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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
SONIA DE CASSIA SANTOS PRADO
O uso da calculadora e o Pensamento Matemático
Avançado: uma análise a partir das Situações de
Aprendizagem nos Cadernos do Professor de Matemática
da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
SÃO PAULO
2012
2
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
SONIA DE CASSIA SANTOS PRADO
O uso da calculadora e o Pensamento Matemático
Avançado: uma análise a partir das Situações de
Aprendizagem nos Cadernos do Professor de Matemática
da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação da Profª.
Drª. Barbara Lutaif Biachini.
SÃO PAULO
2012
3
Banca Examinadora
_________________________________
_________________________________
_________________________________
4
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial desta dissertação por processos de fotocopiadora ou eletrônicos.
Assinatura: __________________________________ São Paulo, ___ / ___ / _____.
5
Dedico este trabalho à minha avó Juracy (in
memorian), pelo exemplo de força e determinação,
por ser a principal responsável pela minha formação,
e por ter me proporcionado momentos
inesquecíveis.
À minha mãe Zilda, por toda entrega e paciência, à
minha filha Isadora, por toda espera e silêncio e ao
meu amado Reginaldo, por toda firmeza, confiança,
compreensão e amor.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ser meu consolo, minha fortaleza, meu
refúgio e a luz para o meu caminho, guiando-me
todos os dias de minha vida.
À Secretaria da Educação do Estado de São Paulo,
pelo incentivo à pesquisa, promovendo o
desenvolvimento deste trabalho.
À Professora Doutora Barbara Lutaif Bianchini, por
toda paciência, compromisso, dedicação e carinho
para com esta pesquisa.
Às Professoras Doutoras Celina Abar e Odete
Sidericoudes, pelas contribuições valorosas para o
êxito desta pesquisa.
A todos os Professores do Programa de Pós-
-Graduação de Mestrado Acadêmico em Educação
Matemática da PUC-SP, dos quais tive a honra de
receber ensinamentos ímpares para a minha
formação.
A todos os meus colegas de curso, pelos momentos
de estudos e alegrias compartilhados, em especial
João Pereira Viana Filho e Fábio Rodrigues de
Siqueira, por termos, além de um grupo de estudo,
uma grande amizade, que transcenderá os tempos.
A todos os integrantes do Grupo de Pesquisa em
Educação Algébrica, pelas contribuições.
Às minhas amigas, Marilda Palermo, Brigitte Bedin e
Denise Alonso pelas palavras de força e incentivo,
sempre.
Aos meus eternos companheiros, Valéria, Eduardo e
Luciana Ferreira dos Santos e às famílias Ferreira e
Luna por estarem sempre presentes em todos os
7
momentos de minha vida, independentemente das
circunstâncias.
À minha mãe Zilda dos Santos por ser a mãe da
minha filha, nos momentos em que tive que me
ausentar para a realização deste trabalho, sempre
atenciosa aos menores detalhes, para fazer deste
processo o mais confortável possível.
À minha filha Isadora Santos Prado por esperar por
mim pacientemente, sem questionar, sempre com
um sorriso, lembrando-me de que ela continuava ao
meu lado.
Ao meu marido Reginaldo do Prado, que apostou na
minha vitória, sempre com uma palavra de
confiança, não permitindo que esmorecesse,
incentivando-me a chegar do outro lado da ponte e a
superar todos os obstáculos.
Às minhas primas-irmãs Grace e Tânia por
participarem de todas as etapas da minha vida.
À minha família que sempre torceu pelo meu
sucesso.
E por último e não menos importante, para a minha
avó, Juracy de Moraes Santos, responsável pela
pessoa que sou hoje, por uma identidade, por ter me
propiciado um lugar ao Sol.
Muito obrigada!
8
A Matemática apresenta invenções tão sutis que poderão servir não só para satisfazer os curiosos, como também para auxiliar as artes e poupar trabalho aos homens. Descartes
9
RESUMO
O trabalho a seguir apresenta uma pesquisa qualitativa do tipo documental que tem como objetivo investigar a inserção do uso da calculadora nas Situações de Aprendizagens propostas ao Ensino Fundamental II, da rede pública do Estado de São Paulo nos Cadernos do Professor, à luz do Pensamento Matemático Avançado. Para tanto nos orientamos pelos três polos cronológicos da Análise de Conteúdo, pré-analise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação, de forma a investigar as orientações dadas sobre a abordagem realizada a partir das Situações de Aprendizagem propostas no Caderno do Professor de Matemática (2009), distribuído a toda rede pública estadual. A motivação sobre a escolha deste tema se fez porque a utilização da calculadora como recurso para a aprendizagem em matemática, mesmo apresentando a característica facilitadora na investigação de situações-problema e sua utilização prevista nos documentos oficiais que orientam as práticas e o uso de tecnologias no Ensino Fundamental, ainda não é suficiente. Desta forma, buscamos elementos nas ideias do Pensamento Matemático Avançado sobre como um conceito matemático pode ser compreendido pelo aluno, segundo a interação entre os processos mentais das componentes: representação, visualização, generalização, síntese e abstração a partir da utilização da calculadora. Para embasar ainda esta pesquisa, pautamo-nos nas orientações contidas nos documentos oficiais: Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental II (1998), Proposta Curricular de Matemática (2008), Currículo de Matemática (2010), nos Cadernos do Professor de Matemática (2009) e nas pesquisas realizadas acerca da utilização deste recurso pedagógico. Subjetivamente, apresentamos a análise das Situações de Aprendizagens que, em algum momento de seu desenvolvimento sequencial, propuseram a utilização deste recurso pedagógico, observando quais das componentes do Pensamento Matemático Avançado poderiam ser desenvolvidas, nas quais encontramos dentre 64 Situações de Aprendizagem propostas as séries do Ensino Fundamental II, 8 atividades que, ao longo de seu desenvolvimento, solicitaram a utilização deste recurso em alguma seção, e se as referidas atividades promoviam o desenvolvimento das componentes do Pensamento Matemático Avançado: representação, visualização, generalização, síntese e abstração.
Palavras-Chave: Educação Algébrica; Calculadora; Pensamento Matemático
Avançado; Caderno do Professor de Matemática.
10
ABSTRACT
The aim of this documentary qualitative research is to investigate the insertion of the use of the calculator in “Learning Situations” proposed to students from Ensino Fundamental II (from 5th to 9 th grade), from the São Paulo State public school in “Teacher’s Notebooks”, using the Advanced Mathematical Thinking. In order to do so, we used the three main chronological points from Content Analysis, pre-analysis, exploring the material and treating the results, inference and interpretation, to investigate the given orientations about the approach from the “Learning Situations” from the “Mathematics Teacher’s Notebooks” (2009), distributed to all the state’s teaching public network. The motivation to choose this theme has come from the fact that the usage of calculators as a resource to learning Maths is still not enough, even though it is known that they help to investigate problem-situations. The usage of calculators is motivated in the official documents that guide the technologies in Ensino Fundamental II. Thus, we have searched elements in ideas of Advanced Mathematical Thinking on how a Mathematical concept can be understood by the student, according to the interaction of the mental processes of the components: representation, visualization, generalization, synthesis and abstraction from the use of the calculator. To reinforce the grounds for this research, we have followed the orientations from official documents: Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental II (1998), Proposta Curricular de Matemática (2008), Currículo de Matemática (2010), and “Mathematics Teacher’s Notebooks” (2009) and in researches made about the utilization of this pedagogical tool. Subjectively, we present the analysis of “Learning Situations”, by using previously established categories that, in some point of its sequential development, proposed the utilization of this pedagogical resource, seeing which of the components of Advanced Mathematical Thinking could be developed. We have found, among 64 “Learning Situations” proposed to the grades from Ensino Fundamental II, 8 activities that, along by its development, asked to use this resource in some section, and the representation is in 8 activities, the visualization is in 6 activities, the generalization is in 5 activities, the synthesis is in 8 activities and the abstraction is in 7 activities.
Keywords: Algebraic Education; Calculator; Advanced Mathematical Thinking;
Mathematics Teacher’s Notebooks
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Conteúdos do 1º Bimestre da Proposta Curricular-Ciclo II ......................... 64
Figura 2: Conteúdos do Currículo de Matemática 6ª série/7º ano do Ensino Fundamental II ............................................................................................ 67
Figura 3: Capas dos Cadernos do Professor de Matemática .................................... 68
Figura 4: Ficha do Caderno do Professor do 6º ano ................................................. 69
Figura 5: Conteúdos de Matemática por série/bimestre do Ensino Fundamental ..... 70
Figura 6: Ficha de Situação de Aprendizagem 1 do 1º bimestre do 6º ano .............. 72
Figura 7: Ficha de Conteúdos de Matemática por série/bimestre do Ensino Fundamental ............................................................................................... 73
Figura 8: Ficha da Situação de Aprendizagem 1 do 2º bimestre do 6º ano .............. 77
Figura 9: Soroban ...................................................................................................... 79
Figura 10: Representação numérica com o uso do Soroban .................................... 79
Figura 11: Construindo um Soroban ......................................................................... 80
Figura 12: Leitura do Soroban – I Parte .................................................................... 81
Figura 13: Leitura do Soroban – II Parte ................................................................... 82
Figura 14: Representação de números decimais com a utilização do Soroban – I Parte ......................................................................................................... 83
Figura 15: Representação de números decimais com a utilização do Soroban – II Parte ......................................................................................................... 84
Figura 16: Representação de números decimais com transformações utilizando o Soroban .................................................................................................... 85
Figura 17: Ficha da Situação de Aprendizagem 3: Polígonos e Ladrilhamento do Plano ........................................................................................................ 88
Figura 18: Polígonos ................................................................................................. 89
Figura 19: Decomposição dos Polígonos .................................................................. 90
Figura 20: Heptágono ................................................................................................ 91
Figura 21: Tabela de polígonos ................................................................................. 91
Figura 22: Tabela dos polígonos regulares ............................................................... 92
Figura 23: Atividade 3 ............................................................................................... 92
Figura 24: Atividade Experimental ............................................................................. 93
Figura 25: Anexo da atividade experimental ............................................................. 93
Figura 26: Cálculo dos divisores de 360º .................................................................. 94
Figura 27: Tabela dos divisores de 360º ................................................................... 95
Figura 28: Ladrilhamento de hexágonos ................................................................... 95
12
Figura 29: Ficha da Situação de Aprendizagem 2 do 4º bimestre do7º ano ........... 100
Figura 30: Pesquisa Individual ................................................................................ 101
Figura 31: Fórmulas na Geometria .......................................................................... 102
Figura 32:Cálculo da Área do triângulo ................................................................... 103
Figura 33: Cálculo da Média Aritmética ................................................................... 103
Figura 34: Pesquisa individual ................................................................................. 104
Figura 35: Leitura e análise: Para onde vai o dinheiro do seu imposto de renda? .. 104
Figura 36: Leitura e análise ..................................................................................... 105
Figura 37: Atividade 7 da Situação de Aprendizagem 2 .......................................... 106
Figura 38: Atividade 8 ............................................................................................. 107
Figura 39: Atividade 9 – I Parte ............................................................................... 108
Figura 40: Atividade 9 – II Parte .............................................................................. 109
Figura 41: Ficha da Situação de Aprendizagem 3 ................................................... 111
Figura 42: Leitura e análise ..................................................................................... 112
Figura 43: Você aprendeu? ..................................................................................... 113
Figura 44: Pesquisa Individual ................................................................................ 114
Figura 45: Lição de casa ......................................................................................... 114
Figura 46: Notação Científica – I Parte ................................................................... 115
Figura 47: Notação Científica – II Parte .................................................................. 115
Figura 48: Leitura e Análise do texto ....................................................................... 116
Figura 49:Você aprendeu? Número googol............................................................. 116
Figura 50: Usando a Calculadora – I Parte ............................................................. 117
Figura 51: Usando a Calculadora – II Parte ............................................................ 118
Figura 52: Você Aprendeu? – I Parte ...................................................................... 119
Figura 53: Você Aprendeu? – II Parte ..................................................................... 120
Figura 54: Você Aprendeu? – III Parte .................................................................... 120
Figura 55: Pesquisa Individual – I Parte .................................................................. 121
Figura 56: Pesquisa individual – II Parte ................................................................. 121
Figura 57: Lição de casa ......................................................................................... 122
Figura 58: Situação de Aprendizagem 4, 1º bimestre, 8º ano ................................. 125
Figura 59:Leitura e Análise do texto- I Parte ........................................................... 126
Figura 60: Leitura e Análise do texto II .................................................................... 127
Figura 61: Bits, bytes e potência de base 2 ............................................................ 128
Figura 62: Representação das informações armazenadas ..................................... 129
Figura 63: Você aprendeu? Leitura dos capacitores I ............................................. 131
13
Figura 64: você aprendeu? Leitura dos capacitores II ............................................. 132
Figura 65: Múltiplos de byte .................................................................................... 132
Figura 66: Múltiplos do byte II ................................................................................. 133
Figura 67: Quando um mebibyte é um megabyte? ................................................. 133
Figura 68: Usando potências para contagem .......................................................... 134
Figura 69:Potência de base 2 .................................................................................. 135
Figura 70: Gráfico da relação entre expoente e quantidade de algarismos da potência. ................................................................................................. 136
Figura 71: Utilização da notação E + n .................................................................... 137
Figura 72: Lição de casa item 6 .............................................................................. 138
Figura 73: Situação de Aprendizagem 1 do 9º ano ................................................. 142
Figura 74: Perspectiva Histórica I ............................................................................ 143
Figura 75: Perspectiva histórica II ........................................................................... 144
Figura 76: Perspectiva histórica III. Você aprendeu? .............................................. 145
Figura 77: Cálculo de ππππ ao longo da história – I Parte ............................................. 147
Figura 78: Cálculo de ππππ ao longo da história- II Parte ............................................. 147
Figura 79: Cálculo do número ππππ ao longo da História – III Parte ............................. 148
Figura 80: Cálculo do número ππππ ao longo da História – IV Parte ............................. 149
Figura 81: Método de Arquimedes para a descoberta do valor de ππππ ....................... 149
Figura 82: Representação do número ππππ - I Parte .................................................... 150
Figura 83: Representação do número ππππ - II Parte ................................................... 151
Figura 84: Frequências absoluta e relativa dos algarismos de ππππ ............................. 152
Figura 85: Razão π no cálculo do perímetro da área do círculo .............................. 155
Figura 86: Razão ππππ no cálculo do perímetro e da área do círculo – I Parte ............ 156
Figura 87: Razão ππππ no cálculo do perímetro e da área do círculo – II Parte ........... 156
Figura 88: Leitura e análise do texto ....................................................................... 157
Figura 89: Você aprendeu? ..................................................................................... 158
Figura 90: Lição de casa ......................................................................................... 158
Figura 91: Situação de Aprendizagem 4 ................................................................. 161
Figura 92: Leitura e Analise de Texto: O ππππ e a agulha de Buffon – I Parte ............. 162
Figura 93: Leitura e Análise de Texto: O ππππ e a agulha de Buffon – II Parte ............ 163
Figura 94: Leitura e Análise de Texto: O ππππ e a agulha de Buffon – III Parte............ 164
Figura 95: Leitura e Análise de Texto: O ππππ e a agulha de Buffon – IV Parte ........... 164
14
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características que diferenciam a Análise de Conteúdo da Análise
Documental. ............................................................................................. 37
Tabela 2: Componentes do P. M.A ........................................................................... 87
Tabela 3: Divisão exata de 360º por divisores exatos. .............................................. 97
Tabela 4: Componentes do P. M. A. ......................................................................... 98
Tabela 5: Componentes do P. M. A. ....................................................................... 110
Tabela 6: Componentes do P. M. A ........................................................................ 125
Tabela 7: Representação na potência de base 2 .................................................... 130
Tabela 8: Representação na potência de base 2 do número 8 ............................... 130
Tabela 9: Componentes do P. M. A. ....................................................................... 141
Tabela 10: Componentes do P. M. A. ..................................................................... 154
Tabela 11: Componentes do P. M. A. ..................................................................... 160
Tabela 12: Componentes do P. M. A. ..................................................................... 165
Tabela 13: Solicitação do uso da calculadora ......................................................... 166
Tabela 14: Componentes do P. M. A. nas Situações de Aprendizagens analisadas ................................................................................................................................ 167
15
LISTA DE ANEXOS
Tabela 15: Componentes do Pensamento Matemático por seção na Situação de Aprendizagem 1: .................................................................................... 179
Tabela 16: Componentes do Pensamento Matemático por seção na Situação de Aprendizagem 3: 7º ano – volume 2 ....................................................... 180
Tabela 17: Componentes do Pensamento Matemático por seção na Situação de Aprendizagem 2 ..................................................................................... 181
Tabela 18: Componentes do Pensamento Matemático por seção na Situação de Aprendizagem 3: .................................................................................... 182
Tabela 19: Componentes do Pensamento Matemático por seção na Situação de Aprendizagem 4: .................................................................................... 183
Tabela 20: Componentes do Pensamento Matemático por seção na Situação de Aprendizagem 1: .................................................................................... 184
Tabela 21: Componentes do Pensamento Matemático por seção na Situação de Aprendizagem 2: .................................................................................... 185
Tabela 22: Componentes do Pensamento Matemático por seção na Situação de Aprendizagem 4: .................................................................................... 186
16
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 18
OBJETIVO E QUESTÃO DE PESQUISA ................................................................. 23
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 29
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ......................................................... 29
2.1 O Pensamento Matemático Avançado ................................................ 29
2.2 Metodologia ......................................................................................... 34
2.2.1 Análise de Conteúdo .................................................................... 34
2.2.2 Campo .......................................................................................... 35
2.2.3 Inferência ...................................................................................... 36
2.2.4 A análise de Conteúdo e a Análise Documental ........................... 37
2.2.5 O Método ...................................................................................... 38
2.2.5.1 A Pré-Análise ...................................................................... 38
2.2.5.2 A exploração do material ..................................................... 39
2.2.5.3 Tratamento dos resultados e interpretação ........................ 40
2.3 Procedimentos Metodológicos ............................................................ 40
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 42
PRÉ-ANÁLISE DOCUMENTAL ................................................................................ 42
3.1 Levantamento Bibliográfico ................................................................. 42
3.2 Pesquisas sobre a calculadora realizadas pelo GPEA ........................ 52
3.3 Aspectos Curriculares do uso da calculadora no Ensino
Fundamental..................................................................................................55
3.3.1 Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental II .... 57
3.3.2 A Proposta Curricular do Estado de São Paulo ............................ 62
3.3.3 O Currículo ................................................................................... 65
3.3.3.1 O Currículo na área de Matemática .................................... 66
3.4 O Caderno do Professor de Matemática (2009) .................................. 68
17
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................. 75
ANÁLISE DO CORPUS DA PESQUISA .................................................................. 75
4.1 As Situações de Aprendizagem, Calculadora e o Pensamento
Matemático Avançado .......................................................................... 76
4.1.1 Caderno do Professor (2009) 5ª série/6º ano- Volume 2 .............. 77
Situação de Aprendizagem 1 ....................................................... 77
4.1.2 Caderno do Professor (2009) – 6ª série/7º ano – Volume 2 ......... 87
Situação de Aprendizagem 3 ....................................................... 87
4.1.3 Caderno do Professor (2009) – 6ª série/7º ano - volume 4 .......... 99
Situação de Aprendizagem 2 ....................................................... 99
4.1.4 Caderno do Professor (2009) – 7ª série/8º ano – Volume 1 ....... 110
Situação de Aprendizagem 3 ..................................................... 110
4.1.5 Caderno do Professor (2009) – 7ª série/8º ano – Volume 1 ...... 125
Situação de Aprendizagem 4 ..................................................... 125
4.1.6 Caderno do Professor (2009) – 8ª série/9º ano – Volume 4 ....... 141
Situação de Aprendizagem 1 ..................................................... 141
4.1.7 Caderno do Professor (2009) – 8ª série/9º ano – Volume 4 ....... 154
Situação de Aprendizagem 2 ..................................................... 154
4.1.8 Caderno do Professor (2009) – 8ª série/9º ano – Volume 4 ....... 161
Situação de Aprendizagem 4 ..................................................... 161
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 170
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 175
18
INTRODUÇÃO
Durante minha trajetória na rede pública do Estado de São Paulo, atuando
nos Ensinos Fundamental e Médio desde 1995, discussões sobre como implementar
a prática em sala de aula e quais recursos poderiam auxiliar no processo de ensino
e aprendizagem em Matemática eram assuntos que permeavam as H.T.P.C. (hora
de trabalho pedagógico coordenado).Porém quando o assunto em pauta era a
utilização da calculadora nas aulas de Matemática, as opiniões se dividiam,
visivelmente, entre professores de maneira geral.A utilização desse recurso era mais
bem aceita nas aulas de Física, devido à carga horária inferior à das aulas de
matemática e o volume de cálculos envolvidos nas situações-problema, nos quais os
alunos deviam deter a sua atenção, por conta do programa a ser cumprido.
Com a nova LDB 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases Nacionais) sobre a
Educação Básica, estabeleceu-se a continuidade na formação do professor em
diversos níveis. Logo, capacitações para o aperfeiçoamento do professor foram
promovidas, a partir da parceria entre a Secretaria da Educação do Estado e
algumas instituições superiores.
Formação com tal finalidade terá por fundamentos, segundo a Lei, “a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante capacitação em serviço” e “o aproveitamento da formação e experiências anteriores”, adquiridas, estas, não só em instituições de ensino, mas também em outras atividades”, que não de ensino. (CARVALHO, 1998, p. 84)
Em 1997, pude participar do PEC (Programa de Educação Continuada),
promovido pela Secretaria da Educação, na Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, composto por encontros semanais com os professores de Matemática, nos
quais temas foram propostos, e discutidos assuntos sobre a prática do professor e
novas possibilidades de abordagens foram levadas e experimentadas em sala de
aula. Em um dos encontros, o assunto sobre as novas tecnologias foi abordado,
dentre elas, a utilização da calculadora e a possibilidade de sua utilização em
classe. Pautada a partir da apresentação de problemas, foi esta, provavelmente, a
primeira vez que o assunto foi discutido de maneira concreta, ou seja, com
aplicações em sala e apresentação de resultados. Contudo, isso não foi suficiente
para convencer os professores presentes nessa formação continuada das
19
possibilidades de trabalho que poderiam ser desenvolvidas a partir da sua utilização.
Infelizmente esse trabalho se perdeu por conta da mudança de capacitador, mas o
assunto me inquietou.
Continuei participando dos cursos promovidos e sempre o assunto TIC
(Tecnologia da Informação e Comunicação) era levantado, porém a atenção estava
mais voltada para a utilização do computador, possivelmente por conta das primeiras
salas de informática implantadas na rede pública estadual e falta de profissional para
a execução do projeto destinado à Sala de Informática (SAI).
A utilização da calculadora em nossa prática acontecia de maneira acanhada,
seu uso se restringia às aulas de física, ou em aulas de matemática que estavam
vinculadas à apresentação de resultados em alguma capacitação, da qual estava
participando, ou, ainda, nas aulas que envolviam matemática financeira. Mesmo
assim, o assunto me incomodava, pois presenciava alunos em tentativa da
resolução de problemas que não se enquadravam nas situações citadas, usando a
ferramenta, porém não alcançando êxito, pois desconheciam alguns recursos,
impedindo-os de avançar em seus cálculos, ou usando-as apenas em cálculos
simples.
No ano de 2006, a Secretaria da Educação juntamente com a PUC-SP
promoveu um curso de especialização PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), para professores de Matemática, em que pude, mais uma vez,
me inteirar e desenvolver uma pesquisa, agora envolvendo de maneira mais
profunda as TIC.
Em 2008, por conta dos resultados insatisfatórios nas avaliações externas
SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) e
SAEB (Sistema Nacional da Educação Básica) aplicadas em 2007, a Secretaria
Estadual de Educação iniciou a reestruturação curricular, disponibilizando a toda a
comunidade, a nova Proposta Curricular, que propunha uma base comum para a
Educação Básica, composta por materiais complementares: apostilas que foram
nomeadas de Cadernos nas versões para alunos, professores e gestores, que
indicavam os conteúdos mínimos a serem trabalhados ao longo do ano letivo,
divididos em quatro bimestres.
A adesão a esse material, bem como a sua utilização se apresentou de
maneira dividida: ou não era utilizada ou era usada de maneira exclusiva deixando
20
de lado outros tipos de recursos didáticos. Essa postura radical, assim como a
divergência entre o uso da calculadora, passou a inquietar-me um pouco mais.
Após a experiência do curso de especialização e incentivo de ex-professores
do curso, em relação à continuidade da nossa formação, ingressei no Programa de
Pós-Graduação no Programa de Mestrado Acadêmico da Pontifícia Universidade
Católica em 2010, integrando-me ao quadro do GPEA (Grupo de Pesquisa de
Educação Algébrica) no qual expus meu desejo de realizar uma pesquisa
envolvendo tecnologia.
Posteriormente aos relatos das pesquisas de colegas e de nos inteirarmos
sobre as pesquisas desenvolvidas pelo grupo em anos anteriores e, ainda, por
sugestão de uma investigação que envolvesse a utilização da calculadora a partir do
que abordavam os livros didáticos, uma vez que as pesquisas sobre tecnologia
estão mais focadas na utilização do computador em sala de aula, um colega de
grupo João Pereira Viana Filho, também professor da rede Estadual sugeriu que ao
invés da investigação na perspectiva do livro didático, que se trabalhasse o material
distribuído a toda a rede paulista de ensino, por se tratar de um instrumento que
causa divergência na opinião dos professores, e que necessita de um estudo mais
detalhado.
Assim, iniciei a investigação levantando os dados sobre a solicitação do uso
da calculadora nos Cadernos utilizados pelos alunos nos Ensinos Fundamental II e
Médio, pautando-me nos comentários realizados no Caderno do Professor sobre tal
assunto.
Iniciada a pesquisa, optamos como referencial metodológico pelas etapas da
Análise de Conteúdo, segundo Bardin (1991), pré-análise, exploração do material e
interpretação e tratamento dos resultados com a finalidade de realizar uma diferente
interpretação do material, buscando romper com o senso comum sobre ele, e por se
tratar de um recurso distribuído em grande escala.
Participando das disciplinas oferecidas pelo programa, pude me aprofundar
em algumas teorias da Educação Matemática, dentre elas, a do Pensamento
Matemático Avançado (PMA) segundo Dreyfus (1991), no desenvolvimento da
produção de um artigo para a disciplina de Didática II.
Interessei-me pelas ideias teóricas de Dreyfus, devido ao seu enfoque quanto
ao desenvolvimento cognitivo, que se estabelece a partir dos processos que
envolvem a compreensão, e que podem propiciar ao aluno a passagem do
21
pensamento matemático em um nível elementar, ou seja, em que o sujeito ainda não
apresenta elementos suficientes para a apreensão de um novo conceito, para o
Pensamento Matemático Avançado, quando desenvolvidas adequadamente as suas
componentes. Destacaremos, para esta pesquisa, a representação, a visualização, e
generalização, a síntese, a abstração, ideias que serão desenvolvidas com maior
profundidade no Capítulo 2.
Uma das diferentes abordagens para estimular o desenvolvimento dessa
compreensão é a utilização de problemas e das novas tecnologias para auxiliar o
processo, uma vez que os sujeitos não apresentam o mesmo tipo de estrutura
mental para esta compreensão; alguns precisam de situações concretas, outros
podem apenas utilizar-se da estrutura visual, para que se consigam incorporar o
conhecimento adquirido, até então avançado, em demais situações, quando se torna
elementar, ou seja, quando o conceito for formalizado.
Quando os alunos aprendem com compreensão eles são capazes de aplicar esses conhecimentos para aprender novos tópicos e para resolver novos problemas. Este tipo de aprendizagem torna-se fundamental uma vez que estamos a atravessar uma era em que as mudanças tecnológicas são tão rápidas que não nos é possível antecipar as habilidades que os alunos precisam para se tornarem cidadãos competentes. (DOMINGOS, 2001, p. 1)
Para Dreyfus (1991, p. 29):
Utilizando o ambiente de aprendizagem computacional, muitas relações normalmente implícitas, por exemplo, entre as representações, diferentes para o mesmo conceito podem se tornar explicitas. Esta explicitação contribui para o reconhecimento dos estudantes de tais relações e da emergência de ideias relacionadas, em síntese para a formação de conceitos.
Dessa forma, para apresentar os frutos desta investigação, apresento no
Capítulo 1, o objetivo e a questão da pesquisa, que procura enfatizar a importância
desta para a Educação Matemática.
No Capítulo 2, fundamento a pesquisa a partir das ideias teóricas do
Pensamento Matemático Avançado conforme Dreyfus (1991) e a metodologia a
partir dos polos cronológicos da Análise de Conteúdo segundo Bardin (1991).
Ainda para fundamentá-la, apresento no Capítulo 3, os elementos que
constituirão a Pré-Análise, a revisão bibliográfica, com foco na utilização da
calculadora como recurso para mediar a aprendizagem, os aspectos curriculares
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sobre a abordagem da utilização da calculadora, a partir dos Parâmetros
Curriculares do Ensino Fundamental II (1998), a Proposta Curricular (2008), o
Currículo de Matemática e suas Tecnologias, da rede estadual pública (2010),
Caderno do Professor de Matemática (2009).
No Capítulo 4, realizo a análise do corpus da pesquisa vislumbrando as
Situações de Aprendizagens que solicitam a inserção do uso da calculadora nas
propostas ao Ensino Fundamental II nos Cadernos do Professor, à luz do
Pensamento Matemático Avançado, destacando no tratamento dos resultados, a
cada Situação de Aprendizagem, quais das suas componentes são contempladas
nos desenvolvimentos das atividades.
No Capítulo 5, estão as considerações finais a respeito desta pesquisa,
enfatizando quais as suas contribuições para o nosso crescimento profissional, e
para toda a comunidade da Educação Matemática.
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CAPÍTULO 1
OBJETIVO E QUESTÃO DE PESQUISA
Esta pesquisa tem como objetivo investigar a inserção do uso da calculadora
nas Situações de Aprendizagem propostas ao Ensino Fundamental II, da Rede
Pública do Estado de São Paulo nos Cadernos do Professor, à luz do Pensamento
Matemático Avançado.
A utilização da calculadora como recurso pedagógico para o processo de
ensino e aprendizagem no Ensino Fundamental II é um assunto que divide a opinião
dos atores escolares (pais, alunos e professores), de forma geral. Apesar de esta
tecnologia estar tão presente na vida de todos, seu uso ainda é criticado,
possivelmente, por conta do sistema de ensino do qual advimos, em que a
expressão do saber matemático estava contida numa série de fórmulas para se
decorar e o domínio sobre as extensas listas de exercícios que requeriam
procedimentos ainda mais extensos. Assim, essa prática quanto à aquisição do
conhecimento por intermédio da sua utilização nas aulas de Matemática, ainda não
é desenvolvida de maneira suficiente, em vista da divisão de opiniões dos
envolvidos a este processo.
Os professores poderão inovar, preocupando-se em estimular a imaginação: promover o desenvolvimento de ideias, encorajar a comunicação e fornecer o apoio perspicaz e paciente de que todos precisam. Entretanto, podemos facilmente perceber, através da observação da realidade em nossas escolas, que muitos professores não concordam com essa nova ordem educacional, pois requer uma revisão em suas práticas pedagógicas. (RÚBIO, 2003, p.39)
SOUSA, A. F (2009) confirma este preconceito quanto à utilização da
calculadora:
Entretanto, ainda observa-se uma grande resistência por meio dos professores em relação ao uso da calculadora em sala de aula, surgindo assim vários argumentos contra, como: acomodação mental, pois, todo o cálculo aritmético pode ser feito na calculadora, trazendo assim dependência da máquina e inibição da aprendizagem; as calculadoras não são usadas em concursos e vestibulares e outras afirmações. (p. 4)
24
Consideramos, ainda, as ideias de Santos, André e Giritana (2004) que
corroboram este discurso sobre a resistência expressa pelos licenciandos em
Matemática quanto à sua utilização:
Durante muitos anos o uso das calculadoras no ensino médio e principalmente no ensino fundamental foi considerado por muitos professores como inadequado. Para estes, a calculadora faz com que o aluno deixe de raciocinar, tornando-se preguiçoso, deixe de desenvolver mentalmente operações simples ou ainda deixe de aprender a realizar manualmente operações que a calculadora executa rapidamente. (p. 1)
A partir da reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) em 1996, um novo panorama foi apresentado para a Educação Básica no
Estado de São Paulo. Documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares
Nacionais dos Ensinos Fundamental e Médio, passaram a orientar as práticas de
maneira a priorizar o desenvolvimento global dos alunos, abarcando todas as
disciplinas componentes do Currículo.
A Matemática, abordada no Ensino Fundamental II, visa desenvolver no
indivíduo a potencialidade despertada a partir dos conhecimentos intelectual, social
e cognitivo, de maneira que possa utilizá-los, posteriormente, em situações diversas
de sua vida. Essa condição é estabelecida sobre uma perspectiva reflexiva que deve
mediar o processo de ensino de aprendizagem, contemplando vários aspectos da
disciplina. Observa-se que o desenvolvimento de seu contexto continua atrelado a
uma prática clássica e tradicional, preservando uma estrutura lógico-matemática
como elemento fundamental para a sua aquisição.
A utilização de recursos didáticos é um importante aliado para a
implementação dessa prática, na busca pelo desenvolvimento da Matemática, nos
diferentes segmentos sociais.
Um dos recursos didáticos que podem acarretar essa mudança é a
calculadora, pois possibilita a elaboração de procedimentos, execução de
estratégias, comparação de resultados e validação dos procedimentos realizados
pelo aluno. O interesse pelo uso dos recursos tecnológicos, como instrumentos que
podem auxiliar na realização de alguns trabalhos, sem anular o esforço da atividade
compreensiva. (BRASIL, 1998, p. 75)
Em sua pesquisa, Melo (2008) evidenciou a resistência na utilização desse
recurso pedagógico em sala de aula. As alegações apresentadas pelos professores
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que se colocam contra o seu uso são baseadas em ideias distorcidas sobre sua
proposta, seus argumentos são pautados na “preguiça” que o aluno pode expressar
na realização de cálculos que dispensaria fazer com seu uso, na utilização mecânica
do recurso, na falta de raciocínio e confiabilidade nos resultados expressos pela
máquina.
Segundo a investigação de Silva (1989), sua utilização é condenada por uma
série de argumentos apresentados pelos professores quanto à execução de cálculos
– coluna cervical da matemática –, alegando que os alunos se tornam desatentos,
displicentes no momento da abordagem dos cálculos, já que creem no que a
máquina calculará, que deixarão de raciocinar, ou que resolverão os cálculos de
maneira mecânica.
Como consequência dessa postura, o tratamento dado à Matemática por
esses professores mantém enraizada a estrutura de como se determina o cálculo,
em que se valida a resposta alcançada, deixando-se em segundo plano a expressão
do raciocínio e a criatividade, quanto ao caminho seguido para a resolução, pois,
muitas vezes, esses cálculos são expressos como uma receita pronta e acabada,
sem vislumbrar as possibilidades que tal recurso apresenta, enquanto facilitador na
abordagem de outros contextos, haja vista a sua presença em vários segmentos
sociais, bem como profissionais.
A utilização da calculadora na realização de cálculos com estimativas e
arredondamentos, em percentuais, na acomodação de números com representação
numérica decimal na realização dos cálculos, nos cálculos com raízes não exatas,
assim como no que diz respeito à conversão de unidades em estatística, ocorrências
possíveis em cálculos probabilísticos e cálculos financeiros com juros simples e
compostos são alguns exemplos que ilustram como esse recurso pedagógico
acompanha a evolução do mundo.
Devemos lembrar que a calculadora apresenta versões das mais simples às
mais sofisticadas, adequando-se a diferentes necessidades, como as calculadoras
científicas, financeiras e gráficas programáveis, sendo que algumas dessas versões
podem ser encontradas em aparelhos portáteis como o celular.
Os PCNEF (BRASIL, 1998, p.27) discutem a formação básica do aluno como
cidadão, relatando a importância de se ter recursos, para uma participação efetiva e
ágil na resolução de problemas sociais diversos, cuja utilização facilitará o acesso ao
conhecimento e às posições de trabalho, de maneira que não dissocie o papel da
26
escola daquele da sociedade e, sim, que conduza e envolva o aluno de forma a
utilizar os conhecimentos adquiridos e desenvolvidos nos bancos escolares.
Uma exigência que o mundo do trabalho, frente ao desenvolvimento
tecnológico social faz, é que seus trabalhadores sejam versáteis e criativos, capazes
de compreender o processo de trabalho como um todo, e utilizar-se de diferentes
recursos tecnológicos para resolver problemas de diferentes linguagens.
O fato de a utilização da calculadora estar previsto pelos PCNEF (1998) não
conquistou a adesão de muitos profissionais, sendo ainda um obstáculo e um
assunto controverso, discutido entre os pesquisadores da Educação Matemática e
os demais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, ao longo do
estabelecimento dessa nova Lei de Diretrizes e Bases nacionais para a Educação
Básica.
Os aspectos sobre a utilização ou não da calculadora, nos inquietava e
interferiam diretamente sobre a nossa atuação. Quando o material era solicitado aos
alunos, o pedido precisava ser devidamente justificado e esclarecido junto aos pais,
pois alguns não permitiam que os filhos levassem calculadora às aulas de
Matemática. No geral, em nossas aulas, a utilização estava atrelada aos cursos de
formação continuada, do qual participávamos, de forma a apresentar ao final dos
módulos os resultados das atividades ali solicitadas. Mesmo com as orientações
dadas pelos PCNEF (1998) e PCNEM (1998), já com novos complementos PCN+
(2002) dos Ensinos Fundamental e Médio e as Orientações Curriculares para o
Ensino Médio (2006) a base comum de conhecimento sofria alterações, de acordo
com a região de procedência do aluno, pois cada escola se responsabilizava por
delinear o seu perfil, de acordo com o da sua comunidade, em seus Projetos
Políticos Pedagógicos, causando um desencontro de conteúdos, quando o aluno
necessitava mudar de escola.
Em 2008, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEESP), iniciou
o processo de reorganização curricular com o intuito de estabelecer uma base
comum de conhecimentos e habilidades, a partir dos conteúdos aos quais os alunos
deveriam ter acesso durante o Ensino Fundamental. No ano de 2010 essa
reorganização que era denominada Proposta Curricular, constituiu o Currículo oficial
das escolas Estaduais da Rede Pública. Uma das iniciativas tomadas pela SEESP
para a implantação desse Currículo foi a distribuição de material complementar no
27
formato de Cadernos para gestor, professor e aluno, bem como esclarecimentos a
toda comunidade escolar e projetos paralelos à sua implantação.
A inserção desse material nas aulas, tal qual o uso da calculadora, causou
polêmica na comunidade escolar, com a sua utilização questionada a todo tempo.
Discursos como falta da liberdade de cátedra do professor, imposição da ordem dos
conteúdos a serem ministrados, materiais com abordagem insuficiente, ou sua
utilização exclusiva, norteavam as discussões semanais, estabelecendo, mais uma
vez, a divisão entre os docentes, ainda que esclarecido o caráter complementar
desse material, aliado aos demais recursos pedagógicos de que o professor
dispunha.
Assim, mais uma vez, nossa prática sofreu indagações e inclinações sobre o
motivo pelo qual se estabelecia tanta controvérsia em torno dessa nova proposta,
que apresentava conteúdos conhecidos, porém com uma abordagem diferente sobre
os assuntos a serem estudados.
Ingressando no curso de Mestrado Acadêmico na Pontifícia Universidade
Católica, pudemos apresentar os resultados de nossa formação continuada, no
trabalho com TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) e o resultado de
nossas experiências ao Grupo de Pesquisa de Educação Algébrica (GPEA) para o
qual fomos encaminhadas, devido a um de seus projetos, intitulado Educação
Algébrica e o uso de Tecnologia da linha de pesquisa: Tecnologia da Informação e
Educação Matemática.
Em seu projeto o GPEA tem como questão norteadora: Qual a álgebra a ser
ensinada em cursos de formação de professores de Matemática? E o que busca
fundamentar as suas pesquisas, a partir das mudanças que vêm afetando a
Educação Matemática, entre elas o rápido desenvolvimento da tecnologia, por ter
influência sobre outras áreas do conhecimento?.
O uso recente de computadores e calculadoras no ensino levanta questões sobre as contribuições das novas tecnologias para o ensino e aprendizagem de matemática, para não mencionar a possibilidade de que essa introdução gere por si só novos problemas de compreensão e raciocínio. (COELHO, MACHADO, MARANHÃO, 2003, p.2)
Na descrição de seu projeto, o GPEA ainda aponta o que revelam as
pesquisas sobre a educação algébrica e a incorporação de tecnologias:
28
A revolução tecnológica proporciona ricos elementos para ensinar e oferece novas possibilidades para a aprendizagem. Existem hoje computadores e calculadoras, acessíveis a estudantes, que realizam cálculos simbólicos, o que devem provocar mudanças de longo alcance nos currículos de matemática – em especial o de álgebra- e no seu ensino. (COELHO, MACHADO, MARANHÃO, 2003, p.4)
Foi utilizada a Análise de Conteúdo de Bardin (1991) como referencial
metodológico por se tratar de um veículo de comunicação em massa, ou seja, para
toda Rede Estadual de Ensino.
Após os primeiros estudos sobre referências teóricas de diversos autores no
decorrer do curso, optamos pelas ideias de Dreyfus (1991) sobre o desenvolvimento
da compreensão de um contexto na mente do aluno intitulado como Pensamento
Matemático Avançado que indicaremos como PMA.
A incorporação da calculadora como recurso didático na resolução de
situações-problema torna-se relevante, devido às potencialidades cognitivas que
podem ser desenvolvidas no aluno, no processo de aprendizagem, mediante seu
uso: agilidade na realização dos cálculos, verificação de acertos ou erros, criação de
estratégias para a resolução, conjecturas, experiência e investigação, uma vez que
se explorará o contexto no qual a situação está envolvida e não somente na técnica.
Pensando ainda no desenvolvimento cognitivo a partir da resolução de
problemas, buscamos vislumbrar nas Situações de Aprendizagem propostas no
Caderno do Professor de acordo com as orientações dada a seguinte questão de
pesquisa:
Que Situações de Aprendizagem, para as quais se sugere a inserção da
calculadora no Caderno do Professor, podem promover no aluno desenvolvimento
do Pensamento Matemático Avançado?
29
CAPÍTULO 2
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
Neste capítulo apresentamos as ideias teórico-metodológicas, que
fundamentam esta investigação.
2.1 O Pensamento Matemático Avançado
Para Dreyfus (1991), a forma sob a qual pode ser concebida a compreensão
na mente do aluno, é estruturada em uma sequência de atividades, na qual
acontece a interação entre os processos mentais e suas componentes: representar,
visualizar, generalizar, classificar, induzir, analisar, sintetizar, abstrair ou formalizar
de maneira intrincada, para que se estabeleça a compreensão na aprendizagem.
A interação entre essas diferentes componentes é denominada Pensamento
Matemático Avançado e sinalizam a forma como ocorre esse processo da
compreensão na mente do aluno, reunindo os aspectos psicológicos aos
matemáticos. Entretanto, é necessária a inclusão de tópicos que permitam aos
estudantes elevarem sua compreensão a um nível mais complexo de resolução, e
que possibilitem, a partir da abstração, formalizar conceitos, associá-los a outros a
partir de imagens mentais já abstraídas incluindo as diferentes formas de
representações. Cada aluno apresenta diferentes representações mentais, quando
pensa a respeito de um mesmo objeto matemático, cuja representação, por sua vez,
gera uma imagem (símbolo, desenho, número, letra) que o aluno utiliza para agir
com o mundo externo.
No entender de Dreyfus (1991, p.36), quando um aluno desenvolve a
capacidade de, conscientemente, fazer abstrações de situações matemáticas,
alcança um nível mais alto do pensamento matemático. Como pré-requisito para que
esta abstração aconteça, além do processo de representar, são necessárias a
generalização e a síntese.
Como um dos elementos do Pensamento Matemático Avançado, Dreyfus
(1991) considera a reflexão sobre a prática. Esse elemento torna necessário que o
30
professor priorize, em sua atuação, ações que promovam e estimulem o
desenvolvimento e o pensamento matemático que o aluno já possui, com situações
que o encaminhem ao processo de descoberta de um conceito, e não apenas ao
seu produto final.
A maneira como os contextos algébricos são tratados no processo de ensino
e aprendizagem, desde os primeiros anos escolares até o curso superior, pode
estabelecer uma estrutura voltada a fragmentação do conhecimento matemático,
como se houvesse uma separação entre os campos pertinentes à Matemática. O
professor responsável pelo processo de transposição, de forma geral centraliza a
sua prática na execução de programas delimitados, nos quais tenta abordá-los de
maneira cronologicamente organizada. Essa abordagem é articulada a partir de
aplicações na Matemática e em outras áreas do conhecimento, embasadas em
teoremas, apresentados de maneira formal, pronta e inquestionável.
Para o professor adepto desse tipo de prática, a vantagem na utilização do
formalismo, focando-se somente no que for conveniente a uma turma dada, série ou
curso, o levaria ao final do programa previsto. No entanto, entende-se que as ideias
concebidas pela Matemática foram criadas a partir de necessidades
socioeconômicas de vários povos, utilizando-se da intuição, imprecisões e com
diferentes representações que não necessariamente por um número ou letra.
[...] sabe-se muito bem que a matemática não foi criada em sua forma polida e acabada, mas por meio de tentativas e erro, por meio de afirmações parcialmente corretas (e parcialmente incorretas), por meio de formulações intuitivas nas quais foram intencionalmente introduzidos termos soltos e imprecisões por meio de desenhos que tentam apresentar visualmente partes presentes nas estruturas matemáticas sobre as quais se está pensando, por meio de mudanças dinâmicas feitas nesses desenhos, etc. (DREYFUS, 1991, p. 27)
Para corroborar as concepções de Dreyfus, está nos PCNEF (1998, p. 19):
No ensino da Matemática, destacam-se dois aspectos básicos: um consiste em
relacionar observações do mundo real com representações (esquemas, tabelas,
figuras); outro consiste em relacionar essas representações com princípios e
conceitos matemáticos.
Dreyfus (1991) apresenta em Advanced Mathematical Thinking Processes
considerações sobre a aplicação de problemas para alunos considerados bem
preparados de um curso Cálculo, quanto à resolução de problemas que fugiam do
padrão estabelecido pelo formalismo em que, surpreendentemente, nenhum dos
31
alunos respondeu a situação-problema de maneira totalmente correta: Encontrar, no
mínimo, uma solução para a equação 4x3–x4 =30, ou explicar por que essas
soluções não existem.
Suas considerações indicam que a álgebra ensinada, está baseada na
realização de inúmeros procedimentos padronizados, formalizados por intermédio de
questões que envolvem repetições (rituais). Apesar de demonstrarem certo
conhecimento matemático, esse não é suficiente para a resolução de problemas
desconhecidos.
Uma das ações que podem colaborar para o desencadeamento desse
processo matemático é a resolução de problemas na construção de conceitos, pois
exige que o aluno realize atitudes organizadas em relação ao que lhe é exposto, a
partir da interpretação, estabelecendo em seu pensamento uma sequência de
operações em busca da solução.
[...] a maioria dos professores do Cálculo gostaria que seus alunos fossem capazes de responder perguntas como: Que condições são suficientes para garantir que a função f(x) = ax3 +bx2 +cx + d seja crescente em x = 0? E de começar imediatamente o procurar um erro quando veem um resultado que tem, obviamente, o sinal errado, como em 211
1
1
1
12 −=
−=
−−
∫ xd x
x .
(DREYFUS, 1991, p.28)
A resolução de um problema, no entender de Tall (1991 apud DOMINGOS,
2001, p.5), não deve basear-se numa teoria como técnica para resolução de
exercícios e sim como uma atividade criativa, que inclua a formulação de
conjecturas, proposta por uma sequência para testar atividades, modificando-as e
redefinindo-as, até o momento em que será possível estabelecer uma prova, dado
um teorema, transcendendo de um conceito geral para a demonstração formal.
Segundo Ruthven (1989 apud DREYFUS, 1991, p.29) na inserção de uma
proposta cuja abordagem pretendia ensinar métodos numéricos no laboratório de
computação, partindo da tentativa-gráfica propiciada pela máquina em paralelo a
uma construção analítica, revelou aos estudantes que a utilização da calculadora-
-gráfica como recurso para a resolução desse tipo de cálculo serviu de aporte para
que visualizassem sob o fenômeno de estudo, relações que desconheciam.
Os computadores podem servir como ferramentas heurísticas para os matemáticos e estudantes de matemática de forma muito parecida como um microscópio serve o biólogo: se a ferramenta está direcionada para fenômenos interessantes e focalizado corretamente, ela pode mostrar um
32
quadro inesperado, muitas vezes visual, do fenômeno sob estudo, e isso leva a novas ideias, para o reconhecimento de relações antes desconhecidas. (DREYFUS, 1991, p.30)
Com a utilização de recursos tecnológicos em sala, auxiliando na resolução
de problemas, é provável que se alcance a apreensão de conceito em um número
maior de alunos, pois eles facilitam a aquisição de diferentes tipos de representação
para um mesmo conceito.
Para tanto, é necessário que o professor seja conhecedor dos recursos que
vai usar, para que possa fazê-lo adequadamente, bem como as componentes do
Pensamento Matemático Avançado, para que seja possível vislumbrar o seu
desenvolvimento nas atividades que irá propor.
A generalização é a componente responsável pela transição dos casos
particulares para um caso geral, em que o aluno pode expressar a formalização de
um conceito, como na convergência de uma sucessão de números para a
convergência da ideia de função, por exemplo, identificando-se a condição para n
casos e estabelecendo o seu domínio de validação, isto é, para um grande número
de casos.
Generalizar é derivar ou induzir a partir de indicações que identificam pontos comuns, para expandir os domínios de validade. Então, a generalização ocorre quando é estabelecida a transição de casos particulares para um caso geral. (DREYFUS, 1991, p.35)
Além da generalização, a síntese é outra componente do Pensamento
Matemático Avançado responsável pela ascensão da abstração, na qual as
estruturas mentais são construídas mais a partir de estruturas matemáticas, na
busca do aluno pelas propriedades e relações, do que propriamente na definição do
objeto matemático.
É a síntese que proporciona ao aluno a combinação ou a composição das
partes de um conceito, quando trabalhados de maneira isolada. Podemos citar como
exemplo, no estudo das funções, ser necessário que os alunos saibam outros
tópicos relacionados a esse contexto, como grandezas direta e inversamente
proporcionais, estudo da imagem e domínio, por exemplo, para que, no momento em
que lhe for solicitado o novo contexto, ocorra o reconhecimento desses tópicos
anteriormente mencionados. Para tanto, é desejável que na prática em sala de aula,
o professor proponha atividades que encaminhem o aluno a realizar o processo de
33
síntese, a fundir aspectos diferentes de um conceito em um mesmo domínio
matemático ou em diferentes domínios.
A representação tem um papel importante no desenvolvimento cognitivo do
aluno, pois envolve a relação entre um símbolo e seu significado, ou seja, a imagem
mental do sujeito sob um objeto matemático e a exposição de seu significado a partir
da sua simbologia. A representação, segundo Dreyfus (1991, p.31), é a
comunicação oral ou escrita sobre um conceito, na qual ocorre a interação entre a
imagem mental (interno) e a sua utilização exterior. O modo com que cada sujeito
realiza a representação é particular e pode exibir uma variação representativa
quanto ao conceito estudado.
Podemos ilustrar como exemplo, que o cálculo do perímetro de um retângulo
cuja medida dos lados é a e b pode ser representado por um aluno nas formas
P = 2x(a+b); ou P= 2a + 2b; ou P = a + a + b + b; ou ainda poderá utilizar-se de uma
figura geométrica para expressar a sua ideia sobre este cálculo.
Associada às representações mentais, a visualização descreve a imagem
gerada dos conceitos matemáticos, ou seja, a materialização dos objetos para a
obtenção dos quais se pode lançar mão de recursos, como por exemplo, um
software para a representação de uma função, a calculadora para a representação
do cálculo de um algoritmo, fórmulas para expressar a relação entre grandezas,
assim como utilizar de todos os aparatos para representar um único conceito.
Entretanto, é importante salientar que este processo deve estar diretamente
relacionado à aquisição de conceitos.
Em casos favoráveis, várias representações mentais para o mesmo conceito podem complementar um ao outro e eventualmente podem ser integradas em uma única representação do conceito. (DREYFUS, 1991, p.32, tradução nossa)1
Para que a abordagem de conceitos matemáticos seja significativamente bem
sucedida, é importante que estejam atreladas às suas diferentes representações
mentais, para que se promova no aluno o domínio sobre os vários aspectos que a
compõem, permitindo que eles as utilizem de acordo as situações--problema
requeridas em sala ou não.
1 In more favorable cases, several mental representations for the same concepty may complement each other and eventually may be integrated into single representation of that concept. (DREYFUS, 1991, p.32)
34
2.2 Metodologia
2.2.1 Análise de Conteúdo
Para a realização desta pesquisa utilizamos uma metodologia com
características qualitativa do tipo documental, a Análise de Conteúdo definida por
Bardin (1991).
A investigação qualitativa possui expressões variadas, devido às diferentes
utilizações. Bogdan e Biklen (1994, p.16) utilizam-se da expressão investigação
qualitativa como um termo genérico que agrupa diversas estratégias de investigação
que partilham determinadas características.
As pesquisas qualitativas são caracteristicamente multimetodológicas, isto é, usam uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados. Podemos dizer, entretanto, que observação (participante ou não), a entrevista em profundidade e a análise de documentos são os mais utilizados, embora possam ser contemplados por outras técnicas. (MAZZOTTI e GEWANDSNAJDER, 1999, p. 163)
De acordo com Bardin (1991, p.28), a utilização da investigação de
documentos, tem como propósito se desprender de um olhar ingênuo e de afastar-se
da compreensão espontânea, tornando-se desconfiado,lutando contra as evidências.
Tal atitude de “vigilância crítica” exige o rodeio metodológico e o emprego de
técnicas de rupturas, ou seja, estabelecendo planos de investigação com a
finalidade de dizer não à leitura simples do real.
A abordagem de investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que o mundo tem potencial para construir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo. (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 49)
Segundo Mazzotti e Gewandsnadjer:
Considera-se como documento qualquer registro escrito pode ser usado como fonte de informação. [...] podem nos dizer muita coisa sobre os princípios e normas que regem o comportamento de um grupo [...] No caso da educação, livros didáticos, registros escolares, programas de curso, planos de aula, trabalho de alunos são muito utilizados. (1999, p 169)
35
Utilizar a Análise de Conteúdo como referencial metodológico significa
afastar-se da compreensão espontânea. É preciso estar vigilante, ler além do real,
buscar mais do que significados imediatos.
Objetiva em seu método, a ultrapassagem da incerteza: Será que o que julgo ver, todos veem da mesma forma, ao ponto de ser generalizável? e o enriquecimento da leitura: a partir de uma leitura atenta pode-se evidenciar elementos suscetíveis a que não se tinha compreensão anteriormente. (BARDIN, 1991, p. 29)
Tem-se, então, como característica dessa teoria, o rigor e a descoberta que
prezam elementos que vão além do que é aparente. Segundo Bardin (1991), a
Análise de Conteúdo deveria ser aplicada a qualquer tipo de comunicação, ou seja,
como uma função heurística, instigando a descoberta, ou como uma função
administradora da prova, isto é, a sua confirmação.
Geralmente, as duas funções se complementam ao longo de uma análise,
quando a investigação trata de algo pouco explorado, em que as problemáticas e as
técnicas utilizadas estão ausentes. Quando se conhece a problemática, podem-se
construir novos instrumentos que favoreçam novas interpretações, num crescimento
progressivo, na qual as técnicas vão-se aprimorando continuamente. É um método
empírico, dependente do que se pretende interpretar no objeto de estudo.
2.2.2 Campo
A Análise de Conteúdo é um conjunto de técnicas de análise de comunicação.
Pode se apresentar uma série de instrumentos, ou um único deles, com
características diferentes e adaptáveis aos diversos tipos de investigação de acordo
com o objeto de estudo.
De acordo com que pretendemos apresentar na pesquisa, a Análise de
Conteúdo contempla o objeto quando o campo trata, segundo Bardin (1991) de
desmascarar a axiologia subjacente aos manuais escolares, ou seja, aqueles
provenientes do senso comum, os quais são utilizados como verdades
inquestionáveis.
Em última análise, qualquer comunicação, isto é, qualquer transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não por este,
36
deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo. (BARDIN, 1991, p.32)
A Análise de Conteúdo sistematiza-se por dois critérios:
• O número de pessoas implicadas na comunicação (grupo restrito);
• A natureza do código e do suporte da mensagem (linguística).
Seu interesse não está na descrição do objeto e sim nas considerações que
podem ser feitas após estudarmos o assunto a ser tratado, com o objetivo de inferir
condições de produção nos textos, descobrindo, suscitando a partir da análise
documental, de acordo com os vestígios deixados, de forma que se evidenciem
quais as causas que conduziram a um determinado enunciado, e quais as
consequências podem provocar. É a partir das evidências (vestígios) deixadas, que
o analista terá condições de inferir sobre o objeto de análise.
2.2.3 Inferência
Segundo a definição de Bardin (1991), a Análise de Conteúdo é um conjunto
de técnicas da análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e
objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Seu interesse não está em
descrever os conteúdos, e sim no que estes poderão ensinar após serem tratados,
como, por exemplo, a classificação de um objeto em relação a outros. Isso posto, é
necessário que, ao realizar uma análise, se coloque em evidência o documento que
se pretende analisar.
A análise de conteúdo possibilita que o leitor adquira informações
suplementares, quando este quer debruçar-se mais sobre um texto, aprofundando-
-se num foco central, apoiando-se nos elementos construtivos da comunicação,
mensagem e seu veículo e os polos de inferência (emissor e receptor)
• Emissor: é o produtor da mensagem.
• Receptor: é um grupo de indivíduos para quem se direciona a
mensagem com finalidade de ação ou adaptação desse material.
• A mensagem: é o material, o ponto de partida e o indicador que
possibilitará a análise. Canal, instrumento, objeto técnico de investigação.
Para se limitar ao seu conteúdo é necessário revelar o que a leitura
37
evidencia, quais temas estão presentes no discurso, e se os mesmos estão
ligados a outras estruturas de significações.
2.2.4 A análise de Conteúdo e a Análise Documental
O motivo da vinculação da Análise de Conteúdo à Análise Documental é por
apresentarem analogias em algumas características. Assim, é importante confrontá-
-las, para posteriormente diferenciá-las, explicitando a especificidade e o campo de
ação.
Para Bardin (1991), a Análise Documental é uma operação ou o conjunto de
operações visando representar o conteúdo de um documento sob forma diferente da
original, com a finalidade de facilitar num estado ulterior, sua conduta e
referenciação. Assim, o tratamento da informação contida nessa análise busca
transmiti-la, permitindo o fácil acesso para o observador, de maneira quantitativa,
demonstrando maior pertinência nos aspectos qualitativos.
A análise possibilita a um documento a condensação de sua forma original
em resumos, abstract, recebendo um formato adequado para bancos de dados ou
indexação por palavra-chave. Sendo assim, a realização desta análise se limita de
acordo com a temática.
Tabela 1: Características que diferenciam a Análise de Conteúdo da Análise Documental.
Análise de Conteúdo Análise Documental
Trabalha com mensagens. Trabalha com documentos.
Análise categorial: técnicas da análise
de conteúdo.
Classificação – indexação.
Manipulação de mensagens para
evidenciar indicadores que permitam
inferir sobre outra realidade que não a
da mensagem.
Representação condensada da
informação, para consulta e
armazenagem.
Fonte: A autora
38
2.2.5 O Método
O método de aplicação da Análise de Conteúdo se aplica em três polos
cronológicos segundo Bardin (1991, p.95):
• A pré-análise
• A exploração do material;
• O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.
2.2.5.1 A Pré-Análise
É a fase de organização do que será analisado de modo que as ideias iniciais
se tornem sistematizadas, conduzindo ao desenvolvimento analítico. Para que isso
ocorra de maneira flexível, porém precisa, a fase de pré-análise divide-se em três
etapas que, embora articuladas dependentemente, não transcorrem sempre da
mesma forma: a escolha do documento; formulação da hipótese; e formulação dos
objetivos. Este último levanta os indicadores para a fundamentação de uma
interpretação final.
A leitura flutuante é o primeiro contato com o documento, conhecendo o texto
e deixando vir à tona as primeiras expressões e orientações. Lentamente essa
leitura torna-se precisa, a partir da vinculação com outras teorias, com possíveis
aplicações.
A escolha dos documentos é determinada a priori. Seleciona-se uma série de
documentos que possam fornecer informações sobre o problema levantado, o
corpus.
O corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem
submetidos aos procedimentos analíticos. (BARDIN, 1991, p.96).
A constituição do corpus implica escolha de regras:
• Regra da exaustividade: utilizar todos os elementos que compõe este
corpus. (p. 97)
• Regra da representatividade: pode-se utilizar, tratar apenas de uma
amostra, desde que seja possível, ou seja, haja representatividade
suficiente. (p.97)
39
• Regra da homogeneidade: os documentos utilizados devem obedecer ao
mesmo critério de escolha. (p.98)
• Regra da pertinência: Os documentos que servirão como fonte de
informação devem ser adequados, correspondendo aos objetivos da
análise. (p.98)
A formulação da hipótese dos objetivos é uma afirmação provisória que se
propõe a confirmar ou não, baseada nos procedimentos da análise. Sua origem
advém de nossa intuição, que fica suspensa até o momento da prova. Já o objetivo
é o fim ao qual se propõe o quadro, em que os resultados serão utilizados.
Quando uma hipótese é levantada significa que se está em busca da sua
veracidade, querendo elucidar se a interpretação é sugerida pela análise a priori e
pelo conhecimento que se possui sobre o objeto ou se está baseada nas primeiras
leituras.
2.2.5.2 A exploração do material
Quando todas as fases da pré-análise são concluídas, administram-se
sistematicamente as decisões tomadas. A exploração do material consiste nas
operações de codificação, desconto ou enumeração.
• Codificação
Expressa a razão pela qual se e como se analisa. Por esse motivo, a hipótese
precisa se enquadrar em uma técnica de um quadro teórico. Equivale à
transformação de recorte, agregação de um dado bruto que possibilita uma
descrição do conteúdo a ser analisado.
• Enumeração
Distinção entre a unidade de registro (o que se conta) e a regra de
enumeração (como é contado).
• Categorização
É obrigatória para qualquer Análise de Conteúdo. Uma operação que
classifica de acordo com a semelhança, utilizando um critério semântico, é um
processo estruturalista composto por duas etapas:
40
• O inventário: isola os elementos;
• A classificação: divide os elementos e impõe organização as mensagens.
2.2.5.3 Tratamento dos resultados e interpretação
Quando o analista tem à sua disposição resultados significativos e fiéis,
podendo propor-se inferências e interpretações de acordo com os objetivos
previstos. Posteriormente, servindo de base para uma nova análise, em que se
buscarão novas dimensões.
2.3 Procedimentos Metodológicos
Nesta pesquisa quanto à Análise de Conteúdo, nos concentraremos nos três
polos cronológicos (pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados e
inferência e interpretação) definidos por Bardin (1991).
De forma a atingir o objetivo desta pesquisa, que é investigar a inserção do
uso da calculadora nas Situações de Aprendizagem propostas ao Ensino
Fundamental II da Rede Pública do Estado de São Paulo, nos cadernos do
Professor à luz do Pensamento Matemático Avançado, para a composição desta
etapa da análise recorremos à sistematização das ideias iniciais, de maneira a
organizar as fases de desenvolvimento das operações.
Assim, foram selecionados e organizados os documentos que compõem o
levantamento bibliográfico e que constituíram o corpus da pesquisa, isto é, que
apresentassem relevância ao tema e que pudessem contribuir para a sua
fundamentação, ou seja, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Fundamental II (1996), a Proposta Curricular de Matemática e suas Tecnologias da
Rede Pública do Estado de São Paulo (2008), o Currículo de Matemática e suas
Tecnologias da Rede Pública do Estado de São Paulo (2010), os Cadernos do
Professor de Matemática da Rede Pública do Estado de São Paulo (2009), bem
como pesquisas, cujo tema está relacionado à utilização da calculadora em sala de
aula.
41
Para Bardin (1991, p.98), os documentos selecionados devem ser
adequados, enquanto fonte de informação, de modo a corresponderem ao objetivo
que suscita a análise.
Segundo Holsti (1969 apud LÜDKE e ANDRÉ, p.41), o processo de análise
de conteúdo tem início na decisão sobre a unidade de análise, no qual o
pesquisador pode selecionar segmentos específicos para realizar a análise, como,
por exemplo, uma expressão, a frequência com que uma palavra aparece no texto,
um tópico, um tema ou um determinado item.
A seguir, apresentamos algumas considerações observadas na leitura dos
documentos oficiais, nos quais vislumbramos orientações sobre a inserção da
calculadora na resolução das Situações de Aprendizagem do Caderno do Professor
de Matemática, uma vez que, seu uso é previsto pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Fundamental II.
42
CAPÍTULO 3
PRÉ-ANÁLISE DOCUMENTAL
3.1 Levantamento Bibliográfico
A implementação das aulas de Matemática, mediante a utilização das TIC –
Tecnologia da Informação e Comunicação – é um desafio para o professor, pois
exige dele não só o domínio sobre os conhecimentos relativos à técnica, ou seja, à
parte operacional, mas também o domínio sobre a forma como esse recurso será
adotado, de modo a contribuir para o desenvolvimento do processo de ensino e
aprendizagem.
[...] professores precisam desenvolver confiança no uso dessas tecnologias e uma atitude crítica em relação a elas. Precisam ser capazes de integra-las as finalidades e aos objetivos da matemática. (PONTE, OLIVEIRA e VARANDAS, 2003, p.23)
A mudança na postura do professor é inevitável, pois não se pode retroceder
a este avanço praticamente diário em todos os setores. Com o desenvolvimento
histórico-social do homem, o volume de atividades que lhe são atribuídas
aumentaram nos diversos setores, que exigiram que a educação se aproximasse
dos aspectos éticos, comportamentais, emocionais e afins, com a finalidade de
alcançar a democratização do ensino. Assim, a busca por instrumentos facilitadores
para essas atribuições e funções ocorreu de maneira concomitante com seu
desenvolvimento.
A busca pela inserção dos novos recursos nas aulas torna-se necessária para
que os alunos, bem como os professores, acompanhem a evolução e rompam com
antigos paradigmas, como aulas com o enfoque tradicional, em que o professor atua
como um transmissor de informações, centralizando em si o conhecimento.
De acordo com Imbernón (2009, p.29), o conhecimento profissional do
professor exerce uma influência sobre outros seres humanos e, portanto, não pode e
nem deve ser uma profissão meramente técnica de “especialistas infalíveis” que
transmitem unicamente seus conhecimentos acadêmicos.
43
A utilização adequada das TIC propicia ao professor a conduta de mediador,
em que a insegurança quanto à utilização dos recursos já dominados pelos alunos
não ocupem espaço. Para tanto, é necessário um investimento à formação
continuada desse profissional, em relação à utilização das tecnologias, de forma que
alie seu conhecimento técnico à prática, a fim de que a condução das aulas
aconteça de maneira dinâmica.
Para o levantamento bibliográfico, apresentamos algumas considerações
sobre as leituras realizadas, que reforçam a investigação sobre o uso das TIC,
especificamente a respeito da utilização da calculadora como um recurso
pedagógico de aprendizagem, encontradas no banco de dissertações e teses da
PUC-SP e da CAPES, além da literatura sugerida no grupo de pesquisa, como os
trabalhos de Valverde (2007) e Borba e Selva (2010). Para a busca no site da
CAPES utilizamos como palavras-chave ensino de matemática e calculadora, em
que foram selecionadas as pesquisas de Rubio (2003), Melo, A. R. F. (2008), Melo,
A. J. F., Nhoncance (2009) que tratavam dos níveis Fundamental e Médio da
Educação Básica.
Rubio (2003) descreve em seu trabalho as possibilidades e desafios da
inserção da calculadora nas aulas de matemática, destinadas ao 5º ano do Ensino
Fundamental, a partir da exploração de situações-problema envolvendo a adição e
subtração com o conjunto dos números naturais.
Considera a calculadora como recurso mobilizador na realização de tarefas
exploratórias e de investigação e um instrumento de auto-avaliação, devido à sua
capacidade de verificação de resultados