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SERGIO BICUDO COLAB: ECOLOGIA DO CONHECIMENTO EM AMBIENTES DE CONVERGÊNCIA DIGITAL DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Comunicação e Semiótica, sob a orientação do Professor Doutor Rogério da Costa. SÃO PAULO 2007 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

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SERGIO BICUDO

COLAB: ECOLOGIA DO CONHECIMENTO EM AMBIENTES DE CONVERGÊNCIA DIGITAL

DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Comunicação e Semiótica, sob a orientação do Professor Doutor Rogério da Costa.

SÃO PAULO 2007

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

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Banca Examinadora

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para a(s) Bruna e Paula, meninas no presente e esperanças no futuro,

e ao eterno menino João Hélio, meu ponto de mutação.

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agradeço a todos os meus “nós”, que me constituem e re-significam:

família, amigos, colaboradores, professores, alunos, gurus, tubos e conexões, “eus”, alter-egos e avatares.

a todos que me são:

patricia, bia, vanessa, rogério, max, drica, hdhd, cida, maria lucia e alexandre,

arlindo, trivinho, ana claudia, giselle, clotilde, bairon, basbaum, vicente, victor, yvone

gilson , regina, reynaldo, fabio, lawrence, sonias, almeidas, almas, chaias, goldfarbs, passettis e feldmann

douglas, paulo, anjo, altemeyer, brigatti e celio julio, mik, dan, bob and joe e thiagos,

marcelos, cris e stela eliane, cida, paulina, bruno, sandra, mario,

fabio, izagar e jacbar, laís, rosangela e marcus,

sergio, ana, veronica, thiago, thais e evelyne willian, zita, dardo, dowbor, soninha e diogo

oded, mauricio, edu jorge, noemia, celia, gilberto e judith bruno, visca, vasco, marcos, guto, paulico e duda

ao steven, federico, pierre, manuel, maeda, morin, capra google, gmail, docs, reader, yahoo, wikipedia, wordpress,

meiobit, flash, indesign, brOficce, firefox e ubuntu, tv cultura, folha, telefonica, hp, ibm, palm e nokia

aos críticos que me fazem vivo

não esquecendo de quem imperdoavelmente

não poderia ter esquecido

e à inesgotável Pontifícia Universidade Católica de S.Paulo

sem os quais o improvável não teria sido possível.

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Resumo: coLab: ecologia do conhecimento em ambientes de convergência digital. Sergio Bicudo

A presente Tese investiga de que forma os avanços nas tecnologias de informação e comunicação requalificaram a produção de conhecimento em escala planetária. Observou-se, no processo de pesquisa, que o desenvolvimento puramente tecnicista fora de uma perspectiva humanística vem determinando um quadro crescente de exploração predatória, poluição, aquecimento global, desigualdade social, enfim, de uma gama de processos destrutivos desencadeados por uma visão fragmentada da existência humana.

Procuramos balizar a pesquisa inserindo as noções de “sustentabilidade” de Fritjof Capra e “ecologias” de Guattari, problematizadas dentro de uma perspectiva “ecológica” aplicada aos novos “ambientes midiáticos”.

As principais especificidades dos meios digitais foram sistematizadas e, a partir das referências de “mídia expandida”, de Arlindo Machado, observa-se que as linguagens midiáticas se re-significam mediante o processo de convergência digital, constituindo uma nova matriz de formas e funcionalidades.

No diálogo com os pressupostos de “emergência”, de Steven Johnson e “inteligência coletiva”, de Pierre Levy, são observadas profundas alterações no cenário cultural.

Nesse novo macroambiente, pudemos contextualizar a produção de conhecimento, avaliando-se sistemas de gestão de inteligência coletiva e verificando-se a aplicação dos conceitos observados no âmbito do uso social para as redes sociais.

É clara a definição de que os novos formatos híbridos, como a Televisão Digital, a Web e os Dispositivos Móveis, combinam linguagens visuais, sonoras e verbais, assumindo novos papéis com o incremento substantivo dos recursos de programação, processamento de dados e redes sociais. As mídias, portanto, passam a ser, além de elemento de representação simbólica, um novo espaço de vivência humana, integrado ao mundo físico e, como tal, carente de um modelo sustentável. Palavras-chave: Redes Sociais, Convergência Digital, Tecnologia da Informação, Ecologia, Mídia Colaborativa.

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Abstract: coLab: ecology of the knowledge in environments of digital convergence Sergio Bicudo.

The present Thesis investigates of that it forms the advances in the information technologies and communication requalificaram the production of knowledge in planetary scale. It was observed, in the research process, that the purely technical development is of a humanistic perspective comes determining an increasing picture of predatory exploration, pollution, global heating, social inequality, at last, of a gamma of destructive processes unchained by a fragmented vision of the existence human being.

We look for to mark out with buoys the research inserting the slight knowledge of “sustainability” of Fritjof Capra and “ecology” of Guattari, problematizing inside of an applied “ecological” perspective to new “media environments”.

The main specificities of the digital ways had been systemize e, from the references of “expanded media”, Arlindo Machado is observed that the media languages if reverse speed-mean by means of the process of digital convergence, constituting a new matrix of forms and functionalities.

In the dialogue with the estimated ones of “emergency”, of Steven Johnson and “collective intelligence”, of Pierre Levy, deep alterations in the cultural scene are observed.

In this new macro environment, we could contextualizes the knowledge production, evaluating themselves systems of management of collective intelligence and verifying it application of the concepts observed in the scope of the social use for the social nets.

The definition is clear of that the new hybrid formats, as the Digital Television, the Web and Mobile Devices, combine visual, sonorous and verbal languages, assuming new roles with the substantive increment of the programming resources, social data processing and nets. The media, therefore, start to be, beyond element of symbolic representation, a new space of experience human being, integrated to physical world e, as such, devoid of a sustainable model. Keywords: Social Network, Digital Convergence, Information Technology, Ecology, Collaborative Media.

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sumário 07 resumo 05 abstract 06 00. imergência 09 00.00. fins e finalidades 17 00.01. meios, mensagens, mídias e métodos 22 00.10. princípios, origem e originalidade 31 01. convergência 54 01.00. meio-ambiente-meio 56 01.01. interfaces 60 01.10. considerações divergentes 96 10. emergência 112 10.00. conhecimento 116 10.01. ecologia do conhecimento 127 10.10. colaboração 131 10.11. urgente: considerações emergentes ! 136 bibliografia 140

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“Humanity is acquiring all the right technology for all the wrong reasons”

Buckminster Fuller.

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introdução: 00. imergência

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Imergência, ou imersão:

ato de imergir, adentrar novo ambiente.

A Introdução “introduz” o trabalho ou inicia a imersão do leitor?

O texto no contexto perceptivo da mente ou o navegante na viagem da

construção do conhecimento?

Acreditamos que ambas as coisas. Todas as obras são fruto de

inteligência coletiva, tanto no seu nascedouro, no momento da inscrição

das idéias que vieram a emergir, quanto na sua fruição, no momento de

imergir através do ambiente contextual de cada um.

Como identificar de onde brotam nossas idéias, tamanha a

amálgama de pensamentos neuronizados na nossa trajetória cultural?

“Criadores aqui e em todos os lugares sempre, o tempo todo, se baseiam

na criatividade que veio antes ou os cerca agora” (LESSIG, 2005:15).

Esta é uma citação que decorre do rigor científico da pesquisa, mas

quantas outras idéias não subjazem nos nossos meandros cognitivos e

emergem sem informar de onde? Só podemos contar com as memórias

dos que nos cercam e da imprescindível humildade do re-conhecimento,

do re-memorar. Ou esperar até que tenhamos em operação sistemas

semânticos de gestão de informação como o IEML (Information Economy

Meta Language) proposto por Levy (2006). O pensador francês entende

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a economia da informação não apenas como economia monetária, mas

como o ecossistema dos fluxos de significados produzidos e

transformados pelo homem. Caracterizando inteligência como uma

dinâmica auto-sustentável e interdependente das funções cognitivas

(percepção, memória, aprendizagem, comunicação, coordenação da

ação), a sua aplicação a uma comunidade designa o termo inteligência

coletiva.

Não podemos deixar de localizar esta tese como um meta-

trabalho fruto de intensa “navegação” em ambientes informativos

coletivos e na insistente labuta de construção de sentido. A cada passo,

nos vimos cercado de infindáveis possibilidades, iluminadoras no seu

instante linear, mas extremamente intrincadas na articulação com o todo.

“Complexus significa o que foi tecido junto; de

fato, há complexidade quando elementos diferentes são

inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o

político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o

mitológico), há um tecido interdependente, interativo e

inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu

contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes

entre si (MORIN, 2002:38).”

Morin na busca do conhecimento do conhecimento (2005)

relata as angústias da tragédia bibliográfica do crescimento exponencial

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das referências e da tragédia da complexidade, no nível do objeto do

conhecimento e da obra do conhecimento.

“Em nível do objeto, somos postos

incessantemente diante da alternativa entre, de um lado, o

fechamento do objeto de conhecimento, que mutila a

solidariedade com outros objetos bem como com o seu

meio (e exclui, em conseqüência, os problemas globais e

fundamentais) e, por outro lado, a dissolução dos

contornos e das fronteiras que afoga todo o objeto e

condena à superficialidade.

Em nível da obra, o pensamento complexo reconhece ao

mesmo tempo a impossibilidade e a necessidade de

totalização, de unificação, de síntese. Deve pois

tragicamente visar à totalização, à unificação, à síntese,

mesmo lutando contra a pretensão a essa totalidade,

unidade, síntese, com a consciência absoluta e irremediável

do caráter inacabado de todo conhecimento, de todo

pensamento e de toda obra.” (MORIN, 2005:38)

Morin compartilha a angústia de todos que buscam o saber

moderno: ser reflexivo e objetivo, ou a contradição do ler e não escrever

e do escrever e parar de ler. Cremos ainda no agravante da atualidade

do tema, que produz um sem número de informações diuturnamente,

num fluxo de tal ordem que apenas o isolamento ermitão aplacaria.

Nosso grande desafio é manter a visão complexa totalizante e adotar

estratégias simplificadoras. Para tanto, só podemos imaginar o

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mapeamento de informações através de um ambiente hipertextual digital

e sua a tradução linear impressa.

Assumimos as palavras de Capra:

“Nosso exame abrange uma gama muito ampla

de idéias e fenômenos, e estou perfeitamente cônscio de

que a apresentação das conquistas detalhadas em vários

campos será fatalmente superficial, dadas as limitações de

espaço e tempo e de meus conhecimentos.” (CAPRA,

1988:15)

Como Capra, propomos uma primeira conexão, uma imersão,

um convite à reflexão que, esperamos, se propague em diversos

suportes e quiçá semeie ações empreendedoras.

“Entretanto, ao escrever o livro, acabei por ficar

fortemente convencido de que a visão sistêmica que nele

defendo aplica-se também ao próprio livro. Nenhum de

seus elementos é realmente original, e muitos deles podem

estar representados de um modo um tanto simplista. Mas a

maneira como as várias partes estão integradas no todo é

mais importante do que as próprias partes. As

interconexões e interdependências entre os numerosos

conceitos representam a essência da minha contribuição.

Espero que o resultado, no seu todo, seja mais importante

do que a soma das partes.” (idem, ibidem)

Assim o cremos também. De alguma forma, os sistemas

hipermidiáticos são um fator complicador e ao mesmo tempo

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solucionador desse problema. Se, num primeiro momento, temos uma

maior complexidade pela ampliação das faculdades mentais como

memória e capacidade de processamento, numa etapa posterior

podemos, através de uma característica digital fundamental, a

identificação, criar uma rede de relações que inclua não só o conceito

fundamental, mas também o contexto, a estrutura de sua concepção. Se

ainda acrescentarmos vários colaboradores a essas operações, teremos

um grande incremento de abrangência, ou visão complexa, e eficácia, ou

fundamentos para uma navegação simples.

Em realidade (e virtualidade), como fruto desta pesquisa,

coletamos anotações que alcançam a casa dos milhares. Se agradecemos

às pessoas que colaboraram para a realização dessa obra, precisamos

também agradecer aos conceitos incorporados em ferramentas

tecnológicas como Google, Gmail, Google Docs, Google Reader, Blogger,

Yahoo, Wordpress, Wikipedia ... e também a chips, memórias, celulares e

Palms, entre tantos outros, sem os quais este trabalho não teria sido

possível.

Neste suporte impresso, procuramos reproduzir as idéias

principais dentro de um encadeamento lógico linear, próprio dos veículos

não interativos. É a inscrição de um percurso possível, que fizemos

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dentre tantos outros que gostaríamos de compartilhar. Como no projeto

multi-plataforma do “Livro depois do Livro” de Giselle Beiguelman (2004),

também convidamos ao login e também à partilha de idéias e ideais.

Propomos um exercício de cruzamento de mídias onde a tese impressa e

o PDF na biblioteca da PUC-SP (ou em ODF em

http://bictv.com/colab ) tenham, em cada seção, o link para a página

correspondente, em constante fluxo de atualização, na comunidade

virtual co-irmã do projeto de pesquisa. Penso que o suporte mais

adequado para esta discussão interdisciplinar é um ambiente

compartilhado hipermidiático. Para tanto, desenvolvemos um laboratório

colaborativo, http://tv.pucsp.br/colab, com a finalidade de funcionar

como espaço de pesquisa, discussão e difusão, além de incubadora de

iniciativas e projetos de uso de comunicação para ecologia, cidadania,

educação, inclusão e outras causas sociais. Este ambiente é um

ecossistema vivo onde o conhecimento pode continuar a se desenvolver

e resultar em ações efetivas.

Morin (2005) e Freire (1997) foram uníssonos ao citar a

incompletude do ser humano e do conhecimento. O meio digital é

dinâmico por natureza, permitindo que se semeie “brotos rizomáticos”

onde houver dúvidas, intentos ou curiosidades.

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“Continuamos a produzir obras acabadas,

fechadas ao futuro, que fará surgir o novo e o

desconhecido, e nossas conclusões dão a resposta segura à

interrogação inicial somente com, (...), algumas novas

interrogações. (...) Que toda obra não dissimule a sua

brecha, mas a assinale.” (MORIN, 2005:39)

Como supracitado por Capra, acreditamos que a articulação das

partes seja mais enriquecedora que a seqüência do todo. Entendemos

que os princípios criam a base contextual onde podem ser desenvolvidos

os fins específicos. Por sua vez, definir objetivos acaba por alterar a

percepção do ponto de partida. Ecossistemas pressupõem ciclos

sustentáveis onde o final de um processo desencadeia a retro-

alimentação do seu princípio. Ou que “nunca se passa no mesmo rio

duas vezes” (Heráclito). Nem são mesmos o rio nem o passante.

Sistemas hipermidiáticos reticulares, tais como as estruturas

rizomáticas delineadas por Deleuze e Guattari (1995), sem hierarquias,

podem ser iniciadas de qualquer ponto, e deste passar a qualquer outro

sem intermeios. Sendo assim, por onde iniciar a construção deste

empreendimento? Cremos, como o Arquiteto da Informação Richard

Wurman (2005), que a correta percepção da finalidade é o momento

definidor essencial.

Primeiro o mais importante. Investiguemos os fins.

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00.01. fins e finalidades

"O mundo não é. O mundo está sendo." Paulo Freire.

Hoje em dia, a grande questão que se coloca é simples:

- Como sobreviver no panorama mundial que se avizinha?

Já os conceitos de sobrevivência e ambiente global são

extremamente complexos. Quando dizemos “sobrevivência”, é necessário

assinalar as diversas nuances (MORIN, 2001,2002; CASTELLS, 2003;

CAPRA, 2005, GADOTTI, 2000) que o termo suscita:

- Abrangência: individual, grupal, empresarial, urbana, humana,

biológica, planetária e cósmica.

- Temporalidade: Tenho o que comer hoje? O que faço hoje

garante o amanhã? O dinheiro vai dar este mês? Tenho casa e emprego

este ano? O que será da minha família em uma década? Que será de

meus filhos quando eu morrer? Meus descendentes terão recursos

naturais para sobreviver? Qual o futuro das cidades? A espécie humana

será extinta? Haverá vida na Terra? O Sol se extinguirá?

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- Profundidade: Tenho Água? Comida? Amor? Higiene? Saúde?

Morada? Dinheiro? Trabalho? Educação? Cultura? Direitos? Deveres?

Contratos? Paz? Espiritualidade? Prazer?

O futuro será uma seqüência linear quando for passado, mas

até ser traçado é uma potência desconhecida. Como dizia Paulo Freire,

"meu direito à raiva pressupõe que, na experiência histórica da qual

participo, o amanhã não é algo pré-dado, mas um desafio, um

problema." (1997: 75)

O Homem se reconhece como proprietário do Planeta presente

e de seus destinos futuros, mas, como tal, não tem sabido entender e

administrar todos os ecossistemas envolvidos nessa complexa operação.

Segundo a teoria Gaia de Lovelock (2006), o planeta Terra é um

grande ecossistema vivo, composto de vários ecossistemas menores,

sendo a Humanidade o fator preponderante de desequilíbrio do sistema.

Infelizmente, as resultantes dessa interação, condicionadas pela

evolução exponencial dos processos capitalistas, hoje na sua etapa

globalizada e monopolista, produziu um ambiente sócio-econômico

predatório e irracional, determinado por uma minoria proprietária e

centralizadora dos principais recursos naturais, financeiros e culturais.

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Essa minoria não é capaz de problematizar a questão de modo

holístico e sistêmico, o que resulta em um grave esvaziamento dos

valores humanos em detrimento da acumulação material. Haja vista o

número de problemas ambientais, sociais e psicológicos ocasionados,

entendemos que está cada vez mais difícil “pagar essa conta”. Segundo

dados do relatório "Planeta Vivo 2006", produzido pelo Fundo Mundial

para a Natureza (WWF),

"retiramos da Terra 30% mais recursos do que a

biosfera pode reciclar. Tem quem argumente que a

tecnologia aumentará a produtividade e poupará o meio

ambiente. Até agora isso nunca aconteceu e o

desenvolvimento tecnológico atual foi agregado na

metodologia do estudo. Em 2050, a espécie humana estará

consumindo o dobro do que deveria. A passividade da atual

geração é, pois, um crime contra as gerações futuras

(MARICATO,2007)".

O relatório mede o impacto da interferência causada pelas

atividades humanas no planeta, a chamada “Pegada Ecológica”.

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Esperança de Vida das Pessoas, dos Ativos e das Infra-Estruturas.

Relatório Planeta Vivo 2006

"Projeções moderadas das Nações Unidas

sugerem que a pegada da humanidade dobrará em relação

à capacidade da Terra dentro de cinco décadas. O tempo

de vida da infra-estrutura posta hoje nos sítios de grande

extensão determina o recurso ao consumo durante décadas

e pode fechar a humanidade neste cenário ecologicamente

arriscado." (idem, ibidem)

A hipótese que avistamos é de que, com a Convergência Digital

de Mídias e Subjetividades, pela primeira vez temos um ecossistema

cultural passível de seguir os princípios adaptativos dos sistemas

biológicos. Se entendermos como aplicar os princípios de uma Ecologia

do Conhecimento, poderemos gerar sistemas auto-organizados que

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repliquem a ciência com consciência, a educação libertária de forma

descentralizada, atendendo às necessidades da maioria.

Desse modo, o presente trabalho tem a finalidade de investigar

de que forma os avanços nas tecnologias de informação e comunicação

podem requalificar a produção de conhecimento em escala planetária.

Trata-se de uma abordagem que não pretende ser estritamente técnica,

mas preponderantemente interdisciplinar, tentando contextualizar o uso

social das tecnologias. Tecnologias sociais podem proporcionar novas

configurações culturais por sua vez re-comprometidas com o social.

Ou responder a questões tais como:

“De que modo Comunidades Virtuais podem atuar comunitariamente?”

Ou “quais os possíveis usos sociais das Redes Sociais?”

Ou “qual o uso inteligente da Inteligência Coletiva?”

Assim, a meta não é chegar ao estágio terminal estático e sim

alcançar o ponto de sustentabilidade, onde processos se auto-regulem.

Similarmente, o fim da presente pesquisa não é uma conclusão

categórica, é um estágio transitório de um processo metodológico que

pretende disseminar uma nova maneira de produzir conhecimento. Re-

conhecendo o contexto em sua complexidade, que se produza o

conhecimento sustentável, do ponto de vista natural, social e intelectual.

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00.10. meios, mensagens, mídias e métodos

Os meios são a forma estratégica de atingirmos os fins que nos

propusemos. Portanto, a definição dos fins condiciona a utilização dos

meios na relação com os princípios.

Como alcançar o objetivo proposto?

As mídias são os condutos das mensagens emitidas/recebidas

pelos interatores. Segundo Castells (2003) e Levy (2001), temos um

quadro de conexão social generalizada, a Aldeia Global de McLuhan

(1993), potencializada com recursos interativos bidirecionais. Segundo

Tapscott & Willians (2007), entramos na era da colaboração em massa,

estabelecendo um novo padrão de distribuição de conteúdos que

combina distribuição massiva e segmentada ao mesmo tempo,

configurando o que Anderson (2006) chamou de fenômeno da “Cauda

Longa”. Segundo ele, a representação gráfica da atual comunicação do

gênero "muitos com muitos" do novo ambiente telemático, traçando-se

uma linha que indique desde os índices de audiências massivas às

audiências mais segmentadas, se assemelha à imagem de uma "cauda

longa". Neste cenário, podemos considerar que mesmo os excluídos

digitais pertencem a redes sociais que, por sua vez, se conectam a uma

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série de outras redes, físicas e/ou analógicas. Assim, construiu-se um

ambiente conectivo global como nunca antes na historia da humanidade.

Já é possível vislumbrar alterações substanciais na Internet,

notadamente na sua porção mais acessível, a World Wide Web. Apesar

de extremamente heterogênea, já há expertise suficiente para

diagnosticar demandas e traçar alguns caminhos na otimização desta

Mídia das Mídias.

Grosso modo, é possível notar uma explosão desordenada de

conteúdo e muita dificuldade de torná-la organizada e consequentemente

acessível e utilizável. "Como eu tinha mesmo chegado naquele site

imprescindível?"

Assim, a grande urgência é o investimento na área da

“Informação sobre a Informação”.

Então, são os movimentos das Redes Sociais, Inteligência

Coletiva, Comunidades Virtuais, Agentes Inteligentes, Inteligência

Artificial, Web 2.0, Web 3.0, Web Semântica, meta-Informação, entre

outros, que cada vez mais adquirem importância fundamental. Não é por

acaso que o maior sucesso da Web seja exatamente um buscador de

informações, o Google.

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E é perturbador que, em tempos de Globalização, não haja esse

tipo de contextualização do Conhecimento dentro de uma visão mais

abrangente de mundo.

O que toda essa informação, extremamente especifica, está

trazendo de contribuição para o desenvolvimento da coletividade

planetária?

Como esse status da conectividade, da multimídia, está

alterando a televisão, o rádio, o telefone? O que podemos esperar dessas

mídias em processo de digitalização e convergência?

Assim, ao abordar “Comunidade Virtual”, não nos referimos

exclusivamente às locadas na Web, uma vez que existem inúmeras

configurações de Redes Sociais mediadas por diversos dispositivos

digitais.

"Por mais que profissionais de comunicação ou

intelectuais não queiram entender o conteúdo colaborativo,

uma coisa é certa: ele sugere a proximidade de um salto

quântico (...) no horizonte do negócio da comunicação.

Esse salto está em processo de realização, e vem

acompanhado de uma outra forma de comunicação, que

não será apenas interativa. Ela será “pervasiva”, palavra

proveniente do adjetivo inglês “pervasive”, presente em

tudo, difundido em todas as partes, algo que está em todo

lugar. O celular aponta esse destino." (COSTA, C.,

2006:27)

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Pretende-se então explorar esse campo emergente da

Convergência. Nesse ponto, já uma convergência não só de mídias, mas

um verdadeiro ecossistema de pessoas e mídias.

A televisão hoje é um meio de comunicação de massa,

unidirecional, pouco interativo, que num prazo curtíssimo pode se tornar

o principal instrumento de interação da espécie humana. Estamos

preparados para isso? Estamos nós, donos de conglomerados de Mídia

ou produtores de conteúdo, nós, telespectadores, ou nós, ambas as

coisas, agentes interatores, como nos primórdios do Rádio?

A despeito do celular que se tornou o dispositivo digital mais

inovador e, diríamos, mais “inclusivo” também, o telefone dito “fixo”

também deve sofrer mudanças estruturais importantes: telas maiores e

interativas, conexão à Internet, serviços, integração com outros

dispositivos, acesso sem fio, entre outros.

Todo esse fluxo de dados e demandas cria um ritmo que pouco

favorece a reflexão, criando uma cultura do imediato, do descartável, do

raso, do individual, das “pílulas mágicas”, da fuga da realidade mais

profunda, do consumo como resposta para todos os males.

É cada vez mais comum ouvirmos relatos de pessoas que

mandam a seguinte mensagem:

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“- Estou abandonando meu atual endereço de e-mail por

absoluta impossibilidade de responder a todas as mensagens. Se você

me enviou algo de extrema importância por favor reenvie mais uma vez

neste novo endereço.”

Ou, de quando o empregado ganha um celular da empresa e

depois percebe que, na verdade, está ganhando uma “coleira eletrônica”

que o vai controlar 24 horas por dia.

Na outra ponta temos uma geração de excluídos. Metade do

mundo composta de famintos, outra de obesos. Encontrar o “caminho do

meio”, interferir e alterar essa estrutura atual parece-nos uma tarefa

bastante difícil, para a qual é preciso entender profundamente a lógica

ecossistêmica de pessoas e ... “meios”.

Pretendemos contribuir com a análise do potencial das

principais mídias da cena convergente [web, tv digital, game e celular]

dentro de uma visão generalista, desconstruindo seus principais

elementos a fim de entender o que é especifico e o que é comum em

cada uma.

A partir desse entendimento dos novos meios, formulamos

táticas que, por sua vez, efetivam o uso desses meios em um contexto

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mais colaborativo. Cooperativamente, uma pequena formiga contribui

para mudar todo um formigueiro.

Ciclo de transição para sustentabilidade. Relatório Planeta Vivo 2006

Nesse contexto, traçamos um ambiente relacional, não-linear e

retro-alimentado composto principalmente por:

- Atores: que se relacionam com o mundo dentro de um

contexto condicionado pela sua rede de informações e que, por sua vez,

atuam e produzem informações que alteram mundo e contexto.

- Informação: que é o tecido sócio-cultural produzido

conjuntamente da relação ator – mundo, influenciado pela arquitetura

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das redes e investimentos educacionais, determinando o cenário

contextual.

- Mundo: físico, material, esgotável, que é trans-substanciado

em representações contextuais e abstrações informacionais.

Operando ações coletivas multiplicadoras com a matéria-prima

“informação” dentro de contextos complexos, é possível desenvolver

estratégias efetivas de atuação transformadora.

Capra (1988) nos mostra a necessidade urgente de um "Ponto

de Mutação". Na sua visão, muitas civilizações no decorrer da história

alcançaram o status de "maior potência do planeta". Egípcios, chineses,

romanos, alemães, entre outros, concorreram e se sucederam na

ostentação de tal título. Mas todas, sem exceção, tiveram seu momento

de apogeu e momentos de crise. As que mostraram flexibilidade

suficiente para não deixar o sucesso enrijecer seus processos,

conseguiram se reinventar, assumindo novos papéis.

A boa notícia é que Capra (1988) escreveu, em 1982, que os

períodos de crise contemporâneos que precedem mudança estão

durando cerca de trinta anos. Ou seja, há previsão de alterações

profundas para o início do século XXI.

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A má notícia é que talvez o Ser Humano não esteja incluído

nesses novos planos (GUIMARÃES, 2006). Talvez seja o início de um

novo tempo: "A Era das Baratas", únicas que sabidamente sobrevivem às

hecatombes.

Correntes de pensamento ecológico, como por exemplo, a teoria

Gaia, de Lovelock (2006) e Margullis, pregam que a o planeta é capaz de

funcionar como um ser vivo, com seus mecanismos de defesa e

sobrevivência. Nesse sentido, as epidemias e catástrofes naturais seriam,

na verdade, "anticorpos" da Terra para controlar seu maior câncer, o ser

humano (GUIMARÃES, 2006).

Se, aparentemente, não estamos intimidados por epidemias

avassaladoras (apesar da AIDS), a ameaça do Aquecimento Global

(GORE, 2006) já se torna uma realidade. Estamos próximos do que, em

física, chamamos de "point-of-no-return", ou o ponto da irreversibilidade.

A partir de determinado grau de degradação ambiental, a biosfera

terrestre aqueceria a ponto de entrar num ciclo vicioso que poderia

produzir uma nova era glacial. Do ponto de vista terrestre, talvez seja um

simples "resfriado". Para a humanidade pode, como para nossos

antecessores sauros, significar que mais uma espécie dominante chega

ao fim de seu reinado. "As reformas parciais são de todo insuficientes: é

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preciso substituir a micro-racionalidade do lucro por uma macro-

racionalidade social e ecológica, o que exige uma verdadeira mudança de

civilização" (LOWY, 2005).

Granovetter (apud COSTA, 2004) desenvolveu, em 1970, a

teoria sobre a influência dos agenciamentos coletivos nos processos de

tomada de decisão. Segundo ele, "o limiar é esse ponto onde a

percepção de benefício para um indivíduo tomar sua decisão excede a

percepção dos custos.” (COSTA, 2004)

O ideograma chinês que representa “crise” é uma combinação

dos sinais de perigo e de oportunidade. A Ecologia do Conhecimento nos

permite optar entre o ponto de mutação e o da irreversão.

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00.11. princípios, origem e originalidade

“Menos é Mais.” Mies Van der Rohe.

Comecemos do começo. Primeiro o mais importante: a

sustentação da vida e o equilíbrio dos processos planetários é a condição

fundamental de qualquer forma de interação.

Segundo Fritjof Capra (2005), o fundador do Instituto

Worldwatch, Lester Brown, definiu, na década de 1980, “sociedade

sustentável como aquela que é capaz de satisfazer suas necessidades

sem comprometer as chances de sobrevivência das gerações futuras”.

Capra (2005) propõe seis Princípios da Ecologia como

fundamentais à sustentação da vida:

- Energia Solar: é a base dos ciclos ecológicos, das cadeias

alimentares iniciadas nos processos fotossintéticos à formação dos

ventos, chuvas e correntes marinhas. Não é renovável, mas livre e

abundante nos próximos milhões de anos.

- Redes: de sistemas vivos multiplicam possibilidades através

da partilha de recursos. Do Planeta Terra às células cerebrais, todos os

limites funcionais são condicionados por visões simplificadoras de

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sistemas complexos. Um homem, por exemplo, pode ser identificado

como elo integrante de macro e/ou micro-rede.

- Diversidade: é condição fundamental para que as redes

ecológicas desempenhem suas capacidades adaptativas a partir da

interação entre diferentes.

- Ciclos: em redes promovem o aproveitamento máximo dos

recursos utilizados. A maior parte se constitui de ciclos abertos, mas que

se completam dentro de ciclos maiores. Assim, no macro-ciclo natural do

Planeta Terra não existe resíduo, já que matéria e energia estão sempre

em fluxos continuadamente sustentados.

- Parcerias: em redes possibilitaram as trocas de energia e

matérias que sustentam a vida, através de cooperação complexa.

- Equilíbrio Dinâmico: está presente em todos os

ecossistemas naturais. Nenhum elo atinge isoladamente seu potencial

máximo, todos flutuam, através de realimentação em redes flexíveis, em

função do ótimo para o coletivo em rede.

Criando outra rede, relacionada à dos princípios ecológicos, é

possível adaptar essas idéias às da produção de conhecimento na atual

conjuntura. Redes, Ciclos, Interdependências, Diversidade,

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Realimentação e Equilíbrio devem ser entendidos como paradigmas

estruturais do conhecimento contemporâneo. Restando, portanto, apenas

metaforizar o papel da Energia Solar em Idéia-Força, neste caso o da

própria “Sustentação à Vida” como grande energia geradora de um novo

ambiente planetário, em detrimento do atual conceito de “Acumulação

Material”.

Identificados os princípios formais, atentemos a alguns

princípios colaboradores à meta essencial, da “Vida Sustentável”.

Dado que o Homem é o grande agente modificador do planeta, a “Carta

da Terra” (2007), o código ético planetário aprovado pela ONU, pode

ser entendida como uma verdadeira “Declaração Universal dos Deveres

do Homem”. Seus principais ítens apontam as necessidades de:

1. Respeitar a Terra e a vida em toda a sua diversidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão e compaixão.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas,

sustentáveis e pacíficas.

4. Garantir as dádivas da Terra para atuais e futuras gerações.

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos.

6. Prevenir o dano ao ambiente como melhor método de proteção

ambiental e, na dúvida, assumir uma postura de precaução.

7. Adotar padrões de produção e consumo que visem bem-estar

comunitário, direitos humanos e aptidões regenerativas da Terra.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica, promover a troca

aberta e a ampla aplicação do conhecimento adquirido.

9. Erradicar a pobreza como imperativo ético, social e ambiental.

10. Garantir que as atividades econômicas promovam o

desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.

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11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos

para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à

educação, assistência à saúde e às oportunidades econômicas.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um

ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a

saúde corporal e o bem-estar espiritual.

13. Fortalecer as instituições democráticas e proporcionar-lhes

transparência e prestação de contas no exercício do governo, acesso à

justiça e participação inclusiva na tomada de decisões.

14. Integrar, na educação formal e aprendizagem cotidiana, os

conhecimentos e habilidades para uma vida sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

16. Promover uma cultura de paz, tolerância e não violência.

Podemos assim estender nossa visão do problema ecológico

para um patamar mais complexo. Segundo Lago & Pádua (2006),

“Ecologia” foi o termo cunhado por Ernest Haeckel em 1866, a partir da

palavra grega “oikos” (casa), também usada em “economia” (ordenação

da casa), para introduzir uma nova área na Biologia, a “Ciência da Casa”,

que teria o papel de analisar as relações entre seres vivos e seu meio-

ambiente. Hoje, quando os interesses econômicos sobrepujam às

preocupações ecológicas, podemos constatar a grande contradição atual:

como é possível ordenar a casa sem ter ciência? A Economia trata da

produção de riqueza baseada na idéia de exploração de recursos naturais

ilimitados.

"O ser humano não produz nem matéria, nem

produz energia. Ele é um mero transformador dos recursos.

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E isso significa que tudo que está em nossa volta, sem

exceção, veio da natureza, inclusive o sistema econômico.

(...) A gente acha que consegue jogar fora alguma coisa,

mas o planeta é um sistema fechado. Nada pode ser

jogado fora. Nós transformamos o planeta numa enorme

lixeira conosco dentro. (...) O sistema planetário é finito,

regenerativo e circular. O sistema econômico é infinito,

degenerativo e linear: extrai, produz, descarta."

(PENTEADO, 2006)

As grandes potências industriais não estão em colapso por

causa da globalização. Os Estados Unidos possuem cerca de um décimo

da população mundial, mas gastam cerca de um terço de toda energia e

recursos não-renováveis do mundo.

"O modo de produção e de consumo atual dos

países capitalistas avançados, fundados numa lógica de

acumulação ilimitada (do capital, dos lucros, das

mercadorias), do esgotamento dos recursos, do consumo

ostentatório, e da destruição acelerada do meio ambiente,

não pode, de modo algum, ser expandido para o conjunto

do planeta, sob pena de uma crise ecológica maior.

Segundo cálculos recentes, se generalizássemos para o

conjunto da população mundial o consumo médio de

energia dos EUA, as reservas conhecidas de petróleo

seriam esgotadas em dezenove dias. Tal sistema, portanto,

se fundamenta, necessariamente, na manutenção e

aumento da desigualdade (LOWY, 2005:49)".

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Quando se produz algum tipo de riqueza baseada em bens

duráveis é necessário que se considere o custo da exploração dos

recursos naturais, os gastos com a neutralização da poluição decorrente

dos gastos energéticos e o tratamento e/ou reciclagem dos resíduos.

Sem algum sistema de compensação ou imposto que o faça atingiremos

limites insustentáveis. É necessária uma nova abordagem sobre o papel

do Homem no ambiente terrestre.

Todos nós orbitamos em torno das nossas referências

pregressas, nosso repertório cultural e científico, para entender onde

estamos e projetar para onde vamos. É a raiz “Comum” dentro do

processo de Comunicação que constitui nosso ecossistema de valores,

articulando memória individual, as subjetividades mentais, e memória

coletiva, as inscrições midiáticas.

Porém, algumas vezes, as mudanças são tão radicais que

ficamos sem os referenciais necessários para fazer o que fomos

amoldados a vida toda e que perpetua nossa espécie: promover

adaptações a partir da contínua interpretação de padrões

(DARWIN,2007).

Pensamos que, na virada deste milênio, vivemos um momento

desse tipo: uma revolução no nosso modo de viver, em todos os níveis. A

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economia globalizada, as relações sociais desequilibradas,

desterritorializadas e a cultura midiatizada.

Então, é premente que a humanidade se situe dentro de um

novo contexto, mais amplo, ecossistêmico, livre de preceitos

incontestáveis e verdades absolutas que nos levaram ao atual estágio

insustentável. Uma tabula rasa da vivência humana na Terra.

Diferentemente dos sistemas emergentes de insetos sociais

como o das formigas, onde os elementos componentes não refletem

conscientemente sobre o ambiente, o Homem tece uma complexa teia de

questionamentos, psicológicos e sociais, antes de tomar decisões. Então,

uma vantagem evolutiva, a inteligência individual acaba por tornar-se

suscetível a uma série de influências que, na maioria das vezes, se

mostra inadequada, voltada a interesses imediatistas, construídos

socialmente dentro de uma lógica neoliberal..

Faz-se necessário um ponto de vista distanciado, que parta das

informações próximas e óbvias para alcançar um quadro complexo e a

formulação de estratégias implicadas com ideais mais humanistas e

ecológicos. Ou seja, o que é inato à formiga, micro-motivos que

provocam macro-comportamentos (JOHNSON, 2003), no ser humano

exige informação qualificada, percepção acurada e educação

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conscientizadora, a fim de proporcionar decisões adequadas às

demandas sociais e ambientais.

Mesmo assim, Johnson relata que os padrões emergentes

também são identificáveis na vida humana, mas em escala diferente. As

cidades, se observadas durante séculos, apresentam fenômenos

emergentes, se comportando como superorganismos. Contudo, essa

dificuldade da percepção de longos períodos, acentuada pelo imediatismo

cotidiano, pelo individualismo exacerbado, pela deterioração e

esvaziamento dos espaços públicos, torna bastante difícil sua

visualização.

É sintomático que almejemos o último modelo de iPod

ensimesmando nossa percepção de mundo, obliterando nossa realidade,

blindando a experiência da rua, do encontro, desviando nossos sentidos

e atenção, tapando nossos ouvidos enquanto o planeta grita por socorro.

Al Gore (2006) “brada aos quatro ventos” que a poluição

irresponsável da atmosfera vem, ironicamente, trazendo “ventos ruins”

para o seu país, o maior poluidor do planeta (EUA). John Zerzan, no

documentário Surplus, de Gandini (2003), radicaliza pregando um

“Futuro Primitivo”, onde o ser humano volta atrás na “evolução” material,

adotando um modo de vida minimalista. É difícil imaginar tal situação,

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mas também o é conceber o cenário de colapso que se projeta. Qual

então o direito de produzir riquezas e conhecimentos esgotando os

recursos naturais e gerando lixo e poluição para milhares de anos. Até

quando adaptações darão conta de esconder a realidade “embaixo do

tapete”?

Um surpreendente exemplo de adaptação rasteira, de

conhecimento míope, fragmentado, foi o desenvolvimento de uma

linguagem universal, que não dependesse dos conhecimentos lingüísticos

atuais, a fim de comunicar a um ser do futuro, alienígena ou não, que

naquela determinada região estaria localizado um depósito de lixo

nuclear, ainda tóxico mesmo milhares de anos depois (ECO, 2002).

Quando construímos um conceito, quando difundimos uma

idéia, temos que vislumbrar um largo espectro de seu potencial aplicação

em curto e em longo prazo. Sabemos do desgosto de Santos Dumont ao

constatar que o grande esforço da sua vida, o Vôo Aéreo, era usado para

destruir seres humanos em larga escala.

Ao tomarmos uma decisão operamos uma intensa negociação

entre prós e contras. O grande problema é que, ao contrário das

formigas, que decidem visando o bem coletivo, somos influenciados por

uma complexa teia de fatores que pode ir desde a Paz Mundial até a

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gula, o que, na maioria das vezes, nos faz tender às decisões que visam

conquistas imediatas e individuais.

O imediato, ou o que não está mediado, e por isso de pronta

resposta, urgente, cada vez mais passa a ser mediado e, uma vez que

estamos permanentemente em rede, sujeito a desdobramentos

inimagináveis como na abordagem dos fenômenos emergentes e

epidêmicos de Tapscott & Willians (2007), Johnson (2003), Gladwell

(2002), Levitt & Dubner (2005). Ações imediatistas, mesmo que bem

intencionadas e aparentemente construtivas, podem gerar conseqüências

desastrosas.

Incentivar o plantio de árvores, por exemplo, é uma ação

louvável e bastante necessária. Porém, sem uma macro-visão, dentro de

um cenário complexo e multifacetado, que considere todas as gradações,

pode se tornar uma fonte de problemas. Toda ação implica em

repercussões em vários ecossistemas, desde o ambiental, passando pelo

cultural, político, social e econômico. Neste caso, o incentivo financeiro

para o plantio de arvores está sendo usado, de modo inescrupuloso, para

que se desmate e reivindique verbas. A abordagem correta seria a

criação de mecanismos de gestão dos estoques de carbono, como

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defendido por Gore (2006), avaliando sistematicamente o que está sendo

preservado e ampliado.

Ninguém, a priori, avalia que conquistas sociais dos

trabalhadores como salário mínimo, jornada de trabalho, assistência

medica, aposentadoria e décimo terceiro sejam prejudiciais. No entanto,

sem uma visão global do problema, estes benefícios podem se tornar um

“tiro no pé”. A globalização (FRIEDMAN, 2005; SANTOS, 2006) desregula

por completo as relações de trabalho, criando uma legião de

terceirizados terceiro-mundistas, que produzem sob condições de semi-

escravidão, com pouquíssimos direitos assegurados. Ou seja, a mão-de-

obra de nível braçal nesses paises, que garantem essas cláusulas sociais,

perde seus postos para uma vasta legião de miseráveis que se submetem

a níveis mínimos de sobrevivência.

Entre outros exemplos, observamos essa situação no

documentário “Roger e Eu” de Michael Moore (1989), onde vemos a

cidade de Flint em Michigan, antiga sede da General Motors, se tornar

uma quase cidade fantasma, após o outsourcing das fabricas de

automóvel. Existem sérias denúncias desse tipo de exploração,

principalmente na China e Taiwan, como se pode ver em diversos órgãos

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de comunicação e documentários como “The Corporation” (ACHBAR,

ABOTT & BAKAN, 2003).

O fenômeno é inequívoco. Emerge diante de nossos olhos,

mediados ou não. Não há como não adotar uma abordagem ampla,

sistêmica, inclusiva, dentro de uma contextualização holística e

socialmente responsável em todas grandes ações de nossa era: explosão

populacional, desigualdade econômica e social, fome, saúde,

consumismo, lixo, crise energética e destruição do meio-ambiente. Essa

preocupação perpassa toda a sociedade, dos menos esclarecidos à

comunidade científica, dos governos aos líderes empresariais conscientes

(MORAES, 2007; ALTENFELDER, 2005).

A sociedade, muito bem amestrada, é mantida sob rígido

controle ideológico através da Grande Mídia e de ciclos viciados em um

modo de vida compulsivo, que não permite qualquer distanciamento

crítico.

O capitalismo predatório leva à criação de novas falsas

necessidades de consumo, e é criticando essa direção que se situa o

movimento pró “Consumo Consciente”. Quando se compra um produto

que não respeita a ecologia e direitos humanos, estamos incentivando

esse desrespeito. . Pequenos atos podem gerar grande repercussão.

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Como propagado pelo Instituto Akatu (http://www.akatu.net): o simples

ato de escolher o que se consome já traz um grande impacto. O

receptador é cúmplice do roubo. Se não somos parte da solução, somos

parte do problema. Paulo Freire dizia que não há posição neutra. Quando

não adotamos um posicionamento diante das situações, nos colocamos a

favor do status quo, ou seja, das atuais forças dominantes.

Generalizando no nível dos processos planetários, o “caminho

do meio”, do equilíbrio sustentável, é consumir apenas o que se pode

repor. Apesar da lógica extremamente simples – a conta que tem que

fechar - a falta de uma consciência coletiva torna essa realidade distante

do nosso cotidiano.

“Não haverá verdadeira resposta à crise

ecológica a não ser em escala planetária e com a condição

de que se opere uma autêntica revolução política, social e

cultural reorientando os objetivos da produção de bens

materiais e imateriais.” (GUATTARI, 1990:9)

A busca da melhor tática passa pela definição das demandas

básicas, das motivações e das formas estratégicas de incentivo. O

homem, como todo animal, tem necessidades a satisfazer para sua

subsistência. Segundo Santaella (2004),

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"Há duas necessidades básicas de que a

sobrevivência humana depende: as necessidades físicas e

as necessidades psíquicas. As primeiras são mais

facilmente explicáveis: o alimento, o abrigo, a reprodução,

a reposição da energia etc. Estas o ser humano compartilha

com os animais. As segundas são bem mais complexas,

pois nelas está cifrado o enigma da condição humana em

cujo seio se aloja um milagre até hoje tão inexplicável

quanto o da própria vida: o milagre da fala. Dele resulta a

capacidade especificamente humana, distinta dos outros

animais, de plantar e colher o alimento, de projetar e

construir seus abrigos, enfim, de transformar pelo trabalho

a face da natureza."

Maslow (1970) apresenta uma hierarquia das necessidades

humanas onde primeiro é necessário atender às mais básicas, de ordem

fisiológica, antes de ascender às mais complexas, como inserção social,

auto-estima e auto-realização.

Da mesma forma, o cérebro humano é um retrato físico da

evolução das espécies (DARWIN, 2007). As primeiras necessidades são

de ordem fisiológica: fome, sede, sono, frio, calor, dor, entre outras,

regidas pelo pequeno cérebro reptílico, o tronco cerebral, que controla

operações básicas (e inconscientes) como circulação, respiração e

digestão (TIBA, 2007). Acima dele, como nos mamíferos inferiores,

"o cérebro médio, o diencéfalo, é responsável

pelas emoções, pela auto preservação e pela continuação

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da espécie. Ele nos capacita a tomar decisões cotidianas

perante as ameaças. As porções reptiliana e média formam

o sistema límbico, que comanda todo o comportamento

emocional" (idem, ibidem).

Quanto mais básica a necessidade, maior o impulso para

resolvê-la e, consequentemente, o potencial de manipulação do outro. É

importante frisar que há um jogo de interesses na manipulação dessas

necessidades. A publicidade, por exemplo, não faz apenas divulgação das

qualidades do produto oferecido, mas principalmente induz o desejo no

consumidor. Então, temos um fator importante de motivação que pode

induzir a ações que atendam a interesses diversos. A metáfora mais

famosa é a do "Cavalo andando atrás da Cenoura". Infelizmente, o

Homem não se comporta de modo muito diferente, dependendo do nível

do seu ciclo de necessidades. É o que nos diz Yunus (2000) no

impressionante relato sobre a exploração da fome em Bangladesh e de

como a estratégia do Micro-Crédito conseguiu interromper esse ciclo. A

exploração das necessidades básicas ou induzidas por drogas é uma das

mais perversas formas de dominação.

"A natureza (ou bioquímica, ou Vida, ou Deus,

como preferir) é muito sábia. Para garantir sua existência,

proporcionou aos seres vivos uma recompensa cada vez

que preservassem sua vida. Ou perpetuassem sua espécie.

Qualquer ser vivo pode usufruir esse prêmio, mesmo que

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não o compreenda. Essa recompensa é o prazer nos

humanos e saciedade nos não-humanos. Hoje, a

neurociência conseguiu localizar o sistema de recompensa,

pelo qual passam todos os vícios” (TIBA, 2007:102).

O mecanismo da recompensa química ainda persiste por trás

dos vícios, mesmo sem a ingestão de drogas. O consumo patológico, a

jogatina, o sexo adicto, a ostentação, também disparam os mecanismos

de prazer do sistema límbico. A droga

"cria no organismo uma relação de pequena

causa (pouco esforço para consumir a droga) e muita

conseqüência (grande prazer). Desse modo, a droga

engana o circuito da recompensa, fazendo-se passar por

neurotransmissores que trabalham para receber a

gratificação, traindo a natureza biológica do ser humano

(idem, 2007:106).”

Acima, estamos no nível da psique, também passível de controle

e dominação. Satisfeitas as necessidades fisiológicas, a motivação

primordial passa a ser a segurança contra ameaças, agressões, doenças,

demissões e privações. Essas necessidades têm um caráter bastante

subjetivo, uma vez que estão intimamente ligadas aos medos interiores e

à percepção de mundo. Aqui, é possível observar uma ligação visceral

destes medos com a influência das mídias e das relações sociais, haja

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vista o exemplo dos estados de "exceção" criados nos EUA (CHOMSKY,

2003; MOORE, 2004) pós 11 de Setembro.

"O que torna a mídia tão perigosa é a sua

capacidade de andar de mãos dadas com o Estado,

enquanto vende a imagem de "neutralidade",

"objetividade" e "democracia". É a sua capacidade de

condicionar o imaginário, moldar percepções, gerar

consensos, criar a base psicosocial para uma operação,

como a guerra" (ARBEX, 2005).

A nosso ver, a satisfação das necessidades humanas não se

estrutura em uma pirâmide hierárquica como proposto por Maslow

(1970). Apesar da prevalência de instintos primais como a fome e o sexo,

existe uma intrincada rede de variáveis que pode induzir a

comportamentos em todos os níveis, como visto desde as salivações dos

experimentos de Reflexo Condicionado de Pavlov, até as ilusões de

sucesso pessoal criadas em propagandas de cigarro.

Há forte estímulo para o consumo e, na maioria, de

necessidades criadas socialmente seguindo uma lógica de mercado. Os

produtos são feitos para não durarem, não serem reciclados e

apresentarem inovações de forma lenta e paulatina, enfatizando

pequenas adaptações, em detrimento de uma visão mais ampla,

sistêmica. Por exemplo, o tamanho dos vagões do Metrô é decorrência

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da largura dos trilhos dos trens, que por sua vez, foi herdada das bigas

romanas, determinada pela distância de dois cavalos postos lado a lado.

Assim, eternizamos soluções fora do contexto original, criando uma série

de inadequações.

Aliás, as próprias ruas foram concebidas como o espaço público

que permitia a convivência simultânea de transportes, pessoas e

atividades diversas. Numa época de baixa densidade demográfica e sem

o ritmo frenético das grandes cidades talvez não fosse um grande

problema, mas essa concepção, perpetuada até os dias de hoje acarreta

a grande mortandade de pedestres em disputa do mesmo espaço com

veículos motorizados e, por conseqüência, a perda do espaço público

(JOHNSON, 2003; MORIN, 2002; DIMENSTEIN, 1995).

A lista de inadequações é grande. A metáfora das páginas

impressas para representar objetos interativos na Web. O desperdício de

recursos nas criações de gado. O uso do carro individual em sistemas

viários caóticos das grandes cidades. Receber, em casa, informações de

uma infinidade de “vias diferentes” (rádio, tv, telefone, celular, web, tv a

cabo...) em vez de única, sendo que todas transmitem a mesma coisa. O

sistema econômico baseado na exploração de bens escassos aplicado a

bens imateriais não esgotáveis. A inadequação das Propriedades

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Intelectuais e Direitos Autorais. A acumulação de capital como antídoto à

falta de confiança psicológica e social.

Assim, uma gama de soluções que funcionavam em um

determinado contexto vai se perpetuando sem que haja uma nova

reflexão. O que procuramos apontar é a necessidade de se ter um ponto

de vista abrangente, que compreenda o problema em toda a sua

complexidade, para que se possa agir de modo simples e efetivo.

Guattari (1990) identifica como “Ecosofia” à rede de relações

sistêmicas entre as três ecologias: a ambiental, das relações entre seres

vivos e natureza; a mental, das subjetividades humanas e a social, fruto

dos processos culturais.

Bateson descreve que a “Ecologia das Idéias” não se restringe

ao campo da “psicologia dos indivíduos, mas se organiza em sistemas ou

em “espírito” (minds) cujas fronteiras não mais coincidem com os

indivíduos que deles participam.” (BATESON apud GUATTARI, 1990:38).

Em suas origens, tanto a palavra "alma", do grego "psyche" e latim

"anima", como a palavra "espírito", do grego "pneuma" e latim "spiritus",

remetem à idéia de "sopro vital" (CAPRA, 2005), que sugere fluxo, neste

caso aplicado às redes de processos cognitivos que imbricam em um

continuum com as redes sócio-culturais.

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Casalegno (2006), inspirado nas idéias de “Sociedade da Mente”

de Marvin Minsky, também sugere essa relação de interdependência

entre redes mentais e sociais. Minsky relata que memorizamos através

de redes das chamadas “linhas de conhecimento”. Quando

conhecimentos são similares, compartilham algumas das mesmas linhas,

percorrendo redes associadas, ou “sociedades”. Casalegno, então, aplica

o conceito às redes compostas por “linhas de sociabilidade”,

potencializadas pelos recursos telemáticos.

Para Capra (2005:117), “sistemas sociais vivos são redes auto-

geradoras de comunicações”. Uma vez que o processo de evocação de

memória individual se dá pela repetição dos percursos reticulares das

“linhas de conhecimento” e o da re-memoração sócio-cultural por “linhas

de sociabilidade” cada vez mais mediatizadas, temos a caracterização de

ciclos ecossistêmicos que “orbitam” em torno de núcleos “gravitacionais”

de memória.

Quanto mais densos esses núcleos de memórias individuais,

coletivas, corporativas ou institucionais, maiores os campos atratores e,

consequentemente, menores os raios de abrangência e potencial de

inovação. Hoje, um típico operário do terceiro mundo trabalha nove

horas por dia, gasta mais quatro horas em transportes dentro de um

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ambiente neurotizante de barulho, tensão e poluição e o que resta mal

atende às necessidades de alimentação, repouso e saúde. Trata-se do

ciclo de conhecimento de nível mais básico, fechado, limitado a uma

existência vegetativa, com pouquíssimo acesso à informação, à cultura,

ou a qualquer possibilidade de formação ou educação.

É difícil ter desprendimento suficiente para pensar na Ecologia

Planetária, sem ter condições mínimas de sobrevivência individual. No

entanto, com informação certificada, com uma mídia ética e democrática,

é possível distinguir que o desrespeito à Ecologia é um dos fatores

desencadeadores da desigualdade econômica. Ou seja, a fome pode ser

motivação para uma luta que vise o bem coletivo. E, mesmo a satisfação

às necessidades em todos os níveis não garante o bem comum.

“(...) para onde quer que nos voltemos,

reencontramos esse mesmo paradoxo lancinante: de um

lado, o desenvolvimento contínuo de novos meios técnico-

científicos potencialmente capazes de resolver as

problemáticas ecológicas dominantes e determinar o

reequilíbrio das atividades socialmente úteis sobre a

superfície do planeta e, de outro lado, a incapacidade das

forças sociais organizadas e das formações subjetivas

constituídas de se apropriar desses meios para torná-los

operativos.” (GUATTARI, 1990:12)

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A situação ideal do ponto de vista ecológico consiste na

construção de um ambiente com pluralidade de núcleos de memória,

tanto na diversidade temática quanto nos níveis de profundidade

(fisiológica, psicológica, social, intelectual), articulando ciclos abertos

complementares, como espirais dentro de uma rede fractal.

Esse “Tecido Coletivo”, portanto “Com-Plexo” (MORIN, 2005), é

o ambiente interativo das idéias que, mediado pelas tecnologias digitais,

converge meios e subjetividades. O desafio é controlar a “ansiedade da

informação” (WURMAN, 2005), mapear os fluxos idéia-contexto,

localizar-se e navegar objetivamente.

Maeda (2007) estabelece a complementaridade entre as noções

de “Simplicidade” e “Complexidade”. Sintetizando sua tese teremos que

“simplificar é reduzir o óbvio e priorizar o significativo”. É então

necessário ter claros os objetivos e a visão complexa do problema para

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identificar aos possíveis atalhos de percurso. Sem isso, eliminar qualquer

trecho se torna uma aposta no acaso, a dita solução “simplista”.

Temos como princípio que a presente tese seja simples. Para

tal, deve ser curta, direta, ter claro seu fim, desenvolver seus meios em

redes multiplicadoras e conhecer os princípios holísticos. Entendemos

que a formação educadora pressupõe uma intencionalidade provocadora,

uma partilha de redes comuns e um saber localizar-se contextualmente.

Essa problematização, esse saber onde saber o que não se sabe, esse

grande tecido conectivo que, potencializado pelas mídias digitais, é o

ambiente convergente de indivíduos e comunicações nomina-se Hiper-

Córtex (ASCOTT), Pós-Humano (SANTAELLA), Memória Transativa

(WEGNER), Inteligência Coletiva (LEVY), Inteligência Conectiva

(KERCKHOVE), Comunidade Virtual (RHEINGOLD) entre outros.

“A integração interdisciplinar do conhecimento só é possível

numa sociedade aberta à participação de todos” (ALMEIDA, 2005). A

Ecologia do Conhecimento visa a produção de idéias e comportamentos

adaptados e adaptáveis à complexidade planetária, através do uso das

redes de informações pertinentes, certificadas, diversas e retro-

alimentadas e de técnicas inclusivas de formação ética, de valores

ecológicos e consciência planetária visando o beneficio coletivo.

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capítulo: 01.convergência

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Convergência: direcionamento a ponto comum.

Na década de 90, a predição corrente era a de que todas as

mídias convergiriam ao computador. Paradoxalmente, o que ocorreu foi o

contrário: o computador deixou de ser o “caixote-preto eletrodoméstico”

e seu e-DNA foi disseminado numa grande variedade de mídias digitais,

algumas, como o telefone celular, reinventadas, outras, como iPod,

recentemente criadas.

É necessário então distinguir que o processo que se destaca não

é o da convergência das várias mídias para uma única, e sim o da

convergência para o universo das linguagens digitais. No entanto,

mesmo dentro desse novo sistema, existe uma série de condições que

criam deferentes níveis de interoperabilidade.

No ambiente da convergência das mídias proporcionado pela

digitalização da informação, é necessário repensar a atual configuração

das tecnologias da informação e comunicação. Novas possibilidades

tecnológicas transformam completamente o quadro vigente das mídias.

No entanto, apenas dizer que todas as informações estão resumidas a

zeros e uns é uma visão simplista.

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01.00. MEIO-AMBIENTE-MEIO

Media, do latim, traduz-se mídias, no plural. Medium, no

singular, significa mídia. Adota-se também a forma meios, usada como

na tradução multimedia para multimeios. Refere-se, portanto, aos meios,

veículos ou suportes para linguagens e representações que transmitem

mensagens a um receptor (SANTAELLA, 2003).

Mídia também pode referir-se ao grande sistema de

comunicações, quase sempre associado a uma submissão ideológica dos

interesses capitalistas vinculados a modelos de negócio.

Segundo Manovich (apud MACHADO, 2007b), a imagem não

mais representa uma realidade preexistente, mas se torna um meio de

intervenção no real, agora um continuum de dados. O observador, agora

interator, não recebe passivamente a imagem para identificá-la na sua

memória. Ele vivencia ativamente, afetando e sendo afetado, em um

ecossistema, mental e midiático, de alta plasticidade, ao qual

denominamos meio-ambiente-meio.

Ampliando a idéia de convergência das mídias, o meio-

ambiente-meio é caracterizado pela “articulação de linguagens” em

mídias expandidas conectadas.

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"Cada uma dessas tecnologias de comunicação

[escrita, alfabeto, imprensa, televisão, internet] trouxe

profundas modificações de capacidades cognitivas e

reflexos sociais da maior importância. Todas as sociedades

tiveram influência desses meios e precisaram se adaptar à

nova situação. É importante notar que nenhum dos novos

meios eliminou os demais nem os anteriores. Houve, sim,

uma combinação de tecnologias (D'AMBROSIO apud

GADOTTI, 2000:33)".

Mais do que mídias convergindo a um único dispositivo, o que

observamos é a reconfiguração de funcionalidades baseada em novas

interações das suas antes isoladas especificidades, conectando-se e

proporcionando uma nova gama de conteúdos. As linguagens sonoras,

verbais e visuais, se combinam e se re-significam com um adendo

fundamental: o da inteligência coletiva. O próprio conceito de mídia

enquanto meio de registro pode ser posto em cheque em ambientes

dinâmicos como o dos games. Quem é o autor da mensagem: o

computador ou o programador? Provavelmente ambos. Acreditamos,

como Manovich (2002), que a tecnologia incorpora linguagens pregressas

dentro do discurso contemporâneo. Então, quando vivenciamos um game

estamos construindo um percurso único numa jornada colaborativa que

pode ter se iniciado há milhares de anos, na citação de guerras da

antiguidade e do uso da escrita, chegando ao mundo atual na

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incorporação de programações e efeitos visuais e no compartilhamento

em tempo real através da Internet.

Dentro desse ecossistema sócio-cultural registrado na memória

midiática, Levy (1993) identifica que, a semelhança da “seleção natural”,

há uma “seleção cultural” que pode alterar seu equilíbrio. As mídias

tradicionais na passagem para o digital ampliam seu nicho ecológico,

compartilhando funcionalidades e linguagens entre si. Segundo Machado

(2007a), a convergência se dá não pela migração, mas pela expansão de

cada uma das mídias que acaba por invadir o limite das outras. A partir

do conceito de “Expanded Cinema” de Youngblood chegamos à síntese

de “Mídia Expandida”. Há então, a explosão das mídias, que se

pulverizam criando nuvens de intersecção entre si, zonas híbridas de

multi-conexões simultâneas em redes complexas.

Dada a completa dissolução dos meios, nos resta operar uma

espécie de “engenharia reversa” a fim de tentar mapear as relações

forma-conteúdo e produção de sentido. Analisemos as principais formas

de “Interação entre ser humano e computadores (HCI - human computer

interaction)” dentro de uma compreensão ampliada destes últimos como

dispositivos digitais interativos.

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“O meio ecológico no qual as representações se

propagam é composto por dois grandes conjuntos: as

mentes humanas e as redes técnicas de armazenamento,

de transformação e de transmissão das representações

(Levy, 1993).”

A partir deste mapeamento de interfaces, suas possíveis

hibridizações, e interação de subjetividades, emerge um novo ambiente

midiático, que, devido a digitalização das informações e a conectividade

das redes, possibilitou a grande convergência que, em verdade, não é

apenas a das mídias, mas a de mídias e subjetividades, criando um

grande ecossistema mental-sócio-cultural.

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01.01. INTERFACES

Interface: limite permeável entre dois sistemas.

Em 2006, um smartphone como o Treo 700 da Palm apresenta

um processador Intel de 312 MHz com 128 MB de memória, além das

diversas formas de conexão (usb, cdma, bluetooth) e multimídia (áudio,

foto, vídeo). Isto equivale a um computador de mesa de dez anos antes.

Enfim, DVD-players, celulares, iPods, consoles de videogames, Palms,

terminais de tv digital são, em maior ou menor escala, todos

computadores.

Podemos entender o manuseio de dados digitais (agora

codificados em bits indistinguíveis, seja de origem sonora, verbal ou

visual) dentro dos dispositivos digitais como a interação entre três

operações fundamentais (BICUDO, 2004:105): Entrada, Processamento e

Saída de Dados.

De tal maneira, começamos a constituir uma matriz com três

vetores, analisando “Entrada de Dados” via operador humano

individual/coletivo e via conexão com seus próprios sensores ou de

outras máquinas, o “Processamento de dados” em sinergia com

interpretações humanas individuais/coletivas e com cálculos locais ou em

rede compartilhada, assim como a “Saída de dados” para um usuário

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apenas, ou para muitos, e também para a própria máquina em retro-

alimentação ou para outras máquinas conectadas.

1. Entrada de dados: A alimentação dos sistemas pode se dar

via operação humana, via sensores dos mais diversos, via análise de

dados vindos de outras máquinas e/ou inteligência artificial.

É necessário enfatizar que, muitas vezes, essas operações

acontecem de forma integrada: por exemplo, um sensor pode captar

variações climáticas ou perceber a temperatura de algum humano e

então processar alguma ação adequada. Aqui podemos alinhavar os

teclados alfanuméricos, botões funcionais, alavancas direcionais,

joysticks, os mouses e derivados, as telas interativas (touchscreen) com

ou sem reconhecimento de escrita, as análises estatísticas e inteligência

artificial, onde dados podem gerar mais dados. Ainda temos os sensores

de luz, movimento (realidade virtual), temperatura, vento, umidade,

som, incluindo aqui câmeras de vídeo captando imagem, com ou sem

reconhecimento de movimento, microfone captando som, com ou sem

reconhecimento de voz.

Aqui também já podemos observar que as capacidades de

“reconhecimento” são incrementos dos meios de entrada acrescidos de

processamento. Dois rabiscos feitos com mouse ou “caneta” de palm

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podem ser interpretados como uma letra V que, por sua vez, combinada

com um botão funcional, pode significar Control+V, que dispara a função

Paste (Colar) dos sistemas operacionais. Ou seja, combinamos estímulos

que comunicam letras, palavras, comandos.

2. Processamento de dados: como no cérebro, onde não é

possível pensar sem memória, inclui as capacidades de armazenamento e

organização como pré-requisitos básicos para o substancial incremento

das capacidades intelectuais humanas. Se um computador apenas, já

amplia a memória e o poder de articulação dos conteúdos, veremos,

adiante, que o desenvolvimento das redes digitais que potencializam a

inteligência coletiva foi um salto quântico.

3. Saída de dados:

É o feedback do processamento de informações, fechando o

ciclo de interação e possibilitando um novo ciclo. Vale lembrar que a

saída pode visar a um ou mais humanos, mas também outros

dispositivos digitais. Por exemplo, computador recebe informação que

sua base de dados de antivírus está desatualizada e automaticamente

baixa a correção via internet. Aqui temos fundamentalmente as telas e

alto-falantes, que suportam informações audiovisuais (vídeo, animação,

gráficos, fotos, sons, ruídos, música), incluindo ainda as representações

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verbais manifestadas em forma de escrita e voz. Então vemos maciços

investimentos na viabilização das interfaces wearable (incorporadas ao

vestuário), nas telas mais finas, mais leves, com mais resolução e

qualidade de cores, em fones de ouvido sem fio, em dispositivos de

realidade virtual e até mesmo em próteses implantadas no corpo

humano.

Todavia, no decorrer de nossa pesquisa sentimos necessidade

de cruzar essas funcionalidades com mais duas camadas: a dos

processos individuais e coletivos e também a dos processos humanos e

maquínicos. É cada vez mais difícil distinguir criador e criatura dentro do

universo das chamadas tecnologias da informação e comunicação. Onde

víamos a precedência de dispositivos digitais que interagiam com um

usuário, agora se distingue claramente a ascensão dos protocolos e

linguagens entre máquinas, sejam sensores ou operações em rede, fruto

da explosão da Internet e inteligência coletiva.

A primeira onda convergente é a digital, onde quase todas as

informações analógicas encontram sua tradução em códigos binários,

permitindo a cópia entre dispositivos.

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A segunda onda é a da Internet, com o desenvolvimento de

protocolos abertos que vem potencializando a interação entre pessoas e

máquinas dentro de estruturas formais.

A terceira é a dos padrões semânticos, como o IEML de Levy

(2006), que visa a inter-operação de conteúdos significantes.

Apesar de cada onda ser requisito para a sua predecessora,

cada fase não se encerra para que a outra comece. Vivemos todas as

ondas concomitantes e em processo de realimentação, como podemos

observar, por exemplo, na recente implementação da TV Digital no

Brasil.

A força motora da matriz de expansão das mídias é o desejo

humano de ampliar suas capacidades intelectuais e sociais. Para tal, é

necessário investir esforços nas inovações em usabilidade, acessibilidade,

portabilidade, conectividade e adequação. Sobretudo a adequação. A

adequação não se refere apenas à sustentabilidade econômica, ao

beneficio individual ou ao oportunismo contextual. A adequação deve ter

critérios ecológicos, ou seja, deve considerar os interesses coletivos em

escala planetária. O inovador Thomas Edison citava que a realização

demanda 1% de inspiração para 99% de transpiração. Mas,

experimentemos nos inspirar de modo equivocado para descobrir quanto

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trabalho é necessário para desfazer toda a transpiração consumida na

direção errada. O inovador Henry Ford citava que existem mais homens

que desistem do que homens que fracassam. Infelizmente, esse exemplo

de empreendedorismo, que fundou as bases da indústria automobilística,

dentro do contexto espaço-temporal da época, inspirando ar puro, não

distinguiu a complexidade epidêmica de sua intervenção, fundando

também a base da expiração dos poluentes atmosféricos.

Originalmente, a operacionalização das interfaces visava

disponibilizar a relação estímulo-resposta de modo “intuitivo”, ou seja,

compreensível a partir do repertório cultural adquirido na vivência do

mundo real. Aqui surgem as “metáforas” das escrivaninhas (desktop) e

também os conceitos de usabilidade representados pela máxima de

Steve Krug (2000): “Não Me Faça Pensar”. Basicamente havia o acesso

às entradas e saídas de dados, e o processamento ocorrendo dentro de

uma “caixa preta”, como na acepção de Flusser (2002), inexpugnável

para a grande maioria dos usuários. Lembremos que, nos primórdios, a

interface com o universo digital era a entrada de dados através de cartão

perfurado e feedback através de fita impressa. É certo que ainda

operamos uma caixa preta, mas uma solução de interface abriu grandes

possibilidades de manipulação: a Tela Eletrônica.

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A Tela dos dispositivos digitais, ao contrário de suas precursoras

da Pintura, que misturavam a própria natureza do conteúdo ao suporte,

são constitutivamente virtuais. Seu conteúdo é volátil e depende

exclusivamente da representação das informações da unidade de

processamento. A partir do surgimento da Tela, fica mais clara a

distinção entre hardware e software, uma vez que esse último deixa de

ser um conceito invisível para se transformar em algo manipulável

visualmente. Multiplicam-se então as possibilidades de interação com os

dispositivos digitais. É possível controlar entrada e saída e também

refinar o controle sobre as operações de processamento.

Os zeros e uns dos cartões perfurados foram substituídos por

conjuntos de palavras criados em teclados e visualizados nas telas. A

partir dos teclados das máquinas de escrever foram introduzidos os

teclados dos computadores. Apesar da constante evolução dos teclados

em adequação à grande variedade de dispositivos, sua função primordial

continua a mesma: introduzir caracteres.

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http://www.egtechnology.com/keyboard/keyboard.gif

Entretanto, mesmo nos teclados mais básicos, podemos

observar a presença de teclas que realizam ações e/ou operam em

combinação a outras. São as de funções fixas (enter, esc, print screen,

insert, del e as lock), as de funções variáveis (F1 a F12), as de

navegação (home, end, tab, page up/down e as direcionais) e as

combinatórias (ctrl, alt, shift).

A corrida pela miniaturização dos dispositivos portáteis e maior

naturalidade de uso vem originando grandes investimentos em pesquisa

sobre o design dos teclados. É importante ressaltar que na história das

invenções, assim como na de todo desenvolvimento humano, quase

sempre impera a lógica da adaptação, da inércia não reflexiva.

No caso dos teclados, a ocorrência mais paradoxal é

exatamente do modelo padrão de mercado, o QWERTY, que,

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surpreendentemente, foi criado para retardar a digitação nas máquinas

de escrever, que frequentemente “encavalavam” suas hastes. Ou seja,

dificultou-se o acesso às letras mais comuns a fim de diminuir a

eficiência ao teclar. Diz-se ainda que, para demonstrar a facilidade da

escrita da palavra “TYPEWRITER”, essas letras foram dispostas logo na

primeira linha a fim de aparentar simplicidade e alavancar a venda dos

produtos. Mais uma vez, interesses comerciais sobrepujam aos interesses

do desenvolvimento humano. Imaginemos o equívoco de investimentos

maciços em parques industriais e aprendizagem técnica baseados em

justificativas tão frágeis.

Existem diversas outras disposições de teclas e teclados:

pequenos, grandes, ergonômicos, para polegares, para um dedo só, para

uma mão só, touch-screen, com tela em cada tecla, com teclas que

funcionam em combinação e até mesmo teclas sem inscrição. Vejamos

os que agregam mais possibilidades inovadoras.

A disposição em ordem Alfabética parece ser uma das

formações mais obvias. Se ganha na curva de aprendizagem, uma vez

que a grande maioria dos alfabetizados terá facilidade para localizar as

teclas. Ainda assim, não é o que melhor proporciona a eficiência ao

digitar. Neste modelo, temos uso de cores.

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Teclado Alfabético

http://news.com.com//i/ne/p/photo/keyboard_550x264.jpg

O teclado Dvorak foi projetado com base na ocorrência das

letras da língua inglesa. Deste modo, concentrando vogais e

aproximando as letras mais usadas contiguamente, aumenta-se a

velocidade de digitação.

Teclado Dvorak

http://en.wikipedia.org/wiki/Image:KB_United_States_Dvorak.svg

Segundo testes que podem ser feitos no site Qwerty Vs The

Dvorak [http://www.siteuri.ro/dvorak/index.php], mesmo em português

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a distância percorrida e velocidade de digitação são mais eficientes no

Dvorak. Os dois parágrafos acima obtiveram esses resultados:

Modelo Distância percorrida pelos dedos

Alfabético 21,8 m

Qwerty 20,7 m

Dvorak 17,2 m

Existe uma modalidade interessante que é a dos meio-teclados.

Pesquisas indicam que a metade esquerda dos teclados Alfabético e

Qwerty contêm a maior parte das letras usadas das principais palavras

inglesas. Como, normalmente, a mão direita opera o mouse é uma opção

a ser considerada.

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http://www.diycalculator.com/imgs/qkbd-fig5.gif

http://lib.store.yahoo.net/lib/xoxide/wolfking-warrior-1.jpg

O teclado Fitaly agrupa as teclas segundo uma disposição de

padrões mais reconhecíveis e portanto de mais fácil memorização.

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http://www.fitaly.com/fit-gifs/fitaly16.gif

Os teclados ergonômicos dividem as teclas de cada mão,

respeitando o ângulo natural do posicionamento para digitação. No

modelo abaixo, além dessa funcionalidade, o teclado reserva uma tecla

para cada dedo, funcionando ainda com combinação simultânea.

http://www.datahand.com/images/DatahandTabletop.JPG

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http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Velotype.jpg

Teclados para portáteis são hoje um dos maiores desafio dos

designers de interface.

http://www.wmexperts.com/articleimages/Treo750_Keyboard.jpg

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http://news.sel.sony.com/en/image_library/consumer/computer_peripheral/mylo

_Communicator/high/25780

http://www.mobileireland.net/rim/blackberry-pearl.jpg

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http://www.welectronics.com/gsm/Nokia/nokia6822.jpg

Os teclados virtuais são uma opção adequada ao espaço

reduzido dos celulares. Integrando-se ao potencial “mutante” das telas

touch-screen, são, sem dúvida, os que oferecem maior flexibilidade. É a

solução mais usada para PDAs e aos novos smartphones capitaneados

pelo iPhone como veremos mais a frente. O maior problema é a o tempo

de resposta aquém das teclas físicas.

Virtual Laser Keyboard

http://www.newlaunches.com/entry_images/0806/08/cellon_3.jpg

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O hibridismo de teclas com telas abre um novo leque de

possibilidades, uma vez que combina flexibilidade funcional com presteza

responsiva. O teclado Optimus tem telas em cada uma de suas teclas, se

transformando conforme a aplicação: Word, Photoshop, Half-Life, Chinês,

entre outros.

http://www.artlebedev.com/everything/optimus/demo/

Outra opção são os teclados sem fio que se conectam via

bluetooth, acolhendo a tendência da conectividade.

http://palmyamcha.hkisl.net/archives/060706_kb2.jpg

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No modelo acima podemos observar teclas direcionais que

podem substituir o Mouse, que abordaremos a seguir.

Por ora, lembremos que as conexões sem fio (RFID, bluetooth,

barcode, 3G, GPS e Wi-Fi principalmente) vêm dando novo impulso tanto

a novas entradas de dados (teclados, mouses, microfones, sensores de

voz, câmeras, sensores de presença, joysticks, entre outras) como para

saída (telas, alto-falantes, fones de ouvido, mensagens de texto ou

multimídia e dados informacionais entre outras). Tudo isso somado à

miniaturização e portabilidade traz uma grande convergência do mundo

físico e digital.

Um divisor de águas é a criação das “Graphic User Interfaces”

(GUI) por Engelbart (JOHNSON, 2001), nas quais é possível criar

abstrações espaciais que metaforizam um ambiente real com janelas,

mesas, pastas, lixo entre outras. A tela é o grande ambiente exploratório

e para essa interação é criado o Mouse.

O Mouse representa a “mão humana” dentro de um ambiente

digital visualizado numa tela, ou seja, movimenta um ponteiro em

coordenadas x, y em tempo real, baseado em sensores espaciais (esfera

de rolagem, ótico ou magnético). Os sensores esféricos e óticos operam

de forma relativa, ou seja, a partir da atual posição do ponteiro. O sensor

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magnético trabalha de forma absoluta sobre um mapa configurável com

as coordenadas proporcionais à tela. Neste mapa, chamado mesa

digitalizadora (tablet), a mesma movimentação do mouse terá sempre a

mesma resposta do ponteiro na tela. Portanto, a resposta é mais rápida e

precisa, não sendo necessário arrastar o mouse no trajeto.

http://www.azona.hu/Album/images/1-1%20Mouse-02_tif_jpg.jpg

Um complemento recente ao uso do mouse foi o funcionamento

de “mouse gestures” no Firefox. Determinados movimentos do mouse

demandam respostas do sistema. Tudo configurável e intuitivo.

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http://accessfirefox.com/Extensions_SS/Mouse_Gestures/MouseGestures_Sidebar

_Guide.png

Dado o volume incalculável das interfaces de tela em nível de

software não aprofundaremos aqui essa evolução. Abordaremos às

principais inovações de hardware e funcionalidades dos dispositivos

físicos. Alguns apontamentos, no entanto, são importantes para ilustrar a

relação tela - interator.

A tela é a peça fundamental para representação do feedback ao

interator na maioria das interfaces. É fluida, dinâmica, desterritorializada.

Não faz sentido que a metáfora da página estática ainda seja umas das

principais formas de comunicação. A grande metáfora é o próprio

cérebro como exaustivamente propagado por Levy, Machado, Minsky,

Pinker e Ascott entre tantos outros.

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A simulação de ambientes tridimensionais e/ou camadas

paralelas ao plano da tela operam uma nova gama de possibilidades de

linguagem, já bem explorada em videoclipes (DUBOIS) e games

(MACHADO, 2007b; MURRAY), mas ainda a observar na constituição da

maioria dos vídeos, sites e aplicativos.

Voltando à análise de hardware, uma alternativa promissora é o

das telas OLED flexíveis.

Tela OLED

http://www.pinktentacle.com/images/flexible_organic_el_display.jpg

A proporção wide (16x9) só se justifica a partir de certa

distância e resolução. A portabilidade, a relação custo - beneficio e o

individualismo exacerbado aumentaram a procura pelos óculos–tela.

Existem diversos modelos, que vão desde o capacete para imersão

completa até mini-projetores direcionados à retina. Acreditamos que

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estes últimos, com a leveza das telas OLED e perspectiva de uso em

situações normais, sejam a escolha de maior aceitação popular. O

modelo Lumus PD-20 abaixo, projeta a imagem diretamente na retina,

sem obstruir completamente a visão e ainda pode ser usado como

simulador de estereoscopia 3D com a adição de outro projetor.

http://www.lumus-optical.com/Downloads/Tech/new_bro_07_v7.pdf

As telas touch-screen combinam a representação visual das

informações, tradicionalmente saída de dados, ou feedback, com entrada

através de sensores de toque na própria tela. Palms, PDAs, Handhelds e

Smartphones foram os primeiros a difundir massivamente esse tipo de

interface.

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http://www.weblogsinc.com/common/images/5856308185341518.JPG

Essas telas viabilizam a interação diretamente na representação

visual dos conteúdos, aproximando-se muito das operações reais. Toca-

se a tela com os dedos ou com “canetas especiais” em substituição ao

mouse. Oriunda da interface limitada pelo ponteiro solitário do mouse, as

interfaces touch-screen são um exemplo típico de adaptação de soluções

anteriores em vez da reflexão diante do potencial das novas tecnologias.

O mouse indica um único ponto, porém se é possível usar os dedos,

abrem-se dez possibilidades simultâneas (multi-touch). Mais à frente,

indicaremos algumas inovações nesse sentido promovidas pelo projeto

iPhone, misto de celular e iPod da Apple. A titulo de ilustração

observemos o uso de toques simultâneos numa cena do filme Minority

Report (2002) de Steven Spielberg. Nesta cena, com os dedos, o usuário

aumenta imagens, arrasta-as, solta-as, sobrepõe-nas em camadas e

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manipula-as livremente, como se estivesse organizando documentos

numa escrivaninha.

http://www.minorityreport.com/

A combinação de mesa digitalizadora com tela touch-screen deu

origem a um novo dispositivo, o computador tablet pc. Em verdade, o

lançamento do tablet pc potencializa, com maior resolução e capacidade

de processamento, o antigo conceito dos dispositivos portáteis com

interação na tela consagrados como Personal Digital Assistants (PDAs) ou

pela marca Palm. Uma vez que estes, tanto na versão grande como

pequena, dispensam o uso de teclado (opcional), torna-se fundamental

para seu sucesso a perfeita harmonia de hardware e software para o

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reconhecimento da escrita a mão. A metáfora é o caderno, a interface

mais natural ao ato de escrever e desenhar a mão livre.

www.pocketpcaddict.com/forums/media/48075/samsung_umpc_sense1_2.jpg

A indústria dos games é uma outra fonte importante de

pesquisa e inovação. O jogo, por sua natureza dinâmica, demanda

interações cada vez mais rápidas, precisas e aproximadas ao gestual

humano. Assim vivemos a evolução do joystick, o principal dispositivo de

controle dos videogames que, apesar do funcionamento assemelhado ao

do mouse, tem uma abordagem diferente. O joystick opera de uma

forma particularmente útil à jogabilidade dos games. Ao contrário do

mouse, que determina rapidamente ao cursor uma nova posição e

consequentemente um trajeto percorrido, o joystick indica direções e

potência ao objeto interativo em relação ao estado atual do mesmo. Por

exemplo, um carro centralizado na tela que pode acelerar, frear e virar a

esquerda ou à direita. É o tipo de contexto que valoriza a interação em

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tempo real, pois possibilita a interferência e a alteração de conduta

mesmo antes da concretização da última ação idealizada.

http://www.ataritimes.com/2600/images/2600_joystick.jpg

Assim como o mouse, o joystick vem ganhando uma série de

recursos proporcionados por botões funcionais. Cada vez mais, os jogos

ampliam o uso do controle do deslocamento físico apenas para o uso de

múltiplas funções simultâneas. A combinação de botões acessados

concomitantemente por quase todos os dedos das duas mãos cria um

grande universo de possibilidades nos novos modelos de joystick. É

possível até o refinamento de vários botões direcionais operando ao

mesmo tempo e efeitos realistas como vibração.

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http://fp.scea.com/Content/peripherals/SCPH-10010U/1/detail/image.jpg

Porém, toda essa complexidade exige alta curva de

aprendizagem. Mais recentemente, o caminho da interface desses

dispositivos tem trilhado a busca da reprodução dos movimentos

naturais, mais próximos ao modo como ocorre na vida real. Dispomos de

exemplos dessa nova geração: tapetes interativos são uma forma criativa

de ampliar o realismo e jogabilidade dos games. Na verdade, seu

funcionamento se assemelha ao de um teclado gigante com áreas

clicáveis disposto no chão. As “teclas” normalmente são grandes o

suficiente para serem clicadas com os pés, simulando corridas, chutes e

principalmente a dança, objetivo de seu uso inicial.

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http://dimensionplus.nl/psx/boxes/58341.jpg

http://www.mindtech-group.com/game_accessories/media/15501.jpg

É evidente que, na evolução dessa interface, podem ser usadas

outras partes do corpo e, quem sabe, até a combinação de vários tapetes

fechando um cubo em volta do interator, como num ambiente do tipo

“cave”. Apesar da evolução na simulação dos movimentos reais, os

tapetes ainda não reproduzem a fidelidade dos movimentos na

complexidade de um ambiente tridimensional. Como ainda é necessário

clicar uma superfície, não é possível reproduzir o movimento, no máximo

registrar os pontos de saída e chegada dos pés, indicando uma possível

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trajetória em linha reta restrita a duas dimensões e sem as nuanças de

possíveis curvas e variações de velocidade.

Começam a surgir os sensores de movimento wireless (sem fio).

Dentro desse aspecto, destacamos ainda as interações visando à

simulação de esportes, com destaque ao futebol (soccer), o mais popular

do mundo. Em breve deveremos ter dispositivos do tipo “bola e chuteiras

interativas”.

http://www.comparestoreprices.co.uk/images/unbranded/p/unbranded-playstation-

football-mat.jpg

Como evolução desses sensores, surgem dispositivos de

interação sem fio. O Super Arena é na verdade um conjunto de quatro

sensores de movimento acoplados a pés e mãos que opera em conjunto

a um “tapete” receptor que envia todas as ações no seu raio de alcance

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em forma de comandos interativos representados na tela do game.

Lançado em 2006 para consoles Playstation 1 e 2 e computadores PC,

além do óbvio incremento da jogabilidade e realismo, visa também

renovar a imagem de que a atividade do jogador de game é sedentária,

sendo certo que pode promover várias atividades físicas como pular,

chutar, socar, defender, dançar, dentre um potencial enorme de variáveis

que ainda nem foram imaginadas. Não é necessário mais restringir o livre

movimento tridimensional a um toque numa superfície bidimensional.

http://www.zapgames.at/assets/images/produktmaedel.jpg

Ainda em 2006, verifica-se o lançamento de um novo joystick

que opera sem fio e reconhece movimentos tridimensionais. O Wii, da

Nintendo, tem um controlador que pode ser usado como espada, raquete

de tênis ou o que mais se inventar.

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http://i.i.com.com/cnet.g2/images/2006/features/hardware/revknow/revknow_sc

reen003.jpg

A livre movimentação no espaço real, tridimensional, é

percebida pelos sensores e reproduzida, ou representada, dentro da

simulação tridimensional dos jogos, ainda em telas bidimensionais.

Em breve, estarão no mercado as luvas virtuais com a mesma

agilidade de resposta dos controles wii.

http://content.answers.com/main/content/img/CDE/_GLOVE.GIF

Outra forma de captar movimentos se dá através de sensores

em câmeras de vídeo. A empresa Mídia Move de SP, por exemplo, exibe

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em feiras um jogo de futebol virtual onde o jogador “chuta” uma “bola

virtual” em cima de um campo projetado.

Game com sensor de movimento

Novamente, então, voltamos a abordar as inovações propostas

pela Apple para seu iPhone, um híbrido de celular, palm e iPod.

Começamos pelo grande poder de conectividade a redes GSM, Wi-Fi e

Bluetooth. Apesar da pertinência dos recursos, observados em outros

aparelhos, é importante questionar a falta de padrões para conexões

sem fio, o que poderia proporcionar a otimização de recursos. Voz,

Vídeo, Musica e Web são todos representáveis em bits. Por que tantas

redes diferentes para transmitir a mesma coisa: bits.

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http://images.apple.com/iphone/images/techhero_sensors20070109.jpg

O iPhone solicita mais de 200 patentes para inovações.

Observemos as mais diferenciadas das soluções habituais:

- Multi-touchscreen: tela com boa resolução (320 por 480 pixels

a 160 ppi) sensível a toques múltiplos. Como no exemplo de Minority

Report, não há botões físicos, apenas soluções de interface diretamente

na tela, inclusive a possibilidade de aumentar imagens usando dois dedos

ao mesmo tempo. É importante ressaltar que há a criação de um leque

infinito de possibilidades gráficas. Resta saber se a Apple conseguiu

aprimorar o grande problema das telas sensíveis em relação aos botões

reais: o tempo de reação ao toque e conseqüente velocidade de

digitação.

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http://images.apple.com/iphone/images/techhero_multitouch20070109.jpg

http://iphonethebook.com/photos/keyboard.png

- Sensor de Movimento: semelhante ao joystick Wii, a Apple

desenvolveu a tecnologia do acelerômetro, que detecta a rotação do

aparelho adaptando automaticamente a representação dos conteúdos no

“modo retrato” (portrait), adequado à visualização de listas, para “modo

paisagem” (landscape), indicado à visualização de vídeos.

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http://images.apple.com/iphone/images/techhero_sensors20070109.jpg

- Sensor de proximidade: percebe quando o aparelho é

aproximado do ouvido e automaticamente trava a possibilidade de

toques acidentais e desliga a tela para poupar energia.

A Microsoft, por sua vez, apostando ainda no segmento PC,

apresentou em 2007 o protótipo do que imagina ser o futuro dos

computadores pessoais: o projeto “Surface”.

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http://info.abril.com.br/aberto/infonews/images/30052007b.jpg

Nesta proposta, a Microsoft investe nas interfaces naturais,

baseadas na interação por toque na tela, desta vez num tamanho que

possibilita o trabalho conjunto de várias pessoas ao mesmo tempo. Além

disso, seu hardware permite conexões sem fio com os principais

protocolos de transmissão, como Wi-Fi, Bluetooth e celular. Basta pousar

um dispositivo destes no Surface para abrir um leque de possibilidades

como copiar, conectar ou sincronizar com um simples arrastar de dedo.

Gates (2007) diz que o Surface se insere na tendência da “computação

onipresente” (pervasive computing). Os computadores, ou dispositivos

digitais, estão em todas as partes e conectados entre si.

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01.10. CONSIDERAÇÕES DIVERGENTES.

Neste cenário de explosão de possibilidades, tememos pela

noção unificadora da “convergência”, assim como pela visão simplista de

expressões superlativas como Super, Alta, Larga ou Nova. “High

Definition” ou “Alta Definição” se compara a o quê?

Se for ao mundo real estamos muito aquém, se estamos

comparando TV à película de cinema também. Aqui temos uma complexa

interação entre variáveis como quantidade versus densidade de pontos

por área, passando ainda pela qualidade da reprodução das cores, das

lentes, do tratamento de iluminação na captação, pelos métodos de

processamento, compactação, transmissão e descompactação e, não

menos importante, a adequação ao público-alvo. Esquece-se que

qualquer definição apenas o é enquanto “percebida” pelo espectador.

Então, a distância da tela ao observador, o ambiente, o tempo

disponível, a qualidade da atenção, o repertorio cultural, as capacidades

sensoriais, enfim, o contexto é tão ou mais importante do que o numero

de pixels.

Lembramos-nos do impacto do filme “Waking Life” de Linklater

(2001), que desenvolveu uma apurada linguagem gráfica, vetorizando às

imagens captadas e incorporando a vida “real” às possibilidades de

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animação. Até aqui poderíamos argumentar que muitos são os que usam

efeitos especiais, mesmo observando que a imagem vetorial é

infinitamente ampliável, uma vez que é representada por polígonos

matemáticos em vez de pontinhos. Mas o que realmente mostrou-se

inovador foi que, dada a densidade do discurso narrativo (“alta reflexão”)

houve uma completa desconstrução de qualquer qualidade de imagem. O

que vai, de modo magistral, ao encontro do intento do filme: desvelar as

diversas vidas (a despeito da “Second”) que temos em paralelo e/ou

virtualmente. Ou seja, a imersão, a cognição, a fruição da mensagem em

um determinado contexto deixa o problema da “alta definição” em um

outro patamar.

Já a “Banda Larga”, apesar da louvável campanha de inclusão

digital do Creativo Ministro-Artista da Cultura, Gilberto Gil, nunca o será o

suficiente. Tudo que for disponível será utilizado. Se tivermos uma

escrivaninha de dez metros de comprimento em um ambiente

minimamente adaptativo ela será aproveitada em sua totalidade, mesmo

que esteticamente ou como mesa de futebol de botão. O que temos, na

verdade, são “Bandas Mínimas” dentro de um determinado contexto,

definido pelas variáveis de disponibilidade do interator, capacidades do

dispositivo e custo-benefício em adequação ao conteúdo pretendido.

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Propomos a terminologia “Banda Esperta” (SmartBand), para

um sistema que automaticamente se adaptasse, com mecanismos de

retro-alimentação, ao contexto do interator. Como em ecossistemas

auto-organizados teríamos, obviamente, níveis mínimos aceitáveis e

limites máximos possíveis, mas, sobretudo, a busca do atendimento

ótimo a maioria. Uma das grandes inovações do projeto OLPC (One

Laptop per Children) capitaneado por Nicholas Negroponte do MIT e

nomeado no Brasil como UCA (Um Computador por Aluno), é a adoção

das redes sem fio Wi-Mesh, que de forma descentralizada aproveitam

cada nó para transmitir e receber dados.

Amadeu (2007), na Revista A Rede (http://www.arede.inf.br),

manancial de informações eco-tecnológicas, nos demonstra um novo

potencial de arquitetura.

“P2P — do qual uma das maiores expressões é o

protocolo BitTorrent e softwares como o Emule e LimeWire

— utiliza uma arquitetura de rede distribuída, sem

centralidade, onde cada máquina cumpre as funções de

servidor e cliente de informações. (...) O conhecimento

está nas redes, assim como a inteligência não se concentra

em um ou dois neurônios, vem da sinapse, das associações

e conexões em nosso cérebro. (...) Os padrões, protocolos,

códigos e linguagens digitais, quando abertos, são mais

dinâmicos, não oferecem resistências e bloqueios à criação

e recombinação, a principal prática da cibercultura.”

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E prossegue mostrando o potencial da aplicação do conceito na

chamada P2PTV na Web, como visto nos players Joost

(http://www.joost.com/) e Miro (http://www.getmiro.com).

"O uso de um sistema P2P na TV pela internet

implicaria que todos os usuários de determinada

programação ajudariam na distribuição das imagens. Cada

usuário que estivesse realizando um streaming converter-

se-ia em pequeno servidor do mesmo vídeo que estivesse

baixando. Desse modo, é possível solucionar dois grandes

problemas da transmissão broadcasting pela internet:

diminui-se a carga do servidor e o tamanho da banda

ocupada. Estudos indicam que a P2PTV poderia assegurar

a um canal manter 100 mil conexões simultâneas, sem a

necessidade de uma banda gigantesca (idem, ibidem)".

A possibilidade das conexões e padrões abertos multiplica de

forma exponencial aos limites da criação humano-tecnológica.

Também discordamos da prática de eternizar mídias em um

determinado contexto como realidade absoluta. Como identificar, por

exemplo, às “Novas mídias” do século futuro? Novíssimas? Pós-novas?

Propomos então, um novo tratamento para a atual modalidade:

“xmedia”. Remete ao múltiplo, ao x indeterminado e, portanto mutante,

ao “crossing” de arquiteturas cruzadas reticulares e ao “ex” da necessária

reformulação das idéias vigentes.

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O mundo físico também não está imune à convergência digital.

As conexões sem fio (RFID, bluetooth, barcode, 3G, GPS e Wi-Fi)

conectam mercadorias, eletrodomésticos, carros, torres, animais e

pessoas (BEIGUELMAN, 2005). Existem projetos para dotar cada

aparelho eletrodoméstico de um numero IP para que seja controlado via

Internet. Carros e outros veículos tendem a ser identificados digitalmente

(RFID, como no sistema Sem Parar e GPS para segurança anti-roubo e

serviços de orientação no trânsito) de modo permanente, como mostra o

projeto de lei da cidade de São Paulo para 2008.

Ipods, Smartphones e cartões conectam/controlam pessoas via

GPS, wifi, bluetooth e RFID. Presidiários e dependentes químicos usam

“coleiras eletrônicas” que as localizam instantaneamente. Mercadorias

são marcadas com códigos de barra e RFID. Animais, Plantas e Lugares

também são marcados com GPS a fim de se estudar/controlar. Várias

pessoas, temendo seqüestros, também reproduziram a experiência de

Eduardo Kac na Casa das Rosas em 97, introduzindo um microchip em si

mesmas a fim de serem identificadas digitalmente a distância (idem,

ibidem)

Os ecossistemas biológico-cultural-mental estão entrelaçados

em rede, dando origem a um macro-ecossistema. Estabelecidos os

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padrões de conexão, todos os elementos podem interagir dando forma a

inúmeras novas configurações criativas.

Imaginemos, por exemplo, luvas virtuais wi-fi (como o controle

do wii) que respondam a mouse gestures projetados em telas de óculos

e falantes implantados nos ouvidos. Teríamos, a semelhança dos “zumbis

iPod”, legiões de “maestros” andando pela rua, regendo orquestras

virtuais ou arquitetando ambientes digitais. É na hibridização destas

tecnologias que acreditamos estar o cerne dos novos ciclos biológico,

cultural e mental.

“Na esfera cultural, os híbridos são mais fortes,

mais inovadores, mais robustos que os puros-sangues. E é

por isso que ainda há valor por encontrar nas formas

parasitas da televisão analógica. [...] São formas digitais

aprisionadas num meio analógico. Como tais, nos fazem

lembrar novamente a importância da passagem do

analógico para o digital, uma mudança que é tão cultural e

imaginativa quanto tecnológica e econômica” (JOHNSON,

2001:35).

Todas as inovações de interface citadas estão sendo

combinadas espontânea ou intencionalmente e, por sua vez,

proporcionando a criação de outras novas interfaces. A mera

transposição dos nomes da era analógica não explica os recentes

dispositivos digitais.

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Televisão significa ver a distância, telefone falar a distância,

Celular é o que é estruturado em células, Vídeo remete a “eu vejo”, Web

é teia, Rádio é um elemento químico com a propriedade de propagar

ondas eletro-magnéticas, Mobile é o que se pode movimentar, assim

como Portable ao que se consegue trazer junto ao corpo, Notebook é um

caderno de anotação e laptop algo que coloca sobre o colo, PDA é um

assistente pessoal, Cinema vem de cinematógrafo, o que se escreve

através do movimento, CD e DVD são discos compactos e versáteis.

Concluindo, todos esses nomes só fazem sentido enquanto marca e

modelo de negócio estabelecidos. É fantasioso procurar o dispositivo

analógico original representado na sua atualização digital. Qual, por

exemplo, seria o verdadeiro nome da nova safra de smartphones

(faladores inteligentes)? Algo como áudio-vídeo-fone-rádio-foto-personal-

portable-mobile-net-celular-gps.

Temos, por conseguinte, um ambiente adaptativo composto por

matrizes gerativas que, como num ecossistema biológico, evoluirão em

busca de equilíbrio sustentável dos pontos de vista social, cultural e

econômico.

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Matriz Gerativa de Mídias

É muito representativa a discussão a respeito da transição para

a TV Digital. Diferentemente das mídias originalmente inventadas em

ambiente digital como a Web, a TV sofre sua alteração mais radical nos

seus 50 anos. Há que se ressaltar que com os adventos da cor, do som

estéreo, do controle remoto entre outros, não se alterou

substancialmente a estrutura televisiva. A TV Digital, no entanto,

apropria-se da linguagem televisiva, mas oferece um potencial tão

grande de inovações que melhor seria não ser chamada de TV. Dentro

desse novo meio-ambiente-meio, a TV não tem ocupado seu potencial

digital e tem seu “nicho ecológico” invadido pela Web e pelo Celular.

É certo que esse ecossistema é muito dinâmico e ainda há

muita interação a acontecer. As propostas tecnológicas visam o que de

melhor se pode oferecer neste universo de linguagens articuladas:

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conectividade, interatividade, portabilidade, mobilidade, robustez,

escalabilidade. Essas qualidades lembram a antiga TV? Talvez robustez,

mas erroneamente. Robustez no contexto digital indica a confiabilidade

no funcionamento de um sistema. No caso da TV analógica, o caixote é

robusto, mas o sinal, repleto de fantasmas e chuviscos, não. Tirante os

conceitos mais conhecidos como conectividade e interatividade, que

dispensam maiores explicações, é imprescindível citar a importância das

outras propriedades, uma vez que são padrões exigidos das mídias

digitais eficientes.

Portabilidade é a capacidade de ser portável e Mobilidade a de

ser móvel. Um avião é móvel, mas não portável. No caso da TV Digital, o

móvel é a exibição em trens e o portável em celulares. Dado o alto índice

de obsolescência dos dispositivos, a Escalabilidade é uma qualidade

importantíssima. É a capacidade de o sistema ser atualizado e/ou

complementado. São, portanto, as principais qualidades desejadas nas

novas mídias sempre visando à adequação aos contextos de utilização.

No nosso contexto, em um país deseducado, repleto de

desigualdades, houve o momento histórico para uma revolução midiática,

inclusiva, extremamente acessível. Com 90% de lares com aparelhos de

TV, antenas e retransmissoras instaladas em todo território nacional,

teríamos a possibilidade de multiplicar por até oito vezes o numero de

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canais, o que permitiria a difusão de conteúdos educacionais, regionais e

independentes, fundamentais para desenvolver o país. Lembremos dos

maciços investimentos educacionais nos tigres asiáticos do pós-guerra,

que reverteram baixíssimos índices educacionais.

"O investimento em educação é condição básica

para sustentar qualquer forma de desenvolvimento. É o

grande diferencial a um crescimento econômico elitista,

míope, desigual, instável, sem "lastro" de conhecimento em

contraposição a uma evolução constante, segura, perene,

com construção de uma sólida retaguarda estrutural,

adaptabilidade, flexibilidade, qualidade de vida, respeito ao

meio-ambiente e às conquistas sociais (MORAES, 2007)”.

A Coréia, em especial, tem como uma de suas principais fontes

de riqueza, exatamente a produção de entretenimento digital, lastreada

em conhecimento de alto nível.

A TV Digital, portanto, seria um espetacular disparador da

economia do conhecimento, sendo ao mesmo temo difusor e consumidor

de informação. Infelizmente, o oligopólio das rádio-difusoras, e sua vasta

representação política e mercadológica, não entendeu assim, alegando

que não haveria “bolo publicitário” para repartir com todos esses novos

canais.

Assim, em vez de um novo ambiente, criativo e inclusivo,

teremos uma “clonização” (o que é contestável legislativamente) dos

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mesmos canais em 1, 2, 3 e 4, com as mesmas programações

determinadas pela publicidade, mais enlatados globalizados, e

sublocação de horários (um bem público e escasso) para mais tele-

vendas, tele-sexos e tele-exorcismos. Mas nem tudo é perdido. Se o

usuário se dispuser a comprar um set-top-box (terminal de acesso) de

800 reais (duas vezes o valor da TV) pode assistir conteúdos em “alta”-

definição (aquela que não é tão alta) que, infelizmente, ainda não são

gerados (porque não tem público) e que não passam em aparelhos

comuns de TV, abaixo de 27 polegadas e 1000 linhas de resolução

(PRIOLLI, 2007).

A interatividade pode ser basicamente de 2 tipos:

- o "walled garden", jardim murado, onde é possível "passear"

desde que seja dentro do que já está sendo transmitido, exemplos: tecla

SAP/estéreo, legendas closed caption, multi-ângulo.

- ou a semelhança da internet, com home-banking, comércio

eletrônico, chat, email entre outros. Infelizmente, essa segunda opção,

que poderia ser outra opção de inclusão digital, depende dos atores que

foram excluídos de todas as negociações do SBTV, as empresas de

telecomunicações.

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O chamado “canal de retorno”, requisito fundamental da

interatividade completa, depende de sistemas complementares (telefonia

fixa ou móvel, cabo, Wi-Max) para permitir a bidirecionalidade, uma vez

que as emissões terrestres via antena são difusões massivas

unidirecionais.

É anacrônico discutir a tecnologia da TV Digital sem entender o

novo ecossistema tecno-sócio-cultural das mídias. Hoje, as rádio-

difusoras (rádio e televisão) detêm o poder do que vai ser transmitido

em suas antenas. Cremos que são modelos de negócio com interesses e

necessidades diferentes e, como nas difusões via web e celular, o mais

adequado seria separação dessas duas modalidades. O Operador de

Rede transmite, e cobra sobre, pacotes de bits. O Produtor de

Conteúdo se preocupa em lançar material de qualidade, não importa

para quais suportes, e busca outras formas de sustentabilidade (FNDC,

2007; Intervozes, 2007).

Para viabilizar a produção de conteúdos de qualidade é

fundamental garantir a autonomia financeira sem comprometer-se ética

e moralmente. Na nova economia, os modelos de negócio são:

- Publicidade (anúncios generalizados e/ou segmentados)

- Patrocínio (apoio de empresas / instituições / governo)

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- Fomento / projetos filantrópicos / doação.

- Tarifa / assinatura periódica (mensalidade).

- Imposto / contribuição percentual (exemplo BBC-UK).

- Pay-per-use / On demand.

- Produtos agregados / Parceiros de serviços (porcentagens).

- Reputação / Imagem Institucional.

Tanto a TV como o Rádio funcionam com distribuição de massa,

ou seja, visam grande audiência para financiar produtos caros. No novo

cenário, essas fronteiras começam a se dissipar.

O rádio, quando surgiu, comunicava de forma bidirecional. Ou

seja, assemelhava-se às rádios da Internet, que, por seu turno, com o

surgimento dos podcasts, hibridizam com a evolução dos registros

sonoros (gramofone, disco de vinil, CD e MP3).

Telefones celulares têm uma evolução constante da qualidade

das suas telas. No começo eram pequenos visores de leds alfanuméricos

que, de geração em geração, foram aumentando de tamanho (em

polegadas), de resolução (em pixel por polegada) e em quantidade de

cores. O mesmo vêm ocorrendo com MP3s players, telefones fixos e

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rádio digital que, por sua vez, recebe bits a distância e também poderá

exibir imagens. Então, como acomodar as “antigas mídias”?

“O desafio mais interessante e, talvez, mais

importante é o de representar a experiência subjetiva de

uma pessoa que vive em uma sociedade de dados. Se a

interação diária com volumes de dados e inúmeras

mensagens faz parte de nossa nova "subjetividade de

dados", como podemos representar essa experiência de

novas maneiras?” (MANOVICH, 2006).

Ë necessário distinguir o que é imperativo tecnológico do que é

apenas modelo mercadológico. O investimento em soluções mais

intuitivas, acessíveis e, portanto, mais inclusivas, como os traçados por

iPhone da Apple, Wii da Nintendo e Surface da Microsoft, nos parece a

abordagem mais construtiva. Bill Gates diz, em 2007, que tem como

objetivo ampliar seu alcance além do um bilhão de pessoas do planeta.

Pensando nas profundas contradições da Terra, na desigualdade de

oportunidades, na falta de condições mínimas de sobrevivência, nos

parece bastante difícil realizar esse tipo de proposta sem uma grande

mudança de mentalidade em todos os níveis.

Lembremos ainda das graves implicações éticas, que vêm sendo

debatidas há tempos, como a discussão da verdade no documentário e

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da objetividade no jornalismo, e são substancialmente ampliadas com a

ascensão das Tecnologias da Comunicação.

Se nas mídias não interativas a inferência se dava no nível do

sugestionamento, no mundo digital há uma tênue fronteira entre a

invasão consentida e o controle totalitário. Por baixo da camada visível

das comunicações humanas temos uma camada invisível de meta-

informações como perfis de comportamento, cookies e logs de acesso

processadas por bots, robôs que vasculham nossos rastros para

“oferecer” facilidades (BEIGUELMAN, 2005). O preço dessas facilidades é

assinar em uma folha em branco, ou assinar na folha que está por cima e

não observar que tem outra folha embaixo do papel carbono.

"Toda ferramenta de software traz embarcada

uma "interface cultural", no sentido em que a define Lev

Manovich, ou seja: apresenta uma gramática de ações que

estrutura, no espaço e no tempo, a experiência humana de

acesso à informação." (REIS, 2007)

Desta feita, a caixa preta de Flusser (2002), como apresentada

por Machado (2006), não é apenas um mistério, mas está imbricada nas

nossas vidas. Ou seja, não temos noção do funcionamento das máquinas

que nos cercam e nem de quão disseminadas elas já se encontram.

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É necessária uma profunda reflexão, interdisciplinar, muito

menos vinculada às adaptações das mídias existentes e muito mais

propositiva, de mídias radicalmente inovadoras com legislações e

modelos de negócios igualmente inovadores. E, sobretudo, é necessária

uma visão humanista da tecnologia, integrando a ciência e o social em

pé de igualdade. Será que é preciso que cada ser humano tenha o seu

carro e seu computador pessoal? Acreditamos que a tecnologia deve ser

vista sob a ótica da consciência planetária como proposta por Morin

(2002) e otimizada pelo compartilhamento de seus recursos como citado

por Levy (1997), Rheingold (2001) e Johnson (2003), entre outros.

Se pudéssemos descrever o fenômeno da disseminação da

tecnologia, cada vez mais entranhada em todas as situações da vida

cotidiana, talvez pudéssemos resgatar a imagem dos vírus biológicos,

que se multiplicam e se incorporam em outros ambientes. Dessa relação

simbiótica surge o “Cibionte” (ROSNAY, 2006), o híbrido ciber-homem.

"Os novos serviços de informação e entretenimento não estão à

espera da chegada da fibra ótica à casa das pessoas: estão à espera de

imaginação" (NEGROPONTE, 1995:35).

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capítulo: 10.emergência.

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Emergência tem duas principais acepções:

- Ato ou efeito de emergir, nascer ou aflorar.

- Urgência, necessidade imediata a uma situação crítica.

Então, atentemos aos objetivos urgentes. Como visto em

Gladwell (2002), um fator importante para a propagação da informação é

o potencial imediato de ação. Por isso, paradoxalmente, o urgente ficará

por último, em uma situação onde a mensagem deve apresentar maior

clareza e o leitor, próximo da conclusão, mais disposição para a ação. A

estratégia de implementação, a ambientação do contexto, é tão

importante quanto o conteúdo para a eficácia da proposta.

A teoria de que as grandes invenções são possíveis graças à

existência de gênios "ignora os esforços dispersos, comunitários, que

participam de todo importante avanço intelectual" (JOHNSON, 2003).

Johnson (2003) define sistemas emergentes como complexos

adaptativos do tipo bottom-up, formações massivas de baixo para cima,

diferente do top-down baseado em uma estrutura gerencial centralizada

de cima para baixo. Na emergência, "os agentes que residem em uma

escala começam a produzir comportamento que reside em uma escala

acima" (idem, ibidem: 14), ou seja, emergem.

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Dadas as condições necessárias, os mesmos padrões de

comportamento se verificam em bairros de cidades, colônias de formigas,

células cerebrais e comunidades virtuais. Urbanistas como Jacobs (apud

Johnson, 2003) criticam a falta de sensibilidade das ações arrasa-

quarteirão de requalificação de espaços. Soluções extremamente

tecnicistas acabam desconsiderando por completo a intrincada teia de

relações construídas cotidianamente.

Ainda segundo ele,

"sob a aparente desordem da velha cidade

existe, onde quer que a velha cidade funcione com

sucesso, uma maravilhosa ordem que mantém a segurança

das ruas e a liberdade da cidade. É uma ordem complexa.

Sua essência é a intimidade da calçada, trazendo consigo

uma constante sucessão de olhos".(idem,ibidem)

Acrescentemos então mais essa na conta da Sociedade do

Automóvel: perdemos os bons encontros nas calçadas, a rua enquanto

ambiente interativo fundamental para a construção da identidade cidadã.

É a proposta que encontramos no Projeto Cidade-Escola

Aprendiz, idealizado pelo jornalista Gilberto Dimenstein: a valorização dos

espaços públicos com acurada garimpagem das iniciativas sociais já

existentes, seja um teatro, uma escola ou uma banca de frutas.

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É exatamente o que Levy (1998) procura enfatizar: o foco nas

pessoas deve inspirar a tecnologia, não o contrário. Almeida (2005)

destaca que a tecnologia não é a solução da educação, e sim um

importante instrumento para o investimento nos recursos humanos –

formação, capacitação, inclusão social, cultural e política.

A Arquitetura, como exemplo transdisciplinar, utiliza conceitos

técnicos como mecânica dos solos, resistência dos materiais e cálculos

estruturais, mas em diálogo com as noções humanistas.

Levy (1998), Lessig (2005) e Lev Manovich (2002)

compartilham o pensamento de que na evolução do conhecimento é

necessário o livre fluxo das idéias pregressas.

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10.00. CONHECIMENTO.

Freire (1997) nos convoca ao futuro. Conhecimento não serve

para que aceitemos resignados nossa condição. O conhecimento

pertinente, responsável, sistêmico, amplia nossos horizontes e mostra

que uma outra realidade é possível.

Segundo Ludd (2005), o uso intensivo do automóvel é um

grande exemplo da utilização equivocada da tecnologia. O "Sistema

Automobilístico" é responsável por um milhão de mortos e feridos ao

ano, pela maior parte da poluição atmosférica, por boa parte das

poluições sonoras e visuais e pela ocupação de 25% do espaço urbano.

Oded Grajew (2007), idealizador do Fórum Social Mundial e do

Movimento Nossa São Paulo, por ocasião do lançamento da campanha

pelo Dia Mundial Sem Carro (22/9) comenta:

“A poluição causada pelos automóveis provoca, a

cada ano, quatro mil mortes adicionais, por problemas

respiratórios, na cidade. É como se caíssem, invisíveis,

vinte aviões da TAM sobre São Paulo”.

Aviões invisíveis nos lembram o velho ditado de que o pior cego

é o que não quer enxergar. O caos aéreo não é diferente do hospitalar,

dos choques de trens ou ônibus e das mortes lentas no silencioso

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acúmulo de toxinas do mundo moderno. A diferença das grandes

catástrofes é o choque das imagens da indignação da descoberta de que

até as classes mais abastadas estão expostas à irresponsabilidade

governamental. Contudo, qualquer descaso de governança é reflexo do

descaso da sociedade pela vida em coletivo. Quer dizer, é preciso

associar o fato ao conhecimento improcedente. Todos os sistemas

apresentam falhas, mas a adoção de procedimentos de avaliação

continuada e mecanismos que estabeleçam margens de segurança é

questão de vontade. Vontade política e vontade cidadã.

Morin (2002), Gore (2006), Santos (2006) e Capra (2005) nos

apontam as graves implicações da visão fragmentada da ciência. Em

oposição à ecologia do conhecimento seria o que podemos chamar de

"Conhecimento Míope", ou seja, imediatista, inconseqüente, localizado.

Sob esta abordagem, o custo ambiental dos carros, além de todos os

problemas expostos, ainda deve incluir os relacionados ao seu processo

de produção (energia, matéria-prima e dejetos), ao impacto da

asfaltização (gasto de energia, impermeabilização do solo, extração de

petróleo), à restrição das alternativas de transportes (coletivos e

bicicleta) e, uma das menos conscientizadas, ao alto impacto do descarte

do veículo (espaço físico e lentíssima biodegradabilidade). A esse item,

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recorremos ao estarrecedor documentário Surplus (2003) de Eric

Gandini, onde são mostrados depósitos de pneus do tamanho de

"Maracanãs". O lixo é um capítulo a parte. As produções humanas não

podem vislumbrar apenas a funcionalidade imediatista. Dentro de uma

visão holística, tudo que é transformado na natureza tem de apresentar

seu custo ambiental: extração/esgotamento, gasto energético / poluição

e espaço / tempo para lixo / reciclagem. Traduzido economicamente, em

forma de preço e/ou imposto ambiental, relativizar-se-ia bastante a atual

ânsia consumista.

Restringindo-se substancialmente o universo de possibilidades,

o próprio conceito de lixo seria alterado, uma vez que o grau de

descartabilidade seria outro. A produção e funcionalidade dos bens

materiais transformados teriam que ser recontextualizados, ou seja,

haveria um índice de interferência ambiental bem menos agressivo e os

produtos estariam sempre em fluxo de reciclagem.

Em Surplus nos é apresentado o pensamento de John Zerzan.

Segundo ele, só tem o "direito" de ser produzido e consumido o que tiver

condição de ser inteiramente reposto, ou seja, o que atender ao "dever"

da sustentabilidade. Radical para muitos, Zerzan prega o "Futuro

Primitivo", onde à espécie humana só se permitam ações não

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predatórias, eliminando completamente carros, propagandas e orgias de

consumo.

As engrenagens do capitalismo global e a visão fragmentada de

mundo criaram ciclos viciosos de propaganda-consumo, exploração-

acumulação, que privilegiam os valores materiais em detrimento aos

sociais e espirituais (ALTENFELDER, 2005).

Hoje, os três problemas ecológicos de mais fácil identificação

são conhecidos como os “3 C Mortais”:

Chainsaw (serras elétricas), Cars (Carros) e Cattle (Gado).

As Serras Elétricas têm sua função bastante clara: Cortar

Árvores. Desnecessário aprofundar todos os problemas acarretados:

Biodiversidade, Ciclo das Águas, Desertificação, Desequilíbrio Econômico,

Aquecimento Global entre outros.

A criação de gado, em especial o bovino, não vem sendo

tratada com a devida atenção. Desflorestamento para propagação de

pastagens, gasto energético elevado em relação à produção vegetal,

consumo de água e grãos muito alto, emissão de gases que agravam o

efeito estufa, tornaram o consumo de carne um dos mais graves

problemas ambientais da atualidade.

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Mas, sem dúvida, o grande emblema da irracionalidade

contemporânea é a prevalência dos automóveis nas sociedades

metropolitanas. O carro deixou de ser apenas um meio de transporte

para se tornar o maior símbolo de status no capitalismo, uma verdadeira

“prótese social”. Exemplo de individualismo dos tempos atuais, ocupa

espaço desnecessário, tem manutenção custosa, deteriora o ambiente

urbano e a qualidade das relações sociais, não se “auto move” sem a

queima de combustíveis fósseis, gera resíduos não recicláveis e,

sobretudo, mata milhares de pessoas por ano, sua maioria pedestres.

"Eu odeio o trânsito, mas preciso do carro para ir ao trabalho.

Eu odeio meu trabalho, mas tenho que pagar as despesas do carro." (LUDD, 2005:155)

Destaquemos que grande parte desses problemas está

diretamente relacionada a pequenas decisões que tomamos

cotidianamente. O banho mais curto, o óleo não jogado na pia, a pilha

não jogada no lixo, o carro na garagem, a luz apagada, a leitura na tela

do PC, a TV desligada sem standby, a fruta da quitanda e, sobremodo, a

compra necessária e consciente.

Morin (2001) procura despertar nossas consciências cósmica e

planetária e Freire (1997) apela-nos à responsabilidade do conhecimento

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pertinente. Uma ecologia do conhecimento demanda que o homem

entenda o planeta como ambiente de passagem e não de propriedade.

Amadeu (2004) cita a irracionalidade de se tratar o

conhecimento, um capital não escasso, fundamental para o

desenvolvimento humano e planetário, segundo as leis protecionistas do

mundo natural esgotável. No caso do uso (livre) do software livre, as

quatro condições básicas são: as de uso, cópia, modificações e

redistribuição. O acúmulo de propriedades está diretamente ligado às

fobias psicológicas e a um ambiente com baixo índice de vínculo social,

ou seja, falta de confiança. Se não confio na sociedade, compro para me

precaver. Se mantenho relações confiáveis, tenho certeza que terei

acesso ao que for necessário. Daí temos a importância da confiança e

capital social. O que seria da espécie humana se alguém houvesse

patenteado as letras do alfabeto?

Baseado no rol de Kollock (apud SPYER, 2007) de incentivos

sociais enquanto estímulo à participação em redes sociais, distinguimos a

reciprocidade, o prestígio, a ampliação do círculo social, a ação moral e o

trabalho comunitário.

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- A Reciprocidade opera como um saldo de ações prestadas.

Se você ajuda, também espera ajuda e vice-versa. De outro modo, é

difícil obter colaboração sem colaborar.

- O Prestígio é um ranking qualitativo difícil de ser mensurado,

mas importante. Depende da interpretação pela comunidade da

participação do usuário, e, como toda interpretação, subjetiva e

temporal. Alguns sites, como Overmundo

(http://www.overmundo.com.br), por exemplo, operam com avaliação de

pontos, votos ou estrelas. Mesmo assim, consideramos se tratar de um

recorte dentro de uma grande gama de possibilidades. O Prestígio pode

se dar em relação a critérios estéticos, literários, científicos, psicológicos,

técnicos, sociais entre outros. O reconhecimento dos pares em cada uma

dessas áreas promove aumento significativo de capital social. Como

parametrizar avaliações individuais tão variadas em um contexto

coletivo? Por isso alguns sistemas empregam o veredicto binário gostei /

não gostei, para, ao menos, mensurar a aceitação do participante.

- A Ampliação do Círculo Social, assim como no mundo

físico, acontece pela disposição voluntária de se adentrar uma

comunidade por intermédio de colaborações espontâneas que visam o

reconhecimento pelos membros existentes. Além do conteúdo pertinente,

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é importante destacar a adequação formal das intervenções. A chamada

Netiqueta recomenda que se navegue pela comunidade recolhendo

informações sobre os assuntos e participantes a fim de não repetir

assuntos já tratados e/ou cometer outras inadequações.

- A Ação Moral está vinculada a sensação psíquica de

realização em doar sua atenção e/ou ação para construir algo ou ajudar

alguém. No ambiente digital, o ato de se compartilhar o que já se tem é

tornado muito fácil a um custo praticamente inexistente.

- O Trabalho Comunitário foi acrescentado à lista de Kollock

porque entendemos que a construção coletiva do conhecimento é um

dos incentivos sociais basilares da nova era digital. Quando contribuímos

para a melhoria de sistemas como a Wikipedia (http://wikipedia.org) ou

Softwares Livres estamos demandando poucos recursos e obtendo

inúmeros benefícios, tanto a nível coletivo quanto individual (LEVY, 2001;

SPYER, 2003; TAPSCOTT & WILLIANS, 2007)

Ludd (2005) nos reporta à experiência de formação de um

coletivo inteligente, a Massa Crítica de S.Francisco em 92. O movimento

que deu origem às "Bicicletadas" atuais foi iniciado usando o boca-a-boca

e o impacto visual de grupos massivos de ciclistas circulando pelas ruas.

Na época, a mídia tática complementar foi a da "xerocracia", na verdade

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o uso intensivo de panfletos, folders, zines, flyers e adesivos.

Atualmente, a estratégia digital, com uso de mensagens por internet e

celular, potencializou as ações de swarm (enxame) nos chamados smart

mobs, com a vantagem de não gerar lixo em papel.

Vivemos uma abundância de informações como nunca antes na

história (Wurman, Castells, Levy, Negroponte, Machado).

Paradoxalmente, o que aparenta ser uma evolução inequívoca, o

excesso, pode ser tão paralisante quanto a escassez. Borges, o visionário

escritor cego, nos conta que se perder num deserto sem o menor

referencial pode ser tão angustiante quanto o mais intrincado labirinto de

espelhos. Conta-nos ainda que, na sua Biblioteca de Babel, que detinha

todo o conhecimento do mundo, encontrar o que se desejava era tarefa

impossível. Não é surpresa que, na aurora do terceiro milênio, o mais

popular dos sítios virtuais seja um buscador de informações.

O sucesso dos buscadores e sítios de comunidades virtuais

revela que o que se objetiva exatamente são os referenciais, sem os

quais qualquer navegação torna-se impossível. Quando a estrutura não é

clara, legível ou inteligível ao navegante, resta-lhe apenas, como no

deserto, apelar a forças superiores.

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Forças superiores já foram predominantemente religiosas,

míticas. Já foram forças da natureza: Sol, Lua, estrelas, raios, mar,

vento, petróleo. Já foram também big brothers de governos totalitários,

celebridades do star system, gênios da publicidade e magnatas da mídia.

Já foram drogas alienantes ou visionárias. Ainda o são. Mas, pela

primeira vez nos últimos séculos, emerge um outro tipo de força

superior, vinda dos níveis inferiores. Os sistemas de rede, a estrutura

informacional devidamente organizada, possibilitam que ações humanas

grandiosas possam ser construídas a partir de pequenas interações.

Sistematizando, as condições fundamentais para propagações

epidêmicas virais são: ecossistema de conhecimentos, emergência de

idéia, identificação, memória, capital social, fator de fixação e replicação.

"A cartografia da inteligência coletiva seria a

fotografia do ecossistema de idéias de um grupo ou

comunidade. No entanto, da mesma forma que a

inteligência individual requer certas condições para fluir

como, por exemplo, a saúde física, a criação familiar, a

situação afetiva, também a inteligência coletiva deve

requerer outras condições para afluir entre os indivíduos.

No caso da inteligência coletiva, como sugere Pierre Lévy,

essas condições poderiam ser dadas pela situação do

capital social, cultural e tecnológico de uma coletividade

(COSTA, 2004)".

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Dentro de um ambiente com adequação de conhecimentos

(CAPRA; SPYER; LEVY; TAPSCOTT & WILLIANS), a idéia adequada

emergirá (JOHNSON), com alto poder de convencimento (fixação) e

replicação (GLADWELL; BEIGUELMAN).

Mas para tal é necessário que a idéia possua identificação. "a

revolução que mais acelerou as telecomunicações entre os seres

humanos foi a idéia de numerar as páginas dos livros (TAS, 2007)". Sem

o “nome” como referenciar algo, ou sem linguagem como pensar?

“(...) sem a memória de nosso percurso, que é nossa historia

cognitiva, como poderemos ensinar a aprender (ALMEIDA, 2001)?”

Casalegno (2006) reforça que a memória coletiva é essencial para a

construção dos vínculos sociais, que são a base do capital social.

Redes sociais operacionais fazem os conteúdos fluírem com

rapidez e eficácia (LEVY; GLADWELL, SPYER).

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10.01. ECOLOGIA DO CONHECIMENTO.

"É pela memória que se puxam os fios da

história. Ela envolve a lembrança e o esquecimento, a

obsessão e a amnésia, o sofrimento e o deslumbramento.

(...) Sim, a memória é o segredo da história, do modo pelo

qual se articulam presente e o passado, o indivíduo e a

coletividade. O que parecia esquecido e perdido logo se

revela presente, vivo, indispensável. Na memória

escondem-se segredos e significados inócuos e

indispensáveis, prosaicos e memoráveis, aterradores e

deslumbrantes." Octávio Ianni (1988).

Nosso planeta, Terra de contradições e desigualdades, onde

metade da população consome recursos em excesso, sofrendo de

obesidade, e a outra não tem condições mínimas de sobrevivência, tem

fome, é a prova cabal de que estamos realmente à deriva de todo o

conhecimento que a espécie humana conseguiu produzir. Por que tudo

isto não tem refletido uma sociedade mais eficiente, uma convivência

mais ética, uma existência sustentável? Como decodificar, assimilar e

tornar produtivo todo esse potencial de conhecimentos?

Paulo Freire não vivenciou toda a revolução proporcionada pela

Internet, mas suas idéias continuam sendo inovadoras.

"As idéias de Paulo Freire tornam-se atuais, pois

o seu modelo pedagógico, a sua visão do processo de

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aprendizado é sustentada exatamente por esse tripé:

interatividade, comunidade e informalidade. (..) ele não

está dizendo que esta ou aquela ferramenta vai criar um

novo tipo de educação. Ele insiste numa idéia muito mais

difícil de realizar: a de que somente a transformação nas

relações de poder entre quem "ensina" e quem "aprende"

será possível criar uma interatividade (ou seja, diálogo)

autêntico (SCHWARTZ, 2003)."

As novas tecnologias digitais proporcionam uma nova gama de

possibilidades e, portanto, requisitam a criação de modelos

comunicacionais inteiramente novos, não meras adaptações do existente.

A hibridização e a convergência são tamanhas que se torna tarefa difícil

identificar onde acaba uma mídia e onde começa outra. São sistemas

complexos, dinâmicos, de componentes conectados, múltiplos.

A economia imaterial, não baseada nos recursos naturais e no

industrial físico instalado, possibilita um rápido crescimento lastreado no

maior bem da humanidade: o conhecimento.

Em virtude da evolução tecnológica e globalização temos um

quadro que anuncia profundas alterações nos cenários tradicionais da

estrutura econômica mundial. Nesse contexto, aplicado ao universo da

formação universitária em comunicação, é necessário identificar como se

reconfiguram o Capital, o Trabalho, a Mídia.

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"Os termos para designar o que está

acontecendo com o trabalho revelam a profundidade das

transformações: Alvin Toffler acha que vamos para o

trabalho intelectual, embalados na terceira onda, Domenico

De Masi nos acena com um agradável ócio ativo, Manuel

Castells mostra as perspectivas do trabalho em rede, Pierre

Lévy aponta para um universo coletivo de inteligência

compartilhada, Guy Aznar aponta para menos trabalho,

Jeremy Rifkin para o seu fim." [DOWBOR, 2001]

Passa-se então a uma mensuração de valores ditos

"Intangíveis", adaptados a esta nova realidade. Além da conhecida

avaliação material, também começam a ser identificados como

propriedades vantajosas os Capitais de Relacionamento, Organizacional e

Humano. O Capital de Relacionamento se aplica à estrutura externa das

instituições: à Marca, à interação com o Mercado e Clientes. O Capital

Organizacional (Estrutural) se aplica à estrutura interna das instituições:

à Gestão e "Expertise" da organização. O Capital Humano se remete às

Competências Pessoais e Coletivas, incluindo-se aí Conhecimentos e

Capacidades Sociais.

Nesse quadro, o Trabalho vem sofrendo profundas

modificações. As empresas são altamente especializadas e há um

acentuamento de relações cascateadas, inter-organizações em oposição

às tradicionais hierarquias internas. Todos se encaixam nos perfis

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clientes-patrão ou fornecedor-consumidor, seja de bens materiais quanto

imateriais, como, por exemplo, a grande demanda de serviços enquanto

produto. O foco é a conectividade e a terceirização. O trabalhador ou se

encaixa nas empresas detentoras de Capital ou, na outra ponta, é

terceirizado, trabalhando de modo informal, sem vínculos empresariais.

Cada vez mais é necessário que cada um tenha a possibilidade de ser

sua própria empresa. Há uma crescente flexibilização dos vínculos

empregatícios (trabalho sob demanda), do lugar de produção (em casa,

conectado), das formas e valores das remunerações, da avaliação (por

metas em vez de tempo de jornada de trabalho) entre outras.

" Áreas como as finanças, a comunicação e a informação se

globalizam, como se globaliza a nova geração de atividades

"nobres", o design, o marketing, a publicidade, a advocacia, o

management e outros setores que hoje frequentemente compõem

três quartos do valor do produto que compramos (DOWBOR,

2001).”

É importante ressaltar esse atributo antropofágico da produção

de conhecimento e conseqüentemente da evolução midiática.

"A nova política será uma política cultural, que (...) acontece

predominantemente no espaço dos meios de comunicação e tem

como armas os símbolos, mas, não obstante, permanece ligada

aos valores e questões que nascem das experiências de vida das

pessoas (CASTELLS apud CAPRA, 2005:230).”

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10.10. COLABORAÇÃO

"Mídia Cidadã (citizen media em inglês);

Jornalismo Cidadão, Jornalismo Participativo ou Jornalismo

Colaborativo, são todos, ao fim e a cabo, maneiras de

produzir conteúdos (imagem, texto, som) sobre questões

que interessam à coletividade, a partir da iniciativa

voluntária de cidadãos comuns, com ou sem a colaboração

com jornalistas profissionais. (...) A internet é implacável

diante do imobilismo, da repetição. Estamos convencidos,

sem exagero, de que podemos cumprir um papel relevante

para a cidadania, ajudando a construir a opinião pública."

(MARKUN, 2007)

Os exemplos são diversos, estão na íntegra na versão on-line. O

coLab, ou colaboratório de tecnologias sociais, foi idealizado pelo

pesquisador e professor de multimeios Sergio Bicudo, coordenador da

TVPUC interativa, para ser uma rede de inteligência coletiva para

pesquisa, implementação e divulgação de tecnologia voltada ao social.

Iniciada em março de 2007, integra cerca de 80 colaboradores,

entre alunos de graduação, pesquisadores e produtores de mídia, da

PUC-SP em sua maioria. É mantido pela TVPUC São Paulo, dirigida por

Julio Wainer, professor de vídeo do curso de jornalismo e um dos

pioneiros na produção de mídia comunitária no Brasil. Conta ainda, no

seu núcleo principal, com a colaboração de Roberto Morales, webmaster,

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e Danilo Lopes, Jonas Falasco, Micael Bretas, Thiago Masci, Américo

Fazio, Marcelo Claro e Fernando Werneck.

Dados os princípios gerais, os meios delimitados e os fins

compartilhados, começamos então a planejar a estratégia de ação.

Estamos na PUC-SP, uma universidade comunitária e filantrópica, com

hospital, clínica psicológica, trabalhos comunitários, reabilitação de

deficientes auditivos, vinte mil alunos, duzentos núcleos de pesquisa e

duzentos mil ex-alunos. Ou seja, um vasto capital intelectual e social a

ser operacionalizado para um efetivo aproveitamento.

Cremos em um modelo de educação ampliada, que contemple

redes sociais em vários níveis, educação a distância, biblioteca virtual,

videoblogs, pesquisa e extensão. O atual coLab é um protótipo em

código aberto (Linux, Apache, PHP, MySql, PHP e Wordpress), com o

recorte do uso das mídias, no caso um mídia-blog (BEIGUELMAN, 2005)

para fins sociais. Assim sendo, além do conhecimento colaborativo,

funciona também como ambiente de incubação de projetos, divulgação

de eventos e banco de mídias em creative commons. Até agosto de

2007, contabilizávamos 71 projetos, 88 entidades cadastradas e 34

produções audiovisuais entre vídeos, animações, áudio podcast e

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hipermídias em flash. Nesse universo, constatamos seis áreas

prioritárias:

. Mídia Cidadã / Comunitária, Rede Social, Comunidade Virtual.

. Voluntariado, Ação, Atitude, Movimento, Mob.

. Educação, Informação, Conhecimento.

. Direitos, Paz, Justiça, Política, Cidadania.

. Urbanismo, Ambiente, Ecologia, Saúde, Energia, Lixo.

. Sustentabilidade, Consumo, Globalização, Desenvolvimento.

Emergiram então, da interação coletiva, algumas organizações

que estão sendo investigadas prioritariamente e se consolidando em

parcerias de pesquisa e projetos:

- Cidade do Conhecimento: Núcleo de pesquisa da USP,

idealizado por Gilson Schwartz, atua em campos relacionados a

tecnologias de informação e comunicação e redes digitais aplicadas a

projetos de natureza educacional, social, econômica, geopolítica e

biopolítica. Parceria consolidada para projetos sociais e educacionais

usando IPTV, celular, web e second life.

- Movimento Nossa São Paulo Outra Cidade: liderado por

Oded Grajew, conhecido por sua atuação junto ao Fórum Social Mundial,

Fundação Abrinq, e Institutos Ethos e São Paulo Sustentável, propõe

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uma coalizão apartidária, inter-religiosa, unindo sociedade civil, empresas

e governo, a fim de reverter os baixos índices de desenvolvimento

humano da cidade de S.Paulo.

- Secretaria do Verde e Meio Ambiente de SP: gerida por

Eduardo Jorge, vem implementando vários projetos como ciclovias,

plantio de arvores, parques, entre outros.

- IEE: o Instituto de Estudos Especiais (PUC-SP, 2007) busca a

difusão do conhecimento produzido na universidade para a

implementação de políticas públicas e programas sociais.

- NTC (PUC-SP, 2007): Núcleo Trabalhos Comunitários visa a

formação de agentes e mídias voltadas a inclusão social e cidadania.

- NEPE (PUC-SP, 2007): o núcleo pesquisa e implementa

projetos relativos ao campo do Envelhecimento.

- PUC Junior (2007): é uma associação civil sem fins

lucrativos, prestadora de serviços de consultoria; integrada por alunos da

FEA-PUCSP. Destacam-se os projetos sociais como o Trote Solidário.

[http://www.pucjunior.com.br ]

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- Ecos: Grupo de Estudos e Pesquisas Ambientais [PUC-SP]:

liderado pelo professor doutor Mauricio Broinizi.

- Projeto Aprendiz: idealizado pelo jornalista Gilberto

Dimenstein, realiza projetos da linha da cidadania, educação, inclusão,

arte e tecnologia. Instalado no bairro da V.Madalena, desenvolve e aplica

um método próprio baseado no conceito de bairro-escola.

TV Cultura: TV pública referencial no Brasil, procura rever seus

modelos de gestão na nova concepção de Paulo Markun, Fernando

Almeida e Fernando Moraes. A PUC-SP participa da programação do

Projeto Campus com produções acadêmicas e aguarda as iniciativas da

abertura de site 2.0 e canal voltado à educação no novo espectro

digitalizado.

Overmundo: Rede Social cultural, idealizada por Hermano

Vianna. Incorpora varias inovações colaborativas.

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10.11. URGENTE: CONSIDERAÇÕES EMERGENTES!

EPITÁFIO (Sérgio Britto – Titãs)

“Devia ter amado mais, ter chorado mais. Ter visto o sol nascer.

Devia ter arriscado mais e até errado mais. Ter feito o que eu queria fazer.

Queria ter aceitado as pessoas como elas são. Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.

Devia ter complicado menos, trabalhado menos. Ter visto o sol se pôr.

Devia ter me importado menos com problemas pequenos. Ter morrido de amor.

Queria ter aceitado a vida como ela é. A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.”

Primeiro o mais importante. O Homem é o único animal que tem

consciência da sua morte. Mas, por isso mesmo, é o único que pode

escolher seu destino em vida. Os animais ditos irracionais percorrem sua

existência satisfazendo seu ciclo de necessidades de nível fisiológico.

Apesar de parecer pouco, para metade da população do planeta já seria

uma evolução fantástica.

Vimos que fazemos parte de um complexo ecossistema

biológico, cultural, social e econômico. A herança do século XX foi um

alto grau de especialização nos pequenos fragmentos do conhecimento.

Essa especialização proporcionou pequenas soluções e grandes

problemas. Percebemos, então, que não é possível equacionar apenas o

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próprio microcosmo se o macro está em situação de risco. O micro é

tragado pela espiral danosa.

Vimos também que o ambiente cognitivo do ser humano, por

abarcar uma crescente quantidade de informações, tende a criar uma

demanda de soluções urgentes e imediatistas. Observando sistemas

emergentes, como os das formigas, enxergamos alternativas para uma

atuação mais inclusiva, como por exemplo, a representada pela máxima:

“Pense globalmente, aja localmente”.

O “pensar” envolve uma série de processos que partem da

interação sujeito-mundo. O “agir”, uma operacionalidade estratégica.

Nossa contribuição a fim de efetivar a ação é:

“Veja o complexo, faça o simples”.

"Some men see things as they are and ask "Why"?

I dream things that never were and ask, "Why Not"?"

Robert F. Kennedy, 1968

Nos 60, tínhamos um quadro de mudanças comportamentais e

políticas profundas. No início do século XXI, temos uma oportunidade

estrutural que permite o livre fluxo de idéias, um meio ambiente cultural

que possibilita efetivas ações mobilizadoras. Quarenta anos depois:

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“Alguns vêem o real e perguntam por quê?

Eu vejo o virtual e pergunto por que não?”

Morin, Freire, Capra, Gadotti, Almeida e tantos outros nos

lembram da incompletude do conhecimento humano.

“Este texto terminará incompleto. Indicarei as lacunas

de que tenho consciência, as questões em que permaneci nas

preliminares, os domínios em que minha informação me

parece demasiadamente incerta. Indicarei o que a meu ver

deve ser verificado, mais bem refletido, retomado.

Uma pressa tardia levou-me (...) a avançar a redação

final deste livro. Eu devia/podia tê-lo feito antes se tivesse

conseguido vencer tantos acasos, dificuldades, problemas,

tormentos, dores, alegrias, delícias e delírios de minha vida.

Deveria/poderia tê-lo feito mais tarde se não me tivesse vindo

essa tardia impaciência." (MORIN, 2005:39)

Admitiremos então, humildemente, nossas limitações e

existências transitórias, mas nem por isso deixaremos de dar importância

aos nossos pequenos atos.

Dados os números atuais e projeções futuras dos indicadores

econômicos, sociais, ambientais, enfim de desenvolvimento humano e

planetário, torna-se urgente propor medidas efetivas que possam

amenizar e reverter tais tendências.

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http://tv.pucsp.br/colab/category/pro/ecolog/emerg/ .. urgencia

139

Aproveito a Emergência, para documentar o que aflorou das

relações do passado, das interações de idéias, autores e colaboradores

que nos confrontaram.

Aproveito a Emergência para invocar a importância do tempo

presente, ao que está emergindo agora e nem sempre tem nossa

atenção ou oportunidade de surgir.

Aproveito a Emergência para falar do que é Urgente, do que é

imprescindível para o nosso futuro.

Considero que este trabalho atingiu sua finalidade, mas não

chegou ao seu fim. Penso que das palavras emergirão atos que, por sua

vez, multiplicarão mais palavras e atos para, quem sabe, iniciar um novo

ciclo virtuoso. Com clareza dos fins e respeito aos princípios.

Ninguém passa no mesmo rio duas vezes. O pensamento se

recicla. A versão em PDF e ODF dessa tese pode ser encontrada na

http://pucsp.br/biblioteca e http://www.bictv.com/colab. A versão hiper-

tese colaborativa continua evoluindo em:

http://www.tvpuc.com.br/colab/category/pro/ecolog/

Colaboremos ... “Go to frame 1.”

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bibliografia.

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