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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO ELISABETE CARDOSO COELHO GÊNERO E INSERÇÃO ACADÊMICA: UM ESTUDO COM ÊNFASE EM DOUTORAS EM CONTABILIDADE MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS PUC-SP SÃO PAULO 2015

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO … · 2017. 2. 22. · ênfase em Doutoras em Contabilidade” teve como objetivo principal efetuar o mapeamento da atuação da

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  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

    ELISABETE CARDOSO COELHO

    GÊNERO E INSERÇÃO ACADÊMICA:

    UM ESTUDO COM ÊNFASE EM DOUTORAS EM CONTABILIDADE

    MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS

    PUC-SP SÃO PAULO

    2015

  • ELISABETE CARDOSO COELHO

    GÊNERO E INSERÇÃO ACADÊMICA:

    UM ESTUDO COM ÊNFASE EM DOUTORAS EM CONTABILIDADE

    MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais, sob a orientação da Profa. Dra. Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos.

    PUC

    São Paulo

    2015

  • BANCA EXAMINADORA:

    __________________________________________________________

    Profa. Dra. Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos (Orientadora)

    Pontifícia Universidade Católica de São Paulo − PUCSP

    __________________________________________________________

    Prof. Dr. Haroldo Clemente Giacometti

    Fundação Getúlio Vargas – FGV-SP

    __________________________________________________________

    Prof. Dr. José Carlos Marion

    Pontifícia Universidade Católica de São Paulo − PUCSP

    São Paulo, ___ de ______ de 2015.

  • Dedico esta dissertação à minha família,

    principalmente à minha mãe, pelo apoio

    incondicional e constante incentivo.

    Ao meu filho, Felipe Coelho Ribeiro da

    Silva, por existir, por me proporcionar a

    maior realização desta minha passagem

    por esta vida, que é a de ser mãe e por

    compreender as minhas ausências, me

    enchendo de carinho nas horas de

    convívio.

    Ao meu marido, Carlos Alberto.

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente à Deus, por me possibilitar chegar até aqui, e por toda a força

    concedida na concretização desse sonho. A Ele igualmente agradeço por todas as

    pessoas que cruzaram meu caminho e contribuíram para a efetivação deste

    trabalho.

    Especialmente à minha orientadora Profa. Dra. Neusa Maria Bastos Fernandes dos

    Santos, que me inspirou, me motivou e, com muita dedicação e afinco, me conduziu

    em todas as etapas deste trabalho. Sempre com muita competência, dando uma

    orientação segura e precisa. Registro aqui, a minha respeitosa e sincera admiração.

    À minha mãe Nilzete Cardoso Coelho, mãe e heroína, pelo amor e ensinamentos

    que dedicou a mim e a toda nossa família e ao meu pai Adauto Menandro Coelho,

    pelos ensinamentos ao longo da vida.

    Ao meu filho Felipe Coelho Ribeiro da Silva, que soube entender minhas ausências,

    necessárias para a realização deste estudo.

    Ao Prof. Dr. Sérgio de Iudícibus, pelas ideias e diálogos frutíferos e incentivadores,

    sempre a disposição para me ouvir e oferecendo uma palavra amiga nos momentos

    mais difíceis enfrentados.

    Aos componentes da banca examinadora, constituída pelos Professores Doutores

    José Carlos Marion e Haroldo Clemente Giacometti que, com suas sugestões,

    contribuíram efetivamente para a melhoria da Dissertação.

    A todos os professores do Mestrado em Ciências Contábeis e Atuárias da PUC-SP

    que contribuíram com seus conhecimentos para a elaboração do trabalho.

    Ao Professor Araújo que sempre me apoiou e contribuiu na construção do trabalho.

    À PUC-SP, ao Carlos Alberto de Castro Ribeiro da Silva e à CAPES pelo apoio.

  • Talvez não tenha conseguido fazer o melhor,

    mas lutei para que o melhor fosse feito.

    Não sou o que deveria ser,

    mas Graças a Deus, não sou o que era antes.

    Marthin Luther King - 1963

  • RESUMO

    Esta pesquisa com o título “Gênero e Inserção Acadêmica: Um estudo com

    ênfase em Doutoras em Contabilidade” teve como objetivo principal efetuar o

    mapeamento da atuação da mulher doutora em Contabilidade e aferir sua

    contribuição acadêmica, por meio de levantamento de sua produção científica.

    Como objetivo específico verificou as produções das doutoras no Brasil, em

    revistas científicas, anais de Congressos, livros e outros veículos. Buscou, este

    estudo, como questionamento de pesquisa responder a seguinte questão: Qual a

    produção científica feminina, das doutoras em Contabilidade objeto da pesquisa,

    como contribuição acadêmica em termos de orientação, publicação em anais, em

    congressos e livros? Este trabalho se justifica por pesquisar e tornar público a

    atuação e contribuição que essas mulheres doutoras deram e ainda prestam à

    pesquisa e ao ensino de Contabilidade. Quanto ao método de pesquisa foi feita a

    opção pela abordagem quantitativa e pela análise de dados obtidos por meio dos

    Currículos Lattes dos indivíduos pesquisados. Foi possível verificar com esta

    dissertação que as mulheres vêm conquistando seu espaço no meio científico em

    Contabilidade e contribuindo significativamente para o desenvolvimento da

    Ciência Contábil.

    Palavras-chave: Gênero. Produção Científica. Contabilidade. Mulheres Doutoras em Contabilidade. .

  • ABSTRACT

    This research entitled "Gender and Academic Integration: A study focusing on

    Doctors in Accounting" aimed the mapping of the woman doctor acting in

    Accounting and assess their academic contribution, through raising their scientific

    production. As a specific objective intended to verify the productions of doctors in

    Brazil in scientific journals, congress proceedings, books and other vehicles.

    Search this study as a research question answer the following question: What is

    the female scientific production, doctors Accounting object of the search, as

    academic contribution in terms of guidance, published in Annals, congresses and

    books? This work is justified by the research and the publicizing of the role and

    contribution that these women gave to research and teaching of Accounting. As

    for the research method, was made the choice of quantitative approach with the

    analysis of data obtained through the Curriculum Lattes of surveyed individuals. It

    was observed with this thesis that women have gained their place in the scientific

    community in Accounting and contributing significantly to the development of

    Accounting Science.

    Keywords: Gender. Scientific Production. Accounting. Women Doctors in

    Accounting.

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 04 (Quatro) Instituições de Ensino Superior com Maior Número de Alunos em Contabilidade.......................................................

    26

    Quadro 2 Principais Dimensões do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil............................................................................................

    33

    Quadro 3 Encontros Nacionais da Mulher Contabilista............................. 48

    Quadro 4 Resumo dos Decretos Relativos aos Cursos Contabilidade..... 78

    Quadro 5 Participação em Projetos de Pesquisa....................................... 91

    Quadro 6 Coordenação de Projetos de Pesquisa...................................... 93

    Quadro 7 Membro do Corpo Editorial com Maior Número de Periódicos.. 95

    Quadro 8 Membro de Corpo Editorial Internacional.................................. 96

  • LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1 Rendimento Médio Real do Trabalho das Pessoas Ocupadas, por Gênero, de 2003 a 2011........................................................

    43

    Gráfico 2 Gênero......................................................................................... 88

    Gráfico 3 Titulação...................................................................................... 89

    Gráfico 4 Projetos de Pesquisa................................................................... 91

    Gráfico 5 Coordenação de Projetos de Pesquisa..................................... 93

    Gráfico 6 Participações no Corpo Editorial................................................ 95

    Gráfico 7 Quantidade de Periódicos........................................................... 97

    Gráfico 8 Publicações em Anais de Congressos....................................... 100

    Gráfico 9 Livros Publicados......................................................................... 102

    Gráfico 10 Orientações de Pós-Doutorado − Doutores................................. 105

    Gráfico 11 Orientações de Pós-Doutorado − Doutoras................................. 105

    Gráfico 12 Orientações de Doutorado.......................................................... 106

    Gráfico 13 Orientações de Mestrado............................................................ 109

    Gráfico 14 Orientações de Iniciação Científica........................................... 111

    Gráfico 15 Evolução Anual das Publicações em Periódicos de Doutores e Doutoras......................................................................................

    113

    Gráfico 16 Evolução Anual das Publicações em Anais de Congressos de Doutores e Doutoras....................................................................

    114

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Distribuição Percentual dos Pesquisadores por Sexo, segundo a condição de liderança – 2004 – 2010 (total pela condição de liderança 100%)..........................................................................

    34

    Tabela 2 Gênero e Faixa Etária................................................................. 35

    Tabela 3 Número Atual de Contadores e Técnicos, de ambos os sexos, registrados no Conselho Federal de Contabilidade ................

    50

    Tabela 4 Gênero......................................................................................... 87

    Tabela 5 Número de Mulheres Doutoras em Contabilidade de acordo com o Título obtido......................................................................

    89

    Tabela 6 Participação em Projetos de Pesquisa...................................... 90

    Tabela 7 Coordenação de Projetos de Pesquisa..................................... 92

    Tabela 8 Participações em Corpo Editorial............................................... 94

    Tabela 9 Quantidade de Periódicos.......................................................... 97

    Tabela 10 Doutores com Maior Número de Publicações em Periódicos... 98

    Tabela 11 Doutoras com Maior Número de Publicações em Periódicos.. 98

    Tabela 12 Publicações em Anais de Congressos....................................... 99

    Tabela 13 Publicações dos Doutores em Anais de Congressos............... 100

    Tabela 14 Publicações das Doutoras em Anais de Congressos............... 101

    Tabela 15 Livros Publicados........................................................................ 102

    Tabela 16 Doutores com Mais Livros Publicados....................................... 103

    Tabela 17 Doutoras com Mais Livros Publicados ...................................... 103

    Tabela 18 Quantidade de Orientações de Pós-Doutorado........................ 104

    Tabela 19 Quantidade de Orientações de Doutorado................................ 106

    Tabela 20 Quantidade de Orientações de Doutorado – Doutoras............... 107

    Tabela 21 Quantidade de Orientações de Doutorado – Doutores............... 107

    Tabela 22 Quantidade de Orientações de Mestrado................................... 108

    Tabela 23 Quantidade de Orientações de Mestrado – Doutoras................ 109

    Tabela 24 Quantidade de Orientações de Nestrado – Doutores................ 110

    Tabela 25 Quantidade de Orientações de Iniciação Científica................. 111

    Tabela 26 Quantidade de Orientações de Iniciação Científica – Doutoras.. 112

    Tabela 27 Quantidade de Orientações de Iniciação Científica – Doutores 112

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABRACICON Academia Brasileira de Ciências Contábeis

    ANPAD Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração e áreas afins

    ANPCONT Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

    BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

    CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

    CFC Conselho Federal de Contabilidade

    CLT Consolidação das Leis do Trabalho

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

    CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis

    CRC Conselho Regional de Contabilidade

    DECIT Departamento de Ciência e Tecnologia

    DEED Diretoria de Estatísticas Educacionais

    DPEM Departamento de Políticas do Ensino Médio

    FCEA Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas

    FEA/USP Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo

    FGV Fundação Getúlio Vargas

    FMU Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas

    FUCAPE Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade

    FURB Fundação Universidade Regional de Blumenau

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

    ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias

    IES Instituição de Ensino Superior

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

    IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

    IR Imposto de Renda

    ISAE Instituto Superior de Administração e Economia

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

    MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

    MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

    MEC Ministério da Educação

    MS Ministério da Saúde

  • ONU Organização das Nações Unidas

    PRME Princípios de Educação em Gestão Responsável (Principles for Responsabilite Management Education)

    PUCSP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

    SEB Secretaria de Educação Básica

    SECAD Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

    SPM Secretaria Especial de Políticas para Mulheres

    UFPB Universidade Federal da Paraíba

    UFPR Universidade Federal do Paraná

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

    UNB Universidade de Brasília

    UNIP Universidade Paulista

    UNINOVE Centro Universitário Nove de Julho

    UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos

    USP Universidade de São Paulo

    USP-RP Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto

    WEPs Women’s Empowerment Principles

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………… 15

    1.1. Contextualização do Tema….……………………………………………………… 15

    1.2. Problema de Pesquisa………………………………………………………………. 20

    1.3. Objetivos……………………………………………………………………………… 20

    1.4. Justificativa..………………………………………………………………………….. 21

    1.5. Organização da Dissertação......…………………………………………………… 22

    2. ACADEMIA E GÊNERO..................................................................................... 24

    2.1. A Mulher e a Vida Acadêmica.......................................................................... 24

    2.1.1. A Mulher na Docência.................................................................................. 24

    2.1.2. As Produções Científicas............................................................................ 28

    2.1.3. As Produções Científicas Femininas.......................................................... 31

    2.1.4. O Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq ........................................... 32

    2.2. A Profissão Contábil......................................................................................... 35

    2.2.1. Segmentos de Atuações da Profissão Contábil......................................... 36

    2.2.2. Breve Histórico da Inserção da Mulher no Mercado de Trabalho................ 38

    2.2.3. A Mulher na Profissão Contábil no Brasil..................................................... 40

    2.2.4. Os Principais Obstáculos e as Principais Conquistas Obtidas pela Mulher no Exercício da Profissão Contábil .......................................................................

    45

    2.2.5. Princípios de Educação em Gestão Responsável (Principles for Responsabilite Management Education) – PRME.................................................

    57

    3. ABORDAGENS FEMINISTAS............................................................................. 61

    3.1. Sexo, Gênero e suas Relações....................................................................... 61

    3.2. Teorias Feministas............................................................................................ 62

    3.2.1. Teoria Feminista Liberal.............................................................................. 63

    3.2.2. Teoria Feminista Radical............................................................................. 66

    3.2.3. Teoria Feminista Psicanalítica..................................................................... 67

    3.2.4. Teoria Feminista Marxista............................................................................ 68

    3.2.5. Teoria Feminista Socialista......................................................................... 68

    3.2.6. Teorias Feministas Pós-Estruturalista/Pós-Modernas............................... 69

  • 3.2.7. Teorizações Terceiro-Mundista/Pós-Colonialistas....................................... 70

    4. ASPECTOS HISTÓRICOS.................................................................................. 72

    4.1. O Surgimento do Curso de Ciências Contábeis............................................. 72

    4.1.1. Breve Histórico............................................................................................. 72

    4.1.2. A Contabilidade a Partir do Instituto Comercial do Rio de Janeiro............. 76

    4.1.3. Criação do Curso Superior em Ciências Contábeis e a Pós-Graduação..............................................................................................................

    79

    5. METODOLOGIA .................................................................................................. 82

    5.1. Conceito de Pesquisa........................................................................................ 82

    5.2. Procedimento de Coleta de Dados.................................................................. 83

    6. APRESENTAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS. 87

    6.1. Gênero.............................................................................................................. 87

    6.2. Titulação............................................................................................................ 88

    6.3. Projetos de Pesquisas...................................................................................... 90

    6.4. Coordenação de Projetos de Pesquisas.......................................................... 92

    6.5. Membro de Corpo Editorial .............................................................................. 94

    6.6. Artigos em Periódicos....................................................................................... 96

    6.7. Publicações em Anais de Congressos............................................................. 99

    6.8. Livros Publicados.............................................................................................. 101

    6.9. Orientações Realizadas ................................................................................... 104

    6.9.1. Orientações de Pós-Doutorado.................................................................. 104

    6.9.2. Orientações de Doutorado.......................................................................... 106

    6.9.3. Orientações de Mestrado............................................................................ 108

    6.9.4. Orientações de Iniciação Científica............................................................ 110

    CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 115

    REFERÊNCIAS....................................................................................................... 120

    APÊNDICES............................................................................................................. 126

  • 15

    1. INTRODUÇÃO

    A Introdução tem como objetivo apresentar o tema que discorre sobre as

    questões de gênero, ao abordar a participação das mulheres na vida acadêmica,

    especialmente àquelas tituladas como doutoras em Contabilidade. Apresenta a

    questão problema, a justificativa e os objetivos a serem atingidos com esta

    dissertação.

    1.1. Contextualização do Tema

    A presença da mulher na academia e no mercado de trabalho tem

    aumentado ao longo dos anos. Na Contabilidade não é diferente e, por muitos e

    muitos anos, a Ciência Contábil, assim como outras áreas de atuação profissional foi

    marcada pela predominância masculina.

    O primeiro contador a receber o título de Professor Doutor foi Hirondel

    Simões Ludes, que obteve esse título no ano de 1962, pela Universidade de São

    Paulo (USP). Essa mesma titulação foi conferida à Professora Doutora Cecilia Akemi

    Kobata Chinem somente no ano de 1987, ou seja, 25 anos após. É importante

    ressaltar que no, no primeiro caso do ano de 1962 (conforme é apresentado no

    capítulo 4 mais à frente), não existia o curso de doutorado como nos moldes atuais,

    e sim um processo de doutoramento. No segundo caso, de 1987, o curso de

    Doutorado já estava devidamente oficializado.

    Atualmente, no banco de dados da referida universidade, há o registro de

    272 teses defendidas, sendo que deste total apenas 58 teses foram defendidas por

    mulheres, representando um percentual de apenas 21%.

    Segundo Leite (2012), Coordenadora do Conselho Regional de

    Contabilidade de São Paulo:

    A participação da mulher na carreira contábil cresce a cada ano. Em São Paulo hoje são de cerca de 54 mil mulheres, o que representa 38% do total de profissionais da Contabilidade registrados no CRC SP. Há aproximadamente dois anos, esse número não chegava a 40 mil. (LEITE, 2012).

  • 16

    Analisando a trajetória da figura feminina como parte integrante de um

    contexto globalizado, principalmente na área de Ciências Contábeis, é fácil deduzir

    que sua presença vem se firmando e constantemente aumentando, e que a

    tendência é que esse crescimento aumente ainda mais. De acordo com Faria (2001).

    O mercado contemporâneo exige profissionais capacitados, competentes, que consigam se antecipar às necessidades dos usuários, prestando informações transparentes, confiáveis e úteis, que auxiliem o empresário na tomada de decisões, minimizando os riscos e protegendo melhor a empresa, independente de ser homem ou mulher. (FARIA, 2001, p.14)

    Com isso se pretendia analisar as dificuldades inerentes ao exercício da

    contabilidade como profissão, principalmente quando executada por mulheres.

    Desde o início dos tempos, o papel da mulher na sociedade foi delineado pelos

    homens, e era, basicamente, voltado para o que se considerava como conduta

    feminina ideal: esposas e mães. As escolas eram focadas em prepará-las para

    exercer as funções domésticas, e elas eram mais educadas do que instruídas.

    Dentro desse foco, as mulheres tinham fundamental importância na procriação e na

    formação dos filhos.

    Sua principal tarefa era preparar futuros líderes e inseri-los na sociedade.

    Aos homens competia a provisão dos meios necessários à manutenção do lar com a

    qualidade que sua posição na sociedade exigia. A postura deles em relação aos

    filhos sempre foi diferenciada. A cobrança em relação aos filhos homens era no

    sentido de apresentar os resultados que deles a família esperava e em relação às

    mulheres era que se casassem e dessem continuidade às tradições das famílias.

    Mota e Souza (2013) citam uma matéria denominada “O Poder do Salto Alto”, em

    que Orosco e Moraes (2004) comentam a transmissão de valores que cabia à

    mulher.

    As mulheres, mesmo no século XIX, quando passavam da tutela dos pais para a dos maridos, tinham sob suas asas a formação dos filhos e a administração da casa. Se o poder constituído era dos homens, era ela quem fazia a transmissão de valores – fossem eles patriarcais ou não, por conta da imposição da sociedade – e decidia sobre a vida cotidiana. Aos homens cabia a supervisão geral e a administração dos bens. Por trás de um simples sim ao marido estavam escondidos muitos poréns. (MOTA; SOUZA, 2013, p.3).

  • 17

    A situação permaneceu assim por longos tempos, e só começou a passar

    por mudanças importantes após o término da II Guerra Mundial, quando elas

    precisaram assumir o lugar dos homens no mercado de trabalho e assumir a chefia

    de seus lares, já que as baixas foram imensas.

    Até então, totalmente despreparadas para qualquer trabalho além daqueles

    que foram definidos como característicos delas durante séculos, viram-se na

    contingência de aprender rapidamente e transformar o seu conhecimento em

    recursos para prover a família, papel até então, exclusivo dos homens. E como

    sempre, a mulher surpreendeu e ultrapassou todos os obstáculos, até se tornar uma

    presença marcante e destacada também no mercado de trabalho. Nas palavras de

    Luca (2001):

    As mulheres quando ficavam viúvas ou pertenciam a uma classe mais pobre tinham que sustentar seus filhos com atividades que lhes dessem um retorno financeiro. Dentre as principais atividades realizadas, destacam-se: a fabricação de doces por encomendas, o arranjo de flores, os bordados e as aulas de piano. Além de serem pouco valorizadas, essas atividades eram mal vistas pela sociedade, o que dificultava a conquista das mulheres por um espaço no mercado de trabalho. Mesmo assim, algumas conseguiram transpor as barreiras do papel de ser apenas esposa, mãe e dona do lar. (LUCA, 2001, p.21).

    Apesar de as mulheres rapidamente alcançarem importantes vitórias no

    mercado de trabalho, seus direitos trabalhistas não avançaram com a mesma

    rapidez. Mesmo sendo tão competentes quanto os homens no exercício de sua

    profissão, ou até mais, eles sempre tinham melhores condições de trabalho e

    salários mais altos. Mas, as mulheres não se deixaram abater: as funcionárias de

    uma fábrica têxtil nos Estados Unidos decidiram se unir e reivindicar a equiparação

    às condições e os salários dos homens. Esse evento ocorreu no dia 08 de março de

    1857, razão pela qual até hoje, nesse dia, comemora-se o Dia Internacional da

    Mulher.

    Em 1889, em Portugal, Elisa Augusta da Conceição de Andrade foi a primeira

    mulher que se formou em Medicina. Através de um Decreto-Lei, em 1918, as

    mulheres conquistaram o direito de exercer a profissão de advogadas. Até 1931 os

    homens tinham direito a voto desde que soubessem ler e escrever. Já as mulheres

    precisavam ter concluído o curso secundário ou universitário para ter o mesmo

    direito. Neste ano, as mulheres conquistaram o direito ao voto sem as sanções até

  • 18

    então vigentes. Paulatina mas constantemente, as mulheres foram mudando o

    panorama do mercado de trabalho.

    Foram entrando para o exercício de profissões que até então lhe eram

    vetadas, tais como: Magistratura, Serviço Diplomático e Administração

    Governamental. Em 1980 foi ratificada a “Convenção das Nações Unidas”, onde

    foram eliminadas todas as formas de descriminação contra as mulheres. Com o

    advento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), não apenas se assegurou,

    como se protegeu, os direitos trabalhistas das mulheres no que se refere à duração

    do período de trabalho, folgas, maternidade, bem como foram definidas as sanções

    pela inobservância desses direitos.

    Até hoje existe preocupação por parte de alguns empregadores com relação à

    capacidade de conciliação entre as responsabilidades domésticas das mulheres e

    sua eficiência e assiduidade no trabalho e muitos preferem manter as coisas como

    sempre foram: os homens nos postos de comando, principalmente nos setores que

    podem se tornar críticos para a rentabilidade da empresa, dentre eles a

    Contabilidade. Não obstante, a presença feminina no mercado de trabalho, inclusive

    as que possuem formação acadêmica superior e ocupam postos de chefia aumentou

    significativamente nos últimos vinte anos.

    Algumas características ainda são consideradas como inerentes à mulher:

    sensibilidade, percepção apurada, versatilidade e facilidade de lidar com situações

    onde a emoção esteja envolvida. Para os homens, mostrar alguma dessas

    características pode ser visto como fraqueza. O mercado de trabalho, nos dias de

    hoje, exige cada vez mais a presença dos contabilistas. Novas formas de tributação,

    legislação direcionada a maior rentabilidade das empresas, programas e projetos

    governamentais exigem um conhecimento profundo nessa área.

    Não se trata mais de escriturar os livros e apresentar os resultados aos

    empresários. Trata-se sim, de formar parcerias com as empresas, visando a

    rentabilidade e a manutenção delas no mercado, cada vez mais exigente e

    competitivo. E não há lugar para falhas, pois as mudanças provocadas pela

    globalização acontecem com muita rapidez. E o contabilista precisa ser ágil, flexível

    e responder aos desafios no momento em que eles acontecem.

    Além disso, precisa dominar os recursos de informática, saber ler nas

    entrelinhas das estatísticas, dominar o inglês e conhecer a legislação do Comércio

    Exterior caso atue em empresas de Importação e Exportação. Isso para não

  • 19

    mencionar as características individuais do profissional, tais como boa comunicação

    com todos os escalões hierárquicos da empresa, manutenção do sigilo absoluto das

    operações que este administra e capacidade de gerenciar informações e contornar

    os atritos advindos do exercício do seu posto. Ou, colocando em trocados: precisa

    ser multidisciplinar.

    No Brasil, a primeira mulher a se tornar Presidente do Conselho Federal de

    Contabilidade (CFC), a mais alta instância de contabilidade do país, foi Maria Clara

    Cavalcante Bugarim, eleita por unanimidade para ocupar o cargo, em 2006. Exerceu

    dois mandatos e atualmente é Presidente da Academia Brasileira de Ciências

    Contábeis (ABRACICON). Além disso, formou-se em Direito e Administração de

    Empresas; é uma das grandes lideranças na área de contabilidade em prol da

    igualdade de direitos entre homens e mulheres dentro da profissão.

    Ela entende que nos últimos dez anos a participação das mulheres nesse

    setor cresceu muito, talvez devido ao fato de que ele permite a conciliação entre

    seus múltiplos afazeres. Mas defende que, apesar disso, as mulheres ainda não são

    contratadas em condições igualitárias, e afirma: “Infelizmente, as mulheres ainda

    ganham menos, apesar de desenvolverem as mesmas tarefas que os homens, mas

    acredito que a diferença venha diminuindo”. (ABRACICON, 2015).

    Para Monteiro (2003), as barreiras existentes para que a mulher possa obter

    sucesso na profissão contábil estão sendo mais facilmente transpostas, desde que

    ela possua as qualificações necessárias. Ele ainda postula:

    A mulher contábil vem conquistando seu espaço na sociedade. Os papéis que eram desempenhados exclusivamente por homens, hoje, são realizados com a mesma eficiência por mulheres que lutam pela manutenção de seus direitos, apesar da desigualdade salarial ainda ser um grande impasse no mercado. (MONTEIRO, 2003, p.3).

    As mulheres têm se destacado também no meio acadêmico e contribuído

    com seus trabalhos para a sistematização das normas a serem adotadas na área de

    Ciências Contábeis. A demanda das mulheres pelo curso universitário aumentou de

    forma significativa, e as universidades já estão criando projetos específicos para o

    atendimento dessa demanda.

    A mulher contabilista tem sua atuação nos mais diferentes âmbitos da

    Contabilidade, tais como: controladoria, consultoria, setor financeiro, área

    tributarista, controle de despesas e custos, análise de orçamentos, e para tal ela

  • 20

    precisa se manter atualizada, ser ágil e estar em sintonia fina com as necessidades

    do mercado. De acordo com Diniz (2014), “a mulher tem se destacado como agente

    de transformação da sociedade, quebrando paradigmas, vencendo preconceitos e

    superando seus limites, ocupando seu lugar na sociedade e fazendo a diferença no

    mercado de trabalho”.

    Por considerar tão importante a presença das mulheres na profissão

    contábil, foi efetuado neste estudo, um mapeamento de sua atuação e contribuição

    científica que servirá para mensurar sua participação no meio acadêmico e verificar

    a divulgação de seus trabalhos em periódicos, teses, dissertações, relatórios, anais,

    livros, etc.

    1.2. Problema de Pesquisa

    Para nortear este estudo foi elaborada a seguinte questão problema:

    Qual a produção científica feminina, das doutoras em Contabilidade objeto

    da pesquisa, como contribuição acadêmica em termos de orientação, publicação em

    anais, em congressos e livros?

    1.3. Objetivos

    Como objetivo geral esta dissertação intenciona:

    - Efetuar o mapeamento da atuação da mulher doutora em contabilidade e

    aferir sua contribuição acadêmica, por meio de levantamento de sua produção

    científica.

    Como objetivo específico se almeja:

    - Verificar as produções das doutoras no Brasil, em revistas científicas, anais

    de Congressos, livros e outros veículos.

  • 21

    1.4. Justificativa

    Este trabalho se justifica por buscar e tornar público a atuação e contribuição

    que essas mulheres doutoras deram e ainda contribuem à pesquisa e ao ensino de

    Contabilidade.

    As mulheres representam uma proporção significativa da base de recursos

    humanos de todas as nações. Juntas elas constituem um pool de talentos para a

    ciência, a tecnologia e a inovação; o não aproveitamento desse talento é uma

    enorme perda, como bem afirmam Rodrigues e Guimarães (2012).

    Para Soares (2001) sob o aspecto econômico:

    A baixa proporção de mulheres em áreas científicas significa o desperdício de recursos humanos altamente qualificados que podem contribuir com soluções cientificamente criativas bem como diferentes pontos-de-vista. Em um contexto de globalização econômica e políticas nacionais de incentivo à crescente competitividade por novos mercados, este pode ser um fator limitante para o desenvolvimento científico e consequentemente para a produção de riquezas em uma nação visto que, desde a Revolução Industrial, descobertas científicas e tecnológicas historicamente vêm sendo a mais importante ferramenta no acúmulo de bens pelos chamados países desenvolvidos. Sob o aspecto puramente científico, profissionais femininas contribuem para uma maior diversidade de abordagens e soluções para um dado problema. Uma maior representação feminina em C&T indubitavelmente enriquecerá o ambiente acadêmico através de novos talentos, valores e motivações. Afinal não é esta a época em que o estado-da-arte em ciência encontra-se na interface entre diferentes áreas? A receita de sucesso não é a criação de grupos formados por diferentes profissionais e, portanto, com diferentes visões e abordagens para um mesmo problema? Nada mais natural que aplicar este mesmo conceito às mulheres. (SOARES, 2001, p.3).

    A proporção de mulheres na academia tem aumentado ao longo dos anos e

    torna-se relevante o aumento da quantidade de trabalhos que contribuem para

    revelar a efetiva produção científica dessas mulheres.

    Em pesquisa realizada na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e

    Dissertações (BDTD), do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e

    Tecnologia (IBICT) que tem sido alimentada desde 2007, nada foi localizado de

    teses ou dissertações sobre a mulher contabilista e seus aspectos acadêmicos em

    contabilidade, referentes à suas produções científicas.

  • 22

    1.5. Organização da Dissertação

    Esta dissertação está organizada em Introdução, Fundamentação Teórica

    em três capítulos, Metodologia, Apresentação da Pesquisa com seus Resultados e

    Análise, Considerações Finais e Referências.

    Na Introdução são apresentados: a contextualização do tema, a questão

    problema, os objetivos, a justificativa do estudo e a forma como o estudo está

    estruturado.

    O Capítulo 2 apresenta a Academia e Gênero enfocando a mulher e a vida

    acadêmica, a mulher na docência, as produções acadêmicas num contexto mais

    geral e depois, mais especificamente, as produções científicas femininas, bem como

    a participação das mulheres no Diretório de Grupos do CNPq (Conselho Nacional de

    Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Igualmente discorre sobre a profissão

    contábil com foco na inserção da mulher no mercado de trabalho e no Brasil e

    também os principais obstáculos e as principais conquistas obtidas pela mulher no

    exercício da profissão contábil.

    O Capítulo 3 apresenta as Abordagens Feministas com relação ao sexo,

    gênero e suas relações e destaca as teorias feministas.

    O Capítulo 4 apresenta os Aspectos Históricos com o surgimento do curso

    de Ciências Contábeis, por meio de um breve histórico, mostra a Contabilidade a

    partir do Instituto Comercial do Rio de Janeiro, a criação do curso de Ciências

    Contábeis até a Pós-Graduação.

    No Capítulo 5 é apresentado o caminho de pesquisa, bem como o

    desenvolvimento dessa pesquisa, por meio de conceitos e procedimentos de

    pesquisa que nortearam a sua construção.

    A pesquisa é apresentada no Capítulo 6 e foi realizada com os

    levantamentos de doutores em contabilidade no Brasil, com maior ênfase para as

    mulheres doutoras. No mesmo tópico são apresentados os dados obtidos e a

    análise desses dados.

    Nas Considerações Finais discorre-se sobre a importância da pesquisa, sua

    validade, buscando responder a questão problema, os objetivos, além de oferecer

    recomendações a outros estudos futuros.

  • 23

    Por fim, são apresentadas as Referências utilizadas na dissertação, bem

    como o Apêndice que contém uma lista completa das revistas com participação das

    doutoras pesquisadas.

  • 24

    2. ACADEMIA E GÊNERO

    Este capítulo tem como objetivo mostrar a trajetória, o desenvolvimento e as

    contribuições científicas da mulher na vida acadêmica e no mercado de trabalho

    como profissional contábil.

    A respeito dessa atuação profissional, suas limitações e objetivos, cita-se

    aqui a afirmação de Santos (2006, p.183), válida para todo profissional.

    Uma pessoa bem sucedida deveria ser, antes de mais nada, uma pessoa feliz. As realizações levam ao crescimento humano, mesmo que isso implique em reconhecer limites humanos. Eu compartilho tais realizações porque os resultados positivos não foram obtidos somente por mim. Isto significa que meus próprios erros são uma oportunidade de aprendizagem que me transformam e que me tornam, até, melhor. (tradução nossa).

    2.1. A Mulher e a Vida Acadêmica

    Para atingir os objetivos do capítulo são abordados os seguintes tópicos: A

    mulher na docência, que retrata a trajetória histórica percorrida; As Produções

    Científicas que definem e demonstram a importância do trabalho científico para o

    desenvolvimento da ciência; As Produções Científicas Femininas que relatam a

    posição que as mulheres seguiram na ciência nas últimas décadas; O Diretório de

    Grupos de Pesquisa do CNPq mostrando a definição de CNPq e a participação das

    mulheres no diretório.

    2.1.1. A Mulher na Docência

    Durante a trajetória da mulher, são percebidas diversas situações, em que o

    acesso ao conhecimento foi restrito, sendo permitida em algumas escolas filosóficas,

    como a platônica e pitagórica e, na Idade Média, unicamente nos conventos.

    Antigamente, as mulheres sequer tinham o direito às patentes, ou seja,

    qualquer descoberta científica por elas realizada tinham seus créditos recebidos por

    pais ou maridos. Na Revolução Científica, ocorrida nos séculos XII e XIII as

  • 25

    mulheres realizaram muitas atividades de pesquisa, mas, infelizmente, não ficaram

    reconhecidas pelas suas descobertas, seu reconhecimento era unicamente como

    assistentes ou colaboras de cientistas. (HAYASHI et al., 2007).

    Podem ser citados, por exemplo, a matemática Emmy Noether que ajudou Einstein com seus cálculos a desenvolver a Teoria da Relatividade. Por sua vez, a imunologista Françoise Barré-Sinoussi, também é coautora da descoberta do vírus da AIDS ao lado de Luc Montaiger e Robert Gallo e, no entanto, seu nome é desconhecido até mesmo entre membro da comunidade científica internacional. (HAYASHI et al., 2007, p. 169).

    Somente a partir do século XIX, norte-americanas e europeias foram

    admitidas em universidades, como bem afirma Schiebinger (2001, p. 21) “(...)

    passaram a ser admitidas nas universidades americanas e europeias há apenas

    cerca de um século e nos programas de pós-graduação ainda mais tarde”

    É sempre necessário refletir sobre o papel da mulher nas ciências,

    relembrando as mulheres que contribuíram para o avanço dessas ciências e realizar

    esforços para que possam ser transpostas as barreiras e se tenham oportunidades

    justas de carreiras, dentro e fora da vida acadêmica.

    Nos cursos de Contabilidade, que até há pouco tempo eram constituídos por

    maioria masculina, vêm aumentando cada vez mais a participação significativa das

    mulheres. Com base nos dados fornecidos pelo Instituto nacional de Estudos e

    Pesquisas INEP/MEC (2015), foi apurado quais as 3 (três) maiores Instituições de

    Ensino Superior (IES) de São Paulo que oferecem o curso de Ciências Contábeis.

    Por ordem de número de alunos matriculados as três maiores são: Universidade

    Paulista (UNIP), Centro Universitário Nove de Julho (UNINOVE) e Centro

    Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).

    Também foram considerados os cursos da Universidade de São Paulo

    (USP), pelo fato de ser a instituição objeto deste trabalho e a Pontifícia Universidade

    Católica de São Paulo (PUCSP) por ser a instituição de origem deste trabalho. Foi

    verificado o número de alunos ingressantes no referido curso, com a finalidade de

    demonstrar qual o gênero destes alunos.

    O curso de Contabilidade tem um histórico de ser um curso com

    predominância do gênero masculino, porém, com este levantamento foi possível

    perceber que a partir do ano de 2007, este quadro de maioria masculina sofreu uma

    inversão e as mulheres passaram a ser a maioria, conforme mostra o Quadro 1.

  • 26

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    338

    143

    337

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    656

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    248

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    150

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    451

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    TOTA

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    6848

    4546

    2253

    1452

    6561

    0970

    1172

    3185

    8680

    1195

    0674

    3789

    9775

    0695

    03

    2012

    2013

    INST

    ITU

    IÇÃO

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    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

  • 27

    No ano de 2005 verifica-se que o número de alunos em Contabilidade

    destas instituições era dividido entre 3.397 homens e 2.538 mulheres, com o número

    de homens 25% maior que o número de mulheres.

    No ano de 2006 se percebe que o número de homens foi de 3.928 e o de

    mulheres 3.568, reduzindo a diferença para 9%.

    No ano de 2007 esta diferença continuou diminuindo passando a ser de 4%,

    com a quantidade de 4.845 homens inscritos e de 4.622 mulheres inscritas.

    No ano de 2008, a diferença passou a ser de apenas 1% com um total de

    5.314 homens e 5.265 mulheres.

    Já no ano de 2009 as mulheres começam a ser maioria no curso, tendo um

    total de 7.011 mulheres e 6.109 homens, representando 13% mais que os homens.

    Em 2010 esta tendência se confirma, permanecendo o número de mulheres

    maiores que o de homens em 15%, ou seja, 8.586 mulheres matriculadas e 7.231

    homens.

    No ano de 2011, o percentual maior de mulheres permanece em 15% com

    9.506 mulheres matriculadas e 8.011 homens.

    Em 2012 o percentual de mulheres aumentou mais um pouco, passando a

    ser de 17%, com um total de 8.997 mulheres e 7.437 de homens.

    No ano de 2013, a tendência se confirma, as mulheres são maioria em 21%,

    tendo um total de 9.503 matrículas femininas contra 7.506 matrículas masculinas.

    Os números demonstrados no Quadro 1 no total geral se confirmam para

    quase todas as instituições, com exceção da Universidade de São Paulo que

    permanece sendo um curso com predominância masculina, tendo um percentual

    maior de homens em 2013 de 34% e na Pontifícia Universidade Católica de São

    Paulo, que tem um percentual maior de homens de 24%, porém, é importante

    ressaltar que no cômputo geral, a quantidade de alunos matriculados nessas duas

    universidades é muito menor, quando comparado às demais:

    Em todos os cursos, independente de gênero, há a possibilidade de o

    professor produzir cientificamente e são estas produções que seguem apresentadas

    nos próximos tópicos.

  • 28

    2.1.2 As Produções Científicas

    Os Trabalhos Científicos contribuem para divulgar e aprofundar o

    conhecimento de determinado tema. Na vida acadêmica, esses trabalhos são de

    extrema importância, tendo em vista que é na academia que se desenvolvem novas

    ideias e se fazem novas descobertas.

    A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº. 9.394, de

    20 de dezembro de 1996, que rege a educação no país, em seu artigo 43, define

    para o ensino superior as seguintes finalidades:

    A Educação superior tem por finalidade: I – estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II – formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III – Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV – promover a divulgação de conhecimento culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V – suscitar o desejo permanente cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura sistematizadora do conhecimento do conhecimento de cada geração; VI – Estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidades e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII – promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. (BRASIL, LDB 9394/96).

    Desta forma, deve-se promover cada vez mais a participação dos docentes

    em atividades que divulguem seus trabalhos tais como, seminários, congressos,

    workshops etc., ou seja, atividades que disseminem o conhecimento.

    A produção científica inclui a produção de conhecimento através da pesquisa. Entende-se por pesquisa a busca sistemática, crítica e controlada de um maior conhecimento das relações existentes na

  • 29

    realidade. Uma definição mais ampla de produção científica inclui trabalhos que possuem rigor científico no tratamento dos temas, incluindo-se neste universo, monografias, dissertações, teses e artigos. (LEITE FILHO, 2009, p. 1).

    Igualmente, é de suma importância atrelar a teoria à prática para que os

    conceitos aprendidos na vida acadêmica sejam concretizados, como bem afirma

    Guerreiro (2009).

    É fundamental que se tenha uma comunicação entre o que é produzido na academia e o que é feito fora. Na minha dissertação de mestrado, procurei relacionar esses dois lados. O professor da área de Contabilidade que fica somente na Escola e perde o contato, fica alienado, não tem como dar aula. Isso porque a Contabilidade está no rol das chamadas ciências sociais aplicadas. Isso significa o seguinte: o professor tem que estar em contato com a realidade, com a prática, com os negócios. Mesmo os professores que estão em RDIDP, Regime em Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa, como eu, temos que ter a oportunidade de estar juntos com as práticas (GUERREIRO, 2009, p.76).

    A cada ano que passa, são criadas novas formas de divulgação destas

    produções, principalmente em periódicos eletrônicos, eventos gerais e setoriais.

    O que contribui para a criação desses novos canais de divulgação é o

    aumento dos cursos de stricto e lato senso no país, segundo Beuren e Souza

    (2008).

    Na última avaliação trienal (2001 a 2003) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o número de Cursos avaliados pelo Comitê de Área de Administração, Contabilidade e Turismo foi de 58, sendo que somente 10 eram de Contabilidade. No Triênio de 2004 a 2006 esse número se elevou significativamente, totalizando 17 programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis recomentados pela Capes (www.capes.gov.br). (BEUREN; SOUZA, 2008, p.45).

    Não basta ter quantidade, deve-se ter qualidade. É importante estabelecer

    critérios de avaliação, visando uma melhor qualidade da formalização dos trabalhos

    produzidos para os membros da comunidade científica.

    Vanti (2002, p. 152) ressalta a importância da avaliação neste contexto.

    A avaliação, dentro de um determinado ramo do conhecimento, permite dignificar o saber quando métodos confiáveis e sistemáticos são utilizados para mostrar à sociedade como tal saber vem se

  • 30

    desenvolvendo e de que forma tem contribuído para resolver os problemas que se apresentam dentro de sua área de abrangência.

    Produções Acadêmicas são importantes em todas as áreas do

    conhecimento, não sendo diferente na área de Ciências Contábeis, segundo Lopes,

    Iudícibus e Martins (2008, p.1).

    Nós, como pesquisadores, temos que mostrar que estamos aptos a investigar esse importante fenômeno social em suas inter-relações com o Direito, a Sociologia, a Psicologia, a Economia... Nossa preocupação fundamental, todavia, deve ser a informação contábil, a Contabilidade, enfim. E o que precisamos é, ao lado de continuar o trabalho empírico e levantar erros e acertos da Contabilidade normativa, aprender a desenvolver essa Contabilidade normativa com base em fundamentações mais sólidas a partir de pesquisas também empíricas e não apenas do dedutivismo entre paredes. Mas precisamos lembrar que a Contabilidade é o nosso foco, o nosso objetivo, e os instrumentos de pesquisa, inclusive os quantitativos, são, para nós, instrumento, meio, e não fim.

    Assim deve-se promover publicações nos mais diversos meios de

    divulgação, desde que atentando para a qualidade do trabalho, tais como seguem

    em alguns exemplos: (a) Periódicos: Revista Brasileira de Custos, Revista Brasileira

    de Finanças, etc.; (b) Congressos: Associação Nacional dos Programas de Pós-

    Graduação em Administração e áreas afins (ANPAD), Congresso Brasileiro de

    Custos, Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Ciências

    Contábeis (ANPCONT), Encontro Nacional da ANPAD (ENANPAD), etc. Vale

    ressaltar que os Congressos são importantes, pois propiciam a troca de experiência

    entre docentes, alunos e profissionais, formando uma rede de networking que

    favorece a troca de experiência e a troca de informações entre si.

    Outro ponto importante que deve ser ressaltado nas produções científicas é

    que seu meio de propagação do conhecimento é mais rápido do que o de um livro, e

    devido a este fato, está sempre mais atualizado.

    No Brasil, os periódicos nacionais são classificados (estratificados) pelo

    Ministério da Educação − MEC/CAPES por área e recebem classificação (peso) que

    são enquadrados em estratos indicativos de qualidade que vão do mais elevado ao

    menos elevado: A1; A2; B1; B2; B3; B4; B5; B5; C – com peso zero.

    É relevante apontar que o mesmo periódico, ao ser classificado em duas ou

    mais áreas distintas, poderá receber diferentes avaliações. Este fato não significa

  • 31

    uma contradição, e sim o fato, de uma determinada revista ter uma relevância maior

    ou menor em determinada área.

    2.1.3. As Produções Científicas Femininas

    Na última década cresceu substancialmente o número de mulheres que

    desenvolveram produções acadêmicas, conforme Pierro (2013, p.32).

    Um estudo realizado por um grupo de pesquisa sediado na Universidade de Washington, Estados Unidos, indica que a participação de mulheres na publicação de artigos científicos está crescendo em praticamente todas as áreas do conhecimento no mundo.

    É importante em toda ciência se ter um histórico deste fenômeno. Oliveira et

    al. (2007, p. 2) mencionam a relevância de acompanhar este desenvolvimento e que

    “monitorar a produção científica em âmbito nacional é muito importante para avaliar

    o crescimento das diversas áreas do conhecimento”.

    A posição que as mulheres tomaram na ciência, nas últimas décadas, deixou

    de ser uma utopia para se tornar uma realidade cada vez mais próxima. Considera-

    se que a sua visibilidade não é a mesma nas agendas políticas de diversos países é

    que sua autonomia se multiplicou nos fórum de discussões, redes de intercâmbios,

    grupos de estudos em todo o mundo.

    Para Estébanez (2003, p. 7) faz-se necessário “conhecer melhor a situação

    da mulher na ciência nos países da região deve deixar de ser um slogan

    politicamente correto, para se tornar uma ação efetiva das respectivas gestões

    governamentais”.

    Para Soares (2001), uma maior participação feminina em ciências traz

    benefícios sociais e econômicos para a sociedade e à economia.

    Sob o aspecto econômico, a baixa proporção de mulheres em áreas científicas significa o desperdício de recursos humanos altamente qualificados, que podem contribuir com soluções cientificamente criativas, bem como diferentes pontos-de-vista. Em um contexto de globalização econômica e políticas nacionais de incentivo à crescente competitividade por novos mercados, este pode ser um fator limitante para o desenvolvimento científico e, consequentemente, para a produção de riquezas em uma nação, visto que, desde a Revolução Industrial, descobertas científicas e

  • 32

    tecnológicas, historicamente vem sendo a mais importante ferramenta no acúmulo de bens pelos chamados países desenvolvidos. Sob o aspecto puramente científico, profissionais femininas contribuem para uma maior diversidade de abordagens e soluções para um dado problema. Uma maior representação feminina em C&T indubitavelmente enriquecerá o ambiente acadêmico através de novos talentos, valores e motivações. Afinal não é esta a época em que o estado-da-arte em ciência encontra-se na interface entre diferentes áreas? A receita de sucesso não é a criação de grupos formados por diferentes profissionais e, portanto, com diferentes visões e abordagens para um mesmo problema? Nada mais natural que aplicar este mesmo conceito às mulheres. (SOARES, 2001, p.3).

    Velho e Prochazka (2003) citam que, nos últimos anos, foram

    acompanhados expressivos progressos da atuação feminina no campo da ciência e

    da tecnologia brasileiras, especialmente inseridas no âmbito das instituições de

    ensino superior e nos institutos de pesquisas.

    Dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –

    CNPQ (2011), no ano de 2010 as mulheres foram maioritariamente beneficiadas

    com bolsas de iniciação científica (53,65%), de mestrado (52,41%) e doutorado

    (50,7). Porém, considerando-se as bolsas produtividade científica a participação

    masculina ainda é maioria, apenas 34,87% dos recursos foram comtemplados às

    pesquisadoras brasileiras.

    2.1.4. O Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq.

    O Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq (Conselho Nacional de

    Desenvolvimento Científico e Tecnológico) define-se pelo levantamento de todos os

    grupos de pesquisa científica e tecnológica em atividade no país. É uma agência do

    Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

    Por seu intermédio é possível obter todas as informações a respeito de

    recursos humanos constituintes de um grupo (pesquisadores, estudantes e

    técnicos), as linhas de pesquisas em andamento, as especialidades do

    conhecimento, a produção científica, tecnológica e artística.

    O Diretório possui uma base que é atualizada constantemente pelos atores

    envolvidos e, a partir de 1992, foram inicializados censos bianuais objetivando

    registrar a base corrente.

  • 33

    Os resultados referentes ao Censo de 2012 ainda não foram disponibilizados

    pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e,

    por este motivo, na pesquisa propriamente dita, realizada neste trabalho, faz-se uso

    do último disponível no site do órgão, que é o de 2010.

    O Diretório é de suma importância para se conhecer e mapear a situação da

    pesquisa das universidades e centros de pesquisas do país. Em 2010, faziam parte

    do Diretório: 452 instituições, 27.523 grupos de pesquisa e 128.892 pesquisadores.

    O Quadro 2 apresenta estes dados em números que vão do ano de 1993 até

    2008, mostrando a evolução geral dos grupos de pesquisa no Brasil.

    Quadro 2 − Principais Dimensões do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil

    Fonte: Censo CNPq (2010)

    No Quadro 2 se pode verificar que os pesquisadores doutores têm

    aumentado a participação quantitativa e percentual sobre o total de cientistas,

    demonstrando uma melhor qualidade das pesquisas e condições para fortalecer os

    cursos de mestrado e doutorado. Os históricos dos grupos de pesquisa demonstram

    que é necessário melhorar as condições de incentivos econômicos e sociais para se

    formalizar e organizar grupos de pesquisa no país.

    A Tabela 1 apresenta a distribuição das pesquisadoras nos Censos do

    Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil, de acordo com a liderança em relação ao

    Principais Dimensões 1993 1995 1997 2000 2002 2004 2006 2008 2010

    Instituições 99 158 181 224 268 335 408 422 452

    Grupos 4.402 7.271 8.632 11.760 15.158 19.470 21.024 22.797 27.528

    Pesquisadores (P) 21.541 26.779 33.980 48.781 56.891 77.649 90.320 104.018 128.892

    Pesquisadores doutores (D) 10.994 14.308 18.724 27.662 34.349 47.973 57.586 66.785 81.726

    (D) / (P) % 51 53 55 57 60 62 64 64 63

    Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil

    Número de Instituições, grupos, pesquisadores e pesquisadores doutores - 1993 - 2010

    Notas: parcela significativa de tendência de crescimento observada nos números absolutos, principalmente até 2000, decorre

    do aumento de taxa de cobertura do levamentamento.

    Principais dimensões

  • 34

    grupo masculino de pesquisadores. A “condição de liderança” representa coordenar

    ou não os grupos de pesquisa.

    Tabela 1 − Distribuição Percentual dos Pesquisadores por Sexo, segundo a condição

    de liderança – 2004 – 2010 (total pela condição de liderança 100%)

    Condição de Liderança

    2004 2006 2008 2010

    H M H M H M H M

    Líderes 59 41 57 43 55 45 55 45

    Não Líderes 51 49 50 49 49 51 48 52

    TOTAL 53 47 50 50 49 51 47 53

    Fonte: Censo CNPq (2010)

    Pode-se analisar na Tabela 1 que, no Censo de 2004, referente aos

    pesquisadores cadastrados na base, percebe-se uma pequena vantagem numérica

    para os homens (51%) atuantes em pesquisa, em comparação com as mulheres

    (49%). No entanto, igualmente se percebe que esta diferença vem diminuindo e que

    ela se reverte no biênio de 2008. No biênio de 2010, as mulheres confirmaram o

    crescimento chegando a 52% e ultrapassando os homens que representam 48%.

    Observando o aspecto da liderança, enquanto as mulheres vêm em franca

    ascensão, o mesmo não ocorre com os homens. Observando sob a luz de lideres de

    grupo de pesquisa, em 2004, os homens alcançavam 59% e as mulheres 41%; este

    número em 2010 passou a ser de 55% para os homens e de 45% para as mulheres.

    Há um indicativo de discrepância entre os cargos de poder e prestígio e a presença

    feminina.

    Constata-se esta dinâmica em muitas pesquisas, e uma dessas visões é

    citada por Olinto (2011, p. 71) quando se refere “à necessidade que as cientistas

    têm de apresentar mais credenciais para obter o mesmo benefício, seja uma

    promoção, uma bolsa de pesquisa ou outro tipo de vantagem acadêmica”.

    Ao analisar a pesquisa por sexo e faixa etária no Censo de 2010 do Diretório

    de Grupo de Pesquisa do Brasil verifica-se, conforme a Tabela 2, que até a faixa dos

    29 anos prevalecem a mulheres. Na faixa dos 30 aos 54 anos, tecnicamente há um

  • 35

    empate e, a partir dos 55 anos os homens representam a maioria. Esta análise

    mostra que as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço na academia e nas

    ciências.

    Tabela 2 – Gênero e Faixa Etária

    Faixa Etária Total Masc. Fem. Não Inf. Percentuais

    Masc. Fem.

    Até 24 950 408 540 2 43,0 57,0

    25 a 29 8.523 3.889 4.621 13 45,7 54,3

    30 a 34 18.441 9.069 9.351 21 49,2 50,8

    35 a 39 20.330 10.078 10.226 26 49,6 50,4

    40 a 44 19.361 9.708 9.626 27 50,2 49,8

    45 a 49 20.808 10.240 10.539 29 49,3 50,7

    50 a 54 15.871 7.794 8.051 26 49,2 50,8

    55 a 59 12.176 6.374 5.770 32 52,5 47,5

    60 a 64 7.298 4.059 3.213 26 55,8 44,2

    65 ou + 5.128 3.090 2.017 21 60,5 39,5

    Não informada

    6 3 2 1 60,0 40,0

    Total 128.892 64.712 63.956 224 50,3 49,7

    Fonte: Censo CNPq (2010)

    O tópico que segue apresenta a profissão contábil e a mulher no mercado de

    trabalho.

    2.2. A Profissão Contábil

    Para atingir os objetivos do capítulo são abordados os seguintes tópicos:

    Segmentos de Atuações da Profissão Contábil que define o objetivo da contabilidade

  • 36

    e apresenta suas áreas de atuação; Breve Histórico da Inserção da Mulher no

    Mercado de trabalho que demonstra a participação da mulher no mercado de

    trabalho a partir da Revolução Industrial; A mulher na Profissão Contábil no Brasil

    que exemplifica algumas mulheres que se destacaram na área contábil e discorre

    sobre as iniciativas e realizações do Conselho Federal de Contabilidade com a

    finalidade de valorizar a atividade feminina na área; Os Principais Obstáculos e as

    Principais Conquistas Obtidas pela Mulher no Exercício da Profissão Contábil que

    relata sobre as dificuldades e conquistas obtidas pela mulher contabilista.

    2.2.1. Segmentos de Atuações da Profissão Contábil

    A contabilidade é uma ciência social das mais antigas, que teve sua origem

    nos primórdios das civilizações.

    Em sítios arqueológicos do Oriente Próximo foram encontrados materiais utilizados por civilizações pré-históricas que caracterizam um sistema contábil utilizado entre 8.000 e 3.000 A. C., constituído de pequenas fichas de barro. Estas escavações revelaram fatos magnânimes para a Contabilidade, colocando-a como a mola propulsora da criação da escrita e da contagem abstrata. (SCHMIDT; SANTOS, 2006, p.15).

    Com o avanço da humanidade e os sistemas de trocas, a contabilidade

    começou a se tornar profissão propriamente dita.

    A contabilidade tem por objetivo, segundo Iudícibus (2010, p. 3):

    Fornecer aos usuários, independentemente de sua natureza, um conjunto básico de informações que, presumivelmente, deveria atender igualmente bem a todos os tipos de usuários, ou a Contabilidade deveria ser capaz e responsável pela apresentação de cadastro de informações totalmente diferenciado para cada tipo de usuário.

    Considerando o atual desenvolvimento econômico do Brasil em várias

    unidades da federação e setores da economia, a Contabilidade é uma das áreas que

    mais oferecem oportunidades e alternativas profissionais de carreira.

    Neste contexto profissional, a mulher, como bem cita Manzini (2003), se

    destaca pelas seguintes características: - maior precisão nos resultados,

  • 37

    conseguindo fazer um melhor planejamento da carreira; - uma visão diferenciada,

    promovendo uma diversidade no mundo dos negócios trazido pela ótica feminina; -

    maior capacidade de trabalhar duro; - maior capacidade de negociação somada a

    competências e habilidades técnicas; - são menos corruptíveis que os homens.

    Em termos das oportunidades profissionais, oferecidas pela Ciência

    Contábil, Marion (2003) elenca algumas dessas oportunidades e alternativas:

    A) Contador

    Profissional com formação superior em Ciências Contábeis, com nível de

    Bacharel, que executa a funções Contábeis, podendo atuar em Contabilidade

    Financeira, Contabilidade de Custos, Contabilidade Gerencial, etc.

    B) Auditor

    É o profissional de Auditoria, que representa o ato de confrontar a condição

    – situação encontrada – com o critério – situação que dever ser.

    O profissional nesta área pode atuar como:

    Auditor Independente – é o profissional não empregado pela empresa que

    será auditada e sim por uma empresa de auditoria.

    Auditor Interno – é o profissional que é empregado pela empresa auditada,

    responsável pelos controles internos da empresa.

    C) Analista Financeiro

    Verifica a situação econômico-financeira da empresa, analisando relatórios

    fornecidos pela contabilidade.

    D) Perito Contábil

    É o profissional designado por um juiz para atender a uma demanda judicial.

    Neste caso, é o responsável pela verificação dos registros contábeis da sentença.

    E) Consultor Contábil

    Responsável por emitir opinião sobre Contabilidade Contábil, Financeira,

    Fiscal (Imposto de Renda (IR), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI),

    Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) e etc.), Custos e demais.

  • 38

    F) Professor de Contabilidade

    Exerce o magistério, podendo atuar em cursos de Ensino Médio, Educação

    Profissional e Ensino Superior; neste último há a exigência de curso de pós-

    graduação.

    G) Pesquisador Contábil

    Este cargo é ocupado por aqueles que optaram pela carreira acadêmica e

    que comumente se dedicam em período integral à universidade. No Brasil este

    campo é pouco explorado.

    H) Cargos Públicos

    Há uma grande demanda de contadores em concursos, que exercem o

    cargo de Fiscal de Renda, seja na área Federal, Estadual ou Municipal.

    I) Cargos Administrativos

    Alguns contadores exercem cargos de assessoria, elevados postos de

    chefia, de gerência e, até mesmo, de diretoria e com sucesso. O contador é

    gabaritado para tais cargos, pois, no exercício de sua profissão, tem contato com

    todos os setores da empresa. É comum afirmar que o profissional que mais conhece

    a empresa é o contador.

    A seguir apresenta-se um breve histórico da inserção da mulher no mercado

    de trabalho.

    2.2.2. Breve Histórico da Inserção da Mulher no Mercado de Trabalho

    Desde a era primitiva, as relações familiares foram estruturadas de forma

    patriarcal. Os homens tinham que ser viris e provedores e ainda tinham sob sua

    responsabilidade a sobrevivência e a proteção da família. Desta forma, os homens

    saiam para caçar e as mulheres ficavam em suas cavernas para cuidar de seus

    filhos, preparar as refeições, arrumar as casas e satisfazer seus maridos.

    Segundo Mota e Souza (2013, p. 3) as mulheres serviam:

  • 39

    Para as funções de esposa e mãe. Naquela época, as mulheres deveriam ser mais educadas que instruídas; os objetivos visavam casamento e, consequentemente, a procriação. O aprendizado em tarefas domésticas era de suma importância.

    Até o final do século XVIII, boa parte da população vivia no campo,

    plantando e criando animais para sobreviver. Artesanalmente, o produtor dominava

    todo o processo produtivo.

    Países como França e Inglaterra possuíam grandes oficinas, onde os

    artesãos efetuavam seus trabalhos manualmente, seguindo as regras dos

    proprietários do estabelecimento; a essas oficinas davam-se o nome de

    manufaturas.

    O processo produtivo das manufaturas era extremamente limitado, tendo em

    vista que dependiam exclusivamente da força humana ou animal. Pensando em uma

    forma de aumentar sua produção foram inventadas máquinas a vapor. Nascia a

    Revolução Industrial.

    Com a Revolução Industrial encerra-se o antigo modelo de produção

    fundado na vinculação do produto a terra, e inicia-se a produção em massa. Surgem

    instalações de grandes indústrias e, consequentemente, a necessidade de mão de

    obra.

    Os primeiros passos para que a mulher comece a desempenhar um novo

    papel acontece durante a Revolução Industrial que teve o objetivo de aumentar os

    lucros; deu-se início a contratação de mulheres e crianças em suas fábricas.

    No entanto, a situação estava longe de ser uma maravilha, os turnos de

    trabalho eram extremamente estressantes, tendo em média 15 horas diárias de

    trabalho. Outro ponto importante eram os salários medíocres, uma vez que as

    mulheres recebiam em torno de 1/3 dos salários pagos aos homens; em suas

    tarefas eram atribuídas os afazeres menos especializados e mal remunerados

    porque os cargos de chefia eram oferecidos sempre aos homens.

    Conforme Kunher (1977) citado por Querino, Domingues e Luz (2013, p. 6):

    Com a consolidação do sistema capitalista, no século XIX, ocorreram várias mudanças na dinâmica do trabalho feminino. Um intenso crescimento da maquinaria, e um acelerado desenvolvimento tecnológico fizeram com que grande parte da mão de obra feminina fosse transferida para as fábricas, com uma carga horária de até 18 horas por dia, e um salário inferior ao do homem.

  • 40

    A primeira manifestação feminina em busca de melhores condições de

    trabalho ocorreu em 1908, nos Estados Unidos.

    A II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada na

    Dinamarca no ano de 1910, aprovou uma resolução instituindo um dia comemorativo

    para honrar as lutas femininas.

    No ano de 1911, ocorreu um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York,

    causado pela falta de condições de segurança da fábrica, morrendo

    aproximadamente 130 operárias. Este acidente marcou a trajetória das lutas

    femininas.

    Durante a Grande Guerra, a mulher se aproximou do front de combate com

    algumas atividades específicas, atividades essas muito limitadas, sem participação

    efetiva no combate. Sua função era a de trabalhar nas indústrias bélicas como

    empregadas, enquanto os homens lutavam nas trincheiras.

    A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) incorporou uma grande massa de mulheres no trabalho industrial. Elas foram mobilizadas e chamadas veementemente pelos governos para assumirem as posições deixadas pelos maridos, namorados, irmãos, pais que se encontravam no fronte. (MANCINI, 2005, p. 28 ).

    A grande mudança na atuação das mulheres ocorreu na Guerra Civil

    Espanhola (1936-1939), onde o sexo feminino foi treinado e qualificado para

    combater e tornou-se uma peça fundamental para aquele momento.

    Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a mulher já estava preparada

    para desenvolver todas as atividades do front.

    Nos Estados Unidos, objetivando realizar as metas de produção da guerra, a

    mulher começou a galgar postos em fábricas que anteriormente eram

    exclusivamente masculinos.

    2.2.3. A Mulher na Profissão Contábil no Brasil

    A mulher através de muita batalha vem conseguindo alcançar um espaço

    significativo na sociedade. Ainda falta muito a ser alcançado, mas, as mulheres já

    atingem patamares sequer imaginados no passado.

  • 41

    No Brasil, ao analisar a situação da mulher percebe-se que esta não tinha

    sequer direito a voto e hoje se tem uma mulher, cumprindo seu segundo mandato

    como Presidente da República, ou seja, as mulheres, eram consideradas como o

    “sexo frágil”, conquistaram seu espaço perante a sociedade e igualmente

    conseguiram se destacar no mercado de trabalho.

    Conforme Santos (2006, p.194): “As mulheres brasileiras são semelhantes

    às mulheres bem sucedidas de outros países do estudo. As mulheres brasileiras

    possuem alto nível de eficiência, uma grande necessidade por realizações e um

    instinto interno de controle”. (tradução nossa).

    Considerando a profissão de contadora, não se pode deixar de mencionar

    duas mulheres:

    - Maria Clara Cavalcante Bugarim, a primeira mulher que atuou como

    Presidente do Conselho Federal de Contabilidade no Brasil (2006-2009). É Bacharel

    em Administração de Empresas e em Direito, Pós-graduada em Auditoria e em

    Administração de Recursos Humanos, Mestre em Controladoria e Contabilidade pela

    Universidade de São Paulo (USP) e Doutoranda em Contabilidade pela Faculdade

    do Minho – Portugal, segundo dados da Academia Brasileira de Ciências Contábeis.

    (ABRACICON, 2015).

    - Profa. Dra. Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos que, no ano de

    2012 recebeu o título de “Professora Honoris Causa” em homenagem aos

    marcantes trabalhos realizados nos cursos de Graduação, Stricto e Lacto Sensu. Em

    2011 foi homenageada com o título “Mulheres Pioneiras Paulistas”, no ano de 2008

    teve o melhor artigo publicado no periódico Canadian Journal of Latin American and

    Caribbean Studies, entre muitos outros. (CURRICULO LATTES, 2015).

    O Conselho Federal de Contabilidade, no ano de 1991, criou o I Encontro

    Nacional da Mulher Contabilista, evento este de suma importância para que as

    profissionais contabilistas conseguissem se aprimorar tecnicamente e culturalmente,

    por meio de importantes debates voltados a valorização da atuação feminina na

    área. Através deste Encontro surgiram ações de incentivo e maior participação das

    contabilistas na vida social e política do país. E, em 2013, foi realizado o IX

    Encontro, que contou com a participação de cerca de 2.000 (duas mil) pessoas. O

    Encontro apesar de ter como objetivo o público feminino, em suas frequentes

    realizações tem atraído cada vez mais uma quantidade significativa de homens, que

    passam a ter a oportunidade de conhecer um pouco mais o universo das mulheres

  • 42

    contabilistas. Um mapeamento destes encontros pode ser visto no tópico 2.2.4.

    deste capítulo.

    O nível de instrução das mulheres brasileiras vem melhorando a cada ano,

    segundo Bruschini e Puppin (2004, p. 108).

    A expansão da escolaridade, à qual as brasileiras têm tido cada vez mais acesso, é um dos fatores sobre o ingresso das mulheres no mercado de trabalho. As taxas de atividade das mais instruídas (mais de 11 anos de estudo) são muito mais elevadas do que as taxas gerais de atividades, em todos os anos analisados. Em 1998, a taxa feminina de atividade era de 47%, mas a de mulheres com 15 anos ou mais de estudos era superior a 81%. Além disso, as trabalhados tem escolaridade mais elevadas do que os trabalhadores, reproduzindo o que ocorre na produção de modo geral. Nesta, o predomínio feminino ocorre a partir do ensino médio (nove a 11 anos de estudo), no qual 55,1% das matrículas são femininas. No ensino superior, as mulheres ampliaram sua presença na década, atingindo presença superior a 61%.

    Mancini (2005, p.6) também faz uma referência semelhante sobre o aumento

    do nível de escolaridade das mulheres:

    (...) o que permitiu um maior nível delas em cargos gerenciais, a partir dos anos 80. As mulheres apresentam mais escolaridade a partir do ensino médio até o 3º. grau. De acordo com o IBGE (2005), em 1999, 54,2% das mulheres possuem 12 anos de estudo contra 45,8 dos homens. Em 2002, essa proporção, se elevou para 55,4% para as mulheres e reduziu um pouco para os homens (44,6%).

    Os anos de estudos a mais não são proporcionais ao salário, a diferença

    salarial ainda é muito grande entre os gêneros; em média os homens recebem 70%

    a mais do que as mulheres conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatística (IBGE, 2005).

    O Gráfico 1 apresenta o rendimento das pessoas que possuem ocupação

    por sexo.

  • 43

    Gráfico 1 – Rendimento Médio Real do Trabalho das Pessoas Ocupadas, por Gênero, de 2003 a 2011

    Fonte: IBGE (2012)

    Analisando a evolução do rendimento médio de salário entre homens e

    mulheres se observa que:

    a) A média salarial das mulheres em 2003 era de R$ 1.076,04 e em 2011

    foi de 1.343,81, ocorrendo um aumento de 24,9% em um período de 08 anos.

    b) A média salarial dos homens em 2003 era de R$ 1.519,07 e em 2011 foi

    de 1.857,63, ocorrendo um aumento de 22,3% em um período de 08 anos.

    c) Esses números indicam uma evolução de rendimento em relação aos

    homens, durante o período de 2003-2011 de 2,6%.

    Um dos fatores que contribuíram para a mudança de relação entre os

    gêneros foi a diminuição da diferença de escolaridade. Fazendo a equiparação do

    nível escolar entre mulheres e homens, as mulheres passaram a ter as mesmas

    posições que os homens, inclusive nas ciências.

    Esse trabalho não tem a intenção de trazer o homem como algoz e a mulher

    como vítima, pois, na maioria das vezes, e por comodidade, a própria mulher se

    coloca nessa situação, ao invés de arregaçar as mangar e ir à luta.

    O machismo não é primazia do homem. Algumas mulheres tem uma atitude preconceituosa em relação às próprias mulheres acreditando que sejam inferiores aos homens, e que por isso devem se manter

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    em posições subalternas. No ambiente de trabalho esta questão fica mais nítida quando se define hierarquia e posições de mando: as mulheres preferem ser “mandadas” pelos homens e prestam-se a pequenos favores informais para os colegas homens, negando-se a fazer o mesmo para as companheiras de trabalho. O preconceito inspira a submissão e desta forma a mulher demonstra o preconceito que sente por sua própria condição, reproduzindo o comportamento masculino. Esse comportamento se fundamenta principalmente no aprendizado do trabalho doméstico e nas relações familiares. (CANÔAS, 1997, p. 46).

    O papel da mulher na sociedade vem se transformando ao longo dos anos,

    segundo Maluf e Kahhale (2010, p.172).

    A imagem da mulher, antes frágil e necessitada de proteção, atuando na intimidade e presa aos cuidados com a prole, ganha hoje outros contornos, que fazem dela um ser em construção, querendo buscar no seu desenvolvimento o poder de realização de suas potencialidades.

    No ano de 2005, numa parceria entre a Secretaria Especial de Políticas para

    Mulheres (SPM), o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o Conselho Nacional

    de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Educação

    (MEC) foi criado o Programa “Mulher e Ciência” com o objetivo de estimular a

    produção científica e a reflexão acerca das reflexões de gênero, mulheres e

    feminismo no País e o de promover a participação das mulheres no campo das

    ciências e carreiras acadêmicas.

    Nos anos de 2006 e 2009 foram realizados dois eventos nacionais com o

    propósito de debater Gênero e Ciência, dos quais participaram núcleos e grupos de

    pesquisa das universidades. Ao longo do tempo foram incorporados novos

    parceiros: a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

    (SECAD) e o Departamento de Políticas do Ensino Médio (DPEM)/Secretaria de

    Educação Básica (SEB) do MEC, e o Departamento de Ciência e Tecnologia

    (DECIT), do Ministério da Saúde (MS) e a Organização das Nações Unidas − ONU

    Mulheres.

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    2.2.4. Os Principais Obstáculos e as Principais Conquistas Obtidas pela Mulher no Exercício da Profissão Contábil

    a) Obstáculos

    É impossível entender o presente e planejar os passos futuros sem estudar

    o passado. Como já mencionado anteriormente, na história da mulher rumo ao

    mercado de trabalho, houve desigualdade de gênero, de poder, com pouca

    possibilidade de decisão e de autonomia. Foram muitas as diferenças culturais e

    sociais entre os gêneros, mas atualmente, o quadro vem se modificando

    significativamente.

    Para Lombardi (2007):

    A mulher vem se incorporando cada vez mais ao mercado de trabalho. Atualmente, temos mais de 50% das mulheres ativas ao mercado de trabalho, ou seja, elas estão trabalhando ou procurando um emprego, conforme a definição do IBGE. A absorção das mulheres tem se dado com maior ênfase, tradicionalmente, no setor de serviços. Esta extensa e dive