés, o locutor/radialista é responsável pela produção e manifestação

da palavra radiofonizada. Mas, nessa interação, como preconiza Bakhtin/Voloshinov

(2006), a palavra apresenta-se sobre duas faces: tanto pelo fato de que procede de

alguém quanto pelo fato de que se dirige para alguém, constituindo-se o produto da

interação do locutor (o radialista) e do receptor (o auditório/radiouvinte). A palavra,

manifestada pela voz do locutor, “adquire dimensões e carga de entoação e estilo

interior, ainda que rudimentar.” (BAKHTIN/VOLOSHINOV, 2006, p. 107).

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Resumidamente, nessas diferentes formas de semiose, por meio de um sistema

“verbo-voco-sonoplástico” (SILVA, 1999), enuncia-se um discurso imbricado de

múltiplas linguagens e vozes, próprias de um sujeito discursivo que mobiliza uma

série de recursos linguísticos, mas que também conta com outras semioses e faz

escolhas dentro do complexo processo discursivo. No processo construtivo das peças

radiofônicas publicitárias, muitos são os fatores que se articulam e operam como

elementos preponderantes da interpretação. O plano escrito, a enunciação do locutor,

as intenções dos sujeitos idealizadores, o contexto histórico-social, o público

radiouvinte utilizam como suporte radiofônico o mídium da esfera da comunicação

social.

Falar de interação implica, portanto, relacioná-la à força produtiva de

enunciados em que se atualizam recursos expressivos e linguísticos, bem como

outras semioses, como as estratégias discursivas que integram a composição dos

textos dos gêneros de discurso. Não se trata apenas de regras, normas e restrições

estabelecidas ou relacionadas à estrutura de uma língua, mas, sim, de elementos,

recursos linguísticos que o enunciador disponibiliza para levar a efeito seus

objetivos, suas intenções. Dentro dessa perspectiva dialógica e enunciativa, cumpre -

se o postulado de Benveniste (1976) de que é pela linguagem que o homem se

realiza, constrói a sua identidade, e de que é por meio dela que o homem se constitui

como sujeito de suas práticas discursivas.

Percebe-se que as estratégias que envolvem os processos discursivos são

amplas, e que ligadas a elas encontra-se uma complexidade ímpar que as teorias da

linguagem procuram analisar. Isso porque, na perspectiva aqui adotada, sabe-se que

um discurso não se reduz simplesmente à mera função comunicativa. Assim, para

concluir essas considerações, importa ressaltar que, na concepção de linguagem aqui

adotada, não se trata de conceber a língua como um instrumento de veiculação de

conhecimentos, informações, mensagens, por meio de recursos de diferentes ordens e

suportes. Trata-se, sim, de assumir a linguagem como condição necessária para a

enunciação, o que implica concebê-la também como uma atividade fundamental e

constitutiva para o processo de interação entre dois ou mais indivíduos. Nessa

perspectiva, admite-se que o agir interacional e discursivo do homem

contemporâneo, embrenhado nas tecnologias da informação e comunicação, não se

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limita apenas ao nível de produção e interpretação de discursos verbais, sejam

escritos ou orais, mais que isso, ele, em suas práticas de linguagem, está mergulhado

em uma diversidade discursiva e semiótica que envolve os processos de produção,

circulação e recepção da linguagem.

É sob essa perspectiva que este estudo busca compreender o trabalho

persuasivo do discurso publicitário nas peças radiofônicas aqui em exame, temática

que, agora, passamos a refletir na seção abaixo.

3.2. Discurso publicitário e persuasão

Para refletir sobre a relação entre argumentação e persuasão, este estudo se

vale dos estudos da chamada Nova Retórica. Para isso, começamos por salientar

alguns posicionamentos desenvolvidos a partir da releitura que Perelman e

Olbrechts-Tyteca (2005) fazem da Retórica Clássica, para a qual a argumentação é a

arte da persuasão aplicada ao modelo ideal do raciocínio lógico e formal. Na

perspectiva desses autores, a argumentação é um meio de promover uma adesão do

público-alvo por intermédio da não coação. Pensamento de grande valia, uma vez

que se alcança a adesão do destinatário mediante suas próprias convicções. Desse

modo, o discurso seria como uma importante ação argumentativa, o que efetuaria a

interação entre orador e auditório, emissor e destinatário.

Sob esse prisma, apropriamo-nos de alguns conceitos-chave do Tratado da

Argumentação de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), com o objetivo de formular

uma fundamentação teórica e conceitual para a análise aqui empreendida.

Obviamente, não se pode negar o legado deixado pelo classicismo, todavia o estudo

da argumentação da Nova Retórica volta-se para as técnicas discursivas, buscando

provocar e/ou aumentar a adesão dos espíritos às teses que lhes são apresentadas.

Para Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), toda argumentação se desenvolve

em função de um auditório. Nessa direção, a Teoria da Argumentação não vê a

retórica com uma disciplina isolada, autônoma, mas construída no discurso. Fora

dele, segundo os autores, torna-se inviável estudá-la. Na visão Perelman e Olbrechts-

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Tyteca (2005), dar-se-á ênfase ao orador 15 – no caso deste estudo, ao

locutor/radialista –, que encarna a figura de autor do discurso e exerce a função de

conquistar, provocar o auditório – no caso deste estudo, o radiouvinte. Para Amossy

(2005, p. 19), na arte de persuadir, o orador, para cumprir sua tarefa, une-se “ao

conjunto dos meios verbais destinados a obter ou reforçar a adesão do auditório às

teses submetidas a seu assentimento.” Nessa relação, “o orador tem a missão de se

adaptar ao auditório, portanto, de fazer uma imagem dele e, correlativamente, de

construir uma imagem confiável de sua própria pessoa, em função das crenças e

valores que o orador atribui àqueles que o ouvem.” (AMOSSY, 2005, p 19),

O processo interacional estabelecido pelos sujeitos interactantes se efetua

necessariamente por meio do discurso, que tem a capacidade de conceber a imagem

que os sujeitos fazem um do outro. Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 16)

pontuam que,

[...] quando se trata de argumentar, de influenciar, por meio do discurso, a

intensidade de adesão de um auditório a certas teses, já não é possível

menosprezar completamente, considerando-as irrelevantes, as condições

psíquicas e sociais sem as quais a argumentação ficaria sem objeto ou sem

efeito. Pois toda argumentação visa à adesão dos espíritos e, por isso mesmo,

pressupõe a existência de um contato intelectual.

Percebe-se que a enunciação, corporificada na palavra oralizada no rádio,

revela um discurso publicitário marcado por fortes indícios de práticas do cotidiano.

De acordo com Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), as práticas sociais são vistas

como condições motivadoras que influenciam o autor, servindo-lhe como aquisição

de experiência, podendo ser usadas em determinadas trocas argumentativas, em que o

autor exercerá seu potencial discursivo, transmitindo-as a um auditório

correspondente. Nessa perspectiva, como já discutido, as peças publicitárias não

podem ser destituídas do contexto social, do campo de atividade que as produzem,

15 Orador e auditório são termos apontados por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) que aqui são tomados como

equivalentes a locutor/radialista e radiouvinte, respectivamente. Na visão apresentada pelos autores, “o orador

tem a convicção de que todo indivíduo é constituído de um auditório universal e mediado por ele constrói suas

teses que pretende ser validadas.” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 69). O auditório particular,

na verdade, apresenta características advindas do auditório universal, ou seja, mesmo em suas particularidades

esse auditório particular constitui-se num modelo que por si só foi constituído de práticas sociais ditadas pelos

valores de vanguarda (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005).

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dos sujeitos nelas envolvidos, do orador (locutor/radialista) e do

auditório/radiouvinte.

No contexto radiofônico, os sujeitos envolvidos nesse processo comunicativo

apresentam e representam crenças, valores, verdades, mentiras e conflitos que podem

ou não reforçar e modificar determinadas normas, conceitos e valores relativos ao

discurso em pauta. Dessa perspectiva, as mídias sociais, por meio de seus discursos,

se mostram um dos principais responsáveis, na sociedade contemporânea, por muitos

comportamentos da vida pública, do cotidiano, na medida em que elas, por meio de

seus discursos, podem despertar necessidades e/ou desejos de diferentes ordens,

incutindo na sociedade conceitos, tendências e valores, como o ato de consumir, que

é visto como uma necessidade e um meio para a sobrevivência. Pode-se dizer que

esse aspecto, de caráter atitudinal e ideológico, apresenta-se como um fator que se

inscreve nas condições de produção do discurso publicitário. Sobre isso, na

concepção de Steinberger (2005), as práticas do cotidiano se fazem presentes não só

nos mídiuns emergentes, mas também nos signos representativos, que se tornam

poderosos dispositivos ideológicos, repletos de significados vistos e vivenciados

pelos sujeitos, o que os insere cada vez mais em um cenário globalizado e

tecnológico, fazendo jus à ideia de que hoje estão em evidência o poder e os

interesses de um mercado que fomenta o consumo. Para instigá-lo, fazê-lo acontecer,

nada mais propício que a publicidade, melhor dizendo, o discurso publicitário. Nesse

sentido, como já dito, Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) apontam que a retórica

está associada às técnicas de argumentação, tendo como mola propulsora o discurso.

Assim, como afirma Amossy (2005), o argumento carrega consigo a força do

discurso, que, atualmente, tem o respaldo da A.D. e da Pragmática, que não só

redefiniram a Retórica como a arte de persuadir, mas também apresentam

“ferramentas” que, se bem operadas, capacita o analista a compreender e explicar

como o discurso se torna eficaz.

Na construção do trabalho argumentativo, voltado para os efeitos de uma

persuasão, os sujeitos envolvidos no processo argumentativo não deixam de

evidenciar suas posições sociais, seus aspectos psicológicos. O orador

(locutor/radialista), ao fazer uso de uma linguagem multissemiótica, detém um

aparato para persuadir, por meio do qual se podem “excitar as paixões, emocionar

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seus ouvintes, de modo que se determine uma adesão suficientemente intensa, capaz

de vencer ao mesmo tempo a inevitável inércia e as forças que atuam num sentido

diferente do desejado pelo orador.” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p.

52).

Vistas nessas condições, as peças publicitárias radiofonizadas são inseridas

numa prática de linguagem na qual os sujeitos exercem o potencial da linguagem

para trocar universos argumentativo-discursivos, inovando, principalmente, o

conceito de ouvir rádio, e demonstrando a nova configuração da publicidade no

mídium radiofônico para divulgar um bem de consumo, convencer e mover a ação da

compra.

Avançando nessa discussão, recorre-se também a Lysardo-Dias (2005, p. 25),

que, em seu estudo sobre o discurso publicitário e as Representações Sociais, afirma

que a publicidade, para promover a ação de compra, na sua origem, se mostrava

como “um discurso eminentemente informativo no sentido de apresentar e descrever

as características e qualidades do produto ou serviço anunciado. A publicidade

centrava-se na apresentação do produto, sua utilidade e seus benefícios, visando sua

exibição e valorização.” Para cumprir tais metas, o ponto fulcral era incentivar o

consumo fomentado pelo desenvolvimento industrial. Em contrapartida, a

pesquisadora explica que o fato de a publicidade ter apenas o caráter informativo,

descritivo e qualitativo de um produto, pouco satisfatório e insuficiente, tendo em

vista o excesso de produção das empresas que tinham como meta fomentar o

consumo. Em outros termos, havia grandes quantidades de produtos para serem

anunciados, mas os discursos publicitários afiguravam-se pouco eficazes para atender

a uma nova lógica do consumo imposta pelo mercado.

Relativamente a essa dicotomia, segundo Lysardo-Dias (2005), constatou-se,

nas agências de publicidades, que mais que informar, apresentar e descrever as

características e qualidades do produto ou serviço anunciado para persuadir um

suposto consumidor, impunha-se como necessário reorientar, reconstruir as

estratégias publicitárias, visando às novas tendências do mercado, e claro, às

exigências do público-alvo. Isso porque, nas palavras da autora,

[...] o interesse cada vez maior em aumentar o consumo devido à concorrência

crescente desencadeou uma reorientação das estratégias publicitárias: ao invés

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de se organizarem em torno da “simples” informação sobre o produto, elas

começaram a explorar procedimentos para atingir o inconsciente do

consumidor. (LYSARDO-DIAS, 2005, p. 25).

A autora acrescenta, ainda, que o discurso publicitário, centrado apenas na

modesta apresentação de um determinado produto ou ideia, superpõe um discurso

figurativo voltado para as representações do sujeito que pretende seduzir. Assim,

[...] o valor do produto deixou de ficar restrito à sua função utilitária, uma vez

que ele começou a ser focalizado como capaz de satisfazer os desejos do

consumidor. Esse consumidor passou a ser abordado como um ser social e não

mais como mero comprador cioso apenas das qualidades objetivas do produto

a ser adquirido. Isso não significa que a finalidade do anúncio publicitário

mudou, seu objetivo permanece o mesmo: promover a ação de compra.

Mudaram os seus mecanismos de configuração, tendo em vista que a

publicidade alcançou um caráter simbólico por não mais se restringir à

apresentação dos aspectos funcionais do produto anunciado. (LYSARDO-

DIAS, 2005, p. 26).

A procura dessa outra forma de dizer do discurso publicitário está diretamente

relacionada ao ato de persuadir, cujos efeitos se refletem no consumo. Para isso,

novos mecanismos são engendrados. Segundo Maingueneau (1998), as estratégias de

persuasão, bem como os mecanismos que compõem o discurso publicitário, devem

associar o produto a um corpo em movimento, a um estilo de vida, a uma maneira de

habitar o mundo. Dessa perspectiva, Lysardo-Dias (2005, p. 26) afirma que

[...] se, por um lado, a publicidade está inserida em um circuito comercial de

compra/venda, por outro, ela desempenha um papel cultural, na medida em

que (re)constitui determinadas cenas da vida cotidiana e mobiliza certos

universos de referência, (re)produzindo estilos de vida ao associar o produto à

satisfação de desejos.

Nesse circuito comercial de compra e venda, estão inseridos tanto o

enunciador do produto, refletido na figura do locutor/radialista, quanto o público-

alvo, o suposto consumidor, o ouvinte, que são figuras das peças radiofônicas que

constituem o complexo quadro das condições de produção dos discursos em questão.

Do ponto de vista da interlocução, para se alcançar algum efeito de sentido e,

portanto, persuasivo, a escolha de estratégias e mecanismos constituintes dos

discursos publicitários presentes nas três peças aqui analisadas pode ser entendida

como reflexo das mudanças históricas e culturais da sociedade, isto é, da própria

mudança que a atividade comercial de compra/venda tem sofrido em termos de

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significação social. Essas alterações, obviamente, também estão relacionadas aos

novos modelos midiáticos que, de certa forma, impõem determinados padrões

comunicativos próprios de cada mídium. Nas palavras de Lysardo-Dias (2005, p. 29),

[...] essa configuração está também condicionada pelo suporte escolhido para

sua veiculação, suporte que não se efetiva como um simples “canal de

transmissão”, mas que determina, pela própria natureza, uma forma de organização e constituição dos sistemas semióticos disponíveis conforme o

público consumidor daquele veiculo.

Sobre isso, Maingueneau (1991) vai nos dizer que os elementos constituintes

do discurso, de modo específico o discurso publicitário , também articulam

mecanismos enunciativos próprios da textualidade e do espaço institucional, isto é,

do universo social em que estão inseridas tanto o orador quanto o auditório. Nessa

direção, retomando Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), a liberdade e/ou a

criatividade com que lida o orador (o locutor/radialista) no trabalho de sua

argumentação, estão implicadas, a um só tempo, com as condições sócio históricas

do mídium e os propósitos que alimentam o consumo. Tendo em vista que o trabalho

de produção das peças radiofônicas é uma ação de sujeitos (publicitários, SERT-MG,

(órgão de fomento do sistema de rádio), o locutor/radialista que enuncia é mais um

dos elos desse processo, que, em seu trabalho de argumentação, faz uso de recursos

linguísticos verbais, oralizados, próprios do sistema radiofônico para alcançar os

objetivos tanto do SERT-MG quanto da própria emissora.

Nesse trabalho discursivo, voltado para persuadir o ouvinte, tem-se um

sistema linguístico e um sistema paralinguístico, que se unem a outros elementos de

sonoplastia e trilha sonora estritamente ligados às condições de produção, circulação

e recepção do discurso publicitário atuante nas peças. Assim, o discurso que emana

das ondas sonoras radiofonizadas intenta um efeito persuasivo, sedutor, convincente,

que busca suscitar a compra do produto anunciado. Esse discurso de nada valerá se

não houver um plano de composição capaz de reunir todos esses constituintes,

fazendo-os funcionar discursiva e retoricamente, mostrando-se eficiente para “fisgar”

o auditório/radiouvinte através de um produto, uma ideia, um conceito que lhe é

oferecido, por meio da eficiência e qualidade da publicidade radiofônica.

O funcionamento discursivo que envolve e faz articular o complexo processo

comunicativo de uma publicidade, independentemente de ser radiofonizada ou não,

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deixa evidente que a mídia é uma poderosa ferramenta de comunicação social, que

tem grande poder de persuasão. A mídia social faz valer o seu papel de oradora, nas

palavras de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), operando como um suporte físico,

objetivo, estruturado para conduzir, levar, transmitir o discurso ao auditório, que se

encontra nos mais variados lugares geográficos e contextos sociais.

Nessa perspectiva, podemos dizer que o locutor/radialista tem um conjunto de

estratégias e recursos estilísticos que influenciam as reações do

auditório/radiouvinte, principalmente, quando este é específico. No caso deste

estudo, tal auditório se define como os pretensos empresários, lojistas da região,

público-alvo que se busca atingir para publicar seus produtos. Conforme explicam

Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 131-133),

[...] de todo modo o orador constitui, para cada auditório, um sistema de

referências que serve para testar as argumentações. [...] Uma das preocupações

do orador será tornar presente, apenas pela magia de seu verbo, o que está

efetivamente ausente e que ele considera importante para a sua argumentação,

ou valorizar, tornando-os mais presentes, certos elementos efetivamente

oferecidos à consciência.

Ao se deparar com as exigências mercantilistas, que querem freneticamente

vender, ativar o consumo, o mercado publicitário tem a missão de tornar familiar um

produto e, principalmente, diferenciá-lo da concorrência. Com esse propósito,

constrói-se um discurso com uma linguagem específica, capaz de revelar ao seu

público-alvo valores, crenças, atitudes e/ou comportamentos que levam ao consumo

do produto à venda. Mas, para dar conta desse processo interlocutivo e persuasivo

que se instaura entre os interlocutores, a publicidade, na construção de seu discurso,

recorre a lugares comuns, opiniões, informações relacionadas ao repertório do

universo do público-alvo, com a perspicácia de despertar as paixões do

auditório/radiouvinte, como se será discutido mais adiante.

Segundo o departamento comercial da referida emissora_ Rádio Sucesso 101,7

_ , as peças publicitárias radiofônicas mostram ao auditório/radiouvinte, sobretudo,

empresários, rede de comércios e lojistas, não só o potencial de abranger e persuadir

do rádio, mas também a facilidade que esse mídium tem de propor a mensagem de

modo eficiente. Para a direção da referida emissora, a adesão à campanha do SERT-

MG teve como princípio não apenas o fomento e o poder de agente anunciante do

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mídium rádio; mas além disso, a valorização do rádio e dos profissionais que nele

atua. Nesse sentido, os idealizadores (publicitários, SERT-MG), certos dos seus

objetivos discursivos, formulam, elaboram publicidades radiofonizadas que associam

sensações eufóricas de prazer, beleza, sedução e satisfação, aproveitando o potencial

sugestivo do rádio apesar de ele ter apenas o som como significante.

A congruência desses mecanismos sensoriais se funde em um plano

organizacional de elementos linguísticos, paralinguísticos e sonoplásticos próprios

do discurso publicitário, que tem como objetivo fazer-crer e levar o

auditório/radiouvinte ao consumo, à adesão de uma ideia ou à compra de um produto,

no caso aqui em estudo, o espaço publicitário para divulgar o seu produto no

contexto das festividades natalinas.

Sobre esses aspectos, Rezende (2005) também nos conduz a refletir que tais

armas se fundem na persuasão, no convencimento de um auditório específico, alvo

de oradores que mobilizam estratégias compatíveis com a finalidade desejada. Com

as poderosas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), apesar de o público-

alvo (auditório/radiouvinte) não poder visualizar com seus próprios olhos o mundo

real, ele é estimulado, instado a buscar, a ver e a ouvir o mundo que lhe é sugerido.

Nesse cenário, a realidade passa a existir para ele como “a representação da

representação”. Por meio dessa superposição e valorização de imagens, cores,

palavras e sons, ou seja, dos elementos multissemióticos que se fundem e se revelam

numa linguagem multimodal, percebe-se que as estratégias discursivas do rádio, da

TV, da internet e da webradio têm variado consideravelmente, tanto em função das

mudanças históricas e culturais da sociedade quanto em função da própria atividade

mercadológica regida pelas TIC, fontes seguras de sobrevivência do mundo

empresarial globalizado.

Nesse processo argumentativo e persuasivo, do universo radiofônico, há um

elo forte e preponderante existente entre o locutor/radialista e o

auditório/radiouvinte, que é a voz, esse aparato fisiológico. É ela que ressoa na caixa

acústica, sendo transmitida por ondas eletromagnéticas. Mas a voz não está sozinha,

tendo em vista o trabalho da sonoplastia. Por meio desses recursos, surgem imagens

semiotizadas não prontas, mas que, no curso da enunciação, são construídas pelo

locutor/radialista de modo persuasivo, para envolver o seu auditório/radiouvinte.

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Desse modo, pode-se dizer que a voz é um dos grandes desafios do rádio,

dadas as suas condições objetivas e materiais, sobretudo no que tange ao discurso

publicitário, já que ela se apresenta como um elemento que integra o trabalho da

persuasão, sendo um dos principais meios para envolver o ouvinte. Nesse sentido,

retomando Perelman e Olbrechts-Tyteca, (2005, p. 19), no rádio,

[...] não basta falar ou escrever, cumpre ainda ser ouvido, ser lido. Não é

pouco ter a atenção de alguém, ter uma larga audiência, ser admitido a tomar a

palavra em certas circunstâncias, em certas assembleias, em certos meios. Não

esqueçamos que ouvir alguém é mostrar-se disposto a aceitar-lhe

eventualmente o ponto de vista.

3.3. A cenografia do discurso publicitário

Pela ótica de Maingueneau (2008, p. 64), a linguagem oralizada, que se

manifesta pela voz dos sujeitos enunciadores, apresenta um tom, uma voz, que

“atesta o que é dito” através das cenas enunciativas instituídas. Elas adquirem uma

vocalidade peculiar relacionada ao caráter e à corporalidade do enunciador, isto é,

para Maingueneau (2008), a vocalidade está diretamente relacionada a uma

caracterização do corpo do enunciador (não ao corpo do locutor extradiscursivo),

mas ao “fiador”, que atesta o que é dito por meio de seu tom, referente à voz, ao

discurso, seja ele escrito ou oral.

Entretanto, para o auditório/radiouvinte e para o analista de discurso, a

vocalidade não está condicionada apenas à concepção retórica clássica do ethos

ligada à oralidade, ou seja, à dimensão verbal do “fiador”, dos sujeitos idealizadores.

Nessa perspectiva, adequando os postulados de Maingueneau (2008) às peças

publicitárias radiofônicas, ousamos dizer que “fiador” é a voz que se faz ouvir pelas

ondas sonoras do rádio. A voz, na verdade, segundo Maingueneau (2008), é uma

instância subjetiva e, por isso, diz respeito ao conjunto de representações coletivas,

de estereótipos de uma determinada sociedade. Tal abordagem torna-se um grande

diferencial, pois, visto sobre essa perspectiva, o ethos não está atrelado apenas à

dimensão verbal, mas também a determinantes físicos e psíquicos do “fiador”, por

meio das representações coletivas (MAINGUENEAU, 2008).

Nesse sentido, ao “atestar o que é dito”, a SERT/MG e a Rádio Sucesso FM

101,7 não almejam revelar o caráter do locutor radialista, das personagens atuantes

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na emissão das três peças publicitárias, mas, sim, do tom da voz radiofonizada dos

sujeitos que enunciam o discurso argumentativo, para construir uma imagem, ou seja,

o ethos da instância de produção e da própria emissora, mostrando que o rádio é tão

eficiente quanto a TV para atender aos objetivos de um discurso publicitário.

Cabe esclarecer que “tom”, termo usado por Maingueneau (2008), refere-se

também à linguagem oralizada, elemento que estabelece uma ligação linear com o

rádio. Ele associa-se à cenografia, constituída por um planejamento textual, na qual a

escolha de determinadas palavras, condizentes com um campo semântico específico,

ajuda a compor a textualização do corpus em análise e a construção do ethos da

emissora e do SERT/MG.

Para Maingueneau (2008), a cenografia é um dos constituintes da tríplice cena

de enunciação16, que, segundo o autor, se articula com a cena englobante e a cena

genérica. No que se refere à cenografia, Maingueneau (2008, p. 70) propõe a

seguinte concepção:

A cenografia é a cena de fala que o discurso pressupõe para poder ser

enunciado e que, por sua vez, deve validar através de sua própria enunciação:

qualquer discurso, por seu próprio desenvolvimento, pretende instituir a

situação de enunciação que o torna pertinente. A cenografia não é, pois, um

quadro já construído e independente do discurso, mas aquilo que a enunciação instaura progressivamente como seu próprio dispositivo de fala.

Na perspectiva de Maingueneau (2008), à concepção de ethos relacionam-se

questões complexas que ultrapassam a dimensão verbal, as quais não foram

esclarecidas pela retórica aristotélica. Apesar de suas contribuições, o pesquisador

não deixa de revelar sua preocupação diante do fato de ainda não ter conseguido

explanar alguns problemas referentes ao ethos. Sob esse viés, pode-se dizer que o

locutor/radialista, ao enunciar um discurso, também constrói a cenografia , à qual

deve firmar-se progressivamente. Assim, não se pode negar que o discurso

argumentativo e a cenografia são constituintes responsáveis para “descortinar” um

16 Segundo Maingueneau (2008, p. 70), a cena de enunciação é composta por três cenas: a cena englobante, a

cena genérica e a cenografia: “a cena englobante atribui ao discurso um estatuto pragmático, ela o integra em um

tipo: publicitário, administrativo, filosófico... A cena genérica é a do contrato associado a um gênero ou a um

subgênero de discurso: o editorial, o sermão, o guia turístico, a consulta médica... A cenografia, não é imposta

pelo gênero, mas é construída pelo próprio texto: um sermão pode ser enunciado por uma cenografia professoral,

profética, amigável etc. A cenografia é a cena de fala que o discurso pressupõe para poder ser enunciado e que,

por sua vez, deve validar através de sua própria enunciação.”

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fiador, cuja figura o auditório deve construir com base em indícios textuais de

diversas ordens.

Em relação a isso, Maingueneau (2008) enfatiza o caráter e a corporalidade do

fiador, que assume funções distintas, mas necessárias à construção do ethos, que

surge dialogicamente do fiador. Nesse cenário, em que se cruzam tais seguimentos

constituintes da persuasão, surge, para Maingueneau (2008), a grande questão de

saber os limites e as amplitudes do discurso para a construção do ethos. Nesse

sentido, Maingueneau (2008, p. 61) apresenta a seguinte inquietação:

Há sempre elementos contingentes em um ato de comunicação, em relação aos

quais é difícil dizer se fazem ou não parte do discurso, mas que influenciam a

construção do ethos pelo destinatário. [...] se deve relacionar o ethos ao

material propriamente verbal, atribuir poder às palavras, ou se devem integrar

a ele elementos como a vestimenta do locutor, seus gestos, e, eventualmente, o conjunto do quadro da comunicação. O problema é mais delicado se

considerarmos que o ethos, por natureza, é um comportamento que, enquanto

tal, articula verbal e não verbal para provocar no destinatário efeitos que não

decorrem apenas das palavras.

Como mediador desses argumentos, que geram efeitos ethóticos17, tem-se o

discurso publicitário radiofonizado, que é permeado de inúmeras informações

elaboradas por um sistema linguístico e paralinguístico intrínseco a uma sonoplastia.

A junção desses sistemas nos leva a refletir que a formulação do ethos do SERT/MG

e da emissora Rádio Sucesso FM 101,7, de Barbacena (MG), responsável imediata

pela veiculação das publicidades, não se centra apenas na enunciação, nas palavras

oralizadas que se revelam nas peças publicitárias.

À luz dessa concepção, defendemos a ideia de que a construção do ethos no

presente corpus está associada também à performance do locutor/radialista e das

personagens institucionalizadas que atuam diretamente na veiculação das

publicidades. Mas não é somente isso, na perspectiva dos fenômenos prosódicos,

pode-se dizer que as múltiplas linguagens empregadas nas peças publicitárias

adquirem um dinamismo não só em favor dos ideais propagandísticos, como também

17 Termo empregado por Dascal (2005), para quem a concepção de ethos não se constitui apenas pelo caráter do

orador, como propõe a retórica clássica, mas também pela veracidade dos argumentos. O autor defende que, se a

percepção de um caráter projetado afeta a avaliação de um argumento pelo auditório, então, as propriedades do

caráter são absolutamente relevantes para a credibilidade e a plausibilidade do argumento do locutor.

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para a construção do ethos. A contribuição da prosódia para a construção do ethos

será explorada no Capítulo 4, em que se dedicará à análise do corpus em pauta.

Maingueneau (2008) propõe que a análise do ethos seja discutida em uma

dimensão discursiva integrada ao estudo da interlocução, que leva em conta os

sujeitos envolvidos no processo comunicativo, no cenário e no objetivo da troca

verbal. Nessa trilogia, Maingueneau (2005, p. 126) defende a seguinte proposta:

O ethos está condicionado à cena de enunciação, ela própria considerada na

distribuição dos papéis implicados pelo gênero de discurso e pela cenografia.

Assim, o ethos dos pragmáticos, na linha de Aristóteles, constrói-se na

interação verbal e é puramente interno ao discurso, enquanto o dos sociólogos

se inscreve em uma troca simbólica regrada por mecanismos sociais e por

posições institucionais e por posições institucionais exteriores.

No encalço desse dinamismo multissemiótico radiofonizado, ecoa um discurso

argumentativo que se firma pela seguinte tese: no rádio, quem ouve não “vê”, mas

“enxerga tudo”. Percebe-se que nas três peças as cenografias se constituem por

representações sociais, estereótipos que a enunciação do locutor /radialista contribui

para promover muito mais que efeitos ethóticos.

Sobre essa reflexão, encontramos, em Menezes (2006, p. 87), uma posição que

pode contribuir para ampliar essa discussão:

A partir do momento em que argumentamos acerca de um objeto do mundo,

estamos agindo sobre alguém, buscando inseri-lo em um quadro específico de

crenças e convenções possíveis no interior de uma determinada comunidade de

fala. Quer dizer, além do aspecto quantitativo das relações argumentativas no

cotidiano, ressalta-se sua constitutividade como fator fundamental de

convergências, na articulação e rearticulação de vínculos da vida social.

Nessa linha de discussão, retomamos Amossy (2005, p. 120), que afirma:

Na realidade, o poder das palavras deriva da adequação entre a função social

do locutor e seu discurso: o discurso não pode ter autoridade se não for

pronunciado pela pessoa legitimada a pronunciá-lo em uma situação legítima,

portanto, diante dos receptores legítimos. É assim [...] com todas as formas de

discurso que circulam em uma sociedade.

Dessa perspectiva é que se procura abordar a posição segundo a qual os

sujeitos envolvidos nas três peças radiofônicas estão inseridos em uma lógica de

troca, na verdade, o locutor/radialista e o auditório/radiouvinte são agentes sociais

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que fazem com que o discurso publicitário radiofonizado assuma uma função

dialógica interacional e institucional. Pressupomos, ainda, que, na perspectiva

interacional, a eficácia do discurso radiofônico jamais pode ser efetivada fora da

troca que envolve os participantes. Consequentemente, esse complexo processo é

indissociável das posições ocupadas pelos sujeitos.

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4. CENOGRAFIA, ASPECTOS VERBAIS E NÃO VERBAIS NA

CONSTITUIÇÃO DO ETHOS DO MÍDIUM RÁDIO: ORIENTAÇÕES

PARA UM TRABALHO DE ANÁLISE DO CORPUS DA PESQUISA

Este capítulo tem como objetivo central apresentar a análise das três peças

radiofônicas que compõem o corpus deste estudo. Tais peças, como já apresentado,

são exemplares do discurso publicitário produzidos no domínio rádio, e buscam

assegura a credibilidade desse mídium como um espaço legítimo e eficaz de

publicidade.

Assim, podemos verificar que as cenografias propostas para cada uma das

peças radiofonizadas 18 aqui em análise não revelam de imediato ao

auditório/radiouvinte que pretendem veicular uma publicidade. O

auditório/radiouvinte, num primeiro momento, não ouve uma cena genérica própria

de textos publicitários radiofônicos a qual está habituado a ouvir. Partindo dessa

estratégia, os sujeitos idealizadores da campanha publicitária – o Grupo de

Profissionais do Rádio (GPR) –, constroem uma cenografia ímpar, refinada, diferente

dos quadros cênicos mais comuns a esse tipo de discurso.

Ousaríamos dizer que se trata de uma cenografia incomum para o mídium

radiofônico, mas justificável mediante os propósitos ideológicos pretendidos, entre

eles, pode-se destacar o confronto estabelecido, a princípio, entre dois mídiuns: o

rádio e a TV. Essa “luta” midialógica não consiste apenas na conquista do

auditório/radiouvinte, ou na venda de um espaço de divulgação negociável no

departamento comercial da emissora, mas na imagem do SERT/MG e da Rádio

Sucesso FM 101,7. Em contrapartida, isso só é ratificado no momento em que a

enunciação constrói uma cenografia própria que se associa a um discurso publicitário

radiofonizado. As publicidades apresentam um argumento que adquire características

persuasivas na fala oralizada, como demonstra o seguinte slogan do SERT/MG

(2005):

[...] Viu? No rádio é assim: você não vê, mas enxerga tudo! Fique ligado!

Anuncie no rádio! Uma iniciativa: Grupo de Profissionais do rádio.

18 Essas peças publicitárias encontram-se nas faixas 1,2 e 3 do CD anexo.

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55

Na perspectiva de Maingueneau (2001, p. 87),

[...] a fala supõe uma certa situação de enunciação que, na verdade, vai sendo

validada progressivamente por intermédio da própria enunciação. Desse modo,

a cenografia é ao mesmo tempo a fonte do discurso e aquilo que ele engendra;

ela legitima um enunciado que, por sua vez, deve legitimá-lo, estabelecendo

que essa cenografia onde nasce a fala é precisamente a cenografia exigida para

enunciar como convém.

Tendo em vista os sujeitos envolvidos no processo comunicativo, o cenário e

os objetivos da troca verbal, o rádio, ciente de que é “meio cego”, nos termos de

Silva (1999), constrói, num primeiro estágio, cenografias não necessariamente

próprias do mídium rádio. Acima de qualquer suspeita, tanto o auditório /radiouvinte

quanto o analista de discurso, ao ouvirem as três peças publicitárias, se deparam com

cenografias que os conduzem a outros quadros cênicos.

O auditório/radiouvinte se vê induzido a acionar sua memória discursiva,

reminiscências de suas representações e práticas do cotidiano, para entender a

mensagem oralizada no rádio. Institui-se, então, uma cenografia, mas há uma

ilegitimidade, não em relação à proposta, mas, talvez, em relação ao mídium rádio,

ou ao que o auditório/radiouvinte está habituado a ouvir. Entretanto, até o final de

cada peça, essa ilegitimidade será descartada.

As cenografias instituídas empiricamente nos fazem lembrar a mídia

televisiva, em que se predomina a imagem, ou seja, a linguagem oral está

subordinada à imagem. Ao ativar essas lembranças no auditório, constrói -se uma

cenografia própria da TV, o que pode ser útil para justificar o predomínio dos textos

narrativo-descritivos. Tais indícios nos oferecem certo respaldo para dizer que o

quadro cênico oralizado que chega ao imaginário do auditório/radiouvinte transporta-

o para uma cenografia de novela, ou algo relacionado ao gênero. Para um

auditório/radiouvinte mais experiente, seria um regaste à Era de Ouro do Rádio,

época em que as novelas eram radiofonizadas, ou a certos programas memoráveis de

crônicas policiais narradas pela voz inconfundível do repórter Gil Gomes.

Chama-nos atenção o fato de a linguagem oralizada das publicidades ser capaz

de atuar no imaginário do auditório/radiouvinte, fazendo-o confrontar limites

estabelecidos entre o real e o imaginário, por meio de uma cenografia, que simula o

espetáculo próprio da TV. Mas não apenas isso: se o ethos tem uma natureza

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comportamental, até que ponto podemos considerar a atuação do que é verbal e não

verbal para provocar no auditório/radiouvinte efeitos que não decorrem apenas de

palavras? Vejamos (ouçamos) a peça intitulada Banho.

Quadro 1 – Peça publicitária “Banho”

Fonte: SERT/MG (2005) – CD anexo, faixa 1.

Nota-se que a cenografia apresenta um discurso característico da dramaturgia.

O dispositivo essencial da instauração do quadro cênico é a voz. Ela é responsável

por veicular enunciados curtos, tomadas de cena relacionadas às ações das

LOCUTOR TRILHA SONORA EFEITOS SONOROS

Loc. 1 – Ela é linda!

Cabelos loiros, longos e

sedosos. Ela abre a porta,

e entra no boxe. A água

cai molhando os cabelos. Ela derrama o xampu na

palma da mão. Os cabelos

agora estão cheios de

espuma. A espuma começa

a escorrer. Os cabelos são

enxaguados. Ela fecha a

água, se enrola na toalha, e

sai. De repente, a toalha

cai.

Música de sedução

coerente com a cena de enunciação. Voz

masculina, grave, pausada,

sedutora. Predomínio de

ênfase na entonação e em

determinados trechos e

palavras.

Sonoplastia – Porta do box abrindo; torneira abrindo;

água; espuma; torneira

fechando; porta do box

abrindo.

Person. Uh! Quê? A mina

é homi, tô fora! Ausência de trilha sonora. Sem sonoplastia

Loc. 1 – Viu? No rádio é

assim: você não vê, mas

enxerga tudo!

Música que sugere uma

gargalhada, indicando o

fim da publicidade, ou o propósito de “conduzir” o

auditório/radiouvinte a

enxergar o que não se vê,

no caso, um homem, não

uma mulher.

Sem sonoplastia

Loc. 1 – Fique ligado!

Anuncie no rádio! Uma

iniciativa: Grupo dos

Profissionais do Rádio.

Ausência de trilha sonora. Sem sonoplastia

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personagens. Diante desses aspectos, no rádio, nada se efetiva sem a linguagem

oralizada, e ela, com certeza, não está sozinha. Silva (1999, p. 41) explica que, no

rádio “nada que não seja voz participa; tudo que é emitido por suas ondas sonoras é

resultado do combate verbo-voco-sonoplástico no qual texto e voz se entrelaçam

simultaneamente com outros signos também sonoros.”

Retomando a exposição acima, diríamos que todos esses elementos estão

associados às ações cronologicamente desenvolvidas em relação ao tempo verbal e

ao espaço. O discurso das peças é simples, de fácil entendimento, e mantém

perfeitamente um vínculo com a cenografia. Maingueneau (2008 p. 52) esclarece que

“a linguagem não só está investida, mas está apropriada ao universo de sentido que o

discurso pretende impor. A cenografia implica certo uso de linguagem e é igualmente

indissociável dele.”

Como se vê, a cenografia emerge da articulação de mecanismos que são muito

bem selecionados, próprios do sistema “verbo-voco-sonoplástico” e perfeitamente

adaptáveis ao mídium rádio. Eles tramitam no repertório comunicativo do

auditório/radiouvinte, e muitos advém de formações discursivas midialógicas.

Considera-se que esse auditório faz parte de uma sociedade moderna inserida em um

universo em que atuam e são construídas inúmeras representações sociais. Para

Moscovisci (1972), essas representações sociais midialógicas podem ser definidas

como entidades que circulam e se articulam o tempo todo através do uso da

linguagem ou de gestos do cotidiano. Segundo o autor, “essas representações são

dinâmicos conjuntos de formas de apreensão e expressão do que é vivenciado no

cotidiano que orientam o comportamento, reconstituem elementos do meio ambiente

e compõem uma rede de relações em que o corpus está vinculado.” (MOSCOVISCI,

1972, p. 33).

Dessa perspectiva, o SERT/MG constrói peças publicitárias que retratam

quadros cênicos por meio de uma linguagem oralizada, que expressa constituintes

verbo-voco-sonoplásticos próprios de situações imagéticas da realidade. A grande

diferença é que as imagens radiofonizadas das três peças publicitárias não aparecem

prontas como na TV. Eis um grande diferencial não só do corpus em análise, mas do

mídium rádio. Em relação a isso, Gomes e Dantas (2010, p. 193) destacam que, “no

rádio, o ouvinte ‘faz a imagem’; na televisão, o espectador ‘é obrigado a aceitar a

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imagem’.” Esses argumentos justificam o emprego de elementos multissemióticos

(linguísticos, prosódicos e sonoplásticos), que atuam em uníssono na construção da

tese expressa no slogan das três peças publicitárias radiofonizadas:

[...] Viu? No rádio é assim: você não vê, mas enxerga tudo! Fique ligado!

Anuncie no rádio! Uma iniciativa: Grupo de Profissionais do rádio

(SERT/MG, 2005).

Para Pignatari (1987, p. 156), na linguagem radiofônica, “as palavras não mais

significam o que delas se espera, porque já não são mais palavras. Elas adquirem

feições icônicas – e eu insisto na ideia de que as feições-sonoras são feições-

icônicas, como podemos observar na música, no canto, no ruído e na fala.”

Claramente, a voz assume uma função indiscutível no mídium rádio. Ao ser

transmitida pelas ondas eletromagnéticas, que ressoam por meio de um suporte , caixa

acústica, a linguagem oralizada adquire feições-icônicas, nos termos de Pignatari

(1987), que compõem a cenografia imagética, permitindo ao auditório radiouvinte

“fazer a imagem” (GOMES; DANTAS, 2010). Silva (1999, p. 41-42), complementa

essa reflexão ao afirmar que:

[...] músicas, efeitos sonoros, silêncio e ruídos são incorporados em uma

sintaxe singular ao próprio radio adquirindo nova especificidade, ou seja, estes

elementos perdem sua unidade conceitual à medida que são combinados entre

si a fim de compor uma obra essencialmente sonora como o “poder” de sugerir

imagens auditivas ao imaginário do ouvinte.

À luz dessas considerações, percebe-se que muitos são os mecanismos que

atuam e são responsáveis pelo funcionamento discursivo do nosso corpus. Não

obstante, faz-se necessário entender que, por trás desse funcionamento propiciado

pelos sistemas verbo-voco-sonaplásticos, agrega-se uma semântica discursiva que

torna o corpus um construto complexo que exige competências leitoras tanto do

locutor/radialista quanto do auditório/radiouvinte. Para Vianna (2009), as

publicidades radiofonizadas podem ser comparadas a uma produção simbólica, que,

por meio de uma mensagem unisensorial, vale-se de elementos sonoros na tentativa

de fazer uma associação com o repertório do auditório/radiouvinte, estabelecendo,

com isso, “imagens multissensoriais”, nos termos de Vianna (2009). Como objetivo

de auxiliar nossa reflexão, vejamos a figura abaixo:

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Figura 5 – Verbo-voco-sonoplástico

CONSTITUINTES MULTISSEMIÓTICOS

AUDITÓRIO/RADIOUVINTE

Fonte: Elaborada pelo autor.

Essa figura, elaborada com base nos estudos realizados, nos dá respaldo para

dizer que o discurso publicitário presente nas peças radiofônicas articula -se aos

constituintes multissemióticos, proporcionando ao auditório/radiouvinte a criação de

Mídium Rádio Peças

radiofônicas

Verbo-voco

Interpretação do locutor

Sonoplastia

Trilha

Efeitos sonoros

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imagens. Observa-se que a soma de todos os constituintes – formados por texto,

vozes, trilha musical, efeitos sonoros, silêncio e edição técnica – são geradores da

“imagem sonora”, nos termos de Balsebre (2005), da persuasão e do ethos. Em suas

fundamentais teóricas sobre as peças publicitárias de rádio, Balsebre (2005, p. 27)

define o discurso radiofônico como:

[...] um conjunto de formas sonoras e não sonoras representado pelos sistemas

expressivos das palavras, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio, cuja

significação vem determinada pelo conjunto dos recursos técnicos-expressivos

da reprodução sonora e o conjunto de fatores que caracterizam o processo de

percepção sonora e imaginativa-visual dos ouvintes de rádio.

Diante do discurso publicitário, deparamo-nos com uma materialidade

discursiva carregada de determinados vestígios que se fazem ouvir/escutar,

ver/enxergar, dentro de cenografias constituídas de elementos multissemióticos,

atuantes e ativos, em favor de uma textualidade corporificada e específica. Para

realizar o trabalho de análise do material verbo-voco-sonoplástico retratado na

Figura 3, abaixo, e nas demais figuras, recorreu-se ao programa PRAAT, uma

ferramenta para análise de voz desenvolvida por Paul Boersma y David Weenink, do

Institute of Phonetic Sciences, Universidade de Amsterdã, em 2010. Esse programa

foi obtido gratuitamente por download, a partir da página oficial

http://www.praat.org.

Nas figuras 3 e 4, nos quadros abaixo, analisamos dois fragmentos acústicos

retirados da peça publicitária "Banho". Elas revelam as variações, as intensidades e a

dinâmica das vozes que se enunciam nas três peças. Na media em que a narração

descritiva se efetiva pela linguagem oralizada, pelo ato de ouvir o auditório -

radiouvinte constrói gradativamente um conjunto significativo, subjetivo e

imaginário propostos pelo discurso publicitário radiofonizado.

Nesse construto percepto acústico salientamos a congruência estabelecida

entre a estrutura linguístico textual e a prosódia. Ela, a prosódia, segundo Crystal

(1998), Cagliari (1999), Nunes (2000) e Moraes (2010), tem como foco a entonação

e variação de voz no contexto da linguagem falada. Obviamente, não se pode negar

que os respectivos estudiosos propõem abordagens diferenciadas. Entretanto, faz-se

necessário ressaltar que os mesmos consideram a linguagem oral como um processo

de interação verbal o qual a prosódia assume a função de propor reflexões

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relacionadas à natureza da expressividade dos constituintes lexicais e não lexicais

que compõem a significação do discurso.

Nessa linha de reflexão, os quadros das figuras 3 e 4, objetivam explanar e

fazer compreender que prosódia e linguagem oralizada são ciências distintas, mas

que dialogam e são capazes de fornecer contribuições conceituais possibilitando-nos

entender que as palavras expressas estão carregadas de sentido e afetos do locutor

revelada no ato da enunciação. Tais palavras, para a prosódia, apresentam aspectos

entonacionais de produção e de percepção relacionados à atitude e expressividade do

locutor/radialista.

Ao submeter trechos das três peças publicitárias radiofonizadas ao programa

PRAAT, conseguimos obter a Frequência Fundamental (F0) da linguagem oralizada.

A (F0) corresponde à vibração das pregas vocais por segundo, responsável pelo

aumento do pitch (ponto de expressão, tom e melodia) das palavras no ato da

enunciação, o que é em termos técnicos, os correlatos acústicos lexicais e não

lexicais. O pitch é à variação e a intensidade da altura e dinâmica da voz, responsável

para estabelecer a intenção do discurso. Ele, o pitch, pode ser grave ou agudo e está

associado à duração das palavras nas frase podendo sofrer variações tendo em vista

as vozes que anunciam.

Analisando o fragmento "...a espuma começa a escorrer, os cabelos são

enxaguados..." SERT-MG (2005), conseguimos obter a seguinte imagem através do

programa PRAAT. figura 6.

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Figura 6 – PRAAT da peça publicitária “Banho”

Fonte: Elaborada pelo autor

Como podemos ver na figura acima, o áudio produzido pela voz do locutor é

representada pelo espectograma de cor preta. Nele temos não só a representação dos

constituintes prosódicos, mas também os efeitos sonoplásticos. Já os espectogramas

de cor verde e cor azul, representam a Frequência Fundamental (F0), ou seja,

respectivamente a intensidade e a altura da variação da dinâmica da voz. Ao ouvir as

publicidades, de modo específico no recorte feito pelo programa PRAAT, na figura

4, podemos constatar pela audição a presença de parâmetros acústicos físicos

acentuado pela voz aguda, a duração e o ritmo das palavras, e os picos e vales,

proeminências entoacionais que oferecem contribuições significativas para a

construção do discurso publicitário radiofonizado.

Uh...! Quê? Tô fora! A mina é homi! (SERT/MG, 2005).

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Figura 7 – PRAAT da Peça publicitária “Banho”

Fonte: Elaborada pelo autor.

Analisar esses processos e entendê-los como constituintes do funcionamento

discursivo das peças publicitárias é uma questão crucial. Certo de que esse processo

se efetiva em uma prática social, Maingueneau, (2008 p. 51) argumenta que “a

instância de produção encontra os dispositivos apropriados pelos quais o discurso

publicitário radiofonizado encena seu próprio processo comunicativo. Essa

encenação é inseparável do universo do sentindo que a linguagem oralizada procura

impor.” Assim, é impossível não visualizar que tais cenografias deixam à mostra para

o analista o caráter e a corporalidade de um fiador idealizado pela instância de

produção. Em outras palavras, o que emerge, segundo Maingueneau (2001, 2006,

2008) e Amossy (2005), é um ethos discursivo preocupado em satisfazer os objetivos

da emissora de Rádio Sucesso FM 101,7 e do SERT/MG, sem jamais deixar que se

cumpra a missão de atender aos anseios do auditório/radiouvinte.

4.1. Entre o “ver” e o “enxergar” – Imagens sonoras e as contribuições de

Barthes

As concepções expostas não deixam dúvidas sobre a função exercida pela

imagem. Mas o que realmente nos chama atenção é o fato de ela, no discurso

Time (s)30.38 35.1150

100

Inte

nsity (

dB

)

30.3790489 35.1126649PROPAGANDA_1_-_BANHO

50

60

70

80

90

100

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publicitário radiofonizado, se instaurar em uma dimensão mental. Para nós, é

inconcebível abordar esse tema sem fazer honrosas considerações a Barthes (1964),

precursor dos estudos imagéticos. A imagem, presente nos discursos publicitários, é,

para ele, o objeto precípuo dos seus estudos. O autor argumenta que, na publicidade,

a significação da imagem é claramente intencional: “a mensagem publicitária é

franca, ou pelo menos, enfática.” (BARTHES, 1990, p. 28). No que se refere à

Retórica da Imagem, Barthes (1990, p. 31) esclarece que se trata de um “sistema que

adota os signos de outro sistema, para deles fazer seus significantes, é um sistema de

conotação; podemos, pois desde já, afirmar que a imagem literal é denotada, e a

imagem simbólica é conotada.”

No presente estudo, defendemos a ideia de que os sistemas verbo-voco-

sonoplásticos formam significantes que objetivam comunicar, construir sentidos

sígnicos. Podemos dizer que essa concepção se aplica perfeitamente às três peças

publicitárias radiofonizadas aqui em análise, uma vez que nelas se imbricam

constituintes multissemióticos que adquirem corporalidade cognitiva, poder de

sedução, de chamar a atenção do radiouvinte, fazendo-o ficar “ligado” na cenografia

proposta.

Barthes (1964) oferece dois princípios básicos relacionados à simultaneidade

que ocorre entre texto e imagem: a ancoragem e o revezamento. Para ele, na

ancoragem, “o texto dirige o leitor através dos significados da imagem e o leva a

considerar alguns deles e a deixar de lado outros. [...] A imagem dirige o leitor a um

significado escolhido antecipadamente.” (BARTHES, 1964, p. 38-41). Já no

revezamento, “o texto e a imagem se encontram numa relação complementar. As

palavras, assim como as imagens, são fragmentos de um sintagma mais geral e a

unidade da mensagem se realiza em um nível mais avançado.” (BARTHES, 1964, p

38-41).

Acreditamos ser mais pertinente para o corpus deste estudo o princípio de

revezamento, uma vez que, segundo Barthes (1964), a ancoragem é própria do jornal

impresso, de publicidades e de revistas que trabalham com imagens fixas. Quando se

ouvem as três peças publicitárias, a linguagem oralizada aciona imagens mentais

próprias do universo móvel do radiouvinte. Na concepção de Iser (1996, p. 79),

“apenas a imaginação é capaz de captar o não dado, de modo que a estrutura do

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texto, ao estimular uma sequência de imagens, se traduz na consciência receptiva do

leitor.”

Para Barthes (1964), o princípio de revezamento pode ser visto de modo mais

atuante nas charges, histórias em quadrinhos e dramaturgia teatral ou televisiva,

gêneros em que as linguagens escritas ou orais e imagéticas estabelecem uma relação

de complementaridade. Entende-se, nesse sentido, que a linguagem oralizada das três

peças publicitárias são veiculadas de modo coerente e respeitam uma sequência, uma

performance vocal relacionada às concepções teóricas oferecidas pela prosódia,

possibilitando associações de efeitos sonoros que são incutidos no imaginário do

radiouvinte.

Tendo em vista que a imagem não é um sistema de linguagem que faz parte do

mídium radiofônico tradicional, é por meio da linguagem oralizada que o

auditório/radiouvinte é capaz de enxergar aquilo que ele não vê. Realizando um

paralelo, o “não dado”, nos termos de Iser (1996), é da ordem do ver, ou seja, o que

não se pode ver pelo rádio. Em contrapartida, a linguagem oralizada empregada nas

três peças radiofônicas é da ordem do enxergar, devido ao seu potencial de agenciar

todo um sistema “verbo-voco-sonoplástico”, como diz Silva (1999). A Figura 4

objetiva explanar melhor essas dicotomias:

Figura 8 – Sistema verbo-voco-sonoplástico

Fonte: Elaborada pelo autor.

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A partir do slogan “[...] Viu? No rádio é assim: você não vê, mas enxerga

tudo! Fique ligado! Anuncie no rádio! Uma iniciativa: Grupo de Profissionais do

rádio”, temos a proposição de uma tese, que é sustentada por cenografias instituídas

ao longo da enunciação. Mesmo sendo um discurso publicitário radiofonizado, a

cenografia multissemiótica proporciona ao auditório/radiouvinte enxergar, mesmo

que ele não veja. A cenografia multissemiótica é, na verdade, todo o sistema sonoro,

ou seja, a “imagem sonora” responsável por criar o espaço de imagens invisíveis,

mas que não deixam de ser “reais” no imaginário do auditório/radiouvinte. Nesse

quadro, é possível não ver, mas enxergar pela escuta. É justamente nessas duas

instâncias – ver e enxergar –, advindas de estereótipos, que são instauradas as

estratégias de persuasão e construído o ethos do SERT/MG e da Rádio Sucesso FM

101,7, tornando possível cumprir a função das publicidades.

Quadro 2 – Peça publicitária “Carro”

Fonte: SERT/MG (2005) – CD anexo, faixa 2.

LOCUTOR TRILHA SONORA EFEITOS SONOROS

Person. Esse é seu carro?

Nossa! Eu não acre-di-to. É

vermelho, é conversível, tem

bancos de couro, doze cilindros e quase tre-zen-

tos/ca-va-los! Vai de zero a

cem em menos de seis segundos. Ai, eu não acredito,

você tem um igualzinho ao do

Magno. Ai meu Deus... , eu sempre quis andar numa

máquina dessas, ai que

emoção!

Som de balada.

Voz feminina. A voz

apresenta uma variação aguda e

intensidade alta.Trabalha-se

bem a questão do ritmo, velocidade da fala e o tempo

determinadas sílabas.

Sonoplastia – Efeitos de carros, buzinas, pessoas

reclamando... Som de carro

tentado dar a partida.

Loc. 1 – Viu? No rádio é assim: você não vê, mas

enxerga tudo!

Voz masculina. Predomínio

da variação melódica grave e intensidade baixa.

Valorização do ritmo das

palavras na fala.

Ausência de trilha sonora.

Loc. 1 – Fique ligado!

Anuncie no rádio! Uma

iniciativa: Grupo dos Profissionais do rádio.

Voz masculina, variação melódica grave e intensidade

baixa.

Enfatiza-se a valorização do mídium rádio, e do SERT-

MG.

Trilha sonora que sugere uma

gargalhada irônica dando a entender o quanto se perde

quando não se utiliza o rádio

como canal publicitário.

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Nesse quadro analítico, as considerações barthesianas nos ajudam a

compreender que, em um discurso publicitário, no caso, radiofonizado, a linguagem

oralizada, carregada de impressões prosódicas, é o sistema linguístico responsável

também pela construção da mensagem persuasiva. Ela é o elemento fundamental para

comprovar que o discurso oralizado é a base essencial; nela está intrínseca a imagem

sonora, que permite ao auditório/ouvinte, através das ondas hertzianas do rádio,

enxergar o que não vê. Segundo Barthes (1990, p. 42), “a imagem sem palavras

existe, sem dúvida, mas com uma intenção paradoxal, em alguns desenhos

humorísticos; a ausência da palavra encobre sempre uma intenção enigmática .”

Com o objetivo de exemplificar a fundamentação acima, selecionamos

também um fragmento de um correlato não lexical dessa publicidade, denominada

Lasanha. Logo no início da publicidade, temos apenas o tilintar de um sino,

sugerindo que a lasanha está pronta para ser servida. A escolha desse fenômeno

acústico não lexical foi motivada pelo fato de ele estar “isolado”, mas fazer parte da

cena de enunciação. Trata-se de um efeito sonoro que não está imbricado em

nenhuma trilha sonora, o que, de certa forma, nos permitiu analisá-lo melhor através

do software PRAAT, que revelou a ausência de espectrograma e, respectivamente, de

qualidade vocálica e propriedades de dinâmica de voz. Mas, mesmo assim, foi

possível detectar a intensidade desse fenômeno. Observe-se que os constituintes não

lexicais exercem funções importantes não só no processo de persuasão, característica

marcante do gênero, mas também na construção dos efeitos ethóticos da instância de

produção e da própria emissora de rádio.

Nessa linha, não podemos abrir mão de dizer que esses correlatos acústicos

não lexicais corroboram significativamente para o funcionamento discursivo das três

peças publicitárias radiofonizadas. Como seriam as peças em questão sem eles? Elas

teriam o mesmo efeito e a mesma carga de sentido? Retomando Barthes (1990, p.42),

certamente, as peças publicitárias sem a presença dos correlatos acústicos não

lexicais teriam grandes chances de veicular mensagens paradoxais, enigmáticas , o

que poderia comprometer a persuasão e os efeitos ethóticos estipulados.

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Vejamos a Figura 5, que retrata o efeito sonoro do sino, correlato acústico não

lexical da publicidade intitulada Lasanha:

Figura 9 – PRAAT da peça publicitária “Lasanha”

Fonte: Elaborada pelo autor.

Como se descreve no espectograma abaixo, temos apenas a variação da

intensidade grave e aguda do sino. O quadro da figura 6, não revela a presença de

variação melódica, pois não existe esse correlato acústico lexical, apenas a

sonoplastia do sino.

Quando nos referimos à imagem retratada, constituída pela linguagem

oralizada das emissões radiofônicas, não estamos analisando-a apenas pela

perspectiva da visão física – a qual, no rádio, não se pode fazer ver –, mas, acima de

tudo, pelo viés do fazer enxergar, que se relaciona aos padrões mentais articulados

por meio de recursos prosódicos e sensoriais convocados e interligados pela voz. Por

isso, defendemos a ideia de que a função peculiar da trilha e dos efeitos sonoros

(correlatos acústicos não lexicais) é fazer com que o auditório/radiouvinte, no seu

espaço mental e cognitivo, construa imagens internalizadas – visuais, auditivas,

gustativas, sedutoras, olfativas e táteis –, à medida que a cenografia se constrói pela

enunciação.

Time (s)

0.0914 0.977550

100

Inte

nsi

ty (

dB

)

0.0913970106 0.97754257

PROPAGANDA_3_-_LASANHA

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69

Para concluir esta secção, recorremos a Richard (1985, p. 2), que explica:

Utilizar uma escritura radiofônica eficaz seria fazer uso de todos os meios de

expressão tecnicamente possíveis como artifício para criar a ilusão de corpos,

objetos e aparências para persuadir sobre a existência, a realidade. Essa

persuasão torna-se possível pelos poderes de sugestão da imagem sonora. A

audição, único sentido solicitado (pelo rádio) é levado a suprir os limites

sentidos da percepção. [...] as imagens fônicas tornam visíveis personagens

precisos. [...] aquele que fala alimenta a imaginação de cada um, os sons produzem equivalências visuais sobre os ouvintes, principalmente quando eles

têm determinada intenção calculada.

4.2. A contribuição da prosódia para a persuasão e o ethos

A construção do ethos das três peças publicitárias, em termos prosódicos,

conta com a qualidade vocálica e as propriedades de dinâmica de voz dos sujeitos

(locutores/radialistas) que atuam na enunciação. Para Amossy (2005), esses sujeitos

são como “porta-vozes” autorizados para agirem sobre o auditório/radiouvinte

através das palavras. Por essa ótica, o locutor/radialista detém o poder e, em seus

enunciados, apresenta a carga ideológica do SERT/MG e da Rádio Sucesso FM

101,7.

O discurso oralizado do corpus só se efetiva a partir do momento em que o

auditório/radiouvinte reconhece a capacidade que o locutor /radialista tem de fazê-lo

acreditar na tese de que no rádio ele não vê, mas, por aquilo que se oferece, pode

leva-lo a enxergar. Mas, para isso, a performance do locutor/radialista, articulador

das emissões, apoia-se na estrutura fisiológica de sua voz. Trata-se de um “tom”

(MAINGUENEAU, 2008) oralizado plenamente intrínseco aos aspectos prosódicos

presentes nas três peças publicitárias.

Ao ouvir a enunciação radiofonizada, o auditório/radiouvinte depara-se com

um discurso ideológico expressivo e intencional. Essa qualidade perceptoacústica,

característica do locutor/radialista que está por trás do microfone, pode ser percebida

conforme a expressividade de sua fala (CAGLIARI, 2009). Esse processo dialógico

interacional e institucional é estabelecido por meio de correlatos acústicos

segmentais lexicais e não lexicais19.

19 Correlatos acústicos segmentais lexicais e não lexicais – Terminologia empregada por Hirst e Di Cristo (1998)

para estabelecer dicotomias entre o sistema linguístico e o sistema paralinguístico.

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Tendo como referência as concepções teóricas de Hirst e Di Cristo (1998),

elaboramos um organograma, na tentativa de compreendermos melhor a atuação dos

parâmetros prosódicos no corpus. A princípio, poderíamos dizer que os estudos

prosódicos, segundo os teóricos supracitados, estabelecem uma relação plena entre o

sistema linguístico e o sistema paralinguístico. O primeiro é da ordem dos correlatos

segmentais acústicos lexicais; já o segundo refere-se aos correlatos acústicos não

lexicais, não segmentais. Neste último, instauram-se os constituintes sonoplásticos.

Vejamos o organograma:

Figura 10 – Organograma

Fonte: Elaborada pelo autor.

Com base no organograma proposto, é possível compreender que os estudos

prosódicos estão interligados a três sistemas operacionais que são responsáveis

diretos pelo funcionamento e veiculação das peças publicitárias, a saber: o sistema

linguístico verbal, o sistema linguístico não verbal e a sonoplastia. Es ses

componentes prosódicos nos conduzem a concluir que os objetivos traçados pelo

SERT/MG e pela Rádio Sucesso FM 101,7 estão subordinados à performance do

locutor/radialista e das personagens que atuam na veiculação das emissões, bem

como ao sistema sonoplástico. Sendo assim, pode-se afirmar que, para a Análise do

Discurso, segundo Maingueneau (2008), as três peças publicitárias se enquadram

PROSÓDIA

SISTEMA LINGUÍSTICO

VERBAL

SISTEMA

PARALINGUÍSTICO- NÃO VERBAL

PERCEPÇÃO:

Frequência Fundamental - Qualidade Vocálica

PRODUÇÃO: duração, intensidade (sonoridade)

SISTEMA SONOPLÁSTICO:

Trilha sonora e efeitos

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71

numa dimensão discursiva integrada ao estudo da interlocução, que leva em conta os

sujeitos envolvidos no processo comunicativo estabelecido pelo mídium rádio, pelo

cenário, pelos interesses ideológicos estabelecidos pela troca verbal e,

principalmente, pelos componentes prosódicos que atuam diretamente na cena de

enunciação. Conforme pontua Maingueneau (2008, p. 61), “há sempre elementos

contingentes em um ato de comunicação, em relação aos quais é difícil dizer se

fazem ou não parte do discurso, mas que influenciam a construção do ethos pelo

destinatário.”

Ao contrário do que propõe Maingueneau (2008), defendemos a ideia de que ,

no corpus em análise, os elementos, até então considerados contingentes em outras

situações comunicativas, assumem no mídium radiofônico uma posição peculiar. A

linguagem oralizada é o fator preponderante e a ela se agregam correlatos acústicos

lexicais e não lexicais que se unem e incidem através da voz do locutor/radialista,

que, por meio da enunciação, faz ecoar um discurso multissemiótico capaz de exercer

influência sobre o auditório/radiouvinte.

Sendo assim, torna-se claro que o “agir do rádio” sobre o auditório/radiouvinte

não se concretiza por meio de um simples discurso oralizado, ou por meio de uma

situação comunicativa comum do dia a dia, pelo contrário, o discurso radiofônico do

corpus em análise insere-se em um complexo quadro de troca verbal oralizada que

requer determinadas regras para ativar o funcionamento discursivo das três peças

publicitárias. Em meio a esse imbricado processo comunicativo, temos ciência de

que certos quesitos foram realizados e que são fundamentais para se chegar à

persuasão, bem como à prova do ethos, que, nos termos de Declercq (1992, p. 48),

[...] mobiliza tudo o que, na enunciação discursiva, contribui para emitir uma

imagem do orador destinada ao auditório. Tom de voz, modulação da fala,

escolha das palavras e dos argumentos, gestos, mímicas, olhar, postura,

adornos, etc. São outros tantos signos, elocutórios e oratórios, vestimentas e

símbolos, pelos quais o orador dá de si mesmo uma imagem psicológica e

sociológica.

A fim de aplicar as contribuições advindas do quadro conceitual exposto,

retiramos das peças radiofônicas publicitárias determinados correlatos acústicos

lexicais e os analisamos pelo software PRAAT. Nesse programa, inserimos trechos

das três peças publicitárias e as submetemos a determinados procedimentos para

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constatar a importância dos fenômenos prosódicos na construção da persuasão e dos

ethos.

Sendo assim, no quadro da figura 8, retiramos da peça publicitária Carro um

correlato acústico lexical para verificar a Frequência Fundamental (F0)20, que está

elevada devido à intensidade e à duração da voz no momento da enunciação.

Juntamente com esses fatores, é inegável a função exercida pela qualidade vocálica e

pelas propriedades da dinâmica da voz. Nesse sentido, a Frequência Fundamental

(F0) releva a alteração da intensidade vocálica por se tratar de uma voz feminina,

onde há a valorização do agudo, a expressividade e o ritmo da fala. Apesar de alguns

prosodistas fazerem distinções referentes à prosódia de produção e percepção,

percebe-se, aqui, que há uma ligação entre os correlatos acústicos:

Figura 11 – PRAAT da peça publicitária “Carro”

Fonte: Elaborada pelo autor.

20 De acordo com Hisrt e Di Cristo (1983), a Frequência Fundamental (F0) corresponde ao número de ciclos vibratórios das pregas vocais que ocorrem por segundo. Ela é a responsável pelo aumento do pitch (ponto de

expressão, tom, melodia) dos correlatos acústicos lexicais. Segundo Barbosa (2009), na linguagem oral

radiofonizada, a entoação é a variação entre o grave e o agudo (pitch) durante o enunciado, e a sensação de pitch

é controlada pela variação da Frequência Fundamental (F0). Os picos e os vales da curva de F0 marcam as

proeminências entoacionais. As características da entoação são percebidas de acordo com o contexto, sendo que,

normalmente, o aumento de F0 e de intensidade são interpretados como o início da frase, e o aumento de

duração, como o final da frase. Para Gonçalves (2000), as variações de altura (pitch) constituem o principal

correlato físico para a percepção da estrutura entoacional das sentenças.

75

500

100

200

300

Pit

ch (

Hz)

Time (s)

0 3.286

1.64298186

Sound_2_wav_-_NOSSA

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73

Segundo Morais (2010), na maioria das vezes, a prosódia é estudada por meio

de seus correlatos acústicos, mas muitos estudos demonstram a opção pelos aspectos

da percepção: atitudes/emoções do comunicador. Nessa linha, Scarpa (1999, p. 8)

destaca que os parâmetros de altura, intensidade, duração da sílaba, pausa e

velocidade da fala, bem como os sistemas de tom, entonação, acento e ritmo

[...] tornam o estudo da linguagem uma peça fundamental para os

estudos prosódicos, e despertam fascínio, uma vez que são colocados

em evidência correlatos acústicos lexicais e não lexicais representados no corpus pela engenharia do som. (SCARPA, 1999, p. 8).

Nas três peças publicitárias, esses parâmetros e sistemas estão intrínsecos à

trilha sonora e, juntamente com ela, funcionam como uma espécie de plano de fundo,

de cenário, ajudando a compor a cena de enunciação. Ao serem empregados pela

instância de produção, esses parâmetros e sistemas oferecem indícios sonoplásticos

que corroboram com a linguagem segmental oralizada, confirmando as imagens

auditivas e reforçando a tese de que no rádio “você não VÊ, mas ENXERGA tudo!”

(SERT/MG, 2005).

Quadro 3 – Peça publicitária “Lasanha”

LOCUTOR TRILHA SONORA EFEITOS SONOROS

Loc. 1 – A lasanha sai

fumegando do forno. O queijo

gratinado, o molho denso e

borbulhante. Ela pega a faca,

corta um pedaço com todo

cuidado para não desmontar a

lasanha. O queijo estica, a fatia

é colocada no prato. Ela sente o

aroma, pega o garfo e coloca

delicadamente o primeiro

pedaço na boca.

Ausência de trilha sonora.

Voz masculina, forte e pausa.

Narrativa descritiva minuciosa

valorizada pela variação

melódica baixa associada a uma

intensidade grave. Há o

predomínio da valorização de

algumas palavras-chave.

Som de sino. Som de

borbulhas, dando a ideia de que

a lasanha está no forno. A

lasanha sai fervendo do forno.

Efeitos sonoros de talheres no

prato.

Person. – UHHHHH... AI...

TÁ MUITO QUENTE, TÁ

QUEIMANDO MINHA

BOCA!

Acentuação da voz feminina.

Predomínio de alta

expressividade valorizada por

uma intensidade aguda e

vocalidade alta.

Ausência de trilha sonora.

Loc. 1 – Viu? No rádio é

assim: você não vê, mas

enxerga tudo!

Voz masculina. Predomínio da

variação melódica grave e

intensidade baixa. Valorização

do ritmo das palavras na fala.

Ausência de trilha sonora.

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74

Fonte: SERT/MG (2005) – CD anexo, faixa 3.

Lançando mão desses recursos não segmentais sonoplásticos, a enunciação do

discurso publicitário radiofonizado das três peças em questão adquire efeitos

surpreendentes no processo cognitivo imagético. E esses efeitos, quando bem

empregados, vão muito além da difícil tarefa de conquistar a adesão do auditório. A

trilha sonora, os efeitos e os ruídos assumem a sublime missão de contribuir também

para a cenografia.

A Figura 9, a seguir, apresenta a produção acústica lexical do fenômeno

linguístico “Nossa”, pronunciado na peça publicitária Carro. Nela, podemos ver

indícios da expressividade alongada devido à duração enunciativa da sílaba. O

grande diferencial desse correlato acústico segmental é a presença do espectrograma.

Através dos recursos oferecidos pelo software PRAAT, foi possível apontar os

aspectos fisiológicos das pregas vocais que atuam controlando a entrada e a saída de

ar para a produção da voz. A cor mais escura e intensa no espectograma indica

menos saída de ar para pronúncia de determinadas palavras. Esse fenômeno

fisiológico, segundo Cagliari (2009), é responsável pela Frequência Fundamental

(F0), revelando a qualidade vocálica e as propriedades da dinâmica da voz:

Loc. 1 – Fique ligado! Anuncie

no rádio! Uma iniciativa:

Grupo dos Profissionais do

rádio.

Voz masculina, variação

melódica grave e intensidade

baixa.

Enfatiza-se a valorização do

mídium rádio, e do SERT-MG.

Trilha sonora que sugere uma

gargalhada irônica dando a

entender o quanto se perde

quando não se utiliza o rádio

como canal publicitário.

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75

Figura 12 – produção acústica lexical do fenômeno linguístico “Nossa”,

pronunciado na peça publicitária “Carro”

Fonte: Elaborada pelo autor.

4.3. Os elementos segmentais e não segmentais e as concepções de Cagliari

As publicidades radiofonizas do corpus deste trabalho estão inseridas em um

quadro fenomenológico que compõe o nosso objeto de estudo, e são pertinentes para

demonstrar as funções entonacionais apontadas por estudiosos prosodistas. Num

contexto socioeconômico, cultural e globalizadado, sem sombra de dúvida, é imensa

a gama de gêneros discursivos que circulam nas instâncias comunicativas e ganham

dinamismo nas manifestações linguageiras pronunciadas pelo homem

contemporâneo.

Com isso, pode-se dizer que os aspetos prosódicos, bem como as teorias que

fazem alusão a tais concepções não se referem única e exclusivamente às

publicidades em estudo. Antes mesmo de ir ao ar, em sua dimensão cognitiva,

escrita, e oralizada, o discurso que será radiofonizado passa por um processo laboral

que será refletido plenamente na textualização. Para Hernandes (2006, p. 97), “a

textualização não é algo ínfimo, mas muito complexo, uma vez que o processo de

Time (s)

0 3.2860

5000

Fre

quen

cy (

Hz)

1.64298186

Sound_2_wav_-_NOSSA

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76

edição das publicidades reúne estrutura sintática, fluxo temporal, falas, trilha sonora,

silêncio e ruídos.” Percebe-se que, somente no contexto da linguagem falada, ou seja,

na situação plena de fala, se manifestarão, segundo Cagliari (2009), os componentes

fonéticos denominados de “qualidade vocálica” e “propriedades da dinâmica” da voz.

O autor revela que, “quando uma pessoa fala, ela pode ser reconhecida mesmo que

não seja vista, porque sua fala tem características individuais que a torna distinta da

voz das outras pessoas. A qualidade de voz tem sua origem em fatos anatômicos e

em fatos articulatórios.” (CAGLIARI, 2009, p. 127).

Como se vê, somente no momento da pronúncia, da enunciação oralizada, a

voz do locutor radialista entrará em cena e revelará fenômenos prosódicos referentes

aos aspectos entonacionais de produção, percepção e medidas acústica. Essas três

frentes epistêmicas, segundo Hirst e Di Cristo (1983), são norteadoras dos estudos

entonacionais. Sob o olhar desses dois pesquisadores, associados a Hart, Collier e

Cochen (1990), faz-se necessário ressaltar que, devido à complexidade

epestemológica que envolve tais dimensões, nem sempre é possível compreender e

analisar os fenômenos prosódicos nas três dimensões. Não sendo contrário aos

postulados acima, acreditamos ser mais pertinente às nossas pretensões analíticas

focalizar a prosódia na perspectiva dos correlatos acústicos e de alguns fatores

perceptivos relacionados às atitudes e expressividades dos locutores/radialistas.

Como ponto norteador dos pressupostos acima, apresentamos um esquema para a

definição da prosódia, cuja fonte inspiradora advém dos postulados de Hirst e Di

Cristo (1998):

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Figura 13 – Esquema para a definição da prosódia

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em Hirst; Di Cristo (1998).

Nesse ponto, surge uma inquietação investigativa, e dela emerge a importância

de encontrar respostas para os processos interacionais em que se inserem as três

peças publicitárias. A manifestação vocal, permeada por elementos multissemióticos,

evidencia a presença de qualidades vocálicas e de propriedades dinâmicas da voz,

inserindo os estudos prosódicos no centro de nossas reflexões como uma ciência

contemplativa da expressão, que busca contribuir para a construção do sentido

ethótico e o efetivo funcionamento discursivo do corpus.

Assim, os estudos prosódicos contemplam, ao mesmo tempo, os aspectos

abstratos entonacionais e a variação de voz no contexto da linguagem falada, ambos

presentes no corpus. No contexto da linguagem falada, Kerbrat-Orecchioni (1991-

1994) defende que, desde a retórica, a linguagem oral é concebida como um processo

de interação verbal, o que contribui para que a prosódia assuma uma função essencial

ao atuar como um constituinte para a significação do discurso. Segundo a autora, em

um processo interacional entre dois ou mais falantes, são várias as formações

ideológicas e discursivas que fazem parte da atividade de linguagem, e a prosódia

está presente no sistema cognitivo abstrato, ou no sistema de parâmetros físicos

manifestados na oralidade discursiva do corpus.

FONÉTICA

ASPECTO: COGNITIVO

FONOLÓGICO

Sistemas prosódicos lexicais:

Acentos, tom, quantidade.

Sistema prosódico não lexical: Entonação propriamente dita.

ASPECTO: FÍSICO

ACÚSTICO

Parâmentros prosódicos

Frequência fundamental - F0

Intencidade, duração da sílaba, caracterísitcas espectrais.

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Diante desses pressupostos, podemos afirmar que, na linguagem oralizada

radiofônica, a sonoridade multissemiotizada que chega aos ouvidos do

auditório/radiouvinte tem como elemento norteador a fala. Ela contém não somente

elementos segmentais próprios de uma prosódia lexical, mas também, e não menos

importantes, elementos não segmentais referentes à prosódia não lexical. Os

elementos segmentais ou não segmentais estão intrínsecos e constroem a cadeia

sonora responsável pela efetivação do sentido do discurso publicitário das peças em

análise.

Nesse sentido, o SERT/MG, no uso de suas atribuições de instância de

produção, veicula o discurso publicitário radiofonizado permeado por elementos

multissemióticos que exercem a função de ajudar o auditório/radiouvinte a

interpretar esse discurso. Tendo em vista o contexto das três peças em questão,

encontramos um conjunto de sistemas uníssonos que se articulam, e, por meio deles,

determinadas marcas fonatórias são identificadas na manifestação da fala. Para Hirst

e Di Cristo (1998), esse processo é denominado de entoação, já apresentados nos

quadros acima, e está diretamente ligado às variantes oferecidas pela F0 (Frequência

Fundamental). A F0 é um parâmetro físico que engloba outros correlatos acústicos,

como a duração das sílabas e as pausas. Uma das grandes contribuições para os

estudos prosódicos oferecida por esses autores, além de notórios esclarecimentos, é a

concepção de parâmetros entonacionais (co)relacionados aos níveis cognitivos e

físicos. Para os autores, ao se inserir num mesmo quadro esses seguimentos

fenomenológicos, cria-se a possibilidade de melhor compreender a prosódia.

Outra contribuição de grande relevância para os estudos da prosódia são os

postulados apresentados por Scarpa (1999). Ao focalizar a linguística

contemporânea, esse autor visualiza e define os estudos prosódicos como um

fenômeno epistêmico preocupado em analisar os correlatos acústicos dos fonemas

além dos parâmetros lineares. Para ele, isso justifica o fato de se poder usar

indiscriminadamente as expressões “elementos prosódicos” ou “elementos

suprassegmentais”, o que, para muitos, é motivo de grande confusão em termos

classificatórios e, até mesmo, aplicativos. Não obstante, esse conflito é quebrado por

Scarpa (1999), quando ele afirma que os correlatos acústicos lexicais e os elementos

prosódicos, ou seja, os correlatos acústicos não lexicais, são interdependentes. Nesse

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aspecto, muitos pesquisadores acreditam ser mais coerente o emprego do termo

“prosódia”, refutando a terminologia “suprassegmental”.

Ao propor que esses correlatos acústicos segmentais lexicais sofrem alterações

devido à impostação da voz manifestada na linguagem oralizada, Cagliari (1999)

postula que a voz apresenta determinados parâmetros acústicos físicos,

características espectrais, que podem ser demonstradas por árisis (picos) e tésis

(vales). Trata-se de um perfil vocálico detectado pelo software PRAAT. No quadro

da figura 11, temos a análise feita de um correlato acústico lexical de um fragmento

retirado da peça publicitária Lasanha. Nele é possível verificar a aplicação prática da

proposta de Cagliari (1999). Segundo o pesquisador, essa qualidade vocálica, somada

à propriedade de dinâmica da voz, são constituintes prosódicos que nos possibilita

compreender melhor a performance e o perfil sonoro dos oradores atuando

plenamente por meio da enunciação das/nas três peças publicitárias radiofônicas.

A Lasanha sai fumegando do forno [...] (SERT/MG, 2005).

Figura 14 – PRAAT da peça publicitária “Lasanha”

Fonte: Elaborada pelo autor.

Time (s)

0.6991 3.525

Pit

ch (

Hz)

100

150

200

300

5000.699079493 3.52521105

PROPAGANDA_3_-_LASANHA

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80

5. À GUISA DE CONCLUSÃO

Verifica-se que a atividade discursiva inscrita nas publicidades radiofonizadas

faz parte não apenas das possibilidades criadas pelo universo do rádio, mas também

da vida de inúmeros brasileiros que representam e compõem o auditório de

radiouvintes. A mágica sonoplastia que ressoa do suporte acústico, ao se unir à voz,

transforma-se e faz do rádio um meio de comunicação único, cujos discursos

produzidos ganham uma cenografia própria, construída para mostrar a sua

credibilidade e eficácia no mundo midiático.

A formatação dos elementos multissemióticos, mediante uma sintaxe

radiofônica capaz de concatenar esses mecanismos, desperta fascínio. Há uma

complexa necessidade de o analista de discurso tentar compreender e desvendar o

sistema organizacional que perpassa o mídium radiofônico. Em toda a estrutura

dialógica do corpus, não é possível ver, mas, sim, ouvir (escutar) e enxergar a

culminância de sentidos, que revela a função interacional e institucional da

linguagem radiofonizada.

Diante das reflexões estabelecidas e fundamentadas por um suporte teórico

adequado, é correto afirmar que as várias imagens auditivas previamente

selecionadas que incorporam a linguagem oralizada atuam em uníssono para obter a

persuasão e promover o ethos dos idealizadores. Portanto, para acentuar o poder de

sugestão incorporado nas palavras articuladas pela voz e, consequentemente, atrair a

escuta do auditório/radiouvinte, a prosódia, a trilha e os efeitos sonoros assumem

funções e finalidades ímpares para significar o seu universo imagético.

É incontestável que os quadros cênicos usam como estratégia o emprego da

narrativa descritiva para “impor” a cenografia. Nesse aspecto, as três peças são

homogêneas. Isso porque elas objetivam atingir várias classes sociais por meio das

ondas do rádio. Visando esse propósito, a instância de produção constrói, ao longo da

enunciação, quadros cênicos distintos, mas que se assemelham em termos de

cenografias. Os contextos, bem como a enunciação que deles emergem, são

articulados especificamente de acordo com os seus respectivos quadros cênicos.

Torna-se claro que, alterando as cenografias, logicamente, mudam-se também os

mecanismos multissemióticos, já que a instância de produção (SERT/MG e Rádio

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Sucesso FM 101,7) acredita no poder de abrangência do mídium rádio, em seu poder

de atingir várias classes sociais, em contextos diversificados. Parte-se do pressuposto

de que o auditório/radiouvinte está no escritório, no carro, em casa, na empresa, na

loja, no bar, na internet, e até mesmo, assistindo pela TV, pois, em muitos estúdios

de rádio, há câmeras instaladas que permitem ao auditório/radiouvinte, além de

ouvir, visualizar o locutor/radialista em plena atuação.

Outro fator importante é que as três peças deixam determinadas marcas da

oralidade, principalmente, no slogan, no qual o discurso publicitário adquire uma

performance plena e, a princípio, direciona-se para um auditório/radiouvinte

“específico”. Ciente desse hipotético perfil de auditórios/radiouvintes, os

idealizadores acreditaram ser mais promissor construir cenas enunciativas usando um

discurso que elucida situações “comuns”, próprias do cotidiano do referido público.

Partindo do pressuposto de que não se tem a certeza de onde esse público está,

os sujeitos idealizadores pensaram não necessariamente no empresário a quem o

discurso se direciona. Nessa perspectiva, o mais viável foi construir quadros cênicos

que retratam certos espaços, induzindo a pensar que tanto o rádio quanto o

auditório/radiouvinte podem estar em qualquer lugar se o aparelho estiver ligado.

A abrangência desse mídium radiofônico, bem como sua versatilidade está

diretamente vinculada às possibilidades advindas das TIC, através de programas

sofisticados disponíveis nos estúdios das emissoras. No rádio, esses aparatos

tecnológicos, quando usados e operados de modo correto, tornam possível enxergar

aquilo que não se vê.

Pensando assim, o auditório “se depara” com uma “loira sedutora” que muitos

homens gostariam de ver tomando banho; um carro esportivo com um garotão na

entrada de uma danceteria se exibindo para uma garota na frente dos colegas; e, por

último, o tilintar de um sino que "avisa" a uma garota que a lasanha está pronta e

pode ser servida. O que mais surpreende, além da discursividade e textualidade das

emissões radiofônicas, é o refino com que todas as peças foram elaboradas, o que faz

uma grande diferença. Nesse jogo radiofônico, em que se articulam múltiplas

linguagens que promovem o “ver” e o “enxergar”, mediadas pela enunciação

oralizada, revela-se a presença de um sistema linguístico, paralinguístico e

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sonoplástico que prioriza as vertentes da realidade e da ficção, atuando em função da

persuasão e do ethos.

Por fim, a perspectiva da Análise do Discurso, cujas concepções teóricas

possibilitaram as reflexões aqui empreendidas, revelou ser impossível analisar o

corpus considerando-o como um material discursivo advindo de um construto

linguístico fechado. Pelo contrário, o discurso persuasivo emanado das peças

publicitárias, projetando um ethos de suas instâncias de produção, constrói-se a partir

de uma materialidade linguística definida por condições de produção que se

concretizam em formações discursivas, determinado o que pode e o que deve ser dito

no rádio, e revelando a função dialógica que ele exerce como um sistema de

comunicação, seja ele analógico ou digital.

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