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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP FABIANA RITA DESSOTTI PINTO REDE MERCOCIDADES NA COOPERAÇÃO DESCENTRALIZADA: LIMITES E POTENCIALIDADES DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS São Paulo – 2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

FABIANA RITA DESSOTTI PINTO

REDE MERCOCIDADES NA COOPERAÇÃO

DESCENTRALIZADA: LIMITES E POTENCIALIDADES

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

São Paulo – 2011

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FABIANA RITA DESSOTTI PINTO

REDE MERCOCIDADES NA COOPERAÇÃO DESCENTRALIZADA: LIMITES E POTENCIALIDADES

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São

Paulo, como exigência parcial

para obtenção do título de

DOUTOR em Ciências Sociais na

área de Relações Internacionais,

sob a orientação do Prof. Dr. Luiz

Eduardo Waldemarin Wanderley.

Pontifícia Universidade Católica

São Paulo – 2011

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Banca Examinadora

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Prof. Dr. Luiz Eduardo Wanderley pelo companheirismo em

todos os momentos.

Aos pesquisadores e colegas do Projeto Temático: Gestão Pública e

Inserção Internacional das Cidades – CEDEC, PUC-SP, UNESP, pelas

orientações e motivações para o desenvolvimento desta tese.

Aos meus amigos e familiares que contribuíram, direta ou indiretamente, na

elaboração desta tese.

Aos Prof. Dr. Marcelo Passini Mariano e Profª. Drª. Raquel Raichelis

Degenszajn pelas valiosas contribuições no Exame de Qualificação.

Aos professores e colegas do Programa de Estudos Pós-Graduados em

Ciências Sociais da Pontifícia Universidade de São Paulo e do Centro

Universitário Fundação Santo André, pelo apoio em todo o processo de conclusão

do curso.

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REDE MERCOCIDADES NA COOPERAÇÃO DESCENTRALIZADA: LI MITES

E POTENCIALIDADES

FABIANA RITA DESSOTTI PINTO

RESUMO

A tese desenvolve um estudo de caso da Rede Mercocidades, uma associação de cidades dos países membros e associados do MERCOSUL, e tem como objetivo central analisar a cooperação internacional descentralizada desenvolvida nesta rede como iniciativa para o desenvolvimento econômico local. Para tanto, a tese apresenta de início as motivações para as ações internacionais das cidades. Discutem-se a globalização nos seus aspectos econômicos, o processo de regionalização latino-americano e os impactos da globalização nas cidades, destacando-se as iniciativas de desenvolvimento econômico local. Em seguida, expõe as características do relacionamento em rede, apresentando os temas centrais da tese: redes internacionais de cidades e cooperação descentralizada. Analisa o caso da Rede Mercocidades, por meio da descrição dos seus objetivos, do seu perfil e das suas principais iniciativas. Identifica os pontos relevantes para discussão da participação em redes internacionais de cidades. Os resultados da pesquisa demonstram que, apesar de apresentar limitações, a participação cooperativa em redes internacionais de cidades pode maximizar as capacidades das cidades em termos de políticas públicas e de incidência nas políticas nacionais e internacionais de interesse das cidades. Destacam-se entre as limitações: a dificuldade das trocas de experiências evoluírem para políticas públicas efetivas; a descontinuidade das iniciativas na rede em função da descontinuidade política; a incipiente participação de outros atores da sociedade civil; a dificuldade de avaliação de resultados das iniciativas; e a pouca divulgação nos meios de comunicação das ações desenvolvidas pela rede.

PALAVRAS-CHAVES Globalização; regionalização; iniciativas de desenvolvimento local; ação internacional das cidades; redes internacionais de cidades; Rede Mercocidades.

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MERCOCITIES NETWORK IN DECENTRALIZED COOPERATION: L IMITS AND POTENTIAL

FABIANA RITA DESSOTTI PINTO

ABSTRACT

The thesis develops a case study of Mercocities Network, an association of cities and associated member countries of MERCOSUL, and has aimed to analyze the decentralized international cooperation developed in this network as an initiative to promote local economic development.

To this end, the thesis presents at first the motivations for the international actions of cities. It discusses the globalization in its economics aspects, the process of regionalization in Latin America and the impacts of globalization on cities, emphasizing essential the local economic development initiatives. Next, exhibits the characteristics of network relationships, presenting the central themes of the thesis: international networks of cities and decentralized cooperation. It analyzes the case of Mercocities network, through the description of its goals, its profile and its key initiatives. It identifies the relevant points for discussion of participation in international networks of cities.

The survey results show that, despite having limitations, the cooperative participation in international networks of cities can maximize the capacity of cities in terms of public policy and impact on national and international policies of interest of the cities. Noteworthy among the limitations: the difficulty of exchanging experiences develop into effective public policies; the discontinuity of the initiatives in the network as a function of political discontinuity; the incipient participation of other civil society actors; the difficulty of evaluating results of the initiatives; and the lack of publicity in the media of the actions developed by the network.

KEYWORDS Globalization; regionalization; local development initiatives; international action of cities; international networks of cities; Mercocities network.

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Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1

CAPÍTULO 1 – O CONTEXTO: A GLOBALIZAÇÃO, REGIONALIZ AÇÃO E AS CIDADES ..................................................................................................................... 7

1.1 Algumas considerações sobre o termo globalização ......................................... 10

1.1.1 A dimensão econômica da globalização ..................................................... 15

1.1.1.1 A internacionalização financeira .......................................................... 17

1.1.1.2 A internacionalização da produção ...................................................... 19

1.1.2 A dimensão política da globalização .......................................................... 27

1.1.2.1 As idéias e as políticas neoliberais ...................................................... 30

1.1.2.2 As novas configurações do Estado-nação ........................................... 35

1.2 A regionalização: processos de integração econômica e política ...................... 42

1.2.1 A integração latino americana: da ALALC ao MERCOSUL......................... 48

1.2.1.1 A integração do Cone Sul: MERCOSUL .............................................. 53

1.3 As cidades no contexto de globalização ............................................................ 69

1.3.1 A reestruturação produtiva e as cidades globais......................................... 74

1.3.2 As políticas de desenvolvimento econômico local....................................... 78

1.4 Considerações do capítulo ................................................................................ 83

CAPÍTULO 2 – A AÇÃO INTERNACIONAL DAS CIDADES, A CO OPERAÇÃO DESCENTRALIZADA E AS REDES INTERNACIONAIS DE CIDADE S .................... 88

2.1 Paradiplomacia: a ação internacional dos governos subnacionais .................... 90

2.2 Cooperação descentralizada: relação cooperativa dos governos subnacionais. 96

2.3 Alguns elementos dos estudos sobre redes .................................................... 102

2.3.1 As redes de cidades na economia urbana ................................................ 107

2.3.2 As redes internacionais de cidades........................................................... 109

2.3.2.1 Os resultados da participação em redes internacionais de cidades ... 121

2.4 Considerações do capítulo .............................................................................. 125

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CAPÍTULO 3 – A REDE MERCOCIDADES: A REDE DE CIDADES DO MERCOSUL135

3.1 A origem da Rede da Mercocidades................................................................ 141

3.2 A evolução das cidades membros ................................................................... 146

3.3 Os convênios e as parcerias ........................................................................... 151

3.4 A institucionalidade no âmbito do MERCOSUL ............................................... 156

3.5 Unidades Temáticas........................................................................................ 168

3.6 Alguns projetos em desenvolvimento .............................................................. 183

3.7 Algumas percepções dos participantes da Rede ............................................. 188

3.8 Considerações do capítulo .............................................................................. 193

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 197

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 206

Anexo 1 – Cidades membros (2010) ..................................................................... 216

Anexo 2 – Participação das cidades nas Cumbres da R ede Mercocidades ....... 219

Anexo 3 – Cidades Associadas, ano de adesão, partic ipação em Cumbres e atuação na Secretaria Executiva ........................................................................... 227

Anexo 4 – Plano de Trabalho das Unidades Temáticas: período 2008-2009 ...... 235

Anexo 5 – Entrevista Alberto Kleiman ................................................................... 240

Anexo 6 – Entrevista Rodrigo Perpétuo ................................................................ 250

Anexo 7 – Entrevista Jorge Rodriguéz .................................................................. 256

Anexo 8 – Entrevista Maria Sol Mina ..................................................................... 263

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Lista de quadros

Quadro 1 – Principais instituições do MERCOSUL: o poder decisório ....................... 56

Quadro 2 – Foro consultivo Econômico e Social: objetivos e funções........................ 65

Quadro 3 – Atribuições do Parlamento do MERCOSUL............................................. 66

Quadro 4 – I Fase do Programa URB-AL: redes temáticas e cidades

coordenadoras.......................................................................................................... 116

Quadro 5 – II Fase do Programa URB-AL: redes temáticas e cidades

coordenadoras.......................................................................................................... 117

Quadro 6 – Comparação entre as duas primeiras fases do Programa URB-AL ....... 118

Quadro 7 – III Fase do Programa URB-AL: projetos selecionados e cidades coordenadoras.......................................................................................................... 120

Quadro 8 – Principais diferenças entre os organismos formais e as redes .............. 121

Quadro 9 – Estrutura da Mercocidades.................................................................... 138

Quadro 10 – Acordos e convênios: anos e instituições ............................................ 152

Quadro 11 – Os Comitês de Municípios e Estados: representações e atribuições... 161

Quadro 12 – Unidades Temáticas: cidades coordenadoras, ano de criação e

principais temáticas .................................................................................................. 168

Quadro 13 – Avaliação das atividades das UTs: período de 2005 a 2007 e 2010.... 173

Quadro 14 – Encaminhamentos das Unidades Temáticas: período de 1996 a

2009 ......................................................................................................................... 176

Quadro 15 – Projetos Mercocidades: desenvolvidos e em andamento – período de

2007 a 2010.............................................................................................................. 184

Quadro 16 – Percepção sobre a ação internacional das cidades associadas da

Rede Mercocidades.................................................................................................. 189

Quadro 17 – Estrutura das relações internacionais nas cidades associadas da

Rede Mercocidades.................................................................................................. 190

Quadro 18 – A percepção das cidades associadas sobre a Rede Mercocidades..... 191

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Lista de gráficos

Gráfico 1 – Participação percentual das cidades por país........................................ 141

Gráfico 2 – Cidades associadas por ano.................................................................. 147

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Lista de tabelas

Tabela 1 – Participação das cidades nas Cumbres da Rede Mercocidades............. 149

Tabela 2 – Cidades que assumiram a coordenação das UTs da Rede Mercocidades

e nº e coordenações................................................................................................. 172

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INTRODUÇÃO

As redes internacionais de cidades são cidades integradas e associadas por meio, principalmente, de encontros e da internet e que buscam a troca de informações e desenvolvem projetos, por meio das suas diversas unidades temáticas, sobre os mais diversos temas: cooperação internacional, gestão pública, desenvolvimento econômico, social e urbano, meio ambiente, educação, cultura, entre outros. As redes propiciam trocas de experiências para a solução de problemas comuns, que também são globais.

As iniciativas de formação de redes de cidades se inserem na lógica da cooperação internacional, que tem como objetivo a consecução de objetivos comuns ou convergentes e a troca de informações, aplicada a unidades subnacionais. As cidades podem se aproximar por ligações regionais, históricas ou temáticas, o que se reflete no tipo de rede que será formada.

A primeira rede de cidades foi a União Internacional de Autoridades Locais (IULA), criada em 1913, mas a idéia de redes de cidades esteve ligada com a idéia de “irmanamento” de cidades, que surgiu durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1951, cinquenta prefeitos fundaram o Conselho das Municipalidades e Regiões Européias, introduziram a noção de “cidadão europeu” e assim o nome de irmanamento (MENEGHETTI NETO, 2002).

Um levantamento efetuado por MENEGHETTI NETO (2002) indicou a existência de 15 redes em nível global e 15 em nível regional. 1 As redes constituídas em nível global e com objetivos abrangentes permitem a associação de cidades de todo o mundo, já as redes em nível regional restringem a participação às cidades que fazem parte de certa região geográfica ou de certo arranjo político-institucional. Há ainda redes temáticas, como a Healthy City Network, a Associação Internacional de Cidades Educadoras e a Network of Refugee Cities, que reúnem as cidades com objetivos mais claros e precisos. 1 Redes em nível global: European Sustainable Cities, Cities Alliance, City Development Strategies Initiative, The Eco-Partnership Network, Eurocities, Healthy City Networks, International City/County Management Association, International Council for Local Environmental Initiatives, International Network for Urban Development, International Union of Local Authorities – IULA, Organization of Islamic Capitals and Cities, Sister Cities, The Eco-Partnership Network, World Association of Major Metropolises, World Associations of Cities and Local Authorities, World Federation of United Cities (United Town Organisation – UTO).

Redes em nível regional: Arab Towns Organization, Comissión Regional de Comercio Exterior del Nordeste Argentino – CRECENEA – CODESUL, Committee of Regions, Congress of Local and Regional Authorities of Europe, Councilof European Municipalities and Regions, East and Southeast Asia Regional Network for Better Local Governments, Europe – Latin America urban cooperation programme, International local government partnerships for urban development, Kitakyushu Initiative Network for a Clean Environment, Local Government Network of Central and Eastern European Countries, Managing the Environment Locally in Sub Saharan Africa, Mercociudad, Municiapl Development Programme for Africa, The Regional Network of Local Authorities for the Management of Human Settlements. US Asia Environment Programme.

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Algumas cidades podem ser apontadas para exemplificar a participação em redes. Barcelona participa ativamente de diversas redes de cidades: World Associations of Cities and Local Authorities Coordination (WACLAC), METROPOLIS, International Union of Local Authorities (IULA), Fédération Mondiale des Cités Unies (FMCU), que foram fundidas, recentemente, dando origem a CGLU – Cidades e Governos Locais Unidos, dentre outras. A cidade de Barcelona apresenta as redes como elementos centrais para a ampliação da autonomia dos governos locais no âmbito global.

A cidade de Belo Horizonte também realiza um esforço de internacionalização. A participação em redes de cidades se insere neste projeto mais amplo de internacionalização, que resultou na associação da cidade a redes de âmbito global – como a Global Cities Dialogue –, de cunho temático – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, por exemplo – e de base regional – como o Programa URB-AL.

A cidade de São Paulo criou em 2001, a Secretaria de Relações Internacionais, que assessora a Prefeitura nas relações institucionais com embaixadas, consulados e representações internacionais de empresas, organizações não-governamentais e universidades e atua na definição, coordenação e implementação das relações internacionais do município, além de captar financiamentos, estabelecer acordos de cooperação, parcerias e projetos internacionais. A secretaria apresenta como eixo de intervenção a participação ativa em redes internacionais de cidades, participando ativamente em quase dez redes, como: Rede Mercocidades, Rede 10 do Programa URB-AL, CGLU – Cidades e Governos Locais Unidos, da qual a Prefeita Marta Suplicy foi presidente em 2004, Redes de Cidades Educadoras (Barcelona), Metropolis, entre outras.

O objetivo central desta tese é analisar a Rede Mercocidades como iniciativa de cooperação internacional descentralizada para o desenvolvimento local.

A Rede Mercocidades foi criada em 1995, com o objetivo de favorecer a participação das cidades no processo de integração do MERCOSUL. É composta por cidades dos países-membros do bloco (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela) e países associados ao bloco (Bolívia, Chile e Peru). A Rede foi criada como um espaço no qual as cidades pudessem expressar suas opiniões sobre os rumos do processo de integração, representando também um espaço de convergência e intercâmbio entre as cidades.

A análise da Rede Mercocidades tem como objetivos específicos investigar: i) as motivações que orientam a política municipal de atuação nas redes internacionais de cidades; ii) a natureza das iniciativas e negociações desenvolvidas nesse escopo; iii) os atores políticos e sociais – internos e externos – envolvidos; iv) a natureza das relações estabelecidas entre as

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cidades na Rede; v) os obstáculos enfrentados; vi) as perspectivas de ações futuras.

A escolha do estudo da Rede Mercocidades justifica-se por se tratar de uma organização de grande representatividade perante os governos locais da América Latina e demais atores internacionais, além de ter se tornado, durante os quinze anos desde sua criação, uma referência e um interlocutor para outras associações de cidades latino-americanas e de outros continentes.

A tese apresenta um estudo mais detalhado sobre as motivações para a inserção internacional das cidades, entendendo que são as mesmas para o caso da participação em redes internacionais de cidades, são elas: a globalização, principalmente nas suas dimensões econômica e política, a regionalização e os impactos da globalização sobre as cidades e, consequentemente, sobre as políticas dos gestores locais.

Entende-se que grande parte dessas variáveis está de alguma forma integrada ou é reflexo de um processo maior que é a globalização, além disso, acredita-se que a globalização é uma das variáveis mais importantes para explicar a formação de redes internacionais de cidades.

Um dos efeitos da globalização sobre os Estados nacionais é uma redução de sua capacidade de intervenção, perda de representatividade nacional e de capacidade de resposta aos problemas locais, conseqüentemente, eles partem para um processo de descentralização.

Dado esse novo cenário, as cidades aparecem cada vez mais nas questões políticas, econômicas, sociais e culturais. Os efeitos da globalização sobre as cidades trazem a tona um novo conceito: o de desenvolvimento local. Esta tese procurou responder às questões: A participação das cidades em redes internacionais de cidades seria uma resposta aos efeitos negativos da globalização sobre o desenvolvimento das localidades? Ou seria uma forma das cidades se inserirem de forma mais competitiva internacionalmente?

A idéia é que o estudo de caso das motivações das cidades para participação na Rede Mercocidades pode contribuir, em conjunto com outros estudos, para um maior entendimento sobre essas motivações.

Estabelecidas as motivações para a participação nessa Rede, a tese apresenta a natureza das iniciativas e negociações desenvolvidas nesse escopo. Considerando-se que as redes internacionais estão inseridas na lógica de cooperação internacional e que a cooperação internacional representa um relacionamento de troca e/ou transferência de experiências, conhecimento e recursos financeiros, a tese discute, a partir da Rede Mercocidades, o tipo de relacionamento estabelecido nas redes internacionais de cidades.

Diante da contribuição da urbanização para o agravamento de problemas globais comuns, como a poluição e o surgimento de epidemias, ao

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mesmo tempo em que muitas das soluções para os problemas globais requerem uma ação local, como a implementação da Agenda 21 e da Agenda Habitat. A resolução destes problemas requer a coordenação dos governos locais com os governos estatais e também da cooperação entre as cidades com o intuito de aprimorar a administração pública e conseqüentemente conseguir melhores resultados para os problemas locais e globais.

As iniciativas de formação de redes de cidades se inserem na lógica da cooperação internacional, mais particularmente, cooperação descentralizada. Essa cooperação descentralizada tem como objetivo gerar o desenvolvimento local? Seria um mecanismo adequado?

Os objetivos da tese podem ser resumidos na formulação de um problema central que norteou o estudo conceitual e a pesquisa empírica aplicada ao caso da Rede Mercocidades: de que forma a participação cooperativa em redes internacionais de cidades pode maximizar as capacidades de uma cidade?

Como hipótese central, o projeto inicial da tese sugeria que a participação cooperativa em redes de cidades resultaria em ganhos para a formulação de políticas locais de desenvolvimento e para a inserção internacional do município. A pesquisa empírica realizada teve como propósito demonstrar esta relação.

A tese é um estudo de caso com o objetivo de compreender as motivações das cidades ao participarem de redes internacionais, os aspectos das relações desenvolvidas neste âmbito, suas potencialidades e limitações. Além disso, é resultado do desenvolvimento de pesquisas anteriores efetuadas no âmbito do Projeto Temático: Gestão Pública e Inserção Internacional das Cidades – Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), com apoio da Fapesp e de outros pesquisadores, onde se pesquisou a inserção internacional da cidade de São Paulo e, particularmente, a participação da cidade em redes internacionais de cidades.

A metodologia proposta para esta tese baseou-se em: i) pesquisa bibliográfica com o intuito de compilar um arcabouço teórico-conceitual consistente para o estudo das redes de cidades; ii) levantamento das experiências de participação das cidades membros da Rede Mercocidades, a partir de pesquisa de documentos oficiais e entrevistas com os técnicos e gestores das ações internacionais dos municípios; iii) levantamento dos projetos desenvolvidos e em desenvolvimento no âmbito das Unidades Temáticas da Rede, a partir de pesquisa de documentos oficiais, aplicação de questionário e entrevistas com os respectivos representantes, em dois encontros da Rede.

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As entrevistas e questionários foram aplicados em dois encontros da Rede Mercocidades: Reunião do Conselho Mercocidades, Tandil – Argentina, em 19 de março de 2010; e XV Cumbre de Mercocidades, Belo Horizonte – Brasil, de 30 de novembro a 03 de dezembro de 2010.

Foram entrevistados os seguintes especialistas: Alberto Kleiman (Chefe da Assessoria Internacional da Subchefia de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República do Brasil – Coordenação FCCR), María Sol Mina (Membro da Equipe Técnica do Plano Estratégico Rosario Metropolitana) 2, Jorge Rodríguez (Coordenador Responsável da Secretaria Técnica Permanente da Rede Mercocidades – Divisão de Relações Internacionais e Cooperação da Intendência de Montevidéu) e Rodrigo de Oliveira Perpétuo (Secretário Municipal Adjunto de Relações Internacionais de Belo Horizonte – Secretaria Executiva da Rede Mercocidades 2010/2011).

O questionário foi respondido por quarenta e quatro participantes, das seguintes cidades associadas: Argentina – Bahia Blanca, Buenos Aires, Mar Del Plata, Morón, Neuquén, Paraná, Pergamino, Quilmes, Resistencia, Rio Cuarto, Rivadavia, Rosario e Tandil; Brasil - Belo Horizonte, Canoas, Contagem, Guarulhos, Macaé, Porto Alegre, São Carlos, São Leopoldo e Vitória; Chile – Valparaíso; Paraguai – Assunção, Carlos A. López e Limpio; Uruguai – Canelones e Montevidéu; Venezuela – Barquisimeto. 3

Para tanto, a tese está dividida em três capítulos. No primeiro capítulo são discutidos os temas Globalização, regionalização e as cidades. Neste capítulo são apresentadas considerações sobre o termo globalização e uma descrição mais detalhada do que se entende pelas dimensões econômica e política da globalização. Além disso, discutem-se os principais aspectos das idéias neoliberais e das políticas neoliberais e as novas configurações do Estado-nação, a partir deste contexto. A regionalização é apresentada, principalmente, numa perspectiva da integração latino-americana e, especificamente, no âmbito do MERCOSUL, uma vez que a Rede Mercocidades é uma iniciativa que surge a partir da integração dos países do Cone Sul. No final do capítulo, faz-se uma discussão dos principais impactos da globalização sobre as cidades, destacando-se as temáticas: cidades globais, cidades duais e desenvolvimento local.

2 Professora da Cátedra Seminário II – MERCOSUL e Cooperação Internacional, no curso de Relações Internacionais da Faculdade de Política e Relações Internacionais na Universidade Nacional de Rosario; atuou, no período de 2004-2007, na equipe de relações multilaterais na Subsecretaria de Relações Internacionais da Cidade Autônoma Buenos Aires; atuou, no período de 2007-2010, como Coordenadora MERCOSUL-América do Sul, na Direção Geral de Relações Internacionais de Rosario. 3 Mesmo com diversas tentativas de ampliar a amostra de respostas ao questionário, principalmente por meio dos endereços eletrônicos disponibilizados pelas cidades associadas, a iniciativa não foi exitosa.

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O segundo capítulo é dedicado à delimitação da relação desenvolvida no âmbito das redes internacionais de cidades. São apresentados: os conceitos de paradiplomacia e cooperação descentralizada, suas implicações e limitações; as caracterizações das redes no âmbito das ciências sociais e das redes de cidades no âmbito da economia regional e urbana, destacando-se algumas contribuições para discussão das redes internacionais de cidades; os entendimentos sobre redes internacionais de cidades, a partir dos objetivos, formatos, características, implicações e limitações.

No terceiro capítulo apresenta-se a Rede Mercocidades. A apresentação é feita a partir de uma descrição de sua origem, da sua evolução a partir do crescimento do número de cidades associadas, dos convênios e parcerias desenvolvidos, das linhas de atuação e das atividades e planos de trabalho das suas unidades temáticas. Finaliza-se o capítulo com as propostas de trabalhos futuros e com algumas reflexões de participantes e observadores da Rede.

Por fim, nas considerações finais, discutem-se: o contexto em que emergem as ações internacionais das cidades e as redes internacionais de cidades, destacando-se o caso da Rede Mercocidades; as relações que são desenvolvidas entre as cidades, nas redes internacionais de cidades e, mais especificamente, na Rede Mercocidades; ressaltam-se os trabalhos desenvolvidos e dificuldades encontradas nas relações, no que diz respeito à melhoria na qualidade das políticas locais de desenvolvimento, em uma tentativa de elencar as potencialidades e limitações da Rede Mercocidades.

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CAPÍTULO 1 - O CONTEXTO: A GLOBALIZAÇÃO, REGIONALIZ AÇÃO E AS CIDADES

As mudanças no contexto internacional tendem a ampliar as características da inserção internacional, a questão não se limita aos aspectos nacionais e regionais, abrangendo também as unidades federativas, representada por uma maior participação dos governos subnacionais nas questões internacionais. A idéia é que os governos subnacionais não são mais espectadores das transformações globais e sim podem se tornar agentes promotores dessas mudanças, com limites variáveis caso a caso.

Nesta tese, a exemplo de Mina (2004), entendem-se os governos subnacionais como as instâncias de um país menores que o Estado-nação, como: cidades, regiões departamentos, estados ou províncias. Mais especificamente, será utilizado o termo governo subnacional para indicar a cidade e seu governo local.

O município, enquanto unidade geográfica política [...] se constitui como componente básico do Estado moderno. Nas instituições municipais se expressa o duplo caráter que inclui a realidade político-social local: por um lado como representante das coletividades sociais locais, e por outro lado enquanto elemento articulado do Estado, célula básica componente dele. Ele se constitui no fator decisivo na integração nacional desde um plano político-cultural; ao combinar grupos sociais e valores particulares com grupos sociais e valores mais universais, representados em e pelo Estado central. Trata-se do elemento político integrador por natureza, de modo ascendente, do plano micro ao macro social, dentro de um projeto nacional (MINA, 2004, p.14).

Conforme Bernardi (2006), o urbano não representa somente um espaço, ele é mais, trata-se de um ambiente social, onde residem indivíduos que têm necessidades. É um ambiente construído pelo homem e que é capaz de transformá-lo.

Bernardi (2006, p. 17) acrescenta:

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[...] O termo cidade vem do latim, civitas, que dá origem, entre outras, à palavra cidadania, cidadão, civismo. Também latina a palavra urbe. É hoje sinônimo de cidade, que por sua vez, gerou outros termos relacionados à vida em coletividade como urbanismo, urbano, urbanidade. Unindo-se ao termo grego polis, ou seja, a cidade-estado, autônoma, independente, civil, público, local onde a vida cívica acontece, o mercado, o ambiente político, do exercício da cidadania, chega-se a origem destes termos que definem o ambiente urbano [...].

Para Keating (2004) a projeção internacional das cidades teriam três tipos de motivações: econômicas, políticas e culturais. As motivações econômicas representariam a busca de inserção no mercado global de bens e serviços, a atração de investimentos diretos para as localidades e em alguns casos sua promoção como destino turístico. No que diz respeito às motivações políticas, o autor destaca a busca de reconhecimento internacional. Já as motivações culturais tratariam da promoção de uma cultura ou idioma particular no exterior.

Para o caso brasileiro, Esteves e Costa (s/d) destacam como motivação central a tentativa de restauração da capacidade das unidades subnacionais proverem bens públicos em um contexto de reforma do Estado. Discutindo também o caso brasileiro, Vigevani (2006) supõe que umas das razões para o crescimento da preocupação das cidades com o que acontece internacionalmente é o fato de as cidades serem vistas como agentes do desenvolvimento econômico.

Fronzaglia (2005) reforça essa idéia ao destacar que a crescente inserção internacional das cidades é reflexo das recentes transformações políticas, econômicas e sociais, que ocorreram tanto no cenário internacional quanto na política doméstica de um grande número de países. O autor elenca as seguintes motivações: a globalização, a integração regional, a urbanização, a internacionalização de questões políticas, a descentralização administrativa e o enfraquecimento do poder soberano do Estado-nação.

Considerando especificamente o comportamento em rede de cidades, Capello (2000) considera que esse fenômeno encontra explicação no processo de globalização, uma vez que esse processo requer que os agentes econômicos apresentem presença simultânea em múltiplos mercados e o controle de múltiplas trajetórias tecnológicas. A flexibilidade das cidades para assimilar as mudanças tecnológicas torna-se essencial no âmbito da política local de desenvolvimento.

Mina (2004) apresenta como elementos que influenciam as iniciativas de inserção internacional das cidades: a globalização, a nova economia (transição do modelo fordista de produção), uma multipolaridade econômica e política, o

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crescimento dos processos de integração regional, crescimento da população urbana e de cidades médias, expansão e consolidação da democracia e crescimento dos problemas globais.

Este capítulo tem como objetivo principal descrever as motivações para a ação internacional das cidades. São elas: a globalização, a regionalização e os impactos da globalização sobre as cidades.

A globalização é considerada nesta pesquisa como uma das variáveis mais importantes para explicar a participação das cidades em rede de cidades. Isso porque uma grande parte dos fatores que são apresentados por estes autores e serão discutidas mais adiante como transformações que contextualizam a participação em redes de cidades: a integração regional, a descentralização do Estado, as novas dinâmicas de cooperação internacional, o processo de urbanização e as novas configurações das ações para o desenvolvimento das localidades estão, de alguma forma, integrados ou são reflexo desse processo, pois:

[...] Define-se globalização como conjuntos de relações sociais que se traduzem na intensificação das interações transnacionais, sejam elas práticas interestatais, práticas capitalistas globais ou práticas sociais e culturais transnacionais. A desigualdade de poder no interior dessas relações (as trocas desiguais) afirma-se pelo modo como as entidades ou fenômenos dominantes se desvinculam dos seus âmbitos ou espaços e ritmos locais de origem, e correspondentemente, pelo modo como as entidades ou fenômenos dominados, depois de desintegrados e desestruturados, são revinculados aos seus âmbitos, espaços e ritmos locais de origem (SOUSA SANTOS, 2005, p. 85)v [...].

As práticas interestatais são as ações desenvolvidas pelo Estado no sistema mundial e são representadas, além dos Estados-nação, pelas Organizações Internacionais, Instituições Financeiras Multilaterais, Blocos Regionais e pela Organização Mundial do Comércio. As práticas capitalistas globais dizem respeito às práticas desenvolvidas pela empresas transnacionais no processo de produção global. Já as práticas sociais e culturais transnacionais representam a movimentação de pessoas, as trocas culturais e de informações, elas se dão principalmente a partir das Organizações Não-governamentais, dos Movimentos Sociais e das Redes.

Como o tema globalização apresenta um caráter multidisciplinar, optou-se por uma caracterização do tema a partir de quatro autores principais: Castells (2005 e 2006), Chesnais (1996 e 2005), Ianni (2003a, 2003b e 2007) e Souza Santos (2005); e centralizou-se na descrição de suas dimensões econômicas e políticas, por serem consideradas as principais para se atingir o

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objetivo do capítulo, ou seja, considera-se que as questões econômicas e políticas são as principais motivadoras da inserção internacional das cidades.

Na caracterização da regionalização foca-se, principalmente, a integração latino-americana e o MERCOSUL, uma vez que cada processo de integração apresenta suas especificidades e que o objetivo da tese é estudar a Rede Mercocidades, uma rede de cidades dos países membros e associados do MERCOSUL.

Já na descrição dos impactos da globalização sobre as cidades, apresentam-se as questões econômicas e as indicações de estratégias de políticas de desenvolvimento local. Isto porque, considera-se que a ação internacional das cidades, por meio da participação em redes internacionais e no caso específico da Rede Mercocidades, tem um perfil de mecanismo para o enfrentamento dos problemas locais.

1.1 Algumas considerações sobre o termo globalizaçã o

Entende-se que a globalização é uma das variáveis mais importantes para explicar a inserção internacional das cidades. Isto porque, grande parte dos fatores que serão discutidos mais adiante, como estímulos para a inserção internacional das cidades: as novas dinâmicas de cooperação internacional, avanços nos processos de integração regional e as novas configurações das ações para o desenvolvimento das localidades; estão de alguma forma integrados ou são reflexo desse processo.

Ianni (2007) considera os aspectos do sistema de produção mundial como um movimento relevante do processo de globalização, ao afirmar que:

[...] A globalização do mundo expressa um novo ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório de alcance mundial. Um processo de amplas proporções envolvendo nações e nacionalidades, regimes políticos e projetos nacionais, grupos e classes sociais, economias e sociedades, culturas e civilizações. Assinala a emergência da sociedade global, como uma totalidade abrangente, complexa e contraditória (IANNI, 2007, p.11) [...].

O autor utiliza o termo globalismo para identificar as relações, os processos e as estruturas que configuram o contexto histórico-social atual. “São realidades sociais, econômicas, políticas e culturais que emergem e dinamizam-se com a globalização do mundo, ou a formação da sociedade global” (IANNI, 2007, p. 183).

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Borja e Castells (1997) caracterizam a nova economia a partir de dois processos denominados: economia global e economia informacional:

[...] Por economia global entendemos uma economia em que as atividades estrategicamente dominantes funcionam como unidade a nível planetário em tempo real ou potencialmente real. A economia global é também uma economia informacional. Quer dizer, uma economia na qual o incremento da produtividade não depende do incremento quantitativo dos fatores de produção e sim da aplicação de conhecimento e informação à gestão, produção e distribuição, tanto em processos, como em produtos. A geração e processamento estratégico de informação têm-se convertido em fatores essenciais de produtividade e competitividade na nova economia (BORJA e CASTELLS, 1997, p. 24) [...].

Especificando melhor a economia global, Castells (2005, p. 143 e 173) a apresenta como:

[...] Uma economia cujos componentes centrais têm a capacidade institucional, organizacional e tecnológica de trabalhar em unidade e em tempo real, ou em tempo escolhido, em escala planetária. [...] Ela não é planetária. [...] A economia global não abarca todos os processos econômicos do planeta, não abrange todos os territórios e não inclui todas as atividades das pessoas, embora afete direta ou indiretamente a vida de toda a humanidade [...].

Já Hirst e Thompson (1998) questionam a utilização dos termos globalização ou economia global para descrever a economia atual e preferem apresentá-la como uma economia altamente internacionalizada. Os autores contestam, entre outras, a argumentação de que as empresas são transnacionais, uma vez que, as empresas multinacionais ainda têm um vínculo muito forte com o país de origem, tanto em termos de produção como de comércio.

Alguns autores, como Chesnais (1996, p. 24), consideram o termo mundialização melhor para caracterizar as transformações no sistema mundial. Considera que o termo globalização, que surgiu nas escolas americanas de administração de empresas, tem um conteúdo ideológico. “A palavra ‘mundial’ permite introduzir, com muito mais força do que o termo ‘global’, a idéia de que, se a economia se mundializou seria importante construir depressa instituições políticas mundiais capazes de dominar seu movimento”.

Wanderley (2003) apresenta uma discussão sobre os termos mundialização, globalização e internacionalização, destacando que existe uma interligação entre eles e que, em alguns momentos, eles são utilizados como

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sinônimos e em outros indicam realidades diferentes. Segundo o autor, a mundialização:

[...] Pode ser entendida como um processo de aumento gradativo de relações, contatos e fluxos que se estabeleceram entre povos os mais variados, ocupando regiões dispersas pelo mundo, nos campos: econômico, político, cultural e religioso. Desde sempre esse processo foi tenso, repleto de tensões e conflitos. Pois, geralmente, tratava-se da imposição de uma civilização ou cultura à outra, com momentos, recorrentemente limitadíssimos, de aproximação e respeito às culturas diferentes. Neste sentido, a história da humanidade é um imenso repositório de tentativas dessa natureza, e os impérios de todos os matizes sempre o perpetraram. Certamente, sem esquecer as condicionantes de tempo e espaço, de conhecimento e tecnologia, que os atores em cada conjuntura histórica propiciaram, trazendo outros horizontes, visões de mundo, práticas que modificaram com intensidade as realidades circundantes [...] (WANDERLEY, 2003, p. 1).

A internacionalização corresponde a um

[...] Processo de intensificação gradual ou acelerada das relações, contatos e fluxos, de toda a natureza, que se estabeleceram entre os Estados-nação, após o surgimento e legitimação do Estado moderno, potencializado pelo avanço do capitalismo. E, num segundo momento, pelo próprio socialismo. [...] A internacionalização pode ser entendida como o conjunto de relações interestatais e como o surgimento de instâncias supranacionais nas quais as decisões são tomadas fora do âmbito nacional (WANDERLEY, 2003, p. 4)[...].

Quanto à globalização, o autor acrescenta ao conceito já apresentado aqui de Souza Santos (2005), a discussão de Beck (1999), de que “Globalização significa os processos, em cujo andamento os Estados nacionais veem a sua soberania, sua identidade, suas redes de comunicação, suas chances de poder e suas orientações sofrerem a interferência cruzada de atores transnacionais”. O autor salienta ainda que a globalização “não é um processo de teor natural, mas se trata de uma política de globalização, delineada originalmente no espaço norte-americano [...]. Visa-se uma ditadura do mercado” (WANDERLEY, 2003, p. 11).

Esta apresentação já demonstra o quanto o tema globalização é controverso e passível de diversas construções analíticas. A globalização (economia global, mundialização, entre outros termos utilizados para nomear o contexto atual) é considerada, pela maioria dos autores citados anteriormente,

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como um sistema em construção, um processo em marcha, só isso, já demonstra a necessidade de certo cuidado na tentativa de atribuir conclusões definitivas sobre o tema. Sendo assim, optou-se nesta tese pela caracterização desse sistema mundial em construção, nomeando-o globalização, apesar das implicações complexas, ou divergentes, inerentes ao termo.

Para Chesnay (1996) e Souza Santos (2005) o termo globalização não é neutro e sim é um termo carregado de conteúdo ideológico. Lança-se a idéia de, como se trata de um processo irreversível, é necessário adaptar-se o mais rápido possível a ele para ter a garantia de seus benefícios, aqueles que não vêem os benefícios é porque não se adaptaram.

Wanderley (2009, p. 88-89) salienta que as próprias interpretações da globalização apresentam as contradições do termo. “Para alguns” a globalização “se constitui numa ‘nebulosa’, outros salientam a polêmica existente entre os céticos, para os quais ela não traz nada de novo e apenas acompanha um fenômeno histórico de longa duração e representa apenas uma fase do capitalismo, e os transformacionistas, para quem ela trouxe mutações na economia capitalista”. Para o autor, a globalização é um fenômeno relativamente novo, argumento reforçado por outros autores:

[...] Trata-se de um processo historicamente novo (distinto da internacionalização e da existência de uma economia mundial) porque somente na última década se constituiu um sistema tecnológico (telecomunicações, sistemas de informação interativos, transporte de alta velocidade em âmbito mundial para as pessoas e mercadorias que faz possível essa globalização). A informacionalização da sociedade, a partir da revolução tecnológica que se constituiu como novo paradigma operante na década de setenta, é a base da globalização da economia (CASTELLS apud WANDERLEY, 2009, p. 85)[...].

Outra implicação na discussão sobre globalização é o fato dela assumir diversas dimensões: econômicas, sociais, políticas, culturais, entre outras, apresentando-se ainda de forma interligada.

Apresentando uma caracterização da globalização hegemônica4, Wanderley (2009, p. 84) destaca que a globalização:

4 Como já foi apontado anteriormente, quando se apresentou a discussão deste autor sobre os termos mundialização, internacionalização e globalização. A globalização hegemônica “se enquadra na fase do chamado capitalismo neoliberal e suas transformações nas últimas décadas e deve ser entendida como uma política deliberada (WANDERLEY, 2009, p. 83).

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[...] compreende fenômenos multifacetados, com dimensões econômicas, políticas, culturais, sociais, religiosas e jurídicas e resulta, dentre múltiplas causas, da intensificação das interações transnacionais derivadas das mudanças robustas na divisão social do trabalho e na dinâmica do capitalismo das últimas décadas. E se, por um lado, ela universaliza o mercado, os meios de comunicação social, as transferências financeiras, as mudanças tecnológicas, as imigrações, o turismo, por outro lado, ela acentua nacionalismos, fundamentalismos, particularismos, divisões étnicas [...].

As discussões sobre a globalização vão desde a sua natureza e caracterização até as suas principais conseqüências no que diz respeito às relações de produção e financeiras, às relações sociais e do trabalho, ao papel do Estado nação e, particularmente importante para esta tese, os seus impactos sobre as cidades. Nos aspectos gerais, Wanderley (2009, p. 87) apresenta algumas das principais conseqüências da globalização:

[...] Para um grupo de especialistas, em oposição a umas poucas virtualidades positivas que essa globalização vem trazendo – rapidez no transporte, difusão da internet, avanços na biotecnologia e na medicina, contatos culturais -, constatam-se efeitos perversos (alguns dos quais no interior dos próprios países ricos e desenvolvidos), tais como: aumento da pobreza e da exclusão social; aumento das desigualdades sociais (entre as classes e os setores sociais em geral e entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos); desemprego estrutural; desindustrialização; etc.[...].

Não desconsiderando a importância da análise crítica destas dimensões, a proposta deste capítulo é discutir as principais características econômicas e políticas do processo de globalização. A consideração das características econômicas e políticas deste processo são consideradas as mais importantes para identificação dos fatores que contextualizaram a criação da Rede Mercocidades e que se mantém na atualidade ou, em alguns casos, já estão sendo revistos ou questionados. Para tanto, o capítulo apresenta descrições do conjunto de políticas adotadas pelos Estados nacionais e das práticas interestatais e capitalistas globais.

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1.1.1 A dimensão econômica da globalização

Uma característica relevante da atualidade é que o sistema capitalista de produção mundializou-se. “[...] Pela primeira vez na história, todo o planeta é capitalista ou dependente de sua ligação às redes capitalistas globais” (CASTELLS, 2005, p. 202). Ao que parece quase todo o mundo está se transformando em capitalista, invadindo inclusive as economias centralmente planificadas. Um capitalismo com caráter global:

[...] Isto não significa que tudo o mais se apaga ou desaparece, mas que tudo o mais passa a ser influenciado, ou a deixar-se influenciar, pelas instituições, padrões e valores sócio-culturais característicos do capitalismo. Aos poucos, ou de maneira repentina, os princípios de mercado, produtividade, lucratividade e consumismo passam a influenciar as mentes e os corações de indivíduos, as coletividades e os povos (IANNI, 2003a, p. 184) [...].

Um fator central, em meio às características econômicas da globalização, é a internacionalização do capital. A movimentação internacional do capital se amplia, mas também muda a sua forma de reprodução. “(...) A mundialização deve ser pensada como uma fase específica do processo de internacionalização do capital e de sua valorização, à escala do conjunto das regiões do mundo onde há recursos ou mercados, e só a elas” (CHESNAIS, 1996, p. 32):

[...] O que parecia ser uma espécie de virtualidade do capitalismo como modo de produção mundial, tornou-se cada vez mais uma realidade do século XX; e adquiriu maior vigência e abrangência depois da Segunda Guerra Mundial. Sob certos aspectos, a Guerra Fria, nos anos 1946-89, foi uma época de desenvolvimento intensivo e extensivo do capitalismo pelo mundo. Com a nova divisão internacional do trabalho, a flexibilização dos processos produtivos e outras manifestações do capitalismo em escala mundial, as empresas, corporações e conglomerados transnacionais adquirem preeminência sobre as economias nacionais. Elas se constituem nos agentes e produtos da internacionalização do capital. Tanto é assim que as transnacionais redesenham o mapa do mundo, em termos geoeconômicos e geopolíticos muitas vezes bem diferentes daqueles que haviam sido desenhados pelos mais fortes Estados nacionais. A dinâmica do capital, sob todas as formas, rompe ou ultrapassa fronteiras geográficas, regimes políticos, culturas e civilizações. Está em curso um novo surto de mundialização do capitalismo como modo de produção, em que se destacam a dinâmica e a versatilidade do capital como força produtiva [...] (IANNI, 2003a, p.56 e 58).

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Como o capitalismo se torna um modo de produção global e, conseqüentemente, a acumulação do capital depende de novas formas de organização das relações de produção e de trabalho desenvolve-se o que Ianni (2003a, 2003b e 2007) denomina “sociedade global”. “[...] Uma espécie de sociedade civil global em que se constituem as condições e as possibilidades de contratos sociais, formas de cidadania e estruturas de poder de alcance global” (IANNI, 2003a, p. 205). “A idéia central é a de que existe um sistema global com vida própria, independentemente das sociedades nacionais [...]” (BERGESEN apud IANNI, 2003a, p. 247).

Nos seus aspectos econômicos, a globalização apresenta as seguintes características principais: forte intervenção do sistema financeiro na economia, as decisões de investimento se dão em escala global, “processos de produção flexíveis e multilocais”, redução dos custos de transportes, revolução tecnológica de informação e comunicação, desregulamentação das economias nacionais, domínio das agências financeiras multilaterais, “emergência de três grandes capitalismos transnacionais”: o americano (EUA e suas relações), o japonês (Japão e suas relações) e o europeu (União Europeia e suas relações) (SOUSA SANTOS, 2005, p. 29).

[...] A globalização mudou a importância relativa dos fatores causadores de interdependência. A internacionalização é dominada mais pelo investimento internacional do que pelo comércio exterior, e portanto molda as estruturas que predominam na produção e no intercâmbio de bens e serviços. Os fluxos de intercâmbio intracorporativo adquiriram importância cada vez maior. O investimento internacional é evidentemente acomodado pela globalização das instituições bancárias e financeiras, que têm o efeito de facilitar as fusões e aquisições transnacionais (OCDE apud CHESNAY, 1996, p. 26). [...] Essa definição é precedida pela observação de que os dois fatores principais que [...] aceleraram as mudanças nas formas de internacionalização [...] seriam, em primeiro lugar, “a desregulamentação financeira e o desenvolvimento, cada vez mais acentuado, da globalização financeira” e, em segundo lugar, “o papel das novas tecnologias que funcionam, ao mesmo tempo, como condição permissiva e como fator de intensificação dessa globalização” (CHESNAY, 1996, p. 26) [...].

Nos próximos itens serão tratados com mais detalhes as duas principais características da globalização econômica: a internacionalização financeira e a internacionalização produtiva.

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1.1.1.1 A internacionalização financeira

Uma particularidade do capitalismo global é o predomínio da esfera financeira no sistema econômico internacional. “A globalização dos mercados financeiros é a espinha dorsal da nova economia global” (CASTELLS, 2005, p. 147). “O mundo contemporâneo apresenta uma configuração específica do capitalismo, na qual o capital portador de juros5 está localizado no centro das relações econômicas e sociais” (CHESNAIS, 2005, p. 35).

Os atores-chaves da internacionalização financeira6 são instituições financeiras não bancárias, intituladas investidores institucionais7. “São fundos de pensão, fundos de aplicação coletivos e sociedades seguradoras, assim como empresas financeiras especializadas que gravitam em torno delas,” e “[...] bancos que administram sociedades de investimento. [...] Os investidores institucionais mais poderosos são norte-americanos” (CHESNAIS, 2005, p. 27 e 28).

A internacionalização financeira representa uma das características econômicas da globalização e é resultado da: i) desregulamentação dos mercados financeiros; ii) criação de uma infra-estrutura tecnológica e de telecomunicações; iii) inovação em produtos financeiros (desintermediação financeira) 8; iv) movimentação de capitais especulativos, em busca de valorização ou, em alguns casos, procurando evitar perdas; v) classificação dos mercados pelas firmas de avaliação de risco, certificando as economias nacionais (CASTELLS, 2005).

O principal impacto da internacionalização financeira é o aumento da vulnerabilidade externa dos países receptores desses capitais. As políticas

5 Também designado “capital financeiro” ou simplesmente finança. [...] Esse capital busca “fazer dinheiro” sem sair da esfera financeira, sob a forma de juros de empréstimos, de dividendos e outros pagamentos recebidos a título de posse de ações e, enfim, de lucros nascidos de especulação bem-sucedida (CHESNAIS, 2005, p. 35). 6 Para Chesnais (2005), mundialização financeira. A expressão “mundialização do capital” é a que corresponde mais precisamente à substância do termo inglês globalization. Tratando-se da produção e da comercialização, o termo globalization traduz a capacidade estratégica do grande grupo de adotar uma abordagem e uma conduta “global”, atuando simultaneamente nos mercados com demanda solvável, nas fontes de aprovisionamento e na localização da produção industrial. Na esfera financeira, vale a mesma coisa para as operações de investimentos financeiros, a composição de suas carteiras de ativos (divisas, obrigações, ações e derivativos) e as arbitragens que eles operam entre diferentes instrumentos financeiros, compartimentos de mercado e países onde eles se colocam (CHESNAIS, 2005, p. 45). 7 [...] É a tradução do inglês institutional investor, língua que não oferece, ao contrário do francês, a distinção entre investimento e aplicação financeira. O deslize semântico do termo investor leva a crer que esses agentes contribuem para a criação de capacidade produtiva por meio dos investimentos nas empresas, enquanto o essencial de suas operações trata da compra e venda de títulos que dão direito ao recebimento de juros e dividendos (CHESNAIS, 2005, p. 36). 8 Relações diretas entre os investidores e mercados de títulos, passando por cima das empresas tradicionais de corretagem (CASTELLS, 2005, p. 195).

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monetárias e a taxa de juros destas economias ficam condicionadas a movimentação deste tipo de capital, cuja movimentação não está necessariamente relacionada às condições reais das economias.

[...] É o desempenho do capital nos mercados globalmente interdependentes que decide, em grande parte, o destino das economias em geral. Esse desempenho não depende inteiramente de normas econômicas. Os mercados financeiros são mercados, mas tão imperfeitos que só atendem parcialmente às leis da oferta e da procura. Os movimentos nos mercados financeiros são o resultado de uma combinação complexa de leis de mercado, estratégias empresariais, regulamentos de motivação política, maquinações de bancos centrais, ideologia de tecnocratas, psicologia de massa, manobras especulativas e informações turbulentas de diversas origens (SOROS apud CASTELLS, 2005, p. 147) [...].

Conforme IANNI (2003a), organiza-se um sistema financeiro internacional, a partir de pressões das economias dominantes e sob a direção do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) ou Banco Mundial.

[...] O curso da mundialização financeira foi marcado por uma sucessão de crises financeiras cujos efeitos econômicos e sociais se agravaram a cada vez. É impossível ter uma compreensão correta e completa a não ser que as vinculemos ao incessante movimento da finança para tentar forçar o ritmo da apropriação da riqueza suscetível de ser drenada para os centros financeiros. A raiz das crises financeiras, mas também de forma mais geral do que chamamos fragilidade sistêmica, encontra-se no volume extremamente elevado dos créditos sobre a produção futura que os possuidores de ativos financeiros consideram poder pretender, assim como na “corrida por resultados” que os administradores dos fundos de pensão e de aplicação financeira devem praticar (CHESNAY, 2005, p. 62).9 [...].

Esta primeira abordagem tratou das características da internacionalização do capital financeiro, aquele que busca retorno nos mercados financeiros dos países. Concomitante a este processo, ocorre a internacionalização do capital produtivo, aquele que busca retorno na atividade produtiva. Como são capitais com características diferentes os seus determinantes também são diferentes, mas nos dois casos, o aumento da vulnerabilidade externa dos países receptores destes capitais parece ser uma constante.

9 Vide crise financeira norte americana de 2008.

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1.1.1.2 A internacionalização da produção

Uma segunda característica econômica da globalização é a internacionalização do capital. [...] O processo de internacionalização do capital é, simultaneamente, um processo de formação do capital global, entendido como uma forma nova e desenvolvida do capital em geral [...] (IANNI, 2003a, p. 68).

O capitalismo como forma de produção deixa de ser somente internacional para se tornar efetivamente global. “Intensificou-se e generalizou-se o processo de dispersão geográfica da produção, ou das forças produtivas, compreendendo o capital, a tecnologia, a força de trabalho, a divisão do trabalho social, o planejamento e o mercado” (IANNI, 2003a, p. 57).

A internacionalização da produção pode ser entendida como a intensificação das relações comerciais entre os países e dos investimentos diretos10 efetuados pelas empresas transnacionais, movimentos que viabilizam o acesso a uma maior diversidade de bens produzidos em diferentes países. Para Chesnay (1996), a fase atual da internacionalização se caracteriza pelo predomínio do investimento estrangeiro direto em relação ao comércio internacional e, quando se qualifica o comércio internacional de manufaturados, observa-se o predomínio do comércio intra-indústria11. Neste contexto, as empresas transnacionais destacam-se como os atores promotores do processo de internacionalização da produção, uma vez que são elas as responsáveis pela maior parte do comércio intra-indústria e pela mobilização dos investimentos produtivos em escala global.

O fato de o comércio internacional ter sido suplantado pelo investimento direto não elimina a importância desta atividade. O comércio ainda representa um elemento “fundamental da nova economia global”. O comércio internacional cresceu “tanto em volume quanto em percentagem do PIB, tanto para países desenvolvidos quanto para países em desenvolvimento”. A dimensão comercial da nova economia global pode ser caracterizada a partir dos seguintes

10 Designa um investimento que visa a adquirir um interesse duradouro em uma empresa cuja exploração se dá em outro país que não o do investidor, sendo o objetivo deste último influir efetivamente na gestão da empresa em questão (OCDE apud CHESNAY, 1996, p. 55). [...] Considera-se um investimento estrangeiro como investimento direto quando o investidor detém 10% ou mais das ações ordinárias ou do direito de voto numa empresa. [...] Os fluxos de investimento direto, qualquer que seja seu destino, representam a soma dos seguintes elementos: aportes líquidos de capital pelo investidor direto, sob forma de compra de ações ou quotas, aumento de capital ou criação de empresas; empréstimos líquidos, incluindo empréstimos em curto prazo e adiantamentos feitos pela matriz a sua filial; lucros não distribuídos (reinvestidos) (CHESNAY, 1996, p. 56). 11 Comércio de bens manufaturados do mesmo setor produtivo.

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elementos: i) apesar da concentração nos países desenvolvidos, há uma representatividade cada vez maior dos países em desenvolvimento; ii) “transformação setorial”; iii) combinação entre políticas de livre comércio e integração regional; iv) “formação de uma rede de relações comerciais entre firmas, atravessando regiões e países” (CASTELLS, 2005, p. 147 e 148).

[...] Durante a década de 1990, houve um processo acelerado de internacionalização da produção, da distribuição e da administração de bens e serviços. Esse processo compreendia três aspectos inter-relacionados: o aumento do investimento estrangeiro direto, o papel decisivo dos grupos empresariais multinacionais como produtores na economia global e a formação de redes internacionais de produção [...] (CASTELLS, 2005, p. 158).

O investimento direto se tornou mais importante que o comércio de bens e serviços. “Em 1992, o estoque de investimento externo direto era de 2 trilhões de dólares. As multinacionais que controlavam esse estoque eram responsáveis por vendas de 5,5 trilhões de dólares. Isto era muito mais do que o total do comércio mundial equivalente a 4 trilhões, em 1992” (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 90 e 91). Entre 1983 e 1990, os fluxos de investimento externo direto cresceram a uma taxa anual de 34%, enquanto o comércio cresceu 9% ao ano (OCDE apud HIRST e THOMPSON, 1998).

Conforme Lima (2010), a partir de informações disponibilizadas pelo Banco Mundial, o volume de entradas de IDE no mundo passaram de 9,93 bilhões de dólares em 1970 para 53,71 bilhões de dólares em 1980, 188,89 bilhões de dólares em 1988-92, 1.519,37 bilhões de dólares em 2000, alcançando, em 2007, o volume de 2.322,88 bilhões de dólares.

Quanto à distribuição do investimento direto entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, observa-se o crescimento da participação relativa dos países em desenvolvimento, mas o maior volume encontra-se nos países desenvolvidos. Estas informações não eliminam a constatação de que existe uma concentração geográfica do investimento externo direto em um grupo de poucos países. “A América do Norte, a Europa e o Japão dominam tanto as origens quanto os destinos dos investimentos internacionais” 12 (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 106).

12 Essa concentração parece ter caído um pouco, em 1992 e 1993, quando as principais áreas centrais continuavam a passar por uma recessão, particularmente a do Japão. [...] Os fluxos de investimento externo líquidos para países em desenvolvimento [...] indicam um crescimento substancial desde 1990 na Ásia (principalmente na China), na América Latina e na América do Sul. [...] Em 1994, a China tornou-se, sozinha, o país mais importante de destino de investimento externo direto (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 110-111).

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[...] A maioria das ações das (FDI) 13 estão concentradas em economias desenvolvidas, ao contrário dos períodos anteriores, e essa concentração cresceu com o passar do tempo: em 1960, as economias desenvolvidas representavam dois terços das ações dos FDI; em fins da década de 1990, sua fatia crescera para três quartos. Contudo, o padrão dos fluxos dos FDI (ao contrário das ações) diversifica-se cada vez mais, com os países em desenvolvimento recebendo uma fatia cada vez maior desses investimentos, embora ainda significativamente menor que a das economias desenvolvidas [...] (CASTELLS, 2005, p. 158 e 159).

As informações disponibilizadas pelo Banco Mundial, apresentadas por Lima (2010), demonstram que o volume de entrada de IDE nos países em desenvolvimento representava, em 1970, 34,5% do volume de entrada nos países desenvolvidos; este percentual cai para 23,6% em 1980-85; crescendo para 43,4% em 1990; 57,6% em 2000; e 61% em 2007. Também no caso dos países em desenvolvimento existe uma concentração em um grupo de poucos países. Em 2008, os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) receberam 57,7% dos investimentos externo destinados aos países em desenvolvimento e 10,7% do total mundial. A China (incluindo Hong Kong e Macau) recebeu 173,2 bilhões de dólares; a Rússia, 70,3 bilhões de dólares; o Brasil, 45 bilhões de dólares; e a Índia, 41,5 bilhões de dólares (SANTOS apud LIMA, 2010).

A maior representatividade do investimento direto estrangeiro tem como paralelo a proeminência das empresas transnacionais, que são as principais responsáveis por este tipo de investimento.

A internacionalização produtiva repercute na emergência de uma classe capitalista transnacional, “cujo campo de reprodução social é o globo”. A principal representante desta classe capitalista transnacional é a empresa multinacional. “Esta nova classe é composta por um ramo local e por um ramo internacional”. O ramo local é composto pelos “diretores de empresas, altos funcionários do Estado, líderes políticos e profissionais influentes”, uma “elite empresarial”. Já o ramo internacional é composto “pelos gestores das empresas multinacionais e pelos dirigentes das instituições financeiras internacionais” (SOUZA SANTOS, 2005, p. 32).

Assim, como diz Castells:

[...] Os FDI estão associados à expansão das empresas multinacionais como principais produtoras da economia global. Os FDI costumam assumir a forma de fusões e aquisições nas economias desenvolvidas e, cada vez mais, também no mundo em desenvolvimento. [...] As

13 Investimentos estrangeiros diretos.

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multinacionais (MNC) são a principal fonte de FDI. [...] As subsidiárias internacionais das MNC financiam seus investimentos com verbas de diversas fontes, entre elas empréstimos em mercados locais e internacionais, subsídios de governos e co-financiamentos de empresas locais. As MNC, e suas redes vinculadas, são o vetor da internacionalização da produção, da qual a expansão dos FDI é apenas uma manifestação. De fato, a expansão do comércio mundial é, em geral, resultado da produção das MNC, já que elas representam cerca de dois terços do comércio mundial, incluindo-se nessa fração um terço do comércio mundial entre filiais do mesmo grupo empresarial [...] (CASTELLS, 2005, p. 159-160).

Esta constatação lança uma questão fundamental em relação às empresas multinacionais - o questionamento sobre se estas empresas realmente são transnacionais ou se na realidade, apesar da nova configuração econômica, continuam sendo empresas multinacionais, uma vez que Castels (2005), afirma:

[...] Até que ponto essas empresas multinacionais são nacionais? Existe uma marca persistente de sua matriz nacional no pessoal do alto escalão, na cultura empresarial e na relação privilegiada com o governo de seu país-natal. Contudo, há inúmeros fatores que configuram o caráter cada vez mais multinacional dessas empresas. As vendas e os lucros das afiliadas estrangeiras representam uma proporção substancial dos ganhos totais de cada empresa, em especial das empresas estadunidenses. O pessoal de alto nível não raro é recrutado tendo-se em mente sua familiaridade com cada ambiente específico. E os melhores talentos são promovidos dentro da cadeia de comando da empresa, seja qual for sua origem nacional, contribuindo assim para uma mistura multicultural cada vez maior nos mais altos escalões. Os contatos empresariais e políticos ainda são fundamentais, porém são específicos do contexto nacional onde a empresa opera. Assim, quanto maior a globalização da empresa, maior será seu espectro de contatos empresariais e conexões políticas, segundo as condições de cada país. Nesse sentido, são empresas multinacionais, e não transnacionais. Isto é, têm múltiplos vínculos nacionais, em vez de serem indiferentes à nacionalidade e aos contextos nacionais [...] (CASTELLS, 2005, p. 162-163).

A defesa de que estas empresas não são transnacionais, principalmente porque mantêm vínculos com os seus países de origem, é reforçada por outros autores.

Hirst e Thompson (1998) levantaram informações sobre a extensão e a natureza dos negócios internacionais, para saber onde as multinacionais desenvolvem suas atividades e se existem características diferentes entre os

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países e entre as empresas do setor industrial e do setor de serviços. A partir das análises, os autores concluíram que:

[...] A natureza da atividade multinacional em todas as dimensões observadas, orientada para o país de origem, parece dominante. Assim, as multinacionais ainda contam com sua “base de origem” como o centro de suas atividades econômicas, apesar de todas as especulações sobre globalização. A partir desses resultados estamos certos de que, no conjunto, as empresas internacionais ainda são predominantemente multinacionais e não transnacionais. [...] Apesar da centralidade comum no país de origem [...], a atividade remanescente dos agrupamentos de países é bem diversa. Ou seja, as multinacionais de diferentes países realmente operam em diferentes áreas em medidas diversas. As multinacionais não são todas iguais em termos de expansão geográfica de sua atividade em territórios fora do país de origem [...] (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 146 e 149).

Chesnay (1996) apresenta um levantamento das definições de multinacionais, destacando a definição de Michalet, para quem as empresas transnacionais correspondem a empresas (ou grupos) de grande porte que possuem filiais em vários países e que desenvolvem estratégias globais e se organizam em escala mundial:

[...] Esta definição permanece útil em vários aspectos; ela lembra que a companhia multinacional invariavelmente começou por se constituir como grande empresa no plano nacional, o que implica, ao mesmo tempo, que ela é resultado de um processo, mais ou menos longo e complexo, de concentração e centralização do capital, e que, freqüentemente, se diversificou, antes de começar a se internacionalizar; que a companhia multinacional tem uma origem nacional, de modo que os pontos fortes e fracos de sua base nacional e a ajuda que tiver recebido de seu Estado serão componentes de sua estratégia e de sua competitividade; que essa companhia é, em geral, um grupo14, cuja forma jurídica contemporânea é a de holding internacional; e por fim, que esse grupo atua em escala mundial e tem estratégias e uma organização estabelecida para isso [...] (CHESNAY, 1996, p. 73).

Outra característica marcante da internacionalização da produção é o fato de que as empresas multinacionais organizam-se em rede. “Cada vez

14 O conjunto formado por uma matriz (geralmente chamada de holding do grupo) e as filiais controladas por ela. A matriz é portanto, em primeiro lugar, um centro de decisão financeiro, ao passo que as firmas sob seu controle, na maioria das vezes, não passam de empresas que exploram alguma atividade (CHESNAY, 1996, p. 75).

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mais, a produção global de bens e serviços não é realizada por empresas multinacionais, porém por redes transnacionais de produção, das quais as empresas multinacionais são componentes essenciais, porém componentes que não funcionariam sem o resto da rede” 15 (CASTELLS, 2005, p. 163):

[...] Na base da internacionalização do capital estão a formação, o desenvolvimento e a diversificação do que se pode denominar “fábrica global”. [...] A fábrica global [...] expressa não só a reprodução ampliada do capital em escala global, compreendendo a generalização das forças produtivas, mas expressa também a globalização das relações de produção [...] (IANNI, 2003a, p. 57).

A internacionalização da produção leva a uma nova forma de organização da produção. O processo de produção utiliza componentes que são produzidos em diversas empresas, em diferentes países. Este processo envolve cooperações e alianças estratégicas entre empresas multinacionais e outras empresas de pequeno e médio porte.

Castells (2005, p. 217-218 e 220) destaca duas formas de conexão entre empresas: “o modelo de redes multidirecionais posto em prática por empresas de pequeno e médio porte e o modelo de licenciamento e subcontratação de produção sob o controle de uma grande empresa”. O mesmo autor destaca a formação de alianças corporativas estratégicas de empresas de grande porte. “O acesso a mercados e a recursos de capital é freqüentemente trocado por tecnologias e conhecimentos industriais; em outros casos, duas ou mais empresas empregam esforços conjuntos para desenvolver um novo produto ou aperfeiçoar uma nova tecnologia, em geral sob o patrocínio de governos ou órgãos públicos”.

[...] As unidades e organizações produtivas, envolvendo inovações tecnológicas, zonas de influência, adequações culturais e outras exigências da produção, distribuição, troca e consumo das mercadorias que atendem necessidades reais ou imaginárias, passam a desenvolver-se nos mais diversos países, distribuindo-se por continentes, ilhas e arquipélagos. [...] Está em curso uma divisão internacional do trabalho e da produção, envolvendo a complementação ou superação dos procedimentos do fordismo, das linhas de montagem de produtos homogêneos. Desenvolve-se o toyotismo, a organização do processo de trabalho e produção em termos da flexibilização, terceirização ou subcontratação, tudo isso

15 Suas operações reais são conduzidas com outras empresas: não apenas com as centenas ou milhares de empresas subcontratadas e auxiliares, mas dezenas de parceiras relativamente iguais, com as quais ao mesmo tempo cooperam e competem [...] (CASTELLS, 2005, p. 221).

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amplamente agilizado pela automação, pela robotização, pela microeletrônica e pela informática [...] (IANNI, 2003a, p. 62-63).

Quando Castells (2005, p. 211) apresenta as tendências organizacionais, destaca a “transição da produção em massa para a produção flexível, ou do ‘fordismo’ ao ‘pós-fordismo’”. As mudanças nas demandas, nos mercados e as transformações tecnológicas tornaram o sistema de produção em massa caro e o sistema de produção flexível apareceu como uma possibilidade de redução destes custos.

[...] Sistemas flexíveis de produção em grande volume, geralmente ligados a uma situação de demanda crescente de determinado produto, coordenam grande volume de produção, permitindo economias de escala e sistemas de produção personalizada reprogramável, captando economias de escopo. As novas tecnologias permitem a transformação das linhas de montagem típicas da grande empresa em unidades de produção de fácil programação que podem atender às variações do mercado (flexibilidade do produto) e das transformações tecnológicas (flexibilidade de processo) [...] (CASTELLS, 2005, p. 212).

Outra tendência destacada pelo autor, relacionada ao método de gerenciamento, é o toyotismo. O “toyotismo” substitui o “fordismo” como modelo da nova economia, em um sistema de produção flexível. Neste modelo, é preciso existir uma estabilidade e complementaridade entre a empresa central e sua rede de fornecedores. Um modelo composto dos seguintes elementos:

[...] sistema de fornecimento kan-ban (ou just in time), no qual os estoques são eliminados ou reduzidos substancialmente mediante entregas pelos fornecedores no local da produção, no exato momento da solicitação, e com as características específicas para a linha de produção; “controle de qualidade total” dos produtos ao longo do processo produtivo, visando um nível tendente à zero de defeitos e melhor utilização dos recursos; envolvimento dos trabalhadores no processo produtivo por meio de trabalho em equipe, iniciativa descentralizada, maior autonomia para a tomada de decisão no chão da fábrica, recompensa pelo desempenho das equipes e hierarquia administrativa horizontal, com poucos símbolos de status na vida diária da empresa [...] (CASTELLS, 2005, p. 214-215).

Neste modelo, a integração vertical de departamentos da empresa é substituída por uma rede de empresas.

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A nova configuração da organização e do sistema de produção é combinada com uma nova configuração nas relações sociais e de trabalho. A internacionalização da produção e do capital é combinada com a internacionalização das classes sociais. Como no caso das empresas, que trocam informações e desenvolvem estratégias em escala global, os grupos de interesses e as classes mais desfavorecidas se articulam e se comunicam em escala global.

[...] Quando se mundializa o capital produtivo, mundializam-se as forças produtivas e as relações de produção. Esse é o contexto em que se dá a mundialização das classes sociais, compreendendo suas diversidades internas, suas distribuições pelos mais diversos e distantes lugares, suas múltiplas e distintas características culturais, étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas e outras. Nesse sentido é que as classes sociais, por seus movimentos sociais, partidos políticos e correntes de opinião podem transbordar as nações e regiões, manifestando-se em âmbito cada vez mais amplo [...] (IANNI, 2003a, p. 64-65).

Ao mesmo tempo, ocorre a globalização do mundo do trabalho. A internacionalização do capital, as novas configurações do sistema de produção e as novas formas de organização - a transição do fordismo para o toyotismo, processos dinamizados pelas novas tecnologias, implicam em mudanças na dinâmica do mercado de trabalho.

[...] A acumulação flexível, como vou chamá-la, caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. [...] A acumulação flexível parece implicar níveis relativamente altos de desemprego estrutural16 [...], rápida destruição e reconstrução de habilidades, ganhos modestos (quando há) de salários reais e o retrocesso do poder sindical [...]. Diante da forte volatilidade do mercado, do aumento da competição e do estreitamento das margens de lucro, os patrões tiram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mão-de-obra excedente (desempregados e subempregados) para impor contratos de trabalho mais flexíveis [...] (IANNI, 2007, p. 127 e 128).

16 São trabalhadores com reduzidas ou nulas possibilidades de empregar-se. Movem-se de um lugar para outro, por diferentes cidades, províncias, nações e regiões, tecendo o seu mapa do mundo (IANNI, 2007, p. 135). [...] Implica a expulsão mais ou menos permanente das atividades produtivas. Decorre principalmente da contínua e generalizada tecnificação dos processos de trabalho e produção. Decorre da crescente potenciação da capacidade produtiva da força de trabalho, pela adoção de tecnologias eletrônicas e informáticas (IANNI, 2007, p. 225).

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Criam-se grupos de trabalhadores altamente qualificados, assim como grupos de trabalhadores menos qualificados. “[...] Acentua-se a exploração da força de trabalho empregada em países em desenvolvimento” (IANNI, 2007, p. 137). São os trabalhadores mais explorados em termos de salários, jornadas de trabalho, direitos trabalhistas não respeitados, entre outros.

As implicações destas novas configurações é a criação de uma classe de operários que muda sua forma de organização e reivindicação e, em conjunto com outras classes desfavorecidas, compõem os movimentos sociais contrários ao processo de globalização. Movimentos que se organizam, também, em escala mundial.

Ianni (2007, p. 134) sintetiza os aspectos principais das questões sociais, configurados no contexto do capitalismo global: i) “desemprego cíclico e estrutural”; ii) aumento da população situada “na condição de subclasse17”; iii) maior exploração da mão-de-obra; iv) “discriminação racial, sexual, de idade, política, religiosa”; v) intensificação das migrações “em todas as direções”; vi) “ressurgência de movimentos raciais, nacionalistas, religiosos, separatistas, xenófobos, racistas, fundamentalistas”; vii) variadas “manifestações” encaminhadas na forma de “pobreza, miséria e fome”.

Nesta nova configuração, as características “clássicas” do Estado-nação também são transformadas. Nas suas diretrizes internas, o Estado-nação terá que considerar cada vez mais a realidade externa, submetendo-se, em algumas situações, à situação internacional. O que será mais bem entendido a partir das discussões sobre a dimensão política da globalização.

1.1.2 A dimensão política da globalização

As principais mudanças políticas são: redução da autonomia política e da soberania dos estados periféricos, promovida pelos estados hegemônicos e pelas instituições internacionais, controladas por esses Estados; crescimento dos acordos políticos interestatais (União Européia, Nafta, Mercosul, entre outros); perda de centralidade do Estado-nação no que diz respeito às questões econômicas, políticas e sociais. “A atual globalização produz o enfraquecimento dos poderes do Estado” (SOUSA SANTOS, 2005, p. 38).

17 O termo subclasse expressa “a cristalização de um segmento identificável da população na parte inferior, ou sob a parte inferior, da estrutura de classes”. Estas são algumas das características da subclasse: “minorias raciais, desemprego por longo tempo, falta de especialização e treinamento profissionais, longa dependência do assistencialismo, lares chefiados por mulheres, falta de uma ética do trabalho, droga, alcoolismo” (HEISLER apud IANNI, 2007, p. 138).

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Um ponto importante, no que diz respeito às questões políticas, é a intensificação das formas de governo supra-estatal, ou seja, das instituições políticas internacionais, das agências financeiras multilaterais, dos blocos político-econômicos supranacionais etc.

Castells (1998) trata dos efeitos deste processo sobre os Estados nacionais. Como destacado nos itens anteriores, uma das características mais relevantes da globalização econômica é a internacionalização do capital e a interdependência dos mercados financeiros, sendo assim, as políticas monetária, creditícia e fiscal dos países ficam subordinadas às atuações dos mercados financeiros. As políticas econômicas passam por um processo de homogeneização, comprometidas, na sua grande maioria, com a livre movimentação do capital.

Outra característica relevante da globalização econômica é a internacionalização de bens e serviços. As grandes empresas estão se internacionalizando. Como observado anteriormente, as empresas multinacionais, apesar de apresentarem uma nacionalidade, tomam suas decisões de acordo com as especificidades dos países em que estão localizadas. Sendo assim, a atuação do Estado fica limitada às posições estratégicas dessas empresas, que podem mudar suas ações de investimento, a partir de expectativas negativas em relação aos rendimentos.

A resposta do Estado à redução de sua capacidade de intervenção, em função dos fatores relacionados acima, é a multilaterização e a cooperação. As instituições interestatais têm-se destacado nacional e internacionalmente.

[...] Os Estados nacionais estão encontrando um mecanismo para sobreviver à globalização: a formação de cartéis políticos de representação de interesses nos quais, ao preço de uma constante negociação, podem somar recursos, compartilhar estratégias, negociar acordos com agentes econômicos multinacionais e inclusive tratar de gestionar o impacto sobre seus países e povos dos incontroláveis fluxos globais de riqueza, informação e poder [...] (CASTELLS, 1998, p. 9).

Essa estratégia dos Estados nacionais de intervenção nas relações globais tem como fator correspondente a perda de representatividade nacional e de capacidade de resposta aos problemas locais. Sendo assim, os Estados nacionais estão partindo para um processo de descentralização.

Entre estes aspectos econômicos e políticos do processo de globalização, “[...] destacam-se a redução da presença do Estado na atividade econômica, a privatização das atividades produtivas de caráter público e a

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diminuição do papel das políticas redistributivas industriais e regionais” (BARQUERO, 2002, p. 25).

Esta nova configuração articula-se ao processo que Benko (2001) chamou de “deslizamento de escala”.

[...] Trata-se de uma recomposição dos espaços: os espaços clássicos – nos quais os sistemas econômico, social e político evoluíram praticamente ao longo de todo o século – estão se deslocando ao mesmo tempo para cima e para baixo. Na escala superior, constata-se a criação ou o reforço dos blocos econômicos, inicial e, frequentemente, sob forma de mercados comuns, evoluindo, em seguida, rumo a espaços política e economicamente unidos como é o caso da Europa; o deslocamento rumo ao patamar inferior da escala caracteriza-se pelo reforço das unidades territoriais em nível regional. O nosso planeta tem assim quatro níveis espaciais pertinentes de análise: o mundial, o supranacional (blocos econômicos), o nacional (Estados-nação) e o regional (local ou infranacional) [...] (BENKO, 2001, p. 7)

Apesar dos governos locais ou regionais terem menos recursos que os Estados nacionais para responder aos fluxos globais, eles têm maior flexibilidade e, portanto, maior capacidade de adaptação. Os governos locais e regionais “[...] têm uma relação mais fluída com os seus cidadãos. Podem expressar melhor a identidade cultural de um território, estabelecer mais facilmente mecanismos de participação e informação, e gerar mobilizações simbólicas comunitárias” (CASTELLS, 1998, p. 9).

Constitui-se então o que o autor chama de Estado rede.

[...] O Estado que denomino “Estado rede” se caracteriza por compartilhar a autoridade (ou seja, a capacidade institucional de impor uma decisão) ao longo de uma rede de instituições. Uma rede, por definição, não tem centro, e sim nós, de diferentes dimensões e com relações internodais que são freqüentemente assimétricas. Porém, todos os nós são necessários para a existência da rede. Assim, o Estado-nação, se articula cotidianamente na tomada de decisão com instituições supranacionais de diferentes tipos e em âmbitos distintos. Porém, também funcionam em rede, nessa mesma rede, instituições regionais e locais [...] (CASTELLS, 1998, p. 11).

Esta nova configuração do Estado nação, assim como do sistema de produção em escala global, tem como paralelo e fator determinante da sua configuração atual, a aplicação, por meio de políticas econômicas, das idéias

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neoliberais e de regionalização. “A globalização resulta, de facto, de um conjunto de decisões políticas identificadas no tempo e na autoria. [...] O facto de as decisões políticas terem sido, em geral, convergentes, tomadas durante um período de tempo curto, e de muitos Estados não terem tido alternativa para decidirem de modo diferente, não elimina o caráter político das decisões [...] (SOUZA SANTOS, 2005, p. 50). Esta constatação é reforçada por Castells (2005, p. 176), “a economia global” é resultado da “reestruturação das empresas e dos mercados financeiros” e expandiu-se pela utilização de “novas tecnologias da informação e comunicação” e só se tornou “possível e, em grande parte foi induzida, por políticas governamentais deliberadas”. São estas idéias e políticas que serão desenvolvidas no próximo item.

1.1.2.1 As idéias e as políticas neoliberais

Na atual configuração do sistema capitalista, “[...] o ideário do neoliberalismo adquire predomínio mundial, como ideologia e prática, modo de compreender e de agir, forma de gestão do mercado e poder político, concepção de público e privado, ordenação da sociedade e visão do mundo” (IANNI, 2003b, p. 58).

Apesar de o liberalismo econômico clássico representar o núcleo das idéias do neoliberalismo, o neoliberalismo tem suas particularidades. Enquanto o liberalismo tem como raiz o mercado nacional, o neoliberalismo tem como raiz o mercado mundial. O neoliberalismo retoma a defesa das idéias de “liberdade, igualdade, propriedade e contrato”, articulados no liberalismo econômico, mas em outra configuração, “agora sob a égide das multinacionais, corporações, conglomerados, organizações pouco localizáveis, no sentido de que estão em muitos lugares e às vezes operam à margem de instituições, códigos, estatutos ou constituições nacionais” (IANNI, 2003b, p. 140).

O neoliberalismo baseia-se “nos princípios do mercado, livre jogo das forças de mercado, livre empresa, livre iniciativa, competitividade, produtividade, lucratividade, economias de escala, vantagens comparativas, divisão internacional do trabalho, mão invisível” (IANNI, 2003b, p. 141). Idéias que dão sustentação ao sistema de produção capitalista como modelo ideal, uma vez que tem como pressuposto o fato de que o sistema capitalista se auto-regula, recuperando-se de crises e, apesar do seu caráter individualista, beneficia a todos, sem a necessidade de interferência do Estado. Estas idéias se reforçam pela aplicação das questões de competitividade, produtividade e racionalidade à gestão pública.

Conforme Souza Santos (2005), a implicação da nova configuração do processo produtivo, a partir das estratégias das empresas transnacionais, é

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que as políticas econômicas nacionais tenham uma orientação baseada no livre mercado.

[...] As implicações destas transformações para as políticas econômicas nacionais podem ser resumidas nas seguintes orientações ou exigências: as economias nacionais devem abrir-se ao mercado mundial e os preços domésticos devem tendencialmente adequar-se aos preços internacionais; deve ser dada prioridade à economia de exportação; as políticas monetárias e fiscais devem ser orientadas para a redução da inflação e da dívida pública e para a vigilância sobre a balança de pagamentos; os direitos de propriedade privada devem ser claros e invioláveis; o setor empresarial do Estado deve ser privatizado; a tomada de decisão privada, apoiada por preços estáveis, deve ditar os padrões nacionais de especialização; a mobilidade de recursos, dos investimentos e dos lucros; a regulação estatal da economia deve ser mínima; deve reduzir-se o peso das políticas sociais, eliminando a sua universalidade, e transformando-as em meras medidas compensatórias em relação aos estratos sociais inequivocamente vulnerabilizados pela actuação do mercado [...] (SOUZA SANTOS, 2005, p. 28-29).

Estas orientações são sustentadas pelo que o autor denomina “consenso neoliberal” ou “Consenso de Washington” 18. A partir da análise das medidas econômicas que dão sustentação as características do processo de globalização, o autor destaca três principais componentes do Consenso de Washington que dão sustentação a estas medidas, são eles: “o consenso do Estado fraco; o consenso da democracia liberal; o consenso do primado do direito e do sistema judicial” (SOUZA SANTOS, 2005, p. 41).

Na base do consenso do Estado fraco, que sustenta a defesa do Estado mínimo, está a idéia de que um Estado menor permite o fortalecimento da sociedade civil, considera-se que um Estado forte enfraquece e limita a sociedade civil, daí a necessidade de reduzi-lo se o objetivo é ter uma sociedade civil forte.

“O consenso da democracia liberal visa dar forma política ao Estado fraco, [...] recorrendo à teoria política liberal que particularmente nos seus primórdios defendera a convergência necessária entre liberdade política e 18 Este consenso é conhecido por “consenso neoliberal” ou “Consenso de Washington” por ter sido em Washington, em meados da década de oitenta, que ele foi subscrito pelos Estados centrais do sistema mundial, abrangendo o futuro da economia mundial, as políticas de desenvolvimento e especificamente o papel do Estado na economia. Nem todas as dimensões da globalização estão inscritas do mesmo modo neste consenso, mas todas são afectadas pelo seu impacto. [...] Este consenso está hoje relativamente fragilizado em virtude de os crescentes conflitos no interior do campo hegemónico e da resistência que tem vindo a ser protagonizada pelo campo subalterno ou contra-hegemónico. No entanto, foi esse consenso que nos trouxe até aqui e é por isso sua a paternidade das características hoje dominantes da globalização (SOUZA SANTOS, 2005, p. 27).

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liberdade econômica [...]” (SOUZA SANTOS, 2005, p. 42). O autor destaca que apesar da defesa e imposição da democracia liberal pelos países hegemônicos, o que se percebe na realidade é que a democracia desenvolvida nestas economias nada mais é do que uma caricatura do modelo de democracia liberal19.

“O consenso sobre o primado do direito e do sistema judicial é uma das componentes essenciais da nova forma política do Estado e é também o que melhor procura vincular a globalização política à globalização econômica”. A idéia é que é responsabilidade do Estado criar os mecanismos legais de defesa da propriedade privada dos meios de produção, variável essencial para garantia da apropriação dos benefícios provindos da acumulação do capital, tanto do capital produtivo, como do capital financeiro. Este “quadro legal” dá suporte à “liberalização dos mercados, dos investimentos e do sistema financeiro” (SOUZA SANTOS, 2005, p. 43).

Estas orientações são reforçadas por organizações multilaterais, como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial do Comércio20, que desenvolvem modelos, fundamentados nos princípios da liberdade econômica e da liberdade política, que servem de referência para os diversos países, independentemente de suas diferenças estruturais.

[...] Simultaneamente, os neoliberais argumentam que o “planejamento econômico” centralizado, estatal ou governamental é nocivo, distorcivo ou limitativo, no que se refere à dinâmica e à multiplicação dos negócios, das atividades econômicas, do progresso tecnológico, da generalização do bem-estar etc. [...] (IANNI, 2007, p. 220).

Estas orientações alicerçaram um conjunto de medidas de política que ao seu tempo deram sustentação a globalização, são elas: “a desregulamentação das atividades econômicas domésticas (que começou com os mercados financeiros); a liberalização do comércio e dos investimentos

19 [...] As características da democracia liberal, tal como são descritas por David Held: o governo eleito; eleições livres e justas em que o voto de todos os cidadãos independente de distinções de raça, religião, classe, sexo, etc.; liberdade de consciência, informação e expressão em todos os assuntos públicos definidos como tal com amplitude; o direito de todos os adultos a opor-se ao governo e serem elegíveis; liberdade de associação e autonomia associativa entendida como o direito a criar associações independentes, incluindo movimentos sociais, grupos de interesse e partidos políticos (HELD apud SOUZA SANTOS, 2005, p. 42). 20 Santíssima trindade do capitalismo global. Acontece que essas organizações multilaterais tornaram-se poderosas agências de privatização, desestatização, desregulação, modernização ou racionalização, sempre em conformidade com as exigências do mercado, das corporações transnacionais ou do desenvolvimento extensivo e intensivo do capitalismo no mundo (IANNI, 2007, p. 109).

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internacionais; e a privatização das empresas públicas (quase sempre vendidas a investidores estrangeiros)” (CASTELLS, 2005, p. 178).

Estas medidas de política econômica iniciaram na década de 1970, nos Estados Unidos, na década de 1980 na Inglaterra, espalhando-se pela Europa e tornando-se um padrão global na década de 1990, alcançando um maior número de países do mundo. Na década de 1990, foram criados os mecanismos de propagação da globalização para outras economias.

[...] O mecanismo para levar o processo de globalização à maioria dos países do mundo era simples: pressão política por intermédio de atos diretos do governo ou de imposição pelo FMI/Banco Mundial/Organização Mundial do Comércio. Só depois que as economias fossem liberalizadas o capital global entraria nesses países. A administração Clinton foi, de fato, a verdadeira globalizadora política [...]. De fato, Clinton construiu sobre os alicerces deixados por Reagan, mas levou o projeto muito mais longe, transformando a abertura dos mercados de bens, serviços e capital, prioridade máxima de sua administração [...], fazendo pressão direta sobre os governos do mundo inteiro, e instruindo o FMI para implantar essa estratégia da maneira mais rígida possível. [...] Em fins da década de 1990, o FMI estava trabalhando e recomendando políticas de ajuste em mais de oitenta países do mundo. [...] A maior parte do mundo em desenvolvimento, bem como das economias em transição, se tornaram protetorados econômicos do FMI – que, no final das contas, significava Departamento do Tesouro dos EUA. [...] Se o país decidisse ficar fora do sistema [...], era punido com o ostracismo financeiro – e fracassava, confirmando a profecia do FMI [...] (CASTELLS, 2005, p. 182).

O mesmo caminho pode ser reconhecido nas rodadas de negociação no âmbito do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) e, posteriormente, da OMC (Organização Mundial do Comércio), criada em 1994, em que a necessidade de inserção das economias nos mercados dos países centrais tinha como contrapartida a aceitação de acordos multilaterais que implicavam em abertura dos seus mercados aos produtos importados destes países.

[...] A adesão às regras significava, em geral, desmantelar gradualmente a proteção às indústrias que não eram competitivas em razão de sua chegada tardia à concorrência internacional. Mas a rejeição das regras era sancionada com sobretaxas rigorosas em mercados ricos, anulando assim a oportunidade de desenvolvimento por meio de ótimas fatias de mercado nos mercados onde está concentrada a riqueza [...] (CASTELLS, 2005, p. 182).

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Assim como Castells (2005, p. 183) apresenta as condições que favoreceram a globalização como ações deliberadas dos governos nacionais, também considera as possíveis explicações para o fato de a maioria dos países aderirem às idéias propostas por estes organismos multilaterais e pelas grandes potências econômicas, perdendo com isto parte de sua autonomia política. Para o autor existem quatro níveis de explicação: i) “interesses estratégicos percebidos de determinada nação-estado”, estes interesses correspondem à possibilidade que a inserção internacional traria para o desenvolvimento econômico dos países e seria diferente em cada caso; ii) “o contexto ideológico”, que é representado pelo predomínio das idéias neoliberais, uma vez que, as políticas sempre têm um componente ideológico que lhes dá suporte; iii) “os interesses políticos da liderança”, dizem respeito ao fato de que os líderes que estavam no poder neste momento tinham assumido economias estagnadas, as novas diretrizes representavam uma oportunidade de recuperação destas economias, o que daria suporte à manutenção destas pessoas no poder; e iv) “os interesses pessoais das pessoas no poder”, considerado pelo autor como o fator menos importante e menos verificável, representa os benefícios que os indivíduos que estão no poder teriam a partir das políticas de liberalização do mercado de bens e financeiros.

“Não se pode entender as decisões políticas num vácuo pessoal e social. São tomadas por pessoas que, além de representar governos, e ter interesses políticos, têm interesse pessoal num processo de globalização que se tornou uma fonte extraordinária de possíveis riquezas para as elites de todo o mundo” (CASTELLS, 2005, p. 188). Explicados primordialmente por interesses estratégicos, ideológicos, políticos ou pessoais, o que se observa é a adesão dos governos nacionais às políticas neoliberais, que em conjunto com a internacionalização financeira e produtiva e as transformações na organização dos processos produtivos e das relações sociais, levaram a questionamentos sobre: a redução da soberania dos Estados em favor das organizações e corporações internacionais; as novas configurações do Estado; ou, em casos extremos, sobre o fim dos Estados.

“[...] Enquanto o capitalismo global prospera e as ideologias nacionalistas demonstram seu vigor em todo o mundo, o Estado-Nação, cuja formação está historicamente situada na Idade Moderna, parece estar perdendo seu poder, mas não – e essa distinção é essencial – sua influência” (CASTELLS, 2006, p. 287). O que se pretende no próximo item é discutir a redução de poder dos Estados nacionais.

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1.1.2.2 As novas configurações do Estado-nação

Hirst e Thompson (1998, p. 264), considerando Weber, destacam “que a característica que distingue o Estado moderno é o domínio do monopólio dos meios de violência dentro de um determinado território”. O Estado moderno fundamenta-se no território, na população e no governo. A idéia é que como Estados soberanos são eles que determinam suas políticas internas e externas e que as relações internacionais limitam-se pela exigência de que os Estados não interfiram nas questões internas de outros Estados. “A noção de um Estado ‘nação’ realmente reforça a concepção de um poder soberano que tem primazia dentro de um determinado território” (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 266).

A globalização econômica, caracterizada principalmente pela internacionalização financeira e produtiva, em conjunto com: i) a emergência das idéias neoliberais e a perda de controle sobre os componentes essenciais da política econômica e a redução do Estado de bem-estar social; ii) o desenvolvimento de armas nucleares e as inovações tecnológicas na área militar; iii) a globalização da mídia e dos meios de comunicação, combinada à redução do controle do Estado sobre os meios de comunicação; iv) a globalização do crime organizado; v) a eminência do caráter multilateral da política externa; e vi) a emergência das localidades, favorecida pela descentralização do poder do Estado-nação; levam a redução do poder e da capacidade de governabilidade do Estado e, conseqüentemente, a uma crise de confiança e de legitimação do Estado. O que não elimina a sua importância e implica em nova configuração para a manutenção da governabilidade (HIRST e THOMPSON, 1998; CASTELLS, 1998, 2005 e 2006):

[...] O Estado moderno enquanto corpo político isolado, formado por governantes e governados, tendo uma jurisdição plena sobre um território demarcado – incluindo nesta jurisdição o direito ao monopólio da força coercitiva – e com legitimidade baseada no consentimento de seus cidadãos, estaria dando lugar a uma nova forma ou lógica de Estado, na qual as decisões políticas passam a estar permeadas e influenciadas por redes transnacionais intergovernamentais [...] (MARIANO e MARIANO, 2005, p. 133).

Souza Santos (2005), citando Jessop, destaca algumas características da transformação do poder do Estado:

[...] Em primeiro lugar, a desnacionalização do Estado, certo esvaziamento do aparelho do Estado nacional que decorre do fato de

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as velhas e novas capacidades do Estado estarem a ser reorganizadas, tanto territorial como funcionalmente, aos níveis subnacional e supranacional. Em segundo lugar, a desestatização dos regimes políticos refletida na transição do conceito de governo (government) para o de governação (governance), ou seja, de um modelo de regulação social e econômica assente no papel central do Estado para outro assente em parcerias e outras formas de associação entre organizações governamentais, para-governamentais e não-governamentais, nas quais o aparelho de Estado tem apenas tarefas de coordenação enquanto primos entre pares. E, finalmente, uma tendência para internacionalização do Estado nacional expressa no aumento do impacto estratégico do contexto internacional na atuação do Estado, o que pode envolver a expansão do campo de ação do Estado nacional sempre que for necessário adequar as condições internas às exigências extraterritoriais ou transnacionais [...] (JESSOP apud SOUZA SANTOS, 2005, p. 37-38).

A realidade atual é que o papel do Estado mudou e “[...] sua capacidade de controlar seu povo e os processos sociais internos declinou”. Uma das mudanças diz respeito à guerra. “Classicamente, a guerra era vista como um meio de decisão, em que a vitória acabava com uma questão entre os Estados que não poderia ser resolvida de alguma outra maneira”. A possibilidade de guerrear está limitada pelo desenvolvimento de armas nucleares, com o desenvolvimento dessas armas a guerra se torna impossível. Os conflitos só poderiam ocorrer em locais distantes de áreas nucleares (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 274 e 276).

Sendo assim, os Estados nucleares “[...] criaram uma ordem civil mundial por meio de seus tratados, não só limitando as guerras como concedendo, aos outros Estados, poderes de inspeção e de supervisão [...]”. As armas nucleares acabaram, conseqüentemente, com a possibilidade de guerra entre os Estados avançados21 (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 275- 276).

[...] O novo sistema de segurança está sendo construído, basicamente, para defesa contra a ação de bárbaros externos que até hoje permanece sem denominação específica. Ao adotar tal procedimento, os Estados-Nação, inclusive os mais poderosos, vêem-se capturados em um emaranhado de interesses e negociações que assume formas diferentes para cada questão abordada. Sem a necessidade de tomada de decisões de vida ou morte, como ocorria na era nuclear da Guerra Fria ao se considerar a perspectiva de confronto entre as superpotências e seus aliados, o quadro difuso de uma política externa

21 Isso não quer dizer que viveremos em um mundo pacífico. Estado menores lutarão uns contra os outros. Estados avançados serão ameaçados pelo terrorismo (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 277).

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com geometria variável traduz-se na incapacidade cada vez maior de qualquer Estado agir por conta própria na arena internacional [...] (CASTELLS, 2006, p. 307).

Além disso, as alterações tecnológicas na área militar levam os Estados-nação a dependerem dos fornecedores deste tipo de tecnologia. O que representa uma grande vantagem para os países que a possuem. “[...] Ao contrário de outros períodos históricos, não há um único Estado que seja auto-suficiente na produção de armas, com exceção dos Estados Unidos [...]”. O que lhe confere a categoria de “superpotência”, mas isto não significa “plena soberania” dos Estados Unidos “no exercício de política externa [...] por causa da” sua “débil posição financeira e política [...] no que diz respeito a comprometer suas forças no exterior” (CASTELLS, 2006, p. 309). O questionamento não é só se a guerra é possível, dada à proliferação das armas nucleares, mas também se ela é possível por causa dos “custos extremamente elevados das armas de alta tecnologia” (MCINNES apud CASTELLS, 2006, p. 309).

Outra mudança importante para o enfraquecimento da base central do Estado é o desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação, o que tirou “do Estado à exclusividade de controlar seu território, reduzindo sua capacidade de controle e de homogeneização. [...] A homogeneidade cultural completa e exclusiva é cada vez menos possível”. O crescimento da articulação internacional impossibilita que se ignorem as “culturas internacionalizadas” (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 278 e 279):

[...] Não há uma cultura única, global, imposta por oligopólios da informação. Há uma produção global de imagens, sons e informações, que às vezes recebem inputs de todo o mundo e de todas as culturas, e se recombina empresarialmente no seio de cada cultura, cada sociedade e para cada audiência específica. [...] Há uma multiplicidade de mensagens e de fontes emissoras, que se adaptam a pluralidade de audiências/mercados e seus diferentes gostos, a partir de uma rede empresarial cada vez mais concentrada em seu capital e cada vez mais inter-relacionada em sua estrutura, competindo e aliando-se ao mesmo tempo [...] (CASTELLS, 1998, p. 5).

O desenvolvimento da internet permite a troca de informação entre os indivíduos, tanto nas sociedades democráticas, quando nas sociedades autoritárias. A característica principal desta estrutura é sua capacidade de escapar do controle do Estado. “Na medida em que os meios de comunicação participam da globalização empresarial e que dita globalização é essencial para seu acesso à informação e recursos, o Estado perde o controle da informação,

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quer dizer, o elemento básico no qual descansava seu poder através da história” (CASTELLS, 1998, p. 5).

No contexto da globalização da mídia, o Estado-nação “enfrenta três grandes desafios: globalização e não exclusividade da propriedade22; flexibilidade e capacidade de penetração da tecnologia; e autonomia e diversidade da mídia.” Além disto, “[...] paralelamente à globalização da mídia, tem-se verificado em diversos países um crescimento extraordinário da mídia local [...]” (CASTELLS, 2006, p. 298 e 302).

[...] Isso não quer dizer que os Estados não tenham mais nenhuma participação na mídia. Os governos ainda detêm controle de meios de comunicação importantes, ações de capital e influência sobre ampla gama de organizações do mundo das comunicações. [...] Contudo, ainda que os governos tenham influência sobre a mídia, boa parte de seu poder já foi perdida, salvo os casos em que os veículos de comunicação estão sob o controle de Estados autoritários. Além disso, a mídia precisa conquistar sua independência por ser este um componente básico de credibilidade – não só perante a opinião pública, mas diante da pluralidade dos detentores de poder e dos anunciantes, pois a publicidade é a base econômica da mídia [...] (CASTELLS, 2006, p. 299-301).

Outro fator que contribui para a discussão sobre a redução do poder do Estado é a globalização do crime organizado. O crime tem transformado de forma intensa as ações do governo e em alguns casos o Estado não tem como reagir.

[...] A novidade não é o maior grau de penetração do crime e seu impacto na política. A novidade é a conexão global do crime organizado, condicionando relações internacionais, tanto econômicas como políticas, à escala e ao dinamismo da economia do crime. A novidade é o profundo envolvimento e a desestabilização dos Estados-Nação em uma série de contextos submetidos à influência do crime transnacional [...] (CASTELLS, 2006, p. 304).

No âmbito das relações internacionais desenvolve-se uma cooperação entre Estados-nação que visa o combate ao crime organizado. Um crime que se diversifica cada vez mais, não se limitando ao tráfico de drogas, incluindo o 22 As estações de rádio e televisão foram privatizadas em larga escala e as redes oficiais que permaneceram tornaram-se praticamente idênticas às redes da iniciativa privada, pois tiveram de vincular sua programação aos índices de audiência e/ou às receitas provenientes dos comerciais (CASTELLS, 2006, p. 299).

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tráfico de armas, de tecnologias, de materiais radioativos, de obras de arte, de pessoas, de órgãos humanos, de assassinos mercenários e contrabando de mercadorias, articulados internacionalmente e viabilizados por um circuito de lavagem de dinheiro, conectado aos mercados financeiros globais (CASTELLS, 2006).

“Em muitos casos, toda a estrutura do Estado, não raro incluindo as mais altas esferas de poder, está entremeada de vínculos criminosos, pela corrupção, ameaças ou financiamento ilegal da política, causando enormes estragos na conduta das questões públicas” (CASTELLS, 2006, p. 304).

A cooperação multilateral entre os Estados-nação pode resultar de fatores elencados anteriormente, mas também do crescimento da informação e preocupação com as grandes questões ambientais. Existe, cada vez mais, uma percepção de que os problemas de degradação do meio ambiente não podem ser controlados sem uma articulação coordenada dos Estados. A política externa assume cada vez mais um caráter multilateral. O problema é que, como estes encontros assumem, na maioria das vezes, um formato de discussões que não se encaminham para ações práticas de solução dos problemas, principalmente porque os Estados agem em defesa de seus interesses, desconfia-se da capacidade destes aparatos lidarem com as questões que preocupam as sociedades.

Para Castells (2006), os Estados-nação buscam reduzir sua fragilidade agrupando-se na direção de governos supranacionais, o que, em sua opinião, acaba comprometendo ainda mais sua soberania.

[...] Temos testemunhado [...] um processo irreversível de soberania compartilhada na abordagem das principais questões de ordem econômica, ambiental e de segurança [...]. Entretanto, o resultado desse processo não é o fortalecimento do Estado-nação, mas sim a erosão sistêmica de seu poder em troca de sua durabilidade. Isso acontece, em primeiro lugar, porque os processos ininterruptos de conflitos, alianças e negociações tornam as instituições internacionais cada vez mais ineficientes, de modo que a maior parte de sua energia política consumida no processo e não no produto, o que reduz substancialmente a capacidade de intervenção dos Estados, de um lado, incapazes de agir por conta própria e, de outro, paralisados nas tentativas de agir coletivamente [...] (CASTELLS, 2006, p. 313-314).

Paralelo a isto, a globalização econômica, encaminhada por meio da redução da presença do Estado na economia, conforme destacado nos itens anteriores, implica na redução da “soberania econômica nacional”:

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[...] A disciplina dos mercados globais sobre as políticas econômicas nacionais significa a perda, definitiva, da soberania econômica nacional – se bem que não a perda da capacidade de intervenção. Em outras palavras, os estados, todos os estados, têm que navegar no sistema financeiro global e adaptar suas políticas, em primeiro lugar, as exigências e conjunturas de dito sistema. O qual traz dois problemas: o primeiro é que as regras do jogo inscritas nos mercados financeiros obrigam a manutenção de taxas de retorno dos investimentos que definitivamente desloca a geração de riqueza por meio da empresa privada, limitando a redistribuição (e o gasto público – que não é privado) ao que seja factível uma vez garantido um retorno normal em termos globais. E segundo, e muito mais importante, é que o comportamento dos mercados financeiros, freqüentemente, não obedece a critérios econômicos e sim a turbulências informativas, que, quando surgem, são utilizadas por movimentos especulativos que desencadeiam movimentos de capitais de tal amplitude que são incontroláveis pelos bancos centrais [...] (CASTELLS, 1998, p. 3).

Assim como a internacionalização financeira, a internacionalização produtiva, caracterizada pela intensificação das trocas internacionais de mercadorias e pela intensificação dos investimentos diretos, mobilizados pelas empresas transnacionais, conduz à homogeneização das políticas econômicas (monetária e fiscal), à manutenção de políticas de livre comércio e de liberdade de entrada do capital estrangeiro, entre outras, que nem sempre são harmoniosas com as políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico essenciais para o desenvolvimento econômico do país.

Autores como Castells (1998; 2006) e Hirst e Thompson (1998), entre outros, consideram que é possível, mesmo nesta nova configuração econômica e política, que o Estado mantenha sua governabilidade. “[...] A questão do controle da atividade econômica em uma economia internacionalizada mais integrada é uma questão de governabilidade e não, simplesmente, dos papéis contínuos de governos” (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 284).

Os Estados soberanos seriam aqueles que conseguiriam manter um controle sobre suas ações para atingir objetivos determinados em seu território. É importante destacar que a “[...] ‘governabilidade’ – ou seja, o controle de uma atividade, por alguns meios, de modo que um conjunto de resultados desejados seja obtido – no entanto, não é simplesmente incumbência do Estado”. Esta tarefa pode ser desempenhada por um conjunto de outras instituições “públicas e privadas, estatais e não estatais, nacionais e internacionais”. O papel que o Estado-nação terá é o de organizar “os diferentes níveis e funções da governabilidade. [...] Os poderes governantes (internacional, nacional e regional) precisam ser ‘suturados’ em um sistema relativamente bem integrado” (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 284, 285).

Segundo estes autores, existem cinco níveis de governabilidade:

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1. através do acordo entre os principais Estados avançados e, particularmente, dos G3;

2. através de um número substancial de Estados que criam agências de regulação internacional para algumas dimensões específicas da atividade econômica, como a Organização Mundial do Comércio;

3. através do controle de amplas áreas econômicas pelos blocos comerciais, tais como a União Européia ou a Área de Livre Comércio das América do Norte – NAFTA;

4. através das políticas de nível nacional que equilibram a cooperação e a competição entre as empresas e os principais interesses sociais;

5. através de políticas de nível regional de oferecer serviços coletivos aos distritos industriais (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 293).

Um fator importante destacado pelos autores é que estes níveis de governabilidade não irão reduzir as desigualdades existentes. A pergunta que eles pretendem responder é se a governabilidade é possível ou não, e para eles é possível:

[...] Os Estados continuam ‘soberanos’, não no sentido de serem todo-poderosos [...], mas porque policiam os limites dentro de seu território e, à medida que são convincentemente democráticos, são representativos dos cidadãos [...] A soberania é alienável [...]. O Estado tem o papel de fonte de legitimidade para transferir poder ou sancionar novos poderes ‘acima’ e ‘abaixo’ dele: acima, através de acordos entre os Estados para estabelecer e cumprir as formas de governabilidade internacional; abaixo, por meio da ordenação constitucional dentro de seu próprio território da relação de poder e autoridade entre governos centrais, regionais e locais [...] (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 295).

A continuidade do papel do Estado é reforçada, segundo os autores, não somente em função destas possibilidades de governabilidade compartilhada e articulada pelo Estado, mas também pela autoridade da lei.

Já para Castells (2006), apesar da manutenção da importância do Estado, eles perdem a soberania:

[...] Os Estados-nação perdem sua soberania porque o próprio conceito de soberania, desde Bodin, implica ser inviável perder “um pouco” de soberania: era esta precisamente a tradicional casus belli. Os Estados-nação podem reter seu poder de decisão, porém, uma vez parte de uma rede de poderes e contrapoderes, tornam-se, por si mesmos, desprovidos de poder; passam a depender de um sistema mais amplo de exercício de autoridade e influência, a partir de múltiplas fontes. [...] Isso não significa, contudo, que os Estados-nação perderam por

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completo sua importância ou que irão desaparecer. [...] Os Estados-nação têm-se transformado de sujeitos soberanos em atores estratégicos, defendendo seus interesses e os interesses que se espera que representem em um sistema global de interação, dentro de uma soberania sistematicamente compartilhada [...] (CASTELLS, 2006, p. 354, 355 e 357).

Nesta nova configuração, as possibilidades de intervenção do Estado mudaram, mas não foram inibidas. Ao se pensar o Estado-nação como agente estratégico, entende-se que o Estado seria capaz de articular-se internacionalmente, sem deixar de responder as demandas internas. Como os Estados não podem controlar isoladamente os fluxos globais, “a diferença está, sobretudo, no êxito em termos de capacidade de intervenção [...]. E como as intervenções mais eficazes são as que se produzem em rede, de forma coordenada, distintos níveis de estado se convertem simplesmente em distintos nós de dita rede”. Daí surge à proposta do Estado rede e que depende da descentralização do Estado, “como primeiro passo na articulação de distintos níveis institucionais em uma rede complexa de conexão entre o local e o global” (CASTELLS, 1998, p. 9).

Este novo tipo de Estado não elimina o Estado-nação e sim o redefine. “[...] O Estado rede se caracteriza por compartilhar a autoridade (ou seja, a capacidade institucional de impor uma decisão) ao longo de uma rede de instituições” (CASTELLS, 1998, p. 11).

As novas configurações do Estado-nação, apresentadas neste item, implicam também na participação dos Estados em processos de integração regional. A integração regional é apresentada aqui como uma das características da globalização econômica e política, mas também como um processo de desenvolvimento das idéias neoliberais e, em alguns casos, como uma ação estratégica dos Estados na busca da manutenção da governabilidade. A regionalização será apresentada em item específico, separado das novas configurações do Estado-nação, por ser considerada uma característica da globalização e um fator importante para a criação da Rede Mercocidades.

1.2 A regionalização: processos de integração econô mica e política

Concomitantemente à globalização e à multilateralização da política externa, a regionalização representa um processo de intensificação dos acordos de cooperação regionais entre Estados-nação de determinada região. Diferentemente dos acordos multilaterais, que envolvem um número maior de

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países, os acordos regionais envolvem um número menor de países e que, normalmente, têm proximidade territorial. Apesar da cooperação desenvolvida nos acordos regionais envolver diversas áreas temáticas, como questões econômicas, políticas, sociais e culturais, na maioria das vezes, prevalecem às questões econômicas.

A integração “é um processo dinâmico de intensificação em profundidade e abrangência das relações entre atores levando à criação de novas formas de governança político-institucionais de escopo regional” (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 168). O grau de integração entre os países varia desde acordos de preferências tarifárias até áreas de livre comércio – como no caso do NAFTA (Área de Livre Comércio da América do Norte), uniões aduaneiras, mercado comum – como no caso do MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) e uniões econômicas e políticas – como no caso da UE (União Européia).

A integração regional, entendida como acordos de eliminação de barreiras ao comércio e aos movimentos do capital e do trabalho, pode ser considerada um mecanismo de integração de mercados e, conseqüentemente, um dos aspectos da globalização econômica. Já quando se considera que a integração pode assumir um caráter de homogeneização das políticas econômicas na busca de uma união econômica, ela pode ser considerada uma ação estratégica dos Estados na busca da manutenção da governabilidade. Mas quando se entende que a integração pode assumir também uma perspectiva de integração política, constituindo instituições supranacionais, pode-se considerar a integração como uma das novas configurações do Estado.

Nem todos os acordos regionais implicam na existência de uma institucionalidade, mas os acordos que têm pretensões maiores em termos de integração, como os casos de mercado comum, união econômica e política, necessitam de uma maior institucionalidade, gerando organizações regionais. “Apesar de as organizações de integração regional serem criadas por governos de Estados e, nesse sentido, poderem ser classificadas como intergovernamentais, seu formato jurídico institucional pode ser supranacional, ou seja, pode limitar o escopo da soberania dos Estados nas atividades exercidas pela organização” (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 169). Conforme a institucionalidade evolui, as estruturas governamentais nacionais vão se adequando à realidade do regionalismo:

[...] De acordo com as teorias neofuncionalistas referentes ao processo de integração na Europa comunitária (HAAS apud IBÁÑEZ, 1999), na medida em que aumenta a intensidade das relações sócio-econômicas, na medida em que se passa de um estágio ao outro, se faz necessária

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por parte dos Estados membros a cessão de competências, o estabelecimento de mecanismos avançados e a atribuição dos poderes de decisão em favor das instituições regionais, depositárias então de forma exclusiva ou compartilhada de algumas parcelas de soberania anteriormente próprias dos Estados membros. Porém não existe nenhuma razão pela qual um processo de integração regional deva seguir um caminho linear que leve ao modelo de institucionalização reforçada como é o que se dá na União Européia [...] (IBÁÑEZ, 1999, p.3).

Para Ianni (2007, p. 101, 106 e 120), “a regionalização pode ser vista como um processo por meio do qual a globalização recria a nação, de modo a conformá-la à dinâmica da economia transnacional”. Apesar das diferenças institucionais e das diferentes dinâmicas entre os processos de integração regional vigentes, “[...] todos combinam nacionalismo, regionalismo e globalismo. Destinam-se a acomodar as condições e as potencialidades nacionais com as que se anunciam em âmbito regional e com as que dinamizam a economia mundial”. Sendo assim, a integração pode ser vista como um movimento de adequação ao capitalismo global, de acordo com as particularidades de cada Estado-nação e de cada região. Neste contexto, a idéias nacionalistas e transnacionalistas convergem para a regionalização. “Uns supõem que o regionalismo pode fortalecer a nação, ao passo que os outros sabem que o regionalismo é a mediação indispensável entre o nacionalismo e o globalismo”.

Para o autor, mesmo que a integração regional represente uma movimentação induzida pelos governos dos Estados, a integração regional é criada por movimentos das empresas transnacionais e de organismos econômicos internacionais como o FMI, BIRD e OMC. “A verdade é que as corporações transnacionais desempenham um papel básico, que pode ser decisivo na criação, institucionalização e dinamização dos sistemas econômicos regionais (IANNI, 2007, p. 106).

Segundo a Cepal (apud Ianni, 2007), existem na atualidade dois movimentos, em parte opostos: a internacionalização e a regionalização. O movimento de internacionalização é indicado pela caracterização de um comércio intra-indústria de forma horizontal entre os centros (Estados Unidos, Comunidade Econômica Européia e Japão), ou seja, comercializam bens com as mesmas características em termos de valor agregado, enquanto o comércio entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento se dá pelo intercâmbio intra-indústria vertical, ou seja, os países em desenvolvimento exportam componentes e bens intermediários e importam dos desenvolvidos os bens montados:

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[...] A tese da regionalização, por seu lado, funda-se na idéia de que a economia mundial está polarizando-se em núcleos regionais, com o apoio de acordos que reforçam os vínculos privilegiados entre estados que convivem no mesmo âmbito geográfico, histórico, cultural e econômico. Assim, os Estados Unidos, a Comunidade Econômica Européia e o Japão constituem três pólos, cada um dos quais tendendo a exercer certo grau de hegemonia em sua própria região [...] (CEPAL apud IANNI, 2007, p. 109).

Segundo as caracterizações mais tradicionais dos movimentos de regionalização, existem dois movimentos de regionalização que, em termos históricos, apresentam contextos e características específicas. Conforme Mariano e Mariano (2005, p. 138), estas ondas se diferenciam em função do “contexto internacional, das suas motivações e” dos “seus objetivos”.

[...] A primeira onda iniciou-se no pós-guerra, e embora seu vigor tenha sido maior até a década de 1970, engloba também os acordos e organizações criados até o início da década de 198023. [...] A partir de meados da década de 1970, a onda de regionalismo se enfraqueceu. [...] Somente na segunda metade da década de 1980, com o fim da Guerra Fria, [...] é que a integração regional foi retomada, dando origem a uma ‘nova onda de regionalismo’24 [...] (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 170 e 173).

23 As autoras destacam os seguintes processos de integração neste período: Na Europa – Organização Européia de Cooperação Econômica (1948); União Ocidental (1948); Conselho da Europa (1949); Organização do Tratado do Atlântico Norte (1949); Comunidade Européia do Carvão e do Aço (1952); Comunidade Econômica Européia e Comunidade Européia de Energia Atômica (1958); Área de Livre-Comércio Européia (1960); Conselho para Assistência Econômica Mútua (1949), Pacto de Varsóvia (1955); e a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (1975). Nas Américas – Tratado Interamericano de Defesa (1942); Organização dos Estados Americanos (1948); Mercado Comum da América Central (1960); Associação Latino-Americana de Livre-Comércio (1960); Pacto Andino (1969); Comunidade Caribenha (1973); Sistema Econômico Latino-Americano (1975); Associação Latino-Americana de Integração (1980); e Organização dos Estados do Leste Caribenho (1981). Na Ásia – Organização do Tratado do Sudeste Asiático (1954); e Associação das Nações do Sudeste Asiático (1967). Na África – Organização da União Africana (1963); União Econômica e Aduaneira da África Central (1964); Comunidade Econômica dos Estados da África Central (1975); Comunidade Econômica dos Estados dos Grandes Lagos (1976); Comunidade Econômica dos Estados da África Central (1983); e União Árabe do Magreb (1989). No Oriente Médio – Liga dos Estados Árabes (1945); Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (1960); Organização da Conferência Islâmica (1969); Organização Árabe para o Desenvolvimento Agrícola (1970); e Conselho de Cooperação para os Estados Árabes do Golfo (1981). 24 As autoras destacam os seguintes acordos neste período: Na Europa – Assembléia do Báltico (1991); Conselho dos Estados do Báltico (1992); Área Econômica Européia (1992); e União Européia (1992). Nas Américas – Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (1989); Sistema de Integração na América Central (1991); Mercado Comum do Cone Sul (1991); Associação dos Estados

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Nos aspectos de segurança, na primeira onda, as integrações eram vistas “como instrumentos de controle de conflitos. A percepção gerada por esses processos era de que poderiam pacificar as relações entre os Estados, pelo menos no Ocidente” (MARIANO e MARIANO, 2005, p. 138). Já no que se referem aos aspectos econômicos, os movimentos da primeira onda ficaram conhecidos como “regionalismo fechado”. “A principal idéia que sustentava o regionalismo fechado era que os países mais atrasados não podiam concorrer em igualdade com os mais desenvolvidos e precisavam de incentivos especiais para promoção de sua industrialização” (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 172).

No caso específico da integração latino-americana, os projetos de integração tinham como base as idéias da CEPAL – Comissão Econômica para América Latina. O diagnóstico que fundamentava a necessidade da integração econômica era baseado nas argumentações de oposição centro/periferia, nas restrições externas e na escassez de capital e de tecnologia, eixo central do pensamento da CEPAL.

A integração econômica regional era concebida como um meio estratégico de romper o quadro prevalecente de dinamismo insuficiente e baixa produtividade da economia latino-americana. Ela representaria um esforço negociado e racional de especialização e reciprocidade industrial orientado para os objetivos fundamentais de “melhorar o intercâmbio tradicional de produtos primários” e “assegurar a industrialização racional dos países latino-americanos” (SALAZAR apud DESSOTTI, 2001, p. 44).

A integração econômica faria parte, em conjunto com reformas estruturais e um processo de expansão e diversificação do comércio com outras economias, de uma política integral de desenvolvimento.

A nova onda de regionalismo, que se inicia em meados dos anos 1980, tem características particulares, que a diferencia da onda anterior. Várias destas características já foram destacadas nos itens anteriores – internacionalização financeira, internacionalização produtiva, predomínio das idéias e das políticas neoliberais, característica multilateral da política externa, novas configurações dos Estados e novos mecanismos de governabilidade, entre outras. Estas características repercutem no fato de que estes movimentos de integração sejam chamados de regionalismo aberto. “O termo

Caribenhos (1994); Área de Livre Comércio do Grupo de Três (1995); e Comunidade Andina (1997). Na Ásia – Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (1989); Comunidade dos Estados Independentes (1992); e Comissão do Rio Meking (1995). Na África – Comunidade do Sudeste Asiático para o Desenvolvimento (1992); Comunidade Econômica e Monetária da África Central (1994); Mercado Comum da África Oriental e do Sul (1994); União Econômica e Monetária da África Ocidental (1994); Comunidade da África Oriental (1999); e União Africana (2002).

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regionalismo aberto se refere ao fato de que os processos regionais de integração econômica passaram a ser vistos como etapas intermediárias para a liberalização multilateral e não como fins em si mesmos” (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 174).

“Outra característica importante deste novo regionalismo é que os processos de integração deixaram de ocorrer entre países com o mesmo nível de desenvolvimento, passando a surgir também iniciativas de integração chamadas Norte-Sul” (MARIANO e MARIANO, 2005, p. 141):

[...] No campo da segurança, embora o fim da Guerra Fria tenha possibilitado inicialmente uma maior atuação do Conselho de Segurança, as organizações regionais também foram revigoradas, vistas como complementares aos esforços no nível multilateral universal. A mudança do conceito de segurança, que passou a abarcar uma série de questões como a democracia, os direitos humanos e o meio ambiente, também ampliou o espaço para atuação dessas organizações [...] (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 174).

Os processos de integração mais recentes assumem outras características particulares: i) ocorrem mesmo entre países com níveis de desenvolvimento diferentes; ii) são menos ambiciosos que os anteriores, limitando-se, na maioria dos casos, na constituição de áreas de livre comércio, mantendo uma menor institucionalidade; iii) “representam estratégias de inserção internacional política e econômica”; iv) representam, em alguns casos, “a emergência de um sentimento de identidade” (MARIANO e MARIANO, 2005, p. 142).

Já no caso da região latino-americana, segundo Ibáñez (1999), a nova integração tem como origem fatores gerais como a globalização econômica e o fim da Guerra Fria, observados anteriormente, mas também fatores específicos da região como a estratégia norte-americana e a predominância das políticas neoliberais na região. No período mais recente, os Estados Unidos não só eram favoráveis aos projetos de integração como eram promotores de projetos de integração para a região. Além disso, as economias latino-americanas adotavam na sua grande maioria políticas econômicas com características neoliberais.

[...] Nos anos noventa, a integração econômica regional passa a ser percebida favoravelmente por responsáveis políticos e setores empresariais, que viam nela: a) uma estratégia para melhorar a inserção econômica internacional e a adaptação às condições de competição impostas pelos processos constitutivos da globalização [...];

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b) uma estratégia de desenvolvimento econômico ao outorgar preferência ao comércio regional, porém sem menosprezar a liberalização multilateral [...]; c) um mecanismo de defesa ante as ameaças externas [...]; d) um mecanismo que garanta estabilidade e credibilidade [...] (IBÁÑEZ, 1999, p. 6-7).

O autor faz, ainda, uma caracterização do novo regionalismo latino-americano, destacando as seguintes características: i) diversidade – apesar dos projetos de integração terem como temas predominantes as questões econômicas, são projetos que se diferenciam em termos de objetivos, institucionalização e participação estatal; ii) sobreposição – os Estados da região participam de diversos processos de integração ao mesmo tempo; iii) impulso governamental – os processos são induzidos por políticas; iv) protagonismo empresarial – o setor empresarial tem tido uma participação dinâmica nas iniciativas de integração na região; v) regionalismo aberto – conforme destacado anteriormente, os processos de integração mantêm um caráter de compatibilidade com os acordos multilaterais e com as iniciativas de liberação comercial e de movimentação de capital, no âmbito das políticas neoliberais.

Apesar desta tentativa de caracterização dos processos de integração no período mais recente, o que está claro é que cada processo de integração tem motivações, objetivos, institucionalidades e dinâmicas diferenciadas. “A proximidade geográfica, meios de transportes adequados, atividade comercial anterior, algum laço histórico e cultural ajudam a facilitar um maior entendimento econômico em uma região” (MENEZES e PENNA FILHO, 2006, p. 12). O estudo da Rede Mercocidades exige, portanto, um estudo mais específico sobre a integração latino-americana e a conformação do MERCOSUL – Mercado Comum do Sul. O que será feito no próximo item.

1.2.1 A integração latino americana: da ALALC ao ME RCOSUL

Uma avaliação histórica da integração latino-americana exigiria uma discussão mais profunda das relações dos países da região, que se remeteriam as propostas de Bolívar, nos anos de 1810. Como o objetivo aqui é discutir a integração latino-americana no contexto atual da globalização, ou seja, nas suas características mais recentes, a avaliação se limitará às iniciativas dos anos 1980, mas se remeterá à iniciativa da ALALC – Associação Latino Americana de Livre Comércio, entendida como precursora das iniciativas mais atuais e inclusive da criação do MERCOSUL.

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Além disso, uma proposta de avaliação da integração latino-americana envolveria a discussão de outros processos de integração, que fracassaram ou estão se desenvolvendo na região, como a CAN – Comunidade Andina das Nações, o MCCA – Mercado Comum Centro Americano, a CARICOM – Comunidade Caribenha, o NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte, a ALCA – Área de Livre Comércio das Américas, a UNASUL – União das Nações da América do Sul, a ALBA – Alternativa Bolivariana para as Américas, entre outras, mas como o objetivo deste capítulo é contextualizar a criação da Rede Mercocidades, isto reforça a justificativa do estudo se limitar ao MERCOSUL.

A ALALC foi criada em 18 de fevereiro de 1960, pelo Tratado de Montevidéu. O acordo compreendia a Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela e tinha como objetivos: a eliminação gradual das barreiras ao comércio intra-regional; o melhor aproveitamento dos fatores de produção disponíveis; o incremento do comércio dos países latino-americanos; e a busca de adaptação do comércio recíproco (DESSOTTI, 2001).

O projeto de integração no âmbito da ALALC partia do princípio de que a integração deveria iniciar-se a partir da integração industrial e foi fortemente influenciada pela idéias da CEPAL, conforme destacado anteriormente.

Vigevani (2005) apresenta algumas considerações sobre os encontros e propostas da CEPAL, sobre os quais se basearam a criação da ALALC. Em 1956, a Cepal criou um Comitê de Comércio, que tinha como incumbência analisar os fatores que limitavam o comércio regional. Destes trabalhos, surge, em 1958, o documento Bases para la formación del mercado regional latino-americano.

O processo de integração deveria seguir algumas recomendações, que diziam respeito desde as etapas, seqüências e velocidade do processo, até as formas de compromissos, tratamento diferenciado para os países menos desenvolvidos e princípio de reciprocidade.25

O princípio de reciprocidade significava que os países mais competitivos deveriam tomar medidas complementares de liberalização para estimular suas importações industriais provenientes de países menos competitivos e de menor desenvolvimento relativo. Para conciliação das exigências do mercado comum com a necessidade de uma maior proteção para os países de menor desenvolvimento e menor produtividade, recomendava-se um regime de concessões especiais. Apesar de a proposta considerar um tratamento diferenciado para os países de menor desenvolvimento, ela não apresentava a

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Recomendações de Prebisch em “El mercado común latinoamericano” (1959).

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vantagem para os países mais desenvolvidos da região como Argentina, Brasil e México.

Ampliando a descrição da proposta, Menezes e Penna Filho (2006, p. 13) destacam que

[...] todos os países latino-americanos, exceto os da América Central, fariam parte do projeto, e todas as mercadorias produzidas dentro da região seriam incluídas nas trocas futuras. A especialização industrial e a competitividade deveriam estar presentes como resultados do livre jogo econômico. Aceitava-se, para o futuro, uma tarifa externa comum nas transações com o resto do mundo. A Cepal também pretendia estabelecer na região um sistema de créditos e assistência técnica e propunha-se ainda a criar um corpo consultivo com os países da integração e alguma forma institucionalizada para esclarecer dúvidas, inclusive sobre a procedência de produtos [...].

Os encontros e propostas avançaram e, durante o ano de 1959, as recomendações mudaram para a criação de uma área de livre comércio, “para evitar problemas com o Gatt, que não permitia que zonas de preferências alfandegárias ou comerciais pudessem escapar à regra de nação mais favorecida, o que evidencia, de certa forma, a improvisação do acordo” (VIGEVANI, 2005, p. 48).

O processo de integração avançou significativamente durante a década de 1960, tanto em termos da liberalização do comércio como dos acordos de complementação industrial, mas entrou em crise a partir dos anos setenta. Nos primeiros anos do Tratado de Montevidéu foram acordadas cerca de 70% das concessões comerciais, com o passar do tempo, as negociações produto por produto tornaram-se mais difíceis e complexas, estagnando-se na segunda metade dos anos setenta (DESSOTTI, 2001).

Para Menezes e Penna Filho (2006), existem diversos fatores que contribuíram para o fracasso da ALALC, destacando-se, entre eles: i) o fato que o comércio entre os países era muito incipiente, mesmo antes da integração; ii) a falta de uma infra-estrutura de transportes na região, que se viabiliza as trocas de mercadorias; iii) as diversas concessões feitas ao países de menor desenvolvimento acabavam impedindo o comércio, ao invés de intensificá-lo; iv) o contexto econômico interno dos países não era favorável à integração, pois os problemas internos eram considerados prioritários em relação às questões de integração; v) não estava claro os benefícios que as economias mais avançadas da região teriam com a integração.

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Vigevani (2005) apresenta, também, várias argumentações para o fracasso da ALALC, algumas reforçam as apresentadas anteriormente e outras complementam a análise. O autor apresenta sua argumentação separando-a a partir dos campos econômico e político.

No plano político, na ALALC “não se desenvolveu, por ação deliberada ou não dos governos, nenhum esforço para trazer” o processo de integração “para o quadro de uma nova institucionalidade que viabilizasse a absorção do tema, de forma que ele se tornasse um fato nacional relevante” (VIGEVANI, 2005, p. 49).

No campo econômico, como visto anteriormente, o projeto da CEPAL era que a integração permitisse a “aceleração do crescimento”, a “expansão e diversificação das exportações” e a “promoção da industrialização”. Partia-se de um diagnóstico dos fatores que estavam impedindo o crescimento do comércio na região, então, o objetivo era aumentar o comércio. Quando este objetivo foi atendido, perdeu-se a motivação para a continuidade do processo. Além disso, outros objetivos como os relacionados à complementação produtiva, à coordenação das políticas monetárias e financeiras ficaram em segundo plano e acabaram sendo esquecidos. Reforçando as questões apresentadas anteriormente, o autor destaca os diferentes níveis de desenvolvimento dos países e, conseqüentemente, a dificuldade de percepção por parte dos países de menor desenvolvimento sobre os benefícios da integração (VIGEVANI, 2005, p. 49, 50, 51 e 52).

Landau apud Vigevani (2005) avalia que o fracasso da ALALC estaria condicionado às imperfeições administrativas, considerando as seguintes debilidades:

[1] baixa hierarquia dos órgãos encarregados dos assuntos da Alalc no quadro das administrações nacionais, [2] falta de coordenação no planejamento, oriunda da falta da harmonia necessária nos planejamentos nacionais de desenvolvimento econômico dos países da Alalc tendo em vista soluções comuns [...], [3] falta de coordenação administrativa interna e diluição das responsabilidades executivas entre numerosos órgãos [...], [4] comunicações deficientes entre os governos e suas respectivas delegações frente à Alalc [...], [5] precariedade da capacitação profissional especializada do pessoal administrativo nacional encarregado das questões da Alalc [...] (LANDAU apud VIGEVANI, 2005, p. 62)

Enfim, o que parece é que a falta de políticas nacionais dos países da região, que considerassem em sua estratégia de desenvolvimento econômico a importância da integração, e de mecanismos que transmitissem para

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sociedades desses países a importância da integração, podem ser considerados os fatores primordiais para o fracasso da integração no período. O que parece não ter mudado em anos posteriores, apesar de contextos diferenciados em termos políticos e econômicos:

[...] Os processos de integração regional em nível de áreas de livre comércio não necessitam ter políticas de desenvolvimento como pressuposto, mas qualquer processo de integração regional deve ser percebido pelos Estados e pela sociedade como de interesse próprio. No caso da Alalc, desde o início, mas com maior ênfase na segunda metade dos anos 60, mesmo com crescimento do intercâmbio, o esforço de integração estagnava. Em 1969, os países membros decidiram estabelecer o objetivo de criar uma área de livre-comércio, com o prazo de 31 de dezembro de 1980 para se constituir [...] (VIGEVANI, 2005, p. 58).

Durante os anos 1970, os avanços em termos de integração foram muito incipientes e, em junho de 1980, na XIX Conferência Extraordinária da ALALC é criada a ALADI – Associação Latino-Americana de Integração, em substituição à ALALC. Um aspecto importante é que ALADI surge com a percepção da dificuldade de constituir uma integração de todos os países da região. A ALADI acaba representando uma instância de registros dos diversos acordos de integração sub-regionais, ou seja, de um grupo menor de países da região. Sendo assim, as relações estabelecidas entre os países no período da ALADI passam a assumir um caráter mais pragmático, como no caso das relações estabelecidas entre Argentina e Brasil, que levaram à criação do MERCOSUL:

[...] A Aladi caracterizou-se por ser uma instituição declaradamente técnica e de registro. Se em outras iniciativas de integração o discurso do significado político e social fazia parte de sua própria lógica, como nos casos da Alalc e do Pacto Andino, ele não foi colocado entre os objetivos do Tratado de Montevidéu de 1980 [...] (VIGEVANI, 2005, p. 71).

As discussões sobre a integração, no âmbito da ALADI continuam, mas sem grandes avanços:

[...] Em março de 1985, por ocasião da posse do novo presidente do Uruguai, uma reunião de dezesseis países latino-americanos, inclusive quatro presidentes de países integrantes da Aladi, em Montevidéu,

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sugere a realização de uma nova rodada de negociações, que se realizaram em Buenos Aires em abril de 1986. Nessas ocasiões, ficou cada vez mais evidente que a preocupação política pela integração não era acompanhada de medidas efetivas no plano da liberalização comercial. [...] A ‘Carta de Buenos Aires’, assinada em 11 de abril de 1986, afirma que o bom entendimento político entre os países deveria balizar uma nova agenda de rebaixamentos tarifários multilaterais e bilaterais [...] (VIGEVANI, 2005, p. 80 e 81).

No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, o comércio na região cresceu, o que pode representar resultados positivos das iniciativas da ALADI. É importante ressaltar que, também neste período, apresentam-se as negociações multilaterais no âmbito do GATT e as iniciativas de implantação das políticas neoliberais na região. Além dos processos de redemocratização, depois de anos de regimes militares na Argentina, Brasil e Uruguai. Neste contexto, surgem as primeiras iniciativas que deram base à constituição do MERCOSUL. A nova fase da integração regional latino-americana, mais especificamente do Cone Sul, se dá em um período de maior inserção internacional das economias da região e em uma configuração política democrática.

1.2.1.1 A integração do Cone Sul: MERCOSUL

Para HERZ e HOFFMANN (2005, p. 201), as iniciativas de cooperação que construíram as bases para a criação do MERCOSUL se deram já em 1979, com a conclusão do Acordo Multilateral Corpus-Itaipu, para resolver a “incompatibilidade da construção de duas usinas hidrelétricas: Corpus, entre Argentina e Paraguai e Itaipu, entre Brasil e Paraguai, a poucos quilômetros de distância”.

Além disso, as autoras elencam as diversas iniciativas na relação bilateral entre Brasil e Argentina que antecederam a criação do MERCOSUL, são elas: i) “em novembro de 1985, a Declaração de Iguaçu26, que constituiu a Comissão Mista Binacional de Alto Nível para acelerar o processo de integração bilateral”; ii) em julho de 1986, a criação do Programa para Integração e Cooperação Econômica27; iii) em novembro de 1986, a 26 Nela foi enfatizada a consolidação do processo democrático, a união de esforços na defesa conjunta dos interesses de ambos os países nos foros internacionais e o aproveitamento dos recursos comuns entre eles (VIGEVANI, 2005, p. 88). 27 [...] que levou à concretização de 24 protocolos, dos quais doze foram imediatamente assinados, sendo os demais assinados entre dezembro de 1986 e agosto de 1989. [...] Provavelmente, o protocolo mais utilizado foi o de número 21, o da indústria automotriz, [...] visto que, [...] havia fortes interesses empresariais de multinacionais, implantadas na Argentina e no Brasil (VIGEVANI, 2005, p. 89).

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Declaração Conjunta sobre Política Nuclear; iv) em novembro de 1988, o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento28; v) em julho de 1990, a Declaração de Buenos Aires, que criou o Grupo Mercado Comum29.

Após a assinatura da Ata de Buenos Aires, iniciam-se as discussões para a criação do MERCOSUL. Estas discussões são acompanhadas pelo Uruguai, que já vinha se associando ao Brasil e Argentina, e pelo Paraguai que também já demonstrava interesse em se associar ao bloco. Como o acordo previa a ampliação da integração entre países integrantes da ALADI, Uruguai e Paraguai se integram às negociações.

[...] O fator singular mais importante na tomada de decisão política em favor do formato quadrilateral do Mercosul ocorreu durante os anos iniciais dos governos Carlos Menem e Fernando Collor de Mello, cujo compromisso político foi o de buscar o aprofundamento e a aceleração da integração a dois, reduzindo significativamente (para apenas quatro anos) os prazos e as modalidades previstos no Tratado de 1988 [...] (ALMEIDA, 2002, p. 5).

O Mercosul foi criado em 26 de março de 1991, por meio do Tratado de Assunção, entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, estabelecendo: a eliminação de direitos aduaneiros e restrições não-tarifárias à circulação de mercadorias e outras medidas, de modo a permitir a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países participantes; uma tarifa externa comum e adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros países ou grupos de países; e a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os países participantes. Segundo Vigevani (2005, p. 97), cabe destaque o fato de que, a partir do tratado, “as negociações comerciais externas deveriam estar coordenadas, de modo que representassem à posição conjunta do bloco. [...] Um fato inédito na história da integração latino-americana”.

O MERCOSUL surge em um contexto em que prevalecem nos Estados-membros as idéias neoliberais. Este pode ser considerado um cenário favorável para a implantação das medidas necessárias para a liberalização do comércio entre os países.

28 Visava-se, num prazo de dez anos, à formação de um espaço econômico comum, com a eliminação de todos os obstáculos tarifários e não tarifários ao comércio de bens e serviços, assim à convergência entre as políticas macroeconômicas. [...] O tratado estabelecia os mecanismos e os prazos para a constituição da União Alfandegária (VIGEVANI, 2005, p. 91-92). 29 [...] que fixou a data de 31 de dezembro de 1994 como o prazo final para a constituição de um mercado comum entre os dois países, adiantando em cinco anos a criação da união alfandegária em relação ao que tinha sido definido no tratado de novembro de 1988 (ALMEIDA apud VIGEVANI, 2005, p. 93).

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Para Vigevani (2005, p. 83), “a integração é o resultado da mudança estrutural de interesses, nacionais e/ou empresarias, no que tange às relações externas”. A percepção é de que a integração não surge de forma espontânea ou pelos impulsos do mercado, mas sim por iniciativas políticas:

[...] Embora a iniciativa de integração tivesse claros objetivos políticos, o Tratado de Assunção só incluiu compromissos na esfera comercial, especialmente em seus anexos, que estabeleceram critérios e prazos para implementação do programa de liberalização comercial, regime de origem, salvaguarda e um sistema de solução de controvérsias. A própria estrutura jurídico-institucional do Mercosul só veio a ser estabelecida três anos após sua criação, com a assinatura do Protocolo de Ouro Preto, em dezembro de 1994, que estabeleceu também sua personalidade jurídica. Dessa forma, apenas com a entrada em vigor do Protocolo de Ouro Preto em dezembro de 1995 é que se pode falar no Mercosul como uma organização internacional [...] (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 202).

Em termos de estrutura, o MERCOSUL apresenta as seguintes principais instituições: o Conselho do Mercado Comum, o Grupo do Mercado Comum, a Comissão de Comércio, a Parlamento do MERCOSUL, o Foro Consultivo Econômico-Social, o Tribunal Permanente de Revisão e a Secretaria Administrativa.

Segundo Caetano et. al. (2008, p. 17), o desenho institucional estabelecido pelo Protocolo de Ouro Preto “é reflexo de um contexto político e ideológico regional dos anos noventa, com a eleição de um modelo de integração mercantilista”.

Quando os autores discutem a institucionalidade de poder do MERCOSUL, destacam as seguintes características preponderantes: i) as decisões são tomadas por consenso e na presença de todos os Estados membros; ii) “concentra a tomada de decisões nos poderes executivos nacionais e, particularmente, em determinadas agências dos governos nacionais”; iii) existem “três instituições decisórias (Conselho, Grupo e Comissão de Comércio), [...] cujos membros são designados pelos Estados parte” e que não tem “autonomia”; iv) existem outros “espaços de negociações [...] sem poder de decisão (Reuniões de Ministros, Reuniões Especializadas, Sub-grupos, Comitês, Grupos Ad Hoc, Foros etc.)”; v) “existe um predomínio do Grupo sobre o Conselho e a Comissão do Comércio”, uma vez que, o Grupo é quem prepara as decisões do Conselho nas reuniões preparatórias.

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[...] O desenho institucional do MERCOSUL tem um caráter intergovernamental, não incluindo nenhuma instituição supranacional e exigindo a tomada de decisão por consenso com a presença de todos os Estados-parte em todos os órgãos, como estabelecido no artigo 37 do Protocolo de Ouro Preto. [...] Além da inexistência de órgãos supranacionais e votação por maioria, a validade das normas produzidas no âmbito das instituições do MERCOSUL só ocorre após sua incorporação aos sistemas jurídicos domésticos. [...] As decisões, ainda que de caráter obrigatório, são apenas determinações políticas e não normas jurídicas. Para complicar, algumas são automaticamente validadas após sua recepção, enquanto outras requerem que todos os membros a tenham recepcionado [...] (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 205).

O quadro resumo a seguir apresenta as funções das instituições que apresentam maior poder decisório no MERCOSUL:

Quadro 1 - Principais instituições do MERCOSUL: o p oder decisório

Conselho do Mercado Comum (CMC) É o órgão superior e responsável pela condução política do MERCOSUL. É integrado pelos ministros de Relações Exteriores e de Economia dos Estados membros e se reúne pelo menos uma vez por semestre. Sua presidência, semestral, é rotativa entre os Estados, por ordem alfabética. Suas funções mais importantes são: i) velar pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus protocolos e dos acordos firmados; ii) formular políticas e promover as ações necessárias para a conformação do mercado comum; iii) exercer a titularidade da personalidade jurídica do MERCOSUL; iv) negociar e firmar acordos, em nome do MERCOSUL, com terceiro países, grupos de países e organismos internacionais, funções que podem ser delegadas por mandato expresso ao Grupo Mercado Comum; v) criar reuniões de ministros e pronunciar-se sobre os acordos que sejam enviados por elas; vi) criar os órgãos que considerar pertinentes, assim como modificá-los ou suprimi-los, e adotar decisões em matéria financeira e orçamentária.

Grupo Mercado Comum (GMC) É o órgão executivo do MERCOSUL. É coordenado pelos ministérios de Relações Exteriores e integrado por quatro membros titulares e quatro alternos por país, que representam os seguintes órgãos públicos: ministérios de Relações Exteriores, ministérios de Economia ou equivalentes e bancos centrais. Suas funções mais importantes são: i) velar pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus protocolos e acordos firmados; ii) propor projetos de decisão ao CMC; III) tomar as providências necessárias para o cumprimento das decisões adotadas pelo Conselho; iv) propor medidas concretas para a aplicação do programa da liberação comercial, à coordenação de políticas macroeconômicas e à negociação de acordos frentes a terceiros; v) fixar programas de trabalho que assegurem o avanço até a constituição do mercado comum; vi) criar, modificar ou suprimir órgãos tais como subgrupos de trabalho e reuniões especializadas, para o cumprimento de seus objetivos; vii) manifestar-se sobre as propostas ou recomendações que forem submetidas pelos demais órgãos do MERCOSUL, no âmbito de suas competências; viii) negociar, com a participação de representantes de todos os Estados membros, por delegação expressa do CMC e dentro dos limites estabelecidos em mandatos específicos concedidos com essa finalidade, acordos em nome do MERCOSUL com terceiros países, grupos de países e organismos internacionais; ix) adotar resoluções em matéria financeira e orçamentária, baseadas nas orientações emanadas do Conselho; x) organizar as reuniões do CMC e preparar os informe que este solicite.

Comissão de Comércio (CCM) Suas funções mais importantes são: i) velar pela aplicação dos instrumentos comuns de política comercial intra-MERCOSUL e com terceiros países, organismos internacionais e acordos de comércio; ii) considerar e pronunciar-se sobre as solicitações apresentadas pelos Estados membros com respeito à aplicação e ao cumprimento da tarifa externa comum e dos demais instrumentos de política comercial

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comum; iii) efetuar o acompanhamento da aplicação dos instrumentos de política comercial comum nos Estados membros; iv) analisar a evolução dos instrumentos de política comercial comum para o funcionamento da união aduaneira e formular propostas a este respeito ao GMC; v) tomar as decisões vinculadas à administração e a aplicação da tarifa externa comum e dos instrumentos de política comercial comum acordados pelos Estados membros; vi) informar ao GMC sobre a evolução e a aplicação dos instrumentos de política comercial comum, sobre a tramitação das solicitações recebidas e sobre as decisões adotadas a respeito delas; vii) propor ao GMC novas normas ou modificações às normas existentes em matéria comercial e aduaneira do MERCOSUL; viii) propor a revisão das alíquotas tarifárias de itens específicos da tarifa externa comum, inclusive para contemplar casos referentes a novas atividades produtivas no âmbito do MERCOSUL; ix) estabelecer os comitês técnicos necessários para o cumprimento de suas funções, assim como dirigir e supervisionar as suas atividades; x) desempenhar as tarefas vinculadas à política comercial comum, solicitadas ao GMC. Fonte: CAETANO et. al. (2008).

Segundo Caetano et. al. (2008, p. 36), o modelo institucional estabelecido a partir do Protocolo de Ouro Preto leva a uma integração que busca essencialmente a liberdade de mercado e da concorrência, por meio da eliminação das barreiras ao comércio internacional, deixando para segundo plano a integração produtiva, as questões ligadas ao desenvolvimento e à integração social e cultural. As reformas posteriores buscaram resolver problemas de gestão que surgiram no desenvolvimento da integração, mas não resolveram este problema. O modelo institucional do MERCOSUL “não está de acordo e nem é funcional no que diz respeito à etapa presente do processo de integração e estabelece limites importantes para o seu aprofundamento e democratização e para que o bloco se torne um instrumento de desenvolvimento e um espaço real de processamento e resolução das diferenças”. Sendo assim, os autores sugerem uma reformulação institucional para que se avance na integração política e social.

No que diz respeito ao avanço da integração econômica regional, ou seja, mais especificamente às questões comerciais, Bouzas apud Dessotti (2001) dividiu a história do Mercosul nos anos noventa da seguinte forma: o período chamado de transição – 1991/1994; a era de mercados – 1995/1998; e tempos de turbulência – que se iniciam em 1998.

O período de 1991 a 1994, momento de transição, tinha seus objetivos fixados no próprio Artigo 1º do Tratado de Assunção e eram os seguintes:

[...] a constituição, até 31 de dezembro de 1994, de um mercado comum, caracterizado pela ‘livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos’, pelo ‘estabelecimento de uma tarifa externa comum’ e pela ‘coordenação das políticas macroeconômicas’, assim como o ‘compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes’ [...] (ALMEIDA, 2002, p. 7).

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Este período correspondeu à fase de maior crescimento dos fluxos de comércio intra-regionais, principalmente entre os dois maiores parceiros, Brasil e Argentina. Nesse período a taxa de participação das exportações intra-regionais no Produto Interno Bruto cresceu mais de 60%.

Ainda na análise de Bouzas apud Dessotti (2001), em 1995, a grande maioria dos produtos comercializados entre os quatro países-membros já circulava isenta de impostos e já se havia acordado sobre a Tarifa Externa Comum – TEC. As exceções ficavam por conta de produtos sensíveis, em relação aos quais foi acordado um calendário de redução gradual, a princípio para, no máximo, janeiro de 2000, e de dois setores, açúcar e veículos automotores, transitoriamente excluídos do livre comércio. Entretanto, no campo das barreiras não-tarifárias os progressos foram modestos.

No que diz respeito aos resultados do MERCOSUL, o período de 1995/1998 foi bastante positivo, a taxa de participação das exportações intra-regionais no Produto Interno Bruto cresceu 50%, mesmo em um contexto de paralisia regulatória. Embora os países participantes tenham implementado, com sucesso, os cortes de tarifas acordados para os produtos sensíveis, açúcar e veículos automotores permaneceram sujeitos a regras especiais, sendo que, quase nenhum progresso foi realizado na área de barreiras não-tarifárias.

A TEC foi apenas parcialmente implementada, novas exceções temporárias foram autorizadas e o código aduaneiro comum mostrou-se inaplicável. Como resultado, todos os bens comercializados permaneciam sujeitos a regras de origem:

[...] No que tange a Tarifa Externa Comum (TEC), esta foi efetivamente definida nos prazos fixados (isto é, antes de 31/12/94), o que teoricamente converteria o MERCOSUL em uma união aduaneira a partir de 1995, mas a implementação da TEC sofreu igualmente novos atrasos temporais e a imposição adicional de regimes temporários de exceção [...]. Outras exceções dizem respeito às Listas de Convergência, acordadas na Reunião Ministerial de Ouro Preto, em dezembro de 1994, para Bens de Capital [...] e para Produtos do Setor de Informática e Telecomunicações [...]. A TEC se apresenta com uma estrutura racional em termos econômicos, comportando em seu regime normal um leque de dispersão relativamente reduzido (de 0 a 20%), que esposou características da própria tarifa aduaneira brasileira – compreensivelmente o país de maior relevância para o comércio intra e extra-regional [...] (ALMEIDA, 2002, p. 8).30

30 A Lista de Exceção Nacional tem sido sucessivamente prorrogada. Atualmente, a Argentina e o Brasil podem incluir no máximo 100 produtos; do Uruguai, constam 225 produtos; e do

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Por ocasião da Reunião do Conselho do MERCOSUL em San Luis, Argentina, em 25 de junho de 1996, foi firmado o Acordo de Livre Comércio MERCOSUL – Chile. Esse acordo tinha por objetivo, entre outros, formar uma área de livre comércio entre o MERCOSUL e o Chile, em um prazo máximo de dez anos, mediante a expansão e diversificação do intercâmbio comercial e a eliminação das restrições tarifárias e não-tarifárias que afetam o comércio recíproco.

Em 28 de fevereiro de 1997 foi assinado o novo Acordo de Complementação Econômica MERCOSUL – Bolívia, que tinha como objetivo principal a formação, no prazo de dez anos, de uma área de livre comércio.

Outras iniciativas importantes do período foram à assinatura de um Protocolo de Comércio de Serviços31 e a criação de uma Comissão de Comércio encarregada de administrar os instrumentos de política comercial comum.

Entre 1991 e 1997 as exportações intra-regionais passaram de 11,1% para 24,7% das exportações totais. O crescimento anual médio das exportações intrabloco nesse período foi de 21,6%. Entre 1993 e 1997 as exportações cresceram 68% no Brasil, 145% na Argentina, 178% no Paraguai e 97,2% no Uruguai (AVERGUB apud DESSOTTI, 2001).

Bizzozero (2010) explica que, passada à etapa de transição e iniciada a fase de consolidação, modifica-se o debate, passando para uma fase de discussão da agenda externa do MERCOSUL e de sua atuação como frente negociadora. No aspecto regional, ganha relevância as discussões sobre a ALCA e sobre a integração do MERCOSUL com a União Européia.

Durante o período de 1995/1998, as diferenças entre os países não foram tratadas com o mesmo nível de conciliação do período anterior, entretanto, os governos se esforçaram para evitar levar essas diferenças para a arena política. Esta tentativa tornou-se cada vez mais difícil, à medida que as diferenças de interesse e de percepção mostraram-se mais acentuadas.

Em 1999, a prolongada recessão econômica na Argentina e a desaceleração econômica que se seguiu à desvalorização do real no Brasil atingiram severamente os fluxos de comércio intra-regionais. Os fluxos intra-regionais de comércio apresentaram queda de 27,6% em termos absolutos, ao

Paraguai, 649. Essa permissão vence em 2011, à exceção de 100 produtos para o Paraguai e o Uruguai com vencimento previsto para 2015 (KUME e PIANI, 2011, p. 20) 31 Foi adotado em dezembro de 1997, prevendo a liberalização progressiva da oferta de serviços inter-regionais num prazo de dez anos, mas sua implementação depende da negociação de acordos setoriais específicos e de compromissos explícitos de abertura, que se encontram atualmente na Segunda Rodada de Negociações (ALMEIDA, 2002, p. 8).

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mesmo tempo em que a participação das exportações intra-regionais nas exportações totais retornou ao nível de 1995.

O contexto difícil do final dos anos noventa levou a especulações sobre o fracasso do MERCOSUL e quais seriam os seus contornos.

[...] A adoção de medidas unilaterais, sem consultas prévias, por parte dos Estados parte em áreas de claro impacto mútuo, minou a credibilidade do processo de integração. Entre as medidas mais críticas, podem-se mencionar a desvalorização do real em 1999, e a modificação das tarifas externas sobre bens de capital e de consumo por parte do governo argentino em 2001 [...] (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 210)

Concomitantemente aos contextos econômicos da economia brasileira e argentina, algumas movimentações políticas como o caso do Uruguai que acenou para a constituição de uma área de livre comércio com os Estados Unidos, reforçaram os questionamentos sobre a continuidade do bloco. Mesmo nesta situação difícil, existem iniciativas para a integração:

[...] Em 15 de dezembro de 2000, a Argentina, o Brasil, o Paraguai, o Uruguai, a Bolívia e o Chile [...] assinaram a Declaração Presidencial sobre Convergência Macroeconômica, que aprovou as metas e os mecanismos de convergências macroeconômica do MERCOSUL (BRASIL apud PLAMPONA e FONSECA, 2009, p. 9). As metas [...] foram definidas do seguinte modo: 1) a partir de 2002, variação da dívida fiscal líquida do setor público de no máximo 3% do PIB; 2) a partir de 2010, dívida líquida do setor público limitado a 40% do PIB; 3) a partir de 2006, um “núcleo inflacionário” não superior a 3% ao ano. Ademais, foram estabelecidos procedimentos para a correção de desvios em relação às metas [...] (ALMEIDA apud PLAMPONA E FONSECA, 2008, p. 9).

Um indicador que pode demonstrar a crise é a queda das exportações brasileiras para os países da região, no período de 2000-2001, queda de 19% em relação à Argentina, 13% em relação ao Paraguai, 4% em relação ao Uruguai; e a queda das importações brasileiras dos países da região, queda de mais de 9% da Argentina, queda de 14% do Paraguai, queda de 16% do Uruguai (MENEZES e PENNA FILHO, 2006).

Mesmo neste contexto de crise e das expectativas de fracasso do MERCOSUL, a integração se renova, a crise representa uma ruptura de um modelo de integração, cunhado por idéias neoliberais e, conseqüentemente,

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estigmatizado pelas políticas de livre comércio, para um modelo considerado mais positivo, uma integração que vai além das questões comerciais, um modelo preocupado com a integração política e social, com um caráter mais desenvolvimentista. O que talvez reforce a argumentação de MARIANO e MARIANO (2005, p. 145), quando discutem as diferenças entre a cooperação e a integração.

[...] A cooperação pode ser uma estratégia contextualizada e ser abandonada de acordo com a conveniência, enquanto a integração regional é menos flexível; abandoná-la pode gerar resistências e altos custos para os governos, desde que o processo tenha atingido um determinado patamar de interação entre as sociedades envolvidas, especialmente quando sua estrutura institucional ganha autonomia e legitimidade [...] .

Neste contexto, o Conselho do Mercado Comum, em julho de 2001, resolveu criar um grupo para avaliar a consistência e a dispersão da tarifa externa comum. O resultado do trabalho foi além do proposto e levou a uma série de recomendações:

[...] a consolidação da união aduaneira, o aprimoramento da estrutura institucional do Mercosul, a incorporação das normas ao direito interno, a integração fronteiriça, a coordenação das políticas macroeconômicas, o fortalecimento dos laços comerciais com mercados emergentes e a conclusão de um acordo de livre-comércio com a Comunidade Andina [...] (HERZ e HOFFMANN, 2004, p. 210).

O Protocolo de Olivos, assinado em 18 de fevereiro de 2002, melhorou o sistema de solução de controvérsia do MERCOSUL (PORTAL OFICIAL DO MERCOSUL apud PAMPLONA e FONSECA, 2008).

Em 2003, surge uma proposta de relançamento do MERCOSUL, por meio dos governos brasileiro (Lula da Silva) e argentino (Nestor Kirchner). “Neste contexto, os dois presidentes decidiram promover uma Aliança Estratégica, a expressão foi o ‘Consenso de Buenos Aires’, assinado [...] em 16 de outubro de 2003” (BIZZOZERO apud RUIZ, 2010, p. 6). Neste documento os dois presidentes estabelecem as seguintes metas:

[...] a) incrementar a concertação e cooperação política para impulsionar o projeto regional; b) incluir uma agenda social ao MERCOSUL; c) implementar a união aduaneira e conformar o mercado comum; d) fortalecer a coordenação nas negociações internacionais e promover a cooperação para garantir um espaço de segurança comum

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e de vigilância dos ilícitos na região [...] (BIZZOZERO apud RUIZ, 2010, p. 6).

A partir desta iniciativa, começa-se a discutir um novo modelo de integração, uma nova agenda para o MERCOSUL e, conseqüentemente, a necessidade de outra institucionalidade para cumprir esta agenda. Na Cumbre de Assunção, em junho de 2003, foi aprovado o “Programa para a Consolidação da União Aduaneira e para o Lançamento do Mercado Comum. Objetivo 2006”. “Este programa tem quatro eixos: a) um Programa Político, Social e Cultural; b) um Programa da União Aduaneira; c) um Programa de Base para o Mercado Comum; e d) um Programa da Nova Integração” (RUIZ, 2010, p. 6).

Em combinação à proposta brasileira, o governo argentino propõe “O Instituto Monetário do Mercosul”, que de forma gradualista, implantaria uma moeda única para a região. E o governo paraguaio propõe o “Tratamento de Assimetrias”, no qual se destaca a “necessidade de reconhecimento das assimetrias econômicas e sociais, com um [...] tratamento diferencial para os países” menos desenvolvidos. “Nestes três documentos se perfilava uma nova agenda que apontava a um MERCOSUL integral, não somente comercial, e que incorporava seriamente o tema de uma nova institucionalidade que fosse funcional ao modelo integracionista [...]” (CAETANO et. al., 2008, p. 58).

[...] A aprovação do Programa de Trabalho 2004-2006, por iniciativa do Brasil, contemplou as principais disciplinas pendentes na agenda, nos objetivos e nas linhas de resolução e incluiu alguns temas pendentes e não contemplados durante a década dos noventa. Entre os temas incluídos no bloco regional a partir do Programa de Trabalho 2004-2006, que não estiveram contemplados na década de aplicação do regionalismo aberto, entre eles se encontram as assimetrias entre os países no desenvolvimento regional, a geração de fundos estruturais, a articulação produtiva e alguns temas pertencentes à nova agenda social e econômica como o apoio das pequenas e médias empresas, os referentes ao mundo rural e a soberania alimentar [...] (BIZZOZERO, 2010, p. 7).

Um aspecto importante na integração no âmbito do MERCOSUL foi a criação do FOCEM – Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL, por meio da decisão 45/04 do Conselho. O Fundo destina-se “a financiar programas para promover a convergência estrutural, desenvolver a competitividade e promover a coesão social, em particular das economias menores e regiões menos desenvolvidas; apoiar o funcionamento da estrutura institucional e o fortalecimento do processo de integração” (FOCEM apud

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SOUZA et. al., 2011, p. 6). A contribuição dos US$ 100 milhões depositados anualmente no Fundo é distribuída de acordo com o nível de desenvolvimento dos países, ou seja, o Brasil contribui com 70%, a Argentina com 27%, o Uruguai com 2% e o Paraguai com 1%. Já a destinação dos recursos é feita de forma inversa, ou seja, os países menos desenvolvidos tem um limite de utilização dos recursos maior, 48% para o Paraguai, 32% para o Uruguai e 10% cada para Brasil e Argentina (SOUZA et. al., 2011).

Em 2005, com a mudança política no Uruguai, Tabaré Vazquéz trouxe expectativas mais positivas no que diz respeito à integração, uma vez que, se tinha na região, um grupo de presidentes convergentes em termos ideológicos. Mesmo neste contexto mais favorável à integração “o conflito do Rio Uruguai em torno da instalação das fábricas de papéis, entre Argentina e Uruguai, paralisou o tratamento e aprofundamento de vários temas da agenda regional” (BIZZOZERO, 2010, p. 4).

Também em 2005, na Cumbre de Montevidéu, é aprovada a solicitação da Venezuela de se tornar membro pleno do MERCOSUL. Em 04 de julho de 2006, foi assinado o Protocolo de Adesão da Venezuela e, neste momento acordou-se que a adesão da Venezuela a TEC se daria de forma gradativa e também diferenciada em termos dos países sócios de maior e menor desenvolvimento. A partir do protocolo, a Venezuela passou a participar das negociações externas do MERCOSUL.

Bizzozero (2010) avalia a implantação da nova agenda, nos últimos anos, e apresenta os seguintes avanços no tema:

[...] a definição de uma Estratégia do bloco de crescimento do emprego. A aprovação do sistema de pagamentos em moeda local, a criação da Reunião de Altas Autoridades sobre Direitos Humanos e a aprovação e desenvolvimento do Parlamento regional, a criação do Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM), do Fundo Educacional do MERCOSUL, do Fundo de Apoio a Pequenas e Médias Empresas envolvidas em iniciativas de integração produtiva e do Fundo de Agricultura Familiar do MERCOSUL (FAF – MERCOSUL); a aprovação do Programa de Integração Produtiva com sete linhas de ação em nível horizontal e dois em nível setorial (foros de competitividade e iniciativas de integração) [...] (BIZZOZERO, 2010, p. 8).

Apesar destes avanços, o autor destaca algumas medidas que estão pendentes de desenvolvimento.

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[...] Entre eles se encontram o do Código Aduaneiro, que está na agenda para sua aprovação sem que se termine de concretizar a decisão; a eliminação da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum, aos efeitos de que um produto importado de outro país do bloco possa circular pela região pagando uma só vez a TEC; a reforma institucional do MERCOSUL; o tratamento das assimetrias; a incorporação nacional das decisões aprovadas; a definição de acordos nas negociações externas [...] (BIZZOZERO, 2010, p. 8).

No período de 2003-2007, o comércio na região volta a se recuperar. O comércio intrabloco cresceu 123% e o comércio extrabloco cresceu 121%, o que demonstra o crescimento geral do comércio externo da região (PAMPLONA e FONSECA, 2009).

Pensando ainda na implantação da nova agenda, Caetano et. al. (2008) fizeram um diagnóstico do eixo de legitimidade democrática, discutindo, inclusive, as instituições criadas em períodos posteriores ao Protocolo de Ouro Preto. Os autores destacam no seu relatório que existe uma carência de legitimidade política, social e técnica no MERCOSUL. A estrutura institucional:

[...] em termos gerais, prioriza a visão nacional na negociação e a reserva com respeito à informação. Esta última circunstância, justificada ao longo da histórica das diplomacias nacionais para algumas questões sensíveis, não resulta de acordo nem funcional com a extensa pauta temática de todo processo de integração e dá lugar a um importante déficit democrático [...] (CAETANO et. al., 2008, p. 39).

O déficit democrático é avaliado a partir de três dimensões: “a dimensão da participação social, a dimensão da participação de entes subnacionais e a dimensão parlamentar, como particular expressão da dimensão representativa” (CAETANO et. al., 2008, p. 40).

A dimensão de participação da sociedade civil, proposta no Protocolo de Ouro Preto, apresenta dois tipos de mecanismos:

a) O Foro Consultivo Econômico e Social (FCES), espaço institucional exclusivo para a participação dos “setores econômicos e sociais”.

b) A possibilidade de participação do FCES nas reuniões preparatórias dos subgrupos de trabalho (SGTs) e respectivas comissões, dependentes do GMC, assim como as Reuniões Especializadas e os Grupos Ad Hoc (CAETANO et. al., 2008, p. 40).

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As funções do Foro consultivo Econômico e Social são apresentadas no quadro a seguir.

Quadro 2 – Foro Consultivo Econômico e Social: obje tivos e funções

É o órgão de representação dos setores econômicos e sociais. Composto por nove representantes por Estado-parte e tem um caráter consultivo, por meio de recomendações ao GMC. Suas funções são: i) pronunciar-se dentro do âmbito de sua competência, emitindo recomendações, seja por iniciativa própria ou sobre consultas que realizem ao GMC e demais órgãos do MERCOSUL. Ditas recomendações podem referir-se tanto a questões internas do MERCOSUL como a relação deste com outros países, organismos internacionais e outros processos de integração; ii) cooperar ativamente para promover o progresso econômico e social do MERCOSUL, orientado à criação de um mercado comum e sua coesão econômica e social; iii) dar seguimento, analisar e avaliar o impacto social e econômico derivado das políticas destinadas ao processo de integração e as diversas etapas de sua implantação, seja em nível setorial, nacional, regional ou internacional; iv) propor normas e políticas econômicas e sociais em matéria de integração; v) contribuir a uma maior participação da sociedade no processo de integração regional, promovendo a real integração no MERCOSUL e difundindo sua dimensão econômico-social. Fonte : CAETANO et. al. (2008).

Os autores concluem em sua análise do FCES que existe um déficit na participação social. Em primeiro lugar, um dos problemas é o fato de que, quando se avalia a estrutura institucional do MERCOSUL, o FCES tem um caráter consultivo, ou seja, não tem poder decisório. “Em dezembro de 2005, sobre um total de 22 recomendações realizadas pelo FCES ao GMC, se podiam encontrar só duas consultas. Em nenhum dos casos a instrução com poder decisório se manifestou acerca da recomendação prevista [...]” (CAETANO et. al., 2008, p. 43).

Em seus aspectos internos, o FCES também apresenta problemas. A participação é muito restrita, as representações da sociedade civil só podem participar se tiveram autorização da seção de seu país. Esta limitação da participação implica em uma restrição de uma visão regional.

No período de 2005-2006, na implantação da nova agenda, ocorreram alguns avanços na participação da sociedade civil no MERCOSUL, com a iniciativa do programa SOMOS MERCOSUL. “Nesse marco, em julho de 2006, simultaneamente com a Cumbre de Presidentes do MERCOSUL se realizou o Primeiro Encontro por um MERCOSUL Social e Produtivo, que reuniu mais de 500 organizações sociais regionais, inaugurando a série de Cumbres Sociais do MERCOSUL que continua até a atualidade” (CAETANO et. al., 2008, p. 44).

No que diz respeito à dimensão parlamentar, quando se avalia a institucionalidade do MERCOSUL, era representada pelo CPC – Comissão

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Parlamentar Conjunta e, a partir de dezembro de 2005, é representada pelo Parlamento do MERCOSUL. As competências do Parlamento do MERCOSUL, definidas no Art. 4 de seu Protocolo Constitutivo são apresentadas no quadro abaixo.

Quadro 3 – Atribuições do Parlamento do MERCOSUL

• Velar no âmbito de sua competência pela observância das normas do MERCOSUL. • Velar pela preservação do regime democrático nos Estados parte, de conformidade com as normas do MERCOSUL, e em particular com o Protocolo de Ushuaia sobre o Compromisso Democrático no MERCOSUL, a República da Bolívia e a República do Chile. • Elaborar e publicar anualmente um informe sobre a situação dos direitos humanos nos Estados parte, tendo em conta os princípios e as normas do MERCOSUL. • Efetuar pedidos de informes ou opiniões por escrito aos órgãos decisórios e consultivos do MERCOSUL estabelecidos no Protocolo de Ouro Preto sobre questões vinculadas ao desenvolvimento do processo de integração. • Convidar, por intermédio da Presidência Pro Tempore do Conselho do Mercado Comum, os representantes dos órgãos do MERCOSUL, para informar e/ou avaliar o desenvolvimento do processo de integração, intercambiar opiniões e tratar aspectos relacionados com as atividades em curso ou assuntos em consideração. • Receber, ao final de cada semestre a Presidência Pro Tempore do MERCOSUL, para que apresente o programa de trabalho acordado, com os objetivos e prioridades previstos para o semestre. • Realizar reuniões semestrais com o Foro Consultivo Econômico e Social a fim de intercambiar informações e opiniões sobre o desenvolvimento do MERCOSUL. • Organizar reuniões públicas, sobre questões vinculadas ao desenvolvimento do processo de integração, com entidades da sociedade civil e os setores produtivos. • Receber, examinar e em alguns casos canalizar aos órgãos decisórios, petições de qualquer agente particular dos Estados parte, sejam pessoas físicas ou jurídicas, relacionadas com atos ou omissões dos órgãos do MERCOSUL. • Emitir declarações, recomendações e informes sobre questões vinculadas ao desenvolvimento do processo de integração, por iniciativa própria ou por solicitação de outros órgãos do MERCOSUL. • Com a finalidade de acelerar os procedimentos internos correspondentes de entrada em vigor das normas nos Estados parte, o Parlamento elaborará ditames sobre todos os projetos de normas do MERCOSUL que requeiram aprovação legislativa em um ou vários Estados parte, em um prazo de noventa dias de efetuada a consulta. Ditos projetos deverão ser enviados ao Parlamento pelo órgão decisório do MERCOSUL, antes de sua aprovação. Se o projeto de norma do MERCOSUL é aprovado pelo órgão decisório, em conformidade com os termos do ditame do Parlamento, a norma deverá ser remetida por cada Poder Executivo Nacional ao Parlamento do respectivo Estado Parte, dentro do prazo de quarenta e cinco dias, contados a partir de dita aprovação. No caso que a norma aprovada não estiver em conformidade com o ditame do Parlamento, ou se este não se tiver expedido no prazo mencionado no primeiro parágrafo, a mesma seguirá seu tramite ordinário de incorporação. Os Parlamentos nacionais, segundo os procedimentos internos correspondentes, deverão adotar as medidas necessárias para a instrumentação ou criação de um procedimento preferencial para a consideração das normas do MERCOSUL que tenham sido adotadas em conformidade com os termos do ditame do Parlamento, mencionado no parágrafo anterior. O prazo máximo de duração do procedimento previsto no parágrafo precedente será de até cento e oitenta dias corridos, contados a partir do ingresso da norma ao respectivo Parlamento

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nacional. Se dentro do prazo desse procedimento preferencial o Parlamento do Estado Parte rechaça a norma, está deverá ser reenviada ao Poder Executivo para que a apresente à recomendação do órgão correspondente do MERCOSUL. • Propor projetos de normas do MERCOSUL para sua consideração pelo Conselho do Mercado Comum, e que deverá informar semestralmente sobre seu tratamento. • Elaborar estudos e anteprojetos de normas nacionais, orientados à harmonização das legislações nacionais dos Estados parte, os que serão comunicados aos Parlamentos nacionais aos efeitos de sua eventual consideração. • Desenvolver ações e trabalhos conjuntos com os Parlamentos nacionais, com o fim de assegurar o cumprimento dos objetivos do MERCOSUL, em particular aqueles relacionados com a atividade legislativa. • Manter relações institucionais com os Parlamentos de terceiros Estados e outras instituições legislativas. • Celebrar, no marco de suas atribuições, com o assessoramento do órgão competente do MERCOSUL, convênios de cooperação de assistência técnica com organismos públicos e privados, de caráter nacional ou internacional. • Fomentar o desenvolvimento de instrumentos de democracia representativa e participativa no MERCOSUL. • Receber dentro do primeiro semestre de cada ano um informe sobre a execução do orçamento da Secretaria do MERCOSUL do ano anterior. • Elaborar e aprovar seu orçamento e informar sobre sua execução ao Conselho do Mercado Comum dentro do primeiro semestre do ano posterior ao exercício. • Aprovar e modificar seu regulamento interno. • Realizar todas as ações que correspondam ao exercício de suas competências. Fonte: CAETANO et. al. (2008).

O Parlamento está passando por uma fase de implantação, com a definição de sua composição e seu regulamento interno. Em uma segunda etapa os seus componentes serão eleitos, com a possibilidade de que os seus mandatos sejam diferenciados em relação ao calendário eleitoral.

O Parlamento está integrado, atualmente, por 18 legisladores de cada país, que são indicados pelos legislativos nacionais, exceto no caso do Paraguai onde foram realizadas eleições nacionais para os seus representantes. A proposta final é que o Parlamento seja composto por 75 parlamentares do Brasil, 43 da Argentina, 18 do Paraguai e 18 do Uruguai. Estes parlamentares serão eleitos por voto direto dos cidadãos, seguindo os critérios de representatividade (STPM, 2009-2010):

[...] A instalação plena do Parlamento do MERCOSUL constitui um primeiro passo fundamental, uma condição sine qua non, para avançar até a ampliação da representação política, a democratização e a legitimação do processo de integração regional. Esta representa, nem mais nem menos, o envolvimento e o compromisso efetivo, profundo e pleno dos atores políticos nacionais e da sociedade civil em um processo de integração regional que enfrenta o desafio de jogar um rol significativo em um provável novo esquema multipolar de poder global.

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[...] O Parlamento do MERCOSUL é a expressão da recuperação da política em uma região que tem sofrido as graves conseqüências da implementação de uma lógica mercantil como princípio regulador da vida social [...] (CAETANO et. al., 2008, p. 55).

Já no que diz respeito à dimensão da participação dos entes subnacionais, apesar de existirem alguns avanços, como a REMI – Reunião Especializada de Municípios e Intendências substituída pelo FCCR – Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Intendências, ainda existe uma centralização das decisões no âmbito nacional de governo, mais especificamente, nos poderes executivos nacionais.

Assim como as novas configurações da produção e do Estado-nação afetam as cidades, os processos de integração regional também vão refletir nas cidades. “A integração regional [...] não se restringe à esfera governamental ou à cooperação intergovernamental; atinge a sociedade como um todo, gerando interações que fogem ao controle estatal entre grupos de interesse e representantes da sociedade” (MARIANO e MARIANO, 2005, p. 144).

As cidades nem sempre estão preparadas para assimilar as conseqüências da globalização e da regionalização.

[...] Isso significa que, muitas vezes, o aumento na densidade das redes de interdependência não é acompanhado, no mesmo ritmo, pela criação de mecanismos formais de decisão e controle vinculando as diversas instâncias governamentais no interior do bloco. Portanto, haveria um movimento de aproximação desses atores subnacionais no intuito de tentar ocupar os espaços deixados pelo governo central e ainda não ocupados pela estrutura institucional regional [...] (MARIANO e MARIANO, 2005, p. 146).

A constituição de redes de cidades regionais, como o caso da Rede Mercocidades, aparece como um mecanismo que os governos subnacionais e, em alguns casos, de representantes da sociedade civil das cidades encontraram para interferir nas decisões tomadas no âmbito dos processos de integração.

As atribuições do FCCR serão discutidas no capítulo três desta tese, em item específico sobre a participação da Rede Mercocidades na institucionalidade do MERCOSUL.

Apesar dos avanços na redução do déficit democrático, apresentados anteriormente, Caetano et. al. (2008) concluem sobre a necessidade de outras

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mudanças. Aproveitando o cenário favorável em relação aos dirigentes dos Estados-membros, os autores sugerem que a reforma institucional do MERCOSUL precisa incluir instituições, que consolidem os avanços e que sejam mais difíceis de reverter.

Enfim, as iniciativas de relançamento do MERCOSUL são claras, mas os seus desdobramentos ainda são inconclusivos.

Os impactos da globalização sobre as cidades serão discutidas no próximo item, como mais um componente de motivação da ação internacional das cidades, inclusive para criação e participação na Rede Mercocidades. E os impactos da regionalização, no caso para a criação da Rede Mercocidades, serão discutidos nos capítulos dois e três desta tese.

1.3 As cidades no contexto de globalização

A pergunta é: o quanto estes processos afetam as localidades e, mais especificamente, as cidades? As cidades que representam os centros da internacionalização financeira e da internacionalização produtiva sofrem efetivamente os efeitos das novas configurações do capitalismo, mas mesmo as cidades menores e que estão em uma situação marginal em relação ao sistema global de produção podem e são afetadas por estes processos, talvez até de forma mais acentuada.

[...] Na cidade podem encontrar-se as manifestações mais avançadas e extremadas das possibilidades sociais políticas, econômicas e culturais do indivíduo e coletividade. [...] Há cidades que são capitais políticas, principalmente ou exclusivamente, mas há outras que são mercados e há as que podem ser fábricas. Muitas se notabilizam por suas características culturais, artísticas, religiosas, universitárias ou outras. [...] Na cidade estão presentes as condições e os produtos da dinâmica das relações sociais, do jogo das forças políticas e econômicas, da trama das produções culturais. Ela pode ser principalmente, mas também simultaneamente, mercado, fábrica, centro de poder político, lugar de decisões econômicas, viveiro de idéias científicas e filosóficas, laboratório de experimentos artísticos [...] (IANNI, 2007, p. 53).

O conceito de globalização representa mais que a intensificação das relações sociais entre países, ela caracteriza uma situação em que os Estados e a sociedade se envolvem cada vez mais no sistema mundial. Sendo assim, problemas que acontecem em lugares distantes tem efeitos internos e questões internas podem ser levadas para o âmbito internacional. “Em outras

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palavras, a globalização representa uma mudança significativa no alcance espacial da ação e da organização sociais, que passa para uma escala inter-regional ou intercontinental” (HELD e MCGREW, 2001, p. 12).

Sendo assim, as cidades são afetadas pelas novas configurações do processo de produção e pelas transformações no âmbito de atuação do Estado-nação. Os governos municipais assumem novas responsabilidades e criam estratégias de inserção internacional, que em alguns casos são combinadas às ações do governo central e em outros podem, inclusive, contrapor essas ações. A atuação internacional das cidades pode ser vista como contraposição ou como forma de amenizar os efeitos negativos das políticas neoliberais implantadas pelos governos centrais.

Existem grupos de cidades que representam locais importantes para as estratégias das empresas transnacionais. Ao mesmo tempo, existem outras que não são tão importantes ou até nada relevantes e que arcam com os custos do processo de globalização. “Globalização não significa, portanto, homogeneização do espaço mundial, mas ao contrário, diferenciação e especialização” (BENKO, 2001, p.2).

Dado esse novo cenário, as cidades aparecem cada vez mais nas questões políticas, econômicas, sociais e culturais. A cidade é entendida aqui não somente como o governo local, mas como instituições políticas e sociedade civil. E no caso mais específico das grandes cidades surgem questões fundamentais que precisam ser respondidas: “nova base econômica, infraestrutura urbana, qualidade de vida, integração social e governabilidade”. A resposta a essas questões é que vai permitir uma inserção competitiva das cidades na economia global, garantindo o bem-estar de sua população (BORJA e CASTELLS, 1997, p. 160).

As transformações das cidades em lugares de transações transnacionais levam ao desenvolvimento de novas estruturas físicas e políticas, o que resulta em um novo ordenamento político, econômico e espacial destas cidades (SASSEN, 2003a). Um dos resultados do processo de globalização é que as cidades competem entre si para se tornarem atrativas às empresas transnacionais.

[...] O sistema de relações econômicas globais emergente adquire forma particular, tipicamente urbana, em localidades sob diversas formas enredadas no sistema global. O modo específico de sua integração nesse sistema dá origem a uma hierarquia urbana de influências e controles. No topo desta hierarquia encontra-se um pequeno número de densas regiões urbanas a que chamamos cidades mundiais. Fortemente interligadas entre si, por meios decisórios e

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finanças, elas constituem um sistema mundial de controle da produção e da expansão do mercado [...] (IANNI, 2007, p. 55).

Este processo tem uma face forte de exclusão, na medida em que uma parte significativa das cidades não exerce nenhuma destas funções. Um caminho que estas cidades podem utilizar para se inserirem internacionalmente é a participação em redes internacionais de cidades.

Souza Santos (2005) apresenta uma descrição do sistema mundial em transição a partir de três constelações de práticas coletivas: a constelação de práticas interestatais, a constelação de práticas capitalistas globais e a constelação de práticas sociais e culturais transnacionais, que já foram apresentadas no início deste capítulo.

Estas constelações de práticas são constituídas por:

[...] um conjunto de instituições que asseguram a sua reprodução, a complementariedade entre elas e a estabilidade das desigualdades que elas produzem; uma forma de poder que fornece a lógica das interações e legitima as desigualdades e as hierarquias; uma forma de direito que fornece a linguagem das relações intrainstitucionais e o critério da divisão entre práticas permitidas e proibidas; um conflito estrutural que condensa as tensões e contradições matriciais das práticas em questão; um critério de hierarquização que define o modo como se cristalizam as desigualdades de poder os conflitos em que eles se traduzem [...] (SOUZA SANTOS, 2005, p. 57).

Para o autor uma das diferenças mais significativas do Sistema Mundial em Transição em relação ao Sistema Mundial Moderno “é a relativa perda de centralidade das práticas interestatais em face do avanço e do aprofundamento das práticas capitalistas globais e das práticas sociais e culturais transnacionais” (SOUZA SANTOS, 2005, p. 62).

Como as práticas interestatais têm como critério de hierarquização os critérios centro, semiperiferia e periferia e as práticas capitalistas globais e sociais e culturais transnacionais têm como critério de hierarquização os critérios global/local, no Sistema Mundial em Transição “os critérios global/local conformarão progressivamente os critérios centro, semiperiferia e periferia” (SOUZA SANTOS, 2005, p. 62).

Desta forma, o autor sugere que as discussões sobre globalização estejam cada vez mais centradas nos critérios que definem o global/local. Sendo assim, o autor apresenta a seguinte definição de modo de produção de globalização:

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[...] é o conjunto de trocas desiguais pelo qual um determinado artefato, condição, entidade ou identidade local estende a sua influência para além das fronteiras nacionais e, ao fazê-lo, desenvolve a capacidade de designar como local outro artefato, condição, entidade ou identidade rival [...] (SOUZA SANTOS, 2005, p. 63)

Nesta perspectiva, “não existe globalização genuína; aquilo que chamamos globalização é sempre a globalização bem sucedida de determinado localismo [...] e vivemos tanto num mundo de localização como num mundo de globalização” (SOUZA SANTOS, 2005, p. 63).

A partir destas argumentações o autor vai descrever o sistema de produção de globalização por meio de quatro modos de produção, que dão origem a quatro formas de globalização: localismo globalizado, globalismo localizado, cosmopolitismo e patrimônio comum da humanidade:

[...] A primeira forma de globalização é o localismo globalizado. Consiste no processo pelo qual determinado fenômeno local é globalizado com sucesso, seja a atividade mundial das multinacionais, a transformação da língua inglesa em língua franca, a globalização do fast food americano ou da sua música popular, ou a adoção mundial das mesmas leis de propriedade intelectual, de patentes ou de telecomunicações promovida agressivamente pelos EUA. Neste modo de produção de globalização o que se globaliza é o vencedor de uma luta pela apropriação ou valorização de recursos ou pelo reconhecimento da diferença. [...] O localismo globalizado implica a conversão da diferença vitoriosa em condição universal e a conseqüente exclusão ou inclusão subalterna de diferenças alternativas [...] (SOUZA SANTOS, 2005, p. 65-66).

O globalismo localizado representa os impactos que o localismo globalizado vão ter sobre as condições locais. Consiste em uma “globalização passiva, a situação em que algumas cidades se vêem incorporadas de modo passivo nos meandros da globalização e são incapazes de fazer reconhecer aqueles recursos [globalizantes próprios] no plano transnacional (FORTUNA apud SOUZA SANTOS, 2005, p. 66).

O autor acrescenta que os países centrais seriam os especializados em localismos globalizados, aos países periféricos restaria o globalismo localizado e os países semiperiféricos combinariam localismos globalizados e globalismos localizados. O mesmo se pode pensar em termos de cidades, algumas seriam as promotoras do globalismos localizados e outras dos localismos globalizados. A percepção neste caso é que tanto em um caso como em outro existe uma

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adaptação ao novo contexto de globalização, mesmo que seja uma adaptação conflituosa.

O cosmopolitismo e o patrimônio comum da humanidade correspondem à globalização de contraposição do globalismo localizado e localismo globalizado. O cosmopolitismo

[...] trata da organização transnacional da resistência de Estados-nação, regiões, classes ou grupos sociais vitimizados pelas trocas desiguais de que se alimentam os localismos globalizados e os globalismos localizados, usando em seu benefício as possibilidades [...] que decorrem da revolução nas tecnologias de informação e comunicação. [...] Traduz-se em lutas contra a exclusão, a inclusão subalterna, a dependência, a desintegração, a despromoção. [...] Incluem, entre muitas outras: movimentos e organizações no interior das periferias do sistema mundial; redes de solidariedade transnacional [...]; articulação entre organizações operárias [...]; redes internacionais de assistência jurídica alternativa; organizações transnacionais de direitos humanos [...] (SOUZA SANTOS, 2005, p. 67).

A forma de globalização que o autor designa patrimônio comum da humanidade representa a contraposição a partir da defesa dos recursos, entidades, ambientes e artefatos considerados essenciais para a sobrevivência da humanidade. “Pertencem ao patrimônio comum da humanidade, em geral, as lutas ambientais, as lutas pela preservação da Amazônia, da Antártida, da biodiversidade ou dos fundos marinhos e [...] da lua e outros planetas [...]” (SOUZA SANTOS, 2005, p. 70).

A globalização é a interação das quatro formas de globalização. Partindo desta argumentação, as discussões sobre os impactos da globalização nas cidades podem contribuir para a caracterização da própria globalização. Sabendo-se que a reflexão se pautará muito mais nos localismos globalizados e nos globalismos localizados, do que nos outros modos de produção. “Na medida em que o capitalismo se desenvolve intensiva e extensivamente, são muitas as cidades que se globalizam com ele, que o globalizam (IANNI, 2007, p. 56).

A discussão sobre as conseqüências da globalização nas cidades inicia-se com uma discussão sobre as novas tendências das estruturas produtivas e a emergência das megacidades.

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1.3.1 A reestruturação produtiva e as cidades globa is

As novas características do processo de produção global, que foram apresentadas anteriormente, podem ser resumidas da seguinte forma: a internacionalização do capital, a emergência das empresas transnacionais, o crescimento do comércio intra-industrial, a organização das empresas em rede e o sistema de produção flexível:

[...] A acumulação flexível se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego do chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas. [...] Ela também envolve um novo movimento que chamarei de “compressão do espaço-tempo” no mundo capitalista – os horizontes temporais de tomada de decisões privada e pública se estreitaram, enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variegado [...] (HARVEY apud WANDERLEY, 2009, P. 95).

As principais atividades econômicas do novo sistema produção global são: atividades financeiras, de seguros, imobiliárias, de consultoria, de serviços legais, de publicidade, desenho, marketing, relações públicas, sistemas de informação, entre outros. Todas essas atividades dependem de fluxos de informação e conhecimento, a partir do desenvolvimento do sistema de telecomunicações elas podem ser desenvolvidas em qualquer lugar.

“Uma conseqüência dessa tendência é que as grandes cidades se situaram como atração dos nós e fluxos transnacionais em função do novo tipo de urbanização da economia que as afetou, trazendo uma relativa desindustrialização e progressiva terceirização” (WANDERLEY, 2009, p. 95).

Essas atividades estão, na sua grande maioria, concentradas em alguns países e algumas cidades. Existe uma concentração das atividades mais qualificadas nas áreas metropolitanas dos principais países. Essas cidades possuem a infraestrutura em termos de: transporte aéreo, sistema de

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telecomunicações, hotéis de luxo, segurança, pessoal qualificado etc., primordiais para esses serviços avançados:

[...] A combinação de dispersão espacial e integração global têm criado um novo papel estratégico para as grandes cidades. [...] Estas cidades funcionam agora de quatro novas formas: primeiro, como pontos direcionais da organização da economia mundial, altamente concentrados; segundo, como localizações chave para finanças e firmas de serviços especializados; terceiro, como lugares de produção, incluindo a produção de inovação nestes setores avançados; e quarto, como mercados para produtos e inovações produzidos [...] (BORJA e CASTELLS, 1997, p. 41).

Sendo assim, não existe uma dispersão de funções e nem mesmo uma concentração de funções em algumas áreas metropolitanas, mas sim uma rede de nós urbanos como centro principal da economia global.

Além dos serviços avançados, a localização industrial também tem afetado o dinamismo das cidades. A distribuição geográfica dos processos de produção da indústria está condicionada aos seguintes fatores: força de trabalho, características sociais e ambientais e inovação tecnológica. As atividades de pesquisa e desenvolvimento e de inovação estão localizadas em determinadas áreas que apresentam condições favoráveis para o seu desenvolvimento, “como fatores de produção específicos, capital, trabalho e matérias-primas, combinados por um ator institucional e baseados em uma determinada forma de organização social territorial” (BORJA e CASTELLS, 1997, p. 47).

O setor industrial da nova economia está articulado internacionalmente em torno da inovação e da fabricação articulada em redes globais.

[...] O que caracteriza a nova lógica de localização industrial é sua descontinuidade geográfica construída sobre a base de complexos territoriais de produção espacialmente distantes. O novo espaço industrial se organiza em torno de fluxos de informação que, às vezes, separam e reúnem seus distintos componentes territoriais, segundo os ciclos e segundo as empresas [...] (BORJA e CASTELLS, 1997, p. 49).

O segundo impacto importante da globalização sobre as cidades é a constituição de megacidades, reflexo das novas estruturas de produção industrial e de serviços avançados.

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As cidades não são consideradas megacidades pelo volume populacional, o tamanho é relevante, mas não é o único fator. As megacidades são os nós da economia global, “concentram as atividades de direção, produção e gestão do planeta, os centros de poder político, o controle dos meios de comunicação, a capacidade simbólica de criação e difusão das mensagens dominantes” (BORJA e CASTELLS, 1997, p. 50).

Estas características implicam que estas cidades sejam nomeadas cidades globais. As cidades globais atraem as atividades da nova economia, segundo Sassen apud González, (2003, p. 14), por vantagens em termos de complexo produtivo que elas oferecem. A localização dessas atividades depende mais das condições de produção do que da proximidade com um mercado consumidor. “A principal matéria prima elaborada pela grande cidade não é a material e sim imaterial, pois toma forma na informação”. As cidades globais

[...] não são, simplesmente, como as grandes metrópoles do passado, importantes capitais regionais; elas são, ao mesmo tempo, postos de comando da economia mundial, acolhendo as direções das multinacionais, funcionando como imensos laboratórios de inovação tecnológica e financeira e concentrando os principais mercados de capitais internacionais. [...] As cidades globais são, pois, aquelas que, além de uma infraestrutura tecnológica excepcional, abrigam uma vasta economia intermediária de serviços altamente especializados. [...] A cidade global adquire sentido por sua pertença a uma rede urbana que representa, de alguma maneira, o centro nervoso da economia global [...] (SASSEN apud WANDERLEY, 2009, p. 51).

Uma característica importante das megacidades é que, além de concentrarem as principais atividades da economia global, também concentram os setores socialmente irrelevantes para o sistema (as periferias, a pobreza urbana, os guetos de imigrantes, a criminalidade etc.). Apesar dessa dualidade, Borja e Castells (1997) consideram que a era da informação é e será a era das megacidades:

[...] As megacidades [...] concentram o melhor e o pior. Por uma parte, as funções superiores direcionais, produtivas, administrativas de todo o planeta; o controle da mídia; a política do poder; a capacidade simbólica de criar e difundir mensagens; por outra parte, as periferias; a pobreza urbana; os guetos de imigrantes; a criminalidade, etc. [...] (WANDERLEY, 2009, p. 54).

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A acumulação flexível e o processo de terceirização implicam o surgimento do desemprego estrutural e redução do poder dos sindicatos, além da emergência de trabalhadores menos qualificados e de classes marginalizadas pelos novos processos de produção:

[...] Os efeitos são conhecidos, e diversos estudos latino-americanos os comprovam: uma maior polarização social, cidades duais, acirramento das desigualdades intra-urbanas coexistindo com um fortalecimento de novos setores médios. O que equivale dizer que há uma persistência das desigualdades no novo cenário urbano, combinando riqueza, pobreza e exclusão. [...] Como já mostrado nas idéias expostas por diversos especialistas sobre as cidades, cresce assustadoramente a população das zonas periféricas, da denominada cidade ilegal, com desemprego e subemprego, ocupações não qualificadas, imersos na economia informal, desprotegidos dos direitos mínimos, com baixos salários [...] (WANDERLEY, 2009, p. 97).

Segundo Ianni (2007, p. 59), a questão social tornar-se também uma questão urbana. Encontram-se na grande cidade os negócios do narcotráfico, as manifestações de racismo, falta de habitações, saúde, educação, entre outros. Estes problemas sociais são, concomitantemente, problemas urbanos. “Envolvem a organização, o desenho e a dinâmica da cidade, implicando arquitetura, urbanismo e planejamento, e revelam-se de modo particularmente acentuado nas grandes cidades, metrópoles, megalópoles”.

O processo de globalização é acompanhado do processo de urbanização e, com a emergência da cidade global, ocorre a globalização das questões sociais.

[...] O novo complexo industrial tem contribuído para a transformação na estrutura social das principais cidades onde tem se concentrado. Esta transformação toma a forma de uma grande polarização social e econômica. [...] A crescente desigualdade no poder de compra das firmas significa que uma grande gama de firmas produtoras de bens e serviços que indireta ou diretamente oferecem serviços às firmas no novo centro industrial tem dificuldade para sobreviver nestas cidades. Estas devem buscar diversos mecanismos para reduzir os custos de produção – com subcontratos, empregando imigrantes sem documento com níveis de salários mais baixos na média e em condições de trabalho mais baixas que o padrão [...]. Finalmente, a crescente desigualdade no poder de pagamento do espaço, moradia e serviços de consumo significa que a crescente força de trabalho mal remunerada que é empregada direta e indiretamente pelo setor principal tem maior dificuldade em viver nestas cidades [...] (SASSEN apud GONZÁLEZ, 2003, p. 13).

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Pensando-se a cidade global como modelo para as outras cidades, uma situação do localismo globalizado, a política urbana precisaria contornar os problemas que impedem que as cidades sejam atrativas a estas atividades.

[...] Nestas circunstâncias, basta comprovar que a estrutura econômica da cidade está pouco terceirizada, que seu mercado de trabalho não é suficientemente flexível, que sua orientação externa não é sólida, ou que sua orientação territorial é demasiadamente solidária com sua própria nação ou região, para comprovar a presença de sintomas indesejáveis e identificar a necessidade de esforços de política para corrigi-los [...] (GONZÁLEZ, 2003, p. 16).

Para tornar as cidades mais competitivas ao capital estrangeiro são necessários investimentos em:

[...] infraestrutura de comunicação – aeroportos, telecomunicações, infraestrutura de internacionalização da economia, feiras, exposições, hotéis; terciário de excelência – centros de pesquisa, recursos humanos qualificados; qualidade de vida – oferta cultural, bom clima, ambiente urbano, vida na rua; e “buena imagen que la ciudad este de moda, que tenga prestígio al nível internacional” [...] (CARVALHO apud WANDERLEY, 2009, p. 142).

Sendo assim, as políticas de desenvolvimento local tanto podem ter como objetivo tornar as cidades mais competitivas para a recepção destes setores dinâmicos da nova economia, como podem ter como objetivo corrigir as dualidades criadas pela nova economia. No próximo item são discutidas algumas características das ações de desenvolvimento local.

1.3.2 As políticas de desenvolvimento econômico loc al

Ao mesmo tempo em que as cidades se reorganizam como reflexo do processo de globalização, há uma redução do tamanho do Estado em resposta a proposta do Estado mínimo, desenvolvido no âmbito das políticas neoliberais. A necessidade de redução dos gastos públicos faz com que os governos locais assumam novas responsabilidades em torno do desenvolvimento local. Como os governos centrais reduzem suas políticas de desenvolvimento nacional e

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regional, resta aos governos locais buscarem alternativas para melhoria na qualidade de vida das sociedades locais.

[...] A gestão de inúmeros bens coletivos locais, tais como a educação, a formação, as infraestruturas de transportes, as ajudas sociais foram, a partir de então e com freqüência, regionalizados. Foi a ocasião de descobrir que a densidade das relações entre os atores locais (empresas, universidades, coletividades territoriais, sindicatos etc.) pode exercer um papel determinante na competitividade das atividades econômicas. [...] O desenvolvimento local substitui, doravante, o desenvolvimento comandado por cima, estatizado e centralizador [...] (BENKO, 2001, p. 2).

O conceito de desenvolvimento local compreende um processo de crescimento e mudança estrutural que leva a melhoria na qualidade de vida da população de uma cidade. O desenvolvimento local aparece como uma perspectiva de inserção competitiva das cidades na economia global, utilizando da melhor forma possível suas capacidades locais e mobilizando os diversos atores locais. O êxito das cidades está associado à sua capacidade de se adaptar à dinâmica local, nacional e internacional da economia de mercado. O objetivo é construir capacidade econômica em determinadas áreas, o que vai refletir em crescimento econômico, geração de emprego, melhor distribuição de renda, melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, entre outros.

Os motivos para a adoção do enfoque de desenvolvimento local podem ser elencados da seguinte forma:

[...] i) assunção de novas responsabilidades e funções no nível local, produto dos processos de descentralização em curso; ii) [...] os cenários de desenvolvimento se modificaram profundamente nos últimos anos e, portanto, é necessário assumir novas pautas de gestão territorial; iii) revalorização do papel das cidades e das regiões e dos governos municipais nos processos de desenvolvimento; iv) percepção de que os métodos tradicionais de planificação e gestão urbana não se adaptam às novas circunstâncias; e v) acesso à informação de gestões de corte estratégico exitosas em cidades, principalmente, européias [...] (CATENAZZI e REESE, 1998, apud BERNAZZA, 2005).

Swinburn, Goga e Murphy (2006) apresentam, no Manual para o Desenvolvimento Econômico Local, elaborado para Unidade de Desenvolvimento Urbano do Banco Mundial, as justificativas para adoção de políticas de desenvolvimento local, destacando fatores internacionais, federais, regionais, metropolitanos e municipais.

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A globalização assim como apresenta oportunidades de novos investimentos leva a maior concorrência internacional. As empresas multinacionais concorrem na busca de locais mais favoráveis para sua produção, ao mesmo tempo, as cidades competem entre si para atrair esses investimentos. Nessa competição, é necessário que as cidades, mesmo as menores, desenvolvam suas potencialidades.

As reformas macroeconômicas, nas áreas fiscais e monetárias, impactaram diretamente nas cidades. Em alguns casos, elas ampliaram seu potencial de atratividade e, em outros, elas criaram novos desafios. A descentralização do Estado levou ao crescimento das responsabilidades dos governos municipais para atrair e reter os investimentos privados.

Esses novos desafios promoveram a concorrência entre as cidades para atrair esses investimentos. A colaboração entre um grupo de cidades regionalmente ou até internacionalmente, no caso da cooperação descentralizada, desenvolvida no âmbito das redes internacionais de cidades, podem criar novas oportunidades e potencializar os recursos disponíveis:

[...] Os grandes e os pequenos negócios geralmente optam por se instalar em áreas urbanas, devido aos benefícios econômicos, decorrentes do compartilhamento do mercado, infra-estrutura, grupos de trabalhadores e troca de informação com outras firmas. A vantagem econômica das áreas urbanas depende consideravelmente da qualidade do governo e da administração urbana, bem como das políticas que afetam a disponibilidade, ou não, de eletricidade, transporte, telecomunicações, saneamento e espaços urbanos a serem desenvolvidas. Os fatores que afetam a produtividade da mão-de-obra na economia local, incluem a disponibilidade e a qualidade dos serviços de moradia, saúde e educação, capacidades, segurança, oportunidades para treinamento e a existência de um bom transporte público. Esses fatores de infra-estrutura “pesada” e “leve” são os principais determinantes das vantagens relativas de uma comunidade [...] (SWINBURN, GOGA e MURPHY, 2006, p. 3).

As iniciativas de desenvolvimento local pressupõem uma capacidade de identificação das potencialidades da cidade, em termos de recursos disponíveis, o que determinaria a sua capacidade de atração e retenção de investimentos, e um comportamento colaborativo, envolvendo os governos municipais, as empresas e a comunidade local:

[...] Em resumo, pode-se dizer que o desenvolvimento local é um processo de crescimento e mudança estrutural da economia de uma cidade, comarca ou região, em que se pode identificar pelo menos três

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dimensões: uma econômica, caracterizada por um sistema de produção que permite aos empresários locais usar eficientemente os fatores produtivos, gerar economias de escala e aumentar a produtividade a níveis que permitam melhorar a competitividade nos mercados; outra sócio-cultural, na qual o sistema de relações econômicas e sociais, as instituições locais e os valores servem de base ao processo de desenvolvimento; e outra política e administrativa, na qual as iniciativas locais criam um entorno local favorável à produção e impulsionam o desenvolvimento [...] (COFFEY e POLESE; STOHR apud AGHÓN et. al., 2001, p. 22).

As medidas tradicionais de desenvolvimento regional trabalhavam com a perspectiva de que o governo central dirigisse recursos produtivos e infraestrutura para as localidades, a nova configuração das políticas de desenvolvimento local apresenta uma tendência de aproveitar as potencialidades das cidades (BARQUERO, 2002).

Os gestores locais precisam encontrar os melhores mecanismos para atingir o objetivo de desenvolvimento local. A inovação na gestão pública local se torna cada vez mais importante. O desenvolvimento institucional de agências, consórcios e redes de configuração metropolitana pode representar um caminho.

[...] Esses sistemas institucionais inovadores, que representam os interesses de diferentes municípios e agências parceiras na mesma área metropolitana, podem trazer benefícios para os atores principais de cada município: repartições públicas, associações comerciais e organizações da sociedade civil. Esses sistemas podem servir para unir esforços de diferentes localidades e ampliar os resultados do DEL e podem fortalecer a representatividade dos níveis mais altos de tomada de decisões. Esse tipo de cooperação tem funcionado bem para cidades que pertencem a mercados comuns, ou que possuem interesses comuns em determinados setores, por exemplo Eurocities, Indonesian city Network, South African Cities Network [...] (SWINBURN, GOGA e MURPHY, 2006, p. 3)

Por fim, as novas configurações econômicas e políticas no âmbito do processo de globalização, a globalização é tratada como um processo não acabado e, portanto, passível de mudanças, levaram a reorganização das cidades. Uma das características dessa reorganização é a maior preocupação com as questões locais ou, mais especificamente, com os fatores que impedem o desenvolvimento econômico.

Ao mesmo tempo, o Estado-nação não perdeu a sua atribuição de gestor do desenvolvimento econômico, mas reduziu sua capacidade de

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atuação nessa área, promovendo, então, uma descentralização dessas atribuições.

A partir dos impactos da globalização sobre as cidades e do processo de descentralização administrativa, surgem novas áreas de intervenção e de atribuições para os governos locais, são elas:

[...] políticas de responsabilidade social, elevando a capacidade de arrecadação própria; reconhecimento da sociedade civil organizada como novo ator social [...]; práticas gerenciais centradas na qualidade e no exercício da participação; intervenções na área de abastecimento envolvendo produção, circulação, comercialização e consumo; defesa do meio ambiente; políticas de cunho redistributivo ou anticíclico para garantir a renda e o emprego; reconhecimento de que a industrialização não é o único caminho para o desenvolvimento, mas também a agricultura, o comércio e o turismo podem ser considerados como setores potenciais de geração de emprego e renda; abandono da visão tradicional assistencialista substituída por políticas mais consistentes do combate à exclusão social e à pobreza, e sobretudo um novo papel de agente de desenvolvimento local [...] (COSTA apud WANDERLEY, 2009, 122).

Sendo assim, os gestores municipais, cobrados pelas comunidades locais, engajaram-se em novas iniciativas de busca de desenvolvimento local. Em conjunto com outras medidas de desenvolvimento local, a cooperação descentralizada se tornou uma inovação na gestão pública local.

Baseado no Plano Diretor de Cooperação Internacional e Solidariedade (2006-2008) de Barcelona32, Wanderley (2009) destaca a percepção da ação internacional da cidade em resposta às problemáticas urbanas, no contexto de globalização:

[...] Terceiro: Faz tempo que as cidades se converteram em atores internacionais com um protagonismo crescente. Essa irrupção na cena internacional está ligada a complexos processos de mudança nas relações internacionais e institucionais que provocaram, de modo que, em escala universal, a rede de cidades está liderada por um modelo de cidade e de autoridade local que se caracteriza por: a) A promoção de políticas públicas, para dar respostas a problemas de dimensões globais, porém com claras repercussões locais; b) A presença de um movimento cidadão ativo e comprometido, que exige das suas autoridades atuações consequentes aos retos colocados; c) Um sistema de relações baseado na criação de redes municipais e de compromissos cidade com cidade, os quais, por sua vez, estabelecem

32 “Barcelona cidade solidaria: um compromisso com o mundo”

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relações e compromissos com as entidades supraestatais [...] (PLANO apud WANDERLEY, 2009, p. 145).

Nos próximos capítulos serão discutidas as ações internacionais das cidades, principalmente, por meio da participação em redes internacionais de cidades e, especificamente, na Rede Mercocidades.

1.4 Considerações do capítulo

O objetivo deste capítulo foi apresentar o contexto em que se intensificam as relações internacionais entre as cidades e, no caso estudado, em que se cria a Rede Mercocidades.

O levantamento bibliográfico sobre o tema globalização teve como principal objetivo apresentar as características do que se convencionou chamar de globalização econômica e política, para um entendimento melhor de como estes processos afetam as cidades e, conseqüentemente, de como levam as cidades a optarem pela inserção internacional, na solução dos problemas locais, que também podem ser considerados globais.

A globalização econômica tem como principais características: a internacionalização financeira e a internacionalização produtiva. É resultado de uma configuração histórica de predominância das idéias neoliberais, da universalização do sistema capitalista de produção, do capitalismo com características globais, das inovações tecnológicas nas áreas de transporte e de tecnologia de informação e inovações na área financeira e nas formas de produzir.

Estas mudanças permitem ganhos de produtividade e estes ganhos estão vinculados, cada vez mais, às tecnologias de informação. Sendo assim, têm um caráter excludente, na medida em que nem todas as economias estão habilitadas para esta nova configuração. Além disso, parece claro que um dos aspectos do processo de acumulação do capital, seja no mercado financeiro ou na atividade produtiva, é a concentração do capital em um grupo de empresas e de países.

A internacionalização financeira reflete cada vez mais a necessidade do capitalismo inovar a forma de acumulação do capital, mas também aumenta a vulnerabilidade externa dos países que se tornam dependentes destes capitais.

Por sua vez, a internacionalização produtiva, apesar de ter um caráter de menor volatilidade, também implica em maior vulnerabilidade externa dos

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países que dependem deste tipo de capital, uma vez que, cada vez mais, as políticas econômicas dos países ficam condicionadas às estratégias desse capital global.

A reestruturação produtiva, resultado das inovações na forma de produzir e de organizar a produção, é acompanhada do desemprego estrutural e de maior desigualdade econômica entre os países, principalmente daqueles que são abundantes em mão-de-obra não qualificada, o que dificulta uma inserção mais competitiva destas sociedades no mercado internacional.

Estas condições também são observadas nas cidades. Existem cidades, localizadas em países centrais, que têm uma inserção mais competitiva no mercado global, porque são aquelas que oferecem as melhores condições de produção ou porque são aquelas que oferecem as melhores condições de demanda dos produtos gerados. Mas existem ainda, nestes mesmos países centrais, cidades que não se inserem de forma tão competitiva e, ao se observar a distribuição dos benefícios entre a população destas cidades, verifica-se uma concentração na distribuição dos benefícios gerados. Já no caso das cidades dos países menos desenvolvidos, as disparidades são ainda maiores.

Combinado aos aspectos econômicos apresentados, transformações no sistema mundial têm levado a redução do poder dos Estados-nação. Na busca de manutenção da governabilidade, neste novo cenário, os Estados-nação têm se preocupado principalmente com os temas econômicos e políticos da agenda internacional, passando para os governos locais a incumbência sobre as soluções dos problemas locais, processo caracterizado pela descentralização das atribuições do Estado.

Este é o contexto econômico e político em que as cidades têm se preocupado cada vez mais com a sua inserção no mercado internacional e com as suas iniciativas de desenvolvimento local. A participação em redes internacionais de cidades pode representar a contestação às iniciativas neoliberais e uma visão crítica sobre os benefícios do sistema capitalista global, mas também pode representar uma adequação ao novo contexto, caracterizada por uma inserção internacional mais competitiva e pelo desenvolvimento de relações cooperativas para solução dos problemas locais que dificultam esta inserção.

O processo de integração regional na América Latina, no âmbito do MERCOSUL, que também surge neste contexto econômico e político, estimulou a criação da Rede Mercocidades. Uma característica importante deste processo de integração é que ele surge como um projeto de intensificação da livre circulação das mercadorias na região. A integração era vista como uma iniciativa dentro de um conjunto de políticas neoliberais que levariam a inserção dos países da região ao capitalismo global.

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A Rede Mercocidades surge como um movimento de contestação desta iniciativa. Um grupo de prefeitos que não consideravam as políticas neoliberais como as mais adequadas para o desenvolvimento da região se reúnem e iniciam as discussões sobre a criação de um Comitê de municípios do MERCOSUL, que tinha o objetivo de gerar uma reflexão maior sobre a integração e de propor uma agenda de integração mais positiva, em termos da integração política e social, consideradas mais adequadas às necessidades da região.

Isto é reforçado pelas entrevistas efetuadas com os secretários e assessores da Rede33, Rodrigo Perpétuo destaca que “num primeiro momento, a Rede se dedicou [...] a pregar a autonomia das cidades, a pregar outro tipo de fazer política pública”. Jorge Rodriguez acrescenta que alguns governantes locais eram de distintas linhas políticas em relação aos governos nacionais. Alberto Kleiman observa que, além dos questionamentos sobre as políticas neoliberais aplicadas na época na região, existia um questionamento sobre o tipo de integração que se queria, destacando-se a necessidade de participação de outros atores, principalmente, os governos locais.

Depois de um período de expansão do comércio na região, surgem questionamentos sobre o quanto a integração contribuiu para a redução das desigualdades e para o desenvolvimento da região, além disso, problemas econômicos e políticos internos levaram os governos nacionais dos países membros a deixarem a integração para segundo plano, desencadeando um momento de crise do MERCOSUL.

O que se observa, na atualidade, é um relançamento do MERCOSUL. A nova agenda do MERCOSUL apresenta um caráter mais parecido com o que se propunha na sua criação. Uma integração que levaria ao desenvolvimento da região e para tanto que tivesse um caráter de integração política e social, além da integração comercial. Neste contexto, a Rede Mercocidades avança na iniciativa de participar das discussões da integração e parece perder o sentido de contraposição às iniciativas de integração. Qual seria, então, o novo papel que a Rede teria na integração do Cone Sul?

Conforme observações de Alberto Kleiman34, o objetivo inicial, a razão de ser da Rede, já foi satisfeito, ou seja, o FCCR já representa uma possibilidade de atuação das cidades na institucionalidade do MERCOSUL, com limitações é claro, mas é um mecanismo. Para Kleiman, não existe uma nova bandeira e esta é a questão essencial. Qual é o principal objetivo da Rede na atualidade?

33 Para maiores detalhes verificar as entrevistas detalhadas no item 3.7 desta tese e as transcrições destas entrevistas anexas. 34 Verificar entrevista de Alberto Kleiman, Anexo 5.

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A Rede perderia um pouco do seu caráter político, mas estaria em contrapartida acentuando o seu caráter de cooperação. A Rede Mercocidades passa a ter como objetivo principal a geração de um ambiente de cooperação internacional entre as cidades na busca de melhores políticas públicas municipais, ou seja, a Rede Mercocidades se tornaria um ambiente de discussão das questões de interesse das cidades da região.

Esta situação pode ser observada em na pesquisa de participação na Rede, efetuada pela INCIDIR35, onde se pergunta aos participantes quais eram as expectativas dos governos com respeito a sua participação na Rede e se observa que 92% dos pesquisados responderam que é a “busca de cooperação/troca de experiências entre cidades”.

Neste novo momento, a Rede Mercocidades assume o papel de uma iniciativa de inserção internacional das cidades para melhoria na qualidade das políticas públicas. Por meio da troca de técnicas e conhecimentos e, em alguns casos, de projetos comuns, busca-se a aplicação das melhores práticas em termos de políticas públicas.

Considerando-se que as atividades desenvolvidas levam em conta os recursos disponíveis e a participação ativa dos interessados, as relações desenvolvidas no âmbito da Rede Mercocidades podem ser consideradas iniciativas que respondem de forma adequada aos requisitos das políticas de desenvolvimento local.

Por fim, além do questionamento sobre os benefícios que uma integração com caráter essencialmente comercial pode trazer para os países da região, existe um questionamento sobre os benefícios que as políticas neoliberais, no seu conjunto, trouxeram para os países que as adotaram. As crises financeiras e econômicas, o crescimento do desemprego estrutural e o aprofundamento das desigualdades sociais, entre outros, levam a emergência de reflexões mais críticas sobre a globalização e conseqüentemente a movimentos de contraposição à globalização.

Ao mesmo tempo, em um período mais recente na América Latina, assumem governos nacionais com propostas alternativas às políticas neoliberais desenvolvidas pelos governos anteriores, o que gera uma expectativa mais positiva em relação ao direcionamento das políticas econômicas para um caráter mais distributivo. Neste sentido, a Rede Mercocidades pode se apoiar neste momento mais favorável para desenvolver uma atuação mais ativa no âmbito do MERCOSUL e para viabilizar projetos conjuntos na região que melhorem a qualidade de vida das sociedades locais.

35 Para maiores detalhes verificar a apresentação dos dados desta pesquisa incluídos no item 3.7 desta tese.

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No próximo capítulo são apresentadas as potencialidades e as limitações que o relacionamento em rede pode trazer para o desenvolvimento das localidades, ou até para formação de um lobby para influenciar as políticas internas e externas dos governos nacionais.

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CAPÍTULO 2 – A AÇÃO INTERNACIONAL DAS CIDADES, A COOPERAÇÃO DESCENTRALIZADA E AS REDES INTERNACIONAI S DE CIDADES

As transformações que contextualizam a ação internacional dos governos subnacionais já foram tratadas no primeiro capítulo (a globalização, a regionalização e os impactos da globalização nas cidades); o objetivo agora é identificar os principais instrumentos utilizados pelas cidades, destacando-se a participação em redes internacionais de cidades.

Para Borja e Castells (1997, p. 320), a iniciativa de internacionalização das cidades se dá por meio de três mecanismos: “[...] a participação em associações de cidades, a inserção em redes e o desenvolvimento do city marketing e a presença ativa em eventos internacionais”. Romero (2004, p. 408) acrescenta, referindo-se a Borja e Castells (1997): [...] estratégias de participação nos processos de integração regional; e estratégias de fortalecimento da presença direta dos governos locais no sistema de cooperação internacional [...].

Segundo Messing e LLorente (2003), as ações internacionais dos governos subnacionais podem ser divididas em dois eixos. O primeiro se refere às ações derivadas do Estado Nacional, são ações articuladas pelos governos municipais com o Estado Nacional ou Estadual, alguns exemplos são: o acesso aos créditos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), programas de cooperação do BID, da OEA (Organização dos Estados Americanos), da ONU (Organização das Nações Unidas) e seus organismos. Essas ações são concebidas a partir de uma articulação dos municípios com o Estado-nação e deste com o organismo. A Chancelaria representa o eixo central de comunicação entre os governos subnacionais e estes organismos.

O segundo eixo de atuação corresponde às ações que constituem a “política exterior das cidades”, representam as iniciativas descentralizadas. Estas ações são divididas em quatro linhas: i) os irmanamentos de cidades; ii) a participação em organismos internacionais e em instituições de cooperação internacional (iniciativa de interesse nesta pesquisa, por se tratar da inserção em redes internacionais de cidades); iii) a participação em programas de cooperação internacional; iv) vinculação com embaixadas e representações exteriores. Estas iniciativas têm um caráter comum que é a busca da cooperação internacional, cooperação para resolução de problemas comuns (MESSING e LLORENTE, 2003, p. 7-8).

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[...] A cooperação em busca de soluções para suas necessidades e exigências de desenvolvimento local, de financiamento para permitir esse desenvolvimento econômico, social e cultural, porém também, em busca de soluções compartilhadas e coordenadas para enfrentar problemas comuns. Existe também outro motivo pelo qual as cidades decidem trabalhar no âmbito das relações internacionais: poder influenciar os processos de regionalização e as políticas internacionais desde o enfoque das cidades e dos cidadãos, que são aqueles que convivem diretamente com os processos de integração e os impactos das políticas internacionais [...] (MESSING e LLORENTE, 2002, p. 8).

A crescente importância da inserção internacional das cidades pode ser representada pela introdução do tema na Agenda Urbana e pelo fato de a projeção internacional se tornar uma variável inovadora na gestão pública (ROMERO, 2004a). As prefeituras municipais passam, inclusive, a criar órgãos que se encarregam das relações internacionais das cidades.

Prieto (2004, p. 273) relata que nas suas investigações pode constatar que o “envolvimento subnacional nas questões internacionais é, sem dúvida, um fenômeno efetivamente mundial”, tornando-se “uma característica estrutural do sistema político mundial”.

Apesar do crescimento dessas iniciativas, a inserção internacional das cidades não é tranqüila, apresentando várias limitações que são de caráter conceitual, teórico, jurídico, político, prático, entre outros:

[...] Embora as restrições mais comumente invocadas à atuação internacional dos governos estaduais e locais sejam de natureza jurídica – envolvendo, principalmente, as competências constitucionais estabelecidas para as diferentes esferas de governo -, as experiências empíricas e o debate atual oscilam entre posições que privilegiam aspectos políticos, econômicos e sociais, paralelamente aos de cunho jurídico-constitucional [...] (MARIANO e BARRETO, 2004, p. 23).

Este capítulo está dividido em três partes. Na primeira parte, estuda-se o tema paradiplomacia, entendida como a ação internacional das cidades. É apresentada uma caracterização da paradiplomacia, suas especificidades, suas implicações e contradições.

A parte dois é dedicada à cooperação descentralizada, que corresponde à relação cooperativa desenvolvida pelas cidades.

E a terceira parte discute as redes de cidades, buscando desenvolver uma descrição do relacionamento desenvolvido neste âmbito.

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2.1 Paradiplomacia: a ação internacional dos govern os subnacionais

A maior projeção dos governos subnacionais nas questões internacionais apresenta já de inicio uma implicação de teorização não configurada pelas visões tradicionais das relações internacionais, que restringem as relações internacionais aos Estados-nação. Esta nova configuração exige, então, uma nova forma de teorizar as relações internacionais. Os estudiosos das relações internacionais, interessados no tema, intitulam a ação internacional dos governos subnacionais de paradiplomacia:

[...] A paradiplomacia pode ser definida como o envolvimento do governo subnacional nas relações internacionais, por meio do estabelecimento de contatos, formais e informais, permanentes ou provisórios (ad hoc), com entidades estrangeiras públicas ou privadas, objetivando promover resultados socioeconômicos ou políticos, bem como qualquer outra dimensão externa de sua própria competência constitucional [...] (HOCKING apud PRIETO, 2004, p. 251-252).

Segundo Gayard (2007, p. 196), existem outros autores que, ao estarem insatisfeitos com este termo por considerarem uma “conotação inferior”, utilizam, como Kincaid (1994), o termo “diplomacia subnacional como sinônimo de paradiplomacia”, apresentando ainda o termo diplomacia constituinte:

[...] A diplomacia constituinte, ao contrário da diplomacia subnacional, implica a idéia de que estados, províncias, Landers, cantões, entre outros, sejam unidades constituintes de governos federais, tendo, portanto, o mesmo nível de autonomia, e que deleguem parte de seu poder ao governo central. Não são unidades subalternas, como denota o termo ‘subnacional’, mas ‘co-soberanas’ do Estado, uma vez que a delegação de poderes a um governo central foi uma iniciativa própria. Kincaid acredita que, mesmo no campo internacional, essas unidades têm a mesma capacidade de ação que o Estado Nacional [...] (GAYARD, 2007, p. 196-197).

Existe outro conceito utilizado em paralelo com o da paradiplomacia que é a protodiplomacia; este conceito é mais utilizado pelos autores quando a atuação do governo não central no cenário internacional está inserida em um objetivo maior deste ente, que é de buscar a independência em relação ao

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governo central, por isso esta inserção nem sempre se dará de forma harmoniosa com a política externa central (VANESSA MARX, 2008). Já a paradiplomacia é utilizada, comumente, para retratar ações externas dos governos não centrais que não afrontam o governo central (GAYARD, 2007).

Outro termo utilizado para explicar a inserção internacional dos governos subnacionais é a diplomacia federativa. Este termo é utilizado somente em estruturas federativas. Enquanto a paradiplomacia é um conceito que pode ser utilizado onde a atividade paradiplomática pode se dar de forma paralela, coordenada ou complementar ao Estado (VANESSA MARX, 2008), o termo diplomacia federativa representa uma atuação que se complementa a proposta política do governo central de “incentivar, coordenar e apoiar ações externas dos entes federativos” (BOGÉA FILHO apud GAYARD, 2007, p. 197).

Soldatos (1990) apresenta a inserção internacional dos governos subnacionais desenvolvida com a concordância do governo central como paradiplomacia cooperativa. Permite-se que as unidades subnacionais busquem atender seus objetivos internacionalmente, desde que elas não estejam em desacordo com a política externa central, seriam, então, ações complementares.

Segundo Keating (2004, p. 66-67), as estratégias de inserção internacional dos governos subnacionais serão diferentes de acordo com suas motivações e oportunidades. Diferente da diplomacia que tem um interesse nacional, a paradiplomacia é mais “especifica e delimitada”, tem um caráter mais “oportunista e experimental”. “A paradiplomacia também se caracteriza por um alto grau de participação por parte da sociedade civil e do setor privado, com variações que dependem de fatores políticos e institucionais”.

Diferente da diplomacia do governo central, que tem responsabilidades próprias de estados soberanos, a paradiplomacia é opcional e irá acontecer quando existir uma perspectiva de ganho para os governos subnacionais que a praticam (HOCKING, 2004).

A característica experimental da paradiplomacia demonstra que essas ações são testadas e continuam quando são observados que os benefícios para as cidades superam o custo da ação. Além disso, ela dependerá do interesse do governante, inclusive para delimitação dos seus objetivos. Na maioria das vezes, são ações cooperativas, relacionadas aos temas de desenvolvimento econômico, infra-estrutura, meio ambiente e cultura.

A paradiplomacia permite que os governos subnacionais compartilhem experiências, promovam cooperação técnica, captem recursos financeiros e abordem problemáticas comuns de maneira conjunta (MESSING e LLORENTE, 2003).

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Os governos subnacionais têm dois caminhos para buscar atender seus interesses no cenário internacional: um deles é por meio da sua influência sobre o governo central e o outro é atuar diretamente no cenário internacional:

[...] Disto se depreende que as regiões podem representar tanto o papel de atores internacionais ‘principais’, buscando seus próprios interesses e os de seus clientes por meio de uma atuação internacional direta, como o de atores ‘mediadores’, usando caminhos nacionais para atingir seus propósitos. A disponibilidade desses caminhos para a atividade internacional, os padrões dos relacionamentos entre as arenas não-centrais e as arenas políticas nacionais, assim como os interesses nacionais em suas várias formas, significam que as autoridades regionais são atores ‘híbridos’ que possuem algumas das qualidades associadas a Estados-nação, bem como a atores de fora do contexto estadual [...] (HOCKING, 2004, p. 89).

Uma interpretação de Panayotis Soldatos, feita por Lessa (apud VANESSA MARX, 2008, p. 68), destaca os fatores internos que justificariam a projeção internacional dos governos subnacionais:

a) a nacionalização da política externa (foreign policy domestication), quer dizer a tendência da política externa dos Estados incorporar áreas de low politcs (comércio, intercâmbio educacional, cultural etc);

b) a segmentação objetiva, quer dizer as diferenças geográficas, culturais, lingüística, religiosas e políticas, que podem gerar conflitos em relação aos objetivos gerais da política externa dos Estados centrais e estimular iniciativas paradiplomáticas;

c) a assimetria interna pode legalmente levar governos não centrais a buscar compensar sua relativa incapacidade de influenciar a política externa nacional mediante a associação com partners estrangeiros;

d) o crescimento econômico que, segundo Soldatos, gera ‘diversas respostas e atividades e um crescente número de demandas por ações governamentais’;

e) a imitação das ações de política externa conduzidas pelo poder central, o que o autor considera como metooism (atividade iniciada pelo governo central e seguida pelo governos regionais); e

f) a ausência de instituições nacionais ‘sensíveis’ às necessidades e às demandas dos governos não centrais.

Como fatores externos são apresentados os aspectos relacionados à interdependência global e regional, temas que já foram discutidos no capítulo anterior.

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Existem diferentes objetivos e diferentes formas de ação paradiplomática. Duchacek (apud Gayard, 2007) apresenta três formas paradiplomáticas: paradiplomacia transfronteiriça regional, paradiplomacia transregional ou macroregional e a paradiplomacia global.

A paradiplomacia transfronteiriça é aquela desenvolvida por cidades que têm uma fronteira comum. “Os contatos, nesse tipo de paradiplomacia, são comumente referentes à travessia de fronteiras, como por exemplo o transporte legal de bens manufaturados, prevenção de contrabando, ou aspectos da imigração [...]”, além de outros aspectos como, “[...] administração de bens comuns, como a defesa civil, gestão de fontes naturais, entre outros”. A paradiplomacia transregional envolve governos subnacionais de países que são vizinhos. Já a paradiplomacia global é aquela que se dá a partir de governos subnacionais de países distantes, “com o intuito de chegar a centros de comércio, industriais e culturais em outros continentes, e também com vários ramos ou agências de governos estrangeiros em seu Estado” (GAYARD, 2007, p. 208).

Vigevani (2006) apresenta alguns problemas para atividade internacional das unidades subnacionais, destacando-se: a possibilidade de conflito com a política exterior do Estado nacional; e os questionamentos sobre a legalidade da atuação internacional das unidades subnacionais, uma vez que elas não são sujeito do direito internacional, mas são atores, pois participam de cooperação internacional, acordos econômicos e culturais, entre outros.

[...] Um dos aspectos mais difundidos das relações internacionais tem sido seu foco no Estado como o ator principal na arena internacional. O pressuposto de que os estados interagem por meio de governos que expressam o ‘interesse nacional’, ou seja, que a política internacional está interessada na busca do poder, e que a questão principal na agenda internacional assume a forma de segurança militar, tende a fazer as atividades internacionais das regiões e de outras localidades parecerem, na melhor das hipóteses, uma irrelevância para o ‘mundo real’ da política internacional, ou na pior das hipóteses, uma perigosa aberração. Aqui, o pressuposto-chave é de que o principal requisito na condução da política externa é a coerência, e isso, por sua vez, exige forte controle central [...] (HOCKING, 2004, p. 81).

Neste sentido, a ação internacional dos governos subnacionais deveria ser mantida sobre estrito controle do governo central.

Novas abordagens das relações internacionais, que discutem os efeitos da interdependência econômica, os avanços tecnológicos e da comunicação, passam a enfatizar a capacidade menor de o Estado representar os diversos interesses no cenário internacional. Hocking (2004, p. 82-83) destaca a

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abordagem de ‘interdependência complexa’ de Keohane e Nye (1972; 1998). “Sustentando essas tendências, existem dois desenvolvimentos que refletem e ajudam a explicá-las: a agenda cada vez mais ampla da política exterior e as distinções cada vez menores entre a política interna e a política externa”.

[...] O crescente envolvimento internacional das localidades reflete o fato de que os governos nacionais acham cada vez mais inviável atender aos interesses da comunidade partindo de um único centro de poder. Com freqüência, problemas complexos simplesmente não respondem a planos mestres idealizados no centro – é preciso dar atenção às necessidades específicas geradas por condições e interesses locais. Grandes estruturas burocráticas centralizadas muitas vezes não têm conhecimento e flexibilidade para tanto (HOCKING, 2004, p. 95).

Vigevani (2006, p. 103) destaca que a atuação internacional dos governos subnacionais tem como objetivo buscar a solução para problemas práticos e com isso ela não “provoca necessariamente um movimento crítico do monopólio da política exterior pelo Estado nacional [...]”. Como as ações paradiplomáticas concentram-se, na maioria das vezes, nas ações ligadas à low politics (baixa política), assuntos de interesse regional, que representam preocupação para as comunidades locais, e não aos temas da high politics (alta política), como guerra e paz, estratégicos e de segurança, e econômicos mais gerais, as ações dos governos subnacionais dificilmente estarão em conflito com a política externa central.

O entendimento de que as relações entre Estados é uma prerrogativa da soberania e de que os governos subnacionais, em um Estado federado, são somente autônomos, subsidiaria a idéia de que os governos subnacionais não podem firmar compromissos internacionalmente, pelo menos não em termos legais. No entanto, o que se observa é que muitos Estados federados permitem a atuação internacional dos governos subnacionais, desde que essas ações sejam intermediadas por um órgão federal. A diplomacia federativa seria, então, a alternativa para contemplar as necessidades das unidades subnacionais atuarem internacionalmente (PRAZERES, 2004).

O que não ocorre no caso das ações informais, onde o governo não central não assume nenhum compromisso com governos não centrais de outros países, entidades internacionais, organismos internacionais ou mesmo outros Estados nacionais.

Prazeres (2004) destaca a relevância do estudo das ações internacionais dos governos subnacionais, isto em função do crescimento dessas iniciativas, inclusive em termos mundiais, e dos poucos estudos na

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área. Um fato importante é a divergência quanto aos poderes dos entes federados assumirem compromissos internacionais e outro é a responsabilidade do Estado nacional frente aos compromissos assumidos pelos seus entes. A autora levanta ainda o questionamento sobre os modelos de federação e confederação, apresentando observações sobre os questionamentos quanto à aplicação destas teorias às experiências políticas vivenciadas pelos Estados compostos.

[...] não há, entre os diversos tipos de organizações federativas, oposição estanque e irredutível. A confederação de estados, assim como o Estado federal, não existe em estado puro senão nos gabinetes dos teóricos; a complexidade das realidades sociais à rigidez das classificações [operadas] a priori (ROUSSEAU apud PRAZERES, 2004, p. 307).

Outro aspecto importante, relatado pela autora, é que os estudiosos do Direito Internacional estariam mais propensos a aceitar a atuação internacional dos entes federados, desde que esta liberdade esteja definida constitucionalmente.

Na atualidade, o Direito Internacional continua regulando as relações entre as Nações, entretanto, apesar de não atribuir vigência e eficácia à ação internacional de governos subnacionais, não mais se abstêm de ao menos monitorá-las, pois hoje, além dos Estados, das Organizações Internacionais, da Santa Sé, as unidades subnacionais são consideradas não como sujeitos de Direito Internacional, mas como os ‘novos atores internacionais’, ainda que careçam da devida regularização jurídica internacional e muitas vezes, da regularização jurídica interna de seus próprios Estados (GAMBINI, 2008, p. 20).

Em outra forma de tratativa do tema paradiplomacia, Messing e Llorente (2003) apresentam os principais obstáculos à inserção internacional das cidades. Estes obstáculos são classificados em três níveis: os obstáculos internos referentes às administrações municipais; os obstáculos referentes às administrações nacionais; e os obstáculos em nível internacional.

Os obstáculos ligados às administrações municipais correspondem: i) a inexistência, na maioria dos casos, de uma área que atue especificamente nas relações internacionais dentro da estrutura administrativa da prefeitura; ii) a carência de recursos financeiros para estas atividades; iii) a falta de pessoal qualificado na área de relações internacionais; e iv) o pouco conhecimento da

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comunidade local e dos governantes municipais sobre os benefícios que esta atuação pode trazer para as cidades.

Os obstáculos ligados às administrações nacionais são aqueles já relacionados anteriormente e dizem respeito ao fato de que as ações internacionais dos entes federados dependem de como o Estado nacional entende a autonomia desses entes.

Em termos internacionais, as autoras destacam a pouca participação das cidades nos âmbitos de ação referentes às relações internacionais, como no caso de organizações internacionais de cidades.

Enquanto a ação internacional dos governos subnacionais é intitulada, pela maioria dos estudiosos do tema, como paradiplomacia, a relação cooperativa desenvolvida pelos governos subnacionais no âmbito dessas ações é chamada de cooperação descentralizada.

2.2 Cooperação descentralizada: relação cooperativa dos governos subnacionais

A cooperação descentralizada representa um conceito novo na dinâmica de cooperação internacional para o desenvolvimento. A União Européia foi a primeira a inserir esta modalidade de cooperação em seu programa, a partir da inclusão do termo nos acordos da IV Conferência de Lomé, firmados em 1989, com países da Ásia, Pacífico e o Caribe.

Segundo Romero (2004a), os fatores que impulsionaram os programas descentralizados estão relacionados às mudanças nos princípios e paradigmas da cooperação internacional para o desenvolvimento.

A cooperação internacional para o desenvolvimento foi concebida, inicialmente, como um instrumento de ajuda dos países desenvolvidos aos países menos desenvolvidos. A cooperação representava uma relação entre Estados centrais e outros atores (como organizações da sociedade civil e o setor privado) eram meros observadores. O principal instrumento utilizado era a transferência de recursos a fundo perdido ou doações sem contrapartida.

Essa concepção de cooperação foi se transformando e, a partir de meados da década de 1990, o modelo de cooperação para o desenvolvimento começa a incorporar o princípio de desenvolvimento. Essa mudança se dá em função dos questionamentos sobre a efetividade dos instrumentos clássicos de cooperação na melhoria da qualidade de vida da população dos países menos desenvolvidos.

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“Ao final do século XX, começam-se a delinear princípios do que se considera um novo paradigma: o desenvolvimento humano.” O desenvolvimento humano sustenta-se nos seguintes princípios: i) o processo de desenvolvimento deve considerar uma melhoria na qualidade de vida da sociedade, representada pela redução da pobreza, e não somente um aumento da renda per capita; ii) deve-se adotar um conjunto de políticas interligadas e que cumpram as especificidades de cada localidade; iii) o estado tem um papel central; iv) os projetos nacionais são favorecidos por políticas de desenvolvimento com especificidades territoriais, balizadas em processos de participação (ROMERO, 2004a, p. 35).

O paradigma de cooperação como instrumento de desenvolvimento representa uma transformação do modelo de cooperação assistencial. O que o diferencia do modelo clássico é que o novo modelo de cooperação é multilateral, existe uma colaboração entre iguais, diferente do conceito unilateral onde existe o doador e o receptor.

A multilateralidade reconhece, por sua vez, três princípios: i) o ‘interesse mútuo’ (na resolução de problemas globais ou com impactos globais) e, em alguns casos até de ‘benefícios mútuos’ (cooperação econômica); ii) a complementaridade das ações com os esforços locais de desenvolvimento; iii) a participação ativa dos implicados na cooperação como uma necessidade de eficiência, eficácia e apropriação e de conscientização cidadã sobre problemas globais (ROMERO, 2004a, p. 37).

O modelo de cooperação multilateral implica a utilização de outros instrumentos, além da transferência de recursos, como: “a assistência técnica e financeira, a transferência de tecnologia, a formação de recursos humanos, o reforço de capacidades e o desenvolvimento institucional, o intercâmbio de experiências adquire um papel prioritário para este novo tipo de cooperação” (ROMERO, 2004a, p. 37).

A cooperação descentralizada é definida como um novo enfoque das relações de cooperação que busca estabelecer relações diretas com os órgãos de representação local e estimular suas próprias capacidades de projetar e levar a cabo iniciativas de desenvolvimento com a participação direta dos grupos de população interessados, levando em consideração seus interesses e seus pontos de vista sobre o desenvolvimento (COMISSÃO EUROPÉIA apud ROMERO, 2004a, p. 40).

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Seguindo o mesmo documento da Comissão Européia, a cooperação descentralizada é desenvolvida pelos seguintes atores: poderes públicos locais, organizações não governamentais, associações profissionais e grupos de iniciativas locais, cooperativas, sindicatos, organizações de mulheres e jovens, instituições de ensino e de pesquisa, igrejas e outras associações não governamentais que possam contribuir para o desenvolvimento.

Outra característica da cooperação descentralizada é que quem promove a cooperação são as próprias entidades territoriais descentralizadas, com seus programas e orçamentos. Em alguns casos incluem os próprios Estados centrais ou organismos internacionais que estimulam a cooperação descentralizada.

A cooperação descentralizada, incorporando o conceito de cooperação como instrumento ao desenvolvimento, tem como principal objetivo atingir o benefício mútuo e, em alguns casos, incorpora o co-financiamento. As contrapartes estão envolvidas por interesses recíprocos. Além disso, os agentes estão no centro de execução e interferem em todo o ciclo do projeto.

[...] A cooperação descentralizada (basicamente desde quem promove e desenha) se centrará tanto no fortalecimento da capacidade de intervenção dos atores descentralizados como na promoção dos direitos humanos. O desenvolvimento humano local, presente fortemente nesta visão, é concebido como um processo integral que não hierarquiza suas diversas dimensões (democrática, econômica, social, meio-ambiental, cultural etc.) e sim que aspira alcançar estas metas de modo integral, a partir – mesmo que não exclusivamente – da mobilização dos fatores locais (MINA, 2003, p. 52).

Quando a cooperação descentralizada envolve governos locais e regionais, Malé (2006) denomina-a de cooperação descentralizada pública. O autor apresenta ainda os conceitos de cooperação descentralizada pública direta e indireta. A cooperação descentralizada pública direta compreende “as relações diretas de cooperação que se estabelecem entre governos locais e regionais, [...] em que os agentes públicos descentralizados têm um papel central na programação, promoção e gestão das ações, sem depender do estado central ou de organismos internacionais” e a cooperação descentralizada indireta como aquela que envolve outros atores, “consiste em financiar os projetos ou ações apresentados por atores não governamentais”.

A cooperação descentralizada pública pode ter um caráter formal ou informal. A cooperação formal é aquela que envolve a assinatura de um acordo ou convênio de cooperação, uma carta de intenções, ou mesmo atividades de complementação aos acordos de cooperação assinados por um país e outros

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países ou organismos internacionais. Já a cooperação informal é aquela que não envolve a assinatura de um acordo ou convênio (FRONZAGLIA, 2005).

A cooperação descentralizada pública representa um instrumento de inserção internacional dos governos locais e regionais na busca do desenvolvimento. Os governos locais e regionais identificam no âmbito externo um espaço para desenvolver estratégias de desenvolvimento por sua conta.

É um fenômeno que surge a partir da necessidade de intercâmbio e comparação de experiências entre governos locais, em temas de sua competência como infra-estrutura local, serviços públicos, desenvolvimento local, gestão do território etc., e da vontade política de projeção internacional dos governos locais e regionais (MALÉ, 2006).

Malé (2006) faz uma caracterização da cooperação descentralizada pública a partir de três variáveis: os atores, o conteúdo e as formas.

Os atores envolvidos neste tipo de cooperação não são nem estados centrais e nem entidades não governamentais, são atores específicos que tem os atributos dos atores públicos e estão vinculados na dimensão local ou territorial.

A cooperação descentralizada representa para os governos locais e regionais não só uma fonte de financiamento e sim uma oportunidade de realizar intercâmbios no campo técnico e organizativo e de estabelecer relações políticas e institucionais.

Essa cooperação estabelece o contato entre atores políticos eleitos democraticamente, sendo assim, podem ser considerados representantes da coletividade local, que tem o poder de mobilizar representantes da sociedade civil e dos agentes econômicos e sociais das localidades.

A cooperação descentralizada pública tem um conteúdo específico: i) focaliza-se em problemas locais e territoriais; ii) “oferece uma competência e um know-how que se pode transmitir ou intercambiar diretamente desde as instituições locais, sem recorrer a gabinetes de consultoria ou especialistas externos”; iii) tem condições de estabelecer cooperação a médio e longo prazos, isto porque, geralmente, são utilizados recursos próprios, onde os atores estabelecem as modalidades de cooperação; iv) pode promover uma relação mais ampla, uma vez que inclui outros agentes sociais locais; v) pode garantir uma relação mais direta com os cidadãos, o que implica em uma relação mais participativa (MALÉ, 2006, p. 20).

Apesar das diferentes atribuições dos governos locais nos países, existe uma similaridade nessas atribuições, entre elas podem ser destacadas: o controle do crescimento urbano, a administração dos serviços básicos (água, luz, esgoto etc.), a cobertura de serviços sociais básicos (educação primária,

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saúde primária etc.), entre outros temas que influenciam o cotidiano das populações. Esses temas comuns levam a um enredo de problemas que podem fazer parte do conteúdo da cooperação descentralizada pública.

A partir da identificação dos atores e do conteúdo, pode-se observar que a cooperação direta entre os mesmos tipos de atores, a cooperação horizontal, é mais facilmente desenvolvida. Os governos locais e regionais, de acordo com a sua autonomia, podem estabelecer convênios, relações de irmanamento, criação de redes, intercâmbios sem formalização de projetos etc.

Enfim, as relações desenvolvidas no âmbito da cooperação descentralizada são relações entre iguais, onde os governos locais são reconhecidos como sujeitos ativos da cooperação.

Na sua dimensão política, a cooperação descentralizada pública pode ter como objetivo o fortalecimento da dimensão local nas agendas nacionais ou regionais. A cooperação descentralizada pode representar um elemento de pressão para uma maior descentralização do Estado (competências e recursos). Além disso, pode representar uma forma de interferir nas agendas de integração regional.

O objetivo geral da cooperação descentralizada pública é buscar a “maior cobertura das necessidades da população e a melhoria da gestão de assuntos locais”. Esses objetivos podem ser considerados complementares (MALÉ, 2006, p. 23).

Na sua dimensão de política mundial, a cooperação descentralizada pode contribuir para uma afirmação positiva dos governos locais na definição de estratégias e políticas internacionais e na solução de problemas globais que normalmente são atribuição exclusiva dos Estados centrais.

Romero (2004a, p. 46) apresenta as virtudes da cooperação descentralizada:

• Sustenta-se e cobra sentido na operacionalização de dispositivos de apoio e fomento das iniciativas locais, colocando em relevo os fatores territoriais e buscando a intervenção dos distintos atores da sociedade como sujeitos responsáveis de seu próprio desenvolvimento;

• Contribui com a construção de uma institucionalidade local participativa e democrática, favorecendo a ampliação dos espaços de intervenção e compromisso dos diferentes atores na base territorial da sociedade civil;

• Propicia um maior protagonismo cidadão, seja através das instituições da sociedade civil, seja a partir das instâncias governamentais mais próximas;

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• Pode ajudar a aprofundar ou inclusive a desencadear processos de solidariedade social, de construção de consensos e de participação e apropriação cidadã;

• Incide de maneira positiva no fortalecimento das estruturas e capacidades locais de governo, em particular nos âmbitos estratégicos do desenvolvimento humano sustentável e a governabilidade democrática;

• Favorece a luta contra a pobreza e a promoção da coesão social – que precisam de instituições públicas democráticas eficazes e participativas – ao contribuir com o fortalecimento dos governos locais, os mais próximos das necessidades e realidades dos cidadãos.

A mesma autora apresenta também as limitações dessa cooperação:

• Existe um déficit na capacidade de gestão dos agentes, tanto pela insuficiência de pessoal especializado, quanto pelas limitações nos recursos institucionais, tecnológicos e financeiros necessários para levar adiante as iniciativas;

• Em muitos casos, os diferentes procedimentos e práticas contábeis e de supervisão orçamentária geram travas burocráticas que atentam contra uma gestão eficaz, eficiente e ágil;

• O déficit de recursos humanos capacitados na gestão financeira atenta contra as pequenas comunidades ou aquelas pouco familiarizadas com as práticas de cooperação;

• O princípio de co-financiamento pode constituir um obstáculo para o desenvolvimento do caráter democrático da cooperação descentralizada. A capacidade das coletividades locais participarem fica vinculada a disponibilidade de recursos próprios para realizar os aportes como contraparte;

• Uma dificuldade que pode apresentar algumas ações se remete a questões conceituais da participação social. Uma desvirtuação de seu sentido pode não só afetar as potencialidades da cooperação descentralizada (em termos de adaptação às necessidades, de apropriação e de sustentabilidade) e inclusive constituir-se em uma força desmotivadora da participação;

• O enfoque descentralizado gera problemas tanto para o acesso a informação por parte de todos os atores relevantes como para a análise das iniciativas e a multiplicação de seus resultados e benefícios.

Partindo-se do princípio de que a cooperação descentralizada é um fenômeno que surge a partir da necessidade de intercâmbio e comparação de experiências entre os governos locais, em temas de sua competência, e de que ela ocorre numa dimensão mais ampla de globalização e descentralização do Estado, essa cooperação representa uma das formas das cidades se inserirem de forma mais competitiva internacionalmente.

Para as cidades maiores, a cooperação descentralizada representa uma forma de essas cidades fortalecerem suas potencialidades e de se projetarem política e economicamente no contexto internacional, ao mesmo tempo em que

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potencializam suas políticas locais de desenvolvimento. Já para as cidades menores, representam uma forma de inserção internacional que elas não teriam condições de desenvolver sozinhas, além de permitir que essas cidades aproveitem as experiências exitosas de políticas locais e os ganhos de escala que os projetos conjuntos viabilizam.

As redes internacionais de cidades são exemplos da cooperação descentralizada pública, que se desenvolve de forma horizontal. Antes de serem apresentados alguns aspectos das redes internacionais de cidades, é necessário um levantamento de algumas características das redes nas ciências sociais.

2.3 Alguns elementos dos estudos sobre redes

Para Castells (2005) a lógica de redes em um conjunto de relações é uma das características do que ele chama de “o paradigma da tecnologia da informação”. Os aspectos centrais deste paradigma são:

[...] i) a informação é sua matéria-prima: são tecnologias para agir sobre a informação, não apenas informações para agir sobre a tecnologia [...]; ii) penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias: todos os processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente moldados (embora, com certeza, não determinados) pelo novo meio tecnológico [...]; iii) a lógica de rede: a rede pode ser implementada materialmente em todos os tipos de processos e organizações graças as recentes tecnologias de informação [...]; iv) baseia-se na flexibilidade: não apenas os processos são reversíveis, mas organizações e instituições podem ser modificadas, e até mesmo fundamentalmente alteradas, pela reorganização de seus componentes; v) convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado: a microeletrônica, as telecomunicações, a optoeletrônica e os computadores são todos integrados nos sistemas de informação [...] (CASTELLS, 2005, p. 108-109).

O “paradigma da tecnologia da informação” seria resultante da revolução tecnológica integrada à reestruturação do sistema capitalista, apresentadas no primeiro capítulo desta tese, e formaria o que o autor chama de “sociedade informacional”.

Castells (2005, p. 566) define rede como “um conjunto de nós interconectados. [...] O que um nó é depende do tipo de rede”. No caso desta tese os nós são as cidades dos países membros e associados do MERCOSUL.

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Para que estes nós formem uma rede é necessário que exista um objetivo comum que os una. As cidades da Rede Mercocidades estão unidas a partir de objetivos comuns, que, resumidamente, podem ser definidos como uma relação cooperativa para solução dos problemas urbanos comuns e para maior participação das cidades nas decisões no âmbito do MERCOSUL.36

As redes passaram, em período mais recente, a despertar o interesse dos investigadores de diversas áreas das ciências sociais. Portugal (2007) procurou fazer um levantamento das investigações sobre rede desenvolvidas na teoria sociológica, apresentando uma operacionalização do conceito de rede.

A autora destaca como uma contribuição para ciências sociais o fato de que a análise estrutural das redes permitiu que os estudiosos da área deslocassem o seu olhar para as relações sociais, deixando de pensar os sistemas sociais como coleções de indivíduos, grupos ou simples categorias. A avaliação não deve ser feita a partir de um conjunto de atores independentes, mas pelo conjunto dos laços que os interliga. Trata-se de uma análise relacional que permite verificar como os indivíduos são condicionados pelo tecido social e também como os indivíduos usam e modificam o tecido social de acordo com os seus interesses:

[...] As estruturas sociais podem ser representadas como redes – como conjuntos de nós (ou membros do sistema social) e conjuntos de laços que representam as suas interconexões. [...] Usualmente, os estruturalistas têm associado <nós> com indivíduos, mas eles podem igualmente representar grupos, corporações, agregados domésticos, ou outras coletividades. Os <laços> são usados para representar fluxos de recursos, relações simétricas de amizade, transferências ou relações estruturais entre <nós> [...] (WELLMAN e BERKOWITZ apud PORTUGAL, 2007, p. 6).

Os estudos das redes sociais permitem “o reconhecimento das implicações estratégicas de padrões particulares de relações” (PORTUGAL, 2007, p. 13). Alguns estudos demonstram que indivíduos com posições semelhantes na estrutura social podem ter, por exemplo, participação cívica diferente em função de diferentes padrões de redes sociais (FONTES e EICHNER apud PORTUGAL, 2007). “[...] A função de uma relação depende da posição estrutural dos elos, e o mesmo ocorre com o status e o papel de um ator” (MARTELETO, 2001, p. 72).

36 Os objetivos da Rede Mercocidades serão discutidos em capítulo específico.

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A análise de redes estabelece um novo paradigma na pesquisa sobre a estrutura social. Para estudar como os comportamentos ou as opiniões dos indivíduos dependem das estruturas nas quais eles se inserem, a unidade de análise não são os atributos individuais (classe, sexo, idade, gênero), mas o conjunto de relações que os indivíduos estabelecem através das suas interações uns com os outros. A estrutura é apreendida concretamente como uma rede de relações e de limitações que pesa sobre as escolhas, as orientações, os comportamentos, as opiniões dos indivíduos (MARTELETO, 2001, p. 72).

Alguns autores relacionam as redes ao capital social. O capital social representa o investimento que o indivíduo faz nas relações sociais com o objetivo de ter um ganho. Este ganho pode estar relacionado a ganhos econômicos, políticos, no mercado de trabalho ou na comunidade. A partir do acesso aos recursos da rede, existem alguns elementos que permitem aos atores terem acesso a benefícios sociais, são eles: informação, influência, credenciais e reforço. Os laços sociais permitem que os atores: i) tenham acesso a informações úteis sobre oportunidades; ii) tenham relação com agentes que tomam decisões importantes; iii) estejam credenciados a ter acesso a determinados recursos; e iv) sejam reconhecidos e apresentem uma identidade (LIN apud PORTUGAL, 2007).

O levantamento bibliográfico desenvolvido pela autora permitiu que ela apresentasse uma definição de rede social, como:

um conjunto de unidades sociais e de relações, diretas ou indiretas, entre essas unidades sociais, através de cadeias de dimensão variável (MERCKLÉ apud PORTUGAL, 2007, p. 24). As unidades sociais podem ser indivíduos ou grupos de indivíduos, informais ou formais, como associações, empresas, países. As relações entre os elementos da rede podem ser transações monetárias, troca de bens e serviços, transmissão de informações, podem envolver interação face a face ou não, podem ser permanentes ou episódicas (PORTUGAL, 2007, p. 24).

Marteleto (2001, p. 72) complementa este conceito apresentando a idéia de que a rede social “passa a representar um conjunto de participantes autônomos, unindo idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados”.

A autora ressalta que o estudo da rede permite que se observe que os indivíduos, com propósitos estabelecidos e com disponibilidade de recursos, organizem-se nos seus espaços políticos e seus efeitos possam ser sentidos em interações com o Estado ou outros grupos representantes da sociedade.

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[...] Independentemente das questões que se busca resolver, muitas vezes a participação em redes sociais envolve direitos, responsabilidades e vários níveis de tomada de decisões. [...] De forma diferente das instituições, as redes não supõem necessariamente um centro hierárquico e uma organização vertical, sendo definidas pela multiplicidade quantitativa e qualitativa dos elos entre os seus diferentes membros, orientada por uma lógica associativa. Sua estrutura extensa e horizontal não exclui a existência de relações de poder e de dependências nas associações internas e nas relações com unidades externas (COLONOMOS apud MARTELETO, 2001, p. 73).

Uma terceira interpretação de rede, que não exclui nem contradiz as já apresentadas, é a de redes de organizações.

Migueletto (2001), ao estudar as organizações em rede, apresenta o seguinte conceito para rede, que parece importante para análise proposta:

[...] A rede é um arranjo organizacional formado por um grupo de atores, que se articulam – ou são articulados por uma autoridade – com a finalidade de realizar objetivos complexos, e inalcançáveis de forma isolada. A rede é caracterizada pela condição de autonomia das organizações e pelas relações de interdependência que estabelecem entre si. É um espaço no qual se produz uma visão compartilhada da realidade, se articulam diferentes tipos de recursos e se conduzem ações de forma cooperada. O poder é fragmentado e o conflito é inexorável, por isso se necessita de uma coordenação orientada ao fortalecimento dos vínculos de confiança e ao impedimento de dominação [...] (MIGUELETTO, 2001, p. 48).

Os elementos que compõem a estrutura organizacional da rede são: os atores, as percepções, as relações, os recursos e as regras. Os atores são os nós da rede. As percepções representam como os atores enxergam a realidade. As relações significam os vínculos que são estabelecidos na rede, na busca de um objetivo comum. Os recursos disponibilizados pelos atores “podem ser financeiros, materiais, humanos, tecnológicos, informacionais, entre outros” (ALDRICH apud MIGUELETTO, 2001, p. 52). Já as regras correspondem aos “padrões de comportamento, que são criados, reproduzidos ou transformados durante as interações” (KLIJN apud MIGUELETTO, 2001, p. 52).

Quando o objetivo é estudar a forma como deve ser a coordenação das redes, que apresenta a característica não hierárquica, observa-se que o coordenador deve ter um papel de mediador. Ele “deve propiciar as condições

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para interação bem sucedida dos atores e a efetividade dos seus projetos” (MIGUELETO, 2001, p. 49). “Deixa de ser um fazedor e cumpridor de planos, para ser um negociador, aberto ao diálogo, capaz de incentivar e apreender as múltiplas leituras da realidade e as alternativas de ação” (JUNQUEIRA apud MIGUELETO, 2001, p. 49). O coordenador tem o papel de promover a cooperação e eliminar os obstáculos enfrentados.

Cada tipo de rede deverá apresentar uma coordenação com características específicas, mas, no geral, a coordenação das redes deve apresentar duas dimensões: uma ligada à cooperação e outra ligada à efetividade dos projetos.

Migueleto (2001, p. 63) apresenta alguns elementos de atenção para coordenação das redes:

• agregar preferências individuais numa escolha coletiva;

• definir o número de participantes e as tecnologias de conexão;

• desenvolver vínculos de confiança;

• harmonizar as percepções;

• mobilizar relações conciliadoras;

• bloquear relações fragmentadoras;

• conduzir negociações baseadas em princípios;

• capacitar para ação dialógica, argumentação e tolerância;

• eliminar obstáculos para uma comunicação livre;

• conscientizar sobre a importância da sinergia dos recursos e não de seu valor separadamente;

• realizar análises críticas e prospectivas dos objetivos;

• acompanhar a implementação incremental.

Quando se procura uma maior aproximação do conceito de rede aos atores que são estudados nesta tese, tem-se o conceito de redes de cidades.

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2.3.1 As redes de cidades na economia urbana

As abordagens sobre redes de cidades na economia urbana consideram que as cidades representam o lugar onde se gera o crescimento e o desenvolvimento econômico e que as cidades não são os únicos elementos, mas que a interação entre cidades, próximas geograficamente ou não, devem também ser objeto de estudo. A proposta é que a interação entre as cidades gera uma externalidade que contribui para o crescimento e desenvolvimento econômico. Esta externalidade é denominada externalidade de rede. Uma das lógicas da rede é que a ação cooperativa entre as cidades permite a troca de conhecimentos o que acelera a geração de inovações (DOMÈNECH, 2003).

As iniciativas de desenvolvimento local pressupõem uma capacidade de identificação das potencialidades da cidade, em termos de recursos disponíveis, o que determinaria a sua capacidade de atração e retenção de investimentos, e um comportamento colaborativo, envolvendo os governos municipais, as empresas e a comunidade local.

[...] A economia urbana e a geografia econômica utilizam o termo redes de cidades para referir-se a uma interpretação da economia no espaço no qual os nós são as cidades, conectadas por vínculos de natureza socioeconômica (links), por meio dos quais se intercambiam fluxos de distintas naturezas, sustentados sobre infra-estruturas de transportes e comunicações [...] (DOMÈNECH, 2003, p. 2).

Domènech (2003) apresenta algumas abordagens de redes de cidades, que levantam o questionamento sobre o tipo de relação que existe entre as unidades urbanas:

[...] Camagni (apud Domènech, 2003, p. 12) define as redes de cidades como um conjunto de relações, horizontais e não hierárquicas, entre centros complementares ou similares, relações que geram a formação de economias ou externalidades respectivamente de especialização/divisão de trabalho e de sinergia/cooperação/inovação. [...] No ponto de vista de outros autores como Dematteis, Batten, Casti ou Westlund (idem), tanto um sistema onde predominam as relações verticais (hierárquico) como um sistema onde predominam as relações horizontais são uma rede [...].

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Aceitando estas considerações, o autor acrescenta que “as principais características das redes de cidades são a possibilidade de coexistência de estruturas hierárquicas e não-hierárquicas, a cooperação entre cidades e a geração de vantagens associadas à organização da estrutura urbana e da interação entre seus nós” (DOMÈNECH, 2003, p. 17).

As redes de cidades podem ser caracterizadas a partir de alguns elementos como: a natureza da externalidade de rede, o âmbito da rede, o princípio de formação e intercâmbio, entre outros.

Observando-se a natureza da externalidade de rede, as redes de cidades podem ser divididas em: redes de complementaridade, redes de sinergia e redes de inovação. As redes de complementaridade “se dão entre centros especializados que se complementam”, a relação permite que se “alcancem economias de aglomeração”, assegura-se “uma área de mercado suficientemente grande para cada centro”. As redes de sinergia são aquelas em que “o elemento chave é que a sinergia” é obtida a partir da “cooperação” entre centros com “orientação produtiva similar”. As redes de inovação representam um tipo específico de rede de sinergia, onde a cooperação é programada “com o objetivo de alcançar a massa suficiente para abordar um projeto ou para obter uma externalidade que seja mais rentável” (CAMAGNI y SALONE apud DOMÈNECH, 2003, p. 21-22).

Quanto ao âmbito, elas podem ser redes de âmbito local, regional (nacional) ou internacional. As redes de âmbito local se dão entre cidades vizinhas, em um espaço reduzido. As redes de âmbito nacional ou regional possuem um campo de interação maior e nas redes mundiais a interação é mundial. As redes mundiais “costumam ser formadas por cidades grandes em tamanho, em meio a várias especializações relevantes. [...] Um exemplo pode ser as principais praças financeiras internacionais” (DOMÈNECH, 2003, p. 23).

A divisão efetuada a partir do princípio de formação e intercâmbio vai separar as redes de cooperação explícita das de intercâmbio de fluxos. As redes de cooperação explícita são aquelas “destinadas à planificação, realização e intercâmbio de experiências ao redor de objetivos em matéria de políticas urbanas. Neste caso os nós são indivíduos, grupos ou instituições que interagem ao redor de projetos determinados. Os diferentes membros da rede controlam recursos e influências, de maneira que a rede de cidades pode se constituir também em um lobby político”. Já as redes de intercâmbio de fluxos baseiam-se no “intercâmbio de fluxos de bens, pessoas, informação ou capitais, e se caracterizam porque a interação costuma dar-se sobre a base de infra-estruturas físicas, como redes de transporte ou de telecomunicações” (DOMÈNECH, 2003, p. 23).

Vanessa Marx (2008) destaca que as cidades podem participar e formar dois tipos de redes. Uma rede interna que representa a relação da cidade com

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um conjunto de atores de seu território e uma rede externa que representa a relação com outras cidades do território nacional, regional ou mundial. As redes externas, mais especificamente as relações entre cidades de fora do território nacional, são o objeto de estudo desta tese e por isto merecem maior detalhamento:

[...] As redes rompem o modelo rígido de ajudas regionais e estatais para entrar em uma área de reconhecimento de interesses particulares em distintos âmbitos regionais e em uma identificação das cidades e regiões como atores ativos na construção de um espaço internacionalizado, aceitando a lógica em rede no lugar de pirâmide. Em nível territorial as redes abrem uma nova forma de organização territorial que representa a fragmentação de uma hierarquia baseada essencialmente nas funções urbanas (de direção, comerciais, políticas etc.), estabelecendo novos critérios de organização. Desta forma, se estruturam espaços de relação e espaços regionais definidos pelos núcleos urbanos que os formam e não pelas delimitações administrativas. A superposição de redes, e portanto de espaços de relação, inclui um elemento a mais de complexidade a estas novas tendências organizativas. A nova organização territorial emergente se baseia em fluxos e está definida por atores, neste caso, as cidades [...] (BORJA e CASTELLS, 1997, p. 323).

2.3.2 As redes internacionais de cidades

A caracterização das redes internacionais de cidades é tema de grande relevância, uma vez que, a Rede Mercocidades, objeto de estudo desta tese, é um exemplo de redes internacionais de cidades, como será detalhado no desenvolvimento deste item.

Batista (apud Cardarello e Rodriguez, s/d, p. 44) define redes como “uma forma de organização de entidades, instituições, grupos sociais ou indivíduos que se relacionam entre si, segundo uma articulação baseada no princípio da horizontalidade – sem um comando central – buscando alcançar, de forma conjunta, objetivos comuns determinados por eles.” As cidades envolvidas em uma rede mantêm relações baseadas na confiança construída em torno de um interesse comum.

Vanessa Marx (2008, p. 182) acrescenta que as cidades se unem em rede “por questões de identidade, de objetivos comuns, de vizinhança, de luta conjunta, de estratégias de ocupação de espaço ou de identidade cultural e lingüística e por defender interesses compartilhados”.

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Borja e Castells (1997) observam que a participação em redes representa para as cidades uma estratégia de inserção no mercado internacional e uma estratégia de melhoria da sua competitividade, em um contexto de globalização e de avanço nas tecnologias de informação.

Meneghetti Neto (2005) destaca a necessidade das cidades disporem de uma linha telefônica, um computador pessoal e um modem, uma vez que as cidades estão integradas via internet. As cidades utilizam a internet para troca de informações, conseqüentemente, a localização física da cidade não é problema. Cria-se um meio de comunicação entre cidades distantes entre si.

Capello (2000) acrescenta que o conceito de rede envolve três elementos: i) o elemento rede: surgem novos tipos de relações de longa distância entre cidades similares e parceiras, com especialização similar ou diferenciada; ii) o elemento externalidade rede: a participação nas redes permite o aproveitamento de ganhos de escala em relações complementares e dos efeitos sinérgicos nas atividades cooperativas; iii) o elemento cooperação: a base das redes de cidades é o relacionamento cooperativo.

As redes internacionais de cidades se tornaram um caminho para inserção internacional das cidades, para o crescimento da cooperação entre as cidades e para discussão e difusão dos problemas locais e globais de interesse das localidades.

Segundo Borja e Castells (1997, p. 321) os principais objetivos das redes de cidades são:

[...] i) estruturação de um sistema de lobby frente a terceiros; ii) consolidação de espaços territoriais, econômicos, políticos, demográficos etc., mínimos que permitam a geração e utilização de economias de escala e de aglomeração, assim como o desenvolvimento de infra-estrutura e atividades de ponta; iii) a inserção em um sistema internacional que permita o acesso e utilização de um volume crescente de informação e o intercâmbio de experiências e tecnologias; iv) a obtenção de funções de liderança; v) a inserção de cidades, através das redes, em espaços de atuação superiores; vi) [...] inserção nos sistemas de financiamento internacional [...].

Podem ser considerados outros objetivos como: i) conquistar uma melhoria na qualidade de vida da população das cidades; ii) viabilizar a troca de experiências de melhores práticas entre os funcionários dos governos locais; iii) buscar a integração em um país ou região; iv) favorecer o desenvolvimento econômico; v) viabilizar a projeção política das cidades; vi)

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facilitar a implementação de projetos transnacionais; vii) melhorar a comunicação entre povos diferentes (CARDARELLO e RODRIGUEZ, s/d).

Além disso, as redes podem representar um sistema complementar de solidariedade internacional e de aplicação de políticas redistributivas, uma vez que as cidades mais avançadas podem colaborar com a solução de problemas de cidades menos desenvolvidas, mesmo que essas ações sejam bastante limitadas na prática (BORJA e CASTELLS, 1997).

As características centrais das redes de cidades são: i) ausência de um comando central - a relação entre as cidades assume um caráter horizontal, não existindo uma hierarquia; ii) alcance geográfico global ou regional; iii) agilidade – tanto pelo seu caráter horizontal, quanto pela utilização dos meios de comunicação; iv) riqueza de atores – a atuação não se limita aos governantes, mas a um conjunto de atores que são inseridos no cenário internacional; v) democratização do conhecimento – as redes viabilizam um compartilhamento de informações, além disso, por meio das redes, cidades menores podem participar da cooperação internacional; vi) aproximação entre os membros (CARDARELLO e RODRIGUEZ, s/d):

[...] As redes de cidades, ainda que sejam formadas por atores coletivos, normalmente têm como referência pessoas físicas, que alimentam a rede com informação, que estabelecem relações como os outros membros e que participam em encontros virtuais ou presenciais. Frente a isto não podemos deixar de pensar que existem elementos subjetivos e intrínsecos que podem influir na rede. Devem-se dar relações de complementaridade, de cooperação ou de busca de bem comum a todos ou, por outro lado, no sentido hobbesiano, pode ser que se estabeleça um sistema competitivo, normalmente expresso pelo mercado, com pouca transparência e com subgrupos dentro da rede que podem desvirtuar os seus objetivos [...] (VANESSA MARX, 2008, p. 185).

Os diferentes objetivos e as diferentes características das cidades envolvidas permitem uma tipologia das redes de cidades. Vanessa Marx (2008) apresenta uma caracterização das redes de cidades a partir de três elementos: espaço geográfico, composição e objetivos e motivações. A forma de organização e os objetivos das redes são estabelecidos a partir de seus estatutos.

Quanto ao espaço geográfico as redes podem ser nacionais, regionais ou mundiais. Já no que diz respeito a sua composição, as redes podem ser constituídas somente pelos governos locais ou podem ser mistas, onde são aceitos outros atores (universidades, representantes da sociedade civil etc.).

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A autora destaca como objetivos e motivações o fato das cidades: apresentarem a mesma dimensão e, conseqüentemente, os mesmos problemas; buscarem o reconhecimento em uma estrutura de integração regional; procurarem um ambiente de discussão de temáticas comuns, como: meio ambiente, tecnologia de informação, questões econômicas, cultura, entre outras.

Borja e Castells (1997, p. 321) apresentam como principais critérios para a classificação das redes: o âmbito espacial de atuação; as funções - se são redes que buscam a formação de lobby, a cooperação técnica, econômica e a troca de experiências - e a origem – “construídas a partir de relações já existentes, redes construídas sobre interesses complementares, por agentes externos ou por iniciativa dos próprios membros; as características de seus membros etc.”:

[...] As redes globais têm como principal objetivo capacitar seus membros, por um lado incrementando o fluxo de comunicação entre governos locais e por outro fortalecendo seu peso como interlocutores frente aos governos nacionais ou organismos internacionais. Além disso, buscam facilitar o acesso a fontes nacionais e internacionais de financiamento e [...] transformar-se em um eficaz difusor de suas próprias atividades. No que diz respeito ao intercâmbio, [...] pretendem contribuir para [...] o desenvolvimento sócio-econômico local e regional e por último distinguir os fatores que contribuem para a implementação de experiências exitosas [...] (CARDARELLO e RODRIGUEZ, s/d, p. 46).

Uma referência em redes globais é a CGLU (Cidades e Governos Locais Unidos).37 A CGLU é a maior rede de cidades, segundo dados da própria entidade, tem membros em mais de 127 países dos 191 países membros da ONU e mais de 1000 cidades membros diretos.

A CGLU foi criada em maio de 2004, a partir da fusão da IULA (União Internacional de Autoridades Locais) e FMCU (Federação Mundial das Cidades Unidas). Conforme seu estatuto, sua missão é “ser a voz unida e representação mundial dos governos locais autônomos e democráticos, promovendo seus valores, objetivos e interesses, através da cooperação entre os governos locais, e ante a vasta comunidade internacional”.

Conforme Fronzaglia (2005, p. 137), a CGLU articula-se em vários níveis:

37 Existe um questionamento sobre o fato da CGLU poder ser considerada uma rede de cidades, uma vez que apresenta um caráter hierárquico e que representaria uma organização internacional de cidades, questão que será discutida mais adiante.

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[...] i) nível local – prefeitos e demais autoridades locais que, sendo democraticamente eleitos, representam os cidadãos em nível mundial; ii) nível nacional – os prefeitos e membros do conselho se reúnem em nível nacional nas Associações de Governos Locais, que representam os municípios nacionalmente. Membros do conselho de prefeitos são eleitos entre si para representá-los internacionalmente; iii) nível regional – membros do conselho e prefeitos são eleitos para representar uma das sete regiões da organização mundial – África, Ásia-Pacífico, Euro-Ásia, Europa, Oriente Médio e Oeste da Ásia, América Latina e América do Norte; iv) secção metropolitana – atende os interesses específicos das cidades com mais de um milhão de habitantes. Essas cidades elegem prefeitos e membros do conselho para representar as metrópoles na organização mundial; v) nível mundial – membros da CGLU se reúnem em uma Assembléia Geral e, com base nas eleições de nível local e metropolitano, elegem o Conselho Municipal, composto por 318 prefeitos e membros de conselho de todo o mundo [...].

Existe outro agrupamento de redes classificadas como redes territoriais ou geográficas, que são aquelas que representam um grupo de cidades de uma mesma área geográfica. Essas redes trabalham temas de interesse comum das cidades de um mesmo território. São exemplos de redes territoriais: a FLACMA – Federação Latino-Americana de Cidades, Municípios e Associações, a FEMICA - Federação de Municípios do Istmo Centro-Americano, a Mercocidades – Rede de cidades do Mercosul38, a Eurocidades – Rede de cidades da União Européia, entre outras.

A FLACMA foi fundada em novembro de 1981, como braço latino-americano da antiga IULA. Com a unificação e criação da CGLU, segundo informações da própria entidade, a FLACMA passa a representar a América Latina e o Caribe nessa organização mundial e “tem como objetivo principal fortalecer e unificar todas as correntes municipalistas expressadas em distintas organizações”.

A FEMICA é uma organização regional, criada em setembro de 1991, integrada por municipalidades, associações, uniões, ligas e federações centro-americanas, sejam nacionais, regionais, departamentais ou provinciais. Conforme informações da própria entidade, a FEMICA busca “o desenvolvimento do município moderno e competitivo centro-americano, autônomo, dotado de competências e recursos, com capacidade gerencial participativa e transparente capaz de prover os serviços básicos à população, com eficiência e eficácia, e de impulsionar e dirigir um processo de

38 Objeto de estudo desta tese.

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desenvolvimento local que se traduza em melhores condições de vida para todos”.

A Eurocidades é uma rede das maiores cidades européias. Ela foi fundada em 1986 e compreende mais de 130 cidades, em torno de 30 países europeus. A Eurocidades representa uma plataforma onde as cidades membros compartilham conhecimento e idéias, trocam experiências, analisam problemas comuns e desenvolvem soluções inovativas, por meio de Fóruns, Grupos de Trabalho, Projetos, atividades e eventos. O objetivo da Eurocidades é a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos das cidades membros e para atingir esse objetivo ela atua em três dimensões: a dimensão social, a dimensão econômica e a dimensão ambiental.

A Mercocidades é uma rede entre 225 cidades dos países do MERCOSUL (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela) e países associados ao bloco (Bolívia, Chile e Peru). O objetivo da rede é criar um espaço para discussão sobre os rumos do MERCOSUL, além de viabilizar a cooperação internacional entre as cidades da região, compreendida como a troca de experiências, intercâmbios de conhecimento e fóruns de articulação política e defesa dos interesses dos governos municipais.39

O objetivo de busca de reconhecimento e participação da rede no MERCOSUL, até 2004, se dava pela REMI – Reunião Especializada de Municípios e Intendências do MERCOSUL, criada em 2000; a partir de 2004, a REMI foi substituída pelo Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos.

O Foro é formado por um Comitê de Municípios e um Comitê de Estados Federados, Províncias e Departamentos. A Rede Mercocidades é a coordenadora do Comitê de Municípios.

Já o objetivo de relacionamento e cooperação é cumprido pelas suas 14 Unidades Temáticas. São elas: Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Autonomia, Gestão e Financiamento Municipal; Ciência e Tecnologia; Cooperação Internacional; Cultura; Desenvolvimento Econômico Local; Desenvolvimento Social; Desenvolvimento Urbano; Educação; Gênero e Município; Juventude; Planejamento Estratégico; Segurança Cidadã; Turismo.

A Mercocidades e Eurocidades são redes que têm como característica comum o objetivo de buscar reconhecimento na estrutura institucional de processos de integração regional. Vanessa Marx (2008, p. 189) faz um paralelo entre estas duas redes e apresenta as seguintes observações: i) as duas estão inseridas em um contexto de integração; ii) as duas buscam recursos frente às instituições para financiar programas das cidades; iii) a Eurocidades possui “um

39 Maiores detalhes sobre a Rede Mercocidades serão apresentados mais adiante.

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contato mais próximo com algumas instituições da União Européia, como a Comissão, o Parlamento e o Comitê de Regiões, [...] já a Mercocidades tem buscado o reconhecimento no MERCOSUL, que iniciou com a Remi, em 2000, e avança com a criação do Foro Consultivo de Municípios, em 2004"; iv) as duas buscam “capacitar, intercambiar experiências e políticas do mundo local a partir da formação de grupos de trabalho ou unidades técnicas”.

As Unidades Temáticas da Mercocidades e os Grupos de Trabalhos da Eurocidades as identificam com outro tipo de rede, as redes temáticas.

As redes temáticas são aquelas que têm como objetivo tratar uma área específica, mediante diversas modalidades de cooperação. A finalidade é o trabalho comum, o intercâmbio e a cooperação em torno de temas bem definidos. Sua composição envolve cidades de diversas áreas geográficas que discutem temas de interesse comum das localidades, tais como: as comunicações, a energia, o meio ambiente, os transportes, o turismo, o urbanismo etc. Essas redes se estruturam, normalmente, na forma de grupos de trabalho especializados e desenvolvem suas atividades por meio de encontros, seminários, conferências, debates etc. (CARDARELLO e RODRIGUEZ, s/d).

Outro exemplo de redes temáticas, além das Unidades Temáticas da Mercocidades e dos Grupos de Trabalho da Eurocidades, são as redes integrantes do Programa URB-AL.

O Programa URB-AL foi criado em 1995, pela Comissão Européia, sendo um programa destinado às cidades da América Latina e da União Européia. O Programa envolve governos subnacionais (cidades, municípios, intendências, estados etc.) e outros atores como associações, fundações, universidades, empresas, sindicatos, organizações não-governamentais etc.

Em termos gerais, a Comissão Européia é responsável pela coordenação do Programa e os participantes implementam e desenvolvem os projetos. Como um Programa descentralizado, apresenta as seguintes características:

[...] i) mobilização de um grupo de atores locais por meio de redes; ii) implementação por meio de atividades realizadas pelos próprios beneficiários; iii) convites a propostas, induzindo atividades realizadas pelos próprios atores; iv) princípio de co-financiamento das atividades por parte dos beneficiários [...] (GROOTE e CABALLEROS 2004, p. 6).

O Programa já está em sua terceira fase. Em suas duas primeiras fases, o programa tinha como objetivo a troca de experiências e a execução de

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projetos dentro da temática proposta pelos atores envolvidos. As cidades se agrupavam em temas de acordo com suas necessidades e por meio de redes de trabalho buscavam reflexão sobre o tema e a aplicação dos planos criados. Os objetivos gerais do Programa eram, segundo o documento inicial de apresentação do programa: i) apoio para a melhoria nas condições sócio-econômicas e da qualidade de vida da população e ao desenvolvimento eqüitativo dos centros urbanos; ii) promoção e fortalecimento de intercâmbios de experiências, de cooperação e colaboração mútuas entre cidades, regiões e coletividades locais.

A I Fase do Programa URB-AL correspondeu ao período de 1996-2000, apresentando dois encontros bienais de prefeitos da AL e UE e oito redes temáticas. Estas redes temáticas reuniam as cidades em torno de um assunto de interesse comum, gerava programas e estratégias desenvolvidos por todos os participantes e eram coordenadas por determinadas cidades.

Quadro 4 - I Fase do Programa URB-AL: Redes Temátic as e Cidades Coordenadoras

Redes Temáticas da Primeira Fase Cidades Coordenado ras

1. Droga na Cidade Santiago (Chile)

2. Conservação dos Contextos Históricos Urbanos Província de Vicenza (Itália)

3. A Democracia na Cidade Issy-les-Monlineaux (França)

4. A Cidade como Promotora de Desenvolvimento Madri (Espanha)

5. Políticas Sociais Urbanas Montevidéu (Uruguai)

6. Meio Ambiente Urbano Málaga (Espanha)

7. Gestão e Controle da Urbanização Rosário (Argentina)

8. Controle da Mobilidade Urbana Stuttgart (Alemanha)

Fonte: Elaborada pela autora a partir de informações disponíveis em: http://centrourbal.com/redes/redes.htm (2010).

As cidades escolhidas como coordenadoras, tinham como tarefas obrigatórias: i) realizar um seminário de lançamento e duas reuniões anuais (o equivalente a uma para cada ano do exercício de coordenadoria, sendo três anos de coordenação); ii) difundir as informações sobre o tema e discutir as possibilidades de projetos a serem desenvolvidos em comum; iii) animar a participação das cidades membros da Rede Temática.

Com o relativo sucesso da I Fase, a Comissão Européia lança, em 29 de dezembro de 2000, a II Fase do Programa, compreendendo o período de 2001-2006. Na II Fase ampliam-se e diversificam-se as atividades, ampliando-se

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também os recursos destinados ao Programa. Os objetivos gerais do programa são alterados, passando a ser: “desenvolver laços diretos e duradouros entre as coletividades locais européias e latino-americanas pela difusão, aquisição e aplicação das melhores práticas no domínio das políticas urbanas (PROGRAMME GUIDE – PHASE II, s.d, p. 3).

São alterados, também, os objetivos específicos, que passam a ser:

[...] i) reforçar as capacidades de ação das coletividades locais no desenvolvimento social, econômico e cultural das zonas urbanas, incluindo por em marcha equipamentos coletivos; ii) desenvolver as capacidades estruturais das autoridades locais, nomeadamente pela formação de recursos humanos; iii) promover a parceria entre coletividades locais e representantes da sociedade civil; iv) desenvolver as capacidades de ação das pequenas e médias cidades (PMC), no âmbito da internacionalização das suas ações; v) promover as “boas práticas” de desenvolvimento local européias e latino-americanas, respeitando as especificidades locais [...] (PROGRAMME GUIDE – PHASE II, s.d, p. 3).

Foram previstas mais seis novas redes temáticas.

Quadro 5 - II Fase do Programa URB-AL: Redes Temáti cas e Cidades Coordenadoras

Redes Temáticas da Segunda Fase Cidades Coordenador as

9. Financiamento Local e Orçamento Participativo Porto Alegre (Brasil)

10. Luta contra a Pobreza Urbana São Paulo (Brasil)

11. Habitação na cidade Não houve candidata à coordenação

12. Promoção das Mulheres nas Instâncias das Decisões Locais

Diputación de Barcelona (Espanha)

13. Cidades e Sociedade da Informação Bremen (Alemanha)

14. Segurança Cidadã na Cidade Valparaíso (Chile)

Fonte: Elaborada pela autora a partir de informações disponíveis em: http://centrourbal.com/redes/redes.htm (2010).

A dinâmica de seleção dos projetos e de execução das atividades envolvia três atores chaves:

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[...] i) a rede, que patrocina, organiza e supervisiona os temas que posteriormente se formulam os projetos da rede; ii) os coordenadores de projetos que assumem a relação direta com os sócios participantes na iniciativa; e iii) os sócios participantes nos projetos que se comprometem ao desenvolvimento de atividades e responsabilidades concretas dentro de uma ação comum, com o resto dos sócios e/ou participantes (INFORME SINTESE DA II FASE, 2006, p. 30).

O quadro abaixo apresenta as principais mudanças da II Fase em relação à I Fase do programa.

Quadro 6 - Comparação entre as duas primeir as fases do Programa URB-AL

I Fase II Fase

Orçamento 14.000.000 euros 50.000.000 euros

Duração do programa

4 anos 5 anos

Redes temáticas

- 8 redes temáticas;

- Co-financiamento comunitário máximo de 70% dos custos com teto de 350.000 euros por redes;

- Mínimo de 50 membros – máximo de 150 membros;

- Duração: 3 anos.

- 6 novas redes temáticas;

- Co-financiamento comunitário de 70% dos custos com teto de 500.000 euros por rede;

- Máximo de 200 membros;

- Duração: 3 anos.

Projetos Comuns

- Único tipo de projeto comum para troca de experiências e disseminação de boas práticas;

- Mínimo de 5 membros (2 UE e 3 AL) – máximo de 25 membros (10 UE e 15 AL);

- Preferência por diversidades geográficas;

- Duração máxima de 3 anos;

- Co-financiamento máximo de 50% dos custos com teto de 100.000 euros por projeto comum.

- Mínimo de 5 membros (2 UE e 3AL) – máximo de 15;

- Ao menos 4 países diferentes (2 UE e 2 AL);

- Duração máxima 2 anos;

- Co-financiamento comunitário de no máximo 70% dos custos totais;

Projetos do tipo A

- Correspondem, mutatis mutandi, aos projetos comuns da I Fase;

- Máximo de 250.000 euros como co-financiamento comunitário;

Projeto do tipo B

- Focalizam materializar trocas de experiências;

- Máximo de 800.000 euros como co-financiamento comunitário.

Fonte: Programme Guide – Phase II, s.d, p. 11 (2010).

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Em 2006, os vínculos contratuais dos projetos foram encerrados pela Comissão Européia, porém muitas cidades decidiram continuar suas atividades com recursos próprios ou outras fontes de financiamento.

Em março de 2008, foi apresentada a chamada de propostas para a III Fase do Programa, esta nova fase do programa corresponderá ao período de 2009-201240. Segundo o documento publicado na chamada de propostas e que contém as indicações necessárias para os proponentes, os objetivos gerais desta fase envolvem: aumentar o grau de coesão social e territorial, no que se refere às coletividades locais e regionais da América Latina, tendo como objetivo específico:

[...] Consolidar ou promover, apoiando as parcerias e o intercâmbio de experiências em um número limitado de cidades e territórios da América Latina, os processos e políticas de coesão social que poderiam transformar-se em modelos de referência e que fossem capazes de gerar debates e de indicar possíveis soluções aos governos subnacionais da América Latina, que desejam promover dinâmicas de coesão social [...] (URB-AL III, p. 5).

Baseando-se neste objetivo, a Comissão estabelece as prioridades e critérios que devem ser seguidos pelos projetos apresentados, atenta-se para o fato de que: i) as parcerias e intercâmbios de experiências entre governos subnacionais da América Latina e União Européia desempenham um importante papel na difusão e reforço de políticas de coesão social; ii) existem na América Latina, em nível local, experiências e processos interessantes que geram coesão social e que podem conseguir ser modelos de referência; iii) os projetos de geração de coesão social têm um caráter integral que traduz uma visão global de cidade ou território em que se quer viver.

No que tange ao financiamento do Programa, são destinados 50 milhões de euros para a III Fase, a serem distribuídos em dois lotes distintos, o primeiro lote de 44 milhões de euros “financiará propostas de Ações (projetos) que preenchem as condições de elegibilidade”. O segundo lote possui como verba destinada máxima 6 milhões de euros e “financiará uma proposta para as atividades de coordenação, apoio técnico, formação, animação de redes e a divulgação de resultados que contribuir à construção do programa a partir das diferentes Ações do Lote 1” (URB-AL III, p. 6).

O resultado da chamada, publicado em 12 de março de 2008, apresenta os projetos que fazem parte desta nova fase:

40 Inicialmente, o programa corresponderia ao período de 2008-2011. Informação disponível em: http://www.urb-al3.eu/index.php/contenido/urb_al_iii_2009_2012_nuevos_retos?id_submenu_principal=36

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Quadro 7 - III Fase do Programa URB-AL: Projetos se lecionados e cidades coordenadoras

Projeto Cidade Coordenadora Reabilitação sócio-urbana e articulação de políticas para a integração social em áreas centrais degradadas.

Intendência Municipal de Montevidéu (Uruguai).

Fomento à coesão social e integração regional territorial de municípios transfronteiriços do trifínio centro-americano.

Mancomunidade Trinacional Fronteriza Río Lempa (El Salvador, Guatemala, Honduras).

Gestão integral de terras. Municipalidade de Puerto Cortés (Honduras). Convivência cidadã em equidade. Municipio de Santa Tecla (El Salvador). Redução, reciclagem, recuperação e conscientização ambiental.

Comunidade de Arezzo (Itália).

Políticas de bem-estar social integradas. Região Emilia-Romagna (Itália). Aglomerados urbanos em áreas protegidas. Município de Borba (Portugal). Fortalecimento das cadeias produtivas. Região Veneto (Itália). Intermunicipalidade. Governo do Estado de Michoacán de Ocampo

(México). Desenvolvimento urbano integrado. Municipalidade de Stuttgart (Alemanha). Capacitação e emprego feminino. Região Siciliana (Itália). Turismo sustentável. Província de Frosinone (Itália). Estratégias de desenvolvimento local. Ajuntamento de Irún (Espanha). Políticas locais de prevenção a violência. Estado de Pernambuco (Brasil). Reurbanização de espaço comum limítrofe. Município de Ponta Porã (Brasil). MELGODEPRO: Governança local para o desenvolvimento produtivo.

Ajuntamento de Alcorcón (Espanha).

Empreendedorismo social e eco gestão de resíduos urbanos.

Mancomunidade de Municipios da Área Metropolitana de Barcelona (Espanha).

Desenvolvimento local e emigração. Ajuntamento de L’Hospitalet de Llobregat (Espanha).

Gestão urbana e territorial participativa. Região Toscana (Itália). Inovação Institucional. Província de Santa Fe (Argentina). OCO – Oficina de coordenação e orientação. Diputação de Barcelona (Espanha). Fonte: Elaborada pela autora a partir de informações disponíveis em http://www.urb-al3.eu/index.php/contenido/oficina_de_coordinacion_y_orientacion?id_menu_principal=5 (2010).

Existem ainda redes de cidades com perfis específicos comuns. Algumas cidades se agrupam por apresentar características comuns, seja pela realidade que as identifica ou por sua magnitude:

[...] Metrópolis, por exemplo, articula as grandes cidades e capitais, promovendo intercâmbio de experiências em áreas como planificação urbana, desenvolvimento econômico, meio ambiente e transporte, para desenvolver soluções aos desafios comuns das grandes cidades. Há redes cujo denominador comum é o eixo de ser cidades capitais. Este é o caso da União das Cidades Capitais Ibero-Americanas (UCCI), ou a União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas (UCCLA), cujo objetivo principal é fomentar a cooperação entre as autoridades locais das capitais dos países de língua portuguesa, tanto através do intercâmbio cultural, científico e tecnológico como da criação de possibilidades de encontros, com o fim de promover o progresso e o bem-estar de seus habitantes [...] (CARDARELLO e RODRIGUEZ, s/d, p. 47).

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Vanessa Marx (2008) destaca que existe, normalmente, uma confusão entre os conceitos de rede e de organização internacional, isto porque a estrutura da rede exige a formalização a partir de um estatuto e da figura de associação. Um dos fatores que diferem a rede da organização é que a rede estabelece uma relação mais horizontal que as associações ou organizações internacionais, sendo assim, a autora considera a CGLU uma organização internacional de governos locais.

Borja e Castells (1997) consideram as redes como sistema complementares às organizações de representação formal, elas não substituem nem são concorrentes destas organizações. Os autores apresentam um quadro resumo com as principais diferenças entre redes e organizações formais.

Quadro 8 - Principais diferenças entre os organismo s formais e as redes

Organismos Formais Redes Estrutura orgânica Estrutura associativa Base territorial Base atores/agentes Base de representação estatal Plurinacional. Sem base estatal. Visão global Objetivos específicos Representação Presença Organização burocrática Organização adhocrática (maior

flexibilidade) Membros homogêneos Membros heterogêneos Estável/pouco adaptável Cambiantes/Adaptáveis Baixa mortalidade Alta instabilidade Hierarquia (2º/3º nível) Rede Fonte: Borja e Castells (1997).

2.3.2.1 Os resultados da participação em redes inte rnacionais de cidades

Capello (2000) apresenta uma contribuição para a discussão sobre os resultados da participação em redes, no sentido de desenvolver uma caracterização da participação das cidades nas redes e de avaliar as externalidades positivas dessa participação.

Na formulação dessas características e na avaliação das externalidades, Capello (2000) considerou a rede como uma instituição que permite a troca de informações entre gestores das cidades e que viabiliza o desenvolvimento de políticas conjuntas.

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A própria lógica da formação de redes (elemento rede, elemento externalidade e elemento cooperação), apresentada no início desse texto, demonstra os efeitos positivos da rede. “A rede determina uma relação de sinergia privilegiada entre as cidades que cooperam e interagem na mesma área ou função, que inevitavelmente provoca externalidades aos parceiros que cooperam em termos de relações horizontais e desempenham as mesmas funções” (MENEGHETTI NETO, 2005, p. 80).

A principal vantagem econômica da participação em rede é denominada externalidade. O ganho está no aproveitamento das economias de escala, proporcionado pela relação complementar, e na possibilidade de sinergia, propiciada pelas atividades de cooperação. A rede pode distribuir ganhos entre as cidades, sendo assim, as cidades participam das redes com alguns objetivos específicos. Segundo a autora, as metas apresentadas pelas cidades ao participarem das redes são: eficiência, sinergia e competência.

A meta da eficiência está relacionada ao fato de aumentar a eficiência na tomada da decisão. A rede permite que os gestores locais adquiram informações adicionais, o que pode reduzir as incertezas, os riscos e as informações assimétricas. Ao se tomar uma decisão de política urbana, é possível conhecer experiências de outras cidades.

A meta de sinergia corresponde ao fato de existir um esforço coordenado de várias cidades, as cidades não estão competindo entre si e sim cooperando. Existe um ganho de escala, a implantação de projetos conjuntos permite que determinados serviços sejam utilizados por um grupo de população maior.

Já a meta de competência diz respeito ao fato de que a rede permite que os participantes adquiram know-how não disponível localmente em política urbana. O objetivo central é criar soluções inovadoras em termos técnicos e organizacionais para a solução dos problemas enfrentados pelas cidades. Essa meta terá maior chance de ser atingida quanto maior for o esforço cooperativo entre as cidades com problemas semelhantes.

A efetividade dessas três metas dependerá, fundamentalmente, do nível de participação na rede. A partir daí, a autora construiu três condições necessárias em termos de participação para que as cidades obtenham as vantagens das redes. As cidades devem apresentar seriedade ao participar da rede, elas devem participar dos encontros e também promover encontros. É preciso que as cidades sejam flexíveis às mudanças organizacionais nos procedimentos administrativos. As cidades devem ter uma atitude aberta para o trabalho em rede.

O que se observa é que quanto maior o envolvimento do participante maior será a possibilidade dele se beneficiar das externalidades positivas das

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redes. A participação mais efetiva na rede permitirá maior sucesso nas políticas locais. O que significa que o sucesso na rede dependerá do próprio esforço da cidade no trabalho em rede. Os maiores ganhos estariam relacionados com a participação mais ativa. Mesmo assim, existem possibilidades de ganhos mais específicos a partir de uma participação menos ativa.

A partir disso, a autora apresentou uma classificação para o comportamento das cidades nas redes: oportunístico, explorativo, eficiente e estratégico.

As cidades que apresentam o comportamento oportunístico são aquelas cidades que participaram da rede em determinado momento somente para legitimar suas políticas locais. O objetivo é de curto-prazo e não existe o interesse de continuar participando da rede.

O comportamento explorativo é definido como aquele em que as cidades percebem que podem tirar proveito em termos de aprendizagem ao participarem da rede. As cidades participam de forma séria e investem na experiência, explorando as possibilidades.

O comportamento eficiente na rede é aquele em que a cidade participante está buscando atingir a meta de adquirir informações e alcançar eficiência econômica.

Já o comportamento estratégico da cidade na rede é o que gera maior número de casos de sucesso. Essas cidades são aquelas que têm uma utilização mais intensiva da rede, estão mais abertas ao comportamento em rede e têm uma atitude mais cooperativa.

Ao se considerar as redes internacionais de cidades como instrumentos de inserção internacional das cidades na economia global e de desenvolvimento local, acredita-se que os resultados esperados ao se participar na rede sejam: reduzir os efeitos negativos do processo de globalização, melhorar a competitividade das cidades, gerar crescimento e melhoria na qualidade de vida da população local.

Destacam-se como elementos positivos da formação de redes internacionais de cidades:41

• aporta maior riqueza à cooperação internacional, contribuindo com a solidez de suas políticas;

41 Esses elementos representam uma combinação dos trabalhos de Romero (2004a), quando avalia as virtudes da cooperação descentralizada, e dos trabalhos de Mina (2003) e Borja e Castells (1997), quando avaliam as fortalezas e oportunidades geradas pela formação de redes de cidades.

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• pode ser força impulsora de maiores graus de complementariedade, coerência e coordenação das ações descentralizadas entre si e entre estas e as geradas na cooperação bilateral e multilateral – incluindo as de corte tradicional;

• constitui um mecanismo que pode aportar à construção de estratégias de aproximações inter-regionais (como é o caso da União Européia com a América Latina), trabalhando em níveis que a cooperação intergovernamental nem sempre pode alcançar;

• estimula a participação das entidades subnacionais no campo das relações internacionais. Reforça a paradiplomacia, uma vez que é impulsionada por ela;

• ao reafirmar o local através de sua internacionalização, consolida a ação dos governos não centrais no contexto nacional e fortalece sua capacidade negociadora com as instâncias do poder central;

• permite a formação de um perfil de cidade, construindo ou reconstruindo uma identidade;

• viabiliza a reafirmação e renovação das relações entre pares, assim como amplia os contatos entre atores locais;

• constitui-se um espaço para intercâmbio de experiências;

• gera um ambiente positivo para cooperação, por promover relações bilaterais;

• é um esquema flexível para estabelecer vínculos, segundo os interesses e objetivos dos participantes e do conjunto;

• fortalece os processos de integração regional;

• pode viabilizar a cooperação com outros atores internacionais (Estados, ONG etc.) de uma forma coletiva e menos vulnerável;

• pode fortalecer uma posição conjunta dos atores subnacionais a respeito de questões relevantes para o desenvolvimento local;

• pode conquistar um reconhecimento como interlocutor de parte das entidades maiores (Estados, processos de integração etc.);

• pode viabilizar acesso a recursos de ajuda internacional;

• permite aos seus membros a inserção em um sistema superior;

• viabiliza o acesso a um grande volume de informações;

• as funções de liderança e imagem encontram um magnífico aliado na estratégia de redes;

• pode servir de estímulo para o desenvolvimento interno da qualidade de vida e da competitividade;

• permite certa permanência no tempo de uma linha de atuação, já que existem compromissos exteriores, independente de mudanças.

Todos esses elementos poderiam, então, ser apresentados como possíveis resultados da participação mais efetiva nas redes de cidades.

Ao mesmo tempo, os autores apresentam os pontos fracos das redes:

• as estratégias mudam de acordo com as mudanças dos governos subnacionais, condicionando os compromissos assumidos a ciclos de tempo curto;

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• as redes constituídas com objetivos ideológicos ou partidários operam em detrimento das redes com objetivos de maior interesse para as coletividades locais;

• a estrutura horizontal possibilita que a rede seja dominada por entidades locais fortes;

• as redes constituídas em função de objetivos conjunturais se vêem esvaziadas de conteúdo real em pouco tempo;

• as redes que agrupam atores muito distintos em termos de desenvolvimento encontram dificuldade em viabilizar ações conjuntas;

• as redes que não conquistam reconhecimento institucional superior podem ver debilitadas suas ações e sua legitimidade no sistema internacional;

• as redes podem ser influenciadas por certos atores consolidados no sistema internacional (Estados, Etns e ONGs);

• as redes podem diminuir seu peso e capacidade de representação na medida em que as entidades que a compõem não obtêm êxito na definição de agendas independentes das mudanças governamentais;

• o estabelecimento de padrões fixos e fechados de relacionamento entre as partes pode atuar como elemento excludente e perturbador do conjunto;

• a grande diversidade de situações e tipos de organizações das distintas cidades gera, em algumas situações, conflitos de interesses, que comprometem a cooperação;

• os principais beneficiários das redes são basicamente aqueles membros mais potentes e ativos, fato que pode levar a uma distorção das relações internas.

Observa-se que, para se atingir o sucesso no comportamento em rede, é necessário não somente uma vontade efetiva dos participantes, mas uma vontade do conjunto dos participantes e uma atenção especial destes com as possíveis debilidades apresentadas.

2.4 Considerações do capítulo

Apesar das dificuldades das áreas de relações internacionais e do direito internacional aceitaram as relações internacionais entre governos subnacionais, estas relações já são um fato. Resultado do contexto de globalização, as cidades passam a se inserir internacionalmente na busca de solução dos problemas locais, podendo esta ação ser considerada como novo instrumento nas políticas municipais de desenvolvimento local.

A inserção internacional das cidades pode ser efetuada de diversas formas, mas na maioria dos casos são ações cooperativas. Assim como a cooperação entre Estados-nação é chamada de cooperação internacional, a

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cooperação entre governos subnacionais é chamada de cooperação descentralizada.

Um dos caminhos para ação internacional dos governos subnacionais, bastante utilizado, em que se encaminha a cooperação descentralizada, é a inserção em redes internacionais de cidades. É um mecanismo utilizado tanto pelas grandes cidades como pelas médias e pequenas, as motivações é que podem ser diferentes.

Quando se observa a experiência da inserção de algumas cidades no contexto internacional, a partir de entrevistas com especialistas da área42, verifica-se que a preocupação com as questões internacionais e a criação de ambientes específicos na gestão municipal para organizar as relações internacionais das cidades ocorreram, principalmente, no início dos anos 1990.

A área de relações internacionais da cidade de Santo André surgiu em 1997, como uma assessoria ligada ao gabinete do prefeito. Em 2001, foi criada a Secretaria de Relações Internacionais e de Captação de Recursos e, em 2002, esta Secretaria e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho foram unidas em uma só, criando-se a Diretoria de Relações Internacionais43.

Alberto Kleiman, que atuou em Santo André como coordenador assistente, no momento de criação da Secretaria de Relações Internacionais, destaca que a secretaria foi criada depois de quatro anos de experiência de ação internacional, com Jeroen Klink na assessoria ao Prefeito. Como, na época, não existiam muitas secretarias de relações internacionais nas prefeituras, a secretaria de Santo André acabou virando uma referência no tema.

Neste momento, a gestão da cidade incorporava o tema urbanístico e a área internacional estava inserida neste objetivo. Entendia-se que a cidade precisava se modernizar urbanisticamente e que as experiências nesta área estavam em cidades de outros países. A área internacional foi utilizada para buscar estas experiências em outras cidades, para trazer especialistas de cidades de outros países para reflexão sobre o tema e para participar em redes que tinham esta temática como referência. Conforme Kleiman, “Santo André tinha uma estratégia internacional muito clara e que dialogava organicamente com os principais temas da cidade”.

42 Para maiores detalhes verificar o detalhamento das entrevistas incluído no item 3.7 desta tese e as transcrições das entrevistas anexadas à tese. 43 Para maiores detalhes sobre a atuação internacional da cidade Santo André, consultar GODOY, 2007.

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No caso da cidade de São Paulo44, a experiência internacional iniciou antes, mas somente em 2001 foi criada a Secretaria de Relações Internacionais. Na gestão da Prefeita Marta Suplicy (2001-2004), a atuação internacional centrou-se na participação ativa em redes. Para Alberto Kleiman45, que também participou deste processo de criação como coordenador, a preocupação era recuperar a imagem da cidade, que estava bastante desgastada por conta dos escândalos de corrupção de gestões anteriores. Logo que a prefeita assume, existe a preocupação com a criação de uma área internacional. “Existia uma estratégia política internacional inédita e muito ambiciosa”.

A participação ativa nas redes internacionais de cidades estava inserida neste objetivo político maior de projetar a cidade de São Paulo. Existia uma discussão sobre a criação da CGLU – Cidades e Governos Locais Unidos e um dos objetivos principais era promover uma liderança da cidade entre as cidades latino-americanas para eleger a Prefeita Marta Suplicy como presidente da primeira rede mundial de cidades. O que aconteceu em 2004, a prefeita foi a primeira presidente da rede.

Outra cidade brasileira que tem uma ação internacional considerada importante é Belo Horizonte. A atuação internacional de Belo Horizonte inicia-se, em 1996, por meio da secretaria de indústria e comércio.46 A inserção internacional respondeu a uma fragmentação das ações, que aconteceram com muita força a partir de 1996. Em 2000, esta secretaria foi extinta e a secretaria de planejamento urbano absorveu uma nova área que era a gerência de relações internacionais e em 2005, esta gerência foi transformada em Secretaria Adjunta de Relações Internacionais. A secretaria foi criada para dar um sentido político e para coordenar uma agenda, alinhando-a a agenda local.

A atuação internacional de Belo Horizonte, na atualidade, está voltada para a participação em redes e para uma agenda bilateral mais pragmática. Por exemplo, existem parcerias estratégicas com Stutegard, da Alemanha, preparando a cidade para a Copa; com Bogotá, na Colômbia para troca de experiências em um projeto de mobilidade urbana que está sendo implementado em Belo Horizonte. No caso das redes, Belo Horizonte assume a coordenação brasileira da Associação de Cidades Educadoras, a presidência do Centro Iberoamericano de Desenvolvimento Estratégico Urbano e a Secretaria Executiva da Rede Mercocidades.

44 Para maiores detalhes sobre a ação internacional da cidade de São Paulo, consultar Projeto: Gestão Pública e Inserção Internacional das Cidades. São Paulo: CEDEC, PUC e UNESP, 2008; e WANDERLEY e RAICHELIS (org.), 2010. 45 Verificar entrevista Anexo 5. 46 Estas informações foram relatadas por Rodrigo Perpétuo, atual Secretário Municipal Adjunto de Relações Internacionais de Belo Horizonte, conforme entrevista Anexo 6.

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Além disso, atua na captação de recursos, assumindo uma relação com o Banco Mundial, com a Agência Francesa de Desenvolvimento, entre outras instituições, buscando financiamento e mesmo recursos não reembolsáveis para áreas temáticas de interesse da prefeitura. A secretaria dá suporte ao prefeito em suas relações político-institucionais e organiza missões da prefeitura e missões internacionais que visitam a prefeitura de Belo Horizonte.

A intendência de Montevidéu47, que tem uma experiência bastante consolidada de ação internacional, iniciou sua inserção internacional no começo dos anos 1990. A institucionalidade da atuação internacional pode ser dividida em três fases: i) 1990-1995 – fase da fundação; ii) 1995-1998 – fase de desenvolvimento; iii) 1999-atual – fase de consolidação.

Jorge Rodriguéz esclarece que a preocupação com o tema internacional surge em um momento em que o partido do gestor da cidade era diferente do partido do gestor nacional e que o tema integração regional era considerado muito importante para a localidade.48 A institucionalidade foi evoluindo, de um departamento da secretaria geral que dá assistência ao intendente, para uma Divisão de Relações Internacionais e Cooperação no Departamento de Desenvolvimento e Integração Regional. O tema internacional está bastante ligado, hoje, ao tema desenvolvimento local. Existem nesta divisão três áreas de atuação: uma área de relacionamento, uma área que trata dos temas da integração, nesta área estão as redes, e uma área de projetos.

Já no caso de Rosário49, a inserção internacional surge em um momento que a gestão da cidade se preocupava, principalmente, com o desenvolvimento local dentro de um novo perfil da cidade, a partir de um diagnóstico de desativação industrial generalizada no país. Há uma reformulação integral da sua gestão, a partir de dois processos: a formulação participativa de seu primeiro plano estratégico e a descentralização administrativa da gestão. A primeira instância internacional tinha o objetivo de procurar cidades que passavam por processos semelhantes, inicia-se contatos com a cidade de Barcelona, sede da CIDEU – Centro Iberoamericano de Desenvolvimento Estratégico Urbano.

Maria Sol Mina informa que a ação internacional é desenvolvida, hoje, por meio de uma Direção Geral de Relações Internacionais, que se reporta de maneira direta a Secretaria Privada da Intendência. A agenda de trabalho pode ser dividida nos seguintes eixos: agenda internacional do intendente e do departamento executivo municipal (secretários); atividades técnicas de desenvolvimento de planos, programas e projetos; cooperação internacional

47 Para maiores detalhes sobre a ação internacional da intendência de Montevidéu, consultar MONTEVIDEO, s/d. 48 Verificar entrevista Anexo 7. 49 Para maiores detalhes sobre a atuação internacional de Rosario, verificar MINA (2003/4).

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com a formulação de projetos para a busca de fundos de financiamento; funções protocolares de representação, por meio de audiências com embaixadas, organismos, personalidades etc.50

Estas experiências demonstram que o cenário da década de 1990 propiciou uma maior preocupação das cidades com a inserção internacional, conforme fatores desenvolvidos no primeiro capítulo desta tese, e que, apesar das prioridades serem diferentes para cada cidade, a atuação por meio de redes foi considerada por todas as cidades, independente do seu tamanho e do seu perfil. Estas cidades foram Secretaria Executiva da Rede Mercocidades e/ou coordenaram suas Unidades Temáticas em algum momento.

O objetivo deste capítulo foi explicar o tipo de relação que existe entre as cidades, mais especificamente, nas redes internacionais de cidades.

A primeira opção foi se referir às ações internacionais dos governos subnacionais como ações paradiplomáticas. Entende-se paradiplomacia como as relações internacionais dos governos subnacionais. Estas ações têm algumas especificidades, em função do caráter do agente responsável por elas, os governos subnacionais.

A primeira especificidade é que estas ações, quando envolvem a assinatura de acordos ou outros compromissos legais, dependem de uma intermediação do governo nacional. As ações que não precisam de maior formalidade podem ocorrer de forma independente, mas, normalmente, os governos subnacionais procuram comunicar o governo nacional sobre elas.

As principais ações desenvolvidas nas relações internacionais dos governos municipais são: participação em associações e redes internacionais de cidades, o desenvolvimento do city marketing e a presença em eventos internacionais. Estas ações representam a política externa das cidades e, normalmente, independem da intermediação do governo central. Já ações que envolvem o financiamento de projetos municipais, por meio de programas internacionais, dependem da intermediação e, muitas vezes, são estimuladas pelo próprio governo nacional.

Rodrigo Perpétuo, em uma visão mais pragmática, destaca os seguintes âmbitos de possibilidade de atuação internacional das cidades: i) âmbito político institucional – recebendo representantes diplomáticos, recebendo e buscando organismos internacionais como a ONU e suas agências, agências financiadoras como o Banco Mundial, relacionamento com o Ministério de Relações Exteriores para uma harmonização da política externa da cidade com a política externa nacional, entre outras; ii) cooperação internacional – dividida em cooperação bilateral, com cidades que têm projetos específicos, por

50 Verificar entrevista anexa.

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afinidades políticas, geográficas ou econômicas, ou multilaterais, como é o caso da atuação em redes, que podem ser organizadas para buscar financiamento a projetos ou para articulação política de inserção internacional das cidades nos diversos organismos internacionais; iii) dimensão econômica – de atração de investimento, de promoção do território, seja para o turismo, seja para a articulação entre empresários, entre outros.

Maria Sol Mina, em uma perspectiva mais política, entende que a atuação internacional pode ser utilizada para dar visibilidade a valores e orientações político-ideológicas da agenda local que são rejeitadas pelos planos provinciais, estaduais ou nacionais.

Alberto Kleiman acrescenta, nesta perspectiva, a questão da existência de uma bandeira política, algumas ações que todas as cidades do mundo compartilham - uma espécie de “municipalismo internacional”. O que representa um movimento internacional de fortalecimento dos municípios na sua capacidade de gestão, a partir da descentralização das ações e de recursos, bandeiras defendidas por organizações internacionais de cidades, como a CGLU.

Apesar da preocupação dos governos nacionais com relação às ações dos governos subnacionais, no sentido de que elas representariam perda de soberania, o que tem se observado é que isto não acontece, já que as ações são complementares a política externa nacional e se limitam a problemas de interesse da localidade, a não ser em casos mais específicos, onde as localidades estão buscando a independência e usam estas ações com este objetivo.

Uma segunda especificidade é que as ações internacionais das cidades podem ser consideradas mais democráticas, uma vez que permitem maior participação da sociedade civil nas decisões.

As ações internacionais das cidades dependem sobretudo, como constatado em diversos estudos, do perfil do gestor municipal e de como a comunidade que ele representa avalia os seus benefícios. Além disso, elas dependem: da destinação de recursos, de área específica na estrutura organizacional da prefeitura municipal e de profissionais qualificados. O que pode implicar, principalmente no caso da falta desta institucionalidade, em descontinuidade das ações por mudanças na gestão municipal.

Alberto Kleiman destaca que as cidades são atores internacionais, que atuam crescentemente, “só que atuam de forma muito determinada pelas realidades nacionais, sejam históricas, culturais, seja por financiamento ou pela importância que dão a este tema”.

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Maria Sol Mina observa que um dos desafios da inserção internacional das cidades está na maturidade do tema na própria agenda do governo local. Outro desafio é a falta de continuidade das políticas locais, que se observa com certa freqüência, a partir da renovação da administração municipal, caracterizada pela falta de “política de estado local”. “No âmbito internacional, a persistência, a coerência durante o tempo na sustentação de uma agenda, é um fator central”.

Rodrigo Perpétuo acrescenta aos desafios, a difícil compreensão por parte da sociedade civil local da importância do papel que estas áreas têm a desempenhar. “Eu diria que a debilidade institucional em vários níveis, no nível internacional, no nível nacional e no nível local são os principais desafios da atuação internacional mais eficiente”.

Normalmente, os municípios menores e que tem menos condições para manutenção de uma estrutura optam por priorizar a inserção em associações e redes internacionais de cidades. O que não significa que é uma iniciativa somente das cidades menores, mas que para elas seriam o caminho mais viável.

Alberto Kleiman observa que para as cidades maiores a ação por meio das redes talvez não seja a mais indicada, a não ser no caso em que estas cidades é que criam as redes, em uma estratégia de liderança política em determinada região ou tema. Já para as cidades menores, talvez a ação por meio das redes sejam mais indicadas, pois as redes já têm uma estrutura, mas de qualquer forma a cidade terá um custo nesta participação.

Para os secretários e especialistas entrevistados, na sua grande maioria, não existe um modelo único de inserção internacional, mas em qualquer caso deve existir uma estratégia e esta atuação deve estar integrada aos objetivos prioritários locais.

Rodrigo Perpétuo destaca que a atuação internacional do município é uma decisão política, não é uma necessidade. Os prefeitos de cidades menores podem decidir se lançar ou não internacionalmente.

A cooperação internacional das cidades também apresenta especificidades.

A cooperação descentralizada é uma cooperação que tem como objetivo o desenvolvimento em um sentido mais amplo do que o econômico, considerando as dimensões democrática, social, meio-ambiental, cultural etc. Envolvem a consideração das especificidades das localidades e a participação dos principais interessados na solução de seus problemas, características do desenvolvimento econômico local. Participam os seguintes atores: governos locais, organizações não governamentais, associações profissionais e grupos

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de iniciativas locais, cooperativas, sindicatos, organizações de mulheres e jovens, instituições de ensino e de pesquisa, igrejas, entre outros agentes que contribuam para o desenvolvimento. E dependem, em alguns casos, da co-participação dos agentes interessados, podendo ser estimuladas pelos próprios governos nacionais ou por organismos internacionais.

A cooperação descentralizada também apresenta limitações, pois é necessário que existam profissionais especializados, uma estrutura organizacional na prefeitura municipal para desenvolver está atividade e recursos financeiros para a co-participação. Uma limitação especifica da cooperação descentralizada é a operacionalização de avaliação dos resultados, uma vez que, trata-se de uma ação descentralizada.

A inserção das cidades em redes internacionais de cidades minimiza algumas das dificuldades apresentadas anteriormente, mas também tem limitações. Por isto, a importância de estudos destas redes, na expectativa de identificar estas limitações e, na medida do possível, aperfeiçoá-las como instrumentos da política externa das cidades na busca do desenvolvimento local.

As redes internacionais de cidades representam cidades interconectadas, independente da proximidade geográfica, por meio de encontros e dos sistemas de telecomunicações, que buscam atingir um objetivo comum. São ações cooperativas que buscam, na maioria das vezes, a solução para problemas comuns às cidades e a maior representatividade das cidades na definição das políticas internas e externas dos governos nacionais.

Apesar de serem relações entre cidades, elas são desenvolvidas principalmente pelos gestores municipais, ou seja, por indivíduos que, mesmo representando os interesses de suas comunidades, têm valores, objetivos e interesses próprios.

As redes internacionais de cidades, assim como outras redes, têm um caráter associativo e, conseqüentemente, não deveriam apresentar um centro hierárquico e uma organização vertical. Sendo assim, as cidades que compõem a rede teriam a mesma representatividade nas decisões tomadas. Já nos casos em que as redes apresentam certa hierarquia, o que, para alguns autores, contraria o conceito de rede, algumas cidades podem ter maior poder de decisão e estas decisões são condicionadas aos valores, objetivos e interesses dos indivíduos que as representam na rede.

Uma vez que o poder é fragmentado e o conflito é inexorável, observa-se a necessidade de que a rede tenha uma coordenação. E como deveria ser esta coordenação? Conforme a abordagem das redes de organizações, a coordenação da rede precisa estar focalizada em dois elementos: um ligado ao estímulo à cooperação e outro ligado à efetivação dos objetivos propostos.

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Os objetivos propostos podem ser diferentes de acordo com os tipos de redes, mas, no geral, eles podem ser unificados em um tema comum que é o desenvolvimento das localidades. Sejam redes que se proponham a formar um lobby político para inserir os temas de interesse das localidades na integração regional ou redes que busquem o intercâmbio de experiências e técnicas de políticas urbanas, elas têm, no final, um objetivo maior que é o desenvolvimento.

As redes internacionais de cidades representam um instrumento de inserção internacional das cidades, um mecanismo de cooperação entre as cidades e um caminho de difusão e discussão de temas que interessam as cidades. A questão é: o quanto as redes têm cumprido este papel? E se não, o que falta para isto? Parece claro que as redes representam um instrumento de inserção internacional das cidades bastante utilizado, a dificuldade é verificar o quanto existe, realmente, um ambiente de cooperação e de difusão e discussão de temas urbanos.

Os efeitos das relações em rede são denominados externalidades das redes. No caso das redes de cooperação, os ganhos estão no aproveitamento das economias de escala e na possibilidade de sinergia adquirida a partir das redes para atingir os seus objetivos em termos de políticas urbanas ou de formação de lobby político.

Os ganhos estão diretamente ligados com o tipo de utilização que as cidades fazem das redes. A idéia é que as cidades que apresentam participação mais ativa obtêm maiores ganhos. Também neste caso de avaliação da participação em redes internacionais de cidades, existe certa dificuldade de mensuração. Uma das formas é verificar se as cidades apresentam seriedade na participação, se participam e promovem encontros.

Quando os especialistas são questionados sobre os principais resultados da ação internacional, seja por meio das redes ou não, fica clara a dificuldade de mensurar estes resultados. Alberto Kleiman ressalta que o resultado da cooperação é o conhecimento, por exemplo, se um técnico de uma cidade participa de um encontro temático da rede, toma conhecimento das experiências desenvolvidas em outras cidades e volta para sua cidade, discute o tema, transmite sua experiência, ou seja, cria um ambiente de capacitação, o resultado foi positivo.

Jorge Rodriguez observa que, apesar de não existir em Montevidéu um sistema de indicadores para medir resultados, é possível analisar o desenvolvimento a partir de uma ótica política, que indicaria o retorno político que estão tendo as ações internacionais empregadas pelo governo. Outra forma de avaliação é observar o crescimento da cooperação e da captação de recursos para projetos de interesse do governo local.

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O próximo capítulo tem como objetivo desenvolver uma análise da Rede Mercocidades, atentando para identificação da natureza das iniciativas e negociações desenvolvidas, e os atores políticos e sociais envolvidos nesta rede. Trata-se de uma tentativa de afirmar, refutar ou readequar os elementos tratados neste capítulo.

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CAPÍTULO 3 – REDE MERCOCIDADES: A REDE DE CIDADES D O MERCOSUL

A Rede Mercocidades pode ser compreendida como uma associação formada por cidades de países membros e associados do MERCOSUL. Está voltada para reivindicação de maior participação dos municípios no processo de integração regional. A meta final é a criação de um ambiente institucional para as cidades dentro do MERCOSUL.

Viabiliza, ainda, a cooperação internacional entre as cidades da região, compreendida como a troca de experiências, intercâmbios de conhecimento e fóruns de articulação política e defesa dos interesses dos governos municipais.

É uma rede onde estão representados os intendentes, prefeitos e alcaldes. Para Oroño (2009), os integrantes são bastante heterogêneos, a partir de diferentes categorias, o que, ao mesmo tempo em que é bom porque torna o trabalho mais rico, também torna a relação mais complexa.

O prefeito, no Brasil, é o chefe do poder executivo local. “Na Argentina, intendente é o título que recebe o titular do poder executivo de um município”, há duas formas de intendências: aquelas que administram uma mesma província (ex. Buenos Aires) e aquelas “que administram unicamente a planta urbana das cidades” (ex. Córdoba). Um alcalde é um funcionário ou cargo público que está na administração local. “No Paraguai, os intendentes são as máximas autoridades no âmbito municipal. No Uruguai, os intendentes exercem o poder executivo dos governos departamentais. Cada departamento pode ter vários governos locais, um por cidade e sua área de influência” (OROÑO, 2009, p. 137).

A Rede vem crescendo de forma significativa, iniciou com 12 cidades e, atualmente, é composta por 225 cidades membros da Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Bolívia, Chile e Peru.51 Atualmente, todas as cidades do MERCOSUL e países associados, interessadas no processo de integração, podem solicitar seu ingresso formal na Rede. Representa uma população de, aproximadamente, 102.490.000.52

As cidades estão integradas e associadas por meio de encontros e da internet, dessa forma podem compartilhar informações tais como arquivos de documentos, dados, programas de computadores, entre outros. Dispõem de um site próprio (www.mercociudades.org), que proporciona um meio de

51 As cidades associadas à Rede em 2010 estão relacionadas no Anexo 1. 52 Conforme informações das populações das cidades disponíveis na página da rede.

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comunicação entre cidades que estão distantes entre si e permite a criação de um acervo de informações.

Na XXXIII Reunião do Conselho da Mercocidades, realizada em 18 de junho de 2008, em Canelones, a Secretaria Técnica Permanente propõe a criação de uma personalidade jurídica da Rede, tornando-a uma associação civil. O objetivo da personalidade jurídica é ela poder representar os interesses da Rede em outros foros e instâncias internacionais.

Kleiman (2004) apresenta os objetivos da Rede, dividindo-os em: objetivos institucionais, objetivos de relacionamento e cooperação e objetivos relacionados às políticas municipais.

Os objetivos institucionais correspondem à busca de reconhecimento e participação da Rede no MERCOSUL, que é apresentado como primeiro objetivo no Estatuto da Rede: “favorecer a participação das cidades no MERCOSUL, primordialmente em áreas de sua competência”.53 Com a alteração proposta pela Secretaria Técnica Permanente, a redação deste objetivo passa a ser: “Favorecer a participação das cidades na estrutura do MERCOSUL, perseguindo a co-decisão nas áreas de sua competência”.

Os objetivos de relacionamento e cooperação tratam de sub-redes, integradas às unidades temáticas, que procuram criar mecanismos de comunicação e intercâmbio de experiências e informações e formatação de convênios. Esses objetivos podem ser observados em uma grande parte dos outros objetivos apresentados no Estatuto da Rede e na alteração proposta pela Secretaria Técnica Permanente:

• impulsionar a criação de redes de cidades a partir de suas unidades temáticas operacionais, que desenvolvem diversas ações, programas e projetos de interesse comum intermunicipal, adequados ao processo de integração;

• criar mecanismos de comunicação entre as cidades da rede, com a finalidade de facilitar o acesso dos cidadãos aos centros municipais de investigação, desenvolvimento tecnológico e cultura;

• estabelecer e impulsionar convênios e serviços recíprocos entre as diversas municipalidades e as redes que se forem criando;

• promover a cooperação intermunicipal nos campos das ciências e tecnologia;

• desenvolver e potencializar atividades comuns e integradas, vinculadas à cultura, à recreação, aos esportes e ao turismo;

• através das unidades técnicas de representação integrada, efetuar o inventário do patrimônio cultural e histórico das cidades do

53 Disponível em: www.mercociudades.org.

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MERCOSUL necessários para adotar medidas comuns que garantam sua preservação e difusão;

• desenvolver e planificar o turismo regional;

• impulsionar a criação de unidades temáticas intermunicipais, com representação integrada, para a planificação e o planejamento e desenvolvimento de projetos comuns e regionais.

Já os objetivos ligados às políticas públicas municipais, compreendem ações para capacitação de recursos humanos e administrativos, de crescimento e desenvolvimento das cidades, de cooperação e políticas estratégicas para solução dos diversos problemas de interesse dos municípios:

• potencializar os recursos humanos e as experiências administrativas para as municipalidades;

• coordenar a planificação e promover ações vinculadas ao crescimento e ao desenvolvimento urbano das cidades;

• coordenar projetos e desenvolver programas integrados com o objetivo de facilitar a realização de serviços e qualificar a infra-estrutura urbana;

• realizar estudos e colaborar na elaboração de planos e estratégias na área urbano-ambiental, com o objetivo de harmonizar e coordenar as ações nesta área;

• colaborar na planificação de políticas e planos de desenvolvimento das cidades, considerando a necessidade de melhorar a qualidade de vida;

• impulsionar a adoção de políticas frente ao crescimento populacional e prevenir a violência nas cidades;

• impulsionar a adoção de políticas que adequem os projetos locais ao novo espaço regional;

• propor e conscientizar a participação cidadã que conduza ao exercício dos direitos nos âmbitos político, econômico, social e cultural;

• identificar as causas do crescimento das desigualdades sociais, com a finalidade de propor e apoiar soluções possíveis de serem executadas pelos governos locais;

• difundir uma cultura democrática e democratizadora no nível regional e nacional, estabelecendo uma relação mais estreita de cooperação para, através das municipalidades, definir políticas sociais adequadas;

• estudar e impulsionar, através das diversas municipalidades, a implantação de políticas coordenadas para que o setor de baixa renda tenha acesso a todos os serviços públicos e não sejam marginalizados do desenvolvimento social e cidadão.

Para cumprir tais objetivos a Rede dispõe da seguinte estrutura:

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Quadro 9 - Estrutura da Mercocidades

ÓRGÃO MÁXIMO DE DELIBERAÇÃO: ASSEMBLÉIA GERAL DE SÓ CIOS

Integrantes:

Chefes de governo das cidades associadas, eleitos democraticamente.

Funções:

- aprovar o Estatuto e as eventuais alterações;

- eleger os integrantes do Conselho, da Secretaria Executiva e Coordenadores das Unidades Temáticas;

- definir a política geral e as estratégias de atuação da rede;

- aprovar o regulamento interno da Rede;

- decidir sobre os pedidos de ingresso e exclusão de sócios da Rede;

- decidir sobre os recursos e deliberações de outros órgãos da Rede;

- decidir sobre a dissolução da Rede;

- exigir a prestação de contas do Conselho, da Secretaria Executiva e das Unidades Temáticas;

- resolver sobre os casos omissos no Estatuto.

ÓRGÃO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO: CONSELHO DE MERCOC IDADES

Integrantes:

Duas cidades titulares e duas cidades suplentes dos países membros do Mercosul, uma cidade titular e uma cidade suplente dos países associados, e a Comissão Diretiva.

Os membros do Conselho são eleitos pela Assembléia Geral.

A partir da mudança na personalidade jurídica da Rede, o Conselho da Mercocidades é responsável pela Comissão Eleitoral.

Os membros propostos pela Comissão Eleitoral a ocupar funções nos órgãos da Rede serão confirmados e impostos em seus cargos pela Assembléia Geral, mediante maioria simples de votos, constando em atas as designações.

Funções:

- elaborar e apresentar na Assembléia Geral de Sócios os informes de funcionamento e das atividades da Rede em seu mandato;

- manifestar-se em nome da Rede sobre os assuntos de interesse dela, em especial aquelas referentes ao processo integração regional;

- definir e promover eventos que projetem a Rede e que promovam seus objetivos;

- sugerir ações para as Unidades Temáticas da Rede e acompanhar suas atividades;

- manter informadas as cidades associadas à Rede sobre as iniciativas e atividades promovidas por elas.

Comissão Eleitoral – Funções:

- a apresentação dos postulantes a ocupar as distintas instâncias da Rede ante a Assembléia Geral, assim como difundir o resultado;

- tem faculdade para chamar a Assembléia Extraordinária em caso de irregularidades graves na eleição.

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ORGANISMO DE APOIO DA SECRETARIA EXECUTIVA: COMISSÃ O DIRETIVA

Integrantes:

A cidade que estiver exercendo a Secretaria Executiva, a cidade que exerceu a Secretaria Executiva na gestão imediatamente anterior e a cidade que exercerá a Secretaria Executiva na gestão imediatamente posterior.

A partir da mudança na personalidade jurídica da Rede, os membros titulares da Comissão Diretiva formam a Comissão Fiscal .

Funções:

É um órgão de apoio da Secretaria Executiva nos trabalhos de coordenação da Rede.

Comissão Fiscal - Funções:

- solicitar a Secretaria Executiva a convocatória da Assembléia Extraordinária ou convocatória diretamente em caso nos casos em que a Assembléia não o fez ou não pode fazê-la;

- fiscalizar os fundos sociais e suas inversões em qualquer tempo;

- inspecionar em qualquer momento os registros contábeis e outros aspectos do funcionamento da instituição;

- verificar o balanço anual, o qual deverá aprovar ou observar fundadamente antes de sua consideração pela Assembléia Geral;

- assessorar a Secretaria Executiva quando esta o solicite;

- cumprir qualquer outra função de inspeção ou de controle que entenda conveniente ou lhe cometa a Assembléia Geral.

COORD. DOS TRABALHOS DO CONSELHO DE MERCOCIDADES: S ECRETARIA EXECUTIVA

Integrantes:

Exercida, anualmente, por uma cidade membro associada.

O revezamento das cidades se dá na ordem alfabética dos países membros do Mercosul.

Instância responsável por coordenar os trabalhos do Conselho da Rede e por manter arquivados e difundir os seus documentos.

Funções:

- representar oficialmente a Rede e também designar representantes para ela;

- convocar e presidir as reuniões da Assembléia Geral de Sócios e do Conselho, cabendo, quando for necessário, além de seu voto ordinário, o voto de qualidade.

RESPONSÁVEIS POR TEMAS ESPECÍFICOS: UNIDADES TEMÁTI CAS

Unidades Temáticas:

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Autonomia, Gestão e Financiamento Municipal; Cooperação Internacional; Ciência, Tecnologia e Capacitação; Cultura; Desenvolvimento Econômico Local; Desenvolvimento Social; Desenvolvimento Urbano; Educação; Gênero e Município; Juventude; Planejamento Estratégico; Segurança Cidadã; e Turismo.

Funções:

- formular e propor, dentro de sua área temática, políticas comuns para que sejam sugeridas no âmbito do Mercosul;

- promover a investigação e divulgação das experiências desenvolvidas nas distintas cidades do mundo;

- promover eventos de discussão acerca do tema de sua responsabilidade, buscando obter respostas que serão defendidas e difundidas pela Rede;

- preparar um banco de dados com as informações sobre o tema coordenado.

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ÓRGÃO ASSESSOR DA SECRETARIA EXECUTIVA: SECRETARIA TÉCNICA PERMANENTE

Funções:

- desenvolver a memória institucional da Rede;

- apoiar e assessorar o trabalho técnico e administrativo da Secretaria Executiva

- apoiar e assessorar o trabalho do organismo do Mercosul destinado à participação das cidades;

- realizar o acompanhamento do processo de integração, procurando determinar os debates e decisões de interesse para as cidades.

Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações disponíveis em www.mercociudades.org (2010).

A Secretaria Técnica Permanente, criada em 2000, está localizada no Edifício do Mercosul e, atualmente, exerce as seguintes atividades: i) edita o boletim eletrônico ExpresoLocal, ii) apóia a gestão de projetos da rede, compondo em conjunto com a Secretaria Executiva o Grupo de Trabalho responsável pela Cooperação Internacional; iii) contribui para a preparação e convocação das reuniões dos principais organismos da rede; iv) realiza a cobrança de cotas; v) gerencia a página web; vi) realiza um acompanhamento do Plano de Trabalho da Rede.

O patrimônio da Rede Mercocidades é constituído a partir de aportes das cidades associadas (são fixadas contribuições de acordo com o tamanho populacional das cidades), pela renda de suas atividades e por contribuições realizadas por instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais.

A Secretaria Executiva é quem administra os recursos da rede. Esses recursos são destinados a: difusão e publicação das atividades, manutenção do site, gastos de edição da revista Diálogo e o financiamento de eventos.

A Rede Mercocidades tem duas publicações: o boletim eletrônico ExpresoLocal e a Revista Dialogo. O boletim eletrônico ExpresoLocal, criado em 2008, tem o objetivo de apresentar a opinião de diversos especialistas da Rede Mercocidades e as atividades realizadas. Este boletim substituiu a Folha Informativa, que apresentava a agenda das atividades, os resultados das reuniões, a situação do Mercosul e informações sobre as cidades. A Revista Dialogo, anteriormente chamada de Boletim e elaborada pelas respectivas Secretarias Executivas, apresenta o discurso da Rede, a partir dos gestores municipais e representantes do Conselho, Secretaria Executiva e Secretaria Técnica Permanente.

A participação das cidades na Rede reflete a posição dominante dos países no MERCOSUL, com o maior número de cidades da Argentina e do Brasil (70%).

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Gráfico 1 - Participação percentual das cidades por país

Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações disponíveis em www.mercociudades.org. (2010).

A população das cidades da Rede representa, aproximadamente, 31% da população dos países membros e associados do MERCOSUL. As cidades associadas da Argentina representam, aproximadamente, 46% da população do país. Esta representatividade no caso brasileiro é de 31%, no paraguaio é de 20%, no uruguaio é 89%, no venezuelano é 24%, no boliviano é de 26%, no chileno é de 15% e no peruano é de 29%. O que demonstra uma maior representatividade das cidades uruguaias e argentina.

A Rede surge com o objetivo de lançar outro olhar ao processo de integração no âmbito do MERCOSUL, o que será observado a partir do detalhamento sobre sua origem.

3.1 A origem da Rede Mercocidades

Segundo Meneghetti Neto (2002), as discussões iniciais sobre a criação da Rede Mercocidades começam de uma articulação existente entre os prefeitos de Montevidéu e Porto Alegre54. A articulação entre essas cidades se configurava por discussões, seminários, trocas de experiências em políticas locais, políticas públicas etc. Essas atividades foram se aprofundando e, no

54 Tabaré Vasquez e Olívio Dutra.

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governo de Tarso Genro, surgiu, então, a idéia de promover uma articulação que envolvesse todas as cidades do MERCOSUL.55

Depois de algum tempo e de uma articulação da cidade de Porto Alegre com Rosario, a prefeitura de Porto Alegre passa para a Secretaria de Captação de Recursos a incumbência de gerir esse processo, encaminhando a idéia de criação da Rede Mercocidades. José Eduardo Utzig, segundo Meneghetti Neto (2002), o idealizador da Rede, entra nesta Secretaria.

Durante o ano de 1994, as discussões sobre a criação da Rede foram intensificadas. Neste momento, a gestão pública de Porto Alegre cria a Secretaria de Captação de Recursos e Relações Internacionais e justifica essa criação pela necessidade de dar à cidade de Porto Alegre relações econômicas, políticas e culturais com outras cidades, principalmente as cidades do Cone-Sul.

O processo de criação da Rede Mercocidades se deu em março de 1995, na cidade de Assunção, durante a V Reunião de Prefeitos da Sub-Região Cone-Sul da União das Cidades Capitais Ibero-Americanas - UCCI (KLEIMAN, 2004).

No Encontro Internacional “MERCOSUL, opções e desafios para as cidades” os intendentes e representantes das cidades elaboraram a Declaração de Assunção. A Declaração expõe o contexto do MERCOSUL e suas implicações para as cidades, propondo a criação de um Conselho de Cidades do MERCOSUL, denominado “Mercocidades”, que seria conformado a partir de um Encontro de Cidades do MERCOSUL.

A Declaração de Assunção apresenta, claramente, a preocupação dos intendentes e representantes das cidades com a configuração do processo de integração no âmbito do MERCOSUL e a necessidade de que as cidades não ficassem alheias a essa nova configuração regional.

Utzig apud Meneghetti Neto (2002, p. 100) diz:

[...] Nós identificamos que o processo de constituição do MERCOSUL era um processo institucional entre países que tinha um corte exclusivamente econômico. Nesse ponto de vista econômico as grandes empresas, sobretudo as multinacionais, lideravam a integração do ponto de vista de criar uma situação melhor de mercado [...] Nós achávamos que a entrada das cidades poderia criar uma polaridade distinta de integração. Iria ter o poder local inserido nesse processo defendendo [...] uma agenda social, política e econômica inclusiva, mais do ponto de vista dos interesses das empresas médias, além dos interesses dos trabalhadores e criar uma polarização forte, estabelecendo uma nova agenda para o MERCOSUL [...].

55 Meneghetti Neto (2002) acredita que a idéia foi do próprio Tarso Genro.

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Essa argumentação é reforçada pela observação da Declaração de Assunção:56

[...] A transformação dos territórios nacionais dos quatro países em uma só região integrada e um só mercado alterará, inevitavelmente, a relação até agora vigente entre as cidades e suas respectivas áreas de influência [...] A adaptação aos requerimentos dos mercados internacionais, a flexibilidade das estruturas produtivas e comerciais e a capacidade de organizar-se em redes determina o êxito ou o fracasso das cidades [...] Sendo assim, [...] as cidades do MERCOSUL devem reclamar o direito de exercer um rol ativo e autônomo aos governos nacionais, em competências relacionadas à integração regional [...] Surge a necessidade de estabelecer as bases para desenhar políticas urbanas que sejam compatíveis dentro da nova realidade regional, com experiências e necessidades que em muitos casos são complementares [...].

Combinada a configuração do processo de integração, a Declaração inclui os processos de democratização política e descentralização do Estado como argumentos para uma valorização do papel das cidades.

Observa-se que, desde o seu processo de constituição, a Rede Mercocidades questiona a agenda estabelecida pelos governos nacionais para o MERCOSUL. Considerava-se que o MERCOSUL estava voltado às questões comerciais e econômicas. A Rede Mercocidades voltava-se, então, para a defesa dos processos políticos, sociais e culturais, a partir do âmbito das cidades.

Após um período de formulação, ocorreu, em novembro de 1995, em Assunção, a I Cumbre da Rede Mercocidades. Estiveram presentes nesta reunião onze cidades: seis do Brasil, três da Argentina, uma do Uruguai e uma do Paraguai.57 O resultado desse encontro foi a criação da Mercocidades, a designação das cidades coordenadoras das Unidades Temáticas58, a eleição de Assunção como Secretaria Executiva pelo prazo de um ano e Porto Alegre para o período seguinte. Neste momento aprovou-se a Ata de Fundação e a Declaração de Assunção.

56 Disponível em www.mercociudades.org. 57 Cidades do Brasil: Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília. Cidades da Argentina: Rosário, Córdoba e La Plata. Cidade do Uruguai: Montevideo. Cidade do Paraguai: Asunción. 58 Iniciam-se nove Unidades Temáticas, com suas respectivas cidades coordenadoras: Municipalidades e a Universidade (La Plata), Comércio Exterior (Curitiba), Ciência, Tecnologia e Banco de Talentos (Rio de Janeiro), Cultura (Salvador), Turismo (Florianópolis), Gestão Municipal e Planificação Estratégica (Porto Alegre), Planejamento Urbano e Ambiental (Rosário), Desenvolvimento Social – Educação e Saúde (Montevideo) e Legislação e Política Tributária Municipal (Brasília).

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O Informe de Gestão da Secretaria Executiva de Assunção59, de 01 de agosto de 1996, enumera um Plano de Trabalho inicial para a Rede, priorizando a consolidação interna da Rede Mercocidades. Esta consolidação deveria levar em conta que a Rede, para o seu desenvolvimento, precisaria de um nível político, representado pela vontade política dos alcaldes, intendentes e prefeitos, acrescentada ao fato de que todos os municípios tivessem um responsável pelas relações internacionais e pela Rede, com máxima autoridade política; e de um corpo de funcionários e técnicos que assegurassem o funcionamento da Rede e implementassem as orientações das instâncias decisórias.

A Secretaria Executiva de Assunção estabelece alguns temas de interesse das cidades, que deveriam ser priorizados pela Rede: i) políticas locais de desenvolvimento social; ii) planificação estratégica e gestão participativa; iii) modos de gestão de áreas metropolitanas; iv) impacto do MERCOSUL nas cidades; v) sistemas tributários e incentivos para investimentos; vi) capacitação de recursos humanos; e vii) desenvolvimento sustentável e programas locais de meio ambiente.

Um ano depois, realiza-se o segundo encontro, em Porto Alegre. Dezenove cidades participaram desse encontro: nove do Brasil, seis da Argentina, uma do Uruguai, duas do Paraguai e uma do Chile60. Modificam-se as Unidades Temáticas61 e são definidos programas mínimos para cada uma delas, que envolviam a elaboração de dois artigos e a realização de um evento ou um curso na área.

Na Cumbre de Porto Alegre é definida a composição do Conselho da Mercocidades, formado por: Porto Alegre, na condição de Secretaria Executiva; Rosario e Córdoba, como representantes da Argentina; Brasília e Belo Horizonte, como representantes do Brasil; Assunção, como representante do Paraguai; e Montevidéu, como representante do Uruguai. Neste momento, é aprovado também o Estatuto Social e é encaminhada a publicação de um Boletim Trimestral da Rede Mercocidades, editado pela Secretaria Executiva.

59 Disponível em www.mercociudades.org. 60 Cidades do Brasil: Porto Alegre, Florianópolis, Fortaleza, Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Ribeirão Preto. Cidades da Argentina: Buenos Aires, Rosário, Córdoba, Mendonza, San Miguel de Tucumán e La Plata. Cidade do Uruguai: Montevideo. Cidades do Paraguai: Asunción e Concepción. Cidade do Chile: Santiago. 61 Estabelecem-se dez Unidades Temáticas: Desenvolvimento Social (Montevideo), Ciência e Tecnologia (Rio de Janeiro), Comércio Exterior (Curitiba), Desenvolvimento Urbano (Córdoba), Meio Ambiente (Concepción), Cultura (Salvador), Turismo (Florianópolis), Municipalidade e Universidade (La Plata e Asunción), Gestão Municipal e Planejamento Estratégico (Rosário) e Cooperação Internacional (Asunción)

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A Secretaria Executiva de Porto Alegre assume três tarefas principais para a Rede: i) fazer da Mercocidades um espaço real de discussões dos problemas municipais e de compartilhamento e intercâmbio de práticas de gestão bem sucedidas; ii) consolidar a Mercocidades como um instrumento representativo dos atores municipais no processo de integração; e iii) criar mecanismos eficazes de funcionamento, particularmente na área de comunicação da Rede.62

Em dezembro de 1996, ocorre a I Reunião do Conselho de Mercocidades. Nesta reunião definiu-se um plano de ação para fortalecimento e reconhecimento da Rede. Conforme ata desta Reunião63, este plano de ação envolvia as seguintes atividades: i) iniciar um processo de aproximação com a rede de cidades européias, Eurocities; ii) viabilizar reuniões com as autoridades máximas dos países do MERCOSUL, buscando reconhecimento oficial da Rede pelos governos centrais; e iii) promover debates de lançamento público da Rede, procurando estabelecer a melhor forma de relacionamento da Rede com as Universidades, assim como com outras entidades representativas.

Em dezembro de 1998, foi inaugurado o escritório da Mercocidades na sede da Secretaria Administrativa do MERCOSUL, que, em março de 2001, seria transformado em Secretaria Técnica Permanente. Entendia-se que a instalação da Secretaria Técnica no Edifício do MERCOSUL permitiria uma vinculação da agenda da Mercocidades à agenda do MERCOSUL.

A proposta de criação da Secretaria Técnica Permanente, feita na Reunião do Conselho, em 15 de março de 2001,64 apresentava a seguinte proposta de trabalho para esta Secretaria: i) levantar a memória da Rede; ii) sistematizar e difundir informações sobre os órgãos e âmbitos de negociação do MERCOSUL e sobre as questões principais do processo de integração, procurando identificar temas de maior impacto para as cidades; iii) elaborar uma lista de instituições acadêmicas, empresariais, entre outras, que fossem especialistas no estudo do processo de integração.

Somente na Ata de Cumbre de 2002,65 momento em que Assunção exercia a Secretaria Executiva, aparecem eixos estratégicos de gestão da Rede e uma agenda política e temática. Neste momento, estabeleceram-se os seguintes eixos estratégicos para o período (2002/2003): i) complementação produtiva; ii) desenvolvimento de infra-estrutura para a integração; iii) estratégia de integração fronteiriça; iv) desenvolvimento de regiões e compensação de desequilíbrios intra-regionais; v) criação de instrumentos de financiamento e fomento ao desenvolvimento. No que diz respeito à agenda política,

62 Informe da Gestão de Porto Alegre disponível em www.mercociudades.org. 63 Disponível em: www.mercociudades.org. 64 Ata do Conselho 01/01, disponível em www.mercociudades.org. 65 Disponível em www.mercocidades.org.

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estabeleceu-se a vontade política de aprofundar os caminhos da integração, com participação ativa das cidades no processo de integração.

A observação das primeiras atas das Cumbres e das Reuniões do Conselho da Mercocidades permite uma classificação das deliberações das cidades em quatro vertentes: i) promover a consolidação da rede, aumentando os membros; ii) buscar o reconhecimento de outras entidades, organizações e dos governos nacionais, firmando parcerias e convênios nacionais e internacionais; iii) viabilizar a participação das cidades no processo de integração do MERCOSUL, criando uma institucionalidade no âmbito do MERCOSUL; e v) permitir um processo de aprendizado e intercâmbio de informações sobre temáticas de interesse dos governos municipais, desenvolvendo os trabalhos das Unidades Temáticas. Os próximos itens apresentam algumas considerações sobre os avanços nestas linhas.

3.2 A evolução das cidades membros

No início, a Rede Mercocidades assumiu um perfil restrito para a admissão de membros, declarando-se um espaço para cidades capitais, que poderiam contribuir com a Rede pelo seu perfil (KLEIMAN, 2004). Até 1999, somente podiam ingressar na Rede as cidades com mais de 500.000 habitantes. Este perfil de ingresso gerou uma concentração da participação de cidades da Argentina e do Brasil, isto porque os países menores, Paraguai e Uruguai, não possuíam muitas cidades nesta situação, além das capitais.

Atualmente, todas as cidades do MERCOSUL e países associados, interessadas no processo de integração, podem solicitar seu ingresso formal na Rede. As cidades que quiserem se associar a Rede podem fazer a solicitação por escrito ao Conselho da Mercocidades, a cidade conquistará a associação a partir da aprovação da Assembléia Geral. Todas as cidades associadas têm o direito de votar e ser votadas e participar de todas as instâncias estatutárias. As cidades associadas devem contribuir com cotas ordinárias e contribuições extraordinárias; e respeitar as regulamentações e resoluções sociais.

Existem 37 cidades66 associadas que têm uma população superior a 500.000 habitantes, ou seja, 16,4% das cidades associadas. O que demonstra 66 Nove da Argentina (Buenos Aires, Córdoba, La Matanza, La Plata, Lomas de Zamora, Mar del Plata, Quilmes, Rosario e San Miguel de Tucumán); Dezenove do Brasil (Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Contagem, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Guarulhos, Nova Iguaçu, Osasco, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Salvador, Santo André, São Bernardo do Campo, São Paulo); Uma do Paraguai (Asunción); Uma do Uruguai (Montevideo); Três da Venezuela (Barquisimeto, Caracas-Alcadia Mayor e Libertador); Três da Bolívia (Cochabamba, La Paz e Santa Cruz de la Sierra); Uma do Peru (Lima); Nenhuma do Chile.

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que se as regras não tivessem sido flexibilizadas a rede seria muito menor do que é hoje. As cidades associadas de maior tamanho populacional são as brasileiras, mas, como se observará mais adiante, estas cidades não têm participado ativamente da Rede. As maiores cidades associadas da Rede são: São Paulo (pop. 10.405.867) e Rio de Janeiro (pop. 14.367.083).

As maiores cidades associadas de cada país membro e associado são: da Argentina - Buenos Aires (pop. 3.043.431); do Brasil, excluindo São Paulo e Rio de Janeiro, - Salvador (pop. 2.440.828); do Paraguai - Assunção (pop. 502.426); do Uruguai - Montevidéu (pop. 1.338.408); da Venezuela - Caracas-Alcadia Mayor (pop. 3.090.447); da Bolívia - La Paz (pop. 1.552.156); do Chile - La Florida (pop. 365.563); e do Peru - Lima (pop. 8.049.619).

A Rede vem crescendo de forma significativa, iniciou com 12 cidades associadas e depois de quatorze anos, em 2009, já existiam 199 cidades membros.

Gráfico 2 – Cidades associadas por ano

Fonte: Elaborado pela autora, a partir de informações disponíveis em www.mercocidades.org (2010).

O ano em que houve maior ingresso de cidades na Rede foi em 2003 (26 cidades). Neste ano, ingressaram 15 cidades do Paraguai, considerando-se que existem, atualmente, 20 cidades associadas deste país, foi o ano em que a maioria das cidades do Paraguai ingressou na Rede. O que pode ter contribuído para isso foi o fato da cidade de Assunção exercer a Secretaria Executiva.

Em 2007, nenhuma cidade se associou a Rede, representou um momento difícil, pois a cidade que assumiria a Secretaria Executiva (Assunção) não o fez e Morón continuou na Secretaria até que Canelones assumisse a Secretaria Executiva para o período 2008-2009. Em uma reunião dos

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representantes da Secretaria Executiva e da Secretaria Técnica Permanente com a Intendente de Assunção, realizada em dezembro de 2007, a Intendente entregou uma nota expressando sua renuncia a Secretaria Executiva da Rede. Em março de 2008, em Montevidéu, ocorreu uma reunião da Comissão Diretiva e da Secretaria Técnica Permanente, propondo que Canelones assumisse a Secretaria Executiva, o que foi aprovado pelo Conselho.

Com a entrada da Venezuela como membro pleno do MERCOSUL, a tendência é de uma grande incorporação de cidades venezuelanas à Rede. Processo que já se iniciou na XXVI Reunião do Conselho da Rede Mercocidades, nos dias 29 e 30 de maio de 2006, com a apresentação da solicitação do ingresso da cidade: Caracas – Alcaldía Mayor. Nesta reunião, a Secretaria Executiva informou que entre 160 e 200 cidades da Venezuela tinham interesse em ingressar na Rede. Estas cidades fazem parte da Associação Bolivariana de Municípios.

Segundo a Secretaria Técnica,67 no período de 2000 a 2005, as cidades que se associaram à Rede eram cidades pequenas. Isto porque a grande maioria das grandes cidades da região já havia ingressado anteriormente.

O crescimento expressivo de cidades associadas leva ao questionamento sobre a viabilidade de seu formato atual. Jorge Rodriguez e Rodrigo Perpétuo apresentam em suas entrevistas a necessidade de modernização da rede. Identificam a necessidade de se estabelecer uma estrutura mais ágil, uma estrutura que facilite a comunicação, o que é vital para o funcionamento e articulação em nível regional.

Além do crescimento expressivo da Rede em termos de número de cidades associadas, também se observa um crescimento no número de cidades que participam das Cumbres, apesar disto, a representatividade da participação cai, com exceção dos anos de 2003 e 2004. A Cumbre de Buenos Aires, em 2004, foi a que apresentou maior número de cidades participantes: estavam presentes 76 cidades, representando 55,5% das cidades associadas.68

As cidades associadas apresentam diferentes níveis de desenvolvimento econômico, tamanho populacional, entre outros, o que pode gerar maiores dificuldades para algumas cidades desenvolverem determinadas atividades na Rede, uma vez que a organização é horizontal, permite-se a participação aberta das cidades membros, independentemente do nível de compromisso.

A partir das informações disponíveis nas Atas das Cumbres, observa-se que, além da Cumbre de Assunção, em 1995, momento de criação da Rede, as Cumbres que tiveram maior representatividade das cidades associadas foram 67 Em informe da gestão de 2006. 68 Verificar Anexo 2.

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as de 1996 (Porto Alegre) e 1999 (Belo Horizonte) e a que teve menor representatividade foi a de 2006 (Morón).

Tabela 1 - Participação das cidades nas Cumbres da Rede Mercocidades 69

Cumbre Nº. de cidades

associadas

Nº. de cidades

participantes

Nº. de cidades participantes/nº. de cidades associadas

= % 1995 – Asunción 12 12 100 1996 – Porto Alegre 21 19 90,5 1999 – Belo Horizonte 49 31 63,3 2002 – Asunción 97 34 30,1 2003 – Montevideo 123 52 42,3 2004 – Buenos Aires 137 76 55,5 2005 – Santo André 161 55 34,2 2006 – Morón 180 40 22,2 2008 – Canelones 198 48 24,3 2009 - Rosario 199 61 30,7 Fonte: Elaborada pela autora a partir de informações disponíveis nas Atas das Cumbres (2010).

Verifica-se que, quanto mais a Rede cresce em termos de cidades, fica mais difícil para a Secretaria Executiva organizar um encontro com a maioria das cidades associadas. Além disso, parece existir certa constância nas cidades que participam das Cumbres e que assumem a Secretaria Executiva.70

A partir das atas que apresentam a relação das cidades presentes nas Cumbres, pode-se identificar um grupo de cidades que estiveram presentes em todas as Cumbres, desde o ano em que se associaram a Rede, são elas: Buenos Aires, Montevidéu, Rosario, Belo Horizonte, Santo André, Guarulhos, La Matanza, Morón, Maldonado, São José do Rio Preto, Gravataí, Tandil, Camaçari, Canelones, Osasco e Salto. Algumas destas cidades assumiram, também, a Secretaria Executiva, são elas: Buenos Aires, Montevidéu, Rosario, Belo Horizonte, Santo André, Morón e Canelones. O que reforça a participação ativa destas cidades na Rede.

Há outro grupo de cidades que podem ser consideradas ativas, pois participaram da maioria das Cumbres e assumiram a Secretaria Executiva, são elas: Assunção, Porto Alegre e Valparaíso.

Como se observará no item específico sobre as Unidades Temáticas, algumas destas cidades estão entre aquelas que assumiram por mais vezes a coordenação das Unidades Temáticas.

69 As atas das Cumbres de 1997, 1998, 2000 e 2001 não apresentam as cidades participantes. Em 2007, não ocorreu Cumbre. 70 Verificar Anexo 3.

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Quando os entrevistados foram questionados sobre a existência ou não de um grupo de cidades mais ativas e sobre ao que se atribuiria isto, os especialistas consideraram que existe um grupo de cidades que assumiram de certa forma a liderança na Rede.

Jorge Rodriguez entende que existe um grupo pequeno de cidades que representam o núcleo duro da Rede, outro grupo um pouco maior de cidades que coordenam as Unidades Temáticas e um terceiro grupo, composto por mais ou menos 60% das cidades, que só participa das Cumbres, mas que é maior do que o grupo de cidades que contribuem com as cotas, este número é de apenas 40% das cidades associadas.

Rodrigo Perpétuo destaca que toda organização apresenta uma liderança e associa isto à continuidade política, ao fato destas cidades apresentarem uma área de relações internacionais mais consolidada e com profissionais qualificados. O que depende do entendimento que o prefeito tem sobre a ação internacional.

Outra observação relevante é que, além do fato de queda na representatividade, parece existir certo desprestígio da Rede Mercocidades, uma vez que as grandes cidades reduziram sua participação nas Cumbres.

Em 2008, em Canelones, das 48 cidades associadas que participaram da Cumbre, 16 eram cidades com população maior de 500.000 habitantes e 10 eram cidades com população maior de 1.000.000 habitantes. Já em 2009, em Rosario, última Cumbre da Rede que apresenta a lista de participantes em sua ata, das 61 cidades associadas que participaram 18 eram cidades com mais de 500.000 habitantes e 11 eram cidades com população maior de 1.000.000 habitantes.71

Além disso, conforme informações da Secretaria Técnica Permanente, somente 18% das cidades contribuíram com a cota anual da Rede, em 2009-2010. É a menor contribuição desde que estas informações estão sendo disponibilizadas, em 1997 as contribuições correspondiam a 49% das cidades associadas.

Maria Sol Mina reflete sobre a redução do compromisso proativo dos governos associados com a Rede. “Há uma brecha entre o pertencimento real e o nominal na Rede, ao que se soma, também, a rotação das administrações, que, normalmente (desafortunadamente), supõe uma perda de ‘memória institucional’ da participação da cidade na Rede”.

71 Destacam-se as seguintes cidades com mais de 500.000 habitantes que participaram das Cumbres de 2008 e 2009: Buenos Aires, La Matanza, Mar del Plata, Quilmes, Rosario, La Paz, Belo Horizonte, Guarulhos, Osasco, Porto Alegre, Montevideo, Barquisimeto e Caracas.

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Isto pode ser observado no caso da cidade de Santo André, que chegou a assumir a Secretaria Executiva da Rede em 2005-2006 e por um período expressivo a coordenação da Unidade Temática Desenvolvimento Econômico Local, e hoje tem uma participação muito incipiente nos encontros da Rede.

Também é o caso da cidade de São Paulo que teve uma participação relevante na Rede, coordenando inclusive a Unidade Temática Meio Ambiente, mas que, depois da gestão Marta Suplicy, deixou de participar das atividades da Rede.

Jorge Rodriguez considera que, apesar de existir uma descontinuidade na participação de algumas cidades na Rede, associada ou não a descontinuidade política, este processo é positivo porque permite uma renovação da Rede. São mudanças que refletem o caráter democrático e novos governos trazem novas visões, novas expectativas, novas metas que retroalimentam a Rede. “Pode ser que o avanço seja mais lento por causa das mudanças políticas, porém a Mercocidades desde o seu início segue evoluindo”.

Maria Sol Mina inclui aos fatores destacados anteriormente, para justificar a descontinuidade da participação de algumas cidades, as mudanças da integração no âmbito do MERCOSUL e as mudanças dos governos nacionais.

Alberto Kleiman acredita que o desprestígio da Rede está associado a uma falta de modernização da pauta, ou seja, as bandeiras de crítica ao modelo econômico e de integração já não mobiliza as cidades como no momento de sua origem.

Uma preocupação que parece estar na agenda da Rede. É “relevante, no curto prazo, gerar um cenário no qual a condução política da Mercocidades discuta e defina tanto os principais delineamentos políticos, como a dinâmica institucional adequada para alcançar resultados concretos” (ATA DA CUMBRE, 2010, p. 35).

3.3 Os convênios e as parcerias

Firmar acordos e convênios com outras associações de municípios e universidades tem sido o objetivo da Rede desde sua criação. Já em 1996, iniciam-se encontros e reuniões com a Eurocidades e outras associações de cidades. Nos seus quinze anos de existência, a Rede Mercocidades estabeleceu os seguintes acordos e convênios:

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Quadro 10 - Acordos e convênios: anos e instituiçõe s

Instituição Ano Características da Instituição Eurocities 1999 É uma rede de cidades européias que promove uma

plataforma para suas cidades membros compartilharem conhecimentos e idéias, trocarem experiências, analisarem problemas comuns e desenvolveram soluções inovativas, através de uma ampla cadeia de Fóruns, Grupos de Trabalho, Projetos, atividades e eventos.

FEMICA (Federación de Municípios del Istimo Centroamericano) e SEMA (Secretariado de Manejo del Medio Ambiente para América Latina e Caribe) del IDRC – Canadá (Centro Internacional de Investigaciones para el Desarrollo – Canadá/Oficina Regional para América Latina y el Caribe)

2000 A FEMICA é integrada por municipalidades, associações, uniões, ligas e federações centroamericanas (Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Panamá e Costa Rica). O objeto da FEMICA é promover os interesses dos municípios da região, para fortalecê-lo com capacidade gerencial e poder político, impulsionando processos de desenvolvimento e estratégias de combate à pobreza.

O SEMA é um Secretariado Internacional administrado pelo IDRC – Canadá. Este Secretariado facilita a coordenação de instituições na promoção do uso de melhores práticas no manejo ambiental, focalizando sua atuação no campo do manejo dos problemas ambientais.

CCSC (Consejo Consultivo de la Sociedad Civil de la Cancillería Argentina)

2004 Representa um espaço no qual participam empresários, sindicatos, acadêmicos, organizações sociais e ONGs, com o objetivo de promover informação, formação de recursos humanos e ações referentes à política externa Argentina, com ênfase na integração e no Mercosul.

Red de Autoridades para la Gestión Ambiental en Ciudades de America Latina y el Caribe

2005 É uma rede composta por governos locais, organizações sociais e pelo Escritório para América Latina e Caribe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A rede tem como objetivo atuar como um instrumento de vinculação e ação entre as autoridades locais para o fortalecimento da gestão ambiental-urbana das cidades da América Latina e Caribe.

UCCI (Unión de Ciudades Capitales Iberoamericanas)

2005 Uma organização internacional, de caráter municipal, membro consultivo do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, que tem, entre outros objetivos, o de promover o desenvolvimento econômico e equilibrado das cidades capitais ibero-americanas, procurando a solidariedade e a cooperação entre elas, assim como fomentar as relações e intercâmbios de conhecimentos e experiências em todos os níveis da atividade municipal.

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Mercosur Social y Solidário 2005 Inclui os países da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai e dezoito ONGs. Busca introduzir a dimensão social no processo de integração regional do Mercosul e a consolidação do processo democrático em seus países.

Asociación de Universidades Grupo Montevideo

2005 Integrada por dezoito universidades públicas da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, tem por finalidade principal impulsionar o processo de integração através de um espaço acadêmico comum amplo. Desde 1991, desenvolve atividades de intercâmbio e cooperação em matéria de educação superior, investigação científica e desenvolvimentos tecnológicos em áreas de interesse estratégicos para a região. A Associação é constituída por 8 universidades brasileiras (UFSCar, UFMG, UFSC, UFPR, UFRS, UFSM, UNESP e UNICAMP), 7 argentinas (Buenos Aires, La Plata, Córdoba, Rosário, Santa Fé, Entre Rios e Tucuman), 1 uruguaia (Montevideo), 1 paraguaia (Asunción) e 1 chilena (Santiago do Chile).

ARQUISUR (Asociación de Facultades e Escolas de Arquitectura de las Universidades Publicas Del Mercosur)

2006 Integrada por vinte faculdades e escolas de arquitetura de universidades públicas da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, tem por finalidade principal impulsionar o processo de integração através de um espaço acadêmico comum amplo. Desde 1992, desenvolvem atividades de intercâmbio acadêmico e cooperação, em matéria de educação superior em arquitetura e urbanismo, investigação científica, inovação e desenvolvimento tecnológico em áreas de interesse estratégico para a região.

RAC – Red Andina de Ciudades

2007 É uma agrupação de cidades envolvidas no aprofundamento do processo andino de integração regional, cujo objetivo central é apoiar o desenvolvimento dos municípios da região no sentido de administrar eficientemente as urbes, melhorar as condições de vida de sua população, lutar contra a pobreza e construir sociedades locais competitividades.

IHEAL - Instituto de Altos Estudos da América Latina da Universidade Paris 3 - Sorbonne Nouvelle

2007 A missão do instituto é promover e desenvolver na França os estudos pluridisciplinares latino americanos, com uma especial atenção às atividades de formação, reflexão e debate sobre a integração regional e o desenvolvimento.

ILSED – Instituto Latinoamericano de Seguridad y Democracia

2007 A missão do instituto é contribuir com a consolidação e o progressivo fortalecimento do Estado de Direito nos países da América Latina e Caribe, desenvolve suas atividades no campo específico nas transformações dos sistemas de segurança pública.

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UIM – União Iberoamericana de Municipalistas.

2009 A UIM é uma Associação Internacional para o Desenvolvimento que apresenta as seguintes finalidades: a promoção da cooperação e as relações técnicas de intercâmbios entre municípios, pessoal a serviços dos governos locais e estudiosos e investigadores da autonomia e do desenvolvimento local da Espanha e América Latina.

CEFIR – Fundação Centro de Formação para a Integração Regional

2009 O CEFIR tem como objetivo principal promover o intercâmbio de conhecimentos e experiências entre Europa e América Latina em matéria de formulação, gestão e execução de políticas públicas relativas a integração regional. O propósito é criar um “foro permanente” de intercâmbio de idéias e experiências em matéria de integração regional e oferecer em forma continua cursos de formação e aperfeiçoamento dirigidos ao desenvolvimento e reforço de capacidades com amplo efeito multiplicador.

Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações disponíveis em www.mercociudades.org (2010).

Esses acordos e convênios apresentam as seguintes características principais: i) promover a implementação de projetos conjuntos; ii) elaborar estudos conjuntos de temas de interesse da região, destacando-se a integração regional; iii) viabilizar o intercâmbio de informações e conhecimentos; iv) fortalecer as capacidades locais; v) buscar financiamento para projetos comuns; vi) gerar uma visão compartilhada entre a administração pública e a sociedade civil e, mais especificamente, as universidades; vii) colaborar para a difusão das atividades e objetivos das entidades envolvidas; e viii) contribuir para o desenvolvimento estratégico, a inovação tecnológica, a equidade e o desenvolvimento sustentável nas políticas urbanas.

Os informes de gestão da Secretaria Executiva 2008-2009 e da Secretaria Técnica Permanente 2008-2009 apresentam as ações promovidas para o fortalecimento dos vínculos entre a Mercocidades e outras instituições. As atividades giraram em torno, principalmente, da formação e capacitação.

Em agosto de 2008, a Rede promoveu um curso de formação “Cooperação Descentralizada União Européia - América Latina e Internacionalização de Municípios”, desenvolvido no âmbito do Programa de Desenvolvimento Local ART Uruguai e promovido pela Antena Latinoamericana do Observatório de Cooperação Descentralizada Local UE-AL. Os objetivos do curso foram: “i) a identificação dos desafios da cooperação descentralizada UE-AL; ii) a caracterização dos distintos tipos de relações possíveis; iii) a aquisição de noções de gestão de iniciativas de cooperação descentralizada” (INFORME DE GESTÃO 2008-2009, p. 165).

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No período de novembro de 2008 a julho de 2009, foram oferecidas vagas às cidades membros da Rede Mercocidades para participação do Programa Iberoamericano de Formação Municipal da UCCI – União de Cidades Capitais Iberoamericanas.

[...] Os objetivos deste programa são: potencializar o desenvolvimento integral dos municípios iberoamericanos, por meio do intercâmbio de experiências e da realização de estudos sobre problemas comuns às cidades; capacitar os técnicos municipais iberoamericanos nos âmbitos prioritários para o desenvolvimento das cidades; e reforçar a implantação dos serviços municipais, mediante o assessoramento em seu lugar específico [...] (INFORME DE GESTÃO 2008-2009, p. 168).

Em setembro de 2009, no âmbito do projeto “Integração Fronteiriça no MERCOSUL”72, o Programa Subregional MERCOSUL da Agência Espanhola de Cooperação Internacional - AECID, junto com a equipe de execução deste projeto – Intendência Municipal de Canelones (enquanto Coordenadora do Comitê de Municípios do FCCR e Secretaria Executiva da Rede Mercocidades), organizaram uma oficina sobre “Cooperação Transfronteiriça”:

[...] Esta oficina constituiu um espaço de reflexão e capacitação para os futuros governos locais implicados nas iniciativas e ações de integração transfronteiriça. Com o objetivo de identificar novas dinâmicas territoriais e assim poder visualizar os novos espaços de colaboração fronteiriça na região, procura fornecer instrumentos metodológicos para: a identificação das competências territoriais dos diversos níveis de governo, definição de temáticas sensíveis em zona de fronteira, pertinentes às responsabilidades dos âmbitos locais de governo, análises dos marcos jurídicos nacionais, bilaterais e regionais que regulam as vastas zonas de fronteira da região [...] (INFORME DE GESTÃO 2008-2009, p. 173).

Além destas atividades de formação, as diversas instâncias da Rede e algumas cidades associadas participaram dos: XV Workshop Internacional CIFAL – Governos Locais e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio; XVI Workshop Internacional CIFAL – Governos Locais e as Mudanças Climáticas; e XVII Workshop Internacional CIFAL – Políticas Integradas para a Gestão de Recursos Hídricos e Rios Urbanos:

72 Este projeto será detalhado mais adiante.

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[...] CIFAL Curitiba representa um núcleo de entretenimento e capacitação para América Latina e Caribe, através de um fórum aberto para que todas as cidades possam apresentar e compartilhar soluções, considerando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e promovendo o desenvolvimento sustentável das cidades da região. A eleição de Curitiba como representante da CIFAL foi devido ao êxito de experiências em planificação urbana realizadas no município [...] (INFORME STPM 2008-2009, p. 45).

A Secretaria Executiva e a Secretaria Técnica participaram das Jornadas do CEFIR – Centro de Formação para Integração Regional com o objetivo de melhorar a comunicação das instituições do MERCOSUL, habilitando os seus encarregados de comunicação, os seus tomadores de decisão e suas autoridades. Foi uma atividade compartilhada com acadêmicos, jornalistas, representantes da institucionalidade do MERCOSUL e do Programa Somos MERCOSUL.

Jorge Rodriguez informa que as parcerias e os convênios desenvolvidos pela Rede não seguem uma estratégia, seguem, basicamente, os interesses do momento, os interesses particulares ou os temas que a Mercocidades tenha enfatizado nas suas Cumbres.

Outras linhas de ação conjuntas buscavam as reformas institucionais no âmbito do MERCOSUL, com o objetivo de que as cidades pudessem participar da agenda do processo de integração e serão relatadas no próximo item, junto com a descrição dos avanços neste propósito.

Considerando as observações feitas em relação aos resultados das ações internacionais das cidades e da participação em redes feitas no capítulo anterior, este relato dos convênios e parcerias estabelecidas permite considerar que eles melhoraram a capacitação dos gestores e técnicos envolvidos, ou seja, estes convênios e parcerias trouxeram resultados positivos para as cidades associadas.

3.4 A institucionalidade no âmbito do MERCOSUL

Desde sua fundação, como já destacado no item referente à origem da rede, a Rede Mercocidades apresenta uma preocupação com o processo de integração do MERCOSUL e seus efeitos para as cidades. Pode-se dizer que a criação da Rede se dá pela criação do MERCOSUL.

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Além das Declarações, resultantes das Cumbres Anuais da Rede, foram encaminhadas cartas aos presidentes e foram efetuadas visitas junto às Chancelarias, pedindo a inserção das cidades na esfera institucional do MERCOSUL.

Apesar disto, somente em 2000, foi criada a REMI – Reunião Especializada de Municípios e Intendências do MERCOSUL.73 No âmbito da REMI, foram efetuadas sete reuniões: Assunção (2001), Montevidéu (2001), Mar del Plata (2002), Rio de Janeiro (2002), Assunção (2003), Montevidéu (2003) e Buenos Aires (2004).

No começo, a REMI era vinculada diretamente ao Grupo Mercado Comum, porém, com o tempo, se estabeleceu que as recomendações fossem encaminhadas ao FCCP – Foro de Consulta e Concertação Política e, através deste, ao Conselho Mercado Comum. Para Kleiman (2004), essa estrutura dificultava a avaliação das sugestões e tornava, em alguns casos, as demandas irrelevantes.

A I REMI encaminhou ao Grupo Mercado Comum um plano de trabalho que incluía as seguintes variáveis: i) promover a participação dos municípios nas diversas instâncias de interação com os organismos internacionais de cooperação e de financiamento; ii) elaboração de um documento por parte de cada uma das coordenações nacionais sobre a situação dos regimes de autonomia municipal de cada um dos países; iii) intercâmbio de experiências e informações entre cidades com características similares; e iv) inclusão das atividades da Rede Mercocidades.

A II REMI recomendou ao Grupo Mercado Comum que: i) incluísse nas seções nacionais da REMI as cidades membros do Conselho de Mercocidades e cidades Coordenadoras de Unidades Temáticas; ii) solicitasse ao Comitê Técnico de Cooperação do MERCOSUL, rapidez na análise do projeto “Gestão de Resíduos Sólidos das Cidades do MERCOSUL”; e iii) facilitasse o acesso da Mercocidades às informações de Acordos e Resoluções das distintas instâncias do MERCOSUL.

Na III REMI recomenda-se ao Foro de Consulta e Concertação Política a inclusão do Chile na REMI e na IV REMI a inclusão da Bolívia.

A recomendação feita ao Foro de Consulta e Concertação Política na V REMI tratava do estabelecimento de mecanismos de cooperação entre a REMI e o Grupo Ad-Hoc de Integração Fronteiriça do MERCOSUL e a facilitação da participação dos municípios nos trabalhos desse grupo.

A VI REMI se dedica às recomendações no âmbito dos problemas sociais, turismo e cultura, propondo: i) a busca de mecanismos que 73 Resolução 90/00 do Grupo Mercado Comum, de 07 de dezembro de 2000 (KLEIMAN, 2004).

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favorecessem a participação dos municípios nas discussões das políticas sociais desenvolvidas na Reunião de Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do MERCOSUL; ii) a revisão dos mecanismos existentes, buscando maior eficácia na solução das questões aduaneiras que inibissem a circulação dos bens culturais e o tráfego de transportes turísticos terrestres, veículos particulares e coletivos; iii) a revisão dos valores das taxas aeroportuárias que influenciassem no custo do transporte aéreo entre os países do MERCOSUL; e iv) a busca de formas de validação de títulos de pós-graduação para promoção do intercâmbio de conhecimentos e investigações entre os atores do MERCOSUL.

Nesta reunião, repetiram-se as recomendações feitas em reuniões anteriores, até então não atendidas: i) que os organismos do MERCOSUL, que tratam de assuntos vinculados com as temáticas municipais, incorporassem em suas reuniões os representantes das Unidades Temáticas da Mercocidades; ii) que o Grupo Ad-Hoc de Integração Fronteiriça permitisse a incorporação em suas reuniões de representantes das cidades de fronteira e da Comissão Diretiva da Mercocidades; e iii) que o Comitê Técnico de Cooperação do MERCOSUL encaminhasse a análise dos Projetos de “Fortalecimento Institucional da Reunião Especializada de Municípios e Intendências” e de “Resíduos Sólidos”.

Oroño (2009) destaca que na conformação da REMI a opção de estrutura horizontal foi descartada, uma vez que, em seu Art. 2, se estabelece que a Reunião Especializada de Municípios seja composta por representantes de municípios e intendências indicados pelos quatro Estados partes. Esta estrutura mantinha a percepção dos governos nacionais e impediu a construção de uma liderança institucional local.

Para o autor, a REMI não atingiu o objetivo de participação dos governos locais da região na agenda do MERCOSUL, tanto pelo baixo incentivo, como em função das seguintes dificuldades operacionais:

[...] i) integração a partir de designação de funcionários dos governos centrais, que atuavam em pé de igualdade com as autoridades locais eleitas; ii) primazia da lógica inter-governamental de “soma quatro” em detrimento da relação horizontal entre autoridades locais e subnacionais; iii) normas para todos os entes subnacionais em pé de igualdade (intendentes, governadores, alcaldes etc.); iv) poder de veto de seções nacionais (ou ainda de parte delas) que impedia a adoção de resoluções operativas; v) acentuada variação dos participantes, o que dificultava a construção de linhas de ação consistentes no tempo; vi) vinculação no organograma do MERCOSUL (dependência do GMC) que mediava a operacionalidade [...] (OROÑO, 2009, p. 140).

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A atuação da Rede Mercocidades na REMI foi representativa, mas a reivindicação de inserção das cidades no MERCOSUL não se esgotou. Os representantes da Rede entendiam que a participação nas reuniões especializadas não era suficiente, buscou-se, então, a participação nos foros consultivos.

Recomendou-se na VII REMI a revisão da instância de participação das cidades na estrutura institucional do MERCOSUL, contemplando o valor político que as cidades têm e o desenvolvimento efetivo do bloco regional.

O resultado foi que, em dezembro 2004, na Cúpula de Ouro Preto, a REMI foi extinta e foi criado o FCCR - Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos. O Foro se presta ao diálogo e a cooperação das autoridades de nível municipal, estadual, provincial e departamental dos países do MERCOSUL entre si e os Governos Nacionais.74

Depois de dois anos de grande insistência da Rede Mercocidades, o Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos foi instalado, em 18 de janeiro de 2007, na cidade do Rio de Janeiro.

Por meio da Carta do Rio,75 os governos, prefeitos e representantes de governos locais e dos governos nacionais, propõem: i) estabelecer o compromisso de trabalhar pela consolidação do MERCOSUL; ii) iniciar os trabalhos do Foro Consultivo, com base nas propostas feitas durante as reuniões dos Comitês de Municípios e de Estados Federados, Províncias e Departamentos, fortalecendo a agenda do MERCOSUL; e iii) privilegiar o relacionamento com as demais instâncias do MERCOSUL, em particular com o Parlamento do MERCOSUL, com a Comissão de Representantes Permanentes do MERCOSUL, o Foro Consultivo Econômico e Social, o Foro de Consulta e Concertação Política e o Programa Somos MERCOSUL.

As atribuições do Foro, estabelecidas no seu Regulamento76, são:

a) pronunciar-se, por intermédio do GMC, dentro do âmbito de sua competência, emitindo recomendações, seja por iniciativa própria ou a partir de consultas realizadas pelo GMC e pelos demais órgãos do MERCOSUL;

b) cooperar ativamente para promover o desenvolvimento da crescente dimensão política da integração. Para tais efeitos, poderá pronunciar-se para o cumprimento de seus objetivos sobre qualquer questão referente ao processo de integração e sua cidadania emitindo “declarações públicas”;

74 Ata de criação do Foro consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos do Mercosul, disponível em www.mercociudades.org. 75 Disponível em www.mercociudades.org. 76 Disponível em www.mercociudades.org.

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c) dar continuidade, analisar e avaliar o impacto político e social em nível municipal, estadual, provincial e departamental, das políticas destinadas ao processo de integração e as diversas etapas de sua implementação, especialmente nas instâncias referentes ao Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL;

d) propor medidas destinadas à coordenação de políticas para promover o bem-estar e melhorar a qualidade de vida dos habitantes dos municípios, estados federados, províncias e departamentos da região;

e) realizar pesquisas, estudos, seminários e eventos de natureza similar sobre questões de sua competência, de relevância para o MERCOSUL e para o processo de integração, a cargo de sua sessão plenária ou através de seus comitês;

f) estabelecer ou incrementar as relações entre os distintos municípios, estados, províncias e departamentos dos Estados Partes, com vistas a propor medidas destinadas a coordenar políticas para promover o bem-estar e melhorar a qualidade de vida dos habitantes dos distintos municípios, estados federados, províncias e departamentos da região, assim como formular recomendações para tal efeito;

g) contribuir para uma maior participação das sociedades no processo de integração regional, promovendo a real integração dentro do MERCOSUL em nível municipal, estadual, provincial e departamental e colaborar com a construção de uma identidade cidadã regional;

h) promover e estabelecer tratativas tendentes à celebração de acordos interinstitucionais com órgãos e foros da estrutura institucional do MERCOSUL. Em todos os casos, os acordos se celebrarão por intermédio do GMC;

i) estabelecer vínculos e realizar consultas com associações e instituições nacionais ou internacionais, quando seja conveniente ou necessário para o cumprimento de seus objetivos no âmbito da normativa MERCOSUL vigente;

j) tratar qualquer outra questão que tenha relação com o processo de integração em nível municipal, estadual, provincial e/ou departamental;

k) criar instâncias para o estudo de temas específicos, para a continuidade dos acordos alcançados dentro do Foro, organizar e difundir as atividades em nível local, regional e nacional, entre outros temas.

O Foro Consultivo se reúne de forma ordinária ou extraordinária, antes das Reuniões do Conselho do Mercado Comum. As reuniões ordinárias ocorrem pelo menos uma vez por semestre. Além disso, o Foro se manifesta por meio de consenso.

O Foro é formado por um Comitê de Municípios e um Comitê de Estados Federados, Províncias e Departamentos. Outro aspecto da institucionalidade do Foro é que os países membros têm um Coordenador Nacional. A coordenação geral do Foro é constituída pelos Coordenadores Nacionais e pelos Coordenadores em exercício dos Comitês. Os Comitês geram as

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reflexões sobre os acordos alcançados em temas de suas competências e apresentam as suas propostas ao Foro. O Foro coordena e orienta as atividades dos Comitês e encaminha as suas propostas ao CMC, por intermédio do GMC.

Quadro 11 - Os Comitês de Municípios e Estados: rep resentações e atribuições

Comitês Representação e atribuições Comitê de Municípios Representantes: Argentina – Móron, La Matanza, Tandil, C. de Buenos Aires, Florencio Varela, Rosario e Ituzaingó; Brasil – Santo André, São Carlos, Belo Horizonte, Bagé, Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros do Lago de Itaipu, Frente Nacional de Prefeitos, Associação Brasileira de Municípios e Confederação Nacional de Municípios; Paraguay – Asunción; Uruguay – Montevideo, Paysandu, Rocha, Rio Negro, Durazno, Maldonado, Tacuarembo, Canelones e Rivera; Venezuela – Distrito Metropolitano de Caracas. Coordenação: Secretaria Executiva da Rede Mercocidades (Miguel Lifschitz – Intendente Municipal de Canelones/Uruguai – 2010).

Representação: governos municipais, alcaldias, prefeituras ou equivalentes no Mercosul. É composto por no máximo dez representantes de cada Estado Parte e coordenado por um dos integrantes, escolhido pelo próprio comitê e com duração de um ano, sem possibilidade de reeleição consecutiva. Atribuições: a) pronunciar-se sobre as consultas formuladas pelos órgãos decisórios do Mercosul, em matérias de sua competência; b) apresentar propostas e formular recomendações relativas aos temas de interesse do governos locais no âmbito da integração; c) promover o diálogo e a cooperação entre as autoridades de nível municipal dos Estados Partes; d) contribuir para a efetiva aplicação das normas do Mercosul no âmbito local; e) privilegiar a relação com os órgãos e foros da estrutura institucional do Mercosul.

Comitê de Estados Federados, Províncias e Departamentos Representantes: Argentina – Formosa, Corrientes, Santiago Del Estero, Mendoza, Chubut, Santa Fé, Jujuy, Córdoba e Tucumán; Brasil – Acre, Amazonas, Bahia, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Matro Grosso, Pará, Paraná e Rio Grande do Sul. Coordenação: José Alperovich – Governador da Província de Tucuman/Argentina – 2010.

Representação: governos estaduais, províncias, departamentos ou equivalentes no Mercosul. É composto por no máximo dez representantes de cada Estado Parte e coordenado por um dos integrantes, escolhido pelo próprio comitê e com duração de um ano, sem possibilidade de reeleição consecutiva. Atribuições: a) pronunciar-se sobre as consultas formuladas pelos órgãos decisórios do Mercosul, em matérias de sua competência; b) apresentar propostas e formular recomendações relativas aos temas de interesse do governos dos estados federados, províncias e departamentos no âmbito da integração; c) promover o diálogo e a cooperação entre as autoridades de nível estadual, provincial ou departamental dos Estados Partes; d) contribuir para a efetiva aplicação das normas do Mercosul no âmbito subnacional e sub-regional; e) privilegiar a relação com os órgãos e foros da estrutura institucional do Mercosul.

Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações disponíveis em:www.planalto.gov.br/sri/foro_consultivo/estrutura.html (2010).

“[...] As suas recomendações e [...] declarações públicas, bem como os possíveis contatos com outros níveis do MERCOSUL e organizações internacionais, [...] devem ser apresentadas ao GMC [...]” (KLEIMAN e RODRIGUES, 2007, p. 15).

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Segundo Kleiman e Rodrigues (2007), o estabelecimento de Comitês para os municípios e estados e províncias respondeu a uma reivindicação das cidades associadas à Rede Mercocidades. Elas solicitavam maior autonomia das cidades, pois entendiam que as cidades apresentavam uma experiência maior que os estados e províncias na atuação em nível de acordos coletivos, além da diversidade de agendas e da diferença no ritmo das ações.

A Coordenação Nacional do Foro é atribuída, no caso Brasil, pela Subsecretaria de Assuntos Federativos da Presidência da República. No caso da Argentina, a atribuição é da Subsecretaria de Relações Institucionais, do Ministério de Relações Exteriores. Como no caso da Argentina, no Paraguai a atribuição da Coordenação Nacional é feita pelo Ministério das Relações Exteriores. Já no caso do Uruguai, a coordenação é designada pelo Congresso dos Intendentes, uma entidade composta por representantes locais. E no caso da Venezuela, o coordenador é nomeado pelo Presidente da República (KLEIMAN e RODRIGUES, 2007).

As informações disponíveis no site oficial da Rede Mercocidades apresentam os seguintes Coordenadores Nacionais do Foro:77 i) Argentina: não tem um titular, mas somente um adjunto, que é Gustavo Torres (Representante de Regiões Subnacionais da Subsecretaria de Integração Econômica Americana e MERCOSUL – Chancelaria Argentina); ii) Brasil: o titular é Olavo Noleto (Subsecretario de Assuntos Federativos da Presidência da República) e o adjunto é Alberto Kleiman (Coordenador da Assessoria Internacional da Subsecretaria de Assuntos Federativos da Presidência da República); iii) Paraguai: o titular é Manuel María Cáceres Cardozo (Vice Ministro de Relações Econômicas e Integração) e o adjunto é Celso Santiago Riquelme (Ministro de Relações Exteriores); iv) Uruguai: o titular é Ambrosio Barreiro (Intendente de Cerro Largo e Presidente do Congresso Nacional de Intendentes) e o adjunto é Hyara Rodríguez (Intendência Municipal de Montevidéu); v) Venezuela: o titular é Francisco Rangel Gómez (Governador do Estado de Bolívar).

Observa-se que na Argentina, Brasil e Paraguai existe a presença do governo nacional na coordenação e no Uruguai e Venezuela a presença é direta de representantes locais. Este formato é justificado, conforme KLEIMAN e RODRIGUES (2007, p. 17), “pela dinâmica política de cada país, pela maior ou menor importância dada ao tema por parte das entidades ligadas ao MERCOSUL nas estruturas públicas, bem como pelo nível de descentralização e de diálogo federativo presente em cada país membro”. Para os autores, estas diferenças, apesar de darem maior riqueza ao processo, podem também comprometer os seus objetivos.

Um documento encomendado pela Secretaria Técnica Permanente da Mercocidades propõe uma agenda de temas a serem tratados pelo Comitê de 77 Informações disponíveis em www.mercociudades.org, último acesso 01 de junho de 2010.

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Municípios no Foro78. Esse documento enumera as seguintes características: i) a agenda do comitê deve ser formulada a partir de uma orientação política precisa, incentivando a participação dos governos locais no processo de integração, os temas escolhidos devem considerar as necessidades efetivas das cidades e os benefícios concretos para os cidadãos; ii) o Comitê de Municípios poderia colocar o FOCEM – Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL como tema principal na sua agenda, contemplando modalidades específicas para as diversas cidades, uma vez que as necessidades são diferentes; iii) o Comitê de Municípios deveria também abordar o tema da política de fronteira do MERCOSUL; iv) o Comitê de Municípios poderia incentivar uma política destinada às questões de identidade regional; e v) o Comitê de Municípios poderia impulsionar uma série de medidas relacionadas às políticas de interesse das cidades, como políticas sociais, de desenvolvimento econômico local, de meio ambiente, cultura, entre outros. A Rede Mercocidades ofereceria um valor agregado representativo a essas discussões, a partir de suas Unidades Temáticas.

Um documento de considerações sobre o Foro, elaborado pela Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República do Brasil,79 destaca que o Foro Consultivo pretende reunir os governos subnacionais em torno de uma agenda comum da integração regional, valorizando e potencializando as diversas experiências dos governos subnacionais já em andamento. O Foro dará maior relevância, dentro do MERCOSUL, às agendas do desenvolvimento territorial, local, urbano e regional.

A criação do Foro responderia a um compromisso com uma maior abertura democrática do MERCOSUL. Conforme Kleiman e Rodrigues (2007), a criação do Foro, em conjunto com a criação do Parlamento do MERCOSUL e a incorporação das Cimeiras Sociais no processo político, cumpriria o objetivo institucional de avançar nessa proposta.

As primeiras reuniões do Foro80 se preocuparam com a sua institucionalidade, buscando a aprovação do seu Regulamento. Além disso, são lançadas as propostas: i) da criação de um grupo de trabalho para discussão da integração fronteiriça; ii) da criação de um canal de diálogo do Foro com outras instâncias do MERCOSUL (Parlamento do MERCOSUL, a Comissão dos Representantes Permanentes do MERCOSUL, o Foro Consultivo Econômico e Social, o Foro de Consulta e Concertação Política e o Programa Somos MERCOSUL); iii) de maior participação das instâncias

78 CHASQUETTI (2006). El Mercosur y las ciudades – Apuntes para uma Agenda del Comité de Municípios del Foro Consultivo de Municipios, Estados Federados, Provincias y Departamentos del Mercosur. 79 Disponível em www.planalto.gov.br/sri/foro_consultivo/info_foro.html 80 I Reunião Ordinária, Assunção, em 28 de junho de 2007; e II Reunião Ordinária, Montevidéu, em 17 de dezembro de 2007.

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nacionais na aplicação dos Fundos de Convergência Estrutural (FOCEM); e iv) de impulsionar o Instituto Social do MERCOSUL.

Na XIII Cumbre da Mercocidades, em Canelones, realizada no período de 16 a 19 de junho de 2008, a Rede apresenta uma proposta para elaboração de recomendações do FCCR ao GMC sobre o FOCEM.

[...] O FCCR propõe ao GMC adotar uma recomendação para que os governos locais (municipais e regionais) participem nos processos de elaboração, discussão e implementação do FOCEM (inclusive sua participação no conselho assessor da Unidade Temática respectiva), de acordo com os delineamentos políticos, metodológicos e financeiros, debatidos e acordados pelos Intendentes e Governadores dos países do MERCOSUL [...] (ATA DO CONSELHO 01/2008, p. 26).

Os projetos a serem apresentados pelo FCCR ao FOCEM respeitariam as seguintes características: i) construir uma identidade regional, respeitando os valores compartilhados na região e os princípios apresentados no Regulamento do FCCR e as suas prioridades temáticas; ii) ser propostos por governos locais da região, com a participação de pelo dois países do MERCOSUL, incorporando a participação cidadã e a sociedade civil, com a participação de diversos atores; iii) os fundos devem apresentar uma orientação dinâmica, a partir de delineamentos estratégicos, com avaliação do seu cumprimento, transparência e publicidade.

Para a Secretaria Técnica Permamente da Mercocidades (2008-2009, p. 35), são necessários alguns avanços para que o FOCEM incorpore as instâncias subnacionais: “capacidade técnica para elaborar um projeto, um problema cuja solução contribuiria de forma eficaz para aprofundar a integração, e o mais importante: vontade política dos Estados Centrais de incorporar as suas instâncias subnacionais ao FOCEM”.

Na XIII Reunião do Foro, realizada nos dias 14 e 15 de dezembro de 2008, na Bahia, são apresentados os convênios e as parcerias realizadas com: a Agência Espanhola de Cooperação e de Desenvolvimento (AECID), Cooperação Andina de Fomento (CAF), Parlamento do MERCOSUL, Organização Internacional do Trabalho e Fórum de Autoridades Locais e Amazônicas.

A XVIII Reunião do Foro, realizada no dia 07 de dezembro de 2009, em Montevidéu, apresenta os seguintes eixos de trabalho: i) acesso dos governos subnacionais a recursos do FOCEM; ii) integração fronteiriça; iii) integração produtiva; iv) acordo interinstitucional com o Parlamento MERCOSUL.

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Nesta reunião, apresenta-se uma proposta de recomendação do FCCR ao GMC sobre o FOCEM. Recomenda-se que os governos locais (municipais e regionais) participem nos processos de elaboração do FOCEM. Aspira-se que os governos locais possam apresentar projetos em um montante de 20% do FOCEM anualmente. Apresenta-se, ainda, uma sugestão dos componentes que seriam considerados nos projetos apresentados pelo FCCR: identidade regional, prioridades temáticas do FCCR, liderada por governos locais da região, participação cidadã e da sociedade civil em todas as etapas; indicando-se inclusive os seus aspectos metodológicos.

Para Kleiman e Rodrigues (2007, p. 22), a qualificação técnica do Foro representaria um dos grandes obstáculos para atingir seus objetivos. Falta uma estrutura mínina para “resolver questões cotidianas, como organização de reuniões e seminários, textos técnicos, a mobilização de membros e outras atividades, o Foro depende inteiramente de seus membros, mas de uma forma individual.”

Na avaliação da Secretaria Técnica Permanente da Rede Mercocidades,81 o FCCR tem avançado em suas temáticas e conseguiu despertar o interesse de outros organismos de fora do MERCOSUL, mas não têm conseguido consolidar a participação local no âmbito da integração.

O mesmo informe destaca que a agenda responde majoritariamente à visão das Chancelarias e de organismos dos Estados Membros, como é o caso da Secretaria de Assuntos Federativos do Brasil, e não às diretrizes e agenda dos governos locais.

Quanto à reunião dos coordenadores, segundo a STPM (2008-2009, p. 28), “não tem conseguido superar os aspectos institucionais, nem encontrar de forma satisfatória uma agenda de discussão e um formato de funcionamento que incentive a participação dos eleitos”. A conclusão é que, tanto o pleno como a reunião de coordenadores do FCCR deverá passar por uma revisão para resolver os problemas de institucionalidade na integração.

[...] O fato de a coordenação nacional ter sido baseada nos Poderes Executivos nacionais revelou-se um obstáculo para a constituição de uma agenda própria dos governos subnacionais, levando a uma subordinação dos eleitos locais a tecnoburocracia do executivo. A resposta positiva a recomendação feita pelo FCCR, em 2007, ao GMC, que se refere à necessidade de uma coordenação exercida por representantes eleitos, facilitaria e promoveria um avanço mais vinculado aos objetivos do Foro [...] (CAETANO G., VÁZQUEZ M. e VENTURA D., 2009, p. 60).

81 Conforme Informe da Gestão da STPM (2008-2009).

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Oroño (2009) considera que a criação do FCCR demonstra o reconhecimento da importância da dimensão local para o tema da integração, uma vez que se cria um organismo com certa autonomia dos governos centrais, mas continua, assim como no caso da REMI, apresentando características que limitam esta proposta:

[...] i)se decidiu organizar a estrutura do FCCR em dois comitês (um dos Estados Federados, Províncias e Departamentos e outro de Municípios); ii) se dispôs que o FCCR dependeria do Grupo Mercado Comum, por que um organismo integrado por governantes eleitos fica subordinado, institucionalmente falando, a um integrado por funcionários designados; iii) os participantes (até dez por Estado Membro) são eleitos em seu governo local, porém designados pelo governo central de seu país [...] (OROÑO, 2009, p. 140).

A Rede Mercocidades, a partir da Secretaria Executiva, como coordenadora do Comitê de Municípios, tem encaminhado diversas propostas que avançam na discussão sobre a participação das cidades na agenda do MERCOSUL. Estas atividades se operacionalizam a partir da organização das diversas reuniões do Comitê de Municípios e de diversos encontros, oficinas e cursos que discutem o tema.

As propostas atuais de trabalho mais específicas para o aprofundamento do projeto MERCOSUL, apresentam as seguintes linhas de ação:

i) fortalecimento da institucionalidade local no MERCOSUL, contribuindo para a agenda do FCCR; ii) desenvolver uma agenda positiva da integração com capacidade propositivas através de projetos (entre outros apresentar ao Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL) que viabilizem a integração dos territórios; iii) implementar estratégias de comunicação que contribuam para difundir os avanços do projeto MERCOSUL e afiançar a construção da cidadania do MERCOSUL; iv) buscar alianças com âmbitos de governos locais que vivam processos de integração regional como CAN, SICA, buscando intercâmbio de experiências com governos locais europeus e suas associações a luz do processo UE; [...] v) abrir o diálogo com as diferentes expressões da sociedade civil em cada um dos países membros (movimentos sociais, trabalhadores, cooperativas, ambientalistas); vi) complementar a agenda com o Parlamento do MERCOSUL; vii) acompanhar as iniciativas da plataforma “Somos MERCOSUL” (INFORME DE GESTÃO 2008-2009, p. 26).

As principais atividades desenvolvidas neste sentido foram: i) entre outubro e dezembro de 2008 e junho e julho de 2009 - III e IV Etapas do Curso

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de Capacitação Virtual “Todos Somos MERCOSUL, ampliando a cidadania regional”; ii) junho de 2009 – Workshop: “A Dimensão Local no Processo de Reforma Institucional do MERCOSUL”; iii) julho de 2009 – Seminário: “A Reforma Institucional – A hora das respostas”, discussão do livro “A reforma institucional do MERCOSUL. Do diagnóstico a propostas” (Coord. Gerardo Caetano).

Durante o período mais recente, as discussões do FCCR giraram em torno da definição da Coordenação do Comitê de Municípios, sobre a manutenção ou não da coordenação pela Secretaria Executiva da Rede Mercocidades, assim como a dificuldade de gestão de assuntos como a integração fronteiriça, a página web do FCCR, entre outros.

Os especialistas consultados consideram que o FCCR é um avanço em relação a REMI, mas que o seu caráter consultivo ainda não é suficiente para o que se deseja em termos de alteração na institucionalidade do MERCOSUL.

Rodrigo Perpétuo considera que a criação do FCCR foi um avanço, pois a REMI era uma reunião temática, ou seja, entendia-se o município como um tema, a elevação de uma reunião especializada para um fórum consultivo eleva os municípios de um tema para um ator político relevante, respeitado. O desafio é como usar este espaço.

Para Jorge Rodriguez o crescimento de status esperado não aconteceu, porque o Foro continua dependendo do GMC, não depende do CMC ou da Cumbre Presidencial, ou não é um órgão de decisão do MERCOSUL. O avanço é o reconhecimento da Mercocidades como espaço de construção própria ao dar a Rede a responsabilidade da Coordenação do Comitê de Municípios. Sendo assim, existe a necessidade de continuar reclamando, pois existem outros espaços no escalão de maior hierarquia.

Alberto Kleiman ressalta que, apesar de insuficiente, o FCCR está lá, o que falta agora é construir uma pauta do que as cidades querem do MERCOSUL e começar a usar este espaço. “O FCCR, além do espaço institucional, ele pode ser uma plataforma, um espaço de encontro, de elaboração, só que para isso ele precisa ser fortalecido”.

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3.5 Unidades Temáticas

As Unidades Temáticas constituem instâncias responsáveis pelo desenvolvimento de temas relevantes da integração intermunicipal. Sua coordenação é descentralizada e a participação é voluntária. É competência de cada uma das 14 Unidades Temáticas formular e propor, dentro de sua área, políticas comuns para serem sugeridas no âmbito do MERCOSUL, assim como propor a investigação e a divulgação das experiências desenvolvidas.

Para Kleiman (2004), as cidades coordenadoras das unidades temáticas assumem a autoridade política da rede nas discussões em determinados campos.

A seguir são apresentadas as 14 Unidades Temáticas atuais, incluindo a data de sua criação, a cidade coordenadora atual e as suas temáticas principais.

Quadro 12 - Unidades Temáticas: Cidades coordenador as, data da criação e principais temáticas

UNIDADES TEMÁTICAS CIDADES COORDENADORAS

CRIAÇÃO TEMÁTICAS

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Canelones

1996

- preservação do solo;

- biodiversidade;

- preservação e recuperação dos meios aquáticos;

- preservação e recuperação dos meios atmosféricos;

- educação ambiental;

- gestão de resíduos sólidos.

Autonomia, Gestão e Financiamento Municipal

Neuquén

1998

- processos de modernização administrativa;

- participação cidadã;

- sistemas jurisdicionais;

- autonomia e arrecadação municipal.

Ciência, Tecnologia e Capacitação

São Carlos

1995

- cooperação científico-tecnológica;

- organiza anualmente um prêmio da melhor investigação no âmbito da Mercocidades.

Cooperação Internacional

Grupo de trabalho = Comissão diretiva + Secretaria Técnica

Permanente

1996

- ações de capacitação e informação sobre temáticas de interesse da rede;

- criar um banco de dados de experiências internacionais positivas;

- buscar novas ferramentas de cooperação internacional.

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Cultura

Buenos Aires

1995

- literatura;

- música;

- fotografia;

- pintura;

- dança;

- artes plásticas;

- cinema;

- organiza um prêmio de melhor projeto cultural em execução.

Desenvolvimento Econômico Local

Guarulhos

1997

- identificação de atividades dinâmicas não tradicionais como o turismo, os serviços financeiros e entretenimento;

- desenvolvimento da gestão de qualidade;

- consolidação de uma base de informação econômica para os membros da rede e para publicação de experiências de financiamento no âmbito municipal para micros e pequenas empresas;

- organiza feiras de negócios.

Desenvolvimento Social

Montevideo

1995

- novos modelos de gestão de políticas sociais;

- as dimensões sociais da pobreza;

- estratégias políticas de grupos vulneráveis;

- coordenação interjurisdicional das políticas sociais;

- elaboração de uma Agenda Social para o Mercosul.

Desenvolvimento Urbano

La Victoria de Lima

1996

- propostas de políticas comuns;

- investigação de questões da disciplina urbanística;

- difusão das experiências que contribuam ao melhoramento das gestões urbanas locais;

- promove um concurso internacional de fotografia urbanística.

Educação

Junín

1998

- descentralização dos sistemas educativos;

- consolidação dos novos campos de trabalho;

- formação do docente;

- desenvolver propostas de educação a serem apresentadas aos Ministérios de Educação.

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Gênero e Município

Asunción

1999

- participação das mulheres no desenho das políticas públicas;

- eliminar as desigualdades que limitam os direitos das mulheres;

- Projeto: Há uma agenda regional das mulheres: Políticas locais de gênero na Rede Mercocidades.

Juventude

Jesús Maria

2004

- refletir sobre os avanços e dificuldades nos processos de descentralização e integração regional;

- potencializar a rede de organismos locais de juventude com a finalidade de fomentar o intercâmbio de experiências em políticas locais de juventude e participação juvenil;

- comparar mecanismos de funcionamento das secretarias e escritórios de juventude com o objetivo de integrá-las.

Planejamento Estratégico

Morón

1995

- identificar práticas exitosas e soluções a problemas comuns;

- apresenta anualmente um delineamento para a concretização dos planos estratégicos das cidades da Rede.

Segurança Cidadã

Canoas

2004

- levantar experiências em curso na região;

- desenvolver um sistema de indicadores;

- criar um banco de dados sobre melhores práticas;

- incrementar as capacidades dos governos locais;

- investigar as possibilidades de financiamento e condições de sustentabilidade de políticas locais em matéria de seguridade cidadã.

Turismo

Porto Alegre

1995

- revitalização dos centros;

- artesanato;

- marketing turístico;

- turismo religioso;

- turismo rural;

- qualificação dos recursos humanos;

- organiza anualmente o prêmio Mercocidades de turismo.

Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações disponíveis em www.mercociudades.org. (2010)

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Das quatorze Unidades Temáticas atuais, somente cinco foram propostas no mesmo momento da criação da Rede, são elas: Ciência, Tecnologia e Capacitação, Cultura, Desenvolvimento Social, Planejamento Estratégico e Turismo. Já as Unidades Temáticas mais recentes são: Juventude e Segurança Cidadã.

No geral, as Unidades Temáticas buscam desenvolver, dentro de suas respectivas áreas de interesses, as seguintes atividades: formalização de um banco de dados sobre suas temáticas, realização de eventos (seminários, discussões e cursos), participação em eventos (seminários, discussões e cursos), promoção de acordos e convênios para intercâmbio e trocas de experiências nas áreas de interesse.

No início das suas atividades, em 1996, foi estabelecido um Plano de Trabalho mínimo para cada Unidade Temática, que seria a elaboração de dois artigos e a realização de um evento e/ou curso sobre sua área temática.

Somente na Cumbre de 2002, momento em que Assunção exercia a Secretaria Executiva, aparece um Informe Sintético das Unidades Temáticas, explicitando um Plano de Trabalho para o período de 2002-2003. Das doze Unidades Temáticas que existiam nesse momento, dez apresentaram seus Planos de Trabalho.

Apesar da crescente incorporação de cidades à Rede, existe certa concentração da coordenação das UTs em um grupo mais restrito de cidades. Trinta e seis cidades da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai se revezaram, no período de 1995 a 2010, na coordenação das Unidades Temáticas. As cidades de Rosario e Montevidéu assumiram todos os anos a coordenação de alguma UT e Buenos Aires só não assumiu em um ano. Isto, em conjunto com a participação representativa destas cidades nas Cumbres da Rede, pode representar uma primeira aproximação para identificá-las como as cidades mais ativas na Rede.

As cidades que coordenaram mais vezes as Uts são, na ordem e por país: Rosario, Buenos Aires, Montevidéu, Rio de Janeiro. A cidade do Rio de Janeiro coordenou a UT Ciência e Tecnologia durante o período de 1995-2002. Foi a cidade que ficou mais tempo coordenando uma Unidade Temática. A partir de 2003, a coordenação desta UT passou para São Carlos:

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Tabela 2 - Cidades que assumiram a coordenação das UTs da Rede Mercocidades e nº. de coordenações

Argentina Brasil Paraguai Uruguai Venezuela

1. Bahia Blanca (3) 1. Belo Horizonte (7) 1. Asunción (4) 1. Montevideo (13) 1. Caracas

2. Buenos Aires (15) 2. Brasília (3) 2. Concepción (4) 2. Paysandú (3)

3. Canelones (2) 3. Campinas (1)

4. Comodoro Rivadavia (1) 4. Curitiba (4)

5. Córdoba (4) 5. Diadema (1)

6. La Matanza (5) 6. Florianópolis (6)

7. La Plata (4) 7. Gravataí (1)

8. Malvinas Argentinas (4) 8. Jacareí (1)

9. Mar del Plata (4) 9. Juiz de Fora (3)

10. Mendoza (2) 10. Porto Alegre (8)

11. Morón (5) 11. Recife (2)

12. Quilmes (1) 12. Rio de Janeiro (9)

13. Rio Cuarto (1) 13. Rio Grande (2)

14. Rosario (16) 14. Salvador (2)

14. Tandil (1) 15. Santo André (5)

16. São Carlos (5)

17. São Paulo (3)

18. Vitória (2)

Fonte: Elaborada pela autora a partir de informações das Atas das Cumbres, disponíveis em www.mercociudades.org (2010).

Em 2005, a Secretaria Executiva e a Secretaria Técnica Permanente decidiram criar uma metodologia para elaboração das propostas de Coordenação das Unidades Temáticas. A idéia é que se formulem indicações para ordenar as preferências das cidades coordenadoras para o próximo período, ao mesmo tempo em que a Secretaria Técnica efetua uma avaliação dos trabalhos das Unidades Temáticas.

A metodologia de avaliação das Uts, elaborada pela STPM em 2005, está baseada em quatro indicadores:

[...] i) Plano de Trabalho; ii) Atividades, iii) Produtos; e iv) Participação. Por sua vez, cada indicador se decompõe em três dimensões que vão desde um mínimo – quando a UT não fez nada na matéria – até um máximo – quando cumpre um bom desempenho. Cada uma das três dimensões recebe neste modelo avaliativo um valor que oscila entre 0 e 2. Deste modo, somando os valores de cada indicador se obterá uma escala onde cada Unidade Temática contará com um valor, que permitirá classificar seu desempenho em quatro categorias qualitativas:

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Proativo (8 e 7 pontos); Ativo (6 e 5 pontos); Mínimo (4 e 3 pontos); Paralisado (2, 1 e 0 pontos) [...] (INFORME DA STPM 2005, p. 14).

A partir desta metodologia a STPM apresentou, para os anos de 2005, 2006, 2007 e 2010, a avaliação das 14 Unidades Temáticas.

Quadro 13 - Avaliação das atividades das Uts: perío do de 2005 a 2007 e 2010

Unidade Temática 2005 2006 2007 2010 Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

7 – Proativa 7 – Proativa 8 – Proativa 4 – Mínimo

Autonomia, Gestão e Financiamento Municipal

2 – Paralisada 2 – Paralisada 3 – Mínimo 7 – Proativa

Ciência, Tecnologia e Capacitação 7 – Proativa 7 – Proativa 7 – Proativa 2 – Paralisada Cooperação Internacional 3 – Mínimo n.d. n.d. n.d. Cultura 7 – Proativa 7 – Proativa 8 – Proativa 8 – Proativa Desenvolvimento Econômico Local 8 – Proativa 8 – Proativa 8 – Proativa 4 – Mínimo Desenvolvimento Social 6 – Ativa 6 – Ativa 7 – Proativa 5 – Ativa Desenvolvimento Urbano 2 – Paralisada 3 – Mínimo 8 – Proativa 3 – Mínimo Educação 5 – Ativa 5 – Ativa 8 – Proativa 5 – Ativa Gênero e Município 5 – Ativa 7 – Proativa 6 – Ativa 8 – Proativa Juventude 7 – Proativa 7 – Proativa 3 – Mínimo 2 – Paralisada Planejamento Estratégico 5 – Ativa 2 – Paralisada 2 – Paralisada 4 – Mínimo Segurança Cidadã 0 – Paralisada 0 - Paralisada 3 – Mínimo 6 – Ativa Turismo 7 – Proativa 7 – Proativa 7 – Proativa 5 – Ativa Fonte: Elaboração da autora a partir de informações disponíveis nos Informes da STPM, em www.mercociudades.org (2010).

Nos anos de 2008 e 2009 a STPM não apresentou a avaliação das UTs, porque não tinha as informações necessárias para fazê-la.

Destaca-se nesta avaliação que as UTs: Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Ciência, Tecnologia e Capacitação; Cultura; Desenvolvimento Econômico Local; e Turismo foram consideradas proativas no período de 2005 a 2007. Em 2010, este cenário muda, somente a UT Cultura se mantém proativa, as UTs Ambiente de Desenvolvimento Sustentável, Ciência, Tecnologia e Capacitação e Desenvolvimento Econômico Local apresentam uma queda expressiva, passando a ser consideradas UTs com atuação mínima. A UT Turismo apresenta uma queda na avaliação, mas ainda é considerada ativa. Já a UT Juventude que vinha sendo considerada proativa tem uma queda expressiva, passando para o mínimo em 2007, paralisando suas atividades em 2010. A UT Desenvolvimento Urbano que tinha uma atividade considerada mínima passa a ser proativa em 2007, mas volta a ter uma atuação mínina em 2010.

Na última avaliação foram consideradas proativas as seguintes UTs: Gênero e Município, Cultura e Autonomia, Gestão e Financiamento Municipal. As UTs consideradas ativas foram: Segurança Cidadã, Desenvolvimento Social, Educação e Turismo. As UTs que tiveram uma atuação mínima no

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período foram: Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Desenvolvimento Econômico Local, Planejamento Estratégico, Desenvolvimento Urbano. E as UTs que estão paralisadas são: Ciência, Tecnologia e Capacitação e Juventude.

Em 2007, nove UTs tinham uma atuação considerada proativa e este número caiu para somente três em 2010. O que demonstra certo enfraquecimento na atuação das UTs da Rede.

Utilizando-se dos mesmos critérios que a STPM, que utiliza o Plano de Trabalho como um dos indicadores, pode-se ter uma idéia da atuação das UTs, considerando os Planos de Trabalho apresentados para o período de 2008-2009, faltando é claro, os outros indicadores (atividades, produtos e participação). Os Planos de Trabalho e o Informe de Gestão da Secretaria Executiva de Canelones, do período 2008-2009, apresentam os objetivos, eixos de trabalho e atividades que seriam desenvolvidas pelas Unidades Temáticas.82

As UTs Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Cultura; Desenvolvimento Econômico Local; Desenvolvimento Urbano; Educação; Juventude; e Turismo apresentam um plano de trabalho sofisticado, com linhas políticas, atividades e produtos. Já as UTs Autonomia, Gestão e Financiamento Municipal; Ciência, Tecnologia e Capacitação; Desenvolvimento Social; Gênero e Município; Planejamento Estratégico; e Segurança Cidadã apresentam um plano mínimo de ação, com linhas gerais e atividades. E a UT Cooperação Internacional não apresentou um plano de trabalho, isto ocorreu em função das modificações no seu formato.

As reuniões promovidas pelas UTs, o que também é um dos critérios dentro do item atividades, utilizado pela STPM, não permite a análise das atividades das UTs, em função do número limitado de atas disponíveis, isto acontece porque não foram disponibilizadas as atas das reuniões ou não foram realizadas reuniões, no período de 2008 e 2009. 83

Os outros critérios que compõem o item atividades da metodologia são: realização de seminários, encontros e oficinas. E os outros itens que compõem o item produtos correspondem a: boletins eletrônicos, publicação de livros, criação de base de dados etc. Já a participação em atividades corresponde à avaliação do número de cidades que participaram das atividades. Estes itens também não podem ser verificados para o período de 2008-2009, pelos mesmos motivos. O que justifica a impossibilidade da STPM promover a avaliação neste período.

82 Para maior detalhes sobre os Planos de Trabalho verificar Anexo 4. 83 Baseada nas atas das Reuniões das UTs disponíveis em www.mercociudades.org.

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O que é possível fazer, salientando a possibilidade de que a análise contenha imperfeições por falta de documentos disponíveis, é um levantamento destes itens a partir de todos os documentos que estão disponíveis no site oficial da Rede.

As Unidades Temáticas Planejamento Estratégico; Autonomia, Gestão e Financiamento Municipal; e Segurança Cidadã não apresentaram claramente, nos documentos disponíveis, os encaminhamentos. As propostas de trabalho trataram: do levantamento e de uma publicação sobre as iniciativas das cidades, do intercâmbio de experiências, da promoção de encontros das cidades e da articulação com outras redes de cidades.

A Unidade Temática Cooperação internacional organizou dezesseis reuniões no período 1996-2005 e as discussões giraram em torno das ações de cooperação que estavam sendo desenvolvidas pelas outras Unidades Temáticas e da constituição da Secretaria Técnica Permanente. Em 2006, esta UT passou a ter um grupo coordenador integrado pela Comissão Diretiva e a Secretaria Técnica Permanente e a ter um nova função: formular projetos com perfil regional e procurar captar financiamento do sistema de cooperação internacional. Em 2010, cria-se um Grupo de Trabalho em Cooperação Descentralizada, trata-se de uma tentativa de reativar as atividades desta Unidade Temática. Neste caminho, se geraram vários projetos que serão tratados no próximo item desta tese.

A seguir, são apresentados alguns encaminhamentos das Unidades Temáticas84, atendendo os seguintes requisitos: i) criação de um banco de dados sobre a temática de interesse; ii) realização e participação em eventos; iii) promoção de acordos e parcerias: iv) projetos comuns desenvolvidos.

84 Este levantamento tem como base os documentos disponíveis das Unidades Temáticas, para maiores informações consultar: www.mercociudades.org. É importante ressaltar que não existem documentos disponíveis desde a criação e que em alguns casos existe descontinuidade, porque não aconteceram reuniões ou, se aconteceram, as atas não foram disponibilizadas. As atas são apresentadas com mais freqüência a partir de 2001, talvez pela criação da Secretaria Técnica, o que viabilizou a sistematização dos documentos da Rede.

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Quadro 14 - Encaminhamentos das Unidades Temáticas – Período 1996-2009

ATIVIDADES AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

CIÊNCIA E TECNOLOGIA CULTURA

Criação de um banco de dados sobre a temática de interesse e publicações.

• Foros Temáticos Virtuais: Resíduos Sólidos, Ar, Água, Formação e Informação Ambiental, Vulnerabilidade e Risco, Ambiente e Saúde, Promoção de Desenvolvimento Sustentável; • Revista Unidades – 2005 e 2007; • 2002 – Diagnóstico de Aspectos Prioritários em Política de Gestão Ambiental Urbana na Rede Mercocidades; • 2006 – Informe Oficina de Capacitação para a Construção de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável;

• Anais da II Mostra de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas Municipais; • DVD com imagens e fotografias da II Mostra de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas Municipais; • Edição Especial da Revista Ciência & Tecnologia – setembro/2006.

• Contos para estar mais próximo: um livro de contos com ilustrações realizadas por crianças de distintas cidades da UT Cultura, em este caso: Buenos Aires, Valparaíso, Belo Horizonte, Asunción e Montevideo.

Realização e participação em eventos.

• 2003 – Oficina de avaliação técnica e treinamento sobre o Sistema Integrado para a Gestão Ambiental Municipal (SIGA); • 2003 – Mesa Redonda: “Sociedades Sustentáveis: Compromisso Cidadão”; • 2004 – Seminário: “Os Indicadores sócio-ambientais como instrumento da gestão participativa nas cidades”; • 2005 – Seminário Internacional: “Política ambientais, Inclusão social e Participação cidadã”; • 2006 – Encontro Ambiental das Mercocidades; • 2006 – Seminário Internacional: “Políticas para um Desenvolvimento Local Sustentável”; • 2006 – Seminário Internacional: “Agenda 21 Local e Desenvolvimento Sustentável nas Cidades do Mercosul” (co-organização com o Ministério de Ambiente do Brasil); • 2007 – Seminário Internacional: “Sustentabilidade Ambiental – Governo e Sociedade”; • 2006 – Oficina: “Gestão de Resíduos Sólidos: Dilemas Atuais – Tratamento e Disposição de Resíduos Perigosos: Recuperação de Áreas Contaminadas”; • 2006 – Jornadas de Capacitação em Formação e Informação Ambiental – Oficinas: Capacitação para a construção de Indicadores de Sustentabilidade para a Rede Mercocidades e Capacitação em Formação Ambiental; • 2006 – Seminário Iberoamericano sobre Gestão da Informação Ambiental; • 2007 – Seminário Regional para Avaliação de Resultados Preliminares de dois Projetos sobre Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos;

• 1996 – I Encontro Internacional para a Integração das Mercocidades no Âmbito da Ciência e da Tecnologia; • 2001 – I Encontro de Propriedade Intelectual e Comercialização de Tecnologia; • 2004 – I Mostra de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas Municipais; • 2005 – II Mostra de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas Municipais; • 2006 – Workshop para Dirigentes Públicos: “Experiências Locais de Incubação de Empresas e como Planejar e Implantar uma Incubadora de Empresas”; • 2007 – Workshop sobre e-Governo; • 2007 – III Mostra de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas Municipais; • 2007 – Seminário: “Políticas de Integração Regional: Experiências Locais Exitosas no Mercosul”; • 2009 – IV Mostra de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas Municipais.

• 2007 – I Seminário Internacional do Observatório de Políticas Culturais: “Cultura e Economia para o Mercosul: Produção Simbólica e Produção Econômica para o Mersocul”; • 2008 – II Seminário Internacional do Observatório de Políticas Culturais: “Legislação cultural, meios de comunicação e comunidades em prol do desenvolvimento e participação cultural”; • 2008 – Seminário: “Patrimônio Cultural: dilemas, experiências e ações”; • 2009 – Seminário: “Políticas culturais para a inclusão social em tempos de crises, experiências e ações”; • 2009 – Seminário: “Construindo Cidadania Cultural”; • 2009 – Foro Urbano de Cultura da Mercocidades.

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Continuação

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL • 2007 – Seminário Internacional: “Sustentabilidade Ambiental – Governo e Sociedade”; • 2007 – Seminário Internacional: “Território e Ambiente” (UTADS e Subgrupo de Trabalho 6 Mercosul); • 2007 - Oficina: “Gestão de Resíduos Sólidos: Dilemas Atuais”; • 2007 – Oficina: “Políticas para a inclusão social na Gestão de Resíduos” e “Vulnerabilidade e Riscos frente a desastres de origem natural” (UTADS e Subgrupo de trabalho 6 do Mercosul); • 2008 – Seminário: “Estratégias para a Gestão Integrada da Água”; • 2009 – Seminário: “Gestão Integrada de Recursos Hídricos”.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA CULTURA

Promoção de acordos e parcerias. • Rede de Autoridades Locais de Meio Ambiente da América Latina e Caribe; • UCCI – União de Cidades Capitais Iberoamericanas; • Coordenação da Agenda 21 do Ministério de Meio Ambiente do Brasil; • FEMICA – Federação de Municípios do Istmo Centro Americano; • Rede Andina de Cidades; • FLACMA – Federação Latinoamericana de Cidades, Municípios e Associações de Municípios; • Trabalho com Sub Grupo de Trabalho 6 do Mercosul; • Centro Internacional de Investigações para o Desenvolvimento (IDRC); • Observatório de Meio Ambiente Urbano de Málaga (OMAU) – Rede 6 URB-AL.

• Associação das Universidades do Grupo Montevidéu.

• Interlocal; • Rede Cultural do Mercosul; • Comissão de Cultura da CGLU.

Projetos comuns desenvolvidos.

• Módulo de Ambiente e Desenvolvimento Urbano Sustentável do Portal das Cidades;

• Prêmio de Ciência e Tecnologia da Mercocidades: prêmio anual atribuído para pesquisador ou grupo de pesquisa, cujo trabalho em pesquisa aplicada tenha contribuído, efetivamente, para a solução de um problema relevante em uma das cidades integrantes da Rede Mercocidades; • Rede Mercocidades de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica e Social.

• Festival de Curtas; • Concurso de Fotografia; • Concurso Literário; • Rede de Museus; • Rede de Cascos Históricos; • Biblioteca Virtual dos Autores; • Calendário Regional de Atividades Comuns; • Embaixadores Culturais; • Foro Virtual; • Criação do Laboratório de Cooperação Cultural do Mercosul; • Grupo de Trabalho de Cultura do Esporte: a atividade física e recreação.

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ATIVIDADES DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL DESENVOL VIMENTO SOCIAL DESENVOLVIMENTO URBANO Criação de um banco de dados sobre a temática de interesse e publicações.

• Revista Diálogo Econômico Local; • Banco de Boas Práticas de Gestão e Prestação de Serviços; • Banco de Boas Práticas da Comissão de Economia Solidária; • Cronograma das atividades da UTDEL da Rede Mercocidades – 2006; • Informe Mercosul, n. 1, fevereiro/2006; • Boletins informativos.

• 2008 – Unidade Temática de Desenvolvimento Social da Rede Mercocidades – As políticas de ingresso implementadas pelos estados locais.

• Livro: A visão urbanística dos recursos municipais; • Livro: “A cidade global: existe no Mercosul”; • Livro: “Experiências de Reestruturação Urbana”; • Livro: “A Mobilidade Urbana e o Desenvolvimento Sustetável”; • Boletim Trimestral, n.1, julho/2007; • Boletim Trimestral, n.2, setembro/2007;

Realização e participação em eventos.

• 2003 – Seminário: “Os Municípios e o Desenvolvimento Econômico no Lançamento do Mercosul: Gestão Local Participativa e Complementariedade Produtiva”; • 2003 – Palestra: “Mercosul x Alca: futuro incerto dos países sul-americanos”; • 2004 – Seminário: “As cidades e a integração econômica no Mercosul”; • 2004 – Seminário: “Estratégias para o Desenvolvimento Econômico: as Cidades no Caminho da Igualdade Distributiva”; • 2005 – Seminário Internacional: “Sistemas Produtivos Locais: Problemáticas Atuais e Novos Desafios”; • 2006 – Seminário Internacional: “Agências de Cooperação Internacional com linhas do Desenvolvimento Econômico Local”; • 2006 – Feira Economia Solidária; • 2006 – I Foro Internacional de Biodiesel; • 2006 – Semana de Agricultura Urbana; • 2006 – EXPO TECNOAR; • 2007 – Seminário: “Políticas de Integração Regional: Experiências Locais Exitosas no Mercosul”; • 2007 – Seminário Internacional de Comércio Exterior de Mercocidades; • 2008 – II Encontro Latinoamericano de Agências e Institutos de Desenvolvimento Econômico Local;

• 2002 – Seminário Internacional: “O rol das cidades nas políticas sócio-econômicas do Mercosul: desafio ante a crise”; • 2006 – I Jornada sobre Políticas de ingresso nos Estados Locais: “A experiência européia nos sistemas de proteção social. Programas de ingresso ou proteção ao trabalho?”; • 2007 – Palestra: “Novas problemáticas sociais em grupos vulneráveis”; • 2007 – Conferência: “Políticas Socio-Produtivas: Produtividade e Inclusão Social”; • 2007 – Encontro Regional: “A Construção da sociabilidade dos meninos e jovens hoje”; • 2007 – Seminário: “Políticas de Integração Regional: Experiências Locais Exitosas no Mercosul”.

• 2001 – IV Seminário:”O Espaço Público”;85 • 2002 – V Seminário: “Investimentos e Tributação Municipal para o Desenvolvimento Urbano”; • 2003 – VI Seminário:”Existe a cidade global no Mercosul”; • 2004 – VII Seminário:”O gasto e o investimento como fator de desenvolvimento urbano e inclusão social”; • 2007 – Seminário: “Experiências de Reestruturação Urbana “; • 2007 – Seminário: ”Mercocidades SI + URB: Gestão Urbana”; • 2008 – Seminário: “A Mobilidade Urbana e o Desenvolvimento Sustentável”;

Promoção de acordos e parcerias. n.d. n.d. • Fac. de Arquitetura, Desenho e Urbanismo da UBA; • UT Cultura;

Projetos comuns desenvolvidos.

• Rodada de Negócios; • Comissão Fomento de Negócios; • Comissão Economia Social e Solidária; • Curso de Gestão Estratégica de DEL (ILPES).

• Fórum eletrônico da UT para intercâmbio de propostas e discussão dos delineamentos e das práticas positivas de políticas sociais; • 2006 – Comissão de direitos humanos.

• Concurso Anual de Fotografia Urbanística; • Programa de Estágios Intermunicipais em Planejamento e Gestão Urbana;

85 Não existem atas das reuniões para identificar as datas dos seminários anteriores.

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ATIVIDADES EDUCAÇÃO GÊNERO E MUNICÍPIO JUVENTUDE Criação de um banco de dados sobre a temática de interesse e publicações.

• Revista: II Encontro da Unidade Temática Educação da Rede Mercocidades e Associação Internacional de Cidades Educadoras; • DVD: II Encontro da Unidade Temática Educação da Rede Mercocidades e Associação Internacional de Cidades Educadoras; • Gibi: Hoje tem aula do Mercosul;

• Livro: Planos de Igualdade de Gênero com Mirada da Cidade;

• DVD sobre as juventudes do Mercosul; • Livro: Integração e Participação da Juventude nas Mercocidades: Distribuição da Renda na América Latina; • Livro: Políticas de Juventude na América Latina: Experiências Locais Inovadoras; • Boletim Eletrônico; • Livro: Plano Estratégico de Adolescência e Juventude;

Realização e participação em eventos.

• 2007 – Reunião da Associação Internacional Cidades Educadoras (AICE); • 2007 – Seminário: “Políticas de Integração Regional: Experiências Locais Exitosas no Mercosul”; • 2008 – Seminário de Educação: “Propostas Inovadoras de Educação Média GCBA”; • 2009 – Seminário de Educação: “Intercâmbio de Experiências em Inclusão Educativa”;

• 2000 – Oficina: “A planificação em gênero em governos municipais”; • 2000 – Oficina: “Elaboração de Planos de Igualdade em Nível Municipal”; • 2000 – Seminário: “Planos de Igualdade de Gênero com Mirada na Cidade”; • 2000 – Seminário: “Tecnologia, Comunicação e Gênero”; • 2004 – Oficina: Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Econômico Local, Gênero; • 2007 – Seminário: “Orçamentos Participativos Sensíveis ao Gênero”; • 2007 – Seminário: “Políticas de Integração Regional: Experiências exitosas em Mercocidades”; • 2007 – Seminário: “Economia Social Solidária”; • 2007 – Seminário: “Trabalho Doméstico, Gênero e Raça”; • 2007 – Seminário: “Mulheres e Cidades”; • 2007 – Seminário: “Mais mulheres, mais democracia”; • 2007 – Seminário: “Políticas para Mulheres – Gênero, Orçamento e Economia Solidária”; • 2007 – Foro Mercocidades em Córdoba: Gênero, Juventude e Cultura: “Cidades e Direitos”; • 2008 – Seminário: “Gênero e Cooperação Internacional”; • 2009 – Seminário: “O Tráfico e Tráfico de Pessoas: Características da problemática, ações para sua erradicação”; • 2009 – Seminário: “Cidades Seguras”; • 2009 – Seminário:”Direito das mulheres ao uso da cidade e segurança cidadã”.

• 2004 – Seminário: “Integração e participação da juventude nas Mercocidades: Distribuição da renda na América Latina”; • 2005 – Atividade Cultural: “Encontro do Sol”; • 2005 – Palestra: “Experiências Educativas e Culturais Juvenis”; • 2006 – Oficina Estratégia de Comunicação da UTJ; • 2006 – Seminário Regional: “Jovens, Comunicação e Integração Regional”; • 2006 – Palestra: “Políticas de Juventude: Integração Regional e os desafios para cidades”; • 2006 – Palestra: “Cooperação Internacional nas políticas de juventude/Convenção Ibero-americana dos Direitos dos Jovens”; • 2006 – Seminário: “Juventude, Comunicação e Integração Regional”; • 2007 – Foro Mercocidades em Córdoba – Gênero, Juventude e Cultura: “Cidades e Direitos”; • 2008 – Apresentação Mercosul Jovem IV Edição; • 2008 – III Encontro: “Da declaração ao plano de ação”; • 2008 – I Foro Iberoamericano de Políticas Públicas de Juventude; •2009 – I Encontro: “Os jovens e o trabalho”; • Apresentação e divulgação do jogo eletrônico de prevenção de HIV/SIDA – ConCondón; • Prevenções em Adição: O estado, a sociedade e os jovens;

Promoção de acordos e parcerias. • AICE – Associação Internacional de Cidades Educadoras;

n.d. n.d.

Projetos comuns desenvolvidos.

• Intercâmbio de Diretores de Escolas Argentina-Brasil; • Cursos dos idiomas português e espanhol;

• 2001 – Oficina de Capacitação: Avaliação de Projetos Sociais com Perspectiva de Gênero; • Projeto Comum: “Segurança cidadã com perspectiva de gênero”; • Concurso de Projetos: Gênero e direitos humanos.

• Programa Especial por Rádio Cidade de Buenos Aires;

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ATIVIDADES TURISMO Criação de um banco de dados sobre a temática de interesse e publicações.

• Panorama Turístico das Mercocidades.

Realização e participação em eventos.

• 2002 – IV Congresso Internacional de Turismo;86 • 2002 – I EMEHTUR - Encontro de Mercocidades para Ensino de Turismo e Hotelaria (EMEHTUR); • 2003 – V Congresso Internacional de Turismo; • 2003 – Palestra: “Governo Interativo – Rede Mercocidades de Municípios Interativos”; • 2003 – Palestra: “Valorização do Potencial Turístico dos Municípios”; • 2003 – Palestra: “A Gestão Pública do Turismo e a Rede Mercocidades”; • 2003 – Exposição Técnica: Cluster em Turismo, A experiência da CORPOTUR de Montevideo, Desenvolvimento turístico da cidade de Buenos Aires, Turismo sustentável em Porto Alegre, Gestão do patrimônio cultural de desenvolvimento turístico, A certificação do turismo sustentável; • 2004 – II EMEHTUR – Encontro de Mercocidades para Ensino de Turismo e Hotelaria; • 2004 – VI Congresso Internacional de Turismo; • 2007 – Seminário Internacional: “A Promoção Turísticas nos Destinos Integrados: Perspectivas das Mercocidades”; • 2007 – Seminário Internacional de Turismo e Integração Regional; • 2007 – Seminário: “Políticas de Integração Regional: Experiências Locais Exitosas no Mercosul” • 2008 - Conferência: “Impacto da Crise Econômica dos países centrais na atividade turística da região”;

Promoção de acordos e parcerias. n.d. Projetos comuns desenvolvidos.

• Prêmio Mercocidades de Turismo;

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos documentos das unidades temáticas disponíveis em www.mercociudades.org. (2010).

86 A única ata anterior a de 2002 é a de 1999 e não aparecem as datas dos congressos anteriores.

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O levantamento dos documentos das Unidades Temáticas permite a consideração de que, assim como no caso das Cumbres da Rede, existe uma participação pequena das cidades nas reuniões das unidades e uma das explicações principais, destacada nas atas das reuniões, é a dificuldade de financiamento do transporte e das estadias dos representantes. Isto porque não existem recursos orçamentários disponíveis na Rede para cobrir essas despesas. Em alguns casos, as cidades coordenadoras se responsabilizam pela estadia dos representantes, principalmente, quando em conjunto com as reuniões acontecem encontros, oficinas e debates.

Outra observação é de que existem algumas Unidades Temáticas que avançaram mais no objetivo de consolidar um banco de dados sobre as temáticas de interesse e de promover seminários, palestras e debates para intercâmbio de conhecimentos e experiências, são elas: Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Ciência e Tecnologia; e Desenvolvimento Econômico Local. Entretanto, os documentos disponíveis não relatam projetos comuns de política pública que tenham sido desenvolvidos no âmbito das Unidades Temáticas e que tenham sido implementados nas cidades associadas. Os documentos apresentam as diversas experiências de políticas públicas praticadas por estas cidades, o que é relatado em quase todas as reuniões das Unidades Temáticas e demonstra que elas têm avançado, principalmente, no intercâmbio das experiências de boas práticas de política pública nas temáticas de interesse.

Jorge Rodriguez atribui o desenvolvimento desigual das Unidades Temáticas à vontade do coordenador, do recurso humano que está alocado na prefeitura para esta atividade e a vontade política do gestor local. Existe uma dificuldade de criação de uma memória institucional das Unidades Temáticas porque nem sempre que elas se reúnem são elaboradas atas e não existe uma continuidade nas publicações.

Ao se considerar a promoção de trocas de experiências, ou seja, de conhecimento, como principal resultado das Unidades Temáticas, pode-se considerar que a Rede Mercocidades tem sido bastante produtiva neste sentido, com algumas poucas exceções. O que lança um desafio para a Rede neste momento em que se observa redução no número de UTs com atuação proativa.

Para Alberto Kleiman as Unidades Temáticas representam a fortaleza da Rede Mercocidades. Não importa o número de cidades que se reúnem nas atividades das Unidades Temáticas o que importa é a consistência do debate, se poucas cidades se reúnem sob um tema, mas promove-se um bom debate, isto é suficiente. É isto que a Unidade Temática vai aportar a Rede e ao MERCOSUL. Um dos problemas é quando o coordenador de determinada

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Unidade Temática utiliza isto para ter visibilidade política, que pode ser válido, mas para a Mercocidades não tem muita utilidade.

Kleiman considera que existe uma dificuldade na percepção dos benefícios da participação nas Unidades Temáticas porque eles não são imediatos. É um processo de construção de conhecimento sobre as diversas temáticas. Esta dificuldade de percepção leva os prefeitos a investirem pouco na participação e, conseqüentemente, não se aproveitarem do que está disponibilizado. Existe um alto nível de governança sobre determinados temas que foi construído nestes quinze anos de atividade da Rede e que não são devidamente aproveitados pelas cidades associadas.

Na última Cumbre da Rede, em Belo Horizonte, a Secretaria Técnica Permanente demonstra uma preocupação com a dinâmica das Unidades Temáticas, apresentando um documento de trabalho cuja temática foi “La vinculación de las Unidades Temáticas con las instancias políticas de Mercociudades”.

Neste documento são apresentadas algumas considerações sobre a atuação das UTs em resposta aos objetivos da Rede Mercocidades. “Se a Mercocidades define objetivos políticos de curto e médio prazos, as UTs devem conformar-se em mecanismo executor correspondente” (ATA DA CUMBRE, 2010, p. 23).

Foram avaliadas quatro Unidades Temáticas, cujos temas foram considerados relevantes pela orientação da Rede, são elas: Unidade Temática Cooperação Internacional, Unidade Temática Cultura, Unidade Temática Desenvolvimento Econômico Local e Unidade Temática Desenvolvimento Social.

O documento apresenta as principais limitações na dinâmica das UTs estudadas: i) pouca articulação com os linhas centrais da Rede; ii) baixa vinculação das UTs com os espaços de condução política da Rede (Conselho e Comissão Diretiva); iii) falta de debate sobre os planos de trabalho o que pode desmotivar a participação das cidades; iv) dispersão das temáticas através do tempo; v) falta de financiamento para o desenvolvimento dos planos de trabalho; vi) geração de círculos fechados de atores participantes, o que exclui a participação de novos participantes; vii) dificuldade em aprofundar o trabalho horizontal entre as unidades temáticas; viii) não aprofundamento das temáticas no sentido de transformá-las em modelos de gestão em política a serem replicados nas cidades; ix) concentração dos trabalhos no formato de jornadas e seminários; x) pouca articulação com outros atores da sociedade civil; xi) dificuldades na comunicação e, conseqüentemente, pouca visibilidade de suas ações.

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O documento apresenta algumas recomendações e destaca a necessidade de estabelecer objetivos políticos para a Rede, levando em conta os seguintes aspectos: i) definir claramente os delineamentos políticos prioritários anuais da Mercocidades; ii) conhecer os interesses prioritários das cidades membros; iii) debater se a agenda do MERCOSUL e os interesses heterogêneos das cidades membros se encontram contemplados nos temas que desenvolvem as UTs; iv) capacitar os novos membros sobre os objetivos e a institucionalidade da Mercocidades; v) fixar planos de trabalho para as UTs menos ambiciosos, priorizando a realização de projetos regionais; vi) coordenar os planos das UTs com os projetos de cooperação da Rede; vii) gerar instâncias de assessoria para as UTs ou outros âmbitos; viii) promover um sistema de informação e visibilidade dos trabalhos realizados pelas UTs; ix) estabelecer mecanismos alternativos de gestão das temáticas de interesse político da Mercocidades.

3.6 Alguns projetos em desenvolvimento

Entre as linhas de atuação da Rede Mercocidades, uma ação que se repete em quase todas as Propostas de Trabalho das Secretarias Executivas e da Secretaria Técnica Permanente é a de fortalecimento da Rede, parte dele se dá a partir do crescimento das cidades associadas, aumento das parcerias e convênios com outras instituições, avanço da cooperação descentralizada no âmbito das Unidades Temáticas, já levantadas nos itens anteriores.

Uma forma de fortalecimento institucional da Rede é o desenvolvimento de projetos de cooperação, estabelecidos a partir da Rede e que atendam as necessidades das localidades. É difícil levantar, pelo menos a partir da documentação disponível, os encaminhamentos e resultados dos diversos projetos, mesmo porque as ações neste sentido são relatadas nos informes das gestões mais recentes.

A personalidade jurídica proposta em 2008, criando uma Associação Internacional Civil de Rede de Cidades Mercocidades, caminha no sentido de facilitar os encaminhamentos neste sentido, além da criação do Grupo de Trabalho de Cooperação Descentralizada, composto pela Secretaria Técnica Permanente e pela Comissão Diretiva da Rede, no âmbito da UT de Cooperação Internacional.

As atividades realizadas, mais recentemente, para cumprir este objetivo seguiram duas linhas de ação: uma delas foi buscar espaços para capacitação dos quadros técnicos e políticos das cidades associadas e outra foi formular

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projetos conjuntos com perfil regional para serem apresentados na Comissão Européia e em outras agências (INFORME DA STPM 2008-2009).

Quadro 15 – Projetos Mercocidades: desenvolvidos e em andamento – Período de 2007-2010

PRÊMIO MERCOCIDADES PARA AS MELHORES PRÁTICAS PARA ALCANÇAR OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO – JULHO DE 2007

• Objetivos da convocatória: os projetos deveriam centrar-se em alguns dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pelo Sistema das Nações Unidas, quais sejam: i) erradicar a pobreza e a fome; ii) melhorar a saúde materna; iii) reduzir a mortalidade infantil; iv) alcançar a educação primária universal; v) promover a igualdade entre os gêneros e a autonomia da mulher; vi) combater o HIV/SIDA, os casos de malárias e outras enfermidades; vii) garantir a sustentabilidade do meio ambiente; viii) fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento. • Características das propostas: i) deveriam apoiar ou fortalecer ações já empreendidas e em curso em centros comunais, policlínicas, centros de educação inicial, salões comunitários, centros juvenis, bibliotecas municipais e naqueles centros sociais onde se constituíam políticas que tinham os ODM definidos; ii) deveriam ser capazes de continuar além do financiamento com o qual o prêmio as reconheceria, ou seja, com integrantes promotores formados pela proposta ou recursos locais; iii) deveriam incluir uma pauta de avaliação qualitativa e quantitativa da experiência que reconhecesse o impacto gerado; iv) se sugeriu que a proposta fosse coordenada e implementada junto aos serviços municipais envolvidos tematicamente nas ações (infância, gênero, juventude, saúde, incapacitados etc.) e promovesse instâncias de coordenação e/ou co-execução junto a organismos nacionais; v) deveriam ser factíveis de réplica por parte de outros governos locais. • Resultados: participaram 17 cidades dos países da Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela. Foram apresentados 25 projetos em condições de participar do prêmio. Projeto premiado (US$ 5.000): Cidade futuro – Agenda do Milênio (Santo André). Projetos selecionados para publicação gráfica e WEB: Cidade futuro – Agenda do Milênio (Santo André); Educação Integral para a Mulher (Montevideo); Juntos podemos limpar o mundo (Jujuy); Programa Vila Viva – Aglomerado da Serra (Belo Horizonte); Cidadãos para crescer juntos (Montevideo); A Construção Coletiva de Vínculos através da Comunicação e o Cuidado (Pilar); Valorização de Resíduos Sólidos Urbanos na localidade de Banda de Varela (Catamarca). Projetos selecionados para publicação WEB: Gestão e Equilíbrio do Meio Ambiente (São Carlos); Um milhão de Miradas (Rosario); Capibaribe melhor (Recife); Fortalecimento Familiar. Práticas para combater a desnutrição (La Matanza); Mundo Jovem Cidadão (Vitoria); Recife Empreendedor (Recife); Escola Municipal de Dança “Iracema Nogueira” (Araraquara); Programa Promotores Ambientais (Buenos Aires).

ACAMPAMENTO MERCOCIDADES: CIDADÃOS JOVENS DA INTEGRAÇÃO – MONTEVIDEO – DEZEMBRO DE 2007

• Objetivo: realizar na Cidade Montevideo, em Punta Espinillo, um acampamento regional anual em que se apresentassem conteúdos que contribuíssem para a geração de uma identidade que desse sentido a integração regional. • Objetivos gerais: i) envolver os municípios em uma atividade de construção da cidadania como agentes ativos da integração regional; ii) contribuir para a construção de um sentido de identidade regional a partir das idades menores com a intenção de dar conteúdos sociais aos processos de integração regional; iii) dotar de sentido e começar a trabalhar conceitos de integração nos setores mais diversos das sociedades das cidades do Mercosul; iv) dotar-se de uma infraestrutura pertinente a estes objetivos, que sirva de suporte para as atividades que serão realizadas. • Objetivos particulares: i) complementar as ações tendentes a integração que se vem realizando a partir das esferas governamentais e a partir da sociedade civil; ii) envolver os municípios na tarefa de promover e difundir nas cidades os conteúdos dos processos de integração; iii) incorporar nas agendas de trabalho com as comunidades dos municípios a tarefa de formar cidadãos integrados não somente em sua cidade e seu entorno, mas também na região que vivem; iv) aproveitar o cenário de convivência entre crianças e adolescentes de cidades irmãs para trabalhar temáticas estabelecidas no âmbito da Mercocidades, trabalhando inclusive os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio; v) formar líderes que por sua vez transmitam em suas comunidades estes valores; vi) coordenar estes conteúdos com os organismos educativos de cada um dos países de forma a incorporar nos processos educativos estes conceitos; vii) constituir os municípios em articuladores de diferentes atores da sociedade; viii) trabalhar com a sociedade civil organizada, assim como com diferentes agências internacionais; ix) transversalizar a temática da integração em diversas ações sociais de cada um dos municípios para construção de conceitos incorporando as diversidades que compõem a região; x) contribuir com instalações na cidade de Montevideo par atividades da Mercocidades, de forma que estas instalações sejam utilizadas anualmente para esta atividade; xii) aproveitar-se de uma instalação motivadora para que se possa sensibilizar as crianças e adolescentes sobre os conteúdos da integração.

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• Resultados: mais de 60 jovens participaram do acampamento. O acampamento se reuniu em Montevideo, ao longo de uma semana, com adolescentes (11 e 12 anos) de La Matanza e Morón da Argentina, Belo Horizonte e Santo André do Brasil e Canelones, Maldonado, Montevideo, Paysandú e Tacuarembó do Uruguay. Os participantes vieram de diversas escolas públicas das cidades mencionadas e sua seleção se realizou por meio concursos que abordaram as temáticas que seriam tratadas no acampamento. Ao retornar as suas cidades, e com isto a suas aulas, os participantes transmitiram a experiência vivida. • Novo Acampamento Mercocidades: Novas Gerações do Mi lênio: o êxito da iniciativa anterior conduziu Montevideo a realizar um novo acampamento com as mesmas características, em 27 de novembro de 2008. Este novo acampamento reuniu 47 adolescentes de 6 “Mercocidades”, Pergamino da Argentina, Santo André do Brasil e Canelones, Montevideo, Paysandú e Treinta y Tres do Uruguay. Nesta oportunidade contou com o auspício da UnaONU, UNICEF e o Instituto Nacional de Alimentação do Uruguay (INDA). ANIMAÇÃO: MERCOSUL, CIDADE ABERTA E O GIBI “HOJE TEM CLASSE D E MERCOSUL” - 2007 • Formato: uma apresentação animada em formato de DVD, desenhado para ser utilizado como Guia em diversos centros educativos da região. Possível de ser utilizado na internet ou em forma direta no computador, nos idiomas espanhol e português. • Objetivos: ajudar os jovens a adquirir conhecimentos e entender os seguintes conceitos: i) Cidadania do Mercosul: direitos e deveres dos cidadãos, no sentido de pertencer a região, os sinais de identidade comum, os símbolos que nos unem e que nos identificam; ii) Diversidade cultural: reconhecermos e aceitarmos as diferenças. Mostrar as diferentes vertentes históricas, as raízes culturais que formam um passado regional comum. Conhecer e promover os valores da solidariedade e o respeito mútuo, a convivência pacífica, promovendo a cultura de paz. As raças e as línguas que convivem na região e as distintas expressões delas, culturais, sociais, produtivas e que explicam a evolução histórica da região e o seu estado atual; iii) As cidades e seu rol na integração: os governos locais como construtores do processo de integração, promotores de uma integração para benefício dos cidadãos do Mercosul. Promover o espaço local como espaço de convivência de todos os cidadãos sem exclusões (religião, credo, raça, condição social ou econômica) e como o espaço de desenvolvimento dos conceitos expressados no item b; iv) Democracia, transparência e supranacionalidade: a institucionalidade do Mercosul, estrutura e organização, processo de decisão e participação social. A organização das cidades: Mercocidades e seu aporte ao processo de integração. Promover o valor da democracia e a transparência. Desenvolver o conceito de supranacionalidade e as implicações no local. Motivar os jovens a: i) desenvolver sólidos princípios éticos de respeito a diversidade e de responsabilidade com a região a que pertencem; ii) reconhecer-se como cidadão de uma região desde uma perspectiva sustentável, orientada a convivência pacífica e assegurar a capacidade de que as futuras gerações possam se beneficiar de uma integração regional capaz de satisfazer suas necessidades. • Resultado: A animação foi apresentada no Acampamento Mercocidades, em dezembro de 2007. A animação: Mercosul, Cidade Aberta e o Gibi “Hoje tem aula de Mercosul” estão disponíveis no site oficial da Rede. A cidade de Tandil estava trabalhando em suas escolas a temática com este material de apoio. Montevideo enviou carta ao Conselho Diretivo Central (CODICEN), apresentando a iniciativa e oferecendo o uso destes materiais para a abordagem em aulas uruguaias.

PASSAPORTE MERCOCIDADES • Características: cada cidade deverá registrar-se como cidade que aderiu ao “Passaporte Mercocidades”. Nesse momento ela indicará os benefícios que dará aos cidadãos do Mercosul que residam em uma cidade de Mercocidades. Estes benefícios terão um mínimo comum para todas as cidades. • Objetivo geral: criar uma cidadania regional, estimulando o sentido de pertencer ao Mercosul. • Objetivo específico: dar benefícios aos cidadãos da Mercocidades quando estão em visita em uma cidade da Rede, que não é sua residência permanente. • Situação atual: atualmente este projeto está na etapa de construção do Sistema de Informação que dará suporte a aplicação, além de procurar financiamento adicional para seu funcionamento. Também estão sendo feitas difusões na maior quantidade possível de reuniões e eventos da Mercocidades para gerar potenciais usuários quando estiver em funcionamento.

INOVAÇÃO E COESÃO SOCIAL: CAPACITAÇÃO METODOLÓGICA E VISIB ILIDADE DE BOAS PRÁTICAS - 2008

• Características: o projeto é um espaço de interação e de aprendizagem entre governos locais e organizações da sociedade civil para o desenvolvimento de iniciativas de caráter regional, que por meio de uma metodologia inovadora desenvolverá propostas orientadas para as seguintes temáticas: integração produtiva regional, cidadania regional, inclusão social, participação e equidade de gênero, cooperação pública privada, objetivos de desenvolvimento do milênio. Este projeto propõe-se a capacitação dos governos locais da Rede Mercocidades, o acompanhamento, a monitoração, a capitalização e a visibilidade dos projetos da incubadora gerada no processo. É coordenado pela STPM e tem como sócios: RACINE (organismo de assistência técnica de programas europeus e projetos transnacionais, especializada na gestão do ciclo do projeto, no campo de coesão social, tanto nacional como local - ONG da França), Fundação TIAU (espaço de debate e investigação sobre as políticas públicas urbanas para o desenvolvimento de boas práticas urbanas - Argentina) e o IHEAL - Instituto de

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Altos Estudos para a América Latina, da Universidade Paris III – Nova Sorbonne - França, LOCAL – Observatório dos Câmbios na América Latina – Pólo Mercosul – Montevideo - Uruguay. • Objetivo global: gerar capacidades individuais, tanto como coletiva, dos atores locais (autoridades e sociedade civil), com especial atenção nas questões de gênero, com o propósito de fortalecer seu protagonismo no processo de integração, para impulsionar a cidadania do Mercosul, a inclusão social, a participação da sociedade civil, a cooperação público privada e o desenvolvimento de políticas locais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. • Objetivos específicos: i)fortalecer a capacidade técnica e institucional de ação dos atores locais em seus âmbitos de atuação para otimizar a qualidade e os resultados dos futuros projetos de cooperação Europa/América Latina no âmbito de cidades, assim como das regionais no âmbito dos Fundos do FOCEM; ii) acompanhar e assessorar as autoridades locais e os atores da sociedade civil na formulação, implementação, capitalização, avaliação e difusão dos resultados de projetos relativos à promoção da coesão social e da luta contra as desigualdades, a pobreza e as discriminações de toda índole, através da aprendizagem comum e intercâmbio de inovações metodológicas em nível horizontal entre os beneficiários diretos; iii) elaborar e implementar um programa comum de capitalização, de comunicação, de avaliação e de valorização de uma incubadora de projetos inovadores, impulsionados pelas autoridades locais e atores da sociedade civil da zona de referência. • Atividades relevantes: i) Capacitação: programa de capacitação dos atores locais à gestão do ciclo de projetos, para aquisição de uma cultura comum em matéria de formulação e gestão de projetos, com o propósito de impulsionar ações de alta qualidade e impacto; ii) Acompanhamento metodológico: realização de estudos de consultoria para a incorporação de conhecimento técnico e especializado na ação dos governos locais e da sociedade civil, aplicando a metodologia de gestão do ciclo do projeto; iii) Capitalização, comunicação, avaliação e promoção: avaliação e melhor valorização dos resultados de projetos emanados da incubadora da Rede, permitindo gerar uma visibilidade importante, com o propósito de facilitar a passagem da experimentação para a aplicação generalizada das boas práticas no marco das política públicas urbanas; iv) Coordenação e gestão administrativo-financeira: O Comitê de Orientação Estratégica e Política é a instância de validação dos eixos estratégicos, dos resultados da avaliação e da tomada de decisões políticas. Está constituído por membros, representando cada parte envolvida, com autoridade e poder de decisão. É presidido pela autoridade local, representando o Conselho Mercocidades (instância política). O Comitê Piloto é a instância responsável pela correta realização do projeto. Está constituído por uma pessoa designada por cada protagonista do projeto. É presidido pelo responsável legal do projeto. A Coordenação será assegurada pela Secretaria Técnica Permanente de Mercocidades (Intendência Municipal de Montevideo) e a Secretaria Executiva de Mercocidades. A Gestão Estratégica e Financeira será tomada a cargo de um responsável legal do projeto. • Situação atual e alguns resultados: Primeira capacitação: Temática – Integração Produtiva Regional. Capacitação presencial no período de 25 a 29 de maio de 2009, em Montevideo, Uruguay. Capacitação Virtual – início em junho de 2009, com finalização estimada para o período de seis meses. Teve 18 participantes selecionados, das seguintes cidades: Rafaela, Batán, Quilmes, Morón, Junin, Neuquén, Capilla Del Monte e Salta da Argentina, Mauá, Araraquara, Limeira, Caxias do Sul, Bagé, Taboão da Serra e Belo Horizonte do Brasil, Valparaíso do Chile, e Paysandú e Montevideo do Uruguay. Como resultado da primeira capacitação, este empreendimento já conta com 9 projetos formulados, prontos para seu financiamento. Segunda capacitação: Temática – Integração Produtiva Regional com ênfase em Gênero. Capacitação presencial no período de 9 a 13 de novembro de 2009, em Barquisimeto, Venezuela. Capacitação Virtual – início em novembro de 2009, com finalização estimada em cinco meses. Teve 19 participantes selecionados das seguintes cidades: San Fernando Del Valle de Catamarca, Rosario e Paso de los Libres da Argentina, La Paz e El Alto da Bolívia, Recife, Guarulhos e Diadema do Brasil, Asunción e Limpio do Paraguay, Huancayo e La Victoria do Perú, Canelones, Tacuarembó e Maldonado do Uruguay, Barquisimeto da Venezuela. Terceira capacitação: Temática – Cidadania Regional. Capacitação presencial no período de 19 a 23 de abril de 2010, em Belo Horizonte, Brasil. Capacitação virtual – início em abril de 2010, com finalização estimada em cinco meses. Teve 18 participantes selecionados das seguintes cidades: Santa Fé, Concordia, Córdoba e Buenos Aires da Argentina, Santiago do Chile, La Paz da Bolívia, Fortaleza, Porto Alegre, Contagem, Belo Horizonte e Ouro Preto do Brasil, Asunción do Paraguay, Lima do Perú, Montevideo e Rio Negro do Uruguay, Caracas da Venezuela. Quarta capacitação: Estão abertas as inscrições para a quarta capacitação com a temática Cidadania Regional. A Capacitação presencial será no período de 20 a 25 de setembro de 2010, em Rosario, Argentina. PROJETO INTEGRAÇÃO FRONTEIRIÇA – PERÍODO DE EXECUÇÃO: MARÇO D E 2008 A MARÇO

DE 2011 • Características: i) contratação de consultorias; ii) oficinas de zonas de fronteira; iii) convocatória para três experiências pilotos; iv) criar sinergias com outros projetos do Programa Subregional Mercosul da AECID, que contemplam aspectos de integração fronteiriça. A execução ficará por conta da Secretaria Executiva, como Coordenadora do Comitê de Municípios do FCCR, e a AECID – Agência Espanhola de Cooperação Internacional.

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• Objetivos gerais: definir linhas de ação para o desenho da gestão de políticas públicas de integração transfronteiriça, diagnosticando e identificando nos territórios de fronteira, como contributo às diferentes instâncias institucionais do MERCOSUL e ao FCCR em particular. • Resultados: em setembro de 2009, organizou-se uma oficina sobre “Cooperação Transfronteiriça”.

DIREITOS HUMANOS, ESTADO E SOCIEDADE CIVIL: CONSTRUÇÃO DA CIDA DANIA - 2009 • Características: propõe-se a por em prática políticas públicas regionais que procurem a inclusão e equidade, no marco da integração. Para isto pretende: i) publicar a Revista anual: Mercocidades e Direitos Humanos; ii) gerar festivais artísticos e culturais itinerantes de sensibilização; iii) executar oficinas regionais e locais; e iv) levantar a situação local e os Direitos Humanos. O projeto foi apresentado pelo Município de Morón e selecionado pela União Européia para ser subvencionado através do Instrumento Europeu para Promoção da Democracia e dos Direito Humanos. Morón tem a seu cargo a coordenação regional do projeto e para sua implementação se constituiu um Comitê Consultivo integrado pela Secretaria Técnica Permanente, a Secretaria Executiva e a Coordenação da Comissão de Direito Humanos da Rede Mercocidades e o Observatório de Políticas Públicas de Direitos Humanos do Mercosul, associado do projeto. Prazo de execução: 30 meses. • Objetivos gerais: gerar capacidades nos atores locais (governos e sociedade civil) para a construção da cidadania regional com cultura de direitos humanos, através da criação e o fortalecimento dos espaços institucionais locais que promovam a participação e o protagonismo das organizações da sociedade na agenda de Direitos Humanos do Mercosul. • Objetivos específicos: i) promover e difundir os Direitos Humanos, assim como os valores da educação para a paz, o respeito, a liberdade, a equidade e a defesa da identidade; ii) envolver e articular as organizações da sociedade civil na promoção dos Direitos Humanos, assim como na identificação de distintas formas de violação dos Direitos Humanos; iii) criar e fortalecer os espaços institucionais dos governos locais para o desenvolvimento e a articulação de políticas públicas na temática; iv) promover a participação dos cidadãos e das organizações da sociedade civil para gerar os consensos na comunidade. • Situação atual: em 28 de abril de 2010, o Intendente da Cidade de Morón, Lucas Ghi, apresentou o projeto. Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações disponíveis nos Informes de Gestão 2008-2009 e dos Informes da STPM 2007 e 2008-2009, disponíveis em www.mercociudades.org (2010).

O que se pode observar pelo relato dos projetos é que eles são muito recentes, não existem relatos de projetos deste tipo sendo encaminhados pelas Secretarias Executivas anteriores, o que não quer dizer que eles não ocorreram, mas, observando a documentação da rede, parece que estas ações se tornaram mais expressivas no período de 2007 a 2009. As Secretarias Executivas anteriores estavam mais empenhadas na proposta de fortalecimento institucional de uma instância local na estrutura do MERCOSUL, na captação de novas cidades para a associação, no fortalecimento do sistema de comunicação da Rede, entre outros.

Entre estes projetos, um que parece bastante relevante neste momento, é o Inovação e Coesão Social, iniciado em 2008.

Quando os especialistas e técnicos são questionados sobre os projetos comuns, reafirma-se a relevância do projeto Inovação e Coesão Social, o que responderia a necessidade levantada e destacada no item anterior, por Alberto Kleiman, de que a Rede aproveitasse melhor o conhecimento gerado nas diversas Unidades Temáticas para gerar projetos conjuntos.

Jorge Rodriguez destaca que existe, hoje, principalmente a partir da Cumbre de Santo André, quando a Unidade Temática de Cooperação Internacional passou a ser coordenada pela Comissão Diretiva e pela Secretaria Técnica Permanente, uma prioridade em captar cooperação para a

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Rede. “Significa identificar prioridades, transformar estas prioridades em projetos e ações e conseguir financiamento”. As prioridades temáticas estabelecidas são: integração produtiva regional, cidadania regional, integração fronteiriça e alguns outros temas ligados aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. O Projeto Inovação e Coesão Social gera capacidades em governo locais para trabalhar de forma conjunta na região.

3.7 Algumas percepções dos participantes da Rede

Esta parte da tese se baseia nos encontros e discussões promovidos pela Rede e em avaliações de especialistas. Destacam-se entre estes encontros: a Reunião do Conselho Mercocidades, Tandil – Argentina, em 19 de março de 2010; e a XV Cumbre de Mercocidades, Belo Horizonte – Brasil, de 30 de novembro a 03 de dezembro de 2010; momentos em que foram aplicados os questionários e foram efetuadas as entrevistas com: Alberto Kleiman, María Sol Mina, Jorge Rodríguez e Rodrigo de Oliveira Perpétuo.

As seguintes cidades associadas responderam o questionário: Argentina – Bahia Blanca, Buenos Aires, Mar Del Plata, Morón, Neuquén, Paraná, Pergamino, Quilmes, Resistencia, Rio Cuarto, Rivadavia, Rosario e Tandil; Brasil - Belo Horizonte, Canoas, Contagem, Guarulhos, Macaé, Porto Alegre, São Carlos, São Leopoldo e Vitória; Chile – Valparaíso; Paraguai – Assunção, Carlos A. López e Limpio; Uruguai – Canelones e Montevidéu; Venezuela – Barquisimeto. 87

Apesar de estas cidades representarem somente 13,6% das cidades associadas88, o questionário foi respondido pelas cidades consideradas mais ativas na Rede, por ter sido Secretaria Executiva, ter participado da maioria das Cumbres e estar coordenando ou ter coordenado algumas das Unidades Temáticas89, além de serem as cidades que atuam como Secretaria Executiva (Rosario 2009/2010 e Belo Horizonte 2010/2011).90

Além disso, foram utilizadas algumas informações de pesquisa realizada pela INCIDIR – Iniciativa para Cooperação Internacional, o Desenvolvimento e

87 Ocorreram tentativas de ampliar o número de respostas ao questionário por meio dos endereços eletrônicos disponibilizados pelas cidades na página de Rede, mas, depois de três tentativas, foram recebidas somente a resposta de quatro cidades. 88 O que reforça a observação já feita de que, quanto maior o número de cidades associadas, menor a representatividade da participação nas Cumbres. 89 Conforme apresentado nos itens 3.2 e 3.5, são as seguintes cidades: Assunção, Buenos Aires, Montevidéu, Rosario, Belo Horizonte, Guarulhos, Morón, Tandil, Canelones, Porto Alegre e Valparaíso. 90 Exceto La Matanza, que apesar de estar presente no evento de Tandil, não respondeu ao questionário.

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a Integração Regional91, disponibilizadas em estudo situacional efetuado no âmbito do Projeto Inovação e Coesão Social.

A pesquisa realizada pela INCIDIR foi respondida pelas seguintes cidades, no período de 20 de julho a 20 de agosto de 2009: Argentina – Avellaneda, Bahia Blanca, Bragado, Buenos Aires, Capilla del Monte, Córdoba, Florencio Varela, General de San Matin, Junin, La Matanza, La Plata, Lanús, Luján, Malvinas Argentinas, Mar del Plata, Morón, Necochea, Neuquén, Olavarría, Pergamino, Puerto San Julián, Quilmes, Rafaela, Rio Grande, San Isidro, Santa Fe, Tandil e Viedma; Brasil – Diadema, Belo Horizonte, Curitiba, Osasco e Taboão da Serra; Chile – Valparaíso; Paraguai – Assunção; Uruguai – Colonia del Sacramento, Florida, Maldonado, Montevidéu e Paysandú.

O questionário teve como objetivo verificar o perfil da participação da cidade na Rede, o conhecimento que estes participantes têm dos objetivos da rede, a avaliação que os participantes fazem da atuação internacional das cidades e a estrutura da área de relações internacionais nas cidades.

A partir da tabulação dos dados chegou-se as seguintes informações:

Quadro 16 - Percepção sobre a ação internacional da s cidades associadas à Rede Mercocidades

Questões referentes à cidade no cenário internacion al nº. de respostas positivas

Nº. de respostas negativas

Você acredita que as cidades são atores políticos internacionais relevantes? 44 0 Você acredita que hoje as cidades são reconhecidas como atores no cenário internacional?

26

18

Você considera que hoje a participação em redes internacionais é o principal mecanismo de inserção internacional das cidades?

38

06

Você considera que as mudanças dos governantes locais influenciam as relações internacionais das cidades?

38

06

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos questionários respondidos pelas cidades participantes dos encontros, (2010).

Os dados confirmam as argumentações apresentadas de que as cidades apresentam uma atuação internacional relevante, mas de que o seu reconhecimento ainda não é suficiente. 40,9% dos entrevistados acreditam que as cidades não são reconhecidas no cenário internacional.

Maria Sol Mina destaca que, apesar de existir um reconhecimento formal das cidades nos organismos internacionais, na prática as cidades não podem

91 Organização não governamental dedicada a fomentar, difundir, melhorar e desenvolver a integração regional, em particular das entidades subnacionais, desde uma dimensão política, produtiva, social, educativa e cultural.

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interferir nas decisões, mesmo sendo temas que afetam fundamentalmente as localidades.

Alberto Kleiman faz uma escala hierárquica do sistema internacional, observando que na primeira camada estão os governos nacionais, em segundo as empresas internacionais, em terceiro a sociedade civil e em último lugar os governos locais. Pode-se dizer que os governos locais estão inseridos, o problema é que o volume de recursos é bem inferior em relação às outras camadas. “As organizações internacionais de uma forma geral, o Sistema das Nações Unidas como o HABITAT92 e outras agências como PNUD93, por exemplo, já percebem o grande potencial dos governos locais”.

Quando os entrevistados são questionados sobre a melhor forma de atuação internacional, eles consideram que isto vai depender do perfil das cidades, dos seus objetivos, entre outros fatores, mas quando os participantes dos dois encontros da Rede são questionados sobre se a participação em redes é a melhor forma de inserção internacional das cidades, 86,4% respondem que sim. Isto reflete o contexto em que foi aplicado o questionário, ou seja, as cidades que estavam presentes nos encontros da Rede consideram a atuação em rede um bom mecanismo de inserção internacional.

Quanto ao fato da descontinuidade da participação estar associada às mudanças políticas, existe certo consenso. Tanto os participantes que responderam o questionário, quanto os especialistas que foram entrevistados, consideram que as mudanças políticas explicam os altos e baixos na participação das cidades associadas. O que para alguns é ruim porque dificulta avanços e para outros é bom porque permite novos olhares sobre o tema. Uma alternativa para amenizar este problema seria a institucionalidade da área de relações internacionais nas prefeituras, mas isto não impediria que esta área fosse de certa forma esvaziada, por mudanças de gestores e mudanças de prioridades.

Quadro 17 - Estrutura das relações internacionais n as cidades associadas da Rede Mercocidades

Questões referentes às cidades Nº. de respostas positivas

Nº. de respostas negativas

Sua cidade possui uma área específica para as relações internacionais? 35 09 Há uma atribuição no orçamento local para a área internacional? 30 14 A cidade participa de outras redes internacionais de cidades? 26 18 A cidade tem desenvolvido algum acordo bilateral com outras cidades? 32 12 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos questionários respondidos pelas cidades participantes dos encontros, (2010).

92 Programa das Nações Unidas para Assentamento Humano. 93 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

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A pesquisa permite identificar que existe um perfil de institucionalidade de relações internacionais nas cidades participantes da Rede. O estudo da evolução Rede Mercocidades, nos seus quinze anos, permite identificar que algumas cidades criaram a área de relações internacionais para lidar com a sua própria atuação na Mercocidades. Isto fica bem claro quanto se discute a origem da Rede e quando se percebe que quando a cidade se associa a Rede é necessário nomear um responsável na estrutura municipal para lidar com seus temas.

Os especialistas entrevistados levantaram que um grande desafio para a atuação internacional de uma cidade é a criação de uma estrutura na organização municipal, com recursos próprios, com pessoal qualificado, entre outros fatores. Mesmo no caso em que esta ação seja feita por meio das redes, é necessária uma estrutura mínima e a alocação de recursos mínimos para participação nas reuniões e encontros.

Outra observação importante é que estas cidades, na sua maioria, utilizam redes como mecanismo de inserção internacional e, mais especificamente, centralizam sua atuação na Rede Mercocidades. Em torno de 41% dos entrevistados responderam que a cidade não participa de outras redes.

A pesquisa da INCIDIR, mesmo não sendo feita com a mesma amostra de cidades, contribui no sentido de que observaram que: 75% das cidades pesquisadas tem uma área ou pessoa responsável pelas relações internacionais e 90% das cidades pesquisadas tem acordos, convênios de cooperação internacional ou irmanação.

Quadro 18 - A percepção das cidades associadas sobr e a Rede Mercocidades

Questões referentes ao participante e a Rede Mercoc idades

Nº. de respostas positivas

Nº. de respostas negativas

Você tem conhecimento do principal objetivo e das temáticas de trabalho da Rede Mercocidades?

43

01

Você pessoalmente ou sua cidade (ainda que por meio de outro representante) tem participado dos encontros da Rede Mercocidades?

41

04

Você tem conhecimento de políticas inovadoras no território local estimuladas pela Rede Mercocidades?

27

17

Você tem conhecimento de projetos bilaterais estimulados pela Rede Mercocidades?

18 26

Você considera que a Rede Mercocidades precisa mudar seu formato? 15 29 Você considera que hoje os atores internacionais reconhecem suficientemente a Rede Mercocidades?

13

31

Você considera que hoje seu país reconhece suficientemente a Rede Mercocidades?

14 30

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos questionários respondidos pelas cidades participantes dos encontros, (2010).

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Existe uma percepção de que as cidades têm uma participação ativa na Rede, conhecendo seus objetivos e suas principais temáticas e participando, pelo menos, da maioria das Cumbres da Rede. Um fato relevante que se observa, tanto no questionário aplicado nos encontros, quanto na pesquisa da INCIDIR e no item da tese referente ao número de cidades associadas, é que a participação dos Prefeitos e Intendentes nas Cumbres tem caído. O que poderia caracterizar, confirmando a argumentação de Alberto Kleiman, certo desprestígio da Rede.

Aqui também a pesquisa da INCIDIR pode contribuir, apesar da amostra diferente, para a reflexão sobre a percepção da participação na Rede.

Quando as cidades foram questionadas sobre suas expectativas ao ingressar na Rede, a maioria afirmou que era a “busca de cooperação/troca de experiências entre cidades”. A expectativa de “ter incidência na agenda do MERCOSUL” só apareceu em terceiro lugar, depois de “busca de integração produtiva”. O que demonstra que a Rede talvez esteja perdendo um pouco do seu caráter inicial de incidir sobre a integração, mas esteja aumentando o seu caráter de cooperação. Talvez por isso, a redução da participação dos Indentendes e Prefeitos, sendo substituídos pelos técnicos das prefeituras que tratam destes temas.

O questionário aplicado nos encontros mostra que mesmo que nem todos os participantes tenham tomado conhecimento de políticas inovadoras implantadas nas suas cidades a partir da Rede (39%) e de a maioria não conhecer projetos bilaterais estimulados pela Rede (59%), os participantes não consideram necessária uma mudança no formato da Rede.

Na pesquisa da INCIDIR, observou-se que 48% das cidades responderem que tinham convênios com membros da Rede, mas que não sabiam quantos.

Isto reforça a dificuldade que se tem em perceber quais são os resultados da participação na Rede. O quanto o conhecimento gerado na Rede se transforma em ações efetivas que contribuem para a gestão dos problemas locais? Como avaliar isto? Mesmo que isto aconteça, como os principais interessados tomam conhecimento disto?

Quanto ao reconhecimento de outros atores internacionais e dos governos nacionais dos países do MERCOSUL, na percepção dos participantes existe uma fragilidade. A dúvida é se isto realmente acontece? O que talvez esteja mudando com a criação do FCCR, com as iniciativas de captação de cooperação para a Rede, com as parcerias desenvolvidas, entre outros, mas só poderia ser confirmado com outra pesquisa externa e não com os participantes da Rede e sim com os governos nacionais e outros atores internacionais relevantes.

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Um encaminhamento para solução deste problema pode ser a manutenção e aprimoramento dos indicadores de avaliação das Unidades Temáticas, como o elaborado pela STPM; a criação de um banco de dados com as informações sobre os encaminhamentos dos projetos conjuntos desenvolvidos, tanto pelas Unidades Temáticas quanto pela própria Rede; uma estratégia de maior aproximação da Rede com os diversos representantes da sociedade civil, mostrando as atividades desenvolvidas e viabilizando parcerias, principalmente, com Universidades e Centros de Pesquisa; utilizar as tecnologias de informação para criar ambientes de discussões, permitindo que cidades menores conheçam as diversas iniciativas sem necessariamente terem que se locomover até os locais dos encontros; insistir na elaboração de publicações com os conhecimentos gerados nas Unidades Temáticas e sobre a integração regional e as localidades, consolidando e democratizando o conhecimento gerado pela Rede; entre outros.

A pesquisa da INCIDIR apresenta um ranking dos principais eixos considerados relevantes pelas cidades para que elas obtenham maiores êxitos de sua participação na Rede: i) envio de informação sobre as possibilidades que o MERCOSUL oferece às cidades; ii) desenvolvimento de projetos vinculados à execução dos convênios assinados por Mercocidades; iii) participação em debates e projetos do FOCEM; iv) promoção das vinculações com os setores produtivos da região; v) promoção de uma maior participação dos funcionários das cidades membros; vi) ofertas de capacitação não presenciais através da internet; vii) assessoramento para as cidades membros em matéria de políticas públicas regionais; viii) incorporação de atores sociais das cidades nas atividades e projetos da Rede; ix) ofertas de capacitações presenciais; x) implementação de prêmios para estimular a produção intelectual, prática e teórica; entre outros com menor representatividade.

3.8 Considerações do capítulo

A Rede Mercocidades é uma associação de cidades do MERCOSUL, que surge com um objetivo de criar um espaço nas decisões do MERCOSUL para as cidades e um ambiente para a discussão e troca de experiências entre as cidades.

O estudo da Rede Mercocidades permite confirmar as argumentações de que as ações internacionais das cidades surgem no contexto de globalização, no caso específico da Rede também de intensificação da integração entre os Estados nacionais da Região do Cone Sul.

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As ações desenvolvidas pelos governos subnacionais, principalmente por meio das redes internacionais de cidades, são relações com caráter cooperativo, que buscam melhorar a qualidade de vida das sociedades destas localidades. Esta observação confirma as expectativas apresentadas no capítulo dois desta tese, mas também é possível acrescentar um caráter mais específico, observado no caso da Rede Mercocidades, e que talvez seja uma característica de qualquer relação em rede. Além de estas relações dependerem da vontade política dos gestores municipais e da qualificação dos responsáveis designados na prefeitura para esta área, estas relações envolvem indivíduos que tem interesses pessoais, interesses profissionais, interesses políticos, entre outros, sendo assim, a orientação desta cooperação seguirá os valores e objetivos destes indivíduos.

O estudo da Rede Mercocidades permite considerar que as redes internacionais de cidades representam instrumentos de inserção internacional que interessam tanto para as cidades pequenas, quanto para as grandes cidades. Enquanto as cidades menores participam da rede de forma mais passiva porque tem mais dificuldade de organizar e participar de eventos, as grandes cidades buscam a rede com o objetivo de se tornarem líderes na rede ou líderes em determinados temas. A participação das cidades nas redes não segue uma tendência linear, existem momentos mais intensos e momentos menos intensos, ou até de paralisação, respondendo aos interesses das agendas mais amplas das cidades.

Mesmo que a Rede Mercocidades tenha surgido como um movimento de crítica às políticas neoliberais e ao formato de integração que estava sendo desenvolvido no MERCOSUL, as suas ações não comprometem as diretrizes da política externa dos governos nacionais da região, mesmo porque as relações são entre cidades da região e cidades de outros países que já apresentam uma relação cooperativa entre os governos nacionais.

Quanto à argumentação de que o relacionamento em rede teria um caráter mais democrático pela possibilidade de participação da sociedade civil, o que se observa no caso da Rede Mercocidades é uma pequena participação da sociedade civil. Além dos funcionários das prefeituras, participam dos encontros da Rede Mercocidades representantes de Organizações não Governamentais, professores universitários, estudantes universitários e empresários, mas estes atores participam principalmente como ouvintes.

O caráter horizontal da relação em rede caracteriza-se pela possibilidade de que qualquer cidade associada assuma atividades de coordenação na rede, isto é possível na Rede Mercocidades, mas não é o que se observa na realidade. Conforme apresentado neste capítulo, existe um grupo de cidades que lideram a Rede, assumindo a coordenação das Unidades Temáticas, as Secretarias Técnica e Executiva, o Conselho e a Comissão Diretiva. O que

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implica que as decisões tomadas pela Rede sejam influenciadas pelos valores, objetivos e interesses dos representantes destas cidades. O que parece ser uma característica normal das redes, o desenvolvimento e a organização da rede dependem de uma coordenação para estimular a participação e para que se consiga atingir os objetivos propostos.

As ações desenvolvidas no âmbito da Rede Mercocidades não dependem de que as cidades associadas tenham uma estrutura de relações internacionais muito sofisticada, mas é essencial que exista pelo menos uma pessoa indicada para esta atividade na estrutura municipal. Já no caso em que a cidade tenha interesses mais ambiciosos em relação à rede, por exemplo, assumir a coordenação de uma Unidade Temática, é necessário ter uma estrutura mínima na prefeitura.

Quanto aos resultados esperados pela participação em redes internacionais das cidades, observam-se os seguintes aspectos positivos da participação na Rede Mercocidades: i) reforça a paradiplomacia; ii) viabiliza a reafirmação e renovação das relações entre cidades e amplia os contatos entre os atores locais; iii) viabiliza o intercâmbio de experiências; iv) promove relações bilaterais; v) é flexível, seguindo os interesses e objetivos dos participantes e do conjunto; vi) fortalece o processo de integração regional; vii) viabiliza a cooperação com outros atores internacionais; viii) fortalece uma posição conjunta dos atores subnacionais; ix) viabiliza o acesso a recursos internacionais; x) viabiliza o acesso a um grande volume de informações; xi) reforça lideranças; xii) estimula o desenvolvimento econômico.

Já no que diz respeito aos aspectos negativos, destacam-se no caso da Rede Mercocidades: i) as estratégias mudam de acordo com as mudanças dos governos; ii) a estrutura horizontal possibilita que a rede seja dominada por entidades locais fortes; iii) as diferenças de desenvolvimento entre os atores envolvidos dificultam o desenvolvimento de projetos conjuntos; iv) os principais beneficiários das redes são basicamente aqueles membros mais potentes e ativos, gerando uma distorção das relações.

A evolução da Rede, durante seus quinze anos de existência, permite algumas considerações: i) o contexto em termos de políticas econômicas e de integração no âmbito do MERCOSUL que existia no momento de criação da Rede não se mantém na atualidade, com um cenário atual mais favorável para os objetivos da Rede; ii) a evolução no número de cidades associadas mudou o formato da Rede, de uma Rede de grandes cidades para uma Rede de todas as cidades do MERCOSUL, acentuando-se, na atualidade, a menor participação das grandes cidades e a maior participação das médias e pequenas cidades; iii) a configuração de um grupo de cidades líderes, com mudança de configuração e redução da participação das cidades brasileiras neste grupo, gerando questionamentos sobre sua característica horizontal; iv) a

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conformação de uma estrutura de funcionamento que não comporta o crescimento das cidades associadas; v) redução de seu prestígio, com a participação menor das grandes cidades e com a presença reduzida dos intendentes e prefeitos em suas Cumbres; vi) existem avanços significativos na incidência das cidades sobre as decisões do MERCOSUL, mas ainda sem consolidação; vii) conformação de um ambiente de geração de conhecimento e capacitação para as cidades em temas de seu interesse, por meio dos convênios, das parcerias e das Unidades Temáticas; viii) avanços recentes na promoção de projetos conjuntos entre as cidades; ix) dificuldade em mensurar os resultados e em disseminar as informações sobre o que acontece no âmbito da Rede; x) dificuldade em consolidar a participação da sociedade civil e gerar um reconhecimento internacional e dos governos nacionais da região.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas considerações finais de cada capítulo foram expostas, de forma sintética, algumas questões referentes às temáticas elaboradas. Nessas Considerações Finais da tese, além de recuperar pontos já assinalados, foram resumidos os desafios e possibilidades da pesquisa sobre a Rede Mercocidades.

O estudo da Rede Mercocidades permite a apresentação de algumas contribuições para a discussão sobre a ação internacional das cidades, principalmente, as ações desenvolvidas por meio das redes internacionais de cidades.

A ação internacional das cidades já é um fato, mas a sua intensificação é recente, reflexo do contexto atual da globalização.

Os principais fatores que foram desenvolvidos no capítulo um desta tese e que impactaram sobre as cidades, levando-as a buscarem novos mecanismos de políticas públicas, são: a internacionalização financeira, a internacionalização produtiva, a redução do poder do Estado, o desenvolvimento de políticas de cunho neoliberal, os processos de regionalização, a descentralização administrativa do Estado, a intensificação dos problemas nas cidades em conseqüência das novas configurações de produção e as iniciativas de políticas públicas com características de políticas de desenvolvimento local.

A internacionalização financeira representa um movimento de intensificação da circulação do capital financeiro entre os países em busca de maior rentabilidade para os investidores financeiros. É um movimento que foi propiciado pelas inovações nos produtos financeiros e na área de telecomunicações e que tem reflexos tanto nos países receptores destes investimentos, quanto nas cidades que representam os nós destas articulações financeiras. Um dos principais impactos da internacionalização financeira é o crescimento das crises financeiras que repercutem em crises econômicas mais abrangentes e que levam os governos dos países a tomarem medidas econômicas nem sempre condizentes com as estratégias ou com as necessidades de desenvolvimento dos seus países.

De forma concomitante à internacionalização financeira, a internacionalização produtiva caracteriza-se pelo crescimento do comércio intra-indústria e pela intensificação do fluxo de investimento direto entre os países.

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A internacionalização produtiva é promovida pelas empresas transnacionais, emergindo daí um ator internacional bastante relevante. São empresas de grande porte e que, na sua maioria, tem origem nos países desenvolvidos. Estas empresas apresentam especificidades de gestão e organização e, ao mesmo tempo em que, levam em consideração as circunstâncias dos países onde estão atuando, têm um vínculo ainda forte com seus países de origem. Grande parte do investimento destas empresas ainda está concentrado nos países desenvolvidos, com algum crescimento na participação dos países em desenvolvimento, mas também neste caso em um grupo pequeno de países.

As novas características da organização da produção, desenvolvida pelas empresas transnacionais, também vão refletir na agenda de políticas dos governos nacionais e dos governos locais, uma vez que, a estratégia destas empresas é definida levando em consideração os recursos disponíveis e as condições de demanda dos países e das localidades onde serão feitos os investimentos. A atração destes investimentos acaba sendo, em algumas situações, a prioridade da agenda de diversos países e localidades. A idéia é de prioridade ao crescimento da produção, que pode ter como reflexo menor investimento em desenvolvimento econômico.

Uma das características marcantes da estratégia de organização das empresas transnacionais é a produção flexível, que leva em conta os fornecedores, a tecnologia de informação, a qualificação dos trabalhadores, entre outros fatores. Ao mesmo tempo em que este sistema de produção pode trazer benefícios no sentido de ampliar a qualificação dos trabalhadores e, conseqüentemente, promover um aumento de suas rendas, ele promove a exclusão de outro grupo de trabalhadores, talvez maior que o anterior, principalmente nos países menos desenvolvidos. São trabalhadores que não estão qualificados e nem têm condições de se qualificar sem uma intervenção do Estado neste sentido.

Criam-se grupos de excluídos tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento, tanto nas cidades mais desenvolvidas quanto nas cidades menos desenvolvidas, mas, principalmente, nos países mais pobres. Isto é resultado do desemprego estrutural, do aumento da pobreza, da maior concentração de renda, do crescimento da discriminação em todos os sentidos.

A internacionalização financeira e a internacionalização produtiva vão repercutir em políticas econômicas nacionais muito centradas aos interesses destes capitais, privilegiando um grupo de indivíduos, em detrimento das necessidades da maioria dos representantes das sociedades nacionais. O que, por conseqüência, amplia os questionamentos sobre a viabilidade e a manutenção deste sistema de produção.

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Os movimentos de inserção internacional das cidades podem caracterizar um destes questionamentos, mas o que parece se observar, pelo estudo de caso da Rede Mercocidades, é que se trata de um movimento muito mais de adaptação do que de contraposição. As cidades se organizam internacionalmente mais para se adequarem ao cenário do capitalismo global do que para discutir modelos alternativos de organização do sistema.

Acompanhando a internacionalização financeira e produtiva, ou até em conseqüência delas, os Estados nacionais estão perdendo o seu poder. Parte deste poder está sendo transferido aos organismos interestatais e supranacionais internacionais e parte aos governos locais, pelo processo de descentralização administrativa. Os Estados nacionais encontram-se cada vez mais absorvidos pelas questões relacionadas à agenda internacional, de forma que as questões nacionais, quando não estão subordinadas às questões internacionais ou não representam temas econômicos e políticos de forte relevância para manutenção da soberania dos Estados nacionais, ficam em segundo plano ou são transferidas para as outras instâncias de governo.

Ao mesmo tempo em que o Estado nacional fica absorvido pelas questões internacionais, as políticas econômicas nacionais apresentam uma orientação para o livre mercado, caracterizada, entre outros fatores, pela redução da intervenção do Estado e, conseqüentemente, do seu tamanho. A atuação empresarial e de regulação do mercado pelo Estado são reduzidas com o processo de privatização. Além disso, reduz-se a capacidade de intervenção por meio de políticas sociais, priorizando-se as ações estatais ligadas à manutenção da propriedade privada dos meios de produção.

O processo de privatização e de redução da intervenção do Estado é acompanhado por políticas monetárias e fiscais conservadoras, no sentido de enfatizarem a estabilidade de preços e a redução do déficit e da dívida pública, e por políticas de livre comércio e de livre movimentação do capital estrangeiro, dirigidas para maior inserção internacional dos países. Medidas que beneficiam os portadores de capital financeiro e as empresas transnacionais, mas que acentuam as diferenças na distribuição da riqueza e da renda, com a menor contrapartida de ações distributivas promovidas pelos governos nacionais.

É neste contexto que surgem as iniciativas de integração regional, apesar das diferenças nas diversas iniciativas, estes processos apresentam algumas similaridades e uma delas é que os processos de regionalização surgem a partir da nova dimensão que as questões internacionais têm nas agendas dos governos nacionais. Na atualidade, o processo de integração regional apresenta uma dinâmica bastante influenciada pelas questões econômicas, baseada na livre movimentação das mercadorias em uma região, representando um processo de complementação às políticas neoliberais.

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É neste momento em que a integração latino-americana, principalmente no caso do MERCOSUL, assume um caráter de iniciativa de livre comércio com expectativas de ampliação da área em conjunto com outras iniciativas de cooperação multilateral de livre comércio, que surge a Rede Mercocidades. Por esta razão, considera-se que as redes podem assumir um caráter de contraposição às idéias neoliberais, ou mesmo, de um movimento de contraposição política, pelo fato dos governos locais divergirem em termos de identidades partidárias dos governos nacionais. A Rede Mercocidades surge como uma rede de caráter político, pensando-a como um ator político que teria condições de influenciar as políticas internas e externas dos governos nacionais da região.

Este modelo de integração muda, principalmente a partir de 2003, passando para uma integração mais positiva, avançando para além das questões comerciais, ampliando-se as discussões sobre a integração política e social, o que também implica em uma mudança na agenda da Rede Mercocidades, no que diz respeito à integração. Neste novo momento do MERCOSUL, a Rede Mercocidades apresenta-se como uma rede de cooperação, enfatizando-se o seu perfil de ambiente de cooperação descentralizada, por meio das Unidades Temáticas e das primeiras iniciativas de projetos conjuntos, perdendo um pouco do seu caráter político que foi motivo de sua criação. As negociações no âmbito do MERCOSUL não saíram da agenda, mas não podem ser consideradas o motivo de ser da rede. As atividades de cooperação desenvolvidas no âmbito das Unidades Temáticas ainda têm um caráter de incidir e contribuir com a integração do MERCOSUL.

As motivações das cidades para inserção internacional e, especificamente, para a participação em redes internacionais, estão associadas às questões levantadas anteriormente, mas também estão associadas aos impactos da globalização e da regionalização nas cidades. Como os impactos são diferenciados, dependendo do perfil da cidade, as motivações de cada cidade são também diferenciadas. Daí a dificuldade de associar os impactos locais da globalização e regionalização que levam as cidades a buscarem a inserção internacional. A partir desta consideração, é possível fazer uma inferência sobre estes impactos a partir de alguns fatores que diferenciam as cidades.

Para as cidades que representam locais importantes para as estratégias das empresas transnacionais a inserção internacional é meio que natural, ou seja, as questões internacionais têm impactos econômicos, políticos, sociais e culturais relevantes nestas cidades. De qualquer forma, a inserção mais competitiva destas cidades vai depender do estabelecimento de diretrizes estratégicas dos seus governos locais. Estas são as cidades que se globalizam ou que promovem a globalização. Ao mesmo tempo, existe um grupo de cidades que são marginalizadas pelas ações estratégicas das empresas

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transnacionais. O que demonstra que os impactos da globalização não serão idênticos em todas as cidades.

As cidades maiores em termos de desenvolvimento e que representam centros relevantes do sistema capitalista global independem das redes internacionais das cidades para influírem nas questões internacionais, portanto, elas participam ou são as promotoras das redes internacionais com o objetivo de fortalecer suas posições como atores políticos internacionais. Utilizam a inserção internacional, por meio inclusive de redes internacionais, para refletir sobre os problemas urbanos que surgem em função do novo contexto de globalização.

Já as cidades menores, que não representam locais relevantes para o sistema capitalista global, buscam, por meio das políticas urbanas, contornarem os problemas que impedem que sejam atrativas a estas atividades. A cooperação internacional, por vezes a partir da participação em redes internacionais de cidades com problemas semelhantes, representa um mecanismo para potencializar estas políticas urbanas.

As políticas de desenvolvimento local e a inserção internacional podem ter como objetivo tornar as cidades mais competitivas para atrair os setores dinâmicos da nova economia, mas também podem ter como objetivo corrigir as dualidades originadas pela nova economia. A justificativa para as iniciativas de desenvolvimento local é que os recursos e as relações que estão disponíveis nestas localidades que definirão o modelo de políticas econômicas locais que serão estabelecidos. A justificativa para utilização da inserção internacional, por meio da participação em redes internacionais, é a possibilidade de maior sucesso nestas políticas econômicas de desenvolvimento local.

Respondendo as perguntas lançadas no início do desenvolvimento desta tese, pode-se considerar que as motivações que orientam a política municipal de atuação em redes internacionais de cidades são os impactos sobre as cidades: das estratégias de atuação das empresas transnacionais; da reestruturação da produção; das inovações tecnológicas na área de informação e comunicação; das novas configurações dos Estados nacionais; do processo de descentralização administrativa; dos processos de integração regional; das agendas das políticas econômicas internas e das políticas externas dos governos nacionais; da concentração do capital e da renda e da riqueza.

A participação em redes internacionais pode responder: aos efeitos negativos da globalização, à uma inserção mais competitiva no sistema capitalista global e à necessidade de contrapor o formato de atuação dos governos nacionais internamente ou externamente.

Neste sentido, pensando que a formação de redes internacionais das cidades responde a um contexto de crise do Estado nação, ampliação dos

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acordos multilaterais, com a emergência de instituições supranacionais e interestatais, e descentralização de competências e iniciativas para as localidades, a formação das redes internacionais caracterizaria a nova lógica institucional que Castells chama de “Estado rede”. Os Estados, ao perceberem a impossibilidade de manutenção da centralização das decisões, passam a se organizar de forma a distribuir poder tanto para as instituições internacionais, quanto para as instituições regionais e locais. A emergência das cidades nas questões nacionais e internacionais é promovida por um movimento das próprias localidades, mas também por um movimento do próprio Estado nacional.

Na institucionalidade do “Estado Rede”, o Estado nação não perde importância, seu papel principal passa a ser o de criar mecanismos de coordenação entre os distintos níveis institucionais para atingir os objetivos centrais estabelecidos. Considerando-se a Rede Mercocidades como uma destas instituições regionais, que reflete as necessidades das sociedades locais dos países do Cone Sul, em um movimento de emergência das localidades da região, e a integração no âmbito do MERCOSUL como uma iniciativa de junção dos poderes para atingir um objetivo comum dos países da região, a tarefa dos seus Estados nacionais passa a ser a de coordenação destas iniciativas. O Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos representa um destes mecanismos, que merece uma maior atenção e discussão, dada a sua fase de implantação.

Já no que diz respeito à natureza das relações desenvolvidas pelas cidades, o estudo da Rede Mercocidades permite que se apresentem algumas considerações. As ações internacionais das cidades por meio das redes internacionais de cidades permitem uma associação com as ações desenvolvidas por outros atores da sociedade civil, uma vez que, a associação das cidades é considerada uma associação civil, com a especificidade de que os representantes das cidades nesta associação são gestores públicos eleitos.

Além disso, a ação internacional das cidades apresenta características diferentes em relação às ações desenvolvidas pelos outros atores internacionais, principalmente, quando são comparadas às ações dos Estados nacionais. As ações internacionais das cidades assumem um caráter mais pragmático em termos de políticas púbicas locais do que as ações internacionais dos países. Algumas ações são desenvolvidas de forma articulada com o governo nacional e outras, de caráter menos formal, são desenvolvidas de forma autônoma. A participação em redes internacionais de cidades acontece de forma independente da articulação com o governo nacional, mas não se caracteriza como uma ação de contraposição às diretrizes da política externa dos governos nacionais.

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A participação em redes internacionais representa uma ação delimitada à cooperação descentralizada e tem um caráter experimental, no sentido de que as cidades participam de forma mais ativa em alguns momentos, quando os temas são considerados relevantes, e de forma menos ativa em outros, quando os temas não são considerados tão importantes. A participação apresenta altos e baixos e está bastante condicionada às expectativas de retornos positivos.

Mesmo nos casos em que ação internacional das cidades seja desenvolvida, principalmente, por meio das redes internacionais é preciso que a cidade apresente em sua estrutura de gestão municipal uma área dedicada a esta atuação ou pelo menos um grupo de funcionários qualificados. Isto é, se entende que a ação internacional seria importante para o desenvolvimento da agenda municipal.

Apesar de seu caráter horizontal, as relações desenvolvidas no âmbito das redes internacionais de cidades respondem ao conjunto de idéias e valores dos representantes das cidades que formam o núcleo duro da rede.

Estas considerações permitem responder a pretensão inicial da tese de descrever as relações que são desenvolvidas, a natureza destas relações e os atores envolvidos nas redes internacionais das cidades.

As relações são relações cooperativas para potencializar as políticas municipais de desenvolvimento local e para potencializar a atuação dos governos locais nas questões nacionais e internacionais de interesse para as localidades, como a integração regional, os problemas ambientais, os problemas da urbanização, entre outros. São relações de cooperação descentralizada que consideram que a solução dos problemas econômicos locais deve considerar as especificidades das localidades e precisam ter um caráter mais distributivo, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das localidades, ou seja, são medidas de desenvolvimento econômico local.

O estudo da Rede Mercocidades permite considerar que ela representa um ambiente de cooperação, de difusão e de discussão de temas urbanos. O que propicia às cidades associadas consolidar um conjunto de conhecimentos sobre as temáticas de seu interesse. Existem cidades que são referência em determinados temas e a disseminação destes conhecimentos na Rede viabiliza uma melhoria na qualidade das políticas públicas locais. Estes parecem ser os principais resultados da cooperação desenvolvida na rede, ou seja, a troca de experiências. A grande dificuldade tem sido reverter estas ações em projetos conjuntos, o que viabilizaria ganhos de escala pela relação em rede. Este parece ser o grande desafio da Rede Mercocidades na atualidade.

Os atores envolvidos nestas relações são principalmente os gestores públicos municipais (eleitos ou profissionais do setor público municipal),

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enfatizando um perfil seletivo da participação ou de menor participação de outros agentes da sociedade civil. O que demonstra certa debilidade do modelo de participação, uma vez que a proposta é que as redes tenham um caráter mais democrático e que as medidas tomadas apresentem como característica a participação dos principais agentes interessados.

A participação em redes internacionais de cidades apresenta aspectos positivos e aspectos negativos.

Como um dos objetivos da tese foi investigar de que forma a cooperação descentralizada, por meio da participação em redes internacionais de cidades, pode maximizar as capacidades das cidades, destacam-se os seguintes aspectos positivos: reforça a paradiplomacia; permite a reafirmação e renovação das relações entre cidades e amplia os contatos entre os atores locais; viabiliza o intercâmbio de experiências; promove relações bilaterais; viabiliza a cooperação com outros atores internacionais; viabiliza o acesso a recursos de ajuda internacional; viabiliza o acesso a um grande volume de informações; e estimula o desenvolvimento econômico.

Já no que diz respeito aos obstáculos enfrentados, que podem ser considerados os seus fatores limitadores: as estratégias nem sempre são acompanhadas por medidas conduzidas de forma linear, ou seja, podem existir descontinuidades políticas que dificultam que os objetivos de desenvolvimento sejam alcançados; as agendas implantadas na rede nem sempre respondem às expectativas de todas as cidades, dada a diferença no perfil das cidades e a dificuldade que algumas cidades têm em interagir ou em atuar de forma mais ativa na rede, muitas vezes pelo custo envolvido nesta atuação mais ativa e pelo poder desenvolvido por um grupo de cidades e de indivíduos que atuam na rede; a dificuldade de coordenação das atividades pelo caráter horizontal da rede e a possibilidade de que qualquer cidade possa assumir funções de coordenação; as dificuldades do desenvolvimento de projetos conjuntos pela necessidade de co-participação e pela dificuldade de algumas cidades financiarem sua participação; dificuldade em mensurar os benefícios gerados pela participação em redes e, consequentemente, de apresentar aos diversos atores políticos locais os efeitos positivos destas ações, além de dificultar as correções de rumo da própria agenda da rede.

Além destas limitações, existem questões também importantes que necessitam maior reflexão, ou seja, como organizar uma divulgação mais sistemática da dinâmica da Rede Mercocidades na opinião pública, por intermédio dos meios de comunicação (TV, jornais, revistas etc.), e uma presença mais ativa de ONGs, movimentos sociais, igrejas, nas Unidades Temáticas e nos projetos em curso. A organização da Rede Mercocidades precisa, ainda, criar mecanismos para superar as descontinuidades políticas, provocadas pelas mudanças eleitorais. Estas observações levantam a

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necessidade em se avançar nos estudos sobre a participação em redes internacionais de cidades e sobre a Rede Mercocidades.

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ANEXOS

ANEXO 1 – CIDADES MEMBROS (2010)

ARGENTINA

Avellaneda Pergamino Azul Piamonte

Bahía Blanca Pilar Barranqueras Pinamar

Bovril Puerto San Julián Bragado Quilmes

Buenos Aires Rafaela Capilla del Monte Realicó Carlos Pellegrini Reconquista

Cipoletti Resistencia Comodoro Rivadavia Río Cuarto

Concordia Río Grande Córdoba Rio Tercero

Empedrado Esperanza

Roque Saens Peña Rosario

Firmat Salta Florencio Varela Salto

General San Martín San Antonio de los Cobres Gualeguaychú San Fernando del Valle de Catamarca Guaymallén San Isidro Hurlingham San Jorge

Junín San Juan Junin de los Andes San Lorenzo

La Matanza San Luis La Plata San Miguel de Tucumán La Rioja San Salvador de Jujuy Lanús Santa Fe

Las Bandurrias Santiago del Estero Lomas de Zamora San Tomé

Luján Tandil Malvinas Argentinas Tigre

Mar del Plata Trelew María Susana Ushuaia

Mendoza Vicente López Montecarlo Viedma

Monte Caseros Morón

Villa Gesell Villa Maria

Necochea Villa Mercedes Neuquén Virasoro Olavarria Zapala Paraná Zarate

Paso de los Libres BRASIL

Amparo Alvorada

Niterói Nova Iguaçu

Araraquara Osasco Bagé Paranhos

Barra do Quaraí Barra do Ribeiro

Penápolis Piracicaba

Bela Vista Porto Alegre Belém Praia Grande

Belo Horizonte Recife Brasília Ribeirão Preto

Camaçari Rio Claro Campinas Rio de Janeiro Canoas Rio Grande

Caxias do Sul Sabará

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Contagem Salavador Coronel Sapucaia Santa Maria

Cuiabá Santana de Parnaíba Curitiba Santa Vitória do Palmar Diadema Santo André Dourados Santos

Esteio São Bento do Sul Florianópolis São Bernardo do Campo

Fortaleza São Caetano do Sul Foz de Iguaçu São Carlos

Goiânia São José do Rio Preto Gravataí São Leopoldo Guairá São Paulo

Guarulhos São Vicente Indaiatuba Sumaré

Jacareí Suzano Joinville Taboão da Serra

Juiz de Fora Uberlândia Limeira Várzea Paulista Londrina Viamão Macaé Vitória Mauá Vitória da Conquista

Maringá Mossoró

PARAGUAI Asunción Bela Vista

Jesús Limpio

Bella Vista Norte Nanawa Capiatá Pedro Juan Caballero

Cambyretá Pilar Capitán Meza Pirapó

Carlos Antonio López Salto de Guairá Cancepción San Lázaro

Coronel Florentín Oviedo San Pedro de Ycuamandiyú Fernando de la Mora Villeta

Hernandarias Ypejhú Horqueta

URUGUAI Artigas

Canelones Paysandú Rio Negro

Cerro Largo Rívera Colonia Rocha Durazno San José Flores Salto Florida Tacuarembó

Maldonado Treinta y Tres Montevideo

VENEZUELA Barquisimeto Independencia

Caracas-Alcaldía Mayor Cumaná

Libertador Vargas

BOLÍVIA Cochabamba Santa Cruz de la Sierra

La Paz Tarija CHILE

Arica Puerto Montt Calama Quilpué

Concepción Rancagua Chillán Viejo Santiago de Chile

El Bosque La Florida

Valparaíso Viña del Mar

Los Andes

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PERU Carabayllo Jesús María

La Victoria Lurín

Lima Fonte: www.mercociudades.org

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ANEXO 2 – PARTICIPAÇÃO DAS CIDADES NAS CUMBRES DA R EDE MERCOCIDADES

Ano – Secretaria Executiva Cidades Participantes 1995 – Assunción 1. Asunción

2. Brasília 3. Buenos Aires 4. Cordoba 5. Curitiba 6. Florianópolis 7. La Plata 8. Montevideo 9. Porto Alegre 10. Rio de Janeiro 11. Rosario 12. Salvador

1996 – Porto Alegre 1. Asunción

2. Belo Horizonte 3. Brasília 4. Buenos Aires 5. Concepcion 6. Córdoba 7. Curitiba 8. Florianópolis 9. Fortaleza 10. La Plata 11. Mendonza 12. Montevideo 13. Porto Alegre 14. Ribeirão Preto 15. Rio de Janeiro 16. Rosario 17. Salvador 18. San Miguel de Tucumán 19. Santiago de Chile

1997 - Córdoba Informações não disponíveis.

1998 – Montevideo Informações não disponíveis.

1999 – Belo Horizonte 1. Asunción

2. Bahia Blanca 3. Belo Horizonte 4. Buenos Aires 5. Concepción 6. Cordoba 7. Curitiba 8. Diadema 9. Fernando de La Mora 10. Florianópolis 11. General Sant Martin 12. Guarulhos 13. Juiz de Fora 14. La Plata 15. Limpio 16. Los Andes 17. Macaé 18. Malvinas Argentinas

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19. Mar Del Plata 20. Montevideo 21. Piracicaba 22. Porto Alegre 23. Rio Claro 24. Rivera 25. Rosario 26. Rio de Janeiro 27. Santa Maria 28. Santo André 29. São Bernardo do Campo 30. Valparaiso 31. Villa Mercedes

2000 – Rosario Informações não disponíveis.

2001 – Valparaiso Informações não disponíveis

. 2002 – Asunción 1. Asunción

2. Belo Horizonte 3. Buenos Aires 4. Campinas 5. Caxias do Sul 6. Comodoro Rivadavia 7. Guarulhos 8. Juiz de Fora 9. La Matanza 10. La Plata 11. Malvinas Argentina 12. Montevideo 13. Morón 14. Paysandú 15. Pergamino 16. Piracicaba 17. Porto Alegre 18. Quilmes 19. Rancagua 20. Recife 21. Ribeirão Preto 22. Rio Claro 23. Rio de Janeiro 24. Rosario 25. San Fernando Del Valle de Catamarca 26. San Isidro 27. Santa Cruz de La Sierra 28. Santo André 29. São Bernardo do Campo 30. São Paulo 31. Uberlândia 32. Valparaíso 33. Vina Del Mar 34. Vitoria

2003 – Montevideo 1. Alvorada

2. Asunción 3. Belo Horizonte 4. Brasília 5. Buenos Aires 6. Campinas 7. Caxias do Sul

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8. Cerro Largo 9. Cochabamba 10. Comodoro Rivadavia 11. Cordoba 12. Fernando de La Mora 13. General San Martin 14. Guarulhos 15. Juiz de Fora 16. Florida 17. La Matanza 18. La Plata 19. Limpio 20. Macaé 21. Maldonado 22. Malvinas Argentina 23. Mar Del Plata 24. Mendoza 25. Montevideo 26. Morón 27. Mossoró 28. Olavarria 29. Paysandú 30. Pergamino 31. Piracicaba 32. Porto Alegre 33. Rafaela 34. Rancagua 35. Recife 36. Resistência 37. Ribeirão Preto 38. Rio Claro 39. Rio de Janeiro 40. Rosario 41. Santa Maria 42. Santo André 43. São Bernardo do Campo 44. São Caetano do Sul 45. São José do Rio Preto 46. São Paulo 47. San Fernando Del Valle de Catamarca 48. Tacuarembó 49. Treinta y Tres 50. Uberlândia 51. Valparaíso 52. Villeta

2004 – Buenos Aires 1. Arica 2. Asunción 3. Avellaneda 4. Bahia Blanca 5. Belo Horizonte 6. Buenos Aires 7. Campinas 8. Comodoro Rivadavia 9. Concepción 10. Cordoba 11. Coronel Florentin Oviedo 12. Diadema 13. Fernando de La Mora 14. Florida 15. General San Martin

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16. Gravatai 17. Gualecuaychu 18. Guarulhos 19. Horqueta 20. Juiz de Fora 21. Junin 22. La Matanza 23. La Paz 24. La Plata 25. La Rioja 26. Limpio 27. Lomas de Zamora 28. Lujan 29. Macaé 30. Maldonado 31. Malvinas Argentinas 32. Mar Del Plata 33. Mendoza 34. Montecarlo 35. Montevideo 36. Morón 37. Nanawa 38. Necochea 39. Paraná 40. Pergamino 41. Porto Alegre 42. Quilmes 43. Rafaela 44. Recife 45. Resistencia 46. Rio Cuarto 47. Rio de Janeiro 48. Rosario 49. Salto 50. Salto de Guaira 51. San Fernando del Valle de Catamarca 52. San Isidro 53. San Juan 54. San Luis 55. San Salvador de Jujuy 56. Santa Cruz de La Sierra 57. Santa Fé 58. Santa Maria 59. Santo André 60. São Bernardo do Campo 61. São Caetano do Sul 62. São Carlos 63. São José do Rio Preto 64. São Paulo 65. Tacuarembó 66. Tandil 67. Treinta y Tres 68. Ushuaia 69. Valparaíso 70. Várzea Paulista 71. Vicente López 72. Villa Gesell 73. Villa Maria 74. Villeta 75. Viña Del Mar

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76. Ypejhú

2005 – Santo André 1. Asunción 2. Avellaneda 3. Barranqueras 4. Bragado 5. Belo Horizonte 6. Buenos Aires 7. Camaçari 8. Canelones 9. Chillán Viejo 10. Colonia 11. Córdoba 12. Durazno 13. Fernando de La Mora 14. Florida 15. Gravataí 16. Guarulhos 17. Horqueta 18. Jacareí 19. Junín 20. La Matanza 21. La Paz 22. La Plata 23. Lima 24. Limpio 25. Maldonado 26. Mendoza 27. Montecarlo 28. Montevideo 29. Morón 30. Mossoró 31. Necochea 32. Paysandú 33. Penápolis 34. Porto Alegre 35. Recife 36. Resistencia 37. Rio Claro 38. Rio Grande 39. Rio de Janeiro 40. Rio Negro 41. Rosario 42. Salto 43. San Luis 44. Santa Maria 45. Santiago do Chile 46. Santo André 47. Santos 48. São Bernardo do Campo 49. São Carlos 50. São José do Rio Preto 51. São Vicente 52. Tandil 53. Valparaíso 54. Várzea Paulista 55. Villa Gesell

2006 – Morón 1. Asunción

2. Barranqueras

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3. Belo Horizonte 4. Buenos Aires 5. Camaçari 6. Campinas 7. Canelones 8. Carlos Pelegrini 9. Caxias do Sul 10. Diadema 11. Flores 12. Florida 13. Gravataí 14. Guarulhos 15. Jacareí 16. Joinville 17. La Matanza 18. Las Bandurrias 19. Lima 20. Maldonado 21. Maria Susana 22. Montecarlo 23. Montevideo 24. Morón 25. Necochea 26. Osasco 27. Paysandú 28. Piamonte 29. Realicó 30. Rio Cuarto 31. Rio Grande 32. Rosario 33. Salto 34. San Antonio de Los Cobres 35. Santo André 36. São Carlos 37. São José do Rio Preto 38. Tandil 39. Villa Gesell 40. Vitória

2008 – Canelones 1. Araraquara

2. Avellaneda 3. Barquisimeto 4. Belo Horizonte 5. Buenos Aires 6. Camaçari 7. Canelones 8. Capilla Del Monte 9. Caracas – Alcadia Mayor 10. Concórdia 11. Curitiba 12. Esteio 13. Florencio Varela 14. Gravataí 15. Guarulhos 16. Jacareí 17. Junin 18. La Matanza 19. La Paz 20. Lanus 21. Maldonado

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22. Malvinas Argentinas 23. Mar Del Plata 24. Montecarlo 25. Montevideo 26. Morón 27. Neuquen 28. Osasco 29. Paso de Los Libre 30. Paysandú 31. Porto Alegre 32. Quilmes 33. Recife 34. Rio Negro 35. Rosario 36. Salta 37. Salto 38. San Juan 39. Santa Maria 40. Santo André 41. São Carlos 42. São José do Rio Preto 43. Taboão da Serra 44. Tandil 45. Treinta y Tres 46. Valparaíso 47. Várzea Paulista 48. Vitória

2009 - Rosario 01. Bahia Blanca 02. Bragado 03. Buenos Aires 04. Capilla del Monte 05. Concórdia 06. Córdoba 07. Junín 08. La Matanza 09. Mar del Plata 10. Morón 11. Neuquén 12. Paraná 13. Paso de los Libres 14. Pergamino 15. Pinamar 16. Quilmes 17. Rafaela 18. Reconquista 19. Río Cuarto 20. Río Tercero 21. Rosario 22. Salta 23. San Justo 24. San Lorenzo 25. Tandil 26. Zárate 27. La Paz 28. Bagé 29. Belo Horizonte 30. Camaçarí 31. Canoas 32. Caxias do Sul 33. Contagem

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34. Diadema 35. Fortaleza 36. Guarulhos 37. Joinville 38. Macaé 39. Osasco 40. Porto Alegre 41. Rio de Janeiro 42. Santa Vitória do Palmar 43. São Carlos 44. São Leopoldo 45. Várzea Paulista 46. Chillán Viejo 47. Valparaíso 48. Canelones 49. Cerro Largo 50. Maldonado 51. Montevideo 52. Paysandú 53. Rio Negro 54. Salto 55. Asunción 56. Carlos Antonio López 57. Fernando de la Mora 58. Limpio 59. La Victoria 60. Barquisimeto 61. Caracas

Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações disponíveis em www.mercociudades.org.

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ANEXO 3 – CIDADES ASSOCIADAS, ANO DE ADESÃO, PARTIC IPAÇÃO EM CUMBRES E ATUAÇÃO NA SECRETARIA EXECUTIVA

Ano de adesão

Cidades Participação em

Cumbres

Secretaria Executiva

1995 Asunción 1995 1996 1999 2002 2003 2004 2005 2006

1995 2002

Brasília 1995 1996 2003

Buenos Aires 1995 1996 1999 2002 2003 2004 2005 2006 2008

2004

Córdoba 1995 1996 1999 2003 2004 2005

1997

Curitiba 1995 1996 1999 2008

Florianópolis 1995 1996 1999

La Plata 1995 1996 1999 2002 2003 2004 2005

Montevideo 1995 1996 1999 2002 2003 2004 2005 2006 2008

1998 2003

Porto Alegre 1995 1996 1999 2002

1996

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2003 2004 2005 2008

Rio de Janeiro 1995 1996 2002 2003 2004 2005

Rosário 1995 1996 1999 2002 2003 2004 2005 2006 2008

2000

Salvador 1995 1996

1996 Belo Horizonte 1996 1999 2002 2003 2004 2005 2006 2008

1999

Concepción 1996 1999 2004

Fortaleza 1996 Mar Del Plata 1999

2003 2004 2008

Mendoza 1996 2003 2004 2005

Recife 2002 2003 2004 2005 2008

Ribeirão Preto 1996 2002 2003

San Miguel de Tucumán 1996 Santiago de Chile 1996

2005

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1997 General San Martín 1999 2003 2004

Juiz de Fora 1999 2002 2003 2004

Londrina n/d Santo André 1999

2002 2003 2004 2005 2006 2008

2005

São Bernardo do Campo 1999 2002 2003 2004 2005

Valparaíso 1999 2002 2003 2004 2005 2008

2001

1998 Bahia Blanca 1999 2004

Belém n/d Fernando de La Mora 1999

2003 2004 2005

La Rioja 2004 Limpio 1999

2003 2004 2005

Rio Claro 1999 2002 2003 2005

Rio Cuarto 2004 2006

Santa Maria 1999 2003 2004 2005 2008

São Paulo 2002 2003 2004

Tacuarembó 2003 2004

Trelew n/d

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1999 Caxias do Sul 2002 2003 2006

Cochabamba 2003 Guarulhos 1999

2002 2003 2004 2005 2006 2008

Joinville 2006 La Paz 2004

2005 2008

Los Andes 1999 Malvinas Argentinas 1999

2002 2003 2004 2008

Piracicaba 1999 2002 2003

Rivera 1999 Tarija n/d Villa Mercedes 1999

2000 Diadema 1999 2004 2006

Hurlingham n/d Macaé 1999

2003 2004

Mossoró 2003 2005

Paysandú 2002 2003 2005 2006 2008

Quilmes 2002 2004 2008

Rafaela 2003 2004

Resistência 2003 2004 2005

Salto 2004 2005 2006 2008

San Juan 2004 2008

Santa Cruz de La Sierra 2002 2004

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Santiago Del Estero n/d São Caetano do Sul 2003

2004

Ushuaia 2004 Vicente López 2004 Viedma n/d Villa Maria 2004 Vitória 2002

2006 2008

2001 Arica 2004 Avellaneda 2004

2005 2008

Campinas 2002 2003 2004 2006

Comodoro Rivadavia 2002 2003 2004

Cuiabá n/d Foz do Iguaçu n/d Goiânia n/d Maringá n/d Niterói n/d Paraná 2004 Pergamino 2002

2003 2004

Salta 2008 San Luis 2004

2005

San Salvador de Jujuy 2004 Santa Fé 2004 Viña Del Mar 2002

2004

Vitória da Conquista n/d 2002 Calma n/d

Capiatá n/d La Matanza 2002

2003 2004 2005 2006 2008

Mauá n/d Morón 2002

2003 2004 2005 2006 2008

2006

Olavarria 2003 Racangua 2003 Rio Grande 2005

2006

San Fernando Del Valle de Catamarca 2002 2003

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2004 San Isidro 2002

2004

São Carlos 2004 2005 2006 2008

Villeta 2003 2004

Uberlândia 2002 2003

2003 Alvorada 2003 Bela Vista n/d Bella Vista Norte n/d Cambyreta n/d Carlos Antonio López n/d Cerro Largo n/d Concepción 2004 Coronel Florentín Oviedo 2004 Coronel Sapucaia n/d Florida 2004

2005 2006

Guairá n/d Hernandarias n/d Horqueta 2004

2005

Jesús n/d Maldonado 2003

2004 2005 2006 2008

Montecarlo 2004 2005 2006 2008

Nanawa 2004 Paranhos n/d Pedro Juan Caballero n/d Pilar n/d Salto de Guairá 2004 San Lázaro n/d San Pedro de Ykuamandyjú n/d São José do Rio Preto 2003

2004 2005 2006 2008

Treinta y Tres 2003 2004 2008

Ypehú 2004 2004 Araraquara 2008

Chillán Viejo 2005 Gravataí 2004

2005 2006 2008

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Gualeguaychú 2004 Jacareí 2005

2006 2008

Junin 2004 2005 2008

Lima 2005 2006

Lomas deZamora 2004 Lujan 2004 Necochea 2004

2005 2006

Tandil 2004 2005 2006 2008

Várzea Paulista 2004 2005 2008

Villa Gesell 2004 2005 2006

Zapala n/d 2005 Barranqueras 2005

2006

Bragado 2005 Bovril n/d Camaçari 2005

2006 2008

Canelones 2005 2006 2008

2008

Colônia 2005 Durazno 2005 El Bosque n/d Esteio 2008 Flores 2006 Guaymallén n/d Lurín n/d Penápolis 2005 Praia Grande n/d Puerto Montt n/d Rio Negro 2005

2008

Rocha n/d Santos 2005 São Leopoldo n/d São Vicente 2005 Sumaré n/d Suzano n/d Taboão da Serra 2008 Viamão n/d

2006 Barquisimeto 2008 Barra do Ribeiro n/d Caracas – Alcadia Mayor 2008 Carlos Pellegrini 2006

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Contagem n/d Florencio Varela 2008 Las Bandurrias 2006 Libertador n/d Maria Susana 2006 Osasco 2006

2008

Piamonte 2006 Quilpué n/d Realicó 2006 Salto 2004

2005 2006 2008

San Antonio de Los Cobres 2006 San Jorge n/d San José n/d Santa Vitória do Palmar n/d Santana de Parnaíba n/d

2008 Azul n/d Capilla Del Monte 2008 Dourados n/d Esperanza n/d Firmat n/d Indaiatuba n/d Jesus Maria n/d Lanus 2008 Limeira n/d Neuquén 2008 Pilar n/d Poso de Los Libres n/d Puerto San Julián n/d Rio Grande 2005 San Antonio de Padua de La Concordia n/d San Tomé n/d São Bento do Sul n/d Tigre n/d

2009 La Victoria n/d

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ANEXO 4 – PLANO DE TRABALHO DAS UNIDADES TEMÁTICAS: PERÍODO 2008-2009.

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL • Objetivo geral : gerar os espaços para aprofundar a integração regional, promovendo estratégias que nos permitam avançar até um desenvolvimento sustentável nas cidades, com um forte acento na inclusão social, na equidade e prosperidade e na governabilidade democrática das cidades. • Objetivos específicos: i) consolidar a UTADS, como ferramenta fundamental para avançar em uma estratégia regional de desenvolvimento sustentável, no marco de uma estreita coordenação entre governos locais, governos nacionais e os mais diversos atores da sociedade; ii) aprofundar e ampliar o trabalho em matéria de comunicação, desenvolvendo ferramentas que permitam às cidades compartilhar estratégicas, experiências, instrumentos e, sobretudo manter um diálogo permanente no marco do Plano de Trabalho da UTADS; iii) desenvolver programas e projetos que tenham como eixo o fortalecimento institucional dos municípios, apontando fundamentalmente a capacitação de técnicos municipais e de atores vinculados à gestão local do território; iv) promover o trabalho conjunto com outras Unidades Temáticas da Rede, fundamentalmente nos aspectos vinculados com o desenvolvimento sustentável das cidades; v) estreitar os vínculos de trabalho com outros organismos e instituições; vi) estreitar os vínculos de trabalho com o Mercosul, especialmente através do Plano de Trabalho conjunto elaborado pela UTADS com o Subgrupo 6. • Eixos de trabalho: i) o fortalecimento dos governos locais como atores chave na construção da sustentabilidade em nível regional; ii) a participação cidadã nos processos de integração e na construção da sustentabilidade. Atividades: i) Debates e Seminários: se procurará realizar ao menos uma atividade deste tipo em cada país, buscando que a cidade organizadora articule o aporte dos âmbitos nacionais, locais e da sociedade civil; ii) Oficinas e capacitação: se procurará que os eventos mencionados anteriormente, assim como outros desenvolvidos especificamente com esse fim, aportem elementos e sirvam de capacitação para técnicos municipais; iii) Ferramentas de comunicação, difusão e intercâmbio: se procurará manter e melhorar o módulo temático de Ambiente no Portal das Mercocidades, impulsionando os Foros Virtuais de discussão (resíduos, ar, água, formação e informação ambiental, vulnerabilidade e risco e ambiente e saúde).

AUTONOMIA, GESTÃO E FINANCIAMENTO • Linhas de ação: i) fortalecer as capacidades institucionais dos governos locais para desenvolver uma gestão eficaz e eficiente; ii) promover o desenvolvimento de ferramentas de articulação institucional dos Governos locais com os atores econômicos e sociais e a cidadania; iii) contribuir ao desenvolvimento das capacidades dos quadros políticos dos governos locais para cumprir eficazmente seus papéis e abordar as agendas definidas. • Atividades: i) consulta básica de informação sobre desenvolvimento institucional; ii) desenvolver atividade conjunta com o dia dos municípios da América; iii) Concurso de logotipo para a UT; iv) possíveis seminários sobre: Políticas de Transparência na Gestão Pública Local e Governo Eletrônico.

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E CAPACITAÇÃO • Objetivos: realizar a entrega do Prêmio Mercocidades de Ciência e Tecnologia e promover discussões sobre e-Governo. • Eixos de trabalho: a experiência adquirida por São Carlos na realização de Projeto da URB-AL 13 pode ser aproveitada na integração das Mercocidades, através da implantação de portais e serviços públicos on-line. • Atividades: i) realizar a entrega do Prêmio Mercocidades de Ciência e Tecnologia ii) reuniões da UT para discutir e-Governo e preparatória da IV Mostra de C&T em Políticas Públicas Municipais; iii) encaminhar proposta de e-Governo para o Conselho de Mercocidades que poderá articular com a agenda do Comitê de Municípios do FCCR e com outras instâncias do Mercosul.

CULTURA • Objetivos: i) fortalecer a identidade cultural sul-americana; ii) criar os espaços necessários para a formulação, intercâmbio e valorização de políticas públicas que impulsionem atividades e manifestação de expressões culturais dos estados parte do Mercosul e dos demais países da região; iii) desenvolver e difundir os valores culturais que definem a região por meio do estabelecimento de mecanismos de cooperação entre produtores de arte em todas as suas expressões (cinema, literatura, poesia, pintura, artesanato, música, dramaturgia etc.). • Eixo temático: A Juventude. • Eixos de trabalho: i) fortalecer a identidade cultural sul-americana através de atividades; ii) criar os espaços necessários para o tratamento de políticas públicas que impulsionem o desenvolvimento cultural dos países da região e do Mercosul; iii) desenvolver e difundir os valores culturais que definem a região por meio da internacionalização de produtores de arte nacional no contexto regional. • Atividades: i) vincular as distintas formas de participação social das comunidades por meio dos canais estabelecidos por cada país membro para criação de programas de intercâmbio, investigação e difusão

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da cultura em nível internacional; ii) articulação de interesses em todas as instâncias internacionais (Foros, Conferências, Seminários), apresentando, compartilhando e desenvolvendo propostas culturais em eventos em nível regional e mundial; iii) celebrar o “II Seminário Internacional do Observatório de Políticas Culturais”; iv) edição da revista cultural regional que reflete as atividades programadas pela UT, assim como o resultado das reuniões, seminários celebrados e conferências; v) apoiar a criação de uma legislação cultural que organize o poder público cultural dos membros de Mercocidades; vi) participar ativamente na comunicação social, abrindo espaços de comunicação de rádio, televisão e impressa; vii) dar continuidade a proposta de Córdoba e de Morón sobre a Agenda 21 da Cultura, com o propósito de incluir o esporte dentro das manifestações sociais vinculadas com as atividades desenvolvidas pela UT; viii) participação de Caracas nos Conselhos da Rede; ix) Prêmio Dramaturgia Mercocidades; x) Festival de Teatro de Caracas; xi) Prêmio de Literatura Aquiles Nazoa; xii) Prêmio de Literatura Infantil; xiii) continuar e estender os alcances da Rede de Museus já estabelecida; xiv) produzir e distribuir o Atlas de Festas Populares; xv) estender a Rede de Bibliotecas à Caracas; xvi) celebrar feiras de livros com a participação de Mercocidades; xvii) Grande Feira de Cinema do Mercosul, em associação com festivais celebrados em Caracas e em outras cidades de Venezuela; xviii) produção audiovisual de expressão cultural juvenil de Mercocidades por meio do canal ÁVILA TV e a EMPA (Escola Metropolitana de Produção Audiovisual); xix) produzir um Calendário de Cultura; xx) Exposição de Arte Contemporânea; xxi) Exposição de Fotografia de Mercocidades.

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL • Objetivo: i) promover a cooperação horizontal a partir do intercâmbio de experiências exitosas; ii) sistematizar o intercâmbio de experiências de boas práticas de gestão do desenvolvimento econômico local; iii) identificar fontes de cooperação internacional para o desenvolvimento produtivo; iv) promover a realização de negócios entre empresas das cidades da Rede; v) contribuir para a ampliação e o fortalecimento da UTDEL; vi) promover o fortalecimento das experiências de economia social e solidária; vii) dar continuidade ao trabalho desenvolvido pela atual coordenadora da UTDEL; viii) articular o trabalho desenvolvido pela UTDEL com outras Unidades Temáticas da Rede, vinculadas com o desenvolvimento econômico local, tais como a de Ciência, Tecnologia e Capacitação, Desenvolvimento Social e com outras redes de cidades; ix) realizar um seguimento das instâncias do Mercosul, relacionadas com a temática. • Eixos de trabalho: i) processo de capacitação; ii) processo de promoção comercial; iii) processo de assistência técnica; iv) processo institucional. • Atividades: i) se pretende implementar uma modalidade eletrônica de aprendizagem por intercâmbio de casos e projetos de gestão, mediante a cooperação horizontal que induza o aprendizado desde a gestão; ii) curso internacional “Desenvolvimento local e competitividade territorial”, em convênio com CEPAL/ILPES; iii) seminário internacional “Governos Locais e Desenvolvimento Territorial – Boas Práticas e Instrumentos de Fomento ao Desenvolvimento Econômico Local”; iv) elaboração de um diretório comum das indústrias de cada cidade integrante, orientado a constituir-se em um catálogo de oferta produtiva digital; v) lista (www) das entidades empresariais das cidades e criação de uma bolsa de sub-contratação e negócios B2B; vi) banco de dados das cidades da UTDE; vii) realização de uma missão comercial orientada às empresas do Mercosul que visitem em prospecção comercial Morón; viii) participação de feira internacional em Buenos Aires; ix) implementar o Observatório da Rede Mercocidades a partir do banco de dados da UTDEL, com perfis sócio-econômicos de cada uma das cidades da Rede; x) realização de um curso eletrônico sobre o Sistema de Marco Lógico que possibilite difundir um instrumento de desenho, seguimento, monitoração e avaliação de nossos projetos de DEL (em articulação com o ILPES); xi) intercâmbio de experiências exitosas de promoção do setor terciário e programas de urbanização; xii) organizar a difusão e intercâmbio dos projetos que as cidades executam no âmbito de economia social e solidária; xiii) edição semestral da Revista da UTDEL; xiv) convocatória a concurso de artigos sobre a vigência atual das categorias analíticas: deterioração dos termos de trocas, desenvolvimento desigual e combinado, relações centro-periferia; xv) acordo com o ILPES/CEPAL; xvi) fortalecer o espaço de economia social e solidária como campo específico de política pública de natureza sócio-produtiva; xvii) propor e impulsionar a incorporação à agenda do Comitê de Municípios do FCCR os projetos de integração tecnológica, produtiva e de complementação, que surjam da UT para que possam contar com os fundos do Fundo PME ou do FOCEM.

DESENVOLVIMENTO SOCIAL • Objetos gerais: i) debate, intercâmbio e os grupos vulneráveis; ii) realização de um encontro regional no mês de março sobre a sociabilidade das famílias, homens e mulheres, meninos e jovens; iii) realização de duas reuniões da UT; iv) utilização de diferentes ferramentas eletrônicas para ter entre as cidades participantes da UTDS um vínculo contínuo e permanente; v) levar adiante foros de discussão virtual através do portal das cidades e a distribuição de um boletim eletrônico mensal com notícias, novidades e informações importantes para as cidades participantes da UTDS e a Rede. • Eixos de trabalho: i) inclusão social e políticas de geração de renda; ii) captação de recursos para execução de projetos na Rede; iii) integração das unidades temáticas de Desenvolvimento Social e Desenvolvimento Econômico; iv) FOCEM local através de relações mais estreitas com o Mercosul. • Atividades: i) duas reuniões de trabalho; ii) seminários; iii) conferências; iv) oficinas; v) desenvolvimento e/ou propostas de convênios, projeto banco de dados; vi) publicações midiáticas; vii) no marco do Comitês de Municípios, aposta no desenvolvimento e/ou propostas de dois Projetos tendo 10 cidades em Rede para solicitar Convênio com a Secretaria do Mercosul.

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DESENVOLVIMENTO URBANO • Objetivos gerais: promover o intercâmbio de conhecimentos, a promoção de discussões e a formulação de propostas para políticas comuns no Mercosul, que conduzam ao benefício das gestões locais e do ambiente urbano das cidades. • Objetivos específicos: i) implantar políticas de “Cidades Vizinhas” irradiadoras de conhecimento e experiência no tema urbano, com vista ao intercâmbio com outras Uts de modo a permitir a realização de trabalhos conjuntos e a potencialização das atividades; ii) contribuir para o fortalecimento da Rede através do estímulo às novas adesões de cidades e a participação ativa das cidades já associadas nas atividades desenvolvidas pela UT; iii) promover e estimular iniciativas de interação virtual entre os integrantes da UT; iv) retomar discussões acerca do grupo de estudos que aborda a relação Porto-Cidades; v) buscar a participação e o apoio das Instituições Acadêmicas e as Agências de Fomento nas atividades e projetos desenvolvidos pela UT; vi) viabilizar a capacitação de técnicos de administração pública como resultado da interação academia-poder público; vii) aprofundar as temáticas abordadas durante os ciclos de atividades da UT e converter estas informações em um banco de experiências acessível a toda a Rede, preservando assim a memória institucional; viii) promover as discussões e estudos sobre o tema Mobilidade Urbana, que atua como vetor do desenvolvimento e a requalificação dos espaços, influenciando diretamente na configuração dos novos espaços e paisagens, assim como a dinâmica dos deslocamentos da cidade, induzindo ao uso e a ocupação do solo. • Atividades: i) reunião de trabalho para discutir e aprovar a planificação da UT, aprovar o Balanço da Gestão, definir o Plano de Trabalho e a Coordenação; ii) evento envolvendo temas abordados no ciclo: “Mobilidade Urbana como estratégia e suporte do desenvolvimento das cidades”, “A história como suporte das cidades”, “Reconstrução de Centros Históricos”; “Planificação como instrumento básico de gestão”; “Relação Cidade-Porto”; iii) dar continuidade as ações de capacitação de municípios vizinhos nas cidades-membro da UTDU; iv) dar continuidade ao Boletim UTDU; v) sistematizar e publicar material resultante das atividades da UTDU; vi) disponibilizar na internet o banco de dados das experiências de reconstrução urbana.

EDUCAÇÃO • Objetivos: i) impulsionar a cooperação entre municípios, através do intercâmbio de experiências pedagógicas exitosas com as cidades integrantes da UTE e promover a discussão de uma agenda estratégica relacionada com as políticas públicas educativas; ii) ampliar a participação das diferentes cidades da Rede na UT, considerando a particularidade entre países do Mercosul (no que diz respeito a gestão educativa direta/indireta por parte dos governos locais); iii) fazer da inclusão escolar e da melhora da qualidade educativa os eixos fundamentais sobre os quais se centrará o trabalho da UT. • Eixos de trabalho: i) intercâmbio de professores em busca de compartilhar experiências e fortalecer a comunidade educativa do Mercosul, tendo como eixo o enriquecimento da qualidade educativa em todos os seus níveis; ii) intercâmbio de alunos entre as diferente Mercocidades com o objetivo de promover a ligação entre os habitantes das cidades integrantes da rede e fazer da integração um ponto central da formação das crianças, apontando para construir um programa educativo que favoreça a tomada de consciência por parte de toda a sociedade sobre a diversidade étnica, religiosa, cultural, social e política; iii) elaboração de um site Web da UT, onde se publiquem estudos vinculados às problemáticas educativas atuais e às soluções que se avistam desde os círculos acadêmicos e desde as aulas como “lugares de saber”; iv) promoção de cursos de idioma português e espanhol como método de integração cultural e social dentro do Mercosul; v) conformação de um banco de experiências pedagógicas na rede; vi) fomento à vinculação da educação ao mundo do trabalho, tanto através de convênios com atores privados como por meio do aprimoramento das escolas técnicas; vii) desenvolvimento de foros onde se trabalhe e debata sobre o vínculo escola-família, estabelecendo o reconhecimento e a aceitação do pluralismo étnico, religioso, cultural, social e político existente na sociedade do Mercosul; viii) construção de áreas de intercâmbio de experiências pedagógicas entre a gestão pública e privada da educação na busca do enriquecimento mutuo. • Atividades: i) duas ou três reuniões (freqüência semestral-quadrimestral) dos membros da UT; ii) uma reunião das principais autoridades educativas dos membros da UT; iii) articulação de programas de investigação desenvolvidos em cada uma das cidades membro através de um foro mensal de investigadores, realizado por meio da Web e uma reunião anual para intercambiar os resultados obtidos; iv) seminário sobre “Educação Inclusiva”; v) seminário sobre a “Revalorização do lugar do Docente nas Aulas”; vi) criação de uma instância permanente de cooperação que facilite o acesso dos membros da rede aos circuitos de informação, tratando de fomentar ações de intercâmbio com a rede de instituições internacionais.

GÊNERO E MUNICÍPIOS • Objetivos: i) elaboração do projeto para o apoio das atividades da UT; ii) contatar a UFEM e também o Observatório de Instituições de Cooperação da Europa e Canadá para propor atividades conjuntas a partir de temas definidos: cidades seguras, objetivos de desenvolvimento do milênio; orçamento com perspectiva de gênero, participação de mulheres em espaços de decisão e trabalho decente. • Atividades: i) atividade acompanhando a Comissão de Economia Solidária da UT Desenvolvimento Econômico Local; ii) proposta de atividade em Salta-Argentina; iii) se planeja elaborar um projeto junto à

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área da Secretaria Técnica Permanente e UT de Desenvolvimento Social para divulgar atividades da UTGM por meio de um boletim eletrônico, em comemoração aos 10 anos da criação da UTGM.

JUVENTUDE • Objetivos: i) posicionar a UT como âmbito institucional de referência para o desenho, análise e execução das políticas de juventude da região; ii) promover e dinamizar o intercâmbio de experiências e programas das distintas cidades que conformam a UTJ, com vistas a desenhar e implementar ações conjuntas com objetivos em comum; iii) aumentar a participação e incidência dos jovens e suas organizações representativas no desenho, gestão e avaliação de programas e políticas públicas como estratégia de inclusão e promoção de seus direitos de cidadania; iv) integrar ao desenho e implementação dos programas juvenis os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas. • Eixos de trabalho: i) facilitar a articulação com instituições acadêmicas, universidades e/ou ONGs especializadas nas problemáticas juvenis para desenvolver atividades de investigação que permitam obter insumos para avaliação e o desenho de políticas e programas de juventude; ii) estabelecer vínculos com organismos de cooperação internacional que facilitem o trabalho da UTJ e aumentem sua visibilidade em nível regional e internacional; iii) buscar novos canais de financiamento internacional de políticas de juventude, através da Rede Mercocidades; iv) gerar espaços e instâncias de intercâmbio e debate com organizações da sociedade civil, que permitam aumentar sua participação nas políticas locais de juventude; v) identificar problemáticas e potencialidades juvenis comuns às distintas regiões para estabelecer políticas de ação e programas comuns a desenvolver-se em toda a região; vi) instaurar em cada uma das atividades e políticas propostas desde a UTJ aportes que gerem consciência e trabalhem na busca do cumprimento dos ODM, pensando os jovens como agentes multiplicadores no logro destes objetivos; vii) promover o acesso e a utilização de novas tecnologias de informação e comunicação que permitam dinamizar o trabalho entre os membros da UTJ, uma vez que servem como ferramentas para favorecer a comunicação e o intercâmbio entre os jovens e o governo local; viii) analisar e avaliar o cumprimento das metas estabelecidas na UTJ para incorporar ao desenho da nova agenda de trabalho; ix) fortalecer a institucionalidade das áreas locais de juventude, priorizando sua criação naqueles municípios onde não exista. • Atividades: i) realização de projetos de investigação/ação – publicação dos resultados. Criação de redes locais com a participação de universidades, ONGs, governos locais e jovens; ii) geração de encontros de apresentação da UTJ ante organismos de cooperação técnica e financiamento; iii) implementação de um concurso regional de boas práticas em políticas e projetos juvenis; iv) organização de foros locais e regionais junto a organizações da sociedade civil para aumentar sua participação na implementação e o seguimento das políticas públicas de juventude; v) realização de seminários para funcionários do governo; vi) desenvolvimento de um site web participativo para uso dos funcionários e técnicos das áreas locais de juventude. Este site servirá também como canal de comunicação com jovens; vii) capacitação e implementação de novas tecnologias da informação e comunicação para a gestão pública; viii) realização de mostra artística anual itinerante que reflita a diversa produção cultural dos jovens nas cidades membro da Rede; ix) organização de encontros trimestrais de seguimento de trabalho da UT.

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO • Objetivos gerais: i) consolidar um grupo estável de cidades integrantes da UTPE com o objetivo de aprofundar a experiência de intercâmbio horizontal na matéria; ii) dar continuidade ao trabalho desenvolvido pela atual coordenação da UTPE, aprofundando as tarefas empreendidas; iii) identificar a situação da Planificação Estratégica em cada cidade integrante do espaço, para elaborar uma base de perfis; iv) difundir a situação da Planificação Estratégica na Rede Mercocidades e suas práticas exitosas; v) gerar um espaço de discussão, reflexão e construção de ferramentas que contribuam com o desenvolvimento positivo dos Planos Estratégicos; vi) promover instâncias de articulação com outras redes de cidades para potencializar o conhecimento e intercâmbio de experiências. • Atividades: i) encontros presenciais; ii) pesquisa sobre a situação dos Planos Estratégicos de Mercocidades; iii) publicação “A Planificação Estratégica na Mercocidades”; iv) seminário internacional de formação; v) articulação com outras redes de cidades.

SEGURANÇA CIDADÃ • Atividades 1: II Encontro Internacional de Segurança Cidadã: reflexão sobre o papel das cidades na Rede Mercocidades. Objetivo: i) reunir cidades da Rede em Gravataí, especialmente as coordenadoras das demais Unidades Temáticas, para dar conhecimento à experiência do Pronasci, realizada pelo governo brasileiro e difundir o conceito de segurança cidadã na reflexão das demais temáticas; ii) compartilhar experiências municipais bem sucedidas; iii) iniciar discussão sobre segurança e imprensa no âmbito da Rede Mercocidades Metodologia: no primeiro dia do encontro espaço para apresentação do Pronasci, possivelmente com grupos de trabalho para reflexão e, no segundo, debate a respeito da UT e passagem da coordenação. • Atividade 2: publicar em formato de caderno as reflexões de cada uma das UTs e sua atuação em segurança cidadã.

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TURISMO • Objetivos: i) reforçar a luta contra a pobreza e a busca do pleno emprego, utilizando a atividade turística como alavanca de desenvolvimento; ii) posicionar os municípios integrantes da Rede Mercocidades no mercado turístico internacional através da colaboração e o desenvolvimento de propostas e programas conjuntos; iii) elaborar estratégias de promoção turística conjunta com o fim de facilitar os fluxos entre os municípios da região. • Eixos de trabalho: i) aprofundar a visualização e o empoderamento da Rede Mercocidades assim como o próprio processo integrador entre os cidadãos dos municípios membros da rede; ii) continuar com os eixos da gestão dos coordenadores anteriores: Prêmio de Mercocidades e Panorama Turístico de Mercocidades; iii) elaborar marcas turísticas sub-regionais entre as cidades membros da rede que compartilham características similares e complementares no plano cultural, geográfico, paisagístico etc; iv) promover espaços de debate e intercâmbio com o setor privado e acadêmico; v) impulsionar a inserção e o tratamento da Integração Regional na comunidade acadêmica e nos planos de estudo das carreiras vinculadas à atividade turística; vi) desenvolver o potencial de comunicação do portal Web da Rede Mercocidades. • Atividades: i) realizar quatro reuniões da UTT; ii) por em funcionamento o Passaporte Turístico de Mercocidades de acordo com a proposta elaborada pela Secretaria Técnica Permanente; iii) desenvolver marcas sub-regionais como destinos de Mercocidades com seus acordos correspondentes; iv) propor a avaliação de forma harmônica da legislação referida ao tema de Turismo dentro do Mercosul; v) realizar o Encontro de Carnavais do Mercosul na cidade de Montevideo em uma ação transversal com outras unidades da rede (como por exemplo: Gênero, Cultura, Juventude etc.); vi) impulsionar a realização do VII Congresso de Turismo da Mercocidades; vii) realizar o Prêmio Mercocidades de Turismo; viii) terminar o ano com uma atividade paralela a Cumbre da Mercocidades, em que se apresentem os distintos destinos das Mercocidades; ix) realizar uma reunião conjunta da UT com o Comitê de Turismo da União de Cidades Capitais da Iberoamérica no marco do convênio Mercocidades – UCCI. Fonte: Elaborado pela autora a partir do Informe da Gestão da SE 2008-2009 e dos Planos de Trabalho das Uts 2008-2009, disponíveis em www.mercociudades.org.

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ANEXO 5 – ENTREVISTA ALBERTO KLEIMAN

RELACIONADAS AO PAPEL DAS CIDADES NO CONTEXTO INTER NACIONAL

01. Que papel as cidades podem e devem desempenhar no contexto internacional? 02. Quais são os desafios?

Primeiro, existe uma constatação de que as cidades já desempenham um papel, é um fato, então, não é mais uma questão de opinião, se devem ou não, ou como, o fato é que elas já fazem não só no Brasil mas no mundo. É um fenômeno político recente, crescendo mais recentemente ainda, e não deve recrudescer, pelo contrário, deve se profissionalizar, deve avançar, deve aumentar, não numa perspectiva como se falou aí na década de 1990 muito, um pouco influenciada pela aquela discussão de cidades globais, como ponto de fluxos de capitais, muita gente dizendo que prescindiria do Estado nacional. As cidades são novos atores da política internacional e tem uma agenda própria. A observação é de como elas atuam, existe na minha visão uma realidade com muitas perspectivas, o primeiro olhar de como isto acontece, é de que poderia achar que existe uma espécie de municipalismo internacional, ou seja, algumas agendas, algumas bandeiras políticas, algumas ações que todas as cidades do mundo compartilham e aí seria um “movimento internacionalista” de fortalecimento das cidades. A partir desta perspectiva, um pouco mais profunda, se vê que não é tanto assim, este é um mote, muitas vezes utilizado ideologicamente, com interesses muito claros que camuflam, as vezes, os verdadeiros interesses. Por outro lado, esse mote do municipalismo internacional não é de todo falso, existe de fato, por exemplo, uma bandeira muito forte que é sobre a descentralização, o principio da subsidiaridade, quer dizer, fortalecer os municípios na sua capacidade de gestão, no seu potencial de ação internacional mesmo, ou seja, trocas entre as cidades de diferentes países. Outra questão que vem junto a esta é a descentralização de recursos, isto é uma reivindicação quase unânime, muito forte entre cidades do mundo todo, tanto nacionalmente quanto internacionalmente. Isso se reflete internacionalmente nas organizações internacionais grandes de cidades, como a CGLU. Então este seria um primeiro olhar, eu acho que este olhar camufla, o que também acontece e talvez seja tão forte quanto, que é um reflexo da política externa mundial, do cenário da política internacional, definida pelos Estados nacionais, ou seja, as cidades francesas defendem o fortalecimento das cidades, da perspectiva francesa, que é nacional, ou seja, as cidades não se descolam da realidade nacional. Paris, Londres, Barcelona defendem os interesses das cidades e interesses espanhóis também, franceses também. Isto varia de país para país, mas um exemplo que se pode dar é que a agenda internacional das cidades é dominada pelas grandes cidades européias, majoritariamente. As iniciativas são conduzidas por estas cidades, em grande medida, elas definem a agenda e as periferias, como o Brasil, como a América do Sul, como a África, seguem esta agenda, muito em razão da questão dos financiamentos ou dos projetos que conduzem as cidades do mundo todo. Então, a CGLU é uma iniciativa, majoritariamente, das associações de grandes cidades européias, que as outras cidades do mundo todo se juntam, mas continua tendo um domínio total europeu, Barcelona é uma das cidades protagonistas, Paris é uma cidade protagonista, em menor medida as cidades anglo-saxônicas, as associações européias, holandesas, alemãs. Em resumo, o trinômio: uma agenda política muito mais clara da política externa desses países que são os chamados países centrais, associada a interesses muito claros a um alto nível de descentralização e recursos próprios ou dos organismos europeus ou da União Européia acabam definindo esta agenda. Isto é um aspecto, outro aspecto é como a cidade de cada país age internacionalmente. Então, um pouco na mesma linha, as cidades européias dominam o debate, porque tem tudo isto, além do apoio dos governos nacionais através de suas agências. Por exemplo, a GTZ (agência alemã) financia um monte de projetos dos governos locais pelo mundo, dos governos locais alemães e também de outros, mesmo sendo uma agência alemã. A AECID (agência espanhola) a mesma coisa, desenvolve muitos projetos na América Latina, até em razão da questao da língua

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espanhola, no Brasil há menos iniciativas. As redes internacionais de cidades, como a UCCI, por exemplo, que é coordenada por Madri financiadas pelas agências, possuem muitos recursos, pagam passagens, ou seja, definem uma agenda, que as cidades latino-americanas vão seguir. A UCCI é um exemplo interessante, são União de Cidades Capitais Iberoamericanas, mas quantas cidades “ibero” entre as iberoamericanas você tem? Duas, Madri e Lisboa, Barcelona entra um pouco de convidada, participa, todas as demais são latino-americanas, só que a agenda é totalmente definida por Madri, e são capitais, são grandes cidades, muitas vezes com capacidade de recursos. Estas cidades têm recursos próprios, elas investem recursos próprios, porque elas vêem uma importância estratégica, elas estão mais habituadas ao tema internacional, as cidades européias, e elas têm na maioria dos casos apoio do governo nacional pra fazê-lo com recursos da cooperação internacional, recursos tipo AOD (assistência oficial ao desenvolvimento). O contexto nos outros países é muito diferente, na América do Sul esta realidade é inexistente, tanto pelo lado das cidades, quanto pelo lado dos governos nacionais. As cidades não têm esta visão estratégica deste tema, a participação das cidades sul-americanas é pontual, é fragmentada, é descontinuada, elas não têm recursos para isto, elas até teriam recursos próprios, por exemplo, grandes cidades brasileiras, Curitiba, São Paulo, Porto Alegre, poderiam destinar 0,05% para cooperação internacional, teriam condições de fazer isto, mas não fazem, porque não é um tema presente sem suas agenda, suas prioridades. E em terceiro lugar, elas não têm apoio do governo federal para fazer cooperação, nem do governo federal através dos ministérios com recursos e nem da Agência Brasileira de Cooperação, que também não vê este tema como importante pra sua agenda de cooperação, embora isso esteja mudando mais recentemente e temos até algumas iniciativas que podem mudar esse quadro. Mas historicamente sempre foi assim. Em resumo, as cidades são um ator, elas já atuam, atuam crescentemente, só que elas atuam muito determinadas pelas realidades nacionais, em geral de outros países, sejam históricas, culturais, seja por financiamento, projeção política ou pela importância que dão a este tema.

03. Você acredita que os organismos internacionais rec onhecem suficientemente as cidades? Por quê?

Se a gente pensar que no plano internacional, numa hierarquia de importância dos atores você teria os governos nacionais em primeiro lugar, talvez as empresas multinacionais em segundo, em terceiro a sociedade civil, aí envolvendo tanto grandes ONGs como médias, como sindicatos e em último lugar os governos subnacionais, eu acredito que esta seja a escala, eu acho que os governos locais tão aí neste quarto lugar muito atrás de todos estes outros atores, mas eles estão no jogo, crescendo, mais ainda muito atrás, ou seja, os recursos pra eles são menores ainda, o reconhecimento deles, das suas ações ainda é pequeno. Existe uma questão que é central, nisto que você me pergunta e na própria ação dos governos locais, qual o lugar deles e qual a natureza deles como atores internacionais? Ou seja, os governos locais são parte do Estado, eles são um braço do Estado, mas eles não são Estados nacionais, então quando eles saem internacionalmente, eles geram um pequeno conflito, que é a questão “onde eu me encaixo?”. Então às vezes eles são vistos como sociedade civil, como ONG, uma associação de governos locais é uma ONG, é sociedade civil, mas eles são Estado. Então é estatal ou é sociedade civil? Esta questão gera certa perplexidade, uma dificuldade de enquadrar e de trabalhar com eles. Eu acho que as organizações internacionais lidam com isso no cotidiano da cooperação e da ação internacional de diferentes formas. Por exemplo, a CGLU, que se pretende a organização mundial das cidades, a voz unificada das cidades na esfera internacional, é muito conflituosa, porque não é uma organização para os governos locais é uma organização dos governos locais. Então as organizações internacionais de uma forma geral, o Sistema das Nações Unidas, o HABITAT, outras agências, como o PNUD, por exemplo, já percebem o grande potencial dos governos locais, então, começam a trabalhar cada vez mais, porque sabem que os governos locais, justamente porque são Estados, têm mais capacidade de execução, de ação, por exemplo, as campanhas da ONU hoje, conduzidas

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pelas agências, já integram o elemento governos locais para realização dos objetivos que procuram. Por exemplo, a Agenda 21, que é uma campanha importante na área ambiental, tem uma Agenda 21 local, conduzida e estimulada pelo PNUD, pelos órgãos da ONU, os ODMs também, que pretendem ter uma maior penetraçã local. Só que ainda não é um movimento contínuo, há muitos altos e baixos, não existe uma linha contínua, uma percepção de integrar estes atores nas grandes campanhas, nos grandes movimentos. Os governos locais já sabem do seu potencial há muito tempo, mas também existe certo hiato entre o potencial e a realização deste potencial pelos próprios governos locais. Muitas vezes o discurso dos governos locais é mais reivindicativo e as vezes estridente do que sua a verdadeira capacidade de execução. Existe certa irregularidade, inconstância nesta relação entre os organismos internacionais e os governos locais, no mesmo sentido as agências internacionais dos países. As agências de cooperação internacional dos países também têm uma relação dúbia, ambígua, ou de altos e baixos. Às vezes integram, às vezes criam programas, às vezes tentam instrumentalizar os governos locais, não respeitam tanto as agendas já constituídas, tentam criar coisas novas no sentido de “orientar”. O Programa URB-AL, por exemplo, é um dos principais programas de cooperação descentralizada da América Latina e Europa, para América Latina. Trouxe grandes avanços, mas não considera, da forma que deveria, todo o acúmulo das redes latino-americanas, cria algo novo e aí há todo um movimento de esvaziamento ou de não aproveitamento desta institucionalidade já construída e amadurecida.

04. Como você entende que deveria se organizar a prese nça das cidades no contexto internacional?

Depende da cidade, depende onde está esta cidade, que país ela está. Para as grandes cidades faz menos sentido participar de uma rede de cidades, a não ser que ela coordene a rede, que ela crie uma rede, que é o caso de Barcelona, porque eles são donos das redes, eles “mandam’ nas redes, assim faz sentido. Alias este é um tema, eu acho que já chegou a hora de acontecer duas coisas no Brasil, primeiro uma conscientização de fato das grandes cidades brasileiras do seu papel internacional, orçamento próprio, estruturas significativas de relações internacionais, por várias razões: tanto para agir individualmente como para agir em parceria com outras cidades, ou para apoiar a política externa brasileira ou para incidir nos temas globais, como alguns estados já fazem. Estados da Amazônia legal brasileira fizeram isto na COP 15, se reuniram, tinha um tema central que eles queriam defender na COP 15, se aproximaram do governo federal e disseram “nós temos esta posição e a posição de vocês é outra”. A partir daí se criou uma força tarefa do governo federal para se chegar a um consenso e se chegou ao consenso. Foram governo federal e os estados da Amazônia legal juntos pra COP 15 defender uma posição. Já passou da hora das grandes cidades brasileiras terem uma responsabilidade maior com este tema. A maioria das redes internacionais de cidades, fora Mercocidades, são européias. Você tem as que eu já citei: CIDEU, Metropolis, CGLU, ICCLEI, são todas coordenadas, comandadas e financiadas pelas cidades do norte. Coisas que são criadas no Brasil, como o orçamento participativo, as políticas de participação democrática, são uma invenção brasileira, mas uma rede internacional de democracia participativa, que está na Espanha, absorveram o conhecimento das políticas de participações democráticas, levaram para a Europa, muitas cidades européias aplicaram à sua realidade e criaram uma rede. Já tinham esta visão da rede, então, eles pegaram um tema que era importante para eles, levaram para lá e criaram uma rede para exportar o modelo. Porque Porto Alegre não criou uma rede internacional, com financiamento, com gente trabalhando, gente pensando, relação com universidades? Porque não transformou tudo isto numa tecnologia a ser compartilhada com outros países, com a America do Sul, com África, da maneira e da perspectiva brasileira? Seria uma contribuição brasileira para a democracia mundial, a partir das cidades. Os europeus fizeram, o que mostra um pouco as diferenças de prioridades que eles dão para as redes internacionais de cidades e para o tema internacional de uma forma geral. Tudo isso tem explicação histórica, cultural. Estamos falamos de países que foram colonizadores em um

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passado recente. Mas já está na hora do Brasil e suas cidades, estados – e por que não, o governo federal também - assumirem suas responsabilidades históricas com temas como a cooperação internacional, assumir e construir instituições para se adequar ao país que já é.

Com relação a se as redes de cidades são o melhor caminho para uma atuação internacional, eu diria que depende de muitos elementos, do perfil da cidade, depende do perfil do prefeito...

Para as pequenas cidades as redes são boas opções, porque elas já são estruturadas, com temas definidos, há uma grande diversidade. Para uma cidade média ou pequena fazer uma cooperação bilateral é muito custoso, dá muito trabalho. As proprias redes tambem tem seus custos, fazem reuniões frequentes, seus grupos temáticos, sua composição, sua estrutura hierárquica, suas coordenações, tem que ter muito tempo, tem que ter gente fazendo isso. Mas apesar disso tudo, é mais acessível para uma cidade pequena participar de uma rede. Então, acho que as redes são um canal muito bom, muito importante, têm que ser fortalecidas, têm que ter comandos, lideres que se comprometam, não só no discurso, mas na ação, com recursos, mas principalmente com compromisso político.

Já as cidades grandes têm mais capacidade de, além de participarem das redes, as vezes com funções de liderança e coordenação, podem desenvolver relações bilaterais . São Paulo, por exemplo, mantinha relações com as grandes cidades da região e do mundo, não sei hoje como isso ocorre, qual nível de prioridade dado à inserção internacional da cidade. Mas quando pude atuar na Prefeitura de São Paulo, mantínhamos relações estreitas com Paris, Londres, Buenos Aires, Montevidéu, Bogotá, Pretória, Xangai, entre muitas outras. A cidade de São Paulo é maior que muitos Estados, o Uruguai tem 3 milhões de habitantes, São Paulo tem 11 milhões, dá para ter uma política internacional consistente, em várias áreas. Nesse caso as relações bilaterais podem ser bem vantajosas, práticas e pragmáticas. Ainda no caso das grandes cidades, em uma iniciativa mais solidária, como no orçamento participativo de Porto Alegre, vamos fazer uma rede e discutir com as outras experiências, seria uma visão de mais ampla, de mais amplitude internacionalista, de aproveitar as experiências de outras cidades, para fortalecer o nosso conhecimento, a nossa liderança. Uma liderança sozinha não é uma liderança, precisa de parceiros, que reconheçam na cidade a liderança, mas que também tenham a sua contribuição a dar, algo horizontalizado, que é um pouco o princípio da rede.

Além disso, eu acho que também está na hora, é uma questão do novo governo, para nós lá na Presidência, no Itamaraty, nos ministérios, pensarmos como as cidades podem ser parceiros estratégicos das ações internacionais. Seria uma nova forma que precisamos estruturar, amadurecer melhor, por exemplo, a cooperação prestada pelo Brasil envolver as cidades, os estados.

Trabalhamos com o conceito de cooperação internacional federativa para descrever a ação internacional das cidades, não apenas no sentido da cooperação técnica, mas um pouco a partir de um viés de que governos locais cooperam em princípio, seja na troca de experiências, mesmo bilateralmente, mesmo numa ação individual, eles estão sempre cooperando de alguma forma. Um termo que eu acho interessante para o caso do Brasil é “ação internacional federativa”, não porque necessariamente deva envolver os três níveis da federação, mas porque cada ator é um ente federado. Como não é a diplomacia federal, a diplomacia nacional, então, seria a federativa.

O fato do gestor ou do prefeito ir para uma reunião num ambiente internacional já é uma ação internacional, porque ele já vai ter uma leitura diferente do conhecimento que ele não teria na sua cidade, esta é a questão central. O nível de absorção, o nível de ação, depende muito da iniciativa de cada cidade, de cada gestor, de cada prefeito. Por exemplo, um gestor, um secretario, um diretor, ou um simples gestor municipal ir numa reunião de Mercocidades, numa reunião de uma Unidade Temática, aí ele ouve uma experiência interessante de um homologo

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dele da Argentina, ele volta para sua cidade e enfim vai organizar um Seminário, como a experiência foi interessante, vai trazer aquela pessoa para falar da sua experiência. Isto já é uma história de ação internacional, já é uma influência internacional. Parte daí e chega às grandes articulações de cooperação, às grandes redes, grandes temas globais, participação nas conferências globais, que as cidades têm participado cada vez mais, então, são vários níveis com uma distância enorme entre eles.

RELACIONADAS À SUA EXPERIÊNCIA NA AÇÃO INTERNACIONA L

01. Quando surgiu a área de RI na cidade? Por quê? 02. Quais foram as razões que explicaram o surgimen to desta área? 03. É uma área específica ou está vinculada à outra área da prefeitura? 04. Quais são as principais ações desenvolvidas? 05. Como você avalia os resultados obtidos? Você en tende que as expectativas

estão sendo atendidas?

Na verdade, Santo André criou a Secretaria de Relações Internacionais depois de quatro anos de ação internacional. O Jeroen Klink era o assessor internacional e para assuntos urbanísticos, um assessor especial, atuando muito no tema internacional. Depois de quatro anos de experiência decidiu-se criar a Secretaria. Era uma secretaria nova, ainda em um ambiente nacional com poucos casos de secretarias especializadas na área internacional com orçamento próprio, um secretário que participava das reuniões de secretariado do governo, com muita autonomia, que foi se constituindo, foi se projetando e virou uma referência. Porque criar uma secretaria não é uma coisa fácil, não é simplesmente uma assinatura, um decreto municipal, além das dificuldades da burocracia mesmo, existem as novas funções, a forma de atuação. Como Santo André fez muito bem, acabou replicando, outras prefeituras vinham consultar Santo André para saber como se montava uma secretaria, então, isto me ajudou muito a compreender este fenômeno do encaixe do tema internacional em uma cidade, em uma prefeitura.

Em Santo André eu era coordenador assistente. Era uma estrutura pequena, tinha dois coordenadores e dois coordenadores assistentes. Eu fui contratado como coordenador assistente sem ter um coordenador, então, eu acabei assumindo funções gerais, fazia tudo, entre elas a participação de Santo André em Mercocidades. Lá fiz muita coisa, assessorei o secretário, cuidei de temas locais, participação internacional, redes.

Santo André tinha um objetivo urbanístico de gestão da cidade incorporado, ou seja, o tema internacional era um tema de subsídio a esta visão urbanística da cidade, do Celso Daniel. Santo André entendia que tinha que se repensar urbanisticamente, remodelar-se, se modernizar, incluir mais e melhor seus cidadãos, e que as experiências deste debate estavam também no cenário e nas experiências internacionais, em outras cidades que o fizeram. Então usou o tema internacional para ir atrás destas experiências, para trazer especialistas para pensar junto. Era um objetivo inspirado pela própria cidade, uma visão da própria cidade. Santo André tinha uma estratégia internacional muito clara que dialogava organicamente com os seus principais temas e prioridades locais.

A partir de Santo André fiz muito contato com o pessoal de São Paulo, porque eles estavam montando a secretaria. Santo André já tinha uma experiência acumulada e montou muito rápido. Aí fui convidado para assumir uma posição de coordenador em São Paulo. Em São Paulo o processo foi bem diferente. São Paulo vinha de um processo de degradação da imagem da cidade, as gestões anteriores acabaram por difundir, até internacionalmente, uma imagem de corrupção, que acabou projetando a cidade desta forma. Ao mesmo tempo, os temas internacionais estavam explodindo, a globalização, o tema internacional tinha vindo com muita força, isto no início dos anos 2000. Em São Paulo, então, assume a Marta e já de cara

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diz que quer criar uma Secretaria de Relações Internacionais. Cria uma secretaria de alto nível, com uma equipe, com recursos, com orçamento próprio, com uma estratégia política internacional inédita e muito ambiciosa. Eu chego em São Paulo no inicio de 2003, fico até 2004, como coordenador de redes. São Paulo participava ativamente de dez redes, sem considerar as participações menos ativas, era um universo imenso de atores, de personagens, de interesses, enfim, era um emaranhado de redes. Como diziam os amigos do Mercosul, com tantas redes há que se tomar cuidado para não “enredarse”. Aquelas redes que você não sabe onde começam e onde terminam. As redes dão visibilidade para as cidades, então, outras redes, outras organizações convidavam a cidade para participar e como São Paulo estava imerso e de repente surge para o mundo, explode uma demanda enorme de convites. O desafio era dar algum sentido para esta participação toda, dar organicidade, porque as redes se comunicam entre si e este é o grande objetivo, não das redes em si, mas das cidades que participam das redes, dar sentido orgânico real, realista para esta participação. E foi um trabalho muito interessante porque se partiu do zero e no final se conseguiu fazer isto, dar organicidade para as redes. E tinha um objetivo claro que era eleger a Marta presidente da CGLU. Quando eu cheguei em São Paulo, dois anos antes, o processo CGLU estava avançado para ter a grande conferência de unificação e tínhamos claro que a Marta podia ser uma boa candidata, representando a região, a America do Sul. Então, com dois anos de antecedência, a gente começou a fazer este trabalho de organizar as redes com este objetivo político, não só de uma participação oportunista em uma eleição, mas de fato dar consistência a nossa participação, desenvolver um papel mais pro-ativo, com proposições poiticas e técnicas consistentes, ter uma atuação coerente em todas elas e, somado a isso, ter um objetivo político, que era apresentar uma cidade brasileira, latino-americana, presidindo a primeira rede mundial de cidades, a ONU das cidades. Foi bem sucedido o trabalho, não numa linha progressiva linear, houve muitos avanços e retrocessos, mas conseguimos que a candidatura dela fosse unificada pela América Latina, porque antes de lançar a candidatura mundial queríamos construir uma candidatura unificada pela América Latina. E aí várias realidades se chocavam, como a do Cone sul, representada por Mercocidades, com quem nós tinhamos grande proximidade, e as associações de outros países, as andinas, a chilena, que possuíam outra dinâmica que nós conhecíamos pouco, e eram muito diversas da nossa. E todos tinham que se sentir representados na candidatura de São Paulo. Apesar de São Paulo ser a maior cidade da América Latina, não era obvio ou automático, com um produto que se vende por si só, não era tão fácil assim. Mas conseguimos.

RELACIONADAS À SUA EXPERIÊNCIA NA REDE MERCOCIDADES

01. Você pode falar um pouco sobre o surgimento da Rede Mercocidades: a. Quando surgiu? b. Quais foram as motivações?

Mercocidades foi criada por grandes cidades, algumas de oposição aos governos nacionais da época, outras não, mas existia, independente da posição ideológica dos prefeitos, uma percepção generalizada das cidades, mas também de outros atores sociais, que o MERCOSUL como projeto de integração do continente era muito limitado e que tendia a morrer, justamente por esta limitação. Como a integração envolve todos os atores sociais e políticos da região. Existiu um papel importante dos prefeitos de oposição, porque não era simplesmente um tema de gestão, era um tema político ideológico - qual o tipo de integração nós queremos? Os prefeitos que eram personalidades políticas de projeção organizam uma ação. Existia a questão do modelo neoliberal, mas, além disto, um modelo muito restritivo, exclusivista - quem participa do MERCOSUL? Os governos nacionais e as grandes empresas multinacionais, evidentemente, porque queriam a ampliação de seus mercados. As cidades consideravam que o processo muito fechado, era necessário abrir, mas como? Uma forma era garantindo que as cidades tivessem um espaço na estrutura formal do MERCOSUL, uma forma para o

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aprofundamento do processo de integração. Alguns anos depois foi criada a REMI, a reunião especializada de municípios e intendências, mas que era um órgão totalmente burocrático e frágil institucionalmente. Da experiência da REMI resultou a criação do FCCR, Foro Consultivo de Cidades e Regiões, uma proposta apresentada pelo Brasil, que vem atuando até hoje.

02. Entende que a institucionalidade da Rede é sufi ciente para cumprir seus objetivos? Depois de 15 anos de existência, você ac redita que são necessárias mudanças na forma?

Eu acho que Mercocidades tinha estas duas grandes bandeiras, que são as bandeiras fundadoras, que são a razão de ser da Mercocidades: a primeira era a reivindicação por um MERCOSUL mais amplo, mais profundo, mais social, mais includente e participativo, que pudesse envolver atores da sociedade e os governos locais. A segunda bandeira era a participação direta, formal, institucional das cidades. Se analisarmos hoje, essas duas bandeiras foram satisfeitas nos últimos quinze anos. Há uma guinada no continetne, as eleições de governos progressistas na região, que refundam o MERCOSUL e dão uma nova orientação para o bloco, usando-o como umas das principais plataformas para a integraçãio regional. Seguem as questões comerciais, o aprofundamento da integração política resulta em ganho para o comércio, para todos os países. Então, isto foi satisfeito. E também a criação do Foro Consultivo de Cidades e Regiões, que era também uma reivindicação muito forte de Mercocidades foi satisfeita. O Foro merece adaptações e adequações urgentes e importantes, mas foi satisfeita.

O que acontece hoje? As duas principais bandeiras, a razão de ser da Mercocidades, foram satisfeitas. E agora? Agora talvez a pauta tenha que ser mudada, modernizada, atualizada. e isso não é fácil. Não que essas bandeiras devam ser abandonadas. Pelo contrario, pois continuam atuais. O avanço é expressivo, mas menos do que lemos nos discursos e gostaríamos de ver na pratica. O bloco ainda deve se democratizar muito mais, as cidades e as regiões ainda são atores marginais nas decisões. Mas não podemos comparar com o quadro que vivíamos na década de noventa e mesmo no inicio dos 2000. Acho que Belo Horizonte abre uma nova oportunidade, porque depois de muito tempo assume uma grande capital sul-americana, que foi uma das grandes fundadoras, Belo Horizonte é uma cidade importante, grandes acordos foram firmados aqui, tem um simbolismo importante também.

Agora o perfil de Mercocidades hoje mudou muito, então tem que mudar a rede. Quantos prefeitos vêm na Cumbre de Mercocidades, é um tema que se tem que analisar, eu não sei, eu acho que eles têm esta avaliação, se é um número crescente ou decrescente. Qual o perfil das cidades de Mercocidades hoje, o que pensam estas cidades, o que elas querem? Quais são as novas bandeiras de Mercocidades? São as mesmas? São renovadas? Sinto que isto não está muito claro hoje para as cidades. Então, eu acho que pode ter ocorrido um certo deslocamento no tempo da agenda de Mercocidades. Acredito que estes são os desafios colocados hoje para Mercocidades.

03. Como você avalia os resultados da Rede em termo s de: A) Participação nas decisões do Mercosul:

a. O Foro é suficiente? b. Em que estágio está o Foro? Já existe uma

institucionalidade (Comitê de Municípios e Comitê d e Estados), ela é suficiente?

c. Existem pendências? d. Qual a agenda? e. Qual a participação da Rede Mercocidades no Foro ?

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O Foro ainda não é suficiente para participação no MERCOSUL. Em política nada é suficiente nunca, em princípio, mas é um ótimo começo. O espaço está dado, existe uma “salinha” chamada FCCR lá no grande salão MERCOSUL. Pode ser uma salinha pequena, sem eletricidade, sem geladeira, sem banheiro, agora se eu não uso nem a salinha, não posso falar que está ruim. Quer dizer, você não pode criar uma estrutura burocrática sem recheá-la. O que é mais importante não é a estrutura institucional, mas sim a agenda política, os conteúdos, as propostas feitas às demais instâncias, ao GMC, ou seja, a ação política. Qual é a ação política das cidades ou dos estados com relação ao MERCOSUL, qual é a pauta? Qual o nível de governança que estas cidades e que estes estados têm para fazerem chegar suas reivindicações ao MERCOSUL? Ou melhor, para construírem o MERCOSUL, porque hoje eles são parceiros do MERCOSUL. Claro que há hierarquias, os governos nacionais conduzem este processo, o FCCR não é só um espaço institucional, ele tem um ganho muito importante, que é um espaço no meio de tantas iniciativas, entre elas a Mercocidades, talvez a mais importante, mas há outras, o CODESUL, CRECENEA, há os Estados do norte, a Venezuela, as associações nacionais, entre outras. Cada um faz suas coisas. O FCCR pode ser um espaço de encontro e também uma plataforma para ações bilaterais de cooperação. Todo mundo sabe que existe aquele espaço. O FCCR, além de ser um espaço institucional, pode ser uma plataforma, um espaço de encontro, de elaboração, só que para isso ele precisa ser fortalecido. Então, é melhor entrar na salinha, começar a decorar, colocar um sofazinho, colocar conteúdos, mesmo que pequenos, mas reais, concretos, do que ficar reivindicando uma maior institucionalidade. E aí sim, por exemplo, se você vai na salinha e tem duas pessoas, você não vai dar bola, mas se tiver vinte o MERCOSUL vai ser obrigado a abrir um espaço maior. Então, eu acho que o FCCR não é suficiente, ele tem problemas estruturais sérios, as questões que são colocadas hoje são: qual a relação dos coordenadores com os membros do FCCR? As coordenações variam muito entre os países, no Brasil é a Assessoria de Assuntos Federativos quem coordena, que tem um alto nível de diálogo federativo, e tem como tema os governos locais. Já na Argentina é a Chancelaria, é o Ministério das Relações Exteriores, no Paraguai também é o Ministério das Relações Exteriores, órgãos que não possuem entre suas funções clássicas dialogar com os governos locais. No Uruguai quem coordena é o Congresso de Intendentes, que é uma instituição oficial eminentemente política do Uruguai. O FCCR exige um nível de executividade para poder avançar, então, esta diversidade institucional dos coordenadores acaba gerando complexidades. Será necessário se debruçar sobre este tema. Eu quero propor na próxima Cúpula, que as reuniões dos coordenadores integrem membros do FCCR, pelo menos do país que exerce a Presidência Pro Tempore. Tem ainda as questões de regimento interno, que não vou entrar em detalhes, mas que são importantes. O papel de Mercocidades no Foro tem que ser central, o Foro é composto por um Comitê de Estados e um de Municípios, Mercocidades têm que ser automaticamente o Comitê de Municípios, só que mais amplo, porque há instituições que não fazem parte de Mercocidades, mas que querem fazer parte do Foro.

Foi questionada a legitimidade da Secretaria Executiva de Mercocidades presidir o Comitê de Municípios, porque o regulamento interno que cria o Foro, elaborado pelos coordenadores e depois ratificado e aprovado pelo GMC, coloca numa cláusula transitória que Mercocidades vai coordenar o Comitê de Municípios durante um ano e meio e este um ano e meio passou e as outras entidades que querem ocupar o espaço questionam a continuidade de Mercocidades. Mercocidades está trabalhando a quinze anos em função do MERCOSUL, aliás, existe para isto. Então, não dá para Mercocidades, esta entidade importante, que congrega cidades até além do MERCOSUL, com muita tradição, com muito acúmulo, ter papel secundário. Pelo contrario. Tem que ter papel centralíssimo!

B) Cooperação descentralizada (Unidades Temáticas):

a. Existem avanços nas UTs?

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b. Quais são os desafios?

As Unidades Temáticas são a fortaleza de Mercocidades. É onde se publica, é onde se discute os verdadeiros temas, para além das questões políticas que também são importantes, mas digamos que o coração pulsante está nas Unidades Temáticas. A questão do número de Unidades Temáticas é uma questão secundária, se são muitas ou se são poucas, se há um tema que duas cidades queiram participar, uma propõe e a outra também quer, já vale a pena, desde que elas se responsabilizem. Na cooperação descentralizada existe um vício, que eu também tinha, mas que eu acho que tem que ser revisto, como as cidades agem muito em grupo, associações, em redes, se busca muito a universalização dos espaços, ter cada vez mais um número maior de membros. Faz-se uma reunião e tem vinte pessoas e eu esperava setenta aí é um fracasso. Isto é um equívoco, porque para ter um bom debate, basta ter meia dúzia de pessoas interessadas e para além do debate você ter executividade das propostas, ou seja, fazê-las acontecerem de fato.

Mercocidades é muito usada como selo, eu sou uma cidade, eu coordeno Mercocidades, o Prefeito quer falar na sua cidade que coordena alguma área de Mercocidades e usar politicamente, o que é muito legítimo e válido, só que pra Rede em si isto tem pouca utilidade. O importante é que as Unidades Temáticas contribuam para si mesmas e também para Rede e tenham uma visão local e regional, ou seja, como elas podem contribuir com aportes para o MERCOSUL, isto seria uma visão regional. E claro, para as cidades como um todo, para que as experiências trocadas nas Uts tenham utilidade pratica nas gestões das políticas publicas das cidades. Essas duas vertentes – utilidade prática loca e visão dos temas urbanos para a região, mais geral, para o Mercosul – devem caminhar juntas.

Mas acho que existe um certo cansaço desse debate, não apenas em Mercocidades, mas nas redes de cidades como um todo. Acho que muitos os municípios, e em grande medida os brasileiros, não entendem com clareza o papel da cooperação técnica, que é basicamente conhecimento. Acho curioso isso, pois hoje em dia se fala tanto em sociedade do conhecimento, mas as vezes parece que, para muitos, conhecimento ainda é pouco, de uma visão mais desenvolvimentista clássica. Espera-se que as ações sejam “concretas”, prédio, equipamento... Então, muitas vezes os prefeitos, pressionados pelas demandas infinitas em suas cidades, acabam tendo uma visão que pode ser chamada de “hiperpragmática”, influenciada ainda pelo de retorno de um certo tipo de desenvolvimentismo, e grande dose de imediatismo.

Então vivemos vários cenários simultâneos e conflituosos. Por um lado, uma certa prolixidade, certo desgaste do modelo das redes e dos debates promovidos, que trazem poucos resultados considerados “concretos”. Por outro lado, a visão imediatista e desejosa de concretude, mas pouco clara sobre a importância da troca de experiências, e ainda, pouco politizada sobre o papel das cidades no processo de integração regional, gera frustração e esvaziamento da rede e das Uts. Resolver esse dilema é imperativo.

As Unidades Temáticas, sob o guarda-chuva de Mercocidades, trazem uma outra riqueza, que é pouco valorizada: a governança sobre os temas. 10 ou 15 cidades trabalhando juntas sobre um tema, já gera um alto nível de governança e que já está dado, e que muitas redes levam anos para constituir. Agora, este nível de governança não está conseguindo dar o salto para buscarem objetivos comuns, buscarem resultados. Haveria que se pensar em projetos comuns, que poderiam ser financiados pelos mecanismos do MERCOSUL, como o FOCEM, por exemplo. Se Mercocidades conseguir se transformar em uma plataforma de projetos para o FOCEM e outras fontes de recursos, outros mecanismos de financiamento, Mercocidades se projetaria de uma forma inédita. Seria uma fábrica de projetos, de idéias. Não se fazem projetos sem idéias, não se fazem projetos sem governança e sem identificar quais os temas prioritários. Se cinco cidades conseguirem fazer isto, conseguirem se reunir sobre toda esta

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complexidade de gestão, de governança e identificarem um tema comum e elaborarem um projeto conjunto, colocarem seus técnicos trabalhando, preencherem o formulário FOCEM que é de altíssima complexidade, ou a AECID, ou BID, e conseguirem financiamento, Mercocidades se transformaria em um gerador de conhecimento, gerador de ações concretas para o MERCOSUL, para o continente e para seus cidadãos. Este é o desafio.

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ANEXO 6 – ENTREVISTA RODRIGO PERPÉTUO

RELACIONADAS AO PAPEL DAS CIDADES NO CONTEXTO INTER NACIONAL

01. Que papel as cidades podem e devem desempenhar no contexto internacional?

É um tema novo, as cidades têm várias possibilidades de atuação na cena internacional. Elas podem atuar no âmbito político institucional, recebendo, por exemplo, representantes diplomáticos dos países que cada vez mais saem da capital federal e vão buscar no território informações para enriquecer o seu dia a dia de trabalho, nas suas tarefas das embaixadas. Também nesta parte política institucional recebendo e buscando os organismos internacionais como ONU e as sua agências, agências financiadoras como o Banco Mundial. A relação com o próprio MRE também por uma atuação internacional mais autônoma, mas, porém, harmoniosa com as diretrizes da política externa brasileira. A outra dimensão é a de cooperação internacional. Esta dimensão pode se dividir em cooperação bilateral, quando as cidades têm projetos específicos, por alguma afinidade política, geográfica ou econômica, ou multilateral como é o caso da atuação em redes, que podem ser organizadas para buscar projetos financiados por editais que estão disponíveis em diversas instâncias ou podem ser espaços de articulação de inserção política das cidades em seu diálogo com organismos internacionais, como é o caso da ONU, por exemplo, que cada vez abrem mais espaços para as cidades participarem de suas agendas, exemplo, Fórum Urbano Mundial, que acontece no Rio na semana que vem, organizado pelo Habitat, que é uma das agências da ONU. Um terceiro componente ou dimensão de atuação é a dimensão econômica, de atração de investimento, de promoção do território, seja para o turismo, seja pra articulação entre empresários da cidade e empresários estrangeiros, é um componente também que pode ser viabilizado através de missões internacionais, de escritórios, é mais raro no Brasil, mas as cidades podem abrir em outras cidades do mundo. Seriam estes, talvez, os três principais eixos de atuação das cidades: político institucional, cooperação internacional e econômico.

02. Quais são os desafios?

Os desafios são vários. O primeiro é uma busca de superação desta fragilidade institucional, que decorre do não reconhecimento dos principais atores muitas vezes da importância e do papel que as cidades podem ter quando tentam uma ação harmoniosa com os seus governos nacionais, isto decorre também de fragilidades nas próprias estruturas, é o segundo problema, nas áreas de relações internacionais das próprias cidades. E um terceiro problema é uma difícil compreensão por parte da sociedade civil local da importância do papel que estas áreas devem desempenhar para que tenham um trabalho eficiente, então, eu diria a debilidade institucional em vários níveis, no nível internacional, no nível nacional e no nível local são os principais desafios da atuação internacional mais eficiente.

03. Como você entende que deveria se organizar a pr esença das cidades no contexto

internacional?

Primeiro é importante dizer que a atuação internacional de município é uma decisão política não é uma necessidade, a cidade, especialmente aquela cidade menor, ela pode escolher, o prefeito pode escolher se lançar no espaço internacional ou não, tem sido uma tendência das grandes cidades, ainda assim é uma decisão política.

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As cidades podem, elas devem buscar associação com outras cidades, primeiro para aprender como fazer, quem está fazendo bem, o que está acontecendo e desenvolver um capital social próprio e a partir das redes, que tem sido o principal instrumento de internacionalização das cidades, buscar um relacionamento com organismos internacionais, como as ONGs, as agências de financiamento. A partir daí, elas podem ter uma atuação mais autônoma, também, a cidade pode perfeitamente ter uma política de relações internacionais que não contemple as redes. Na minha visão é uma postura que vai levar a uma visão por parte de outras cidades e dos organismos internacionais de uma atuação mais egoísta, que pode não se sustentar no médio prazo. Eu acho que um bom caminho são as redes internacionais, não todas, porque são várias, então, se a cidade opta por participar com força nas redes internacionais de cidades, vai ser assediada pelas redes e vai ter um problema de freqüência, porque não vai conseguir freqüentar, então, tem um problema, que é um problema também político de escolher e priorizar os espaços em que vai ter uma atuação mais autônoma.

RELACIONADAS À SUA EXPERIÊNCIA NA AÇÃO INTERNACIONA L

01. Quando surgiu a área de RI na cidade? Por quê?

Em Belo Horizonte, em 1996, criou-se uma secretaria de indústria e comércio, que começou a trabalhar temas relacionados à agenda internacional. Depois, em 2000, esta secretaria foi extinta e a secretaria de planejamento absorveu uma nova área que era a gerência de relações internacionais e em 2005, esta gerência foi transformada em secretaria adjunta de relações internacionais, que é a área, o órgão responsável pela parte internacional atualmente.

02. Quais foram as razões que explicaram o surgimen to desta área?

Sempre há o contexto e a motivação política, no caso de Belo Horizonte, a criação da secretaria respondeu a uma fragmentação das ações, uma desarticulação das ações, que aconteceram com muita força a partir de 1996, com a secretaria de indústria e comércio, e depois tiveram algumas interrupções quando a secretaria acabou e a área passou a ser uma gerência. Então, a secretaria foi criada para dar um sentido político e para uma coordenação de agenda e um alinhamento desta agenda com a agenda local, para o processo de internacionalização da prefeitura.

03. Quais são as principais ações desenvolvidas?

A atuação em redes, Belo Horizonte, hoje, passa de uma cidade que freqüentou e que freqüenta as redes para uma cidade que assume, assumirá ao longo deste ano um papel de protagonismo em algumas delas, coordenação brasileira da Associação das Cidades Educadoras, a presidência do Centro Iberoamericano de Desenvolvimento Estratégico Urbano e a Secretaria Executiva da Rede Mercocidades. Então, a atuação em redes é uma das prioridades e uma agenda bilateral mais pragmática, nós temos hoje, vou citar somente dois exemplos para não me alongar, uma agenda com Stutegard na Alemanha para nos ajudar a nos prepararmos para organização da Copa do Mundo e uma agenda bilateral com Bogotá na Colômbia porque estamos implantando em Belo Horizonte o sistema de mobilidade urbana, baseado no modelo que fez sucesso em Bogotá, então, convênios com outras cidades é outra instância de trabalho. Captação de recursos, a relação com o Banco Mundial, a Agência Francesa de Desenvolvimento, a Agência Japonesa, enfim, a construção mais do ponto de vista institucional deste relacionamento buscando financiamento e mesmo recursos não reembolsáveis para áreas temáticas da prefeitura de Belo Horizonte, é outro ponto de atuação. Suporte ao prefeito em suas relações político institucionais, como quando recebe

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embaixadores, quando recebe autoridades internacionais, nós preparamos todas as informações e agendas destas visitas. E organização de missões da prefeitura e de missões internacionais que visitam a prefeitura de Belo Horizonte.

04. Como você avalia os resultados obtidos? Você en tende que as expectativas

estão sendo atendidas?

Resultados efetivos é sempre uma coisa subjetiva, para uns o fato de uma cidade assumir a Secretaria Executiva de uma Rede como a Mercocidades é um resultado positivo, para outros é um processo natural e não quer dizer nada, então, é um desafio que nós temos na área de relações internacionais é criar indicadores que possam indicar resultados, número de embaixadores que o prefeito recebeu é um indicador de resultado? Pode ser como pode não ser, porque pode não querer dizer nada, porque se 30 embaixadores visitaram Belo Horizonte e a cidade não aproveitou estas visitas, o que quer dizer isso? Então, eu não sei, acho que nós da área estamos pensando em que tipo de instrumentos nós vamos ter para medir os impactos, os sucessos, os insucessos, que nós temos no nosso campo de atuação. Não existem indicadores sobre isto, isto é um desafio.

05. Quais são as metas para o futuro?

Como não há indicadores, é difícil também estabelecer metas, então, é outro desafio que a gente vive. Quando a gente desenvolve um planejamento estratégico, como é o caso de Belo Horizonte, que tem trabalhado, nós criamos agora, por exemplo, o Fórum Nacional de Secretários Municipais de Relações Internacionais, chama FONARE, com 28 secretários brasileiros, nós temos um esforço, a partir de Belo Horizonte em conjunto com estas cidades, de fortalecer as áreas internacionais para que elas possam pensar este tipo de atuação como uma política pública. Isso é uma coisa nova, as relações internacionais ao nível municipal foram sempre baseadas em ações isoladas e por um movimento que começou a contaminar positivamente outras cidades que foram participando, outros prefeitos, então, nós estamos em um momento de pensar esse processo, pensar sobre esse processo, em que momento nós estamos, o que nós queremos deste movimento e como transformá-lo em política pública, aí sim, nós vamos ter a possibilidade de estabelecer metas mais concretas políticas e também metas em termos de recursos ou de projetos de cooperação, objetivos, dependendo da prioridade política do prefeito, em relação a que temática trabalhar no âmbito internacional e passar de uma agenda reativa, que é o que nós temos no Brasil hoje, e uma agenda de inércia, vamos dizer assim, porque um segue o outro, pra uma agenda mais estratégica, mais autônoma e com um viés de política pública. Este é um momento de transformação que nós estamos vivendo e que ainda vai demorar alguns anos, acho que uns três ou quatro anos, talvez um mandato e mais um para que este processo se consolide mais.

RELACIONADAS À SUA EXPERIÊNCIA NA REDE MERCOCIDADES

01. Você pode falar um pouco sobre o surgimento da Rede Mercocidades:

a. Quando surgiu? b. Quais foram as motivações? Este contexto ainda s e mantém? c. Quais são os principais objetivos da Rede?

A rede nasceu em 1995, em um momento em que havia um contraponto dos governos municipais do MERCOSUL, que alguns deles pelos menos, os que fundaram a rede, foram onze se eu não me engano, que eram governos mais alinhados ao centro esquerda, não gosto

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deste tipo de nomenclatura, mas vamos usar esta metodologia, e que queriam transformar a agenda do MERCOSUL, numa agenda que não se limitasse a área de comércio exterior. E transformar também as políticas nacionais, não só as que diziam respeito ao próprio MERCOSUL, mas as que teriam impacto também nos seus âmbitos domésticos. Num primeiro momento, a rede se dedicou a isto, a pregar a autonomia das cidades, a pregar outro tipo de fazer política pública e a fazer este contraponto, tanto é que alguns dos prefeitos brasileiros e intendentes do Uruguai e da Argentina, especialmente, que eram prefeitos naquele momento, hoje, estão no poder em outros níveis de governo. O caso do Tarso Genro, por exemplo, ministro, o Aranha no Uruguai também ministro. Enfim, hoje, a rede não precisa mais, não cabe, porque hoje são 215 municípios de toda sorte de orientação política e no plano nacional não há mais um alinhamento, vamos dizer, com políticas mais neoliberais, com a cartilha de Washington, a América Latina e o MERCOSUL mudaram e tem um política mais autônoma, não importa se mais a esquerda ou mais a direita, mas mais autônoma em relação aos EUA e esta bandeira já não é bandeira da rede. A bandeira de rede, hoje, é uma bandeira que é essa de inserção qualificada dos municípios no cenário internacional, de diálogo com o MERCOSUL especialmente, é a bandeira de troca de experiências, uma das forças da rede, e uma bandeira mais recente e que tem avançado, que é a bandeira de projetos, então, a rede se consolida hoje como um espaço que pensa a integração regional a partir das política públicas.

d. Existem cidades que tiveram um papel relevante n a criação da Rede? Quais? Por quê?

Rosário que hoje é a Secretaria Executiva talvez seja um ótimo exemplo. Porque o então prefeito se tornou o primeiro governador do Partido Socialista na Argentina. Ele foi um prefeito que teve um protagonismo na rede e utilizou este protagonismo como um capital político pra poder elevar a sua dimensão de político local para político regional. O atual prefeito, que já não é mais, de Montevidéu, acaba de ser escolhido ministro da educação e da cultura do Uruguai, pelo presidente recém eleito. Então, são dois exemplos emblemáticos de cidades que fundaram a rede, tem um protagonismo e fizeram com que, em diferentes momentos, os seus prefeitos fossem para cargos de expressão nacional.

02. Entende que a institucionalidade da Rede é sufi ciente para cumprir seus

objetivos? Depois de 15 anos de existência, você ac redita que são necessárias mudanças na forma?

É um debate interessante, porque ao mesmo tempo em que se fala na debilidade institucional da rede, se esquece que a rede cresce todo ano, ingresso de 20, 15 cidades, a cada cúpula, que é um crescimento que não é linear, é significativo. Há uma percepção, principalmente para quem está dentro da rede, de uma debilidade institucional, de uma necessidade de criar novas formas de comunicação, o que é uma necessidade real, há também, por outro lado, uma capacidade da rede de crescer de maneira sustentável. Então, existe sim, talvez, um desafio de modernizar os processos de comunicação da rede, não diria fragilidade institucional, porque ela é reconhecida pelas instâncias do MERCOSUL, pelas cidades, não tanto pela sociedade civil, mas é reconhecida como um espaço importante da articulação internacional ao nível municipal no Mercosul.

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03. Como você avalia os resultados da Rede em termo s de: C) Participação nas decisões do Mercosul:

a. Da Remi para o Foro existe um avanço? Por quê? b. O Foro é suficiente? c. Em que estágio está o Foro? Já existe uma

institucionalidade (Comitê de Municípios e Comitê d e Estados), ela é suficiente?

d. Existem pendências? e. Qual a agenda? f. Qual a participação da Rede Mercocidades no Foro ?

Por exemplo, a Reunião especializada, ela é uma reunião temática. Então, se você pensar nesta perspectiva, o MERCOSUL entendia os municípios como um tema, a elevação de uma reunião especializada para um fórum consultivo eleva os municípios de um tema para um ator político relevante, respeitado. É a elevação de um tema para um ator protagonista político dentro da cena do MERCOSUL, permanece o desafio de como usar este espaço. É um desafio que está colocado e que a rede não resolveu bem ainda.

O foro é necessário, porém, não é um espaço suficiente porque, por exemplo, os municípios argentinos levam temas de sua política doméstica para serem tratados no capítulo nacional argentino do Foro, então, há um embate entre a federação argentina de municípios e os municípios alinhados com a Mercocidades, o que atrapalha o andamento do fórum, as discussões ficam desfocadas, em relação a perspectiva de uma agenda mais pragmática, mais concreta.

O que está colocado hoje é uma clausula transitória, que é quando não há consenso no MERCOSUL, permanece o status anterior, até que haja um novo consenso. Então a rede, hoje, é a coordenadora do Comitê de Municípios, parte do capítulo argentino discorda disto, não há consenso, ela continua pela clausula transitória, mas a rede, em sendo, seja por consenso, ou seja por clausula transitória, é quem dita o ritmo e a agenda de trabalho do Comitê de Municípios. Então, ela ocupa o melhor espaço para cidades no MERCOSUL.

Acho que os estados, o fato de existir Mercocidades, que já é um espaço de articulação, favorece que a articulação dos municípios caminhe mais rapidamente, os estados não têm este espaço, não têm uma rede, igual nós temos no Brasil a Frente Nacional de Prefeitos, não tem uma Frente Nacional de Governadores, não tem no plano regional uma rede de governadores, então, é uma agenda nova para os governadores. Apesar dos estados terem uma agenda internacional mais tradicional do ponto de vista econômico, a articulação em rede é uma novidade para eles e eles estão enfrentando o desafio que nós já superamos, que o da organização da rede em si.

D) Participação das cidades, não só em termos de ci dades associadas, mas também em termos de participação ma is ativa:

a. Você acredita que existe um núcleo duro de cidad es na Rede? Por quê? É possível elencá-las? Porque isto acontece?

b. Porque existe uma descontinuidade de atuação de algumas cidades e de outras não? O processo eleitor al é um fator? A falta de institucionalidade na estrutur a da municipalidade? Podem ser consideradas mudanças no contexto político nacional?

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Isto depende muito de quem está governando, como um prefeito que assume trata a questão internacional, como ele prioriza a inserção internacional, se é uma inserção mais ao nível regional ou não. Então, por isto seus altos e baixos, mas este encontro aqui é prova que a rede vai bem, não é? Nós temos aqui um grupo qualificado de gestores públicos, alguns prefeitos, do Brasil, do Uruguai, do Paraguai e da Argentina, uma reunião teoricamente pequena e que mostra sua força, tem cerca de 40, 50 cidades representadas aqui. A participação é boa, a rede tem que pensar como ela pode ser mais qualificada e gerar mais resultados a luz de uma estratégia que a rede ainda não soube definir.

As cidades que têm uma participação continuada nas redes são aquelas que têm uma continuidade política, mesma orientação ideológica nos seus governos. Então, aquela presença é uma resposta de continuidade a uma linha ideológica política de orientação daquelas cidades e isso é verdade, com uma substituição ou outra, em algum tempo ou outro. Ao fim e ao cabo, todo processo precisa de liderança, toda organização vai achar os seus lideres, também por outro lado são estas cidades que se tornaram as cidades lideres deste processo, ou seja, são respeitadas, as outras cidades querem fazer trabalhos em parceria com elas, por seu acumulo. Elas tem uma área de relações internacionais mais estruturada e isto vai reforçando sua liderança, então, é um processo que se reforça, isto pode ser também um dilema, porque como a rede vai criar outras cidades lideres e compartilhar esta liderança do ponto de vista das cidades. Acho que depende muito também da decisão política dos prefeitos, dos intendentes e da articulação que eles têm entre eles.

A institucionalidade de uma secretaria ou o que for a criação de uma área internacional formal garante a memória, a qualificação do processo, uma compreensão melhor do processo, então, a cidade que optar por uma ação internacional a minha recomendação é que crie uma área, designe uma pessoa que possa cada vez mais se qualificar e multiplicar esta qualificação para outras áreas da prefeitura, para o próprio gabinete do prefeito, para que quando saiam e busquem suas parcerias o façam de uma maneira qualificada. Acho que faz diferença sim ter uma área de relações internacionais.

Um projeto oriundo da rede e que a cidade de Belo Horizonte participa, em parceira com governos da rede Mercocidades e com o governo locais italianos de enfrentamento da violência contra a mulher. Reúne 15 ou 20 cidades da Mercocidades de uma rede de cidades da Itália, foi gestado dentro da UT Gênero e cidades.

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ANEXO 7 – ENTREVISTA JORGE RODRIGUÉZ

RELACIONADAS AO PAPEL DAS CIDADES NO CONTEXTO INTER NACIONAL

01. Que papel as cidades podem e devem desempenhar no contexto internacional?

Eu posso falar de nossa experiência em Montevidéu. A participação de Montevidéu na cena internacional se dá a partir de uma conjuntura política do momento. Nos anos 1990, quando assumem governos municipais de esquerda no Uruguai e o governo nacional é de outro partido, então, as tensões entre os governos municipais e os governos nacionais se fazem muito evidentes, muito fortes. A partir daí os governos locais desenham uma estratégia de inserção internacional e porque de inserção internacional? Dentro da estratégia de força política estava a priorização da integração regional, por isso Montevidéu participa no nível regional em seu âmbito de competência, entre seu pares, por isso se cria a Rede Mercocidades e se cria a instância em outras cidades que apresentam a mesma conjuntura muito similar. Eu acredito que todas as cidades que fundam a Mercocidades o fazem porque o partido do governo nacional não era o mesmo que na cidade. Isto se passa no inicio dos anos 1990, quando as cidades dão os primeiros passos na cena internacional. Um espaço que era reservado exclusivamente aos Estados, onde as cidades vêem, na cena internacional, na globalização, uma oportunidade, neste sentido, de mostrar uma gestão e buscar uma solidariedade internacional, no sentido de denunciar o que acontece nas cidades. Deste ponto de vista, eu acredito que as cidades têm um papel importante na hora da consolidação democrática, porque justamente na alternância de poder e buscando forma de que este poder possa ser exercido na cidade como um governo da cidade. As cidades começam a participar, não o fazem com uma expectativa de escala planetária, elas o fazem com uma expectativa de articular no nível regional políticas locais que lhes permitam beneficiar-se do processo de integração e assumir maiores espaços de pressão e de lobby para que estes espaços regionais permitam as cidades também participar deste cenário. Nunca se havia aberto um espaço para a participação para governos locais. Em atenção as postulações de força políticas, postulados com a integração regional como um futuro e um destino comum para a região, a integração regional como uma alternativa de desenvolvimento, uma alternativa de gerar prosperidade para os países e manter esta oportunidade para os cidadãos, postulados de não intervenção e a auto-determinação dos povos, não intervenção em nossos espaços, respeito a autonomia e a diversidade, e também em respeito aos valores culturais e as diversidades que existem em uma região tão vasta como o MERCOSUL.

02. Quais são os desafios?

Hoje em dia, os governos locais e nacionais são do mesmo partido, não diria que as tensões desaparecem, porque não desaparecem, são realidades distintas, porém permitem uma articulação mais fluida, não ausente de conflitos e de problemas, porém isto se dá em um cenário diferente do ponto de vista da articulação, da facilidade de diálogo, um diálogo comum.

03. Como você entende que deveria se organizar a pr esença das cidades no contexto internacional?

As cidades têm desenvolvido distintas ferramentas na hora de participar na cena internacional, a rede é uma das ferramentas que tem se desenvolvido, porém as relações bilaterais também administradas com outros mecanismos como irmanamentos, acordos de cooperação, acordos de amizade. Tenho a teoria de triângulo virtuoso, onde nós pensamos que o governo local

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participa de um espaço de integração, em um espaço internacional, por três motivos: políticos, econômicos ou de assistência e intercâmbio internacional. Estes três motivos são os motivos fundamentais pelos quais um governante local participa na cena internacional, ou porque necessita financiamento, ou porque necessita de uma projeção de figura que transcenda ao governo local, ou porque efetivamente tem problema, tem uma dificuldade e o intercâmbio técnico que se dá ao nível das cidades muitas vezes permite a solução de algum problema por uma via mais eficiente e mais econômica.

RELACIONADAS À SUA EXPERIÊNCIA NA AÇÃO INTERNACIONA L

01. É uma área específica ou está vinculada à outra área da prefeitura?

A área de relações internacionais de Montevidéu foi evoluindo, quando nasceu dependia diretamente da secretaria geral que tem formato de departamento e dá assistência ao intendente. A secretaria geral é a que firma todas as resoluções do intendente, é uma secretaria de assistência e de relacionamento com os outros poderes do estado, é uma figura muito importante. Aí se cria o serviço de cooperação e de relações internacionais, um pouco associada à época em que se pensava que as relações internacionais estavam muito atadas a protocolos, a paradiplomacia. Depois de cinco anos, quando se muda de status e se cria uma divisão de relações internacionais e cooperação, muda-se o nome porque antes se chamava cooperação e relações internacionais e passa para divisão de relações internacionais e cooperação, um pouco fazendo menção ao fato de que primeiro se relacionar e depois cooperar. Esta divisão passa a ser um departamento, que é o departamento atual de desenvolvimento e integração regional, neste departamento se tem a visão de que as relações internacionais teriam que estar associadas ao desenvolvimento econômico e ao desenvolvimento local da cidade, ou seja, as relações internacionais podem estar a serviço do desenvolvimento da cidade. Hoje, seguimos nesta estrutura, dependendo do departamento de desenvolvimento econômico e integração regional e a divisão tem 18 funcionários, nem todos são funcionários permanentes, porém a grande maioria, e nós temos três unidades de atuação: uma área de relacionamento, uma área que trata os temas de integração, poderíamos dizer através de redes, e uma área de projetos. E como está hoje a divisão de relações internacionais.

A área de relações internacionais de Montevidéu não é um modelo a ser seguido, mesmo porque não gosto deste termo modelo, mas pode ser uma referência na hora de se criar uma área de relações internacionais. Em determinado contexto, em determinado momento, em determinada situação, pode ser uma referência que te dá como pista o contexto e porque se estruturou desta forma. Cada governo local tem que se adaptar a sua realidade, sua estrutura organizativa tem que responder a uma ambição política do que se quer fazer com estas relações internacionais.

02. Como você avalia os resultados obtidos? Você en tende que as expectativas

estão sendo atendidas?

Hoje, nós temos um funcionamento que tem um mínimo que nos permite desenvolver uma política de inserção internacional do governo de Montevidéu e que lhe permite desenvolver ações que sustentam o fundamento político desta gestão. Amanhã, se mudar esta política, se amanhã se priorizarem outras coisas, eu creio que seria necessário adaptá-la, hoje eu creio que ela responde as necessidades.

Não temos um sistema de indicadores para medir resultados, os resultados nós avaliamos a partir de duas ou três óticas, uma ótica política, que impacto nós obtivemos a partir do que se

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tinha planejado, quanto do simbólico se joga nisto, que mensagem se incorpora ou não, não há indicadores quantitativos que nós tenhamos definidos. Porém, você tem algumas coisas que vão te dizendo para onde vai a mão, efetivamente Montevidéu tem um reconhecimento no nível internacional, então, é um retorno do ponto de vista político que estão tendo as ações empregadas do governo. Existem alguns números que te dizem, bom, há uma política sustentável de captação para o governo de Montevidéu e a cada cinco anos, chamamos qüinqüênios, a cada qüinqüênio a cooperação tem crescido e de forma permanente e constante. A captação está vinculada as prioridades do governo, você vai fazer uma distribuição desses recursos a que áreas se aplicam das cidades, você vai ver que prioritariamente estão aplicados na inclusão social, luta contra pobreza, desenvolvimento econômico, a promoção econômica, ao desenvolvimento local, prioridades do governo local, associadas à captação de recursos.

RELACIONADAS À SUA EXPERIÊNCIA NA REDE MERCOCIDADES

01. Você pode falar um pouco sobre o surgimento da Rede Mercocidades:

a. Quando surgiu? b. Quais foram as motivações? Este contexto ainda s e mantém? c. Quais são os principais objetivos da Rede? d. Existem cidades que tiveram um papel relevante n a criação da Rede?

Quais? Por quê?

A criação da Mercocidades está ligada a um eixo da região marcada politicamente. Ademais os governos eram de distintos signos políticos dos governos nacionais. Então, se cria, em um seminário de outra rede, a União de Cidades Capitais Iberoamericanas, que estava funcionando em Assunção, aparece a idéia em uma unidade que se chama desenvolvimento social de criar uma rede no nível regional para tratar o tema político, bom aí surge a ideia e algumas cidades que lideram o processo: Porto Alegre, Montevidéu, Rosario, Assunção, Cordoba, são cidades que lideraram um processo importante. São doze cidades, não me recordo de todas, que decidem fundar a Mercocidades. Assunção teve um papel muito protagônico porque propôs a criação da Mercocidades, muito semelhante à Eurocidades, ou seja, um diálogo bastante fluido com Eurocidades, isto aparece como a estrutura da Mercocidades é reflexo da Eurocidades e aparece aí o corpo normativo mais básico que é a ata fundacional.

Mercocidades é uma rede política, que está a favor da integração, ou seja, Mercocidades existe porque existe a integração. É uma rede de cidades para a integração. O primeiro objetivo que persegue é a obter a co-decisão no MERCOSUL, que os governos locais nas áreas de sua competência possam decidir coisas em integração regional, objetivo não cumprido até o dia de hoje. Este é o objetivo número um da rede. Depois têm os objetivos de intercâmbio técnicos, de conhecimentos, todo isto que o Estatuto apresenta, porém o objetivo central é a incidência política nas áreas de competência do governo local.

02. Entende que a institucionalidade da Rede é sufi ciente para cumprir seus objetivos? Depois de 15 anos de existência, você ac redita que são necessárias mudanças na forma?

Existe a necessidade de uma modernização, a estrutura da Mercocidades não mudou em grandes termos desde sua fundação. É uma estrutura pensada para poucas cidades. Mercocidades quando nasce, pensava-se que a associação não ia superar as cidades de 500

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mil habitantes, que não haveria cidades com menos de 500 mil habitantes, teria que ter 500 mil habitantes para ingressar na rede, isto dava um universo menor de cidades. Com a vida, ocorre uma mudança, a partir da proposta do intendente Riera de Assunção para abrir a participação da rede às cidades de qualquer tamanho. Então há um crescimento explosivo da rede, a rede cresce de forma ininterrupta. Inicialmente, a estrutura estava pensada para uma rede de cidades de doze cidades, hoje temos 225 cidades, temos uma explosão da rede. Uma crise de crescimento, que é muito boa, porque é uma proposta que tem despertado o interesse dos governos locais e seguem aderindo ano a ano.

Que modificação foi feita? A criação da Comissão Diretiva que não existia, que é a instância entre as três cidades que exerce a secretaria executiva atual, a que a vai exercer e a que a exerceu. Criou-se a Secretaria Técnica Permanente que não existia. Criaram-se novas Unidades Temáticas e mudaram-se o nome de algumas outras, estas são algumas mudanças, mas ainda se está na estrutura original de funcionamento.

Que estrutura nós precisamos? Não sei, teríamos que conversar, nós teríamos que discutir, eu acredito que teria que estar associada, basicamente, as prioridades que tem a Mercocidades do ponto de vista político, temático, nesta perspectiva, creio que haveria que mudar de imediato para uma estrutura mais ágil, uma estrutura que facilite a comunicação, que facilite o fluido de informação, que é vital para que a rede se mantenha viva, tenha uma atuação ao nível regional articulada, com força, com incidência política na região, ou seja, a comunicação hoje joga um papel muito importante e as vezes condiciona a prioridade política definida pela própria rede.

03. Como você avalia os resultados da Rede em termo s de: E) Participação nas decisões do Mercosul:

a. Da Remi para o Foro existe um avanço? Por quê? b. O Foro é suficiente?

A Remi surgiu em um momento em que os governos locais pressionavam os governos nacionais buscando um espaço institucional para o local, os governos nacionais não queriam dar o espaço de transcendência, não queriam gerar uma estrutura muito forte no MERCOSUL, uma quantidade de motivos que levaram a criar as reuniões especializadas, que em realidade, em termos conceituais, estava ruim porque os governos locais, governos eleitos, não são uma temática especializada dentro do MERCOSUL, os governos locais são atores eleitos de determinado nível, que podem opinar e podem gestionar tudo o que passa no MERCOSUL. Então, não é que era uma temática especificamente do local, o que queríamos tratar na Remi, os governos locais queriam discutir o MERCOSUL, promover o MERCOSUL e propor no MERCOSUL. A Remi não cumpria este objetivo em absoluto e, além do mais, a Remi chocava-se do ponto de vista da confecção, do ponto de vista da estrutura com a lógica da Mercocidades, que era uma lógica regional e de mirada regional. A Remi se enquadrava em sessões nacionais, como em todo o MERCOSUL, a soma de quatro. Não era o mesmo e não se enquadrava nesta estrutura os governos locais e, no entanto, se produziu pouco. E por isto a aspiração de ter um nível maior de participação, e por isto a reclamação e por isso aparece o Foro Consultivo de Cidades e Regiões. E aparece uma novidade no Foro, aparece um espaço para o local, porém o MERCOSUL diz que todos em relação ao nacional são locais e aparecem os departamentos e as províncias, que são outras realidades, não são os mesmo que governos locais de cidades este âmbito territorial mais amplo. Além disto, se olharmos os países que têm este regime de segundo e terceiro nível de governo, eles têm tensões entre o segundo e o terceiro nível e o primeiro que faz que tenham disputas e que tenham problemas, e isto se transporta para a região. Então, tornamos complexo um espaço que em realidade o que queríamos era elevar o status e não torná-lo complexo. A elevação de status tampouco se deu, porque o Foro se deu dependendo do GMC, não depende do CMC ou da Cumbre presidencial ou não é um órgão de decisão, os órgãos de decisão do MERCOSUL são só quatro. Deste

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ponto de vista, nós valorizamos a criação do Foro como algo positivo, porque representava pelo menos um reconhecimento do trabalho, além disso, era a primeira vez que se reconhecia a Mercocidades como um espaço de construção própria, por iniciativa própria dos governos locais e dava a responsabilidade da Coordenação do Comitê de Municípios à Mercocidades. Primeira vez que a institucionalidade reconhecia a existência da Mercocidades, pela via da institucionalidade, pois pela via política já tinha reconhecido. Apesar de positivo não alcança, há espaços no escalão de maior hierarquia que vamos seguir reclamando, porque são governantes eleitos. Parece um pouco louco que dependam de funcionários de GMC, que são funcionários designados por todos os países.

c. Em que estágio está o Foro? Já existe uma institucionalidade (Comitê de Municípios e Comitê d e Estados), ela é suficiente?

O Comitê de Municípios avançou mais que o Comitê de Estados, isto porque, o que há por traz de cada um dos Comitês são realidades distintas. O Comitê de Municípios tem uma realidade que Mercocidades, que tem quinze anos de experiência de trabalhos conjuntos, e isto se observa no Comitê de forma natural, então, a agenda é muito mais fácil de construir porque já se vinha construindo a agenda. Neste sentido existe um avanço no início. O Comitê de Governadores e dos Estados teve uma priorização no ponto de vista dos governos nacionais maior, querendo impulsionar uma agenda estadual, uma agenda de governadores que se discutiu, e se discutiu e se acordou uma agenda, mas depois não se deram muito conteúdo a ela, alguns seminários, algumas iniciativas, alguns vêem isto como um grande avanço, mas creio que está muito longe disto.

d. Existem pendências? e. Qual a agenda? f. Qual a participação da Rede Mercocidades no Foro ?

É um problema político, porque o problema da agenda nacional se traslava à agenda regional. Há um enfrentamento da Federação Argentina de Municípios com a cidade que está exercendo, no momento, a Secretaria Executiva que é Rosario. Então, a FAM não queria que Rosario fosse a Secretaria Executiva de Mercocidades e menos ainda que fosse a Coordenado do Comitê de Municípios, porém isto são problemas políticos argentinos. Hoje a situação está travada, existem distintas interpretações da cláusula transitória, que ia até dezembro de 2008. Cláusula transitória que quando se cria se permitia destravar a situação, porém há uma interpretação hoje por parte do Uruguai, do Brasil e do Paraguai que a cláusula transitória venceu, como tudo no MERCOSUL se nada a substituiu ela se mantém vigente. Porém há uma interpretação do lado argentino que diz que não, que a cláusula tinha prazo de finalização e, portanto, a cláusula não está vigente e se propôs, em alguma parte da seção nacional, que havia uma acefalia, não da Coordenação Nacional da Chanceleria, nunca disseram isto, porém alguns atores argentinos estavam dizendo. De qualquer forma, a Secretaria Executiva da Mercocidades segue coordenando o Comitê de Municípios.

F) Participação das cidades, não só em termos de ci dades associadas, mas também em termos de participação ma is ativa:

a. Você acredita que existe um núcleo duro de cidad es na Rede? Por quê? É possível elencá-las? Porque isto acontece?

Existe um núcleo de duro de cidades, são círculos concêntricos, tem-se um núcleo duro pequeno que é das cidades mais comprometidas ou mais beneficiárias deste processo, podemos falar de Rosario, de Montevidéu, de Morón, de outras cidades que se somam a estas, depois existe outro círculo concêntrico que são as cidades que participam das Unidades

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Temáticas, estaríamos falando entre 50-60 cidades, que movem este universo e depois tem outro círculo concêntrico que o único que fazem é participar das Cumbres. Estamos falando de 60% das cidades sócias de participação efetiva, o que não condiz com o pagamento da cota. O pagamento da cota nunca supera 40% das cidades associadas.

Não tem como avaliar este grupo de cidades que participam das Unidades Temáticas. Está muito associada a priorização temática do momento, esta muito associada ao recurso humano que esteja na área de relações internacionais, pode ser por interesse pessoal, pelo interesse pela questão, porém não há uma comprovação efetiva disto.

b. Porque existe uma descontinuidade de atuação de algumas cidades e de outras não? O processo eleitor al é um fator? A falta de institucionalidade na estrutur a da municipalidade? Podem ser consideradas mudanças no contexto político nacional?

Este é um grande sistema, poderíamos ver a Mercocidades como um sistema onde se um modifica algo o sistema muda. Podemos dizer que tem efeitos sistêmicos. Claro que as mudanças de governo incidem e influenciam muito em Mercocidades. Isto leva a momentos em que parece que a Rede fica quieta, depois volta a funcionar. Cremos que são mudanças positivas, ou seja, não cremos que sejam mudanças negativas. São mudanças que obedecem a mudança democrática dos governos locais, que de forma nenhuma vamos questionar. Cremos que são mudanças que permitem uma evolução da Mercocidades, novos governos trazem consigo, novas visões e novas expectativas e novas metas que também retroalimentam Mercocidades, porém tem momentos de enfraquecimento e momentos de avanços mais rápidos, e isto está muito associado às mudanças de governo. Pode ser que avanço seja mais lento por causa das mudanças políticas, porém a Mercocidades desde o seu início segue evoluindo. Por exemplo, no ano de 2003, Montevidéu mudou a forma de fazer as Cumbres, muda a forma de fazer as Cumbres, antes nas Cumbres se reuniam os intendentes que falavam de quem vai coordenar que Unidade Temática, toda a parte administrativa da Mercocidades. Montevidéu a partir de uma realidade, estamos falando do ano de 2003, de crise, sente-se a necessidade de que tínhamos que discutir políticas para sair dessa crise e o que os governos locais poderiam fazer e como poderiam utilizar os instrumentos que tinham construído que era a Mercocidades. Então, a partir daí, Mercocidades associa uma temática às Cumbres. Começa-se a discutir nas Cumbres temáticas de interesse das cidades. A partir daí as Cumbres que se sucederam começaram a apresentar temáticas ligadas a geração de emprego, distribuição de renda, ou seja, todos os temas estão associados a uma forma de ver a integração, que nós chamamos uma forma progressista de ver a integração.

G) Convênios e parcerias: a. Existe uma proposta de parcerias ou elas acontec em? b. Qual o caminho para a participação da sociedade civil na

Rede?

Eu creio que alguns convênios são gerados basicamente pelo interesse do momento, pelos interesses particulares ou porque Mercocidades tenha posto ênfase através das Cumbres em algumas definições. Por exemplo, tem um acordo em que nós fomos gestores do acordo de Mercocidades com Programa MERCOSUL Social e Solidário, quando a Mercocidades tinha decidido abrir suas portas para a sociedade civil. Então este convênio entrou como instrumento que viabilizava esta definição. Também nossa intenção quando trabalhávamos com Eurocidades, a rede de cidades da Europa, era gerar um instrumento de relacionamento entre as redes, porém não há uma planificação estratégica que tenhamos durante os quinze anos da rede que permitam dizer que todos os convênios firmados obedecem a uma estratégia. Obedecem a conjuntura e uma definição que tem tomado a Mercocidades em este sentido.

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H) Cooperação descentralizada (Unidades Temáticas):

a. Existem avanços nas UTs? b. Quais são os desafios? c. Existem Uts que avançaram mais do que outras?

Em geral as Unidades Temáticas têm um desenvolvimento desigual. Isto está associado à vontade do coordenador, à vontade do recurso humano que está na área e à vontade política do governo. Nós temos Unidades Temáticas que tem desenvolvido muito porque o coordenador tem sido muito ativo, porém isto demonstra também por traz a vontade política do governo para que este coordenador seja ativo na Rede. Há uma concepção política por traz disto, não ocorre somente pela temática. E quando falamos de cooperação descentralizada se isto tem dinamizado uma Unidade Temática mais que outra, eu diria que não. Eu diria que a cooperação descentralizada que se vem dando, se vem dando mais pelas cidades que participam disto do que pela própria Unidade Temática. São cidades que trazem cooperação descentralizada e que a agregam a Unidade Temática para trabalhar.

Não é possível saber que cidades são associadas a cada Unidade Temática. O que passa é que as Unidades Temáticas se reúnem e não fazem atas, isto dificulta a memória institucional da Rede.

Não existe uma regularidade das publicações de revistas pelas Unidades Temáticas.

I) Projeto comuns: a. É possível mensurá-los? b. Existem destaques?

Na Cumbre de Santo André, quando nós mudamos e a Unidade Temática Cooperação Internacional passou a ser coordenada pela Comissão Diretiva e pela Secretária Técnica Permanente, o que se decidiu é que este Grupo capte cooperação para Mercocidades e captar cooperação para Mercocidades significa identificar prioridades, transformar estas prioridades em projetos e ações e conseguir financiamento. Hoje Mercocidades têm Inovação e Coesão Social, um Projeto de Direitos Humanos, um Projeto de Integração Fronteiriça, um Projeto de Plataforma de Dialogo e outro Projeto de Observatório de Políticas Locais. Ou seja, há um pool de projetos que vem desenvolvendo Mercocidades, com financiamento externo. Isto evidenciou a direção política de captar cooperação para região naquelas temáticas priorizadas. Quais são as temáticas priorizadas? Bom, integração produtiva regional, cidadania regional, integração fronteiriça e alguns outros dos Objetivos do Milênio. Como fazer que isto se transforme efetivamente em projetos? Estamos capacitando e gerando capacidades em governo locais para trabalhar de forma conjunta na região, para que estas temáticas priorizadas pela Mercocidades se transformem em idéias e projetos concretos que se levem adiante. Isto é Inovação e Coesão Social. Inovação e Coesão Social integra governos locais e ONGs para gerar iniciativas comuns, conjuntas que, além de tudo, injeta conhecimento, estudos situacionais, metodologias, todos os conhecimentos da Rede para gerar projetos conjuntos. Se há algum projeto estratégico? Eu diria que todos, esses são todos.

Creio que em todas as Unidades Temáticas irá se encontrar um projeto que se está implementando ou se terminou de implementar. Porém, quando falamos de projetos, de quê estamos falando? Se falamos da Unidade Temática de Desenvolvimento Econômico Local, sim a Unidade Temática gerou rodadas de negócios entre empresas das cidades, este é um projeto concreto, porém terminou. Deste ponto de vista vai encontrar projetos em todas as Unidades Temáticas. Nós mesmos da Secretaria Técnica Permanente criamos um DVD para crianças de idade escolar para se tratar a temática de integração nas escolas. Santo André lançou uma

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revista que se chama “Hoy hay classe de Mercosur”, que é dirigida a promover a educação sobre o MERCOSUL nas escolas.

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ANEXO 8 – ENTREVISTA MARIA SOL MINA

RELACIONADAS AO PAPEL DAS CIDADES NO CONTEXTO INTER NACIONAL

01. Que papel as cidades podem e devem desempenhar no contexto internacional?

Creo que los gobiernos locales, elegidos democrática y legítimamente por los habitantes de las ciudades, han desarrollado en los últimos 20 años una importante capacidad de consolidación de una agenda local autónoma, genuina, surgida desde abajo, que posee un capítulo internacional en ascenso. Fenómenos como la descentralización del Estado Nacional y la consecuente transmisión de responsabilidades en la provisión de servicios y la garantía de derechos al nivel subnacional, desafortunadamente no siempre con la debida transferencia de fondos, han creado la necesidad a las ciudades de buscar soluciones innovadoras de gestión, situación que encontró en el intercambio y la cooperación técnica entre pares, una valiosa herramienta. Los gobiernos locales se constituyen en redes de pares para intercambiar sus saberes y experiencias, sus “buenas prácticas” a fin de ser replicadas y tambien sus “malas prácticas”, con la idea de que otro no desperdicie el esfuerzo. Asimismo, la posibilidad de dar visibilidad al accional local en otras esferas resulta de gran atractividad por parte de los gobiernos locales. Los valores y orientaciones politico-ideológicas también juegan un papel, siendo en estos casos la accion internacional un vector que dota de legitimidad desde la esfera internacional a agendas locales que pueden encontrar rechazo en otros planos nacionales (provinciales/estaduales o nacionales). Asimismo, y no menos importante, la cooperación internacional, componente central de las relaciones internacionales, se constituye en un creciente proveedor de fondos para los gobiernos locales, a partir de la financiación de proyectos locales.

02. Quais são os desafios?

Son múltiples. Por expresarlo brevemente, encuentro que el mayor desafío para las ciudades en su accionar internacional es el de convertirse en actores autónomos de la escena internacional, con capacidad y autonomía de agenda. Vale decir, hacer de su accionar internacional un correlato natural, logico, genuino, una identificación lógica (no una abstracción o una “copia”, porque otras ciudades estan haciendo tal o cual accion internacional) de un proceso, de un planteo integral de la acción general de ese gobierno local, de su agenda de gobierno. Dicho proceso empieza por su ámbito local naturalmente, en términos de gestión de gobierno. Pasa luego a un planteo que implica vinculación con sus pares circundantes y regionales y luego si, identificadas las lineas de agenda que requieren de un intermacbio internacional, de la interaccion con otras propuestas, con otras experiencias, con otras soluciones. Vale decir, salir claramente a buscar vincularse, con esa “hoja de ruta” en mano. Otro orden de desafíos se vincula a la heterogeneidad de actores locales que encierra La categoria de gobierno local. La escala de ciudades, por expresarlo sintéticamente, determina comportamientos disímiles en la escena internacional, estrategias y necesidades diferentes, en tanto de trate de una ciudad grande, intermedia o pequeña, y en tanto se ubique en tal o cual región del mundo. Poder avanzar en agendas conjuntas, madurando los procesos y que con inteligencia logren la abstracción de las diferencias y se constituyan a partir de los puntos en común, representa un gran desafío, que incide directamente en el peso específico que los espacios colectivos de ciudades puedan tener. Del otro lado, la intermitencia/falta de continuidad de las políticas locales, que se verifica frecuentemente con la renovaciónde administraciones en el ámbito local (en otras palabras, la falta de “políticas de estado local”)

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muchas veces conspira en esta posibilidad de maduración de agendas colectivas que perduren en el tiempo y fortalezcan posiciones comunes. En el ámbito internacional, la persistencia, la coherencia en el tiempo en el sostenimiento de una agenda, es un factor central.

03. Você acredita que os organismos internacionais reconhecem suficientemente as cidades? Por quê?

Yo creo que sí, que son reconocidas en lo formal de manera muy fuerte. Existe -si se quiere- un consenso táctito acerca del reconocimiento de estos acores emergentes, por convicción genuina en ciertos casos, y porque es “políticamente correcto hacerlo” en otros. Eso sí, luego, ese reconocimiento en lo formal no encuentra un correlato similar en la posibilidad real de incidir en las decisiones que esos espacios adoptan, afectando de manera directa a las agendas locales. Hya un largo camino por recorrer en esa materia.

04. Como você entende que deveria se organizar a pr esença das cidades no contexto internacional?

No sé, la pregunta parece formulada bajo el supuesto de que debiera haber un “orden pré-establecido”. NO estoy segura de La conveniencia de que “debiera organizarse” de um modo específico la presencia internacional de las ciudades, porque a mi manera de verlo, esa disposición, de “arriba hacia abajo” podría hacer que ciudades sin capacidades desarrolladas para actuar en el ámbito internacional, sean “colocadas” en ese esquema. Yo veo el proceso a la inversa: llegan al ámbito internacional y permanecen em esse escenario aquellas ciudades que se han planteado de manera consistente y en relacion a su planteo integral de desarrollo local, la utilidad de tener um accionar internacional. Es su agenda local la que fortalece, justifica y se beneficia con su accionar internacional, es ese el motor y el sentido. Es una especie de “darwinismo” si se quiere, pero me parece que no hay forma de reemplazar “desde arriba” las capacidades que desde abajo el propio gobierno local no genera en términos de recursos humanos especializados, area especifica, definicion de prioridades, asignación de fondos, estrategia seleccionada, etc. Y la escala, si bien no es um factor excluyente, es sumamente determinante. Es en ese sentido que creo que las grandes ciudades y las ciudades intermedias (con diferencias entre si naturalmente) tienen perspectivas claras de accionar en el ámbito internacional, si son capaces de hacer esa identificacion interna de las líneas de accionar internacional que respondan a su estrategia local de gestión.

RELACIONADAS À SUA EXPERIÊNCIA NA AÇÃO INTERNACIONA L

01. Quando surgiu a área de RI na cidade? Por quê?

Rosario se plantea desde mediados de la década del ’90, una reformulación integral de su gestión, a partir de 2 “macro” procesos: la formulacion participativa de su primer plan estratégico y la descentralización administrativa de la gestión, en 6 distritos que desconcentran en el territorio la actividad burocrática local. Estas profundas mutaciones, de la agenda de gestión (definiendo un inventario integral, un diagnóstico e identificacion de escenarios futuros de mediano plazo) y de la manera de hacer esa gestion generaron un crecimiento muy rico de agenda, en el que la accion de relación entre pares apareción em el horizonte como un correlato lógico. Asimismo, el surgimiento del proceso de integración regional (Mercosur) también operó como factor de contexto

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02. Quais foram as razões que explicaram o surgimen to desta área?

La Dirección de RRII de Rosario, entiendo que fue creada en consecuencia de lo expuesto en la respuesta anterior, en 1995.

03. É uma área específica ou está vinculada à outra área da prefeitura?

Es un área específica (Dirección General) fuera de nível en El organigrama institucional, vale decir que no depende de ninguna Secretaría en particular, sino que reporta de manera directa a la Intendencia

04. Quais são as principais ações desenvolvidas? Históricamente, la agenda de trabajo de la Dirección General de Relaciones Internacionales ha desarrollado básicamente una serie de acciones diferenciadas. Sistemáticamente pueden diferenciarse: - Agenda Internacional del Intendente y el Departamento Ejecutivo Municipal (Secretarios): apoyo en su desarrollo, asistencia en estructuración de atividades; - Equipos de gobierno: desarrollo de agendas técnicas (planes, programas, proyectos); - Cooperación internacional: formulacion de proyectos para la búsqueda de fondos de financiamento; - Funciones protocolares de representación (audiencias con embajadas, organismos, personalidades, etc): trabajo operativo para su desarrollo. Estas acciones se hacen desde una matriz de relaciones de dos tipos: bilaterales (ciudad a ciudad/gobierno estadual/gobierno nacional/ institución) y multilaterales (en redes de pares o grupos de trabajo).

05. Como você avalia os resultados obtidos? Você en tende que as expectativas estão sendo atendidas?

Sí, creo que históricamente se ha desarrollado y consolidado una rica agenda de trabajo,con logros substantivos.

06. Quais são as metas para o futuro?

Entiendo que pasan por continuar consolidando esas agendas de trabajo desarrolladas a partir de las líneas descriptas en la respuesta 4.

RELACIONADAS À SUA EXPERIÊNCIA NA REDE MERCOCIDADES

01. Você pode falar um pouco sobre o surgimento da Rede Mercocidades: a. Quando surgiu?

En 1995, a partir de la inciciativa de 12 gobiernos locales, entre los que se cuenta Rosario. Este grupo de ciudades entendió, de manera vanguardista, que el Mercosur debía tener un correlato de gobiernos locales que acompañara “por abajo” el proceso impulsado por los estados nacionales

b. Quais foram as motivações? Este contexto ainda s e mantém?

Las motivaciones tenían que ver, como se expresa en sus documentos fundacionales, con llevar a la agenda de la integración regional la visión, aportes y expectativas de los gobiernos locales, como portagonistas directos del proceso. Claro que se mantienen esas expectativas,

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porque es un camino de largo plazo a recorrer, donde se requiere persisitencia y coherencia de objetivos en el tiempo, para lograr penetrar esa estructura básicamente interestatal, que es el Mercosur actual.

c. Quais são os principais objetivos da Rede?

Están especificados en sus documentos fundacionales (Estatuto, Art. 2) remitirise a ese documento por favor. Puede descargarlos en www.mercociudades.org.

d. Existem cidades que tiveram um papel relevante n a criação da Rede? Quais? Por quê?

En un primer momento por supuesto que las 12 fundadoras Asunción (Paraguay), Rosario, La Plata , Córdoba, Buenos Aires (Argentina), Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba, Río de Janeiro, Brasilia, Salvador (Brasil), y Montevideo (Uruguay). Luego, incluiría a a aquellas ciudades que a lo largo de estos 15 años han ejercido su Secretaría Ejecutiva (muchas fundadoras, pero otras no): Asunción, Porto Alegre, Córdoba, Montevideo, belo Horizonte, Rosario, Valparaíso, Buenos Aires, Santo André, Morón, Canelones. En tercer lugar, incluyo también a las coordinadoras y subccordinadores de Unidades Temáticas a lo largo de la vida de la red, asi como a las ciudades miembros de su Consejo. Puede hacer un relevamiento de este ultimo punto a partir de las sucesivas Actas de Asamblea General de las Cumbres desarrolladas hasta el día de hoy.

02. Entende que a institucionalidade da Rede é sufi ciente para cumprir seus objetivos? Depois de 15 anos de existência, você ac redita que são necessárias mudanças na forma?

Yo creo que la institucionalidad de la red está consolidada en su estructura formal, pero que la voluntad politica, el compromiso proactivo de los gobiernos, se ha ido estancando en el tiempo. Es decir, hay una brecha entre la pertenencia real y la nominal a la red, a lo que se suma, tambien la rotacion de las administraciones, que normalmente (desafortunadamente) suponene una perdida de “memoria institucional” de la participacion de la ciudad en la red. Sí creo que hay 2 factores que operan en favor de algun ajuste en la estructura de la red: - 1 de escala: a partir del aumento del tamaño de la red; superando ya los 200 municipios; - 1 político: el logro de la creacion de un canal formal y jerarquizado de dialogo entre la red y la estructura Mercosur (a partir del Foro Consultuivo de Municipios, Estados Federados, Provincias y Departamentos del MERCOSUR, FCCR).

03. Como você avalia os resultados da Rede em termo s de: A) Participação nas decisões do Mercosul:

a. Da Remi para o Foro existe um avanço? Por quê?

Sí, porque se ha logrado jerarquizar en canal de diálogo, haciendo ademas exclusivo de gobiernos subnacionales (no ya junto a otros actores que nada tienen que ver con la naturaleza de un gobierno subnacional, electo democraticamente).

b. O Foro é suficiente?

No, desde luego. Pero el problema no es del Foro, sino de la estructura Mercosur, que es eminentemente interestatal antes que supranacional (promoviendo logicas por capitulo nacional antes que transversales), y es concentradora de la toma de decisiones en el GMC-CMC, siendo toda otra instancia eminentemente consultiva.

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c. Em que estágio está o Foro? Já existe uma institucionalidade (Comitê de Municípios e Comitê d e Estados), ela é suficiente?

No, no es suficiente, porque no se ha logrado una verdadera interlocucion con la estructura Mercosur, no es un canal de ida y vuelta, sino de ida, de abajo hacia arriba y en forma de recomendaciones. Pero al menos es un inicio. Yo creo que estos son procesos que hay que analizar con perspectivas de mediano plazo, y el FCCR es un espacio en el que hay que madurar la manera de actuar de la Red de Mercociudades, hay que afianzar en el tiempo el ejercicio de la participacion trasnversal que supone esta red, y hay que avanzar en la interaccion con el comite de Estados Federados, que agrupa a outra categoria de gobiernos subnacionales (estados, departamentos o províncias) y que poseen otra escala y otra mediacion con la ciudadania, distinta de la del gobierno local.

d. Existem pendências?

Ver respuesta anterior, por favor.

e. Qual a agenda?

Puede consultar las actas en el sitio de Mercociudades www.mercociudades.org

f. Qual a participação da Rede Mercocidades no Foro ?

Mercociudades ha sido la principal impulsora de la creacion de canales de dialogo formales con la estrctura Mercosur, primero con la REMI y ahora con el FCCR. Actualmente coordina el Comité de Municipios, dentro del FCCR.

B) Participação das cidades, não só em termos de ci dades associadas, mas também em termos de participação ma is ativa:

a. Você acredita que existe um núcleo duro de cidad es na Rede? Por quê? É possível elencá-las? Porque isto acontece?

Sí, existe. Se compone básicamente de las ciudades enumeradas en la respuesta d); aunque hay algunas variaciones; sobre todo en función de los cambios de administración en los gobiernos locales cuando eso supone (frecuentemente, aunque no siempre) una pérdida de la memoria institiucional de la participacion en la red, generalmente asociada a um cambio Del signo político que llega al gobierno.

b. Porque existe uma descontinuidade de atuação de algumas cidades e de outras não? O processo eleitor al é um fator? A falta de institucionalidade na estrutur a da municipalidade? Podem ser consideradas mudanças no contexto político nacional?

Los 3 factores enumerados influyen: los cambios administrativos por procesos electorales, la falta de institucionalidad en la estructura local, los cambios en el contexto nacional y en el del Mercosur, inclusive. Caso a caso puede variar el peso de cada componente, pero sin dudas son los principales factores que influyen.

C) Convênios e parcerias: a. Existe uma proposta de parcerias ou elas acontec em?

Generalmente suceden, a partir de un patron de vinculacion de las ciudades mas activas, con entidades, organismos, instituciones varias.

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b. Qual o caminho para a participação da sociedade civil na Rede?

Pienso que básicamente a traves de las acciones que despliegan las Unidades Temáticas.

D) Cooperação descentralizada (Unidades Temáticas): a. Existem avanços nas UTs?

La evolución de las UTs en la red también es una historia sinuosoa, con claro-oscuros, evoluciones y retrocesos en los temas de agenda estratégica que componen. La estructura de las UTs también merece un planteo/ajuste/reformulación, en mi opinión.

b. Quais são os desafios?

Precisamente, hacer un repaso de los temas “guía” que estructuran las actuales UTs y eventualmente proponer fusiones/elimianciones de UTs, procurar mecanismos mas homogeneizadores de procedimientos (para alcanzar una cierta estandarizacion operativa común) avanzar en el apoyo financiero para la consecución de actividades, entre otros.

c. Existem Uts que avançaram mais do que outras?

Si, es muy desparejo en desarrollo de las UTS, dado que su coordinacion se estrcutura de manera descentralizada en diferentes ciudades de la red (con diverso grado de expertisse y recurso para llevara delante esa tarea), y en tanto la participacion es voluntaria por parte de las ciudades de la red (dependiendo de que el tema sea de relevancia para la ciudad, y sobre todo considerando que la ciudad que decide participar activamente debe destinar recursos (humanos, financieros) para hacer de su participación una acción consistente y sostenida en el tiempo.

E) Projeto comuns: a. É possível mensurá-los?

Si. Puede consultar esas inciativas en www.mercociudades.org

b. Existem destaques?

Actualmente, el proyecto Innova se destaca como una iniciativa promisioria, por su efecto multiplicador al interior de la estructura de la red. Puede obtener mas información en www.inmercociudades.org