212
0 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL MS LUCIANA BRAUN REIS A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA SEDUÇÃO ESTÉTICA: PERCEPÇÕES SOBRE A REDE LOJAS MARISA Porto Alegre 2012

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

0

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

MS LUCIANA BRAUN REIS

A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA SEDUÇÃO ESTÉTICA:

PERCEPÇÕES SOBRE A REDE LOJAS MARISA

Porto Alegre 2012

Page 2: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

1

MS LUCIANA BRAUN REIS

A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA SEDUÇÃO ESTÉTICA:

PERCEPÇÕES SOBRE A REDE LOJAS MARISA

Tese de Doutorado apresentada como requisito para obtenção do título de Doutora em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação Social – FAMECOS.

Orientadora: Prof.a Dr.a Maria Beatriz Furtado Rahde

Porto Alegre 2012

Page 3: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

211

R375c Reis, Luciana Braun

A comunicação do ambiente de varejo popular sob a influência da sedução estética: percepções sobre a rede lojas Marisa / Luciana Braun Reis. – Porto Alegre, 2012.

210 f. : il. Tese (Doutorado) – Faculdade de Comunicação Social,

PUCRS. Orientação: Profª. Drª. Maria Beatriz Furtado Rahde 1. Comunicação Social. 2. Hedonismo. 3 .Varejo. 4.

Consumo. I. Rahde, Maria Beatriz. II. Título.

CDD 659.1

.

Ficha Catalográfica elaborada por Sabrina Vicari CRB 10/1594

Page 4: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

2

MS LUCIANA BRAUN REIS

A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULARSOB A INFLUÊNCIA DA SEDUÇÃO ESTÉTICA:

PERCEPÇÕES SOBRE A REDE LOJAS MARISA

Tese de Doutorado apresentada como requisito para obtenção do título de Doutora em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação Social – FAMECOS.

Área de concentração: Teorias do Imaginário.

Aprovada em: ______de _______________ de 2012.

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________ Prof.a Dr.a Maria Beatriz Furtado Rahde

Orientadora

_________________________________________ Prof. Dr. Juremir Machado

Professor do Programa Específico - PUCRS

_________________________________________ Prof. Dr. Carlos Alberto Molinaro

Professor do Programa Específico – PUCRS

_________________________________________ Prof. Dr. Filipe Campelo Xavier da Costa

Professor Convidado - UNISINOS

_________________________________________ Prof.a Dr.a Ana Mery Sehbe de Carli

Professora Convidada – UCS

Porto Alegre 2012

Page 5: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

3

AGRADECIMENTOS

Um caminho inicia-se com um primeiro passo. Nesta trajetória muitos

foram importantes:

Prof.a Dr.a Maria Beatriz Furtado Rahde, orientadora, que me aceitou e

valorizou cada linha, cada passo.

Prof. Dr. Flávio Cauduro, Prof. Dr. Carlos Molinaro, que me inspiraram a

caminhar.

Rede Marisa que oportunizou a passagem da teoria à prática.

Meu pai, José Adão, e minha irmã, Ana, que vibraram mais que eu.

Diego, meu filho, que sempre estava lá.

Page 6: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

4

“À força de sacrificar o essencial pela

urgência, acabamos por esquecer a urgência

do essencial”. Reaparece aqui o antagonismo

entre a audácia e a prudência: até onde se

pode ir na audácia, arriscando pôr tudo a

perder, assim como na prudência, arriscando

nada a ganhar? Precisamos escolher, apostar.

(MORIN, 2007, p. 50).

Page 7: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

5

RESUMO

A comunicação do varejo popular sob a instância da recepção dos populares

observando a influência da sedução estética dessa comunicação no Ponto de Venda. A

metodologia aplicada é Sociologia Compreensiva (Michel Maffesoli). As técnicas que

abordam o objeto de estudo são, principalmente, a Pesquisa Bibliográfica, a Observação

Participante. A costura epistemológica constrói o olhar da pesquisadora com a Sociologia

Compreensiva, precedendo a noções sobre o Hedonismo, o consumo, o consumo popular,

hábitos referentes aos populares, fazendo dessas as noções do escrutínio do objeto de

estudo: as Lojas Marisa.

Palavras-Chave: Comunicação. Sociologia Compreensiva. Filosofia Hedonista. Consumo.

Consumo Popular. Lojas Marisa. Estética. Recepção. Imagem. Michel Maffesoli. Michel

Onfray.

Page 8: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

6

ABSTRACT

Popular retail communication in the perspective of reception by common people,

taking in consideration the influence of the aesthetic seduction of such communication in

the Point of Sale. The methodology used is the Comprehensive Sociology (Michel Maffesoli).

The techniques used to analyze the object of study are mainly Bibliographical Research,

Participant Observation. The epistemological connection constructs the researcher’s point of

view, with the Comprehensive Sociology preceding the notions Hedonism, regarding

consumption, popular consumption, and habits referring to common people. Such notions

will be used to analyze the object of study: Lojas Marisa.

Key Words: Communication. Comprehensive Sociology. Hedonistic Philosophy.

Consumption. Popular Consumption. Lojas Marisa. Aesthetics. Reception. Image. Michel

Maffesoli. Michel Onfray.

Page 9: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa conceitual da tese ....................................................................................... 39

Figura 2 - Fontaine, Marcel Duchamp, 1917 ......................................................................... 45

Figura 3 - O que o consumo representa................................................................................ 57

Figura 4 - Anúncios para Campanha da Divisão Ambiental do Governo belga. Título “Pense sobre o que ele consome antes de comprar” ....................................................................... 59

Figura 5 - Anúncio para Akatu. Título “Mais Carros, menos ar limpo.” .................................. 60

Figura 6 - Discurso Informativo ............................................................................................ 70

Figura 7 - Contrato de Comunicação Publicitária. ................................................................. 86

Figura 8 - Exemplo anúncio varejo popular – Pós-Modernismo ............................................ 99

Figura 9 - Exemplo de anúncio de produto – Modernismo ................................................. 100

Figura 10 - Logomarca Tate ................................................................................................ 107

Figura 11 - Circulação do CPC ............................................................................................. 118

Figura 12 - Vendedora e compradora em negociação no CPC ............................................. 120

Figura 13 - Fachada de uma loja no CPC ............................................................................. 120

Figura 14 - Modelos de cartões Marisa............................................................................... 127

Figura 15 - O que o consumo representa............................................................................ 128

Figura 16 - Materiais promocionais - serviços financeiros disponíveis nas lojas Marisa. ..... 136

Figura 17 - Ambientação PDV Marisa - vestuário infantil .................................................... 138

Figura 18 - Ambientação PDV Marisa - vestuário masculino ............................................... 138

Figura 19 - Vista geral da loja Marisa .................................................................................. 139

Figura 20 - Detalhe material Liquidação Marisa .................................................................. 139

Figura 21 - Material Liquidação – Vitrine Marisa ................................................................ 143

Figura 22 - Combinação de produtos no PDV Marisa .......................................................... 144

Figura 23 - Painel Entrada e Vista geral da loja Marisa ....................................................... 145

Page 10: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

8

Figura 24 - Sinalização de promoção .................................................................................. 146

Figura 25 - Sinalizações de bom preço ................................................................................ 147

Figura 26 - Display de ofertas ............................................................................................. 149

Figura 27 - Para amar ainda mais ....................................................................................... 149

Figura 28 - Displays alusivos à campanha Dia dos Namorados. ........................................... 150

Figura 29 - Decorações de topo de arara – coleção de inverno/catálogo ............................ 150

Figura 30 - Vista da loja São Leopoldo ................................................................................ 151

Figura 31 - Entrada da Loja ................................................................................................. 152

Figura 32 - Vista geral da loja ............................................................................................. 152

Figura 33 - Demarcação com produto da seção masculina ................................................. 153

Figura 34 - Demarcação com produto da seção feminina ................................................... 154

Figura 35 - Detalhe seção lingerie. ..................................................................................... 154

Figura 36 - Detalhe de preço/sugestão de presente com vista da loja ao fundo ................. 155

Figura 37 - Detalhe programação visual do exterior dos provadores .................................. 156

Figura 38 - Detalhe painel Check-out. ................................................................................. 156

Figura 39 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – Capa e contracapa ............ 157

Figura 40 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 2-3 ................................ 158

Figura 41 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 4-5 ................................ 158

Figura 42 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 6-7 ................................ 159

Figura 43 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 8-9 ................................ 159

Figura 44 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 10-11 ............................ 160

Figura 45 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 12-13 ............................ 160

Figura 46 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 14 -15 ........................... 161

Figura 47 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 16 e 17 .......................... 161

Figura 48 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 18-19 ............................ 162

Figura 49 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 20-21 ............................ 162

Page 11: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

9

Figura 50 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 22-23 ............................ 163

Figura 51 - Folheto frente e verso encartado no catálogo # Vou de Marisa ........................ 163

Figura 52 - Articulação do programa de presença .............................................................. 170

Figura 53 - Display campanha Namorados ......................................................................... 173

Page 12: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

10

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Domicílios particulares permanentes, por classe de rendimento nominal mensal domiciliar per capita (em salários Mínimos) ......................................................................... 72

Gráfico 2 - Marisa é a primeira loja que vem à mente das consumidoras quando se refere à compra de lingerie / peças íntimas ..................................................................................... 124

Gráfico 3 - Formas de pagamento na Rede Lojas Marisa .................................................... 126

Page 13: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Diferenças esquemáticas entre o modernismo e o pós-modernismo. ................. 95

Quadro 2 - Semelhanças pós-modernidade (Hassan) e Comunicação de Varejo Popular ...... 96

Quadro 3 - Análise método/pesquisa no PDV ..................................................................... 165

Page 14: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

12

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classe Econômica Brasileira segundo ABEP. ......................................................... 17

Tabela 2 - Grandes regiões - Taxa de Fecundidade Total – 2000 a 2010 ............................... 73

Tabela 3 - Resumo série histórica PISA e o Brasil .................................................................. 83

Page 15: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

13

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 15

2 CAMINHOS METODOLÓGICOS – ATOS COMUNICATIVOS DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA ....................................................................................................... 23

2.1 A SOCIOLOGIA DO IMAGINÁRIO ................................................................................ 23

2.2 OS CINCO PRESSUPOSTOS DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MICHEL MAFFESOLI 26

2.3 A ESTÉTICA SEGUNDO A ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA ................. 32

3 HEDONISMO ............................................................................................................. 40

3.1 MATERIALISMO HEDONISTA DE MICHEL ONFRAY...................................................... 40

3.2 O PRAZER – O HÁPAX EXISTENCIAL ............................................................................ 49

3.3 CRUZAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS ENTRE MAFFESOLI E ONFRAY ............................ 51

4 O CONSUMO ............................................................................................................. 52

4.1 O CONSUMO E O MERCADO ...................................................................................... 52

5 O POPULAR ............................................................................................................... 67

5.1 O POPULAR E A ECONOMIA ....................................................................................... 67

5.2 O POPULAR E A FAMÍLIA ............................................................................................ 72

5.3 o POPULAR E OS HÁBITOS DE CONSUMO .................................................................. 75

5.4 O POPULAR E O LUXO ................................................................................................ 79

5.5 O POPULAR E A LEITURA DA PEÇA DE COMUNICAÇÃO: OS ASPECTOS EDUCACIONAIS ................................................................................................................................. 80

5.5.1 Como vender para quem não compreende o que lê? ........................................... 81

5.5.2 A publicidade e seu entendimento ancorado no texto: ........................................ 85

5.6 A ESTÉTICA POPULAR ................................................................................................ 87

5.7 A ESTÉTICA MODERNA E A PÓS-MODERNA ............................................................... 93

5.8 OBSERVAÇÃO PARA FUTURO TRABALHO ................................................................. 101

6 A ATMOSFERA DE LOJA .......................................................................................... 102

7 A OBSERVAÇÃO DO VAREJO POPULAR: CENTRO POPULAR DE COMPRAS (CPC) .... 114

7.1 A METODOLOGIA .................................................................................................... 114

7.2 AS IMAGENS DO VAREJO POPULAR SOB A ÓPTICA DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MICHEL MAFFESOLI ................................................................................................ 114

7.3 A ESTÉTICA E A CULTURA POPULARES ..................................................................... 117

Page 16: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

14

7.4 A VISITA AO CENTRO POPULAR DE COMPRAS (cpc) ................................................. 118

7.5 CONCLUINDO A INVESTIDA NO CPC ......................................................................... 121

8 LOJAS MARISA ........................................................................................................ 122

8.1 POR QUE ESCOLHER A REDE DE LOJAS MARISA? ..................................................... 122

8.2 MISSÃO DO GRUPO MARISA.................................................................................... 123

8.3 RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DA REDE DE LOJAS MARISA .................................. 123

8.4 CRUZAMENTO EPISTEMOLÓGICO DOS CAPÍTULOS ANTERIORES COM O RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DAS LOJAS MARISA .................................................................... 127

8.5 OBSERVAÇÕES SOBRE A LOJA MARISA .................................................................... 134

8.5.1 Negócio 1 – Varejo .............................................................................................. 134

8.5.2 Negócio 2 – Serviços Financeiros ......................................................................... 136

8.6 VAREJO – PRIMEIRA OBSERVAÇÃO DA LOJA MARISA – FEVEREIRO DE 2012 ............ 137

8.6.1 Impressão da Loja ............................................................................................... 137

8.7 VAREJO – SEGUNDA OBSERVAÇÃO DE LOJA MARISA – MAIO 2012 ......................... 145

8.8 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS TENDO COMO BASE OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE MICHEL MAFFESOLI (2007) ................................................................................ 164

9 REFLEXÕES FINAIS SOBRE AS VISITAS ÀS LOJAS MARISA EM CRUZAMENTO EPISTEMOLÓGICO .................................................................................................. 166

9.1 A IMAGEM DO CONSUMO RECONSTRUÍDA COMO IMAGINÁRIO IMANENTE DO CONSUMIDOR ........................................................................................................ 166

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 178

ANEXO 1 – Tributação Indireta e Injustiça Fiscal ............................................................... 187

ANEXO 2 – Transcrição da Voz do Brasil 8/8/2011 ............................................................ 189

ANEXO 3 – Tabela1 - Pessoas Responsáveis pelos Domicílios, por Sexo, segundo as Grandes Regiões................................................................................................................... 192

ANEXO 4 – Lojas Marisa – Histórico .................................................................................. 193

ANEXO 5 – Assinatura sonora – CD áudio.......................................................................... 210

Page 17: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

15

1 INTRODUÇÃO

Falar, pensar, ler, escrever sobre o varejo é um assunto sempre em foco para

esta autora que, no seu fazer publicitário, acompanha as questões sobre o tema, e

atualiza-se constantemente. Inicialmente trabalhou criativamente para marcas do

varejo popular, impondo um olhar diferenciado na comunicação, relativizando

estereótipos e postulando o respeito criativo que o segmento merece.

Esse interesse resultou na pesquisa da tese, tendo sido também o foco do

mestrado defendido na PUCRS, em 2008: A Comunicação do Varejo Popular O Que (Por

Que) Não Muda? O Varejo do Rio Grande do Sul – 1970 a 2000 – aprovado com Louvor.

Logo, a presente tese, A Comunicação do Ambiente de Varejo Popular sob a Influência

da Sedução Estética, é uma continuação motivada pela curiosidade e pelo desejo da

autora em estreitar laços com o varejo, com o consumo e com a sedução da

comunicação.

A tese propõe enfatizar o aspecto hedonista da comunicação no varejo como

influência da estética do Ponto-de-Venda popular, doravante chamado de PDVp. Nessa

etapa, utilizar-se-á Michel Maffesoli, com o método da Sociologia Compreensiva.

Segundo Umberto Eco (2007, p. 56), em Como se Faz uma Tese, esta tese é “uma

intervenção direta na contemporaneidade”, ou seja, o estudo da sedução estética no

PDVp requer a observação participante do pesquisador de ordem prática, visando à

realização dos objetivos deste estudo, que se desenrolam ao final desta introdução.

No Mestrado, o interesse deu-se principalmente na fase da produção do objeto

de pesquisa: a comunicação do varejo do Rio Grande do Sul entre os anos 1970 a 2000,

tendo como a formação do corpus os anúncios de varejo publicados no jornal Zero

Hora. Agora, na Tese, a observação será relacionada à percepção da recepção, ou seja,

consumidores populares no PDVp, isto é, nas Lojas Marisa. Nesse caso, o corpus será a

investida comunicacional existente no PDVp, em que serão consideradas as imagens

nos suportes comunicacionais, como cartazes, banners, folhetos, faixas, além de outros

suportes de ocorrência nesse espaço, bem como as encenações e interações entre

consumidores – vendedores – PDVp das Lojas Marisa.

Page 18: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

16

Ao estudar a Imagem mais a Experiência, veem-se os contornos da noção de

comunicação pretendida para o trabalho, quando se considerará não apenas a noção

de imagem em suportes tradicionais, mas também a construção das imagens mentais,

pois, conforme Rahde1, “Comunicação é Processo, através da experiência do momento

alimenta-se a cultura. Então fazer, falar, estudar comunicação é fazer, falar, estudar

cultura”.

Confirma tal ideia a pesquisadora Irene Machado (2001, p. 290), sobre a noção

de efeito de sentido: “As mensagens não apenas têm sentido, mas são sentidas.

Produzir sentido não é transmitir algo já dado, mas construir uma dimensão sensível

em ato de troca”.

O trabalho expõe a instância comunicacional do consumo popular e sua

indubitável importância na manutenção do equilíbrio social, compartilhando o social no

que se refere ao desejo: uma sociedade pouco desejante é uma sociedade amorfa, sem

ambição de progresso. Ao mesmo tempo uma sociedade com carências infinitas, sem

perspectivas de melhoras é uma sociedade rebelde e acuada. O varejo oferece um meio

para a logística oferta/demanda aconteça. Toma providências para estabelecer o

equilíbrio e a continuação de um ciclo econômico, e a autora afirma-o também

sociológico. Logo, estuda-se o varejo como fenômeno de comunicação e social.

O varejo como palco do consumo presencia o comportamento e acompanha as

mudanças de públicos (recepção), tecnologia, produtos, bem como registra os traços

culturais mais perenes e típicos de um povo, formando um recorte da sociedade em

tempo e lugar. As classes populares é o acontecimento da sociedade brasileira nesta

década, sendo responsável, em parte, pela poupança interna, pelo desenvolvimento e

pelo equilíbrio econômico do Brasil. Em um ambiente controverso e mutante,

aprofundar os estudos no varejo e nesta população sinaliza a evolução e a

especialização que o assunto exige.

Reis (2008, p. 25) escreve em sua dissertação: “assim como o consumo, o varejo

é o altar da pós-modernidade. Vive-se em estado fractal da multiplicação ao infinito de

todas as formas, objetos, linguagens.”.

1 Citação de sessão de orientação.

Page 19: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

17

Com essa noção, dirige-se à credibilidade e à relevância do tema deste estudo:

“A comunicação do ambiente de varejo popular sob a influência da sedução estética”. A

tese explora o varejo em sua dimensão sociológica, na comunicação de trocas

simbólicas, e recorta a influência da estética que esse espaço tem sobre as classes

populares. Essas classes vêm engrossando a economia, e tornando-a viável tanto no

mercado interno do Brasil, quanto no sucesso de marcas que têm a consciência de

estudar esse segmento para melhor oferecer produtos e serviços. Estudar as classes

populares é motivo de uma curiosidade incansável da autora, já que é a massa de

pessoas que corresponde a 66,9% da base econômica brasileira – segmento C1 a E,

auferindo um rendimento mensal de R$ 410,00 a R$ 1.650,00. A autora arbitrou utilizar

o Critério de Classificação Econômica Brasil, definido pela Associação Brasileira de

Empresas de Pesquisa (ABEP), que é exclusivamente de classes econômicas, isto é, a

renda média familiar mensal, formulando o poder de compra de grupos de

consumidores. Os valores atualizados, com base em dados de 2011, estão

demonstrados na Tabela 1 a seguir2:

Tabela 1 - Classe Econômica Brasileira segundo ABEP

Fonte: IPC Marketing, 2011, p. 9-10.

As classes sociais também contribuem com o esboço, pois têm um aspecto

abrangente, considerando, entre outros fatores, a posse de bens, a educação, a

ocupação, os rendimentos e outros aspectos que retratam radiografia do grupo. Para

2 IPC MAPS 2011. Dados demográficos. Manual de operação do software e descrição da metodologia Versão

5.3. São Paulo: Ipc Marketing Edit., 2011.p. 9-10.

Page 20: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

18

as classes populares, considera-se de C1 a E, pois essa massa em forma viva acultura-se

com novos modos de produção em decorrência do incremento e possibilidades de

renda, bem como tem oportunidades que gerações de pais e avós não tiveram. Seu

devir ainda é uma dúvida frequente para pesquisadores e em planejamentos

estratégicos e operacionais de empresas. O que se sabia na década passada, hoje não

serve mais como perfil dessas pessoas. É necessário auditá-las diariamente em seu

cotidiano, para assim perceber suas nuances e, sim, através delas, estar atenta à

mudança.

Consumir certas categorias de serviços e produtos ainda é novidade para os

populares: captar as idiossincrasias, e, exumá-las sob os aspectos comunicacionais da

Sociologia Compreensiva, acredita-se, revelará a importância desse momento, que

Michel Onfray (1999) chama de Hápax. Em resumo, tira o foco da economia da

eficiência econômica, e põe as luzes sobre o princípio da comunicação do prazer. Para

o prazer existir, necessita de indivíduos e de corpos. Logo o prazer do corpo é o

propulsor dos investimentos na economia. Perceber o momento do Hápax como

momento importante na percepção comunicacional, na recepção do varejo popular é

dar continuidade a questões não exploradas na dissertação da autora, quando versou

sobre a criação e produção do varejo.

O varejo, a loja, o trânsito comunicacional existentes nas trocas

comprador/atendente explicam mais que a transação econômica, revelam a

importância que a vida emprega ao transacionado. As imagens, mesmo que não

pictóricas, ou seja, os eventos presentes da transação são tão ou mais importantes

quanto às imagens tradicionais da loja e do público que a frequenta. Essa riqueza será

apontada por notas de observação participante da autora, registros fotográficos e

conversas com compradores e vendedores do ambiente, simulando atos de compra.

Reis (2008, p. 16) reafirma o conceito de comunicação como toda a forma de

expressão, entendimento, ação entre seres que convivem e coabitam ideias, espaço;

enfim, qualquer dimensão onde a troca de informações denotativas e conotativas

transforme-se em algo comum e público para pelo menos duas pessoas. Logo,

comunicação tem a dimensão da existência e da possibilidade de senti-la e sensibilizar.

Page 21: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

19

Maffesoli explica que “o insuperável vínculo existente entre a experiência e a

essência das coisas, entre o vivido social e as representações que dele dão conta.” , ou

seja, o vivido requer o que Onfray escreve (2010, p. 24): “O filósofo é filósofo 24 horas

por dia, inclusive em suas notas de lavanderia [...]”.

Tudo indica que a Sociologia Compreensiva requer a impregnação do

pesquisador no ambiente de pesquisa, a fim de revelar o colorido do vivido e suas

implicações, pois Maffesoli (2007, p. 71) comprova que:

Sabemos que as revoluções políticas são anunciadas, preparadas e desencadeadas por acontecimentos aparentemente anódinos: a fortiori, tais acontecimentos desempenham um papel maior nestas manifestações da socialidade, que são a solidariedade de base, a teatralização ou organicidade das paixões, dos gestos e dos discursos.

Utilizar os cinco pressupostos da Sociologia Compreensiva, de Michel Maffesoli

da ampla abertura para novo patamar de exploração da imagem, não no sentido

somente da forma e de seus significados dados a priori, mas revelar a riqueza

imagística de toda espécie, tanto pictórica, quanto no sentido de fato presente, e,

assim, indicar no anódino as conexões com a pluralidade de discursos.

Dentre os cinco pressupostos da Sociologia Compreensiva de Michel Maffesoli,

há uma atenção especial à questão da Forma e Formismo. Segundo Maffesoli, a forma

é um polípole, representando a sua nascente na estética, na ética, na economia, e na

gnoseologia. Isso parece pacífico de entendimento, pois já nos é dado pelas noções de

semiótica, semiologia. Segundo Barthes (2003, p. 103), “o objetivo da pesquisa

semiológica é reconstituir o funcionamento dos sistemas de significação diversos da

língua, segundo o próprio projeto de qualquer atividade estruturalista, que é construir

um simulacro de objetos observados”3. Dada essa premissa, tem-se o ponto de vista do

observador e a orientação de fatos pertinentes, isso é um olhar limitador na formação

do corpus.

3 Observado em Barthes, 2003, 15. ed., p. 103. Essa afirmativa Roland Barthes já havia feito em “Essais

Critiques”, 1964, p. 213.

Page 22: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

20

Um novo patamar é exposto por Maffesoli, quando detalha a diferença entre

forma e formismo. Esse último termo foi cunhado pelo autor para designar, aqui, de

forma breve, a revelação dos fatos do cotidiano sem o julgamento dos valores ou

recriação do que deveria ser ou representar, mas somente expor a exuberância da

aparência social em seu caráter efêmero, inacabado, banal. Desta sorte pode a

sociologia, aceitando a aparência do social, integrá-la em grandes estruturas,

delineando configurações da vida cotidiana, ou seja, nas palavras desta autora, o

formismo não pretende reconstituir os fatos, relendo à luz da estrutura formal, porque

isso já foi enunciado por outros autores, em outras áreas do conhecimento, mas revelá -

los, a fim de estabelecer uma conexão na vida cotidiana. Capta-se a comunicação sob o

pluralismo de discursos e suas aparências, tendo o interesse em muitas pequenas

verdades e, ao mesmo tempo, na globalidade, o que a sociologia clássica chama de

holismo.

As técnicas utilizadas para atingir os objetivos serão a pesquisa bibliográfica,

fazendo a revisão teórica sobre o tema; a observação participante no PDVp4 Rede de

Lojas Marisa com registro de notas da autora; fotografias do PDVp; conversas com

compradores e vendedores do ambiente, simulando atos de compra.

Esta tese deseja responder a questão “A investigação da comunicação como

estética do consumo popular pode ser fator de influência do consumo das classes

populares como hápax5 existencial?” A partir dessa questão, constrói-se a estratégia de

ataque à pergunta, delimitam-se os objetivos do trabalho:

a) Investigar a comunicação sob a sedução estética do ambiente de varejo

popular.

b) Determinar como a estética influencia a sedução do varejo no processo

de comunicação.

c) Verificar como o prazer estético acontece no processo de comunicação

do varejo popular, configurando-se em hápax existencial do consumidor.

4 PDVp – Leia-se Ponto-de-Venda popular. 5 Onfray, em A Arte de Ter Prazer: por um Materialismo Hedonista (1999, p. 29), explica o que é o Hápax

existencial: “Hápax existenciais, experiências radicais e fundadoras ao longo das quais do corpo surgiu iluminações, êxtases, visões que geram revelações e conversões que se configuram em concepções do mundo coerentes e estruturadas”.

Page 23: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

21

Assim sendo as hipóteses iniciais são:

a) A sedução estética no PDVp é diretamente relacionada à pulsão do

consumo.

b) Para as classes populares, o prazer está na pura aquisição, não

considerando o aspecto estético.

c) O consumo pode ser considerado o hápax existencial das classes

populares.

O resultado desta investigação foi o texto organizado da seguinte forma:

O Capítulo 2 esclarece noções sobre Imaginário, Sociologia Compreensiva,

Estética segundo a visão da Sociologia Compreensiva.

O Capítulo 3 aborda a Filosofia Hedonista, propõe a simbiose Hedonismo-

Cotidiano-Consumo, através das ideias de Michel Onfray.

Por sua vez, o Capítulo 4 explora o consumo, sua constituição, suas tendências e

suas mutações.

Já o Capítulo 5 inicia o popular – é uma reflexão que pretende dar forma ao

público-alvo a que se endereça o estudo. Visa à compreensão dos hábitos, dos ritos,

das idiossincrasias, das preferências, da composição familiar, da educação, das

dificuldades, das emoções.

O Capítulo 6 foi a inovação sugerida pela banca de qualificação: A Atmosfera de

Loja, já que é nesse campo que se dará a observação participante do objeto de estudo

final: as Lojas Marisa.

O Capítulo 7 constitui-se do relato de uma investigação prévia ao objeto de

estudo final, visando a antecipar e a testar método e técnica adotados na tese.

O Capítulo 8 trata da Rede de Lojas Marisa como objeto de estudo e confronto

entre teoria e prática do trabalho. Arbitrou-se pela Rede em função da praticidade e da

conveniência para a autora, bem como por a Rede demonstrar sólido conhecimento

acerca da audiência, além de ser vocacionada para o atendimento popular.

O Capítulo 9 são as reflexões finais acerca da percepção do PDV Lojas Marisa em

concordância com os capítulos anteriores.

Page 24: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

22

A inovação que este trabalho almeja dirige-se aos gestores de comunicação e do

varejo, na medida em que a leitura revela a extensão comunicacional do que acontece

no PDVp, deslumbrando a dimensão talvez ignorada: a economia do prazer, a econom ia

da comunicação. Gerencialmente, poderá ancorar investimentos em comunicação

eficientes em sinergia com o contemporâneo dos consumidores. Este trabalho é

acadêmico e científico, mas com a ambição prática do esclarecimento publicitário

sobre o varejo, podendo servir de inspiração para planos de marketing e de

comunicação.

Boa e esclarecedora leitura.

Page 25: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

23

2 CAMINHOS METODOLÓGICOS – ATOS COMUNICATIVOS DA SOCIOLOGIA

COMPREENSIVA

2.1 A SOCIOLOGIA DO IMAGINÁRIO

Parece adequado embasar a Sociologia Compreensiva e a Sociologia do Imaginário,

pensando em estabelecer o escrutínio do problema da tese e respectivos objetivos. Pois

estamos no campo da imagem, da estética que, por consequência, constroem o Imaginário

de tempo e lugar. Legros (2007, p. 9-10) afirma:

A Sociologia do Imaginário não é um campo específico da sociologia definido por um objeto, como é o caso da sociologia urbana, do trabalho, da religião, da educação etc. Ela é um ponto de vista sobre o social: ela se interessa pela dimensão imaginária de todas as atividades humanas. [...] O imaginário, assim diz respeito a uma civilização: circula através da história, das culturas e dos grupos sociais.

Dessa forma, Legros (2007) inicia o trabalho sobre a noção de Imaginário, resgatando

o interesse dessa sociologia pelo fazer social que, tecido em todas as atividades humanas,

circula na cultura, na história das pessoas ou podemos especular que a cultura e a história

estão no imaginário de um tempo e lugar. Esse imaginário estabelece-se como amálgama da

coerência social, conferindo credibilidade como fio condutor da visão que as pessoas têm

das suas possibilidades e opções de vida e mundo. Por exemplo: quando se questiona por

que um grupo não age de acordo como o esperado, devem-se visualizar quais são as

circunstâncias que formam e conformam o imaginário dessas pessoas. Qual sua história,

seus hábitos, sua cultura, suas condições de produção nos atos comunicacionais? O autor

afirma (2007, p. 25):

O imaginário social procede, aqui, da descrição correta do vivido ao analisar as imagens gerais que escapam da sua interioridade. Se falará (sic) de fenomenologia social, ou seja, de uma sociologia no meio da qual os fatos não são jamais apartados das regiões da consciência, de um olhar sobre as coisas que coloca entre parênteses sua essência.

Page 26: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

24

Imaginário diz respeito à aceitação de crenças, e às condições de vivê-las em sua

potência. Pode-se ainda afirmar que o Imaginário é a condição de verdade existente no

mundo, como retrato da realidade construída sobre este mundo. É a informação existente

entre o indivíduo, sua vida e sua coletividade. Por essas ponderações, apropria-se do

Imaginário como caldo em que a sociedade ferve e transforma-se. Legros (2007, p. 25) ainda

contribui:

Do imaginal ao imaginado, das estruturas mentais as situações, os objetos trocam de formato. Eles podem se perder, a despeito de sua originalidade, na precessão dos estereótipos e dos simulacros e se tornarem os protagonistas de uma comédia caricatural que torna aleatória toda a distância indispensável ao digno exercício da responsabilidade. As imagens apresentam delirantes performances, confiadas aos cuidados de hábeis ilusionistas [...].

Desta forma, aplica-se o imaginário como algo possível de ser construído e

orquestrado pelo interesse de alguém. Está-se entrando na seara do Sentido, e este é gerado

a partir da noção precessão6, ou seja, a instabilidade de sentido existente entre as imagens

de mundo e realidade, como se não fosse possível ter apenas uma realidade, mas várias

realidades criadas sob o fomento dos estereótipos e simulacros que reconstituem a vida em

potência do que deveria ser, e não pelo que acontece no grupo. Reivindica-se o pluralismo, o

politeísmo, as pulsões criativas, o hedonismo do presente, o mundo de Dionísio em

interstício à visão prometeica, ascético da modernidade. A visão do imaginário requer a

complexidade da pós-modernidade, considerando-se, orgias, resíduos e incoerências vitais

que a razão não tem alcance na lógica, somente a fé e a crença abstratas. A matéria

subterrânea das coisas na sociedade sinaliza a convivência entre o natural e cultural, do

espaço social e sentimento estético.

Para Legros (2007, p. 101), “Maffesoli se impôs como o principal teórico da sociologia

do imaginário, situando-a na dimensão prospectiva e na atualidade da tradição dos

fundadores da disciplina”, e agora passamos a refletir sobre os cinco pressupostos da

Sociologia Compreensiva:

6 Ato ou efeito de preceder. – PRECEDÊNCIA. Precedência: s. f. Qualidade ou condição do que é precedente;

preferência.

Page 27: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

25

Roberto M. C. Motta, na apresentação de Conhecimento Comum (2007, p. 10),

afirma que segundo Maffesoli, “toda experiência tem poder cognitivo, tudo é método, tudo

é caminho, tudo serve à sociologia”.

A metodologia utilizada no trabalho será a Sociologia Compreensiva de Michel

Maffesoli (2007, p. 19):

O método compreensivo permite uma abordagem indutiva, toda ela feita de discernimento e rica em matizes. O “conhecimento ordinário” chama à baila a surpresa e o abalo que, há muito instituem e constituem os fundamentos de toda obra de pensamento. Ela prepara as armas, polindo-as para “sutis partidas de caça” que, aqui e agora, dizem respeito ao que se vem procurando: a vida em seu eterno recomeço, [...] a vida em sua dimensão eterna.

Sob esses nomes e premissas do como fazer a construção do pensamento, vêm à

cena questões do valor do cotidiano, as cenas fortuitas do dia a dia que nos remetem ao que

Maffesoli descreve como “pequenos nadas”, mas que remetem à tônica do pensar e às

profundezas de uma época.

Morin (2007, p. 153) contribui:

Ora, o problema crucial do nosso tempo é o da necessidade de um pensamento apto a enfrentar o desafio da complexidade real, ou seja, captar as ligações, interações e implicações mútuas, os fenômenos multidimensionais, as realidades ao mesmo tempo solidárias e conflituais (como a própria democracia, sistema que se nutre de antagonismos que regula).

Apesar de Morin, em sua obra-prima Método, versar sobre o método Complexidade,

e Maffesoli sobre a Sociologia Compreensiva, ambos despontam com noções sobre a

necessidade de considerar o pluralismo da sociedade contemporânea, as interações e as

influências das relações mútuas entre o subterrâneo da sociedade e as múltiplas realidades

comunicacionais. Esses autores lançam mão da figura do deus Dionísio, como fio condutor

do contemporâneo, levantando a concepção de uma época que busca a compreensão do

errático ou, talvez, da dúvida, do ruído, no lugar da certeza inquestionável e que Maffesoli

(2007, p. 83) constrói:

Page 28: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

26

Kalos aporeuesthai: “colocar a questão de tão bela maneira!” Eis o pensamento marcado pelo equilíbrio, no qual o espírito e sensação acham-se intimamente mesclados; e no qual estética e intelectualidade não se opõem. O que realmente importa não é a elaboração de uma verdade acachapante – mas a articulação de verdades locais (em todos os sentidos do termo), permitindo que nos situemos no presente.

A sociologia Compreensiva sob a visão de Michel Maffesoli propõe a “visada

compreensiva”, isto é, descreve o vivido, o que é, e está na vida do cotidiano. Dando

oportunidade à manifestação de uma variedade de fenômenos sociais.

A autora acredita que a Sociologia do Imaginário é um ponto de vista sobre o

ambiente social, e a Sociologia Compreensiva é a forma como o pesquisador vai à caça do

compreender. E este “como caçar” dar-se-á agora pela visada dos cinco pressupostos dados

por Maffesoli em Conhecimento Comum (2007). De nada adiantaria para registro da

vitalidade e da criatividade do ato comunicativo pesquisar “objetos” do subterrâneo

disfuncional da sociedade sob única lógica positivista e racional, ignorando a sutileza do

presente vivido em experiências.

2.2 OS CINCO PRESSUPOSTOS DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MICHEL MAFFESOLI

Maffesoli, em O Conhecimento Comum (2007), enfatiza na descrição e na construção

não de um método, pois não há método. A inquietação do pesquisador compreensivo é

captar o pluralismo do fato social movente; o método deve adequar-se ao fato e à

perspectiva e perspicácia do observador. Há cinco pressupostos que norteiam o pesquisador

societal sob a premissa da Sociologia Compreensiva.

I Crítica ao dualismo esquemático

Crítica ao dualismo esquemático, ou seja, nem tão razão, mecânico, nem tão

emoção, natureza: o equilíbrio, tendo o sociólogo a possibilidade do movimento pendular

entre o farejador social atento ao subterrâneo social e o taxonômico que classifica as formas

Page 29: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

27

ou situações instituídas e oficiais. Nas palavras desta autora, o investigador social deve ter

conhecimento para aguçar a sensibilidade do vivido, e assim farejar e compreender a

importância dos fatos ordinários do cotidiano.

Edgar Morin (2007) contribui com esta perspectiva:

O nosso modo compartimentado de conhecimento produz uma ignorância sistemática ou uma consciência retardatária dos efeitos perversos de ações consideradas salutares (p. 43).

[...] Além disso, a hiperespecialização contribui fortemente para a perda da visão ou concepção de conjunto, pois espíritos fechados em suas disciplinas não podem captar os vínculos de solidariedade que unem os conhecimentos (p. 72).

II A forma

Segundo Maffesoli, a forma é formante, não formal, ou seja, segundo Maffesoli,

inspirado por Simmel, formal significa a forma de um problema. Os limites, contornos das

situações representativas típicas do cotidiano. Ou ainda, o problema é construído segundo a

percepção do pesquisador, temperando o conteúdo estruturalista da sociologia. Trata-se de,

em conhecendo a bagagem do conhecimento, atualizá-lo constantemente com a modulação

cotidiana.

Com efeito, é necessário tipificar o problema, fazendo com que contrastem

elementos do ato social. Segundo Maffesoli (2007, p. 33), “somos compelidos a afirmar que

se pretendemos salientar a incoerência, a labilidade, a polissemia do dado social, isso não

significa que não possamos vir aí assinalar as formas estruturantes.”.

Para Maffesoli a forma é um polípole, representando a sua nascente na estética, na

ética, na economia e na gnoseologia. Isso nos parece pacífico de entendimento, pois já nos é

dado pelas noções de semiótica, semiologia. Segundo Barthes (2003, p. 103): “o objetivo da

pesquisa semiológica é reconstituir o funcionamento dos sistemas de significação diversos

da língua, segundo o próprio projeto de qualquer atividade estruturalista, que é construir

um simulacro de objetos observados.”.

Page 30: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

28

Um novo patamar é exposto por Maffesoli, quando detalha a diferença entre forma,

formal e formismo. Este último termo foi cunhado pelo autor para designar, aqui em forma

breve, a revelação dos fatos do cotidiano sem o julgamento dos valores ou recriação do que

deveria ser ou representar, mas somente expor a exuberância da aparência social em seu

caráter efêmero, inacabado, banal. Dessa forma, pode a sociologia, aceitando a aparência do

social, integrá-la em estruturas, delineando configurações da vida cotidiana, ou seja, nas

palavras desta autora, o formismo não pretende reconstituir os fatos, relendo à luz da

estrutura formal, porque isso já foi enunciado por outros autores, em outras áreas do

conhecimento, mas revelá-los, a fim de estabelecer uma conexão na vida cotidiana. Assim,

capta-se o pluralismo de discursos e suas aparências, tendo o interesse em muitas pequenas

verdades e, ao mesmo tempo, na globalidade, o que a sociologia clássica chama de holismo.

Ainda enfatizando o formismo, Maffesoli explica que “o insuperável vínculo existente

entre a experiência e a essência das coisas, entre o vivido social e as representações que

dele dão conta”, ou seja, o vivido requer o que Onfray escreve (2010, p. 24): “O filósofo é

filósofo 24 horas por dia, inclusive em suas notas de lavanderia [...]”.

Tudo indica que a sociologia compreensiva requer a impregnação do pesquisador no

ambiente de pesquisa, a fim de revelar o colorido do vivido e suas implicações, pois

Maffesoli (2007, p. 70-71) comprova:

Sabemos que as revoluções políticas são anunciadas, preparadas e desencadeadas por acontecimentos aparentemente anódinos: a fortiori, tais acontecimentos desempenham um papel maior nestas manifestações da socialidade, que são a solidariedade de base, a teatralização ou organicidade das paixões, dos gestos e dos discursos.

O termo Formismo para Maffesoli (2007, p. 109) “reporta-se ao enquadramento, que

permite pôr em relevo características da vida social sem deformá-la em demasia.” Isto é

necessário para aperceber-se das evoluções e forças cotidianas. O fazer vulgar, seus rituais,

são encenações coletivas que, em alguns casos, remetem ao enfrentamento estrutural ou

destino. A atitude formista não doa sentido, respeita a banalidade da existência, os

pequenos “nadas” de todos os dias. É o que o autor chama “intelectualidade orgânica”.

Page 31: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

29

III A sensibilidade relativista

Maffesoli (2007, p. 36) afirma que “Não há realidade única, mas maneiras diferentes

de concebê-la.”. As grandes explicações para o mundo, ou as grandes teorias, como

marxismo, positivismo, comumente são tidas como obsoletas, contudo cabe aos

pesquisadores entenderem que elas representam um recorte do momento do pensamento

e que, em si, respondiam àquele tempo/lugar, fruto de uma visão homogeneização das

civilizações. Contudo, o estudo do ato societal requer a visão heterogênea da sociedade, a

percepção das diferenças, a pluralização, e, por isso, o olhar relativista que nada exclui do

ato social. Conforme Maffesoli (2007, p. 41):

“[…] é preciso ouvir o mato crescer, isto é, estar atento a coisas simples e pequenas. Gerir o saber estabelecido e atinar com que está prestes a nascer são, afinal, os dois pólos de tensão constitutiva da harmonia conflitual peculiar e todo conhecimento!

Nessa afirmativa, Maffesoli dá importância ao fato da sensibilidade do pesquisador

na percepção do mundo. Juremir Machado, em uma de suas aulas na Pós-Graduação da

Comunicação da PUCRS afirmou: “Filósofos e publicitários são antenas do mundo. Captam a

inovação e o movente social, com intenções diferentes: o primeiro de denunciar e o segundo

de utilizá-las em seu trabalho e lucrar”.

IV Pesquisa estilística

É saber dizer, expor o problema, não trabalhar com a certeza fechada da teoria, mas

com o efeito do debate que reconstrói o problema em uma espiral digna da complexidade

social. Somente se expõe quem tem algo a dizer. Essa posição é frutífera para a construção

do pensamento orgânico necessário ao pesquisador social. Maffesoli (2007, p. 88) afirma:

A reflexão não se ocupa, em primeiro lugar, com um fio ou que não se inscreve numa finalidade preestabelecida; a reflexão cujo principal cuidado não é o

Page 32: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

30

de servir a alguma coisa, mas levar a pensar – eis uma irresponsável reflexão que, talvez, nada mais seja que uma manifestação do dispêndio popular. (Grifo desta autora).

Com essa afirmação, Maffesoli consagra a inteligência de escutar e ver o ato

comunicacional sem a certeza de encontrar verdades únicas, mas com a salutar inquietude

do querer aprender com a movimentação do social. Ele é que dirá ou indicará algo a ser

apenas relatado pelo investigador, e não será o investigador quem designará o certo e o

errado. O erro do pesquisador também é o erro do social. Vivemos hoje sob

descontinuidades em que a sociedade é formada por vários, heterogênea em todos os

aspectos da vida social.

Não há espaço na pesquisa da sociedade para objetos puros, busca incansável do

positivismo, recorte da supervigilância acadêmica. Se há de estudar-se o ato social, há de

compreendê-lo em sua ambiência, com suas idiossincrasias moventes da sociedade, tão

difíceis de compreender como fios que se entrelaçam em um tecido, porém vitais para a

antecipação e conhecimento dos fatos e da inovação social, ou seja, a vitalidade do fazer

social não está anunciada no formalismo da vida, da economia, ou nas propostas

instrumentais. Ela brota do subterrâneo individual, soma-se a muitos “eus” e toma corpo,

definindo o fato social. A vida cotidiana é mais rápida e movente que os mecanismos de

catalogação ou redução. Encontraremos, sob a visão relativista, não uma verdade, mas a

tessitura de um mundo complexo, com várias formas de contar-se a verdade de uma

sociedade formada de muitos instantes paroxísticos que revelam o calor do pensamento do

social. Essa boa aflição faz o pesquisador da Sociologia Compreensiva.

Canevacci (2001, p. 14) sobre a pesquisa da antropologia visual, verifica que o

pesquisador deve interagir e permitir a interação do meio. O autor acrescenta:

Fazer-se ver. Para desenvolver o ponto de vista da observação observadora é preciso colocar-se nesta pró-posição. Uma posição sensível não tanto à semiótica, à estética, à comunicação, quanto ao ato passivo de ver. Fazer-se ver: não no sentido de aparecer, mas nos variados sentidos de desenvolver qualidades sensitivas fundadas nas percepções do olhar, na sensibilidade do ver, do transformar-se além do sujeito-em-visão, do mudar-se em ver, em coisa-que-vê. Tornar-se olhar, tornar-se olho, fazer-se.

Page 33: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

31

Assim sendo, o inesperado, o vivido, o objeto, a mercadoria, o pesquisador não são

passíveis apenas de contemplação, e, sim, de aprendizagem quando elevadas à

interpenetração.

V Espírito libertário

Há certa acomodação no mundo científico e sociológico. As coisas são como são e

assim são, ou seja, repete-se algo como verdade e explicação de tudo, entoando-se do alto

do saber citações e situações dos grandes mestres. O mundo acadêmico esquece-se de saber

o quanto inovadores e libertários foram estes mestres em sua obra. Assim acreditam no

discurso e não na atitude que lhes foi peculiar. É necessário ao pesquisador do ato social

certa dose de coragem e dúvida que permite um novo olhar, ou seja, se pensarmos o mesmo

acharemos o mesmo. Segundo Maffesoli, a sociologia costuma analisar os fatos pelo seu

devir, quando deveria analisá-los pelo seu deveio, isto é, conhecer o que é que acontece

antes de querer decretar o que deve ser. A postura que se espera deste pesquisador é que

cause curto-circuito nas escolas, ao mesclar emoção e razão.

Traçando um resumo esquemático dos cinco pressupostos da investigação da

Sociologia Compreensiva, a Crítica ao dualismo esquemático, a Forma, a Sensibilidade

relativista, a Pesquisa estilística, o Espírito libertário, não falam do método “faça isto

acontece aquilo”, pois tal sentença não diz respeito à especulação subterrânea a que o autor

se reporta, enfatizando o ato societal. Porém refinam o espírito e a intenção que devem

munir o olhar do investigador social livre de preconceito formal, perspicaz e sensível ao ato

mundano que reflete as grandes misérias e virtudes da sociedade, sem a intenção de

enclausurar o conhecimento reconstruído em teorias e conceitos que apregoam verdades

unas, mas expô-las ao debate ao sabor do pluralismo e heterogeneidade da sociedade,

causando a salutar inquietude intelectual e epistemológica. Assim pretende-se compreender

a sociedade chamada varejo, no lócus PDV Lojas Rede Marisa, formada de vários sociais,

rupturas, descontinuidades, idiossincrasias e heterogeneidades.

Page 34: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

32

2.3 A ESTÉTICA SEGUNDO A ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA

Maffesoli (1995, p. 11) afirma que:

[...] gostaria de sublinhar a sutil ligação existente entre a preocupação com o presente, a vida quotidiana e o imaginário, em uma palavra, a estética, entendida aqui em seu sentimento mais amplo: o da empatia, do desejo comunitário, da emoção ou da vibração comum.

Quando Maffesoli reporta-se à forma, fá-lo pensando na forma de um problema em

investigação. Expande a questão Estética à atração de sensibilidade que dá forma ao

cimento social. O autor afirma “aprender a colocar os problemas mais que lhes dar

soluções.” (1995, p. 12).

O autor (2007, p. 128) dá-nos pistas sobre observações da Forma, e isso propicia um

rearranjo das informações para montarmos um panorama sobre o Tema e, por conseguinte,

Estética para a Sociologia Compreensiva.

Podemos efetivamente, reter no tocante às diversas modulações da “forma” sua insistência no fato de múltiplas situações da vida cotidiana esgotam-se no próprio ato, isto é, são vividas no presente. [...] a sociologia deve atentar para a ética do instante, que impregna profundamente a vida de nossas sociedades em todas as suas atividades comunicacionais e instrumentais. Além disso, o “formismo” – e é isso uma consequência do que foi anteriormente dito, insiste do mesmo modo sobre a aparência, o espetáculo, a imagem, etc., [...]. (Grifos da autora).

Parece clara a preocupação de Maffesoli quanto à noção de vivência, experiência que

constrói a ética estética do imaginário hodierno. Ainda contribui (2007, p. 129), dizendo que:

Todos os termos de minha análise sobre a forma acham-se aqui reunidos: a experiência é outra maneira de exprimir-se o que chamei de empatia – e o paradigma pode ser compreendido como uma modulação da “forma”. Uns e outros se provando expondo à experiência no movimento caótico, como se fora um turbilhão, peculiar à existência social – cuja fecundidade e cuja polissemia ainda não se esgotaram.

Page 35: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

33

Debray (1993, p. 46) ratifica a noção de Maffesoli, afirmando que “A imagem faz o

bem porque cria vínculos. Mas sem comunidade, não há vitalidade simbólica.”, ou seja,

Debray fortalece o vínculo da imagem como imanente ao social e a experiência do vivido.

Os grifos nas citações são saliências que a autora traz à especulação: múltiplas

situações da vida cotidiana, presente, atividade comunicacional, aparência, experiência.

Sobre estas palavras, bem pinçadas do texto de Maffesoli, embasarão a questão problema

da tese:

A investigação da comunicação enquanto estética do consumo popular pode ser fator

de influência do consumo das classes populares como hápax existencial?

Em resumo, a Sociologia Compreensiva credita ao conhecimento comum o dado

incontestável do caldo social. Isso dará à conjunção de pertencimento, permanência e

relevância ao fato vivido. Observar o comportamento e a manifestação estética e imagística

da massa requer inspiração e sutileza do observador e neutralidade que o formismo requer

desse ato comunicacional. A estética tem grande valor na coesão do grupo social, pois

representa algo a alguém, traz o indivíduo à identificação e conjunção da socialidade. Essa

comunicação que a estética propõe dá o tom da labilidade cotidiana.

Para Maffesoli (2005, p. 12):

Toda a vida cotidiana pode ser considerada uma obra de arte. Em função, certamente, da massificação da cultura, mas também porque todas as situações e práticas minúsculas constituem terra fértil sobre as quais crescem cultura e civilização.

A estética, segundo esse autor, revela e contribui com um sentimento de querer

permanecer, adesão, não podendo mais ser considerada apenas estrutural ou finalista, mas

carrega em si algo maior, o sentir-se comum a alguém, o desencadear da emoção que gera o

cimento social.

Isso é a unicidade que garante a “sinergia social, a convergência de ações e das

vontades e permite mesmo conflitual, um equilíbrio, dos mais sólidos”. Maffesoli (2005, p.

18) argumenta:

Page 36: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

34

A unicidade dessa constelação é feita de cruzamentos e da conexão dos microvalores éticos, religiosos, culturais, sexuais e produtivos que, por sedimentação, constituem a base da comunicação. A estética tem por função alavancar a eficácia das formas de simpatia e o papel delas como cimento social num paradigma novo esboço. Aceita a conexão orgânica que liga as pessoas, “as palavras e as coisas”, admitida a ideia de que todas as situações, todas as experiências, por menores que sejam, participam da ambiência geral e destacada a noção de que os diversos imaginários irrigam profundamente a vida social, então retomando a questão da Escola de Frankfurt, prevalece a atividade comunicacional para compreender o que chamo de ideia obsessiva do estar-junto.

Bruno Munari (1997, p. 28) complementa Maffesoli, ampliando a noção da imagem

como veículo de emoção, escrevendo:

[...] todo desenho é feito de sinais, e pode dizer-se que é o sinal que sensibiliza o desenho. [...] Sensibilizar quer dizer conferir uma característica gráfica visível graças à qual o sinal se desmaterializa como sinal vulgar, comum, e assume personalidade própria.

Ou seja, quando algo é reconhecido como significante ao leitor, este algo passa a ter

caráter pessoal e individual ao expectador que decifra a mensagem. O êxito desse processo,

para Munari (1997, p. 57), deve-se:

[...] considerar o nível cultural de certa massa de público à qual se queira passar alguma informação, mas não no sentido em que muitos publicitários ainda hoje fazem: defendem eles que, sendo determinada categoria pouco inteligente, há que transmitir-lhe mensagens estúpidas. Pelo contrário, há que transmitir-lhe muito mais claro (o que implica, muitas vezes, maior trabalho de investigação e, portanto, o que dá na mesma, ele não é feito). Com crianças é preciso ser muito simples, mas extremamente claro, e não burro, caso contrário – e quem quer que tenha mentalidade infantil – não entenderão nada.

Paviani (1996, p. 30-31) complementa as noções de Maffesoli e Munari:

O estético ultrapassa o âmbito da obra de arte. Este é o lugar, a condição que possibilita a manifestação do estético. A obra de arte é um modo privilegiado, um meio para o estético se efetivar.

[...] O estético é uma experiência humana fundamental, isto é, o homem não pode existir sem ela, sem esta modalidade de relação com os outros e com o mundo. É um comportamento, uma qualidade, predominantemente sensível, que

Page 37: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

35

emana do contato do homem com as obras, sejam elas artísticas, técnicas ou naturais. (Grifos desta autora).

Reis (2008, p. 111) já apontava em sua dissertação, quando cita trecho de entrevista7

de Renato Meireles, sócio-diretor do Data Popular, empresa de pesquisa especializada em

consumidor classe C, D, E:

Há uma dissonância cognitiva entre quem faz propaganda, gerencia marketing para o consumidor de baixa renda. Executivos e publicitários que pensam nos produtos e campanhas para esse público pertencem à classe A [...] a população de baixa renda quando vê a propaganda não compra.

Munari (1997, p. 60) afirma que “Quanto mais aspectos conhecemos da mesma

coisa, mais apreciamos e melhor podemos compreender a realidade que antes nos parecia

sob um único aspecto.”, comprovando o espaço que há no entendimento do popular,

cotidiano no fazer da comunicação.

O popular, o espontâneo e o senso comum formam o pluralismo social. Segundo o

autor, a arte é a ligação entre a emoção, a estética, a solidariedade e a complexidade. Há o

deslocamento da identidade para a identificação. Quer-se entender, o deslocamento do

indivíduo para o pertencimento ao grupo. A estética gera sentido, pois é reconhecida pelo

grupo, permitindo coesão social, independentemente de outro em que a estética não gere

sentido. A estética, em outras palavras, tem função agregadora, fortalecendo a socialidade,

o conhecimento e a construção de um corpo construído para ser teatralizado.

Maffesoli opera a questão da atração, o manter-se ligado, e a estética, que, por mais

fortuita, encontra-se como doadora de emoção interagindo entre a atração e a corporeidade

do social. A atração das sensibilidades é panteísta, poder-se-ia falar de uma cultura do

sentimento. Maffesoli (2005, p. 27) interroga: [...] “depois do homo politicus e do homo

economicus, não estamos diante do surgimento do homo aestheticus?”, o que reforça a

necessidade de pertencimento da imagem no processo emocional em correspondência ao

cotidiano.

7 MAMOUNA, Larissa. Empresas descobrem o consumidor popular. Jornal do Comércio. Jornal do Comércio. In.

DATAPOPULAR. Jornais. Disponível em: <http://www.datapopular.com.br/html/documentos/jornal_do_ comercio_ jan.pdf>. Acesso em: 28 maio 2007.

Page 38: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

36

A autora acredita que, sim, a estética, a imagem pictórica e do imaginário social

norteiam a apreensão de verdade e seus desígnios cotidianos de força, poder,

pertencimento e prazer, este último ocupando o lugar cada vez mais notável, bem como o

hedonismo que será alvo de reflexão a seguir. Essa deve ser a tônica da investigação

comunicacional, a ethopoética que Maffesoli empresta de Plutarco, mas que, de forma

breve, encarrega-se da autoconstrução do social que se dá pela significação e pertença.

Maffesoli (1995, p. 103) acrescenta:

A imagem é uma espécie de “mesocosmo”, um mundo do meio entre o macro e o microcosmo, entre o universal e o concreto, entre a espécie e o indivíduo, entre o geral e o particular

“Um Certo Não Sei Quê”, obra de Benito Feijóo (1998) tenta responder a questão

“Por que algo causa prazer, encantamento?”. Muitas vezes não é o mais perfeito, o mais

bonito, o mais acabado ou qualitativa e economicamente superior, conceitos que

perambulam como mutantes no tempo, ou seja, o que era execrado em um tempo/lugar

pode ser adorado em outro tempo/lugar. Esse autor chama de “não sei quê”. Explicar o que

agrada é até fácil de reconhecer, e, conscientemente, conseguimos distinguir que se gosta

de algo, e apontar o quê, contudo muitas vezes não sabemos o porquê.

Fazer uma obra de arte obedecendo às regras aprendidas historicamente de

proporção, simetria, cores, texturas entre outros não garante a notoriedade. O que o faz,

segundo Feijóo, adquirir os suspiros da audiência é a inovação, a ruptura de pequenos, ou

grandes códigos, ampliando a noção estética, ou seja, o código estético é inacabado e deve

ser ampliado, sendo as possíveis combinações intermináveis. Contudo, somente a

aprendizagem das regras, a maestria do fazer, é que move a transcendência de rompê-las.

José Augusto Mourão, no posfácio de “Um Certo Não Sei Quê” (1998, p. 54), assevera

que “Toda beleza é provocante”, e ainda acrescenta:

A beleza de uma obra não vem da qualidade da sua representação nem da sua pertença com o modelo, no caso do retrato, nem da sua conformidade com regras pretensamente universais [...] mas dum acrescento em relação a qualquer representação da regra. Porque beleza provém do conflito natureza-cultura.

Page 39: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

37

A máxima de Mourão é exemplificada por Munari (1997, p. 60) quando este escreve:

Todas as regras da técnica eram boas regras da comunicação visual: a aproximação de cores para obter o máximo brilho possível ou qualquer outro efeito desejado, as regras de composição que chegam até às medidas harmônicas da secção áurea, e tudo aquilo que os dadaístas rejeitaram porque (tinham razão) eram regras inadequadas à nova sensibilidade [...]

Gadamer (1985, p. 34) salienta inspiração em Kant quando afirma:

O “agradar desinteressado” quer dizer aqui evidentemente: não estar interessado de modo prático no que é “representado” ou no que aparece. Desinteressado quer, portanto, dizer apenas a excelência do comportamento estético, ou seja, que ninguém pode levantar com propósito a questão do “para que” da serventia: “Para que serve que se tenha prazer naquilo que se tem prazer?” (Grifo da autora).

[...] A obra de arte significa um acréscimo do ser (GADAMER, 1985, p. 55).

Gadamer (1985) enfrenta a questão da obra de arte e da beleza. Dessa forma, por

especulação, aproveita-se a discussão como estética, imagem, beleza. Nesse sentido, a

fruição do prazer estético é vital para a ampliação da experiência com a estética. Busca-se a

interpenetração e modificação do ser no vivido.

Retomando a questão das palavras pinçadas do texto inicial: múltiplas situações da

vida cotidiana, presente, atividade comunicacional, aparência, experiência, reposiciona-se a

questão estética pelo prazer da significação como doadora emoção, sendo fundante para a

questão da socialidade e cimento social. A criatividade do popular, o comum, a inovação dos

códigos estéticos refletirá as inovações do social, e, por mais não saber o porquê do prazer

estético, a estética causa sentimento, sentido, atração e significação da socialidade

contemporânea.

Maffesoli (1995, p. 69) conclui referindo-se à vivência quotidiana:

Dizer sim à vida, de qualquer maneira: este é o desafio que lança a socialidade pós-moderna, esta também é a situação epistemológica com a qual se é confrontado. Há, nesse enfoque sobre o quotidiano, uma espécie de conservação, tanto de si mesmo como da espécie.

Page 40: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

38

O que Maffesoli indica como cotidiano, Ernst Tugendhat reconstrói como moral.

Tugendhat (2003) colabora com a ideia de diversidade moral, e contribui para a noção de

pertencimento e mistério relacionado à Maffesoli no que tange à vivência estética.

Cotidianamente, há uma moral baseada na reciprocidade e na justificação, ou seja, isto é

bom para “A” e para “B”, e pode ser justificado como “bom” pelas partes do contrato. O

homem é determinado geneticamente, porém é diferente dos outros animais; tem a

capacidade de regular-se, dependendo do ambiente e da conveniência, e, por isso, aprende

e formula regras flexíveis com maior liberdade. Nesses sistemas, há espaço para também a

sanção recíproca, ou seja, a pressão social, o que o autor define como afeto negativo,

indignação, culpa. Dessa forma, a regulação da moral é pelo risco de perda do afeto e

espetacularização do erro. Tugendhat (2003, p. 16) afirma:

Assim as normas se internalizam, gera-se o que se chama consciência. O conjunto de indignação e sentimento de culpa constitui o que é a sanção em relação às normas morais. Alguns têm-me criticado por essa concepção de que as normas morais não podem ser entendidas sem a sanção afetiva [...].

Estabelecida a noção de reciprocidade moral e afetividade, Tugendhat avança no

sentido de amor próprio, isto é, quanto e como o indivíduo, possivelmente, significa para os

outros, o que requer compartilhar os sentimentos morais em noção de igualdade contratual.

Tugendhat (2003, 26) conclui, afirmando que:

[...] a maneira como, dentro de uma sociedade, cada um se relaciona aos outros não se reduz a exigências, mas contém igualmente a disposição ao reconhecimento, ao apreço moral igualmente como o desprezo. Sem esse aspecto reforçante, não se pode entender como o tecido normativo de uma sociedade moral se faz.

Diante do exposto, esta autora costura a inserção da continuidade dos próximos

passos da Tese.

Elabora-se o trabalho com enfoque teórico, partindo do macro e especificando, na

medida em que se aproxima do objeto de estudo: a comunicação do ambiente do varejo

popular sob a influência da sedução estética.

Page 41: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

39

Para tanto foi necessário recorrer às noções de imaginário, à sociologia

compreensiva, à estética como porta de entrada à filosofia Hedonista sobre a qual o terceiro

capítulo irá versar.

A comunicação do varejo objetiva o consumo imediato. Por sua vez, o consumo diz-

nos mais que a aquisição de bens, e, sim, postula a adesão de valores, gostos, estética. Diz

sobre o que se acredita da realidade e com o que se concorda no mundo. Eis as questões

relevantes do imaginário, da cultura e da ética.

As noções de Maffesoli quanto ao cotidiano, ao popular, à estética e às contribuições

de outros autores propicia à autora construir ideias fundantes sobre as quais se receberá

Onfray e a pesquisa de campo sobre o consumo das classes populares.

Confira o mapa conceitual da tese em investigação:

Figura 1 - Mapa conceitual da tese

Fonte: A autora (2012).

A comunicação do ambiente de varejo

popular sob a influência da sedução estética.

Sociologia do Imaginário

SOCIOLOGIA COMPREENSIVA

2.° capítulo

5 pressupostos de Maffesoli

Estética

Filosofia Hedonista

3.° capítulo Consumo

Característica do consumo

4.°, 5.° 6.° e 7.° capítulos

Objeto de estudo

8.° capítulo

Page 42: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

40

3 HEDONISMO

O hedonismo como percepção de sentido do mundo encontra no cotidiano, nas

ações triviais e na estética as contribuições para se desenrolar. Vive-se no aqui e no agora,

na busca do bem-estar e da felicidade, mesmo que falsa em tentativa. A busca da felicidade

e do bem-estar move a sociedade desejante de encontrá-la, e a manifesta nas mais diversas

formas de conquistá-la, seja através do consumo, da oração seja por intermédio da

contemplação entre outras.

A história afastou o homem do materialismo hedonista, prometendo por meio da

religião judaico-cristã, o paraíso e a gratificação no futuro. As penitências e os maus tratos

ao corpo seriam formas de alcançar mais elevado grau de satisfação no amanhã.

Decorreram-se vários séculos, minando a moral e a ética secular.

A pós-modernidade alicerçou as bases de uma sociedade movente, menos sujeita à

moral do devir peremptório. Está-se sob a moral do contrato e da justificação, uma vez que a

moral religiosa relativizou-se. Adicionam-se novas formas de pensar e viver em ciclos cada

vez mais curtos, fazendo com que o homem queira a felicidade no aqui e agora.

A especulação que se busca ao final é saber se o consumo para as classes populares

pode ser considerado como o hápax existencial.

3.1 MATERIALISMO HEDONISTA DE MICHEL ONFRAY

O cotidiano é pautado pelo hedonismo, sendo um pressuposto da sociedade

contemporânea, visto que cada vez mais ela se move na busca do prazer imediato.

Michel Onfray, em sua trajetória de publicações que hoje já ultrapassam três

dezenas, traz o enfoque do materialismo hedonista, compõe nas páginas iniciais situações

de vida extrema ou quase morte. É assim, por exemplo, A Arte de Ter Prazer: Por um

Materialismo Hedonista (1999), quando relata seu atendimento em uma emergência

durante um enfarto. Dez anos mais tarde, em A Potência de Existir (2010), confidencia aos

Page 43: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

41

dez anos de idade o “abandono e entrega” pela mãe como interno em um orfanato de

padres Salesiano e os terríveis anos que ali permanece.

Isso remete ao método de investigação autobiográfico, o mesmo indica como

método alternativo da filosofia. O filósofo deve sentir a vida, que segundo o autor é a única

prova de que o filósofo dispõe.

Criticamente, Onfray (2010) questiona o ensino da filosofia, e denuncia erros

históricos graves, afirmando dessa forma a historiografia dominante que se perpetua em

verdades filosóficas, por exemplo, os gregos inventores da Democracia, contudo “mulheres,

metecos, estrangeiros domiciliados, brancos não nascidos de raça pura ficam fora da célebre

democracia – resumida apenas a cidade de Atenas.” (2010, p. 5).

O autor reabre a polêmica de uma “Via lateral filosófica”, quando denuncia a

“egodiceia” ou vícios filosóficos que conduzem o pensamento em uma direção que

negligência – o materialismo. Sob a alcunha da isenção, da razão mecanizada pelo idealismo,

os filósofos repetem e copiam modelos clássicos sem verificar a quintessência dos fatos. O

autor alinha-se a filósofos como Deleuze, Foucault, Nietzsche, tidos pelo autor como

“discípulos da volúpia, da matéria, da carne, do corpo, da vida, da felicidade, da alegria,

todas instâncias culpadas!” (2010, p. 10).

Segundo Onfray (2010, p. 11):

O ponto comum a esta constelação de pensadores e de pensamentos irredutíveis: uma formidável preocupação em desconstruir os mitos e fábulas para tornar este mundo habitável e desejável. Reduzir os deuses e os temores, os medos e as angústias existenciais e encadeamentos de casualidades materiais: domesticar a morte com a terapia ativa aqui e agora, sem convidar a morrer em vida para melhor partir quando chegar a hora; construir soluções com o mundo e os homens efetivos; preferir modestas proposições filosóficas viáveis a construções conceituais sublimes, mas inabitáveis; recursar-se a fazer da dor e do sofrimento vias de acesso ao conhecimento e à redenção pessoal; propor-se o prazer, a felicidade, a utilidade comum, o contrato jubiloso; compor com o corpo em vez de propor detestá-lo; domar paixões e pulsões, desejos e emoções em vez de extirpá-los brutalmente de si.

A partir dessa premissa, tem-se um novo panorama para a construção do

pensamento: a satisfação do prazer individual e social elevando o bem-estar e a felicidade. A

felicidade como motivação de homens e mulheres aqui na terra e agora, no tempo presente.

Page 44: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

42

Refere Onfray que o materialismo hedonista é composto de cinco partes: a

HISTORIOGRAFIA, como se registram os fatos; a ÉTICA, como se pensam e constroem o

pensamento; a ESTÉTICA, qual imagem que se tem dos fatos; a BIOÉTICA, como o

indivíduo entende o seu corpo; a ERÓTICA, maneiras como o indivíduo possibilita o

prazer ou não; e, finalmente, a POLÍTICA, maneira do uso do poder sobre os corpos.

Sob este escopo de construção na busca do prazer e da felicidade , Onfray

estabelece em A Potência de Existir as bases para a caracterização do Materialismo

Hedonista.

I Historiografia

A História da Filosofia, historiografia, é datada de inúmeros fatos que

configuram o pensamento dominante. O pensamento mágico habita-a, como se o

conhecimento caísse do céu. Não se questionam os fatos, as datas, e as influências,

pois a historiografia não é alvo de estudo no corpus da filosofia. Ao longo do tempo,

persiste o idealismo da filosofia dominante.

Onfray (2010) menciona que é preciso questionar para o que serve a versão dos

fatos, quem escreve a história da filosofia? Quais os princípios? Os objetivos? Para

mostrar o quê? Com essas indagações, especula sobre a produção e distribuição da

história da Filosofia e seus efeitos na manutenção e criação de um corpus para

modulação de uma ordem.

A história oficial, exceto pequenos episódios, privilegiou o imaterial, o

pensamento mágico, a fábula, a felicidade no pós-morte.

O filósofo é um ser “antena” e sobre si e as suas interações com o mundo recai

sua vigilância, ou seja, conforme Onfray (2010, p. 13), “todos os filósofos sem exceção,

pensam a partir da sua existência própria. [...]”. “Toda ontologia, pressupõe a fisiologia

que a precede.” (2010, p. 15).

Essa fisiologia dá força e credo ao pensamento que culmina em uma ÉTICA

ELETIVA, isto é, acredita-se ser o certo e viver sob os ditames que influenciam a vida

Page 45: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

43

individual. Escolhe-se viver sob diretrizes. A ética que se acredita ser a certa é

construída pela historiografia oficial e pelas experiências individuais.

Onfray relata que vivemos no niilismo que, inspirado por Nietzsche, quer dizer o fim

de um universo e a dificuldade de advento de outro, ou seja, o intermediário onde uma

visão de mundo ainda se rompeu, mas a nova ainda não se estabeleceu. Vive-se sob o

distúrbio identitário, ou seja, a religião judaico-cristã ainda reina, porém com desgastes.

No Niilismo, segundo o autor (2010, p. 33) e esta autora acredita ser este o momento

contemporâneo que se estabelece:

Não há valores, ou não há mais valores. Mais ou menos virtudes. Uma incapacidade de distinguir claramente os contornos éticos e metafísicos: tudo parece bom e bem, o mal inclusive, tudo pode ser dito belo, até o feio, o real parece menos verdadeiro do que o virtual, a ficção substitui a realidade, a história e a memória não fazem mais sucesso num mundo devoto do instante presente, desconectado do passado e sem relação como o futuro. O niilismo qualifica a época em que falta toda a cartografia: as bússolas fazem falta e os projetos para sair da floresta onde estamos perdidos nem sequer são pensáveis.

Neste contexto de constante impermanência das coisas, surgem vários movimentos,

alguns de recuperação do antigo, outros profanando o passado e apontando o novo,

contudo todos envoltos na cegueira típica de sua verdade, coabitando o tempo e espaço.

Vive-se no mundo de plena verdade para alguns, meias-verdades para muitos e de falsidades

para outros. Estes muitos, por exemplo, quando indagados pela opção religiosa, dizem-se

descrentes para aderirem a uma crença, construindo em sua cognição a sua religião,

resultado de hibridização de muitas religiões e filosofias, sem aderir cegamente a nenhuma,

mas acreditando segundo a sua conveniência em todas. O contemporâneo é carregado de

arbitrariedade do pensamento, e, ao mesmo tempo, tem a flexibilidade de aceitar qualquer

coisa e qualquer lugar, e, sobre si, articular uma terceira forma modulada pelos interesses

dos homens e da terra. Onfray (2010) afirma que:

[...] Hoje é preciso compor com novas representações do mundo, esquemas inéditos, inquietantes perspectivas: um cosmopolitismo ontológico e metafísico, um perigo ecológico planetário, uma mundialização econômica liberal bruta, uma dominação do mercado acompanha uma negação da dignidade e da humanidade da maioria (p. 34).

Page 46: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

44

[...] quando uma cultura rui, após uma longa desagregação, é sempre em benefício de efervescências pulsionais, instintivas, animais (p. 37).

II Estética

No mundo de ética flexível e encomendada pela conveniência do hoje e dos

pares, a ESTÉTICA é uma saída para dar certa ordem ao viver. No início do século XX, “o

milenarismo, o pensamento apocalíptico, o discurso messiânico e profético embebiam

as odisséias sociais e socialistas, utópicas e comunistas” (ONFRAY 2010, p. 43), contudo

a sociedade fracassou em todos os lados com o advento das guerras mundiais. O que

parecia certo e único encontrou um opositor à altura e todos perderam seu quinhão ao

final da guerra. Um sentimento de dúvida abate-se sobre a sociedade, quando se

resgata a figura do artista que provocou a reflexão sobre o momento. Surgem os

dadaístas, futuristas, surrealistas e, principalmente, na visão de Onfray, surge Marcel

Duchamp, “o anartista8”, com “Fonte”, inaugurando espaço para a nova contemplação

estética, onde cita Onfray (2010, p. 43) “o belo faz as malas e advém a ideia segundo a

qual quem olha faz o quadro.” Duchamp também inaugura o suporte como constituinte

da obra, oscilando do vulgar ao tradicional. Foi dadaísta e tornou-se um destaque.

Antes foi influenciado pelo Cubismo na análise dos objetos.

Duchamp (1987 – 1968), segundo Meggs (2009), juntou-se ao movimento em

formas geométricas, e, no Futurismo, na relação do tempo. Meggs (2009, p. 327 e 329)

afirma:

Para Duchamp, o mais articulado porta-voz do dada, arte e vida eram processos que combinavam probabilidade aleatória e escolha intencional. [...] Os dadaístas diziam não estar criando arte, mas imitando e difamando uma sociedade enlouquecida [...].

8 Anartista, entre farsa e o terremoto radical (ONFRAY, 2010, p. 43). Segundo esta autora, anartista pode ser

uma especulação entre o anarquista e o artista.

Page 47: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

45

Figura 2 - Fontaine, Marcel Duchamp, 19179

Fonte: WIKIPEDIA, 2011, on-line.

Segundo o próprio Duchamps (apud CHIPPS, 1996, p. 399):

Eu estava interessado em ideias, e não simplesmente em produtos visuais. Queria recolocar a pintura a serviço da mente. E minha pintura era, naturalmente, considerada “intelectual”, “literária”. Era verdade que eu tentava ficar o mais distante possível das pinturas “agradáveis” e “atraentes”.

Onfray chama atenção para a ÉTICA ESTÉTICA, segundo a qual cada um é responsável

pelo seu devir, construído a cada instante. A ética é resultado de um corpo e não da alma,

do transcendente. É resultado de um pensar, e este pensar é construído e representado pela

estética contemporânea em que a educação tem importante função formatadora, e sem a

qual as bases moral tornam-se impossíveis. O julgamento do homem não existe a priori, mas

a posteriori: ou seja, não há moral sem a rede neuronal. A moral universal dá lugar à moral

particular. Onfray (2010, p. 47) afirma no superlativo materialista:

9 Duchamp assinou a Fonte com "R. Mutt" (fábricante do mictório), para um concurso de arte nos Estados

Unidos. A obra foi rejeitada pelo júri que não a considerou fruto de trabalho artístico, contudo foi o marco que percorreu o mundo fomentando a arte conceitual e o ready-made (WIKIPEDIA, 2011, on-line).

Page 48: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

46

A ética supõe um corpo faustiano, informado pela potência e pela demiurga de uma inteligência que quer. A moral se aprende, se inscreve na matéria de um cérebro para criar sinapses e possibilitar as funções anatômicas da empresa moral.

Verifica-se, porém, que, se a moral é fruto do indivíduo, este indivíduo encontra-se,

em sua maioria, inacabado e imperfeito, com zonas de sombras e pulsões primitivas. Não

sendo a perfeição, o que resta ao homem é compor perpetuamente com a imperfeição e

negatividade do ser. Como seres inacabados, pode-se fazer uso da comunicação, primeiro

pela linguagem, depois por diversas maneiras sobre as quais se decifra a mensagem: gestos,

posturas, olhares, sorrisos. Onfray afirma que, no grau zero da ética, está a situação.

Onfray, na contextualização da sedução do estético e o caráter hedonista natural ao

homem, mediando às emoções e sensibilidades do social, tem o apoio de Paviani (1996):

Há no homem, juntamente com o instinto lúdico, uma necessidade de se expressar, e é disso que surgem ritos e ritmos fundamentais, como a ordem, a tensão, o movimento, o gesto, a fala, o silêncio (p. 57).

[...] um objeto que provoca o prazer estético, que se exprime através da plenitude do sensível e, por isso, comunica emoções, ideias, a atmosfera da época e dos meios social (p. 59).

No primeiro grau do contrato hedonista, é a presciência do desejo do outro, ou seja,

a avaliação do que o outro deseja, quais os impactos sobre o desejo individual, e, a partir

deste trajeto de ida e volta, institui-se o contrato da ética hedonista.

III Erótica

O hedonista busca o prazer, e, sobretudo, evitar do desprazer. A ética é uma questão

de vida cotidiana ligada às relações humanas, e não de conceitos etéreos. “O prazer nunca

se justifica se custar o desprazer do outro.” (ONFRAY, 2010, p. 55), ou seja, o hedonismo não

é egoísta e inconsequente, mas é busca constante do prazer do outro constitutivo do prazer

Page 49: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

47

individual. Para atingi-lo, utiliza a polidez e a cortesia como moeda de trânsito de ideias. A

forma de polidez para com o outro com interesse em sexo resulta na ERÓTICA.

A Erótica surge como outro ponto constituinte do hedonismo materialista. Homem e

mulher sentem o corpo de forma diferente. Macho e fêmea são anteriores ao homem e à

mulher. Portanto, quando a “filosofia falta, a biologia reina” (ONFRAY 2010, p. 61), ou seja, o

erotismo é o argumento de trânsito das relações amorosas, em que mulheres são

aculturadas a papéis femininos, e, por isso, a erótica lhes é necessária. Homens são tidos

como bárbaros. Onfray (2010, p. 65) relata que:

Para abolir essa miséria sexual, acabemos com as lógicas perversas que a tornaram possível – o desejo como carência; o prazer associado ao auge dessa suposta carência na forma de um par fusional; a família desviada de sua necessidade natural e transformada em resolução da libido encarada como um problema; a promoção do casal monogâmico, fiel, que compartilha o mesmo lar no dia a dia; o sacrifício das mulheres e do feminino nelas; os filhos transformados em verdade ontológica do amor dos pais. O trabalho de superação dessas ficções socialmente úteis e necessárias, mas fatais para os indivíduos, contribuem para a construção do Eros leve.

É preciso dissociar amor, sexualidade, e procriação. Com a evolução da ciência, dos

métodos anticoncepcionais e dos aspectos legais que autorizam a interrupção voluntária de

gravidez, hoje temos como separar sexo de procriação. Abre-se espaço para aspectos lúdicos

relacionados à sexualidade: o Eros Leve.

O Eros Pesado institui, ao contrário, a entropia, a imobilidade, a repetição do hábito

relacionado à sexualidade, o que leva à castração do prazer.

A dominação da sociedade ocorre pela Heurística do Medo, prevendo acontecer

sempre o pior em oposição ao que pode ser prazeroso. Onfray diz-se pela Heurística da

audácia, a criação pelo bem e a felicidade do eu e da sociedade.

Page 50: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

48

IV Bioética

Outro compromisso que Onfray aponta no materialismo hedonista é a necessidade

de repensar o corpo, a BIOÉTICA, além do esquematismo cristão, do corpo como fruto do

pecado. Há de ter-se um corpo voltado à felicidade aqui e a agora, fazendo uso dos recursos

do contemporâneo para aumentar as possibilidades de felicidade. Pode-se mudar o corpo

com próteses, operações e esforços físicos, mas não se pode mudar o cérebro. O cérebro é o

responsável pela reconstrução e reapropriação da imagem.

Onfray (2010, p. 118) afirma que “O essencial consiste em não morrer em vida, logo

em morrer vivo – o que não é o caso de certo número de pessoas mortas há muito tempo

por nunca ter aprendido a viver, logo por nunca terem vivido de verdade.”.

V Política

A política com leitura de poder é outra faceta que Onfray estuda no materialismo

hedonista. Segundo a La Boétie, é preciso reativar as grandes teses do poder, ou seja, o

poder só existe se e com o consentimento dos subalternos. Michel Montaigne (apud

ONFRAY 2010, p. 139) afirma: “Resolvam não servir e estarão livres”.

Aqui e agora, e não amanhã ou para o futuro ruidoso, mais tarde – porque amanhã nunca é hoje... A revolução não espera a boa vontade da História maiúscula; ela se encarna em situações múltiplas nos lugares em que é ativada: em nossa família, nossa oficina, nosso escritório, nosso casamento, nossa casa, sob o teto familiar, desde que um terceiro esteja implicado numa relação, em toda a parte. [...] a política não se revigorará criando grandes sistemas inaplicáveis, mas forjando pequenos dispositivos temíveis, com um grão de areia na engrenagem de uma máquina aperfeiçoada. Fim da história imodesta, advento da história modesta, mas eficaz (Onfray, 2010, p. 139 - 141).

O autor explica a extensão de política constituinte do materialismo hedonista, a

política individual e de todos, baseada nas relações fortuitas e cotidianas, relacionando-se

com os outros em pequenos interstícios que convém ao prazer individual e social. Há muitas

Page 51: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

49

possibilidades nesse viés de política, uma vez que cada indivíduo é responsável pelo seu

devir e pela sociedade que pretende. O hedonismo materialista tem o objetivo de criar

situações de ataraxia real e serenidades efetivas, ou seja, estado de constante paz e bem-

estar para si e para a comunidade.

3.2 O PRAZER – O HÁPAX EXISTENCIAL

Onfray, em “A Arte de Ter Prazer: Por um Materialismo Hedonista” (1999, p. 29)

explica o que é o Hápax existencial:

Hápax existenciais, experiências radicais e fundadoras ao longo das quais do corpo surgiu iluminações, êxtases, visões que geram revelações e conversões que se configuram em concepções do mundo coerentes e estruturadas.

Tal afirmação explica a luta contra o ideal ascético e a filosofia judaico-cristã que

Onfray debate. Por exemplo, a passagem pelo orfanato Salesiano marcou-o inevitavelmente,

e forjou as bases de sua crença filosófica.

O corpo é o veículo e canal que une indivíduos ao mundo e às respectivas histórias.

As marcas que o mundo exerce sobre as experiências do indivíduo constituem a amálgama

da história individual e da História.

A conjunção da sedução da imagem referida por Maffesoli (1995, p. 53) contribui no

fluxo de confirmação do hedonismo:

Há hedonismo do corpo, dos objetos, das imagens e do espaço, com tudo o que isso pode ter de concreto, mas isso transmuda em misticismo, isto é partilhado, favorecendo assim uma união misteriosa ou, mais próximo de sua etimologia, uma comunhão.

Isto é, estamos em constante compartilhamento e comunhão, dada pela busca do

prazer consigo e com o outro em troca e construção cotidiana. O místico a que Maffesoli

(1995, p. 53) “se refere é a recriação da atmosfera do mundo objetivo, concreto

Page 52: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

50

transformada em sensação percebida, gerando prazer.” Especula-se que essa sensação do

prazer tenha inferência direta da sedução estética. Por mais mutante que seja a

manifestação estética (clássica, dadaísta, pós-moderna...) o gozo, o prazer são o clímax ao

pertencimento da tribo em identificação.

Onfray (1999, p. 218) manifesta-se sobre quais os caminhos que possibilitam o gozo

estético, ratificando Maffesoli:

[...] “gozo estético” – o hedonismo adquire seu pleno sentido: vontade de produzir formas únicas, de transfigurar o real em emoções, de tomar o mundo como um pretexto para beleza, excelência e prazer. Os instrumentos dessa alquimia são os cinco sentidos exacerbados pela consciência.

A consciência referida fecha o circuito entre Maffesoli e Onfray, quando Maffesoli

identifica que, na pós-modernidade, não há mais identidade, mas, sim, identificação e

pertença do indivíduo, e as tribos. Logo, pode-se dizer que a aproximação, a identificação

natural e o pertencimento ao grupo dão-se pelo prazer, ou seja, a estética que qualifica o

grupo também impõe a ética das regras e habitus10, como também a Cinestesia Social, termo

de Maffesoli (2007, p. 117), para o formismo em atuação, ou seja, dá conta e “delineia

grandes configurações que englobam, sem reduzir, valores plurais e às vezes antagônicos da

vida corrente.” Em resumo, a estética aglutina e impõe a ética do social.

Onfray (2010, p. 83) afirma:

Nesta torre de Babel se aninham novas possibilidades estéticas, claro, mas também éticas, políticas, ontológicas, metafísicas. Porque arte proporciona a matriz de revoluções existenciais. A estética desempenha um papel maior na constituição de novos saberes fora dele. Seu registro não é de superestrutura ideológica, mas de infraestrutura mental para todos os setores da sociedade. (Grifo da autora).

Sob essa perspectiva, Onfray (2010, p. 83) informa-nos sobre a adesão e

independência individual, o que também encontra afirmativa em Thompson (1998, p. 31):

10 Pierre Bourdieu cunhou a noção de Habitus: é um conjunto de regras sociais que não são normatizadas

sistematicamente, mas a sociedade aceita e legitima através das práticas cotidianas. Essas práticas pressupõem um ajustamento contínuo em processo de correção.

Page 53: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

51

Devemos abandonar a idéia de que os destinatários dos produtos de mídia são espectadores passivos cujos sentidos foram permanentemente embotados de contínua recepção de mensagens similares. Devemos também descartar a suposição de que a recepção em si seja um processo sem problemas, acrítico, e que os produtos são absorvidos pelos indivíduos como uma esponja absorve água. Suposições desse tipo têm muito a pouco a ver com o verdadeiro carácter das atividades de recepção e com as maneiras complexas pelas quais os produtos da mídia são recebidos, interpretados, por eles e incorporados em suas vidas.

Dessa forma, o Hápax refere-se aos sentidos do corpo em alerta e aptos à percepção

do mundo cotidiano, aproximando os indivíduos conforme a consciência estética, geradas

pelas experiências fundantes. Esclarecer o que Thompson chama de “processo” é a visada

compreensiva que se dará sobre a sedução estética do varejo, como processo

comunicacional.

3.3 CRUZAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS ENTRE MAFFESOLI E ONFRAY

O cruzamento epistemológico sobre aspectos comunicacionais da Sociologia

Compreensiva e da Filosofia Hedonista, visa a ancorar a tese sobre a sedução da estética no

processo comunicacional do varejo, e faz-se necessário, a fim de contrastar o conhecimento

debatido até agora. Assim, passar-se-á à terceira parte do trabalho com a noção do como, do

porquê e o que se está procurando.

Onfray e Maffesoli complementam-se as noções da relevância do prazer, imagem, estética,

presente. Não será necessário repeti-las, pois já foram mencionadas anteriormente. Resta o

fechamento desta primeira etapa, especulando-se acertada as escolhas da autora em utilizar estes

autores como inspiração epistemológica. Até o momento, este trabalho visa a estabelecer como

pensar e quais lentes usar para observar o objeto.

O próximo capítulo iniciará a novo ponto em que se chegará mais perto do objeto de

estudo: a comunicação do ambiente do varejo popular sob a influência da sedução estética. Trata-

se do consumo popular no Brasil, no presente, e, por isso, usa-se como estrutura fundante o

apanhado inicial da dissertação da autora, pois muito deste serviço já foi feito naquela etapa.

Contudo, não é um trabalho de cópia, e, sim, de partida para continuar a jornada.

Page 54: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

52

4 O CONSUMO

4.1 O CONSUMO E O MERCADO

Temos de continuar consumindo o que estamos consumindo, não temos de parar de consumir, porque não passamos por nenhuma ameaça (ROUSSEFF, 2011, on-line).

Esta etapa da investigação diz respeito à conceituação do consumo e a noção de

tamanho do mercado e a responsabilidade que se está trazendo ao debate no Brasil.

O consumo para a economia brasileira é tão importante que confirma a fala da

presidente da república, Dilma Rousseff, em epígrafe, conclamando a população para

continuar consumindo, a fim de manter o equilíbrio da economia. O retorno de impostos

que advém sobre o consumo atinge a 48% da arrecadação. Nesse contexto, o varejo é canal

de escoamento de produtos da indústria ao consumidor final, e a comunicação é um dos

vetores que constituem o sucesso e entendimento entre as partes do processo de

comunicação.

Com essa perspectiva, a autora sugere ampliação: O que o consumo representa,

incluindo o financiamento da economia brasileira.

Com a crise econômica nos países ricos e a evolução e autossuficiência dos demais

países emergentes do BRIC11 em vários segmentos antes abastecidos pelas exportações

brasileiras, a economia volta-se para o investimento no mercado interno. Nessa perspectiva,

o consumo interno ganha contorno de sustentabilidade interna, o que justifica a fala da

presidente Dilma Rousseff, quanto à manutenção do consumo.

Data Popular (2008, vol. 2, p. 1) expõe que “O fato é que o consumo é uma prática

cultural e só quando entendido sob este ângulo, tais atitudes assumem contornos mais

claros e inteligíveis.”.

Na dissertação, a autora conceituou o consumo (REIS, 2008, p. 23):

11 Países emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China.

Page 55: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

53

1. A base da sociedade de consumo;

2. Válvula de escape das classes pobres na falta de ascensão vertical;

3. Disciplina;

4. Dissimulação do real;

5. Ideologia;

6. Organização simbólica do mundo;

7. Homogeneização e diferenciação;

8. Culturalização do natural.

A essa sequência a autora acrescenta quatro itens, fruto da evolução e reflexão sobre

o tema: “financiamento do poder público”, ou seja, por intermédio da arrecadação e da

redistribuição dos tributos advindos do consumo diário da população, o governo amplia e

sustenta sua posição. Recomenda-se a leitura dos Anexos 1 e 2, que aparecem ao final desta

investigação, pois conferem base teórica para as entrevistas aqui relatadas indicadas em

itálico a seguir:

Alfredo Meneghetti Neto12, Economista da FEE – Fundação de Economia e Estatística,

Professor da PUCRS, em entrevista à autora no dia 1.° de dezembro de 2011, afirma que:

O consumo popular tem uma importância muito grande e cada vez maior, em função do aumento da renda do brasileiro. Tivemos uma migração das classes inferiores para as classes médias. A gente observa que esta classe de renda de R$ 400 a R$1600,00 ela foi promovida recentemente pelo crescimento que observamos em 2010. Isso foi muito importante. Faz parte de uma demanda que antes não ocupava o lugar na demanda brasileira e hoje a gente já nota pessoas com poder aquisitivo para buscar mercadorias que sempre tiveram como ilusão através das novelas, das vizinhanças, dos bairros mais ricos da cidade, então estas pessoas com renda menor sempre tiveram a ilusão para criar estímulo e necessidade que deveriam ter o mesmo tipo de mercadorias que pessoas que já são classe média há mais tempo. Entretanto a minha crítica com economista e o economista é um cientista social é: estas pessoas não desfrutam da educação necessária, da condição necessária para que estes produtos sejam assimilados de uma forma mais adequada. Então em função disso eu quero crer mesmo que a renda tenha

12

Alfredo Meneghetti Neto possui graduação em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1975), graduação em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981), mestrado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988) e doutorado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2000). Atualmente é professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (desde 1989) e economista da Fundação de Economia e Estatística (desde 1979). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Finanças Públicas Internas, Finanças pessoais, sistema tributário e integração. Já ministrou 29 palestras sobre finanças pessoais. Outras informações ver site: <http://alfredomeneghetti.googlepages.com>. Curriculum vitae disponível em:< http://lattes.cnpq.br/7165069455720135>. Acesso em: 3 dez. 2011.

Page 56: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

54

aumentado e tenha favorecido um consumo mais qualificado, mas a questão educacional provavelmente pode criar barreiras no curto e médio prazo, pois não é acompanhada do crescimento da renda no Brasil.

Em relação às perspectivas para o consumo popular, Meneguetti (2011) defende que

o consumo popular deve ser mantido nesses atuais níveis, embora o crescimento da

economia seja menor em 2011 e 2012.

O próprio boletim FOCUS, que faz a previsão do crescimento da economia brasileira, vem diminuindo a previsão. Há quatro semanas o crescimento era 3,5%, há duas semanas passou 3,2% e os economistas esperam agora o índice de 3,1%. Aquelas pessoas que estão na promoção da renda em 2010 podem não estar se mantendo em 2012. A gente pode observar no curto prazo, 2012 - 2013, um enfraquecimento do consumo popular em função das perdas de oportunidade, em função da fraqueza e debilidade da economia que não deve ter o mesmo ritmo de crescimento em 2009 e 2010.

A autora lembra que a redução de IPI é uma prática já reincidente do governo

federal.

Marcelo Pohlmann13, em entrevista à autora dia 28 de novembro de 2011,

afirma que o IPI, ICMs, impostos sobre importação são instrumentos políticos, não só

apenas para arrecadação. O que contribui para a fala de Meneguetti que assevera que:

O cidadão brasileiro é altamente suscetível e altamente influenciável pelas políticas fiscais em termos de redução de tributos e altamente sensível a políticas monetárias que dizem respeito a taxas de juros, isso favorece o empréstimo do cidadão a uma taxa de juros mais baixa. [...] tudo fomenta a demanda.

13 Marcelo Coletto Pohlmann possui graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande

do Sul (1983), graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988), mestrado em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo (1994) e doutorado em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo (2005). É Especialista em Integração Econômica e Direito Internacional Fiscal pela ESAF/FGV/Universidade de Münster (2007). Atualmente é professor adjunto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Contabilidade e Direito Tributário, com ênfase em Contabilidade, Auditoria e Planejamento Tributário, atuando principalmente nos seguintes temas: auditoria fiscal, contabilidade tributária, planejamento tributário, direito tributário, contabilidade gerencial e teoria da contabilidade. Autor do livro Tributação e Política Tributária (juntamente com Sérgio de Iudícibus), Editora Atlas (2006). Autor de capítulo dos livros Teoria Avançada da Contabilidade (2003) e Análise Multivariada (2007), ambos pela Editora Atlas. Certificado pelo autor em 19/08/09. Curriculum vitae disponível em <http://lattes.cnpq.br/5786295540303515>. Acesso em: 3 dez. 2011.

Page 57: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

55

Ainda acrescenta:

O consumo brasileiro tem uma importância muito grande para a economia brasileira, nos EUA o consumo é muito maior em termos de relação ao crescimento da economia e a economia. O nosso (consumidor) tem influência do crédito e das políticas monetárias. O cidadão tem esta influência tanto do governo e principalmente do mercado de crédito que está em expansão no Brasil.

Finalizando, Meneguetti critica o sistema tributário, pois:

Há uma grande quantidade de impostos que incidem no consumo do brasileiro. Existe uma regressividade, ou seja, tanto a classe média, tanto a classe mais rica pagam a mesma quantidade de imposto. Deveria haver uma graduação de acordo com a capacidade econômica do contribuinte. Quando não ocorre e existe uma regressividade que afeta principalmente os mais pobres, que vão pagar mais proporcionalmente. O nosso sistema bastante injusto, especialmente sobre o consumo.

Em conclusão às entrevistas de Meneguetti e Pohlmann (2011), a autora

reafirma que o consumo é importante, principalmente o popular, pois é formado por

um grande contingente de pessoas que criou uma demanda que não existia há anos. Há

um “novo” mercado fruto do aumento da renda, que elevou a classe popular ao acesso

de bens de consumo que antes eram restritos à classe média. O desafio do Estado é

propiciar ambiente e políticas públicas capazes de manter o consumo constante e, por

conseguinte, não haver nenhum retrocesso dos avanços dos populares. Esse também é

o desafio dos próprios populares: continuar com o padrão de vida no nível da classe

média. O governo e a economia já comprovaram que o brasileiro é sensível à política

fiscal e monetária, pois sempre que há redução impostos e da taxa de juros, aumenta o

consumo, beneficiando toda a cadeia produtiva. Logo, parece que há mecanismos e

interesse do governo em manter o consumo, configurando o financiamento do poder

público.

Como segundo ponto, a autora sinaliza a inovação do cotidiano, pois é por meio

da ampliação da oferta de produtos e serviços, bem como da constante inovação e da

pesquisa que se proporciona a elevação da consciência no horizonte da promessa de

Page 58: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

56

felicidade. A comunicação de varejo incentiva de forma objetiva e espetacular a

renovação e ampliação de ciclos de vida de produtos, fazendo com que a curva da

demanda se mantenha constante ou crescente. Por exemplo, TV, micro-ondas, fogão,

geladeira são itens que estão na maioria dos lares brasileiros, contudo os consumidores

são constantemente assediados a verificar se os itens que têm em suas residências

ainda são atuais e correspondem à expectativa de uso.

Como terceiro acréscimo, tem-se o hedonismo, o prazer da manipulação

ressignifica o mundo, isto é, o significado e a percepção de si e dos outros, no movente

social.

O prazer no presente, por meio do consumo, o gozo estético e material recria a

realização do homem em seu ambiente e, compartilhado com o grupo ou tribo, dá

sentido espetacular ao consumo. Vive-se sob a conquista de consumir e a derrota de

consumir-se ainda mais para a manutenção da satisfação. Contudo é acessível nesta

vida, objetivando o cotidiano.

O quarto item é o consumo, pautando a agenda social, as obrigações de

lembranças, com a configuração de um calendário promocional conhecido de

anunciantes a agências de publicidade: Dia das Mães, Dia dos Pais, Natal, Ano Novo,

Dia do Amante, Dia dos Namorados, Dia das Crianças, Dia dos Avôs. Enfim, há

infinidade de datas comemorativas ou que visam à conscientização de problemas

sociais. Tais eventos reforçam campanhas publicitárias, agendas do jornalismo, bem

como reforçam laços de poder das relações públicas. Não existem isentos, havendo

oportunidade de contato com futuro lucros.

Em esquema gráfico, o consumo fica representado com segue, na Figura 3.

Page 59: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

57

Figura 3 - O que o consumo representa

Fonte: A autora (2012).

A partir deste momento, resgatam-se cada uma dessas instâncias, a fim

contextualizá-las na tese.

I Ideologia

Baudrillard (2003) cunhou o termo Sociedade de Consumo, explicitando a dimensão

do consumo, para além da aquisição e da posse de objetos. É a própria ideologia do

consumo que se sobrepôs às grandes ideias, como o comunismo, o socialismo. Exatamente

CONSUMO

HEDONISMO

INOVAÇÃO DO

COTIDIANO

FINANCIAMENTO DO PODER PÚBLICO

AGENDA SOCIAL

CULTURALIZAÇÃO DO NATURAL

HOMOGENEIZAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO

ORGANIZAÇÃO SIMBÓLICA DO

MUNDO

IDEOLOGIA

DISSIMULAÇÃO DO REAL

DISCIPLINA

VÁLVULA DE ESCAPE DAS CLASSES POBRES NA FALTA

DE ASCENSÃO VERTICAL

A BASE DA SOCIEDADE DE

CONSUMO

Page 60: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

58

pela falta de uma orientação típica do contemporâneo, surge o vazio da pós-modernidade.

Para o autor, enquanto o mundo moderno era organizado pela produção de objetos, a pós-

modernidade é regulada pela reprodução, pela simulação desses objetos, confundindo a

realidade com a ficção.

O século XIX foi o século da industrialização, o XX foi marcado pela aceleração do

consumo. Especula-se que o XXI seja um século de consumo não menor, porém já existem

indícios da preocupação do consumo com o meio ambiente e a sustentabilidade social do

planeta. Entretanto ainda é insípido o resultado sobre as melhoras.

Há movimento para substituir sacolas plásticas pelas antigas de pano e palha, porém

ainda precisa-se de sacolas. Para esta autora, parece mais teoria e cálculo sobre os

problemas do planeta e como salvá-lo, que propriamente fazer das escolhas do consumo

pessoal a bandeira para melhorar o convívio com o outro e o planeta.

Segundo Food Trends 2010 a 2020 (2010), Sustentabilidade e Ética são tendências de

consumo relacionadas à alimentação, e, por conseguinte, podem ser aplicadas ao consumo

em geral. Os consumidores são preocupados com o meio ambiente, e suscetíveis à

solidariedade e à sensibilidade social, por exemplo, menor “pegada” de Carbono (Carbon

Free), baixo impacto ambiental, não estar associado à crueldade com animais, ter rotulagem

ambiental, recicláveis e recicladas, bem como produtos vinculados a causas sociais, com

certificados de origem de sistema fairtrade14. Também gozam de simpatia de empresas com

programas avaliados e certificados de responsabilidade social. A tendência Sustentabilidade

e Ética não é uma característica intrínseca dos produtos, e sim como é produzido. Confere

alto nível de consciência à compra, ao consumo preocupado com os “pequenos nadas”

mencionado por Maffesoli.

Essa ideia é confirmada por Morin (2007, p. 29):

A ética tem fontes, raízes, está presente como sentimento do dever, obrigação moral; permanece virtual dentro do princípio de inclusão, fonte subjetiva individual da ética. [...] Vale repetir: o ato moral é um ato de religação: com outro,

14 Fair trade significa “comércio justo”, e é justamente isto. Surgido na década de 1960, a certificação Fairtrade

representa uma iniciativa que congrega responsabilidade social, sustentabilidade e competitividade para pequenos e médios produtores. FARIA, Caroline. Fair trade. Info Escola. Navegando e aprendendo. Economia. 9 maio 2008. Disponível em: <http://www.infoescola.com/economia/fair-trade/>. Acesso em: nov. 2011.

Page 61: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

59

com uma comunidade, com uma sociedade e, no limite, religação com a espécie humana.

Assim, o consumo consciente, ou seja, articulado com a ecologia do social contribui

com a religação do ser com o outro em ambiente social.

Hélio Mattar, diretor presidente do Instituto Akatu, organização não governamental

dedicada ao fomento do consumo responsável afirma15: “o consumo consciente não se

consolidou como comportamento. Mas há 10 anos era assunto que ninguém tocava. Está

melhorando. O grande desafio é dar escala a velocidade nesta guinada.”.

A escala a que Mattar faz referência diz respeito ao grau de consciência a que a

autora menciona. Seguem duas campanhas16 que incentivam o consumo consciente: uma do

governo da Bélgica, outra da ONG Akatu.

Figura 4 - Anúncios para Campanha da Divisão Ambiental do Governo belga. Título “Pense sobre o que ele consome antes de comprar”

15 MATTAR, Helio. [sem título]. ZERO HORA. Porto Alegre, n. 16893, p. 4, 21 nov. 2011. Nosso Mundo

Sustentável. 16 Disponíveis em <http://www.luerzersarchive.net>. Acesso em: nov. 2011. Verifique também <http://www.

energivores.be/HouseClosed.aspx?lang=FR>, cujo site aborda o consumo de excessivo de energia.

Page 62: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

60

Fonte: <http://www.luerzersarchive.net>.

Figura 5 - Anúncio para Akatu. Título “Mais carros, menos ar limpo.”

Fonte: <http://www.luerzersarchive.net>.

As campanhas são institucionais, portanto, não têm o objetivo de vender um

produto, mas ideias de uma sociedade sustentável, com menos uso de recursos naturais e

Page 63: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

61

menos poluição respectivamente. Uma veiculada na Europa (Bélgica), outra no Brasil.

Verifica-se que é uma preocupação global, contudo, resta atingir a escala de popularizar o

consumo como meio de condicionar que tipo de sociedade a sociedade deseja.

Neste momento, outras inferências mais sutis, que o preço e o prazo comuns do

varejo se fazem necessárias. Indagações como: Quem fabrica? Como fabrica? Como faz a

logística? Quais os impactos desta logística? Quais os tipos de tecnologia empregada? Como

é a idoneidade fiscal e trabalhista da empresa? Quem são os fornecedores desta empresa?

Qual a origem da matéria-prima? Qual a finalidade do dinheiro? Qual a durabilidade do

produto, ou o ciclo de vida do produto? Como será feito o descarte do produto depois de

consumido? É possível reciclar o produto? É necessário comprar? Existe alguma alternativa à

compra? Faz parte dos valores os quais norteiam o cotidiano?

Ilustrando a problemática, quando a dona-de-casa comprar um pão no supermercado

além do preço, das calorias, do peso, das características intrínsecas ao produto, também vai

verificar se a embalagem é reciclável, qual a “pegada” de carbono para produzi-lo, onde foi

fabricado, qual a distância que o produto percorreu para chegar ao PDV, qual a noção que se

tem da empresa que o produziu. Verifique se quando você compra um pão faz estas

observações. Se não, há de concordar com a autora que Sustentabilidade, ainda é mais

teoria que prática.

Maffesoli (1995, p. 70) auxilia no alinhavo da ideia em relação à importância

ordinária do consumo: “o quotidiano do sujeito que vai determinar a vida social do

conjunto.”.

II A base da sociedade de consumo

A base da sociedade de consumo está no vigor e na simplicidade da progressão do

sistema de consumo. As necessidades fisiológicas do homem são limitadas, porém as

psicológicas e sociais são infinitas. Todavia seria ingênuo pensar no consumo como apenas

satisfazer as necessidades individuais. Elas estão apenas na superficialidade. O plano de

consumo é maior, e requer que o entenda como ferramenta disciplinar e persuasiva através

da organização de signos que diferenciam e dão pertencimento ao grupo. A sociedade de

Page 64: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

62

consumo se autorrecria, reinventando-se, à medida que novas necessidades são

oportunizadas no cotidiano, e novamente as pessoas estão instigadas a dizer sim ou não ao

consumo.

O consumo é tão importante na constituição da pessoa, pois seja ele de ideias (por

exemplo, os partidos políticos), seja de ideias que se materializam em produtos, ele

corresponde à identificação dos valores pessoais e do grupo.

De tempos em tempos, o movente da sociedade, por evolução de consciência,

inteligência coletiva, novos valores, novas tecnologias, novos produtos, novas expectativas,

impulsiona as pessoas a procurarem essa renovação na forma de produtos e ideias.

III Disciplina

O indivíduo está sob a vigilância da espetacularização de consumir para aparecer

igual ao grupo e diferente dos outros. Quando se segmenta, diz-se com quem se deseja estar

e mais, principalmente com quem não se quer conversar/parecer. Além da vigilância

externa, há a vigilância instrumental do endividamento. O endividado é dócil, visando a

manter o status quo. As contas das parcelas, da escola, do aluguel, das roupas, do

supermercado, do carro (grande consumo dos brasileiros nos anos 2009, 2010, 2011)

contribuem para a subserviência da massa.

Foucault contribui com esta concepção (1987), afirmando que:

O exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar, um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam (p. 143).

[...] A pena deve ter efeito mais intensos naqueles que não cometeram a falta, em suma, se pudéssemos ter certeza de que o culpado não poderia recomeçar, bastaria convencer os outros de que fora punido (p. 80).

Ou seja, apenas imaginar que não se possa fazer parte, pela comunhão e

manipulação do consumo, já basta para o indivíduo cair em ameaça de isolamento.

Page 65: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

63

Consumir é espetacularizar, é comunicar-se e tornar visíveis escolhas das mais diversas

ordens: econômicas, sociais, psicológicas entre outras.

A recusa de crédito corresponde à alienação ao grupo, do convívio e ritos.

IV Dissimulação do real

O consumo permite à pessoa a satisfação por intermédio da troca de uma

necessidade/desejo por algum produto, ou seja, temporariamente uma necessidade é

atendida, porém com a profusão de objetos e produtos, o novo, inédito é rapidamente tido

como obsoleto e ultrapassado. Assim, a percepção da realidade é constantemente alterada

para um novo patamar de signos e necessidades.

Percebe-se, muitas vezes, que o consumo se apega à parte física do objeto,

deslocando-se do seu sentido e significado originais. Como explicar, senão, certas

idiossincrasias como consumir uma estética, sem nunca ter vivenciado os fatos que

originaram a forma. Por exemplo, o uso do Retrô, a estética punk consumida nas regiões

inóspitas do sertão ou ainda camisetas com estampas comunistas em pleno desfile nos

shopping centers mais elitizados.

IV.I Homogeneização e diferenciação

Conforme Baudrillard (2003, p. 57-58):

O consumo não é causa de maior homogeneização do corpo social do que a escola em relação às possibilidades culturais [...].

Como a escola, o consumo é uma instituição de classe: não só na desigualdade perante os objetos, no sentido econômico (a compra, a escolha, a prática são reguladas pelo poder de compra, enquanto o grau de instrução é função da ascendência de classe, etc.) – em suma, nem todos possuem os mesmos objetos, da mesma maneira que nem todos têm idênticas possibilidades escolares.

Page 66: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

64

Observa-se a educação e o consumo, constituintes do ser humano, como forma de

movimentação social: abrem as portas como estandartes que demarcam quem é amigo,

quem pertencente e que é excluído do grupo. Baudrillard (2003, p. 58) continua a afirmativa:

[...] mas, de modo ainda mais profundo, há discriminação radical no sentido de que só alguns ascendem à lógica autônoma e racional dos elementos do ambiente (uso funcional, organização estética, realização cultural), indivíduos esses que, para falar com propriedade, não se ocupam de, nem “consomem” objetos – voltando-se os outros a uma mágica e à valorização dos objetos como tais e de tudo o resto enquanto objetos (idéias, lazeres, saberes e cultura): esta lógica feiticista constitui a ideologia do consumo.

Baudrillard informa sobre a manipulação dos objetos e a homogeneização dos

significantes. Segundo ele, todos podem ter, mas nem todos têm a consciência da proposta

do que o objeto representa, qual o conceito explicitado na forma sensível que consegue

enxergar. Porém as combinações e manipulações diferem tanto no grupo, quanto no

indivíduo em relação à legitimidade do uso. Observação também presente na entrevista de

Meneguetti à autora (p. 54): “[populares] estas pessoas não desfrutam da educação

necessária, da condição necessária para que estes produtos sejam assimilados de uma forma

mais adequada”.

V Organização simbólica do mundo

O consumo, como identificação de produtos aos valores, ou simplesmente ao gosto

dos grupos, organiza e sinaliza comportamentos em sociedade. Funciona como bandeiras

em campo de batalha, onde e quando cada “soldado” sabe qual função tem a desempenhar.

Maffesoli (1995, p. 35) acrescenta:

A imagem é consumida, coletivamente, aqui e agora. Ela serve de fator agregação, permite perceber o mundo e não representá-lo. E, mesmo que ela possa ser objeto de apropriação política, ela tem, sobretudo, uma função mitológica, pois favorece o mistério, isto é, une entre si os iniciados.

Page 67: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

65

O consumo, como significante/significado consumido em imagem, organiza assim

quais os papéis que devem ser operados em cada tempo e local. Isso também é confirmado

por Baudrillard (2003, p. 78): “O consumo surge como sistema que assegura a ordenação dos

signos e a integração do grupo; constitui simultaneamente uma moral (sistema de valores

ideológicos) e um sistema de comunicação ou estrutura de permuta”.

VI Culturalização do natural

A culturalização do natural ocorre pela manipulação dos objetos e pela pressuposição

dos papéis por eles representados. O resultado é a reorganização da natureza à cultura, do

natural ao cultural. Há uma hiper-realidade que convence mais que o natural e o real.

Conforme Baudrillard (2003, p. 96), “O consumo define-se sempre pela substituição da

relação espontânea midiatizada por meio de um sistema de signos”, o que leva a crer que o

consumo tem uma dimensão de mutação genética, quando se fala por meio da manipulação

dos objetos ou de sua escassez. A resposta desse diálogo é totalmente relativa de onde se

enxerga, de quais os personagens envolvidos e em que situação e intenção estão

encenando.

VII Válvula de escape das classes populares

As classes populares, em situação de impotência para efetivamente mudar sua

condição de estrato social, em consciência de entendimento da sociedade complexa,

esforçam-se para consumir e parecer pertencer igual aos diferentes em hierarquia social. Ao

mesmo tempo, tem-se a informação que a lógica de consumo para as classes populares não

é simplesmente aspiracional, mantendo os resquícios culturais e estéticos nas escolhas do

cardápio apresentado pelo mercado de consumo. Isso quer dizer, consumir itens que a elite

admira, porém adequadas ao gosto e estética popular.

Segundo Gobé (2010), há uma mudança da lógica aspiracional para a experiencial.

Esse tema será abordado mais à frente.

Page 68: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

66

O artesanato, reciclagens, criações relacionadas à moda manifestam preferências que

serão especificadas no próximo capítulo.

O capítulo que se encerra abordou o consumo e a inter-relação na sociedade no

cotidiano e ancora o próximo passo que é refletir sobre “O POPULAR”, evidenciando os

hábitos de consumo dessas classes.

Dessa forma, começa-se a investigar a comunicação sob a estética do ambiente de

varejo popular, realizando assim o objetivo geral da tese.

Page 69: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

67

5 O POPULAR

Este capítulo evidencia os hábitos de consumo das classes populares, utilizando

informações institucionais do governo brasileiro e dados do Instituto de Pesquisa Data

Popular, entre outros autores.

Nos dados do Censo 201017, o País tem declínio de fecundidade e migração e

aumentos na escolarização, na ocupação e na posse de bens duráveis.

Um País onde as mulheres têm, em média, menos filhos e são mães um pouco mais tarde; onde os casamentos formais cedem espaço às uniões consensuais e o ritmo dos movimentos migratórios, sejam eles internos ou de entrada de estrangeiros, diminui; onde mais crianças e adolescentes estão na escola e mais pessoas trabalham, inclusive com carteira assinada; e onde os domicílios têm progressivamente mais bens duráveis, com destaque para o computador e a presença dominante do telefone celular. É esse o Brasil que começa a se delinear pelos Resultados Preliminares do Questionário da Amostra do Censo Demográfico 2010, aplicado em 11% do total de domicílios do País (6.192.332 em números absolutos).

As classes populares contribuem para esse cenário, e há tempo que marcam a

economia, contribuindo decisivamente para a modelagem da sociedade, evidenciando

comportamento que lhes é peculiar.

5.1 O POPULAR E A ECONOMIA

Segundo Programa A Voz Do Brasil18, entre a população de baixa renda, que recebe

até três salários mínimos, o número de pessoas que passaram a ter conta-corrente dobrou

nos últimos cinco anos. Foi também entre as classes D e E que as aquisições de cartões de

17

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Primeiros resultados definitivos do Censo 2010: população do Brasil é de 190.755.799 pessoas. Sala de Imprensa: Sinopse do censo demográfico 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/ noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1866 &id_pagina=1>. Acesso em: 26 nov. 2011.

18 EBC SERVIÇOS. A voz do Brasil. Transcrição. 23 nov. 2011. Disponível em: <http://www.ebcservicos.ebc. com.br/programas/a-voz-do-brasil/transcricoes/a-voz-do-brasil-de-23-11-2011>. Acesso em: 23 nov. 2011.

Page 70: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

68

crédito mais cresceram. O número de contas-correntes e de poupança aumentou de 91

milhões para 115 milhões, de 2006 a 2010, um crescimento de 26%, enquanto a população

brasileira aumentou apenas 6% no mesmo período. Conforme o Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA), 60% da população brasileira tem conta bancária. Desse universo,

39% abriram a primeira conta nos últimos cinco anos, ou seja, muitos advêm das classes

populares. Por exemplo, a Caixa Econômica Federal tem 8,5 milhões de contas simplificadas,

voltadas à população com renda de até R$ 600,00 por mês.

Dados do governo federal 19 indicam que a nova classe média, ou classe C, é formada

por 95 milhões de pessoas, com renda familiar mensal entre R$ 1.000,00 e R$ 4.000,00. O

site da loja Marisa20, um dos principais players no mercado popular e líder no segmento

lingerie e roupas íntimas para mulheres da classe C, afirma que “a classe C hoje representa

53% da população e estima-se que até 2014 sejam 56%. Segmento que deverá crescer com a

população vinda das classes D, E”.

Conforme Data Popular – instituto de pesquisa especializado em mercado popular –,

o contingente de consumidores populares no Brasil representa uma população superior à da

Argentina, do Chile e do Uruguai juntos.21 Conforme afirma a ministra-chefe da Casa Civil,

Gleisi Hoffmann 22, o aumento e migração de populares para classe média foi “estabilidade, a

partir do controle inflacionário, do crescimento da produção, da geração de empregos e de

programas de inclusão social, que logramos o êxito da ascensão de classe social”. Na última

década, 31 milhões de brasileiros passaram a fazer parte da nova classe média.

Para Moreira Franco, Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos: “O desafio

agora é impedir que a nova classe média retorne à situação de pobreza.”

A nova classe média abriu espaço para a liderança da mulher no mercado de

trabalho, e é responsável por injetar na economia recursos de mais de R$ 1 trilhão, e todo o

país precisa de uma classe média sólida. Segundo Moreira Franco, em entrevista à Voz do

Brasil: 19

EBC SERVIÇOS. A voz do Brasil. Transcrição. 23 nov. 2011. Disponível em: <http://www.ebcservicos.ebc. com.br/programas/a-voz-do-brasil/transcricoes/a-voz-do-brasil-de-24-11-2011>. Acesso em: 25 nov. 2011.

20 LOJA MARISA. MARISA.com.br. Disponível em: <www.marisa.com.br>. Acesso em: 26 nov. 2011.

21 DATA POPULAR. O mercado da base da pirâmide no Brasil. Apresentação PowerPoint em .pdf, 2006. Disponível em: <http://www.datapopular.com.br/html/documentos/Apresen tacao_DataPopular_2006.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2011.

22 Anexo 2.

Page 71: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

69

Não podemos mais enfrentar as questões da nova classe média com políticas sociais exclusivamente. Hoje, pelo protagonismo, pela liderança, pela importância que tem na economia brasileira, a nova classe média, ela, os problemas dela, as dificuldades dela têm que ser tratada com medidas de política econômica. Política para a primeira infância, por exemplo, vai ajudar a nova classe média a educar os seus filhos, o que significa um apoio não só de natureza técnica, mas, sobretudo, de natureza econômica, social.

Renato Meirelles23 acrescenta: “Isso [mais de R$ 1 trilhão] é mais do que o PIB de

Portugal, Argentina, Uruguai e Paraguai somados”. O economista do Conselho Federal de

Economia, Newton Marques, enfatiza a necessidade de educação financeira e a

responsabilidade para evitar o endividamento. O que contribui para reafirmar o que autora

já menciona: uma sociedade endividada é dócil. Caso se não encontrem formas para

sustentar a dívida no cotidiano, torna-se agressiva, gerando desordem social. Segundo

apresentação virtual do Data Popular (2006) “o crédito é o que dá acesso aos bens de

consumo.” Por isso é importante a aculturação com as regras de crédito e as penalidades de

excluído dos cadastros de bons pagadores.

A população de baixa renda, antes de ter acesso ao crédito oficial, movimentava-se

no crédito informal. Relatos de populares à autora revelaram, por exemplo:

a) Empréstimo de amigos. Pode ser de duas formas. Quando amigo ou familiar

com emprego ou renda, empresta o nome, ou seja, cadastro apto à compra,

que propiciava ao amigo consumir ou simplesmente empréstimo em dinheiro

vivo.

b) Compra fiado. Geralmente no comércio local do bairro onde o consumidor

reside. Essa relação é pautada pela confiança e pelo bom histórico de

pagamento do consumidor. Não há contrato assinado entre as partes. Em

alguns casos, o comerciante é a autoridade no bairro e age como um

conselheiro. O PDV flexibiliza a compra, adequando o pagamento à

disponibilidade do comprador, esta geralmente é sazonal e não formal. São

biscates, trabalho por hora ou dia.

c) Trocas. O consumidor popular tem importante parte de sua renda criada por

trocas entre amigos e parentes. A rede de relacionamento popular funciona

23 Anexo 2.

Page 72: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

70

um ajudando ao outro. São pequenos presentes, comida, bebida, cuidados

pessoais entre outros. Apontado por DATA POPULAR (2008, v. 3):

O consumidor de baixa renda tem como característica a valorização de sua rede social, principalmente aquela formada por parentes e amigos de longa data, com quem cresceram e/ou têm contato frequente, como aqueles do trabalho. Ao formarem família, e mudarem de casa, normalmente tendem a ficar no mesmo bairro e, muitas vezes, na mesma rua, para manterem estes laços e assim manterem estes relacionamentos. A rede social também é essencial a este público para garantir a troca de favores. Na dinâmica da “uma mão lava a outra”, o público da base da pirâmide consegue a creche, o eletricista, o encanador, etc., com amigos e familiares.

As regras de crédito no mercado de crédito formal não são pautadas pelo

relacionamento, e, sim, por aspectos racionais e objetivos. Ao consumidor popular foram

oferecidas linhas de créditos sem preocupação em educá-los para as consequências do não

pagamento.

Nesse caso, não estava claro, apesar de aprendido pela elite, o processo de

transação, especificado por Charaudeau (2006, p. 42) a seguir:

Figura 6 - Discurso Informativo

Fonte: Charaudeau, 2006.

As instituições de fornecimento de crédito, como governo, bancos, comércio,

indústria, visualizaram o potencial de mercado, e disponibilizaram a possibilidade de

compra nas condições adequadas à aquisição. Contudo esqueceu-se de que a lógica e o

saber do popular é diferente. Foi oferecido um mundo de vantagens transformado em

Mundo a

descrever e

comentar

Instância de

produção da

informação

Mundo

descrito e

comentado

Instância da

recepção-

informação

Mundo

interpretado

Processo de Transação

Processo de Transformação Processo de Interpretação

Page 73: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

71

baixas e longas prestações. A possibilidade de crédito do “mundo descrito e comentado”

não era compatível com o grau de endividamento de prestação sobre prestação e juros e

multa do não pagamento. Por outro lado, a “Instância da recepção”, acostumada à

flexibilidade e ao relacionamento pessoal envolvido no processo de compra, não estava

habituada com a rigidez do crédito formal. Houve um hiato no processo de “Transação

da informação”, pois o saber necessário e faltante de ambos era o conhecimento da

expectativa dos participantes. A interpretação será dada segundo os parâmetros que são

próprios ao receptor, e, muitas vezes, não foram postulados ou considerados por quem

informa.

Enquanto economistas acreditavam que o problema de crédito para as classes

populares é econômico, a autora postula que o problema é, antes, comunicacional, de

entendimento de imaginário popular e sua compreensão fundamentada no formismo.

(leitura da primeira parte da tese). Charaudeau (2006, p. 69) afirma que “Não se trata

aqui de fazer sociologia, mas de destacar os traços identitários que interferem no ato da

comunicação.”.

A aculturação ao crédito e as normas de pagamento foram aprendidas a duras

penas pelos populares, pela coerção legal e pelo isolamento ao crédito. Contudo,

segundo relato de populares à autora, voltar ao crédito não significa a liberação da

dívida, mas a possibilidade de contrair mais e mais dívidas, o que já sinaliza o prazer que

o consumo acalenta.

Com esse panorama imposto, as instituições de crédito e os populares buscam o

ponto de equilíbrio, seja ele dado por regulamentação governamental, elevando o

pagamento mínimo nos cartões de crédito, restringindo percentual de empréstimo

consignado em folha de pagamento aos pensionistas e aposentados, seja por instituições

bancárias e de proteção do consumidor, por agências reguladoras que ofereçam cartilhas

e operem em prol do equilíbrio, mesmo distante.

Page 74: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

72

5.2 O POPULAR E A FAMÍLIA

A constituição da família popular (classe C1 a E) difere da das famílias da classe A e B.

Com uma renda familiar mensal de R$ 410,00 a R$ 1.650,00 seus valores, seus números,

seus hábitos e suas moradias são peculiares, e suas escolhas na vida e no consumo apontam

os saberes e crenças aprendidos durante a vida e no cotidiano.

Segundo apresentação virtual do Data Popular (2006)24, há relações numéricas entre

grupos de renda e idade. Há um adulto (15 anos e mais) da classe AB para 4,2 da classe DE. A

relação é mais desigual descendo na faixa etária: há uma criança da classe AB (de zero a 14

anos) para cada 10 crianças da DE. Há mais famílias nas classes D e E, além de serem mais

numerosas. O Gráfico 1, a seguir (IBGE, Sinopse do Censo Demográfico, 2010.25) revela que

85,3% dos domicílios pesquisados na edição Censo 2010 localizam-se nos segmentos de até

¼ a três salários mínimos. Portanto, a maioria dos lares brasileiros está no escopo deste

trabalho: a estética popular.

Gráfico 1 - Domicílios particulares permanentes, por classe de rendimento nominal mensal domiciliar per capita (em salários Mínimos)

Fonte: Data Popular apud IBGE, PNAD 2005.

24

DATA POPULAR. O mercado da base da pirâmide no Brasil. Apresentação PowerPoint em .pdf, 2006. Disponível em: <http://www.datapopular.com.br/html/documentos/Apresen tacao_DataPopular_2006.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2011.

25 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse dos resultados do censo de 2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/default.php?cod1=0&cod2=&cod3=&frm=ren da_fx_dom>. Acesso em: 27 nov. 2011.

Page 75: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

73

Segundo as informações do Censo de 2010, a taxa de fecundidade chega a 1,86 filhos

por mulher; em 2000 era de 2,38 filhos. Também se alterou o padrão de fecundidade: as

mulheres estão tendo filhos mais tarde. Nos grupos de idade acima de trinta anos, observa-

se um aumento nessa taxa: de 27,6%, em 2000, para 31,3%, em 2010. E houve um declínio

entre os grupos mais jovens: de 15 a 19 anos e de vinte a 24 anos de idade, que

concentravam 18,8% e 29,3% da fecundidade total em 2000, respectivamente, passaram a

concentrar 17,7% e 27,0% em 2010.

O que este dado não nos informa é a diferença da fecundidade, considerando a

classe econômica. A tabela a seguir aponta a taxa de fecundidade por região do Brasil nos

anos de 2000 e 2010. Nesse intervalo, a taxa de fecundidade diminuiu na média 21,9%.

Manifesta uma alteração suave, mas sua importância está em mudar a direção do vetor e

grupo com maior incidência Índice de fecundidade em mulheres de mais idade.

Tabela 2 - Grandes regiões - Taxa de Fecundidade Total – 2000 a 2010

Fonte: IBGE, 16 nov. 2011, on-line.

Olhar informação relacionada a “mulheres” e “consumo” sempre é relevante,

especialmente no que a mulher para as classes populares representa.

O Censo de 200026 já informava que cerca de 1/3 dos lares brasileiros era chefiado

por mulheres. Inês Magalhães, secretária nacional de Habitação do Ministério das Cidades,

26 Anexo 4. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2000. Perfil das mulheres.

Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/perfildamulher/tabela012000.shtm>. Acesso em: 27 nov. 2011.

Page 76: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

74

em entrevista à Voz do Brasil, 27 afirmou que nos casos de renda familiar inferior a R$

1.395,00, as mulheres chefes de família têm o direito de firmarem contratos habitacionais,

independentemente do cônjuge, exceção feita às operações de financiamento com recursos

do FGTS. A medida possibilita a assinatura de financiamentos sem a necessidade de

localização dos parceiros, muitas vezes de paradeiro desconhecido. Na primeira etapa do

Minha Casa, Minha Vida, de acordo com informações da Caixa Econômica Federal, 94% dos

contratos, dentro da faixa citada, foram formalizados por mulheres.

Número. No Brasil, historicamente tem-se mais mulheres que homens.

Segundo o Censo Demográfico 201028, há no Brasil uma relação de 96,0

homens para cada 100 mulheres, resultando um excedente de 3.941.819

mulheres em relação ao número total de homens.

Divórcio. Geralmente os filhos permanecem com as mulheres, mantendo a

referência de núcleo familiar em torno da mulher. Há casos em que a figura

paterna se dá esporadicamente e quando determinado judicialmente.

Homem-Zangão. Muitas mulheres, especialmente das classes populares, são

abandonadas pelo parceiro, quando eles sabem da gravidez. Isto quer dizer

que a figura do homem estabelece-se como zangão ou reprodutor, mas não

efetivamente como pai na construção de uma família – situação confirmada

pela necessidade de flexibilização de crédito no programa Minha Casa, Minha

Vida.

Estudo. Mulheres têm mais anos de estudo, mesmo que, em muitos casos,

ainda tenham menor renda, porém, com maior discernimento sobre o mundo,

orientam a família em suas práticas cotidianas.

Afetividade. A figura materna acolhe, acarinha, protege sua prole e domínios.

Esse é o papel biológico de sobrevivência. Fêmeas em gestação, em

amamentação e com prole jovem tornam-se agressivas, a fim de proteger seu

habitat. O mesmo acontece com seres humanos, porém, com o advento da

27

MAGALHÃES, Inês. Sobre as ações que priorizam o atendimento às mulheres chefes de família nos

contratos de financiamento habitacional, no âmbito do Programa Minha Casa, Minha Vida e em

programas de regularização fundiária de interesse social. Entrevistador: Luciano Seixas. Brasília: A Voz do Brasil. Programa Brasil em Pauta, 7 out. 2011. Transcrição. Disponível em <http://www.ebcservicos.ebc. com.br/programas/brasil-em-pauta/arquivos/07-10-2011-transcricao>. Acesso em: 27 nov. 2011.

28 IBGE, op. cit. 2010, on-line.

Page 77: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

75

cultura, enquadra-se nos limites da boa convivência, dissimulando essa

relação nos costumes com boas maneiras. Porém a biologia resiste na cultura.

Portanto, a mulher das classes populares sobressai-se em importância na

constituição da cultura popular, seus fazeres e sua regulação. Para o Data Popular (2008, v.

4), as mulheres da classe C são as “As heroínas da classe C”, resultando em estudo que foi

baseado em observações do cotidiano de mulheres de 18 a 40 anos, casadas ou solteiras,

com segmentação comportamental. Algumas revelações do estudo:

a) existem mais mulheres ocupadas somente na classe C do que nas classes AB

juntas. Para cada mulher das classes AB, há seis das classes CDE29, ou seja,

mulheres e consumo popular estão intimamente implicados;

b) os temas que permeiam a segmentação das mulheres de classe C são filhos,

família e casa, elas mesmas, o companheiro, o conhecimento e o trabalho;

c) a partir, do olhar das próprias entrevistadas, denominaram-se os grupos de

comportamento como a guerreira, a persistente, a supereu, a mãe, a

experiente.

Observando-se os temas conforme as entrevistadas se definiram, o sentido que se

expressa é de uma população batalhadora, resistente e resiliente às contradições da

sociedade. Pode-se dizer que as mulheres das classes populares sustentam em seus ombros

o cotidiano da sua comunidade.

5.3 O POPULAR E OS HÁBITOS DE CONSUMO

Esse tópico foi abordado com ênfase da dissertação da autora (2008). Agora se faz a

atualização, segundo as mudanças de cenários do Brasil.

A loja, ou ponto de venda do varejo, é o local em que se processa a contemplação

não apenas do estético, mas também o ver-se no local, o participar da comunhão do espaço

29 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional por amostra de domicílios. Rio de

Janeiro, 2006. v. 27. p. 1-125.Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalho erendimento/pnad2006/brasilpnad2006.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2011.

Page 78: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

76

com dignidade. Inspirado por Bourdieu, Miranda (2005, p. 53) cita: “é pelos prazeres do

consumo que a nova pequena burguesia desenvolve o sentido do estético” (estranho falar

em pequena burguesia, quando se tem uma população tão paupérrima, mas, por analogia e

similaridade, é válida a observação na hierarquia social).

Paco Underhill (1999, p. 87), em “Vamos às Compras!”, afirma que comprar é “como

terapia, recompensa, suborno, passatempo, em uma desculpa de sair de casa, um meio de

paquera, entretenimento, uma forma de educação ou mesmo devoção, uma forma de matar

o tempo”. Mesmo não sendo específico sobre classes populares, o autor manifesta o

deslocamento do ato de comprar da necessidade racional para a diversão e o

entretenimento, quando envolve questões emocionais e experiências sensoriais e

afirmativas relacionadas na aquisição. Isso é reforçado por Jean Baudrillard (2003, p. 130):

Se o signo se considerar como uma articulação do significante e do significado, é possível definir dois tipos de confusão. Na criança e no “primitivo” o significante pode eclipsar-se em proveito do significado. [...] Inversamente, na imagem centrada em si mesma ou na mensagem centrada no código, o significante torna-se o seu próprio significado, gerando-se confusão circular entre dois em proveito do significante, dando-se a abolição do significado e a tautologia do significante.

Segundo os professores Juracy Parente e Edgard Barki (apud OLIVEIRA, 2006)30, entre

as características do consumidor de baixa renda, ressalta-se o Conservadorismo. Pode-se

especular tanto nas decisões cotidianas, quanto no consumo. Isso justifica o uso de marcas

líderes, com margens de lucro superiores por quem menos tem a pagar.

Eles reforçam outra característica: Fidelidade a Marcas, ou seja, forte preferência e

fidelidade por marcas. A troca de marcas tradicionais e líderes em credibilidade requer

aceitar a dúvida do erro. O consumidor de baixa renda não pode errar na escolha, pois, além

de desperdiçar o investimento, põe em xeque a imagem de si, o que reporta a outra

característica peculiar às classes de baixa renda: a Baixa Autoestima.

30 OLIVEIRA, Mariana. A base da pirâmide torna-se o topo de vendas: Entender o mercado de baixa renda é

uma questão essencial para sobreviver no mercado brasileiro. Mundo do Marketing. Reportagem. 29. ago. 2006. Disponível em: <http://mundodo marketing.com.br/imprimirmateria.php?id=207>. Acesso em: 26 nov. 2011.

Page 79: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

77

Conforme Juracy Parente e Edgard Barki (apud OLIVEIRA, 2006, on-line), os

consumidores de baixa renda “sentem-se inferiorizados e percebem que são considerados

como cidadãos de ‘segunda classe’”. Contudo, esse amálgama de dificuldades fez com que

se apegassem à valorização da Dignidade.

A Flexibilidade no Crédito é outra característica importante que os consumidores de

baixa renda apreciam, ajustando a compra à oferta de dinheiro. Essas classes são pautadas

pela organização das aquisições. Na impossibilidade de comprarem muito, fazem-no na

sequência da quitação de cada dívida: a faculdade, a viagem, o carro, a casa; cada um a seu

tempo.

A cultura popular brasileira valoriza o Contato Face-a-Face, bem como as Redes de

Contato. Um canal característico no mercado popular é o porta a porta. Laços de

relacionamento são construídos. A visita da vendedora, por exemplo, da Avon, ou catálogo

Hermes são a oportunidade de festa no lar. Familiares agendam as necessidades para

solicitá-las à vendedora. No ponto de venda, o vendedor é importante, pois é necessário

explicar-lhe as condições do pagamento, as necessidades que motivaram a compra. Muitas

vezes, o vendedor torna-se mediador entre a marca e consumidores. O seu depoimento vale

como citação de credibilidade e amizade. Para quem mais esse consumidor falaria

abertamente quanto são os rendimentos mensais, qual o endereço? Na maioria das vezes, o

consumidor expressa informações suplementares àquelas solicitadas pela compra.

As redes de contato e a vontade de interagir no face a face típico do brasileiro foram

potencializadas pelas mídias sociais. Foi a união do DNA brasileiro e a possibilidade

tecnológica disponível, e cada vez mais acessível até nas vilas e nas favelas. O compartilhar,

o curtir do Facebook, as comunidades virtuais produzem informação, e a fazem circular a

preços compatíveis com o popular. O pertencimento à comunidade local e a integração com

lugares distantes iniciaram uma verdadeira revolução quanto à resistência de valores, ao

mesmo tempo em que se acultura com o mundo. O formador de opinião não é mais

somente a celebridade, mas depende do capital social, ou seja, a relevância que alguém tem

para e na mídia social. Dessa forma, uma dica de compra, uma informação de algum

produto, serviço e loja já não circulam somente no boca a boca, e sim são potencializados

Page 80: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

78

em todos eles, visualizando a informação. O que era unitário e solitário, agora tem escala e

potencial geométrico.

Outra característica é a preferência por lojas da vizinhança, ou seja, a proximidade

física também é um determinante, pois, além das relações de confiança estabelecidas pela

vizinhança, há o custo do transporte, que deverá ser somado ao custo da mercadoria. O que

também pode ser observado é a constante proliferação das grandes redes de varejo popular,

as quais, antes, concentravam-se nos grandes centros e avenidas comerciais, para os bairros,

tanto suburbanos como aos adjacentes aos shoppings centers.

Um dos traços mais característicos das classes populares é o Gosto pela Fartura.

Enquanto a elite prefere o elegante, o minimalismo, as classes populares têm o gosto

acentuado pela fartura, o que pode ser observado em diferentes contextos, por exemplo,

nas vitrines, com grande variedade de produtos ou nas fotografias das mesas de aniversário.

A demonstração de quantidade é uma constante tanto nos anúncios de varejo popular,

quanto no cotidiano. Segundo o Data Popular, a estética da baixa renda deriva da cultura

popular brasileira, ou seja, alegre, colorida, exagerada, extravagante, farta. Mais adiante,

abordar-se-á esse tema especificamente.

O paradoxo do poder e frustração no processo de compra é uma característica que

está diferente do momento da defesa da dissertação (2008). Hoje muitas marcas investem

em conhecer e vender para a classe popular, mesmo que muitas delas também ainda não

atendam às necessidades deste público.

Com poucas alternativas de entretenimento, visitas a lojas representam uma fonte

de lazer. No processo de compra, os consumidores demonstram prazer, e revelam também

um sentimento de “poder”. Por outro lado, o seu limitado orçamento provoca constantes

frustrações.

Uma diferença de comportamento entre a classe baixa e a população de maior renda

está no sentimento de exclusivo x inclusivo. Enquanto a classe alta gosta de produtos feitos

sob medida, que ofereçam uma imagem de exclusividade para que o indivíduo se sinta

único, o consumidor de classe baixa busca produtos que ofereçam a ideia de inclusão, de um

sentimento de pertencimento. Esse consumidor já se sente excluído, e o consumo é uma

forma de sentir-se parte integrante da sociedade.

Page 81: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

79

5.4 O POPULAR E O LUXO

No evento Atualuxo – Conferência Internacional da Gestão do Luxo31, Meireles (2011)

falou como as marcas de luxo pode se democratizar. Em entrevista ao Portal Mundo do

Marketing32 afirmou que, hoje, a nova classe média consome 55% dos perfumes importados.

Segundo o pesquisador, a nova classe média brasileira está invadindo espaços que não

imaginava invadir. O que a nova classe média odeia é ser lembrada de que já foi pobre um

dia. Esse consumidor quer produtos que tangenciem esta ascensão social e marcas que o

incluam no maravilhoso universo de luxo.

O mercado de luxo também mudou. Segundo o entrevistado, “44% dos

endinheirados brasileiros tem dinheiro de primeira geração, ou seja, quase a metade dos

ricos são novos ricos” (famílias com renda superior à R$ 20.000,00/mês – 0,6% da população

brasileira). “O crédito também é outro fator importante para o mercado de luxo. Pagar R$

500,00 por um perfume pode ser caro, mas, se parcelando em dez vezes, todo mundo pode

sair mais cheiroso para trabalhar”.

Segundo Meireles (2011, on-line), “o segredo da democratização das marcas se dá

basicamente em achar signos e repertórios linguísticos que dialoguem com diferentes

classes sociais no Brasil. A estética, o conceito de bonito e feio, é diferente. Mas todos

querem produtos de excelente qualidade”.

Colabora com este cenário Wolton, quando expõe a noção de comunicação em sua

obra (2010) que:

A revolução do século XXI não é da informação, mas a da comunicação. Não é a da mensagem, mas da relação. Não é a produção e da distribuição da informação por meio de tecnologias sofisticadas, mas a das condições de aceitação ou de sua recusa pelos milhões de receptores, todos sempre diferentes e raramente em sintonia com emissores (p. 15).

31 Evento disponível em: <http://www.atualuxo. com.br/ >. Acesso em: 26 nov. 2011. 32 MEIRELES, Renato. Como a nova classe média se insere no luxo. Entrevistador Bruno. Conferência

Internacional da Gestão do Luxo, em São Paulo, maio 2011. Disponível em: <http://www.atualuxo. com.br/midia/vídeos>. Acesso em: 26 nov. 2011.

Page 82: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

80

[...] A comunicação é um problema de convivência e de laço social, característica de uma sociedade de movimento, de interatividade, de velocidade, de liberdade e de igualdade (p. 25).

A autora relembra o apontamento feito à página 70 sobre a informação e a

interpretação da mensagem segundo o universo próprio, ou seja, o que tem relevância para

um, nem sempre é decifrado pelo outro. Dessa forma, as marcas necessitam explorar o

universo onírico e cotidiano das classes populares para, enfim, produzirem a interpretação

da informação destinada a elas, ou seja, está se falando não de somente produzir

informação para alguém, mas de tentar produzir a interpretação desejada da audiência,

considerando-se assim a ambiência de imaginário e mundo popular objetivando o consumo.

Meireles continua, afirmando que “O potencial de consumo da nova classe média é

13 vezes maior que todo mercado de luxo. Um refúgio para as marcas de luxo é a Internet,

onde o consumidor da nova classe média (o popular) pode comprar, sem que ninguém fique

olhando feio para ele”.

Acredita-se que a democratização do luxo está no interesse das marcas em faturar,

aumentando a escala de produção e atendendo a consumidores com o oferecimento de

produtos de alto padrão de qualidade (MEIRELES, 2011).

5.5 O POPULAR E A LEITURA DA PEÇA DE COMUNICAÇÃO: OS ASPECTOS EDUCACIONAIS

No artigo “Como vender para quem não compreende o que lê?” (REIS, 2010) a autora

especula como a publicidade pode se comunicar, se o letramento e a alfabetização das

classes populares, para a maioria dos alunos brasileiros, ainda é barreira de entrada para o

entendimento de informações. A falta de habilidade na decodificação do código letrado

pelos jovens brasileiros, constatado sistematicamente na avaliação do Programa

Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) 33 pode ser considerado mais um dos muitos

33 OKADA, Ana. Quase metade dos alunos brasileiros de 15 anos não atinge o nível básico de leitura no Pisa.

São Paulo: UOLEducação, 9 dez 2010. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/ultnot/2010/12/ 09/quasemetade-dos-alunos-brasileiros-nao-atinge-nivel-basico-de-leitura-no-pisa.htm>. Acesso em: 26 nov. 2011.

Page 83: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

81

ruídos que levam à incompreensão de peças publicitárias, bem como do mundo no qual o

indivíduo está inserido.

5.5.1 Como vender para quem não compreende o que lê?

A comunicação debate em sua essência os processos de comunicação. Variáveis

foram introduzidas à análise da comunicação, atualizando a sua complexidade, o que, no

início, consistia uma relação entre emissor e receptor. Na contemporaneidade, há outras

variáveis entre os extremos emissor/receptor, por exemplo: o canal, as condições de

produção da mensagem, a adequação de linguagem e, principalmente, o ruído existente

neste circuito.

O ruído pode ser de muitas naturezas, mas o que é importante relatar é que, por

meio da análise do ruído, diagnosticamos as mutações, as alterações de sintonia no processo

de comunicação. Diga-se que é na divergência, no anacrônico e no vernacular que existe a

renovação e suas manifestações no cotidiano.

A abordagem para a análise do processo de comunicação, na visão da autora, requer

um olhar hermenêutico, contextualizando a comunicação como Maffesoli (2008) que aborda

“Comunicação como entendimento de mundo”, isto é, requer que se considere não o

sintoma isolado, mas a problemática dos atores sociais, sua história, sua essência e sua

deficiência. Nesse caso, o ruído encontra relevância na atualização do processo

comunicacional.

Neste sentido, Irene Machado (2001, p. 279), colabora à noção de Maffesoli:

Em todos esses campos, o estudo das mensagens como fenômeno de troca visa uma maior compreensão do modo como acontecem as interações por meio da linguagem. Emissão e recepção, canais de transmissão, códigos que organizam as informações em mensagem centralizam grande parte dessas abordagens. (abordagens como igual a possibilidade de estudo da comunicação)

Page 84: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

82

Observa-se a comunicação como um fenômeno complexo, suscetível à interferência

e às idiossincrasias comuns ao cotidiano. Acredita-se que o signo não é perene, e, sim,

adapta-se conforme a cultura, o tempo e o lugar, e essas são apenas algumas entre tantas

variáveis que se pode imaginar. Tudo pode ser motivo para que o mistério da comunicação e

da compreensão não aconteça em sua plenitude. Segundo Machado, é importante “estar no

lugar de e para alguém”, ou seja, é preciso entender qual é a visão do mundo que existe na

audiência alvo da comunicação.

Um fato que merece atenção, e acrescenta mais um elemento concreto à

incapacidade de se comunicar, é que os alunos brasileiros, com 15 anos de idade, têm

dificuldade de ler e compreender um texto. O letramento é uma das habilidades que

constituem a prova do PISA34, juntamente com habilidades de matemática e ciências.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP),

afirma quanto à validade aos objetivos da aplicação do Programa:

Até que ponto os jovens adultos estão preparados para enfrentar os desafios do futuro? Eles são capazes de analisar, raciocinar e comunicar suas idéias efetivamente? Têm capacidade para continuar aprendendo pela vida toda?35

Sem dúvida, é uma métrica comparativa válida tanto pela sua dimensão: em 2003,

participaram do PISA 250 mil adolescentes com 15 anos de idade, de 41 países, sendo trinta

deles membros da OCDE e os demais, convidados da América Latina, participaram Brasil,

Uruguai e México.36 Em 2009 participaram 470 mil estudantes de 65 países.

Comparativamente, o Brasil está aquém de seus vizinhos latino-americanos e do

processo de ascensão da leitura e compreensão do texto. Apesar de uma visão até certo

ponto otimista do governo federal em relação ao investimento feito em educação e os

esforços meritórios na qualificação do processo educacional, como a criação de políticas

educacionais a partir de provas como ENEM, ENADE, o Brasil não deixa as últimas

34

OKADA, op. cit., on-line. 35 INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Para compreender melhor o

PISA. 6 dez. 2010. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/internacional/pisa/ >. Acesso em: 6 dez. 2010. 36 Idem.

Page 85: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

83

colocações. A questão do letramento é vital, pois diz respeito à análise e compreensão da

interação com o mundo.

Segundo Cecília Goulart, professora e pesquisadora da UFF/RJ, “o aluno de baixa

renda precisa entender para que serve a leitura.” 37. Por sua vez, o professor precisa

entender a origem do aluno, pois conhecimentos prévios têm muito valor.

Tabela 3 - Resumo série histórica PISA e o Brasil

2000 2003 2006 201038

39.° – BRASIL Média 396,03

38.° – BRASIL Média 402,80

49.° – BRASIL Média 392,89

53.° – BRASIL Média 412

43 países na pesquisa

41 países na pesquisa

56 países na pesquisa

65 países na pesquisa

Fonte: OCED, 2009, on-line.

O ser letrado, que tem fluência em leitura, tem capacidade de analisar, compreender,

manipular e construir sua realidade de forma autônoma e plena. O indivíduo que não

domina a leitura, não domina a inserção aos códigos, e limita-se à periferia do mundo

contemporâneo: não consegue ter acesso, por exemplo, à compreensão de bula de

remédios, a contratos, a jornais, a folhetos, à publicidade ou a embalagens, entre outros.

Observa-se que, na Tabela 3, a média dos alunos brasileiros está sistematicamente

piorando, bem como a posição do Brasil entre os países que participam da prova. Isso

significa que a escola brasileira não está ensinando seus alunos a ler um texto escrito, e a

retirar dele as conclusões e reflexões lógicas, isto é, tem-se no Brasil uma população que não

domina os códigos de leitura, não está sintonizada com a sociedade, e comunica-se de forma

limitada, uma vez que não atinge consciência e reflexão do que lê.

Poderíamos discorrer, talvez em vão, sobre as causas que contribuem para esse

cenário. Vamos mirar em aspectos econômicos e sociais, pois esta autora assim recorta a

problemática. Acredita-se que a escola, na ausência de uma força institucional, familiar ou

37 GOULART, Cecília. Entrevista. Entrevistador: [s.n.]. Salto para o futuro – Oralidade e escrita. Vídeo

complementar do módulo 1 do curso online Alfabetização e Letramento (www.cursosppd.com.br). Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=vMf-YOPHoOE>. Acesso em: 14 jun. 2011.

38 OCED. PISA 2009 results: executive summary. Disponível em: <HTTP://www.oecd.org/dataoecd/34/60/ 46619703.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2011.

Page 86: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

84

governamental, tem de dar conta de várias atividades que a desloca do eixo ensinar e

preparar-se e desenvolver-se metodologicamente para a função. Investe-se tempo do aluno

e dos professores em alimentação, ações sociais assistencialistas que, na tentativa de retirar

essa população do abandono, entregam-nas ao mesmo, não conferindo competência aos

alunos para, no mínimo, ler, compreender e refletir sobre o mundo. A escola tornou-se o

“núcleo do bem” das comunidades ao invés de ser um núcleo de conhecimento e

compreensão.

Essa constatação impacta várias áreas que não estão diretamente relacionadas ao

mundo escolar, mas dependem dele para tornarem-se mais eficientes:

a) Economia. Em relação aos países pertencentes ao BRIC ― Brasil, Rússia, Índia

e China ―, o Brasil está sistematicamente atrás da Rússia nas três edições,

assim como da China na última edição. Isso comprova que a velocidade de

mudança e a capacidade de tornar-se produtivo estão favoráveis naqueles

países melhores localizados no ranking.

b) Estrutural. Há quem pense que o problema da educação é questão de

remuneração e de investimento tanto humano, quanto técnico, bem como

financeiro. Sim, são questões a serem consideradas, mas não as únicas.

Especula-se que deva pensar-se sobre o que se está ensinando e qual a

validade de relevância para os alunos em seu meio. Em questão à

universalidade do ensino, empregam-se os mesmos conteúdos tanto para

quem terá uma educação sistemática e continuada, como àqueles que, por

estatística, sabe-se que a fase escolar é resumida a episódios algumas vezes

isolados de sua realidade. Não há integração entre conhecimento de mundo

dos alunos e projeto pedagógico.

c) Cultura. Observa-se a falência do ensino como elemento de modificação na

hierarquia social, muito embora programas como ProUni 39 estejam

assegurando acesso à universidade para milhares de estudantes carentes. A

progressão, quando surgem celebridades endeusadas por outros atributos,

39 Programa Universidade para Todos, do governo federal.

Page 87: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

85

como aspectos físicos, quantidade financeira, carisma ou até violência, entre

outros, ocorre pela espetacularização desses atributos e não pelo estudo.

d) Cotidiano. A problemática dará ênfase na Publicidade, pois é a área de

interesse da autora. A pergunta que abre a discussão volta à tona: como

vender para quem não compreende o que lê? Essa limitação ainda não tinha

sido considerada como um ruído no processo de comunicação

contemporâneo, considerando como o texto é utilizado na publicidade: esse

recorte é a inovação e contribuição à área.

5.5.2 A publicidade e seu entendimento ancorado no texto

O varejo, por exemplo, utiliza textos em profusão. Isso faz descortinar a falta de

reflexão da área sobre as mudanças sociais. Oferecem-se aos consumidores textos em

splash, que entram na tela da TV ou aparecem como rompendo as páginas dos jornais.

Inúmeros itens, como diminuição de juros, ou outros recursos racionais, dificilmente são

decodificados e, se passam por essa barreira, dificilmente fazem sentido à compreensão dos

indivíduos não letrados.

Observa-se, em muitos casos, que a tônica criativa e a comunicacional dão-se através

do texto que, em muitos casos, não será decodificado, pois um grande número dos alunos

brasileiros localiza-se nos níveis baixos e muito baixos, não demonstra habilidade

efetivamente ler e responder a questões que estão no texto, e, sim, respondem pela sua

pressuposição de mundo.

Mas a pergunta continua “como vender ou se comunicar de forma eficiente com este

público não letrado?”. Não cabe à publicidade resgatar essa população do anonimato

educacional, mas adaptar-se às condições da audiência, a fim de prover discurso aceitável. O

contrato de fala só se estabelece se quem fala é reconhecido como ser falante, ou seja,

como autoridade e representante de parte do seu mundo.

Page 88: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

86

Figura 7 - Contrato de Comunicação Publicitária.

Fonte: Charaudeau, 2006.

Ao observar o Contrato de Comunicação Publicitária de Patrick Charaudeau,

observamos que a publicidade entende, e apropria-se das intenções do mundo dos

consumidores, na esfera real (amarela) atuando nos ambientes psicossociais. A marca, EUe,

é construída a partir da noção de mundo da audiência, criando elos comunicacionais, e

fazendo a construção de sentido do diálogo a partir dos reconhecimentos de ambos: EUe e

TUd.

Segundo Reis (2008, p. 117), sobre o contrato de comunicação exposto:

É a possibilidade de aceitar que existem, na formulação do projeto final, seres independentes, porém articulados e empenhados no entendimento e persuasão do outro. De forma inovadora avaliam os aspectos psicossociais, ou seja, situacionais, que interferem na leitura, compreensão e interpretação das peças publicitárias pelo público-alvo. Como se vê, não existe relação simétrica entre os parceiros da comunicação publicitária, mas uma assimetria que caracteriza a relação dialética entre o processo de produção e o de interpretação de uma peça publicitária.

Esta noção colabora com Viana (2000), quando esta afirma:

Fatores de ordem cognitiva e interacional caracterizam as produções individuais, e o falante, com base no conhecimento de mundo partilhado com o ouvinte, é capaz de desempenhar-se lingüisticamente, de forma adequada ao contexto situacional. Nesse processo, a consciência metalingüística permite a manifestação não apenas de fatores lingüísticos e extralinguísticos, mas também da atividade de autocorreção na produção oral.

Page 89: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

87

A problemática deve ser balizada pela questão fundante: de qual comunicação se

está falando? Fala-se da comunicação que extrapola o “bê-á-bá” instrumental da publicidade

tradicional. Há o pensamento da comunicação indo à base emocional, pois o racional

depende de cognição. A emoção depende da percepção de mundo. Segundo Machado

(2001, p. 290) “As mensagens não apenas têm sentido, mas são sentidas. Produzir sentido

não é transmitir algo já dado, mas construir uma dimensão sensível em ato de troca.”.

Então, como fazer para além de ter sentido, ser sentido? Na prática, a comunicação

não deve ser preguiçosa, e deve sair às ruas, fazendo parte da vida dos consumidores como

agente presente em seu território. Isto é entender que o ser humano é provido de emoção e

que elas são estabelecidas através das experiências que o consumidor tem com a marca.

Segundo Lindstrom (2009, p. 32), “[...] é por meio das emoções que o cérebro

codifica coisas que têm valor” [...]. Um ponto positivo nas constatações de Lindstrom é que a

maioria das atitudes dos consumidores é emocional, ou seja, há espaço para conversar, e

relacionar-se com indivíduos não letrados por meio de atitudes relacionais. Constrói-se uma

marca, somando experiências positivas, vitais à distinção, preferência e fidelidade da marca.

Nesse sentido, Maffesoli (2005, p. 22-23) chancela que “A cultura do sentimento é, portanto,

a consequência da atração. A ética da estética faz do sentir algo junto com outros um fator

de socialização.”. Portanto, a estética tem função primordial no sentir junto, na religação do

eu com o outro, no pertencimento ao grupo, assimilando o mundo de vida partilhado.

Concluindo, o estudo do ruído “ineficiência de leitura e compreensão do texto”,

demonstrado pela avaliação do PISA, requer atenção dos publicitários na elaboração e

gestão de marca em relação à comunicação, constituindo um ruído presente na

incompreensão do processo de comunicação. A estética contribui para a religação afetiva e

sensorial do sentido e relevância da comunicação.

5.6 A ESTÉTICA POPULAR

A estética popular reitera e especifica o que o já foi abordado em dezenas de citações

dessa palavra neste trabalho até o momento.

Page 90: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

88

A estética é sem dúvida a porta de entrada, o olá, seja bem-vindo ao mundo popular.

Porém, diferente do que algumas marcas supõem, o popular não é um infantil, sem

capacidade de refletir. Mesmo que pareça incoerente ao que foi abordado no tópico “como

vender para quem não entende o que lê”, o popular, assim como qualquer outro

consumidor, tem discernimento sobre o seu querer, porém é avaliado segundo seu código

de ética, sempre em mutação.

O caldo efervescente que se pode chamar de cultura está em constante mutação,

gerando novos saberes. A estética é o elemento catalisador da cultura. Muito embora a

atualização do conhecimento aconteça, este geralmente não está impregnado pela vertente

da comunicação e suas potencialidades gerenciais. Segundo Fayard (2000, p. 39):

O grosso do trabalho não é acumular informação, mas cruzá-la e enriquecê-la a partir da perspectiva do ator, considerando-a como sujeito espacial e temporal. [...] o valor da informação depende de sua transformação, ou seja, da qualidade de quem a procura, de sua perspicácia e de sua aptidão em enriquecê-la.

Com essa citação, tem-se a dimensão da possibilidade em acrescentar, mobilizar,

enriquecer o conhecimento. Contudo considera-se a habilidade do pesquisador em

reconhecer o poder da relevância da informação. Portanto, tem-se a proposição que a

instância da comunicação publicitária não é somente o espaço publicitário, bem como todos

os pontos de contato que o consumidor tem com a marca/empresa.

Segundo as palavras de Edgar Morin (2007, p. 115), quanto aos graus diferentes de

consciência sobre as potencialidades da comunicação:

A compreensão humana comporta não somente a compreensão da complexidade do ser humano, mas também a compreensão das condições em que são forjadas as mentalidades e praticadas as ações.

Os contextos culturais devem ser reconhecidos para compreender os pensamentos e os atos dos indivíduos oriundos de diferentes culturas, dos quais o sagrado, o tabu, o lícito e a honra nos são estranhos e estrangeiros.

A proposição de Morin inicia o processo de compreender a comunicação, sendo este

o produto das instâncias que o constitui. Como diz o jargão popular: “somos nossas

Page 91: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

89

circunstâncias”. Logo, pressupõe-se olhar a dimensão da visão das instituições, não como

deliberadamente diminuto da comunicação, mas seus usos, fluxos, percepções a direcionam

para ação determinada. Implantar um novo modelo de comunicação, como fio condutor do

diálogo com o consumidor popular, pressupõe rever toda estabilidade que a mantém na

direção que a conduz. É um rompimento de uma lógica operacional que impregna e

materializa a comunicação de uma ferramenta para atingir um público-alvo.

Para constituir novos conceitos de comunicação não há uma fórmula, e, sim, a

percepção crítica de considerar a comunicação com fluída e impregnada em todas as

manifestações da marca com seu público. Assim será percebida como única e legítima.

Dessa forma, a organização tem de registrar a percepção de si, dos outros e do

ambiente com novos patamares de realidade e consciência.

Segundo Dominique Wolton (2010, p. 12), “Não há informação sem um projeto de

comunicação.” E ainda afirma “A informação é a mensagem. A comunicação é a relação, que

é muito mais complexa.”, ou seja, a comunicação, e assim seria ideal à publicidade,

vislumbra a dimensão complexa da comunicação, extrapola a dimensão informacional,

preocupando-se com a ocupação das relações com seus consumidores. Quanto mais pontos

de contato, e espaços comunicacionais envolvidos de forma coerente à relação

marcam/consumidores, mais chances de fazê-lo de forma eficiente.

Wolton (2010) apresenta cinco etapas do esquema que explica a teoria da

Comunicação proferida pelo autor em Informar Não É Comunicar:

Primeiro – a comunicação é inerente à condição humana.

Segundo – os seres desejam comunicar-se por três razões: compartilhar,

convencer e seduzir.

Terceiro – a comunicação esbarra na incomunicação.

Quarto – abre-se uma fase de negociação na qual os protagonistas, de modo

mais ou menos livre igualitário, tentam chegar a um acordo.

Quinto – chama-se de convivência, com suas fragilidades e pontos fortes, o

resultado positivo dessa negociação. A negociação e a convivência são

procedimentos para evitar a incomunicação e as suas consequências,

frequentemente belicosas.

Page 92: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

90

A proposta de Wolton expõe positivamente a intenção do homem em comunicar-se,

compartilhar algo, contudo é necessário negociar as instâncias envolvidas, a fim de favorecer

a convivência harmoniosa, visando à comunicação esperada entre as partes.

Essa negociação, segundo esta autora, é atualizada diariamente através dos sinais e

da formação de sentido comunicacional em todas as manifestações comunicacionais. Está-se

falando de contextualizar o cartão de visitas à campanha de publicitária nos meios

tradicionais, passando pelo mobiliário, pelo atendimento de pós-venda, pela fachada, enfim

por todas as manifestações de que a marca poderia dispor, e abrir oportunidade de novos

espaços à comunicação, evidenciando a convivência coerente da marca popular com os seus

públicos.

Wolton (2010), em sua obra, afirma sobre a noção de comunicação:

A revolução do século XXI não é da informação, mas a da comunicação. Não é a da mensagem, mas da relação. Não é a produção e da distribuição da informação por meio de tecnologias sofisticadas, mas a das condições de aceitação ou de sua recusa pelos milhões de receptores, todos sempre diferentes e raramente em sintonia com emissores (p. 15).

[...] A comunicação é um problema de convivência e de laço social, característica de uma sociedade de movimento, de interatividade, de velocidade, de liberdade e de igualdade (p. 25).

Isso quer dizer que a mecânica e a tecnologia existentes na contemporaneidade

contrariou a fábula que dizia que as pessoas se comunicariam melhor com a tecnologia,

contudo os dados de informação não geraram coerência e compreensão. Pelo contrário,

gerou a incompreensão e o excesso de informação. Esse processo entre emissor e receptor,

geralmente desconectado da realidade, somente gera resíduo e mais informação

desconectada.

Sob a premissa de comunicação exposta neste capítulo, e da Sociologia

Compreensiva exposta na primeira parte do trabalho, propõe-se fusionar os saberes que

levam à estética.

Para saber da estética popular genuína, é necessário buscá-la na sua origem, não

somente na mediação das marcas ditas populares, pois elas podem ter impregnado “o

Page 93: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

91

devir”, sobre o que Maffesoli alerta. Sob a perspectiva do formismo, vai-se em busca de

enxergar a estética popular.

O carnaval, as festas, a música das rádios e os cultos populares, a organização em

filas, as cores das casas, a moda dos ambientes populares podem revelar-nos, constituir,

confirmar ou não a mediação que as marcas fazem através da estética com o consumidor

popular.

Sabe-se que a estética popular, conforme se abordou anteriormente neste trabalho,

é alegre, colorida, exagerada, extravagante, farta.

Fartura aparece em muitas instâncias da etnografia popular: comida, roupa,

quantidade de pessoas, música. Acredita-se que a cultura popular tem muito a ver com a

estética pós-moderna, quando e onde a ordem é “mais é mais”, contrastando com filosofia

modernista “menos é mais”. Pode-se dizer que a estética popular é pós-moderna e a da elite

é moderna. Isso será especificado no próximo tópico.

A quantidade de comida servida em festas e restaurante populares é acima da

capacidade dos comensais. Festas de origem religiosa atraem as classes populares, e

geralmente são celebradas com muita comida: Natal, Páscoa, quermesses, romarias e

comendas religiosas são pautadas por lanches e comidas a todo instante. Conforme Tiarajú

D’Andrea – antropólogo e pesquisador do CEBRAP – em matéria do Data Popular (2005, v. 1)

afirma:

Outros grandes rituais de fartura virão: o Carnaval, com todo seu simbolismo expresso no luxo, nas cores e nos excessos: a Páscoa do peixe e do chocolate; as festas juninas; o 27 de setembro de Cosme e Damião, e sua tradicional distribuição de doces; o 12 de outubro, da reza e dos brinquedos. É interessante notar que as datas do calendário utilizadas para rituais de comensalidade têm sempre uma fundamentação religiosa e popular. Outros feriados instituídos e que se referem a acontecimentos históricos não tiveram reverberação, ou melhor, não “pegaram” na população, pois como não expressam um sentimento, são indignos de fartura e comida. Alguém por acaso ouviu falar do almoço com a família no 7 de setembro? Ou da peixada de 15 de novembro? (Grifo da autora).

A comida, nas festividades e nos ambientes populares, não é somente servida em

abundância, mas também exposta em evidência, deixando transparecer o visual muitas

Page 94: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

92

vezes exótico, com arranjos de mesa sinalizando onde está o prato principal e mais nobre,

como também deixa exalar os aromas da comida.

Em recente pesquisa ao Centro Popular de Compras de Porto Alegre, verificou que há

uma diferença significativa da percepção da praça de alimentação de shopping center para

aquela apresentada. Os aromas de fritura exalam já na primeira hora de abertura

manifestando que “há comida!” para todo o entorno. A referência do aroma, muito própria

da alimentação, porém não é percebida em praças de alimentação dos shoppings

tradicionais.

Alegre e exagerada são tônicas da estética popular tão bem traduzida em programas

de auditório e na vocação do brasileiro para festejar. Contudo a autora atenta se a alegria

não é somente um dos estágios do exagero ou do máximo dos sentimentos. A música

popular e as histórias que fazem sucesso e entram no imaginário popular contam de

sofrimento, expiação e, por fim, da alegria do sucesso ou da vingança. Chama-se atenção

para as músicas em estilo sertanejo, funk, pagode, bem como as novelas e rituais

evangélicos. O dito popular “Pobreza adora tragédia” parece corresponder à exacerbação

dos sentimentos e até corresponder, em outra instância, à característica fartura.

A Extravagância para a cultura de elite é diferente da popular. Para a elite, a

extravagância está associada ao raro, muitas vezes ao caro ou ao de difícil acesso, como

cremes com ouro, carros muito potentes ou o reconhecimento do popular, como grandes

marcas do luxo regatam do artesanato popular, não por ser caro, mas por ser raro,

assemelhando-se à obra de arte.

Para a cultura popular, o extravagante é a recombinação e reciclagem de usos de

objetos em algo novo, exagerando na combinação de itens e cores, como o artesanato feito

de tampinhas, garrafas plásticas, dando novo colorido à cena já conhecida. Se fosse possível

denominá-la, a expressão “orgia dos sentidos” cairia bem. Algumas dessas extravagâncias

caem no gosto da elite, e são resgatadas, como o artesanato de capim dourado presente na

alta joalheria, porém com outros significados, peculiares ao imaginário da elite.

Page 95: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

93

5.7 A ESTÉTICA MODERNA E A PÓS-MODERNA

A afirmação “A estética popular é pós-moderna e da elite é moderna.” é

contundente, e faz-se necessário esclarecer a respeito. O moderno e o pós-moderno

extrapolam a questão temporal, ou seja, as duas vertentes coexistem, significando escolhas

no tratamento de signos e adequação à audiência, no caso, consumidores. Porém verifica-se

o reconhecimento da estética moderna para a elite e da pós-moderna no âmbito popular.

Por analogia, se o modernismo fosse uma pessoa, seria o sujeito que tem por

objetivo dominar a natureza humana e global, submetendo a sensibilidade ao domínio da

razão. É purista e convicta dos grandes dilemas da humanidade, sempre classificando

indubitavelmente o certo e o errado. É fanática em suas crenças. Faz linhas retas sem

adorno ou gozo do excesso. A complexidade é resolvida pela simplificação.

Se o mesmo exercício fosse feito com o pós-modernismo, essa pessoa seria toda

sentimento e subjetividade. É atenta ao peculiar, ao local, ao colorido do regional, ao

adereço, à diversão. Não tem convicções puristas, e, por isso, aceita a hibridização do

mundo. Tudo é somado, reestilizado e converge em formas flexíveis adornadas na

complexidade do hedonismo. É uma resiliente.

Berman (1982, p. 15 apud HARVEY, 2005, p. 21) afirma que:

Ser moderno é encontrar-se num ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, transformação de si e do mundo – e, ao mesmo tempo, que ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos.

Nessa perspectiva, Harvey corrobora a noção de que o modernismo é próximo ao

positivismo, à ordem, e, por intermédio do racional encontra a felicidade e o poder.

Contudo, o racional cria problemas que nem a objetividade, nem tampouco a subjetividade

consegue resolver.

O resultado é a busca incansável do novo modelo que resolva o anterior, negando

dessa forma, o presente insatisfatório, visando à fé no porvir.

Harvey (2005, p. 22) reitera:

Page 96: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

94

A modernidade, por conseguinte, não apenas envolve uma implacável ruptura com todas e quaisquer condições históricas precedentes como caracterizada por um interminável processo de ruptura e fragmentações internas inerentes.

Mais adiante esse autor conclui (2005, p. 42):

A crença “no progresso linear, nas verdades absolutas e no planejamento racional de ordens sociais ideais” sob condições padronizadas de conhecimento e de produção era particularmente forte. “Por isso, o modernismo resultante era positivista, tecnocêntrico e racionalista”, ao mesmo tempo em que era imposto como a obra de uma elite de vanguarda formada por planejadores, artistas, arquitetos, críticos e outros guardiões do gosto refinado.

No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, houve uma mudança de perspectiva,

de sentimento social. Essa nova sensibilidade pretendia não ignorar as profundas mazelas

abertas pela modernidade, culminando com vários movimentos sociais que deixaram

transparecer a insatisfação com o modelo modernista.

O foco do pós-modernismo é a subjetividade, na atmosfera em que o permitido

vence o proibido. O homem está em foco, suas emoções e sua razão ancoram seu fazer na

sociedade. O pós-moderno abraça todos os conceitos e os coloca em um liquidificador, o

resultado é outra coisa, mesmo usando em alguns casos os mesmos ingredientes do

modernismo. Tudo serve de adição a pretexto do gozo.

Harvey (2005, p. 49) afirma que:

Os planejadores “modernistas” de cidades, por exemplo, tendem de fato a buscar o “domínio” da metrópole como “totalidade” ao projetar deliberadamente uma “forma fechada”, enquanto os pós-modernistas costumavam ver o processo urbano, como algo incontrolável e “caótico”, no qual a “anarquia” e o “acaso” podem “jogar” em situações inteiramente “abertas”.

Harvey (2005) não faz menção específica sobre o que é a forma aberta e forma

fechada. A autora entende que a forma aberta considera a influência da vida e da satisfação.

A intersecção dos textos e das ideias favorecem a combinação e a recombinação, ao passo

Page 97: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

95

que o modernista considera, preferencialmente, o projeto sob a visão da produtividade e da

racionalidade, configurando a forma fechada. O autor escreve (2005, p. 62):

A degeneração da autoridade intelectual sobre o gosto cultural nos anos 60 e a sua substituição pela pop arte, pela cultura pop, pela moda efêmera e pelo gosto da massa são vistas como um sinal de hedonismo inconsciente do consumismo capitalista.

Em termos de caracterização da Modernidade e Pós-Modernidade, a listagem de

Hassan (1985, p. 123-4 apud HARVEY, 2005, p. 48) contribui para ilustrar a diferença

esquemática das sensibilidades/lógicas.40

Quadro 1 - Diferenças esquemáticas entre o modernismo e o pós-modernismo.

Modernismo Pós-Modernismo

romantismo/simbolismo parafísica/dadaísmo

forma (conjuntiva, fechada) antiforma (disjuntiva, aberta)

projeto jogo

hierarquia anarquia

domínio, logos exaustão/silêncio

objeto de obra, obra acabada processo, performance, happening

distância participação

criação/totalização/síntese descrição/desconstrução/antítese

presença ausência

centração dispersão

gênero/fronteira texto/intertexto

semântica retórica

paradigma sintagma

hipotaxe parataxe

metáfora metonímia

seleção combinação

raiz/profundidade rizoma/superfície

interpretação/leitura contra a interpretação/desleitura

significado significante

lisible (legível) scriptible (escrevível)

narrativa/grande histoire antinarrativa/petite hitoire

código mestre idioleto

sintoma desejo

tipo mutante

Continua.

40 A autora acredita que, por sua influência e persistência nos textos que versam sobre o modernismo/pós-

modernismo, a citação em apud ainda se justifica.

Page 98: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

96

Conclusão.

Modernismo Pós-Modernismo

genital/fálico polimorfo/andrógino

paranóia esquizofrenia

origem/causa diferença-diferença/vestígio

Deus Pai Espírito Santo

metafísica ironia

determinação indeterminação

transcendência imanência Fonte: Hassan 1985, p. 123-124 apud HARVEY 2005, p. 48.

Na elaboração do Quadro 1, a essência que ilustra os dois momentos, duas lógicas

operacionais. A observação da segunda coluna da figura41, pós-modernismo, verifica-se

ocorrências semelhantes à estética do varejo popular.

Quadro 2 - Semelhanças pós-modernidade (Hassan) e Comunicação de Varejo Popular

Pós-Modernismo Estética do Varejo Popular

Verificação do anúncio de varejo popular a seguir

parafísica/dadaísmo combinação/acaso Apresentação de objetos em colagem, cores do Natal, imagem onírica do Natal Europeu. As imagens de menor valor têm um enquadramento de foto em ângulo inferior, ou reto transmitindo o conhecimento e aproximação na vida do consumidor. Os produtos de maior poder compra, os mais caros, têm enquadramento superior, esboçando a exclusividade e imponência de quem os possui: TV 3D, geladeira. Sobreposição de preços aos produtos confere o palimpsesto típico da Pós-Modernidade.

antiforma (disjuntiva, aberta)

complementar à intenção e sensibilidade

Estímulo à afetividade familiar no título. Integração.

jogo gozo, processo, aditivo “Tudo de melhor”. Vide anúncio exemplo popular.

anarquia todos os códigos recombinados

Cada produto tem iconografia própria. Adiciona-se um elemento ao outro. Coexistindo no espaço.

exaustão/silêncio efêmero Validade da redução do IPI, e outros aspectos legais.

Continua.

41 As lacunas são características não evidentes.

Page 99: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

97

Continuação.

Pós-Modernismo Estética do Varejo Popular

Verificação do anúncio de varejo popular a seguir

processo, performance, happening

experiência, ritual Imaginação do encontro da família no Natal.

participação complementaridade O uso do pronome SUA.

descrição/desconstrução/antítese

renascimento da necessidade

Atualização da demanda por novos produtos.

ausência lembrança Experiência e perspectiva do uso.

dispersão conexão com o mundo, motivação

Tudo de melhor, mas não objetiva o quê, o como nem o porquê.

texto/intertexto hibridização de identificação

Quem compra os produtos têm família e procura se aproximar deste imaginário.

retórica histórias Imaginação.

sintagma dependência da codificação

Os produtos já ganharam valor emocional atribuído na perspectiva institucional das marcas.

parataxe aculturação O anúncio veicula-se em veículo do cotidiano, o jornal.

Acultura-se na leitura diária e acrescenta-se a necessidade.

metonímia significação (um termo por outro)

Cada produto expõe um repertório de imaginário.

combinação novidade, necessidade Atualização de produtos.

rizoma/superfície efêmero “O melhor” vai acabar após a data do anúncio.

contra a interpretação/desleitura

hedonismo, nonsense Facilidades no pagamento.

significante signo, produtos Os produtos anunciados. Observa-se.

scriptible (escrevível)

antinarrativa/petite histoire

comunicação Natal.

idioleto hermenêutica

desejo desejo Lembrança do desejo na exposição de produtos.

mutante transformação Computador, TV, DVD, geladeira, máquina de lavar roupa, fogão são os produtos anunciados. Todos eles já estão na maioria da vida dos domicílios. Agora os consumidores são lembrados que podem substituir os antigos da mesma categoria, ampliando o a curva do ciclo de vida dos produtos para a indústria.

Continua.

Page 100: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

98

Conclusão.

Pós-Modernismo Estética do Varejo Popular

Verificação do anúncio de varejo popular a seguir

polimorfo/andrógino consumidor Mudança de atenção para os produtos anunciados, segundo as vantagens anunciadas.

esquizofrenia alucinação, fantasia “todo mundo tem, menos eu” — essa é a leitura que o consumidor faz, quando não tem algum dos produtos.

Espírito Santo atmosfera, clima Clima do Natal, mesmo que o clima do Brasil seja quente e em dezembro não tem neve, o anúncio traz a iconografia dos países frios, remetendo a leitura do onírico, fantasia, emoção irreal.

ironia crônica, cotidiano Natal.

indeterminação moda efêmera Promete-se o “melhor”, até que seja superado pelo próximo anúncio ou oferta à venda.

imanência mundo visível O melhor pode ser comprado em condições facilitadas. O varejo resolve os problemas do cotidiano com a aquisição de produtos.

Fonte: A autora (2012).

Verifica-se, nesse último Quadro, a semelhança das ocorrências do consumo do

varejo popular. Mesmo que o projeto de comunicação do varejo seja produto da economia

e, por conseguinte, tem por objetivo a segurança do capital, traçado na estruturação e na

tentativa de dominação de variáveis, a comunicação e as práticas com os consumidores e

dos consumidores caracterizam a pós-modernidade. Observa-se a seguir dois anúncios

extraídos do jornal Zero Hora.

Page 101: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

99

Figura 8 - Exemplo anúncio varejo popular – Pós-Modernismo

Fonte: PONTO FRIO. Publicidade sobre IPI reduzido. ZERO HORA, Porto Alegre, n° 16907, p. 7, 4 dez. 2011.

Page 102: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

100

Figura 9 - Exemplo de anúncio de produto – Modernismo

Fonte: VOLKSWAGEN. Publicidade sobre Amarok. ZERO HORA, Porto Alegre, n° 16907, p. 9, 4 dez. 2011.

Page 103: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

101

O segundo anúncio exemplifica a estética modernista, de um produto, no Brasil,

destinado à elite do consumo. O anúncio enfatiza a exclusividade tanto do produto, quanto

da ideia única que vende o produto: a exclusividade. Expõe os atributos racionais do

produto, como ABS off-road, maior caçamba da categoria, maior espaço interno da

categoria, a potência do motor (Só um Volkswagen poderia ter tanta força.) A estética

mantém alinhamentos, lembrando claramente as divisões das linhas modernistas retas, de

ordem e alinhamento, como forma fechada, menos estímulos visuais, mais eficiência de

leitura.

5.8 OBSERVAÇÃO PARA FUTURO TRABALHO

Segundo esta autora, mudança de perspectiva semelhante ao modernismo/pós-

modernismo vem se catalisando ao longo do início do século XXI, com a massificação das

mídias sociais. O aspecto competitivo, seletivo, dá espaço para a formação de outra

sensibilidade: a colaboração. Softwares, portais, redes de integração, o olhar comunitário, o

sentimento ecológico preconizam outra sensibilidade que ainda está se formando e

transformando. Com certeza, também impacta nos hábitos de consumo, nas formas de

como o consumidor terá contato com os produtos e quais atributos serão avaliados e

avaliados por ele. A autora já mencionou esta manifestação na segunda parte desta Tese, no

item Ideologia. Porém arbitra que é assunto, pela envergadura e discussão, para outro

trabalho: Como a colaboração influencia o consumo?

Page 104: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

102

6 A ATMOSFERA DE LOJA

Parece importante mencionar aspectos relacionados à atmosfera de loja, uma vez

que este é o locus onde se dará a observação participante. A autora arbitra dirigir o debate

acerca da Atmosfera de Loja no campo da Comunicação, sob a visão da Sociologia

Compreensiva. Não há intenção de mencionar cases gerenciais, e, sim, estabelecer

conteúdos que incitem a reflexão sobre o tema.

Segundo Blackwell et al. (2009, p. 569), a atmosfera de loja “são propriedades físicas

dos ambientes varejistas destinados a criar um efeito sobre as compras do consumidor”.

Ainda segundo esses autores (2009, p. 136):

O processo de uma escolha de uma loja específica envolve a combinação das características do consumidor e da compra com as características da loja. Um indivíduo pode utilizar diferentes critérios para avaliar qual loja vai ao encontro das suas necessidades, dependendo do tipo de compra.

Nesse caso a Atmosfera da Loja é um critério de análise importante, pois é na loja

que vai acontecer não só a transação, mas também o compartilhamento e a experiência de

viver o contato com o ambiente, com os funcionários, com os produtos, com a decoração,

com a arquitetura e com outros consumidores em fluxo de compra.

A grande lotação de uma loja pode influenciar, como um contágio viral, um humor

próprio, a ideia de grande barganha, da felicidade. Pessoas bonitas e bem arrumadas

complementam a decoração e a atmosfera de uma loja, um restaurante, uma escola.

Blackwell et al. (2009, p. 146) acrescentam que “A atmosfera da loja pode envolver

múltiplos sentidos para atrair o comportamento do consumidor.”.

Sabe-se que, quanto mais estímulos sensoriais são envolvidos, maior é a pregnância

da experiência. O varejista tem como utilizar a loja para sensibilizar os consumidores de

acordo com os objetivos do negócio: música, aromas, imagem, cores, iluminação,

merchandising, disposição e organização de corredores e produtos, texturas de toque,

orientação de fluxo, mecânica de vendas (filas, setores). Tudo gera uma percepção, um

Page 105: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

103

projeto de comunicação que transcende o consumo, e gera percepção de imagem do lojista:

inventário favorável ou não. Quando positivo, direciona o consumidor para novas visitas e

novas compras. Ao contrário, quando a experiência for negativa, se o consumidor tiver

opção, não voltará a comprar no estabelecimento.

A grande equação do varejista é saber quais são os valores que agradam os

consumidores, para estimulá-los na atmosfera da loja: um aroma adequado, o volume e

seleção musical, a iluminação, os cartazes, as cores das cortinas, os provadores, a limpeza e

a organização da loja.

Não há equação resolvida antecipadamente como teoria acabada, e, sim, uma

equação que necessita ser resolvida a cada loja, expectativa do público-alvo, foco no negócio

e em sua rentabilidade e sustentabilidade.

Assim como clima e a luminosidade de um dia influenciam o tipo de roupa e as

atitudes de como os indivíduos vão proceder, num clima de luz, aromas, texturas, sons,

sabores, há de contagiar-se o indivíduo para o consumo e o convívio com os pares e com as

marcas.

Segundo Lindstrom (2009), com a superposição e a superexposição das mídias, os

sentidos dos consumidores estão tão estimulados que se tornaram insensíveis, isto é, o

“cérebro tornou-se mais poderoso e superprotetor” (LINDSTROM, 2009, p. 42), aumentando

a filtragem dos estímulos. Logo, não há lembrança efetiva daquilo que vemos ou por não

sermos criativos, e, dessa forma, tem-se mais do mesmo em todos ou nos mesmos lugares.

Nessa perspectiva, a lembrança da marca passa não somente pelos esforços da marca em si,

mas também pelos esforços da concorrência. Lindstrom (2009) relata a experiência de três

marcas no final do programa de televisão American Idols: Coca-Cola, Cingular Wireless e

Ford.

Cada marca comprou a sua participação no programa: a Ford veiculou anúncios, a

Coca-Cola e a Cingular tinham anúncios, porém, mais que isso, elas desenvolveram

interações com o programa, como os copos de Coca-Cola colocados em frente aos jurados,

que se deliciavam com goles do refrigerante, além de o mobiliário e as cores do cenário

fazerem referência à marca. A Cingular era citada de tempo em tempo, a fim de convidar o

público a votar. Resultado: as marcas Coca-Cola e Cingular não só foram percebidas, como

Page 106: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

104

fizeram com que os entrevistados do experimento de Lindstrom não se lembrassem da Ford,

indicando que a montadora havia perdido mercado.

Resumindo, no negócio e no trabalho pelo reconhecimento e pela lembrança de

marca (isso contabiliza esferas de milhões não importa a moeda: reais, dólares, euros), está-

se, antes de tudo, brigando pelo espaço no cérebro dos consumidores, na capacidade que

eles têm de reter informação, e projetá-la como emoção satisfatória à manutenção e à

atualização de negócios de sucesso. A emoção é o trajeto mais curto, o menor atalho

(desculpas pela redundância) do consumidor ao bem-estar e ao prazer da compra. Está-se

no negócio de vender para os sentidos dos consumidores.

Necessita-se entrar pelas portas dos sentidos do corpo para provocar sensações nos

consumidores. Nesse aspecto, Lindstrom (2009, p. 124-125) chama atenção que:

[...] a visão está longe de ser o sentido mais poderoso para seduzir nosso interesse e nos fazer comprar? [...] Os pesquisadores descobriram que o resultado de toda a saturação visual eram apenas olhos embaraçados, e não um nível mais elevado de vendas.

Isso não quer dizer que se pode abrir mão do aspecto visual, mas referir que, pela

contaminação e pela superexposição de imagens no espaço, esse sentido encontra-se

enfraquecido. Porém, alinhado com o olfato e a audição, por exemplo, torna-se novamente

eficaz e memorável. Por conseguinte, pode-se afirmar que é o poder da associação sensorial.

À gestão dos elementos atmosféricos da loja, bem como do sensorial das marcas, Lindstrom

(2009) chama de Branding Sensorial.

Lindstrom (2009) ressalta que, de todos os sentidos que apresentamos, o olfato é o

mais primitivo e nato no ser humano. O autor (2009, p. 129) cita a professora de marketing

da Universidade estadual da Geórgia, que afirma que “No caso de todos os outros sentidos,

pensamos antes de reagir, mas no caso do olfato, o cérebro reage antes de pensarmos.”.

Segundo Kotler (1996, p. 492), “Os supermercados estão explorando meios de liberar

aromas através de dispositivos colocados nas prateleiras para estimular fome ou sede.”.

A audição é fundamental para acelerar ou frear o passo e as compras dos

consumidores no PDV. Dá personalidade ao ambiente e à marca. Convida consumidores a

Page 107: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

105

entrarem no clima, e expõe a intenção do lojista no projeto de personalidade de marca. É

também um dos aspectos sensoriais mais fáceis de ser manipulado, buscando interferir na

experiência de compra. Uma loja pode ter uma trilha sonora à tarde e outra nas noites de

sexta-feira, incitando a diversão e hedonismo do final de semana. A sofisticação vai a

patamares que a marca Kellogg’s desenvolveu “um som crocante e único para que qualquer

criança fosse capaz de ouvir a diferença entre comer um cereal matinal genérico e um cereal

da Kellogg’s.” (LINDSTROM, 2009, p. 136).

A rede de Lojas Marisa cristalizou na memória das consumidoras, não somente a cor

rosa de sua identidade, mas também a sua assinatura sonora cantada por uma voz feminina:

“De mulher para mulher: Marisa”. Ver exemplo disponível em CD disponível no Anexo 5.

O tato é outro sentido importantíssimo, para agregar valor às mercadorias. Roupas

são tocadas, e são valorizadas tanto pela textura do tecido, quanto pela sensação no corpo.

Ouve-se pelas lojas de vestuário: “Este vestido abraça o meu corpo”. Ou em relação ao peso

de um produto como talheres, conferindo-lhe maior valor, ou, ao contrário, conforme

Lindstrom (2009, p. 133), o controle remoto da Bang & Olufsen, “teria a metade do seu peso,

se não estivesse cheio de alumínio inútil”. O peso maior faz com que os consumidores

tenham a percepção de que estão segurando algo de maior valor.

A cor é, sem dúvida, do apelo visual, de notória importância. Lindstrom (2009, p. 135)

cita que Steve Jobs brincou que queria que as pessoas lambessem os computadores

coloridos da Apple, visto o sucesso da inovação dada pela cor.

Gerencialmente, a Atmosfera de Loja serve para atrair, orientar fluxos na loja,

segmentar e repelir clientes e atitudes indesejadas ao ambiente e ao negócio. Uma música

com volume alto pode afastar consumidores da terceira idade, ou consumidores que

desejam contemplação e tranquilidade. A decoração também vai causar estranhamento

àqueles que não compartilham do mesmo rito e códigos escolhidos para ambientar a loja.

Quando o tema Atmosfera de Loja é exposto, está-se dando visibilidade a um ponto

de contato importante que transcende o espaço físico, e direciona-se a outras áreas, porém

análogas à Atmosfera como Experiências no PDV, Relacionamento, Lealdade. Experiência,

Relacionamento, Lealdade são os resultados orientados, em parte, pela Atmosfera da Loja.

Esta autora amplia o leque de atribuições da Atmosfera, confere-lhe o caráter do deus

Page 108: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

106

Dionísio, Hedônico do Sentir-se Bem. Nesse caso, o consumidor é convidado a desfrutar de

algo imanente à marca e ao negócio, com o mesmo sentimento que Gadamer (1985, p. 34)

estabelece para o conceito de Belo:

O “agradar desinteressado” quer dizer aqui evidentemente: não estar interessado de modo prático no que é “representado” ou no que parece. Desinteressado quer, portanto, dizer apenas a excelência do comportamento estético, ou seja, que ninguém pode levantar com propósito a questão do que “para que” da serventia: “Para que serve que se tenha prazer naquilo em que se tem prazer”?

Esta autora provoca o debate utilizando inicialmente a noção de Perez (2004, p. 14,

48), quanto afirma:

A marca é a convergência semiótica de elementos reticulares resultante de uma negociação constante entre os diversos atores sociais do processo comunicacional.

[...] O espaço perceptual da marca pode ser utilizado como um espelho que reflete o estilo de vida e os valores do consumidor atual ou potencial.

Logo, observa-se o caráter relacional, intangível materialmente nas marcas, mas

perceptível subjetivamente. A abordagem instrumental da comunicação, dos anúncios, dos

filmes, da logomarca, entre outros, deve explorar essa ambientação, mas são apenas

sinalizadores. A força desse processo dá-se na vivência e na experiência que consumidores

têm com as marcas.

A Galeria Tate, em 2000, reformulou a identidade de marca, segundo Willer (apud

Wheeler, 2008, p. 260), diretora de criação da Wolff Olions, empresa contratada para a

reformulação, afirma que:

A Tate deixou de ser uma galeria, para ser um espaço onde as pessoas podem ter experiência com a arte, encontrar-se, refletir, aprender, alimentar-se [...] O desafio de qualquer museu é encontrar uma maneira de combinar conteúdo, construção e experiência para contar uma história coerente.

Page 109: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

107

O resultado da reformulação da marca das Galerias Tate foi, entre outros, o

crescimento de quatro milhões de visitantes ao longo de 1999, para 7,5 milhões entre os

anos 2000 e 2001. Com a reformulação, a Tate reposicionou-se frente ao público, pois

refletiu sobre como estava “entregando” a arte ao público, transmitindo uma abordagem

acessível, conectada e relevante no cotidiano dos consumidores.

Figura 10 - Logomarca Tate

Fonte: <http://www.tate.org.uk/>. Acesso em: 19 maio 2012.

A logomarca criada pela empresa Wolff Olins reflete a fluidez da forma. Esse

sinalizador foi incorporado em outras manifestações da gestão de marca, construindo junto

ao consumidor o jeito Tate de perceber arte, levando à lealdade não somente da compra,

mas à lealdade aos valores compartilhados.

David Aaker (1998) refere à lealdade de marcas, expressando:

A lealdade à marca da base dos consumidores é frequente o cerne do brand equity. [...] há muito um dos pilares do marketing, é uma medida da ligação do consumidor com a marca (p. 40).

[...] À medida que a lealdade da marca aumenta, a vulnerabilidade da base dos consumidores à ação da concorrência diminui. [...] lealdade à marca se traduz diretamente em vendas futuras (p. 41).

Certamente, pode-se entender que há níveis de relacionamento e fidelidade

diferenciados, como Aaker indica (1998, p. 41):

Page 110: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

108

Figura 14 – Níveis de Relacionamentos e Fidelidade consumidor/marca

Fonte: Aaker, 1998, p. 41.

O desejável em programas de lealdade é mover os consumidores da base para o

ápice, entregando-lhes um posicionamento de comunicação e de marca que sejam

relevantes, que dialoguem com os consumidores e estes assumam o protagonismo de

indicar, bem falar e defender a marca. Nesse aspecto, tem relevância a quantidade de

interações e comunicações que o consumidor tem com a marca. Dessa forma a lealdade

torna-se um ativo estratégico para a marca e para o marketing.

Wheeler (2008, p. 48) ratifica a ideia de ponto de contato e experimentação da

marca:

O próximo terremoto a trazer para a gestão de marcas é a experiência do consumidor: construir fidelidade e relações duradouras em cada ponto de contato. [...] cada contato com o consumidor é uma oportunidade para realçar uma conexão

Page 111: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

109

emocional. Uma experiência boa gera buzz positivo. Uma experiência ruim é uma perda que danifica a marca.

Dessa forma, observa-se que a lógica econômica divide o espaço com a lógica

relacional e comunicacional. Tudo comunica um sentido e leva a compreensão, mesmo que

inconsciente. Assim a comunicação planejada e instrumental é apenas uma parte da

comunicação realizada entre consumidores e marca no caminho da fidelização. A

experiência subjetiva e individual, o uso e mediação que os consumidores fazem do espaço

da loja conferem a verdadeira e mais perene comunicação. Desta forma, há de se auditar

diariamente se a experiência condiz com o projeto instrumental.

Pergunta-se: o que mobiliza pessoas, consumidores, compradores à fidelidade?

Marc Gobé (2011) escreve:

As marcas precisam estar perto das pessoas, verdadeiramente prontas a inspirá-las. [...]. A ideia é essencial: não há nenhuma marca sem uma ideia forte, e não há nenhuma comunicação sem a ideia que pode ser alavancada em todas as novas mídias que estamos experimentando nesta era (p. 208).

[...] o trabalho que celebra o poder da imaginação sempre é celebrado pelas pessoas, porque gravitamos naturalmente na direção do extraordinário (p. 230).

R. Graig Endicott (Advertising age, 28 jun. 2004, apud GOBÉ, 2011, p. 246) reafirma

“[...] que o varejo não é apenas um novo modo de fazer negócios, mas também um modo de

aprender mais sobre consumidores e como negociar com eles”.

Em entrevista realizada em 22 de maio 2012, o Prof. Dr. Filipe Campelo Xavier da

Costa, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Design, em Porto Alegre, trouxe

informações importantes à compreensão acerca da atmosfera de loja em sua proposta

emocional. Seguem os principais trechos.

Segundo Costa (2012):

A experiência do usuário em relação ao produto/serviço é decorrente de três tipos de experiências que acontecem em conjunto: a Estética, o Significado – aspecto cognitivo e o Emocional – resultado dos outros anteriores. Este é o ponto de partida do design para as emoções.

Page 112: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

110

Respondendo à pergunta desta autora “Como a sedução estética impacta no

comportamento do consumidor?”, Costa afirma:

O grande desafio que eu vejo, nem falar específico, vivemos um momento de sobrecarga de informações. O primeiro desafio é como eu faço o consumidor simplesmente me notar. Alguns estudos indicam que um atalho é o emocional.

Costa continua:

O Super Bowl, a maior audiência mundial, além do jogo de futebol americano, é o grande momento da propaganda. Por isso mantém a curiosidade sobre o que as marcas vão lançar no intervalo do Super Bowl. Nunca tinha assistido lá (EUA) na casa de americanos.

É o contrário das expectativas dos brasileiros em relação a final de campeonato, onde o jogo é o principal. Lá, durante três horas, o jogo parou para show da Madona de 15 minutos e vários breaks sem repetição de comerciais. Eu li matérias na imprensa americana antes e depois do dia sobre “O que funciona e o que não funciona” em termos de comunicação. Na visão pragmática americana, eles têm muitas métricas, mas resumindo, celebridade não vende mais, em termos de recall o que “pegava” era criança e animal. Nos dois casos, o apelo variava - ou era humor, uma crônica do cotidiano, ou tocante, isto é, muito apelativo, o que levava as pessoas a discutirem sobre isso. Estamos falando de uma sociedade mais desenvolvida e acostumada ao consumo. Uma das abordagens, não demonstrando o mesmo desempenho era a noção estereotipada da sedução estética: isso seria o sexo, sexualidade, erotismo. É tão comum que não tem apelo. Isso chamou atenção nas pesquisas de antes de depois.

O esforço que é feito primeiro em termos de captar a atenção e persuadir o usuário.

Estamos falando no consumo de entretenimento. O desafio é saber quais são os fatores que levam o consumo de uma informação em detrimento de outras. As histórias das crianças tem o humor, em que o americano médio se reconhece e identifica o traço mais humano, menos funcional. Aquele momento que as marcas se aproximam do que cotidiano, uma questão emocional propriamente dita. Mesmo no contexto supercompetitivo, temos um desafio tremendo: como eu seduzo o usuário. Já que os mesmos esforços de ontem não tem mais o mesmo efeito.

Acompanho a evolução de consumo da base da pirâmide desde 2004. Fizemos a revisão de um livro “A riqueza da base da pirâmide”. As empresas repensarem em como lidar com a base da pirâmide. Um dos exemplos era o caso das Casas Bahia. A organização de adaptou ao consumidor. Porém sabemos que hoje é como se estivéssemos olhando para a pré-história do consumo.

Hoje o consumidor popular tem muito mais acesso ao crédito, informação. Isso faz com que os players se adaptem. Quando pensamos em consumo popular, lembramos Voluntários da Pátria (rua de comércio Popular de Porto Alegre) com alguém com microfone na porta gritando, sem nenhum serviço ao consumidor. Hoje

Page 113: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

111

há um aproveitamento do consumo de maior valor, em que as características e serviços migram para a as classes populares. É um momento curioso.

A minha tese de doutorado foi sobre as importâncias ambientais no consumo.

Compra por impulso se manifestava nos dois ambientes: um digital e outro físico.

Eu tinha uma hipótese que o ambiente físico seria mais influente. De certo forma se confirmou. Mas por um olhar etnográfico. Ia muito a lojas para identificar e verificar o que eu estava lendo.

Definitivamente o layout faz muita diferença. A organização da loja é algo que aproxima ou afasta. Vai determinar os fluxos, o tempo, e sabe-se que quanto mais tempo a pessoa passa na loja, mais suscetível à compra. Alguns estudos apontam desde a questão da iluminação, som, cheiros, sensoriais. Definitivamente mudam a percepção da experiência e influenciam o envolvimento do consumidor. Algumas empresas souberam explorar isso, mesmo que não sejam em mercados massificados. Um exemplo é a Livraria Cultura, que tinha que expandir o modelo. Há uma tendência mundial de menos venda de livro. A loja passa de experiência de compra para uma experiência de convívio. No Zaffari, eu encontrei grupos que iam à loja, mesmo não sendo a mais conveniente, mas era o espaço onde poderiam encontrar os amigos. De certa forma, o ambiente tem importância muito grande como percepção da experiência. Gera conforto físico. Isso é uma sedução estética.

O estereótipo de uma loja popular é uma loja barulhenta.

O efeito do som sobre o comprador. Música intensa, música com tempo rápido acelera o passo do comprador. Na rede Zaffari nesta hora (14h30min), a música é tranquila. Sábado à tarde ou quarta-feira que tem a liquidação, a loja fica um inferno, a música muda.

O BIG tinha uma rádio dentro da loja, que fazia desde a promoção e utilizava a música, quando a loja está cheia para acelerar o passo, para evitar crowd (multidão, tumulto). A multidão gera ansiedade.

Com menor ou maior nível, tem um projeto. Para gerar um sentimento que provoca no consumidor. Estes estereótipos, dentro do varejo popular, começam a cair ou conviver com outras realidades.

Uma iluminação mais cuidadosa. Geralmente a lógica do empresário é otimizar o metro quadrado. “Vou colocar bastante produto. É um contrassenso deixar espaço.” Inaugurou o Bourbon Shopping Wallig, e o supermercado não é bandeira Bourbon hipermercado, é a marca Zaffari. Chamou atenção o espaço entre as gôndolas.

No momento em que vemos exatamente o contrário: o Nacional do Iguatemi o espaço entre gôndolas é mínimo o que gera desconforto. São coisinhas que vão construindo a experiência do usuário.

Na sociedade brasileira temos uma cultura diferente, principalmente quando indivíduos que não acessavam os produtos e agora o fazem. Empresas como Marisa, Renner e Riachuelo que cresceram tiveram de se reinventar.

Respondendo nova questão à autora, Costa reflete sobre “Por que e como mensurar-

se o prazer? Há visões diferentes entre a Administração e a Comunicação.”.

Page 114: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

112

Não é uma discussão entre áreas, mas epistemológica. Existe uma necessidade, o modelo mental do gestor precisa de mensuração. Eu acho que avaliação, ferramentas que medem prazer, tipos de emoção, quantidade de experiência. Mas nada disso seja definitivo. Nem tudo se consegue mensurar. Uma preocupação de um pesquisador é considerar que são olhares diferentes e complementares. Claro, dependendo do tipo de objetivo, uma perspectiva não funciona.

Patrick Jordan. Trabalhou muito tempo na Philips, Philips Design, na Holanda. Ele era demandado por estar no ambiente corporativo, à mensuração. Mensuração do prazer.

Dentro mesmo do Design, ele recebeu críticas que discordavam das premissas para a construção do que é prazer e como mensurá-lo. A argumentação faz sentido, mas talvez o contexto em que ele estava trabalhando era o suficiente. Na área do Marketing, da Gestão, vejo um crescente respeito e maior abordagem por questões que não são quantificáveis. Há maior repercussão. Empresas com a Unilever passou a usar etnografia, para diagnosticar como potenciais públicos utilizavam os produtos em ambientes suburbanos. Um caso interessante: a empresa queria aumentar a venda de sabão em pó junto às classes baixas. Houve o treinamento de equipes da Unilever para visitar com regularidade comunidades entre Rio de Janeiro e São Paulo. A primeira surpresa: OMO era o produto mais caro, era também o mais consumido, mas de forma diferente. Para as roupas consideradas especiais, melhores. Para as outras consumiam outros produtos, manipulados, comprados de ambulantes. O consumo tem significado diferente do topo da pirâmide.

Empresas como a Unilever pensaram “Se eu quero atendê-los (populares) posso fazer melhor.” O resultado foi a produção de um sabão em pó em embalagem menor, e mudaram a distribuição. Uma empresa que fazia tudo por números passou usar etnografia.

Ao concluir Costa discorre:

A dificuldade de cunho fenomenológica, a perspectiva de tempo é completamente diferente das Organizações. Este é um grande desafio em termos práticos. Tem um alento dentro do mundo corporativo em que o paradigma é muito mais utilitarista. O olhar tende a ser mais Positivista e necessariamente tem que dar resultado. Com isso se consegue medir se a empresa vendeu, não vendeu, se continua ou não. Mas tem que trabalhar melhor. Tenho visto cada vez mais ressonância e aderência com, por exemplo, a antropologia do consumo e sociologia do consumo.

Observa-se na entrevista do Dr. Costa à autora questões já tecidas no corpo da

investigação, porém, agora, trazidas à tona sob o constructo do design emocional como: o

novo comportamento do consumidor popular; seu devir ainda é dúvida para pesquisadores

e estrategista de comunicação e negócio. O que se sabia há uma década, hoje, não encontra

ressonância. É uma população que teve acesso ao crédito, à informação e à educação.

Page 115: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

113

Mesmo que ainda não se equivalha à educação da elite, são estruturas que, entre outras,

compõem e formam o amálgama do indivíduo. Essa fervura cultural e processual no

indivíduo é percebida pelo mercado de consumo, que se alimenta e revigora-se, criando

demandas e ofertando produtos e serviços que estão de acordo com a expectativa do

consumo desses populares ou a ampliam, elevando a experiência ao nível mágico e do bem-

estar.

Assim sendo, a Atmosfera da Loja ganha contornos que celebram os aspectos

atitudinais, comportamentais, hedônicos, imaginativos e principalmente alicerçados em

boas experiências. As lojas passam a ter temas, desenvolvem linguagem específica para criar

um palco onde produtos contracenam com os consumidores. Segundo Angela Ahrendts, CEO

da Burberry, uma marca inglesa, ícone de luxo, afirma: “As pessoas não lembrarão o que

você fez ou do que você falou, e, sim, do que você as fez sentir.”.

Page 116: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

114

7 A OBSERVAÇÃO DO VAREJO POPULAR: CENTRO POPULAR DE COMPRAS (CPC)

7.1 A METODOLOGIA

A priori, foi realizada uma investida, antecipando outra experiência maior que é o

objeto de estudo desta tese: PDV Lojas Marisa na área popular de Porto Alegre.

A metodologia da primeira investida foi pesquisa bibliográfica visando à

compreensão e posterior registro in loco do modus operandi do Centro Popular de Compras

de Porto Alegre (CPC). O estabelecimento é o resgate do poder público da regulamentação

do profissional informal, chamado camelô. É o espaço designado ao comércio, porém, agora,

obedecendo às normas operacionais e legais. O registro fotográfico e a experiência de

algumas compras chamam atenção para fatores que apenas servem para posicionarmos a

iconografia e cultura popular.

7.2 AS IMAGENS DO VAREJO POPULAR SOB A ÓPTICA DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MICHEL MAFFESOLI

Em uma visão macro, especificando na medida do objeto de estudo desta primeira

investida, as imagens do CPC, como resíduo cultural das classes populares segmento CDE42

do Brasil. A investigação da autora não pretende esquematizar caricaturas sobre o segmento

popular, mas manifestar as surpresas que a investigação de campo revelar acerca do público

em questão, em conexão com o conhecimento que advém da sociologia compreensiva, da

comunicação e do branding.

42

IPC MARKETING. Dados demográficos. Disponível em: <http://www.ipcbr.com/index.php?option=com_ content&view=article&id=48&Itemid=55>. Correspondem a 66,9% da base econômica brasileira – segmento C1 a E, conferindo um rendimento mensal de R$ 410,00 a R$ 1.650,00. A autora arbitrou utilizar o Critério de Classificação Econômica Brasil, definido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), por ser exclusivamente de classes econômicas, isto é, a renda média familiar mensal, formulando o poder de compra de grupos de consumidores. Os valores atualizados, com base em dados de 2011, estão demonstrados na Tabela 1 - Classe Econômica Brasileira segundo ABEP, p. 18, deste trabalho.

Page 117: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

115

A noção de cultura, segundo Valverde (2007, p. 267), expressa a cultura como a vida

cotidiana:

A cultura, portanto, é o modo como nós nos identificamos a nós mesmos, através do outro, porque a subjetividade, e, neste sentido, a espiritualidade, não se basta nela mesma, pois ela não é autossuficiência, ela só é o que é por causa de nossa relação com os outros sujeitos. A cultura é, assim, esse lugar do pleno exercício da intersubjetividade, dessa troca que nos constitui enquanto sujeitos uns para os outros.

Nessa expectativa, o cotidiano, os fazeres pessoais integram-se como manifestação

de valores de um tempo e lugar e prática de apreensão do imaginário vigente. Assim, têm-se

pistas para a investigação das mais variadas manifestações, desde a comunicação, a

economia, a sociologia entre outras.

O cotidiano tem relevância, e tudo que está posto na história foi antes anunciado por

pequenas manifestações diárias, impregnadas de verdades singulares e coletivas.

A apreensão do mundo não é algo dado, pacífico, neutro e objetivo de sentido para

recepção, pois as estruturas hierarquizam-se, segundo o modo como as abordamos. Por

conseguinte, Valverde (2007, p. 256) afirma “a percepção é já expressão”, ou seja, percebe-

se aquilo que entendemos conforme as conexões e imagens que temos da construção

individual e coletiva de mundo. Dessa forma, o autor complementa: “uma cultura não é

senão um determinado modo de experimentar o mundo e que essa experiência não poderá

jamais servir como uma prova dos nove das diferenças culturais.” (p. 267).

Maffesoli (1995, p. 17) também contribui com essa abordagem de cultura e

pertencimento ao vivido, quando afirma que “O mistério é aquilo que se partilha com alguns

e consequentemente serve de cimento, reforça o sentimento de pertença e favorece uma

nova relação com o ambiente social e com o ambiente natural.”.

Essa ideia de cimento do mundo social, que mantém a harmonia e o centro de

valores, é, segundo a autora, o Nó de Eliade formador da visão de mundo individual em

reciprocidade coletiva.

Maffesoli (1995, p. 57) acrescenta que:

Page 118: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

116

Dando ao termo cultura seu sentido mais forte, o de húmus ao qual se enraíza a vida social, pode-se falar de uma cultura estética. Isto é, de um momento em que os valores estéticos contaminam o conjunto da vida social, momento em que nada escapa à sua influência, momento em que as diferenças sociais não são de maior importância.

Assim cultura está para o cotidiano e as circunstâncias das pessoas como os valores e

o sentido do mundo estão para a compreensão e a recepção das coisas, isto é, há uma

implicação direta do entendimento das coisas, segundo a consciência que se tem delas. Os

problemas do mundo, a resolução de si e a interação do outro depende da percepção e

hierarquia pessoal em interação com o outro.

A estética, o gosto estético, é, pois, a melhor forma que conduz a recepção à leitura e

à personalização do mundo em estado de cultura.

Assim, na noção Formismo expressa por Maffesoli, um novo patamar é exposto,

quando detalha a diferença entre forma, forma e formismo. Este último termo foi cunhado

pelo autor para designar, aqui em forma breve, a revelação dos fatos do cotidiano, sem o

julgamento dos valores ou a recriação do que deveria ser ou representar, mas somente para

expor a exuberância da aparência social em seu caráter efêmero, inacabado, banal. Desta

sorte, pode a sociologia, aceitando a aparência do social, integrá-la em grandes estruturas,

delineando configurações da vida cotidiana.

Nas palavras desta autora, o formismo não pretende reconstituir os fatos, relendo à

luz da estrutura formal, porque isso já foi enunciado por outros autores, em outras áreas do

conhecimento, mas revelá-los, a fim de estabelecer uma conexão na vida cotidiana. Capta-se

a comunicação sob o pluralismo de discursos e suas aparências, tendo o interesse em muitas

pequenas verdades e, ao mesmo tempo, na globalidade, o que a sociologia clássica chama

de holismo.

Page 119: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

117

7.3 A ESTÉTICA E A CULTURA POPULARES

A estética das classes populares enfrenta no Brasil uma tentativa de formação e

elevação de iconografia ao sentido da produção criativa da classe culta. Renato Meireles43,

sócio-diretor do Data Popular, empresa de pesquisa especializada em consumidor classe C,

D, E, argumenta:

Há uma dissonância cognitiva entre quem faz propaganda, gerencia marketing para o consumidor de baixa renda. Executivos e publicitários que pensam nos produtos e campanhas para esse público pertencem à classe A [...] a população de baixa renda quando vê a propaganda não compra.

Ou seja, as classes populares brasileiras estão consumindo a ponto de chamar

atenção da economia e, por conseguinte, ter mentes pensando em como acessá-la por meio

da comunicação, a fim de oferecer-lhes algo para consumir. Nessa expectativa, o referencial

que se tem de mundo é o que se pensa acerca do mundo popular, não estando in loco para

verificar o que e porque é importante tal iconografia. A perspectiva de cultura e experiência

aproximada também como caldo cultural está em efervescência e constante mutação de

ajustamento. Esse resultado dá à inovação o caráter surpreendentemente único e plural,

segundo a leitura de mundo.

Gobé (2010, p. 38) afirma que o design é a base para conectar-se emocionalmente

com as pessoas, e é seu mais poderoso instrumento. O design emocional é visivelmente

sensorial, e desperta nossas emoções mais rápido que qualquer outro meio de comunicação.

Gobé (2010, p. 25) continua, dizendo que o “branding (gestão de marcas) emocional sempre

teve a ver com inspiração, personalidade e conexão.” Essa conexão é dada pelo estético e

pelo pertencimento que Valverde e Maffesoli mencionam.

Segundo esta autora, se se analisar o design pela perspectiva da Sociologia

Compreensiva, poder-se-á ler como a expressão de si e do outro acontecem, quando o que

se tem por imagem são os próprios corpos e rituais em conexão com a imagem do mundo.

43apud MAMOUNA, op. cit., 2007, on-line.

Page 120: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

118

A consciência de cultura de Valverde e Maffesoli resultaria em ganhos na eficiência

da comunicação com as classes populares contribuindo para o branding.

7.4 A VISITA AO CENTRO POPULAR DE COMPRAS (CPC)

Figura 11 - Circulação do CPC

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 121: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

119

No contrato de comunicação expresso por Charaudeau (2006), há o reconhecimento

de quem fala, obedecendo a algumas regras de aparência e contrato. Explica-se: um

episódio de seriado sempre terá o mesmo roteiro e atmosfera, sendo somente substituído

por circunstâncias diferentes. Começa-se e termina-se da mesma forma, mesmo que, no

decorrer do episódio, o espectador duvide do que está por acontecer.

Dessa forma, comerciantes, como ex-camelôs, admitem e persistem na mesma

iconografia das ruas, não há formulação ao novo espaço ambientado nos convencionais

contratos de fala dos shoppings centers, como vitrines, preços, manequins, cartazes,

imagens que orientam o fluxo e dinamizam o consumo com referenciais estéticos.

O que se tem, mesmo com o acesso ser precedido de estacionamento, com as

cancelas, com as vagas, com os tickets, com os elevadores, é o caos organizado e delimitado

em bancas de aproximadamente 10m2. O imponderável e a fartura das bancas das ruas

transferiram-se para o estabelecimento fechado. Não se sabe quem é vendedor quem é

cliente, as figuras misturam-se, pois não há linguagem visual que os identifique por crachás,

por uniformes. Muitos dos vendedores não ficam dentro das lojas (bancas), e, sim,

misturam-se aos transeuntes, espreitando a aproximação de algum possível comprador.

Nas bancas, não há espaço para a contemplação a não ser do próprio produto. Não

há suportes que auxiliem a venda com displays, cartazes, encartes. Apenas pequenas faixas

como identificação da loja, e muitas apresentam apenas a designação do que vendem, como

“saias”, “vestidos”.

São raras as manifestações de preços em produtos. Embora muitos consultores

afirmem que o importante para as classes populares é o preço, este caso vai na contramão

da racionalidade e da objetividade da venda. Há, sim, o cultivo do relacionamento, a

conversa entre comprador e vendedor, ou seja, a negociação. Os corredores são

homogêneos, e viram paisagem aos olhos pouco treinados ao ambiente. A autora perdeu-se

na anatomia arquitetônica, cada vez sendo surpreendida por aspectos não auditados e com

a sensação de mesmo e mais do mesmo a todo o tempo.

A área de alimentação, mesmo de manhã, já exala aroma de fritura e temperos

fortes, muito diferente das praças de alimentação assépticas dos shoppings centers.

Page 122: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

120

A reflexão posterior à visita indica que a objetividade da venda é substituída pelo

prazer da conversação. As lojas não têm porta, mas uma cortina de aço que, quando abertas,

não restringem a entrada ou a saída do público. Por fim, a compra é sempre acompanhada

por dicas de como aproveitar melhor o dinheiro, economizar.

Aclimatando-se ao ambiente, consegue-se perceber a camaradagem e a hospitalidade,

bem como os produtos, muito similares aos das lojas e boutiques de outros centros comerciais.

Figura 12 - Vendedora e compradora em negociação no CPC

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Figura 13 - Fachada de uma loja no CPC

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 123: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

121

7.5 CONCLUINDO A INVESTIDA NO CPC

Observa-se que as noções de cultura expostas por Valverde e Maffesoli são de

grande valor para o trato com as classes populares, pois estão em contato com o

contemporâneo das relações sociais.

A ideia de imagem dada pelo Formismo de Maffesoli resulta em plena ancoragem ao

estudo imagístico do objeto de estudo. A imagem pictórica exposta inexiste em suportes

tradicionais como cartazes e displays, contudo coexistem no trato e na interação com o

outro, isto é, compradores e vendedores em trânsito anônimo pela arquitetura do ambiente.

As imagens pictóricas inexistentes são substituídas pela imagem de mundo, e nas

experiências sensoriais e afetivas da compra.

A aproximação de um ao outro se dá tanto no aspecto físico e corpóreo dos

corredores apertados, bem como nas conversas que permeiam a negociação da compra. Em

suma, a lógica objetiva é substituída pela lógica comunicacional, subjetiva e ritualística.

É uma importante mudança de paradigma na elaboração dos planos de comunicação

e estratégicas visando às classes populares.

Page 124: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

122

8 LOJAS MARISA

8.1 POR QUE ESCOLHER A REDE DE LOJAS MARISA?

O objeto de estudo na fase final da tese será as Lojas Marisa. Essa rede de varejo foi a

primeira no segmento focado em mulheres populares. Segundo a Instituição, a rede atua em

dois segmentos: o de Varejo e o de Serviços Financeiros, isto é, a atuação nos segmentos

varejistas de artigos de vestuários em geral (lojas multiformato – Marisa Ampliada, Marisa

Feminina e Marisa Lingerie) e a prestação de serviços financeiros por intermédio da

administração de cartões de crédito (produtos e serviços financeiros, associado ao

financiamento a clientes) — modalidade de “private label”, respectivamente.

O patrimônio líquido da Companhia passou de R$ 650.642 mil, em 31 de dezembro

de 2009, para R$ 651.106 mil, em 31 de dezembro de 2010. Em 2011, a Rede consolidou 336

lojas e uma área de vendas de 346,4 mil m2, em dezembro de 2011, e está presente em

todos os estados do país. Em 2012, tem a expectativa de abrir mais 33 novas lojas, sendo

que dessas, 21 já estão contratadas. A Marisa emprega mais de 13 mil colaboradores, dos

quais mais de 70% do quadro é composto por mulheres.

Segundo Revista Exame44, sobre a ação negociada das Lojas Marisa na Bolsa de

Valores (AMAR3), em relação ao primeiro trimestre de 2012, “As ações da Marisa têm alta

de 33% no ano. [...] Os investidores ainda não entenderam e deixaram de colocar no preço

das ações o potencial de aceleração do crescimento das operações da Marisa (AMAR3),

avalia o Credit Suisse em um relatório”.

O método de pesquisa será a Sociologia Compreensiva – de Michel Maffesoli,

ancorado nas ideias do Hedonismo Materialista de Michel Onfray. As técnicas serão a

observação participante e a análise de material gráfico disponível no PDV.

44 EXAME.COM. Investidor ainda não precificou o crescimento da Marisa, diz Credit Suisse. Preocupações com

a inflação não deveriam afetar o desempenho dos papéis, afirmam analistas. 17 maio 2012. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/investidor-ainda-nao-precificou-o-crescimento-da-marisa-diz-credit-suisse?page=1&slug_name=investidor-ainda-nao-precificou-o-crescimento-da-marisa-diz-credit-suisse>. Acesso em: 17 maio 2012.

Page 125: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

123

A maioria das informações que seguem foi fundamentada no site MARISA.com.br,

disponível em: <www.marisa.com.br>, e podem ser conferidas na íntegra no Anexo 4.

8.2 MISSÃO DO GRUPO MARISA

A Missão do grupo é:

A Marisa dedica-se à comercialização de produtos de moda, sobre os quais a mulher detém a decisão de compra. Os produtos oferecidos refletem tendências de comportamento, e têm a melhor relação custo-benefício do mercado. Trabalhamos para garantir a satisfação dos clientes, fornecedores, colaboradores e acionistas.

8.3 RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DA REDE DE LOJAS MARISA

A primeira loja, a Marisa Bolsas, foi fundada em 1948, focada no público feminino.

Em 1950, antecipando o olhar para atender a cliente popular criou-se, segundo a Rede, a

primeira “ponta de estoque” conhecida no Brasil: a Marisa Malhas. A primeira loja tinha

21m2. Atualmente a média das lojas é 1400m2.

Com a aceitação do público, o nome Marisa passou à Rede. Sob a filosofia de

oferecer às mulheres roupas de qualidade por um preço atrativo, a empresa teve um

desenvolvimento gradativo e planejado, e tornou-se nacionalmente reconhecida como uma

rede de lojas de moda feminina e moda íntima feminina.

A partir de 1952, iniciou a expansão por todo o território nacional, abrindo novas

lojas em Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Manaus. Passados trinta anos, a

Marisa já estava em todas as regiões do País. Em 1990, seguindo às tendências do varejo,

inaugurou a sua primeira loja em shopping center, na cidade de São Paulo.

Em 1999, verificou-se a necessidade de um novo modelo de loja que aumentasse a

variedade de produtos oferecidos para toda a família, com maior conveniência de compra

Page 126: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

124

para clientes, oferecendo, além de moda feminina, moda masculina, moda infantil e cama,

mesa e banho. Em 2001, implementou o conceito de exposição dos produtos nas lojas por

estilos de vida. Investiu na forma de exposição dos produtos nas lojas (visual merchandising),

para incentivar a compra de itens complementares, com a introdução do conceito de

renovação diária de produtos em suas lojas (freshness) para atrair constantemente clientes

às lojas.

Em 2010, lançou um novo formato de loja chamado Marisa Lingerie. 45 Segundo a

Empresa:

[…] esse modelo de loja explora o que é considerado a grande força e oportunidade de negócios da Marisa, ou seja, o seu departamento de lingerie. O objetivo do projeto é fortalecer a posição da Companhia no segmento de moda íntima feminina, onde já possuímos liderança de mercado (on-line).

Vide abaixo o gráfico de pesquisa realizada pela Nielsen: 46

Gráfico 2 - Marisa é a primeira loja que vem à mente das consumidoras quando se refere à compra de lingerie / peças íntimas

Fonte: MARISA LOJAS S.A., 2001.

Segundo Sylvia Sá (2011): 47

45

MARIAS LOJAS S.A. Proposta de orçamento de capital – destinada aos acionistas. 2001. p. 20. 46 Idem.

Page 127: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

125

A estruturação dos pontos de venda também é resultado das pesquisas que relataram o comportamento de compra na Marisa quando o assunto é lingerie. Andrea Beatriz, Gerente Geral de Marketing da empresa, em entrevista ao Mundo do Marketing afirma. No caso da lingerie, há uma sequência maior de visitas, e a mulher compra de forma mais individual, é um momento só dela.

Andrea Beatriz Kocher, gerente de marketing das Lojas Marisa, afirma48:

Nos últimos 10 anos, o aumento de poder aquisitivo da classe C ampliou a oferta de produtos e o acesso à informação por esse público, que ficou mais exigente. Por conta disso, a Marisa deixou de vender produtos para vender informação de moda.

[...] A mulher moderna é mais independente e tomadora de decisões não só para si, mas também para a família. A moda está mais presente no seu dia a dia. Por isso, a Marisa investe na didática da moda, auxiliando essa mulher a se vestir. A Marisa adapta tendências internacionais ao público brasileiro e, por meio de seus materiais de venda, ensina a consumidora a escolher o look que mais se adapta ao seu corpo e criar as melhores combinações (on-line).

Conforme a empresa, nas lojas Marisa, o atendimento é diferenciado, em ambiente

agradável e moderno, em relação aos demais locais frequentados pelos populares. As lojas

são bem decoradas e iluminadas, e possuem vitrines criativas e atrativas. A Marisa acredita

que se diferencia da concorrência por proporcionar “uma experiência de compra única em

suas lojas onde busca oferecer às suas clientes “um sonho” e não meramente vender

produtos.”.

Da falta de oferta de crédito para o público-alvo da Marisa, mulheres classe C,

advieram oportunidades de oferecer, tanto para consumo pessoal quanto para serviços

financeiros em geral, uma plataforma de serviços financeiros ancorada no Cartão Marisa.

Assim, facilita e cria condições para que as clientes adquiram produtos, e disponibiliza linhas

de crédito e seguros, de maneira rápida e simplificada. O Cartão Marisa é uma ferramenta

importante na estratégia de negócios para a fidelização de suas clientes e aumento da

receita de vendas.

47 SÁ, Sylvia. Marisa expande negócio com loja exclusiva para lingeries. Mundo do Marketing, 22 fev. 2011.

Disponível em: <http://mundodomarketing.com.br/reportagens/pdv/17584/marisa-expande-negocio-com-loja-exclusiva-para-lingeries.html>. Acesso em: janeiro 2012.

48 KOCHER, Andrea Beatriz. Entrevista. Entrevistador: Soujeans. Mercado. Disponível em: <http://www.sou jeans.com.br/beta/Mercado/Materia.aspx?idMateria=487>. Acesso em: janeiro 2012.

Page 128: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

126

O Cartão Marisa é fator importante na identidade de empresa voltada para as

mulheres de classes populares, sendo a forma de pagamento preferida por 44,5% das

consumidoras da Rede, conforme mostra o Gráfico 3, Formas de Pagamento da Rede de

Lojas Marisa, disponível no site da empresa.

Gráfico 3 - Formas de pagamento na Rede Lojas Marisa

Fonte: MARISA.COM.BR. Nossos cartões, 2012.

Com a inauguração da Marisa Virtual, possibilitou às clientes a realização de compras

pelo endereço www.marisa.com.br, facilitando a aquisição das consumidoras fora da área

geográfica das lojas físicas, como também ampliação da base de dados e informações. Em

2010, a Rede já consolidava a posição “maior e-commerce no segmento de moda no País,

com mais de 1,5 milhão de visitas por mês.”.49

49 BAGARAI INFORMÁTICA. Lojas Marisa adota cloud computing. Solução possibilitará maior segurança e

serviço mais rápido e eficiente. 17 jun. 2010. Disponível em: <http://bagarai.com.br/lojas-marisa-adota-cloud-computing.html>. Acesso em: jan. 2012.

Page 129: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

127

Figura 14 - Modelos de cartões Marisa

Fonte: MARISA.com.br, 2012.50

Em 2006, com objetivo de expandir os produtos financeiros da empresa às clientes,

iniciou a SAX, para, assim, oferecer crédito pessoal para clientes selecionados do Cartão

Marisa.

Atualmente a Marisa Lojas S.A. é, conforme site da empresa, a maior rede

especializada em moda feminina do Brasil. Entre outras características, a empresa possui o

maior percentual de lojas de rua, quando comparada com a concorrência varejista,

reforçando essa característica em sua expertise, isto é, tem a menor dependência de

corretoras de imóveis, rápida capacidade de expansão, maior competitividade com o

mercado informal, e melhor conveniência de compra.

8.4 CRUZAMENTO EPISTEMOLÓGICO DOS CAPÍTULOS ANTERIORES COM O RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DAS LOJAS MARISA

Em comparação com as informações expostas nas partes 1 e 2 desta tese, a Rede de

Lojas Marisa mantém-se conectada com os conteúdos expressos. Observam-se na cor rosa

(cor preferencial da logomarca da empresa) os pontos de convergência, sendo explicitados à

medida do desenvolvimento da discussão.

50 MARISA.COM.BR. Nossos cartões. Disponível em: <http://www.marisa.com.br/cartao-de-credito>. Acesso

em: jan. 2012.

Page 130: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

128

Figura 15 - O que o consumo representa

Fonte: A autora (2012).

I A INOVAÇÃO DO COTIDIANO

A INOVAÇÃO DO COTIDIANO dá-se na forma da composição do mix dos três tipos de

lojas, bem como no conceito de renovação diária de produtos em suas lojas (freshness) para

atrair constantemente clientes às lojas.

Como já expresso na Missão da Empresa, a Marisa oferece “produtos de moda, sobre

os quais a mulher detém a decisão de compra. Os produtos oferecidos refletem tendências

de comportamento e têm a melhor relação custo-benefício do mercado.”, isto é,

CONSUMO

HEDONISMO

INOVAÇÃO DO COTIDIANO

FINANCIAMENTO DO PODER PÚBLICO

AGENDA SOCIAL

CULTURALIZAÇÃO DO NATURAL

HOMOGENEIZAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO

ORGANIZAÇÃO SIMBÓLICA DO

MUNDO

IDEOLOGIA

DISSIMULAÇÃO DO REAL

DISCIPLINA

VÁLVULA DE ESCAPE DAS CLASSES POBRES NA FALTA

DE ASCENSÃO VERTICAL

A BASE DA SOCIEDADE DE

CONSUMO

Page 131: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

129

acompanham a mutação do comportamento de consumo e, por conseguinte, busca-se

adequar produtos ao cotidiano.

Conforme Maffesoli (2007) afirma:

Sabemos que as revoluções políticas são anunciadas, preparadas e desencadeadas por acontecimentos aparentemente anódinos: a fortiori, tais acontecimentos desempenham um papel maior nestas manifestações da socialidade, que são a solidariedade de base, a teatralização ou organicidade das paixões, dos gestos e dos discursos (p. 71).

[...] “é preciso ouvir o mato crescer, isto é, estar atento a coisas simples e pequenas. Gerir o saber estabelecido e atinar com que está prestes a nascer são, afinal, os dois pólos de tensão constitutiva da harmonia conflitual peculiar e todo conhecimento! (p. 41).

Em termos empresariais, a cumplicidade e a afinidade que a Marisa tem com as

mulheres, principalmente as da classe C, explicitam sua vocação em saber ouvir e

reconhecer nessas consumidoras as manifestações sutis, e transformá-las em produtos

adequados ao cotidiano presente, ao real, ao prático e ao onírico, revelando o sensual.

Enquadram-se em cada identificação, um dos tipos de três tipos de lojas:

1) Loja expandida com moda feminina, masculina, infantil, lingerie e acessórios.

Loja dedicada à conveniência de atender o vestuário da família.

2) Marisa Feminina com mix de moda feminina, lingerie e acessórios. Dedica-se a

oferecer produtos à mulher.

3) Finalmente, a mais recente, Marisa Lingerie explora a intimidade e o onírico

da mulher com a comercialização de lingerie.

II ORGANIZAÇÃO SIMBÓLICA DO MUNDO

A organização do simbólico é conferida no aspecto de múltiplas opções de lojas, pois

possibilita extravasar que identificação de mulher a consumidora busca: mãe, trabalhadora,

prática, sensual, erótica. São momentos da mesma personalidade em necessidades

diferentes.

Page 132: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

130

Este olhar que a Rede exercita vai ao encontro de expor a exuberância da aparência

social em seu caráter efêmero, inacabado, banal, estando em sintonia com a noção de

Formismo de Maffesoli. Além disso, Maffesoli (2005, p. 18) acrescenta:

A unicidade dessa constelação é feita de cruzamentos e da conexão dos microvalores éticos, religiosos, culturais, sexuais e produtivos que, por sedimentação, constituem a base da comunicação. A estética tem por função alavancar a eficácia das formas de simpatia e o papel delas como cimento social num paradigma novo esboço. Aceita a conexão orgânica que liga as pessoas, “as palavras e as coisas”, admitida a ideia de que todas as situações, todas as experiências, por menores que sejam, participam da ambiência geral e destacada a noção de que os diversos imaginários irrigam profundamente a vida social, então retomando a questão da Escola de Frankfurt, prevalece a atividade comunicacional para compreender o que chamo de ideia obsessiva do estar-junto.

Tal noção de estar-junto é ratificada pela afirmação retirada do site da Empresa:

Com mais de 60 anos de experiência, conhecendo e acompanhando as necessidades do público-alvo da Companhia, a Marisa construiu uma relação de cumplicidade e intimidade com a mulher brasileira. A marca “Marisa”, associada ao reconhecido slogan “De Mulher para Mulher”, possui forte reputação com o público feminino e uma identificação com os desejos e necessidades de seu público-alvo, que a Companhia acredita ser única no mercado brasileiro. A “Marisa” é nacionalmente conhecida como uma marca jovem, moderna e sensual. A Companhia é a primeira escolha da mulher brasileira das Classes B e C que quer acompanhar os últimos lançamentos da moda íntima e adquirir produtos de qualidade a preços atrativos, segundo Pesquisas InterScience, solicitada pela

Marisa em 2001, 2002 e 2003. (Grifos da autora).

Ou seja, o compartilhar é revelado pela constante presença na vida das consumidoras

e também pela “obsessão”, ou melhor, pelo foco no conhecimento e na experiência

amadurecida em décadas de convivência. Com o slogan “DE MULHER PARA MULHER”, a

Rede expõe a clara intenção de proximidade, a boa convivência e a compreensão da

identidade feminina, utilizando termos como cumplicidade e intimidade, características

geralmente relacionadas somente aos merecedores de afeto.

A Marisa também percebeu o que Meneguetti (2011) afirma em entrevista à autora,

quando cita que “estas pessoas (classes populares) não desfrutam da educação necessária,

da condição necessária para que estes produtos sejam assimilados de uma forma mais

Page 133: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

131

adequada.” Vindo sanar esse paradoxo, Andrea Beatrix, Gerente Geral de Marketing da

Rede afirma que a “Marisa deixou de vender produtos para vender informação de moda”,

ou como Márcio Goldfarb, presidente das Lojas Marisa, afirma: “Antes de 2000,

comprávamos e vendíamos roupas como commodities. Agora, comercializamos estilos de

vida”51.

III HOMOGENEIZAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO

Homogeneização e diferenciação também são características contempladas, pois,

quando a Rede se propõe a desvendar e munir as consumidoras, muitas delas novas

entrantes no consumo de moda, ela notabiliza-se, e destaca-se pelo ensinar, mas também

aponta o que consumir, desvendando uma estética, em alguns casos, estranha ao segmento.

Comprar na Marisa, segundo o site da empresa, é uma experiência de compra única

em suas lojas em que busca oferecer às suas clientes “um sonho”, e não meramente a venda

de produtos. Isso nos reporta ao trecho “As necessidades fisiológicas do homem são

limitadas, porém as psicológicas e sociais são infinitas.” Dessa forma o HEDONISMO associa-

se ao consumo e à experiência gerada no varejo, como Gobé (2012, p. 17-18) descreve:

O design reestrutura as experiências: essa é a expressão mais estimulante de uma marca. Através da experiência, a marca escapa de ser commodity e da monotonia do mercado. O design sensorial é o modo mais excitante de mudar a expressão da marca no nível dos desejos emocionais. É a inspiração, a pesquisa, a mensagem e o comercial, um modo provocante de trazer estética e beleza para a nossa vida.

Lindstrom (2009, p. 32) contribui com esse sentido, defendendo que “[...] é por meio

das emoções que o cérebro codifica coisas que têm valor [...]”. Boa parte do que acontece

no cérebro é emocional e, não, cognitivo. Isso é a experiência que dá o frescor da inovação,

pois nunca sentimos da mesma forma uma cor, um aroma uma textura. A soma de fatores

51 ROCHA, Raquel. Marisa inaugura loja conceito em Belo Horizonte. Diário do Comércio, 8 out. 2010. In:

SINILOJAS – Sindicato dos Lojistas do Comércio de Belo Horizonte. Notícias. Disponível em: <http://www.sindilojasbh.com.br/noticias/407/marisa-inaugura-loja-conceito-em-belo-horizonte.aspx>. Acesso em: jan. 2012.

Page 134: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

132

ambientais e individuais contribui para a experiência formadora do hápax celebrado por

Onfray (1999).

O financiamento ao crédito da base de clientes dos Cartões Marisa e outros serviços

financeiros, viabiliza o aumento do ticket médio da Empresa, trazendo para o tempo

presente, para o cotidiano, as aquisições para as várias demandas, das triviais, exóticas,

promocionais, comemorativas, contribuindo para a AGENDA SOCIAL. Ainda oferece a

oportunidade de dar ciência à Rede sobre informações que não são usadas de forma a

espetacularizar a individualidade, mas contribuem para a manutenção da DISCIPLINA da

compra/quitação, bem como para os ajustes na operação oferta/demanda.

Outro fator neste escopo é a expertise de lojas de rua, ou seja, a permanência na

visão do trajeto comum, a presença e pertencimento ao horizonte conhecido das

consumidoras atualiza a mensagem do contrato de fala de Charaudeau (2006). Esse

constante ajustamento também se enquadra à noção de Habitus expressa em Bourdieu.

IV DISSIMULAÇÃO DO REAL

A dissimulação do real pode ser mensurada em todo momento da experiência de

compra ou visitação ao PDV (ponto-de-venda), constituindo a troca da necessidade pelo

desejo de estar-junto, da promessa do uso, da cena prometida. Maffesoli (2007, p. 128)

afirma que:

Podemos efetivamente, reter no tocante às diversas modulações da “forma” sua insistência no fato de múltiplas situações da vida cotidiana esgotam-se no próprio ato, isto é, são vividas no presente. [...] a sociologia deve atentar para a ética do instante, que impregna profundamente a vida de nossas sociedades em todas as suas atividades comunicacionais e instrumentais. Além disso, o “formismo” – e é isso uma consequência do que foi anteriormente dito, insiste do mesmo modo sobre a aparência, o espetáculo, a imagem, etc. [...].

Page 135: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

133

Neste ponto, aproxima-se da grande especulação da Tese, a questão que se deseja

responder: A investigação da comunicação enquanto estética do consumo popular pode ser

fator de influência do consumo das classes populares como hápax52 existencial?

Paviani (2003) escreve da sedução do estético e o caráter hedonista natural ao

homem, mediando as emoções e as sensibilidades do social:

Há no homem, juntamente com o instinto lúdico, uma necessidade de se expressar, e é disso que surgem ritos e ritmos fundamentais, como a ordem, a tensão, o movimento, o gesto, a fala, o silêncio (p. 57).

[...] um objeto que provoca o prazer estético, que se exprime através da plenitude do sensível e, por isso, comunica emoções, ideias, a atmosfera da época e dos meios social (p. 59).

É justamente este ponto que a autora vai expressar a visitação às lojas Marisa.

Vai conferir as interações que consumidoras fazem ao tocar, escolher produtos. Os

produtos constituem-se não só da parte sensível, mas o sensível é revelado pelo olhar

da experiência passada, presente e pela utilização futura. O hedonismo constitui forte

composição da resolução do gozo do presente e da fantasia do futuro. O consumo e o

varejo, como a autora já menciona em sua dissertação de mestrado (2008), são altares

da pós-modernidade. Tudo pode ser ofertado, resolvido e consumido, parcelado e

honrado mês a mês.

Tão trivial e tão anódino, as escolhas do consumo marcam a compreensão do

mundo, a visão de apropriação do querer e expropriação do não querer. Dão pistas da

percepção de vida, sociedade e identificação a cada momento. Tantos fatos implicados

formam o cimento individual que se funde ao social. Dessa forma, em caráter

preliminar, pode-se especular que a estética é, em sua aparência sensível e onírica,

veículo de sedução do consumo como hápax existencial, contribuindo na formação da

experiência real ou não. Quem irá saber o que é real?

52 Onfray em A arte de ter prazer: por um materialismo hedonista. (1999, p. 29) explica o que é o Hápax

existencial: “Hápax existenciais, experiências radicais e fundadoras ao longo das quais do corpo surgiu iluminações, êxtases, visões que geram revelações e conversões que se configuram em concepções do mundo coerentes e estruturadas”.

Page 136: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

134

Mais uma vez a autora reafirma que o olhar da Sociologia Compreensiva põe luz

nas visões econômica e mecânica, iluminando aspectos comunicacionais e relacionais

da sociedade. Esse é o foco.

8.5 OBSERVAÇÕES SOBRE A LOJA MARISA

8.5.1 Negócio 1 – Varejo

A observação no PDV deu-se no mês de fevereiro de 2012. Hoje, as Lojas Marisa têm

pontos de venda em diversos bairros com características singulares: do popular aos

endereços mais nobres.

A nova segmentação atinge outros públicos (Marisa Lingerie), a consumidora da

classe B também passou a ser cliente. Conforme relata o presidente da Rede, Márcio

Goldfarb, a escolha por locais privilegiados para os pontos de venda também faz parte da

estratégia da empresa em oferecer a melhor experiência de compra. “A melhor experiência

num lugar médio ou ruim é a pior experiência. Quando tiver uma boa ideia, leve para o

melhor ponto. É o caso da Visconde de Pirajá. Entramos sendo notados, com uma bandeira

forte”.53

Dessa forma, compreendendo a complexidade de público distribuído pelas três lojas,

a autora arbitra a visita às lojas em endereços para visitação em locais da cidade de Porto

Alegre e São Leopoldo, por conveniência geográfica, econômica e temporal para o projeto

de Tese.

A Rede tem 11 lojas em Porto Alegre, sendo assim situadas54:

53 MKTmais.COM. Marketing, experience, segmentação. Marisa lingerie expande sua marca com. 15 fev. 2011.

Disponível em: <http://www.mktmais.com/2011/02/marketing-experience-e-segmentacao.html>. Acesso em: jan. 2012.

54 MARISA.COM.BR. Nossas lojas. Disponível em: <http://www.marisa.com.br/NossasLojas.aspx >. Acesso em: jan. 2012.

Page 137: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

135

R. Dos Andradas, 1.441.

R. da Azenha, 795.

Av. Assis Brasil, 1.994.

R. dos Andradas, 1.307.

R. Voluntários da Pátria, 29/33/27.

Av. Gal. Flores da Cunha, 4.001.

R. Voluntários da Pátria, 167/183.

Av. Assis Brasil, 164.

Rua dos Andradas, 1.459.

Avenida Sertório, 8.000.

Avenida Diário de Notícias, 300, Marisa Lingerie - Barra Shopping Sul.

As visitas serão efetuadas às lojas listadas a seguir, enfatizando a diversidade de

bairros, singularidades de características:

R. Voluntários da Pátria, 167.

Avenida Diário de Notícias, 300.

Avenida Sertório, n.° 8000.

Loja São Leopoldo.

O endereço da rua Voluntários da Pátria, localizado em rua de comércio popular e

trafego de transporte público, tem prioridade. É uma loja de calçada, em frente ao Centro

Popular de Compras – Camelódromo de Porto Alegre.

Os endereços das avenidas Sertório e Diário de Notícias estão localizados em

Shoppings Centers, porém com características diferenciadas de loja. Dentre esses, último

endereço conta com a operação Marisa Lingerie, única em Porto Alegre, enquanto o

primeiro consta de uma operação exclusiva do mix feminino.

A loja de São Leopoldo tem grande visibilidade da comunidade local, por se situar no

centro da cidade, junto a outros endereços comerciais. Dispõe de mix completo, a exemplo

da loja da rua Voluntários da Pátria.

Dessa forma, a autora não visita a totalidade das lojas, mas acredita adquirir

informações que dão conta da diversidade do público.

Page 138: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

136

8.5.2 Negócio 2 – Serviços Financeiros

Por intermédio da observação participante, comprovaram-se, através da visitação,

características singulares no tratamento comunicacional dos dois segmentos em que a Rede

atua: de Varejo e Serviços Financeiros. No Varejo, há a predominância da economia de

imagens com cenas de pessoas, enquanto Serviços Financeiros as utiliza caracterizando cada

um dos serviços do portfólio. Acredita-se que a distinção acontece, pois o último segmento

não tem produtos físicos como no Varejo. Logo necessita dramatizar a intenção,

sensibilizando as consumidoras.

Observa-se a necessidade de identificação com o público-alvo: as mulheres são

representadas em todas as artes: mulheres jovens, meia-idade, mães, consumidoras,

brancas, negras, todas em situação de relevante felicidade e bem-estar.

Seguem os folders, cujas artes são utilizadas também em cartazes distribuídos em

pilares e acessos, como corredores e lances de escadas.

Figura 16 - Materiais promocionais - serviços financeiros disponíveis nas lojas Marisa

Fonte: Material promocional da própria loja.

Page 139: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

137

8.6 VAREJO – PRIMEIRA OBSERVAÇÃO DA LOJA MARISA – FEVEREIRO DE 2012

A primeira visita foi realizada na Loja da avenida Voluntários da Pátria, 167,

usando-se a técnica da observação participante. Ela coincidiu com o primeiro dia de

liquidação da estação de verão da Rede, portanto, havia programação visual específica

para a liquidação.

8.6.1 Impressão da Loja

A loja é limpa, bem iluminada, com funcionárias uniformizadas que se

distribuem desde a organização da loja até as funções de caixa. Quando solicitadas,

auxiliam as consumidoras a encontrar produtos, verificar preços, entre outras funções.

Não há grandes ilustrações ou imagens nas paredes; o vestuário faz a função de

demonstrar a localização de produtos e organização da loja. Portanto, a imagem como

conexão emocional com as consumidoras ocorre, em maior escala, na visualização dos

itens à venda. Os preços são visíveis e estimulam o autoatendimento e pesquisa nas

araras que exibem os produtos. Observa-se que muitas consumidoras, mesmo que as

etiquetas da liquidação indiquem o preço original e o promocional, tentam descolar as

etiquetas buscando a comprovação do preço “normal”. Isso pôde ser comprovado,

estabelecendo a verdade no diálogo entre marca/consumidora.

Page 140: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

138

Figura 17 - Ambientação PDV Marisa - vestuário infantil

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Figura 18 - Ambientação PDV Marisa - vestuário masculino

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 141: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

139

Figura 19 - Vista geral da loja Marisa

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Figura 20 - Detalhe material Liquidação Marisa

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 142: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

140

Há som-ambiente de volume moderado – baixo, as consumidoras conversam sem

necessidade de alteração de tom de voz.

O tratamento dispensado a mim em uma consulta à funcionária foi “Senhora”,

demonstrando tratamento cordial.

Há certa “felicidade no ar”: consumidoras entretêm-se com o pesquisar e comprar. É

comum ouvir os chamamentos “mãe”, “tia”, “vó”, “filho(a)” ou pelo nome, confirmando

haver laços afetivos entre os pequenos grupos.

Mesmo não conhecendo os grupos, aproximei-me de alguns para comentar sobre a

liquidação. A liquidação foi veiculada no meio TV na noite anterior, o que atraiu

consumidoras para a promoção. Seguem os relatos, obedecendo à informalidade do diálogo:

CONSUMIDORA 1

Uma senhora esbarrou em mim e pediu desculpas. Logo chegou a funcionária com

duas calças de ginástica. A Consumidora 1 perguntou o que eu achava da calça e procedeu

ao diálogo:

― O que você acha das calças? A moça [funcionária] disse que era de ginástica, mas tu acha que dá para usar sem fazer ginástica?

― Acho que sim, são de tecidos tecnológicos, bem modernos.

― Estes detalhes [barras trabalhadas na lateral da calça] não me deixam mais gorda? Me ajuda: puxa aí que eu puxo daqui. Quero ver se minha perna vai entrar. Aqui diz tamanho G, mas acho que tinha que ser GG.

― Você já viu as araras para tamanhos maiores? Talvez tenha alguma coisa lá.

― Não.

― Eu lhe mostro.

E assim a conduzi às araras de roupas de tamanhos maiores. Após breve apreciação

das roupas, a Consumidora 1 falou:

Page 143: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

141

― Ah!, não, estas roupas são de muito velha. Senhora. Quero uma coisa para a parte de baixo, a de cima estou bem. Não acha um amor esta minha blusa.

― Com certeza.

― Ahhhh! Tudo tem fecho, aperta a barriga, neste calor é um inferno, a calça nem sobe na perna de gente gorda.

Outra consumidora gorda esbarra em nós, e diz enquanto passa:

― Desculpa. É com fecho é muito ruim, aperta a barriga, é muito ruim o calor.

A Consumidora 1 decide-se:

― É vou ficar com estas de ginástica. Tu acha que vai me servir?

― O tecido parece ser de alta compressão, talvez não seja muito confortável, mas afirma tudo...

Enquanto isso, volto a verificar a arara e afirmo:

― Aqui tem um modelo similar.

― Ah!, mas este tecido não é bom [parecia algodão], vai se “desbanguelar” [algo parecido, não entendi muito bem o termo, mas não quis verificar para não intimidar a “amiga”] na primeira lavada. Esta costura está torta.

― As roupas daqui não são de boa qualidade? Eu não conheço estes detalhes.

― Trabalhei com roupa por vinte anos, sei tudo. As roupas são boas, mas esta daqui está com problemas. Muito bem, vou levar estas de ginástica mesmo.

― Vai provar?

― Ah não, tá muito quente, e estas que esticam não tem erro.

― Acho que faz uma ótima compra.

― Muito obrigado pela ajuda.

― Tchau.

Após alguns instantes nos encontramos na sessão de bolsas. Eu a chamei:

Page 144: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

142

― Vai uma bolsa aí?

― Pois é, tão bem bonitas e tu é estilosa. Esta bolsa fica bem. Eu não gosto dessas correntinhas, machucam meu braço.

― Aqui têm outras que não têm correntinhas.

― Ah, mas olha o preço. Estas não entram em liquidação.

― Já olhou se não tem outro preço promocional em outra etiqueta dentro da bolsa?

― Já, mas hoje só as calças. Leva esta bolsa aí, combina contigo. Apontando para mim.

A consumidora continua caminhando e desaparece na loja.

CONSUMIDORA 2

A Consumidora 2 era uma mulher de cerca de 45 anos, magra, mãe, comprava

“blusinhas para trabalhar”. Tinha um olhar triste, melancólico, falava baixo, tinha um ar

introspectivo.

Chegou atrás de mim na fila para pagar. Em uma contagem rápida, havia 35 pessoas

aguardando, a maioria mulheres, senhoras (30/45 anos). Poucos homens acompanhados por

mulheres. Algumas crianças. Grupos aglutinavam-se, especulo conforme os laços afetivos,

mães com filhas, amigas, colegas.

Perguntei:

― Esta fila será que demora?

― Acho que vai ser rapidinho. Tem bastante gente porque ontem teve na TV a liquidação.

Na fila, caminhando entre as araras, continuávamos a especular produtos e preços. Vi

que a Consumidora 2 interessou-se por um vestido. Comentei:

― Que legal. Moderno, ficaria bem em você.

― Você acha?

― Com certeza.

Page 145: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

143

― Vou levar, por este preço...

― Experimente, eu guardo seu lugar na fila.

― Eu não experimento se não servir eu volto semana que vem e troco.

Pausa.

― Você sabe como funciona o cartão Marisa?

― Eu tenho, é bem bom. Já tive um desconto de R$ 90,00 nas compras.

― Tem dois tipos de cartão?

― O meu é o antigo. Não quero gastar demais.

A fila demorou cerca de quarenta minutos. Saí com uma bolsa, e a Consumidora B com

várias blusas e um vestido.

Na semana seguinte, procedeu-se à visita das lojas do Center Lar e São Leopoldo. Não

houve interação com consumidoras, somente observação das compras.

A Loja Center Lar contém o mix de roupas femininas, portanto não oferece moda infantil

nem masculina. O PDV é tranquilo, amplo, com clara exibição de produtos. As imagens presentes

são as da liquidação, não há imagens de experiência de vida, cenas cotidianas, e o ambiente é

assinalado pelos produtos à venda. Observa-se uma organização e combinação de roupas. Os

corredores aparentam serem maiores do que os da loja da rua Voluntários da Pátria.

Figura 21 - Material Liquidação – Vitrine Marisa

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 146: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

144

A loja de São Leopoldo é uma loja de rua, localizada no centro da cidade. São

Leopoldo pertence à Grande Porto Alegre; é uma cidade universitária, com vocação para

serviços e indústria.

O Ponto de Venda (PDV) é amplo, composto de todo o mix de produtos Marisa: moda

feminina, infantil e masculina. A loja também segue a orientação do Center Lar de relacionar

produtos, oferecendo informação de moda e sugestão de compras combinadas. Não há

imagens que expressem estilos e grupos, ratificando a orientação de os produtos indicarem

espaços, fazendo a conexão emocional das imagens com os consumidores.

Figura 22 - Combinação de produtos no PDV Marisa

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 147: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

145

A loja apresenta próximo da entrada, em local privilegiado – na parte superior do

mezanino, a imagem de algumas pessoas em detalhe sorrindo, expressando as boas-vindas

às consumidoras. Essa foi a percepção da pesquisadora.

Figura 23 - Painel Entrada e Vista geral da loja Marisa

Fonte: Arquivo da autora (2012).

8.7 VAREJO – SEGUNDA OBSERVAÇÃO DE LOJA MARISA – MAIO 2012

Uma segunda etapa da pesquisa, com mais uma investida de observação participante

foi iniciada no final de maio de 2012. As três lojas visitadas nesta etapa foram Andradas,

Voluntários da Pátria e São Leopoldo.

As Lojas Marisa estavam com a campanha de Dia dos Namorados, com a nova

coleção de outono-inverno 2012. Vestuário é um segmento sensível não só a preço, à

qualidade, à atualidade como qualquer outro, mas também às condições climáticas.

Page 148: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

146

Em maio, tradicionalmente, há o “veranico de maio” no Rio Grande do Sul, expressão

popular para referir os dias mais quentes, atípico entre dias já de frio. Contudo, neste ano de

2012, o que caracterizou o mês foram, ao contrário, poucos dias frios entre dias em que a

média ficou entre vinte e 25 graus. Este relato é importante, quando se estabelece relação

direta entre vendas de vestuário e as condições de frio e calor. Logo justifica a

movimentação diferenciada de consumidores nesta investida em comparação com aquela

realizada em fevereiro de 2012, durante a liquidação.

Observa-se menor número de consumidores, talvez justificado pela desnecessidade

de adquirir vestuário de inverno, devido ao calor que ainda faz em pleno final de maio. Já,

quando da observação da Loja de São Leopoldo, quatro dias após, a temperatura estava

mais amena, com promessa de reinício do frio. A Loja estava movimentada, com filas para

pagamento.

Não é período de liquidação. Logo, o apelo por grandes barganhas, em toda loja, não

existe. Há ofertas e bons preços, como de costume a política de preços da Rede. Entretanto,

há sinalização de produtos em ofertas, pontas de estoques, bem como os preços únicos das

araras bem sinalizados, conforme se pode observar nas imagens que seguem.

Figura 24 - Sinalização de promoção

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 149: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

147

Figura 25 - Sinalizações de bom preço

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Observou-se uma terceira loja, na rua dos Andradas. É uma loja com arquitetura

diferenciada, pois tem entrada tanto para a rua Dr. Flores quanto para a rua dos Andradas,

tem três fileiras de displays com produtos e dois corredores centrais. É uma loja estreita,

com desenho retangular, tanto no primeiro quanto no segundo piso. É silenciosa, talvez

porque não exista um grande salão como o das lojas da Voluntários da Pátria. Isso evita o

Page 150: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

148

contágio de um consumidor ver a “multidão” e, por conseguinte, entrar em sintonia. É uma

loja com mix feminino, destinando um andar somente para lingeries, e o segundo andar é

dedicado a acessórios, bolsas e vestuário.

Há movimentação de vendedoras arrumando mercadorias, fazendo credenciamento

de cartões Marisa e auxiliando em compras. Observam-se clientes em grupos, mães, filhas,

netas. Crianças são comuns, em carrinhos, pela mão ou no colo.

A loja da rua Voluntários da Pátria, o endereço mais popular da investida, tem três

andares, formados por três grandes salões. O primeiro piso é designado para roupas, bolsas

e acessórios femininos; o segundo andar, para lingerie, moda infantil e masculina. O terceiro

andar destina-se a atendimento ao crédito. Observa-se outro clima e movimentação peculiar

já manifestada em fevereiro. Há uma sensação de alegria, consumidoras em grupos

familiares ou sozinhas conversam sobre os produtos, o cotidiano. Eu fui abordada por uma

senhora desconhecida que comentou que deveria ter comprado na Marisa, pagou mais caro

em outra loja, “mas agora a compra estava feita”, lamentava com as sacolas na mão.

A fila do caixa é um momento de contentamento e comunicação. Consumidoras

continuam comprando enquanto esperam. Uma alcança produtos para a outra à medida que

a fila evolui entre os corredores ou uma reserva o lugar para as outras que continuam

comprando. Acompanhei o diálogo entre mãe e duas filhas adolescentes:

— Mãe eu quero aquela calça de R$ 30,00, mais o moleton de R$ 12.

— Teu pai nem sonha com as compras. Já tem a prestação R$ 50,00 para pagar.

— Ai mãe vai fica show.... compra....

Enquanto a fila avançava pelo corredor, as filhas continuavam a experimentar

colares, e a perambular entre as araras.

Observou-se que, em alguns casos, a avó tinha o cartão Marisa, e pagaria as compras

da família. Logo, escolher o mix de produto pelo perfil etnográfico pode ser um erro, pois a

titular não compra somente para si, mas abastece a família.

Page 151: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

149

Figura 26 - Display de ofertas

Fonte: Arquivo da autora (2012).

A Rede oferece linhas de vestuário conectadas com a moda e o contemporâneo,

como a linha de metalizados e os vários modelos de calças jeans. Há chapéus de feltro,

boinas, luvas, casacos de pele e couro sintéticos.

Figura 27 - Para amar ainda mais

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Constatou-se uma etiqueta que agrega comunicação ao produto: “Para amar ainda

mais.” Conectada com a campanha de Namorados, incentiva a consumidora experimentar a

roupa e imaginar-se no cotidiano ou na comemoração da Data.

Page 152: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

150

Figura 28 - Displays alusivos à campanha Dia dos Namorados.

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Figura 29 - Decorações de topo de arara – coleção de inverno/catálogo

Foto: Arquivo autora (2012).

Em maio, foi observado um catálogo impresso da coleção inverno/campanha

namorados, à disposição dos consumidores na entrada das lojas, bem como um folder de

relógios de diversas marcas à venda nas Lojas Marisa.

O catálogo é uma oportunidade (p. 157-163 desta investigação) de, além de oferecer

produtos/preço, aculturar a audiência sobre possibilidades de combinações de moda,

criando uma atmosfera segundo o perfil da roupa/mulher: sedutora, moleca, clássica,

urbana, festa. O editorial contextualiza o catálogo, sugere algumas peças que não poderão

Page 153: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

151

faltar no guarda-roupa, bem como incentiva as consumidoras a continuarem se atualizando

nas redes sociais: blog, Facebook, Twitter, Orkut, YouTube.

As modelos do catálogo apresentam-se, em sua maioria, alegres, em posições triviais

e corriqueiras – traduzindo, assim, a sinergia do PDV –, diferentemente das modelos que

representam grifes, as quais se apoderam do espaço com poses desconfortáveis,

praticamente improváveis ao cotidiano, expressando indiferença e certa arrogância no olhar.

Há conexão com o Programa Amiga – Programa de Fidelização da Marca associado ao

cartão de crédito da Marisa, pontuando alguns itens com pontos extras como, por exemplo,

a saia Hi-Lo, com três pontos.

Figura 30 - Vista da loja São Leopoldo

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 154: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

152

Figura 31 - Entrada da Loja

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Figura 32 - Vista geral da loja

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 155: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

153

As lojas visitadas acompanham a programação visual da Campanha Namorados,

traduzindo o conceito da coleção de inverno. Conforme se lê no Catálogo #Vou de Marisa –

Guia da nossa moda, “a coleção de inverno Marisa é inspirada nos brilhos [...] traz à tona um

certo luxo, glamour e, ao mesmo tempo, uma pitada de rebeldia.”

O som ambiente da loja é em ritmo Tecno, porém o volume é moderado. As

consumidoras circulam pelos corredores e andares, experimentam roupas no meio da loja

como casacos, jaquetas e conversam umas com as outras, creio que independentemente de

se conhecerem ou não. A conversa é em volume baixo. Não foi verificado nenhum arroubo

emocional ou manifestações estereotipadas em relação à proximidade física, revelação de

corpos ou gritos e abraços como sugerem alguns personagens que ocupam o imaginário das

classes populares até o momento. Ao contrário, uma avó advertiu a filha que os dois netos,

aproximadamente de quatro e dois anos de idade, que as acompanhavam, não paravam

quietos: “Seus filhos estão me envergonhando”.

Com certeza, está-se frente a novo paradigma comportamental das classes

populares. Pode-se especular que a aculturação com as classes letradas e endinheiradas,

seja pelos meios de comunicação, pela imitação. O comportamento é longe de ser ruidoso

invasivo ou displicente frente aos detalhes. Esse consumidor está atento aos detalhes, às

gentilezas, deseja ser bem tratado e retribui a gentileza com “Obrigado, Senhor, Senhora”.

Foi visitando essas lojas que a entrevistadora se deu conta de que é uma senhora.

Figura 33 - Demarcação com produto da seção masculina

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 156: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

154

Figura 34 - Demarcação com produto da seção feminina

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Figura 35 - Detalhe seção lingerie.

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Page 157: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

155

Observa-se a orientação cromática na exibição dos produtos, combinando os

produtos entre si, agrupando-os por estilo e conveniência. Exemplos relatados nas imagens

32, 33 e 34.

Figura 36 - Detalhe de preço/sugestão de presente com vista da loja ao fundo

Fonte: Arquivo da autora (2012).

A loja apresenta fácil customização, conforme se observa na imagem 36, com a

inserção de preço em local pré-determinado. Isso cria, além do espaço regrado e de fácil

alteração, um elo de comunicação com a audiência, elaborando-se o que Charaudeau

afirma: um contrato de comunicação. A forma simulada de presente com laço ameniza a

imposição do preço, firmando bases para um diálogo de gentileza, buscando minimizar a

tarefa e a disciplina do pagamento.

O PDV mantém linguagem contemporânea o que eleva e educa a consciência visual e

gráfica do consumidor de baixa renda, referindo o que Miranda (2005, p. 53) relembra pela

citação de Bourdieu: “A loja de departamentos ‘a galeria do pobre’.” A contemplação e a

inovação são bem-vindas ao espaço comercial. O mesmo recurso visual da tipologia é

empregado em painel no check-out de compras, como segue na imagem 37.

Page 158: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

156

Figura 37 - Detalhe da programação visual do exterior dos provadores

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Figura 38 - Detalhe painel Check-out.

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Concluindo a investida da observação participante, pode-se afirmar que a loja (PDV),

a convivência entre os consumidores, seu comportamento, bem como as manifestações

Page 159: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

157

instrumentais da Marca em relação ao espaço atmosférico impuseram-se como estranhos

aos estereótipos da autora frente ao popular. Vive-se em um período de plena construção

da cultura popular, no momento em que ela adquire informação, crédito e,

consequentemente, poder de compra. Dessa forma, os estereótipos do passado vão caindo

um a um, confirmando o olhar preparado e despretensioso da Sociologia Compreensiva de

não encontrar respostas a priori, mas perceber a mudança, e expô-la de maneira complexa e

transversal, estreitando as fronteiras entre áreas do conhecimento, bem como fazer pensar

sobre o que ainda, talvez, não se tenha pensado. Sob essa lente, conclui-se a investigação da

tese, e passa-se às reflexões finais, porém, como sempre, não fechadas, pois são moduladas

conforme o erro e avanço social.

Figura 39 - Catálogo #Vou de Marisa. O guia da nossa moda – Capa e contracapa

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Page 160: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

158

Figura 40 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 2-3

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Figura 41 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 4-5

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Page 161: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

159

Figura 42 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 6-7

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Figura 43 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 8-9

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Page 162: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

160

Figura 44 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 10-11

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Figura 45 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 12-13

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Page 163: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

161

Figura 46 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 14 -15

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Figura 47 - Catálogo #Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 16 e 17

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Page 164: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

162

Figura 48 - Catálogo #Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 18-19

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Figura 49 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 20-21

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Page 165: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

163

Figura 50 - Catálogo # Vou de Marisa. O guia da nossa moda – p. 22-23

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Figura 51 - Folheto frente e verso encartado no catálogo # Vou de Marisa

Fonte: Lojas Marisa (2012).

Page 166: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

164

Especula-se que o item “relógio” tem relação com o cotidiano, a pontualidade dos

encontros, e a contagem do tempo do namoro. Eis o porquê da relevância de esse item

figurar em um folheto específico encartado no Guia de Compras da marca.

8.8 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS TENDO COMO BASE OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE MICHEL MAFFESOLI (2007)

Ao retomar a questão metodológica da Sociologia Compreensiva, observa-se

que, além do método, ela pretende estimular o olhar do investigador social. Dessa

forma, insere o investigador no cotidiano do social, orientando-o sobre os cinco

pressupostos que agora se entrecruzam com algumas saliências das observações da

investigadora no PDV Marisa.

Observa-se que alguns pressupostos são extrínsecos aos relatos da observação,

porém delimitam a sua presença como marcador do social (expressos no Capítulo 2

desta tese), como são “crítica ao dualismo esquemático”, “pesquisa estilística” ,

“pensamento libertário”. Esses pressupostos impactam em escolhas e modulam o olhar

que será ofertado ao escrutínio dos dados de pesquisa.

Com o Quadro 3, adiante, seguem dois pressupostos — “A Forma” e

“Sensibilidade Relativista” — que são confrontados com os dados da pesquisa, a partir

da caracterização da Sociologia Compreensiva. São apresentadas as inferências da

pesquisa e as citações de consumidoras para a autora ou a situação por ela percebida

durante o trajeto da investigação no PDV Marisa.

Page 167: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

165

Quadro 3 - Análise método/pesquisa no PDV

Pressuposto Caracterização Inferência na

pesquisa Citação/situação observada e

relatada nesta investigação

A forma Os limites, contornos das situações representativas típicas do cotidiano.

Comprovação da verdade no diálogo.

Observa-se que muitas consumidoras, tentam descolar as etiquetas buscando a comprovação do preço “normal” – o que pôde ser comprovado.

Imagem percebida de si em comunhão com o produto (consumo) e o imaginário social.

Consumidora 1: Estes detalhes (barras trabalhadas na lateral da calça), não me deixam mais gorda [...].

Ah não, estas roupas são de muito velha. Senhora. Quero uma coisa para a parte de baixo, a de cima estou bem. Não acha um amor esta minha blusa.

Há uma sensação de alegria, consumidoras em grupos familiares ou sozinhas conversam sobre os produtos, o cotidiano.

Cotidiano. Discurso informal, coloquial e direto às consumidoras.

Ahhhh! Tudo tem fecho, aperta a barriga, neste calor é um inferno, a calça nem sobe na perna de gente gorda.

Sinalizações de ofertas: “Oferta do jeito que a gente gosta.” “Para amar ainda mais”.

Sensibilidade Relativista

“Não há Realidade única, mas maneiras diferentes de concebê-la.” (2007, p. 36). A sensibilidade relativista – para nada excluir do todo social – prefere uma diligência prudente em lugar do que chamei, na Lógica da Dominação, o “terrorismo da coerência” (2007, p. 39).

Vários grupos e faixas etárias circulam pela loja. Cada um busca a resolução de um sonho ou demanda.

Observam-se clientes em grupos mães, filhas, netas. Crianças são comuns, em carrinhos, pela mão ou no colo.

A fila do caixa é um momento de contentamento e comunicação.

Novo paradigma comportamental das classes populares

Pode-se especular que a aculturação com as classes letradas e endinheiradas, seja pelos meios de comunicação, pela imitação, o comportamento é longe de ser ruidoso invasivo ou displicente frente aos detalhes. Assim os estereótipos do passado vão caindo um a um [...].

Fonte: A autora (2012).

Page 168: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

166

9 REFLEXÕES FINAIS SOBRE AS VISITAS ÀS LOJAS MARISA EM CRUZAMENTO

EPISTEMOLÓGICO

9.1 A IMAGEM DO CONSUMO RECONSTRUÍDA COMO IMAGINÁRIO IMANENTE DO CONSUMIDOR

A imagem no processo de consumo está intimamente ligada à experiência e à

expectativa de identificação, ou seja, buscam-se personagens e identidades capazes de

mobilizar consumidores para a dança do consumo. Experimenta-se, explica-se,

ampliam-se os horizontes de possibilidades de gozar o tempo, o corpo, o social com a

oferta de bens e serviços. Itens inexistentes em outra época tornam-se indispensáveis

às rotinas hodiernas. As renovações de ofertas também renovam as necessidades

sociais, físicas, psicológicas.

A imagem da vida fala com pessoas, as cores exprimem sensações, os grafismos

e os desenhos dinamizam o que não pode ser obtido na realidade, as letras e as

palavras comunicam em conteúdo informacional, como também na percepção gráfica.

Enfim, o mundo das imagens é o reconhecimento e o encontro de si, do outro, do

cimento social chamado Imaginário.

Conforme Maffesoli (1995, p. 35) afirma:

A imagem é consumida, coletivamente, aqui e agora. Ela serve de fator agregação, permite perceber o mundo e não representá-lo. E, mesmo que ela possa ser objeto de apropriação política, ela tem, sobretudo, uma função mitológica, pois favorece o mistério, isto é, une entre si os iniciados.

A autora, por intermédio de sua percepção sobre o PDV das Lojas Marisa e

conhecedora das premissas de eficiência em vendas e fluxos do PDV, crê que a leitura

das imagens não é feita somente como um sistema visual estanque, mas como uma

leitura do mundo. Nessa perspectiva, a constituição do Imaginário é fundamental à

percepção de si, do outro em trânsito comunicacional. A vivência e a experiência

Page 169: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

167

individual conectam-se à percepção do ambiente, à solidariedade dos pares em

compras, ao pertencimento e à identificação do grupo expresso por iconografia

própria, ou seja, a loja, a consumidora, a visualização de outras consumidoras, os

produtos condensam-se como amálgama em experiência, gerando a imagem do

instante que alicerça a construção de sentido.

Castor Bartolomé Ruiz (2003, p. 59) ratifica:

Para o ser humano, o mundo nunca pode ser apresentado; ele sempre tem que ser representado. Toda apresentação é imediatamente transformada numa representação de sentido instituído. [...] Qualquer conhecimento do mundo implica uma construção de sentido.

Sfez (2007, p. 132) ratifica, chamando atenção para a semiótica social, quando

escreve:

Aproximamo-nos, assim de uma análise em termos de semiótica social e aceitamos integrar as teorias do sujeito à relação do homem com a máquina, não em uma relação de indiferença, um diante do outro, mas em mútua e recíproca interpenetração: ao fazer isso, alinhamo-nos com a teoria da comunicação em termos de Lebenswelt, de horizontes de vida partilhada.

A análise do paradoxo da representação de experiência de vida e a decoração do

PDV por meio de cautelosa economia de imagens, no primeiro momento, parecem

conviver subjugadas à dinâmica da velocidade do PDV, isto é, exceto na comunicação

da linha financeira (Negócio 1) há uma economia de imagens em suportes tradicionais,

como fotografias de modelos usufruindo do momento, como crianças tomando sorvete

ou mães acariciando filhos. Os ambientes são marcados pelos próprios produtos,

caracterizando o merchandising no PDV. Não há necessidade de, além dos produtos já

expostos, sublinhá-los de forma excessiva. Os produtos já reportam à experiência e

estilo de vida em sintonia com os laços sociais que dali subjaz , o que auxilia a

organização do espaço e práticas diárias do varejo. Isto não diminui o mistério do

reconhecimento, pois a forma, o consumo, as escolhas sociais já estão dadas a priori do

entendimento, da apresentação e da representação do imaginário e da experiência.

Page 170: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

168

Projetando para o onírico, a marca estabelece a relação que Maffesoli chama de

Formismo, pois não altera o dado, para estabelecer a priori, mas dá espaço para que a

comunhão e leitura imaginária se estabeleçam, e em cada consumidora projeta a sua

leitura do infantil, do feminino e do masculino – elementos que formam o mix.

Por outro lado, a marca acultura a consumidora às práticas e ao manuseio da

moda seja pelo encarte de ofertas, pelos cartazes e displays, pelos comerciais, pela

montagem e combinação do mix no PDV, seja por outras manifestações. Isso é visto

pela autora como facilitador do diálogo entre marca/consumidora, uma vez que a

marca legitima-se como sendo a maior rede de vestuário do Brasil, presente em todas

as regiões, bem como Top of Mind categoria lingerie. Assim sendo, a autora acredita

que a consumidora vê a marca como amiga e necessária ao cotidiano, pois oferece

serviço, informação e comunicação à compra.

A sedução estética também se dá pelo uso dos elementos sensoriais da loja, que

vão desde a sacola marcada pela cor institucional rosa, a trilha e a assinatura sonora no

áudio do ambiente, a mercadoria à disposição para ser tocada e experimentada a

qualquer momento, sem impedimentos. Não foi percebida pela autora assinatura

olfativa, contudo a quantidade de roupa nas lojas faz com que o ambiente tenha um

aroma de algodão e tecido. Também há padronização no tratamento, pelo uso do

pronome Senhora, por todas as atendentes de loja. Todos esses elementos

atmosféricos são projetados como manifestação instrumental da marca para o usufruto

e mediação das consumidoras.

Nesse caso, a sedução da imagem, incitando a experiência de vida e a adesão ao

consumo, dá-se pela economia visual da ausência em complementação à exibição da

iconografia da mercadoria: conclui-se a circularidade da identificação na mente

consciente ou não do consumidor. Pode-se inferir que o PDV, como equipamento de

consumo, despoja-se do visual à moda da economia modernista, visando a abrigar o

holograma pós-moderno da iconografia pós-moderna, na orgia e multiplicidade dos

produtos. Isso quer dizer que a objetividade e a orientação do merchandising visual, a

bem de vender deve comunicar-se com as consumidoras, para que o mix de produtos

seja visto, espetacularizado, desejado e, por fim, comprado.

Page 171: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

169

Neste momento, é importante mensurar, que se a imagem – leia-se experiência,

sentimento e percepção – também é promessa do devir da compra complementa-se

com o gozo do usufruto da mercadoria, com sua posse, com seus efeitos no corpo, e na

audiência, e no social. Assim, a imagem dos produtos à venda interpenetra o outro e o

social, comunicando-se por intermédio do corpo. Gobé (2010) salienta a importância da

experiência no varejo como espaço privilegiado do encantamento em comunhão da

marca com o indivíduo. A compra é a chancela do consumidor ao imaginário concebido

em que se acredita pertencer ou pretender. Sim, pretender, segundo Gobé confirma

(2010, p. 140), defendendo que “as pessoas querem identidades em que possam

acreditar”.

Dessa forma, Gobé (2010, p. 167) afirma as três conexões emocionais mais

importantes com os consumidores – cabeça, coração e instinto. Essas dimensões são a

base para articular, ativar e sustentar marcas emocionais. A figura a seguir confere

referência.

Page 172: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

170

Figura 52 - Articulação do programa de presença

Fonte: Gobé, 2010, p. 167, adaptado pela autora (2012).

Pelo esquema de Gobé, verifica-se que a amarração das marcas emocionais em

conexão com consumidores expressam três tangentes que são alicerçadas pela experiência

comunicacional. Podem ser de cunho RACIONAL, ou seja, CABEÇA, como preço, intelecto,

consciência em complementaridade ao DESEJO – INSTINTO, com as emoções, por exemplo,

da indulgência, da sensualidade, da ousadia, da criatividade, da libertação, da beleza, isto é,

a espetacularização do EU para o mundo exterior. A tangente SENTIMENTO processa-se por

meio dos sentimentos de pertença, como os valores, o social, a família, ou seja, é o mundo

compartilhado. O SENTIMENTO tem a ver com o contato. Contudo, vale lembrar a

observação que Lindstrom (2009) faz sobre os aspectos racionais na decisão de compra:

quem manda no cérebro, na maioria das vezes, é a emoção.

Assim, a marca que tem essa arquitetura para propor um inventário de expressão de

ideias e visuais conectadas com seus consumidores, encantando e satisfazendo a sedução.

Page 173: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

171

Esse câmbio e esse diálogo moldam quem o consumidor é, acredita ser, e se projeta como

vida cotidiana.

Dessa forma, a iconografia do material da Liquidação Marisa – Desconto de até 70%

vai ao encontro do preço como acesso a outras emoções relacionadas ao DESEJO e ao

SENTIMENTO. Respectivamente, pode-se inferir indulgência (por este preço – compra do

vestido da Consumidora 2), sensualidade, o imaginar-se no usufruto do produto

(questionamentos da Consumidora 1), a emoção da compra, o certo ar de felicidade na loja,

a escolha de produtos visando à beleza e ao prazer da compra, e o gozo do produto. A

interpenetração dos pares em convívio dirige a intenção do mundo exterior. As imagens das

campanhas analisadas estão adequadas ao colorido iconográfico da estética popular,

enfatizando o movimento e a adrenalina desejada ao consumo.

A iconografia de Gobé vai ao encontro das palavras de Costa, quando este, em

entrevista à autora, afirma que:

A experiência do usuário em relação ao produto/serviço é decorrente de três tipos de experiências que acontecem em conjunto: a Estética, o Significado – aspecto cognitivo e o Emocional – resultado dos outros anteriores. Este é o ponto de partida do design para as emoções.

Pode-se inferir que esses consumidores populares em situação de compra aderem

inconscientemente ao método de análise de inventário visual dado pela antropologia da

comunicação visual. Conforme cita Canevacci (2001, p. 14, 15):

Fazer-se ver. Para desenvolver o ponto de vista da observação observadora é preciso colocar-se nesta pró-posição. Uma posição sensível não tanto à semiótica, à estética, à comunicação, quanto ao ato passivo de ver. Fazer-se ver: não no sentido de aparecer, mas nos variados sentidos de desenvolver qualidades sensitivas fundadas nas percepções do olhar, na sensibilidade do ver, do transformar-se além do sujeito-em-visão, do mudar-se em ver, em coisa-que-vê. Tornar-se olhar, tornar-se olho, fazer-se. (Grifos desta autora).

Canevacci (2001, p. 22) complementa a noção, quando escreve:

Page 174: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

172

Desta forma, descobre-se que este não é mais algo (objeto) estático que permanece imóvel diante do sujeito que observa, mas que se transformou, por sua vez, em sujeito, um sujeito móvel que (com)participa de toda uma série de indicadores normalmente considerados pertencentes à mera esfera orgânica do que vive. Por esta razão, contextualmente deve acontecer a mutação do sujeito observador em coisa-que-vê. Em fazer-se ver. (Grifos da autora).

Neste escopo, Lindstrom (2009) traz o conceito dos neurônios-espelhos.

Resumidamente a história é a seguinte: cientistas faziam experimentos com macacos,

observando que os neurônios pré-motores indicavam atividade, quando ele pegava uma noz

e também quando outro macaco o fazia. Estranhamente, quando os integrantes da equipe

um dia voltaram do almoço, comendo sorvete, os macacos realizaram a mesma atividade

cerebral como se o estivessem comendo. Resultado: os neurônios-espelhos funcionam como

se o cérebro tivesse realmente passado pela sensação, quando apenas teve percepção de

algo acontecendo. Segundo Lindstrom (2009):

No entanto, as imagens IRMf e TEE das regiões do cérebro humano que supostamente contém neurônios-espelhos – o córtex frontal inferior e o lobo pariental superior – indicam que sim, pois estas regiões são ativadas quando alguém está realizando uma ação, e também quando uma pessoa observa a ação de outra (p. 55).

[...] Os neurônios-espelho também são motivo pelo qual muitas vezes imitamos involuntariamente o comportamento de outras pessoas (p. 56).

[...] E é assim que os neurônios espelho afetam nosso comportamento de consumo. Imagine como o comportamento de outras pessoas afeta a nossa experiência de consumo e, em última instância, influencia as nossas decisões de compra (p. 60).

Logo, o convite e a excitação manifestados nas Figuras 21 e 38 confirmam que coisa

que vê, também se transforma em indivíduo com biografia a proferir. Seja no uso do desejo

de ser sexy, seja no de possuir muito por até 70% de desconto.

Page 175: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

173

Figura 26 - Material Liquidação – Vitrine Marisa

Fonte: Arquivo da autora (2012).

Figura 53 - Display campanha Namorados

Foto: Arquivo autora (2012).

Page 176: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

174

Portanto, a imagem que conecta um ao outro e ao social; com função catalisadora do

sentido de mundo, carrega as ideias e o imaginário do tempo e do lugar, o estilo de vida em

interdependência de trocas comunicacionais. Em tempos contemporâneos e pós-modernos,

dá-se de forma complexa e por meio de experiência, quando se complementa em ausência,

e in loco, na mística da loja. Portanto, pode-se especular que a imagem é imanente ao

imaginário com todas as suas idiossincrasias, seus ruídos, seus comportamentos, seu devir e

seu deveio, quando a iconografia é apenas a ponta da lança arremessada pelo caldo da

experiência da vida. Experiência, intimidade, essa é a nova percepção de imagem.

A imagem é imanente ao imaginário. Ela articula-se com a obra de Onfray no que diz

respeito principalmente à presença do hoje, da emergência do primeiro dia de liquidação ou

da data dos Namorados; articula-se, também, com a compra, a indulgência da promoção, a

felicidade de ter e espetacularizar o corpo desejante de PRAZER em si e no outro,

confirmado pelo dia dos Namorados, configurando a ERÓTICA em proposição com a

POLÍTICA de conexão com o social, como um vírus que se propaga e multiplica. O consumo,

por consequência o varejo, é, pois UM AGENTE DE PRAZER E AFETIVIDADE SOCIAL. Para

tanto, há de se compreender o valor da instância comunicacional e do agente do prazer na

construção do varejo emocional.

A Figura 53 exemplifica o empoderamento da mulher dado pela Marca, com o uso do

jeans. Não se vende ou se promete o jeans, mas a postura e a atitude que a consumidora

deverá afirmar no uso do produto. Isso é experiência, isso é imagem que se compra junto ao

produto.

Maffesoli (1995, p. 84) confirma esta instância, quando afirma que, “Como um Viruá,

o contágio afetivo se expande, e o sucesso das mídias está ligado, diretamente e

unicamente, à sua capacidade de poder difundir um vírus que já está no corpo social”.

Pode-se inferir que o consumidor, quando atinge o que Maffesoli considera “o

contágio afetivo” da imagem e do social, quando escolhe e apropria-se da imagem,

consumindo a si como um ato antropofágico e imagético, interfere e multiplica a sua

imagem de mundo e a de outros. A autora compreende esse processo de transposição de

imagem como experiência, fazendo a ideia de mundo projetar-se no cimento social. A

Page 177: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

175

emoção e sentimento compactuados no ambiente do varejo constroem o prazer de ser,

estar e constituir-se como consumidor.

Gary Mc Williams e Steven Gray (2005 apud GOBÉ, 2010, p. 246) complementam

“[...] reafirmando que o varejo não é apenas um novo modo de fazer negócios, mas também

um modo de aprender mais sobre consumidores e como negociar com eles.”.

Dessa forma é hora de validar e avaliar os objetivos centrais do trabalho até então

realizado. Pode-se inferir que a autora atingiu os três objetivos propostos, pois:

investigou a comunicação sob a sedução estética do ambiente de varejo

popular;

determinou como a estética influencia a sedução do varejo no processo de

comunicação, relacionando-a com a experiência e pertencimento ao grupo, à

atmosfera de loja e à imanência do imaginário;

verificou como o prazer estético acontece no processo de comunicação do

varejo popular, visto que reconhece o aspecto hedônico do consumo nas

observações participantes realizadas em duas incursões.

Assim sendo, as hipóteses “A sedução estética no PDVp é diretamente relacionada à

pulsão do consumo” e “O consumo pode ser considerado o hápax existencial das classes

populares” são confirmadas, ao passo que a hipótese “Para as classes populares o prazer

está na pura aquisição, não considerando o aspecto estético”, pela análise empreendida

neste estudo, não se confirmou.

Esta tese responde à noção “A investigação da comunicação como sedução estética

do consumo popular pode ser fator de influência do consumo das classes populares como

hápax55 existencial”. Creia-se que a tese expõe a questão-problema, visto que revela que

consumidoras e produtos interpenetram olhares, através da experiência, da convivência e da

sedução estética. Consumidoras que provam roupas na loja assim que as avistam estão à

vontade e em conexão com a situação dada.

55 Onfray em A arte de ter prazer: por um materialismo hedonista. (1999, p. 29) explica o que é o Hápax

existencial: “Hápax existenciais, experiências radicais e fundadoras ao longo das quais do corpo surgiu iluminações, êxtases, visões que geram revelações e conversões que se configuram em concepções do mundo coerentes e estruturadas.”.

Page 178: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

176

Sobre esse relacionamento, no caso das Lojas Marisa, a percepção da autora é que as

consumidoras têm e levam boas lembranças, seja pelo acesso de poder consumir nas

condições ofertadas ou pelo cartão Marisa, seja pelo acesso à loja física, bem como pelo

gosto, pelo desejo e pela necessidade do produto.

Dessa forma, o consumo ocupa muito mais que a aquisição de produto, dirige-se ao

comportamento, à experimentação, à inovação. É a mutação de economizar-se

objetivamente para dialogar subjetivamente sobre si e de si com os outros. Pode-se afirmar

que a sedução estética é a percepção dos consumidores como constituinte da imagem da

marca: a imagem é imanente ao consumo. A presença do consumidor, seu tipo físico, seus

ritos e sua apresentação, a apropriação do espaço no PDV, a atmosfera da loja, confere-lhe

caráter experiencial e único, construindo a percepção e imagem da marca para os outros

consumidores. Esse espaço de vida que se dá no consumo assume uma importância ímpar, o

qual a autora reputa como hápax existencial, ou seja, marca a experiência de vida, de forma

sucessiva e determinante em busca do prazer. É através do consumo, portanto, que o

indivíduo entra em contato com essa experiência do prazer, com o pertencimento e a

convivência no grupo e com as marcas.

Nesse aspecto, a relevância que o produto tem para o indivíduo e seu aspecto

facilitador nas práticas sociais estabelece a importância do prazer. Observa-se que a lógica

econômica divide o espaço com a lógica hedônica e comunicacional, ou seja, a experiência

individual, o uso e mediação que os consumidores fazem do espaço e tempo converge em

verdadeira e mais perene comunicação.

Por fim, a inovação que este trabalho almeja dirige-se aos gestores de comunicação e

do varejo, na medida em que a leitura revela a extensão comunicacional do que acontece no

PDVp, revelando a dimensão possivelmente ignorada: a economia do prazer, a economia da

comunicação. Gerencialmente poderá ancorar investimentos em comunicação eficientes em

sinergia com o contemporâneo dos consumidores. Este trabalho é acadêmico e científico,

mas com a ambição prática do esclarecimento publicitário sobre o varejo, podendo servir de

inspiração para planos de marketing e de comunicação. É uma proposta baseada na

epistemologia “moles” do social e, conforme Costa em entrevista à autora, “Uma

preocupação de um pesquisador é considerar que são olhares (positivismo e fenomenologia)

Page 179: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

177

diferentes e complementares. [...] Tenho visto cada vez mais ressonância e aderência com,

por exemplo, a antropologia do consumo e sociologia do consumo.”.

Dessa forma, estabelecer a emoção, a experiência, a estética, intrínsecas da veia

sociológica do varejo é coabitar o espaço econômico que o segmento requisita. Sendo assim,

o varejo, na visão desta autora, é um fenômeno também comunicacional e sociológico. Essas

inferências são a base do estudo, e permeiam o olhar da autora para afirmar, a pretexto do

estudo realizado, que a comunicação como estética do consumo popular pode ser fator de

influência do consumo das classes populares como hápax56 existencial.

56 Onfray em A arte de ter prazer: por um materialismo hedonista. (1999, p. 29) explica o que é o Hápax

existencial: “Hápax existenciais, experiências radicais e fundadoras ao longo das quais do corpo surgiu iluminações, êxtases, visões que geram revelações e conversões que se configuram em concepções do mundo coerentes e estruturadas”.

Page 180: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

178

REFERÊNCIAS

A ETNOGRAFIA no processo de compreensão da cultura. Data Popular. n. 2, 2008.

AAKER. David A. Marcas: brand equity gerenciando valor da marca. Tradução de André Andrade. São Paulo: Negócio, 1998.

AS HEROÍNAS da classe C. Data Popular. n. 4, 2008.

BAGARAI INFORMÁTICA. Lojas Marisa adota cloud computing. Solução possibilitará maior segurança e serviço mais rápido e eficiente. 17 jun. 2010. Disponível em: <http://bagarai.com.br/lojas-marisa-adota-cloud-computing.html>. Acesso em: jan. 2012.

BARTHES, Roland. Elementos de semiologia. 15. ed. São Paulo: Cultrix, 2003. 116 p.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Tradução de Arthur Mario. Rev. tipográfica de Artur Lopes Cardosos. Lisboa: 70, 2003. 213 p.

______. A transparência do mal – ensaio sobre os fenômenos extremos. Campinas: Papirus, 1990.

______. O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva, 1993. 233 p. (Debates, 70).

______. Para uma crítica da economia política do signo. Rio de Janeiro: Elfos, 1995. 224 p. (Coleção Ciência & Sociedade, 2).

______. Tela total: mito-ironias do virtual e da imagem. 4. ed. Porto Alegre: Sulina, 2005. 158 p.

BLACKWELL, Roger D. et al. Comportamento do consumidor. Tradução de Eduardo Teixeira Airosa (coord.). 2. reimp da 1. ed. São Paulo: Cengage Learning. 2009.

BRASIL FOOD TRENDS 2020. Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Instituto de Tecnologia de Alimentos. São Paulo: FIESP/ITAL, 2010. 173p.

CANEVACCI, Massimo. Antropologia da comunicação visual. Tradução de Alba Olmi. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. 280 p.

CARNEIRO, Agostinho Dias (Org.). O discurso da mídia. Rio de Janeiro: Oficina do Autor, 1996. 154 p.

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. Tradução de Ângela S. M. Corrêa. São Paulo: Contexto, 2006.

______. Discurso político. São Paulo: Contexto, 2006. 328 p.

Page 181: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

179

CHIPP, Herschel Browning. Teorias da arte moderna. 2. ed. Tradução de Waltencir Dutra et al. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

CORRÊA, Roberto Planejamento de propaganda. 9. ed. rev. ampl. São Paulo: Global, 2004. 267 p. (Coleção Contato Imediato).

COSTA, Filipe Campelo Xavier da. Entrevista. Entrevistadora: Luciana Braun Reis. Porto

Alegre, 22 maio 2012.

DATA POPULAR. O mercado da base da pirâmide no Brasil. Apresentação PowerPoint em .pdf, 2006. Disponível em: <http://www.datapopular.com.br/html/documentos/Apresen tacao_DataPopular_2006.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2011.

DE MULHER PARA MULHER MARISA. # Vou de Marisa. O guia da nossa moda. [s.l.]: [s.n.], 23 maio/12 jun. 2012. (Livreto promocional das Lojas Marisa, com ofertas variadas).

______. A qualquer hora. Namorados. Em qualquer lugar. [s.l.]: [s.n.], 23 maio/12 jun. 2012. (Livreto promocional das Lojas Marisa, com ofertas de relógios para o Dia dos Namorados).

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. 238 p.

DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar no ocidente. Tradução de Guilherme Teixeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

DURAND, Gilbert. O imaginário: Ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. 3. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2004. 128 p.

EBC SERVIÇOS. A voz do Brasil. Transcrição. 23 nov. 2011. Disponível em: <http://www. ebcservicos.ebc.com.br/programas/a-voz-do-brasil/transcricoes/a-voz-do-brasil-de-23-11-2011>. Acesso em: 23 nov. 2011.

______. ______. ______. 24 nov. 2011. Disponível em: <http://www.ebcservicos.ebc. com.br/programas/a-voz-do-brasil/transcricoes/a-voz-do-brasil-de-24-11-2011>. Acesso em: 25 nov. 2011.

ECO. Humberto. Como se faz uma tese em ciências humanas. 13. ed. Barcarena: Editorial Presença, 2007.

EXAME.COM. Investidor ainda não precificou o crescimento da Marisa, diz Credit Suisse. Preocupações com a inflação não deveriam afetar o desempenho dos papéis, afirmam analistas. 17 maio 2012. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/ investidor-ainda-nao-precificou-o-crescimento-da-marisa-diz-credit-suisse?page=1& slug_name=investidor-ainda-nao-precificou-o-crescimento-da-marisa-diz-credit-suisse >. Acesso em: 17 maio 2012.

Page 182: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

180

FARIA, Caroline. Fair trade. Info Escola. Navegando e aprendendo. Economia. 9 maio 2008. Disponível em: <http://www.infoescola.com/economia/fair-trade/>. Acesso em: nov. 2011.

FARTURA popular. Data Popular. jan. 2005.

FAYARD, Pierre. O jogo da interação: informação e comunicação em estratégia. Caxias do Sul: EDUCS, 2000. 142 p.

FEIJÓO, Benito. Um não sei quê. 1. ed. Tradução de José Augusto Mourão e Maria Estela Guedes Lisboa: Vega Passagens, 1998.

FOLSCHEID, Dominique; WUNENBURGER, Jean-Jacques. Metodologia filosófica. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 394 p.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 30. ed. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2005. 262 p.

GADAMER, Hans-Georg. A atualidade do belo: a arte como jogo símbolo e festa. Tradução de Celeste Ainda Galeão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985. 83 p. (Coleção Diagrama; n. 14).

GANHANDO IMAGEM e dinheiro com a expansão imobiliária. Data Popular. n. 3, 2008.

GOBÉ, Marc. Brandjam: O design emocional na humanização das marcas. Tradução de Maria Clara de Biase. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. 381. p.

GOULART, Cecília. Entrevista. Entrevistador: [s.n.]. Salto para o futuro – Oralidade e escrita. Vídeo complementar do módulo 1 do curso online Alfabetização e Letramento (www.cursosppd.com.br). Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=vMf-YOPHoOE>. Acesso em: 14 jun. 2011.

GUTFREIND, Cristiane Freitas; SILVA, Juremir Machado da. (Orgs.). Guy Debord antes e depois do espetáculo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007. 172 p. (Coleção Comunicação, 41).

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 14. ed. São Paulo: Loyola, 2005.

HOHLFELD, Antônio, MARTINO, Luiz C., FRANÇA, Vera Veiga (Orgs.). Teorias da comunicação: conceito, escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001. 309p.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010: País tem declínio de fecundidade e migração e aumentos na escolarização, ocupação e posse de bens duráveis. Comunicação Social. 6 nov. 2011. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/ presidencia/noticias/noticia_visualiza. php?id_noticia=2018&id_pagina=1>. Acesso em: 26 nov. 2011.

Page 183: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

181

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2000. Perfil das mulheres. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/perfilda mulher/tabela012000.shtm>. Acesso em: 27 nov. 2011.

______. Primeiros resultados definitivos do Censo 2010: população do Brasil é de 190.755.799 pessoas. Sala de Imprensa: Sinopse do censo demográfico 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/ noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1866 &id_pagina=1>. Acesso em: 26 nov. 2011.

______. Sinopse dos resultados do censo de 2010. Disponível em: <http://www.censo2010. ibge.gov.br/sinopse/webservice/default. php?cod1=0&cod2=&cod3=&frm=renda_fx_dom>. Acesso em: 27 nov. 2011.

______. Pesquisa nacional por amostra de domicílios. Rio de Janeiro, 2006. v. 27. p. 1-125.Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2006/brasilpnad2006.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2011.

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Para compreender melhor o PISA. 6 dez. 2010. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/interna cional/pisa/>. Acesso em: 6 dez. 2010.

IPC MAPS 2011. Dados demográficos. Manual de operação do software e descrição da metodologia: versão 5.3. São Paulo: IPC Marketing Edit., 2011.p. 9-10.

IPC MARKETING. Dados demográficos. Disponível em: <http://www.ipcbr.com/index.php? option=com_content&view=article&id=48&Itemid=55>. Acesso em: ago. 2011.

KOTLER, Philip. Administração de marketing. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

LAVILLE, Christian; DIONE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia de pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: UFMG, 1999. 340 p.

LEGROS, Patrick et al. Sociologia do imaginário. Tradução de Eduardo Portanova Barros. Porto Alegre: Sulina, 2007. 287p. (Coleção Imaginário Cotidiano).

LINDSTROM, Martin. A lógica do consumo: verdades e mentiras sobre por que compramos. Tradução de Marcello Lino. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. 207 p.

LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2005. 129 p.

LOJA MARISA. MARISA.com.br. Disponível em: <www.marisa.com.br>. Acesso em: 26 nov. 2011.

MAFFESOLI, Michel. A contemplação do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1995. 168p.

Page 184: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

182

MAFFESOLI, Michel. O conhecimento comum: introdução à sociologia compreensiva. Tradução de Aluísio Ramos Trinta. Porto Alegre: Sulina, 2007. 295p.

______. O mistério da conjunção: ensaios sobre comunicação, corpo e socialidade. Tradução de Juremir Machado da Silva, Porto Alegre: Sulina, 2005. 104p.

MAGALHÃES, Inês. Sobre as ações que priorizam o atendimento às mulheres chefes de família nos contratos de financiamento habitacional, no âmbito do Programa Minha Casa, Minha Vida e em programas de regularização fundiária de interesse social. Entrevistador: Luciano Seixas. Brasília: A Voz do Brasil. Programa Brasil em Pauta, 7 out. 2011. Transcrição. Disponível em: <http://www.ebcservicos.ebc.com.br/programas/brasil-em-pauta/arquivos/ 07-10-2011-transcricao>. Acesso em: 27 nov. 2011.

MAMOUNA, Larissa. Empresas descobrem o consumidor popular. Jornal do Comércio. Jornal do Comércio. In. DATAPOPULAR. Jornais. Disponível em: <http://www.datapopular.com.br/ html/documentos/jornal_do_ comercio_ jan.pdf>. Acesso em: 28 maio 2007.

MARISA LOJAS S.A. Proposta de orçamento de capital – destinada aos acionistas. 2001. p. 20.

MARISA.COM.BR. Nossas lojas. Disponível em: <http://www.marisa.com.br/Nossas Lojas.aspx>. Acesso em: jan. 2012.

______. Nossos cartões. Disponível em: <http://www.marisa.com.br/cartao-de-credito>. Acesso em: jan. 2012.

MATTAR, Helio. [sem título]. ZERO HORA. Porto Alegre, n. 16893, p. 4, 21 nov. 2011. Nosso Mundo Sustentável.

MEGGS, Philip B.; PURVIS, Alston W. História do design gráfico. 4. ed. Tradução de Cid Knipel. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

MEIRELES, Renato. Como a nova classe média se insere no luxo. Entrevistador Bruno. Conferência Internacional da Gestão do Luxo, em São Paulo, maio 2011. Disponível em: <http://www.atualuxo. com.br/midia/vídeos>. Acesso em: 26 nov. 2011.

MIRANDA, Luciano. Pierre Bourdieu e o campo da comunicação: por uma teoria da comunicação praxiológica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. 193 p.

MKTmais.COM. Marketing, experience, segmentação. Marisa lingerie expande sua marca com. 15 fev. 2011. Disponível em: <http://www.mktmais.com/2011/02/marketing-experience-e-segmentacao.html>. Acesso em: jan. 2012.

MORIN, Edgar. O método 6: ética. 3. ed. Tradução de Jurema Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2007. 222 p.

Page 185: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

183

MUNARI, Bruno. Design e comunicação visual: contribuição para uma metodologia didática. Tradução de Daniel Santana. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 350p.

NETO, Alfredo Meneghetti. Entrevista. Entrevistadora: Luciana Braun Reis. Porto Alegre, 1.°

dez 2011.

OCED. PISA 2009 results: executive summary. Disponível em: <HTTP://www.oecd.org/data oecd/34/60/46619703.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2011.

OKADA, Ana. Quase metade dos alunos brasileiros de 15 anos não atinge o nível básico de leitura no Pisa. São Paulo: UOLEducação, 9 dez 2010. Disponível em: <http://educacao.uol. com.br/ultnot/2010/12/09/quasemetade-dos-alunos-brasileiros-nao-atinge-nivel-basico-de-leitura-no-pisa.jhtm>. Acesso em: 26 nov. 2011.

OLIVEIRA, Mariana. A base da pirâmide torna-se o topo de vendas: entender o mercado de baixa renda é uma questão essencial para sobreviver no mercado brasileiro. Mundo do Marketing. Reportagem. 29. ago. 2006. Disponível em: <http://mundodo marketing.com.br/imprimirmateria.php?id=207 >. Acesso em: 26 nov. 2011.

ONFRAY, Michel. A arte de ter prazer: por um materialismo hedonista. Tradução de Monica Stahel. São Paulo. Martins Fontes, 1999.

______. A potência de existir: manifesto hedonista. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

PARENTE, Juracy. Varejo no Brasil: gestão e estratégia. São Paulo: Atlas, 2000. 388 p.

PAVIANI, Jayme. Estética mínima: notas sobre arte e literatura. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1996. 143 p. (Coleção Filosofia 44).

PEREZ, Clotilde. Signos da marca: expressividade e sensorialidade. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.

POHLMANN, Marcelo Coletto. Entrevista. Entrevistadora: Luciana Braun Reis. Porto Alegre,

28 nov. 2011.

PONTO FRIO. Publicidade sobre IPI reduzido. ZERO HORA, Porto Alegre, n° 16907, p. 7, 4 dez. 2011.

RAMOS, Ricardo; MARCONDES, Pyr. 200 anos de propaganda no Brasil: do reclame ao cyber-anúncio. São Paulo: Meio e Mensagem, 1995. 159 p. il.

REIS, Luciana Braun. A comunicação do varejo popular: o que (por que) não muda? : o varejo do Rio Grande do Sul – 1970 a 2000. 2008. 287p. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Faculdade de Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica, Porto Alegre, 2008.

Page 186: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

184

ROCHA, Raquel. Marisa inaugura loja conceito em Belo Horizonte. Diário do Comércio, 8 out. 2010. In: SINILOJAS – Sindicato dos Lojistas do Comércio de Belo Horizonte. Notícias. Disponível em: <http://www.sindilojasbh.com.br/noticias/407/marisa-inaugura-loja-conceito-em-belo-horizonte.aspx>. Acesso em : jan. 2012.

ROIZ, Miguel Célix. La sociedad persuasora. Control cultural y comunicación de masas. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 2002. Cap. 1 e 2.

ROIZ, Miguel Célix. Técnicas modernas de persuasión. Madrid: Ediciones Pirámide, 1996. Cap. 1 e 5.

ROUSSEF, Dilma. Entrevista. In: REDE TV. Dilma pede que brasileiros continuem consumindo. News, vídeo, 10’’-33’. 08 ago. 2011. Disponível em: <http://www.redetv.com. br/portal/Vi deo.aspx?52,15,210069,jornalismo,redetv-news,dilma-pede-que-brasileiros-continuem-consumindo>. Acesso em: 27 set. 2011.

SÁ, Sylvia. Marisa expande negócio com loja exclusiva para lingeries. Mundo do Marketing, 22 fev. 2011. Disponível em: <http://mundodomarketing.com.br/reportagens/pdv/17584/ marisa-expande-negocio-com-loja-exclusiva-para-lingeries.html>. Acesso em: janeiro 2012.

SAMARA, Beatriz Santos. Comportamento do consumidor: conceitos e casos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 267 p.

SAPERAS, Enric. Os efeitos cognitivos da comunicação de massas. Portugal: Asa, 1993. 162 p.

SFEZ, Lucian. A comunicação. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

TELLES, André. A revolução das mídias sociais: cases, conceitos, dicas e ferramentas. São Paulo: Makron Books do Brasil, 2011.

THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Tradução de Wagner de Oliveira Brandão. Revisão da tradução de Leonardo Petrópolis: Vozes, 1998. 261 p.

______. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. 427 p.

TUGENDHAT, Ernst. O problema da moral. Palestra proferida na conferência “O Problema da Moral”, em 14 maio 2003. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. 33 p.

UNDERHILL, Paco. Vamos às compras: a ciência do consumo. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 231 p.

VALVERDE, Monclar. Estética da comunicação: sentido, forma e valor nas cenas da cultura. Salvador: Quarteto, 2007, 239p.

Page 187: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

185

VIANA, Marília. Processos metalingüísticos e matacognitivos na compreensão da leitura. UNICAP. Revista SymposiuM. a. 4, n. especial, nov. 2000.

VOLKSWAGEN. Publicidade sobre Amarok. ZERO HORA, Porto Alegre, n° 16907, p. 9, 4 dez. 2011.

WHEELER, Alina. Design de identidade da marca. 2. ed. Tradução de Joaquim da Fonseca. Porto Alegre: Bookmann, 2008. 288p.

WIKIPEDIA. Marcel Duchamp. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcel_ Duchamp>. Acesso em: set. 2011.

WOLTON, Dominique. Informar não é comunicar. Tradução de Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2010. 96p.

Page 188: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

186

ANEXOS

Page 189: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

187

ANEXO 1 – Tributação Indireta e Injustiça Fiscal

9 novembro 2011 - 18:11

A tributação no Brasil em relação ao PIB tem aumentado intensamente desde 1988, quando foi promulgada a Constituição Cidadã. Segundo dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) , em 1988, a carga tributária representou 20,01% do PIB; no curto período de 1998 a 2002, ela saltou de 27,38% para 32,64%. Em 2010, ela alcançou 35,13% do PIB.

Apesar dessa expressiva arrecadação, o Brasil, que deveria com ela promover os direitos fundamentais da população, continua sendo um país marcado pela desigualdade, seja entre suas regiões, seja dentro delas. Por exemplo, enquanto os 10% mais ricos detêm mais de 40% da renda nacional, aos 40% mais pobres cabem 10%. A renda que pertence ao grupo 1% mais rico é igual à dos 45% mais pobres.

Nesse cenário, de carga tributária crescente, ainda assim, é muito baixo o retorno social oferecido pelo Estado e a resposta dos cidadãos vem sob a forma de descrença quando o pagamento de tributos não garante o atendimento das necessidades prioritárias da sociedade.

Pior, além de os tributos soarem como gasto privado aparentemente inútil, boa parte da população se vê premida a pagar mais uma vez pelos serviços públicos ineficientes em qualidade e oferta: contratando escolas e faculdades particulares, planos privados de saúde; habitando imóveis cercados de grades e isolando as janelas. Câmeras, cercas cortantes sobre muros altos, e mesmo cercas elétricas e vigias são necessários. Faltando quadras esportivas, praças e parques seguros e bem conservados, gasta-se em lazer privado além do razoável.

Na maioria das vezes, no cálculo dos tributos que pagam, as pessoas só levam em conta os tributos diretos, que são os que incidem sobre o patrimônio e a renda (IPTU, IPVA, ITBI, IR, dentre outros), e são mais evidentes em seu valor. Porém, além desses, existem os tributos indiretos, incidentes sobre a produção e o consumo (IPI, ICMS, ISS, PIS, COFINS, por exemplo).

Por desconhecimento e falta da devida divulgação (em descumprimento ao art. 150, parágrafo 5º da Constituição), muitos não sabem quanto pagam e nem sequer que pagam tributos ao comprar um simples quilo de arroz ou feijão no mercado, um caderno na papelaria, ou um simples pãozinho na padaria. A questão básica é que os impostos indiretos vêm embutidos secretamente no preço das mercadorias e serviços. Justamente esses são os impostos que têm maior participação no total da arrecadação: cerca de duas vezes do que os impostos diretos.

A preponderância da tributação indireta traz a regressividade para o sistema tributário: quanto menor é a renda do contribuinte, maior a carga tributária. O cidadão de menor renda

Page 190: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

188

compromete maior percentual de seu salário com o consumo de itens para sua subsistência do que aquele mais abastado, que ainda consegue destinar parte de sua renda para poupança. Proporcionalmente à sua renda, os mais ricos pagam menos impostos. Inverte-se, assim, a equação da igualdade relativa na sociedade: e quem menos tem mais paga.

Essa invisibilidade dos impostos indiretos ao Contribuinte, por sua vez, acaba provocando um outro efeito: a anestesia da cidadania tributária, que reforça a incredulidade da população no Estado. Como os tributos não são percebidos como necessários à oferta e melhoria de qualidade dos serviços públicos (já que a arrecadação aumenta, mas o dinheiro, mal empregado, não traz o correspondente e esperado retorno social), muitos deixam de pagar impostos e outros tantos sequer têm estímulo para denunciar a sonegação.

Há que se desenvolver uma cultura que valorize o papel dos impostos na efetivação de direitos fundamentais do povo, que estimule seu pagamento consciente e que enseje a fiscalização espontânea vinda de cada cidadão em benefício da sociedade.

E, se o exemplo vem de cima, cabe aos governos tratar eticamente a questão fiscal: melhorar a qualidade da despesa pública e dar transparência à carga tributária que financia os gastos do Estado frequentemente desviados de sua função, que é atender aos direitos fundamentais da população, na busca da igualdade social. Um país que almeja reconhecimento internacional de suas proezas macroeconômicas não pode deixar de se converter primeiro, pondo fim a uma infeliz tradição de governos ímprobos, gastadores e vorazes, num círculo vicioso que emperra e empana o desenvolvimento nacional.

Monitor Mercantil Digital

José Marcos Domingues Professor titular de Direito Financeiro da UERJ, coordenador do Laboratório de Políticas Públicas e Justiça Fiscal (Lappjus)

Mariana Teixeira da Silva Pesquisadora do Lappjus-Uerj.

REFERÊNCIA:

DOMINGUES, José Marcos; SILVA, Mariana Teixeira da. Tributação indireta e injusta fiscal.

MONITOR MERCANTIL DIGITAL. Opinião. 9 nov. 2011. Disponível em: <http://www.monitor

mercantil.com.br/mostranoticia.php?id=103698>. Acesso em: nov. 2011.

Page 191: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

189

ANEXO 2 – Transcrição da Voz do Brasil 8/8/2011

Kátia: Na última década, 31 milhões de brasileiros passaram a fazer parte da nova classe média.

Luciano: A estimativa é que 95 milhões de pessoas, com renda familiar entre R$ 1.000,00 e R$ 4.000,00, façam parte desse grupo social, também conhecido por classe C.

Kátia: O estudo que traça o perfil da nova classe média foi apresentado hoje, aqui em Brasília, em um seminário organizado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da

Presidência da República.

Luciano: A pesquisa foi feita com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios, Pnad.

Repórter Cleide Lopes (Brasília-DF): Nos últimos anos, Jaqueline Monteiro conseguiu crescer

na vida profissional e ter melhores salários, uma importante conquista, segundo ela. Com a renda familiar maior, ela conseguiu comprar eletrodomésticos, celular, computador com

acesso à internet e ainda se formar em uma universidade. Hoje, é secretária bilíngue, em Brasília, mas já faz planos para realizar outros sonhos.

Secretária bilíngue - Jaqueline Monteiro: Eu quero comprar um carro, um dos meus grandes objetivos. Por ser parcelado, acredito que eu vou poder conseguir comprar. E fazer a pós-

graduação, na faculdade, também, que está um preço mais fácil do que uns anos atrás. Vou procurar um financiamento, que eu possa estar pagando ao longo dos anos, mas, com

certeza, a casa própria é muito importante.

Repórter Cleide Lopes (Brasília-DF): Na última década, a classe média cresceu quase 14% e,

hoje, representa cerca de 54% da população no país. Segundo a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, fatores importantes contribuíram para o crescimento da classe média.

Ministra-chefe da Casa Civil - Gleisi Hoffmann: Foi com essa estabilidade, a partir do controle inflacionário, do crescimento da produção, da geração de empregos e de programas de

inclusão social, que logramos o êxito da ascensão de classe social.

Repórter Cleide Lopes (Brasília-DF): O assunto foi tema de um seminário realizado em

Brasília. O evento é uma das ações do governo para que a nova classe média brasileira continue melhorando de vida, como explica Moreira Franco, ministro da Secretaria de

Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - Moreira

Franco: Nós temos que estar permanentemente em um laboratório, todo dia, avaliando a situação econômica, desenhando as políticas públicas necessárias, para garantir à nova

Page 192: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

190

classe média a mobilidade que vem tendo, e, se for impossível um mesmo ritmo de

mobilidade, garantir, definitivamente, que não haja retorno.

Repórter Cleide Lopes (Brasília-DF): A pesquisa apontou ainda que o maior crescimento de

pessoas que migraram para a classe média foi registrado no Nordeste, e o menor, no Sul do país. De Brasília, Cleide Lopes.

Kátia: Um outro estudo, também apresentado hoje, nesse seminário, indica que esse grupo tem um potencial de consumo de R$ 1 trilhão por ano.

Luciano: Essa outra pesquisa foi elaborada por um instituto especializado em informações sobre o consumo popular no Brasil.

Kátia: O responsável pela pesquisa, Renato Meirelles, afirma que o consumo da nova classe média inclui, além da renda, benefícios como o 13º salário, férias e o crédito que as pessoas

da classe C têm acesso.

Responsável pela pesquisa - Renato Meirelles: A nova classe média brasileira movimenta R$

1 trilhão. Isso é mais do que o PIB de Portugal, Argentina, Uruguai e Paraguai somados. Ou seja, é muito dinheiro no mercado interno brasileiro, incentivando o aumento de consumo

no país.

Luciano: Mas como manter essas pessoas na classe média, impedindo que elas voltem à

pobreza novamente?

Kátia: É o que responde o ministro Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos

da Presidência da República, na entrevista feita hoje, pelo jornalista João Freire, com exclusividade. Vamos ouvir.

Jornalista João Freire: Ministro, quais políticas devem ser criadas a curto prazo para manter o crescimento da classe média?

Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - Moreira Franco: Nós precisamos estar acompanhando todo o ambiente econômico, sobretudo o

ambiente econômico internacional, que está muito confuso, muito sensível e que certamente provocará repercussões no Brasil, e estarmos preparados para as políticas

corretas, dependendo das repercussões que nós vamos sentir no Brasil. E nós estamos preparados, avaliando as políticas sociais que temos, trazendo para esta discussão o

Ministério do Trabalho e o Ministério da Previdência, para, imediatamente, formularmos políticas sociais que têm dois objetivos: evitar que a nova classe média retorne à situação

anterior e manter a mobilidade social na qual ela viveu nos últimos oito anos.

Jornalista João Freire: Ministro, além dessa questão da mobilidade social permitir que as

pessoas possam ter uma vida melhor, consumir melhores produtos, inclusive se alimentar melhor, qual é a importância desse processo para o crescimento do país?

Page 193: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

191

Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - Moreira

Franco: A importância é fundamental. Nós já vimos que superamos a crise porque tivemos condições de manter a economia em funcionamento, gerando emprego, gerando renda,

gerando possibilidades de produção, e agora, diante dessa crise, é fundamental que nós tenhamos a consciência de que não dá mais para se combater inflação diminuindo o

consumo. Nós temos, agora, que entender que inflação se combate quando se aumenta a produtividade na economia, quando se qualifica profissionalmente melhor tanto o

trabalhador que está empregado como aquele que está desempregado, para que nós possamos gerar um processo produtivo capaz de aumentar a riqueza e de conviver com a

inovação tecnológica. Esses objetivos a presidenta Dilma vem perseguindo, não só nos programas novos que tem lançado, como a Ciência sem Fronteiras, como também na busca

incessante de nós formularmos políticas para sustentar a mobilidade social da classe média.

Jornalista João Freire: Ministro Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da

Presidência da República. Obrigado pela participação na Voz do Brasil.

Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República – Moreira

Franco: Muito obrigado.

REFERÊNCIA:

EBC SERVIÇOS. A voz do Brasil. Transcrição. 24 nov. 2011. Disponível em: <http://www.ebc servicos.ebc.com.br/programas/a-voz-do-brasil/transcricoes/a-voz-do-brasil-de-08-08-

2011>. Acesso em: 25 nov. 2011.

Page 194: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

192

ANEXO 3 – Tabela1 - Pessoas Responsáveis pelos Domicílios, por Sexo, segundo as Grandes

Regiões

Grandes Regiões

Pessoas responsáveis pelos domicílios

Total Sexo

Homens Mulheres

Brasil 44 795 101 33 634 466 11 160 635

Norte 2 809 912 2 167 075 642 837

Nordeste 11 401 385 8 449 390 2 951 995

Sudeste 20 224 269 15 049 401 5 174 868

Sul 7 205 057 5 576 952 1 628 105

Centro-Oeste 3 154 478 2 391 648 762 830

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Nota: Domicílios particulares permanentes.

REFERÊNCIA:

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2000. Perfil das mulheres. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/perfilda mulher/tabela012000.shtm>. Acesso em: 27 nov. 2011.

Page 195: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

193

ANEXO 4 – Lojas Marisa – Histórico

• A HISTÓRIA

O pioneirismo e o empreendedorismo estão no DNA da Marisa. Bernardo Goldfarb, fundador da empresa, praticamente nasceu dentro da loja de sapatos do seu pai. A primeira unidade da rede, Marisa Bolsas, foi inaugurada em 1948. Vendendo pronta-entrega de estoques de grandes fabricantes a preços competitivos, este pioneiro empreendedor encontrou seu nicho e seu público.

A terceira loja do grupo, Marisa Malhas, deu início ao processo de expansão que continua até hoje. Foram passos largos e precisos de uma eficiente estratégia de crescimento que resultou em uma empresa genuinamente brasileira. Sempre com foco na classe C, a Marisa desde o início buscou o crescimento contínuo de seus negócios e se tornou referência na venda de moda para esta que é a nova classe média brasileira.

A Marisa é uma sólida companhia, com uma marca forte e tradicional. O slogan, “De Mulher para Mulher”, é facilmente reconhecido em qualquer região do País. Buscando sempre se adaptar às necessidades de seu público, com a modernização e ampliação das lojas e do mix de produtos oferecidos, a companhia conquistou a confiança de suas clientes.

"O melhor da moda com o melhor preço.

Esse é o nosso produto."

A Marisa já foi visitada por personalidades da moda Internacional que a consideraram, moderna, antenada com as tendências, além de ter preços justos e muitas facilidades.

Diante disso, conquistou a confiança do consumidor e retribuiu com a modernização e ampliação das lojas e aumento do mix de produtos. Assim seu cliente pode encontrar, também, moda para toda a família com uma

Page 196: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

194

experiência de compras agradável e única no seu dia-a-dia atribulado.

• Lado a lado com a mulher brasileira

Ao longo destes mais de 60 anos em que a Marisa tem acompanhado a mulher brasileira, muita coisa mudou. A cliente-foco da empresa entrou no mercado de trabalho, conquistou espaço, mudou hábitos, ganhou liberdade e novas ambições, além de poder de decisão sobre o que comprar para si e para sua família.

Por isso, em todas as lojas da rede as clientes encontram coleções que traduzem as tendências dos principais centros mundiais de moda para o dia a dia da mulher brasileira, sempre com boa relação custo-benefício, uma das marcas registradas da empresa. Além disso, com os cartões Marisa, as clientes têm acesso a uma série de benefícios exclusivos, além de excelentes condições de pagamento e crédito facilitado.

Os formatos de loja implantados (Feminina, Ampliada e Lingerie) atendem a mulher brasileira em diferentes momentos de compra: para si, para toda a família e na sua intimidade.

"A Marisa oferece às mulheres soluções completas em moda. Nossa equipe de estilo e produtos está sempre atualizada com as novas

tendências e conceitos de moda e comportamento no mundo"

O que você não sabia sobre a

Marisa • Bernardo Goldfarb foi precursor das pontas de estoque e bancas de exposição que, hoje, são essenciais no mercado do varejo. • Quando o fundador da Marisa abriu a primeira loja de moda feminina, tinha duas opções: ou comprava mercadorias de reposição, ou trocava o nome da loja que havia herdado de um negócio anterior. O executivo preferiu investir em produtos e manteve o nome, que permanece até hoje.

• A primeira loja Marisa tinha apenas 21m² de área de vendas. Hoje, as lojas da rede têm uma média de 1400m. • A Marisa emprega mais de 13 mil colaboradores, sendo que mais de 70% desse quadro é composto por mulheres.

Page 197: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

195

Histórico

Sob o comando do fundador da Marisa S.A., Bernardo Goldfarb, a Companhia abriu sua

primeira loja, a Marisa Bolsas, em 1948, a qual foi, aos poucos, conquistando o público consumidor feminino. Com o intuito de ampliar as oportunidades da Marisa, em 1950, por

meio de seu pioneirismo no segmento de varejo voltado ao público feminino a Companhia acredita ter criado a primeira “ponta de estoque” conhecida no Brasil: a Marisa Malhas.

Em seguida, a Companhia passou a utilizar o nome Marisa para suas lojas. Com a filosofia de oferecer às mulheres roupas de qualidade por um preço atrativo, a Marisa teve um

desenvolvimento gradativo e planejado e se tornou nacionalmente reconhecida como uma rede de lojas de moda feminina e moda íntima feminina.

A partir de 1952, a Companhia iniciou sua expansão por todo o território nacional, abrindo novas lojas em Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Manaus. Em 1982, a Marisa

já estava presente em todas as regiões do País e, em 1990, acompanhando as tendências do mercado de varejo, a Companhia inaugurou a sua primeira loja em shopping center , na

cidade de São Paulo .

Em 1999, a partir da larga experiência da Companhia ratificada por meio de pesquisas de

mercado conduzidas pela InterScience, uma das empresas de pesquisa mais bem conceituadas em consumo de varejo, a Marisa verificou a necessidade de um novo modelo

de loja que aumentasse a variedade de produtos oferecidos para toda a família, criando maior conveniência de compra para suas clientes em um mesmo local . Foi então que a

Companhia desenvolveu um novo conceito de lojas com área de vendas superior a 1.200 m², oferecendo, além de moda feminina, moda masculina, moda infantil e cama, mesa e banho.

A fim de melhor atender às necessidades das clientes da Marisa, a Companhia criou, em 1999, seu cartão de crédito private label , o Cartão Marisa, para oferecer crédito facilitado a

suas clientes. Ainda, inaugurou a Marisa Virtual, possibilitando às suas clientes a realização de compras pela internet em seu website.

A partir de 2001, a fim de aprimorar e atualizar a imagem da marca Marisa, a Companhia desenvolveu uma nova fase de modernização, ampliação e padronização de suas lojas para a

melhor exposição de mercadorias segmentadas por estilos de vida.

Em 2006, com o intuito de expandir os produtos financeiros da Marisa oferecidos à sua base

de clientes, iniciaram-se as atividades da SAX, uma instituição financeira com o objetivo de, entre outros, oferecer crédito pessoal para clientes selecionados do Cartão Marisa.

Perfil Corporativo

A Marisa S.A é a maior rede de lojas especializada em moda feminina e moda íntima feminina e uma das maiores redes de lojas de departamento de vestuário feminino,

Page 198: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

196

masculino e infantil do Brasil. A Companhia foca sua estratégia e atuação em mulheres entre

20 e 35 anos de idade da Classe C, que é a maior classe social do Brasil, de acordo com a ABEP. A Marisa desenvolve e comercializa, sob sua marca corporativa “Marisa” e outras

marcas consagradas, uma ampla variedade de produtos de qualidade, de acordo com as últimas tendências da moda, segmentados por estilo de vida e a preços atrativos.

A Companhia iniciou suas atividades em 1948 na cidade de São Paulo, sob o comando de Bernardo Goldfarb. Atualmente, a Marisa tem presença em todas as regiões brasileiras e

forte posição competitiva, por meio de quatro centros de distribuição estrategicamente localizados próximos aos maiores centros consumidores do Brasil.

(1) O 0,01% restante da participação pertence à Begoldi.

(2) A Marisa S.A. está estudando uma data para incluir ao seu quadro de controladas

a Max Participações Ltda. O valor da aquisição será pelo seu valor patrimonial.

Com mais de 60 anos de experiência, conhecendo e acompanhando as necessidades do público-alvo da Companhia, a Marisa construiu uma relação de cumplicidade e intimidade

com a mulher brasileira. A marca “Marisa”, associada ao reconhecido slogan “De Mulher para Mulher”, possui forte reputação com o público feminino e uma identificação com os

desejos e necessidades de seu público-alvo, que a Companhia acredita ser única no mercado brasileiro. A “Marisa” é nacionalmente conhecida como uma marca jovem, moderna e

sensual. A Companhia é a primeira escolha da mulher brasileira das Classes B e C que quer acompanhar os últimos lançamentos da moda íntima e adquirir produtos de qualidade a

preços atrativos, segundo Pesquisas InterScience, solicitada pela Marisa em 2001, 2002 e 2003.

Em 2006, a InterScience, em pesquisa realizada por iniciativa do mercado, apontou a Marisa como a empresa do setor têxtil de varejo que mais respeita o consumidor, levando em

consideração os seguintes atributos: qualidade do produto, atendimento, preço,

Page 199: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

197

propaganda, responsabilidade social e monitoramento da satisfação de clientes, ficando à

frente de seus principais concorrentes.

Em 1999, a Marisa iniciou uma estratégia de expansão a fim de aumentar a variedade de

produtos oferecidos, rejuvenescer a marca “Marisa” e modernizar suas lojas, reformando-as e ampliando-as, incrementando, assim, suas receitas em lojas departamentos de moda

masculina, infantil e cama, mesa e banho adicionalmente aos departamentos da moda feminina e moda íntima feminina. A Companhia também reformulou suas lojas a fim de

modernizá-las, expandindo sua metragem e implementando o conceito de exposição dos produtos nas lojas por estilos de vida.

A moda feminina é apresentada nos estilo de vida: jovem, contemporâneo, clássico, surfwear, aeróbico e praia; a moda íntima, nos estilos de vida: jovem, contemporâneo,

sensual e clássico; a moda masculina, nos estilos de vida: jovem, contemporâneo, casual e social; e a moda infantil é segmentada da seguinte forma: de 1 a 3 anos, de 4 a 8 anos e de

10 a 16 anos.

Ademais, a Marisa investiu na forma de exposição dos produtos nas lojas (visual

merchandising) para incentivar a compra de itens complementares. A Companhia introduziu o conceito de renovação diária de produtos em suas lojas (freshness) para atrair

constantemente clientes às lojas.

Na lojas Marisa, a Companhia presta um atendimento diferenciado, em ambiente agradável

e moderno, em relação aos demais locais freqüentados por seu público-alvo. As lojas são bem decoradas e iluminadas e possuem vitrines criativas e atrativas. A Marisa acredita que

se diferencia de sua concorrência por proporcionar uma experiência de compra única em suas lojas onde busca oferecer às suas clientes “um sonho” e não meramente vender

produtos.

A Companhia também se diferencia de seus principais concorrentes brasileiros por ser a

única rede de vestuário feminino a ter uma loja virtual , a Marisa Virtual (www.marisa.com.br). Esta loja virtual possibilita a Companhia de atingir o público das

cidades brasileiras nas quais não está presente, bem como ampliar a base de dados de seu público-alvo.

Há falta de oferta de crédito ao público-alvo da Companhia, tanto para consumo pessoal quanto serviços financeiros em geral. Para facilitar e criar condições para que suas clientes

adquiram seus produtos, a Marisa implementou , no final de 1999, uma plataforma de serviços financeiros ancorada no Cartão Marisa. Essa plataforma visa disponibilizar linhas de

crédito e seguros, de maneira rápida e simplificada sem prejuízo de uma análise criteriosa do risco de crédito da cliente. O Cartão Marisa é uma ferramenta importante na estratégia de

negócios para a fidelização de suas clientes, bem como para o aumento da receita de vendas.

A Companhia acredita que existe um grande potencial de crescimento no setor em que atua, em especial face (i) às condições macroeconômicas favoráveis no Brasil, tais como a maior

disponibilidade de crédito à população da Classe C aliada à contínua queda das taxas de juros; (ii) à ascensão da mulher no mercado de trabalho brasileiro e o conseqüente aumento

do seu poder de compra, gerando gastos crescentes com o consumo de vestuário; (iii) à

Page 200: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

198

tendência de redução do mercado informal e consolidação do setor, altamente

fragmentado; e (iv) à crescente inclusão da Classe C na era digital, o que possibilita um maior volume de compras pela internet .

A Marisa acredita que sua liderança junto ao público feminino da Classe C, presença nacional, loja virtual e disponibilidade de crédito por meio do Cartão Marisa são

características únicas, que lhe colocam em posição privilegiada para se beneficiar do potencial de crescimento do setor varejista de vestuário, levando a Companhia a consolidar

sua participação em todas as regiões brasileiras.

Estratégia

Para manter a posição de destaque da Marisa no setor em que atua, a Companhia precisa

manter o contínuo crescimento de seus negócios e o aumento de sua rentabilidade. A execução dessas metas, conta com os principais elementos da estratégia da Marisa que são:

Expansão da rede de lojas da Companhia. A Marisa visa aproveitar o potencial crescimento do mercado e sua escala, para consolidar sua posição de maior rede entre as lojas de moda

feminina do País, por meio de (i) a bertura de novas lojas e (ii) ampliação das lojas da Marisa e aumento da variedade de produtos.

Analisar Oportunidades de Aquisições. A Companhia pretende monitorar continuamente o setor de varejo de vestuário e analisar oportunidades de aquisição e parcerias estratégicas. A

Marisa explorará de forma seletiva oportunidades referentes a atividades complementares às suas e que apresentem sinergia com seus negócios, proporcionando rentabilidade,

ganhos de escala e valor aos acionistas da Companhia.

Fortalecimento e expansão das ofertas de produtos financeiros da Marisa. A Companhia

desenvolverá e oferecerá a suas clientes uma gama maior de produtos financeiros, beneficiando-se de sua atual base de clientes e sinergia operacional com suas atividades de

varejo. A Marisa espera assim aumentar a ativação e a utilização do Cartão Marisa. A Companhia acredita que esses novos produtos deverão gerar maior valor agregado a seus

negócios, impulsionando novas vendas, aperfeiçoando e expandindo sua base de dados sobre seus clientes, bem como aumentando o movimento de potenciais clientes dentro de

suas lojas.

Aumento da produtividade e eficiência operacional da Companhia. A Marisa acredita que a

expansão de seus negócios por meio da abertura de novas lojas, ampliação de lojas existentes e do aumento da variedade de produtos aumentará o volume de mercadorias

comercializadas pela Companhia. Isso deverá acarretar um volume maior de produtos negociados com os atuais fornecedores da Marisa, eventualmente a contratação de novos

fornecedores, assim como maximizar o uso de sua infra-estrutura, aumentando sua produtividade e eficiência operacional. Devido à economia de escala gerada , a Companhia

pretende otimizar suas operações, reduzindo custos fixos.

Page 201: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

199

Vantagens Competitivas

A Marisa acredita que seus pontos fortes, listados a seguir, lhe ajudarão a aumentar sua competitividade e avançar rumo a seus objetivos estratégicos:

Marca forte e slogan altamente reconhecido: “De Mulher para Mulher”. A Marisa é a primeira escolha da mulher brasileira jovem das Classes B e C, que quer acompanhar as

últimas tendências da moda íntima e adquirir produtos de qualidade a preços atrativos, segundo Pesquisas InterScience de 2001, 2002 e 2003. A Companhia construiu uma marca

corporativa com forte identificação e relação de intimidade com a mulher brasileira, reconhecida em todo o território nacional. Dentre os concorrentes da Marisa, sua marca é a

única a ter foco exclusivo na mulher, especialmente da Classe C. A Companhia se beneficia das características únicas de sua marca para agregar valor a seus produtos, comercializando-

os sob a marca “Marisa” e outras marcas consagradas.

Presença e experiência em todas as regiões do Brasil. A Companhia possui a maior

cobertura geográfica do Brasil no setor de vestuário feminino e acredita ser a única rede de lojas feminina no Brasil com uma infra-estrutura de distribuição nacional. A cobertura

nacional da Marisa lhe confere amplo conhecimento e experiência quanto às particularidades em operar em diversas regiões do Brasil, tais como concorrência,

preferências e características da população de cada região, clima, biotipo e perfil de renda. A presença nacional da Marisa minimiza o risco de inadimplência a que a Companhia está

exposta por dispersá-lo em diversas regiões do País, já que ciclos de crises econômicas tendem a afetar cada região de forma diferente.

Sistema de crédito eficiente e flexível. A habilidade e experiência da Marisa em oferecer crédito são elementos-chaves de diferenciação em relação a maior parte de seus

concorrentes. O Cartão Marisa é um importante instrumento de fidelização de suas clientes e um eficiente mecanismo para ampliar suas vendas e base de consumidoras. Além disso, o

Cartão Marisa permite à Companhia flexibilizar as formas de pagamento às suas clientes e elaborar constantes promoções. Ao conceder crédito, a Companhia possibilita que suas

clientes realizem um maior volume de compras.

Moda de qualidade com preços acessíveis e margens atrativas. Por possuir experiência e

conhecimento do setor de varejo de moda feminina e moda íntima feminina com foco nas mulheres da Classe B e C, a Marisa desenvolve produtos de qualidade, a preços acessíveis,

que acompanham as últimas tendências da moda internacional e nacional e que são segmentados por estilos de vida. O sucesso da Companhia é atribuído ao fato dela atender

às necessidades de seu público-alvo quanto à qualidade e atualidade de suas coleções e à sensibilidade ao preço, ao mesmo tempo em que obtém margens atrativas para seu negócio,

que a Companhia acredita ter se mostrado superiores àquelas de seus concorrentes.

Moderna rede de lojas. Atualmente, aproximadamente 85% da área total de vendas da

Marisa encontra-se dentro dos padrões arquitetônicos e visuais atuais da Companhia, com equipamentos modernos e iluminação reformulada, sendo que mais da metade de suas lojas

foram atualizadas entre o ano de 2006 e primeiro semestre de 2007. Deste modo, a rede de lojas da Marisa não demandará grandes investimentos de modernização nos próximos cinco

Page 202: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

200

anos, permitindo-lhe direcionar grande parte de seus recursos para sua estratégia de

expansão.

Administração qualificada e experiente voltada para resultados. A Companhia tem uma

administração profissionalizada e conta com um corpo de profissionais altamente qualificados, com conhecimento na área de varejo e no mercado financeiro. A maioria dos

executivos seniores da Marisa possuem mais de 25 anos de experiência em varejo, mais de 20 anos de experiência na Companhia e são submetidos a avaliações de desempenho anuais.

Os administradores da Marisa gerenciam de forma eficiente seus sistemas de informação e banco de dados, visando à otimização de seus processos.

Governança Corporativa - Código de Conduta Ética

Introdução

Nosso Código de Conduta Ética orienta a maneira como devemos conduzir nossas ações no

ambiente empresarial, para assegurar alto nível de qualidade no relacionamento com nossos colaboradores, fornecedores, clientes, acionistas, o governo e a sociedade em geral.

O Código traduz o Jeito de Ser Marisa, apresentando nossos princípios e orientações que têm como objetivos o desenvolvimento contínuo de nossa excelência na geração de

condições sustentáveis de crescimento”, o compromisso de “fazer sempre o melhor e da melhor forma possível” e a valorização do respeito a todas as pessoas com as quais o Grupo

Marisa se relaciona para a realização de sua missão.

Trata-se, portanto, de referência fundamental para a manutenção do nosso sucesso. Por

isso, o conhecimento e a aceitação de seu conteúdo e direcionamentos é o primeiro passo para assegurar a nossa sustentabilidade.

Carta do Presidente

Sempre sinto muito orgulho ao contar que a Marisa, uma das maiores empresas do varejo

nacional, nasceu de um sonho de Bernardo Goldfarb e foi construída pelo trabalho e esforço de algumas gerações de pessoas que compartilharam e compartilham de um certo jeito de

ser.

Hoje, 61 anos após sua fundação e contando com mais de 10.000 colaboradores distribuídos

em 226 lojas e áreas de apoio, julgo oportuno expressar publicamente esse Jeito de Ser Marisa que, em última análise, nos identifica como uma empresa única.

A apresentação de nosso Código de Ética faz parte desse movimento. Sendo um guia para a nossa ação diária e tomada de decisões, ele não só retrata o que fazemos, como também

explicita diretrizes para chegarmos ao horizonte que ambicionamos. É, assim, ao mesmo tempo, um instrumento de trabalho e uma fonte de inspiração.

Page 203: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

201

Ressalto que a construção deste Código foi participativa. Incluiu a contribuição da direção da

empresa, de suas principais lideranças e de representantes dos colaboradores. Sou grato a todos pela imprescindível colaboração.

Convido a todos a estabelecer um real compromisso com nosso Código, expressando de forma inequívoca a coerência entre o nosso discurso e a nossa prática. Como resultado,

tenho certeza, elevaremos cada vez mais o respeito, a admiração e a confiança que nossos clientes, o mercado e a sociedade em geral sentem por nós.

Marcio Goldfarb

Fevereiro.2010

Missão do Grupo Marisa

A Marisa se dedica à comercialização de produtos de moda, sobre os quais a mulher detém a decisão de compra. Os produtos oferecidos refletem tendências de comportamento e têm a

melhor relação custo-beneficio do mercado. Trabalhamos para garantir a satisfação dos clientes, fornecedores, colaboradores e acionistas.

Valores do Grupo Marisa

ÉTICA

Nossa conduta e nossas decisões são pautadas pelos valores éticos da sociedade,

abrangendo os níveis sociais, legais, organizacionais e individuais.

Respeitamos as regras morais e de boa convivência social entre as pessoas com quem

interagimos no dia a dia.

Seguimos, e obedecemos, as leis em vigor no país.

Observamos as normas da empresa, os princípios corporativos e o código de conduta estabelecidos.

Acreditamos nos princípios descritos acima e os praticamos, por ser esta a única forma de dar existência à Ética.

Page 204: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

202

RESPEITO ÀS PESSOAS

Respeitamos as pessoas, independentemente de sexo, idade, formação, origem, posição social e credo. Acreditamos na diversidade de ideias, talentos e opiniões e na personalidade

individual de nossos colaboradores. Encaramos com naturalidade as diferenças ou eventuais divergências e incentivamos o desenvolvimento individual.

Valorizamos todas as pessoas, não só aquelas que trabalham na Marisa, mas também aquelas com quem nos relacionamos fora da empresa: clientes, fornecedores e parceiros no

negócio.

COMPROMISSO COM OS CLIENTES

O foco de nossa atuação são nossos clientes, para os quais oferecemos produtos de qualidade, que seguem as tendências de moda e têm a melhor relação custo-benefício.

Nosso sucesso depende de nossa capacidade de identificar, entender e trabalhar os comportamentos relacionados a estilos de vida e moda de todos os consumidores de

produtos e serviços Marisa. Procuramos identificar oportunidades de desenvolvimento de novos produtos, formatos de loja, experiências de compra e formas de atendimento.

COMPROMETIMENTO COM O RESULTADO

Nosso sucesso é fruto de muito trabalho e total comprometimento de todas as pessoas que

atuam na Marisa com o resultado da empresa. Fazemos sempre o melhor da melhor forma possível.

Construímos e implementamos planos de trabalho estruturados que nos indicam claramente os caminhos a serem trilhados e quais ações devem ser empreendidas para concretizar

nossa ambição estratégica.

Perseguimos constantemente o atendimento e a superação de nossas metas e objetivos

corporativos, funcionais e individuais.

MERITOCRACIA

Valorizamos e reconhecemos os colaboradores da Marisa pelos resultados do trabalho e mérito pessoal.

Acreditamos que a meritocracia proporciona maior justiça e transparência nos processos de avaliação de desempenho e definição de recompensas e/ou promoções.

AGILIDADE / ANTENADOS

Agilidade é fundamental para o sucesso no varejo. Encaminhamos nossas ações e decisões

com o senso de urgência e rapidez demandado pela dinâmica do setor em que trabalhamos.

Page 205: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

203

Somos uma empresa atenta, bem informada, ligada aos acontecimentos que podem

impactar nossas atividades no presente e influenciar as tendências futuras de nosso negócio.

INOVAÇÃO

Inovação para a Marisa é o desenvolvimento e a exploração (bem-sucedida) de novas ideias, que resultam em crescimento de faturamento, melhoria no atendimento a clientes e no

ambiente de trabalho e satisfação de nossos colaboradores, acesso a novos mercados, redução de custos e aumento das margens de lucro, entre outros benefícios.

Usamos a criatividade para inovar nossos produtos, formatos de lojas, processos e gestão, diferenciando a Marisa em um ambiente de competição intensa.

Código de Conduta Ética

O Código de Conduta do Jeito de Ser Marisa estabelece os valores e os princípios que orientam nossa maneira de conduzir nossos relacionamentos e nossas práticas empresariais,

assegurando a firmeza e a uniformidade no tratamento íntegro e eticamente adequado às várias situações que sustentam a confiança e a credibilidade de nossos negócios.

Essas orientações de conduta, válidas para todos os níveis hierárquicos do Grupo Marisa, formalizam as orientações éticas a serem sustentadas, com responsabilidade e

comprometimento, no dia a dia de todas as nossas atividades de negócio, nas diversas áreas de relacionamento da empresa. Sua aplicação se estende também a nossos prestadores de

serviços, fornecedores, parceiros e acionistas.

É, portanto, de vital importância que todos conheçam e adotem os parâmetros identificados

neste Código de Conduta Ética para a melhor sintonia e integração ao Jeito de Ser Marisa.

ÁREAS DE RELACIONAMENTO

Colaboradores

Nossos colaboradores são valorizados com oportunidades iguais de seleção, remuneração, desenvolvimento e promoção, sendo reconhecidos por suas competências profissionais e

seu desempenho a partir de critérios alinhados aos objetivos do negócio. Não é aceito qualquer tratamento discriminatório devido à sua descendência, cor, sexo, religião,

nacionalidade, orientação sexual, origem social ou preferências políticas.

Page 206: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

204

Reconhecemos a importância de oferecer um ambiente de trabalho seguro e saudável, em

que haja liberdade de expressão e respeito à integridade e privacidade das pessoas, um ambiente sem qualquer tipo de ameaça, assédio moral ou sexual, violência verbal ou não

verbal, suborno ou difamação.

Valorizamos a segurança no ambiente de trabalho observando as leis e regulamentações

estabelecidas, direcionando políticas e ações específicas para resguardar a saúde de nossos colaboradores e adotando medidas e condições necessárias para a preservação de seu bem-

estar e a qualidade do seu desempenho.

Nossos colaboradores reconhecem a importância de trabalhar prioritariamente pelos

interesses da empresa, evitando qualquer relacionamento, influência ou atividade que possa colocar em risco seu comportamento, atitude e ações, seguindo todas as normas e diretrizes

que visam prevenir situações de conflito de interesses, bem como participando de modo responsável em atividades fora da empresa.

Todo ato que se apresente como oportunidade de ganho pessoal, tanto nas negociações internas como externas – especialmente com clientes, fornecedores, representantes

governamentais e concorrentes –, ou a troca de favores por meio de presentes, gratificações e cortesias de qualquer natureza que possam comprometer a integridade dos

procedimentos éticos adotados pelo Grupo Marisa não são aceitos e são tratados com o devido rigor conforme as normas e diretrizes da empresa.

Nossos colaboradores são especialmente cuidadosos quanto à sua participação em atividades paralelas, que coloquem em risco suas responsabilidades profissionais, não sendo

aceita a utilização de bens da empresa e de horas de trabalho para atividades alheias aos interesses de negócio do Grupo Marisa.

Como uma das principais forças de nosso negócio, nossos colaboradores assumem com responsabilidade a imagem e a marca da Marisa, não utilizando indevidamente seu nome,

serviços e produtos em atividades alheias às suas atribuições profissionais e empresariais, honrando seus compromissos financeiros para com a própria empresa e como cidadãos

socialmente responsáveis.

Fornecedores

Como parceiros no desenvolvimento de nosso negócio, nossos fornecedores estabelecem com a Marisa relações de comprometimento mútuo na construção contínua dos interesses

comuns que fortaleçam nossas práticas comerciais e a busca da excelência de nossos produtos e serviços, visando sempre à melhor relação custo-benefício.

Nossas negociações são pautadas pelo sentido ético de nossos relacionamentos, baseados no respeito à igualdade de condições, na justiça, no cumprimento das leis, normas e

diretrizes estabelecidas pela empresa, não sendo aceita qualquer transação comercial em que práticas impróprias, como trabalho infantil e/ou escravo, propina, suborno ou uso

indevido de cortesia, possam comprometer a integridade dos negócios.

Selecionamos nossos fornecedores com base em critérios e procedimentos transparentes,

não havendo discriminação ou privilégios de qualquer natureza. Não são aceitos brindes que

Page 207: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

205

não tenham caráter puramente promocional, assim como não é aceita qualquer transação

comercial que envolva relações de parentesco, a não ser mediante análise e autorização prévia da Direção Executiva e do Comitê de Ética.

A integridade moral de nossos fornecedores, no cumprimento das leis tributárias, civis e penais vigentes no país, é fator fundamental para a sustentação de sólidos e fortes

relacionamentos com a Marisa.

Valorizamos o bom relacionamento baseado no sigilo das informações de natureza privada

ou de caráter confidencial e na transparência das informações relativas a qualquer situação que possa apresentar ou sugerir conflito de interesses, em que benefícios pessoais ou

financeiros venham a se sobrepor aos interesses e objetivos do Grupo Marisa.

A imparcialidade e a integridade no trato de nossas negociações são fundamentais para a

continuidade e o sucesso de nossos negócios e de nosso relacionamento com os fornecedores, por isso nossos fornecedores estão cientes e aderem aos Princípios, Valores e

Código de Conduta Ética da Marisa, assumindo com responsabilidade as normas e condições que pautam nossas transações comerciais.

Clientes

A principal orientação do nosso negócio é a excelência no atendimento às necessidades e

demandas de nossos clientes. Adotamos padrões de conduta baseados na presteza, agilidade e cordialidade, oferecendo produtos e serviços com honestidade e respeito aos

direitos dos consumidores.

Priorizamos a qualidade do nosso atendimento aos clientes visando permanentemente à sua

satisfação. Seguimos os melhores padrões de agilidade e eficiência, resguardando a integridade física e moral dos nossos clientes, quando em nossos ambientes físicos.

Garantimos o sigilo de dados pessoais e bancários de nossos clientes e cumprimos o dever de confidencialidade, conforme determina a lei complementar 105/2001.

Respeitamos a diversidade de nossos clientes oferecendo tratamento imparcial e livre de preconceitos de qualquer natureza, bem como orientações e informações claras sobre

nossos produtos e serviços para permitir a melhor decisão de escolha e a manutenção de relacionamentos duradouros.

Honramos nossos compromissos divulgando com clareza, precisão e transparência todas as nossas ações relativas aos clientes, não aceitando e não fazendo propaganda enganosa sob

qualquer pretexto.

Comunidade

Respeitamos os Direitos Humanos, os valores e a diversidade cultural presentes em cada comunidade em que estamos inseridos trabalhando para o desenvolvimento do país.

Honramos nosso comprometimento com as ações sociais por meio do recolhimento correto e devido dos encargos e tributos legais, reconhecendo sua importância para a manutenção

Page 208: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

206

dos programas sociais, educacionais, culturais, ambientais, de saúde e segurança

implementados pelos órgãos governamentais.

Patrocinamos ou adotamos outras formas de apoio a projetos e atividades voltados para a

comunidade, em conformidade com as políticas internas da empresa e de acordo com os propósitos, critérios e objetivos estabelecidos pela qualidade e potencial de realização das

ações propostas.

Acionistas

Nosso relacionamento com acionistas e investidores é conduzido por políticas e diretrizes transparentes, baseadas em informações corretas e precisas e na comunicação íntegra, ágil e

fidedigna, visando ao fortalecimento de nossa imagem e patrimônio e ao acompanhamento de nossas atividades e desempenho financeiro. Preservamos o interesse dos investidores

assegurando que as informações sejam tratadas com o devido sigilo e somente divulgadas em conformidade com as disposições legais e regulamentações estabelecidas pelos órgãos

competentes.

Adotamos rigorosas ações de controle interno e desenvolvemos políticas e práticas

contínuas para o gerenciamento de riscos e a sustentação das medidas de governança corporativa. Nossos colaboradores, como investidores potenciais, seguem diretrizes internas

específicas relacionadas à compra e venda de ações da empresa, não sendo aceito, sob qualquer hipótese, o acesso ou uso privilegiado de informações.

Reconhecemos que a confidencialidade sobre ações estratégicas e projeções de resultados ou de gestão administrativa é fundamental para garantir movimentações de mercado ou

decisões de investidores de modo justo e correto, adotando medidas que asseguram o acesso não privilegiado a ações e resultados que orientam a condução do nosso negócio,

bem como prevenindo sua utilização em benefício próprio ou de terceiros.

Concorrentes

Respeitamos nossos concorrentes estabelecendo relações éticas de competitividade, com base nas regras e critérios de mercado, adotando práticas concorrenciais íntegras e leais,

não sendo aceitas atitudes difamatórias ou que possam denegrir a imagem de seus negócios, produtos ou serviços.

Governo e Sociedade

Conduzimos nossas ações de modo transparente, pautados pelo tratamento cordial e ético

aos representantes de órgãos públicos, inclusive dos Poderes Legislativo, Judiciário e Ministério Público, observando continuamente a manutenção e o cumprimento das leis

vigentes relativas às responsabilidades de cada área de nossa empresa. Não aceitamos qualquer forma de concessão de vantagem ou privilégio a agentes públicos em razão de

atribuições funcionais ou corporativas.

Page 209: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

207

Reconhecemos a importância das associações e entidades de classe, legalmente

constituídas, visando a interesses comuns para o melhor desempenho de nossa empresa em todas as suas áreas de atuação e relacionamento.

Segurança da Informação

Nossos colaboradores reconhecem que é sua responsabilidade a preservação e segurança

dos dados e informações, bem como dos equipamentos, tecnologias e recursos de informatização de propriedade da empresa, disponibilizados exclusivamente para

comunicação, armazenamento e registro das atividades de interesse da organização.

Adotamos políticas de segurança da informação, com rigoroso controle das tecnologias,

sistemas eletrônicos e softwares desenvolvidos para atender as necessidades e os interesses de negócio do Grupo Marisa, preservando os princípios legais de propriedade intelectual e

de direito autoral.

A divulgação da marca Marisa ou de conteúdos relativos às suas atividades de negócio em

seminários, palestras, trabalhos acadêmicos ou artigos na mídia impressa ou eletrônica segue diretrizes internas estabelecidas pela Diretoria Executiva. As informações de interesse

público serão sempre disponibilizadas através dos canais e meios definidos pela empresa para essa finalidade e por representante oficial do Grupo Marisa.

Comunicação Corporativa

Nosso relacionamento com os meios de comunicação é pautado no profissionalismo e na

responsabilidade social quanto aos cuidados específicos de nossas campanhas publicitárias, ações promocionais e de negociações, disponibilizando informações corretas e precisas em

conformidade com diretrizes internas estabelecidas para preservação do patrimônio e imagem da empresa.

Nossa comunicação com o mercado e a sociedade tem como princípio a sustentação da clareza e transparência das nossas ações baseada no cumprimento das normas legais

pertinentes e no desenvolvimento contínuo de processos e procedimentos voltados para o acompanhamento e monitoramento no trato das informações.

Canais de Informação e Orientação

A observação dos princípios e valores éticos do Grupo Marisa se faz mediante o

desenvolvimento proativo de práticas, políticas e procedimentos adequados a cada situação, garantindo que nossos executivos, lideranças e colaboradores conheçam e sustentem em

suas atividades e relacionamentos os direcionamentos estabelecidos no nosso Código de Conduta Ética.

Reconhecemos a integridade e a idoneidade moral de todos que, no exercício responsável de suas atribuições, cooperam para a sustentação dos princípios e valores éticos do Grupo

Page 210: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

208

Marisa, - preservando suas individualidades - e garantem que nossas orientações éticas

sejam respeitadas em todas as nossas ações.

Todo colaborador, como exemplo da conduta ética do Jeito de Ser Marisa, assume seu

compromisso de conhecer por inteiro as orientações e diretrizes éticas, bem como todas as políticas e regulamentações complementares, e estar de acordo com todas as medidas

necessárias para sua devida sustentação.

Toda atitude, conduta ou situação que venha a se configurar como contrária aos princípios,

valores e orientações estabelecidos neste Código de Conduta Ética do Grupo Marisa deve ser informada à empresa, para a sustentação contínua do alinhamento ético de nossas ações.

Por conseguinte, não será aceita nenhuma forma de retaliação ou perseguição contra aqueles que livremente notificarem qualquer transgressão aos princípios e orientações deste

Código.

Eventuais dúvidas sobre os conteúdos e práticas assumidos no nosso Código de Conduta

Ética são tratadas diretamente com as chefias imediatas, conforme os direcionamentos específicos da empresa. Consideramos que cada um é responsável pelo respeito e

cumprimento dos valores e princípios do Código de Conduta Ética do Grupo Marisa, reconhecendo que faz parte de suas atividades junto às empresas do Grupo Marisa o

comprometimento com as orientações aqui estabelecidas.

Com o objetivo de atender e orientar possíveis situações não contempladas neste Código, o

Grupo Marisa constituiu um Comitê de Ética para analisar, avaliar e implementar ações, medidas e programas voltados para o desenvolvimento da Educação Ética na empresa, bem

como acompanhar, assessorar e instruir as decisões de ordem ética relativas à sustentação dos princípios, valores e orientações estabelecidos neste Código de Conduta, além de sua

própria revisão quando necessário.

E para melhor atender a diversidade dos públicos com os quais se relaciona, o Grupo Marisa

disponibilizou o canal “Disque Ética” que, com precisão, segurança e confidencialidade, atenderá aqueles que preferirem essa forma de comunicação.

Ser ético: atitude diária

Ser ético é uma responsabilidade pessoal e coletiva, e com este Código de Conduta Ética

expressamos para todos os nossos públicos os padrões de conduta aqui estabelecidos, válidos para todos os níveis hierárquicos do Grupo Marisa, reconhecendo que nossos

princípios e valores se formam e se fortalecem na nossa atitude diária.

Última Atualização em 25 de maio de 2010

Marisa - Sustentabilidade

Companhia procura incorporar às suas atividades ações que levem em consideração

princípios éticos e de responsabilidade social, como a distribuição de um manual com

Page 211: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

209

orientações específicas para pessoas portadoras de deficiência para a utilização em suas

lojas, em seu escritório central e na Credi-21.

Atualmente, a Companhia não possui uma política de responsabilidade social, porém,

participa de eventos sociais pontuais com determinadas entidades, como por exemplo, parcerias com (i) a Associação Meninos do Morumbi, entidade que busca recolocar no

mercado, jovens de baixa renda; (ii) a Associação Nova Projeto, entidade que capacita Portadores de Deficiência Mental.

Última Atualização em 19 de outubro de 2007.

Page 212: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO …tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/4508/1/441487.pdf · A COMUNICAÇÃO DO AMBIENTE DE VAREJO POPULAR SOB A INFLUÊNCIA DA

210

ANEXO 5 - Assinatura sonora – CD áudio