157
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração Lidiene Silva Pesker Costa DE PAI PARA FILHO: a Natureza do Processo de Sucessão em Pequenas e Médias Empresas Familiares Belo Horizonte 2013

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS · curiosidade e da inquietação da pesquisadora com as altas taxas de mortalidade das empresas familiares e com a necessidade

  • Upload
    buikhue

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Administração

Lidiene Silva Pesker Costa

DE PAI PARA FILHO:

a Natureza do Processo de Sucessão em Pequenas e Médias Empresas Familiares

Belo Horizonte

2013

Lidiene Silva Pesker Costa

DE PAI PARA FILHO:

a Natureza do Processo de Sucessão em Pequenas e Médias Empresas Familiares

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, como

requisito parcial para obtenção do título de Mestre

em Administração.

Orientadora: Profª. Dra. Simone Costa Nunes.

Belo Horizonte

2013

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Costa, Lidiene Silva Pesker

C837p De pai para filho: a natureza do processo de sucessão em pequenas e médias

empresas familiares/ Lidiene Silva Pesker Costa. Belo Horizonte, 2013.

156f.: il.

Orientadora: Simone Costa Nunes

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Administração.

1. Empresas familiares - Sucessão. 2. Pequenas e médias empresas. I. Nunes,

Simone Costa. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de

Pós-Graduação em Administração. III. Título.

CDU: 658.11

Lidiene Silva Pesker Costa

DE PAI PARA FILHO:

o processo de sucessão em pequenas e médias empresas familiares

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, como

requisito parcial para obtenção do título de Mestre

em Administração.

___________________________________________________________________________

Orientadora Profª. Dra. Simone Costa Nunes (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

___________________________________________________________________________

Profª. Dra. Liliane de Oliveira Guimarães (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

___________________________________________________________________________

Profª. Dra. Denize Grzybovski (Pontifícia de Passo Fundo)

Belo Horizonte, 20 de Fevereiro de 2013

Ao meu amado marido, Lucas,

pelo amor, companheirismo, paciência

e apoio incondicionais.

Aos meus pais, Ersueli e Maria Augusta,

e meus irmãos, Eleine e Hérisson,

por serem meu porto seguro

e por acreditarem em meus ideais.

Aos meus sogros, Sérgio e Simone,

pela inspiração, investimento e

incentivo sempre presentes.

AGRADECIMENTOS

Ao longo do caminho para a realização desta dissertação, pude contar com o apoio,

tempo e carinho de várias pessoas e instituições, que tornaram possível a chegada ao final da

caminhada. Assim, deixo aqui registrado meus sinceros agradecimentos:

A Deus, dono da minha vida e Quem me capacita.

À Profa. Dr

a. Simone Nunes, pela dedicação na orientação, pela confiança, pelo

carinho, paciência e presteza com que me atendeu, sempre com observações pertinentes e

enriquecedoras, sendo indispensável sua participação na elaboração deste trabalho.

Às Profas

. Dras

. Denize Grzybovski e Liliane Guimarães, pela prontidão em aceitar o

convite para participarem da banca examinadora e pela disponibilidade de ler e criticar,

enriquecendo esta dissertação.

Aos colegas da turma de mestrado, pela convivência e aprendizado, especialmente a

Tatiana Almeida e Júnia Guerra, pelos ótimos momentos compartilhados, pela amizade,

companheirismo e por dividirem comigo tempos de trabalho árduo. Com vocês ao meu lado

ficou muito mais fácil.

Aos professores do programa, que foram essenciais nesta gratificante experiência que

foi o mestrado, por seus esforços em prol de nos transmitir conhecimento e conteúdos

importantes para o nosso desenvolvimento profissional e intelectual.

Aos funcionários Jaqueline, Cristiano e Paola, por estarem sempre prontos a nos

atender.

Agradeço de forma muito especial às empresas que abriram suas portas, personificadas

pelos fundadores, antecessores e herdeiros, que gentilmente nos concederam a oportunidade

de pesquisá-las e ofereceram parte do seu tempo para contribuir com suas experiências tão

essenciais para a viabilização desta pesquisa. Obrigada por contarem suas histórias, abrirem o

coração e pela confiança dispensada.

Ao Prof. Pedro Augusto Xavier de Assis, por ter sido um intermediador, abrindo

caminho para a realização da pesquisa em uma das empresas estudadas. Além disso, por ter

auxiliado na realização das entrevistas na referida empresa.

Ao bolsista Danilo Calsoni Gomes, pela colaboração na transcrição das entrevistas.

À Mariana Caroline de Almeida Faustino pelo apoio e por ter sido facilitadora no

contato com uma das empresas estudadas.

À Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), pela estrutura

disponibilizada e o ambiente agradável de trabalho e também pelo apoio financeiro concedido

por meio do Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIP) ao projeto: “Oportunidades e desafios no

processo de sucessão de pequenas e médias empresas familiares do setor industrial de

Contagem”, do qual esta pesquisa fez parte.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo

apoio financeiro concedido nos dois anos do curso.

“Ora Àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais

do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o Seu

poder que opera em nós, a Ele (Jesus Cristo) seja a

glória”.

Efésios 3:20 (Bíblia Sagrada).

RESUMO

O presente trabalho foi realizado com o objetivo de analisar o processo sucessório no contexto

das pequenas e médias empresas familiares que estão passando ou já passaram por uma

sucessão, enfocando as dificuldades encontradas e as oportunidades geradas. Procurou-se

entender como isso vem acontecendo nas empresas de menor porte, sabendo-se que este é um

ponto crítico para as organizações familiares e que muitas delas acabam morrendo na

transição entre a primeira e a terceira gerações (Allio, 2004; Gersick, Davis, Hampton &

Lansberg, 1997; Bjuggren & Sund, 2005; Pereira & Sousa, 2009). O trabalho originou-se da

curiosidade e da inquietação da pesquisadora com as altas taxas de mortalidade das empresas

familiares e com a necessidade de entender o processo sob as diversas perspectivas: a do

antecessor, do sucessor e da família. O referencial teórico baseou-se na revisão das diversas

definições dos conceitos de empresa familiar e a caracterização das mesmas; a descrição e

análise das pequenas e médias empresas; o processo de sucessão e as dificuldades e

oportunidades que podem emergir do mesmo. Para alcançar os objetivos propostos foi feito

um estudo multicaso de caráter qualitativo, utilizando como instrumento de coleta de dados

entrevistas semiestruturadas. Foram entrevistadas 19 pessoas de cinco empresas diferentes,

que foram escolhidas pela relação familiar com a empresa (fundador, antecessor ou sucessor).

No decorrer do trabalho, foi possível entender melhor a natureza da sucessão em pequenas e

médias empresas familiares, comparando suas experiências com os pressupostos teóricos

estudados. Observou-se que a falta de planejamento formal da sucessão é uma realidade nas

pequenas e médias empresas familiares, sendo este um processo mais intuitivo desencadeado

por acontecimentos naturais da dinâmica da família e do cotidiano da empresa. Mesmo sem

este planejamento formal, sem que os antecessores se preparem para a sua saída e sem outros

requisitos encontrados na literatura como sendo determinantes para o sucesso na passagem de

gerações, as empresas estudadas têm conseguido vencer essa fase e passar pela ação

sucessória sem maiores riscos à sua sobrevivência. Observou-se que algumas dificuldades

poderiam ser evitadas se certas medidas fossem tomadas, mas, de modo geral, concluiu-se que

justamente pelas peculiaridades das pequenas e médias empresas, que não exigem grandes

estruturas ou formalização dos processos, as sucessões aconteceram e ainda trouxeram

oportunidades de crescimento para as organizações.

Palavras-chave: Empresa familiar. Sucessão. Pequenas e médias empresas.

ABSTRACT

The present study purpose was analyze the nature of the succession process in the context of

small and medium-sized family businesses that are going through or have gone through a

succession, focusing on the difficulties and opportunities envolved. We sought to understand

how the process has been going on in smaller companies, knowing that this is a critical issue

for organizations and families that many of them end up dying in the transition between the

first and third generation (Allio, 2004; Gersick, Davis, Hampton & Lansberg, 1997; Bjuggren

& Sund, 2005; Pereira & Sousa, 2009). The work grew out of curiosity and restlessness of the

researcher with the high mortality rates of family businesses that are so important

economically and socially as well as the need to understand the process from different

perspectives, that of the predecessor and the successor of the family. The theoretical

framework was based on the review of the definitions of family business and characterization

it self, the description and analysis of small and medium enterprises, the succession process

and the difficulties and opportunities that may emerge from it. To achieve the proposed

objectives was made a qualitative study with multiple cases, using as an instrument for data

collection semi-structured interviews. We interviewed nineteen people from five different

companies that were chosen by the family relationship with the company (founder,

predecessor or successor). During the work, we could better understand the nature of the

succession process in small and medium-sized family businesses, comparing their experiences

with the theoretical study. It was observed that the lack of formal succession planning is a

reality in small and medium-sized family businesses, which is a more intuitive process

triggered by natural events in the dynamics of family and daily life of the company. Even

without this formal planning without the predecessors to prepare for his departure and no

other requirements found in the literature as being crucial to success in the passage of

generations, the studied companies have achieved through this phase and go through probate

action without major risks to their survival. It was observed that some difficulties could be

avoided if certain measures were taken, but in general, it was concluded that precisely

because of the peculiarities of small and medium enterprises, which do not require large

structures or formalization of processes, succession happened and even brought growth

opportunities for organizations.

Key words: Family business. Succession. Small and medium-sized enterprises.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Genetograma Alimentar .......................................................................................... 57

Figura 2 - Genetograma Educar................................................................................................ 65

Figura 3 - Genetograma Medicar - 1 ........................................................................................ 76

Figura 4 - Genetograma Medicar – 2........................................................................................ 78

Figura 5 - Genetograma Adoçar ............................................................................................... 92

Figura 6 - Genetograma Transportar ........................................................................................ 97

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Enfoques dos estudos sobre sucessão .................................................................... 21

Quadro 2 - Definições de empresa familiar .............................................................................. 27

Quadro 3 - Pontos fortes e pontos fracos das empresas familiares, segundo administradores. 29

Quadro 4 - Pontos fortes e pontos fracos das empresas familiares, segundo administradores

profissionais .............................................................................................................................. 30

Quadro 5 - Definição de pequenas e médias empresas ............................................................ 32

Quadro 6 - Relação dos entrevistados ...................................................................................... 52

Quadro 7 - Categorias de análise .............................................................................................. 55

Quadro 8 - Divisão acionária da Transportar ........................................................................... 99

Quadro 9 - Síntese da categoria: sucessão .............................................................................. 105

Quadro 10 - Síntese da categoria: o antecessor ...................................................................... 109

Quadro 11 - Síntese da categoria: o sucessor ......................................................................... 114

Quadro 12 - Síntese da categoria: a família ............................................................................ 118

Quadro 13 - Síntese da categoria: dificuldades ...................................................................... 129

Quadro 14 - Síntese da categoria: oportunidades ................................................................... 132

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição anual e por meio de divulgação .......................................................... 19

Tabela 2 - Temas estudados sobre empresas familiares ........................................................... 20

LISTA DE SIGLAS

3Es - Encontro de Estudos em Estratégia

ANPAD - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEO - Chief Executive Officer

EnADI - Encontro de Administração da Informação

EnANPAD - Encontro da ANPAD

EnEO - Encontro de Estudos Organizacionais

EnEPQ - Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade

EnGPR - Encontro de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho

FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IRPF - Imposto de Renda de Pessoa Física

PIB - Produto Interno Bruto

PMEs - Pequenas e Médias Empresas

PUC-MINAS - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

PwC - Pricewaterhouse Coopers

RH - Recursos Humanos

ROB - Receita Operacional Bruta

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SUMÁRIO1

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 24

2.1 Empresas familiares ...................................................................................................... 24

2.2 As empresas de pequeno e médio porte....................................................................... 30

2.3 O processo de sucessão ................................................................................................. 34

2.4 Dificuldades e/ou oportunidades que podem surgir no processo sucessório ........... 39

2.4.1 O antecessor ................................................................................................................. 39

2.4.2 O sucessor .................................................................................................................... 41

2.4.3 Profissionalização da empresa .................................................................................... 43

2.4.4 Planejamento sucessório ............................................................................................. 45

3 METODOLOGIA DE PESQUISA ................................................................................ 46

3.1 Estratégia e método de pesquisa .................................................................................. 46

3.2 Unidades empíricas de análise ..................................................................................... 49

3.3 Estratégia de coleta de dados ....................................................................................... 51

3.4 Estratégia de análise de dados ..................................................................................... 53

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................... 56

4.1 Descrição do caso: ALIMENTAR ............................................................................... 56

4.2 Descrição do caso: EDUCAR ....................................................................................... 64

4.3 Descrição do caso: MEDICAR ..................................................................................... 75

4.4 Descrição do caso: ADOÇAR ....................................................................................... 84

4.5 Descrição do caso: TRANSPORTAR .......................................................................... 94

4.6 Análise conjunta dos casos ......................................................................................... 104

4.6.1 Sucessão ..................................................................................................................... 104

4.6.2 O antecessor ............................................................................................................... 105

4.6.3 O sucessor .................................................................................................................. 110

4.6.4 A família ..................................................................................................................... 115

4.6.5 Dificuldades ............................................................................................................... 118

4.6.6 Oportunidades ............................................................................................................ 130

5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 133

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 138

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA: SUCEDIDO ....................................... 145

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA: HERDEIRO ....................................... 146

APÊNDICE C – ANÁLISE CONJUNTA DOS CASOS – RESUMO COMPARATIVO

ENTRE AS EMPRESAS ..................................................................................................... 147

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo Ortográfico

assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em vigor no Brasil

desde 2009. E foi formatado de acordo com o Padrão Puc Minas de Normalização, 2011.

15

1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação foi escrita com o intuito de conhecer mais de perto o processo

de sucessão no contexto das organizações familiares de pequeno e médio porte, partindo-se do

pressuposto de que ele é decisivo para a sobrevivência de tais empresas, conforme Morris,

Williams, Allen and Avila (1997); Le Breton-Miller, Miller and Steier (2004) e Wang,

Watkins, Harris and Spicer (2004). Além disso, sabe-se que a mais alta taxa de mortalidade

dos negócios gerenciados por famílias ocorre na transição entre a primeira e a terceira geração

(Allio, 2004; Gersick, Davis, Hampton & Lansberg, 1997; Bjuggren & Sund, 2005; Pereira &

Sousa, 2009). Para tal, realizou-se pesquisa multicaso, analisando cinco empresas familiares

de pequeno e médio porte que estivessem passando pela sucessão ou que já tinham finalizado

com sucesso a transição, uma vez que a propriedade e a gestão ainda estavam sob o comando

da família fundadora.

Entre as razões que motivaram a presente pesquisa, pode-se destacar, em primeiro

lugar, a curiosidade da pesquisadora, aguçada pela convivência com uma família proprietária

de empresa que deseja fazer a sucessão em médio prazo. Casada com um sucessor da segunda

geração e partilhando de diversas conversas com os sócios fundadores sobre o tema, algumas

dúvidas foram levantadas a respeito de como conduzir uma sucessão em uma empresa de

menor porte, de forma a aumentar as chances de sucesso.

Outro aspecto motivador do estudo está relacionado ao valor das empresas familiares

demonstrado não só pelos benefícios que elas trazem à sociedade, mas especialmente pela

expressividade em relação à composição do tecido empresarial e econômico mundial

(Chrisman, Chua & Steier, 2003; Grzybovski, 2007; Lee, 2006). Segundo dados apresentados

no site do Family Firm Institute (2012), em nível global empresas controladas e administradas

por famílias são responsáveis por 70 a 90% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. No

Brasil, a maioria das empresas é de propriedade familiar e o país é o lar de pelo menos 20

organizações de mais de um século de idade que estão sob o comando da quarta ou quinta

geração. No Canadá, cerca de metade da força de trabalho é empregada por empresas

familiares que geram quase 45% do PIB. Nos Estados Unidos essas organizações são

responsáveis pela maior parte da riqueza, constituindo 80 a 90% do total de negócios

existentes no país, contribuindo com 64% do PIB e empregando 62% da mão de obra.

As organizações familiares participam ativamente no crescimento do país, também

pela sua contribuição na criação de novos empregos, incubação de novos negócios, promoção

de atividades empresariais e desenvolvimento econômico de pequenas regiões (Astrachan,

16

Zahra & Sharma, 2003; Grzybovski, 2007; Heck & Stafford, 2001; Teixeira, Toso, &

Grzybovski, 2009). Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

(SEBRAE) mostram que até 2005 existiam funcionando no Brasil aproximadamente 6 a 8

milhões de empresas e que 90% delas eram familiares. Pode-se observar, ainda, no país,

diversos perfis de empresas – indo das pequenas padarias ou tinturarias às grandes

corporações, como os grupos Votorantin e Pão de Açúcar – juntas essas organizações

somavam mais de 12 milhões de empregos diretos e a participação no PIB chegava a ser de

12% no segmento agrobusiness, 34% na indústria e 54% nos serviços (Serviço Brasileiro de

Apoio às Micro e Pequenas Empresas, 2005).

A partir desses dados pode-se constatar que a empresa familiar, pela natureza do seu

negócio e por sua representatividade econômica, demanda esforços constantes de pesquisa a

fim de se chegar a mais esclarecimentos sobre suas peculiaridades e de contribuir com seu

desenvolvimento. A literatura sobre o assunto concentra altas doses de atenção sobre os

desafios específicos que permeiam essas organizações, tais como os aspectos relacionados à

interação família e empresa, à profissionalização, aos conflitos entre os sócios, à governança,

à cultura; mas, de forma notória, um dos problemas centrais que assolam essas organizações é

a capacidade de manter a liderança da família ao longo das gerações (Le Breton-Miller et al.,

2004).

O terceiro aspecto que motivou a presente pesquisa foi, portanto, a constatação, com

base em leitura de artigos e livros, da importância da sucessão para essas empresas. No Brasil

e no mundo, um dos tópicos mais pesquisados sobre as organizações familiares diz respeito à

sua sobrevivência em longo prazo, tendo as famílias proprietárias a preocupação em assegurar

a continuidade dos seus negócios como forma de garantir o conforto e a prosperidade das

próximas gerações (Le Breton-Miller et al., 2004; Morris et al., 1997; Wang et al., 2004).

Apesar da representatividade, existe um problema relacionado às organizações

familiares que diz respeito ao alto nível de mortalidade observado entre elas. A preocupação é

que, mesmo diante de tantos números positivos, um estudo feito pela Pricewaterhouse

Coopers (PwC) em 2010 com empresas familiares atuando em diversos setores da economia

em 35 países constatou que 36% das empresas sobrevivem à passagem para a segunda

geração; 19%, para a terceira; 7%, para a quarta; e apenas 5%, para a quinta ou mais gerações.

Nos Estados Unidos, estima-se que 30% das empresas familiares sobrevivem à mudança para

a segunda geração, cerca de 12% passam para a terceira e apenas 3% passam para a quarta

geração. No Brasil, os números são semelhantes e apenas 5% das empresas familiares têm

chegado à terceira geração.

17

Os números sugerem que muitas não conseguem resistir a esse processo ou, se

atravessam, é com certa dificuldade. Fazer com que um empreendimento continue próspero,

competitivo e com perspectivas de crescimento após ser transferido para uma nova geração de

comando da família tornou-se um desafio a ser enfrentado, uma vez que é alto o número de

empresas extintas ou vendidas durante esse processo (Gersick et al., 1997).

A sucessão é o momento de transferência do poder da geração atuante para aquela que

assumirá a empresa. Ela pode ocorrer de forma lenta, planejada e em longo prazo, como

também de forma inesperada, por motivos que levam o atual dirigente a sair repentinamente

dos negócios (morte, doença, acidente) (Leone, 2005). Embora a sucessão seja altamente

relevante para a continuidade dos negócios e sobrevivência das empresas familiares, ela pode

vir a ser traumática, caso não seja conduzida de maneira racional e eficaz. É necessário que tal

processo seja cuidadosa e racionalmente planejado, considerando-se a vasta gama de fatores

que o atingem (Estol & Ferreira, 2006).

Até o presente momento, muitas pesquisas da área de administração nas escolas de

negócios vinham ignorando a dimensão familiar das empresas, o que é surpreendente, visto

que a maioria das organizações em todo o mundo é familiar (Heck, Hoy, Poutziouris & Steier,

2008). O interesse dos autores pelas particularidades das organizações denominadas

familiares nos estudos da teoria das organizações vem evoluindo nas últimas três décadas.

Começou devagar e um pouco desconexo, mas tem apresentado acelerado crescimento desde

meados da década de 2000 (Heck et al., 2008). Esse segmento peculiar de empresas está

ganhando espaço nas discussões acadêmicas e no mundo prático dos negócios, no qual se

procura compreender a complexa dinâmica da relação entre família e empresa (Debicki,

Matherne III, Kellermanns & Chrisman, 2009).

Existe no meio internacional uma boa perspectiva de que as organizações familiares se

tornem cada vez mais um campo acadêmico respeitado nas pesquisas em universidades.

Desde a década de 1980 ela vem se destacando como uma área independente nos estudos

organizacionais e vem despertando mais interesse dos pesquisadores (Bird, Welsch,

Astrachan & Pistrui, 2002; Astrachan, 2010). Esse interesse pode ser demonstrado, sobretudo,

quando se observa o crescente volume de produções científicas do campo. Nos Estados

Unidos, por exemplo, pode ser visto expressivo aumento de artigos sendo publicados na

revista Academy of Management, que é uma referência na área (Debicki et al., 2009; Stewart

& Miner, 2011).

No Brasil também existe interesse crescente em se compreender a natureza dessas

organizações. Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas buscando a formulação de teorias,

18

geração de conhecimento e proposição de alternativas aos problemas intrínsecos a esse tipo de

negócio. Entretanto, sabe-se que o campo de estudos também é relativamente novo no país e

foi ignorado por muitas décadas, principalmente no meio acadêmico, que mostrou certa

resistência a reconhecer o universo familiar no ambiente organizacional e enfatizar a

importância do estudo de algumas especificidades relacionadas a aspectos menos objetivos

como os valores, a cultura e a influência da família nos negócios (Bird et al., 2002; Borges,

Lescura & Oliveira, 2010).

As pesquisas brasileiras datam do início da década de 1990, sendo João Bosco Lodi e

Renato Bernhoeft dois dos autores pioneiros na área. O campo surgiu a partir de trabalhos

resultantes de consultoria que tinham como foco os problemas vivenciados pelas organizações

ao longo dos processos de sucessão (Grzybovski, 2007). A partir de 1999 ocorreu gradativo

crescimento do volume de trabalhos publicados, tendo mais destaque e espaço em eventos

científicos da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

(ANPAD) (Borges et al., 2010).

Como foi dito anteriormente, a questão da sucessão, desde os primórdios dos estudos

sobre empresas familiares, vem sendo a principal preocupação de pesquisadores, consultores e

donos de empresa. No entanto, embora intensamente avaliada, a pesquisa ainda permanece

fragmentada em seu foco e resultados (Bird et al., 2002; Chrisman, Chua & Sharma, 2003;

Grzybovski, 2007). Os estudos são direcionados para as diferentes partes de um processo que

é mais amplo, em que cada autor procura focar aquilo que julga ser a parte mais importante,

mas que, na verdade, é relativamente pequena se o problema for olhado como um todo

(Chrisman et al., 2003; Le Breton-Miller et al., 2004).

Le Breton-Miller et al. (2004) realizaram uma pesquisa que exemplifica essa dispersão

dos estudos sobre sucessão no âmbito internacional, examinando mais de 40 artigos e sete

livros que tratavam sobre o assunto. Em um resumo dos achados mais comuns entre as

publicações, um dos temas recorrentes relativos à sucessão diz respeito aos antecessores e

seus atributos, como motivação e vontade de trabalhar, relacionamento com o sucessor,

personalidade e necessidades. Outro tema também recorrente foi o sucessor, enfatizando-se da

mesma forma sua relação com o antecessor, motivação, interesse, compromisso e capacidade

de gestão. Depois aparecem pesquisas sobre a formação do sucessor, desenvolvimento de

carreira fora da empresa familiar, qualidade das relações familiares, colaboração, trabalho em

equipe, relacionamento entre irmãos, planejamento sucessório e conselho de administração.

Todos esses assuntos, segundo os autores, são parte do esforço de se delimitar os aspectos

importantes para uma boa sucessão, que podem facilitar ou dificultar o processo.

19

Assim como no meio internacional, as pesquisas no Brasil estão sendo feitas a partir

de diversas abordagens teórico-conceituais. Tal diversidade mostra vasta gama de campos

temáticos a serem investigados, mas, ao mesmo tempo, pode demonstrar falta de foco nas

investigações e dispersão dos esforços dos pesquisadores, não permitindo que contribuições

teóricas mais robustas e aprofundadas surjam para o avanço da área (Grzybovski, 2007).

Para fins deste estudo, realizou-se pesquisa bibliográfica na qual foi feito um

levantamento dos trabalhos publicados no Brasil sobre empresas familiares em anais de

eventos científicos da ANPAD2 e em diversos periódicos

3 importantes que apresentam

produção relevante no campo, no período compreendido entre 2000 e 2011.

A fim de identificar como foi a evolução das publicações ao longo do período em

relação ao número de artigos e também averiguar em qual meio de divulgação existem mais

trabalhos apresentados sobre o tema, apresenta-se, a seguir, a Tabela 1, que mostra a

distribuição anual e por meio de divulgação dos mesmos.

Tabela 1 - Distribuição anual e por meio de divulgação

Ano Eventos Periódicos

Quantidade % Quantidade %

2000 2 2,4 5 23,8

2001 2 2,4 0 0

2002 2 2,4 3 14,3

2003 3 3,6 1 4,8

2004 6 7,1 0 0

2005 5 6,0 2 9,5

2006 12 14,3 4 19,0

2007 8 9,5 0 0

2008 19 22,6 3 14,3

2009

2010

5

11

6,0

13,1

2

1

9,5

4,8

2011 9 10,7 0 0

TOTAL 84 100 21 100

Fonte: Elaborado pela autora.

2Anais de eventos científicos da ANPAD pesquisados: Encontro da ANPAD (EnANPAD); Encontro de Estudos

Organizacionais (EnEO); Encontro de Estudos em Estratégia (3Es); Encontro de Administração da Informação

(EnADI); Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EnEPQ); Encontro de Gestão de

Pessoas e Relações de Trabalho (EnGPR). 3Periódicos pesquisados: Revista de Administração de Empresas (RAE/EAESP-FGV); Revista de Administração

de Empresas Eletrônica (RAE-e/EAESP-FGV); Revista de Administração Contemporânea (RAC/ANPAD);

Revista de Administração (RAUSP/USP); Revista de Administração Mackenzie (RAM/Mackenzie); Revista

Eletrônica de Administração (REAd/UFRGS); Revista Organizações & Sociedade (O&S/UFBA)

20

Ao analisar a tabela, é possível observar que a maior parte dos trabalhos foi publicada

em eventos científicos, nos quais foram encontradas 84 publicações, contra 21 em periódicos.

Em relação à evolução ao longo do período de 11 anos considerado, os dados mostram que as

pesquisas sobre empresas familiares até o ano 2005 ainda eram um pouco tímidas, passando a

ter mais representatividade a partir de 2006, nos eventos científicos, com destaque em 2008,

quando foi encontrado o maior número de artigos publicados. Assim, é possível averiguar que

o interesse pelo tema no Brasil é crescente, mostrando a importância do estudo para a área de

Administração. O incremento do volume de artigos demonstra uma possível consolidação do

campo no cenário brasileiro (Borges et al., 2010).

Uma questão essencial sobre a produção científica do campo de estudos que foi

investigada nesta pesquisa bibliográfica refere-se às abordagens temáticas encontradas nos

diversos trabalhos publicados. A partir da análise dos artigos selecionados foi possível

identificar os temas trabalhados, demonstrando aqueles que aparecem de forma mais

recorrente e aqueles que ainda não são tão explorados (TAB. 2).

Tabela 2 - Temas estudados sobre empresas familiares

(continua)

Temas Quantidade %

Sucessão 40 38,1

Cultura 8 7,6

Governança 8 7,6

Estratégia 6 5,7

Representações Sociais / Familiares 6 5,7

Práticas Gerenciais 5 4,8

Produção Científica sobre Empresas

Familiares 5 4,8

Família 4 3,8

Crescimento e Desenvolvimento 3 2,9

Finanças

Comprometimento Organizacional

3

2

2,9

2,9

Gênero 2 2,9

Gestão do Conhecimento 2 2,9

Ciclo de Vida 2 2,9

Aprendizagem 1 1,0

Teoria da Agência 1 1,0

Empreendedorismo 1 1,0

Mudança Organizacional 1 1,0

21

(conclusão)

Temas Quantidade %

Relações de Poder 1 1,0

Teoria Institucional 1 1,0

Profissionalização 1 1,0

Controle 1 1,0

Teoria da Ação Comunicativa 1 1,0

TOTAL 105 100

Fonte: Elaborado pela autora.

Entre as abordagens temáticas mais estudadas no campo de empresas familiares, pode-

se reafirmar que o tema de mais destaque é a sucessão, tanto em eventos científicos quanto em

periódicos, estando presente em 40 trabalhos, representando 38,1% do total. Diante do

conjunto de dados, mais uma vez se confirma a relevância da questão da sucessão nos estudos

da área. Porém, o que se observou foi que o processo sucessório tem sido estudado sob uma

ótica muito diversificada, contribuindo para a falta de aprofundamento e impossibilidade de

conclusões mais concretas sobre o tema. Nos 40 artigos encontrados que tratam sobre

sucessão, ainda foi feita a investigação das diversas abordagens existentes, identificando-se 26

enfoques diferentes (QUADRO 1).

Quadro 1 - Enfoques dos estudos sobre sucessão

(continua)

No Enfoques Quantidade

1 O processo sucessório 8

2 Relações de poder / dominação existentes em um processo de

sucessão 4

3 Influência dos valores familiares e da cultura organizacional sobre o

processo de sucessão 3

4 Inserção / exclusão da mulher no processo sucessório 2

5 Vínculos estabelecidos entre indivíduo e organização que

caracterizam sua permanência ou expurgo da empresa familiar 2

6 Sucessão e empreendedorismo 1

7 Desafios no processo de sucessão 1

8 Continuação da carreira de líderes dentro do processo de sucessão 1

9 Ciclo de vida da empresa relacionado à sucessão 1

10 Sucessão patrimonial e sucessão gerencial 1

11 Processo sucessório sob uma visão mais subjetiva e menos

funcionalista 1

22

(conclusão)

No Enfoques Quantidade

12 Conflitos entre pais e filhos no processo sucessório 1

13 Preocupação de alunos de um curso de Administração quanto ao

desenvolvimento de um processo sucessório 1

14 Sucessão com foco no papel do herdeiro 1

15 Sucessão e as relações sociais / familiares 1

16 Sucessão em pequenas e médias empresas 1

17 Implicações do processo de sucessão para o alinhamento entre a

gestão estratégica de pessoas e a estratégia organizacional 1

18 Proposição de um instrumento para avaliação do processo sucessório 1

19 Significados presentes nos discursos dos membros da família sobre o

processo de sucessão 1

20 Características presentes no modelo de gestão que possam explicar

sua longevidade sob a perspectiva do processo sucessório 1

21 Dificuldades enfrentadas pelos membros da 3ª geração 1

22 Profissionalização e processo de sucessão 1

23 Repercussões do processo sucessório sobre os resultados econômicos,

tecnológicos e organizacionais 1

24 O que possibilita a sobrevivência das empresas relativo ao processo

de sucessão 1

25 Estratégias desenvolvidas por famílias empresárias para conduzir os

herdeiros à gestão 1

26 Integração de questões relativas ao processo sucessório às relações de

poder, à profissionalização e à sobrevivência da empresa familiar 1

Fonte: Elaborado pela autora.

A diversidade de enfoques para o estudo da sucessão é grande. Pode-se perceber que

quase todos os assuntos foram tratados somente em um único artigo e que cada um discute o

problema sob uma ótica particular (ou do fundador ou do sucessor ou das relações familiares,

das relações de poder, etc.) e não procurando integrar os aspectos relacionados ao problema.

A justificativa para o estudo deste tema advém, portanto, da observação da

fragmentação das investigações e da falta de profundidade dos mesmos. Na medida em que se

reconhece a importância socioeconômica das empresas familiares e que o interesse científico

voltado para a compreensão dessas organizações se torna crescente, surge a necessidade de

mais pesquisas sobre a sucessão que possam contribuir para o aprofundamento da área.

A relevância desta pesquisa está em identificar possíveis obstáculos que, uma vez de

conhecimento dos envolvidos, podem auxiliar no bom encaminhamento dos processos de

sucessão, contribuindo para minimizar os problemas enfrentados. Além disso, tem-se a

oportunidade de agregar conhecimento, de preservar e diminuir as estatísticas negativas e

reverter, dentro do possível, os fracassos dos processos sucessórios em empresas familiares,

23

aumentando, por decorrência, o número daquelas que finalizam de maneira satisfatória sua

sucessão.

A escolha de estudar pequenas e médias empresas familiares se justifica pelo fato de

que elas são de grande relevância na economia de todo o mundo e que grande parte do índice

de mortalidade ocorre enquanto as organizações ainda são pequenas e enfrentam dificuldades

em sua gestão também em virtude do seu tamanho. Portanto, tentar entender melhor como

funciona a sucessão nessas organizações, ressaltando aspectos positivos e negativos que

podem influenciar diretamente o seu sucesso, é algo valioso e importante.

Existe a necessidade de mais pesquisas acadêmicas que tratem do problema da

sucessão (Miller, Steier & Le Breton-Miller, 2003) e o tema escolhido mostra-se, portanto, de

relevância para os estudos organizacionais, esperando-se que, ao final desta pesquisa, possam

ser indicados alguns caminhos rumo à longevidade das empresas familiares.

Assim, o problema que norteia este estudo baseia-se na seguinte questão: como ocorre

o processo de sucessão em pequenas e médias empresas familiares?

Tendo em vista o exposto e com o intuito de responder à pergunta da pesquisa, o

objetivo geral deste trabalho consiste em analisar a ação sucessória em pequenas e médias

empresas familiares que estão passando ou já passaram por uma sucessão, enfocando as

dificuldades encontradas e as oportunidades geradas, em uma análise multicaso.

Para alcançar o objetivo, foram delineados os seguintes objetivos específicos:

a) Analisar os fatores desencadeadores do processo sucessório;

b) analisar como ocorreu ou está ocorrendo a sucessão na empresa;

c) identificar as dificuldades presentes no processo;

d) averiguar as oportunidades que surgiram em decorrência da sucessão.

Esta dissertação foi estruturada em quatro capítulos além desta introdução. No capítulo

2 encontra-se o referencial teórico pesquisado, que embasa a análise sobre as empresas

familiares. Nele encontra-se a revisão sobre as definições dos conceitos de empresa familiar e

a caracterização das mesmas; a descrição e análise das pequenas e médias empresas; o

processo de sucessão e as dificuldades e oportunidades que podem emergir do mesmo. O

capítulo 3 trata dos aspectos metodológicos, explicitando a estratégia e o método de pesquisa

escolhido, a descrição das unidades empíricas de análise, os instrumentos utilizados para a

coleta dos dados e, por último, a estratégia escolhida para a análise dos dados.

No capítulo 4 estão a apresentação dos casos pesquisados e a análise conjunta dos

mesmos. As conclusões e considerações finais deste estudo foram feitas no capítulo 5, onde se

24

apresenta a síntese dos principais resultados e conclusões a que se chegou, além das sugestões

para novos estudos. As referências utilizadas encontram-se listadas em seção pós-textual,

seguidas pelos apêndices.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Empresas familiares

As pesquisas sobre empresas familiares iniciaram-se a partir do ponto de vista de

diversas disciplinas e campos de estudos. Partindo de uma perspectiva advinda das

consultorias realizadas em empresas, escritores e pesquisadores notaram como era grande o

envolvimento de membros das famílias nos negócios, seja como proprietários, gerentes ou

funcionários. Os primeiros estudiosos são provenientes de um grupo eclético de áreas

acadêmicas, entre elas finanças, direito, economia, sociologia, entre outras. Eles trouxeram

para a pesquisa os modelos e métodos de suas respectivas áreas, embora tivessem consciência

de que um negócio familiar era diferente do modelo tradicional de empresa. Assim, o

surgimento das pesquisas sobre empresas familiares pode ser atribuído, em grande parte, à

abordagem proativa de consultores cujos primeiros esforços concentraram-se nas práticas

baseados nos trabalhos e estudos de caso, como, por exemplo, do autor Donnelley (1964), que

é um dos pioneiros na área (Heck et al., 2008).

Até a década de 1950 era notória a presença das empresas familiares em praticamente

todos os setores da economia brasileira, indo das atividades agrícolas até o sistema financeiro,

perpassando pela indústria têxtil, de alimentos, serviços e de meios de comunicação. Com o

início do processo de desenvolvimento e modernização que aconteceu no Brasil a partir dessa

época, essas empresas passaram a compartilhar seus espaços com as grandes multinacionais e

estatais (Gonçalves, 2000).

A partir desse momento também, segundo Gonçalves (2000), a empresa familiar

recebeu um estigma que a marcaria por várias décadas: o da incompetência pressuposta. Isso

porque as teorias organizacionais que se firmavam tinham como princípio uma unidade

industrial enorme, perfeitamente burocratizada, onde os novos líderes exerceriam a liderança

baseada em competência. Esse fato, de acordo com o referido autor, contradizia as

peculiaridades das pequenas e médias empresas familiares identificadas na época como uma

organização informal, confusa e incompleta, que premia a confiança pessoal em detrimento da

25

competência, que pratica o nepotismo e não abre espaço para a profissionalização e que age

de maneira imediatista, impossibilitando um planejamento empresarial.

Embora historicamente exista o questionamento a respeito da eficiência dessas

organizações em função da influência da dimensão familiar como um fator negativo para os

negócios, Pyromalis e Vozikis (2009) afirmam que grande parte dos estudiosos da área

atualmente assegura que, muitas vezes, as empresas familiares podem atingir desempenho

superior ao das empresas não familiares. Isso se dá justamente por manterem certas vantagens

competitivas que dizem respeito às suas peculiaridades, tal como a preservação do

conhecimento idiossincrático, os laços fortes e o forte compromisso dos membros familiares

com a organização.

Ao analisar os aspectos particulares e intrínsecos à natureza das empresas familiares,

estas tomam forma de problema de pesquisa científica. Como objetos de estudo, sua

problematização abrange o conceito, os pontos que a distinguem das organizações não

familiares, suas características peculiares e os aspectos associados à interação entre família e

empresa.

Na definição do que seja uma empresa familiar existe um desafio que consiste na

dificuldade de se chegar a uma noção unificada para caracterizar esse tipo de organização. A

literatura refere autores importantes da área, como Donnelley (1964), Tagiuri & Davis (1996),

Bernhoeft (1989), Gallo e Sveen (1991), Sharma, Chrisman & Chua (1997), Lodi (1998) e

Davel, Silva e Fischer (2000). Estes apresentam definições diversas sobre o tema. Cada um

leva em consideração a definição que acredita ser a melhor com base em diferentes critérios

como propriedade familiar, controle familiar, tradições e valores, influência da família na

direção da empresa, empresa de mais de duas gerações, sucessão (Campos, Bertucci e

Pimentel, 2008). A caracterização das empresas familiares varia segundo um ponto de vista

particular dos mesmos.

Entre as primeiras definições que surgiram, a empresa familiar é conceituada como

aquela que passou por pelo menos um primeiro processo de sucessão, estando no mínimo sob

o comando da segunda geração. Essa empresa é de propriedade e está sendo gerida por

membros de uma ou mais famílias proprietárias e transfere o cargo de gestão para outros

membros com laços consanguíneos. Além disso, os objetivos familiares devem ter estreita

ligação com a política, os interesses e os objetivos da empresa (Donnelley, 1964).

Concordando com este conceito, Lodi (1998) afirma que a sucessão na gestão está muito

ligada ao fator hereditário, de forma a estabelecer uma identidade empresarial (cultura

organizacional) vinculada ao sobrenome da família ou à figura do fundador, e que, na maioria

26

das vezes, não está dissociada da sucessão patrimonial. Talvez, em razão dos primeiros

estudos terem surgido como consequência da necessidade de resolução de problemas ligados

à sucessão, este, no início, era o fator determinante para a definição desse tipo de empresa.

Porém, com o avanço dos estudos, outros conceitos foram surgindo.

Observa-se que a empresa familiar geralmente é definida como aquela que tem sua

origem e sua história vinculadas a uma família; ou, ainda, aquela que mantém membros da

família na administração dos negócios em seguidas gerações. Esses, porém, não são atributos

exclusivos, segundo Bernhoeft (1989). O autor mostra outra visão, pois acredita que a

caracterização dessas empresas vai além do parentesco envolvido. Ele também considera

familiar a organização baseada em relacionamentos que possuem as variáveis dedicação e

tempo de empresa, que mantém relação de confiança com um funcionário velho de casa,

independentemente de vínculos familiares, e em que os laços afetivos são fortes a ponto de

influenciar a cultura da organização, mesmo que não existam laços consanguíneos.

Em outra definição, dada por Tagiuri & Davis (1996), organizações familiares ainda

podem ser aquelas onde dois ou mais membros da família influenciam na direção do negócio

por meio do exercício de laços de parentesco, papéis de gestão ou direitos de propriedade.

Para Gallo e Sveen (1991), uma empresa é familiar se existir apenas uma família detentora da

maior parte do capital, tendo controle total e fazendo parte da administração. Ainda, destaca-

se a definição de Sharma et al. (1997), que consideram familiar o negócio administrado com

perspectivas de se manter ao longo das gerações seguintes e que detém a visão do negócio

dentro de uma mesma família ou de um pequeno grupo de famílias.

Neste trabalho adotou-se como definição a abordagem de Davel et al. (2000), que

abarcam a pluralidade de conceitos partindo dos pontos comuns e divergentes entre eles e

propõem alguns aspectos fundamentais para a conceituação de uma organização: a) a família

deve deter a propriedade da empresa, podendo esta ser total, majoritária ou minoritária; b) a

família precisa ter voz ativa na gestão; c) os valores da família e da empresa se confundem; d)

o processo de sucessão deve ser determinado pela família. Assim, mesmo em meio a tantas

divergências conceituais, pode-se perceber que um ponto comum diz respeito à existência de

uma profunda relação entre família e organização, não somente no tocante à gestão, mas

também à propriedade e ao poder de decisão dos proprietários membros da família.

Os conceitos de empresa familiar, extraídos dos diversos autores, estão sintetizados no

Quadro 2:

27

Quadro 2 - Definições de empresa familiar

Autor Definições

Donnelley (1964)

É aquela que passou por pelo menos um primeiro processo de

sucessão, estando no mínimo sob o comando da segunda geração. É

de propriedade e está sendo gerida por membros de uma ou mais

famílias proprietárias e transfere o cargo de gestão para outros

membros com laços consanguíneos. Os objetivos familiares devem

ter estreita ligação com a política, os interesses e os objetivos da

empresa.

Lodi (1998)

A sucessão na gestão está muito ligada ao fator hereditário, de

forma a estabelecer uma identidade empresarial (cultura

organizacional) vinculada ao sobrenome da família ou à figura do

fundador e, na maioria das vezes, não está dissociada da sucessão

patrimonial.

Bernhoeft (1989)

É familiar a organização baseada em relacionamentos que possuem

as variáveis dedicação e tempo de empresa, que mantém relação de

confiança com um funcionário velho de casa, independentemente

de vínculos familiares, e em que os laços afetivos são fortes a ponto

de influenciar a cultura da organização, mesmo que não existam

laços consanguíneos.

Tagiuri & Davis (1996)

Organizações familiares podem ser aquelas onde dois ou mais

membros da família influenciam na direção do negócio por meio do

exercício de laços de parentesco, papéis de gestão ou direitos de

propriedade.

Gallo e Sveen (1991)

Uma empresa é familiar se existir apenas uma família detentora da

maior parte do capital, tendo controle total e fazendo parte da

administração.

Sharma et al. (1997)

Consideram familiar o negócio administrado com perspectivas de

se manter ao longo das gerações seguintes e que detém a visão do

negócio dentro de uma mesma família ou de um pequeno grupo de

famílias.

Davel et al. (2000)

Aspectos fundamentais para a conceituação de uma organização

familiar: a) a família deve deter a propriedade da empresa, podendo

esta ser total, majoritária ou minoritária; b) a família precisa ter voz

ativa na gestão; c) os valores da família e da empresa se

confundem; d) o processo de sucessão deve ser determinado pela

família.

Fonte: Elaborado pela autora.

É possível destacar características peculiares a essas organizações que lhes concedem

sentido único e as separam dos outros tipos de negócios. Uma característica central que as

diferencia das demais diz respeito à forma como acontece a sucessão da gestão, que se dá

principalmente de maneira hereditária, partindo de uma ou mais famílias. A estrutura

impressa em uma empresa desse tipo implica uma série de interações específicas com a

família que detém sua propriedade, produzindo particularidades na sua forma de atuação

(Oliveira, 1999). O aspecto familiar associado à dinâmica empresarial confere às organizações

familiares caráter especial. Elas possuem, por exemplo, atributos bivalentes que são inerentes

a esses negócios e que podem ser tanto fonte de vantagens como de desvantagens,

dependendo da maneira como ocorre a interação entre as dimensões família e empresa. Tais

28

atributos são fruto da sobreposição de funções de pessoas que ao mesmo tempo são membros

da família, proprietários e gestores (Tagiuri & Davis, 1996).

Nesse sentido, Bernhoeft (1989) enumera alguns fatores que também podem ser vistos

em outras organizações, mas, de forma destacada estão presentes nas do tipo familiar. Ele

ressalta o papel importante da confiança nas relações, independentemente de vínculo familiar;

a força dos laços afetivos influenciando todas as esferas do negócio; a valorização do

histórico que imprime mais tolerância ao erro e vai além da simples busca por resultados; a

exigência de grande dedicação significando não ter horário para sair, trabalhar em casa e nos

finais de semana; a fidelidade; a tendência ao emocional e não tanto ao racional; os jogos de

poder, valendo mais a habilidade política do que a capacidade.

Esse diferencial, segundo Lodi (1998), também está relacionado aos recursos

financeiros disponíveis pela família; ao apoio pessoal e patrimonial dos familiares, que pode

ser muito útil em períodos de turbulência; à reputação e relações construídas pela

confiabilidade no nome da família; à relação mais pessoal e de lealdade com funcionários,

vendo-os como pessoas e não como simples recursos; à união entre os acionistas e os

dirigentes, que vai além das questões profissionais, facilitando a comunicação entre a

Diretoria Executiva, o Conselho de Administração e a Assembleia dos Acionistas, fazendo

com que mesmo nos momentos de perdas os acionistas sustentem a empresa; sistema de

tomada de decisão mais rápido e eficiente; mais sensibilidade para procurar sempre o

interesse social em detrimento do pessoal; à continuidade pelo processo de sucessão,

preferencialmente de forma hereditária.

Ainda, os autores Mussi, Teixeira e Massukado-Nakatani (2008) destacam pontos

fortes das empresas familiares que influenciam diretamente seu sucesso e longevidade. Estes

estão relacionados à cultura familiar e os seus efeitos sobre as organizações pela transferência

de valores, significados, compartilhamento de objetivos e também de importantes

conhecimentos tácitos que são passados de pai para filho; compromisso com a reputação e

com a sobrevivência no longo prazo da empresa; mais flexibilidade facilitando a

implementação de ações; e o rápido acesso a recursos para investimentos.

Como desvantagens associadas a esse tipo de negócio e que aparecem em muitas

organizações, pode-se destacar os efeitos negativos advindos da sobreposição entre família e

empresa, como: dificuldade de separar decisões familiares e profissionais; conflitos de

interesse entre família e empresa; falta de disciplina; grande valorização das relações afetivas;

personalização dos problemas administrativos; emprego e promoção de parentes por

29

favoritismo e não por competência (paternalismo); e os traços autoritários (Gonçalves, 2000;

Lodi, 1998; Macêdo, 2002; Ricca, 2007).

Outros fatores negativos associados à gestão dizem respeito a: ausência, em muitos

casos, de objetivos bem delimitados; centralização do poder; não formalização; pouco

planejamento estratégico; foco nas questões operacionais em detrimento das estratégicas; uso

indevido de recursos da empresa por membros da família; falta de sistema de planejamento e

controle financeiro; e um último e muito importante, problemas na sucessão associados a

diversos fatores, que serão abordados em tópicos posteriores (Gonçalves, 2000; Lodi, 1998;

Macêdo, 2002; Ricca, 2007).

Desta forma, Ricca (2007) faz um apanhado geral dos pontos fortes e fracos das

empresas familiares, que resume todos os outros comentados anteriormente e os expõe de

duas formas diferenciadas, na concepção dos administradores familiares e dos

administradores profissionais, o que pode ser observado nos Quadros 3 e 4, respectivamente:

Quadro 3 - Pontos fortes e pontos fracos das empresas familiares, segundo

administradores

Pontos Fortes Pontos Fracos

Carisma

Dificuldade em transferir esse carisma para as futuras gerações.

Dificuldade em delegar (só o dono sabe fazer).

Medo de correr riscos.

Não inova.

Não vê pontos fortes; normalmente só

vê desvantagens.

Desacordos familiares geralmente só trazem desvantagens quando

se administra um negócio.

Rapidez de decisão. Incompatibilidade de personalidade com o controlador.

Lealdade e obediência dos empregados

à tradição.

Cultura empresarial muito forte.

Fracionamento do poder acionário na sucessão.

Administração voltada para o dia-a-dia, devido à dificuldade de

estabelecer planos em longo prazo, pelo conflito sobre as

perspectivas dos negócios entre os membros da família.

Conservadorismo.

Pouca evolução tecnológica (fazer sempre as coisas de forma

tradicional).

Fonte: Ricca (2007, p. 16).

30

Quadro 4 - Pontos fortes e pontos fracos das empresas familiares, segundo

administradores profissionais

Pontos Fortes Pontos Fracos

Nome do fundador como um símbolo.

Indicação de pessoas para cargos importantes mais por amizade do

que por competência profissional. Insegurança em relação à

continuidade das políticas.

Considerar todas as pessoas de acordo

com o que são.

Dificuldade de priorizar atividades em virtude de visão distorcida

da realidade empresarial, afetada pelo nepotismo. Dificuldade em

estabelecer homogeneidade de conceitos na administração da

empresa.

Se a figura do dono é um bom exemplo, a

empresa como um todo cria valores

consentâneos com os do fundador.

Permite empregar profissionais não competentes.

Agilidade nas decisões. As decisões baseadas em poucas pessoas podem não obedecer a

uma lógica (podem ser muito pessoais).

Propicia mais segurança no emprego, pois

o contato com o dono é direto e torna as

relações mais pessoais.

Geralmente, não há algum suporte econômico voltado para o

crescimento da empresa.

Objetividade (os objetivos da empresa são

claros). Pouca liberdade para “sair fora dos trilhos”.

Quando o patrão é atuante, é fácil corrigir

desvios (desde que ele “compre a ideia”).

A estrutura pode ser contaminada por pessoas que não tenham

capacidade profissional para a função.

Geralmente o antecessor procura

transmitir ensinamentos a seu sucessor,

sobre o negócio em si e produtos, o que

garante a continuidade e qualidade do

produto final da empresa.

Paternalismo. Falta de rumos (as coisas são direcionadas pelo

humor do dono). Formação do sucessor dentro da própria empresa

(“ele adquire todos os vícios”).

Direção firme. Aproximação direta dos

diretores com a estrutura da empresa,

transmitindo segurança e confiança.

Interesses pessoais. Conflito de interesses. Fragilidade diante do

desaparecimento do fundador.

Liderança definitiva. Poder de decisão.

Confiança.

Centralização de poderes.

Envolvimento subjetivo.

Aproximação e compreensão humana.

Poder de sugestão e persuasão.

Não conformidade com novas realidades.

Adaptação e assimilação mais lentas.

Preocupação com a responsabilidade

social, embora protecionista.

Ausência de preparação e desenvolvimento dos níveis de chefia e

gerencial.

Mais humano, considerando o aspecto

social dos empregados.

Receio de inovação (barreiras),

Muita incompetência.

Relações informais entre os diversos

níveis.

Conflitos de poder. Morosidade nas decisões. Excesso de

centralização.

Tradição em tudo o que faz. Muito atrito entre os membros da 2ª e 3ª gerações da família.

Briga pelo poder.

Fonte: Ricca (2007, p. 16–17).

2.2 As empresas de pequeno e médio porte

O esforço de classificar e caracterizar as empresas por porte deriva primordialmente da

necessidade da aplicação de medidas de incentivo que visam ao seu fortalecimento e à sua

expansão (Oliveira, 2006). Na prática, existem variados critérios de classificação que devem

estar em acordo com a finalidade a que se presta e com os objetivos das instituições que

fazem esse enquadramento, como fomento, pesquisa ou outro. Seja baseando-se no valor do

31

faturamento, no número de funcionários ou no patrimônio líquido, cada um dos órgãos

representativos do setor, das instituições financeiras e da legislação adota a forma de

classificação que mais lhe convém.

Para as pequenas empresas, especificamente, a adoção de critérios é um importante

fator de apoio que permite que elas possam usufruir de benefícios e incentivos previstos na

lei, que dispõe sobre tratamento diferenciado ao segmento. Para a academia, essa classificação

é fundamental para a realização de pesquisas e análises comparativas de empresas com

características mais próximas, visando alcançar mais homogeneização do universo estudado

(Oliveira, 2006).

Na legislação brasileira existe lei específica que institui o Estatuto Nacional da

Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. A lei vigente é a Lei Complementar nº 123, de

14 de dezembro de 2006 (Brasil, 2006), que foi alterada por republicação em atendimento ao

disposto no artigo 5º da Lei Complementar nº 139, de 10 de novembro de 2011. A Lei nº 123,

em seu Capítulo II, artigo 3o, considera empresa de pequeno porte a sociedade empresária, a

sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário que

aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$

3.600.000,00 (Brasil, 2006). A empresa de médio porte é aquela que aufere anualmente

receita bruta superior a R$ 3.600.000,00.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é uma

empresa pública federal e um dos principais instrumentos de financiamento de longo prazo,

utiliza para efeito de enquadramento em suas condições de financiamento a classificação de

pequena empresa como sendo aquela com Receita Operacional Bruta (ROB) anual superior a

R$ 2.400.000,00 e inferior ou igual a R$ 16.000.000,00. Até o ano de 2010 esses valores

variavam de R$ 1,2 milhão a R$ 10,5 milhões. A média empresa tem ROB anual entre R$ 16

milhões e R$ 90 milhões (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 2012).

Já o SEBRAE, além de utilizar a segmentação conforme os critérios da Lei

Complementar nº 123 por faixa de faturamento, também adota o conceito de número de

funcionários nas empresas, principalmente para fins de estudos e levantamentos sobre a

presença dessas empresas na economia brasileira. Para essa classificação a pequena empresa é

aquela que tem entre 20 e 99 funcionários, considerando-se os setores de indústria e

construção, e de 10 a 49 no comércio e serviço. A média tem entre 100 e 499 funcionários

para os setores de indústria e construção e de 50 a 99 no comércio e serviço (Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, 2012).

32

A seguir, o Quadro 5 sintetiza os critérios adotados para enquadramento das pequenas

e médias empresas no Brasil:

Quadro 5 - Definição de pequenas e médias empresas

Critérios para

classificação

Receita Bruta Anual Número de Funcionários

Pequena Empresa Média Empresa

Lei Complementar nº

123 de 14/05/2006

Superior a R$

360.000,00 e igual

ou inferior a R$ 3,6

milhões

Superior a R$ 3,6

milhões - -

SEBRAE - -

I - Na indústria e

construção: de 20 a

99 funcionários.

II - No comércio e

serviços: de 10 a 49

funcionários.

I - Na indústria e

construção: de

100 a 499

funcionários.

II - No comércio

e serviços: de 50

a 99 funcionários.

BNDES

ROB anual superior

a R$ 2,4 milhões e

inferior ou igual a

R$ 16 milhões

Superior a R$ 16

milhões e inferior

ou igual a R$ 90

milhões

- -

Fonte: Elaborado pela autora.

Para fins deste estudo será utilizada a definição de empresa de pequeno porte para

aquela que aufere receita bruta anual entre R$ 360.000,00 e R$ 3,6 milhões, conforme a Lei

Complementar nº 123, de 14/05/2006. Na definição de empresa de médio porte optou-se por

considerar o valor superior a R$3,6 milhões (conforme a Lei Complementar nº 123) e inferior

aR$90 milhões (segundo classificação do BNDES). Neste trabalho justifica-se tal delimitação,

pois a Lei Complementar nº 123 acaba por não estabelecer o limite entre a média e a grande

empresa. Dessa forma, não seriam consideradas nesta pesquisa as empresas que tivessem

receita bruta anual superior a R$90 milhões (grande empresa, de acordo com o BNDES).

As pequenas e médias empresas (PMEs) desempenham papel fundamentalmente

importante na economia. É notória sua contribuição como fonte de emprego ao gerar

oportunidades para grande parcela da força de trabalho e como fonte de renovação da

economia ao estimular o desenvolvimento empresarial (Cintho, Dattein, Mambrini, Medina &

Maccari, 2010; Oliveira, 2006; Reis & Escrivão Filho, 2003). Para Cintho et al. (2010), elas

podem atuar como um amortecedor de choque em momentos de crise econômica, realizando

tarefas que podem ser menos compensadoras, mas que são necessárias para o funcionamento

33

do sistema, além de exercer papel crucial no processo de acumulação, concentração e

dispersão de capital.

As PMEs têm avançado e se desenvolvido de forma surpreendente. Elas atuam como

um elo importante na cadeia de produção, podendo ser tanto compradoras de produtos e

serviços como fornecedoras, principalmente para as grandes empresas. Segundo relatório

publicado pelo SEBRAE (2011a) sobre as pequenas empresas do simples nacional, até o ano

2009 existiam 438.513 empresas de pequeno porte distribuídas em todo o país. Essas

organizações estão concentradas no eixo Sul-Sudeste, que responde por mais de três quartos

do total. O estado de São Paulo é o que mais abriga as pequenas empresas, com cerca de 30%

do total, seguido por Minas Gerais e Rio Grande do Sul. No universo das empresas

brasileiras, as pequenas e médias representam mais de 90% e correspondem a 59% da mão de

obra ocupada (Cintho et al., 2010; Oliveira, 2006).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pequenas e

médias empresas desempenham importante papel no crescimento e desenvolvimento do país,

pois servem como uma espécie de “colchão amortecedor do desemprego” (Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística, 2003, p. 15). Muitas vezes elas são a alternativa de ocupação para

reduzida parcela da população, que tem como abrir seu próprio negócio, e alternativa de

emprego formal ou informal para outra grande parcela de trabalhadores, em geral com pouca

qualificação e que não encontra espaço em grandes organizações. Dados do SEBRAE (2011b)

indicam que em 2001 somente as micro e pequenas empresas de comércio e serviço

ocupavam cerca de 7,3 milhões de pessoas, representando 60,8% da mão de obra empregada

no segmento empresarial dessas atividades. Segundo Oliveira (2006), entre 1995 e 2000, de

cada 100 novos empregos gerados no Brasil, 96 eram provenientes das PMEs.

A importância desse segmento tem sido foco de preocupação de estudiosos no Brasil e

no mundo, que procuram compreender os problemas enfrentados por elas a fim de oferecer

aos dirigentes os conhecimentos necessários para uma administração mais eficaz e propiciar

sua sobrevivência em um ambiente econômico em constante mudança (Leone, 1999; Reis &

Escrivão Filho, 2003). Apesar de existirem tantos dados que demonstram a importância

econômica e social das PMEs no Brasil, sabe-se que muito ainda precisa ser feito, tanto no

que diz respeito à parte governamental quanto acadêmica, para melhorar as condições de

sobrevivência dessas empresas, sendo essa uma condição indispensável para o

desenvolvimento econômico do país (Oliveira, 2006).

O interessante é que uma característica presente em todas essas organizações é o fato

de terem sua origem em empreendimentos familiares (Gonçalves, 2000; La Rovére, 2001).

34

Embora no Brasil as empresas familiares variem de micro e pequenas, chegando a grandes

corporações, como os grupos Votorantim, Gerdau e Camargo Corrêa, predominam, em sua

maioria, os pequenos e médios empreendimentos. Sabe-se, ainda, que aquelas que mais

empregam no país, as que menos reagem em épocas de crise, as que menos desempregam na

recessão e aquelas que alimentam, vestem e são a fonte de renda de milhares de brasileiros

são as pequenas e médias empresas familiares (Cohn, 1991). É possível observar que, mesmo

nas chamadas economias desenvolvidas, o modelo empresarial começa, em geral, com

pequenas empresas familiares. Só bem mais tarde as organizações evoluem para uma estrutura

societária mais impessoal. Sua coesão decorre de vínculos morais e emocionais como parte da

composição de um grupo com uma origem comum, que é a família e sua história (Bernhoeft

& Gallo, 2003).

De pequeno ou grande porte, novas ou antigas, as empresas familiares têm algumas

vantagens competitivas, como a preservação do conhecimento idiossincrático, os laços fortes

e o forte compromisso dos membros com a organização (Pyromalis & Vozikis, 2009), mas,

em sua grande maioria sofrem atritos em virtude das diferenças entre prioridades do negócio e

preferências da família – ou do fundador. Os dilemas, porém, comuns às empresas familiares

em sua fase inicial, que é onde geralmente se encontra a maioria das micro e pequenas

empresas, estão em aceitar as mudanças ou restringir-se à estratégias originais; empregar ou

não membros da família; planejar a sucessão ou permitir que a geração seguinte naturalmente

se encarregue do negócio; e são também o grande desafio da continuidade.

2.3 O processo de sucessão

A sucessão de pessoas que ocupam o topo do comando é uma fase crítica em qualquer

tipo de organização. Na gestão de empresas familiares, porém, a capacidade de garantir

sucessores competentes entre as gerações para manter o negócio dentro da família pode ser

um processo ainda mais complexo. Os desafios se tornam maiores nessas empresas onde

muitas vezes existem poucos talentos para se trabalhar, fatores emocionais interferindo na

relação entre sucessor e sucedido e, ainda, complexos laços sociais e familiares (Lansberg,

1999; Le Breton-Miller et al., 2004).

A sucessão é uma etapa importante, delicada e inevitável no ciclo de vida das

empresas familiares que envolve o sucedido, o sucessor, a família e a empresa. Mesmo

existindo muitos estudos sobre a sucessão na empresa familiar tanto no Brasil quanto no

exterior, essa prática ainda é uma caixa preta a ser aberta e se constitui em uma das questões

35

mais críticas de investigação enfrentadas pelos pesquisadores da área (Campbell, Heriot &

Welsh, 2007). De modo geral, somente 30% das empresas familiares chegam à segunda

geração, 12% à terceira e 3% à quarta geração. Allio (2004) e Miller et al., (2003), ao

examinarem 16 casos de fracasso no processo sucessório, concluíram que a principal razão

para o insucesso estava na ausência de alinhamento entre o passado e o futuro da empresa.

Estudo feito pelos autores Bjuggren & Sund (2005) no Reino Unido mostrou que

apenas 24% das empresas familiares foram transferidas para a segunda geração e que apenas

14% chegaram à terceira. Afirmam também que quando uma empresa consegue sobreviver

até a segunda geração, a probabilidade de ela sobreviver às outras aumenta substancialmente.

Porém, mais possibilidades de sobrevivência é resultado principalmente de algumas ações que

podem facilitar o processo de sucessão e fazer com que seja mais eficiente, como preparar os

próximos sucessores inserindo-os no contexto da empresa e planejar e realizar a sucessão em

tempo hábil.

Mesmo sendo uma questão inevitável para as empresas, o assunto costuma ser um tabu

nas discussões das famílias proprietárias, que nem sempre o encaram com a real importância

que tem para a sobrevivência da organização, adiando uma discussão sobre o seu

planejamento até que ela fatalmente ocorra (Davis & Harveston, 1998).

Uma empresa familiar é o resultado da confluência de três sistemas independentes

(família, propriedade e gestão) e superpostos, os quais se desenvolvem sob pilares

completamente diferentes (Gersick et al., 1997). A sobrevivência dessas organizações está

ligada à sua capacidade de conciliar esses três eixos (Tagiuri & Davis, 1996). A sucessão

constitui uma mudança organizacional que impacta de forma significativa todo o sistema,

interferindo nas três esferas. No que diz respeito à família, existe um impacto relacionado ao

tempo que o fundador passa na empresa, impactos psicológicos causados pela sua saída, pois

em grande parte dos casos sua história na organização se confunde com a própria história de

vida, além de, em maior ou menor grau, as mudanças também provocarem alterações em sua

renda e rotina.

Além disso, existem conflitos entre familiares que podem emergir nessa situação, tal

como a disputa pelo poder. Olhando para a gestão da empresa, sabe-se que não

necessariamente o sucessor adotará as mesmas práticas e modos de administrar que seu

antecessor, uma vez que as capacidades técnicas e gerenciais, bem como os objetivos e

experiências anteriores, podem diferir significativamente daquelas vistas no sucedido. Para a

empresa, as alterações podem ocorrer antes, durante e especialmente após a sucessão, tanto no

36

tocante aos métodos e relações de trabalho, às práticas, valores e rituais institucionalizados e

legitimados pelos empregados, quanto aos resultados operacionais finais (Mussi et al., 2008).

Considerável número de empresas familiares passa por processos de sucessão e, nesse

período, frequentes conflitos e diferentes tipos de resistências emergem, envolvendo membros

da família e profissionais que atuam na área (Scheffer, 1993).

Para que o negócio tenha continuidade, são necessários planejamento e organização do

desenvolvimento sucessório. Mesmo existindo muitos fatores que interferem diretamente

nesse processo, a falta de planejamento é uma das principais causas para o seu fracasso

(Lambrecht, 2005; Lansberg, 1988; Tillmann e Grzybovski, 2005). É essencial que a geração

que está à frente da empresa abra espaço para preparar a próxima que virá assumir a gestão.

Pelo impacto visível sobre todas as esferas, o estudo da sucessão, assim como sua

implantação, é de fundamental importância para as empresas familiares. O planejamento

possibilita uma transição mais suave, com baixos custos, procurando, assim, garantir a

eficiência e a competitividade no longo prazo. Muitos processos sucessórios acontecem

abruptamente, sem qualquer planejamento, tornando-se desgastante tanto psicológica e

emocionalmente, quanto financeiramente, consumindo recursos essenciais para a operação da

empresa. O planejamento sucessório vai diminuir a possibilidade de conflitos que tanto

prejudicam o crescimento, a prosperidade e a continuidade dos negócios. Fica claro que a

forma como a sucessão ocorre tem grande influência sobre a sobrevivência e expansão dos

negócios. Esse procedimento pode acontecer de forma gradativa e planejada ou a partir

situações inesperadas ou repentinas de mudança de direção, por exemplo, quando acontecem

morte, acidente ou doença afastando o dirigente do cargo (Leone, 2005; Tillmann e

Grzybovski, 2005).

Para Bernhoeft (1989), a ação sucessória na empresa familiar é um assunto relevante e

ao mesmo tempo delicado. Essa é uma questão que não pode ser tratada apenas sob os

aspectos lógicos da administração, uma vez que envolve pontos afetivos e emocionais

relacionados à própria estrutura familiar. Esse autor analisa o tema baseando-se em seis

fatores que considera os mais importantes a serem encarados para que não haja

comprometimento da sobrevivência da empresa: do sucedido, do sucessor, da organização, a

família, do mercado e da comunidade.

Lodi (1987) é bem sucinto ao considerar que a sucessão é uma transferência de poder,

levando um a dois anos de importantes mudanças na gestão da mesma. Segundo ele, uma

primeira crise pode ocorrer no período de transferência de poder entre a geração do fundador

e do sucessor, relação que é fortemente marcada por conflito entre pai e filho, visto que se

37

caracteriza pela tendência à autocracia e à concentração de decisões por parte do primeiro e

por uma luta pela liderança por parte dos sucessores. Assim sendo, ele aconselha iniciar o

quanto antes a sucessão enquanto o fundador ainda estiver presente no negócio.

A jornada da sucessão inicia-se quando a geração que está à frente no controle da

empresa familiar começa a se preocupar com a transferência de controle e o gerenciamento

das responsabilidades e termina quando eles passam totalmente o controle dos negócios para a

próxima geração (Lansberg, 1999). Gersick et al. (1997) definem que a sucessão é o ápice

para essas organizações e que, após a transformação do empreendimento individual em

familiar, a perpetuação torna-se uma preocupação essencial do ciclo de vida dessas empresas.

Eles enfatizam que a sucessão não é um evento único que ocorre quando um líder já está

velho e tem que sair da gestão, mas é longa e, em certos casos, contínua.

Oliveira (1999) concorda com estes autores quando afirma que se trata de um dos

momentos de mais importância para a otimização da continuidade do negócio. E se nesse

processo não forem alcançados os resultados esperados, a efetividade da organização familiar

pode ficar muito comprometida, assim com a família também pode ser afetada, sobretudo

sofrendo conflitos internos que podem levar à sua desagregação (Ricca Neto, 1998). A análise

da sucessão deve ser feita de forma real, pois em muitos casos os executivos cometem um

engano afirmando que seus herdeiros naturais são os melhores sucessores que a empresa

poderá ter em seu quadro de comando. Quando o herdeiro não tem competência, pode ocorrer

grande turbulência na administração da empresa.

Existem vantagens e desvantagens associadas ao processo sucessório. As vantagens

estão relacionadas à possibilidade de continuidade do comando familiar, a um

desenvolvimento decisório ágil, com elevado grau de flexibilidade para implementação de

ações, a otimização dos resultados atuais e futuros da empresa, pelo fato de ter uma pessoa

com interesse societário à frente, além de ter espírito familiar de união e confiança. As

desvantagens seriam a possível disputa de poder entre os membros da família e a existência de

dificuldades em desempenhar diferentes papéis (Oliveira, 1999).

Além da familiar, Oliveira (1999) destaca outro tipo de sucessão nas empresas, a

profissional. O autor pontua que a sucessão familiar é que tem recebido mais ênfase, mas

deve-se considerar a profissional como em significativa evolução. Por sucessão profissional

pode-se entender, por um lado, a gestão que era familiar passando a ser administrada por

profissionais contratados e, por outro, a empresa já profissionalizada que troca um ou mais

executivos. Na sucessão familiar alguns aspectos devem ser analisados. Entre eles estão a

realidade da família (seus valores, crenças, atitudes e comportamentos pessoais), se existe

38

dicotomia entre empresa e família, como é a relação com os membros agregados (genros e

noras, por exemplo), qual a expectativa de vida dos membros mais antigos e influentes e a

atuação do patriarca e da matriarca da família.

Existe uma série de problemas relacionados à sucessão que têm levado muitas

empresas ao fracasso. Esses problemas são distintos e o nível de complexidade pode variar em

função do porte da empresa e das características da estrutura familiar (Le Breton-Miller et al.,

2004). Em se tratando de pequenas empresas, aos problemas tradicionais da empresa familiar

ainda se somam outros, típicos dos pequenos negócios, a exemplo de: falta de capital de giro

próprio, gestão pouco profissional, desvio de foco dos seus objetivos empresariais, etc.,

potencializando o risco de morte prematura do negócio (Yilmazer & Schrank, 2010).

Talvez a primeira tarefa para a longevidade e prosperidade de uma empresa familiar

de pequeno porte seja mudar a maneira de pensar. Muitas parecem estar ainda com

pensamentos e ações muito intuitivos, sem estratégia, sem se preocupar em aprimorar seu

negócio e sua forma de administrar, desenvolvendo e explorando apenas uma pequena parte

do seu potencial. Basta considerar as altas taxas de mortalidade. Em relação à sucessão

familiar e à longevidade de uma empresa de porte pequeno, explorar todas as suas

potencialidades pode garantir mais chances de entregá-la para um herdeiro em melhor saúde

do que quando ela surgiu. E para o fundador essa conquista é algo gratificante (De Geus,

1998).

As pequenas empresas geralmente sofrem os problemas relacionados à sucessão de

forma bem mais acentuada do que as grandes organizações. Elas estão mais expostas às

dificuldades, pois ao mesmo tempo em que ocorre a transferência do poder, também é feita a

transferência do capital. A maioria das empresas de grande porte já tem seu capital negociado

no mercado financeiro e em sua maior parte os executivos profissionais são contratados,

facilitando, assim, o processo sucessório (Leone, 1992; Yilmazer & Schrank, 2010).

É possível perceber que a maioria das empresas de pequeno porte está sob o comando

ainda da primeira geração (fundador) ou, no máximo da segunda. Assim, algumas

peculiaridades que influenciam diretamente a sucessão podem ser destacadas: o fundador vê a

empresa como propriedade privada e a empresa é a fonte de renda da família; o negócio ainda

não está consolidado ou se encontra em fase de consolidação, o que ainda demanda muitos

investimentos; os filhos acabam assumindo a empresa motivados principalmente pelo senso

de dever; a transferência não é planejada; dificuldade para separar família e empresa; o

sucessor nem sempre apresenta talento ou preparação para assumir o negócio. Dessa forma,

pode-se caracterizar a sucessão nessas pequenas empresas como incipientes, em que muitas

39

questões importantes relativas a esse momento ainda estão sendo estruturadas, tais como o

processo de profissionalização, estabelecimento de critérios bem definidos para direcionar a

escolha do sucessor, permanência de membros mais antigos que tendem a não querer sair da

empresa, entre outros (Campos et al., 2008).

Essa questão deve ter posição de destaque nos estudos sobre empresas familiares, visto

que o cuidadoso planejamento dessa etapa pode tornar a transição entre as gerações um

momento potencialmente bom para o crescimento das organizações ou pode, ao contrário,

acontecer de forma não planejada e acarretar sérios riscos à sua sobrevivência.

2.4 Dificuldades e/ou oportunidades que podem surgir no processo sucessório

Como visto anteriormente, a sucessão em empresas familiares é um dos temas mais

estudados e pesquisados por especialistas nesse tipo de negócio. O grande interesse por essa

questão pode ser atribuído a diversos fatores, destacando-se o fato de que seu sucesso ou

fracasso podem viabilizar ou comprometer definitivamente a continuidade de uma

organização. Sendo assim, alguns assuntos principais relacionados ao tema serão examinados:

a questão do antecessor, do sucessor, da profissionalização, do planejamento sucessório e

outros.

2.4.1 O antecessor

O primeiro aspecto ressaltado por Scheffer (1995) que tem grande influência sobre o

processo sucessório diz respeito à figura do antecessor. Estudos têm explorado os atributos

dessa importante figura como sendo preditora de uma sucessão bem-sucedida ou como

variável crítica no assunto (Le Breton-Miller et al., 2004). Ward (1987) chega a afirmar que o

proprietário da empresa é o fator mais importante para o êxito da sucessão.

A relação entre antecessor e sucessor pode ser decisiva nas empresas familiares.

Lansberg (1988) e Ward (1987) encontraram íntima ligação positiva entre a qualidade dessa

relação e o sucesso do processo de sucessão. Quando existe boa relação, geralmente também

existe transferência de conhecimento, que é vital para o processo. Além disso, se um

relacionamento está firmado em bases fortes como respeito mútuo, as pessoas se sentem

apoiadas e reconhecidas, criando um círculo de confiança e feedback e fazendo do

aprendizado uma realização evolutiva que começa em casa (Le Breton-Miller et al., 2004).

Em contrapartida, quando não existe bom relacionamento, tudo o que foi dito fica ao contrário

40

e a empresa fica mais vulnerável aos conflitos pessoais que podem ser determinantes do

fracasso da sucessão.

Nesse sentido, Cadieux (2007) ressalta alguns papéis que podem ser assumidos pelo

antecessor junto ao sucessor, contribuindo para melhor desempenho do mesmo e para o

processo como um todo. Um primeiro papel é o de supervisor. Nele, o antecessor se torna

superior imediato de seu filho, atribuindo-lhe tarefas, dando instruções, supervisionando o

trabalho, corrigindo, sempre que necessário, e ao mesmo tempo preparando-o para assumir a

gestão e apresentando-o à empresa.

Outro papel é o de professor. É preciso ter consciência de que certos conhecimentos

são específicos, únicos e devem ser repassados aos sucessores, tendo, assim, a necessidade de

se gastar tempo com o mesmo para lhe ensinar o que naturalmente ele pode não compreender.

Ainda existe o papel de protetor, em que o antecessor permite que o outro tome certas

decisões assumindo as consequências para que tenha experiência real na gestão da empresa.

Também se destaca o papel de introdutor (atuar como mediador entre o sucessor e os outros

atores no ambiente de trabalho, tanto interno quanto externo, a fim de que o mesmo obtenha

reconhecimento como líder); e o de colaborador (papel decorrente de supervisor, que emerge

ao longo do tempo, depois que o sucessor desenvolve suas habilidades e ganha confiança na

empresa). Por fim, depois de sair efetivamente do comando, o antecessor pode desempenhar

as funções de suporte técnico e consultor, bem como participar do Conselho Administrativo

da organização (Cadieux, 2007).

É importante que o antecessor consiga superar sua ansiedade em relação à sucessão,

não fique imerso em um estágio de negação, mas que esteja disposto a encarar a situação e a

deixar o processo acontecer como algo natural (Handler, 1990; Lansberg, 1988; Ward, 1987).

Existem medos normais que devem ser enfrentados. Realmente, para quem está na posição de

líder, deve ser complicado lidar com a perda do poder, do status na sociedade e até mesmo de

certa parte da sua identidade. É uma ruptura muito expressiva para o fundador de uma

empresa ter que sair e deixar sua posição para outro ocupar. Na maioria dos casos, a vida de

um fundador de uma empresa familiar está totalmente ligada à sua atuação profissional. Sabe-

se que, em média, um Chief Executive Officer (CEO) de uma companhia permanece nesse

cargo por quase sete anos. Um fundador de uma empresa familiar se estabelece como gestor

por aproximadamente 32 anos.

Também existe a parte difícil de ter que escolher um sucessor. Nas empresas

familiares, o assunto se torna complexo, pois uma situação é planejar a sucessão, preparar a

formação dos indicados e avaliar o desempenho quando um dos candidatos a ocupar o cargo

41

do sucedido tem com o mesmo uma relação meramente profissional. Por outro lado, podem

ser muito mais complicados os casos em que os protagonistas estão vinculados por laços

afetivos e em que o antecessor tem que fazer uma escolha entre um filho e um irmão. Mas

muitos donos de empresa chegam a declarar que esse passo os coloca, na verdade, de cara

com a natureza mortal do ser humano, vindo à tona os conflitos da aposentadoria, da velhice e

do fim da vida (Le Breton-Miller et al., 2004).

São poucos os executivos que dedicam certa atenção ao planejamento da sua

aposentadoria e, consequentemente, à sua sucessão, podendo ocasionar diversos problemas na

gestão da empresa que muitas vezes poderiam ser antecipadamente resolvidos. Desta forma, o

processo sucessório pode se tornar uma grande fonte de conflitos (Bernhoeft, 1989; Cohn,

1991; Lodi, 1998). A dificuldade do antecessor em deixar a empresa é o obstáculo mais citado

numa sucessão de sucesso (Sharma, Chrisman, Pablo & Chua, 2001).

O êxito de um programa sucessório também depende da maneira como a liderança do

fundador (que também é o presidente da empresa) preparou a família para o poder e a riqueza

e um requisito fundamental é a atenção para sua possível saída (Lodi, 1998). Nesse sentido,

Lodi (1987) e Tillmann e Grzybovski (2005) destacam quão importante é a sucessão

planejada, tendo em vista que a tendência de muitos que ocupam o poder é não querer sair. E

mesmo que não exista uma idade certa, ele precisa estar preparado, implicando também a

preparação do sucessor, principalmente enquanto ainda está em pleno vigor e controle da

organização. A transição tende a ser menos traumática se ocorrer de forma planejada e não

abrupta, com a devida preparação do sucessor e com os conselhos e o conhecimento tácito do

fundador, que devem ser repassados.

2.4.2 O sucessor

Sem dúvida o sucessor é a outra peça fundamental desse quebra-cabeça. Além da sua

relação com o antecessor, que já foi discutida anteriormente, outros fatores-chave são

importantes.

O primeiro é a motivação do indivíduo. É desejável que ele esteja disposto e

totalmente comprometido com o processo (Sharma et al., 2001). Segundo Handler (1992),

quanto mais o trabalho na empresa da família estiver ligado às necessidades pessoais, de

carreira, de identidade pessoal e à fase de vida do sucessor, mais probabilidade de a sucessão

ser bem-sucedida. É desejável que o líder não force a entrada dos herdeiros no negócio.

Quando o sucessor não está partilhando os mesmos planos do sucedido e não quer seguir sua

42

carreira na empresa, ele pode se sentir frustrado e acabar não fazendo um bom trabalho.

Sucessores satisfeitos tendem a investir mais, são mais entusiasmados e assumem as

responsabilidades, adotando sentido distinto de identidade com a empresa (Handler, 1990; Le

Breton-Miller et al., 2004). Geralmente os estudiosos questionam sobre o quanto um sucessor

realmente está preparado para assumir a empresa. Porém, estar capacitado diz respeito não só

à sua formação profissional, mas também à sua vontade, seus objetivos de vida e sua relação

com o pai e com a família (Scheffer, 1995).

As perspectivas de um eficiente processo sucessório são boas quando o sucessor

demonstra habilidades, desempenho e experiência para liderar a empresa, alcançando

credibilidade e legitimidade para ser o novo chefe (Chrisman, Chua & Sharma, 1998). Isso

exige tempo de preparo e busca constante de desenvolvimento. Ward (1987) afirma que a

preparação do sucessor é um dos principais fatores que possibilitam a sobrevivência da

empresa depois da sucessão. Muitos problemas podem surgir porque o sucessor não se

preparou adequadamente para assumir a gestão. Elevado número de empresas quebra na

segunda geração, pois seus novos gestores não têm a capacidade necessária para administrá-la

e não conseguem manter o negócio lucrativo. A incompetência da nova gestão é um risco para

a longevidade das organizações familiares.

Também é muito positivo quando o sucessor entra precocemente no negócio, podendo

se familiarizar com a empresa, com sua cultura, seus valores e com os funcionários. É

possível também desenvolver aquelas capacidades específicas relacionadas ao ramo do

negócio (Ward, 1987). Tillmann e Grzybovski (2005) ressaltam que a entrada e o processo de

formação dos herdeiros deve começar cedo, pois quanto mais jovem ele se envolver na

empresa da família e se comprometer com ela, mais chances terá de obter sucesso em sua

administração e também de alinhar seus objetivos com os da organização. Segundo os autores

é essencial inserir gradativamente os filhos nos negócios, incentivando-os e os fazendo

“amar” a empresa. Quando isto acontece, tudo fica mais fácil.

O sucessor deve entrar lentamente, começando de baixo, exercendo atividades

operacionais básicas para adquirir conhecimento funcional em todas as áreas, buscando a

construção de uma carreira generalista para posteriormente subir na hierarquia (Lambrecht,

2005). Entrar na empresa cedo ajuda o sucessor a construir relacionamentos e ganhar

credibilidade para chegar ao topo organizacional (Morris et al., 1997). Não que a entrada

tardia do sucessor na empresa seja um entrave ao processo de sucessão, mas aqueles que se

preparam e conhecem substancialmente a organização podem ser mais eficazes do que os

outros.

43

A preparação profissional do sucessor inclui muitas coisas. Deve-se pensar na

formação educacional e na elaboração de um plano de desenvolvimento profissional para os

herdeiros. Segundo Morris et al. (1997), a educação de um sucessor é positivamente

correlacionada com uma transição suave e com o êxito pós-sucessão. Além disso, também é

importante fazer cursos superiores e de especialização, ter experiência de trabalho em outras

empresas que não a da família, além do desenvolvimento interno, dentro da organização

familiar (Lambrecht, 2005).

A experiência externa pode ser a chave da prosperidade de muitos sucessores de

triunfo. Fazendo parte do desenvolvimento, o sucessor pode adquirir bagagem de

conhecimentos diferentes, aprimorar seu senso de identidade, autoconfiança e credibilidade,

tendo somente a ganhar e a enriquecer sua formação para assumir a gestão futuramente

(Ward, 1987).

Existe um problema que fica latente quando nenhum herdeiro quer assumir a empresa,

ficando o antecessor sem opção, tendo que contratar gestores externos ou até mesmo tendo

que vender o negócio. Por isso, a escolha do sucessor deve ser feita com bastante cuidado,

pois existem também as situações em que todos os herdeiros gostariam de assumir a gestão,

mas somente um será escolhido. Neste caso, o gênero e a ordem de nascimento não devem ser

critérios válidos para o processo de escolha, mas sim a meritocracia e a preparação do

sucessor. A briga pelo poder pode ser muito prejudicial (Lambrecht, 2005).

2.4.3 Profissionalização da empresa

Conforme ressaltam Bernhoeft (1989), Le Breton-Miller et al. (2004), Morris et al.

(1997) e Ricca Neto (1998), a questão da profissionalização está diretamente relacionada ao

processo sucessório e também é intimamente ligada à sobrevivência das organizações

familiares, podendo ser um fator que se configura como uma oportunidade ou como uma

dificuldade.

É importante esclarecer que a profissionalização em uma empresa familiar não

significa necessariamente a retirada de todos os membros da família da sua gestão e a

consequente entrada de profissionais externos. Na realidade, existem na literatura duas

vertentes que entendem esse processo de maneiras diferentes. Em uma primeira, defendida

principalmente pelos estudiosos americanos, a profissionalização é entendida sob a

perspectiva da contratação de um executivo que não é membro da família para condução dos

negócios da organização. Nessa linha, pensa-se que quando a gestão é transferida para uma

44

pessoa externa ao núcleo familiar, é possível conduzir a empresa com padrões mais racionais

e objetivos, retirando-se, assim, aspectos subjetivos que podem ser prejudiciais (Burkart,

Panunzi & Shleifer, 2003; Morris et al., 1997; Tsui-Auch, 2004).

Nessa primeira vertente é defendida a ideia de que os problemas no processo de

sucessão podem ser minimizados pela administração mais profissionalizada, que

consequentemente traria mais eficiência com a separação da propriedade e do controle,

conseguida por um executivo externo à família, que tem condições de julgar de forma menos

arbitrária. Desta forma também, a empresa alcançaria maior grau de formalização em suas

etapas, podendo implantar sistemas de controle financeiro e regras burocráticas em sua gestão

(Burkart et al., 2003; Martins, Menezes & Bernhoeft, 1999; Morris et al., 1997).

Como foi dito, a vertente que defende a contratação de profissionais externos é uma

tendência marcante das empresas norte-americanas que buscam a separação da propriedade e

do controle. Isso é explicado pelas diferenças culturais entre os países que influem

diretamente na condução e nas práticas empresariais. Ao contrário do que acontece nos

Estados Unidos, por exemplo, nos mercados emergentes existe mais conservadorismo, que

prima pela manutenção da gestão nas mãos da família proprietária e que é mais resistente à

contratação de profissionais externos (Burkart et al., 2003).

Isso explica o fato de que nos artigos brasileiros encontra-se mais tendência à segunda

vertente, que defende a manutenção dos membros da família no topo da empresa, afirmando,

ainda, que eles podem ser melhores gestores do que os profissionais externos (Gersick et al.,

1997; Lodi, 1989; Scheffer, 1995). A profissionalização, portanto, significa o processo de

assumir práticas administrativas mais racionais, modernas e menos personalizadas, com

adoção de métodos impessoais e racionais que estariam mais adequados ao mercado

competitivo e não ficariam restritos à contratação externa (Lodi, 1998).

A profissionalização não significa que um membro da família não possa assumir a

gestão, sendo contrária à sucessão familiar. Um processo sucessório eficiente pode ser

consolidado com a adoção de práticas profissionalizadas, que serão um meio de diminuir os

aspectos subjetivos e de facilitar e formalizar a escolha do sucessor, que também pode ser um

membro da família (Lodi, 1989). Nesse sentido, é possível afirmar que as empresas familiares

estão em vantagem competitiva em relação a outras, uma vez que se pode alcançar eficiência

profissional com o diferencial de que os executivos eficientes também são os donos,

implicando mais interesse, empenho e agilidade na tomada de decisões. Profissionais externos

podem priorizar a gestão da própria carreira e buscar resultados de curto prazo, enquanto os

45

donos darão uma perspectiva de longo prazo, tendo em vista a manutenção do patrimônio e a

sobrevivência da empresa para as próximas gerações (Carney, 2005).

Na realidade, a decisão pela contratação de profissionais externos ou pela manutenção

dos membros da família na gestão com a formalização dos processos administrativos pode ser

impulsionada pelo tamanho da organização e pelo crescimento da família. Quando a empresa

familiar já está muito grande, pode ser conveniente a contratação de profissionais, pois na

família não existe número suficiente de pessoas capacitadas para assumir todos os cargos. Da

mesma forma, com o crescimento da família a empresa pode não conseguir absorver todos os

membros e isso tende a gerar conflitos que vão influenciar a sucessão, sendo necessária a

contratação de novos profissionais para minimizar tais problemas (Muchon & Campos, 1998).

No caso das pequenas e médias empresas, porém, em virtude do seu tamanho reduzido, do

fato de que, de modo geral, elas ainda estão sob o comando da primeira ou segunda geração e

de que a família ainda é pequena (a sucessão ocorre dos pais para os filhos ou entre irmãos),

fica evidente que a profissionalização aconteceria sob a perspectiva da segunda vertente. Esta

sugere a adoção de processos mais formais e não a contratação de executivos externos, uma

vez que os próprios membros da família podem ser preparados para profissionalizar a

empresa.

2.4.4 Planejamento sucessório

Há evidências na literatura sobre os efeitos positivos que um bom planejamento tem

sobre o processo sucessório (Lansberg, 1988; Morris et al., 1997; Tillmann e Grzybovski,

2005). Autores como Handler (1990), Lansberg (1988), Sharma et al. (2001) e Ward (1987)

concordam que a sucessão deve começar com muita antecedência e gerenciada como uma

ação planejada. Isso significa fazer os preparativos necessários, visando à harmonia da família

e à continuidade da empresa no futuro (Le Breton-Miller et al. 2004).

O planejamento da sucessão ou a falta dele também é um fator quase determinante do

sucesso ou insucesso do processo. É importante que o planejamento da sucessão aconteça o

mais cedo possível e seja incorporado no plano de negócios e na estratégia da empresa, pois

quanto mais tempo a família tem para planejar a sucessão, mais suave pode ser essa transição

(Ward, 1987). Esse planejamento pode evitar muitos conflitos, como aqueles que surgem

entre os filhos no momento da escolha do futuro sucessor. Se a decisão final do sucessor for

precedida de um plano estratégico que prevê os requisitos mais importantes para a nova

liderança, os herdeiros já estarão cientes dos critérios e dos motivos que levaram à escolha de

46

um deles e isso pode evitar a disputa de poder e fazer com que a escolha ocorra de forma mais

meritocrática.

A sucessão precisa ser vista como um processo e não como um fenômeno pontual nas

organizações familiares. Pensando na longevidade da empresa, ela vai ocorrer várias vezes ao

longo das gerações e o seu foco deve ser a continuidade. Sendo assim, a família deve

identificar, compreender e elaborar uma maneira própria para transferência do negócios ao

longo das gerações, o que requer o desenvolvimento de padrões para a realização da sucessão.

O planejamento envolve o estabelecimento de políticas sobre a participação da família, sobre

a entrada de novos membros, elaboração do plano de desenvolvimento das pessoas, os

critérios para escolha do sucessor, os pré-requisitos, as estratégias adotadas, os valores e a

missão familiar, entre outros (Lambrecht, 2005).

O planejamento significa fazer os preparativos necessários para garantir a harmonia da

família e a continuidade da empresa ao longo das gerações seguintes. Essas preparações

devem ser pensadas em termos das necessidades futuras de ambas (Lansberg, 1988).

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1 Estratégia e método de pesquisa

Existem três situações em que indicadores qualitativos são importantes para uma

pesquisa. A primeira ocorre em momentos em que a evidência qualitativa é mais relevante do

que simples informações estatísticas relacionadas a épocas passadas. A segunda situação

acontece quando a metodologia qualitativa é usada para capturar dados psicológicos que são

reprimidos ou não facilmente articulados como atitudes, motivos, pressupostos, quadros de

referência, entre outros. Por último, ela é essencial em situações nas quais observações são

necessárias para a análise do funcionamento de estruturas e organizações complexas que são

difíceis de se submeterem à observação direta (Bonoma, 1985; Godoi & Balsini, 2004).

Os métodos qualitativos são usados quando o entendimento do contexto social e cultural

é um elemento importante para a pesquisa. Para a utilização desses métodos é preciso

aprender a observar, registrar e analisar as interações entre pessoas e entre elas e os

sistemas/ambiente. Essa abordagem possibilita entender um fenômeno por meio do estudo e

análise do campo empírico situado em seu ambiente natural. Os dados são obtidos mediante o

contato (participação) do próprio pesquisador e/ou outras pessoas com o objeto de estudo.

47

Partindo desses dados pessoais, o pesquisador fará sua interpretação de modo a compreender

os fenômenos dessa realidade estudada (Godoy, 1995).

Assim, neste trabalho optou-se pela estratégia qualitativa de pesquisa com o intuito de

apreender a realidade social das organizações familiares, tendo como finalidade explorar um

tema que ainda não apresenta vasto material publicado no Brasil, como é o caso do processo

de sucessão especificamente no contexto das pequenas e médias empresas familiares,

extraindo daí pontos relevantes para a condução do processo com mais possibilidades de

sucesso.

A pesquisa qualitativa é ideal, uma vez que a interpretação é o foco, ou seja, há

interesse em interpretar a situação em estudo sob o olhar dos próprios participantes; a

subjetividade é enfatizada, sendo que o ponto de interesse está sob a perspectiva dos

informantes; há flexibilidade na condução do estudo, não existindo uma definição a priori das

situações; o interesse é no processo e não no resultado; o âmbito sendo intimamente ligado ao

comportamento das pessoas na formação da experiência.

Trabalhos qualitativos vêm ganhando espaço na preferência das pesquisas relacionadas

às organizações desde a década de 1970, e entre as metodologias mais utilizadas, pode-se

destacar a pesquisa documental, etnografia e o estudo de caso. Entre estas, o estudo de caso é

o mais utilizado (Godoy, 1995).

O método do estudo de caso “[...] não é uma técnica especifica. É um meio de

organizar dados sociais preservando o caráter unitário do objeto social estudado” (Goode &

Hatt, 1973, p. 422). Bonoma (1985, p. 203) salienta que o “estudo de caso é uma descrição de

uma situação gerencial”, enquanto Yin (1989, p. 23) afirma que “é uma inquirição empírica

que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a

fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de

evidência são utilizadas”.

Yin (1989) e Godoy (1995) consideram o estudo de caso importante para a

compreensão de processos ou comportamentos novos ou pouco compreendidos. Ele é

preferido quando o tipo de questão de pesquisa procura responder “como” e “por que”,

proposições explicativas, tratando de relações que ocorrem ao longo do tempo; quando o

controle que o investigador tem sobre os eventos é muito reduzido; ou quando o foco

temporal está em fenômenos contemporâneos no cenário de vida real.

A necessidade de se utilizar essa estratégia de pesquisa nasceu do desejo de entender um

fenômeno social complexo, a sucessão em empresas familiares. Ela é adequada

principalmente porque se quer investigar questões que não podem ser compreendidas em sua

48

completude por meio de outra estratégia. Tal estudo consistiu em uma inquirição detalhada

das organizações ou grupos, objetivando proporcionar uma análise do panorama e dos

processos envolvidos no fenômeno (Yin, 1981). Um ponto importante a ser ressaltado é que a

principal diferença entre o estudo de caso e outros projetos qualitativos, tais como a teoria

fundamentada e a etnografia, é que ele está aberto para utilizar a teoria ou categorias

conceituais de forma a orientar a pesquisa e a análise de dados. Em contraste, as outras

pressupõem que as perspectivas teóricas são baseadas e emergem de dados de primeira mão

(Meyer, 2001).

Em pesquisas que investigam o segmento de empresas familiares e os seus fenômenos –

sucessão, profissionalização, estratégia, governança e cultura –, procura-se explicar ligações

causais em intervenções ou situações da vida real que são complexas demais para tratamento

com base em estratégias experimentais ou de levantamento de dados. Tais pesquisas também

procuram descrever um contexto de vida real no qual uma intervenção ocorreu; avaliam uma

intervenção em curso e exploram aquelas situações nas quais a intervenção não tem clareza no

conjunto de resultados. Yin (2005) ressalta que o uso de estudo de caso é importante

justamente por ser possível compilar informações provenientes do seu ambiente natural, o que

é diferente de confiar em dados advindos de fontes derivadas, como resultados de teses,

estatísticas ou respostas de questionários. Assim não é surpresa constatar que a maioria das

publicações sobre o tema organizações familiares utiliza estudo de caso como estratégia de

pesquisa. E, considerando os fenômenos em análise, pode-se concluir que essa é uma

estratégia adequada ao estudo dessas empresas.

Os métodos de coleta de dados podem incluir tanto dados de observação direta e

entrevistas, como análise de arquivos públicos e privados (Halinen & Törnroos, 2005;

Leonard-Barton, 1990). “Como esforço de pesquisa, o estudo de caso contribui, de forma

inigualável, para a compreensão que temos de fenômenos individuais, organizacionais, sociais

e políticos” (Yin, 2005, p. 21). E, em se tratando de um fenômeno social complexo como a

sucessão em empresas familiares, o estudo de caso possibilita um tipo de investigação em que

é possível manter as características holísticas, ou seja, do todo, levando-se em conta as partes

e suas inter-relações, bem como o que é significativo nos eventos da vida real (Yin, 2005).

Pelas publicações existentes no Brasil sobre o tema a ser pesquisado, é possível

perceber que o trabalho empírico que apoia o desenvolvimento da teoria sobre o processo de

sucessão em pequenas e médias empresas é relativamente escasso. E para atingir os objetivos

propostos, é necessária uma metodologia capaz de capturar os processos dinâmicos,

possibilitar uma descrição dos mesmos em um nível de detalhe que possa fornecer

49

compreensão do comportamento individual, do grupo de trabalho e organizacionais ao longo

do tempo, sendo indicado o uso do estudo de caso (Leonard-Barton, 1990).

3.2 Unidades empíricas de análise

A seleção dos casos é uma parte importante na construção da pesquisa que utiliza

estudo de casos (Eisenhardt, 1989). Pretende-se, neste trabalho, fazer um estudo de casos

múltiplos. O estudo de caso único está sujeito a um limite de generalização e a vários vieses

potenciais, como o risco de ignorar a representatividade de um único evento ou de dar

relevância exagerada a um dado por ele estar imediatamente disponível e ser o único

conhecido. Esses problemas podem ser reduzidos quando os dados são comparados, fazendo-

se um cruzamento entre eles. A abordagem de multicasos é a alternativa adequada, pois pode

aumentar a validade externa e ajudar a proteger contra os preconceitos do observador

(Leonard-Barton, 1990), além de acrescentar mais confiança às descobertas (Meyer, 2001). A

intenção da investigação é poder estudar várias empresas, prevendo-se encontrar resultados

semelhantes entre elas (Yin, 1989).

Para a seleção dos casos pretendeu-se seguir a lógica da amostragem teórica, ou seja,

os casos foram escolhidos por razões teóricas e não estatísticas, optando-se pelas empresas

que pudessem contribuir para os objetivos do trabalho e que atendiam aos critérios

predefinidos. Neste estudo, a seleção aleatória não foi necessária nem preferível, pois os casos

foram escolhidos de forma a estender a teoria emergente sobre a questão da sucessão em

pequenas e médias empresas e para preencher as categorias teóricas elaboradas pela autora

(EISENHARDT, 1989).

Para responder à questão proposta, é preciso adquirir uma visão em profundidade de

um número limitado de casos (Yin, 1981). Em virtude do tempo disponível para a pesquisa e

dos recursos existentes, optou-se por trabalhar com cinco casos. Como observou Pettigrew

(1990), dado o número limitado de casos que poderão ser estudados, fez sentido escolher

aqueles em que o tema de interesse, a sucessão, era transparentemente observável. Além

disso, para a escolha do mesmo, os critérios estabelecidos foram: o primeiro e essencial para

uma empresa ser considerada foi pertencer e ser gerida por uma família; segundo, tinha que

ter sido transferida de uma geração para a seguinte ou estar em fase de transferência da atual

geração gestora para a geração subsequente; terceiro, a empresa deve se enquadrar na

classificação de pequena ou média conforme a seguir: pequeno porte – aquela que aufere

receita bruta anual entre R$ 360.000,00 e R$ 3,6 milhões, seguindo a Lei Complementar nº

50

123, de 14/05/2006; médio porte – empresa que aufere receita bruta anual superior a R$3,6

milhões (Lei Complementar nº 123) e inferior a R$90 milhões (segundo classificação do

BNDES).

Por motivos de logística e facilidade de acesso às empresas, optou-se por organizações

com unidade na região metropolitana de Belo Horizonte, que é também a região onde reside a

pesquisadora, que atendessem aos critérios preestabelecidos e que pudesse contribuir com este

trabalho a partir de suas experiências relativas ao processo de sucessão. A definição dos

objetos de pesquisa se deu, portanto, pela contribuição e utilidade que os mesmos teriam para

responder ao problema de pesquisa proposto (Goode & Hatt, 1973). As empresas foram

contatadas a partir de indicações ou contato pessoal.

A primeira empresa selecionada, aqui denominada Alimentar, atua no setor de

indústria e comércio de alimentos e foi criada na década de 1980. Atualmente, conta com

mais de 200 funcionários, cinco espaços físicos para revenda dos produtos e atendimento

virtual para entrega em toda a região. Sua receita bruta anual está entre R$3,6 milhões e R$16

milhões, o que a enquadra como média empresa. A organização está sob o comando da

primeira geração fundadora e está passando por seu primeiro processo de sucessão, uma vez

que os herdeiros da segunda geração já estão trabalhando no negócio.

A segunda empresa selecionada, Educar, atua no setor de educação e foi fundada na

década de 1990. Tem aproximadamente 120 funcionários e sua receita bruta anual está entre

R$360.000,00 e R$3,6 milhões, sendo uma pequena empresa. Assim como a primeira

escolhida, estão na Educar a primeira geração fundadora e a segunda geração, ocasionando

sua primeira sucessão.

O terceiro caso é uma empresa do ramo farmacêutico cujo nome fictício adotado neste

trabalho é Medicar. É mais antiga, tendo aberto as portas por volta de 1930. Conta com 14

empregados, quatro estagiários e três pessoas da família trabalhando no negócio, sendo um da

segunda geração e dois da terceira. A Medicar passa por seu segundo processo de sucessão,

visto que o seu fundador já faleceu, estando hoje sob o comando da segunda geração. É uma

pequena empresa com receita bruta anual entre R$360.000,00 e R$3,6 milhões.

A Adoçar é a quarta pesquisada, cuja atividade econômica principal é a fabricação e o

comércio varejista de doces, balas, bombons e semelhantes. Também é uma empresa mais

antiga, fundada na década de 1920, com receita brutal anual entre R$360.000,00 e R$3,6

milhões. Quem está no comando da empresa é a terceira geração e está em andamento o

terceiro processo sucessório, ou seja, da terceira para a quarta geração de herdeiros.

51

A quinta e última empresa é a Transportar, fundada na década de 1950 e cuja principal

função é o transporte rodoviário. Seu fundador já é falecido e a sucessão da segunda para a

terceira geração também já ocorreu. Quem está no comando é, portanto a terceira geração.

Nessa empresa já se encontra um membro da quarta geração em atuação no negócio. Ela

possui cerca de 450 a 500 funcionários e é uma média empresa com faturamento bruto anual

entre R$3,6 milhões e R$16 milhões.

3.3 Estratégia de coleta de dados

A principal forma de coleta de dados foi mediante entrevistas semiestruturadas com os

fundadores que ainda se encontram direta ou indiretamente atuando nas empresas e com os

membros da segunda, terceira e quarta geração, dependendo do caso. Para participar das

entrevistas, foram definidos os seguintes critérios:

a) Ser membro da primeira geração (fundadora) e das gerações subsequentes;

b) Estar em atuação direta ou indireta na empresa: entendeu-se que isso tornaria o

herdeiro um candidato mais provável à sucessão.

Para fins deste estudo, acredita-se que as pessoas que atendessem a tais critérios

seriam as que poderiam contribuir, de alguma maneira, com informações relevantes para o

entendimento dos casos.

A entrevista foi considerada o método mais adequado aos objetivos propostos, uma

vez que deu acesso direto às pessoas envolvidas no processo. Para utilizar a entrevista como

principal meio de coletar os dados, foi importante construir uma relação de confiança entre o

pesquisador e os entrevistados (Meyer, 2001). Para tal, foi feito um contato formal com cada

empresa, em que os objetivos da pesquisa foram explicitados, bem como o problema a ser

investigado e a metodologia utilizada.

Como o objeto de pesquisa envolve questões pessoais de vida e de família dos

entrevistados, além dos aspectos empresariais e administrativos, foi acordado com todas as

empresas que os seus nomes, bem como os nomes dos entrevistados, seriam mantidos em

sigilo, não sendo, portanto, aqui identificadas. Assim definido, foi criado um nome fictício

para cada uma e um código para cada entrevistado.

Os códigos dos entrevistados foram formados a partir da combinação a seguir. Em

primeiro lugar, o entrevistado é identificado conforme a sua posição na família (fundador, pai,

mãe, filho, filha, neto). Em segundo lugar, foi acrescentada uma mesma letra do alfabeto para

52

cada entrevistado de uma mesma empresa: letra A para a Alimentar, B para a Educar, C para a

medicar, D para a Adoçar e E para a transportar.

O Quadro 6 apresenta a caracterização dos entrevistados com os códigos

correspondentes a cada um.

Quadro 6 - Relação dos entrevistados

Empresa Código dos

entrevistados Idade Geração Função na empresa Escolaridade

Alimentar

Pai A 52 Primeira Sócio proprietário -

Diretor Geral Segundo grau completo

Mãe A 53 Primeira

Sócia proprietária –

Atualmente não

exerce função

formal.

Graduação em Matemática e

MBA em Gestão Estratégica

Filho 1A 29 Segunda Gerente geral Graduação incompleta em

Administração

Filho 2A 24 Segunda Supervisor de loja Tecnólogo em Gestão

Comercial

Filho 3A 22 Segunda Supervisor de loja Graduação em Marketing

Educar

Mãe B 64 Primeira Sócia proprietária -

Diretora Graduação em Pedagogia

Filha 1B 37 Segunda Vice-diretora

Graduação em

Administração e em

Matemática.

Pós-graduação em Gestão de

Instituições de Ensino

Filho 4B 30 Segunda

Gestor de

Comunicação e

Marketing

Graduação em Relações

Públicas

Filha 5B 27 Segunda Gestora Pedagógica Graduação em Pedagogia

Medicar

Pai C 87 Segunda Sócio proprietário -

Farmacêutico Graduação em Farmácia

Filho 3C 44 Terceira Gerente de loja Graduação em Fisioterapia

Filha 5C 39 Terceira Farmacêutica Graduação em Farmácia

Adoçar

Pai D 86 Segunda Assessoria

Administrativa Técnico em Contabilidade

Filho 1D 58 Terceira Sócio proprietário –

Gerente de produção Segundo grau completo

Filho 2D 54 Terceira Sócio proprietário –

Gerente comercial

Graduação em

Administração

Neto 1D 34 Quarta Dono de loja Graduação em

Administração

Neto 2D 31 Quarta Gerente de produção

e dono de loja

Graduação em

Administração

Transportar

Pai E 74 Segunda Sócio – Consultor Segundo grau completo

Filho 1E 48 Terceira Diretor Geral Segundo grau completo

Fonte: Dados da pesquisa.

53

As entrevistas foram agendadas por telefone ou por contato via correio eletrônico (e-

mail). Em alguns casos, quando solicitado, o roteiro de entrevista foi enviado

antecipadamente, para conhecimento dos respondentes. Foram realizadas 19 entrevistas no

período compreendido entre os meses de março e outubro de 2012.

Todas as entrevistas foram individuais, realizadas nas dependências das empresas

investigadas e tiveram duração em torno de 50 minutos. Posteriormente às entrevistas, a

pesquisadora fez novos contatos com os respondentes, via telefone, a fim de esclarecer

dúvidas e validar algumas informações no momento da análise dos dados.

Conforme exigido pelo protocolo de entrevista semiestruturada, a pesquisadora

utilizou uma lista de perguntas para direcionar os assuntos e garantir que as informações

necessárias fossem obtidas, ao mesmo tempo em que ficou aberta para outras informações que

surgiram no decorrer das entrevistas. Mesmo tendo um roteiro para direcionamento das

perguntas, preferiu-se conduzir as entrevistas como uma conversa na qual os respondentes

ficavam mais à vontade para falar e expor suas ideias e a pesquisadora realizava intervenções

resgatando o roteiro original, quando julgava necessário. Isso foi importante, pois propiciou

uma maior proximidade entre entrevistadora e entrevistado. As informações contidas no

roteiro de entrevistas dizem respeito à empresa, ao processo de sucessão, aos obstáculos

encontrados, à forma como os antecessores trabalhavam com seus sucessores, às dificuldades

enfrentadas, entre outras. Foram elaborados dois roteiros diferentes específicos para cada

entrevistado, um para o antecessor e outro para o sucessor, conforme se pode observar nos

Apêndices A e B do presente trabalho.

Em virtude do tempo e dos recursos disponíveis, optou-se por fazer estudo transversal,

coletando os dados em um único momento no tempo. Esses dados foram obtidos a partir de

uma investigação retrospectiva, buscando-se reconstruir os momentos vividos pela empresa

no processo sucessório por meio da memória das pessoas envolvidas no mesmo (Leonard-

Barton, 1990).

3.4 Estratégia de análise de dados

A análise dos dados teve início no momento da coleta dos mesmos. Eisenhardt (1989)

é uma entre os autores que argumentam a favor da articulação entre coleta, codificação e

análise dos dados, enfatizando que melhores resultados podem ser alcançados com a

sobreposição desses passos. Uma boa maneira de realizar essa sobreposição, segundo essa

54

autora, é por meio de notas de campo, em que o entrevistador faz anotações sobre suas

percepções e observações, bem como suas análises no decorrer da pesquisa para que nenhum

pensamento seja esquecido e se perca quando chegar ao final.

Além de dar ao pesquisador uma vantagem no momento de iniciar a análise,

Eisenhardt (1989) afirma que a sobreposição com a coleta permite que ele se beneficie de uma

coleta de dados mais flexível, tendo liberdade de fazer ajustes durante a atividade, sempre que

julgar necessário. Tais ajustes podem ser a inserção de um novo caso ou de temas relevantes

que surgirem no desenvolvimento ou a adição de perguntas no roteiro de entrevista. Isso vai

permitir que o pesquisador inclua temas importantes que possam emergir ou aproveitar

oportunidades singulares em alguma situação.

Depois de realizar as entrevistas, todas as gravações foram transcritas, procurando-se

manter de forma fiel as falas dos entrevistados. O próximo passo foi a análise das respostas

em cada um dos casos. Essa fase é muito importante, pois o volume de dados pode ser muito

grande e o pesquisador corre o risco de se perder em meio a tanta informação. Pettigrew

(1990, p. 181) salienta que há um perigo sempre presente de “morte por asfixia de dados”.

Por isso, no primeiro momento, cada caso foi analisado separadamente, possibilitando

a compilação do volume de informações e propiciando conhecimento profundo de cada um,

com suas especificidades, e permitindo que os padrões únicos surgissem separadamente antes

de se fazer a análise conjunta dos mesmos. Posteriormente, os casos foram cruzados, a fim de

se obter uma comparação dos registros e avaliar se os mesmos dados foram observados ou

não em diferentes contextos, buscando-se padrões entre os mesmos ou novas informações.

Assim, além de identificar contrastes e/ou semelhanças nos casos, foi possível fazer

comparações entre eles (Eisenhardt, 1989).

Para evitar problemas de falsas conclusões ou de suposições prematuras no

processamento das informações, um quadro referencial prévio de categorias (Quadro 7) foi

criado. Tais categorias foram estabelecidas a partir dos objetivos específicos deste trabalho,

tendo a literatura como norteadora.

55

Quadro 7 - Categorias de análise

Objetivos Específicos Categorias Subcategorias

Analisar os fatores desencadeadores

do processo sucessório Sucessão

Planejamento

Entrada dos filhos para trabalhar na empresa.

Motivos inesperados (morte, doença ou outro)

Analisar como ocorreu ou está

ocorrendo a sucessão na empresa O antecessor

Seu papel no processo

A relação com o sucessor

Previsão de desligamento da empresa

Analisar como ocorreu ou está

ocorrendo a sucessão na empresa

O sucessor

Critérios para escolha do sucessor

Motivação do sucessor para assumir a empresa

Relacionamento com os outros herdeiros

Relacionamento com os funcionários

Formação/ preparação profissional

Habilidades, desempenho e experiência para

liderar a empresa

Entrada no negócio precocemente

Experiência externa

A família

Envolvimento da família nos negócios

Situação dos outros herdeiros que não

assumirão a sucessão

Propriedade da empresa

Identificar as dificuldades presentes no

processo Dificuldades

Falta de planejamento

Dificuldade do antecessor em deixar o negócio

Não preparação do sucessor

Falta de profissionalização

Disputa de poder entre os herdeiros

Conflitos dentro da família

Conflitos com funcionários

Averiguar as oportunidades que

nasceram em decorrência da sucessão Oportunidades

Profissionalização da gestão

Possibilidade de crescimento

Novas formas de conduzir o negócio

Melhorias financeiras

Fonte: Elaborado pela autora.

No próximo capítulo apresentam-se a descrição individual dos casos pesquisados e a

análise feita de forma conjunta com base nas categorias de análise apresentadas.

56

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Descrição do caso: ALIMENTAR

A Alimentar é uma empresa relativamente nova, com pouco mais de 20 anos de

existência, fundada por um casal advindo do interior de Minas Gerais na década de 1980 que,

desde cedo, tinham o sonho de sair do interior e abrir um negócio no ramo de alimentação. O

marido (Pai A) ficou responsável pela administração e a esposa (Mãe A) pela cozinha. Em

pouco tempo de existência o negócio se expandiu e tornou-se uma marca conhecida. Hoje eles

contam com cinco lojas para atender à demanda na região metropolitana de Belo Horizonte.

A empresa está passando por seu primeiro processo sucessório, transferindo o negócio

da primeira geração fundadora para a segunda. A família é composta de seis membros: o Pai

A, Mãe A (fundadores) e quatro filhos com as idades de 29 (Filho 1A), 24 (Filho 2A), 22

(Filho 3A) e 17 (Filho 4A) anos, sendo todos homens. Até a ocasião da presente pesquisa o

filho mais novo é o único que não está trabalhando na organização.

O Pai A é um dos sócios e o responsável por toda a parte de gestão. Na empresa ele

exerce a função de Diretor Geral, sendo um dos principais tomadores de decisão em todas as

áreas. A Mãe A, que também é sócia, no momento não está exercendo função formal. Desde a

fundação da empresa ela foi a pessoa responsável pela área de produção a partir do

desenvolvimento de produtos, do controle de qualidade, da busca de inovação, decidindo

sobre os itens a serem fabricados e se responsabilizando pela fábrica e pelo treinamento dos

funcionários dessa área. Hoje, com a organização crescendo e bem mais estruturada, o setor

de produção foi totalmente profissionalizado e conta com equipe de quatro engenheiros de

alimentos e 20 nutricionistas para atender à demanda de serviço. Por isso e por outras

questões particulares, a Mãe A se afastou um pouco das atividades rotineiras da Alimentar,

mas ainda procura dar assistência à fábrica e é uma figura importante para as relações sociais

da empresa com o público.

O filho mais velho (Filho 1A) trabalha diretamente com o pai e é um parceiro, a

pessoa de confiança, alguém que na ausência do pai tem condições de responder por ele. O

Filho 1A está formalmente na empresa há sete anos e atua principalmente nas áreas financeira

e de compras. O Filho 2A é responsável pela supervisão e pelas compras de uma das lojas da

rede que trabalha em um segmento diferenciado das demais e o Filho 3A trabalha como

supervisor de loja, auxiliando também nos setores de recursos humanos e marketing.

57

A Figura 1 mostra um esquema que pretende representar os níveis de gerações e o

papel que cada um exerce na empresa da família:

Figura 1 – Genetograma Alimentar

Legenda:

É sócio e também trabalha na empresa.

Apenas sócio, não trabalha na empresa.

Não sócio, apenas trabalha na empresa.

Não sócio e não trabalha na empresa.

Fonte: Dados da pesquisa.

Entretanto, como é comum acontecer em pequenas e médias empresas familiares,

apesar de cada membro da família ter atividades direcionadas, na prática todos fazem um

pouco de tudo (Drucker, 1981; Leone, 1999; Oliveira, 2006; Reis, Escrivão Filho, 2003),

exercendo um tipo de gerência geral nas lojas, acompanhando o trabalho dos funcionários e

organizando o atendimento, conforme expressa a fala de um dos entrevistados: “Na verdade

cada um olha um pouco, uma parte e todo mundo olha tudo. Então nós estamos sempre nas

lojas acompanhando os funcionários. Isso aí é parte do trabalho de todo mundo” (Filho 3A).

O processo sucessório na Alimentar começou e vem acontecendo de forma natural e

intuitiva, quase inconsciente. Não existiu um planejamento prévio de ações e estratégias para

sua ocorrência. Ele também não começou em virtude da morte de um fundador ou de uma

doença que o afastasse do cargo, exigindo a entrada de um herdeiro para assumir seu lugar.

Conforme os próprios fundadores sinalizaram durante a entrevista, até aquele momento eles

ainda não haviam pensado formalmente a respeito do assunto.

Pai A

(Diretor Geral) Mãe A

Filho 1A (Gerente geral)

Filho 2A (Supervisor de

loja)

Filho 3A (Supervisor de

loja) Filho 4A

58

Mesmo assim, existe um sentimento de continuidade, um desejo de que os filhos

assumam a empresa futuramente e que o negócio tenha vida longa. Segundo o Filho 3A, o pai

e a mãe sempre demonstraram a importância que o empreendimento fundado por eles tem

para a família, que ele faz parte de um sonho e que todo o trabalho para fazer o negócio dar

certo sempre foi realizado pensando nos filhos, no seu futuro, uma vez que um dia tudo

passaria para as suas mãos. Os pais têm consiência de que não ficarão ali para sempre e por

isso procuraram ensinar aos herdeiros o valor da empresa e incitar neles o amor por ela:

Desde quando a gente era criança, nós sempre fomos preparados pra isso. Eles

sempre falaram também que eles fezem tudo pra gente, que eles não iriam ficar o

resto da vida também e [...] então a gente sempre aprendeu a dar valor ao que eles

tem e dar valor ao trabalho também (Filho 3A).

Na época em que os filhos eram menores, os pais não tinham com quem deixá-los nos

finais de semana e por isso eles tinham que ir junto para a loja e acabavam ajudando em

diversas atividades. Segundo a Mãe A, já com cinco anos de idade o filho mais velho

auxiliava no atendimento aos clientes:

Eles tinham cinco anos e se você chegasse aqui o Filho 1A, com cinco anos, no

domingo, de 11 horas da manhã às 13 horas da tarde, ele estava no caixa, com o

dedinho, em cima de um banquinho. Os fregueses parece que vinham aqui só para

vê-lo (Mãe A).

O tempo passou e assim eles foram crescendo dentro do ambiente empresarial,

trabalhando com diversas atividades e se interessando também pelo negócio da família, tudo

de forma muito natural:

Então eles foram entrando na brincadeira, né? E nós precisávamos trazê-los também

porque não tinha com quem deixar em casa no fim de semana. Então eles

começaram trabalhando no fim de semana. E eles foram tomando mais amor e eles

foram entrando, nada pensado, você vai fazer isso, você vai fazer aquilo, sem muito

planejamento né? (Mãe A).

Com certeza eu acho que ao longo dos anos a gente já vem, todo mundo assim em

união fazendo uma preparação. Meu pai e minha mãe sempre foram preocupados

com isso. Não é à toa que nós sempre estivemos aqui dentro da empresa. Eu desde

oito, 10 anos de idade que eu me lembre eu estava presente já, estava nos finais de

semana, eu vinha com eles é [...]. E depois se tornou uma coisa mais séria, né, então,

vem desde pequeno mesmo (Filho 2A).

Depois de adultos, o interesse dos filhos em assumir um cargo dentro da organização

familiar se deu por diversas razões. A entrada efetiva do Filho 1A na empresa, por exemplo,

foi marcada pela abertura de uma nova loja que deveria ser por ele gerenciada. O Pai A

59

argumenta que abriu tal loja com o intuito de envolvê-lo em uma atividade na Alimentar. Na

época em que estava na faculdade, o Filho 1A começou a atuar em outro ramo. Não

concordando com a nova atividade assumida pelo filho, os pais propuseram abrir uma loja em

sociedade com ele e assim conseguiram desviar sua atenção para o negócio familiar. Já os

Filhos 2A e 3A viram na empresa uma oportunidade de colocar em prática os conhecimentos

adquiridos nos cursos de graduação e uma forma de ganhar experiência.

Atualmente os filhos assumiram mais responsabilidades para ajudar os pais e também

adquiriram conhecimento mais profundo da sua organização. Sem ter conscientemente a

intenção de prepará-los para a sucessão, mas talvez pensando em dividir responsabilidades de

algumas tarefas, os pais delegaram atividades e os envolveram na rotina da Alimentar. Tal

fato pode ser percebido nas falas dos herdeiros, em que eles explicam que muitas

responsabilidades já foram confiadas a eles:

Várias coisas da rotina da empresa já estão sendo passadas para nós, né, pros filhos.

Eles deixam várias coisas do dia-a-dia para nós, para evitar atrito também e pra

gente ir aprendendo também a se virar sozinho. É, eles acompanham, mas grande

parte do dia-a-dia já é os filhos que fazem (Filho 3A).

Mesmo estando em fase intermediária do processo e acontecendo informal e

intuitivamente, pode-se considerar, de acordo com a literatura estudada (Grzybovski,

Hoffmann & Muhl, 2008; Rossato Neto & Cavedon, 2004; Tillmann & Grzybovski, 2005),

que a sucessão já está em andamento na empresa Alimentar. Os filhos se envolveram ainda

cedo com a empresa, os pais têm em mente que o futuro do negócio é ser gerido pelos

herdeiros e os estão preparando para assumi-lo futuramente.

Por enquanto, nenhuma disputa de poder é evidente entre os herdeiros. Entre os quatro

filhos, o mais novo (Filho 4A) tem deixado claro seu desinteresse pelo negócio da família. Ele

é o único que não trabalha na empresa e tem como objetivo estudar Direito e seguir a carreira

diplomática. Quando ele vai às lojas é por obrigação, pois, esporadicamente, em determinadas

épocas do ano, como Páscoa e Natal, a sua ajuda é solicitada:

Detesta vir ajudar fim de semana ou alguma coisa que precisa. Vem no Natal; uma

obrigação. Quando ele vem aqui às vezes ele fica só anotando, faz tipo um consultor

[...], fala o que está errado [...], já vem com tudo. É até bom, sabe, que muita coisa é

verdade (Mãe A).

Em relação ao papel do fundador no processo de sucessão, pode-se dizer, com base

nos relatos do Filho 1A, que o pai é um colaborador. Segundo o Filho 1A, o pai já exerceu

60

mais os papéis de professor, de supervisor, de introdutor, em que ele era um superior imediato

que lhe atribuía tarefas, dava instruções, supervisionava o trabalho, ensinava, cobrava e

corrigia. Hoje eles são parceiros, trabalham quase que em um mesmo nível. O pai ouve o

filho, dá autonomia para ele e compartilha praticamente todas as decisões da empresa.

As relações familiares na Alimentar, segundo comentaram os membros da família,

caminham dentro da normalidade, existindo alguns conflitos comuns entre pais e filhos, entre

irmãos, mas que não são levados para o ambiente de trabalho. Da mesma forma, os conflitos

que aparecem na rotina do serviço na empresa também não passam para um nível pessoal a

ponto de atrapalhar o convívio familiar. Apenas se observou que existe divergência de ideias e

de objetivos entre a geração fundadora e a segunda geração, que se se configura como uma

dificuldade latente para a finalização do processo sucessório e para que os pais tenham mais

confiança em transferir a gerência do negócio para os sucessores.

Os fundadores são mais conservadores quanto à gestão do negócio, a investimentos e a

novas ideias. Como foram eles que abriram a empresa e a viram crescer como resultado dos

seus esforços e da sua maneira de conduzir a administração, eles não têm a intenção de

expandir ou de se tornarem uma grande empresa. Querem continuar com um estilo mais

conservador de gestão, ficar a princípio com as cinco lojas atuais, com grande variedade de

produtos e atendendo ao cliente de forma personalizada. Por outro lado, os filhos têm uma

visão mais ambiciosa, veem possibilidade de crescimento, de ganhar mais dinheiro e uma das

formas seria a abertura de franquias.

Em virtude desse conflito de ideias os fundadores se mostraram um pouco hesitantes

em relação à finalização do processo de sucessão, especialmente a Mãe A, que é quem mais

se opõe às novas ideias e às mudanças propostas pelos filhos. Mesmo o Pai A, que afirmou já

ter encontrado seu sucessor, não acha que o herdeiro está totalmente preparado para assumir a

empresa. Ao serem questionados sobre suas expectativas em deixar a administração da

empresa nas mãos dos sucessores em um futuro próximo, de forma incisiva a Mãe A

responde:

Eu não, eu bato muito de frente. Então, como a minha ideia é um pouco contrária,

[...] essa sucessão aí eu estou muito brigando, entendeu? Em uma época eu me

afastei mais, agora que eu estou tentando voltar. Eu fiquei mais angustiada, porque

[...] não aceito algumas coisas. Mas é aonde vem a sucessão e começa alguns atritos

familiares, porque eles pensam de um modo e a gente pensa de outro, né?

A respeito de suas expectativas de desligamento da empresa, os fundadores afirmam

que isso não ocorrerá em curto ou médio prazo. Porém, o Pai A se mostrou um pouco mais

otimista com a ideia e mais disposto a pensar sobre o assunto. Talvez ele pense assim por já

61

estar preparando seu sucessor e por ter menos conflitos de ideias com os filhos. A Mãe A está

mais resistente. Mesmo assim, o Pai A ainda vê a necessidade de estar presente para ensinar e

até mesmo frear algumas atitudes dos filhos com as quais ele não concorda.

Um ponto comum percebido nos antecessores é que mesmo no futuro, quando eles já

tiverem mais confiança em seu sucessor, eles pensam em continuar na empresa como

consultores, pois não vão conseguir sair totalmente, com medo de ficarem sem alguma

atividade e de se sentirem deprimidos. O Pai A acha que em algumas áreas ele ainda seria

indispensável:

Mas nessa parte aí de obra, manutenção, isso aí eles são meio fracos. Eu acho que

isso eu não posso largar. Talvez daqui alguns anos apareça alguém, né? E segurá-los

também pra não ficar montando novos pontos assim só por montar, né? Aí eu vou

mostrando que não é bom negócio. Mas isso aí acho que ajuda a segurar muito. Eu

ajudo.

Da mesma forma, a Mãe A não se vê desligada totalmente do negócio e pretende

continuar na empresa, mesmo que não tenha um ritmo de trabalho tão acelerado e muitas

obrigações, mas nunca se distanciar totalmente: “Eu não me vejo desligada total. Até agora eu

não consegui enxergar isso não. Entendeu? Eu enxergo assim ó, eu vindo aqui, duas, três

vezes por semana, na parte da manhã na fábrica” (Mãe A).

Em relação à formação profissional dos herdeiros, todos aqueles que atuam na

empresa acabaram escolhendo cursos voltados para a área de gestão. O Filho 1A começou a

fazer o curso superior em Administração, mas parou antes de concluir. O Filho 2A formou-se

em Gestão Comercial no ano de 2012 e o Filho 3A, em Marketing. Segundo eles, a decisão

pelos respectivos cursos foi tomada individualmente e por vontade própria de cada filho. Eles

gostam da área e decidiram livremente procurar uma formação gerencial a fim de se capacitar

para gerir um negócio:

Todo mundo pegou o gosto pela coisa e viu que a gente tinha uma oportunidade nas

mãos, então vamos capacitar pra isso, né, vamos [...] a gente vê a faculdade ou o

curso técnico que eles não vão te ensinar a fazer, mas eles vão abrir sua cabeça pra

muita coisa (Filho 3A).

Além do curso de formação superior, os filhos procuram participar de feiras onde

novidades no ramo são apresentadas. O único que fez um curso adicional foi o Filho 3A, que

foi para São Paulo fazer especialização em lojas virtuais para aprender estratégias de venda

pela internet. Ele também é o único que tem alguma pouca experiência fora da empresa

familiar. Trabalhou pelo período de oito meses em uma rede de supermercados com o

objetivo de conhecer outra realidade de trabalho em uma empresa que não fosse a dos pais.

Ele não ficou mais tempo, pois o horário de serviço estava atrapalhando seus estudos.

62

A escolha do potencial sucessor pelo Pai A não se deu em decorrência de critérios

predefinidos de habilidades e formação profissional. Hoje ele é o candidato preferido à

sucessão, devido à sua afinidade com o pai, pela idade, por ser o mais velho e por estar há

mais tempo trabalhando na organização. Conforme o relato de um dos irmãos, ele é o que

demonstra mais vontade e mais dedicação à empresa. Ele disse que o Filho 1A realiza o

trabalho com muita seriedade, tem mais responsabilidades e parece ter mais amor pelo

negócio da família. Sobre o envolvimento do irmão mais velho com a empresa, o Filho 3A

comentou: “A vida dele é grande parte a empresa também, trabalha muito mais que a gente

também”.

Aliado a isso, ele tem perfil mais empreendedor e de liderança, fora sua aptidão

natural com a área de finanças e de compras, o que o fez trabalhar na mesma área que o pai e

ser hoje sua pessoa de confiança na organização. Entre os próprios irmãos existe consenso de

que o Filho 1A seria o possível sucessor à presidência da empresa. Isso pode ser observado na

fala do Filho 3A:

Hoje é o Filho 1A, né [...], porque ele está mexendo mais na área financeira, então

ele está mais por dentro [...]. O Filho 1A está mais por dentro, né, [...] há mais tempo

na empresa também, ele já passou por todos os setores, eu acredito então que ele já

tem uma capacidade maior. Eu e o Filho 2A estamos aí mais ou menos há cinco

anos, só que a gente está se desenvolvendo.

Ainda se percebe que existe uma motivação pessoal em todos os filhos que trabalham

na empresa. Essa motivação é visível principalmente no Filho 1A, que é o principal candidato

à sucessão. Ele não demonstra alguma vontade de trabalhar em outro lugar que não seja o

negócio da família e afirmou que está feliz com a perspectiva de se estabelecer ali como um

futuro gestor para dar continuidade ao negócio, fazendo-o prosperar e crescer pouco a pouco:

“E minha vida está boa demais” (Filho 1A).

O relacionamento dos herdeiros com os funcionários é muito bom, segundo percebem

os três filhos. Para eles, os funcionários já estão acostumados a vê-los desde pequenos nas

lojas, ajudando, e por isso essa boa relação foi sendo construída pouco a pouco. A Alimentar

tem a filosofia de tratar os funcionários não só como simples empregados, mas como

colaboradores, com todo respeito e até certo paternalismo: “[...] meus funcionários eu não

gosto que os tratem mal não. Eu sempre fui muito amiga dos funcionários” (Mãe A).

Seguindo essa filosofia, os pais ensinaram aos filhos que os funcionários são parte

fundamental da organização, visto que o bom funcionamento do negócio também depende

deles e por isso devem ser tratados com respeito e amizade. Os fundadores acreditam que os

gestores devem conhecer as pessoas com quem trabalham, devem perguntar sobre suas

63

famílias, a vida pessoal, ainda mais porque a maioria do quadro é composto de mulheres, que

são mais sensíveis e gostam desse tipo de aproximação.

Nós temos que tratar todo mundo muito bem, saber o nome de todo mundo, dar bom

dia, boa tarde, começar a perguntar da vida do filho, se o filho tá doente [...]. Nós

temos um quadro aí quase 80% de mulher, então muitas mães de família [...]. Nós

procuramos saber da vida deles também e somos bem presentes, bem participativos

(Filho 3A).

Na percepção dos entrevistados, os funcionários veem os chefes quase como colegas

de trabalho, que trocam ideias, que procuram saber das suas necessidades. Segundo a família,

os funcionários têm muita abertura para falarem diretamente com eles. Assim como os pais,

os filhos vêm buscando construir essa relação de amizade e ganhar o respeito das pessoas que

trabalham na empresa. Todos procuram tratar os funcionários da mesma forma.

Em relação às oportunidades e mudanças decorrentes da entrada dos filhos no negócio,

é possível perceber, pela fala deles, que muita coisa tem sido modificada e melhorada,

principalmente as relacionadas ao processo administrativo. Desde que eles assumiram

algumas responsabilidades operacionais, algumas áreas que antes não eram tão valorizadas

pelos pais fundadores, mas que são primordiais na administração de uma empresa,

começaram a se desonvolver. Pode-se citar o controle de estoque, a informatização dos

sistemas, a implantação de algumas políticas de Recursos Humanos (RH), como o

estabelecimento de metas e de premiação de funcionários, coisas que os filhos aprenderam

nos cursos de graduação e que conseguiram implantar com sucesso na empresa Alimentar.

Um dos filhos chegou a falar que tais mudanças ajudaram no crescimento do negócio. A

empresa está mais organizada em virtude da estruturação de alguns processos administrativos

que formalizaram e profissionalizaram mais a gestão.

Outra mudança positiva implantada por um dos filhos, Filho 1A, foi o sistema de

compras por meio de leilão. Antes desse leilão as compras eram feitas separadamente, por

loja, e a demanda de vendedores para serem atendidos todos os dias era grande, o que

ocupava muito tempo do comprador:

Aí eu via que chegava aquele tanto de vendedor pra atender. Eu não tinha tempo pra

ficar comprando, tipo assim, ficar anotando um por um, ver quem tinha preço

melhor. Ficava um comprador em cada loja, demorava a semana inteira pra fazer

(Filho 1A).

Então o filho mais velho teve a ideia de marcar um dia, em um horário específico, em

que todos os interessados em vender seus produtos para a Alimentar se reuniam e davam seus

64

lances. Aqueles com melhor preço e qualidade conseguem a venda. Em duas horas a empresa

conegue fazer toda a compra necessária para a semana e o Filho 1A tem muito tempo livre

para exercer outras atividades.

O primeiro modernizou muito nossas compras. Para você ter ideia, hoje ele faz um

leilão uma vez por semana com uma hora e meio, duas horas, ele compra tudo. O

que eu ficava a semana inteira comprando, ele hoje compra tudo com duas horas. O

povo gosta muito dele, porque [...] no princípio eu achei até que o pessoal não ia vir,

né? Leilão? Será que o cara vai estar disposto a toda segunda-feira duas da tarde? O

leilão dele hoje é disputado. Não tem nem [...] tem lá umas 15 cadeiras, falta até

cadeira para o pessoal sentar (Pai A).

Além da eficiência na compra, eles ganharam vantagem no preço que caiu bastante,

pela concorrência direta e pela compra em volume que é feita. A partir da sua fala percebeu-se

que o Pai A foi um dos que ficaram mais satisfeitos com esse novo sistema de compras

implantado pelo filho.

4.2 Descrição do caso: EDUCAR

A Educar é uma empresa que atua no setor de educação básica e está no mercado há

pouco mais de 15 anos. Sua idealizadora é uma mulher, que dedicou 35 anos da sua vida à

educação, trabalhou como funcionária em rede pública e privada exercendo diversos cargos,

desde professora, coordenadora até chegar a gerente e diretora. Como precisou trabalhar para

ajudar a sustentar os cinco filhos, ela adiou por muito tempo o sonho de ter o próprio negócio.

Por ter sido inserida no mercado de trabalho ainda muito nova, sua aposentadoria por tempo

de serviço se deu antes dos 50 anos de idade e, logo que aposentou, comprou o primeiro

terreno e abriu uma escola, que começou pequena e hoje conta com mais de 1.300 alunos. Na

época, o marido era funcionário de uma empresa multinacional e trabalhava com vendas. Ele

aderiu ao sonho da esposa, pediu demissão do emprego e se juntou a ela na fundação da

Educar.

A família principal é composta de sete membros: o pai, a mãe e cinco filhos, todos

casados. Eles têm cinco netos, mas nenhum com idade para trabalhar ainda. Atualmente estão

na empresa todos os membros da família direta e oito pessoas da indireta (dois genros, duas

noras, uma irmã do Pai B juntamente com o marido e a filha e uma cunhada, que é esposa do

irmão da Mãe B). A sociedade é composta somente pelo Pai B e a Mãe B, sendo os dois os

únicos donos, sem a participação de algum outro filho, genro, nora ou cunhado. Nos cargos

mais altos estão o Pai B (idade não informada) e a Mãe B (64 anos). O Pai B é o diretor

65

financeiro que se responsabiliza pela parte administrativa e financeira da empresa e pelo

gerenciamento de obras e serviços de manutenção. A Mãe B é a diretora geral e, portanto, a

principal responsável pela área pedagógica.

Hierarquicamente, nos cargos subordinados aos pais está a Filha 1B, a mais velha,

com 37 anos, que exerce o cargo de vice-diretora e trabalha diretamente com a mãe na direção

pedagógica da organização; e o filho 2B (33 anos), que é o gestor financeiro e atua ao lado do

pai na administração. O Filho 3B (32 anos) é o gestor de tecnologia e trabalha

especificamente na área de Informática; o filho 4B (30 anos) é o gestor de comunicação e

marketing; e a caçula, Filha 5B (27 anos), é gestora pedagógica.

Da família indireta, a irmã do Pai B é assistente financeira, o marido dela é

funcionário no setor de manutenção e a filha é professora. Também há uma cunhada e um

genro que são funcionários terceirizados, donos de duas lanchonetes que funcionam dentro da

escola, uma nora que é professora de Educação Física, outra que é gestora pedagógica e um

genro que é coordenador. Desta maneira a, Figura 2 procura representar o genetograma da

Educar:

Figura 2 - Genetograma Educar

Legenda:

É sócio e também trabalha na empresa.

Não sócio, apenas trabalha na empresa.

Fonte: Dados da pesquisa.

Irmã (Assistente

Financeira)

Marido (Funcionário na

manutenção)

Filha 1B (Vice-diretora)

Filho 2B (Gestor

Financeiro)

Filho 3B (Gestor de

Tecnologia)

Filho 4B Gestor de Com.

e Marketing

Filha 5B (Gestora

Pedagógica)

Filha (Professora)

Pai B (Diretor

Financeiro)

Mãe B (Diretora Geral)

66

A Educar está passando por sua primeira sucessão. Formalmente não existe um

planejamento desse processo, mas a Mãe B e o Pai B demonstram consciência e se preocupam

com essa etapa que vem acontecendo de forma natural com a entrada dos filhos para

trabalharem no negócio da família. Na entrevista a Mãe B deixou claro que mesmo não tendo

algo formalizado ou escrito, em sua cabeça e na prática a sucessão já vem ocorrendo há algum

tempo. Ela sabe que o processo é longo e que muitas de suas ações e de seu marido são feitas

visando ao futuro e à longevidade da empresa: “Está na cabeça e já estou até executando.

Porque o processo é longo, né, gente? É um processo longo. E eu acho que mais é na prática

mesmo também. Então, eu não tenho esse planejamento, assim no papel não” (Mãe B).

Todos os filhos cresceram no ambiente escolar acompanhando a mãe em suas

atividades no ramo da educação. Porém, segundo os depoimentos dos filhos entrevistados, a

escolha do curso superior de cada um se deu independentemente do negócio da família. Em

outras palavras, eles não foram persuadidos pelos pais ou por algum tipo de pressão para

seguirem carreira na empresa. As escolhas ocorreram de acordo com os interesses próprios de

cada um. A Filha 1B formou-se em Administração de Empresas e depois em Matemática. À

época da entrevista para esta pesquisa, ela estava finalizando um curso de pós-graduação em

Gestão de Instituições de Ensino e já vinha se preparando para cursar o mestrado. O Filho 2B

inicialmente ia fazer Medicina, mas optou por Administração e atualmente cursa Direito. O

Filho 3B cursou o ensino superior na área de Informática, o Filho 4B se formou em Relações

Públicas e a Filha 5B em Pedagogia.

A filha mais nova foi a única que relatou ter tido alguma influência da mãe e do

negócio da família sobre a sua decisão. Ela chegou a estudar bastante tempo na escola

fundada pelos pais e, além disso, acompanhou a mãe em suas atividades pedagógicas nas

escolas em que trabalhava. Mesmo assim ela deixa bem claro que nada foi imposto,

espontaneamente o meio acabou influenciando sua decisão, mas ela resolveu seguir a

profissão de pedagoga por desejo e vontade própria:

A minha mãe e meu pai também nunca disseram: “Ah, eles têm que trabalhar lá”.

Tanto que a Filha 1B não começou a trabalhar aqui. Ela veio, depois saiu, foi

trabalhar em outra instituição, depois voltou. E em momento nenhum minha mãe se

posicionou pra ela ficar. Eu depois que formei na escola logo já fiz Pedagogia. Mas

desde criança eu me lembro de ficar brincando de escolinha, não sei se por

influência da minha mãe mesmo, sempre que eu ia pra escola não queria ir embora,

queria ficar brincando com os meninos de escolinha. Eu sempre gostei muito. Eu

não me lembro de pensar em fazer outro curso sem ser Pedagogia não, nunca (Filha

5B).

67

Na época em que a Educar foi fundada, a Filha 1B trabalhava em um banco e como

professora em uma escola. Ela e o Filho 2B, sendo os mais velhos, acompanharam e

participaram do momento da abertura da empresa ajudando os pais nas atividades. Porém,

segundo o próprio relato da Filha 1B, ela não quis logo no primeiro momento deixar os

empregos que tinha para se dedicar exclusivamente ao negócio familiar. Durante cerca de

cinco anos ela ficou com receio dos problemas que poderia encontrar na empresa da família e

continuou ajudando sem se envolver totalmente:

No meu caso foi até um pouco diferente porque eu não tive o interesse de início, o

interesse espontâneo. Exatamente uma das coisas que me preocupava era de ser

família. Apesar de que a gente sempre teve um bom relacionamento e tudo,

exatamente por isso que pensei assim, nossa eu já tenho outro trabalho, e eu gostava

bastante de ficar lá, de dar aula, estava tudo bem. E eu vim, mas é [...] com um

pouco de receio (Filha 1B)

Quando recebeu uma proposta da escola onde trabalhava para assumir um cargo mais

alto, a Filha 1B refletiu e viu que estava muito mais engajada e interessada pelo negócio da

família e decidiu sair dos dois outros empregos para se dedicar integralmente à Educar.

Já os outros filhos começaram a trabalhar na empresa ainda jovens, assumindo

atividades mais básicas e operacionais e aos poucos criaram raízes efetivamente. Os mais

novos nem chegaram a trabalhar em outro lugar. Os pais os colocavam em atividades mais

simples como forma deles ajudarem e contribuírem com o negócio que estava no início, o que

colaborou para que eles conhecessem mais profundamente a escola e quisessem trabalhar

nela:

Falei que eles iriam trabalhar aqui para ajudar a pagar a faculdade. Daí eles vieram,

ajudavam na portaria, ajudavam no xerox, ajudavam a olhar aluno, como auxiliar de

sala e começaram a participar do ambiente, mas sem nenhum [...], nenhuma

responsabilidade, vamos dizer, maior que eles têm hoje, né?! E assim as coisas

foram caminhando. Eles foram tomando gosto (Mãe B).

Pode-se observar que os filhos hoje estão na empresa familiar por vontade própria.

Todos os entrevistados responderam que não pensam em trabalhar em outro lugar, que estão

muito felizes e realizados profissionalmente com as atividades que exercem. Como cada filho

se encaixou no negócio dentro da sua área de formação, ficou mais fácil organizar o

relacionamento e o entrosamento dos familiares na empresa, pois cada um cumpre seu papel,

tem sua responsabilidade e não precisa interferir nas atividades do outro. Tudo isso pode ser

visto nas falas dos membros da família entrevistados:

68

Hoje eles gostam muito de trabalhar aqui na escola, não querem sair. Às vezes

recebem propostas, né, é [...] de outras empresas. Eles não vão. Eu falo: “se vocês

quiserem ir, podem ir, não tem problema nenhum. Vai fazer falta, mas vocês têm o

direito”. Não querem, gostam muito, muito, muito, sabe? Todos eles. E aí eu

consegui colocar cada um num setor pra facilitar também o entrosamento, o

relacionamento [...], pra não dar problema. Mas assim é mais fácil, né, da gente lidar

com essas questões familiares aqui dentro, e cada um está no seu lugar, no seu papel

(Mãe B).

Não existem critérios predefinidos pelos sucedidos para a escolha do sucessor. Essa

seleção está acontecendo de forma espontânea e natural. Em virtude da idade, da área de

atuação e do tempo de experiência, a tendência é que os dois filhos mais velhos sejam os

futuros gestores: a Filha 1B para assumir a posição da mãe e o Filho 2B para assumir o lugar

do pai.

Mesmo antes de existir a Educar, a Filha 1B já trabalhava no setor de educação. Na

empresa familiar ela começou como professora, atuou muito tempo como coordenadora

pedagógica, passou a ser gestora pedagógica, chegando ao cargo de vice-diretora, que exerce

atualmente. Além da experiência, segundo a própria mãe, a Filha 1B apresenta características

e habilidades como liderança, relacionamento interpessoal, alto nível de interesse,

comprometimento, dedicação, entre outros, que a tornam apta para assumir a direção

pedagógica geral da instituição. Referindo-se à filha como uma possível sucessora, tem-se o

seguinte relato da Mãe B:

Eu já. Eu visualizo a Filha 1B. Ela é a filha mais velha e eu acho que ela tem um

perfil muito grande de liderança. Todos têm, mas eu visualizo a Filha 1B. A Filha

5B que também atua na área pedagógica é a mais nova. São 10 anos de diferença de

idade entre elas. Pode ser que isso aí tenha influenciado um pouco porque a Filha 1B

já adquiriu mais experiência, sabe? E o perfil dela é muito adequado pra isso (Mãe

B).

À afirmação da Mãe B acrescenta-se a percepção do Filho 4B:

Não, o óbvio, né. Porque, por exemplo, se ela é diretora e tem uma vice-diretora,

logo seria que a vice assumisse o lugar da diretora e obviamente outra pessoa, não

necessariamente filho, assumir a vice. Talvez a Filha 1B mesmo, por ela exercer

esse cargo e ela estar com ela como vice, vamos falar assim, então vamos

experimentar, ver como é que funciona (Filho 4B).

Além disso, hoje a Filha 1B se diz totalmente motivada e deseja realmente ficar na

empresa familiar. Como foi dito anteriormente, no início ela teve receio de deixar seu trabalho

em outra empresa para se dedicar exclusivamente à Educar e um dos principais motivos era o

fator família. Hoje, porém, este é justamente o fator que mais a incentiva a ficar na empresa:

69

Eu sempre pensava que não ia ficar, mas é como se fosse apaixonar mesmo pela

coisa, inclusive por ser da família. Não só por ser escola, né, que isso a gente já

gostava mesmo, tanto é que trabalhava era em escola também. Isso eu já gostava.

Mas o fato de trabalhar, de ser família e tudo, aí eu fui apaixonando mesmo. E isso

foi rápido, assim, em meses já não tinha dúvida (Filha 1B).

Mas, se todos os filhos estão no negócio, por que os outros quatro não seriam também

potenciais candidatos à sucessão? Entre os cinco filhos do casal fundador, dois atuam em

áreas que não teriam relação direta com a pedagogia, tais como a administração financeira e

informática. Entretanto, os dois filhos mais novos, Filho 4B e a Filha 5B, estão envolvidos

com a parte pedagógica. O Filho 4B, apesar de ser gestor de Comunicação e Marketing, é um

profissional dinâmico que procura se envolver e ficar a par principalmente da área

pedagógica.

Na entrevista, a Filha 1B chegou a comentar sobre sua dúvida se a melhor pessoa para

um dia ocupar o lugar da mãe seria ela mesma ou o referido irmão, visto que ele também é

uma pessoa dinâmica, comunicativa e com perfil de liderança. Porém, atualmente, o Filho 4B

tem outros planos para a sua carreira e está se envolvendo com outras atividades que não se

relacionam com a empresa. Além disso, deve-se levar em consideração o seu pouco tempo de

experiência.

Já a Filha 5B, como ela e a própria mãe relataram, apesar de atuar na mesma área da

irmã mais velha, tem 10 anos a menos de experiência. Por isso, a Filha 1B tem mais chances

de ser a sucessora da Mãe B e, no lugar do Pai B, ficaria o Filho 2B, que tem formação na

área de Administração e que é hoje o braço direito do pai na gestão administrativa e financeira

do negócio:

A Filha 1B, por exemplo, fez Administração, ela fez o curso de Matemática, ela tem

uma visão, assim, muito ampla de todo o trabalho da escola, tem mais tempo na

escola, acompanha mais de perto o trabalho. Não natural assim, porque ela é mais

velha, tem que ser ela não. Acho que a Mãe B não pensa assim não. Acho que se

fosse outra pessoa ela colocaria sim, não por ser mais velha. Acho que pela vivência

dela, pela experiência que ela tem. A direção não é só esse foco pedagógico, né, tem

toda uma outra organização e a Filha 1B tem mais essa visão, por exemplo, do que

eu, muito mais (Filha 5B).

Existe na Educar um meio que a família utiliza para compartilhar as principais

decisões da empresa. Somente os membros da família direta, ou seja, pai, mãe e filhos,

formam o que eles denominam G7. É um conselho deliberativo que se reúne, em média, duas

vezes por semestre para discutir sobre decisões importantes para a escola. Os assuntos

70

deliberados no G7 dizem respeito às questões mais estratégicas e de mais impacto e

investimento, como a abertura de novas turmas, construção ou reforma de algum prédio, um

grande evento, entre outras. Com a sucessão, os dois mais velhos ocuparão os cargos mais

altos dentro da empresa e, no dia-a-dia, em termos executivos, serão os principais tomadores

de decisão. Mas, com o G7 todos os herdeiros podem participar da gestão, apesar de que a

palavra final sempre fica com o Pai B e a Mãe B e no futuro ficará com os sucessores. Tal

situação pode ser observada na fala da Filha 1B:

Acho que eles não teriam dificuldade em falar que eu serei a sucessora. Apesar de

que a gente continuaria do mesmo jeito, porque aqui, na verdade, a gente faz muita

coisa juntos. Tem a reunião do G7, né, onde todos ajudam nas decisões principais

(Filha 1B).

O grupo G7, formado pelos pais e os cinco filhos, demonstra também a preocupação

em não deixar que as questões familiares prevaleçam sobre a empresa. Hoje eles acreditam

que cada membro da família direta e também da estendida que exerce algum cargo está ali

como um funcionário necessário, que tem qualificação e que traz resultados para a

organização. Os genros, noras e cunhados, por exemplo, atuam em cargos que estão

diretamente ligados às suas áreas de formação, mas não influenciam na gestão do negócio.

Eles não podem participar do G7, visto que este grupo é restrito aos acionistas e futuros

acionistas, ficando clara a separação entre grupo decisório e funcionário membro da família.

Feito o questionamento à Mãe B, se ela acreditava que a presença de tantos familiares na

empresa poderia impactar o processo de sucessão, a resposta foi a seguinte: “Não, acho que

não. A direção não. Da forma que a gente está fazendo, não. Fica bem claro pra todo mundo

os papéis”.

A relação dentro da família e na empresa parece ser muito boa:

E por ser família é diferente, então apesar de não ser perfeito, que não tem jeito, hoje

em dia o relacionamento, a convivência é muito tranquila e saudável, porque a gente

conseguiu, é [...] conviver bem e estipular alguns critérios e princípios que faz com

que a gente respeite um ao outro sem deixar de ser cada um do jeito que é (Filha

1B).

Como foi dito, existe uma preocupação constante em separar as questões familiares

das profissionais. Na empresa, por exemplo, os filhos não tratam os pais por pai e mãe, mas

sim pelos nomes de cada um. Segundo os relatos dos entrevistados, cada filho é tratado como

um profissional, como qualquer outro funcionário. Recebem o salário de acordo com a função

que exercem e não há uma mistura dos gastos familiares com os da empresa. As mesmas

71

cobranças que são feitas a um funcionário servem também para os herdeiros. Segundo o Filho

4B, às vezes eles são até mais cobrados, justamente por serem da família:

Isso aí a gente sempre vai ser tratado como profissional normal. Mesmas atribuições

que outro teria em meu lugar é as que eu tenho. Lógico que você é filho do dono

sabe de mais coisa. Mas assim, muito pelo contrário, quando ela tem que chamar a

atenção, ela chama do mesmo jeito. Às vezes a família é até pior pra isso, como tem

liberdade fala até mais, não tem aquele negócio de passar a mão na cabeça não.

Nos momentos em que surgem discussões e os laços familiares acabam se tornando

mais aparentes do que os laços profissionais, principalmente em situações nas quais existe

algum desentendimento entre irmãos, os pais procuram fazer o possível para sanar o

problema, agindo como chefes, analisando a situação profissional, e não pessoal do conflito.

Sobre o modo como os pais conduzem a relação família e empresa e lidam com os conflitos

familiares, os entrevistados responderam:

A Mãe B que tinha a experiência com escola, que é o negócio da gente, né, tem a

habilidade muito grande de [...], de fazer com que as pessoas se relacionem bem,

saiba a hora de cobrar ou coisa parecida. Essa questão mesmo de relacionamento, aí

ela [...] e principalmente com família, né, a gente aprendeu acho que bem direitinho

como que faz, o quê que tem que separar, o que não tem jeito, o que tem que saber

lidar, né? (Filha 1B).

Se a gente vê que vai gerar qualquer discussão entre eles a gente interfere pesado pra

não deixar, sabe? O que não pode é o seguinte, ah, meu filhinho, então tá. Isso pode.

Né? Lá em casa é mãe mesmo, aqui é profissional. Aí você pensa, não tem como

você cortar isso de forma, assim, definitiva. Isso não existe. Mas aqui é o professor,

saber que se errou, errou igual um funcionário comum. Se precisar chamar a

atenção, vai chamar a atenção do mesmo jeito (Mãe B).

Percebe-se que os fundadores cumprem vários papéis juntos aos herdeiros. Eles são os

supervisores, ou seja, superiores imediatos de seus filhos ao lhes atribuir tarefas, dar

instruções, supervisionar, corrigir e os preparar para assumir a gestão. Também cumprem os

papéis de professor e protetor, ensinando-lhes, transmitindo conhecimento e experiência, mas,

ao mesmo tempo, permitindo que eles tomem decisões sozinhos, a fim de que tenham

responsabilidade e adquiram experiência na vivência da gestão.

O relacionamento entre herdeiros e funcionários também é bom. Os funcionários os

respeitam não só como donos da empresa onde trabalham, mas porque veem neles a

capacitação necessária para estar naquela posição onde estão hoje. Por isso também foi

importante que os filhos não tivessem entrado na empresa logo em altos cargos. Eles foram

crescendo gradativamente, aprendendo, conhecendo todo o processo de funcionamento e

conquistando a confiança a partir dos resultados de trabalho:

72

Quem passa na sala de aula é diferente, né, especialmente educação básica, que são

crianças e adolescentes. Então, quando tem alguém liderando que já passou pela sala

de aula, tem uma experiência maior e que eles viram, não por ser filha, eu pulei lá do

nada pra ser diretora não. Então mesmo que não tenha vivenciado, sabem da

história. Um comenta com o outro (Filha 1B).

Eu até, particularmente, não gosto que me vejam como filho do dono não. Eu prefiro

que me enxerguem como profissional. E eu luto pra isso. Porque justamente aquele

negócio, “você tá aí porque é filho do dono”. Não, não tô não, eu estudei pra isso, eu

trabalho com isso, eu sou profissional. Se eu não tivesse aqui eu poderia estar em

qualquer outra empresa, outra escola e tudo. Eu trabalho assim. E acredito que isso

aconteça, acho que [...], tanto é que às vezes entra funcionário novato, por exemplo,

esse ano entrou aí uma professora. Depois de quatro meses descobriu, né? É até

engraçado. “Ah, não sabia que era filho dela” (Filho 4B).

Os fundadores da Educar demonstram um perfil de gestor que não terá grandes

dificuldades em finalizar o processo sucessório e deixar o negócio na mão dos seus

sucessores. Talvez, em virtude da idade, eles já se mostram abertos e até mesmo desejosos à

ideia de se aposentarem. Em conversa com a Mãe B ela relata que julga já ter trabalhado

tempo bastante e que está na hora de deixar mais por conta dos filhos para que ela e o marido

possam usufruir o tempo com menos obrigações, podendo fazer viagens e outras coisas que

queiram sem ter compromisso diário com a empresa familiar:

Nós não somos eternos, né? E segundo, que [...] não quer dizer que eu tenha uma má

qualidade de vida, mas acho que eu posso melhorar (Mãe B).

A minha mãe já ta com 60 e [...] 64, né? Acho que é 64 anos. Até brinco com ela

que tá na hora de parar um pouquinho. Mesmo com o pique todo que ela tem ela

(Filha 5B).

A Mãe B acha que não está longe o dia em que ela e o marido deixarão grande parte

do comando diário e operacional da empresa. Segundo ela, em seis anos talvez isso já seja

possível. Apesar de demonstrar grande confiança no potencial dos filhos, e principalmente na

possível sucessora que é a Filha 1B, ela ainda não se sente totalmente segura em deixar tudo

no atual momento:

Eu ainda não posso sair não. Assim, definitivamente não. Pra deixar, pra num [...].

Pra não ser, não acontecer aquele caso assim, ah, porque o fulano saiu da empresa, a

empresa acabou, né?! Então, assim, a gente tem que ir passo a passo e eu acho que

enquanto a gente tem saúde você vai ficando (Mãe B).

A Mãe B tem diminuído um pouco seu ritmo de trabalho nos últimos tempos. Ela já

consegue fazer algumas atividades hoje fora da rotina de trabalho, tais como exercício físico,

73

chegar um pouco mais tarde na empresa, ir ao médico em qualquer horário, que antes era

impossível realizar. Segundo suas próprias palavras, a empresa flui normalmente com suas

breves ausências. Porém, como ela detém toda a experiência e conhecimento do negócio,

muita coisa ainda é centrada em sua figura. O que falta é ela ter um pouco mais de confiança

para colocar em prática o que já vem pensando. Mesmo tendo vontade de deixar a instituição,

a Mãe B ainda não conseguiu se desprender de muitas atividades rotineiras, tendo

preocupação com o bom andamento dos negócios. Isso pode ser observado nas falas dos três

filhos entrevistados, que comentam a provável saída dos pais:

Eles estão com dificuldade. Eles têm. Eu tenho certeza que eles têm dificuldade e

têm que se preparar um pouquinho mais para isso. Apesar dela, às vezes, falar

assim: “Eu estou pronta [...]”, mas só o fato dela falar: “falta isso, falta aquilo” é

porque no fundo não está (Filha 1B).

Ela hoje sabe disso, até porque, vamos supor, tem dias às vezes que ela não vem

aqui e as coisas transcorrem normalmente, antigamente isso não acontecia. Lógico

que hoje eu ainda sinto que ela é uma força muito grande assim, muita coisa ainda

depende. Mas também eu acho que nesse processo, que eu falo que eu acho que isso

é natural, as coisas vão acontecendo, né? Porque mesmo ela não estando, a escola

normalmente funciona (Filho 4B).

A decisão tem, só que agora ela não está conseguindo é desligar. Talvez porque ela

não sentiu ainda é [...], que a gente está preparado, alguma coisa assim. Então, é por

isso que eu acho que está devagar, porque ela tá muito ligada na rotina, né? (Filha

5B).

Tanto os fundadores quanto os filhos percebem que mesmo depois de se completar

oficialmente o processo sucessório, os sucedidos não deveriam se ausentar totalmente das

atividades na Educar. Mesmo que os sucessores já se sintam capazes de tocar a empresa

sozinhos, eles sabem que a experiência e a orientação dos pais também seria fundamental

para a continuidade do negócio. A ideia dos filhos é que os antecessores continuem

trabalhando sem obrigação de horário e sem rotina, mas que sejam um suporte para os

sucessores, exercendo o papel de consultores ou conselheiros:

Com certeza eu vou errar, né. E nunca vou deixar de consultar ela. Eu só conseguiria

de verdade se tivesse ela como uma conselheira. Ela não pode nunca, assim, afastar

100%. Não ia dar certo. Se ela fizer isso, no fundo sabe disso e entre nós irmãos a

gente fala e tem isso muito claro, se os dois afastarem de tudo, 100%, desligar, falar

assim “não quero nem saber”, pode não dar certo” (Filha 1B).

Eu não vejo minha mãe, por exemplo, à toa dentro de casa. Ela nunca fez isso a vida

inteira, tanto ela quanto meu pai. Eu não vejo eles falarem assim “Ah não, então vou

largar com vocês” (Filho 4B).

74

Existe, por parte da fundadora, uma preocupação quanto a resguardar a empresa e a

família em caso de sua ausência ou da de seu marido. Já pensando também em deixar a

direção do negócio em alguns anos, ela tem sentido a necessidade de formalizar e registrar

algumas decisões relativas ao papel dos filhos na empresa, a fim de evitar que conflitos

possam surgir. Hoje em dia ela observa que tudo tem se encaminhado muito bem, mas o seu

receio é que a calmaria se deva principalmente à presença dela e do marido na empresa.

Assim sendo, a Mãe B tem pensado em fazer um testamento ou procurar ajuda com um

especialista para que ela obtenha mais informações de como resguardar a família e o

patrimônio da empresa:

Eu pretendo pesquisar mais e ver como eu vou fazer para deixar por escrito, sabe?

Qual o papel de cada um na ausência da gente. Uma coisa documentada, oficial, que

a gente nunca sabe do amanhã, né? Porque eles todos são casados, têm família,

mulher, marido. E aí, depois, né, se pode complicar [...]. Pra eu não prejudicar a

empresa no futuro e nem eles também. Hoje está tudo bem, mas será que é porque

eu e o pai estamos aqui? (Mãe B).

Ficou claro que cada filho trabalha exercendo um cargo específico e que na ausência

da mãe e do pai os dois mais velhos assumirão o comando principal das atividades, pois vão

exercer os cargos mais altos. Mas, pensando nos cinco filhos como herdeiros, existe também a

preocupação dos fundadores em regularizar em vida a questão da propriedade, ou seja, já

fazer uma divisão dos bens a fim de dizimar as possibilidades de conflitos futuros em virtude

da divisão da herança. Segundo a Mãe B, conflitos entre familiares, advindos da divisão dos

bens, podem influenciar significativamente o negócio:

Porque eu vejo muitos problemas quando falece o pai e a mãe. Por exemplo, essa

escola é dos cincos filhos e nós temos outras propriedades também, não é só a

escola, né? Eu tenho casas, lotes, sítio [...]. Então eu penso nisso também, entendeu?

Que aí, depois, quando a gente morrer mesmo já está tudo certo, o seu é isso, seu é

isso, seu é isso, seu é isso. Não precisa brigar por causa de nada. Se não isso pode

dar problema até na empresa, né. A empresa deixa de existir por brigas de família. E

como a família passa a não ser só eles cinco mais, passa a ser os agregados também,

então isso aí pode ser problema sim. Acontece muito isso aí. Eu já vi isso na própria

família, já vi em outras famílias também (Mãe B).

Em relação às dificuldades enfrentadas no processo de sucessão na empresa Educar, a

fundadora considera que não são os fatores internos e familiares os principais entraves ao

processo. Tudo já está bem encaminhado, e apesar de não ter feito ainda, já foi dito que ela

pretende formalizar o mais rápido possível algumas decisões, a fim de resguardar a empresa e

os filhos de possíveis conflitos futuros quanto à herança.

75

Um possível ponto de conflito poderia ser o emprego de muitos familiares no negócio.

Mas, como já relatado anteriormente, os proprietários parecem conduzir bem essa questão,

empregando pessoas que realmente são qualificadas, que são tratadas como qualquer outro

funcionário e que não estão vinculadas à gestão. Somado a isso, os membros da família

parecem se dar bem e sentem prazer em dividir o ambiente de trabalho com pessoas próximas,

familiares, com quem se sentem mais à vontade:

O que eu queria deixar é uma mensagem assim, de que muita gente fala que

trabalhar com família é difícil, é complicado. Eu acho o seguinte, é sim, mas

também é difícil e complicado trabalhar com quem não é da família. Às vezes até

mais. E se você souber colocar cada um na sua função, delegar o que é de

responsabilidade deles e dentro da empresa, você ser mais profissional, eu acho que

a coisa funciona (Mãe B).

Com o nível de profissionalização que a empresa alcançou, parece que ficou mais fácil

para os fundadores e sucessores conseguir lidar com as dificuldades de se trabalhar com

família. Na Educar eles demonstram conseguir separar bem as duas esferas e, por enquanto, a

empresa tem espaço para abrigar todos os familiares que estão lá, pois eles são, antes de tudo,

profissionais.

4.3 Descrição do caso: MEDICAR

A história da empresa Medicar começou há muito tempo, em 1890, quando seu

fundador (Fundador C) se formou na Escola de Farmácia de Ouro Preto e abriu um

estabelecimento no ramo em sua cidade natal no interior de Minas Gerais. Após 33 anos, em

1923, ele decidiu se mudar para uma cidade vizinha e fundar ali uma escola. Mesmo sendo

farmacêutico, quis mudar o ramo de atuação com o intuito de contribuir com a região que, na

época, não contava com colégio próprio, tendo a população que se dirigir a cidades maiores

para ter acesso à educação. Pouco tempo depois ele se enveredou na política e chegou a ser

prefeito nessa mesma cidade. Já casado e com 12 filhos para criar, o Fundador C decidiu se

mudar para Belo Horizonte, a fim de que os filhos pudessem ter mais acesso à educação e se

formassem em nível superior. Em 1933 ele foi para a capital, adquiriu uma farmácia e um ano

depois levou a família para junto dele.

Na época os filhos mais velhos já estavam na faculdade, mas os mais novos ajudavam

o pai na farmácia fazendo entregas, limpando as gôndolas, atendendo no balcão ou em

qualquer outra atividade que fosse necessária. Como foi dito, o Fundador C queria que todos

76

os filhos estudassem e tivessem diploma de curso superior, mas nunca os influenciou na

escolha das futuras profissões. Cada filho escolheu o curso que desejava e se formou. Direito,

Engenharia, Letras e Normal Superior são algumas das escolhas feitas por eles. Entre os 12

filhos, porém, apenas um decidiu seguir a carreira de farmacêutico. Um dos entrevistados

disse que uma das irmãs chegou a cogitar a hipótese de também fazer Farmácia a fim de

agradar o pai. Porém, vendo ele que a filha tinha muito mais gosto pela área de exatas,

convenceu-a a fazer o que gostava e ela se formou em Engenharia.

Ele nunca forçou nada. Só que tinha a Farmácia e a gente mesmo, os filhos, viam a

necessidade de ajudar e vinham pra cá. Ele nunca forçou nada. Tanto que uma irmã

quis, para agradar ele, queria estudar Farmácia e seguir a profissão. Mas ele via que

ela tinha tendência mais para Física, Matemática. Aí ele falou: “não, você tem

tendência pra Engenharia, vai estudar Engenharia” (Pai C).

Em 1941 o Fundador C morreu. Com 17 anos de idade, na ocasião, um dos filhos, o

Pai C, que tinha acabado de terminar o ginásio, ainda não sabia o que queria fazer. Ficou

algum tempo sem estudar e em 1947 prestou o vestibular para Farmácia. Diante de muitas

dúvidas, ele, que já trabalhava no empreendimento da família há algum tempo, decidiu ser

farmacêutico pensando que assim já teria seu emprego garantido: “Lá em casa nós éramos 12

irmãos e não tinha nenhum farmacêutico. Então eu pensei assim, ah, eu vou fazer Farmácia

porque assim já encontro o lugar certo pra trabalhar” (Pai C).

Sendo um dos filhos mais novos, logo depois da morte do fundador, o Pai C não tinha

condições de assumir a empresa e por isso dois irmãos mais velhos, mesmo sem formação na

área de Farmácia, o fizeram. Nesta referida época, a representação das gerações das famílias e

o papel de cada um na empresa era a espelhada na Figura 3:

Figura 3 - Genetograma Medicar - 1

Pai C (Vice-diretora)

Irmão 1 (Gestor

Financeiro)

Irmão 2 (Gestor de

Tecnologia)

Irmã 1 Gestor de Com.

e Marketing

Irmã 2 (Gestora

Pedagógica)

Outros 7

irmãos

Fundador C

77

Legenda:

Pessoas já falecidas que eram sócias e/ou trabalhavam na empresa.

É sócio e também trabalha na empresa

Apenas sócio, não trabalha na empresa.

Fonte: Dados da pesquisa.

Algum tempo depois de se formar, sendo o único farmacêutico da família, ele assumiu

a direção da Medicar. Após assumir, o Pai C ainda contou com a ajuda do irmão mais velho e

de duas irmãs que trabalharam com ele por muitos anos. As mulheres ficaram até a

aposentadoria. O irmão que tinha ficado na empresa era engenheiro químico, e após um

tempo resolveu voltar a trabalhar em sua área e também deixou o negócio.

A herança nunca foi motivo de conflito entre os irmãos. Como a maioria deles seguiu

sua própria carreira, independentemente da empresa familiar, nenhum deles quis ter

participação na Medicar. Quando o Fundador C faleceu, deixou apenas a farmácia e uma casa

que ainda não estava totalmente quitada como herança. Na casa ficou morando um dos

herdeiros que pagou o restante da dívida, casou-se e hoje, depois de falecido também, sua

esposa ainda reside nela. A farmácia passou para o nome de todos os irmãos, visto que cada

um recebeu sua parte proveniente da herança. Segundo o Pai C, ele até hoje guarda o primeiro

contrato em que consta a assinatura de todos eles.

Pouco tempo depois, os irmãos, que já estavam com a vida estruturada e trabalhavam

em outras atividades, abriram mão e saíram da sociedade, ficando apenas o Pai C e o seu

irmão mais velho. Nessa época eles chegaram a abrir outra unidade da farmácia, que ficou sob

responsabilidade desse irmão. Passados alguns anos ele não quis mais trabalhar na área e

decidiram vender e ficar apenas com uma loja. O irmão acabou por sair da sociedade, que

permaneceu com o Pai C e sua esposa, que são os proprietários até o momento da presente

pesquisa.

A Medicar está passando por seu segundo processo de sucessão. O Pai C tem 87 anos

de idade e vai transferir o negócio para a terceira geração. Ele tem cinco filhos - quatro

homens e uma mulher. Três deles exercem suas profissões independentes da empresa familiar,

dois são engenheiros e um é advogado. Os outros dois, o Filho 3C (44 anos) e a Filha 5C (39

anos) são os que estão hoje trabalhando com o pai na empresa. Ele se formou em Fisioterapia

e ela, em Farmácia. A única mulher entre os filhos foi a que seguiu a profissão do pai e hoje é

a pessoa de sua maior confiança dentro da farmácia Medicar.

78

Cada membro da família que trabalha na empresa tem seu cargo e suas funções

primordiais. O Pai C é o sócio proprietário e cuida da parte financeira, fica à frente no

atendimento ao público e como farmacêutico principal da farmácia e é o responsável pelas

compras do departamento de drogaria e perfumaria. A Filha 5C é a outra farmacêutica. Além

do atendimento ao público, ela é a principal responsável pelo gerenciamento do laboratório de

manipulação e cuida também da parte técnica relacionada às regulamentações e às exigências

de infraestruturas ligadas à Vigilância Sanitária e Prefeitura. O Filho 3C atua basicamente na

área administrativa de pessoal e estoque de produtos, além da gerência da loja. “E lá em casa

fui mais eu que segui o caminho mesmo. Meu irmão quis fazer fisioterapia, os outros foram

saindo e tomando, né [...] um engenheiro, o outro advogado, foram rumos diferentes” (Filha

5C).

Depois que todos os irmãos abriram mão da sua parte na sociedade em favor do Pai C

que ficou sendo o único dono da empresa em sociedade com sua esposa, o genetograma da

Medicar ficou representado conforme a Figura 4:

Figura 4 - Genetograma Medicar – 2

Legenda:

É sócio e também trabalha na empresa.

Apenas sócio, não trabalha na empresa.

Pessoas que foram sócios e/ou já trabalharam na empresa, mas saíram.

Irmão 1 (Vice-diretora)

Irmã 1 (Gestor

Financeiro)

Irmã 2 (Gestor de

Tecnologia)

Outros 8

irmãos

Outros 3

filhos

Filho 3C (Administração e

Gerência da Loja)

Filha 5C (Gerente do

Laboratório e

Farmacêutica)

Pai C (Principal gestor e

Farmacêutico)

Esposa

79

Não sócio e não trabalha na empresa.

Não sócio, apenas trabalha na empresa.

Fonte: Dados da pesquisa.

O segundo processo sucessório, da mesma forma como ocorreu no primeiro, vem

acontecendo natural e intuitivamente. O Pai C nada planejou em relação à sucessão ou à

entrada dos filhos na empresa. Assim como seu pai fez, ele quis que todos os filhos tivessem

uma formação, mas não os induziu a seguir sua profissão com o objetivo de ter um herdeiro

para assumir o negócio da família. Quando menores, todos os filhos também ajudaram na

farmácia em diversas atividades, mas cada um seguiu o caminho profissional que escolheu:

No começo os meninos pequenos vinham aqui para encher (risos). Ficavam

correndo aí, brigando [...]. Depois que cresceram um pouco que ajudavam alguma

coisa. Quando tinham uns sete, oito anos, eu [...] aí dei uma função pra eles. A

função deles era varrer a farmácia. Varria a frente da farmácia toda, depois podia ir

embora porque eles estavam no colégio, tinham que fazer dever. Mas faziam tudo,

um dia era um, outro dia era outro e iam revezando (Pai C).

É, sempre nós ficamos na farmácia. Desde quando eu nasci que nós morávamos aqui

em cima mesmo da farmácia e a gente sempre estava aqui, mesmo sem ter horário

nem nada, mas já ficava aqui, ajudava alguma coisa que precisava, limpava, essas

coisas assim (Filho 3C).

A filha mais nova foi a que quis seguir o pai e se formou em Farmácia. Assim como os

seus irmãos, ela começou cedo a ajudar na empresa da família. Ela, porém, tomou gosto pelo

negócio e pela profissão de farmacêutica e decidiu seguir sua vida profissional dentro da

Medicar. Hoje ela seria a principal candidata à sucessão, pois, além de ter a formação

necessária, é quem tem o maior preparo para assumir a direção do negócio. Como começou a

ajudar na empresa ainda muito nova, com 13 anos ela pôde conhecer de perto todas as áreas e

trabalhar um pouco em cada uma delas:

E a Filha 5C conhece bem o funcionamento. Conhece tudo. Ela tá aqui desde criança

também. Se precisar fazer compras, se eu viajar, ficar um tempo fora, ela faz. Ela

está preparada para ficar aqui na gestão (Pai C).

Eu considero que eu entrei com 13 anos porque ele já me colocou com função aqui

dentro, entendeu? Eu ficava duas horas só no caixa. Eu lembro direitinho. De 13 até

os 17 anos, aí depois eu fiquei mais vezes, ficava uma tarde [...], assim com o

horário que eu podia porque eu passei a estudar Farmácia também. Durante a

faculdade eu continuei aqui trabalhando em funções mais secundárias nessa época,

né, que eu estava estudando. Mais é atendimento, caixa, essas funções mais básicas,

né? (Filha 5C).

80

Pode-se perceber, pelo relato da própria Filha 5C, que ela se sente realizada

trabalhando no negócio da família e principalmente como farmacêutica. Ela está na empresa

por vontade própria e por vocação. Em nenhum momento isso foi imposto a ela, aconteceu

naturalmente:

Eu gosto. Eu realmente gosto de Farmácia. Eu, desde o segundo ano que eu estudava

no colégio as disciplinas que eu mais gostava eram Química e Biologia mesmo.

Mais Química, também. Aí eu fui pra Farmácia, exatamente porque eu gostava

mesmo de [...] da área técnica. Eu adoro farmacologia, tem disciplinas da Farmácia

que eu gosto muito mesmo. Eu, eu [...] eu considero que eu tenho vocação sim. Eu

vendo as necessidades da farmácia, né, eu fui incorporando (Filha 5C).

O Filho 3C está na empresa há menos tempo. Quando mais jovem ele trabalhava

diariamente com o pai. Ele chegou a cursar Farmácia em Ouro Preto por cerca de um ano,

mas decidiu retornar a Belo Horizonte para fazer o curso de Fisioterapia. Segundo afirmou o

Filho 3C, ele tentou a carreira como fisioterapeuta, mas recentemente decidiu ficar na

empresa familiar e ali se estabelecer.

Por ter menos experiência e também por não ser formado na área, o Filho 3C não seria

o sucessor principal. Futuramente, na ausência do pai, a irmã deverá ser a principal tomadora

de decisões na gestão da Medicar. Porém, a presença do Filho 3C também é importante para a

empresa, uma vez que, como a irmã está mais focada na área técnica, ele seria um suporte na

área administrativa e financeira.

A Filha 5C já se considera apta a assumir o negócio. Com os 20 anos de experiência

na Medicar ela acredita que, na ausência do pai, ela teria total capacidade de assumir sozinha:

“Então eu acho que tenho capacidade sim. Assumiria com tranquilidade. Igual eu te falei, eu

entrei aqui mesmo em 94, né? Então já vai quase 20 anos. Eu não consigo me ver saindo

daqui não” (Filha 5C)

Uma dificuldade que se apresenta no caso da empresa familiar Medicar é o fato de o

pai não conseguir encerrar o processo de sucessão. Segundo ele mesmo falou e também seus

filhos, ele não se vê parando de trabalhar, mesmo com a idade já avançada. Os filhos e a

esposa acham que ele deveria diminuir bastante o ritmo, porém isso ainda não aconteceu:

Enquanto ele tiver aqui ele vai estar trabalhando também. Eu acho que sim. Acho

realmente difícil ele parar. Minha mãe faz pressão, né, pra ele parar, mas ele não

quer. Eu tô aqui todo dia junto com ele. Toda manhã eu tô aqui. Eu acho que ele

devia diminuir (Filha 5C).

81

Além de não diminuir o ritmo de trabalho, o Pai C ainda centraliza muito as decisões

na empresa. A maioria delas tem que passar por ele. A Filha 5C, que já poderia ter mais

autonomia, deve consultá-lo quando precisa decidir sobre alguma questão da farmácia.

Quando ele não concorda com a decisão, ela não é aceita. A esse respeito, a Filha 5C citou

como exemplo que o pai teve muita resistência na implantação de sistemas informatizados na

empresa. Como não era seu costume utilizar computador e softwares no dia-a-dia, o Pai C não

julgou necessário implantar esses sistemas e queria continuar com seu controle manual. Aos

poucos, porém, a filha conseguiu convencê-lo, mas até hoje alguns processos ainda são feitos

manualmente:

Mas assim, toda decisão que eu tomo eu não passo por cima dele não,

principalmente as mais importantes. Aí eu venho e falo, tava pensando isso, isso

[...]. Quando ele não concorda a gente vai tentando convencer. Porque tem umas

coisas que ele não [...] computador foi uma das coisas que ele resistiu (Filha 5C).

As compras na parte de medicamentos aí eu poderia fazer também. Mas ele não

deixa, ele não larga essa parte. Até tento tirar um pouco pra ele ficar mais livre, mas

ele ainda fica. Se depender dele, fica aqui o dia inteiro e não sai daqui mais (Filho

3C).

Outra mudança que ela conseguiu fazer na Medicar, mas com certa dificuldade, foi a

implantação de um laboratório para manipular e vender medicamentos homeopáticos. O Pai C

era contra a filosofia homeopática e por isso não queria implantar essa terapia alternativa em

sua farmácia. Aos poucos a Filha 5C conversou, mostrou as vantagens e ele acabou cedendo.

Além de se preocupar com a área técnica, a Filha 5C tem procurado fazer alguns

cursos na área administrativa. Porém, em virtude da gestão mais centralizadora, ela não

consegue implantar o que aprende no curso e que vê aplicação em sua empresa, como, por

exemplo, a modernização e o controle eletrônico das compras e do estoque. Seu pai é ainda o

principal responsável pelas compras e ele não quer informatizar esse processo e fazer da

maneira como a filha acha melhor e mais eficiente.

Mesmo convivendo com um estilo mais centralizador de gestão e não tendo tanta

autonomia nos momentos de tomada de decisão, percebe-se que a presença dos filhos na

empresa e o processo de sucessão são fatores importantes para a manutenção e sobrevivência

do negócio familiar. Muitas mudanças vieram pelas mãos dos herdeiros, principalmente da

Filha 5C. Essas mudanças são essenciais para a gestão e para o crescimento da empresa, como

a informatização e o laboratório de manipulação. Além disso, mesmo estando na rotina da

empresa, o Pai C percebe que existem atividades que ele já não daria conta de executar hoje e

82

que a presença dos filhos faz com que ele queria manter a farmácia aberta e em posse da

família, do contrário, ele já teria vendido:

Meu pai mesmo fala, se a gente não tivesse aqui, ele não ia continuar no [...]. Porque

tem muito detalhe, principalmente os órgãos reguladores. Com certeza ele já teria

vendido o negócio. Houve várias reformas físicas aqui da farmácia, pelo menos nos

últimos 20 anos. Tiveram três ou quatro reformas físicas para a adequação dessa

nova legislação. E isso teve uma participação desse outro irmão meu que é

engenheiro, entendeu? (Filha 5C).

Para o Pai C é difícil pensar em se aposentar e afastar totalmente da farmácia. Ele não

consegue diminuir a rotina, pois pensa que certos procedimentos do funcionamento diário

dependem da sua presença. Talvez por isso ele também tenha mais dificuldade em

descentralizar as decisões. É ele quem abre a empresa todos os dias, é sempre o primeiro a

chegar. Há anos ele acreditava que, aos 80 anos, poderia aposentar-se. Hoje, contudo, já em

seus 87 anos, não vislumbra ainda tal possibilidade:

Não, eu falei que quando eu fizer uns 80 anos por aí, eu ia aposentar. Quando eu

aposentar, vou ver se reduzo meu horário um pouco. Mas fica difícil, não consigo.

Sou eu que abro aqui todo dia. Porque a gente sempre tem uma coisinha pra fazer,

mais outra, mais outra [...] (Pai C).

O sucedido (Pai C) percebe que tem importante papel junto à comunidade e a vários

clientes que o conhecem há anos e que são fiéis à empresa pela tradição que tem. Alguns

funcionários e fornecedores se tornaram amigos e sempre que passam pela farmácia param

somente para cumprimentar e conversar com o Pai C. Mas, para ele, a principal dificuldade

em deixar o negócio está no fato de pensar que deverá ficar sem uma atividade. Segundo suas

próprias palavras, ele não conseguiria:

Não, parar mesmo não. Parar eu acho até errado, porque você ficar parado, olhando

pra televisão, olhando para as paredes dentro de casa, você vai começar a tomar os

calmantes da vida. A vida fica muito monótona. E farmácia a gente tem [...] vive

mais, né, porque o contato com o povo, você encontra pessoas agradáveis, outras

desagradáveis, mas tem contato com todo tipo de gente, né? (Pai C).

No atendimento muita gente confia mais nele, né, como farmacêutico mais antigo. A

gente tenta diminuir um pouco esse horário, mesmo porque já passou da hora de ter

aposentado. Mas ele descansa é aqui. Se ele sair daqui já era (Filho 3C).

Ao mesmo tempo, o Pai C pensa sobre como vai ficar a propriedade da empresa no

futuro e na divisão da herança entre os filhos. Segundo ele, os três filhos que não têm vínculo

algum com a Medicar, que trabalham com outras atividades, não deveriam entrar como

83

sócios. A propriedade da empresa seria dividida entre a Filha 5C e o Filho 3C, que são os que

estão efetivamente cuidando do negócio e os sucessores principais. Os outros filhos

receberiam outros bens que o pai possui.

Eu estou querendo passar também pra Filha 5C, depois talvez o outro filho. Os

outros estão fora. Cada um está seguindo sua profissão. Eu queria resolver antes. É,

a gente, na idade que estou pode viver mais 10 anos, 20 anos, mas posso viver mais

um dia (Pai C).

Ele já pensou em colocar a filha na sociedade, mas, acabou não o fazendo por questões

legais de herança, segundo afirmou:

Teve essa situação uns três anos atrás. Eu falei com ele que eu gostaria de ter pelo

menos 10% de participação na farmácia porque na hora de assinar um documento

[...]. Porque às vezes ele viaja e tem decisão importante que eu vou ter que tomar na

ausência dele. Só que aí, ficou pensando, pensando, pensando e pensando e não

resolveu, porque parece que existe uma lei falando que você não pode beneficiar

nenhum filho. Pensei nisso pra facilitar o trabalho mesmo, não na questão de querer

herança e tal (Filha 5C).

O Pai C disse estar estudando um jeito para, em vida, resolver a situação e não deixar

algo pendente para depois de sua morte quanto aos seus bens. Para a Filha 5C, contudo, assim

como ocorreu no passado, a herança não seria motivo de conflito entre os irmãos, pois

acredita que aqueles que estão fora da empresa não têm interesse no empreendimento

familiar.

Eu falo que ninguém é insubstituível. Meu pai vai fazer muita falta aqui, eu também,

eu acredito que eu vou fazer falta. Mas a empresa, a farmácia é muito maior do que a

gente, entendeu? Essa farmácia não acaba não. Eu posso acabar, o pessoal aqui, mas

eu acho que vai passar pra outra pessoa. Se for o caso vai vender para outra empresa

de farmácia. Agora, acabar a estrutura não. Não acredito (Filha 5C).

É interessante perceber que na empresa Medicar os membros da família têm apego

pelo negócio e um desejo muito grande de que ele sobreviva ainda por vários anos,

independentemente da presença deles ali. Eles querem que a empresa se perpetue, mesmo que

por algum motivo não apareçam futuros herdeiros para assumir e ela tenha que ser vendida

para terceiros. O importante é a farmácia continuar ali, servindo à comunidade. Porém,

segundo eles, se prosseguir sob o comando da família, seria ainda melhor.

84

4.4 Descrição do caso: ADOÇAR

A Adoçar é uma empresa familiar quase centenária, que teve o início da sua história

vinculado a um imigrante europeu (Fundador D) que chegou ao Brasil em 1912. Inicialmente,

ele foi para o estado do Rio de Janeiro, onde trabalhou em uma fábrica de doces e aprendeu o

ofício. Conhecendo mais tarde sua esposa, que morava em uma colônia em Minas Gerais, ele

decidiu mudar-se para Belo Horizonte e fundou aqui sua fábrica na década de 1920. O

negócio iniciou-se em sociedade com uma irmã, que pouco tempo depois o deixou como

único dono.

O empreendimento foi se desenvolvendo e, alguns anos depois, foi aberta a primeira

loja da rede. Naquele momento estavam trabalhando na fábrica o Fundador D, sua esposa, um

filho e cerca de 10 funcionários. O dono da Adoçar teve três filhos - um homem e duas

mulheres. O filho (Pai D) começou a ajudar o pai ainda bem novo e se tornou sua pessoa de

confiança na fábrica. Em 1952, o Fundador D faleceu e o Pai D, com 26 anos, assumiu o

comando da empresa junto com a esposa.

Para o Pai D não foi difícil gerir a fábrica sozinho, uma vez que sua experiência já era

grande o bastante para lhe capacitar no ofício de fabricante de doces. Ele se envolveu muito

cedo com as atividades e se viu preparado para assumir o comando da empresa quando o pai

faleceu. Somado a isso, seu interesse era totalmente voltado para o negócio familiar. Segundo

disse na entrevista, ele nem chegou a se dedicar muito aos estudos. Formou-se como técnico

em Contabilidade, mas deixou a carreira de lado e se voltou integralmente para o

empreendimento familiar:

Eu já me via preparado pra assumir a empresa. Sem dificuldade. Foi como passar

daqui pra lá. Tanto é que não segui carreira nenhuma. Assim, não me formei. Formei

em técnico em Contabilidade. Depois do ginásio, naquele tempo era ginásio, só

continuei aqui, não estudei mais. Me dediquei inteiramente à fábrica, à indústria. Era

o que eu queria. E meu pai queria também que eu ficasse (Pai D).

Na divisão da herança ficou acordado inicialmente entre os filhos que ele ficaria com a

empresa e as outras irmãs herdariam os outros bens que o pai deixou, pois, inicialmente, não

manifestaram interesse em assumir uma posição na fábrica. Porém, logo quando começaram a

fazer o inventário, elas resolveram ter também participação na empresa e entraram com um

processo judicial que durou quase 17 anos, até, oficialmente, o Pai D conseguir assumir

sozinho a propriedade da Adoçar.

85

Ele e sua esposa tiveram nove filhos, sendo três homens e seis mulheres. Da mesma

forma como ocorreu com seu pai (Fundador D), o Pai D levou os filhos desde cedo para

ajudar na fábrica. Segundo manifestou um dos entrevistados, parecia haver, desde a Fundação

da empresa, a expectativa de que apenas os filhos homens trabalhassem no negócio familiar.

Acredita-se que o Fundador D não desejava a presença de genros e cunhados trabalhando na

empresa. Assim, dos nove filhos da terceira geração, também só os homens foram trabalhar na

fábrica. Nenhuma mulher assumiu qualquer atividade:

É, mas sabe o que acontece, tenho a impressão que o europeu gosta de pegar o filho

homem para vir para o lado dele. Pra servir com ele, né? Acha, por exemplo, que o

homem é mais fiel, de repente, do que se arrumar uma filha e entrar os maridos,

querer dar palpite demais numa coisa que é dele. Tanto que, hoje, quem olha a

fábrica são os homens (Filho 2D).

Pode-se perceber, pela fala do Filho 2D, que esse traço cultural familiar vem passando

pelas diferentes gerações na empresa. O mais velho entre os homens da terceira geração

(Filho 1D) também começou a ajudar o pai na empresa ainda muito jovem. Sua atuação ficou

focada principalmente na área de produção, aprendendo na prática como fabricar os doces e

adquirindo experiência acompanhando o pai em suas atividades:

Eu nasci aqui dentro. Desde pequeno eu ajudava meu pai aqui. Então eu digo que eu

já nasci trabalhando. Eu comecei ajudando e ele me colocou cedo pra trabalhar

também. Eu ajudava na parte de fabricação de balas, ajudava a tomar conta dos

funcionários, olhava é [...] bombom, bala, chocolate, recheio, tudo. Então eu fui

gostando (Filho 1D).

Porém, sua opção por seguir a vida profissional dentro na empresa familiar não esteve

presente durante toda a sua trajetória. Apesar de ele ter “nascido” dentro da organização,

conforme afirmou, e de ter passado a gostar do que fazia, em dado momento parece ter

surgido alguma dúvida sobre continuar na empresa ou buscar novos caminhos. Assim, houve

uma época em que ele fez um concurso para a aeronáutica e, tendo sido aprovado, foi estudar

em Campinas.

Quando decidiu estudar e trilhar outros caminhos fora da empresa familiar, os pais,

que já contavam com o filho como uma peça fundamental na fábrica, buscaram um meio de

trazê-lo de volta à empresa e fizeram uma oferta para o Filho 1D se tornar sócio na Adoçar.

Ele acabou aceitando, retornando, assim, ao seu trabalho e ajudando na continuidade da

organização familiar:

86

Eu trabalhei aqui dentro, aprendi e gostava. Apesar de que quando foi nos meus 15,

16 anos, eu fiz um concurso para a Aeronáutica e passei. Aí fui pra Campinas fazer

o curso lá, estudar lá. Ia largar tudo aqui. Minha mãe chegou, meu pai, me pediram

pra não sair e eu que era o braço direto e que realmente queria dar continuidade,

acabei que eu não fui, fiquei. Nessa época minha mãe me deu um terreno pra entrar

na sociedade com meu pai na fábrica (Filho 1D).

O segundo filho (Filho 2D) inseriu-se no contexto da empresa familiar um pouco mais

tarde. Ele decidiu que queria se dedicar aos estudos, mas, durante o seu curso de graduação

em Administração, ele passou a interessar-se mais pelo negócio e também foi trabalhar na

Adoçar. Segundo ele, a escolha do curso superior foi influenciada pelo fato de a família já ter

um negócio próprio. Tanto que depois ele pensou em fazer Engenharia Mecânica, mas logo

desistiu para se dedicar totalmente ao empreendimento familiar:

Porque toda a vida nós moramos aqui ao lado. Então vivia aqui na fábrica. Toda

hora que precisava a gente dava uma mão. Aí, querendo ou não você vai gostando.

Eu comecei a estudar. Não queria fazer outra coisa, mas de repente eu fiz

Administração e passei a interessar. Aí eu passei a vir para fábrica também. A gente

quando vai fazer a opção de curso, a gente ainda é muito novo pra escolher, né?

Então eu falei assim: “Ah, vamos tentar ligar”. Tanto que depois eu tentei fazer

Engenharia Mecânica e falei: “Não, vou desistir do curso. Nós temos a indústria,

vou mexer com a indústria” (Filho 2D).

O mais novo entre os homens (Filho 3D) formou-se em Engenharia Civil. A princípio

não se interessou muito pelo trabalho na empresa da família, cuja atividade era bem diferente

da sua área de atuação, e abriu sua própria empresa no ramo de construção. Algum tempo

depois, percebendo a necessidade de ajudar nas funções administrativas da fábrica, ele

também entrou para o negócio da família. Entretanto, o Filho 3D não deixou totalmente a

empresa de construção que havia fundado. Ele ficou trabalhando nos dois empreendimentos e

buscou conciliar todas as atividades.

Os três filhos entraram efetivamente na empresa familiar para auxiliar o pai no

gerenciamento e na fabricação dos produtos e, aos poucos, contribuíram para a empresa se

desenvolver e crescer. O Pai D e o Filho 1D estavam voltados para as atividades relacionadas

à produção, enquanto o Filho 2D e o Filho 3D ficaram com a área comercial e administrativa,

respectivamente. Até o seu falecimento, a Mãe D também auxiliava o marido no trabalho na

fábrica. Mesmo sendo professora, ela ajudou na empresa da família, mas nunca teve

participação na sociedade.

Até a entrada da terceira geração, a fábrica contava somente com uma loja para vender

seus produtos ao público em geral. Para o Pai D seria difícil administrar, sozinho e

simultaneamente, a fábrica e várias lojas. Porém, quando da entrada dos filhos para ajudar, foi

87

possível abrir outros pontos de comercialização dos produtos da empresa. Inicialmente, a

ideia era oferecer uma atividade às irmãs, que não participavam da sociedade, e aos sobrinhos,

que ainda não tinham uma ocupação definida.

Destaca-se nesse caso que as lojas são empresas independentes da fábrica. Apesar de a

Adoçar não possuir um sistema de franquias, é acordado com os proprietários das lojas que

mantenham o mesmo padrão na organização interna, de logomarca e de produtos que são

comprados diretamente da fábrica. Em certa época, algumas pessoas de fora da família

também chegaram a ter lojas. Mas, com o tempo, percebendo que não era viável para a

Adoçar, decidiu-se restringir as lojas somente aos parentes:

Nós abrimos um leque muito grande, aqui era muito fechado. Nós estávamos

chegando à conclusão que a gente tava com uma loja só e o que acontece, nós

estávamos perdendo o foco, por exemplo, dos jovens. Os jovens estavam indo para

os shoppings e nós não tínhamos loja em shopping. A cidade estava crescendo

demais, então nós começamos a tentar expandir a marca. Como tinha muitas irmãs e

sobrinhos, vamos dar uma ocupação a eles. Os que não tinham serviço, não estavam

empregados. Que que era a ideia nossa a princípio? Botar uma loja pra cada

sobrinho, que era um jeito melhor de você administrar a marca porque sabia que ali

estavam pessoas confiáveis, então era muito mais fácil (Filho 2D).

Além da expansão com a abertura de novas lojas, a entrada dos herdeiros da terceira

geração trouxe algumas mudanças significativas para a estrutura da empresa. Houve

inovações nos processos administrativos e operacionais na área financeira, no controle de

estoques e inovações tecnológicas e nos produtos. De acordo com um dos entrevistados, a

nova geração buscou atualizar-se frente às inovações do mercado e do setor. Os filhos fizeram

diversos cursos na área de gastronomia para aprimorar o produto fabricado e acrescentaram

novos itens ao portfólio. Além disso, segundo eles, passou a existir uma atenção especial aos

clientes das lojas. O Filho 1D e o Filho 2D, que além de trabalharem na fábrica também são

donos de lojas, procuram ficar atentos à opinião dos consumidores, observando a demanda, se

existe procura por um produto específico e se algum item não tem muita saída e deve ser

retirado da linha de produção. Desta forma, eles inovaram e desenvolveram muitos produtos

novos para a Adoçar:

Eu também trago muito coisa, porque a gente faz muitos cursos e a gente tem mania

de escutar muito o cliente. O que que hoje está em evidência? Por exemplo, a trufa é

um doce da moda. Como o pessoal queria, nós fizemos. De uns anos pra cá eu tenho

viajado, eu e o Filho 3D viajávamos muito. Nós íamos para a Europa,

procurávamos, íamos naquelas lojas, experimentávamos os produtos. Mas acho

mesmo que a gente tem que aprender a escutar o povo (Filho 2D).

88

No processo de sucessão da segunda para a terceira geração houve uma pequena

dificuldade na divisão das funções de cada membro da família e na saída efetiva do sucedido.

Aos poucos, os filhos foram entrando para trabalhar na empresa, mas não foram estipulados

cargos específicos para cada um deles. Cada um fazia o serviço que achasse necessário e,

algumas vezes, tarefas ficavam sob a responsabilidade de mais de uma pessoa. Em outros

momentos, um irmão acabava interferindo no que deveria ser função de outro. Essa falta de

definição de cargos resultava em uma gestão confusa e em alguns conflitos de relacionamento

entre os irmãos.

Por outro lado, o Pai D, que trabalhou sozinho durante muitos anos, estava

acostumado a comandar a empresa à sua maneira. Na sua visão o negócio familiar servia à

família e poderia sustentar todos os seus membros, incluindo aqueles que não trabalhavam na

organização. Na sua maneira de administrar os recursos não havia separação do que era da

empresa, do que era salário e retirada de lucros. Se precisasse ele tirava da empresa para pagar

a faculdade de todos os netos. Porém, ele não atentou para o fato de que a família havia

crescido. Não eram mais 11 pessoas, mas sim 40, visto que cada filho se casou e teve seus

filhos. Logo os herdeiros da terceira geração perceberam que não mais seria viável que todos

vivessem à custa da empresa familiar e tiveram que reorganizar a administração,

principalmente o setor financeiro.

Começar a sustentar todo mundo não tem jeito. Cada um tem que ter a sua retirada

específica de acordo com o cargo. E aqui não tinha cada um a sua retirada. Se um

precisasse, retirava. Aí não tem jeito, acaba quebrando a empresa. E isso deu um

conflito muito grande com meu pai. Aí ele falava: “‘não, criei os meus filhos assim,

vai ser assim desse jeito” (Filho 1D).

Naquela época a Adoçar contou com a ajuda externa de uma empresa de consultoria

que organizou as funções de cada membro da família e os processos da área financeira e da

área administrativa da empresa, além de aconselhar o antecessor a passar para os filhos a

gestão do negócio efetivamente e, inclusive, a propriedade.

A minha parte era toda voltada para produção. Papai não dava mais conta de

acompanhar o financeiro sozinho. Aí nós tivemos um conflito também, porque [...],

já tinha passado pra gente a fábrica e a administração de tudo estava meio confusa. E

aí chamamos um consultor que foi indicado pra gente, precisou de consultoria aí

quase dois anos. O consultor falou pra ele que muitas empresas não vão pra frente

por causa disso. Não eram nove filhos mais. Então tinham nove e passou pra 40.

Imagina se pagasse até hoje faculdade pra um, pra outro, os netos dele lá tal [...].

Isso deu um conflito bem pesado, mas graças a Deus deu certo depois. No fim cada

um ficou responsável por uma área (Filho 1D).

89

Acatando a orientação da consultoria, nos anos 1990 o Pai D se retirou da sociedade

com a venda da sua parte nas cotas e a empresa ficou com os três filhos homens. Dois anos

antes da presente pesquisa, o Filho 3D faleceu. Com isso, teve que acontecer uma

reestruturação na empresa, visto que algumas atividades, principalmente da área

administrativa, ficavam sob o seu comando:

O Filho 1D mexia só com fabricação. Eu fiquei na área comercial e o Filho 3D

começou a entrar na parte administrativa. Nesse período nós crescemos muito. Só

que há dois anos atrás meu irmão mais novo, o Filho 3D, faleceu. Então, o que

acontece, ele estava mexendo com um monte de coisa, aí sobrou. Teoricamente nós

tivemos [...], nós começamos novamente a reestruturar tudo, porque ficou um buraco

que tinha que ser ocupado. E ele olhava muita coisa (Filho 2D).

Com o falecimento do irmão mais novo, seus três herdeiros entraram na sociedade da

Adoçar. Porém, nenhum deles quis assumir responsabilidades na empresa e deixaram todas as

decisões e a operacionalização sob responsabilidade dos outros dois sócios. Teve que haver

uma grande reestruturação. O Filho 1D, o Filho 2D e o Neto 2A tiveram que assumir setores

diferentes dos que estavam trabalhando antes e aprender a fazer o que o irmão fazia, pois o

Filho 3D deixou uma lacuna que teve que ser preenchida. Segundo um dos entrevistados, está

sendo complicado para os irmãos assumir responsabilidades que não são da sua competência,

mas eles estão conseguindo se reestruturar e superar as dificuldades:

Hoje a gente entende bem até. E aí fala, poxa, a situação obrigou a gente a se unir,

então, graças a Deus. A minha cunhada, que é esposa do Filho 3D, também apoia a

gente. Não trabalha aqui não, às vezes ajuda. Ela entrou no lugar do marido, mas ela

não se envolveu. A gente conversa com ela muito, ela vem aqui, mas não participa.

Fica meio apertado, mas estamos levando, está até melhorando (Filho 1D).

O Pai D, que está com 86 anos de idade, ainda trabalha na fábrica, auxiliando em tudo

que pode na área administrativa e também na produção, mas atua primordialmente como um

conselheiro:

Hoje a fábrica é minha, dos herdeiros do Filho 3D e do Filho 1D. Meu pai já passou.

Hoje ele é um colaborador. Ele trabalha bem ainda. Agora ele está com 86 anos.

Tem produtos que é ele que faz aí, mas ele não tem mais parte na propriedade. Mas a

gente tá sempre consultando, né? Apesar de que ele dá os palpites dele. A gente,

sempre que tem alguma coisa, conversa com ele, explica pra ele o que vamos fazer e

nunca faz nada também sem falar (Filho 2D).

Os sócios proprietários da terceira geração parecem ser muito conscientes da

importância de não se colocar pessoas na empresa apenas por ser da família. Esse, inclusive,

90

foi um dos motivos que impulsionaram a ideia da abertura das lojas para os familiares. Eles

queriam ajudar, dar uma ocupação, mas viram que na fábrica não seria possível, não teria

espaço para todos. Eles percebem a necessidade de ter alguém para ocupar a vaga no setor

administrativo financeiro, mas também sabem que essa pessoa teria que ser qualificada e

motivada para tal. Isso é visto claramente nas falas dos dois sócios da terceira geração:

Acho que o maior problema em empresas familiares é quando os filhos crescem, vão

criando família e às vezes você não pode sustentar com aquilo ali todo mundo. Eu

tenho uma amiga, por exemplo, que quebrou por causa disso. E quebra mesmo

(Filho 1D).

A ideia de montar as lojas também foi porque aqui não caberia muito mais gente da

família. Então, o que acontece, não adiantava ficar enchendo de gente. Então, acaba,

se você colocar uma pessoa, por exemplo, pra receber e pra não ajudar, não é

interessante. Mas a partir do momento que a gente achar que precisa de alguém, a

primeira pessoa vai ser da família. Se tiver competência pra fazer também, né?

Porque não adianta só botar uma pessoa só por ser da família também, não vai

adiantar (Filho 2D).

Pode-se dizer que a empresa familiar Adoçar está a caminho do seu terceiro processo

de sucessão, visto que a quarta geração já está atuando na organização. Os netos herdeiros do

patrimônio da fábrica são cinco no total. Porém, apenas um deles, filho mais novo do Filho

1D, está trabalhando na empresa (Neto 2D). Seu irmão (Neto 1D) formou-se em

Administração e trabalha com lojas da Adoçar. Os filhos do irmão falecido trabalham na outra

empresa que o pai fundou na área de construção. Eles são engenheiros. O filho do Filho 2D

formou-se em Odontologia e exerce a profissão.

O Neto 2D é graduado em Administração e tem acompanhado o pai nas atividades da

fábrica desde novo. Juntamente com seu irmão mais velho, Neto 1D, ele é dono de duas lojas.

A administração de ambas fica sob a responsabilidade do irmão, enquanto o Neto 2D se

dedica às atividades na Adoçar. Juntos eles abriram recentemente uma fábrica de sorvetes que

é administrada por ambos.

O Neto 2D começou a ajudar o pai na fabricação dos produtos quando tinha 15 anos.

Nunca trabalhou em outro lugar. Sempre teve interesse e vontade de trabalhar na empresa da

família e se dedicou a aprender e adquirir experiência na prática:

Não, nunca pensei em trabalhar fora daqui. Nunca. Sempre estava aqui. Se

perguntar, nunca fiz entrevista de emprego. Porque desde sempre, como eu te falei,

desde novo meu pai colocou isso na cabeça e eu gostava, né, no fundo eu gostava de

vir aqui (Neto 2D).

91

Porque na verdade mesmo, meu irmão é quem está mais lá com meu pai. Eu estou

mais com as lojas. Então na fábrica eu nem palpito não. Então eu praticamente só

mexo com as lojas mesmo, direto ao público (Neto 1D).

O Neto 2D seria, o principal sucessor na fábrica. Ele está sendo preparado já há algum

tempo para assumir o lugar do seu pai na parte de produção. Até a morte do irmão mais novo,

o Filho 1D estava com planos de diminuir sua carga de trabalho e para isso já estava passando

a linha de produção para o comando do seu filho. Na visão deles, o Neto 2D estaria

capacitado para assumir na ausência de seu pai. No entanto, esse afastamento não foi possível,

uma vez que a morte do Filho 3D obrigou os membros da família a assumirem novas

responsabilidades e, por enquanto, o Filho 1D não poderá se afastar como gostaria. Isso

ocorreu também porque na área administrativa ainda não havia algum sucessor sendo

preparado com possibilidades de assumir:

Tem muitos anos que eu venho preparando, desde pequenos, preparando eles pra

isso, pra ficar no meu lugar. Então se eu morrer amanhã, eu morro tranquilo porque

eu sei que eles dão conta do recado. Não vai ser por isso que vai parar a empresa.

Então, já tenho meu sucessor. Da parte dele sou garantido. Melhor que eu até. Eu já

estava até preparando pra sair, pra diminuir minha carga aqui dentro. Mas fiquei

com o financeiro depois do Filho 3D. Eu entrei numa área nova [...] apanhei muito.

Agora que eu estou começando a pegar o jeito (Filho 1D).

Começou a se pensar no Neto 2D talvez pra cuidar da parte de fabricação. Ele está

sendo ensinado, tudo pra continuar a parte operacional de produção. Então, o que

acontece quanto à parte de administração, não pensamos ainda direito, ainda não

(Filho 2D).

O outro neto, que é o mais velho dos dois, chegou a trabalhar um tempo na fábrica

com o pai. Começou até antes mesmo do seu irmão. Na adolescência ele ajudou muito e ficou

na fábrica até iniciar o curso superior. Logo que começou o curso de Administração o Neto

1D conseguiu uma vaga para trabalhar em um banco e decidiu aceitar a fim de ter experiência

fora da empresa da família. Ele ficou quatro anos no banco e quando estava prestes a se

graduar resolveu voltar para a fábrica. Na mesma época, surgiu a ideia de abrir uma nova loja

da Adoçar em um shopping. Ele acabou assumindo a loja e não voltou a trabalhar com pai:

Eu já trabalhei lá muitos anos atrás. Depois fui ficando velho, entrei na faculdade e

tinha um tio meu que trabalhava no Banco Real e me chamou. Aí eu falei com o

meu pai: “Ó pai, eu acho interessante para mim saber o outro lado como é que é, ser

funcionário”. Aí parei de trabalhar com meu pai e fiquei quatro anos no banco.

Quando estava faltando seis meses pra me formar eu cheguei pro meu pai e falei:

“Ó, eu vou voltar, eu vou sair do banco”. Quando fui pegar com o meu pai de novo

na fábrica, surgiu a primeira loja nossa e então nós pegamos lá, eu e meu irmão.

92

Pegamos, eu não voltei pro meu pai e já fui pras lojas. De lá pra cá eu não voltei

mais pra fábrica não (Neto 1D).

Até o momento da presente pesquisa, a representação do genetograma juntamente com

o organograma da empresa, onde se pode observar visualmente as gerações, as pessoas que já

passaram pela organização e quem ainda está atuando é a que se encontra na Figura 5:

Figura 5 - Genetograma Adoçar

Legenda:

Pessoas já falecidas que eram sócias e/ou trabalhavam na empresa.

Não sócio, apenas trabalha na empresa.

Não sócio e não trabalha na empresa.

É sócio e também trabalha na empresa.

Apenas sócio, não trabalha na empresa..

Pessoas que foram sócios e/ou já trabalharam na empresa, mas saíram.

Fonte: Dados da pesquisa.

93

A entrada da quarta geração na empresa familiar também trouxe aspectos positivos

para o desenvolvimento da Adoçar. O Neto 2D é formado em Administração, mas, assim

como seu pai e tios, ele procura fazer vários cursos na área de alimentação e trazer novos

produtos para o portfólio, buscando diversificação frente ao mercado.

Há cerca de dois anos, ele e seu irmão que é sócio nas lojas tiveram a ideia de entrar

no negócio de produção de sorvetes. As lojas já vendiam sorvete, porém, compravam de

fornecedores terceirizados. Eles tiveram a ideia de fabricar o próprio sorvete com a marca

Adoçar e hoje estão investindo nesse novo ramo:

E hoje, de um bom tempo pra cá, a maioria dos produtos novos, lançamentos, foi

tudo o meu filho que desenvolveu. Fez diversos cursos (Filho 1D).

Agora eu e meu irmão estamos entrando na área do sorvete, né. Não tem nada a ver

com a fábrica, com meu pai, com meu tio, avô, não (Neto 1D).

A sucessão da primeira para a segunda geração aconteceu por motivo de falecimento

do fundador. Mesmo assumindo ainda jovem e repentinamente, o Pai D se considerava

preparado e assumiu sem grandes dificuldades, pois já vinha desde cedo ajudando o pai e

aprendendo com ele. Já a terceira geração efetivou o processo sucessório em virtude da idade

e da necessidade de afastamento do antecessor, que já não conseguia cuidar sozinho da

administração e que precisava dar espaço aos filhos que queriam resolver os problemas que

viam na gestão do pai (um deles era a falta de critério para retirar recursos da empresa e a

mistura dos gastos empresariais com os familiares). Os filhos assumiram a empresa e já

tinham experiência e prática suficiente para darem continuidade ao negócio. Da mesma

forma, a quarta geração está naturalmente trilhando esse caminho, começando a trabalhar na

empresa cedo e adquirindo experiência e maturidade com a convivência com a geração

anterior:

É, foi mais natural. Na verdade, meu pai veio passando aos poucos. Não foi da noite

pro dia, tipo agora segura aí que a bomba é sua. Não, foi aos poucos. Meu pai cobra

muito responsabilidade. Eu, por ter feito todo um serviço dentro da produção, de

tudo, de todas as áreas da produção, ter trabalhado em tudo, ele foi vendo, foi

ficando mais velho e foi passando (Neto 2D).

É, ali eles têm pelo menos mais 20 anos de empresa, acredito eu. Meu avô tem 86 e

está lá forte ainda. Então pelo menos até uns 20 anos. Acredito que nós vamos

continuar muito tempo ainda nesse mesmo segmento dos meus pais, meus tios, meu

irmão. Não vejo uma grande mudança de regime ali dentro, nada assim não (Neto

1D).

94

Mesmo que o processo de sucessão já esteja bem encaminhado, não existem

perspectivas concretas quanto à saída da terceira geração da empresa, sendo a idade um dos

motivos para tal. Os atuais gestores ainda estão em pleno vigor no trabalho, estão na faixa dos

50 anos e pretendem ainda trabalhar muito tempo. Quanto ao futuro, a intenção é não sair

totalmente da empresa, mas sim diminuir bastante o ritmo.

4.5 Descrição do caso: TRANSPORTAR

A história da empresa começa com a vontade de um pai de família com oito filhos

(Fundador 1E) de ter um negócio próprio que poderia ser o sustento, a estabilidade e uma

opção de trabalho para seus herdeiros no futuro. Assim, na década de 1950 ele encontrou uma

empresa de transporte que estava à venda e, juntamente com dois amigos (Fundador 2E e

Fundador 3E), comprou os direitos da concessão da Transportar. Seu segundo filho (Pai E) na

época estava com 20 anos de idade, já tinha carteira profissional e, por ser habilitado para

dirigir os veículos, foi trabalhar com o pai na empresa:

Nós éramos oito filhos. Então ele preocupava que, quando fosse adulto, o que ia

fazer? Então ele procurou um negócio onde ele podia colocar os filhos e achou por

bem mexer com transporte coletivo. Nisso eu estava com 20 anos e ele me mandou

pra cá pra tomar conta da empresa. Meu pai falou: “Olha, vai você, que você tem a

carteira profissional e pode dirigir ônibus” (Pai E).

Como é característico de pequenos negócios, os donos faziam um pouco de tudo na

Transportar. Não tinham cargos e departamentos definidos, todos tinham que dar conta de

realizar qualquer tarefa que fosse necessária para o bom andamento do negócio. O Pai E

desempenhou várias atividades, foi motorista, trocador, ajudante de mecânico e conheceu

profundamente o empreendimento da família. Além dele, seu irmão mais velho (Irmão 1E)

também foi trabalhar na empresa. Então, logo no início o Fundador 2E quis deixar a sociedade

e vendeu sua parte para os dois filhos do Fundador 1E que estavam com ele na organização:

“Os outros dois sócios eram amigos do meu pai. Quando daí uns 60, 90 dias, um resolveu

sair. Falou: ‘Não estou gostando disso não’. Aí eu e meu irmão compramos a parte dele” (Pai

E).

Três anos mais tarde o Fundador 3E também decidiu sair e a empresa comprou sua

parte. Na abertura da empresa cada um dos três sócios fundadores tinha 33,33% das cotas.

Com a saída dos dois (Fundador 2E e Fundador 3E) e a entrada dos filhos do Fundador 1E,

95

este ficou sendo o sócio majoritário, com 50% de participação na empresa. O Pai E e o Irmão

1E ficaram, cada um, com 25% do total.

Os anos passaram e em 1969 o Fundador 1E faleceu. Com o seu falecimento todos os

filhos (seis homens e duas mulheres) entraram na sociedade após a divisão da herança. Como

os dois mais velhos já possuíam, juntos, 50% de participação na empresa, com a partilha dos

bens passaram a deter 62,50%, ficando eles como sócios majoritários. Os restantes 37,50%

representam a soma das cotas dos outros seis irmãos.

O negócio estava em pleno processo de crescimento, mas ainda não dava muito lucro,

conforme observou o Pai E, uma vez que todo o capital era reinvestido na própria empresa:

Porque não tinha lucro. O lucro era todo reinvestido, tá entendendo? Ora, você veja,

uma empresa que começou com dois ônibus, pra acompanhar um progresso e ter que

fazer um parque de manutenção, né, igual tem aqui e comprando mais ônibus, que

os ônibus ficavam velhos muito depressa. Não tinha como sobrar muita coisa” (Pai

E).

Dos seis irmãos que passaram a ser donos em virtude do falecimento do pai, três foram

trabalhar na organização familiar e os outros três ficaram apenas como sócios. Como não

recebiam divisão dos lucros e a empresa não tinha dinheiro para comprar a parte dos que

queriam vender suas cotas, dois irmãos dos que eram apenas sócios, mas não trabalhavam na

organização, entraram com processo judicial em 1990 para dissolução da sociedade4. Mais

tarde outros três também manifestaram o desejo de sair da sociedade e pediram que fosse feita

uma cisão5:

Hoje, com a experiência que eu tenho, eu compraria a parte deles e depois atrasava

os pagamentos. Aí já tinha resolvido o meu problema. Mas como eu sempre zelei

pelo pagamento em dia, eu não tive condições. E eu pensava que a empresa ia

crescer mais do que cresceu, pensava que eles tivessem participação com a gente no

4 Em acordo com a seção VI do Novo Código Civil (Lei 10.406 de 2002) nos artigos 1.033 a 1.038, a dissolução

de sociedade é o ato que desencadeia o processo de extinção da personalidade jurídica de uma sociedade ou que

desvincula um sócio do quadro societário. Uma das formas de dissolução pode se dar através de uma ação

judicial por solicitação de algum sócio que solicita a dissolução dos vínculos contratuais que a originaram. A

natureza da ação de dissolução de sociedade se divide em duas fases: na primeira cabe ao julgador examinar o

mérito da causa. Uma vez reconhecida a causa diz-se dissolvida a sociedade. Finalizada a primeira fase da ação

de dissolução, será proferida sentença que decreta a dissolução da sociedade, reconhecendo assim a obrigação de

pagar determinada quantia ao sócio retirante por meio de perito nomeado pelo juízo (liquidação por

arbitramento), que procederá à verificação do valor a ser liquidado (Campinho, 2005). 5 Conforme o artigo 219, II, da lei 6.404/76, a cisão é uma operação em que ocorre a transferência de uma

parcela do patrimônio de uma empresa para uma ou mais sociedades constituídas especialmente para esse fim ou

já existentes (no caso de cisão parcial) ou transferência da totalidade do patrimônio em caso de cisão total.

Quando é parcial, ocorre a versão de uma parte do patrimônio da sociedade cindida, implicando a redução do seu

capital social na proporção do que foi transferido. Se todo o patrimônio for transferido para outra sociedade,

ocorrendo a extinção daquela cindida, configura-se a cisão total (Bertoldi & Ribeiro, 2011).

96

futuro com uma situação melhor. Então, o que acontece, eles entraram com uma

ação de dissolução (Pai E).

Saíram cinco irmãos da sociedade e ficou apenas o Pai E, o Irmão 1E e um terceiro

irmão (Irmão 2E). Mesmo enfrentando dificuldades com os processos judiciais, com o

pagamento obrigatório dos valores estipulados para ressarcir os sócios que saíram (o que

influenciou negativamente o patrimônio da empresa), com vários conflitos de cunho familiar

que surgiram na convivência dentro da organização com tantos familiares e tendo que assumir

uma postura mais enérgica como administrador, conforme o Pai E relata a seguir, ele, com o

apoio do Irmão 1E, continuou trabalhando e fazendo o negócio crescer. Nesses momentos

difíceis o Pai E conseguiu gerir o negócio como muito profissionalismo, sem se deixar abalar

tanto com os problemas pessoais.

Pra você sobreviver você tem que criar uma administração e esquecer que a empresa

é familiar. Você tem que falar não, não pode e eu passei por problemas difíceis. Vou

te citar um deles. Telefone. Eles ganhavam aqui, tinham o seu salário. Quando

chegava o fim do mês, o que eles ganhavam não dava pra pagar telefonema que eles

estavam dando. Quando eu vi que as contas de telefone subiram demais eu falei:

“Agora cada um paga a sua conta”. Aí eu sou ruim, não é? Mas sociedade é assim,

se você fez alguma coisa que deu certo, é nossa, se deu errado, é fulano (Pai E).

Como foi dito, a passagem da primeira para a segunda geração aconteceu

abruptamente, em virtude da morte do fundador. Dois dos filhos já trabalhavam na empresa e

tinham participação acionária. Porém, um deles, o Pai E, acabou se destacando como líder e

assumiu o papel de sucessor, tendo o total apoio do Irmão 1E. Mesmo sem ter feito curso

superior, mas tendo características e habilidades empreendedoras, ele aprendeu muito com a

vivência prática na empresa e se tornou o presidente, além de contribuir para o crescimento do

negócio familiar. Sobre sua experiência em assumir a direção da empresa, ele disse:

Mas então, como é que você procura um sucessor, como você faz um sucessor? Tem

um ditado que fala “onde não houver um sucessor, um líder, se faça de líder”. É o

que aconteceu. Eu tive que me fazer de líder, né? Tive uma vantagem muito grande,

que meu irmão mais velho me dava muito apoio, certo? Ele é quem eu precisava

realmente porque eu e ele fazíamos uma totalidade majoritária (Pai E).

Depois de resolvidos os problemas da sociedade, quando tudo parecia caminhar para

uma gestão mais tranquila, depois de 50 anos de união, o Irmão 1E faleceu e, por causa da sua

herança, entram como sócios da Transportar sua esposa e mais seis filhos, que representam a

terceira geração. O Pai E também teve seis filhos, sendo três mulheres e três homens. Hoje a

família está na quarta geração. Só da parte do Pai E são 11 netos.

97

Falando-se especificamente da linhagem do sucessor (Pai E), inicialmente nenhuma de

suas três filhas teve interesse ou foi incentivada a trabalhar na empresa familiar e atualmente

elas são sócias em um negócio no ramo de construção civil. Junto delas trabalha um neto. Um

dos filhos homens trabalhou um tempo com o pai, mas hoje já está aposentado.

De todos os herdeiros da terceira geração, trabalham na empresa um filho do Irmão 1E

(Sobrinho 1E) e dois filhos do Pai E (Filho 1E e Filho 2E). Da quarta geração há um neto

(Neto 1E), primogênito da filha mais velha do Pai E. O sobrinho é o único representante da

família do irmão falecido na empresa e atua na área de suprimento e manutenção juntamente

com o Filho 2E (46 anos). O Filho 1E (48 anos) é o diretor geral, responsável pela área

administrativa financeira e operacional e conta com o Neto 1E (27 anos) como seu principal

assessor. Este está em todos os setores, auxiliando na administração da empresa e exercendo a

função de gerente geral.

A Figura 6 mostra um esquema que pretende representar os quatro níveis de gerações

e o papel que cada um exerce na empresa da família atualmente:

Figura 6 - Genetograma Transportar

Fundador 1E Fundador 3E Fundador 2E

Pai E (Consultor)

Irmão 2E Irmão 1E Outros

5 irmãos Esposa Esposa

Filha 1 Filho 1E

(Diretor Geral)

Outros

5 Filhos

Sobrinho 1E (Manutenção)

Filho 2E (Manutenção)

Outros 3

filhos

Neto 1E (Gerente Geral)

98

Legenda:

Pessoas que foram sócios e/ou já trabalharam na empresa, mas saíram.

Pessoas já falecidas que eram sócias e/ou trabalhavam na empresa.

É sócio e também trabalha na empresa

Apenas sócio, não trabalha na empresa.

Não sócio, apenas trabalha na empresa.

Não sócio e não trabalha na empresa.

Fonte: Dados da pesquisa.

Para lidar com o expressivo número de herdeiros, sócios e gerações que convivem na

mesma família, o Pai E precisou ter pulso firme na administração e tomar medidas para

estabelecer alguns critérios a fim de nortear a entrada dos familiares na empresa, além de

tentar proteger o patrimônio e oferecer mais possibilidades de longevidade ao seu negócio.

Como disse o Filho 1E, “são muitas pessoas e a empresa não teria capacidade de absorver

todos”. Entre as medidas tomadas, estão: definição da quantidade de membros de cada família

que pode, por vez, trabalhar na empresa; estabelecimento de critérios para a entrada dos

herdeiros no quadro de empregados da empresa; abertura de empresas holdings controladoras

do patrimônio e das ações das empresas da família; e a doação prevista em testamento de uma

porcentagem a mais das ações da empresa para o sucessor.

Sendo assim, estabeleceu-se que cada família só poderia colocar um filho para

trabalhar na empresa. Entre os critérios de acesso à empresa, estão: curso superior concluído

ou em andamento, conhecimentos na área de informática e domínio de uma língua

estrangeira, prioritariamente o inglês. Desta forma, evita-se que a empresa seja um “cabide de

empregos” (Pai E). Preza-se pela meritocracia e evitam-se o paternalismo e o nepotismo. Tais

acordos não foram registrados em documentos que possam comprovar sua validade, mas foi

um combinado verbal.

Primeiro, cada filho só pode colocar um filho aqui. Então, por exemplo, a minha

filha mais velha tem dois filhos, já sabe que só um pode ficar aqui. Isso não está

previsto em contrato, é verbal. Pros meninos que estão, por exemplo, pensando “ah,

não, não precisa estudar não que amanhã vou lá pra empresa”, então não pensam que

vai ser fácil não (Pai E).

Não viriam todos. Um de cada família a princípio. Mas se você for colocar um de

cada família vem seis pra cá. Então tem que no mínimo estar cursando ou ter um

99

curso superior, tem que falar no mínimo um idioma, a informática [...]. Isso não está

registrado, mas é um acordo verbal que a gente tem. Porque tem que fazer outras

coisas também, tem que ver quem tem vocação pra estar aqui (Filho 1E).

Logo, fica evidente que não basta ser da família para conseguir uma vaga para

trabalhar na empresa. Para os atuais gestores, o membro que vier a trabalhar com eles precisa

ser qualificado.

Outra medida adotada pelo Pai E foi a contratação de profissionais externos para

reorganizar o patrimônio da empresa a fim de sanar alguns problemas relativos à herança e à

sociedade. A primeira ação foi a abertura de holdings6 para administrar o investimento dos

acionistas. O Pai E abriu duas holdings das quais somente ele e a esposa são sócios. Uma é a

holding imobiliária, que detém os seus imóveis pessoais, os imóveis que a Transportar utiliza

em suas operações e faz transações de aluguel. A outra holding é dona da construtora e da

Transportar. A sociedade da construtora é formada pelas três filhas do Pai E juntamente com

o Filho 1E. As cotas da Transportar, por sua vez, estão divididas conforme o Quadro 8:

Quadro 8 - Divisão acionária da Transportar

Porcentagem Sócio

55% Holding do Pai E e de sua esposa

30% Filhos herdeiros do Irmão 1E que faleceu

7% Esposa herdeira do Irmão 1E que faleceu

8% Irmão 2E

Total: 100%

Fonte: Dados da pesquisa.

6 Segundo Lodi e Lodi (2004), holding é uma empresa que controla outras, cujos produtos são os investimentos

que podem ser uma fábrica, prestadora de serviços, atividades rurais, grupos empresariais, etc. É uma ferramenta

administrativa que possibilita ao empresário ter mais proteção e solidez do seu patrimônio. O interesse é o

sucesso das suas empresas controladas e não o produto em si que elas oferecem. A propriedade de bens em nome

de uma pessoa física oferece uma série de riscos e custos elevados quando comparados à sua incorporação a uma

pessoa jurídica. Utiliza-se a expressão holding patrimonial para qualificar uma empresa que controla o

patrimônio de uma ou mais pessoas físicas, ou seja, em vez das pessoas físicas possuírem bens em seus próprios

nomes, possuem por meio de uma pessoa jurídica – a controladora patrimonial, que geralmente se constitui na

forma de uma sociedade limitada. Entre as principais vantagens pela realização dessa operação, está a redução da

carga tributária incidente sobre os rendimentos da pessoa física (IRPF), a possibilidade de realização de

planejamento sucessório (herança), a preservação do patrimônio pessoal perante credores de uma pessoa jurídica

(empresa) da qual a pessoa física participe como sócio ou acionista e a facilidade na outorga de garantias (avais,

fiança) e na emissão de títulos de crédito (notas promissórias) por meio da pessoa jurídica em função de sua

grande credibilidade junto ao mercado.

100

Como o Pai E enfrentou dificuldades quando assumiu a empresa no lugar do seu pai

em virtude da divisão da herança, ele está preocupado com as próximas gerações. Assim, vem

estabelecendo medidas com o objetivo de evitar possíveis conflitos futuros entre os herdeiros

da Transportar. Uma vez que o Filho 1E é o seu sucessor, está na empresa há muitos anos e

tem se dedicado muito ao negócio, o pai decidiu que deveria passar para ele uma parte maior

da empresa na divisão da herança, a fim de que ele tenha significativa porcentagem das cotas

para continuar sendo o principal tomador de decisões na Transportar:

Eu procurei fazer alguma coisa para dar maior autoridade a ele (Filho 1E). E não só

pra isso. Ele abraçou a empresa, começou a trabalhar desde cedo lá e trabalha 24

horas por dia. Eu pensei o seguinte, se eu faltar, minha parte vai ser dividida para os

seis. Eu tenho um que já aposentou, não quer fazer nada e vai receber a mesma

parte. Dos seis, o que trabalha mesmo, assim, com garra, é o Filho 1E (Pai E).

O Pai E conversou com sua esposa e depois reuniu todos os filhos. Apresentou a eles

as suas preocupações e argumentou que não seria justo que o Filho 1E recebesse a mesma

parte que os outros na empresa. A maioria concordou e ele fez um testamento doando 10% da

sua parte e da esposa para o seu sucessor, de forma que somente os outros 90% serão

divididos na herança e o filho ficará com a maior porcentagem. Apenas um filho discordou,

pensando que teria prejuízo, conforme a fala do Pai E:

Chamei minha mulher e falei com ela: “Olha, na nossa falta não é justo que o Filho

1E receba o mesmo que os outros. Eu quero dar a ele 10%, sem prejuízo da

herança”. Ela falou: “não, eu acho que é muito justo também, eu quero dar também”.

E não fiz surpresa pros meus filhos não, eu informei pra todos que eu estava fazendo

aquilo porque eu não quero quando eu partir que tenha surpresas não. Alguns

abriram o coração e falaram: “o senhor está certo, ele merece”, outros falaram:

“acho que é pouco, o senhor devia dar mais”. Só um virou e falou assim: “olha, eu

vou ter prejuízo, né”? Então, falei: “então me fala o valor do prejuízo que eu vou te

pagar, estou dando o que é meu”. Fui ao cartório, fiz um testamento, nós assinamos

(Pai E).

Meu pai há uns quatro, cinco anos, me deu um presente. Ele me deu 10% a mais do

patrimônio dele. Ele fez um testamento e comunicou todos os irmãos. Segundo ele

foi um presente por merecimento (Filho 1E).

Percebe-se que várias ações dos gestores da Transportar acontecem rumo à

profissionalização da gestão. Naturalmente eles perceberam essa necessidade ao se depararam

com problemas relacionados à chegada de mais pessoas na família e o consequente aumento

do número de gerações. Segundo o Pai E, a empresa pretende, em um futuro próximo, criar

um Conselho Administrativo para melhor organizar os papéis de cada membro da família e

estruturar ainda mais a gestão do negócio.

101

Em relação à gestão, a Transportar já encerrou seu segundo processo de sucessão,

visto que o comando hoje está sob responsabilidade da terceira geração. O Pai E continua na

empresa e ainda é o proprietário principal, pois detém sozinho a maior porcentagem das cotas.

Com 74 anos de idade ele atua como um consultor na organização, mas, no dia-a-dia, quem

toma todas as decisões é o Filho 1E:

O processo de sucessão já encerrou. Acredito que ficou definido, né, porque a idade

média nossa está em torno de 45, 50 anos. Com certeza já aí há uns 15 anos, 20 anos

eu fui assumindo e tudo. Então isso ficou bem claro. Eu sou administrador, não

sócio. Estou no contrato social como administrador não sócio (Filho 1E).

Há algum tempo o Pai E vem se organizando e, consequentemente, preparando seu

filho para assumir a administração da Transportar. Aos poucos ele deu autonomia, afastou-se

das atividades diárias e hoje vê o quanto o filho está pronto para liderar o negócio. Segundo

ele (Pai E), não foi muito difícil essa passagem. Primeiro, porque ele se percebe como alguém

que tem a visão de que o melhor é delegar e preparar um sucessor, visto que a empresa tem

que continuar e que ninguém é insubstituível. O segundo motivo diz respeito à demonstração

de maturidade do Filho 1E, que procurou aprender o máximo que pôde na convivência com o

pai e que se mostra ao mesmo tempo firme em suas decisões e atento aos conselhos do seu

consultor:

Por exemplo, chega o Filho 1E e fala: “Papai, eu estou querendo fazer essa coisa

assim, assim, assim”. Eu falo: “Olha, eu não faria assim não. Mas pode fazer que eu

dou apoio”. Certo? Porque as vezes eu estou desatualizado. Você vai ficando velho,

vai achando que é bobagem. Então eu dou todo o apoio. Dou autonomia, pode fazer.

Eu não seguro o crescimento da empresa, senão fica aquele velho [...]. Eu conheci

uma pessoa, morreu com 103 anos. E eu comecei a analisar que ele deu muito

prejuízo de ter vivido muito tempo, sabe por quê? Porque ele tinha um negócio aqui,

mas ele não deixava os filhos mandarem, não dava autonomia. Um sujeito bom,

direito, mas que depois que morreu os filhos venderam tudo (Pai E).

O Pai E não pretende se afastar totalmente do negócio. Ele deseja continuar como um

apoio para o filho, mas sem se comprometer com horários e rotinas e sem desautorizar o seu

sucessor nas decisões que ele toma. Para isso, além de dar autonomia na prática, o antecessor

passou procuração para o filho não depender dele nem para assinar papéis. Por outro lado, o

Filho 1E também concorda que o pai não deveria se ausentar por completo, visto que sua

experiência e seus conselhos são de grande valia para ele na administração da empresa. Além

disso, o filho sabe que o pai dedicou muitos anos ao negócio da família e isso é a vida dele e,

portanto, ele não conseguiria se afastar totalmente. Prova disso é que uma nova sede

administrativa da Transportar está sendo construída e o Filho 1E fez questão de fazer uma sala

102

para seu pai onde ele poderá ficar para auxiliar no atendimento ao público e no que mais for

solicitado.

Eu quero não ter a obrigação de [...]. Eu já estou chegando a esse ponto, o meu filho

tem procuração pra assinar pra mim. Se eu não vier, a empresa não para. Enquanto

Deus me der força de eu vir aqui, assinar uns documentos, porque administrar aqui

eu não estou administrando não, hoje eu passei a ser mais um conselheiro. Eles me

pedem opinião e tal, tudo o que vai fazer. Então eu acho o seguinte, não deixa eu

morrer pra eles mandarem não, eles têm que mandar agora. Porque eu estou aqui pra

corrigir os erros, ajudar (Pai E).

Nós não queremos que ele deixe nunca. Sabe por quê? É a vida dele. Papai está com

74 anos, então nós estamos cobrando que ele fique mais. Estamos com um prédio de

administração já fazendo uma sala pra ele. Ele nunca foi centralizador, mas também

não deixamos de fazer nada sem consultar, principalmente em relação a

investimento (Filho 1E).

O sucessor é o quarto filho do Pai E e o primeiro entre os homens. Apesar de ter mais

um irmão trabalhando na Transportar, foi ele quem se destacou para assumir a empresa

familiar: “Nesse processo todo de sucessão, eu tenho seis filhos, o meu irmão também seis,

mas o único que liderou pra assumir a empresa foi o Filho 1A, meu filho. Ele manifestou

interesse, abraçou. Se não fosse ele, não tinha empresa” (Pai E).

Com 15 anos de idade, o Filho 1E começou a trabalhar. Na época, a ideia foi do seu

pai, que desejava iniciá-lo na vida profissional. O primeiro emprego aconteceu fora da

empresa familiar, uma vez que a Transportar estava enfrentando os conflitos em virtude da

dissolução da sociedade e o pai achou por bem não levar o filho para a empresa no primeiro

momento. Pensando em ter uma experiência como funcionário em uma organização externa, o

Filho 1E iniciou a carreira em uma concessionária, que o admitiu a pedido do Pai E. Este

chegou a fazer uma proposta à empresa de que pagaria o salário do filho, porque seu objetivo

era ensinar, fazer com que o filho tivesse responsabilidades com horário, patrão e serviço. O

dono da concessionária não aceitou a ajuda do Pai E, dizendo que ele foi um ótimo

funcionário Depois de três anos o Filho 1E saiu.

Segundo o Filho 1E, essa foi uma boa experiência, em que ele pôde aprender e

também levar novas ideias para a empresa da família. Ao sair da concessionária, ainda jovem,

com 18 anos, ele foi trabalhar com o pai. Pensando em uma forma de fazer o filho conhecer

de perto o negócio, o Pai E fez com que ele passasse por praticamente todos os departamentos

da empresa. Depois de aprender bastante o trabalho de um setor, ele era transferido para

outro. Esse procedimento acabou gerando comentários dos empregados na empresa que, sem

saber que as mudanças de uma área para outra eram feitas intencionalmente, diziam que o

103

filho não tinha capacidade, pois não parava em lugar algum, estava sempre trocando. Porém,

intuitivamente, o Pai E sabia que, permitindo que o filho assim o fizesse, teria conhecimento

profundo e, ao mesmo tempo, generalizado do negócio:

Quando ele voltou pra trabalhar aqui eu falei com ele: “Filho 1E, você vai fazer uma

coisa, quero pisar em ovos sabe? Você vai trabalhar em um departamento, quando

você aprender tudo você fala comigo que eu passo você para outro”. Aí ele foi pra

contabilidade, quando ele teve conhecimento do processo contábil eu passei ele pra

parte de contas a pagar, depois foi pro departamento de pessoal, pra compras, foi pra

manutenção. Então ele foi conhecendo tudo (Pai E).

Com isso ele começou em cargos mais baixos, passou por todas as áreas e foi se

capacitando para crescer na organização. Segundo o próprio Filho 1E, ele ficou tão motivado

a trabalhar na empresa da família, que nunca mais quis sair de lá. Para o Pai E, o sucessor é

um ótimo gestor, respeitado por todos os funcionários e tem feito a empresa crescer:

Trabalhei dos 15 aos 18 anos na outra empresa. Nisso, eu acho que também foi

muito positivo pra mim, né, na área de escritório e tudo. Aí cheguei e tomei gosto,

fui ficando, ficando e fazendo parte de tudo. Como o negócio era do meu pai, acho

que é até mais atrativo, tem uma motivação, né? (Filho 1E).

No presente momento, a Transportar está no princípio do processo de sucessão da

terceira para a quarta geração. O Filho 1E percebe que já é o momento de se pensar na

passagem do bastão. Dos 11 netos do Pai E, o mais velho é quem está na empresa e tem sido

preparado com o objetivo ser o futuro sucessor na direção da empresa:

E ele (Filho 1E) já está preparando um sucessor, que ele pensa que será o Neto 1E.

(Pai E).

Nós já estamos na hora de começar a fazer a próxima sucessão. Meus filhos são

muito novos ainda, não têm uma definição de tudo. Uma está com 17 anos e o outro

com 15. O Neto 1E que já veio, entendeu? Minha irmã mais velha casou primeiro e

a distância entre os netos ficou um pouco longa. Sem sombra de dúvida ele é o

principal candidato a sucessor. Só depende dele (Filho 1E).

O Filho 1E tem dois filhos, mas ambos são muito jovens e ainda não manifestaram

interesse em trabalhar na organização familiar. Mesmo não sendo herdeiro direto do

antecessor que está no comando, o Neto 1E foi bem recebido por ele e tem todo o apoio

necessário. Segundo o Filho 1E, o sobrinho tem qualificação e capacidade para liderar a

empresa futuramente. Além disso, ele já percebe a necessidade de começar a preparar aquele

que poderá substituí-lo na direção da empresa futuramente:

104

Você tem que ser desprendido. Você tem que saber que está aqui, tem uma missão e

um dia você vai. Um dia pode ser amanhã, pode ser daqui a 100 anos, se Deus

quiser, então [...]. Mas você não sabe, olha a fatalidade, se eu não preparo e fico com

ciúme querendo esperar meu filho chegar e não sei nem se ele vai querer. Se você

não passar as coisas, primeiro que você não consegue administrar sozinho, segundo

que você precisa de bons e excepcionais líderes e precisa da família também pra dar

sequência. Então, eu passo tudo para o Neto 1E, como se fosse meu filho, com o

maior prazer (Filho 1E).

Como dito no início, o neto atua com um assessor direto do antecessor na empresa.

Nas próprias palavras do tio, ele é um “faz-tudo”. Dá suporte no setor de Recursos Humanos,

ajuda na administração financeira, operacional, na manutenção, enfim, ajuda em tudo que for

preciso. Além de ter começado a trabalhar na empresa da família bem cedo e de acompanhar

o Filho 1E no dia-a-dia, aprendendo com ele e adquirindo experiência, o Neto 1E é formado

em Direito e procura usar seus conhecimentos na empresa.

5 ANÁLISE CONJUNTA DOS CASOS

Depois de descritos todos os cinco casos estudados, aqui será feita a análise

comparativa entre os mesmos, relacionando as realidades encontradas às categorias

previamente definidas e à literatura estudada sobre cada tópico.

5.1.1 Sucessão

O primeiro objetivo específico proposto para investigação neste trabalho foi analisar

os fatores desencadeadores do processo sucessório. Para isso, a categoria de análise foi a

sucessão, em que se procurou averiguar se nas empresas estudadas o processo aconteceu em

virtude de um planejamento formal feito previamente, se foi natural e intuitivamente marcado

pela entrada dos filhos para trabalhar na empresa ou, ainda, em razão de algum acontecimento

inesperado, como morte ou doença do antecessor que forçou o sucessor a assumir seu lugar.

Em nenhum dos casos pesquisados encontrou-se uma sucessão feita de forma

formalmente planejada. Os processos que estão em andamento no momento desencadearam-

se em virtude dos acontecimentos naturais que envolveram o cotidiano da família e a entrada

dos filhos para trabalhar na organização. Todos estão na organização por vontade própria, por

consequência de uma educação em que os pais intuitivamente os inseriram bem cedo no

cenário da empresa familiar, sendo, assim, influenciados por ela, mas sem terem sido

105

preparados propositadamente para serem futuros sucessores. Com o passar do tempo, eles

estão crescendo em suas funções e assumindo posições de destaque na gestão.

Nos casos em que as empresas já passaram por processos de sucessão anteriores e que,

portanto, estão na terceira ou na quarta geração (Medicar, Adoçar e Transportar), os

sucessores assumiram por consequência da morte de seus antecessores ou em virtude da sua

idade já avançada.

Para melhor entendimento dos resultados da análise da primeira categoria investigada,

“a sucessão”, apresenta-se no Quadro 9 uma síntese:

Quadro 9 - Síntese da categoria: sucessão

Categoria Subcategorias Síntese

Sucessão

Planejamento Não houve planejamento formal do processo sucessório em

nenhuma empresa

Entrada dos filhos para

trabalhar na empresa

Está ocorrendo nos processos de sucessão atuais em todos

os casos

Motivos inesperados

(morte, doença ou outro)

Ocorreu nas empresas Medicar, Adoçar e Transportar na

passagem da prmeira para a segunda geração

Fonte: Elaborado pela autora, com dados da pesquisa.

5.1.2 O antecessor

Depois de saber os fatores que desencadearam o processo sucessório nas empresas

pesquisadas, pretendeu-se analisar como foram as sucessões passadas e como estão

acontecendo os processos no presente momento. O primeiro ponto neste subitem foi

investigar a atitude do antecessor frente ao processo, tendo em vista que a figura desse

personagem pode ter grande influência na sucessão, sendo uma variável crítica que chega a

determinar o sucesso ou insucesso da passagem (Le Breton-Miller et al., 2004; Scheffer,

1995). Segundo afirma Ward (1987), o antecessor é a figura mais importante no caminho para

o êxito da sucessão.

Seguindo tal perspectiva, Cadieux (2007) ressaltou alguns papéis assumidos pelo

antecessor no processo que podem contribuir para o seu bom desempenho e,

consequentemente, propiciar uma sucessão mais tranquila e com mais chances de dar certo.

Identificaram-se seis papéis principais sendo exercidos pelos antecessores nos casos

estudados. Na empresa Alimentar, o Pai A é um colaborador. Cadieux (2007) refere que é um

papel que surge ao longo do tempo depois que o sucessor já alcançou um nível mais elevado

106

de confiança e desenvolveu suas habilidades. O relacionamento na empresa entre pai e filho é

como o de dois sócios. O relato do Filho 1A conta que o pai o ouve, dá autonomia para ele

tomar decisões e compartilha praticamente todas as deliberações da empresa:

Ah, eu enxergo mais é [...] já foi mais de professor. Hoje em dia é como te falei

mesmo, de parceiro mesmo, de sócio, discute as ideias, tem coisa que eu não

concordo e ele concorda e pronto, tem coisa que ele não concorda e eu concordo e

pronto. E [...] é mais por esse lado mesmo (Filho 1A).

Nas empresas Educar e Medicar percebe-se que os antecessores desempenham o papel

de supervisor, em que eles são superiores imediatos que atribuem tarefas aos sucessores, dão

instruções, supervisionam o trabalho, cobram e corrigem quando necessário. Assim, os

sucessores são apresentados à empresa e preparados para assumir a gestão. Na Educar, além

de supervisor, é notável, especialmente na Mãe B, que ela também exerce os papéis de

professora e protetora, pois procura transmitir seus conhecimentos à Filha 1B, gastando tempo

para lhe ensinar, discutir ideias e passar um pouco da sua vasta experiência. Ao mesmo

tempo, ela permite que a filha tome suas próprias decisões, a fim de que aprenda a lidar com

as consequências dos seus atos e sinta como é ter responsabilidade em um cargo de gestão.

Essa realidade é percebida na fala da Filha 1B:

Isso na verdade ela sempre fez, a vida toda, passar o que ela sabe da experiência

dela. Isso aí ela faz até com todo mundo e com a gente que é família mais ainda.

Sempre foi assim, mas aí ela intensificou agora, né, de um tempo pra cá que ela está

com plano na cabeça de começar a sair. Inclusive em menos de dois anos pra cá ela

já acelerou muito mais. Já delega bastante coisa e, inclusive, de falar: “se vira que se

der errado aí depois a gente conversa” (risos) (Filha 1B).

Nos casos das empresas Adoçar e Transportar, como os processos estão em fase mais

avançada e os antecessores já finalizaram a passagem do bastão, hoje eles exercem o papel de

consultores. Isso porque eles ainda estão na empresa, são ouvidos pelos filhos, mas não estão

mais na direção, à frente do comando efetivo do negócio. Nesses casos, a gestão está sob o

domínio dos sucessores, que contam com seus pais como suporte, como conselheiros na

organização, assim como disse o Pai E da Transportar:

Eu acho que já aconteceu. Já passei pro Filho 1E. Eu considero ele hoje um

sucessor. É ele quem decide tudo. Os outros não têm poderes pra mexer. Ele é o

diretor-geral. Ele passa a ter poder até mais do que eu. Ele é um bom filho, ele sabe

me ouvir, então ele tem, como se diz, carta branca.

107

Um segundo aspecto investigado a respeito dos antecessores foi seu relacionamento

com os herdeiros que potencialmente ocuparão seus lugares na gestão. Como foi visto

anteriormente na revisão da literatura, a relação entre essas duas importantes figuras do

processo de sucessão pode ser decisiva em empresas familiares (Ward, 1987). De modo geral,

o relacionamento entre antecessores e herdeiros em todas as empresas estudadas é bom, ou

seja, predispõe transferência de conhecimento, respeito mútuo, apoio, reconhecimento,

confiança, aspectos esses que deixam a empresa menos vulnerável aos conflitos pessoais, que

podem ser prejudiciais ao andamento do negócio (Le Breton-Miller et al., 2004). A qualidade

do relacionamento entre sucessores e antecessores vem a ser decisiva para o sucesso do

processo sucessório, tendo em vista que a boa relação envolve comunicação, ensino e

aprendizagem, fatores essenciais ao crescimento e desenvolvimento dos novos gestores

(Lansberg, 1988).

Porém, cabe aqui ressaltar alguns pontos negativos presentes no relacionamento entre

antecessor e sucessor na empresa Alimentar. Na relação familiar existem desentendimentos

entre pai e filho, entre irmãos, marido e mulher, mas nada que crie um clima ruim entre eles,

principalmente dentro de casa. No ambiente de trabalho, o que se percebe é um conflito de

idéias, que pode estar relacionado às diferentes gerações que estão convivendo na empresa,

conforme se observou principalmente na fala da Mãe A:

Porque na minha imagem, na minha cabeça, eu ficaria só aqui, né, Belo Horizonte.

Esse meu filho mesmo, o terceiro, a ideia dele é montar franquia. Então aquilo ali,

pra ele que não está com a cabeça, né, fica achando que a gente é grande, que é

maravilhoso [...].

Os pais fundadores estão satisfeitos com sua empresa e não pretendem expandir o

negócio, preferindo manter uma gestão mais tradicional e conservando um serviço

personalizado com foco no cliente. Já os filhos têm ampla visão e mais ambição. Eles

percebem que o negócio poderia crescer e entre as mudanças necessárias para que isso ocorra

estão a redução e padronização do mix de produtos, o que possibilitaria, entre outros, a

abertura de franquias e o consequente aumento nos lucros. Mais à frente esse assunto será

abordado novamente, quando serão discutidas de forma mais específica as dificuldades

enfrentadas no processo sucessório.

A terceira subcategoria analisada sobre o antecessor foi a sua previsão de

desligamento da empresa. Lodi (1998) acredita que um requisito fundamental para se obter

êxito no processo sucessório é o antecessor ter atenção quanto ao momento da sua saída. Para

108

isso, é necessário que ele planeje a aposentadoria e seu futuro fora da rotina da gestão do

negócio familiar.

Entre as cinco empresas estudadas, em duas (Transportar e Educar) os antecessores

conseguiram ou estão fazendo a transição espontaneamente. Como visto na descrição do caso,

na Transportar o Pai E se preparou e também preparou seu filho para assumir a gestão. Ao

perceber que o Filho 1E já tinha condições de administrar tudo sozinho, o pai não só deixou

em seu comando as decisões do dia-a-dia, como também deu a ele procuração para assinar

como o responsável pela organização. Isso, porém, não aconteceu de uma hora para outra. O

Pai E se afastou aos poucos, foi dando autonomia e tinha consciência de que precisava

preparar seu sucessor e que em um dado momento ele poderia desacelerar seu ritmo de

trabalho para que o filho assumisse. O Filho 1E é o atual gestor e ainda não tem perspectiva

de quando irá sair da empresa. Ele ainda é jovem e seu sucessor começou a ser preparado há

pouco tempo.

A Educar está passando por seu primeiro processo de sucessão, mas, como os

fundadores têm mais idade e estão no mercado de trabalho há bastante tempo, eles expressam

claramente o desejo de deixar a liderança do negócio em curto ou médio prazo. Não só existe

o desejo de deixar nas mãos dos filhos para que a Mãe B e o marido tenham mais tempo livre

para fazer o que quiserem, mas atitudes já foram tomadas visando este objetivo. Nos últimos

anos a mãe diminuiu um pouco o ritmo de trabalho, delegou certas responsabilidades para a

Filha 1B e percebe que a empresa funciona normalmente nos momentos em que ela se

ausenta. Mesmo não acontecendo hoje, o importante é que os fundadores dessa empresa estão

no caminho de finalizar a transição brevemente.

No caso da Alimentar, o Pai A e especialmente a Mãe A se mostraram hesitantes em

relação à finalização do processo de sucessão. Eles ainda não se sentem totalmente seguros

para deixar a administração do seu negócio. Mesmo o Pai A, que afirmou já ter encontrado

seu sucessor no Filho 1A, não acha que o herdeiro está completamente preparado para

assumir a empresa sozinho. Dois motivos para isso seriam a idade dos antecessores - que

estão na faixa dos 50 anos e, portanto, em plena atividade - como também a questão do

conflito de ideias entre fundadores e herdeiros, que pode deixar os primeiros com receio de

que os filhos façam mudanças no negócio que sejam prejudiciais a longo prazo. Por isso, os

fundadores afirmam que o seu afastamento não ocorrerá em curto ou médio prazo.

Analisando os depoimentos do Pai A na descrição do caso, percebe-se que ele ainda

faz mais planos para a sua aposentadoria e parece se sentir um pouco mais confortável com a

sucessão do que a Mãe A. Segundo ele, no fundo já existe o pensamento de se aposentar e

109

passar o negócio para o nome dos filhos, com exceção dos imóveis onde estão as instalações

da empresa, que seriam sua fonte de renda por meio dos aluguéis, mas isso daqui a no mínimo

10 anos.

O Pai C na empresa Medicar e o Pai D na Adoçar demonstraram grande dificuldade

em planejar sua saída. No primeiro caso isso ainda não aconteceu, o Pai C continua como

principal gestor e tomador de decisões na empresa. No caso da Adoçar, o Pai D só efetivou a

finalização do processo de sucessão quando recebeu instruções de um consultor externo para

fazê-lo - e isso quando já estava em idade avançada. A despeito da quarta geração já estar

inserida na organização e de o Neto 2D estar se capacitando e se preparando para suceder seu

pai na parte de fabricação dos produtos, os Filho 1D e Filho 2D, que são os atuais gestores da

Adoçar, ainda não pensam sobre sua aposentadoria. Na realidade, antes da morte do irmão

mais novo (Filho 3D), o Filho 1D estava planejando diminuir sua carga de trabalho, mas não

efetivar a finalização do processo de sucessão. Segundo relataram os membros da família, os

gestores da terceira geração têm perspectiva de continuar por pelo menos mais 20 anos.

Assim, apresenta-se no Quadro 10 um resumo da análise dos dados relativos à segunda

categoria averiguada, “o antecessor”:

Quadro 10 - Síntese da categoria: o antecessor

Categoria Subcategorias Síntese

O antecessor

Seu papel no processo

Alimentar: colaborador

Educar: supervisor, professor e protetor.

Medicar: supervisor

Adoçar e Transportar: consultor

A relação com o sucessor

Boa relaçãos entre antecessor e sucessor em todas as cinco

empresas, com ressalva para a Alimentar, que vivencia um

conflito de gerações, e para a Medicar e Adoçar, onde os

antecessores são mais centralizadores e não permitem que os

filhos desenvolvam sua autonomia.

Previsão de desligamento

da empresa

Alimentar e Medicar: antecessores não têm perspectiva de

deixar o negócio.

Educar: os fundadores têm o desejo de se aposentar no futuro

próximo.

Adoçar: o Pai D na sucessão anterior teve dificuldades para

planejar sua saída e só o fez depois de receber orientação

externa. Os atuais gestores ainda não têm planos de deixar o

negócio.

Transportar: na sucessão anterior o Pai E planejou sua saída

da gestão e fez a transição espontaneamente. O gestor atual

(Filho 1E) ainda não tem perspectiva de se desligar da

empresa.

Fonte: Elaborado pela autora, com dados da pesquisa.

110

5.1.3 O sucessor

Continuando a investigação sobre como está ocorrendo a sucessão, além do antecessor

procurou-se analisar algumas subcategorias relativas à outra figura essencial no processo: o

sucessor.

Primeiramente buscou-se averiguar se existiam nas empresas critérios definidos para a

escolha do sucessor. É esperado, em um processo de sucessão bem encaminhado e com mais

probabilidades de sucesso, que existam critérios preestabelecidos para a escolha e preparação

de um herdeiro que assumirá a empresa futuramente. Entre os autores que discutem o assunto,

Lodi (1987) é um dos que argumentam sobre três critérios básicos para a entrada de um

sucessor na organização familiar: a) ter se formado em algum curso de formação profissional;

b) ter bom desempenho escolar; c) ter realizado um bom trabalho em outra empresa por no

mínimo dois anos. Além desses requisitos básicos, o autor estabelece como fundamental que

os herdeiros com possibilidades de assumir o lugar do gestor devem começar sua atuação na

empresa da família em atividades operacionais mais básicas e de baixo escalão a fim de

adquirir conhecimento em todas as áreas da organização e ir galgando novos cargos ao longo

do tempo.

Para Tillmann e Grzybovski (2005), além da competência técnica, as habilidades

pessoais dos herdeiros também são fatores importantes para a escolha de um sucessor.

Segundo eles, são necessárias habilidades de liderança, visão empresarial e caráter que

valoriza a tradição familiar, que está diretamente ligada ao sucesso do negócio.

Adicionalmente, para Souza (2001), seria necessário avaliar se o candidato tem perfil

empreendedor. Na prática, porém, em virtude da falta de planejamento formal do

desenvolvimento sucessório, a maioria das empresas pesquisadas não tem estabelecido

formalmente os critérios para a escolha do futuro sucessor. Porém, mesmo que de forma

intuitiva, observou-se que os pais tem se utilizado de alguns critérios para seleção daquele que

o sucederá na gestão como: afinidade existente entre pai e filho, idade, a primogenitura,

tempo de trabalho na organização, ou a formação no ramo foram os pontos considerados

relevantes pelos antecessores no momento de indicar o filho que o sucederia.

Tal fato demonstra uma forte característica das pequenas e médias empresas

familiares. Nas grandes empresas, a sucessão é vista como parte da estratégia organizacional e

da gestão estratégica de pessoas. Como nessas organizações os passos já são estruturados e

formalizados, os programas de sucessão são formatados como políticas de RH integradas a

outras ações, como gestão de carreira, plano de remuneração e gestão por competências, e

111

alinhados ainda à estratégia da organização. Desta forma, fica mais fácil estabelecer critérios e

fazer uma seleção mais apurada nas grandes empresas, que contam, muitas vezes, com

assessoria externa especializada no assunto. Nas pequenas e médias, entretanto, esses

programas e políticas de RH são incipientes ou até mesmo inexistentes. Muitas delas não têm

delimitada nem mesmo sua estratégia organizacional. Sendo assim, a estruturação de um

processo sucessório fica muito mais comprometida nesse tipo negócio, ficando a cargo da

intuição e da casualidade (Coelho, Queiroz & Moreira, 2004; Grzybovski et al., 2008).

Aqui cabe fazer uma ressalva sobre a empresa Transportar. Até o presente momento,

não existiam critérios formalmente estabelecidos para seleção dos sucessores. Vendo que a

família está crescendo, o Pai E, juntamente com seu filho (Filho 1E), estabeleceram regras

para a entrada de parentes na empresa, bem como pré-requisitos de qualificação necessária

para conseguir uma vaga. Esse assunto também será abordado novamente mais adiante

quando será avaliada a questão da profissionalização na empresa.

Procurou-se avaliar neste trabalho quais requisitos previstos na literatura os sucessores

apresentam e que os fizeram ser, entre seus irmãos, eleitos pelos pais. Para isso, analisou-se as

habilidades, o desempenho e a experiência que os sucessores demonstram para liderar a

empresa, sua formação e/ou preparação profissional, se a entrada no negócio se deu

precocemente e a experiência externa.

Os casos da Alimentar e Educar são parecidos neste aspecto. Em ambas aconteceu de

mais de um filho estar trabalhando na organização, com exceção do filho mais novo do Pai A

e da Mãe A, que ainda não manifestou interesse. Nas duas situações também os filhos mais

velhos são os potenciais sucessores à gestão da empresa familiar. No caso da Alimentar, o

Filho 1A não tem formação superior, nunca trabalhou em outro lugar e procura adquirir

conhecimento na prática do trabalho diário, além de participar de feiras do ramo alimentício.

Quanto ao Filho 1A, a formação educacional poderia agregar mais conhecimento, mas

também não o impede de ser um sucessor em potencial, visto que ele pode adquirir

experiência com seu pai e na prática.

Já a Filha 1B, que trabalha em instituição de ensino, julga ser essencial no seu ramo ter

formação na área pedagógica para poder assumir um cargo de direção. De acordo com suas

próprias palavras: “Pra começar, professor, se você não tiver passado na sala de aula, eles têm

tendência a te respeitar menos como chefe” (Filho 1B). Como visto no estudo de caso, ela é

formada em dois cursos superiores (Matemática e Administração de Empresas) e

recentemente finalizou a pós-graduação em Gestão de Instituições de Ensino. Pretende iniciar

o mestrado. Ela trabalhou por alguns anos em outras escolas e em um banco, adquirindo

112

experiência externa à empresa familiar. Assim, quando foi trabalhar na organização, a Filha

1B já tinha conhecimento prévio das funções escolares e também pôde aprimorar suas

competências executando diversas funções na escola, até chegar à vice-diretoria. Além da

experiência, ela demonstra habilidades, conforme percebe a Mãe B, que a qualificam a

assumir o negócio futuramente, como: perfil de liderança, bom relacionamento interpessoal,

compromisso, dedicação e interesse pelo trabalho na Educar, tal como ela mesma relata:

Pelo interesse que eu tenho também pela escola, o comprometimento, a dedicação,

pra minha mãe conta muito mesmo, porque apesar de todos serem a mesma coisa,

terem comprometimento e interesse, o nível varia de alguns pra outros, né? E aí ela

até fala pra ter menos [...], puxa minha orelha, fala: “Você tem dois filhos pequenos.

Seu horário de sair é quatro horas. Vai descansar”. Isso aí é brincando, porque não

tem jeito, né? (Filha 1B).

Nas empresas Medicar e Transportar, dos sucessores escolhidos tanto nos processos de

sucessão anteriores quanto nos que estão ocorrendo no momento, apenas um filho parece se

destacar como principal sucessor. Na Medicar, entre os 12 filhos da segunda geração e entre

os cinco filhos da terceira, um em cada uma delas demonstrou total interesse pelo ramo do

negócio e se formou em Farmácia com o objetivo de assumir um cargo na empresa da família.

O Filho 1E, que assumiu a Transportar, não chegou a fazer curso superior, mas foi um

aprendiz empenhado, assumiu o trabalho na empresa com dedicação, liderança e dominou

rapidamente a gestão, conforme reporta o Pai E. Um ponto forte em sua preparação foi a

estratégia utilizada pelo pai de colocá-lo em vários setores da empresa a fim de que ele

aprendesse bastante sobre cada um para que, quando chegasse na administração geral, ele

tivesse amplo conhecimento do seu negócio.

A Adoçar teve três herdeiros que assumiram a sucessão da empresa, cada um em um

setor diferente. Um deles, o filho mais velho, não tem formação superior, mas também foi

aprendiz que seguiu o pai desde muito jovem e aprendeu com ele o ofício de fabricante de

doces. Seus irmãos mais novos formaram-se em Administração e em Engenharia Civil e

puderam usar seus conhecimentos específicos nos cargos que ocuparam na empresa.

Agregado a isso, todos eles procuram se especializar no ramo de doces, fazendo cursos

diversos que os auxiliam na melhora do produto, diversificação do mesmo e nos quais eles

buscam conhecer novas tecnologias para incrementar a produção.

A sucessão dos gestores de uma organização que pertence a uma família não é

delimitada por um momento específico ou por um fato. É um processo contínuo que começa a

se desenrolar muito antes de sua concretização caracterizada pela transferência efetiva do

113

poder para uma nova geração e a retirada total da geração anterior. Esse processo pode

iniciar-se quando os filhos ainda são pequenos, sendo demonstrado pela forma como os pais

proprietários os educam e de maneira muitas vezes não consciente os preparam para o

exercício profissional (Grzybovski et al. 2008; Lodi, 1987, 1998; Rossato Neto & Cavedon,

2004; Tillmann & Grzybovski, 2005). Em quase todos os casos, com exceção da Educar, que

à época da fundação da escola os sucessores já eram mais velhos, a sucessão realmente

iniciou ainda cedo. Autores como Lodi (1987) e Tillmann e Grzybovski (2005) argumentam

que o planejamento é algo muito importante, especialmente enquanto os herdeiros da primeira

geração ainda são jovens, pois, desta forma, eles podem se envolver e se comprometer ainda

cedo com a empresa e definir melhor seus objetivos e carreiras profissionais, tendo assim

mais chance de adminitrá-la bem. A sucessão pensada e planejada antecipadamente pode

trazer grandes benefícios para o negócio, além de ampliar as chances de sucesso das empresas

familiares.

Assim, percebeu-se em todas as empresas que esse foi um aspecto positivo nos

processos sucessórios. Os futuros herdeiros foram inseridos no contexto da empresa familiar

desde a tenra idade e acabaram sendo preparados para um dia assumirem o lugar dos pais.

Mesmo que isso não tenha acontecido propositadamente, fez parte da educação dada a eles

desde a infância. Eles começaram ajudando os pais em momentos de necessidade, realizando

tarefas compatíveis com a idade e com o nível de capacidade de cada um. Cada filho passou

por vários setores da empresa, iniciando nas atividades mais operacionais. Eles exerceram

diferentes funções, cumprindo desde afazeres simples da rotina da empresa até chegarem hoje

ao nível mais alto na gestão.

Esses ensinamentos também faziam parte de uma vontade natural dos pais de terem

seus herdeiros junto a eles para darem continuidade ao trabalho que começaram, mas não que

isso tenha imprimido caráter mais formal e planejado. A história da empresa e da sucessão

familiar foi sendo delineada a partir da realidade vivenciada e da própria história da família.

Uns queriam ajuda na fabricação dos doces, outros precisavam levar os filhos para o trabalho,

pois não tinham com quem deixá-los, outros ainda somente para dar uma ocupação e ensinar

os filhos a terem responsabilidade. O importante é que a entrada precoce dos herdeiros nas

empresas da família fez com que eles crescessem naquele ambiente, sendo inconscientemente

influenciados por ele até chegarem ao ponto de não mais desejarem sair de lá. Isso ficou

evidente em todos os atuais sucessores e também nos candidatos em potencial a futuros

sucessores das empresas estudadas.

114

Até mesmo na Educar, onde os filhos não eram tão jovens, isso foi observado. O fato

de terem acompanhado todos os passos de fundação e crescimento da escola foi suficiente

para despertar neles o interesse e a paixão pelo negócio familiar.

Em relação ao sucessor, viu-se também que autores como Handler (1992), Scheffer

(1995), Sharma et al. (2001) e Le Breton-Miller et al. (2004) opinam sobre a importância de

os herdeiros estarem comprometidos e totalmente envolvidos com o processo por disposição e

vontade própria. Segundo esses autores, uma sucessão exitosa está também relacionada à

motivação do sucessor para assumir a empresa, tendo seus objetivos pessoais ligados ao

futuro na organização. Em todas as empresas pesquisadas essa motivação é visível,

principalmente nos herdeiros que são os principais candidatos à sucessão. Eles não

demonstram qualquer vontade de trabalhar em outro lugar que não seja a empresa da família e

se dizem felizes nas funções que exercem. Isso pode ser claramente observado na fala de um

herdeiro:

É, igual você perguntou aquela hora: “Você pensou em trabalhar em outro lugar?”.

Nunca! Por que nunca? Porque eu me sinto feliz. Porque, é [...] é o que eu formei, é

o que estudo, o que eu pratico. Apaixonei pela área de educação também, tanto que

minha pós eu fiz em projetos educacionais na área de educação. Nem vejo hoje, né,

não percebo alguém que queira sair. Acho que todo mundo é bem realizado aqui,

não só pelo fato de ser filho não, mas porque cada um está trabalhando em sua área

(Filho 4B).

Em relação ao relacionamento entre os herdeiros e entre estes e os funcionários, não se

observou, nos processos de sucessão atuais, problemas de relacionamento. Os filhos

demonstram se dar bem entre si e os funcionários parecem aceitar bem a presença dos

sucessores nas empresas, de acordo com a percepção de pais e filhos.

O resumo da categoria “o sucessor” é apresentado no Quadro 11:

Quadro 11 - Síntese da categoria: o sucessor

(continua)

Categoria Subcategorias Síntese

O sucessor

Critérios para a escolha do

sucessor

Não foram encontrados critérios predefinidos formalmente

para a escolha dos sucessores nas empresas, porém,

intuitivamente os antecessores se utilizaram sim de critérios

como idade, tempo de casa, afinidade, entre outros.

Formação/ preparação

profissional

Alimentar: sucessor não tem formação superior. Participa de

feiras e se prepara com a vivência prática no negócio.

Educar: sucessores possuem dois cursos superiores e pós-

graduação.

Medicar: formados em Farmácia e buscam cursos na área

administrativa.

115

(conclusão)

Categoria Subcategorias Síntese

O sucessor

Adoçar: um sucessor não é formado e os outros dois fizeram

Administração e Engenharia. Todos participam de cursos

gastronômicos em São Paulo.

Transportar: sucessor não tem formação superior. Prepara-se

com a vivência prática no negócio.

Habilidades, desempenho e

experiência para liderar a

empresa.

Todos demonstram grande interesse pelo negócio familiar,

são dedicados, com perfil de liderança, empreendedorismo,

bom relacionamento interpessoal e competência para

assumir.

Entrada no negócio

precocemente

Em todos os casos os herdeiros começaram ainda jovens a

trabalhar na empresa da família. Na Educar, eles já eram

mais velhos, mas acompanharam o desenvolvimento da

escola desde a sua fundação.

O sucessor

Experiência externa

Alimentar e Medicar: o sucessor não teve alguma expêriencia

externa.

Educar: trabalhou em outras escolas e em um banco antes de

ir para a empresa familiar.

Adoçar: dois sucessores não tiveram alguma experiência

externa e um trabalhou em seu negócio próprio antes de ir

para a empresa da família.

Transportar: trabalhou por três anos em uma concessionária.

Motivação do sucessor

para assumir a empresa

Todos estão na empresa por vontade e decisão própria. Eles

são tão motivados e não pensam em trabalhar em outro

lugar.

Relacionamento com os

outros herdeiros Não observou-se conflitos entre os herdeiros.

Relacionamento com os

funcionários

Bom relacionamento com os funcionários. Eles aceitam bem

a posição de liderança que os sucessores ocupam.

Fonte: Elaborado pela autora, com dados da pesquisa.

5.1.4 A família

O terceiro aspecto avaliado sobre o processo de sucessão nas empresas pesquisadas diz

respeito à família. Diante disso, buscou-se averiguar o envolvimento da família nos negócios,

como ficará a situação dos herdeiros que não vão assumir a gestão e se já existe algum

planejamento a respeito da situação da propriedade da empresa.

Observou-se que em todos os casos parece existir separação da esfera familiar da

esfera empresarial. Os antecessores demonstram a preocupação em definir cargos e salários

correspondentes à função que cada um exerce e não parece haver mistura das despesas dos

membros da família com as despesas operacionais da empresa. Como já relatado

anteriormente, os familiares que trabalham nessas organizações familiares estão lá por mérito

116

e são tratados como profissionais. Porém, alguns aspectos relacionados ao envolvimento da

família podem ser ressaltados nos casos da Educar, da Adoçar e da Transportar.

Uma característica verificada especialmente na empresa Educar e que tem relação

positiva com o bom relacionamento entre os familiares é a preocupação em separar família de

empresa. Na empresa, por exemplo, os filhos não tratam os pais por pai e mãe, mas sim pelos

nomes de cada um. Os membros da família que trabalham na empresa são tratados como

profissionais, como funcionários contratados, e isso é bom para que eles saibam conter os

impulsos dos laços familiares e separar o que é pessoal do profissional.

Na instituição de ensino, além da presença dos cinco filhos, viu-se que também

trabalham na organização mais oito pessoas da família indireta (dois genros, duas noras, uma

irmã do Pai B juntamente com o marido e a filha e uma cunhada, que é esposa do irmão da

Mãe B). O interessante, neste caso, é perceber que, apesar de ter tantas pessoas da família

empregadas na empresa, elas são contratadas pela formação e pela competência que

apresentam para ocuparem um cargo, não simplesmente pelo fato de terem ligação de

parentesco com os donos do negócio. Somado a isso, não há influência direta dos parentes

sobre a gestão da escola. Utilizando a estratégia de montar o grupo G7, os fundadores

deixaram bem-delimitada a fronteira entre donos e membros da família funcionários da

empresa, de forma que as decisões ficam a cargo somente dos atuais sócios (Pai B e Mãe B) e

dos cinco filhos que serão os futuros herdeiros. No final, a ultima palavra é sempre dos pais,

que ainda comandam a organização.

No caso da Adoçar, a transição entre a segunda e a terceira gerações foi marcada pela

tendência do Pai D a querer sustentar toda a família, inclusive os netos que não tinham ligação

direta. Até a interferência de uma consultoria externa, havia divergência de ideias que

prejudicava a administração da empresa, pois o pai queria continuar agindo da mesma forma e

ajudando todos os filhos e netos, utilizando arbitrariamente as finanças da empresa. Os filhos,

por outro lado, percebiam que a família já havia crescido muito e que essa não era a forma

adequada de gerir os recursos financeiros, pois chegaria um momento em que a empresa não

teria condições de sustentar todos, inclusive aqueles que não tinham alguma relação de

trabalho ou compromisso com ela. Esse impasse foi resolvido e o Pai D acabou acatando a

decisão dos filhos e do consultor.

A Transportar é muito antiga e já chegou à quarta geração. Como a família é muito

grande, os gestores tiveram a ideia de definir algumas regras que delimitassem a entrada de

seus membros para trabalharem na empresa, visto que o negócio familiar não teria condições

de absorver todos. Foi acordado que somente um filho de cada família poderia ser contratado,

117

desde que fosse qualificado, com formação superior, conhecimento em informática e em

inglês. O atual gestor, Filho 1E, informou que esse acordo foi feito verbalmente. Porém seria

importante ter um registro deste combinado para as futuras gerações.

Quando se trata do relacionamento entre os herdeiros, não foi possível identificar

ainda conflitos por causa da sucessão. No momento em que se encontram os processos

sucessórios nas empresas investigadas, os filhos ainda estão novos e não existe disputa

acirrada pelo poder. Todos têm clara a ideia de quem vai ser o futuro sucessor em cada uma

delas. Por enquanto, parece que os potenciais sucessores vão assumir naturalmente o lugar dos

pais, enquanto os outros herdeiros que trabalham na empresa vão continuar exercendo seus

cargos. Aqueles que já estão fora da empresa, trabalhando em profissões independentes do

negócio familiar, assim também deverão permanecer, ao que tudo indica.

Porém, a herança em muitas empresas familiares pode se tornar o motivo de queda da

organização ou de briga entre irmãos (Donnelley, 1964). No caso da Alimentar, por exemplo,

os quatro filhos são herdeiros naturais e se os pais não resolverem essa questão em vida, cada

um vai receber a parte que lhe cabe. Mesmo que o Filho 4A não venha a manifestar realmente

interesse pelo negócio futuramente, cabe lembrar que, sendo sócio, ele teria direito à divisão

dos lucros. Ou, não querendo ter seu nome vinculado à empresa, ele pode resolver vender sua

parte para uma terceira pessoa fora da família, trazendo para dentro um sócio estranho.

Quando não se faz o planejamento desses aspectos, a empresa pode incorrer em muitos

riscos (BERNHOEFT; GALLO, 2003). Esses autores sugerem que os antecessores se

antecipem a esses riscos e, mesmo que não façam a distribuição do patrimônio em vida, que

deixem resguardado em testamento ou que deixem escrito um acordo societário definindo

como deve ser a venda, quem tem prioridade de compra, valor estipulado para pagamento, o

que acontece no caso de morte de um sócio e da entrada dos herdeiros na sociedade, entre

outras questões, para que no futuro a empresa não corra o risco de cair em mãos erradas e

indesejadas ou que venha a fechar por falta de entendimento entre os sócios.

Entre os casos estudados, algumas empresas - como a Educar, Medicar e a Transportar

- já estão preocupadas com a divisão da herança, nas mãos de quem ficará a propriedade no

futuro e estão buscando orientação para já deixar essas decisões encaminhadas.

Já as empresas Alimentar e Adoçar não manifestaram preocupação quanto ao futuro

dos filhos e da empresa no tocante à divisão do patrimônio. A Mãe A chegou a falar que: “Só

depois que eu morrer eles vão pensar em herança (risos)” (Mãe A).

Um resumo da categoria “a família” é apresentado no Quadro 12:

118

Quadro 12 - Síntese da categoria: a família

Categoria Subcategorias Síntese

A família

Envolvimento da família nos

negócios

Todas as empresas demonstraram conseguir delimitar a

esfera familiar e a esfera empresarial, não misturando as

duas.

Situação dos outros herdeiros

que não assumirão a sucessão

Aqueles que trabalham nas empresas por enquanto

parecem estar satisfeitos e aceitando bem o sucessor

escolhido. Esses continuarão trabalhando normalmente. Os

que já exercem suas atividades externamente ao negócio

familiar também continuarão da mesma forma.

Propriedade da empresa

Apenas os antecessores das empresas Educar, Medicar e

Transportar buscam orientação para em vida deixar

resolvida a questão da herança.

Fonte: Elaborado pela autora, com dados da pesquisa.

5.1.5 Dificuldades

Depois de analisar o que desencadeou e como está acontecendo o processo de

sucessão nas empresas pesquisadas, no próximo objetivo específico deste trabalho procurou-

se identificar as dificuldades presentes nessa etapa.

Um primeiro aspecto a ser avaliado é a falta de planejamento formal, que pode estar

diretamente relacionada à dificuldade do antecessor em deixar o negócio. A ideia de que um

processo de sucessão precisa ser cuidadosamente planejado e que um bom planejamento tem

efeitos positivos sobre os resultados do mesmo é defendida em diversos trabalhos (Estol &

Ferreira, 2006; Handler, 1990; Lansberg, 1988; Le Breton-Miller et al., 2004; Lodi, 1987;

Morris et al., 1997; Sharma et al., 2001; Tillmann & Grzybovski, 2005; Ward, 1987).

Ainda, autores como Bjuggren & Sund (2005) e Lambrecht (2005) chegam a afirmar

que, mesmo existindo outros fatores que interferem de maneira direta na sucessão, o

planejamento facilita de tal forma a passagem que aumenta as possibilidades de sucesso e de

sobrevivência das empresas familiares no longo prazo. A falta dele pode ser a principal causa

de um fracasso.

Leone (2005) enfatiza que, quando a sucessão ocorre por consequência de um

planejamento, a transição de uma geração para outra acontece de forma mais suave, com

menos custos, podendo propiciar mais eficiência e competitividade para a empresa. Para o

autor, os processos que acontecem abruptamente tornam-se desgastantes para as pessoas, que

são afetadas psíquica e emocionalmente, e também para o negócio, que sofre impactos

financeiros.

119

A falta de uma estratégia de planejamento da transição das gerações acarretou certos

problemas para a empresa Transportar e para os seus sucessores na passagem da primeira para

a segunda geração, que poderiam não existir se eles estivessem mais preparados para assumir.

Conforme ressaltou Leone (2005), como o processo aconteceu abruptamente, em virtude da

morte do fundador, os filhos foram afetados em sua relação familiar, que ficou desgastada por

causa da empresa. Esta, por sua vez, sofreu impactos financeiros, visto que teve que arcar com

os prejuízos da dissolução ajuizada por alguns irmãos e também perder parte do seu

patrimônio em razão da ação que foi promovida a partir da demanda de outros irmãos. Da

mesma forma, no primeiro processo de sucessão da Adoçar, o fundador faleceu e houve uma

ação judicial que demorou 17 anos para ser resolvida.

São raros os casos em que os herdeiros não reivindicam sua parte na sociedade em

casos de morte do pai ou da mãe (Bernhoeft & Gallo, 2003). A Medicar parece ser, portanto,

uma exceção a essa regra. Por isso, um planejamento em relação à propriedade da empresa,

preparação de um sucessor que esteja motivado e o projeto de aposentadoria do antecessor são

essenciais para uma sucessão com mais perspectivas de sucesso. Isso significa fazer os

preparativos necessários, visando à harmonia da família e à continuidade da empresa no

futuro (Le Breton-Miller et al., 2004).

Algo relacionado à falta de planejamento, à dificuldade dos antecessores em deixar o

negócio, também se configura na literatura como um entrave importante ao processo de

sucessão, chegando a ser citado como o maior obstáculo a uma sucessão exitosa (Sharma et

al., 2001). Apurou-se que os antecessores da Alimentar, Adoçar e Medicar não estão

preparados para transferirem efetivamente a gestão do negócio para os filhos nem pretendem

sair da empresa em médio prazo. No entanto, é necessário considerar um dado que justifica o

fato de os fundadores das duas primeiras empresas citadas ainda não quererem deixar o

comando: a idade. Todos estão na faixa dos 50 anos. Eles podem ser considerados ainda

jovens para se aposentar e estão ativamente atuando no negócio. Somado a isso, também é

pertinente considerar a idade dos futuros sucessores que estão em fase de aprendizado, não

tendo atingido, conforme o próprio Pai A argumenta, adequado nível de preparação e

maturidade para assumir o lugar do gestor:

A própria idade da gente impede isso, né? Se a gente parar de trabalhar agora, com

50 anos, 52, eu acho que é sofrimento, né? Isso aí impede. Uma das coisas. E a outra

é que eles ainda estão muito novos, né? Não estão preparados, eu acho. Eles vão dar

conta a partir da hora que amadurecerem. Eu acho que eu amadureci muito na minha

vida com 30 anos de idade. Então eu acho que com eles vai ser [...] de repente vão

copiar o pai (Pai A).

120

Já na Medicar, o antecessor está com a idade mais avançada e não consegue diminuir a

rotina de trabalho. Ele não tem perspectiva de parar ou deixar a gestão sob responsabilidade

da sua sucessora e, portanto, não conseguiu finalizar o processo de sucessão. Em suas falas

ele manifestou medo de se sentir ocioso e de ter que lidar com uma rotina que o obrigue a

ficar parado, o que ele não suportaria. O antecessor é uma figura forte na organização.

Segundo Ward (1987), Lansberg (1988) e Handler (1990), os antecessores precisam ficar

atentos e não devem se deixar imergir em um estágio de negação do processo sucessório. É

fundamental que um gestor que está há muito tempo no comando da sua empresa consiga

encarar a sucessão mais abertamente e esteja disposto a contribuir para que ela aconteça de

forma tranquila e natural. Poucos executivos dão atenção ao planejamento da sua saída,

podendo isso ser fonte de diversos problemas que poderiam ser resolvidos antecipadamente

(Handler, 1990; Lansberg, 1988).

Na sucessão atual da empresa Medicar e na passagem da segunda para a terceira

geração que está no comando na Adoçar, percebe-se que a característica centralizadora dos

antecessores prejudicou, em parte, o desenvolvimento dos sucessores e do processo de

sucessão. Na Adoçar o Pai D estava tão acostumado a ser o único tomador de decisões que só

conseguiu abrir mão da gestão e perceber que os filhos estavam capacitados para assumir

quando ouviu isso de um consultor externo, que o aconselhou. Na Medicar, mesmo com 87

anos de idade, o Pai C ainda é o principal tomador de decisão e a Filha 5C, que é a sucessora,

não tem total autonomia para implantar mudanças que julga necessárias. Handler (1990)

afirma que é importante que o antecessor se afaste um pouco e permita que o sucessor tome

suas próprias decisões e seja responsável por seus acertos e erros, visto que isso é vital para o

desenvolvimento do sucessor como líder. Postura de desconfiança, de controle ou de

agressividade por parte do antecessor pode ser muito prejudicial para o processo.

Uma situação comum a todos os casos é o fato de que os antecessores pretendem

continuar em suas empresas como consultores ou conselheiros, sem terem obrigação com

horário ou rotina de trabalho, sem ter a voz de comando final, mas nunca se ausentar

totalmente do negócio da família.

Tirando os conflitos advindos da divisão do patrimônio da empresa entre os herdeiros

e a dificuldade dos antecessores em deixar o negócio em alguns dos casos, não foram

encontrados outros problemas entre aqueles registrados na literatura relacionados à falta de

planejamento, como: falta de um sucessor que quisesse assumir a empresa ou que tivesse sido

obrigado a fazê-lo contra a sua vontade; sucessor sem experiência e sem preparo para

121

assumir; disputa de poder entre os filhos; problemas com funcionários; ou outro que pudesse

prejudicar o andamento do negócio.

Na literatura pesquisada viu-se que um sucessor exitoso precisa investir tempo para se

preparar e buscar se desenvolver constantemente como profissional (Chrisman et al., 1998;

Lodi, 1987). Sua preparação envolve a formação educacional por meio de cursos superiores,

de especialização e experiência externa de trabalho em outras organizações (Lambrecht, 2005;

Lodi, 1987). Em algumas empresas pesquisadas, como na Alimentar, Adoçar e Transportar,

essa formação educacional não faz parte da realidade de vida de alguns sucessores. Também

nem todos tiveram experiência fora da empresa. Quase todo o conhecimento e preparação

vêm da prática no dia-a-dia do negócio e do convívio com os antecessores que transmitem

seus conhecimentos e seu know-how para os filhos. Sabe-se que a preparação profissional

pode ser um diferencial e um indício de uma transição suave e com boas perspectivas de

sucesso, como afirmam Morris et al. (1997), mas também não é a garantia. Existem casos,

como os das referidas empresas, em que a falta de formação acadêmica parece não ser, ao

menos segundo a percepção dos entrevistados, um empecilho. Eles entendem que somente a

prática já esteja sendo suficiente.

Uma situação identificada no processo sucessório da empresa Alimentar e na Adoçar

que pode vir a ser uma dificuldade no futuro está relacionada à falta de um sucessor que possa

assumir as atividades da Mãe A, na primeira, e da parte administrativa, na segunda. Falando

sobre a preparação de sucessores, o Pai A comentou sobre a Mãe A que: “Ela não achou

sucessora não, eu já achei. Eu acho que eu sou mais de sorte, eu já achei sucessor” (Pai A).

O negócio principal da Alimentar é a produção de alimentos. Todos os filhos estão se

preparando para assumir um posto de gestão, seja na área financeira, de compras, de

marketing, mas nenhuma outra pessoa, como o próprio Pai A afirmou, detém a qualidade e o

know-how da fabricação e da qualidade dos produtos, a não ser a Mãe A. Em sua fala o Filho

1A declarou:

Não, eu tenho menos [...] a gente tem assim, uma experiência mesmo, mas eu não

tenho o paladar dela. Porque se eu preciso, por exemplo, eu falo mãe, vai lá,

experimenta uma coxinha de catupiry nova, ela vem. E aí ela vai provar e isso aí eu

não tenho não. Isso aí nós não temos não. Falar assim, o paladar, o [...] esse know-

how dela a gente não tem não. Ninguém na empresa tem. O fino do paladar, que ela

aprendeu na vida inteira, ninguém tem não. São poucos.

O Filho 2A chegou a fazer um curso de gastronomia no Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial (SENAC), mas, segundo ele, não é seu objetivo trabalhar na

produção. Ele acha importante ter o curso para saber dialogar com os nutricionistas e

122

engenheiros de alimentos que trabalham com ele, mas isso não quer dizer que ele esteja

buscando experiência e know-how para futuramente assumir a posição da mãe.

Mas, e se ela por algum motivo inesperado vier a faltar um dia? O problema é que na

falta da Mãe A não há, até o momento presente, pessoa da família com o preparo e a

capacidade necessária para dar continuidade ao trabalho que ela faz, e isso pode vir a ser um

risco futuro para o bom andamento do negócio:

Não, porque não é querendo encher a bola dela não, mas a qualidade só ela detém.

Ela tem o paladar. Ela tem um bom paladar. Se ela se desligar total a qualidade some

com o tempo (Pai A).

Não, tem dia que eu chego aqui e [...] até deu uma caída, eu achei. Dei uma sumida.

Agora eu quero voltar mesmo entendeu? (Mãe A).

Nessas falas fica evidente que, no contexto atual, se a Mãe A se afasta, os produtos

perdem qualidade. Tal situação demonstra, na atualidade, sinais de problemas que podem

surgir com a ausência da antecessora na direção da fábrica e com a falta de outra pessoa para

substituí-la. A mãe comentou sobre uma funcionária que foi treinada durante um longo tempo

por ela e, quando estava “pronta”, adequada às necessidades da empresa em termos técnicos,

o Pai A e o Filho 1A julgaram necessário demiti-la7. Na época do acontecido a Mãe A estava

ausente da empresa. Segundo ela, tal demissão poderia ter sido evitada caso houvesse uma

gerência atuando diretamente na fábrica em sua ausência. Mesmo sendo necessário do ponto

de vista dos gestores, a Mãe A, que lida diretamente com a parte de produção, sabia da

dificuldade e do tempo gasto com a funcionária em treinamento e, portanto, outras medidas

poderiam ter sido tomadas que não a demissão e a consequente perda de uma boa funcionária,

segundo a sua perspectiva.

Percebe-se que a Mãe A não tem ainda um sucessor que possa assumir tanto a função

técnica quanto a gerencial que ela executa na Alimentar. A falta de um gestor que possa atuar

nesses dois sentidos pode significar a perda de qualidade, de bons funcionários e,

consequentemente, de clientes e mercado. Por isso, é importante ter outra pessoa que possa

acompanhá-la e aprender com ela, para que na sua ausência a Alimentar continue oferecendo

a qualidade até então oferecida e conhecida por seus consumidores.

Esse também é um problema enfrentado na Adoçar. Com a morte do irmão mais novo,

há dois anos, os irmãos estão tendo dificuldade para reestruturar a administração da empresa,

visto que o Filho 3D era responsável por setores específicos da gestão e na organização não

7 Os motivos alegados para a demissão da funcionária foram as faltas recorrentes injustificadas na ausência da

Mãe A.

123

havia outra pessoa preparada para assumir suas atividades. Por isso, o Filho 1D teve que adiar

os planos de reduzir sua rotina de trabalho e tanto ele quanto o Filho 2D tiveram que assumir

e aprender novas atividades para ocupar o lugar do irmão. Nessa empresa também já há um

sucessor da quarta geração sendo preparado para assumir as funções relativas à fabricação dos

produtos, ou seja, sucessor do Filho 1D. Mas nenhum outro está sendo preparado para

assumir a gestão e, conforme as palavras do próprio antecessor, para uma só pessoa cuidar de

todos os setores pode ficar sobrecarregado.

Uma dificuldade também detectada no processo de sucessão da Alimentar é o conflito

de ideias entre os membros da família a respeito da forma de gestão e dos objetivos da

organização. De um lado, estão os pais, fundadores, que já estão satisfeitos com o

desempenho da empresa e com o tamanho que alcançaram. Para eles, o importante é continuar

atendendo às particularidades dos clientes, fabricar produtos customizados, ter mais variedade

para oferecer e poder ser flexível para mudar sempre que um cliente solicitar. Isso fica

bastante evidente na fala da Mãe A:

Eu não quero ter milhões, não era a minha ideia ter milhões de Alimentar para ter

poucas coisas. Não é um Mc Donalds, entendeu? Então eu concordo que tem que ir

na ideia deles também. Mas não é tirar algumas coisas porque, é [...] eu tenho que

vender só para aquele grupo de 500 pessoas no mínimo. Não. Eu tenho meu

grupinho de 20 que gosta, que ama a Alimentar, que gosta de vir aqui e que sabe que

eu vou fazer o produto dele do jeito que ele quer.

Do outro lado estão os filhos, que gostariam de diversificar o negócio, que estão

preocupados com a margem de lucro, mesmo que isso custe o sistema de atendimento mais

personalizado. Por eles a Alimentar deveria fabricar menos produtos e ficar somente com

aqueles que têm mais saída. Isso possibilitaria a abertura de um sistema de franquias que

poderia ampliar muito o negócio. Tal situação é perceptível na fala do Filho 3A:

Não, eles [os pais] estão satisfeitos com o que têm, né? Eu já tenho um sangue

empreendedor, eu gosto de arriscar, eu gosto de empreender, então isso aí tá no meu

sangue, eu acho que eu nasci com isso, num sei, às vezes [...] eu tenho mais

ambição”.

A Mãe A, por sua vez, deixa claro que não concorda com essa visão: “Então é aí que

muda que a cabeça minha é muito antiga, que é daquele tempo antigo, há 22 anos, e a deles já

é moderna, né? Quer franquia, diminuir produto, ter aquele tanto né? Claro, é mais fácil de

padronizar tudo sim” [...].

124

Segundo Tillmann e Grzybovski (2005) na fase da sucessão que envolve o trabalho

conjunto das diferentes gerações, a diversidade de pessoas relacionadas à idade, gênero e

ideais se configura em uma complexidade de relações que devem ser administradas, onde os

interesses muitas vezes entram em colisão. O sucessor geralmente possui formação acadêmica

e profissional diferente do fundador, resultando assim em visões contrárias a respeito da

trajetória da empresa e acentuando conflitos internos, assim como acontece na Alimentar.

Para os fundadores, e principalmente para a Mãe A, este é o ponto mais crítico quando

eles pensam na sucessão da empresa. O conflito de ideias gera insegurança nos pais em

transferir a gestão da empresa para os filhos. O medo é que estes efetuem mudanças drásticas

na administração, alterando todo o sistema que segundo os fundadores funciona muito bem

até hoje. Na visão deles, isso pode não ser bom para o futuro da Alimentar. A Mãe A acredita

que o seu modo de gestão e a forma como ela e o Pai A têm conduzido o negócio até hoje é a

fórmula para o sucesso alcançado: “Mas se eu não tivesse feito isso, a Alimentar não teria

chegado onde está, porque foi com a variedade de produtos que eu trouxe um número de

clientes maiores, né, com vários gostos” (Mãe A).

Donnelley (1964) afirma que os conflitos de interesses podem ser uma fraqueza das

empresas familiares. Muitas organizações acabam ignorando a real necessidade da empresa

para resolver problemas que nascem dentro da família, como no caso do conflito de gerações

na Alimentar. O autor ainda fala sobre o problema dos interesses minoritários dos membros.

Geralmente todos acham que têm o mesmo direito de mandar e de influir nas decisões e

políticas corporativas, porém uma pequena empresa não consegue absorver tantas visões

divergentes. É preciso existir uma unidade de pensamento.

Na empresa Alimentar pode-se ver claramente a presença de questões relatadas por

Donnelley (1964), como objetivos e interesses totalmente diferentes entre os membros. E

nessa situação prevalece a voz dos mais fortes, os pais. Esse é um dos motivos que levam o

Filho 3A a ter dúvidas quanto a realmente continuar ajudando na empresa da família como um

funcionário e subordinando-se às decisões dos seus pais:

Tem alguns objetivos diferentes, né, então como é muita gente tomando decisões

[...] aí a gente não tem como todo mundo ditar seu rumo, né, então a gente tem que

ceder. Eu vejo que eu poderia fazer de uma outra forma, fazer uma coisa diferente e,

talvez eu tenha um pouco mais de ambição também que os outros, isso me incomoda

um pouco.

Como não consegue colocar algumas de suas ideias em prática na Alimentar, o Filho

3A fala muito em sair da empresa. Na entrevista ele foi questionado sobre seu pensamento a

125

respeito de permanecer ou não, se ele gostaria de sair para trabalhar em outro lugar ou até

montar o próprio negócio, um negócio maior. Ele reconhece que existe o desejo de ter algo só

dele, onde seja possível colocar em prática tudo que aprendeu na empresa da família, mas

onde ele tenha mais autonomia para decidir sobre a gestão e a estratégia do negócio. Porém,

ao mesmo tempo, não há a pretensão de deixar totalmente a Alimentar. Caso monte um

negócio próprio, ele gostaria de ficar trabalhando nos dois lugares:

Eu estou me preparando pra isso eu tô [...] a minha vontade na verdade é essa. Estou

aqui aprendendo, pegando know-how, pegando também maturidade, mas uma hora

eu quero seguir meu caminho próprio, eu quero [...] um negócio próprio de

alimentação também, mas diferente um pouco [...]. Não que eu deixasse de trabalhar

aqui também não, poderia trabalhar nos dois, mas eu queria ter algo paralelo aí,

alguma coisa minha. Vou batalhar pra isso né.

No início desta pesquisa ele ainda estava trabalhando na Alimentar, mas sempre

comentava com os pais e com os irmãos que estava planejando vender seu carro para abrir o

próprio negócio. Alguns meses após a entrevista fomos informados de que ele realmente

havia saído. Considerando que o mesmo já saiu anteriormente da empresa e depois retornou,

conforme relataram seus pais, acredita-se que isso seja uma fase e que o Filho 3A, depois de

vivenciar a realidade e as dificuldades do mercado, vai acabar notando que a empresa familiar

é o melhor lugar para ele ficar. Esse filho parece ter espírito empreendedor, sonha em criar

um grande negócio e obter mais lucros, conforme se apreende da fala de um de seus irmãos:

Acho que ele gosta de ler aquelas revistas, daquelas histórias de não sei quem. O

cara do Facebook construiu não sei o quê, o outro Eike Batista fez não sei o quê, o

outro lá do Bretas fez parará. Acho que ele está querendo é isso, fazer algo

revolucionário e ficar rico (Filho 1A).

Uma crise nas organizações familiares também pode estar ligada à sucessão entre a

geração fundadora e a segunda geração. Isso porque a primeira tende à autocracia e à

concentração de decisões, enquanto a outra é marcada por uma crise de liderança entre os

possíveis sucessores (Gersick et al., 1997; Grzybovski et al., 2008; Lodi, 1987). Isso pode ser

constatado na Alimentar. Por isso a empresa não pode deixar que as relações familiares

desenvolvidas entre os membros da família proprietária, assim como sua capacidade em

administrar as relações empresariais, seja o motivo de conflito no momento da sucessão de

gestores (Lodi, 1987).

Percebe-se que algumas empresas estão no caminho de se profissionalizarem e, sendo

assim, já tomaram medidas que demonstram essa atitude, como será visto na análise das

126

categorias subsequentes. Porém, a maioria ainda apresenta um processo mais simples na

administração dos negócios e pouca estruturação organizacional. A própria falta de

planejamento da sucessão, a não preparação dos antecessores quanto à sua saída, o fato de não

existirem critérios para a escolha do sucessor salientam características peculiares das

pequenas e médias empresas que, mesmo não estando totalmente profissionalizadas, ainda

conseguem sobreviver e crescer.

Em grandes empresas com processos mais estruturados, com planejamentos

estratégicos robustos, com a necessidade de uma gestão e uma logística bem mais definidas

para atender à demanda, é imprescindível, por exemplo, que o sucessor tenha qualificação,

que tenha boa formação acadêmica e esteja em condições de competir com os grandes

executivos no mercado (Reis & Escrivão Filho, 2003).

As pequenas e médias empresas, por sua vez, possuem características peculiares no

que se refere à sua forma de gerir, cujo bom funcionamento consiste em executar as

atividades e ações gerenciais básicas relativas às áreas funcionais. Assim, enquanto em

grandes organizações é possível dividir seus setores por função e analisar cada um deles

separadamente, bem como seus processos estruturados, nas pequenas e médias isso é muito

difícil (Reis & Escrivão Filho, 2003).

A maioria das PMEs não conta com estrutura tal que possibilite a implantação de

práticas gerenciais mais eficazes. Geralmente elas são mais centralizadas, com estrutura

organizacional simples em que as atividades são exercidas de forma cumulativa por poucas

pessoas ou por uma única pessoa, o empresário, não necessitando de grande quantidade de

unidades ou funções nem de estrutura administrativa sofisticada (Drucker, 1981; Leone, 1999;

Reis & Escrivão Filho, 2003).

Uma grande estrutura de gestão não é aplicável e muitas vezes nem é desejada em

pequenas e médias empresas por causa da complexidade e do custo da mesma. Por isso sua

administração tende a ser simples, de baixo custo, mais informal, sem normas e processos

estruturados (Reis & Escrivão Filho, 2003). Essa informalidade, porém, tende a diminuir à

medida que a empresa cresce. E isso é necessário, pois o risco de surgirem problemas

administrativos e de baixa eficiência é latente quando a empresa não se desenvolve

gerencialmente (Reis & Escrivão Filho, 2003).

Tratando-se do relacionamento entre os herdeiros, percebeu-se que não existem

conflitos aparentes de disputa de poder ou de não aceitação do sucessor escolhido por parte

dos outros irmãos. Na Alimentar, por exemplo, um dos filhos (Filho 4A) não manifestou

interesse, até então, em atuar na empresa, visto que pretende seguir uma carreira diferente do

127

ramo de atuação da organização familiar. Entre os outros dois filhos que trabalham hoje na

organização, parece existir consenso de que o Filho 1A seria o possível sucessor à presidência

da empresa, o que pode ser constatado na fala do Filho 3A:

Hoje é o Filho 1ª, né... é, porque ele está mexendo mais na área financeira, então ele

está mais por dentro [...]. O Filho 1A está mais por dentro, né, [...] há mais tempo na

empresa também, ele já passou por todos os setores, eu acredito então que ele já tem

uma capacidade maior. Eu e o Filho 2A estamos aí mais ou menos há cinco anos, só

que a gente está se desenvolvendo.

Verifica-se que, no atual momento da sucessão nessa empresa, os filhos ainda estão

novos e não existe uma disputa acirrada pelo poder. Todos declaram aceitar bem a ideia de

que o Filho 1A será o futuro sucessor na gestão da empresa. Porém, no futuro, não se sabe.

Por enquanto, o Filho 4A está apenas com 17 anos e não mostra nenhum interesse pelo

negócio. Em alguns momentos, quando está nas lojas, ele procura contribuir analisando o

serviço prestado e chega a comentar com o pai que ele poderia trabalhar durante um período

do dia na Alimentar e, durante o outro, na profissão que deseja seguir, a Advocacia: “Ao

mesmo tempo ele falou outro dia que vai formar em Direito e vai trabalhar seis horas no poder

público e seis na Alimentar pra ele ganhar dobrado” (Pai A).

Não se sabe ainda se realmente esse desinteresse do Filho 4A pela empresa é

definitivo. No futuro ele também pode ser um potencial sucessor. Se o filho mais novo

realmente não quiser trabalhar na empresa, o problema pode estar na questão da propriedade.

Como não existe planejamento, os fundadores ainda não pensam sobre a propriedade da

empresa, conforme se observa na fala da Mãe A: “Só depois que eu morrer eles vão pensar

em herança” (Mãe A).

Esse é um assunto que não é conversado na família, mas que, como aconteceu com as

empresas Adoçar e Transportar, pode vir a ser um problema no futuro.

Na Educar, todos os herdeiros estão na empresa da família, mas também existe uma

conformidade dos irmãos mais novos sobre os dois mais velhos assumirem a posição do Pai B

e da Mãe B. Justamente pela diferença de idade, é perceptível que a Filha 1B e o Filho 2B têm

mais experiência do que os outros. Na Medicar, dos cinco filhos, apenas dois estão na

empresa hoje, sendo que a Filha 5C, a mais nova, é a única com formação em Farmácia e é

quem acompanha o pai desde muito nova, e por isso deverá ser a sucessora do Pai C. O outro

filho que atua na empresa parece concordar com o fato de a sua irmã vir a suceder o pai na

empresa, não tendo mostrado que isso seja motivo de conflito entre eles:

128

A Filha 5C tem mais é [...], ela tem mais tempo junto com o pessoal aqui também.

Porque, igual eu falei, eu não estou o tempo inteiro na farmácia. Eu estou há menos

tempo. Ela que fica [...], na parte de cima, por exemplo, a manipulação é ela que

olha tudo. Então ela já ta com mais [...] com mais bagagem pra gerência também

(Filho 3C).

No caso da Adoçar, somente os homens assumiram posições na empresa familiar e

houve uma divisão da sucessão. Todos são igualmente donos, cada um atuando em uma área.

Ao que parece, as irmãs nunca manifestaram interesse em trabalhar no negócio. Porém, na

sucessão anterior, da primeira para a segunda geração, o Pai D enfrentou conflito com as

irmãs que, mesmo não trabalhando na empresa, resolveram requerer sua parte na herança e ter

influência na empresa da família.

Da mesma forma, na Transportar o Pai E enfrentou conflitos com seus irmãos em

virtude da herança do pai e da sociedade na empresa. Alguns irmãos reivindicaram a

participação nos lucros. Não sendo possível fazer essa distribuição em virtude da fase de

crescimento pela qual a empresa passava, quando os recursos eram reinvestidos no próprio

negócio, eles entraram na justiça pedindo que a sociedade fosse desfeita. Já o atual sucessor

(Filho 1E) conseguiu assumir sem enfrentar problemas com os outros herdeiros. Eles

reconhecem de tal forma o trabalho e o merecimento do irmão em estar na posição de gestor

principal, conforme afirmou o Pai E que, com exceção de um deles, os demais aceitaram bem

a doação de 10% da empresa que foi feita a ele em testamento.

Em nenhuma das empresas foram identificados conflitos dos sucessores com os

funcionários. Como eles trabalham no negócio desde cedo e foram aos poucos conquistando

novos espaços na organização, os funcionários parecem aceitar bem a posição que os

herdeiros ocupam no momento, segundo a própria percepção de sucessores e sucedidos. Além

disso, em todos os casos foi dito que os filhos são tratados como profissionais, pois os

funcionários podem perceber que eles estão ali por mérito, não por simples paternalismo e

nepotismo. Mas é perceptível que, por serem filhos do dono, eles têm certa vantagem em

relação aos funcionários externos à família para ocuparem cargos mais elevados e para serem

os principais candidatos à gestão da organização. Por outro lado, os filhos que trabalham

demonstram responsabilidade, compromisso e são cobrados como qualquer outro funcionário.

O resumo da categoria “dificuldade” está no Quadro 13.

129

Quadro 13 - Síntese da categoria: dificuldades

Categoria Subcategorias Síntese

Dificuldades

Falta de

planejamento

A falta de um planejamento formal acarretou problemas para as empresas

Adoçar e Transportar, bem como para os seus sucessores no primeiro

processo de sucessão. Como o processo aconteceu abruptamente, em virtude da

morte do fundador, houve problemas em relação à herança, que levaram a

processos judiciais e afetaram o patrimônio da organização. Na Medicar, como

não existe o planejamento, o antecessor não consegue finalizar o processo de

sucessão, mesmo não estando com idade para continuar na direção. Ainda não

apareceram dificuldades nas empresas Alimentar e Educar por causa da falta

de planejamento da sucessão.

Dificuldade do

antecessor em

deixar o negócio

Os antecessores da Alimentar e da Adoçar não têm planos de se aposentar e

passar o negócio para os filhos. Um dos motivos é a idade, visto que eles ainda

são novos; e o outro é a necessidade de os sucessores se prepararem mais. Já na

Medicar o antecessor já poderia ter finalizado o processo, mas não tem

perspectiva de parar ou deixar a gestão com sua sucessora. Na Adoçar o Pai D

estava tão acostumado a ser o único tomador de decisões que só conseguiu

abrir mão da gestão e perceber que os filhos estavam capacitados para assumir

quando foi aconselhado por um consultor. Uma situação comum a todos os

casos é que os antecessores prtendem continuar em suas empresas como

consultores ou conselheiros

Não preparação do

sucessor

Nos casos das empresas Alimentar, Adoçar e Transportar, alguns sucessores

não fizeram curso superior nem tiveram experiência fora da empresa. Quase

todo o conhecimento e preparação vêm da prática no dia-a-dia do negócio e do

convívio com os antecessores, que transmitem seus conhecimentos e seu know-

how para os filhos. Porém, a falta da formação acadêmica não se configura uma

dificuldade em nenhum dos casos. Uma situação identificada no processo

sucessório da empresa Alimentar e na Adoçar que pode vir a ser uma

dificuldade no futuro está relacionada à falta de um sucessor que possa assumir

as atividades da Mãe A, na primeira, e da parte administrativa, na segunda.

Falta de

profissionalização

Mesmo não estando totalmente profissionalizadas, as empresas dos casos

estudados ainda conseguem sobreviver e crescer. Algumas estão no caminho de

se profissionalizar e, sendo assim, já tomaram medidas que demonstram essa

atitude. Uma grande estrutura de gestão não é aplicável e muitas vezes nem é

desejada em pequenas e médias empresas, por causa da complexidade e do

custo da mesma.

Disputa de poder

entre os herdeiros

Tratando-se do relacionamento entre os herdeiros, não se detectaram conflitos

aparentes de disputa de poder ou de não aceitação do sucessor escolhido, por

parte dos outros irmãos. Porém, em casos como o da Alimentar, como não

existe planejamento sobre a divisão dos bens, a herança pode vir a ser um fator

de disputa entre os filhos e ser uma dificuldade, principalmente porque um

deles nem trabalha na empresa. Na sucessão anterior, da primeira para a

segunda geração, os sucessores da Transportar e Adoçar enfrentaram

problemas com os irmãos por causa da herança, inclusive ações judiciais.

Conflitos dentro

da família

Dificuldade também observada no processo de sucessão da empresa Alimentar

é o conflito de ideias entre os membros da família a respeito da forma de gestão

e dos objetivos da organização. Os pais não querem aceitar algumas mudanças

propostas pelos filhos que querem fazer a empresa crescer e gerar mais lucro.

Conflitos com

funcionários Em nenhuma das empresas apurou-se conflito entre sucessores e funcionários

Fonte: Elaborado pela autora, com dados da pesquisa.

130

5.1.6 Oportunidades

Depois de identificadas as dificuldades presentes nos processos de sucessão das

empresas estudadas, procedeu-se à apreciação das oportunidades que surgiram em decorrência

da entrada dos sucessores nas organizações.

Até a chegada dos filhos para trabalhar nas empresas, os antecessores conseguiram

administrar o negócio de forma intuitiva, visualizando oportunidades e fazendo a empresa

crescer. Porém, chega um momento em que é necessário trazer mais eficiência, estruturação e

formalização aos processos e os sucessores foram essenciais neste aspecto. Os pais já não

dariam conta de administrar tudo sozinhos, e ter junto a eles pessoas de total confiança que

também se preocupam com o destino do negócio é essencial para um futuro promissor.

De modo geral, em todos os casos a entrada dos sucessores propiciou melhoria e

reestruturação de algumas atividades das empresas, especialmente as relacionadas aos

processos administrativos. Como a maioria deles tem formação superior, eles puderam trazer

novos conceitos, novas formas de proceder na administração que aprenderam nos cursos. Um

exemplo é o caso Alimentar, cujos fundadores ressaltaram que os filhos passaram a valorizar

e desenvolver setores para os quais antes não tinham tanta atenção, como o RH e o controle

de estoques, informatizaram sistemas, implementaram políticas para motivação e

desenvolvimento dos funcionários e, segundo o Pai A, uma mudança significativa que

agilizou as compras e reduziu o custo dos insumos de produção foi o sistema de compras por

intermédio do leilão implementado pelo Filho 1A.

Na empresa Medicar, a Filha 5C, mesmo encontrando restrições impostas pelo pai,

também trouxe novas oportunidades para o seu negócio. Entre os seus feitos pode-se destacar

a implantação do laboratório de manipulação, que é coordenado por ela, a venda de

medicamentos homeopáticos, também manipulados na farmácia, e a implantação de sistemas

informatizados. Aliado a isso, o próprio Pai C chegou a falar que, se não tivesse os filhos para

ajudá-lo, talvez ele já tivesse vendido a farmácia.

As novas gerações que chegaram para trabalhar na Adoçar também trouxeram

novidades e ideias que impulsionaram o crescimento da empresa. Como visto, até a terceira

geração entrar no negócio, existia apenas uma loja que vendia os produtos da fábrica. Com a

ajuda dos filhos foi possível abrir outros pontos de vendas e fazer a marca se expandir na

região metropolitana de Belo Horizonte. Os herdeiros têm uma filosofia diferente da dos

antecessores quanto à inovação. Eles procuram fazer vários cursos na área para se atualizarem

com o mercado, para desenvolverem novos produtos, além de estarem atentos à opinião dos

131

consumidores, que é o principal meio de avaliar a demanda do que está sendo ofertado no

mercado ou do que precisa ser inovado.

Registrou-se também que a profissionalização já é realidade em muitas empresas. É

importante ressaltar que a profissionalização em organizações familiares não está somente

relacionada à contratação de gestores externos, mas também à adoção de práticas

administrativas mais modernas, estruturadas e menos informais. Assim, nada impede que os

membros da família permaneçam no topo, como acontece com as empresas investigadas no

presente trabalho (Gersick et al., 1997; Lodi, 1989; Scheffer, 1995).

Mesmo que não estejam em uma fase totalmente profissionalizada, como as grandes

empresas, com setores estruturados, processos administrativos robustos, alto controle

financeiro, alta qualificação dos gestores, entre outros, existem claramente traços de uma

empresa mais profissionalizada nos cinco casos. As empresas estão mais organizadas, em

virtude da estruturação dos processos administrativos que formalizaram e profissionalizaram

mais a gestão. Traços de profissionalição podem ser destacados nas empresas Educar e

Adoçar, onde as famílias são maiores e seus atuais gestores se preocupam em impor regras ou

ter atitudes para controlar a entrada de familiares na empresa. Os parentes que desejam

trabalhar na organização têm que ser qualificados. Na Adoçar, a ideia da abertura das lojas foi

justamente uma estratégia para evitar que todos quisessem trabalhar na fábrica e para, de

alguma forma, ajudar aqueles que ainda não tinham ocupação formal no mercado de trabalho.

Da mesma forma, a Transportar precisou passar por uma situação difícil, enfrentando

processos judiciais para aprender a lidar com o elevado número de herdeiros, sócios e

gerações que convivem na mesma família. Hoje, porém, a empresa já se encontra mais

preparada para lidar com o processo de sucessão. Foram definidos critérios para a entrada de

familiares na organização; o Pai E já deixou em testamento uma parcela maior das cotas da

empresa para o Filho 1E, seu sucessor, para que ele não perca o direito de comando na

organização; também foi utilizada como estratégia para proteger o patrimônio da empresa e

dos filhos a abertura de empresas holding.

De acordo com Lodi e Lodi (2004), a holding pode ser a solução para as transferências

necessárias e para a maior longevidade de um grupo societário. Um dos seus objetivos é a

solução de problemas referentes à herança e à sucessão administrativa, uma vez que ela

transcende a figura de uma pessoa física. Uma de suas finalidades é manter ações de outras

empresas, possibilitando, assim, o controle de grupos empresariais e a concentração desse

controle, evitando a pulverização acionária desse grupo.

132

A preocupação com a profissionalização ou com a implantação de normas, políticas e

contratos é importante para a manutenção das empresas familiares ao longo do tempo,

podendo ser um dos meios de contribuir para o sucesso do processo sucessório, tendo em

vista que a racionalização das atividades de uma empresa pode ser sinônimo de melhor

desempenho e de perspectiva de crescimento (Martins et al., 1999).

A síntese da categoria “oportunidades” pode ser vista no Quadro 14:

Quadro 14 - Síntese da categoria: oportunidades

Categoria Subcategorias Síntese

Oportunidades

Possibilidade de crescimento

Em todos os casos observou-se que a entrada das novas

geraçãoes propiciou o crescimento das empresas. Destaca-

se o caso da Adoçar, onde a abertura de novas lojas e a

expansão do negócio só foi possível com a chegada dos

sucessores.

Novas formas de conduzir o

negócio

Os sucessores influenciaram na gestão das empresas e

impantaram novas ferramentas administrativas, estuturando

e formalizando os processos nas organizações.

Melhorias financeiras

A partir dos avanços implantados pelos sucessores foi

possível aperfeiçoar o desempenho financeiro. Destaca-se a

Alimentar, que implantou o sistema de leilão de compras e

procicou ganhos com baixos custos e diminuição do tempo

de compras.

Profissionalização da gestão

A profissionalização é uma realidade nas empresas. Mesmo

que não estejam totalmente estrututradas, elas adotam

posturas que as colocam nesse caminho. Destaca-se a

adoção de critérios para a entrada dos sucessores e a

abertura de empresas holding para proteger o patrimônio da

empresa e da família, no caso, a Transportar, e a abertura de

novas lojas para evitar a entrada desenfreada de parentes na

fábrica da Adoçar.

Fonte: elaborado pela autora, com dados da pesquisa.

133

6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo um segmento com notável representatividade na economia brasileira e mundial,

o interesse pelo estudo das empresas denominadas familiares é, apesar de recente, importante

para o aprimoramento de teorias que contemplem suas particularidades e deem aos donos de

empresas e estudiosos da área meios que propiciem a manutenção dessas organizações e sua

longevidade.

Entre os tópicos estudados com maior destaque sobre as empresas familiares, o

processo sucessório é um dos mais relevantes, uma vez que pode ser a ponte para o sucesso

ou o caminho para o fracasso, dependendo de como é conduzido pela família proprietária. A

alta mortalidade existente entre as organizações gerenciadas por famílias é um dado

preocupante, que tem na sucessão a principal causa para o desaparecimento das mesmas.

Tendo em vista que a taxa de mortalidade se concentra nos primeiros anos de vida ou

na passagem do bastão entre as primeiras gerações, enquanto as organizações ainda estão em

processo de crescimento, procurou-se neste trabalho entender a natureza da sucessão

especificamente no contexto das pequenas e médias empresas familiares. Buscou-se destacar

as dificuldades enfrentadas nesse percurso, bem como as possíveis oportunidades que o

processo pode gerar para o desenvolvimento do negócio.

Para alcançar os objetivos estabelecidos, realizou-se um estudo multicaso de caráter

qualitativo em cinco empresas familiares de pequeno e médio porte, localizadas na região

metropolitana de Belo Horizonte e que já tivessem encerrado ou estivessem passando, no

momento, pelo processo de sucessão. As organizações foram escolhidas atendendo aos

critérios preestabelecidos e descritos na metodologia desta dissertação e também pela

facilidade de acesso da pesquisadora.

Definido o público-alvo de respondentes que atendessem às necessidades de respostas

à presente pesquisa sobre o tema em questão, foram realizadas 19 entrevistas

semiestruturadas, que tiveram dois roteiros orientadores. Além disso, a investigação na

literatura pertinente sobre o tema foi essencial para compor a base de análise sobre a sucessão

nas empresas pesquisadas.

Com o estudo foi possível averiguar que a falta de um planejamento formal da

sucessão é uma realidade em todos os casos estudados. Geralmente, o que desencadeia o

processo sucessório em pequenas e médias empresas são os acontecimentos naturais relativos

ao cotidiano da organização, da gestão, da família e também os aspectos relacionados à

educação dos filhos, que os colocam naturalmente como potenciais sucessores. Além desses

134

fatores ditos intuitivos e não intencionais, existem também os fatos inesperados que podem

ocorrer como a morte dos fundadores, que impelem os herdeiros a assumirem a posição de

sucessores.

Ao contrário do que foi visto na teoria na qual os autores defendem que a falta de

planejamento é o primeiro passo para o fracasso no processo de sucessão e,

consequentemente, um entrave à longevidade da empresa familiar, nos casos estudados a

sucessão ocorreu ou está em andamento sem grandes problemas que coloquem em risco sua

sobrevivência, ao que tudo indica. Apesar de enfrentarem dificuldades que poderiam ter sido

evitadas se houvesse um estratégia de sucessão, como foi o caso da Adoçar e Transportar, em

que os herdeiros chegaram a brigar judicialmente pela posse da empresa, os sucessores

conseguiram assumir e dar continuidade ao negócio da família, ainda o fazendo crescer e

prosperar.

Sobre o antecessor, observou-se que em todas as empresas a relação entre este e os

sucessores é boa, existindo respeito, companheirismo, transferência de conhecimento e

confiança. Os antecessores procuram exercer diversos papéis que, segundo visto na teoria, são

importantes para o desenvolvimento do sucessor e para o êxito da sucessão. Apenas se

registrou um conflito na Alimentar, que não está diretamente relacionado às figuras do

sucessor e sucedido, mas sim à convivência entre gerações distintas, que possuem objetivos

desencontrados. Também se ressaltam as empresas Medicar e Adoçar, onde os antecessores

são mais centralizadores. Nos casos em questão, essa característica de desconfiança e controle

por parte dos pais pode se constituir um entrave para o desenvolvimento da organização e

para o seu crescimento, visto que os filhos perdem a oportunidade de desenvolver sua

autonomia e liderança na organização. Na Medicar, por exemplo, a filha não consegue

implantar melhorias administrativas quando não tem o aval do pai.

Viu-se que, de modo geral, poucos são os executivos que dedicam atenção à sua saída

e à finalização do processo de sucessão. Nos casos pesquisados, essa também é uma realidade.

Dos antecessores entrevistados, apenas os da empresa Educar têm o desejo de se aposentar e

estão se preparando para isso. Os outros responderam veementemente que não têm

perspectiva de deixar a empresa e acham que nunca vão se desligar totalmente. Segundo os

autores pesquisados, esse pode ser um grande obstáculo ao sucesso das empresas familiares.

Nos casos estudados, mesmo continuando nas organizações, a maioria dos antecessores tem a

consciência de que a gestão e as decisões precisam ser delegadas aos sucessores e que eles

deverão continuar nas empresas apenas como suporte, como conselheiros, não intervindo

diretamente no comando e nas atividades do dia-a-dia do funcionamento. Assim, eles

135

conseguem manter um ambiente harmonioso e os sucessores ainda veem com bons olhos a

presença dos pais para lhes aconselhar com sua vasta experiência.

Em se tratando dos sucessores, embora nem todos terem formação acadêmica ou

preparação profissional com experiência externa, aspectos estes que, segundo o arcabouço

teórico pesquisado, são essenciais para se ter mais chances de sucesso, os herdeiros

demonstraram ter habilidades, desempenho e competência para assumirem o lugar dos

antecessores. A experiência prática e o fato de terem sido inseridos bem cedo no contexto das

organizações familiares já têm sido o suficiente para os sucessores conseguirem dar

continuidade ao negócio. Assim, em grandes empresas com processos robustos, setores

estruturados, com alta concorrência entre profissionais qualificados querendo assumir a

gestão, talvez seja realmente imprescindível que os sucessores apresentem todas as

características de formação profissional, experiência, estabelecimento de critérios. Nas

pequenas e médias, por outro lado, um sucessor com poucos atributos, mas com boa

experiência prática parece já ser suficiente para atender à demanda de profissional de que a

organização necessita.

Outro aspecto observado na pesquisa discrepante da literatura consultada está

relacionado à não existência de conflitos no processo de transmissão de poder advindos da

disputa entre os herdeiros, conflitos de interesses e a interferência das relações familiares nos

processos organizacionais. Neste estudo pôde-se perceber uma articulação harmoniosa entre

os interesses familiares e organizacionais nas empresas analisadas, predominando, na maioria

das vezes, os interesses delas. Em todos os casos os gestores têm a preocupação em manter na

organização somente pessoas da família que realmente possam contribuir com seu trabalho

para o desenvolvimento dos negócios. Além disso, as decisões importantes concernentes à

gestão ficam a cargo daquele que ocupa a posição de gestor ou, em algumas situações, como o

da empresa Educar, certas decisões estratégicas são compartilhadas com os futuros herdeiros,

sendo que os outros membros da família direta e estendida não interferem.

Somente em relação à propriedade da empresa percebeu-se que, conforme a teoria

relata, quando não há preparação ou planejamento dos antecessores a esse respeito, a empresa

e os familiares ficam sujeitos aos conflitos que geralmente surgem em virtude da distribuição

da herança. Foi o caso das empresas Adoçar e Transportar, que enfrentaram diversos

problemas com a morte dos fundadores e a entrada dos irmãos na sociedade. Não só as

relações e os laços familiares ficaram abalados, mas as empresas chegaram a sofrer perdas

financeiras em virtude dos conflitos patrimoniais. Por isso, hoje os antecessores já estão

136

tomando medidas a fim de evitar esses problemas para as futuras gerações, que podem ter

proporções bem maiores em se tratando de sociedade entre primos.

Por outro lado, o processo de sucessão pode ser fonte de oportunidades para as

empresas familiares. A entrada dos filhos nas organizações pesquisadas foi sinônimo de

crescimento, desenvolvimento, melhorias financeiras, implantação de novos processos

administrativos, abertura para um novo mercado e até mesmo de profissionalização da gestão.

De modo geral percebeu-se que, justamente pelas peculiaridades das pequenas e

médias empresas, que não exigem grandes estruturas ou formalização dos processos, as

sucessões aconteceram de forma mais intuitiva e isso não acarretou grandes prejuízos às

organizações. Como a estrutura ainda é simples, com menos processos, menos pessoas, os

problemas advindos da falta de planejamento e formalização do processo sucessório foram

contornados e todas continuaram com seu funcionamento normal e ainda com oportunidades

para crescimento. Aliado a isso tem-se o papel primordial dos antecessores, que com seu

empreendedorismo e força de vontade trabalharam e fizeram o possível para dar continuidade

ao negócio, inclusive adotando intuitivamente algumas práticas apontadas pela literaruta

como facilitadoras do processo.

Entre várias lacunas que poderiam ser destacadas na realização deste trabalho, cabe

ressaltar o não cruzamento de diferentes meios de coleta de dados para análise do caso. A

utilização de entrevistas é a principal forma de buscar informações, porém, poderiam ter sido

consultados também os contratos sociais das empresas, que forneceriam informações

adicionais, reafirmando ou até mesmo negando alguns dados informados verbalmente pelos

entrevistados. A pesquisa documental é muito importante para se chegar a uma maior

veracidade nos dados.

Não se pôde, com esta pesquisa, preencher todas as lacunas teóricas, sequer esgotar as

discussões a respeito da sucessão em empresas familiares, mas sim tentar contribuir com

novos exemplos e com discussões anteriormente iniciadas por outros autores. Assim, sugere-

se que os estudos sobre o tema continuem, investigando-se outros casos de pequenas e médias

empresas que possam afirmar ou descartar os achados desta dissertação.

Sugere-se, também, fazer estudos comparativos entre casos de empresas de menor

porte e grandes organizações, averiguando se a natureza do processo realmente se diferencia

em virtude do porte e da estrutura organizacional. Outra sugestão de pesquisa seria a

realização de um estudo profundo sobre os aspectos intrínsecos às pequenas e médias

empresas, indicando-se caminhos para a realização do processo sucessório condizentes com a

137

realidade dessas organizações, tendo em vista que a maioria das pesquisas sobre empresas

familiares requer ações facilitadores mais adequadas às grandes organizações.

138

REFERÊNCIAS

Allio, M. K. (2004). Family business: their virtues, vices, and strategic path. Strategy &

Leadership, 32(4), 24-33.

Astrachan, J. H., & Shanker, M. (2003). Family businesses’ contribution to the US economy:

a closer look. Family Business Review, 16(3), 211–219.

Astrachan, J. H. (2010). Strategy in family business: toward a multidimensional research

agenda. Journal of Family Business Strategy, 1, 6–14.

Astrachan, J. H., Zahra, S. A., & Sharma, P. (2003). Family-sponsored ventures. Paper

presented in New York on April 29, at the First Annual Global Entrepreneurship Symposium:

The Entrepreneurial Advantage of Nations.

Bernhoeft, R. (1989). Empresa familiar: sucessão profissionalizada ou sobrevivência

comprometida. 2 ed. São Paulo: Nobel (179 p.).

Bernhoeft, R., & Gallo, M. (2003). Governança na empresa familiar: gestão, poder e

sucessão. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus (148 p.).

Bertoldi, M. M., & Ribeiro, M. C. F. (2011). Curso Avançado em Direito Comercial. 6 ed.

rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais.

Bird, B., Welsch, H., Astrachan, J. H., & Pistrui, D. (2002). Family business research: the

evolution of an academic field. Family Business Review, 15(4), 337-50.

Bjuggren, P. O., & Sund, L. G. (2005). Organization of Transfers of Small and Medium-Sized

Enterprises Within the Family: Tax Law Considerations. Family Business Review, 18(4), 305-

319.

Bocatto, E., Gispert, C., & Rialp, J. (2010). Family-Owned Business Succession: The

Influence of Pre-Performance in the Nomination of Family and Nonfamily Members:

evidence from Spanish Firms. Journal of Small Business Management, 48(4), 497-523.

Bonoma, T. V. (1985). Case research in marketing: opportunities, problems and a process.

Journal of Marketing Research, xxii.

Borges, A. F., Lescura, C., & Oliveira, J. L. (2010). Empresas familiares: mapeamento da

produção científica brasileira no período 1997-2009. In: VI ENEO - Encontro de Estudos

Organizacionais da ANPAD, 2010. Anais do VI ENEO - Encontro de Estudos

Organizacionais da ANPAD. Florianópolis.

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Porte de Empresa.

Recuperado de: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Navegacao_

Suplementar/Perfil/Grande_Empresa/porte.html>. Acesso em: 20 jan. 2012.

Brasil. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da

Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Diário Oficial da União, Brasília, 14 dez.

2006. Recuperado de: <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/

leiscomplementares/2006/leicp123.htm>. Acesso em: 20 jan. 2012.

139

Burkart, M., Panunzi, F., & Shleifer, A. (2003). Family firms. The Journal of Finance. 58(5),

2167-2201.

Cadieux, L. (2007). Succession in small and medium-sized family businesses: toward a

typology of predecessor roles during and after instatement of the successor. Family Business

Review, 20(2), 95-109.

Campbell, N. D., Heriot, K. C., & Welsh, D. H. B. (2007). The black box: unraveling family

business succession. New England Journal of Entrepreneurship, 10(2), p. 9-14,

Campinho, S. (2005). O Direito de empresa à luz do novo Código Civil. 5 ed. rev. e ampl. Rio

de Janeiro: Renovar (221 p.).

Campos, E. A. da S., Bertucci, J. L. de O., & Pimentel, T. D. (2008). Empresas familiares

longevas: fatores que impactam sua continuidade. In: Relatório de Pesquisa RP0802. Belo

Horizonte: Fundação Dom Cabral.

Carney, M. (2005). Corporate governance and competitive advantage in family-controlled

firms. Entrepreneurship Theory and Practice, 29(3), 249-265.

Chrisman, J. J., Chua, J. H., Sharma, P. (2003). Current trends and future directions in family

business management studies: toward a theory of the family firm. Part of the Coleman

Foundation White Paper Series. 2003.

Chrisman, J. J., Chua, J. H., Sharma, P. (1998). Important attributes of successors in family

businesses: an exploratory study. Family Business Review, 11(1), 19–34.

Chrisman, J. J., Chua, J. H., Steier, L. (2003). An introduction to theories of family business.

Journal of Business Venturing, 18, 441-448.

Cintho, S., Dattein, E., Mambrini, A. B., Medina, J. A. A., & Maccari, E. A. (2010). Cultura

inovadora na pequena e média empresa. In: XXVI Simpósio de Gestão da Inovação

Tecnológica, 2010. Anais do XXVI Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica da ANPAD.

Vitória/ES.

Coelho, J. G., Queiroz, A. C. S., Moreira, D. A. (2004). Programa de Sucessão: um estudo de

caso em uma grande empresa nacional do setor siderúrgico. In: Encontro de Gestão de

Pessoas e Relações de Trabalho, 2007, Natal. Anais... Natal.

Cohn, M. (1991). Passando a tocha: como conduzir e resolver seus problemas da sucessão

familiar. São Paulo: Makron Books (255 p.).

Davel, E., Silva, J. C. S., Fisher, T. (2000). Desenvolvimento tridimensional das organizações

familiares: avanços e desafios teóricos a partir de um estudo de caso. Organização &

Sociedade, Salvador, 7(18), 99-116.

Davis, P. S., & Harveston, P. D. (1998). The influence of family business succession process:

a multi-generational perspective. Entrepreneurship Theory and Practice, 22(3), 31-53.

140

De Geus, A. (1998). A empresa viva: como as organizações podem aprender a prosperar e se

perepetuar. 7. ed., Rio de Janeiro.

Debicki, B. J., Matherne III, C. F., Kellermanns, F. W., & Chrisman, J. J. (2009). Family

business research in the new millennium: An overview of the who, the where, the what, and

the why. Family Business Review, 22(2), 51-166.

Donnelley, R. (1964). The family business. Harvard Business Review, 42(4).

Drucker, P. F. (1981). A empresa pequena; a empresa média; a empresa em crescimento. In:

Prática da administração de empresas. São Paulo: Pioneira. Cap.18. (pp. 217-239).

Eisenhardt, K. M. B. (1989). Theories from case study research. Standford University.

Academy of Management Review, 14(4), 532-550.

Estol, K. M. F., & Ferreira, M. C. (2006). O processo sucessório e a cultura organizacional

em uma empresa familiar brasileira. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba,

10(4), 93-110.

Family Firm Institute. (2012). Global Data Points. Recuperado de:

<http://www.ffi.org/?page=GlobalDataPoints>. Acesso em: 20 jan. 2012.

Gallo, M. A., & Sveen, J. (1991). Internationalizing the family business: facilitating and

restraining forces. Family Business Review, 4(2), 181-189.

Gersick, K. E., Davis, J. A., Hampton, M. M., & Lansberg, I. (1997). De geração para

geração: ciclos de vida das empresas familiares. 4. ed. São Paulo: Negócio.

Godoi, C. K., & Balsini, C. P. V. (2004). A metodologia qualitativa em estudos

organizacionais: análise da produção científica brasileira entre 1997 e 2003. In: Encontro de

Estudos Organizacionais, 3, 2004, Atibaia. Anais... Atibaia.

Godoy, A. S. (1995). Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de

Empresas, São Paulo, 35(3), 65-71.

Gonçalves, J. S. R. C. (2000). As empresas familiares no Brasil. Revista de Administração de

Empresas, São Paulo, 7(1), 7-12.

Goode, W. J., & Hatt, P. K. (1973). Métodos em pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Nacional.

Grzybovski, D., Hoffmann, P., & Muhl, E. E. (2008). Estratégia e sucessão na gestão de

empresas familiares: um estudo do caso Gerdau. In: Encontro de Estudos Organizacionais,

2008, Belo Horizonte. Resumo dos Trabalhos do V Encontro de Estudos Organizacionais

Eneo 2008. Anais… Porto Alegre (p. 56).

Grzybovski, D. (2007). Plataforma de conhecimentos e aprendizagem transgeracional em

empresas familiares. 383 p. Tese (Doutorado em Administração), Universidade Federal de

Lavras.

141

Halinen, A., & Törnroos, J. (2005). Using case methods in the study of contemporary

business networks. Journal of Business Research, 58(9), 1285-1297.

Handler, W. C. (1990). Succession in family firms: a mutual role adjustment between

entrepreneur and nextgeneration family members. Entrepreneurship Theory & Practice,

15(1), 37–51.

Handler, W. C. (1992). The succession experience of the next generation. Family Business

Review, 5(3), 283–307.

Heck, R. K. Z., Hoy, F., Poutziouris, P. Z., & Steier, L. P. (2008). Emerging paths of family

entrepreneurship research. Journal of Small Business Management, 46(3), 317-330.

Heck, R. K. Z., & Stafford, K. (2001). The vital institution of family business: economic

benefits hidden in plain sight. In: Mccann, G. K.,& Upton, N. (Ed.) Family business

gathering 2001 The holistic model: Destroying myths and creating value in family business.

Deland: Stetson University Press (pp. 9-18).

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2003). As micro e pequenas empresas

comerciais e de serviços no Brasil: 2001. IBGE, Coordenação de Serviços e Comércio. Rio de

Janeiro: IBGE, 2003. Recuperado de:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/microempresa/microempresa2001.pdf>.

Acesso em: 20 jan. 2012.

La Rovére, R. L. (2001). Perspectivas das micro, pequenas e médias empresas no Brasil.

Revista de Economia Contemporânea, 5, 1-22.

Lambrecht, J. (2005). Multigenerational transition in family businesses: a new explanatory

model. Family Business Review, Boston, 18(4), 267-282.

Lansberg, I. S. (1999). Succeeding generations: Realizing the dream of families in business.

Boston: Harvard Business School Press.

Lansberg, I. S. (1988). The succession conspiracy. Family Business Review, 1(2), 119–143.

Le Breton-Miller, J., Miller, D., & Steier, L. P. (2004). Toward an integrative model of

effective FOB succession. Entrepreneurship Theory & Practice, 28(4), 305-328.

Lee, J. (2006). Impact of family relationships on attitudes of second generation in family

business. Family Business Review. 19, 175-91.

Leonard-Barton, D. (1990). A dual methodology for case studies: Synergistic use of a

longitudinal single site with replicated multiple sites. Organization Science, 1(3), 248-266,

Leone, N. M. de C. P. G. (1999). As especificidades das pequenas e médias empresas. Revista

de Administração, São Paulo, 34(2), 91-94.

Leone, N. M. de C. P. G. (1992). A sucessão em pequena e média empresa comercial na

região de João Pessoa. Revista de Administração, São Paulo: Fundação Instituto de

Administração, 27(3), 84-91.

142

Leone, N. M. de C. P. G. (2005). Sucessão na empresa familiar: preparando as mudanças

para garantir sobrevivência no mercado globalizado. São Paulo: Atlas.

Lodi, J. B. A empresa familiar. 5 ed. São Paulo: Pioneira, 1998.

Lodi, J. B., & Lodi, E. P. (2004). Holding. 3 ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,.

Lodi, J. B. (1989). O fortalecimento da empresa familiar. 3 ed. São Paulo: Pioneira.

Lodi, J. B. (1987). Sucessão e conflito na empresa familiar. São Paulo: Pioneira (151 p.).

Macêdo, K. B. (2002). Cultura, poder e decisão na organização familiar brasileira. RAE-

eletrônica, 1(1).

Martins, I. G. S., & Menezes, P. L. (1999). Bernhoeft, R. Empresas familiares brasileiras:

perfil e perspectivas. São Paulo: Negócio (212 p.).

Meyer, C. B. (2001). A case in case study methodology. Field Methods, 13.

Miller, D., Steier, L., & LE Breton-Miller, I. (2003). Lost in time: intergenerational

succession, change and failure in family business. Journal of Business Venturing, 18(4), 513-

531.

Morris, M. H., Williams, R. O., Allen, J. A., & Avila, R. A. (1997). Correlates of success in

family business transitions. Journal of Business Venturing, 12(5), 385–401.

Muchon, D., & Campos, E. A. da S. (1998). A profissionalização da empresa familiar. Belo

Horizonte: Fundação Dom Cabral. Ensaio.

Mussi, F. B., Teixeira, R. M., & Massukado-Nakatani, M. S. (2008). A empresa familiar e a

sucessão na interpretação do herdeiro. In: V EnEO - Encontro de Estudos Organizacionais,

2008, Belo Horizonte - MG. Anais… V.

Oliveira, D. P. R. de. (1999). Empresa familiar: como fortalecer o empreendimento e otimizar

o processo sucessório. São Paulo: Atlas (256 p.).

Oliveira, O. J. (2006). Pequena empresa no Brasil: um estudo de suas características e

perspectivas. Revista Integração, (44), 5-15.

Pereira, R. C. M., & Sousa, P. A. (2009). Fatores de Mortalidade de Micro e Pequenas

Empresas: um Estudo sobre o Setor de Serviços. In: VI Simpósio de Excelência em Gestão e

Tecnologia, 2009. Anais do VI Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. Resende/RJ.

Pettigrew, A. M. (1990). Longitudinal field research on change: theory and practice.

Organization Science, 1(3), 267-292.

Pricewaterhouse Coopers – PwC. (2010). As empresas familiares no Brasil - Pesquisa.

Recuperado de: http://www.pwc.com.br/pt_BR/br/estudos-pesquisas/assets/empresas-

familiares-2010A.pdf. Acesso em: 17 mai. 2013.

143

Pyromalis, V. D., & Vozikis, G. S. (2009). Mapping the successful succession process in

family firms: evidence from Greece. International Entrepreneurship and Management

Journal, 5, (4), 439-460.

Reis, A. P., & Escrivão Filho, E. (2003). Análise das barreiras à prática do treinamento na

pequena empresa. In: XXVII Encontro Anual da ANPAD, 2003, Atibaia. Anais do XXVII

Encontro Anual da ANPAD. Atibaia-SP: ANPAD, 1, 1-12.

Ricca, D. (2007). Sucessão na empresa familiar: conflitos e soluções. CLA.

Ricca, D. N. (1998). Da empresa familiar à empresa profissional. São Paulo: Cultural,.

Rossato, F. J. N., & Cavedon, N. R. (2004). Empresas familiares: desfilando seus processos

sucessórios. Cadernos EBAPE.BR, 2(3).

Scheffer, A. B. (1993). Sucessão em empresas familiares: dificuldades e ações preventivas.

(Dissertação de Mestrado). Porto Alegre, UFRS (141 p.).

Scheffer, A. B. (1995). Fatores dificultadores e facilitadores do processo de sucessão familiar.

Revista de Administração, 30(3), 80-90.

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. (2005). No Brasil,

90% das empresas são familiares. Recuperado de: <http://www.sebrae-

sc.com.br/newart/default.asp?materia=10410>. Acesso em: 08 out. 2011.

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. (2011a). As pequenas

empresas do simples nacional. Unidade de Gestão Estratégica – UGE. Recuperado de:

<http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/9BB59A59F0E2E04583

257957004777CE/$File/NT000470DE.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2012.

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. (2011b). Taxa de

sobrevivência das empresas no Brasil. Unidade de Gestão Estratégica – UGE. Recuperado de:

<http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/BDS.nsf/45465B1C66A6772D8325793000

51816C/$File/NT00046582.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2012

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. (2012). Critérios e

conceitos para classificação de empresas. Recuperado de:

<http://www.sebrae.com.br/uf/goias/indicadores-das-mpe/classificacao-empresarial/>. Acesso

em: 20 jan. 2012.

Sharma, P., Chrisman, J. J., & Chua, J. H. (1997). Strategic management of the family

business: past research and future challenges. Family Business Review, 10(1).

Sharma, P., Chrisman, J. J., Pablo, A. L., & Chua, J. H. (2001). Determinants of initial

satisfaction with the succession process in family firms: a conceptual model.

Entrepreneurship Theory & Practice, 25(3), 17–35.

144

Souza, E. C. L. (2001). A disseminação da cultura empreendedora e a mudança na relação

universidade-empresa. In: Souza, E. C. L. (org.). Empreendedorismo: competência essencial

para pequenas e médias empresas. Brasília: Anprotec.

Stewart, A., & Miner, A. S. (2011). The prospects for family business in research universities.

Journal of Family Business Strategy, 2(1), 3-14.

Tagiuri, R., & Davis, J. A. (1996). Bivalent attributes of the family firm. Family Business

Review, 9(2), 199-208.

Teixeira, E. B., Toso, V. C., Grzybovski, D. Práticas de gestão em micro e pequenas empresas

de base familiar: um estudo das empresas industriais assistidas pelo Programa de Extensão

Empresarial em Ijuí, no Rio Grande do Sul. Revista de Estudos de Administração (UNIJUÍ),

v. 18, p. 127-157, 2009.

Tillmann, C., & Grzybovski, D. (2005). Sucessão de dirigentes na empresa familiar:

estratégias observadas na família empresária. Organizações & Sociedade, Salvador, 12(32),

45-61.

Tsui-Auch, L. S. (2004). The professionally managed family-ruled enterprise: ethnic chinese

business in Singapore. Journal of Management Studies, 41(4), 693-723.

Wang, Y., Watkins, D., Harris, N., & Spicer, K. (2004). The relationship between succession

issues and business performance: evidence from UK family SMEs. International Journal of

Entrepreneurial Behaviour & Research, 10(½), 59–84.

Ward, J. L. (1987). Keeping the family business healthy: How to plan for continuing growth

profitability and family leadership. San Francisco: Jossey-Bass (p. 286).

Yilmazer, T., & Schrank, H. (2010). The use of owner resources in small and family owned

businesses: literature review and future research directions. Journal of Family and Economic

Issues, 34(1), 339-413.

Yin, R. K. (1989). Case study research: design and methods. Sage Publications Inc., USA.

Yin, R. K. (2005). Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução de Daniel Grassi do

original de 1994, Case study research: design and method, Sage Publications. 3. ed. Porto

Alegre: Bookman.

Yin, R. K. (1981). The case study crisis: some answers. Administrative Science Quartely, 26.

145

APÊNDICES

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA: SUCEDIDO

1) Quais membros da família trabalham na empresa e em quais cargos?

2) A sucessão à presidência está em andamento nesta empresa?

3) Quando começou e o que desencadeou o processo?

4) Há algum planejamento?

5) Como a sucessão está sendo feita?

6) Existiu algum critério para a escolha do sucessor? Quais?

7) Como ele está sendo preparado?

8) Qual o seu papel no processo de sucessão?

9) Existe alguma expectativa de o(a) senhor(a) se desligar da empresa?

10) Para o(a) senhor(a), o que caracteriza o seu efetivo desligamento e o consequente fim do

processo sucessório?

11) O que o(a) senhor(a) pretende fazer depois de concluída a sucessão?

12) De que forma a família está envolvida nos negócios?

13) A empresa tem outros herdeiros?

14) Como ficará a situação deles na empresa?

15) Alguma dificuldade surgiu durante o processo de sucessão?

16) Como se pretende superar as dificuldades destacadas?

17) Quais oportunidades para o negócio podem ter surgido em decorrência do processo

sucessório?

18) Como o senhor pretende agir em relação à propriedade da empresa?

19) Quais as principais mudanças que ocorreram na empresa em função da sucessão?

20) Quantos empregados tem a empresa?

21) Receita bruta anual da empresa:

( ) Menos de R$ 360.000,00

( ) Entre R$ 360.000,00 e R$ 2,4 milhões

( ) Entre R$ 2,4 milhões e R$ 3,6 milhões

( ) Entre R$ 3,6 milhões e R$ 16 milhões

( ) Mais de R$ 16 milhões e menos de R$

90 milhões

Dados do entrevistado:

Nome:

Sexo: ( ) M ( ) F

Idade: ____ anos

Função: ________________

Nível de escolaridade:

( ) Primeiro grau

( ) Segundo grau

( ) Graduação

( ) Pós-Graduação

146

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA: HERDEIRO

1) Quais membros da família trabalham na empresa e em quais cargos?

2) A sucessão à presidência está em andamento nesta empresa?

3) Quando começou e o que desencadeou o processo?

4) Há algum planejamento?

5) Como a sucessão está sendo feita?

6) Existe algum critério para a escolha do sucessor? Quais?

7) Como ele está sendo preparado?

8) Por que você decidiu trabalhar nesta empresa e não em outra?

9) Pretende sair um dia?

10) Você acha que seria o mais indicado para assumir a empresa?

11) A empresa tem outros herdeiros?

12) Como ficará a situação deles na empresa?

13) Como será o procedimento em relação à propriedade da empresa?

14) Para você, o que marca efetivamente a finalização do processo sucessório?

15) Como o sucedido tem assessorado o sucessor no aprendizado das funções?

16) Você acha que os funcionários aceitam bem sua presença na empresa?

17) Como é o seu relacionamento com eles?

18) De que forma a família está envolvida nos negócios?

19) Alguma dificuldade surgiu durante o processo de sucessão?

20) Como se pretende superar as dificuldades destacadas?

21) Quais oportunidades para o negócio podem ter surgido em decorrência do processo

sucessório?

Dados do entrevistado:

Nome:__________________

Sexo: ( ) M ( ) F

Idade: ____ anos

Função:__________________

Nível de escolaridade:

( ) Primeiro grau

( ) Segundo grau

( ) Graduação

( ) Pós-Graduação

147

APÊNDICE C – ANÁLISE CONJUNTA DOS CASOS – RESUMO COMPARATIVO ENTRE AS EMPRESAS

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

Sucessão

Planejamento Sem planejamento

formal

Sem planejamento

formal

Sem planejamento

formal

Sem planejamento

formal

Sem planejamento

formal

Entrada dos filhos

para trabalhar na

empresa

Foi o fator

desencadeador do

processo de sucessão

Foi o fator

desencadeador do

processo de sucessão

Foi o fator

desencadeador do

processo de sucessão

Foi o fator

desencadeador do

processo de sucessão

Foi o fator

desencadeador do

processo de sucessão

Motivos inesperados

(morte, doença ou

outro)

Não Não

Ocorreu na

passagem da

primeira para a

segunda geração

Ocorreu na

passagem da prmeira

para a segunda

geração

Ocorreu na

passagem da prmeira

para a segunda

geração

O antecessor

Seu papel dentro do

processo Colaborador

Supervisor,

professor e protetor. Supervisor Consultor Consultor

Relação com o

sucessor

Boa relação entre

antecessor e

sucessores, apesar

do conflito de

gerações

Boa relação

Boa relação mesmo

diante do perfil

centralizador do

antecessor que não

permite que os filhos

desenvolvam sua

autonomia

Boa relação mesmo

diante do perfil

centralizador do

antecessor que não

permite que os filhos

desenvolvam sua

autonomia

Boa relação

Previsão de

desligamento da

empresa

Antecessores não

têm perspectiva de

deixar o negócio

Fundadores têm o

desejo de se

aposentar em um

futuro próximo (10

anos)

Antecessores não

têm perspectiva de

deixar o negócio

O Pai D na sucessão

anterior só deixou a

gestão depois de

receber orientação

externa. Os atuais

gestores ainda não

têm planos de deixar

o negócio.

O Pai E planejou sua

saída da gestão e fez

a transição

espontaneamente. O

gestor atual (Filho

1E) ainda não tem

perspectiva de se

desligar da empresa.

148

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

O sucessor

Critérios para a

escolha do sucessor

Não foram

encontrados critérios

predefinidos

formalmente para a

escolha dos

sucessores nas

empresas, porém,

intuitivamente os

antecessores se

utilizaram os

critérios: afinidade,

idade,

primogenitura,

tempo de empresa

Idade, área de

atuação

correspondente ao

negócio e ao cargo,

tempo de

experiência

Formação necessária

em Farmácia e maior

preparo e

experiência para

assumir a empresa

Ser homem e ter

experiência

Interesse, formação

em nível superior,

capacitação.

Formação/ preparação

profissional

Sucessor não tem

formação superior.

Participa de feiras e

se prepara com a

vivência prática no

negócio.

Sucessores possuem

dois diplomas em

cursos superiores e

pós-graduação

Formação em nível

superior em

Farmácia e cursos na

área administrativa

Um sucessor não é

formado e os outros

dois fizeram

Administração e

Engenharia. Todos

participam de cursos

gastronômicos em

São Paulo.

Sucessor não tem

formação superior,

prepara-se com a

vivência prática no

negócio.

Habilidades,

desempenho e

experiência para

liderar a empresa.

Demonstram

interesse, são

dedicados, com

perfil de liderança,

empreendedorismo,

bom relacionamento

interpessoal e

competência para

assumir

Demonstram

interesse, são

dedicados, com

perfil de liderança,

empreendedorismo,

bom relacionamento

interpessoal e

competência para

assumir

Demonstram

interesse, são

dedicados, com

perfil de liderança,

empreendedorismo,

bom relacionamento

interpessoal e

competência para

assumir

Demonstram

interesse, são

dedicados, com

perfil de liderança,

empreendedorismo,

bom relacionamento

interpessoal e

competência para

assumir

Demonstram

interesse, são

dedicados, com

perfil de liderança,

empreendedorismo,

bom relacionamento

interpessoal e

competência para

assumir

149

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

O sucessor

Entrada no negócio

precocemente

Os herdeiros

começaram ainda

jovens a trabalhar na

empresa da família.

Os herdeiros

começaram ainda

jovens a trabalhar na

empresa da família.

Na Educar, eles já

eram mais velhos,

mas acompanharam

o desenvolvimento

da escola desde a sua

fundação.

Os herdeiros

começaram ainda

jovens a trabalhar na

empresa da família.

Os herdeiros

começaram ainda

jovens a trabalhar na

empresa da família.

Os herdeiros

começaram ainda

jovens a trabalhar na

empresa da família.

Experiência externa

O sucessor não teve

alguma expêriencia

externa

O sucessor trabalhou

em outras escolas e

em um banco antes

de ir para a empresa

familiar

O sucessor não teve

alguma expêriencia

externa

Dois sucessores não

tiveram alguma

experiência externa e

um trabalhou em seu

negócio próprio

antes de ir para a

empresa da família

O sucessor trabalhou

por três anos em

uma concessionária

Motivação do sucessor

para assumir a

empresa

Os sucessore estão

na empresa por

vontade e decisão

própria. Eles são tão

motivados e não

pensam em trabalhar

em outro lugar.

Os sucessore estão

na empresa por

vontade e decisão

própria. Eles são tão

motivados e não

pensam em trabalhar

em outro lugar.

Os sucessore estão

na empresa por

vontade e decisão

própria. Eles são tão

motivados e não

pensam em trabalhar

em outro lugar.

Os sucessore estão

na empresa por

vontade e decisão

própria. Eles são tão

motivados e não

pensam em trabalhar

em outro lugar.

Os sucessore estão

na empresa por

vontade e decisão

própria. Eles são tão

motivados e não

pensam em trabalhar

em outro lugar.

Relacionamento com

os outros herdeiros

Não observou-se

conflitos entre os

herdeiros.

Nenhum conflito Nenhum conflito Nenhum conflito Nenhum conflito

Relacionamento com

os funcionários

Os funcionários

aceitam a posição de

liderança que os

sucessores ocupam.

Bom relacionamento Bom relacionamento Bom relacionamento Bom relacionamento

150

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

A família

Envolvimento da

família nos negócios

Demonstraram

conseguir delimitar a

esfera familiar e a

esfera empresarial,

não misturando as

duas

Demonstraram

conseguir delimitar a

esfera familiar e a

esfera empresarial,

não misturando as

duas

Demonstraram

conseguir delimitar a

esfera familiar e a

esfera empresarial,

não misturando as

duas

Demonstraram

conseguir delimitar a

esfera familiar e a

esfera empresarial,

não misturando as

duas

Demonstraram

conseguir delimitar a

esfera familiar e a

esfera empresarial,

não misturando as

duas

Situação dos outros

herdeiros que não

assumirão a sucessão

Aqueles que

trabalham nas

empresas por

enquanto parecem

estar satisfeitos e

aceitando bem o

sucessor escolhido.

Esses continuarão

trabalhando

normalmente. Os

que já exercem suas

atividades

externamente ao

negócio familiar

também continuarão

da mesma forma.

Aqueles que

trabalham nas

empresas por

enquanto parecem

estar satisfeitos e

aceitando bem o

sucessor escolhido.

Esses continuarão

trabalhando

normalmente. Os

que já exercem suas

atividades

externamente ao

negócio familiar

também continuarão

da mesma forma.

Aqueles que

trabalham nas

empresas por

enquanto parecem

estar satisfeitos e

aceitando bem o

sucessor escolhido.

Esses continuarão

trabalhando

normalmente. Os

que já exercem suas

atividades

externamente ao

negócio familiar

também continuarão

da mesma forma.

Aqueles que

trabalham nas

empresas por

enquanto parecem

estar satisfeitos e

aceitando bem o

sucessor escolhido.

Esses continuarão

trabalhando

normalmente. Os

que já exercem suas

atividades

externamente ao

negócio familiar

também continuarão

da mesma forma.

Aqueles que

trabalham nas

empresas por

enquanto parecem

estar satisfeitos e

aceitando bem o

sucessor escolhido.

Esses continuarão

trabalhando

normalmente. Os

que já exercem suas

atividades

externamente ao

negócio familiar

também continuarão

da mesma forma.

Propriedade da

empresa

Não se preocupam

em resolver a

propriedade da

empresa

Buscam orientação

para em vida deixar

resolvida a questão

da herança.

Buscam orientação

para em vida deixar

resolvida a questão

da herança.

Não se preocupam

em resolver a

propriedade da

empresa

Buscam orientação

para em vida deixar

resolvida a questão

da herança

151

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

Dificuldades

Falta de planejamento

Ainda não

apareceram

dificuldades em

virtude da falta de

planejamento da

sucessão

Ainda não

apareceram

dificuldades em

virtude da falta de

planejamento da

sucessão

Como não existe o

planejamento, o

antecessor não

consegue finalizar o

processo de

sucessão, mesmo

não estando com

idade para continuar

na direção

A falta de

planejamento formal

acarretou problemas

para a empresa, bem

como para os seus

sucessores no

primeiro processo de

sucessão. Como o

processo aconteceu

abruptamente, em

virtude da morte do

fundador, houve

problemas em

relação à herança,

que levaram a

processos judiciais e

afetaram o

patrimônio da

organização

A falta de

planejamento formal

acarretou problemas

para a empresa, bem

como para os seus

sucessores no

primeiro processo de

sucessão. Como o

processo aconteceu

abruptamente, em

virtude da morte do

fundador, houve

problemas em

relação à herança,

que levaram a

processos judiciais e

afetaram o

patrimônio da

organização

Dificuldade do

antecessor em deixar o

negócio

Os antecessores não

têm planos de se

aposentar e passar o

negócio para os

filhos. Um dos

motivos é a idade,

visto que eles ainda

são novos; e o outro

é a necessidade de os

sucessores se

prepararem mais

Os antecessores

pretendem continuar

em suas empresas

como consultores ou

conselheiros

O antecessor já

poderia ter

finalizado o

processo, mas não

tem perspectiva de

parar ou deixar a

gestão com sua

sucessora.

Os antecessores

pretendem continuar

em suas empresas

Os antecessores não

têm planos de se

aposentar e passar o

negócio para os

filhos. Um dos

motivos é a idade,

visto que eles ainda

são novos; e o outro

é a necessidade de os

sucessores se

prepararem mais.

Os antecessores

pretendem continuar

em suas empresas

como consultores ou

conselheiros

152

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

Dificuldades

Os antecessores

pretendem continuar

em suas empresas

como consultores ou

conselheiros

como consultores ou

conselheiros

Nesta empresa o Pai

D estava tão

acostumado a ser o

único tomador de

decisões que só

conseguiu abrir mão

da gestão e perceber

que os filhos

estavam capacitados

para assumir quando

foi aconselhado por

um consultor.

Não preparação do

sucessor

Alguns sucessores

não fizeram curso

superior nem

tiveram experiência

fora da empresa.

Quase todo o

conhecimento e

preparação vêm da

prática no dia-a-dia

do negócio e do

convívio com os

antecessores, que

transmitem seus

conhecimentos e seu

know-how para os

filhos. Porém, a falta

da formação

acadêmica não se

configura uma

Não se aplica Não se aplica

Alguns sucessores

não fizeram curso

superior nem

tiveram experiência

fora da empresa.

Quase todo o

conhecimento e

preparação vêm da

prática no dia-a-dia

do negócio e do

convívio com os

antecessores, que

transmitem seus

conhecimentos e seu

know-how para os

filhos. Porém, a falta

da formação

acadêmica não se

configura uma

Alguns sucessores

não fizeram curso

superior nem

tiveram experiência

fora da empresa.

Quase todo o

conhecimento e

preparação vêm da

prática no dia-a-dia

do negócio e do

convívio com os

antecessores, que

transmitem seus

conhecimentos e seu

know-how para os

filhos. Porém, a falta

da formação

acadêmica não se

configura uma

153

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

Dificuldades

dificuldade em

nenhum dos casos.

Uma situação

identificada no

processo sucessório

que pode vir a ser

uma dificuldade no

futuro está

relacionada à falta

de um sucessor que

possa assumir as

atividades da Mãe A

dificuldade em

nenhum dos casos.

Uma situação

identificada no

processo sucessório

que pode vir a ser

uma dificuldade no

futuro está

relacionada à falta

de um sucessor que

possa assumir as

atividades da parte

administrativa

dificuldade em

nenhum dos casos.

Falta de

profissionalização Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica

Disputa de poder entre

os herdeiros

Não se detectaram

conflitos aparentes

de disputa de poder

ou de não aceitação

do sucessor

escolhido, por parte

dos outros irmãos.

Porém, no caso da

Alimentar, como não

existe planejamento

sobre a divisão dos

bens, a herança pode

vir a ser um fator de

disputa entre os

filhos e ser uma

dificuldade,

Não se detectaram

conflitos aparentes

de disputa de poder

ou de não aceitação

do sucessor

escolhido, por parte

dos outros irmãos.

Não se detectaram

conflitos aparentes

de disputa de poder

ou de não aceitação

do sucessor

escolhido, por parte

dos outros irmãos.

Não se detectaram

conflitos aparentes

de disputa de poder

ou de não aceitação

do sucessor

escolhido, por parte

dos outros irmãos.

Na sucessão

anterior, da primeira

para a segunda

geração, os

sucessores

enfrentaram

problemas com os

irmãos por causa da

herança, inclusive

Não se detectaram

conflitos aparentes

de disputa de poder

ou de não aceitação

do sucessor

escolhido, por parte

dos outros irmãos.

Na sucessão

anterior, da primeira

para a segunda

geração, os

sucessores

enfrentaram

problemas com os

irmãos por causa da

herança, inclusive

154

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

Dificuldades

principalmente

porque um deles

nem trabalha na

empresa

ações judiciais ações judiciais

Conflitos dentro da

família

Conflito de ideias

entre os membros da

família a respeito da

forma de gestão e

dos objetivos da

organização. Os pais

não querem aceitar

algumas mudanças

propostas pelos

filhos que querem

fazer a empresa

crescer e gerar mais

lucro.

Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica

Conflitos com

funcionários Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica

Oportunidades Possibilidade de

crescimento

A entrada das novas

geraçãoes propiciou

o crescimento das

empresas atraves da

melhoria e

reestruturação dos

processos

administrativos.

A entrada das novas

geraçãoes propiciou

o crescimento das

empresas atraves da

melhoria e

reestruturação dos

processos

administrativos.

Implantação do

laboratório de

manipulação, que é

coordenado por uma

sucessora, abertura

de mercado para

venda de

medicamentos

homeopáticos e

manipulados na

farmácia

Até a terceira

geração entrar no

negócio, existia

apenas uma loja que

vendia os produtos

da fábrica. Aabertura

de novas lojas e a

expansão do negócio

só foi possível com a

chegada dos

sucessores

A entrada das novas

geraçãoes propiciou

o crescimento das

empresas atraves da

melhoria e

reestruturação dos

processos

administrativos

155

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

Oportunidades

Novas formas de

conduzir o negócio

Os sucessores

influenciaram na

gestão das empresas

passando a valorizar

e a desenvolver

setores que não

tinham tanta atenção

como o RH, controle

de estoques,

informatização dos

sistemas, políticas de

motivação e

desenvolvimento de

funcionários

Os sucessores

impantaram novas

ferramentas

administrativas,

estuturando e

formalizando os

processos nas

organizações.

Implantação de

sistemas

informatizados de

controle financeiro e

vendas

Os herdeiros

procuram fazer

vários cursos na área

do negócio da

empresa para se

atualizarem com o

mercado, para

desenvolverem

novos produtos,

além de estarem

atentos à opinião dos

consumidores, que é

o principal meio de

avaliar a demanda

do que está sendo

ofertado no mercado

ou do que precisa ser

inovado

Os sucessores

impantaram novas

ferramentas

administrativas,

estuturando e

formalizando os

processos nas

organizações.

Melhorias financeiras

A partir dos avanços

implantados pelos

sucessores foi

possível aperfeiçoar

o desempenho

financeiro. Na

Alimentar,

houveram ganhos

significativos com os

baixos custos e a

diminuição do tempo

de compras depois

da implantação do

sistema de leilão

Não aplica Não aplica Não aplica Não aplica

156

Categoria Subcategorias Síntese

Alimentar Educar Medicar Adoçar Transportar

Oportunidades Profissionalização da

gestão Não aplica

Traços de

profissionalição

podem ser

destacados na

Educar, onde a

família é mais

numerosa e seus

atuais gestores se

preocupam em

impor regras ou ter

atitudes para

controlar a entrada

de familiares na

empresa. Os

parentes que

desejam trabalhar na

organização têm que

ser qualificados.

Não aplica

Traços de

profissionalição

podem ser

destacados na

Adoçar, onde a

família é mais

numerosa e seus

atuais gestores se

preocupam em

impor regras ou ter

atitudes para

controlar a entrada

de familiares na

empresa. Os

parentes que

desejam trabalhar na

organização têm que

ser qualificados. A

abertura de novas

lojas para evitar a

entrada desenfreada

de parentes na

fábrica da Adoçar é

um traço marcante

dessa

profissionalização

Foram definidos

critérios para a

entrada de familiares

na organização; o

Pai E já deixou em

testamento uma

parcela maior das

cotas da empresa

para o Filho 1E, seu

sucessor, para que

ele não perca o

direito de comando

na organização;

também foi utilizada

como estratégia para

proteger o

patrimônio da

empresa e dos filhos

a abertura de

empresas holding.