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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP RÓGER YAMASHITA ANÁLISE DO PADRÃO DE ESPECIALIZAÇÃO COMERCIAL BRASILEIRO ENTRE 1990 A 2012 MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA São Paulo 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

RÓGER YAMASHITA

ANÁLISE DO PADRÃO DE ESPECIALIZAÇÃO COMERCIAL

BRASILEIRO ENTRE 1990 A 2012

MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA

São Paulo

2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

RÓGER YAMASHITA

ANÁLISE DO PADRÃO DE ESPECIALIZAÇÃO COMERCIAL

BRASILEIRO ENTRE 1990 A 2012

MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora do Programa de Pós

Graduação em Economia Política-

PUC/SP, para obtenção do título de

MESTRE EM ECONOMIA, sob orientação

do Prof. Dr. Paulo Fernandes Baia.

São Paulo

2013

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RÓGER YAMASHITA

Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos a

reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos

fotocopiadores ou eletrônicos, para consulta pública e

utilização como referência bibliográfica desde que citada com

referência de autoria, respeitados os termos da legislação

vigente sobre direitos autorais.

São Paulo, 15 de abril de 2013.

Assinatura: __________________________

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BANCA EXAMINADORA

____________________________________

Prof. Dr. Paulo Fernandes Baia Orientador – Departamento de Ciências Econômicas, PUC/SP ___________________________________

Prof. Dr. Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho Examinador – Departamento de Ciências Econômicas, PUC/SP ___________________________________

Prof. Dr. Silvio Yoshiro Mizuguchi Miyazaki Examinador - Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades.

YAMASHITA, Róger. Análise do Padrão de Especialização Comercial

Brasileiro entre 1990 a 2012, 2013. [Dissertação de Mestrado em

Economia. Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política.

Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuaria.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo].

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço o apoio incondicional da minha família ao longo de toda a minha

formação pessoal e acadêmica, que tornou possível a realização desse trabalho.

Agradeço ao meu orientador Paulo Fernandes Baia que me acompanhou ao longo

do curso e aos professores Carlos Eduardo de Carvalho e Silvio Yoshiro

Mizuguchi Miyazaki, que aceitaram o convite para examinar meu trabalho.

Agradeço, por fim, a todos os autores mencionados nessa pesquisa.

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RESUMO

O trabalho analisa o padrão de especialização comercial brasileiro, entre 1990 a 2012. São apresentadas as teorias de comércio internacional e os indicadores de vantagens comparativas, contemplando o escopo teórico e empírico da análise. É avaliada a política comercial brasileira, das últimas décadas, e seus desdobramentos. A análise utilizou os indicadores de vantagens comparativas, os coeficientes de exportação e penetração e os índices de preços e quantidades, a partir de dados da Funcex, Secex/MDIC, CNI e WITS. Verificou-se a existência de um possível processo de “reprimarização” das exportações brasileiras, que decorre da redução na proporção de bens de alto valor adicionado e o aumento de produtos primários na pauta de exportações brasileira. Por fim, consideram-se inconclusivos os indícios de que a economia brasileira tem passado por um processo de doença holandesa. Palavras chave: especialização comercial, acordo comercial, taxa de câmbio e produtividade.

Classificação JEL: C02, F18, F41, O11, O24

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ABSTRACT

This work analyze the brazilian commercial specialization pattern, between

1990 to 2012. The international trade theory and the comparative advantage

indicators are introduced, contemplating the theoretical and empiric purpose of the

analysis. Is evaluated the brazilian commercial policy, in the last decades, and it´s

unfolding. The analyses uses the comparative advantage indicators, the

exportation and penetration coefficients and the price and quantum index, from

data bases of Funcex, Secex/MDIC, CNI and WITS. Is verified the existence of a

possible “reprimarization” process of brazilian exportation, due to the reduction of

high value added goods proportion and the growth of primaries products in

brazilian exportation list. Finally, are considered inconclusives the evidences that

brazilian economy is passing by the dutch disease process.

Key words: international trade, trade specialization, exchange rate and productivity.

JEL Classification: C02, F18, F41, O11, O24.

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LISTA DE SIGLAS

AL - América Latina

ALADI - Associação Latino Americana de Integração

ALC - Acordo de Livre Comércio Mercosul-Israel

ALCA - Área de Livre Comércio das Américas

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BNTs - Barreiras Não Tarifárias

BRICs - Brasil, Rússia, Índia e China

CB - Índice de Contribuição ao Balanço Comercial

GL - Grubel e Lloyd

HS - Harmonized System

IDE - Investimento Direto Externo

IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

ISIC - International Standard Industrial Classification of All Economic

Activities

ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Mercosul - Mercado Comum do Sul

NTB - Saldo Comercial Normalizado

OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMC - Organização Mundial do Comércio

PDP - Política de Desenvolvimento Produtivo

PED - Países em Desenvolvimento

P&D - Pesquisa e Desenvolvimento

PND - Programa Nacional de Desnacionalização

PICE - Programa Industrial e de Comércio Exterior

POLI - Índice de Polarização do Padrão de Especialização Comercial

PROEX - Programa de Financiamento às Exportações

RCA - Índice de Vantagens Comparativas Reveladas

TRIMs - Acordo Sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio

TS - Índice de Especialização Comercial

UE - União Europeia

UNIDO - Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Industrial

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Unasul - União Sulamericana das Nações

SECEX - Secretaria de Comércio Exterior

SITC Rev 3 - Standard International Trade Classification of All Economic

Activities

WITS - World Integrated Trade Solutions

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SUMÁRIO PÁG

INTRODUÇÃO.............................................................................................................1

CAPÍTULO 1 – AS TEORIAS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL...........................5

1.1 - As teorias “puras” do comércio internacional....................................................5 1.2 - A teoria do comércio estratégico....................................................................11 1.3 - A teoria neoclássica de comércio internacional............................................. 15 1.4 - A teoria econômica da integração comercial................................................. 18 1.5 - Os indicadores de especialização comercial................................................. 20 1.6 - Conclusões.................................................................................................... 25

2) A POLÍTICA COMERCIAL BRASILEIRA...........................................................26

2.1 - A economia brasileira, no início dos anos 1990.............................................26 2.2 - O Brasil em suas relações com o Mercosul e principais parceiros............... 33 2.3 - Os instrumentos de política comercial........................................................... 37 2.4 - Conclusões.................................................................................................... 40

3) A ESPECIALIZAÇÃO COMERCIAL BRASILEIRA............................................ 41

3.1 - A especialização comercial brasileira............................................................ 41 3.2 - A taxa de câmbio sobre o padrão comercial brasileiro.................................. 54 3.3 - Os determinantes da especialização brasileira..............................................58 3.4 - A doença holandesa...................................................................................... 61 3.5 - Conclusões.................................................................................................... 63

CONCLUSÕES.....................................................................................................

64

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................

67

1 – TABELAS

TABELA 1 - Coeficientes de exportação e penetração brasileiros........................ 43

TABELA 2 - Variação das exportações brasileiras por tipo de produto................. 47

TABELA 3 - Participação do produto nas exportações por país........................... 48

TABELA 4 - Participação por produto na pauta de exportações brasileira...............................................................................................................

50

TABELA 5 - Evolução dos indicadores de especialização comercial da economia brasileira: 1990-2011........................................................................... 52

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2 – GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Índice dos termos de troca da economia brasileira......................... 30

GRÁFICO 2 - Balança comercial: 1990-2012........................................................ 30

GRÁFICO 3 - Participação brasileira no comércio internacional........................... 31

GRÁFICO 4 - Participação dos parceiros comerciais nas exportações brasileiras............................................................................................................... 35

GRÁFICO 5 - Participação dos parceiros comerciais nas importações brasileiras............................................................................................................... 35

GRÁFICO 6 - Participação do financiamento nas exportações de setores selecionados.......................................................................................................... 38

GRÁFICO 6 - Participação do financiamento nas exportações de setores selecionados.......................................................................................................... 36

GRÁFICO 7 - Coeficientes de exportação e penetração....................................... 44

GRÁFICO 8 - Percentual dos produtos nas exportações: por valor agregado..... 45

GRÁFICO 9 - Exportações anuais: 1990-2012...................................................... 46

GRÁFICO 10 - Importações anuais: 1990-2012......................................................46

GRÁFICO 11 - Taxa de câmbio (INPC) x quantum de exportações de manufaturados....................................................................................................... 55

GRÁFICO 12 - Investimento x PIB indústria de transformação............................ 59

ANEXOS

ANEXO A - Receita com privatizações................................................................. 76

ANEXO B - Metodologia dos coeficientes e exportação e penetração................. 77

ANEXO C - Classificação das indústrias de manufatura de acordo com a intensidade tecnológica......................................................................................... 78

ANEXO D - Participação dos produtos nas exportações por país........................ 79

ANEXO E - PIB e evolução do estoque de capital.................................................81

ANEXO F - Índices de preço, quantidades e valor, por tipo de produto................ 82

ANEXO G - Coeficientes de pass-through setoriais.............................................. 83

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1

INTRODUÇÃO

Em 1990 o Brasil voltava a eleger um presidente da república pela via

democrática, enquanto as doutrinas do Consenso de Washington remodelavam o

capitalismo e a China não fazia parte do grupo das maiores economias mundiais.

O período marca, no Brasil, uma ruptura com o modelo de crescimento anterior,

pautado pela substituição de importações e pela intervenção do Estado na

atividade econômica, que induziram o crescimento da indústria nacional,

sustentado pela demanda interna. Ao final do período haviam se esgotado as

condições externas que viabilizaram esse modelo de crescimento, além de se

tornado crítico o problema da dívida.

O governo Collor inicia, em 1990, um programa de reformas voltadas para

o mercado, representado, no âmbito interno, pelo processo de privatizações de

empresas estatais e externamente, pela liberalização financeira e redução das

barreiras de importação. As fusões e aquisições, decorrente das privatizações

constituem a maior parte dos investimentos externos no período, tendo pouco

sido investido em inovação e no aumento da produtividade, como ocorrera nas

décadas anteriores. O setor industrial nacional, menos eficiente que o concorrente

externo, gradualmente perdeu mercado especialmente nos setores com proteção

comercial reduzida.

O debate sobre um processo de reprimarização da pauta exportadora

brasileira, ganha força na década de 1990. A reprimarização pode ser entendida

como o resultado da perda de competividade internacional dos produtos

manufaturados nacionais e a mudança na estrutura das exportações. A proporção

de produtos mais intensivos em capital é reduzida na produção nacional, diante

do aumento de produtos de menor valor adicionado.

“Em economias onde um setor de bens transacionáveis cresce a ritmo acelerado – especialmente aqueles que exploram as rendas ricardianas – haverá um decréscimo em outros setores e, caso esse decréscimo ocorra nas manufaturas, diz-se que a economia está passando por um processo de desindustrialização. O desequilíbrio entre os setores afeta as vantagens comparativas do país, prejudicando a competitividade dos demais setores exportadores e elevando as desvantagens nas indústrias que competem com as importações” (CAMPOS, et al., 2010, p.350).

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2

Gonçalves (2000) observou uma perda de competitividade internacional da

economia brasileira entre 1997 a 1999, período de turbulência cambial, com

redução relativa da participação brasileira no comércio internacional. O resultado,

para esses anos é aparentemente paradoxal, pois o Brasil apresentou aumentos

de produtividade ao longo da década, embora tais ganhos fossem reflexos na

ineficiência da dinâmica da economia brasileira. Em 1999 o Brasil torna-se a “bola

de vez” no ciclo das crises financeiras dos países emergentes, passando por um

ano de recessão econômica, revertendo, por outro lado, os saldos negativos da

balança comercial, favorecido pela desvalorização do câmbio.

Para os anos seguintes, os produtos que contribuem para saldos

comerciais positivos são as commodities primárias, intensivos em trabalho e de

baixa intensidade tecnológico, enquanto os de produtos de média e alta

tecnologia representam déficits em seus setores (IGLESIAS e RIOS, 2010). As

exportações brasileiras, por outro lado, apresentaram, na última década, um

crescimento médio anual de 16% acima da média internacional de 12%. A

expansão deve-se ao aumento da demanda chinesa, à valorização das

commodities e também decorre da diversificação dos mercados compradores

(VALLS PEREIRA, 2012, p.2).

Entre 2003 a 2008 as condições externas foram amplamente favoráveis

para a economia brasileira que, por sua vez, registrou um crescimento de stop

and go. A melhora na situação externa brasileira e a intensificação da entrada de

investimento estrangeiro direto propiciaram uma relevante valorização cambial, a

partir de 2007, impactando a balança comercial brasileira, especialmente os

setores de maior valor adicionado menos protegidos. Após a recessão econômica

mundial, em 2009, o Brasil rapidamente se recupera registrando um crescimento

do PIB de 7,5% em 2010, favorecido pelo crescimento chinês e com a rápida

recuperação dos preços das commodities, ampliando o superávit comercial

brasileiro. A taxa de câmbio é analisada como um dos responsáveis pela perda de

competitividade da indústria no período. Elementos como a estrutura dos custos

de produção, a defasagem tecnológica das indústrias nacionais, a ineficiente

infraestrutura dos transportes e decisões de políticas econômicas, além da taxa

de juros tem sido apontadas como razões da perda de competitividade da

economia brasileira (ARRUDA e BRASIL, 2011).

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3

A partir do estudo de diversas publicações relacionadas à especialização

comercial brasileira, o presente trabalho testou a hipótese da existência de um

processo de reprimarização da pauta de exportações brasileiras. O objetivo

central consiste em analisar a magnitude da especialização comercial nos

diferentes segmentos produtivos. O objetivo específico consistiu em verificar os

fatores determinantes dessa configuração do comércio brasileiro. O trabalho

buscou ainda, agregar para as análises do desempenho comercial brasileiro os

indicadores de vantagens comparativas, desenvolvidos por Balassa na década de

1950.

O estudo do comportamento da pauta comercial e o desempenho setorial,

o trabalho baseia-se nos coeficientes de exportação e importação, nos índices de

preços e quantidades e na metodologia dos indicadores de vantagens

comparativas. Foram considerados os dados da Funcex, Secex, CNI, IPEA e UN

CONTRADE. Os cálculos para a análise de especialização comercial estão na

nomenclatura SITC Rev.3, do Banco Mundial. Para as evidências empíricas na

analise da especialização comercial brasileira, foram considerados os índices

divulgados pela Funcex e indicadores de vantagens comparativas, calculados a

partir dos dados da UN CONTRADE.

Para tanto, o trabalho analisa a política comercial brasileira, no período,

observando o processo de abertura comercial, em seus diferentes estágios, as

barreiras tarifárias e não tarifárias, os regimes especiais, os drawbacks e as

medidas antidumping. Para subsidiar a análise das políticas comerciais, parte-se

de uma análise das teorias clássicas do comércio internacional e as condições

para o seu funcionamento eficiente. Embora não exista uma teoria geral de

comércio internacional, alguns modelos teóricos podem fornecer explicações

adequadas em determinados contextos. De modo geral observa-se

historicamente nas políticas comerciais das nações e nas teorias de comércio

internacional, divergências relacionadas ao nível de protecionismo e intervenção

do Estado na atividade econômica.

O trabalho está estruturado em três capítulos, mais essa introdução e a

conclusão. O capítulo 1 apresenta as principais teorias de comércio internacional,

abordando a teoria clássica, os modelos neoclássicos, a teoria nacional

desenvolvimentista e uma síntese da teoria da integração comercial. É apresento,

por fim, os indicadores de vantagens comparativas, desenvolvidos na metade do

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século XX, e considerados na análise empírica da especialização comercial

brasileira. O capítulo 2 analisa a política comercial brasileira entre 1990 a 2012.

Parte-se de um breve resumo do pós-guerra seguindo com a análise do processo

de abertura comercial, sendo avaliadas as diferentes etapas no processo de

liberalização das importações. São analisados, em seguida, os desdobramentos

dos acordos comerciais, impactados perda global do ímpeto liberalizante desde

2004. Por fim, são vistos os principais instrumentos de política comercial

utilizados nas últimas décadas. O capítulo 3 analisa a especialização comercial

brasileira, tomando como referência os coeficientes de importação e exportação,

os índices de preços e quantidades e os indicadores de vantagens comparativas.

Verificou-se a existência de um possível processo de reprimarização da pauta de

exportações brasileira, que pode ser explicado não somente pela taxa de câmbio,

mas também pela competitividade da indústria nacional.

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CAPÍTULO 1 - AS TEORIAS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL

Apresentação

O capítulo descreve as principais teorias de comércio internacional,

abordando as teorias clássicas, as neoclássicas e o pensamento nacional

desenvolvimentista, além das recentes teorias dos acordos regionais da década

de 1950. Não existe uma teoria geral de comércio internacional. A partir das

abordagens teóricas, busca-se um entendimento das relações de troca

estabelecidas entre o Brasil e o resto do mundo, analisados nos capítulos

seguintes. É apresentada, por fim, a metodologia dos indicadores de vantagens

comparativas, aplicados na análise do comércio exterior brasileiro do capítulo 3.

1.1) As teorias “puras” do comércio internacional

Entre os séculos XV e XVIII, a prática comercial predominante na Europa

foi o mercantilismo1, baseado na crença de que o comércio não gerava ganhos

mútuos, pois os benefícios de uma nação com as trocas seriam compensados

pela perda de outra, em um sistema de soma zero. A noção de riqueza estava

associada ao acúmulo de metais preciosos, pensamento conhecido como

bulionismo. A expansão da quantidade de metais preciosos justificaria, portanto, o

comércio, como o mecanismo para o aumento da riqueza. O comércio deveria ser

uma via de mão única, na lógica mercantilista, devendo o Estado exercer forte

regulação, restringindo invariavelmente as importações e estimulando as

exportações, pela concessão privilégios, monopólios e aquisição colônias.

Os fisiocratas2, no século XVIII, são os primeiros a romperem com a ideia

do intervencionismo mercantilista. François Quesnay, um de seus principais

representantes, discordava da premissa mercantilista de que a riqueza teria

origem na indústria e no comércio (FUSFELD, 2001, p.27). O pensamento

fisiocrata, desenvolvido em torno da teoria do excedente, considera que esse

excedente é proveniente exclusivamente da terra, não sendo, gerado pela 1 William Petty, Edward Misselden, Thomas Mun, Richard Cantillon e Francis Hutcheson são os principais representates do mercantilismo. 2 François Quesnay foi o principal pensador entre os fisiocratas, representado também por Voltaire, Necker, Turgot e outros.

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indústria ou pelo comércio. Todos os impostos, dessa maneira, deveriam ser

pagos exclusivamente pelos proprietários de terras.

“A riqueza [para os fisiocratas] provinha, em última instância, da terra. Apenas a terra continha as forças geradoras da natureza. A indústria podia apenas transformar a riqueza derivada da natureza e o comércio só a mudava de local e de dono. Só da terra poder-se-ia extrair um excedente” (FUSFELD, 2001, p.28).

Os fisiocratas, portanto, posicionam-se favoráveis a liberalização comercial,

argumentando que a regulação da atividade econômica apenas dificultaria o fluxo

de renda mercadorias, prejudicando a indústria e o comércio, não devendo o

governo intervir em tais setores da economia.

Ao no final do século XVIII, Adam Smith formaliza a teoria econômica

clássica com a publicação publicada sua obra prima “A Riqueza das Nações”, em

1776. A teoria das vantagens absolutas é formalizada com base na divisão do

trabalho e na defesa da política do laissez-faire, justificada pela mão invisível do

mercado. Nessa ruptura com os mercantilistas, os metais preciosos, antes vistos

como forma de acumulação de riqueza, deixam de ser o ponto central na teoria

clássica. Uma das principais contribuições de Smith à teoria econômica consiste

em considerar o trabalho como a medida de riqueza, revelando na troca de

trabalho por trabalho3. A análise do processo de divisão do trabalho smithiana

explica os ganhos de produtividade propiciados por uma utilização mais eficaz

dos recursos, escassos, possibilitando um comércio mutuamente benéfico com a

partir especialização produtiva.

“Como é por acordo, barganha ou compra que obtemos uns dos outros a maior parte daqueles mútuos bons ofícios de que carecemos, assim é esta mesma disposição comercial que originalmente dá ocasião à divisão do trabalho. (...) a certeza de ser capaz de trocar todo aquele excesso de produto do trabalho de outros homens quando tiver ocasião, encoraja todo homem a aplicar-se a uma ocupação em especial e cultivar e levar à perfeição o talento ou gênio que ele possa possui para essa particular espécie de negociação.” (SMITH, 2007, p.25).

3 A teoria do valor trabalho smithiana, tem como aspectos: a substância do valor, a medida invariável do valor e o trabalho comandado. O primeiro trata do caráter criativo do trabalho, ao conferir valor às mercadorias. O segundo é a contraposição ao mercantilismo, cuja riqueza era medida em moedas metálicas. O terceiro constitui a essência da teoria do valor, uma vez que a divisão do trabalho e as trocas fazem das relações sociais a troca de trabalho por trabalho (MATTEI, 2003, p.278).

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No âmbito do comércio internacional, segundo Smith, o benefício mútuo

torna-se possível quando uma nação é mais eficiente na produção de

determinada commodity e menos eficiente na produção de outra. O país deve

possuir vantagem absoluta na produção em um dos bens e desvantagem

absoluta no segundo. A especialização produtiva de cada nação deve ocorrer nos

bens que possui vantagem absoluta, trocando parte da produção que tem

desvantagem na produção. O aumento a capacidade de produção, a partir do

aprofundamento da divisão do trabalho e do livre comércio contribui para

aumentar a chamada riqueza das nações.

“Todo indivíduo está continuamente esforçando-se para achar o emprego mais vantajoso para o capital que possa comandar. É sua própria vantagem, de fato, e não a da sociedade, que ele tem em vista. Mas o estudo de sua própria vantagem, naturalmente, ou melhor, necessariamente, leva-o a preferir aquele emprego que é mais vantajoso para a sociedade.” (SMITH, 2007, p.180)

Visando atingir o mais alto grau de prosperidade nacional, os indivíduos

devem poder comprar os produtos com os menores preços, sendo o equilíbrio do

mercado garantido pela mão invisível. O governo não deve interferir sobre o

mercado, com a criação de restrições comerciais visando defender a produção

nacional. Smith defende que as medidas protecionistas, em defesa da indústria

local, resultam na produção de bens menos competitivos, levando a uma

utilização ineficaz dos recursos.

“As vantagens naturais que um país tem sobre outro na obtenção de alguma mercadoria, por vezes, é tão grande que é reconhecido por todo o mundo ser em vão lutar contra eles. Por meio de estufas, uvas muito boas podem ser cultivadas na Escócia, e bom vinho pode ser feito com elas com cerca de trinta vezes as despesas pelas quais podem ser cultivadas igualmente bem em países estrangeiros” (SMITH, 2007, p.183).

A teoria clássica condena as formas de protecionismo ao comércio, exceto

em três situações: como forma de represália, no caso de uma nação estrangeira

impor restrições às importações, na esperança do país estrangeiro renunciar a

essas restrições, com tais medias de represália; segundo, para a defesa da

nação, caso o regime de livre concorrência não permita ao país implantar e

manter as manufaturas necessárias para a defesa nacional; e, como meio de

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8

equilíbrio, caso as taxas aduaneiras impostas a artigos estrangeiros sejam

inferiores às vigentes para produtos nativos (SMITH, 2007).

Algumas décadas após “A Riqueza das Nações” a teoria clássica é

completada por David Ricardo. Em 1817, Ricardo publicou os “Princípios de

Economia Política e Tributação” e introduziu o princípio das vantagens

comparativas, considerados posteriormente nas abordagens neoclássicas. A

especialização produtiva é determinada, de acordo com as vantagens

comparativas, pelos custos relativos de produção, tornando as vantagens

absolutas smithiana um caso particular dessa teoria. As vantagens comparativas

ricardiana tem como hipóteses a existência de apenas duas nações e duas

commodities, o livre comércio, a mobilidade perfeita de mão de obra internamente

e ausência de mobilidade entre duas nações, os custos de produção constantes,

a ausência de custo de transporte e de mudanças técnicas e, por fim, teoria do

valor trabalho4.

Mesmo para uma nação menos eficiente que outra, com desvantagem

absoluta na produção de ambas as commodities, ainda existem condições para

um comércio mutuante benéfico. A primeira nação deve-se especializar na

produção da commodity na qual sua desvantagem absoluta seja menor e importar

a commodity na qual sua desvantagem absoluta seja maior. A nação menos

eficiente deveria especializar-se na produção e exportação da commodity na qual

sua menor desvantagem absoluta, ou seja, a commodity que possui vantagem

comparativa.

A exceção à lei das vantagens comparativas acontece quando a estrutura

de custos é idêntica para ambos os países e, nesse caso, a desvantagem

absoluta de uma nação em relação à outra é a mesma para ambas as

commodities. Portanto, se uma nação possuir desvantagem absoluta em relação

a outro na produção dos dois bens, a não ser que a desvantagem absoluta esteja

na mesma proporção para as duas commodities, ainda existe base para um

comércio mutuamente benéfico.

4 Na teoria ricardiana, a teoria do valor trabalho é falha para explicar as vantagens comparativas. O preço de um bem, segundo a teoria, depende exclusivamente da quantidade de mão de obra necessária para a sua produção. Dessa maneira a mão de obra é homogênea e o único fator de produção ou é utilizada em proporções fixas na produção de todos os bens (MATTEI, 2003, p.278).

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A mão de obra não é o único fator de produção nem é utilizada na mesma

proporção para a produção de todos os produtos, pois há commodities que

requerem uma maior quantidade de bens de capital por trabalhador na sua

produção, em relação a outros. Há ainda a possibilidade de substituição entre

mão de obra, capital e outros fatores na produção da maior parte das

commodities. A mão de obra também não é homogênea, variando em

treinamento, produtividade e salários.

A variação da taxa de lucro, na concepção ricardiana, ocorre tão somente

no caso da variação dos salários reais. O aumento da taxa de lucro da economia

não é, necessariamente, um resultado do comércio exterior. A taxa de lucro do

comércio exterior será necessariamente igual à taxa de lucros do resto da

economia. Ricardo observa que:

“os salários reais são determinados pelo custo dos produtos da (...) cesta de bens de consumo, em especial o trigo. O custo do trigo, por sua vez, é determinado, entre outros fatores, pela renda da terra. O comércio exterior, ao impedir o uso da terra marginal que acarreta o aumento da renda da terra, permite assim a manutenção da taxa de lucro (dos industriais), ou, no caso de abandono das terras marginais, o aumento desta”. (Ricardo, 1979, p. 321).

A teoria das vantagens comparativas ricardiana foi formalizada, por

Haberler em 1936, na teoria do custo de oportunidade. Nela não se pressupõe

que a mão de obra seja homogênea, ou o único fator de produção. O preço de

uma commodity não pode também ser atribuído exclusivamente ao seu conteúdo

de mão de obra. O custo de uma commodity é a quantidade de uma segunda

commodity da qual se deve abrir mão para prover os recursos necessários para

produzir uma unidade adicional da primeira commodity.

O custo de oportunidade é igual ao preço relativo daquela commodity e é

dado pelo declive da fronteira de possibilidades de produção. Uma fronteira de

possibilidade de produção em linha reta reflete custos de oportunidade

constantes. Na ausência de comércio a fronteira de possibilidades de produção é

também a fronteira de consumo. A situação de custos de oportunidade crescentes

significa que a nação tem de abrir mão de quantidades cada vez maiores de uma

commodity para produzir uma unidade adicional de outra commodity.

As principais teorias de comércio internacional, desenvolvidas

posteriormente, baseiam-se no princípio das vantagens comparativas, podendo

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divergir quanto aos elementos determinantes das vantagens. As criticas a teoria

ricardiana também admitem a lógica do princípio nas abordagens alternativas.

Thomas Malthus, em 1820, defendia uma produção agrícola baseada no

protecionismo, visando obter maiores preços e investimentos e um consequente

aumento da produtividade. Malthus defendia a manutenção da “renda da terra”

dos proprietários rurais visando maximizar suas receitas, sendo contra o livre

comércio de alimentos e favorável a um “salário de subsistência” aos

trabalhadores.

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1.2) A teoria do comércio estratégico

No livro “Sistema Nacional de Economia Política”, publicado em 1841,

Friedrich List desenvolve o pensamento nacional desenvolvimentista, em

contraposição à teoria clássica e defendendo um protecionismo temporário para a

indústria local nascente, visando o desenvolvimento de suas forças produtivas. A

proteção é o meio para se desenvolver a indústria e aumentar as exportações,

visando atingir o livre comércio. As três principais falhas na teoria clássica, foram

denominadas por List de cosmopolitismo ilimitado, materialismo mortal e

particularismo e individualismo.

“O cosmopolitismo ilimitado não reconhece o princípio da nacionalidade nem leva em consideração o atendimento das exigências dessa nacionalidade. O materialismo mortal considera, sobretudo, o simples valor de troca das coisas, sem julgar os interesses intelectuais e políticos, os interesses presentes e futuros e a força política da nação. O individualismo conduz à desorganização, ignorando a natureza e o caráter do trabalho social, considerando a atividade privada somente como se desenvolveriam em um estado de livre intercâmbio, como se a humanidade não estivesse dividida em nações diferentes.” (LIST, 1983, p.123)

Ao desconsiderar a existência da nação entre o indivíduo e o mundo, os

clássicos ignoram a realidade, construindo uma ideia de união universal onde

existiria um estado de paz perpétua. List refuta a ideia de que os agentes estão

inseridos em um mundo “sem nações” e sem interesses conflitantes,

argumentando que “a soma das forças produtivas de uma nação não é a mesma

coisa que a soma das forças produtivas de todos os indivíduos, considerando-se

cada indivíduo isoladamente” (LIST, 1983, p.119).

Para a teoria clássica, que condena a proteção ao comércio, o indivíduo

será capaz de produzir mais, quanto menor o poder do Estado. Caso o raciocínio

estivesse correto, segundo List, “as nações selvagens deveriam ser as mais

produtivas e as mais ricas do mundo, já que em nenhuma outra nação o indivíduo

tem tanta liberdade individual quanto ali, em nenhuma outra é menos perceptível

a noção do Estado” (LIST, 1983, p.120). O comércio não pode ser tratado usando

uma lógica individualista, pois “não se pode comparar uma família a milhões de

famílias ou um alfaiate com uma nação” (LIST, 1983, p.117). O Estado deve

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utilizar uma política comercial como meio de conseguir aumentar a capacitação e

o desenvolvimento das forças produtivas nacionais no sentido de gerar

prosperidade à nação, seguindo suas estratégias de desenvolvimento traçadas.

“Os argumentos da escola em favor da livre concorrência só se aplicam ao intercambio entre membros pertencentes à mesma nação. Toda grande nação deve empenhar-se em formar um conjunto dentro de si mesma, o qual deverá entrar em intercambio comercial com outros conjuntos similares, somente na medida em que tal intercambio for conveniente para os interesses de sua comunidade nacional específica.” (List 1983, p.121)

List defende um protecionismo “educador” visando fortalecer

economicamente a nação, que a torne apta de participar ativamente do comércio

internacional. A nação, segundo a lógica nacional desenvolvimentista, deve

passar por cinco estágios de desenvolvimento, visando consolidar a estrutura

produtiva local.

“No tocante à economia, as nações devem passar pelos seguintes estágios de desenvolvimento: barbárie inicial, estágio pastoril, estágio agrícola, estágio agromanufatureiro e estágio agromanufatureiro comercial. (...) As transições entre os estágios de desenvolvimento ocorrem com maior rapidez a partir do livre comércio com os países mais desenvolvidos. A consolidação de uma atividade manufatureira perfeitamente desenvolvida e um comércio exterior em larga escala, contudo, necessitam da intervenção do Estado.” (LIST, 1983, p.125).

O protecionismo é defendido sob condições específicas e com duração

temporária. Quanto mais próxima da barbárie for o desenvolvimento da nação,

mais ela deve trocar seus produtos agrícolas, por manufaturados.

“Somente nas condições em que existam condições intelectuais e materiais de se estabelecer uma manufatura própria, é justificável a nação estabelecer restrições comerciais, visando estabelecer e proteger sua própria força manufatureira. Nesse caso, o protecionismo é justificado até o momento em que essa força manufatureira for suficientemente forte para não temer mais a concorrência estrangeira.” (LIST, 1983, p.125).

Somente os setores mais importantes da indústria fazem jus de uma

proteção especial, pois os demais podem se desenvolver em torno dos setores

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mais importantes. O nível de proteção deve também variar ao longo dos

diferentes estágios de desenvolvimento.

“Se a potência manufatureira a ser protegida, estiver ainda em seu primeiro estágio de seu desenvolvimento, as taxas protecionistas devem ser moderadas, devendo aumentar gradualmente à medida que cresce o capital intelectual e material, as aptidões técnicas e o espírito empresarial da nação.” (LIST, 1983, p.126).

É vantajoso a nação proteger as manufaturas onde a maior parte do

trabalho é feita por máquinas, desde que os países importadores dessas

manufaturas permitam o livre comércio de seus produtos agrícolas. Uma nação

puramente agrícola, por sua vez, jamais conseguirá desenvolver notavelmente

seu comércio exterior, nem influenciar e desenvolver nações menos

desenvolvidas. Essa economia dependerá sempre que os países importem seus

produtos agrícolas em troca de bens manufaturados. Tal nação não conseguirá

determinar o quanto deve produzir, devendo sempre esperar e verificar o quanto

os outros desejarão comprar.

“Uma nação agrícola é um indivíduo com um braço só, que fez uso de um braço estrangeiro, mas não tem garantia de poder dispor dele sempre; ao passo que uma nação agromanufatureira é um indivíduo que tem dois braços próprios sempre a seu dispor.” (LIST, 1983, p.127)

Para List o protecionismo origina-se dos esforços visando atingir a

“prosperidade, independência e poder, ou das guerras e da legislação comercial

hostil das nações manufatureiras predominantes” (LIST, 1983, p.127). Na

concepção clássica, o alto custo alfandegário e os prejuízos causados pelo

contrabando, são as principais objeções contra o protecionismo. List entende que:

“Se os estabelecimentos aduaneiros forem bem organizados e as tarifas alfandegárias forem justas, o Contrabando não impede o alcance dos objetivos visados pela política protecionista em países grandes e coesos. No que concerne às despesas acarretadas pelo sistema aduaneiro, caso este fosse abolido, grande parte dessas despesas caberia à coleta dos direitos meramente fiscais” (LIST, 1983, p.214).

Os nacionais desenvolvimentistas condenam o princípio da represália

como uma das razões justificáveis para o protecionismo, defendido por Smith.

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Segundo List, “só é razoável e aplicável se coincidir com o princípio do

desenvolvimento industrial da nação, como instrumento para ajudar no alcance

desse objetivo” (LIST, 1983, p.216). Por outro lado, enquanto na teoria clássica os

tratados comerciais baseados em concessões aduaneiras recíprocas são

desnecessários e prejudiciais, List os entende como meio “eficaz para diminuir

gradualmente as respectivas restrições comerciais, e para levar progressivamente

as nações do mundo à liberdade de comércio internacional” (LIST, 1983, p.217).

As relações comerciais são melhores desenvolvidas, na visão nacional

desenvolvimentista, quanto maior a proximidade entre o grau de desenvolvimento

das nações.

“Tais tratados podem ser ainda mais benéficos se forem celebrados entre nações que se encontram mais ou menos no mesmo estágio de desenvolvimento industrial, entre as quais, portanto, a concorrência não é predominante, nem destrutiva ou repressiva, nem tende a dar a uma das partes um monopólio absoluto, mas age simplesmente como emulação para as duas partes aperfeiçoarem os seus produtos e baixarem o custo de sua produção.” (LIST, 1983, p.218).

Para a teoria clássica, por sua vez, não há distinção entre os benefícios

gerados pelas trocas conforme a nação que se estabelece o comércio. Todos os

agentes econômicos buscam individualmente as trocas que lhes garante o

máximo de bem estar, não importando com quem será realizada a troca.

O excesso de preocupação com as liberdades individuais, deixando de

avaliar os interesses coletivos como um todo, sem os colocar acima dos

interesses individuais é apontado como o problema crucial para as falhas da

teoria clássica.

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1.3) As teorias neoclássicas do comércio internacio nal

O modelo Heckscher-Ohlin

Eli F. Heckscher e Bertil Ohlin5 a partir das vantagens comparativas

elaboraram uma nova explicação dos fundamentos das trocas internacionais, o

modelo Heckscher-Ohlin. O modelo assume dois fatores de produção, o capital e

o trabalho, tecnologias de produção idênticas entre os países, retornos constantes

de escala, pleno emprego, livre mobilidade dos fatores de produção e funções de

produção e demanda bem comportadas (KRUGMAN, 2007).

O modelo Heckscher-Ohlin consiste em explicar as trocas pela abundância,

ou escassez, relativa dos fatores de produção. Cada país deverá especializar-se

nas produções que requeiram os fatores produtivos em quantidade relativamente

abundantes e importar bens que contenham muito dos fatores relativamente

escassos. O país irá exportar os bens intensivos de fatores abundantes, ou seja,

países com fator de trabalho abundante estão produzindo maior quantidade de

bens intensivos de mão de obra do que realmente consomem e destinando os

excedentes à exportação, enquanto que países abundantes em capital deverão

produzir maior quantidade de bens intensivos em capital do que necessitam

consumir a fim de exportar um maior volume dessa produção. Em ambos os

casos, a importação de bens deverá ser efetuada pelos países no sentido oposto

ao fator abundante, ou seja, países com fator capital abundante importarão bens

intensivos em mão de obra.

Enquanto na teoria ricardiana a diferença nos custos de produção decorre

das diferenças tecnológicas, para a teoria neoclássica a diferença decorre da

dotação de fatores. Na teoria ricardiana todos os bens finais são comercializáveis

entre os países, o que não acontece com os insumos, capital e trabalho, embora

sejam móveis entre os setores da economia doméstica. A teoria neoclássica

explica o comércio pelas diferenças de recursos entre os países, relacionando à

abundância relativa dos fatores domésticos de produção e à intensidade relativa

com a qual diferentes fatores de produção são usados na produção de bens

distintos. A teoria Ricardiana, por sua vez, analisa o comércio pelas diferenças

internacionais de produtividade do trabalho, do qual resulta a condição de

5 Prêmio Nobel de Economia em 1977, por sua contribuição para a teoria de comércio internacional e teoria de movimento de capitais.

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vantagem comparativa de custos de um dado país na produção de um bem

qualquer. A estrutura intersetorial de vantagens e desvantagens comparativas de

custos, definida pela disponibilidade relativa dos fatores de produção, determina a

composição e a participação dos países no comércio internacional.

O primeiro teste empírico do modelo Heckscher-Ohlin foi realizado por

MacDougall, em 1951, utilizando dados de 1937. Foi comparada a participação

dos bens de capital nas exportações dos EUA e Inglaterra. Os resultados

indicaram que as indústrias em que a produtividade da mão de obra era

relativamente superior nos EUA em relação ao Reino Unido eram indústrias que

apresentavam mais elevadas proporções de exportações dos EUA em relação às

da Inglaterra para os países da periferia. Os resultados foram confirmados por

outras pesquisas Balassa usando dados de 1950 e Stern, com dados de 1950 e

1959 e entre 1980-1989.

Wassily Leontief testou o modelo Heckscher-Ohlin, utilizando dados dos

EUA para o ano de 1947. Por se tratar de um país abundante em capital,

esperava-se que exportasse commodities intensivas em capital e importasse bens

intensivos em trabalho. Utilizando a matriz insumo produto Leontief verificou,

contudo, que os substitutos de importações eram cerca de 30% mais intensivos

em capital do que as importações do país. Ao contrário do previsto pelo modelo

Heckscher-Ohlin, os EUA pareciam exportar commodities intensivas em trabalho

e importar intensivos em capital, o que ficou conhecido como o Paradoxo de

Leontief (KRUGMAN, 2007, p.60).

O modelo Stopler Samuelson

O teorema de Stolper-Samuelson procura explicar os efeitos do comércio

internacional sobre a distribuição de renda. O protecionismo, segundo o modelo,

aumenta os retornos relativos do fator de produção escasso, enquanto o livre

comércio aumenta os retornos do fator abundante. Tais efeitos seriam

decorrentes da especialização na produção de bens intensivos em trabalho, que

se verificam em um regime de livre comércio. A liberalização comercial conforme

o modelo Stopler-Samuelson deve melhorar os indicadores de desigualdade de

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renda num país em desenvolvimento. O oposto deve ocorrer em um país

desenvolvido devido à abundância de capital (KRUGMAN, 2007).

O modelo Stolper-Samuelson considera como hipóteses que: os fatores de

produção e as funções de produção são as mesmas entre as economias; há livre

movimentação de bens e não há movimentação de fatores de produção entre as

economias; não há custos de transporte ou alfandegário; e os países não se

especializam completamente na produção do produto que tem maior vantagem

comparativa. A partir dessas condições é demostrado que no equilíbrio, os preços

reais entre os fatores de produção são iguais entre as economias. A abertura

comercial, segundo o modelo, deve proporcionar a alteração dos preços relativos,

que afetariam os preços dos fatores. Para o caso de países emergentes, os bens

intensivos em trabalho qualificado devem ter seus preços reduzidos, enquanto os

bens intensivos em trabalho não qualificado tendem a terem os preços

aumentados, com a abertura comercial. Como consequência deve haver redução

da desigualdade salarial entre os trabalhadores. O comércio internacional tende a

homogeneizar o retorno absoluto dos fatores de produção entre as economias e,

dessa forma, o salário real entre os países tende a convergir para um ponto

intermediário, reduzindo, pois, os salários dos trabalhadores dos países

desenvolvidos e aumentando os salários absolutos dos países em

desenvolvimento.

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1.4) A teoria da integração econômica

A teoria da integração econômica6 tem seu desenvolvimento a partir da

década de 1950, com a publicação das “As Questões da União Aduaneira” de

Jacob Viner (1950), abordando os impactos da união aduaneira sobre a produção.

Posteriormente, outros autores tratara a integração econômica considerando os

efeitos sobre o consumo7.

A integração econômica pode ser definida como um processo voluntário de

crescente interdependência entre as economias, pressupondo medidas visando

suprimir as formas de discriminação (BALASSA, 1961). As teorias econômicas

anteriores à teoria da integração, baseadas nas vantagens comparativas, não

davam a devida relevância às distâncias físicas entre os países nem a outros

fatores indutores das trocas comerciais.

A partir do acordo comercial, se houver o deslocamento geográfico da

produção levará à “criação de comércio” ou ao “desvio de comércio”. Caso a

produção doméstica seja substituída por importações provenientes de um país

mais eficiente haverá ganhos de bem estar ou “criação de comércio”. Se a

produção interna, por outro lado, for substituída por importações provenientes de

um fornecedor menos eficiente, ocorrerá perda de bem estar ou “desvio de

comércio” (FERRAZ, 2012, p.11).

O processo de integração econômica é também diferenciado entre

“integração ativa” e “integração passiva”. A “integração passiva” está relacionada

à remoção de restrições comerciais e regimes diferenciados entre os membros do

bloco. A “integração ativa”, por sua vez, refere-se à criação de instrumentos,

visando garantir a eficácia do funcionamento dos mercados entre os países do

bloco. Não obstante a integração econômica pode-se realizar no âmbito setorial,

ou ser uma integração envolvendo os diversos setores (TINBERGEN, 1965).

Embora não tenha desenvolvido uma teoria da integração econômica, List

trata da questão dos acordos comerciais, aprofundada pelas teorias da

integração. O pensamento nacional desenvolvimentista defende a ideia da

definição de parceiros comerciais, em geral que tenham uma estrutura produtiva

6 Exemplos: União Europeia (UE), o North American Free Trade Agreement (NAFTA) e o Mercado

Comum do Sul (Mercosul). 7 Meade (1955), Lipsey (1957), Cordon (1957) e Johnson (1965).

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similar, em especial para as nações com setores com potencial de

desenvolvimento.

“Baier e Bergstrand (2004) [...] corroboram a ideia de “parceiros naturais”, sugerindo que a probabilidade de dois países formarem um acordo comercial será i) tão maior quanto mais próximos se localizarem entre si; ii) quanto maior o tamanho de suas economias; iii) quanto menor a diferença entre o tamanho de suas economias; iv) quanto maior a distância entre esses países e o resto do mundo (remoteness); e v) quanto maior a diferença na proporção relativa de fatores (vantagem comparativa), entre outros” (FERRAZ, 2012, p.11 apud BAIER e BERGSTRAND 2004).

Analisando as diferentes perspectivas de acordos comerciais a literatura

diferencia a visão uma visão “comercialista” da “industrialista”, em uma clara

oposição entre uma visão liberal, baseada nas vantagens comparativas e outra

intervencionista.

“Chudnovsky e Campbell ao discutir a integração entre Brasil e Argentina conduzida ao longo dos anos 1980, opõem duas possíveis configurações que se distinguem por seus objetivos e atuação dos governos. A primeira – chamada de comercialista – se caracteriza por estratégia de integração com ênfase na liberalização do comércio, para a qual são mobilizadas principalmente as políticas comercial e macroeconômica (sobretudo cambial). Na segunda – a industrialista –, outras políticas econômicas (industrial, tecnológica, instrumentos creditícios etc.) são mobilizadas de forma a orientar a reestruturação do aparato produtivo e o avanço no processo da industrialização em direção a novas atividades com maior valor agregado” (CASTILHO, 2012, p.8, apud CHUDNOVSKY E CAMPBELL).

Conforme a visão derivada do nacional desenvolvimentismo “a integração é

positiva quando atrelada a uma estratégia de desenvolvimento produtivo e

desatrelada de uma visão liberalizante, em que a liberalização regional é um

passo para o livre comércio” (CASTILHO, 2012, p.11, apud MEDEIROS, 2010).

As diferenças tecnológicas e produtivas são aprofundadas com o livre comércio e,

assim, uma integração comercial que reproduzisse o livre comércio no âmbito de

um conjunto de países geraria efeitos perversos sobre os países de menor porte.

Nessa perspectiva os acordos da ALCA, que não vingaram, caso estabelecesse a

livre comercialização entre os países, com estruturas produtivas bastante

distintas, seria prejudicial à maioria dos países sulamericanos e do caribe.

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1.5) Os indicadores de especialização comercial

Em meados do século XX, foram desenvolvidos principalmente por Béla

Balassa (1965, 1966), indicadores visando mensurar o nível de especialização

comercial de uma economia, a partir da distribuição setorial da pauta de

exportações e importações (IAPADRE, 2001). A literatura considera, para a

análise da especialização comercial e análise dos desempenhos setoriais, os

seguintes indicadores de vantagens comparativas: o Índice de Vantagens

Comparativas Reveladas (RCA), o Saldo Comercial Normalizado (NTB), o Índice

de Grubel e Lloyd (GL), o Índice de Especialização Comercial (TS), o Índice de

Contribuição ao Balanço Comercial (CB) e o Índice de Polarização do Padrão de

Especialização Comercial (POLI) (IAPADRE, 2001).

Vantagens Comparativas Reveladas (RCA)

Como as vantagens comparativas não são observáveis há, na teoria

neoclássica, o problema de como estimar as vantagens comparativas. Béla

Balassa formalizou a abordagem que consiste em calcular o RCA:

ij ij

aj iij

i aj

a a

x xx X

RCAX x

X X

= =

(1)

onde:

ijx = exportações do produto j pelo país i;

ajx = exportações mundiais do produto j;

iX = total das exportações do país i;

aX = total das exportações mundiais.

Se o market share do produto j no país i é maior que o market share do

produto j em relação às exportações totais do mundo, o indicador será maior do

que 1, significando que o país possui vantagens comparativas reveladas na

exportação do produto. Caso contrário, o indicador será menor do que 1,

representando desvantagem comparativa naquele produto.

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21

Iapadre (2001) aponta que o índice é assimétrico, uma vez que varia de 1

ao infinito para as vantagens e entre 0 e 1 para as desvantagens comparativas.

Para contornar a assimetria e tornar mais fácil tanto a interpretação do índice

quanto certos procedimentos econométricos, criou-se o Índice Simétrico de

Vantagens Comparativas (RSCA):

1

1ij

ijij

RCARSCA

RCA

−=

+

(2)

RCAij = vantagens comparativas reveladas

Saldo Comercial Normalizado (NTB)

Um problema do RCA e do o RSCA é que se trata de uma análise de

apenas de um dos lados do fluxo comercial. Para contornar esse problema, pode-

se usar NTB:

ij ijij

ij ij

x mNTB

x m

−=

+

(3)

onde:

ijx = exportações do produto j pelo país i;

ijm = importações do produto j do país i.

Como indicador de desempenho setorial este índice é mais preciso do que

o uso puro e simples do valor absoluto do saldo comercial por setor. A razão

principal é que a exportação de um setor pode estar crescendo a uma taxa

superior à da importação e mesmo assim o déficit comercial pode ser fortemente

crescente por algum período.

Índice de Glubel e Lloyd (GL)

Este índice mensura o comércio intra industrial. Como se pode observar

pela sua fórmula, é um indicador derivado do Saldo Comercial Normalizado

(NTB):

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1ij ij

ijij ij

x mGL

x m

−= −

+

(4)

ijx = exportações do produto j pelo país i;

ijm = importações do produto j do país i.

Índice de Especialização Comercial (TS)

Uma crítica que tem sido apresentada aos indicadores como NTB (e em

decorrência ao GL) é que não são de fato índices de especialização, mas de

desempenho. Por exemplo, uma desvalorização cambial pode melhorar o saldo

de todos os setores, aumentando o NTB de todos eles, sem que ocorra nenhuma

mudança da distribuição setorial do saldo. Para capturar especificamente o

aspecto da especialização, sugeriu-se o TS, que capta a distribuição setorial do

saldo comercial em torno da média (o saldo global normalizado):

1 1

1

( )

J J

ij ijj j

ij ij i i J

ij ijj

x m

ts z Z Zx m

= =

=

−= − ≡

+

∑ ∑

(5)

onde:

ijx = exportações do produto j pelo país i;

ijm = importações do produto j do país i;

ijz = saldo comercial normalizado do país i com relação ao produto j;

ijZ = saldo comercial normalizado do país i para o conjunto dos setores.

Indicador de Contribuição ao Saldo Comercial (CB)

Um problema que pode ser apontado no TS é que, embora mensure a

intensidade da especialização, não leva em consideração sua relevância na pauta

comercial. Se o índice normalizado fosse ponderado pela importância do setor

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23

econômico, teríamos um indicador não apenas da intensidade da especialização,

mas da sua importância no resultado final:

1

( )( )

ij ijij ij i J

ij ijj

x mcb z Z

x m=

+= −

+∑

(6)

ijx = exportações do produto j pelo país i;

ijm = importações do produto j do país i;

ijz = saldo comercial normalizado do país i com relação ao produto j;

ijZ = saldo comercial normalizado do país i para o conjunto dos setores.

Índices de Polarização do Padrão de Especialização Comercial (POL)

Outro indicador relevante é o que busca captar as intensidades dos saldos

setoriais através de uma média ponderada desses desvios, o que pode ser feito

de duas formas:

11

1

1 1

21

1

( ) ( )

( )

J

ij ijJij ij j

ij J Jj

ij ij ij ijj j

Jij ij

ij i Jj

ij ijj

x mx m

POL zx m x m

x mPOL z Z

x m

=

=

= =

=

=

−+

= =+ +

+= −

+

∑∑

∑ ∑

∑∑

(7)

ijx = exportações do produto j pelo país i;

ijm = importações do produto j do país i;

ijz = saldo comercial normalizado do país i com relação ao produto j;

ijZ = saldo comercial normalizado do país i para o conjunto dos setores.

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24

Os indicadores de vantagens comparativas acima descritos foram

calculados para o caso Brasil, a partir de dados do Banco Mundial e

disponibilizados pelo WITS (World Integrated Trade Solutions). Os dados estão

apresentados no capítulo 3, em conjunto com a análise da especialização

comercial. De modo geral, observou-se que tais indicadores, propostos por

Balassa, têm sido pouco considerados na base metodológica das pesquisas

brasileiras divulgadas nos últimos anos.

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25

1.6) Conclusões

A teoria econômica clássica formalizou os benefícios proporcionados pela

divisão do trabalho, esclarecendo os impactos do comércio internacional sobre a

produtividade. Dois séculos depois de postulado, o princípio das vantagens

comparativas ricardiana continua extremamente válido para as análises de

comércio internacional. Um importante equívoco na teoria ricardiana foi considerar

a existência de retornos constantes de escala entre as premissas. Tal equívoco é

corrigido nas teorias neoclássicas do comércio internacional, mais aderentes a

realidade.

Apesar de demonstrado pelos diversos modelos teóricos de que o livre

comércio gera ganhos mútuos, com as trocas, isso não é óbvio quando se trata

da formulação de políticas comerciais. Discute-se, nesse sentido, o

intervencionismo do Estado na atividade econômica, em contrapondo-se uma

visão liberal de uma visão desenvolvimentista. Para Smith a busca de cada

indivíduo, por seus interesses, implica no alcance dos interesses nação. O Estado

não deve intervir na economia, pois é a ação individual dos agentes garante a

alocação eficaz dos recursos. A soma das ações individuais dos agentes leva o

mercado ao equilíbrio, garantido pela mão invisível do mercado. O pensamento

nacional desenvolvimentista, por sua vez, entende que o somatório dos interesses

individuais não reflete os interesses da nação como um todo. Os interesses da

nação devem ser colocados acima dos interesses dos agentes, necessitando,

portanto, da interferência do Estado para a maximização do desenvolvimento da

nação. Enquanto no arcabouço clássico e neoclássico a intervenção o Estado

causa perda de bem estar, para os nacionais desenvolvimentistas a defesa

intervenção temporária, em setores estratégicos é essencial para o

desenvolvimento das forças produtivas da nação. O Estado assim pode

influenciar o desenvolvimento a manufatura local, a fim de que a nação possa

participar de forma ativa do comércio internacional.

O capítulo apresentou, por fim, os indicadores de especialização comercial,

considerado na análise empírica da especialização comercial brasileira, abordado

nas próximas seções.

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26

CAPÍTULO 2 – A POLÍTICA COMERCIAL BRASILEIRA

Apresentação

O capítulo analisa a política comercial brasileira entre 1990 a 2012. Após

uma breve descrição do desempenho econômico do pós guerra, é analisado o

processo de abertura comercial, e seus desdobramentos. Na análise dos acordos

comerciais verifica-se que o Mercosul não conseguiu definir regras e tarifas

comuns aos membros do bloco, nem intensificar o comércio internamente. Por fim

são analisados os principais instrumentos da política comercial brasileira,

refletidos na proteção da indústria nacional, sem evidências de que tenham

resultados sobre a pauta de exportações.

2.1) O processo de liberalização comercial brasilei ro

O modelo de crescimento econômico brasileiro, entre 1950 a 1980, esteve

associado a uma política de substituição de importações com forte participação do

Estado e, em períodos como o “milagre econômico” (1968-1973) voltou-se à

promoção das exportações.

“As três principais características do modelo de industrialização brasileira do pós guerra foram: (1) a participação do Estado no suprimento da infra estrutura econômica (energia e transportes) e em alguns setores considerados prioritários (siderurgia, mineração e petroquímica); (2) a elevada proteção à indústria nacional, mediante tarifas e diversos tipos de barreiras não tarifárias; e (3) o fornecimento de crédito em condições favorecidas para a implantação de novos projetos.” (GIAMBIAGI, 2004, p.143).

A abundância de crédito internacional, na década de 1970, levou os

petrodólares aos países emergentes, favorecendo o desenvolvimento de planos

para a diversificação do parque industrial brasileiro8. A proteção ao setor industrial

garantiu com pouca ameaça dos produtos estrangeiros e tendo sido o

crescimento econômico brasileiro sustentado pelo consumo interno. Houve um

relativo processo de convergência da estrutura produtiva em direção às

8 Entre 1974 a 1978 foi desenvolvido o 2º PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), visando estimular a

produção de insumos, bens de capital, alimentos e energia (Giambiagi, 2004).

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27

economias mais avançadas, apesar do Brasil não ter internalizado completamente

as capacidades inovativas dessas economias e as condições de financiamento de

longo prazo. Mantiveram-se as diferenças de competitividade e capacidade de

acumulação tecnológica e de capital entre as empresas nacionais e estrangeiras,

destacando o problema da ineficiência produtiva brasileira. (HIRATUKA e SARTI,

2010, p.2-4). Após o segundo choque do petróleo e o contrachoque da economia

americana, as condições de financiamento externo pioram e esgotaram-se as

condições desse modelo de crescimento, sendo exposto o problema da dívida.

A partir de 1990 o governo Collor, em meio ao Consenso de Washington,

inicia um processo de reformas em favor do mercado, representada pela Política

Industrial de Comércio Exterior (PICE). No âmbito externo as reformas

caracterizam-se pelo processo de abertura comercial, com a liberalização das

políticas comerciais e a flexibilização do câmbio.

“Simultaneamente a uma flexibilização do regime cambial, foi deslanchado um programa de liberalização das importações, cujos primeiros passos foram dados através da imediata extinção da lista de produtos com emissão de guias de importação suspensa e dos regimes especiais de importação, à exceção do drawback, da Zona Franca de Manaus, do que beneficiava bens de informática e dos acordos internacionais. Seguiu-se, em julho do mesmo ano, a extinção dos programas de importação das empresas. Com o fim dos mais importantes controles administrativos, caberia à tarifa aduaneira o papel principal no estabelecimento de uma proteção adequada à indústria local” (KUME, PIANI e SOUZA, 2003, p.13).9

O governo brasileiro promoveu iniciativas para aumentar a competição nos

mercados internos, liberando os controles administrativos introduzidos durante o

período de substituição de importações10. Foram extintas as listas de produtos

com emissão de guias de importação suspensa e os regimes especiais de

importação. Os controles quantitativos de importações foram substituídos por

controles tarifários e anunciada a reforma tributária com reduções graduais nas

tarifas de todos os produtos ao longo de quatro anos, a partir da qual atingiriam a

alíquota de 20%, dentro de um intervalo de variação de 0 a 40% (ARAUJO, 2010,

p.21). Em março de 1990, após extinguir as BNTs (barreiras não tarifárias) o

9 Grifo nosso.

10 Foram revogados 113.752 decretos presidenciais do total de 123.370 pelo Programa Federal de

Desregulamentação (CASTELAR, GIAMBIAGI, MOREIRA, 2001, p.14).

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28

governo aumentou as tarifas de importação para um conjunto de bens de

consumo, especialmente os automóveis. Em seguida foram reduzidas as tarifas

do setor têxtil, visando amenizar a inflação, e as tarifas de insumos e

equipamentos agrícolas sem similar nacional, com o intuito de estimular a

produção nacional (KUME, PIANI e SOUZA, 2003, p.23).

No âmbito interno, as mudanças da política comercial, por meio da PICE,

foram refletidas no processo de privatização de empresas estatais. O PND (Plano

Nacional de Desestatização) pretendia o remodelamento do parque industrial

brasileiro, via privatizações, visando reduzir a dívida pública com as receitas das

vendas e as transferências da dívida para o setor privado11. Durante o governo

Collor e Itamar a prioridade no combate à inflação impediu que a PICE se

tornasse uma política industrial mais ampla, resultando essencialmente na

redução das barreiras comerciais e no desempenho modesto nas

desestatizações.

O programa de privatizações foi ampliado no governo FHC, garantindo as

entradas de investimentos direto externo, importantes para o financiamento do

déficit em conta corrente e para evitar a expansão da dívida pública, agravada

pelo contínuo aumento do déficit fiscal desde 1995 (GIAMBIAGI, 2000). No setor

industrial, as privatizações foram favoráveis ao aumento do volume de produção e

a competitividade de companhias, como a siderúrgica CSN e a Embraer. Os

investimentos na década de 1990, de modo geral, estiveram concentrados em

fusões e aquisições, decorrentes do processo de privatizações, e na alocação dos

IDE (investimento direto externo) em setores non-tradables – serviços públicos –

contribuindo pouco para a competitividade da indústria brasileira. Apesar do

aumento da quantidade de ETN´s (empresas transnacionais) as entradas de

capital não se refletiram em uma melhora na inserção externa brasileira.

“As estratégias empresariais, a partir dos 90, buscaram combinar racionalização da produção, com redução do grau de verticalização e substituição de fornecedores locais por insumos importados. Embora tenha resultado em melhora

11 Entre 1990 a 1994 foram privatizadas 33 empresas federais. O número de privatizações foram modestas, entre 1990 a 1994, devido a: muitas empresas públicas precisarem ser financeiramente saneadas para que existisse interesse na aquisição; dificuldade em avaliar os ativos de diversas estatais, em decorrência da alta inflação; resistência do público perante um governo que perdia credibilidade; setores como o de jazidas minerais e elétrico, não podiam ser vendidos para estrangeiros, conforme a Constituição de 1988 (GIAMBIAGI, 2004, p.146). Ver Anexo A.

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29

no grau de eficiência produtiva, os investimentos realizados no período continuaram tendo um caráter mais defensivo, voltado para a modernização e substituição de equipamentos. Em geral, não estiveram associados a estratégias mais ativas de expansão de capacidade e inovação de produtos e processos. Estes, quando ocorreram, foram muito mais a exceção do que a regra” (HIRATUKA e SARTI, 2011, p.3).

O aumento da dívida pública e externa, em decorrência dos esforços para

consolidar a estabilidade dos preços no governo FHC, limitou a capacidade das

políticas econômicas de estímulo aos setores industriais. O governo teve pouco

poder de manobra para estimular os investimentos privados, restringindo-se as

políticas industriais na melhora no “ambiente de negócios”, do que propriamente

com foco em tecnologias e cadeias produtivas (HIRATUKA e SARTI, 2011, p.4).

Como resultado da âncora cambial, do Plano Real, o Brasil passou a

registar permanentes déficits em sua conta corrente, com o câmbio apreciado. A

situação da balança comercial reverte somente após o quadro de instabilidade

macroeconômica e vulnerabilidade externa, que culmina na crise dos países

emergentes, atingindo o Brasil em 1999.

A mudança do padrão monetário em 1994, conforme o gráfico 1, alterou

radicalmente o índice dos termos de troca, que mede a relação de preços entre os

produtos exportados e importados. A desvalorização cambial de 1999 provoca

uma queda drástica no índice, com uma recuperação gradual a partir de 2000.

Verifica-se que as reformar econômicas na primeira metade da década de 1990

garantiram uma elevação no poder de compra do real, implicando na redução do

preço relativo dos produtos importados.

Na primeira metade da década de 1990 observa-se um saldo positivo na

balança comercial. Em 1994 ocorre a redução das alíquotas de impostos de

importação, especialmente para insumos e bens de consumo, visando o controle

da inflação. Após a implantação do real, a balança comercial passa a apresentar

um déficit, revertido somente após a forte desvalorização cambial de 1990.

Observa-se também que o período entre 1994 a 1998 foi o único intervalo, desde

a abertura comercial que o país registrou um déficit comercial.

O saldo da balança comercial mostra também o ápice na série ocorreu

entre 2004 a 2008, podendo ser considerado um período de boom exportador.

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30

Nesse período o investimento apresenta uma taxa de crescimento quase o dobro

do PIB.

GRÁFICO 1

Índice dos termos de troca da economia brasileira12 (média 2006=100)

Fonte: Funcex.

GRÁFICO 2

Balança Comercial: 1990-2012

Fonte: Ipeadata.

12 Razão entre os índices de preço das exportações e os índices de preço das importações.

60

80

100

120

140

19

90

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

-50

0

50

100

150

200

250

300

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Importações Exportações Balança Comercial

Unidade: US$ bilhões

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31

Os efeitos recessão econômica internacional sobre a economia brasileira,

em 2009, são simétricos sobre as importações e as exportações, pouco afetando

o superávit comercial. No ano seguinte o Brasil apresenta um crescimento

econômico de 7,5%, recuperando-se rapidamente dos efeitos da crise do

subprime. O país encerra 2012, contudo, abaixo das projeções iniciais de

crescimento e com redução do saldo da balança comercial.

Ao avaliar a participação brasileira no comércio internacional, verifica-se

uma tendência de queda ao longo da década de 1990 e a partir de 2000,

amplamente favorecido pelas condições externas, estimulando o aumento da

demanda por commodities, especialmente por parte da China. O período registra

um crescimento de stop and go, com um boom exportador entre 2003 e 2004, o

segundo entre 2007 e 2008 e no período 2009 e 2011. Na década de 1990, por

sua vez, exceto pelos anos de 1993 e 1997 há uma tendência de declínio da

participação brasileira sobre o comércio internacional.

GRÁFICO 3 Participação brasileira no comercio internacional (%)

Fonte: UN CONTRADE. WITS.

As alterações na política de importações, resultado do processo de

liberalização comercial, pode ser sintetizado em quatro períodos:

“A política de importações brasileira, entre os finais das décadas de 1980 e 1990, pode ser dividida em quatro momentos: (i) 1987-1989: redução da tarifa nominal média de 54,7% para 29,4% e tarifa efetiva 67,8% para 38,8%, com o início do processo de abertura de importações; (ii) 1991-1993: redução da

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

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32

tarifa nominal média para 12,5% e tarifa efetiva para 15,2%, após a extinção de barreiras administrativas em 1990; (iii) 1994: redução da tarifa nominal média para 10,2% e tarifa efetiva para 12,3%, visando disciplinar os preços internos via competição externa; (iv): 1995-1998: retrocesso no processo de liberalização de importações decorrentes da crise dos países emergentes, resultando no aumento das tarifas de importação e das BNT” (KUME, PIANI E SOUZA, 2003, p.31-32).

A partir da década de 2000, por sua vez, a participação brasileira no total

do comércio internacional cresce consideravelmente, tendo praticamente dobrado

a representatividade do Brasil nas trocas internacionais entre 1999 e 2011. Além

dos diversos efeitos no âmbito da economia internacional que explicam essas

variações, pode-se identificar as políticas de comércio internacional executadas

no período. As estratégias de acordos comerciais são analisadas por Oliveira em

três vertentes:

“As estratégias de negociação da política comercial externa brasileira, entre 1995 e 2010, estruturaram-se de forma a priorizar a atuação no regime multilateral de comércio, em paralelo à ampliação de aprofundamento da integração regional na América do Sul, mas com variação de posições quanto à negociação de acordos regionais fora da região ao longo do período analisado, saindo de um enfoque nas relações com países desenvolvidos para um pertinente às relações com os países em desenvolvimento.” (OLIVEIRA, 2012, p.9)13.

As estratégias mencionadas se referem às negociações, por exemplo, no

âmbito da Alca, a expansão do Mercosul e entre outros acordos bilaterais. A

próxima seção aprofunda a questão dos acordos comerciais, no bojo das políticas

comerciais brasileiras no período.

13 Grifo nosso.

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33

2.2) O Brasil em suas relações com o Mercosul e pri ncipais parceiros

Em março de 1991, a partir do Tratado de Assunção, foi criado o Mercosul

(Mercado Comum do Sul), formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O

acordo definiu como meta estabelecer uma TEC (tarifa externa comum)

intrabloco, até 1995, além da harmonização de políticas macroeconômicas e

setoriais, com a livre circulação de produtos, serviços, capital e trabalhadores. O

governo brasileiro antecipou em alguns meses a redução das tarifas previstas

para 1995, retornando as alíquotas após a reversão do saldo das transações

correntes. Mais de duas décadas após assinado o acordo, o Mercosul não foi

capaz de consolidar uma TEC para o bloco, nem teve eficácia para intensificar as

relações comerciais entre os países membros.

“A evolução da participação dos países membros no total das exportações mundiais com destino ao Mercosul indica que o fluxo de comércio intrabloco não cresceu mais que os fluxos de comércio extrabloco. Do ponto de vista comercial, ao menos, os dados não sugerem um aumento da integração após 1991. Isto indica, portanto, que a criação do Mercosul não garantiu grandes vantagens para seus países-membros na competição no âmbito do próprio mercado” (GRIMALDI, CARNEIRO e OLIVEIRA, 2012, p.8).

Valls Pereira (2012, p.1) analisa o Mercosul como um bloco em “falência”,

não havendo também indícios que as negociações comerciais devam prosperar.

No bloco, apenas o Brasil representa 83% do PIB e junto com a Argentina

representa 97% do PIB do Mercosul. Nesse sentido, as relações comerciais entre

os países são essenciais no processo de integração regional. A carência de uma

política de integração integrada que promova a criação de cadeias produtivas e a

geração de valor, tem sido determinante na falta de avanço das negociações.

Nesse sentido o setor privado e os investimentos diretos na promoção do

comércio intraindústria (VALLS PEREIRA, 2012, p.5).

“Até o início dos anos noventa, o fracasso das iniciativas de integração regional na América do Sul eram explicados por um quarteto de fatores perversos: meio século de protecionismo generalizado na região, duas décadas de governos militares em vários países, políticas macroeconômicas inconsistentes e precariedade da infraestrutura de transporte. Hoje em dia, o único fator remanescente daquela época são os custos de

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34

transporte elevados. No entanto, a integração regional avançou pouco devido, em grande medida, ao surgimento de duas restrições novas e interdependentes: o estilo de política industrial aplicado no Brasil após a abertura comercial e a estrutura da tarifa externa comum (TEC) do Mercosul” (ARAUJO, 2009, p.9-10).

Segundo Araujo e Costa (2010, p.4) há no Brasil uma proteção equivocada

e perversa sobre as indústrias de bens intermediários, o que tem reduzido a

competitividade do sistema industrial. Por conta dessa distorção, uma taxa de

câmbio estabelecida pela TEC terá pouco efeito, por conta do peso excessivo dos

bens intermediários na estrutura de custos dos bens finais.

Inicialmente vislumbrado como um instrumento para a abertura comercial

dos países membros, na década de 1990, o Mercosul corre risco de um possível

retrocesso dos acordos estabelecidos. Entre os desdobramentos recentes, foi

criado em 2010 o Acordo de Livre Comércio Mercosul-Israel (ALC), visando

estabelecer novas rotas para a produção dos blocos. O acordo, contudo, é

considerado capaz de estimular uma mudança de perfil exportador, dado que

Israel corresponde a menos de 0,5% das exportações brasileiras.

“Ainda que o acordo possa contribuir para expandir as vendas brasileiras para aquele mercado, não foram obtidas preferências relevantes em produtos em que o Brasil tem vantagens comparativas, sendo que diversos produtos agrícolas de interesse exportador brasileiro ficaram em exceção nas concessões feitas por Israel no acordo” (IGLESIAS e RIOS, 2010, p.35-36).

A dificuldade em firmar e ampliar acordos comerciais não está restrita ao

Mercosul. Desde 2004 tem se observado a perda do ímpeto por acordos de livre

comércio, desde o fracasso das negociações para a formação da ALCA. Nos

últimos anos não se tem registro de algum acordo de livre comércio, de grande

envergadura (IGLESIAS e RIOS, 2010, p.36).

Nos anos recentes o Brasil tem sido mais relacionado aos BRICS do que

propriamente ao Mercosul, no âmbito das relações comerciais. O país conseguiu

ainda expandir suas relações comerciais em relação a novos mercados, tendo

intensificado seu comércio com a China. No início da década de 1990, a China

não constava entre os dez maiores compradores de produtos brasileiros e

assumiu a liderança desde 2009.

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35

GRÁFICO 4 Participação dos parceiros comerciais nas exportações brasileiras (%)

Fonte: UN CONTRADE. WITS.

GRÁFICO 5

Participação dos parceiros comerciais nas importações brasileiras

Fonte: UN CONTRADE. WITS.

Em 2011 17% das exportações brasileiras tiveram a China como destino,

enquanto 10% foi direcionado para os EUA, que tem gradualmente reduzido as

trocas comerciais com o Brasil, conforme os gráficos 4 e 5. Os EUA continuam

sendo o principal fornecedor de produtos para o Brasil, com 15,2% contra 14,5%

dos chineses, embora as tendências apontem também uma virada na liderança, a

partir dos próximos anos. O acelerado crescimento econômico chinês e a

demanda por commodities, explicam a forte ascensão chinesa.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Argentina China EUA Japão UE27 AL

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Argentina China EUA Japão UE27 AL

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36

A Argentina, segundo principal importador de produtos brasileiros, na

década de 1990, perdeu também participação no comércio com o Brasil. Essa

redução está relacionada com as difíceis negociações comerciais entre os dois

países e a intensificação do comércio brasileiro com os demais países da América

Latina. O Japão, por sua vez, teve sua participação reduzida ligeiramente no

comércio com o Brasil, influenciado pelas baixas taxas de crescimento das

últimas décadas e a entrada de produtos chineses a preços competitivos.

De modo geral, pode-se verificar um aumento do comércio brasileiro com a

China e AL, enquanto EUA, Argentina, Japão e UE perdem participação nas

trocas comerciais com o Brasil.

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37

2.3) Os instrumentos de política comercial

As políticas brasileiras de comércio exterior podem ser classificadas em

três grupos: políticas de proteção à produção nacional, medidas de apoio à

competitividade e medidas e financiamento às exportações.

A partir do processo de abertura comercial, iniciou-se uma tendência de

redução das barreiras comerciais, com a extinção de BNT e redução das tarifas

de importações. O governo Collor extinguiu boa parte dos regimes aduaneiros

especiais e não tratou igualmente os setores, mantendo alíquotas maiores sobre

os setores menos competitivos.

“A estrutura tarifária brasileira tem duas características principais: (i) escalada tarifária, que é mais nítida em alguns setores como cadeia de alimentos, cadeia de têxteis e vestuário, setor siderúrgico e setor automobilístico; e (ii) a estrutura tarifária reflete a estrutura de vantagens comparativas da economia brasileira: para a maioria dos setores em que o Brasil tem bom desempenho exportador, as tarifas são relativamente baixas” (IGLESIAS e RIOS, 2010, p.21, apud Castilho et al., 2009).

No setor automobilístico incide uma alíquota de importação de 35%, o

limite estabelecido pela OMC. As montadoras têm desfrutado ainda de incentivos

fiscais para se instalarem nas regiões. Para os produtos de menor intensidade

tecnológica, em especial as commodities, as alíquotas são menores, pois há

menor concorrência ao produto nacional.

Desde 2004 tem se tornado cada vez mais frequente, por parte do governo

brasileiro, o registro de medidas antidumping14. Os direitos antidumping visam que

os produtores nacionais não sejam prejudicados por importações feitas a preços

desleais. O processo deve seguir os Acordos da OMC e a legislação do país,

garantindo amplos diretos de manifestação para as partes envolvidas no

processo. O Brasil está entre os países que mais registram processos e a maioria

dos produtos é de origem chinesa, tendo grande parte, relação com a taxa de

câmbio desvalorizada do yuan. Entre as medidas antidumping executadas pode-

se mencionar os seguintes produtos: talheres integralmente fabricados em aço

14

A lista de medidas antidumping em vigor contempla mais de 80 produtos. Disponível em: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=234. Acessado em: 22/3/2013.

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38

inoxidável, pneus de automóveis, canetas esferográficas, cobertores, calçados e

escovas de cabelo. Todos os casos mencionados se referem a produtos de

origem chinesa.

Entre as medidas de incentivo às exportações destaca-se o regime

aduaneiro especial de drawback15. O regime consiste na suspensão de tributos,

como IPI, PIS, COFINS, ICMS e ARFMM, que incidem sobre os insumos

importados a serem utilizados em produtos exportados. Iglesias e Rios (2010,

p.25) destacam que desde 2005 houve um aumento na quantidade de

importações contempladas pelos regimes de drawback, podendo indicar que uma

parcela das importações elegíveis pode não ser sido contemplada pelo regime.

As medidas de financiamento às exportações foram retomadas em meados

da década de 1990, sendo estabelecidas duas linhas públicas de crédito, o

BNDES-EXIM e o PROEX. Criado em 1991, o EXIM surgiu com o intuito conceder

financiamentos de longo prazo para as exportações de bens de capital. O

mecanismo foi gradualmente ampliado, contemplando atualmente seis

modalidades: pré-embraque, pós embarque, pré-embarque curto prazo, pré-

embarque especial, pré-embarque empresa âncora e pré-embarque automóveis.

GRÁFICO 6

Participação do financiamento nas exportações de setores selecionados

Fonte: Iglesias e Rios, 2010, p.34. BNDES e SECEX.

15 Instituído em 1966 pelo Decreto Lei nº 37, de 21/11/66.

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39

A linha de outros equipamentos de transporte, o setor de aeronaves tem

sido o principal beneficiário dos financiamentos concedidos pelo BNDES. Como

será visto adiante, o setor aeronáutico apresenta um desempenho exportador

significativo. Observa-se também que o setor automotivo é o que mais recebeu

financiamentos no ano de 2009.

O PROEX, criado também em 1991, consiste em duas modalidades de

incentivo às exportações: financiamento e equalização. A modalidade

financiamento visa conceder empréstimos para empresas exportadoras de

pequeno e médio porte, cujos produtos tenham pelo menos 60% de componentes

nacionais. Na modalidade de equalização não há restrição quanto ao porte da

empresa. As exportações são financiadas por instituições financeiras, ficando os

encargos financeiros a cargo do PROEX. Na última década a modalidade de

financiamento do PROEX, somou aproximadamente R$ 6 bilhões, contra R$ 3

bilhões da equalização16.

16 Secretaria Executiva da Camex. Iglesias e Rios, 2010.

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40

2.4) Conclusão O processo de abertura comercial brasileiro não foi acompanhado de uma

política de desenvolvimento do setor industrial. Os investimentos realizados, na

década de 1990, foram essencialmente em fusões e aquisições, tendo pouco sido

direcionado à ampliação e modernização do parque industrial brasileiro.

O acordo do Mercosul não foi capaz de aumentar a integração comercial

dentro do bloco e as dificuldades em estabelecer uma tarifa comum e desenvolver

uma estratégia de política industrial integrada tem reduzido as expectativas

quanto ao aumento do comércio intrabloco. Ao mesmo tempo o Brasil tem

expandido suas relações com novos parceiros comerciais, conseguindo aumentar

sua representatividade no comércio internacional, elevando de 0,84% para 1,5%

sua participação no comércio entre 2000 e 2011. Destaca-se o aumento do

comércio brasileiro com a China, ao passo que os EUA têm perdido participação

gradualmente nas trocas com o Brasil.

As políticas comerciais praticadas pelo governo brasileiro estão

estruturadas em três vertentes. Entre as medidas de proteção à produção

nacional estão as alíquotas de importação – com taxas mais elevadas para os

setores que o país não possui vantagens comparativas – e as medidas

antidumping. Os regimes especiais de drawback e os programas de

financiamento, no âmbito do BNDES-EXIM e PROER, tem se configurado como

as principais vias de estímulo do governo às exportações.

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41

CAPÍTULO 3 – A ESPECIALIZAÇÃO COMERCIAL BRASILEIRA

Apresentação

O capítulo analisa o padrão de especialização comercial brasileiro, entre 1990 e

2012, a partir dos dados de comércio internacional, os coeficientes de exportação

e penetração, os índices de preços e quantidades e os indicadores de vantagens

comparativas. Verifica-se a existência de um possível processo de reprimarização

da pauta de exportações brasileiras, sendo considerados inconclusivos os indícios

de que a pauta comercial brasileira seja afetada pela “doença holandesa”. Por fim,

são comentados os principais fatores, considerados pela literatura, para justificar

a especialização comercial brasileira.

3.1) As transformações da pauta comercial brasileir a

O processo de reprimarização das exportações pode ser compreendido

pela perda de competitividade internacional dos produtos manufaturados

nacionais, resultando na alteração da estrutura das exportações, com maior

participação de commodities e menor parcela de produtos manufaturados. O

debate sobre a possível reprimarização da pauta exportadora brasileira ganha

força na década de 1990, quando se observa um aumento da proporção de

produtos básicos, em grande parte commodities agrícolas e minerais nas

exportações (GONÇALVES, 2003).

Gonçalves (2000) observou uma perda de competitividade internacional da

economia brasileira, ao longo da década de 1990, com a redução relativa da

participação brasileira no comércio internacional. Nos anos seguintes, continua a

se observar a maior proporção de produtos primários nas exportações brasileiras,

enquanto nos segmentos de maior valor adicionado o país tem registrado déficits.

Na análise de Carneiro (2010), a abertura comercial promovida pelo Plano Real,

conjuntamente com a apreciação cambial, promoveram:

“uma especialização regressiva na estrutura produtiva brasileira, em particular na indústria, conduzindo a um aumento expressivo da elasticidade renda das importações, sem um correspondente dinamismo das

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42

exportações. [...] Após a abertura comercial, do início dos anos 1990, acompanhada da valorização do real, uma parte muito significativa deste saldo foi perdida como decorrência do que Coutinho (1997) denominou de especialização regressiva. (CARNEIRO, 2010, p.12).

Hiratuka e Sarti (2011, p.4) apontam que após a década de 1980, com a

desaceleração da demanda interna e concessão de incentivos fiscais, a inserção

externa das empresas brasileiras, aconteceu via comércio internacional e esteve

concentrada nos setores industriais de menor valor agregado e conteúdo

tecnológico. Observa-se ainda que os setores intensivos em tecnologia e capital

são os que possuem os maiores coeficientes de penetração, o que denota maior

especialização ou perda de elos das cadeias produtiva nestes setores,

principalmente com a valorização cambial, a partir de 1994 (NASCIMENTO, 2008,

p.3).

A tabela 1 apresenta os coeficientes e exportação e penetração17, para os

diferentes setores produtivos. A classificação setorial segue os critérios

estabelecidos da OCDE, que considera os gastos com P&D (pesquisa e

desenvolvimento), para a categorização do produto por intensidade tecnológica

(HATZICHRONOGLOU, 1997, p.4-5).

Conforme Nascimento (2008) há uma tendência de elevação dos

coeficientes de exportação para os produtos primários e queda do coeficiente

para os produtos de alta tecnologia. O setor aeronáutico, por sua vez, com

destaque para a Embraer, apresenta um elevado coeficiente de exportação. O

desempenho pode ser explicado por ter sido um dos poucos setores a terem

recebidos investimentos em tecnologia e inovação ao longo das últimas décadas,

com o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). O setor farmacêutico também

se destaca, por registrar uma elevação do coeficiente de exportação. O

desempenho exportador de empresas como a Natura, tem contribuído fortemente

para o desempenho expressivo do segmento.

De modo geral, contudo, observa-se que os maiores coeficientes de

exportação estão concentrados em setores de menor intensidade tecnológica –

indústria extrativa, minerais metálicos, petróleo e gás natural, indústria de

17

O Anexo B apresenta a metodologia dos coeficientes e exportação e penetração.

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43

TABELA 1

Coeficientes de exportação e penetração brasileiros18

Setores 1996 2000 2004 2008 2011

Export Penetr Export Penetr Export Penetr Export Penetr Export Penetr Alta tecnologia

Aeronaves

115,7

113,7 153,4

319,9

107,2

115,3

95,9

95,1

89,6

89,1

Elétricos

7,5

15,0 12,3

25,4

18,8

24,5

15,2

21,0

10,2

24,0

Farmoquímicos e farmacêuticos

2,8

17,4 4,6

26,5

6,0

28,0

7,2

28,9

7,9

30,3

Informática, eletrônicos e ópticos

7,2

36,0 15,4

40,2

15,1

41,6

12,0

45,1

9,0

51,0

Comp. eletrônicos

11,2

57,1 29,9

81,2

38,1

85,4

13,1

78,7

25,7

85,4

Informática

19,5

57,7 12,3

36,9

14,6

45,8

3,3

30,6

4,1

39,6

Áudio e vídeo

6,2

18,3 14,5

21,6

8,3

22,0

2,9

28,4

2,0

37,1

Equip. comunic

1,6

23,1 15,0

22,7

14,3

15,6

28,6

40,3

16,7

45,3

Média-alta tecnologia

Elétricos

7,5

15,0

12,3

25,4

18,8

24,5

15,2

21,0

10,2

24,0 veículos automotores, reboques e carrocerias

12,4

14,1

20,4

17,7

25,7

13,0

16,2

14,6

12,7

17,6

Químicos

9,5

19,4

10,3

21,7

11,2

23,0

10,1

26,5

11,1

26,3

Máquinas e equipamentos

17,1

33,7

19,9

35,3

30,1

32,2

21,3

32,6

19,9

36,8

Média baixa tecnologia

Indústria extrativa

35,6

45,5

35,7

39,6

52,2

54,9

67,8

61,0

73,8

50,1

Carvão mineral

0,1

79,8

0,1

73,4

0,1

81,5

0,1

84,8

1,6

87,0

Minerais metálicos

70,6

24,2

71,7

21,6

75,7

28,8

80,9

22,8

93,8

33,6

Minerais não metálicos

8,6

7,7

21,3

14,9

28,5

18,4

15,9

27,6

12,3

13,6

Petróleo e gás natural

0,6

59,6

3,9

44,9

36,5

62,5

66,7

73,5

60,2

54,5

Indústria de transformação

12,7

14,1

16,0

17,0

21,6

15,5

16,8

17,0

15,0

18,5

Metalurgia

33,1

9,6

31,6

12,3

32,4

9,4

26,7

13,7

30,2

17,4 Coque, derivados do petróleo e biocombustíveis

2,4

13,7

3,4

16,9

8,4

10,8

9,3

14,7

7,9

23,3

Baixa tecnologia

Bebidas

1,3

4,7

4,5

3,8

2,2

4,4

1,4

4,2

0,9

3,5

Celulose, papel e produtos de papel

14,8

8,4

21,0

9,3

22,0

6,8

21,9

7,7

23,1

8,2

Vestuário e acessórios

3,1

3,8

5,1

2,6

7,6

3,2

1,9

4,9

1,1

8,4

Têxteis

8,0

13,1

9,7

11,0

17,7

10,0

12,8

14,6

13,6

18,5

Produtos de madeira

29,9

3,7

45,0

4,1

56,8

3,5

29,0

2,5

17,8

2,0

Produtos alimentícios

17,2

5,6

16,5

4,6

27,2

3,3

23,7

3,4

22,0

3,5

Produtos do fumo

48,8

3,8

41,8

1,2

49,8

1,3

49,4

1,7

43,5

1,0

Diversos

10,9

21,0

15,2

18,1

22,1

22,2

16,2

27,5

13,0

29,5

Geral 13,3 15,1 16,7 17,9 22,9 17,4 19,5 19,0 19,8 19,8

Fonte: Elaborado pela Funcex com dados da Secex/MDIC e publicado pela CNI. IPEADATA.

18 Os coeficientes de exportação e importação foram calculados sobre fluxos acumulados em quatro trimestres, a preços constantes de 2007. É o percentual do valor total da produção destinado às exportações/importações. Considera a classificação ISIC Rev.2 (Anexo C).

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44

transformação, entre outros. Além dos maiores coeficientes de exportação se

concentrarem em produtos de menor valor adicionado, eles têm apresentado uma

trajetória de crescimento, evidenciando que de fato existe um processo de

reprimarização das exportações. Os coeficientes de penetração vis-a-vis os de

exportação são elevados em todos os setores de alta tecnologia, exceto o

aeronáutico. Essa diferença indica que a demanda brasileira por produtos de mais

alta tecnologia é suprida em grande parte pelas importações.

O coeficiente geral da economia, em 19,8%, tanto para as importações e

exportações, indica que mais de 80% da demanda interna é atendida pela

produção nacional. Dessa forma os coeficientes tem certo poder explicativo sobre

o nível de abertura comercial. O coeficiente geral apresenta uma trajetória de

crescimento entre 1996 até 2006, demonstrando o aumento proporção das

exportações sobre a produção nacional. O gráfico abaixo apresenta o coeficiente

geral de exportação e o de importação, mostrando que um distanciamento entre

os índices, na última década, ocasionados pelo boom exportador, entre 2003 e

2008.

GRÁFICO 7

Coeficientes de exportação e penetração

Fonte: Elaborado pela Funcex com dados da Secex/MDIC e publicado pela CNI. IPEADATA.

Analisando a representatividade dos produtos nas exportações, no gráfico

8, nota-se que os manufaturados tiveram seu ápice de representatividade em

1993 e após um período de estabilidade, diminuíram continuamente ao longo da

década de 2000.

10,0

15,0

20,0

25,0

1996

T4

1997

T4

1998

T4

1999

T4

2000

T4

2001

T4

2002

T4

2003

T4

2004

T4

2005

T4

2006

T4

2007

T4

2008

T4

2009

T4

2010

T4

2011

T4

Exportação Penetração

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45

GRÁFICO 8

Percentual dos produtos nas exportações: por valor agregado

Fonte: Ipeadata.

Ao mesmo tempo os produtos básicos ganharam peso nas exportações

brasileiras, sendo bastante explicado pelo aumento do preço das commodities.

Mais uma vez, verifica-se que o aumento dos bens primários na pauta comercial

brasileira coincide com o período do boom exportador da última década. A

proporção dos produtos manufaturados regride no mesmo período.

“Os produtos classificados como ‘commodities primárias’, ‘intensivos em trabalho e recursos naturais’ e ‘baixa intensidade tecnológica’ são os únicos que contribuem para a geração de saldos comerciais positivos – já os produtos de média e alta intensidades tecnológicas não só não contribuem para o superávit comercial, como apresentam déficits muito elevados, em seus respectivos setores” (NASCIMENTO, 2008, p.4, apud DE NEGRI, 2005).

O excelente desempenho exportador, visto no gráfico 9, foi promovido pela

expansão de produtos industrializados, manufaturados e básicos. Os bens

intermediários, por sua vez, apresentam um desempenho relativamente constante

ao longo da série histórica, com ligeira queda. A expansão dos produtos básicos,

representados pelas commodities, é mais expressiva que a dos demais produtos,

demonstrando da relevância desses itens no desempenho da balança comercial

brasileira.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%1

99

0

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

Básicos Semimanufatirados Manufaturados

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46

GRÁFICO 9

Exportações anuais: 1990-2012

Fonte: Ipeadata.

GRÁFICO 10

Importações anuais: 1990-2012

Fonte: Ipeadata.

Ao analisar os produtos das importações, no gráfico 10, verifica-se que a

maior parte é representada por matérias primas e produtos intermediários. O

fenômeno é explicado pelas menores tarifas de importação para esses produtos,

conforme a estratégia de política comercial, visando suprir a indústria nacional

com insumos de produção a preços competitivos. O aumento das importações de

0

20

40

60

80

100

120

140

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Básicos Industrializados Manufaturados Semi Manufaturados

Unidade: US$ bilhões

0

20

40

60

80

100

120

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Bens de capital Bens de consumo duráveis Bens de consumo não duráveis

Automóveis Combustíveis e lubrificantes Mat primas e produtos intermediários

Petróleo bruto

Unidade: US$ bilhões

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47

insumo também coincide com o boom da última década. Os bens de capital

aparecem em segundo na lista dos produtos mais importados, reforçado os

resultados dos elevados coeficientes de importação dos produtos de alta e média

alta tecnologia. O setor automotivo representa a menor parcela das importações

brasileiras, pelo fato do segmento ser bastante protegido, por incentivos e

isenções fiscais, além das barreiras à importação. Conforme explorado no

capítulo 2, Brasil aplica uma alíquota de 35% sobre as importações de veículos, o

máximo permitido pela OMC. A demanda por veículos é em grande parte atendida

pela produção interna, não sendo capturado no gráfico 10.

TABELA 2

Variação das exportações brasileiras por tipo de produto (%)

Ano Básicos Semimanufaturados Manufaturados

Valor Quantum Preço Valor Quantum Preço Valor Quantum Preço

1990 -8,4 0,7 -9,0 -12,0 -0,1 -12,0 -8,7 -12,9 4,8

1991 -0,1 -1,7 1,6 -8,2 0,7 -8,8 4,4 6,3 -1,8

1992 1,1 6,3 -4,9 22,6 27,4 -3,8 16,9 19,5 -2,2

1993 6,1 8,9 -2,6 -5,3 -0,1 -5,2 12,9 25,2 -9,8

1994 18,1 2,8 14,9 26,6 10,4 14,7 6,5 -1,1 7,6

1995 -0,8 -5,1 4,5 32,7 7,2 23,8 2,4 -11,1 15,2

1996 8,5 2,5 8,3 -5,8 5,0 -13,0 3,3 2,6 0,6

1997 21,6 12,6 8,0 -1,6 -0,1 -1,5 10,5 13,0 -2,2

1998 -10,4 6,8 -16,0 -4,3 3,7 -7,7 0,6 2,0 -1,3

1999 -8,8 8,7 -16,1 -1,6 16,8 -15,7 -7,0 4,2 -10,7

2000 6,2 8,5 -2,0 6,5 -6,9 14,4 19,1 18,0 1,0

2001 22,2 33,3 -8,4 -3,0 8,3 -10,5 1,2 1,3 -0,1

2002 10,5 15,2 -4,1 8,8 14,0 -4,6 0,3 5,2 -4,6

2003 24,9 13,1 10,4 22,1 9,7 11,3 20,2 21,0 -0,6

2004 34,7 13,3 18,9 22,7 7,2 14,5 33,6 26,1 6,0

2005 21,7 7,1 13,7 18,8 6,3 11,8 23,0 10,8 11,0

2006 16,0 6,1 9,4 22,3 3,5 18,1 14,8 2,2 12,4

2007 28,1 11,8 14,5 11,7 0,7 10,9 11,9 3,2 8,4

2008 41,5 0,2 41,2 24,2 -0,9 25,3 10,4 -5,0 16,2

2009 -15,2 2,9 -17,5 -24,3 -5,0 -20,3 -27,3 -22,8 -5,8

2010 45,3 11,4 30,4 37,6 6,6 29,0 18,1 8,9 8,5

2011 36,1 3,6 31,3 27,7 5,6 20,9 16,0 1,7 14,0

2012 -7,4 0,9 -8,2 -8,3 -1,6 -6,8 -1,7 -1,3 -0,3

Fonte: Funcex.

No gráfico das importações, por intensidade tecnológica, pode-se ainda

verificar os mesmo efeitos avaliados anteriormente, onde se observa a retração

das importações com a crise de 2009 e a retomada do volume de importações a

partir de 2010. Considerando o índice de preços e quantidade para a pauta

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48

exportadora brasileira, não se verifica uma tendência, ao longo da década de

1990, o que é explicado pela liberalização cambial até 1994. Em 1995 o quantum

e o valor de exportações são afetados pela valorização cambial, apresentando

uma queda nas receitas de vendas dos produtos semimanufaturados até 1999.

Observa-se especialmente um boom exportador entre 2003 a 2008, quando

aumentam os índices de preços e também de quantidades. Esse período

apresenta sinais de stop and go, observando-se uma forte expansão entre 2003 e

2004 e novamente entre 2007 e 2008.

Os produtos básicos e semimanufaturados apresentam uma taxa de

crescimento tanto em preços quanto em quantidades. O ciclo é interrompido em

2009, quando a recessão da economia mundial derruba os preços e retrai a

demanda agregada. Nos anos de 2010 e 2011 as exportações brasileiras

retomam o fôlego, apresentando taxas de crescimento bastante elevadas,

decorrentes da rápida recuperação brasileira, mas também da base “fraca”, dado

o ano da recessão econômica. Por fim, no ano de 2012, a queda dos preços

internacionais não é suficientemente compensada pela expansão das

quantidades, refletindo nas variações negativas das receitas de exportação.

As tabela 2 considera a participação de cada produto nas exportações

brasileiras, na categoria SITC Rev.3, com 1 nível de quebra setorial, do Banco

Mundial19.

TABELA 3

Participação por produto nas exportações brasileiras (SITC Ver. 3 - 1digit) Descrição 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2011 2012

Crude mater.ex food/fuel

15,4

13,0

12,6

12,5

15,5

15,7

15,2

16,1

16,4

19,9

26,7

28,6

26,1

Alimentos e animais vivos

21,1

19,1

21,1

22,5

20,3

16,7

19,5

19,1

18,4

18,9

22,9

21,6

22,2

Máquinas e equipamentos

18,6

20,8

20,6

19,9

24,6

28,0

24,4

25,1

24,2

21,1

16,8

15,2

15,8

Bens manufaturados

25,5

26,9

24,4

23,4

19,9

20,0

18,7

19,3

18,1

15,5

11,8

11,2

11,0

Combustíveis

minerais/lubrificantes

2,2

1,6

1,8

0,9

0,7

1,6

4,9

4,6

7,7

9,4

10,1

10,5

10,9

Produtos químicos

5,9

5,9

5,9

6,6

6,3

6,5

6,0

6,0

6,7

6,4

6,2

5,9

6,2

Artigos manufaturados

6,5

7,7

7,3

6,4

5,6

6,3

5,6

4,7

3,7

2,8

2,4

1,9

2,0

Bebidas e cigarros

2,1

2,9

2,6

3,4

3,2

1,7

1,7

1,5

1,3

1,4

1,4

1,2

1,4

Animais/oleo

veg/gordura/cera

1,6

1,2

2,2

1,8

1,9

0,9

1,5

1,6

1,0

1,5

0,8

1,0

1,0

Fonte: WITS.

19

O Anexo D apresenta a participação por produto nas exportações em cada país.

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49

Nota-se uma queda de bens manufaturados nas exportações, passando de

26,9% em 1990, para 11,2% em 2011. Os maquinários e equipamentos de

transporte tem a participação reduzida de 20,8% para 15,2%, no mesmo período.

Os dados do Banco Mundial apresentam a mesma tendência de

reprimarização para a economia brasileira. Quando se observa a pauta de

exportações em um nível mais detalhado, verifica-se que entre os doze principais

produtos na pauta de exportações brasileiras, que representam 67,5% do total

exportado, dois produtos, ou 7,8%, são de média ou alta intensidade tecnológica,

conforme a tabela 3. Pode-se afirmar que o Brasil é especializado em produtos

primários.

De maneira complementar foram calculados os indicadores de vantagens

comparativas. O RSCA revela que a economia brasileira é especializado

comercialmente nos seguintes setores: alimentos e animais vivos; bebidas e

cigarros; materias crus (exceto alimentos e combustíveis); e animais/óleo

vegetal/gordura/cera. Nesses setores o RSCA é positivo e menor do que 1. O

indicador revela que a representatividade desses setores sobre as exportações

brasileiras é superior à significância das exportações mundiais desses produtos,

em relação às exportações mundiais como um todo. De maneira análoga os

segmentos que o Brasil não possui especialização comercial são: combustíveis

minerais/lubrificantes; produtos químicos; produtos manufaturados; e

maquinários/equipamentos de transporte.

O indicador revela também a intensidade dessa especialização, mais

intensa em alimentos, animais vivos, materiais crus e combustíveis. O NTB

mostra que os itens de materiais crus e combustíveis, 0,85, é o que há a maior

diferença relativa entre exportações e importações, favorável na balança

comercial. Por outro lado, segundo o NTB, os produtos manufaturados,

maquinários/transporte e produtos químicos, são as categorias que apresentam

os maiores déficits relativos na balança comercial brasileira. O índice GL mede o

comércio intraindústria

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50

TABELA 4

Participação por produto na pauta de exportações brasileira (%)

Descrição 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2011 2012

Metal ores/metal scrap

8,6

7,1

5,8

6,3

7,2

6,4

5,7

6,0

8,1

10,4

16,7

18,4

14,8

Petroleum and products

2,2

1,6

1,8

0,9

0,7

1,6

4,8

4,6

7,7

9,4

9,9

10,2

10,7

Oil seeds/oil fruits

2,9

2,3

3,0

2,1

4,3

4,0

5,0

5,6

4,1

5,6

5,6

6,4

7,2

Meat & preparations

2,0

3,4

3,1

3,1

3,1

3,5

5,2

6,4

6,2

7,2

6,7

6,0

6,3

Sugar/sugar prep/honey

1,8

1,8

2,5

3,5

4,0

2,4

3,7

3,0

4,6

2,9

6,6

5,9

5,3

Road vehicles

5,0

7,6

6,9

6,1

9,4

7,9

7,1

8,2

8,6

7,0

5,9

5,2

5,0

Iron and steel

11,4

11,5

9,4

8,8

7,2

6,6

6,4

7,3

6,9

6,9

4,5

4,9

4,6

Coffee/tea/cocoa/spices

5,5

4,2

6,9

5,2

5,7

3,7

2,8

2,6

2,8

2,7

3,2

3,7

2,9

Animal feed ex unml cer.

5,6

4,9

4,9

6,1

3,5

3,1

3,8

3,5

1,9

2,4

2,6

2,3

2,8

Railway/tramway equipmnt

2,2

1,7

1,7

1,4

2,9

6,6

4,7

4,9

2,7

3,9

2,6

2,3

2,8

Cereals/cereal preparatn

0,0

0,0

0,1

0,2

0,1

0,1

0,5

0,9

0,5

1,1

1,4

1,6

2,8

Organic chemicals

2,3

2,2

2,1

2,2

2,1

2,1

2,1

2,1

2,7

2,6

2,1

2,0

2,3

Industry special machine

1,8

2,0

2,3

2,2

2,3

1,6

1,8

2,8

2,5

2,3

1,8

1,9

2,2

Power generating equipmt

3,2

2,5

2,9

2,9

3,0

2,7

3,0

2,8

3,3

2,4

2,2

2,1

2,1

Industrial equipment nes

2,5

2,7

3,1

3,2

3,0

2,8

2,5

2,6

2,4

2,2

2,0

1,9

2,0

Pulp and waste paper

1,9

2,1

2,0

2,1

2,1

2,9

1,9

1,8

1,8

2,0

2,4

2,0

1,9

Vegetables and fruit

5,6

4,0

3,1

3,8

3,3

2,8

2,5

1,9

1,7

1,6

1,5

1,4

1,4

Tobacco/manufactures

2,0

2,7

2,4

3,2

3,0

1,5

1,7

1,5

1,3

1,4

1,4

1,1

1,3

Metal manufactures nes

1,2

1,5

1,6

1,4

1,4

1,3

1,1

1,2

1,1

1,2

1,3

1,1

1,3

Gold non-monetary ex ore

0,0

0,1

0,5

1,2

0,8

0,7

0,6

0,4

0,5

0,5

0,9

0,9

1,1

Plastics in primary form

1,3

1,2

1,2

1,0

0,9

1,2

0,9

1,1

1,3

0,9

1,1

1,1

1,1

Electrical equipment

1,7

2,1

2,0

2,0

1,8

2,3

1,9

1,8

1,7

1,5

1,3

1,1

1,0

Non-ferrous metals

4,6

4,5

3,5

3,4

2,5

3,2

2,6

2,5

3,0

2,1

1,4

1,2

1,0

Fixed veg oils/fats

1,4

1,0

2,0

1,6

1,7

0,7

1,4

1,5

0,9

1,4

0,7

0,9

0,9

Textile fibres

0,8

0,4

0,2

0,2

0,1

0,2

0,3

0,6

0,4

0,4

0,5

0,7

0,9

Leather manufactures

0,9

1,1

1,1

1,4

1,4

1,5

1,4

1,5

1,4

1,0

0,9

0,8

0,9

Rubber manufactures nes

0,9

1,2

1,3

1,3

1,3

1,2

1,0

0,9

0,9

0,9

0,9

0,8

0,8

Paper/paperboard/article

2,0

2,0

2,2

2,0

1,8

1,7

1,5

1,2

1,1

1,0

1,0

0,9

0,8

Non-metal mineral manuf.

1,2

1,3

1,5

1,5

1,5

1,6

1,6

1,5

1,5

1,0

0,9

0,7

0,8

Pharmaceutical products

0,2

0,3

0,3

0,4

0,5

0,5

0,5

0,4

0,5

0,5

0,7

0,6

0,7

Chem material/prods nes

0,7

0,6

0,7

0,9

1,0

0,8

0,8

0,7

0,6

0,6

0,6

0,5

0,6

Fonte: WITS

Page 63: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP … Yamashita.pdf · YAMASHITA, Róger. Análise do Padrão de Especialização Comercial Brasileiro entre 1990 a 2012, 2013

51

Participação por produto na pauta de exportações brasileira (%)

Descrição 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2011 2012

Misc manufactures nes

0,9

1,3

1,0

0,8

0,9

0,9

1,0

0,7

0,7

0,7

0,7

0,6

0,6

Footwear

3,8

4,1

3,7

3,5

2,7

2,9

2,5

2,0

1,4

1,0

0,8

0,6

0,5

Inorganic chemicals

0,7

0,6

0,5

0,8

0,6

0,7

0,6

0,5

0,5

0,6

0,5

0,5

0,5

Perfume/cosmetic/cleansr

0,2

0,3

0,4

0,4

0,4

0,4

0,5

0,5

0,5

0,4

0,5

0,4

0,5

Textile yarn/fabric/art.

2,4

2,8

2,3

2,1

1,7

1,6

1,4

1,3

1,0

0,7

0,6

0,4

0,4

Cork and wood

0,5

0,5

0,9

0,9

1,1

1,3

1,3

1,3

1,1

0,7

0,5

0,4

0,4

Cork/wood manufactures

0,9

1,1

1,6

1,4

1,1

1,4

1,7

1,9

1,2

0,7

0,4

0,3

0,4

Telecomms etc equipment

1,4

1,0

0,9

0,9

1,2

2,9

2,9

1,5

2,4

1,3

0,8

0,5

0,3

Crude anim/veg mater nes

0,2

0,2

0,2

0,3

0,3

0,3

0,3

0,3

0,2

0,3

0,3

0,3

0,3

Crude fertilizer/mineral

0,5

0,3

0,3

0,3

0,4

0,5

0,5

0,5

0,4

0,4

0,4

0,3

0,3

Scientific/etc instrumnt

0,3

0,3

0,4

0,3

0,4

0,5

0,5

0,4

0,4

0,3

0,3

0,3

0,3

Furniture/furnishings

0,1

0,4

0,6

0,7

0,7

0,9

0,9

1,0

0,7

0,5

0,4

0,3

0,3

Plastics non-primry form

0,2

0,3

0,3

0,3

0,3

0,3

0,3

0,3

0,4

0,3

0,3

0,3

0,3

Live animals except fish

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,1

0,2

0,4

0,2

0,3

Misc food products

0,1

0,1

0,1

0,1

0,3

0,7

0,3

0,3

0,2

0,3

0,3

0,2

0,2

Dyeing/tanning/color mat

0,2

0,4

0,3

0,4

0,5

0,4

0,3

0,3

0,2

0,2

0,2

0,2

0,2

Crude/synthet/rec rubber

0,1

0,1

0,1

0,2

0,2

0,2

0,2

0,2

0,2

0,2

0,2

0,2

0,2

Electric current

0,0

0,2

0,2

0,2

Office/dat proc machines

0,5

0,8

0,5

0,7

0,7

0,9

0,4

0,3

0,4

0,2

0,2

0,2

0,2

Building fixtures etc

0,1

0,0

0,1

0,1

0,0

0,0

0,1

0,1

0,1

0,1

0,0

0,1

0,1

Manufactured fertilizers

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,2

0,1

0,2

0,2

0,2

0,1

Metalworking machinery

0,2

0,3

0,2

0,4

0,4

0,3

0,2

0,3

0,2

0,2

0,1

0,1

0,1

Animal/veg oils procesd

0,2

0,2

0,2

0,3

0,2

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

Fish/shellfish/etc.

0,4

0,5

0,4

0,3

0,2

0,4

0,6

0,4

0,3

0,1

0,1

0,1

0,1

Dairy products & eggs

0,0

0,1

0,0

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,3

0,1

0,1

0,1

Apparel/clothing/access

0,8

1,0

0,9

0,5

0,4

0,5

0,4

0,4

0,2

0,1

0,1

0,1

0,1

Gas natural/manufactured

0,0

0,0

0,0

0,0

-

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,1

Beverages

0,2

0,2

0,2

0,3

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,0

0,0

0,1

Photographic equ/clocks

0,5

0,6

0,6

0,5

0,5

0,5

0,2

0,2

0,1

0,1

0,1

0,0

0,0

Animal oil/fat

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

Fonte: WITS

Page 64: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP … Yamashita.pdf · YAMASHITA, Róger. Análise do Padrão de Especialização Comercial Brasileiro entre 1990 a 2012, 2013

52

TABELA 5

Evolução dos indicadores de especialização comercial da economia brasileira: 1990-2011

Alimentos e animais vivos

1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 2,84 2,80 3,00 3,30 3,62 3,45 3,62 3,86 3,55 RSCA 0,48 0,47 0,50 0,54 0,57 0,55 0,57 0,59 0,56 NTB 0,54 0,48 0,34 0,63 0,76 0,71 0,73 0,73 0,73 GL 0,46 0,52 0,66 0,37 0,24 0,29 0,27 0,27 0,27 TS 0,38 0,38 0,43 0,51 0,56 0,64 0,64 0,68 0,67 CB 0,06 0,06 0,06 0,07 0,07 0,08 0,09 0,09 0,09 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Bebidas e cigarros 1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 1,69 2,09 2,87 1,75 1,68 1,87 2,25 1,80 1,65 RSCA 0,26 0,35 0,48 0,27 0,25 0,30 0,39 0,28 0,24 NTB 0,86 0,78 0,74 0,75 0,74 0,77 0,77 0,70 0,67 GL 0,14 0,22 0,26 0,25 0,26 0,23 0,23 0,30 0,33 TS 0,69 0,68 0,83 0,63 0,54 0,71 0,68 0,65 0,60 CB 0,01 0,01 0,01 0,01 0,00 0,01 0,01 0,01 0,00 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Mat. crus ex alimentos/

combustíveis 1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 3,26 3,16 4,51 4,96 4,70 5,41 6,15 6,21 4,89 RSCA 0,53 0,52 0,64 0,66 0,65 0,69 0,72 0,72 0,66 NTB 0,58 0,46 0,62 0,74 0,74 0,75 0,84 0,84 0,85 GL 0,42 0,54 0,38 0,26 0,26 0,25 0,16 0,16 0,15 TS 0,41 0,36 0,70 0,62 0,54 0,68 0,75 0,80 0,79 CB 0,05 0,03 0,06 0,06 0,06 0,08 0,10 0,12 0,13 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Combustíveis minerais/lubrificantes 1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 0,35 0,29 0,12 0,51 0,54 0,56 0,65 0,72 0,86 RSCA -0,48 -0,55 -0,79 -0,32 -0,30 -0,28 -0,21 -0,16 -0,08 NTB -0,80 -0,74 -0,88 -0,41 -0,24 -0,29 -0,16 -0,20 -0,22 GL 0,20 0,26 0,12 0,59 0,76 0,71 0,84 0,80 0,78 TS -0,96 -0,84 -0,80 -0,53 -0,44 -0,36 -0,25 -0,25 -0,28 CB -0,12 -0,06 -0,04 -0,05 -0,05 -0,05 -0,03 -0,03 -0,04 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Animais/óleo vegetal/gordura/cera 1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 4,08 4,16 3,52 3,66 2,62 2,55 1,72 1,44 2,78 RSCA 0,61 0,61 0,56 0,57 0,45 0,44 0,26 0,18 0,47 NTB 0,74 0,47 0,39 0,65 0,64 0,60 0,43 0,38 0,41 GL 0,26 0,53 0,61 0,35 0,36 0,40 0,57 0,62 0,59 TS 0,57 0,37 0,48 0,53 0,44 0,53 0,34 0,33 0,35 CB 0,01 0,01 0,01 0,01 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Fonte: UN COMTRADE. WITS. Elaboração própria.

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53

Evolução dos indicadores de especialização comercial da economia brasileira: 1990-2011

Produtos químicos 1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 0,61 0,62 0,62 0,56 0,64 0,60 0,58 0,54 0,46 RSCA -0,24 -0,24 -0,23 -0,28 -0,22 -0,25 -0,27 -0,30 -0,37 NTB -0,30 -0,39 -0,52 -0,45 -0,28 -0,46 -0,41 -0,45 -0,47 GL 0,70 0,61 0,48 0,55 0,72 0,54 0,59 0,55 0,53 TS -0,47 -0,49 -0,43 -0,57 -0,48 -0,53 -0,50 -0,50 -0,53 CB -0,05 -0,05 -0,05 -0,07 -0,05 -0,07 -0,06 -0,06 -0,06 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Produtos manufaturados 1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 1,51 1,57 1,32 1,37 1,29 1,14 1,02 0,90 0,84 RSCA 0,20 0,22 0,14 0,16 0,13 0,07 0,01 -0,05 -0,09 NTB 0,60 0,55 0,21 0,43 0,41 0,23 0,17 0,01 0,05 GL 0,40 0,45 0,79 0,57 0,59 0,77 0,83 0,99 0,95 TS 0,44 0,44 0,30 0,31 0,21 0,16 0,08 -0,04 -0,01 CB 0,08 0,08 0,04 0,05 0,03 0,02 0,01 0,00 0,00 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Maquinário/transporte 1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 0,47 0,52 0,59 0,61 0,66 0,63 0,52 0,49 0,45 RSCA -0,36 -0,32 -0,26 -0,24 -0,20 -0,23 -0,32 -0,34 -0,38 NTB -0,04 -0,20 -0,36 -0,12 -0,01 -0,20 -0,32 -0,36 -0,38 GL 0,96 0,80 0,64 0,88 0,99 0,80 0,68 0,64 0,62 TS -0,21 -0,30 -0,27 -0,25 -0,21 -0,26 -0,41 -0,41 -0,44 CB -0,05 -0,09 -0,10 -0,08 -0,06 -0,07 -0,11 -0,11 -0,11 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Artigos manufaturados 1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 0,55 0,58 0,45 0,47 0,35 0,29 0,26 0,23 0,22 RSCA -0,29 -0,26 -0,38 -0,36 -0,49 -0,55 -0,59 -0,63 -0,64 NTB 0,24 0,23 -0,18 0,07 -0,06 -0,29 -0,34 -0,42 -0,47 GL 0,76 0,77 0,82 0,93 0,94 0,71 0,66 0,58 0,53 TS 0,08 0,13 -0,09 -0,06 -0,26 -0,36 -0,43 -0,47 -0,53 CB 0,00 0,01 -0,01 0,00 -0,01 -0,02 -0,02 -0,02 -0,02 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Ouro 1990 1994 1998 2002 2006 2008 2009 2010 2011

RCA 0,60 0,50 0,70 0,61 0,56 0,60 0,47 0,18 0,49 RSCA -0,25 -0,33 -0,18 -0,25 -0,28 -0,25 -0,36 -0,70 -0,34 NTB 0,99 0,98 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 GL 0,01 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 TS 0,82 0,88 1,09 0,88 0,80 0,93 0,91 0,95 0,94 CB 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,00 0,01 POL 0,17 0,10 0,09 0,12 0,20 0,07 0,09 0,05 0,06

Fonte: UN COMTRADE. WITS. Elaboração própria.

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54

3.2) A taxa de câmbio sobre o padrão comercial bras ileiro

A taxa de câmbio, determinante nos termos de troca internacional, tem

papel estratégico no desempenho comercial de qualquer economia aberta. O

câmbio é capaz de afetar o nível de renda, via exportações e importações e

induzir o nível de consumo, tendo impacto sobre os níveis de poupança interna e

externa.

Dessa maneira, diversos autores têm destacado a relevância de uma

política cambial de estímulo para os setores não tradicionais da economia, com

potenciais de desenvolvimento. Gala e Libânio (2011, p.239) afirmam que taxas

de câmbio a níveis competitivos podem estimular o desenvolvimento do setor

industrial e a diversificação produtiva, refletindo de forma favorável tanto as

exportações quanto as importações.

“Uma taxa de câmbio competitiva é fundamental para estimular o desenvolvimento do setor de bens comercializáveis não dependentes de commodities, evitando assim os problemas da doença holandesa e desindustrialização. Ao estimular a produção de manufaturas para o mercado mundial, uma taxa de câmbio competitiva pode ajudar os países a escalar a escada do desenvolvimento tecnológico” (GALA, LIBÂNIO, 2011, p.239).

Um câmbio competitivo, que estimule a exportação de exportadores de

manufaturados eficientes, portanto, pode elevar as receitas de exportação

provendo divisas que permitam tanto financiamento das importações quanto o

reinvestimento na indústria nacional. A taxa de câmbio tem impacto

especialmente sobre as margens de lucro, principalmente nos setores sem poder

de mercado, por conta da menor capacidade de repasse aos preços. O grau de

repasse das variações cambiais sobre os preços domésticos é chamado de pass-

through. Nesses casos a apreciação cambial reduz os preços de venda e as

margens reais de lucro das exportações.

A taxa de câmbio, para a economia brasileira, apresentou nos últimos vinte

anos, diversos ciclos de valorização e depreciação. Após a implantação do Plano

Real, a apreciação cambial piorou drasticamente o saldo das transações

correntes brasileira, convertendo em poucos meses o superávit por um déficit na

conta corrente.

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55

“Como resultado da âncora cambial e da consequente apreciação do câmbio, o saldo em transações reais experimentou deterioração quase contínua durante o Plano Real. O superávit evaporou rapidamente com a apreciação da taxa de câmbio no segundo semestre de 1994, o que se somou a uma intensificação do ritmo de crescimento com a estabilização dos preços. De um superávit de US$4,8 bilhões em 1994, o país passou a um déficit de US$10,9 bilhões em 1995, o qual se aprofundou daí em diante. De fevereiro de 1997 a janeiro de 1998, esse déficit atingiu o seu pico histórico de US$19,7 bilhões” (OLIVERA e TUROLLA, 2003, p.202).

Entre 1994 a 1998 o governo buscou pelo regime de crawling peg uma taxa

de câmbio capaz de aliviar a pressão sobre a conta corrente, sem pressionar os

preços. O gráfico 11 mostra que não aconteceram alterações cambiais relevantes

no período. O ano de 1999 apresenta uma quebra estrutural, por conta da

mudança no regime cambial, ocorrendo um estímulo às exportações e ao mesmo

tempo o encarecimento dos produtos de importação. A conta de transações

correntes, nos anos seguintes, voltou a registrar saldos positivos. Após 2003

observa-se, paradoxalmente, tanto uma valorização cambial, quanto um aumento

da quantidade de produtos manufaturados exportados, que se mantem em

trajetória de crescimento.

GRÁFICO 11

Taxa de câmbio (INPC) x quantum de exportações de manufaturados

Fonte: Ipeadata.

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.07

Taxa de câmbio (INPC) Quantum

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56

Nesse caso avalia-se que os exportadores de manufaturados ou puderam

de alguma forma compensar a perda de rentabilidade com a valorização do

câmbio, ou aceitaram continuar exportando, com margens menores. Um segundo

paradoxo é observado entre 2006 a 2008, quando o valor do real é menor em

relação ao período 1996 a 1998 e, contudo, o quantum exportado também é

menor em comparado à década de 1990. O ano de 2005 configura uma mudança

estrutural permanente, por conta da unificação do regie cambail. No ano de 2009,

os efeitos da recessão econômica internacional geram um efeito combinado de

desvalorização cambial e queda no quantum de exportações, retraindo as receitas

de exportação. Em 2010 a recuperação da economia brasileira faz a taxa de

câmbio aproxima-se dos níveis de 2008, apresentando correlação com as

quantidades de manufaturados exportados.

Introduzidos tais comentários, a seção pretende avaliar, para o caso

brasileiro, a ocorrência de dois fenômenos relacionados ao câmbio: a histerese e

o pass-through.

No final da década de 1980, foi formalizada a teoria da histerese, com os

trabalhos de Baldwin (1988), Dixit (1989) e Krugman (1989,1991), que

investigaram os efeitos defasados de alterações no câmbio sobre as variações

das exportações e importações. Krugman (1989,1991) destaca que devido aos

custos de entrada e saída, exportadores e importadores não entram ou saem do

mercado imediatamente após mudanças na taxa de câmbio real, adotando

estratégias de “esperar e ver”. As variações cambiais, dessa forma, não geram

um efeito imediato e simétrico sobre as transações comerciais.

“Em países onde a taxa de câmbio é flutuante, a elasticidade preço das exportações destes bens tende a ser relativamente inelástica no curto prazo, posto que tais preços são formados a partir das características dos mercados domésticos dos países importadores. Assim, as firmas exportadoras tendem a manter seus preços internacionais inalterados durante longos períodos, a despeito de eventuais mudanças significativas na taxa de câmbio de seu país de origem” (ARAUJO e COSTA, 2010, p.2).

Os choques temporários na taxa de câmbio, por sua vez, podem causar

efeitos permanentes sobre quantidades e preços de exportações e importações,

alterando a estrutura comercial do país. A hipótese básica está fundamentada na

existência de sunk cost nas decisões de participar do mercado. Dessa forma, a

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57

decisão de participar do mercado externo é vista como uma decisão de

investimento, enquanto a decisão de deixar o mercado seria uma reversão do

investimento. A empresa colocará seu produto no mercado exportador quando a

expectativa de acréscimo de rendimentos for superior aos sunk costs e não sairá

do mercado enquanto sua expectativa de rendimentos menor que os custos

afundados de sua saída.

Kannebley, Prince e Scarpelli (2011) fizeram testes econométricos

estimando funções de oferta e demanda para 15 setores exportadores, entre 1985

e 2005, e utilizando funções de demanda de importações para 26 setores, entre

1996 a 2008. Verificaram que no caso brasileiro não se confirma a hipótese de

histerese para o agregado de produtos manufaturados das exportações

brasileiras.

“Evidenciou-se ocorrência de histerese simples na taxa de câmbio e na série de importações brasileiras. Por sua vez, as exportações brasileiras mostraram característica de memória curta, em que os valores correntes mantêm correlação com valores passados contemporâneos. Quanto ao setor agrícola, as variáveis importações e exportações apresentaram memória intermediária, o que caracteriza uma histerese fraca. Isto é, choques sofridos por estas séries geram efeitos transitórios”. (Kannebley, Prince e Scarpelli, 2011, p.423)

Considerando o coeficiente pass-through calculado por Correa (2012)20,

verifica-se que o coeficiente é mais elevado para o café, óleos, indústria extrativa

mineral, papel, abate de animais, outros veículos e peças e equipamentos

eletrônicos.

“O coeficiente pass-through relacionado aos preços de exportação é maior aos setores produtos de bens de menor intensidade tecnológica, com exceção de dois setores com elevado grau de abertura (equipamento eletrônicos e outros veículos e peças). De certa forma, é um resultado esperado, pois indica ser um repasse maior em setores em que desempenho exportador tem sido importante na história do Brasil” (CORREA, 2012, p.87)

O nível de repasse das variações cambiais sobre os preços é maior para a

maioria dos produtos com RSCA positivo. Isso revela que o país tem maior poder

de mercado sobre esses produtos, sendo as margens menos afetadas em

decorrência das variações no câmbio.

20

O gráfico resumido está transcrito no Anexo G.

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58

3.3) Os determinantes da especialização brasileira

Os PED, de maneira geral, ampliaram sua participação do produto

industrial global, em decorrência da maior inserção em sistemas

internacionalizados de produção. Ao analisar o dinamismo comercial dos PED,

nas últimas décadas, observa-se que o desempenho econômico foi assimétrico e

amparado pelo crescimento industrial dos países do leste asiático. Destaca-se a

acelerada ascensão do produto industrial chinês, embora os demais países

asiáticos tenham tido também resultados expressivos. No caso do Brasil, e

demais países latino americanos, a indústria perdeu participação.

“As economias latino americanas – em particular as da América do Sul – apresentam especialização fortemente baseada nas exportações de produtos primários e de bens manufaturados intensivos em recursos naturais. Tais produtos ou setores, pelas características técnicas (baixa intensidade de trabalho e processos contínuos de produção), não são objeto do processo de fragmentação das etapas produtivas que está na origem das cadeias internacionais de valor.” (CASTILHO, 2012, p.51).

Entre os elementos conjunturais desse desempenho, podem ser citados

dois momentos. O desempenho da indústria brasileira, no ano de 2001, foi

fortemente afetado pela crise energética e entre 2003 a 2005 a política

macroeconômica restritiva conteve o crescimento industrial.

Para Bresser-Pereira (2007), em uma análise estrutural, o Brasil passa por

uma “desindustrialização prematura”, com a transferência e mão de obra para

setores de menor valor adicionado, o que afetaria a dinâmica de crescimento da

economia. Apesar da perda de dinamismo da estrutura produtiva, a economia

brasileira foi capaz de manter a produção em outros bens de maior valor

adicionado, como a indústria automobilística, de outros equipamentos de

transporte, máquinas e equipamentos elétricos e mecânicos. Foi ainda capaz de

se diversificar em produtos primários, reduzindo sua vulnerabilidade externa.

“O menor dinamismo industrial e as mudanças na composição da pauta de produção e de exportação na direção de uma maior presença de commodities agrícolas e minerais, no entanto, não autorizam o diagnóstico de que teria ocorrido uma desindustrialização definitiva no Brasil. Diferentemente das experiências mexicana e argentina, a base industrial brasileira manteve uma maior complexidade, densidade e capacidade de

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59

encadeamentos produtivos e tecnológicos. Essa capacidade de resistência foi decisiva para a configuração de um novo padrão de crescimento a partir de 2004-05 e de um breve ciclo de investimento no período 2006-08, que antecedeu a grave crise internacional” (HIRATURA e SARTI, 2010, p.29).

Há que se diferenciar a especialização aqui tratada, entre a especialização

comercial brasileira e o perfil da estrutura produtiva. Parte dos produtos industriais

brasileiros não participam do comércio internacional, por questões competitivas.

Nesse sentido busca-se julgar os determinantes da especialização comercial

brasileira.

O primeiro elemento a se destacar é a taxa de câmbio, conforme

argumenta Bresser-Pereira (2007). A manutenção de uma taxa de câmbio

apreciada na última década reduziu a competitividade da indústria brasileira no

comércio internacional. Pelos argumentos apresentados nas seções anteriores,

torna-se claro os impactos da taxa de câmbio sobre a especialização comercial.

O segundo fator determinante sobre o padrão comercial é a produtividade

do setor. A indústria manufatureira esteve historicamente protegida da

concorrência, desenvolvendo-se a partir de processos produtivos ineficientes e

baixos investimentos em inovação tecnológica. Com a abertura comercial, tornou-

se nítido a diferença de produtividade entre a indústria doméstica e o concorrente

externo.

GRÁFICO 12

Investimento x PIB indústria de transformação Indice encadeado - dessaz. (média 1995=100)

Fonte: IBGE/SCN 2000 Anual. Disponível em: Ipeadata.

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T4

Investimento PIB

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60

O gráfico mostra que os níveis de investimento no Brasil, até 2007

estiveram em linha, ligeiramente acima, ou mesmo abaixo da variação do PIB.

Somente nos últimos anos se observa um aumento relativo dos investimentos.

Um terceiro fator determinante para o padrão de especialização comercial

brasileiro, apontado por Arruda e Brasil21 (2011) e considerado no discurso do

setor empresarial é a estrutura de custos brasileira. Os autores destacam as

elevadas taxas de juros praticadas no Brasil, nas últimas décadas, que tem

encarecido o custo de financiamento das empresas. São considerados também

os custos de logística, os gastos com transporte, as despesas com pessoal, os

custos de energia elétrica, além da carga tributária brasileira. A infra estrutura

brasileira de armazenagem e transporte, bastante dependente de rodovias é

ineficaz e impacta no preço final do produto. Quanto às despesas de pessoal, os

elevados custos de contratação e demissão dificultam a decisão do setor

empresarial em empregar mais funcionários. A energia elétrica é considerada a

segunda mais cara do mundo, a um custo de U$$ 138/MWh, ficando atrás

somente da Itália. Com as recentes reformas promovidas pelo governo nas tarifas

de energia elétrica, haverá uma redução do impacto dessa conta nos próximos

anos.

21

Apresentam gráficos comparativos dos custos entre os no Brasil e em outros países.

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3.4) A doença holandesa

A doença holandesa, ou maldição dos recursos naturais, é uma falha de

mercado identificada nos anos 1960, na Holanda, quando a descoberta e

exploração de gás natural apreciou fortemente a taxa de câmbio, ameaçando a

existência da indústria. Os primeiros trabalhos sobre o tema foram publicados por

Corden e Neary (1982) e Corden (1984). Conforme os autores, para as

economias com vantagens comparativas na produção de bens primários, o

processo de doença holandesa levaria a uma primarização da pauta de

exportações e aumento das importações de produtos manufaturados. A

participação da indústria, então seria bastante reduzida no produto da economia.

A doença holandesa define uma taxa de câmbio de equilíbrio apreciada em

relação ao equilíbrio industrial, inviabilizando a competitividade de setores

industriais eficientes e desenvolvidos tecnologicamente.

“A doença holandesa ou maldição dos recursos naturais pode ser definida como a sobreapreciação crônica da taxa de câmbio de um país causada por rendas ricardianas que o país obtém ao explorar recursos abundantes e baratos, cuja produção comercial é compatível com uma taxa de câmbio de equilíbrio corrente claramente mais apreciada do que a taxa de câmbio de equilíbrio industrial – a taxa que bens comercializáveis que utilizam tecnologia no estado da arte mundial” (BRESSER-PEREIRA e GALA, 2010, p.13).

Uma economia que passe pela doença holandesa, apresenta uma taxa de

câmbio apreciada, baixo crescimento do setor industrial, expansão do setor de

serviços, salários médios elevados e desemprego (BRESSER-PEREIRA, 2010,

p.13, apud OOMES E KALCHEVA, 2007). O mercado não tem condições de

controlar diretamente esse processo, pois a própria doença holandesa define o

câmbio de equilíbrio. A magnitude da doença holandesa é mensurada pela

diferença entre a taxa de câmbio corrente e o câmbio de equilíbrio industrial.

Quanto maior for a diferença, mais intensa será a doença holandesa e mais difícil

de se reverter o processo. Para a neutralização dos efeitos da doença holandesa

se faz necessário uma política de administração da taxa de câmbio, que a altere

para o nível de equilíbrio industrial, que será a taxa de câmbio competitiva. A

aplicação de um imposto sobre as exportações de commodities tende a conduzir

a taxa de câmbio a um novo patamar.

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“Os países atingidos pela doença holandesa ou exportam há muito um recurso natural e jamais se industrializaram, ou lograram industrializar-se durante algum tempo porque neutralizaram a doença holandesa consciente ou inconscientemente, mas, depois, adotaram abertura financeira, perderam o controle sobre sua taxa de câmbio, e entraram em processo de desindustrialização prematura” (BRESSER-PEREIRA, 2010, p.14).

No caso brasileiro, aconteceu um desenvolvimento industrial, até o final da

década de 1970 e a partir de então tem se reduzido a participação da indústria

nacional no produto agregado. Dessa forma, o Brasil se enquadraria no segundo

caso mencionado por Bresser-Pereira. Os elementos apresentados na seção

anterior, no entanto, indicam que o padrão de especialização comercial brasileiro

não se deve exclusivamente ao nível da taxa de câmbio, que esteve apreciada na

última década, mas também a fatores relacionados à produtividade da indústria e

aos custos de operação. Dessa maneira não são conclusivos os indícios de que a

economia brasileira passe por um processo de doença holandesa.

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3.5) Conclusões

A partir dos indicadores analisados, verifica-se um padrão de

especialização comercial brasileiro em produtos primários. Após atingir um nível

de industrialização até finais da década de 1970, os produtos manufaturados

começaram a perder participação na pauta comercial brasileira, nas últimas

décadas. Dessa forma confirma-se a hipótese de que o Brasil passa por um

processo de reprimarização da pauta de exportações. Esse padrão de

especialização levanta a possibilidade do país estar passando por um processo

de doença holandesa. As evidências apresentadas são inconclusivas para

confirmar que o Brasil as exportação de commodities estejam determinando a

taxa de câmbio e destruindo o setor industrial. O país registra um desempenho

exportado favorável nas indústrias aeronáutica e farmacêutica, de alta tecnologia.

A economia brasileira apresenta de maneira geral uma correlação direta

entre a variação da taxa de câmbio e o quantum de exportações de

manufaturados. Assim, rejeita-se a hipótese de histerese para as exportações e

importações brasileiras. A ocorrência do pass-through – decorrente das variações

cambiais – está mais concentrado nos produtos das vantagens comparativas

brasileiras.

Por fim, busca-se argumentar que a perda de competitividade do setor

industrial, para a economia brasileira, está relacionada além dos efeitos cambiais,

aos baixos níveis de investimento industrial e à estrutura de custos do setor

produtivo.

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CONCLUSÃO

O trabalho analisou o padrão de especialização comercial brasileiro entre

1990 e 2012, a partir de dados da Funcex, Secex/MDIC, CNI, Ipeadata e WITS.

As críticas do pensamento nacional desenvolvimentista à teoria liberal iniciam a

discussão em torno das condições adequadas para o estabelecimento do

comércio. Apesar dos modelos teóricos demonstrarem que o livre comércio é

mutuamente benéfico, nenhum governo tem aceitado deliberadamente essa

condição na formulação de políticas comerciais.

No âmbito dos acordos comerciais verificou-se que o Mercosul, em mais de

vinte anos, não conseguiu estabelecer uma TEC e não demonstra um tendência

em direção a uma maior integração. Os fluxos comerciais intrabloco também não

apresentaram desempenho melhor em relação ao comércio extrabloco. Tem se

observado uma perda no ímpeto dos governos em firmarem acordos de livre

comércio.

As políticas comerciais realizadas estiveram mais voltadas a proteção da

indústria e não são identificados impactos significativos sobre o desempenho

exportador. O setor automobilístico, por exemplo, com baixo coeficiente de

exportação e penetração, vis-a-vis os demais segmentos de mesma intensidade

tecnológica tem seu desempenho potencializado pelos incentivos ao setor. Outra

prática de proteção são as medidas antidumping, na qual centenas de produtos

estão incluídas na lista do governo brasileiro – como, por exemplo, a sobretaxa

sobre a importação de talheres de aço. A proteção à indústria local confere ao

setor um menor coeficiente de penetração, porém não tem sido capaz de

potencializar a entrada do produto no mercado externo.

Para a análise da especialização comercial brasileira, a pesquisa

considerou os coeficientes de exportação e importação, os índices de preços e

quantidades, bem como os indicadores de vantagens comparativas,

desenvolvidos por Balassa. Verificou-se que há indícios que a economia brasileira

passa por um processo de reprimarização das exportações. A composição da

pauta exportadora brasileira tem migrado cada vez mais produtos de menos valor

adicionado e aumentado a dependência por produtos de maior intensidade

tecnológica nas importações. Em alguns setores de alta tecnologia – aeronáutica

e farmacêutico – a tendência de reprimarização não se confirma. Além disso, ou

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outros setores industriais são bastante protegidos sem menos ameaçados pelos

concorrentes externos.

Três elementos caracterizam o desempenho comercial brasileiro nas

últimas décadas. O primeiro é a intensificação no comércio com a China, principal

destino das exportações brasileiras, desde 2009, superando os EUA. A China que

o início da década de 1990 não constava entre os dez principais parceiros

comerciais brasileiros, torna-se o segundo principal fornecedor das compras

brasileiras. Segundo, o Brasil conseguiu a diversificação dos mercados

exportadores. Terceiro, houve a elevação das receitas de importação,

impulsionadas pelo aumento dos preços das commodities.

Essa especialização regressiva da pauta exportadora pode ser explicada

essencialmente por três fatores: a taxa de câmbio, a produtividade e a estrutura

de custos da economia brasileira. A taxa de câmbio valorizada, por exemplo,

tende a prejudicar os setores industriais menos desenvolvidos. Constantemente

os governos são acusados de manipular a taxa de câmbio, visando tornar seus

produtos mais competitivos no mercado internacional. Por essa razão o Brasil tem

registrado diversos produtos na lista de medidas antidumping, aplicado uma

sobretaxa sobre esses produtos. Um segundo elemento apontado para a

reprimarização da economia brasileira é a questão da produtividade. Desde o

modelo de substituição de importações, no pós-guerra, o setor empresarial

brasileiro, tem investido relativamente pouco em tecnologia e inovação, visando

melhor os processos produtivos. Durante a década de 1990, os investimentos no

Brasil foram grande parte em fusões e aquisições, tendo pouco sido destino para

a renovação e ampliação da capacidade produtiva. Embora a estrutura produtiva

da economia brasileira tenha se aproximado dos países desenvolvidos, na

década de 1970, a indústria local operava com processos ineficientes, passando a

perder mercado a medida que ocorreu a abertura comercial. Um dos poucos

setores industriais nacionais a receber constantes investimentos em tecnologia foi

o ITA, responsável pelo desempenho comercial registrado pela Embraer. Por fim,

alguns autores mencionam a estrutura de custos brasileira, determinada pelas

taxas de juros, carga tributária, custos de transporte, mão de obra, entre outros,

encarecem o produto nacional, contribuindo para a perda de competitividade da

indústria nacional.

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O trabalho verificou, por fim, efeitos defasados nas variações na taxa de

câmbio sobre a balança comercial brasileira, explicado pelos efeitos histéricos

relacionadas às decisões dos empresários. Considera-se, por fim, inclusivo as

evidências de que o Brasil passe por um processo de doença holandesa. Apesar

das tendências de reprimarização comercial, o país detem uma parcela de

exportações em produtos de média e alta tecnologias, além de uma relativa

diversidade de produtos primários.

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VALLS PEREIRA, Lia. “Exportações: novos mercados com os mesmos produtos”.

Centro de Estudos do Setor Externo do IBRE/FGV, set.2012.

____. “Os principais parceiros brasileiros e a agenda dos acordos”. Centro de

Estudos do Setor Externo do IBRE/FGV, out.2012.

____. “Falência do Mercosul”. Centro de Estudos do Setor Externo do IBRE/FGV,

dez.2012.

TINBERGEN, Jan. “International Economic Integration”. Elsiever Publishing

Company. 1965.

VINER, Jacob. “The customs union issue”. Carnegie Endowment for International

Peace, 1950.

VEIGA, P. M. “Os condicionantes microeconômicos das exportações”. Texto

CINDES n.19, dez.2010.

WITS (World Integrated Trade Solutions). Banco Mundial. Disponível em:

http://wits.worldbank.org/wits/

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76

ANEXO A

Receita com privatizações (R$ bilhões)

Resultados e Dívida Transferida (1991 a 2000)

Setor 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Total

Governo Federal 1.988 3.383 4.188 2.314 1.628 4.749 12.558 26.606 554 7.670 65.638

Aço 1.843 1.639 3.788 917 0 0 0 0 0 0 8.187

Petroquímica 0 1.477 174 528 1.226 296 0 0 0 0 3.701

Fertilizantes 0 255 226 13 0 0 0 0 0 0 494

Cia. Vale do Rio Doce 0 0 0 0 0 0 6.858 0 0 0 6.858

Energia Elétrica 0 0 0 0 402 2.943 270 1.882 1 0 5.498

Telecomunicações 0 0 0 0 0 0 4.734 23.948 421 0 29.103

Empresas 0 0 0 0 0 0 0 21.069 293 0 21.362

Concessões 0 0 0 0 0 0 4.734 2.879 128 0 7.741

Bancos 0 0 0 0 0 0 240 0 0 3.604 3.844

Outros 145 12 0 856 0 1.510 456 776 132 4.066 7.953

Estados 0 0 0 0 0 1.770 15.117 10.858 3.887 3.040 34.672

Energia Elétrica 0 0 0 0 0 1.066 13.430 7.817 2.520 1.582 26.415

Telecomunicações 0 0 0 0 0 679 0 1.840 0 0 2.519

Bancos 0 0 0 0 0 0 474 647 148 869 2.138

Outros 0 0 0 0 0 25 1.213 554 1.219 589 3.600

Total 1.988 3.383 4.188 2.314 1.628 6.519 27.675 37.464 4.441 10.710 100.310

Resultados 1.614 2.401 2.627 1.965 1.004 5.485 22.617 30.897 3.203 10.421 82.234

Dívida Transferida 374 982 1.561 349 624 1.034 5.058 6.567 1.238 289 18.076

Fonte: Castelar, Giambiagi e Moreira, 2001, p.12. BNDES.

Tarifa de importação brasileira (%)

Data Média Moda Mediana Intervalo

Desvio Padrão

1990 32,2 40 30 0-105 19,6 Fev.1991 25,3 20 25 0-85 17,4 Jan.1992 21,2 20 20 0-65 14,2 Out.1992 16,5 20 20 0-55 10,7 Jul.1993 14,9 20 20 0-40 8,2 Jan.1995 12,1 14 10 0-20 6,1

Fonte: Castelar, Giambiagi e Moreira, 2001, p.9. BNDES

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77

ANEXO B

Metodologia dos coeficientes e exportação e penetração.

O coeficiente de exportação

O coeficiente de exportação (CX) é calculado da seguinte forma:

CX = VX VP

Onde:

VX = valor das exportações do setor industrial

VP = valor da produção doméstica da produção industrial

O coeficiente de penetração

O coeficiente de penetração (CPene) é calculado da seguinte forma:

CX = . VM . ConsAp

Onde:

VM = valor das importações do setor industrial

ConsAp = consumo aparente doméstico do setor industrial, dado por:

ConsAP = VP + VM – VX

Fonte: CNI, 2011, p.15.

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78

ANEXO C

Classificação das indústrias de manufatura de acordo com a intensidade tecnológica

(ISIC Revision 2)

Alta Tecnologia

1. Aeroespacial

2. Computadores, equipamentos de escritório

3. Eletrônicos-comunicações 4. Farmacêuticos

Média-alta tecnologia

5. Instrumentos científicos

6. Veículos automotores

7. Máquinas elétricas

8. Químicos

9. Outros equipamentos de transporte 10. Máquinas não elétricas

Média baixa tecnologia

11. Produtos de borracha e plástico

12. Equipamentos náuticos

13. Outros manufaturados

14. Metais não ferrosos

15. Produtos minerais não metálicos

16. Produtos de metal

17. Derivados de petróleo 18. Metais ferrosos

Baixa tecnologia

19. Impressos

20. Têxteis e roupas

21. Comida, bebida e cigarros

22. Madeira e mobilha Fonte: Hatzichronoglou, 1997, p.6. Tradução própria.

Produtos de Alta Tecnologia (SITC Revision 3)

1. Aeroespacial

2. Computadores - máquinas de escritório

3. Eletrônicos-telecomunicações

4. Farmacêutico

5. Instrumentos científicos

6. Máquinas elétricas

7. Químicos

8. Máquinas não elétricas

9. Armamentos Fonte: Hatzichronoglou, 1997, p.9. Tradução própria.

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79

ANEXO D

Participação do produto nas exportações por país (%)

Description ReporterName 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2009 2010 2011

Animais/óleo Argentina 9,0

9,6

7,9

10,3

6,3

8,0

8,8

8,1

9,8

7,8

7,4

8,2

vegetal/gordura/cera Brazil 1,2

2,2

1,8

1,9

0,9

1,5

1,6

1,0

1,5

1,0

0,8

1,0

China 0,2

0,4

0,2

0,2

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

India 0,3

0,6

0,6

0,5

0,6

0,3

0,5

0,3

0,3

0,3

0,4

0,4

Japan 0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

Russian Federation 0,0

0,0

0,1

0,0

0,1

0,1

0,2

0,3

0,1

0,2

United States 0,3

0,4

0,3

0,4

0,2

0,3

0,2

0,2

0,4

0,3

0,3

0,3

Bebidas e cigarros Argentina 1,5

1,0

1,2

1,4

1,3

1,2

1,3

1,4

1,5

1,9

1,7

1,6

Brazil 2,9

2,6

3,4

3,2

1,7

1,7

1,5

1,3

1,4

2,1

1,4

1,2

China 0,8

0,8

0,9

0,5

0,3

0,3

0,2

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

India 0,9

0,4

0,7

0,6

0,5

0,5

0,4

0,3

0,4

0,6

0,5

0,3

Japan 0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

0,1

Russian Federation 0,2

0,1

0,1

0,2

0,1

0,2

0,2

0,3

0,2

0,1

United States 1,6

1,6

1,3

1,2

0,9

0,7

0,6

0,5

0,4

0,5

0,4

0,4

Produtos químicos Argentina 5,8

5,9

5,7

6,7

7,3

7,8

8,4

8,1

8,3

9,2

8,6

8,9

Brazil 5,9

5,9

6,6

6,3

6,5

6,0

6,0

6,7

6,4

6,9

6,2

5,9

China 5,1

5,2

5,9

5,6

4,9

4,7

4,4

4,6

5,5

5,2

5,5

6,0

India 6,7

8,2

9,0

9,4

10,3

11,1

11,6

11,6

11,2

10,5

10,7

10,4

Japan 5,6

6,0

7,0

7,0

7,3

8,0

8,5

8,9

8,8

10,6

10,2

10,3

Russian Federation 5,9

5,5

6,0

4,4

4,4

3,8

4,8

4,1

4,0

4,2

United States 10,0

10,2

10,1

10,2

10,3

11,7

13,5

13,1

13,8

15,1

14,8

14,0

Commodities Argentina 0,0

0,2

0,0

1,0

1,7

1,4

2,2

2,9

3,0

3,5

4,8

4,9

Brazil 0,9

1,5

2,6

2,0

2,6

2,6

2,0

2,4

3,0

2,7

0,9

2,9

China 0,5

0,3

0,1

0,0

0,2

0,2

0,2

0,2

0,1

0,1

0,1

0,1

India 1,7

1,7

1,8

2,4

2,0

2,4

1,2

1,1

1,6

4,5

2,1

4,7

Japan 1,6

1,9

2,5

3,2

3,6

4,3

4,4

5,1

5,4

6,7

6,0

6,0

Russian Federation 15,8

11,1

11,8

11,6

10,8

8,2

8,2

10,1

10,8

10,8

United States 4,2

4,4

4,2

3,9

4,1

4,1

3,9

4,0

4,3

11,3

10,3

10,5

Mat. crus Argentina 9,3

9,5

8,2

7,9

7,0

8,9

9,7

8,5

9,8

7,0

11,8

10,6

ex/ alimentos Brazil 13,0

12,6

12,5

15,5

15,7

15,2

16,1

16,4

19,9

22,1

26,7

28,6

combustíveis China 3,7

3,4

2,7

1,9

1,8

1,4

1,0

0,8

0,8

0,7

0,7

0,8

India 5,4

4,6

6,0

4,1

3,8

4,4

6,1

6,9

6,7

5,7

7,0

5,4

Japan 0,7

0,6

0,7

0,7

0,7

0,9

1,0

1,2

1,3

1,5

1,4

1,5

Russian Federation 5,5

7,7

4,5

4,4

4,8

3,8

3,6

3,1

3,1

3,3

United States 5,8

5,3

5,2

3,9

3,7

4,1

4,5

4,8

5,9

5,9

6,3

6,2

Fonte: UN CONTRADE. WITS. Classificação ISIC Rev.3 (1-digit).

Page 92: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP … Yamashita.pdf · YAMASHITA, Róger. Análise do Padrão de Especialização Comercial Brasileiro entre 1990 a 2012, 2013

80

Participação do produto nas exportações por país (%)

Description ReporterName 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2009 2010 2011

Alimentos e animais Argentina 44,0

35,2

38,8

35,1

32,3

31,5

32,4

30,9

34,3

36,3

32,8

35,8

vivos Brazil 19,1

21,1

22,5

20,3

16,7

19,5

19,1

18,4

18,9

23,4

22,9

21,6

China 9,8

8,3

6,8

5,8

4,9

4,5

3,2

2,7

2,3

2,7

2,6

2,7

India 14,7

14,3

16,7

15,7

11,2

11,6

9,0

7,6

8,7

6,8

7,0

7,7

Japan 0,5

0,4

0,4

0,4

0,4

0,4

0,4

0,4

0,4

0,6

0,5

0,5

Russian Federation 1,0

1,2

0,9

1,8

1,1

1,2

1,4

2,5

1,6

1,8

United States 7,6

6,9

7,4

5,6

5,2

5,8

5,6

5,2

6,6

6,8

6,5

6,9

Marquinários/ Argentina 7,5

11,2

10,9

15,9

12,8

10,3

9,0

12,8

13,9

14,4

15,9

15,9

equip. transporte Brazil 20,8

20,6

19,9

24,6

28,0

24,4

25,1

24,2

21,1

17,2

16,8

15,2

China 15,5

18,1

23,4

27,3

33,1

39,0

45,2

47,1

47,1

49,2

49,5

47,5

India 7,0

7,2

8,2

7,1

7,3

8,5

9,9

10,9

13,6

15,3

14,5

13,9

Japan 71,6

72,0

69,5

69,2

68,8

67,2

65,6

63,7

62,0

58,2

59,5

58,3

Russian Federation 7,0

7,8

6,2

7,5

5,9

3,8

3,4

3,6

2,8

2,3

United States 48,1

49,3

49,2

52,6

52,8

50,5

48,1

47,7

42,8

34,7

35,2

33,9

Bens manufaturados Argentina 11,3

12,5

11,6

10,6

11,3

11,6

10,1

10,1

8,4

8,2

7,8

7,1

Brazil 26,9

24,4

23,4

19,9

20,0

18,7

19,3

18,1

15,5

12,9

11,8

11,2

China 19,0

19,2

18,9

17,7

17,1

16,3

17,0

18,0

18,3

15,4

15,8

16,8

India 39,2

39,9

36,6

37,4

39,9

37,8

34,9

30,4

27,4

24,8

28,3

25,1

Japan 11,3

10,7

11,0

10,8

9,7

10,4

10,6

11,5

12,5

12,9

13,0

13,3

Russian Federation 19,9

25,6

17,8

15,9

17,1

15,2

12,0

12,3

11,2

9,8

United States 8,5

8,6

9,0

9,1

9,2

9,4

9,6

10,0

9,6

9,0

9,4

9,4

Combustíveis minerais/ Argentina

8,8

10,4

13,0

8,6

17,6

17,0

16,0

15,3

9,4

10,2

7,9

5,9

lubrificantes Brazil 1,6

1,8

0,9

0,7

1,6

4,9

4,6

7,7

9,4

8,9

10,1

10,5

China 5,5

3,4

3,9

2,8

3,2

2,6

2,4

1,8

2,2

1,7

1,7

1,7

India 2,8

1,9

1,5

0,4

3,4

4,6

8,1

14,9

18,1

13,6

17,2

18,8

Japan 0,5

0,6

0,5

0,3

0,3

0,3

0,4

0,9

2,4

1,8

1,7

2,0

Russian Federation 43,1

39,0

50,6

52,5

54,7

62,9

65,7

63,0

65,6

67,0

United States 2,5

1,8

2,0

1,5

1,7

1,7

2,3

3,4

5,9

5,2

6,3

8,7

Artigos Argentina 2,6

4,4

2,8

2,5

2,7

2,4

2,1

1,9

1,6

1,5

1,4

1,2

manufaturados Brazil 7,7

7,3

6,4

5,6

6,3

5,6

4,7

3,7

2,8

2,9

2,4

1,9

China 39,9

41,0

37,2

38,2

34,5

31,1

26,4

24,6

23,4

24,9

23,9

24,2

India 21,2

21,3

18,9

22,5

21,1

18,7

18,3

15,9

12,0

18,0

12,3

13,3

Japan 8,2

7,7

8,3

8,3

9,0

8,4

9,0

8,1

7,1

7,7

7,6

8,0

Russian Federation 1,5

2,1

2,0

1,7

1,1

0,7

0,6

0,8

0,6

0,4

United States 11,5

11,6

11,5

11,7

11,9

11,8

11,7

11,2

10,3

11,3

10,5

9,7

Fonte: UN CONTRADE. WITS. Classificação ISIC Rev.3 (1-digit).

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81

ANEXO E

PIB e evolução do estoque de capital

Variação real do PIB (%)

Fonte: IBGE/SCN 2000 Anual. Disponível em: Ipeadata.

Evolução do estoque de IED realizado pelos Brics

Fonte: UNCTAD. Citado por Alves 2011, p.28.

-10

-5

0

5

10

15

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

agropecuária Indústria Serviços

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82

ANEXO F

Índices de preço, quantidades e valor, por tipo de produto

(valor - US$ bilhões; índice - média 2006=100)

Ano Básicos Semimanufaturados Manufaturados

Valor Quantum Preço Valor Quantum Preço Valor Quantum Preço

1990 8.747

27,7

76,5

5.108

35,0

77,2

17.011

26,7

85,0

1991

8.737

27,3

77,7

4.691

35,2

70,4

17.757

28,4

83,4

1992 8.830

29,0

73,9

5.750

44,9

67,7

20.754

33,9

81,6

1993 9.366

31,6

71,9

5.445

44,8

64,2

23.437

42,5

73,6

1994 11.058

32,4

82,7

6.893

49,4

73,6

24.959

42,0

79,2

1995

10.969

30,8

86,4

9.146

53,0

91,1

25.565

37,4

91,2

1996 11.899

31,6

93,6

8.614

55,6

79,3

26.411

38,4

91,7

1997 14.471

35,5

101,1

8.479

55,6

78,2

29.192

43,4

89,7

1998

12.970

37,9

84,9

8.114

57,6

72,1

29.380

44,2

88,5

1999 11.828

41,2

71,2

7.982

67,3

60,8

27.331

46,1

79,0

2000 12.564

44,7

69,8

8.499

62,6

69,5

32.559

54,4

79,8

2001

15.349

59,6

63,9

8.242

67,8

62,3

32.959

55,1

79,8

2002 16.959

68,7

61,3

8.966

77,3

59,4

33.069

57,9

76,1

2003 21.186

77,7

67,7

10.945

84,8

66,1

39.764

70,1

75,7

2004

28.529

88,1

80,4

13.433

90,9

75,7

53.137

88,3

80,2

2005 34.732

94,3

91,4

15.963

96,6

84,7

65.353

97,9

89,0

2006 40.285

100,0

100,0

19.523

100,0

100,0

75.018

100,0

100,0

2007

51.596

111,8

114,5

21.800

100,7

110,9

83.943

103,2

108,4

2008 73.028

112,1

161,8

27.073

99,8

138,9

92.683

98,1

126,0

2009 61.958

115,3

133,4

20.499

94,8

110,8

67.349

75,7

118,6

2010

90.005

128,4

174,0

28.207

101,1

142,9

79.563

82,4

128,7

2011 122.457

133,1

228,4

36.027

106,8

172,9

92.291

83,8

146,8

2012 113.456

134,3

209,7

33.042

105,1

161,0

90.707

82,8

146,4

Fonte: Funcex. Disponível em: IPEADATA.

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ANEXO G

Coeficientes de pass-through setoriais

Representação gráfica dos valores dos fatores

Fonte: Correa, 2012, p.83.