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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAISPrograma de Pós-graduação em Engenharia Elétrica
“Influência da Estratificação do Solo na Impedância”
“Impulsiva de Aterramentos de Linhas de Transmissão”
Paulo José Clebicar Nogueira
Dissertação de Mestrado CEMIG – PUC/PPGEE – 04 de Março de 2002
Orientador : Prof. Dr. Mário Fabiano Alves - PUC
Co-Orientador : Prof. Dr. Jaime Arturo Ramirez - UFMG
"Tente ser uma pessoa de sucesso, mas prioritariamente, tente ser uma pessoa de valor."
"Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário."
Albert Einstein
Agradecimentos e Dedicatória I
Agradecimentos e Dedicatória
Gostaria de agradecer de forma geral a todos aqueles que contribuíram direta
ou indiretamente para a concretização deste trabalho.
Aos professores Jaime Ramirez e Mário Fabiano Alves pela orientação,
dedicação, compreensão, interesse e estímulos.
A CEMIG, pelo suporte financeiro.
Aos colegas da CEMIG pela confiança e apoio, em particular : Ana, Artur,
Gernan, Edino, Renato, Osvaldo, Carlos Alexandre, Elma, Coutinho, Francisco,
Weber e demais colegas do ER/LT
Ao Simon Fortin da SES, pelo apoio técnico.
À minha esposa Mirela pelo apoio e compreensão.
Aos meus filhos Thays, Thamyres, Thalys e Maria Clara.
Ao meu Pai e a todos os meus familiares.
A Deus, por tudo.
Quero dedicar este trabalho à minha mãe Dora Cecília Levenhagen Clebicar,
símbolo de luta, persistência e busca dos ideais.
Resumo II
Resumo
Este trabalho apresenta um estudo da influência da estratificação do solo nos
valores de impedâncias impulsivas de aterramentos de torres de linhas de
transmissão, quando submetidas a fenômenos impulsivos do tipo descargas
atmosféricas.
Foi avaliada a dependência da impedância impulsiva de aterramento no maior
número de parâmetros possíveis que a afetam diretamente. O arranjo de
aterramento atualmente utilizado pela Companhia Energética de Minas Gerais
é analisado, e uma proposta para a redução da impedância, através da
utilização de camadas resistividades mais baixas de solos estratificados é
apresentada.
Com objetivo de obter menores índices de desligamentos nas linhas de
transmissão, quando submetidas a descargas atmosféricas, é apresentada
uma proposta para o aproveitamento de camadas de resistividade com valores
reduzidos em relação à primeira, dentro de limites práticos exeqüíveis,
proporcionando menores impedâncias impulsivas com relação ao estudo
considerando solo homogêneo (reduções de até 50%).
O principal diferencial deste trabalho com relação a trabalhos anteriores é a
consideração do solo estratificado em camadas para análise de transitórios em
sistemas de aterramentos de linhas de transmissão. Outro diferencial foi a
utilização do sistema de aterramento incluindo a representação da grelha de
forma completa, sem simplificações.
Abstract III
Abstract
This work presents a study of the influence of the soil stratification in the
impulsive impedance of transmission line towers grounding, when submitted to
impulsive phenomena such as lightning.
The dependence of the grounding impulsive impedance in relation to a large
number of parameters that may influence it is discussed. The grounding
arrangements currently used by Companhia Energética de Minas Gerais –
CEMIG is analyzed and a proposal to reduce the impedance, through the use of
lower soil's layers, is presented.
In a attempt to obtain a smaller rate of outage for transmission lines when
submitted to lightning strokes, it is proposed a better use of the soil's lower
layers with reduced values in relation to the first layer, within practical limits, in
relation to the study which considers the soil as being homogeneous,.
The consideration of the soil stratification for the analysis of transients in
transmission line‘s grounding systems is the main differential presented by this
work in relation to previous ones. Another differential was the use of the
grounding system including the representation of tower's grille in its complete
and not simplified version.
Sumário IV
Sumário
Agradecimentos e Dedicatória.............................................................................I
Resumo...............................................................................................................II
Abstract..............................................................................................................III
Sumário.............................................................................................................IV
Glossário..........................................................................................................VIII
Lista de Tabelas............................................................................................... XII
Lista de Figuras................................................................................................XIII
Capítulo 1 : Introdução
1.1 – Objetivos do Trabalho....................................................................1
1.2 – Relevância do Tema......................................................................2
1.3 – Escopo ..........................................................................................5
1.4 – Metodologia ...................................................................................6
1.5 – Contribuição ..................................................................................8
1.6 – Organização do Trabalho ..............................................................9
Sumário V
Capítulo 2 : Sistemas de Aterramento para Linhas de
Transmissão
2.1 – Introdução.....................................................................................11
2.2 – Influência do Aterramento no Desligamento de Linhas de
Transmissão
2.2.1 – Introdução..........…..........……….......................……....….12
2.2.2 – Incidência da Descarga na Torre ......…….................……13
2.2.3 – Reflexões no Aterramento da Torre ........….............…….16
2.3 – Comportamento do Aterramento de LTs Frente a Solicitações
Impulsivas
2.3.1 – Uma Visão Histórica do Assunto : “Impedância de
Aterramento”…………...………………………………………..18
2.3.2 – O Contrapeso……....................................................………..24
2.3.3 – Comportamento do Contrapeso frente a Correntes
Impulsivas……….…......………………………………..………31
2.3.4 – Ionização do Solo...................…….........................…….......37
2.3.5 – Resistividade do Solo : Dependência da Permissividade e
Resistividade com a Freqüência.........……………................43
2.3.6 – Conclusões....................…....................................................50
Sumário VI
Capítulo 3 : Cálculo de Transitórios em Sistemas de
Aterramento para Linhas de Transmissão
3.1 – Introdução..................................................... ...............................52
3.2 – Definição do Problema ........................................... ....................53
3.3 – Modelo Adotado...................................................... ....................55
3.4 – Arranjo de Aterramento ...............................................................56
3.4.1 – Grelhas da Estrutura ...................................................57
3.4.2 – Torre.............................................................................57
3.4.3 – Descarga Atmosférica .................................................58
3.5 – Resistividade do Solo ............................................ .....................59
3.6 – Modelo Computacional ........................................... ....................61
3.6.1 – Introdução ....................................................................61
3.6.2 – Modelo Matemático .....................................................63
3.7 – Simulações Computacionais .......................................................73
3.7.1 – Arranjo de Aterramento para Linhas de 69 / 138 kV....76
3.7.1.1 – Caso 1 : L1 = 20 m e ρ1 = 250 Ωm ....................77
3.7.1.2 – Caso 2 : L1 = 30 m e ρ1 = 500 Ωm.....................81
3.7.1.3 – Caso 3 : L1 = 40 m e ρ1 = 1000 Ωm...................84
3.7.1.4 – Caso 4 : L1 = 50 m e ρ1 = 2000 Ωm...................87
3.7.1.5 – Caso 5 : L1 = 80 m e ρ1 = 5000 Ωm...................90
3.7.1.6 – Caso 6 : L1 = 90 m e ρ1 = 20000 Ωm.................93
3.8 – Comparação de Resultados.........................................................96
3.9 – Conclusões ..................................................................................98
Sumário VII
Capítulo 4 : Conclusões
4.1 – Conclusões.................................................................................101
4.2 – Sugestões para Trabalhos Futuros ..........................................104
Referências Bibliográficas....................................................................105
Apêndice A: Programa Sigma SLP ....................................................111
Apêndice B: Validação do Modelo Para Solo Homogêneo........113
Glossário VIII
Glossário
Nesta seção serão apresentados os termos e símbolos utilizados no decorrer
do texto, para melhor compreensão do trabalho.
• ANEEL : Agência Nacional de Energia Elétrica. Órgão regulamentador
do setor elétrico energético Brasileiro.
• Backflashover : Processo de rompimento da suportabilidade elétrica de
uma cadeia de isoladores a partir de um sobre-tensão de origem
atmosférica ou de manobra no sistema, causando um curto circuito em
freqüência industrial (60 Hz)
• C : Capacitância em F (F = Faraday)
• CEMIG : Companhia Energética de Minas Gerais
• CIGRÈ : Conseil International des Grands Réseaux Électriques. Órgão
Internacional com sede em Paris.
• d1 : Espessura da primeira camada de um solo estratificado, em metros.
• Desligamento Transitório : Desligamento momentâneo de uma linha
de transmissão seguido de seu religamento (sem novo desligamento)
após alguns mili-segundos.
• E : Intensidade de campo elétrico (Volt/metro)
• E0 : Intensidade de campo elétrico crítico (Volt/metro). Valor de campo
elétrico no qual excedido, causa a ionização do solo.
• Efeito Corona : Processo de ionização do ar nas proximidades de
partes energizadas, quando o gradiente elétrico excede determinado
valor (kV/cm), causando uma visível luminosidade
• Equações de Maxwell : James C. Maxwell (1831 – 1879). Físico
escocês que se baseou nos trabalhos e experiências de Ampère, Gauss
Glossário IX
e Faraday para legar às Leis da Eletricidade e Magnetismo uma base
matemática sólida, em quatro equações.
• f : Freqüência, em Hz.
• G : Condutância (1/R), em 1/Ω.
• Grelhas / Tubulões : Sistema de sustentação das torres de linhas de
transmissão.
• GPR : Ground Potencial Rise, ou em português, Elevação de Potencial
do Aterramento.
• Hz : Unidade de freqüência Hertz.
• I : Corrente, em Amperes
• Ipico : Corrente de pico, em kA.
• Índice de Desligamento (AK) : Números de desligamentos/100km/ano
de uma linha de transmissão, caracterizando sua indisponibilidade em
relação ao sistema elétrico.
• K : Coeficiente de reflexão para um solo estratificado em duas camadas.
• l : Comprimento de contrapeso, em metros
• l e : Comprimento efetivo de contrapeso, em metros
• L : Indutância em µHenry
• LT : Linha de Transmissão Aérea de Energia Elétrica.
• Nível Ceráunico : Número de dias com trovoadas ouvidas no período
de um ano
Glossário X
• Pára-raios de Óxido de Zinco (ZnO) : Equipamento instalado em torres
de LTs para evitar o desligamento da Linha de Transmissão, composto
do material Óxido de Zinco
• R : Resistência elétrica, em Ω
• Resistência de aterramento ou Resistência de Terra (Rt ou Rat) :
Valor da resistência de aterramento, medido em baixa freqüência, do
conjunto de ferragens e eletrodos que constituem o sistema de
aterramento de uma estrutura de linha de transmissão, em relação a um
outro eletrodo situado a uma distância teoricamente infinita. Unidade em
Ω.
• t : Tempo, em µs.
• T1 : Tempo de Frente de Onda, ou seja, tempo em µs que a frente de
onda leva para atingir seu valor máximo.
• T2 : Tempo da Cauda, ou seja, tempo em µs que a frente de onda leva
para atingir a metade do seu valor máximo.
• Vpico : Tensão de pico, em kV.
• Zat : Impedância de impulso do sistema de aterramento da estrutura da
linha de transmissão.
• ZP : Impedância Impulsiva do sistema de aterramento, correspondente à
máxima elevação de potencial do aterramento no ponto de alimentação
dividido pelo valor de pico da corrente injetada.
• ZS : Impedância de surto do cabo contrapeso, correspondente a (L/C)1/2
Ω.
• Zt : Impedância de surto de uma torre de linha de transmissão.
Impedância da torre para fenômenos em alta freqüência.
Glossário XI
• ρ - Resistividade do Solo: Resistência elétrica entre faces opostas de
um cubo homogêneo e isótropo com solo, cuja aresta mede um metro.
Unidade: Ωxmetro.
• ρ1 : Resistividade da primeira camada de um solo estratificado, em
Ωxmetro. Esta primeira camada possui uma espessura, denominada d1,
em metros.
• ρ2 : Resistividade da segunda camada de um solo estratificado, em
Ωxmetro.
• µr : Permeabilidade magnética relativa do solo.
• ε r : Permissividade elétrica relativa do solo.
• σ : Condutividade elétrica do solo, equivalente a 1/ρ, em Mho.
Lista de Tabelas XII
Lista de Tabelas
Capítulo 1
Tabela 1.1 – Índices Ceráunicos e Densidades de Descargas de Alguns Países [2]..................2
Tabela 1.2 – Valores de Resistividade do Solo (ρ) em Minas Gerais [2] .....................................2
Capítulo 2
Tabela 2.1 – Parâmetros Adotados em [25] .............................................................................35
Capítulo 3
Tabela 3.1 – Valores de Resistividade do Solo (Ωm) e Comprimentos de Contrapesos
Propostos para as Análises..................................................................................59
Tabela 3.2 – Identificação dos Casos e Parâmetros Adotados nas Simulações .......................76
Tabela 3.3 – Resumo dos Máximos GPR Transitórios....................................... .......................99
Lista de Figuras XIII
Lista de Figuras
Capítulo 1- Introdução
Figura 1.1 – Curvas de Isodensidade de Descargas Atmosféricas em MG [1]............................3
Figura 1.2 – Mapa Geológico do Estado de Minas Gerais [4] .....................................................3
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão
Figura 2.1 – Representação da LT no Campo............................................................................13
Figura 2.2 – Estilização da Torre e Incidência da Descarga.......................................................14
Figura 2.3 – Forma de Onda Itotal Descarga, I pé da Torre para Zat = 5 Ω e Zat = 30 Ω..............15
Figura 2.4 – Elevação de Potencial no Aterramento da Torre para Zat = 5 Ω e Zat = 30 Ω..........15
Figura 2.5 – Solicitação na Cadeia de Isoladores para os Casos de Zat = 5 Ω e Zat = 30 Ω.......16
Figura 2.6 – Resistência Final de Contrapeso e Pé de Torre em Paralelo [31]..........................26
Figura 2.7 – Circuito Equivalente do Contrapeso [31].................................................................27
Figura 2.8 – Redução da Impedância de Surto com o Aumento de Ramos de C. Peso [31].....28
Figura 2.9 – Impedância Transitória de Contrapesos Enterrados [31]........................................30
Figura 2.10 – Circuito Equivalente de um Eletrodo Enterrado Horizontalmente [20]..................32
Figura 2.11 – Diagrama Elétrico Representativo – Modelo Linha de Transmissão [25].............35
Figura 2.12 – Resistividade Dinâmica – Curva para Corrente Impulsiva [37].............................39
Figura 2.13 – Curvas de Dados Experimentais “V x I” para um eletrodo [36] – RLF=R60Hz.........40
Figura 2.14 – Parâmetros de Atenuação de uma Onda Eletromagnética ..................................44
Figura 2.15 – Ilustração do Efeito de Comprimento Efetivo de um Contrapeso....................... .45
Figura 2.16 – Efeito da Propagação no Solo [27]...................................................................... .46
Figura 2.17 – Dependência dos Parâmetros do Solo com f [27]............................................... .47
Figura 2.18 – Resposta do Aterramento no Domínio da Freqüência [27]...................................49
Lista de Figuras XIV
Figura 2.19 – Resposta do Aterramento no Domínio do Tempo [27]..........................................49
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramento para LTs
Figura 3.1 – Situação Considerada para Otimização do Arranjo de Aterramento Frente a
Descargas Atmosféricas [8]....................................................................................53
Figura 3.2 – Situação Típica de um Aterramento em Solo de 2 Camadas ................................54
Figura 3.3 – Situação Típica de um Aterramento em Solo de 2 Camadas para o Trabalho
Proposto .................................................................................................................54
Figura 3.4 – Arranjo Típico do Sistema de Aterramento de Torres Metálicas da CEMIG ..........56
Figura 3.5 – Arranjo Típico Completo com a Representação e Detalhe da Grelha .................57
Figura 3.6 – Representação da Descarga Típica em Minas Gerais [1] ......................................58
Figura 3.7 – Configuração dos Eletrodos [42] ............................................................................63
Figura 3.8 – Distribuição de Corrente no Eletrodo [42] ..............................................................67
Figura 3.9 – Macro Fluxograma do Modelo Computacional [42] ................................................72
Figura 3.10 – Identificação do Ponto de Injeção da Descarga no Sistema de Aterramento ......73
Figura 3.11 – Caso 1: 69/138kV – 250 Ωxm e L1=20 m para d1= 1m (lado esquerdo) e
d1=6m(lado direito) .................................................................................................77
Figura 3.11a – Caso 1 – Zoom : Freqüências entre 200kH e 2.5 MHz ..................................... 78
Figura 3.11b – Caso 1 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente...............79
Figura 3.12 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 1 ...............................80
Figura 3.13 – Caso 2: 69/138kV – 500 Ωxm e L1=30 m para d1= 1m (lado esquerdo) e
d1=6m(lado direito) .................................................................................................81
Figura 3.13a – Caso 2 – Zoom : Freqüências entre 200kH e 2.5 MHz ..................................... 82
Figura 3.13b – Caso 2 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente...............82
Figura 3.14 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 2 ...............................83
Lista de Figuras XV
Figura 3.15 – Caso 3: 69/138kV – 1000 Ωxm e L1=40 m para d1= 1m (lado esquerdo) e
d1=6m(lado direito) .................................................................................................84
Figura 3.15a – Caso 3 – Zoom : Freqüências entre 200kH e 2.5 MHz ..................................... 85
Figura 3.15b – Caso 3 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente...............85
Figura 3.16 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 3 ...............................86
Figura 3.17 – Caso 4: 69/138kV – 2000 Ωxm e L1=50 m para d1= 1m (lado esquerdo) e
d1=6m(lado direito) .................................................................................................87
Figura 3.17a – Caso 4 – Zoom : Freqüências entre 200kH e 2.5 MHz ..................................... 88
Figura 3.17b – Caso 4 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente...............89
Figura 3.18 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 4 ...............................89
Figura 3.19 – Caso 5: 69/138kV – 5000 Ωxm e L1=80 m para d1= 1m (lado esquerdo) e
d1=6m(lado direito) .................................................................................................90
Figura 3.19a – Caso 5 – Zoom : Freqüências entre 200kH e 2.5 MHz ..................................... 91
Figura 3.19b – Caso 5 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente...............91
Figura 3.20 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 5 ...............................92
Figura 3.21 – Caso 6: 69/138kV – 20000 Ωxm e L1=90 m para d1= 1m (lado esquerdo) e
d1=6m(lado direito) .................................................................................................93
Figura 3.21a – Caso 6 – Zoom : Freqüências entre 200kH e 2.5 MHz ..................................... 94
Figura 3.21b – Caso 6 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente...............94
Figura 3.22 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 6 ...............................95
Figura 3.23 – Caso 1 – Comparação Critério Solo Homogêneo x Solo Estratificado.................96
Figura 3.24 – Caso 5 – Comparação Critério Solo Homogêneo x Solo Estratificado.................96
Capítulo 1 – Introdução 1
Capítulo 1
Introdução
1.1 Objetivos do Trabalho
Este trabalho tem como objetivo a avaliação dos valores de impedância
impulsiva de aterramento dos sistemas de aterramento típicos de linhas de
transmissão levando em consideração solos estratificados em duas camadas.
Pretende-se com esta avaliação, uma possível otimização do arranjo de
aterramento, obtendo a menor impedância impulsiva de aterramento, visando
minimizar a sobre-tensão na cadeia de isoladores de LTs. Desta forma,
pretende-se dar seqüência ao estudo que gerou as configurações atuais de
aterramento para as LTs da CEMIG [8-9].
Este trabalho abordará os seguintes itens :
a) Estudo do “Estado da Arte” em sistemas de aterramento para linhas de
transmissão;
b) Estudo da dependência da resistividade do solo e da permissividade em
função da freqüência;
c) Avaliação, através de simulações computacionais, do arranjo de
aterramento utilizado na CEMIG (nas LTs de 69 e 138 kV) em solos
estratificados. Este arranjo foi definido conforme referência [8];
d) Definição de novos critérios para definição de um sistema de
aterramento otimizado para torres de linhas de transmissão, visando a
menor impedância impulsiva em função da estratificação do solo.
Capítulo 1 – Introdução 2
1.2 Relevância do Tema
Sistemas de aterramento desempenham funções bem definidas em um sistema
elétrico tais como proteção de equipamentos, aterramento de sinal e segurança
de pessoas. Uma das importantes funções do aterramento é a proteção contra
descargas atmosféricas (prédios, antenas, torres de transmissão, etc.),
proporcionando um caminho de baixa impedância para a corrente de descarga
através dos eletrodos de aterramento em direção ao solo.
As descargas atmosféricas são responsáveis em Minas Gerais, conforme
dados estatísticos, por cerca de 70% dos desligamentos transitórios (contra
65% das estatísticas internacionais) das LTs [1], causando elevados
transtornos nos sistemas industriais, no que diz respeito à retomada de
processos interrompidos. O estado de Minas Gerais possui índices de
densidade de descargas atmosféricas e níveis ceráunicos superiores a muitos
países. As Tabelas 1.1 e 1.2 e Figuras 1.1 e 1.2 ilustram respectivamente as
características geometeorológicas de alguns paises e do Estado de Minas
Gerais. A Tabela 1.2 refere-se a locais em alto de morros e montanhas.
Tabela 1.1 – Índices Ceráunicos e Densidade de Descargas de Alguns Países [2]
Local Nível Ceráunico Descargas/km2/ano
Brasil (MG) 4 – 140 1 – 12
Alemanha 15 – 35 1 – 5,5
Itália 11 – 60 1 – 4
França 20 – 30 -----------
Finlândia 8 – 20 -----------
Austrália 5 – 107 0,2 - 4
Tabela 1.2 – Valores de Resistividade do Solo (ρ) em Minas Gerais – [2]
Resistividade ρ (Ω x metro)
Número de Localidades
% % Acumulado
0 – 1000 20 12,3 12,3
1000 – 5000 89 54,6 66,9
5000 – 10000 31 19,0 85,9
> 10000 23 14,1 100,0
Total 163 100,0 -----------------
Capítulo 1 – Introdução 3
Elevados índices de densidade de descargas aliado aos altos valores de
resistividade do solo (média de 3500 Ωm em Minas Gerais – [3]), proporcionam
um elevado Índice de Desligamentos de LTs (AK), comprometendo a qualidade
da energia ofertada. Após a incidência da descarga, seja ela direta ou indireta
na linha de transmissão, a probabilidade de um “backflashover” é considerável.
Figura 1.1 – Curvas de Isodensidade de Descargas Atmosféricas em MG Descargas/km2/ano - Período 1985 – 1996 – [1]
Figura 1.2 – Mapa Geológico do Estado de Minas Gerais - [4]
Capítulo 1 – Introdução 4
Em função deste número elevado de desligamentos no sistema elétrico
causado por estes fatores, foi necessário o desenvolvimento de técnicas e
equipamentos para minimizar o impacto devido às descargas atmosféricas.
Uma das técnicas utilizadas é a atuação direta no sistema de aterramento das
torres das LTs, utilizando configurações otimizadas e o conceito de
comprimento efetivo de contrapeso.
Outra técnica utilizada é a otimização da instalação de pára-raios de Óxido de
Zinco (ZnO) em LTs em projeto, aliada a um sistema de aterramento que
proporcione uma baixa impedância de aterramento. Esta técnica foi utilizada
pela CEMIG (de forma pioneira no Brasil) no projeto da LT Itutinga – Três
Corações 2, 138 kV [6,7]. Este projeto resultou em Índices de Desligamentos
(AK) bem inferiores a um projeto convencional de Linha de Transmissão
(índices estimados em projeto e comprovados na prática após 2 anos de
operação da LT).
Modelos e estudos desenvolvidos para configurações otimizadas utilizaram um
modelo de solo uniforme, não considerando o efeito da estratificação [8]. Esta
desconsideração ocorreu devido a quantidade de cálculos adicionais que
seriam necessários. Contudo, tal consideração é importante pois, dependendo
da profundidade da primeira camada (d1), pode-se alcançar, através das
ferragens das grelhas ou tubulões das torres (ou até mesmo através de hastes
profundas), valores de resistividade da segunda camada bastante inferiores ao
da primeira, proporcionando uma baixa resistência de aterramento.
Capítulo 1 – Introdução 5
1.3 Escopo
O trabalho apresenta uma análise sobre a impedância de aterramento dos
sistemas de aterramentos típicos utilizados em linhas de transmissão,
considerando o solo estratificado em duas camadas.
Uma modelagem do problema, utilizando técnicas no domínio da freqüência e
no domínio do tempo, conforme descrito em [13], é utilizada para analisar os
arranjos típicos adotados como sistema de aterramento para as estruturas das
linhas de transmissão de 69 e 138 kV da CEMG, em solos estratificados.
De forma a subsidiar a otimização destes arranjos de aterramento na obtenção
da menor impedância impulsiva frente a fenômenos do tipo descargas
atmosféricas, são propostos critérios para a determinação do melhor arranjo a
ser instalado nas torres de transmissão como sistema de aterramento.
Capítulo 1 – Introdução 6
1.4 Metodologia
A metodologia que foi utilizada nesta dissertação tem como base simulações
numéricas utilizando pacote computacional específico para análise de
transitórios em sistemas de aterramento.
Os objetivos desta dissertação, cujos itens foram explicitados na seção 1.1,
foram alcançados da seguinte maneira :
a) “Estado da Arte” em Sistemas de Aterramento para LTs :
Uma revisão bibliográfica do histórico de sistemas de aterramento em linhas de
transmissão foi realizada, desde suas primeiras aplicações até as mais novas
técnicas utilizadas. Este estudo incluiu também o comportamento do
aterramento frente a fenômenos impulsivos, tipo descargas atmosféricas. Esta
revisão constou também de uma pesquisa bibliográfica, envolvendo os
principais autores de assuntos referentes ao tema e também formulações
clássicas. Uma explanação sobre a importância do aterramento de torres de
LTs na solicitação da suportabilidade da cadeia de isoladores e
conseqüentemente no seu desligamento também foi feita.
b) Dependência da Resistividade do solo e permissividade em função da
freqüência.
Um estudo da dependência da resistividade do solo e permissividade em
função da freqüência é apresentado. Este estudo proporcionou uma avaliação
do comportamento da resistividade do solo quando submetida a altas correntes
de elevada freqüência e avaliação do fenômeno de disrupção do solo.
c) Simulações computacionais.
Os arranjos de aterramentos definidos por [8] para as LTs da CEMIG de 69 e
138 kV foram avaliados, levando em consideração solos estratificados em
camadas. Foi utilizado o software descrito em [13] para as simulações
computacionais. Este software é especifico para estudo de sistemas de
aterramento em alta freqüência.
Capítulo 1 – Introdução 7
d) Otimização do Arranjo.
A partir dos estudos e análises dos dados obtidos em (c) são propostos
critérios para escolha do contrapeso a ser lançado e o valor mais preciso da
impedância impulsiva, levando em consideração a estratificação do solo em
duas camadas.
Capítulo 1 – Introdução 8
1.5 Contribuição
Na atual legislação do setor elétrico brasileiro, regulamentada pela ANEEL [5],
estudos para a minimização da impedância de aterramento de LTs, é um fator
que interessa às concessionárias de energia elétrica bem como aos
consumidores industriais. Ao fornecerem produtos e serviços (LTs / Energia
com qualidade) com maiores índices de qualidade e confiabilidade de
operação, as concessionárias permitem que os consumidores industriais
minimizem os níveis de interrupção de seus processos.
No atual contexto do sistema elétrico nacional, é de fundamental importância a
otimização do arranjo de aterramento de LTs em função do maior número de
parâmetros possíveis, visando a minimizar o impacto de impulsos atmosféricos
nos desligamentos transitórios das LTs.
Esta dissertação apresenta um estudo científico crítico que proporcionará
opções de melhorias para as concessionárias de energia elétrica para a
redução da impedância de aterramento de Linhas de Transmissão e,
conseqüentemente, a diminuição dos níveis de desligamentos por descargas
atmosféricas.
Capítulo 1 – Introdução 9
1.6 Organização do Trabalho
A dissertação está estruturada em 4 capítulos, descritos sucintamente a seguir.
No presente capítulo, Introdução, são apresentados os objetivos do trabalho,
a importância dos sistemas de aterramento, de uma forma geral, bem como os
impactos causados em LTs aéreas pelos desligamentos provenientes de
descargas atmosféricas. É apresentada também uma breve explanação a
respeito da composição do solo no estado de Minas Gerais, onde o trabalho é
focado. São discutidas experiências atuais como forma de minimizar os índices
de desligamentos por descargas atmosféricas em LTs. São discutidas também
a metodologia e a contribuição do trabalho.
No capítulo 2, Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão, é
apresentado a influência e a importância do sistema de aterramento de uma
linha de transmissão no mecanismo de desligamento por descargas
atmosféricas. São apresentadas simulações de casos extremos de
impedâncias nos quais os valores de impedância de aterramento de pé de torre
são alterados. Parâmetros típicos de descargas atmosféricas do Estado de
Minas Gerais são utilizados nesta análise. É apresentado também o ”Estado da
Arte” com relação ao tema em questão, bem como uma visão histórica do
assunto, sendo citados vários trabalhos e autores relacionados com o tema e
que serviram de referência para o presente trabalho. É discutido o histórico
sobre os cabos contrapesos, desde sua conceituação até seu comportamento
quando submetidos a correntes impulsivas (tipo descargas atmosféricas).
Finalmente, é feita uma breve explanação sobre o mecanismo de disrupção do
solo quando submetidos a elevados gradientes de tensão (devido a altas
correntes) e sobre a dependência da resistividade do solo e permissividade
com a freqüência.
Capítulo 1 – Introdução 10
No Capítulo 3, Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramento para
Linhas de Transmissão, é apresentado o modelo proposto para os cálculos
computacionais (modelos físicos do sistema de aterramento e modelo
matemático do software a ser utilizado), o problema típico de um sistema de
aterramento de LTs enterrado em um solo homogêneo e num solo estratificado
e simulações efetuadas. Os resultados das simulações são apresentados em
forma de gráficos e/ou tabelas. Finalmente, é apresentada a conclusão de toda
a simulação realizada.
No Capítulo 4, Conclusões, são abordados os resultados obtidos no trabalho e
conclusões objetivas a respeito das simulações efetuadas. Sugestões para
trabalhos futuros também são apresentadas.
Apêndice A : Programa Sigma SLP.
Apêndice B : Validação do Modelo Para Solo Homogêneo.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 11
Capítulo 2
Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão
2.1 Introdução
Conforme discutimos no capítulo anterior, o aterramento exerce várias funções
em um sistema elétrico (segurança de pessoas, aterramento de sinal, etc.).
Vimos também que existem vários fatores que influenciam os níveis de
desligamentos de linhas de transmissão no Estado de Minas Gerais e algumas
técnicas adotadas auxiliam a amenizar tais desligamentos e seus transtornos.
Estes índices de desligamentos estão diretamente relacionados com o sistema
de aterramento de uma linha de transmissão. Neste capítulo, será apresentada
a importância dos sistemas de aterramento para LTs bem como uma análise
simplificada de sua influência nos desligamentos transitórios. Complementando
o capítulo, será apresentado o Estado da Arte sobre sistemas de aterramento
para LTs frente a solicitações impulsivas.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 12
2.2 Influência do Aterramento no Desligamento de Linhas de
Transmissão
2.2.1 Introdução
A principal causa de desligamentos de linhas de transmissão devido a curto-
circuito nas estruturas originado por solicitações do tipo descarga atmosférica
constitui-se fundamentalmente na sobre-tensão resultante (solicitação ou
stress) na cadeia de isoladores da LT, devido ao impacto da descarga
atmosférica. A magnitude desta sobre-tensão determinará ou não a ocorrência
do “backflashover”.
A sobre-tensão resultante na cadeia de isoladores depende de fatores como a
intensidade da corrente de descarga que atinge a linha de transmissão,
impedância de surto da estrutura (Zt), impedância de impulso do sistema de
aterramento da estrutura (Zat) e reflexões no sistema de aterramento da torre.
Para a análise a seguir o valor típico de Zt =182 Ω [39] é adotado, Zat entre 5 e
50 Ω (valores típicos para o estado de Minas Gerais). A ampla faixa de valores
de Zat existentes estimula o estudo de sua dependência em relação a um
grande número de parâmetros. Os parâmetros para simulação de uma
descarga atmosférica são considerados com forma de onda triangular 2.6/62 µs
com valor médio de corrente de 40 kA [1]. O impacto desta descarga em uma
torre de linha de transmissão gera o tráfego de ondas de tensão com valores
bastante elevados, da ordem de centenas de kV.
Ilustraremos a seguir algumas análises de sobre-tensões realizadas através do
software Sigma SLP [40], um pacote computacional específico para análises de
desligamentos em linhas de transmissão devido a descargas atmosféricas.
Este software utiliza a teoria eletromagnética para os cálculos das tensões
resultantes e induzidas nos cabos pára-raios e condutores e a análise relativa a
desempenho de linhas de transmissão é feita através do Método Estatístico de
Monte Carlo [40]. No Apêndice A é apresentado o modelo físico do software.
Para a simulação proposta usaremos apenas a determinação das tensões
resultantes nas fases e cabos pára-raios.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 13
2.2.2 Incidência da Descarga na Torre
De forma a explanar o mecanismo de solicitação da suportabilidade de uma
cadeia de isoladores de uma LT típica de 138 kV em função de Zat, será
apresentado a estilização da estrutura e a forma de onda incidente de descarga
(tensão e corrente) bem como suas reflexões no sistema de aterramento
devido à descontinuidade entre as impedâncias Zt e Zat. Desta forma ficará
claro a influência e a importância do sistema de aterramento da estrutura no
processo de desligamento de uma linha de transmissão.
A Figura 2.1 ilustra a representação de uma LT no campo e a Figura 2.2
representa a estilização da torre que recebe o impacto da descarga
atmosférica.
Figura 2.1 – Representação da LT no Campo
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 14
Para esta análise foram utilizados dados típicos de uma LT de 138 kV :
• Tipo de estrutura e disposição dos condutores : Metálica triangular
• Altura do pára-raios na torre : ≅ 30.0 m
• Tensão de Impulso Atmosférico da cadeia de isoladores : 685 kV
• Vãos adjacentes : 437 m (considerado as reflexões nas torres
adjacentes e não consideradas reflexões no final dos cabos
contrapesos)
As Figuras 2.3 e 2.4 mostram as ondas de corrente e tensão incidente no topo
da estrutura, para condições de corrente de descarga de 40 kA e impedância
de aterramento de pé de torre Zat= 5 Ω e 30 Ω. Para os valores de correntes
aplicados aos aterramentos de 5 e 30 Ω, são apresentados as respectivas
elevações de potencial no aterramento da torre.
Ø Zt = 182 Ω Ø Zat = 5 e 30 Ω Ø Onda aplicada :
2,6/62 µs
Onda Refletida Incidência da onda (V e I)
Zat
#######################################################
Zt
Figura 2.2 – Estilização da Torre e Incidência da Descarga
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 15
Devido a diferença de impedância de aterramento entre os dois casos, valores
diferentes de corrente descem pela estrutura em direção ao aterramento,
porém com alteração discreta no valor desta corrente. Outra parcela da
corrente segue em direção aos cabos pára-raios das torres adjacentes.
Figura 2.4 – Elevação de potencial no aterramento da torre para Zat = 5 Ω e Zat = 30 Ω
Corrente Total da Descarga na Torre e Corrente no Pé da Torre (kA)
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
0.0
0.2
0.3
0.5
0.6
0.8
1.0
1.1
1.3
1.4
1.6
1.8
1.9
2.1
2.3
2.4
2.6
2.7
2.9
3.1
3.2
3.4
3.5
3.7
3.9
4.0
4.2
4.3
4.5
4.7
4.8
5.0
Tempo - 10-6 segundos
Co
rren
te -
kA
Itotal Descarga I Zat (Zat=30 Ohms) I Zat (Zat=5 Ohms)
Elevação de potencial no Aterramento Torre
-200
0
200
400
600
800
1000
1200
0,0
0,2
0,3
0,5
0,6
0,8
1,0
1,1
1,3
1,4
1,6
1,8
1,9
2,1
2,3
2,4
2,6
2,7
2,9
3,1
3,2
3,4
3,5
3,7
3,9
4,0
4,2
4,3
4,5
4,7
4,8
5,0
Tempo - 10-6 segundos
Ten
são
- k
V
V Zat (Zat=30 Ohms) V Zat (Zat=5 Ohms)
Figura 2.3 – Forma de onda Itotal Descarga, I pé da Torre para Zat = 5 Ω e Zat = 30 Ω
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 16
2.2.3 Reflexões no Aterramento da Torre
A Figura 2.5 mostra as ondas de tensão fase/terra a partir do topo da torre
(especificamente no pára-raios) e as tensões fase/terra resultantes devido às
reflexões no aterramento da torre e reflexões nas torres adjacentes à estrutura
considerada, com valores de Zat = 5 e 30 Ω.
Os valores de Zat, na maioria dos casos, são inferiores aos valores de
impedância de surto de torres, proporcionando reflexões de ondas negativas
(coeficiente de reflexão K < 0) a partir do aterramento da torre, devido a
descontinuidades das impedâncias.
Para a situação de Zat = 5 Ω, temos um K= -0,95, ou seja, quase toda a onda
incidente é refletida, com sinal contrário.
tat
tat
ZZZZ
K+−
= (2.1)
Figura 2.5 – Solicitação na cadeira de isoladores para os casos Zat = 5 Ω e Zat = 30 Ω
Tensões Resultantes na Estrutura (Fase/Terra)
-200
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
0,0
0,2
0,5
0,7
1,0
1,2
1,4
1,7
1,9
2,2
2,4
2,7
2,9
3,1
3,4
3,6
3,9
4,1
4,3
4,6
4,8
Tempo - 10-6 segundos
Ten
são
- kV
V Fase Inf (Zat=30 Ohms) V PR (Zat=30) V Fase Sup (Zat=5 Ohms) V PR (Zat=5 Ohms)
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 17
Para a situação de Zat = 30 Ω, temos um K= -0,71, ou seja, uma parte maior
desta onda é refratada e uma parcela menor é refletida, com sinal negativo, ao
topo da torre.
A curva para Zat = 30 Ω supera a suportabilidade da cadeia de isoladores
(∆Vcadeia > 685 kV) e portanto provoca o desligamento da LT através do curto-
circuito 60 Hz.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 18
2.3 Comportamento do Aterramento de LTs Frente a
Solicitações Impulsivas
2.3.1 Uma Visão Histórica do Assunto : “Impedância de
Aterramento”
O tema “Impedância de Aterramento” é estudado desde o início do século
passado até os dias de hoje, por pesquisadores de todo o mundo. Sua vasta
utilização em estudos para determinações de Índices de Desligamentos de LTs
entre outras aplicações na área da Engenharia Elétrica, mostra a necessidade
de aprofundamento deste estudo. Os estudos relacionados com aterramentos
submetidos a fenômenos impulsivos são fundamentalmente baseados em três
teorias : Linhas de Transmissão [20, 23, 25], Campo Eletromagnético [27, 41]
e Circuitos Elétricos [35, 41].
Impedância de Aterramento pode ser conceituada como a oposição oferecida
pelo solo à injeção de uma corrente elétrica no mesmo, através dos eletrodos
de aterramento do sistema, e é quantitativamente expressada pela razão entre
a tensão aplicada ao aterramento e a corrente resultante.
Os estudos sobre impedância de aterramento de eletrodos enterrados
submetidos a surtos impulsivos tiveram seus primeiros trabalhos desenvolvidos
por Bewley [14] em 1934, que estudou a teoria e realizou testes de
propagação de ondas em cabos contrapesos. Bewley propôs uma formulação
para o comportamento transitório do contrapeso.
Em 1940, Sunde [15] apresentou um trabalho sobre características de surto de
cabos nus enterrados no solo, onde desenvolveu uma formulação para
equacionar as condições de aplicação de ondas senoidais e impulsivas em
contrapesos com vários comprimentos enterrados no solo.
Em 1941 e 1942, Bellaschi e Armington [16,17] apresentaram resultados de
aplicações de ondas impulsivas e senoidais (freqüência industrial) em hastes
verticais de vários comprimentos enterradas em solos de diferentes
características. O trabalho apresentou várias tabelas comparativas entre a
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 19
relação da resistência impulsiva e a resistência de 60 Hertz, levando em
consideração vários fatores como variação sazonal, hastes simples, hastes
paralelas e valores de corrente de pico injetada. Foi mostrado, em experimento,
o fenômeno de disrupção do solo, através da variação da impedância de
impulso em função da corrente de pico aplicada ao sistema de aterramento.
Estes autores apresentaram a variação da impedância impulsiva de
aterramento, quando relacionados valores instantâneos de tensão e correntes,
ponto a ponto, mostrando que não apresentava valor constante. Formulações
matemáticas foram apresentadas para o cálculo da impedância de impulso de
aterramentos. Todos os experimentos foram realizados considerando solo
homogêneo, ou seja, desconsiderando as variações da resistividade do solo
em função da profundidade.
Em 1945, Rudenberg [18] publicou um trabalho apresentando expressões
analíticas para o cálculo da resistência de aterramento em freqüência industrial
para várias configurações. Para estudos em alta freqüência, Rudenberg
demonstrou a necessidade de estudar, além da resistividade do solo, a
permissividade elétrica do mesmo, a qual é responsável pela existência da
corrente de deslocamento. Este trabalho propôs modelos simplificados em
forma de circuitos elétricos para descrever o comportamento do aterramento
submetido a altas freqüências.
MacGowan [19], em 1975, apresentou um estudo com utilização de materiais
como o gel de silicato de sódio e lama de bentonita, aplicados em conjunto e
envolvendo aterramentos de pés de torre e contrapesos, com objetivo de
reduzir a resistência de aterramento e impedância de surto. Esta redução está
diretamente associada à melhoria da resistividade que envolve o pé de torre e
os contrapesos. Neste experimento foi realizada a medição de resistividade da
lama de bentonita, ligeiramente superior à resistividade do gel. Foi verificado o
nível de corrosão somente do gel com relação ao material de aterramento, que
apresentou valores satisfatórios. Foram definidos métodos para medições de
impedância de surto em torres de transmissão.
Em 1978, Gupta e Thapar [20], publicaram um trabalho onde apresentaram os
sistemas de aterramentos modelados como indutâncias e admitâncias
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 20
distribuídas. Os autores passaram a utilizar o conceito de impedância de
aterramento como sendo a relação entre a onda de tensão, no ponto de
alimentação, e o valor de pico de corrente. Este trabalho passou a utilizar o
conceito de comprimento efetivo de aterramento, considerando que somente
um comprimento limitado de eletrodo é capaz de dissipar efetivamente
correntes impulsivas no solo. Foram utilizados valores de corrente abaixo dos
valores que causam disrupção do solo ao redor dos eletrodos. Todos os
experimentos são considerados em solo homogêneo.
Dawalibi e outros, em 1973 e 1980 [21-22], desenvolveram trabalhos relativos a
influência de solo não uniforme na medição de resistência de aterramento de
eletrodos enterrados e aterramentos de LTs. Seus trabalhos trataram de
valores em freqüência industrial, porém contribuíram para desenvolvimento de
metodologias e ferramentas para modelamento do solo em camadas
(estratificação).
No início da década de 80, Verma e Mukhedkar [23] representaram o
aterramento de linha de transmissão por meio de um modelo de linha de
transmissão, desenvolvendo expressões analíticas para a impedância de
aterramento em função do tempo.
Em 1981, Takashima, Nakae e Ishibashi [24] publicaram um trabalho onde
utilizaram o método das imagens para estudar as características em alta
freqüência de configurações típicas de sistemas de aterramentos bem como a
distribuição do campo elétrico na região circunvizinha aos eletrodos. Este
trabalho chamou a atenção para a consideração da corrente de deslocamento
em estudos relacionados a correntes impulsivas injetadas em sistemas de
aterramento.
Em 1983, Mazzeti e Veca [25] apresentaram um estudo de um modelo
matemático para estudar a performance de eletrodos aterrados
horizontalmente submetidos a correntes impulsivas. Através deste estudo,
estes autores caracterizaram a influência da resistividade do solo, dimensão
dos eletrodos e forma de onda e intensidade. Os autores destacaram também
a influência da resistividade do solo no comportamento dos aterramentos.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 21
Foram feitas considerações a respeito do fenômeno de disrupção do solo ao
redor do eletrodo quando o mesmo é submetido a altas densidades de
correntes. Sob estas condições, foi simulado o comportamento não linear dos
eletrodos com um aumento de seu raio, reduzindo a resistência do eletrodo.
Os resultados obtidos foram comparados com resultados experimentais de
outros pesquisadores, mostrando-se plenamente satisfatórios. Nos estudos, foi
considerado solo homogêneo.
Em 1987, Oettlé [26] desenvolveu um estudo onde apresentou uma curva geral
para estimar a impedância de impulso de sistemas de aterramento para
qualquer configuração. Este trabalho propôs um valor para o campo elétrico
crítico de disrupção do solo (E0= 1 MV/m), independente do tipo de solo. Esta
curva proposta é baseada na definição de impedância de impulso em um
tempo definido de 6 µs após o início do impulso. Para um projeto de malha de
aterramento, não é necessário o conhecimento da resistência de aterramento
em baixa freqüência .
Em 1993, Visacro e Portela [27] apresentaram os aspectos básicos de uma
modelagem computacional para simulação do comportamento de sistemas de
aterramentos elétricos em função de solicitações associadas a descargas
atmosféricas. Este modelo considerou os efeitos da propagação do campo
eletromagnético no solo e demonstrou a importância de se computar a
dependência dos parâmetros do solo com a freqüência.
Em 1995, Visacro e Amilton [28] apresentaram resultados de investigações
sobre a influência da intensidade da corrente de descargas atmosféricas no
comportamento de aterramentos elétricos, baseado em trabalho anterior
desenvolvido pelos autores [27]. Foi considerado o processo de ionização do
solo nas medições implementadas, sendo desenvolvida uma interpretação
macroscópica do processo.
Visacro, em 1995 [29], colocou em discussão os aspectos fundamentais
relativos à influência do aterramento elétrico com relação à compatibilidade
eletromagnética, tendo como uma das principais abordagens a diferenciação
entre o modelamento do aterramento : aterramentos em baixas freqüências e
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 22
em altas freqüências. A dependência dos parâmetros do solo em relação à
freqüência (resistividade e permissividade) e o efeito da intensidade da
corrente injetada no sistema (processo de ionização) são considerações
básicas para a formulação de um modelo consistente de um sistema de
aterramento (dentre outros fatores). O desempenho deste sistema de
aterramento está diretamente associado ao conceito da impedância de
aterramento, a qual é função da freqüência. Esta dependência influi no
comportamento da dispersão da corrente no solo, onde as correntes
capacitivas são desprezadas para baixas freqüências (na maioria das
aplicações) e bastante significativas para altas freqüências (kHz, e
predominante sobre os demais efeitos para a faixa de MHz). A relação entre a
impedância de aterramento e a resistência não é linear e depende das
características do solo e da geometria do aterramento. Em solos estratificados,
onde é possível alcançar resistividade mais baixa para a segunda camada (em
relação à primeira camada), o aproveitamento da mesma (através de hastes,
grelhas ou tubulões) pode ser um fator decisivo para minimizar a resistência de
aterramento e aumentar a dissipação das correntes de condução e capacitiva.
Na referência [30], em 1995, Visacro e Amilton colocaram em discussão a
utilização de valores de resistência de aterramento (60 Hz) como valor adotado
para estudos de desempenho de linhas quanto a impulsos atmosféricos. Os
autores consideraram que tal prática pode ocasionar um desvio da realidade na
maioria dos casos. Efeitos como a dependência de parâmetros do solo
(resistividade e permissividade) em relação à freqüência estão incluídos no
modelo simplificado de representação da impedância de aterramento. Arranjos
típicos de aterramento de concessionárias brasileiras são adotados como
configuração para o modelo, obtendo-se um valor para a relação entre os
valores de pico das ondas de tensão e de corrente, designado como
“impedância de aterramento” (Zp). Ondas do tipo lentas (5/20 µs) e rápida
(1,2/50 µs) foram aplicadas ao sistema de aterramento. Para arranjos variados
quanto ao comprimento de contrapeso na torre e resistividade do solo (solo
homogêneo, valores de 250 a 4000 Ωm), obteve-se a relação entre a
impedância de aterramento e a resistência em baixa freqüência, ficando esta
relação sempre próximo de 0,65. A adoção de um anel equalizador próximo ao
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 23
ponto de injeção da corrente é eficaz no sentido da redução de Zp , bem como
uma representação mais detalhada da grelha, a qual teve sua representação
bastante simplificada.
Em 1996, Amilton S. Jr. [8] investigou o comportamento de arranjos típicos de
aterramento adotados pela CEMIG, avaliando vários parâmetros relacionados
ao sistema de aterramento e comportamento do mesmo frente a impulsos
atmosféricos. Foi considerado para esta investigação, o tratamento do solo
como homogêneo, não considerando a influência de solos estratificados em
camadas. Desta investigação, foi proposto o aprimoramento do arranjo utilizado
nas linhas de transmissão de 69 a 500 kV, o qual passou a ser adotado como
padrão de aterramento pela empresa, visando a minimização da impedância
impulsiva de aterramento e buscando minimizar a sobre-tensão na cadeia
devido ao impacto da descarga atmosférica.
Em 1998, Clebicar e outros [10], alertaram a respeito da desconsideração do
efeito da estratificação no arranjo proposto em [8], que em muitos casos pode
ser determinante para valores de resistência de aterramento e impedância
impulsiva baixas, dependendo do valor da segunda camada de resistividade
em contato com fundações da estrutura, que atingem em média 3 metros de
profundidade. A consideração dos valores de resistividade estratificados para
as torres propôs um estudo mais detalhado do caso.
Em 1998, Medeiros [11] estudou o comportamento de aterramentos elétricos
submetidos a condições de descargas atmosféricas considerando os efeitos
resistivos e indutivos. Neste trabalho, o autor chama a atenção para tentativas
de reduzir o valor da resistência de aterramento construindo extensos arranjos
porém ignorando o efeito indutivo do aterramento cuja componente de tensão
pode ultrapassar a componente resistiva e atuando como parâmetro principal
na resposta transitória do sistema. O autor considera o erro relevante quando o
aterramento é considerado somente resistivo na situação de transitórios.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 24
2.3.2 O Contrapeso
Contrapesos são cabos enterrados no solo a uma profundidade variável de 20
centímetros a 1 metro, conectados aos pés ou base de torres de LTs. Podem
ter a configuração de contínuos (interligados torre a torre), paralelos aos cabos
de uma linha de transmissão ou serem radiais (ramos de cabos dispostos
radialmente à torre de transmissão).
O nome “contrapeso” ou “counterpoise“ foi introduzido erroneamente durante
suas primeiras aplicações por que se acreditava relacionar o acoplamento
capacitivo com os cabos aéreos da LT com sua efetividade no solo, porém foi
constatado que o efeito de acoplamento capacitivo é muito pequeno [31].
A definição para um cabo contrapeso, do ponto de vista de comportamento
impulsivo, é essencialmente uma impedância com um valor inicial entre 150 e
200 Ω (equivalente a sua impedância de surto Zs) decaindo exponencialmente
para a resistência de aterramento em 60 Hz em um tempo muito curto
(aproximadamente de seis vezes o seu comprimento em km, em µs – Ex. : para
um contrapeso de 0.3 km teremos um tempo de 1.8 µs) [31].
As principais características de um cabo contrapeso são :
1. Impedância de surto inicial - Zs : responsável pelos efeitos
ocasionados entre tempos muito curtos (entre 0 e 1 µs) associados a
fenômenos impulsivos;
2. Resistência de dispersão final : “Leakage Resistance” ou resistência
de aterramento a freqüência de 60 Hz;
3. A transição da impedância inicial para a final : dependente da
resistividade do solo e do comprimento do contrapeso (também
função das reflexões de ondas);
Cálculos e testes mostram que um surto em um contrapeso é
predominantemente uma onda viajante com aproximadamente 1/3 da
velocidade da luz (100x106 m/s), enquanto surtos em cabos de linhas aéreas
viajam muito mais rapidamente (aproximadamente a velocidade da luz -
300x106 m/s).
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 25
Considerando o contrapeso como um condutor simples de uma linha de
transmissão com comprimento l e constantes G, L , C e desprezando R
(resistência) por unidade de comprimento, com circuito aberto no final, a
impedância final do cabo contrapeso é dada pela equação [31] :
Onde :
• ρ : Resistividade do solo em Ωm
• l : comprimento do contrapeso em metros
• d = (2ah)1/2 ; sendo a o diâmetro do cabo contrapeso e h a profundidade enterrada
• ε : permissividade do vácuo (ε0) e permissividade relativa do solo (εR)
• µ : permeabilidade do solo
De acordo com a formulação de Bewley (2.2), a impedância é um parâmetro
variável a qual tem uma impedância de surto inicial (Zs) e reduz de modo
exponencial para a resistência de dispersão final 1/(G) – Resistência de
aterramento (Rt).
( )
2.5)(H/metro1d2
ln2
L
)2.4(F/metro1d2
ln1C
2.3)(1d2
lnR
0
−
=
−+=
Ω
−
=
l
l
ll
r
πµ
επε
πρ
( ) ( )
2RC1
aLC2
1)p(2k:Com
p12kt)sen(
LC
G4
p12k
t)8cos(1G
1(t)Z
k
1k
k22
katC
=−
≅
−××−
−∈−
≅
∑∞
=
−
l
ll
ϖ
ϖϖ (2.2)
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 26
Na maioria dos casos, o contrapeso se encontra conectado à base de
estruturas que também possui uma resistência de aterramento. O paralelo
desta com a resistência de aterramento de pé de torre (Rt) é dado pela
equação a seguir (veja Figura 2.6 – [31]) :
Resultados práticos e analíticos são comparados na Figura 2.6 a seguir :
Os estudos mostram que a melhor performance do cabo contrapeso é obtida
nos primeiros 30 metros e que um dado comprimento de cabo contrapeso é
mais bem empregado na faixa de extensão máxima entre 70 e 90 metros de
comprimento (devido ao rápido escoamento da corrente para o solo). Valores
superiores não têm efetividade no escoamento de correntes impulsivas.
Estudos posteriores implementaram o conceito de comprimento efetivo de
contrapeso.
)
(rG)tanghrG
R1
RR (2.6
t
teequivalent Ω
+
=
l
Figura 2.6 – Resistência Final de Contrapeso e Pé de Torre em Paralelo [31]
(pés)
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 27
É possível, através de formulações matemáticas, encontrar a resistência de
aterramento do contrapeso em função da resistividade do solo, assumindo solo
homogêneo. Porém é satisfatório medir a resistência de aterramento de um
comprimento de cabo enterrado no campo. Esta medição tem que ser feita com
cuidado devido às variações de tempo e umidade durante o dia, o que pode
levar a grandes variações desta resistência.
A transição da impedância inicial de surto (Zs) para a resistência final de 60 Hz
(Rt) é praticamente completada quando e-αt=0.05, ou quando t=(6*C)/G.
Sendo t = tempo em segundos e α conforme descrito na equação (2.2).
Ensaios de surtos em contrapesos com formas de ondas de corrente
retangulares confirmam que a impedância transitória varia, de forma
aproximada, de acordo com a equação :
Esta equação demonstra que a impedância transitória de surto é função da
impedância de surto e também de uma parcela de R que é variável devido às
reflexões de onda. O circuito equivalente aproximado do contrapeso é ilustrado
na Figura 2.7, a seguir :
(2.7) O)eR(ZR(t)Z t/2tsts
l−−+=
Figura 2.7 – Circuito Equivalente do contrapeso [31]
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 28
Testes de campo sob diferentes condições e em várias localidades, mostram
velocidades de propagação em contrapesos na ordem de 30 a 40% da
velocidade da luz e impedância de surto de 120 a 220 Ω. Isto causa pequena
diferença nos resultados finais onde o valor de Zs é usado.
A utilização de vários ramos radiais de cabo contrapeso a partir de um ponto
central tem uma melhor performance nos seguintes aspectos (veja Figura 2.8) :
• Reduz a impedância inicial de surto;
• Reduz o tempo de transição para a resistência de aterramento 60 Hz.
Cabos contrapesos lançados de forma perpendicular aos cabos da linha aérea
não possuem acoplamento mútuo devido sua posição geométrica em relação
aos cabos aéreos (pois estão perpendiculares).
Uma comparação entre contrapesos paralelos e perpendiculares com os
parâmetros Rt=200 Ω e Zs=400 Ω mostrou que o contrapeso paralelo é
ligeiramente melhor (no que se refere à velocidade de propagação) que o
Figura 2.8 – Redução da Impedância de surto com o aumento de ramos de contrapeso [31]
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 29
contrapeso perpendicular devido ao acoplamento extra, porém na prática não
se obtém vantagens desta pequena diferença [31].
O lançamento de 300 metros de contrapeso de forma radial em quatro
comprimentos de 75 metros apresenta um melhor resultado na impedância de
surto do que a mesma quantidade lançada em 2 ramos paralelos. Dois ramos
lançados em paralelo terão um maior acoplamento com os cabos aéreos,
porém sua impedância de surto será maior [31].
Para cálculos das reflexões nos cabos contrapesos consideram-se que os
contrapesos e os cabos pára-raios são conectados em um mesmo ponto,
porém a impedância de surto da torre altera as condições de reflexões de
onda. Considerando que a frente de onda de uma descarga atmosférica é no
mínimo de 1 µs e que a altura da torre é cerca de 30 metros, é admissível
desconsiderar a impedância de surto da torre, ou seja, considerar que o
contrapeso esteja conectado ao cabo pára-raios, já que o tempo de tráfego na
torre seria de apenas 0,1 µs. Valores encontrados em testes comparados com
os valores na referência [31] mostraram que, considerando as reflexões de
ondas na torre e desprezando tais reflexões, a diferença média de tensão no
contrapeso e no cabo pára-raios fica em torno de 1,2%.
Para confirmar a teoria analítica dos cabos contrapesos, vários testes de
campo em contrapesos foram conduzidos em 1934 e estão referenciados em
[14]. Estes testes foram projetados para simular várias condições, o mais
próximo da realidade possível. Foram executados testes em contrapesos
enterrados e contrapesos isolados sendo que a profundidade dos contrapesos
enterrados foi de 30,48 cm, paralelo e sob condutores aéreos de linha, com
comprimentos de 60,96 m, 152,4 m e 281,2 metros. Surtos de tensão com
amplitudes de 14,5 kV e 90,2 kV foram aplicados. Os surtos de tensões e
correntes nos contrapesos de 281,2 m e 60,96 m com condutores isolados
aéreos (simulando cabos de uma LT) são mostrados na figura a seguir.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 30
A impedância de surto oscila entre os valores de 130 até 150 Ω, enquanto os
valores finais aproximam da resistência de dispersão de forma exponencial
(conforme mencionado anteriormente).
A propagação de um surto em contrapeso enterrado em um solo de baixa
resistividade é semelhante a uma propagação conforme o fenômeno de ondas
viajantes. Por esta razão, tentativas de descobrir a velocidade de propagação
pelas reflexões nos oscilogramas não tiveram sucessos.
Nota-se, na Figura 2.9, que o contrapeso de 61 metros atinge a resistência de
dispersão em um tempo de aproximadamente 1,5 µs, estabilizando-se. Para o
contrapeso de 282 metros, em um tempo de 5,5 µs a resistência de dispersão
ainda não é alcançada. Este fenômeno está associado às sucessivas reflexões
nos cabos, sendo que para o contrapeso de maior extensão, a onda leva mais
tempo para retornar de seu final, devido a sua extensão.
A determinação da velocidade do surto em contrapesos foi mostrada através
de um método mais preciso desenvolvido por E. J. Wade [31].
Figura 2.9 – Impedância Transitória de Contrapesos Enterrados [31].
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 31
2.3.3 Comportamento do Contrapeso frente a Correntes
Impulsivas
O comportamento impulsivo de sistemas de aterramento quando submetidos a
correntes impulsivas (fenômeno tipo descargas atmosféricas) foram estudados
por vários pesquisadores desde o início do século passado. As referências [20]
e [25] tratam do assunto e a impedância de impulso (Zat) de cabos contrapesos
enterrados foi definida como :
• A razão entre o valor de pico da tensão desenvolvida no ponto de
alimentação e o valor de pico da corrente (Vpico / Ipico) [20], ou;
• A razão entre o valor instantâneo da tensão total do eletrodo e da
corrente fluindo no eletrodo no ponto de alimentação (Vinst / Iinst) [25].
A relação desta impedância de impulso para a resistência de 60 Hz foi definida
como coeficiente de impulso (A) [20].
A impedância de impulso depende de alguns fatores, entre eles :
• Extensão e configuração do eletrodo;
• Ponto de injeção da corrente;
• Intensidade e forma de onda da corrente;
• Resistividade do solo.
Quando a intensidade da corrente torna-se muito elevada, a vizinhança do solo
ao redor do eletrodo pode ionizar-se, causando o fenômeno de disrupção do
solo e em conseqüência disto, haver uma redução na impedância de impulso.
Este efeito foi desprezado em [20] e considerado em [25]. Este fenômeno será
discutido no item 2.3.4.
A referência [20] estudou o comportamento impulsivo de contrapesos de
algumas configurações :
• Eletrodo simples, enterrado horizontalmente, alimentado na extremidade e no centro;
• Dois eletrodos horizontais paralelos alimentados na extremidade;
• Quatro ramos em estrela, enterrados horizontalmente, alimentados no centro.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 32
A partir destes testes, foi estabelecido um método geral para determinar o
comprimento efetivo do contrapeso (comprimento de contrapeso que é efetivo
na dissipação de correntes impulsivas) e a impedância de impulso, para
qualquer configuração de aterramento.
O efeito das capacitâncias “shunt” em solos com resistividade inferiores a 3000
Ωxm pode ser considerado desprezível. Como muitos dos solos encontrados
para os testes tiveram resistividade inferior a este valor, o efeito foi então
desprezado. Para as simulações propostas para o trabalho em questão, este
efeito deve ser considerado devido aos altos valores de resistividade do solo
encontrado em Minas Gerais (> 3000 Ωm). A Figura 2.10 a seguir ilustra o
descrito :
A corrente impulsiva aplicada aos contrapesos foi representada por uma onda
com uma frente senoidal e uma calda exponencial. A utilização desta
representação de onda obteve resultados consistentes e representa de forma
bem aproximada o fenômeno das descargas atmosféricas.
Alterações nos parâmetros como o raio do condutor, a profundidade do
eletrodo e calda da onda, dentro de limites práticos, não causam alterações
significantes no valor da impedância impulsiva de aterramento. Os estudos
descritos em [20] foram conduzidos com os seguintes valores :
• Profundidade do eletrodo 0,5 m;
(a)– Circuito Equivalente para um eletrodo enterrado com capacitâncias “shunt”
(b) - Circuito equivalente simplificado
Figura 2.10 – Circuito Equivalente de um Eletrodo Enterrado Horizontalmente [20]
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 33
• Raio do eletrodo : 0,02 m;
• Tempo de calda : 40 µs;
• Comprimento do eletrodo (a partir do ponto de injeção) : 5 a 150 metros;
• Resistividade do solo : 50, 100, 500, 1000 Ωxm (solo homogêneo);
• Forma de onda de corrente : 1/40, 3/40, 4/40, 5/40 e 9/40 µs.
Os resultados de testes realizados em um eletrodo simples enterrado
horizontalmente no solo alimentado na extremidade indicaram que,
aumentando a extensão do contrapeso, a impedância de impulso decai,
tendendo para a resistência de aterramento em 60 Hz.
Este comportamento é explicado pelo fato de que a distribuição de corrente e
tensão ao longo do eletrodo depende do comprimento. Depois de um certo
comprimento, esta distribuição de corrente e tensão torna-se quase constante
(conceito de comprimento efetivo de contrapeso).
Uma análise dos resultados para as condições propostas, mostrou que o
comprimento efetivo le e o coeficiente de impulso A, podem ser representados
pelas equações (2.8), (2.9), e (2.10) a seguir (obs. T = Tempo de frente de
onda - µs, l o comprimento do eletrodo – m, e ρ a resistividade do solo - Ωm).
Contrapeso simples enterrado no solo alimentado na extremidade :
A partir dos resultados obtidos para um eletrodo simples enterrado
horizontalmente no solo e alimentado no centro, a seguinte equação foi obtida :
Os resultados de testes realizados em eletrodos horizontais paralelos
apresentam que o espaçamento entre eletrodos tem pouco efeito no
comprimento efetivo do contrapeso e no coeficiente de impulso “A”. Os
resultados também mostram que o comprimento efetivo pode ser calculado
usando a Equação (2.8). Esta conclusão é devido ao produto G x L permanecer
constante da configuração simples para a configuração em paralelo.
( ) )8.2((m)T4.1e ××= ρl
( ) )9.2(m)(T551e ××= ρ.l
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 34
Para a disposição de quatro ramos em estrela com comprimento de cada um
de l metros e alimentado no centro da estrela, a impedância de impulso desta
configuração foi calculada e deu origem a seguinte equação :
Para todas as condições propostas, foi considerado que :
Posteriormente aos testes descritos em [20], uma série de análises foi
realizada em laboratório, comprovando a validade dos resultados obtidos
analiticamente, através das fórmulas empíricas para o comprimento efetivo do
contrapeso e para o coeficiente de impulso.
O comportamento de um cabo horizontal de comprimento l, enterrado em uma
profundidade de aproximadamente 1 metro e alimentado por uma corrente de
impulso também foi estudado por outros pesquisadores [25]. Através deste
estudo concluiu-se que o mesmo pode ser simulado por meio de uma linha de
transmissão longa com distribuição uniforme de parâmetros. A única diferença
é que a resistência do eletrodo é desprezada comparada com a reatância
indutiva, e a reatância capacitiva é desprezada comparada com a condutância
de dispersão. A Figura 2.11 a seguir ilustra o modelo adotado.
( ) )10.2(m)(T851e ××= ρ.l
ee
ate
2.30,33
e
ocomprimentoparamesmaaéimpulsodeimpedânciaa,Para
RAéimpulsode impedânciaa, Para
0.1)1.2(eA, Para e
lllllll l
l
>
×≤
=≤
×
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 35
Para os testes realizados pelos pesquisadores [25], foi considerado que :
• Forma de onda do impulso de corrente aplicada no condutor aproximada
por uma função exponencial dupla;
• O cabo enterrado é considerado ter comprimento infinito, ou seja, os
efeitos devidos a reflexões de ondas foram desprezados.
Aplicações do modelo descrito em [25] permitiu uma análise do comportamento
impulsivo dos eletrodos baseada em três aspectos : características do solo,
forma de onda de corrente e variação da amplitude, e em particular permitiu
uma avaliação do comprimento do eletrodo que efetivamente participa na
dispersão da corrente no solo (comprimento efetivo).
A Tabela a seguir mostra os valores dos parâmetros adotados para os
cálculos.
Tabela 2.1 – Parâmetros Adotados em [25]
T1 T2 I (kA) ρ do solo (Ωm) 1 7
7 28
ρ solo = 3 ; 30 ; 150 ; 300 ; 500 ; 600 ; 1000 Ωm; diâmetro eletrodo = 3 mm, profundidade enterrada :
> 80 cm ; Comp. do eletrodo > 100 metros 25 100
5
T1 e T2 : Tempo de frente e tempo de cauda, respectivamente, em µs
Figura 2.11 – Diagrama Elétrico Representativo – Modelo Linha de Transmissão [25]
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 36
Em solos de baixa resistividade (< 700 Ωm), a indutância causa uma queda de
tensão rápida ao longo do eletrodo e somente a primeira parte do eletrodo
contribui efetivamente para a dissipação da corrente no solo. O “comprimento
efetivo” de um cabo tipo eletrodo é pequeno em solo de baixa resistividade,
enquanto o comprimento efetivo cresce com o aumento da resistividade do
solo.
O efeito da indutância do cabo aumenta se a forma de onda de corrente é
rápida (tempo de frente de onda reduzido) proporcionando valores de
comprimentos de contrapesos menores comparados a ondas mais lentas.
Os resultados do modelo matemático de [20] foram comparados com
resultados experimentais obtidos de cabos de diferentes comprimentos
colocados no solo de várias resistividades, sendo aplicados correntes de várias
amplitudes, conforme descrito em [32] e validando os resultados.
Resultados experimentais [18] mostram que em altos valores de corrente de
impulso (do tipo descargas atmosféricas) a disrupção do solo pode ocorrer ao
redor do eletrodo. Este fenômeno foi considerado no modelo com um aumento
aparente na seção transversal do eletrodo, e conseqüentemente uma redução
na resistência. Esta interpretação está de acordo com a teoria e resultados
experimentais obtidos por vários autores [33,34,35]. A partir destas
confirmações, o modelo matemático original foi ajustado para considerar mais
realístico o fenômeno físico o qual ocorre à medida que os níveis de correntes
aumentam. Para isso, foi adotado que para cada tipo de solo existe um valor
do campo elétrico (E) na superfície do eletrodo (campo elétrico inicial) o qual é
excedido, resultando no início de descargas na zona de contato com o solo
(existe também um valor crítico de campo elétrico abaixo do qual as descargas
são extintas). Também foi considerado no modelo que a queda de tensão na
área onde as descargas acontecem é nula.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 37
2.3.4 Ionização do Solo
Conforme discutido anteriormente, alguns autores não consideram o efeito de
ionização do solo para sistemas de aterramento quando submetidos a elevados
valores de correntes impulsivas para o cálculo da impedância de aterramento.
Outros autores consideram este efeito. Trata-se de um assunto ainda em
estudo por diversos pesquisadores.
Visacro e Amilton [28] desenvolveram um estudo em que fizeram
considerações a respeito do fenômeno, apresentando uma forma de
consideração do mesmo através do aumento de raios efetivos variáveis. No
caso mais crítico, os resultados mostraram uma redução discreta entre a
relação Vpico/Ipico no qual os aterramentos estavam sendo submetidos. Este
estudo também verificou a necessidade de computar o efeito de ionização para
contrapesos extensos.
A pesquisa mais recente está em desenvolvimento pela força tarefa do CIGRE-
WG 33.01 [36], que considera o comportamento do solo frente a descargas
atmosféricas ainda um fenômeno muito complexo. Uma redução na impedância
de aterramento é alcançada devido a valores de correntes elevados e também
devido a um processo de ionização ao redor do eletrodo, associado a um alto
valor de campo elétrico. Devido a complexidade deste fenômeno, a literatura
disponível a respeito tem sido criticada e formulações matemáticas atualmente
propostas têm sido questionadas.
Se o efeito de propagação ao longo dos eletrodos não é considerado, para
uma determinada configuração de aterramento, quando a corrente injetada no
solo (I) aumenta, a densidade de corrente na superfície do condutor (Ac)
aumenta linearmente, conforme a equação a seguir :
Onde o primeiro termo é a corrente de condução, o segundo a corrente de
deslocamento e I/Ac é a densidade de corrente.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 38
A intensidade do campo elétrico (E) também aumenta. Para cada tipo de solo e
condição de umidade, existe um valor de campo elétrico crítico (E0) além do
qual, um processo de disrupção é iniciado, contrariando a existência de uma
parcela substancial de corrente de condução na região.
Este processo é similar ao Efeito Corona. A diferença entre a ionização e o
Efeito Corona consiste na irregularidade no processo de disrupção no solo. No
fenômeno de Corona, a homogeneidade devido ao ar determina uma
regularidade na superfície do condutor. As características heterogêneas do
solo, composto por várias e diferentes partículas, determinam uma não
uniformidade para o campo elétrico na região adjacente ao eletrodo. Neste
caso, o campo elétrico crítico é alcançado primeiramente em determinados
pontos e algumas descargas se estabeleçam, enquanto em outros pontos
eqüidistantes do eletrodo não acontecem descargas. Nesta região de
descargas a condução passa a ser por centelhamento e não mais por processo
eletrolítico.
Quando este fenômeno é observado do ponto de injeção da corrente no solo, o
efeito é traduzido pela diminuição na impedância de aterramento. Enquanto
este processo de ionização não se inicia, há uma relação linear entre a tensão
e a corrente aplicada no solo (R = V/I). Quando o campo elétrico crítico (E0) é
excedido, um canal de plasma (no qual a resistividade é muito inferior que a
resistividade do solo) é estabelecido no solo e atua como uma extensão do
eletrodo, sendo responsável por um aumento adicional da corrente em relação
aquela associada a relação linear entre a tensão e corrente. Uma avaliação
experimental mostrou o efeito não linear deste processo [36]. Para ondas de
tensão impulsivas aplicadas em um eletrodo enterrado no solo, a relação linear
entre tensão e corrente foi observada enquanto o valor de pico era inferior a 4
kV. Quando este valor foi excedido, a relação também foi reduzida pela
redução da corrente.
Esta aproximação pode ser considerada razoável quando relacionada com
aterramentos concentrados (tipo hastes, fundações, grelhas) à medida que a
distribuição de corrente ao longo do eletrodo tende a ser regular, porém para
eletrodos extensos (tipo contrapeso), o efeito de propagação de ondas ao
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 39
longo do eletrodo atenua o campo elétrico e este comportamento deveria ser
considerado.
Pesquisadores de todo mundo investigaram este assunto durante vários anos e
duas linhas de pesquisas merecem destaque :
1. Comportamento do solo no domínio do tempo: baseado na
determinação de relações para campo elétrico crítico e densidade de
corrente na superfície do condutor para diferentes solos;
2. Análise de curvas “V x I“ : aproximação semelhante àquela empregada
para estudos de Efeito Corona por meio de curvas “Q x V” (estas duas
análises empregaram avaliações experimentais).
Para o cálculo do efeito em configurações existentes, duas aproximações são
encontradas na literatura e conhecidas como :
• Aproximação Geométrica : Assume um aumento na superfície do
eletrodo para justificar a redução da impedância;
• Aproximação Física : Assume um comportamento dinâmico da
resistividade para o solo ao redor do eletrodo para considerar a redução
da impedância de aterramento.
Liew e Darveniza [37] estudaram vários resultados de testes experimentais
compostos de vários eletrodos enterrados em diferentes solos, propondo um
modelo analítico para descrever o comportamento dinâmico das características
de aterramentos concentrados. No modelo proposto, o solo é caracterizado por
três zonas, conforme ilustra a figura a seguir :
Figura 2.12 – Resistividade Dinâmica – Curva para Corrente Impulsiva – [37]
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 40
Apesar de alguns pesquisadores afirmarem que uma abordagem tenha mais
sucesso que a outra, a prática mostra que isto não é verdade e que ambas as
aproximações são muito diferentes do que acontece na prática: nem a
resistividade é modificada e nem o raio do eletrodo é aumentado (contrariando
várias pesquisas anteriores). O estabelecimento de um canal irregular que
causa a disrupção do solo expressa este efeito. Ambas as abordagens, de
forma macroscópica, tentam compensar com a redução da impedância devido
ao processo por um ajuste de algum outro parâmetro (no caso o raio do
condutor). No entanto, sabendo-se da real natureza do efeito, ambos os
métodos são aceitos, se empregados corretamente.
Um ponto importante a ser considerado é a natureza da corrente aplicada ao
sistema de aterramento. Não é razoável desprezar a componente capacitiva da
corrente para ondas impulsivas aplicadas no solo. A presença de canais de
disrupção no solo afeta da mesma forma a condutância e capacitância do
eletrodo e suas respectivas correntes. O formato da curva “a” na figura a
seguir (obtida experimentalmente por medições no solo), mostra uma resposta
típica para um circuito RC paralelo, submetido a uma corrente impulsiva. As
curvas “b” e “c” também expressam a ocorrência do processo de ionização
quando a densidade de corrente é elevada.
Figura 2.13 – Curvas de Dados Experimentais “VxI” para um Eletrodo [36] – RLF=R60Hz
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 41
A aproximação física, citada anteriormente, considera somente a natureza
resistiva do solo, possuindo alguns desvios na formulação que tenta descrever,
por meio de uma resistividade dinâmica (variável) do solo, tanto o processo de
ionização do solo como a natureza capacitiva da corrente.
A aproximação geométrica também apresenta alguns desvios se não
considerada a natureza dinâmica do processo. A ionização do solo somente se
inicia depois de alcançado um determinado valor de densidade de corrente.
Assim, calculando-se o efeito, a compensação geométrica (considerado como
um aumento equivalente da área do eletrodo) aconteceria somente depois
deste limite.
Quando o efeito de ionização é considerado para sistemas de aterramentos
concentrados (pequenos contrapesos, hastes, grelhas), a distribuição de
corrente no eletrodo é uniforme ao longo do mesmo (dependendo da
densidade de corrente local), devido à natureza divergente do campo, onde o
efeito do campo elétrico é predominante. No entanto, para eletrodos extensos
(contrapesos de LTs) é necessário considerar a distribuição irregular da
ionização ao longo do eletrodo. A intensidade do efeito acompanha a
dispersão da densidade de corrente ao longo do eletrodo, a qual reduz ao
longo do mesmo a partir do ponto de injeção de corrente, devido à atenuação
da onda.
Devido à complexidade do assunto, vários aspectos ainda merecem uma maior
pesquisa com respeito ao processo propriamente dito e os respectivos métodos
de cálculo. A referência [36] sugere que sejam pesquisados alguns tópicos :
• Caracterização, de forma geral, das condições de contorno para a
ionização para diferentes tipos de solos e diferentes resistividades, em
função da densidade de corrente;
• Analisar o efeito somente em função da resistividade, independente do
tipo de solo;
• Formulação do fenômeno para aterramentos concentrados de forma
aproximada;
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 42
• Cálculo do efeito considerando interferências no eletrodo do tipo
atenuações e natureza capacitiva da corrente no solo, para contrapesos
extensos;
• Identificar a importância do fenômeno para o comportamento de linha de
transmissão frente a impulsos atmosféricos.
As abordagens física e geométrica prevalecem através dos estudos até hoje
publicados, até que uma nova modelagem para o fenômeno seja apresentada
e novos trabalhos possam ser propostos.
No trabalho proposto, este efeito não é considerado nas simulações
computacionais, prevalecendo a característica linear e isotrópica dos
parâmetros do solo. Entretanto se considerado nas simulações, este fenômeno
seria benéfico para o sistema de aterramento (relativo ao valor da impedância
impulsiva), pois a dissipação de corrente seria maior e o valor da impedância
impulsiva seria inferior, comparado com o mesmo valor sem considerar o
fenômeno.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 43
2.3.5 Resistividade do Solo : Dependência da Permissividade e
da Resistividade com a Freqüência
A literatura técnica a respeito da propagação das ondas eletromagnéticas no
solo em sistemas de aterramento ainda é bastante simplificada, apresentando
modelos de aterramentos simples (tipo Linha de Transmissão),
desconsiderando tal fenômeno.
Visacro e Portela [27] apresentaram aspectos básicos de uma modelagem
computacional para simulação do comportamento de aterramentos elétricos
frente a fenômenos rápidos tipo descargas atmosféricas, considerando os
efeitos de propagação no solo e a dependência da freqüência dos parâmetros
do solo (resistividade e permissividade).
Para sistemas de aterramentos com pequenas dimensões e espectro
representativo de baixas freqüências, os cálculos para determinação do
comportamento do aterramento são relativamente simples, com erros entre
simulações e teste de campo da ordem de 1% [27]. Para sistemas de
aterramentos com grandes dimensões e cujas freqüências representativas tem
valores elevados (tipo descargas atmosféricas), a análise do comportamento
do aterramento torna-se mais complexo, devendo-se levar em consideração os
efeitos de propagação no solo, ou seja, os efeitos de distorção e atenuação do
campo eletromagnético que se propagam nos eletrodos.
A propagação de ondas eletromagnéticas em um meio dissipativo (com perdas)
semelhante ao solo, é composta por dois fenômenos: atenuação e distorção. A
atenuação e distorção constituem-se, respectivamente, em decréscimo da
amplitude da onda e deformação da onda (defasagem) à medida que a mesma
se propaga. A forma de atenuação e distorção da onda é dada, de forma geral,
pela equação Ex=E0e-(α +jβ)x (2.12) onde E0 é a amplitude da onda, α e β são
respectivamente constantes de atenuação e de fase. A combinação destes dois
termos é a constante de propagação complexa γ =α + jβ. Quando a termo α
(parte real) é consideravelmente menor que o termo β (parte imaginária), a
onda eletromagnética tem atenuação lenta neste meio (no caso o solo) e oscila
por diversas vezes antes de dissipar-se por completo. A Figura 2.14 a seguir,
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 44
ilustra o descrito, considerando uma freqüência de 1.46 MHz para diversos
valores de resistividade do solo (250 a 20000 Ωxm).
0 50 100 150 200 250-1
-0.5
0
0.5
1Parte Real - Atenuaçao
Metros
exp(-Alfa*x)
0 50 100 150 200 250-1
-0.5
0
0.5
1Parte Imaginaria - Distorçao
Metros
exp(-jBeta*x)
0 50 100 150 200 2500
0.2
0.4
0.6
0.8
1Atenuaçao Total do Campo
Metros
|Lambda|
104
105
106
107
0
50
100
150Tg Perdas:(Sigma/(Omega*E)
Frequencia - Hz
Tg(Teta)
2505001000200050001000020000
Pode-se observar pela Figura 2.14, a diferença entre as curvas para 250 Ωxm
(azul) e 20000 Ωxm (preta) para os gráficos de atenuação, distorção e
atenuação total do campo.
Os autores de [27] desenvolveram uma formulação a partir da aplicação das
Equações de Maxwell a uma configuração básica de um eletrodo cilíndrico
muito longo enterrado no solo :
Onde :
• Ψ = Campo eletromagnético na direção z;
• h = Constante de propagação de onda cilíndrica (*);
• F = Função de Hankel ;
)eaKF (2.13e tjhs ωλψ −= )(
Figura 2.14 – Parâmetros de Atenuação de uma Onda Eletromagnética
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 45
• λ = Argumento complexo da função (*);
• a = Distância transversal;
• K = Constante complexa (*);
• ω = Freqüência angular;
(*) – determinado em função dos parâmetros do solo e da freqüência angular
Uma importante avaliação da Equação (2.13) refere-se ao comportamento
longitudinal do campo e das correntes no condutor e no solo. A parte real de h
determina a atenuação da onda eletromagnética e a partir desta atenuação que
deriva o conceito de comprimento efetivo de um sistema de aterramento,
referido nos itens anteriores de forma um tanto quanto empírica.
O comprimento efetivo de um contrapeso, conforme conceituado
anteriormente, é a parcela do contrapeso enterrado no solo onde a atenuação
do campo eletromagnético já é bastante acentuada e que o restante da parcela
de corrente impulsiva dispersada para o solo é considerada desprezível, não
afetando o valor da impedância de aterramento. A Figura 2.14 a seguir ilustra o
descrito.
A figura a seguir mostra o efeito da atenuação através da distância de
propagação necessária para o campo eletromagnético reduzir-se a 36,8% do
valor inicial (chamado de constante de espaço para comprimento efetivo de
Figura 2.15 - Ilustração do Efeito de Comprimento Efetivo de um Contrapeso
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 46
contrapeso) e parâmetros resistividade e permissividade do solo, em espectros
de freqüência representativos de fenômenos rápidos.
Várias publicações consideram, para efeito de cálculo, apenas a corrente de
perda no solo e a corrente indutiva nos condutores. As componentes de
corrente no aterramento só podem ser definidas de acordo com os parâmetros
específicos do solo (ρ e ε) e as características do sinal elétrico aplicado. A
desconsideração dos parâmetros do solo pode ser aceita para valores bastante
reduzidos de resistividade do solo, o que não ocorre na maior parte dos solos
encontrados no Brasil, especificamente em Minas Gerais.
A corrente dissipada transversalmente do eletrodo para o solo possui duas
componentes :
• Componente indutiva (Jσs);
• Componente capacitiva (Jds).
A corrente longitudinal associada à propagação do campo na direção do
eletrodo é composta basicamente por uma componente resistiva em baixa
freqüência, a qual é acrescida uma componente indutiva quando a freqüência
se eleva. Esta componente indutiva está associada ao campo externo e interno
ao condutor. Os valores dessas duas componentes são altamente dependentes
da freqüência.
Figura 2.16 – Efeito da Propagação no Solo – [27]
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 47
O quarto gráfico da figura 2.14 – Tangente de Perdas do meio, representa a
relação entre as correntes de condução e deslocamento. Em elevadas
freqüências a corrente de deslocamento atinge valores significativos, devendo
ser levada em consideração em estudos relativos a fenômenos do tipo
descargas atmosféricas.
É usual, nos estudos de fenômenos transitórios, a consideração dos
parâmetros do solo (ρ e ε) constantes, sendo que para os valores de
permissividade do solo são utilizados valores entre 4 (para solos secos) e 80
(para solos muito úmidos). Pesquisas realizadas demonstram que esses dois
parâmetros também são fortemente dependentes com a freqüência [38].
A Figura 2.16 ilustra esta dependência para um solo comum da região do
Triângulo Mineiro (MG) através do parâmetro condutividade e da constante
dielétrica (εr). Nota-se a diminuição nos valores da resistividade (efetiva) e
permissividade do solo com o aumento da freqüência. Nota-se também
elevados valores de permissividade encontrados para baixas freqüências,
diferente do usual assumido em outros estudos.
Figura 2.17 – Dependência dos Parâmetros do Solo com f – [27]
Onde : • ρ100 = Resistividade do solo para uma freqüência de 100 Hz • f = Freqüência
mf
Ω
×≈
072,0
100100
ρρ597,0535,0
1006 f102,34 −− ××≈ × ρε r
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 48
Dependendo da intensidade da corrente injetada no sistema de aterramento,
da dimensão e do valor da resistividade do solo, pode haver a disrupção do
solo, conforme abordado nos itens anteriores, porém a análise física do efeito
revela que esta disrupção praticamente só influencia os parâmetros
transversais do aterramento, aumentando as correntes condutivas e de
deslocamento. Este efeito de disrupção do solo é desprezível com relação aos
parâmetros longitudinais do aterramento e é considerado como um aumento no
raio do eletrodo.
A partir das considerações anteriores, os autores [27] desenvolveram uma
modelagem para estudos de aterramentos para fenômenos de natureza rápida,
tipo descarga atmosférica, sendo que a partir desta formulação proposta
podemos obter :
• A distribuição de potenciais e campos na superfície do solo;
• As correntes transversais e longitudinais no eletrodo;
• A resposta no tempo para ondas genéricas de corrente imposta ao
aterramento;
• A impedância de aterramento no domínio da freqüência (através da
aplicação da transformada de Fourier, determinando as principais
componentes de freqüência).
Um detalhe importante é que a dependência dos parâmetros do solo com a
freqüência são computadas pelo modelo, já que cada freqüência é processada
separadamente.
A modelagem considera duas questões objetivas na avaliação do aterramento,
para solicitações de fenômenos rápidos :
• Comportamento da impedância de aterramento, tanto para o domínio do
tempo quanto para o domínio da freqüência
• Questões de segurança de pessoas e equipamento (o qual não é o
principal objetivo deste trabalho)
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 49
As Figuras 2.18 e 2.19 ilustram curvas de corrente do tipo 1.2/20 µs impostas
ao aterramento e a tensão resultante. As figuras Ilustram também a redução no
valor de pico da onda de tensão (em torno de 30%), quando são consideradas
a dependência dos parâmetros do solo com a freqüência (curva “a”) em relação
à hipótese de valor constante para tais parâmetros (curva “b”).
A principal diferença desta modelagem apresentada em relação às demais
encontradas nas literaturas é o cálculo preciso dos efeitos da propagação no
solo e da variação dos parâmetros do solo com a freqüência.
Figura 2.19 – Resposta do Aterramento no Domínio do Tempo – [27]
Figura 2.18 – Resposta do Aterramento no Domínio da Freqüência – [27]
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 50
2.3.6 Conclusões
Considerando os parâmetros propostos para a análise, a condição de impacto
de uma descarga atmosférica em uma estrutura de linha de transmissão com
impedância de aterramento de pé de torre - Zat com valor elevado (acima de 20
Ω) é extremamente favorável ao “flashover” na cadeia de isoladores, seguido
do desligamento (para linhas de transmissão de 138 kV, conforme ilustrado em
2.1).
Nota-se, através das Figuras 2.4 e 2.5, que atuando no sistema de aterramento
da estrutura, com a minimização da resistência de aterramento (no caso a
impedância), obtém-se valores de solicitação na cadeia de isoladores dentro
dos limites de suportabilidade, mantendo-se o sistema ininterrupto.
Algumas simplificações foram assumidas para esta análise, como a
desconsideração das reflexões nos cabos contrapesos, porém a proposta
deste trabalho é a influência da estratificação do solo na impedância Zat,
considerando que as ferragens das grelhas e/ou tubulões das torres possam
atingir camadas de resistividades mais baixas, proporcionando uma redução na
impedância de aterramento. Uma análise prévia do modelo do solo para as
estruturas de linhas de transmissão também pode ser realizada, optando pela
definição de sistemas de aterramentos com hastes profundas, a fim de atingir a
segunda camada do solo, quando ρ2<ρ1 e quando d1 em profundidades
razoáveis. Desta forma, estaremos aumentando as correntes de condução
desta região.
Um cabo contrapeso enterrado no solo possui uma resistência de aterramento
dependente da resistividade do solo e de seu comprimento, porém sua
impedância de impulso (no tempo) é função de sua impedância característica e
parte da resistência de dispersão (Rt a 60 Hz) computada todas as reflexões
existentes, quando submetidos a solicitações impulsivas. O valor desta
impedância de impulso é variável, iniciando-se de um valor entre 120 e 220 Ω,
caindo exponencialmente até o valor da resistência de aterramento. A
utilização de cabos contrapesos com extensões superiores a 90 metros é
desnecessária e ineficaz.
Capítulo 2 – Sistemas de Aterramento para Linhas de Transmissão 51
O comportamento transitório sob correntes de impulso de cabos contrapesos é
bastante particular. Parâmetros como comprimento, resistividade do solo,
intensidade e forma de onda da corrente tem uma influência decisiva em seu
comportamento. Este comportamento frente a ondas impulsivas torna-se ainda
mais complexo quando elevadas correntes são injetadas no sistema de
aterramento, devido ao fenômeno de disrupção do solo. Quando o valor desta
corrente for inferior ao valor crítico para disrupção do solo, o coeficiente de
impulso (A) do sistema de aterramento é sempre maior que 1. Para simular
este comportamento não linear dos eletrodos sob altas correntes é adotado
um aumento no raio do eletrodo e uma diminuição da Indutância do cabo.
Concluiu-se que somente uma parcela do comprimento de contrapeso é efetivo
na dissipação de correntes impulsivas, então denominado “Comprimento
Efetivo” de contrapeso. Este comprimento efetivo de contrapeso e o coeficiente
de impulso do sistema de aterramento podem ser determinados pelas
equações (2.8), (2.9), (2.10), (2.10.1) para diferentes configurações. Os
resultados obtidos usando modelos matemáticos são aproximados com
aqueles alcançados experimentalmente por outros pesquisadores.
Elevados valores de correntes causam a diminuição da impedância de
aterramento devido ao aumento tanto da corrente condutiva no eletrodo quanto
a corrente capacitiva para o solo.
Conforme demonstrado, é importante a consideração da dependência da
resistividade efetiva do solo (ρ) e da permissividade (ε) com a freqüência (f)
devido aos elevados valores representativos destas freqüências em fenômenos
tipo descargas atmosféricas, porém esta questão não fará parte do escopo do
trabalho proposto.
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 52
Capítulo 3
Cálculo de Transitórios em Sistemas de
Aterramento para Linhas de
Transmissão
3.1 Introdução
O comportamento de sistemas de aterramento em freqüência industrial é um
assunto considerado bem entendido, existindo diversas ferramentas
computacionais para tais cálculos e análises e uma vasta bibliografia a respeito
do assunto. Considerando os sistemas de aterramento e seu comportamento
quando submetidos a fenômenos de alta freqüência, esta modelagem torna-se
mais complexa devido a características do solo, da geometria do sistema de
aterramento e dependência de alguns parâmetros com a freqüência,
principalmente em arranjos extensos tipo malhas de subestação ou
contrapesos de LTs.
Considerando a impedância longitudinal dos condutores do sistema de
aterramento igual a zero, isto é, considerando condutores perfeitos, a
quantidade e localização de pontos de injeção de corrente não farão diferença
no comportamento elétrico do sistema de aterramento. Teoricamente, se os
condutores são considerados perfeitos, não existe diferença de potencial entre
dois pontos do sistema de aterramento, ou seja, todo o eletrodo está no mesmo
potencial em relação ao terra remoto.
O potencial do eletrodo é baseado no conceito de “Elevação de Potencial do
Aterramento” ou GPR – “Ground Potential Rise” [13, 37], o qual em baixas
freqüências é basicamente função da resistência de aterramento do eletrodo e
da corrente injetada no mesmo
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 53
O conceito de GPR não é aplicado a sistemas de aterramento submetidos a
fenômenos de altas freqüências devido à impedância longitudinal dos
condutores estarem em diferentes potenciais em cada ponto do sistema. Neste
caso, o conceito de elevação de potencial do aterramento é uma relação entre
a corrente injetada no sistema de aterramento e a impedância de aterramento
(resistência e reatância).
A hipótese de condutores perfeitos para sistemas de aterramentos é válida
então para sistemas de aterramentos onde a relação entre comprimento de
onda e dimensões dos eletrodos é grande (conceito de equipotencial da
malha). Esta hipótese não é satisfatória para sistemas de aterramentos com
grandes dimensões ou extensos quando submetidos a solicitações de altas
freqüências, devendo ser computado os efeitos de propagação de ondas. Esta
é a situação típica de um sistema de aterramento de linhas de transmissão,
quando submetido a descargas atmosféricas.
3.2 Definição do Problema
Os estudos direcionados para otimização do sistema de aterramento de LTs da
CEMIG frente a descargas atmosféricas, até então desenvolvidos, consideram
que ρ2=ρ1 (solo homogêneo) e d1 = ∞, portanto não considerando o efeito da
estratificação do solo [8]. A Figura 3.1 a seguir ilustra o descrito.
Max de 1 metro
Contrapeso da LT
d = ∞ Grelhas e/ou Fundações
Estrutura da LT
Figura 3.1 – Situação Considerada para Otimização do Arranjo de Aterramento Frente a Descargas Atmosféricas [8]
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 54
Conforme discutido no Capítulo 2, a profundidade máxima que o contrapeso de
uma LT pode atingir é de 1 metro. A profundidade média da primeira camada
de resistividade do solo no Estado de Minas Gerais é de 6,4 metros (Moda = 3
metros) [3]. Para esta situação, uma segunda camada de resistividade do solo
com ρ2<ρ1 não seria atingida simplesmente com lançamento de cabos
contrapesos. As grelhas e fundações de estruturas de LTs chegam a
profundidades de até 5 metros, podendo atingir a segunda camada de
resistividade do solo em vários casos.
Desta forma, podemos considerar dois possíveis efeitos na impedância de
aterramento a serem analisados para as seguintes situações:
Figura 3.2 : A influência da estratificação do solo no sistema de aterramento
considerando o conjunto grelha/tubulões interligado ao fio contrapeso, mesmo
quando d1 for superior à profundidade das fundações da torre.
Figura 3.3 : A influência das grelhas e/ou fundações interligados ao contrapeso
quando parte das mesmas se encontram em d1.
Considerando que em alguns casos atuar na dimensão dos contrapesos (no
sentido de aumentar) torna-se ineficaz, uma solução é procurar aumentar as
correntes capacitivas e de condução, atuando próximo do ponto de injeção da
corrente [29]. Este ponto de injeção da corrente é exatamente nas grelhas e/ou
fundações das estruturas, que são capazes de atingir camadas de solos
Figura 3.2 – Situação Típica de um Aterramento em Solo de 2 Camadas
Max 1 metro
Contrapeso
ρ2 com d2 = ∞
Grelhas e/ou Fundações
Estrutura da LT
ρ1 para d1 = 6,4 m (Média)
Considerando ρ2 < ρ1
Interface ρ1/ρ2
Figura 3.3 – Situação Típica de um Aterramento em Solo de 2 Camadas
para o Trabalho Proposto
Max 1 metro
Contrapeso
ρ2 com d2 = ∞ Grelhas e/ou
Fundações
Estrutura da LT
ρ1 para 0,5<d1< 3 m
Considerando ρ2 < ρ1
Interface ρ1/ρ2
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 55
estratificados com resistividade inferior à camada superficial (dentro de limites
práticos).
3.3 Modelo Adotado
Para melhor apresentar os modelos que serão adotados neste trabalho, os
mesmos foram divididos nos seguintes itens: sistema de aterramento, torre de
transmissão, descarga atmosférica, parâmetro resistividade do solo e modelo
matemático do software utilizado nas simulações.
O sistema de aterramento de uma LT é composto por duas partes distintas, as
quais são interligadas eletricamente e denominadas :
• Elemento concentrado : Composto pelas grelhas e/ou fundações das
torres sendo constituído basicamente por condutâncias e capacitâncias
em paralelo. O comportamento do campo eletromagnético desta parte
do aterramento é basicamente divergente e o efeito indutivo é reduzido
[30];
• Elemento distribuído : Composto pelos fios contrapesos e responsável
por um comportamento tipo propagação de ondas. Basicamente
constituído por indutâncias e resistências série (longitudinais) e
condutâncias e capacitâncias transversais [30].
A torre de transmissão é o elemento que recebe o impacto da descarga
atmosférica e transfere o sinal ao sistema de aterramento.
A descarga atmosférica é o sinal aplicado à torre de transmissão.
Os valores de resistividade do solo adotados para ρ1, ρ2 e a profundidade d1 os
quais são os meios onde o sistema de aterramento estará submetido.
Por fim, o modelo matemático utilizado pelo software.
Estes elementos terão uma breve descrição nos itens a seguir.
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 56
3.4 Arranjo de Aterramento
Os sistemas de aterramento das LTs da CEMIG serão modelados conforme
arranjos definidos em [8,9]. A figura a seguir ilustra o arranjo típico de um
sistema de aterramento para torres metálicas (69 a 500 kV), com fios
contrapesos dispostos radialmente e interligados à estrutura da LT.
O comprimento de L1 é variável de um valor inicial de 20 metros até 90 metros
(de 10 em 10 metros). O comprimento L2 é 60% do comprimento de L1 e L3 é
variável, dependendo da extensão da faixa de cada LT. O anel equalizador
também é variável e depende da base de cada estrutura. As estruturas de
madeira e concreto não possuem o anel equalizador.
Para o presente trabalho, assumiremos comprimentos de faixa de servidão,
estruturas metálicas e distâncias entre pés de torres típicas das LTs de 138 kV
da CEMIG. Estes valores típicos adotados facilitam as simulações
computacionais, devido à grande possibilidade de combinações destes
parâmetros.
1 m
L3
L2 = 0,6 x L1
L1
Limite da Faixa de Servidão
1 m
Anel Equalizador
Figura 3.4 – Arranjo Típico do Sistema de Aterramento de Torres Metálicas da CEMIG
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 57
3.4.1 Grelhas da Estrutura
As grelhas das estruturas metálicas serão modeladas de forma a representar a
realidade do campo, em forma de pirâmide e com condutores circulares que se
aproximam dos perfis realmente utilizados [22]. A quantidade exata de perfis
que formam a grelha é representada no modelo. A Figura 3.5 ilustra as grelhas
das torres em conjunto com o arranjo de aterramento.
Figura 3.5 – Arranjo Típico Completo com a Representação e Detalhe da Grelha
Foram utilizadas as dimensões reais para as torres típicas utilizadas. As torres
estaiadas, utilizadas nas LTs de 500 kV, não possuem grelhas e o elemento
concentrado representativo das mesmas são os pontos de fixação dos estais
através de hastes âncora, porém este arranjo não será avaliado.
Devido a grande utilização do sistema de grelhas na sustentação das torres,
este modelo foi escolhido para análise, porém outros tipos de fundações (stub,
tubulões, sapatas de concreto) podem resultar em valores ainda melhores
devido a maior profundidade que estas atingem.
3.4.2 Torre
A torre da linha de transmissão não será modelada no trabalho proposto, pois o
objetivo principal é a análise do sistema de aterramento da mesma. Será
considerada a injeção onda de corrente diretamente no sistema de
aterramento.
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 58
3.4.3 Descarga Atmosférica
A forma de onda aplicada ao sistema de aterramento de aterramento será uma
dupla exponencial com os seguintes parâmetros :
• T1: 2.62 µs;
• T2: 62.0 µs;
• Amplitude : 1 pu de corrente
Estes parâmetros são típicos das descargas atmosféricas encontradas no
estado de Minas Gerais [1].
Figura 3.6 - Representação da Descarga Típica em Minas Gerais [1]
0 10 20 30 40 50 60 70 80 900
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4Onda 2.6 x 62 us
Tempo - Micro Segundos
Amplitude 1 pu
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 59
3.5 Resistividade do Solo
Os valores de resistividade do solo a serem utilizados para as simulações
serão os mesmos utilizados em [8] que definiram o arranjo de aterramento
excetuando-se o valor de 100 Ωm, onde o comprimento efetivo é o mesmo
para a resistividade de 250 Ωm. Estes valores serão utilizados como
resistividade da primeira camada (ρ1) e os valores para a segunda camada do
solo de 10%, 50% e 90% de ρ1, representando respectivamente, coeficientes
de reflexão (K) de -0.82, -0.33 e -0.053. A profundidade de d1 será de 1 e 6
metros, onde 6 metros é média da profundidade para o estado de Minas
Gerais. Serão utilizados os comprimentos efetivos de contrapesos para cada
valor de resistividade do solo (para solo homogêneo), conforme tabela a seguir.
Os valores escolhidos para as análises, onde ρ2<ρ1, é baseado na referência
[3], onde grande parte da composição do solo em Minas Gerais tem esta
característica.
Tabela 3.1 - Valores de Resistividade do Solo (Ωm) e
Comprimentos de Contrapesos Propostos para as Análises
L1 ρ1 ρ2 d1
25
125 20 250
225
50
250 30 500
450
100
500 40 1000
900
200
1000 50 2000
1800
500
2500 80 5000
4500
2000
10000 90 20000
18000
1, 6 metros e ∞ (correspondente a solo
homogêneo)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 60
Onde: L1 : Comprimento, em metros, da perna L1 definido na Figura 3.4; ρ1 : Resistividade da primeira camada do solo, em Ωxm; ρ2 : Resistividade da segunda camada do solo, em Ωxm; d1 : Profundidade da primeira camada do solo, em metros.
A permissividade relativa do solo foi adotada como εr = 4 para todos os casos,
sendo considerado este valor como típico para solo muito seco [38].
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 61
3.6 Modelo Computacional
3.6.1 Introdução
A ferramenta computacional utilizada para a resolução do trabalho proposto é
um pacote computacional descrito em [13]. O software a ser utilizado é o
pacote computacional CDEGS (Current Distribution, Electromagnetic Fields,
Grounding and Soil Structure Analysis) e é uma poderosa ferramenta
computacional de engenharia para analises de problemas envolvendo sistemas
de aterramento, campos eletromagnéticos e interferências eletromagnéticas.
Trata-se de uma ferramenta testada e comprovada através de vários trabalhos
na literatura feitos por consagrados especialistas no assunto. A rotina do
pacote computacional a ser utilizada é denominada HIFREQ e é aplicada para
diversas análises em faixas de freqüências de 1 até 100 MHz e sua
particularidade é a análise de grandes sistemas de aterramentos compostos de
condutores enterrados arbitrariamente e condutores aéreos. A energização do
sistema de aterramento pode ser feita de várias formas, através de fonte de
corrente ou de tensão e a consideração dos efeitos externos de campo elétrico.
A principal característica para sua aplicação no presente trabalho é a
modelagem de solos estratificados para os sistemas de aterramentos. Uma
breve apresentação da formulação matemática é apresentada no item 3.6.2,
considerando que o objetivo deste trabalho é a análise do sistema de
aterramento de linhas de transmissão com aplicações de técnicas
computacionais já existentes.
A análise de sistemas de aterramento envolvendo transitórios é inicialmente
resolvida por uma formulação no domínio da freqüência e posteriormente é
aplicado um algoritmo de FFT – “Fast Fourier Transform” para obter a resposta
do sistema no domínio do tempo. A partir da resposta no domínio da
freqüência, uma função de transferência é obtida para todas as freqüências
representativas de uma descarga atmosférica, sendo esta função dependente
somente da geometria e propriedades eletromagnéticas do sistema de
aterramento e do meio em que o mesmo está envolvido. A equação a seguir
ilustra o descrito, considerando i(t) uma corrente injetada no aterramento e x(t)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 62
a resposta a esta excitação, F e F-1 respectivamente a transformada de Fourier
e sua inversa e ω a freqüência angular :
)]([)()( 1 tiFjWFtx ⋅= − ϖ (3.1)
O modelo físico é baseado nas seguintes hipóteses :
• O solo e o meio ar são homogêneos e ocupam um meio espaço com um
plano horizontal entre eles;
• O solo e os eletrodos de aterramento apresentam características lineares e
isotrópicas;
• O sistema de aterramento é assumido ser composto de condutores
cilíndricos metálicos com orientação arbitrária. No entanto, eles são assumidos
estar sujeito à aproximação “thin wires”, isto é, a razão do comprimento do
segmento do eletrodo para seu raio é >>1.
• A energização ocorre por uma injeção de uma corrente impulsiva de forma
arbitrária produzida por um gerador de corrente Ideal com um terminal
conectado ao sistema de aterramento e outro terminal no terra infinito. A
influência da conexão é desprezada.
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 63
3.6.2 Modelo Matemático
O primeiro passo no desenvolvimento do modelo matemático é determinar a
distribuição de corrente no sistema através da injeção de uma corrente
impulsiva de forma arbitrária através de uma fonte de corrente ideal. Esta tarefa
é feita em duas etapas, considerando o meio condutor (solo) infinito e na
segunda etapa, onde os efeitos de interface entre meios são considerados.
A Figura 3.7 ilustra dois segmentos de condutores de um sistema de
aterramento qualquer.
A posição de um ponto no eixo de um segmento é definida por um vetor r’ e o
vetor r define um segmento em um ponto na superfície S. O vetor t’ representa
o vetor unitário ao longo do eixo do segmento e o vetor t representa o vetor
unitário tangencial à superfície do segmento.
De forma geral, o campo elétrico E no solo pode ser considerado com o
somatório de um campo elétrico “impresso” Ei e um campo elétrico induzido Es.
Este campo elétrico induzido é resultado de correntes e cargas induzidas no
sistema de aterramento pelo campo elétrico impresso Ei.
A expressão para correntes induzidas é obtida pelas condições de contorno
para a componente tangencial do campo elétrico na superfície dos segmentos
r
Sistema de Coordenadas
t t'
l
Segmento m
r'
O
s
Segmento n
Figura 3.7 – Configuração dos Eletrodos [42]
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 64
de condutores. As condições de contorno na superfície de um segmento de
condutor sem perda impõem a seguinte equação (somente com a componente
axial do campo elétrico t, devido à terceira condição descrita em 3.6.1):
0)( =+⋅ si EEt (3.2)
O campo elétrico induzido Es(r) em um ponto r produzido por uma corrente
t’.I(r’) e carga σl (r’) pode ser expresso em função do vetor potencial magnético
e potencial escalar resultando, após algumas substituições matemáticas [42],
na equação:
( ) dlrrgrItj
El
lS )',()'('
41
12
1
1
∫ ⋅−⋅∇∇= γεωπ (3.3)
Onde a integral é feita ao longo do eixo l do sistema de condutores e g1(r,r’)
e´a função de Green para um meio infinito (espaço ilimitado):
f
rrrr
rrg
πω
γ
2
|)'|exp(|'|
1)',( 11
=
−−−
=
ωσ
εεεµωγj
11111
221 & +=−=
As unidades são, f em Hz, condutância σ em S/m, permissividade ε em F/m,
permeabilidade µ em H/m e γ2 é a constante de propagação
O modelo matemático segue pela substituição de (3.3) em (3.2) e este
resultado fornece a equação integral do campo elétrico:
dlrrGrIj
Etl l
i )',()'(4 1
1 ∫−=⋅π
ωµ (3.4)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 65
Onde G1(r,r’) é a função dyadic de Green para o campo elétrico em r devido a
uma corrente em r’ e dado por:
( )( ) )',(''1
)',( 121
1 rrgttttrrG
⋅−∇⋅⋅∇=
γ (3.5)
Embora a corrente radial no condutor seja desprezada, o modelo considera a
corrente de dispersão radial para o solo ao longo de cada segmento, a qual
será abordado adiante.
No caso de condutores com perdas, as condições de contorno dadas em (3.2)
devem ser alteradas e a componente tangencial do campo elétrico total na
superfície do segmento se iguala à queda de tensão (∆V/metro) interna ao
longo do segmento, ou seja, na superfície S do condutor temos:
sZI ⋅=+⋅ )( si EEt (3.6)
Em 3.6, Zs é a impedância da superfície, dada por:
( )( )aJ
aJja
Z s
21
20
22
2
)(2 λλ
ωεσπλ
⋅+
= (3.7)
Onde σ2, ε2 e µ2 são respectivamente a condutância, permissividade e
permeabilidade dos condutores, λ2 ≅ ω2 (µ2 ε2 - µ1 ε1) e o raio dos segmentos é
a. J0 e J1 são as funções de Bessel de primeiro tipo de ordem zero e um.
A formulação anterior é dada para um meio infinito, porém o trabalho pioneiro
de campos eletromagnéticos gerados por elementos de correntes (dipolos
elétricos) envolvidos por meios distintos (por exemplo um solo estratificado) foi
estudado por Sommerfeld [45]. A partir deste trabalho, o efeito da interface
ar/solo pode ser considerado substituindo em (3.4) a função dyadic de Green
G1(r,r’) para um meio infinito pela função correspondente para um semi-espaço
condutor, obtendo [42,43]:
)',()',()',()',( 1 rrGrrGrrGrrG si +−= (3.8)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 66
O termo Gi(r,r’) representa a função dyadic de Green da imagem do elemento
de corrente no segmento condutor relativo a interface. Os primeiros dois termos
de (3.8) são aplicação direta da teoria das imagens e o último termo é um
termo de correção da componente de campo e pode ser expresso em forma de
Integrais de Sommerfeld, as quais aparecem nas expressões de campos
eletromagnéticos gerados por dipolos em meios distintos.
Para um dipolo orientado arbitrariamente em um meio, o termo de correção
Gs(r,r’) é dado pela soma dos termos de correção associados pela combinação
de dipolos horizontais e verticais representados através de coordenadas
cartesianas e cilíndricas. O desenvolvimento completo é dado em [42]. As
equações (3.4), (3.8) em conjunto com o desenvolvimento do termo de
correção Gs (r,r’) compõem a base do modelo matemático.
A aplicação do método de momentos na equação (3.4) permite sua redução a
um sistema de equações lineares com soluções obtidas através de técnicas
conhecidas de inversão numérica, obtendo a distribuição de corrente em cada
segmento de condutor e o campo elétrico tangencial na superfície. A técnica
utilizada nestes cálculos é o método de momentos de Adams [42]. A divisão
adequada dos condutores em N segmentos determina a precisão dos cálculos.
A distribuição de corrente axial no sistema de aterramento é aproximada por
uma combinação linear de M funções de base Pi(l). De forma geral, a corrente
I(l) em um ponto l no sistema de aterramento é dado pela equação a seguir,
para coeficientes ci:
∑=
⋅=M
iii PcI
1)()( ll (3.9)
No exemplo da figura 3.8 a seguir M=N e :
Pi(l) = 1, no i-ésimo segmento; e
0 para os demais
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 67
Desta forma obtém-se uma representação constante de uma aproximação
polinomial da distribuição de corrente, onde:
ci = Ii, no i-ésimo segmento, e
0 para os demais
A variável Ii é a aproximação da distribuição de corrente no i-nésimo segmento,
conforme figura 3.8.
Um valor de corrente zero é assumido no final do condutor, o que é aceitável
para a consideração da condição “thin-wire condition”.
Para a determinação dos N coeficientes de Ii da Equação 3.8, é necessário um
sistema com N equações e considerando a fonte de corrente conforme a figura
3.9, temos que a primeira equação é I1 = Ig. A tensão no i-ésimo segmento é a
soma das contribuições de tensão em cada segmento, o que leva à equação:
iNNiiii zIzIzIzIV ...332211 ++= (3.10)
O termo ziN é igual à tensão no i-ésimo segmento devido a uma corrente no m-
ésimo segmento e corresponde a uma impedância de circuito aberto na teoria
de circuitos. Na teoria de campo eletromagnético, esta impedância é chamada
de “impedância generalizada” [42] e representa a interação eletromagnética
1 2 3 ... N I g
l
I1= I g
I(l) – Aproximação do Modelo
Distribuição de Corrente Real
Figura 3.8 – Distribuição de Corrente no Eletrodo [42]
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 68
entre os segmentos, dependente apenas da geometria do sistema de
aterramento, da freqüência de excitação e dos parâmetros do solo.
Para o caso de condutores ideais, o valor de Vi na equação (3.10) é zero, de
forma que a condição I1 = Ig e (3.10) produz a matriz:
=
⋅
0
00
001
3
2
1
21
33231
22221
MML
MOMMKKK g
NNNNN
N
N
I
I
III
zzz
zzzzzz
(3.11)
A determinação da “impedância generalizada” znm dada em (3.11) é um passo
importante nos cálculos. A tensão Vn é dada pelo produto do campo elétrico
tangencial na superfície de um ponto no centro do segmento pelo seu
comprimento. Pelas equações (3.4), (3.9) e (3.10), temos:
∑ ∫= ∆
∆
=⋅∆−=N
m mlmn
nmn
innn dlrrG
jlIrErtlV
1
1 )',(4
)()(πωµ
(3.12)
Onde ∆ln e ∆lm, são respectivamente, comprimento do segmento n e m. O
ponto central na superfície do segmento n e no eixo do segmento m são dados
por rn e r’m, respectivamente. O termo entre chaves que multiplica Im na
equação (3.12) é a “impedância generalizada” znm e representa todas as
possíveis configurações de segmentos [42].
Quando as perdas naturais dos condutores do sistema de aterramento são
consideradas, somente os elementos da diagonal principal da matriz (3.11), os
quais representam a “impedância generalizada própria”, devem ser
modificados, conforme:
nsnnnn lZzz ∆+=' (3.13)
para 1 ≤ n ≤ N e Zs é dado pela equação (3.7). Enquanto os dois primeiros
termos do núcleo da integral da equação (3.12) (G(r,r’) = G1(r,r’) – Gi(r,r’) +
Gs(r,r’)) são determinados de forma mais simples, o terceiro termo, que é o
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 69
termo de correção de Sommerfeld (detalhado em [42]) deve ser integrado
numericamente. Esta correção foi eliminada com um aprimoramento, onde a
Integral de Sommerfeld foi resolvida de forma exata (sem aproximações) [43].
A partir da distribuição de corrente dada pela equação (3.9), o campo elétrico
E(r) pode ser calculado em um ponto r qualquer (no solo) pela soma das
contribuições devido a corrente em cada segmento:
( )∫∑∆=
−
∂∂
=nl
N
nn dlrrgt
lI
jrE ','
41
)(1
212
2
1
γεωπ (3.14)
Onde g(r,r’) é a função de Green do semi-espaço condutor [42].
Em pontos muito próximos à superfície de um eletrodo, a seguinte expressão
aproximada (condição de campo próximo) é usada para evitar instabilidade
numérica [42]:
llI
jE
∂∂
−≈)(
21
1
1 πρεωρ (3.15)
Onde E1ρ é a componente normal do campo elétrico e ρ é a distância radial a
partir do eixo do segmento.
A densidade de corrente de dispersão pode ser calculada como o produto da
componente normal do campo elétrico na superfície de um condutor e a
condutância do solo [42] :
1)()( σρ ⋅= rErJ l (3.16)
onde Jl e Eρ são a densidade de corrente de dispersão e a componente normal
do campo elétrico, respectivamente, na superfície do condutor de aterramento.
A partir da determinação da função de transferência na equação 3.1 para a
grandeza eletromagnética desejada (para o caso particular da impedância), a
solução no domínio do tempo pode ser obtida pela aplicação da equação:
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 70
)()(
)(titv
tZ = (3.17)
A Freqüência de Nyquist e o número de amostras são determinados pela
precisão desejada nos cálculos (quanto maior a precisão, maior o tempo de
cálculo) para a representação da resposta no domínio do tempo. A faixa de
freqüência de Nyquist é dada por [42]:
tFm ∆
=21
(3.18)
Onde ∆t expressa o menor tempo para a qual a precisão da resposta é
desejada. A máxima freqüência Fm é geralmente determinada como a
freqüência acima da qual as amplitudes do espectro são desprezíveis.
O princípio básico é que cada grandeza eletromagnética em um determinado
ponto de observação é a soma de contribuições de todos os condutores que
pertencem ao sistema de aterramento. O programa calcula estas grandezas
considerando que cada condutor é formado pela união de vários segmentos
representados por dipolos elétricos localizados no centro de cada segmento.
O campo eletromagnético de um dipolo é analisado como a soma de várias
parcelas, entre elas a parcela da fonte do dipolo, uma parcela de sua imagem e
a Integral de Sommerfeld [45]. A Integral de Sommerfeld pode ser calculada de
três diferentes formas:
• Integração Dupla: As integrais de Sommerfeld são calculadas
numericamente de forma exata, ou seja, sem nenhuma aproximação. Quando
o sistema de aterramento está presente em um meio com mais de uma
camada (meios isotrópicos e lineares), esta metodologia é a aplicada (sendo o
caso do presente trabalho).
• Aproximação de Baixa Freqüência: Uma aproximação analítica semi-
estática é aplicada para as Integrais de Sommerfeld.
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 71
• Aproximação “In-soil”: Outra formulação analítica a qual é válida quando
a condutividade do solo é muito maior que a condutividade do ar. Esta
aproximação não se aplica ao trabalho proposto.
A corrente que circula no sistema de aterramento é considerada linear em cada
segmento de condutor. O método de momentos [42] é usado nos potenciais
escalar e vetor para impor as condições de contorno na superfície dos
condutores (continuidade do campo elétrico E e campo magnético H).
Duas condições importantes são impostas a cada segmento de condutor:
• O comprimento de cada segmento de condutor deve ser no mínimo cinco
vezes maior que de seu raio – “thin-wire condition”;
• O comprimento máximo de cada segmento deve ser igual a 1/6 do
comprimento de onda o solo (λsolo), sendo este definido por λsolo = 3160x(ρ/f)1/2,
considerando ρ a resistividade do solo e f a freqüência, respectivamente em
Ωm e Hz. Esta aproximação aplica-se para condições de ρ e f, onde as
correntes condutivas sobrepõem sobre as correntes capacitivas (no sistema de
aterramento). Esta condição é devido ao fato que em altas freqüências a
corrente tende ter uma variação harmônica ao longo do condutor, com
comprimento de onda λ solo, isto é, comportamento de ondas trafegantes.
Um fluxograma para o modelo computacional é apresentado de forma macro
na Figura 3.9 a seguir. Essencialmente, a função de transferência é
aproximada pela amostragem das freqüências do sinal injetado em um loop
nos módulos 1, 2 e 3. A grandeza desejada no domínio do tempo gerado por
injeções de pulsos de corrente no sistema de aterramento é calculado no
módulo 4. Informações detalhadas são encontradas nas referências [42, 43 e
44] .
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 72
A partir das considerações básicas do modelo computacional e da metodologia
de cálculo utilizada pelo programa computacional, os arranjos de aterramentos
foram submetidos às simulações, conforme descrito no próximo item.
(Domínio do Tempo)
(Freqüência Simples)
Não
Não Sim
Freqüência Tempo
Início
Domínio? Espectro de Freqüência do Sinal usando FFT
Ler Freqüências Próxima
Freqüência
Módulo 1 : Cálculo Inicial das Integrais de Sommerfeld
Módulo 2 : Distribuição de Corrente no Aterramento pelo Método dos Momentos
Módulo 3 : Avaliação da Grandeza de Interesse no Ponto Determinado
Resultados da Integral Sommerfeld
Resultado da Distribuição Corrente
Resultado no Domínio da Freq. da Grandeza
Próxima Freqüência
Módulo 4 : Solução no Domínio do Tempo Usando uma Transformada de Fourier
Fim
Resultado no Domínio do Tempo
Figura 3.9 – Macro Fluxo-grama do Modelo Computacional [42]
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 73
3.7 Simulações Computacionais
A análise de sistemas de aterramento em baixa freqüência é baseada na teoria
de potencial constante [13,37,45], onde a elevação de potencial do aterramento
(GPR) é simplesmente um número, extraído da multiplicação da corrente
injetada no aterramento pela sua resistência, onde tal valor é considerado o
mesmo para todo o sistema de aterramento (mesmo em grandes sistemas).
Na análise de fenômenos em altas freqüências (tipo descargas atmosféricas), a
elevação de potencial transitória do sistema de aterramento é uma função
complexa no domínio do tempo, a qual tem seu máximo valor no ponto de
alimentação do sistema de aterramento (condutor energizado pelo sinal da
descarga). Este GPR transitório é dependente da forma de onda que é aplicado
ao sistema. Nas simulações propostas, o ponto de energização do sistema de
aterramento será considerado os pés da estrutura, conforme ilustra a Figura
3.10.
Este ponto de energização representará o ponto de máximo potencial
transitório que a base da estrutura ficará sujeita, desconsiderando os demais
efeitos existentes acima deste ponto. Ao contrário de uma malha de
aterramento extensa onde se pode considerar o ponto de injeção de sinal na
extremidade e no centro da malha, um sistema de aterramento de linhas de
transmissão (torres auto-portantes) possui apenas o ponto central da base da
torre como ponto de alimentação (correspondente aos pés da torre).
Condutor 1
Figura 3.10 – Identificação do Ponto de Injeção da Descarga Atmosférica no Aterramento
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 74
Um outro parâmetro de interesse nas simulações é a impedância de
aterramento, definida como uma função de transferência dependente da
freqüência, auxiliando na análise do comportamento do sistema de aterramento
para as freqüências típicas de uma descarga atmosférica. Esta impedância de
aterramento é dependente somente da geometria do aterramento e das
propriedades eletromagnéticas do solo (sendo independente da excitação),
permitindo a avaliação do GPR transitório como resposta a uma excitação
arbitrária do sistema de aterramento [43]. Sua definição é dada como :
AjV
jZ1
)()(
ϖϖ = (3.18)
Onde V(jω) é o máximo GPR no ponto de injeção do sinal, obtido como
resposta a uma excitação permanente por uma corrente de 1A para uma
determinada faixa de freqüência de interesse. Obtendo-se a grandeza Z(jω)
através de (3.18) obtemos V(t) (como resposta a uma excitação i (t)) através
da aplicação de uma IFFT (transformada inversa de Fourier).
[ ] )()()( 1 tiFjZFtV ⋅= − ϖ (3.19)
Onde F e F-1 são, respectivamente, Transformada de Fourier e Transformada
Inversa de Fourier.
A seguir são apresentados os resultados das simulações computacionais
efetuadas para os arranjos de aterramento para os níveis de tensão 69 e 138
kV das linhas da CEMIG, sendo calculadas as impedâncias impulsivas do
arranjo (ou a elevação de potencial por unidade de corrente GPR em V/A) bem
como o comportamento do sistema de aterramento para cada freqüência
representativa de uma descarga atmosférica, para os valores de ρ definidos no
item 3.5.
Devido ao grande número de simulações obtidas, os resultados serão
apresentados em forma de gráficos e/ou tabelas.
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 75
Os gráficos de máxima impedância impulsiva (ou GPR transitório – V/A), são
de grande interesse, pois demonstram a máxima solicitação de tensão que
pode ocorrer na estrutura.
Os gráficos do comportamento da impedância complexa em função da
freqüência possibilitam a visualização da influência dos efeitos resistivos,
indutivos, capacitivos e propagação de ondas no arranjo de aterramento.
Considerando que um eventual corte do sinal (da descarga) possa acontecer,
com o conseqüente surgimento de valores elevados de freqüência, decidiu-se
por considerar valores acima do espectro de freqüências das descargas
atmosféricas nos casos analisados (até 5 MHz).
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 76
3.7.1 Arranjo de Aterramento para Linhas de 69/138 kV
As simulações foram dividas em 6 casos, descritos na Tabela 3.2, a seguir:
Tabela 3.2 – Identificação dos Casos e Parâmetros Adotados nas Simulações
Id. Caso L1 ρ1 ρ2 d1 25
125 1 20
250
225
50
250 2 30 500
450
100
500 3 40 1000
900
200
1000 4 50 2000
1800
500
2500 5 80 5000
4500
2000
10000 6 90 20000
18000
1, 6 e ∞ (correspondente a
solo homogêneo)
Onde :
L1 : Comprimento, em metros, da perna L1 definido na Figura 3.4; ρ1 : Resistividade da primeira camada do solo, em Ωxm; ρ2 : Resistividade da segunda camada do solo, em Ωxm; d1 : Profundidade da primeira camada do solo, em metros. Legenda dos Gráficos : 20000 x 2000 x 1 d1
ρ2
ρ1
Estilo da Curva
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 77
3.7.1.1 Caso 1 : L1 = 20 m e ρ1 = 250 Ωm
Os gráficos do comportamento do arranjo de aterramento em função da
freqüência são importantes para a visualização da influência de alguns efeitos,
entre eles as variações na impedância em função da estratificação do solo e
profundidade da primeira camada.
102
104
106
0
5
10
15
20
25
Caso 1: L1=20m RO1=250 e d
1=1m
Z(Ohm)
250Homo250x225x1250x125x1250x25x1
102
104
106
0
20
40
60
80
Frequencia - Hz
Angulo(Graus)
102
104
106
5
10
15
20
Caso 1: L1=20m RO1=250 e d
1=6m
250Homo250x225x6250x125x6250x25x6
102
104
106
0
20
40
60
80
Nas análises do Caso 1, Figura 3.11, observa-se uma discreta variação na
impedância de aterramento do arranjo até aproximadamente 100 kHz, tanto
para d1=1 como para d1=6 metros (em concordância com trabalhos
encontrados na literatura), comportando-se como uma resistência pura para
esta faixa de freqüências. Após este valor, o comportamento do arranjo torna-
se extremamente indutivo, conforme mostra o gráfico do ângulo da impedância
– Figura 3.11 lado esquerdo, com aumento significante no módulo da
impedância e também no ângulo. Para muitas aplicações de engenharia, a
consideração da impedância de aterramento como uma resistência pura, até a
faixa de 80 kHz (aproximadamente), é aceitável.
Figura 3.11 – Caso 1: 69/138kV – 250 Ωxm e L1 = 20m para d1 = 1 m (lado esquerdo) e d1 = 6 m (lado direito)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 78
106
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20Caso 1 - Zoom Espectro de Frequência 200 kHz a 2.5 MHz
Frequencia - Hz
|Z|Ohm
250Homo250x225x1250x125x1250x25x1250x225x6250x125x6250x25x6
250x25x1
250x125x1
As análises para o Caso 1 mostram que é possível obter valores menores de
impedância de aterramento com o alcance de camadas de resistividades
inferiores à primeira. Na faixa das altas freqüências (acima de 1.5 MHz), existe
um aumento no módulo da impedância para todas as análises, porém para a
análise onde ρ2= 0.1xρ1 e d1=1 metro, um valor inferior (em relação aos
demais) para a impedância é observado na Figura 3.11a entre 200 kHz e 2.5
MHz.
Com a alteração dos parâmetros do solo (aumento de ρ2 e d1), a tendência do
sistema de aterramento é comportar-se de forma semelhante ao sistema de
aterramento para um solo homogêneo (Figura 3.11 e 3.11a).
De modo a destacar as contribuições de cada componente do sistema de
aterramento, as mesmas análises no domínio da freqüência foram realizadas
para os contrapesos e para o conjunto de grelhas, de forma separada. Estes
comportamentos são apresentados na Figura 3.11b, a seguir, juntamente com
o gráfico de todo o conjunto.
Figura 3.11a – Caso 1 – Zoom : Freqüências entre 200kHz e 2.5 MHz
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 79
105
0
5
10
15
20
25
30Caso 1: Solo Homogeneo
Z(Ohm)
GRelhaCPesoArranjo
105
0
5
10
15
20
25
30Caso 1: RO=1250x225x1m
Frequencia Hz
GRelhaCPesoArranjo
105
0
5
10
15
20
25
30Caso 1: RO=1250x2125x1m
GRelhaCPesoArranjo
Através da Figura 3.11b podemos notar um comportamento semelhante entre
contrapeso e conjunto de grelhas, ou seja, um caráter bastante indutivo. A
impedância global do sistema é a composição dos dois componentes
(grelha+contrapeso) acrescido da impedância mútua entre os condutores.
Em complemento à análise no domínio da freqüência, obtemos, a partir de uma
FFT inversa, resultados interessantes como a máxima elevação de potencial a
qual o sistema de aterramento ficará submetido e o instante em que este
máximo ocorre, conforme mostra a Figura 3.12, para o Caso 1. Na proposta do
trabalho, este parâmetro (ZP e GPR transitório) talvez seja o mais importante a
ser avaliado.
Figura 3.11b – Caso 1 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 80
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100
1
2
3
4
5
6
Caso 1: L1=20m RO1=250 e d
1= 1 e 6 metros
Micro segundos
GPR(Volt/Ampere)
250Homo250x225x1250x125x1250x25x1250x225x6250x125x6250x25x6
250x25x6
250x125x1
Este valor máximo de GPR transitório, representado no trabalho em função do
valor de corrente aplicado ao aterramento Volt/Ampère, denota de forma
aproximada a máxima solicitação (stress) que será aplicada à cadeia de
isoladores da torre de transmissão. Considera-se de forma aproximada, devido
ao fato de se não computar os efeitos de distorção e atenuação na torre de
transmissão (a qual não foi modelada no estudo). A Figura 3.12 representa
também o valor da impedância impulsiva do sistema de aterramento.
Para as análises do Caso 1, a solicitação de máximo GPR transitório é tanto
menor quanto menor o valor de ρ2 e de d1 (em relação ao solo homogêneo),
porém o tempo de ocorrência do pico de tensão é sempre antecipado para esta
situação e a característica do aterramento é mais indutiva, como pode ser
observado nas Figuras 3.12 e 3.11, respectivamente.
Figura 3.12 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 1
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 81
3.7.1.2 Caso 2 : L1 = 30 m e ρ1 = 500 Ωm
Análises semelhantes ao Caso 1 podem ser feitas para o Caso 2, pois os
valores de resistividades para ambos os casos são baixos, respectivamente
250 e 500 Ωxm, onde fatores como a presença de corrente capacitiva
manifestam-se de forma discreta, conforme pode ser observado na Figura 3.13.
102
104
106
0
5
10
15
20
Caso 2 :L1=30m RO1=500 e d
1=1m
|Z|(Ohm)
500Homo500x450x1500x250x1500x50x1
102
104
106
0
20
40
60
80
Frequencia - Hz
Angulo(Graus)
102
104
106
5
10
15
20
25
30
Caso 2: L1=30m RO1=500 e d
1=6m
500Homo500x450x6500x250x6500x50x6
102
104
106
-10
0
10
20
30
40
50
60
Novamente podemos observar na Figura 3.13 (lado esquerdo para d1=1 metro)
um valor bem inferior da impedância para análise onde ρ2=0.1xρ1 até a faixa
de, aproximadamente 3.8 MHz, aumentando significativamente após este valor
porém fora do espectro de freqüências de uma descarga atmosférica. Apesar
do valor baixo do módulo da impedância, observa-se pelo ângulo que uma
característica indutiva (devido ao aumento do mesmo) acentuada predomina
para esta análise devido à influência da baixa resistividade da segunda camada
(ρ2).
Figura 3.13 – Caso 2: 69/138kV – 500 Ωxm e L1 = 30m para d1 = 1 m (lado esquerdo) e d1 = 6 m (lado direito)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 82
A Figura 3.13a mostra os valores de impedância para a faixa de freqüência
entre 200 kHz até 2.5 MHz, com destaque para a curva onde ρ2=0.1xρ1,
mantendo a impedância com um valor bem inferior às demais análises.
106
0
5
10
15
20
25
30Caso 2 - Zoom Espectro de Frequência 200 kHz a 2.5 MHz
Frequencia - Hz
|Z | - Ohm
500Homo500x450x1500x250x1500x50x1500x450x6500x250x6500x50x6
500x50x1
Como podemos observar na Figura 3.13b, a seguir, nesta análise o
comportamento da grelha diferencia-se um pouco das demais análises (para o
solo homogêneo), tendo um comportando-se bem mais capacitivo que o Caso
1 (para o solo homogêneo). Com o baixo valor da segunda camada para o solo
estratificado, o comportamento da grelha se mantém semelhante ao Caso 1.
105
0
5
10
15
20
25
30
35
40Caso 2: Solo Homogeneo
Z(Ohm)
GRCPARR
105
0
5
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15
20
25
30
35
40Caso 2: RO=
1500x
250x1m
Frequencia - Hz
GRCPARR
105
0
5
10
15
20
25
30
35
40Caso 2: RO=
1500x
2250x1m
GRCPARR
Figura 3.13a – Caso 2 – Zoom : Freqüências entre 200kHz e 2.5 MHz
Figura 3.13b – Caso 2 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 83
Com a redução da resistividade da segunda camada e da profundidade d1,
naturalmente os valores de GPR (ou Zp) reduzem, mantendo o mesmo
comportamento do Caso 1, conforme mostra a Figura 3.14.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Caso 2: L1=30m RO1=500 e d
1= 1 e 6 metros
Micro segundos
GPR(Volt/Ampere)
500Homo500x450x1500x250x1500x50x1500x450x6500x250x6500x50x6
500x450x1
Os efeitos da redução de ρ2 são nítidos na Figura 3.14, chegando a reduzir o
GPR em até 70% com relação à análise do solo homogêneo.
Figura 3.14 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 2
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 84
3.7.1.3 Caso 3 : L1 = 40 m e ρ1 = 1000 Ωm
A partir do Caso 3, Figura 3.15, um comportamento capacitivo (corrente
capacitiva predominante sobre a condutiva) pronuncia-se com mais intensidade
para todas as análises em uma determinada faixa de freqüências, exceto onde
ρ2=0.1xρ1 e d1=1 metro, a qual se assemelha à análise do Caso 1 – Solo
Homogêneo e baixa resistividade, Figura 3.11.
Novamente podemos notar na Figura 3.15 a influência da resistividade baixa da
segunda camada, mantendo a impedância em valores inferiores (em relação às
demais) onde ρ2=0.1xρ1 e d1=1 metro (lado esquerdo) e em menor intensidade
para d1=6 metros (lado direito).
102
104
106
0
10
20
30
40
Caso 3 :L1=40m RO1=1000 e d
1=1m
|Z|(Ohm)
1000Homo1000x900x11000x500x11000x100x1
102
104
106
0
20
40
60
80
Frequencia - Hz
Angulo(Graus)
102
104
106
5
10
15
20
25
30
35
40
Caso 3: L1=40m RO1=1000 e d
1=6m
1000Homo1000x900x61000x500x61000x100x6
102
104
106
0
20
40
60
80
Figura 3.15 – Caso 3: 69/138kV – 1000 Ωxm e L1 = 40m para
d1 = 1 m (lado esquerdo) e d1 = 6 m (lado direito)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 85
106
5
10
15
20
25
30
35Caso 3 - Zoom Espectro de Frequência 200 kHz a 2.5 MHz
Frequencia - Hz
|Z|Ohm
1000Homo1000x9000x11000x500x11000x100x11000x900x61000x500x61000x100x6
1000x500x1
1000x100x6
A Figura 3.15a mostra os valores de impedância para a faixa de freqüência
entre 200 kHz até 2.5 MHz.
105
0
10
20
30
40
50
60
Caso 3: Solo Homogeneo
Z(Ohm)
GRCPARR
105
0
10
20
30
40
50
60
Caso 3: RO=11000x2100x1m
Frequencia - Hz
GRCPARR
105
0
10
20
30
40
50
60
Caso 3: RO=11000x2500x1m
GRCPARR
A medida que a resistividade da segunda camada vai aumentando, o caráter
capacitivo do conjunto de grelhas vai se destacando, conforme Figura 3.15b.
Figura 3.15a – Caso 3 – Zoom : Freqüências entre 200kHz e 2.5 MHz
Figura 3.15b – Caso 3 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 86
Os comentários dos Casos 1 e 2 também se aplicam no Caso 3, Figura 3.16,
onde valores reduzidos de GPR são obtidos a medida que os parâmetros ρ2 e
d1 são também reduzidos.
0 5 10 150
5
10
15
Caso 3: L1=40m RO1=1000 e d
1= 1 e 6 metros
Micro segundos
GPR(Volt/Ampere)
1000Homo1000x900x11000x500x11000x100x11000x900x61000x500x61000x100x6
1000Homo
1000x500x6 1000x900x1
Figura 3.16 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 3
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 87
3.7.1.4 Caso 4 : L1 = 50 m e ρ1 = 2000 Ωm
A partir do Caso 4, fatores como a alta resistividade e a predominância da
corrente capacitiva sobre a corrente de condução começam a prevalecer e a
combinação dos fatores comprimento de contrapeso (L1), freqüência (f),
resistividade (ρ1) e permissividade relativa do solo (εr) começam a se interagir,
provocando oscilações (reflexões ou comportamento tipo onda) na impedância
a partir de uma faixa de altas freqüências, conforme Figura 3.17.
Essas oscilações são devidas aos comprimentos de ondas para determinadas
freqüências (na faixa de altas freqüências) coincidirem com o comprimento do
contrapeso L1, por exemplo, em f = 2.92 MHz, temos um comprimento de onda
de 48 metros, o qual é muito próximo de 50 (comprimento de L1 para o Caso
4).
102
104
106
10
20
30
40
Caso 4 :L1=50m RO1=2000 e d
1=1m
|Z|(Ohm)
2000Homo2000x1800x12000x1000x12000x200x1
102
104
106
0
20
40
60
80
Frequencia - Hz
Angulo(Graus)
102
104
106
10
15
20
25
30
35
40
45
Caso 4: L1=50m RO1=2000 e d
1=6m
2000Homo2000x1800x62000x1000x62000x200x6
102
104
106
-10
0
10
20
30
40
Figura 3.17 – Caso 4: 69/138kV – 2000 Ωxm e L1 = 50 m para
d1 = 1 m (lado esquerdo) e d1 = 6 m (lado direito)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 88
Como podemos observar na Figura 3.17 (lado esquerdo), estes efeitos não se
pronunciam para a análise onde ρ2=0.1xρ1 e d1=1 m, mantendo o mesmo
comportamento descrito para o Caso 1, solo homogêneo e baixa resistividade.
O valor da impedância para esta análise ainda se mantém inferior às demais
análises do Caso 4 até a faixa de aproximadamente 3.8 MHz, mantendo suas
características predominantemente indutivas em relação às demais. Vale
ressaltar que o valor de 3.8 MHz não é representativo no espectro de
freqüências de uma descarga atmosférica.
A Figura 3.17a mostra os valores de impedância para a faixa de freqüência
entre 200 kHz até 2.5 MHz, com destaque para a análise onde ρ2 = 0,1xρ1.
106
5
10
15
20
25
30
35
40
45Caso 4 - Zoom Espectro de Frequência 200 kHz a 2.5 MHz
Frequencia - Hz
|Z|Ohm
2000Homo2000x1800x12000x1000x12000x200x12000x1800x62000x1000x62000x200x6
2000x200x1
2000x1000x1
Figura 3.17a – Caso 4 – Zoom : Freqüências entre 200kHz e 2.5 MHz
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 89
105
0
20
40
60
80
100
120
Caso 4: Solo Homogeneo
Z(Ohm)
GRCPARR
105
0
20
40
60
80
100
120
Caso 4: RO=12000x2200x1m
Frequencia - Hz
GRCPARR
105
0
20
40
60
80
100
120
Caso 4: RO=12000x21000x1m
GRCPARR
Os comentários do Caso 3 também se aplicam à Figura 3.17b.
Os comentários dos Casos 1, 2 e 3 também se aplicam no Caso 4, Figura 3.18
com reduções significativas no valor de GPR quando ρ2 < ρ1.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100
5
10
15
20
25
Caso 4: L1=50m RO1=2000 e d1= 1 e 6 metros
Micro segundos
GPR(Volt/Ampere)
2000Homo2000x1800x12000x1000x12000x200x12000x1800x62000x1000x62000x200x6
2000x200x1
2000x1000x6
2000Homo
Figura 3.18 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 4
Figura 3.17b – Caso 4 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 90
3.7.1.5 Caso 5 : L1 = 80 m e ρ1 = 5000 Ωm
Novamente, de acordo com a Figura 3.19, a combinação dos fatores
comprimento de contrapeso (L1), freqüência (f), resistividade do solo (ρ1) e
permissividade relativa (εr) se interagem, provocando reflexões nos
contrapesos e conseqüentes oscilações no comportamento da impedância.
Também é possível notar pela Figura 3.19 em que as análises de impedâncias
para d1=1 metro (lado esquerdo da figura), as análises de solo homogêneo e
para ρ2=0.9xρ1, decrescem a partir de uma determinada freqüência e voltam a
se elevar posteriormente. Este fenômeno é devido à elevada característica
capacitiva do solo de alta resistividade em altas freqüências. Após valores
elevados de freqüências (≈1.4 MHz) começam a prevalecer os efeitos de
propagação de ondas.
102
104
106
10
20
30
40
50
60
Caso 5 :L1=80m RO1=5000 e d
1=1m
|Z|(Ohm)
102
104
106
-40
-20
0
20
40
Frequencia - Hz
Angulo(Graus)
5000Homo5000x4500x15000x2500x15000x500x1
102
104
106
10
20
30
40
50
60
Caso 5: L1=80m RO1=5000 e d
1=6m
102
104
106
-30
-20
-10
0
10
20
30
5000Homo5000x4500x65000x2500x65000x500x6
Figura 3.19 – Caso 5: 69/138kV – 5000 Ωxm e L1 = 80 m para d1 = 1 m (lado esquerdo) e d1 = 6 m (lado direito)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 91
A Figura 3.19a mostra os valores de impedância para a faixa de freqüência
entre 200 kHz até 2.5 MHz onde fica claro o efeito de propagação de ondas a
partir de uma determinada faixa de freqüência. A impedância para a análise
com características de solo ρ2=0.1xρ1 permanece em níveis inferiores aos
demais.
106
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60Caso 5 - Zoom Espectro de Frequência 200 kHz a 2.5 MHz
Frequencia - Hz
|Z|Ohm
5000Homo5000x4500x15000x2500x15000x500x15000x4500x65000x2500x65000x500x6
5000x500x1
5000x500x6
’
Os comentários dos Casos 3 e 4 também se aplicam à Figura 3.19b. É possível
observar o início do comportamento tipo propagação de onda para o
contrapeso, que praticamente é responsável pelo comportamento global do
sistema de aterramento para elevadas resistividades e onde ρ2 ⇒ ρ1.
105
0
50
100
150
200
250
300
Caso 5: Solo Homogeneo
Z(Ohm)
GRCPARR
105
10
15
20
25
30
35
40
45
50Caso 5: RO=15000x2500x1m
Frequencia Hz
GRCPARR
105
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180Caso 5: RO=15000x22500x1m
GRCPARR
Figura 3.19b – Caso 5 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente
Figura 3.19a – Caso 5 – Zoom : Freqüências entre 200kHz e 2.5 MHz
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 92
Os comentários dos Casos 1 a 4 também se aplicam no Caso 5, Figura 3.20
com destaque para as reduções significativas no valor de GPR quando ρ2 < ρ1.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Caso 5: L1=80m RO1=5000 e d
1= 1 e 6 metros
Micro segundos
GPR(Volt/Ampere)
5000Homo5000x4500x15000x2500x15000x500x15000x4500x65000x2500x65000x500x6
5000x500x6
5000Homo
5000x2500x6
Figura 3.20 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 5
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 93
3.7.1.6 Caso 6 : L1 = 90 m e ρ1 = 20000 Ωm
Com o aumento excessivo da resistividade do solo, uma redução mais
acentuada da impedância pronuncia-se para todas as análises do Caso 6 a
partir de uma determinada freqüência, conforme Figura 3.21. Novamente os
efeitos de propagação de ondas se manifestam em freqüências elevadas. A
partir de uma determinada freqüência as curvas se confundem.
Figura 3.21 – Caso 6: 69/138kV – 20000 Ωxm e L1 = 90 m para d1 = 1 m (lado esquerdo) e d1 = 6 m (lado direito)
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 94
A Figura 3.21a mostra os valores de impedância para a faixa de freqüência
entre 200 kHz até 2.5 MHz onde evidencia os efeitos de propagação de ondas
a partir de uma determinada faixa de freqüência.
106
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120Caso 6 - Zoom Espectro de Frequência 200 kHz a 2.5 MHz
Frequencia - Hz
|Z|Ohm
20000Homo20000x18000x120000x10000x120000x2000x120000x18000x620000x10000x620000x2000x6
20000x2000x1
20000x2000x6
A grelha do arranjo de aterramento tem papel fundamental na contribuição do
decréscimo da impedância do arranjo de aterramento devido ao seu caráter
capacitivo em todas as análises do Caso 6, conforme a Figura 3.21b a seguir.
105
0
200
400
600
800
1000
1200
1400Caso 6: Solo Homogeneo
Z (Ohm)GRCPARR
105
0
50
100
150Caso 6: RO=
120000x
22000x1m
GRCPARR
105
0
100
200
300
400
500
600
700Caso 6: RO=
120000x
210000x1m
GRCPARR
Frequência - Hz
Figura 3.21a – Caso 6 – Zoom : Freqüências entre 200kHz e 2.5 MHz
Figura 3.21b – Caso 6 – Contribuições das Grelhas e Contrapesos, separadamente
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 95
Os comentários dos Casos 1 a 5 também se aplicam no Caso 6, Figura 3.22
com reduções significativas no valor de GPR quando ρ2 < ρ1. Nesta faixa de
resistividade, obter valores baixos de impedância é extremamente difícil,
prevalecendo elevados valores tanto para a impedância quanto para a
elevação de potencial transitória.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100
20
40
60
80
100
120
140
160
Caso 6: L1=90m RO1=20000 e d
1= 1 e 6 metros
Micro segundos
GPR(Volt/Ampere)
20000Homo20000x18000x120000x10000x120000x2000x120000x18000x620000x10000x620000x2000x6
20000x10000x6
20000x10000x1
20000Homo
Figura 3.22 – Máxima Elevação de Potencial para as Análises do Caso 6
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 96
3.8 Comparação de Resultados
As Figuras 3.23 e 3.24 comparam os resultados das impedâncias impulsivas de
aterramento de casos extremos de resistividade do solo, respectivamente 250
Ωm e 5000 Ωm (20 vezes), considerando os critérios de solo homogêneo e a
proposta de solo estratificado. Para as duas análises foram considerados
diversos comprimentos de contrapesos L1, inclusive o efetivo e ρ2= 0.5ρ1.
0 5 10 150
2
4
6
8
10RO
1=250 Homogeneo So Cpeso
|Z|Ohm
CP10mCP20mCP30mCP40mCP60m
0 5 10 150
2
4
6
8
10RO
1=250 Estratificado d
1=1 m So Cpeso
CP10mCP20mCP30mCP40mCP60m
0 5 10 150
2
4
6
8
10RO
1=250 Homogeneo Cpeso+Grelha
Micro segundos
|Z|Ohm
CP10mCP20mCP30mCP40mCP60m
0 5 10 150
2
4
6
8
10RO
1=250 Estratificado d
1=1 m Cpeso+Grelha
CP10mCP20mCP30mCP40mCP60m
Comprimento Efetivo de Contrapeso - L1 = 10 até 60 metros
10m
10m
10m
10m
20m
20m
20m
20m
0 10 20 300
50
100
150
200
RO1=5000 Homogeneo So Cpeso
|Z |Ohm
CP10mCP40mCP60mCP70mCP80m
0 10 20 300
50
100
150
200
RO1=5000 Estratificado d
1=1 m So Cpeso
CP10mCP40mCP60mCP70mCP80m
0 10 20 300
50
100
150
200
RO1=5000 Homogeneo Cpeso+Grelha
Micro segundos
|Z |Ohm
CP10mCP40mCP60mCP70mCP80m
0 10 20 300
50
100
150
200
RO1=5000 Estratificado d
1=1 m Cpeso+Grelha
CP10mCP40mCP60mCP70mCP80m
Figura 3.24 – Caso 5 – Comparação Critério Solo Homogêneo x Solo Estratificado
Figura 3.23 – Caso 1 – Comparação Critério Solo Homogêneo x Solo Estratificado
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 97
Vale ressaltar que todos os gráficos das Figuras 3.23 e 3.24 estão na mesma
escala da impedância do sistema de aterramento para solo homogêneo e
ambas apresentam o sistema de aterramento composto somente do
contrapeso e do arranjo completo (contrapeso + grelha).
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 98
3.9 Conclusões
Este capítulo procurou considerar alguns conceitos básicos de sistemas de
aterramento submetidos em baixas e altas freqüências, bem como abordar os
possíveis efeitos a serem analisados em situações de solo estratificado para o
arranjo de aterramento de linhas de transmissão.
Foram discutidos sobre os modelos físicos adotados para o sistema de
aterramento, incluindo o arranjo de forma geral, detalhamento das grelhas e
contrapeso, torre e caracterização da descarga atmosférica. Valores de
resistividade do solo considerados nas simulações foram apresentados e uma
explanação a respeito do modelo matemático adotado pelo software foi feita.
No item 3.7 – Simulações Computacionais, foram apresentadas várias figuras
com o comportamento dos sistemas de aterramento (de várias extensões e
configuração particular adotada pela CEMIG nas LTs de 69 e 138 kV)
submetidos à diversas condições de solos estratificados para a mesma
condição de descarga atmosférica. Foram feitos vários comentários a respeito
do comportamento físico dos arranjos de aterramento, descrevendo algumas
faixas de freqüências com comportamentos diferentes para cada arranjo.
Também foram apresentados os gráficos de máxima elevação de potencial
transitório para cada arranjo de aterramento para as diversas condições de
solo e extensão de contrapeso.
Pode-se verificar graficamente, através do aproveitamento da segunda camada
em solos estratificados (quando ρ2<ρ1) para dissipação de corrente de
condução, que é possível obter valores bem inferiores de impedância impulsiva
e, conseqüentemente, menor elevação de potencial transitório no sistema de
aterramento em relação a análises em modelos de solos homogêneos. Esta
melhoria está associada ao aumento da corrente de condução na segunda
camada, o que favorece a atenuação do campo eletromagnético no solo.
Um resumo dos máximos valores de GPR transitórios obtidos para os diversos
casos analisados estão apresentados na Tabela 3.3, de forma a comparar os
valores para solo homogêneo e estratificado, resistência do arranjo para baixa
freqüência e coeficiente de impulso (A) para o arranjo de aterramento.
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 99
Através da Tabela 3.3, observa-se valores baixos para o GPR (por unidade de
corrente) até solos com resistividade ρ1=2000 Ωxm. A partir desta, valores
elevados são obtidos. Exceto nos casos onde a segunda camada é utilizada
para reduzir o valor do GPR transitório.
Tabela 3.3 - Resumo dos Máximos GPR Transitórios, Rat e Coeficiente A
Caso L1 ρ1 ρ2 d1 Rat Zp Coeficiente de Impulso
A
Homo Homo 5,6 6,0 1,071 25 1 1,3 2,7 2,077
125 1 3,7 4,3 1,162
225 1 5,3 5,8 1,094 25 6 3,4 4,9 1,440
125 6 4,6 5,5 1,196
1 20 250
225 6 5,5 6,1 1,109
Homo Homo 8,6 9,2 1,069
50 1 2,1 2,9 1,380 250 1 5,6 6,5 1,161
450 1 8,1 8,7 1,074
50 6 4,8 6,6 1,375 250 6 6,7 7,9 1,179
2 30 500
450 6 8,3 8,9 1,082
Homo Homo 14,2 14,6 1,028 100 1 3,7 4,3 1,162
500 1 9,2 10,0 1,087
900 1 13,2 13,7 1,038 100 6 7,6 9,4 1,237
500 6 10,9 11,9 1,092
3 40 1000
900 6 13,5 14,1 1,044 Homo Homo 24,2 24,4 1,008
200 1 6,5 7,1 1,092
1000 1 15,6 16,1 1,032 1800 1 22,6 22,9 1,013
200 6 12,7 13,9 1,094
1000 6 18,3 19,0 1,038
4 50 2000
1800 6 23,1 23,5 1,017
Homo Homo 42,7 42,9 1,004
500 1 12,0 13,0 1,083 2500 1 27,2 27,7 1,018
4500 1 39,7 40,0 1,008
500 6 21,1 22,0 1,043 2500 6 31,4 31,9 1,016
5 80 5000
4500 6 40,5 40,9 1,009
Homo Homo 156,0 153,0 0,981 2000 1 44,0 43,8 0,995
10000 1 99,4 98,7 0,993
18000 1 142,2 143,2 0,993 2000 6 75,7 74,8 0,998
10000 6 114,3 113,3 0,991
6 90 20000
18000 6 147,9 145,8 0,995
Os coeficientes de impulso (A) do sistema de aterramento permanecem
próximos de 1, excetos nos casos onde ρ2 = 0,1xρ1 (Casos 1 a 3).
Capítulo 3 – Cálculo de Transitórios em Sistemas de Aterramentos para LTs 100
A relação entre a resistência de aterramento e impedância impulsiva demonstra
que a utilização da resistência de aterramento de pé torre (Rat) em estudos de
desligamentos de linhas de transmissão não é correta, podendo haver erros
grosseiros.
Através das Figuras 2.23 e 3.24, pode-se verificar a diferença de critérios entre
os sistemas de aterramentos em solo homogêneo e solo estratificados,
obtendo redução de aproximadamente 50% no valor da impedância impulsiva
para modelos de solos estratificados em duas camadas. O modelo de solo
estratificado mantém o conceito de comprimento efetivo de contrapeso obtendo
valores mais consistentes de impedâncias impulsivas.
A adoção deste novo critério (valores de impedâncias impulsivas) em solos
estratificados pode levar a estudos de desempenho e/ou desligamentos de LTs
mais consistentes, pois estes estariam considerando um valor de impedância
impulsiva mais próximo da realidade, onde foi comprovado que há grandes
diferenças em comparação a análises em solos homogêneos. Esta análise
mais precisa pode acarretar em redução de custos relativos a investimos em
equipamentos de proteção para LTs e/ou estudos mais precisos relativos a
índices de confiabilidade do sistema.
Capítulo 4 – Conclusões 101
Capítulo 4
Conclusões
4.1 Conclusões
Através das análises realizadas no capítulo anterior, ficou comprovada a
importância do sistema de aterramento nos desligamentos transitórios das
linhas de transmissão, onde valores elevados da impedância de aterramento
de uma torre, favorecem tal ocorrência. A impedância de aterramento para
torres de transmissão proporciona uma melhor performance até valores
máximos de 20 Ω (relativo à máxima tensão provocada na cadeia de
isoladores), porém deve haver um ponto ótimo entre o comprimento de
contrapeso e este valor (conceito de comprimento efetivo). O aumento
irrefletido de contrapeso é desnecessário e ineficaz e, do ponto de vista prático,
significa aumento de custos devido à mão de obra e material.
Através das simulações de transitórios nos sistemas de aterramento expostos
no decorrer do item 3.7, procurou-se demonstrar que os atuais procedimentos
para dimensionamento dos sistemas de aterramento de linhas de transmissão
(69 e 138 kV) são passíveis de melhorias através de o aproveitamento da
resistividade da segunda camada, quando inferior à primeira e dentro de limites
práticos exeqüíveis.
Esta melhoria está associada com a redução da impedância impulsiva do
sistema de aterramento e, conseqüentemente, a redução da elevação de
potencial transitória no sistema de aterramento que é transferida através da
torre até às cadeias de isoladores da estrutura. Através da adoção do critério
de cálculo da impedância impulsiva para solos estratificados, estudos mais
precisos podem ser realizados em análises de desligamentos e/ou
desempenho de LTs, utilizando valores de impedâncias impulsivas mais
consistentes através de um modelo de solo mais bem elaborado.
Capítulo 4 – Conclusões 102
A diferença entre o critério de cálculo da impedância impulsiva para solo
estratificado pode atingir valores até 50% inferiores ao cálculo para solos
homogêneos.
Em solos de baixa resistividade (até aproximadamente 1000 Ωxm), a elevação
de potencial transitória (GPR/Ampère) para os sistemas de aterramento
analisados se mantém dentro de limites onde a cadeia de isoladores não
sofrerá o máximo stress para valores medianos de corrente de descargas,
independente da utilização de camadas mais profundas de resistividades.
Solos com resistividade acima de 2000 Ωm, a redução da elevação de
potencial fica dependente de uma adequada utilização das camadas inferiores
do solo, podendo ser obtidas elevações de potencial de acordo com a
suportabilidade da cadeia de isoladores, porém sempre levando em
consideração o critério de comprimento efetivo do contrapeso.
O dimensionamento do aterramento em local onde a resistividade do solo é
elevado (> 5000 Ωxm) ainda é uma tarefa árdua, pois a parcela da corrente de
descarga que flui através do sistema possui uma atenuação lenta devido ao
elevado valor da resistividade.
As práticas atuais de cálculo das impedâncias de aterramentos de torres de
LTs merecem uma reavaliação no sentido de otimizar seu dimensionamento
sem comprometer a performance quanto à dissipação de corrente no solo.
Considerando que o item “aterramento” influencia diretamente no desligamento
de uma LT, um projeto de aterramento adequado e eficiente para as novas
linhas de transmissão deve ser estudado, onde o mesmo seja tratado como
item essencial no projeto de uma LT, pois uma vez construído, refazê-lo é uma
tarefa árdua e dispendiosa.
Capítulo 4 – Conclusões 103
Dentre as principais contribuições deste trabalho, pode-se citar:
• A modelagem, sem simplificações, do sistema de aterramento incluindo
cabo contrapeso (inclusive formação do cabo), grelhas (perfis e dimensões)
e conexões ao pé da torre;
• As análises no domino da freqüência, de forma separada, das
contribuições de cada componente do sistema de aterramento (grelhas e
contrapesos);
• A proposta da utilização de parâmetros de solo estratificado nas análises
de sistema de aterramento sob fenômenos transitórios;
• Utilização dos parâmetros típicos de descargas para o estado de Minas
Gerais, onde o trabalho é focado.
Capítulo 4 – Conclusões 104
4.2 Sugestões para Trabalhos Futuros
Propostas para continuidade deste trabalho são relacionadas a seguir:
• Análise dos sistemas de aterramentos para torres de 345 kV (auto-
portantes) e 500 kV (estaiadas);
• Analisar, separadamente, o comportamento das grelhas e contrapesos
para diversos modelos de solo estratificado e considerando a variação da
permissividade e resistividade do solo com a freqüência;
• Alteração nos comprimentos de contrapesos para diversas resistividades
do solo;
• Analisar outras formas geométricas do sistema de aterramento em conjunto
com valores de resistividade de solo estratificado;
• Análise dos sistemas de aterramentos considerando valores de ρ2 > ρ1;
• Computar o efeito de ionização do solo nos eletrodos;
• Modelagem do sistema de aterramento em conjunto com a torre de
transmissão, considerando os efeitos de atenuação e distorção da onda da
descarga atmosférica até a sua injeção no sistema de aterramento.
• Modelagem do canal de descarga, computando os efeitos de indução nos
eletrodos de aterramento e cabos condutores.
• Análise teórica e prática para adoção de sistemas de aterramentos com hastes profundas em substituição aos cabos contrapesos, aproveitamento as camadas de resistividades menores para ρ2.
Referências Bibliográficas 105
Referências Bibliográficas
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[6] “Estruturas 7 a 191 – Definição de Aterramento - LT Itutinga – Três
Corações 2, 138 kV – 30842-ER/LT-172 – Revisão ‘d’ ” – Arquivo
Tecnológico da CEMIG, código 21255609, Maio de 1999.
[7] “Diagnóstico de Desempenho Sob Ação de Descargas
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[8] Júnior, A. S., “Investigação do Comportamento dos Aterramentos
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Atmosféricas”, Dissertação de Mestrado, PPGEE – CPDEE, UFMG
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Referências Bibliográficas 106
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Tecnológico da CEMIG, código 21231869, Junho de 1999.
[10] Clebicar, P. J. N., Bezerra, A. C. G., Haddad, R. S., “Sobre-tensão em
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Ciudade Del Este – Paraguay, 30 de Mayo al 03 DE Junio de 1999.
[11] Medeiros, C. A. G., ”Avaliação de Aterramentos Elétricos em
Condições de Descarga Atmosférica Considerando os Efeitos
Resistivo e Indutivo”, Dissertação de Mestrado do Programa da
Universidade Federal de Uberlândia – Centro de Ciências Exatas e
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[12] Associação Brasileira de Normas Técnicas, “Medição de
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7117, Dezembro 1981.
[13] SES – Safe Engineering Services & Technologies Ltd., “CDEGS –
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[14] Bewley, L. V., “Theory and Tests of the Counterpoise”, Electrical
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[25] Mazzetti, C., Veca, G. M., “Impulse Behavior of Ground Electrodes”,
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[26] Oettlé, E. E., “A New General Estimation Curve For Predicting the
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[30] Visacro, S. F., Júnior, A. S., “Representação Simplificada da
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[32] E. Giudice, G. B. Lo Piparo : “Comportamento ad impulso dei
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[33] K. Berger : “Le comportment des prises de terre sous courants de
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[34] M. Loboda, R. Kosztaluk, “Model tests of Surge Properties of
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[35] R. Kosztaluk, M. Loboda, D. Mukhedkar: “Experimental Study of
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[38] Visacro, F. S., Portela, C. M., “Soil Permittivity and Conductivity
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[39] Transmission Line Reference Book, 345 kV and Above/Second
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[40] Sigma SLP – Version 1.1 / 1999 – Software For The Determination of
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[41] Xiong, W., Dawalibi, F. P., “Transient Performance of Substation
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[42] Grcev, L., Dawalibi, F., “An Electromagnetic Model for Transients in
Grounding Systems”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 5,
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[44] Selby, A., Dawalibi, F., “Determination of Current Distribution in
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[45] Grcev, L., Heimbach, M., “Frequency Dependent and Transient
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Referências Bibliográficas 110
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[46] Sadovic, S. Joulie, R., Tartier, S., “Transmission Lines Lightning
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Arresters”, 9th International Symposium on High Voltage Engineering,
Paper 6731, August 28 - September 01, 1995.
Apêndice 111
Apêndice A
Programa Sigma SLP
O programa Sigma SLP é um pacote computacional específico para análise de
desempenho de linhas de transmissão devido a descargas atmosféricas. A
seguir será feita uma breve descrição da modelagem adotada no programa e
informações detalhadas a respeito podem ser obtidas através das referências
[40,46] . A descrição do programa será feita em duas etapas, a seguir:
• Modelo Eletro-geométrico:
Uma rotina do programa determina, através de um método estatístico, as
posições de impacto da descarga direta e de lideres descendentes (nos cabos
pára-raios, cabos fase ou na torre). Um modelo eletro-geométrico
tridimensional é aplicado em uma área com dimensão igual a um comprimento
de um vão de uma LT (aproximadamente 450 metros) e largura que permite a
atração de descargas de até 250 kA de amplitude. Uma distribuição log-normal
de amplitudes de correntes negativas é usada no modelo eletro-geométrico.
Objetos metálicos (linhas paralelas por exemplo) nas proximidades das linhas
de transmissão podem ser modelados e sua influência é considerada nos
cálculos.
• Cálculo do transitório eletromagnético:
O modelo para os cálculos das correntes e tensões transitórias na linha de
transmissão é baseado no método de ondas trafegantes de Bickford [46]. Um
máximo de 20 vãos de uma linha podem ser modelados, sendo cada um deles
sub-dividido em pequenos segmentos. Esta divisão é feita para possibilitar a
conexão das fontes de corrente (modelando as descargas). O modelo adotado
permite o cálculo do Efeito Corona.
As tensões transitórias nos cabos condutores, pára-raios e na torre são
calculadas de forma separada. As conexões dos cabos da linha de transmissão
Apêndice 112
e a torre (fases e cabos pára-raios) são feitos utilizando equivalente de
Thevenin (método da compensação – [46]).
A linha de transmissão é representada por elementos distribuídos e o efeito
Corona é modelado através de capacitâncias conectadas entre cada segmento
da linha e a terra. A torre de transmissão é representada por elemento
concentrado e o sistema de aterramento da torre pode ser modelado de três
formas: resistência linear ou não linear, impedância de surto em função do
tempo e através de um circuito RL. O modelo de resistência não linear é
adotado quando se deseja considerar o fenômeno de Ionização do Solo.
A modelagem da descarga atmosférica é feita através de uma fonte de corrente
ideal conectada em um nó do segmento da linha, conforme determinado
previamente ou escolhido pela distribuição estatística, conforme modelo eletro-
geométrico. A forma de onda da descarga atmosférica é representada através
de uma “Two Slope Ramp” [43], com parâmetros especificados pelo usuário.
As tensões iniciais de cada fase, antes do impacto da descarga, podem ser
introduzidas, levando em consideração o estado inicial da linha de transmissão
(operação normal da LT).
Apêndice 113
Apêndice B
Validação do Modelo Para Solo Homogêneo
Este apêndice tem o objetivo de comparar os resultados de simulações
computacionais realizadas através de outros softwares com resultados obtidos
através do programa CDEGS [13], utilizando o modelo de solo homogêneo.
Foram adotadas as mesmas geometrias, parâmetros de solo e sinal aplicado
utilizadas na referência [20], ou seja:
• Comprimento de contrapeso: 5, 10, 20, 30 e 40 metros, enterrados a 0,5
metro e alimentados na extremidade;
• Tempo de frente de onda: 1 e 3 µs;
• Tempo de cauda: 40 µs.
A comparações dos resultados encontram-se na Tabela 1, a seguir:
Impedância Impulsiva (Ω) Comprimento L
(metros)
Tempo de
Frente (µs) CDEGS Referência [20]
10 3 12,4 12,0
20 3 9,6 9,1
30 3 9,6 8,9
40 3 9,6 8,9
5 1 20,2 21,7
10 1 16,0 15,0
20 1 15,8 13,2
30 1 15,8 13,2
40 1 15,8 13,2
De acordo com a Tabela 1, os valores encontrados e comparados com a
referência [20] são bem próximos, validando o modelo para solo homogêneo.
Outros casos foram simulados (malhas quadradas) apresentando diferenças
mínimas nos resultados, porém os resultados não foram incluídos no trabalho.