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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC - SP Luiz Antônio Raniero Construindo o projeto pedagógico: os desafios da escola em relação à política educacional, no município de Várzea Paulista Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade São Paulo 2012

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC - SP

Luiz Antônio Raniero

Construindo o projeto pedagógico: os desafios da escola em relação à política educacional, no

município de Várzea Paulista

Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade

São Paulo 2012

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC - SP

Luiz Antônio Raniero

Construindo o projeto pedagógico: os desafios da escola em relação à política educacional, no

município de Várzea Paulista

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de Mestre

em Educação: História, Política, Sociedade, sob a

orientação da Professora Doutora Helena Machado

de Paula Albuquerque.

São Paulo 2012

Aprovação

Banca examinadora:

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------------------------------------------------

Dedicatória

Ao meu filho, Dudu, pela paciência que teve comigo, e à minha companheira, Rita,

por compreender que este sonho vale a pena.

Agradecimentos

Agradeço, primeiramente, à Professora Dra. Helena Machado de Paula

Albuquerque, pela paciência ao me orientar e por compreender todas as dificuldades

encontradas no processo.

Sou grato, também, aos professores que pude conhecer e com quem aprendi muito,

no decorrer do curso.

Aos meus colegas de mestrado, agradeço pelo prazer de tê-los conhecido e

passado com eles importantes momentos da minha vida.

Sou grato aos companheiros da Prefeitura Municipal de Várzea Paulista, por me

incentivarem nessa caminhada de acreditar num mundo melhor.

Agradeço aos funcionários da Secretaria de Educação e da escola pesquisada, pela

compreensão e pelo grande auxílio nesse projeto.

A realização da presente dissertação de mestrado é fruto da contribuição de

pessoas que me incentivaram a sua realização.

Resumo

Esta dissertação tem como objetivo compreender como se deu, no registro do

Projeto Pedagógico, entre 2005 e 2009, a incorporação dos princípios de

democracia e participação da política educacional consubstanciada na Lei Municipal

1976, de 10 de novembro de 2008 e nas Diretrizes Gerais para o Trabalho

Pedagógico. Trabalhou-se com análise de fontes documentais, principalmente,

legislação acerca das políticas educacionais no Brasil e no município de Várzea

Paulista, neste último, o documento que registra o Projeto Pedagógico da escola.

Quanto à metodologia, utilizou-se uma abordagem qualitativa, por meio de

realização de entrevistas e grupo focal com educadores de uma escola selecionada,

segundo critérios de número de alunos atendidos e por ter manifestado adesão às

novas diretrizes do município, buscando-se entender a lógica e a dinâmica da

política educacional a partir dos seus agentes. Os procedimentos de análise se

deram com base, entre outros teóricos, em António Nóvoa, Licínio Lima, Michael

Apple e Gimeno Sacristan. As reflexões desses autores serviram de fundamentação

para a compreensão da resistência e ou aceitação, pela escola, da nova política e

do processo de mudança dela decorrente.

Palavras-chave: Política educacional. Projeto pedagógico. Cotidiano escolar.

Abstract

This dissertation aims to understand how if gave, in the record of the Pedagogical

Project, between 2005 and 2009, the incorporation of the principles of democracy

and participation of educational policy embodied in Municipal Law 1976 of November

10, 2008 and General Guidelines for the educational work. Worked with analysis of

documentary sources, mainly, legislation about the educational policies in Brazil and

in the municipality of Várzea Paulista, in the latter, the document that records the

pedagogic project of the school. As for the methodology, we used a qualitative

approach, by means of interviews and focus groups with teachers of one school

selected according to criteria of number of students attending and for having

expressed accession to the new guidelines of municipality, seeking to understand the

logic and the dynamics of the educational policy from their agents. The analysis

procedures have made on the basis, among other theorists, in Antonio Novoa, Licinio

Lima, Michael Apple and Gimeno Sacristán. The ideas of these authors served as

reasoning for the understanding of resistance and or acceptance by the school, the

new policy and the process of change as a result.

Keywords: educational policy. Teaching Project. Daily school.

Lista de quadros e figura

Quadro 1 Teses e Dissertações (CAPES: 2000-2009) selecionadas ........................ 16

Quadro 2 Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional. .............................................. 38

Quadro 3 Lei Municipal nº 1976 de 10 de novembro de 2008 Dispõe sobre a

reestruturação do sistema Municipal de Ensino instituído pela Lei

Municipal nº 1588 de 1º de março de 2000. .......................................... 39

Quadro 4 Diretrizes Gerais para o Trabalho Pedagógico – Agosto de 2006 ............. 40

Quadro 5 Projeto Político Pedagógico – EMEF Palmyra Aurora D'almeida Rinaldi .. 53

Quadro 6 Dados do IDEB observado e metas projetadas para a escola .................. 57

Quadro 7 IDEB 2005, 2007, 2009 e Projeções para o BRASIL................................. 57

Quadro 8 IDEB 2005, 2007, 2009 e Projeções para o Estado de São Paulo ............ 57

Quadro 9 IDEB 2005, 2007, 2009 e Projeções para o município de Várzea

Paulista .................................................................................................. 58

Quadro 10 Rendimento escolar ................................................................................. 58

Figura 1 Mapa do Município de Várzea da Palma, São Paulo .................................. 50

Siglas

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

FUNDEB – Fundo Nacional de Manutenção de Valorização da Educação Básica

FUNDEF – Fundo Nacional de Manutenção e Valorização do Ensino Fundamental

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

LDB – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação e Cultura

NEPO – Núcleo de Estudos da População

PPP – Projeto Político Pedagógico

SARESP – Sistema de Avaliação de Resultado e Desempenho do Estado de São

Paulo

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

Sumário

Introdução ................................................................................................................ 10

1. A escola como organização educativa ........................................................... 24

1.1. Democratização da escola e participação .................................................... 26

1.2. Projeto político pedagógico .......................................................................... 32

1.3. A LDB e suas mudanças .............................................................................. 35

1.4. As bases legais ............................................................................................ 37

1.5. A educação no município de Várzea Paulista .............................................. 41

2. O percurso metodológico ................................................................................ 43

2.1. A trajetória da pesquisa ................................................................................ 47

3. Apresentação e análise dos resultados .......................................................... 49

3.1. A escola campo da pesquisa ....................................................................... 49

3.2. O projeto pedagógico da escola ................................................................... 51

3.3. Os alunos ..................................................................................................... 55

3.4. A comunidade .............................................................................................. 58

3.5. A estrutura administrativa da escola ............................................................ 61

3.6. Dados da entrevista ..................................................................................... 62

3.7. O grupo focal ................................................................................................ 67

4. Considerações finais ........................................................................................ 71

5. Referências ....................................................................................................... 73

6. Anexos ............................................................................................................... 77

6.1. Roteiro para entrevistas com diretor da escola e coordenador pedagógico. 77

6.2. Lei 1.976, de 10 de novembro de 2008 ........................................................ 78

6.3. Diretrizes gerais para o trabalho pedagógico...............................................88

10

Introdução

Esta pesquisa tem em vista perceber se e como as políticas educacionais, a

Lei Municipal 1.976, de 10 de novembro de 2008, e, principalmente as Diretrizes

Gerais para o Trabalho Pedagógico, implantadas em 2006, estão sendo

incorporadas pelas escolas da rede municipal de ensino de Várzea Paulista – SP,

tendo como foco principal a elaboração do seu projeto pedagógico.

A partir da experiência pessoal como Secretário Municipal de Educação da

cidade de Várzea Paulista, no período de 2005 a 2008, pude perceber que os

desafios que se colocavam em relação à construção da política educacional deviam

levar em consideração que “as práticas pedagógicas dos profissionais, as suas

crenças e representações, as suas atitudes face aos alunos e às aprendizagens

escapam à lógica do decreto” (HUTMACHER, 1995, p. 53).

As mudanças ocorridas, após promulgação da Constituição de 1988 e suas

emendas nas décadas de 1990 e 2000, segundo Cury (2002), reconheceram os

municípios como instância administrativa, possibilitando-lhes, no campo

educacional, a organização de seus sistemas de ensino.

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.

§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos

Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e

exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva,

de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e

padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica

e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;

(Redação dada pela Emenda Constitucional 14, de 1996)

§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e

na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional

nº 14, de 1996)

§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no

ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional

nº 14, de 1996)

11

§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de

colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino

obrigatório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de

2009)

§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino

regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

(BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988).

Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei

nº. 9394/96, tornam-se ainda mais claras as competências dos municípios em

relação às suas funções:

Art.11 – Os municípios incumbir-se-ão de:

I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais

de ensino, integrando-os às políticas e aos planos educacionais da

União e dos Estados

II – exercer ação redistributiva em relação às suas escolas

III – baixar normas complementares para o seu sistema de ensino

(BRASIL, 1996).

Essas políticas educacionais destacadas pela Constituição Federal de 1988 e

pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 demonstram como as

reformas propostas e implementadas definem um viés baseado em processos de

descentralização e de municipalização do ensino.

O município de Várzea Paulista, no Estado de São Paulo, situado a 50 km da

capital, foi emancipado no dia 21 de março de 1965. Possuía, em 2009, população

de aproximadamente 107.211 habitantes, segundo estimativa do IBGE, num

território de 35 km². Sua população é formada basicamente por integrantes das

classes sociais C e D (Núcleo de Estudos da População da UNICAMP, NEPO, 2008)

e tem como principal fonte de trabalho a indústria e serviços.

Nesse contexto de mudanças significativas da política educacional, este autor

assumiu, em 2005, a Secretaria de Educação, buscando maior participação de toda

a equipe na tomada de decisões e realizando o diagnóstico da estrutura da

12

Secretaria. Para facilitar a participação, foi instituído o que se chamou de “Grupo

Gestor”, que se constitui, até hoje, num grupo de profissionais que trabalham no

órgão central e que debatem e propõem novas perspectivas para as políticas

educacionais municipais, tendo como referência as necessidades da rede expressas

em reuniões, encontros e grupos de trabalho. O encontro desse Grupo, realizado

semanalmente, reunia a equipe da Secretaria que era composta, além do Secretário,

por Supervisoras de Ensino, Diretora Pedagógica, Diretora de Creches, Supervisora

Departamental de Administração, Assessores Técnicos, Diretor Administrativo,

Diretora de Projetos Especiais. Tal estrutura foi criada pela Lei Complementar

Municipal 149 de 25 de maio de 2005.

Atualmente, a rede de ensino do município é composta de Educação Infantil

(0 a 5 anos), com 5 creches e 13 pré-escolas, em prédios próprios municipais, e por

11 escolas de Ensino Fundamental, dentre as quais, dois prédios escolares abrigam

tanto a rede municipal quanto a estadual, em períodos alternados. Além disso, três

escolas têm o prédio cedido pelo governo estadual e as demais possuem prédio

próprio.

Em cada unidade escolar, há uma diretora e, em escolas com mais de

seiscentos alunos, num total de oito, há ainda uma vice-diretora e uma

coordenadora pedagógica que compõem a equipe de direção. Todas as unidades

oferecem aos alunos, além do currículo obrigatório para esse nível de ensino, aulas

de Educação Física, Artes, Inglês, Espanhol e Filosofia, havendo professores

especialistas responsáveis por essas tarefas. Assistentes administrativos, ajudantes

gerais, merendeiras, vigias, assistentes de alunos e professoras de escala rotativa

(professores substitutos escolhidos por processo seletivo público), fazem ainda parte

da estrutura, com que as escolas podem contar para cuidar das tarefas relativas ao

trabalho com as crianças.

No início desse trabalho, percebeu-se que a política educacional existente

mantinha-se estreitamente ligada à política adotada pelo Estado. Partindo desta

primeira conclusão, iniciou-se um trabalho com a rede de escolas para implantação

13

de políticas públicas de educação que atendessem às suas expectativas. Já nesse

primeiro momento, uma questão se colocava: que rumo deveria ter essa política e

como respeitar o que já existia e estava incorporado pelos professores, diretores e

equipe escolar no seu cotidiano?

O primeiro passo foi discutir com a equipe que compunha a secretaria e saber

o que estava sendo realizado. Nesta primeira conversa, constatou-se que todas as

ações pedagógicas desenvolvidas nas escolas eram determinadas pelo órgão

central, que exercia um controle rígido em relação ao cumprimento de suas

determinações. No momento seguinte, realizou-se uma reunião com as diretoras das

escolas – algumas diretoras coordenavam várias escolas – e se propôs uma nova

forma de relação do órgão central com as escolas. Como resultado dessa conversa,

surgiram vários encaminhamentos, como apoio da secretaria, por meio da

supervisão pedagógica, às escolas; contratação de gestores para todas as escolas

por processo seletivo público (as escolhas anteriores eram realizadas por indicações

políticas) e discussão de novas diretrizes para o trabalho pedagógico nas escolas.

Embora a instituição do Sistema Municipal de Ensino tenha ocorrido em 2000,

apenas em 2006, a Secretaria Municipal de Educação elaborou, pela primeira vez,

as suas diretrizes. Tais diretrizes propunham novo olhar para os educadores, com

foco na escola, nos educandos e no projeto pedagógico. Em sua introdução, as

diretrizes colocavam um desafio para todos da rede municipal: construir uma escola

democrática e participativa.

Para dar conta desse desafio, foram propostos pela secretaria três princípios

gerais: democratização do acesso e permanência; gestão democrática e melhoria da

qualidade do ensino.

Estes princípios tiveram como referência a proposta de diretrizes apresentada

por Paulo Freire, quando era secretário de educação do município de São Paulo, no

período de 1989 a 1991. Naquele contexto, as diretrizes propunham ampliar o

acesso e a permanência dos setores populares na educação pública; democratizar o

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controle pedagógico e educativo para que todos participassem e se envolvessem

num planejamento autogestionado, aceitando as tensões e contradições sempre

presentes em todo esforço participativo, porém buscando substantividade

democrática; incrementar a qualidade da educação, mediante a construção coletiva

de um currículo interdisciplinar e a formação permanente do pessoal docente.

De acordo com o documento elaborado pela secretaria, cada princípio

estabelecia:

1º. Democratização do acesso e da permanência Toda criança tem direito à educação, para seu pleno desenvolvimento como indivíduo e ser social. Isso está previsto na legislação vigente (Constituição Federal – artigos 205 e 206; Lei de Diretrizes e Bases – Lei 9.394, 20/12/1996, seção III; Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069 – 13/07/1990, artigo 53). Enquanto educadores e gestores farão todos os esforços possíveis para garantir esse direito. 2º. Gestão democrática Tomar decisões de forma conjunta, apesar de mais difícil, é o jeito mais correto de acertar, principalmente na educação. Sabemos que os processos são mais lentos, por conta da reflexão dos conflitos naturais entre todos os participantes. Como educadores, reconhecemos que é que aí está a riqueza do construir coletivo. Por isso, temos de incentivar esse modo de gerenciar a educação, levando em conta ainda o que prevê a legislação vigente (Constituição Federal, artigo 206). 3º. Melhoria da qualidade de ensino Uma educação de qualidade e para todos é o objetivo de todos nós educadores. Queremos que nossos alunos saiam de nossas escolas dominando as habilidades necessárias à continuidade da educação básica. Para isso, nosso compromisso tem de ser constante e promover ações pedagógicas, administrativas e políticas para garantir esse aprendizado (VÁRZEA PAULISTA, 2006, p. 5).

Esses princípios, segundo o documento, deveriam inspirar ações do poder

público. Tais ações só se concretizariam, quando as escolas os incorporassem em

seu cotidiano organizacional e nas práticas educativas, exercendo sua função

educativa.

15

Do ponto de vista dos objetivos desse estudo e já antecipando seu referencial

teórico norteador, vale a pena lembrar aqui o que propõem Gimeno Sacristan

(1997), Freire(2005) e Apple e Beanne (2001).

Reformar denota remoção e isso dá certa notoriedade ante a opinião pública e ante os docentes, mais que a que proporciona uma política de medidas discretas, mas de constante aplicação, tendentes a melhorar o serviço da educação. Se cria sensação de movimento, se geram expectativas e isso parece provocar por si mesmo a mudança (GIMENO SACRISTÁN, 1997, p. 26).

Para Gimeno Sacristan (1997), as reformas educacionais refletem as

intenções dos agentes políticos que as propõem e também o momento histórico, em

que tais reformas são implantadas. Nessa perspectiva, é possível perceber as

possibilidades de compreensão das intenções das reformas, bem como

compreender que papel a educação tem na estrutura social.

Segundo Freire (2005), segundo uma visão democrática e não autoritária,

[...] não se muda a ‘cara’ da escola por portaria. Não se decreta que, de hoje em diante, a escola será competente, séria e alegre. Não se democratiza a escola autoritariamente. A Administração precisa testemunhar ao corpo docente que o respeita que não teme revelar seus limites a ele, corpo docente (FREIRE, 2005, p.25).

Do ponto de vista da construção de processos democráticos nas escolas,

Apple e Beanne (2001) mostram que as escolas de caráter democrático não surgem

por acaso, mas resultam

[…] de tentativas explícitas de educadores colocarem em prática os acordos e oportunidades que darão vida à democracia. Esses acordos e oportunidades envolvem duas linhas de trabalho. Uma é criar estruturas e processos democráticos por meio dos quais a vida escolar se realiza. A outra é criar um currículo que ofereça experiências democráticas (APPLE, BEANNE, 2001, p.20).

Pesquisando no Banco de Dissertações e Teses da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foram encontradas

inúmeras teses e dissertações que tratam o tema “políticas educacionais”.

Entretanto, poucas discutem que impactos essas políticas têm no cotidiano escolar e

16

como a escola incorpora essa política, principalmente, no que é refletido no projeto

pedagógico. Foram utilizados como descritores: “políticas educacionais e prática

escolar”, “política educacional e escola”, “política educacional municipal”,

“descentralização do ensino e política educacional”, “cotidiano escolar e política

educacional”, “política educacional e projeto pedagógico”, sendo pesquisado o

período de 2000 a 2009.

A partir da pesquisa, foram selecionados nove trabalhos, cujos resumos

sugeriam possíveis contribuições para essa dissertação, sendo seis dissertações e

três teses, conforme o Quadro 1, a seguir:

Quadro 1 Teses e dissertações (CAPES: 2000-2009) selecionadas

Autor/ Instituição

Titulo/ nível Ano Foco

Ana Paula Rodrigues da Silva/

UFSCAR

A política educacional do primeiro governo petista de São Carlos (2001-2004). Dissertação de Mestrado.

2009 Política educacional e

democratização do ensino

Luciane Spanhol Bordignon/

Universidade Passo Fundo

Permanência, Continuidade e Ressignificação na Política Pública Educacional Municipal: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado.

2008 Política educacional e educação municipal

Ivanilda Dantas de Oliveira/ UFPB

Da Política Oficial ao Cotidiano Escolar. Dissertação de mestrado.

2005 Política educacional

Ana Maria Falsarella/ PUC/SP

Autonomia Escolar e Elaboração do Projeto Pedagógico: O Trabalho Cotidiano da Escola Face à Nova Política Educacional. Tese de Doutorado.

2005 Autonomia escolar e projeto pedagógico

Susana Soares Tozetto/ UNESP/

Araraquara

As mudanças no trabalho pedagógico de professoras dos anos iniciais do ensino fundamental face à implantação das políticas públicas no município de Ponta Grossa. Tese de Doutorado.

2008 Formação de

Professores e práticas docentes

Ney Cristina Moreira de Oliveira/

PUC/SP

A Política Educacional no Cotidiano Escolar: Um Estudo Meso-Analítico da Organização Escolar em Belém. Tese de Doutorado.

2000 Política educacional e

cotidiano escolar

Deise de Oliveira da Silva/

Universidade Metodista/SP

A Construção do Projeto Político Pedagógico numa perspectiva democrática: uma experiência na rede municipal de ensino em Santo André. Dissertação de Mestrado.

2009 Projeto pedagógico e

democracia

Marina Salles Leite Lombardi Marques/

Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP

Escola e projeto político-pedagógico: uma possível tradução de uma política pública educacional. Dissertação de Mestrado.

2009 Projeto pedagógico e

cultura escolar

17

Carlos Klaus/ UFMT

O processo de construção da gestão democrática escolar: desafios da relação entre a SME e as escolas municipais de Cuiabá. Dissertação de Mestrado.

2008 Políticas públicas e

gestão escola

Fonte: Banco de Teses e Dissertações da CAPES

O exame dos dados do Quadro 1 permite constatar que, dos nove trabalhos

selecionados:

Klaus (2008) analisa as políticas educacionais dos municípios com foco

na gestão democrática, procurando analisar as mudanças

educacionais ocorridas após a LDB 9394/96 e como os municípios e

suas escolas encaram a gestão democrática;

Tozetto (2008) pesquisa a implantação de políticas educacionais no

município e como se dá a relação dessas políticas com o processo de

formação docente;

Bordignon (2008), em sua dissertação de mestrado, discute as políticas

educacionais apenas com foco no órgão central da secretaria;

Silva (2009) analisa como a política educacional implantada durante

um governo contribuiu para a democratização da educação, baseando-

se apenas em documentos oficiais produzidos pela secretaria de

educação;

Uma pesquisa realizada por Marques (2009), para sua dissertação de

mestrado, busca entender como a escola e a comunidade em geral

entendem sua função na elaboração do projeto pedagógico;

O trabalho de Oliveira (2005) discute as políticas educacionais na

década de 1990, destacando a implantação de um programa para a

prática pedagógica dos professores da rede municipal de Campina

Grande, no Mato Grosso do Sul. Segundo o autor, o cotidiano escolar é

um espaço dinâmico e multifacetado que possibilita a ressignificação

de políticas de caráter oficial, uma vez que os professores, de maneira

geral, não são simples executores de decisões elaboradas pelo órgão

central, mas sujeitos que possuem uma história de vida.

18

Oliveira (2000) mostra que as mudanças, pelas quais as políticas

educacionais vêm passando, após a aprovação da LDB 9394/96, e

consequentemente as transformações locais dessas políticas, têm

impulsionado percepções de como essas mudanças estão se

produzindo e sendo percebidas no interior da escola. Analisa a

organização escolar como um espaço de produção e reprodução das

políticas nacionais e locais, baseando-se, principalmente, na

perspectiva daqueles que estão diretamente envolvidos no cotidiano

escolar: professores, alunos, pais e gestores.

Falsarella (2005),discute como a escola interpreta e efetiva a questão

da autonomia para a elaboração do projeto pedagógico, tendo como

foco de investigação a trama de relações que se estabelece entre a

cultura da escola e as diretrizes emanadas do sistema de ensino.

Falsarella demonstrou que a questão da autonomia está esvaziada de

sentido prático e que a verdadeira autonomia ocorre nas relações do

cotidiano escolar, de onde emerge a cultura escolar.

Silva (2009) apresenta quais mecanismos o poder público pode ter

para a construção do processo de democratização das escolas, tendo

no foco principal a construção do projeto político pedagógico como

alternativa democrática e buscando identificar a criação de

mecanismos que corroboraram com essa construção.

As pesquisas mencionadas acima demonstram a preocupação em analisar as

questões referentes às políticas educacionais e aos seus desdobramentos no dia a

dia da escola. Entretanto, cabe destacar que cada uma delas constitui material

substantivo para auxiliar na elaboração da presente dissertação, pois, ao focar

questões referentes às políticas educacionais, todas apresentam a preocupação

com a articulação delas com a escola. Nessa perspectiva, constata-se um ponto

consensual entre as pesquisas realizadas, relativo à questão de as políticas serem

propícias à democratização do ensino e à maior participação de toda a comunidade

escolar nos processos de ampliação da democracia.

19

Ao analisar a perspectiva de construção do projeto pedagógico, tendo-o como

foco para análise da incorporação da política educacional nos temas de democracia

e participação, necessariamente, cabe fazer algumas considerações sobre o

processo de construção dele e o que vem a ser projeto pedagógico.

Segundo Veiga (2004, p. 12), o projeto pedagógico é muito mais que um

“simples agrupamento de planos ensino e atividades diversas”. Em sua concepção,

é espaço, onde toda a comunidade escolar tem a oportunidade de pensar sua

prática, questionar e propor que caminhos tomar para uma educação democrática e

transformadora. Não pode ser algo que se constrói e se arquiva e também um

simples atendimento à exigência da burocracia. Para a autora, o projeto pedagógico:

[…] preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola (VEIGA, 2004, p. 14).

Para melhor compreender as questões referentes à construção do projeto

pedagógico das escolas, urge conhecer o funcionamento das organizações

escolares, onde se concretiza a realização do projeto pedagógico.

Entre os apoios teóricos, incluiu-se nas primeiras leituras Lima (2008), cuja

contribuição para esse trabalho é a proposta que faz para análise das organizações

escolares, indicando como as reformas políticas são incorporadas na organização

escolar.

Uma abordagem sociológica da organização escolar, como unidade social e como ação pedagógica organizada, revela-se capaz de valorizar os elementos de mediação […] onde se articulam e são reconstruídos os elementos resultantes das focalizações analíticas do tipo macro e micro. Sem ignorar tais elementos, que de fato não podem dispensar ou desprezar, a mesoabordagem da escola parece constituir-se em uma forma de integração/articulação de objetos macroestruturais e de objetos de estudo de tipo microestrutural (LIMA, 2008, p. 7).

20

Lima (2008) demonstra que a análise acerca da organização escolar deve

considerar tanto as questões externas que se refletem na escola, quanto questões

internas da prática na sala de aula, o que ele chama de uma mesoabordagem para

análise da escola. Neste sentido,

Isso significa que entre o Estado e o ator, entre o sistema educativo globalmente considerado e a sala de aula, passamos a observar ações e contextos organizacionais concretos que, seguramente, interagem e se cruzam com aqueles elementos, podendo assim se distinguidos deles em termos de análise (LIMA, 2008, p. 08).

Para melhor compreender a lógica de funcionamento da organização escolar,

Lima (2008) discute propostas teóricas e análises das realidades políticas,

organizacionais e administrativas da educação, a partir de um olhar sociológico

sobre a escola como organização educativa complexa e multifacetada. Ao analisar

os modelos de organizações educacionais, Lima descreve quatro modelos: o político

(objetivos não claros e tecnologia transparente); o racional (objetivos claros e

partilhados e tecnologia certa e transparente); o anárquico (objetivos não claros e

tecnologia ambígua); e o de sistema social (objetivos claros e tecnologia incerta e

ambígua). Tais conceitos contribuirão para a análise que se pretende desenvolver

nesse trabalho.

Outro autor que contribuiu para esse trabalho é Nóvoa (1995), segundo o

qual, para o funcionamento da organização escolar, há necessidade de interação

entre o formal e aquilo que é produzido no interior da escola. Nesse sentido,

[…] os estudos centrados nas características organizacionais das

escolas tendem a construir-se com base em três grandes áreas:

estrutura física da escola: dimensão da escola, recursos

materiais, números de turmas, edifício escolar, organização

dos espaços, etc.;

estrutura administrativa da escola: gestão, direção, controle,

inspeção, tomada de decisão, pessoal docente, pessoal

auxiliar, participação das comunidades, relação com as

autoridades centrais e locais, etc.;

estrutura social da escola: relação entre alunos, professores

e funcionários, responsabilização e participação dos pais,

21

democracia interna, cultura organizacional da escola, clima,

social, etc.; (NÓVOA, 1995, p. 25).

Semelhante a Lima, ele também faz mesoabordagem da escola, o que se

alinha à nossa intenção de focar a política educacional, o contexto externo e o que

ocorre no contexto interno da escola, em decorrência dessa política. Valoriza-se o

“entre” a situação local e o contexto externo.

Para Gimeno Sacristan (1999), na perspectiva das estruturas escolares,

grande parte do que se refere à escola já está determinado por legislações,

entretanto,

[…] nas sociedades democráticas, a mudança é possível, os grupos podem organizar-se, revisar a herança e podem provocar e introduzir mudanças e novas contribuições. É um problema de vontade e de organização das ações. O mundo das regras na educação não é uma estrutura de ferro que impossibilita a ação individual e coletiva inovadora. (GIMENO SACRISTAN, 1999, p. 76)

Freire (2005) também nos mostra a importância de chamar as pessoas para a

escola, para coletivamente construir uma escola de qualidade. Segundo Freire,

Não devemos chamar o povo à escola para receber instruções, postulados, receitas, ameaças, repreensões e punições, mas para participar coletivamente da construção de um saber, que vai além do saber de pura experiência feito, que leva em conta as suas necessidades e o torne instrumento de luta, possibilitando-lhe transformar-se em sujeito de sua própria história (FREIRE, 2005, p. 16)

Compreender como se dá, no cotidiano escolar, a incorporação das políticas

educacionais o que é proposto por Nóvoa (1995) e Lima (2008), é um tema, em que

ainda há muito a se pesquisar, tendo em vista que as preocupações ainda estão

muito voltadas para as questões macro relativas ao sistema da política educacional

ou às questões micro relativas às escolas. Frente a esse conjunto de leituras,

percebe-se um consenso teórico entre Lima, Gimeno Sacristan, Nóvoa e Apple

sobre a não existência de relação automática, mecânica entre a proposta de política

educacional e a mudança da prática da escola; daí pode-se perguntar: como os

22

princípios da política educacional, democracia e participação, estão sendo

incorporados na construção do projeto pedagógico?

Essa pesquisa visa contribuir para as discussões acerca das relações entre

organizações escolares e políticas educacionais com foco na escola, com base na

investigação da instituição local. Dessa intenção decorrem as decisões, a seguir, e

expressam a relevância em focalizar esse tema, tendo como campo um município do

Estado de São Paulo, o que caracteriza o seu ineditismo. Os resultados poderão

subsidiar decisões de política educacional, pela qual se pretenda contribuir para

transformação do sistema educacional e escolar.

Considerando que a educação no Brasil está passando por mudanças desde

a LDB 9394/96, principalmente, no tocante à descentralização e democratização do

ensino, essa investigação tem como questões fundamentais: se e como os

princípios da política educacional, como democracia e participação, estão sendo

incorporados na construção do projeto pedagógico na escola em estudo, no

município de Várzea Paulista?

Dessas questões principais decorrem outros questionamentos norteadores

para o problema de pesquisa:

Foram utilizadas estratégias para garantir o trabalho coletivo e participação na

escola?

Como os profissionais da escola compreendem o projeto pedagógico?

Tomando-se por base as questões formuladas, essa dissertação tem como

objetivo geral:

Verificar se e como os princípios das diretrizes para o trabalho

pedagógico do município de Várzea Paulista-SP estão sendo

colocados em ação na elaboração do projeto pedagógico.

Desse objetivo decorrem objetivos específicos:

23

Avaliar a participação/democracia dos agentes na construção do

projeto pedagógico da escola;

Identificar e analisar ações específicas da escola diante das políticas

educacionais implantadas pela Lei Municipal 1976 de 10 de novembro

de 2008 e pelas Diretrizes Gerais para o Trabalho Pedagógico,

especialmente, no que se refere aos princípios de democracia e

participação na elaboração do Projeto Pedagógico.

Tendo como hipótese que a escola se dispôs a seguir as diretrizes da política

educacional do município na elaboração do respectivo projeto pedagógico e que há

indícios da participação dos pais, professores e gestores na elaboração do Projeto

Político-Pedagógico (PPP).

A dissertação está organizada da seguinte forma:

Introdução; Capítulo 1 – A escola como organização educativa; Capítulo 2 – O

percurso metodológico; Capítulo 3 – Apresentação e Análise dos resultados;

Considerações Finais; Referências bibliográficas e anexos.

24

1. A escola como organização educativa

As pesquisas educacionais, nos últimos tempos, têm-se caracterizado pela

tendência de reconhecer que é impossível compreender a realidade educacional e

suas práticas fora do contexto social. Segundo Oliveira (2000), implica dizer que não

é possível realizarmos análise consistente sobre a escola e o processo educacional

que nela se efetiva, sem inseri-los no universo social, político e cultural que envolve

a escola.

Os estudos acerca da escola como organização educativa são fundamentais

para compreendermos as relações que se criam em seu interior. Essa compreensão

em muito contribuirá para a reflexão acerca dos processos de participação na escola

e como tais relações se consolidam e extrapolam os limites dos muros escolares, na

perspectiva de transformação da realidade, em que está inserida.

Lima (2008) discute propostas teóricas e análises das realidades políticas,

organizacionais e administrativas da educação a partir de um olhar sociológico sobre

a escola como organização educativa complexa e multifacetada.

Dessa forma, percebe-se que a análise acerca da organização escolar deve

considerar tanto as questões externas que se refletem na escola, quanto a prática

na sala de aula, o que Lima chama de mesoabordagem da análise da escola.

Justificando o modelo de estruturação acerca das organizações escolares, é

importante destacar que Lima (2008), ao analisar os modelos de organizações

educacionais, descreve quatro: o político (objetivos não claros e tecnologia

transparente); o racional (objetivos claros e partilhados e tecnologia certa e

transparente); o anárquico (objetivos não claros e tecnologia ambígua); e o de

sistema social (objetivos claros e tecnologia incerta e ambígua).

Lima (2008), na sua análise, mostra que esse modelo político destaca a

diversidade de interesses e de ideologias, a inexistência de objetivos consistentes e

partilhados por todos, a importância do poder, da luta e do conflito e da

25

racionalidade política – racionalidade em função dos indivíduos e de suas ações. O

modelo político enfatiza o dissenso, o conflito e a negociação entre grupos de

interesse. Já o modelo social, segundo Lima (2008, p. 18), “valoriza o estudo da

organização informal, dos processos de integração, de interdependência e de

colaboração, admitindo a existência de consenso entre os objetivos”.

Segundo Lima (2008), o modelo racional acentua o consenso e a clareza dos

objetivos organizacionais, que não constituem matéria relevante para discussão e

pressupõem a existência de tecnologias e processos claros e transparentes. As

organizações são centradas na orientação para a tarefa e na importância das

estruturas organizacionais. A ação organizacional é entendida como sendo o

produto de decisão claramente identificada ou de escolha deliberada, calculada. A

racionalidade não é exclusiva desse modelo, está presente em outros modelos.

O modelo racional tem por base o modelo de burocracia de Max Weber e por seu pressuposto estar baseado em torno dos objetivos, possibilita a existência de um sistema de referências completo e consciente do ponto de vista técnico. Esse modelo é analisado e colocado como racional por tentar evitar erros e sentimentos, por decidir as coisas racionalmente; é típico do homem econômico, que acentua o consenso, a certeza e a estabilidade. Segundo Lima(2008), esse modelo é o que predomina nos estudos sobre a escola, apesar das dificuldades de sua aplicação às organizações educacionais; entretanto, é muito comum nas escolas, pois elas apresentam comportamentos mais ou menos estáveis, baseados em estrutura de papéis e de tarefas, passando pela delegação de autoridade, a departamentalização e a especialização.O modelo burocrático, quando aplicado ao estudo das escolas, acentua a importância das normas abstratas e das estruturas formais, os processos de planejamento e de tomada de decisões, a estabilidade e o caráter preditivo das ações organizacionais. (LIMA, 2008, p.24).

Por fim, Lima (2008), tendo como referência outros estudos teóricos,

apresenta o modelo da anarquia organizada. Essa ideia é caracterizada por

objetivos considerados pouco claros e em conflito, nos quais as tecnologias são

consideradas ambíguas e incertas, trata-se de um modelo contrário ao burocrático.

Esse modelo pode ser encontrado em qualquer organização, pois se podem

observar estas três características gerais ou três tipos de ambiguidade:

26

1) objetivos e preferências inconsistentes e insuficientemente definidos e uma

intencionalidade organizacional problemática;

2) processos e tecnologias pouco claros e pouco compreendidos pelos membros

da organização;

3) participação fluida;

O modelo de anarquia organizada desafia o modelo bem instalado da burocracia racional, não por procurar sobrepor-lhe, mas por procurar competir com ele na análise de certos fenômenos e de certos componente das organizações […]. Desta feita, realça-se o caráter experimental e heurístico do processo de tomada de decisões, o risco inerente ao jogo como suplemento da razão. (LIMA, 2008, p.35).

Partindo dessa análise proposta por Lima, pode-se perceber que, na escola,

ocorre tanto o modelo burocrático, quanto o anárquico e a este fenômeno o autor

chama de modo de funcionamento díptico da escola como organização.

Nessa mesma perspectiva, Nóvoa (1995, p.25) procura demonstrar que, para

o funcionamento de uma organização escolar, há necessidade de interação entre o

formal e aquilo que é produzido no interior da escola. Nesse sentido, o autor propõe

três grandes dimensões para compreender tal dinâmica: a estrutura física da escola,

a estrutura administrativa e a estrutura social da escola.

Semelhante a Lima, Nóvoa também faz uma mesoabordagem da escola, o

que se alinha à intenção dessa pesquisa de focar, conjuntamente, a política

educacional, o contexto externo e o que ocorre no contexto interno da escola, em

decorrência dessa política. Valorizar o “entre” a situação local e o contexto externo.

1.1. Democratização da escola e participação

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988 e da LDB 9394/96, a

expressão democratização da escola tem sido constantemente empregada e

defendida por vários segmentos da sociedade brasileira. No entanto esse processo

27

de democratização assume vários e diversos significados e práticas diferentes para

os grupos que o defendem.

Segundo Hora (2007), para compreender esse processo e assumir práticas

democráticas, é necessário discutir o conceito de democracia, pois seu exercício

envolve uma série de valores que nem sempre são partilhados pelos que a

defendem, o que dificulta sua definição, quando se trata de sua aplicação na escola.

A democracia, conforme definição de Gimeno Sacristán (1999), pode também

ser entendida como:

[…] um conjunto de procedimentos para poder viver racionalmente, dotando de sentido uma sociedade cujo destino é aberto, porque acima do poder soberano do povo já não há nenhum poder. São os cidadãos livres que determinam a si mesmos como indivíduos e coletivamente. (GIMENO SACRISTAN, 1999, p. 57).

É recorrente no senso comum afirmar-se que democracia é o governo do

povo, em que todos têm as mesmas condições de igualdade e participam direta e

plenamente das decisões sociais, pelo voto, elegendo representantes a cargos

federais, estaduais e municipais ou para conselhos e colegiados. Pressupõe-se na

democracia que os eleitos decidam políticas públicas condizentes com o anseio de

quem os elegeu. Entretanto, deve-se considerar que a democracia e os processos

democráticos podem ser exercitados em qualquer lugar e momento, sendo

necessário o envolvimento das pessoas interessadas e comprometidas com o

processo, como uma das condições para a sua efetivação.

É nesse sentido que a participação, segundo Hora (2007), coloca-se, em

todas as formas de relações das instituições sociais, como um dos elementos

essenciais para a democratização de uma nação, oferecendo amplas e reais

possibilidades de decisão e de usufruto dos benefícios públicos.

Ao estudar a importância da participação para a formação da cidadania,

pode-se compreender as nuances do conceito pelo estudo de Bordenave (1994)

sobre participação. O autor mostra que, embora o senso comum apresente o

28

entendimento de participação como “tomar parte”, “fazer parte” ou “ter parte” em

algo, a utilização das expressões indica que existe participação ativa e passiva, já

que alguém pode fazer parte de algo, sem tomar parte dele, o que seria participação

passiva. A participação ativa iria requerer do indivíduo o engajamento com o objeto.

Além disso, ressalta o autor que, mesmo na participação ativa, existem

diferenças de qualidade, podendo o indivíduo sentir-se responsável por ela,

dedicando-lhe lealdade, ou, embora ativo em sua participação, seria volátil em seu

comprometimento, abandonando a causa de acordo com seu interesse.

Bordenave (1994) diferencia seis maneiras de participar:

De fato: aquele tipo, em que a simples existência da sociedade nos

impele a fazer parte, como a participação na família, no trabalho, na

busca pela subsistência. Em outras palavras, é o tipo de participação, a

que todos os seres humanos estão sujeitos, quando decidem viver em

sociedade;

Participação espontânea: está relacionada ao ato do indivíduo se

inserir em determinados grupos, por livre opção, como os grupos de

vizinhos e amigos, os quais não possuem “organização estável ou

propósitos claros e definidos a não ser os de satisfazer necessidades

psicológicas de pertencer, expressar-se, receber e dar afeto; obter

reconhecimento e prestígio”. (BORDENAVE, 1994, p. 27).

Uma terceira maneira de participar é aquela imposta: os indivíduos

são levados a participar, seja por códigos morais de determinados

grupos, seja por legislação específica que define a obrigação de

participar. O caso mais típico no Brasil é o voto obrigatório;

O quarto tipo, segundo Bordenave, é a participação voluntária: o

grupo é criado pelos próprios participantes que definem sua forma de

organização, objetivos e métodos. Bordenave cita como exemplos

desse tipo os sindicatos livres, as associações de moradores, as

cooperativas e os partidos políticos;

29

A quinta maneira é a participação provocada, a qual é impulsionada

por um agente externo. Nesse caso, cita como exemplo o papel que o

serviço social, o desenvolvimento de comunidades, a extensão rural, a

educação em saúde e as pastorais desempenham nesse modelo;

Como sexto tipo, tem-se a participação concedida, que acontece

quando organizações ou agentes públicos conferem poder de decisão

aos subordinados ou aos cidadãos. Como exemplos, teríamos as

chamadas “participações nos lucros”, adotadas por certas empresas,

os “comitês de fábricas”, bem como as experiências de “planejamento

participativo” adotadas por órgãos públicos.

Segundo Apple e Beane (2001), para que realmente as condições

democráticas se estabeleçam, garantindo que a participação se efetive,

concretamente, são necessárias algumas condições:

1. O livre fluxo das ideias, independentemente de sua popularidade, que permite às pessoas estarem tão bem informadas quanto possível;

2. Fé na capacidade individual e coletiva de as pessoas criarem condições de resolver problemas;

3. O uso da reflexão e da análise crítica para avaliar ideias, problemas e políticas;

4. Preocupação com o bem-estar dos outros e com o bem comum;

5. Preocupação com a dignidade e os direitos dos indivíduos e com as minorias;

6. A compreensão de que a democracia não é tanto um ‘ideal’ a ser buscado, como um conjunto de valores ‘idealizados, que devemos viver e que devem regular nossa vida enquanto povo;

7. A organização de instituições sociais para promover e ampliar o modo de vida democrática. (APPEL e BEANE, 2001, p. 17).

Também Lima (2008) aprofunda as discussões sobre a participação,

mostrando que pode ocorrer desde aquela decretada, apenas como uma exigência

legal, àquela, em que o processo de participação é realmente construído por todas

as pessoas que se interessam ou buscam alterar a realidade.

30

Lima (2008), ainda em seu texto, apresenta diferentes tipos de participação,

considerando-se a existência de regras e regulamentações. A participação formal se

estrutura, a partir de documentos, de modo que legitima certas formas de

intervenção e impede outras. Por sua vez, a participação informal, produzida e

partilhada em pequenos grupos, pode constituir-se a partir de regra não formal,

admitindo-se outros desenvolvimentos e outras adaptações não previstos nas

normas e nos regulamentos. Por este viés de análise, Lima propõe quatro critérios

para análise da participação: democraticidade, regulamentação, envolvimento e

orientação. Com base nesses critérios, são apresentados vários tipos e graus de

participação.

Pelo critério da democraticidade, a participação se caracterizaria pelo seu

caráter de participação direta ou indireta; pelo critério da regulamentação, são

propostos três tipos de participação: formal, não formal e informal.

Segundo Lima (2008), a ação dos sujeitos da escola, no que diz respeito ao

desenvolvimento da instituição, pode evidenciar diferentes graus de empenho, de

atitudes e de comprometimento frente às possibilidades de participação na

organização escolar. Nesse sentido, a participação se definiria pelo grau de

envolvimento, que revelaria três tipos de participação: ativa, reservada e passiva.

A participação reservada situa-se em ponto intermediário entre a participação

ativa e a participação passiva. Tal tipo de participação caracteriza-se por atividades

menos voluntárias e sem empenho de recursos. Representa aqueles que, para não

se comprometerem, preferem não opinar e não correr certos riscos, não se

comprometendo com o futuro.

Quanto ao critério da orientação, a participação praticada é vista sob dois

ângulos: convergente e divergente. A participação convergente se orientaria para o

consenso, com vistas a realizar os objetivos formais definidos; por outro lado, a

participação divergente se traduziria nas rupturas e contraposições às orientações

oficialmente estabelecidas.

31

Para Lima (2008), a não participação ocorrida na maioria das escolas também

deve ser analisada, pois essa não participação, de certa forma, constitui um tipo de

participação.

É muito importante destacar que essa análise proposta por Lima acerca dos

modelos de e tipos de participação não pode ser encarada como modelos fechados

para a interpretação dos processos de participação nas escolas, pois, no cotidiano

escolar, esses modelos de participação podem estar ocorrendo continuamente e se

reinventando sempre.

Nota-se, com estas ponderações, que democracia é muito mais que simples

forma de governo estabelecido e sim opção de vida, em que os valores, como a

participação, devem ser considerados primordiais por todos em suas experiências

pessoais e sociais.

Nessa perspectiva, deve-se pensar a escola como organização social que se

propõe ser espaço democrático, onde todos os sujeitos que fazem parte dessa

organização tenham o direito de estar bem informados e de participar na criação e

na execução das políticas educacionais, principalmente, na construção e execução

de seu projeto pedagógico. Por essa proposição, se destacam dois importantes

elementos para a concretização da democracia na escola: a participação da

comunidade escolar - gestores, professores, funcionários, alunos - nas decisões que

a escola precisa tomar e a existência de um sistema de informação, em que todos

os envolvidos tenham conhecimento do que acontece no interior da instituição e nas

suas relações externas.

A escola, na qualidade de organização social de formação, pretende ser um

espaço, onde se aprende o que é a democracia, exercendo a democracia, vivendo

seus valores em exercício permanente, construído por pequenas conquistas diárias,

na vida da coletividade, conforme propõem Apple e Beane (2001). A participação da

comunidade nas decisões da escola e sua atuação no cotidiano escolar são tão

32

importantes quanto sua participação nas decisões maiores sobre políticas

educacionais municipais, estaduais ou nacionais.

1.2. Projeto político- pedagógico

Para compreender como as políticas educacionais se manifestam no

processo e na execução do projeto pedagógico das escolas, faz-se necessário

compreender o que é um Projeto Político Pedagógico (PPP).

Nessa perspectiva, cabe destacar que, por projeto, pode-se entender aquilo

que se tem intenção de realizar, planejar algo, lançar-se para diante uma ideia com

base na realidade existente, para o alcance de algo possível.

Segundo Gadotti (apud VEIGA, 1995), todo projeto representa uma ruptura,

pois:

Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o

futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para

arriscar-se, atravessar um período de estabilidade e buscar uma

nova instabilidade em função da promessa que cada projeto contém

de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser

tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As

promessas tornam visíveis os campos de ação possível,

comprometendo seus atores e autores. (VEIGA, 1995, p. 12).

Conforme proposto pelo autor acima, o projeto admite romper com algo que já

está estabelecido e isso, muitas vezes, acaba criando desconforto e instabilidades

dentro da equipe. No caso de uma escola, a construção do projeto pedagógico que

se pretenda democrático e participativo vai gerar conflitos entre os participantes da

construção do projeto. Entretanto, esses conflitos podem gerar mudanças.

Veiga (1995) define o projeto político pedagógico como:

[…] um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito, quando, de que maneira, por quem para chegar a que resultados. Além disso, explicita uma filosofia e harmoniza as diretrizes da

33

educação nacional com a realidade da escola, traduzindo sua autonomia e definindo seu compromisso com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um chamamento à responsabilidade dos agentes com as racionalidades interna e externa. Esta ideia implica a necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os envolvidos, daí a importância de que seja elaborado participativa e democraticamente. (VEIGA, 1995, p. 110).

A autora define o projeto pedagógico como um ato político, argumentando

que toda ação pedagógica envolve intencionalidade. Ao mesmo tempo, o projeto é

político por estar dentro de um espaço de sucessivas discussões e decisões. A

participação de todos os envolvidos no projeto político pedagógico da escola, as

resistências, os conflitos, as divergências são atos extremamente políticos.

No presente trabalho, decidiu-se manter a expressão projeto político

pedagógico, embora as Diretrizes para o trabalho Pedagógico da Secretaria

Municipal de Educação de Várzea Paulista-SP utilizem o termo projeto pedagógico;

no entanto, as escolas continuam utilizando o termo projeto político-pedagógico.

Pensar a organização do trabalho pedagógico da escola em sua totalidade

tem por finalidade prática buscar a melhoria da qualidade de ensino. A escola é o

foco de concepção, execução e avaliação do PPP, tanto em nível macro, da escola

como um todo, quanto em nível micro, em cada sala de aula (LIMA, 2008). Romão e

Gadotti apresentam uma concepção do PPP como instrumento direcionador

eficiente e eficaz das ações na escola (apud Padilha, 2005):

É preciso entender o projeto político pedagógico da escola como

um situar-se num horizonte de possibilidades na caminhada, no cotidiano,

imprimindo uma direção que se deriva de respostas a um feixe de

indagações tais como: que educação se quer e que tipo de cidadão se

deseja, para que projeto de sociedade? A direção se fará ao se entender e

se propor uma organização que se funda no entendimento compartilhado

dos professores, dos alunos e demais interessados em educação.

(PADILHA, 2005, p. 44).

34

O PPP deveria estar presente no cotidiano da escola como documento

norteador das práticas educativas, sendo sempre retomado, quando houver a

necessidade de se repensar a escola e suas práticas.

Para Veiga (1998), a construção do projeto político pedagógico é momento de

reflexão que sempre deve ser retomado, pois, ao se traçar objetivos, eles sempre

são passíveis de mudanças.

Para que o PPP tenha êxito e não se torne mais uma exigência legal a ser

cumprida pela escola, a participação da comunidade escolar na elaboração e

execução é fundamental, pois onde experiências e vivências diferentes se

comunicam, as possibilidades de avanços e de transformações reais são muito

maiores.

Ao se tentar realizar a construção coletiva de projetos político- pedagógicos,

não, raras vezes, os sujeitos se esbarram em algumas dificuldades, o que leva

escolas a optarem pelos processos menos complexos, utilizando-se de recursos já

existentes, copiando modelos prontos ou se limitando a realizar o PPP com a

colaboração de pequenos grupos.

Na elaboração do projeto político pedagógico, sempre é necessária a análise

do contexto externo da escola para melhor compreensão de influências históricas,

culturais e sociais.

Nesse sentido, Sousa (1998 p. 137-138) destaca questões muito importantes

que devem estar presentes e respondidas pelo coletivo que está trabalhando na

elaboração do PPP:

Historicamente, que visões de mundo têm orientado a práxis

pedagógica dos nossos sistemas educacionais?

Que paradigma social tem sido reproduzido ou emergido de nossas

práticas escolares cotidianas e como construir a identidade da escola?

35

Que concepção de homem está implícita ao processo educativo do

qual participamos e que propostas temos, para construir o projeto

político pedagógico de nossa escola?

Que pressupostos e implicações políticos- pedagógicas levantamos a

cerca do ato educativo e como mudar as atuais perspectivas do

gerenciamento escolar?

Que elementos concebemos como importantes na construção do

projeto político pedagógico de nossa escola?

Assim, a complexidade presente na elaboração do PPP é enfatizada por

todos os autores que se ocuparam do tema.

1.3. A LDB e suas mudanças

O processo de elaboração de leis que estabelecem as diretrizes para a

educação do país vem de há muito tempo, entretanto, podem ser destacadas

algumas etapas que mostram como estas leis contribuíram para estabelecer

parâmetros para educação nacional.

A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei n. 4.024/61, garantiu o

compromisso político de ampliar a educação obrigatória de quatro para seis anos.

No entanto, o contexto de implantação dessa lei se deu em momento político de

muitas disputas entre interesses públicos e privados, de modo que o Projeto de Lei

foi encaminhado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra à Câmara Federal, tendo sido

sancionado, somente em 1961, após 13 anos de muitos conflitos originários dos

interesses de grupos que disputavam espaços políticos naquele momento (SAVIANI,

1999).

Em 1964, acontece o golpe militar, entendido pelos setores econômicos como

necessário à manutenção da ordem socioeconômica, que se sentia ameaçada pelos

movimentos contrários ao regime político dominante daquela época (SAVIANI,

1999).

36

A nova situação exigia adequações no âmbito educacional, o que implicava

mudanças na legislação que regulava o setor. Entretanto, como já foi assinalado, o

governo militar não considerou necessário editar, por completo, uma nova lei de

diretrizes e bases da educação nacional. E isso é compreensível, porque, se se

tratava de garantir a continuidade de ordem socioeconômica, as diretrizes gerais da

educação, em vigor, não precisavam ser alteradas. Bastava ajustar a organização

do ensino ao novo quadro político, como um instrumento para dinamizar a própria

ordem econômica (SAVIANI, 1999, p. 21).

Como se pode observar, não havia interesse em modificar todo o texto da Lei

n. 4.024/61, mas sim alguns de seus dispositivos, a fim de que se pudesse garantir a

continuidade da ordem socioeconômica. Nesse espaço de discussão, surge a Lei

5.692/71 que conservou alguns aspectos da lei anterior, modificando o ensino

primário e ensino médio, que passaram a se denominar Ensino de 1º Grau e Ensino

de 2º Grau. Além disso, a partir dessa lei, a obrigatoriedade escolar foi ampliada de

quatro para oito anos de duração, importante fator da ampliação do ensino

fundamental.

Com o processo de redemocratização do país e com a promulgação da

Constituição de 1988, um novo momento acontece para a educação nacional. A

aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394/96,

expressa o caráter descentralizador das políticas educacionais no país, transferindo

para os municípios a competência para o Ensino Fundamental.

Por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN – Lei

9.394/96), o acesso universal ao ensino básico passou a ser a preocupação dos

governos. Os currículos passaram a ter base nacional comum, consolidada depois

nos Parâmetros Curriculares Nacionais, organizados pelo Conselho Nacional de

Educação (CNE) e publicados pelo Ministério da Educação (MEC).

A partir da análise dos documentos oficiais, tanto nacionais, quanto

municipais, constata-se uma preocupação recorrente em garantir à escola seu

37

espaço de construção democrática de sua prática e de seu projeto político-

pedagógico.

1.4. As bases legais

No plano municipal, pode-se destacar:

Art.5º: São finalidades do sistema Municipal de Ensino: I – garantir qualidade de ensino; II – garantir participação de docentes, pais e demais segmentos ligados às questões da educação municipal na formulação de políticas e diretrizes para a educação do município. Art. 6º Compete à Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e lazer: I – normatizar a elaboração do projeto político pedagógico das Unidades Educacionais; II – Dar suporte pedagógico, administrativo, material e financeiro às unidades educacionais. (LEI MUNICIPAL nº. 1976 de 2008).

Na legislação federal, a LDB destaca como função dos estabelecimentos de

ensino.

Art. 12º. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III – assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; (LDB 9394/96).

As predisposições legais, em nível nacional e municipal, citadas acima,

demonstram a iniciativa e um processo de garantia legal para a existência de

processos democráticos nas escolas. Entretanto, como nos alerta Apple:

As escolas democráticas precisam basear-se numa definição abrangente de “nós”, num compromisso de construir uma comunidade que é tanto da escola quanto da sociedade onde ela existe. (APPLE, 2001, p. 39).

Os quadros, a seguir, expressam a síntese da legislação estudada.

38

Quadro 2

Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e

bases da educação nacional.

Carac- terização

Dados Destaques

Dos princípios e fins da

educação nacional.

Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos

princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o

pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII – valorização do profissional da educação escolar; VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da

legislação dos sistemas de ensino; IX – garantia de padrão de qualidade; X – valorização da experiência extraescolar; XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Garantia de gestão

democrática e qualidade de

ensino.

Função dos municípios em

relação à educação.

Art. 11º. Os Municípios incumbir-se-ão de: I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos

seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; II – exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; III – baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; IV – autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu

sistema de ensino;

Características normatizadoras do sistema de ensino.

Função das unidades de educação/ finalidade.

Art. 12º. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns

e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III – assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de

integração da sociedade com a escola; VII – informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento

dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

Abrir espaços de participação de

toda comunidade escolar nas ações

da escola.

Ações do corpo docente

na escola.

Art. 13º. Os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento

de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica

do estabelecimento de ensino; III – zelar pela aprendizagem dos alunos; IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor

rendimento; V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar

integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias

e a comunidade.

Elaboração do projeto

pedagógico; Articulação entre

escola e comunidade,

função importante do professor.

39

Responsabi- lidade do

Sistema de Ensino

Art. 14º. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão

democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto

pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares

ou equivalentes.

Articular a gestão democrática e a relação com a

escola; fomentar a participação da comunidade nas

instâncias escolares.

Autonomia.

Art. 15º. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares

públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público.

Estímulo à autonomia da

escola.

Quadro 3 Lei Municipal nº 1976, de 10 de novembro de 2008 .Dispõe sobre a reestruturação do sistema Municipal de Ensino instituído pela Lei Municipal 1588, de 1º de março de 2000.

Carac- terização

Dados Destaques

Princípios do Sistema

Municipal de Ensino.

Art.3º São Princípios do Sistema Municipal de Ensino: I – Igualdade de condições para acesso e permanência; II – liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III – valorização dos profissionais de educação; IV – gestão democrática do ensino público; V – garantia de padrão de qualidade; VI – ampla participação dos pais, educadores e educandos nas instâncias do Sistema; VII – universalização do ensino;

Estabelecimento formal de

garantia de participação e

gestão democrática no

sistema.

Finalidade do Sistema

Municipal de Ensino.

Art.5º: São finalidades do sistema Municipal de Ensino: I- garantir qualidade de ensino; II- garantir participação de docentes, pais e demais segmentos ligados às questões da educação municipal na formulação de políticas e diretrizes para a educação do município…

Valorização da qualidade no ensino e da

participação de toda comunidade

escolar na formulação de

políticas.

Competências das unidades e

órgãos que compõem o

sistema municipal de

ensino.

Art. 6º Compete à Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e lazer: I- normatizar a elaboração do projeto político pedagógico das Unidades Educacionais; II- Dar suporte pedagógico, administrativo, material e financeiro às unidades educacionais.

Normatização sobre a

construção do projeto

pedagógico e suporte da secretaria.

Competências das unidades educacionais

de ensino fundamental.

Art. 9º Compete ás Unidades Educacionais de Ensino Fundamental: I- elaborar o projeto político pedagógico; II- elaborar o regimento interno; III- eleger o Conselho de escola; IV- acompanhar o rendimento escolar e fazer os encaminhamentos necessários.

Funções que as escolas precisam

desempenhar.

40

Quadro 4 Diretrizes Gerais para o Trabalho Pedagógico – Agosto de 2006

Carac- terização

Dados Destaques

Educadores

Sonhamos com uma escola feita por educadores alegres, abertos, vivazes e receptivos. Nós, educadoras e educadores, renovamos a nossa paixão na intensidade dos afetos que criamos com os nossos educandos. Vamos pensar em uma escola, na qual sentimos o valor do nosso trabalho realizado, enquanto educadores. Uma escola, em que são também educadores todos os trabalhadores em educação. Nós gostamos de ser os maiores motivadores dos processos pedagógicos, em quaisquer das faixas etárias a que a escola atenda. Queremos construir espaços coletivos de trabalho, para uma efetiva troca de saberes e enriquecimento do conjunto das práticas, envolvendo toda a comunidade escolar. Nesse processo, valorizamos todos os saberes voltados para a valorização da vida que já existem na escola e na comunidade.

Valorização do trabalho coletivo

na escola.

Educandos

Queremos que nossas crianças valorizem sempre e mais a vida humana. Por isso, no nosso convívio diário, respeitaremos a cultura da infância, desenvolvendo processos pedagógicos que favoreçam a sua autonomia, sem deixar de lado a alegria e o movimento, e tudo que contribua para a sua formação plena. Nossa intenção é contribuir para que crianças e jovens nas nossas escolas sejam solidários, consigam conviver com as diferenças e os potenciais individuais, se pautem pelos princípios éticos e aprendam a viver em sociedade de uma maneira criativa, construtiva e transformadora. Hoje, num mundo marcado pela violência e pela competição, sabemos que é urgente resgatar os valores humanos fundamentais.

Atenção especial aos processos de

formar para democracia.

Escola

É na escola que a relação ensino-aprendizagem acontece. Queremos que a construção dessa relação envolva todos os interessados: alunos, famílias, educadoras e educadores, trabalhadores em educação, co-munidade, poder público. Nossa escola não pode estar isolada do mundo. É com a participação de todos que ela vai se fortalecer como espaço de afirmação da identidade de nossos alunos, como sujeitos críticos e autônomos. É com essa participação que construiremos um espaço que respeita e convive com as diferenças de cada um, exerce a tolerância e a inclusão de todos. Um espaço cheio de vida! Incentivaremos o exercício da ética, da democracia, da participação coletiva e do acesso e da produção do conhecimento e da cultura no espaço escolar.

Escola participativa e democrática.

Projeto pedagógico

Sabemos que o projeto pedagógico é o alicerce de nosso trabalho como educadores na escola. Ele é que nos dá suporte e sentido para o fazer pedagógico no coletivo da escola. Ele é que vai fazer nascer a vida na escola. Na construção do projeto pedagógico de cada uma de nossas escolas, queremos que suas características locais sejam respeitadas. Para isso, vamos estimular a participação da comunidade escolar e da comunidade local, fugindo do fazer apenas burocrático. Somos conscientes de que a elaboração do projeto pedagógico de uma escola é um processo longo, mas rico no aprendizado dos valores humanos, da ética e da democra-cia. Valorizamos os saberes das nossas educadoras e dos nossos educadores e o potencial criador de todos os envolvidos, além do princípio fundamental que é o cuidado com a vida.

Projeto pedagógico: estímulo à construção

coletiva.

Princípios 1º. Democratização do acesso e da permanência; O que as

41

gerais das diretrizes

2º. Gestão democrática; 3º. Melhoria da qualidade de ensino.

diretrizes estão propondo.

Ações para democra- tização do

acesso e da permanência

1. Manter e ampliar os espaços físicos das escolas, procurando adequá-los aos portadores de necessidades especiais; 2. Levantar a demanda por vagas nas escolas todo mês; 4. Procurar ampliar o atendimento da rede; 7. Discutir e readequar o Estatuto do Magistério, em conjunto com os professores; 8. Discutir com os educadores e assessorar a organização do projeto político-pedagógico nas escolas; 9. Propor práticas e projetos coletivos que desenvolvam aprendizagens significativas pelos estudantes; Dotar as escolas com equipamentos e material didático, para o bom trabalho pedagógico.

Suporte da secretaria para

as ações da escola.

Ações para gestão

democrática

1. Incentivar a criação e o funcionamento de colegiados nas escolas (conselhos de escola e associações de pais) e a participação da comunidade; 2. Estimular a participação da comunidade escolar e da população em geral no Conselho Municipal de Educação; 3. Acompanhar e ajudar as escolas a elaborar seus projetos político-pedagógicos, garantindo sua aplicação; 4. Ajudar a tornar mais fácil o cotidiano administrativo das unidades escolares, com a nomeação de um núcleo gestor para cada escola; a dotação de conta-escola para pequenas despesas; a organização de equipe de manutenção física das escolas e outros mecanismos; 5. Melhorar a comunicação entre a Secretaria e as unidades escolares; 6. Valorizar os professores, por meio da revisão participativa do Estatuto do Magistério e o estabelecimento de Plano de Cargos e Salários que ainda não existe.

Estímulo para a atuação coletiva

de todos os agentes da comunidade

escolar e construção de

espaços democráticos.

Ações para melhoria da qualidade de

ensino

1. Promover ações de formação de educadores, gestores e trabalhadores na educação da rede; 2. Melhorar o gerenciamento administrativo e pedagógico nas escolas, com a designação de gestores para cada unidade escolar e a informatização das escolas; 4. Estimular a realização de projetos coletivos que produzam vivências e aprendizagens significativas; 5. Realizar esforços para elaborar um currículo mais ligado à cultura local, comprometido com a construção de uma vida melhor; 6. Melhorar os processos de avaliação do rendimento escolar; 7. Melhorar o ambiente e as condições materiais nas escolas, com a distribuição de uniformes e material escolar para os alunos; equipamentos eletrônicos, publicações, brinquedos e outros materiais para o desenvolvimento do trabalho pedagógico.

Auxílio aos projetos de

caráter coletivo realizados pelas

escolas.

1.5. A educação no município de Várzea Paulista

A estrutura educacional do município de Várzea Paulista, até o ano de 1998,

abrigava apenas a Educação Infantil. Naquele ano, foi realizado o primeiro concurso

para professores do Ensino Fundamental, que, até então, não fazia parte da rede do

atendimento do município. Esse atendimento passou a ser necessário, em

decorrência da política estadual de educação do Governo Mario Covas, de 1995 a

42

1998, principalmente, pelo Decreto Estadual 40.473, de 21/11/95, que reorganizava

a estrutura das escolas públicas estaduais, separando as séries iniciais (1ª a 4ª

séries) do Ensino Fundamental, visando estimular os municípios a assumirem tal

modalidade de ensino. Também pelo Decreto Estadual 40.673 de 16/02/96, o estado

estimulava, mais uma vez, os municípios a estabelecerem convênios para

assumirem essa etapa da educação fundamental.

Em março de 2000, foi aprovada, em Várzea Paulista, a Lei Municipal 1.588,

que instituiu oficialmente o Sistema Municipal de Ensino, cumprindo exigências da

nova LDB em âmbito nacional e das políticas públicas de descentralização da

educação, no contexto da política educacional do Estado de São Paulo. Tal

processo também ganhou um estímulo financeiro muito importante com a aprovação

da Lei Federal 9.424/96 que regulamentou o Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF),

o qual destinava grande parte de recursos financeiros da educação municipal e de

repasses externos para a implementação e melhoria exclusiva do Ensino

Fundamental. Em 2006, o FUNDEF foi substituído, por meio da Emenda

Constitucional 53/06 e Lei Federal 11.494/07, pelo Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Educação (FUNDEB), que passou a distribuir os recursos para todas as etapas de

ensino da educação básica: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Essa forma de pensar a educação materializou-se de muitas formas, até

mesmo no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), por exemplo. O

IDEB apurado pelo MEC para o município de Várzea Paulista saltou de 4,5, em

2005, para 5,1, em 2007, meta projetada para 2010; e, em 2009, para 5,6, meta que

se deveria atingir em 2013. A média nacional do IDEB de 2007 é de 4,2 pontos, na

quarta série do Ensino Fundamental. Cabe destacar aqui que o IDEB foi criado pelo

Inep, em 2007, e representa a iniciativa pioneira de reunir num indicador dois

conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e

médias de desempenho nas avaliações. O indicador é calculado a partir dos dados

sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas

avaliações do Inep, no caso de Várzea Paulista, a Prova Brasil.

43

2. O percurso metodológico

Segundo Ludke e André (1986),

Para se realizar uma pesquisa é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele. Em geral isso se faz a partir do estudo de um problema, que ao mesmo tempo desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade de pesquisa a uma determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento. Trata-se, assim, de uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e ação de uma pessoa, ou de um grupo, no esforço de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade que deverão servir para a composição de soluções propostas aos seus problemas. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p.1-2).

Na busca para responder aos questionamentos propostos e atingir os

objetivos projetados, a pesquisa foi realizada por meio de abordagem qualitativa,

utilizando-se de análise de fontes documentais e de um estudo de caso. No estudo

de caso foram utilizados os seguintes procedimentos: entrevistas, análise de fontes

documentais e grupo focal.

Segundo Minayo (1996), uma pesquisa de abordagem qualitativa é aquela

que pode tornar possível a valorização de um

[…] universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 1996, p. 21-22).

A pesquisa qualitativa, segundo Chizzotti (2006), assume tradições e

multiparadigmas de análise e adota vários métodos de investigação para o estudo

de um fenômeno situado em determinado local onde ocorrem e procura “encontrar o

sentido desse fenômeno quanto a interpretar os significados que as pessoas dão a

eles. Recobre, hoje, um campo transdisciplinar”. (CHIZZOTTI, 2006, p. 28).

44

Ainda, para Chizzotti (2006):

O termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível e, após este tirocínio, o autor interpreta e traduz em um texto, zelosamente escrito, com perspicácia e competência científicas, os significados patentes ou ocultos do seu objeto de pesquisa. (CHIZZOTTI, 2006, p. 28).

Destacando ainda a importância da abordagem qualitativa para a pesquisa

que se apresenta, Ludke e André (1986), tendo como referência as características

básicas construídas por Bodgan e Biklen, apontam os seguintes traços de uma

pesquisa qualitativa:

1.A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. [… ] 2. Os dados coletados são predominantemente descritivos. [… ] 3. A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. […] 4. O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador. […] 5. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Os pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que comprovem hipóteses definidas antes do início dos estudos. As abstrações se formam ou se consolidam basicamente a partir da inspeção dos dados num processo de baixo para cima. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 11-13).

A utilização de entrevistas para compreender como as pessoas envolvidas na

construção do projeto político pedagógico da escola (professores, direção, pais) é

um instrumento de grande valor para perceber como essas pessoas pensam o

projeto da escola e como interagem com ele. A pesquisa utilizou entrevistas como

meio para entender a lógica e a dinâmica da política educacional, a partir dos

agentes da escola.

Para Ludke e André (1986), a entrevista é um dos instrumentos básicos para

coleta de dados e umas das principais técnicas de trabalho em vários tipos de

pesquisa. Segundo as autoras,

De início, é importante atentar para o caráter de interação que permeia a entrevista. Mais do que outros instrumentos de pesquisa […] na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma

45

atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde. Especialmente nas entrevistas não totalmente estruturadas, onde não há a imposição de uma ordem rígida de questões, o entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo a verdadeira razão da entrevista. Na medida em que houver um clima de estímulo e de aceitação mútua, as informações fluirão de maneira notável e autentica. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 33-34).

Segundo Ludke e André (1986), nas entrevistas, é possível captar de forma

mais rápida a informação desejada sobre os diferentes tópicos da pesquisa. Para

tanto, é necessário que a entrevista seja bem elaborada, permitindo assim o

[…] tratamento de assuntos de natureza estritamente pessoal e íntima, assim como temas de natureza complexa e de escolhas nitidamente individuais. Pode permitir o aprofundamento de pontos levantados por outras técnicas de coleta de alcance mais superficial, como o questionário. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p.34).

Outra forma utilizada como estratégia de compreensão da realidade e da

percepção por parte do grupo de professores e direção da escola acerca da

construção do projeto político pedagógico, segundo os princípios das diretrizes da

secretaria de educação, foi o grupo focal.

Segundo Gatti (2005), o grupo focal é um conjunto de pessoas selecionadas e

reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto de

pesquisa, a partir de sua experiência pessoal. Nesse caso, a utilização da técnica

teve muito significado para a pesquisa, pois, nessa relação de contato e de diálogo,

foi possível compreender o que poderia ter passado despercebido nas entrevistas e

nas análises dos documentos.

Assim, a ideia de se trabalhar com o grupo focal partiu da necessidade de

compreensão de dados que não foram percebidos nas entrevistas e na análise dos

documentos.

Com base nos estudos teóricos, foram construídos eixos ou categorias de

análise norteadoras para a construção dos roteiros de análise dos documentos,para

46

a realização das entrevistas e do grupo focal com membros da direção da escola,

diretor, professor e pais de alunos.

Construir categorias de análise não é algo muito simples. Elas surgem, num

primeiro momento, da teoria em que se apóia a investigação. Sobre a construção de

categorias analíticas vale lembrar que:

Não existem normas fixas, nem procedimentos padronizados para a criação de categorias, mas acredita-se que um quadro teórico consistente pode auxiliar uma seleção inicial mais segura e relevante […] Em primeiro lugar […] faça o exame do material, procurando encontrar os aspectos relevantes. Verifique se certos temas, observações e comentários aparecem e reaparecem em contextos variados, vindos de diferentes fontes e diferentes situações. Esses aspectos que aparecem com certa regularidade são a base para o primeiro agrupamento da informação em categorias. Os dados que não puderem ser agregados devem ser classificados em um grupo à parte para serem posteriormente examinados (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 43).

O processo de análise documental tem desenvolvimento bem organizado.

Após se estabelecer um conjunto inicial de categorias, o desafio seguinte consiste

em estabelecer algumas estratégias de aprofundamento, ligação e ampliação das

categorias inicialmente propostas. Com o que já se coletou, é de fundamental

importância olhar novamente para o que se achou a fim de descobrir algumas coisa

que passou despercebida ou aprofundar ainda mais em seu conhecimento. Ainda

faz-se necessário ampliar o campo de informações, identificando novos elementos

que precisam ser aprofundados (LUDKE e ANDRE, 1986).

Segundo Ludke e André (1986), a etapa final da análise documental destaca-

se como um momento de verificar a abrangência e a delimitação das categorias de

análise. Dessa forma,

Quando não há mais documentos para analisar, quando a exploração de novas fontes leva à redundância de informação ou a um acréscimo muito pequeno, em vista do esforço despendido, e quando há sentido de integração na informação já obtida, é um bom sinal para concluir o estudo. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 44).

47

Para se compreender melhor este percurso metodológico, cabe destacar que

o município de Várzea Paulista elaborou uma proposta de diretrizes que passariam a

subsidiar a construção do projeto político-pedagógico pela escola. Ele deveria ser

um instrumento que, por hipótese, concretizasse as diretrizes. Nessa perspectiva, o

caminho adotado pela Secretaria Municipal de Educação para que, no PPP, as

diretrizes tivessem sido concretizadas, foi no sentindo de promover a elaboração de

um documento orientador para a rede utilizar na elaboração do seu PPP.

Instrumento que proporcionou a capacitação dos coordenadores para colaborarem

em sua elaboração, sendo realizadas reuniões com diretores e incentivando

mecanismos de discussões coletivas nas escolas.

Essa pesquisa foi um estudo de caso ilustrativo, sendo analisada uma escola

de Ensino Fundamental, municipalizada em 2000, que atende aos cinco primeiros

anos desta modalidade de ensino. É uma escola que conta com maior número de

alunos e com indícios observados externamente de que assumiu a Política

Educacional do Município de Várzea Paulista.

Optou-se por essa estratégia de estudo de caso ilustrativo por se tratar de

ferramenta de verificação dos significados e representações das pessoas que

participaram numa escola na elaboração do projeto pedagógico. Sabe-se,

entretanto, dos limites que este procedimento pode gerar, mas, nesse momento

buscaram-se perceber as nuances da construção do projeto pedagógico, a partir de

diretrizes elaboradas externamente à escola.

2.1. A trajetória da pesquisa

A pesquisa procurou focalizar como as determinações legais dos órgãos

centrais se traduzem no ambiente escolar, mais especificamente na elaboração do

seu projeto político-pedagógico.

Definida a metodologia adotada para o desenvolvimento da pesquisa, passou-

se a buscar as condições necessárias para contatar a escola que viria a ser objeto

48

da pesquisa. Para tanto, foi feito contato com a Secretaria Municipal de Educação do

município de Várzea Paulista, solicitando autorização para a realização da pesquisa

em uma das escolas de Ensino Fundamental da rede municipal. Prontamente

atendida essa solicitação, foi apresentada a possibilidade de realizar a pesquisa na

EMEF Palmyra Aurora D'Almeida Rinaldi, por se tratar de uma das primeiras escolas

municipalizadas da rede municipal e por contar com corpo docente estável e direção

que, há muito tempo, gere a escola, além de ser a maior escola do município.

Definida a escola a ser estudada, contatou-se a direção da escola a fim de se

obter a permissão para execução da pesquisa. Na primeira conversa com a diretora,

foi exposto o objetivo da pesquisa e o que se pretendia com ela. A direção se

colocou inteiramente à disposição, já fornecendo nesse primeiro contato a cópia do

projeto pedagógico da escola. Logo, se iniciou a leitura do documento para verificar

a presença ou não de preocupação com os princípios de participação e democracia,

previstos na política educacional da Secretaria de Educação de Várzea Paulista.

Após o primeiro contato, embora já conhecesse a equipe da escola, ao falar

sobre a pesquisa e as entrevistas com pessoas da escola, fica aquela sensação de

que, ocupando um cargo público de chefia no governo, as pessoas pudessem não

querer serem entrevistadas; entretanto, a disposição das pessoas foi muito

significativa. As entrevistas ocorreram na escola, no período compreendido entre

junho e agosto de 2011, em clima bem agradável, ocorrendo, algumas vezes,

interrupção, para ligações e situações do cotidiano da escola. Cabe aqui destacar

que a importância da pesquisa, segundo Ludke e André (1986, p. 34), está no

sentido de que “a entrevista permite correções, esclarecimentos e adaptações que a

tornam sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas”. Também

cabe destacar que o grupo focal realizado também na escola contou com seis

participantes, sendo realizado na biblioteca d no período de novembro de 2011

49

3. Apresentação e análise dos resultados

3.1. A escola, campo da pesquisa

A escola EMEF Profª. Palmyra foi inaugurada, em janeiro de 1980, com nome

de E.E.P.G. do Parque Guarani. Foi construída devido à demanda da comunidade,

pois, nesse local, entre as décadas de 1970 e 1980, um loteamento a preço

acessível à classe média baixa foi construído, para o qual vieram muitas famílias de

outros estados. Quase todas as famílias traziam crianças em idade escolar, porém a

escola mais próxima ficava longe e também já não comportava mais crianças. Com

isso, um terreno foi cedido pelo poder público municipal para que pudesse ser

construída a nova escola, que inicialmente recebeu o nome do bairro, E.E.P.G. do

Parque Guarani, passando a denominar-se E.E.P.G. Profª. Palmyra Aurora

D’Almeida Rinaldi, a partir de 10 de dezembro de 1981, pela Lei 3.166, sendo

governador do Estado de São Paulo o Sr. Paulo Salim Maluf e secretário da

educação Luiz Ferreira Martins.

Quando foi inaugurada, em janeiro de 1980, segundo informações contidas no

seu Projeto Político-Pedagógico, essa Unidade Escolar possuía apenas oito salas de

aula, diretoria, secretaria, sala de professores, quatro banheiros femininos e quatro

masculinos, dois banheiros para professores, sendo um masculino e outro feminino,

no piso térreo. No piso inferior, possuía um pátio grande, a cozinha da merenda, o

gabinete dentário e a cozinha dos funcionários.

Conforme nos mostra em seu projeto político pedagógico, a escola já nasce

pequena para atender a toda a demanda em idade escolar da região, onde se

encontra.

50

Devido ao grande número de matrículas, aumentando cada ano que passava,

a escola precisou de sua primeira ampliação, o que ocorreu, mais ou menos no ano

de 1982. O pátio foi fechado, originando mais seis salas de aula, porém não ajudou

muito, pois continuava funcionando em cinco períodos e com aulas, aos sábados.

No ano de 1984, construiu-se no bairro vizinho mais uma escola e com isso grande

Figura 1 Mapa do Município de Várzea da Palma,

São Paulo

51

parte dos alunos foram transferidos para essa nova escola, desafogando um pouco

essa unidade escolar e deixando de haver aulas, aos sábados. (PROJETO

POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA, 2009, p. 5).

Em 1996, houve a reorganização da rede estadual de ensino pelo Decreto

Estadual 40.473 de 21/11/95 e a unidade escolar passou a ser escola de 1ª a 4ª

série do Ensino Fundamental, com períodos de cinco horas de aula. Assim, houve a

necessidade da construção de mais quatro salas, pois não iria funcionar no período

noturno; foram construídos mais seis banheiros, na parte inferior, e duas salas da

parte superior foram transformadas em sala de vídeo e sala de informática.

A unidade escolar passou para administração municipal, a partir de 1º de

agosto de 2001, quando foi denominada E.M.E.F. Profª. Palmyra Aurora D’Almeida

Rinaldi. Está localizada, conforme mapa da Figura 1, em bairro residencial, na

periferia de Várzea Paulista, e conta com aproximadamente 1000 alunos divididos

em dois turnos.

3.2. O projeto pedagógico da escola

Ao analisar o projeto político-pedagógico da escola, percebe-se que foi

realizado um diagnóstico muito interessante dos alunos, da comunidade do seu

entorno, dos professores e de toda a estrutura necessária para o bom

funcionamento da unidade escolar. Nesse sentido, vem corroborar as informações e

as reflexões discutidas por Veiga (1995), para quem o projeto pedagógico é

[…] um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito, quando, de que maneira, por quem para chegar a que resultados. Além disso, explicita uma filosofia e harmoniza as diretrizes da educação nacional com a realidade da escola, traduzindo sua autonomia e definindo seu compromisso com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um chamamento à responsabilidade dos agentes com as racionalidades interna e externa. Esta idéia implica a necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os envolvidos, daí a importância de que seja elaborado participativa e democraticamente. (VEIGA, 1995, p. 110).

52

Também, se constata a preocupação em contextualizar a escola na estrutura

macro social também tem um significado muito positivo, como afirma Veiga (1995):

A análise do contexto externo consiste no estudo do meio no qual a escola está inserida. E das suas interações. Para fazer a análise do contexto externo, é necessário identificar os principais participantes que interagem com a escola e analisar as influências das dimensões geográficas, políticas econômicas e culturais. (VEIGA, 1995, p. 10).

Ainda nessa perspectiva, Nóvoa (1995, p. 28) destaca a importância de que

as escolas e suas estruturas “tenham uma relação harmoniosa no tecido comunitário

e nas redes de relações ao nível local”.

Do ponto de vista de sua organização, fica latente no projeto pedagógico,

como se apresentará, a seguir, a preocupação com a dimensão da participação na

sua elaboração. Logo, na sua apresentação, se faz o registro do processo

democrático, em que se deu sua construção.

O presente documento armazena os dados que visam nortear toda a prática pedagógica e a ação educativa da escola. Foi elaborado com a participação coletiva dos professores, funcionários, equipe pedagógica e grande número de informações coletadas na comunidade, através de pesquisa social e econômica e avaliação final de ano, realizada pelos pais, funcionários e equipe pedagógica (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA, 2009, p. 3).

Analisando esta afirmação do projeto político-pedagógico da escola, verifica-

se, nesse primeiro momento, que a comunidade, entendida aqui como os pais dos

alunos que frequentam a escola, não teve espaço ou não foi chamada para

participar diretamente das discussões do projeto da escola; entretanto, foram

consultados, como mostra a afirmação acima, pela pesquisa social e econômica.

Conforme se pode observar no Quadro 5, no projeto político-pedagógico, em

seus objetivos, metas e ações, a escola destaca a preocupação em articular a

prática da escola, suas ações cotidianas, com o envolvimento dos pais no processo

de construção coletiva e democrática de sua ação pedagógica.

53

Quadro 5 Projeto Político Pedagógico – EMEF Palmyra Aurora D'Almeida Rinaldi

Carac- terização

Dados Destaques

Objetivo do projeto/

Apresentação

O projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Profª Palmyra Aurora D’Almeida Rinaldi, traz em sua construção o que se deseja o que se pretende oferecer à comunidade Escolar. O presente documento armazena os dados que visam nortear toda a prática pedagógica e ação educativa da escola. Foi elaborado com a participação coletiva dos professores, funcionários, equipe pedagógica e com grande número de informações coletadas na comunidade, através de pesquisa social econômica e avaliação de final de ano, realizada pelos pais, funcionários e equipe pedagógica. Conta com dados obtidos através de documentos históricos e registros anteriores. Esse projeto traz reflexão e posicionamentos atuais, com relação à escola que queremos construir, traçando caminhos para a educação de uma comunidade heterogênea, que busca a escola como meio de ascensão social e cultural.

Valorização do trabalho

coletivo na escola.

Objetivos da escola

Criar condições para que todos os alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os conteúdos necessários para a vida em sociedade; Ter na cidadania seu eixo orientador e se comprometer com os valores e conhecimentos que viabilizem a participação efetiva do aluno na vida social; Permitir ao aluno exercitar sua cidadania a partir da compreensão da realidade, para que possa contribuir em sua transformação; Buscar novas soluções, criar situações que exijam o máximo de exploração por parte dos alunos e estimular novas estratégias de compreensão da realidade; Melhorar a qualidade do ensino, motivando e efetivando a permanência do aluno na Escola, evitando a evasão; Criar mecanismos de participação que traduzam o compromisso de todos na melhoria da qualidade de ensino e com o aprimoramento do processo pedagógico; Promover a integração escola-comunidade; Atuar no sentido do desenvolvimento humano e social, tendo em vista sua função maior de agente de desenvolvimento cultural e social na comunidade.

Atenção especial aos processos de formar para

democracia.

Metas a curto e médio

prazos

Adequação da elevação da qualidade de ensino; Envolver os alunos com as políticas sociais de leitura e escrita na perspectiva do letramento, desenvolvendo o hábito da leitura como meio de informação e prazer; Envolvimento e interação da comunidade, com vistas a uma participação ativa; Respeito ao meio ambiente e aos hábitos saudáveis; Garantir o acesso e a permanência da criança na escola; Envolvimento de toda equipe escolar para que a escola desenvolva um currículo real; próximo ao cotidiano das crianças; Formar e não apenas informar. Desenvolver o hábito de leitura com o acesso à biblioteca, semanalmente. Integração de todo o grupo, inclusive os professores específicos no desenvolvimento dos projetos da Unidade Escolar. Saber respeitar o “próximo”, em seus bens materiais e morais. Usufruir dos bens da natureza, respeitando e cuidando. Conscientizar sobre a importância de sua contribuição para o bem estar da comunidade. Colaborar com a organização e limpeza da escola. Desenvolver o projeto geral da escola (VIDA SAUDÁVEL).

Escola participativa e democrática. Percebe-se a

preocupação em planejar as

ações da escola.

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Promover reforço para alunos com dificuldades. Assumir coletivamente que todo trabalho pedagógico na área de Língua Portuguesa deva priorizar o domínio das habilidades de leitura e escrita de textos, os quais passam a ser ponto de partida e chegada em todos os cinco anos.

Ações

Capacitação dos docentes para que se conscientizem do desenvolvimento do currículo voltado para a cultura com posicionamento as questões sociais; Através de reuniões, conseguir um contato direto e transparente com a comunidade, construindo um relacionamento harmonioso de modo que os pais percebam a importância de sua participação para uma escola de qualidade; Com a participação de professores, pais, funcionários e direção, direcionar verba MEC /FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), de forma a atingir o objetivo que é a construção de uma escola pública de qualidade.

Ainda nessa perspectiva, pode-se recorrer a Veiga (1995), para demonstrar

que a discussão na elaboração do projeto pedagógico

[…] exige uma reflexão acerca da concepção da educação e sua relação com a sociedade e a escola, o que não dispensa uma reflexão sobre o homem a ser formado, a cidadania e a consciência crítica. (VEIGA, 1995, p. 13).

O projeto pedagógico da escola, ao revelar o que se espera do trabalho com

os alunos, demonstra uma preocupação significativa com a sua formação, enquanto

cidadão e sujeito de sua história. Vislumbra um

[…] aluno construtor e participante do seu processo de construção do conhecimento. Sujeito este que pensa, vê, observa o seu mundo para que, futuramente, possa vir a ser um cidadão que critica, cria, decide, interfere e participa do seu meio, colaborando para que uma sociedade mais justa possa existir (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA, 2009, p. 28).

Outro ponto destacado por Veiga (1995) em relação ao projeto pedagógico se

refere ao fato de que ele deve ser repensado sempre que novas ações e posições

na escola devam ser reorientadas. Nesse sentido, o projeto político-pedagógico da

escola pesquisada contempla essa possibilidade, no entanto, limitando a discussão

do redirecionamento do trabalho pedagógico à equipe pedagógica.

[…] caso constate-se alguma dificuldade o projeto será objeto de discussão por parte da equipe pedagógica, para que juntos

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redirecionem o trabalho, objetivando buscar novos rumos. Assim, as Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) deverão estar voltadas, em grande parte par que o acompanhamento daquilo que o coletivo se propôs a realizar, nessas ocasiões é que haja a contínua busca do sucesso escolar e consequente bom êxito do Projeto Pedagógico (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA, 2009, p. 32).

A partir da análise do Projeto Político-Pedagógico da Escola, pode-se afirmar

que há indícios de que os princípios da política educacional do município foram nele

incorporados.

3.3. Os alunos

A unidade escolar em análise atende aproximadamente a 1000 alunos. São

crianças vindas, em sua maioria, dos bairros Vila Popular, Parque Guarani, Vila

Indaiá, Jardim Bertioga e Jardim Aimoré.

Os pais, segundo informações contidas no projeto pedagógico da escola,

declararam que, em média, 90% dos alunos estudaram na pré-escola, antes de

ingressarem no Ensino Fundamental. Os alunos que estudam nessa unidade

declararam serem 8% negros e o restante se dividem, proporcionalmente, entre

brancos e pardos/mulatos. Muitas destas crianças, em torno de 25%, vivem com a

mãe ou sob os cuidados de avós, de acordo com as pesquisas sócio econômicas

(2007 e 2010) do Saresp.

Quanto à escolaridade dos pais dos alunos, esses podem assim ser

distribuídos: 20% têm o Ensino Fundamental incompleto de 1ª a 4ª série; 11%

concluíram o Ensino Fundamental ; 22% possuem Ensino Fundamental de 4ª a 8ª

série; 27% possuem Ensino Médio completo; 18% têm o Ensino Superior incompleto

e 2% já completaram o Ensino Superior. (SARESP, 2010).

Os alunos gostam muito da escola, a valorizam, necessitam dela para sua

formação e acham que são bem atendidos (avaliação final, 2010). Quando foram

questionadas as famílias sobre o tipo de informação que dispunham em casa,

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constatou-se que apenas 10% dos alunos recebem em casa jornal diário ou revistas

informativas semanais; 65% têm acesso a livros, como romances; 70% a livros

informativos e 79% possuem dicionário em casa. (PROJETO POLÍTICO-

PEDAGÓGICO, 2009, p. 6).

Cabe destacar que esse levantamento feito no Projeto Político-Pedagógico da

escola só se torna significativo na medida em que for utilizado pelos professores e

pela equipe da escola para nortear sua prática cotidiana. Nota-se que existe a

preocupação em conhecer e reconhecer os dados, mas, efetivamente, pelas

conversas com professores e direção da escola no grupo focal, ficou perceptível que

tais dados estão apenas registrados no Projeto, sem serem utilizados como uma das

referências nas práticas educativas, no cotidiano.

A escola não possui avaliação oficial acerca da qualidade do ensino e da

aprendizagem para que se possa comparar, mas há internamente relatórios e

gráficos bimestrais que representam o resultado do ensino em cada classe e do

trabalho desenvolvido, no sentido de melhorar os índices. (IBIDEM, p. 7).

Os índices das avaliações externas, que não podem ser considerados apenas

como indicadores da melhoria da qualidade do ensino, revelam avanços

importantes.

No ano de 2007, foi aplicada a prova Brasil do INEP (avaliação que define o

IDBE da escola) nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática e, a partir

desses resultados pode-se perceber, conforme quadros 6,7,8 e 9 que a escola em

análise ficou com média superior em relação às escolas públicas municipais e

estaduais do estado de São Paulo e também em relação às escolas publicas do

país. Diante disso, é possível verificar os avanços nos índices de qualidade da

educação na escola.

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Quadro 6 Dados do IDEB observados e metas projetadas para a

escola

IDEB Escola Palmyra Aurora D'Almeida Rinaldi

IDEB observado Metas projetadas

2005 2007 2009 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

4.6 5.2 5.9 4.6 5.0 5.4 5.6 5.9 6.1 6.4 6.6

Fonte: INEP. MEC.

Quadro 7 IDEB 2005, 2007, 2009 e Projeções para o BRASIL

IDEB 2005, 2007, 2009 e Projeções para o BRASIL

Escolas públicas

Brasil

Ideb Observado Metas projetadas

2005 2007 2009 2007 2009 2021

3,6 4,0 4,4 3,6 4,0 5,8

Fonte: Inep. Mec.

Quadro 8 IDEB 2005, 2007, 2009 e Projeções para o

Estado de São Paulo

IDEB 2005, 2007, 2009 e Projeções para o Estado de São Paulo

Escolas públicas

Estado de São Paulo

Ideb Observado Metas projetadas

2005 2007 2009 2007 2009 2021

4.5 4.8 5.3 4.6 4.9 6.6

Fonte: Inep. Mec.

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Quadro 9 IDEB 2005, 2007, 2009 e Projeções para o município de

Várzea Paulista

IDEB 2005, 2007, 2009 e Projeções para o município de Várzea Paulista

Escolas públicas

Várzea Paulista

Ideb Observado Metas projetadas

2005 2007 2009 2007 2009 2021

4.6 5.1 5.6 4.7 5.0 6.6

Fonte: Inep. MEC

Os índices de evasão e retenção, no ano de 2010, foram: evasão 0%,

retenção 2,36% e Promoção 90,2 %. Os dados do quadro abaixo foram extraídos do

Projeto Político-Pedagógico da escola e expressam o desempenho dos alunos em

2010.

Quadro 10 Rendimento escolar

Rendimento Escolar – 2010 – Ensino Fundamental

Alunos Porcentagem

Transferido 82 7,44%

Retido 26 2,36%

Promovido 994 90,20%

Evadido 0 0,00%

Total de alunos frequentes

1102 100,00%

Fonte: PPP, 2009, p. 48

3.4. A comunidade

A preocupação da escola com a participação dos pais na elaboração de seu

projeto pedagógico fica muito definida sob a perspectiva de que eles são parte

integrante da ação educativa e não podem ficar fora desse processo. Para Nóvoa,

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As escolas com os melhores resultados são, normalmente, aquelas que conseguem criar as condições propícias a uma colaboração das famílias na vida escolar […]. Os pais, enquanto grupo interveniente no processo educativo podem dar um apoio ativo às escolas e devem participar num conjunto de decisões que lhes dizem diretamente respeito. (NÓVOA, 1995, p.27).

De acordo com a descrição apresentada no Projeto Político-Pedagógico da

escola, a formação do bairro ocorreu de forma bastante precária:

O entorno da escola era uma grande plantação de eucalipto com terrenos acidentados, mata rasteira, com pequenas ruas e vielas sem asfalto, sem iluminação, com esgoto a céu aberto, água escassa entregue nas residências por caminhões pipa com quantidade limitada, o comércio distante, de difícil acesso, pois não havia transporte coletivo. (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA, 2009, p. 7).

Hoje, o meio físico no entorno da escola está bem alterado, já não existem

mais os eucaliptos que foram cortados dando lugar para construções. Em muitos

terrenos, são construídas mais que uma casa. As ruas já estão asfaltadas, há

transporte coletivo, iluminação. As residências dos bairros possuem água encanada,

luz elétrica, serviço de coleta de lixo e esgoto.

No entorno da escola, há diversos comércios como: supermercado, farmácia,

lojas, bares, padarias, consultórios odontológicos, sorveteria, doçarias, salão de

cabeleireiro, oficina mecânica, igrejas, feira livre.

O bairro é servido por linhas de ônibus municipal e intermunicipal. Há uma

creche municipal próxima à escola, mas ainda não é suficiente para atender a todos

que necessitam de seus serviços. O posto de saúde do bairro faz atendimento

ambulatorial, porém os casos mais graves são encaminhados para o hospital da

cidade.

Em pesquisa realizada pela escola, os pais listaram os bens e serviços

domésticos que possuem em casa, ficando assim resumidos: apenas 3% não

possuem televisão a cores; 55% não possuem carro de passeio; apenas 10% não

possuem aparelho de DVD ou vídeo-cassete; todos que praticiparam da pesquisa

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têm geladeira em casa; 44% têm micro computadores, 25% estão conectados à

internet e 30% possuem TV a cabo. (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA

ESCOLA, 2009, p. 7).

Como lazer, a comunidade participa de festas religiosas, escolares e

familiares, assistem à televisão, frequentam clube de campo, atividades nas igrejas,

e parques de diversão que são montados na cidade.

Nota-se, a partir das informações do projeto político pedagógico, que houve

preocupação da escola e daqueles que elaboraram o projeto em fazer análise da

realidade que a cerca, possibilitando, com esses dados, pensar quais caminhos

construir para uma educação voltada para os interesses daqueles que fazem parte

da comunidade. No entanto, não se explicita claramente, no próprio projeto, como

esses dados são utilizados no cotidiano escolar.

[…] numa pesquisa realizada pela própria escola verificou-se que a comunidade local, na grande maioria, valoriza e participa das atividades escolares, como festas, reuniões, palestras, etc. Os pais gostam, quando os filhos participam de apresentações artísticas e culturais realizadas na escola, apreciam e sentem-se orgulhosos, acham que através da arte e expressão corporal os alunos assumem concepção de caráter mais expressivo, buscando espontaneidade e valorizando a cultura popular. (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA, 2009, p. 8).

Percebe-se, nesse sentido, que a ideia de participação está muito relacionada

apenas às atividades institucionalizadas pela escola, reforçando a argumentação

proposta por Lima (2008):

[…] pode-se afirmar que a participação na educação e na escola passou a constituir um princípio democrático consagrado politicamente ao mais alto nível normativo […] consubstanciado o que designarei por participação consagrada. (LIMA, 2008, p. 69).

Para Lima (2008), a participação pode assumir as características de

participação reservada, situando-se num ponto intermediário entre a participação

ativa e a participação passiva. Tal tipo de participação caracteriza-se por atividades

menos voluntárias e sem empenho de recursos. Representa aqueles que, para não

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se comprometer, preferem não opinar e não correr certos riscos, não se

comprometendo com o futuro.

Por esta proposição levantada por Lima a respeito da participação, percebe-

se que, ao evidenciar, no projeto pedagógico da escola estudada, que os pais

participam ativamente das atividades culturais e festivas da escola, nota-se que eles

preferem este tipo de participação, menos voluntária e sem empenho de recursos.

3.5. A estrutura administrativa da escola

Em relação à estrutura administrativa e pedagógica da escola pode-se afirmar

que ela possui uma organização muito bem consolidada, de acordo com o que é

destacado no seu projeto político-pedagógico.

A escola conta com uma diretora de escola, uma vice-diretora, uma

coordenadora pedagógica, quatro serventes (ajudantes gerais), dois

auxiliares administrativos, um vigia, um porteiro, duas inspetoras de

alunos e duas merendeiras.

[…] A unidade escolar conta com 30 professores, efetivos de sala de

aula, mais os específicos de artes, educação física, inglês, espanhol

e filosofia. (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA,2009,

p. 13).

A formação escolar da maioria dos funcionários é de ensino médio e alguns

continuam estudando. Os professores da escola possuem formação universitária,

vários com pós-graduação e especialização; todos os professores específicos das

disciplinas de artes, filosofia, inglês, espanhol, educação física possuem graduação

em sua área de atuação. É importante destacar que existem professores da rede

estadual afastados pelo convênio de municipalização e há professores efetivos da

rede municipal com muitos anos de experiência. Esse quadro de professores

efetivos, tanto da rede estadual como da municipal, representa um dado positivo

para escola, pois significa que a escola conta com um corpo docente, de certa

forma, permanente, possibilitando uma continuidade de trabalho pedagógico na

escola. Além disso, pode ser considerado também algo significativo para a escola

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contar com professores experientes que assegurem a proposta de trabalho

assumida no projeto pedagógico da escola.

Ao analisar a estrutura administrativa apresentada no Projeto Político-

Pedagógico da Escola, nota-se que a grande maioria dos professores, funcionários e

a própria direção estão há muito tempo exercendo suas funções na mesma escola, o

que pode ser considerado também um fator positivo quanto ao conhecimento dos

alunos da escola, às relações que já se consolidaram dentro da escola, às

possibilidades de conhecimento mais apurado de todos que fazem parte do

cotidiano escolar.

Essa estrutura mais consolidada auxilia, conforme nos demonstra Cavagnari

que, onde há docentes e direção efetivos, há muito tempo, pertencendo ao quadro

da escola, “comprometem-se com ela, passam a gostar daquela escola, porque

sabem que ali estão sua vida e seu trabalho”. (CAVAGNARI, 2001, p.100).

3.6. Dados das entrevistas

As entrevistas foram realizadas na própria unidade escolar, em uma sala

gentilmente cedida pela direção da escola, devido à facilidade de encontrar todas as

pessoas no mesmo ambiente. Num primeiro momento, havia a preocupação em

relação ao andamento das entrevistas, justificado pelo fato do envolvimento do

pesquisador com a política municipal, entretanto se tornou apenas uma

preocupação, pois todas se dispuseram e foram muito sinceros em suas respostas.

Foram entrevistadas seis pessoas: a diretora da escola, três professoras, um

assistente administrativo e uma mãe de aluno que faz parte da Associação de Pais e

Mestre da escola.

Na análise das entrevistas, observam-se diferenças, conforme a posição de

quem está respondendo. A diretora tem clareza dos princípios da política

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educacional do município e está procurando vivenciá-la no cotidiano escolar. Tal

afirmação é percebida, quando em relação às diretrizes, destaca que

[…] foram elaboradas, depois de muitas reflexões, com gestores professores, equipe de supervisores, enfim pensada coletivamente, para que juntos pudéssemos traçar diretrizes, metas para organizar todo o trabalho pedagógico. Essas diretrizes construídas coletivamente se tornam a identidade da educação do município de Várzea Paulista, bem diferente de outras políticas educacionais que terceirizam a educação utilizando materiais prontos, métodos que nada têm a ver com o município. (DIRETORA).

Para as professoras, as diretrizes do trabalho pedagógico da secretaria foram

discutidas na escola e elas têm clareza da importância da participação coletiva na

elaboração do projeto pedagógico e no desenvolvimento de todas as atividades da

escola. Nota-se que há um envolvimento dessas professoras com as ações e

realizações da escola.

A gestão atual tem se preocupado em promover situações, as quais possibilitam uma interação entre os diferentes segmentos da rede de ensino, visando o objetivo de ouvi-los na busca de caminhos para melhor cumprir seu papel. Por meio dos H.T.P.C., nos momentos previstos para estudos. Os estudos sobre os documentos são realizados sempre com a orientação da equipe gestora, a fim de que os professores possam tomar ciência, refletir e sempre que possível opinar. (PROFESSORA A).

Corroborando a análise de Lima (2008) de que os documentos oficiais

acabam por ser incorporados e adaptados à realidade educacional de cada escola,

notou-se que a escola recebeu as diretrizes, discutiram nos seus momentos de

reflexão e estão buscando transformar tais documentos em ações no cotidiano

escolar. Entretanto, essas determinações não se incorporam de forma mecânica,

são repensadas à luz da prática e do cotidiano escolar.

Outro fator importante destacado pelos que participaram da entrevista está

relacionado à participação e auxílio do órgão central nas discussões e no

acompanhamento da elaboração do Projeto Político-Pedagógico. A diretora da

escola destacou que:

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Não tivemos participação nas discussões na escola com integrantes

da secretaria de educação, talvez porque eu como gestora tenha

participado das discussões e contribuiria para direcionar os estudos.

É lógico que se pudesse contar com supervisores para contribuir

seria ótimo, mas sei que a rede é grande e os funcionários reduzidos.

(DIRETORA)

Para a professora A, a sensação também é a mesma apresentada pela

diretora, ao ser indagada sobre a participação de integrantes do órgão central nas

discussões na escola do projeto pedagógico. Ela nos responde da seguinte forma:

Não. Sempre que o tema merece um olhar mais cuidadoso recebemos estas informações da equipe gestora nos horários de estudo, pois são elas que participam das reuniões. Na escola, fazemos uma leitura coletiva, refletimos sobre o assunto em grupo e registramos nossas opiniões de acordo com nossas vivencias.(PROFESSORA A).

Quando perguntou-se sobre o que se entendia por projeto pedagógico,

registraram-se diferentes posições e concepções por parte daqueles que

participaram da entrevista, demonstrando que os debates teóricos e as reflexões

acerca da prática e do registro das ações da escola não conseguiram atingir todos

os segmentos envolvidos na ação educacional. Nesta perspectiva a diretora

respondeu:

O projeto político pedagógico é entendido como a própria

organização do trabalho pedagógico da escola, pensado coletivamente,

com a participação de todos os envolvidos. É uma forma de contrapor-se à

fragmentação do trabalho pedagógico e sua rotinização, a dependência e

aos efeitos negativos do poder autoritário e centralizador. Ao construir o

projeto pedagógico, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar.

Lançamo-nos para adiante, com base no que temos, buscando o possível

e sonhando com um futuro melhor.(DIRETORA).

Para a professora A, o projeto pedagógico:

É um instrumento que possibilita à escola inovar a sua prática pedagógica, na medida em que apresenta novos caminhos para situações que necessitam ser modificadas. Esse processo não pode ser elaborado apenas por uma pessoa ou pelos gestores da escola e

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tão pouco deve ser feito de uma só vez. Deve, antes de tudo, ser elaborado por todos os segmentos da escola de forma processual, reflexiva com ações a curto, médio e longo prazo. Um bom projeto pedagógico da escola depende, sobretudo, da ousadia dos seus pares.(PROFESSORA A).

Já para professora B e a Assistente Administrativa, percebe-se uma

concepção mais burocratizada do projeto pedagógico, o que se pode confirmar nas

suas falas:

Os projetos estão inseridos em nosso contexto escolar/social. Com o

compromisso de formarmos cidadão críticos, participativos,

reflexivos, autônomos, criativos e compromissados; acredito na

importância em articularmos todos os envolvidos com a realidade da

escola para a elaboração/execução/avaliação de um projeto

pedagógico que venha ao encontro das necessidades vividas por

este grupo social. Cada escola vive uma realidade diferente e são

essas diferenças que nos norteiam. (PROFESSORA B).

É um documento que contém as leis da escola, cada escola tem o

seu Projeto Político-Pedagógico. E é montado pela direção e

professores e funcionários e pais, lá constam os objetivos, metas,

etc., sobre o que a escola pretende realizar e modificar anualmente.

(ASSISTENTE ADMINISTRATIVO).

A mãe de aluno demonstra um grande desconhecimento do que seja o

Projeto Pedagógico da Escola, embora ela atue num colegiado da escola. Sua

resposta referente ao entendimento do projeto pedagógico deixa isso muito claro.

É uma maneira de organizar o funcionamento da escola, onde se

escreve o que quer que aconteça na escola.(MÃE DE ALUNO).

Em relação à participação da comunidade e de outros segmentos do

processo educacional, percebe-se pelas entrevistas que, tanto a mãe de aluno,

como a assistente administrativa procuram se inteirar do cotidiano da escola e das

ações do projeto pedagógico, mas essa participação acaba sendo do tipo

organizada (Lima,2008), em que se participa por uma formalidade legal. Mesmo

sendo por essa forma de participação, Lima (2008) ressalta que:

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A participação organizada, na escola, exigiu, pelo menos do ponto de vista formal, a organização da escola para a participação, ou seja, a criação de estruturas e de órgãos em que essa participação se passaria a realizar, configurando, desta feita, uma situação democrática […] (Lima, 2008, p. 70).

Esses espaços que foram sendo abertos para a participação, aos poucos,

começam a ser ocupados por aqueles que não estavam acostumados a frequentar a

escola, discutir e propor por quais caminhos a educação deve seguir. Isso é

perceptível na fala da mãe de aluno:

Eu participei em partes da elaboração, sou mãe da Associação de Pais e Mestres. A gente discutiu os projetos para este ano, atividades como festas comemorações, uso da biblioteca, materiais para os projetos e aulas como arte e educação física. A gente também verifica se as atividades estão boas para as crianças. (MÃE DE ALUNO).

Nas entrevistas, ao relacionar a construção do projeto político-pedagógico

com os princípios de participação e democracia expressos nas diretrizes propostas

pela Secretaria Municipal de Educação, percebe-se que tanto a diretora como as

professoras entendem essa proximidade. Para a diretora, a afirmação é muito

significativa:

Sim, o PPP é um instrumento de participação dentro da escola, esse

exercício de participação acaba se estendendo também no âmbito do

município. Pude perceber isso através da participação nas inscrições

para delegados para a Conferência de Educação do Município, onde

serão traçadas as metas para os próximos 10 anos no Município de

Várzea Paulista. Muitos foram os interessados em discutir a

educação em nosso Município. Hoje os servidores respeitam as

decisões coletivas, começam a interessar-se em participar das

decisões que dizem respeito às questões coletivas; entendo isso

como um avanço, mesmo que singelo. (DIRETORA).

Segundo Apple e Beane (2001), construir escolas democráticas não é tarefa

fácil e que exercer a democracia envolve tensões e contradições. Para esses

autores,

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Essas contradições e tensões salientam o fato de que dar vida à democracia equivale sempre a lutar. Entretanto, além delas está a possibilidades de educadores profissionais e cidadãos trabalharem juntos para criar escolas mais democráticas que sirvam ao bem comum da comunidade global. (APPLE e BEANE, 2001 p. 19).

Partindo desta afirmação de Apple e Beane (2001) percebe-se que, na

elaboração do projeto pedagógico da escola em estudo, houve preocupação com

envolvimento das pessoas ligadas à escola na participação e debates do projeto,

entretanto, esta tarefa não é simples. Há a necessidade premente de se aprender a

participar, como nos apresenta Bordenave (1994) em suas diferentes formas de

participação.

3.7. O grupo focal

O grupo focal foi realizado na biblioteca da escola, com um grupo de seis

professores, mais a diretora da escola. Esses participantes selecionados já

conheciam a pesquisa, necessitando apenas aprofundamento de algumas questões.

Tal escolha favoreceu a realização dessa forma de pesquisa.

A atividade ocorreu durante uma hora e teve como foco principal a discussão,

por parte dos integrantes do grupo das seguintes questões:

Qual compreensão de vocês sobre democracia e participação?

Como foi construir o projeto pedagógico da escola?

O que vocês fazem com as informações contidas no projeto pedagógico da

escola?

A realização desse trabalho com grupo de professores, inicialmente,

demonstrou o potencial dessa técnica em compreender e captar, no debate e no

diálogo entre os professores, suas concepções e expectativas em relação à

construção do projeto pedagógico da escola. Também propiciou compreender a

concepção de cada um acerca da proposta da política educacional apresentada pela

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Secretaria Municipal de Educação, consubstanciada nas Diretrizes do Trabalho

Pedagógico.

As discussões sobre os temas democracia e participação nas escolas foram

muito significativas e pôde-se constatar, pelos seus relatos, que as professoras têm

consciência e compreensão do assunto, entretanto, nota-se que essas percepções

acabam por ficar no campo teórico, não havendo relação entre as idéias e a prática,

conforme se observa na fala da professora A:

Para mim, democracia é abrir espaços, incentivar as pessoas a debater os temas e aprender juntos; muitas pessoas pensam democracia só como eleição, voto; isso não é democracia, ou melhor, é uma parte da democracia, muito pouco por sinal.(PROFESSORA A).

Quando o tema é participação, nota-se, da mesma forma, que possuem uma

noção teórica, mas apenas uma revela que, na prática, busca abrir o diálogo com os

alunos para decidirem coletivamente as ações que serão realizadas:

Para mim, participar significa se envolver com qualquer coisa, desde

que as decisões sejam definidas com tais pessoas; procuro fazer isto

com meus alunos, levando eles a compreenderem que é importante

participar seja na ajuda na família, no bairro, em qualquer lugar.

(PROFESSORA B).

Quanto a outro questionamento levantado em relação à construção do Projeto

Político-Pedagógico da escola sob a ótica da construção coletiva, todas foram

unânimes em afirmar que o debate foi coletivo, entretanto, encontram grande

dificuldade em colocá-lo em prática, no cotidiano escolar:

[…] ainda acho que o PPP não é bem utilizado na escola, acaba ficando lá na direção ou na secretaria e sinceramente a gente dificilmente retoma o projeto para repensá-lo e ver se o que estamos fazendo tem a ver com o que foi pensado e escrito. Acho que a escola precisaria ter mais autonomia para o projeto e não cumprir exigência da secretaria. Esta é minha opinião. (PORFESSORA A).

Após esse diálogo sobre participação e democracia na escola, a mediação

propôs que falassem sobre como se utilizam das ferramentas que existem no

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Projeto Político-Pedagógico da escola, como os indicadores, o mapeamento da

região, onde a escola está inserida, os levantamentos socioeconômicos realizados

no desenvolvimento do projeto.

As discussões foram muito significativas, posto que boa parte das professoras

não utilizavam as ferramentas para subsidiar ou reorientar sua prática. Na fala de

uma das professoras confirma-se esse entendimento:

Eu acho que estes estudos deviam ser mais discutidos nos horários de HTPC e talvez a gente se utilizasse destes para mexer em nossas atividades. (PROFESSORA A). Eu não tinha pensado nesta possibilidade de utilizar estas informações para trabalhar com os alunos; acho até que seria interessante, pois eles conhecem bem onde moram. (PROFESSORA B).

Outra professora fez um comentário bem pertinente sobre o uso das

informações do projeto pedagógico, demonstrando que existe preocupação em

transformar o PPP em instrumento importante para nortear as ações dos professores

no cotidiano escolar.

Sempre pensei na possibilidade de utilizar bem o que está no projeto pedagógico para minha ação na sala de aula, entretanto nunca tinha me dado conta de que isso era possível, pois achava o PPP algo distante para mim. Quando tive a oportunidade e só agora isso me foi possível, com participação de democracia nos debates, pude utilizá-lo e estou utilizando da melhor forma possível. (PROFESSORA C).

Ao observar a fala dessa professora, da diretora da escola e de outras

professoras e a análise de diferentes temas do projeto pedagógico da escola,

percebe-se que há a preocupação, evitando-se as generalizações desnecessárias,

de debater e buscar mecanismos de participação no cotidiano escolar. Além dessa

inferência, nota-se que há indícios de adesão da implantação dos princípios da

política educacional do município. Isso pode ser evidenciado no fato de que a

construção do projeto político-pedagógico da escola de forma mais democrática,

embora seja apenas inicial, reflete as mudanças que as políticas implantadas

começam a produzir transformações nos espaços escolares.

70

Cabe destacar aqui que a atuação do órgão central acabou por limitar-se a

preparar as mudanças, formar e qualificar as gestoras e incentivar a rede a debatê-

las em seu cotidiano, possibilitando condições necessárias para que isso ocorresse.

No entanto, não deu prosseguimento ao acompanhamento e suporte para que, de

fato, se materializasse na escola, por isso, pode-se destacar que, na escola

estudada, percebem-se apenas indícios de que as políticas educacionais e suas

diretrizes foram incorporadas.

71

4. Considerações finais

No decorrer da pesquisa, começaram a surgir algumas conclusões.

Primeiramente, que não há relação mecânica entre as diretrizes propostas pela

Secretaria Municipal de Educação de Várzea Paulista e a implantação e

incorporação dessas políticas por parte daqueles que participam do cotidiano

escolar; essa conclusão vem corroborar o pensamento de vários autores que deram

fundamentação teórica à presente pesquisa.

Outra constatação é que não há participação efetiva de todos aqueles que

estão envolvidos com a escola, professores, gestores, pais, funcionários e o próprio

órgão central da secretaria, na elaboração do Projeto Político-Pedagógico. Aqui

tendo como referência a concepção do que seja participação, abordada tanto por

Bordenave quanto Lima, como um processo democrático que deve implicar,

necessariamente, o envolvimento e compromisso de todos na elaboração e

execução do Projeto Político-Pedagógica da escola. Essa constatação pode ser

verificada nas entrevistas com professores, funcionários e a mãe de aluno.

A análise do Projeto Político-Pedagógico da escola revela que existe a

intenção em transformá-lo em ferramenta de participação democrática, entretanto,

verificam-se apenas indícios de que essa concepção esteja sendo colocada em

prática. Nessa mesma perspectiva, as diretrizes propostas pela Secretaria Municipal

de Educação registram-se apenas como intencionalidade no projeto pedagógico da

escola, cuja incorporação na prática apresenta poucos indícios.

Diante do exposto, pode-se concluir que existem esforços para que os

princípios de democracia e participação sejam incorporados no projeto pedagógico

da escola. Entretanto, é muito importante ressaltar o que Freire (1991) compreendia

como participação das classes populares..

A participação para nós, sem negar esse tipo de colaboração, vai mais além. Implica, por parte das classes populares, um ‘estar presente na História e não simplesmente nela estar representado’.

72

Implica a participação política das classes populares através de suas representações ao nível das opções, das decisões e não só do fazer o que já foi programado. (FREIRE, 2005, p. 75).

Nessa perspectiva, busca-se construir uma escola, segundo Lima (2005), na

qualidade de organização educativa que pretende ser um espaço, onde se aprende

o que é a democracia, exercendo a democracia, vivendo seus valores em exercício

permanente, construído por pequenas conquistas diárias, conforme nos propõe

Apple e Beane (2001) na vida da coletividade. A participação da comunidade nas

decisões da escola e sua atuação no cotidiano escolar são tão importantes quanto

sua participação nas decisões maiores sobre políticas educacionais municipais,

estaduais ou nacionais.

Para que a participação na escola seja realmente efetiva, é preciso criar as

condições para que isso ocorra, propiciando, de forma constante, momentos de

diálogos, debates e favorecendo os momentos de convivência entre os todos os

envolvidos – pais, alunos, funcionários, professores, funcionários, gestores.

O sonho de construção de escolas democráticas, como nos aponta Apple e

Beane (2001) é como a democracia:

[…] não surgem por acaso. Resultam de tentativas explicitas de educadores colocarem em prática os acordos e oportunidades que darão vida à democracia. […] é criar estruturas e processos democráticos por meio dos quais a vida escolar se realize. (APPLE. BEANE, 2001, p. 20).

73

5. Referências

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77

6. Anexos

6.1. Roteiro para entrevistas na escola.

1 Informações :

Nome _____________________________________________________idade_________

Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )

Formação:_______________________________________________________________

Ocupação/cargo que ocupa:_________________________________________________

Tempo que possuiu na carreira:_______________________________________________

Domicílio (apenas a cidade)__________________________________________________

2- Questões|:

Como você vê a política educacional da atual gestão na prefeitura?

Você teve acesso à lei 1976/2008 que instituiu o sistema municipal de ensino?

Quando? De que forma?

Você conhece as diretrizes gerais do trabalho pedagógico, elaboradas, em 2006,

pela Secretaria de Educação?

Estas leis foram debatidas na escola?

( )intensamente ( )com pouca profundidade ( )superficialmente ( )não discutiram

Alguém da secretaria participou na escola, junto com vocês, dessas discussões?

O que você entende por projeto pedagógico?

Você acha importante a escola ter projeto pedagógico?

Esta escola possui projeto pedagógico? Você participou de sua elaboração?

( )intensamente ( )com pouca profundidade ( )superficialmente ( )não participei

O que de mais marcante ficou para você no projeto pedagógico da escola?

O projeto pedagógico influencia a sua atuação profissional? De que forma?

Quais dificuldades você avalia para elaboração, execução e avaliação do projeto

pedagógico?

Qual sua participação no Projeto Pedagógico? Quem participou desta construção?

Como foi construir o Projeto Pedagógico? Qual foi o maior foco de discussão durante

a elaboração? Como você avalia este trabalho? Ele poderia ter sido diferente?

78

6.2. Lei 1.976, de 10 de novembro de 2008

PREFEITURA MUNICIPAL DE VÁRZEA PAULISTA

ESTADO DE SÃO PAULO

- LEI Nº 1.976, DE 10 DE NOVEMBRO DE 2.008

Dispõe sobre a reestruturação do Sistema

Municipal de Ensino, instituído pela Lei

Municipal nº 1.588, de 1º de março de 2000, e

dá outras providências.

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES INICIAIS

Art. 1º Fica reestruturado o Sistema Municipal de Ensino, instituído pela Lei

Municipal nº 1.588, de 1º de março de 2000, que reger-se-á pelas seguintes e principais bases

de ordem legal:

I – Constituição da República Federativa do Brasil;

II – Constituição do Estado de São Paulo;

III – Lei Orgânica do Município de Várzea Paulista;

IV – Lei nº 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;

V – Lei nº 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente;

VI – legislação Federal, Estadual e Municipal aplicável ao setor;

VII – a presente lei;

79

VIII – outras normas legais que venham a ser editadas e sejam pertinentes.

CAPÍTULO II

DO SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO

Art. 2º O Sistema Municipal de Ensino constitui-se das seguintes unidades e

órgãos vinculados à Secretaria Municipal de Educação:

I – Conselho Municipal de Educação, nos termos da Lei nº 1.499, de 30 de junho

de 2008;

II – Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, nos termos da Lei n° 1.893, de 31 de

julho de 2007;

III – Conselho Municipal de Alimentação Escolar, nos termos da Lei nº 1.423, de

30 de junho de 1995;

IV – Unidades Educacionais de Educação Infantil mantidas pelo Poder Público

Municipal;

V – Unidades Educacionais de Ensino Fundamental e Educação de Jovens e

Adultos mantidas pelo Poder Público Municipal;

VI – Instituições de Educação Infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada,

com funcionamento autorizado pela Secretaria Municipal de Educação;

VII – Instituições de Ensino Fundamental, criadas e mantidas pela iniciativa

privada, com funcionamento autorizado pela Secretaria Municipal de Educação, quando

couber;

80

VIII – Outros órgãos vinculados à área educacional, que vierem a ser criados e

integrados à Secretaria Municipal de Educação.

Parágrafo único. A Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer

regulamentará o funcionamento de escolas particulares de educação infantil e fundamental em

legislação específica.

Art. 3º São princípios do Sistema Municipal de Ensino:

I – igualdade de condições para acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento,

a arte e o saber;

III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas e coexistência de

estabelecimentos públicos e privados de ensino;

IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais do Município;

VI – valorização dos profissionais de educação;

VII – gestão democrática do ensino público;

VIII – garantia de padrão de qualidade;

IX – valorização da experiência extra-escolar;

X – vinculação entre a educação escolar e as práticas sociais;

XI – ampla participação dos pais, educadores e educandos nas instâncias do

Sistema.

XII – atendimento às crianças e adolescentes com deficiências;

81

XIII – universalização do ensino.

Art. 4º O ensino, ministrado com base nos princípios estabelecidos no artigo

anterior, tem por diretrizes gerais:

I – a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do

Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade;

II – o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais da pessoa humana;

III – o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua participação na

sociedade;

IV – a preservação, difusão e expansão dos patrimônios cultural e ambiental;

V – a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção

filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe, etnia, gênero ou

idade;

VI – o desenvolvimento da capacidade de elaboração e reflexão crítica e analítica

da realidade;

VII – a formação da pessoa para o domínio dos conhecimentos científicos e

tecnológicos que lhe permita utilizar as possibilidades e superar as dificuldades do meio em

que vive.

Art. 5º São finalidades do Sistema Municipal de Ensino:

I – oferecer educação infantil, garantindo acesso e permanência gratuitos nas

Unidades Educacionais de Educação Infantil às crianças de 04 (quatro) meses até 05 (cinco)

anos, tendo como objetivo o desenvolvimento integral em seus aspectos físico, psicológico,

intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade;

II – oferecer o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a

ele não tiveram acesso na idade própria;

82

III – oferecer atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com

deficiência;

IV – garantir qualidade de ensino;

V – assegurar formação, produção e a pesquisa científica que possibilitem o

direito à aprendizagem a todos os educandos;

VI – garantir a participação de docentes, pais e demais segmentos ligados às

questões da educação municipal na formulação de políticas e diretrizes para a educação do

município, bem como na gestão e controle social dos recursos financeiros e materiais do

ensino público e privado, repassados pelo Poder Público;

VII – viabilizar projetos e programas especiais para crianças, jovens e adultos em

situação de vulnerabilidade social, podendo, para tanto, estabelecer parcerias.

CAPÍTULO III

DAS COMPETÊNCIAS DAS UNIDADES E ÓRGÃOS QUE COMPÕEM O SISTEMA

MUNICIPAL DE ENSINO

Art. 6º Compete à Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer:

I – normatizar, a cada ano, a elaboração do projeto político pedagógico das

Unidades Educacionais;

II – normatizar, a cada ano, a elaboração do regimento das Unidades

Educacionais e homologá-lo;

III – normatizar a elaboração do calendário escolar e homologá-lo, garantindo o

cumprimento do disposto nas legislações superiores;

IV – definir diretrizes gerais e curriculares;

V – implantar a avaliação do sistema municipal de educação;

83

VI – garantir a participação das unidades educacionais nas avaliações das

instâncias superiores;

VII – regulamentar o processo de atribuição/remoção de acordo com a legislação

vigente;

VIII – dar suporte pedagógico, administrativo, material e financeiro às unidades

educacionais;

IX – autorizar e supervisionar unidades de educação infantil e fundamental

privadas, quando couber;

X – definir critérios para matrículas escolares nas diferentes modalidades de

ensino.

Art. 7º As competências dos Conselhos Municipais que compõem o Sistema

Municipal de Educação são definidas em legislação própria.

Art. 8º Compete às Unidades Educacionais de Educação Infantil mantidas pelo

Poder Público Municipal:

I – elaborar o projeto político pedagógico, preservando a identidade pedagógica

da educação infantil;

II – elaborar o regimento interno;

III – eleger o Conselho de Escola;

IV – organizar e acompanhar a APM;

V – manter a escrituração escolar atualizada e expedir documentação com as

especificações cabíveis;

VI – cumprir as determinações da política de atendimento da secretaria;

Art. 9º Compete às Unidades Educacionais de Ensino Fundamental e Educação

de Jovens e Adultos mantidas pelo Poder Público Municipal;

84

I – elaborar o projeto político pedagógico;

II – elaborar o regimento interno;

III – eleger o Conselho de Escola;

IV – organizar e acompanhar a APM;

V – acompanhar e verificar freqüência de alunos, tomando providências

necessárias quando do excesso de faltas;

VI – acompanhar o rendimento escolar e fazer os encaminhamentos necessários;

VII – manter a escrituração escolar atualizada e expedir documentação com as

especificações cabíveis;

Art. 10. Compete às Instituições de Educação Infantil criadas e mantidas pela

iniciativa privada, com funcionamento autorizado pela Secretaria Municipal de Educação:

I – seguir as normas estabelecidas pela secretaria;

II – manter escrituração escolar em dia;

Art. 11. Compete às Instituições de Ensino Fundamental, criadas e mantidas pela

iniciativa privada, com funcionamento autorizado pela Secretaria Municipal de Educação;

I – seguir as normas estabelecidas pela secretaria;

II – manter escrituração escolar em dia;

CAPÍTULO IV

DO FUNCIONAMENTO DAS UNIDADES EDUCACIONAIS

DE ENSINO FUNDAMENTAL

85

Art. 12. O ensino fundamental municipal terá a carga horária anual de, no

mínimo, 1.000 (mil) horas, distribuída em, no mínimo, 200 dias letivos de efetivo trabalho

escolar.

Art. 13. O ensino fundamental municipal será de nove anos, com ingresso das

crianças a partir de 6 (seis) anos completos, até o início do ano letivo, sendo extinto o ensino

fundamental de 8 (oito) anos após a saída da última turma em 2011 que ingressou em 2008.

Art. 14. O ensino fundamental municipal terá, na primeira etapa, duração de cinco

anos, divididos em dois ciclos denominadas Ciclo I, com três anos, e Ciclo II, com dois anos.

No interior dos Ciclos a denominação será Ano I, Ano II e Ano III do Ciclo I e Ano I e Ano II

do Ciclo II.

Art. 15. O Ciclo I terá, no mínimo, 2 horas/aula semanais de educação física e 2

horas/aula de educação artística e 1 hora/aula de filosofia.

Art. 16. O Ciclo II terá, no mínimo, 2 horas/aula semanais de educação física, 2

horas/aula de educação artística, 1 hora/aula de filosofia e 2 horas/aula de língua estrangeira,

podendo ser língua inglesa ou espanhola.

Parágrafo único. Cada hora aula corresponde a 50 minutos

CAPÍTULO V

DO FUNCIONAMENTO DAS UNIDADES EDUCACIONAIS

DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Art. 17. As unidades de educação infantil atenderão crianças de quatro meses a

cinco anos e onze 11 (onze) meses. As crianças de 4 (quatro) meses a 2 (dois) anos e 11

(onze) meses serão atendidas em creches e as crianças de 3 (três) a 5 (cinco) anos serão

atendidas em pré-escolas.

CAPÍTULO VI

DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

86

Art. 18. Os direitos e deveres dos profissionais da educação serão normatizados

em legislação específica, a saber, o Estatuto dos Servidores Públicos de Várzea Paulista e o

Plano de Cargos e Salários.

CAPÍTULO VII

DO FINANCIAMENTO

Art. 19. São considerados recursos públicos destinados à educação os originários

de:

I – receita de impostos municipais;

II – receita de transferências constitucionais e outras transferências;

III – receita de salário-educação e de outras contribuições;

IV – receitas de incentivos fiscais;

V – outros recursos previstos em Lei.

Art. 20. O Município aplicará, anualmente, nunca menos de 25% (vinte e cinco

por cento) da receita resultante de impostos, compreendidas as transferências constitucionais,

na manutenção e desenvolvimento do ensino público, observado o disposto no art. 5º, da

Emenda Constitucional nº 14 (oferecer educação infantil em creches e pré-escolas com

prioridade, o ensino fundamental).

CAPÍTULO VIII

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 21. O Município poderá compor com o Estado um Sistema Único de

Educação Básica, que vise a uma divisão de atribuições com limites precisos nesse campo.

Parágrafo único. Para a composição do Sistema Único de Educação Básica, o

Município poderá assumir unidades escolares estaduais, integrando-as ao seu próprio sistema,

nos termos desta Lei e nos moldes do Convênio específico de formalização dessa

transferência.

87

Art. 22. As creches e pré-escolas existentes ou que venham a ser criadas deverão,

a contar da publicação desta Lei, integrar-se ao Sistema Municipal de Ensino.

Art. 23. As escolas municipais serão criadas por Decreto do Executivo.

Art. 24. Lei específica estabelecerá a Conferência Municipal de Educação bem

como o Plano Municipal de Educação.

Art. 25. O Ensino da Música deverá ser conteúdo obrigatório na Educação

Básica, mas não exclusivo, do componente curricular denominado ensino das artes no Sistema

Municipal de Ensino.

Art. 26. O Sistema Municipal de Ensino organizará o regime de colaboração junto

ao Sistema Estadual de Ensino.

Art. 27. O Executivo regulamentará a presente lei no prazo de 60 (sessenta dias) a

contar da data de sua publicação.

Art. 28. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as

disposições em contrário, notadamente a Lei nº 1.588, de 1º de março de 2000.

PREFEITURA MUNICIPAL DE VÁRZEA PAULISTA, dez dias do mês de novembro do

ano de dois mil e oito.

Eduardo Tadeu Pereira

Prefeito Municipal de Várzea Paulista

Luiz Antonio Raniero

Secretário Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer

Registrada e Publicada na Secretaria Municipal de Gestão Pública desta Prefeitura

Municipal, na mesma data.

Carlos Maldonado

Secretário Municipal de Gestão Pública

Diretrizes Gerais para o Trabalho Pedagógico

Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer

1886 1965Várzea Paulista

Prefeitura Municipal de Várzea Paulista

agosto de 2006

Queremos contribuir para uma vida melhor em nos-

sa cidade. Compartilhamos com você este nosso sonho.

Convidamos todos a nos ajudar a transformar este

sonho em realidade. Vamos nos unir e, com toda a nos-

sa criatividade, descobrir um modo de organizar a escola

a serviço da vida melhor que queremos. Precisamos dos

esforços de todos nesse apaixonado trabalho de

re-invenção da cidade e da escola.

Como podemos organizar uma escola cheia de vida?

Construindo uma vida melhor

1º. os eduCadores

Em primeiro lugar, queremos olhar para nós, educadoras e educadores.

Sonhamos com uma escola feita por educadores alegres, abertos, vivazes e receptivos. Nós, educadoras e

educadores, renovamos a nossa paixão na intensidade dos afetos que criamos com os nossos educandos.

Vamos pensar em uma escola na qual sentimos o valor do nosso trabalho realizado enquanto educado-

res. Uma escola em que são também educadores todos os trabalhadores em educação.

Não há uma escola criativa se nós, os educadores e os funcionários não estivermos estimulados e

conscientes de nosso importante papel na relação ensino-aprendizagem. Nós gostamos de ser os maiores

motivadores dos processos pedagógicos, em quaisquer das faixas etárias que a escola atenda. Queremos

construir espaços coletivos de trabalho, para uma efetiva troca de saberes e enriquecimento do conjunto

das práticas, envolvendo toda a comunidade escolar. Nesse processo, valorizamos todos os saberes voltados

para a valorização da vida que já existem na escola e na comunidade.

Queremos contribuir para que a avaliação seja cada vez mais uma ferramenta pedagógica constante,

presente no cotidiano do processo educacional.

Lembramos aqui as palavras de um educador também muito apaixonado pelo ofício de educar:

“Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer na minha prática educativo-

crítica é o de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de inter-

venção no mundo” (Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia).

Queremos garantir o nosso direito à formação, pois diante da velocidade com que novos conhecimen-

tos e práticas sociais surgem no mundo sentimos novas exigências em nossos trabalhos. Queremos que a

Secretaria continue investindo em nossos processos de formação. Desejamos uma educação com qualida-

de em nosso município e a constante evolução profissional de todos nós.

2º. os eduCandos

Nossa ação como educadores está focada nos nossos alunos, para que construam uma vida melhor para si

e a comunidade. Queremos que nossas crianças valorizem sempre e mais a vida humana. Por isso, no nosso

convívio diário, respeitaremos a cultura da infância, desenvolvendo processos pedagógicos que favoreçam a sua

autonomia, sem deixar de lado a alegria e o movimento, e tudo que contribua para a sua formação plena.

Nossa intenção é contribuir para que crianças e jovens nas nossas escolas sejam solidários, consigam

conviver com as diferenças e os potenciais individuais, se pautem pelos princípios éticos e aprendam a

viver em sociedade de uma maneira criativa, construtiva e transformadora. Hoje, num mundo marcado

pela violência e pela competição, sabemos que é urgente resgatar os valores humanos fundamentais.

“... sem certas qualidades ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros, tolerância,

humildade, gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade para a mudança,

persistência na luta, recusa aos fatalismos, identificação com a esperança, abertura à justiça, não

é possível a prática pedagógica-progressista, que não se faz apenas com ciência e técnica” (Paulo

Freire, Pedagogia da Autonomia).

3º. a esCola

É na escola que a relação ensino-aprendizagem acontece. Queremos que a construção dessa relação

envolva todos os interessados: alunos, famílias, educadoras e educadores, trabalhadores em educação, co-

munidade, poder público. Nossa escola não pode estar isolada do mundo. É com a participação de todos

que ela vai se fortalecer como espaço de afirmação da identidade de nossos alunos, como sujeitos críticos

e autônomos. É com essa participação que construiremos um espaço que respeita e convive com as dife-

renças de cada um, exerce a tolerância e a inclusão de todos. Um espaço cheio de vida!

Incentivaremos o exercício da ética, da democracia, da participação coletiva e do acesso e da produção

do conhecimento e da cultura no espaço escolar. Sabemos que é na escola que se constroem as primeiras

pontes para o saber produzido pela humanidade. É também na escola que nossas crianças começam a se

perceber como indivíduos numa sociedade. Paulo Freire comentou sobre isso:

“A Cidade é cultura, criação, não só pelo que fazemos nela e dela, pelo que criamos nela

e com ela, mas também é cultura pela própria mirada estética ou de espanto, gratuita, que lhe

damos. A Cidade somos nós e nós somos a Cidade. Mas, não podemos esquecer de que o que

somos guarda algo que foi e que nos chega pela continuidade histórica de que não podemos

escapar, mas sobre que podemos trabalhar, e pelas marcas culturais que herdamos” (Paulo

Freire, Cidade Educativa).

4º. o projeto pedagógiCo

Sabemos que o projeto pedagógico é o alicerce de nosso trabalho como educadores na escola. Ele é que nos

dá suporte e sentido para o fazer pedagógico no coletivo da escola. Ele é que vai fazer nascer a vida na escola.

Na construção do projeto pedagógico de cada uma de nossas escolas, queremos que suas características

locais sejam respeitadas. Para isso, vamos estimular a participação da comunidade escolar e da comunida-

de local, fugindo do fazer apenas burocrático. Somos conscientes que a elaboração do projeto pedagógico

de uma escola é um processo longo, mas rico no aprendizado dos valores humanos, da ética e da democra-

cia. Valorizamos os saberes das nossas educadoras e dos nossos educadores e o potencial criador de todos

os envolvidos, além do princípio fundamental que é o cuidado com a vida.

“Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente, que historicamente,

mulheres e homens descobriram que é possível ensinar”. (Paulo Freire, Pedagogia da autonomia)

Princípios gerais

Para realizarmos esta vontade de ter uma escola cheia de vida, com a presença ativa de educa-

dores, alunos, pais e comunidade, esta administração age de acordo com três princípios gerais:

1º. demoCratização do aCesso e da permanênCia

Toda criança tem direito à educação, para seu pleno desenvolvimento como indivíduo e ser social. Isso

está previsto na legislação vigente (Constituição Federal – Artigos 205, 206 e 213; Lei de Diretrizes e Ba-

ses – Lei 9.394 , 20/12/1996, seção III; Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069 – 13/07/1990,

artigo 53; Resolução CNE - CEB nº 02/2001). Enquanto educadores e gestores, faremos todos os esforços

possíveis para garantir esse direito.

2º. gestão demoCrátiCa

Tomar decisões de forma conjunta, apesar de mais difícil, é o jeito mais correto de acertar, principal-

mente na educação. Sabemos que os processos são mais lentos, por conta da reflexão dos conflitos naturais

entre todos os participantes. Como educadores, reconhecemos que é aí que está a riqueza do construir

coletivo. Por isso, temos de incentivar esse modo de gerenciar a educação, levando em conta ainda o que

prevê a legislação vigente (Constituição Federal, Artigo 206).

3º. melhoria da qualidade de ensino

Uma educação de qualidade e para todos é o objetivo de todos nós educadores. Queremos que nossos

alunos saiam de nossas escolas dominando as habilidades necessárias à continuidade da educação básica.

Para isso, nosso compromisso tem de ser constante e promover ações pedagógicas, administrativas e polí-

ticas para garantir esse aprendizado.

Ações

Esses princípios inspiram ações do poder público. A participação popular é importante

garantia para a realização desses princípios.

1º. prinCípio: demoCratização do aCesso e da permanênCia

1. Manter e ampliar os espaços físicos das escolas, procurando adequá-los aos portadores de necessi-

dades especiais;

2. Levantar a demanda por vagas nas escolas todo mês;

3. Realizar o Censo Escolar;

4. Procurar ampliar o atendimento da rede;

5. Realizar concurso público para incorporar novos educadores à rede municipal;

6. Criar cargos de professores específicos (Educação Artística, Inglês, Espanhol, Educação

Física e Filosofia);

7. Discutir e readequar o Estatuto do Magistério, em conjunto com os professores;

8. Discutir com os educadores e assessorar a organização do projeto político-pedagógico nas escolas;

9. Propor práticas e projetos coletivos que desenvolvam aprendizagens significativas pelos estudantes;

10. Dotar as escolas com equipamentos e material didático, para o bom trabalho pedagógico;

11. Procurar diminuir o número de analfabetos no município, por meio do Programa Brasil Alfabeti-

zado, com a inscrição do município no programa e das classes de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

12. Estudar parcerias para garantir a sustentabilidade das classes de EJA.

2º. prinCípio: gestão demoCrátiCa

1. Incentivar a criação e o funcionamento de colegiados nas escolas (conselhos de escola e associações

de pais) e a participação da comunidade;

2. Estimular a participação da comunidade escolar e da população em geral no Conselho

Municipal de Educação;

3. Acompanhar e ajudar as escolas a elaborar seus projetos político-pedagógicos,

garantindo sua aplicação;

4. Ajudar a tornar mais fácil o cotidiano administrativo das unidades escolares, com a nomeação de

um núcleo gestor para cada escola; a dotação de conta-escola para pequenas despesas; a organização de

equipe de manutenção física das escolas e outros mecanismos;

5. Melhorar a comunicação entre a Secretaria e as unidades escolares;

6. Valorizar os professores, por meio da revisão participativa do Estatuto do Magistério e o estabele-

cimento de Plano de Cargos e Salários que ainda não existe.

3º. prinCípio: melhoria da qualidade de ensino

1. Promover ações de formação de educadores, gestores e trabalhadores na educação da rede;

2. Melhorar o gerenciamento administrativo e pedagógico nas escolas, com a designação de gestores

para cada unidade escolar e a informatização das escolas;

3. Introduzir disciplinas como Filosofia e Espanhol no currículo;

4. Estimular a realização de projetos coletivos que produzam vivências e aprendizagens significativas;

5. Realizar esforços para elaborar um currículo mais ligado à cultura local, comprometido com a

construção de uma vida melhor;

6. Melhorar os processos de avaliação do rendimento escolar;

7. Melhorar o ambiente e as condições materiais nas escolas, com a distribuição de uniformes e material

escolar para os alunos; equipamentos eletrônicos, publicações, brinquedos e outros materiais para o desenvolvi-

mento do trabalho pedagógico;

8. Melhorar a qualidade e o atendimento da merenda;

9. Melhorar o atendimento do transporte escolar.

Para realizarmos o sonho de uma escola cheia de vida, pensamos numa Secretaria de Educa-

ção muito viva também, sempre a serviço dos educadores e educandos da comunidade.

Reunimos aqui algumas falas de alunos, pais, trabalhadores em educação e educadores que

apontam para a escola cheia de vida que queremos construir:

“Tive uma semana de descontração que ajudou os alunos a saírem um pouco da rotina e só vir a escola para aprender

matemática, português, historia, geografia etc. Foi super bom, deveria ter todas as férias” (Thaina, aluna, sobre o Projeto

Férias na Escola,)

“Achei o projeto bem organizado, é uma maneira de incentivar as crianças a participar das atividades desenvolvidas e

virem com mais vontade à escola, mesmo durante as férias...” (Viviane, mãe da Jessica Kelly)

“Para mim, o Projeto Férias na Escola foi uma boa oportunidade para nós. Porque em vez da gente ficar na rua sem

fazer nada, a gente vem pra cá para brincar, sem se preocupar com carros etc.” (Danielli, aluna)

“Eu tive a impressão que a Educação começa a perceber a importância que cada um tem dentro do que você faz. Dando

importância a cada funcionário, eu tinha a impressão que nós, ajudantes que trabalhamos na limpeza não éramos lembra-

dos, porque se faz tudo pelos professores, é curso, é isso e quilo, tudo direcionado aos professores e para os ajudantes nada. Como

se nosso trabalho não tivesse nenhuma importância. Sinto que isso pode mudar.” (Avaliação de funcionário, depois do

Encontro de Trabalhadores em Educação, no dia 19 de julho de 2006)

“Hoje me senti super importante por ter sido lembrada, pois os funcionários ficam esquecidos. Está ótimo. Quero ser crian-

ça eterna. Mas nem sempre a escola oferece oportunidades. Você precisa olhar melhor para os funcionários, dar oportunidades

para crescer; precisamos ser valorizados; sei que isso é possível.” (Avaliação de outro funcionário no mesmo encontro)

“O encontro foi prazeroso, adorei resgatar meu tempo de criança, aflorar emoções que ao meu ver é importante (...) Quero

que esse resgate continue nos próximos encontros, com brincadeiras que possamos trabalhar com crianças e até mesmo com

adultos (...)” (Irani, educadora, a respeito da formação do Projeto Brincar)

“Parabenizo a equipe pelo projeto, pois tudo que nos foi apresentado nos ajudará a desempenhar nossa função de

educadores de uma forma prazerosa para as crianças.” (educadora que não se identificou, na avaliação do encontro

do Projeto Brincar)

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