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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO JÚLIO ROSA DIAS MÚLTIPLAS AGENDAS NO PROCESSO DE COACHING EXECUTIVO: PERCEPÇÃO E AVALIAÇÃO DO PROFISSIONAL DE COACH MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO SÃO PAULO 2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

JÚLIO ROSA DIAS

MÚLTIPLAS AGENDAS NO PROCESSO DE COACHING EXECUTIVO: PERCEPÇÃO E

AVALIAÇÃO DO PROFISSIONAL DE COACH

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

SÃO PAULO

2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

JÚLIO ROSA DIAS

MÚLTIPLAS AGENDAS NO PROCESSO DE COACHING EXECUTIVO: PERCEPÇÃO E

AVALIAÇÃO DO PROFISSIONAL DE COACH

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, para obtenção do título de Mestre em Administração sob orientação do Prof. Dr. Leonardo Nelmi Trevisan.

SÃO PAULO

2019

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Banca Examinadora

____________________________________________

____________________________________________

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O presente trabalho foi realizado com o apoio da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) – Código de Financiamento

88887.146611/2017-00.

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AGRADECIMENTOS

Os esforços para se escrever uma dissertação de mestrado são muito grandes, mas sei que

todo apoio e suporte que recebi das pessoas que estiveram presentes de alguma maneira na

minha vida durante este processo fizeram com que eu atingisse meus objetivos e crescesse

como profissional e como pessoa.

Agradeço aos meus pais, Cláudio e Fátima, por ao longo de todo minha vida sempre

incentivarem todos os meus sonhos. O homem que me tornei é reflexo da educação que me

deram e tenho muito orgulho.

Agradeço imensamente minha irmã Cláudia e o Bruno, por me aturarem como hóspede

folgado durante todo o mestrado. Saibam que, querendo ou não, eu já me considero morador

oficial da casa de vocês, independente do endereço.

Agradeço imensamente a Thamyres, que não apenas apoia todas as minhas ideias, por mais

malucas que sejam, mas que, também, vai junto comigo e não desiste nunca de mim!

Corajosa...

Agradeço à todos os colegas que fiz nessa jornada acadêmica, especialmente a Mariana e

Siméia, por todos trabalhos realizados juntos e pela parceria nos momentos bons e difíceis.

Agradeço à equipe da PUC: Rita, por todas as broncas, conselhos e ajuda que sempre me deu

e ao professor Alexandre Las Casas, por toda orientação e ensinamentos.

Agradeço ao Professor Leonardo Trevisan, que foi meu orientador no mestrado e sempre me

deu apoio para desenvolver e evoluir na presente pesquisa.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior- Brasil (CAPES). Meus agradecimentos à agência de fomento que viabilizou

este estudo.

Obrigado.

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RESUMO

Dentre as opções de programa de desenvolvimento para executivos, o coaching executivo está entre as opções mais utilizadas nas organizações. Este processo envolve, ao menos, três stakeholders (a organização, o coach e o coachee), sendo que cada um deles apresenta interesses ou expectativas dentro do processo que podem não estar alinhados com os interesses ou expectativas dos outros participantes. Assim geram-se múltiplas agendas que podem interferir no alcance dos objetivos traçados para o programa. A presente dissertação tem como objetivo verificar como os profissionais que atuam como coach percebem e tratam as múltiplas agendas geradas no processo de coaching executivo. Para isso, foi realizada uma pesquisa exploratória e qualitativa por meio de entrevistas com profissionais de coach, se utilizando da técnica de análise de conteúdo para realizar as análises. Os resultados da pesquisa evidenciaram que (i) as múltiplas agendas são inerentes ao processo de coaching executivo; (ii) a percepção de cada múltipla agenda envolve fatores subjetivos por parte dos participantes, o que permite tratamentos distintos, e até opostos, para cada uma delas; e (iii) o método avaliativo mais utilizado, e que permite a descoberta e o tratamento das múltiplas agendas é o método do feedback. Palavras-chave: coaching executivo, múltiplas agendas, desenvolvimento de carreira

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ABSTRACT

Among executive development program options, executive coaching is among the most commonly used options in organizations. This process involves at least three stakeholders (the organization, the coach, and the coachee), each of whom has interests or expectations within the process that may not be aligned with the interests or expectations of the other participants. This generates multiple agendas that may interfere with the achievement of the objectives set for the program. This dissertation aims to verify how the professionals that act as coach perceive and treat the multiple agendas generated in the process of executive coaching. For this, an exploratory and qualitative research was conducted through interviews with coaches, using the content analysis technique to perform the analyzes. The research results showed that (i) the multiple agendas are inherent in the executive coaching process; (ii) the perception of each multiple agenda involves subjective factors on the part of the participants, which allows different treatments, and even opposites, for each of them; and (iii) the most used evaluative method that allows the discovery and treatment of multiple schedules is the feedback method.

Keywords: executive coaching, multiple agenda, career development

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – O Modelo ROI ............................................................................................ 54

Figura 2 – PBSC framework ........................................................................................ 57

Figura 3 – Relações Triangulares e Diáticas no Processo de Coaching Executivo ......... 61

Figura 4 – Divisão dos Profissionais Cadastrados na ABRACEM por Sexo .................... 75

Figura 5 – Divisão dos Profissionais Cadastrados na ABRACEM por Graduação ........... 75

Figura 6 – Divisão dos Profissionais Cadastrados na ABRACEM por Pós-Graduação .... 76

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Avaliação em processo de coaching ......................................................... 50

Quadro 2 – Natureza das Múltiplas Agendas .............................................................. 63

Quadro 3 – Matriz de Amarração ............................................................................... 73

Quadro 4 – Dados Sociodemográficos dos Entrevistados ........................................... 74

Quadro 5 – Frequência da Aparição das Múltiplas Agendas ....................................... 84

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 23

1.1 Delimitação do problema da pesquisa ................................................................... 24

1.2 Objetivos da pesquisa ............................................................................................ 25

1.2.1 Objetivos específicos ...................................................................................... 25

1.3 Justificativa ............................................................................................................ 25

2 COACHING EXECUTIVO ................................................................................................. 27

2.1 Evolução do coaching ............................................................................................ 27

2.2 Definição de coaching ............................................................................................ 29

2.3 O Coach ................................................................................................................. 30

2.3.1 Coach executivo .............................................................................................. 32

2.4 O Cliente ................................................................................................................ 35

2.4.1 O Cliente: Executivo vs. Organização ............................................................... 38

2.5 O Processo ............................................................................................................. 39

3 AVALIAÇÃO EM COACHING EXECUTIVO ........................................................................ 44

3.1 Modelos de avaliação em coaching executivo ........................................................ 49

3.1.1 Modelo de Kirkpatrick ..................................................................................... 49

3.1.2 ROI.................................................................................................................. 51

3.1.3 Modelo Balanced Scorecard............................................................................ 55

3.1.4 Modelo feedback 360º .................................................................................... 58

4 MÚLTIPLAS AGENDAS NO COACHING EXECUTIVO ......................................................... 60

4.1 Relação triangular em coaching executivo ............................................................. 60

4.2 Múltiplas agendas em coaching executivo ............................................................. 62

4.3 Desafios criados pelas múltiplas agendas ............................................................... 64

5 METODOLOGIA DA PESQUISA ....................................................................................... 66

5.1 Natureza da pesquisa ............................................................................................. 67

5.2 Definição do sujeito da pesquisa ............................................................................ 68

5.3 Coleta de dados ..................................................................................................... 69

5.4 Análise de dados .................................................................................................... 70

5.5 Procedimento operacional da pesquisa.................................................................. 72

5.6 Matriz Amarração .................................................................................................. 72

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................................... 74

6.1 Descrição sociodemográfica dos entrevistados ...................................................... 74

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6.2 O Processo de Coaching Executivo ......................................................................... 77

6.2.1 Interações entre coach e organização ............................................................. 77

6.2.2 Interações entre coach e coachee ................................................................... 79

6.2.3 Percepção de quem é o cliente no de coaching executivo ............................... 80

6.2.4 Métodos de avaliação no processo de coaching executivo. ............................. 82

6.3 Percepção das múltiplas agendas ........................................................................... 83

6.3.1 1 – O Presente Venenoso ................................................................................ 85

6.3.2 2 – A organização excluída .............................................................................. 87

6.3.3 3 – A Individualização ..................................................................................... 88

6.3.4 4 – O Alto-falante............................................................................................ 90

6.3.5 5 – Gestão de Conflitos ................................................................................... 91

6.3.6 6 – O Aparente Engajamento .......................................................................... 93

6.3.7 7 – A Agenda Oculta Imaginária ...................................................................... 94

6.3.8 8 – Agendas Conflitantes da Organização........................................................ 96

6.4 Considerações sobre a percepção dos coaches ...................................................... 96

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 99

7.1 Limitações e estudos futuros ............................................................................... 100

8 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 102

ANEXO 1: ROTEIRO DE ENTREVISTA ................................................................................... 109

ANEXO 2: COMPILAÇÃO CONSOLIDADA DAS UNIDADES DE REGISTRO IDENTIFICADAS NAS

ENTREVISTAS ..................................................................................................................... 111

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1 INTRODUÇÃO

O atual dinamismo no ambiente de trabalho exige dos trabalhadores um alto nível de

desenvolvimento profissional, capaz de atender as demandas das organizações. Essas

demandas fundamentam-se em produtividade, competitividade, absorção de informações e

atualizações em relação as novas tecnologias. Isso acaba por criar desafios tanto para as

organizações como para os executivos, que precisam buscar internamente ou externamente

opções de capacitação que proporcionem uma resposta satisfatória neste cenário.

Hall et al. (1999) indica que dentre possíveis alternativas para o desenvolvimento destes

profissionais no âmbito executivo estão as atividades de mentoring, counseling e coaching.

Estas são práticas que buscam soluções em nível individual, mas que encontram soluções para

toda a organização. Existe uma tendência de que líderes foquem a sua atuação no

desenvolvimento de pessoas, levando em conta seus interesses, motivações e talentos com

as metas e direcionamento da organização (GASPAR; PORTÁSIO, 2015).

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, Villela da Matta (2017) o

processo de coaching executivo promove maneiras de se utilizar os talentos e forças do

executivo para uma evolução profissional congruente aos interesses da empresa, motivando

e aumentando os resultados para os envolvidos. Assim, o coaching executivo é indicado para

executivos que buscam transformação e melhoria dentro da organização e aprimoramento de

suas habilidades e práticas de aumento de performance de maneira positiva, sustentável e

comprometido com a mudança.

O mercado mundial de coaching movimenta US$2,3 bilhões de acordo com levantamento da

Internacional Coach Federation (ICF) e houve um crescimento de 30% na contratação destes

profissionais no Brasil entre os anos de 2016 e 2017 (DINO, 2018). Nos Estados Unidos, a

grande maioria das empresas já aderiram ao coaching (93%) e 51% dos executivos acreditam

que o coaching é uma ferramenta fundamental para continuarem relevantes dentro das

organizações (DINO, 2018). Estes números demonstram grande popularidade quanto ao

processo de coaching e grande procura por esse serviço, atraindo pessoas interessadas em

autodesenvolvimento e profissionais interessados em oferecer o serviço de coaching.

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O coaching como atividade profissional continua a se expandir e aumentar sua popularidade

tanto para as organizações quanto para o público em geral. As razões para o rápido

crescimento variam. Para Whitworth et al. (2003) as pessoas chegam ao coaching porque

querem uma qualidade de vida melhor, mais satisfação, melhor equilíbrio, ou um processo

diferente para realizar seus desejos de vida. O coaching fornece uma exploração em direção

a um senso mais profundo de propósito e significado de vida. O objetivo do coaching não é

consertar o que está quebrado, mas descobrir novos talentos e novas maneiras de usar

talentos antigos que levem a uma efetividade muito maior (GOLDSMITH et al., 2000). Outros

ainda querem uma parceria autêntica com um indivíduo que esteja disposto a fornecer uma

avaliação honesta em suas experiências de vida, para que possam maximizar as habilidades

atuais e desenvolver novas capacidades (MARSSHALL, 2006).

Crane (2010) sugere que um coach age como um guia ao desafiar e apoiar as pessoas na

realização de seus objetivos de desempenho pessoal e organizacional. Tobias (1996) sustenta

que o coaching está mais alinhado com as atividades de treinamento pessoal: o coach ajuda

o indivíduo a manter um foco consistente e confiante em melhorar os pontos fortes e

gerenciar deficiências. Edwards (2003) fornece um dos mais abrangentes resumos do

propósito do coaching: facilitar o aprendizado em vez do ensino, fornecendo um canal focado

no desbloqueio do potencial e na maximização do desempenho, sempre atribuindo os

resultados ao cliente.

1.1 Delimitação do problema da pesquisa

Com as informações obtidas acerca dos temas desenvolvimento de carreira e processo de

coaching executivo, apresenta-se a pergunta ponto de partida para o presente estudo: Como

os coaches executivos trabalham os conflitos gerados pelas múltiplas agendas que podem

surgir durante o processo de coaching executivo?

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1.2 Objetivos da pesquisa

O objetivo geral do presente estudo é verificar como os profissionais que atuam como coach

percebem e tratam as múltiplas agendas geradas no processo de coaching executivo.

1.2.1 Objetivos específicos

a) Identificar e descrever as características do processo de coaching executivo.

b) Verificar os métodos de avaliação utilizados no processo de coaching executivo.

c) Identificar os principais conflitos de agenda envolvendo os coachees e as organizações.

1.3 Justificativa

Os principais interessados no processo de coaching executivo (coachee, coach e organização)

formam um relacionamento triangular (LOUIS; FATIEN DIOCHON, 2014). Cada um destes

stakeholders apresentam expectativas próprias sobre o processo. Nesta relação existem duas

maneiras distintas de tratamento por parte do coach. Na primeira, o coachee é o cliente no

processo e a organização é a patrocinadora. Na segunda, a organização é tratada como cliente

e o coachee deve desenvolver as competências com base nos interesses da organização. Por

não existir uma única maneira e muitas vezes não ficar claro quem seria o cliente do processo

é possível que haja distinção nas expectativas geradas pela organização e pelo coachee.

Com o crescimento do mercado de coaching no cenário nacional e internacional, onde 11%

dos executivos latino-americanos, 27% de executivos da América do Norte e 33% dos

executivos europeus já utilizam o coaching (DINO, 2018), se faz importante entender a

percepção de como coaches podem perceber, avaliar e solucionar essas diferentes

expectativas entre coachee e organização, e assim garantir que o processo de coaching tenha

sucesso.

A questão de como se preparar profissionais de coaching para trabalhar com essas diferentes

expectativas ainda é algo novo. A própria profissão do coaching executivo é nova, tendo os

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primeiros relatos datados na década de 1930 (CAMPOS; NUNES PINTO, 2012). Já os possíveis

conflitos de expectativas entre os envolvidos no processo de coaching surgem na discussão

acadêmica em 1996 e continuam a ser estudados até os dias de hoje, sendo que até a pesquisa

de Louis e Fatien Diochon (2014) novos conflitos de expectativas já haviam sido teorizados no

meio acadêmicos, mas ainda não estudados em ambientes práticos.

Diante do contexto apresentado, apontando possibilidades de contribuição tanto no âmbito

social como teórico, o presente estudo busca agregar conhecimento para a discussão do tema

em questão.

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2 COACHING EXECUTIVO

Os primeiros textos a buscarem estruturar o pensamento em relação ao conceito de carreira

surgiram na década de 1970 (HALL, 1976; SCHEIN, 1978). Desde então muitos autores se

propuseram a pesquisar o tema e sugeriram maneiras distintas de se analisar o assunto. Para

London e Stumph (1982, apud VELOSO; DUTRA, 2010) a carreira pode ser estudada pelo ponto

de vista das organizações, analisando-se as políticas, procedimentos e decisões ligadas à

carreira da empresa ou do ponto do indivíduo, levando-se em consideração as experiências

profissionais que fazem parte da história profissional da pessoa. Assim, para Veloso e Dutra

(2010) entendem que as organizações devem oferecer suporte e condições para uma relação

de alavancagem mútua de expectativas e o indivíduo deve ser o gestor de seu próprio

desenvolvimento, competitividade profissional e carreira.

Atualmente um dos campos de estudo importante dentro da gestão de carreiras está

relacionado a orientação profissional. Para Ferreira e Dutra (2000), percebe-se que a partir da

década de 1980 os executivos passaram a ter maior interesse em assuntos relacionados a

orientação par própria carreira, motivados por suas atribuições no trabalho ou por interesses

pessoais. Neste contexto, surgiram três práticas de orientação profissional: o mentoring,

counseling e o coaching executivo. As três práticas se mostram cada vez mais presentes no

cenário organizacional, vinculadas a objetivos de orientação, desenvolvimento profissional,

melhoria de desempenho e reflexões sobre carreira. A seção seguinte, tem como objetivo

detalhar o processo de coaching executivo, tema desta pesquisa.

2.1 Evolução do coaching

Existem diferentes correntes para o surgimento da atividade do coaching. Alguns defendem

que o termo coaching vem de coach, antigo termo húngaro para designar uma carruagem

coberta chamada koczi, utilizada no transporte de passageiros e correspondências (FERREIRA,

2008). Posteriormente, no meio acadêmico, alunos universitários passaram a fazer uso da

expressão para se referir aos professores que mais se distinguiam na orientação de seus

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pupilos. No meio esportivo, a palavra foi incorporada para denominar um especialista que

treina e desenvolve atletas para atingir suas metas (CASTRO E SILVA, 2016).

De acordo com Campos e Nunes Pinto (2012) as primeiras pesquisas relacionadas a coaching

datam da década de 1930, estas pesquisas concebiam o coaching como um recurso de

desenvolvimento de habilidades organizacionais por meio do qual um profissional, com

alguma experiência e que ocupa um nível hierárquico de gerência, transmite conhecimentos

para profissionais com menor experiência e que se encontram em uma posição hierárquica

menor que a sua. Já para Grant (2001) as pesquisas sobre coaching podem ser encontradas a

partir de 1958, quando discutido como a relação de consultas psicológicas destinadas a

melhorar o desempenho de executivos.

Assim, o estudo e a prática de coaching é um campo relativamente novo, com raízes que

podem remeter a estudos e pesquisas que atravessam campos como a psicologia, gestão,

esporte e educação. Tobias (1996) sugere que o coaching começou a emergir no local de

trabalho em torno do 1980 e foi impulsionado pela necessidade de intervir em

comportamentos problemáticos sem o uso de terminologias que indicassem processos

clínicos ou de terapia. Milaré e Yoshida (2007) complementam afirmando que essa

intervenção também se fez necessária devido a exigência de flexibilidade exigida dos

executivos para se adaptarem às cobranças do mercado, resultando em estruturas mais leves

e investimentos na melhoria da qualificação dos trabalhadores, além de outras preocupações.

Harris (1999, apud MARSHALL, 2006) separa o coaching em 3 períodos: estágio inicial (1950-

1979) representado por coaches que buscaram unificar desenvolvimento organizacional e

práticas psicológicas; o período intermediário (1980-1994) que inaugurou esforços de

padronização e profissionalismo, com psicólogos começando a explorar formas de expandir

suas práticas quando confrontadas com restrições de cuidados gerenciais; e atualmente (a

partir de 1995) em que os estudos são marcados por um grande aumento no número de

publicações e pela fundação de organizações de coaching profissional.

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2.2 Definição de coaching

As publicações sobre coaching trabalham o assunto por diferentes abordagens, que vão desde

manuais práticos a modelos teóricos. Talvez por isso não exista uma teoria ou modelo

unificado para orientar o treinamento ou a prática de coaches. O que existe são tentativas de

definir coaching no meio acadêmico para trazer um entendimento comum para o campo.

Em uma definição possível para coaching, Clutterbuck (2008) diz que o coach deve atuar no

ser como um estimulador externo capaz de despertar o potencial interno no coachee (cliente

no processo de coaching), sendo que para isso deve usar a combinação de virtudes como

paciência, intuição, perseverança e carisma. Desta maneira, o papel do coach é provocar,

despertar e conduzir o seu coachee a promover as mudanças necessárias, para que este atinja

resultados e metas desejadas.

Nessa linha, o coaching é um processo de formação que desenvolve autoconfiança,

autoeficácia e contribui para ações que gerem resultados. Assim, ajuda o indivíduo a

desenvolver melhores padrões de aprendizagem, estimulando novas ideias, suposições e

teorias. (BERG; KARLSEN, 2012 apud CASTRO E SILVA, 2016).

Kilburg (2000) define o coaching no âmbito executivo como uma relação de ajuda formada

entre um cliente que tem autoridade gerencial e responsabilidade em uma organização e um

consultor que usa uma variedade de técnicas e métodos comportamentais para ajudar o

cliente a alcançar um conjunto de metas mutuamente acordadas para melhorar o seu

desempenho profissional e satisfação pessoal e, consequentemente, melhorar a eficácia da

organização do cliente dentro de um processo de coaching formalmente definido.

Continuando a se concentrar na definição de coaching executivo, Stern (2004) propôs a

seguinte definição: O coaching executivo é um processo de desenvolvimento de liderança

experiencial e individualizado que constrói a capacidade de um líder de alcançar metas

organizacionais de curto e longo prazo. Isto é conduzido através de interações individuais,

conduzidas por dados de múltiplas perspectivas, e baseado na confiança e respeito mútuos

entre a organização, um executivo e o coach.

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Finalmente, a International Coach Federation (ICF) tenta ser mais inclusiva em relação a sua

definição de coaching. O coaching é um processo interativo que ajuda indivíduos e

organizações a se desenvolverem mais rapidamente e produzir resultados mais satisfatórios

(ICF, 2018). Coaches trabalham com clientes em todas as áreas, incluindo negócios, carreira,

finanças, saúde e relacionamentos. Como resultado do coaching, os clientes estabelecem

metas melhores, tomam mais medidas, tomam decisões melhores e usam mais forças

naturais.

De maneira geral todas as definições para coaching mostram convergência ao tratar o

processo como aprendizagem, aferição de metas específicas e melhora no desempenho do

trabalho.

2.3 O Coach

Ao avaliar as origens dos coach na área executiva Judge e Cowell (1997) descobriram que as

áreas de origem dos coaches podem variar de esportes até psicologia. Na pesquisa destes

autores 90% dos coaches entrevistados possuem Mestrado em ciências empresariais e sociais.

Da mesma forma, Grant e Zackon (2004) descobriram que a maioria dos coaches apresentam

uma carreira anterior na área de negócios, enquanto cerca de 20% relataram uma profissão

clínica como pano de fundo. Quinze por cento dos entrevistados identificaram a educação

como sua ocupação anterior.

Estes resultados foram consistentes com outra pesquisa, realizada por Gale et al. (2002), que

verificou que 33% dos entrevistados eram graduados em ciências sociais, 27% possuíam

diplomas de negócios e 11% eram graduados em educação. A maioria dos coaches, 85% por

cento, possuíam diplomas universitários, 45% com grau de pós-graduação e outros 11%

concluíram o doutorado.

Judge e Cowell (1997) constataram que muitos coaches pertenciam a alguma associação de

coaching, como: Society for Human Resource Management (SHRM), American Society of

Training and Development (ASTD) e Organization and Development Network. Gale et al.

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(2002) acrescentam a American Psychological Association (APA) à lista de organizações às

quais os coaches frequentemente pertencem.

Os coaches também formaram as suas próprias organizações profissionais, incluindo a

International Coach Federation, a International Association of Coaches, a Professional Coaches

and Mentors Association e a Worldwide Association of Business Coaches. Um dos fatores para

estes profissionais considerarem importante para se associarem a associação com a

Internacional Coach Federation é pela obtenção da credencial de profissional da ICF

(MARSHALL, 2006).

Em outra pesquisa com coaches, Grant e Zackon (2004) descobriram que 25% dos

entrevistados possuíam uma credencial ICF, enquanto outros 50% indicaram que estavam

trabalhando para se credenciarem pelo ICF. Além disso, os resultados indicaram um número

grande de entrevistados haviam passado por um programa de coach técnico e que a maioria

havia se envolvido em formas de treinamento específico para coach nos doze meses

anteriores à pesquisa. Gale et al. (2002) acrescentaram que os coaches também consideravam

experiências de carreira, experiências de vida e orientação de outros coaches como fatores

que contribuíram para o desenvolvimento pessoal como coach, apesar da dificuldade em

medir essas experiências em relação ao seu impacto no desenvolvimento de competências de

coaching.

Normalmente, os coaches tendem a atuarem em coaching depois de solidificarem uma

carreira na área em que pretendem atuar. A formação profissional de um coach e os anos de

experiência de trabalho que ele ou ela possuem no campo se tornam fatores importantes para

os clientes ao escolher um profissional. Muitos executivos de negócios querem um coach com

experiência em gestão de negócios ou outras áreas de negócio de interesse para eles. Além

disso, a idade pode ser um importante fator de seleção – menos de 2% dos entrevistados na

pesquisa de Gale et al. (2002) eram menores de 35 anos. Aproximadamente 80% dos

entrevistados na pesquisa de Judge e Cowell (1997) estavam com idades entre 35 e 55 anos,

com uma média de 24 anos de experiência profissional.

Os coaches normalmente se segmentam em especialidades associadas aos seus

conhecimentos e habilidades. Grant e Zackon (2004) descobriram que os tipos de coaching

tendem a se agrupar nas seguintes áreas: coaching de carreira, coaching pessoal/vida,

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coaching para pequenas empresas, coaching executivo corporativo e coaching organizacional

sem fins lucrativos. Outros autores contribuem com categorias adicionais de coaching, como:

direcionados, intensivos, feedback, desenvolvimento, conteúdo, desempenho,

relacionamento, legado, sucessão, equipe e coaching para habilidades específicas (Peterson,

1996; Stern, 2004; Thach & Heinselman, 1999).

O que diferencia coaching executivo da maioria dessas outras formas de coaching é seu

enfoque dual de trabalho um a um e em desenvolver o executivo como líder, enquanto

também ajuda aquele líder a alcançar os resultados dos negócios (MILARÉ; YOSHIDA, 2007).

A implicação para o campo de coaching é que cada subcategoria de coaching poderia exigir

diferentes práticas de coaching e diferentes estratégias e competências para alcançar

resultados. As pesquisas apoiam a afirmação de que várias áreas dentro do campo de

treinamento mais amplo exigem práticas, estratégias e competências diferentes. Grant e

Zackon (2004) descobriram que há uma diferença entre coaching de negócios e coaching

executivo da perspectiva do desenvolvimento de negócios. Os coaches de pequenas empresas

relataram segmentação de vendas, marketing de produtos e relacionamento com clientes

como foco do coaching. Comparativamente, coaches organizacionais/executivos focam no

desenvolvimento de liderança, gerenciamento de mudanças e consolidação de equipe. Esta

divisão de atividades sugere que diferentes focos requerem diferentes estratégias,

habilidades e metodologias.

2.3.1 Coach executivo

Ser um coach significa ser um profissional qualificado a ajudar uma pessoa a expandir suas

competências, levando-o de um posicionamento a outro, sustentado por seus princípios e

valores, enquanto a expressão coaching é utilizada para designar esse processo de ajuda. A

utilização do coaching como forma de desenvolvimento dos executivos é mais uma evolução

do conceito que tem se ampliado através dos anos. (MILARÉ; YOSHIDA, 2007)

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A maior parte da literatura de coaching se concentra no coaching executivo, conectando o

coaching com modelos baseados na aprendizagem e formas de liderança menos hierárquicas,

ao mesmo tempo que trabalha com as habilidades esperadas em líderes empresariais

(Marshall, 2006; Hargrove, 1995; Hudson, 1999; Morgan et al., 2004; O’Neill, 2000). Smith e

Sandstom (1999) afirmam que a demanda por coaches executivos exige distinguir as

capacidades e parâmetros do coaching executivo. Os autores montaram a Executive Coach

Summit convocada pela International Coach Federation em 1999. Consistiu em um grupo de

35 coaches de destaque no mercado que foram considerados líderes no campo do

treinamento executivo, que definiram o conceito de coaching executivo em 1999 e

expandiram este conceito e suas responsabilidades para: aqueles que trabalham com

executivos seniores que têm responsabilidade fiduciária de várias partes interessadas;

administração de recursos humanos, financeiros, intelectuais, de capital e recursos sociais; e

bem-estar econômico, social e ambiental de toda comunidade.

Como resultado desta reunião, o grupo encontrou competências básicas semelhantes tanto

no nível executivo como em outros tipos de coaching (ou seja, habilidades de escutar, criar

um ambiente para mudança, facilitar a autoconsciência e a capacidade de se concentrar nos

assuntos que são mais importantes para o cliente). Além disso, eles expandiram as

competências do coach executivo para incluir o seguinte: compreensão do mundo dos líderes,

proficiência em sistemas e comportamento organizacional, compreensão do desenvolvimento

da liderança, conhecimento aprofundado do desenvolvimento adulto, proficiência em

habilidades de comunicação que permite a operação em nível executivo, e habilidades

avançadas de coaching. Stern (2004) acrescentou gerenciamento de confidencialidade, a

capacidade de oferecer atividades de avaliação, ter uma orientação para resultados, possuir

capacidades de parceria, habilidade de fazer a transição para o desenvolvimento a longo prazo

e ter integridade e julgamento.

O coach executivo serve como um parceiro estratégico para o executivo e sua equipe. As

habilidades do coach executivo incluem negócios, perspicácia e gestão financeira, liderança e

habilidades organizacionais, análise e pensamento inovador, como capacidade de inspirar

confiança e compromisso com a ação. (MARSHALL, 2006)

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De acordo com Milaré e Yoshida (2007) o coaching de executivos é um processo

individualizado de desenvolvimento de liderança que otimiza a capacidade do líder para

alcançar metas organizacionais em curto e longo prazos. É conduzido por interação um a um,

dirigido por feedbacks de múltiplas fontes e baseado em confiança e respeito mútuo. Para

estes autores a especificidade do coaching de executivos, como processo de desenvolvimento

e treinamento, está em ser focado na melhoria do desempenho em busca do desenvolvimento

de novas competências, levando à satisfação profissional e pessoal, sendo seu ponto de início

o desejo (ou necessidade) de mudança para atingir suas metas.

Para Campos e Nunes Pinto (2012) uma possível abordagem para coaching no âmbito

organizacional refere-se ao coaching individual “também denominado coaching executivo, no

qual um profissional contratado, qualificado como coach, conduz um processo com um

colaborador com a finalidade de atender demandas e problemas específicos. A atuação do

coach é orientada no sentido de enfatizar forças e habilidades individuais do coachee, as quais

são aprimoradas por meio de feedback e aprendizagem contínua.

Assim, Conger e Benjamin (1999) entendem os coaches executivos são como professores, que

devem estar atentos as seguintes questões: como um líder executivo aprende, o processo

usado para facilitar a aprendizagem e o contexto no qual a aprendizagem ocorre. Como os

líderes quase nunca têm a oportunidade de obter aprendizado no desenvolvimento de

habilidades de liderança, coaches executivos fornecem em "tempo real" o aprendizado

necessário sobre as questões que enfrentam, os papéis que desempenham, os resultados que

desejam e precisam, e o desenvolvimento de competências necessárias para aumentar os

níveis de desempenho.

Para ser totalmente eficaz, o coaching de executivos deve possibilitar a integração de dois

mundos: o mundo do trabalho, com todas as suas variáveis, e o mundo além do limite

organizacional, frequentemente negligenciado. Conseguir ajudar uma pessoa significa

trabalhar com esses dois mundos: de um lado, as competências dos negócios e, de outro, o

social, o pessoal, a família. O coaching será bem-sucedido se abordar esses dois mundos

(MILARÉ, YOSHIDA, 2007).

Quando se trabalha com executivos, uma prática de aprendizado sugerida é fornecer

estrutura e oportunidade para conversas significativas que levem a novas percepções do

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executivo (GOLDSMITH et al., 2000). Os coaches podem usar a si mesmos como um barômetro

para onde o executivo está nos processos de pensamento. O coach faz perguntas para extrair

conteúdo mais profundas e significativas das conversas com o coachee, usando com segurança

expressões cognitivas e emocionais dentro deste contexto. Hudson (1999) propõe que os

coaches facilitam o crescimento profissional em clientes demonstrando domínio em áreas

profissionais que os executivos estão procurando desenvolver-se. Kilburg (2000) também

contribuí afirmando que coaches executivos são obrigados a promover o desenvolvimento de

toda a gama de comportamentos de liderança que combinem o desenvolvimento com as

necessidades apresentadas pelo executivo.

2.4 O Cliente

Aspectos do cliente do processo de coaching foram explorados a partir de vários pontos de

vista incluindo como e por que determinado coach é selecionado. Judge e Cowell (1997)

descobriram que quando os executivos selecionam um coach eles esperam uma assistência

que cobre uma variedade de requisitos, que em ordem descendente incluem: modificar

estilos de interação; construção de confiança nos relacionamentos; lidar melhor com

mudança; melhorar as habilidades de escuta; melhorar a fala em público; equilibrar o trabalho

e a vida pessoal; esclarecer e perseguir objetivos; fortalecimento de habilidades de delegação;

melhorar habilidades técnicas; lidar melhor com o estresse; melhorar as habilidades de

escrita; e manter o foco a longo prazo.

Quando os executivos foram convidados a prever quais das questões acima poderiam surgir

como necessárias para se desenvolver no futuro, as respostas alteraram ligeiramente o

ranking, identificando como as três principais questões: lidar melhor com a mudança,

modificar o estilo de interação e manter o foco de longo prazo. A única diferença real nas duas

listas foi o movimento de manter o foco a longo prazo de quase último na lista original para o

terceiro na lista secundária, de futuros problemas de coaching. Este reordenamento sugere

que os executivos estão reconhecendo uma necessidade maior de lidar com as complexidades

em mudanças e que o coaching pode fornecer assistência à medida que eles navegam pelas

mudanças.

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Com relação ao foco do engajamento no processo de coaching, a pesquisa de Wasylyshyn

(2003) apresenta as cinco principais razões pelas quais os clientes contratam coaches

executivos, sendo elas: para mudança de comportamento pessoal, reforçar eficácia da

liderança, promover relacionamentos mais fortes, desenvolvimento pessoal e integração. O

estudo de Dunn (2004) mostra que os executivos que estão em processo de coach

acrescentaram uma lógica adicional ao cliente para contratar um coach. Os clientes querem

tornar-se mais eficazes na definição e alcance de metas de carreira, criando e experimentando

a vida e experimentando um maior crescimento pessoal. Executivos descreveram seu

crescimento após o processo de coaching e foram encontradas quatro experiências comuns

neles: uma maior capacidade de lidar com problemas que ocorrem dentro e fora do trabalho;

um senso mais profundo de autoconsciência e de autoeficácia; um relacionamento positivo

que estimula o crescimento pessoal e um aumento da sensação de satisfação com a vida.

Ao explorar o processo de coaching para determinar a eficácia do método, Hall et. al (1999)

descobriram que os executivos tendem a se concentrar nos resultados e querem honestidade

em um feedback desafiador, ideias e indicadores de ação, objetividade e competência. Na

maioria das situações, os executivos são receptivos, entusiasmados e positivos em iniciar o

processo de coaching (GEGNER, 1997).

Estudos qualitativos com foco no cliente foram conduzidos por Hurd (2003) e Bush (2005). O

estudo de Hurd (2003) validou o número de razões pelas quais os clientes escolheram o

processo de coaching. Investigando o impacto do coaching na vida do executivo a partir de

uma perspectiva holística, o autor usou a interseção do desenvolvimento adulto, psicologia

relacional, desenvolvimento organizacional, psicologia organizacional e do desenvolvimento,

teoria da aprendizagem de adultos, pesquisa do cérebro e novas ciência como parâmetros

para a concepção do estudo. A partir desse cruzamento, um questionário foi concebido para

investigar como os participantes avaliam suas experiências com o processo de coaching. Hurd

conduziu entrevistas em organizações que atenderam a três critérios: o processo de coaching

tinha que ser totalmente financiados e apoiados pela organização, não deveria haver

restrições aos participantes em relação a razão de serem treinados e os participantes deviam

ser empregados da organização.

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Temas explícitos que surgiram das entrevistas feitas por Hurd (2003) incluem: feedback

concreto para buscar mudanças; melhor aceitação do feedback de terceiros; maior

autoconsciência e autoaceitação; compreensão de como as próprias ações impactam os

outros; novas formas de pensar e abordar situações; capacidade de fazer uma diferença

positiva em como a organização funciona e mudanças na minha vida pessoal. Havia também

vários temas implícitos descobertos pelo resultado das entrevistas, que incluíram: sentimento

de que é com a própria aceitação que se inicia o processo de coaching; um senso de

descoberta de que o coach fornece uma aventura de espelhamento ao tentar novas

abordagens; um lugar seguro para expressar pensamentos e dúvidas; preocupações e alegrias

sem julgamento; um sentido libertador de alívio no enfrentamento de problemas de alguém;

uma vontade de explorar a consciência; refletir antes de agir e um anseio de bem-estar com

um alcance para se permitir.

As implicações retiradas do estudo de Hurd (2003) mostram que os participantes

reconheceram o valor do feedback como fator integral na promoção da autoconsciência e

autogestão individual, que os benefícios do coaching impactam todas as áreas da vida e não

ocorre isoladamente, comportamento a mudança requerem feedback e prática contínuos.

Habilidades de coaches organizacionais identificadas como importantes para o cliente neste

estudo incluíram: uma ênfase em ajudar o relacionamento representando um alto nível de

habilidades de audição e avaliação, uma colaboração com o cliente que valoriza diferentes

perspectivas, um profundo respeito pelo conhecimento que emerge e uma ênfase em ajudar

os clientes a identificarem e desenvolverem um estilo pessoal para a solução de problemas e

trabalho contínuo que seja congruente com os valores e crenças do indivíduo.

Bush (2005) também explorou o fenômeno de ser treinado a partir da perspectiva do

executivo. Usando um método de amostragem em rede para identificar os participantes do

estudo, o autor aplicou dois critérios para inclusão no estudo. Os indivíduos tinham que ter

ocupado posições de nível executivo ou ser inscrito em um programa de desenvolvimento de

executivos corporativos patrocinados e o coach teve que ser consultor externo da

organização. Os seis temas que emergiram dos dados referentes à eficácia do coaching

executivo foram: resultados que beneficiam o cliente; compromisso do cliente;

relacionamento com o coach; processo de desenvolvimento estruturado; a contribuição do

coach e incluir outros no processo. O tema “compromisso” não só apresentado como um

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tema, mas foi entrelaçada como um fio ao longo de todo o processo de como o cliente tem

que ser motivado e comprometido com o processo de coaching. A organização deve

demonstrar compromisso na construção de um ambiente propício ao treinamento e suporte

financeiro de coaching para o executivo. Finalmente, o coach contribui com um nível de

compromisso com o processo de coaching através da construção de relatórios e utilização de

recursos e ferramentas que conduzam a resultados efetivos. O autor conclui com a seguinte

avaliação do coaching: Coaching executivo é eficaz quando um cliente, que está pronto para

o coaching e comprometido com o processo de coaching, trabalha com um coach cujo

histórico, experiência e qualidades pessoais promovem o cliente, e eles se envolvem em um

processo estruturado que é focado no desenvolvimento. Um processo que inclui outros, e leva

a negócios e/ou resultados pessoais que beneficiam o cliente.

2.4.1 O Cliente: Executivo vs. Organização

Os estudos citados até aqui (HURD, 2003; BUSH, 2005) pesquisaram sempre o executivo, ou

coachee, como sendo o cliente no processo de coaching. No entanto, Pliopas (2017) afirma

que no processo de coaching existem pelo menos três stakeholders: a pessoa que recebe o

coaching, ou coachee; a pessoa externa à organização contratada para conduzir o processo de

coaching, o coach; e aqueles que representam a organização, normalmente o gerente do

coachee e um profissional de Recursos Humanos. Sendo ainda possível que outras pessoas da

organização possam estar envolvidas, como colegas e subordinados do coachee, ou até

mesmo membros do conselho de administração.

Por esse ponto de vista é possível também existir um entendimento de que a organização,

através de um representante seja o verdadeiro cliente no processo de coaching por ser a

provedora financeira do processo e o executivo ser um ativo da organização.

Em sua pesquisa, Pliopas (2017) apresenta exemplos de definições propostas na literatura

acadêmica e por instituições da área: duas instituições de coaching relevantes, a International

Coach Federation e a Association for Coaching & European Mentoring and Coaching Council

(AC & EMCC, 2016) declaram em seu código de ética que o cliente no processo de coaching é

o coachee, e a organização que paga o coach tem papel de patrocinador. Corroborando com

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a ideia proposta pelas instituições citadas, Tobias (1996) diferencia que no coaching executivo,

o cliente é o coachee, e em projetos de consultoria, o cliente é a organização. Vanheule e

Arnaud (2016) definem o cliente do coaching executivo como o coachee, pois o que é

abordado no coaching é o esclarecimento de aspectos reprimidos no cliente e não o alcance

imediato dos objetivos organizacionais.

Por outro lado, Pliopas (2017) aponta autores que consideram a organização como o cliente:

Joo (2005) aponta que os clientes são os representantes da organização: profissionais de RH

ou executivos seniores envolvidos nos processos de coaching. Da mesma forma, Milaré e

Yoshida (2007) nomeiam a empresa como o cliente e a pessoa que recebe coaching como

participante.

Teoricamente a denominação de quem seria o cliente final no processo de coaching poderia

não ter grandes impactos nos resultados do processo. Em um mundo ideal, as metas de

desenvolvimento organizacional e do executivo são congruentes, e o coach, ao apoiar o

desenvolvimento do coachee, aumenta a performance deste e alcança os objetivos da

empresa. No entanto, os objetivos esperados pela organização, muitas vezes, são diferentes

do que é esperado pelo executivo (coachee) (PLIOPAS, 2017).

Entre as duas partes interessadas, executivo e organização, pode haver diferentes objetivos,

agendas e conflitos de interesses, e quando os objetivos não são congruentes, decisões devem

ser tomadas dentro do processo de coaching sobre o que é certo e o que é errado, e questões

de ética e moralidade podem surgir (PLIOPAS, 2017).

2.5 O Processo

O campo do coaching apresenta muitos modelos para a prática de coaching. Contudo, Kampa-

Kokesch e Anderson (2001) são consistentes em afirmar que a maioria das práticas de

coaching são praticadas com base em conhecimento empíricos, sendo que nenhum dos

modelos são cuidadosamente avaliados em um cenário de pesquisa.

Não contente com a profundidade ou natureza empírica dos modelos atuais, vários autores

construíram modelos teóricos para integrar aspectos alternativos para a prática de coaching

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ou para combinar misturas de estratégias comprovadas emprestadas de outras disciplinas.

Buscando embasar de maneira científica o processo de coach Kilburg (1996) identificou na

literatura científica psicológica elementos importantes para o processo sobre coaching

executivo, que são: 1) estabelecer o foco e os objetivos que serão trabalhados; 2) estimular o

comprometimento de tempo e de recursos do coachee com o processo; 3) o coach deve

estabelecer um pacto de confidencialidade, a partir de uma relação de empatia e confiança;

4) é aconselhável que o coachee encontre significados pessoais dentro do coaching para assim

gerar expectativas de sucesso; 5) o coach deve estimular experiências e aprendizagens das

quais o coachee possa tirar lições sobre como desenvolver o autocontrole emocional e

cognitivo; e 6) é oportuno a verificação contínua sobre os êxitos e falhas que ocorrem ao longo

do processo de coaching.

Já Levin et al. (2008) explicam que o processo de coaching executivo, para ser eficiente,

precisa da elaboração um plano estratégico por parte do coach. Esse plano é oriundo de uma

análise de cenário, na qual o coach identificará as variáveis-chaves que influenciam para as

tomadas de decisão dentro do contexto organizacional. Essa perspectiva faz com que o

processo coaching seja conduzido com um foco nos objetivos individuais do coachee, os quais

devem também se encontrar relacionados com o contexto organizacional (CAMPOS; NUNES

PINTO, 2012).

Wilkins (2003) procurou esclarecer e definir o processo de coaching e identificar as habilidades

e estratégias utilizadas pelos coaches durante o processo de coaching. Em seu trabalho de

pesquisa, com entrevistas telefónicas semi-estruturadas com questões relacionadas com

todas as áreas da prática de coaching aplicada para 22 coaches. Assim, foi elaborado um

modelo de processo de coaching constituído por três partes: propósito, processo e

relacionamento no processo do coaching. Neste modelo, o propósito do coaching é descobrir

a motivação do cliente, que é tipicamente motivada pela insatisfação com a vida. Uma vez que

as motivações foram identificadas, o cliente define metas alcançáveis que se concentram em

tarefas, equilíbrio e autorrealização. Na segunda fase do modelo, o processo, habilidades de

coaching de ouvir, questionar, conversar, conectar e intuir são utilizadas. Também incluí no

processo desenhar estratégias efetivas para alcançar objetivos e, junto com o alinhamento de

apoiar e desafiar as atividades. A área de relacionamento, a terceira fase, é focada no

desenvolvimento, construção e manutenção da relação coach-cliente, bem como dos papéis,

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características e dinâmicas culturais que fazem parte do relacionamento. Como resultado da

pesquisa, Wilkins (2004) desenvolveu a seguinte definição de processo de coaching: o

processo de coaching é um relacionamento em que um coach apoia, colabora e facilita ao

cliente o aprendizado, ajudando este cliente a identificar e alcançar objetivos futuros através

de avaliações, descoberta, reflexão, estabelecendo metas e ação estratégica.

Wilkins (2004) liga os resultados do coaching ao aprendizado transformacional e sugere que

o coaching pode modificar o esquema, o paradigma, a perspectiva e o comportamento interno

de um indivíduo. Como apontado por Marshall (2006), esse aprendizado pode acontecer com

um único evento dramático ou pode ocorrer durante períodos de tempo mais longos. O autor

sustenta que ao conectar o coaching com aprendizagem transformacional, a capacidade de

coaching em múltiplos contextos é expandida e potencialmente atravessa o debate em curso

sobre quais disciplinas são mais adequadas para serviços de coaching.

Alternativamente, Kleinberg (2003) revisou seis teorias que sustentam o coaching e inter-

relacionou-as em um modelo. As teorias incluídas são: A teoria da aprendizagem de adultos,

terapia centrada na pessoa/cliente, aprendizagem transformacional, entrevista motivacional,

teoria motivacional e psicologia do desenvolvimento.

Impulsionado pelo estado de incapacidade das escolas de formação de coaches para

responder a perguntas sobre seus modelos de uso próprio, processos e avaliação de coaching,

o modelo de Kleinberg (2003) ajuda pesquisadores, profissionais e organizações de coaching

a entender melhor o processo de coaching. O autor encontrou uma sobreposição de

fundamentos teóricos sobre os quais coaches baseiam suas intervenções de coaching. A partir

desta sobreposição, o autor propôs uma concisa visão geral de porque os coaches são

procurados, vários resultados potenciais do coaching e delineamento das teorias utilizadas.

Em alinhamento com pesquisas anteriores discutidas anteriormente aqui, o autor afirma que

os executivos buscam coaches para aumentar a autoconsciência e o equilíbrio, mudar

comportamentos tanto interpessoais como intrapessoais, ajudar a estabelecer e alcançar

metas, aliviar estresse e construir equipes organizacionais. Os resultados do coaching incluem

aumento de desempenho individual e de equipe, desenvolvimento pessoal e profissional,

realização de tarefas e funções, aumento da eficácia e produtividade e mudança

organizacional.

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Bricklin (2002) também propôs um modelo baseado na integração de um modelo de quatro

fases de coaching executivo desenvolvido por Peterson (1996) e um modelo de quatro fases

para o desenvolvimento inteligência emocional em organizações. O autor indicou que o

propósito de projetar o modelo foi criar uma estrutura que integrasse inteligência emocional,

coaching executivo, dinâmica organizacional, avaliação e prevenção. O modelo, denominado

RAPPORT, é um acrônimo em inglês para as sete fases que o autor identifica como chave para

o processo de coaching: 1) relacionamento e construção de relacionamento, 2) avaliar, 3)

fornecer feedback, 4) planejar a ação, 5) organizar a mudança, 6) revisar o progresso, e 7)

pensar à frente.

Moore e Highstein (2004) ao analisarem uma base inadequada para a prática de coaching,

criticam a falta de uma abordagem de coaching replicável e a incapacidade de medir os

resultados para o comportamento de mudança - mais particularmente no campo da saúde e

bem-estar. Por isso, propuseram um modelo de coaching que inclui uma integração de quatro

modelos psicológicos: psicoterapia orientada para a solução, entrevista motivacional, teoria

da escolha/terapia da Realidade e modelo transteórico. Os autores afirmam que tem havido

uma deficiência na integração do comportamento baseado em evidências estratégias de

mudança e que as avaliações, metodologias e habilidades ensinadas pelo coach têm pouca

conexão com a literatura acadêmica.

Concentrando-se no desenvolvimento de coaches com um conjunto de habilidades

replicáveis, o modelo proposto por Moore e Highstein (2004) inclui avaliação, construção de

relacionamentos, formalização de metas em um contrato, envolvendo o processo de auto-

mudança e medir os resultados. Em um teste piloto do modelo, oitenta por cento dos de

coachees usando o modelo foram capazes de completar o mínimo de três meses de

participação e daqueles que completaram o processo, entre setenta e oitenta por cento foram

capazes de manter seus objetivos de três meses. Os coaches que foram solicitados a preencher

uma pesquisa de feedback por e-mail responderam que o coaching de bem-estar era

significativamente mais eficaz que outros meios de entregar esforços de mudança de

comportamento.

Todos os autores dos modelos propostos recomendam uma avaliação empírica dos modelos.

Exploração de estratégias de coaching delineadas nos modelos, vinculadas a avaliações

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empiricamente testadas de práticas de coaching servirão para fornecer uma base para a

avaliação dos resultados do coaching.

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3 AVALIAÇÃO EM COACHING EXECUTIVO

Um dos melhores mecanismos para determinar os resultados em um processo de coaching

executivo é utilizar dados antes, durante e após o processo. Existe uma vasta gama de teste

que podem ser utilizadas para processos de coaching, tais como: modelo de Kikrpatrick,

modelo ROI, modelo de bem-estar e engajamento, modelo quantitativo baseado em medidas

psicológicas, balanced scorecard e o feedback 360.

Em relação ao coaching executivo, Zackon e Grant (2004) afirmam que a avaliação da prática

de coaching foi amplamente ignorada, nos resultados de sua pesquisa foi descoberto que

apenas 30% dos coaches entrevistados estudaram a realização de pesquisas de satisfação do

cliente, sendo que na maioria dos casos relatados o sucesso do processo foi diagnosticado

apenas como a avaliação positiva dos clientes. No entanto, entender as medidas e colocar

métricas como parte da avaliação do coaching executivo são propostas críticas para resultados

positivos no processo.

Gegner (1997) obteve resultados semelhantes ao constatar a falta de avaliação em processos

de coaching, em sua pesquisa mais de 40% dos clientes realizaram um processo de coaching

sem medições para avaliação, enquanto apenas 25% dos clientes participaram de algum tipo

de processo avaliativo. Os outros 35% foram avaliados com metas e valores pessoais que

funcionavam como medidas de referência para o cliente e para o coach.

Os participantes do Executive Coaching Summit de 2001 (Henderson, 2001) identificaram as

seguindo medidas para serem avaliadas como fatores de sucesso: desempenho

organizacional; mudança climática na organização; melhora na inteligência emocional;

benchmarks específicos e personalizáveis; linha de base avaliações (mensuração de fatores

pré e pós-engajamento); e satisfação (funcionário, executivo, cliente). Além disso, houve o

consenso de que se faz necessário haver um esforço no sentido de quantificar o retorno sobre

investimento nas organizações. No entanto, a variedade e natureza das medições dificultam

a avaliação dos resultados. As medidas de retorno sobre o investimento estão sendo refinadas

e submetidas a critérios avaliativos específicos. Gerir o seu crescimento, mantendo a adesão

às competências, modelos comprovados, critérios de avaliação e expectativas do cliente é um

dos maiores desafios para o campo do coaching (MARSHALL, 2006).

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Avaliando as vantagens e benefícios de um processo de coaching executivo Olivero, Bane e

Kopelman (1997) evidenciaram a necessidade de avaliação do processo para resultados

satisfatórios em coaching. Enfatizando a definição de metas colaborativas, práticas de

feedback, envolvimento da supervisão, avaliação de resultados finais e apresentação pública

como parte do processo de coaching. Para isso, os autores realizaram sessões one-one

semanais de coaching, o que forneceu a oportunidade de praticar técnicas comportamentais

em torno das possíveis resoluções que haviam sido elucidadas para o programa de coaching,

como: problemas de desempenho em que os gerentes eram treinados, implementação de

mudanças, exploração do impacto das ações no desempenho pessoal no curto e no longo

prazo e no desempenho de suas unidades.

Este processo de coaching ocorreu ao longo de oito semanas com os coaches executivos

conduzindo um projeto de trabalho real que abordaria uma das questões de desempenho em

torno das quais eles foram treinados em um workshop de três dias. Cada coach se reunia

semanalmente com seu coachee em sessões de uma hora para fornecer feedback sobre o

processo de evolução no desenvolvimento de habilidade.

Os resultados obtidos pelos autores demonstram que o aumento no acompanhamento dos

coachees durante o programa de coaching proporciona uma elevação na produtividade destes

em 80%. Tal descoberta corrobora com as alegações feitas por Conger e Benjamin (1999) e

Goleman et al. (2002) que o treinamento sozinho, sem um acompanhamento próximo e

avaliativo, é ineficaz na sustentação da mudança de comportamento. Mesmo havendo uma

série de possíveis explicações para as mudanças drásticas na produtividade, os autores

afirmam que dois aspectos do coaching contribuíram mais para que essa evolução fosse

possível. Os coaches apoiaram os clientes na definição de metas desafiadoras, mensuráveis,

realistas e com limite de tempo. Houve também um ciclo de feedback para fornecer

orientação para comportamentos que foram abordados no treinamento. Finalmente, os

autores diferenciam o treinamento quanto a forma de apresentação de estratégias de

mudança, sendo o treinamento que fornece princípios abstratos e o treinamento que fornece

formas concretas de mudança de comportamentos e desenvolvimento de novos

comportamentos, relatando que a forma concreta obteve resultados comportamentais mais

eficazes.

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Mondejar-Dy (2004) realizou um estudo para explorar os efeitos de um grupo de coaching

executivo na redução dos níveis da síndrome de burnout, caracterizado pelo esgotamento

físico e metal relacionados a vida profissional, em executivos e no aumento do

comprometimento organizacional destes. Os resultados deste estudo demostraram

diminuições no nível da síndrome de burnout, juntamente com níveis moderados de

aumentos de engajamento. Foram realizadas avaliações da síndrome de burnout como pré-

teste e pós-teste para avaliar os níveis de exaustão emocional. A intervenção do coaching no

grupo executivo incluiu o esclarecimento da natureza complexa e desafiadora das

responsabilidades dos executivos, respeito às sensibilidades do cargo exercido,

reconhecimento de alto risco e estilos de vida atrelado ao cargo que exerciam.

Após análise, o questionário de burnout mostrou reduções significativas na frequência e níveis

de intensidade de exaustão emocional. No entanto, não houve mudanças nos níveis de

despersonalização e subescala de realização pessoal, o que esse autor supõe se relacionar à

cultura dos executivos. Um dos principais resultados benéficos relacionados ao processo de

coaching foi que os níveis de solidão dos executivos, que ocupava a primeira posição no teste

da síndrome de burnout, passou a ocupar a quinta posição após o final do processo.

McCready (2004) investigou possíveis conexões entre estilo de gestão abordado pelo coach,

engajamento dos funcionários e a capacidade da organização em criar uma responsabilidade

alinhada com metas estratégicas. Os principais questionamentos que a pesquisa buscou

elucidar são: “o coaching me ajuda a realizar metas de trabalho; meu desenvolvimento como

líder e pessoa está aumentando graças ao programa de coaching; coaching cria um ambiente

de apoio; e coaching sozinho não garante sucesso”. Os entrevistados foram solicitados a

identificar seu próprio nível de envolvimento com o processo de coaching, resultando em

respostas positivas em 78% dos questionários. A questão que obteve maior resultado positivo

foi em relação ao alinhamento do coaching com valores pessoais, que recebeu uma resposta

positiva de 83,2%.

Usando um projeto de pesquisa-ação, o estudo de três anos de Thach (2002) investigou

participantes de um processo de desenvolvimento de liderança que foi aplicado a executivos

que estavam em sua posição atual a mais de seis meses e que ocupassem cargos de vice-

presidente, diretor ou indicado para futura sucessão. O projeto tinha como objetivo aumentar

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a porcentagem de eficácia da liderança global em uma avaliação pós-360º e aumentar o

número de candidatos a planejamento de sucessão de um a dois líderes que pudessem

assumir o papel de liderança imediatamente. As metas associaram um modelo de feedback

360º às necessidades de negócios relacionadas a alta gerência. A fase implementação do

processo ocorreu após a avaliação 360º dos clientes e uma sessão de briefing, as sessões de

coaching ocorreram após dois meses, aos cinco meses e aos dez meses. Em alguns casos, os

executivos e coaches se comunicaram por e-mails, telefonemas e mensagens de voz entre as

sessões de coaching.

No briefing, o coach e o executivo concordaram com metas e ações destinadas a abordar de

uma a três pontos de desenvolvimento. Os executivos também foram instruídos a

acompanhar os participantes que o avaliaram por meio de um feedback 360º, a fim de

demonstrar apreço por seus esforços e para obter seu apoio na elaboração de planos de ação

de desenvolvimento.

As taxas de participação no processo de coaching por parte dos executivos foram superiores

às esperadas, com taxas de abandono em 13% nos primeiros dois meses e 7% no terceiro mês,

sendo que a maioria dos casos estava associada a transferências ou renúncias. A eficácia da

liderança aumentou 58% com os executivos. Finalmente, o coaching teve o maior impacto

com executivos que experimentaram todas as sessões de coaching. Os temas que surgiram

em relação aos benefícios do coaching incluíram feedback sincero vindo da perspectiva de um

estranho, contribuição e suporte honestos e diretos. Estes resultados são consistentes com os

resultados das pesquisas realizadas por Hall, Otazo e Hollenbeck (1999) e Morgan, Harkins e

Goldsmith (2003) sobre os benefícios de coaching.

Em um estudo de método misto usando um desenho de pesquisa transversal e uma entrevista

de executivos que foram ou estavam atualmente sendo treinados, Gegner (1997) procurou

medir a eficácia do processo de coaching. As variáveis independentes foram estabelecimento

de metas, feedback, recompensas, autoeficácia, estilo de comunicação e habilidades

interpessoais. As variáveis dependentes eram consciência e responsabilidade. Os

questionários foram enviados aos executivos e obteve uma taxa de resposta de 32%. As

entrevistas foram realizadas com 58% das pessoas que responderam ao questionário. Como

resultado o autor indicou um maior senso de domínio e competência do executivo, isto é, a

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autoeficácia quando combinada com o estilo de comunicação do coach indica um aumento da

conscientização e responsabilidade resultante do processo de coaching. Isto foi apoiado nas

entrevistas com os executivos, que relataram tornar-se mais conscientes de si e dos outros e

como eles passaram a assumir mais responsabilidade por suas ações através do processo de

coaching.

Lew, et al., (2003) investigaram os resultados de um processo de coaching individual de doze

meses com um grupo de executivos do setor sem fins lucrativos. Concebido como um estudo

de método misto, os pesquisadores solicitaram aos participantes uma autoavaliação em

intervalos de seis meses, bem como conduziram entrevistas telefônicas semi-estruturadas e a

realização de estudos de caso para o grupo de pesquisa. Tentando abordar a diversidade na

formação, antecedentes e etnia, doze coaches foram selecionados para trabalhar com os

executivos de um grupo de trinta candidatos. Os executivos escolheram um coach com base

em informações básicas e após um processo de entrevista. Contratos de aprendizagem,

objetivos delineados, questões-chave e indicadores de progresso foram assinados por cada

executivo. Além de quarenta horas de treinamento, os pesquisadores realizaram três mesas

redondas, com duração de quatro horas cada. Entre os achados da pesquisa estavam:

melhorias entre a linha de base e as pesquisas finais de pós-teste, medindo as habilidades de

liderança e interação com pessoal, melhor clareza na visão organizacional e aumento do

alinhamento com a visão do pessoal e do conselho de administração, e aumento na eficácia

com o equilíbrio entre trabalho e família. Além disso, embora não tenham apresentado

resultados tão significantes, alguns executivos decidiram estender seu mandato com a

organização sem fins lucrativos, enquanto outros optaram por sair, o que pode ser entendido

pelo objetivo do coaching em identificar a adequação do executivo com a organização na qual

atua.

A satisfação geral por parte dos executivos com o seu processo de coaching foi de 4,6 em uma

escala de 1 a 5, onde cinco significa muito satisfeito e 1 representa nada satisfeito.

Importantes fatores relacionados à sustentabilidade dos resultados após a conclusão do

projeto foram: participantes estavam usando o processo para uma reflexão e introspecção de

maneira contínua, os participantes associaram aumentos em seus níveis de consciência,

insight e auto-aceitação com o contínuo trabalho em suas próprias habilidades de liderança,

os participantes esperavam aumentar seus níveis de autoestima para impactar seus esforços

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no futuro, e os participantes relataram a integração de técnicas e recursos aprendidos durante

o processo de coaching para o uso em suas atividades diárias. Finalmente, os executivos

indicaram um interesse moderado em construir práticas de coaching nas organizações em que

atuam.

3.1 Modelos de avaliação em coaching executivo

3.1.1 Modelo de Kirkpatrick

Dada a sua utilização generalizada entre os profissionais de treinamento (GOLDSTEIN; FORD,

2002), a taxonomia de quatro níveis proposta por Kirkpatrick (1977) fornece uma base útil

para identificar critérios de avaliação em coaching com o objetivo de analisar sua eficácia e

impacto.

Os quatro níveis para mensuração de eficácia em treinamentos proposto por Kirkpatrick

(1977) são reação, aprendizagem, mudança comportamental e resultados organizacionais:

• Nivel 1 – Reação: Este nível mensura como os participantes do treinamento (no caso

do coaching, os coachees) reagiram ao treinamento. Neste momento é possível o

surgimento de três tipos de reações: afetivas (de satisfação), instrumentais (de

utilidade) e reações de dificuldade (de aprendizagem) que podem ser recolhidas por

meio de questionários, entrevistas ou observação de comportamento (CASTRO E

SILVA, 2016).

A importância em se avaliar a reação, está em entender como o treinamento foi

recebido pelos participantes. Além disso, ajuda a melhorar o processo para futuros

programas de coaching.

• Nível 2 – Aprendizagem: Medir qual foi a evolução no aprendizado dos participantes

do programa, analisando seus conhecimentos e habilidades que foram especificados

para serem desenvolvidos dentro dos objetivos de aprendizagem. A medição desta

aprendizagem pode ser feita de distintas maneiras, dentre elas: testes escritos,

estudos de caso, aplicação de instrumentos de autoavaliação e observação.

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• Nível 3 – Mudança comportamental: Medir qual foi a mudança de comportamento

dos participantes do processo em decorrência deste. Esta mudança de

comportamento é percebida pela maneira como os participantes aplicam as

informações aprendidas no local de trabalho, o que acarreta em um aumento de

desempenho no trabalho. Para este nível é possível aplicar um feedback 360 graus ou

questionário (CASTRO E SILVA, 2016).

• Nível 4 – Resultados organizacionais: Analisar os resultados de todo o processo,

avaliando os resultados organizacionais. Entre os indicadores que podem ser utilizados

para a mensuração deste nível estão: produtividade, absenteísmo, relação com cliente

e número de vendas (CASTRO E SILVA, 2016).

Pelo Quadro 1, referente a avaliação em processo de coaching proposta por Ely et al. (2010)

é possível destacar os critérios típicos de avaliação de treinamento e como eles podem ser

usados para avaliar o coaching executivo como parte de uma abordagem sumativa.

Quadro 1: Avaliação em processo de coaching

Foco da avaliação Fontes de dados relevantes

Reação · Percepção do cliente sobre a eficácia do coaching · Percepção do cliente sobre o coach (por exemplo, competência) · Satisfação do cliente com a relação coach-coachee (por exemplo, confiança) · Satisfação do cliente com o processo de coaching (por exemplo, frequência de reuniões)

· Relatórios de satisfação (cliente) · Escalas de classificação ancoradas no comportamento (cliente)

Aprendizagem · Auto-consciência · Flexibilidade cognitiva · Auto-eficácia · Atitudes no trabalho (por exemplo, satisfação no trabalho, comprometimento organizacional)

· Pré e pós auto-avaliações (cliente) · Auto-relato de flexibilidade cognitiva, auto-eficácia e atitudes no trabalho (cliente)

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Mudança comportamental

· Mudança nos comportamentos de liderança do cliente (por exemplo, gerenciamento de recursos de pessoal) · Realização de metas do coaching pelo cliente

· Pré e pós avaliações de feedback 360 graus de comportamentos de liderança (cliente, subordinados e superior) · Classificações de realização de metas (auto e outros relevantes)

Resultados · Retenção de funcionários (clientes e subordinados do cliente) · Segmentação adequada para preencher posições de liderança sênior · Mudanças nos subordinados (por exemplo, satisfação no trabalho e desempenho) · Mudanças na satisfação dos clientes · Pesquisa de satisfação do cliente · Retorno sobre o investimento

· Registros organizacionais · Planejamento de sucessão · Satisfação e comprometimento (subordinados do cliente)

Fonte: Ely et ai. (2010)

O modelo a seguir, denominado como avaliação ROI se trata de um modelo que utiliza a

taxonomia de Kirkpatrick adaptado a avaliação de coaching (CASTRO E SILVA, 2016).

3.1.2 ROI

O Indicador financeiro ROI – Return on Investment também é um modelo de avaliação muito

praticado pelas organizações. De acordo com Phillips e Phillips (2005) a metodologia do ROI é

utilizada em mais de quarenta países, sendo que esta é uma metodologia que se baseia nos

quatro níveis de Kirkpatrick acrescido de um quinto nível, o indicador ROI.

Entre os motivos para se utilizar o retorno sobre investimento para mensurar o sucesso em

coaching executivo os autores citam (PHIPPLIPS; PHILLIPS, 2005):

1. Visibilidade: um projeto altamente visível ou até mesmo controverso, às vezes, deve

ser mantido em níveis mais altos de responsabilidade, incluindo a demonstração do

valor com dados de ROI confiáveis.

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2. Tendência de responsabilização: executivos estão exigindo resultados de diferentes

processos e projetos - solicitando o ROI como um argumento lógico – se há um

investimento financeiro esperasse que haja um retorno sobre esse investimento.

3. Custos: o coaching é caro e o custo do coaching continua aumentando. Um coach de

alto nível cobra taxas muito altas e algumas organizações oferecem treinamento para

todos os seus gerentes e executivos. O aumento dos custos se traduz na necessidade

de prestação de contas adicionais, muitas vezes prestadas por meio do ROI.

4. Preocupação com as habilidades pessoais: como os coaches executivos se enquadram

na categoria de "difícil de mensurar", típica das habilidades pessoais, os executivos

estão mais preocupados com o ROI.

5. Um termo familiar: o conceito de ROI é um termo familiar para executivos que

gerenciam negócios ou partes de negócios. O ROI é usado para investimentos em

fábricas, equipamentos e outras empresas. Então, por que não deveria ser usado para

outros grandes investimentos também? Além disso, executivos com MBAs e diplomas

de administração estudaram o conceito de ROI, sabem como ele é desenvolvido e

apreciam a utilidade do conceito.

6. Uma longa história de uso: o conceito de ROI é utilizado há mais de 300 anos como

uma ferramenta de negócios. Não é uma nova moda que passa pela organização. Em

vez disso, é um amigo antigo e familiar que agora é usado em lugares desconhecidos,

como capital humano, qualidade e tecnologia.

A Metodologia ROI, demonstra como se dá a aplicação do método dentro dos 5 níveis

propostos. No nível 1 (reação e ações planejadas) o foco e a satisfação do coachee com o

processo e a execução das ações planejadas. Abrange medidas como: relevância do processo

para o trabalho atual, intenção de usar o que for aprendido e eficácia do processo. No nível 2

(aprendizado) o foco é no desenvolvimento do conhecimento, habilidades e atitudes,

geralmente são utilizadas escalas de autoavaliação. No nível 3 (aplicação e implementação) o

foco é na mudança de comportamento no trabalho e o monitoramento da mudança. As

informações aqui são capturadas durante e após o processo. No nível 4 (impacto no negócio)

o foco é na mudança dos indicadores de impacto no negócio proporcionada pelos novos

comportamentos dos executivos em decorrência do coaching. Pode-se utilizar indicadores

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como: produtividade, qualidade, custos ou tempo. No nível 5 (ROI) se compara os benefícios

monetários do programa em relação aos custos do mesmo (CASTRO E SILVA, 2016).

Na Figura 1, O Modelo ROI, é elucidado como se dá o processo para mensuração do processo

de coaching e em que momento os cinco níveis se apresentam.

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Figura 1: O Modelo ROI

Fonte: adaptado de Phillips e Phillips (2005)

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3.1.3 Modelo Balanced Scorecard

O balanced scorecard (KAPLAN; NORTON, 1997) é um instrumento gerencial que procura

avaliar os resultados de uma organização a partir da mensuração de ativos tangíveis e

intangíveis da empresa (produtos, serviços de qualidade, funcionários competentes e

motivados, processos eficientes e clientes satisfeitos). Este instrumento preserva as medidas

financeiras tradicionais, mas focaliza outras três perspectivas de desempenho: clientes,

processos internos e aprendizagem (BRANDÃO et al., 2008). Desta maneira, o balanced

scorecard (BSC) traduz a missão, visão e a estratégia organizacionais em objetivos, ações e

medidas (de curto, médio e longo prazo) organizados segundo quatro diferentes perspectivas

de desempenho: financeira, clientes, processos internos e aprendizado/crescimento.

Apesar de ser um modelo desenvolvido para a mensuração de resultados organizacionais,

Rampersad (2006) desenvolveu o modelo que ficou conhecido como personal balanced

scorecard (PBSC), que seria uma abordagem em nível pessoal para mensuração de

desempenho relacionado ao trabalho e a vida pessoal baseada em autoavaliação. O processo

de pensamento e mudança de mentalidade que fornecem sua base são projetados para

preparar o indivíduo para a ação e, tão importante quanto, para o envolvimento interno em

seu trabalho. Os dois juntos promovem maior resolução de objetivos, paixão e engajamento.

O princípio subjacente é bastante simples. “Ao escrever seu PBSC, você coloca um espelho na

sua frente. À medida que você adquire insights, você se torna mais pró-ativo e seguro de si e

descobre que vai aprender mais rápido e pensar com mais clareza.” (RAMPERSAD, 2008).

O PBSC é um scorecard relacionando atividades do trabalho do indivíduo com atividades

pessoais, englobando sua missão pessoal, visão, funções-chave, fatores críticos de sucesso,

objetivos, medidas de desempenho, metas e ações de melhoria, divididas em quatro

perspectivas: interna; externa; conhecimento e aprendizagem; e financeira. O modelo se

baseia no que o indivíduo considera importante para a vida, como seus hábitos, habilidades e

comportamentos pessoais. Essas informações apontam para o bem-estar pessoal e sucesso

na sociedade. Para as ambições pessoais (missão pessoal, visão e funções-chave) permite

expressar suas intenções pessoais, identidade, ideais, valores e força motriz, bem como obter

mais insights sobre si mesmo.

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Os elementos do PBSC estão divididos em quatro perspectivas, essenciais para o

desenvolvimento pessoal, bem-estar e sucesso na sociedade (RAMPERSAD, 2006):

1. Interno: relaciona-se à saúde física e estado mental. Como o indivíduo pode controlá-

los para criar valor para si e para os outros? Como se sentir bem em relação ao trabalho

que desenvolve, assim como nas atividades destinadas ao tempo livre?

2. Externo: relações pessoais (cônjuge, filhos, amigos, empregador, colegas e outros).

Como estas pessoas percebem o indivíduo?

3. Conhecimento e aprendizagem: habilidades e capacidade de aprendizagem. Como

aprender e como permanecer bem-sucedido no futuro?

4. Financeiro: estabilidade financeira. Até que ponto o indivíduo é capaz de se satisfazer

em relação às suas necessidades financeiras?

Estas quatro perspectivas fundamentais formam uma parte integral da ambição pessoal, e

junto com fatores pessoais críticos de sucesso configuram o elo entre a ambição pessoal

(longo prazo) e os objetivos pessoais, medidas de desempenho, metas e ações de melhoria

(curto prazo). Desta maneira, o PBSC pode ser definido pela seguinte fórmula:

PBSC = missão pessoal + visão + papéis-chave + fatores críticos de sucesso + objetivos

+ medidas de desempenho + metas + ações de melhorias (divididas nas quatro

perspectivas citadas acima).

A Figura 2, PBSC framework, ilustra a estrutura de um questionário a ser respondido neste

modelo, sendo que no caso do processo de coaching, cabe ao coach auxiliar o coachee na

descoberta destas questões.

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Figura 2: PBSC framework

Fonte: adaptado de Rampersad (2006)

Este modelo de avaliação para processos de coaching permite que o coach trabalhe

justamente com o coachee os pontos relevantes de desenvolvimento relacionados não apenas

a questões internas a organização, ou seja, relações de trabalho, mas também permite um

desenvolvimento de questões da vida pessoal e, por isso, pode ser usado por coachings

executivos e por coachings de vida.

Missão Pessoal

Quem eu sou?

Qual é minha filosofia de vida? Por que eu estou aqui? Quais são meus

objetivos de vida? O que me motiva a viver? Quais são minhas aspirações

mais profundas? Por que eu faço o que faço, o que eu faço? Quais são meus

talentos únicos? Quais são minhas principais crenças?

Visão Pessoal

Papéis-chave Pessoais

Fatores Críticos de

Sucesso Pessoal

Objetivos Pessoais

Medidas e Metas de

Desempenho Pessoal

Ações de Melhoria

Pessoal

Para onde estou indo?

Quais valores e princípios guiam meu caminho? O que eu quero alcançar?

Quais minhas intenções no longo-prazo? Qual é meu ideal? O que eu

represento? No que eu acredito? Como quero me distinguir na sociedade?

Como eu me vejo?

Que tipo de relações eu gostaria de ter com os outros?

Como eu gostaria de cumprir diferentes papéis em minha vida, a fim de

realizar minha missão e visão pessoal?

Quais fatores me tornam único?

Quais fatores em minha ambição pessoal são decisivos para meu bem-estar

pessoal e sucesso? Quais são as minhas competências mais importantes?

Que resultados desejo alcançar?

Quais resultados de curto-prazo mensuráveis desejo alcançar? Quais são

minhas principais deficiências? Qual é a mudança mais importante que eu

enfrento em relação ao meu trabalho e carreira?

Como posso mensurar meus resultados pessoais?

O que torna meus objetivos pessoais mensuráveis? Quais valores preciso

obter? Quais são meus objetivos?

Como desejo alcançar meus resultados?

Como posso realizar meus objetivos pessoais? Que ações de melhoria preciso

realizar para isso? Como faço para ter um aprendizado contínuo?

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3.1.4 Modelo feedback 360º

O instrumento de feedback 360º permite ao coach obter informações a partir do líder, do

supervisor do líder ou conselho de diretores, colegas, subordinados diretos e qualquer

membro da organização que tenha relação com o coachee (MARSHALL, 2006). Essa

ferramenta pode fornecer uma gama de benefícios e informações relevantes aos líderes e às

organizações. Primeiramente, fornece uma nova perspectiva para melhor entendimento dos

comportamentos, habilidades, desempenho e habilidades do coachee, pois permite uma visão

abrangente desses fatores e elimina alguns dos problemas associados a autoavaliações.

(McCAULEY; MOXLEY, 1996; McGARVEY,; SMITH, 1993). Em segundo, este modelo de

avaliação permite que os participantes se avaliem entre si, admitindo uma percepção de como

a perspectiva dos outros em relação a si pode afetar não apenas a própria equipe, mas toda a

organização. Goleman et al. (2002) identifica a autoconsciência como um componente crítico

no desenvolvimento de liderança e o processo de avaliação fornece isso ao líder. Em terceiro

lugar, quando o executivo constrói um plano de autodesenvolvimento, os valores e estratégias

organizacionais podem ser reforçados (LONDON; SMITHER, 1995). Finalmente, se os

comportamentos do líder não estiverem alinhados com a direção da organização, eles podem

ser redirecionados durante esse processo de feedback.

Para Marshall (2006) quatro fatores afetam o sucesso dos processos de feedback 360º:

1. Comprometimento do executivo: o engajamento e colaboração do executivo são

fatores críticos, pois estes, frequentemente, sofrem de “doença do CEO” (Goleman,

et.al., 2002) que impede que eles recebam comentários importantes sobre seu

desempenho por insegurança e medo de represálias por parte de indivíduos que

possam fornecer essa informação.

2. Sucesso no passado: muitas vezes os executivos não percebem uma real necessidade

de propor alterações em nível pessoal que possam influenciar a organização, alegando

que o que está dando certo não deva ser melhorado ou mudado.

3. Instrumento correto: encontrar o instrumento correto e o processo mais eficaz de

divulgação dos resultados pode ser o fator decisivo para se obter resultados bem-

sucedidos ou fracassados. Yukl e Lepsinger (1995) propõem que o instrumento deve:

ser bem pesquisado, contendo itens e escalas diretamente ligados a eficácia do

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processo, prever comportamentos específicos e observáveis, medidos e descrito em

palavras positivas e especificar a relação do avaliador com o processo.

4. Cultura organizacional: a administração do feedback 360º deve ser incorporado como

parte da cultura organizacional, pois é um evento contínuo e pode ajudar o executivo

a melhorar comportamentos de liderança (MARSHALL, 2006).

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4 MÚLTIPLAS AGENDAS NO COACHING EXECUTIVO

Neste capítulo, é apresentada a relação triangular, termo utilizado para descrever as

interações entre coach, coachee e organização, que é a base dos conflitos gerados pelas

múltiplas agendas. São enumerados quais os conflitos de agenda inerentes ao coaching

executivo e como apresentam risco ao sucesso de todo o processo caso não sejam

devidamente tratados.

4.1 Relação triangular em coaching executivo

Como o processo de coaching envolve a contratação de um coach externo à organização para

que ele desenvolva um trabalho juntamente com os executivos, forma-se assim uma relação

triangular onde os envolvidos são: a organização, o coachee e o coach (LOUIS; FATIEN

DIOCHON, 2014). A Figura 3: “Relações Triangulares e Díádicas no Processo de Coaching

Executivo” demonstra essa configuração de relações.

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Percebe-se a relação triangular formada entre os três participantes do processo de coaching

executivo, assim como as relações diádicas que se formam: entre coach e coachee, entre

coachee e organização e entre coach e organização. Sendo importante esclarecer que a

“organização” é um termo que pode ser representado pelo líder direto do executivo, por um

profissional de RH (LOUIS; FATIEN DIOCHON, 2014), como outros stakeholders, tais como

pares do coachee e seus subordinados (MILARÉ; YOSHIDA, 2007).

As relações diádicas resultam de diferentes contratos que conectam as partes: contrato

pessoal (ENNIS; GOODMAN; OTTO; STERN, 2012), contrato relacional (O'SULLIVAN et. al,

2012), contrato psicológico (LOUIS; FATIEN, 2014), contrato comercial (O'SULLIVAN et. al,

2012), e assim por diante. Cada relacionamento diádico pode dar origem a "interações

estratégicas" bem como “múltiplas agendas ocultas, objetivos políticos, objetivos estratégicos

e expectativas pessoais” (LOUIS; FATIEN, 2014). Estes existem porque na relação diádica uma

das três partes envolvidas está ausente e a parte ausente então imagina uma espécie de

coalizão secreta ou uma agenda secreta que está sendo formado fora de sua presença ou

controle (LOUIS; FATIEN, 2014). A complexidade de tal situação é aumentada pela presença

Figura 3: Relações Triangulares e Diádicas no Processo de Coaching Executivo

Fonte: Adaptado de Louis e Fatien Diochon (2014)

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de outros atores, estes ocultos, como clientes da organização, o gerente do coachee, e assim

por diante.

Na seção a seguir é apresentado como são percebidas as múltiplas agendas durante o

processo de coaching, assim como o participante do processo que a percebe.

4.2 Múltiplas agendas em coaching executivo

A seção anterior apresentou a complexidade do relacionamento triangular que se forma no

coaching executivo, e quão difícil pode ser gerenciar possíveis conflitos de interesse. Com

tantas partes interessadas e tantas interações diferentes, é esperado que agendas múltiplas

possam surgir durante o processo.

A dinâmica das relações diádicas entre os participantes abre a possibilidade de que um dos

participantes crie agendas que não envolva todos os participantes, o que pode gerar conflitos

de interesse e insegurança por parte dos que se sentem excluídos do processo, o que pode

gerar uma baixa qualidade ao final do processo. Essas agendas múltiplas da relação triangular

podem ser explícitas ou não, conscientes ou não (PLIOPAS, 2018).

O Quadro 2 lista a natureza das agendas múltiplas ou ocultas citadas por Louis e Fatien

Diochon (2014). Enquanto algumas das agendas já haviam sido mencionadas na literatura

acadêmica, outras se apresentam como novas situações identificadas nas entrevistas dos

autores. Na primeira coluna é identificada a natureza da agenda e o nome da para tal

fenômeno, na segunda coluna é indicado a que participante da relação triangular ele pertence

e na terceira coluna é indicado onde tais agendas já foram encontradas na literatura sobre o

assunto.

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Quadro 2: Natureza das Múltiplas Agendas

Agenda Quem Literatura

O presente venenoso: A organização tem a intenção de demitir o executivo e usar o coaching como “último recurso” ou como uma desculpa para mostrar que, apesar de todos os seus esforços, o executivo ainda não cumpria os requisitos do papel, e, portanto, tem que ser demitido, tornando o coaching "Presente venenoso".

Organização Fatien, 2012

A organização excluída: o executivo deseja trabalhar com o coach para "desenvolver sua carreira" fora da organização, mas sem informar a organização que ele está planejando sair.

Coachee St John-Brooks, 2010

A individualização: um problema relacionado ao coletivo (área, departamento, organização) é deslocado para uma única pessoa e resulta num tratamento parcial do problema através do coaching individual.

Organização Tobias, 1996; Amado 2004

O alto-falante: usar o coach para entregar mensagens desagradáveis para o coachee, o que é de responsabilidade da organização/gerencia direta, a fim de evitar fazer isso diretamente, ou seja, “externalização do papel do gerente”.

Organização Fatien, 2012

O coachee excluído: o coach e a organização concordam com um objetivo de treinamento sem compartilhá-lo com o coachee.

Coach/Organização Não encontrado

Gestão de conflitos: o coach descobre que o coachee e o gerente direto estão em conflito, o que compromete a qualidade das informações recebidas de cada uma das duas partes e obriga o coachee a entrar em conflito de gestão.

Coachee/Organização Não encontrado

O aparente engajamento: o executivo aparenta parecer engajado. Este executivo concorda em participar de processo de coaching que tem como objetivo modificar algum comportamento pessoal, sem, no entanto, pretender realmente modificar esse comportamento.

Coachee Bluckert, 2006

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A agenda oculta imaginária: o coachee acredita/suspeita que a organização tenha uma agenda, o que pode não ser o caso. Isso impacta a capacidade do coachee desenvolver uma relação de confiança com seu coach.

Coachee/Organização Não encontrado

A estratégia de intervenção oculta do coach: o coach trabalha indiretamente em treinar outros funcionários na organização, a fim de abordar os objetivos acordados com o coachee indiretamente.

Coach Não encontrado

Agendas conflitantes da organização: Diferentes membros do conselho possuem diferentes objetivos de treinamento para o CEO.

Organização Não encontrado

Fonte: Adaptado de Louis e Fatien Diochon (2014)

Cada uma das agendas múltiplas citadas pode comprometer o resultado final do processo de

coaching, e por isso cabe ao coach ou grupo de coaches responsáveis pelo processo avaliarem

e sanarem os possíveis desafios que possam se formar em decorrência dessas (LOUIS &

FATIEN, 2014).

4.3 Desafios criados pelas múltiplas agendas

Como esperado, essas múltiplas agendas criam um número de desafios para o processo de

coaching, sendo o coach a parte responsável pelo bom desenvolvimento do projeto, cabe a

ele solucionar tais desafios, que podem ter as seguintes naturezas:

• Problemas de confidencialidade: elucidar uma agenda oculta formada dentro de

relações diádicas suscita em alguns problemas de confidencialidade. Na verdade,

questões de confidencialidade são ainda mais complicadas em um contrato triangular

do que em um contrato diádico. Na maioria das vezes, o coach precisa comunicar uma

certa quantidade de informação para cada uma das diferentes partes dentro do

triângulo. Por exemplo, a organização esperaria ser atualizada sobre o progresso do

coaching e se os objetivos definidos foram alcançados ou não (LOUIS; FATIEN

DIOCHON, 2014). Contudo, o coach deve estar ciente de não se tornar "o ouvido da

pessoa poderosa responsável” e não revelar qualquer informação dada pelo cliente

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durante as sessões (BLUECKERT, 2006). Ao mesmo tempo, o coach pode saber pela

organização algo sobre o cliente ou o futuro do cliente e não pode lhe dizer devido à

confidencialidade (St. JOHN-BROOKS, 2010). Perguntas que os coaches podem se

perguntar incluem:

o o coach pode divulgar para a organização o que foi descoberto como parte das

sessões one-on-one com o coachee?

o O coach pode compartilhar com o coachee o que foi discutido em sigilo com a

organização?

• Conflitos de lealdade: quando múltiplas agendas criam questões éticas para o coach,

ele sente desconforto e insatisfação que levam a uma lealdade conflituosa, como

analisado por Nizet (2012). Os autores mostram que o coach vai compartilhar suas

preocupações com o coachee e/ou com a organização, terminar o contrato, ou ficar

envolvido, trabalhando com base em seus valores.

• Desafios emocionais: como o coach deve gerenciar os desafios emocionais que

poderiam resultar no enfrentamento de múltiplas agendas? Em uma pesquisa

dedicada ao estudo de emoções em coaching, Cox e Bachkirova (2007) identificaram

quatro formas utilizadas pelos coaches para lidar com suas próprias emoções: (a)

através da reflexão e autoexame, (b) explorando ativamente a questão com um

cliente, (c) pela rescisão do processo de coaching, e (d) levando a questão para

supervisão.

• Desafios conflitantes: em alguns casos, as múltiplas agendas revelam um conflito

preexistente entre o coachee e a organização. Isso poderia criar, de acordo com

Hawkins (2008), um "triângulo dramático" onde o coachee poderia ser percebido como

a "vítima", a organização como o "perseguidor" e o coach como o "salvador". Em tal

situação, o coach poderia reagir exibindo um "comportamento de ajuda excessivo"

resultando em uma co-dependência entre o coach e o cliente (KETS DE VRIES, 2010).

Como apresentado até aqui, muitos autores têm reconhecido a importância da relação

triangular, das múltiplas agendas no coaching executivo e dos desafios que delas se

desenvolvem, o que demonstra a necessidade de se estudar e examinar esse fenômeno de

maneira mais aprofundada para se compreender melhor sua dinâmica. Assim, no capítulo

seguinte, são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa.

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5 METODOLOGIA DA PESQUISA

Neste capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos aplicados para atender os

objetivos desta pesquisa. O método selecionado pode ser definido como uma pesquisa de

caráter exploratório, realizando a coleta de dados por meio de entrevistas de profundidade e

focalizadas, sendo a análise de conteúdo a técnica de análise selecionada.

Selltiz et al. (1967) distingue os níveis de pesquisa em três grupos: estudos exploratórios,

estudos descritivos e estudos que verificam hipóteses causais. Para Gil (1999) a pesquisa

exploratória se destina aos estudos que possuem o objetivo de desenvolver, esclarecer e

modificar conceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou

hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Ainda de acordo com o autor, este tipo de

pesquisa é o que apresenta menor rigidez no planejamento.

O método de entrevistas para coletar dados é um dos mais utilizados em pesquisas sociais. Se

caracteriza por ser adequada à obtenção de informações acerca do que pessoas sabem,

esperam e desejam, assim como suas razões para cada resposta (GIL, 1999). A entrevista

semiestruturada é definida como uma lista de informações que se deseja de cada

entrevistado, mas a forma de perguntar (a estrutura da pergunta) e a ordem em que as

questões são feitas irão variar de acordo com as características de cada um dos entrevistados

(OLIVEIRA, 2011).

Para compreender os resultados das entrevistas é realizado uma análise de conteúdo. Bardin

(1997) afirma que a análise de conteúdo pode ser uma ferramenta que permite fugir de uma

falsa segurança trazida por números, possibilitando a exploração de novos desdobramentos,

não necessariamente previstos de forma antecipada. Corroborando com essa ideia, Oliveira

(2011) afirma que a análise de conteúdo trata de trazer à tona o que está em segundo plano

na mensagem que se estuda, buscando outros significados intrínsecos na mensagem.

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5.1 Natureza da pesquisa

De acordo com Richardson (1999), existem dois grandes métodos de pesquisa: o quantitativo

e o qualitativo. O primeiro, caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas

modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas

estatísticas. Já o método qualitativo, é uma forma de pesquisa adequada para entender a

natureza de um fenômeno social, diferenciando-se pela abordagem interpretativista das

palavras e das situações, buscando entender o contexto e o ponto de vista sob a ótica do ator

social (FERREIRA, 2008).

Existem casos em que o estudo em questão apresenta conotação qualitativa, dentre os quais

Richardson (1999) cita três:

1. Situações em que se evidencia a necessidade de substituir uma simples informação

estatística por dados qualitativos. Isto se aplica, principalmente, quando se trata de

investigação sobre fatos do passado ou estudos referentes a grupos dos quais se

dispõe de pouca informação.

2. Situações em que se evidencia a importância de uma abordagem qualitativa para

efeito de compreender aspectos psicológicos cujos dados não podem ser coletados de

modo completo por outros métodos devido à complexidade que encerra.

3. Situações em que observações qualitativas são usadas como indicadores de

funcionamento de estruturas sociais.

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador

como seu principal instrumento. A pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado

do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada via de regra, por meio

do trabalho intensivo de campo (OLIVEIRA, 2011). A preocupação com o processo é muito

maior que com o produto. O interesse do pesquisador ao estudar um determinado problema

é verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações

cotidianas.

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Bogdan & Biklen (2003) afirmam que pesquisas qualitativas envolvem a obtenção de dados

descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatizando

mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes.

Com base nessas informações, a presente pesquisa tem seu foco voltado para a percepção de

coaches sobre o processo de coaching executivo, o que justifica o uso do estudo exploratório.

5.2 Definição do sujeito da pesquisa

Para o presente trabalho o estudo realizado é de amostragem não-probabilística por

conveniência. Segundo Malhotra (2001), para populações infinitas, ou em contextos de

constante mudança, o estudo estatístico pode ser realizado com a coleta de parte de uma

população (amostragem), denominada amostra. Amostra é um subgrupo de uma população,

constituído de n unidades de observação e que deve ter as mesmas características da

população, selecionadas para participação no estudo.

A amostragem não-probabilística confia no julgamento pessoal do pesquisador e não na

chance de selecionar os elementos amostrais. O pesquisador pode, arbitrária ou

conscientemente, decidir quais serão os elementos a serem incluídos na amostra. As amostras

não-probabilísticas podem oferecer boas estimativas das características da população, mas

não permitem uma avaliação objetiva da precisão dos resultados amostrais. Como não há

maneira de determinar a probabilidade de escolha de qualquer elemento em particular para

inclusão na amostra, as estimativas obtidas não são estatisticamente projetáveis para a

população (MALHOTRA, 2001).

Gil (1999) ainda afirma que este é o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem. Por

isso, é destituído de qualquer rigor estatístico. O pesquisador seleciona os sujeitos a que tem

acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-se este

tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado

nível de precisão.

Richardson (1999) trata desta amostragem como intencional, afirmando que os elementos

que a formam relacionam-se intencionalmente de acordo com certas características

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estabelecidas no plano e nas hipóteses formuladas para a pesquisa. Neste caso a amostragem

deve ser formada apenas por sujeitos-tipo, ou seja, aqueles que representam as

características típicas de todos os integrantes que pertencem a cada uma das partes da

população.

Esta pesquisa realizou entrevistas com 10 profissionais que atuam como coaches executivo.

Para a busca destes profissionais, além de indicações, foi utilizada a base de dados da

ABRACEM (Associação Brasileira de Coaching Executivo e Empresarial) que, até o momento

da pesquisa, possuía 29 profissionais inscritos em sua base. Estes profissionais possuem como

características que compõe a amostra os seguintes critérios: (i) atuam especificamente como

coach executivo; (ii) atuam no estado de São Paulo; e (iii) são coaches externos a organização

que os contratam.

5.3 Coleta de dados

A coleta de dados refere-se ao conjunto de regras ou processos utilizados por uma ciência,

correspondendo assim à parte prática da coleta de dados (OLIVEIRA, 2011). Entre as diferentes

técnicas que podem ser utilizadas nesta etapa, este estudo irá utilizar a entrevista como

técnica.

De acordo com Gil (1999) a entrevista está entre as técnicas mais utilizadas no âmbito das

ciências sociais. Caracteriza-se como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao

investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à

investigação. Sendo bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as

pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram,

bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes (SELLTIZ

et al., 1967).

Dentre os modelos de entrevista está a entrevista de profundidade, ou entrevista não

estruturada, em que se busca obter do entrevistado o que ele considera os aspectos mais

relevantes de determinado problema: as suas descrições em relação a situação estudada.

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Realizada por meio de uma conversa guiada, pretende-se obter as informações detalhadas

que possam ser utilizadas em uma análise qualitativa (RICHARDSON, 1999).

Gil (1999) apresenta como alternativa para situações experimentais a entrevista focalizada,

onde se permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas quando este se desvia

do tema original, esforça-se para a sua retomada. Assim, esta técnica tem o objetivo de

explorar a fundo alguma experiência vivida em condições precisas ou por experiências

específicas.

Diante do exposto, torna-se coerente ao presente trabalho a utilização de entrevistas

individuais de profundidade e focalizada como técnica de coleta de dados, realizada a partir

do roteiro de entrevista elaborado pelo próprio autor (Anexo 1).

5.4 Análise de dados

A análise de dados pode ser considerada umas das fases mais importantes de toda a pesquisa.

É por meio dela que são apresentados os resultados e a conclusão da pesquisa, sendo a

conclusão final ou parcial, e assim deixando margem para futuras pesquisas (MARCONI;

LAKATOS, 1996).

Para a presente pesquisa, o método de análise de dado é o de análise de conteúdo. Para

Bardin (1977) a análise de conteúdo possui duas funções básicas: função heurística, aumenta

a prospecção à descoberta, enriquecendo a tentativa exploratória e função de administração

de prova, em que, pela análise, buscam-se provas para a afirmação de uma hipótese. Desta

maneira, de acordo com o autor, a análise de conteúdo trata de trazer à tona o que está em

segundo plano na mensagem que se estuda, buscando outros significados intrínsecos na

mensagem.

O autor ainda afirma que a análise de conteúdo pode ser trabalhada em diferentes formas de

comunicação (BARDIN, 1977), que são:

• Código linguístico: oral e escrito.

• Código icónico: sinais, grafismos, imagens, fotografias, filmes.

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• Outros códigos semióticos: tudo que não sendo linguístico pode ser portador de

significações, como música, código olfativo, objetos diversos, comportamentos,

espaço, tempo sinais patológicos.

O método da análise de conteúdo das entrevistas se dará em três fases distintas, conforme

sugerido por Bardin (1977):

1. Pré-análise ou leitura flutuante: nesta etapa os dados brutos são transformados

sistematicamente e agregados em unidades, descrevendo de maneira exata as

características pertinentes ao conteúdo.

2. Categorização: se trata de uma operação de classificação de elementos constitutivos

de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por um reagrupamento segundo

o gênero (analogia), com critérios previamente definidos.

3. Inferências: nesta etapa o discurso é analisado como processo, com suas limitações e

condições de produção, sendo a técnica para entrevistas não-diretivas.

Ferreira (2008) ressalta que para entrevistas semiestruturadas e focalizadas, a análise de

enunciação busca a compreensão do ponto de vista e das referências do entrevistado, limitada

ao tema definida no início da entrevista. Apresenta ainda como característica a definição de

um roteiro prévio de entrevista, no qual a improvisação é permitida, porém, orientada ao

objeto de pesquisa.

Quanto as técnicas utilizadas para a análise de conteúdo, foram escolhidas duas técnicas, a

análise categorial e a análise de enunciação (BARDIN, 1977):

• Análise categorial: “é a mais antiga e mais utilizada das técnicas, funciona por

operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo

reagrupamentos analógicos. Entre as diferentes possibilidades de categorização, a

investigação dos temas, ou análise temática, é rápida e eficaz na condição de se

aplicar a discursos diretos e simples” (BARDIN, 1977, p.199).

• Análise de enunciação: essa análise baseia-se na concepção de que a comunicação é

um processo, e não um dado. Assim é considerado que “na altura da produção da

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palavra é feito um trabalho, é elaborado um sentido e são operadas transformações

(BARDIN, 1977, p.216). Este método entende o discurso como um processo onde se

confrontam as motivações, desejos e investimentos do sujeito com as imposições do

código linguístico e com as condições de produção.

5.5 Procedimento operacional da pesquisa

O instrumento de entrevista definido para o presente trabalho é no formato de entrevista

não-estruturada (Anexo 1). As questões foram elaboradas tendo em vista os três principais

pontos do processo de coaching executivo discutidos no referencial teórico: (i) a relação

triangular formada pelo coach, coachee e organização; (ii) as múltiplas agendas em coaching

executivo; (iii) métodos de avaliação em coaching executivo. As entrevistas são gravadas e

posteriormente transcritas e submetidas às técnicas de análise propostas.

Todas as entrevistas foram realizadas por telefonema. De acordo com Cooper e Schindler

(2003) as entrevistas por telefone possuem vantagens como o custo inferior para aplicação da

pesquisa quando comparada com entrevistas realizadas pessoalmente, uma menor influência

por parte do entrevistador e o fato de a entrevista acontecer em um menor espaço de tempo.

Como desvantagens é apontado um menor índice de resposta, respostas menos completas e

que a duração menor da entrevista pode acarretar em respostas menos detalhadas.

5.6 Matriz Amarração

Como proposto por Telles (2001), para viabilizar a apreciação por avaliadores diferentes, com

significativa aderência de resultados, é apresentado no Quadro 3 - Matriz de Amarração a

correlação entre os objetivos da presente pesquisa, a coleta de dados para responder aos

objetivos, a técnica de análise e o referencial teórico utilizado.

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Quadro 3 – Matriz de Amarração

Objetivo geral Objetivos

específicos Coleta de

dados Técnica de

análise Referencial Teórico

Verificar como os profissionais que atuam como coach percebem e tratam as múltiplas agendas geradas no processo de coaching executivo.

Identificar e descrever as características do processo de coaching executivo

Questões 3 e 4 do questionário de entrevista

Análise de conteúdo

Milaré & Yoshida, 2007. Louis & Fatien Diochon, 2014. Pliopas, 2017.

Verificar os métodos de avaliação utilizados no processo de coaching executivo

Questão 5 do questionário de entrevista

Análise de conteúdo

Marshall, 2006. Castro e Silva, 2016.

Identificar os principais conflitos de agenda envolvendo os coachees e as organizações

Questões 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13 do questionário de entrevista

Análise de conteúdo

Louis & Fatien Diochon, 2014.

Fonte: Organizado pelo autor (2019)

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6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo, são apresentados e analisados o conteúdo das entrevistas realizadas com 10

coaches executivos. Inicialmente, é traçado o perfil sociodemográfico dos coaches

entrevistados e comparado com o perfil dos membros cadastrados na ABRACEM (Associação

Brasileira de Coaching Executivo e Empresarial). Em seguida, será apresentado a descrição de

como o processo de coaching executivo é trabalhado pelos entrevistados. Posteriormente

serão apresentadas cada uma das múltiplas agendas como uma categoria de análise e quais

inferências obtidas por meio da análise de enunciação.

6.1 Descrição sociodemográfica dos entrevistados

Para realizar essa pesquisa foram entrevistados dez profissionais de coach, que atuam

especificamente com coaching executivo. Para se preservar a identidade dos entrevistados

serão utilizados os códigos de E1 a E10 para nomeá-los no decorrer do texto. Abaixo são

apresentadas as características sociodemográficas dos entrevistados e comparadas com a

base de profissionais cadastradas na ABRACEM (Associação Brasileira de Coaching Executivo

e Empresarial), que conta com 29 profissionais até a realização desta pesquisa.

Quadro 4 – Dados Sociodemográficos dos Entrevistados

Coach Sexo Graduação Pós-graduação Tempo de atuação

como coach

E1 Mulher Educação Física MBA 11 anos

E2 Mulher Psicologia Mestrado em Administração

10 anos

E3 Mulher Pedagogia MBA 7 anos

E4 Homem Psicologia Mestrado em Administração

2 anos

E5 Mulher Psicologia MBA 8 anos

E6 Mulher Direito - 7 anos

E7 Homem Sociologia MBA 9 anos

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E8 Mulher Psicologia MBA 4 anos

E9 Homem Farmácia MBA 5 anos

E10 Mulher Psicologia MBA 8 anos

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

Figura 4 – Divisão dos Profissionais Cadastrados na ABRACEM por Sexo

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

Figura 5 – Divisão dos Profissionais Cadastrados na ABRACEM por Graduação

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

Homem7

24%

Mulher22

76%

1345%

414% 2

7%2

7%

828%

Psicologia Administração Economia Pedagogia Outros

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Figura 6 – Divisão dos Profissionais Cadastrados na ABRACEM por Pós-Graduação

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

Dos dez coaches entrevistados sete (70%) são mulheres e apenas 3 (30%) são homens,

números que acompanha a proporção vista entre todos os membros da ABRACEM, de 22

mulheres (76%) e 7 homens (24%). Entre os entrevistados, 5 (50%) são formação no ensino

superior em psicologia, sendo que 2 deles possuem título de mestre em administração e 3

possuem MBA. Entre os outros 5 participantes apenas um não possui MBA ou alguma outra

pós-graduação voltada executivos e áreas de gestão. Já entre os membros da ABRACEM, 13

(45%) possuem graduação em psicologia, 4 (14%) em administração e 2 (7%) em economia.

Em relação a pós-graduação, 13 (45%) possuem alguma pós-graduação voltada para

executivos e áreas de gestão (MBA, Administração e Economia).

Essas informações possibilitam traçar um perfil para os coaches executivos, caracterizado pela

predominância de mulheres, onde a maioria dos indivíduos possuem formação em Psicologia,

seguido por Administração e Economia. Além disso, possuem pós-graduação também na área

de Administração e Economia. A predominância de psicólogos trabalhando como coach pode

ser explicada pela necessidade de se trabalhar mudanças comportamentais e competências

com seus clientes, o que pode ser facilitado por técnicas advindas da psicologia. Já as

formações na área de administração e economia se deve por serem as formações profissionais

esperadas para atuar no ambiente em que os clientes de coaching executivo atuam ou por os

621% 5

17%

13%

13%

1655%

MBA Mestrado emAdministração

Doutorado emAdministração

Doutorado emEconomia

-

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77

próprios coaches desejarem desenvolver a carreira de coach dentro do ambiente de trabalho

em que já está inserido.

Além das formações citadas até o momento vale ressaltar que todos os coaches entrevistados

possuem formação específica em coaching executivo.

6.2 O Processo de Coaching Executivo

Após a etapa de leitura do conteúdo das entrevistas, os temas pertinentes aos objetivos desta

pesquisa de identificar e descrever as características do processo de coaching executivo e

verificar os métodos de avaliação utilizados neste processo foram divididos em 4 categorias.

As categorias definidas foram: (i) Interações entre coach e organização; (ii) interações entre

coach e coachee; (iii) percepção de quem é o cliente no de coaching executivo; e (iv) métodos

de avaliação no processo de coaching executivo.

Aqui serão transcritos os trechos das entrevistas que justificam a categorização estabelecida

e a análise de enunciação da mesma categoria.

6.2.1 Interações entre coach e organização

Para se entender as relações triangulares e diádicas no coaching executivo (LOUIS; FATIEN

DIOCHON, 2014) faz-se necessário entender até que ponto a organização é um agente com

poder de interferir no processo de coaching executivo e, para esta pesquisa, como ela se

relaciona com o profissional de coach.

Os entrevistados citam a participação de um representante da organização no processo de

coaching como sendo necessária em dois momentos: no momento da contratação do

processo de coaching para um ou mais de seus executivos, e nas reuniões para avaliação de

desenvolvimento do coachee, que podem acontecer apenas ao final do processo ou, também,

no meio.

E1 – O nosso processo consiste eu uma reunião de três ou quatro pontas no começo. A partir daí eu não falo mais com a empresa [...] eu posso, ou não,

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ter uma reunião de acompanhamento no meio do processo, sempre com o coachee, junto por questão de confiança com o coachee.

E2 – Nós realizamos um processo que envolve estes atores, em que existem reuniões, praticadas no início, no meio e fim entre o coachee, o seu gestor, o RH e o coach, para que as coisas sejam explicitadas de forma transparente o que cada um está buscando. Assim, cada um pode deixar alguns indicadores de resultado para serem observados durante o processo.

E3 – O processo de coaching que eu pratico começa antes das sessões diretas com o coachee. Normalmente, quem me aciona são as empresas [...] e eu sempre começo o processo com um encontro preliminar onde eu faço uma reunião com a área que contratou. Que pode ser o chefe direto, área de recursos humanos ou os dois. Eu preciso entender quais as demandas que eles esperam do profissional e depois eu faço uma reunião com o profissional.

E4 – Na maioria das vezes, quem faz o contato comigo é a área de RH.

E5 – Existe uma comunicação durante também [...] nós não fazemos relatórios, então para que a empresa possa acompanhar o processo fazemos [...] uma conversa no início, uma conversa no meio do processo, e outra no final. O que nada impede de que haja outras conversas durante o processo.

E6 – Todo o processo é combinado primeiramente com a empresa [...] primeiro é preciso entender o que a empresa espera com o coaching executivo.

E7 – Quando a empresa me contrata, eu vou até a empresa com o chefe do executivo e também com o RH. Essencial é o chefe do executivo. Eu preciso ter uma boa visão de porque eles querem contratar o processo de coaching. [...] nessa entrevista inicial dentro da empresa eu pergunto o que é que o coachee sabe disso. É preciso ter bem claro pra mim que o que estão me passando é a visão que foi passada pra ele.

E8 – Eu tenho, em geral, três reuniões (com os gestores dos coachees). Tem a primeira, para levantamento de expectativas, entender por que ele viu a necessidade do coaching. Aí eu faço uma no meio do processo, lá pela quinta sessão, para que ele entenda como está o andamento, respeitando a ética e o sigilo. Ao final do processo eu faço uma reunião de devolutiva, onde eu entrego um relatório.

E10 – Por contrato, realizo uma reunião ao final do processo com o superior imediato, onde ele fala quais mudanças percebeu (no coachee). Mas não compartilho conteúdo das sessões. Esses encontros são muito mais para ouvi-los do que para falar alguma coisa.

Os entrevistados E8 e E10 ainda apresentam questões singulares para a contratação do

coaching executivo.

E8 – Primeiro tenho uma reunião com o RH, depois com os gestores das pessoas, [...] isso é interessante porque, em geral, não é a pessoa que quer, é a empresa quem pede.

E10 – A empresa normalmente me contrata para alguém que vai ter uma promoção, questão de linha de sucessão, pra gente trabalhar o desenvolvimento de competências, autoconsciência.

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Isso demonstra que a contratação do processo parte de um desejo da organização em

desenvolver seus executivos. No entanto, é importante que o executivo esteja tenha alinhada

sua carreira dentro da organização e que tenha interesse e acredite no coaching para que o

projeto possa prosseguir. Outra questão importante em relação ao posicionamento da

empresa, apontada por E10 é em relação ao nível de participação da organização.

E10 – Depende da cultura da empresa. Tem aquela empresa que põe o coachee pra você e nunca mais te pergunta sobre ele e tem empresas que te perguntam sobre o processo e querem até influenciar no processo.

Dentre os diferentes contratos que conectam os participantes das relações diádicas (ENNIS;

GOODMAN; OTTO; STERN, 2012, O'SULLIVAN et. al, 2012, LOUIS; FATIEN, 2014), pela análise

das entrevistas, percebe-se um outro tipo de contrato entre coach e organização, um contrato

avaliativo, na medida em que são feitas reuniões em que a organização posiciona o coach

sobre a percepção de progresso do coachee e avalia se este progresso está dentro do

esperado.

6.2.2 Interações entre coach e coachee

Esta categoria é resultado da descrição de como cada um dos entrevistados encaminha o

projeto de coaching empresarial, ou seja, como acontecem as interações entre coach e

coachee. Como processo, o coaching executivo deve apresentar início, meio e fim, não tendo

sua continuidade estendida por tempo indeterminado. Mesmo que o número de sessões não

seja exato, as respostas dos entrevistados demonstram que o número varia de 6 a 12 sessões.

E2 – As sessões têm uma hora de duração, a cada quinze dias [...] e costumam variar entre 6 e 12.

E3 – Eu não fecho um número de sessões específicas, já fechei trabalhos com 6 sessões e outros com até 12 sessões.

E4 – Tem uma estrutura que não é rígida, com sessões quinzenais ou mensais com duração de uma hora e meia. O número de sessões pode variar entre 6 e 12.

E5 – A gente trabalha com um número aproximado, de 8 a 12 sessões [...] você sente como o processo está caminhando e propõe o momento mais adequado para uma reunião de avaliação.

E6 – Normalmente a periodicidade é combinada com a empresa. Mas normalmente são de 10 a 12 sessões [...] o processo de coaching precisa ter começo, meio e fim.

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E7 – Minha experiência é que o processo varia entre 8 e 12 sessões, no início semanais e depois quinzenais. Porque é preciso um tempo para que o próprio coachee possa agir em função das nossas conversas.

E9 – São 10 sessões semanais ou quinzenais. Normalmente quem está em início de carreira, eles querem acelerar, então fazem a cada semana.

E10 – de 10 a 12 sessões, com dois acompanhamentos mensais após essas sessões.

Por outro lado, E1 e E2 não trabalham com um número de sessões pré-estabelecidos.

E1 – A metodologia utilizada no processo não tem número de sessões fechado, porque a gente compreende que as pessoas são diferentes [...] a gente vende o número de sessões que for importante para o coachee, realizando sessões quinzenais.

E2 – É um modelo bastante flexível e adequado a necessidade cada empresa e cliente [...] existe, claro, uma metodologia a ser seguida [...] em que na relação profissional em que existe o coachee e o coach, vai existir também o gestor imediato deste coachee.

Pontos importantes da relação entre coach e coachee são apresentadas por E7, E8 e E10 ao

apresentarem informações sobre a relação entre as partes. O primeiro ponto é o de que

apesar do alinhamento de expectativas para o processo ser um acordo entre todas as partes

envolvidas, o coachee é ouvido após a conversa entre coach e organização. O segundo ponto

é em relação ao local onde as sessões são realizadas, seja para que o coachee saia da sua zona

de conforto ou em busca de um “território” neutro, E8 e E10 preferem realizar as sessões fora

do ambiente de trabalho do coachee.

E7 – (após reunião com a organização) eu vou sentar com o coachee e vou querer ouvir dele o porquê dele fazer o processo de coaching e me assegurar que a visão dele é a visão do chefe dele.

E8 – Em geral, são 10 sessões semanais. [...] A gente sempre pega uma sala que não seja a do coachee, pra ele sair da área de atuação dele. Se eu faço a reunião na sala dele tem toda uma questão emocional por ser o território dele.

E10 – 90% dos meus processos eu tento fazer no meu próprio escritório, eu tento nem ir na empresa.

6.2.3 Percepção de quem é o cliente no de coaching executivo

Nesta categoria é demonstrada a percepção dos entrevistados sobre quem é considerado o

cliente do processo de coaching. Na literatura acadêmica esta questão foi estudada de duas

maneiras. Algumas pesquisas (JOO, 2005; MILARÉ; YOSHIDA, 2007) apontam a empresa

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contratante como o cliente do coach. Por esse ponto de vista, o fato de a empresa ser a

provedora financeira para o processo lhe permitiria que seus interesses fossem o objetivo final

do processo. Outros trabalhos (TOBIAS, 1996; VANHEULE; ARNAUD, 2016) apresentam o

coachee como cliente final do processo, levando-se em consideração o fato de processo

buscar o desenvolvimento de questões pessoais no coachee.

Nas entrevistas, apesar das duas possíveis abordagens, verifica-se uma percepção entre os

profissionais de que o cliente do processo de coaching executivo é sempre o coachee.

E1 – O meu cliente final, eu coloco o coachee na frente da organização.

E7 – O meu cliente é sempre o coachee. A empresa paga, não é meu cliente.

Pelas falas dos entrevistados é possível perceber que o principal motivo para que o coachee

seja considerado o cliente final do processo passa por uma questão ética. Isso porque espera-

se que o conteúdo das sessões realizadas ao longo do processo permaneça em sigilo entre o

coach e o coachee.

E1 – Eu não tenho nenhuma obrigação, nem direito, de abrir coisas do coachee para a empresa. Por isso é feito um contrato de quatro pontas para entender a responsabilidade de cada um.

E2 – O contrato pode ser feito tanto por meio da empresa quanto por meio do próprio profissional. Em ambos os casos, mesmo quando o contrato é feito por meio da empresa, o cliente é sempre o profissional [...] o que é uma questão bastante importante, inclusive, em termos de confidencialidade, de garantia para o coachee de que ele está em um espaço seguro, mesmo quando o contrato é feito pela empresa dele.

E10 – O meu cliente prioritário é o coachee. Tem um eixo ético, é obvio que eu não vou ferir a empresa em nenhum momento [...] por exemplo, eu nunca vou falar para um coachee se ele não quer rever o currículo. Eu preciso entender formas do coachee trabalhar mesmo quando está em um ambiente refratário. [...] A empresa é patrocinadora do processo, mas a estrela é ele (coachee).

Pode-se perceber também que mesmo que o coachee seja considerado o cliente, o processo

de coaching executivo deve levar em consideração que a organização do coachee tem seus

objetivos ao ser patrocinadora do processo e seus interesses são a base para o

desenvolvimento do coachee.

E3 – Existem dois contratos, um contrato administrativo com a organização e um contrato psicológico com o coachee. O meu cliente é o coachee.

E4 – O meu contratante normalmente é o RH. O meu cliente principal é o coachee. Mas eu diria que tenho dois clientes indiretos, a chefia do coachee e o RH.

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E5 – A empresa está patrocinando o processo, então ela tem um interesse no processo. Mas a carreira é do executivo, então tem que deixar claro que os objetivos dos dois tem que ser negociado antes do início do processo.

E6 – O meu cliente são os dois (organização e coachee), por isso é preciso deixar claro que se houver algum tipo de conflito o processo não pode continuar.

6.2.4 Métodos de avaliação no processo de coaching executivo.

Na seção 2.3 foram apresentados diferentes formas de avaliação para processos de coaching:

modelo de Kirkpatrick, ROI, Modelo Balanced Scorecard, Modelo Feedback 360º. Apesar dos

diferentes modelos de avaliação apresentados na literatura sobre o assunto, na prática os

entrevistados apontaram não utilizar nenhum especificamente, sendo que esta avaliação é

feita, principalmente, por meio de feedbacks entre coach e coachee ao longo das sessões e

com feedbacks 360º, onde são ouvidos principalmente os gestores diretos do coachee e/ou

algum representante do RH.

E1 – No final fazemos uma reunião devolutiva de modo que quem passa o relatório de evolução é o próprio coachee.

E1 – Eu avalio durante todas as sessões, na verdade o coachee é quem avalia. Ao final de cada sessão eu pergunto “como é que você andou hoje? Como essa sessão contribuiu para sua prática na semana que vem?”. [...] Não tenho um modelo por escrito, faz parte da conversa do coaching.

E2 – O coachee define quando a meta foi alcançada, é um processo natural. [...] Sempre qualitativo, eu não utilizo ferramentas para medir. O que a gente usa é com quais indicadores individuais a gente vai medir se suas metas foram alcançadas. [...] A gente vai identificar os indicadores ao longo do processo, por meio da própria observação e percepção do coachee, por meio de feedbacks de pessoas que ele vai buscar e por meio do gestor imediato.

E4 – O RH pode pedir uma avaliação periódica em forma de relatórios. Mas na minha metodologia eu não forneço relatório [...] quem fornece informações de evolução para a organização é o próprio coachee.

E5 – na prática é muito difícil estabelecer medidas para critérios muito subjetivos [...] eu não tenho nenhuma medição mais palpável.

E6 – Faço no início um questionário de expectativas com o programa e ao final um questionário com perguntas que eu faço junto com o coachee e a organização.

E7 – A avaliação é em cada sessão, no início da sessão ele vai relatar como é que foi o período, o que aconteceu, o que ele fez, como a ação dele está refletindo na relação com as pessoas e se ele está sentindo alguma mudança em relação a postura dele.

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E8 – Esse alinhamento meio que a gente vai fazendo o tempo todo, toda sessão tem sempre uma checagem de expectativa. Mas ao final do processo eu faço uma coisa mais formal para gente entender de onde a gente saiu para onde a gente chegou, como ele entendeu essa caminhada, o que foi alcançado e o que não foi.

E9 – nós temos um plano de ação que vamos checando a cada sessão. Se todas as atividades forem realizadas o resultado é o desejado.

E10 – Eu costumo fazer uma entrevista qualitativa. Sento com o gestor ao final do processo e quero saber sobre as mudanças. Eu vou estabelecendo uma linguagem comum com os participantes ao longo do processo para ver

as mudanças ao final.

A subjetividade dos objetivos que o coaching executivo busca alcançar dificultam a utilização

de métricas e relatórios que tentem demonstrar quantitativamente os resultados alcançados.

Por isso, o feedback demonstrou-se a maneira mais simples e sensata de se avaliar o processo

de coaching executivo.

6.3 Percepção das múltiplas agendas

Nesta etapa são apresentadas as percepções dos entrevistados em relação a cada uma das

múltiplas agendas citadas no capítulo X. Foram excluídas das entrevistas as múltiplas agendas

que possam ocorrer com o coach, uma vez que esta pesquisa tem como objetivo analisar as

múltiplas agendas na percepção do profissional do coach enquanto agente que possa tomar

decisões para sanar essas múltiplas agendas, e não o coach como um possível causador de

conflitos dentro deste processo.

A frequência com que cada uma das múltiplas agendas já foi percebida pelos entrevistados e

por quais deles consta na Quadro 5, a seguir.

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Quadro 5 – Frequência de aparição das múltiplas agendas

Agenda Aparição

O presente venenoso: a organização tem a intenção de demitir o executivo e usar o

coaching como “último recurso” ou como uma desculpa para mostrar que, apesar de todos os seus esforços, o executivo ainda não cumpria

os requisitos do papel, e, portanto, tem que ser demitido, tornando o coaching "Presente

venenoso".

5 Entrevistados: E1, E5, E6, E9 e E10

A organização excluída: o executivo deseja trabalhar com o coach para "desenvolver sua

carreira" fora da organização, mas sem informar a organização que ele está planejando

sair.

4 Entrevistados: E1, E4, E5 e E6

A individualização: um problema relacionado ao coletivo (área, departamento, organização) é deslocado para uma única pessoa e resulta num tratamento parcial do problema através

do coaching individual.

8 Entrevistados: E1, E2, E3, E4, E6, E7, E9 e E10

O alto-falante: usar o coach para entregar mensagens desagradáveis para o coachee, o

que é de responsabilidade da organização/gerencia direta, a fim de evitar

fazer isso diretamente, ou seja, “externalização do papel do gerente”.

6 Entrevistados: E1, E3, E4, E5, E9 e E10

Gestão de conflitos: o coach descobre que o coachee e o gerente direto estão em conflito, o que compromete a qualidade das informações

recebidas de cada uma das duas partes e obriga o coachee a entrar em conflito de gestão.

9 Entrevistados: E1, E2, E3, E4, E6, E7, E8, E9 e

E10

O aparente engajamento: o executivo aparenta parecer engajado. Este executivo concorda em

participar de processo de coaching que tem como objetivo modificar algum

comportamento pessoal, sem, no entanto, pretender realmente modificar esse

comportamento.

8 Entrevistados: E1, E2, E3, E4, E5, E6, E8 e E9

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A agenda oculta imaginária: o coachee acredita/suspeita que a organização tenha uma

agenda, o que pode não ser o caso. Isso impacta a capacidade do coachee desenvolver

uma relação de confiança com seu coach.

8 Entrevistados: E1, E4, E5, E6, E7, E8, E9 e E10

Agendas conflitantes da organização: Diferentes membros do conselho possuem diferentes objetivos de treinamento para o

CEO.

3 Entrevistados: E1, E3 e E10

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

A seguir são apresentadas as percepções dos entrevistados em relação a cada uma das

múltiplas agendas citadas acima.

6.3.1 1 – O Presente Venenoso

Esta agenda é pertencente a organização e de acordo com os relatos obtidos pelas entrevistas

ela pode aparecer de duas maneiras: abertamente, com a organização compartilhando com o

coach a intenção de demitir o coachee ou de maneira velada, utilizando o processo como parte

de uma justificativa para a demissão.

A partir da constatação desta agenda foi possível traçar 4 possíveis cenários para encaminhar

o processo. Para E1 e E6, onde a agenda foi exposta pela organização, a decisão tomada por

eles foi de não dar continuidade ao processo. Nestes casos, foram levantadas questões éticas,

que envolvem a transparência de informações entre coach e coachee.

E1 – Já passei por isso e não aceitei o processo. [...] Se a pessoa me disser isso que você acabou de me dizer (definição da múltipla agenda) está claro que não é para processo (de coaching). Mas existem casos velados, e quando percebo que isto está acontecendo eu converso com a empresa e explico que esse não é o caminho.

E6 – Isso é esclarecido nessa primeira reunião e, na minha opinião, o coaching não é adequado para isso. Então eu tento esclarecer com o profissional que está me contratando o que ele quer realmente com o coaching. Se ele acha que o coaching pode resolver questões que seriam favoráveis a manutenção do profissional na empresa [...] pode ser que o coaching seja apropriado. Mas se já está decidido que ele vai ser demitido eu considero que o processo de coaching não é adequado para isso, pois não faz parte do trabalho do coach preparar a pessoa para ser demitida e, principalmente, o processo de coaching tem que estar baseado na transparência e na verdade.

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No caso de E5, apesar de ocorrer de maneira velada, a agenda acarretou na demissão do

coachee antes do fim do processo, mas foi permitido à executiva continuar o processo. No

entanto, se no início do processo os objetivos traçados correspondiam à expectativa da

empresa junto a executiva, a partir da demissão o foco do processo passou a ser na carreira

da executiva de forma mais ampla.

E5 – Era uma executiva da área financeira, [...] durante o processo eu fui percebendo que por mais que a coachee fizesse melhorias e avança-se não estava tendo um eco do outro lado, e durante o processo a pessoa foi demitida. Quer dizer, ela pode continuar com o processo, ou seja, daquele momento em diante o processo mudou completamente de direção.

O relato de E10 apresenta esta agenda acontecendo de modo velado, sem que a organização

expresse ao coach sua intenção, sendo assim se trata de uma percepção do entrevistado. Em

outro dos casos vividos por E10 esta agenda foi revertida ao longo do processo de coaching e

no outro caso o coachee foi demitido mesmo tendo apresentado bons resultados em

produtividade, ou seja, a eficácia apresentada pelo processo de coaching executivo não foi

um fator determinando para a questão.

E10 – Eu não tive isso de forma aberta, a minha percepção, ok? De que na verdade eu fui contratada para “olha nós tentamos de tudo”, exatamente isso. Tem dois casos bem específicos, um deles eu vi que estava se encaminhando dessa forma, estava vendo essa movimentação, mas foi revertido. E o outro foi demitido, apesar de ganhar um prêmio de produtividade na área dele.

Por fim, E9 ainda apresenta uma outra situação em que a intenção de demitir ou não o

executivo é transferida para o coach, mesmo que essa não seja essa sua função.

E9 – Alguns empresários realmente utilizam o coaching e dizem “e aí, eu demito ou não demito?”. Amigo, essa função não cabe a gente, nossa função é desenvolver o profissional, trazer a ele a alta performance [...] eu não tenho como avaliar o trabalho dele no dia a dia dentro da empresa.

Percebe-se que esta agenda acarreta para o coach problemas relacionados a

confidencialidade (LOUIS; FATIEN DIOCHON, 2014) nos casos em que a organização

apresentou abertamente o desejo de demitir o executivo. Kilburg (1996) aponta para a

necessidade de se estabelecer entre coach e coachee um pacto de confidencialidade baseado

na empatia e confiança, o que fica comprometido devido ao surgimento desta agenda.

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6.3.2 2 – A organização excluída

Se no caso de O Presente Venenoso a questão estava na omissão por parte da organização de

suas reais intenções, aqui o sujeito é o coachee. Pelas entrevistas, o fato de o coachee querer

desenvolver a carreira fora da organização não é necessariamente um empecilho para a

continuidade do processo. A questão ética e de transparência são os fatores que determinam

como trabalhar com essa agenda. Para E1 e E4, a ação a ser tomada envolve alinhar esta

expectativa do coachee juntamente com a organização.

E1 – A hora que eu percebo eu realinho o processo, eu digo “eu trabalho com você, sendo pago por essa empresa, para este emprego. Se for para você sair você precisa avisar a empresa”. E aí que a gente faz uma outra reunião de alinhamento, se a empresa permitir, ok.

E4 – Essa expectativa dele (coachee) é preciso estar alinhada com a chefia e com o RH. [...] Se eu perceber que existe esse desalinhamento eu digo “olha, mas não foi essa a conversa que nós tivemos, não foi isso que a sua chefia me passou” então você precisa voltar lá e ajustar isso com eles. Eu não vou trabalhar uma necessidade dele à revelia da organização. [...] e a organização espera um resultado, então isso tem que estar alinhado.

Por outro lado, E6 não considera a possibilidade de continuar o processo caso perceba esta

intenção no coachee. O processo de coaching executivo busca desenvolver competências no

executivo que estejam alinhadas com o objetivo de negócio da organização, e que para esta

agenda existem outros tipos de coaching, como o individual e o de carreira.

E6 – Nessa primeira reunião, que os dois estão presentes comigo (organização e coachee) eu já deixo isso claro, que a nossa meta, o trabalho, a questão a ser trabalhada no coaching tem que ser uma questão de interesse comum aos dois, não pode ser um interesse individual. Se depois dessa primeira entrevista eu chegar no processo, que é confidencial, só eu e o coachee, e ele me confidencializar que quer sair da empresa eu vou falar pra ele que isso está fora do contrato, e que ele deve contratar um processo de coaching individual para tratar essas questões e vou orientá-lo que a gente deve terminar o processo, e eu não vou dar justificativas para o RH, mas vou encorajá-lo a conversar com os responsáveis dentro da empresa sobre por que acabou o processo.

Já E5 trata a questão de ética de confidencialidade entre coach e coachee de outra maneira.

Por se tratar de uma agenda pessoal do coachee ela não pode ser apresentada a organização

sem seu consentimento, e este passa a ser um dos pontos de desenvolvimento para o coachee

durante o processo. É importante que a organização esteja ciente de que existe esta

possibilidade.

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E5 – Quando você trata com a empresa, você diz que isso é uma possibilidade, que pode acontecer, que é natural e que é bom para empresa. É bom que um executivo que já não esteja mais em sintonia com a empresa, melhor que ele saia do que estar trabalhando sem estar satisfeito, e sem estar trabalhando em favor da empresa como poderia [...]. Já aconteceu comigo, a gente vai trabalhar o desenvolvimento dele dentro da empresa, que eu não sei quando ele vai sair, e, paralelamente, ele vai trabalhando algumas possibilidades de saída e de como ele pode fazer isso. Mas isso não é levado para empresa, a agenda é do coachee e o processo é confidencial.

Para esta agenda percebe-se um conflito de confidencialidade, uma vez que, como proposto

por Blueckert (2006), o coach deve se preocupar em não se tornar o “ouvido da pessoa

poderosa responsável”, ou seja, ser ele o informante dos interesses do coachee. No entanto,

é interessante ressaltar que esta agenda, não necessariamente, gera um desafio conflitante

para o coach (LOUIS; FATIEN DIOCHON, 2014), como no caso apresentado por E5.

6.3.3 3 – A Individualização

Transferir a responsabilidade de questões de nível organizacional para o nível pessoal pode

significar a transferência do tratamento da causa do problema para um sintoma do problema,

no caso o sintoma seria o desempenho do executivo a ser tratado com o coaching executivo.

Para E1, E3 e E4, esta é uma questão que o ocorre com frequência e que deve ser tratada em

um realinhamento com os representantes da organização.

E1 – Muito comum isso acontecer. [...] Se o coachee percebe isso, a minha pergunta para ele é quais são alternativas que existem a partir de agora para trabalhar com isso. Uma delas é fazer um realinhamento. Pedir uma reunião de realinhamento e resolver isso. Mas isso é tema para coaching, fortalecer a pessoa, empoderar ela pra perceber o que está acontecendo.

E3 – Isso não é incomum acontecer, mesmo quando não há a intenção. Quando você faz coaching executivo com um executivo que tem uma posição elevada na organização, os temas que veem apontam oportunidades de aprimoramento para essa organização. E isso, na reunião intermediária de avaliação a gente apresenta como fatores que estão impactando o trabalho desse executivo, mas que ele não pode resolver, tem que ser resolvido no âmbito da corporação.

E4 – A gente precisa ter muito cuidado nas conversas com a chefia, ou com o RH, porque normalmente eles trazem o sintoma, não trazem a causa. [...] Nessa conversa, por meio de perguntas, eu tenho que tentar chegar a causa do problema. [...] Eu vou tentar perceber se de fato o problema que estão demandando é um problema de coaching [...], segundo se de fato estamos atacando a causa e não o sintoma, e como eu tento garantir isso? No briefing, com o RH e com a diretoria, querer saber por que estão trazendo esta questão.

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E2 ainda ressalta que, conhecendo a causa do problema, é preciso envolver outros integrantes

da organização no processo no sentido de se tratar o problema. Para problemas coletivos, E6

e E7 sugerem a transferência do coaching executivo para o coaching em equipe.

E2 – Acontece com uma certa frequência, alguém é eleito o responsável, né? Seja para assumir a culpa, seja para explicar o resultado. Diante destas situações, outras pessoas podem ser acionadas. A primeira coisa a fazer é esclarecer esta situação com o próprio coachee, ele tendo consciência disso, apoiá-lo no sentido de buscar alternativas e como mobilizar outras pessoas ou áreas envolvidas no problema.

E6 – Esse problema pode ser tratado de várias maneiras. Se eu estou dentro de um trabalho de coaching com um profissional e ele me traz essa questão, que é coletiva, eu posso continuar tratando como ele, pessoal, vai lhe dar com esse conflito coletivo, mas também posso sugerir para ele como para o contratante, que a gente faça outras abordagens, como o coaching de equipe. [...] A questão coletiva pode ser tratada por outras abordagens.

E7 – Depois de duas ou três sessões é que isso ficou claro. Eu conversei com o coachee e da nossa conversa ele foi falar com a liderança dele como é que isso estava sendo visto. Havia uma necessidade de uma liderança do grupo e não de um trabalho com ele.

Já E9 e E10 sugerem que existem métodos mais eficazes para se tratar problemas coletivos do

que o coaching. Enquanto E10 sugere um processo de desenvolvimento organizacional, E9

indica que uma consultoria pode ser o mais indicado, uma vez que o coaching foca no

desenvolvimento de pessoas, e partir disto no desenvolvimento de organizações.

E10 – O tempo todo. Se eu tivesse como convencer meus clientes de que o que eles precisam é fazer D.O. (desenvolvimento organizacional). É muito difícil que você trabalhe com uma única pessoa em um ambiente que tem questões de cultura a ser tratado, e que ela sozinha consiga influenciar tudo isso, aí eu foco, vamos olhar para a área, para a equipe.

E9 – Por mais que as pessoas hoje tenham um pouco mais de informação sobre coaching, alguns acham que coaching é consultoria. [...] O processo de coaching é pautado por questionamentos, mas a resposta vem do coachee, a resposta que fizer sentido para ele é a resposta que vai prevalecer.

Apesar de ser uma agenda que possa ser discutida e alinhada por meio de reuniões

envolvendo as três pontas do processo de coaching ou por meio de outros processos, é

importante evitar a formação de um “triângulo dramático” (HAWKINS, 2008), onde o coachee

seria uma vítima desta agenda criada pela organização, que assume o papel de perseguidora.

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6.3.4 4 – O Alto-falante

No intuito de tratar esta questão foram encontradas três diferentes maneiras de evitar que a

organização utilize o coach como uma maneira de enviar mensagens ao coachee que prefere

não enviar pessoalmente. Para E1, E3 e E5 a falta de comunicação entre organização e o

coachee pode ser tratada pelo processo de coaching, estimulando o coachee a buscar a

comunicação direta, seja com seu gestor ou com o RH.

E1 – Isso a gente trabalha nas sessões. Se o coachee dá conta disso, a pergunta é o que fazer com isso agora. Ao se dar conta, quais são suas alternativas de atuação dentro da organização.

E3 – Se surgir, durante a sessão, alguma questão que precise ser trabalha entre a pessoa que ocupa essa posição e a organização, eu vou estimular a comunicação entre vocês. Eu não dou recado.

E5 – Algumas vezes o coachee chega sem saber qual é a demanda. Querem que o coach fale para ele (coachee) precisa melhorar. E aí você devolve o problema para a empresa, para que o coachee volte a falar com o gestor, para entender qual é o objetivo do processo.

Para E4, trabalhar desta maneira fere o código de ética do coach, por isso ele aponta como

solução a realização do processo de coaching não apenas com o executivo, mas também como

o gestor deste.

E4 – isso tem que ficar claro no contrato técnico que a gente faz. Tem que ficar claro para o RH e para a chefia como é que funciona o coaching. É um processo confidencial, sigiloso, [...] deixar claro que não posso fazer isso, isso não faz parte da minha atuação. Eu posso fazer um outro trabalho com o gestor dele, para que o gestor se aproprie disso, se encoraje disso, para dar o feedback.

Uma vez que não cabe ao coach o papel de mensageiro entre organização e coachee, E9 e E10

apontam para a importância do alinhamento de funções estabelecidas pelo contrato de

coaching. A partir do momento que o coach se torna um mensageiro ele ainda corre o risco

de perder a confiança do coachee.

E9 – Meu processo com o coachee é um, esse papel aqui não cabe ao coach. Mostrei no contrato quais eram as expectativas que nós havíamos alinhado, e qual era a função de cada um.

E10 – Me recuso, porque aí é uma questão de contrato com o coachee. Que credibilidade eu tenho para que ele confie em mim, para que a gente possa discutir os pontos críticos da atuação dele dentro da base de confiança? [...] eu não posso virar um mensageiro.

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Esta é uma questão que vai de encontro ao modelo proposto por Moore e Highstein (2004)

para processos de coaching executivo, que inclui a formalização das metas e obrigações de

cada uma das partes envolvidas em um contrato. Assim, determinado qual a função de cada

um durante o processo, o coach se certifica de não ter que ser o interlocutor entre organização

e coachee.

6.3.5 5 – Gestão de Conflitos

Agenda formada devido a conflitos entre o coachee e seu gestor direto. No entanto, existe

uma preocupação por parte do coach em trabalhar com as informações que são apresentadas

pelo coachee, uma vez que o processo é para ele. Por isso, é possível trabalhar com o coachee

no sentido de desenvolver competências e habilidades que permitam que ele mesmo consiga

dissolver este conflito, conforme apontado por E2, E4, E6, E7 e E9.

E2 – O conflito em si não faz parte do processo de coaching. Eu tenho no processo um participante, apenas uma visão do conflito, apenas um lado dele. Então, dentro do processo de coaching o conflito é trabalhado apenas de forma indireta. [...] O coachee é convidado a analisar o conflito sob diferentes ângulos. [...] Muitas vezes ele percebe que onde havia um conflito existe, na verdade, apenas outra forma de ver possíveis encaminhamentos e a situação se resolve por si só. Em outras vezes ele identifica claramente o conflito, posições opostas e ele é convidado a fazer movimentos, não de solução do conflito, mas de encaminhamento conjunto com as outras partes envolvidas nessa situação.

E4 – Se isso aparecer no briefing, nas minhas entrevistas iniciais, tudo bem, eu vou dizer que é uma questão para ser trabalhada e vamos trabalhar. Se isso aparece depois eu diria que ou a gente faz uma nova reunião de alinhamento ou eu peço para o coachee tratar isso com o gestor. [...] No dia a dia aparecem vários conflitos, e não tem como a gente tratar todos no processo. Por isso a gente tem que definir qual é o problema e qual é a causa, mas essas coisas estão entrelaçadas, provavelmente essa demanda que eu vou receber tem alguma ligação com o relacionamento conflituoso com a chefia. Talvez o gestor não vai me passar isso, mas o RH me passa.

E6 – Se ele (o coachee) me confidencializar isso, que ele está em conflito com o gerente, o processo pode tratar dessa questão, de como ele vai tratar desse conflito.

E7 – O caminho natural é abrir com o gerente, e não cabe a mim fazer isso, quem tem que fazer isso é o coachee.

E9 – Eu faço individual, aí a melhor forma é o diálogo para resolver e aparar as arestas. [...] Quanto maior a hierarquia a vaidade prevalece, e quando a vaidade prevalece eles não querem conversar, querem ser procurados. Mas no processo de coaching também traz autorresponsabilidade, traz o

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autoconhecimento. A carreira não vai deslanchar se continuar com alguns comportamentos.

E1 e E9 propõe que para a solução de conflito seja utilizada outra técnica, que não o coaching

executivo. Para se tratar conflitos seria importante que ambas as partes participassem de um

processo de coaching de conflito e fossem utilizadas técnicas de conflitos. Essas outras

técnicas se tornam ainda mais importantes quando, como apontado por E6, o conflito surge

quando o coaching executivo já está sendo aplicado pelo mesmo coach ao executivo e ao seu

gestor, por sugerir conflito de interesses.

E1 – Eu atuo como coaching de conflitos também, é uma modalidade em que eu atuo junto com o coaching executivo. Mas em geral o que a gente faz é aplicar as técnicas de coaching de conflito. [...] Eu tenho uma formação para isso.

E9 – Se os dois estiverem no processo, então através de ferramentas e técnicas eu busco eles enxergarem que o melhor caminho é o alinhamento.

E6 – Se eu estiver fazendo coaching também do gerente, aí tem um conflito porque eu não posso fazer coaching de duas pessoas envolvidas no mesmo conflito. Poderia indicar uma das partes a continuar o processo de coaching com outro coach. Também sugerir às partes envolvidas no conflito essa outra abordagem: mediação de conflitos.

Para E3 é importante conhecer a profundeza deste conflito. Uma vez que existem conflitos

que não causam grandes danos ao processo e existem conflitos incapacitantes, que

impossibilitam a continuação deste. Por isso, assim como também apontado por E8, é

importante que as questões que causam o conflito sejam abertas durantes as reuniões com

as três pontas (coach, coachee e organização).

E3 – Eu tenho duas maneiras de proceder. Se o conflito não é incapacitante eu trabalho com o coachee os impactos nele, [...] a gente consegue chegar no final do processo, e na reunião de avaliação eu faço esse apontamento, e aí recomendo uma intervenção no sentido da mediação desse conflito. Agora se o conflito é incapacitante, ou seja, está num estágio em que você não consegue trabalhar só os impactos dele no coachee, aí na reunião intermediária de avaliação tenho que apontar e perguntar como é que a gente segue. Se para e trabalha esse conflito.

E8 – Trabalhar expectativas diferentes tem que ser alinhado e na reunião do meio (do processo) eu deixei claro para o diretor, olha de repente a forma como você está vendo, que você está esperando, a expectativa que você tem, não é a mesma que ele tem. Então em algum momento alguém vai infeliz com a história. [...] O que você (organização) está esperando, talvez a gente não atinja, porque a forma que ele (coachee) se vê é outra.

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E10 faz ressalvas sobre a utilização de mediadores para resolução de conflitos e também

aponta que as causas do conflito podem ser tratadas ao longo do processo de coaching

executivo.

E10 – Estão me pagando para lhe dar com o coachee, certo? Então meu foco é sempre tentar discutir possibilidades para que essa pessoa crie condições, tenha abordagens e estratégias para resolver esse conflito. Já aconteceu de eu conversar também com o superior, ouvir o lado dele e tentar colocar da mesma forma. [...] O conflito entre eles quem tem que resolver são eles, chamar um árbitro externo para solucionar uma questão é pontual e, na minha visão, não soluciona e acaba perpetuando o conflito, pois pode gerar ressentimentos, cada um sede um pouco e sai todo mundo insatisfeito.

Assim como na agenda Individualização, aqui também pode se formar um “triângulo

dramático” (HAWKINS, 2008) ao se revelar um conflito preexistente entre coachee e

organização, agora representado pelo gerente direto do coachee.

6.3.6 6 – O Aparente Engajamento

O engajamento do executivo é fundamental para o sucesso do processo de coaching

executivo. Assim, o cumprimento das atividades propostas a ele pelo coach é fundamental

para que ele se de desenvolva dentro das propostas do processo. Por isso, para E2, essa

agenda é considerada ponto chave no processo.

E2 – Esse é o ponto chave de sucesso do processo de coaching. Se não houver efetivo engajamento não tem por que o processo acontecer. Uma das atividades do coach é identificar esse nível de engajamento, explicitar e obter o compromisso de transparência, de total abertura. Se isso não fica transparente, se não existe interesse ou real movimento e o coach percebe que a coisa está evoluindo é, inclusive, prerrogativa dele explicitar isso e decidir qual o melhor caminho, muitas vezes até interrompendo o processo.

Conforme apontado por E1, E3, E4 e E10, o nível de comprometimento do coachee pode ser

percebido ao longo do processo durante as sessões, seja pelo baixo nível de entrega das

atividades acordadas com o coach ou mesmo por feedbacks explícitos. Como se trata de um

fator chave, quando é percebido esse falso engajamento do coachee, os entrevistados

apontam que o correto é que o processo seja finalizado.

E1 – Conforme o processo anda eu vou sempre aferindo onde ele está e onde ele queria estar. A pergunta que eu faço quando percebo que não está andando é, como viemos até aqui? O que você já conseguiu mudar até aqui? E o que não está conseguindo mudar? Se a gente averigua que em 3, 4 ou 5

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sessões ele não caminha, a minha pergunta é se coaching é realmente a melhor opção.

E3 – Você percebe isso. Por mais que o discurso dele seja, eu estou, eu quero participar, na terceira sessão você já percebe isso. Porque os temas que eles trazem para tratar na sessão não estão relacionados com os objetivos que a gente determinou, ele sempre vem com um discurso que a culpa é dos outros, não é dele, ele não faz o que você combina com ele. [...] Eu chamo o RH e a gente para o processo.

E4 – Eu preciso analisar o índice de coachabilidade do meu coachee, que é o quanto ele está comprometido, motivado com o projeto ou se ele foi lá porque o chefe mandou. Se eu perceber nos feedbacks que a gente troca uma vez por mês que ele não está andando, que está fazendo pouca coisa, a gente vai ter que ter uma conversa honesta, no sentindo de saber quanto de fato ele está querendo mudar.

E10 – Quando passa 15 dias e ele (coachee) não me traz nada feito já mostra descomprometimento. Eu o chamo para conversar, porque se não estiver sendo bom para ele a gente encerra o processo. O compromisso é com os resultados e só vai ter resultados se ele realmente se dedicar e realizar todas as tarefas.

E5, E6 e E8 ressaltam que o próprio processo, promovendo a percepção por parte do coachee

de que as demandas de desenvolvimento são reais e a criação de um vínculo com o coach,

pode fazer com que o coachee se engaje verdadeiramente.

E5 – Já me aconteceu, mas durante o processo isso foi revertido. Você sente que a pessoa está fazendo de conta, porque a empresa que quis que fizesse o processo. Conforme você vai criando um vínculo e as coisas vão ficando mais claras, no meu caso, isso foi revertido durante o processo e passou a caminhar de forma mais sincera.

E6 – Se não tiver adesão voluntária não vai funcionar e eu deixo isso claro, você realmente está disposto a tratar essas questões? O processo de coaching pode fazer com que ele entenda aquela demanda, porque lhe dar com aquela demanda, se ela é verdadeira pra ele ou não, se não como ele vai tratar isso com os superiores.

E8 – Quando a gente consegue estabelecer um rapport bom com o coachee, mesmo não tendo sido uma escolha inicial dele, ele entende depois que foi muito bom para ele.

6.3.7 7 – A Agenda Oculta Imaginária

A desconfiança do coachee em relação a real intenção da organização com o processo de

coaching pode ser ocasionado pela falta de comunicação entre as partes. E9 aponta que isso

pode ocorrer por uma primeira discussão sobre o processo não envolver o coachee.

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E9 – Quando o cenário é: o corpo de direção me chama, fala que vai fazer, chama o executivo e fala que a partir de agora você vai fazer coaching, aí gera desconfiança. O executivo pensa, o que é que eu não estou fazendo que eu posso ser demitido. Por mais que se traga alinhamento na reunião inicial, eles ficam receosos. O que eu tenho feito e tem dado certo é mostrar clareza no processo e, além dessa clareza, eu sempre digo, olha isso aqui eu preciso reportar, isso aqui eu não vou reportar. Eu tento ser bem claro, e ele vai ficando mais tranquilo e se entregando ao processo.

Assim, é preciso demonstrar ao coachee, como proposto por E7, que ele faz parte do processo

e que nada está sendo escondido dele.

E7 – A gente precisa levantar dados sobre essa percepção dele (de que a organização está escondendo algo do coachee), por onde ele está se baseando e aí ele estabeleceu um plano para poder trabalhar com a liderança. Na realidade, era uma questão de confiança na liderança dele.

É importante que haja um real laço de confiança entre coach e coachee, e, para isso, existem

estratégias e técnicas que permitem ao coach trabalhar essa questão com o executivo. E1, E4,

E5 e E6 argumentam sobre essa importância de se gerar confiança e como isso é possível

através da criação de um vínculo entre os dois. E8 ainda ressalta a importância de que o

coachee tenha plena consciência de porque está realizando o processo.

E1 – Se não tem confiança o processo acaba. [...] Ele vai dizer, se eu não confio na empresa como é que eu vou confiar nesse cara que mandaram para cuidar de mim. Mas eu reverti, eu tenho uma capacidade minha [...] eu tenho uma boa capacidade de gerar confiança. Se ele não está confiando na empresa, em mim ele confia depois, porque eu não me aproximo da empresa a revelia dele, ele percebe na questão ética que eu trago eu não vou falar com a empresa sem ele saber, e ele me testa e eu não caio.

E4 – A primeira condição para começar o processo de coaching é começar a construir uma relação de confiança. [...] O coachee, pra ele se abrir comigo ele tem que perceber que eu sou merecedor da confiança dele, que eu não estou ali como um capacho do RH. Para construir essa confiança, primeiro é ouvindo, ele perceber que você está lá pra ouvir, eu não tenho que dar resposta, ele que vai refletir. Quando ele percebe que eu não estou sendo diretivo, que eu acredito no que ele fala, que eu não censuro.

E5 – Você cria um vínculo de confiança e faz com que, de alguma maneira, isso fique externalizado, seja uma coisa direta, não camuflada. E a partir do momento que coloca de uma forma real, concreta, exposta né? Você consegue partir pra frente, continuar o processo.

E6 – essa primeira reunião, onde estão organização e coachee, ela tem que ter a máxima clareza e transparência possível, porque é onde começa a construir a confiança, tanto da empresa, como do coachee. Se não tiver essa confiança o processo também não acontece. Essa confiança é construída através de uma comunicação muito transparente e deixar na mesa o que as pessoas querem com aquele processo.

E8 – Eu pergunto, você sabe por que você foi escolhido para fazer o coaching? É legal para ter exatamente qual é a visão da pessoa, e algumas não tem ideia.

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Aí é claro que eu não vou expor o empregador, mas é importante pra que ele vá entendendo.

E10 – Você precisa convencer a pessoa de estar alí com você. Eu não vejo isso como manipulativo, mas é preciso estratégias pra gente estabelecer uma relação de confiança, sem mentir ou omitir, nem direcionar pensamentos.

Esta agenda levanta questões relacionadas a percepção de lealdade e confidencialidade

(LOUIS; FATIEN DIOCHON, 2014). É preciso compartilhar com o coachee essa preocupação, a

fim de quebrar esta barreira.

6.3.8 8 – Agendas Conflitantes da Organização

O conflito gerado por essa agenda antecede ao próprio processo de coaching. Quando existem

divergências dentro do próprio conselho sobre quais os pontos de desenvolvimento a serem

trabalhados no coaching executivo é preciso que o coach faça um trabalho de realinhamento

de expectativas para o processo no sentido de determinar qual será o foco do treinamento.

Neste sentido, Thach (2002) corrobora apontando que devem ser traçadas metas e ações com

o objetivo de tratar de um a três pontos de desenvolvimento para o coachee.

E1 – Tem que chegar num consenso. Não posso trabalhar no coaching mais do que dois aspectos. [...] Vai falhar no final, porque é tanta gente querendo coisas diferentes que o cara não vai dar conta em um processo de coaching. É preciso entrar em um acordo de um ou dois aspectos a serem trabalhados, sendo que cada processo é para um.

E3 – A gente tem que trabalhar por compatibilidade. Quais são as demandas? Quais são as demandas de maior impacto? E as que ele (coachee) também percebe nele, porque senão ele não vai mudar. Não adianta o conselho ter um objetivo de desenvolvimento que o CEO não tenha ou não perceba que tem essa deficiência. [...] A gente precisa fazer um 360 para que ele perceba que ele possui essa deficiência e aí sim colocar como objetivo para o processo.

E10 – O que a gente faz é tentar que eles tenham consenso entre eles ou, pelo menos, priorizem. Não é que são objetivos incompatíveis, mas é preciso definir um foco através das pessoas.

6.4 Considerações sobre a percepção dos coaches

Os resultados das entrevistas aqui relatadas evidenciam três principais considerações a serem

feitas a respeito da percepção dos coaches: (i) as múltiplas agendas são inerentes ao processo

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de coaching executivo; (ii) a percepção de cada múltipla agenda envolve fatores subjetivos

por parte dos participantes, o que permite tratamentos distintos, e até opostos, para cada

uma delas; e (iii) o método avaliativo mais utilizado, e que permite a descoberta e o

tratamento das múltiplas agendas é o método do feedback.

Com relação a primeira consideração – as múltiplas agendas são inerentes ao processo de

coaching executivo – pode-se afirmar que as descrições dos coaches indicam que os conflitos

gerados pelas múltiplas agendas são parte do porquê de a organização optar pelo processo

de coaching executivo. Mesmo que o objetivo declarado para a contratação do processo seja

com a finalidade de desenvolvimento de executivos para melhor desenvolverem seu papel na

organização, muitas vezes para que isso ocorra é necessário melhorar aspectos do executivo

que são os causadores de determinada múltipla agenda.

Assim, entende-se que a manifestação de determinada múltipla agenda cria a possibilidade

de tratamento dos aspectos relacionados a ela. Em outras palavras, o “sintoma” permite o

tratamento da “causa”.

Em relação à segunda conclusão – a percepção de cada múltipla agenda envolve fatores

subjetivos por parte dos participantes, o que permite tratamentos distintos, e até opostos,

para cada uma delas – pode-se afirmar que as experiências de vida de cada coach e valores

como ética e moral (citado 7 vezes) determinam as ações que serão tomadas para cada

múltipla agenda. Apenas no caso na múltipla agenda 8 – Agendas Conflitantes da

Organização, não houve nenhum tipo de divergência entre os coaches respondentes,

provavelmente por se tratar da múltipla agenda de menor ocorrência, apenas 3 casos, o que

não permite uma análise mais profunda.

Outro fator a influenciar na percepção dos coaches está relacionado ao processo de coaching,

mais especificamente no que diz respeito a quem o coach considera seu cliente final no

processo. No caso dos entrevistados nesta pesquisa houve uma unanimidade em considerar

o coachee como cliente, mesmo que em alguns casos não exista a percepção de um cliente

único. Dentre os motivos de o coachee ser considerado cliente está no fato de as sessões

realizadas entre coach e coachee serem confidenciais. Assim, uma insatisfação ou múltipla

agenda criada pelo coachee muitas vezes deverá ser tratada sem o conhecimento da

organização. Se fossem relatados nas entrevistas casos em que o cliente final do processo

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fosse a organização e o coachee considerado um participante, seria um cenário que permitiria

um tratamento diferente para determinada múltipla agenda.

A terceira conclusão – o método avaliativo mais utilizado, e que permite a descoberta e o

tratamento das múltiplas agendas é o método do feedback – evidencia que, apesar da

variedade de métodos avaliativos existentes para coaching executivo, como apresentado no

Capítulo 3, nenhum deles parece ser amplamente utilizado. Durante as entrevistas foi citado

como motivo para não se utilizar métodos que envolvam métricas ou relatórios por escrito

para se analisar o desenvolvimento do coachee o fato de que o que é desenvolvido durante o

processo tem caráter subjetivo, o que inviabiliza uma avaliação quantitativa.

Esta conclusão ainda indica que este é um tópico em que os estudos acadêmicos ainda não

estão em sintonia com a realidade ou necessidades do mercado de coaching executivo.

Finalizado, percebe-se que mesmo que não haja congruência na percepção dos coaches

quanto as múltiplas agendas e que, independentemente de como se dá sua percepção, a

avaliação e tratamento delas seja feita sempre através de feedbacks, os profissionais que

atuam como coach devem estar preparados para solucionar qualquer que seja a múltipla

agenda. Por isso, o tratamento delas deve fazer parte da formação para o profissional que

deseja atuar como coach executivo.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contratação de um programa de desenvolvimento de executivos através do coaching

executivo envolve, impreterivelmente, a formação de uma relação triangular entre coach,

coachee e organização e por isso se desenvolvem também as relações diádicas entre esses

stakeholders e consequentemente as múltiplas agendas, conforme relatado no Capítulo 4, nas

seções 4.1 e 4.2.

O objetivo principal deste estudo buscou analisar a percepção dos coaches, enquanto um dos

envolvidos no coaching executivo, sobre como estas múltiplas agendas interferem no

processo. Entende-se que este objetivo foi alcançado por meio da análise das entrevistas com

coaches, que possibilitaram a verificação de como se deu o tratamento de cada múltipla

agenda já vivenciada pelos entrevistados. Assim, por meio das experiências de cada coach, foi

possível mapear possíveis ações a serem tomadas no caso de cada múltipla agenda.

Com relação aos objetivos secundários: (i) identificar e descrever as características do

processo de coaching executivo; (ii) verificar os métodos de avaliação mais utilizados no

processo de coaching executivo; e (iii) identificar os principais conflitos de agenda envolvendo

os coachees e as organizações, todos foram alcançados.

Para o primeiro objetivo secundário, foi possível sintetizar o processo de coaching executivo

por meio da análise categorial das respostas dos entrevistados quando questionados sobre

como aplicavam o processo de coaching executivo. Assim, as categorias criadas foram:

interações entre coach e organização, interações entre coach e coachee, e percepção de quem

é o cliente do processo de coaching executivo. Por essa categorização fica claro que a visão

mais aceita sobre o processo indica que a organização tem função de patrocinadora e pode

ser entendida como cliente uma vez que os objetivos do processo devem atender o que ela

espera, e não possui participação direta durante o processo. O executivo, ou coachee, pode

ser entendido como o “cliente principal” uma vez que é quem participa de fato de todo o

processo e é quem será desenvolvido pelo coaching executivo.

O segundo objetivo foi atendido uma vez que a pesquisa verificou e descreveu como cada

coach realizava a avaliação do processo de coaching executivo que aplicava. Como houve

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unanimidade quanto a utilização do método de feedback, não foi possível a realização de

comparação entre os possíveis métodos apresentados no Capítulo 3.

O terceiro objetivo permitiu identificar de maneira qualitativa as principais múltiplas agendas.

As experiências de cada um dos profissionais entrevistados permitiram o mapeamento de

quais múltiplas agendas foram mais comuns durante a carreira dos coaches. No entanto,

percebeu-se a necessidade de uma pesquisa quantitativa para esse assunto, o que não foi

contemplado neste estudo.

Diante das considerações acerca dos objetivos desta pesquisa é importante cabe também

ressaltar que a pesquisa possui limitações de caráter metodológico e, por essas limitações,

este estudo pode servir como inspiração para estudos futuros, conforme descrito na próxima

seção.

7.1 Limitações e estudos futuros

O presente estudo utilizou uma pesquisa qualitativa com amostra não probabilística, tendo

como sujeito da pesquisa profissionais que atuam como coach executivo, e por isso não é

possível generalizar os resultados obtidos.

Além disso, Creswell (2010) aponta duas limitações inerentes a realização de entrevistas: o

fornecimento de informações sobre o assunto é filtrado pela perspectiva de cada um dos

entrevistados e os participantes não possuem singularidade de articulação e percepção.

Apesar destes pontos levantados pelo autor serem considerados fatores limitantes do método

utilizado, as diferentes perspectivas de cada coach forneceram detalhes ricos sobre o tema.

Além disso, com o devido direcionamento da entrevista pelo entrevistador é possível reduzir

a desigualdade na articulação das respostas obtidas.

Pelos resultados obtidos na análise dos dados, pelas observações feitas pelo pesquisador e

pelas limitações metodológicas apresentadas, abaixo estão algumas sugestões para estudos

futuros sobre o assunto:

• Verificar por meio de uma pesquisa quantitativa o nível de ocorrência de cada uma das

múltiplas agendas.

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• Verificar por meio de uma pesquisa quantitativa os métodos avaliativos de coaching

executivo mais utilizados.

• Verificar como as múltiplas agendas são percebidas pelos outros participantes do

processo de coaching executivo: a organização e o coachee.

• Buscar por novas múltiplas agendas, ainda não registradas na literatura sobre coaching

executivo.

Tais sugestões possuem o intuito de promover a continuidade de pesquisas relacionadas ao

coaching executivo, norteadas por um rigor acadêmico, para que o tema continue a se

desenvolver e seja cada vez mais reconhecido.

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ANEXO 1: ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Qual sua formação e trajetória profissional anterior a de coach?

2. Qual sua formação e trajetória profissional como coach?

3. Comente como você aplica o processo de coaching executivo e como é a estrutura

dele.

4. Quem é o cliente no programa? A organização ou o executivo?

5. Como se dá o processo de avaliação do processo de coaching executivo?

6. Você já vivenciou a seguinte situação: a organização tem a intenção de demitir o

executivo e usa o coaching como “último recurso” ou como uma desculpa para mostrar

que, apesar de todos os seus esforços, o executivo ainda não cumpria os requisitos do

papel? Se sim, como você a percebeu e qual foi o tratamento dado?

7. Você já vivenciou a seguinte situação: o executivo deseja trabalhar com o coach para

"desenvolver sua carreira" fora da organização, mas sem informar a organização que

ele está planejando sair? Se sim, como você a percebeu e qual foi o tratamento dado?

8. Você já vivenciou a seguinte situação: um problema relacionado ao coletivo (área,

departamento, organização) é deslocado para uma única pessoa e resulta num

tratamento parcial do problema através do coaching individual? Se sim, como você a

percebeu e qual foi o tratamento dado?

9. Você já vivenciou a seguinte situação: usar o coach para entregar mensagens

desagradáveis para o coachee, que são de responsabilidade da organização/gerencia

direta, a fim de evitar fazer isso diretamente, ou seja, “externalização do papel do

gerente”? Se sim, como você a percebeu e qual foi o tratamento dado?

10. Você já vivenciou a seguinte situação: o coach descobre que o coachee e o gerente

direto estão em conflito, o que compromete a qualidade das informações recebidas

de cada uma das partes e obriga o coach a entrar em gestão de conflito? Se sim, como

você a percebeu e qual foi o tratamento dado?

11. Você já vivenciou a seguinte situação: o executivo aparenta estar engajado com o

processo. Este executivo concorda em participar de processo de coaching que tem

como objetivo modificar algum comportamento pessoal, sem, no entanto, pretender

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realmente modificar esse comportamento? Se sim, como você a percebeu e qual foi o

tratamento dado?

12. Você já vivenciou a seguinte situação: o coachee acredita/suspeita que a organização

tenha uma agenda, o que pode não ser o caso. Isso impacta a capacidade do coachee

desenvolver uma relação de confiança com seu coach? Se sim, como você a percebeu

e qual foi o tratamento dado?

13. Você já vivenciou a seguinte situação: diferentes membros do conselho possuem

diferentes objetivos de treinamento para o CEO? Se sim, como você a percebeu e qual

foi o tratamento dado?

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ANEXO 2: COMPILAÇÃO CONSOLIDADA DAS UNIDADES DE REGISTRO IDENTIFICADAS NAS

ENTREVISTAS

Entrevistado 1

“O nosso processo consiste eu uma reunião de três ou quatro pontas no começo. A partir daí

eu não falo mais com a empresa [...] eu posso, ou não, ter uma reunião de acompanhamento

no meio do processo, sempre com o coachee, junto por questão de confiança com o coachee.”

“A metodologia utilizada no processo não tem número de sessões fechado, porque a gente

compreende que as pessoas são diferentes [...] a gente vende o número de sessões que for

importante para o coachee, realizando sessões quinzenais.”

“O meu cliente final, eu coloco o coachee na frente da organização.”

“Eu não tenho nenhuma obrigação, nem direito, de abrir coisas do coachee para a empresa.

Por isso é feito um contrato de quatro pontas para entender a responsabilidade de cada um.”

“No final fazemos uma reunião devolutiva de modo que quem passa o relatório de evolução

é o próprio coachee.”

“Eu avalio durante todas as sessões, na verdade o coachee é quem avalia. Ao final de cada

sessão eu pergunto “como é que você andou hoje? Como essa sessão contribuiu para sua

prática na semana que vem?”. [...] Não tenho um modelo por escrito, faz parte da conversa

do coaching.”

“Já passei por isso e não aceitei o processo. [...] Se a pessoa me disser isso que você acabou

de me dizer (definição da múltipla agenda) está claro que não é para processo (de coaching).

Mas existem casos velados, e quando percebo que isto está acontecendo eu converso com a

empresa e explico que esse não é o caminho.”

“A hora que eu percebo eu realinho o processo, eu digo ‘eu trabalho com você, sendo pago

por essa empresa, para este emprego. Se for para você sair você precisa avisar a empresa’. E

aí que a gente faz uma outra reunião de alinhamento, se a empresa permitir, ok.”

“Muito comum isso acontecer. [...] Se o coachee percebe isso, a minha pergunta para ele é

quais são alternativas que existem a partir de agora para trabalhar com isso. Uma delas é fazer

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um realinhamento. Pedir uma reunião de realinhamento e resolver isso. Mas isso é tema para

coaching, fortalecer a pessoa, empoderar ela pra perceber o que está acontecendo.”

“Isso a gente trabalha nas sessões. Se o coachee dá conta disso, a pergunta é o que fazer com

isso agora. Ao se dar conta, quais são suas alternativas de atuação dentro da organização.”

“Eu atuo como coaching de conflitos também, é uma modalidade em que eu atuo junto com

o coaching executivo. Mas em geral o que a gente faz é aplicar as técnicas de coaching de

conflito. [...] Eu tenho uma formação para isso.”

“Conforme o processo anda eu vou sempre aferindo onde ele está e onde ele queria estar. A

pergunta que eu faço quando percebo que não está andando é, como viemos até aqui? O que

você já conseguiu mudar até aqui? E o que não está conseguindo mudar? Se a gente averigua

que em 3, 4 ou 5 sessões ele não caminha, a minha pergunta é se coaching é realmente a

melhor opção.”

“Se não tem confiança o processo acaba. [...] Ele vai dizer, se eu não confio na empresa como

é que eu vou confiar nesse cara que mandaram para cuidar de mim. Mas eu reverti, eu tenho

uma capacidade minha [...] eu tenho uma boa capacidade de gerar confiança. Se ele não está

confiando na empresa, em mim ele confia depois, por que eu não me aproximo da empresa à

revelia dele, ele percebe na questão ética que eu trago eu não vou falar com a empresa sem

ele saber, e ele me testa e eu não caio.”

“Tem que chegar num consenso. Não posso trabalhar no coaching mais do que dois aspectos.

[...] Vai falhar no final, porque é tanta gente querendo coisas diferentes que o cara não vai dar

conta em um processo de coaching. É preciso entrar em um acordo de um ou dois aspectos a

serem trabalhados, sendo que cada processo é para um.”

Entrevistado 2

“Nós realizamos um processo que envolve estes atores, em que existem reuniões, praticadas

no início, no meio e fim entre o coachee, o seu gestor, o RH e o coach, para que as coisas sejam

explicitadas de forma transparente o que cada um está buscando. Assim, cada um pode deixar

alguns indicadores de resultado para serem observados durante o processo.”

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“As sessões têm uma hora de duração, a cada quinze dias [...] e costumam variar entre 6 e

12.”

“É um modelo bastante flexível e adequado a necessidade cada empresa e cliente [...] existe,

claro, uma metodologia a ser seguida [...] em que na relação profissional em que existe o

coachee e o coach, vai existir também o gestor imediato deste coachee.”

“O contrato pode ser feito tanto por meio da empresa quanto por meio do próprio

profissional. Em ambos os casos, mesmo quando o contrato é feito por meio da empresa, o

cliente é sempre o profissional [...] o que é uma questão bastante importante, inclusive, em

termos de confidencialidade, de garantia para o coachee de que ele está em um espaço

seguro, mesmo quando o contrato é feito pela empresa dele.”

“O coachee define quando a meta foi alcançada, é um processo natural. [...] Sempre

qualitativo, eu não utilizo ferramentas para medir. O que a gente usa é com quais indicadores

individuais a gente vai medir se suas metas foram alcançadas. [...] A gente vai identificar os

indicadores ao longo do processo, por meio da própria observação e percepção do coachee,

por meio de feedbacks de pessoas que ele vai buscar e por meio do gestor imediato.”

“Acontece com uma certa frequência, alguém é eleito o responsável, né? Seja para assumir a

culpa, seja para explicar o resultado. Diante destas situações, outras pessoas podem ser

acionadas. A primeira coisa a fazer é esclarecer esta situação com o próprio coachee, ele tendo

consciência disso, apoiá-lo no sentido de buscar alternativas e como mobilizar outras pessoas

ou áreas envolvidas no problema.”

“O conflito em si não faz parte do processo de coaching. Eu tenho no processo um

participante, apenas uma visão do conflito, apenas um lado dele. Então, dentro do processo

de coaching o conflito é trabalhado apenas de forma indireta. [...] O coachee é convidado a

analisar o conflito sob diferentes ângulos. [...] Muitas vezes ele percebe que onde havia um

conflito existe, na verdade, apenas outra forma de ver possíveis encaminhamentos e a

situação se resolve por si só. Em outras vezes ele identifica claramente o conflito, posições

opostas e ele é convidado a fazer movimentos, não de solução do conflito, mas de

encaminhamento conjunto com as outras partes envolvidas nessa situação.”

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“Esse é o ponto chave de sucesso do processo de coaching. Se não houver efetivo

engajamento não tem por que o processo acontecer. Uma das atividades do coach é

identificar esse nível de engajamento, explicitar e obter o compromisso de transparência, de

total abertura. Se isso não fica transparente, se não existe interesse ou real movimento e o

coach percebe que a coisa está evoluindo é, inclusive, prerrogativa dele explicitar isso e decidir

qual o melhor caminho, muitas vezes até interrompendo o processo.”

Entrevistado 3

“O processo de coaching que eu pratico começa antes das sessões diretas com o coachee.

Normalmente, quem me aciona são as empresas [...] e eu sempre começo o processo com um

encontro preliminar onde eu faço uma reunião com a área que contratou. Que pode ser o

chefe direto, área de recursos humanos ou os dois. Eu preciso entender quais as demandas

que eles esperam do profissional e depois eu faço uma reunião com o profissional.”

“Eu não fecho um número de sessões específicas, já fechei trabalhos com 6 sessões e outros

com até 12 sessões.”

“Existem dois contratos, um contrato administrativo com a organização e um contrato

psicológico com o coachee. O meu cliente é o coachee.”

“Isso não é incomum acontecer, mesmo quando não há a intenção. Quando você faz coaching

executivo com um executivo que tem uma posição elevada na organização, os temas que

veem apontam oportunidades de aprimoramento para essa organização. E isso, na reunião

intermediária de avaliação a gente apresenta como fatores que estão impactando o trabalho

desse executivo, mas que ele não pode resolver, tem que ser resolvido no âmbito da

corporação.”

“Se surgir, durante a sessão, alguma questão que precise ser trabalha entre a pessoa que

ocupa essa posição e a organização, eu vou estimular a comunicação entre vocês. Eu não dou

recado.”

“Eu tenho duas maneiras de proceder. Se o conflito não é incapacitante eu trabalho com o

coachee os impactos nele, [...] a gente consegue chegar no final do processo, e na reunião de

avaliação eu faço esse apontamento, e aí recomendo uma intervenção no sentido da

mediação desse conflito. Agora se o conflito é incapacitante, ou seja, está num estágio em que

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você não consegue trabalhar só os impactos dele no coachee, aí na reunião intermediária de

avaliação tenho que apontar e perguntar como é que a gente segue. Se para e trabalha esse

conflito.”

“Você percebe isso. Por mais que o discurso dele seja, eu estou, eu quero participar, na

terceira sessão você já percebe isso. Porque os temas que eles trazem para tratar na sessão

não estão relacionados com os objetivos que a gente determinou, ele sempre vem com um

discurso que a culpa é dos outros, não é dele, ele não faz o que você combina com ele. [...] Eu

chamo o RH e a gente para o processo.”

“A gente tem que trabalhar por compatibilidade. Quais são as demandas? Quais são as

demandas de maior impacto? E as que ele (coachee) também percebe nele, porque senão ele

não vai mudar. Não adianta o conselho ter um objetivo de desenvolvimento que o CEO não

tenha ou não perceba que tem essa deficiência. [...] A gente precisa fazer um 360 para que ele

perceba que ele possui essa deficiência e aí sim colocar como objetivo para o processo.”

Entrevistado 4

“Na maioria das vezes, quem faz o contato comigo é a área de RH.”

“Tem uma estrutura que não é rígida, com sessões quinzenais ou mensais com duração de

uma hora e meia. O número de sessões pode variar entre 6 e 12.”

“O meu contratante normalmente é o RH. O meu cliente principal é o coachee. Mas eu diria

que tenho dois clientes indiretos, a chefia do coachee e o RH.”

“O RH pode pedir uma avaliação periódica em forma de relatórios. Mas na minha metodologia

eu não forneço relatório [...] quem fornece informações de evolução para a organização é o

próprio coachee.”

“Essa expectativa dele (coachee) é preciso estar alinhada com a chefia e com o RH. [...] Se eu

perceber que existe esse desalinhamento eu digo “olha, mas não foi essa a conversa que nós

tivemos, não foi isso que a sua chefia me passou” então você precisa voltar lá e ajustar isso

com eles. Eu não vou trabalhar uma necessidade dele à revelia da organização. [...] e a

organização espera um resultado, então isso tem que estar alinhado.”

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“A gente precisa ter muito cuidado nas conversas com a chefia, ou com o RH, porque

normalmente eles trazem o sintoma, não trazem a causa. [...] Nessa conversa, por meio de

perguntas, eu tenho que tentar chegar a causa do problema. [...] Eu vou tentar perceber se de

fato o problema que estão demandando é um problema de coaching [...], segundo se de fato

estamos atacando a causa e não o sintoma, e como eu tento garantir isso? No briefing, com o

RH e com a diretoria, querer saber por que estão trazendo esta questão.”

“Isso tem que ficar claro no contrato técnico que a gente faz. Tem que ficar claro para o RH e

para a chefia como é que funciona o coaching. É um processo confidencial, sigiloso, [...] deixar

claro que não posso fazer isso, isso não faz parte da minha atuação. Eu posso fazer um outro

trabalho com o gestor dele, para que o gestor se aproprie disso, se encoraje disso, para dar o

feedback.”

“Se isso aparecer no briefing, nas minhas entrevistas iniciais, tudo bem, eu vou dizer que é

uma questão para ser trabalhada e vamos trabalhar. Se isso aparece depois eu diria que ou a

gente faz uma nova reunião de alinhamento ou eu peço para o coachee tratar isso com o

gestor. [...] No dia a dia aparecem vários conflitos, e não tem como a gente tratar todos no

processo. Por isso a gente tem que definir qual é o problema e qual é a causa, mas essas coisas

estão entrelaçadas, provavelmente essa demanda que eu vou receber tem alguma ligação

com o relacionamento conflituoso com a chefia. Talvez o gestor não vai me passar isso, mas o

RH me passa.”

“Eu preciso analisar o índice de coachabilidade do meu coachee, que é o quanto ele está

comprometido, motivado com o projeto ou se ele foi lá porque o chefe mandou. Se eu

perceber nos feedbacks que a gente troca uma vez por mês que ele não está andando, que

está fazendo pouca coisa, a gente vai ter que ter uma conversa honesta, no sentindo de saber

quanto de fato ele está querendo mudar.”

“A primeira condição para começar o processo de coaching é começar a construir uma relação

de confiança. [...] O coachee, pra ele se abrir comigo ele tem que perceber que eu sou

merecedor da confiança dele, que eu não estou ali como um capacho do RH. Para construir

essa confiança, primeiro é ouvindo, ele perceber que você está lá pra ouvir, eu não tenho que

dar resposta, ele que vai refletir. Quando ele percebe que eu não estou sendo diretivo, que

eu acredito no que ele fala, que eu não censuro.”

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Entrevistado 5

“Existe uma comunicação durante também [...] nós não fazemos relatórios, então para que a

empresa possa acompanhar o processo fazemos [...] uma conversa no início, uma conversa no

meio do processo, e outra no final. O que nada impede de que haja outras conversas durante

o processo.”

“A gente trabalha com um número aproximado, de 8 a 12 sessões [...] você sente como o

processo está caminhando e propõe o momento mais adequado para uma reunião de

avaliação.”

“A empresa está patrocinando o processo, então ela tem um interesse no processo. Mas a

carreira é do executivo, então tem que deixar claro que os objetivos dos dois tem que ser

negociado antes do início do processo.”

“Na prática é muito difícil estabelecer medidas para critérios muito subjetivos [...] eu não

tenho nenhuma medição mais palpável.”

“Era uma executiva da área financeira, [...] durante o processo eu fui percebendo que por mais

que a coachee fizesse melhorias e avança-se não estava tendo um eco do outro lado, e durante

o processo a pessoa foi demitida. Quer dizer, ela pode continuar com o processo, ou seja,

daquele momento em diante o processo mudou completamente de direção.”

“Quando você trata com a empresa, você diz que isso é uma possibilidade, que pode

acontecer, que é natural e que é bom para empresa. É bom que um executivo que já não

esteja mais em sintonia com a empresa, melhor que ele saia do que estar trabalhando sem

estar satisfeito, e sem estar trabalhando em favor da empresa como poderia [...]. Já aconteceu

comigo, a gente vai trabalhar o desenvolvimento dele dentro da empresa, que eu não sei

quando ele vai sair, e, paralelamente, ele vai trabalhando algumas possibilidades de saída e

de como ele pode fazer isso. Mas isso não é levado para empresa, a agenda é do coachee e o

processo é confidencial.”

“Algumas vezes o coachee chega sem saber qual é a demanda. Querem que o coach fale para

ele (coachee) precisa melhorar. E aí você devolve o problema para a empresa, para que o

coachee volte a falar com o gestor, para entender qual é o objetivo do processo.”

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“Já me aconteceu, mas durante o processo isso foi revertido. Você sente que a pessoa está

fazendo de conta, porque a empresa que quis que fizesse o processo. Conforme você vai

criando um vínculo e as coisas vão ficando mais claras, no meu caso, isso foi revertido durante

o processo e passou a caminhar de forma mais sincera.”

“Você cria um vínculo de confiança e faz com que, de alguma maneira, isso fique

externalizado, seja uma coisa direta, não camuflada. E a partir do momento que coloca de

uma forma real, concreta, exposta né? Você consegue partir pra frente, continuar o processo.”

Entrevistado 6

“Todo o processo é combinado primeiramente com a empresa [...] primeiro é preciso

entender o que a empresa espera com o coaching executivo.”

“Normalmente a periodicidade é combinada com a empresa. Mas normalmente são de 10 a

12 sessões [...] o processo de coaching precisa ter começo, meio e fim.”

“O meu cliente são os dois (organização e coachee), por isso é preciso deixar claro que se

houver algum tipo de conflito o processo não pode continuar.”

“Faço no início um questionário de expectativas com o programa e ao final um questionário

com perguntas que eu faço junto com o coachee e a organização.”

“Isso é esclarecido nessa primeira reunião e, na minha opinião, o coaching não é adequado

para isso. Então eu tento esclarecer com o profissional que está me contratando o que ele

quer realmente com o coaching. Se ele acha que o coaching pode resolver questões que

seriam favoráveis a manutenção do profissional na empresa [...] pode ser que o coaching seja

apropriado. Mas se já está decidido que ele vai ser demitido eu considero que o processo de

coaching não é adequado para isso, pois não faz parte do trabalho do coach preparar a pessoa

para ser demitida e, principalmente, o processo de coaching tem que estar baseado na

transparência e na verdade.”

“Nessa primeira reunião, que os dois estão presentes comigo (organização e coachee) eu já

deixo isso claro, que a nossa meta, o trabalho, a questão a ser trabalhada no coaching tem

que ser uma questão de interesse comum aos dois, não pode ser um interesse individual. Se

depois dessa primeira entrevista eu chegar no processo, que é confidencial, só eu e o coachee,

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e ele me confidencializar que quer sair da empresa eu vou falar pra ele que isso está fora do

contrato, e que ele deve contratar um processo de coaching individual para tratar essas

questões e vou orientá-lo que a gente deve terminar o processo, e eu não vou dar justificativas

para o RH, mas vou encorajá-lo a conversar com os responsáveis dentro da empresa sobre por

que acabou o processo.”

“Esse problema pode ser tratado de várias maneiras. Se eu estou dentro de um trabalho de

coaching com um profissional e ele me traz essa questão, que é coletiva, eu posso continuar

tratando como ele, pessoal, vai lhe dar com esse conflito coletivo, mas também posso sugerir

para ele como para o contratante, que a gente faça outras abordagens, como o coaching de

equipe. [...] A questão coletiva pode ser tratada por outras abordagens.”

“Se ele (o coachee) me confidencializar isso, que ele está em conflito com o gerente, o

processo pode tratar dessa questão, de como ele vai tratar desse conflito.”

“Se eu estiver fazendo coaching também do gerente, aí tem um conflito porque eu não posso

fazer coaching de duas pessoas envolvidas no mesmo conflito. Poderia indicar uma das partes

a continuar o processo de coaching com outro coach. Também sugerir às partes envolvidas no

conflito essa outra abordagem: mediação de conflitos.”

“Se não tiver adesão voluntária não vai funcionar e eu deixo isso claro, você realmente está

disposto a tratar essas questões? O processo de coaching pode fazer com que ele entenda

aquela demanda, por que lhe dar com aquela demanda, se ela é verdadeira pra ele ou não, se

não como ele vai tratar isso com os superiores.”

“Essa primeira reunião, onde estão organização e coachee, ela tem que ter a máxima clareza

e transparência possível, porque é onde começa a construir a confiança, tanto da empresa,

como do coachee. Se não tiver essa confiança o processo também não acontece. Essa

confiança é construída através de uma comunicação muito transparente e deixar na mesa o

que as pessoas querem com aquele processo.”

Entrevistado 7

“Quando a empresa me contrata, eu vou até a empresa com o chefe do executivo e também

com o RH. Essencial é o chefe do executivo. Eu preciso ter uma boa visão de porque eles

querem contratar o processo de coaching. [...] nessa entrevista inicial dentro da empresa eu

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pergunto o que é que o coachee sabe disso. É preciso ter bem claro pra mim que o que estão

me passando é a visão que foi passada pra ele.”

“Minha experiência é que o processo varia entre 8 e 12 sessões, no início semanais e depois

quinzenais. Por que é preciso um tempo para que o próprio coachee possa agir em função das

nossas conversas.”

“(após reunião com a organização) eu vou sentar com o coachee e vou querer ouvir dele o por

que dele fazer o processo de coaching e me assegurar que a visão dele é a visão do chefe

dele.”

“O meu cliente é sempre o coachee. A empresa paga, não é meu cliente.”

“A avaliação é em cada sessão, no início da sessão ele vai relatar como é que foi o período, o

que aconteceu, o que ele fez, como a ação dele está refletindo na relação com as pessoas e se

ele está sentindo alguma mudança em relação a postura dele.”

“Depois de duas ou três sessões é que isso ficou claro. Eu conversei com o coachee e da nossa

conversa ele foi falar com a liderança dele como é que isso estava sendo visto. Havia uma

necessidade de uma liderança do grupo e não de um trabalho com ele.”

“O caminho natural é abrir com o gerente, e não cabe a mim fazer isso, quem tem que fazer

isso é o coachee.”

“A gente precisa levantar dados sobre essa percepção dele (de que a organização está

escondendo algo do coachee), por onde ele está se baseando e aí ele estabeleceu um plano

para poder trabalhar com a liderança. Na realidade, era uma questão de confiança na

liderança dele.”

Entrevistado 8

“Eu tenho, em geral, três reuniões (com os gestores dos coachees). Tem a primeira, para

levantamento de expectativas, entender por que ele viu a necessidade do coaching. Aí eu faço

uma no meio do processo, lá pela quinta sessão, para que ele entenda como está o

andamento, respeitando a ética e o sigilo. Ao final do processo eu faço uma reunião de

devolutiva, onde eu entrego um relatório.”

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“Primeiro tenho uma reunião com o RH, depois com os gestores das pessoas, [...] isso é

interessante por que, em geral, não é a pessoa que quer, é a empresa quem pede.”

“Em geral, são 10 sessões semanais. [...] A gente sempre pega uma sala que não seja a do

coachee, pra ele sair da área de atuação dele. Se eu faço a reunião na sala dele tem toda uma

questão emocional por ser o território dele.”

“Esse alinhamento meio que a gente vai fazendo o tempo todo, toda sessão tem sempre uma

checagem de expectativa. Mas ao final do processo eu faço uma coisa mais formal para gente

entender de onde a gente saiu para onde a gente chegou, como ele entendeu essa caminhada,

o que foi alcançado e o que não foi.”

“Trabalhar expectativas diferentes tem que ser alinhado e na reunião do meio (do processo)

eu deixei claro para o diretor, olha de repente a forma como você está vendo, que você está

esperando, a expectativa que você tem, não é a mesma que ele tem. Então em algum

momento alguém vai infeliz com a história. [...] O que você (organização) está esperando,

talvez a gente não atinja, porque a forma que ele (coachee) se vê é outra.

“Quando a gente consegue estabelecer um rapport bom com o coachee, mesmo não tendo

sido uma escolha inicial dele, ele entende depois que foi muito bom para ele.”

“Eu pergunto, você sabe por que você foi escolhido para fazer o coaching? É legal para ter

exatamente qual é a visão da pessoa, e algumas não tem ideia. Aí é claro que eu não vou expor

o empregador, mas é importante pra que ele vá entendendo.”

Entrevistado 9

“São 10 sessões semanais ou quinzenais. Normalmente quem está em início de carreira, eles

querem acelerar, então fazem a cada semana.”

“Nós temos um plano de ação que vamos checando a cada sessão. Se todas as atividades

forem realizadas o resultado é o desejado.”

“Alguns empresários realmente utilizam o coaching e dizem “e aí, eu demito ou não demito?”.

Amigo, essa função não cabe a gente, nossa função é desenvolver o profissional, trazer a ele

a alta performance [...] eu não tenho como avaliar o trabalho dele no dia a dia dentro da

empresa.”

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“Por mais que as pessoas hoje tenham um pouco mais de informação sobre coaching, alguns

acham que coaching é consultoria. [...] O processo de coaching é pautado por

questionamentos, mas a resposta vem do coachee, a resposta que fizer sentido para ele é a

resposta que vai prevalecer.”

“Meu processo com o coachee é um, esse papel aqui não cabe ao coach. Mostrei no contrato

quais eram as expectativas que nós havíamos alinhado, e qual era a função de cada um.”

“Eu faço individual, aí a melhor forma é o diálogo para resolver e aparar as arestas. [...] Quanto

maior a hierarquia a vaidade prevalece, e quando a vaidade prevalece eles não querem

conversar, querem ser procurados. Mas no processo de coaching também traz

autorresponsabilidade, traz o autoconhecimento. A carreira não vai deslanchar se continuar

com alguns comportamentos.”

“Se os dois estiverem no processo, então através de ferramentas e técnicas eu busco eles

enxergarem que o melhor caminho é o alinhamento.”

“Quando o cenário é: o corpo de direção me chama, fala que vai fazer, chama o executivo e

fala que a partir de agora você vai fazer coaching, aí gera desconfiança. O executivo pensa, o

que é que eu não estou fazendo que eu posso ser demitido. Por mais que se traga alinhamento

na reunião inicial, eles ficam receosos. O que eu tenho feito e tem dado certo é mostrar clareza

no processo e, além dessa clareza, eu sempre digo, olha isso aqui eu preciso reportar, isso

aqui eu não vou reportar. Eu tento ser bem claro, e ele vai ficando mais tranquilo e se

entregando ao processo.”

Entrevistado 10

“Por contrato, realizo uma reunião ao final do processo com o superior imediato, onde ele fala

quais mudanças percebeu (no coachee). Mas não compartilho conteúdo das sessões. Esses

encontros são muito mais para ouvi-los do que para falar alguma coisa.”

“A empresa normalmente me contrata para alguém que vai ter uma promoção, questão de

linha de sucessão, pra gente trabalhar o desenvolvimento de competências, autoconsciência.”

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“Depende da cultura da empresa. Tem aquela empresa que põe o coachee pra você e nunca

mais te pergunta sobre ele e tem empresas que te perguntam sobre o processo e querem até

influenciar no processo.”

“De 10 a 12 sessões, com dois acompanhamentos mensais após essas sessões.”

“90% dos meus processos eu tento fazer no meu próprio escritório, eu tento nem ir na

empresa.”

“O meu cliente prioritário é o coachee. Tem um eixo ético, é obvio que eu não vou ferir a

empresa em nenhum momento [...] por exemplo, eu nunca vou falar para um coachee se ele

não quer rever o currículo. Eu preciso entender formas do coachee trabalhar mesmo quando

está em um ambiente refratário. [...] A empresa é patrocinadora do processo, mas a estrela é

ele (coachee).”

“Eu costumo fazer uma entrevista qualitativa. Sento com o gestor ao final do processo e quero

saber sobre as mudanças. Eu vou estabelecendo uma linguagem comum com os participantes

ao longo do processo para ver as mudanças ao final.”

“Eu não tive isso de forma aberta, a minha percepção, ok? De que na verdade eu fui

contratada para “olha nós tentamos de tudo”, exatamente isso. Tem dois casos bem

específicos, um deles eu vi que estava se encaminhando dessa forma, estava vendo essa

movimentação, mas foi revertido. E o outro foi demitido, apesar de ganhar um prêmio de

produtividade na área dele.”

“O tempo todo. Se eu tivesse como convencer meus clientes de que o que eles precisam é

fazer D.O. (desenvolvimento organizacional). É muito difícil que você trabalhe com uma única

pessoa em um ambiente que tem questões de cultura a ser tratado, e que ela sozinha consiga

influenciar tudo isso, aí eu foco, vamos olhar para a área, para a equipe.”

“Me recuso, porque aí é uma questão de contrato com o coachee. Que credibilidade eu tenho

para que ele confie em mim, para que a gente possa discutir os pontos críticos da atuação

dele dentro da base de confiança? [...] eu não posso virar um mensageiro.

“Estão me pagando para lhe dar com o coachee, certo? Então meu foco é sempre tentar

discutir possibilidades para que essa pessoa crie condições, tenha abordagens e estratégias

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para resolver esse conflito. Já aconteceu de eu conversar também com o superior, ouvir o lado

dele e tentar colocar da mesma forma. [...] O conflito entre eles quem tem que resolver são

eles, chamar um árbitro externo para solucionar uma questão é pontual e, na minha visão,

não soluciona e acaba perpetuando o conflito, pois pode gerar ressentimentos, cada um “sede

um pouco e sai todo mundo insatisfeito.”

“Quando passa 15 dias e ele (coachee) não me traz nada feito já mostra

descomprometimento. Eu o chamo para conversar, por que se não estiver sendo bom para

ele a gente encerra o processo. O compromisso é com os resultados e só vai ter resultados se

ele realmente se dedicar e realizar todas as tarefas.”

“Você precisa convencer a pessoa de estar alí com você. Eu não vejo isso como manipulativo,

mas é preciso estratégias pra gente estabelecer uma relação de confiança, sem mentir ou

omitir, nem direcionar pensamentos.”

“O que a gente faz é tentar que eles tenham consenso entre eles ou, pelo menos, priorizem.

Não é que são objetivos incompatíveis, mas é preciso definir um foco através das pessoas.”