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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC - SP
JUAN ANDRÉS HIDALGO LORA, CMF
Pastoral da Juventude: Análise atual da Acolhida e do Acompanhamento
de Grupos de Jovens Católicos na República Dominicana
MESTRADO EM TEOLOGIA PRÁTICA
São Paulo
2010
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO
PAULO PUC - SP
JUAN ANDRÉS HIDALGO LORA, CMF
Pastoral da Juventude: Análise Atual da Acolhida e do
Acompanhamento de Grupos de Jovens Católicos na República
Dominicana
MESTRADO EM TEOLOGIA PRÁTICA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para a obtenção do título de
MESTRE em Teologia Prática, sob a
orientação do Cônego Doutor. Sérgio
Conrado.
SÃO PAULO
2010
BANCA EXAMINADORA
-----------------------------
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-----------------------------
DEDICATÓRIA
Aos jovens que destinam seu potencial transformador e assumem com
valentia o protagonismo de sua história pessoal e social na vida comunitária.
A todos os homens e as mulheres que, com presteza e ousadia, apostam na
vida dos jovens, comprometendo-se com uma pastoral de acolhida e
acompanhamento que lhes proporcione reconhecimento e dignidade.
Às famílias e instituições, religiosas e civis, que não medem esforços no
objetivo de redimensionar valores que qualifiquem a vida do ser humano e, em
especial, da juventude.
AGRADECIMENTOS
Ao Deus da vida que constantemente nos impulsiona a transcender para além
de nós e em direção ao outro; motiva a totalidade da vida pela sabedoria com que
criou todas as coisas e nos dá a capacidade de conhecer parte de seu mistério
escondido em cada ser humano.
A meus pais, irmãos e familiares que, em sua simplicidade, souberam educar-
me, acolher-me, acompanhar-me e transmitir-me valores que se perpetuam na minha
vida e missão.
Aos grandes amigos padres, Luís Erlin Gomes Gordo, CMF, Demuel Tavares
Rosa, CMF, e Agustin Guzmán, MSC, por também me ajudarem a experimentar a
“comunhão e missão com a Juventude” que se fez objeto de pesquisa neste trabalho.
Aos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos) nas
pessoas do Superior Provincial, Padre Oswair Chiosini, CMF, da Província do Brasil
e do Superior Maior da Delegação Independente das Antilhas, Padre Héctor
Cuadrado, CMF, por me terem recebido desde a juventude na Congregação, na qual
cresci na experiência religiosa e que me ofereceram um ideal de vida, abraçado por
mim até hoje, como inspirador de meu caminho.
Às pessoas que me ajudaram diretamente: Padre Pedro Divino de Vilas Boas,
CMF; Padre Luís Erlin, CMF; Padre Helmo César Faccioli, CMF; Adelino Dias
Coelho; Diego Alex Sczcerpanik; Cristian de la Cruz e Andreina Hidalgo Lora, que
com amor e paciência colaboraram diretamente na elaboração desta dissertação.
Ao meu orientador, Professor Cônego Doutor Sérgio Conrado, por seu
incentivo, paciente orientação e sabedoria da qual me enriqueci a cada encontro que
tive.
Aos seminaristas claretianos das Antilhas que voluntariamente participaram
da pesquisa e contribuíram com suas experiências de vida para meus estudos e
reflexões sobre a complexidade da experiência religiosa e suas manifestações através
da acolhida aos jovens.
Aos colegas do grupo de Mestrado, que de modo especial enriqueceram esta
minha caminhada com sua vida e amizade.
A meus velhos amigos da República Dominicana, México, Porto Rico, Cuba,
Guatemala e Haiti, por compreenderem as razões de minha ausência.
Aos amigos brasileiros, que me acolheram como a um membro da família.
Aos funcionários da Faculdade Nossa Senhora da Assunção que zelaram para
nos proporcionar um ambiente agradável e funcional.
E ainda a muitas outras pessoas cujo nome não dá para nomear aqui, mas
pelas quais tenho grande admiração. A todos, meu muito obrigado!
RESUMO
Esta dissertação é inspirada na constatação do universal afastamento da
juventude das igrejas católicas. Novas estruturas e as incontestáveis realidades do
mundo pós-moderno, sobretudo multitecnológico, exigem revisão de sua pastoral em
relação ao mundo jovem, o abandono de estruturas arcaicas, em busca do novo
evangélico. Para uma possível solução, é preciso conhecer antes o mundo da juventude,
com suas aspirações, sonhos e dificuldades para atingir seu ideal de vida. O jovem é por
natureza rico em emoções, abertura, busca de companheirismo. Ora aqui cabe a missão
das religiões em geral que podem levar os jovens a descobrirem a senda luminosa do
espírito. Com base em especialistas no estudo dessa crise e em pesquisa, especialmente
montada para este fim, realizada numa paróquia da República Dominicana, como
amostragem, são propostos a acolhida fraterna e o posterior acompanhamento dos
jovens como possível solução desse impasse. Seus elementos constitutivos, o
aprofundamento de sua psicologia agregacional podem ajudar os jovens a refletirem
sobre sua dignidade de filhos de Deus.
PALAVRAS CHAVES. Juventude: grupos da República Dominicana, Pastoral da
Juventude, acolhida e acompanhamento.
ABSTRACT
S
This dissertation is based on the worldwide evident withdrawal of the youths
from the catholic churches. The new structures and the unquestionable realities of the
post-modern world, mainly the multitechnological world, demand a review of their
pastoral regarding the youths, forsaking archaic structures while searching for the new
evangelical. First we need to know the world of the youths, their aspirations, dreams
and difficulties to reach their goals in life. The youths are innately full of emotions,
open-minded and long for comradeship. Here is where religions in general have the
mission to make them discover the shining path of the soul. Based on experts who have
studied this crisis and supported by researches carried out in a parish of the Dominican
Republic as a sample, we propose a brotherly welcome and a subsequent follow-up
programme for the youths as a possible solution for this impasse. The awareness of their
constituting elements and the deep study of their aggregative psychology can help the
youths to ponder upon their dignity as sons of God.
Key words
Youth: groups of the Dominican Republic – Youth pastoral – Welcome –
Comradeship.
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................................14
CAPÍTULO I
PERFIL DA JUVENTUDE
1. Conceitos.....................................................................................................................16
1.1. Definindo termos......................................................................................................16
1.1.1. Visão biocronológica.................................................................................17
1.1.2. Visão psicológica.......................................................................................17
1.1.3. Visão sociológica.......................................................................................18
1.1.4. Visão cultural simbólica............................................................................19
2. Aspectos Específicos ..................................................................................................20
3. Contexto Socioeconômico..........................................................................................23
3.1. Desemprego generalizado.........................................................................................23
3.2. Imigração..................................................................................................................25
3.3. Distância entre ricos e pobres...................................................................................26
3.4. Violência...................................................................................................................27
3.5. Tráfico de drogas......................................................................................................30
3.6. Falta de escolaridade................................................................................................31
4. Papel Da Igreja...........................................................................................................33
4.1. Escolas e Universidades Católicas...........................................................................34
4.2. Ação Católica...........................................................................................................34
4.3. Os Movimentos da Ação Católica Especializada.....................................................35
4.4. Os Movimentos de Encontros...................................................................................35
4.5. Os Movimentos Internacionais.................................................................................36
4.6. O Conselho Episcopal Latino – Americano e a Pastoral da Juventude....................36
4.7. A Pastoral da Juventude Orgânica............................................................................36
5. Novos Sinais................................................................................................................37
5.1. Inserção na família....................................................................................................37
5.2. Solidariedade com os que sofrem.............................................................................38
6. Cuidados da Hierarquia............................................................................................38
6.1. Objetivos da Igreja da República Dominicana.........................................................39
6.2. Protagonistas da evangelização................................................................................40
6.3. Integração dos jovens...............................................................................................40
7. O Novo Mundo...........................................................................................................41
8. Novos Modelos...........................................................................................................41
CAPÍTULO II
ACOLHIDA DA JUVENTUDE COMO CAMINHO
1. Protagonismo e Acolhida. Conceitos........................................................................45
1.1. Visão antropológica..................................................................................................45
1.2. Visão bíblica.............................................................................................................46
1.3. Visão pastoral...........................................................................................................47
1.4. Visão eclesiológica...................................................................................................48
2. Perfil do Jovem Dominicano.....................................................................................51
3. Posicionamento da Igreja Católica..........................................................................51
4. Fatores de Acolhimento da Juventude.....................................................................54
4.1. Acolhida e identidade...............................................................................................55
4.2. Contravalores............................................................................................................56
4.3. Eventos e Programações...........................................................................................57
4.4. Compreensão da fé...................................................................................................59
5. Jesus: Modelo de Acolhida........................................................................................61
5.1. Os encontros circunstanciais....................................................................................64
5.2. Os encontros formativos...........................................................................................64
5.3. Encontros pessoais....................................................................................................65
5.4. Seguimento dos exemplos de Jesus..........................................................................65
CAPÍTULO III
PASTORAL DA JUVENTUDE E ACOMPANHAMENTO
1. História da Acolhida de um Jovem..........................................................................68
2. O Termo Acompanhamento Aplicado
à Pastoral da Juventude........................................................................71
2.1. Importância da continuidade....................................................................................72
2.1. Amplitude do acompanhamento...............................................................................73
2.3. O Espírito Santo como amigo fiel............................................................................73
3. Atitudes Básicas para o Acompanhamento.......................................................................75
3.1. Acolhida..............................................................................................................76
3.2. Escuta cordial e atenta........................................................................................77
3.3. Partilha da vida...................................................................................................78
3.4. Atitudes do acompanhante .................................................................................80
4. Os Jovens Líderes......................................................................................................81
4.1. Desvios das lideranças..............................................................................................82
4.2. Protagonismo positivo..............................................................................................83
4.2.1. Corresponsabilidade...................................................................................83
4.2.2. O jovem coordena......................................................................................84
4.2.3. Ficar em segundo plano.............................................................................85
4.2.4. Policiar-se constantemente........................................................................86
4.2.5. Deixar errar................................................................................................87
5. Minha Experiência Pastoral como Coordenador da Juventude.....................87
Conclusão..................................................................................................................9I
ANEXOS
ANEXO I: Esclarecimento para a pesquisa..........................................................94
ANEXO II: Pesquisa de campo..............................................................................96
ANEXO III: Sexo.....................................................................................................99
ANEXO IV: Você se sente feliz? – Estado civil dos pais......................................99
ANEXO V: Para o futuro......................................................................................100
ANEXO VI: Situação social e segurança pública...............................................100
ANEXO VII: Assassínios......................................................................................101
ANEXO VIII: Uso de drogas................................................................................101
ANEXO IX: Escolaridade – Casa própria..........................................................102
ANEXO X: Relação do pároco com o grupo.......................................................102
ANEXO XI: Imagem do pároco...........................................................................103
ANEXO XII: Lideranças das pastorais...............................................................103
ANEXO XIII: Perguntas sobre o grupo de jovens.............................................104
ANEXO XIV: Motivo de participação.................................................................104
ANEXO XV: Crescimento em grupo...................................................................105
ANEXO XVI: Relação do líder com o grupo......................................................105
ANEXO XVII: Qualidades do líder.....................................................................106
BIBLIOGRAFIA...................................................................................................107
INTRODUÇÃO
Nesta dissertação quisemos analisar alguns dos muitos problemas que dificultam
a aproximação do jovem da República Dominicana à Pastoral da Juventude da Igreja
Católica. Para isso, pretendemos encontrar caminhos e princípios que possam fortalecer
a Pastoral da Juventude da República Dominicana visando à promoção da vida desses
jovens.
Pretendemos refletir sobre a realidade dos jovens dominicanos que vivem à
beira do caminho, mendigando seus direitos fundamentais como trabalho e educação e
formação profissional, enfim, um futuro digno. Para isso, visamos mudar nosso olhar e
nossa atitude para que a juventude seja acolhida, apesar de todas suas limitações e
enganos. Surge então a necessidade de um acompanhamento da juventude para que
tenha mais elementos para o seu amadurecimento e para a hora de fazer as opções
duradouras de sua vida. Precisamos aprofundar e valorizar o “ministério do
acompanhamento” dentro da Igreja. Formar “assessores” capazes de identificar o
processo de crescimento e a vontade de Deus na vida dos jovens. Dessa maneira, a
acolhida e o acompanhamento, junto com alguns instrumentos práticos, possam ser
caminhos seguros para que a opção do jovem seja afetiva e efetiva.
Buscamos refletir o tema, analisando em três capítulos, o perfil da juventude, a
acolhida e o acompanhamento como caminhos possíveis para a obtenção desse objetivo.
Além disso, nos debruçamos sobre o contexto socioeconômico: desemprego
generalizado, migração, distanciamento entre ricos e pobres, violência, tráfico de drogas
e falta de escolaridade. Diante de tudo isso, qual o papel da Igreja?
A metodologia utilizada foi a do estudo bibliográfico de autores especializados
em Pastoral da Juventude, em Sociologia, em Psicologia, em Antropologia. Consulta a
documentos do Magistério da Igreja. Além disso, três momentos fundamentais que
procuram respondem ao método ver, julgar e agir. Utilizamos dados de pesquisa de
campo atinente à área, sites sobre a realidade dominicana e nossa experiência pessoal de
mais de doze anos na Pastoral da Juventude. É fundamental perceber que o método,
mais que uma ferramenta, é uma maneira de viver a fé, a missão evangelizadora, enfim,
uma espiritualidade.
No primeiro capítulo, descrevemos o desenvolvimento, o comportamento, o
perfil da juventude em geral e seis grupos de jovens da paróquia San José da Bomba de
Cenoví, da República Dominicana. Também analisamos algumas de suas necessidades
mais urgentes, suas carências e como a Igreja Católica vem se comportando diante de
tal situação.
No segundo capítulo demonstramos a preocupação da Igreja com a acolhida aos
jovens e seu desenvolvimento dentro e fora dela; seu protagonismo sob a visão
antropológica, bíblica, pastoral e eclesiológica, tendo Jesus como modelo.
No terceiro, tratamos do acompanhamento da juventude pela Igreja e sua enorme
importância. Sublinhamos a excelência de seus elementos constitutivos: acolhida, escuta
cordial e atenta, partilha de vida e as atitudes do acompanhante.
Após análise dos três capítulos deduzimos que a prática da acolhida e do
acompanhamento é uns dos grandes desafios da Igreja Católica na atualidade. Trata-se,
de valorizar a dignidade dos jovens dentro da ótica cristã. Levantamos, portanto, a
hipótese de que os métodos estudados são eficientes para atingir esse objetivo,
proporcionando aos jovens a escolha de uma vida digna.
CAPÍTULO I
PERFIL DA JUVENTUDE
1. Conceitos
É necessário recordar alguns critérios de aproximação e de identificação que
orientem nosso olhar ao acolhimento e acompanhamento da realidade da juventude
dominicana. Os critérios de classificação são diferentes aproximações da mesma
realidade dominicana a partir de diversos ângulos e ciências. Nos documentos
consultados, encontramo-nos diante de opções diversas sobre os critérios de
aproximação da realidade, o que nos leva a tentar integrar essas diferenças na hora de
olhar esta apaixonante e complexa realidade dos jovens dominicanos. Cada uma destas
abordagens tem sua riqueza e sua limitação, são visões não excludentes,
complementares e necessárias para a aproximação teórica da realidade. Após ampliar
nosso olhar, adentraremos no estudo de alguns desafios da realidade dominicana para a
vida dos jovens e o papel da Igreja ante a realidade do povo.
1.1.Definindo termos
Preliminarmente é importante definir o que se entende por juventude para então
traçarmos o perfil dela na República Dominicana na atualidade. A Igreja da América
Latina e do Caribe1 entende a juventude como a idade da pessoa em desenvolvimento,
na qual busca sua definição pessoal e social. É a idade da transição e do crescimento.
Este significa assimilação de valores, integração da personalidade, educação e formação
constantes. O tempo da juventude é tempo de tomada de posição, decisão e atitude
diante da vida.
Juventude: há diversas formas de entendê-la e abordá-la. Neste estudo
pretendemos entender a experiência de vida dos jovens, levando em consideração as
1 Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, pp.
33-36.
dimensões2: biocronológica, psicológica, sociológica, e a visão cultural-simbólica, que
é a classificação assumida pelo Conselho Episcopal Latino-Americano.
1.1.1. Visão biocronológica - A juventude é vista pelos critérios da idade e
definida como pessoa em crescimento. Considera-se a pessoa tão somente como uma
fase do ser, ou seja, como uma etapa de transição marcada por grandes mudanças
fisiológicas, fruto do amadurecimento hormonal, dando grande valor ao corpo e à
sexualidade. Equivaleria a dizer que a juventude é a fase biológica que corresponde ao
fim da infância e início da idade adulta.
Um representante dessa corrente de pensamento é o sociólogo Karl Mannheim, 3
(sociólogo húngaro, nascido em 1893, e que foi um dos grandes impulsionadores da
Sociologia do Conhecimento). Com base no curso natural da vida, estabelece a
transformação biológica como marca da fase da juventude.
Porém, essa definição é insuficiente para traçar um perfil exato dessa etapa da
vida, pois sabemos que esta não se resume em mudanças corporais; é algo que vai além;
por isso é imprescindível defini-la também de acordo com outros critérios.
1.1.2 Visão psicológica. Esta identifica a juventude a partir do período
conflituoso da vida da pessoa. Segundo os estudiosos desta classificação, a juventude
estaria passando por um segundo nascimento. A juventude é a etapa de construção da
identidade, definindo-se papeis, comportamentos, limites, possibilidades do ser e agir e
de um novo lugar no mundo. É tempo de opções e da definição da vocação. “É a
passagem do mundo interior da família para o mundo exterior das responsabilidades e
das decisões pessoais” 4. Se se puder falar em termos gerais, para a Psicologia são as
mudanças não só físicas, mas também psíquicas que antecedem a idade adulta. Aldo E.
Solari, ao se referir à definição psicológica da juventude pondera:
O ponto de vista psicológico é complexo. Por um lado tenta
caracterizar as transformações psicológicas e a estrutura psíquica
peculiar que origina; trata-se então da psicologia da idade juvenil,
ainda às vezes ambos os termos são utilizados para individualizar
etapas diferentes. Por outro lado procura estudar a singular
conformação psíquica de certo tipo de jovens, caracterizados por
2 Cf. Idem, p. 37.
3 Cf. MANNHEIM, Karl, O Problema Sociológico das Gerações, São Paulo: Ática, 1982, p 71
4 CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas,1987, p. 34.
algum critério: a psicologia do jovem estudante, a do jovem
trabalhador, a psicologia do gênero juvenil.5
Podemos dar diferentes nomes às fases, destacando as que formos desenvolvendo, mas
o mais importante é levar em conta estes elementos na hora da práxis pastoral no meio
dos jovens em suas diferentes etapas. É importante também sublinhar que há modos
concretos de viver as passagens das fases. As mudanças internas e externas dos jovens
provocam muita instabilidade. Pelo fato de estarem num processo de redefinição de sua
identidade, procuram experimentar diferentes comportamentos, às vezes até
contraditórios.
A compreensão das diferentes fases da juventude e a percepção das atitudes
vicárias para atravessá-las pode orientar nosso trabalho de acolhimento em seu meio.
Em primeiro lugar nos faz entrar em contato com as necessidades vitais do momento
existencial que os jovens estão atravessando. Então, nosso julgamento deixará a
superficialidade para ser profundo e, na medida em que conhecermos melhor a realidade
da juventude poderemos fazer um diagnóstico mais aproximado, com um remédio
adequado, utilizando a linguagem médica. Outro elemento importante que proporciona
esta contribuição psicológica é a visualização do processo de crescimento dos jovens e a
relação que estes têm com o processo grupal, que é de enorme importância para a
acolhida e acompanhamento da juventude. Na elaboração dos blocos temáticos e das
atividades espirituais, de lazer ou de solidariedade, temos que levar em conta o processo
pessoal e grupal. As próprias necessidades sentidas, as crises das etapas nos orientam
para os assuntos a serem tratados.
1.1.3 Visão sociológica. Para esta, a juventude é um grupo social, com uma
posição determinada dentro do conjunto da sociedade, caracterizada por um modo
peculiar de ver e entender a vida e o mundo. É uma etapa da existência em que a pessoa
possui identidade e valores próprios na sociedade e desta sofre as influências. Por outro
lado, há quem defenda que não se pode falar em juventude, mas sim em juventudes, em
razão das diferentes situações sociais e de desigualdade.
Luís Antônio Groppo, em seu livro: Juventude, afirma que, embora a sociologia
seja uma ferramenta indispensável para a definição de juventude, ainda não consegue
5 SOLARI, Aldo E., Algunas Reflexiones Sobre La Juventud Latinoamericana, Santiago de Chile: Serie II
número 14, 1971, p. 3 (traduzido por Juan Andrés Hidalgo Lora).
definir o “objeto” social e por isso busca elementos biológicos e psicológicos para tal
definição. O autor nos faz pensar na dificuldade de compreender essa fase da vida,
chamada juventude. Groppo cita o sociólogo A. B. Hollingshead que define a juventude
da seguinte forma:
Sociologicamente a juventude é um período da vida de uma pessoa
que se define quando a sociedade na qual ela funciona cessa de
considerá-la... uma criança e não lhe atribui o status, os
desempenhos e funções do adulto (...). Acreditamos que o
comportamento juvenil é um tipo de comportamento de transição
que depende exclusivamente da sociedade e, mais ainda, da
posição que o indivíduo ocupa, dentro da estrutura social, e não
dos fenômenos biopsicológicos, relacionados a essa idade.6
O mais importante desta aproximação é ter a certeza de que, para intervir no
espaço dos jovens, temos que partir de sua realidade. Não é o mesmo trabalhar com
jovens na periferia e no centro da cidade, já que a questão do espaço, do lugar físico e
social da pessoa condiciona fortemente seu desenvolvimento e, para intervir em
qualquer realidade, precisamos partir desses condicionamentos.
Um mesmo traço da cultura vivida pelo jovem, como o consumismo, deve ser
trabalhado de diferentes maneiras, dependendo do lugar e da camada social onde se está
intervindo. A realidade do consumismo atinge todos os jovens, ricos e pobres, mas a
ressonância do tema tem diferentes consequências para eles de acordo com sua condição
social.
1.1.4 Visão cultural simbólica. Integra os anteriores e lhes confere um novo
sentido. O universo cultural dos jovens apresenta uma diversidade de formas de viver e
encontrar sentido para a vida. Neste universo aparece o lúdico, a dimensão estética da
vida, entre outros. O especialista em juventude Groppo, ao definir a juventude dentro
desta perspectiva simbólica, escreve:
(...) a juventude é uma concepção, representação ou criação
simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios
indivíduos tidos como jovens, para significar uma série de
comportamentos e atitudes a ela atribuídos. Ao mesmo tempo, é
uma situação vivida e incomum por certos indivíduos. Na verdade,
outras faixas etárias construídas modernamente poderiam ser
definidas assim, como a infância, a terceira idade e a própria idade
6 GROPPO, Luís Antônio, Juventude, Ensaios Sobre Sociologia e História das Juventudes Modernas, Rio
de Janeiro: DIFEL, 2000, p.10.
adulta. Trata-se não apenas de limites etários pretensamente naturais e objetivos, mas também, e principalmente, de
representações simbólicas e situações sociais com suas
próprias formas e conteúdos que têm importante influência nas
sociedades modernas.7
Olhar a juventude dominicana como cultura apresenta e nos faz descobrir novas
dimensões e ferramentas de análise para a intervenção na realidade dos jovens. Falar da
juventude dominicana como cultura leva a considerar seu modo de pensar, sentir,
perceber e agir8 como grupo social, distinto de outros. Esta abordagem ajuda a
aprofundar outras questões.
A aproximação e a abordagem cultural possibilitam perceber o exercício
produtivo e criador dos jovens9 em relação a si mesmos, aos outros, à natureza e a
Deus. Isto nos faz mergulhar na capacidade genial que lhes é própria de produzir sinais
e símbolos que revelam sua identidade e, por sua vez, se transformam na “carta de
apresentação” no processo de socialização.
Por sua vez, não podemos deixar de enxergar que as culturas juvenis se inserem
dentro de uma realidade sócio-cultural maior, que caracteriza nosso tempo e hoje
impregna até as fibras mais íntimas da juventude. Isto nos leva a pensar e aprofundar a
realidade do jovem na cultura. Apesar de várias ciências tentarem definir a etapa da
juventude, notamos que essa fase da vida é por demais complexa e exige a unidade de
diversas correntes em sua definição e, mesmo assim, ainda nos é difícil precisar uma
melhor descrição.
2. Aspectos específicos
A República Dominicana é um país que está situado no Caribe. Os primeiros
habitantes dessa ilha foram os índios Arawak, procedentes da América do Sul. Era um
povo inteligente e inclinado às artes, que se instalou naquela região a partir do ano
1000. Mais tarde, por volta do séc. XVI foram subjugados pelos Caraíbas. A população
indígena foi-se extinguindo quase por completo após a chegada dos navegadores
7 Cf. Idem, pp.7-8.
8 Cf. CELAM, Conclusões das Conferências do Rio de Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo; III
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, São Paulo: Paulus, 2005, n. 385-390, pp.
386-387. 9 Cf. Idem, n. 391, p. 387.
espanhois10
. Atualmente, como consequência da mestiçagem entre os colonos espanhois
e os escravos africanos, cerca de 73% da população é mulata.
A Hispaniola11
foi uma colônia da Espanha desde seu descobrimento em 1492 até
1795. Naquele ano a Espanha cedeu à França a parte ocidental da ilha, onde nasceria o
Haiti. Em 1829, a República Dominicana foi ocupada pelos haitianos. Porém,
proclamou sua independência em 7 de fevereiro de 1844. No passado a República
Dominicana12
se caracterizou por intensa instabilidade política interna. Da
independência até o ano de 1930, teve cinquenta presidentes (um a cada 1,7 ano) e trinta
revoluções (uma a cada 2,9 anos).
Tradicionalmente, dois fatores dominantes marcaram a política interna e externa
dominicana: a invasão haitiana, seguida da ocupação no período de 1822 a 1844, e a
intervenção norte-americana preocupada com a possibilidade de que alguma potência
extra-hemisférica se aproveitasse da instabilidade interna para ocupar o país. Depois da
saída dos americanos, a República Dominicana viveu sob o domínio de várias ditaduras.
Isso atrasou as reformas econômicas e sociais do país. A ditadura mais marcante na
história da região foi a de Rafael Leónidas Trujillo, de 1930 a 1961, período esse de
privação de liberdade política e religiosa, e violência armada de repressão contra quem
se opusesse ao regime. 13
É a partir desse momento que conseguimos traçar um paralelo
entre a força juvenil, a Igreja e a história da República Dominicana.
10
Alguns dados gerais da República Dominicana:
Superfície: 48. 422 quilômetros quadrados.
População: 9,8 milhões de habitantes.
Capital: Santo Domingo.
Independência: 27 de fevereiro de 1844.
Chefe de Estado: Leonel Fernandes Reina (desde 1996).
Grupos étnicos: 73% são mestiços, 16% brancos e 11 % negros.
Idioma: Espanhol.
Moeda: Peso da República Dominicana.
Religião: 95% são católicos.
Economia: Cana-de-açúcar, arroz, café, banana, cacau e tabaco. Minas de ouro, prata e níquel.
PNB “per capita”: 1.230 dólares (cerca de 2.275 reais).
Dados sociais: A perspectiva de vida é de 70 anos. A alfabetização, 83%. 11
Nome original dado pelos espanhois à ilha caribenha (que hoje compreende a República Dominicana e
o Haiti).
12 República Dominicana. Disponível em:<
http://www2.mre.gov.br/dcc/republica_dominicana.htm>. Acesso em: 11 maio de
2010, 10:25. – Todos os meios eletrônicos: (traduzido por: Juan Andrés Hidalgo Lora). 13
SALVADOR, Leo. Como consequência da mestiçagem entre os colonos espanhóis e os escravos
africanos, cerca de 73% da população da ilha é mulata. Disponível em:
No princípio do séc. XX, a Igreja Católica se desenvolveu em ambiente interno de
instabilidade. Depois, durante a ditadura do Trujillo, experimentou um claro
crescimento. Porém, isso aconteceu às custas da manutenção de um forte compromisso
com o ditador. 14
A partir de 1959 desenvolveu-se um movimento de oposição ao
regime, liderado, sobretudo, por forças juvenis, que o episcopado apoiou, ao mesmo
tempo que se colocou ao lado do povo que sofria a opressão que lhe cerceava a
liberdade. A Igreja e a juventude contribuíram para reescrever uma nova página da
história desse país.
A história das irmãs Mirabales, retratada no filme Nos tempos das Borboletas15
é
uma representação da força juvenil na luta pela liberdade contra o ditador e assassino
Trujillo. A história dessas irmãs, lideradas por Minerva, que buscavam a liberdade de
um povo é modelo para os jovens que até hoje sentem que seu protagonismo pode
mudar a realidade. Minerva e suas irmãs, conhecidas como As Borboletas,16
suportaram
opressões indescritíveis em uma batalha pela própria essência de uma nação. Mas à
medida que seus atos de coragem ganharam notoriedade, as forças de Trujillo
começaram a fechar o cerco, decididas a pôr fim aos atos heroicos de Minerva e elas
foram martirizadas em 25 de novembro de 1960. A figura das irmãs é tão forte que é
tradição dominicana que todos os estudantes visitem o lugar onde elas moravam.
Trujillo acreditou que havia eliminado um grande problema, mas o assassinato teve
péssima repercussão. A morte das Borboletas causou grande comoção na República
Dominicana e levou o povo desse país a ficar cada vez mais inclinado a apoiar os ideais
das Borboletas. Esta reação contribuiu para o despertar da consciência do povo, e
culminou no assassinato de Trujillo em maio de 1961.17
Depois disso a República
Dominicana passou por transformações profundas que marcaram a atuação juvenil
naquele país, de modo especial dos jovens que frequentavam grupos de jovens da Igreja.
<http://www.audacia.org/cgibin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEuly
uuuAFMknVmFbC>. Acesso em: 20 abril 2010, 20:30 . 14
O distanciamento da Igreja com o regime de Trujillo se deu, sobretudo, porque o ditador queria que a
Igreja reconhecesse seu “estado de divindade”. Frente à negação da Igreja, o ditador inicia um
movimento contra ela, seguido de perseguições e expulsões. 15
No Tempo das Borboletas – título original: In the Time of the Butterflies. Ano da produção: 2001.
Diretor: Mariano Barroso. 16
Em espanhol: Las Mariposas. 17
História Patria Dominicana. Las Hermanas Mirabal, Las Mariposas. Disponível em:
http://27febrero.com/hermanasmirabal.htm Acesso em: 09 de outubro de 2010, 9:09.
Após o assassinato de Trujillo, o país enfrentou novo período, embora curto, de
instabilidade política.
Outro personagem controverso que despertou a oposição da Igreja e da juventude
foi Juaquín Balaguer, apesar de eleito democraticamente. Durante anos ele governou
tendo por base princípios ditatoriais. Ficou conhecido como o “eterno presidente”
(quase trinta anos no poder) devido à sua forte manipulação política. As repressões de
seu governo deixaram mais de 3 mil mortos, entre eles estudantes e parte da
intelectualidade dominicana simplesmente porque se opunham a ele.
3. Contexto socioeconômico
O contexto socioeconômico da juventude dominicana não pode ser visto ou
analisado fora da realidade latino-americana. Os jovens na República Dominicana
enfrentam uma série de problemas ligados às questões sociais, e que precisam ser
contemplados antes de traçarmos alguns pontos que possam ajudar a Pastoral da
Juventude naquele país. A marca da Igreja é a sua atuação na realidade, na qual deve
estar encarnada, atenta, aos problemas que assolam seus filhos. A história de
exploração, escravidão e ditadura na República Dominicana, influencia até hoje a
realidade social dos jovens. Destacamos alguns desafios:
3.1.Desemprego generalizado
O trabalho humano é o lugar em que o homem se expressa como tal, atende a suas
necessidades e busca a realização de suas aspirações. O trabalho é também a chave de
toda questão social, que inclui os negócios e tarefas socioeconômicos, políticos e
culturais. No entanto, a juventude observa com preocupação a forma pela qual cada dia
mais se vão estreitando os espaços que possibilitam exercer um trabalho digno e
promissor, ao mesmo tempo em que se multiplicam as dificuldades impostas ao acesso
a tal mercado. Segundo dados do Ministério do Trabalho da República Dominicana18
, o
país tem o maior índice de desemprego juvenil da América Central, uma taxa de 30,9%.
Entre os jovens de 15 a 25 anos, essa taxa de desemprego é de aproximadamente
18%. Na pesquisa de campo, realizada com 150 jovens da Paróquia São José, da Bomba
de Cenoví, da cidade de São Francisco de Macorís, na República Dominicana, no mês
de setembro de 2010, apenas 25% trabalhava e estudava19
, levando muitos jovens que
não têm oportunidade de emprego a cair na delinquência ou mesmo desistir dos estudos
por falta de condição para seu sustento. A maior parte deles se sente infeliz com essa
situação, para a qual contribui muito a separação de casais20
. Para a Igreja é um grande
desafio como o enfoca a continuação:
Muitos jovens são vítimas de empobrecimento e da marginalização
social, do desemprego e do subemprego, de uma educação que não
responde às exigências de suas vidas, do narcotráfico, da guerrilha,
das gangues, da prostituição, do alcoolismo, de abusos sexuais.
Muitos vivem adormecidos pela propaganda dos meios de
comunicação social e alienados por imposições culturais, e pelo
pragmatismo imediatista que tem gerado novos problemas no
processo de amadurecimento afetivo dos adolescentes e dos jovens. 21
A realidade do emprego e desemprego descrita tem muitas consequências para os
jovens na hora de pensar na elaboração de um projeto de vida. Basta ver os jovens que
conseguem emprego. Estes recuperam sua dignidade, reconstroem sua auto-estima e
voltam a ter capacidade de projetar sua vida. O jovem empregado, que antes pensava só
na sobrevivência, pode começar a sonhar, planejar seu futuro e vivenciar vínculos
profundos de fraternidade, de solidariedade na sociedade dominicana.
O trabalho da Pastoral da Juventude na República Dominicana com o jovem
subempregado e desempregado é de vital importância, para ajudá-lo a descobrir as
causas verdadeiras e estruturais de sua situação e na descoberta da potencialidade
18
PLASENCIA, Aleida. A República Dominicana tem o mais alto desemprego dos jovens. Disponível
em: <http://www.perspectivaciudadana.com/contenido.php?itemid=27806>.
Acesso em: 11 de março de 2010, 10.50. 19
Anexo IX, Escolaridade – Casa Própria. 20
Anexo IV, Você se sente feliz? – Estado civil dos pais. 21
CELAM, Conclusões das Conferências do Rio de Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo; IV
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, Paulus, 2005, n. 112. p.689
escondida nas suas vidas. Por outro lado, a Pastoral da Juventude tem que continuar
cultivando mais que nunca a dimensão profética de sua missão para denunciar as
estruturas de pecado que causam esse mal e para propor políticas públicas em benefício
da formação e emprego da juventude dominicana.
3.2 Imigração
A falta de oportunidade na República Dominicana faz os jovens buscarem, através
da imigração, uma qualidade de vida longe de sua nação e cultura. Na pesquisa feita
com os jovens da Paróquia São José, da Bomba de Cenoví, o numero de jovens é
bastante alarmante: 45% pretendem sair do país em busca de realizar seus sonhos, 30%
procuram a capital e apenas 28% pretendem continuar morando em sua cidade natal22
.
Entende-se que em breve nas pequenas cidades poucos jovens permanecerão. Sendo
assim, poucas famílias terão seus filhos reunidos e o trabalho pastoral não terá uma
continuidade. A preocupação da Igreja é percebida nitidamente na seguinte declaração:
(...) Vê-se ausência de jovens na esfera política devido à
desconfiança que geram as situações de corrupção, o desprestígio
dos políticos e a procura de interesses pessoais frente ao bem
comum. Constatam-se com preocupação suicídios de jovens.
Outros não têm possibilidades de estudar ou trabalhar e muitos
deixam seus países por não encontrar futuro neles, dando assim ao
fenômeno da mobilidade humana e da migração um rosto juvenil.
Preocupa também o uso indiscriminado e abusivo que muitos
jovens fazem da comunicação virtual. 23
Nos países do Caribe24
, cerca de 20% da população está no exterior. Na República
Dominicana esse percentual é de 9,3%.25
Dados recentes indicam que mais de um
22
Cf. Anexo V, Para o futuro. 23
CELAM. Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-
Americano e do Caribe, São Paulo: Paulus, 2008, n. 445, p. 200. 24
Emigrantes Latino-Americanos crescem e somam 25 milhões. Disponível em:
<http://www.ipcdigital.com/br/Noticias/Mundo/Emigrantes-latino-americanos-crescem-
e-somam-25-mi>. Acesso em: 11 de maio de 2010, 10:57.
milhão de dominicanos estão fora de sua pátria. Calcula-se que desses, 40% são jovens.
Outro estudo26
mostra um dado preocupante, 57% dos dominicanos querem sair do país
e a outra metade não acredita que a situação possa melhorar, segundo revela o Informe
de Desenvolvimento Humano de 2008, elaborado por um Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD).
A preocupação é com os nativos dominicanos que buscam melhores condições de
vida longe de sua pátria. Porém outro elemento bastante contundente é a migração
haitiana na República Dominicana. Em busca de comida, paz e trabalho, cerca de 800
mil imigrantes haitianos, segundo cifras não oficiais (de um total de 8,5 milhões de
habitantes na República Dominicana e 8,3 milhões no Haiti) atravessaram a fronteira.
Essa situação se agravou depois do terremoto que assolou o país no início de 2010.
A Organização Internacional de Migrações (OIM) afirmou, logo após o desastre, que foi
registrado um aumento de 10% no número de haitianos que tentam atravessar para a
República Dominicana, em sua grande maioria jovem.27
3.3. Distância entre ricos e pobres
A República Dominicana, inserida no contexto latino-americano, apresenta uma
similaridade com todo o Continente. No ano de 2009 a Comissão Econômica para a
América Latina e Caribe (Cepal)28
divulgou um dado preocupante: Nove milhões de
latino-americanos entrariam no estado de pobreza em 2009 por causa da crise financeira
mundial, segundo previsão do Panorama Social da América Latina. A cifra mostra que a
25
As cifras aparecem no documento sobre "Emigração internacional, direitos humanos e desenvolvimento
na América Latina e no Caribe", apresentado no 31º turno de debates da Comissão Econômica
para a América Latina (Cepal), realizada em Montevidéu no ano de 2005. 26
ACOSTA, Cándida. Informe del PNUD revela 57% criollos quiere sair do país. Disponível em:
<http://www.listindiario.com/app/article.aspx?id=60518>. Acesso em: 10 de abril de
2010, 11:10. 27
MÉNDEZ, Wanda. Estudio Revela un Incremento en la Trata y Tráfico de Personas. Disponível em:
http://www.listindiario.com.do/la-republica/2010/10/3/161126/Estudio-revela-un-incremento-en-la-trata-
y-trafico-de-personas. Acesso em: 10 de Outubro de 2010, 10:42. 28
ESTADO, Agência. Cepal prevê 9 milhões de novos pobres na AL este ano. Disponível em:
<http://www.amanha.com.br/NoticiaDetalhe.aspx?NoticiaID=d6fd493c-93ad-
4bcb-94fb-2a3b9d090622&Artigo=comunidade>. Acesso em: 10 de fevereiro de 2010,
11:09. A cifra mostra que a pobreza na região aumentará 1,1% e a indigência crescerá 0,8%
nesse ano, comparadas aos números de 2009. Culpada é a crise.
pobreza na região aumentaria 1,1% e a indigência cresceria 0,8% naquele ano,
comparada aos números de 2008. O número de pobres iria passar de 180 para 189
milhões de pessoas, representando 34,1% da população, enquanto a indigência passaria
de 71 milhões para 76 milhões (13,7% da população).
A crescente distância entre ricos e pobres (...) é qualificada como
escândalo e contradição com o ser cristão; o luxo de poucos diante
da miséria de muitos, com insulto às grandes massas necessitadas
do continente. 29
Constatamos com preocupação que inumeráveis jovens do nosso
continente passam por situação que os afetam significativamente:
as sequelas da pobreza, que limitam o crescimento harmônico de
suas vidas e geram exclusão; a socialização, cuja transmissão de
valores já não acontece primariamente nas instituições tradicionais,
mas em novos ambientes não insertos de forte carga de alienação; e
sua permeabilidade às formas novas de expressões culturais,
produto da globalização, que afeta sua própria identidade pessoal e
social.30
A desigualdade social gera a criminalidade, jovens inconformados com sua situação
de vida buscam no crime o desejo de se sentirem incluídos socialmente, tudo isso por
falta de políticas de inclusão, 70 % dos jovens da Paróquia San José não acreditam que
a situação do país possa melhorar31
. Os jovens são presa fácil das novas propostas do
mundo. As grandes crises, pelas quais passa a família e os jovens hoje em dia,
produzem profundas carências afetivas e conflitos emocionais.
3.4. Violência
Na República Dominicana a falta de perspectivas, a precariedade da vida, a
desestruturação das famílias, etc., levam os jovens a mergulharem na tarefa heroica da
sobrevivência e de buscar sentido para suas vidas; lamentavelmente, um grande número
29
CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p. 33 30
CELAM. Documento de Aparecida. Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-
Americano e do Caribe. Edições CNBB: Paulinas; São Paulo: Paulus, 2008, n. 444, p. 199. 31
Cf. Anexo VI, Situação social e segurança pública.
fica mergulhado no sem-sentido e preso à ilusão da violência. Para o Documento de
Aparecida uma fonte de sofrimento da juventude, é a violência:
A violência se reveste de várias formas e tem diversos agentes:
crime organizado e o narcotráfico, grupos paramilitares, violência
na periferia, violência de grupos juvenis e crescente violência
intrafamiliar. Suas causas são múltiplas: a idolatria do dinheiro, o
avanço de uma ideologia individualista e utilitarista, a falta de
respeito pela dignidade de cada pessoa, a deterioração do tecido
social, a corrupção inclusive nas forças da ordem e a falta de
políticas públicas de equidade social. 32
Outra forma de violência apontada pelo Documento de Aparecida é o tráfico de
pessoas. (...) Acontece também, dizem os bispos, um vergonhoso tráfico de pessoas, que
inclui a prostituição, inclusive de menores. 33
A realidade da violência34
atinge
diariamente a vida dos povos latino-americanos. Em sua maioria os jovens são as
maiores vítimas da violência desenfreada. Na República Dominicana a Procuradoria
Geral da República registrou durante os meses de Janeiro a Outubro de 2008 um total de
2.004 mortes violentas no país. Esta cifra representa um aumento de 21,1% dos
homicídios em relação ao mesmo período de 2007 que registrou 1.654 homicídios. As
estatísticas oficiais indicam que 714 pessoas foram mortas em atos relacionados
diretamente com a delinquência.
Hoje o número de jovens, vitimas de homicídios devido a todo tipo de drogas e
falta de emprego, passou de 21,1% conforme estatística realizada entre os jovens da
Paróquia São José, da Bomba de Cenoví. 65% dos jovens entrevistados já tinham
perdido um amigo, vitima da violência no país35
. O numero é assustador, motivando
assim muitos pais a incentivar seus filhos a sair do país e procurar outros meios seguros
de sobrevivência.
As pessoas nas cidades produtivas da República Dominicana são as mais
afetadas pelos níveis de violência que afetam o país. A média etária das vítimas de
32
CELAM. Documento de Aparecida. Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-
Americano e do Caribe. Edições CNBB: Paulinas; São Paulo: Paulus, 2008, n.78, p.45. 33
Idem, n. 73, p. 42. 34
PRO JUVENTO, Os jovens são os mais afetados por mortes violentas. Disponível em:
<http://projuventud.org/blog/2009/03/17/los-jovenes-son-los-mas-afectados-por-
muertes-violentas/>. Acesso em: 10 fevereiro de 2010, 10:05. 35
Cf. Anexo VI, Situação social e segurança pública.
homicídios oscila entre 16 e 45 anos. Os dados são de um informe revelado pela
Procuradoria Geral da República. De 232 necropsias registradas pelo Instituto Nacional
de Ciências Forenses (INACIF) nos últimos três meses do ano de 2008, 189
correspondem às pessoas assassinadas com armas de fogo e com a faixa etária citada
acima.
Ao opinar sobre o assunto, o especialista em segurança, Daniel Pou36
, explica que as
estatísticas que envolvem os jovens, vítimas da violência têm crescido a cada ano pela
alta incidência populacional em ações de delinquência: “Isso é notório porque é a idade
em que a gente experimenta mais necessidades materiais e busca maiores oportunidades
de progresso”, manifestou. Conforme pesquisa realizada com os jovens da Paróquia São
José da Bomba da Cenoví, 65% dos jovens tinham pelo menos um amigo que tinha sido
assassinado ou às vezes mais de um amigo e 65,3 % tem algum amigo que se droga37
.
Sendo assim fica confirmado o aumento da violência no país.
O crescimento da violência no mundo todo e na República Dominicana é um fato. A
atuação do narcotráfico, das gangues, da polícia, dos grupos paramilitares, das
guerrilhas, a violência urbana nas periferias das grandes metrópoles geram
desestabilização social. Isto se transforma numa ameaça para o futuro da juventude
dominicana. Sem dúvida, o primeiro desafio que a sociedade dominicana e a Igreja
enfrentam é a inclusão social da juventude em termos de formação, lazer e trabalho.
Precisamos novamente fazer uma opção pela juventude e, de maneira especial, a
empobrecida e aquela que não encontra sentido em suas vidas, favorecendo os espaços
de acolhida e acompanhamento nas comunidades de pastorais, 56,2% dos jovens da
Paróquia San José considerou que a presença constante do padre faz com que sintam
apoiados e acolhidos38
.
36
PRO JUVENTO, Os jovens são os mais afetados por mortes violentas. Disponível em:
<http://projuventud.org/blog/2009/03/17/los-jovenes-son-los-mas-afectados-por-
muertes-violentas/>. Acesso em: 10 fevereiro de 2010, 10:05. 37
Cf. Anexo VII, Assassínios. 38
Cf. Anexo X, Relação do pároco com o grupo de jovens.
3.5. Tráfico de drogas
Na República Dominicana o mundo das drogas não pode mais ser tratado como um
universo compacto e uniforme. Há diferentes tipos de drogas, de consumidores, de
traficantes. O que temos certeza é que o consumo cresceu e afeta, sobretudo, a
juventude. A seguinte estatística foi tomada do último informe do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que revela dado preocupante, 52% da
juventude de 11 a 25 anos já provaram algum tipo de droga. E desses, 22% se tornaram
dependentes químicos39
.
O problema das drogas vem-se convertendo, pouco a pouco, em
fenômeno mundial, que, para alguns, constitui um dos sinais de
uma contracultura juvenil. Este mal, em qualquer de suas três
etapas – cultivo, utilização ou comercialização - é um dos grandes
atentados contra a sociedade e prioritariamente contra a
juventude.40
A realidade, descrita na pesquisa, revela o fator preocupante da situação que
estamos vivendo, tendo em conta os efeitos da droga na vida do consumidor e a sua
relação crítica com a sociedade. Há basicamente dois tipos de consumidores: os da
primeira experiência e os adictos. Há jovens que experimentam pela primeira vez para
satisfazer a curiosidade, mas não gostam, ou as informações dos males causados por ela
os freiam, ou conseguem alguém que os liberte no início. Outros consomem
esporadicamente e ficam se equilibrando como em corda bamba, mas a droga não os
domina.
O problema mais grave na República Dominicana é o do jovem adicto. Faz uso
sistemático, descontrolado de uma ou várias substâncias químicas, com repercussões
negativas em diferentes áreas de sua vida. Estes formam o grupo dos dependentes
químicos, os quais quase sempre transitam por um caminho de mão única. A porta de
entrada das drogas é o prazer, que responde ao desejo de felicidade. As drogas são uma
promessa de satisfação total, e no começo está o gozo, mas depois vem a tragédia da
39
Escuela de Familia, Vistazo Panorámico, ¿QUE TAN GRAVES SON LOS PROBLEMAS DE LA
SOCIEDAD DOMINICANA ACTUAL? Disponível em:
<http://www.escuelasdefamilias.com/pag5.html>. Acesso em: 07 de abril de 2010,
10:10. 40
CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p. 34.
insatisfação. Conforme pesquisa realizada com os jovens da Paróquia São José, da
Bomba da Cenoví, uns 65,3% já conhecem algum amigo que utilizou algum tipo de
droga41
, sendo isto um número considerável. Algo bom é que o 99,09% dos jovens
entrevistados não tinham experimentado nenhum tipo de drogas42
.
Na República Dominicana lamentavelmente, o jovem consumidor e adicto da
periferia entra num beco sem saída: a adição vai crescendo e, junto com esta, o
endividamento. Isto leva o jovem ao mundo da delinquência, alimentando sua
dependência pelo furto, o tráfico e a submissão ao narcotraficante. Este mundo de
relações com frequência desencadeia violência e até morte.
3.6. Falta de escolaridade
Atualmente, na República Dominicana, o mundo do trabalho exige boa
escolarização para se aspirar a um emprego bem remunerado, ter os elementos
necessários para exercer protagonismo na sociedade e ter satisfação pessoal e familiar.
Há de fato certa correlação entre as baixas condições econômicas da população e a
escolaridade da juventude dominicana.
São muitos os afetados por uma educação de baixa qualidade, que
os deixa abaixo dos níveis necessários de competitividade,
somando-se aos enfoques antropológicos reducionistas, que
limitam seus horizontes de vida e dificultam a tomada de decisões
duradouras.43
Segundo dados da UNESCO, Guatemala, Honduras, El Salvador e a República
Dominicana são os países que lideram os índices de analfabetismo na América Latina.
Na República Dominicana a taxa de analfabetos é de 10,8%. Comparando o índice de
pobreza com o índice de analfabetismo por províncias dominicanas, se observa uma
tendência geral indicando que as províncias com menor população analfabeta são as que
contêm uma menor quantidade de locais pobres. Então, podemos concluir que na
41
Cf. Anexo VIII, Uso de drogas. 42
Cf. Anexo VIII, Uso de drogas. 43
CELAM. Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-
Americano e do Caribe. Edições CNBB: Paulinas; São Paulo: Paulus, 2008, n. 445, pp.199-200.
República Dominicana o analfabetismo e a pobreza parecem relacionar-se de forma
direta.
No meio da juventude da República Dominicana, constata-se uma melhoria nos
níveis de alfabetização. Mas há diferentes realidades vividas pelos jovens. Na pesquisa
realizada com os jovens da paróquia São José, no mês do setembro do 2010, foi
constatado que: 87% só estudam, 12,4% estudam e trabalham e temos 0,6% que nem
trabalham nem estudam44
. Essa diferença de dedicação sem dúvida repercute na
preparação e capacitação do jovem no seu desenvolvimento futuro. A situação do
ensino superior do país não poderia ser mais grave, pois apenas metade dos que iniciam
os estudos universitários consegue terminá-los. Outro dado preocupante é que 90%
daqueles que iniciam uma faculdade de graduação fazem-no com vários anos de
atraso)45
.
Estas informações estão contidas num estudo.As principais causas do abandono
do ensino superior podem ser relacionadas com a falta de recursos econômicos; falta de
moradia46
; necessidade de trabalhar; falta de conhecimento prévio e frustração na área
de estudo escolhida; entre outras.
No Documento de Aparecida a preocupação com a educação dos jovens aparece
em vários lugares. A Conferência destaca o que acontece no campo da educação,
dizendo que é possível observar que, no esforço de se adaptar às novas exigências, olha-
se a educação em função da produção, da competitividade e do mercado.
A América Latina e o Caribe vivem uma particular e delicada
emergência educacional. Na verdade, as novas formas
educacionais de nosso continente, impulsionadas para se adaptar
às novas exigências que se vão criando com a mudança global,
aparecem centradas prioritariamente na aquisição de
conhecimentos e habilidades e denotam claro reducionismo
44
Cf. Anexo IX, Escolaridade – Casa própria. 45
Os dados foram coletados através de entrevistas com estudantes que interromperam seus cursos,
docentes e especialistas na área. Disponível em:
<http://translate.google.com.br/translate?hl=ptBR&sl=es&u=http://www.hoy.com.do/&
ei=L4VyS9vkAcaa8AbboPnHCw&sa=X&oi=translate&ct=result&resnum=1&v
ed=0CA8Q7gEwAA&prev=/search%3Fq%3Dwww.hoy.com.do%26hl%3Dpt-
BR>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2010, 09:15. 46
Cf. Anexo IX, Escolaridade – Casa própria.
antropológico, visto que concebem a educação
preponderantemente em função da produção, da competitividade e
do mercado. Por outro lado, com frequência, elas propiciam a
inclusão de fatores contrários à vida, à família e a uma sadia
sexualidade. Dessa forma, não manifestam os melhores valores dos
jovens nem seu espírito religioso; menos ainda lhes ensinam os
caminhos para superar a violência e se aproximar da felicidade,
nem os ajudam a levar uma vida sóbria e adquirir as atitudes,
virtudes e costumes que tornariam estável o lar que venham a
estabelecer, e que os converteriam em construtores solidários da
paz e do futuro da sociedade.47
A Igreja é chamada, por isso, a promover educação de qualidade para todos,
especialmente para os mais pobres, isto é, educação que ofereça às crianças, aos jovens
e aos adultos o encontro com os valores culturais do próprio país, descobrindo ou
integrando neles a dimensão religiosa e transcendente. A Igreja em conjunto com os
pais de família é chamada a se transformar em lugar privilegiado de formação e
promoção integramente humana, mediante a assimilação crítica da cultura e dos valores
humanos e cristãos.
4. Papel da Igreja
Diante de tudo que vimos a respeito da realidade da juventude dominicana,
poderíamos nos perguntar qual o papel da Igreja diante dessa situação. Desde o começo
da história da República Dominicana, a Igreja está presente no meio do povo em
especial ao lado dos jovens. Às vezes, foi cúmplice na colonização desintegradora das
culturas autóctones, mas também foi promotora de liberdade e solidária com os direitos
dos mais indefesos.48
Um exemplo é Frei Bartolomeu de Las Casas49
, um incansável
defensor da dignidade humana, da luta pela justiça e do direito à vida dos índios.50
Nos
47
CELAM. Documento de Aparecida. Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-
Americano e do Caribe. Edições CNBB: Paulinas; São Paulo: Paulus, 2008, n. 328, p.149. 48
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
86. 49
PALEARI, Giorgio. Espiritualidade e missão. Bartolomeu de Las Casas. Disponível em:
<http://www.pimenet.org.br/mundoemissao/espiritlascasas.htm >. Acesso em: 09 de
março de 2010, 08:15. 50
Frei Bartolomeu de Las Casas: “A liberdade humana é, como a vida, a coisa mais preciosa e valiosa do
mundo”.
últimos decênios, a Igreja dominicana, diante da crescente degradação da vida do povo,
conscientizou-se de que a missão é a evangelização pela juventude.
Diante das injustiças e das desigualdades sociais, produto das ditaduras, a Igreja
dominicana nunca ficou calada, mas ergueu sua voz para denunciar com firmeza o
ministério da iniquidade. Através dos bispos a Igreja descobriu os projetos ocultos dos
que são criadores da opressão e anuncia com palavras e práticas o ideal de uma
sociedade nova e livre.51
A Igreja na República Dominicana sempre demonstrou sua
preocupação com os jovens, especialmente através de:
4.1. Escolas e Universidades Católicas. Talvez a Igreja da República
Dominicana nunca tenha investido tanto em um setor do povo de Deus, em termos de
recursos humanos e financeiros, como fez no século passado com a juventude. Como
instrumento privilegiado para chegar a ela, a Igreja montou grande rede de escolas e
universidades católicas. Este instrumento de evangelização teve grande influência na
formação de várias gerações de cristãos, sobretudo em época em que o Estado não
proporcionava escolas para os pobres. Hoje em dia, por diversos motivos este recurso se
apresenta como instrumento de evangelização limitado e insuficiente.52
4.2. Ação Católica. Nos anos 1960-1966, a Ação Católica desenvolvia uma
Pastoral de Juventude de meio específico através da JOC (Juventude Operaria Católica),
da JEC (Juventude Estudantil Católica), da JUC (Juventude Universitária Católica), da
JAC (Juventude Agrária Católica) e da JIC (Juventude Independente Católica). O
movimento de ação católica teve grande influência na formação da juventude
dominicana. Tinha como objetivo a participação dos leigos no apostolado da Igreja, na
defesa dos princípios religiosos e morais, no desenvolvimento de uma sã e benéfica
ação social sob a direção da hierarquia eclesiástica. Este movimento ajudou a juventude
dominicana a descobrir qual é seu papel na vida da Igreja e dele surgiram jovens com
vocação para sacudir a Igreja e a sociedade e para plantar semente de uma Igreja e de
uma sociedade nova.53
A maior parte desses jovens vive uma experiência religiosa.
51
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
87. 52
Cf. Idem, pp. 56-57. 53
Cf. BORAN, Jorge. Juventude: o Grande Desafio. São Paulo: Paulinas, 1982, pp. 22-23.
Fenômenos que marcaram a dinâmica do campo religioso foram intensificados quando
se tratava da população jovem, como a busca continua por uma expressão de fé que
desse sentido a sua vida.
4.3. Os Movimentos da Ação Católica Especializada. A sua história nos anos
60 se achou marcada por duplo embate. De um lado, sua intenção de assumir o desafio
de uma presença como fermento da Igreja nos setores sociais mais dinâmicos do
convulsionado processo sociopolítico da República Dominicana desses anos; de outro,
sua participação crítica na dinâmica das transformações pastorais na Igreja, originadas
pelo impulso renovador do Concílio Vaticano II e pelos documentos de Medellín. Aqui
a Igreja usa o auxílio das ciências, como a sociologia, a economia, a estatística, a
psicologia social, a política, para entender as causas sociais que produzem essa
sociedade que não está como Deus quer.54
Em fins daquela década, os movimentos
chegaram a viver momentos culminantes e de crise, em que entrava em jogo a sua
própria existência. Pelo seu batismo, os jovens são corresponsáveis pela Igreja e sua
missão no mundo.
4.4. Os Movimentos de Encontro. Durante os dez anos seguintes (1966-1976) a
Ação Católica especializada foi substituída por uma Pastoral de Juventude baseada em
encontros de jovens, tipo Cursilho. Os movimentos visavam resolver os problemas
pessoais dos jovens. A raiz do problema social era o egoísmo do indivíduo. Mudando o
jovem, automaticamente se estaria mudando a sociedade. Alguns aspectos positivos
destes movimentos de encontro foram: sua capacidade para reunir os jovens em grande
número, para mudar uma imagem negativa do jovem diante da Igreja e para aproximá-lo
da hierarquia. Foi responsável, em grande parte, pelo surgimento dos grupos de jovens
nas paróquias. Em muitos lugares da República Dominicana, a partir de fins da década
de 1970, os Movimentos de Encontros entraram em crise, ao passo que em outros
lugares, onde ainda exerciam influência, o desafio residia em saber como adaptá-lo a
uma realidade política, social diferente e como inseri-los em uma pastoral de juventude
54
Idem, p. 118.
orgânica dentro da Igreja local.55
Formando lideres dentro do próprio grupo que tivesse
disponibilidade em acolher e acompanhar os jovens56
.
4.5. Os Movimentos Internacionais. A partir de 1980, dá-se o crescimento de
novos Movimentos Internacionais, como: Cursilhos de Cristandade, Focolares,
Renovação Carismática, Catecumenal, Encontros Matrimoniais, Comunhão e
Libertação. Alguns deles realizam trabalhos específicos também com os jovens. Estes
movimentos se afastam de organizações anteriores como Ação Católica, no sentido de
que a espiritualidade se torna finalidade muito mais acentuada do que a missão no
mundo e o trabalho em prol de sua transformação.57
Estes movimentos conseguiram
atrair a juventude da classe média, pois lhe oferecem mensagem adaptada à sua
condição humana. Sabem dar-lhe segurança e identidade, estabelecer comunhão e
participação entre eles.58
4.6 O Conselho Episcopal Latino-Americano e a Pastoral de Juventude. No
mês de agosto de 1968, reuniu-se em Medellin (Colômbia) a II Conferência Episcopal
Latino-Americana. O Papa Paulo VI em seu discurso fala: “é digno do máximo
interesse e de imensa utilidade” dedicar o documento n.5 e suas conclusões à pastoral da
juventude. Foi a primeira vez que se elaborou, em nível da América Latina, um
documento oficial da Igreja sobre o assunto.59
4.7. A Pastoral da Juventude Orgânica. Foi o novo instrumento teórico que
começou a surgir em quase todos os países da América Latina, a partir da segunda
metade da década de 70, e que substituiu os Movimentos de Encontros de cunho local
ou nacional. Esta pastoral surgiu a partir da necessidade sentida pela coordenação dos
grupos paroquiais em vários níveis. Na República Dominicana, começou-se a organizar
55
Cf. Idem, p. 23. 56
Anexo XVI, Relação do líder com o grupo. 57
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, pp.
61-62. 58
Cf. Idem, p. 63. 59
Cf. Idem, p, 64.
a coordenação da paróquia, por setor (ou zona), por diocese, por região e em nível
nacional.60
5. Novos Sinais
A Igreja deve-se apresentar hoje com novos sinais que a tornem crível diante dos
jovens, como a eleita e amada por Deus, para dar ao mundo vida e esperança nova.61
As
participações juvenis nas celebrações são cada vez mais visíveis e participativas. Em
algumas cidades como: Santo Domingo, São Francisco Marcoris, Puerto Plata, La Vega,
entre outras cidades, os jovens, que são particularmente sensíveis às expressões festivas
e comunitárias, têm hoje uma participação ativa na liturgia e nas celebrações das
comunidades, para dar expressão viva e atual, encarnada e inteligível a estes momentos
de celebração da vida do povo de Deus. 75,3% dos jovens da Paróquia San José
percebeu crescimento na participação no grupo, 78,7% costuma se reunir fora do grupo
em ambientes sociais e 99,5% convidam a outros amigos a participarem da vida integral
da Igreja e familiar62
. A Pastoral da Juventude nestas cidades em especial Cenoví está
sendo assim a expressão concreta da missão pastoral da comunidade eclesial atenta à
evangelização dos jovens. Evangelização dos jovens que será também, Boa Nova na
Igreja e programa de transformação da sociedade e da vida dos cidadãos dominicanos.
A Igreja dominicana vive em comunhão com o povo, a cada dia, interpelada e
questionada pelos desejos de participação dos jovens. Ela própria deseja ser um modelo
de convivência, onde consiga unir a solidariedade, a participação, porque ela é capaz de
abrir caminho para um tipo mais humano de sociedade.63
Nesta sintonia 83,3% dos
jovens da paróquia San José sentem o apoio do padre64
.
5.1. Inserção na família. A inserção dos jovens na própria família é um dos
principais meios do apostolado dos jovens na Igreja. Os jovens têm um primeiro nível
60
Cf. Idem, pp. 66-69. 61
Cf. Idem, pp. 87-88. 62
Cf. Anexo XIII, Perguntas sobre o grupo de jovens. 63
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
88. 64
Cf. Anexo X, Relação do pároco com o grupo.
de inserção social na família. Esta os forma como pessoas, educa-os na fé e converte-os
em promotores do desenvolvimento. Os bispos dominicanos sempre motivam os jovens
a viver os valores humanos e cristãos a partir da família. Da igreja doméstica surge a
maioria das vocações para a vida da Igreja.65
Neste caso cabe a cada paróquia e
comunidade, descobrir quais são os “novos sofredores” da sua realidade e acolhê-los de
maneira fraterna e amorosa, buscando solucionar seus problemas.66
5.2. Solidariedade com os que sofrem. A ajuda aos excluídos é outra forma de
inserção. A Igreja, em sua caminhada junto ao povo dominicano, vai encontrando
muitas pessoas e jovens caídos à beira do caminho e não passa com os olhos fechados:
ela para, levanta-os e os ajuda a seguirem suas vidas. Daí, nascem da Igreja a
preocupação e a tarefa da promoção e assistência, da solidariedade e da caridade, da
verdadeira pastoral social comprometida e atenta às situações de sofrimento, pobreza,
opressão, necessidade dos jovens, sobretudo dos desamparados e dos marginalizados.67
Ser cristão, no entanto, é saber lutar, buscar e dar a vida como Jesus fez na sua
caminhada. A Igreja, no entanto, é uma comunidade onde se vivem vários ministérios,
cuja função principal é a de servir ao conjunto dos necessitados.68
6. Cuidados da hierarquia
Os bispos dominicanos sempre têm demonstrado um grande amor pela
juventude, em sua tarefa de convidar seus colaboradores (párocos, sacerdotes,
religiosos, dirigentes, leigos) para compartilhar deste serviço da pastoral de juventude,
solicitando o interesse e o apoio deles. Eles manifestaram particular atenção à formação
dos assessores em todos os níveis, promovendo sua capacitação para melhor
acompanhamento dos jovens.69
No entanto os párocos da República Dominicana têm
65
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
89. 66
Cf. PEREIRA, José Carlos. Pastoral da Acolhida: Guia de implantação, formação e atuação dos
agentes. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 71. 67
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
90. 68
Cf. BORAN, Jorge. Juventude: o Grande Desafio. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 109. 69
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, pp.
91-92.
demonstrado uma grande preocupação com a pastoral juvenil a qual deverá manifestar-
se através dos seguintes desempenhos:70
Integrá-la na pastoral orgânica e na tarefa evangelizadora de toda
comunidade;
Favorecer a realização da opção preferencial da Igreja pelos jovens
dentro de sua comunidade paroquial;
Preocupar-se com o assessoramento e com a animação dos grupos e
comunidades juvenis;
Acolher e apoiar as iniciativas dos jovens, facilitando sua realização,
55,5% dos jovens da paróquia San José sentem o apoio dos movimentos
integrantes da comunidade71
.
6.1. Objetivos da Igreja da República Dominicana. É realizado cada ano um
esforço para adequar sua ação pastoral aos diferentes desafios do momento, em perfeita
consonância com as linhas trazidas em nível nacional. A Pastoral da Juventude assume
como eixo transversal em programação anual um tema que tem sido escolhido para toda
a Igreja que peregrina na República Dominicana: Os discípulos de Jesus, chamados a
formar comunidades.72
Baseada na programação anual para este ano de 2010, a Pastoral
Juvenil, a partir da casa da juventude em Santo Domingo busca os seguintes objetivos:
Promover o espírito de comunidade nos jovens, assim como o
desenvolvimento da Missão Continental Juvenil.
Fortalecer a Comissão Arquidiocesana e as regiões, como também a
formação, capacitação dos agentes da Pastoral da Juventude.
Celebrar o Ano Sacerdotal
Fortalecer a presença dos Meios de Comunicação Social
Promover o desenvolvimento integral da juventude na educação dos valores.
70
Cf. Idem, pp. 208-209. 71
Cf. Anexo XII, Lideranças das pastorais. 72
Padre Luis Rosario. Coordenador Nacional da Pastoral da Juventude. Programação 2010 da Pastoral da
Juventude da República Dominicana. (traduzido por: Juan Andrés Hidalgo Lora).
6.2 Protagonistas da evangelização. Hoje a Igreja na República Dominicana reconhece
e promove a presença e participação ativa da juventude em sua vida e em sua missão.
Os jovens não devem considerar-se simplesmente como objeto de solicitude pastoral da
Igreja e que são de fato – e devem ser incitados a serem sujeitos ativos, protagonistas da
evangelização e agentes de renovação social. Finalizando o ano de 2010, a Igreja de
Santo Domingo, através do fortalecimento do trabalho nos setores, das relações cordiais
entre bispos auxiliares, sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, leigos, com
grande entusiasmo, compromisso e um ritmo adequado de trabalho, respondendo à
aceitação e credibilidade do nosso povo peregrino de todas as classes sociais.73
Os
jovens leigos assumiram as lideranças e hoje a participação dos jovens dentro da Igreja
é bem considerável. Um 75,4% dos jovens da paróquia San José confia no seu líder74
.
6.3 Integração dos jovens. A Igreja Dominicana para acolher melhor os jovens
e participar ativamente junto com eles resolveu anualmente fazer sua programação para
que, seja mais participativa e ativa na vida do jovem. Assim com esta programação toda
a Igreja reconheceu que os jovens precisam ser acolhidos de forma diferente e com
atrativos em que eles possam sentir-se bem amados e felizes. A comunidade paroquial
oferece apoio aos jovens, dando vida e ação pastoral. Os jovens, por sua vez, estão
integrados em paróquias, compartilham com adolescentes e adultos com grande alegria
e amor. Também os jovens são os principais colaboradores nos serviços e ações da
pastoral em conjunto. Com seu dinamismo e entusiasmo responsável da sua
participação oferecem serviços especiais de acolhida e apoio para aqueles jovens que se
encontram em situações especiais de pobreza extrema, delinquência e desintegração
familiar e social.75
73
Cf. Idem, p. 47. 74
Cf. Anexo XVI, Motivo de participação. 75
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
50.
7. O novo mundo
Os que trabalham com a pastoral da juventude, hoje, não podem ignorar o que
está acontecendo: o modernismo está em crise, há claros sinais indicadores de sua
decadência. A República Dominicana é proclamada como uma esperança e, boa parte de
sua força repousa em seus valores cristãos. No novo mundo surge um jovem novo, a
quem Puebla lançou desafio, convidando-o a ser agente construtor de nova civilização, a
Civilização do Amor. A situação econômica, cultural, política e social de nossos povos
têm grande ressonância na vida familiar no desenvolvimento da pastoral familiar em
ambientes de confiança e de verdade, 76
em que se verifique a integração dos valores
naturais da família com a fé, e em que se realize discernimento cristão das
circunstâncias para a tomada de decisões. Há crescente tomada de consciência da
influência da família como corpo social primário em que se desenvolve o processo
educativo e formativo do jovem.77
8. Novos modelos
Diante da descrença de muitas gerações, adultas e também jovens, a República
Dominicana vai dando à luz novo modelo de ser jovem, caracterizado por crescente
desejo de participação na sociedade como protagonista de sua vida e de sua história, por
uma rebeldia capaz de empreender as ações mais audaciosas que o levam à conquista
dos ideais a que aspira, por anseios de liberdade. Por isso, a Igreja faz opção
preferencial pelos jovens78
, e lhes “dirige um veemente apelo para que nela busquem o
lugar de sua comunhão com Deus e com os homens, a fim de construir “a civilização do
amor” e de edificar a paz na justiça.79
Hoje a República Dominicana reconhece que a
juventude é a idade da pessoa em crescimento, que busca sua definição pessoal e social.
É fase de ascensão, de crescimento, rica em promessas de renovação e em reservas de
76
Cf. CELAM, Conclusões das Conferências do Rio de Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo; III
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, São Paulo: Paulus, 2005, n. 600, p. 443. 77
Cf. Idem, n.1173, p. 555. 78
Cf. Idem, n. 1132, p. 546. 79
Cf. Idem, n. 1188, p. 559.
entusiasmo para a humanidade e que está disposta em investir e trabalhar para esta nova
geração na promessa de uma nação melhor, saudável e de muita esperança.
Este primeiro capítulo mostrou que, através do conhecimento, a juventude não é só
uma etapa da vida do ser humano. Mas sim um agente de transformação social através
dos seus valores, de sua capacidade de expressão, de sua luta para dar continuidade à
sua vida que requer a sua integração no meio social, levando e considerando suas
dimensões. Como co-responsável para uma vida futura e integrada na sociedade e no
meio familiar se reconhece que a sua presença nos meios sociais religiosos e familiares
contribui para essa integração positiva e responsável pelos seus atos. Aceitar a presença
da juventude nestes meios é capacitar os jovens a crescerem diferentes e entenderem
que, quando adultos, deverão ser pessoas íntegras para assumir seu papel na sociedade.
Excluir os jovens e não acreditar na capacidade do seu papel é não acreditar em um
futuro melhor e desenvolvido, para os jovens da paróquia San José 10% sentem que
alguma vez foram excluídos, mais algo bom e que 90% se sentem acolhidos80
. É
impedir que sua paróquia, seu país, seu lar não tenham condição de uma mudança
positiva e construtiva. É negar que sua existência tenha validade para uma capacidade
de transformação exemplar nos meios sociais e religiosos e destratar a capacidade
humana e intelectual daqueles que um dia poderão fazer a diferença no seu habitat.
Acreditar na juventude é trazê-la para um mundo digno, desenvolvido, preparado e
consciente para um mundo melhor. Foi através destes conceitos que na República
Dominicana, por volta do século XX, se passou a acreditar e reconhecer que a pastoral
da juventude é parte importante para um país que acredita no seu desenvolvimento. A
Igreja, por sua vez, abriu suas portas e trouxe os jovens para juntos reunirem forças para
uma mudança positiva. Sendo assim, reconhece a importância que os jovens
representam em seu meio.
Foi acreditando na força juvenil que alguns movimentos aceitaram os jovens para
haver uma mudança positiva onde toda a população sofria com seus ditadores que
traziam para seu país sofrimento perseguição e massacre, não dando oportunidade à
livre escolha, reprimindo a liberdade e tirando vidas daqueles que lutavam por um
80
Cf. Anexo XII, Lideranças das pastorais.
mundo melhor. Os jovens foram perseguidos, mas sua força e sua garra não permitiram
que desistissem de uma mudança positiva.
Devido às dificuldades existentes, ao longo dos anos, os jovens foram frustrados em
seu desenvolvimento e sonhos. As dificuldades fizeram com que fossem levados a
tomar outros rumos de vida como: escolher os estudos ou trabalho; levando muitas
vezes os jovens às delinqüências; escolhendo meios ilícitos para sobrevivência ou
mesmo desistindo de seu próprio país, procurando outras nações para melhor
sobrevivência. Infelizmente a pobreza, a falta de oportunidades leva os jovens a
tomarem outras decisões. O meio familiar está cada vez mais difícil para estes jovens,
onde sem estrutura e sem expectativa, seus sonhos são transformados em desilusões,
levando-os cada vez mais a desistirem de um futuro melhor, como abandonar tudo
quando ainda não conseguiram entrar em uma universidade.
A Igreja na República Dominicana, por sua vez, teve, tem e sempre terá uma
participação importante na vida da Pastoral da Juventude. Foi observando as
dificuldades que os jovens traziam em suas vidas que a Igreja se preocupou em
conquistar para si a juventude e dando oportunidades para que seus trabalhos fossem
desenvolvidos com responsabilidade e credibilidade. A Igreja, preocupada com a
juventude nos locais mais pobres, onde os jovens já não tinham mais esperança, foi ao
encontro e os acolheu, dando oportunidade e liberdade de expressão. Sendo assim,
facilita que eles tenham suas escolhas e suas decisões.
Hoje na República Dominicana a Igreja acolhe toda a pastoral da juventude, não
para fazer barulho ou mesmo volume, mas ela acolhe oferecendo trabalho, missão e
vida. Quando a Igreja acolhe, é para que naquilo que já não existia sabor passe a existir,
onde não havia cor passe a ser colorido, onde não existia paz que venha a alegria, o
amor, a cumplicidade e, acima de tudo, a vontade de viver. Hoje a Igreja não somente
acolhe o jovem, mas lhe oferece condições para uma participação ativa dentro de uma
paróquia, evangelizando-o. Através da evangelização juvenil, o jovem se sente acolhido
e a Igreja colhe muitos frutos, quando alguns deles já demonstravam indício de
desanimar. Acolher o jovem é dar vida a ele mesmo, mostrar-lhe a sabedoria de mudar,
a sentir que ser cristão é ser amado por Deus e experimentar sua presença na vida do seu
irmão. Reconhecer o valor da juventude é colher os frutos mais saborosos da árvore
mais importante que é a vida. Para 89,6% dos jovens da paróquia San José considera o
padre como uma pessoa confiável e amiga81
.
Após termos vistos os vários aspectos que compreendem a realidade, política,
econômica, social e religiosa da juventude da República Dominicana, vamos abordar,
no segundo capítulo, alguns elementos fundamentais para a Pastoral da acolhida.
81
Cf. Anexo XI, Imagem do pároco.
CAPÍTULO II
ACOLHIDA DA JUVENTUDE COMO CAMINHO
1. Protagonismo e Acolhida. Conceitos
A palavra protagonista vem do teatro e significa “ator principal”. Os jovens não
querem ser conduzidos, mas assistidos. Querem ter opções e condições de exercer
livremente e fundamentalmente estas opções.82
O jovem não assume responsabilidade
ouvindo sermões, mas exercendo a responsabilidade. É preciso aceitar o erro e as
limitações próprias da juventude.83
A existência de assessores capazes e aptos a
proceder ao acompanhamento dos jovens pode propiciar um crescimento sadio. O
protagonismo do jovem pressupõe a humildade e a assistência sempre renovada do
assessor,84
o que também lança um questionamento sobre o preparo dos assessores. Ora,
se o jovem depende de uma orientação, esta deve estar associada a uma educação
adequada e a uma formação íntegra da pessoa humana.
Schmidt, ao descrever o significado da acolhida, destaca que acolher é ter
consideração, atenção, recepcionar, etc.85
, significa vivenciar o Evangelho em sua forma
mais autêntica, isto é, acolher aqueles que por diversos meios e pelos mais variados
motivos batem à porta da Igreja. De forma metafórica, poderíamos dizer que é
necessário investir na qualidade das portas e não na quantidade delas, quando se trata de
acolhida e, especialmente, da acolhida aos jovens.
1.1. Visão antropológica. Todos nós, homens e mulheres do nosso tempo,
vivemos uma profunda experiência de busca. Com suas exigências de eficiência,
produção e consumo, a vida atual se apresenta ao mesmo tempo desagregadora,
massificante e despersonalizadora. Em inúmeros ambientes, impera a lei do mais forte.
82
Cf. BORAN, Jorge, Juventude o Grande Desafio, São Paulo: Paulinas, 1982, p. 203. 83
Cf. Idem, p. 304. 84
Cf. Idem, p. 304. 85
Cf. SCHMIDT, Gerson. Manual da Acolhida. Pistas para uma Pastoral do Acolhimento. 2 ed. Porto
Alegre: PRESSCOM, s/d. 1996, p. 8.
Imersos neste ambiente, sentimos um desejo profundo de autênticas experiências de
participação e comunhão. Queremos cultivar relações, obter respostas, ser mais.
Buscamos luz, acolhida, compreensão, comunhão. E para isso, percorremos inúmeros
caminhos. O caminho da fé é um deles.86
1.2. Visão bíblica. Quando estamos dentro de uma pastoral como a acolhida,
sempre é Deus que nos acolhe no seu mais íntimo amor. Os jovens quando acolhem
certamente houve uma grande descoberta do amor de Deus; através de sua fé
automaticamente acolhem a Deus. 87
“Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu
nome ali eu estarei”.88
Todo homem e toda mulher têm o chamado especial de Deus para trabalhar e
servir. Sendo assim, os jovens quando estão acolhendo estão recebendo este chamado
de Deus. No Gênesis Deus fala: “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”.89
Diante deste relato os jovens sentem a presença viva de Deus entre eles quando são
acolhidos ou quando acolhem. Os jovens em seu trabalho, dentro da acolhida percebem
os valores humanitários nos quais, por mais insignificantes que sejam ou achem que
são, têm a nobreza de não violarem seus direitos e nem os direitos dos que os procuram.
Aprendem que sendo imagem e semelhança de Deus, o princípio sempre será o respeito
pelos demais.90
Muitas vezes, os jovens não são reconhecidos dentro de sua própria paróquia.
Mesmo assim, os jovens não desistem, ajudando, acolhendo e buscando. Então aí, são
reconhecidos e procurados por aqueles que muitas vezes recusaram seus trabalhos91
. Na
acolhida os jovens buscam uma resposta imediata da Igreja em sua pastoral e mesmo
86
Cf. ABREU, Elza Helena, FERREIRA, José. Na Liturgia a Acolhida se Faz Comunhão. Subsídio para
a Capacitação da Dimensão Comunitária da Acolhida. São Paulo: 2004, p. 5. 87
Cf. PEREIRA, José Carlos. Pastoral da Acolhida: Guia de implantação, formação e atuação dos
agentes. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 77. 88
Mt 18,20. 89
Gn 1,26. 90
Cf. CNBB. Assessoria Vocacional a Grupos de Jovens. Setores de Juventude e Vocações e Ministérios.
No. 03. São Paulo: Loyola, 2001, p. 37. 91
Cf. Anexo XII, Lideranças das pastorais.
sendo excluídos eles, muitas vezes, permanecem firmes.92
Jesus fala que nenhum
profeta é bem aceito em sua pátria.93
1.3. Visão pastoral. Dentro da pastoral da acolhida é preciso que uma vez ou outra
haja uma avaliação para todo o trabalho feito, principalmente quando houver: grandes
encontros, missas solenes, debates ou mesmo grandes festividades quando os jovens que
foram acolhidos são avaliados para que seu trabalho de acolhida seja cada vez mais
eficaz. Ninguém gosta de ser avaliado, mas em alguns casos é preciso, principalmente
quando se trata de um trabalho pastoral voltado para a Igreja.94
Um 88,2% dos jovens da
paróquia San José que sentiram por algum motivo criticado por outras pastorais
encontraram amparo dentro do grupo95
.
Dentro da pastoral da acolhida os jovens precisam sempre ser convocados, pois é
na convocação que é despertado seu sentido da fé. Motivando-os para encontros como:
esporte, teatro, acampamentos, retiros, etc. Diante desses encontros tem-se como meta o
amadurecimento integral.96
O fundamento da pastoral da acolhida está totalmente
voltado para a palavra de Deus, sendo orientada pela Igreja e cumprindo as necessidades
daqueles que os procuram. É preciso deixar Deus falar ao coração daqueles que acolhem
para que não haja desvio de conduta nem de informação.97
Muitas vezes existe a dúvida de como se deve trabalhar com a Pastoral da
Juventude da Acolhida. É preciso olhar o jovem como jovem, levá-lo sempre para a
ação, sem perda de tempo, sempre o abordando e seguindo os objetivos da ação. Os
jovens sabem o que querem e o que procuram. Dificilmente os jovens se perdem quando
estão em busca de seu objetivo. Na acolhida os jovens sempre estão buscando e
92
DE OLIVEIRA, Vicente André. Acolhida: Como Formar Comunidades Acolhedoras. Aparecida-SP:
Santuário, 2008, p. 34. 93
Cf. Mt 13, 54-58. 94
Cf. PEREIRA, José Carlos. Pastoral da Acolhida: Guia de implantação, formação e atuação dos
agentes. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 56. 95
Cf. Anexo XII, Lideranças das pastorais. 96
Cf. CELAM. Projeto de Vida. Caminho vocacional da Pastoral da Juventude Latino-americana. CNBB-
Setor Juventude. São Paulo: CCJ, 2004, p. 75. 97
Cf. CORAZZA, Helena. Acolher é Comunicar. Como trabalhar o Ministério da Acolhida. 5. ed. São
Paulo: Paulinas, 2008, p. 27.
descobrindo a sua fé.98
No trabalho de campo com os jovens da paróquia San José
45,5% descobriram que participando do grupo cresceram na fé99
.
1.4. Visão eclesiológica. O Concílio Vaticano II foi uma verdadeira atualização e
renovação da acolhida na vida da Igreja, porque dá unidade aos cristãos. E a
constituição pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo de hoje, manifesta o
olhar e a proposta da Igreja ao mundo contemporâneo. As primeiras palavras revelam a
íntima união da Igreja com toda a família humana universal:100
As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens
e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que
sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada
verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração. Com
efeito, a sua comunidade se constitui de homens que, reunidos em
Cristo, são dirigidos pelo Espírito Santo, na sua peregrinação para
o Reino do Pai. Eles aceitaram a mensagem da salvação que deve
ser proposta a todos. Portanto, a comunidade cristã se sente
verdadeiramente solidária com o gênero humano e com sua
história.101
A Igreja da República Dominicana permanece fiel aos objetivos e perspectiva do
Concílio Vaticano II. A Pastoral de Juventude busca ouvir e dialogar com a sociedade
contemporânea através da fidelidade a Cristo e da fidelidade à tarefa missionária.
Quanto mais avançamos na caminhada eclesial, descobrimos com intensa alegria, que
na Igreja católica, povo de Deus, Corpo de Cristo, mistério de comunhão, a vida
humana se restaura e se renova, cresce em coesão, em força e sabedoria dos jovens, e a
maior prova disto é que todos os jovens entrevistados falaram que vão continuar
frequentando a Igreja depois de adultos102
. A Igreja é comunidade de fé, assembleia dos
que escutam e amam a Deus, dos que acolhem os jovens e vivem um projeto de vida
nova, vida cristã iluminada e fortalecida pelo Espírito Santo.
98
Cf. BORAN, Jorge. Os Desafios Pastorais de Uma Nova Era. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 77. 99
Anexo XV, Crescimento em grupo. 100
Cf. ABREU, Elza Helena, FERREIRA, José. Na Liturgia a Acolhida se Faz Comunhão, Subsídio para
a Capacitação da Dimensão Comunitária da Acolhida. São Paulo: 2004, p. 6. 101
GS. n.1. 102
Cf. Anexo XII, Lideranças das pastorais.
Não são suficientes os critérios bíblicos e teológicos. Considerando a unidade do
ser humano, é indispensável pensar também num modo bem concreto de favorecer o
encontro de uma pessoa livre e consciente com Deus que chama e envia. Pelo fato de
que, normalmente, Deus chama na realidade do dia a dia da vida, é importante que
quem acompanhe seja capaz de ajudar o jovem a superar possíveis impasses, lacunas,
barreiras existenciais, as quais criam obstáculos para o crescimento de uma
personalidade equilibrada. Trata-se, portanto, de acolher de perto a vida da pessoa
humana em sua totalidade. O objetivo dessa acolhida é contribuir para que a resposta
vocacional se dê num clima de verdadeira autonomia. O jovem que busca escutar Deus
precisa ser dono de si mesmo, a fim de que seja capaz de assumir com convicção e
responsabilidade o chamado que lhe é feito.103
Nesta perspectiva, é necessário saber lidar com os movimentos de sua
afetividade, seus instintos, suas tendências e sua sexualidade. Nessa lida, a pessoa deve
ser capaz de superar frustrações, recalques, remorsos exagerados e outros que
atrapalham uma caminhada sadia e plenamente humana.104
Portanto, faz parte desses
critérios antropológicos ajudar os jovens a compreender melhor suas vivências
puncionais, suas tendências e o significado desses elementos do dinamismo da vida da
pessoa humana.105
Muitas vezes os jovens têm pressa. E quando isto acontece, desmotiva a acolhida
daquele que ali está precisando do acolhimento. A acolhida é prática de boas maneiras
sem tempo e sem hora marcada. O jovem precisa aprender que ele está a serviço de um
irmão necessitado e é preciso estar disponível para acolher sem pressa. Antes de pensar
no pão de cada dia é preciso ver as necessidades psicológicas, espirituais e afetivas.106
Antes de tudo, o que se entende por acolhimento mútuo é a atitude de nos
acolhermos e nos amarmos uns aos outros como filhos do mesmo Pai, e todos, irmãos
em Cristo. Todos acolhem a todos. Trata-se de reconhecermos que somos dignos de
respeito e ternura, pois somos santificados pelos sacramentos da iniciação cristã
(Batismo, Confirmação, Eucaristia). Mas, ao mesmo tempo, somos todos pecadores,
103
Cf. CNBB, Assessoria Vocacional a Grupos de Jovens. Setores de juventudes vocações e ministério.
São Paulo: Loyola, 2001, p. 29. 104
Cf. Ibidem, p. 29. 105
Cf. Ibidem, p. 29. 106
Cf. DE OLIVEIRA, Vicente André. Acolhida: Como Formar Comunidades Acolhedoras. Aparecida –
SP: Santuário, 2008, p. 41.
merecedores de confiante acolhida, amorosa compaixão, múltiplo perdão. Portanto, o
acolhimento é uma atitude fundamental, senão o cristianismo vira formalismo,
ritualismo, palavras ocas.107
Além de nos acolhermos uns aos outros, num só coração e
numa só alma, somos chamados a construir a comunidade de fé, a Igreja de Cristo, a
serviço de uma sociedade justa e solidária, através de ministérios, pastorais e
movimentos juvenis108
.
Há uma urgente necessidade de desenvolver a acolhida aos jovens que
procuram a Igreja, razão pela qual Schmidt insiste nos “dez mandamentos” de quem
acolhe: falar olhando nos olhos, sorrir com sinceridade, chamar pelo nome, ser amigo,
ser cordial e simples, interessar-se, ser generoso, considerar os sentimentos alheios,
respeitar as opiniões alheias e estar disponível para quando o jovem precisar ser
acolhido.109
O acolhimento está profundamente enraizado na escuta, no processo de ouvir o
que o outro tem a dizer, da mesma forma que está ligado à autoestima e ao
reconhecimento dos limites e capacidades do ouvinte. O acolhimento, portanto, não
prioriza exatamente a ação, salvo a de ir ao encontro daquele que necessita e não esperar
de braços abertos alguém, mas centraliza-se no ouvir e no resolver.110
Dentro das diferentes visões podemos descer que: Na visão antropológica, a
acolhida busca uma experiência de fé, levando à eficiência e à experiência profunda de
compreensão e comunhão entre todos os que vivem dentro da pastoral da acolhida.
Dentro da visão eclesiológica, a acolhida veio para renovar e unir os cristãos levando a
paz, alegria e a esperança para aqueles que sofrem, e assim, tirando o sofrimento do
coração daqueles que carregam tristeza, angústia e mostrando o verdadeiro amor e o
sentido da vida que vêm do Espírito Santo.
107
Cf. ABREU, Elza Helena, FERREIRA, José. Na Liturgia a Acolhida se Faz Comunhão. Subsídio para
a Capacitação da Dimensão Comunitária da Acolhida. São Paulo: 2004, p. 9. 108
Cf. Idem, p. 9. 109
Cf. Idem, pp. 51-52. 110
Cf. Idem, pp. 29-31.
2. Perfil do jovem dominicano
Entre as diversas considerações feitas a respeito do perfil do jovem da República
Dominicana contemporânea, dentre as quais se enfatizou a quebra de laços afetivos
familiares; a debilidade intelectual, aliada à pouca leitura; a fragmentação da identidade;
a falta de oportunidade que gerou a imigração; a pobreza; o sofrimento, advindo da
violência; o desemprego; o tráfico de drogas. Toda essa realidade parece levar o jovem
a dar preferência ao sincretismo religioso e às formas religiosas ecumênicas. Na
realidade, atribuiu-se esta preferência do jovem pelo sincretismo também à natural
necessidade de liberdade de expressão e à rejeição de toda e qualquer autoridade, mais
ainda quando esta é identificada como negativa. Se por um lado a existência do sagrado
parece indiscutível para o jovem, podemos constatar que o sagrado encontra-se situado
preferencialmente no campo da vida privada, o que retira do jovem a apreciação ou
valorização de seus comportamentos e expressões religiosas. Geralmente essa avaliação
é feita por terceiros, membros de comunidades e inseridos em vida pública. Tanto os
jovens como os adultos procuram o espaço religioso motivados pela necessidade de
viver uma dimensão sagrada que lhes dê, essencialmente, sentido à vida, mesmo porque
esta é a tarefa fundamental de todas as religiões.
3. Posicionamento da Igreja Católica
No Documento de Medellín encontramos vários elementos sobre a necessidade
da Igreja acolher a juventude, salientando que ela espera dos jovens sua colaboração
rejuvenescedora. Espera com confiança, com amor. A juventude é símbolo da Igreja,
chamada à constante renovação de si mesma, ou seja, ao incessante rejuvenescimento.
111 Nos últimos anos muitas pessoas batizadas na República Dominicana se afastaram
da prática religiosa. Esses distanciamentos tiveram várias causas:
Uma delas é a falta de sentido de pertença dos jovens à comunidade Igreja,
como consequência de uma evangelização não suficiente.
111
Cf. CELAM, Conclusões das Conferências do Rio de Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo; III
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, São Paulo: Paulus, 2005, No. 5.12. p, 128.
Outra é a falta de acolhida que favoreça, não só a participação no culto, mas, o
envolvimento efetivo nas atividades da comunidade.112
Ou seja, preocupada, a Igreja dominicana vai particularmente ao encontro dessas
pessoas. O diálogo com os batizados distanciados é passo importante para se
conhecerem as razões do afastamento dos jovens, que são acolhidos nas visitas ou nos
encontros e devem ser ouvidos com carinho e amor. Não se trata de fazer juízo da
situação, mas dialogar motivando o retorno à vida da comunidade. Revestida do mesmo
sentimento de Jesus Cristo, a Igreja quer que todos “tenham nele a vida eterna”113
para
a construção de um mundo novo na vida da Igreja.
A Igreja se mostra entusiasmada diante da possibilidade de entrar em comunhão
com os jovens e de vê-los ativos e atuantes na comunidade eclesial, pois vê em suas
atitudes a manifestação dos sinais dos tempos114
, vê que eles anunciam valores que
renovam as diversas épocas da história; vê os jovens como grupo social cada vez mais
decisivo no processo de transformação da humanidade. Fazer parte da acolhida não é
deixar Jesus dentro da Igreja ou, melhor fazer a acolhida dentro da Igreja, ser e
participar da acolhida é levar Jesus para fora da Igreja.115
É penetrar nosso olhar para o
interior, para dentro da pessoa, para além da barreira da maldade, até desenterrar
riquezas que os outros nem suspeitam que possam existir.
A Igreja se abre aos jovens como lugar de encontro com Cristo amigo, que os olha e
os chama116
; lugar de encontro e acolhida com Deus, que transforma a vida dos jovens.
Os jovens devem sentir e experimentar que a Igreja é lugar de acolhida, de comunhão e
de participação. No Documento de Aparecida vemos que os jovens representam enorme
potencial para o presente e o futuro da Igreja e de nossos povos, como discípulos
missionários do Senhor Jesus117
. Os jovens são sensíveis a descobrir sua vocação de
112
Cf. ANNUNCIAÇÃO, Carlos Artur, FACCIOLI, Helmo César. Chamados a ser Discípulos e
Missionários de Jesus Cristo. Visitas Missionárias Permanentes. São Paulo: 2006, p. 13. 113
Cf. Jo 3, 15. 114
Cf. CELAM, Conclusões das Conferências do Rio de Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo; III
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, São Paulo: Paulus, 2005, n. 5.13. p, 129. 115
Cf. ANNUNCIAÇÃO, Carlos Artur, FACCIOLI, Helmo César. Chamados a ser Discípulos e
Missionários de Jesus Cristo. São Paulo: 2006, p. 23. 116
Mc 10, 21: Fitando-o, Jesus o amou e disse: "Uma coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres,
e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.” 117
Cf. CELAM. Documento de Aparecida. Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe. Edições CNBB: Paulinas; São Paulo: Paulus, 2008, n. 443, p.
199.
serem amigos e discípulos de Jesus para se tornarem um fator de acolhida na
humanidade. A Igreja dominicana, motivada pelo Documento de Aparecida, incentivou
jovens cristãos a saírem em busca de outros jovens fora da Igreja, indo a seu encontro
para acolher aqueles que ainda não descobriram sua religião. Motivados e enviados para
a acolhida são impulsionados, pela fé, pela adesão a Jesus Cristo, à sua Igreja e com ela,
comprometidos no testemunho e no anúncio do Evangelho. Para tal anúncio devem
levar em conta algumas considerações como:
Saber ouvir;
Desejar que o outro venha a ser membro vivo da Igreja;
Não ser fanático, e sim convicto de sua presença na Igreja;
Não discutir nem polemizar os questionamentos ou críticas que ouvir; e
Ser dócil, amigo e ser firme na fé.
Feitas estas considerações e diante de um panorama que mostra a importância da
Igreja na vida do jovem e também sua percepção das instituições, a Igreja Católica é
desafiada a incentivar a vivência da dimensão religiosa dos jovens que se encontram
descrentes da Instituição, que dela não participam ou que o fazem esporadicamente.
Entre as iniciativas que afloram, destaca-se o papel relevante da pastoral centrada na
acolhida dos jovens. Para que isto venha a ter validade, é preciso que:
o O jovem faça uma visita humana e acolhedora;
o Dirija-se ao encontro do outro que esteja perdido na fé;
o O seu testemunho seja de alegria pelo dom da vida e da felicidade;
o Mostrar que é feliz em participar da vida da comunidade paroquial; e
o Mostrar a vida da comunidade paroquial como lugar aconchegante e de
grande acontecimento na vida pessoal.118
É com este olhar que a Igreja na República Dominicana está buscando cada vez
mais a juventude e acolhendo de forma profética. É nesta necessidade que a Igreja, na
acolhida, procura não só a quantidade, mas a qualidade dos que buscam e permanecem
na fé. Deus chama os jovens no seu dia a dia e é, neste chamado que os jovens estão se
descobrindo e afirmando sua fé. O jovem quando descobre a presença de Deus em sua
118
Cf. ANNUNCIAÇÃO, Carlos Artur, FACCIOLI, Helmo César. Chamados a Ser Discípulos e
Missionários de Jesus Cristo. São Paulo: 2006, p. 23.
vida é capaz de responder ao chamado de Deus que através da pastoral da acolhida
acolhe cada irmão necessitado.
4 Fatores de acolhimento da juventude
A acolhida é condição necessária para uma participação plena na vida dos
jovens. Os jovens se sentem acolhidos no grupo ou numa comunidade de fé, quando
são recebidos com atenção e consideração e são estimulados para uma reflexão que
apontam pistas para a vida cristã e ação pastoral. Sentem-se acolhidos quando, são
ouvidos com atenção para o diálogo, levando em consideração suas necessidades. Vêm
ao encontro e, integram-se em atividades da comunidade onde podem pensar e agir em
conjunto. Um 75,3% dos jovens da paróquia San José considerou que cresceram
participando ativamente dentro do grupo119
.
1- É preciso, porém ter presente que a participação dos jovens na comunidade é
um processo, isto é vai sendo construído passo a passo. Por isso o assessor
deve trabalhar com os adultos da comunidade para que se evitem cobranças
demasiadas e saibam acolher, apoiar e incentivar os jovens para que
perseverem no caminho que estão seguindo e busquem crescer cada dia mais
em seu compromisso como Igreja humana dentro e fora da comunidade.
2- Outro aspecto que precisa ser trabalhado com os jovens neste passo do
discernimento vocacional da acolhida é o ecumenismo. Que se ajudem os
jovens a respeitar e conviver com os cristãos de outras Igrejas, comunidades,
especialmente, com aqueles da própria família, vizinhos, colegas de escola,
companheiros de trabalho, etc. Além do mais, neste início de novo milênio
todas as vocações, em todas as Igrejas cristãs são chamadas a assumir
juntamente os desafios da evangelização, dando de fato um testemunho de
comunhão. Neste espírito eclesial devem ser promovidas e facilitadas: a
119
Cf. Anexo XIII, Perguntas sobre o grupo de jovens.
partilha dos bens que o espírito de Deus semeou em toda parte, e a ajuda
recíproca entre as Igrejas e irmãos cristãos, ou não.120
Os jovens na acolhida estão sempre atentos a cada descoberta e momento diferente.
Esta atitude acolhedora muitas vezes passa despercebida, levando alguns jovens a
desmotivações e desistências. Para isto é importante que haja um acompanhamento
antes que aconteça uma desmotivação total. Aquele que acolhe precisa estar sempre
disponível para as atitudes e andamento da pastoral, sem pressa para resultados. A
pastoral da acolhida precisa psicologicamente estar preparada para novas descobertas
quando todos acertam e todos erram, portanto a acolhida é uma atitude de cristãos como
resposta para Deus.
4.1.Acolhida e identidade
Acolher significa oferecer refúgio, proteção ou conforto. É mostrar com gestos e
palavras, que a comunidade juvenil é o espaço onde se pode encontrar essa segurança.
Havendo a necessidade de propiciar ao jovem, igualmente, um sentido de identidade.
Ele é único, e não apenas mais um dentre uma multidão e ele pertence ao mundo em que
está inserido, cuja família é um mero detalhe. A Pastoral de Juventude121
pode despertar
no jovem este sentido de autoestima, de valorização e de acolhida, um local onde ele
possa falar de seus sonhos, esperanças, medos e desafios122
. É preciso esquecer, num
primeiro momento, aspectos doutrinários, porque as relações juvenis estão baseadas na
troca de experiências e na confiança, bem como na busca de referenciais. É importante
manter em mente a quem queremos acolher. Cada pessoa inserida num contexto social
mantém a sua individualidade que deve ser respeitada a ponto de ser considerada o
alicerce sobre o qual se constroi a fé, a mensagem de Jesus. A pastoral visa a respeitar,
para evangelizar, a índole da pessoa. A sua cultura e o seu contexto sociopolítico. O
nosso modo de acolher deve acompanhar este passo e encontrar estratégias pastorais
diferenciadas e adequadas a diversas situações e centros de decisões, que afeta a vida do
120
Cf. CNBB, Assessoria vocacional a grupos de jovens. Setores de juventudes vocações e ministério.
São Paulo: Loyola, 2001, p. 43. 121
Cf. BORAN, Jorge. Juventude: o Grande Desafio. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 204. 122
Cf. Anexo XIII, Perguntas sobre o grupo de jovens.
nosso povo. A pastoral da acolhida deve ser exercida com carinho especial para com os
mais sofredores e os carentes, preferidos do Deus libertador.123
A pastoral da acolhida não é só uma simples pastoral dentro da Igreja, mas uma
forma para a construção da Igreja. É com estes olhos que a Igreja visualiza que a
pastoral juvenil acolhedora está se estendendo não só dentro da Igreja, mas também
fora; e desta forma resgatando homens e mulheres, jovens e crianças a serem Igreja de
Cristo vivo e eficaz. A acolhida é uma participação firme na vida dos jovens e foi nestes
encontros que os jovens não só aprenderam a falar, mas também a escutar e a obedecer.
Os jovens eram considerados barulhentos e sem muita necessidade dentro da Igreja.
4.2.Contravalores
A Pastoral da Juventude pode auxiliar na assimilação de valores mais puros e
contrários àqueles que os próprios jovens rejeitam como o consumismo e o
individualismo. Estes valores podem ser reafirmados a cada reunião a partir da
delegação de responsabilidades, fomentando a participação de todos.124
É natural que
muitos jovens da República Dominicana procurem grupos com o intuito de atender às
aspirações da idade, tais como namorar, ocupar o tempo, fazer amigos, etc. Mas a
função da Pastoral da Juventude, e especialmente da acolhida, é estar atenta a qualquer
que seja a motivação externa que leve o jovem a congregar-se, ainda que não
diretamente ligada ao ambiente religioso, ele como indivíduo, em sua intimidade não
verbalizada, está buscando uma experiência religiosa, que possibilite o encontro consigo
e com Deus.125
123
Cf. CONRRADO, Sérgio, BATAGIN, Sônia. Pastoral da Acolhida. Subsídio para a Capacitação da
Pastoral da Acolhida. São Paulo: 2005, p. 4. 124
Cf. BORAN, Jorge. Juventude: o Grande Desafio. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 204. 125
Cf. Idem, p. 209.
4.3.Eventos e Programações
Na República Dominicana em vários encontros que a Igreja teve com os jovens,
aprendeu que, na acolhida, estes jovens fazem a diferença, motivando uns aos outros,
mas também buscando muitos daqueles que se achavam perdidos. A Igreja Dominicana
motivou e motiva, a cada ano, os jovens a terem encontros em diversas ocasiões como:
retiros, acampamentos, encontros, entre outros eventos. Desta forma na República
Dominicana, a Igreja atingiu um potencial positivo em que muitos jovens viviam
perdidos nas drogas, delinquência e na prostituição; através da acolhida estão
descobrindo a presença de Deus em suas vidas126
. Citamos alguns eventos e
programações que acontecem nas arquidioceses da República Dominicana, para que a
acolhida seja motivo para despertar jovens para a missão:
1. Celebração da Páscoa juvenil com o tema “ao ritmo da missão”;
2. Celebração do Natal juvenil;
3. Congresso nacional de jovens, com o tema “jovens de hoje para dar vida
a nosso povo” - 29-31 de janeiro de 2010;
4. Missão juvenil de verão missionário – junho e setembro;
5. Concentração pascal arquidiocesana – segundo domingo da Páscoa – 11
de abril de 2010;
6. Celebração de Pentecostes – 23 de maio;
7. Seis cursos de animadores da pastoral da juventude – fevereiro, março,
maio, junho, agosto e outubro de 2010;
8. Catorze estudos de formação de jovens missionários – janeiro e junho de
2010;
9. Três cursos arquidiocesanos para assessores da pastoral juvenil – março,
junho e novembro de 2010;
10. Congresso paroquial – setembro e novembro de 2010;
11. Três encontros com as comissões regionais da pastoral – janeiro,
junho e novembro de 2010;
12. Participação de encontro arquidiocesano de pastoral – outubro de
2010;
126
Cf. Anexo XII, Lideranças das pastorais.
13. Estudo de avaliação de 2010 e programação para o ano de 2011 –
outubro;
14. Compartilhar novidades – programa eu também – dezembro de
2010;
15. Reunião semanal da comissão arquidiocesana;
16. Três cursos de dinâmicas de líderes – fevereiro, junho e
novembro de 2010;
17. Reunião quinzenal da área de comunicação;
18. Programação do congresso e da semana juvenil – 25-31 de
janeiro de 2010;
19. Programação da páscoa juvenil e da concentração pascal;
20. Foro comunicação social valor do meio e valores dos meios de
comunicação social;
21. Festival juvenil de cinema católico;
22. Retiro espiritual para a área de comunicação; e
23 Atualização diária e ocasional da página da WEB.127
Entre outras programações que são realizadas durante todos os anos nas dioceses
dominicanas, existe a preocupação de sempre aprofundar a acolhida nos retiros,
acampamentos entre outros, para melhorar o atendimento na acolhida dos jovens que
experimentam a sua nova missão. Muitos jovens são sensíveis às manifestações
artísticas e culturais na sociedade, e dentro da pastoral da acolhida juvenil é sabido que
muitos jovens aderem com muito entusiasmo a todo o âmbito da música, shows, bandas
de músicas religiosas entre outras. Os jovens estão descobrindo suas vocações
participando ativamente na música e liturgia dentro da Igreja.128
Vimos que dentro da
Igreja muitas forças pastorais diferenciadas estão presentes na vida dos jovens e cada
vez mais contribuindo para a riqueza interior da Igreja, e com sua crescente
participação. Toda a evangelização juvenil é obra de muitas mãos bem intencionadas
como: “a pastoral da família, pastoral vocacional129
, pastoral catequética e ação
missionária”. Assim vemos que nenhuma pastoral dentro da Igreja é capaz de caminhar
127
ROSARIO, Luis. Programação 2010. Comissão Arquidiocesana de Pastoral da Juventude – Santo
Domingo. (traduzido por: Juan Andrés Hidalgo Lora). 128
Cf. CNBB. Evangelização da Juventude. Desafios e Perspectivas Pastorais. 4ª. ed. N° 93. São Paulo:
Paulus, 2006, p. 21. 129
Idem, pp, 22-23.
isolada. Por exemplo, o jovem para namorar ou fazer amigos não precisa do ambiente
religioso. Se o faz dentro do espaço proporcionado pela Igreja, está buscando algo mais,
apesar de qualquer justificativa que ele procure dar. Neste sentido, a acolhida adquire
uma dimensão maior e mais complexa que ultrapassa as perspectivas de uma mera
reunião social, tocando a essência do jovem.
4.4. Compreensão da fé
É necessário, ainda, levantar espaços alternativos para celebração de fé, pois
haverá sempre uma resistência natural nos jovens à autoridade e à hierarquia. A fé deve
ser igualmente celebrada no contato direto com a realidade social, através da tomada de
consciência do jovem e da possibilidade de ação no mundo. O objetivo maior é que não
se perca nenhum dos que foram confiados pelo Pai a Jesus Cristo, como ele afirma,130
não é da vontade do Pai que está no céu, que um desses pequeninos se perca. Neste
sentido, é necessário baixar o nível de expectativa dos jovens que acorrem à Igreja em
busca da transformação imediata e utópica da realidade social. Neste caso, o insucesso
pode levar à desmotivação na mesma rapidez, mormente quando as questões sociais
surgem de problemas estruturais muito além da aplicação singela dos princípios
cristãos.131
O intercâmbio de experiências com outros grupos de diferentes faixas etárias e a
prática do trabalho social podem contribuir para a diminuição da tensão, fomentando,
igualmente, a formação de uma identidade genuinamente cristã, atenta para a
compaixão, para a solidariedade e para a tolerância dos jovens. A Pastoral da Juventude
não deve ser de adultos, mas de jovens. Participando ativamente, tomando decisões e se
responsabilizando por elas;132
e lembrando que também o trabalho ali exercido é
efêmero, razão pela qual estes mesmos jovens devem se preparar para uma natural
sucessão. Os jovens, dentro desse processo de formação integral nas mais variadas
experiências grupais, têm como meios: retiros, exercícios espirituais, encontros, cursos,
130
Cf. Mt 18, 14. 131
Cf. BORAN, Jorge. Juventude: o Grande Desafio. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 215. 132
Cf. Idem, p. 225.
jornadas de oração, convivências, experiências missionárias, acampamentos, recreação e
projetos de serviço comunitário.133
Para o sociólogo Bauman, a comunidade é um lugar cálido, um lugar confortável
e aconchegante. Quando se é bem acolhido na comunidade, ela passa a representar o
teto sob o qual nos abrigamos da chuva pesada, como uma lareira diante da qual
esquentamos as mãos num dia gelado.134
Toda essa imagem figurada da segurança, na
busca da identidade da juventude torna-se real quando o jovem é bem acolhido, porque
acolher é também dar abrigo, amparar, dar ou receber hospitalidade, ter ou receber
alguém junto de si. José Carlos Pereira em seu livro Pastoral da Acolhida, afirma que:
Acolher é também receber o outro como ele é, admiti-lo no espaço
que já estamos e permitir que se sinta à vontade. Se hoje estamos
na comunidade desenvolvendo algum tipo de atividade, é porque
um dia alguém também nos acolheu. Acolher é, portanto, aceitar,
deixar que o outro venha fazer parte da nossa comunidade e não
ver nele um concorrente, mas, sim, um colaborador, alguém que
vem para somar. É também dar crédito àquele que chega. Levar em
consideração que, se procurou a comunidade ou essa ou aquela
Pastoral, é porque quer colaborar, oferecer algo de si; então nossa
missão como cristãos é acolher da melhor forma possível.135
É com essa afirmação sobre acolhida que percebemos sua importância e
necessidade urgente na Igreja. Se não houver uma boa acolhida, todos os trabalhos,
todas as ações e a comunidade de jovens em si, estão fadados ao fracasso. Ninguém
quer permanecer onde não é bem recebido. Para que um trabalho dê frutos é preciso que
seus agentes sintam-se aceitos. Independentemente de todas as tecnologias de todos os
avanços, de toda a mídia, de todos os contatos facilitados através da internet, a acolhida
precisa do contato humano com seus valores e decisões. É preciso que seja cultivada na
área humana e espiritual para que os jovens não percam sua essência. Infelizmente, os
jovens estão vivendo uma vida muito virtual e perdendo o contato físico e humano. É
133
ROSARIO, Luis. Programação 2010. Comissão Arquidiocesana de Pastoral da Juventude – Santo
Domingo. 134
Cf. BAUMAN, Zygmunt. Comunidade - a Busca por Segurança no Mundo Atual. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2003, p. 7. 135
Cf. PEREIRA, José Carlos. Pastoral da Acolhida: Guia de implantação, formação e atuação dos
agentes. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 16.
bom lembrar que sua missão, sua acolhida não é feita em seu nome, mas sim em nome
de Jesus Cristo.136
A pastoral da acolhida não é mais uma pastoral entre outras, com uma equipe
responsável e um plano de ação. A pastoral da acolhida é um estado de espírito que
deve permear todos os agentes de pastoral e toda e qualquer ação da Igreja na cidade. A
melhor forma que a pastoral da acolhida tem com o jovem é engajá-lo com muita
seriedade em um projeto comunitário e dando a ele a confiança plena. Dificilmente se
consegue de alguém uma apresentação teórica, mas sim fazendo o jovem sentir no seu
corpo as dificuldades, os desafios e a alegria de estar presente lado a lado do outro e
levando consigo a satisfação de um compromisso com Deus e com a Igreja. Se o jovem
não sentir toda esta bagagem, com certeza irá alegar falta de tempo, experiência, e falta
de interesse com a pastoral. A própria participação transforma os valores e a motivação
das pessoas.137
A acolhida não é algo simplesmente oferecido a quem quiser aderir. É
uma plataforma de ação eclesial que seja atual e eficiente. Deve ser agarrada por todos e
sua utilização dependerá das estratégias de ação estabelecidas, respeitando a situação
concreta de cada comunidade pastoral, grupo humano, contexto e criatividade.138
Na
comunidade de fé na Igreja, podemos encontrar o humano e o infinito, em sua máxima
verdade, densidade e disponibilidade.
5. Jesus: modelo de acolhida
Na Sagrada Escritura a atitude de Jesus é de total acolhida, e é justamente essa
sua forma de receber o outro que motiva a Igreja no acolhimento. O Apóstolo Paulo, na
Carta aos Romanos recomenda a acolhida.139
Jesus tinha uma missão ao escolher os
136
Cf. CORAZZA, Helena. Acolher é Comunicar. Como Trabalhar o Ministério da Acolhida. 5ª. ed. São
Paulo: Paulinas, 2008, p. 14. 137
Cf. BORAN, Jorge. O Senso Crítico e o Método Ver-Julgar-Agir. São Paulo: Loyola, 1977,
p. 20.
138 Cf. CONRRADO, Sérgio, BATAGIN, Sônia. Pastoral da Acolhida. Subsídio para a Capacitação da
Pastoral da Acolhida. São Paulo: 2005, p. 7. 139
Rm 15,7: Acolhei-vos, portanto, uns aos outros, como também Cristo vos acolheu, para glória de
Deus.
apóstolos e discípulos. Ele desejava que seus propósitos salvíficos se concretizassem.140
Acolheu, sem discriminação ou preconceito, pessoas tidas como pecadoras, como, por
exemplo, cobradores de impostos141
, leprosos142
, e outros tipos de doentes ou de pessoas
impuras143
.
O agente da pastoral da acolhida é aquele que não visa aos obstáculos pela frente
e sim aquele que arregaça as mangas e vai ao encontro do necessitado. O agente é
aquele que ama sem limites, que participa e deixa-se iluminar pelas diretrizes
assumidas. Mas não para nisto, vai além das aparências e tem a convicção de que o
jovem é um filho de Deus. E isto o motiva a acolher a realidade do outro que se
apresenta de forma múltipla. Por isto, não tem resposta pré-fabricada, sua missão é
construir junto com o outro, colocando plenamente seu ouvido e coração. Assumindo as
chagas dolorosas do povo que grita pela justiça de Deus.
O Documento de Aparecida144
explicita a ação de Jesus, destacando a acolhida
como um serviço fundamental da Igreja para os jovens. Mostra que a acolhida feita por
Jesus é um gesto de amor e que só quem ama acolhe aqueles que são vítimas do
desamor especialmente tantos jovens que não encontram sentido em suas vidas. A
acolhida provoca transformações mútuas. Ao acolhermos, somos, simultaneamente,
acolhidos e essa reciprocidade é transformadora, provocadora de situações que geram
outros gestos de amor em jovens que nunca foram acolhidos e estão formando uma
nova identidade. Jesus viveu uma plenitude de amor humano, viveu todas as formas de
gratuidade, porém no seu lado divino revelou totalmente sua doação em relação aos seus
irmãos. Jesus acolheu cada um no seu infinito amor. É com este gesto de amor humano
que a pastoral da acolhida juvenil precisa aprender e seguir.145
Algumas dimensões que
é preciso serem observadas dentro da pastoral juvenil são: o individualismo, o modo de
cada um ser, a diversidade, etc. Jesus quando chamava os discípulos sempre os chamava
140
Mt 10, 1. 141
Mt 9, 9-13. 142
Mc 1, 40-42. 143
Mc 6, 55-56. 144
Cf. CELAM. Documento de Aparecida. Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe. Edições CNBB: Paulinas; São Paulo: Paulus, 2008, nn. 353-357.
pp. 163-165. 145
Cf. DE OLIVEIRA, Vicente André. Acolhida - Como Formar Comunidades Acolhedoras. Aparecida –
SP: Santuário, 2008, p. 62.
pelo nome, Jesus reconhecia em cada discípulo a sua vontade para uma missão
concreta.146
Jesus chama para ser seguido. E na acolhida é preciso não só acolher, mas também
levar o anúncio para oferecer o reino para todos os jovens que o procuram. Viver o
projeto que Jesus deixou é viver a experiência da conversão e aceitar o projeto deixado
por Ele. E para discernir todos os valores, é preciso ter um encontro pessoal e total com
Jesus Cristo todos aqueles que fazem parte da acolhida, isto é, junto com toda a
comunidade. Ter encontro com Jesus é fazer a diferença com os outros. Quando Jesus
chama, tudo muda, tudo se encaixa, harmoniza e traz a paz interior. Imediatamente
deixaram as redes e começaram a segui-lo.147
Jesus Cristo sempre viveu nas comunidades. Hoje a pastoral juvenil precisa observar
e estar sempre atenta para que não se torne mais um agrupamento de pessoas que, bem
intencionadas, fazem o seu apostolado, sem se importar com o verdadeiro sentido de
convivência e de partilha. É preciso que esteja atenta às mudanças, algumas delas
trazem muitos pontos positivos, porém outras, alguns pontos negativos. É preciso que
haja, sim, mudanças, mas nunca modificando as estruturas uma vez que estejam
formadas.
Para muitos Jesus é uma imagem que está muito distante, que ficou muito atrás e
que hoje a sua presença está apenas em divulgação, quando se leem os Evangelhos.
Porém, para os jovens na acolhida, a presença de Jesus está cada vez mais presente
principalmente quando eles vão ao encontro daqueles que sentem a falta do amor em
suas vidas.
Jesus compromete-se com seu povo. Jesus, para anunciar os desígnios do pai,
enfrenta os problemas, entra e vive na vida do povo de Belém, onde nasceu, integra-se à
vida do povo na Palestina, entendendo a vida do seu povo e compartilhando as dores e
angústias vividas por toda aquela gente. Ali ele anuncia a Boa Nova mesmo que tenha
que sofrer e viver as dores daqueles menos favorecidos.148
Podemos dizer que a base
146
Cf. Mt 7,13-14. 147
Mt 4, 18-22. 148
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
75.
dos evangelhos são os encontros que Jesus estabelece com o outro. Esses encontros
podem ser analisados sob alguns prismas:
5.1. Os encontros circunstanciais - São momentâneos, marcados por uma
profundidade transformadora, como por exemplo: a sogra de Pedro,149
a cura do homem
com a mão atrofiada,150
a cura do paralítico,151
a cura da filha de uma mulher
Cananeia,152
a ressurreição do filho da viúva de Naim,153
a cura do servo de um
centurião,154
a pecadora perdoada.155
Esses encontros podem ser chamados de
imediatamente transformadores, pois desencadeiam no outro um profundo desejo de
mudança de orientação de vida. Jesus é solidário, cura os doentes, acolhe aqueles que
sofrem e sofre com os sofredores. Jesus busca a imagem do Pai naqueles que o amam e
com esta atitude Jesus se coloca na acolhida, pondo os jovens no centro para que
possam sentir que sua acolhida vem do alto, das mãos de Deus.
5.2. Os encontros formativos – Além de todos os seguidores, Jesus escolhe alguns
para se aprofundarem na fé e na entrega. O desejo do Mestre é que o protagonismo da
missão seja abraçado por cada discípulo. Destacamos alguns desses encontros
formadores: no Sermão da Montanha Jesus dá uma verdadeira catequese aos seus
discípulos;156
o Mestre numa conversa profunda transmite as condições do
seguimento;157
a revela a necessidade do sofrimento da cruz no episódio da
transfiguração;158
discursa sobre a missão dos doze;159
e a comunidade primitiva
manifesta que aprendeu com o Mestre.160
149
Mt 8, 14-15. 150
Mc 3,1-6. 151
Lucas 5,17-26. 152
Mt 15, 21-22,28. 153
Lc 7, 11-17. 154
Lc 7, 1-3,6,9c-10. 155
Lc 7,36 -38, 47-48. 156
Mt 5,1-3. 157
Mt 16, 24-25. 158
Mc 9,2.9. 159
Mt 10, 1. 160
At 2, 42-47.
5.3. Encontros pessoais. Depois de ter percorrido algumas passagens bíblicas que
falam desses dois tipos de encontros, descobrimos que Jesus oferece a cada um daqueles
com quem se encontra um tratamento pessoal, atento à situação que seu interlocutor
vive. Olha-o e escuta-o, penetra na inquietação do seu coração e tem uma resposta de
consolo, uma palavra de vida. Jesus oferece um caminho de amizade a cada pessoa,
ajudando-a a reorganizar suas vidas. Não manipula formalidades sociais para avaliar as
pessoas (raça, posição social, etc.), dá a cada um o seu lugar, respeita e crê em cada um.
Aceita cada pessoa como ela é e não faz acepção de pessoas.
5.4. Seguimento dos exemplos de Jesus. Quando somos fiéis ao seguimento de
Jesus, passamos a impulsionar e descobrir melhor a existência do Senhor Ressuscitado
em nossa vida de acolhedor. Quando existe o encontro vital com Jesus na vida do
jovem, é notável que a acolhida é dada a cada um e estendida a todos os outros. Diante
desse seguimento, a acolhida passa a ser construtiva para evangelizar e assim proclamar
a misericórdia de Deus oferecer aos jovens pecadores a esperança e aqueles que
perderam o rumo da vida possam encontrar seu caminho. É na acolhida que a pastoral
da juventude evangeliza os jovens para poderem ser discípulos missionários de Jesus
Cristo. Acolher outras pessoas é acolher sua própria vida com fé, é realizar tudo aquilo
que Jesus Cristo nos confiou. Mostrar à pastoral da juventude os exemplos de Jesus é
concretizar a missão, é ir ao mais profundo sentimento das necessidades do ser
humano.161
O amor purifica nosso olhar, torna-o límpido, penetrante, geralmente costuma-se
dizer que o amor é cego. Na realidade é o único que vê perfeitamente, porque descobre
coisas que não são percebidas por um olhar diferente; consegue ver belezas e riquezas lá
onde os outros não descobrem senão escuridão e lama. Que vêm os outros em Zaqueu?
Um ser miserável, odioso, um ladrão, e em Maria Madalena? Uma mulher sem-
vergonha, e na mulher samaritana? Uma prostituta. 162
O amor cristão vai além dos vícios, além do “fedor” dos outros. Mergulha na
profundidade e busca, descobre, desperta, solicita o que existe de intacto, de puro, até
mesmo nos seres mais perversos. Atiça a parte melhor deles, descobre-a. Hoje a pastoral
161
Cf. Mt 4,18-25; Mc. 2,15-17; Jo 10, 1-18; 1-16. 162
Cf. ANNUNCIAÇÃO, Carlos Artur, FACCIOLI, Helmo César. Chamados a Ser Discípulos e
Missionários de Jesus Cristo - Visitas Missionárias Permanentes. São Paulo:2006, pp. 23-24.
da acolhida juvenil entende que precisa e quer pessoas que sirvam e que sejam
imitadoras de Jesus Cristo, capazes de darem suas vidas por seus irmãos e movendo
outras pessoas a serem seguidoras de Jesus de Nazaré.163
No indivíduo mais abominável
subsiste um cantinho de inocência, que pode ser alcançado unicamente por outra
inocência que se lhe corresponda. Uma das características da Pastoral da Juventude é:
Apresentar ao jovem um Cristo “amigo” e “companheiro de
caminho”: ajudando-o a descobrir o Projeto de Jesus, a identificar-
se com ele e a optar por seu seguimento; assumindo como “estilo
de vida” que define sua identidade de jovem: confrontando
continuamente com ele seus valores, decisões e compromissos
juvenis; e promovendo a vivência de uma espiritualidade
centralizada neste „seguimento‟ de Jesus.164
Este capítulo mostrou que, na pastoral da acolhida, os jovens estão mais
interessados em ouvir e serem ouvidos, aceitando mais suas responsabilidades e que,
através de acompanhamentos com pessoas preparadas, mostram compreensão, afeto e
dedicação para o desenvolvimento acolhedor. Os jovens, hoje, já não aceitam mais o
grito da repreensão e da crítica. É preciso que, dentro de uma pastoral da juventude,
exista assessor capacitado para ajudar e orientar os jovens num desenvolvimento sadio e
que possam crescer e assumir seu papel dentro da pastoral. Todo assessor que assume a
responsabilidade de orientar e coordenar junto com os jovens precisa ter a humildade
para compreender as limitações do grupo, realizando o discernimento para assessorar e
não para coordenar165
.
Dentro da acolhida os jovens aprendem que é preciso respeitar os espaços uns
dos outros e aceitando as condições de cor, raça e religião. Muitas vezes existem
diferenças mesmo dentro de casa, escolas ou mesmo nas vizinhanças. Acolher não é
somente aceitar o que se acha certo e sim também respeitar a atitude e decisão de cada
um166
. Acolher é oferecer o que de melhor se possa dar, é mostrar que não existe
desigualdade, nem mesmo diferenças, pois diante do amor de Deus somos apenas um,
163
Cf. TEIXEIRA, Carmem Lucia, (org). Pessoa na Travessia da Fé - Metodologia e Mística na
Formação Integral da Juventude. São Paulo: CCJ, 2005, p. 21.
164 Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
111. 165
Cf. Anexo XVI, Relação do líder com o grupo. 166
Cf. Anexo XIII, Perguntas sobre o grupo de jovens.
somos unidade onde buscamos as necessidades, a valorização, os sonhos e as esperanças
na igualdade. Deus não faz distinção de ninguém, muito menos de seus filhos.
Hoje, na acolhida há necessidade de que os jovens tenham pessoas firmes na fé,
que acolham e busquem os mais fáceis ou os menos problemáticos e que não façam seu
trabalho com indiferenças. Os mais necessitados são aqueles que inclusive cheiram mal,
são aqueles abandonados na rua, sem perspectivas de vida, são estas pessoas que a
pastoral precisa acolher mais e ninguém melhor para realizá-lo que os jovens dentro da
pastoral da acolhida. A acolhida pode ser a força motriz desta mudança de olhar sobre a
juventude, pois que oferece amor, também impulsionará o jovem ao desprendimento, à
generosidade e aos grandes ideais.
A Igreja pode e deve dar maior atenção ao jovem que a ela acorre, quer
motivado para reunir-se com outros jovens, quer pela busca de ideais e aspirações mais
elevadas que tocam sua essência humana. Na transmissão de valores está não só o
próprio renascer da instituição, mas a transformação do indivíduo, pressuposto básico
para uma verdadeira mudança social, na direção de uma sociedade mais solidária.
A acolhida é, portanto, o caminho e o desafio para a inclusão da juventude na
Igreja, a qual deverá propiciar espaços para as iniciativas que nasçam deste encontro, de
forma que o jovem possa fazer uma reflexão crítica e à luz da fé, dos fatos e das
situações que se apresentam e que se modificam no decorrer da existência. A Ação
social nascerá assim, não de forma passiva e ditada pela Instituição, mas como
consequência de um protagonismo consciente e transformador, que sabe ser transitório e
que prepara espaços para outras gerações, sem perder, contudo, o senso da urgência, da
possibilidade e da esperança. Após termos visto os vários aspectos que compreendem o
acolhimento aos jovens, vamos abordar, no terceiro capítulo, algumas atitudes básicas
para o acompanhamento da Pastoral da Juventude.
CAPÍTULO III
PASTORAL DA JUVENTUDE E ACOMPANHAMENTO
1. História da acolhida de um jovem
Este terceiro capítulo traz uma realidade mais profunda, da forma que colhemos
os frutos onde as sementes foram plantadas nos capítulos um e dois. Queremos relatar o
testemunho de um jovem do qual acompanhamos parte de sua vida e percebemos que o
importante não é somente acolher, é preciso fazer um trabalho completo. Este jovem
que não tinha perspectiva de vida encontrou o valor de viver através da Igreja e do
acolhimento e acompanhamento por parte dos jovens da paróquia Imaculado Coração
de Maria, situada na Rua Jaguaribe, 735, Santa Cecília, São Paulo, SP – Brasil. Eis seu
testemunho:
“Meu nome é José Aparecido dos Reis. Nasci (no dia 8 de fevereiro de 1985),
em uma cidade no interior da Paraíba chamada Solanea, de onde me mudei, ainda
pequeno, para uma cidade próxima de nome Arara. Passei toda minha infância com
minha família, naquela cidade onde a vida é muito dura. No período da seca que lá
sempre tem, juntava com meus pais e meus irmãos para pegar água em lugares
distantes, para sobrevivência nossa e dos poucos animais que tínhamos. Meus pais
passavam por momentos muito difíceis, com pouco dinheiro, não tínhamos condições
nem mesmo para nosso sustento. Diante da situação em que vivíamos meus pais muitas
vezes nos batiam e com grande frequência aconteciam brigas que nós presenciávamos.
Eu criava ovelhas e bois (mas, devido às condições não valia muito). Minha
mãe, certo dia, pediu para falar comigo. Para minha surpresa, me pedia para que eu
fosse para o Rio de Janeiro morar com minhas irmãs que já viviam lá. Eu tinha apenas
quatorze anos e não me imaginava viver tão longe de minha família que era minha vida,
apesar de todas as dificuldades. Sofri muito com esta decisão. Escutei o pedido de
minha mãe e me enchi de sonhos, vendi as ovelhas, os bois para poder comprar minha
passagem.
Afinal com o coração muito triste cheguei à rodoviária do Rio de Janeiro. Lá
minhas irmãs me receberam, levando-me para sua casa. Não precisou passar muitos dias
para eu conhecer a realidade da cidade grande. Minhas irmãs moravam na favela e lá
tive que aprender a conviver com pessoas boas e também más. Fiz amizades com as
pessoas que viviam naquele lugar tão triste. Infelizmente presenciei muitas brigas, só
que desta vez eram brigas de gangues, policiais e traficantes. Alguns amigos meus
infelizmente viviam no meio dessa vida de marginalização, muitos deles da mesma
idade que a minha. Felizmente não me envolvi em quadrilhas, mas presenciei muitos
dos meus amigos se drogarem, passarem drogas, enfrentarem a polícia com troca de
tiros, ajustarem contas com os traficantes e muitas vezes pagarem com sua própria vida.
Os dias passavam e meus dias não melhoravam, nem emprego eu arrumava, minhas
irmãs não me ajudavam e passaram a me maltratar com palavras, muitas vezes me
chamando de bandido e louco. Quando arrumei emprego, por um momento, mudou um
pouco, até que me pediram meu dinheiro que havia recebido do meu trabalho. Tudo o
que eu tinha eu entreguei. Infelizmente, elas não me pagaram e ainda me expulsaram de
sua casa. Fiquei sem saber o que fazer. Fui morar com um amigo para não ficar na rua.
Minha vida nunca foi fácil. Fui para São Paulo aos 16 anos em busca de uma
oportunidade de emprego, pois nasci em uma cidade pequena onde não conseguia
trabalho, para poder ajudar minha família. Imagine só, o quanto é difícil para uma
pessoa sair de uma cidade onde tem família, amigos, conhecidos que é obrigado a
deixar, para chegar aqui em São Paulo, uma cidade grande onde não conhece ninguém.
A minha história começa quando consegui uma proposta de emprego, de uma
suposta pessoa que prometeu me ajudar e que só acabou enganando e levando todo o
dinheiro que eu tinha. Após este acontecimento fiquei me perguntando como podem
existir pessoas que usam os sonhos das pessoas para enganá-las e lhes fazerem mal.
Um mês após o ocorrido, estava passando em frente à Igreja Imaculado Coração
de Maria, onde nunca tinha entrado, embora morasse ao lado, e senti uma vontade
grande de rezar, então, decidi entrar. Pedi a Deus que me guiasse e que me mostrasse o
caminho para que eu conseguisse arrumar um emprego. Depois daquele dia, todas as
vezes que eu passava pela Igreja entrava para rezar. E foi aí, que eu conheci uma pessoa
chamada Luís, que toca órgão nas missas. Este foi o primeiro contato com uma pessoa
da paróquia, e me senti acolhido. Um dia lhe contei toda a minha história e ele decidiu
me ajudar. Com a ajuda de uma senhora, chamada Vilma, me arranjaram roupas e
calçados, para que eu pudesse procurar um emprego. Além disso, pagaram um
tratamento dentário para mim, pois eu sofria muitas dores de dente na época.
A partir daí, comecei a frequentar a Igreja e participar com mais frequência das
atividades de domingo. Certo dia, estava eu na Igreja e o Padre Helmo Cesar Faccioli,
cmf (atual pároco) perguntou a mim se eu estava trabalhando e se, por acaso, gostaria de
fazer parte dos funcionários da Igreja e eu aceitei. Conforme o tempo passava, parecia
que ainda faltava algo em mim, mesmo estando no trabalho, conhecendo a Igreja, eu
sentia falta de amigos, de pessoas que pudessem me entender. Então decidi procurar o
Grupo de Jovens da paróquia, onde fui acolhido por várias pessoas que nunca pensei
que iriam me dar tanta atenção e carinho. No começo fiquei com receio de conversar e
poder expor os meus medos e sonhos; após duas visitas ao grupo, percebi que as
pessoas ali presentes se importavam umas com as outras e isso me chamou a atenção,
pois mesmo vivendo numa cidade como esta, as pessoas do grupo ainda se
preocupavam com o que acontecia com as outras. Desde então frequento o grupo, mas
nem tudo é cor de rosas. Às vezes, nós do grupo entramos em conflito, pois, queremos
sempre melhorar, temos personalidades diferentes, mas, mesmo assim um ajuda o outro
dentro e fora do ambiente do grupo.
Hoje tenho 25 anos e continuo no grupo de jovens aonde vou sempre, com muita
felicidade, a todos os encontros. Lá encontrei forças para seguir minha vida e também
encontrei esperança. Mesmo não sendo fácil, aos poucos estou conseguindo perdoar
minha família e tentando esquecer meu passado, com a ajuda acolhedora da Igreja com
os jovens. Sinto-me feliz, pois vejo que consigo comprar roupas, calçados, sair com
meus amigos, e ainda voltei aos meus estudos. Hoje vivo com uma família muito boa e
acolhedora. Agradeço a Deus todos os dias por todas as pessoas que ele colocou em
meu caminho, mas vejo que se naquele dia eu não tivesse entrado na Igreja talvez hoje
eu não conseguisse falar o que eu falei.”
2. O Termo Acompanhamento aplicado na Pastoral da Juventude
O Acompanhamento, além de sua função prática, é uma dimensão da vida
humana. Podemos dizer que não vivemos sem acompanhamento. À nossa volta
percebemos diversos fatos do cotidiano que manifestam a necessidade de alguém que
nos acompanhe. Por exemplo, a criança precisa de acompanhamento para o seu
desenvolvimento; a casa, ao ser construída, precisa dos olhos atentos de um engenheiro;
o doente em casa, ou no hospital, precisa da atenção de um familiar ou enfermeiro; toda
empresa depende de boas orientações; um estagiário precisa do exemplo de alguém
mais experiente; um grupo de jovens precisa do acompanhamento de assessores. Enfim,
qualquer instituição (escola, partido político, igrejas, sindicato, grupo de jovens...) exige
acompanhamento167
.
Podemos dizer que as pessoas dependem em toda a vida de acompanhamentos,
ao mesmo tempo em que acompanham outros em diferentes etapas da história.
Acompanhar sempre é uma troca, ora somos os que acompanham, ora somos os
acompanhados. A vida em sociedade exige de nós um comprometimento com o outro. É
neste convívio de mútua ajuda que alguém cresce como ser humano. Porém,
acompanhar exige preparação, não basta boa vontade, é preciso dedicação, amor, e na
maioria dos casos, sobretudo em atividades institucionais, é necessário formação.
Embora o jovem seja protagonista de si mesmo e do seu desempenho na
caminhada, precisa de alguém que possa orientá-lo. Para definir, segundo o projeto de
Jesus Cristo, é preciso que o assessor bem preparado o acompanhe. Para isto não é
preciso que seja apenas um assessor adulto. Um jovem assessor bem preparado tem
dado bons resultados tanto quanto um assessor adulto. Juntando o idealismo, a energia e
a espiritualidade do assessor jovem com a experiência e sabedoria do adulto os
resultados têm sido muito favoráveis. Juntos celebram a partilha da fé, do amor e
dedicação. As ovelhas não vivem sem o pastor, assim são os jovens sem um assessor.168
167
Cf. Anexo X, Relação do pároco com o grupo. 168
Cf. CNBB. Evangelização da Juventude - Desafios e Perspectivas Pastorais. N° 93. São Paulo:
Paulus, 2006, pp. 62-64.
É preciso ter cuidado para o engajamento de um jovem novato na pastoral. É
preciso valorizar o seu trabalho, mas também respeitar o seu tempo, não o levando a
frustrações e afastando aqueles que ainda não se sentem seguros. Em muitas paróquias o
acompanhamento está mais do lado do opressor do que do oprimido. Sabemos que o
acompanhamento é fundamental em todas as paróquias e os jovens hoje estão
trabalhando muito bem nesta pastoral, conseguindo atrair muitos outros jovens.169
2.1. Importância da continuidade
Jorge Boran170
afirma que um dos maiores problemas da Pastoral de Juventude é
a falta de continuidade. Sem continuidade não há trabalho sério, não há credibilidade,
não há transformação. É o acompanhamento metódico que vai garantir esta
continuidade. Acompanhar sistematicamente os jovens engajados nesta pastoral é fazer
o trabalho paciente e lento do agricultor que planta uma parreira e volta todo dia para
regá-la, até as raízes se fortalecerem. Com bases reais, a Igreja, na República
Dominicana, apoia a pastoral da juventude, na sua própria situação de pobreza ou não.
Assim estimula os jovens à construção de uma nova sociedade. Diante das realidades
vividas, a Igreja incentiva os jovens ao acompanhamento à opção preferencial aos
pobres, dando assim resposta à sociedade para um futuro melhor. Os jovens na
República Dominicana estão cada vez mais conquistando os ideais, os anseios de
liberdade que, através da luta contra o regime opressor, vêm buscando novos estilos de
vida comunitária, o lugar de sua comunhão com Deus e com os homens, visando a
edificar a paz e a justiça.171
169
Cf. BORAN, Jorge. Juventude: o Grande Desafio. São Paulo: Paulinas, 1982, pp. 216-219. 170
Cf. BORAN, Jorge. O Futuro Tem Nome: Juventude - Sugestões Práticas para Trabalhar com Jovens.
São Paulo: Paulinas, 1994, p. 324, 171
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
36.
2.2. Amplitude do acompanhamento
De acordo com Jesus Sartre172
, o acompanhamento pastoral juvenil deve estar
relacionado com o amadurecimento do jovem na fé, comprometido com a elaboração do
projeto de vida, com os temas de estudos e com as dificuldades que a vida lhe apresenta.
É preciso conscientizar o jovem, que na pastoral do acompanhamento não
necessariamente se trabalha com exclusividade para outro jovem. É necessário reforçar
a juventude com os valores humanos como um todo. A juventude na pastoral do
acompanhamento concretiza um trabalho não só para visar a outro jovem mas também
para o fortalecimento da Igreja. A sua finalidade pastoral é transformar as realidades
terrenas, assim visando às necessidades daqueles que sofrem e refletindo os valores
evangélicos, transformados pelo Espírito Santo de Jesus.173
Os jovens costumeiramente
gostam de viver em turmas, trocando ideias, encarando desafios. Infelizmente, em
muitos grupos de jovens, mesmo dentro das pastorais, os jovens tratam uns aos outros
com formalidade e manifestando em seu individualismo uma amizade superficial.
Lamentavelmente, isto também ocorre dentro de suas próprias casas, com seus
familiares . É preciso estabelecer vínculos mais intensos, onde um possa apoiar o outro.
É demonstrando apoio que os laços de amizade vão se estreitando e a confiança
aumentando174
. Desta forma aqueles que viviam um pouco longe de seus familiares,
mesmo convivendo com eles, aprendem que pode haver maior afinidade.175
2.3. O Espírito Santo como amigo fiel
Amadeo Cencini176
no seu livro Os Sentimentos do Filho177
, afirma que esse
acompanhar deve ser ao estilo de Emaús, ícone de qualquer acompanhamento na fé. O
172
Cf. SARTRE, Jesus. Pastoral da Juventude e Aconselhamento, 2002, pp. 3-14. 173
Cf. CELAM. Pastoral da juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
11. 174
Cf. Anexo XIII,Perguntas sobre o grupo de jovens. 175
Cf. BEYTÍA REYES, Juan Cristóbal. Formar e Ajudar a Formarse? La cultura Juvenil y sus
Desafíos. Cuadernos de espiritualidad, Santiago, Chile, n. 175. p.7. (mayo-junio) 2009. 176
Amadeo Cencini, é religioso canossiano. Licenciado pela Universidade Salesiana em Ciência da
Educação e doutor em Psicologia pela Universidade Gregoriana, fez especialização em
psicoterapia no Instituto superior de Psicoterapia analítica. Atualmente é mestre dos clérigos do
elemento talvez mais peculiar e original desse conceito, segundo o autor, nos vem do
latim medieval - cum-panio -, que seria aquele que tem o pão em comum.178
Para o
autor179
é fundamental, que o jovem sinta o Espírito, como amigo fiel, como memória
de Jesus e da sua Palavra, como aquele que conduzirá à completa revelação da verdade
e à sabedoria do coração, como guia do olhar exclusivamente para Jesus e os chamados
a fim de torná-los suas testemunhas na humanidade. O Espírito Santo é o doce hóspede
da alma, a presença de Deus em nós, o iconógrafo que molda, como infinita fantasia, o
rosto de cada um conforme a imagem de Jesus e está sempre presente em todo ser
humano, para levá-lo a discernir sua própria identidade de crente.
Nos evangelhos percebemos o quanto Jesus privilegia o amor quando se
encontra com as pessoas. Jesus chega muitas vezes a depender de outras pessoas, para
que possamos entender que não vivemos e nem podemos viver isolados, somos
totalmente relação. Não podemos alimentar a prepotência de que não precisamos de
ninguém. Também não podemos nos fazer de vítimas, achando que não temos nada para
oferecer. Deus nos deu os dons para que sejam trabalhados. A quem acompanha com
carinho e amor os irmãos, Jesus faz-se presente no meio deles e ali habita.180
A consciência e o desejo da “companhia” do Espírito tornarão o jovem sempre
mais disponível a se deixar orientar. Desse modo, confiança, abandono, entrega de si
tornam-se as virtudes típicas de quem é acompanhado. Para haver um bom
acompanhamento é preciso estar atento às necessidades daqueles que os procuram, olhar
suas condições e suas dificuldades, levar sempre a alegria de viver, a esperança e a fé. O
acompanhamento não poderá cair na rotina, para que não perca a essência. É preciso
estar sempre renovando as visitas, os encontros, as experiências. São as rotinas que
geram insegurança e insatisfação. É preciso alimentar os jovens com esperança, para
que não desistam do projeto que foi deixado por Jesus Cristo.181
seu instituto, docente de pastoral vocacional e formação ao discernimento, além de docente de
psicologia aplicada no curso para formadores. Dá aulas também no curso de Teologia e Direito
pela Congregação para a vida consagrada, da qual é consultor. 177
Cf. CENCINI, Amadeo. Os Sentimentos do Filho: Caminho formativo na vida consagrada, São Paulo:
Paulinas, 2009. p. 67. 178
Cf. Idem, p. 70. 179
Cf. Idem, pp. 67-68. 180
Cf. DE OLIVEIRA, Vicente André. Acolhida: Como Formar Comunidades acolhedoras. Aparecida-
SP: Santuário, 2008, p. 63. 181
Cf. Idem, p. 81.
Cencini182
em outro livro, chamado Vida consagrada: itinerário formativo no
caminho de Emaús, falando da juventude e da acolhida, diz que o acompanhamento
juvenil exige total dedicação, habilidade e comprometimento da pessoa, para trabalhar
com jovens, mostrando interesse por eles, fazendo o possível para captar em
profundidade o que o jovem é, vive e realiza. Deve estar atento às mensagens não
verbais (olhar, gestos, mímica facial, sentimentos, entre outros) do jovem. Colocar o
jovem como centro dos interesses e da atenção, dedicando-lhe o tempo, espaço e afeto
para compreender suas necessidades e dificuldades. É importante desenvolver a arte do
silêncio e da escuta do jovem, pois nem sempre o jovem consegue expressar o que está
se passando com ele.
Na opinião do autor183
, aquele que se dedica ao acompanhamento juvenil deve
saber fazer memória da caminhada do jovem, pois o amadurecimento acontece a partir
da compreensão dos fatos no presente. A presença e a ação do acompanhamento junto
ao jovem devem contribuir para que ele possa apropriar-se do seu processo de
formação. Então o aconselhamento pastoral juvenil é uma urgência diante do
emergente grito silencioso dos jovens (desejo de serem ouvidos, compreendidos e
valorizados).
3. Atitudes básicas para o acompanhamento
Embasados em vários autores, entre eles (Amadeo Cincini184
, a equipe de
Acompanhamento Mística do Acólito da Juventude Hilário Dick, Carmem Lúcia
Teixeira e Salvador Segura 185
, Tomás Rodríguez186
, entre outros) encontramos quatro
atitudes importantes para aqueles que têm a tarefa de acompanhar os jovens neste
processo:
182
Cf. CENCINI, Amadeo, Vida Consagrada: itinerário formativo no caminho de Emaús, 1994, p. 109ss. 183
Cf. Amadeo CENCINI, Vida Consagrada: itinerário formativo no caminho de Emaús, 1994, p. 111 184
Cf. CENCINI, Amadeo. Os Sentimentos do Filho. Caminho Formativo na Vida Cosagrada. São Paulo:
Paulinas, 9999, pp. 69-71. 185
DICK, DICK, Hilário, TEIXEIRA, Carmem Lucia, SEGURA LEVY, Salvador, (Org).
Acompanhamento: Mística do/a Acólito/a da Juventude. São Paulo: CCJ, 2008, p.25-30. 186
RODRIGUEZ MIRANDA, Tomás. A Direção Espiritual: Pastoral do Acompanhamento Espiritual.
São Paulo: Paulus, 2009.
3.1. A acolhida
Falando em acompanhamento estamos, primeiramente, diante de uma atitude
acolhedora. Acolher é sinônimo de receber, de agasalhar, de hospedar, de ter em
consideração. Acolher é atitude imprescindível em qualquer âmbito da vida, pois
somente através de uma boa acolhida é que fazemos com que os outros tenham
confiança em nós. O grande exemplo de acolhida além do de Jesus, nos vem da Igreja,
sobretudo, da primitiva187
que acolhia todos quantos se convertiam.
João insiste em falar que não amemos com palavras nem com a língua, mas com
obras e de verdade,188
. Não se pode esquecer que ninguém pode ser excluído nem
abandonado, é preciso viver em comunhão fraterna com os necessitados. Acompanhar é
levar o amor de Cristo aos irmãos.189
O acompanhamento é um campo largo e longo a
ser trabalhado. Em um acompanhamento a pastoral não pode realizá-lo em poucos dias,
às vezes é preciso meses. Quem está na pastoral acompanhando precisa ter
disponibilidade.190
Deus hoje habita no meio dos jovens, para que eles possam ser portadores da
Boa Notícia, possibilitando infiltrar, no meio do povo, sua alegria, dedicação e um
acompanhamento para aqueles que precisam. Sendo assim forja-se um projeto de vida
coerente e plena.191
Não há pastoral, nem mesmo outros meios de compromisso se não
houver um relacionamento íntimo com Deus. Infelizmente está sendo difícil uma
intimidade com Deus principalmente entre os jovens.
Os jovens hoje precisam de muita oração e a tarefa principal da oração é
eliminar as distâncias e aproximar o homem de Deus. Um jovem, um adulto, ou seja
quem for, dentro de uma pastoral, principalmente da acolhida ou acompanhamento, se
187
Cf. At 4,4 188
1Jo 3,17-18 189
Cf. DICK, DICK, Hilário, TEIXEIRA, Carmem Lucia, SEGURA LEVY, Salvador, (Org).
Acompanhamento: Mística do/a Acólito/a da Juventude. São Paulo: CCJ, 2008, p. 67. 190
Cf. PEREIRA, José Carlos. Pastoral da Acolhida - Guia de Implantação, Formação e Atuação dos
Agentes. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 25. 191
Cf. CELAM. Pastoral da Juventude: Sim à Civilização do Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p.
123.
não tiver uma intimidade com Deus, não poderá desenvolver sua missão. Nas paróquias
da República Dominicana, o acompanhamento deve ser personalizado, partindo do
reconhecimento das condições de empobrecimento e de marginalização dos jovens e é
preciso levá-los a se sentirem incluídos, acolhidos e valorizados como jovens amados de
Deus. Jesus fala a seus discípulos: trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que
dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará192
. Pois nela Deus Pai imprimiu
o seu sinal.
Com a lei aprovada em 2000, dada como “Lei Geral da Juventude” na República
Dominicana, a Secretaria de Estado da Juventude analisando as condições dos jovens
percebeu que, ficar atento à juventude não é somente atender às suas necessidades, mas
também coordenar e principalmente acompanhar o seu desenvolvimento.193
A maioria dos jovens que acorre à Igreja são pessoas que buscam um significado
maior para suas vidas. Muitos sofrem calados a falta de uma família estruturada.
Faltam-lhes também bons amigos e muitos deles talvez nunca se tenham sentido
acolhidos ou amados de verdade. A Igreja não pode ser um ambiente que reproduza os
esquemas de discriminação da sociedade. Lamentavelmente estas atitudes acontecem.
Por isso tantos jovens e adultos buscam em outras denominações religiosas uma forma
de manifestar sua fé porque eles não se sentiram acolhidos na Igreja Católica. Temos de
dar testemunho da igualdade entre os seres humanos, por isso os jovens precisam ser
cativados, e a acolhida é o primeiro passo para que eles se sintam em comunidade. Na
República Dominicana e também em toda América Latina em que há como que um
descaso por parte dos governantes com relação aos jovens, devemos ser um sinal
profético para que esses jovens possam se sentir incluídos, na sociedade e na Igreja.
3.2. A escuta cordial e atenta
Nos diversos ambientes da sociedade não existe espaço para o jovem falar e se
manifestar, muitos deles não têm com quem expressar suas ideias e ideais. A escuta na
192
Jo 6, 27. 193
Cf. THOMPSON, Andrés A. (Org). Associando-se à Juventude para Construir o Futuro. São Paulo:
Peirópolis, 2006, p.90.
Pastoral da Juventude deve ser cordial, ou seja, de coração, sem preconceitos ou
julgamentos. Também é preciso ser atenta, pois baseado no que os jovens expressam é
que o assessor poderá orientá-los para uma verdadeira libertação e engajamento.
Aquele que acompanha a juventude precisa se perguntar constantemente: “Qual o
grande anseio desses jovens que estão diante de mim?” Essa pergunta fará com que o
acompanhante dê respostas acertadas ao grupo. Sem escuta, esse diálogo é impossível.
O líder deve saber que o trabalho na Pastoral não é protagonismo dele, por isso não é
um monólogo, é fundamental a participação de todos.
Os jovens devem ser acompanhados com atenção amorosa a exemplo da atitude de
Jesus. Os exemplos do Mestre nos vêm através do encontro com a Samaritana194
e
também na forma como parou para ouvir Zaqueu195
, que no Evangelho, demonstram um
desejo profundo de encontrar-se com o Senhor, desejam fazer uma experiência que
mude suas vidas radicalmente. A juventude deseja desafios radicais.
3.3. Partilha da vida
É indispensável manter contato com o jovem, com uma inteligente atenção. A vida
cotidiana e a convivência são a melhor fonte de informação para se conhecer uma
pessoa. Poder captar certas mudanças comportamentais, como reações, simpatias,
antipatias, emoções, depressões, costumes, brincadeiras, intolerâncias, esquecimentos,
nervosismos, preferências, esquisitices, alegrias, entre outras coisas - possibilita ter um
quadro relativamente completo e chegar com maior facilidade a identificar a situação
geral e a inconsistência central da juventude da modernidade.
194
Jo 4, 7.25.39-42 Uma mulher samaritana chega para buscar água. Jesus lhe diz: “Dá-me de beber!”.
(...) A mulher lhe disse: “Sei que o Messias (que se chama Cristo) está para vir. Quando ele vier,
nos anunciará tudo.” Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que falo contigo.” (...) Muitos samaritanos
daquela cidade acreditaram nele, por causa da palavra da mulher que atestava “Ele me disse tudo
o que fiz!” Por isso, indo ter com ele, os samaritanos pediram-lhe que permanecesse com eles. E
ele ficou ali dois dias. Bem mais numerosos foram os que creram por causa da palavra dele e
diziam à mulher: “Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios o ouvimos
e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo. 195
Lc 19, 5-6 Quando Jesus chegou ao lugar, levantou os olhos e disse: “Zaqueu, desce depressa, pois
hoje devo ficar em tua casa.” Ele desceu imediatamente e recebeu-o com alegria.
Muitos são os desafios a serem encarados, mas para isto é preciso entendê-los como
estímulos. Não se pode pensar dentro de uma pastoral que só se pode trabalhar quando
se está bem ou quando se está preparado, é preciso ter atitude e deixar que ela brote do
coração sem achar empecilho.196
Infelizmente hoje as instituições, as igrejas, são vistas
como algum aparato estabelecendo relação de cliente. As pessoas as procuram para
resolver logo seus problemas e se não gostam procuram outro estabelecimento.
Infelizmente isto acontece muito dentro das famílias, das paróquias, onde o ambiente
acolhedor transformou-se apenas em ponto de encontro. Não podemos encarar como
desafio para acolher estas pessoas. Devemos enfrentar como sério problema. A Igreja
deve conscientizar-se de que estes problemas estão passando de geração em geração. O
acompanhamento com estas pessoas precisa estar vivo no dia a dia e não deixar que a
pastoral acolhedora enfraqueça, buscando como objetivo aqueles que ainda têm
esperança no Cristo Jesus.197
Partilhar a vida com os jovens é algo vital como, por exemplo: o pão do caminho,
isso é, a fé, a memória de Deus, a experiência da luta, da busca, do seu amor.
Acompanhar nunca é tão convincente como quando se sabe confessar a sua fé com a
juventude. Hoje os jovens ambicionam a felicidade, operando grandezas ao seu redor.
Usando suas forças para uma construção de um mundo melhor. Ninguém mais poderá
deter uma juventude unida, generosa e ativa que busca levar para aqueles que
necessitam ajuda, amor e compreensão.
Os jovens que aspiram a dirigir povos e a redimir gentes, poderão conhecer a
paixão, mas não têm tempo para os deleites.198
O acompanhante deve convencer com
suas atitudes, sua vida partilhada na verdade. Deve também ter a sensibilidade de fazer
com que os jovens possam partilhar aquilo que eles são, aspiram e desejam, suas dores e
alegrias. A Igreja, de modo especial depois do Concílio Vaticano II, se abriu para
pequenos grupos e movimentos, como por exemplo, as Comunidades Eclesiais de Base,
que em torno da Palavra de Deus partilhavam a vida e se fortaleciam na fé e no
esclarecimento da realidade.
196
Cf. CORAZZA, Helena. Acolher é Comunicar -. Como Trabalhar o Ministério da Acolhida.5. ed. São
Paulo: Paulinas, 2008, p. 22. 197
Cf. BEYTÍA REYES, Juan Cristóbal. Formar e Ajudar a Formarse? La Cultura Juvenil y sus
Desafíos. Cuadernos de espiritualidad, Santiago, Chile, No. 175. p.7. (mayo-junio) 2009, p. 11. 198
Cf. CACCIA-BAVA, Augusto, FEIXA PÀMPOLS, Carles, GONZÁLES CANGAS, Yanko(Orgs).
Jovens na América Latina. São Paulo: Escrituras Editora. 2004, p. 303.
4.4. Atitudes do acompanhante
O acompanhante deve ter consciência de sua missão. Além do dom natural, é
preciso que ele esteja aberto para receber formação espiritual e, em linhas gerais, de
psicologia e sociologia, pois, além de transmitir o conhecimento cristão, ele precisa
saber entender os jovens que estão sendo acompanhados por ele. A Pastoral da
Juventude na República Dominicana, em nível nacional, oferece uma infinidade de
cursos para os líderes. Essa atitude da Pastoral demonstra a preocupação da Igreja com a
formação e capacitação de seus agentes. A pessoa que acompanha os que buscam um
sentido para suas vidas, deve ter uma profunda experiência de Deus e de sua vocação.
Quem acompanha o necessitado, precisa estar conectado diariamente com Jesus.199
Jesus adverte Marta que, preocupada demais com seus afazeres pede que siga o exemplo
de Maria, sua irmã.200
Jesus nos pede que sirvamos nossos irmãos e jovens carentes, e
deixemos que a luz de Cristo penetre em nossos corações.
Para o diretor espiritual jesuíta, Tomás Rodríguez, a figura do acompanhante
tem de ser a de uma pessoa de Deus para o outro; ou seja, “mediador”: a função
mediadora deve ser o centro da figura do acompanhante e deve constituir também o
ponto nevrálgico de sua vivência e de sua identidade. Que o acompanhante saiba o
caminho que ele mesmo tenha percorrido. Isso implica que ele tenha experiência de
Deus:
O diretor precisa atuar a partir de uma atitude global que inclua,
como elemento fundamental e inevitável, a motivação cristã, ou
seja, o conjunto dos „porquês‟ do Evangelho. O diretor deve ser
homem de fé, estimulado pelos mesmos motivos pelos quais Jesus
vivia.201
(...) Tenha experiência de Deus. Fruto de uma vida de oração e de
discernimento contínuo; tenha experiência de homem:
conhecimento do funcionamento humano, especialmente psíquico
e espiritual; e do procedimento no relacionamento direto, nas
entrevistas; seja hábil para expressar experiências a si mesmo e aos
199
Cf. DE OLIVEIRA, José Fernandes. Um Coração que Seja Puro. 12ª. ed. São Paulo: Paulus, 2007,
p.116. 200
Cf. Lc 10, 38-42. 201
RODRIGUEZ MIRANDA, Tomás. A Direção Espiritual: Pastoral do Acompanhamento Espiritual.
São Paulo: Paulus, 2009, p. 92.
outros; tenha se instruído com as experiências próprias e de outros
na docilidade incondicional ao Espírito em seus rumos
imprevisíveis.202
O acompanhante ou diretor espiritual enquanto “relação humana de ajuda no
espírito” vem a ser como um “sacramento” (sinal eficaz) da relação espiritual do
acompanhado com o Pai Criador. Os jovens diante do acompanhante devem sentir plena
confiança, como se eles estivessem frente a um mediador de Deus, e de fato, estão. Por
isso o testemunho de fé de quem acompanha, deve ser manifestado através de atitudes
exemplares, virtudes e qualidades, preferencialmente, como uma pessoa de grande
coerência em sua vida, e que estimule atração e confiança203
. Quem acompanha os
jovens precisa também viver da riqueza da comunidade crente, que é mística e profética:
a qual está chamada a “semear a palavra” 204
, e viver dessa esperança que não falha, até
que cheguemos à vida sem ocaso.
4. OS JOVENS LÍDERES
O que entendemos por protagonismo? Os jovens mais experientes, com mais
anos de vivência na pastoral, de modo especial os que exercem a função de líderes,
devem assumir como parte de sua missão a arte de acompanhar aqueles que estão
chegando, ou necessitam de maior atenção.
202
Idem, p.109. 203
Cf. Idem, p. 75. 204
Mt 4,9: Escutai: Eis que o semeador saiu a semear. E ao semear, uma parte da semente caiu à beira do
caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra parte caiu em solo pedregoso e, não havendo terra
bastante, nasceu logo, porque não havia terra profunda, mas, ao surgir o sol, queimou-se, e, por
não ter raiz, secou. Outra parte caiu entre os espinhos; os espinhos cresceram e a sufocaram, e
não deu fruto. Outra parte, finalmente, caiu em terra boa, e produziu fruto que foi crescendo e
aumentando; de modo que produziu trinta, sessenta e cem por um.
4.1.Desvios das lideranças
Jorge Boran no seu livro: o Futuro Tem Nome: Juventude, afirma o seguinte
sobre o protagonismo do jovem:
Na Pastoral da Juventude o jovem deve estar na linha de frente [...]
No protagonismo: O jovem deve estar no palco participando, não
sentado no meio da plateia, assistindo passivamente. [...] Os
adultos na Igreja precisam valorizar uma Pastoral de Juventude em
que o jovem possa ter personalidade própria. É preciso garantir o
caráter leigo da pastoral, evitando os dois extremos: assessores
paternalistas e ditatoriais, ou assessores omissos, sem nenhuma
influência.205
Participando desta organização, o jovem sente-se
protagonista. Percebe que a Pastoral da Juventude é dele, não
dos adultos. Participa nas decisões, nas reuniões de
coordenação e assembleias de avaliação e planejamento [...]
Em muitas situações da vida os jovens têm uma experiência
oposta. Na escola, na família, no trabalho, na política
raramente é convocado para participar das decisões que
afetam sua vida. [...] O câncer do protagonismo dos jovens é
o paternalismo e o auto-ritualismo. Muitos religiosos e leigos
adultos têm tendência de tomar decisões sozinhos, de fazer as
coisas sem envolver os jovens.206
Nesta forma errônea de protagonismo, aliado ao paternalismo são priorizadas a
eficiência e a rapidez nas decisões tomadas e não se levam em conta a participação e
crescimento dos jovens. O ideal na Pastoral da Juventude é que o jovem se livre de
qualquer tipo de “muletas” e aprenda a andar com suas próprias pernas, que tome suas
próprias decisões. Para muitos jovens e adultos que participam de grupos e pastorais,
dentro da Igreja, é viver todo tempo voltado para a Igreja sem participar de qualquer
outro evento que não seja Igreja. Os jovens precisam e devem participar da vida além da
Igreja como: ir a festas, danceterias, cinema, casas de espetáculos, teatro, etc. cabendo
205
BORAN, Jorge. O Futuro Tem Nome: Juventude - Sugestões Práticas para Trabalhar com Jovens. São
Paulo: Paulinas, 1994. p. 301. 206
BORAN, Jorge. O futuro tem Nome: Juventude. Sugestões Práticas para Trabalhar com Jovens. São
Paulo: Paulinas, 1994, pp. 225-226.
aos acompanhantes e à Igreja orientarem e se possível acompanharem os passos da
juventude, que infelizmente nos meios da vida cultural encontram diversos tipos de
informações que os levam ao desvio de Deus.207
Infelizmente encontramos dentro das
pastorais informações indevidas, em que se aconselham jovens a não participarem de
uma vida social e cultural. Todo jovem que não participa de uma vida cultural e social,
torna-se um jovem alienado sem informações, e sem defesas.
4.2.Protagonismo positivo
Deus é onipotente, em todo lugar ele está presente. O que é preciso orientar a
juventude é que, com amor e por amor jamais haverá prejuízos, nem decepções. Onde
quer que esteja, a presença de Deus é primordial para que não saia dos caminhos traçado
por ele. Diante da importante missão dos jovens que estão à frente do grupo,
destacamos alguns elementos que podem auxiliar a Pastoral da Juventude na
capacitação de jovens líderes:
4.2.1. Corresponsabilidade.208
Se quisermos formar jovens com iniciativa e
responsabilidade, que sejam líderes, temos de lhes dar responsabilidades mostrando a
eles que são capazes de exercer qualquer tipo de atividade. O jovem adquire
responsabilidade exercendo-a. Ou seja, a Pastoral da Juventude deve colocá-lo em
situações reais onde é possível tomar decisões e assumir responsabilidade pela
condução da pastoral. Para isso o assessor precisa acreditar num processo de formação.
É preciso resistir à tentação de mandar fazer, para trilhar um caminho menos fácil de
corresponsabilidade.
207
Cf. GROPPO, Luís Antônio, Juventude: Ensaios Sobre Sociologia e História das Juventudes
Modernas. Rio de Janeiro: DIFEL, 2000, p.54. 208
Cf. BORAN, Jorge. O Futuro Tem Nome: Juventude. Sugestões Práticas para Trabalhar com Jovens.
São Paulo: Paulinas, 1994, p. 301.
4.2.2. O jovem coordena.209
As estruturas organizativas na pastoral devem favorecer o
protagonismo. A Pastoral da Juventude deve optar por uma pastoral sustentada e
dirigida pelos próprios jovens. Os jovens devem ser evangelizadores dos próprios
jovens. É importante que o jovem sinta que tem “o volante nas mãos”, que há espaço
para deixar aflorar a criatividade e contribuir com seu jeito próprio. Assim o jovem vai
construindo sua própria história na vida da Igreja. Mas é preciso ter atenção para que os
jovens não percam o freio, é preciso deixar que os jovens tenham o volante em suas
mãos, mas sempre com um instrutor ao seu lado. Sem dúvida alguma hoje com a
abertura que a Igreja vem dando aos jovens é sentido que a Igreja está viva e pronta para
caminhar, ainda por muito tempo, o tempo de Deus.
Os jovens quando se dispõem a trabalhar dentro da Igreja, seu trabalho ganha
destaque e alegria para todos. Os jovens que estão na caminhada, deixando acompanhar
e acompanhando, percebem que a Igreja não está atrasada diante dos avanços
tecnológicos, a Igreja apenas acompanha o desenvolvimento humano sem perder a
essência do Espírito Santo, quando em Pentecostes derramou os Dons sobre os
apóstolos. Os jovens bem orientados entendem que é preciso obedecer ao que a Igreja
ensina e prega. Os jovens dentro da pastoral não se destacam como concorrentes dentro
da Igreja, eles entendem que estão a serviço da Igreja.
Diante disto, na República Dominica as igrejas destacam os jovens como parte
principal dentro e fora da Igreja. É percebido dentro das celebrações nas igrejas
dominicanas o número cada vez maior de jovens, participando ativamente. Os jovens
estão engajando cada vez mais nas pastorais dentro da Igreja e isto serve de testemunho
como um trabalho eficaz que está sendo feito dentro das paróquias.
Os jovens dentro da República Dominicana estão cada vez mais se dividindo em
outras pastorais, não só se concentrando em uma ou outra. O reconhecimento disto são
os encontros que a Igreja oferece como já foi citado no capítulo anterior, “A Acolhida”.
O acompanhamento está servindo de uma continuidade que eles próprios estão
disponibilizando após a acolhida. Uma vez que se faz uma boa acolhida, imediatamente
é adquirido um bom acompanhamento e os frutos são dados, conforme o discernimento
de cada um. A Igreja Dominicana é incansável em receber os jovens que se
disponibilizam em suas pastorais. Os jovens, hoje, estão envolvidos dentro das pastorais
209
Cf. Idem, pp. 301-302.
na Igreja e testemunham que não existe lugar melhor para se viver do que viver,
servindo, amando, acolhendo e acompanhando aqueles que necessitam do seu afeto e
carinho210
.
Com a pastoral da juventude percebe-se uma maior a presença das famílias
juntamente com seus filhos, quando a Igreja está sendo extensão não só para os lares
como também para aqueles que viviam perdidos e abandonados nas ruas. Os resgates
dos jovens estão partindo dos próprios jovens. Com seus exemplos e confiança os
jovens estão levando mais o amor aos que se sentem enfraquecidos pelo amor vindo de
Deus.
4.2.3. Ficar em segundo plano.211
A Pastoral da Juventude deve formar seus líderes
para que não busquem o “estrelato”. O acompanhante deve fazer com que todos os
membros do grupo de jovens sintam-se protagonistas de seu processo de formação. Por
isso, o líder deve ser humilde, e precisa ser formado para isso. Um exemplo de
acompanhante consciente de sua missão é João Batista.212
. Quem não sabe ficar em
segundo plano não serve para trabalhar com jovens. Um verdadeiro acompanhante é
aquele que rejeita todo tipo de autoritarismo, manipulação, paternalismo, e não se sentir
maior que os demais jovens. O acompanhante é aquele que somente entra quando sua
contribuição é necessária. Acredita em uma pedagogia participativa.
O coordenador deve ser uma pessoa animada, entusiasmada, apaixonada por
aquilo que acredita e por aquilo que faz, transmitindo otimismo, esperança. Uma pessoa
de fé, que se comunica com Deus pela oração, pela meditação de sua Palavra, pela
participação nos sacramentos e nas celebrações comunitárias. Que saiba trabalhar em
equipe e seja uma pessoa que se capacita constantemente, organizado e, planejador.
Alguém sempre disponível e serviçal. Alguém que não saiba tudo, mas que tem alegria,
vontade e humildade em aprender cada vez mais. Para os jovens entrevistados na
210
Cf. Anexo XV, Crescimento em grupo. 211
Cf. BORAN, Jorge. O Futuro Tem Nome: Juventude. Sugestões Práticas para Trabalhar com Jovens.
São Paulo: Paulinas, 1994, p. 302. 212
Jo 3, 30: É necessário que ele cresça e eu diminua.
paróquia San José 59,10% considera o líder como um amigo213
. Um eterno aprendiz!
Para Tomás Rodríguez ficar em segundo plano é:
Ele não deve fazer isso “mandando”, mas sim sugerindo, “como
que desperta” o outro. “O mestre não é quem te diz, mas aquele
que te desperta.” (...) É necessário ter prudência e, ao mesmo
tempo, “espírito de iniciativa”: capacidade e ousadia para abrir
novos caminhos.214
O acompanhante deve ter o discernimento para orientar o grupo, tornando-se
igual a todos sem dar destaque a seu cargo. Em seus pedidos ao grupo não usar de
autoridade máxima, pois ele está lá para despertar o grupo para Deus, como sugerindo
um grande descobrimento para sua própria salvação e ali reconstruindo “vidas
perdidas”. O acompanhante precisa ser audacioso, com espírito de iniciativa, gerando
assim muitos novos caminhos.
4.2.4. Policiar-se constantemente.215
O jovem acompanhante tem que resistir à
tentação de entrar em discussões com ideias e sugestões prontas, ou seja, dar uma de
professor. Se fizer dessa forma, mata a discussão, e a participação dos demais membros
do grupo. E os jovens se calam. Tirando deles a alegria de descobrir, de adquirir
confiança na sua personalidade, sendo assim, o jovem não pode crescer. Por isso, o
papel principal de um acompanhante consiste em ajudar a descobrir os valores de cada
um. Então o acompanhante deve falar por último, valorizando as contribuições de cada
jovem. O acompanhante que fala muito não tem tempo para escutar e aprender com os
demais jovens. É por isso que se tem de policiar. Não é fácil, ser o último. O
acompanhante tem mais experiência, às vezes, tem ideias muitas vezes mais claras. Há
um impulso forte para dizer suas ideias ao final.
213
Cf. Anexo XVII, Qualidades do líder. 214
RODRIGUEZ MIRANDA, Tomás. A Direção Espiritual: Pastoral do acompanhamento espiritual. São
Paulo: Paulus, 2009, p. 108. 215
Cf. BORAN, Jorge. O Futuro Tem Nome: Juventude. Sugestões Práticas para Trabalhar com Jovens.
São Paulo: Paulinas, 1994, p. 302.
4.2.5. Deixar errar.216
É preciso que o acompanhante coloque os jovens em situações
reais onde possam exercer responsabilidade e adquirir as habilidades necessárias para
desenvolver o trabalho pastoral. Isso significa permitir que os jovens ousem. Precisamos
dar liberdade para que os jovens possam errar e, ao mesmo tempo, estar ao seu lado para
“juntar os pedaços”, quando algo não dá certo. O jovem se acomoda, ao saber que pode
contar com o acompanhante para salvar situações criadas pela sua falta de preparação e
responsabilidade.
5. Minha experiência pastoral como coordenador da juventude
Muitas pessoas já deram sua contribuição na formação de muitos jovens, assim, da
mesma forma, desejo partilhar com todos uma das minhas alegrias. Coordenei grupos
de jovens, como também em outros trabalhos apostólicos encontrei verdadeiras
identidades missionárias. Minha intenção não é dar receitas prontas, mas apresentar
alguns elementos que possam enriquecer a minha caminhada. Coordenar, trabalhar e
assessorar um grupo de jovens para mim foi uma das experiências maravilhosas que tive
e que me proporcionou muitas alegrias. Aprendi que “o serviço aos jovens é mais bonito
quando verdadeiramente amamos esse serviço”.
Encontrei assim como todos aqueles jovens que comigo estiveram em minha
caminhada, muitos desafios a serem superados e muitas oportunidades para fazer um
trabalho de excelente qualidade com os grupos que liderei. É importante que o
coordenador seja sagaz e que esteja sempre pronto para distinguir as oportunidades e
transformá-las em resultados concretos.
É por isso que o sucesso de se coordenar bem um grupo de jovens é quando
começamos a conhecer a beleza de se trabalhar em equipe e fazer a experiência de
dividir tarefas, responsabilidades e autonomia, formando uma “família” promovendo
reuniões regulares e dividindo alegrias e desafios. Por exemplo, é possível inalar o
perfume das flores e enfeitar a caminhada com a beleza das borboletas, acompanhada
pelo canto dos pássaros.
216
Cf. Idem, p. 303.
Com certeza, me perguntava por várias vezes quando me escolheram para ser
coordenador: “Quem, coordenador eu? Por quê? O que vocês esperam de mim? O que
farei para coordenar? Do que precisarei? Será que irei dar conta dos recados? Será que
levarei jeito? Com quem poderei contar? Nossa!” Quantas preocupações se perpetuaram
em meus pensamentos. E sei que no início para mim foi muito complicado e difícil dar
uma resposta de amor a esse convite que me foi feito. Assim, também duvidei e muitas
vezes pensei em desistir e pular do barco, pois a melhor saída deveria ser a fuga e que
seria incapaz de assumir um cargo de grande responsabilidade, não é verdade?
Coordenar é um serviço que não depende de uma receita pronta, como já disse
anteriormente. Não se trata de fazer uma lista de atividades ou tarefas a serem
executadas, mas depende de uma leitura prévia da realidade na qual o seu grupo está
inserido. Não devemos nos preocupar, pois até os grandes profetas e as pessoas que
caminharam junto com o grande Mestre, também pensaram em fugir, mas se renderam à
sua proposta de vida e salvação. Isso nos faz lembrar alguma coisa: “Mestre, a quem
iremos? Somente Tu tens palavra de vida e salvação!”
Mas este é um caminho difícil. É necessária muita oração, reflexão, escuta, fé,
leitura da realidade, doação, perseverança, entusiasmo e coragem para liderar. Para isso
“eles” (as pessoas e a comunidade) acreditam “na juventude” Sabem que os jovens não
irão desapontá-los, acreditam e apostam em seu potencial, em sua competência.
Coordenar é um serviço que deve proporcionar prazer e felicidade. Sim, a coordenação
deve ser mais alegria que sofrimento, porque a palavra “Evangelho”, em si, é “Boa
Notícia”, e um coordenador estressado, desanimado ou acomodado, não consegue
anunciá-lo bem a um grupo de jovens.
Sei que este serviço se torna difícil para ser desenvolvido, quando principalmente,
em muitos lugares, a maioria dos jovens não tem apoio da comunidade adulta. Ou
quando eles não têm um acompanhamento de um assessor que tenha vivido esse
processo para poder partilhar as experiências de vida e ajudá-los a definir o seu projeto
de vida. Mas fiquem tranquilos, o papel fundamental é transmitir esperança e coragem,
manter o equilíbrio sem se apavorar diante das dificuldades. Aparentemente no início,
os desafios podem ser assustadores, mas coordenar não é um bicho-de-sete-cabeças. É,
no entanto, a arte de ser feliz!
Desejei partilhar com vocês neste espaço algumas ideias e o que tenho refletido e
colocado em prática, como assessor, na caminhada da Pastoral da Juventude de algumas
arquidioceses onde vivi. Seja na República Dominicana, como em outros países, por
onde passei (Guatemala, México, Cuba e agora Brasil), contribuí como acompanhante,
caindo e levantando, acertando e errando. Pois, entendi que “o fracasso é a oportunidade
de começar de novo, de maneira inteligente, e isso tem me fortalecido em minha
caminhada! Comecei a conhecer as diversas realidades de alguns setores da capital e do
interior, percorrendo estradas e rios. Nas visitas a muitos grupos de jovens pude
constatar que há necessidade de apresentar aos jovens caminhos para uma ação mais
eficiente e eficaz.
Por isso, com base em minha experiência, julgo que a missão do coordenador é:
Preparar e animar as reuniões do grupo juntamente com a equipe de
coordenação;
Detectar os anseios, as preocupações, os interesses, as inquietudes e os
questionamentos dos membros do grupo e do grupo como um todo, para
que, juntos, possam chegar a respostas significativas;
Favorecer a convivência fraterna, o respeito, a alegria, a solidariedade, a
criatividade. Sempre que possível frequentar lugares que proporcionem
esses momentos: piqueniques, passeios, cinema, teatro, gincanas, retiros,
visita à casa de jovens, etc.;
Criar no grupo um clima democrático, onde todos se sintam valorizados,
estimulando assim a participação e a co-responsabilidade diante dos
objetivos e atividades do grupo de jovens;
Animar para uma verdadeira experiência de Deus na oração, para a leitura
da Palavra, a celebração viva da fé, na liturgia e em outras criatividades do
grupo da comunidade juvenil;
Apoiar aquelas iniciativas que nascem da fé dos grupos de jovens em vista
da solidariedade com os pobres e com os que mais sofrem;
Trabalhar sempre em sintonia e em conjunto com o assessor da diocese.
Lembrando que o assessor é alguém que caminha ao lado dos jovens. Um
pedagogo e educador da fé!
Manter contato com as instâncias e presenças de outros grupos de jovens de
sua realidade paroquial, área missionária, setorial e arquidiocesana;
Descobrir e potencializar as lideranças dos grupos de jovens para que mais
tarde possam se formar novos coordenadores que darão continuidade a seu
trabalho;
No terceiro capítulo me preocupei bastante com a pastoral do acompanhamento
para a juventude. Não pode haver um bom acolhimento se não houver um bom
acompanhamento, onde muitas vezes é preciso tempo e paciência. Muitos jovens vêm
me procurar com muitos problemas que carregaram em sua vida por longo tempo e não
será em poucos encontros que tudo poderá ser resolvido. Será preciso tempo, amor e
paciência. Constato que o acompanhamento é muito importante para a continuidade dos
jovens dentro da Igreja e poder sair de uma vida que poderia ou mesmo o levaria a
entrar no mundo da delinquência.
CONCLUSÃO
Nesta dissertação quisemos analisar alguns dos muitos problemas que dificultam
a aproximação do jovem da República Dominicana à Pastoral da Juventude da Igreja
Católica. Para isso, pretendemos encontrar caminhos e princípios que possam fortalecer
a Pastoral da Juventude da República Dominicana visando à promoção da vida desses
jovens.
Pretendemos refletir sobre a realidade dos jovens dominicanos que vivem à
beira do caminho, mendigando seus direitos fundamentais como trabalho e educação e
formação profissional, enfim, um futuro digno. Para isso, visamos mudar nosso olhar e
nossa atitude para que a juventude seja acolhida, apesar de todas suas limitações e
enganos. Surge então a necessidade de um acompanhamento da juventude para que
tenha mais elementos para o seu amadurecimento e para a hora de fazer as opções
duradouras de sua vida. Precisamos aprofundar e valorizar o “ministério do
acompanhamento” dentro da Igreja. Formar “assessores” capazes de identificar o
processo de crescimento e a vontade de Deus na vida dos jovens. Dessa maneira, a
acolhida e o acompanhamento, junto com alguns instrumentos práticos, possam ser
caminhos seguros para que a opção do jovem seja afetiva e efetiva.
Buscamos refletir o tema, analisando em três capítulos, o perfil da juventude, a
acolhida e o acompanhamento como caminhos possíveis para a obtenção desse objetivo.
Além disso, nos debruçamos sobre o contexto socioeconômico: desemprego
generalizado, migração, distanciamento entre ricos e pobres, violência, tráfico de drogas
e falta de escolaridade. Diante de tudo isso, qual o papel da Igreja?
A metodologia utilizada foi a do estudo bibliográfico de autores especializados
em Pastoral da Juventude, em Sociologia, em Psicologia, em Antropologia. Consulta a
documentos do Magistério da Igreja. Além disso, três momentos fundamentais que
procuram respondem ao método ver, julgar e agir. Utilizamos dados de pesquisa de
campo atinente à área, sites sobre a realidade dominicana e nossa experiência pessoal de
mais de doze anos na Pastoral da Juventude. É fundamental perceber que o método,
mais que uma ferramenta, é uma maneira de viver a fé, a missão evangelizadora, enfim,
uma espiritualidade.
No primeiro capítulo, descrevemos o desenvolvimento, o comportamento, o
perfil da juventude em geral e seis grupos de jovens da paróquia San José da Bomba de
Cenoví, da República Dominicana. Também analisamos algumas de suas necessidades
mais urgentes, suas carências e como a Igreja Católica vem se comportando diante de
tal situação.
No segundo capítulo demonstramos a preocupação da Igreja com a acolhida aos
jovens e seu desenvolvimento dentro e fora dela; seu protagonismo sob a visão
antropológica, bíblica, pastoral e eclesiológica, tendo Jesus como modelo.
No terceiro, tratamos do acompanhamento da juventude pela Igreja e sua enorme
importância. Sublinhamos a excelência de seus elementos constitutivos: acolhida, escuta
cordial e atenta, partilha de vida e as atitudes do acompanhante.
Após análise dos três capítulos deduzimos que a prática da acolhida e do
acompanhamento é uns dos grandes desafios da Igreja Católica na atualidade. Trata-se,
de valorizar a dignidade dos jovens dentro da ótica cristã. Levantamos, portanto, a
hipótese de que os métodos estudados são eficientes para atingir esse objetivo,
proporcionando aos jovens a escolha de uma vida digna.
ANEXOS
ANEXO I
ESCLARECIMENTO PARA A PESQUISA
Caro participante voluntário da pesquisa de campo sobre a vida do grupo de
jovens da Paróquia São José.
Solicito sua colaboração e participação na pesquisa sobre a “Juventude
dominicana” que faz parte de minha dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-
Graduação em Teologia Pastoral na PUC São Paulo sob a orientação do Prof. Dr. Côn.
Sérgio Conrado.
Pelo consentimento a seguir, fica claro que, para o sujeito da pesquisa, os
objetivos e método de coleta de dados foram, de forma clara e objetiva, explicados em
uma descrição verbal sobre o projeto e, também, foi permitido o acesso ao referido
projeto.
TÍTULO DO PROJETO
PASTORAL DA JUVENTUDE: ANÁLISE ATUAL DA ACOLHIDA E DO
ACOMPANHAMENTO DE GRUPOS DE JOVENS CATÓLICO NA PAROQUIA
SAN JOSÉ DE CENOVÍ
Eu,____________________________________ fui esclarecido de forma clara e
objetiva, livre de qualquer constrangimento ou coerção que a pesquisa tem como
objetivo investigar a vida social e grupal da juventude dominicana.
A obtenção dos dados dar-se-á através de questionários a serem respondidos
individualmente, sendo utilizados, os seguintes questionários: Questionário sobre
questões sociais e questionário sobre o grupo de jovens.
Os dados coletados, depois de organizados e analisados, poderão ser divulgados
e publicados, ficando o autor comprometido com a apresentação do relatório de
pesquisa para as instituições nas quais será realizado o trabalho.
O presente termo não se constitui em vínculo obrigatório e irreversível ou
quaisquer outras formas de risco à sua pessoa. A qualquer momento seu parecer
positivo de participação poderá ser retificado.
Fica assegurada a garantia do anonimato e o caráter privativo das informações
fornecidas exclusivamente para o estudo.
_________________________________
Nome e assinatura do informante
________________________________
Assinatura do pesquisador
Eu, Juan Andrés Hidalgo Lora, cmf, RG. - v553818S, aluno do Curso de
mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Teologia Pastoral na PUC São Paulo.
ANEXO II
Pesquisa de campo217
PASTORAL DA JUVENTUDE: ANÁLISE ATUAL DA ACOLHIDA E DO
ACOMPANHAMENTO DE GRUPOS DE JOVENS CATÓLICO NA PAROQUIA
SAN JOSÉ DE CENOVÍ
Jovens entrevistados entre 15 e 25 anos218
I – Identificação
Nome completo:_____________________________Data de
nascimento:________________ Endereço atual:
Rua.________________________No.____Cidade:_____________________
Documento de identidade: Tipo_______ No._________
Paróquia:_______________Grupo de jovens ao qual
pertence:________________________________________________________
217
Pesquisa realizada por Cristian Alberto de la Cruz, estudante de Teologia do Instituto de Formación
Teológica Intercongregacional de México, D.F., México, e por Andreina Hidalgo Lora, estudante do
Curso Médio no Liceo Max Henrique Ureña, da cidade de Bomba de Cenoví, Estado de San Francisco de
Macorís, República Dominicana, com cerca de 150 jovens, de ambos os sexos, (Anexo III) de 15 a 25
anos, na Paróquia de San José, naquela mesma cidade. A investigação foi levada a campo de 6 a 30 de
setembro de 2010 junto a seis grupos de comunidades (capelas) diferentes da mesma cidade. Após
contato com o Pároco, Padre Simón Capois, da Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria
(CMF), e com os responsáveis dos movimentos religiosos (pastorais) da juventude, procedeu-se à escolha
dos participantes e à aplicação do questionário. 218
Para a pesquisa, segui o “Manual de História Oral”, de autoria de José Carlos Sebe Bom Meihy,
trabalhei seus resultados, atribuí pesos às diversas grandezas para calcular as médias ponderadas e as
estatísticas correspondentes, apresentadas no final desta dissertação em anexos. Assim, pude auferir sua
realidade e buscar os caminhos para a solução de seus problemas na doutrina do Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
II – Questões sociais
1. Idade:__________ Sexo ( )M – ( )F -
escolaridade______________________________
2. Está trabalhando?: – ( ) sim – ( ) não - tipo de trabalho: ( ) formal – ( ) informal
Média
salarial:____________________________________________________________
3. Para o futuro: ( ) - continuar morando na cidade natal? ( ) – mudar-me para a
capital? ( ) – tentar a vida em outro país?
4. Você tem esperança que a situação social em seu país vai melhorar?: – ( ) sim – ( )
não
5. Reside em casa própria?: – ( ) sim – ( ) não
6. Pais: casados ( ) – separados ( ) – filho(a) de mãe solteira ( )
7. Você se sente feliz na atualidade?: – ( ) sim – ( ) não
8. Você se sente inseguro com relação à segurança pública?: – ( ) sim – ( )não
9. Alguém conhecido seu foi assassinado?: – ( ) sim - ( ) não
10. Alguém que você conhece na mesma faixa etária que você já utilizou algum tipo de
droga?: – ( ) sim – ( ) não
11. Você já usou ou experimentou algum tipo de droga?: – ( ) sim – ( ) não
III – Grupo de jovens
12. Que o motivou a participar do grupo de jovens?: – ( ) imposição familiar – ( )
influência dos amigos – ( ) desejo de fazer novas amizades – ( ) enriquecer-me
espiritualmente
13. Como você se sentiu nos primeiros encontros dos que participou?: – ( ) deslocado
– ( ) envergonhado – ( ) acolhido – ( ) não tive problemas
14. Em algum momento você se sentiu descriminado no grupo?: – ( ) sim – ( ) não
15. Você percebe que cresceu participando do grupo de jovens?: – ( ) sim – ( ) não.
Se sim, em quais aspectos você percebe esse crescimento?: – ( ) maturidade – ( ) em
valores – ( ) conhecimento da fé
16. Ao enfrentar algum problema pessoal qual foi a atitude do grupo?: – ( ) de apoio, me
senti amparado – ( ) ninguém se interessou por meu problema
17. Você partilha seus problemas com o grupo?: – ( ) sim – ( ) não
18. Você sente que os membros do grupo de jovens são seus amigos de verdade?: – ( )
sim – ( ) não
19. Você se reúne com eles fora do grupo?: – ( ) sim – ( ) não
20. Você convidaria um amigo seu para visitar o grupo?: – ( ) sim – ( ) não
21. Seus amigos, fora do grupo, sabem que você frequenta o grupo de jovens da
paróquia?: – ( ) sim – ( ) não – ( ) alguns
22. Qual é o relacionamento do grupo com o líder?: – ( ) ótimo – ( ) bom – ( )regular
23. Você confia no que o líder diz?: – ( ) sim – ( ) não – ( ) às vezes
24. Qual a maior qualidade do líder do seu grupo?: – ( ) amigo – ( )coerente no discurso
e na ação – ( ) um exemplo – ( ) não vejo qualidades nele
25. Alguma vez o líder já lhe ajudou em algum problema pessoal?: – ( ) sim – ( ) não
26. Você se sente responsável pelo grupo?: – ( ) sim – ( ) não – ( ) às vezes
27. Você percebe que o líder confia em você?: – ( ) sim – ( ) não – ( ) às vezes
28. O padre da sua comunidade visita o grupo?: – ( ) sim – ( ) não – ( ) às vezes
29. Você sente que o padre apoia o seu grupo de jovens?: – ( ) sim – ( )não
30. O padre da sua paróquia é alguém?: – ( ) distante – ( ) desconhecido – ( ) reservado
– ( ) amigável e confiável
31. As lideranças das pastorais e outros movimentos de sua paróquia?: – ( ) não gostam
do grupo de jovens – ( ) estão sempre criticando o trabalho que vocês fazem – ( ) são
amigos e sempre visitam o grupo – ( ) apoiam de longe
32. Depois que se tornar adulto, você pensa em continuar frequentando a Igreja?: – ( )
sim – ( ) não
ANEXO III
ANEXO IV
43%
57%
masculino feminino
Sexo
99,70%
0,30%
58%
37%
5%
sim não casados separados filho de mãe solteira
Você se sente feliz? Estado civil dos pais
ANEXO V
ANEXO VI
30%
17%
52%
continuar morando na cidade natal
mudar-me para a capital tentar a vida em outro país
Para o Futuro
30%
70%
sim não
Você tem esperança que a situação social e segurança pública em seu país melhore?
sim
não
ANEXO VII
ANEXO VIII
65%
35%
sim não
Alguém conhecido seu foi assassinado?
65,50%
34,50%
0,10%
99,90%
sim não sim não
Você já usou ou conhece alguém que tenha utilizado algum tipo de drogas?
conhece experimentou
ANEXO IX
ANEXO X
Perguntas sobre a relação do padre com o grupo
Sim Não Às
vezes
Não quis
responder
O padre da sua comunidade visita o grupo 56,2% 13,4% 30,2% 0,2%
Você sente que o padre apoia o seu grupo de
jovens
88,3% 11,4% 0% 0,3%
12,40%
0,60%
87%83%
17%
trabalhando e estudando
não trabalha e estuda só estuda sim não
Escolaridade Residem em casa própria
ANEXO XI
ANEXO XII
10,20%
0% 0,20%
89,60%
distante desconhecido reservado amigável e confiável
O padre da sua paróquia é alguém
0,60%
15,40%
28,50%
55,50%
100%
0%
não gostam do grupo de jovens
estão sempre criticando o trabalho que vocês fazem
são amigos e sempre visitam o
grupo
apoiam de longe sim não
As liderenças das pastorais eoutros movimentos de sua paróquia?
Depois que tornar-se adulto você pensa em continuar frequentando a Igreja?
ANEXO XIII
Perguntas sobre o grupo de jovens
Sim Não Não quis
75responder
Já se sentiu descriminado no grupo 10% 90% 0%
Você percebe que cresceu participando do grupo 75,3% 24,5% 0,2%
Você partilha seus problemas com o grupo
31,2% 68,3% 0,5%
Você sente que os membros do grupo são seus
amigos
86,7% 13,2% 0,1%
Você se reúne com eles fora do grupo 78,7% 21,2% 0,1%
Você convidaria um amigo seu para ir ao grupo 99,5% 0,5% 0%
Seus amigos, fora do grupo, sabem que você o
frequenta
75,4% 24,4% 0,2%
Ao enfrentar algum problema pessoal o grupo lhe
amparou
88,2% 11,2% 0,6%
ANEXO XIV
0,30%11,40% 13,50%
75,20%
0,30%
15,50%21,10%
63,10%
Que o motivou a participar do grupo de jovens e como você foi recepcionado nos
primeiros encontros?
ANEXO XV
ANEXO XVI
Perguntas sobre a relação do líder com o grupo
Sim Não Às
vezes
Não quis
responder
Você confia no que o líder diz 75,4% 0,1% 24,2% 0,3%
Alguma vez o Líder já lhe ajudou em algum
problema pessoal
45,9% 53,8% 0% 0,3%
Você se sente responsável pelo grupo 57,1% 13,3% 29% 0,6%
Você percebe que o líder confia em você 72,4% 0,2% 27,3% 0,1%
28,30%26,20%
45,50%
maturidade em valores conhecimento da fé
Em quais aspectos você cresceu no grupo de jovens?
ANEXO XVII
42% 40%
18%
59,10%
26,20%
14,10%
0,20% 0,40%
ótimo bom regular amigo coerente no discurso e
ação
um exemplo
não vejo qualidades
não quis responder
Qual é o relacionamento do grupo com o líder e a sua maior qualidade?
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