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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Ciro Carlos Antunes UM ESTUDO DAS REGRAS DE USO DO HÍFEN, SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA SÃO PAULO 2014

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP · de uso do hífen em palavras derivadas; 4) examinar as regras de uso do hífen em palavras compostas. O procedimento metodológico

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Ciro Carlos Antunes

UM ESTUDO DAS REGRAS DE USO DO HÍFEN, SEGUNDO O ACORDO

ORTOGRÁFICO DE 1990

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

SÃO PAULO

2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUADOS EM LÍNGUA PORTUGUESA

Ciro Carlos Antunes

UM ESTUDO DAS REGRAS DE USO DO HÍFEN, SEGUNDO O ACORDO

ORTOGRÁFICO DE 1990

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de MESTRE

em Língua Portuguesa, sob a orientação da Profª. Drª.

Regina Célia Pagliuchi da Silveira.

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Banca Examinadora

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

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A ortografia de um povo, como a própria língua, é um fato,

sistemático ou assistemático, lógico ou incongruente, mas um

fato sempre respeitável em seus fundamentos e intuitos.

Desconhecê-lo, deturpá-lo, feri-lo na própria substância,

incentivar as gerações, que, seguindo o natural instinto, foram,

às apalpadelas, por assim dizer, acumulando, a pouco e pouco,

os elementos a cujo acervo chamamos ortografia usual, é

realmente seguir caminho errado e anarquizar ainda mais a

herança paterna, que representa o esforço secular de nossos

avós.

(Pereira, 1919, p.112-113)

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AGRADECIMENTOS

Aos treze anos de magistério vivido por mim, o ingresso na Pós-Graduação de Língua

Portuguesa – PUC-SP. E as experiências diárias resultaram neste trabalho marcado pela

presença e participação de tantas pessoas.

Meu muito obrigado a PUC-SP por fecundar um saber incansável e busca constante de bons

resultados e qualidade no ensino.

Agradeço aos meus familiares: meus pais Luzia de Souza Cordeiro e Augusto Antunes

Cordeiro (in memorian), irmãos e sobrinhos, aos meus amigos pelo incentivo e força para que

eu não desistisse desse mestrado.

Especialmente, aos irmãos Luis Miriz A. Cordeiro, Ana Apª. A. Cordeiro e as amigas:

Marinalva Evaristo Gomes, Eronildes, Raquel Maria Cordeiro Haun e Sônia Letícia Cordeiro

pelo apoio e pela amizade que me presentearam.

Agradeço especialmente à Professora Doutora Regina Célia Pagliuchi da Silveira que desde

2011, passou a constituir em mim um modelo de mestre. Sou muito grato por compartilhar

sua sabedoria, na condição de lecionando, de usufruir de seu estímulo e disponibilidade, por

ter sido uma amiga em todas as horas. O meu sincero agradecimento por seu trabalho,

dedicação e incentivo. E, pelo convite para participar do Grupo de Pesquisa: “Língua

Portuguesa para Estrangeiros”.

Agradeço as Doutoras Nancy Casagrande e Alaide Aparecida dos Santos Fernandes,

Examinadoras da Comissão pelas colaborações, sugestões, leituras atentas, pela entusiasmada

leitura crítica dos textos que ajudou-me a gerar esta dissertação.

Agradeço a CAPES pelo financiamento e apoio ao projeto de pesquisa que culminou nesta

dissertação.

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Agradeço todos por participarem diretamente e indiretamente de meu sucesso. Só tenho que

dizer “MUITO OBRIGADO POR TUDO”!

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ANTUNES, Ciro Carlos. Um estudo das regras de uso do hífen, segundo o Acordo

Ortográfico de 1990.

RESUMO: Esta dissertação trata do uso do hífen na formação de palavras conforme o

Acordo Ortográfico da língua portuguesa formulado entre 1986-1990 e aprovado pelas nações

que compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Justifica-se a investigação

realizada, pois, embora o Acordo Ortográfico imposto a partir de 1996 apresente um conjunto

de regras de uso do hífen na formação de palavras, há muitas exceções para cada regra,

causando dificuldades. O problema consiste em responder as seguintes questões: 1) Por que

usar o hífen na formação de palavras? 2) Quando o uso do hífen se faz necessário? 3) Se a

língua portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, como os falantes nativos

reconhecem prefixos e sufixos acentuados e inacentuados? 4) Nas formas derivadas e

compostas, o lugar selecionado para o acento em lexemas, acarreta o uso do hífen? 5) Por que

vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são tratados pelos

gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si só nos

enunciados? Esta dissertação tem por objetivo geral contribuir para uma reflexão a respeito do

Acordo Ortográfico de 1990 e da formação de palavras da parte Morfologia de nossas

gramáticas do uso padrão normativo. São objetivos específicos: 1) apresentar um breve

histórico da ortografia portuguesa e suas reformas ortográficas para situar o distanciamento

entre Brasil e Portugal; 2) apresentar as dificuldades existentes na parte Morfologia para

formação de palavras em nossas gramáticas do uso padrão gramatical; 3) examinar as regras

de uso do hífen em palavras derivadas; 4) examinar as regras de uso do hífen em palavras

compostas. O procedimento metodológico adotado foi teórico-analítico para um corpus

composto de exemplos apresentados no Acordo de 1990, em gramáticas brasileiras e guias

ortográficos. Os resultados obtidos indicam que, para o uso do hífen: 1. As regras do hífen na

formação de palavras derivadas por prefixação e sufixação foram construídas com oscilação

de critérios: a) semântico; b) morfológico; c) sintático; d) fonético; e) ortográfico; f)

morfossintático; g) morfofonético; 2. Critérios variados criam dificuldades para o uso do hífen

e as mesmas estão presentes no item gramatical: Formação de palavras. Conclui-se a

necessidade de se rever o item relativo à formação das palavras, que é lacunoso e confuso, na

gramática tradicional brasileira. Sem essa revisão qualquer regra de uso do hífen para a

formação de palavras, torna-se difícil de ser elaborada.

Palavras-chave: Acordo Ortográfico de 1990; hífen; palavras derivadas e compostas.

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ABSTRACT: This paper deals with the use of the hyphen in the word formation, as the

Portuguese Spelling Agreement, made between 1986-1990 and approved by the nations that

make up the Community of Portuguese Language Countries. Justifies the investigation

because , although the Orthographic Agreement tax from 1996 presents a set of rules for the

use of the hyphen in the word formation, there are many exceptions to every rule, causing

difficulties. The problem is to answer the following questions: 1) Why use the hyphen in the

word formation? 2) When the use of the hyphen is needed? 3) If Portuguese is a language

accent, ie, intensity, native speakers recognize prefixes and suffixes accented and

inacentuados? 4) In the derived and compound forms, the place selected for the accent in

lexemes, entails the use of the hyphen? 5) Why multiple prefixes in Portuguese are

accentuated if the affixes are treated by traditional grammarians as dependent ways that can

not occur by itself in utterances? This work has the objective to contribute to a reflection on

the Orthographic Agreement of 1990 and the formation of words Morphology part of our

normative grammars of standard use. The specific objectives : 1) to present a brief history of

English spelling and its orthographic reforms , to situate the distance between Brazil and

Portugal , 2) present difficulties on the Morphology for word formation in our grammars in

grammatical usage pattern , 3) examine the rules of use of the hyphen in derived words , and

4) examine the rules of use of the hyphen in compound words . The methodological approach

was theoretical and analytical to a corpus consists of examples given in the 1990 Agreement

in Brazilian spelling and grammar guides. The results indicate that, for the use of the hyphen:

1. The rules of the hyphen in the word formation derived by prefixing and suffixing were built

with oscillation criteria: a) semantic b) morphological c) syntactic d) phonetic e) spelling f)

morphosyntatic g) morfofonético. 2. Varying criteria create difficulties for the use of the

hyphen and the same are present in the grammar item: Word formation. It follows the need to

review the item related to the formation of words, which is spongy and confused, in Brazilian

traditional grammar. Without this revision of any rule for hyphenation, word formation, it is

difficult to elaborate.

Keywords: Orthographic Agreement of 1990; hyphen; derived words and compound.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13

CAPÍTULO I ................................................................................................................. ........ 17

A HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA E UM

BREVE HISTÓRICO DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS. ....................................... 17

CAPÍTULO I ......................................................................................................................... 18

A HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA E

UM BREVE HISTÓRICO DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS. ................................ 18

1.1 Apresentação ..................................................................................................................... 18

1.2 Um breve histórico da Língua Portuguesa e sua ortografia .............................................. 19

1.3 Reformas Ortográficas da língua portuguesa .................................................................... 26

1.3.1 Reforma da Ortografia brasileira de 1907 ...................................................................... 26

1.3.2 Formulário Ortográfico de 1911 .................................................................................... 27

1.3.3 Acordo Ortográfico de 1931 .......................................................................................... 29

1.3.4 Formulário Ortográfico de 1943 – Oficial no Brasil ...................................................... 29

1.3.5 Acordo Ortográfico de 1945 – Decreto Nº.: 35.228,

de 8 de dezembro de 1945 ...................................................................................................... 32

1.3.6 Documento nº 2: Base Analítica do Acordo Ortográfico de 1945 ................................. 33

1.3.7 Acordo Ortográfico de 1971, Lei nº 5.765, de 18 de dezembro de 1971 ...................... 36

1.3.8 Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 ...................................................... 37

1.4 Para finalizar: comentários relativos ao Acordo Ortográfico de 1990 .............................. 41

CAPÍTULO II .......................................................................................... ............................. 43

UMA REVISÃO DO HÍFEN E DA FORMAÇÃO DE PALAVRAS,

SEGUNDO AS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS, NO BRASIL. .................................. 43

CAPÍTULO II .......................................................................................... ............................. 44

UMA REVISÃO DO HÍFEN E DA FORMAÇÃO DE PALAVRAS,

SEGUNDO AS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS, NO BRASIL. .................................. 44

2.1 Apresentação ..................................................................................................................... 44

2.2 O uso do hífen e a ortografia brasileira. ............................................................................ 47

2.2.1 O hífen na gramática portuguesa, no Brasil. .................................................................. 47

2.2.1.1 Antes da NGB ............................................................................................................. 47

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2.2.1.2 Pós NGB ........................................................................................ ............................. 49

A) Celso Cunha ....................................................................................................................... 49

B) Evanildo Bechara ............................................................................................................... 51

C) Outros autores ....................................................................................... ............................. 52

2.3 A formação das palavras na gramática tradicional, no Brasil. .......................................... 52

2.3.1 Celso Cunha ................................................................................................................... 53

2.3.1.1 Derivação .................................................................................................................... 54

2.3.1.2 Composição .......................................................................................................... ....... 58

2.3.2 Evanildo Bechara ........................................................................................................... 60

2.3.2.1 Derivação .................................................................................................... ................ 61

A) Derivação por prefixação ................................................................................................... 61

2.3.2.2 Composição ...................................................................................... ........................... 65

2.3.3 Outros autores e o uso do hífen ......................................... ............................................. 67

2.4 Para finalizar: dificuldades existentes para o uso do hífen,

a partir dos textos de gramáticos brasileiros tradicionais ....................................................... 70

CAPÍTULO III ...................................................................................................................... 74

FUNDAMENTOS TEÓRICOS: FONOLOGIA

E MORFOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA. ........................................................... 74

CAPÍTULO III ......................................................................................... ............................. 75

FUNDAMENTOS TEÓRICOS: FONOLOGIA E MORFOLOGIA

DA LÍNGUA PORTUGUESA. ............................................................... ............................. 75

3.1 Apresentação ..................................................................................................................... 75

3.2 A língua portuguesa é uma língua de acento: a natureza fonética do acento .................... 76

3.3 Estrutura silábica do português ......................................................................................... 79

3.4 O acentema: a natureza fonológica do acento em língua portuguesa ............................... 82

3.5 Os paradigmas vocálicos e o acentema ............................................................................. 83

3.6 A formação de palavras por composição .......................................................................... 85

3.7 A derivação ....................................................................................................................... 86

3.7.1 Derivação prefixal .......................................................................................................... 86

3.7.2 Derivação por sufixação ................................................................................................. 88

3.8 O sufixo grego “-ico” ........................................................................................................ 90

3.9 Para finalizar: considerações sobre a formação

de palavras por composição e derivação. ................................................................................ 91

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CAPÍTULO IV ...................................................................................................................... 93

UM EXAME DAS REGRAS ORTOGRÁFICAS PARA O USO DO HÍFEN,

SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 ....................................................... 93

CAPÍTULO IV ......................................................................................... ............................. 94

UM EXAME DAS REGRAS ORTOGRÁFICAS PARA O USO DO HÍFEN,

SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 ....................................................... 94

4.1 Apresentação ..................................................................................................................... 94

4.2 Resultados obtidos do exame realizado com as regras de uso do hífen,

segundo o Acordo Ortográfico de 1990 .................................................................................. 95

A) Regras para a derivação prefixal: ....................................................................................... 95

4.2.1 Regra I ........................................................................................................................... 95

4.2.2 Regra II ............................................................................................. ............................. 98

4.2.3 Regra III ....................................................................................................................... 101

4.2.4 Regra IV ....................................................................................................................... 105

4.2.5 Regra V ........................................................................................................................ 108

4.2.6 Regra VI ....................................................................................... ................................ 110

4.2.7 Regra VII ............................................................................................................. ......... 112

B) Regra para a derivação sufixal: ............................................. ........................................... 114

4.2.8 Regra VIII ............................................................................................................ ........ 114

C) Composição .......................................................................................... ............................ 115

Regra 9 – Justaposição .......................................................................................................... 116

4.2.9 Regra IX ....................................................................................................................... 116

4.2.10 Regra X ...................................................................................................................... 117

4.2.11 Regra XI ............................................................................................................ ......... 119

1.3 Para finalizar: uma síntese dos resultados obtidos e discussões ..................................... 120

4.3.1 No que se refere às palavras designadas no Acordo de 1990

como palavras derivadas por prefixação e sufixação. ............................... ............................ 120

4.3.1.1 Para a prefixação ....................................................................................................... 121

I) Devido à oscilação de critérios, o uso do hífen faz-se necessário, também, em: .............. 121

4.3.1.2 Para a sufixação ........................................................................................................ 123

4.3.2 No que se refere às palavras formadas por composição. ............................................. 124

4.4 Usa-se o hífen para separar graficamente unidades lexicais sequenciadas ..................... 125

4.4.1 Não se usa o hífen ........................................................................................................ 125

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CONCLUSÕES ................................................................................................................... 126

Referências ................................................................................................................. .......... 131

ANEXOS .............................................................................................................................. 137

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13

INTRODUÇÃO

Tratar do Acordo Ortográfico de 1990 envolve saber que discursos sobre a língua são

admitidos como verdadeiros, determinando um conjunto de práticas e que práticas são essas

que controlam a língua oficial do Brasil.

Esta dissertação está vinculada à linha de pesquisa História e a Descrição da Língua

Portuguesa do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa da PUC-SP e

situa-se na área da Ortografia. Seu tema é o uso do hífen para grafar a formação de palavras,

conforme o Acordo Ortográfico da língua portuguesa, formulado entre 1986-1990 e aprovado

pelas nações que compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Segundo as políticas de língua, adotadas em um país, compete ao Estado determinar o

conjunto de regras que são oficializadas na nação, para construir uma unidade na diversidade

de variedades/variações de usos nacionais.

Com o fenômeno da globalização, tornou-se importante determinar as línguas mais

faladas no planeta. A língua portuguesa é a sétima língua mais falada no mundo; todavia, os

países lusófonos não estão integrados por uma única política de língua. Nesse sentido,

Portugal, tomando a dianteira, passou a se preocupar com uma política de unificação

lusófona. Entre os países de língua portuguesa, o Brasil é o que mais esteve distanciado da

política linguística portuguesa. As causas são históricas, pois, devido ao distanciamento

geográfico e às mudanças causadas pelos períodos Colônia, Império e República, o partido

brasileiro passou a se sobressair em relação ao partido português, no território brasileiro.

A ortografia é um recurso muito importante para se manter a unidade escrita na

diversidade oral dos países lusófonos. Por esta razão, Portugal iniciou um movimento e

progressivamente determinou o Acordo Ortográfico de 1990, pois os acordos anteriores não

haviam sido suficientes para se obter a desejada unidade.

Como a política de língua é selecionada e imposta pelo Estado, houve a necessidade

de ser aceito pelo poder político brasileiro. Esse Acordo se refere tanto ao uso de letras e do

hífen quanto à acentuação. No que se refere ao uso do hífen, foi imposto um conjunto de

regras para o seu uso.

O hífen é a visualização de um traço horizontal que pode separar palavras para linhas

diferentes, unir pronomes átonos a verbos e construir a grafia de palavras derivadas e

compostas.

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Esta dissertação está delimitada ao uso do hífen na formação de palavras escritas.

A dificuldade consiste no tratamento gramatical dado para a formação de palavras, a

partir da derivação e composição. Nesse enfoque, há muitos problemas, pois, nas gramáticas

tradicionais portuguesas do padrão normativo, há lacunas e misturas de critérios que, até hoje,

não foram focalizadas adequadamente.

Justifica-se a investigação realizada, pois, embora o Acordo Ortográfico de 1990,

imposto a partir de 1996, apresente um conjunto de regras de uso do hífen na formação de

palavras, há muitas exceções para cada regra. Da mesma forma, na parte Morfologia das

gramáticas tradicionais brasileiras o tratamento dado à derivação e à composição é

problemático. Sendo assim, ocorrem dificuldades para o uso escrito do hífen pelos falantes

lusófonos.

Logo, o problema consiste em responder as seguintes questões:

1) Por que usar o hífen na formação de palavras?

2) Quando o uso do hífen se faz necessário?

3) Se a língua portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, como os

falantes nativos reconhecem prefixos e sufixos acentuados e inacentuados?

4) Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado para o acento em lexemas

acarreta o uso do hífen?

5) Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem

ocorrer por si só, nos enunciados?

Esta dissertação tem por objetivo geral contribuir para uma reflexão a respeito do

Acordo Ortográfico de 1990 e da formação de palavras da parte Morfologia de nossas

gramáticas do uso padrão normativo.

São objetivos específicos: 1) apresentar um breve histórico da ortografia portuguesa e

suas reformas ortográficas, para situar o distanciamento entre Brasil e Portugal; 2) apresentar

as dificuldades existentes na parte Morfologia para formação de palavras em nossas

gramáticas do uso padrão gramatical; 3) examinar as regras de uso do hífen em palavras

derivadas; 4) examinar as regras de uso do hífen em palavras compostas.

Tem-se por pressuposto que, de forma geral, as reformas ortográficas da língua

portuguesa sempre deram atenção ao uso das letras que grafam as palavras de forma correta.

Por essa razão, as regras de uso do hífen foram pouco tratadas.

O procedimento metodológico adotado foi teórico-analítico e seguiu os seguintes

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15

passos:

1º passo: levantamento bibliográfico:

- Foram levantados os casos de uso do hífen apresentados pelo Acordo de 1990 e por

gramáticos tradicionais brasileiros;

- Foram selecionadas bases teóricas da Fonologia, relativas ao acento, aos fonemas e às

sílabas acentuadas e inacentuadas.

- Foram selecionadas bases teóricas da Morfologia, relativas à formação de palavras.

2º passo: o corpus

O corpus foi constituído por casos de derivação e composição, levantados em gramáticas

tradicionais da língua portuguesa, publicadas no Brasil, em guias ortográficos brasileiros e

nos exemplos apresentados no Acordo 1990. O corpus foi composto qualitativamente de

forma a abarcar tanto as regras quanto as exceções de cada regra.

3º passo: as análises

As análises realizadas objetivaram responder às perguntas que orientaram a investigação

proposta.

Esta dissertação está composta por 4 capítulos:

Capítulo I A história da ortografia portuguesa e um breve histórico das reformas

ortográficas.

Neste capítulo são apresentadas as fases históricas da ortografia portuguesa, seguidas

das reformas ortográficas ocorridas no Brasil e em Portugal e do último Acordo Ortográfico

de 1990.

Capítulo II Uma revisão do hífen e da formação de palavras, segundo as gramáticas

tradicionais, no Brasil

Neste capítulo é apresentada uma revisão crítica das regras de uso do hífen e da

formação de palavras, a partir dos critérios adotados por nossos gramáticos tradicionais,

acompanhados de considerações críticas a respeito da mistura de critérios que causa as

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dificuldades para se apresentar as derivações e composições de palavras e, consequentemente,

as regras de uso do hífen.

Capítulo III Fundamentos teóricos: Fonologia e Morfologia da língua portuguesa.

Neste capítulo são apresentados os fundamentos teóricos fonológicos do português

como língua de acento, diferenciando a sílaba acentuada e inacentuada com os seus

respectivos paradigmas fonológicos vocálicos; em seguida são apresentados os fundamentos

teóricos da Morfologia, relativos à formação de palavras.

Capítulo IV Resultado obtidos das análises e discussões.

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17

CAPÍTULO I

A HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA E UM BREVE HISTÓRICO DAS

REFORMAS ORTOGRÁFICAS.

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18

CAPÍTULO I

A HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA E UM BREVE HISTÓRICO DAS

REFORMAS ORTOGRÁFICAS.

Este capítulo apresenta uma breve revisão crítica da história da ortografia portuguesa,

considerando o sistema fonético, o etimológico até chegar ao momento atual, com um sistema

ortográfico misto

1.1 Apresentação

Com o aparecimento da Linguística, os estudos da língua modificaram-se, voltando-se

para a sincronia. No seu percurso histórico, a Línguística é caracterizada por três paradigmas,

a saber: estruturalismo, gerativismo e pragmatismo.

Durante o estruturalismo os estudiosos preocuparam-se com a descrição do sistema da

língua e buscaram descrevê-lo, fundamentados na teoria dos níveis. Esta diferencia como

nível superior, o sintático que dá conta das estruturas linguísticas da oração. O nível

intermediário é o morfológico que trata das unidades significativas, diferenciadas em lexemas

e gramemas. O nível inferior é o fonológico que descreve os fonemas, unidades distintivas,

vogais e consoantes.

Para os estruturalistas, a gramática é vista como um conjunto de regras que combinam

as unidades do sistema. Dessa forma, no nível sintático, as regras são frasais e de sequencias

oracionais. No nível morfológico, essas regras são de formação de palavras, flexões, regências

e concordâncias. No nível fonológico, as regras combinam os fonemas em sílabas,

descrevendo quais fonemas ocupam a parte central e quais, as partes marginais da sílaba

fonológica. Além, essas regras fonológicas regem como as sílabas se sequenciam para a

formação de lexemas e gramemas.

Durante o estruturalismo, a descrição do sistema da língua é realizado fora do uso, em

busca das constâncias. Por essa razão, as descrições foram realizadas na dimensão da frase.

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19

Para o gerativismo, os estudos estão fundamentados na teoria dos componentes: o da

base, o transformacional e o de superficialização.

O componente da base é inato e define a linguagem humana, sendo ela apresentada

por uma regra oracional. O componente transformacional é o conjunto de regras que atendem

às necessidades semânticas. O componente fonológico é o de superficialização.

Durante o gerativismo, embora haja a diferença entre competência (conhecimento

interiorizado por um falante ideal das regras dos componentes de sua língua que constitui a

sua gramática) e performance (aplicação ordenada das regras da competência para construção

da superfície linguística), a língua foi estudada fora de seu uso, pois a gramática da

competência é a de um falante ideal e abstrato; logo, tratar da língua fora de seu uso, delimita

as descrições e explicações à dimensão da frase.

No paradigma do pragmatismo, a atenção dos línguistas voltou-se para o uso efetivo

da língua. E, por essa razão, o texto e o discurso passaram a ser objeto de estudo. Sendo

assim, foram verificadas as variedades/variações linguísticas que passam a ser objeto da

sociolinguística. Essas variedades/variações, no momento atual, são tratadas pelo

funcionalismo e pela gramaticalização. O funcionalismo entende que as unidades sistêmicas

nos usos efetivos realizados pelos falantes adquirem novas funções. A gramaticalização trata

dessas novas funções a fim de verificar como um gramema se torna lexema, um lexema se

torna gramema e um gramema se torna outro gramema, produzindo assim ressemantizações.

As contribuições dadas pelo funcionalismo e pela gramaticalização propiciaram

entender a língua como um sistema dinâmico. Sendo assim, as alterações de propriedades

sintáticas, semânticas e pragmáticas de uma unidade linguística promovem a alteração de seu

estatuto categorial.

A partir do uso, a Sociolinguística passa a ser desenvolvida e direciona-se, também,

para as políticas linguísticas. Com isso, foi possível de se entender o devido lugar da

gramática do uso padrão normativo e das políticas linguísticas de uma nação.

A gramática de uso padrão normativo é política, na medida em que objetiva manter

uma unidade nas variedades/variações existentes no uso dos falantes nativos de uma língua. A

política de língua é relativa a construção de um estado político para uso nacional da língua,

em um determinado momento histórico. As políticas linguísticas são relativas a quais línguas

uma nação ensina na escola, dependendo de suas relações internacionais com outros países.

Segundo Jean Calvet (1987) tanto a política de língua quanto as políticas linguísticas

são de responsabilidade do Estado. E, de forma geral, uma política de língua está atenta à

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modalidade escrita de uma língua, pois ela é mais adequada para fundamentar o controle das

variedades/variações orais.

Sendo assim, é necessário diferenciar em uma língua tanto num sistema oral quanto

num escrito. O sistema oral é altamente dinâmico, ao passo que o escrito é menos dinâmico.

Logo, para as políticas de língua a construção do controle das variedades/variações tem por

ponto de partida o uso do sistema escrito que passa a ser controlado pela política de língua

estabelecida. Nesse sentido, a questão da ortografia fica sob a responsabilidade do Estado e de

sua política de língua.

1.2 Um breve histórico da Língua Portuguesa e sua ortografia

A origem do Português é no latim, antiga língua falada no Lácio, situado na Península

Itálica, no início do século VII antes de Cristo.

Considera-se que a história da língua portuguesa tem início no século XIII, quando

aparecem os primeiros registros escritos. Segundo António Houaiss (2009) é possível

identificar estágios anteriores ao século XIII, a saber:

1º) pré-histórico – o idioma é falado, mas não documentado; este período inicia no

século V ou VI até o final do século IX;

2º) proto-histórico – período em que as primeiras palavras do português surgem em

textos do baixo-latim e do latim cartorial, na Idade média.

3ª) histórico – período que se inicia no século XIII aos dias atuais, com textos escritos

totalmente em português.

O período histórico costuma ser dividido em duas fases: a arcaica, do século XIII ao

século XVI. Neste momento elabora-se a primeira gramática da Língua Portuguesa, de Fernão

de Oliveira, em 1536. Nessa primeira fase, os copistas não grafavam letras que não fossem

pronunciadas, como no caso do “h” inicial.

A partir do século XV e XVI, as línguas românticas vão se impondo como línguas

oficiais em decorrência de fatos marcados pela história ocidental. Com a invenção da

imprensa, o Humanismo e a Renascença floresceram os estudos linguísticos, principalmente

os de caráter ortográfico. Com a evolução da língua portuguesa, os fonemas latinos e gregos

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modificarem-se até chegar ao romance português, com o qual surgem novas unidades

inexistentes, anteriormente, na língua.

Com o Renascimento, o aparecimento da imprensa e os descobrimentos, foi necessário

que Portugal construísse uma gramática portuguesa, no século XVI. Nessa ocasião, aparecem

dois gramáticos Fernão de Oliveira e João de Barros. Ambos não tratam da ortografia em suas

gramáticas, por que ela era tarefa dos ortógrafos.

Desde o seu início, o português é língua que tem um sistema de escrita alfabético.

Desse modo, cada letra e cada sequência de letras buscam grafar sons do sistema linguístico

oral. Além das letras, o sistema ortográfico da Língua Portuguesa passa, progressivamente, a

utilizar sinais gráficos que exercem variadas funções na Prosódia e Morfologia. Esses

símbolos tanto podem ser diacríticos ou não verbais, quanto podem ser exceções de uma regra

ortográfica.

A grafia da língua portuguesa começa, aproximadamente, oito séculos antes dos

ortógrafos oficiais, sem a menor interferência quer por parte do governo quer das Academias

de Ciências de Lisboa e Academia Brasileira de Letras, no sentido de fixá-la dentro de regras.

Porém, na história da escrita, em suas origens, a grafação era feita através de desenhos

que buscavam representar um objeto, para a comunicação. Nessa escrita, havia pelo menos

dois mil sinais, pois cada desenho grafava uma palavra; sendo assim, o seu uso era bastante

complicado. Tal escrita foi designada pictográfica.

Com o passar dos tempos, os sinais gradativamente tornaram-se abstratos e passaram a

ser compostos por uma série de representações escritas, relativas às ideias. Tal escrita foi

designada ideográfica.

Tudo indica que, anterior à escrita ideográfica, existiu a escrita cuneiforme. Esta

escrita ocorre na Síria e Babilônia. A grafação é por coluna da direita para a esquerda e foi

utilizada em seus primórdios para registros e documentos, cartas de reis e registros

comerciais.

Na escrita ideográfica, a figura grafada representa uma ideia, pela tentativa de relação

motivada e direta; porém, progressivamente, as representações deixam de ser motivadas e

passam a ser convencionadas.

Tudo indica que essa escrita tornou-se bastante complexa e para simplificá-la apareceu

a escrita alfabética. Esta busca grafar as representações fonético-fonológicas do sistema oral

da língua.

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Tudo indica que foram os fenícios que simplificaram a escrita alfabética num sistema

reduzido de caracteres e a difundiram, a fim de realizar comércio com os povos do

Mediterrâneo. Em busca de facilidade e de praticidade, os escribas passaram a escrever seus

textos da esquerda para a direita, resultando assim na forma atual da escrita alfabética.

Foi a necessidade da divulgação dos documentos escritos que propiciou o

aparecimento de normas para padronizar o uso da escrita, originando a ortografia.

O termo “ortografia” tem seu étimo nos radicais gregos: “orto-“ (reto, direto, correto,

normal) e “–grafia” (representação escrita de uma palavra). No dicionário da Língua

Portuguesa de António Houaiss, o verbete, “ortografia” é, assim, definido: “o conjunto de

regras estabelecidas pela gramática normativa que ensina a grafia correta das palavras”.

J. J. Nunes (1956) apresenta a ortografia portuguesa por dois períodos, ressaltando que

ela nunca foi uniforme, mas que mesmo assim, pode se notar uma diferença sensível entre a

usada nos antigos escritos e a que se praticou nos escritos que lhes seguiram.

Ernesto Carneiro Ribeiro (1890) apresenta três diferentes períodos da ortografia

portuguesa, designados por ele “sistemas ortográficos”:

1) O sistema fonético, racional ou filosófico;

2) O sistema etimológico ou de derivação;

3) O sistema usual, misto ou eclético.

O sistema fonético foi utilizado pelos primeiros ortógrafos portugueses com o objetivo

de grafar, por uma letra, o som emitido pelo falante.

Durante essa fase, ocorreram muitas dificuldades, pois os sons não correspondiam aos

fonemas. Estes são realizados por variedades/variações de pronúncias que dependem de

individuo para individuo, de grupo social para grupo social, de região geográfica para região

geográfica e de nação para nação onde se fala a mesma língua. Por essa razão, foi necessária a

fase etimológica.

Segundo Carneiro Ribeiro, a única regra do sistema etimológico é escrever as palavras

segundo a sua derivação etimológica. Nesse sistema, representam os vocábulos da língua, em

que se escrevem, com as mesmas letras com que são representados em outra língua, ou seja,

os vocábulos de onde eles se derivam.

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As dificuldades ortográficas persistiram, durante a fase etimológica, pois os étimos

portugueses foram pouco estudados. Até hoje, quando se buscam os étimos portugueses, a

pesquisa é realizada em um dicionário espanhol, cujo autor é Corominas.

No que se refere à língua portuguesa, não há ainda dicionários especializados. Como

exemplo, pode se citar a palavra “cacho” que nos dicionários de língua portuguesa tanto

podem ter origem latina quanto africana.

Sendo assim, foi necessário que se adotasse o sistema misto, ou seja, fonético-

etimológico.

Segundo Carneiro Ribeiro (1890) as regras do sistema misto são:

1. Quando a pronúncia não se opuser à etimologia, devemos seguir a etimologia.

2. Quando houver desacordo entre a pronúncia e a etimologia, deve-se preferir o sistema

fonético.

3. Naquelas palavras cuja ortografia e uso estiverem identificadas por mais de uma

etimologia, devemos seguir o sistema fonético.

Segundo o autor, o sistema fonético ou arcaico da língua portuguesa origina-se com a

língua escrita e dura até o século XVI.

O sistema fonético apresentou muitas dificuldades. Sendo assim, nesse período, a

ortografia portuguesa nunca foi uniforme, o que pode se verificar, por exemplo, na Carta de

Pero Vaz de Caminha, informando ao El-Rei D. Manuel (CORTESÃO, p. 31):

Snõr,

Posto queo capitam moor desta vossa frota e asy os outros capitaã

esscrepuam avossa alteza anoua do acha mento desta vossa terra noua que se

ora neesta naue gaçam achou. nom leixarey tam bem de dar disso minha

comta avossa alteza asy como eu milhor poder ajmda que perao bem contar e

falar o saiba pior que todos fazer. / pero tome vossa alteza minha jnoramçia

por boa vomtade. aqual bem certo crea q por afremosentar nem afear aja aquy

de poer ma is caaquilo que vy e me pareçeo. da marinha jem e simgraduras do caminho nõ darey aquy cõta a vossa alteza por queo nom saberey fazer e

os pilotos deuem teer esse cuidado e por tanto Snõr de que ey de falar

começo e diguo.

Caminha representava os sons da fala, mas havia instabilidade na padronização da

escrita, pois, nessa época, a ortografia portuguesa seguia o sistema fonético. As dificuldades

de se grafar ortograficamente um sistema fonético estão avaliadas no comentário de Rosetti

(1962, p. 164) “a representação exata, por escrito, dos sons falados, é uma utopia”.

As dificuldades, que ocorreram, ocasionaram progressivamente a mudança do sistema

fonético pra o sistema etimológico e depois deste, para o misto.

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Do século XIII a meados do século XVI, a ortografia portuguesa é fonética. Esse

período, como já foi dito, é caracterizado por uma adesão da escrita à pronúncia. Foi no

século XIII que se começou a estabelecer certas tradições gráficas, para a língua portuguesa.

Do século XVII ao início do século XX: ortografia portuguesa tenta ser etimológica.

Os intelectuais, nesse período, buscaram resgatar os valores da civilização greco-romana e

exaltar as potencialidades realizadas pelos homens; com esse novo rigor, buscou-se grafar

palavras com “ph, rh, th e y”, conforme eram grafadas nas palavras de origem grega

(archaico, phrase, rhetorica, theatro, estylo); e “ct, gm, gn, mn, mpt”, nas palavras de origem

latina (aucthor, fructo, phleugma, assignatura, damno, prompto). Ao decorrer do século

espalhou-se o uso de grafias etimológicas ou pseudo-etimológicas, a denotar o desejo de

justificar as palavras vernáculas através dos seus antecedentes latinos ou gregos.

Esse período etimológico é comentado por Bizzochi (1997, p. 9):

as línguas vernáculas sofreram processos (não) vulgarizantes e vulgarismos

(resultantes de herança vernácula, vulgarismo alogenéticos - empréstimos de

vulgarismos estrangeiros, empréstimos de tradução e vulgarismos resultantes

de metamorfismo, vulgarismos resultantes de combinação sintagmática - composição ou derivação, coocorrência de processos lexicogênicos no

mesmo vocábulo e vocábulos cujas formas flexionais pertencem a categorias

lexicogênicas diferentes).

Pode-se verificar que o tratamento etimológico da língua portuguesa torna-se uma

questão confusa por não se conhecer todo o inventário dos étimos do idioma, pois é esse

conhecimento que regulariza a ortografia etimológica, para a determinação jurídica das regras

de uso da escrita, por leis oficiais.

Por essa razão, o período etimológico, também ocasionou várias dificuldades para a

ortografia portuguesa, pois muitos étimos haviam sido perdidos, o que proporcionou o

surgimento de falsas etimologias (por ex.: thesaurus > thesoura > tesoura).

Com o aparecimento da tipografia, expandiu-se cada vez mais rápido o aparecimento de

novas grafias etimológicas em manifestos artísticos, científicos ou literários, aumentando o

número das falsas etimologias.

Porém, a fase etimológica foi importante para realizar uma reforma ortográfica para o

português. Com ela, restauraram-se não só as letras que estavam em desuso, mas em alguns

casos, foi necessário grafar outras que não estavam registrados, como por exemplo, o “gê” de

“digno”, pois, na fase fonética, escrevia-se e pronunciava-se “dino". Nesse período, a

“Academia Real das Sciências de Lisboa” consagrou a etimologia como suprema para

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reformar a ortografia portuguesa. Devido ao desconhecimento de etimologias, muitas palavras

até hoje são aceitas com duas formas de escrita (exemplo: cachumba, étimo latino; caxumba

com “x” étimo africano, designação de uma doença infecciosa respiratória em língua banto).

Logo, a fase etimológica não resolveu as dificuldades ortográficas existentes para

grafar a língua portuguesa.

Por essa razão, optou-se pelo sistema misto fonético-etimológico. Segundo esse

sistema, quando se tem conhecimento do étimo, grafa-se com as letras do étimo; quando a

palavra é nova por entrada neológica ou o étimo é desconhecido, grafa-se foneticamente.

Devido à mistura de critérios, no Brasil, ocorre a primeira simplificação ortográfica da

Língua Portuguesa, considerada Reforma Ortográfica de 1907.

No que se refere à padronização ortográfica, Carolina Michaelis de Vasconcelos (sd)

assinalou que era necessário oficializar a ortografia portuguesa de forma regularizada e

simplificada, por assim ser conveniente tanto sob aspecto científico quanto sob o estético e,

sobretudo o pedagógico.

Em virtude de tanta confusão, segundo J.J. Nunes (1956) foi nomeada, em 1911, pelo

governo português, uma Comissão que propusessem uma ortografia portuguesa mais

adequada. Essa comissão foi orientada para organizar uma ortografia nacional que não deveria

contrariar nem disfarçar a evolução real do idioma pátrio nem as suas diferenças e

diferenciações dialetais, desde que elas pudessem ser coadunadas com a escrita comum.

Como houve conflitos para acordos ortográficos entre Brasil e Portugal (que serão

apresentados a seguir), pode se dizer que a grafia da língua portuguesa, nesse período,

apresentou-se por duas ortografias: a portuguesa e a brasileira. Isso porque não houve

uniformidade para esses dois países que passaram a seguir suas normas próprias, a fim de

atender os seus próprios usos da língua.

Qualquer língua em uso está sujeita a variedades/variações fonéticas, morfológicas,

sintáticas e lexicais. É natural que dois países separados por extensas dimensões geográficas

apresentem diferenças razoáveis entre as variedades/variações de seus usos da língua

portuguesa.

Segundo o Houaiss (2009, p. 20), “estes países convencidos por uma inexistência de

uma ortografia nacional comum passam a entender que essas diferenças criam dificuldades de

natureza linguística e também de natureza política e pedagógica”. Logo foi necessário o

esforço que os une pela lusofonia, a efetivação de um Acordo Ortográfico comum às nações

lusófonas.

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Já, em 1984, Caetano Veloso cantou as especificidades do português brasileiro na

música Língua ao dizer que

Gosto de sentir a minha língua roçar

A língua de Luís de Camões.

Gosto de ser e de estar

E quero me dedicar

A criar confusões de prosódia E uma profusão de paródias

Que encurtam dores

E furtam cores como camaleões.

Gosto do Pessoa na pessoa

Da rosa no Rosa,

E sei que a poesia está para a prosa

Assim como o amor está para a amizade.

E que há de negar que esta lhe é superior?

E deixa os portugais morrerem à míngua.

“Minha pátria é a minha língua”

_Fala, Mangueira!

Flor do Lácio Sambódromo

Lusamérica latim em pó

O que questionamentos

O que quer

O que pode

Esta língua? (Velô, 1984)

Essa música sugeriu a necessidade de se atender às políticas de língua portuguesa

traçadas no momento.

1.3 Reformas Ortográficas da língua portuguesa

No Brasil e Portugal ocorreram as seguintes reformas ortográficas: 1907, 1911, 1924 a

1971 e 1990.

1.3.1 Reforma da Ortografia brasileira de 1907

Em 1907, a Academia Brasileira de Letras propôs o seu sistema ortográfico, elaborado

dentro da própria instituição. Houve aceitação e rejeição por muitos ou partes divergentes à

inovação da acadêmica.

A Academia Brasileira de Letras, em julho de 1907, adotou, em síntese, o seguinte

plano de reforma:

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Consoantes:

1) proscrição do “k” substituído por “que” e “c”: “quermes, cágado”;

2) substituição do “s” com valor “z” por esta letra: “caza, roza, meza, formozo e

Móizes”;

3) substituição do “g” medial com valor de “j” por esta letra: “orijem, viajem”;

4) supressão das consoantes mudas ou insonoras nos grupos consoantes, inclusive o “h”

nos grupos gregos (ch, th e rh): “atenção, ação, diretor, aumento, ortografia, orquestra

e retórica”.

Excetua-se “ss, rr" (cassa e carro), provisoriamente, “ll”, “aquelle, aquillo”.

Igualmente, “lh, nh, ch = x”: “pilha, pinha, pecha”.

1. Eliminação do h, exceto no início do vocábulo e seus compostos: empreender, cair,

honra, deshonra, humanidade, deshumano, deshumanidade.

2. Escrever-se-ão com z e não s as sílabas tônicas finais: ananaz, portuguez, matiz,

albornoz, cuscuz.

Exceção:

Os plurais: pás, pés, urubus, mercês;

Os pronomes: nós, nos, vós e vos;

As formas verbais: farás, dirás, vês, dês, dás, ris, proferis;

Os nomes próprios: Moisés, Jesús.

Vogais:

1) Proscrição do y, substituído por i: mistério, tímpano, tipo, Ipiranga.

2) Representação das finais nasais tônicas por ão, e as átonas por am, an: pão, irmão,

dirão, farão, irmã, orfam, diriam, fizeram e orfan.

3) Representação dos ditongos orais por: ai, au, eu, iu, oi, ui: pai, pau, céu, fugiu, herói,

boi, dilui; gerais, sais, sois, crizois, nacionais. O hiato é semi-ditongo por o: tio, rio e

vario.

Observação: a Academia Brasileira rejeitou posteriormente a sua reforma de 1907 e adotou a

portuguesa de 1911.

1.3.2 Formulário Ortográfico de 19111

1 http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?action=acordo=1911. Acesso em: 28/09/2013 às 09:28.

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Em 1910, Portugal determinou, por meio do governo, uma Comissão de filólogos, a

fim de se elaborar uma reforma ortográfica simplificada e uniforme para ser usada no ensino e

publicações oficiais.

Compuseram essa Comissão: Francisco Adolpho Coelho, José Leite de Vasconcellos,

Candido de Figueiredo, Manuel Borges Grainha, Aniceto dos Reis Gonçalves Vianna, José

Joaquim Nunes, D. Carolina Michaelis Vasconcelos, Dr. Antonio José Gonçalves Guimarães,

Antonio Ribeiro de Vasconcellos e Julio Moreira.

No mês de setembro de 1911, o governo português adotou a reforma ortográfica,

elaborada pela referida Comissão.

Para o plano de regularização e simplificação da escrita portuguesa foram propostas 46 bases

que são enumeradas por algarismos romanos.

Em uma breve síntese, poder-se-ia dizer que essa reforma visou, principalmente, à

grafia de letras, como, por exemplo, a simplificação de consoantes geminadas e de grupos

consonantais que grafam um único som, como: “ph, rh, th”; as substituições “k, w, y” por “qu,

u ou v, i”, sendo facultativo a regra para nomes estrangeiros.

As palavras iniciadas “ç” passaram a ser escritas por “s”. Foi realizada, também, uma

reforma no que se refere ao acento gráfico e a divisão nos prefixos.

Embora a simplificação proposta seja relativa às letras para grafarem as palavras da

língua portuguesa, esse acordo tratou, também, do uso do hífen e nos seguintes termos:

XXXIII - Os vocábulos compostos cujos elementos conservam a sua

independência fonética unem-se por hífen (-) e conservam igualmente a sua

acentuação; ex.: água-pé, pára-raios, guarda-pó. O hífen repetir-se há na linha

imediata, quando por ele se faça a separação silábica de linha para linha;

ex.:pára-/-raios. Quando um dos termos do vocábulo composto não existe

independente em português, na sua forma integral, unem-se os dois

elementos sem hífen; ex.: clarabóia, fidalgo. Outro tanto se fará quando a

noção do composto se haja perdido, como em solfa, dezoito (dez-a-oito).

XXXIV [outros empregos do hífen]

O hífen será utilizado também nos seguintes casos:

a) Unir os pronomes pessoais enclíticos aos respectivos verbos, de que são

complemento; ex.:louvá-lo, devê-lo, puni-lo, dá-nos, dou-vos, falo-lhes, etc. A acentuação do verbo mantém-se, como se não se lhes unissem esses

complementos. São erros inadmissíveis, mas muito frequentes, louvá-

lo, devê-lo, puni-lo, etc.

b) Os advérbios “mal, bem”, formando o primeiro elemento de um composto,

unem-se ao segundo elemento por hífen, quando sem ele a soletração seria

errada; ex.: bem-aventurança, mal-logrado, para que se não leiam bem

aventurança, ma logrado. Este último, todavia, pode ler-se também

malogrado, pois dizemos malograr, malogro.

A palavra “aguardente” formará o seu plural como “aguardentes”; porém se

proferir separadamente os dois elementos, “água-ardente”, o plural

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será “águas-ardentes” 2.

Na citação acima, verifica-se que as palavras compostas separadas por hífen são duas

palavras autônomas, ou seja, que podem ocorrer em outras orações separadamente. Essas

palavras são caracterizadas por terem autonomia fonética e lexical, ou seja, terem acentuação

própria. Porém, não há referência as palavras derivadas.

Por haver, ainda, divergência ortográfica, ocorreu pela primeira vez o Acordo

Ortográfico da Língua Portuguesa em 1931.

1.3.3 Acordo Ortográfico de 1931

Por haver divergência ortográfica entre Brasil e Portugal, pela primeira vez ocorreu,

para os dois países, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em 1931.

Com os esforços das duas academias - brasileira e portuguesa -, para estabelecer uma

grafia comum, surgiu o 1º acordo ortográfico datado neste ano, que entrou em vigor em 1940

em Portugal e em 1943 no Brasil.

Esse acordo, também, estava mais direcionado para a grafia correta de letras e de acentos.

Todavia, tratou também do uso do hífen na base XXVI, na qual lê-se:

Separar-se-ão com hífen os vocábulos compostos cujos elementos conservam

sua independência fonética: pára-raios, guarda-pó, contra-almirante.

Nota – Não raro o uso reúne, sem o hífen, os elementos dos compostos:

claraboia, parapeito, malmequer, malferido.

Como se pode verificar, no que se refere ao hífen, esse acordo ortográfico manteve as

mesmas regras do formulário Ortográfico de 1911.

1.3.4 Formulário Ortográfico de 1943 – Oficial no Brasil

O Formulário Ortográfico de 1943 foi oficializado somente no Brasil e estava

constituído por dezessetes bases que podem ser reunidas em: 1) alfabeto; 2) Letras

estrangeiras: “k, w, y”; 3) uso e emprego do “h” inicial, medial e final; 4) consoantes mudas;

5) encontro consonantal “sc” inicial e medial; 6) letras dobradas; 7) vogais nasais; 8)

2 http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?action=acordo=1911. Acesso em: 28/09/2013 às 09:28.

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ditongos; 9) hiatos; 10) parônimos e vocábulos de grafia dupla; 11) nomes próprios; 12)

acentuação gráfica; 13) sinais de pontuação.

As bases do Formulário Ortográfico de 1943 propiciaram a organização do

Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.

O uso do hífen é, assim, apresentado, segundo referencias coletadas no Museu da

Língua Portuguesa em São Paulo.

45 - Só se ligam por hífen os elementos das palavras compostas em que se

mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas

que mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua

própria acentuação, porém formando o conjunto, perfeita unidade de sentido. 46 - Dentro desse princípio, deve-se empregar o hífen nos seguintes casos:

1º - Nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação

própria, não conservam, isoladamente, a sua significação, mas o conjunto

constitui uma unidade semântica: água-marinha, arco-íris, galinha-d'água,

couve-flor, guarda-pó, pé-de-meia (mealheiro; pecúlio), pára-choque, porta-

chapéus, etc.

Observação 1ª - Incluem-se nesta norma os compostos em que figuram

elementos foneticamente reduzidos: bel-prazer, ês-sueste, mal-pecado, su-

sueste, etc.

Observação 2ª - O antigo artigo el, sem embargo de haver perdido o seu

primitivo sentido e não ter vida à parte na língua, une-se por hífen ao

substantivo rei, por ter este elemento evidência semântica.

Observação 3ª - Quando se perde a noção do composto, quase sempre em

razão de um dos elementos não ter vida própria na língua, não se escreve com

hífen, mas aglutinadamente: abrolhos, bancarrota, fidalgo, vinagre, etc.

Observação 4ª - Como as locuções não têm unidade de sentido, os seus

elementos não devem ser unidos por hífen, seja qual for a categoria gramatical a que elas pertençam. Assim, escreve-se, v. g., vós outras (locução

pronominal), a desoras (locução adverbial), a fim de (locução

prepositiva), contanto que (locução conjuntiva), porque essas combinações

vocabulares não são verdadeiros compostos, não formam perfeitas unidades

semânticas. Quando, porém, as locuções se tornam unidades fonéticas, devem

ser escritas numa só palavra: acerca (adv.), afinal, apesar, debaixo, decerto,

defronte, depressa, devagar, deveras, resvés, etc.

Observação 5ª - As formas verbais com pronomes enclíticos ou mesoclíticos

e os vocábulos compostos cujos elementos são ligados por hífen conservam

seus acentos gráficos: amá-lo-á, amáreis-me, amásseis-vos, devê-lo-ia, fá-la-

emos, pô-las-íamos, possuí-las, provém-lhes, retêm-nas; água-de-colônia,

pão-de-ló, pára-sóis, pesa -papéis; etc.

2º - Nas formas verbais com os pronomes enclíticos ou mesoclíticos: ama-

lo (amas e lo), amá-lo(amar e lo), dê-se-lhe, fá-lo-á, oferecê-la-ia, repô-lo-eis,

serenou-se-te, traz-me, vedou-te, etc.

Observação - Também se unem por hífen as enclíticas lo, la, los, las aos

pronomes nos, vos e à forma eis: no-lo, no-ias, vo-la, vo-los, ei-lo, etc.

3º - Nos vocábulos formados pelos prefixos que representam formas adjetivas, como anglo, greco, histórico, ínfero, latino, lusitano, luso, póstero,

súpero, etc.: anglobrasileiro, greco-romano, histórico-geográfico, ínfero-

anterior, latino-americano, lusitano-castelhano, luso-brasileiro, póstero-

palatal, súpero- posterior, etc.

Observação - Ainda que esses elementos prefixais sejam reduções de

adjetivos, não perdem a sua individualidade morfológica, e por isso devem

unir-se por hífen, como sucede com austro

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(austríaco), dólico (= dolicocéfalo), euro (= europeu), telégrafo (= telegráfico

), etc.: austro-húngaro, dólico-louro, euro-africano, telégrafo-postal, etc.

4º - Nos vocábulos formados por sufixos que representam formas adjetivas,

como açu, guaçu e mirim, quando o exige a pronúncia e quando o primeiro

elemento acaba em vogal acentuada graficamente: anda-açu, amoré-guaçu,

anajá-mirim, capim-açu, etc.

5º - Nos vocábulos formados pelos prefixos:

a) auto, contra, extra, infra, infra, neo, proto, pseudo, semi e ultra, quando se

lhes seguem palavras começadas por vogal, h, r ou s: auto-educação, contra-

almirante, extra-oficial, infra-hepático, infra-ocular, neo-republicano, proto-

revolucionário, pseudo-revelação, semi-selvagem, ultra-sensível, etc.

Observação. - A única exceção a esta regra é a palavra extraordinário, que já

está consagrada pelo uso. b) ante, anti, arqui e sobre, quando seguidos de palavras iniciadas por h,

r ou s: ante-histórico, anti-higiênico, arqui-rabino, sobre-saia, etc.

c) supra, quando se lhe segue palavra encetada por vogal, r ou s: supra-axilar,

supra-renal, supra-sensível, etc.

d) super, quando seguido de palavra principiada por h ou r: super-homem,

super requintado,etc.

e) ab, ad, ob, sob e sub, quando seguidos de elementos iniciados por r: ab-

rogar, ad-renal, ob-reptício, sob-roda, sub-reino, etc.

f) pan e mal, quando se lhes segue palavra começada por vogal ou h: pan-

asiático, pan-helenismo, mal-educado, mal-humorado, etc.

g) bem, quando a palavra que lhe segue tem vida autônoma na língua ou

quando a pronúncia o requer: bem-ditoso, bem-aventurança, etc.

h) sem, sota, soto, vice, vizo, ex (com o sentido de cessamento ou estado

anterior), etc.: sem-cerimônia, sota-piloto, soto-ministro, vice-reitor, vizo-rei,

ex-diretor, etc.

i) pôs, pré e pró, que têm acento próprio, por causa da evidência dos seus

significados e da sua pronunciação, ao contrário dos seus homógrafos

inacentuados, que, por diversificados foneticamente, se aglutinam com o segundo elemento: pós-meridiano, pré-escolar pró-britânico; mas pospor,

preanunciar, procônsul, etc.

Texto coletado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, no

Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, 2012.

Segundo essas regras pode-se verificar o uso do hífen em palavras compostas que

conservam seus conteúdos semânticos e que podem ocorrer fora da composição em outros

textos; palavras derivadas por prefixos e sufixos, sendo “-mirim, -açu, -guaçu” tratados como

sufixos; na separação de pronomes átonos do verbo.

Diante do exposto, pode-se dizer que há algumas divergências de regras entre Portugal

e Brasil, principalmente no que se refere às palavras derivadas.

Nesse contexto, o Governo Brasileiro encarregou A Academia Brasileira de Letras de

rever Vocabulário Ortográfico da Língua portuguesa tendo por base o acordo de 1940 da

Academia de Ciências de Lisboa. Porém, algumas divergências permaneceram devido a não

anuência do Brasil para o acordo de Portugal de 1911. Por essa razão, Portugal buscou um

novo Acordo em 1945.

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1.3.5 Acordo Ortográfico de 1945 – Decreto Nº.: 35.228, de 8 de dezembro de 1945

O Acordo Ortográfico de 1945 teve três documentos de conclusões complementares

em relação ao Acordo de 1931. A 1ª parte foi composta por 6 bases (1-6); a 2ª, parte por 51

bases (1-51); a 3ª parte, última, a conclusão do Acordo de 1931 divididos em subitens e em 4

alíneas.

Nessa tentativa de unificação entre Brasil e Portugal, as regras de uso do hífen estão

nas bases de 28-32 como segue abaixo:

XXVIII - Limitação do emprego do hífen, de acordo com o uso tradicional e corrente, em compostos do vocabulário onomástico formados por

justaposição de palavras (Vila Real, Belo Horizonte, Santo Tirso, Rio de

Janeiro, porém Montemor-o-Novo, Grã-Bretanha, Áustria-Hungria,

Sargento-Mor); e emprego do mesmo sinal nos derivados de compostos

onomásticos desse tipo (vila-realense, belo-horizontino, austro-húngaro).

XXIX - Regularização do emprego do hífen em palavras formadas com

prefixos de origem grega ou latina, ou com outros análogos elementos de

origem grega, de conformidade, em suas linhas gerais, com as «Instruções»

de 1943.

XXX - Emprego do hífen em palavras formadas com sufixos de origem tupi-

guarani, que representam formas adjectivas, como açu, guaçu e mirim,

quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou

quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos.

XXXI - Emprego do hífen nas ligações da preposição de com as formas

monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver (hei-de, hás-de, há-

de, heis-de, hão-de).

XXXII - Emprego do hífen em combinações ocasionais de formas diversas que não constituem propriamente palavras, mas encadeamentos vocabulares.

(Exemplos: A estrada Rio de Janeiro-Petrópolis; o desafio de xadrez

Portugal-França, etc.)

BASE III - Se um h inicial passa a interior, por via de composição, e o

elemento em que figura se aglutina ao precedente, suprime-se: anarmónico,

biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem,

reabilitar, reaver, transumar. Igualmente se suprime nas formas do verbo

haver que entram, com pronomes intercalados, em conjugações de futuro e de

condicional: amá-lo-ei, amá-lo-ia, dir-se-á, dir-se-ia, falar-nos-emos, falar-

nos-íamos, juntar-se-lhe-ão, juntar-se-lhe-iam. Mantém-se, no entanto,

quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao

anterior por meio de hífen: anti-higiénico, contra-haste, pré-história, sobre-

humano.

Como se pode verificar houve uma tentativa de simplificação, mas falta, ainda, uma

aliança pactual entre Brasil e Portugal.

No que se refere às regras de uso do hífen no Acordo Ortográfico de 1945, Mattoso

Camara Jr. (1966, p. 37) comenta que:

Na língua escrita cabe ao hífen, ou traço de união, assinalar essa

circunstância. Com ele a nossa ortografia procura um compromisso entre o

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critério mórfico, que primordialmente a orienta na separação dos vocábulos, e

o critério fonológico.

Porém, o Acordo de 45 não foi aceito pelo Brasil. Nogueira (1956, p. 115) comenta o

Acordo Ortográfico de 1945:

O acordo ortográfico, resultante da Conferência Interacadêmica de Lisboa

encerrada em 6 de outubro de 1945 não pode ser adotado no Brasil, apesar de

aprovado pelo Decreto-lei nº 8.286, de 5 de dezembro daquele mesmo ano. O

acordo continha duas disposições que contrariavam fortemente as tendências

da língua falada em nosso país.

1.3.6 Documento nº 2: Base Analítica do Acordo Ortográfico de 1945

Como as divergências continuaram, foi elaborado o documento número dois para rever

a base analítica do Acordo Ortográfica de 1945.

Nesse documento, as regras prescritas estão bastante especificadas e ampliadas como

se pode ler na citação abaixo:

28. Emprega-se o hífen nos compostos em que entram, foneticamente

distintos (e, portanto, com acentos gráficos, se os têm à parte), dois ou mais

substantivos, ligados ou não por preposição ou outro elemento, um

substantivo e um adjectivo, um adjectivo e um substantivo, dois adjectivos ou

um adjectivo e um substantivo com valor adjectivo, uma forma verbal e um

substantivo, duas formas verbais, ou ainda outras combinações de palavras, e

em que o conjunto dos elementos, mantida a noção da composição, forma um

sentido único ou uma aderência de sentidos. Exemplos: água-de-colónia,

arco-da-velha, bispo-conde, brincos-de-princesa, cor-de-rosa (adjectivo e

substantivo invariável), decreto-lei, erva-de-santa-maria, médico-cirurgião,

rainha-cláudia, rosa-do-japão, tio-avô; alcaide-mor, amor-perfeito, cabra-

cega, criado-mudo, cristão-novo, fogo-fátuo, guarda-nocturno, homem-bom,

lugar-comum, obra-prima, sangue-frio; alto-relevo, baixo-relevo, belas-letras,

boa-nova (insecto), grande-oficial, grão-duque, má-criação, primeiro-ministro, primeiro-sargento, quota-parte, rico-homem, segunda-feira,

segundo-sargento; amarelo-claro, azul-escuro, azul-ferrete, azul-topázio,

castanho-escuro, verde-claro, verde-esmeralda, verde-gaio, verde-negro,

verde-rubro; conta-gotas, deita-gatos, finca-pé, guarda-chuva, pára-quedas,

porta-bandeira, quebra-luz, torna-viagem, troca-tintas; puxa-puxa, ruge-ruge;

assim-assim (advérbio de modo), bem-me-quer, bem-te-vi, chove-não-molha,

diz-que-diz-que, mais-que-perfeito, maria-já-é-dia, menos-

mal (=«sofrivelmente»), menos-mau (=«sofrível»). Se, porém, no conjunto

dos elementos de um composto, está perdida a noção da composição, faz-se a

aglutinação completa: girassol, madrepérola, madressilva, pontapé.

De acordo com as espécies de compostos que ficam indicadas, deveriam, em

princípio, exigir o uso do hífen todas as espécies de compostos do

vocabulário onomástico que estivessem em idênticas condições morfológicas

e semânticas. Contudo, por simplificação ortográfica, esse uso limita-se

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apenas a alguns casos, tendo-se em consideração as práticas correntes.

Exemplos:

a) nomes em que dois elementos se ligam por uma forma de

artigo: Albergaria-a-Velha, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes;

b) nomes em que entram os elementos grão e grã: Grã-Bretanha, Grão-Pará;

c) nomes em que se combinam simetricamente formas onomásticas (tal como

em bispo-conde, médico-cirurgião, etc.): Áustria-Hungria, Croácia-

Eslavónia;

d) nomes que principiam por um elemento verbal: Passa-Quatro, Quebra-

Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes;

e) nomes que assentam ou correspondem directamente a compostos do

vocabulário comum em que há hífen: Capitão-Mor, como capitão-mor;

Norte-Americanos, como norte-americano; Peles-Vermelhas, como pele-vermelha; Sul-Africanos, como sul-africano; Todo-Poderoso, como todo-

poderoso.

Limitado assim o uso do hífen em compostos onomásticos formados por

justaposição de vocábulos, são variadíssimos os compostos do mesmo tipo

que prescindem desse sinal; e apenas se admite que um ou outro o tenha em

parte, se o exigir a analogia com algum dos casos supracitados ou se entrar na

sua formação um vocábulo escrito em hífen: A dos Francos(povoação de

Portugal), Belo Horizonte, Castelo Branco (topónimo e antropónimo; com a

variação Castel Branco), Entre Ambos-os-Rios, Figueira da Foz, Foz Tua,

Freixo de Espada à Cinta, Juiz de Fora, Lourenço Marques, Minas Gerais,

Nova Zelândia, Ouro Preto, Ponte de Lima, Porto Alegre, Rio de Janeiro,

Santa Rita do Passa-Quatro, São [ou S.] Mamede de Ribatua, Torre de

Dona [ou D.] Chama, Vila Nova de Foz Côa. Entretanto, os derivados

directos dos compostos onomásticos em referência, tanto dos que requerem

como dos que dispensam o uso do hífen, exigem este sinal, à maneira do que

sucede com os derivados directos de compostos similares do vocabulário

comum. Quer dizer: do mesmo modo que se escreve, por exemplo,bem-me-

querzinho, grande-oficialato, grão-mestrado, guarda-moria, pára-quedista, santa-fèzal, em harmonia com bem-me-quer, grande-oficial, grão-mestre,

guarda-mor, pára-quedas, santa-fé, deve escrever-se: belo-horizontino,

de Belo Horizonte; castelo-vidense, de Castelo de Vide;espírito-santense,

de Espírito Santo; juiz-forano, de Juiz de Fora; ponte-limense, de Ponte de

Lima; porto-alegrense, de Porto Alegre; são-tomense,

de São [ou S.] Tomé; vila-realense, deVila Real.

Convém observar, a propósito, que as locuções onomásticas (as quais diferem

dos compostos onomásticos como quaisquer locuções diferem de quaisquer

compostos, isto é, por não constituírem unidades semânticas ou aderências de

sentidos, mas conjuntos vocabulares em que os respectivos componentes,

apesar da associação que formam, têm os seus sentidos individualizados)

dispensam, sejam de que espécie forem, o uso do hífen, sem prejuízo de este

se manter em algum componente que já de si o possua: América do Sul, Beira

Litoral, Gália Cisalpina, Irlanda do Norte; Coração de Leão, Demónio do

Meio-Dia, Príncipe Perfeito, Rainha Santa; etc. Estão assim em condições

iguais às de todas as locuções do vocabulário comum, as quais, a não ser que

algum dos seus componentes tenha hífen (ao deus-dará, à queima-roupa, etc.), inteiramente dispensam este sinal, como se pode ver em exemplos de

várias espécies:

a) locuções substantivas: alma de cântaro, cabeça de motim, cão de guarda,

criado de quarto, moço de recados, sala de visitas;

b) locuções adjectivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de

vinho (casos diferentes de cor-de-rosa, que não é locução, mas verdadeiro

composto, por se ter tornado unidade semântica);

c) locuções pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, nós outros,

quem quer que seja, uns aos outros;

d) locuções adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), de

mais (locução a que se contrapõe de menos; note-se demais, advérbio,

conjunção, etc.), depois de amanhã, em cima, por certo, por isso;

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e) locuções prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à

parte de, apesar de, a quando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por

cima de, quanto a;

f) locuções conjuncionais: a fim de que, ao passo que, contanto que, logo que,

por conseguinte, visto como.

29. Emprega-se o hífen em palavras formadas com prefixos de origem grega

ou latina, ou com outros elementos análogos de origem grega

(primitivamente adjectivos), quando convém não os aglutinar aos elementos

imediatos, por motivo de clareza ou expressividade gráfica, por ser preciso

evitar má leitura, ou por tal ou tal prefixo ser acentuado graficamente. Assim

o documentam os seguintes casos:

1.°) compostos formados com os prefixos contra, extra (exceptuando-se

extraordinário), infra, intra, supra e ultra, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal, h, r ou s:contra-almirante, contra-harmónico,

contra-regra, contra-senha; extra-axilar, extra-humano, extra-regulamentar,

extra-secular; infra-axilar, infra-hepático, infra-renal, infra-som; intra-

hepático, intra-ocular, intra-raquidiano; supra-axilar, supra-hepático, supra-

renal, supra-sensível; ultra-humano, ultra-oceânico, ultra-romântico, ultra-

som;

2.°) compostos formados com os elementos de origem grega auto, neo,

proto e pseudo, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por

vogal, h, r ou s: auto-educação, auto-retrato, auto-sugestão; neo-escolástico,

neo-helénico, neo-republicano, neo-socialista; proto-árico, proto-histórico,

proto-romântico, proto-sulfureto; pseudo-apóstolo, pseudo-revelação,

pseudo-sábio;

3.°) compostos formados com os prefixos anti, arqui e semi, quando o

segundo elemento tem vida à parte e começa por h, i, r ou s: anti-higiénico,

anti-ibérico, anti-religioso, anti-semita; arqui-hipérbole, arqui-irmandade,

arqui-rabino, arqui-secular; semi-homem, semi-interno, semi-recta, semi-

selvagem;

4.°) compostos formados com os prefixos ante, entre e sobre, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h: ante-histórico; entre-

hostil; sobre-humano;

5.°) compostos formados com os prefixos hiper, inter e super, quando o

segundo elemento tem vida à parte e começa por h ou por um r que não se

liga foneticamente ao r anterior: hiper-humano; inter-helénico, inter-

resistente; super-homem, super-requintado;

6.°) compostos formados com os prefixos ab, ad e ob, quando o segundo

elemento começa por um r que não se liga foneticamente

ao b ou d anterior: ab-rogar; ad-renal; ob-reptício;

7.°) compostos formados com o prefixo sub, ou com o seu paralelo sob,

quando o segundo elemento começa por b, por h (salvo se não tem vida

autónoma: subastar, em vez de sub-hastar), ou por um r que não se liga

foneticamente ao b anterior: sub-bibliotecário, sub-hepático, sub-rogar; sob-

roda, sob-rojar;

8.°) compostos formados com o prefixo circum, quando o segundo elemento

começa por vogal,h, m ou n: circum-ambiente, circum-hospitalar, circum-

murado, circum-navegação; 9.°) compostos formados com o prefixo co, quando este tem o sentido de «a

par» e o segundo elemento tem vida autónoma: co-autor, co-dialecto, co-

herdeiro, co-proprietário;

10.°) compostos formados com os prefixos com e mal, quando o segundo

elemento começa por vogal ou h: com-aluno; mal-aventurado, mal-

humorado;

11.°) compostos formados com o elemento de origem grega pan, quando o

segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal ou h: pan-americano,

pan-americanismo; pan-helénico, pan-helenismo;

12.°) compostos formados com o prefixo bem, quando o segundo elemento

começa por vogal ou h, ou então quando começa por consoante, mas está em

perfeita evidência de sentido: bem-aventurado, bem-aventurança, bem-

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humorado; bem-criado, bem-fadado, bem-fazente, bem-fazer, bem-querente,

bem-querer, bem-vindo;

13.°) compostos formados com o prefixo sem, quando este mantém a

pronúncia própria e o segundo elemento tem vida à parte: sem-cerimónia,

sem-número, sem-razão;

14.°) compostos formados com o prefixo ex, quando este tem o sentido de

cessamento ou estado anterior: ex-director, ex-primeiro-ministro, ex-rei;

15.°) compostos formados com os prefixos vice e vizo (salvo se o segundo

elemento não tem vida à parte: vicedómino), ou com os prefixos soto e sota,

quando sinónimos desses: vice-almirante, vice-cônsul, vice-primeiro-

ministro; vizo-rei, vizo-reinado, vizo-reinar; soto-capitão, soto-mestre, soto-

piloto; sota-capitão, sota-patrão, sota-piloto;

16.°) compostos formados com prefixos que têm acentos gráficos, como além, aquém, pós(paralelo de pos), pré (paralelo de pre), pró (com o

sentido de «a favor de»), recém: além-Atlântico, além-mar; aquém-Atlântico,

aquém-fronteiras; pós-glaciário, pós-socrático; pré-histórico, pré-socrático;

pró-britânico, pró-germânico; recém-casado, recém-nascido.

30. Emprega-se o hífen nos vocábulos terminados por sufixos de origem tupi-

guarani que representam formas adjectivas, como açu, guaçu e mirim, quando

o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a

pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-

mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim.

31. Emprega-se o hífen nas ligações da preposição de às formas

monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver: hei-de, hás-de, há-

de, heis-de, hão-de.

32. É o hífen que se emprega, e não o travessão, para ligar duas ou mais

palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente

vocábulos compostos, mas encadeamentos vocabulares: a divisa Liberdade-

-Igualdade-Fraternidade; a estrada Rio de Janeiro-Petrópolis; o desafio de

xadrez Inglaterra-França; o percurso Lisboa-Coimbra-Porto.

Como se pode verificar, o texto referente ao uso do hífen foi bastante ampliado no

Acordo de 1945. Embora o documento número dois tenha objetivado a unificação entre

Portugal e Brasil, especificando as regras do uso do hífen, não houve soluções para as

dificuldades existentes para o seu emprego, nas formas escritas.

1.3.7 Acordo Ortográfico de 1971, Lei nº 5.765, de 18 de dezembro de 19713

Este acordo foi brasileiro e firmado pela Lei nº 5.765, de dezembro de 1971, sendo

sancionado pelo presidente brasileiro Emílio Garrastazu Médici. Trata-se de um passo muito

importante no caminho da unificação ortográfica, nomeadamente com a supressão do acento

circunflexo na distinção dos homógrafos. Faz-se supressão do subtônicos em Portugal, dos

vocábulos derivados com o sufixo “–mente” e com os sufixos iniciados em “-z-”, por

exemplo: pràticamente, sòzinho.

3 Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 2009.

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Além, desses casos tratou de eliminar os acentos secundários, sem correspondência na

linguagem falada, dos acentos grave e circunflexo dos derivados em “-mente” e iniciados por

“z”.

Todavia, as regras de uso do hífen não são tratadas com especificidade. Sendo assim,

as dificuldades persistiram.

Segundo Cegalla (2008, p. 58)

O emprego do hífen é matéria extremamente complexa e mal disciplinada

pelo Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, sobretudo no

que diz respeito ao uso desse sinal em palavras formadas por prefixação,

onde mais papáveis são as falhas e incoerências. Para quem escreve, o emprego do hífen é um autêntico quebra-cabeça.

Nessa condição, o mesmo autor refere que “o emprego do hífen é um ponto de nossa

gramática que deveria ser, urgentemente, revisto, restringindo-se o uso desse sinal auxiliar aos

casos de absoluta necessidade (...)” (CEGALLA, 2008, p. 61).

Desse modo, embora houve esforço para uma unificação ortográfica entre Brasil e

Portugal, há muitas questões que merecem revisões e discussões. Entre elas, a questão do

hífen foi se tornando prioritária.

1.3.8 Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 19904

Devido ao fenômeno da globalização, decorrente do aparecimento das altas

tecnologias, ocorreu a necessidade de se verificar quais as línguas mais faladas no mundo.

A língua portuguesa embora seja, ultimamente, situada como a 7ª língua mais falada

do mundo, não tem recebido prestigio universal.

Portugal passou a se preocupar com políticas linguísticas para a difusão da língua

portuguesa no mundo. Para tanto, propôs a AULP (Associação das Universidades de Língua

Portuguesa) que objetivou a divulgação e a união da Língua Portuguesa nos diferentes países

lusófonos. Nestes países, há conflitos para o uso da Língua Portuguesa. As causas são

variadas, entre elas, pode-se citar o distanciamento entre Brasil e Portugal provocado desde a

Proclamação da Independência do Brasil e do seu distanciamento geográfico de Portugal.

4 Disponível em: http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?acordo&version=1990. Acesso:

28/10/2013 às 14:24

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Entre Portugal e os países africanos, com a libertação das colônias portuguesas a partir

de 1975, ocorreram conflitos políticos, pois os falantes de Angola e Moçambique começaram

a rejeitar a Língua Portuguesa como língua oficial do país. Entre Portugal e os territórios

asiáticos (Goa e Macau), os regimes políticos adotados começaram a interferir nos falantes de

língua portuguesa que ocupavam pequenas regiões geográficas, na Índia e na China.

Portugal buscou com os sete países de língua portuguesa uma união e construiu

políticas de divulgação de Língua Portuguesa tanto para falantes nativos quanto estrangeiros.

No que se refere à ortografia, o conflito maior é entre Brasil e Portugal.

Sendo assim foi proposto o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. Este

alterou a forma de escrita de palavras, regras de acentuação e regras do uso do hífen.

A imposição de tal acordo criou conflitos porque alterou diretamente hábitos de

escritas já cristalizados pelo tempo. Porém, é necessária uma unificação. A ortografia é uma

questão permanente tratada pelas gramáticas normativas e pelas políticas de línguas de grande

circulação, a fim de facilitar a circulação de textos escritos, de forma a propiciar sua difusão

pelo mundo.

Com o Acordo Ortográfico de 1990, o uso do hífen é controlado pelas seguintes

regras:

Base xv: do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares

1. Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não

contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival,

numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e

mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar

reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-

cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor,

amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-

alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-

brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-

feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva. Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a

noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva,

mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.

2. Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos iniciados pelos

adjetivos grã, grão ou por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados

por artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-

Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha,

Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-

Montes.

Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os

elementos separados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo

Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. O

topónimo/topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo

uso.

3. Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies

botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer

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outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; bênção-

de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio, bem-me-

quer (nome de planta que também se dá à margarida e

ao malmequer); andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-

do-mar, cobra-d'água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).

4. Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios “bem e mal”, quando

estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e

semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o

advérbio “bem”, ao contrário de “mal”, pode não se aglutinar com palavras

começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-

aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-

humorado; bem-criado (cf. malcriado),bem-ditoso (cf. malditoso), bem-

falante (cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmandado),bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-

visto (cf. malvisto).

Obs.: Em muitos compostos o advérbio “bem” aparece aglutinado com o

segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito,

benfeitor, benquerença, etc.

5. Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos “além, aquém,

recém e sem”: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém-mar,

aquém-Pirenéus; recém-casado, recém-nascido; sem-cerimónia, sem-número,

sem-vergonha.

6. Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas,

pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em

geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso

de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-

-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego

sem hífen as seguintes locuções:

a) Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;

b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho;

c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja; d) Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de

mais (locução que se contrapõe a de menos; note-se demais, advérbio,

conjunção, etc.), depois de amanhã, em cima, por isso;

e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de,

apesar de, aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de,

quanto a;

f) Conjuncionais: a fim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por

conseguinte, visto que.

7. Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se

combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos

vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-

Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique e

bem assim nas combinações históricas ou ocasionais de

topónimos/topônimos (tipo: Austria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil,

Tóquio-Rio de Janeiro, etc.).

Base XVI: do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação

1. Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-, extra-, hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, sub-,

super-, supra-, ultra-, etc.) e em formações por recomposição, isto é, com

elementos não autônomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (tais

como: aero-, agro-, arqui-, auto-, bio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-, macro-,

maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto, pseudo, retro-, semi-,

tele-, etc.), só se emprega o hífen nos seguintes casos:

a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-

higiénico/anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro, contra-

harmónico/contra-harmônico, extra-humano, pré-história, sub-hepático,

super-homem, ultra-hiperbólico; arquihipérbole, eletro-higrómetro, geo-

história, neo-helénico/neo-helênico, pan-helenismo, semi-hospitalar.

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Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os

prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu

o h inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc.

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma

vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante,

infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica,

micro-onda, semi-interno.

Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o

segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante,

coordenar, cooperação, cooperar, etc.

c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo

elemento começa por vogal,m ou n (além de h, caso já considerado atrás na

alínea a): circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, pan--mágico, pan-negritude.

d) Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados

com elementos iniciados por r: hiper-requintado, inter-resistente, super-

revista.

e) Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou

cessamento), sota-, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-

hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei; sota-piloto, soto-

mestre, vice-presidente, vice-reitor, vizo-rei.

f) Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados

graficamente pós-, pré- e pró-, quando o segundo elemento tem vida à parte

(ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se

aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação, pós-tónico/pós-

tônicos (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-

europeu (mas promover).

2. Não se emprega, pois, o hífen:

a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o

segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se,

prática, aliás, já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra,

contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal

comobiorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema,

microrradiografia.

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o

segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já

adotada também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo,

coeducaçao, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem,

agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.

3. Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nos vocábulos

terminados por sufixos de origem tupi-guarani que representam formas

adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em

vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção

gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu,

Ceará-Mirim.

Base XVII: do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver

1. Emprega-se o hífen na ênclise e na tmese: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei, enviar-lhe-emos.

2. Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas

monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão

de, etc.

Obs.: 1. Embora estejam consagradas pelo uso as formas

verbais quer e requer, dos verbosquerer e requerer, em vez

de quere e requere, estas últimas formas conservam-se, no entanto, nos casos

de ênclise: quere-o(s), requere-o(s). Nestes contextos, as formas (legítimas,

aliás) qué-lo e requé-lo são pouco usadas.

2. Usa-se também o hífen nas ligações de formas pronominais enclíticas ao

advérbio eis (eis-me, ei-lo) e ainda nas combinações de formas pronominais

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do tipo no-lo, vo-las, quando em próclise (por ex.: esperamos que no-lo

comprem).

Em síntese, pode verificar que o hífen, traço/risca de união escrita, serve para ligar

elementos formadores das palavras compostas por justaposição; ligar prefixos e sufixos a

radicais; ligar pronomes oblíquos aos verbos, além de indicar a partição dos vocábulos no

final da linha (translineação) ou a sua divisão silábica.

No entanto, não há uma explicação das exceções apresentadas para as regras. E nem

das regras quando o uso dos elementos não é abrangente a todos.

1.4 Para finalizar: comentários relativos ao Acordo Ortográfico de 1990

O Acordo Ortográfico de 1990 teve a representação dos sete países de língua

portuguesa, integrantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Esses países

são: Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Para

unificar a ortografia portuguesa foi necessário que todos esses países assinassem o

documento.

Por não haver o número exigido dos acordados, no início do século XXI, em 2004, o

Protocolo modificativo reduz o número mínimo de assinaturas, pois os países envolvidos

protelaram a entrada em vigor das novas regras ortográficas.

Em 2008, o Parlamento português aprovou o Acordo e o Brasil entra no processo de

transição da mudança ortográfica segundo o novo Acordo, em 2009.

Em 2009, os livros didáticos do Ensino Fundamental passaram a ser publicados

conforme ao novo acordo e, no ano seguinte, também passou a seguir o novo acordo as obras

técnicas ou científicas ou livros didáticos do Ensino Médio.

A última reforma ortográfica que envolveu os países lusófonos, por vezes foi aceita e,

por vezes desagrada falantes lusófonos, principalmente alguns segmentos sociais relacionados

à economia e à política que têm, como alvo fundamental, as estratégias de mercado.

Além disso, cada país lusófono continua a se comunicar com o uso efetivo de suas

variedades/variações linguísticas e o Acordo Ortográfico de 1990, muitas vezes, constrói uma

situação conflitante para a sua aceitação.

No Brasil, há, também, contras e prós. Para alguns, o Acordo Ortográfico de 1990 é

bom, pois facilita o diálogo e/ou a comunicação internacional, facilita contatos diplomáticos,

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comerciais e internacionais, diminuindo as ambigüidades de construções sistemáticas ou

pragmáticas dos textos oficiais, literários ou científicos entre os países lusófonos.

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CAPÍTULO II

UMA REVISÃO DO HÍFEN E DA FORMAÇÃO DE PALAVRAS, SEGUNDO AS

GRAMÁTICAS TRADICIONAIS, NO BRASIL.

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CAPÍTULO II

UMA REVISÃO DO HÍFEN E DA FORMAÇÃO DE PALAVRAS, SEGUNDO AS

GRAMÁTICAS TRADICIONAIS, NO BRASIL.

2.1 Apresentação

A gramática do padrão normativo com o objetivo político tem origem em Roma e seu

papel foi importante para romanização das regiões conquistadas que integraram o Império

Romano. Com a queda deste, o controle da variação linguística desapareceu dando origem às

diferentes línguas românicas. Durante a Idade Média o latim eclesiástico manteve uma

unidade linguística através da Igreja, já que os romances apresentavam divergência entre si

dependendo dos feudos que eram situados em diferentes regiões geográficas europeias. Com a

queda do sistema feudal apareceram as monarquias nacionais e com elas a delimitação de

territórios nacionais europeus. Como cada território nacional continha romances diferentes foi

necessário buscar uma unidade linguística para politicamente integrar a nação. Nesse

momento, apareceram às gramáticas que passaram a padronizar uma norma nacional e, por

isso, são designadas gramáticas do uso padrão normativo. Esta gramática passou a ser

ensinada nas escolas, tornando-se assim institucionalizada.

Segundo Evanildo Bechara (1975), uma língua pode ser um instrumento particular de

um único povo, como por exemplo: o chinês e o romeno, ou comum a mais de uma nação.

Este é o caso do português e dos países lusófonos que compreendem Portugal, Brasil e outras

colônias ultramarinas lusas. A explicação é histórica e relativa à expansão de Portugal com a

sua colonização de diferentes povos.

A língua não existe em si mesma, pois ela decorre do uso que é feito pelos seus

falantes.

Sendo assim, uma língua se apresenta, em povos civilizados, com as modalidades oral

e escrita.

A modalidade oral é muito dinâmica e atende às necessidades de interação sócio-

-comunicativas.

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A língua escrita é menos variável e diferencia-se, portanto da língua falada. Pois a sua

situação de produção é diferente, na medida em que objetiva ultrapassar tempo e espaço. A

língua oral pode ser definida por frequências de usos, designadas normas. E essas variam de

falantes para falantes, devido aos idioletos; de grupo para grupo social, devido às normas

grupais ou gírias; de região para região, devido às normas regionais ou dialetos e de nação

para não que tem a mesma língua oficial, devido às normas nacionais.

Segundo Evanildo Bechara (1976, p. 24-25):

Mas dentro das diversidades das línguas ou falares regionais e

grupais se sobrepõem o uso comum a todo à área geográfica, fixado pela

escola e utilizada pelas pessoas cultas: é isso que constitui a língua geral,

língua padrão ou oficial do país.

Cabe a Gramática registrar os fatos da língua geral ou padrão,

estabelecendo os preceitos de como se fala e escreve bem ou de como se

pode falar e escrever bem uma língua. (...) Cabe a Gramática ordenar os fatos

linguísticos da língua padrão em sua época, para servirem às pessoas que

aprendem o idioma também em usa época.

Segundo Mattoso Camara Jr. (1964, p.188):

Idioma é o termo com que se insiste na unidade linguística inconfundível de

uma nação em face das demais. Enquanto o conceito de língua em seu uso

constante é relativo e se aplica a uma língua comum, a um dialeto, a um falar,

a uma gíria e até um idioleto, o idioma só se referem à língua nacional,

propriamente dita, e pressupõem a existência de um estado político, do qual

seja a expressão linguística.

Segundo Jean Calvet (1997, p. 145-146):

“Políticas linguísticas” é um conjunto de escolhas conscientes

referentes às relações entre língua (s) e vida social; e “planejamento

linguístico” a implementação prática de uma política linguística, em suma, a

passagem ao ato. Não importa para qual grupo se possa elaborar uma política

linguística: fala-se, por exemplo, “de políticas linguísticas familiares”; pode-

se também imaginar que uma diáspora se reunisse em um congresso para

decidir uma política linguística ou política de língua. Mas, em um campo tão

importante quanto as relações entre língua e vida social, só o Estado tem o

poder e os meios de passar do estágio do planejamento para por em prática

suas escolhas políticas.

O planejamento linguístico para a construção da gramática portuguesa decorre da

decisão estatal de se construir as regras gramaticais a partir do texto literário de prestígio. Um

autor literário é considerado de prestígio pelas classes críticas que servem ao poder estatal

quando esse autor serviu o poder político na época em que viveu.

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Sendo assim, os gramáticos de língua portuguesa, dependendo da época em que se

escrevem as suas gramáticas, selecionam autores literários de prestígio para servirem com os

seus textos de exemplos para as regras gramaticais que compõem as suas gramáticas.

Todavia, a organização dessas gramáticas não pode variar em suas partes em seus

conteúdos.

Na história da gramática portuguesa há fases:

- fase greco-latina;

- fase filosófica;

- fase histórica;

- fase prescritiva.

A fase greco-latina, cujo modelo gramatical foi retirado da gramática grega e da latina,

compreende a gramática portuguesa no século XVI, com Fernão de Oliveira e João de Barros

e, no século XVII, com Amaro de Roboredo.

A fase filosófica da gramática portuguesa compreende o século XVIII e começo do

século XIX, cujo representante é Jerônimo Soares Barbosa. Cujo modelo tem sua origem na

gramática filosófica de Port-Royal.

A fase histórica, no Brasil, tem por representante Julio Ribeiro e João Ribeiro, cujo o

modelo foi retirado da gramática histórica que apareceu no século XIX.

A fase prescritiva no Brasil apareceu no começo do século XX com a Replica e a

Treplica de Carneiro Ribeiro e Rui Barbosa.

Até a década de 50 Portugal e Brasil manteve a mesma nomenclatura gramatical

dependendo das fases pelas as quais passou a gramática portuguesa.

No Brasil, dependendo das escolas eram selecionados gramáticos de fases diferentes.

Isso ocasionou uma série de dificuldades, como por exemplo, um aluno ser transferido de uma

escola para a outra ou um professor mudar de escola. Essa mudança implicava em reaprender

a nomenclatura gramatical.

Sendo assim, o Ministério da Educação e Cultura através do professor doutor Clovis

Salgado da Gama, portaria ministerial nº 152, de 24 de abril de 1957 (Diário Oficial de

30/4/1957) designou uma comissão para estudar o assunto e elaborar um projeto de

simplificação da nomenclatura gramatical, no Brasil.

Essa comissão foi constituída por 5 professores catedráticos do Colégio Pedro II:

Antenor Nascentes (presidente), Clóvis do Rego Monteiro, Cândido Juca Filho, Carlos

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Henrique da Rocha Lima (secretário) e Celso Ferreira da Cunha.

A terminologia gramatical elaborada atendeu a três aspectos:

a) Exatidão científica do termo;

b) A sua vulgarização internacional;

c) A sua tradição escolar na vida brasileira.

O texto da NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) foi editada pela primeira vez

em 1958. Após, houve várias reedições, com ligeiras modificações, em relação à primeira

edição, no modo de apresentar a matéria.

A partir de 1959, por Decreto-lei a NGB foi imposta nas escolas brasileiras.

2.2 O uso do hífen e a ortografia brasileira.

No que se refere ao uso do hífen, na gramática portuguesa, no Brasil, ele se situa no

item Ortografia. No que se refere a formação de palavras, ela se inseri como item na parte

Morfologia.

As partes da gramática portuguesa são: Fonética, Morfologia e Sintaxe. Mais tarde foi

acrescida a Versificação.

2.2.1 O hífen na gramática portuguesa, no Brasil.

O termo “hífen” tem origem grega “hyphen” = “em conjunto com”, pois serve para

unir palavras com sentidos diferentes.

Na maioria das línguas, uma série de sinais são convencionais “ortograficamente” para

facilitar a escrita e a leitura. Esses sinais são chamados sinais diacríticos.

Na ortografia portuguesa, há diferentes sinais diacríticos a saber: acento, trema,

cedilha, parênteses, reticências, exclamação, interrogação, vírgula, ponto e vírgula, ponto,

asterístico e hífen.

2.2.1.1 Antes da NGB

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Antes da NGB A Ortografia era apresentada em um capítulo específico ou era inserida

na parte fonética.

Dessa forma, a ortografia estava inserida no corpo da gramática, pois esta é construída

a partir do uso de autores literários e, politicamente, para ser ensinada nas escolas, com o

objetivo de controlar o uso correto da escrita.

Foram selecionados dois para exemplificar à apresentação do hífen na Ortografia

portuguesa, na fase que antecede a NGB no Brasil: B. Sampaio (1953), 4ª edição e Napoleão

Mendes de Almeida (1956), 8ª edição. A seleção desses autores teve por critério a aceitação

pública, portanto, sendo os autores mais vendidos da época. B. Sampaio teve a sua obra

premiada pela Academia Brasileira de Letras e o seu uso nas escolas foi autorizado pelo

Ministério de Educação e Saúde, processo 3769-40, relatendo por relator Padre Leonel Franca

e por revisor Ismael de Lima Coutinho.

Sampaio (1953, p. 17) trata o uso do hífen, da seguinte forma:

r) Emprego do hífen: Usa-se o hífen nas compostas, para

individualizar os componentes: pára-raios, ponta-pé, vai-vem, ruge-ruge;

para separar sílabas no fim da linha, ou por necessidade didática: pa-recença,

parerecen-ça: pa-re-cença, in-de-pen-den-cia; para evitar má leitura: bem-

aventurança, bem-estar, bem-andar; para ligar os pronomes aos verbos: dize-

me, mandou-te, dei-lhe, amou-nos, fere-os, quero-vos; para separar as formas

terminais compostas no-lo, vo-lo; nas formas verbais terminadas em r, s ou z:

tu recebe-lo, vós queríei-lo (recebes-lo, queríeis-lo); ele di-lo, fá-lo (diz-lo,

faz-lo); amá-lo, dizê-lo, puni-lo, compô-lo. Escrever-se-á: ei-lo, ei-la, ei-los,

ei-las.

Para o autor a Ortografia é apresentada em um capítulo próprio, designado “Capítulo

V – A escrita”. Como se pode verificar, no texto citado, o emprego do hífen é apresentado de

forma sucinta, abrangendo palavras compostas, a ligação de pronomes ao verbo e separação

de palavras por sílabas. O autor não apresenta exceções e simplesmente casos para

exemplificar as regras.

Napoleão Mendes de Almeida (1956, p. 58-59) trata do hífen como um item do

“Capítulo VI – Ortografia”. Para o autor o hífen é um traço de união que se presta:

1) Para ligar os elementos de grande número de palavras compostas: couve-flor,

guarda- -chuva, carta-bilhete.

2) Para ligar os pronomes oblíquos aos verbos quando a eles vêm pospostos ou

neles se intercalam: disse-me, contaram-lhe, dir-lhe-ei, far-nos-ia.

3) Para, no final da linha, indicar a partição dos vocábulos:

..................................................................................................................... di-

go .............................................................................................................. vos-

so.

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Normas Gerais:

1) A divisão de qualquer vocábulo assinalada pelo hífen, em regra se

faz pela soletração, e não pelos seus elementos constitutivos segundo a

etimologia: subs-cre-ver, de-sar-mar, bi-as-vô, e-xér-ci-to, ex-ce-der.

2) Não passar para a linha seguinte sílaba ou sílabas que encerram

sentido ridículos: após-tolo, cô-nico.

3) É preferível, quando se escreve a mão, passar para a linha

seguinte a vogal inicial a deixá-la isolada: emancipado, atrofia e não

e-macipado, a-trofia. (ALMEIDA, 1956, 59-60).

Napoleão Mendes de Almeida apresentou, como B. Sampaio (1953) as mesmas regras

para o uso do hífen, de forma sucinta: para ligar palavras compostas, para ligar pronomes

oblíquos aos verbos e para separar no fim da linha, as sílabas dos vocábulos.

Napoleão Mendes de Almeida inseriu, de forma a completar o seu texto normas gerais

para separar sílabas no final da linha.

As normas apresentadas seguem em dois critérios: o oral pela soletração e o estético

para evitar sentidos ridículos e pelo visual, não deixando um único elemento na linha anterior.

Ambos os autores selecionados, a título de exemplificação, apresenta um capítulo a

parte para a Ortografia, que segue o capítulo Fonética. Porém, há autores, como: Domingos

Paschoal Cegala (1965), que não aceitando a NGB, mantém a Ortografia na parte Fonética.

Cegala justifica dizendo que a Ortografia é a escrita dos sons de uma língua.

2.2.1.2 Pós NGB

Com a NGB a Ortografia passou a ser apresentada em um apêndice, sendo retirada da

parte Fonética da gramática portuguesa, no Brasil.

Muitos autores não aceitaram essa organização e preferiram manter a Ortografia no

corpo da gramática, num capítulo separado da Fonética.

Foram selecionados, a título de exemplificação, dessa fase, Celso Ferreira da Cunha

(1972) e Evanildo Bechara (19ª ed. 1975), pois suas gramáticas foram as mais adotadas e mais

vendidas na fase pós NGB. Outros autores são revisados, neste capítulo, por terem feito

comentários a respeito da ortografia e o uso do hífen, no Brasil.

A) Celso Cunha

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Celso Cunha (1972) apresentou o uso do hífen para as palavras compostas, derivadas

por prefixação e na partição das palavras no fim da linha.

No que se refere o emprego do hífen nos compostos, o autor propõem:

O emprego do hífen é simples convenção. O Formulário

Ortográfico estabelece que “só ligam por hífen os elementos das palavras

compostas em que se mantém a noção da composição, isto é, os elementos

das palavras compostas que mantêm a sua independência fonética,

conservando cada um a sua própria acentuação, porém, formando o conjunto

perfeita de unidade de sentido”.

Dentre desse princípio, deve-se empregar o hífen:

1º) nos compostos, cujos elementos, reduzidos ou não, perderam a

sua significação própria: água-marinha, arco-íris, pé-de-meia (= pecúlio),

pára-quedas, bel-prazer, és-sueste, tenente-coronel;

2º) nos compostos com o primeiro elemento de forma adjetiva,

reduzida ou não: anglo-brasileiro, greco-romano, histórico-geográfico, ínfero-

anterior, latino-americano, dólico-louro, lusitano-castelhano, luso-brasileiro, euro-africano;

3º) nos compostos com os radicais auto-, neo-, proto-, pseudo- e

semi-, quando o elemento seguinte começa por vogal, h, r ou s: auto-

educação, auto-retrato, auto-sugestão, nego-escolástica, neo-humanismo,

neo-republicano, proto-árico, proto-histórico, proto-renascença, proto-

sulfureo, pseudo-herói, pseudo-rerevelação, pseudo-sábio, semi-homem,

semi-reta, semi-selvagem.

4º) nos compostos com os radicais pan- e mal-, quando o elemento

seguinte começa por vogal ou h: pan-americano, pan-helênico, mal-educado,

mal-humorado;

5º) nos compostos com bem, quando o elemento seguinte tem vida

autônoma, ou quando a pronúncia o requer: bem-ditoso, bem-aventurança,

bem-te-vi.

6º) nos compostos com sem, além, aquém e recém: sem-cerimônia,

além-mar, aquém-fronteiras, recém-cadado;

Advirta-se, por fim, que as abreviaturas e os derivados desses

compostos conservam o hífen: ten.-cel (= tenente-coronel), pára-quedista, bem-te-vizinho, sem-cerimonioso. (CUNHA, 1972, p.78-78).

Celso Cunha apresentou também o emprego do hífen na prefixação. O autor afirma:

O prefixo geralmente se escreve aglutinado ao radical. Há casos,

porém, em que o Formulário Ortográfico manda que a ligação dos dois

elementos se faça por hífen. Assim, nos vocábulos formandos pelos prefixos:

a) contra-, extra-, infra-, intra-, supra- e ultra-, quando seguidos de

radical iniciado por vogal, h, r ou s: contra-almirante, extra-regimental, intra-

hipático, supra-sumo, ultra-rápido; exclui-se a palavra extraordinário, cuja

aglutinação está consagrada pelo uso;

b) ante-, anti-, arqui- e sobre-, quando seguidos de radical principiado por h, r ou s: ante-histórico, anti-higiênico, arqui-rabino, sobre-

saia;

c) super- e inter-, quando seguidos de radical começado por h ou r:

super-humano, super-revista, inter-helênico, inter-resistente;

d) ab-, ad-, ob- sob- e sub-, quando seguidos de radical iniciado por

r: ab-rogar, ad-rogação, ob-reptício, sob-roda, sub-reino;

e) sota-, soto-, vice- (ou vizo) e ex- (este último como o sentido de

cessamento ou estado anterior): sota-piloto, soto-ministro, vice-reitor, vizo-

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rei, ex-diretor.

f) pós-, pré- e pró-, quando têm significado e acento próprios; ao

contrário das formas homógrafas próprias: ao contrário das formas

homógrafas inacentuadas, que se aglutinam com o radical seguinte: pós-

diluviano, mas pospor; pré-escolar, mas preestabelecer; pró-britânico, mas

procônsul.

No que se refere à partição das palavras no fim da linha são separadas por hífen as

sílabas cujos elementos têm autonomia fonética, como por exemplo, os hiatos; o encontro

consonantal impróprio (consoante + consoante), como por exemplo: “sc" = “pis-ci-na”. Os

sons que não tem autonomia fonética silábica não são separados por hífen, como por exemplo,

os ditongos e os encontros consonantais próprios (consoante + l, r).

Porém, tanto no caso do hiato quanto dos encontros consonantais impróprios

sequências consonantais de sílabas diferentes não se separam por hífen se um elemento ficar

sozinho em uma linha e os demais vier na outra, como por exemplos: psi-quê, aí.

Não se separa, também, por hífen os dígrafos “ch, lh, nh”; mas se separam as letras

dos dígrafos “rr, ss, sc, sc, xc”.

Celso Cunha inseriu no uso do hífen as palavras formadas por prefixação. O critério para se

designar prefixo é sintático, ou seja, qualquer palavra que se insere na frente de um

substantivo seja ela adjetiva, como: latino-americano, seja ela um afixo acrescido a um

radical, como “arqui-diocesano”. O critério utilizado na separação silábica no final da linha é

tanto fonético, por ter autonomia fonética silábica, quanto visual, por não se deixar uma letra

isolada em uma sílaba e as demais na outra.

B) Evanildo Bechara

Evanildo Bechara (1975) trata do uso do hífen com as mesmas normas de Celso

Cunha: formação de palavras compostas, formação de palavras com certos prefixos, ligação

de pronomes oblíquos com os verbos e a partição de sílabas no final da linha.

Todavia, ao tratar das palavras derivadas por prefixação insere também a de sufixação,

de forma a separar por hífen os sufixos que representam formas adjetivas, como: “açu, guaçu

e mirim” quando o exige a pronúncia e o primeiro elemento acaba acentuado graficamente:

“andá-açu, capim-açu”, etc. O autor, ao tratar das derivações por prefixação segue o critério

sintático para designar uma palavra como prefixo. Dessa forma, diferencia os prefixos em:

prefixos que representam formas adjetivas, como: anglo, Greco, histórico, latino, lusitano,

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póstero, etc.

E observa: ainda que esses elementos prefixais sejam reduções de adjetivos, não

perdem a sua individualidade morfológica e por isso devem unir-se por hífen, como por

exemplo: dolico-louro, euro-afriacono, telegrafo-postal, etc.

É interessante observar que antes da NGB esses elementos não eram tratados como

prefixos, derivação prefixal, mas esses elementos eram tratados como composição.

Além disso, o autor considera prefixos todos os demais elementos elencados na parte

Morfologia da gramática. O mesmo acontece ao classificar como sufixos as unidades “açu,

guaçu e mirim”. O mesmo critério sintático ocorre para a designação de sufixo das unidades

“açu, guaçu e mirim”. Que não estão classificadas entre os sufixos.

C) Outros autores

Em síntese, pode-se dizer segundo o exposto nesta revisão que o uso do hífen é

empregado para separar palavras e mantém a sua própria acentuação embora forme uma única

unidade de sentido, seja para palavras compostas, seja para palavras derivadas. Porém, o

tratamento dado para a derivação com os prefixos portugueses não há uma explicação

adequada e clara do uso do hífen.

2.3 A formação das palavras na gramática tradicional, no Brasil.

A formação das palavras é tratada na parte Morfologia de nossas gramáticas.

O texto apresentado para a formação de palavras é complexo, pois há oscilação de

critérios: semânticos, morfológicos e fonéticos; por vezes, ocorre também o critério

ortográfico.

Foram selecionados, a título de exemplificação, para tratar da formação das palavras

Celso Cunha (1972) e Evanildo Bechara (1975), seguindo o mesmo critério anterior do uso do

hífen, pois as suas obras tiveram o maior número de edições por serem as mais vendidas pós

NGB.

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2.3.1 Celso Cunha

Segundo Celso Cunha (1972) ainda não encontrou um critério para caracterizar de

modo plenamente satisfatório a entidade “vocábulo”, pois não há, ainda, uma definição que a

abarque a um só tempo comunidade sonora, formal, funcional e significativa.

O autor ao tratar da formação das palavras diferencia palavras primitivas e derivadas

de palavras simples e compostas.

As palavras primitivas não são formadas de outras palavras, pelo contrário, elas

originam novas palavras. Por exemplo: “cara, seco, pedra, roupa”.

As palavras derivadas são formadas de outras palavras primitivas da língua, mediante

o acréscimo ao seu radical de um prefixo ou um sufixo. Assim:

- cara, careta, encarado;

- seco, secura, ressecar;

- pedra, pedreiro, empedrar;

- roupa, rouparia, enroupar.

As palavras simples possuem apenas um radical, sejam elas primitivas ou derivadas.

Por exemplo: “encarado, seca, pedreiro e roupa”. São compostas as que contêm mais de um

radical: mal-encarado, guarda-roupa, ama-seca, pedreiro-livro.

O autor, ao tratar da derivação prefixal, afirma:

Os prefixos são mais independentes que os sufixos, pois se

originam, em geral, de advérbios ou de preposições que têm ou tiveram vida

autônoma na língua. A rigor, poderíamos até discernir as formações em que

entram prefixos que são meras partículas, sem existência própria no idioma

(como dis- em dispor, re- em reter), daquelas de que participam elementos

prefixais que costumam funcionar também como palavras independentes

(assim: contra- em contrapor, entre- em entreter). No primeiro caso haveria

derivação; no segundo, seria justo falar-se em composição (1972, p.103).

Todavia, para o autor, há dificuldades de se diferenciar, claramente, a derivação de

composição:

Mas nem sempre é fácil estabelecer tal diferença, razão por que

preferimos considerar a formação de palavras mediante o emprego de

prefixos um tipo de derivação – a derivação prefixal. Tanto os sufixos como os prefixos formam novas palavras que conservam de regra uma relação de

sentido com o radical derivante; processo distinto da composição, que forma

palavras não raro dissociadas pelo sentido dos radicais componentes. Assim:

De vagar, “andar sem destino”, se originaram, entre outras, as

palavras:

a) circunvagar “vagar em torno de”, pelo acréscimo do prefixo

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circum-;

b) vagante “que ou aquele que vagueia”, pela adição do sufixo –ante;

c) vaga-lume “pirilampo”, pela justaposição do radical lume.

Enquanto nas duas primeiras continua presente a noção de “vagar,

errar”, na forma composta ela enfraqueceu. Da ligação dos radicais de vagar

e lume nasceu uma nova palavra, portadora de um sentido único e autônomo

– o nome de um inseto (1972, p. 103).

2.3.1.1 Derivação

Celso Cunho trata a derivação por prefixação e sufixação.

Para o autor, os prefixos de origem portuguesa são tanto de origem latina quanto

grega. Alguns deles sofrem alterações em contato com a vogal e, principalmente, com a

consoante inicial a palavra derivante. Assim, por exemplo, em “an" que indica “privação”

(como em an-alfabeto), assume a forma “a-” antes de consoante: “a-teu”. Porém, o prefixo

“in-” tem o seu correspondente latino a forma “i-” antes de “l” e “m”: “in-fiel, in-ação”; mas

“in-legitimo, i-móvel”.

O autor apresenta uma lista dos prefixos de origem latina.

Prefixos de origem latina

Prefixo Sentido Exemplificação

ab-

abs-

a-

afastamento, separação abdicar, abjurar

abster, abstrair

amovível, aversão

ad-

a- (ar-, as-)

aproximação, direção adjunto, adventício

abeirar, arribar, assentir

ante- Anterioridade antebraço, antepor

circum-

(circun-)

movimento em torno circum-adjacente

circunvagar

cis- posição aquém cisalpino, cisplatino

com- (con-)

co- (cor)

contiguidade, companhia compor, conter

cooperar, corroborar

contra- oposição, ação conjunta contradizer, contra-assinar

de- movimento de cima para baixo decair, decrescer

des- separação, ação contrária desviar, desfazer

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dis-

di- (dir)

separação, movimento para diversos

lados, negação

dissidente, distender

dilacerar, dirimir

ex-

es-

e-

movimento para fora, estado anterior exportar, extrair

escorrer, estender

emigrar, evadir

extra- posição exterior (fora de) extra-oficial, extraviar

in¹ (im-)

i- (ir-)

em- (en-)

movimento para dentro ingerir, impelir

imigrar, irromper

embarcar, enterrar

in-²

i- (ir-)

negação, privação inativo, impermeável

ilegal, irrestrito

inter-

entre-

posição intermediária internacional, interromper

entreabrir, entrelinha.

intra- posição interior intramuscular, intravenoso

intro- movimento para dentro introduzir, intrometer

justa- posição ao lado justapor, justalinear

ob-

o-

posição em frente,

oposição

ob-reptício, obstáculo

ocorrer, opor

per- movimento atravé percorrer, perfurar

pos- posterioridade pospor, postônico

pre- Anterioridade prefácio, pretônico

pro- movimento para frente progressão, prosseguir

re- movimento para trás, repetição refluir, refazer

retro- movimento mais para trás retroceder, retrospectiva

soto-

sota-

posição inferior soto-mestre, soto-soberania

sota-vento, sota-vaga

sub-

sus-

su-

sob-

so-

movimento de baixo para cima,

inferioridade

subclasse, subdelegado

suspender, suster

suceder, supor

sobestar, subpor

soerguer, soferrar

super-

sobre-

posição em cima, excesso superfície, superpovoado

sobrepor, sobrecarga

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supra- posição acima, excesso supracitado, supra-sumo

trans-

trás-

tra-

três-

movimento para além de, posição

além de

transpor, transalpino

trasladar, traspassar

tradição, traduzir

tresloucado, tresmalhar

ultra- posição além do limite ultrapassar, ultra-sensível

vice-

vis (vizo)

substituição, em lugar de vice-reitor, vice-cônsul

visconde, vizo-rei

(CUNHA, 1972, p.104-105).

A seguir o autor apresenta os principais prefixos de origem grega com as formas que

assumem em português:

Prefixo Sentido Exemplificação

an- (a-)

aná-

privação, negação

ação ou movimento inverso, repetição

anarquia, ateu

anagrama, anáfora

anfi-

anti-

apo-

de um e outro lado, em torno

oposição, ação contrária

afastamento, separação

anfíbio, anfiteatro

antiaéreo, antípoda

apogeu, apóstata

arqui- (arc-)

aque- (arce)

Superioridade arquiduque, arcanjo

arquétipo, arcebispo

catá-

diá- (di-)

dis-

ec- (ex-)

en- (em-, e-)

endo- (end-)

epi- (ep-)

eu- (ev-)

hiper-

hipo-

metá- (met-)

pará- (par-)

peri-

movimento e cima para baixo, oposição

movimento através de, afastamento

dificuldade, privação

movimento para fora

posição interior

posição interior, movimento para dentro

posição superior, movimento para,

posterioridade

bem, bom

posição superior, excesso

posição inferior, escassez

posterioridade, mudança

proximidade, ao lado de

catadupa, cataplasma

diagnóstico, diocese

dispneia, disenteria

eclipse, êxodo

encéfalo, emplastro, elipse

endotérmico, endosmose

epiderme, epônimo

eufonia, evangelho

hipérbole, hipertensão

hipodérmico, hipotensão

metacarpo, metátese

paradigma, parasita

perímetro, perífrase

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pró-

sin- (sim-, si-)

posição ou movimento em torno

posição, em frente, anterior

simultaneidade, companhia

prólogo, prognóstico

sinfonia, simpatia, sílaba.

(CUNHA, 1972, p.155).

Os demais itens tratados na prefixação não são apresentados, neste texto, pois não são

referidos para o uso do hífen. É interessante observar que os exemplos apresentados por Celso

Cunha não são separados por hífen com exceção de:

- prefixo “contra-“: contradizer, contra-assinar;

- prefixo “extra-”: extra-oficial, extraviar;

- “ob”: ob-repiticio, obstáculo;

- “soto-, sota-”: soto-mestre, sota-soberania; sota-vento, sota-voga;

- prefixo “vice-, vizo- (vis)”: vice-reitor, vice-cônsul; visconde, vizo-rei.

Não há nenhuma observação em relação do uso do hífen, para os casos apresentados

acima.

No que se refere aos prefixos de origem grega, em nenhum dos exemplos dados ocorre

o hífen.

Celso Cunha, ao tratar da derivação sufixal, comenta que ela forma novos

substantivos, adjetivos, verbos, e, até, advérbios (advérbios em “–mente”) por essa razão,

classifica os sufixos em:

a) nominal, quanto se aglutina a um radical para dar origem a um substantivo ou um adjetivo,

como por exemplo: “barb-eiro, barb-aça, barb-udo”;

b) verbal, quando, ligado a um radical dar origem a um verbo. Por exemplo: “got-ejar, salt-

itar, escur-ecer”;

c) adverbial, com o sufixo “–mente”, acrescido à forma feminina de um adjetivo: linda-mente,

pia-mente, risonha-mente.

Em seguida, o autor apresenta uma lista de sufixos nominais que forma substantivos

de outros substantivos (-ada, -ado, -ato, -agem, -ao, -ária, -ama, -ame, -aria, -ário, -edo, -eiro

(a), -ia, -io, -ite, -ujem, - ume).

Os sufixos que formam substantivos de adjetivos são: “-dade, -(i)dão, -ez, - eza, -ia”.

Apresenta, também, os sufixos que formam substantivos de substantivos e adjetivos: -

ismo, -ista.

Apresenta, ainda, sufixos que formam substantivos de verbos: “-ança, anciã, -ença, -

ência, -ante, -ente, -inte, -(d)or, -(t)or, -(s)or, -ção, -são, - douro, -tório, -(d)ura, -(t)ura, -

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(s)ura, -mento”.

É interessante observar que os elementos classificados pelo autor como sufixo não

estão inclusos “-açu, -guaçu e -mirim”, que são designados sufixos nas regras de uso do hífen.

2.3.1.2 Composição

Celso Cunha define a composição da seguinte forma:

Composição consiste em formar a nova palavra pela união de dois ou mais

radicais. A palavra composta representa uma ideia única e autônoma, não

raro dissociada das noções expressas pelos seus componentes. É o caso, por

exemplo, de “beija-flor” que é o nome de um pássaro, sempre-viva nome de uma planta; criado-mudo, designação de um móvel.

A Composição é apresentada por tipos:

- a) simplesmente justaposto cada qual conservando a sua integridade. Por exemplo: “belas-

-artes, quinta-feira, meio-dia, mel-de-anta, malmequer, varapau”.

Como se pode verificar, o autor exemplifica casos de composição por justaposição

tanto com o uso do hífen quanto o seu não uso, não fazendo qualquer observação.

- b) composição por aglutinação é quando os elementos são nitidamente unidos por se ter

perdido a ideia da composição, casos em que subordina a um único acento tônico e sofre

perda de sua integridade silábica. Por exemplo: “aguardente (água + ardente), planalto (plano

+ alto), embora (em + boa +hora), viadante (via + andante)”.

A composição por justaposição diferencia-se da composição por aglutinação, em suas

formas escritas, pois na justaposição os elementos vêm em geral ligados por hífen, ao passo

que na aglutinação ele se junta a um só vocábulo gráfico.

O autor faz uma observação a respeito do uso do hífen:

Não se deve esquecer que o hífen é uma simples convenção

ortográfica. Nem sempre os elementos justapostos vêm ligados por ele. Há os

que se escrevem unidos: madrepérola, malmequer, e passatempo.

E outros que conservam sua autonomia gráfica: entrada de rodagem,

Idade Média e pai de família.

Quanto ao sentido, distingue-se numa palavra composta o elemento determinado, que contém a ideia geral, do determinante, que encerra a noção

particular. Assim, em escola-modelo, o termo escola é o determinado, e

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modelo o determinante. Em mãe-pátria, ao inverso, mãe é o determinante, e

pátria o determinado.

(Cunha, p.122)

No que se refere à classe gramatical dos seus elementos, a palavra pode ser composta

de:

a) substantivo + substantivo: “arco-íris, pombo-correio”;

b) substantivo + preposição + substantivo: “chapéu-de-sol, estrada de rodagem”;

c) substantivo + adjetivo:

- com o adjetivo posposto ao substantivo: “pernalta, sangue-frio”;

- com adjetivo anteposto ao substantivo: “alto-mar, livre-câmbio”;

d) adjetivo + adjetivo: “franco-brasileiro, ibero-americano;

e) numeral + substantivo: “mil-folhas, sexta-feira”;

f) pronome + substantivo: “mel-bem, vossa senhoria”;

g) verbo + substantivo: “passatempo, porta-bandeira”;

h) verbo + verbo: “perde-ganha, vaivém”;

i) advérbio + adjetivo: “não-euclidiana, sempre-viva”;

j) advérbio (ou adjetivo com valor adverbial) + verbo: “bem-aventurar, maldizer”.

O autor apresenta as seguintes observações em relação às classes gramaticais que

formam a palavra composta:

1ª) No último grupo poderíamos incluir os numerosos compostos de

bem e mal + substantivo ou adjetivo, porque, neles, tanto o substantivo como

o adjetivo são quase sempre derivados de verbos, cuja significação ainda

conservam. Assim, bem-aventurança, bem-aventurado, benquerença, bem-

vindo, ml-dizente, mal-encarado, malfeitor, malsoante, etc.

2ª) Nem todos os compostos da língua se distribuem pelos tipos que

enumeramos. Há, ainda, uma infinidade de combinações, por vezes curiosas, como as seguintes: bem-te-vi, bem-te-vi-do-bico-chato, disse-que-disse,

louva-a-deus, malmequer, não-me-deixes, não-me-toques, não-te-esqueças-

de-mim (miosótis) não-sei-que-diga (nome do diabo), etc.

3ª) Empregamos muitas palavras compostas que não são,

propriamente, formações portuguesas. Assim, couve-flor é tradução do

francês chou-fleur; café-concerto é também de origem francesa; bancar-rota

provém do italiano bancarrota; vinagre nos chegou, provavelmente, por sua

vez, de uma forma catalã idêntica.

4ª) Alguns palavras de importação que aparentam forma simples são

compostas nas línguas de origem. É o cãs, por exemplo, de oxalá, derivado

do árabe in-sha-Allah (= se Deus quiser); de aleluia proveniente do hebraico

hallelu-lah (= louvai o Deus). (p.123-124)

Embora Celso Cunha faça quatro observações para as palavras compostas, ao

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exemplificá-las, apresenta tanto palavras separadas por hífen quanto sem hífen, sem

apresentar nenhuma observação relativa a isso.

O autor trata ainda dos compostos eruditos que constroem designações para coisas

novas, como por exemplo: palavras criadas com o progresso da ciência e da tecnologia que

não usa o hífen. Por exemplo: “cosmógrafo, televisão, comógrafo, tonômetro”. No que se

refere a nomenclatura científica, técnica e literária, o autor apresenta essa composição pelo

modelo da composição greco-latina, em que consiste em associar dois termos, sendo o

primeiro determinante do segundo.

Em síntese, ao tratar da derivação e composição, Celso Cunha não se refere às regras

de uso do hífen, embora apresente exemplos com o seu uso.

2.3.2 Evanildo Bechara

Evanildo Bechara (1975), também, apresenta a formação das palavras da língua

portuguesa pela derivação e composição inserida na parte Morfologia de sua gramática.

Da mesma forma que o faz Celso Cunha (1973), o texto gramatical de Evanildo

Bechara (1975) não trata das questões relativas às regras de uso do hífen. Mas, Bechara não

trata como o faz Cunha, das demais formas da formação de palavras portuguesas, como por

exemplo: neologismos e radicais gregos e latinos.

Bechara classifica as palavras em: indivisíveis e divisíveis. As palavras indivisíveis

são as que possuem um radical, como elemento mórfico. Porém exemplo, “mar, sol, ar, é,

hoje”. As palavras divisíveis são aquelas que, ao lado do radical, podem ser desmembradas

em outro ou outros elementos mórficos. Por exemplo: mares (mar-e-s), alunas (alun-a-s),

trabalhávamos (trabalh-á-va-mos).

As palavras divisíveis podem ser simples ou compostas. Uma palavra simples divisível

somente possui um radical. Os outros elementos mórficos que a compõem ou são de

significação gramatical ou acrescentam ao radical uma ideia subsidiária que denota os afixos

(prefixos ou sufixos).

As palavras simples divisíveis podem ser primitivas ou derivadas. As palavras

primitivas são palavras simples que não resultam de outra. Por exemplo: livro, belo, barco.

A palavra derivada é uma palavra simples que resulta de uma outra que é fundamental,

ou seja, primitiva. Por exemplo: livraria, embelezar, arqueiro.

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As palavras compostas possuem mais de um radical. Por exemplo: guarda-chuva,

planalto, fidalgo.

Tanto as palavras simples (primitivas ou derivadas) como as compostas podem ser

flexionadas. Os nomes e pronomes flexionam em gênero e número, e os verbos, em número,

pessoa, tempo e modo.

O autor apresenta a formação de palavras por dois processos:

A) Derivação;

B) Composição.

2.3.2.1 Derivação

O processo da derivação consiste em formar, a partir de uma primitiva, por meio de

afixos. Os afixos são prefixos e sufixos. São prefixos, os que vêm antes do radical. São

sufixos aqueles que vêm depois. Dessa forma, ocorre a prefixação prefixal e a sufixal.

A) Derivação por prefixação

Os principais prefixos que ocorrem em português são de origem latina ou grega, sendo

que muitos dos primeiros correspondem a preposições portuguesas. O autor observa que os

prefixos latinos, embora tenham o mesmo sentido de seus correspondentes gregos, formando

assim, palavras sinônimas, estas em regra não se podem substituir mutuamente, pois têm

esferas semânticas diferentes.

Bechara (1975) elenca os seguintes prefixos de origem latina:

Prefixo Sentido Exemplificação

Ante anteriormente, procedência – no tempo

ou no espaço

ante-sala, antelóquio, antegozar,

antevéspera

Ambi Duplicidade ambiguidade, ambidestro

bem, ben bem, excelência de um fato ou ação bendizer, benfazejo

circum,

circu

em roda de circunferência, circulação

Cis posição aquém cisalpino, cisatlântico, cisandino

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com, com-,

co-

companhia sociedade, concomitância compadre, companheiro, condutor,

colaborar

Contra oposição, situação fronteira; o a final

passar a o diante de certas derivações

do verbo

contramarchar, contrapor,

contramuro, controverter

de- movimento para baixo, separação,

intensidade, negação

depenar, decompor. às vezes alterna

com des-: decair – descair

de(s)-,

di(s)-

negaça, ação contraria, cessação de um

ato ou estado, separação, ablação,

intensidade

desventura, discordância, difícil (dis

+ fácil), desinfeliz, desfear (= fazer

muito feio), desmudar (= mudar

muito)

es-, e-, ex- movimento para fora, mudança de

estado, esforço

esvaziar, evadir, expatriar,

expectorar, emigrar, esforçar

em-, em-,

in-

movimento para dentro, passagem para

um estdo ou forma, guarnecimento,

revestimento

embeber, enterrar, enevoar, ingerir

extra- fora de, além de; superioridade; o a

final passa, às vezes, a o

extradição, extralegal, extrafino,

extroverter

im-, in-, i- sentido contrário, negação, privação impetinente, incorrigível, ilegal,

ignorância, imigrar

intra- posição interior, movimento para

dentro; o a final passa, às vezes, a o

intramuscular, introverter, introduzir

inter-,

entre-

posição no meio, reciprocidade entreter, interpor, intercâmbio

ob-, o- posição em frente obster, opor

per- através de, coisa ou ação completa,

intensidade

percorrer, perfazer, perdurar,

persentir (sentir profundamente)

pos- posição postereior, no tempo e no

espaço

postônico, pós-escrito

pre- anterirmente, antecedência,

superioridade

prefácio, prever, predomínio

pro- movimento para trás, repetição,

reciprocidade, intensidade

progredir, projeção

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63

re- movimento para trás, repetição,

reciprocidade, intensidade

regredir, refazer, ressaudar (saudar

mutuamente), ressaltar, rescaldar

(escaldar muito)

retro- para trás retroceder, retroagir

semi- metade de, quase, que faz as vezes de semicírculo, semibárbaro, semivogal

so-, sob-,

sub-, su-

em baixo de, imediatamente abaixo

num cargo ou função; inferioridade,

ação pouco intensa

soterrar, sobestar, submarino,

sustentar, supor

sobre-,

super-,

supra-

posição superior, saliência, parte final

de uma ato ou fenômeno; em seguida;

excesso

sobrestar, superfície, supracitado,

superlotado

soto-, sota- posição inferior, inferioridade, logo

após

sotopor, sotomestre, sota-voga

trans-, trás-,

três-, ter-

além de, através de, intensidade

transportar, traduzir, transladar,

trespassar, tresgastar

ultra- além de, excesso, passar além de ultrapassar, ultrafino

vice-, vis- em lugar de, imediatamente abaixo

num cargo ou função

vice-presidente, visconde

O autor apresenta as seguintes observações relativas aos prefixos latinos:

1ª) Não se há de confundir três (numeral) com três (de trans): tresdobrar (triplicar);

2ª) Às vezes trans é emprego é empregado como antônimo de cis:

transalpino e transandino, por exemplo, opõem-se a cisalpino e cisandino;

3ª) Também em certas palavras se podem alterar as variantes deste

prefixo: transpassar, transpassar, trespassar.

(Bechara, p. 182)

O autor se preocupa em elencar todos os prefixos com os seus respectivos sentidos e

apresenta exemplos. Estes, na maioria das vezes, não são formados com o uso do hífen. É

interessante observar, que ao tratar do prefixo “pos-”, apresenta como exemplo “postônico,

pós-escrito”, pois o primeiro não apresenta acento gráfico e não é unido pelo hífen, já, o

segundo é separado pelo hífen e o prefixo é acentuado. Esses dois exemplos não são

comentados pelo autor.

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64

Bechara (1975) elenca os seguintes prefixos e elementos gregos:

a, na, este

último

antes de

vogal

privação, negação, insuficiência,

carência, contradição

afônico, anemia, anônimo, anóxia,

amoral

Ana inversão, mudança, reduplicação anabatista, anacrônico, analogia,

anatomia

Anfi duplicidade, ao redor, dos dois lados anfíbio, anfibologia, anfiteatro

Cata

Anti oposição, ação contrária antídoto, antártico, antípodas, anti-

aéreo

Apo Afastamento apologia, apocalipse

arqui, arce superioridade hierárquica, primazia,

excesso

arquiduque, arquimilionário,

arcediago

Cata movimento para baixo catacumba, catarata, católico

Di Duplicidade dilema, dissílabo, ditongo

Dia através de diálogo, diagrama

Dis Dificuldade dispepsia, disenteria

ec-, ex-,

exo-, ecto

exterioridade, movimento para fora eczema, exegese, êxodo, exógeno,

ectoderma

en-, em-, e- Interioridade encômio, encíclica, enciclopédia,

emblema, elipse

Endo moviemento em direção para dentro endocarpo, endovenosa

Epi sobre, em cima de epiderme, epitáfio

Eu excelência, perfeição, bondade eufonia, euforia, eufemismo

Hemi metade, divisão em duas partes hemiciclo, hemisférico

Hiper Excesso hipérbole, hipérbato

Hipo posição inferior hipocrisia, hipótese, hipoteca

Meta mudança, sucessão metamorfose, metáfora, metonímia

Para proximidade, semelhança, defeito,

vício, intensidade

parábola, paradigma, paralela,

paramnésia

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65

Peri em torno de perímetro, período, periscópio

Pro Anterioridade prólogo, prognóstico, profeta

Pros adjunção, em adição a prosélito, prosódia

proto- início, começo, anterioridade protótipo, proto-história, proto-mártir

poli- Multiplicidade polissílabo, politeísmo

sin-, sim- conjunto, simultaneidade sinagoga, sinopse, simpatia, silogeu

tele- distância, afastamento, controle feito a

distância

telégrafo, telepatia, teleguiado

O autor não apresenta nenhuma observação a respeito dos prefixos gregos. A seguir

trata de outros processos de derivação como a derivação parassintética que consiste em formar

vocábulos com o auxílio simultâneo de prefixo e sufixo, como por exemplo: “anoitecer,

endurecer, empobrecer, enriquecer”.

Os demais itens relativos à derivação não são tratados neste capítulo, por não está

relacionados ao uso do hífen.

2.3.2.2 Composição

Segundo Bechara (1975), a composição consiste na formação de uma palavra nova

composta por meio de duas ou mais palavras cuja significação depende das que encerram os

seus componentes.

Dessa forma, a composição, em língua portuguesa, é realizada pela sequência das

seguintes classes de palavras

1) Substantivo + substantivo:

Esta composição pode ser realizada tanto por coordenação quanto por subordinação. A

coordenação compreende o determinante em posição anterior, como por exemplo: “mãe-

pátria, papel-moeda”; ou em posição posterior, como por exemplo: “peixe-espada, carro-

dormitório, couve-flor”.

A subordinação sequência dois substantivos com ou sem o auxílio de preposição,

como por exemplo: “arco-íris, estrada de ferro, pão-de-ló”. É interessante observar que o

autor exemplifica com palavras nas quais ora se emprega o hífen ora não, sem apresentar

nenhum comentário a respeito da forma ortográfica do uso do hífen.

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66

2) Substantivo + adjetivo (ou vice-versa)

Por exemplo: “aguardente, obra-prima, fogo-artes, baixa-mar, boquiaberto”.

3) Adjetivo + adjetivo

Por exemplo: “surdo-mudo, luso-brasileiro, auriverde”.

4) Pronome + substantivo

Por exemplo: “Nosso Senhor, Sua Excelência”.

5) Numeral + substantivo

Por exemplo: “onze-letras (alcoviteiro), segunda-feira, bisneto, trigêmeo, sequicen-

tenário (sequi = um e meio)”.

6) Advérbio (bem, mal, sempre)

Por exemplo: “benquerença, benquisto, bem-querer, malcriação (inutilmente corrigido

para má-criação), malcriado, sempre-viva”.

7) Verbo + substantivo

Por exemplo: “lança-perfume, porta-voz, busca-pé, passa-tempo”.

8) Verbo + verbo ou verbo + conjunção + verbo

Por exemplo: “vaivém, leva-e-traz, corre-corre”.

9) Verbo + advérbio

Por exemplo: “pisa-mansinho, ganha-pouco”.

10) Um grupo de palavras ou uma frase inteira pode condensar-se numa classe de palavras.

Por exemplo: “um Deus-nos-acuda, mais vale um toma que dois te darei, os disse-me-

-disse”.

Segundo Bechara, o processo de formação de palavras compostas ocorre por:

A) justaposição;

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B) aglutinação.

A justaposição compreende o processo de sequenciar palavras, preservando seus

radicais anteriores, como por exemplo: “guarda-roupa, mãe-pátria, vaivém”.

A aglutinação compreende o processo de compor palavras, ocorrendo o fenômeno

fonético da perda de sílabas, como por exemplo: “planalto, fidalgo”.

Segundo Bechara (2009, p. 97) “a tradição ortográfica também usa o hífen em outras

combinações vocabulares: abaixo-assinado, assim-assim, ante-à-re, ave-maria, salve-rainha”.

Emprega-se, também, o hífen em compostos com elementos repetidos, com ou sem

alternância vocálica ou consonântica; e, serão escritos com hífen os compostos entre os

elementos que há apóstrofo: cobra-d’água, mãe-d’água. Não se usa hífen nas locuções

substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, salvo

exceções consagradas pelo uso: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-

perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará e à queima-roupa.

Emprega-se o hífen para ligar duas palavras que, ocasionalmente, combinam-se, para

formar um encadeamento vocabular, como exemplo: “a ponte Rio-Niterói, Angola-Brasil”

entre outros.

Em síntese, também, Evanildo Bechara não apresenta nenhum comentário a respeito

das palavras separadas por hífen. Tanto no processo de derivação quanto no de composição,

embora selecione para exemplificar palavras grafadas com o uso do hífen e sem o hífen.

2.3.3 Outros autores e o uso do hífen

Antes e depois do Acordo Ortográfico de 1990, outros autores trataram do uso do

hífen na língua portuguesa, apresentando regras e comentários que confirmam a dificuldade

de seu uso na atual ortografia portuguesa.

Segundo a regra, escrevem-se com hífen as palavras compostas que mantêm sua

subsistência fonética, pois conservam cada um de seus elementos com seus próprios acentos,

formando um conjunto perfeito de nexo (unidade de sentido); e a ligação de pronomes

oblíquos ao verbo.

Nesse sentido, antes do Acordo Ortográfico de 90, Almeida (1986, p. 70) propõe:

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68

o hífen se presta para ligar os elementos de grande número de palavras

compostas: couve-flor, guarda-chuva, carta-bilhete etc.; para ligar os

pronomes oblíquos aos verbos quando a eles vêm pospostos ou neles se

intercalam: disse-me, contaram-lhe, dir-lhe-ei, far-nos-ia etc.; para, no fim da

linha, indicar a partição dos vocábulos. O hífen não deve iniciar linha.

Segundo o autor, emprega-se o hífen nas palavras compostas, quando os elementos

mantêm a sua acentuação peculiar e a sua autonomia semântica, ao constituir um outro

conjunto de unidade semântica: “água-marinha, arco-íris, chapéu-de-cobra, galinha-d´água,

couve-flor, pé- -de-meia, guarda-chuva, pé-de-moleque, para-choque, porta-chapéus etc.”.

Essa regra se aplica, também, aos compostos que manifestam elementos foneticamente

simplificados: “bel-prazer, és-suete, mal-pecado, su-sueste etc.”. Também, usa-se o hífen com

o substantivo “rei”, por ser um elemento incontestável ou de certeza semântica.

Quando um dos elementos não tem uniformidade de sentido, os seus componentes não

obtêm junção por hífen, seja qual for à classe gramatical (ou conhecimento linguístico):

- no caso das combinações vocabulares não formarem compostos com unidades semânticas

perfeitas. Por exemplo: “vós outros” (locução pronominal);

- no caso de locuções com junturas fonéticas externas, por exemplo: “acerca (advérbio),

afinal, apesar, debaixo, decerto, defronte, depressa, devagar, comigo, contigo etc”.

O hífen, também é usado para grafar os pronomes enclíticos ou mesoclíticos,

conservando seus acentos gráficos: “amá-lo, amáreis-me, amásseis-vos, devê-lo-ia, dir-se-ia,

fá-la-emos, colocá-la-emos etc.”.

O autor comenta que, com o passar dos tempos, alguns compostos perdem a noção de

composição, sendo assim passam a serem grafados aglutinadamente, por exemplo: “girassol,

madressilva, paraquedas, paraquedistas, paraquedismo, paraquedístico, mandachuva e

pontapé”.

Usa-se o hífen no processo de formação de palavras compostas por justaposição com

os prefixos: anglo, grego, histórico, ínfero, latino, lusitano, luzo, póstero, súpero, etc.: anglo-

brasileiro, greco-romano, histórico-geográfico, ínfero-anterior, latino-americano, lusitano-

castelhano etc..

Almeida comenta que esses constituintes prefixais são redução de adjetivos que não

perderam sua individualidade morfológica, por isso sua derivação deve ser escrita com o uso

do hífen, como em: “austro (=austríaco), dôlico (=dolicocéfalo), euro (=europeu), telegrafo

(=telegráfico) etc.; austro-húngaro, dólico-louro, euro-africano, telegrafo-postal etc.”.

Separam-se com hífen os derivados sufixais com as formas adjetivas: “açu, guaçu,

mirim”, quando o primeiro termo finaliza em vogal acentuada: andá-açu, amoré-guaçu,

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anajá-mirim, capim-açu, etc.

Ribeiro (1955) observa o emprega do prefixo “extra-“ com hífen antes de vogal, “h, r e

s”: extra-alcance, extra-escolar, extra-oficial, extra-uterino, extra-hospitalar, extra-

regulamentação, extra-sensorial. Mas, não se usa o hífen na formação consagrada pelo uso:

“extraordinário, extraconjugal”. O autor observa que se o elemento como qual “extra” se

combina é substantivo, o adjetivo resultante não varia: “fatores extracampo, passeios

extraprograma”. Mas, “extra” admite o plural e não se liga com hífen quando posposto ao

substantivo: “horas extras, serviços extras, edições extras” e flexiona-se como substantivo

em: “os extras da novela”.

Grafam-se com hífen os prefixos ante-, anti-, arqui- e sobre que antecede o segundo

termo que escreve com “h, r, ou s”: “super-homem, super-requintado, super-regra, ante-social,

anti-higiênico, etc.”.

Emprega-se o hífen quando os prefixos terminarem em “b” ou “d”: ab-, ad-, ob-, sob-,

sub- e o segundo vocábulo for iniciado por “r”: “ab-rogar, ad-renal, ob-reptício, sob-roda,

sub-reino, sub-recepção, sub-reitor, etc.”.

Emprega-se o hífen quando o 1º elemento termina com “n”, “l” ou “u” nos prefixos

pan-, mal- e mau- antes de vogal ou palavra iniciada com “h”: “mal-educada, pan-americano,

pan-helenismo, mau-humorado etc.”.

Grafa-se com “bem-” quando a palavra que segue tem existência própria ou autônoma,

ou quando a ortoépia a requer, por exemplo: “bem-ditoso, bem-aventurado, bem-vindo etc”.

Usa-se o hífen nas palavras formadas com prefixos gregos ou latinos. Grafam-se com

hífen os afixos “sem-, sota-, soto-, vice-, vizo-, ex-” (com sentido de cessante, anteriormente

ou anterior), etc.: “sem-cerimônia, sota-piloto, sota-ministro vice-reitor, vizo-rei, ex-diretor

etc.”.

Emprega-se hífen nos prefixos: “pós-, pré- e pró-”, que tem acento próprio, por causa

do realce dos seus significados e de seus sons, ao contrario dos seus homógrafos não

acentuados, que por causas fonéticas aglutinam-se ao segundo elemento: “pós-meridiano, pré-

escolar, pró-britânico”; mas, sem o uso do hífen em: “pospor, preanunciar, procônsul,

precursor, etc.”.

Na concepção de Martins (2006, p. 13), antes do Acordo Ortográfico de 90, a

ortografia é entendida como:

a ortografia de uma língua consiste na padronização da forma gráfica de suas palavras para o fim de uma intercomunicação social universalista, e só em

casos excepcionais são admitidas duas grafias para uma mesma palavra. Pela

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tradição brasileira, as normas ortográficas, ordinariamente propostas por

comissões de especialistas e aprovadas pelo Congresso Nacional, entram em

vigor por ato do poder executivo federal.

O autor, ao tratar do hífen, comenta que: o uso do hífen decorre de mera convenção

ortográfica e que, nos acordos firmados assim como em toda convenção, são abundantes as

emissões ou os conceitos mal definidos que registram as palavras compostas com o uso do

hífen em que figura essa risca de união.

Em síntese, pode-se verificar que antes e após o Acordo Ortográfico de 1990, há

insatisfações em relação às regras e comentários em relação às classificações e exceções das

regras.

2.4 Para finalizar: dificuldades existentes para o uso do hífen, a partir dos textos de

gramáticos brasileiros tradicionais

Embora não haja nos textos gramaticais uma crítica à confusão de critérios existente

para o uso do hífen na formação de palavras, uma análise crítica desses textos indica que:

- há um critério semântico, segundo o qual, os compostos que perdem certa noção de

composição, são grafados aglutinadamente, dentre eles: “girassol, madressilva, mandachuva,

pontapé, paraquedas, paraquedista, embora, etc”.

Por essa razão, a derivação prefixal com prefixos que mantêm suas integridades

semânticas, usa-se o hífen, como com os prefixos “es- (com o sentido de estado anterior ou

cessamento), ex-, sota-, soto-, vice-, e vizo-”. Por exemplo: “ex-almirante, ex-diretor, ex-

hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei: sota-piloto, soto-mestre, vice-

presidente, vice-reitor, vizo-rei”.

- há um critério morfo-sintático, segundo o qual, escrevem-se com hífen os

topônimos/topônimos compostos, principiados pelos adjetivos “grã, grão” ou por forma

verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo, por exemplo: “Grã-Bretanha, Grão-

Pará, Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-

Fortes: Albergaria-a-Velha, Baia de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo,

Trás-os-Montes”.

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Observa-se que os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os

elementos separados e sem hífen, como em; “América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde,

Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta”. O topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma

exceção consagrada pelo uso.

O critério morfo-sintático, também, rege o uso do hífen fora da formação de palavras.

No caso da ênclise, da mesóclise e do verbo haver.

Grafam-se ou empregam-se o hífen na ênclise e na tmese; amá-lo, dá-lo, dá-se, deixa-

o, parti-lhe, amá-lo-ei, enviar-lhe-emos.

Mas, não se emprega o hífen nas ligações da preposição “de” com as formas

monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver. Por exemplo: “hei de, hás de, não

de, etc.”

Grafam-se, também, com o hífen as ligações de formas pronominais enclíticas ao

advérbio “eis”. Por exemplo: eis-me, ei-lo, e ainda nas combinações de formas pronominais

do tipo “no-lo, vo-las”. Por exemplo: “esperamos que no-lo comprem”.

- há um critério sintático, segundo o qual, emprega-se o hífen nos compostos com os

elementos “além, aquém, recém e sem”: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras, aquém-

mar, aquém-Pirenéus; recém-casado, recém-nascido; sem-cerimônia, sem-número, sem-

-vergonha.

Porém, emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios “bem e mal”, quando

estes formam com o elemento que se lhes seguem uma unidade sintagmática e semântica e tal

elemento começa por vogal ou “h”. No entanto, o advérbio “bem” ao contrário de “mal”, pode

não se aglutinar com vocábulos principiados com consoantes. Eis alguns exemplos: “bem-

aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-

criado, mas, malcriado; bem-ditoso, mas malditoso; bem-nascido, mas malnascido; bem-

soante, mas malsoante; bem-visto, mas malvisto”. Embora a regra prescreva o uso do hífen

nos compostos com o advérbio “bem”, ele não é usado em “benfazejo, benfeitor, benfeito,

benquerença, etc.”. Nesses casos, o advérbio “bem” aparece aglutinado com o segundo

elemento.

- há um critério pela tradição que segue o histórico da formação da palavra, segundo o qual,

nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, advérbios,

prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já

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consagradas pelo uso como é o caso de “água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-

que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa”.

- há um critério relativo à sequenciação de palavras, segundo o qual, emprega-se o hífen para

ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam formando, não propriamente

vocábulos, mas encadeamentos vocabulares do tipo: “a divisa Liberdade-Igualdade-

Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-

Moçambique, além dessas, nas combinações históricas ou ocasionais de

topónimos/topônimos, como por exemplo: Áustria-Hungria, alsácia-Lorena, Angola-Brasil,

Tóquio-Rio de Janeiro etc.”.

- Há um critério de grafação por letras, segundo o qual, usa-se o hífen nas palavras em que o

segundo elemento começa por “h”: anti-higiénico/anti-higiênico, circum-hospitalar, co-

herdeiro, contra-hormónico, extra-humano, pré-história, sub-hepático, super-homem, ultra-

hiperbólico; aqui-hipérbole, eletro-higrômetro, geo-história, neo-helénico/neo-helênico, pan-

helenismo, semi-hospitalar.

Mas, não se usa o hífen em formações que iniciam-se com os prefixos “des- e in-” nas

quais o segundo elemento pode ser escrito sem o “h” inicial: “desumano, desumidificar,

inábil, inumano etc.”.

Também não se usa o hífen nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina

em vogal e o segundo elemento começa por “r” ou “s”, devendo estas consoantes duplicar-se,

prática, aliás, já generalizada em palavras desse tipo pertencentes aos domínios científicos e

técnicos. Assim, por exemplo: antirreligioso, antissemita, contrarrega, contrassenha, cosseno,

extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia,

microssistema, microrradiografia.

- há um critério fonético-fonológico, segundo o qual, nas formações em que o prefixo ou o

pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico,

contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular, arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica,

micro-onda, semi-interno.

Mas, nas formações com o prefixo “co-, pre-, re- e pro-“ estes se aglutinam em geral

com o segundo elemento, sem o uso do hífen, mesmo quando iniciado por “o”, como em:

“coobrigação, coocupante, coordena, cooperação, cooperar, prefixo, preconceito, reencontro,

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reestrutura, proótico etc.”.

Já, usa-se o hífen nas formações com os prefixos “circum-” e “pan-”, quando o

segundo elemento começa por vogal, “m” ou “n” (além do “h”, caso já considerado acima):

“circum-escolar, circum-moderado, circum-navegação: pan-africano, pan-mágico, pan-

negritude”.

Mas, não se usa o hífen nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em

vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada para

os termos técnicos e científicos. Como por exemplo: antiaéreo, coeducação, extraescolar,

aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.

- há um critério acentual para os prefixos, segundo o qual, nas formações com os prefixos

tónicos/tônicos acentuados graficamente “pós-, pré- e pró”, quando o segundo elemento tem

vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se

aglutinam com o elemento seguinte). Por exemplo: “pós-graduação, pós-tónico/pós-tônicos

(mas pospor): pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas

promover)”.

- há um critério misto etimológico e fonético-fonológico para a derivação sufixal, segundo o

qual, nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nas palavras terminadas em

sufixo de origem tupi-guarani que apresentam formas adjetivas, como “açu, guaçu e mirim”,

quando o primeiro termo acaba em vogal acentuada graficamente ou a ortoépia exige a

distinção gráfica dos dois elementos. Por exemplo: “amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu,

capim-açu, Ceará-Mirim”.

Em síntese, as dificuldades são muitas e ocasionadas pela mistura de critérios. Esta

mistura está presente no item da formação das palavras cujos critérios são: semântico,

mórfico, sintático e morfo-sintático. Esse item precisa, urgentemente, ser revisto.

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CAPÍTULO III

FUNDAMENTOS TEÓRICOS: FONOLOGIA E MORFOLOGIA DA LÍNGUA

PORTUGUESA.

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CAPÍTULO III

FUNDAMENTOS TEÓRICOS: FONOLOGIA E MORFOLOGIA DA LÍNGUA

PORTUGUESA.

Este capítulo apresenta fundamentos teóricos da fonologia portuguesa e de aspectos

morfológicos, decorrentes da intensidade, ou seja, de uma língua de acento.

3.1 Apresentação

Os sons sempre foram objeto de atenção dos homens civilizados. Embora não se saiba

quem é o inventor da escrita alfabética, sabe-se, apenas, que foram os fenícios que a

divulgaram.

A invenção do alfabeto, como forma de escrita, resulta do estudo dos sons, pois cada

letra era usada com o objetivo de grafar sons.

Sabe-se, também, que os gregos, a partir da investigação sonora, construíram as

grandes conchas acústicas, com o objetivo de ampliar a frequência sonora em seus teatros ao

ar livre. Os hindus estudaram os sons com o objetivo religioso. Os sacerdotes verificaram que

a cada geração de iniciados havia uma mudança na articulação sonora, para a leitura dos

livros sagrados, os Vedas. Estes registraram a produção de sons mandras e nandras cujos

efeitos sonoros, segundo a crença, produziam a interação entre o homem e os deuses. Como

esses sons não podiam variar, pois acreditavam que eles haviam sido ensinados pelos deuses,

os sacerdotes hindus preocuparam-se em descrevê-los.

Dessa forma, pode-se dizer que os gregos são os pais da Fonética Acústica e os

hindus, da Fonética Articulatória.

Os sons passaram a ser objeto de estudo da língua, com o aparecimento das gramáticas

do uso padrão normativo. Com o objetivo político, ou seja, com o objetivo de construir uma

unidade para controlar a variedade de pronúncias de uma nação, faz-se necessário selecionar

uma norma de pronúncia, a partir do critério de seu prestígio político. Essa norma é descrita

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na parte Fonética das gramáticas tradicionais. No Brasil, a norma de pronúncia é a carioca que

foi selecionada no Congresso de língua falada e língua cantada, na década de 40. Tal norma

passa a ser ensinada na escola para o controle da variação de pronúncia brasileira.

Ferdinand Saussure, em seu primeiro Curso propõem a diferença entre langue e

parole. Langue é o sistema de signos, convencionados socialmente e se define por um

conjunto de unidades que são combinadas por regras gramaticais. Parole é o uso desse

sistema pelas pessoas, durante a comunicação.

Em 1928, Nicolai Sergi Troubetzkoy, com a proposição nº 22 do congresso de Haia,

instaura a diferença entre fonema e som.

A sua famosa proposição foi:

Langue = fonema = Fonologia

Parole som Fonética

Essa proposição diferencia, no plano linguístico, as duas disciplinas que tratam do

significante do signo. A Fonética estuda os sons do significante do signo da parole e a

Fonologia preocupa-se com os fonemas significantes dos signos da langue. Tanto os sons

quanto os fonemas podem ser estudos sincrônica e diacronicamente.

Antes da proposta de Troubetzkoy, o termo “Fonética” era usado para o estudo

diacrônico dos sons (gramática histórica) e o termo “Fonologia”, para o estudo sincrônico dos

sons. A Escola Norte Americana, por essa razão, usa o termo “Fonêmica” para o estudo dos

fonemas e mantém para o termo “Fonética” para estudo diacrônico dos sons, e “Fonologia”

para o estudo sincrônico dos sons.

Esta dissertação segue, terminologicamente, a Escola de Praga da qual Troubetzkoy

era membro, utilizando o termo “Fonética”, para o estudo dos sons e o termo “Fonologia”

para o estudo dos fonemas.

As regras de uso do hífen não são numeradas. Neste capítulo, elas foram numeradas

para facilitar o exame da prescrição do uso do hífen.

3.2 A língua portuguesa é uma língua de acento: a natureza fonética do acento

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Segundo André Martinet (1966), as línguas do mundo, por serem orais, antes de

escritas, são classificadas por tipos, tendo por critério os movimentos das cordas vocais, que

ocorrem na glote, durante a emissão sonora.

Segundo Silveira (2008), o som é um efeito acústico provocado pelo movimento de

um corpo vibrador que se propaga em determinado meio-ambiente.

Movimento compreende o deslocamento do corpo no espaço, a partir de sua tensão e

de sua posição de repouso até encontrar a posição de afastamento.

Para que o movimento se realize, é necessário que uma força seja aplicada sobre o

corpo a fim de que este entre em vibração. No caso da fala humana o vibrador são as cordas

vocais.

Na laringe, há dois ventrículos de Morgagni, um a direita e outro a esquerda unidos ao

centro pela tireoide, ou seja, o pomo-de-Adão.

Cada ventrículo compreende um espaço côncavo cuja as bordas são formadas tanto na

parte inferior quanto na superior por uma prega vocal.

Estas são fixadas por cartilagens na parte anterior do pomo-de-adão pela tireóide, e na

parte posterior por duas cartilagens: cricoide e aritenoide. Estas últimas estão fixadas na

aritenoide que serve de base para o deslocamento delas.

As cartilagens, para se movimentarem, são contraídas por músculos: crico-

aritenoideanos e crico-tireoidianos.

Os músculos crico-aritenoideanos por ordem do nervo recorrente que é cerebral fazem

com que as aritenoides deslizem sobre as cricoides, abrindo e fechando a glote para construir

os sons sonoros, pois quando separadas o som emitido é surdo.

Os músculos crico-tireoidianos distendem e contraem as cordas vocais. Quando

distendidos, formam os sons graves e quando tensos, os agudos.

Para haver a movimentação é necessária uma forma para deslocar uma forma para

deslocar as cordas vocais. Esta força é a corrente de ar expelida.

Segundo Martinet, as línguas do mundo podem ser classificadas em: línguas de

intensidades ou acento, línguas tonais e línguas de duração.

Dependendo de a emissão sonora ocorrer na inspiração os sons formados é chamado

criques e caracterizam muitas línguas africanas. As línguas caracterizadas pela produção

sonora na expiração são línguas como a língua portuguesa.

As línguas produzidas pela tensão/distensão das cordas vocálicas são designadas

línguas tonais e seus fonemas vocálicos são distintivos graves/agudos.

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As línguas formadas pela amplitude (distância entre a posição de repouso e a posição

das cordas vogais) são designadas línguas de intensidade ou de acento. A amplitude é causada

pela força com que se expelem a corrente de ar, de forma a produzir vogais acentuadas e

inacentuadas. O português é uma língua de acento.

As línguas formadas pelo número de vibrações das cordas vocais são designadas

línguas de duração cuja oposição é longa/breve. O latim era uma língua de duração.

O timbre das vogais depende do volume das três caixas de ressonância do aparelho

fonador, para produção do som. Essas caixas são: faringe, boca e fossas nasais.

São os movimentos da língua para frente e para trás que altera o tamanho das

cavidades faringenea e bucal. Tal variação de tamanho faz com que a faringe e a boca

desempenhem dos sons vindos da laringe.

A função dos filtros é ampliar determinadas frequências e abafar outras. É a esse

fenômeno que se dá o nome de ressonância.

Outro fator que, também, provoca alteração das caixas de ressonâncias são os

movimentos dos maxilares inferiores. Dependendo do grau de abertura entre o maxilar

superior e maxilar inferior serão produzidas as vogais abertas, fechadas e muito fechadas em

língua portuguesa.

A intensidade decorre da força do ato expiratório sobre as cordas vocais. Estas

determinam a amplitude que é a distância entre a posição de repouso das cordas vocais e a sua

posição de afastamento. Quanto maior for à intensidade, maior será a amplitude. Os sons em

relação a intensidade, podem ser acentuados ou inacentuados. E é esta qualidade acústica dos

sons vocálicos que caracterizam as línguas acentuadas, ou de ictos, como a língua portuguesa.

São quatro os graus de força com os quais são movimentadas as cordas vocais, para a

produção sonora do português brasileiro.

O grau 4 de intensidade é aquele que caracteriza as sílabas acentuadas,

tradicionalmente designadas pelos nossos gramáticos tradicionais sílabas tônicas.

Por exemplo: “lâmpada, amável, café”.

O grau 3 manifesta sílabas acentuadas não tônicas que ocorrem em circunstâncias

articulatórias que exige maior força para a expulsão da corrente de ar, como por exemplo:

sílabas terminadas em consoante, vogais nasais e encontros vocálicos.

O grau 2 corresponde a sílaba átona que é inacentuada. Por exemplos: “anel, beleza”.

O grau 1 corresponde à produção sonora das vogais reduzidas, que no Brasil

caracterizam dialetos no Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente. As vogais reduzidas [i,

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u] em posição átona de palavra, apoiando no início de palavra “s impuro” é encontros

consonantais próprios. Por exemplo:

- átonas finais de palavras: [kazª] - “casa”;

- apoiando em “s impuro”: – “está”;

- encontros consonantais impróprios: [ap¹ta] – “apta”.

3.3 Estrutura silábica do português

Segundo Silveira (2008), a língua portuguesa é definida por uma sílaba construída por:

central e marginais.

A central é lugar ocupado pelas vogais e é, na produção oral dessas, que ocorre o

acento. As marginais são iniciais quando antecedem a central e finais quando vem após a

vogal. Logo, a posição marginal define-se, em relação à central, pela produção sonora de

consoante.

A posição central é sempre ocupada por vogais, uma vez que elas são soantes, isto é,

soam sozinhas devido às suas sonoridades. As vogais são emitidas com a passagem de ar pela

boca sem nenhum impedimento. A língua pode-se movimentar para frente, para o centro e

para atrás, mas, sem tocar nenhum órgão, de forma a impedir a passagem de ar.

Todas as vogais são sonoras, sendo a sonoridade a principal característica de uma

soante, pois tem a passagem de ar livre pelo canal bucal. No caso das vogais reduzidas, tem se

a sonoridade diminuída e, por essa razão, muitos foneticistas a designam ensurdecidas. Sendo

assim, uma vogal reduzida não é acentuada.

A sonoridade é, pois, um efeito produzido pela altura, duração e intensidade,

modificado pelo timbre (grau de abertura do canal bucal).

Os sons vocálicos são orais ou nasais. Os sons orais podem ser abertos e fechados. São

abertos “a, é, ó”, por exemplo: “pá, pé, pó...”. São fechados os sons “â, ê, ô”, por exemplo:

“cano, medo, como”. São muito fechados os sons “i,u”, por exemplo “rico, mula”.

Os sons vocálicos nasais são sempre fechados, no português brasileiro. As vogais

nasais são: “ã, , , , ”, por exemplo: “lã, sem, sim, tom, tumba”.

Para Silveira, as vogais nasais sempre são acentuadas ainda que não seja a tônica das

palavras, pois a emissão de uma vogal nasal implica a passagem de ar por dois canais: a boca

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e as fossas nasais. Caso a vogal seja pronunciada com uma corrente de ar que caracterize a

vogal átona, sendo nasal essa vogal não seria audível.

As posições marginais da sílaba no português brasileiro são preenchidas pelas

consoantes. Uma consoante é caracterizada por ser emitida com um obstáculo formado no

canal bucal. Esse obstáculo pode ser de total fechamento, caracterizando as consoantes

oclusivas. Em português, as consoantes oclusivas são: “p, t, k; b, d, g”. Por exemplo: “pata,

tatá, cata; bata, data, gata”. As consoantes emitidas com a passagem de ar semi-obstruídos são

designadas construtivas. Dependendo de como a corrente de ar expelida ultrapassam o

obstáculo construído no canal bucal para atingir o meio ambiente, as consoantes construtivas

podem ser: fricativas, laterais e vibrantes.

As consoantes construtivas fricativas são emitidas com a expulsão da corrente de ar

passando entre os órgãos articuladores, produzindo uma fricção. São construtivas fricativas,

no português brasileiro, as seguintes consoantes: “f, s, ch; v, z, j”, como em: “faca, só, chá;

vaca, asa, haja”. As consoantes construtivas laterais são emitidas com a corrente de ar

passando pelos lados da obstrução causada pelo encontro dos órgãos articuladores. São

consoantes construtivas laterais: “l, lh”, como por exemplo: “lar, alho”. As consoantes

construtivas vibrantes são pronunciadas com a passagem de ar entre os órgãos articuladores e

podem ser simples e múltiplas. A construtiva vibrante simples tem a passagem de ar entre os

órgãos com um único toque da língua, como por exemplo: “aro”. As múltiplas são emitidas

com vários toques da língua, durante a passagem da corrente de ar, como por exemplo: “porta,

roda”.

Tanto as vogais quanto as consoantes podem formar encontros vocálicos e encontros

consonantais.

No caso das vogais, se o encontro vocálico é da mesma sílaba, têm-se: ditongo

crescente (semivogal + vogal), ditongo decrescente (vogal + semivogal) e tritongo (semivogal

+ vogal + semivogal). Exemplificando tem-se:

- ditongo crescente: “piada, água”;

- ditongo decrescente: “sai, seu”;

- tritongo: “Paraguai, saguão”.

Como os encontros vocálicos da mesma sílaba são emitidos com um único esforço

expiratório, segundo Silveira, eles são sempre acentuados ainda que não tônicos, como por

exemplo: “órgão, viagem [ey]”.

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Os encontros vocálicos de sílabas diferentes são designados hiatos, como por exemplo:

“sair, compreender”.

Os encontros consonantais podem ser da mesma sílaba e de sílabas diferentes.

Segundo Silveira, no histórico da gramática portuguesa, os encontros consonantais da mesma

sílaba foram designados encontros consonantais próprios; os de sílabas diferentes foram

designados impróprios e sílaba travada.

Os encontros consonantais próprios da mesma sílaba são emitidos sem o apoio

vocálico, pois a segunda consoante é construtiva e tem natureza soante. Tais encontros são

formados por: “p, t, q, b, d, g; f, v + l, r”, como por exemplo: “prato, plano; atrás, atlas; cravo,

clave; brindar, blindar; dragão, dlindon; grande, gladiador; frase, Flávia; livro, Vladimir”.

Os encontros consonantais impróprios, de sílabas diferentes, são emitidos com o apoio

de uma vogal, por exemplo: “apto [pit], advogado [div]”. Os encontros consonantais de sílaba

travada são emitidos com uma consoante na sílaba anterior e outra consoante na sílaba

posterior, como por exemplo: “por-ta, al-ma, mes-mo”.

Por haver marginais iniciais, em relação a uma central, seguida de marginais finais, é

possível de si visualizar uma escala de intensidade para sonoridade vocálica com o seu

respectivo acento.

O gráfico da escala de intensidade das marginais iniciais e uma central:

C

M3

M2

M1

O gráfico da escala de intensidade das marginais finais e uma central:

C

M1

M2

Os gráficos apresentados são relativos às sequencias das marginais em relação à

central. Sendo assim, há três elementos marginais antes da vogal; porém dois depois das

vogais. Nas marginais iniciais a marginal M1 e M2 são ocupadas pelas consoantes em

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encontros consonantais próprios, e a M3 pelas semivogais, como por exemplo, em uma sílaba

plena: “prior”. Nas marginais finais, ou ocorrem as semivogais ou ocorrem “l, r”, como por

exemplo: “pois, perspectiva, solstício”.

3.4 O acentema: a natureza fonológica do acento em língua portuguesa

A quantidade da sílaba é o tempo empregado para pronunciá-las, comparando-se o que

se gasta na pronúncia de uma e na da outra. O português tem a sua origem no latim. Esta é

uma língua de quantidade cuja as oposições fonológicas são realizadas a partir da pronúncia

longa/breve. Do latim vulgar ao português a quantidade passa a ser substituída pela

intensidade, ou seja, forte/fraco. O português é uma língua de intensidade, portanto, de acento.

Ribeiro (1956, p. 51) afirma que “a nossa língua não tem, como o latim clássico e o

grego uma prosódia bem determinada e fixa”. Por que a língua portuguesa não é tonal, nem de

quantidade, é de icto.

As línguas de acento são diferenciadas em acento fixo e acento livre.

As línguas de acento fixo sempre selecionam o mesmo lugar para o acento, como por

exemplo, o francês que seleciona a oxítona. As línguas de acento livre variam no número da

sílaba da palavra para selecionar o acento. No caso da língua portuguesa há, segundo Silveira

(2008), 4 posições silábicas para o acento, a saber:

- oxítona: quando o acento é selecionado para a última sílaba da palavra, como por exemplo:

“café, capaz, anzol”;

- paroxítona: quando o acento é selecionado para a penúltima sílaba, como por exemplo:

“casa, cela, milho, mola”;

- proparoxítona: quando o acento é selecionado para a antepenúltima sílaba, como por

exemplo: “lâmpada, médico, módulo”;

- quando o acento é selecionado para anteantepenúltima sílaba, como por exemplo: “cápsula,

técnica”.

Embora a língua portuguesa seja livre para a seleção do lugar do acento, há preferência

pela paroxítona, na maioria de suas palavras.

Por essa razão, a língua portuguesa é caracterizada como língua de acento quase livre.

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Para os fonólogos, os fonemas são unidades distintivas que têm a função opositiva e

contrastiva para a construção dos significantes dos signos.

A função opositiva decorre pela substituição de um fonema pelo outro na mesma

posição de um par de palavras, como por exemplo: “pá/pó”.

A função contrastiva decorre da mudança dos fonemas de uma posição para a outra no

significante de duas palavras, como por exemplo: “Argos/sogra; pata/tapa”. Função

contrastiva decorre das posições ocupadas pelos fonemas em sua sintaxe silábica. A língua

portuguesa é uma língua de acentema, isto é, uma língua que só tem um acento, portanto, não

é comutável por oposição. A sua função é constrativa, como por exemplo: “sábia, sabia,

sábia”.

Por ter função contrastiva, a sequência silábica pode ser apresentada por: sílaba

acentuada – sílaba inacentuada. Paul Garde (1965) designa “acentema” acento fonológico da

língua que tem função contrastiva. Esse acento está presente nas palavras do léxico. Logo,

todas as palavras lexicais têm um acento; as palavras gramaticais, ou seja, os gramemas não

são acentuados.

3.5 Os paradigmas vocálicos e o acentema

Desde que a língua portuguesa pode ser definida segundo Silveira (1986) pelo

contraste das sílabas acentuadas com as sílabas inacentuadas, esse contraste rege o número de

fonemas vocálicos do paradigma da sílaba acentuada em relação da sílaba inacentuado.

A autora define a sílaba como a menor unidade sintagmática de uma língua; por essa

razão, designa-a suma sintagmática.

Um paradigma é composto, fonologicamente, por fonemas e arquifonemas.

Os fonemas são unidades opositivas entre si.

Os fonemas vocálicos da língua portuguesa são:

- vogais orais, num total de sete fonemas:

- três fonemas anteriores: /i/ / ę/ ponto embaixo, por ex: /li/le/ - “li/lê/lé;

- um fonema central: /a/ - por ex: lá/lé; dá/dó - “lá, lé; dá,dó”;

-três fonemas posteriores: /u, ọ, Ǫ/, por ex: - /nu/no/ - “nu, no, nó”

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- vogais nasais, num total de 5 fonemas:

- dois fonemas nasais anteriores: / , , por exemplo: /sim, sem/ - “sim, sem”;

- um fonema nasal central /a/: por exemplo: /s /sã/ - “sem, sã”;

- dois fonemas nasais posteriores / /õ/, por exemplo: /t ba/tõba/ - “tumba, tomba”.

O total dos doze fonemas vocálicos apresentados acima forma o paradigma da central

silábica, em sílaba acentuada, ou seja, regida pelo acentema.

Quando em uma determinada posição silábica ocorre oposição fonológica, mas em

outra posição silábica essa posição deixa de existir, ocorre a neutralização fonológica. Que é

escrita com letra maiúscula. Havendo neutralização ocorre o arquifonema, ou seja, uma

unidade que faz o papel das oposições neutralizadas. No paradigma da sílaba inacentuada há

apenas 6 unidades fonológicas, a saber:

- orais: /a, I, U/, por exemplo: /mInínU/ - “menino”;

- nasais: /ã, , /, por exemplo: /mãta, teryor, tar/ - “manta, interior, untar”.

Confrontando o paradigma vocálico das sílabas acentuadas com os paradigmas das

sílabas inacentuadas, poder-se-ia apresentar o seguinte gráfico:

Sílaba acentuada Sílaba inacentuada

M M M C M M M M M C M M

a ------------------------------------------------------------------- a

ę -------------------------------------------------------------------

ę ------------------------------------------------------------------- I

i---------------------------------------------------------------------

Ọ --------------------------------------------------------------------

Ǫ ------------------------------------------------------------------ U

u--------------------------------------------------------------------

ã ------------------------------------------------------------------- ã

------------------------------------------------------------------

------------------------------------------------------------------

õ -------------------------------------------------------------------

------------------------------------------------------------------

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3.6 A formação de palavras por composição

Segundo Silveira (1994) os signos, em língua portuguesa, são diferenciados em

lexemas e gramemas.

Os lexemas são palavras construídas cujos significantes são construídos com uma

escala acentual. Esta tem por cume o acento tônico.

Os gramemas, de forma geral são átonos por serem termos de relação para estruturar

os lexemas na oração.

A autora comenta o texto das gramáticas tradicionais brasileiras. Segundo ela, nossos

gramáticos ignoram a importância do acento para caracterizar a língua portuguesa como

língua de icto. O acento é tratado na parte fonética para diferenciar oxítonas de paroxítonas e

proparoxítonas. Os gramáticos não referem a uma 4ª posição silábica acentuada, como por

exemplo: “técnico, cápsula”.

Segundo a autora a ausência da classificação do lugar do acento na 4ª sílaba, tem como

causa o critério escrito que rege a separação silábica em português.

Como foi indicado no capítulo 1, o encontro consonantal impróprio é separado

deixando uma consoante na linha anterior na linha posterior, como por exemplo:

“ap-

to”.

Porém, se o encontro consonantal impróprio ocorre no início da palavra,

ortograficamente falando, não pode ser separado, pois não se deixa uma única letra no final da

linha anterior para seguir as demais letras, na linha posterior. Nesse caso, nossos gramáticos

consideram o encontro consonantal impróprio como participante de uma única sílaba . Por

exemplo: “pneu” é considerado monossílabo.

Quando nossos gramáticos tratam do acento gráfico, este é apresentado no Capítulo

ortografia no item acentuação.

A autora comenta também que nossas gramáticas são construídas por partes: parte 1

Fonética ou Fonologia, parte 2 Morfologia e parte 3 Sintaxe.

Essa divisão por partes ocasionam problemas para o tratamento do acentema na

formação das palavras.

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Sendo assim, nossos gramáticos apresentam a derivação e a composição formação de

palavras, na parte Morfologia, sem tratar da função do acentema para diferenciar lexema de

gramema.

Segundo Silveira, as palavras formadas por composição são constituídas por 2 lexemas

ou mais. Sendo que cada lexema é reconhecido pelos falantes nativos da língua devido o

acento tônico.

Sendo assim, a título de exemplificação têm-se: “guarda-roupa, pára-brisa”.

Nesse sentido o critério se classificar as palavras compostas é a presença dos acentos

tônicos em cada lexema que produza a formação da palavra.

3.7 A derivação

A derivação é tratada, tradicionalmente, pelas gramáticas do uso padrão normativo

como a formação de uma palavra com o auxilio de afixos.

São afixos um conjunto de unidades que por não terem vida independente, ou seja, não

poderem ocorrer por si só em um texto, são unidas a uma palavra livre, ou seja, que pode

ocorrer em qualquer posição oracional, em um texto.

As palavras são classificadas pelos gramáticos tradicionais, pela sua formação afixal,

em palavras formadas por prefixação e palavras formadas por sufixação.

3.7.1 Derivação prefixal

Os prefixos de língua portuguesa têm origem latina e grega, como foi indicado no

capítulo 2.

Segundo Silveira, as palavras formadas por prefixação pode ocorrer mudança do lugar

do acento ou mantê-lo no mesmo lugar.

Nossos gramáticos não se referem a essa dupla acentuação acentual. Segundo a autora,

o acento é da palavra primitiva e a acentuação é a seleção feita para o lugar do acento na

palavra derivada.

Por exemplo, nos casos de:

- seleção do acento, mantendo o lugar do acentema, no lexema:

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“in + feliz” > “infeliz”;

- seleção do acento, modificando a acentuação do acentema, no lexema:

“meta + fora” > “metáfora”;

“hiper + bole” > “hipérbole”.

No caso da mudança do lugar do acento do lexema, o lugar selecionado para o

acentema no prefixo ocasiona a mudança do paradigma vocálico; assim sendo, e (ê) > (é); por

exemplo: “hiper + onimo > hiperônimo”; “hiper + bole > hipérbole”.

No caso de “hiperônimo”, não há abertura vocálica por que o lugar do acento se

mantém no lexema, formando uma palavra proparoxítona. Já, em “hipérbole” a formação da

proparoxítona é realizada no prefixo.

Todavia, na formação por derivação prefixal, muitas vezes, a seleção do acento é

constituída pela manutenção do acentema no lexema. Nesse caso, o mesmo prefixo pode ser

realizado de forma acentuada e de forma inacentuada.

Por exemplo, os prefixos “pré-, pós”:

- prefixo inacentuado e o fechamento do timbre vocálico: “preposição, posterior”;

- prefixo acentuado e a abertura do timbre vocálico: “pré-história, pós-tônico”.

Silveira, no caso dos prefixos serem acentuados, trata a formação da palavra por

composição, a vista cada uma das palavras manter o seu acentema.

A autora comenta que os morfemas “pré-, pós-” têm suas origens em palavras

adverbiais que são lexemas. Cada qual mantém seu conteúdo semântico, respectivamente:

<< anterioridade, posterioridade>>, para a marcação temporal.

Porém, no caso de ocorrer à perda semântica da noção temporal, as vogais são

fechadas, apresentando metafonia de timbre. Por exemplo: “preposição, pressuposto”;

“posterior, posterioridade”. Nesses casos, ocorre apenas um acento. Por ter um único acento

na palavra, Silveira classifica essa formação como derivação prefixal.

Para a autora os registros acústicos existentes demonstram que os sons da fala são

lineares e contínuos, mas que os usuários da língua portuguesa percebem-nos como

segmentos distintos que se sequenciam tanto na fala quanto na escrita. Segundo o pressuposto

de Silveira, uma parte significativa do saber que os falantes nativos têm da língua portuguesa

consiste no conhecimento do léxico e dos gramemas. O fato de não se separar, na fala oral, as

palavras por pausa não causa sérios problemas para o seu reconhecimento, pois o

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conhecimento da língua em que as palavras são pronunciadas possibilita que os ouvintes

segmentem o contínuo da expressão vocal, em hierarquias diferentes: sílabas, palavras,

sintagmas, períodos e textos.

Para a autora, as palavras pronunciadas/ouvidas têm propriedades acústicas que são

importantes para a memorização das mesmas, pelos falantes /ouvintes nativos da língua e são

essas propriedades que diferenciam, pela memorização, as palavras através de seus sinais

acústicos que atingem os ouvidos dos interlocutores. Estes reconhecem os traços fonológicos

e morfofonológicos, resgatando as palavras do contínuo sonoro.

Sendo assim, no caso de “preposição” os nativos reconhecem apenas uma unidade

lexical; mas, no caso de “pré-história”, são reconhecidas duas unidades lexicais, devido aos

dois acentos.

Quando as unidades da língua são juntadas num processo de formação de palavras,

ocorrem junturas externas e internas.

As junturas externas compreendem a sequência de duas unidades livres; por exemplo:

a derivação por composição.

As junturas internas são formas que ocorrem no interior de uma mesma palavra, como

por exemplo: o caso da prefixação e da composição em que ocorre apenas um acento; o caso

de flexões nominais e verbais, etc.

As junturas externas mantêm os acentos das unidades livres; as junturas internas

selecionam um lugar para ocorrer um único acento.

Logo, o que os nossos gramáticos tradicionais consideram derivação prefixal pode ser,

segundo Silveira tanto derivação quanto composição, dependendo das junturas serem internas

ou externas.

3.7.2 Derivação por sufixação

Segundo nossos gramáticos tradicionais, a derivação por sufixação é definida pela

sequência de um lexema mais um sufixo. Esses gramáticos apresentam uma lista dos sufixos

da língua portuguesa.

Segundo Silveira os elementos que compõem o conjunto das unidades classificadas

como sufixos pelos nossos gramáticos tradicionais como sufixos, nem sempre todos eles são

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sufixos, pois as junturas ocorridas na formação das palavras ora são junturas externas, ora

junturas internas.

Dentre os diferentes sufixos elencados pelos nossos gramáticos tradicionais o grau,

“-inho, -zinho, -ão” e os demais classificados como diminutivos e aumentativos formam

palavras por juntura externa; o mesmo ocorre com “-mente” que também forma juntura

externa.

Segundo a autora, os estudos fonológicos do acento podem ser realizados sobre

prismas diferentes, entre eles:

- a descrição do acento no sistema linguístico, com a preocupação voltada para a organização

hierárquica das unidades fonológicas, como produto pronto cuja arquitetura se quer desvelar;

o sistema é descrito fora de seu efetivo uso compreendendo unidades fonológicas,

morfológicas e frasais e as suas regras combinatórias para formarem sílabas, palavras, orações

e período;

- a preocupação voltada para o uso efetivo da língua, realizado por falantes/ouvintes

conhecedores da língua; nesse caso, os processos de produção são tratados no uso efetivo por

falantes reais, que reconhecem as unidades que compõem o contínuo sonoro da pronúncia.

No caso da derivação sufixal, a regra sistêmica no processo de formação da palavra é

selecionar o lugar do acento no sufixo, de forma a manter uma única acentuação na palavra.

Essa regra é a mais geral aplicada no uso do português brasileiro. Assim, por exemplo:

“casamento, beleza, sinceridade, alegria, etc.”.

Silveira, ao tratar das palavras formadas com unidades que contém semas de

diminuição e aumento e das palavras formadas por “-mente”, apresenta uma discussão a

respeito do lugar do acento.

Segundo a autora, quando o acento é selecionado para o sufixo, ocorre um único

acento e a palavra formada é por juntura interna.

Por exemplo:

- base: “pé”;

- forma derivada por sufixação juntura interna um único acento: “pedestal”

Ao se selecionar o lugar do acento no sufixo, ocorre o fechamento da vogal aberta da

base primitiva da palavra porque essa tornou-se inacentuada.

O mesmo ocorre, por exemplo, com a vogal [ó]

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- base: “pó”;

- forma derivada por sufixação juntura interna um único acento.

- por exemplo: “pó”, “poeira”.

Todavia, no caso das unidades, que constituem o grau de “-mente”, na formação da

palavra a vogal “é e ó” não fecham mantendo-se abertas e acentuadas. Dessa forma, ocorrem

dois acentos dando autonomia morfológica para cada um dos elementos sequenciados.

Segundo Silveira, trata-se, de uma juntura externa.

Por exemplo:

- base: “pó”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa mantendo o grau de abertura vocálica.

- por exemplo: “pozinho”.

No caso de “é”, por exemplo:

- base: “pé”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa.

- por exemplo: “pezinho, cafezinho”.

O mesmo ocorre com os aumentativos:

- base: “pé”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa mantendo o grau de abertura vocálica.

- por exemplo: “pezão, cafezão”.

O mesmo ocorre com as formas compostas “-mente”.

Por exemplo:

- base: “certo”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa mantendo o grau de abertura vocálica.

- por exemplo: “certamente”.

A vogal aberta “o” acentuada na base primitiva mantém-se acentuada na formação

com “-mente”.

Por exemplo:

- base: “só”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa mantendo o grau de abertura vocálica.

- por exemplo: “somente”.

3.8 O sufixo grego “-ico”

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Segundo Silveira, “-icós”, veio pelo latim “-ico”, tornando-se segundo Aurélio um

sufixo átono que forma substantivo e adjetivo erudito e pelo que se pode verificar assim o é

reconhecido pelos usuários nativos do português brasileiro.

Sendo assim, eles selecionam o lugar do acento no lexema. E é reconhecido por conter

a definição <<participação, referência, relação>>.

Por exemplo: “quimérico, sulfúrico, fosfórico”. O sufixo “-ico” não pode ser

confundido com o sufixo “ico” de origem latina, que contem a definição <diminuição>.

Por exemplo: “burrico, ebânico”.

Silveira observa que as variáveis de “-ico” são “-ulo” e “-culo”. Com essas variáveis a

seleção do acento da palavra formada é no lexema.

Por exemplo:

- “ulo” – “rótula, nótula, radícula”.

Porém, quando essas unidades ao formar palavras constroem um número maior que

três sílabas, seleciona o lugar do acento para a última sílaba do lexema.

Por exemplo:

- “-culo” – “homúnculo, corpúsculo”.

Como o acento da base lexema mudou seu lugar, ocorre um único acento sendo

juntura interna e forma derivada por sufixação.

3.9 Para finalizar: considerações sobre a formação de palavras por composição e

derivação.

Durante o estruturalismo e o gerativismo a língua foi estudada fora de seu uso efetivo.

As descrições realizadas trataram, respectivamente, de um sistema abstrato e da gramática da

competência de um falante ideal. Com o paradigma do pragmatismo, a atenção dos estudiosos

voltou-se para o uso efetivo da língua.

Nesse último momento, tem-se verificado que uma língua é dinâmica e que embora

seja classificada a partir de regras sistêmicas abstratas, estas não dão conta de explicar os

processos que ocorrem no uso efetivo de uma língua pelos seus falantes/ouvintes nativos.

Segundo Silveira a língua portuguesa é uma língua de acentema e este ocorre em um

determinado lugar da palavra. Por essa razão, não há vocábulos com dois acentos.

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Quando se descrevem a língua fora de seu uso efetivo as unidades vocabulares são

segmentadas e os elementos que a formam passam a serem chamados de afixos quando não

tem autonomia fora da palavra já formada. Sendo assim, nossos gramáticos tradicionais a

partir de diferentes segmentações construíram listas de afixos, diferenciados, em prefixos e

sufixos sem considerarem que as formas gramaticais são inacentuadas. Por essa razão,

incluíram formas acentuadas com as quais as regras de junção são diferentes.

A partir do uso efetivo, com fundamentos fonético-fonológicos e fono-morfológicos,

Silveira definem a composição como a sequência de unidades linguísticas que formam uma

palavra mantendo cada qual o seu acento primitivo.

A autora define a derivação como a junção de elementos linguísticos que mantém um

único acento, sendo que esse pode ser mantido no lexema ou ser selecionado para o gramema.

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CAPÍTULO IV

UM EXAME DAS REGRAS ORTOGRÁFICAS PARA O USO DO HÍFEN, SEGUNDO

O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990

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CAPÍTULO IV

UM EXAME DAS REGRAS ORTOGRÁFICAS PARA O USO DO HÍFEN, SEGUNDO

O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990

Este capítulo apresenta os resultados obtidos das análises realizadas com as regras

estabelecidas pelo Acordo Ortográfico de 1990. Esses resultados foram orientados por um

conjunto de questões, a saber:

1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

3. Se a língua portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, como os

falantes nativos reconhecem prefixos e sufixos acentuados e inacentuados?

4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são tratados

pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

4.1 Apresentação

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi formulado entre 1986/1990 e foi

aprovado pelas nações lusófonas que compõem a Comunidade dos Países de Língua

Portuguesa (CPLP).

Desde 2009, as regras ortográficas propostas pelo referido Acordo, passaram a ser

válidas no Brasil. Muito se discutiu a cerca da pertinência dessas novas regras, das condições

de adaptabilidade às diretrizes do novo acordo, dos aspectos positivos e negativos etc.

De toda essa discussão, contudo, ocorreu apenas um consenso: em 2012, foi encerrado

o período de adaptação do novo acordo e as mudanças previstas, passaram a ser oficiais,

passando a ser obrigatórias, gostando ou não todos os países lusófonos tiveram que se adaptar.

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As regras do Acordo Ortográfico de 1990 são relativas a cinco tópicos: alfabeto, letras

maiúsculas e minúsculas, acentos, hífen e terminações. Os dois itens que mais geram dúvidas

são: o hífen e os acentos.

Esta dissertação está delimitada ao uso do hífen, para grafar ortograficamente, a

formação de palavras, tradicionalmente, tratadas por derivação e composição. A sequência

das regras apresentadas nas análises decorre da classificação utilizada pelos gramáticos

tradicionais da língua portuguesa derivação e composição.

No caso da derivação, as regras são sequenciadas dependendo da juntura que ocorrer

com prefixos e sufixos.

4.2 Resultados obtidos do exame realizado com as regras de uso do hífen, segundo o

Acordo Ortográfico de 1990

O Acordo Ortográfico de 1990 apresenta as seguintes regras de uso do hífen,

desacompanhadas de quaisquer explicações morfofonológicas.

A) Regras para a derivação prefixal:

4.2.1 Regra I – usa-se o hífen em palavras formadas por prefixação, em que o prefixo termina

por vogal e a palavra seguinte inicia-se por vogal igual (vogal I + vogal I).

Por exemplo: “alfa-aglutinação, extra-abdominal, intra-auricular, supra-atmosférico,

supra-auricular, beta-amilase, infra-axilar, infra-acústico, intra-amniótico, contra-atacado,

mega-ação, infra-assinado, contra-avisar, contra-abertura, contra-almirante, contra-anunciar,

contra-assinado, contra-apelação, infra-atômico, extra-axial, ante-estreia, entre-eixo, sobre-

elevado, sobre-erguer, sobre-estimar, sobre-existir, sobre-exposição, arqui-irmandade, anti-

ibérico, anti-ictérico, anti-individualista, anti-infeccioso, bi-ilíaco, anti-inflacionário, anti-

inflamatório, anti-intelectual, arqui-inimigo, anti-imperealista, di-iodado, di-iodeto, poli-

isopreno, auto-observação, auto-ônibus, auto-organização, auto-oxidação, isso-osmótico,

micro-ondas, micro-ondulação, micro-ônibus, eletro-óptico, neo-ortodoxo, proto-orgânico,

proto-organismo, hidro-oligocitemia, pseudo-occipital, homo-ousiano, retro-ocular”.

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Resultados das análises:

4.2.2.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

O hífen é usado para manter a autonomia dos elementos que formam a palavra.

4.2.2.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

Segundo a regra ortográfica, na derivação por prefixação, usa-se o hífen para separar o

prefixo do lexema, quando o prefixo termina com a mesma vogal com a qual se inicia o

lexema. Sendo assim, o critério é fonético, pois os falantes nativos de Língua Portuguesa dão

preferência para a pronúncia craseada de vogais idênticas, como por exemplo:– [ka:tĩga] -

“caatinga”. A realização dessa crase resulta na quantidade alongada da vogal [a:]. Sendo

assim, usa-se o hífen para garantir a pronúncia das vogais idênticas sequenciadas.

Segundo o Acordo Ortográfico, essa regra apresenta exceções: não se separam por

hífen palavras que, apesar de terem vogais iguais, iniciam-se pelos prefixos átonos “CO-,

PRE-, PRO- e RE-”. Por exemplo: coobrigação, coorganização, coorientador, preexistente,

preelaborar, preestabelecido, reescrever, reedição, reerguer, reestabelecer.

Porém, segundo o Acordo Ortográfico de 1990, nas formações de palavras em que o

prefixo “PRE-“ for tônico, ele deve ser grafado com acento e separado por hífen: “pré-estreia,

pré-lançamento etc.”.

É interessante observar que a regra número I e as suas exceções apresentadas situam

apenas a forma acentuada, sem se referir às causas dessa acentuação.

4.2.2.3. Se a Língua Portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, que relação

há entre os prefixos acentuados e inacentuados?

Embora o Acordo Ortográfico de 1990 não diferencie semanticamente as tradicionais

formas designadas prefixos por serem acentuadas e inacentuadas, tendo por base o acentema,

entende se que o prefixo acentuado em verdade é um lexema. Nesse caso, segundo a proposta

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de Silveira (1994) a manutenção de dois acentos em duas expressões linguísticas é causada

pela presença de dois lexemas e, nesse caso, trata-se de uma composição morfofonológica.

Como o referido Acordo não segue um critério morfofonológico, há referência apenas

à sequência de vogais idênticas para o final da forma inicial e início da segunda forma.

Sendo assim, foi necessário apresentar exceções à regra I.

4.2.2.4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

O caso tratado na regra I é relativo às “formas derivadas por prefixação”. Mas, de

forma geral, a regra do acentema para identificar o lexema, no sistema da língua portuguesa

não foi considerada pelos membros da comissão que elaborou o referido Acordo de 90.

O critério enunciado por eles é relativo à sintaxe de vogais idênticas.

4.2.2.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só nos enunciados?

Segundo Celso Cunha (1972), os prefixos da língua portuguesa são mais

independentes que os sufixos, pois se originam, em geral, de advérbios ou de preposições que

têm ou tiveram vida autônoma na língua. Para o autor, a rigor, pode-se até diferenciar entre os

elementos classificados, gramaticalmente, como prefixos os que são meras partículas, sem

existência própria no idioma (como “dis-” em “dispor”, “re-” em “reter”), daqueles que

costumam funcionar também como palavras independentes (assim: “contra-” em “contrapor”,

“entre-” em “entreter”). No primeiro caso haveria derivação; no segundo, seria justo falar-se

em composição.

Nesse sentido, desde que se considere o critério do acentema para a língua portuguesa,

o uso do hífen, para separar as palavras tradicionalmente designadas “derivação prefixal”

haveria uma reelaborarão da regra enunciada. Assim, por exemplo, no caso de “pre-, pré-”:

não se usa o hífen quando a forma “pre-” for inacentuada e a vogal for emitida com o

fechamento vocálico (ę > ). Usa-se o hífen quando há a manutenção do acento e abertura

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vocálica, pois a forma “pré-” é um lexema com o conteúdo semântico de <<anterioridade no

tempo>>.

Logo, enunciar a regra I, tendo apenas como causa a sequência de vogais idênticas

para o final da forma I e a inicial da forma II não é causa suficiente para elaborar a regra I,

gerando um conjunto de exceções.

4.2.2 Regra II – Usa-se o hífen em palavras formadas por prefixação com os seguintes

prefixos. “ad-, ab-, bem-, além-, aquém-, recém-, sem-, ex-, sota-, soto-, vice-, vizo-, pós-,

pré-, pró-, grã-, grão-, pan-, circum-, mal-, má-, sub- e sob-”.

Os “prefixos” enunciados na regra II, embora nem sempre autônomos, contêm área

semântica. A titulo de exemplificação são as palavras que apresentam as seguintes formações:

“ab- -reativo, além-mar, ab-rogar, aquém-mar, ad-digital, bem-acondicionado, ad-

referendar, bem- -aventurado, ad-renal, bem-criado, além-Atlântico, bem-cuidado, além-

fronteira, bem- -disposto, bem-estar, grão-cruz, bem-nascido, grão-ducal, bem-passado,

grão-mestre, bem-vindo, grão-rabino, bem-visto, má-educação, circum-adjacência, má-fé,

circum-escolar, má- -formação, circum-murado, mal-acostumado, circum-navegação, mal-

afortunado, circum-murar, mal-amado, ex-almirante, mal-assado, ex-diretor, mal-assombrado,

ex-hospedeira, mal-entendido, ex-marido, mal-estar, ex-presidente, mal-humorado, ex-

primeiro-ministro, mal-limpo, grã-duque, ob-rogar, grã-fina, pan-africano, pan-americano,

pré-natal, pan- -mágico, pré-socrático, pan-negritude, pré-vestibular, pós-doutorado,

pró-africano, pós-exílio, pró-europeu, pós-graduação, pró-hominídeo, pós-menopausa, recém-

casado, pós-moderno, recém-nascido, pós-morte, sem-terra, pós-parto, sem-teto, pós-tônico,

sem-vergonha, pré- -adolescência, sob-roda, pré-atômico, sota-almirante, pré-avisar, sota-

ministro, pré-candidato, pré-cabralino, sota-piloto, soto-mestre, pré-escolar, soto-pôr, soto-

posto, sub-reinar, soto- -soberania, vice-prefeito, sub-base, vice-presidente, sub-

brigadeiro, vice-reino, sub-ramal, vice-reitor, sub-região, vice-secretário, vizo-rei”.

Todavia, são enunciadas 5 exceções:

a) com os prefixos “ab-, ad- e ob-”, o hífen mantém-se apenas diante de palavras iniciadas por

“B, D ou R”, já que nos demais casos ele desaparece (abceder, ammaterializar, adnominar,

adgeração, obcomprimido, obpiramida);

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b) com o prefixo “mal-“, o hífen mantém-se apenas diante de palavras iniciadas por VOGAL,

“H ou L”, e nos demais casos ele desaparece (malcriado, malnascido, malfalante, malfeito,

maldisposto);

c) com os prefixos sub- e sob-, o hífen mantém-se apenas diante de palavras iniciadas por “R

e B” também desaparecendo nos demais casos (sobpesar, subcapítulo, subcutícula,

subdelegar, subtropical);

d) com os prefixos circum- e pan-, o hífen mantém-se apenas diante de palavras iniciadas por

VOGAL, “M ou N”, e, nos demais casos, ele desaparece (panfrancesismo, pancontinental,

pansemítico, pantropical, circumpacífico, cirumpolar, circuncentral, curcunlocução,

circunvizinhar);

e) com o prefixo “bem-”, o hífen desaparece somente se o segundo elemento for derivado dos

verbos “fazer ou querer” (benfazejo, benfeito, benfeitor, benfeitoria, benquerença, benquisto,

benquerer).

Resultados das análises:

4.2.2.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

O hífen é usado para manter a autonomia semântica dos elementos que formam a

palavra nova, seja quando o elemento tradicionalmente designado, pelos gramáticos

tradicionais, “prefixo”, tenha vida autônoma podendo ocorrer fora da junção, como por

exemplo: “bem, mal”, seja quando não, sendo formas presas, como por exemplo: “ad-, ab-”.

Embora os prefixos enunciados, na maioria das vezes tenham autonomia semântica, as

formas derivadas por eles, por vezes apresentam exceções.

4.2.2.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

Conforme o Acordo Ortográfico de 90, esta regra é enunciada com a exposição de 24

prefixos, sem apresentar exceções. Todavia, não são enunciadas as causas que geram o uso do

hífen. Se o critério semântico fosse enunciado este poderia dar conta tanto dos “prefixos” que

são formas presas quanto os de formas livres.

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Por não haver critério enunciado, ocorrem as exceções apresentadas:

a) os prefixos “ab-, ad-, ob-” não apresentam autonomia semântica e não são formas livres,

por essa razão, o hífen não é usado na formação da palavra; por exemplo: “malcriado,

malnascido, malfeito”. Porém, o hífen é usado diante de palavras iniciadas por “b, d ou r”.

Nesse caso, há dois critérios: o ortográfico para grafação de consoantes e o fonético para a

pronúncia de encontros consonantais próprios da mesma sílaba.

No caso do critério ortográfico: não se grafam consoantes geminadas. Sendo assim, o

uso do hífen se faz necessário para separar as consoantes idênticas, porém grafa-se com “lh”,

o som de [ ];

b) o mesmo ocorre com os prefixos “sub-, sob-” que por não terem autonomia semântica e

serem formas presas, não se usa o hífen. Porém, quando antecedem palavras iniciadas por “r,

b” usa-se o hífen. Os critérios utilizados são fonéticos, pois:

- “sub + r”, grafa um encontro consonantal próprio “bre-” em marginais iniciais de sílaba,

ocasionando que se reconheça na formação da palavra a juntura de um prefixo; no que se

refere ao critério semântico, usa-se o hífen para indicar que a forma “sub, sob” tem autonomia

semântica e que a consoante do prefixo precisa ser pronunciada para o reconhecimento dessa

unidade.

c) o mesmo ocorre com os prefixos “circum, pan”, por não terem autonomia fonética inserem

formas presas e não se usa o hífen. Mas pelo critério ortográfico esses dois prefixos são

separados por hífen se a palavra que segue é iniciada por “m, n” evitando assim sequencias

consonantais não existentes na língua portuguesa.

Conforme o critério fonético, usa-se o hífen quando os prefixos “circum, pan” forem

iniciados por palavras que começam por vogais, evitando a pronúncia de uma única sílaba.

d) não seja forma presa, se estiver antecedendo palavras derivadas do verbo “fazer ou querer”,

como por exemplo: “benfazejo, benfeito, benfeitor, benfeitoria, benquerença, benquisto, bem-

querer”.

Não se justifica o uso do hífen como está enunciado na regra II.

4.2.2.3. Se a Língua Portuguesa é de acento, ou seja, de intensidade, que relação há entre

prefixos acentuados e inacentuados?

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Os tradicionalmente designados “prefixos”, quando acentuados mantêm a sua

autonomia semântica e a rigor são lexemas. Por isso, essas formas são grafadas com o uso do

hífen, devido à juntura externa. Aqueles que são inacentuados são gramemas e juntam-se a

um lexema, por juntura interna, por isso dispensam o uso do hífen.

4.2.2.4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

As formas derivadas por prefixação, o lugar selecionado para o acento é o lexema,

pois a palavra formada será regida apenas um acento, como por exemplo: “subcapítulo,

subdelegado”.

No caso da palavra ser formada por duas unidades que têm autonomia semântica,

ocorre tanto acento no lexema, quanto na unidade tradicionalmente designada prefixo.

4.2.2.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

Segundo o uso efetivo da língua, há prefixos acentuados, pois eles são reconhecidos

pelos nativos como lexemas; assim sendo usa-se o hífen. Porém, há prefixos inacentuados por

terem perdido a sua autonomia semântica; nesse caso não se usa o hífen, a não ser para evitar

problemas ortográficos/fonéticos.

4.2.3 Regra III – Não se usa o hífen em palavras formadas por prefixação, em que o prefixo

termina por vogal e a palavra seguinte inicia-se por vogal diferente (VOGAL 1 + VOGAL 2).

Por exemplo: “agroecologia, agroindústria, agroecossistema, antiadministrativo,

agroexportador, antiagrícola, antialcoólico, autoanálise, antialérgico, autoaprendizado,

antiamarílico, autoaprendizagem, antiamericanismo, autoeducação, antiárabe, autoescola,

antiarte, autoestima, antiatômico, autoestrada, antieconômico, autoimune, antiescolar,

autoindução, antiescolástico, autoinoculação, antievolucionista, autointoxicação,

antioligarquia, coactante, antioxidante, autoacusação, coadaptação, coacusado, antioxidante,

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autoadesivo, coadaptar, autoadministração, coadquirir, autoafirmar, coadunar, autoajuda,

coagente, coatar, extraestatal, coautor, extraestatuário, coautoria, extrorbital, contraescritura,

extraorgânico, contraexpionar, extraorgânico, contraespionar, extraurbano, contraestímulo,

hidroaéreo, contraexemplo, hidroaeroplano, contraexpor, hidroagrícola, contraextensão,

contraindicado, infraescavação, contrainquérito, infraestrurura, contrainvertido, infraocular,

contraoferta, infraordem, extraescolar, intraocular, intraoral, pluriocular, plurienal,

pluriovular, pluriestratificação, semiárido”.

Exceção: usa-se o hífen em sequências vocálicas diferentes:

a) como visto anteriormente, nos adjetivos pátrios compostos deve-se manter o hífen (afro-

brasileiro, grego-romano, sino-brasileiro, austro-húngaro, luso-brasileiro, sul-rio-brasileiro,

austro-húngaro, luso-brasileiro, sul-rio-grandense etc), o que não ocorre quando tais

elementos formarem outros tipos de adjetivos compostos (anglofalante, lusófono, francofonia,

germanofilia etc);

b) Usa-se o hífen com prefixos terminados em vogal e lexemas iniciados por “H”. Como em:

“anti-herói, ante-horário; extra-hospitalar, extra-hepático, contra-haste, geo-hidrografia, mel-

horizontino, pan-hispânico; semi-humano, semi-histórico; sub-humano, sub-horizontal; super-

habilidade; ultra-honesto, ultra-humano.; pré-helênico, pré-histórico”.

Resultados das análises:

4.2.3.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

O hífen é usado para manter a autonomia semântica dos elementos que formam a

palavra ou para grafar o prefixo como forma livre. Sendo assim, ambos os elementos

sequenciados são acentuados, por serem reconhecidos como lexemas.

4.2.3.2. Quando o uso do hífen não se faz necessário?

Segundo o Acordo Ortográfico de 90, a sequência de vogais diferentes para encadear o

final da primeira palavra e o início da segunda dispensam o uso do hífen.

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103

Por exemplo: “agroecologia, agroindústria, agroecossistema, antiadministrativo,

agroexportador, antiagrícola, antialcoólico, autoanálise, antialérgico, autoaprendizado,

antiamarílico, autoaprendizagem, antiamericanismo, autoeducação, antiárabe, autoescola,

antiarte, autoestima, antiatômico, autoestrada, antieconômico, autoimune, antiescolar,

autoindução, antiescolástico, autoinoculação, antievolucionista, autointoxicação,

antioligarquia, coactante, antioxidante, autoacusação, coadaptação, coacusado, antioxidante,

autoadesivo, coadaptar, autoadministração, coadquirir, autoafirmar, coadunar, autoajuda,

coagente, coatar, extraestatal, coautor, extraestatuário, coautoria, extrorbital, contraescritura,

extraorgânico, contraexpionar, extraorgânico, contraespionar, extraurbano, contraestímulo,

hidroaéreo, contraexemplo, hidroaeroplano, contraexpor, hidroagrícola, contraextensão,

contraindicado, infraescavação, contrainquérito, infraestrurura, contrainvertido, infraocular,

contraoferta, infraordem, extraescolar, intraocular, intraoral, pluriocular, plurienal,

pluriovular, pluriestratificação, semiárido”.

Como se pode verificar segundo a regra II não foi construído com o critério semântico

e apenas o critério ortográfico e fonético.

Porém, no que se refere às exceções apresentadas para a regra II, é interessante

observar que usa-se o hífen em sequências vocálicas diferentes:

a) como visto anteriormente, nos adjetivos pátrios compostos, como por exemplo: “afro-

brasileiro, grego-romano, sino-brasileiro, austro-húngaro, luso-brasileiro, sul-rio-brasileiro,

austro-húngaro, luso-brasileiro, sul-rio-grandense etc”. A enunciação dessa exceção segue um

morfológico, pois trata de adjetivos pátrios;

b) usa-se o hífen com prefixos terminados em vogal e lexemas iniciados por “H”. como em:

“anti-herói, ante-horário; extra-hospitalar, extra-hepático, contra-haste, geo-hidrografia, mel-

-horizontino, pan-hispânico; semi-humano, semi-histórico; sub-humano, sub-horizontal;

super-habilidade; ultra-honesto, ultra-humano; pré-helênico, pré-histórico”. O critério

utilizado para essa exceção é ortográfico, pois o uso da letra “h”, ortograficamente, grafa as

iniciais de palavras gregas, em língua portuguesa. E com a junção do prefixo e da palavra

ocorria o “h” na posição medial da palavra escrita.

4.2.3.3. Se a língua portuguesa é de acento, ou seja, de intensidade que relação há entre os

prefixos acentuados e inacentuados?

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Os prefixos acentuados mantêm a autonomia semântica e os prefixos inacentuados

perdem essa autonomia, gramaticalizando-se em gramemas. É interessante observar que a

regra construída para o não uso do hífen não considerou as autonomias semânticas como em:

“agroecologia, agroindústria, autoanálise e autoaprendizagem, contrainvertido, contraincisão;

hidroaviação e hidrocefalia” entre outros casos. Porém, considerou o uso do hífen para os

adjetivos pátrios por terem autonomia semântica e serem acentuados. Além disso, foi

considerado para o uso do hífen um critério ortográfico, para evitar a sequência gráfica de

vogal + “H”, em sílaba medial da palavra formada.

4.2.3.4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

A regra ortográfica III não é enunciada, de forma a considerar o lugar do acento no

lexema.

A enunciação dessa regra apresenta oscilação de critérios, pois ora considera-se o uso

do hífen por se tratar de duas formas lexicais e ora o uso do hífen é ortográfico para evitar

sequencias de letras não aceitas na ortografia portuguesa.

4.2.3.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

A causa dessa variação decorre de um critério sintático utilizado nas gramáticas

tradicionais brasileiras, após NGB. Sendo assim, qualquer elemento que se junta a uma

designação lexical é considerado afixo, sem se diferenciar quando eles são formas presas e

quando são formas livres. Não há para o uso do hífen o critério acentual, como critério único.

Sendo assim, muitos desses afixos são lexemas e não gramemas.

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4.2.4 Regra IV – Não se usa o hífen nas palavras formadas por prefixação, em que o prefixo

termina por vogal e a palavra seguinte inicia-se por consoante “R ou S”, elas devem ser

dobradas (VOGAL + CONSOANTE).

Por exemplo: “afrodescedente, antirregulamentar, anticlerical, antirreligioso,

antirrábico, antirrepublicano, antirracional, antirrevolucionário, antirracista, antirroubo,

antirradiação, antirrugas, antirreal, antirruído, antirreflexo, antissemita, antirreforma,

antisséptico, antirregional, antissocial, arquimilionário, contrassugestão, autorradiografia,

contraveneno, autorreflexão, copiloto, autorregulação, cossegurar, autorretrato, cosseno,

autosserviço, eletrorradiologia, autossubstência, eletrosseção, autossuficiência,

extrajudiciário, autossugestão, extramuros, autossustentável, extrarregular, biorritmo,

extrasseco, contrapeso, extrassensível, Contrarreforma, extrassolar, contrarregra, infrassom,

contrarroda, justafluvial, contrassenha, metatexto, contrassenso, microcirurgia, microssaia,

suprarreal, microssegundo, suprassumo, microssocial, ultrarracional, minissubmarino,

ultrarraro, neoliberal, ultrarrealista, neorrepublicano, ultrarrevolucionário, protomártir,

ultrarromântico, protorreligião, ultrarroxo, protorromance, ultrassecular, protossatélite,

ultrassensível, semirreta, ultrassonografia, semisselvagem, ultrassono, supracitado,

ultrarrápido”.

Esta regra apresenta exceções:

a) nos adjetivos pátrios compostos deve-se manter o hífen, por exemplo: afro-brasileiro,

greco-romano, sino-brasileiro, autro-húgaro, luso-brasileiro, sul-rio-grandense etc., o que não

ocorre quando tais elementos formarem outros tipos de adjetivos compostos: aglofalante,

lusófono, francofonia, germanofilia etc;

b) mantêm-se o hífen, quando o segundo elemento inicia-se por “h”, como por exemplo: “pré-

história, semi-hospitalar, geo-história, sub-hepático, anti-higiênico, contra-harmônico, extra-

humano, super-homem, ultra-hiperbólico, neo-helênico, pan-helenismo, anti-herói, anti-

hemorrágico, anti-histórico, anti-horário, anti-humano, contra-haste, extra-hepático, extra-

hospitalar, geo-hidrografia, neo-horizontino, pan-hispânico, semi-homem, semi-humano,

semi-histórico, sub-humano, sub-horizontal, super-habilidade, ultra-honesto, ultra-humano,

pré-helênico, pré-histórico”;

c) não se usa o hífen com os prefixos “co-, re-”, quando a palavra seguinte começa por “h”.

nesse caso, o prefixo é sequenciado à segunda palavra, apagando-se a letra “h”, como por

exemplo: “coabitar, coerdeiro, reaver etc.”.

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106

Resultados das análises:

4.2.4.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

A regra IV foi estabelecida para o não uso do hífen, visto que a sequência vogal +

consoante é aceita em língua portuguesa. Os casos tratados nessa regra são relativos à

sequência vogal + consoante em sílabas diferentes e para preservar essa autonomia silábica,

no caso das consoantes “r, s” as letras são dobradas para evitar que a sequência vogal +

consoante seja integrada em uma única sílaba. Sendo assim, embora no enunciado, o critério

que orienta essa regra é fonético.

4.2.4.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

A regra IV é relativa ao não uso do hífen. Como por exemplo: “afrodescedente,

antirregulamentar, anticlerical, antirreligioso, antirrábico, antirrepublicano, antirracional,

antirrevolucionário, antirracista, antirroubo, antirradiação, antirrugas, antirreal, antirruído,

antirreflexo, antissemita, antirreforma, antisséptico, antirregional, antissocial, arquimilionário,

contrassugestão, autorradiografia, contraveneno, autorreflexão, copiloto, autorregulação,

cossegurar, autorretrato, cosseno, autosserviço, eletrorradiologia, autossubstência,

eletrosseção, autossuficiência, extrajudiciário, autossugestão, extramuros, autossustentável,

extrarregular, biorritmo, extrasseco, contrapeso, extrassensível, Contrarreforma, extrassolar,

contrarregra, infrassom, contrarroda, justafluvial, contrassenha, metatexto, contrassenso,

microcirurgia, microssaia, suprarreal, microssegundo, suprassumo, microssocial,

ultrarracional, minissubmarino, ultrarraro, neoliberal, ultrarrealista, neorrepublicano,

ultrarrevolucionário, protomártir, ultrarromântico, protorreligião, ultrarroxo, protorromance,

ultrassecular, protossatélite, ultrassensível, semirreta, ultrassonografia, semisselvagem,

ultrassono, supracitado, ultrarrápido”.

No que se refere às exceções apresentadas:

- usa-se o hífen quando o primeiro elemento mantém autonomia semântica e o segundo

elemento inicia-se com a letra “h”. Nesse caso, o critério utilizado é ortográfico e semântico.

Segundo o critério ortográfico a letra “h”, por grafar palavras de origem grega, só é usada na

inicial de palavra; caso contrário em dígrafos: “lh, nh”. No que se refere ao critério semântico,

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107

o uso do hífen decorre do elemento anterior ter conteúdo semântico e ser acentuado por essa

razão.

- no caso dos prefixos latinos “co-” e “re-” há autonomia semântica, porém são

monossilábicos e ao se aglutinarem a um lexema ocorre a perda da acentuação tornando-se

átonos. E não podendo ser grafados separados do lexema. Sendo assim, seguindo a regra

ortográfica da grafação da letra “h” na inicial de palavra de origem grega ocorre o

apagamento da letra “h”, evitando assim que ela ocorra em sílaba medial.

4.2.4.3. Se a Língua Portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, que relação

há entre os prefixos acentuados e inacentuados?

Os prefixos acentuados mantêm a sua autonomia semântica e os prefixos inacentuados

perdem a autonomia semântica, gramaticalizando-se em gramemas. No entanto, pode-se

observar que a regra construída para o não uso do hífen não considerou o critério semântica,

em: “antirregulamentar, anticlerical, antirreligioso; antirrábico, antisséptico, antissocial,

contrassugestão entre outros casos”. Porém, foi considerado o critério morfológico para o uso

do hífen em adjetivos pátrios; assim como o critério ortográfico: tanto para o uso do hífen, na

sequência gráfica (VOGAL + H), pois não se grafa a letra “h” em sílaba medial de palavra.

4.2.4.4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

Devido à oscilação de critérios (ora ortográfico, ora morfológico, ora semântico) nem

sempre o lugar selecionado para o acento acarreta o uso do hífen.

4.2.4.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

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Os nossos gramáticos tradicionais consideram afixos as unidades que são formas

presas, além de outras que podem ter ocorrências em formas livres. Não há para o uso do

hífen o critério acentual, como critério único. Sendo assim, muitas das unidades classificadas

como prefixos são lexemas e outras, gramemas.

É interessante observar, também, que outros elementos não classificados como

prefixos são, considerados prefixos por antecederem a formação de uma palavra, como por

exemplo, segundo Evanildo Bechara (1975), as palavras formadas com: “dolico-louro, euro-

afriacono, telegrafo-postal etc”. Esses exemplos seguem o critério morfológico dos adjetivos

pátrios.

4.2.5 Regra V – Não se usa hífen em palavras formadas por prefixação, em que o prefixo

termina por consoante e a palavra seguinte inicia-se por uma consoante diferente

(CONSOANTE 1 + CONSOANTE 2). Usa-se o hífen quando as palavras formadas por

prefixação têm o prefixo terminado pela mesma consoante com a qual se inicia a palavra

seguinte (CONSOANTE 1 + CONSOANTE 1).

Por exemplo: “supersafra, supersensual, hipersensível, supersecreto, hipersensual,

superdotado, supersônico, hipertenso, supersimples, hiperpigmentação”.

Exceção: usa-se o hífen nas palavras formadas por prefixação em que ambas as

consoantes são iguais (CONSOANTE 1 + CONSOANTE 1), por exemplo: “hiper-reativo,

inter-ralacionado, super-resistente, super-requintado, super-resfriado, super-realista, inter-

racial, super-realismo, inter-regional etc.”.

Resultados das análises:

4.2.5.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

O hífen é usado, na formação de palavras, com critérios variados: ortográfico,

sintático, morfológico, semântico e fonético. A regra V enuncia o uso do hífen para separar,

ortograficamente, a sequência de consoantes idênticas o que propiciaria a grafação de um

dígrafo.

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4.2.5.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

Segundo a regra V o uso do hífen se faz necessário para desfazer a grafação do dígrafo

“rr”. O critério utilizado é ortográfico, pois o dígrafo “rr” grafa a vibrante múltipla em posição

intervocálica, para registrar a posição fonológica: vibrante simples/vibrante múltipla, como

por exemplo: “caro/carro, mira/mirra, muro/murro”. Na palavra formada com a sequência das

letras “r-r” além do critério ortográfico, há também o critério fonético, segundo o qual usa-se

o hífen para preservar as autonomias fonéticas das duas palavras sequenciadas na derivação.

E, portanto, para indicar à articulação de duas vibrante múltiplas sequenciadas.

4.2.5.3. Se a Língua Portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, que relação

há entre os prefixos acentuados e inacentuados?

Os prefixos são acentuados, fonologicamente, quando mantêm a sua autonomia

semântica, porém devido à oscilação de critérios existentes para enunciação das regras de uso

do hífen, no Acordo de 90, nem sempre usa-se o hífen para separar prefixos acentuados do

lexema e, por vezes, usa-se o hífen para separar prefixos inacentuado.

No caso da regra IV os prefixos acentuados não são sequenciados com o uso do hífen

antes do lexema; mas usa-se o hífen para os mesmo prefixos + lexema para evitar um erro

ortográfico e preservar a autonomia fonética do elemento final do prefixo.

4.2.5.4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

Não. O uso do hífen, por vezes, esta relacionado à acentuação tanto do prefixo quanto

do lexema. E, as vezes, o critério é outro. Os resultados das análises realizadas com as

palavras selecionadas de guias ortográficos, gramáticas e do Acordo de 90 indicam uma

grande oscilação de critérios que criam dificuldades para o uso do hífen.

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4.2.5.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

Embora os gramáticos brasileiros tratem os afixos como formas presas que não podem

ocorrer por si só nos enunciados e apresentem um elenco de prefixos latinos e prefixos

gregos, eles não dão para os prefixos um critério fonológico da presença do acentema para

garantir a autonomia semântica da unidade mórfica. Celso Cunha (1972) como foi indicado,

trata os prefixos, a partir do étimo e afirma que os prefixos portugueses têm as suas origens

em advérbios e preposições com conteúdo semântico. Sendo assim, embora tratado como

formas presas muitos prefixos elencados pelos nossos gramáticos exigem o uso do hífen.

4.2.6 Regra VI – Não se usa o hífen em palavras formadas por prefixação, em que o prefixo

termina por consoante e a palavra seguinte inicia-se por vogal (CONSOANTE + VOGAL).

Por exemplo: “Hiperácido, superaquecer, hiperagudo, superatrasado, hiperamável,

superego, hiperativo, superinterior, hiperinflação, superocupado, superagitado, superúmido,

subestar, transatlântico, inaliar, desanuviar, exame, exato”.

Exceção: nos vocábulos formados por prefixação incluindo aqueles com prefixos terminados

por vogal cujo segundo elemento inicia-se por “H” usa-se o hífen, por exemplo: pré-história,

semi-hospitalar, geo-história, sub-hepático, anti-higiênico, contra-harmônico, extra-humano,

super-homem, ultra-hiperbólico, neo-helênico, pan-helenismo, anti-herói, anti-hemorrágico,

anti-histórico, anti-horário, anti-humano, contra-haste, extra-hepático, extra-hospitalar, geo-

hisdrografia, neo-horizontino, pan-hispânico, semi-homem, semi-humano, semi-histórico,

sub-humano, sub-horizontal, super-habilidade, ultra-honesto, ultra-humano, pré-helênico, pré-

histórico.

- Não se usa o hífen com os prefixos “CO-” e “RE-” cujo o segundo elemento inicia por “H”.

nesse caso, ocorre o apagamento da letra “H”, como por exemplo: “coabitar, coerdeiro, reaver

etc.”.

Resultados das análises:

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4.2.6.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

Segundo a regra VI, não se usa o hífen quando o prefixo termina em consoante e o

elemento que segue inicia-se por vogal, formando uma sílaba, por exemplo: “transamericano,

superintentende, inalador, desaparecer etc.”.

Porém, usa-se o hífen, quanto o critério utilizado, para a regra VI, for fonético: na

sequência fonética de duas palavras, se a primeira termina em [s] e a segunda, inicia-se por

vogal. O uso do hífen se faz necessário, para evitar que /s/ seja pronunciado por [z], conforme

o é na variação nacional brasileira, como por exemplo: [pọyzę] – “pois é”.

4.2.6.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

Segundo a regra VI, além do critério fonético, o uso do hífen faz-se necessário

segundo o critério ortográfico: usa-se o hífen para separar os prefixos terminados em vogal

cujo segundo elemento inicia-se com “H”. Como por exemplo: “pré-história, semi-

-hospitalar, pan-hispânico”.

Porém não se usa o hífen com os prefixos “co-” e “re-”, pois eles são monossílabos

átonos, portanto formas presas que para se unirem à segunda palavra apaga-se a letra “h”,

como por exemplo: “coabitar, coerdeiro, reaver etc.”.

4.2.6.3. Se a Língua Portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, que relação

há entre os prefixos e sufixos acentuados e inacentuados?

A diferença entre prefixo acentuado e inacentuado decorre, respectivamente, de: o

prefixo é acentuado, quando mantêm a autonomia semântica de seu étimo; o prefixo é

inacentuado, quando ocorre a perda da sua autonomia fonética por haver a gramaticalização

de um lexema que se torna gramema.

4.2.6.4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexema,

acarreta o uso do hífen?

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O lugar selecionado para o acento em lexemas, por vezes, acarreta o uso do hífen, e,

por vezes, não. Essa variação decorre pela oscilação de critérios com os quais foram

elaboradas as regras de uso do hífen, segundo o Acordo Ortográfico de 90.

4.2.6.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

Vários afixos da língua portuguesa são acentuados, devido à sua origem etimológica.

À acentuação é mantida, quando é preservada a autonomia semântica do morfema.

4.2.7 Regra VII – Embora, segundo o Acordo de 90, “não” deixe de ser classificado como

prefixo, essa regra está inserida na derivação prefixal, pois assim era tratada anteriormente.

Nas palavras em que o advérbio de negação “não”, era considerado prefixo (palavras cuja

formação não aceitavam os prefixos com o valor semântico, como “in-, des-, a”), antes do

Acordo de 90 era unidas pelo hífen. Como o Acordo de 90, o hífen fica excluído.

Por exemplo: “não agressão, não alinhado, não violência, não localizado, não

governamental, não euclidiano, não fumante, não cumprimento, não linear, não ficção, não

simétrico, não assalariado, não contradição, não viciado”.

Antes do acordo, várias palavras que perderam o hífen eram escritas com ele (co-herdeiro,

neo-republicano, pára-quedas etc.) e algumas que ganharam o hífen eram escritas sem ele

(microondas, antiinflacionário, autoobservação).

Análises dos resultados:

4.2.7.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

Usa-se o hífen para manter a autonomia semântica das palavras na derivação prefixal

ou composicional. O morfema “não” é classificado como advérbio de negação, não sendo,

portanto, prefixo. Nesse caso, não se usa o hífen.

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4.2.7.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

O uso do hífen faz-se necessário quando o morfema considerado pelos gramáticos

tradicionais como prefixal é acentuado. Conforme, essa regra, não se usa o hífen, pois o

morfema “não” é classificado como advérbio e não como prefixo, gramaticalmente. Trata-se

de uma palavra que é uma forma livre, podendo anteceder elementos nominais e verbais.

4.2.7.3. Se a Língua Portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, que relação

há entre os prefixos e sufixos acentuados e inacentuados com o uso do hífen?

O morfema “não” dispensa o uso do hífen por não ser classificado tanto como prefixo

quanto sufixo.

4.2.7.4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

As palavras formadas com o advérbio “não” dispensam o uso do hífen mantendo suas

autonomias morfológicas.

4.2.7.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

Antes do Acordo Ortográfico de 90 o morfema “não” era tratado tanto como advérbio

quanto prefixo. Nessa época as palavras formadas com o morfema de negação “não”, sendo

parassinônimo de outros prefixos de negação era grafado com o uso do hífen; como por

exemplo: “não-agressão, não-combatente, não-linear”. Com o Acordo Ortográfico de 90 essa

regra de uso do hífen foi cancela. Sendo assim, “não” deixa de ser classificado como prefixo.

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114

B) Regra para a derivação sufixal:

4.2.8 Regra VIII – Palavras que terminam com sílaba tônica seguida de sufixo de origem

tupi-guarani devem ser grafadas com hífen: “amoré-guaçu, capim-açu, anajá-mirim, Ceará-

Mirim, andá-açu, Embu-Guaçu, Itaim-Mirim”.

Resultado das análises:

4.2.8.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

Usa-se o hífen na derivação e na composição, quando há duas palavras acentuadas e

com valor morfológico e sintático independente da derivação e composição, mas unindo-as

por hífen tem um valor semântico diferente do primitivo. Pode-se tomar como exemplos: pan-

americano, beija-flor.

4.2.8.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

O uso do hífen, faz-se necessário, conforme a regra VII quando os sufixos de origem

tupi-guarani são elementos derivacionais por sufixos, em língua portuguesa.

Segundo a regra VII “-açu, -guaçu, -mirim” são sufixos gramaticais. Todavia, é

interessante observar que, ao elencar, os sufixos portugueses, os gramáticos brasileiros não

apontam como sufixos elencados as formas “açu, guaçu e mirim”.

Os resultados obtidos da análise indicam que “açu, guaçu e mirim” são formas presas

em língua portuguesa e não podem ocorrer por si só na enunciação. Sendo assim, segundo o

critério semântico, são consideradas unidades mórficas que mantêm seu conteúdo sêmico e,

por essa razão, são os únicos elementos sufixicais separados do lexema, uso do hífen.

4.2.8.3 Se a Língua Portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, que relação há

entre os sufixos acentuados e inacentuados com o uso do hífen?

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De modo geral, a derivação sufixal é realizada pela seleção do acento no sufixo. A

exceção é com os sufixos “ico, culo, ulo” cuja a seleção acentual é realizada no lexema.

No caso dos elementos “açu, guaçu, mirim”, por manterem a autonomia semântica,

mantêm os dois acentos, ou seja, o acento do lexema e o acento da forma presa.

4.2.8.4. Nas formas derivadas por sufixação, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

Só ocorre a seleção do acento em lexemas quando a forma é derivada sufixalmente por

“ulo, culo, ico” nesse caso não se usa o hífen.

Sendo assim, na derivação sufixal, o uso do hífen só ocorre com os elementos

mórficos “-açu, guaçu, mirim”, estes são acentuados, por manterem as suas autonomias

semânticas.

4.2.8.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

Os resultado obtidos das análises que os sufixos “açu, guaçu, mirim” são acentuados,

por manterem suas autonomias semânticas que, a rigor, equipara-os a um lexema. Todavia,

como o critério fonológico do acentema não é aplicado e explicitado na regra, esses lexemas

são classificados como gramemas sufixais, embora, sejam formas presas.

C) Composição

A formação de palavras por composição, em língua portuguesa, ocorre por dois tipos:

justaposição e aglutinação.

A composição por justaposição é definida como uma juntura externa dos elementos

compostos, pois todas as unidades fonéticas e ortográficas são mantidas.

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A composição por aglutinação é definida como uma juntura interna dos elementos

compostos, pois há perda sonora e, consequentemente, de unidades silábicas.

Regra 9 – Justaposição

4.2.9 Regra IX – Usa-se o hífen em palavras compostas por justaposição, isto é, em que

ambos os elementos da composição são vocábulos autônimos, independentes.

Por exemplo: “abaixo-assinado, cirurgião-dentista, afro-asiático, conta-gotas, alcaide-mor,

decreto-lei, amor-perfeito, ferro-velho, arco-íris, finca-pé, ave-maria, guarda-noturno, bate-

boca, indo-europeu, belo-horizontino, joão-ninguém, boa-fé, luso-brasileiro, cabra-cega,

mato-grossense, cabra-macho, mato-grossense-do-sul, caminhão-pipa, médico-cirurgião,

carro-chefe, mesa-redonda, carta-bilhete, pão-duro, carta-bomba, para-choque, para-lamas,

roda-viva, para-raios, rubro-negro, porta-bandeira, sul-africano, porta-malas, tenente-coronel,

porto-alegrense, tio-avô, primeiro-ministro, vaga-lume, rio-grandense-do-norte, vitória-régia”.

Resultados das análises:

4.2.9.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

O hífen é usado na formação de palavras compostas por justaposição, para indicar que

essas palavras são formas livres, fora dessa sequência composta.

4.2.9.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

O uso do hífen faz-se necessário nas palavras compostas por justaposição para grafar a

sequência de palavras que designam um único referente, sem se tratar de uma sequência de

palavras que ocorre em um sintagma frasal. O critério utilizado, portanto, é semântico.

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4.2.9.3. Se a Língua Portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, que relação

há entre os prefixos acentuados e inacentuados com o uso do hífen?

Por se tratar de uma regra de composição esta questão se torna inadequada para ser

respondida.

4.2.9.4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado para o acento em lexemas

acarreta o uso do hífen?

Nas formas compostas por justaposição o acento da forma primitiva é mantido para

cada palavra sequenciada, preservando suas autonomias lexicais.

4.2.9.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

A regra IX, para o uso do hífen, é relativa à composição por justaposição, não

tratando, portanto, de derivações afixais.

4.2.10 Regra X – Usa-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que designam

espécies botânicas e zoológicas.

Por exemplo: “abóbora-menina, ervilha-de-cheiro, andorinha-grande, fava-de-santo-

inácio, andorinha-da-serra, feijão-verde, andorinha-do-mar, flor-do-espírito-santo, bem-te-vi,

formiga-branca, cobra-capelo, formiga-de-roça, cobra-d’água, formiga-de-roça, contra-erva,

lebre-da-patagônia, contra-erva-do-peru, mico-leão-dourado, couve-de-bruxelas, peixe-do-

-paraiso, couve-flor, peixe-espada, cravo-da-índia, peroba-do-campo, erva-cidreira, pimenta-

-do-reino, erva-doce, pintassilgo-verde, erva-do-chá, sabiá-laranjeira, tamanduá-bandeira”.

Resultados das análises:

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4.2.10.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

O hífen é usado na formação de palavras compostas por justaposição para indicar que

a sequência de palavras é uma juntura externa, por serem unidades autônomas lexicais.

4.2.10.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

A regra X, prescreve o uso do hífen para justaposição quando os termos compostos

designam espécies botânicas e zoológicas. O critério utilizado, portanto, é de uma área

semântica, relativa à especialista.

4.2.10.3. Se a Língua Portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, que relação

há entre os prefixos acentuados e inacentuados com o uso do hífen?

Por se tratar da composição por justaposição, essa questão não é considerada.

4.2.10.4. Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

Nas formas compostas por justaposição o uso do hífen é prescrito para preservar a

autonomia das palavras sequenciadas. A regra X, é construída pelo critério da área semântica

de especialistas.

4.2.10.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

Como a regra X é relativa à formação de palavras compostas por justaposição, esta

questão não é aplicada a ela.

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4.2.11 Regra XI – Não se usa o hífen em locuções e expressões compostas que possuem

termo de ligação (preposição, conjunção, artigo, pronome etc.).

Por exemplo: “bicho de sete cabeças, leva e traz, café com leite, mão de obra, camisa

de força, maria vai com as outras, cara de pau, olho de sogra, deus me livre, pai de todos, deus

nos acuda, pão de ló, dia a dia, pé de moleque, diz que diz, pé de vento, faz de conta, ponto e

vírgula, queda de braço”.

Resultados obtidos:

4.2.11.1. Por que usar o hífen na formação de palavras?

O hífen é usado na formação por composição de palavras apenas no caso da

composição por justaposição.

4.2.11.2. Quando o uso do hífen se faz necessário?

O uso do hífen se faz necessário na sequência de palavras lexicais, para preservar a

autonomia lexical das palavras sequenciadas. Por exemplo: “guarda-roupa”.

Porém, se entre as palavras sequenciadas ocorrer termo de ligação, não se usa o hífen.

Por exemplo: “dia a dia, pé de moleque”.

É interessante observar, que, antes do Acordo de 90, as locuções e expressões

compostas que apresentavam termos de ligações eram separadas por hífen.

4.2.11.3. Se a Língua Portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, que relação

há entre os prefixos e sufixos acentuados e inacentuados com o uso do hífen?

Há regra XI é relativa ao não uso do hífen em locuções e expressões compostas que

possuem termo de ligação, ou seja, um morfema relacional. Logo, para essa questão não há

resposta.

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4.2.11.4. Nas formas compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexema, acarreta o uso

do hífen?

Segundo a regra geral, as formas compostas exigem o uso do hífen quando a sequência

compreende lexema + lexema; nesse caso, mantêm-se os dois acentos dos lexemas. Como por

exemplo: “mestre-sala, escola-modelo”.

Não se usa o hífen, em formas compostas que apresentem um termo de relação. Por

exemplo: “bicho de sete cabeças, leva e traz, mão de obra, camisa de força, pé de vento”.

Porém, se as palavras compostas apresentam termo de relação e designam espécie

botânica e zoológica usa-se o hífen. Por exemplo: “ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio,

andorinha-do-mar, bem-te-vi, cravo-da-índia”.

4.2.11.5. Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são

tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

A regra XI é relativa a composição por justaposição e não se refere a derivação afixal.

1.3 Para finalizar: uma síntese dos resultados obtidos e discussões

´ Para finalizar, é apresentada uma síntese dos resultados obtidos, a partir das respostas

dadas às questões que orientaram o exame das regras propostas no Acordo Ortográfico de

1990.

Como as regras apresentadas foram separadas pelos tipos de formação de palavras em

derivação e composição, os resultados apresentados seguem a mesma orientação.

4.3.1 No que se refere às palavras designadas no Acordo de 1990 como palavras

derivadas por prefixação e sufixação.

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Os resultados obtidos indicam uma oscilação de critérios que causam dificuldades para

o uso do hífen.

4.3.1.1 Para a prefixação

Os resultados obtidos indicam que:

O hífen é usado na formação de palavras por derivação prefixal, porque os morfemas

classificados pelos gramáticos tradicionais brasileiros como prefixos são tanto de origem

latina quanto grega e têm suas origens em preposições e advérbios com conteúdo semântico

lexical. Porém, há outros critérios que determinam o uso do hífen.

Segundo o critério semântico:

A regra mais geral para o uso do hífen, na formação de palavras derivadas por

prefixação, segue um critério semântico, ou seja, o hífen é usado para manter a autonomia

semântica dos prefixos portugueses que têm origem lexical e, por essa razão, o hífen não é

usado para unir os prefixos que são gramemas. Nesse caso, por exemplo, usa-se o hífen em

“pré-escola, pré-história”; mas não se usa o hífen, quando esses prefixos, devido ao grande

uso da palavra, perde seu valor semântico, gramaticalizando-se como morfemas gramaticais,

como por exemplo: “preposição, preconceito”.

Logo, o hífen é usado tanto nas formas livres, falsos prefixos, por exemplo: “bem e

mal”, quanto nas formas presas, ou seja, aquelas que só ocorrem na formação derivacional por

prefixo, como por exemplo: “ad, ab”. Sendo assim, o hífen é usado na derivação prefixal,

para grafar uma juntura externa.

I) Devido à oscilação de critérios, o uso do hífen faz-se necessário, também, em:

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Os resultados obtidos indicam que há oscilação de critérios para a necessidade do uso

do hífen em palavras derivadas por prefixação. Sendo assim, ora ele é necessário, ora ele é

desnecessário.

Segundo o critério fonético:

- não se usa o hífen quando o prefixo termina em consoante e a palavra que segue inicia-se

por vogal, pois ocorre, foneticamente, uma juntura interna que propicia a realização de uma

sílaba com a junção das palavras; por exemplo: “transatlântico, superintentende”;

- usa-se o hífen quando os prefixos “sub-, sob” são seguidos de “r”, como por exemplo: “sub-

reitor, sob-roda”. O critério fonético rege o uso do hífen, nesse caso, pois evita-se a realização

fonética de um encontro consonantal próprio inicial silábico, como em: “br”;

- usa-se o hífen quando o prefixo termina com a mesma vogal que se inicia a segunda palavra

(vogal1 + vogal1), como por exemplo: “alfa-aglutinação, ante-estreia, arqui-irmandade, auto-

observação”. O uso do hífen faz-se necessário para evitar a crase vocálica, na realização

fonética;

- não se usa o hífen quando o prefixo termina com uma vogal e a palavra que segue inicia com

outra vogal (vogal1 + vogal2), como por exemplo: “agroecologia, anteadministrativo,

autoanálise, extraorgânico, semiárido”. Essa regra é sintática e aplica-se a elementos mórficos

diferentes, uns são adjetivos, falsos prefixos, como “agro”, outros são preposições, como

“ante” e outros ainda são prefixos, como “ex”.

Segundo o critério fonético + critério ortográfico:

- no caso da segunda palavra começar por “r, s”, ao critério fonético é somado o critério

ortográfico, pois dobram-se essas consoantes na grafia, por exemplo: “contrarreforma,

extrarregular, contrassenso, autosserviço”. É interessante observar que os critérios fonético e

o ortográfico prevalece, ignorando-se o critério semântico. Por exemplo: “contra” tem

autonomia semântica e é uma forma livre que pode ocorrer sem a derivação prefixal;

- no caso dos prefixos “ab-, ad-, ob-”, ainda que não tenham autonomia semântica e sejam

formas presas, usa-se o hífen quando esses prefixos são seguidos de palavras iniciadas por “b,

d, r”. Por exemplo: “ab-rogar, ab-reativo, ad-referendar, ad-digital, ob-rogar”.

- no caso dos prefixos monossilábicos átonos “co-, re-”, seguidos de palavras iniciadas com a

letra “h”, são sequenciados sem o uso do hífen e grafados sem a letra “h” da segunda palavra,

por exemplo: “coabitar, coerdeiro, reaver”;

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Segundo o critério ortográfico:

- usa-se o hífen quando o prefixo termina em consoante e a segunda palavra começa com

consoante, pois a juntura desses elementos gera um dígrafo, consoante dobrada e sequência

de consoantes que não existem em português. Por exemplo: “circum-murar, super-racional,

hiper-reativo, mal-humorado, mal-limpo, circum-murar, pan-mágico, pan-negritude”;

- usa-se o hífen quando os prefixos “circum, pan” forem seguidas de palavras iniciadas por

vogal, por exemplo: “circum-adjacência, circum-escolar, pan-americano”;

- usa-se o hífen com prefixos terminados em vogal e lexemas iniciados por “h”. Como em:

“anti-herói, ante-horário; extra-hospitalar, extra-hepático, contra-haste, geo-hidrografia, mel-

-horizontino, pan-hispânico; semi-humano, semi-histórico; sub-humano, sub-horizontal;

super-habilidade; ultra-honesto, ultra-humano; pré-helênico, pré-histórico”. O critério

utilizado para essa exceção é ortográfico, pois o uso da letra “h”, ortograficamente, grafa as

iniciais de palavras gregas, em língua portuguesa. E com a junção do prefixo e da palavra

ocorria o “h” na posição medial da palavra escrita.

Segundo o critério sintático e o critério ortográfico:

- não se usa o hífen quando os prefixos “bem-, mal” forem seguidos de palavras derivadas dos

verbos “fazer, querer”, como por exemplo: “benfazejo, benfeito, benquisto, malquisto,

malfeito”. No caso do prefixo “bem-” a letra “-m-” é substituída por “-n-” a regra ortográfica;

- não se usa o hífen com os prefixos átonos “co-, pre-, pro-, re-”, são seguidos de palavras

iniciadas com a mesma vogal do prefixo, como por exemplo: “coobrigação, coorganização,

coorientador, preexistente, preelaborar, preestabelecimento, reescrever, reedição, reerguer,

reestabelecer”.

Segundo o critério sintático, “bem, mal” são juntados a um lexema, mas são falsos

prefixos e ao se juntarem não modificados graficamente, conforme a regra ortográfica. A

rigor, por um critério morfológico, esses elementos formam uma composição.

4.3.1.2 Para a sufixação

Os resultados obtidos indicam que não se usa hífen para a derivação sufixal.

Embora as formas “açu-, guaçu-, mirim-” não estejam elencadas como sufixo nas

gramáticas brasileiras do uso padrão normativo, o Acordo Ortográfico de 1990 trata essas

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formas que são de origem tupi-guarani, como falsos sufixos. Sendo assim, há um critério

morfo-sintático: mórfico, pois se trata de formas presas que não ocorrem por si só; e sintático,

pois são sequenciadas ao lexema, formando um falso sufixo.

Logo, prescreve-se que essas formas são separadas do lexema pelo uso do hífen, como

por exemplo, “andá-açu, Mogi-Guaçu, Ceará-Mirim”.

4.3.2 No que se refere às palavras formadas por composição.

O uso do hífen faz-se necessário para sequenciar duas palavras lexicais, como por

exemplo: “porta-bandeira, pára-lama, arco-íris”.

Quanto à classe gramatical os elementos de uma palavra composta podem ser

constituída de:

a) substantivo + substantivo:

Por exemplo: “arco-íres, pombo-correio”;

b) substantivo + adjetivo:

Por exemplo: “sangue-frio, amor-perfeito”;

c) adjetivo + substantivo:

Por exemplo: “alto-mar, livre-câmbio”;

d) adjetivo + adjetivo:

Por exemplo: “franco-brasileiro, heroico-cômico”;

e) numeral + substantivo:

Por exemplo: “sexta-feira, primeiro-tenente”;

f) verbo + substantivo:

Por exemplo: “porta-bandeira, guarda-comida”;

g) verbo + verbo:

Por exemplo: “morde-assopra, perde-ganha”;

j) advérbio + verbo:

Por exemplo: “maldizer, bendizer”.

As locuções formadas por composição são construídas com lexemas e gramemas. Como por

exemplo: “não me toques, estrada de ferro”.

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4.4 Usa-se o hífen para separar graficamente unidades lexicais sequenciadas

4.4.1 Não se usa o hífen

a) Em palavras compostas com a ocorrência de gramemas, como por exemplo: “dona de casa,

pão de ló”;

Porém, por um critério morfológico, usa-se o hífen em palavras compostas com

gramemas quando elas são adjetivos pátrios e designam espécies botânicas e zoológicas,

como por exemplo: “afro-brasileiro, hispano-americano, sul-rio-grandense; ervilha-de-cheiro,

erva-do-chá”.

b) não se usa o hífen com as palavras formadas com o morfema “não”, como anteriormente ao

referido Acordo era usado, pois ele é classificado como advérbio de negação que

sintaticamente antecede adjetivos e verbos, como os demais advérbios. Por exemplo: “não

alinhado, não localizado, não agressão”.

Em síntese, os resultados obtidos do exame realizado indicam que há oscilação de

critérios, causando dificuldades para o uso do hífen nos países lusófonos. Embora, a língua

portuguesa seja uma língua de intensidade, de acento, nem sempre o critério acentual é

aplicado para diferenciar lexemas com o conteúdo semânticos de gramemas, como formas de

relação.

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CONCLUSÕES

No término dessa dissertação, são revistos os objetivos que orientaram a pesquisa

realizada. Acredita-se que o objetivo geral tenha sido alcançado, pois os resultados obtidos da

investigação podem contribuir para uma reflexão a respeito do Acordo Ortográfico de 1990 e

da formação de palavras da parte Morfologia de nossas gramáticas do uso padrão normativo.

Acredita-se também, que os objetivos específicos tenham sido atingidos:

Objetivo específico 1: apresentar um breve histórico da ortografia portuguesa e suas reformas

ortográficas, para situar o distanciamento entre Brasil e Portugal.

O breve histórico da ortografia portuguesa indica que nem sempre o Brasil esteve de

acordo com as normas escritas de Portugal.

A primeira grande reforma ortográfica da língua portuguesa data de 1911. Desde

então, foram realizadas várias tentativas com vista à criação de uma norma ortográfica única.

Em 1931 Brasil e Portugal firmou o primeiro Acordo Ortográfico por haver ainda

divergência de escrita na língua portuguesa.

Em 1943, Brasil separou-se de Portugal propondo as suas próprias normas

ortográficas.

Em 1945, Portugal propôs o Acordo Ortográfico aos países lusófonos, porém, o Brasil

manteve separado de Portugal, não aceitando tal Acordo e mantendo as suas normas

ortográficas de 1943.

Em 1971, o Brasil fez uma revisão ortográfica para o uso da acentuação. Essa revisão

não foi acatada por Portugal, pois a entonação fonética portuguesa é diferente da brasileira.

Com o fenômeno da globalização, Portugal buscou, por uma política linguística,

integrar a ortografia dos países lusófonos. Dessa forma, apareceu o Acordo Ortográfico de

1990. Embora, haja discordâncias, esse Acordo foi assinado em 16 de dezembro de 1990,

pelos países lusófonos.

Em síntese, por questões políticas decorrentes do histórico da formação da nação

brasileira (Colônia, Império, República), devido ao distanciamento geográfico, o Brasil,

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politicamente fortaleceu o partido brasileiro. Este sempre objetivou o afastamento do Brasil

de Portugal.

No que se refere às políticas linguísticas, o Brasil não se preocupou em divulgar o

português brasileiro para os países com os quais matém relações internacionais; apenas, com

Getulio Vargas foram fundados os Centros de Estudos Brasileiros (CEBs) para divulgar a

língua e a cultura brasileira. Diferentemente, Portugal sempre se preocupou com as suas

políticas linguísticas, em divulgar o português europeu. Para tanto, fundou o Instituto Camões

que até hoje atua nos mais diferentes países do mundo, como os quais mantém relações

internacionais. Dessa forma, por haver políticas linguísticas bem traçadas para Portugal, a

proposta do Acordo de 90 resulta dessas políticas. Como o Brasil não se preocupa com elas,

finalizou a separação, assinando o referido Acordo.

Objetivo 2: apresentar as dificuldades existentes na parte Morfologia para formação de

palavras em nossas gramáticas do uso padrão gramatical.

Acredita-se que este objetivo também tenha sido cumprido. A revisão feita com os

textos de gramáticas brasileiras indica que o tratamento dado à derivação e à composição é

problemático. As causas dessas dificuldades decorrem de:

a) tratar do acento na parte Fonética e ignorar o acentema;

b) tratar da formação de palavras, sem considerar o acento, na parte Morfologia.

Sendo assim, ocorre uma oscilação de critérios para apresentar a formação de palavras

por prefixos e sufixos e a formação de palavras por composição. Logo, se há problemas para

caracterizar a derivação em relação à composição haverá problemas para se prescrever as

regras de uso do hífen.

Objetivo 3: examinar as regras de uso do hífen em palavras derivadas;

Acredita-se, ainda, que este objetivo tenha sido cumprido.

O exame das regras do uso do hífen na formação de palavras derivadas por prefixação

e sufixação indica que há oscilação de critérios:

a) semântico;

b) morfológico;

c) sintático:

d) fonético;

e) ortográfico;

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f) morfossintático;

g) morfofonético.

Por essa razão, a derivação prefixal é tratada por prefixos e falsos prefixos, e a

derivação sufixal por falsos sufixos.

Objetivo 4: examinar as regras de uso do hífen em palavras compostas.

Acredita-se, ainda, que este objetivo tenha sido cumprido. O exame realizado com as regras

das palavras formadas por composição indica que, há dificuldades que são decorrentes da

oscilação de critérios que ora são sintáticos, para sequenciação de lexemas, ora são

morfológicos para diferenciar sequenciações compostas por lexemas, ora são

morfossintáticos, para diferenciar sequenciações de lexemas + gramemas.

Em síntese, as perguntas que orientaram o exame realizado das regras para o uso do

hífen que compõem o Acordo de 1990 receberam as seguintes respostas:

1) Por que usar o hífen na formação de palavras?

O hífen é usado na formação de palavras por derivação e composição para separar

graficamente elementos acentuados que mantêm conteúdos semânticos do lexema de origem.

2) Quando o uso do hífen se faz necessário?

O exame realizado indica que o uso do hífen se faz necessário, a partir de critérios

variados:

a) critério ortográfico;

usa-se o hífen para separar elementos que ao serem sequenciados produziriam

sequências ortográficas não existentes em língua portuguesa;

b) critério ortográfico e fonético:

usa-se o hífen para separar elementos que quando sequenciados, ortograficamente,

produziriam a grafação de outros sons.

c) critério sintático:

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usa-se o hífen para separar elementos autônomos quando sequenciados.

d) critério morfossintático:

usa-se o hífen para separar elementos que quando sequenciados formam lexemas

pátrios, botânicos e zoológicos.

e) critério morfológico:

usa-se o hífen para diferenciar lexemas de gramemas.

3) Se a língua portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, como os

falantes nativos reconhecem prefixos e sufixos acentuados e inacentuados?

Sendo a língua portuguesa de acento, os falantes nativos da língua reconhecem quando

uma unidade é lexema, por ela ser acentuada e na sílaba acentuada ocorrer à pronúncia das

vogais abertas.

Os falantes nativos reconhecem o gramema, por serem formas inacentuadas, e, dessa

forma, a pronúncia das vogais ser fechada.

Por exemplo: “pré-história, pós-tônico”.

Assim, por exemplo, “preposição, prosperidade”.

4) Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado, para o acento em lexemas,

acarreta o uso do hífen?

O lugar selecionado, para o acento lexemas ora acarreta o uso do hífen ora não, devido

à oscilação de critérios existente no Acordo de 1990.

Embora, ultrapasse as regras de uso do hífen para a formação de palavra na língua

portuguesa, ele também é usado, parassintaticamente, para unir pronomes oblíquos, que são

átonos ao lexema verbal.

5) Por que vários prefixos da língua portuguesa são acentuados, se os afixos são tratados

pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si

só, nos enunciados?

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Vários prefixos da língua portuguesa são acentuados porque eles são originados

etimologicamente de preposições e advérbios com conteúdos semânticos lexicais.

Esta dissertação não se quer conclusa na medida em que abre perspectivas para

pesquisas futuras sobre a formação de palavras e o uso do hífen. Para concluir, propõe-se que

é necessário rever o item relativo à formação das palavras, integrado à parte Morfologia da

gramática tradicional brasileira. Sem essa revisão, qualquer regra de uso do hífen para a

formação de palavras, torna-se difícil. É necessário considerar que as unidades linguísticas

sistêmicas são regidas por hierarquias diferentes. De forma, a controlar, gramaticalmente, a

produção das expressões linguísticas. Além disso, as unidades sistêmicas, quando em uso,

adquirem novas funções e estas precisam ser consideradas para o tratamento dado à língua. É

necessário ainda entender e, consequentemente, considerar que o sistema ortográfico é

diferente do sistema linguístico, porém, entre eles há pontos de relação que são importantes

para as suas descrições.

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ANEXOS

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- Anexo I: Alfabeto fonético

- Anexo II: Acordo Ortográfico de 1990

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Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 19901

Artigo 1º

1. Considerando que o projecto de texto de ortografia unificada de língua portuguesa

aprovado em Lisboa, em 12 de Outubro de 1990, pela Academia das Ciências de Lisboa,

Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,

Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a adesão da delegação de observadores da Galiza,

constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para

o seu prestígio internacional;

2. Considerando que o texto do Acordo que ora se aprova resulta de um aprofundado debate

nos países signatários: a República Popular de Angola, a República Federativa do Brasil, a

República de Cabo Verde, a República da Guiné-Bissau, a República de Moçambique, a

República Portuguesa e a República Democrática de São Tomé e Príncipe acordam no

seguinte:

Artigo 2º

Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as

providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de Janeiro de 1993, de um vocabulário

ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão normalizador

quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.

Artigo 3º

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrará em vigor em 1 de Janeiro de 1994, após

depositados os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo da

República Portuguesa.

Artigo 4.º

Os Estados signatários adoptarão as medidas que entenderem adequadas ao efectivo respeito

da data da entrada em vigor estabelecida no artigo 3.º

Em fé do que os abaixo assinados, devidamente credenciados para o efeito, aprovam o

presente Acordo, redigido em língua portuguesa, em sete exemplares, todos igualmente

autênticos.

Assinado em Lisboa, em 16 de Dezembro de 1990.

Pela República Popular de Angola:

José Mateus de Adelino Peixoto, Secretário de Estado da Cultura.

1 Disponível em: http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?action=acordo&version=1990. Acesso

11?12?2013 às 09: 27.

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Pela República Federativa do Brasil:

Carlos Alberto Gomes Chiarelli, Ministro da Educação.

Pela República de Cabo Verde:

David Hopffer Almada, Ministro da Informação, Cultura e Desportos.

Pela República da Guiné-Bissau:

Alexandre Brito Ribeiro Furtado, Secretário de Estado da Cultura.

Pela República de Moçambique:

Luís Bernardo Honwana, Ministro da Cultura.

Pela República Portuguesa:

Pedro Miguel Santana Lopes, Secretário de Estado da Cultura.

Pela República Democrática de São Tomé e Príncipe:

Lígia Silva Graça do Espírito Santo Costa, Ministra da Educação e Cultura.

BASE I: DO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS

DERIVADOS

1. O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma

forma minúscula e outra maiúscula:

a A (á) j J (jota) s S (esse)

b B (bê) k K (capa ou cá) t T (tê)

c C (cê) l L (ele) u U (u)

d D (dê) m M (eme) v V (vê)

e E (é) n N (ene) w W (dáblio)

f F (efe) o O (ó) x X (xis)

g G (gê ou guê) p P (pê) y Y (ípsilon)

h H (agá) q Q (quê) z Z (zê)

i I (i) r R (erre)

Obs.:

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1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre

duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu (quê-u).

2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar.

1. As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:

2. a) Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus derivados: Franklin,

frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano;

Taylor, taylorista;

b) Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwanza, Kuwait,

kuwaitiano; Malawi, malawiano;

c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso

internacional: TWA, KLM; K-potássio (de kalium),W-oeste (West); kg-quilograma, km-

quilómetro, kW-kilowatt, yd-jarda (yard); Watt.

3. Em congruência com o número anterior, mantém-se nos vocábulos derivados eruditamente

de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não

peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes: comtista, de Comte; garrettiano,

deGarrett; jeffersónia/ jeffersônia, de Jefferson; mülleriano, de Müller; shakesperiano,

de Shakespeare.

Os vocabulários autorizados registarão grafias alternativas admissíveis, em casos de

divulgação de certas palavras de tal tipo de origem (a exemplo de fúcsia/ fúchsia e

derivados, bungavília/ bunganvílea/ bougainvíllea).

4. Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas

onomásticas da tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph, ou então simplificar-

se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é

invariavelmente mudo, elimina-se: José, Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e se algum

deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição

vocálica: Judite, em vez de Judith.

5. As consoantes finais grafadas b, c, d, g e h mantêm-se, quer sejam mudas, quer proferidas,

nas formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeadamente

antropónimos/antropônimos e topónimos/topônimos da tradição bíblica; Jacob, Job, Moab,

Isaac, David, Gad; Gog, Magog; Bensabat, Josafat.

Integram-se também nesta forma: Cid, em que o d é sempre pronunciado; Madrid e

Valhadolid, em que o d ora é pronunciado, ora não; eCalecut ou Calicut, em que o t se

encontra nas mesmas condições.

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Nada impede, entretanto, que dos antropónimos/antropônimos em apreço sejam usados sem a

consoante final Jó, Davi e Jacó.

6. Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto

quanto possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em

português ou quando entrem, ou possam entrar, no uso corrente. Exemplo: Anvers, substituído

porAntuérpia; Cherbourg, por Cherburgo; Garonne, por Garona; Genève,

por Genebra; Jutland, por Jutlândia; Milano, por Milão; München, porMuniche; Torino,

por Turim; Zürich, por Zurique, etc.

BASE II: DO H INICIAL E FINAL

1. O h inicial emprega-se:

a) Por força da etimologia: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor;

b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!

2. O h inicial suprime-se:

a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva,

em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste

com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita);

b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao

precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar,

reaver.

3. O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um

elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen:anti-higiénico/ anti-higiênico, contra-

haste, pré-história, sobre-humano.

4. O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!

BASE III: DA HOMOFONIA DE CERTOS GRAFEMAS CONSONÂNTICOS

Dada a homofonia existente entre certos grafemas consonânticos, torna-se necessário

diferenciar os seus empregos, que fundamentalmente se regulam pela história das palavras. É

certo que a variedade das condições em que se fixam na escrita os grafemas consonânticos

homófomos nem sempre permite fácil diferenciação dos casos em que se deve empregar uma

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letra e daqueles em que, diversamente, se deve empregar outra, ou outras, a representar o

mesmo som.

Nesta conformidade, importa notar, principalmente, os seguintes casos:

1. Distinção gráfica entre ch e x: achar, archote, bucha, capacho, capucho, chamar, chave,

Chico, chiste, chorar, colchão, colchete, endecha, estrebucha, facho, ficha, flecha, frincha,

gancho, inchar, macho, mancha, murchar, nicho, pachorra, pecha, pechincha, penacho,

rachar, sachar, tacho; ameixa, anexim, baixel, baixo, bexiga, bruxa, coaxar, coxia, debuxo,

deixar, eixo, elixir, enxofre, faixa, feixe, madeixa, mexer, oxalá, praxe, puxar, rouxinol, vexar,

xadrez, xarope, xenofobia, xerife, xícara.

2. Distinção gráfica entre g, com valor de fricativa palatal, e j: adágio, alfageme, Álgebra,

algema, algeroz, Algés, algibebe, algibeira, álgido, almargem, Alvorge, Argel, estrangeiro,

falange, ferrugem, frigir, gelosia, gengiva, gergelim, geringonça, Gibraltar, ginete, ginja,

girafa, gíria, herege, relógio, sege, Tânger, virgem; adjetivo, ajeitar, ajeru (nome de planta

indiana e de uma espécie de papagaio), canjerê, canjica, enjeitar, granjear, hoje, intrujice,

jecoral, jejum, jeira, jeito, Jeová, jenipapo, jequiri, jequitibá, Jeremias, Jericó, jerimum,

Jerónimo, Jesus, jibóia, jiquipanga, jiquiró, jiquitaia, jirau, jiriti, jitirana, laranjeira, lojista,

majestade, majestoso, manjerico, manjerona, mucujê, pajé, pegajento, rejeitar, sujeito,

trejeito.

3. Distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç e x, que representam sibilantes surdas: ânsia,

ascensão, aspersão, cansar, conversão, esconso, farsa, ganso, imenso, mansão, mansarda,

manso, pretensão, remanso, seara, seda, Seia, Sertã, Sernancelhe, serralheiro, Singapura,

Sintra, sisa, tarso, terso, valsa; abadessa, acossar, amassar, arremessar, Asseiceira, asseio,

atravessar, benesse, Cassilda, codesso (identicamenteCodessal ou Codassal, Codesseda,

Codessoso, etc.), crasso, devassar, dossel, egresso, endossar, escasso, fosso, gesso, molosso,

mossa, obsessão, pêssego, possesso, remessa, sossegar, acém, acervo, alicerce, cebola,

cereal, Cernache, cetim, Cinfães, Escócia, Macedo, obcecar, percevejo; açafate, açorda,

açúcar, almaço, atenção, berço, Buçaco, caçanje, caçula, caraça, dançar, Eça, enguiço,

Gonçalves, inserção, linguiça, maçada, Mação, maçar, Moçambique, Monção, muçulmano,

murça, negaça, pança, peça, quiçaba, quiçaça, quiçama, quiçamba, Seiça(grafia que pretere

as erróneas/errôneas Ceiça e Ceissa), Seiçal, Suíça, terço; auxílio, Maximiliano, Maximino,

máximo, próximo, sintaxe.

4. Distinção gráfica entre s de fim de sílaba (inicial ou interior) e x e z com idêntico valor

fónico/fônico: adestrar, Calisto, escusar, esdrúxulo, esgotar, esplanada, esplêndido,

espontâneo, espremer, esquisito, estender, Estremadura, Estremoz, inesgotável; extensão,

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explicar, extraordinário, inextricável, inexperto, sextante, têxtil; capazmente, infelizmente,

velozmente. De acordo com esta distinção convém notar dois casos:

a) Em final de sílaba que não seja final de palavra, o x = s muda para s sempre que está

precedido de i ou u: justapor, justalinear, misto, sistino (cf. Capela Sistina), Sisto, em vez

de juxtapor, juxtalinear, mixto, sixtina, Sixto.

b) Só nos advérbios em -mente se admite z, com valor idêntico ao de s, em final de sílaba

seguida de outra consoante (cf. capazmente, etc.); de contrário, o s toma sempre o lugar

do z: Biscaia, e não Bizcaia.

5. Distinção gráfica entre s final de palavra e x e z com idêntico valor fónico/

fônico: aguarrás, aliás, anis, após, atrás, através, Avis, Brás, Dinis, Garcês, gás, Gerês, Inês,

íris, Jesus, jus, lápis, Luís, país, português, Queirós, quis, retrós, revés, Tomás, Valdês; cálix,

Félix, Fénix flux; assaz, arroz, avestruz, dez, diz, fez (substantivo e forma do verbo fazer), fiz,

Forjaz, Galaaz, giz, jaez, matiz, petiz, Queluz, Romariz, [Arcos de] Valdevez, Vaz . A

propósito, deve observar-se que é inadmissível z final equivalente a s em palavra não

oxítona: Cádis, e não Cádiz.

6. Distinção gráfica entre as letras interiores s, x e z, que representam sibilantes

sonoras: aceso, analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, besouro, besuntar, blusa,

brasa, brasão, Brasil, brisa, [Marco de] Canaveses, coliseu, defesa, duquesa, Elisa, empresa,

Ermesinde, Esposende, frenesi ou frenesim, frisar, guisa, improviso, jusante, liso, lousa,

Lousã, Luso (nome de lugar, homónimo/homônimo de Luso, nome mitológico), Matosinhos,

Meneses, narciso, Nisa, obséquio, ousar, pesquisa, portuguesa, presa, raso, represa,

Resende, sacerdotisa, Sesimbra, Sousa, surpresa, tisana, transe, trânsito, vaso; exalar,

exemplo, exibir, exorbitar, exuberante, inexato, inexorável; abalizado, alfazema, Arcozelo,

autorizar, azar, azedo, azo, azorrague, baliza, bazar, beleza, buzina, búzio, comezinho,

deslizar, deslize, Ezequiel, fuzileiro, Galiza, guizo, helenizar, lambuzar, lezíria, Mouzinho,

proeza, sazão, urze, vazar, Veneza, Vizela, Vouzela.

BASE IV: DAS SEQUÊNCIAS CONSONÂNTICAS

1. O c, com valor de oclusiva velar, das sequências interiores cc (segundo c com valor de

sibilante), cç e ct, e o p das sequências interiores pc (ccom valor de sibilante), pç e pt, ora se

conservam, ora se eliminam.

Assim:

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a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da

língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto,

díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto;

b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da

língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato,

objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo;

c) Conservam-se ou eliminam-se facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta,

quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o

emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição; facto e

fato,sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e rece

ção;

d) Quando, nas sequências interiores mpc, mpç e mpt se eliminar o p de acordo com o

determinado nos parágrafos precedentes, o m passa an, escrevendo-se,

respetivamente, nc, nç e nt: assumpcionista e assuncionista; assumpção e assunção; assumptí

vel e assuntível;peremptório e perentório, sumptuoso e suntuoso, sumptuosidade e suntuosida

de.

2. Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia

culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o

emudecimento: o b da sequência bd, em súbdito; o b da sequência bt, em subtil e seus

derivados; g dasequência gd,em amígdala, amigdalácea, amigdalar, amigdalato, amigdalite,

amigdalóide, amigdalopatia, amigdalotomia; o m da sequênciamn,

em amnistia, amnistiar, indemne, indemnidade, indemnizar, omnímodo, omnipotente, omnisci

ente, etc.; o t da sequência tm, emaritmética e aritmético.

BASE V: DAS VOGAIS ÁTONAS

1. O emprego do e e do i, assim como o do o e do u em sílaba átona, regula-se

fundamentalmente pela etimologia e por particularidades da história das palavras. Assim se

estabelecem variadíssimas grafias:

a) Com e e i: ameaça, amealhar, antecipar, arrepiar, balnear, boreal, campeão,

cardeal (prelado, ave, planta; diferente de cardial = "relativo à cárdia"), Ceará, côdea,

enseada, enteado, Floreal, janeanes, lêndea, Leonardo, Leonel, Leonor, Leopoldo, Leote,

linear, meão, melhor, nomear, peanha, quase (em vez de quási), real, semear, semelhante,

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várzea; ameixial, Ameixieira, amial, amieiro, arrieiro, artilharia, capitânia, cordial (adjetivo

e substantivo), corriola, crânio, criar, diante, diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe (e

identicamente Filipa, Filipinas, etc.), freixial, giesta, Idanha, igual, imiscuir-se, inigualável,

lampião, limiar, Lumiar, lumieiro, pátio, pior, tigela, tijolo, Vimieiro, Vimioso .

b) Com o e u: abolir, Alpendorada, assolar, borboleta, cobiça, consoada, consoar costume,

díscolo, êmbolo, engolir, epístola, esbaforir-se, esboroar, farândola, femoral, Freixoeira,

girândola, goela, jocoso, mágoa, névoa, nódoa, óbolo, Páscoa, Pascoal, Pascoela, polir,

Rodolfo, távoa, tavoada, távola, tômbola, veio (substantivo e forma do verbo vir); açular,

água, aluvião, arcuense, assumir, bulir, camândulas, curtir, curtume, embutir, entupir,

fémur/fêmur, fístula, glândula, ínsua, jucundo, légua, Luanda, lucubração, lugar, mangual,

Manuel, míngua, Nicarágua, pontual, régua, tábua, tabuada, tabuleta, trégua, vitualha .

2. Sendo muito variadas as condições etimológicas e histórico-fonéticas em que se fixam

graficamente e e i ou o e u em sílaba átona, é evidente que só a consulta dos vocabulários ou

dicionários pode indicar, muitas vezes, se deve empregar-se e ou i, se o ou u. Há, todavia,

alguns casos em que o uso dessas vogais pode ser facilmente sistematizado. Convém fixar os

seguintes:

a) Escrevem-se com e, e não com i, antes da sílaba tónica/tônica, os substantivos e adjetivos

que procedem de substantivos terminados em -eio e -eia, ou com eles estão em relação direta.

Assim se regulam: aldeão, aldeola, aldeota por aldeia; areal, areeiro, areento,

Areosa porareia; aveal por aveia; baleal por baleia; cadeado por cadeia;

candeeiro por candeia; centeeira e centeeiro por centeio; colmeal e colmeeiropor colmeia;

correada e correame por correia;

b) Escrevem-se igualmente com e, antes de vogal ou ditongo da sílaba tónica/tônica, os

derivados de palavras que terminam em e acentuado (o qual pode representar um antigo

hiato: ea, ee): galeão, galeota, galeote, de galé; coreano, de Coreia; daomeano, de Daomé;

guineense, de Guiné; poleame e poleeiro, de polé;

c) Escrevem-se com i, e não com e, antes da sílaba tónica/tônica, os adjetivos e substantivos

derivados em que entram os sufixos mistos de formação vernácula -iano e -iense, os quais são

o resultado da combinação dos sufixos -ano e -ense com um i de origem analógica (baseado

em palavras onde -ano e -ense estão precedidos de i pertencente ao tema: horaciano, italiano,

duriense, flaviense, etc.): açoriano, acriano(de Acre), camoniano, goisiano (relativo a

Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano, torriano, torriense [de Torre(s)].

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d) Uniformizam-se com as terminações -io e -ia (átonas), em vez de -eo e -ea, os substantivos

que constituem variações, obtidas por ampliação, de outros substantivos terminados em

vogal; cúmio (popular), de cume; hástia, de haste; réstia, do antigo reste, véstia, de veste;

e) Os verbos em -ear podem distinguir-se praticamente grande número de vezes dos verbos

em -iar, quer pela formação, quer pela conjugação e formação ao mesmo tempo. Estão no

primeiro caso todos os verbos que se prendem a substantivos em -eio ou -eia (sejam formados

em português ou venham já do latim); assim se regulam: aldear, por aldeia; alhear,

por alheio; cear por ceia; encadear porcadeia; pear, por peia; etc. Estão no segundo caso

todos os verbos que têm normalmente flexões rizotónicas/rizotônicas em -eio, -eias,

etc.:clarear, delinear, devanear, falsear, granjear, guerrear, hastear, nomear, semear , etc.

Existem, no entanto, verbos em -iar, ligados a substantivos com as terminações átonas -ia ou -

io, que admitem variantes na

conjugação: negoceio ou negocio (cf. negócio); premeio oupremio (cf. prémio/prêmio); etc.

f) Não é lícito o emprego do u final átono em palavras de origem latina. Escreve-se, por

isso: moto, em vez de mótu (por exemplo, na expressão de moto próprio); tribo, em vez

de tríbu;

g) Os verbos em -oar distinguem-se praticamente dos verbos em -uar pela sua conjugação nas

formas rizotónicas/rizotônicas, que têm sempre o na sílaba acentuada: abençoar com o,

como abençoo, abençoas, etc.; destoar, com o, como destoo, destoas, etc.; mas acentuar,

com u, como acentuo, acentuas, etc;

BASE VI: DAS VOGAIS NASAIS

Na representação das vogais nasais devem observar-se os seguintes preceitos:

1. Quando uma vogal nasal ocorre em fim de palavra, ou em fim de elemento seguido de

hífen, representa-se a nasalidade pelo til, se essa vogal é de timbre a; por m, se possui

qualquer outro timbre e termina a palavra; e por n se é de timbre diverso de a e está seguida

de s:afã, grã, Grã-Bretanha, lã, órfã, sã-braseiro (forma dialetal; o mesmo que são-

brasense = de S. Brás de Alportel); clarim, tom, vacum, flautins, semitons, zunzuns.

2. Os vocábulos terminados em -ã transmitem esta representação do a nasal aos advérbios

em -mente que deles se formem, assim como a derivados em que entrem sufixos iniciados

por z: cristãmente, irmãmente, sãmente; lãzudo, maçãzita, manhãzinha, romãzeira .

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BASE VII: DOS DITONGOS

1. Os ditongos orais, que tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, distribuem-se por dois

grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento do ditongo é representado

por i ou u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou: braçais, caixote, deveis, eirado,

farnéis (mas farneizinhos),goivo, goivan, lençóis (mas lençoizinhos), tafuis, uivar, cacau,

cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas ilheuzito), mediu, passou, regougar.

Obs.: Admitem-se, todavia, excecionalmente, à parte destes dois grupos, os ditongos

grafados ae (= âi ou ai) e ao (âu ou au): o primeiro, representado nos

antropónimos/antropônimos Caetano e Caetana, assim como nos respectivos derivados e

compostos (caetaninha, são-caetano, etc.); o segundo, representado nas combinações da

preposição a com as formas masculinas do artigo ou pronome demonstrativo o, ou

seja, ao e aos.

2. Cumpre fixar, a propósito dos ditongos orais, os seguintes preceitos particulares:

a) É o ditongo grafado ui, e não a sequência vocálica grafada ue, que se emprega nas formas

de 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e igualmente na da 2ª pessoa do

singular do imperativo dos verbos em -uir: constituis, influi, retribui. Harmonizam-se,

portanto, essas formas com todos os casos de ditongo grafado ui de sílaba final ou fim de

palavra (azuis, fui, Guardafui, Rui, etc.); e ficam assim em paralelo gráfico-fonético com as

formas de 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e de 2ª pessoa do singular do

imperativo dos verbos em -air e em -oer: atrais, cai, sai; móis, remói, sói;

b) É o ditongo grafado ui que representa sempre, em palavras de origem latina, a união de

um u a um i átono seguinte. Não divergem, portanto, formas como fluido de formas

como gratuito. E isso não impede que nos derivados de formas daquele tipo as vogais

grafadas u e ise separem: fluídico,fluidez (u-i);

c) Além dos ditongos orais propriamente ditos, os quais são todos decrescentes, admite-se,

como é sabido, a existência de ditongos crescentes. Podem considerar-se no número deles as

sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas, tais as que se representam graficamente por ea,

eo, ia, ie, io, oa, ua, ue, uo: áurea, áureo, calúnia, espécie, exímio, mágoa, míngua,

ténue/tênue, tríduo.

3. Os ditongos nasais, que na sua maioria tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos,

pertencem graficamente a dois tipos fundamentais: ditongos representados por vogal com til e

semivogal; ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m. Eis a

indicação de uns e outros:

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a) Os ditongos representados por vogal com til e semivogal são quatro, considerando-se

apenas a língua padrão contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos e

derivados), ãi (usado em vocábulos anoxítonos e derivados), ão e õe. Exemplos: cães,

Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra, zãibo; mão, mãozinha, não, quão,

sótão, sotãozinho, tão; Camões, orações, oraçõezinhas, põe, repões. Ao lado de tais ditongos

pode, por exemplo, colocar-se o ditongo ui; mas este, embora se exemplifique numa forma

popular como rui = ruim, representa-se sem o til nas formas muito e mui, por obediência à

tradição;

b) Os ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m são dois: am e em.

Divergem, porém, nos seus empregos:

i) am (sempre átono) só se emprega em flexões verbais: amam, deviam, escreveram, puseram;

ii) em (tónico/tônico ou átono) emprega-se em palavras de categorias morfológicas diversas,

incluindo flexões verbais, e pode apresentar variantes gráficas determinadas pela posição, pela

acentuação ou, simultaneamente, pela posição e pela acentuação: bem, Bembom, Bemposta,

cem, devem, nem, quem, sem, tem, virgem; Bencanta, Benfeito, Benfica, benquisto, bens,

enfim, enquanto, homenzarrão, homenzinho, nuvenzinha, tens, virgens, amém (variação

do ámen), armazém, convém, mantém, ninguém, porém, Santarém, também; convêm, mantêm,

têm (3ªs pessoas do plural); armazéns, desdéns, convéns, reténs; Belenzada, vintenzinho.

BASE VIII: DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS OXÍTONAS

1. Acentuam-se com acento agudo:

a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas -a, -e ou -o,

seguidas ou não de -s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, pontapé(s); avó(s), dominó(s),

paletó(s), só(s).

Obs.: Em algumas (poucas) palavras oxítonas terminadas em -e tónico/tônico, geralmente

provenientes do francês, esta vogal, por ser articulada nas pronúncias cultas ora como aberta

ora como fechada, admite tanto o acento agudo como o acento

circunflexo: bebé ou bebê,bidé ou bidê, canapé ou canapê, caraté ou caratê, croché ou croch

ê, guiché ou guichê, matiné ou matinê, nené ou nenê, ponjé ou ponjê, puréou purê, rapé ou ra

pê.

O mesmo se verifica com formas como cocó e cocô, ró (letra do alfabeto grego) e rô. São

igualmente admitidas formas como judô, a par dejudo, e metrô, a par de metro;

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b) As formas verbais oxítonas, quando conjugadas com os pronomes clíticos lo(s) ou la(s),

ficam a terminar na vogal tónica/tônica aberta grafada -a, após a assimilação e perda das

consoantes finais grafadas -r, -s ou -z: adorá-lo(s) [de adorar-lo(s)], dá-la(s) [de dar-

la(s) oudá(s)-la(s)], fá-lo(s) [de faz-lo(s)], fá-lo(s)-ás [de far-lo(s)-ás], habita-la(s)-

iam [de habitar-la(s)-iam], trá-la(s)-á [de trar-la(s)-á];

c) As palavras oxítonas com mais de uma sílaba terminadas no ditongo nasal grafado -

em (excepto as formas da 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo dos compostos

de ter e vir: retêm, sustêm; advêm, provêm, etc.) ou -ens: acém, detém, deténs, entretém,

entreténs, harém, haréns, porém, provém, provéns, também;

d) As palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éi, éu ou ói, podendo estes dois

últimos ser seguidos ou não de -s: anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s),

véu(s); corrói (de corroer), herói(s), remói (de remoer), sóis.

2. Acentuam-se com acento circunflexo:

a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam -e ou o,

seguidas ou não de -s: cortês, dê, dês (dedar), lê, lês (de ler), português, você(s); avô(s),

pôs (de pôr), robô(s);

b) As formas verbais oxítonas, quando conjugadas com os pronomes clíticos -lo(s) ou -la(s),

ficam a terminar nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam -e ou -o, após a

assimilação e perda das consoantes finais grafadas -r, -s ou -z: detê-lo(s) [de deter-lo-

(s)], fazê-la(s) [de fazer-la(s)], fê-lo(s) [de fez-lo(s)], vê-la(s) [de ver-la(s)], compô-

la(s) [de compor-la(s)], repô-la(s) [de repor-la(s)], pô-la(s) [depor-la(s) ou pôs-la(s)].

3. Prescinde-se de acento gráfico para distinguir palavras oxítonas homógrafas, mas

heterofónicas/heterofônicas, do tipo de cor (ô), substantivo, e cor (ó), elemento da locução

de cor; colher (ê), verbo, e colher (é), substantivo. Excetua-se a forma verbal pôr, para a

distinguir da preposição por.

BASE IX: DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PAROXÍTONAS

1. As palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente: enjoo, grave, homem,

mesa, Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; abençoo, angolano, brasileiro; descobrimento,

graficamente, moçambicano.

2. Recebem, no entanto, acento agudo:

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a) As palavras paroxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas

grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -l, -n, -r, -x e -ps, assim como, salvo raras

exceções, as respectivas formas do plural, algumas das quais passam a

proparoxítonas: amável (pl.amáveis), Aníbal,

dócil (pl. dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. répteis; var. reptil,

pl. reptis); cármen (pl. cármenes oucarmens; var. carme,

pl. carmes); dólmen (pl. dólmenes ou dolmens), éden (pl. édenes ou edens), líquen (pl. líquene

s), lúmen (pl. lúmenesou lúmens); açúcar (pl. açúcares), almíscar (pl. almíscares), cadáver (p

l. cadáveres), caráter ou carácter (mas pl. carateres ou caracteres),ímpar (pl. ímpares); Ájax,

córtex (pl. córtex; var. córtice, pl. córtices, índex (pl. índex; var. índice,

pl. índices), tórax (pl. tórax ou tóraxes; var. torace, pl. toraces); bíceps (pl. bíceps;

var. bicípite, pl. bicípites), fórceps (pl. fórceps; var. fórcipe, pl. fórcipes).

Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim

de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas

pronúncias cultas da língua e, por conseguinte, também de acento gráfico (agudo ou

circunflexo): sémen e sêmen, xénon e xênon; fêmur e fémur, vómer e vômer; Fénix e Fênix,

ónix e ônix;

b) As palavras paroxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas

grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s), -ão(s), -ei(s), -i(s), -um, -uns ou -

us: órfã (pl. órfãs), acórdão (pl. acórdãos), órfão (pl. órfãos), órgão (pl. órgãos), sótão (pl. só

tãos);hóquei, jóquei (pl. jóqueis), amáveis (pl. de amável), fáceis (pl. de fácil), fósseis (pl.

de fóssil), amáreis (de amar), amáveis (id.), cantaríeis(de cantar), fizéreis (de fazer), fizésseis

(id.); beribéri (pl. beribéris), bílis (sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (pl. júris), oásis (sg. e

pl.); álbum(pl. álbuns), fórum (pl. fóruns); húmus (sg. e pl.), vírus (sg. e pl.).

Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em

fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre

nas pronúncias cultas da língua, o qual é assinalado com acento agudo, se aberto, ou

circunflexo, se

fechado: pónei e pônei; gónis e gônis, pénis e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e ônus,

tónus e tônus, Vénus eVênus.

3. Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica

das palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a

abertura na sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia,

meia; coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal

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como apoio (subst.), Azoia, boia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc.

(do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina.

4. É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito do

indicativo, do tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes formas do

presente do indicativo (amamos, louvamos), já que o timbre da vogal tónica/tônica é aberto

naquele caso em certas variantes do português.

5. Recebem acento circunflexo:

a) As palavras paroxítonas que contêm na sílaba tónica/tônica as vogais fechadas com a

grafia a, e, o e que terminam em -l, -n, -r, ou -x, assim como as respetivas formas do plural,

algumas das quais se tornam

proparoxítonas: cônsul (pl. cônsules), pênsil (pl. pênseis), têxtil(pl. têxteis); cânon,

var. cânone (pl. cânones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar,

aljôfar (pl. aljôfares), âmbar (pl. âmbares), Câncer, Tânger; bômbax (sg. e pl.), bômbix,

var. bômbice (pl. bômbices);

b) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a

grafia a, e, o e que terminam em -ão(s), -eis, -i(s) ou -us: bênção(s), côvão(s), Estêvão,

zângão(s);

devêreis (de dever), escrevêsseis (de escrever), fôreis (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis(pl.

de pênsil), têxteis (pl. de têxtil); dândi(s), Mênfis; ânus;

c) As formas verbais têm e vêm, 3.ªs pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir,

que são foneticamente paroxítonas (respetivamente /tãjãj/, /vãjãj/ ou /têêj/, /vêêj/ ou

ainda /têjêj/, /vêjêj/; cf. as antigas grafias preteridas, têem, vêem), a fim de se distinguirem

de tem e vem, 3ªs pessoas do singular do presente do indicativo ou 2ªs pessoas do singular do

imperativo; e também as correspondentes formas compostas, tais

como: abstêm (cf. abstém), advêm (cf. advém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém),des

convêm (cf. desconvém), detêm (cf. detem), entretêm (cf. entretém), intervêm (cf. intervém), m

antêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém),provêm (cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém).

Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias detêem, intervêem, mantêem,

provêem, etc.

6. Assinalam-se com acento circunflexo:

a) Obrigatoriamente, pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), que se

distingue da correspondente forma do presente do indicativo (pode);

b) Facultativamente, dêmos (1ª pessoa do plural do presente do conjuntivo), para se distinguir

da correspondente forma do pretérito perfeito do indicativo (demos); fôrma (substantivo),

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distinta de forma (substantivo; 3ª pessoa do singular do presente do indicativo ou 2ª pessoa do

singular do imperativo do verbo formar).

7. Prescinde-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm

um e tónico/tônico oral fechado em hiato com a terminação -em da 3ª pessoa do plural do

presente do indicativo ou do conjuntivo, conforme os casos: creem, deem (conj.), descreem,

desdeem (conj.),leem, preveem, redeem (conj.), releem, reveem, tresleem, veem.

8. Prescinde-se igualmente do acento circunflexo para assinalar a vogal tónica/tonica fechada

com a grafia o em palavras paroxítonas comoenjoo, substantivo e flexão de enjoar, povoo,

flexão de povoar, voo, substantivo e flexão de voar, etc.

9. Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras

paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são

homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para

(á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s),

combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação

de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s);

etc.

10. Prescinde-se igualmente de acento gráfico para distinguir paroxítonas homógrafas

heterofónicas/heterofônicas do tipo de acerto (ê), substantivo, e acerto (é), flexão de acertar;

acordo (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de acordar; cerca (ê), substantivo, advérbio e

elemento da locução prepositiva cerca de, e cerca (é), flexão de cercar; coro (ó), substantivo,

e flexão de corar; deste (ê), contração da preposição de com o demonstrativo este, e deste (é),

flexão de dar; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora (ó), advérbio, interjeição e substantivo; piloto

(ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar, etc.

BASE X: DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS GRAFADAS I E U

DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS

1. As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento

agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não

constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl.

de adail),aí, atraí (de atrair), baú, caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde,

Araújo, Ataíde, atraiam (de atrair), atraísse (id.), baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo,

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faísca, faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída,

ruína, saída, sanduíche, etc.

2. As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam

acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba

com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail,

paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair,

demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz, etc.

3. Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal tónica/tônica

grafada i das formas oxítonas terminadas em r dos verbos em -air e -uir, quando estas se

combinam com as formas pronominais clíticas -lo(s), -la(s), que levam à assimilação e perda

daquele -r: atraí-lo(s), [de atrair-lo(s)]; atraí-lo(s)-ia [de atrair-lo(s)-ia]; possuí-

la(s) [de possuir-la(s)]; possuí-la(s)-ia [de possuir-la(s)-ia].

4. Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras

paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo:baiuca, boiuno, cauila (var. cauira),

cheiinho (de cheio), saiinha (de saia).

5. Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas de

ditongo, pertencem a palavras oxítonas e estão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú,

teiús, tuiuiú, tuiuiús.

Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam o acento

agudo: cauim.

6. Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando

precedidos de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul).

7. Os verbos arguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/tônica

grafada u nas formas rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui, arguem; argua, arguas,

argua, arguam. Os verbos do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar,

desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e afins, por oferecerem dois paradigmas, ou têm as

formas rizotónicas/rizotônicas igualmente acentuadas no umas sem marca gráfica (a exemplo

de averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues, averigue, averiguem;

enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxague, enxaguem ,

etc.; delinquo, delinquis, delinqui, delinquem; mas delinquimos, delinquís) ou têm as formas

rizotónicas/rizotônicas acentuadas fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i radicais (a

exemplo deaveríguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue,

averíguem; enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue,

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enxáguem; delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínqua,

delínquam).

Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registe-se que os verbos em -ingir (atingir,

cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em -inguir sem prolação do u (distinguir,

extinguir, etc.) têm grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.;

distingo, distinga, distingue, distinguimos, etc.).

BASE XI: DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PROPAROXÍTONAS

1. Levam acento agudo:

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas

grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta: árabe, cáustico,

Cleópatra, esquálido, exército, hidráulico, líquido, míope, músico, plástico, prosélito,

público, rústico, tétrico, último;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/tônica as

vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta, e que

terminam por sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas como

ditongos crescentes (-ea, -eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo, etc.): álea, náusea; etéreo, níveo;

enciclopédia, glória; barbárie, série; lírio, prélio; mágoa, nódoa; exígua, língua; exíguo,

vácuo.

2. Levam acento circunflexo:

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada ou

ditongo com a vogal básica fechada: anacreôntico, brêtema, cânfora, cômputo,

devêramos (de dever), dinâmico, êmbolo, excêntrico, fôssemos (de ser e ir), Grândola,

hermenêutica, lâmpada, lôstrego, lôbrego, nêspera, plêiade, sôfrego, sonâmbulo, trôpego;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas na sílaba

tónica/tônica, e terminam por sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente

consideradas como ditongos crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua,

serôdio.

3. Levam acento agudo ou acento circunflexo as palavras proparoxítonas, reais ou aparentes,

cujas vogais tónicas/tônicas grafadas e ou o estão em final de sílaba e são seguidas das

consoantes nasais grafadas m ou n, conforme o seu timbre é, respetivamente, aberto ou

fechado nas pronúncias cultas da língua: académico/acadêmico, anatómico/anatômico,

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cénico/cênico, cómodo/cômodo, fenómeno/ fenômeno, género/gênero, topónimo/topônimo;

Amazónia/Amazônia, António/Antônio, blasfémia/blasfêmia, fémea/fêmea, gémeo/gêmeo,

génio/gênio, ténue/tênue.

BASE XII: DO EMPREGO DO ACENTO GRAVE

1. Emprega-se o acento grave:

a) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome

demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as);

b) Na contração da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas e

aquilo ou ainda da mesma preposição com os compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s),

àquela(s), àquilo; àqueloutro(s), àqueloutra(s).

BASE XIII: DA SUPRESSÃO DOS ACENTOS EM PALAVRAS DERIVADAS

1. Nos advérbios em -mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo, estes

sãosuprimidos: avidamente (de ávido), debilmente(de débil), facilmente (de fácil), habilmente

(de hábil), ingenuamente (de ingênuo), lucidamente (de lúcido), mamente (de má), somente (d

esó), unicamente (de único),etc.; candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), dinami

camente (de dinâmico), espontaneamente (deespontâneo), portuguesmente (de português), ro

manticamente (de romântico).

Nas palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z e cujas formas de base apresentam

vogal tónica/tônica com acento agudo ou circunflexo, estes são

suprimidos: aneizinhos (de anéis), avozinha (de avó), bebezito (de bebé), cafezada (de café), c

hapeuzinho (dechapéu), chazeiro (de chá), heroizito (de herói), ilheuzito (de ilhéu), mazinha (

de má), orfãozinho (de órfão), vintenzito (de vintém),

etc.;avozinho (de avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita (de lâmpada), pessegozito (de

pêssego).

BASE XIV: DO TREMA

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1. O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou

aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais

que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e

nãosaüdar, ainda que trissílabo; etc.

Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona,

um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para distinguir, também em sílaba átona,

um i ou um u de um ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou

átona, o u de gu ou de qu de um e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento,

esmiuçar, faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi,

piauiense; aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista,

linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.

Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas de

nomes próprios estrangeiros: hübneriano, deHübner, mülleriano, de Müller, etc.

BASE XV: DO HÍFEN EM COMPOSTOS, LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS

VOCABULARES

1. Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de

ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma

unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o

primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste,

médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-

perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano;

afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-

sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.

Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de

composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé,

paraquedas, paraquedista, etc.

2. Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos iniciados pelos adjetivos grã,

grão ou por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-

Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-

Fortes; Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo,

Trás-os-Montes.

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Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados,

sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à

Cinta, etc. O topónimo/topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso.

3. Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas,

estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-

flor, erva-doce, feijão-verde; bênção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-

inácio, bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e

ao malmequer); andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-

d'água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).

4. Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com

o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa

por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com

palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-

aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-

criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf. malfalante), bem-

mandado (cf.malmandado), bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-

visto (cf. malvisto).

Obs.: Em muitos compostos o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento,

quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc.

5. Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem: além-

Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém-mar, aquém-Pirenéus; recém-casado, recém-

nascido; sem-cerimónia, sem-número, sem-vergonha.

6. Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais,

prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já

consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-

que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de

emprego sem hífen as seguintes locuções:

a) Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;

b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho;

c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja;

d) Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de mais (locução que se

contrapõe a de menos; note-se demais, advérbio, conjunção, etc.), depois de amanhã, em

cima, por isso;

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e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de,

aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a;

f) Conjuncionais: a fim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto

que.

7. Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam,

formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a

divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-

Porto, a ligaçãoAngola-Moçambique e bem assim nas combinações históricas ou ocasionais

de topónimos/topônimos (tipo: Austria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio

de Janeiro, etc.).

BASE XVI: DO HÍFEN NAS FORMAÇÕES POR PREFIXAÇÃO, RECOMPOSIÇÃO

E SUFIXAÇÃO

1. Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-,

extra-, hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, sub-, super-, supra-, ultra-, etc.) e em

formações por recomposição, isto é, com elementos não autónomos ou falsos prefixos, de

origem grega e latina (tais como: aero-, agro-, arqui-, auto-, bio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-,

macro-, maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto, pseudo, retro-, semi-, tele-,

etc.), só se emprega o hífen nos seguintes casos:

a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiénico/anti-higiênico,

circum-hospitalar, co-herdeiro, contra-harmónico/contra-harmônico, extra-humano, pré-

história, sub-hepático, super-homem, ultra-hiperbólico; arquihipérbole, eletro-higrómetro,

geo-história, neo-helénico/neo-helênico, pan-helenismo, semi-hospitalar.

Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des-

e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o hinicial: desumano, desumidificar, inábil,

inumano, etc.

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se

inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular;

arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno.

Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento

mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar,

etc.

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c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por

vogal, m ou n (além de h, caso já considerado atrás na alínea a): circum-escolar, circum-

murado, circum-navegação; pan-africano, pan-mágico, pan-negritude.

d) Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados com elementos

iniciados por r: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.

e) Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-

, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-

ministro, ex-rei; sota-piloto, soto-mestre, vice-presidente, vice-reitor, vizo-rei.

f) Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-,

quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as

correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação,

pós-tónico/pós-tônicos (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-

europeu (mas promover).

2. Não se emprega, pois, o hífen:

a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento

começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em

palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso,

antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal

como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia .

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento

começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos e

científicos. Assim: antiaéreo, coeducaçao, extraescolar, aeroespacial, autoestrada,

autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.

3. Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nos vocábulos terminados por

sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim,

quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia

exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-

açu, Ceará-Mirim.

BASE XVII: DO HÍFEN NA ÊNCLISE, NA TMESE E COM O VERBO HAVER

1. Emprega-se o hífen na ênclise e na tmese: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei,

enviar-lhe-emos.

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2. Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do

presente do indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão de, etc.

Obs.: 1. Embora estejam consagradas pelo uso as formas verbais quer e requer, dos

verbos querer e requerer, em vez de quere e requere, estas últimas formas conservam-se, no

entanto, nos casos de ênclise: quere-o(s), requere-o(s). Nestes contextos, as formas (legítimas,

aliás)qué-lo e requé-lo são pouco usadas.

2. Usa-se também o hífen nas ligações de formas pronominais enclíticas ao advérbio eis (eis-

me, ei-lo) e ainda nas combinações de formas pronominais do tipo no-lo, vo-las, quando em

próclise (por ex.: esperamos que no-lo comprem).

BASE XVIII: DO APÓSTROFO

1. São os seguintes os casos de emprego do apóstrofo:

a) Faz-se uso do apóstrofo para cindir graficamente uma contração ou aglutinação vocabular,

quando um elemento ou fração respetiva pertence propriamente a um conjunto vocabular

distinto: d'Os Lusíadas, d'Os Sertões; n 'Os Lusíadas, n 'Os Sertões; pel' Os Lusíadas, pel' Os

Sertões. Nada obsta, contudo, a que estas escritas sejam substituídas por empregos de

preposições íntegras, se o exigir razão especial de clareza, expressividade ou ênfase: de Os

Lusíadas, em Os Lusíadas, por Os Lusíadas, etc.

As cisões indicadas são análogas às dissoluções gráficas que se fazem, embora sem emprego

do apóstrofo, em combinações da preposição acom palavras pertencentes a conjuntos

vocabulares imediatos: a A Relíquia, a Os Lusíadas (exemplos: importância atribuída a A

Relíquia;recorro a Os Lusíadas). Em tais casos, como é óbvio, entende-se que a dissolução

gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética: a A= à, a Os = aos, etc.

b) Pode cindir-se por meio do apóstrofo uma contração ou aglutinação vocabular, quando um

elemento ou fração respetiva é forma pronominal e se lhe quer dar realce com o uso de

maiúscula: d'Ele, n'Ele, d'Aquele, n'Aquele, d'O, n'O, pel'O, m'O, t'O, lh'O, casos em que a

segunda parte, forma masculina, é aplicável a Deus, a Jesus, etc.; d'Ela, n'Ela, d'Aquela,

n'Aquela, d'A, n'A, pel'A, tu'A, t'A, lh'A, casos em que a segunda parte, forma feminina, é

aplicável à mãe de Jesus, à Providência, etc. Exemplos frásicos: confiamos n'O que nos

salvou; esse milagre revelou-m'O; está n'Ela a nossa esperança; pugnemos pel'A que é nossa

padroeira.

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À semelhança das cisões indicadas, pode dissolver-se graficamente, posto que sem uso do

apóstrofo, uma combinação da preposição a com uma forma pronominal realçada pela

maiúscula: a O, a Aquele, a Aquela (entendendo-se que a dissolução gráfica nunca impede na

leitura a combinação fonética: a O = ao, a Aquela = àquela, etc.). Exemplos frásicos: a O que

tudo pode, a Aquela que nos protege.

c) Emprega-se o apóstrofo nas ligações das formas santo e santa a nomes do hagiológio,

quando importa representar a elisão das vogais finais o e a: Sant'Ana, Sant'Iago, etc. É, pois,

correto escrever: Calçada de Sant'Ana. Rua de Sant'Ana; culto de Sant'Iago, Ordem de

Sant'Iago. Mas, se as ligações deste género, como é o caso destas

mesmas Sant'Ana e Sant'Iago, se tornam perfeitas unidades mórficas, aglutinam-se os dois

elementos: Fulano de Santana, ilhéu de Santana, Santana de Parnaíba; Fulano de Santiago,

ilha de Santiago, Santiago do Cacém. Em paralelo com a grafia Sant'Ana e congéneres,

emprega-se também o apóstrofo nas ligações de duas formas antroponímicas, quando é

necessário indicar que na primeira se elide um o final: Nun'Álvares, Pedr'Eanes.

Note-se que nos casos referidos as escritas com apóstrofo, indicativas de elisão, não impedem,

de modo algum, as escritas sem apóstrofo: Santa Ana, Nuno Álvares, Pedro Álvares, etc.

d) Emprega-se o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a elisão do e da

preposição de, em combinação com substantivos: borda-d'água, cobra-d'água, copo-d'água,

estrela-d'alva, galinha-d'água, mãe-d'água, pau-d'água, pau-d'alho, pau-d'arco, pau-d'óleo.

2. São os seguintes os casos em que não se usa o apóstrofo:

Não é admissível o uso do apóstrofo nas combinações das preposições de e em com as formas

do artigo definido, com formas pronominais diversas e com formas adverbiais [excetuado o

que se estabelece nas alíneas 1.º,a) e 1.º,b) ]. Tais combinações são representadas:

a) Por uma só forma vocabular, se constituem, de modo fixo, uniões perfeitas:

i) do, da, dos, das; dele, dela, deles, delas; deste, desta, destes, destas, disto; desse, dessa,

desses, dessas, disso; daquele, daquela, daqueles, daquelas, daquilo; destoutro, destoutra,

destoutros, destoutras; dessoutro, dessoutra, dessoutros, dessoutras; daqueloutro,

daqueloutra, daqueloutros, daqueloutras; daqui; daí; dali; dacolá; donde;

dantes (= antigamente);

ii) no, na, nos, nas; nele, nela, neles, nelas; neste, nesta, nestes, nestas, nisto; nesse, nessa,

nesses, nessas, nisso; naquele, naquela, naqueles, naquelas, naquilo; nestoutro, nestoutra,

nestoutros, nestoutras; nessoutro, nessoutra, nessoutros, nessoutras; naqueloutro,

naqueloutra, naqueloutros, naqueloutras; num, numa, nuns, numas; noutro, noutra, noutros,

noutras, noutrem; nalgum, nalguma, nalguns, nalgumas, nalguém.

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b) Por uma ou duas formas vocabulares, se não constituem, de modo fixo, uniões perfeitas

(apesar de serem correntes com esta feição em algumas pronúncias): de um, de uma, de uns,

de umas, ou dum, duma, duns, dumas; de algum, de alguma, de alguns, de algumas, de

alguém, de algo, de algures, de alhures, ou dalgum, dalguma, dalguns, dalgumas, dalguém,

dalgo, dalgures, dalhures; de outro, de outra, de outros, de outras, de outrem, de outrora, ou

doutro, doutra, doutros, doutras, doutrem, doutrora; de aquém ou daquém; de além ou

dalém; de entre ou dentre.

De acordo com os exemplos deste último tipo, tanto se admite o uso da locução adverbial de

ora avante como do advérbio que representa a contração dos seus três elementos: doravante.

Obs.: Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou pronominais o, a, os,

as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios começados por vogal, mas acontece estarem

essas palavras integradas em construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem se

funde a preposição com a forma imediata, escrevendo-se estas duas separadamente: afim de

ele compreender; apesar de o não ter visto; em virtude de os nossos pais serem bondosos; o

facto de o conhecer; por causa de aqui estares.

BASE XIX: DAS MINÚSCULAS E MAIÚSCULAS

1. A letra minúscula inicial é usada:

a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes.

b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.

c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais

vocábulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo

em grifo): O Senhor do Paço de Ninães, O Senhor do paço de Ninães, Menino de Engenho,

Menino de engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e tambor.

d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano.

e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste).

f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também

com maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o Cardeal

Bembo; santa Filomena (ou Santa Filomena).

g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também

com maiúscula): português (ou Português),matemática (ou Matemática); línguas e literaturas

modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas).

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2. A letra maiúscula inicial é usada:

a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D.

Quixote.

b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro,

Atlântida, Hespéria.

c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/ Netuno.

d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da

Previdência Social.

e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos.

f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São

Paulo (ou S. Paulo).

g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por

nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal,Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros

países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático.

h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas com

maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H2O,

Sr., V. Ex.ª.

i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente,

em início de versos, em categorizações de logradouros públicos: (rua ou Rua da

Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do

Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da

Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).

Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras

especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas

(terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas

de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.

BASE XX: DA DIVISÃO SILÁBICA

A divisão silábica, que em regra se faz pela soletração (a-ba-de, bru-ma, ca-cho, lha-no, ma-

lha, ma-nha, má-xi-mo, ó-xi-do, ro-xo, te-me-se), e na qual, por isso, se não tem de atender

aos elementos constitutivos dos vocábulos segundo a etimologia (a-ba-li-e-nar, bi-sa-vó, de-

sa-pa-re-cer, di-sú-ri-co, e-xâ-ni-me, hi-pe-ra-cús-ti-co, i-ná-bil, o-bo-val, su-bo-cu-lar, su-

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pe-rá-ci-do), obedece a vários preceitos particulares, que rigorosamente cumpre seguir,

quando se tem de fazer em fim de linha, mediante o emprego do hífen, a partição de uma

palavra:

1. São indivisíveis no interior de palavra, tal como inicialmente, e formam, portanto, sílaba

para a frente as sucessões de duas consoantes que constituem perfeitos grupos, ou sejam (com

exceção apenas de vários compostos cujos prefixos terminam em b ou d: ab- legação, ad-

ligar, sub- lunar, etc., em vez de a-blegação, a-dligar, su-blunar, etc.) aquelas sucessões em

que a primeira consoante é uma labial, uma velar, uma dental ou uma labiodental e a segunda

um l ou um r: ablução, ce-le-brar, du-plicação, re-primir; a-clamar, de-creto, de-glutição,

re-grado; a-tlético, cáte-dra, períme-tro; a-fluir, a-fricano, ne-vrose.

2. São divisíveis no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não constituem

propriamente grupos e igualmente as sucessões dem ou n, com valor de nasalidade, e uma

consoante: ab-dicar, Ed-gardo, op-tar, sub-por, absoluto, ad-jetivo, af-ta, bet-samita, íp-

silon, ob-viar; des-cer, dis-ciplina, flores-cer, nas-cer, res-cisão; ac-ne, ad-mirável, Daf- ne,

diafrag-ma, drac-ma, ét-nico, rit-mo, sub-meter, am-nésico, interam- nense; bir-reme, cor-

roer, pror-rogar; as-segurar, bis-secular, sos- segar; bissex-to, contex-to, ex-citar, atroz-

mente, capaz-mente, infeliz- mente; am-bição, desen-ganar, en-xame, man-chu, Mân-lio, etc.

3. As sucessões de mais de duas consoantes ou de m ou n, com o valor de nasalidade, e duas

ou mais consoantes são divisíveis por um de dois meios: se nelas entra um dos grupos que são

indivisíveis (de acordo com o preceito 1º), esse grupo forma sílaba para diante, ficando a

consoante ou consoantes que o precedem ligadas à sílaba anterior; se nelas não entra nenhum

desses grupos, a divisão dá-se sempre antes da última consoante. Exemplos dos dois

casos: cam- braia, ec- lipse, em- blema, ex- plicar, in- cluir, ins- crição, subs- crever, trans-

gredir; abs- tenção, disp- neia, inters- telar, lamb- dacismo, sols- ticial, Terp- sícore, tungs-

ténio.

4. As vogais consecutivas que não pertencem a ditongos decrescentes (as que pertencem a

ditongos deste tipo nunca se separam: ai-roso, cadei-ra, insti-tui, ora-ção, sacris-tães, traves-

sões) podem, se a primeira delas não é u precedido de g ou q, e mesmo que sejam iguais,

separar-se na escrita: ala-úde, áre-as, ca-apeba, co-ordenar, do-er, flu-idez, perdo- as, vo-os.

O mesmo se aplica aos casos de contiguidade de ditongos, iguais ou diferentes, ou de

ditongos e vogais: cai-ais, caí-eis, ensai-os, flu-iu.

5. Os digramas gu e qu, em que o u se não pronuncia, nunca se separam da vogal ou ditongo

imediato (ne- gue, ne- guei; pe- que, pe- quei), do mesmo modo que as

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combinações gu e qu em que o u se pronuncia: á-gua, ambí-guo, averi-gueis; longín-quos, lo-

quaz, quais- quer.

6. Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há

um hífen ou mais, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros, deve,

por clareza gráfica, repetir-se o hífen no início da linha imediata: ex- -alferes, serená- -los-

emos ou serená-los- -emos, vice- -almirante.

BASE XXI: DAS ASSINATURAS E FIRMAS

Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por costume ou registro legal,

adote na assinatura do seu nome.

Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer firmas comerciais, nomes de

sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registro público.