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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Carlos Rogério de Carvalho Nunes Entidades de Assistência Social e a Política Nacional de Assistência Social: A Experiência das Entidades que Compõem o Comas da Cidade de São Paulo MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL São Paulo 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Carlos Rogério de Carvalho Nunes

Entidades de Assistência Social e a Política Nacional de Assistência Social: A Experiência das Entidades que Compõem o Comas da Cidade de São Paulo

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

São Paulo 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP

Carlos Rogério de Carvalho Nunes

Entidades de Assistência Social e a Política Nacional de Assistência Social: A Experiência das Entidades que Compõem o Comas da Cidade de São Paulo

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

São Paulo

2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Carlos Rogério de Carvalho Nunes

Entidades de Assistência Social e a Política Nacional de Assistência Social: A Experiência das Entidades que Compõem o Comas da Cidade de São Paulo

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como requisito parcial para a obtenção de título de Mestre em Serviço Social, sob orientação da Profª Dra. Aldaíza de Oliveira Sposati.

São Paulo

2010

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Folha de Aprovação

Banca Examinadora

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Para Jesus e Alda (in memoriam) meus pais.

A Naiara e Carlos Ernesto, meus filhos, e para Maria Nadir,

companheira e esposa. Para Araci, Aldair (in memoriam) e

Aldênia, avó e tias que me educaram como filho.

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“Acordava sempre cedo: era um passarinho urbano

Embarcava no metrô, nosso metropolitano,

Era um homem de bons modos: - Com licença! Foi engano”

Belchior/Toquinho

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Agradecimentos

Concluir esse trabalho foi uma árdua e deliciosa missão. Após uma longa

ausência em salas de aula retornei com imensa alegria. Voltar a estudar, ler livros, debater

teorias e analisar práticas. Finalizar essa dissertação foi uma satisfação. E só foi possível com

a ajuda e a colaboração de incontáveis pessoas que se envolveram de forma direta e indireta.

Nesse espaço agradeço a todos e todas que me ajudaram, correndo sempre o perigo de

esquecer alguém.

À Profª Dra. Aldaíza Sposati, orientadora e professora, sempre presente nos

momentos mais difíceis da construção teórica e metodológica deste trabalho.

Aos professores do Programa de Pós-Graduados da PUC/SP, Dra. Maria

Lúcia Carvalho, Dr, Evaldo Vieira, Dra. Maria Lúcia Rodrigues, Dra. Marta Campos e ao Dr.

Marco Aurélio Nogueira, pelas suas participações nesse processo, nas disciplinas, núcleos de

pesquisa e atividades programadas, que forneceram conhecimentos para o aprofundamento do

meu tema de pesquisa.

À Coordenadoria para Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

(Capes) pela concessão da bolsa de mestrado, sem a qual este estudo seria inviabilizado.

Aos colegas mestrandos e doutorandos, que participaram dessa jornada de

aprendizagem com entusiasmo e companheirismo, Vera Lúcia Martins, André Martins, Gecira

di Fiori, Eugênia Cesconeto, e Gisele Bovolenta. Um agradecimento especial a Maria

Eugênia, que contribuiu na construção e na minha forma de escrever, bastante marcada por 24

anos de atividades sindicais. E aos demais colegas da PUC/SP.

Aos conselheiros das que compõem o Comas de São Paulo, por me

responderam o questionário.

Aos companheiros e companheiras da Central dos Trabalhadores e

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Trabalhadoras do Brasil, nas pessoas de Wagner Gomes e Gilda Almeida. E a todos que de

alguma forma me ajudaram a concluir este trabalho.

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Resumo

Este trabalho dedica-se a investigar e identificar a repercussão da

implantação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS/04) nas entidades e

organizações de Assistência Social que compõem o Comas da cidade de São Paulo, na gestão

de 2008 a 2010 a partir dos direitos socioassistenciais contidos na Política Nacional.

Partiu do estudo do marco legal da Constituição Federal de 1988 e da Lei

Orgânica da Assistência Social de 1993. Para isso abordou a evolução dos direitos sociais no

Brasil e da constituição do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e demais

Conselhos de Assistência.

Analisou ainda a cidade de São Paulo, e sua evolução na história. Analisou

as entidades e organizações de Assistência Social que compõem o Comas de São Paulo e a

aplicação dos direitos socioassistenciais, contidos na PNAS/04, por essas entidades.

Palavras chave: PNAS/2004, Entidades e Organizações de Assistência

Social, Comas de São Paulo.

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Abstract

This work to refer to investigate and indentily the reprecussion of the

National Politic of the Social Welfare Work of the 2004, in the Social Welfare Work’s

institutions and organizations that consists of the Comas of the São Paulo city, in the

management from 2008 to 2010, from the social-welfare-work rights in the National Politic.

Left from the study of the lawful mark of the Federal Constitution from the

1988 and Social Welfare Work’s Organic Law from 1993. Like that approached the evolotion

of the social right’s in the Brazil and the constitution of the Social Welfare Work’s National

Council and anybody else Welfare Work’s Council.

Analised like that the São Paulo city, and it evolution in the history.

Analised the Social Welfare Work’s institutions and organizations the consistes of the São

Paulo’s Comas and the application of the social-welfare-work rights, in the PNAS/04, by

them institutions.

Keywors: PNAS/2004, Social Welfare Work‘s institutions and

organizations, São Paulo‘s Comas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

CAPÍTULO I: Política Nacional de Assistência Social - PNAS/2004 e as

Relação com as Entidades Sociais

20

1 - As entidades e organizações de assistência social na PNAS/04. 34

CAPÍTULO II: O COMAS de São Paulo - Espaço de Tradução da

PNAS/04 com as Entidades

43

1 - A centralidade das entidades do Comas com a PNAS/04 58

2 - Serviços socioassistenciais nas entidades do Comas 62

CAPÍTULO III: A PNAS/04 pela leitura dos representantes de entidades

sociais no Comas de São Paulo

66

CONCLUSÃO 92

Referências Bibliográficas 98

ANEXO 102

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INTRODUÇÃO

Vivemos o Brasil da passagem da primeira década para a segunda década do

século 21 e estamos sob a égide da Constituição de 1988. Este marco legal institucional

demarcou o campo da Assistência Social como política pública de Estado e constitui a

Seguridade Social com a junção das políticas de Saúde, Previdência Social e Assistência

Social. A Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), promulgada em 1993, a regulamentou e

nessa evolução histórica vieram as Políticas Nacionais de Assistência Social (PNAS) de 1998

e de 2004.

Ao longo da década de 1990, presenciamos dois movimentos divergentes

quanto à Política de Assistência Social no Brasil. Um deles, baseado no encolhimento do

Estado, quanto às suas atribuições e responsabilidades com o desenvolvimento dessa política

social. A responsabilidade pública nele se mantém secundária à ação da sociedade através do

apoio às entidades sociais e a adesão ao paradigma da “solidariedade comunitária“. Projetos e

programas tem sua efetivação atribuída às organizações filantrópicas ou às Organizações Não

Governamentais (ONGs), e até mesmo executada por entidades empresariais. Nessa

transferência de competência o velho perfil de caridade e filantropia predomina face aos

direitos de cidadania. A Política de Assistência Social sob essa concepção não se consolida

como política pública de Estado, pois permanece e se desenvolve ligada à filantropia e a

ações voluntárias.

Nessa concepção são privilegiadas as ações do Estado focalizadas ou

direcionadas aos pauperizados e excluídos como convém à perspectiva do Estado mínimo

neoliberal. O ápice deste movimento ocorreu durante os anos das gestões de Fernando Collor,

Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, onde primeiras damas permaneceram direta ou

indiretamente na gestão da Assistência Social.

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Concomitante e contraditoriamente, nessa década, foi consolidada avanço

legal da política pública de Assistência Social no Brasil através da aprovação da Loas. Esse é

o segundo movimento. A Loas responsabilizou o Estado por sua implementação, calcando-se

nos direitos socioassistenciais dos usuários, estes concebidos agora como cidadãos e inseridos

dentro do campo da Seguridade Social. É a fase da mudança institucional da Assistência

Social que, por força da Loas, reintroduziu uma nova racionalidade através de planos e sua

democratização pelos conselhos.

Outra mudança fundamental é que ela passa a dar centralidade no

financiamento da Política de Assistência Social, ultrapassando sua vivência das sobras

orçamentárias. É a fase do Conselho, Plano e Fundo (CPF).

A década de 2000 recebe essa herança, mas se projeta para nova dimensão e

da unidade nacional de política com a luta para que ela se institucionalize como dever do

Estado e direito de cidadania, conforme determina a Loas.

A Política Nacional de Assistência Social promulgada em 2004 encontra

vários obstáculos remanescentes do passado, quanto à sua execução. Definimos como

obstáculos porque, em toda a história do Brasil, as entidades beneficentes e filantrópicas

sempre se comportaram com autonomia em relação ao Estado. A PNAS/04 prioriza e

centraliza o Estado como condutor das políticas da área de Assistência Social. E essa diretriz

não encontra base de apoio programático e estatutário nas entidades que historicamente

atuaram na área da Assistência Social sob o princípio de filantropia privada e da

benemerência de cunho religioso. Ambas as concepções são adversas à centralidade do Estado

na Assistência Social.

Muitas, ou a maioria, das entidades de Assistência Social de natureza

filantrópica e de benemerência ainda não se adequaram à nova política. Desde a gestão dos

entes federados, do governo federal, dos Estados e municípios, passando pela prática

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profissional de nossos trabalhadores, até os usuários da Assistência Social, todos esses

segmentos ainda não incorporaram as mudanças proferidas por essa nova política.

Localizam-se formas de resistência e/ou indiferença, até mesmo entre os

usuários das atenções da Assistência Social que, marcados pela cultura clientelista e de

favores, não assumiram de fato seu protagonismo social na condição de sujeitos de direitos.

Em meu juízo, o campo de mais resistência às políticas públicas de Assistência Social é o das

entidades sociais. Essas entidades estão fundamentadas na doutrina religiosa, na caridade, e

não no interesse público. Sua constituição, formulada na prática religiosa, as distâncias da

responsabilidade pública e do direito de cada um em ser reconhecido como cidadão. Elas não

se desvencilharam das velhas práticas assistencialistas e se aproximaram da Assistência

Social, em boa parte, para obter isenções derivadas dos Certificados de Entidades

Beneficentes de Assistência Social. Nesse paradigma, aplicam a concepção de pobres

coitados, necessitados ou assistidos pela caridade e benemerência alheios, e não de cidadãos.

A questão é o ato/movimento de ser beneficente ou ser de benemerência, e não de ser cidadão.

Essas questões e dados levantados encontram-se em volumoso acervo

bibliográfico. O que mais me incentivou para este estudo foi o fato de ter convivido no

Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) durante três anos e oito meses.

O CNAS é órgão colegiado de participação igualitária entre governo e

sociedade civil. De maio de 2004 a dezembro de 2007, dele participei como representante dos

trabalhadores dentre os provenientes da sociedade civil e contribui no debate que elaborou a

nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS/04) como conselheiro titular,

representando a sociedade civil, no segmento dos trabalhadores. A construção da PNAS foi

concluída em outubro de 2004. A partir dessa data, tornou-se imensa a luta por efetivá-la. O

CNAS é constantemente palco de disputas e conflitos internos. É paritário em sua composição

de governo e sociedade civil, porém, no segmento da sociedade civil, existe evidente

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contradição.

A Sociedade Civil é conceituada, na Loas/93, como composta de

“representantes dos usuários ou de organizações de usuários, das entidades e organizações de

assistência social e dos trabalhadores do setor” (BRASIL, 1993:19). São, portanto, três

segmentos distintos que compõem a sociedade civil no CNAS.

Sem generalizações, mas procedendo a uma análise meramente didática,

observo que existe confluência de objetivos entre os segmentos dos usuários e dos

trabalhadores do setor. E, de outro lado, os segmentos das entidades e das organizações de

Assistência Social. Esse segmento por minha experiência no CNAS, se constitui como um

conjunto de entidades de interesses bem definidos e que atuam de forma articulada nesse

conselho.

Ainda para efeitos didáticos, também é necessário analisar concretamente

essas entidades. São heterogêneas, tanto nos princípios quanto nas diretrizes estatutários e em

suas estruturas físicas. As entidades defendem os interesses particulares das instituições, o

financiamento público de suas entidades e a isenção do pagamento da cota patronal ao

Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) por seus trabalhadores. Esse fato assegura

homogeneidade de procedimentos burocráticos no CNAS. Do outro lado e em conflito estão

os usuários, que demandam serviços de qualidade, e os trabalhadores, que demandam

melhores condições de trabalho e salários adequados.

Após a aprovação da PNAS/04, foi aprovada pelo CNAS a Norma

Operacional Básica do Sistema Único da Assistência Social, (NOB-Suas/2005), em julho de

2005. E, em seguida, foi aprovada a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do

Sistema Único de Assistência Social (NOB-RH/Suas), em dezembro de 2006, e que se propõe

a incluir mecanismos de regulação das relações entre gestores e trabalhadores, no vasto

campo de entidades prestadoras de serviços socioassistenciais.

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Os poderes públicos no Brasil foram historicamente formados na tradição

patrimonialista e assistencialista. Hoje, os gestores públicos municipais, responsáveis pela

implantação da PNAS/04, tem sérias dificuldades em superar as antigas práticas, como o

processo do comando da pasta da Assistência Social pela figura da primeira-dama, a esposa

do governante. Nesse sentido, é necessário identificar os obstáculos políticos e institucionais

da máquina pública que resistem em consolidar a mudança contida na PNAS/04.

A construção dessa política no interior do CNAS não se deu de forma

unânime. Estavam em disputa interesses das entidades prestadoras de serviços e conveniadas

por gestores públicos relacionados a uma política que fortalecia a intervenção do Estado com

a centralidade de suas ações nos equipamentos públicos, dentre eles os Centros de Referência

de Assistência Social (Cras). A PNAS/04 define o Cras como “uma unidade pública estatal de

base territorial, localizada em áreas de vulnerabilidade social...” (BRASIL, 2004:36).

Como participante direto do processo de implantação da PNAS e nos

últimos três anos no CNAS, participei não só do debate teórico sobre essa política como

acompanhei as dificuldades em consolidar a sua compreensão enquanto política pública de

Estado. No CNAS presenciei o debate acalorado das entidades filantrópicas, beneficentes, e

de assistência social quanto à construção da PNAS/04 e o cotidiano desse processo foi de

disputa de interesses das entidades com a política pública de Estado, desde à concepção dos

serviços, ao co-financiamento, e as isenções da cota patronal, assim como a precarização dos

serviços oferecidos aos usuários da política pública de Assistência Social.

O Município de São Paulo é o maior do Brasil e e acordo com a PNAS/04, é

classificado como metrópole, por ter população acima de 900 mil habitantes. A cidade de São

Paulo possui cerca de 11 milhões de habitantes é a maior do País, dentro do contexto

territorial brasileiro, com 5.564 municípios. A implantação da PNAS/04 na maior metrópole

do País é de muita importância, pois revela aspectos de como uma administração concretiza

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uma recente política com indicadores avançados de ocupação territorial dentro de um

processo histórico, econômico e social. A pesquisa na cidade de São Paulo pode ser uma

referência para a implementação da PNAS/04 devido ao volume de convênios com mais de

300 entidades sociais mantidos pela Prefeitura de São Paulo.

No município, o Comas foi aprovado no dia 1º de dezembro de 1997, pela

Lei Municipal 12.524. Porém essa Lei que resultou da luta do movimento pela

institucionalização da política na cidade de São Paulo recebeu vetos do Perfeito ao ser

sancionada. No dia 21 de dezembro de 1999, através do Decreto Municipal 38.877, foi

regulamentada em parte, isto é, sem incluir o Fundo Municipal de Assistência Social e ainda

sob a gestão do prefeito Celso Pitta. Esse hiato de sete anos com a promulgação da Lei

Orgânica de Assistência Social (Loas), no ano de 1993 foi estendido pois a primeira gestão do

Conselho Municipal de São Paulo só é iniciada no ano de 2000. Só em 2001, encerrado o

governo Pitta, é que a Câmara Municipal consegue derrubar os vetos, cumprindo a Lei

municipal o plano constitucional nos termos da Loas. Portanto 8 anos de espera.

O processo de implantação desse conselho foi árduo. A composição atual,

que tem mandato de 2008 a 2010, é que será investigada, especialmente as seis entidades da

sociedade civil representantes no Comas das organizações de Assistência Social: as titulares

Associação Paulista da Fundações; Instituto Dom Bosco; e Associação de Educação Católica

de São Paulo e as suplentes Associação Santa Marcelina; Centro Nossa Senhora do Bom

Parto; e Legião da Boa Vontade. A pesquisa verificará como essas entidades foram

introduzindo ou rebatendo as orientações da PNAS/04 em suas dinâmicas.

A partir dos resultados, o estudo terá como foco principal responder à

seguinte questão: As entidades que compõem o Comas de São Paulo tem compromisso com a

PNAS/04? E dessa questão derivam outras: Qual o compromisso ou a diversidade de

compromissos delas para com a PNAS/04? A entidade se mantém com objetivos da

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Assistência Social, ou se propõe a defender outras políticas como as de educação e saúde?

Buscam somente o financiamento de suas respectivas entidades privadas de ensino e de

saúde? O que caracteriza um compromisso da entidade social com a PNAS/04?

O objetivo geral deste estudo é identificar a repercussão da implementação

da Política Nacional de Assistência Social 2004 nas entidades e organizações de Assistência

Social que compõem o Comas de São Paulo em sua quinta gestão de 2008 a 2010. E

caracterizar como e o que incorporaram, na sua conduta, dos avanços contidos na PNAS/04

em relação à concepção pública de Política de Assistência Social. Ainda como objetivos

secundários, procurou-se caracterizar os avanços e as resistências ocorridos em relação à

política e, principalmente quanto à implantação da PNAS/04, nos casos do confronto de

concepção e prática entre a política pública de Estado e a execução privada dessa política; a

convergência, ou não, do entendimento do conteúdo e das estratégias da Política de

Assistência Social, conforme estabelecido na PNAS/04 e do Suas pelas entidades que

compõem o Comas de São Paulo; caracterizar os avanços obtidos em decorrência da

implantação da PNAS/04: conhecer os progressos, ou não, da concepção e prática entre o

conteúdo da política pública de Estado e a execução privada da assistência; e rever a análise

dos impactos da PNAS/04 sobre as entidades de Assistência Social, a partir de suas formações

e contextualização histórica.

A metodologia adotada nesta dissertação foi, no primeiro momento, a

pesquisa em vasto acervo bibliográfico. Livros, artigos, teses, dissertações que levassem a

conhecer os princípios e a trajetória das entidades sociais pesquisadas, sempre observando as

atuações ao longo processo histórico em que foram constituídas. Pesquisa bibliográfica no

sentido mais amplo, que possa dar elementos de construção da nossa nação, nossa história, e

as contradições registradas do passado até a atualidade. Na proposta bibliográfica, tentou-se

ao máximo extrair os momentos mais marcantes da construção histórica das entidades em

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sintonia com as lutas gerais do povo brasileiro.

As técnicas de pesquisa adotadas foram a documentação e o questionário.

Os documentos foram analisados a partir de informações no site das entidades e os

questionários aplicados, através de entrevistas previamente marcadas com os representantes

das entidades que constituem o Comas de São Paulo. Nessa pesquisa, ficaram elucidadas

visões, propostas, estratégias das entidades na condução da Política de Assistência Social

atualmente em vigor. Das seis entidades objeto do questionário uma se negou a participar,

portanto, neste trabalho, serão analisados cinco questionários.

Construímos a temática assim distribuída por capítulos. O primeiro faz uma

contextualização do marco legal da PNAS/04: situa a sociedade capitalista brasileira na

evolução histórica global; e analisa a constituição das entidades e organizações de Assistência

Social do Brasil.

O segundo capítulo analisa o Comas de São Paulo, sua constituição e os

interesses em disputa pelos prefeitos na época. Analisa o conceito de conselhos na esfera

pública, a origem conceitual e os desdobramentos de sua consolidação no Brasil. Identifica,

no Comas de São Paulo, as entidades que compõem o conselho e analisa essas entidades a

partir de sua formação histórica e objetivos institucionais. O terceiro capítulo traz a análise

das respostas dos questionários realizados com os conselheiros representantes das entidades

do Comas de São Paulo. As perguntas buscam apreender a relação das entidades com os

conselhos e conferências de Assistência Social que culminaram com a construção da

PNAS/04; identificar a relação das entidades no processo de discussão e elaboração dessa

política; e identificar as mudanças, ou não, que as mesmas realizaram após a promulgação da

PNAS/04. Ainda no questionário, indagava-se qual é a importância do poder público

municipal no processo de implementação da política.

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CAPÍTULO I: A Política Nacional de Assistência Social - PNAS/2004 e as Relação com

as Entidades Sociais.

A elaboração da Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004) é

resultado de um longo processo de discussão que envolveu diversos atores sociais da área da

Assistência Social brasileira. Os atores envolvidos na construção da PNAS/2004 foram os

Conselhos de Assistência Social, gestores públicos da Assistência Social, ambos em âmbitos

federal, estaduais e municipais, a academia e diversas entidades e organizações da sociedade

civil organizada, representantes das entidades dos usuários e dos trabalhadores.

Após esse debate na sociedade coube ao Conselho Nacional de Assistência

Social - CNAS a aprovação e publicação da política. O CNAS foi instituído pelo artigo 27 da

Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS de 1993 a partir do antigo Conselho Nacional de

Serviço Social (CNSS) de 1938. Enquanto ente federado cabe ao CNAS, entre outras

competências, discutir e editar resoluções referentes a política de Assistência Social brasileira.

A Resolução 145 do CNAS, datada de 15 de outubro de 2004, que trata da

aprovação da PNAS/04, foi publicada no do Diário Oficial da União (DOU) do dia 28 de

outubro de 2004.

O principal signo político da PNAS/04 é a efetivação da Assistência Social

como direito de cidadania, sob a responsabilidade do Estado. A Resolução 145/04 estabelece

os procedimentos de gestão da política e funda um pacto federativo com os entes envolvidos

na gestão da Política de Assistência Social. Em seu texto, a PNAS/04 apresenta arrazoado de

justificativas e propõe um modelo descentralizado de gestão.

A Assistência Social foi conceituada como política de proteção social não

contributiva e parte da Seguridade Social brasileira. Em todo o texto, são definidas as

garantias de seguranças social por ela devidas ao cidadão brasileiro, dentre as quais as de

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sobrevivência, de autonomia, de acolhida, e de convívio familiar. A concepção da PNAS/04

avança na busca de garantias de direitos a partir da responsabilidade do Estado.

Entretanto o Estado brasileiro, ao longo de sua história, foi, e ainda continua

sendo, instrumento de uma parcela muito restrita da sociedade. O Estado é um aparelho a

serviço de uma classe, de um setor da sociedade. Na sociedade capitalista o Estado Burguês

está a serviço da classe burguesa, a classe dominante, que detêm os privilégios do poder. No

Brasil a classe em que se abrigam as elites, ou a parcela privilegiada da sociedade, sempre

exerceu o poder estatal. Essa classe sempre demonstrou interesses diametralmente opostos aos

dos trabalhadores e cidadãos em geral, os quais, agora, sob a proteção do Estado, são

portadores de direitos.

A configuração do Estado burguês na sociedade brasileira não impediu que

fosse aprovada uma política que assegurasse aos cidadãos direitos sociais. O Estado brasileiro

com essa política, e outras políticas sociais já consolidadas, passa a ser garantidor de direitos

dos cidadãos eixo, da Constituição Federal de 1988 que abrange os compromissos de classe.

Todavia a efetivação desses direitos supõe uma luta com os que defendem o Estado burguês.

A política de proteção social proposta na PNAS/2004 é uma construção

nova, se confrontada com o tempo histórico de construção e consolidação de uma nação

civilizada. A sociedade brasileira, desde a vinda dos portugueses, em 1500, foi marcada pela

atuação de instituições que pregavam o altruísmo e a caridade. Essas instituições eram

mantidas ou influenciadas pela Igreja católica. Durante todo o processo de colonização de

nossa sociedade a Igreja católica se manteve como uma instituição que influenciava e

interferia nas decisões política administrativas, a partir de sua concepção de mundo.

O tempo de existência dessas instituições, em nossa sociedade, é muito

superior, quando comparado com a recém instituída PNAS/2004. Existe o confronto, portanto,

de princípios entre essas instituições e o Estado de Direito. É de se supor pela trajetória da

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relação dessas instituições com o Estado, que a PNAS/2004 deveria alterar o padrão mantido.

O que permite prever a extrema dificuldade na implantação da política pública de proteção

social do modo como é concebida na PNAS/2004 no campo dos direitos do usuários.

O conceito de proteção social contido na PNAS/04 está vinculado ao de

prevenção. No caso, prevenir que pessoas vivam situações de fragilidade e vulnerabilidade

sociais.

Uma sociedade capitalista, como a nossa, é dividida em classes sociais

antagônicas. Esse antagonismo, que é regido pelo princípio da acumulação do capital, associa

o conceito de proteção à capacidade de adquirir mercadorias, como por exemplo pela

aquisição de seguros privados, à capacidade financeira para fazer frente à fragilidade e

vulnerabilidade. Essa classe social, o proletariado, sobrevive vendendo sua força de trabalho e

é destituído do capital e dos meios de produzi-lo, conforme análise crítica de Marx.

No sistema capitalista de produção existem alguns conceitos fundantes e um

deles é o capital - categoria que se define pela soma de dinheiro para obter retorno financeiro

maior do que o investido. Outro conceito diz respeito às forças produtivas e às relações

capitalistas de produção. Essas duas categorias constituem, segundo Marx, a contradição

básica do modo capitalista de produção cujas relações são formadas pela propriedade

econômica das forças produtivas.

Para Bottomore (2001:157) a propriedade econômica é exercida pela

burguesia sobre os meios de produção e as forças produtivas são, a saber: a burguesia, que

tem os meios de produção, e o proletariado, que detêm a força de trabalho. Ambas as forças

produtivas, por sua composição díspar nas relações de produção, subjazem à dinâmica do

modo capitalista.

A complexidade dessa sociedade inclui formas de solidariedade, via de

regra pautadas em compromissos religiosos, voltados a reduzir os efeitos dos males sociais, a

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lutar pela dignidade e, mesmo, pela justiça social.

A Carta Magna brasileira de 1988 definiu a Assistência Social como

proteção social não contributiva enquanto que a proteção social contributiva é a previdência

social, que possui legislação própria, no caso, a Lei Elói Chaves, de 1923.

A consolidação da política previdenciária, ao longo da história da luta de

classes da sociedade brasileira, foi resultado de intensas lutas entre o capital e o trabalho,

entre os representantes dos que detêm o capital e são proprietários dos meios de produção e

aqueles representantes do trabalho, o proletariado, a classe trabalhadora.

A previdência social adquiriu a qualidade de política pública bem antes das

políticas de Saúde e de Assistência Social com as quais compõem, a partir da Constituição

Federal de 1988, a Seguridade Social brasileira. Aprova-se a proteção social não contributiva,

porém não separada ou alheia às interpretações sobre a evolução da luta de classes em nossa

sociedade.

A PNAS/2004 classifica a proteção social como básica e especial, categorias

a serem afiançados pelos três entes federativos, no território brasileiro. A territorialização da

política, então, passa a ser buscada, o que traz à cena a análise do espaço físico, como foi

construído, quais os interesses que fizeram desse espaço um local de realizações dos membros

que os constituíram ou não.

A territorialidade contida na PNAS/2004 nos leva a considerar o processo

de ocupação do espaço físico, ao longo dos 510 anos, desde o Brasil Colônia, passando pelo

Império, até a atual República Federativa. O país é fortemente influenciado pela religiosidade.

Aldaíza Sposati (2009) analisa que, para se melhor compreender a proposta de um modelo

brasileiro de proteção social, é necessário partir, primeiramente, da leitura crítica das

“iniciativas históricas advindas da paixão (...) do altruísmo e de práticas religiosas voltadas ao

exercício do amor ao próximo e à caridade” (p. 14). A experiência do pesquisador como

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conselheiro no CNAS no período de maio de 2004 a dezembro de 2007, demonstra que as

entidades sociais lá representadas, e isso sempre fazem questão de reafirmar, tem suas origens

na época das caravelas do descobrimento. Antecederam, portanto, em presença e ação na

Assistência Social, o Estado brasileiro.

A nossa sociedade foi construída, assim, a partir dos valores e princípios

inerentes àquela época. Nos primeiros anos da colonização, nos primórdios da chamada

“Companhia de Jesus”, nos anos de 1551, os jesuítas vinham com a missão de converter os

nativos que aqui habitavam. Fundavam instituições, colégios direcionados à educação dos

patrícios, sob a concepção de elite. Era a educação para os poucos que podiam de fato

frequentar essas escolas (CALDEIRA, 2006:137).

A PNAS/2004 propõe um pacto federativo que fortalece o poder local.

Constata-se que “o poder das cidades, o poder local é uma realidade ainda em construção nos

países latino-americanos” (SPOSATI, 2008:4). É inexpressiva nossa tradição de poder local.

Assim, a PNAS/2004, quando propõe efetivar a Política de Assistência Social a partir do

município, depara-se com antecedentes históricos que a contradizem.

A Loas deriva da Constituição Federal de 1988, que conceitua a Assistência

Social como política não contributiva da Seguridade Social. Isso é, significa que se

beneficiam dela todos os que necessitam, e não somente aqueles, que contribuem para um

seguro como a Previdência Social. Esse fato representa um grande avanço, expresso na

recente legislação brasileira.

A Constituição Federal de 1988 é considerada a Constituição Cidadã por

causa dos avanços conceituais nela contidos que consolidam os direitos sociais para uma

parcela da população que nunca, em nossa história, havia conseguido tantos direitos.

As elites, em toda a nossa história, se recusaram a aceitar que qualquer

brasileiro tenha assegurado um direito, uma garantia de seguridade de rendimento sem antes

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contribuir diretamente para esse fim. Esse é um comportamento tipicamente fruto das relações

de classes sociais antagônicas e contraditórias do nosso modo de produção capitalista.

A PNAS/04 induz o Estado a realizar a cobertura dessa garantia de

segurança social. Propõe a universalização desses direitos por meio do acesso a programas,

projetos, serviços e benefícios para todos aqueles que deles necessitem.

Essa não é a primeira Política Nacional de Assistência Social a ser

construída no Brasil. Nos anos de 1994 e 1998, foram elaboradas expressões da Política de

Assistência Social. A PNAS/98 é marcadamente centralizada na apresentação da pobreza por

segmentos sociais e destaca a importância da lógica da renda, do trabalho e do emprego. A

PNAS/04 é diferente. Elabora uma extensa análise da situação da sociedade brasileira,

apresenta elementos demográficos que evidenciam a enorme disparidade sócio-territorial do

nosso país. Analisa a distribuição de renda, natalidade, gênero, família, ciclo de vida com

destaque das crianças, adolescentes, jovens, idosos, deficientes. Demonstra que enorme

parcela da população brasileira está sujeita a riscos e vulnerabilidades sociais motivadas por

uma sociedade desigual e injusta na distribuição de condições e acessos àqueles que a

constroem.

A PNAS/2004 data e localiza as enormes disparidades sociais e propõe, em

seguida, um conjunto de diretrizes saná-las. Essa construção não foi simples nem fácil.

Requereu conhecimento e se alimentou de experiências já desenvolvidas em gestões

municipais da Assistência Social e de outras políticas sociais, em especial a de Saúde.

A PNAS/2004 se configura na perspectiva socioterritorial, estabelecendo

parâmetros de análises a partir de dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). A classificação dos municípios por porte populacional, e principalmente,

as faixas territoriais de concentração da pobreza, mostram um país regionalmente díspar,

socialmente distinto e extremamente heterogêneo.

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A PNAS/2004 afirma que o “Brasil apresenta um dos maiores índices de

desigualdade do mundo” (BRASIL, 2004:18).

Para um bom entendimento da PNAS/04, é preciso lembrarmos a correlação

de forças das classes sociais e segmentos de classes que moviam a sociedade daquele período.

Em outubro de 2004, completou-se um ano e dois meses de governo do

Presidente Lula. Era ano eleitoral, marcado pela renovação de 5.564 prefeitos(as) e mais de 52

mil vereadores(as). No ano de 2003, a gestão de Benedita da Silva, no Ministério de

Assistência Social, não fez avançar a Política de Assistência Social. A IV Conferência

Nacional de Assistência Social de dezembro de 2003, com forte demanda dos municípios,

cobrava uma nova resposta federal que levasse em conta as experiências municipais.

É extinto o Ministério da Assistência Social, em 2004, e, no seu lugar, foi

implantado o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A gestão

federal da Assistência Social refluiu para uma Secretaria Nacional e o grupo que assume se

legitima perante os movimentos de luta pela Política Nacional de Assistência Social com o

compromisso de formular a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) que é aprovada

pelo CNAS em outubro de 2004.

Esse foi o ambiente de debate e construção da PNAS. O governo por meio

da Secretaria Nacional de Assistência Social do MDS, junto com o CNAS, elaborou minuta

de proposta da PNAS a ser debatida pelo CNAS. A proposta foi levada a vários debates e

reuniões descentralizadas e ampliadas do CNAS foram realizadas de julho a setembro de

2004, em Aracajú (SE) e Brasília (DF). O governo municipal da cidade de Aracajú estava sob

o comando de Marcelo Deda, prefeito eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e por ampla

coligação partidária. A reunião ampliada nessa capital foi fator de destaque no cenário de

debate sobre o papel do Estado na condução das políticas sociais na sociedade brasileira. Foi,

então, aprovada a Carta de Marcelo Deda, um documento histórico para a aprovação e

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consolidação da PNAS naquele cenário político. A Carta elegeu uma série de razões para que

fosse aprovada definitivamente, uma Política de Estado para a Assistência Social.

O debate centrava-se no fato do Estado brasileiro assumir a responsabilidade

de realizar as provisões previstas pela PNAS/2004. A questão do financiamento foi decisiva.

A discussão sobre quanto e como efetivar essa política provocou intensa luta por projetos de

sociedade. Ao final acabou aprovada, mas não foi fácil. Esse pesquisador viveu esse processo

no período como conselheiro do CNAS.

Os debates contrários vinham dos setores que historicamente sempre foram

os mais beneficiados pela ausência de uma política de Estado na área de Assistência Social: as

entidades que atuavam no setor. Nessas entidades, se incluem todas as organizações privadas

que prestam algum tipo de serviço na área, como as de benemerência e de filantropia.

As características das entidades de assistência social foram definidas

legalmente no Artigo 3º da Loas/93, que assim as conceitua: “Consideram-se entidades e

organizações de assistência social aquelas que prestam, sem fins lucrativos, atendimento e

assessoramento aos beneficiários abrangidos por essa lei, bem como as que atuam na defesa e

garantia de seus direitos” (BRASIL, 1993:3).

Essa definição é bem ampla e já foi alterada pelo Decreto 6.308, de 14 de

dezembro de 2007. No conceito de Assistência Social, também se classificam aquelas

entidades que atuavam em outras áreas que não a da assistência social, como as de educação e

de saúde, que demonstravam vínculo por prestar serviços gratuitos aos pobres. Até o recente

Decreto, o CNAS as reconhecia como semelhantes por prestar atendimento gratuito a

demandas consideradas pobres e miseráveis pelo Estado, fugindo, portanto, das

responsabilidades pelos direitos socioassistenciais.

A Loas instituiu o CNAS com uma composição paritária entre

representantes do governo e da sociedade civil com 18 membros. Nove são representantes do

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governo, e, dentre eles, um representa os gestores municipais e o outro os gestores estaduais.

Os outros nove são da sociedade civil, também são nove os suplentes de cada um dos

segmentos representados.

Conforme a Loas, compete ao Presidente da República nomear os

conselheiros. Mas a regulamentação do processo eleitoral dos representantes da sociedade

civil garantiu que, governo de um lado e entidades de outro, todos atuassem na defesa de seus

interesses coorporativos. O inciso II do § 1º do Artigo 17 da Loas estabelece nove

representação da sociedade civil, divididos equitativamente em três segmentos: usuários ou de

organizações dos usuários; entidades e organizações de assistência social; e trabalhadores do

setor (BRASIL, 2003:7). E assim, dentro da sociedade civil existe o conflito de interesse entre

as entidades e organizações de assistência social, os trabalhadores do setor da assistência

social e os usuários.

A PNAS/2004 foi aprovada numa conjuntura de disputa interna de membros

do CNAS que demarcavam a defesa dos interesses de entidades, uns com os outros, e em

confronto com a política pública, capitaneada pelo governo, e reforçada juntamente com os

representantes dos usuários e dos trabalhadores, na defesa da política pública de Estado para a

Assistência Social.

A PNAS/2004 após ser aprovada, não efetivou de pronto seu conteúdo

quanto à procedência da responsabilidade do Estado na área da Assistência Social. Por ser

uma proposta muito debatida sua aprovação dependeu de acordos entre as partes envolvidas.

Existem dilemas nos diferentes âmbitos e segmentos que compõem o CNAS. Esses dilemas

são reflexos dos conflitos que perpassam a sociedade capitalista brasileira.

Márcia Pinheiro, ex-presidente do CNAS na gestão durante a qual foi

aprovado a PNAS/2004, afirma, sobre os espaços de participação da sociedade civil, que:

“não são imunes a conflitos, neutros, já que neles estão presentes os interesses econômicos e

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de grupos e classes” (PINHEIRO, 2008:19).

Existem conflitos no interior do CNAS em duas ordens. A primeira quanto

ao histórico e clássico confronto entre as classes sociais envolvidas. As entidades e

organizações de Assistência Social não são empresas capitalistas que produzem mais-valia,

como conceitua a concepção marxista. Porém, exercem serviços e contratam trabalhadores

para exercê-los. A segunda se refere ao papel e à função do Estado na sociedade capitalista

moderna. As entidades e as organizações, por suas composições estatutárias, e por suas

formações históricas, sempre atuaram na ausência e na insuficiência do Estado nas ações de

proteção social aos que necessitam. E com um agravante a mais. O Estado brasileiro sempre

subvencionou e isentou de taxas e impostos, essas entidades e organizações ditas de

Assistência Social, quanto aos seus serviços, sob a égide do conceito de reconhecimento e

apoio à benemerência e filantropia. Foi assim desde a criação do Conselho Nacional de

Serviço Social (CNSS) em 1938. A PNAS/2004 se propôs a modificar essa situação

historicamente consolidada pois, embora a edição da Loas tenha extinto o CNSS, sua cultura

invadiu o novo CNAS desde sua constituição em 1994.

A Constituição Federal de 1988 definiu a Seguridade Social como “um

conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinados a

assegurar os direitos relativos à Saúde, Previdência Social e à Assistência Social“ (BRASIL,

1988). A Previdência Social desde as décadas de 1920 e 1930 já possuía legislação própria

regulamentada. Nasceu do primado da contribuição, é verdade. Resistiu com o princípio da

solidariedade contributiva, e se restabeleceu com o princípio contributivo, novamente. A

Saúde veio em seguida. Constituiu o Sistema Único de Saúde (SUS), que se caracterizou pela

profunda mobilização popular em defesa de um sistema público e de qualidade de saúde para

toda a população brasileira. Foi consolidada somente na década de 1980.

Luciana Jaccoud (2007:8) afirma que “o sistema de proteção social está

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organizado em três pilares”. Justamente as três políticas constitutivas da Seguridade Social:

Previdência Social, Saúde e Assistência Social. Assim, falar de sistema de proteção social no

Brasil é ter em conta uma similitude quanto à constituição da Seguridade Social, embora

historicamente não tenham caminhado juntas. A previdência social, por exemplo, caminhou

pari passo com políticas relativas ao trabalho e emprego. Nos anos 1930, com o primeiro

governo de Getúlio Vargas, a legislação relativa ao trabalho e à previdência social foi

considerada a mais avançada para a época, em todo o mundo (AMARO, 1983:53).

A Assistência Social, somente com a Loas, adquire na Lei o status de

política pública. Chega “atrasada“, portanto, em relação às duas outras políticas congêneres da

Seguridade Social. Teve como pioneiro, na sua implantação e defesa, Ataulpho Nápoles de

Paiva, que defendia, entre os anos de 1898 e 1905 uma política de assistência pública. Em

1935, sob o governo de Getúlio Vargas é criado informalmente um Conselho de Serviço

Social. Somente em 1938 ele é formalizado pelo Decreto-Lei 525. Ainda se registra a

importância histórica da Legião Brasileira de Assistência (LBA) em 1942, mais um passo do

Estado brasileiro para a assistência social, só que aqui iniciado pela ação das primeiras damas.

Essas iniciativas históricas mostram que nem sempre a Assistência Social “teve a afinidade

com uma política pública de direitos de cidadania” (SPOSATI, 2005:20).

O resgate histórico das três políticas da Seguridade Social permite afirmar

que elas não são uniformes no tempo e nas suas significações. Mas que se estruturaram como

políticas públicas em determinados momentos históricos e foram defendidas por seus

representantes e pela mobilização de setores de classe e movimentos populares organizados.

Foram convencionadas e acordadas no âmbito do Estado por seus representantes. Assim

também aconteceu com a Previdência Social que primeiramente surgiu como aposentadoria

de caixas e pensões vinculadas diretamente aos sindicatos. A ajuda era solidária daqueles que

trabalhavam para aqueles que já não podiam trabalhar, por idade ou por doença. Lutas datadas

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do fim do século 19 foram registradas para justificar e depois consolidar esse direito social. Já

na área da saúde o movimento foi mais recente. A luta em defesa da saúde pública é do século

20. E vem por inspiração e pauta dos movimentos sociais populares organizados nas grandes

metrópoles e vai além de uma pauta corporativa de trabalhadores e de suas organizações

sindicais. Em 1988, na Constituição Federal, após várias iniciativas de Conferências de

Saúde, essa política se torna dever do Estado e direito do cidadão.

A política pública de Estado na área da Assistência Social no Brasil teve

com a LBA uma experiência mais explícita, na relação entre Estado e sociedade. Essa

instituição nasceu sob uma conjuntura em que o Brasil, e outras nações desenvolvidas

estavam em um confronto belicista internacional, a Segunda Guerra Mundial. Enquanto os

soldados brasileiros estavam guerreando em terras longínquas, suas esposas “foram chamadas

a participar desse esforço de guerra com mensagens de apoio” (SPOSATI, 2005:20). Assim

nasceu a LBA, para atender a esse esforço de guerra dos soldados brasileiros, e cumpriu não

só suas funções de criação, mas desenvolveu outras atenções no território nacional. No início

dos anos 1990, essa instituição foi marcada pelo mal uso dos recursos públicos e por

interesses políticos outros, diferentes de suas prerrogativas. Essa instituição inaugurou um

termo que distorce os objetivos da política pública de Assistência Social, a gestão pela

primeira-dama, figura que, por ser cônjuge do gestor público, assume as atribuições e

competências das ações na área da Assistência Social na Administração Pública. Não por

menos, pois diziam as notícias da época: “Sob o alto patrocínio da Exma. Sra. Darcy Vargas e

da Associação Comercial do Rio de Janeiro, acaba de ser criada a LBA” (Jornal O Estado de

S. Paulo de 28 de agosto de 1942, in SPOSATI, 2005:19). Esse histórico político-institucional

da assistência social criou dificuldades e empecilhos para que a política pública de Assistência

Social no Brasil conseguisse sobressair como dever do Estado e direito do cidadão.

A construção não foi tarefa das mais fáceis, mesmo nos países de

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capitalismo mais desenvolvido. O Brasil, mesmo com o caráter tardio de seu desenvolvimento

capitalista, não se encontra sozinho na construção de uma política pública na área da

Assistência Social. Em vários países do mundo, esse embate também se manifesta. Não só a

Assistência Social, mas outras políticas públicas foram consolidadas no decorrer da história

de construção e de consolidação do capitalismo. São mais de 200 anos de disputas de políticas

sociais na sociedade capitalista burguesa. Quando temos como referência a Revolução

Francesa de 1789 ocasião em o velho regime feudal sucumbiu para a ascensão de uma nova

classe social ao poder, a burguesia. Nova classe e novas idéias. Como no dizer de Eric

Hobsbawm (1997): “A revolução Francesa foi um surpreendente consenso de idéias gerais

entre um grupo social bastante coerente e deu ao movimento revolucionário uma unidade

efetiva. O grupo era a ‘burguesia’: suas idéias eram o liberalismo clássico” (p. 90).

Vários autores estudam e definem as políticas sociais, com destaque para as

de Assistência Social. Ian Gough (2001:1) analisa os impactos de políticas de “regimes de

Bem Estar Social”. Esse autor, ao analisa os efeitos da globalização econômica nos países do

extremo oriente da Terra, identificou que fatores como o colonialismo, a distribuição de

terras, o clientelismo, e o patrimonialismo, entre outros contribuem fortemente na demarcação

de políticas sociais no hemisfério sul. É evidente a contribuição que ajudou a considerar a

situação dessa política no Brasil, país marcado por quase 400 anos entre colonialismo e

escravismo em sua formação societária. Os primeiros lampejos de debate sobre assistência

pública, como já se afirmou, vêm do final do século 19, período coincidente com o início da

República no Brasil.

Esping-Andersen aborda, em suas análises, as explicações do Estado de

Bem-Estar Social a partir de duas visões: a estruturalista e a institucional. A leitura da

estruturalista se concentra na abordagem sistêmica da sociedade que se caracteriza, no Brasil,

como uma sociedade de capitalismo tardio e incompleto quanto às prerrogativas de um Estado

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burguês liberal. Na outra abordagem a institucional, o autor coloca mais ênfase nas

instituições sociais e políticas; consequentemente, na democracia, e no desenvolvimento e na

defesa das políticas do Estado de Bem-Estar Social. Para ele, “quanto mais se ampliem

direitos democráticos maior probabilidade de se desenvolverem os welfare states” (ESPING-

ANSERSEN, 1991:8). Justa e precisa essa afirmativa. Visto que ao contrário, quanto menos

democracia, menor a possibilidade de um bem-estar social e político para toda a sociedade. O

autor ainda dá ênfase às “classes sociais como os principais agentes de mudança e por

afirmação de que o equilíbrio do poder das classes determina a distribuição de renda”

(ESPING-ANDERSEN, 1991:8). Como não abandona a abordagem estruturalista para as

políticas de Estado de Bem-Estar social, consequentemente, afirma a importância das classes

sociais nesse contexto.

A PNAS/2004, enquanto política pública do Estado brasileiro para a

Assistência Social, coloca em destaque o papel não só do Estado mas as responsabilidades das

entidades e organizações da Assistência Social que no Brasil tiveram e têm nessa política.

Como são essas entidades e organizações de Assistência Social, quem são elas, como se

organizam, como atuam e atuaram no decorrer do processo de construção da política pública

da Assistência Social no Brasil? O que se quer por em discussão é não só seus elementos

antecedentes à PNAS/2004, mas como se comportam a partir dela.

Nessa direção serão objeto de análise as entidades de Assistência Social que

passaram a compor os Conselhos de Assistência Social criados pela LOAS e enfatizados

como princípio de gestão democrática na PNAS/2004.

Com esse objetivo, o estudo se ocupa de entidades de Assistência Social

presentes no Conselho Municipal de Assistência Social da cidade de São Paulo (Comas), no

ano de 2009, como titulares e como suplentes, isto é, eleitas para o período 2008/2010 na

gestão desse conselho.

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Considera-se que as entidades locais que participam do Comas, eleitas por

seus pares, tendem a expressar o perfil, as posições consideradas influentes ou de mais adesão

dentre as entidades locais. O modo pelo qual essas entidades aceitam e implantam o conteúdo

da PNAS/04 tende a refletir idéias-força do conjunto das entidades, e é isso que se busca.

I.1 - As entidades e organizações de assistência social na PNAS/04.

A PNAS/2004 estabelece, em sua redação, a necessidade de se constituir

uma rede formada por entidades de caráter não governamental que atuem nas áreas da

Assistência Social como consta no artigo 204 da Constituição Federal de 1988. O objetivo da

PNAS/04 foi regular a atuação dessas entidades nas orientações previstas pela PNAS/04.

As entidades seriam parte constitutiva do Sistema Único de Assistência

Social (Suas). O Suas foi aprovado pela Norma Operacional Básica do Suas (NOB-Suas) em

15 de julho de 2005, pelo CNAS. Assim a NOB-Suas/05, ou simplesmente Suas/05 é o marco

regulatório de implantação da PNAS/04.

O marco legal da Assistência Social já havia estabelecido essa participação

conforme dispõem o artigo 204 da Constituição Federal de1988. Na Loas/93, um conjunto

integrado de ações e iniciativas entre governo e sociedade civil foi afirmado com o intuito de

garantir a proteção social aos usuários. Pela Constituição Federal de 1988, a redação foi mais

explícita, incluindo as entidades de Assistência Social como signatárias não só da execução

como também na formulação e no controle das ações de Assistência Social em todos os

níveis.

A PNAS/04 estabeleceu como uma das diretrizes a “primazia da

responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de

governo” (BRASIL, 2004:33). Percebe-se, então, uma mudança não só conceitual mas de

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princípio na elaboração e condução da política pública de Assistência Social, com a PNAS/04.

Até então, as entidades eram beneficiárias dos recursos financeiros do

Estado, por meio de subvenções, auxílio, ou convênios de prestação de serviços ou execução

de projetos concebidos individualmente pelas entidades. A partir do Suas, elas necessitam ter

um vínculo com o Suas para pleitear recursos públicos de Assistência Social.

Mas a realidade brasileira das entidades sociais sempre foi bem distinta

dessa diretriz. São milhares as entidades existentes no País que exercem a filantropia, a

benemerência e a ajuda. Incorporá-las em uma rede de entidades sociais na execução de uma

política pública de Estado é uma mudança significativa na concepção e estrutura dessas

organizações. Para sermos mais exatos são, 33.076 entidades catalogadas e identificadas no

Cadastro Central Empresas (CEMPRE). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) realizou, a pedido do MDS, um censo das entidades relacionadas no grupo 5 -

Assistência Social, em 2006. Para efeito da pesquisa foram investigadas 16.089 organizações

que responderam de fato à categoria de “entidades que prestam serviços de assistência social

de caráter privado, a saber: as que possuem personalidade jurídica equiparada à de empresa

privada ou congênere, não possuindo fins lucrativos, prestando atendimento de interesse

público” (IBGE, 2007:13).

Para efeito de definição do quesito de atendimento de interesse público,

partiu do MDS a definição de quais ações de fato se configuram como da área da Assistência

Social. Racional esse entendimento, pois, a partir de um critério estabelecido pelo órgão de

Estado quanto à definição do que pode ser realmente considerado como serviços de

Assistência Social é que se enquadraram as entidades que verdadeiramente atendiam ao

critério estabelecido. E não o inverso.

Na mesma pesquisa, é observada a distribuição espacial dessas entidades no

território brasileiro. Conforme Gráfico 1, a Região Sudeste concentra a maioria das entidades,

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com 51,8%. Reflexo, a juízo do pesquisador, de atividades econômicas também concentradas

nessa região. Quando distribuído por unidades da Federação, o Estado de São Paulo se coloca

à frente, com 29,6% de todas as entidades existentes no Brasil.

Mais uma informação importante é o percentual de entidades que possuem

inscrição no Conselho Municipal de Assistência Social: 72%. Esse índice elevado demonstra

que as entidades procuram atender ao dispositivo legal da Loas quando afirma em seu artigo

9º que “O funcionamento das entidades e organizações de assistência social depende da prévia

inscrição no respectivo Conselho Municipal de Assistência Social, ou no Conselho de

Assistência Social do Distrito Federal, conforme o caso” (BRASIL, 1994:5).

No município de São Paulo, há um número expressivo de entidades que

mantém inscrição no COMAS. A partir de dados coletados na página eletrônica da internet,

constata-se 368 organizações sociais conveniadas com a Prefeitura da São Paulo

(www.prefeitura.sp.gov.br/cidades/secretarias/assistencia_social). Na eleição dos

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representantes das entidades no conselho, consta uma série de procedimentos eleitorais que

dificultam a participação mais ativa de entidades e organizações de Assistência Social com

maior volume de atividades socio-assistenciais, como preconizam a PNAS/04, assim como o

Suas/05. Sobressaem no processo eleitoral as maiores entidades, as que têm mais tradição na

áreas da filantropia e benemerência. Nem sempre as entidades que mantêm convênio com o

poder público municipal na condução de programas, projetos e serviços de Assistência Social,

e que são as menores, as mais comprometidas com as políticas públicas, são as eleitas para o

conselho municipal.

Quanto ao financiamento dessas entidades, constatou-se na pesquisa do

IBGE, que 8.964 entidades, ou 55,7% do total delas, recebem algum financiamento dos

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poderes públicos municipal, estadual ou federal. Porém, a maior fonte de financiamento que a

entidade dispõe é privada. O quadro se inverte, pois 9.389 entidades, ou 59,5% delas, afirmam

que suas principais fontes de recursos são de origem privada. Conforme Gráfico 2.

O que parece contraditório, não o é de fato. O percentual de entidades que

recebem financiamento público é de 55,7%, em todo o Brasil, porém , segundo o IBGE, as

entidades não recebem exclusivamente de um setor, isto é, determinada entidade pode receber

tanto recursos públicos como da iniciativa privada ao mesmo tempo. O citado refere-se ao

montante recebido pelas entidades. Não por exclusividade.

O mais singular, ainda nesse tema do financiamento, é que, mesmo sendo de

recursos públicos o maior montante recebido pelas entidades, essas tem como fonte principal

de recursos aqueles provenientes da iniciativa privada. Nesse caso, compreende-se como da

iniciativa privada os recursos próprios, privados e de contribuições voluntárias. Ao responder

ao Questionário da Pesquisa sobre as fontes de recursos “qual a que disponibiliza maior

quantidade de recursos” (IBGE, 2007:107), as respostas concentraram-se em maior percentual

nas fontes de recursos de origem privada.

Resumindo, quando apurado, no total, as fontes públicas são maioria, mas,

quando indagadas sobre qual a principal fonte, os recursos privados são eleitos como

principais. Isso a partir das respostas das próprias entidades de Assistência Social privadas

sem fins lucrativas.

Ainda sobre a pesquisa do IBGE, outra informação, bastante preciosa,

refere-se aos recursos humanos. Conforme termo usado no questionário: “Quantos

colaboradores atuam na entidade de acordo com a formação e o regime de contratação?”

(IBGE, 2007:107), a resposta veio que, de quase 500 mil colaboradores, 53,4% são

voluntários nas entidades de Assistência Social sem fins. Conforme se verifica no Gráfico 3, o

número de funcionários diretamente contratados nessas entidades é de 166.711.

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Não é objeto deste estudo a situação dos trabalhadores das entidades sociais

de assistência social, mas essa informação é muito útil e válida para se dar o devido alcance e

significado ao termo “voluntariado” nas entidades de Assistência Social. Voluntário é aquele

que age espontaneamente, por sua própria vontade. Bastante próximo do altruísmo, que

significa amor ao próximo. Na verdade, um é consequência do outro. Se você tem amor ao

próximo, por sua própria vontade, você vai ao encontro do próximo para ajudá-lo, auxiliá-lo

ou assisti-lo. Sentimento da paixão e ação altruísta em relação ao próximo.

O conceito de altruísmo e sua consequente ação voluntária são formados

reiteradamente como base para as ações de Assistência Social desenvolvidas pelas entidades e

organizações pesquisadas no Comas de São Paulo.

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Cada entidade tem sua própria auto-definição, decorrente da constituição

histórica de cada uma. Isso diz respeito aos princípios estatutários e objetivos das entidades.

Constata-se que, ao longo da história brasileira, a maioria dessas entidades são vinculadas,

principalmente, à Igreja Católica. Desde a chegada das primeiras caravelas ao continente

americano com os portugueses, o princípio dessas entidades vinha com a armada da

colonização.

A igreja, no primeiro momento, católica, difundiu em nosso país a

filantropia. Esse termo se origina da língua grega, da junção dos vocábulos philos e antropus,

que significam, respectivamente, amor e homem. Ou amor ao homem. A forma primeira de

como se manifestava esse amor ao homem veio como caridade e ajuda. E assim foram

fundadas as primeiras instituições em nossa terra.

Tendo como foco o vilarejo de São Paulo, no século 16, precisamente em

1560 é fundado, nesse povoado, a pioneira instituição: a Irmandade de Misericórdia, de

origem católica. Logo em seguida, na mesma cidade, outras instituições são igualmente

criados: “ Convento de São Bento (1598), a Venerável Ordem de N. Sra. do Carmo (1594), a

Ordem dos Frades Menores Franciscanos (1640), o Recolhimento Santa Tereza (1685) ”

(CHIACHIO, 2006:30). Segundo a autora, todas essas instituições praticavam a ajuda aos

pobres sob a forma de caridade.

As entidades de cunho filantrópico e de caridade foram se constituindo no

decorrer da nossa história. Com o advento do capitalismo e a constituição da República,

ambos os acontecimentos datados do fim do século 19, muitas outras entidades sociais

iniciam suas atividades. As ações eram de cunho assistencial, de ajuda aos pobres.

Essas entidades, no decorrer da história brasileira, se fortaleceram nas suas

ações de benemerência e filantropia para com a sociedade. Não só proliferaram como também

se estruturavam junto à recente massa de trabalhadores que vai se formando nos nascentes

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centros urbanos de intensa atividade industrial.

Assim foi no segundo quartil do século 19, quando uma mudança

significativa se passou na sociedade brasileira. Saíamos de uma sociedade de escravidão e sob

o regime do Império, para ingressar numa sociedade de cidadãos livres e sob a República

Federativa.

O Estado brasileiro começou a assegurar às entidades já existentes, e que

sempre fizeram a filantropia e a benemerência, garantias de isenção fiscal e reconhecimento

público dessas ações junto às “populações carentes“. A criação do Conselho Nacional de

Serviço Social em 1938, foi a primeira regulamentação, por parte do Estado, em relação às

entidades que exerciam a filantropia na época. O CNSS foi, por muito tempo, o órgão

nacional que controlava e concedia certificado às entidades de filantropia e benemerência.

Esse processo manteve-se, mesmo com a transformação do antigo CNSS em CNAS. Essa

transformação se deu a partir da Loas/93.

Nos antecedentes da PNAS/04, participei, enquanto conselheiro do CNAS,

representando os trabalhadores, a partir da sociedade civil, nesse ambiente no qual as

entidades atuavam diretamente na defesa de seus interesses. A ação dessas entidades era no

sentido de manter suas prerrogativas históricas de isenção fiscal e de reconhecimento, pelo

Estado, de suas ações de benemerência e de filantropia. A ação dessas entidades foi de

manterem-se afastadas de compromissos que não os seus princípios estatutários e continuarem

com a mesma concepção e práticas de obtenção de recursos públicos. A PNAS/04 constituiria,

a partir da centralidade e a responsabilidade do Estado na condução de uma política pública

de Estado, um estorvo para essas entidades se adequarem a essa nova realidade político-

estatal.

Houve manifestações públicas de posições contrárias a essa política.

Algumas entidades questionaram a nova PNAS, pois queriam a manutenção de parâmetros e

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diretrizes da velha forma de registro e certificação no CNAS, que lhes atribuíam vantagem e

assegurava incentivos fiscais.

A forma de como as entidades e organizações de assistência social passam a

se comportar em um Conselho Municipal de Assistência Social, no caso o COMAS de São

Paulo, é que está em questão.

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CAPÍTULO II: O COMAS de São Paulo - Espaço de Tradução da PNAS/04 com as

Entidades

Antes de iniciar o estudo sobre as entidades do Comas de São Paulo, faz-se

necessária uma breve abordagem a respeito dessa capital paulista. São Paulo é uma grande

cidade cuja população é composta por cerca de 11 milhões de habitantes para uma área de

1.528,5 Km². Por esse motivo, é classificada pela PNAS/04 como metrópole, denominação

dos aglomerados urbanos com população acima de 900 mil habitantes (Atlas do

Desenvolvimento Humano, in BRASIL, 2004:19). As políticas públicas, ao serem

desenvolvidas nesse município, precisam ser antecedidas de um olhar diferente sobre sua

população, porque “é necessário aprofundar a compreensão da forma de viver de seus

habitantes” (CHIACHIO, 2006:80).

Nessa distribuição espacial, evidencia-se enorme disparidade social e

econômica. A metrópole acompanha o País, quanto ao modelo de apartação social. De um

lado, se concentra a riqueza e nela se encontra a elite da cidade. Do outro, se espalha a

pobreza: é onde estão aqueles que vivem do trabalho ou da ausência desse.

Ao se comparar da população de São Paulo com a das demais capitais ou

cidades brasileiras, constata-se um enorme descompasso. Os dados populacionais exprimem a

grandiosa disparidade numérica da capital paulistana em relação às demais metrópoles

brasileiras. A população de São Paulo é superior até à população de alguns Estados

brasileiros.

Historicamente, a ocupação territorial do município se deu de uma forma

muito particular. Observando a evolução da cidade a partir do ano de 1765, percebe-se que

por 120 anos a população cresceu de forma lenta, sem sobressaltos. Isso entre os anos de 1765

e 1890. Porém, a partir do fim do século 19, tem inicio a explosão demográfica. Esse é o

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período em que a população cresce a ritmo acelerado e de forma contínua. Entre os anos de

1890 e 1920, a população é multiplicada por quase nove vezes (Quadro 1).

Para uma bom entendimento do significado da explosão demográfica que

ocorreu no Município de São Paulo durante 30 anos (de 1890 até 1920) é necessário recorrer-

se ao cenário internacional para explicar esse fato.

No período de maior crescimento da cidade de São Paulo o mundo passava

por transformações na ordem do sistema capitalista. O advento desse sistema ocorreu

primeiramente na sociedade inglesa e depois na França, com a burguesia conseguindo o poder

político pela via revolucionária. A partir da segundo metade do século 19 houve uma

expansão do sistema capitalista, época que ficou conhecida como Era dos Impérios

(HOBSBAWM, 1988:88). Segundo o autor “Economia mundial da Era do Império pode ser

sintetizada, em primeiro lugar, como uma economia cuja base geográfica era muito mais

ampla que antes” (idem, p. 79), uma das importantes características desse período. As bases

de produção e da comercialização do sistema capitalista já não estavam concentradas apenas

nos primeiros países capitalistas da Europa: a Inglaterra, primeiramente, e em seguida na

França. Houve uma expansão para vários outros países e em outros continentes. Esse

movimento trouxe novas demandas de consumo e produção bem maior do que antes.

Era o início da internacionalização da economia capitalista mundial, a partir

do ciclo da industrialização e com isso surgiu a necessidade de ampliar os novos mercados

emergentes. Novos padrões de produção alimentícia foram introduzidos no sistema capitalista

mundial, para novos centros urbanos que se espalhavam pelos emergentes países produtores

(idem, p. 97). Essa nova demanda provinha de lugares além do continente europeu. A

América do Norte, com os Estados Unidos em ascensão, já se manifestava também para essa

nova demanda. A nova exigência de produção teria de vir de outros países, nos quais a

economia estava bem abaixo dos padrões de desenvolvimento da época. A demanda por

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produtos alimentícios fez com que os países fora do processo de industrialização crescessem,

por causa da produção de produtos especializados.

Quadro 1 - População da cidade de São Paulo1

Ano População

1765 20.873

1772 21.272

1798 21.304

1803 24.311

1816 25.486

1836 21.933

1872 31.385

1890 64.934

1900 239.820

1920 579.033

1930 890.000

1940 1.326.261

1950 2.198.096

1960 3.666.701

1970 5.924.615

1980 8.493.226

1991 9.646.185

1996 9.839.436

2000 10.405.867

2005 10.927.985

Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1988).

1 Dados coletados de: SPOSATI, 1988, e 2001: SP Metrópole em

trânsito, 2004. Disponível em site do IBGE.

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Segundo o mesmo autor “Esses fatos transformaram o resto do mundo, na

medida em que o tornaram em complexo de territórios coloniais e semicoloniais que

crescentemente evoluíam em produtores especializados de um ou dois produtos primários de

exportação para o mercado mundial. O Brasil cada vez mais significava café” (ibidem, p. 98).

A nova necessidade econômica da época fez com que o Brasil, que tinha

mais vocação para o cultivo do café, se tornasse, no cenário mundial, grande produtor desse

produto agrícola. A Região Sudeste e o Estado de São Paulo foram sinônimos dessa nova

fronteira agrícola.

Para a nova fase de desenvolvimento do Brasil, via especialização em

produtos primários, como foi o caso o café, era necessário uma grande quantidade de mão de

obra para exercer tal atividade. A cidade de São Paulo tornou-se referência, com a chegada de

grandes contingentes de imigrantes que vinham, sobretudo, da Europa.

Não somente a agricultura contribuiu para o crescimento e o

desenvolvimento da cidade de São Paulo. O processo de industrialização já se iniciava. O

mesmo autor afirma que, em fins do século 19, qualquer cidade com população entre 50 mil e

300 mil habitantes era considerada como industrial típica (ibidem, p. 168). E São Paulo, no

ano de 1900, já contava com exatos 239.820 habitantes. Portanto um importante centro

industrial da época.

A cidade de São Paulo assim se constituiu. A partir de seu crescimento

populacional e com as necessidades de grande metrópole, no contexto da recém-proclamada e

constituída República dos Estados Unidos do Brasil.

Após o grande salto populacional compreendido entre os anos de 1890 a

1920, a cidade de São Paulo mantém-se à frente do desenvolvimento nacional, no momento

da eclosão de nova crise internacional do sistema capitalista no ano de 1930 como grande

cidade, no período posterior à crise e nos anos que antecederam e durante a Segunda Guerra

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Mundial. A crise dos anos 30, ou a Grande Depressão, como conceitua Hobsbawm (1997)

afetou a economia capitalista em todo o mundo. E São Paulo não ficou imune. A cidade, junto

com a atividade mais importante do Estado: a cultura do café, sofreu com essa nova realidade

econômica. Os resultados vieram na política, com a perda de considerável influência que a

metrópole tinha nos cenários econômico, político e social brasileiro da época. O que não foi

privilégio para nenhum país, muito menos uma grande metrópole, que no ano de 1930

contabilizava 890 mil habitantes.

O cenário internacional estava em profunda transformação. Os países da

Europa, que perderam a guerra de 1914 - 1915, estavam ressentidos com os tratados de paz

impostos pelos países vencedores. A crise de 1929 veio com consequências danosas a todos

os países capitalistas. No mesmo período, surgia uma nova realidade no cenário internacional:

A vitória da revolução socialista na Rússia, em 1917. Em sintonia com essa revolução e sob

sua influência, crescia, em muitos países, um vigoroso movimento socialista que se propunha

a realizar uma revolução social. Essas condições serviram de base para o surgimento das

propostas políticas da direita e da ultra direita nos países de ordem capitalista, conforme

assinala Hobsbawm (1995). A ascensão do Nazismo, na Alemanha, e do Fascismo, na Itália,

tornou-se a expressão da nova realidade mundial.

No Brasil, um cenário idêntico também se processou. Getúlio Vargas

assume o poder no País na década de 1930, acontecimento em sintonia com a nova correlação

de forças sociais em nível internacional. Em nosso país “no decorrer das décadas de 1920 e

1930, especialmente no que se referir a ’questão social’2, (...) se dá a implantação do Serviço

Social” (IAMAMOTO e CARVALHO, 1995:130).

2 Diz respeito às manifestações do trabalho na sociedade capitalista,

em que não se completou a acumulação primitiva, contendo assim fortes traços da escravidão, marca profunda do passado recente da sociedade brasileira (IAMAMOTO e CARVALHO, 1995:127).

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São Paulo, onde já existe o movimento dos trabalhadores desde o início do

século 20, foi cenário de confrontos e disputas entre o proletariado organizado em sindicatos e

a burguesia. Esse foi um período da história brasileira no qual o governo reconheceu a

legislação social para a classe trabalhadora. Na década seguinte, com o desenrolar da Segunda

Grande Guerra e a vitória dos países aliados contra o nazismo e o fascismo, uma nova ordem

mundial se consolida.

O período que se inicia com o fim da guerra foi marcado pela disputa

constante de dois países que saíram vitoriosos do confronto bélico internacional: Os Estados

Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Os anos

que se seguem, de 1945, fim da guerra, até 1991, fim da URSS, ficou conhecido como Guerra

Fria, de acordo com Hobsbawm (1995). Nos países capitalistas, sob a hegemonia dos EUA,

inicia-se um período de retomada do desenvolvimento. Os americanos tornam-se credores de

diversos países derrotados e não só aqueles que já haviam iniciado o processo de

desenvolvimento capitalista avançado, mas nos demais países capitalistas, onde as respectivas

economias eram de baixo ou nenhum desenvolvimento.

O Brasil, de acordo com os padrões da época, situava-se entre os de baixo

desenvolvimento. E na nova conjuntura internacional, alia-se aos EUA. Nos anos pós-guerra,

o Brasil conheceu razoável desenvolvimento econômico. Foi o período em que também se

endividou com financiamento externo, para que pudesse promover esse desenvolvimento e

São Paulo acompanhou esse ritmo. A população dessa cidade passa para 1.326.261 habitantes,

no ano de 1940, e dez anos depois já registra 2,19 milhões de habitantes. A metrópole cresceu

e se desenvolveu no mesmo ritmo do País e das demais nações capitalistas. Esse período foi

conceituado como a Era de Ouro, por Eric Hobsbawm, e compreende 30 anos, desde o fim da

Segunda Guerra. em 1945, até a nova crise do sistema capitalista, no início dos anos 1970.

A metrópole chega na atualidade com muito mais desafios na área das

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políticas públicas. O cenário é o da constituição e implementação da PNAS/04. Assim faz-se

necessário analisar alguns parâmetros com outras grandes metrópoles brasileiras. Em

seminário realizado em abril de 2009, sob o título O Suas em Grandes Capitais:

Características e Desafios, promovido pela Secretaria Nacional de Assistência Social do MDS

e pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Seguridade e Assistência Social da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (Nepsas/PUC-SP), foi relatado pelo representante da

Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) da Prefeitura de São

Paulo que havia, no município, os seguintes dados relevantes na área da Assistência Social:

1,2 milhões de pessoas como público-alvo da Smads: 936 pontos de atendimentos; 31 Centros

de Referência de Assistência Social (Cras); e 300 entidades conveniadas para os pontos de

atendimentos. Dados expressivos e significativos. Informações mais atualizadas do

representante da Smads não alteram o significado e a análise dos convênios.

Os indicativos assinalados da Smads são insuficientes para atender a uma

demanda de usuários da assistência social do município do porte de São Paulo. No seminário,

foram relatadas também as experiências de outras duas metrópoles brasileiras. Ambas grandes

cidades, mas do porte menor que São Paulo: Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A comparação

quanto ao número de Cras, entre as três metrópoles, indica a grande defasagem de São Paulo

na proporção com os habitantes em comparação às duas outras capitais, conforme Tabela 1.

Tabela 1 - Comparação entre Habitantes/Cras em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo

Horizonte. Base 2009

Cidade CRAS Habitantes (milhões) Hab./CRAS

São Paulo 31 10,9 351.612,9

Rio de Janeiro 41 6,2 151.219,5

Belo Horizonte 20 2,5 125.000

Fonte: Seminário O Suas em Grandes Capitais: Características e Desafios.

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As informações colhidas no portal da Prefeitura de São Paulo

(www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social), acessada em 1º de março de

2010, mostra dados mais atualizados. São 368 entidades sociais conveniadas, no mês de

fevereiro de 2010, com o poder público municipal. As entidades que mantêm convênio com a

prefeitura para atendimento na área de Assistência Social, é informação básica nesta pesquisa.

Os representantes das entidades e organizações de Assistência Social são

eleitos no Comas a partir do contingente de entidades inscritas no conselho. Todo o processo

é regulamentado por um regimento eleitoral em que as entidades e organizações de

Assistência Social são previamente homologadas para votar e receber votos.

No Comas de São Paulo, as seis entidade eleitas no último pleito, em maio

de 2008, não mantém necessariamente convênios com o município.

São seis as entidades que compõem o Comas de São Paulo, das quais três

titulares e três suplentes. As titulares, pela ordem, são as seguintes: Associação Paulista de

Fundações (APF); Instituto Dom Bosco (IDB); e Associação de Educação Católica de São

Paulo (AEC/SP). As suplentes: Associação Santa Marcelina; Centro Social Nossa Senhora do

Bom Parto; e Legião da Boa Vontade (LBV).

Algumas dessas entidades mantêm convênio com a Prefeitura de São Paulo,

na execução de políticas de Assistência Social na nova configuração da PNAS/04. Outras não.

Fato que será analisado logo adiante. Quanto àquelas que não mantêm convênio, o fato em si

já elucida o quanto são descompromissadas com o poder público, na priorização de ações

conjuntas, coordenadas e unificadas com a política nacional, a PNAS/04. A APF, por

exemplo, é uma entidade que desde sua origem, de seu processo constitutivo, já se define

como uma entidade que defende os interesses de suas associadas: as fundações de direito

privado, que recebem subvenções de recursos públicos. É a típica entidade que exerce sua

influência, sua pressão em um conselho no qual vários interesses em disputa. Sua atuação

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abrange as áreas de Assistência Social, Saúde, Educação.

As entidades de origem religiosa mantêm convênios com a Prefeitura de São

Paulo, mas também exercem outras atividades que não exclusivamente a Assistência Social.

Notadamente, as áreas de Educação e Saúde são as atividades prioritárias relativas a outras

políticas públicas. Todas se caracterizam por realizar atividades além da Assistência Social.

Esse fato as caracterizam como entidades mistas. Executam, ao mesmo

tempo, ações nas áreas de Assistência Social, saúde e educação. Esse comportamento gera

polêmica na área de Assistência Social. A certificação delas enquanto entidades beneficentes

e, por conseguinte, isentas de contribuições para a seguridade social, já foi motivo de

regulamentação pelo Poder Legislativo Nacional. A Lei Federal 1.021 de 29 de novembro de

2009 alterou essa divergência, entretanto, ainda não está regulamentada. O texto aprovado é

explicito ao afirmar que compete aos Ministérios da Educação, Ministério da Saúde e

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, conceder certificados de isenção às

entidades e organizações sociais de suas respectivas áreas. Não cabe mais competência,

portanto, ao CNAS para julgar o processo de certificação de entidades das áreas da saúde e de

educação.

Essa realidade ainda não ocorre nos municípios. Em São Paulo as entidades

mistas ocupam o espaço na representação de entidades e organizações de Assistência Social

no conselho municipal. Esse fato é o mais agravante.

As entidades componentes do Comas de São Paulo, são, portanto,

heterogêneas, tanto em seus princípios quanto em seus objetivos. Mas, o que as une - a

participação no Comas de São Paulo como representantes das entidades de Assistência Social

- as fazem bem diferentes. Compete ao poder público municipal tomar iniciativas no sentido

de regular as ações dessas entidades para tornar a atuação efetiva sob os princípios da política

pública na área da Assistência Social. Porém a pesquisadora Neiri Chiachio considera que “no

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estágio atual de evolução da política social encontra-se enfraquecido o papel do Estado na

provisão direta de serviços (...) e pelo apoio crescente a iniciativas privadas“ (CHIACHIO,

2006:94).

A maior metrópole do País, além de não consolidar a política pública de

Estado - a PNAS/04 -, ainda sofre com pressões da iniciativa privada no sentido da não

regulação das ações referentes aos serviços da área da Assistência Social. Para confirmar essa

assertiva, a mesma autora reitera que “no estágio atual da evolução da política social

encontra-se enfraquecido o papel do Estado na provisão de serviços” (ibid., 2006:94).

A Loas foi aprovada em dezembro de 1993. Nos anos seguintes, foi, aos

poucos, sendo implantada em todo o território nacional, mas sua consolidação por completo

ainda não foi concluída. A Loas prevê nos seus artigos 16º e 17º a instituição dos Conselhos

de Assistência Social como instâncias de decisão e de forma descentralizada e participativa da

PNAS/04, em todos os níveis do executivo: Federal, Estaduais, Municipais, e do Distrito

Federal.

Os conselhos são instâncias participativas, descentralizadas e deliberativas

previstas na Loas. E antes de analisar o Comas de São Paulo, faz-se necessário fazer uma

abordagem teórica do que representam os conselhos, pois suas origens e concepções são

imprescindíveis para uma boa compreensão do papel dos conselhos na aplicação da PNAS/04.

Os conselhos, como espaços de mediação de políticas sociais, surgem no

Brasil a partir de referenciais distintos e, dois movimentos deram origem ao seu surgimento

na área da Assistência Social.

O primeiro movimento surgiu a partir dos anos de 1970 e 1980, quando o

ideário neoliberal pregou um Estado menor e maior presença do mercado, da iniciativa

privada, na execução de políticas públicas. Esse movimento reduziu os recursos para as áreas

sociais. No mesmo ideário, incentivou-se a proliferação de entidades sociais, denominadas de

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Terceiro Setor e que, sob o discurso de ineficiência do Estado, passam a executar projetos e

serviços na área social, que seria, por concepção, de exclusividade do Estado.

O segundo movimento, já mencionado neste estudo, diz respeito à retomada

dos movimentos sociais no final da década de 1970 e início da década de 1980. Várias

iniciativas populares foram reaquecendo o cenário político nacional. Esse movimento de

resistência culminou com o fim da ditadura militar. No âmbito do mundo do trabalho, foi o

período do surgimento do Novo Sindicalismo, conforme assinala Ricardo Antunes (1995). Foi

a retomada de muitos sindicatos de trabalhadores, que estavam, naquele período, sob

intervenção direta da ditadura militar. O regime era discricionário e o Estado estava sob a

condução de setores conservadores e reacionários. Esses setores tiveram apoio externo e

apossaram-se do País por meio do golpe militar de 31 de março de 1964.

No período de 1970 a 1980 houve, também a retomada da União Nacional

dos Estudantes (UNE), que havia sofrido um violento desfalque de suas lideranças na ditadura

militar. Os movimentos urbanos, notadamente contra a carestia, e os movimentos

comunitários decididamente entraram no cenário nacional de lutas populares.

Segundo Raichelis (2000:36), em seu estudo sobre o Conselho Nacional de

Assistência Social (CNAS), revela que “A análise realizada neste trabalho permite localizar a

matriz de origem das experiências de conselhos institucionais (...) no campo das políticas

sociais”. Essa matriz identificada pela autora se encontra nos dois movimentos já relatados.

Uma análise da origem do conceito dos conselhos faz-se necessário. Os

conselhos são compreendidos como entidades que atuam na mediação entre o Estado e o

mercado, entre o público e o privado. E nesse prisma identifica-se o conceito de Estado

ampliado.

O termo foi primeiramente formulado por Antônio Gramsci, um intelectual

e militante do Partido Comunista Italiano, no período entre as duas Grandes Guerras

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Mundiais. Sua análise era que havia, na sociedade moderna do século 20, um conjunto de

instituições mais complexas.

A partir desse estudo, elaborou dois conceitos importantes - sociedade

política e sociedade civil -, dentre outros não menos precisos para esta análise. Seu esforço

voltou-se para um novo estudo sobre o conceito de Estado, que até aquele momento era

essencialmente monolítico, isto é, enquanto força política de exclusiva dominação e coerção

de uma classe sobre outra. Seu estudo ampliava esse conceito. O Estado passaria a ser coerção

e consenso juntos. Consenso no sentido de direção, não necessariamente na força, mas numa

esfera mais ampla que aquela, somente do poder coercitivo mas o sendo também. A maior

contribuição do autor na definição do Estado ampliado é que, neste, sempre vai existir a

coerção e o consenso juntos.

Os conselhos como instâncias participativas se consolidaram no Brasil a

partir das décadas de 1970 e 1980. É nesse período que se completa, no País, a processo de

urbanização. O Brasil deixa de ser uma sociedade com população majoritariamente assentada

na zona rural, para tê-las nas zonas urbanas. Na nova realidade urbana, crescem

concomitantemente novas formas alternativas de organização popular. Na época do advento

do País na ordem capitalista mundial no fim do século 19, as mobilizações sociais e as

organizações populares eram eminentemente operárias, de cunho classista, localizadas nos

pequenos centros urbanos, onde se iniciou e desenvolveu o processo de industrialização.

Depois, com vários processos internos de desenvolvimento, o País cresceu e ampliou o setor

da indústria. Assim como cresceu o setor de comércio e serviços, e o setor terciário.

Grandes centros urbanos consolidaram-se e neles se concentravam a classe

operária, do setor fabril e suas organizações sindicais e da própria classe. A organização

popular, porém, não era mais exclusiva do setor assalariado fabril. Outros setores da classe

trabalhadora, do setor terciário e setores da classe média inauguram suas corporações

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organizativas. As reivindicações, até então, eram efetuadas a partir da contradição

capital/trabalho nas relações capitalistas do mundo fabril. Agora, surgem outras demandas,

que dizem respeito ao modo urbano de se viver. Não há o abandono nem a diminuição da

importância das antigas formas de lutas e de organizações. Setores urbanos de diversas

matizes corporativas se organizam e lutam por melhores condições de vida em seu lócus: a

grande metrópole.

Um processo de urbanização requer planejamento em todas as áreas de vida

da cidade, principalmente de uma grande cidade: transporte, habitação, saúde, educação,

cultura, lazer, dentre os setores de maior visibilidade e impacto social. A forma desordenada e

não planejada de crescimento das cidades não permitiu prever a existência de serviços

urbanos com qualidade nas metrópoles brasileiras. Esse cenário foi palco de iniciativas de

organização popular constituídas para atuar nessa nova demanda de lutas.

Nesse período, o País vivia sob ditadura militar, que cerceou as vias

democráticas de participação popular, perseguiu lideranças sindicais, intelectuais, religiosas.

O regime censurou a imprensa e manipulou informações importantes sobre os índices de

inflação que já começavam a crescer de forma vertiginosa no Brasil.

Esses fatores fizeram com que, na década de 1970, se gestassem várias

formas de protestos sindicais e populares. Os protestos, de um lado, reavivaram o dilacerado e

perseguido movimento sindical, e, de outro, criaram um novo movimento de luta contra a

carestia, por moradia, por saúde, e demais pautas que não eram necessariamente exclusivas do

mundo sindical.

A cidade de São Paulo acompanhou esse movimento nacional de retomada

das lutas populares. Na década de 1970 eclodiu o movimento contra a carestia. No entorno da

capital do Estado de São Paulo, se reiniciam as lutas da classe trabalhadora no ABC paulista.

A sigla ABC compreende as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano

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do Sul, região de grande concentração de unidades produtivas da moderna industria brasileira

e, consequentemente, abriga enorme contingente da classe operária.

Sobre a importância dessa metrópole na vida nacional, “Talvez São Paulo

revele (...) com maior tragicidade do que em outras cidades a ausência de um projeto para o

país que subordine o econômico ao social, quer pelo volume de habitantes, quer pelo seu

papel central no capitalismo nacional de presença subordinada ao capitalismo mundial”

(SPOSATI, 2002:13). No percurso histórico do Brasil, a metrópole paulista assumiu, nos

últimos 120 anos, enorme importância e responsabilidade sob os aspectos social, político e

econômico da vida nacional.

No Município de São Paulo, a implantação da Loas/93 não aconteceu em

ato contínuo, pois diretrizes quanto à gestão da Assistência Social com comando único, o

controle social via instalação do conselho deliberativo, dentre outras prerrogativas legais da

Lei, não ocorreram com sucesso.

Também não foi muito diferente de outros municípios brasileiros, visto que

a implantação de conselhos de caráter deliberativo são novos no cenário político da sociedade

brasileira e, principalmente, vinculados à estrutura estatal, ou a ele servindo como instância de

esfera pública.

A particularidade do Município de São Paulo foi seu enorme atraso na

implantação do Conselho Municipal da Assistência Social como preconiza a Loas. Esse atraso

deveu-se a fatores políticos. A prefeitura desse município, no período de dezembro de 1993 -

Loas -, até dezembro de 1999 - Decreto 38.877, que regulamenta o Comas -, foi administrada

pelos prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta, ambos de partido conservadores que herdaram a

Aliança Renovadora Nacional (Arena) da ditadura militar.

Nesse período de seis anos, ocorreram na cidade de São Paulo três

conferências municipais. De forma autônoma, várias entidades e organizações, notadamente

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dos movimentos populares, convocaram essas conferências. Os respectivos prefeitos não

fizeram nenhum esforço nem de convocar e muito menos de participar, enquanto poder

público municipal, das conferências municipais como estabelece a Loas.

Esse foi o período em que os dois prefeitos privilegiaram os convênios com

entidades, em detrimento ao processo preconizado da Loas, de construir parcerias com o foco

nos direitos sociais. Em São Paulo, “A assistência social precisa ser gerida (...) em ruptura

com o residualismo e na afirmação de que a relação com entidades sociais deve se pautar pelo

princípio de parceria” (SPOSATI, 2002:43). Esse foi o entrave político que sofreu a

população da cidade: gestores descompromissados com a efetivação de uma política pública

de Assistência Social a partir dos direitos sociais.

O Comas de São Paulo foi implantado em 2000. No mês de março foi

convocada por edital a primeira eleição para composição do conselho. Sua constituição foi um

processo ímpar, marcado por disputas políticas e divergências de concepção política dos

gestores do poder público municipal. O fato de ser a última capital do País a implantar um

Conselho Municipal de Assistência Social colocou em evidência as enormes dificuldades que

seria a construção dessa política pública nos marcos da PNAS/04.

Dados mais atuais do conselho indicam que existem 1.431 organizações

sociais inscritas no Comas. Desse total, um número expressivo de 922 entidades possuem

certificados de entidade beneficentes de assistência social (Cebas),

(www.prefeitura.sp.gov.br/comas). Além de demonstrarem a grande quantidade de entidades

inscritas no conselho municipal, os dados revelam também quantidade igualmente volumosa

de entidades com Cebas, o que lhes dá o direito a isenção da taxa patronal do INSS.

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II.1 - A centralidade das entidades do Comas com a PNAS/04

As entidades que constituem o Comas para a gestão 2008/2010 são as

seguintes: a primeira titular do Comas representando o segmento das entidades e organizações

de Assistência Social é a Associação Paulista da Fundações (APF), instituição fundada em

1998. Segundo seu estatuto social, é uma entidade civil sem fins econômicos formada para

integrar, associar e representar fundações do Estado de São Paulo. Atua em todo o Estado de

São Paulo pois tem propósitos bem além do Município de São Paulo.

São sócios fundadores da APF as seguintes fundações: Fundação para o

Desenvolvimento da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Fundação de Estudos Agrários

Luiz de Queiroz, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Fundação Carlos Alberto

Vanzolini, Fundação Waldemar Barnsley Pessoa, Fundação de Apoio à Universidade de São

Paulo, Fundação Instituto de Administração, Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola,

Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeira e a Fundação de Rotarianos

de São Paulo. A presidente da APF é Dora Silva Cunha Bueno, representante da Fundação de

Rotarianos de São Paulo. O Vice-Presidente é Pedro Salomão José Kassab, da Fundação

Liceu Pasteur. O diretor administrativo e financeiro é Jose de Souza, da Fundação Mary

Harriet Speers. O diretor secretário é o Geraldo Houck Filho, da Fundação São Paulo, e o

diretor de Relações Institucionais é Renato Viana de Souza, da Fundação José de Paiva Netto.

A composição da diretoria da APF mostra uma grande representatividade dessa instituição

nos interesses de seus associados: as fundações. Em todo o Estado de São Paulo, são 61

fundações associadas à APF.

A segunda entidade titular do Comas é o Instituto Dom Bosco. Data do ano

de 1885, a fundação do Liceu do Coração de Jesus, posterior Instituto Dom Bosco, e primeira

fundação do que se transformaria no atual Instituto. No mês de outubro de 1915, ocorreu o

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VII Congresso Internacional de Cooperados Salesianos, na cidade de São Paulo, e na ocasião

foi aprovada a fundação do prédio, onde funcionaria o estabelecimento de ensino

profissionalizante, no bairro do Bom Retiro. Posteriormente o local seria a sede das Escolas

Profissionalizantes Dom Bosco. Essa escola, funcionando em conjunto com a Paróquia Nossa

Senhora Auxiliadora no mesmo local, constitui a segunda fundação do Instituto Dom Bosco.

Na sua fundação, constata-se a umbilical iniciativa da Igreja Católica nessa

instituição que permanece até os dias atuais no segmento de entidades de assistência e

educação. No bairro do Bom Retiro, em São Paulo, no início do século passado, já havia um

grande contingente de trabalhadores. A instituição assim definia a opção de construir naquele

bairro sua sede “...fundar no mesmo local um instituto de ensino profissionalizante para

beneficiar a juventude do grande bairro operário do Bom Retiro” (www.idb.org.br).

A Igreja Católica, no início do ciclo industrial da cidade de São Paulo, já se

preocupava em estar presente entre os trabalhadores e de educar a juventude operária naquela

grande região.

A terceira titular do Comas é a Associação de Educação Católica de São

Paulo, fundada em 30 de maio de 1952. À frente, o cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos

Motta assume os valores evangélicos da educação. Até o ano de 1984, foi somente foi

somente voltada para a educação sua iniciativa. No mesmo ano, o padre jesuíta Paulo Englert

orientou-a para uma visão educacional voltada para os mais pobres. Logo em seguida, assume

a visão pastoral segundo a qual a entidade não seria constituída apenas de colégios de

orientação católica.

A AEC-SP realizou Assembléia Extraordinária de alteração estatutária em

12 de agosto de 2009, e aprovou sua extinção. A assembléia transformou a AEC-SP em

Associação Nacional de Educação Católica regional São Paulo (ANEC regional São Paulo). A

transformação faz parte de um processo iniciado em 2006, e teve como objetivo reunir a nível

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nacional as entidades: Associação de Educação Católica do Brasil (AEC-BR); a Associação

Brasileira de Ensino Superior Católico (ABESC); e a Associação Nacional de Mantenedores

de Educação Católica (ANAMEC). Assim “A conversa culminou com a criação da ANEC em

janeiro de 2008 que substituiu as entidades antes existentes. Pois juntos somos mais fortes”

(www.aec-sp.org.br).

Porém, e apesar dessa nova orientação, a diretoria da entidade fica assim

constituída: presidente, Professor Roberto Prado; primeira vice-presidente, irmã Maria José, e

do Colégio Companhia de Maria; segunda vice-presidente irmã Neide, representando o

Colégio Divina Pastora; primeira secretária, Professora Sônia Itoz, do Colégio Emilie - Irmãs

Azuis; segunda secretária, Professora Lurdes Paier, do Colégio Mary Ward; primeira

tesoureira, irmã Lourdes Trombeta, do Colégio Stella Maris; e segundo tesoureiro, Professor

João Barros, do Colégio Pio XII - Rede Franciscana. A diretoria é totalmente composta de

representantes dos colégios católicos.

Na ordem das suplências, segue a Associação Santa Marcelina como

primeira suplente. É a entidade mantenedora da Faculdade Santa Marcelina, uma instituição

de ensino superior e privada. A Associação, em seu regimento, se designa “uma associação de

direito privado de natureza confessional, educacional, cultural, assistencial, beneficente e

filantrópica, sem fins econômicos e lucrativos, de caráter educacional, cultural e de assistência

social” (www.fasm.org.br). Nesse caso, a entidade fez constar no regimento, seu caráter de

Assistência Social. Na atuação, porém, se revela como entidade mantenedora de uma

instituição de ensino superior privado.

O segundo suplente é o Centro Nossa Senhora do Bom Parto, uma entidade

vinculada à Pastoral do Menor. Foi fundada em 1946, por senhoras católicas, que, na época,

frequentavam a paróquia Nossa Senhora do Bom Parto, no bairro do Tatuapé. Esse grupo de

senhoras tomou a iniciativa de “desenvolver ações de formação e capacitação profissional

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para a geração de renda às mulheres menos favorecidas” (www.acolhe.org.br). Segundo

informações em seu portal eletrônico, tem 57 unidades e atende 7.600 crianças, adolescentes e

jovens. Atua com 450 adultos em situação de rua, 200 idosos e 1.672 famílias no Programa

Ação Família (www.acolhe.org.br, acesso em: nov. 2009).

O Centro Social N. Sra. do Bom Parto propõe-se a articular e contribuir para

a defesa dos direitos das crianças, adolescentes, familiares e população de rua da zona leste de

São Paulo. Seu site divulga números e seus propósitos assistenciais.

A terceira suplente é a Legião da Boa Vontade (LBV). Fundada em 1º de

janeiro de 1950, a instituição estabeleceu a promoção da educação e cultura, com

espiritualidade, para proporcionar alimentação, segurança, saúde e trabalho para todos. É uma

instituição que propaga o Cidadão Ecumênico. É uma entidade de atuação nacional.

As seis entidades, tanto titulares como suplentes, não estabelecem, em seus

programas, objetivos, ou missões, qualquer menção, citação ou expressão que as aproxime da

política pública de Assistência Social. A maioria é composta por entidades religiosas que

priorizam a educação. A Bom Parto, em sua página eletrônica, mostra números de

atendimento à população de rua.

As entidades que compõem o Comas de São Paulo são de fato entidades e

organizações de Assistência Social, a partir do que está preconizado pela PNAS/04? Ou são

entidades com outras funções e prerrogativas estatutárias que ocupam o lugar de entidades

comprometidas, ou mais afeitas, com a PNAS/04? Para esclarecer essa dúvida, descrevem-se

os serviços socio-assistenciais oferecidos pelas entidades que compõem o Comas de São

Paulo.

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II.2 - Serviços socioassistenciais nas entidades do Comas

Uma leitura da documentação das entidades quanto aos seus princípios e

suas bases estatutárias faz-se necessária, antes de analisar as respostas dos questionários

aplicados nas entidades. Os questionários permitiram constatar, ou não, as ações inerentes das

entidades em suas atuações de acordo com a PNAS/04.

No Município de São Paulo, existem 368 organizações conveniadas, com o

total de 968 convênios firmados por essas organizações, isso no mês de fevereiro de 2010, a

partir da página eletrônica da prefeitura:

(www.prefeitura.sp.gov.br/cidades/secretarias/assistencia_social, acesso em: 1º mar, 2010). A

página mantém informações da rede conveniada de São Paulo, que tem capacidade de atender

179.752 pessoas. E o valor do repasse mensal desses convênios é da ordem de R$

27.319.234,14.

A informações mostram 368 entidades conveniadas com o poder público

municipal. Constatou-se que, das entidades que compõem o Comas, de São Paulo, somente

três mantêm convênios com a prefeitura. Conforme se lê no Quadro II.

Os dados relativos às três últimas organizações são considerados como de

uma única, no caso, o Instituto Dom Bosco. Portanto, estão fora dos convênios três entidades

que compõem o COMAS de São Paulo: a APF; a Associação de Educação Católica (AEC) e a

LBV.

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Quadro II - Entidades que compõem o Comas e mantém convênios com a Prefeitura de São

Paulo.

Organização CNPJ Cras regional Valor mensal R$

Total de convênios

Vagas

Casa de Saúde Santa Marcelina

60.742.616/0001-60

Itaquera 67.742,16 2 520

Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto

62.264.494/0001-79

Mooca 993.060,86 40 3.865

Inspetoria Salesiana de São Paulo - Centro Juvenil Salesiano Dom Bosco

62.123.336/0011-70

Lapa 31.092,50 1 120

Instituto Dom Bosco

60.802.154/0001-29

Sé 274.410,38 7 1.550

Obra Social Dom Bosco

61.882.395/0001-98

Itaquera 952.324,66 22 3.900

Total 318.630,60 72 9.955

Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidades/secretarias/assistencia_social

O Instituto Dom Bosco apresenta-se com duas outras razões sociais. As duas

possuem Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) diferentes, mas ambas fazem parte

do organograma do Instituto.

A ausência de três organizações que compõem o Comas na rede de

entidades conveniadas com a Prefeitura, na execução de programas, projetos e serviços na

aérea de Assistência Social, como prevê a PNAS/04, é constatada. Esse fato merece algumas

considerações. A primeira é que, de fato, essas entidades não pertencem à rede

socioassistencial, fato evidenciado pela ausência de convênios. Outra diz respeito à atuação

dessas entidades com interesses e objetivos opostos aos que dispõe a PNAS/04. Não atendem

a população com serviços, projetos e programas, e ainda assim participam de um conselho

que legalmente é o interlocutor dos interesses das organizações e entidades de Assistência

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Social, as quais, objetivamente, são da Assistência Social e realizam convênios. Ocupam, na

verdade, a vaga das entidades que executam os serviços, projetos e programas conveniados

com a prefeitura.

A natureza jurídica de duas entidades, a Associação Paulista de Fundações e

a Associação de Educação Católica, revela a característica associativa. São entidades que

congregam um conjunto de outras instituições na defesa de seus interesses.

A Associação Santa Marcelina comete acinte de representatividade no

COMAS. Essa entidade, sob a análise jurídica, é mantenedora da instituição de ensino

superior Faculdade Santa Marcelina. Juridicamente, uma “associação de direito privado de

natureza confessional, educacional, cultural, assistencial, beneficente e filantrópica sem fins

econômicos e lucrativos, de caráter educacional, cultural e de assistência social” (disponível

em: www.fasm.org.br, acesso em: nov. 2009). A Casa de Saúde Santa Marcelina faz parte do

organograma da Faculdade Santa Marcelina. Os atendimentos da Casa de Saúde referem-se à

área da saúde.

Restaram duas entidades como representantes das organizações de

Assistência Social no Comas, de São Paulo que realizam de fato serviços socio-assistenciais

para a população que demanda a PNAS/04 no município.

Uma entidade é o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto. A instituição

demonstra com as informações disponibilizadas na página eletrônica que realiza atendimentos

à população usuária da Assistência Social. As informações constantes no site demonstram

sintonia de representação e de atuação na área dos serviços socioassistenciais.

A segunda entidade é o Instituto Bom Bosco. Os serviços da entidade estão

divididos em três organizações. O expressivo número de atendimentos e de convênios da

entidade lhe credita razoável ação da política de Assistência Social com o poder público

municipal. Fato que, na primeira análise, a coloca como boa representante no Comas de São

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Paulo pelo segmento das entidades e organizações sociais.

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CAPÍTULO III: A PNAS/04 pela leitura dos representantes de entidades sociais no

Comas de São Paulo

Foram duas as formas de abordagens que compõem a metodologia de

pesquisa usadas nessa dissertação. A pesquisa documental das entidades, incluindo suas

publicações impressas e as informações disponíveis na página oficial na Internet. Um

questionário com 13 perguntas abertas foi elaborado para entrevistar os representantes das

entidades no Comas de São Paulo. As respostas foram, consequentemente,abertas. As

publicações oficiais do Comas, como editais, atas, relatórios, também foram analisados.

Essa metodologia possibilitou constatar a atuação, ou não, das entidades no

Comas a partir dos princípios e das diretrizes estabelecidas pela PNAS/04 para a rede

socioassistencial. Assim como a garantia dos direitos de seus usuários.

Os Conselhos de Assistência Social têm regulação própria para o processo

eleitoral do segmento da sociedade civil. A sociedade civil escolhe em foro próprio seus

representantes, divididos por três setores: entidades e organizações de assistência social;

usuários ou organizações de usuários; e trabalhadores do setor. Após a eleição, as entidades

escolhidas para compor o conselho nomeiam seus respectivos representantes.

Os conselhos são instâncias de debate e de deliberação do sistema

descentralizado e participativo da Assistência Social e os conselheiros são, portanto,

instituídos de poderes que as entidades lhes conferem nos assuntos pertinentes à Assistência

Social.

Os seis conselheiros titulares e suplentes representantes das entidades e

organizações de Assistência Social, no Comas de São Paulo, são os(as) seguintes:

Nilton Cesare Padreri - membro titular representa a Associação Paulista de

Fundações (APF);

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Carlos Nambu - membro titular representa o Instituto Dom Bosco;

Roberto Von Puttkammer Prado - membro titular representa a Associação

de Educação Católica de São Paulo;

Marcelo Teixeira - conselheiro suplente representa a Associação Santa

Marcelina;

Darcy Diago Finzetto - conselheira suplente representa o Centro Social

Nossa Senhora do Bom Parto e;

Valéria da Silva Reis Ribeiro - conselheira suplente representa a Legião da

Boa Vontade (LBV).

Todos foram eleitos em 2008, para o mandato de dois anos, que se encerra

este ano.

O processo eleitoral de renovação dos representantes da sociedade civil do

Conselho Municipal de São Paulo estava próximo e envolve a elaboração de regimento

interno, a publicação de editais e demais procedimentos eleitorais, trâmite que requer tempo e

disposição de todos os membros.

O pesquisador participou de três reuniões ordinárias do Comas com o

objetivo de explicar o projeto de pesquisa e se apresentar ao conselho em cumprimento de

etapa da elaboração da dissertação de mestrado. As reuniões ocorreram nos meses de

dezembro de 2009, e janeiro e fevereiro de 2010.

Cientes da pesquisa, os seis conselheiros foram identificados e informados

pelo pesquisador, por telefone e correio eletrônico, sobre a necessidade de responderem ao

questionário. Procurou-se evitar largo espaço de tempo entre a realização do primeiro e do

último questionário, por isso todos foram respondidos entre os dias 9 e 16 de março de 2010.

Um conselheiro, Nilton Cesare Pedrini, dentre os seis que compõem o

Comas pelas entidades de Assistência Social recebeu o questionário e informou que enviaria

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as respostas em outro momento, por correio eletrônico. Por esse meio, o instrumento de

pesquisa já não seria mais um questionário e sim um formulário.

No entanto, o conselheiro não enviou o formulário respondido até a data de

16 de março de 2010, prazo estabelecido pelo pesquisador para concluir a etapa de coleta dos

questionários preenchidos por todos os conselheiros para análise e conclusão da dissertação.

As três primeiras perguntas tinham como objetivo analisar o nível de

participação em Conselhos de Assistência Social dos conselheiros e de suas respectivas

instituições. A maioria das respostas indicou que o(a) conselheiro(a) participava pela primeira

vez de conselhos. A primeira questão referia-se ao Comas de São Paulo e dos cinco

conselheiros somente um já havia participado do Conselho, ou seja, a conselheira do Centro

Social Nossa Senhora do Bom Parto. Os outros quatro estavam pela primeira vez na entidade.

As explicações para essa primeira participação foram variadas. Desde

experiências em outros conselhos de políticas públicas até o fato de ser convocado pela

entidade para representá-la, entender e dialogar nessa instância. O depoimento do conselheiro

da AEC-SP, registrado em entrevista, é revelador:

Não. (...) Na verdade eu fui convocado pelas escolas que compõem a AEC. Eles estavam precisando, estavam querendo ter um representante, ter alguém com quem pudessem dialogar, conversar e entender até melhor, como se passa esse trabalho(...)

Dos cinco conselheiros que responderam, somente um afirmou ter

participação no conselho paulistano em gestões anteriores. Esse fato revela o

desconhecimento da PNAS/04 pelas entidades que compõem o Comas de São Paulo. A

maioria das entidades que atuam no Comas de São Paulo não participou das gestões anteriores

desse conselho.

As respostas às questões dois e três são semelhantes às da primeira. A

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segunda aborda a participação da entidade no Conselho Estadual de Assistência Social do

Estado de São Paulo e a terceira versa sobre a participação no Conselho Nacional de

Assistência Social (CNAS).

Assim como no conselho municipal, somente a Instituição Bom Parto

participou do Conselho Estadual de Assistência Social e em duas gestões. Os outros quatro

conselheiros não participaram do Conselho da Assistência no Estado de São Paulo. Uma

citação, porém, merece registro. A Instituição Dom Bosco afirma ter participado de reuniões

ampliadas, ordinárias e extraordinárias do Conselho Estadual de Assistência Social do Estado

de São Paulo. Isso demonstra que, apesar de não ter assento no conselho, se preocupa com os

temas e os debates promovidos por essas instâncias ampliadas de discussão. As reuniões

ampliadas são convocadas nos momentos em que os conselhos realizam debates abertos. São

espaços privilegiados, em que a participação direta de segmentos e organizações da sociedade

civil e de gestores públicos se concretiza. Esses atores, na maioria das ocasiões, não

acompanham o debate e as deliberações de caráter ordinário dos conselhos. E as reuniões

ampliadas servem para aproximar o debate entre os segmentos da área da Assistência Social.

Algumas alterações, entretanto, constaram das respostas sobre a participação

das entidades no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), que é a terceira pergunta.

Nenhuma das cinco entidades participou. Dois representantes, porém, afirmaram que

participaram de uma forma diferente e indireta. O conselheiro da Associação Santa Marcelina

afirmou que foi representar a entidade na última eleição do CNAS mas que cedeu seu lugar

para outra entidade. E relatou na entrevista o seguinte:

Também não participei. Eu fui representar a entidade na última eleição no CNAS. Porém, por uma questão política me abstive da cadeira e cedi para uma outra entidade.

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A segunda entidade é o Instituto Dom Bosco. Seu representante, na

entrevista, assim descreveu:

Não. No CNAS nós temos representantes da rede salesiano, lá no CNAS, mas nós não chegamos a participar como entidade. Mas com o mesmo motivo de participar das reuniões ampliadas e extraordinárias do conselho estadual

A primeira entidade não participou de nenhuma gestão de Conselhos de

Assistência Social nas três esferas de poder. Porém participou da última eleição do CNAS,

que é a instância em que se promove o debate da política de Assistência Social com mais

frequência. A PNAS/04 foi aprovada no CNAS após diversas consultas e reuniões ampliadas

promovidas por esse conselho. A participação da entidade no processo eleitoral demonstra seu

interesse em nível nacional, mas não na gestão dos conselhos, ou em outras instâncias.

O representante do Instituto Dom Bosco relatou dois dados importantes para

a pesquisa. O primeiro é que a entidade se articula e mantém representante com outra

instituição, a partir da rede salesiano. A Rede Salesiano de Ação Social (Resas) é “resultado

da profissionalização no desenvolvimento de projetos das obras sociais salesianas que

mantêm o compromisso de garantir melhores condições de vida para pessoas de classes

menos favorecidas” (www.idb.org.br, acesso em: nov. 2009).

As obras sociais salesianos são projetos sociais desenvolvidos pelas

instituições da rede que atuam nacionalmente. Os salesianos “são uma comunidade de

cristãos, fundada em 1859 na Itália, (...) e ocupam o terceiro lugar entre as Ordens Religiosas,

depois dos Jesuítas e Franciscanos” (idem).

A entidade não participa do CNAS, mas, na resposta, percebe-se que se

sente representada por outra, e revela ainda o poder de articulação das entidades nas instâncias

de deliberação da política de Assistência Social. Revela também um fluxo de informações que

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permite estarem articuladas e cientes de suas estratégias e ações. O segundo dado foi

explicitado na resposta seguinte. O IDB participa das reuniões ampliadas dos conselhos de

Assistência Social, tanto estadual quanto nacional. A resposta da entidade indica o grau de

atualização e acompanhamento dos debates e resoluções dos conselhos.

A quarta questão teve o objetivo de identificar as entidades que participaram

das Conferências de Assistência Social realizadas nas três esferas de poder. Essa questão é

importante, quando acompanhada pelas três primeiras sobre a participação nos conselhos. Os

Conselhos têm uma pauta mais voltada para os assuntos internos. E nessa pauta se incluem as

fiscalizações, os registros e os certificados das entidades. Por isso, tem motivado e provocado

o interesse das entidades e organizações de Assistência Social, porque analisa os processos de

registro das mesmas nos conselhos.

As Conferências bianuais, por seu turno, são convocadas ordinária e

extraordinariamente para “avaliar a situação da assistência social e propor diretrizes para o

aperfeiçoamento do sistema“ (BRASIL, 1993:7). A pauta das conferências é essencialmente

política.

As respostas a essa questão foram unânimes. Todos os conselheiros já

participaram de alguma Conferência de Assistência Social. A conselheira que participou de

maior número de conferências representa a Bom Parto. Ela esteve em todas as conferências

municipais de São Paulo e em todas no Estado de São Paulo, com exceção da última. Nas

conferências nacionais, participou da primeira e da última. A entidade acompanhou todos os

momentos da construção da Política de Assistência Social no Município de São Paulo e

mantém informações do processo de elaboração e construção da PNAS no município

paulistano.

O Instituto Dom Bosco é outra entidade que participou de várias

conferências nos três âmbitos. A participação em níveis municipal, estadual e federal

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demonstra que a entidade acompanha o processo de elaboração e construção da PNAS.

Quando comparado com os demais conselheiros, fica evidente, a partir de suas falas, razoável

conhecimento da Política de Assistência Social.

A LBV relata sua participação em outras Conferências Estaduais, além da

Conferência Municipal de São Paulo. A entidade tem atuação em todo o território nacional, o

que favorece maior participação.

No outro extremo, se encontram as entidades que participaram somente de

uma Conferência. No caso, a última Conferência Municipal de São Paulo. As entidades são:

AEC - SP e a Associação Santa Marcelina.

A questão seguinte tratou da importância e do significado da participação

das entidades no Comas. As respostas foram homogêneas.

A LBV ressaltou as mudanças e transformações ocorridas no Comas e

chamou a atenção para o fato de a sociedade civil estar presente no “espaço democrático do

Comas“. A Bom Parto relatou que é importante participar, mas ressaltou:

Porque a entidade, ela é executora da política de Assistência Social. Principalmente na cidade de São Paulo. Quem executa a política de Assistência Social na cidade de São Paulo são as entidades. Tem que ter um convênio com as entidades. Então, elas têm que estar muito a par dessa política de Assistência Social.

A afirmação de que são as entidades executoras da política de Assistência

Social no Município de São Paulo revela o que os indicadores já estavam sugerindo. A

política pública municipal de Assistência Social é insuficiente para as demandas no Município

de São Paulo. A pouca quantidade de Cras disponíveis no município é um indicador da

insuficiência da Política da Assistência Social. É reduzido o número de Cras paulistanos,

quando comparado às outras duas maiores metrópoles brasileiras - Rio de Janeiro e Belo

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Horizonte, já relatado no Capítulo 2 desta dissertação.

A quantidade de entidades que mantém convênios com a Prefeitura na

execução dos projetos e serviços da Assistência Social é expressiva, mas também é

insuficiente. O atraso na instalação do Comas, por exemplo, revela a pouca importância dada

por alguns prefeitos, a essa instância democrática e participativa na efetivação da Política da

Assistência Social . A conselheira reafirma a necessidade dos convênios da prefeitura com as

entidades, como importantes para incentivar a participação no Comas.

Dois conselheiros reafirmaram a importância e o significado de estarem no

Comas por causa da representatividade de suas respectivas entidades. A entidade e o

segmento das entidades precisam de mais conhecimento, mais envolvimento, e mais

interlocução, revelaram os representantes do IDB e da AEC - SP.

O conselheiro da Associação Santa Marcelina dá a seguinte importância e

significado para sua participação no Comas:

Muito importante por que a entidade sempre tem que ter um representante das entidades lá, não é? Para que possa ter alguém lutando pelos interesses das entidades beneficentes de Assistência Social aqui no Município de São Paulo. Para que a gente possa ter uma melhor política pública de Assistência Social aqui no município. A coisa ta tão complicada que a gente tem que ter um representante de uma entidade com força, lá no Comas.

As expressões luta (lutando) e força foram usadas para reafirmar que o

espaço do conselho é de fato um lócus privilegiado de disputa. E quem não tem força perde a

luta. Ele identifica, nos conselhos, espaços onde se luta e onde é necessário ter força. Uma

resposta direta e franca, do ponto de vista dos interesses da instituição e na defesa deles.

A quinta questão encerra o ciclo de itens que tem como foco os Conselhos e

as Conferências de Assistência Social vistos e relatadas a partir das entidades. As questões

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seguintes fazem um diálogo direto das entidades com a PNAS. As de número seis até o dez

são indagações acerca do processo anterior, de debates e discussões da PNAS, até o momento

da aprovação da PNAS/04.

A sexta questão versa sobre como a entidade ficou ciente da PNAS/04. Duas

entidade revelaram que ficaram cientes desde o início da discussão. A representante da Bom

Parto participou de todos os encontros e das discussões. A PNAS/04 não foi novidade para a

instituição. A IDB tomou ciência da PNAS aqui em São Paulo, com os debates que

precederam a aprovação em 2004.

A LBV ficou ciente da PNAS/04 no decorrer do debate e se incorporou a ele

quando a proposta de Política Pública de Assistência Social estava sob a consulta dos diversos

segmentos que compõem o setor. Os conselheiros representantes da AEC-SP e da Associação

Santa Marcelina só tiveram conhecimento da PNAS no momento de seus respectivos

ingressos no Comas.

A questão seguinte está muito vinculada à anterior. A partir do instante do

conhecimento da PNAS/04, é indagado se os representantes das entidades, ou se as próprias,

participaram, em algum momento ou de alguma forma, da elaboração política da PNAS/04. A

participação maior foi das entidades que se constituem nacionalmente, ou se articulam

enquanto rede com outras entidades que têm presença nacional.

As instituições LBV e AEC-SP se enquadram nessa situação. A LBV é

constituída nacionalmente e participou de alguma forma, nos devidos momentos, da

elaboração da PNAS/04. A representante da LBV acredita que a entidade tenha participado

não de forma direta, mas nos encontros e eventos promovidos nacionalmente. Ela afirma que

a instituição esteve representada nos momentos de elaboração. O conselheiro da AEC-SP

afirma que a AEC Brasil, a entidade de representação nacional da regional de São Paulo,

participou da elaboração da PNAS/04, quer com documentação quer com discussões.

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A conselheira da Bom Parto afirma que participou somente das discussões

locais. E que nos espaços locais a entidade contribuiu de alguma forma na elaboração. O

representante da Associação Santa Marcelina não teve como responder positiva nem

negativamente por que não participou do debate, e desconhece que a entidade tenha feito

alguma contribuição para a elaboração da PNAS/04 na época de sua construção.

A sétima questão inicia o processo em que os conselheiros emitem

avaliações quanto ao conteúdo da PNAS/04. A pergunta trata da relevância da política e

solicita a identificação dos seus pontos positivos. Na mesma questão, se pergunta sobre as

discordâncias, sobre onde estão os pontos negativos da política. Ainda na mesma questão, a

pergunta se desdobra para as dúvidas. Que dúvidas os conselheiros e suas entidades têm em

relação à PNAS/04.

A análise de cada resposta será facilitada se a questão for dividida em três

blocos, na seguinte lógica: relevâncias, discordâncias e dúvidas.

A Assistência Social hoje, no Brasil, tem o status de uma política pública

de direito. Essa é a afirmativa de maior relevância assinalada nas respostas dos representantes

das entidades que compõem o Comas de São Paulo. Segue o relato da conselheira da LBV:

Eu acho que o principal e a maior relevância é fazer com que a Assistência Social passe a ser um direito, e não uma ação caritativa, nós somos contra a caridade, tem que existir...

A afirmação tem importância elevada. A Assistência Social se revela um

direito do cidadão. Porém, na mesma fala, é afirmado, pela conselheira, que a caridade tem

que existir e que o pessoal, ou as pessoas que necessitam da Assistência Social, não possuem

a consciência sobre os seus direitos de cidadão. A frase continua assim:

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...caridade, tem que existir, mas a gente percebe que o pessoal não tem a consciência plena desses seus direitos, não é?

A entidade reconhece o avanço da PNAS/04 e afirma, ao mesmo tempo, que

a caridade tem que existir. Apresenta a segunda conclusão, contraditória, por conta da

inexistência de reconhecimento pleno dos direitos socioassistenciais dos usuários.

O conselheiro do IDB afirma com ênfase e relevância, idênticas às de sua

colega da LBV, as vantagens da política. A PNAS/04 passa a ser uma política de Estado e não

mais de governo. Sua afirmação segue:

A PNAS passou a ser uma política de Estado, que antes nós tínhamos uma política de governo e a cada partido que entra uma mudança radical na questão da política nacional da assistência. A partir do momento que nós temos a PNAS, nós temos uma política de Estado e ela é independente da mudança de partido, de governo.

A pesquisa tem como um dos objetivos constatar se a PNAS/04 de fato

passou a ser uma política de Estado, e não uma política de governo. Política de governo é

aquela em que um determinado governante propõe uma legislação e essa lei passa a ser

executada. A validade dessa ação permanece apenas no seu governo, no período de sua

gestão. O reconhecimento da PNAS/04 como política de Estado é um importante diferencial

para se afirmar a Política Pública da Assistência Social no Brasil. É válida para governos,

partidos e blocos de partidos que se sucederão nas gestões. A afirmação é importante por que

parte do representante de uma instituição religiosa. Essas instituições são as que têm mais

articulações institucionais nos Conselhos de Assistência Social no sentido de preservarem

suas prerrogativas de entidades filantrópicas e de benemerência. O IDB é a instituição mais

antiga, dentre as seis entidades pesquisadas neste trabalho acadêmico.

O conselheiro do IDB diz que é necessário avançar mais na política. E

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propõe a revisão e uma consulta nos seguintes termos:

Então, eu acho que nós temos muito que avançar, teríamos que ter talvez numa revisão, fazer uma consulta nacional e uma consulta aos vários segmentos da área da assistência.

As respostas dos conselheiros das entidades que responderam sobre a

importância da PNAS/04 expressam a possibilidade de construção da Política Pública de

Assistência Social no Brasil. Esse dado é relevante, pois as concepções de filantropia e de

benemerência estão fortemente inscritas na sociedade brasileira.

Sobre o passado de práticas de benemerência e de filantropia, a conselheira

da LBV tem sintonia com as novas diretrizes da PNAS/04 em confronto com as antigas. É

este seu relato:

São mais de 50 anos de ação caritativa, acho que mais, 100 anos. A assistência tinha uma posição diferenciada. E a política ela contribui para que a gente tenha um olhar com relação à assistência. A gente não vê, enquanto organização, a pessoa somente, não (...) enquanto pessoa. A gente faz uma análise de como é o contexto dessa pessoa. A política veio fortalecer essa forma da Assistência Social.

Analisar o contexto é uma forma de compreender a PNAS/04 que introduz,

em um de seus princípios, a “supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as

exigências da rentabilidade econômica (BRASIL, 2004:33). Esse princípio contribui para que

a Assistência Social tenha novo patamar de atuação. Uma ação com base nos direitos do

cidadão. A mesma conselheira relata que não tem discordância nem dúvida quanto à

PNAS/04.

A conselheira do Bom Parto identificou uma discordância. Seu relato se

justifica com argumentos locais. Ela levanta elementos de conhecimento da realidade local,

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do Município de São Paulo, para seu posicionamento contrário à PNAS/04:

Eu acho que discordância do plano nacional é que às vezes fica uma coisa muito utópica, no plano nacional. Que às vezes não acontece aqui. Às vezes, aqui, quando vem da nacional, acontece. Eles dão as diretrizes. E, às vezes, aqui, eles querem aplicar como está no plano nacional. O plano nacional eu acho que ele deve dar diretrizes gerais. E aqui teria que ser aplicado mais para o município. E às vezes eles querem aplicar como está lá e aplicar aqui. Não é isso. Eu não vejo assim. (...) Essa é minha discordância, quando chega aqui.

A conselheira identifica uma utopia no plano nacional, na Política Nacional

de Assistência Social, que não estabelece mediações entre a PNAS/04 e a realidade local. Não

existe aplicabilidade da PNAS/04 para a instituição que representa no Município de São Paulo

e não vislumbra uma ligação entre o geral e o local. A representante não esclarece os

elementos plausíveis na sua discordância quanto à PNAS/04 e não explicita quais as

dificuldades ao se aplicar a política no município.

O conselheiro representante das escolas católicas identificou sua dúvida. A

AEC-SP é uma instituição que congrega unidades de ensino. Essa instituição atualizou seus

estatutos e transformou-se em Associação Nacional de Educação Católica (Anec), unindo as

escolas católicas de ensino elementar, fundamental e superior com as devidas entidades

mantenedoras da educação católica. A AEC-SP passou a ser uma filial da Anec. O relato do

conselheiro foi de dúvida. E assim ele a revela:

PNAS propriamente não existem dúvidas em relação às questões a serem colocadas. Às vezes, as interpretações que a partir da PNAS, que outros documentos, que outras pessoas (...) Então, um alvo a ser muito discutido ainda é: A educação faz parte da Assistência Social ou não? Está muito direto naquilo que eu represento, não é? As tendências hoje estão levadas a dizer não, não é? Por que estão separando tudo, fica um para o CNAS, fica outro para o Ministério da Educação.

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A pergunta do conselheiro é intempestiva. A Lei Federal 1.021/2009 alterou

as competência do CNAS quanto aos Certificados de Entidades Beneficentes de Assistência

Social (Cebas). As entidades das áreas de educação, saúde, terão que solicitar isenções de

recolhimento da contribuição patronal aos respectivos Ministérios da Educação e Saúde,

conforme o caso.

O conselheiro da Associação Santa Marcelina respondeu que não tem essa

informação sobre as questões que a entidade levanta, como relevância, discordância e dúvidas

sobre a PNAS/04.

A nona questão está relacionada diretamente com a sétima, pois parte do

pressuposto de que a entidade participou de alguma forma da elaboração da PNAS/04.

Pergunta-se se a entidade examinou e discutiu os temas e as sugestões apresentados no

processo de construção da PNAS/04. Três entidades responderam afirmativamente. Os

conselheiros das entidades Bom Parto e IDB reafirmaram a participação das entidades no

processo de construção da PNAS/04 e ressaltaram a importância do Fórum da Assistência

Social da Cidade de São Paulo. O Fórum de São Paulo reaparece com protagonismo, por ser

uma organização que iniciou o processo de realização das conferências entre os anos de 1993

e 2000. No período, foram prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta (SILVA, 2002). Os

conselheiros relatam que, na época, houve uma discussão coletiva no Fórum.

A conselheira da LBV informa que discutiu muito com as entidades que

formam sua rede de organizações. Essas entidades buscam a LBV para pedir ajuda. Nesse

processo, a LBV se prontifica a contratar profissionais assistentes sociais para acompanhar as

mudanças contidas na PNAS/04. As duas outras entidades não discutiram os temas da

PNAS/04 e nem apresentaram sugestões para a PNAS/04 em seu processo de construção.

Quatro representantes das entidades responderam à décima questão que

indagava sobre as dificuldades das entidades na efetivação da PNAS/04. A normatização, ou a

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Norma Operacional Básica do Suas (NOB/Suas), foi a dificuldade mais evidenciada. Os

conselheiros do IDB e do Bom Parto reafirmaram a importância da normatização pela

efetivação da NOB/Suas. A conselheira da LBV apontou o desconhecimento, por parte da

população, para buscar seus direitos como a maior dificuldade na efetivação da PNAS/04. O

conselheiro da Associação Santa Marcelina apontou duas dificuldades, ambas de ordem

administrativa: de gestão, tanto dos órgãos públicos como das entidades; e financeiras, ou

seja, o financiamento público e das entidades. O conselheiro da Associação Santa Marcelina

não respondeu a essa questão.

As três últimas questões compõem o bloco de perguntas direcionadas às

mudanças que ocorreram com as entidades e com o poder público a partir da implantação da

PNAS/04.

Os representantes da LBV e do Bom Parto afirmaram que houve mudanças

e alterações nas entidades, após a aprovação da PNAS/04. A conselheira da LBV frisou a

sensibilização interna da instituição para se adaptar aos novos paradigmas da política.

Segundo seu relato:

A gente fez uma mobilização, uma sensibilização da direção, para que percebessem a importância dessa transformação, até para que gente seja reconhecida como uma organização que faz parte da rede Suas. E as adaptações, as transformações nos nossos projetos, nossos programas, revendo todos, vendo de que forma que a gente estaria sendo inserido na rede Suas. Foi uma revisão geral de nossos projetos, nossos processos de trabalho e o direcionamento dentro da premissa de que a assistência é um direito.

A conselheira refere-se à importância da rede Suas, que é composta de

entidades socioassistenciais e é parte integrante da PNAS/04. A entidade contratou

profissionais assistentes sociais para atender às novas demandas dos serviços e das entidades

que compõem sua rede de atuação. Assim também procedeu na formação de seu corpo

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diretivo. Com uma nova política, é necessário outra adaptação institucional para atender aos

novos parâmetros introduzidos pela PNAS/04.

A Bom Parto modificou também. Sua base de atuação são os convênios

diretos com a prefeitura e a avaliação quanto aos resultados dos novos convênios indica que

não foram satisfatórios para a instituição. Assim ela relata:

Teve a mudança na entidade, e foram aquelas que a gente teve, a mudança do tipo de convênios... Não foi o melhor convênio, que de certa forma até dificultou muitas entidades. É um tipo de convênio que foi bom, por um lado, mas também foi muito prejudicial às entidades. Mas tem uma certa valorização para os trabalhadores. Uma valorização para os usuários.

A instituição identificou prejuízo, enquanto segmento de entidades de

Assistência Social, e um avanço para o segmento dos trabalhadores e dos usuários. Não

detalhou quais foram as dificuldades encontradas pelas entidades. Muito menos descreveu

quais as valorizações para os trabalhadores.

A PNAS/04 desdobrou a aprovação de uma Norma Operacional Básica de

Recursos Humanos (NOB/RH) (BRASIL, 2007). Essa norma foi aprovada pelo CNAS, em

dezembro de 2006, dois anos após a aprovação da PNAS/04. A norma tem como uma das

diretrizes para os trabalhadores das entidades e organizações de Assistência Social “Valorizar

seus trabalhadores de modo a ofertar serviços com caráter público e de qualidade conforme

realidade do município“ (idem, p. 39). A valorização para os usuários está contida na

PNAS/04 e se efetiva pelo reconhecimento dos direitos socioassistenciais.

O representante do IDB relata que a entidade se encontra em período de

transição. E que não tem elementos para avaliar agora as alterações e mudanças promovidas

pela PNAS/04. As duas últimas entidades foram enfáticas em não identificar nenhuma

mudança após a PNAS/04.

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A décima segunda questão especifica quais a mudanças que ocorreram nos

serviços tradicionalmente oferecidos pelas entidades para seus usuários. Solicita a

identificação das mudanças tendo como referência os direitos socioassistenciais da PNAS/04.

Aos seus usuários, o Suas deve assegurar:

Direitos ao atendimento digno, atencioso e respeitoso, ausentes de

procedimentos vexatórios e coercitivos;

Direito ao tempo, de modo a acessar a rede de serviços com reduzida espera

e de acordo com a necessidade;

Direito à informação, enquanto direito primário do cidadão, sobretudo

àqueles com vivência de barreiras culturais, de leitura, de limitações físicas;

Direito de usuário ao protagonismo e manifestação de seus interesses;

Direito ao usuário à oferta qualificada de serviço;

Direito de convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 20004:43)

Os representantes de três entidades responderam que modificaram seus

serviços. E que avançaram na garantia dos direitos socioassistenciais contidos na PNAS/04.

A representante da Bom Parto assim descreve:

Olha, eu acho que os direitos socioassistenciais. Eu acho que estava embutido mesmo na entidade. Veja o caso da minha entidade, nunca foi uma entidade que não respeitou os direitos. Ela sempre foi filiada com, visando mesmo o direito do usuário. Talvez hoje muito mais. Ela não fez de favoritismo, de coitadinho do usuário. Isso ta muito embutido, assim, muito dentro da missão da entidade. Talvez hoje ela tenha mais consciência desse direito. Eu acho que, com o passar do tempo, a gente amadurece muito. Talvez nasceu assim com aquela da religião, mas hoje ela tem um olhar muito mais no direito. Isso cresceu, é um crescente.

O relato expressa compreensão de parte dos direitos. O fato da entidade não

tratar o usuário como “coitado”, expressão sinônima de desgraçado, pobre, infeliz,

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compreende que o atendimento se torne digno e respeitoso. O usuário, naquele momento, não

pode passar por situação vexatória nem coercitiva. A conselheira resgata a origem religiosa da

entidade e, no entanto, reafirma os princípios e a supremacia dos direitos socio-assistenciais

do usuário.

A conselheira da LBV identifica no usuário a limitação de reconhecer-se

enquanto cidadão provido de direitos. Reconhece, ainda, o esforço da entidade em absorver os

direitos socioassistenciais dos usuários. Assim descreveu:

A gente ainda não conseguiu alcançar a 100% dessa necessidade do usuário ser mobilizado, sensibilizado, ter resultado na verdade na busca de seus direitos... Eles (usuários) lutam pelas suas sobrevivências, então eles acabam não priorizando esse conhecimento, buscando esses direitos que eles têm.

No caso da LBV, seria uma posição cômoda para ela recusar a cidadania dos

usuários contida na PNAS/04. O relato da conselheira, no entanto, registra o reconhecimento

das limitações dos usuários quanto ao conhecimento de seus direitos.

O conselheiro do IDB acompanha a opinião quanto às mudanças dos

serviços tradicionais ofertados pela entidade. Sua fala foi enfática, ao apresentar avanços na

questão dos direitos socioassistenciais contidos na PNAS/04. Assim ele descreve:

Nós tivemos assim um grande avanço na questão dos direitos socio-assistenciais por que aí, o usuário, ele começa a se apropriar do processo e aproximar do atendimento e dos seus direitos.

Os dois conselheiros restantes responderam que suas respectivas entidades

não modificaram nada em seus serviços aos usuários, tendo como parâmetro os direitos

socioassistenciais da PNAS/04.

A última questão versa sobre as mudanças ocorridas na relação entre

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entidades e poder público municipal. Todas as falas dos conselheiros são unânimes em

afirmar que há dificuldades, há pressão, há enfrentamentos do poder público na condução da

PNAS/04. Os conselheiros não identificaram diferenças partidárias dos gestores públicos nos

anos de implantação da PNAS/04.

Três falas de conselheiros exprimem o conteúdo da relação do poder público

com as entidades. A primeira é da conselheira da Bom Parto. Ela diz:

Porque o poder público é indiferente de mudar (...) Ele tem sempre um olhar de voto (...) Nós temos que conversar com todos os partidos, lutar com os partidos, seja ele qual for.

A experiência no Município de São Paulo nos oferece essa realidade. Os

partidos de ideologias variadas: de direita; centro e; de esquerda, já administraram essa

cidade. A conselheira percebe que a entidade precisa conversar com todos os gestores. O que

importa para os gestores é a execução da política e para a entidade também.

O conselheiro do IDB percebe a questão orçamentária. Sua fala exprime o

enfrentamento a partir das discussões financeiras. E o conselheiro da AEC-SP resume a

relação a partir da dificuldade da gestão por causa do tamanho da cidade de São Paulo:

Você entende que não é fácil você conseguir gerir esse monstro, essa grandiosidade que é o Município de São Paulo.

A cidade é de fato algo “monstruoso”: sua população, seus problemas

urbanos. E ao mesmo tempo, é muito grande o desafio de se construir nesse município uma

Política Pública de Assistência Social que garanta aos seus usuários os direitos

socioassistenciais.

Outra parte da pesquisa ocorreu a partir do acesso às informações das

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entidades em suas respectivas páginas eletrônicas na internet. Todas divulgam suas ações e

fornecem dados precisos sobre como atuam, onde atuam, quando iniciaram suas atividades,

quais os seus princípios estatutários. E alguns casos de convênios realizados com a prefeitura

e parceiros financeiros.

São informações que complementam as respostas dos questionários

aplicados aos conselheiros do Comas. Como a Associação Paulista de Fundação não

respondeu ao questionário, foram recolhidas algumas informações importantes para

aproximar a entidade aos objetivos da PNAS/04. A APF é

uma entidade civil, sem finalidade econômica, formada para integrar, associar e representar as fundações do Estado de São Paulo e defender seus interesses institucionais, além de colaborar com outras unidades federativas. Foi fundada em 1998, por um grupo de executivos e dirigentes de fundações, preocupados com a manutenção e desenvolvimento de suas instituições que nem sempre são suficientemente apoiadas pelas políticas e legislação vigentes. (www.apf.org.br, acesso em: nov. 2009)

Da sua finalidade e de seus objetivos não consta nenhuma afinidade com a

Política da Assistência Social. Seus fundadores são executivos, termo que usualmente se usa

para designar altos funcionários de uma empresa que geralmente atua nas áreas financeira,

comercial e administrativa. E a preocupação é manter e desenvolver as instituições que

representam nas políticas e na atual legislação. Em nenhum momento ficou explícito quais

são as políticas que a entidade pretende defender, muito menos qual é a legislação a que se

refere. É uma definição vaga e pode ter interpretações com base em temas financeiros,

comerciais, produtivos, ou em outras áreas.

Os Estatutos Sociais da APF foram consultados com a pretensão de

explicitar os propósitos da instituição em relação à Assistência Social. Da página eletrônica da

APF, na Internet, consta, no capítulo 1º, artigo 1º, a seguinte definição:

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A ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE FUNDAÇÕES, (...), pessoa jurídica de direito privado, de fins não econômicos, beneficente, apartidária, com duração por tempo indeterminado, será regida por este Estatuto... (idem).

O estatuto definiu a entidade como beneficente. Um termo desprovido de

mais elementos que possam proporcionar a análise institucional.

A pesquisa documental mostrou que a diretoria da APF é formada por

fundações que especificam suas áreas de atuação. O corpo diretivo da APF é constituído das

seguintes pessoas, com suas respectivas fundações, e cada fundação com sua área de atuação:

Presidente - Dora Silva Cunha Bueno, da Fundação de Rotarianos de São

Paulo. Área de atuação: Assistência Social e Educação;

Vice-Presidente - Pedro Salomão José Kassab, da Fundação Liceu Pasteur.

Área de atuação: Educação;

Diretor Secretário - Geraldo Houck Filho, da Fundação São Paulo. Área de

atuação: Educação;

Diretor Administrativo e Financeiro - José de Souza, da Fundação Harriet

Speers. Área de atuação: Assistência Social:

Diretor de Relações Institucionais - Renato Viana de Souza, da Fundação

José de Paiva Netto. Área de atuação: Assistência Social e Educação. (idem)

A APF é filiada à Confederação Brasileira das Fundações (Cebraf). Essa

entidade considera “importante a defesa do Terceiro Setor para o desenvolvimento do País”

(ibidem).

Na pesquisa documental, constata-se que as áreas de atuação de três

fundações que compõem o corpo diretivo da APF são de Assistência Social. Duas atuam em

conjunto com a área da educação. Outro fato importante é a data da fundação da APF: no ano

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de 1998, cinco anos após a aprovação da Loas. As décadas de 1980 e 1990 representam um

período histórico da sociedade brasileira marcado pelo crescimento de entidades auto-

denominadas de Terceiro Setor. Essas entidades são de constituição privada, e se

prontificaram a executar políticas públicas. O período acima era favorável, nos âmbitos de

governo federal, estaduais e municipais, à ampliação dos serviços públicos não estatais. As

entidades do Terceiro Setor são também conhecidas como Organizações Não Governamentais

(ONGs). É o período do apelo para que se tornem agentes condutores de políticas públicas de

bem-estar, em substituição ao Estado (BEHRING, BOSCHETTI, 2006). Esse período é

chamado também de refilantropização das políticas sociais (YAZBEK, 2003), ou o retorno de

filantropia via direcionamento de recursos do Estado para que entidades filantrópicas

executem políticas públicas.

Foram analisados também os documentos das entidades que tiveram o

questionário respondido por seus respectivos conselheiros. São informações importantes e que

estão disponíveis para o público.

O Instituto Dom Bosco é uma organização de origem católica, com foco na

juventude. O IDB propõe-se a cumprir um importante papel na sociedade. Seu objetivo é

ofertar condições de desenvolvimento à população jovem da cidade. A página eletrônica da

entidade define sua missão de “tornar-se referência qualitativa nos programas socioeducativos

com crianças, jovens e famílias em situação de vulnerabilidade social na cidade de São Paulo”

(www.idb.org.br, acesso em: nov. 2009). O Instituto Dom Bosco mantém parceria com a

Prefeitura de São Paulo na execução de projetos e serviços e contabiliza nove projetos

principais e quatro projetos de apoio. No mesmo sítio eletrônico, a entidade afirma que

“atende diariamente mais de seis mil pessoas por ano na Região Metropolitana de São Paulo”

(idem). Os projetos desenvolvidos pelo IDB são os seguintes:

Centro para Crianças e Adolescentes (6 a 15 anos), no Bom Retiro;

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Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo para Adolescentes e Jovens

(15 a 29 anos), no Bom Retiro;

Centro para Juventude 1 (15 a 17 anos), na Vila Paulistana;

Abrigo para Crianças e Adolescentes, no Bom Retiro;

Centro para a Juventude II Dom Bosco Noturno (18 a 23 anos e 11 meses),

no Bom Retiro;

Clube do Computador Dom Bosco, no Bom Retiro;

Projeto Aquece Horizontes - Núcleos I e II, no Bom Retiro;

Centro de Convivência, no Bom Retiro. (idem)

A primeira fundação do IDB ocorreu em 1885, com o nome de Liceu

Coração de Jesus. Na cidade de São Paulo, em fins do século 19, já era intensa a

movimentação das massas de trabalhadores. Situação identificada pela entidade quando se

propôs a fundar o “instituto de ensino profissionalizante para beneficiar a juventude do grande

bairro operário do Bom Retiro” (idem). A Igreja Católica, com sua ação caritativa, estava

atenta às transformações societárias na sociedade brasileira e acompanhou o crescimento da

classe operária no Município de São Paulo.

A Associação de Educação Católica de São Paulo foi fundada no dia 30 de

maio de 1952. Seus interesses estão voltados para as escolas católicas. A partir de 1984, a

instituição muda e amplia sua visão para a educação dirigida para os mais pobres. A entidade

“não se considera exclusiva colégios católicos” (www.eac-sp.org.br, acesso em: nov. 2009). A

entidade, no entanto, não apresenta informações pertinentes à área da Assistência Social.

A Associação Santa Marcelina é a entidade mantenedora de uma instituição

de ensino superior, a Faculdade Santa Marcelina (FASM). A associação “É uma organização

filantrópica que atua em educação e assistência social. No ensino superior, além de atuar na

capital paulista, também se faz presente em Muriaé, Minas Gerais” (www.fasm.org.br, acesso

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em: nov. 2009). A filantropia é o primeiro conceito da entidade. A FASM é uma instituição de

ensino superior católica e tem unidade no bairro de Perdizes, onde foi fundada em 1º de

janeiro de 1915, com a transformação da Associação Colégio dos Anjos para a atual. A outra

unidade da FASM está no bairro de Itaquera, e foi fundada em 2 de janeiro de 1999. Nesse

câmpus funciona, desde 1961, a Casa de Saúde Santa Marcelina (CSSM). Essa casa era “uma

instituição filantrópica que desenvolvia atividades com os pobres desde sua fundação em

1961” (idem). O sítio eletrônico da FASM assim define seus projetos sociais:

No ano de 2007 a FASM expandiu seus projetos sociais com o objetivo de

atender à comunidade por meio de ações de promoção e prevenção, com o intuito de formar e

transformar a sociedade dentro de valores humanos, cristãos éticos e profissionais. Implantou-

se três grandes projetos: Interagindo com a Comunidade Itaquera; Inserção e capacitação

socioeducacional; e desenvolvimento e motivação aos colaboradores da FASM - Unidade de

ensino de Itaquera. Procura-se com esses Projetos Sociais reforçar os vínculos Institucionais

com os moradores do Distrito de Itaquera, que são caracterizados por uma condição de vida

que atinge altos índices de exclusão e vulnerabilidade social. Por meio de programas voltados

à saúde individual e coletiva, à cultura, à educação e à capacitação técnica e profissional,

estamos colaborando para que as pessoas possam ter uma melhor qualidade de vida“ (idem).

As informações obtidas no sítio eletrônico da entidade não mantém diálogo

com a PNAS/04. Ao contrário, reafirma sua vocação para a filantropia e atua nas áreas de

educação e saúde. Em seus documentos, inexiste qualquer citação dos princípios, diretrizes e

direitos socio-assistenciais promovidos pela PNAS/04.

O Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto é também uma instituição

ligada à Igreja Católica. Sua missão é

Articular e contribuir para a Defesa dos Direitos das crianças e dos

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adolescentes, familiares e população em situação de rua da zona leste de São Paulo, através de programas socioeducativos, desenvolvidos em unidades de atendimento favorecendo o protagonismo social” (www.acolhe.org.br, acesso em nov. 2009).

A entidade, desde sua origem, realiza práticas filantrópicas e de

benemerência, inerentes às instituições religiosas. A diretriz institucional de contribuir na

defesa dos direitos dos segmentos mais vulneráveis da sociedade através de projetos e

programas sociais lhe confere uma atuação mais próxima dos direitos socioassistenciais da

PNAS/04. O “Direito do usuário ao protagonismo e manifestação de seus direitos” (BRASIL,

2004:43) é encontrado na missão institucional da entidade.

A Bom Parto executa ações com crianças em idade infantil de 0 a 6 anos, e

crianças e adolescentes dos 6 aos 14 anos e 11 meses de idade. Possui os seguintes serviços:

Casas Lares;

Atendimento a população em situação de rua acima de 18 anos;

Espaços de Convivência;

Programa de Qualificação Profissional e de Capacitação Profissional na

faixa etária dos 15 aos 17 anos e 11 meses e;

Núcleo de Convivência de Idosos.

(www.acolhe.org.br, acesso em nov. 2009)

A entidade mantém convênios com órgão público municipal, assim como

nos níveis estadual e federal.

A LBV é uma instituição que agrega valores religiosos. Sua fundação não

foi a partir da Igreja, mas seus princípios se norteiam em valores ecumênicos - manifestação

de crente que convive e dialoga com outras confissões religiosas. A LBV é “uma associação

civil de direito privado, beneficente, filantrópica, educacional, cultural, filosófica, ecumênica

e altruística, sem fins econômicos” (www.lbv.org.br, acesso em nov. 2009). A beneficência, a

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filantropia e o altruísmo fazem parte dos princípios que nortearam as primeiras instituições de

caridade no Brasil. A LBV foi

a primeira organização brasileira do Terceiro Setor a associar-se em 1994 ao Departamento de Informação Pública - DPI, órgão das Nações Unidas, e a conquistar na ONU, em 1999, o status consultivo geral no Conselho Econômico e Social - Ecosoc (Idem).

As qualificações descritas situam a LBV como uma entidade não inserida

nas diretrizes e princípios da PNAS/04. Seus serviços são direcionados para a educação. Sua

unidade na cidade de São Paulo - o Instituto de Educação José de Paiva Netto - , oferece

educação infantil, fundamental, ensino médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A entidade possui centros comunitários e educacionais.

São unidades socioeducacionais que oferecem atendimento a pessoas e

famílias em situação de vulnerabilidade ou risco social e/ou pessoal, contribuindo para que

desenvolvam suas capacidades, talentos e valores; usufruam seus direitos; tenham a

autoestima melhorada; e exerçam a cidadania (idem).

A proposta das unidades socioeducacionais quanto à autoestima tem uma

aproximação conceitual com os direitos socio-assistenciais da PNAS/04. Um dos direitos dos

usuários é “o atendimento digno, atencioso e respeitoso, ausente de procedimentos vexatórios

e coercitivos” (BRASIL, 2004:43).

A LBV desenvolve nesses centros “Programas socioeducacionais: Cidadão-

bebê; LBV - Criança Futuro no Presente; LBV - Esporte é Vida; Capacitação Profissional;

Espaço de Convivência; Ronda da Caridade; Acolhimento Social e; Acolhimento Familiar”

(ibidem). Porém não indica se tem convênios com os poderes públicos na execução.

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CONCLUSÃO

Este estudo procurou examinar a atuação das entidades e organizações da

Assistência Social que compõem o Conselho Municipal de Assistência Social (Comas) de São

Paulo, a partir dos princípios e diretrizes de aplicação de uma política pública para a área da

Assistência Social. Foram pesquisadas as seis entidades do Comas na gestão 2008/2010. Foi

aplicado um questionário com 13 questões abertas para os conselheiros eleitos, e indicados

pelas entidades e organizações de Assistência Social do Comas de São Paulo.

O referencial teórico do presente estudo partiu de análise conceitual da

política pública de Estado, especificamente na área da Assistência Social. Analisou-se

conceitualmente a formação dos conselhos, como esferas públicas e os conceitos e princípios

das entidades e organizações de Assistência Social. Na abordagem materialista histórica da

evolução das sociedades no marco do modo de produção capitalista, partiu-se de autores

clássicos como Marx, Gramsci e Hobsbawm e, ao mesmo tempo de autores recentes que

contribuem com o tema da Assistência Social como Aldaíza Sposati, Raquel Raichelis,

Carmelita Yasbeck e Evaldo Vieira. O estudo verificou ainda a legislação brasileira no

processo histórico de consolidação das políticas públicas da Assistência Social.

De posse de volumoso acervo bibliográfico, verificou-se que o marco legal

da Assistência Social no Brasil, nos dias atuais refere-se à interface da Constituição Federal

de 1988 com a Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) e a Política Nacional de Assistência

Social de 2004 (PNAS/04). Os 20 anos desse breve período histórico propõe-se a modificar

uma história de filantropia, de benemerência, e de subvenções difundidos no País por quase

500 anos. Entra em cena, nessa abordagem, a evolução da sociedade brasileira marcada, no

primeiro momento, como escravocrata, patrimonialista e eclesiástica, para uma sociedade de

capitalismo tardio e dependente.

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As transformações ocorridas com o advento do capitalismo no mundo e no

País são analisadas. Essa abordagem serviu como base para interpretar o papel e as

transformações das entidades religiosas na virada para um sociedade capitalista.

Sposati (1994) e Chiachio (2006) destacam que as entidades religiosas

foram as primeiras instituições no País a realizarem alguma ação de filantropia, de

benemerência, de educação e de saúde, para a população menos favorecida, e a praticaram

sem nenhuma interferência ou regulação do Estado. Os anos de 1500, da chegada dos

portugueses, o período do Brasil Colônia, do Império e os primeiros anos da República, até

precisamente o ano de 1938, quando foi formalizado o CNSS, marcaram profundamente a

sociedade brasileira.

Gough (2001) e Esping-Andersen (1991) revelam análises da macropolítica

de proteção social. O primeiro afirma que as sociedades como a brasileira, profundamente

marcadas pelo colonialismo e pela concentração da propriedade de terra, são fortemente

influenciados por essas características na definição de políticas sociais. Fatores sociais

atrasados e reacionários determinam, demarcam as políticas sociais no Hemisfério Sul.

O segundo destaca a importância de elementos estruturais e institucionais.

As instituições tradicionais, não inseridas no contexto de avanços dos direitos sociais, têm

importância na elaboração e consolidação de políticas públicas, assim como no papel de

novos atores sociais, como a classe trabalhadora organizada, atuando não apenas na esfera

coorporativa, mas também na amplitude dos direitos sociais para um maior contingente de

pessoas.

A primeira intervenção do Estado no âmbito do Serviço Social, representada

pelo CNSS, tem atribuições de opinar sobre as subvenções que as instituições privadas

recebiam do governo federal nas ações de serviço social das entidades, conforme a

contribuição de autoras como Sposati (1994) e Mestriner (2001).

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A regulamentação jurídico-contábil das entidades pelo órgão federal

responsável, foi a atuação privilegiada de ambos os setores no debate da Assistência Social.

Desde o ano da fundação do CNSS, em 1938, até os dias atuais, a pauta privilegiada das

entidades tem sido sua regulamentação, as isenções e os registros. No período recente, um

desafio foi transformar o CNAS de uma relação Estado-Sociedade, no campo de Assistência

Social de lógica jurídico-contábil, e invertê-la para a lógica jurídico-social, nos moldes da

justiça social, segundo a contribuição de Sposati (1994).

Luciana Jaccoud (2007) situou a importante passagem da Assistência Social

para o sistema de Seguridade Social, fato que favoreceu a sua inclusão no campo dos direitos

não contributivos desse sistema, nos moldes do Sistema de Saúde (Suas). Realizou-se

importante estudo dos antecedentes da aprovação da PNAS/04 e o ambiente político propício

do momento histórico por que passava o País, aspecto tratado por Márcia Pinheiro (2008).

Este estudo contém uma análise das entidades e organizações de Assistência

Social no Brasil. A partir da definição do artigo 3º da Loas, mostra-se a quantidade e a

distribuição no espaço territorial brasileiro, com destaque para as pesquisas do IBGE (2007) e

de Dirce Koga (2003).

As pesquisas demonstram que São Paulo é uma grande metrópole brasileira,

em que seus habitantes vivem com enormes carências. Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho

(1995) e Hobsbawm (1995) traçam elementos que permitem ler criticamente a evolução dessa

cidade em sintonia com as transformações societárias do século 20 a partir das demandas das

classes trabalhadoras e da insurgente questão social. A constituição dos conselhos é também

abordada nas perspectivas de Raichelis (2000) e Cerroni (1982).

As seis entidades que compõem o Comas de São Paulo são analisadas,

incluindo suas constituições, seus princípios, e a atuação na Assistência Social desde as

concepções de caridade e filantropia até o preceito legal da PNAS/04. Os convênios e os

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serviços que realiza no Município de São Paulo, assim como aquelas entidades que se afastam

dos princípios e diretrizes da PNAS/04.

O trabalho foi feito por meio de documentos e entrevistas com os

conselheiros que as representam. Tanto os documentos como as respostas dos questionários

buscavam as mudanças, ou as ausências dessas, na atuação das entidades tendo como

referência a PNAS/04.

As respostas quanto à atuação no Comas de São Paulo demonstram que as

entidades precisam assumir as atribuições estabelecidas na Loas. Os conselhos são instâncias

de acompanhamento e execução da política de Assistência Social e têm um grande desafio,

que é assumi-la e serem espaços democráticos, instâncias de mediação entre atores e

interesses envolvidos.

O Comas, da mesma forma, tem a incumbência de pressionar o poder

público para promover a completa aplicação da PNAS/04 e cobrar das entidades os direitos

socioassistenciais da PNAS/04. Os conselhos são espaços de mediação entre Estado e

sociedade civil e devem estabelecer vínculos que coloquem a filantropia abaixo do lugar dos

direitos sociais, conforme assinala Sposati (1994).

As entidades registraram, em respostas aos questionários, heterogeneidade

quanto à participação e à apresentação de sugestões na elaboração da PNAS/04. Entidades

centenárias participaram de poucos momentos da elaboração da política, enquanto outras

participaram ativamente. São heterogêneas também as entidades constitutivas do Comas de

São Paulo, na gestão 2008/2010. Exercem atividades mistas e atuam nas áreas da saúde e da

educação concomitantemente a de Assistência Social.

Ficou nítido, em conseqüência, que a maioria das entidades do Comas não

incorporaram e não se adequaram às novas diretrizes e aos princípios da PNAS/04. Há

resistência na implantação. No outro sentido, há aquelas que executam a PNAS/04 com base

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nos direitos socioassistenciais dos usuários. Algumas entidades reconhecem os avanços

políticos no campo dos direitos contidos na PNAS/04 e se manifestam no intuito de se

adequarem à nova realidade.

No entanto, verificou-se que as mais próximas da PNAS/04 são as que mais

questionam sua aplicação e as mais reconhecem os direitos são aquelas entidades que

executam, fazem a Assistência Social em São Paulo. As que afirmam que a Assistência Social

na cidade de São Paulo é executada pelas entidades são as que mais participaram do processo

de construção da PNAS/04.

O estudo demonstrou ainda a quase ausência do poder público municipal da

cidade de São Paulo. Todos os conselheiros responderam que é muito difícil para um

município do porte da capital paulistana assumir todas as prerrogativas institucionais contidas

na PNAS/04.

Diante das respostas das entidades e da documentação pesquisada, pode-se

constatar que tanto nos conteúdos dos discursos dos conselheiros como na atuação cotidiana

das entidades não ocorreram avanços significativos na implantação da PNAS/04 a partir das

entidades que constituem o Comas de São Paulo, na gestão 2008/2010. Os conflitos e as

contradições ficaram em maior evidência em relação aos acordos e mediações propostos por

conselhos e conferências de Assistência Social. Chegou-se a depoimento de uma entidade que

registrou nada haver mudado, em relação aos serviços tradicionais oferecidos aos usuários,

depois da implantação da PNAS/04. Isso com base nos direitos socioassistenciais.

Este estudo contém algumas limitações de ordem metodológica, devido ao

número seleto de entidades pesquisadas. Porém, como o método de pesquisa privilegiou

entidades que constituem um Conselho Municipal de Assistência Social, as conclusões são

merecedoras de análises mais apuradas, para que se possa elaborar um diagnóstico da

PNAS/04, a partir da realidade das entidades e organizações de Assistência Social.

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Por causa das mudanças ocorridas no marco legal da Política de Assistência

Social na história do Brasil, da luta pelos interesses dos segmentos envolvidos nessa política,

e da resistência das entidades e organizações de Assistência Social em implantarem a

PNAS/04, faz-se necessário reavivar os direitos da cidadania contidos na histórica

Constituição Cidadã de 1988, organizar os setores envolvidos diretamente na consolidação

desses direitos, os usuários e os trabalhadores do setor, para que de fato os avanços contidos

na PNAS/04 tornem realidade não só em São Paulo como em todo o território brasileiro.

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ANEXO

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Questionário de pesquisa junto às entidades socioassistenciais.

1 - Já participou de outra ou outras gestões do Comas? Se sim, em que período? Se não

porque agora se interessou?

2 - Já participou de outra ou outras gestões no Conselho Estadual de Assistência Social do

Estado de São Paulo? Se sim em que período?

3 - Já participou de outra ou outras gestões no Conselho Nacional de Assistência Social -

CNAS? Se sim em que período?

4 - Já participou de alguma conferência de assistência social nos âmbitos municipal, estadual

ou federal? Se sim em que instâncias e períodos participou?

5 - Qual a importância e o significado da participação da entidade no Comas?

6 - Como a sua entidade ficou ciente da PNAS/04?

7 - A entidade considera que participou de alguma forma no momento de elaboração política

da PNAS/04?

8 - Quais as questões que a entidade levanta, tais como relevância, discordância, dúvidas, etc.,

sobre a PNAS/04?

9 - A entidade examinou, discutiu os temas e sugestões apresentados e debatidos no processo

de construção da PNAS/04?

10 - Quais as dificuldades que a entidade considera para efetivar a PNAS/04?

11 - Quais as alterações (se houverem), as mudanças que ocorreram na entidade após a

PNAS/04?

12 - O que modificou nos serviços tradicionais oferecidos por esta entidade, enquanto prática

da entidade, aos seus usuários? A partir dos parâmetros dos direitos socioassistenciais

contidos na PNAS/04?

13 - O que mudou (se mudou) em relação ao poder público municipal?