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DIREITO PENAL

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DIREITO PENAL

PONTO 1: Suicídio PONTO 2: Infanticídio PONTO 3: Aborto PONTO 4: Lesão Corporal

1. Suicídio – art. 122 do CP:

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Parágrafo único - A pena é duplicada: Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

- Induzir: significa fazer surgir, criar, nascer a ideia que ainda nao existe.

- Instigar - reforçar, estimular uma idéia preexistente.

- Auxiliar - ajudar materialmente, fornecer instrumentos necessários para a prática do crime, da

conduta de suicídio.

Três condutas próprias da participação elegidas ao crime autônomo. O artigo 122 é um

crime de participação necessária. As condutas de induzir e instigar são formas de participação

moral e a conduta de auxiliar é uma forma de participação material.

Trata-se de crime de conduta multipla alternativa, ou seja, trata-se de um tipo misto

alternativo, o que significa que praticada mais do que uma conduta dentro do mesmo contexto

temporal e contra a mesma vítima haverá somente um crime.

Absolvido ou condenado o réu por um dos verbos é caso de coisa julgada material, não

poderá haver outro processo pela outra conduta, pois, na verdade, é um crime único (conflito

aparente de normas). Utiliza-se a outra conduta para aumento no art. 591 CP.

1 Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

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O sujeito passivo: pessoa certa, determinada. Se a conduta for dirigida a um número

indeterminado de pessoas, haverá fato atípico (manifestação livre do pensamento).

No crime do art. 122 do CP, quem pratica o ato de matar é a vítima - a conduta do

sujeito ativo jamais poderá constituir o ato principal de matar, pois, neste caso, haverá crime de

homicídio.

O ato de execução é da própria vítima, se houver ato executório do sujeito ativo haverá

crime de homicídio. Ex: A abre a torneira de gás e B morre. A será punido por crime de

homicidio.

Princípio da alteridade – ato de se matar não é crime.

A vítima do crime do art 122 do CP – deverá ter relativa capacidade de entender o

carater do fato. Se nao tiver, minimamente, condições de discernimento, de compreensão, seja

por qualquer motivo, o crime será de homicídio por autoria mediata, com efeito, as situações

podem acontecer desde que o fato de o sujeito ativo se aproveitar da preexisnte

vulnerabilidade da vítima (embriaguez completa, senelidade, depressao profunda, narcotização,

inimputabilidade do art. 262, caput, do CP ou do art. 26, paragráfo único do CP), ou criar uma

situação de tamanha vulnerabilidade para aquela vítima que ela acabe ficando em situação de

extremo desespero, que acabe cometendo suicídio.

Ex. Vítima deprimida - situação limítrofe - sujeito ativo começa a diminuí-la.,

colocando a vítima em tamanho grau de desespero que ela acaba se matando. A vítima acaba

tendo a capacidade de dicernimento reduzida. O sujeito acaba sendo autor mediato do crime

de homicídio. Neste caso, a vítima não pode ser pessoa vulnerável, se for vulnerável será crime

de homicídio.

2 Inimputáveis Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

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Majorantes do art. 122, inciso II, do CP:

Casos em que a pena é duplicada - casos em que a vítima tem relativa capacidade de

entendimento e insto reduzir a capacidade de resistência. Há duas posições:

1ª posição – (Bittencourt e Damásio de Jesus) quando se tratar de pessoa de até 14

anos, haverá homicídio, porque nestes casos nunca haverá capacidade.Quando a pessoa tiver

entre 14 e 18 anos haverá o crime do art. 122 do CP majorado.

2ª posição – majoritária, dependendo do caso concreto.

Quanto a tentativa no art. 122, CP - há duas posições:

1ª posição Bittencourt - cabe tentativa somente no caso de o resultado ser lesão grave.

Diz o autor que somente haveá consumação deste crime com o resultado morte e , no caso do

resultado lesão grave, haveria uma tentativa qualificada, pois já prevista a pena para o crime

tentado. Além disso, trata-se de crime material que admite tentativa.

2ª posição – menciona que não cabe tentativa, pela posição majoritária, no crime do

art. 122 do CP, uma vez que o que se está punindo é a conduta do sujeito ativo, que já estará

consumada com o seu apoio moral ou material. Assim, ocorrendo a conduta do sujeito ativo,

mesmo que haja " somente" o resultado lesão grave para a vítima, o crime de participação em

suicídio já estará consumado, pois o que se pune é a conduta do sujeito ativo.

- Majorante do art. 122, inciso I, CP:

Quando o crime é praticado por motivo egoístico: pena e duplicada. Considera-se por

motivo egoístico aquele ligado a algum tipo de beneficio principalmente econômico, por

exemplo, herança, seguro, empresa.

- Problemas:

- greve de fome: caso mais comum carcereiro e médico no caso de preso que para

fazerem protesto fazem greve de fome, respondem ou não pelo crime do art. 122? A ação do

médico, bem como do carcereiro esta amparada pelo art. 146, §3º, I3, CP, na medida em que

3 Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:

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ambos possuem a posição de garantidores, podendo, do contrário, responder por homicídio –

isto significa que é possível a pratica do crime na forma omissiva imprópria, desde que o

sujeito ativo esteja na posição de garante, art. 13, §2º4, CP.

O mesmo se diga em relação as chamadas testemunhas de geová, nos casos em que se

negam a transfusões de sangue, por motivos religiosos. Quando não houver outra forma de

salvar o paciente, a conduta do médico estará amparada pelo mesmo artigo 146, §3º, I, CP.

No caso de familiares que ocultam ou negam atendimento o assistência médica à

menores ou incapazes, haverá homicídio por omissão imprópria, art. 13, §2º, CP.

- Suicídio a dois: duelo americano ou roleta russa. O sobrevivente responde por participação

em suicídio, pois instigou a vitima ao suicídio. Se algum dos contendores, no entanto, foi

coagido a participar da aposta, sobrevivendo o coator, responderá por homicídio doloso.

Obs: Coação física exclui a ação. Coação moral irresistível exclui a culpabilidade.

- Pacto de morte ou suicídio a dois: duplo suicídio. O sobrevivente sempre responderá por

homicídio quando tiver praticado ato executório. No entanto, se somente houver induzido,

instigado ou auxiliado seu parceiro responderá pelo art. 122 CP. Se nenhum dos dois morrer,

aquele que realizou atividade executória responderá por tentativa de homicídio, e aquele que

ficou somente na contribuição responderá, no caso de lesão grave, para Bittencourt terá

havido tentativa qualificada do crime de participação em suicídio, mas para a maioria da

doutrina se tiver havido lesão grave responderá por participação em suicídio, agora se nem

lesão grave houve o fato será atípico.

- Situação da sala fechada e gás aberto:

I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; 4 Art. 13, § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado

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Caso 1: A e B trancam-se em quarto hermeticamente fechado. A abre a torneira de gás; B

sobrevive. Neste caso, B responde por participação em suicídio.

Caso 2: o sobrevivente é quem abriu a torneira: neste caso responde por homicídio, uma vez

que praticou ato executório de matar.

Caso 3: A e B abriram a torneira de gás, não se produzindo qualquer lesão corporal em razão

da intervenção de terceiro: A e B respondem por tentativa de homicídio, uma vez que houve

ato executório: A em relação à B, e B em relação à A.

Caso 4: Suponha-se que um terceiro abra a torneira de gás. A e B se salvam, não sofrendo

qualquer lesão de natureza grave. As condutas de A e B são atípicas e um terceiro que praticou

ato executório de matar, responde por dupla tentativa de homicídio.

Caso 5: A e B sofrem lesão de natureza grave, sendo que A abriu a torneira de gás e B não. A

responde por tentativa de homicídio e B por participação em suicídio.

2. Infanticídio – art. 123 do CP:

Infanticídio Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos.

Requisitos:

a) Matar o próprio filho: se houver erro em relação à criança, mesmo assim haverá infanticídio,

aplicando-se o art. 20, §3º5, do CP. O infanticídio é um homicídio privilegiado.

b) Durante ou logo após o parto: discute-se acerca do elemento temporal que é elementar do

tipo “durante ou logo após o parto”. Há três correntes:

1ª) quando houver contrações;

2ª)quando houver dilatação;

5 Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

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3ª) quando houver rompimento da bolsa (saco amniótico) e o início da saída da criança

(majoritária). A expressão logo após é bastante relativa e deve ser aferida por meio de uma

perícia. Podem ser algumas horas variando de pessoa para pessoa.

c) Sob a influência do estado puerperal: trata-se de um estado fisiológico, estado de parto, sedo

necessário que acarrete uma efetiva modificação psíquica na mulher. A depressão pós parto

não caracteriza o estado puerperal. Não havendo a constatação do agir sob este estado haverá

crime de homicídio.

Obs: o estado puerperal é uma espécie de semi-imputabilidade bem específica.

- Crime próprio: admitindo, portanto, co-autoria e participação de terceiros, pois o que

se exige é uma qualidade do sujeito ativo. Como matar o próprio, durante ou logo após o parto

e sob a influencia do estado puerperal são elementares do tipo, admite-se a co-autoria ou

participação de terceiro. É o que se extrai da regra do art. 306 do CP, que permite a

comunicabilidade das elementares, desde que ingressem na esfera de conhecimento do co-

autor ou do participe.

1ª hipótese: mãe mata auxiliada por terceiro, a mãe é autor e o terceiro será participe do

crime de infanticídio, pela teoria monista.

2ª hipótese: mãe e terceiro executam o filho, ambos serão autores do crime de

infanticídio (o terceiro tem que ter conhecimento das elementares do crime de infanticídio,

pois do contrário o terceiro responderá por homicídio).

3ª hipótese: o terceiro mata o próprio filho sob a influencia do estado puerperal logo

após o parto, com o auxilio da mãe, pela teoria monista ambos respondem por homicídio,

porque a conduta do participe adere à conduta do autor. Obs: a denúncia em relação a mãe

nesta hipótese, por política criminal será por homicídio , mas com a pena do infanticídio. (mas

a mãe tem que estar sob a influência do estado puerperal).

Obs: se os dois pais são autores matam o filho e a mãe esta sob o estado puerperal, os dois

respondem por infanticídio.

6 Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.

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Existe uma discussão acerca da seguinte situação: mãe que presentes os elementos do

infanticídio, provocar a morte culposa do próprio filho recém nascido. Não há previsão legal

para isso, existindo duas correntes: o fato será atípico impunível; e a corrente majoritária diz

que a mãe responde por homicídio culposo (não há previsão de perdão de judicial para o caso

de infanticídio, mesmo que passado o estado puerperal a mãe se arrependa. Não há

infanticídio culposo).

3. Aborto:

Significa a interrupção da vida intrauterina com a destruição do feto em direito penal.

Não há necessidade de ocorrer a expulsão do produto da concepção para que o crime esteja

consumado. A morte do feto ou do embrião é o que consuma o delito. Discute-se acerca do

momento em que se considera o inicio da vida, sendo que três correntes discutem o assunto:

a) basta a fecundação (majoritária);

b) com o fenômeno da nidação: quando óvulo, já fecundado, enraíza-se nas paredes do útero

materno;

c) teoria do córtex cerebral: encéfalo, da mesma forma como ocorre com a cessação da vida

humana, a vida começa com a formação do cérebro. O problema desta corrente é a demora

para a formação do cérebro.

Dentro deste contexto, é imprescindível que haja prova da materialidade do crime, o

que se faz por meio do auto de exame de corpo de delito, principalmente, também, porque

poderá haver crime impossível, nos casos em que a mulher supõe estar grávida, quando não

esta, bem como quando o feto já está morto, ou o meio empregado é absolutamente ineficaz.

- Aborto necessário - art. 128, I, CP:

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Questão de política criminal que visa preservar a vida da gestante.

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O aborto do art. 128, I, CP (estado de necessidade específico) deve ser praticado

prioritariamente por médico, somente ele esta autorizado, o que se deflui a partir da leitura do

caput do art. 128 CP.

Obs: uma enfermeira pode praticar o aborto do art. 128 CP, mas fica ao abrigo da excludente

de ilicitude genérica.

Não a necessidade do consentimento da gestante, e também não há autorização

judicial, porque não há outro meio de salvar a vida da gestante.

Não confundir o aborto necessário ou terapêutico do art. 128, I CP do aborto

eugênico (abortos praticados em razão da má formação do feto).

Quando há casos de anencefalia, há decisões que permitem e decisões que não

permitem, mas pela lei este aborto eugênico é crime, existe inclusive habeas corpus a favor do

feto.

- Aborto Ético - art. 128, II CP:

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Não se trata de estado de necessidade, mas de gravidez resultante de estupro.

Antigamente, admitia-se, por analogia também a excludente em relação ao atentado violento

ao pudor. Atualmente, diante da unificação dos tipos dos artigos 213 e 214 CP, a discussão

perdeu relevância. Neste caso, a doutrina majoritária somente admite que o aborto seja

praticado por médico.

Obs: Cesar Bittencourt entende que a enfermeira poderia praticá-lo e , mesmo assim não

cometeria crime em razão da inexigibilidade de conduta diversa.

É imprescindível o consentimento da gestante ou de seu representante legal. Não

precisa haver autorização judicial, basta um boletim de ocorrência, ou documento oficial.

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- Aborto praticado pela Gestante – art. 124 do CP:

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos.

Pune-se a conduta da gestante quando ela mesma provoca em si o aborto. Mas, ainda

trata-se da punição de outras condutas em que poderá haver a participação de terceiras pessoas

que instiguem, induzam ou auxiliem a mulher grávida ao aborto.

A principal discussão sobre este crime é neste artigo: predomina o entendimento de

que se trata de crime de mão própria, ou seja, somente a mulher grávida pode praticá-lo, exige-

se a pessoal e indeclinável realização da figura típica, tem que se adotar a teoria objetivo formal

(a única teoria que explica o concurso de pessoas na teoria objetivo formal é a participação).

Há duas posições:

1)Pessoa vinculada a gestante que paga para que ela se submeta ao aborto, responde por

participação do crime do art. 124 do CP. A conduta não comporta ato executório. O crime do

art. 126 do CP será respondido pela enfermeira e médico (exceção pluralista à teoria monista).

- Posição majoritária.

2) Pessoa que paga ou compra o remédio, sem o dinheiro não teria acontecido o crime então

responderia como autor do art. 1267 do CP.

Obs: se a mulher grávida que morre no procedimento abortivo, incorre no art 1278 do CP.

- Aborto sem consentimento da gestante – art. 125, CP:

Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. 7 Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. 8 Forma qualificada Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

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Trata-se da punição pelo crime de aborto sem o consentimento da gestante. Neste tipo

penal, o sujeito ativo provoca agressões físicas contra a gestante com o fim de interromper a

gravidez, havendo objetivo de que o crime seja perpetrado contra o feto.

Obs: no caso de haver fraude no consentimento, ou em se tratando de gestante menor de 14

anos, ou débil mental, ou, ainda, se obtido mediante violência ou grave ameaça, aplica-se a

pena do art. 125 CP. É o que se observa do parágrafo único do artigo 126 do CP. Ocorre que

se tem um caso de vulnerabilidade da vítima, em que o consentimento dela é absolutamente

inválido.

Por esta razão, o crime se equivale ao do art. 125 CP.

Obs: não existe crime de aborto culposo, mas pode ocorrer um crime de lesões graves com o

resultado aborto culposo. Em suma, no crime do art. 125 CP não pode ocorrer do agressor

não ter conhecimento da gravidez.

Se houver o homicídio da mulher grávida, existem duas posições a respeito da

tipificação da conduta: um crime de homicídio e um crime de aborto. Caso a “criança” venha a

morrer 10 dias após o seu nascimento, existem duas posições: haverá dois homicídios. Segunda

corrente diz que haverá: um homicídio e um aborto, porque pelo art. 4º9 do CP considera-se

consumado o crime no momento da ação ou omissão ainda que outro seja o momento do

resultado.

- Aborto com o consentimento da gestante – art. 126 CP:

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

A principal discussão acerca do art. 126 CP reside na tipificação da conduta do terceiro

que induz, instiga ou auxilia a gestante a praticar aborto em si mesma.

9 Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

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Deve-se considerar que os atos de participação podem ser tipificados no art. 124 do

CP, ao passo que os atos de execução, desde que com o consentimento da gestante, sejam

tipificados no art. 126 do CP. É o caso, por exemplo, da enfermeira, do médico, entre outros.

- Forma qualificada – art. 127 do CP:

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Se ocorrer lesão grave, a pena será aumentada de 1/3, e se ocorrer morte a pena é

duplicada. Há exceção desses resultados qualificados no roubo, na extorsão e na extorsão

mediante sequestro, que podem ser culposos ou dolosos, nos demais casos estes resultados

qualificadores sempre somente poderão ser obtidos a título de culpa, sendo o caso, portanto,

de figuras preterdolosas. De plano, verifica-se que não cabe a figura da tentativa.

Primeira discussão a respeito da aplicabilidade do art. 127:

Jamais o art. 127 será aplicado ao art. 124, por este é o crime da própria gestante, à ela

não serão aplicadas as causas de aumento de pena do art. 127.

Quanto aos terceiros que auxiliam a gestante: existe discussão a respeito da incidência

das majorantes àqueles que induzem a gestante ao aborto. Se entendermos que responderão

pelo crime do art. 124 CP, as majorantes do art. 127 CP não poderão ser aplicadas.

Conclusão: o art. 127 somente incide aos artigos 125 e 126. Existe jurisprudência neste

sentido.

- Tentativa:

Como crime material que é, é possível tentativa em aborto. O grande problema esta

quando ocorrerem as majorantes do art. 127, pois conforme já dito, esses resultados somente

podem ser obtidos a título de culpa - são figuras, portanto, preterdolosas. Posições:

- 1ª posição: são crimes preterdolosos e, como tal, não admitem tentativa.

Ex: tentaram praticar o crime de aborto, porém, ocorreu uma lesão grave ou a morte da

gestante - o sujeito ativo vai responder por concurso formal próprio (aborto tentado + lesão

culposa ou homicídio culposo).

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- 2ª posição: trata-se de tentativa de aborto qualificado, pois se trata de um crime complexo,

cuja consumação apenas ocorre se o todo tiver sido praticado. Assim, adota-se a pena do art.

125 ou do art. 126, as quais são aumentadas em 1/3 ou em dobro, e em seguida se reduz pela

tentativa.

4. Lesões Corporais – art. 129 do CP:

Lesão corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incuravel; III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Lesão corporal seguida de morte § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Diminuição de pena § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Substituição da pena § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. Lesão corporal culposa § 6° Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano. Aumento de pena § 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º. § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

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Violência Doméstica § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

Podem ser dolosas ou culposas, sendo que as culposas estão previstas tanto no CP (art.

129, §6º, CP) como no art. 30310 do CTB. As lesões dolosas estão previstas somente no CP.

Conceito: extrai-se do próprio art. 129 CP. Lesionar significa ofender a integridade

física ou psíquica de outrem, ou seja, a integridade corporal ou a saúde de outrem. Isso

abrange a integridade física e a saúde abrange a integridade psíquica da pessoa. Um abalo

psicológico pode ser considerado lesão corporal, ex: agredir a vítima com gritos intensos

causando um desmaio.

No Brasil, o legislador adotou o seguinte critério para caracterizar os crimes de lesões

corporais: temos no “caput” que caracteriza as lesões leves; §1º - as graves; §2º - gravíssimas e

§3º - seguida de morte; todos esses parágrafos classificam as lesões a partir do resultado, e

somente são aplicáveis às lesões corporais culposas.

E, por fim, o §9º que trata das lesões corporais praticadas no ambiente doméstico, e,

portanto, são classificadas a partir da qualidade da pessoa, e não da natureza do resultado.

Quando a lesão for culposa, não há classificação em tipos. Mesmo que o resultado seja

gravíssimo a pena continua sendo as mesmas em abstrato. 9 no máximo pode se levar em

conta no art. 59 CP).

- Lesão Corporal leve dolosa – art. 129, caput, CP:

Conceito por exclusão. É um plus em relação as vias de fato previstas no art. 21 da lei

de contravenções penais.

Dependem de representação: lesão corporal dolosa leve e a lesão culposa, mesmo na lei

Maria da Penha. 10 Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Page 14: PONTO 1: Suicídio DIREITO PENAL PONTO 2: Infanticídio 1 ...aulas.verbojuridico3.com/Regular2011/Direito_Penal_Pietro...ead.pdf · resultado lesão grave, haveria uma tentativa qualificada,

DIREITO PENAL

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Art. 1711 da Lei de Contravenções Penais: todas as contravenções penais são de ação

penal pública incondicionada (posição do STF).

- Lesão corporal grave – art. 129, §1º, I, CP:

Quando houver lesão corporal grave e gravíssima, a gravíssima absorve a lesão grave,

ou seja, a denúncia será pela lesão gravíssima.

Incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias, (quaisquer ocupações

habituais, ex; caminhar na praça todos os dias, mas a atividade deve ser lícita, rotineira, não

precisa ter finalidade econômica).

Prostituição: parte minoritária da doutrina diz que não é caso de lesão porque se pratica

atividade imoral. Já a posição majoritária diz que qualifica.

Se não houver o exame complementar no prazo de 30 dias o crime será desclassificado

para lesão leve. E se o processo tramitava na justiça comum deverá ser remetido para ao

Jecrim adoção do procedimento sumaríssimo, sob pena de nulidade da sentença.

O resultado do inciso, §1º do art. 129 do CP tanto pode ser obtido a titulo de dolo ou

culpa.

11 Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.