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CURSOS ON-LINE – FINANÇAS PÚBLICAS–TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR MOZART FOSCHETE www.pontodosconcursos.com.br 1 CURSO DE FINANÇAS PÚBLICAS TEORIA E EXERCÍCIOS APRESENTAÇÃO Iniciaremos nos próximos dias o nosso curso de Finanças Públicas direcionado para o concurso de Auditor da Receita Federal. O curso terá a duração de oito aulas, e contemplará a parte teórica da disciplina e a resolução comentada de exercícios de concursos anteriores realizados pela Esaf, principalmente dos concursos da Receita Federal (todos sabem que a antiga área de especialização de Política e Administração Tributária - PAT cobrava Finanças Públicas). Serão 5 (cinco) aulas de teoria e 3 (três) aulas de exercícios de concursos comentados, para revisarmos, nos comentários às questões, os tópicos mais cobrados nas provas. As dúvidas sobre a parte teórica ou sobre a resolução dos exercícios das provas de concursos poderão ser esclarecidas, no decorrer do curso, no fórum de dúvidas. O programa apresentado é o mesmo que vinha sendo cobrado nos concursos anteriores de AFRF, na área de Política e Administração Tributária – PAT. Se vocês prestarem atenção, verão que esse programa tem um enfoque muito grande na parte tributária, que mais interessa à Receita Federal, e por isso acreditamos que não haverá nenhuma mudança de conteúdo programático no próximo concurso. De qualquer forma, acertei com o Ponto dos Concursos que se eventualmente for acrescentado algum novo tópico a esse programa de Finanças Públicas, será ele ministrado em aulas complementares, sem nenhum custo adicional para o aluno. Sejam todos bem-vindos – e passemos à Aula Demonstrativa, para a nossa primeira conversa sobre Finanças Públicas!

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CURSO DE FINANÇAS PÚBLICAS

TEORIA E EXERCÍCIOS

APRESENTAÇÃO

Iniciaremos nos próximos dias o nosso curso de Finanças Públicas direcionado para o concurso de Auditor da Receita Federal.

O curso terá a duração de oito aulas, e contemplará a parte teórica da disciplina e a resolução comentada de exercícios de concursos anteriores realizados pela Esaf, principalmente dos concursos da Receita Federal (todos sabem que a antiga área de especialização de Política e Administração Tributária - PAT cobrava Finanças Públicas).

Serão 5 (cinco) aulas de teoria e 3 (três) aulas de exercícios de concursos comentados, para revisarmos, nos comentários às questões, os tópicos mais cobrados nas provas.

As dúvidas sobre a parte teórica ou sobre a resolução dos exercícios das provas de concursos poderão ser esclarecidas, no decorrer do curso, no fórum de dúvidas.

O programa apresentado é o mesmo que vinha sendo cobrado nos concursos anteriores de AFRF, na área de Política e Administração Tributária – PAT. Se vocês prestarem atenção, verão que esse programa tem um enfoque muito grande na parte tributária, que mais interessa à Receita Federal, e por isso acreditamos que não haverá nenhuma mudança de conteúdo programático no próximo concurso.

De qualquer forma, acertei com o Ponto dos Concursos que se eventualmente for acrescentado algum novo tópico a esse programa de Finanças Públicas, será ele ministrado em aulas complementares, sem nenhum custo adicional para o aluno.

Sejam todos bem-vindos – e passemos à Aula Demonstrativa, para a nossa primeira conversa sobre Finanças Públicas!

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AULA 0: PRINCÍPIOS TEÓRICOS DA TRIBUTAÇÃO

1. Introdução – Finanças Públicas: de que se trata?

Certa vez eu entrei numa sala de aula de um cursinho preparatório para concurso público para dar minha primeira aula de Finanças Públicas e iniciei a aula dizendo que ia “começar pelo começo”, falando das funções e da evolução do papel do Estado, quando fui surpreendido com a seguinte pergunta de uma aluna que se sentava nas primeiras fileiras: “-Já que você diz que vai começar pelo começo, porque você não começa por definir o que é “Finanças Públicas”? “Eu não tenho a mínima idéia do que seja isso!” - acrescentou a aluna.

Foi, então, que percebi que “Finanças Públicas” não é uma disciplina de conhecimento universal. Trata-se de uma disciplina bastante específica e que talvez só interessa àqueles que trabalham com as contas do governo e, claro, também àqueles que pretendem prestar algum concurso público. Se a ignorância da disciplina é, assim, tão ampla, nós vamos supor que você se inclui no grupo desses “ignorantes” que nada sabem de Finanças Públicas, mas que precisa saber, já que pretende prestar concurso para Auditor Fiscal, ou para Técnico do Banco Central ou para Analista do TCU. E se assim, comecemos realmente pelo começo!

Finanças públicas é um ramo da ciência econômica que sempre despertou pouco interesse dos economistas e que, por isso mesmo, sempre foi dominada por profissionais de outras áreas, especialmente por alguns poucos servidores públicos que lidavam diretamente com as contas do setor público. Somente agora, nesses anos mais recentes, com a crise crônica por que vem passando a Administração Pública no Brasil desde os anos 80 do século passado, é que este ramo da economia vem merecendo maiores estudos e discussões dos profissionais economistas.

Mas, afinal, de que tratam as Finanças Públicas?

Basicamente, as finanças públicas tratam dos gastos do setor público e das formas de financiamento desses gastos. A partir daí, são desenvolvidos estudos, teorias e modelos que procuram explicar a evolução da participação setor público na economia, as formas de intervenção do Estado na atividade econômica, as fontes e origens das receitas públicas bem como a evolução crescente dessas receitas relativamente ao produto/renda nacional. Também são desenvolvidas

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teorias sobre o nível “ótimo” dos gastos e das receitas públicas e sobre eventuais distorções causadas pela tributação na economia.

Do ponto de vista da análise econômica, as finanças públicas se materializam na chamada política fiscal que se constitui, sem dúvida, num dos principais instrumentos de intervenção na atividade econômica de que dispõe o governo, consistindo, basicamente, de:

i) aumentos ou cortes das despesas do governo, como, por exemplo, construção de escolas, de hospitais, de estradas, ou, ainda, gastos com o funcionamento da máquina administrativa e com o pagamento de funcionários;

ii) aumentos ou reduções do nível de impostos.

Estas duas medidas alteram a demanda agregada1, ainda que de forma diferente: enquanto os aumentos ou reduções dos gastos se refletem, na equação da demanda agregada, em um G maior ou menor, as variações no nível de impostos afetam a “renda pessoal disponível” dos indivíduos e, daí, o nível de consumo privado (Cp).

É através da política fiscal – espelhada no seu orçamento – que o governo interfere na alocação de recursos, oferecendo bens e serviços que, deixados às forças de mercado, não seriam produzidos pelo setor privado. Este seria o caso dos chamados “bens públicos” (segurança nacional, corpo de bombeiros, polícia, etc.) e dos “bens semipúblicos” ou “bens meritórios” (educação e saúde, por exemplo).

É ainda por meio da política fiscal que o governo procura melhorar a distribuição da renda no País, tributando mais os que ganham mais e realizando “transferências” para os grupos menos favorecidos da sociedade. Adicionalmente, a política orçamentária do governo contribui para a estabilização da atividade econômica. Esta função estabilizadora, exercida através de instrumentos macroeconômicos, objetiva a geração de um maior número de empregos na economia, a estabilização dos preços e o equilíbrio do balanço de pagamento do País.

É de tudo isso que se trata quando falamos de Finanças Públicas. Feita esta introdução, vamos, então, falar um pouco sobre

tributação – que, por ser um dos tópicos que sempre fazem parte de qualquer programa de finanças públicos nos concursos públicos – é o

1 O estudo das Finanças Públicas pressupõe que o aluno já tenha algum conhecimento básico de macroeconomia. Apenas para recordar, a Demanda agregada (DA) é composta do Consumo privado (C) mais as despesas de investimentos das empresas (I) mais os gastos de governo (G) mais as exportações (X). Ou seja, DA = C+I+G+X.

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objeto desta nossa aula demonstrativa de nosso curso de finanças públicas. 2. Tributação

Para financiar seus gastos com obras, com manutenção de suas escolas, de seus hospitais, com seus ministérios e secretarias e com seus funcionários, o governo dispõe de quatro alternativas:

i) emissão de moeda;

ii) empréstimos bancários;

iii) venda de títulos públicos;

iv) tributação.

Cada uma dessas alternativas tem diferentes efeitos sobre a atividade econômica.

No caso brasileiro, a primeira alternativa – a emissão monetária – por ser a mais simples e aparentemente a mais “barata” para o governo, sempre foi a mais utilizada, mas, agora, esta alternativa está proibida pela Constituição Federal. Da mesma forma, há inúmeras disposições legais impedindo que os órgãos governamentais se endividem junto ao sistema bancário, contraindo empréstimos para financiar seus gastos.

Sobram, assim, a venda de títulos públicos e a tributação – estes, sim, os mecanismos mais comumente utilizados no caso brasileiro.

De toda forma, a experiência tem mostrado que a tributação tem sido e deve ser a principal fonte de financiamento dos gastos governamentais. Na prática, a venda de títulos públicos – Notas do Tesouro Nacional (NTN), Letras do Tesouro Nacional (LTN), Letras Financeiras do Tesouro (LFT), etc. – se constitui num instrumento complementar à tributação. De todo a forma, considerando que tanto a venda de títulos públicos como a emissão monetária e os empréstimos bancários são mecanismos estudados mais na disciplina Economia Financeira e Monetária, nosso estudo aqui estará concentrado nos efeitos e nas características da tributação.

Nesta Aula, vamos avaliar a tributação não apenas do ponto de vista de um mecanismo de financiamento dos gastos do governo, mas principalmente os princípios que devem reger um sistema tributário para que este seja o mais justo e mais socialmente aceito. Adicionalmente, vamos verificar os efeitos e eventuais distorções que

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a tributação pode causar sobre a produção, o consumo e alocação de recursos.

Já que os impostos – assim como a morte – são inevitáveis – vamos tentar responder questões do seguinte tipo:

- Qual o melhor sistema tributário para a sociedade?

- Quais os efeitos de um determinado tipo de tributo sobre o indivíduo isoladamente e sobre a coletividade?

- As alíquotas dos impostos devem ser as mesmas para todos os bens e serviços e para todos os indivíduos?

- O grau de eqüidade do sistema é satisfatório?

- Qual deve ser o equilíbrio entre a tributação indireta (sobre bens e serviços) e a direta (sobre a renda e o patrimônio)?

Essas e outras perguntas do mesmo gênero não têm respostas fáceis. De todo modo, o que se espera é que o sistema tributário preencha as seguintes características básicas:

i) que seja eficaz no sentido de gerar receitas suficientes para o financiamento dos serviços prestados pelo governo;

ii) que cada indivíduo seja taxado de acordo com sua capacidade para pagar;

iii) que os tributos sejam universais, no sentido de não distinguir indivíduos em situações similares;

iv) que os tributos sejam escolhidos de forma a minimizar seus efeitos sobre a atividade econômica, evitando que esta se torne mais ineficiente.

Dito isso, passemos aos princípios teóricos da tributação.

3. Princípios teóricos da tributação

Quando se fala de tributação, é muito difícil chegar-se a um consenso sobre o que é justo ou injusto. Todos aqueles atingidos por um imposto se julgam, em princípio, injustiçados. Isso é próprio da natureza humana. No entanto, a montagem de um sistema de

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tributação que se aproxime daquilo que possa ser considerado mais justo deve se basear em dois princípios fundamentais: Neutralidade e Eqüidade. Vejamos cada um desses princípios e seus desdobramentos:

3.1. Princípio da Neutralidade

As decisões dos agentes econômicos – empresas, consumidores, investidores, poupadores, etc. – são geralmente tomadas, no dia-a-dia da economia, tendo como referência o sistema de preços vigente no mercado. O principio da Neutralidade refere-se, neste caso, à não-interferência dos tributos sobre aquelas decisões.

Se as decisões de alocação de recursos são baseadas nos preços relativos definidos pelo mercado, a neutralidade tributária seria obtida quando a forma de arrecadação de impostos pelo governo não modificasse aqueles preços. Se a mudança na tributação provocar alterações nos preços relativos, tal fato contribuirá para tornar menos eficientes as decisões econômicas, acarretando uma redução no nível de bem-estar da coletividade.

Em síntese, o princípio da neutralidade pode ser definido como a imposição de tributos de maneira tal que não altere o comportamento privado com respeito às decisões de consumo e produção. A rigorosa aplicação desse princípio conduz ao que se costuma chamar, em finanças públicas, de tributação eficiente ou tributação ótima, no sentido de Pareto2.

Uma observação importante. A análise dos efeitos dos diversos tipos de impostos sobre a atividade econômica é feita, geralmente, por meio de gráficos. Trata-se, no entanto, de gráficos um tanto complexos e para cujo entendimento se exigiria que os alunos tivessem uma razoável familiaridade com a interpretação gráfica – o que, nem sempre, é o caso. Como esses gráficos são apresentados apenas para se provar alguma conclusão dos efeitos de cada tipo de imposto, julgamos desnecessário apresentá-los aqui, pois isso

2 Uma situação alocativa é dita como “ótima” no sentido de Pareto se a produção e a distribuição não podem ser re-organizadas ou re-arranjadas para aumentar o bem-estar de um ou mais indivíduos sem prejudicar ou piorar o bem-estar de outro indivíduo. Da mesma forma, uma alocação de recursos é um “não-ótimo” de Pareto se o bem estar de alguém pode ser melhorado sem prejudicar o bem-estar de qualquer outro indivíduo.

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poderia muito mais complicar do que contribuir para seu entendimento.

Assim dito, vejamos, objetivamente e de forma conclusiva, os efeitos dos diversos tipos de impostos sobre o sistema de preços, sobre o consumo e sobre a alocação de recursos:

i) Primeiro, vamos considerar um imposto uniforme per capita (lump-sum tax), ou seja, um imposto cujo ônus fosse repartido igualmente pelo número de consumidores, independentemente de seu nível de renda. Do ponto de vista individual, este imposto representaria uma redução na renda, porém sem afetar a escala de preferências dos consumidores, apenas reduzindo sua linha de restrição orçamentária e, nesse sentido, este imposto é considerado “neutro”;

ii) Segundo, um imposto geral e uniforme sobre o consumo ou sobre a renda – também teria, em princípio, os mesmos efeitos do imposto anteriormente descrito. A eficiência nas decisões sobre alocação de recursos para a produção e consumo de mercadorias e serviços não seria, assim, afetada por impostos desse tipo;

iii) Terceiro, suponha que o governo institua um imposto seletivo sobre, digamos, o consumo do produto X, mas não sobre o consumo do bem Y. Esse imposto alteraria “perversamente” os preços relativos de X e de Y, forçando o consumidor a reduzir o consumo de X, já que este se tornou relativamente mais caro. É provável que o consumidor decida trocar parte do consumo de X por mais consumo de Y – ocorrendo o chamado efeito-substituição. Isso representa uma perda de bem-estar para os consumidores – o que caracteriza uma ineficiência desse tipo de imposto – sendo tal ineficiência medida pela redução do consumo de X – e que geralmente é chamada de “peso-morto” da tributação.

A descrição acima sugere que os impostos gerais (sobre a renda ou sobre o consumo) seriam mais eficientes que os impostos parciais ou seletivos – já que aqueles operam somente com o efeito-renda, sem modificar os preços relativos. Mas, atente-se que essa afirmativa só é absolutamente verdade, para o imposto per capita. Nos demais casos, essa conclusão pode ou não ser verdadeira, dependendo de cada caso.

Vamos clarear melhor este ponto: na microeconomia se analisa muito a questão sobre o que leva o indivíduo a optar ou por mais

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trabalho ou por mais lazer. Deve ficar claro que na tomada de decisões sobre a escolha entre trabalho e lazer, um imposto geral sobre a renda aumentaria o preço relativo do trabalho em termos do número de horas dedicadas ao lazer, afetando as opções dos indivíduos.

Nessa mesma linha de raciocínio, o mesmo se poderia dizer sobre a escolha entre consumo presente e consumo futuro que seria afetada por um imposto geral sobre o consumo, que aumentaria o custo do consumo presente frente à opção de poupar uma parcela da renda para consumo futuro.

Nesses dois exemplos, esses impostos produziriam o efeito-substituição e violariam o princípio da neutralidade.

Temos, então, como conclusão final: apenas o imposto per capita (lump-sum tax) é um imposto neutro por excelência, uma vez que sua neutralidade se mantém para todas as situações, não provocando custo de eficiência (ou excesso de carga). Isso ocorre porque sua base de incidência não está associada a fatos econômicos, não provocando, assim, mudança nos preços relativos. Mas, como nem no mundo dos impostos nada é perfeito, este imposto per capita padece de um grave defeito: sua completa desconsideração para com o princípio da eqüidade, já que todos – pobre e ricos – pagam a mesma quantia de imposto. Daí o porque de sua pouca aceitação na vida real.

3.1. Princípio da eqüidade

O segundo princípio da tributação é o da eqüidade. Por esse princípio, procura-se dar um mesmo tratamento, em termos de contribuição, aos indivíduos considerados iguais (eqüidade horizontal), assegurando, ao mesmo tempo, que os desiguais serão diferenciados segundo algum critério a ser estabelecido (eqüidade vertical).

Para a aplicação do princípio da eqüidade, há necessidade de se estabelecer o critério a ser utilizado para classificar os indivíduos considerados iguais e, também, a definição de normas de diferenciação. Existem dois critérios (ou dois princípios) com essa finalidade:

i) O Critério do Benefício – que propõe atribuir a cada indivíduo um ônus equivalente aos benefícios que ele usufrui dos programas do governo;

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ii) O Critério da Capacidade de Contribuição – que propõe que a distribuição do ônus tributário seja feita de acordo com as capacidades individuais de contribuição.

Vejamos cada um desses dois critérios.

3.1.1. Critério do benefício

O critério (ou princípio) do benefício estabelece que cada indivíduo deve contribuir para a produção de serviços governamentais, de forma a igualar o preço unitário do serviço ao benefício marginal que ele recebe com sua produção. Em outras palavras, cada indivíduo na sociedade deverá pagar um tributo de acordo com o montante de benefícios que ele recebe do governo.

Pelo princípio do benefício, os impostos são vistos, assim, como preços que os cidadãos devem pagar pelos serviços que recebem do governo.

Alguns poderiam argumentar que esse princípio é mais justo porque evitaria a situação na qual um indivíduo pagaria indiretamente pelo benefício de outra pessoa. Já os economistas argumentam que este princípio – embora de difícil operacionalização – é mais eficiente porque ele atua como no sistema de livre mercado onde cada indivíduo paga de acordo com os benefícios que ele recebe ao adquirir os bens e serviços de que precisa.

Por esses argumentos, conclui-se que, quanto maior o benefício, maior será o nível de consumo e, por conseguinte, maior será o preço a ser pago.

Um dos problemas, porém, com esse princípio é justamente estabelecer o que é benefício e, também, quantificar o benefício recebido, principalmente quando se sabe que os indivíduos se mostram resistentes em revelar suas preferências.

Ora, se os benefícios não são conhecidos, como pode o princípio do benefício ser aplicado? Se as pessoas não querem revelar suas preferências, como evitar o surgimento dos free riders – isto é, daqueles que se aproveitam da situação em que o serviço governamental não pode ser divisível ou individualizado – como no caso da defesa nacional – e usufruem do serviço sem querer pagar por ele? Como seria medido o benefício individual a fim de que se estabeleça um valor a ser pago proporcional a este beneficio?

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Esta dificuldade de se apurarem os benefícios usufruídos por cada indivíduo mostra a impossibilidade de o sistema tributário ser baseado apenas no princípio do benefício.

Outra questão relevante na aplicação deste princípio refere-se à situação dos indivíduos que, por não terem renda, estariam excluídos do consumo dos bens e serviços governamentais, já que não têm como pagar por ele. Neste caso, do ponto de vista redistributivo, a função do governo estaria sendo altamente ineficiente.

De tudo isso se conclui que um sistema tributário baseado apenas no princípio do benefício seria totalmente ineficiente – o que mostra a necessidade de se buscar um outro mecanismo que, associado ao princípio do benefício, torne o sistema tributário mais eficiente e mais justo. Este mecanismo seria o princípio da capacidade de pagamento, que será visto a seguir.

3.1.2. O critério da capacidade de pagamento

Este critério (ou princípio) procura distribuir o ônus da tributação entre os indivíduos na sociedade de acordo com a sua capacidade de pagamento, medida usualmente pelo nível de renda.

De acordo com este princípio, todo indivíduo deve contribuir no custo total da oferta de bens públicos puros (exemplo, defesa e segurança nacional) conforme sua capacidade de pagamento. Em outras palavras, os indivíduos com capacidades iguais devem contribuir no mesmo montante, enquanto indivíduos com capacidades diferentes devem contribuir com montantes diferentes. Daí, surgem os conceitos de eqüidade horizontal e de eqüidade vertical.

A eqüidade horizontal – um dos princípios ortodoxos da tributação – exige que se dê igual tratamento para iguais. Os contribuintes com a mesma capacidade de pagamento devem arcar com o mesmo ônus fiscal.

Trata-se de um princípio de fácil aceitação nas sociedades democráticas modernas, partindo da idéia da igualdade de todos perante a lei e da conseqüente necessidade de prevenção contra atos arbitrários do poder público em relação a indivíduos particulares.

A eqüidade vertical exige que seja dado desigual tratamento para desiguais. Em outras palavras, isso significa que os indivíduos com um nível de renda maior devem pagar mais impostos que os indivíduos de renda mais baixa.

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Vale observar que a implementação da eqüidade horizontal é relativamente fácil à medida que pessoas com o mesmo nível de renda devem, em princípio, dar igual contribuição tributária.

Entretanto, quando se trata de eqüidade vertical, sua implementação já é um pouco mais complicada na medida em que exige um padrão de tributação diferente entre pessoas de rendas diferentes. Na verdade, há três critérios para a implementação da eqüidade vertical:

i) igual sacrifício absoluto;

ii) igual sacrifício proporcional;

iii) igual sacrifício marginal.

A aplicação do critério de igual sacrifício absoluto exigiria que o tributo sobre o indivíduo de alta renda causasse a ele uma quantidade de sacrifício de utilidade igual àquela sofrida por um contribuinte de baixa renda – ou seja, o imposto deveria causar, por exemplo, 10 unidades de desutilidade para ambos os indivíduos.

O critério de igual sacrifício proporcional sugere que o imposto deveria causar a cada indivíduo o mesmo percentual de desutilidade total para obter a eqüidade vertical. Assim, por exemplo, se o indivíduo A, com renda alta, tem 200 unidades de utilidade de consumo, enquanto o indivíduo B, com renda baixa tem 100 unidades de utilidade de consumo, então A deveria pagar, com o imposto, 20 unidades de utilidade e B pagaria 10 unidades para que tenham o mesmo sacrifício.

O critério de igual sacrifício marginal propõe que cada indivíduo deve arcar com uma igual redução na utilidade de sua renda, depois do pagamento do imposto. Assim, se o imposto marginal de um Real pago pelo indivíduo A causa a ele 5 unidades de desutilidade, enquanto que o pago por B provoca 15 unidades de desutilidade, então A deveria pagar taxas mais altas de imposto e B taxas mais baixa, até que suas desutilidades marginais sejam iguais em, digamos, 10 unidades de desutilidade.

Se for aceita a hipótese convencional de padrões idênticos de utilidade entre contribuintes, este critério torna as rendas iguais, após o imposto, tanto para A como para B e para o resto da sociedade. Isso implica taxas marginais progressivas altamente elevadas, com alíquotas de até 100% para os extratos mais altos de

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renda. Trata-se, então, de um caso de extremo oposto ao da teoria da igualdade absoluta, visto que equaliza as rendas após o imposto, em vez de equalizar os pagamentos absolutos de imposto que desconsideram diferenças de rendas.

Na realidade, um sistema de tributação progressiva da renda baseia-se em duas hipóteses:

i) é possível comparar utilidades entre contribuintes; e

ii) a utilidade marginal da renda é decrescente.

Trata-se de duas hipóteses nada realistas. Primeiro, porque a utilidade não pode ser medida em termos cardinais, ou seja, não há como comparar a utilidade interpessoal entre contribuintes, devido o alto grau de subjetividade que envolve o tema. Segundo, o conceito de capacidade de pagamento, dadas aquelas hipóteses, implica que a capacidade para pagamento do imposto aumenta mais do que proporcionalmente relativamente ao crescimento da renda, porque a utilidade marginal da renda declina a uma taxa crescente à medida que a renda se torna maior3.

Em resumo, na prática, o grau de progressividade da tributação tem repousado sobre um julgamento de valor da sociedade a respeito da utilidade agregada social, em vez de um empiricamente provável fato econômico.

No Brasil, assim como em outros países, a progressividade tem se restringido a um intervalo entre as faixas de rendas baixas e médias, onde a tributação é crescente, tornando-se constante a alíquota marginal a partir de um determinado nível de renda considerado elevado, com tendência da alíquota média de praticamente se igualar à alíquota marginal. Isso significa que, a partir desse ponto, a legislação entenderia que a utilidade marginal da renda deixa de ser decrescente.

4. Algumas conclusões

Pelo que foi discutido acima, fica evidente que o sistema tributário deve ser estruturado, tomando-se por base os princípios do

3 Um aumento salarial de R$1.000,00 para R$1.500,00 tem uma utilidade marginal maior para o indivíduo do que se o seu salário passar de R$10.000,00 para R$10.500,00, e mais ainda se o salário passar de R$100.000,00 para R$100.500,00!

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benefício e da capacidade de pagamento. Existe uma série de serviços coletivos pelos quais o governo pode aplicar o princípio do benefício. Entretanto, uma outra parcela significativa da tributação seria proveniente da tributação feita com base na capacidade de pagamento.

O sistema tributário de um país existe para financiar as atividades a serem desempenhadas pelo governo que, em última instância, deverão melhorar a qualidade de vida e o nível de bem-estar da sociedade.

Na definição do sistema tributário, como foi visto, devem ser observados alguns princípios ditos universais. Em primeiro lugar, deve-se buscar um mecanismo tributário que seja o mais justo possível, aplicando-se, para tanto, o princípio básico da eqüidade, tratando igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. A observância desse princípio contribui para que o sistema seja mais justo e não penalize as classes de renda menos favorecidas, de menor nível de renda.

Em segundo lugar, o sistema tributário deve contemplar, também, a neutralidade. Isso significa que sua estruturação deve ser feita de tal forma que não distorça os preços relativos dos bens e serviços, tornando o tributo um fator decisivo de competitividade no mercado. Nesse sentido, o tributo deve ser universal, atingindo da mesma forma os bens e serviços com características similares e competitivos entre si.

Por fim, é necessário que a sociedade tenha uma percepção de que há uma perfeita relação de custo/benefício no que se refere aos gastos do governo e à tributação.

* * *

5. Um resumo do que foi visto aqui

Os principais pontos abordados nesta nossa Aula Zero, de Finanças Públicas, foram:

i) A idéia da justiça fiscal é antiga e teve um maior desenvolvimento com os avanços das liberdades individuais, políticas e econômicas.

ii) Este desenvolvimento gerou duas propostas básicas: a de que o cidadão deve contribuir para as despesas do Estado conforme os benefícios recebidos ou conforme sua própria capacidade de pagamento.

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iii) Pelo princípio do benefício, os impostos são vistos como preços pagos pelos serviços públicos recebidos pelo indivíduo. Esse enfoque admite algumas interpretações:

a) que os impostos devem equivaler aos benefícios totais usufruídos pelos indivíduos, a partir dos gastos públicos;

b) que os impostos não precisam ser equivalentes aos benefícios totais recebidos, mas apenas proporcionais a eles;

c) que os impostos devem ser distribuídos de acordo com os benefícios marginais recebidos.

iv) Ainda que defensável, do ponto de vista lógico, não existem meios que permitam operacionalizar o critério do benefício, por não serem os serviços do governo sujeitos a lei do preço.

v) A preferência das sociedades modernas e democráticas é pela aplicação do princípio da capacidade de pagamento. O sinal mais indicativo dessa capacidade é preferencialmente a renda.

vi) Na aplicação do princípio da capacidade de pagamento, exige-se “igual tratamento para os iguais” (eqüidade horizontal) e “desigual tratamento para desiguais” (eqüidade vertical).

vii) Nesta última hipótese, os modernos sistemas tributários consagram a progressividade na tributação, ou seja: o rico deve pagar proporcionalmente mais e o pobre proporcionalmente menos. Essa idéia baseia-se na hipótese de que a renda está sujeita à lei da utilidade marginal decrescente.

________________

Apêndice: Uma digressão sobre o princípio da utilidade marginal decrescente

Em finanças públicas, comumente se utiliza o termo marginal, mais particularmente utilidade marginal. Este termo foi muito citado ao longo do texto desta Aula Demonstrativa, e o mesmo deve ocorrer nas próximas aulas. Para aqueles alunos não familiarizados com a terminologia da microeconomia, vale a pena esclarecer melhor o significado deste termo.

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O termo marginal, em economia, significa sempre o acréscimo no total de uma variável decorrente do acréscimo de uma unidade de outra variável correlata. Assim, por exemplo, temos o conceito de produto marginal – que pode ser definido como o acréscimo no produto total decorrente do emprego de mais um homem na fábrica ou na fazenda. Também temos o conceito de custo marginal – que seria o acréscimo no custo total decorrente, digamos, da produção de mais uma unidade do produto.

Nesta linha de raciocínio, um dos conceitos mais importantes é o conceito de utilidade marginal – que pode ser definido como o acréscimo na satisfação total do consumidor quando ele consome mais uma unidade de um determinado produto.

De uma forma geral, a utilidade marginal dos bens é decrescente: quanto mais você consome de um produto, menos satisfação você tem com o consumo da última unidade consumida. Em outras palavras, a satisfação trazida pelo terceiro copo d’água ingerido é menor do que aquela trazida pelo primeiro copo d’água! Ou, o primeiro bife é mais “saboroso” do que o segundo ou o terceiro bife!

Com base nesse conceito de marginalidade, os economistas desenvolveram uma teoria do comportamento do consumidor fundamentada em três axiomas:

i) os consumidores gastam sua renda de forma a maximizar sua satisfação (utilidades);

ii) dentro de certos limites, quanto mais de um bem o consumidor adquire, maior é a utilidade total por ele recebida;

iii) cada unidade adicional de um bem gera um menor incremento de utilidade, em relação às unidades consumidas anteriormente.

Este último axioma – o princípio da utilidade marginal decrescente – assume implicitamente a possibilidade de medição dos incrementos de satisfação. Também pressupõe que este efeito declinante prevaleceria quando o consumo de todas as mercadorias e serviços expandisse simultaneamente.

Como tal expansão só pode ocorrer caso a renda aumente, a conclusão final é a de que a renda está sujeita à lei da utilidade marginal decrescente.

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Mas, será que, efetivamente, a renda está sujeita à utilidade marginal decrescente?

Na verdade, a conclusão de que aumentos na renda trazem incrementos decrescentes de satisfação não se fundamenta em critérios diretos de medição, mas deriva de uma lógica fruto da observação do comportamento econômico dos indivíduos.

A questão que se coloca é a seguinte: pode-se afirmar que a perda de utilidade pela redução de R$ 1.000,00 da renda de um homem rico deverá sempre ser menor do que o ganho de um homem pobre, cuja renda tenha sido aumentada em R$ 1.000,00? A resposta aparentemente mais lógica seria sim. Mas, esta questão não é tão pacífica assim. Mesmo porque, contestam alguns economistas, dois indivíduos com a mesma renda derivam diferentes níveis de satisfação de um mesmo padrão de gastos.

Como se vê, a questão é polêmica e está aberta ao debate.

Com essas considerações, encerramos esta nossa Aula Zero – ou Aula Demonstrativa - de Finanças Públicas. Nossa próxima Aula – a de n° 1 – versará sobre “Tipos de Impostos: progressivos, regressivos, proporcionais, diretos e indiretos”. Até lá! Mozart Foschete

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AULA 1: IMPOSTOS, TARIFAS, CONTRIBUIÇÕES FISCAIS E PARAFISCAIS:

DEFINIÇÕES.

1. Introdução

De acordo com o art. 3° do Código Tributário Nacional (CTN), tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

Vamos entender bem esta definição legal do que seja tributo. Pelo que está dito acima, ao definir que se trata de uma prestação pecuniária, a lei objetiva garantir ao Estado os recursos financeiros necessários para financiar suas despesas. Ou seja, nos sistemas tributários modernos não há mais o tributo in natura, pago em espécie ou em bens e serviços. Paga-se tributo em dinheiro.

Além de pecuniária, o tributo é também compulsório – ou seja, o pagamento do tributo independe da vontade do contribuinte, nascendo diretamente da lei. Ademais, o tributo é expresso em unidades monetárias, não podendo ser avaliado em termos de outros bens ou serviços. Não há, portanto, a figura do tributo in natura ou in labore.

E o que seria um tributo in natura ou in labore? Um exemplo de tributo in natura: o governo fixa um imposto sobre a importação de carne bovina, determinando que, para cada tonelada importada, o importador deveria entregar ao Fisco, a título de tributo, 100 quilos. Da mesma forma, seria um imposto in natura caso a lei determinasse que, para cada quilo de ouro extraído, os produtores nacionais entregassem 100 gramas ao órgão representante da União.

Já um tributo in labore ocorreria caso a lei determinasse que todo profissional liberal, para ser autorizado a trabalhar como tal,

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deveria prestar um dia de serviço por mês a um órgão governamental.

Se tais formas de pagamento de tributo já foram usadas no passado, num ou noutro país, isso já não ocorre modernamente. Nas sociedades democráticas modernas os tributos devem ser quitados em moeda, mediante a entrega de dinheiro ao órgão governamental arrecadador.

Ainda com relação à definição do CTN, está lá a expressão “que não constitua sanção de ato ilícito”. Isso quer dizer simplesmente que a incidência do tributo é sempre um ato lícito – distinguindo-se, portanto, de penalidade exatamente porque esta tem como hipótese de incidência um ato ilícito. Ou seja, tributo não é penalidade! Não se pode, contudo, concluir daí que o tributo não pode incidir sobre uma atividade econômica ilícita. Do ponto de vista tributário, um fato gerador de tributo pode perfeitamente ocorrer em circunstâncias ilícitas.

Exemplificando: suponha que um indivíduo percebe um rendimento decorrente da exploração de lenocínio, ou de casa de prostituição ou de jogo de azar – atividades estas tipicamente criminosas ou ilícitas. Nestas hipóteses, o imposto de renda é perfeitamente devido. E, neste caso, o tributo não está incidindo sobre a atividade ilícita, mas sim sobre a renda auferida pelo indivíduo. Do ponto de vista da lei tributária, a condição necessária e suficiente para o surgimento da obrigação tributária – isto é, da incidência do imposto de renda – é o recebimento da renda ou de proventos de qualquer natureza. E não importa como esse recebimento ocorreu1.

Continuando com a interpretação da definição do CTN do que seja tributo, diz lá que deve o mesmo ser instituído em lei. Ou seja, só a lei pode criar um tributo. Isso decorre do princípio da legalidade, prevalente no Estado de Direito, princípio este ratificado no art. 150, inciso I, da Constituição Federal que diz que nenhum tributo será exigido sem que a lei o estabeleça. E, neste caso, trata-se, em princípio, de lei ordinária.

1 O art. 43 do CTN diz que, para que o imposto de renda seja devido é necessário que ocorra aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza. Essa situação é suficiente para que se configure o fato gerador deste tributo.

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Por fim, diz a definição do CTN sobre tributo que este deve ser cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada. E o que vem a ser isso? De acordo com os tributaristas, isso quer significar que a autoridade administrativa não pode, a seu juízo e a seu belo alvitre, preencher eventuais lacunas da lei, dando a sua interpretação pessoal a um determinado caso. A lei tributária deve ser exaustiva, para evitar casuísmos, descrevendo o fato gerador da obrigação tributária, a base de cálculo, a alíquota, o prazo para pagamento, e tudo o mais. Nada deve ficar a critério da autoridade administrativa.

De tudo isso, o que deve ficar claro é que a cobrança de um tributo deve ser feita de forma oportuna e pelos meios estabelecidos na lei, sem caber à autoridade administrativa decidir se cobra do individuo A e deixa de cobrar do indivíduo B, por este ou por aquele motivo. Ou o tributo é devido, nos termos da lei, e nesse caso tem de ser cobrado, ou não é devido, também nos termos da lei, e neste caso não será cobrado.

2. Espécies de tributo

Tributo pode ter como fator gerador tanto uma situação independente de qualquer atividade estatal específica relativa ao contribuinte, como uma atuação estatal específica relativa ao contribuinte.

No primeiro caso, existem os chamados tributos não-vinculados (impostos) e, no segundo, tributos vinculados (taxas e contribuições de melhoria). A cobrança de impostos não está associada ou vinculada a qualquer atuação ou atividade do Estado. O imposto existe independentemente da prestação específica de um serviço ou de uma obra pelo governo. Já a cobrança de taxas e de contribuições de melhoria necessariamente está associada ou vinculada a uma atividade, ou a um serviço ou a uma obra realizada pelo governo.

Tributo é gênero, tendo como espécies: os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria. Vamos descrever as características de cada um.

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3. Imposto

Conforme disposto no art. 16 do CTN, imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.

A rigor, a única exigência para que surja a obrigação de pagar um imposto é que esteja previsto em lei. Esta é a condição necessária e suficiente para que o imposto seja devido. Em relação ao imposto, a situação prevista em lei não vincula a obrigação tributária a nenhuma atividade específica do Estado para com o contribuinte.

Existem várias hipóteses de incidência do imposto e o exame de todas elas mostra que em nenhuma hipótese está presente a atuação do Estado. Ao contrário, em todas elas a condição prevista em lei como necessária e suficiente ao surgimento da obrigação tributária está sempre relacionada com o fato de o contribuinte possuir algo de valor econômico, ou agir economicamente ou ganhar uma renda, sem qualquer vinculação com o agir ou o atuar do Estado.

Um exemplo típico do que estamos dizendo é o caso do imposto de renda cuja cobrança pelo Estado depende exclusivamente do fato de alguém auferir uma renda, nada mais.

3.1. Classificação dos Impostos

Existem muitos critérios que podem ser utilizados para a classificação dos impostos, tudo dependendo do objetivo que se tem em mente. Neste ponto de nosso Curso, vamos nos limitar à classificação quanto à competência para a instituição do imposto. Mais adiante, introduziremos outros tipos de classificação.

De uma forma geral, quanto à competência, os impostos podem ser classificados em:

a) federais;

b) estaduais; e,

c) municipais.

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3.1.1. Impostos Federais:

São os seguintes os impostos da competência da União:

i) Imposto de importação

Há um entendimento universal de que os tributos aduaneiros não devem ser de atribuição dos Estados-membros ou dos Estados Federados. Por terem implicações externas (internacionais!), tal atribuição deve caber ao Estado-Central ou, no caso brasileiro, à União.

Este é o caso do imposto de importação, também chamado de “tarifa aduaneira”, ou de “direitos aduaneiros” ou, ainda, de “tarifa de importação”.

O fato gerador do imposto de importação, conforme diz o art. 19 do CTN, é a entrada do produto estrangeiro em território nacional. Já o seu contribuinte é o importador ou quem a ele se equiparar. Quando se tratar de produtos apreendidos ou abandonados, o contribuinte será o arrematante destes.

Um outro aspecto importante a mencionar relativamente ao imposto de importação é o seu caráter ou função extra-fiscal. Em outras palavras, sua criação tem como objetivo principal a proteção à indústria nacional e não, necessariamente, a arrecadação de recursos financeiros para o Tesouro Nacional.

ii) Imposto de exportação

De acordo com o art. 153, inciso II, da Constituição Federal, compete à União instituir e cobrar o imposto sobre a exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados.

O fato gerador deste imposto se caracteriza no momento da saída daqueles produtos do território nacional, coincidindo, no caso, com a expedição da guia de exportação ou documento

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equivalente. O contribuinte deste imposto é o exportador ou quem a ele se equiparar.

Atente-se, porém, que nem todos os produtos exportados estão sujeitos ao imposto de exportação, mas somente aqueles constantes da lista elaborada pelos órgãos competentes do Poder Executivo. Se o produto que sair do território nacional não constar da lista, trata-se, no caso, de não-incidência tributária.

De outra parte, tal como no caso do imposto de importação, a função predominante do imposto de exportação é extra-fiscal, prestando-se muito mais como instrumento de política econômica do que como fonte de recursos financeiros para o Estado.

Um aspecto importante quanto ao imposto de exportação é que, por se constituir num instrumento de política econômica, a ele não se aplica o princípio da anterioridade da lei em relação ao exercício financeiro de cobrança, havendo, inclusive, a possibilidade de alteração de alíquotas pelo Poder Executivo, a qualquer tempo.

iii) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza

O imposto sobre e renda e proventos de qualquer natureza, ou simplesmente imposto de renda, como é geralmente conhecido, é mais um imposto da competência federal. A razão ou pretexto para isso é que se trata de um poderoso instrumento de redistribuição da renda – um objetivo que se insere muito mais no campo de um governo federal do que de um governo regional.

O imposto de renda se constitui, hoje, na principal fonte de receita tributária da União, tendo, como tal, uma função essencialmente fiscal. Mas, também não deixa de ter uma função extra-fiscal pois freqüentemente é usado como instrumento de redistribuição da riqueza dos mais aquinhoados para os menos favorecidos, bem como para estimular o desenvolvimento regional e setorial.

Tanto a Constituição Federal (art. 153, III) como o CTN (art. 43) definem como fato gerador do imposto de renda a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica da renda, ou seja o

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produto do capital, do trabalho ou de ambos, e a aquisição de proventos de qualquer natureza, aí compreendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no conceito de renda.

Deve ficar claro que, pela legislação tributária vigente, a incidência do imposto independe da denominação da renda, da sua origem e da forma de percepção da renda. Ainda que o conceito de renda seja discutível e polêmico, o CTN deixa bem claro que renda é sempre um produto ou resultado do trabalho e/ou do capital, considerando como proventos os acréscimos de patrimônio que não se enquadrarem no conceito de renda.

De outra parte, quando o CTN menciona “a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica” quer dizer que a renda ou os proventos se limitam àqueles que foram pagos ou simplesmente creditados. Com tal entendimento, não se pode enquadrar como renda – para efeitos de tributação sobre a pessoa física – o lucro não distribuído pela empresa a seus sócios. Nesse caso, a renda não está disponível para o sócio.

Um outro aspecto a registrar é que, para efeitos de tributação, não existe renda presumida. A existência da renda tem de ser real. Presumido ou arbitrado pode ser o montante da renda, mas não a sua a existência.

No caso de pessoa física ou natural, a base de cálculo é, em regra, o rendimento bruto mensal por ela auferido. Diz-se “em regra” porque, na prática são permitidas algumas deduções, como pensões alimentícias e encargos por dependentes, despesas médicas e com educação, etc.. Já no caso de pessoa jurídica, a base de cálculo do imposto é o lucro que, conforme cada caso, pode ser real, presumido e arbitrado.

Por lucro real deve-se entender o acréscimo real do patrimônio da empresa, durante certo período. O lucro presumido aplica-se às pequenas firmas e às pessoas jurídicas cuja receita bruta seja inferior a determinado montante e que, uma vez atendidas certas exigências legais, são dispensadas de fazer escrituração contábil. Nesse caso, o imposto de renda é calculado sobre o lucro presumido – sendo este o resultado da aplicação, sobre a receita bruta, de coeficientes estabelecidos pela lei.

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Um ponto importante a considerar é que a aplicação do critério do lucro presumido é uma opção do contribuinte que atende as exigências legais para este fim, e não uma obrigatoriedade ou uma imposição do fisco.

Já a tributação com base no lucro arbitrado é aplicada nas seguintes hipóteses:

i) a empresa, sujeita à tributação com base no lucro real, não dispõe de contabilidade ou escrituração na forma da lei;

ii) a empresa, sujeita à tributação com base no lucro presumido, deixa de cumprir as obrigações acessórias relativas à sua determinação;

iii) recusa do contribuinte em apresentar à autoridade da Administração tributária os livros ou documentos de escrituração;

iv) a escrituração do contribuinte contém vícios, erros ou deficiências que a tornam imprestáveis para a apuração do lucro;

v) opção espontânea do contribuinte por essa forma de cálculo do imposto.

Atente-se que o lucro arbitrado será um percentual da receita bruta; caso esta seja desconhecida, cabe ao Ministro da Fazenda fixar aquele percentual, conforme o tipo de atividade econômica do contribuinte. Mas, sempre restará ao contribuinte o direito de demonstrar que não auferiu realmente o lucro no valor arbitrado pela autoridade administrativa.

De outra partem, o contribuinte do imposto de renda pode ser pessoa física ou pessoa jurídica. Pessoa física é a pessoa natural, o indivíduo. Pessoa jurídica é aquela criada pelo Direito – geralmente identificada como uma empresa, por menor que esta seja.

Vale observar que as pessoas jurídicas dedicadas, apenas, à prestação de serviços profissionais são isentas do imposto de renda, sendo os seus sócios tributados pelos lucros respectivos. Este seria, por exemplo, o caso de um escritório de advocacia, devidamente registrado como tal e com três, quatro ou mais advogados sócios.

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iv) Imposto sobre produtos industrializados

O imposto sobre produtos industrializados – ou simplesmente IPI – é outra espécie de tributo da competência da União. Isso está estabelecido no inciso IV do art. 153, da CF, e repetido no art. 46 do CTN. Mas, embora a competência para a sua instituição e cobrança seja do Governo Federal, vale observar que uma significativa parcela da arrecadação do IPI é transferida aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios – conforme está disposto no art. 159, incisos I e II, da CF.

Do ponto de vista constitucional, o IPI é um imposto seletivo em função da essencialidade do produto (art. 153, §2°, inc. IV, da CF) e, como tal, tem função extra-fiscal. No entanto, dado o volume expressivo de receita que acarreta para a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, não há como negar-lhe também o caráter fiscal.

De acordo com o CTN, para efeitos do IPI, considera-se industrializado o produto que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo.

Já nos termos do art. 46 do CTN, constitui-se fato gerador do IPI:

a) seu desembaraço aduaneiro, quando se tratar de produto importado;

b) a saída do produto do estabelecimento do contribuinte; e,

c) sua arrematação, quando apreendidos e levados a leilão.

Justamente por se tratar de um imposto seletivo, as alíquotas do IPI são as mais diversas, variando, hoje, desde zero até 365,63%. Na prática, a maioria das alíquotas, porém, situa-se abaixo de 20%.

A alíquota zero significa que o produto não sofre, temporariamente, o ônus do tributo, mas não está isento do imposto. A isenção só pode ser concedida por lei, mas, constitucionalmente, o Poder Executivo pode alterar a qualquer

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tempo as alíquotas do IPI (mas, claro, dentro de certos limites fixados em lei).

Assim, quando o governo quer “privilegiar”, por alguma razão, algum produto, utiliza o expediente de reduzir a zero sua alíquota, sem que isso se constitua numa isenção. A qualquer tempo, esta alíquota zero pode ser aumentada, independentemente de lei específica para isso.

Um aspecto importante a mencionar é que, por força de dispositivo constitucional, o IPI é um imposto não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas (fases) anteriores (art. 153, §3°, inc. II, da CF).

E quem são os contribuintes do IPI? –São contribuintes do IPI:

a) o importador ou quem a ele a lei equiparar;

b) o industrial ou quem a ele a lei equiparar;

c) o comerciante de produtos sujeitos ao imposto, que os forneça aos industriais ou aos a estes equiparados;

d) o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados, levados a leilão.

E mais: Pelo disposto no art. 51 e seu parágrafo único, do CTN, para os efeitos do IPI considera-se contribuinte autônomo qualquer estabelecimento de importador, industrial, comerciante ou arrematante.

v) Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro e sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários

Como se trata de um imposto que se presta como instrumento de política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores, a competência para sua instituição deve mesmo ser da União e, por isso mesmo, todas as operações compreendidas no campo deste imposto são disciplinadas por lei federal.

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O Imposto sobre operações de crédito, de câmbio e seguro ou relativas a títulos e valores mobiliários, ou, simplesmente, imposto sobre operações financeiras – IOF -, como é conhecido na prática, tem uma função predominantemente extra-fiscal. De fato, embora contribua com elevadas receitas para o Tesouro, o IOF é muito mais um instrumento de política “financeira” do governo, do que um simples meio de arrecadação de receitas.

Conforme estabelece o art. 63 do CTN, são as seguintes as hipóteses de incidência desse imposto:

a) a efetivação de uma operação de crédito;

b) a efetivação de uma operação de câmbio;

c) a efetivação de uma operação de seguro; e,

d) a emissão, transmissão, pagamento ou resgate de títulos e valores mobiliários.

Um ponto interessante a registrar é que, constitucionalmente, as alíquotas desse imposto podem ser alteradas por norma do Poder Executivo, atendidas as condições e os limites fixados em lei, não se sujeitando ao princípio da anterioridade, nem ao princípio da legalidade.

De outra parte, conforme dispõe o art. 66 do CTN, o contribuinte deste imposto pode ser qualquer das partes na operação tributada, ficando a critério do legislador ordinário esse indicação.

vi) Imposto sobre a propriedade territorial rural

A atribuição constitucional do imposto sobre a propriedade territorial rural à União se explica simplesmente pelo propósito de utilizá-lo como instrumento de fins extra-fiscais, funcionando como meio auxiliar do disciplinamento estatal da propriedade rural, atentando-se que este imposto é considerado um importante instrumento no combate aos latifúndios improdutivos.

Conforme reza o art. 29 do CTN, o fato gerador do ITR é a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localizado fora da zona urbana do Município.

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A alíquota do ITR varia de 0,3% a 20% em função da área do imóvel e do grau de sua utilização e o seu contribuinte é o proprietário do imóvel, o titular de seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título (art. 31 do CTN).

vii) Imposto sobre grandes fortunas

O art. 153, inc. VII, da Constituição Federal de 1988 atribui à União a competência para instituir imposto sobre grandes fortunas, nos termos da lei complementar. No entanto, até o presente momento, nem este imposto foi instituído, nem foi editada a lei complementar para definir o que se deve entender como grande fortuna.

3.1.2. Impostos Estaduais:

São os seguintes os impostos da competência estadual:

i) Imposto sobre heranças e doações;

ii) Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e prestações de serviços – ICMS;

iii) Imposto sobre a propriedade de veículos automotores.

Por serem do âmbito estadual e, como tal, não interessarem à Receita Federal, deixamos de tecer comentários sobre os impostos acima.

3.1.3. Impostos Municipais:

São os seguintes impostos da competência do Município:

i) Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU;

ii) Imposto sobre a transmissão “inter-vivos” de bens móveis e direitos a eles relativos;

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iii) Imposto sobre serviços de qualquer natureza.

Tal como no caso dos impostos estaduais, os impostos acima, por serem da competência do Município, não fazem parte do âmbito de atuação da Receita Federal, razão pela qual deixamos de fazer comentários e análises dos mesmos.

4. Contribuições sociais

As contribuições sociais, ou paraestatais ou de previdência têm características ora de imposto, ora de taxa.

Segundo o art. 149 da Constituição Federal, compete à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas.

Do dispositivo constitucional acima pode-se conceituar a contribuição social como espécie de tributo com finalidade definida, a saber, intervenção no domínio econômico, interesse de categorias profissionais ou econômicas e seguridade social.

Embora seja polêmica a definição da contribuição social como uma espécie de tributo, constitucionalmente a instituição das contribuições sociais deve observar as normas gerais de Direito Tributário, bem como os princípios da legalidade e da anterioridade, excetuando, quanto a este último, a seguridade social – que tem regras próprias, como se verá mais adiante.

Espécies de contribuições sociais

As contribuições sociais podem ser classificadas em três espécies, a saber:

a) contribuições de intervenção no domínio econômico;

b) contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas; e,

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c) contribuições de seguridade social.

Vejamos um pouco de cada uma:

i) Contribuições de intervenção no domínio econômico

O que caracteriza esta espécie de contribuição social como tributo de função tipicamente extra-fiscal é esta finalidade de intervenção no domínio econômico. De fato, esta contribuição social não se destina a suprir os cofres públicos de recursos financeiros para o custeio das atividades desenvolvidas pelo Estado. Ela é, simplesmente, um instrumento de intervenção no domínio econômico, e não um instrumento de arrecadação fiscal.

ii) Contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas

Esta contribuição social caracteriza-se como de interesse de categoria profissional ou econômica quando se destina a propiciar a organização dessa categoria, fornecendo recursos financeiros para a manutenção de entidade associativa.

Observe-se que, pelo que reza o art. 8°, inciso IV, da CF, a entidade representativa da categoria profissional ou econômica é credora de duas contribuições: uma, a contribuição fixada pela assembléia geral da categoria – esta de natureza não tributária; a outra, a prevista em lei – com caráter nitidamente fiscal.

iii) Contribuições de seguridade social

O regime jurídico das contribuições de seguridade social tem

bases bem definidas na Constituição, conforme se pode ver pelo art. 195, incisos I, II e III e seu § 6° e ainda pelos arts. 165, §n 5° e 194, inciso VII.

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De acordo com a Emenda Constitucional n° 20, de 15/12/1998, a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta ou indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estado, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais;

I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidente sobre;

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre a aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;

III – sobre a receita de concursos de prognósticos;

IV – do importador de bens ou serviços do exterior ou de quem a lei a ele equiparar.

Um aspecto importante sobre as contribuições sociais deve ser ressaltado: Parece ponto pacífico que estas contribuições não têm a função de prover o Tesouro Nacional de recursos financeiros. O que parece certo, pelo que se disse acima, é que algumas contribuições têm função parafiscal e outras, extra-fiscal.

As contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas, bem como as contribuições de seguridade social, têm uma clara função para-fiscal. Isso porque estas contribuições destinam-se a prover de recursos financeiros entidades do Poder Público com atribuições específicas, desvinculadas do Tesouro Nacional, no sentido de que dispõem de orçamento próprio.

Já as contribuições de intervenção no domínio econômico vinculam-se ao órgão do Poder Público incumbido de desenvolver ações intervencionistas, ou de administrar fundos decorrentes da intervenção estatal na economia. Como tal, têm função extra-fiscal.

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Contribuição de iluminação pública

Antes de encerrar este tópico sobre contribuições sociais, vale registrar que a Emenda Constitucional n° 39, de 19/12/2002, introduziu na C.F. o art. 149-A, atribuindo aos municípios e ao Distrito Federal competência para instituir contribuição destinada ao custeio da iluminação pública. Referido dispositivo constitucional facultou, inclusive, a cobrança daquela contribuição na fatura de energia elétrica.

5. Taxas

Diferentemente do imposto – cujo fato gerador não está vinculado a nenhuma atividade estatal específica relativa ao contribuinte – a taxa, pelo contrário, tem como principal característica o fato de que sua incidência está vinculada a uma atividade estatal específica relativa ao contribuinte.

Daí, dizer-se que a taxa é um tributo vinculado. Mas, observe-se que se tal vinculação a distingue do imposto, não é a mesma suficiente para sua identificação específica, pois também a contribuição de melhoria – como se verá adiante - tem seu fato gerador vinculado a uma atividade estatal específica. Assim, é importante salientar que a taxa é vinculada a um serviço público, ou ao exercício do poder de polícia.

Resumindo, e pelo que se pode deduzir do disposto no art. 145, inciso II, da CF, e no art. 77 do CTN, taxa é espécie de tributo cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia, ou o serviço público, prestado ou posto à disposição do contribuinte.

A definição de “poder de polícia” está contida no art. 78 do CTN:

“-Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ao ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público,

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à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.

Como exemplos de taxas nas quais o fato gerador é o poder de polícia podem ser citados: a taxa de licença para construções ou edificações; a licença para a localização e funcionamento de atividade empresarial, cobrada pelos municípios; a taxa de licença cobrada para publicidade por meio de outdoors, e outras.

Já em relação ao “serviço público”, o CTN não estabeleceu sua definição ou conceito. Os administrativistas entendem por serviço público toda e qualquer atividade prestacional realizada pelo Estado, ou por quem fizer suas vezes, para satisfazer, de modo concreto e de forma direta, necessidades coletivas.

Ou seja, diferentemente do poder de polícia, o serviço público é sempre uma atividade prestacional de natureza material.

Fato Gerador

O art. 145, inc. II, da CF, estabeleceu que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição.

Em síntese, para que o serviço público possa servir como fato gerador de taxa, deve preencher os seguintes requisitos:

a) ser específico e divisível;

b) ser prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição; e,

c) ser utilizado, efetiva ou potencialmente, pelo contribuinte.

Ressalte-se que o fato gerador da taxa é sempre uma atividade estatal específica relativa ao contribuinte, envolvendo sempre os conceitos de poder de polícia e de serviço público.

2.4. Preço público

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É um tanto polêmica, em Finanças Públicas, a distinção entre taxa e preço público. Quando se trata de remuneração pelo uso ou pela aquisição da propriedade de bens do Estado, claramente a receita é um preço, e jamais uma taxa. Deve ficar claro que o preço público, ao contrário da taxa – que é uma das espécies de tributo – não possui natureza tributária e, como tal, não está sujeito aos princípios legais da tributação.

A questão surge quando se trata de serviços, onde nem sempre fica claro se a remuneração é uma taxa ou um preço. Um dos critérios sugeridos para a distinção entre os dois seria a compulsoriedade – que está sempre presente quando se trata de taxa, mas ausente em relação ao preço, que seria facultativo. Isso, inclusive, já foi objeto de decisão do próprio Supremo Tribunal Federal – que bem definiu a facultatividade para o preço público e compulsoriedade para a taxa.

O que se pode dizer é que o preço público seria uma remuneração correspondente a um serviço público não específica e necessariamente de natureza estatal, geralmente relacionada a uma atividade de natureza comercial ou industrial. Exemplos de serviços públicos de natureza privada seriam os serviços de telefonia, de energia elétrica, de saneamento básico, distribuição de gás e outros tantos.

De uma forma geral, pode-se afirmar o seguinte:

a) se a atividade estatal for típica, específica e própria das funções e atribuições do Estado, a receita é fruto de uma taxa;

b) se a atividade, a despeito de exercida pelo Estado, for mais apropriada ao campo de atuação do setor privado, a receita origina-se de um preço;

c) e se houver dúvida quanto à natureza da atividade desempenhada pelo Estado, cabe à lei definir a receita como taxa ou como preço.

Um aspecto adicional que deve ser mencionado quanto ao fornecimento de serviços públicos que, mesmo tendo características de serviço privado, acabam sendo remunerados por

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taxa e não por serviço público, é o seguinte: há um entendimento generalizado, fruto de decisões judiciais, de que os serviços de energia elétrica, de água e esgoto, de lixo e assemelhados, são remunerados, em princípio, por um preço ou tarifa pública. No entanto, se houver alguma lei dispondo que tais serviços são de fornecimento exclusivo estatal (do governo federal, ou do governo estadual ou do governo municipal), não podendo ser supridos por outros meios (entidades privadas), a remuneração é uma taxa.

6. Contribuição de Melhoria

O Código Tributário Nacional não definiu o que é contribuição de melhoria. Mas, pelo disposto no art. 81 daquele Código, não é difícil chegar-se a uma definição.

Como já vimos antes, pelo CTN, os tributos em geral podem ser vinculados – ou seja, aqueles cujo fato gerador está ligado a uma atividade estatal específica relativa ao contribuinte, como é o caso das taxas e da contribuição de melhoria – ou não vinculados – ou seja, aqueles cujo fato gerador não está ligado a nenhuma atividade estatal específica relativa ao contribuinte, como é o caso dos impostos.

Definicionalmente, podemos dizer que a contribuição de melhoria é um tributo vinculado, cujo fato gerador é a valorização de imóvel do contribuinte, decorrente de obra pública.

A esta definição pode-se acrescentar que a contribuição de melhoria tem por finalidade a justa distribuição dos encargos públicos, fazendo retornar ao Tesouro Público o valor despendido com a realização das obras públicas que provocaram a valorização do imóvel.

Assim considerado, podemos afirmar que a contribuição de melhoria tem uma função fiscal, e também uma função redistributiva de eqüidade fiscal.

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O fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização do imóvel do qual o contribuinte é proprietário, ou enfiteuta2, atentando-se que tal valorização deve decorrer de obra pública. Ou seja, não basta a realização da obra para que seja devida a contribuição de melhoria. É necessário que haja valorização do imóvel e que esta seja conseqüência da obra pública.

Distinção entre contribuição de melhoria e de taxa

Tanto a contribuição de melhoria como a taxa são tributos vinculados a atividade estatal, mas isso não as faz sinônimas. A taxa – como já foi bastante enfatizado - tem seu fato gerador relacionado com o exercício regular do poder de polícia ou com uma prestação de serviços. Já a contribuição de melhoria tem seu fato gerador ligado necessariamente a uma obra pública. Também não se pode confundir uma obra com um serviço público. Na obra pública, a atividade estatal termina quando o bem público fica pronto; no serviço público, a atividade é permanente. Por exemplo, a pavimentação de uma avenida é uma obra pública; já a sua limpeza e conservação é um serviço público.

* * * Com essas considerações, nós encerramos nossa Aula de n° 1 –

que, na verdade, é nossa 2ª Aula, já que a primeira – a Aula Demonstrativa – teve o número zero! ______________________ Bibliografia consultada para a elaboração deste texto:

1. Machado, H. B, Curso de Direito Tributário, Malheiros Editores, 26ª Edição, S.Paulo, 2005.

2. Constituição Federal de 1988, especialmente o Título VI – Da Tributação e do Orçamento.

3. Código Tributário Nacional. 4. Foschete, M. – Os impostos no Brasil – Unipac-BD, 2002 –

(Texto p/ discussão – mimeo).

2 Enfiteuse é a cessão do domínio útil, com reserva de domínio direto, de uma propriedade, pelo seu dono ao enfiteuta mediante o pagamento de pensão ou foro anual.

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AULA 2: TIPOS DE IMPOSTOS: PROPORCIONAL, PROGRESSIVO, RE-GRESSIVO, DIRETOS E INDIRETOS. A

CARGA FISCAL. Observação: Esta Aula 2 cobre os tópicos 3 e 5

do programa de Finanças Públicas.

1. Introdução

Dependendo da forma pela qual é imposta, a tributação afetará diferentemente os vários setores da economia, bem como os indivíduos e as empresas. De uma forma geral, os tributos são cobrados de acordo com a renda dos indivíduos, e/ou de acordo com as propriedades, com a riqueza, com os lucros das empresas e os bens e serviços.

Embora o imposto de renda se constitua como a mais importante fonte de receitas fiscais na maioria dos países, sempre existe o problema quanto ao que se deve considerar como “renda”. As opiniões divergem quanto a isso, principalmente quando se trata de tributá-la.

Mais complicada e controversa ainda é a definição do que seja “riqueza” para efeitos de tributação. Embora a tributação da riqueza possa se constituir numa excelente fonte de arrecadação tributária, a experiência de vários países mostra que isso não ocorre muito na prática, provavelmente devido às dificuldades de se apurar e definir de forma apropriada a riqueza para efeitos tributários.

Um outro tipo de tributação é aquele incidente sobre os bens e serviços – denominada como tributação indireta, como se verá adiante – e que tem representado uma significativa fonte de arrecadação.

De uma maneira geral, a estrutura de arrecadação fiscal da maioria dos países é baseada nas fontes mencionadas acima, dando origem a diversas classificações de tributos. Em primeiro lugar, esses tributos podem ser classificados em diretos e indiretos; os tributos diretos, por sua vez, podem ser classificados em

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proporcionais, progressivos e regressivos. Vejamos um pouco de cada um deles:

2. Tributos diretos e indiretos

A diferença básica entre esses dois tipos de tributos está na maneira como eles afetam os indivíduos na sociedade. Conceitualmente, o tributo direto é aquele que incide sobre a renda e o patrimônio do indivíduo e das empresas. Neste caso, costuma-se dizer que o agente que recolhe o tributo é o próprio contribuinte, isto é, aquele que, em última análise, arca com o ônus do tributo. Como exemplos de impostos diretos podemos mencionar o imposto sobre a renda e os impostos sobre o patrimônio – IPTU, IPVA, ITR, etc.

Já o tributo indireto é aquele que é cobrado sobre os bens e serviços consumidos pelo indivíduo, sendo geralmente incorporados aos preços. Como exemplos de impostos indiretos podemos mencionar o IPI, o ICMS, o ISS, o imposto de importação, o IOF, etc.

Costuma-se dizer que, como o tributo indireto está incorporado aos preços dos produtos, nem sempre aquele que arca com o ônus deste imposto é quem o recolhe ao fisco. O produtor/vendedor – responsável pelo recolhimento do imposto - tem, dependendo do tipo de produto, perfeitas condições de repassá-lo ao consumidor.

O peso de cada um desses tipos de tributos na arrecadação tributária mostra a maneira pela qual os tributos atingem os indivíduos na sociedade. Ou seja, dependendo das participações relativas dos tributos diretos e indiretos no total da arrecadação fiscal, o sistema tributário estará penalizando mais ou menos determinada camada da população.

Com regra geral pode-se afirmar que: - Se os impostos diretos tiverem maior participação relativa, significa que o sistema tributário estaria obtendo maior volume de receitas das camadas mais ricas da população. Se a maior parcela da arrecadação tributária tiver como fonte os tributos indiretos, o maior ônus do imposto estaria recaindo sobre as camadas mais pobres.

3. Sistemas de tributação

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Dependendo do tratamento tributário dado às diversas camadas de renda na sociedade, os sistemas tributários podem ser classificados em proporcional, progressivo ou regressivo. Vejamos as características de cada um:

3.1. Sistema proporcional

Um sistema é dito proporcional quando se aplica a mesma alíquota do tributo para os diferentes níveis de renda. A Tabela 1 mostra um exemplo desse sistema e seus efeitos sobre as diversas classes de renda. Esta Tabela divide hipoteticamente a população em quatro classes – A, B, C, D – com rendas brutas variando de 1.000 a 4.000. A coluna (C) mostra uma alíquota do imposto de renda de 10%, igual para todas as quatro classes – o que, no caso, representa um imposto proporcional.

Tabela 1

Sistema de tributação proporcional

(A)

Classes de renda

(B)

Renda bruta

(C)

Alíquota

(%)

(D)

Imposto pago

(E)

Renda líquida

(=(B)–(D)

(F)

% da

renda total

antes do Imposto

(G)

% da renda total

depois do imposto

A

B

C

D

1.000

2.000

3.000

4.000

10

20

30

40

100

200

300

400

900

1.800

2.700

3.600

10

20

30

40

10

20

30

40

10.000 1.000 9.000 100 100

As colunas (D) e (E) mostram, respectivamente, o imposto pago por cada classe e a renda líquida após deduzido o imposto. Já as colunas (F) e (G) mostram quanto a renda de cada classe representava, proporcionalmente, em relação ao total da renda das quatro classes, antes e depois do imposto. Verifica-se que, a aplicação de uma mesma alíquota a todas as classes de renda não altera aquela relação após deduzido o imposto. Em outras

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palavras, um sistema de tributação proporcional não tem impacto ou efeito nenhum sobre a distribuição da renda na sociedade.

3.2. Sistema progressivo

Num sistema tributário dito progressivo, as alíquotas do imposto de renda crescem à medida que cresce a renda. A Tabela 2 mostra claramente os efeitos sobre a distribuição da renda quando se aplica este sistema. Aqui também a população foi dividida em quatro classes, de acordo com a renda de cada um: A, B, C e D. Na coluna (C), aparecem os percentuais dos impostos aplicados e que são crescentes para as classes de renda mais alta.

Tabela 2

Sistema de tributação progressivo

(A)

Classes de renda

(B)

Renda bruta

(C)

Alíquota

(%)

(D)

Imposto pago

(E)

Renda líquida

(F)

% da

renda antes do Imposto

(G)

% da renda

depois do imposto

A

B

C

D

1.000

2.000

3.000

4.000

10

20

30

40

100

400

900

1.600

900

1.600

2.100

2.400

10

20

30

40

12,8

22,8

30,0

34,4

10.000 3.000 7.000 100 100

Os efeitos da aplicação do sistema de tributação progressivo são sentidos quando se constata o novo perfil da renda líquida, comparado com o perfil da renda antes do imposto. As colunas (F) e (G) mostram a participação de cada grupo na renda total da população, antes e depois do imposto progressivo. Por ali se vê que houve uma redistribuição da renda após a aplicação do imposto.

Observe-se que a magnitude das alterações na distribuição da renda após o imposto progressivo dependerá da diferenciação das alíquotas para as diversas classes de renda. Quanto maior o

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intervalo de uma alíquota para outra, maiores serão os efeitos sobre a distribuição da renda e vice-versa.

3.3. Sistema regressivo

Um sistema é dito regressivo quando a tributação recai mais fortemente sobre as camadas mais baixas de renda. Ou seja, quanto menor a renda, maior é a proporção do imposto a ser pago pelo indivíduo. Os dados da Tabela 3, abaixo, ilustram bem o mecanismo e os efeitos da adoção de um sistema regressivo sobre as diversas camadas de rendas na sociedade.

Como nas duas Tabelas anteriores, os contribuintes foram divididos em quatro grupos – A, B, C e D – com rendas bruta variando de 1.000 a 4.000. Na coluna (C), estão aplicadas alíquotas para cada classe, com percentuais menores para os níveis de renda mais altos.

Tabela 3

Sistema de tributação regressivo

(A)

Classes de renda

(B)

Renda bruta

(C)

Alíquota

(%)

(D)

Imposto pago

(E)

Renda líquida

(F)

% da renda total

antes do Imposto

(G)

% da renda total

depois do imposto

A

B

C

D

1.000

2.000

3.000

4.000

40

30

20

10

400

600

600

400

600

1.400

2.400

3.600

10

20

30

40

7,5

17,5

30,0

45,0

10.000 4.000 8.000 100 100

Comparando-se as duas últimas colunas – (F) e (G) – verifica-se que, após a aplicação da tributação regressiva, houve uma maior concentração da renda nas classes de renda mais elevadas, em detrimento das classes de menores rendas. Este aumento da concentração de renda nas classes mais ricas é o efeito mais

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objetivo e perverso provocado pelo sistema de tributação regressivo.

4. Um resumo do que foi visto até aqui

Pelo que vimos até aqui, sabemos que, em relação à renda dos indivíduos, os tributos (ou sistesmas tributários) podem ser proporcionais, regressivos ou progressivos.

Nos três exemplos apresentados acima, pudemos verificar que, em termos absolutos, os indivíduos de classes de renda mais elevados pagam, geralmente, mais impostos. Mas, o que mais interessa é verificar como está a participação relativa (e não absoluta) dos diversos grupos de renda na arrecadação tributária. Olhando deste lado, pode-se afirmar que o peso relativo do tributo dependerá do sistema tributário adotado pela sociedade. Pelo que foi visto acima, podemos concluir o seguinte:

i) no sistema tributário proporcional, o percentual do imposto a ser pago permanece inalterado para qualquer nível de renda e a aplicação deste sistema não altera em nada o padrão da distribuição de renda da sociedade;

ii) no sistema progressivo, o percentual do imposto a ser pago aumenta com o aumento do nível de renda e a aplicação deste sistema altera o padrão de distribuição da renda, tornando-o menos desigual;

iii) no sistema regressivo, a percentual do imposto a ser pago diminui com o aumento da renda e também altera o padrão da distribuição da renda, tornando-a mais desigual.

Do ponto de vista da análise econômica, costuma-se afirmar que, num sistema tributário proporcional a alíquota marginal e a alíquota média são iguais, isto é, o imposto cresce na mesma proporção do aumento da renda; já no sistema regressivo, o alíquota marginal é menor que a alíquota média, ou seja, o imposto cresce menos que o aumento da renda; quanto ao sistema progressivo, a alíquota marginal é superior à alíquota

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média, significando que o crescimento do imposto é maior do que o aumento da renda1.

Uma outra observação importante a fazer é que, um sistema tributário é constituído de uma série de tributos: impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições sociais,etc.. Tais tributos, como foi dito na aula anterior, têm como base de incidência o consumo, os serviços, a renda e a riqueza. Todas as estruturas tributárias utilizam essas quatro fontes como base da arrecadação. Evidentemente, é certo que, nessa estrutura, haverá tributos com características fortemente regressivas, ao lado de outros com características claramente progressivas. Assim, no frigir dos ovos, a estrutura tributária de um país será progressiva ou regressiva conforme o peso de cada imposto no conjunto dos tributos.

De uma forma geral, pode-se afirmar que os sistemas tributários onde predominam os impostos indiretos são invariavelmente regressivo. Já os sistemas tributários onde predominam os impostos diretos sobre a renda e o patrimônio, tendem a ser proporcionais ou eventualmente progressivos.

5. Carga Fiscal

O conceito de carga fiscal ou tributária, como o próprio nome sugere, corresponde a uma medida do ônus ou sacrifício imposto pelo governo à sociedade de forma a gerar os recursos para financiar a produção de bens e serviços públicos e semi-públicos.

Tecnicamente falando, a carga tributária mede a proporção do produto ou da renda interna que o governo arrecada sob a forma de impostos diversos. A carga tributária corresponde, assim, a um percentual do produto do país.

Existem dois conceitos básicos de carga tributária: a carga tributária bruta (CTB) e a carga tributária líquida (CTL).

A arrecadação tributária bruta engloba todos os tributos recolhidos, a qualquer título, pelo governo em seus três níveis (União, Estados e Municípios), aí incluídos todos os tipos de tributos, como os impostos indiretos e diretos, taxas, contribuições 1 É de se notar que um imposto do tipo “per capita” (lump-sum tax) é regressivo, pois quanto maior a renda do indivíduo menor é a alíquota média em relação à sua renda.

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de melhoria, contribuições previdenciárias e outras contribuições sociais (Cofins, FGTS, PIS/Pasep, etc). A carga tributária bruta pode ser assim definida:

Carga tributária bruta (CTB) é um índice (dado em percentagem) definido pela relação entre a arrecadação tributária total e o produto interno bruto (PIB) a preços de mercado. Ou,

CTB = Receita tributária total/ PIBpm

A Tabela 4 mostra a evolução da CTB, no Brasil, pelos três níveis de governo, desde 1947. Por ali se vê que a carga tributária bruta praticamente dobrou entre os anos 50 até meados da década passada, a despeito de várias oscilações observadas ao longo do período. Isso ocorreu tanto a nível global, como a nível da União. Já a nível dos Estados, a carga tributária bruta se elevou cerca de 70%, no período, enquanto, no caso dos municípios, a CTB caiu paulatinamente ao longo do período, tendo se recuperado mais recentemente.

De outra parte, analisando-se as médias, por decêndio, verifica-se que houve uma ligeira queda da carga tributária nos anos 80, relativamente à década de 70, mas, já nos primeiros seis anos desta década, a carga tributária voltou a crescer, situando-se, na média, em 27,8% - taxa esta superior inclusive à média registrada nos anos 70 (25,5%).

Um fato interessante a observar é que, quando se analisa a evolução da carga tributária global (isto é, para o Brasil como um todo), constata-se que existe uma estreita relação entre nível da atividade econômica e arrecadação tributária. Assim, para uma dada estrutura tributária, em períodos de recessão, a carga tributária se reduz e, em períodos de expansão econômica, a carga aumenta. Ademais, observa-se que os constantes planos de estabilização adotados no País desde o Plano Cruzado, em 1986 – isto é, os famosos choques heterodoxos, como o Plano Bresser (1987), Plano Verão (Mailson, 1989), Plano Collor (1990), etc. – afetaram de forma significativa a carga tributária, contribuindo para as oscilações apresentadas ano a ano.

Tabela 4

Brasil: Evolução da Carga Tributária Bruta (% do PIB)

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Período União Estados Municípios Brasil

1947/1957 9,53 4,53 1,13 15,20

1958/1967 11,28 5,61 0,93 17,81

1970 17,33 7,95 0,70 25,7

1975 - - - 26,2

1980 - - - 23,2

1985 - - - 21,9

1990 - - - 29,6

1994 19,62 7,66 1,33 28,5

1970/1979 - - - 25,48

1980/1989 - - - 23,01

1990/1995 - - - 27,82 Fonte: i) Conjuntura Econômica, Contas Nacionais, FGV, para os dados de “Brasil”.

ii) Coget/SRF/MF para os dados desagregados por níveis de governo (Citado por José Rui.G.Rosa, texto mimeografado, nov/97.

De 1947 a 1957, a carga tributária girou entre 15% e 16% do PIB. Já no deze anos seguintes, se elevou ligeiramente para uma média em torno de 17%. A primeira mudança significativa ocorreu após a Reforma Tributária introduzida em 1966, quando a CTB média do período 1966-69 saltou par 22,4%. Na primeira metade dos anos 70 – época do “milagre brasileiro” – a carga tributária se elevou para uma média de 26%, mas já a partir de 1976 inicia uma processo de queda paulatina que se estende até o final dos anos 80, quando retroage a níveis inferiores ao da Reforma de 1966, atingindo, em 1989, 21,8%.

No entanto, em 1990, mercê das várias medidas embutidas no Plano Collor, a carga tributária dá um salto, atingindo 29,6% - um nível recorde na história tributária brasileira. Uma das razões par isso foi o fato de o Governo, à época, ter permitido o pagamento de impostos com os recursos retidos ou “confiscados” – já que os contribuintes optaram por pagar seus impostos com esses recursos temerosos que estavam de não recuperá-los de outra forma.

Interessante observar é que a carga tributária tem crescido de forma ininterrupta no Brasil desde meados dos anos 90. Já no ano 2000, a carga tributária bruta atingiu cerca de 32% do PIB,

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elevando-se a aproximadamente 35% do PIB quando da passagem do governo Fernando Henrique para o governo Lula. E, agora, passados dois anos e meio da posse do atual governo, as estimativas indicam que aquela carga já ultrapassou os 38% do PIB.

São várias as razões para este fenômeno, destacando-se, sem dúvida, além da intensificação e modernização do sistema de fiscalização da arrecadação, o aumento e a criação de novos e novos tributos, do qual a CPMF é a expressão máxima. Este aumento é justificado pelos técnicos do governo pela necessidade de gerar os famosos “superávits primários”, necessários para amortizar uma parcela dos juros da dívida interna pública, evitando que esta continue sua trajetória de crescimento exponencial.

Importante registrar que a atual carga tributária brasileira corresponde a mais do dobro de qualquer outro país latino-americano, equiparando-se à de alguns países nórdicos, como Dinamarca, Suécia, Noruega. Com uma pequena diferença: os cidadãos destes países recebem, de volta, todo o imposto que pagaram, sob a forma de excelentes escolas, hospitais, estradas, segurança. Já no Brasil, todos sabemos da baixa qualidade ou mesmo dos péssimos serviços prestados pelo governo.

Carga tributária líquida

Como foi dito, a carga tributária bruta compreende a totalidade de tributos arrecadados pelo governo. Ocorre que, antes do governo começar a gastar propriamente esses recursos, seja com educação, seja com saúde ou segurança, ele devolve para a sociedade parte desses recursos sob a forma de pensões, aposentadorias, auxílio desemprego, juros de sua dívida interna. A esses pagamentos feitos pelo governo a indivíduos - a rigor, sem a necessária contraprestação de bens ou serviços – se dá o nome de transferências governamentais.

Além dessas transferências, o governo ainda fornece subsídios ao setor produtivo, de forma a reduzir o preço no

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mercado de certos produtos, em geral julgados essenciais para o consumo da população.

Assim, se deduzirmos da totalidade dos tributos arrecadados as transferências e os subsidios, obtemos a arrecadação liquida de tributos que, dividida pelo PIBpm, nos fornece a carga tributária líquida (CTL).

6. Carga Fiscal Progressiva, Regressiva, Neutra e Carga Fiscal Ótima

Dependendo da forma como está desenhado ou estruturado o sistema tributário de um país, ele pode ter como resultado uma carga fiscal progressiva ou regressiva ou até mesmo neutra.

Caso a estrutura tributária se baseie em alíquotas que se elevam proporcionalmente à medida em que a renda do país cresce, este sistema certamente irá gerar uma carga tributária progressiva. A grande desvantagem de um sistema como este é o desestímulo que provoca nos agentes econômicos que, certamente, optarão por mais lazer ao invés de mais trabalho e mais produção.

Opostamente, se a estrutura tributária estiver assentada em alíquotas que decrescem à medida que o produto ou renda do país se expande, a carga tributária daí resultante será considerada como regressiva em relação ao valor do PIB ou da renda. Este sistema será altamente estimulante em termos de uma maior oferta de trabalho e de uma maior produção.

Por fim, caso a estrutura tributária apresente alíquotas uniformes e invariáveis e independentes do nível do produto ou renda do país, este sistema será considerado neutro do ponto de vista da atividade econômica, não interferindo nas decisões dos agentes econômicos sobre a alocação dos recursos e sobre a opção entre trabalho e lazer.

Mas até onde podem os impostos crescer? Existe algum limite para a carga tributária? A resposta pode ser dada pela chamada “Curva de Laffer”, com se descreve a seguir.

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7. A Curva de Laffer

O objetivo da curva de Laffer2 é mostrar, de uma forma hipotética, a reação ou comportamento dos contribuintes com relação às suas obrigações fiscais, particularmente em relação ao imposto de renda.

A Curva de Laffer, na verdade, relaciona os diferentes níveis de tributação do imposto de renda com a resultante e respectiva receita coletada pelo governo, conforme mostrado no gráfico a seguir:

RT RT=receita total

R2 C

R1 A B

0 30 50 70 % do IR

Observe-se que da origem (zero) até o ponto C, os aumentos nominais de alíquotas são aceitáveis pelos contribuintes, resultando em aumento da arrecadação fiscal contínua, embora a taxas decrescentes. Esse trecho da curva de Laffer é chamado de “intervalo normal de tributação”. Em outras palavras, até o ponto C, no qual se obtém a receita máxima, os indivíduos estariam dispostos a trabalhar mais para obterem a mesma renda líquida (renda bruta menos imposto).

A partir, entretanto, de C, aumentos de alíquotas desestimulariam maiores ofertas de trabalho e a receita do imposto começaria a declinar, apresentando níveis de arrecadação idênticos aos gerados com alíquotas inferiores à indicada no ponto C. Este é o caso, por exemplo, do ponto B que, embora tenha uma alíquota superior à registrada no ponto A, apresenta o mesmo volume de arrecadação fiscal. Esse trecho descendente da curva, a 2 Laffer, um economista americano, desenhou sua curva originalmente num guardanapo de papel, enquanto jantava com amigos num restaurante de Washington.

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partir do ponto C, é conhecido como o “intervalo proibitivo de tributação”.

É de se notar, ainda, que, no ponto D, à alíquota de 100%, nenhuma receita seria gerada, exatamente como ocorreria à alíquota 0%, situada na origem da curva. Contudo, as razões para a inexistência de arrecadação nos dois pontos são diferentes: em D não haveria receita por ausência de base de cálculo, uma vez que a tributação exagerada estaria desestimulando completamente o trabalho; já na origem (0), o mesmo resultado advém da nulidade da alíquota.

Em conclusão, percebe-se que as alíquotas do imposto de renda podem crescer, porém até certo limite. Uma vez atingido este limite – que só a prática definirá – qualquer aumento de alíquota é contraproducente, provocando cada vez mais reduções na receita tributária total.

De outra parte, poder-se-ia dizer que o ponto C – onde a arrecadação tributária é máxima – definiria a chamada carga fiscal ótima – que seria aquela que propicia ao governo o máximo de receita possível, sem que seja desestimulado o trabalho e a produção.

* * *

Com isso, encerramos nossa Aula de n° 3. Nossa próxima Aula – a de n° 4 – versará sobre a incidência tributária e seus efeitos na atividade econômica.

______________________

Bibliografia básica consultada para a elaboração deste texto:

1. Rezende, F. – Finanças Públicas – 2ª Edição, S.Paulo, Ed. Atlas, 2001.

2. Riani, F. – Economia do Setor Público – 3ª Edição, S.Paulo, Atlas, 1997.

3. Longo, C.A. e Troster, R.L. – Economia do Setor Público - 1ª Edição, S.Paulo, Ed. Atlas, 1995.

4. Foschete, M. – Finanças Públicas: o caso brasileiro - Unipac-BD – 2002 – (Texto para Discussão - mimeo)

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AULA 3: IMPACTO SOBRE O CONSUMIDOR E A INDÚSTRIA DE CADA TIPO DE IMPOSTO

1. Introdução

Como já foi visto, a teoria da tributação está assentada em dois princípios fundamentai: o princípio da neutralidade e o princípio da eqüidade. O princípio da neutralidade diz respeito à eficiência do tributo no sentido de não interferir nas decisões alocativas dos recursos pelos agentes econômicos. Já o princípio da eqüidade objetiva atender os requisitos de justiça na repartição do ônus fiscal, visando uma distribuição mais eqüitativa da carga tributária entre as diversas classes de contribuintes na sociedade.

Por mais neutro que sejam, é ponto pacífico que todos os tributos, sem exceção, exercem algum efeito “perverso” sobre os agentes econômicos, pela redução de sua renda – ou sobre o setor produtivo, através da alteração dos preços relativos e, daí, alterando as decisões de investimento.

Nesta Aula 4, nós vamos nos concentrar na análise técnica dos efeitos da imposição de um tributo sobre o preço dos produtos e sobre os níveis de consumo e de produção.

Do ponto de vista das finanças públicas, há que se observar que o ônus de um imposto nem sempre recai sobre o agente que tem o dever de recolher diretamente o imposto aos cofres do governo. Caso o governo aumente ou crie um imposto sobre determinado produto, é possível que este agente consiga aumentar o preço deste produto, repassando para os consumidores este ônus tributário, ou então, no caso dos seus fornecedores, é possível que este agente consiga reduzir o preço que deve pagar pelos insumos que utiliza na produção.

Ou seja, a incidência legal do imposto pode se dar sobre uma empresa, porém a incidência efetiva pode recair sobre os consumidores de seus produtos (via aumento do preço do produto) ou sobre os ofertadores de fatores de produção (via redução dos

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salários de seus empregados, ou diminuição do preço das matérias-primas por ela adquirida, etc.).

O “quantum” será transferido dependerá de alguns fatores, destacando-se as elasticidades-preço da demanda e da oferta e a estrutura de mercado. Vamos começar a análise, primeiro, pela questão das elasticidades-preço. Antes, porém, vamos fazer uma pequena digressão sobre o conceito de elasticidade-preço, já que muitos de nossos alunos não são economistas e, como tal, não estão acostumados com esses conceitos.

2. O conceito de elasticidade-preço

A elasticidade-preço (Ep) mede a sensibilidade do consumidor (ou do produtor) quando o preço de um determinado produto varia.

Matematicamente, a elasticidade-preço é dada pela razão entre a variação percentual da quantidade demandada (∆%Q) do produto considerado e a variação percentual de preço (∆%P). Ou,

Ep = ∆%Q/∆%P

Vejamos alguns exemplos:

i) Suponha que, um aumento de 10% no preço do bem X tenha provocado uma redução de 15% na quantidade demandada deste bem. Neste caso, a elasticidade-preço seria:

Ep = -15%/10% = -1,51

ii) Suponha, agora, que o preço do produto X tenha se reduzido

em 10% e, em conseqüência, a quantidade demandada tenha aumentado também 10%. Nesta hipótese, a elasticidade-preço seria:

Ep = 10%/-10% = -1,0

1 Observe que o mesmo raciocínio se aplicaria caso o preço tivesse se reduzido e a quantidade demandado tivesse, em conseqüência, aumentado.

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iii) Por fim, suponha que preço do bem X tenha se reduzido em 10% e, com isso, a quantidade demandada tenha aumentado apenas 5%. Calculando a elasticidade-preço:

Ep = 5%/-10% = -0,5.

Vamos interpretar estes três resultados que encontramos acima. Note que, na interpretação do valor da elasticidade-preço, desprezamos o sinal do número encontrado, importando tão somente o número em termos absolutos (ou em módulos, como se diz)2. Ou seja, o que vale é a magnitude do número em si.

Assim considerado, a elasticidade-preço o caso (i) é maior que a do caso (ii) e esta, por seu turno, é maior que o exemplo (iii). E o que significam esses números? Muito simples: se o número encontrado é maior que 1,0 (como no exemplo (i)), significa que a variação da quantidade demandada é proporcionalmente maior que a variação no preço. Em outras palavras, as pessoas reagem muito a uma variação (para mais ou para menos) do preço. Neste caso, a demanda é chamada de elástica (ou tem elasticidade elástica).

Se o número encontrado é igual a 1,0 (como no segundo exemplo), então a variação da quantidade demandada é proporcionalmente igual à variação do preço. As pessoas reagem na mesma proporção da variação do preço. Neste caso, a elasticidade-preço denomina-se unitária.

Já se o número encontrado for menor que 1,0, é porque a variação na quantidade demandada é, proporcionalmente, menor que a variação no preço. Nesta hipótese, a demanda denomina-se inelástica (também se diz, elasticidade-inelástica). Isso significa que as pessoas não reagem muito a um aumento ou redução no preço do produto.

2 Observe que a elasticidade-preço da demanda é sempre, por definição, um número negativo. Isso porque, se o preço aumentar (+preço), a quantidade demandada cai (-Q); se o preço cai (-P), a quantidade aumenta (+Q). E, ao fazer a divisão acima, teremos (como aprendemos no 1° Grau): menos por mais dá menos; e mais por menos dá menos. No caso da oferta, a fórmula de cálculo é a mesma, com um porém: se o preço aumentar (+P), a quantidade ofertada aumenta (+Q); se o preço cair (-P). a quantidade ofertada cai (-Q) e assim: mais por mais dá mais; e menos por menos dá mais. Ou seja, enquanto no caso da demanda o valor da elasticidade-preço é sempre negativo, o da oferta é sempre positivo. Por essa razão, na interpretação da elasticidade-preço, o sinal se torna irrelevante: o que importa é o número em si..

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Em resumo: demanda elástica: os consumidores reagem bem a uma variação de preço (para mais ou para baixo). Neste caso, seria conveniente ao produtor reduzir o preço, pois ele ganharia muito mais na quantidade vendida do que perdeu no preço de venda.

Demanda inelástica: os consumidores reagem pouco a um aumento ou redução de preço (como é o caso da gasolina). Neste caso, o produtor deve aumentar o preço, pois o que ele perde na quantidade vendida é bem menor do que o que ele ganha no preço.

Demanda com elasticidade unitária: como, neste caso, os consumidores reagem proporcinalmente igual à variação de preço, um aumento ou uma queda do preço não altera a receita do vendedor.

Há ainda dois outros casos de elasticidade-preço: primeiro, o produto cuja demanda não varia nada quando o seu preço varia. Este é o caso, por exemplo, do sal. Se o preço do sal aumentar ou cair, as pessoas não vão reduzir nem aumentar seu consumo deste produto. Neste caso, a elasticidade-preço é igual a zero e se diz que a demanda é totalmente inelástica. Segundo, existe o produto que, quando o preço cai, por exemplo, a demanda reage fortemente, comprando tudo o que for ofertado (o preço de liquidação). Neste caso, a demanda denomina-se totalmente elástica.

Um última observação: Atente-se que, no caso da oferta, o raciocínio é semelhante. Se, por exemplo, o número encontrado for maior que 1, diz-se que a oferta é elástica (os produtores reagem bem a um aumento do preço); se for menor que 1, a oferta é inelástica (os produtores reagem pouco a uma variação de preço; e se for igual a 1, a reação dos produtores é proporcional à variação dos preços.

Com essas observações, podemos analisar o impacto de um imposto sobre a demanda, a oferta e o preço do produto.

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3. O impacto de um imposto sobre o consumidor

Partindo da hipótese que se trata de um mercado competitivo, qual será o efeito da imposição, pelo governo, de um imposto sobre a venda de uma mercadoria? Quem pagará este imposto? O leitor menos atento responderá que o imposto será pago pelo consumidor. No entanto, isso pode ou não ser verdade. Tudo dependerá das elasticidades-preço da demanda e da oferta. Mas, antes de mais nada, é preciso distinguir dois tipos de impostos: (i) o imposto específico – que é um valor fixo que incide sobre o preço de venda, digamos, R$ 10,00; e (ii) o imposto ad valorem – que é um percentual que recai sobre o valor da venda, digamos, 15%. Analisemos os dois casos:

3.1. Imposto específico

O primeiro efeito do lançamento de um imposto específico é o deslocamento da curva da oferta, igual, verticalmente, ao montante do imposto.

Isso se explica pelo fato de que a curva de oferta representa as quantidades que serão oferecidas pelo produtor em relação aos preços praticados no mercado. Para qualquer preço P de mercado, o produtor subtrai o imposto T, ficando com a diferença. Ou seja, o produtor receberá o valor P

2 que será dado por:

P2 = P

1 - T

O que ocorrerá com o preço e a quantidade de equilíbrio? A resposta está ilustrada na Figura 1. A decretação de um imposto específico desloca, como já foi dito, a curva de oferta para cima e para a esquerda. O novo ponto de equilíbrio se dá onde a nova curva de oferta (S1) corta a curva de demanda. Antes do imposto, P

0 e Q

0 eram, respectivamente, o preço e a quantidade de

equilíbrio. Agora, o equilíbrio se dá em P1 e Q

1. Do preço P

1 o

vendedor receberá apenas P2 (= P

1 - T). Como P

2 é menor que P

0,

a oferta do produtor cai para Q1.

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Figura 4

Neste exemplo, sobre quem recai efetivamente o imposto?

Pode-se dividir o montante do imposto (= P1 - P

2) em duas

parcelas, a saber:

(i) ∆P1 = P

1 – P

0 que corresponde ao aumento do preço de

equilíbrio – e, por conseqüência, representa a parcela do imposto a ser paga pelo consumidor.

(ii) ∆P2 = P

0 – P

2 que corresponde à redução no preço recebido

pelo produtor – e que, por conseqüência, representa a parcela a ser paga pelo produtor.

Qual das duas parcelas é maior? Isto irá depender da elasticidade da demanda e da oferta.

Observemos a Figura 2, onde são apresentadas duas curvas de demanda. Dx e Dy, sendo Dx mais elástica (mais “deitada”) que Dy. Ambas as curvas cortam, inicialmente, a curva de oferta S

0 no

mesmo ponto, definindo o preço e quantidade de equilíbrio inicial em P

0 e Q

0. Com a decretação de um imposto específico, T, a

curva de oferta se desloca verticalmente, no mesmo montante de T, para S

1. O novo preço de equilíbrio se dará no ponto onde as

duas curvas de demanda cruzam com nova curva de oferta (S1).

No caso do produto de demanda Dy, o novo preço será P2 e a

quantidade transacionada será Q2. Já para o produto de demanda

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Dx (mais elástica), o preço será P1 (menor que P

2) e a quantidade

transacional será Q1.

Figura 1

Lembre-se que o aumento do preço pós-imposto representa a parcela do imposto repassada ao consumidor. No caso presente, o repasse maior ocorreu no produto Dy (menos elástico). Isto se explica pelo fato de que um produto de demanda inelástica implica que os consumidores não reagem muito às variações de preços. Se isto é fato, o produtor repassará o máximo do imposto ao preço, sabendo que os consumidores não reduzirão muito suas compras do produto.

b) Imposto ad valorem

Trata-se de um imposto que incide sobre o valor da venda, representando, no caso, um percentual da receita do vendedor (ou produtor). Assim, por exemplo, se o imposto (t%) for 20%, o produtor receberá efetivamente apenas 80% do preço de mercado, isto é, receberá P*, que será dado por:

P* = (1 – t%)P

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Qual será o efeito da decretação de um imposto ad valorem? Graficamente, a curva de oferta se tornará mais vertical, sendo o coeficiente angular da nova curva de oferta (S

1) dado pela taxa do

imposto, como mostra a Figura 3.

Figura 3 Figura 4

Pela Figura 4, com o deslocamento da curva de oferta, tanto o preço como a quantidade de equilíbrio se alteram de P

0 e Q

0

para P1 e Q

1, respectivamente.

Tal como no caso do imposto específico, aqui, também, o montante do imposto será dividido em duas parcelas:

∆P P P1 1 0= − , que será paga pelo consumidor e

∆P P P2 0 2= − , que será paga pelo produtor. 4. Incidência tributária sobre a firma e a indústria Vamos, agora, analisar o impacto de um imposto sobre a firma e a indústria, num mercado em concorrência perfeita e no caso do monopólio.

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4.1. Mercado de concorrência perfeita Um mercado para ser concorrência perfeita deve preencher uma série de requisitos, sendo o principal a existência de inúmeros (melhor diria, milhares) de produtores e de consumidores de um produto homogêneo qualquer. Esta é chamada “atomização” do mercado, ou seja, cada agente econômico que nele atua é muito pequeno, quase “átomo”, que não tem qualquer importância nem qualquer condição de alterar o preço do produto praticado pelo mercado. Vejamos, primeiramente, o impacto de um imposto “per-capita” (lump-sum tax).

i) Imposto “per-capita” (lump-sum tax)

Um imposto dito “per-capita” corresponde na prática a um imposto não associado a nenhuma outra variável, sendo um valor determinado, incidente sobre a firma, independentemente de seu nível de produção ou de sua receita, ou de seus custos e lucros.

Neste sentido, este imposto atua como se fosse um acréscimo no custo fixo da empresa e, conseqüentemente, no custo total médio da firma, não alterando nem a sua curva de custo marginal3 nem a sua curva da receita marginal. Em conseqüência, o nível de produção da empresa não se altera com o imposto “per-capita’.4

Como na concorrência perfeita o preço do produto é determinado pelo mercado e não pela firma (que é um “átomo”) – o aumento do custo fixo e, daí, do custo total médio, provocado pelo imposto tem como conseqüência uma queda nos lucros da firma, no curto prazo.

3 Custo marginal é o acréscimo no custo total decorrente da produção de mais uma unidade do produto. É, sem dúvida, o conceito mais importante dentre todos os custos. O custo marginal começa num nivel elevado (a baixos níveis de produção) começa a cair com o aumento da produção, atinje um nível mínimo e, a partir daí, cresce indefinidamente, com a aumento da produção. O custo marginal, a exemplo do custo variável médio e do custo total médio, tem a forma de U ou de ferradura. Já a receita marginal corresponde ao acréscimo na receita total decorrente da venda de mais uma unidade do produto. 4 Matematicamente, o melhor nível de produção para uma firma – isto é, onde ela maximiza seus lucros – ocorre onde a receita marginal é igual ao custo marginal.

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Se, apesar deste “prejuízo”, a firma, conseguir operar cobrindo pelo menos os custos fixos e parte do custo variável, será conveniente para ela continuar em operação. Se porém o prejuízo persistir no longo prazo, ela deverá sair do mercado. Caso isso aconteça, a longo prazo a curva de oferta da indústria (que é a soma da produção das firmas do setor) se deslocará para a esquerda (devido à saída de um ou mais produtores) – implicando uma oferta menor e provavelmente um preço maior5.

ii) Imposto sobre lucros

Um imposto incidente diretamente sobre os lucros da firma não afeta nenhum dos seus custos de produção (custo marginal, custo fixo, custo variável e custo total). Se assim é, a firma continuará produzindo a mesma quantidade que vinha produzindo antes do imposto e os demais efeitos serão os mesmos do imposto “per-capita”, visto anteriormente. iii) Imposto específico sobre vendas

Já vimos o efeito desse imposto sobre o preço do produto e sobre o consumidor. Analiticamente, do ponto de vista da firma, um imposto sobre vendas aumenta o custo marginal para cada nível de produção, deslocando a curva deste custo para a esquerda e para cima. Este aumento do custo marginal provoca, por conseqüência, aumento do custo total médio, deslocando sua curva também para cima.

Como a curva de custo marginal da firma corresponde à sua curva de oferta, o deslocamento da curva de custo marginal provoca um deslocamento para a esquerda da curva de oferta da firma, o que implica uma redução na quantidade ofertada com conseqüente aumento do preço – tal como vimos quando analisamos os efeitos de um imposto sobre o consumidor.

Mas, a questão que se coloca é a seguinte: de quanto será o aumento do preço em decorrência do imposto sobre as vendas? A resposta, como já vimos, é: depende das elasticidades da demanda e da oferta. Quanto mais inelástica for a demanda (e 5 Toda esta análise e conclusões são mostradas em gráficos que, para os não-economistas, costumam complicar mais do que esclarecer. Recomendamos, então, que o aluno candidato do concurso se concentre na análise descrita acima, memorizando as conclusões sobre o impacto de cada imposto.

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mais elástica for a oferta), maior será a carga do imposto repassada ao consumidor via aumento de preços; da mesma forma, quanto mais inelástica for a oferta (e mais elástica for a demanda) maior é a carga do imposto arcada pelo produtor, ou seja, menor será o aumento dos preços decorrente do imposto.

4.2. Monopólio Como sabemos, monopólio é um mercado onde só existe um produtor de um determinado produto. Nesta situação, quem estabelece o preço do produto não é o mercado e, sim, o monopolista. Mas, isso não quer dizer que o monopolista irá fixar o preço de seu produto no nível mais alto que puder, pois, dependendo da elasticidade-preço do produto, os consumidores podem reagir desproporcionalmente, causando redução da receita total do produtor (Rt = P x Q). A análise microeconômica nos ensina que o ponto ótimo de produção do monopolista – como de resto de qualquer outra firma- ocorre onde a receita marginal é igual ao custo marginal. No caso do monopólio, como ele “é o mercado”, suas vendas só podem aumentar se ele reduzir o preço. E ele vai reduzir o preço até onde a receita marginal for igual ao custo marginal. Feitas estas considerações, vamos, então, analisar os efeitos de alguns impostos sobre a produção, o preço e o lucro do monopolista:

i) Imposto “per-capita” e o imposto sobre lucros Um imposto “per-capita” opera como um custo fixo para o

monopolista, não afetando sua curva de custo marginal. Em conseqüência, a quantidade produzida pela firma não se altera, como também não se altera o preço de venda do produto. Caso o imposto absorva o lucro “normal” do monopolista, a empresa ser verá obrigada a sair do mercado.

Os mesmo efeitos serão observados no caso de um imposto sobre os lucros do monopólio.

ii) Imposto específico sobre vendas Tal como ocorre com uma firma em concorrência perfeita, a

decretação de um imposto sobre vendas, no caso do monopólio,

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eleva o custo marginal, o que provoca um aumento nos preços e reduz a quantidade produzida. O aumento no preço corresponde, como já foi dito, à parcela do imposto que é repassada ao consumidor. Este repasse de parte do imposto ao preço pode se dar de duas maneiras:

i) Se a curva de custo marginal tiver inclinação positiva, parte (menor) do tributo será repassada ao preço – ou seja, será repassada ao consumidor;

ii) Se a curva de custo marginal foi horizontal, o preço deve aumenta mais que na hipótese (i), anterior, porém menos do que poderia acontecer se se tratasse da concorrência perfeita. No presente caso, o monopolista, mesmo que apresente uma curva de custo marginal infinitamente elástica (ou seja, totalmente horizontal), sempre arca com uma parcela do imposto, ainda que pequena.

5. Conclusões sobre os impactos de um imposto

Por tudo o que foi dito aqui sobre os efeitos da decretação de um imposto sobre o consumidor e a firma, podemos tirar as seguintes conclusões6:

a) num mercado competitivo, a distribuição da carga de um imposto entre produtor e consumidor depende exclusivamente da elasticidade-preço da demanda e da oferta, podendo-se afirmar o seguinte:

i) quanto mais inelástica for a demanda pelo produto (e mais elástica for a oferta), maior é a carga de um imposto repassada ao consumidor; no limite, se a demanda for totalmente inelástica a preço, o ônus do imposto recairá todo sobre o consumidor; também no limite, caso a demanda seja totalmente elástica a preço, o produtor não terá condições de repassar ao preço nenhuma parcela do imposto, tendo de arcar com todo o ônus deste;

ii) quanto mais inelástica for a oferta (e mais elástica for a demanda), maior é a carga do imposto

6 Se você não entendeu alguma passagem deste texto – o que é possível, pois evitamos as análises gráficas – não importa. O que importa para a sua prova de Finanças Públicas é que você entenda ou tenha em mente essas conclusões-resumo.

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suportada pelo produtor; no limite, tratando-se de uma oferta totalmente inelástica, todo o ônus do imposto recairá sobre o produtor.

iii) Em resumo: quem for mais inelástico arca com a maior parcela do imposto.

b) No caso de uma firma, um imposto só provoca um deslocamento de sua curva de oferta para a esquerda e para cima se o imposto afetar seu custo marginal (como o imposto sobre vendas). Neste caso, a repartição do ônus do imposto entre produtor e consumidor seguirá as regras descritas no item a, anterior.

c) Ainda no caso da firma, se o imposto não afetar seu custo marginal (como o imposto “per-capita”), aumentando apenas seu custo fixo, sua curva de oferta não se desloca, e o imposto apenas reduzirá o lucro da firma.

d) Nenhum imposto indireto (sobre vendas ou sobre produção) terá efeito direto sobre a curva de demanda. Esta permanece imutável, sem sofrer qualquer deslocamento.

_______________________

Bibliografia consultada: a. Giambiagi, F. e Além, A.C., Finanças Públicas, 2ª Edição,

S.Paulo, Ed. Atlas, 2000. b. Gonçalves Rosa, J.R., Economia do Setor Público, texto

mimeografado, Senado Federal, 1997. c. Foschete, M. , Incidência Tributária, in “Economia Básica e

Intermediária”, 2ª Edição, Brasília, Gráfica Valci, 2001. _____________

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AULA 4: EFEITOS DA AUSÊNCIA OU DO EXCESSO

DE IMPOSTOS. A CURVA REVERSA. ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA E INFLAÇÃO.

1. Introdução

Na análise dos tributos é relevante conhecer a forma como estes afetam as decisões dos agentes econômicos, uma vez que a criação ou introdução de um tributo qualquer acaba gerando alterações nos preços dos bens e serviços e dos fatores de produção, nas quantidades daqueles bens e serviços adquiridas ou vendidas, bem como nas quantidades utilizadas dos fatores de produção – traduzidas estes na intensidade de uso do capital, ou da mão-de-obra, ou do tempo dedicado ao trabalho ou ao lazer.

Como já vimos na Aula anterior, o estudo desses impactos sobre a atividade econômica e seus agentes é feito através da análise da incidência tributária.

O estudo dos resultados de uma ausência ou de um excesso de impostos tomam como ponto de partida o comportamento do consumidor e suas escolhas – feitas através das curvas de indiferença – e o comportamento das firmas relativas às suas decisões de produzir e à sua política de preços no curto prazo.

Como sabemos, a lógica que comanda as escolhas dos indivíduos se baseia na lógica maximizadora da sua utilidade ou satisfação, com os indivíduos tomando decisões que resultem ou representem para eles o maior benefício.

Em outras palavras, o raciocínio que está por trás disso é o seguinte: dada uma estrutura de distribuição de renda e de propriedade dos fatores de produção, cada indivíduo – seja consumidor ou produtor – empregará sua mão-de-obra ou o seu capital naquela atividade e naquele setor que, aos preços vigentes, lhe permitam maximizar seus benefícios (maior utilidade ou maiores lucros) de tal forma que nenhuma outra combinação de resultados poderia melhorar a posição de um deles sem que

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piorasse a situação ou posição de um outro. Se tal condição for cumprida, então a economia está em uma situação de equilíbrio ótimo e eficiente (o chamado “ótimo de Pareto”).

Geralmente, tal situação só é possível quando o mercado funciona nos moldes da concorrência perfeita e não há interferências externas (por exemplo, do governo ou de impostos). Se a economia funciona sob essas condições, qualquer tributo implicará um sacrifício ou uma perda da eficiência econômica e do bem-estar social.

Contudo, a regra não é uma economia funcionando em concorrência perfeita. Na vida real, a regra são os mercados imperfeitos, onde o poder de estabelecer preços e quantidades está concentrado nas mãos de poucos agentes econômicos – os monopólios, oligopólios, cartéis, etc. Uma vez aceito que esta é a realidade mais comum da economia, a intervenção do governo via tributação acaba se justificando, desde que o benefício social daí obtido supere as perdas que os setores afetados pelo imposto sofrerão.

2. Efeitos da ausência de impostos

A análise dos efeitos da ausência dos impostos depende essencialmente do ponto de partida ou da situação inicial daquela análise. E isso vai depender, por seu turno, do tipo de mercado que se está analisando, conforme se descreve a seguir:

. Mercado em concorrência perfeita

Em uma situação de mercado caracterizada por uma total ausência de imperfeições – tal como ocorreria num mercado em concorrência perfeita - onde todos os agentes econômicos que ali operam têm perfeitas informações sobre os preços e quantidades praticadas e onde cada indivíduo recebe uma renda (salário, aluguel, juros e lucro) igual à sua contribuição marginal para o produto total, a ausência de impostos permite que se alcance uma situação de máximo bem-estar, individual e coletivamente, podendo-se chegar ao ótimo de Pareto.

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. Concorrência imperfeita Concorrência imperfeita ou simplesmente mercados imperfeitos

é uma situação onde existem algumas “falhas de mercado” caracterizadas pela ocorrência dos seguintes fenômenos ou fatores:

- presença de monopólios ou cartéis em alguns setores;

- existência dos chamados “monopólios naturais” – ou seja, quando a produção só é viável se for realizada em grande escala, não sendo economicamente aconselhável a divisão do mercado entre duas, três ou mais firmas, como são exemplo a geração de energia, telefonia, etc;

- mercados dominados por oligopólios, com grande poder de barganha no tocante à fixação dos próprios preços e às quantidades ofertadas.

Em situações como essas, pode-se afirmar que o nível de bem-estar da coletividade não atingirá seu grau máximo por várias razões, podendo ser citadas:

i) os bens estão sendo vendidos em quantidades inferiores e a preços superiores aos que um mercado perfeitamente competitivo determinaria; ou,

ii) o acesso à propriedade ou ao uso da terra ou a outro fator de produção é determinado por fatores extraeconômicos.

Pode-se afirmar com certeza que, em qualquer dessas hipóteses, a sociedade como um todo está sendo penalizada ao pagar por um bem ou fator um preço superior ao da eficiência econômica máxima e, provavelmente, utilizando seus recursos de forma menos produtiva do que seria possível.

Nessas situações de imperfeições de mercado, a ausência de impostos pode (e é) mais prejudicial à sociedade do que uma situação em que exista impostos. De fato, o governo pode tentar corrigir ou atenuar essas “falhas de mercado”, melhorando de certa forma, o bem-estar da sociedade, através da imposição de um tributo voltado para:

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- gravar a renda dos setores monopolizados ou oligopolizados; ou,

- desestimular o consumo de determinados bens em favor de outros, afetando, em conseqüência, a distribuição de renda e/ou alocação de recursos, tornando-a mais eqüitativa, se este for o objetivo dessas medidas.

Em resumo, pode-se afirmar que, em situações caracterizadas por mercados imperfeitos, a ausência de impostos tem como conseqüência uma situação de bem-estar social – em termos de emprego, produção e consumo – inferior ao de um mercado em concorrência perfeita. Este grau inferior de bem-estar social pode ser minimizado ou atenuado através da imposição de tributos que corrijam em parte estas imperfeições.

Como corolário do que se disse acima, não se pode afirmar, a priori, que os impostos são sempre perversos e sempre causam algum tipo de distorções no sistema econômico. Ao contrário, nas situações descritas acima, a tributação pode perfeitamente concorrer para a melhoria do bem-estar da coletividade.

3. O excesso de cobrança de impostos

Seja porque deve fornecer bens públicos (segurança nacional, serviços de polícia, administração da justiça, iluminação pública, e coisas do gênero), seja porque existem “imperfeições” e “falhas” inerentes à economia de mercado, o certo é que o governo tem de arrecadar recursos da sociedade via tributos para financiar suas atividades. A questão está em definir o quanto de tributos está a sociedade disposta a recolher ao governo. Assim como não é desejável a completa ausência de impostos, também não é desejável nem recomendável uma carga fiscal excessiva – o que também pode ser prejudicial à sociedade e/ou às atividades produtivas.

Determinar qual deve ser a carga tributária e fiscal ótima para uma economia não é uma tarefa simples. Não há receita nem teoria na literatura econômica que indique como atingir este objetivo. A rigor, a única contribuição que a teoria das finanças pode dar neste debate se assenta nos dois princípios da tributação

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que deve nortear a implantação de um sistema tributário aceitável pela sociedade e que já estudamos anteriormente: o da neutralidade e o da eqüidade.

Sem dúvida, uma regra que se poderia estabelecer a partir desses princípios é a de que a carga fiscal ótima será aquela que consiga maximizar a arrecadação com o mínimo de “perdas” de eficiência alocativas e distributivas.

O que seria uma carga fiscal excessiva?

Resta sempre uma pergunta: Como determinar uma carga fiscal excessiva? A resposta pode ser dada pela curva reversa traduzida na Curva de Laffer.

A nível macroeconômico, o conceito embutido na Curva de Laffer pode, em princípio, oferecer uma alternativa para o reconhecimento de uma carga fiscal excessiva. Conforme já foi visto, e de acordo com a proposta da Curva de Laffer, existiria uma alíquota de tributos máxima aceitável pela sociedade, a partir da qual, caso o governo insista em aplicar alíquotas superiores, o resultado será inevitavelmente uma redução da arrecadação total.

Para uma melhor visualização do que estamos dizendo, reproduzimos no gráfico abaixo a Curva de Laffer que, na verdade, relaciona os diferentes níveis de tributação do imposto de renda com a resultante e respectiva receita coletada pelo governo.

Observe-se que da origem (zero) até o ponto C, os aumentos nominais de alíquotas são aceitáveis pelos contribuintes, resultando em aumento da arrecadação fiscal contínua, embora a taxas decrescentes. Esse trecho da curva de Laffer é chamado de “intervalo normal de tributação”. Em outras palavras, até o ponto C, no qual se obtém a receita máxima, os indivíduos estariam dispostos a trabalhar mais para obterem a mesma renda líquida (renda bruta menos imposto).

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RT RT=receita total

R2 C

R1 A B

0 30 50 70 % do IR

A partir, entretanto, de C, aumentos de alíquotas desestimulariam maiores ofertas de trabalho e a receita do imposto começaria a declinar, apresentando níveis de arrecadação idênticos aos gerados com alíquotas inferiores à indicada no ponto C. Este é o caso, por exemplo, do ponto B que, embora tenha uma alíquota superior à registrada no ponto A, apresenta o mesmo volume de arrecadação fiscal. Esse trecho descendente da curva, a partir do ponto C, é conhecido como o “intervalo proibitivo de tributação”.

É de se notar, ainda, que, no ponto D, à alíquota de 100%, nenhuma receita seria gerada, exatamente como ocorreria à alíquota 0%, situada na origem da curva. Contudo, as razões para a inexistência de arrecadação nos dois pontos são diferentes: em D não haveria receita por ausência de base de cálculo, uma vez que a tributação exagerada estaria desestimulando completamente o trabalho; já na origem (0), o mesmo resultado advém da nulidade da alíquota.

Em conclusão, percebe-se que as alíquotas do imposto de renda podem crescer, porém até certo limite. Uma vez atingido este limite – que só a prática definirá – qualquer aumento de alíquota é contraproducente, provocando cada vez mais reduções na receita tributária total.

Como se explica a queda da arrecadação fiscal?

A explicação para esta queda da arrecadação fiscal parece simples: de um lado, com uma carga tributária brutal, os agentes

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econômicos optam por trabalhar menos, por produzir menos e por consumir menos; de outro, com uma carga tributária elevada, os indivíduos passam a raciocinar que a sonegação vale a pena. Afinal, o risco de ser “apanhado” pelo fisco não é de 100%, pois sempre existe a possibilidade de se “safar” pois o fisco nunca é unipresente. E quando for “pego”, sempre resta o recurso protelatório à justiça ou mesmo a negociação com o próprio fisco sobre a forma de pagar o imposto devido.

Ora, se o governo, para financiar suas atividades e serviços, tem necessidade de ampliar a arrecadação além do limite desejável e recomendável, é porque o tamanho do setor público está provavelmente exagerado, ultrapassando, certamente, os limites desejados pela própria sociedade. Se assim é, a única alternativa é a redução da presença do governo na economia, até atingir um nível mais condizente com o que a sociedade julga “palatável”.

A redução do tamanho do estado possibilitaria uma redução concomitante da carga tributária, estimulando a atividade produtiva e, daí, talvez, permitindo um aumento da arrecadação em termos absolutos fruto do próprio crescimento do produto.

Feita esta análise a nível macroeconômico, vejamos, ainda que resumidamente, os efeitos de um excesso de carga fiscal, quando analisado a nível microeconômico. Nesta hipótese, o objetivo não é tanto medir o excesso da carga fiscal, mas, sim, medir o sacrifício ou o custo em termos de eficiência produtiva fruto da imposição de um tributo.

Segundo esta abordagem, é necessário distinguir entre o custo direto – representado pelo montante arrecadado pelo governo com um determinado tributo - e o custo implícito de um tributo - representado pelos recursos que foram transferidos do setor privado para o setor público.

Em outras palavras, dado que a introdução de um imposto gera uma seqüência de ajustamentos na economia, distorcendo preços e reduzindo a eficiência econômica, o excesso de carga fiscal seria medido pelo conjunto desses efeitos indiretos perversos (perdas de emprego, de produção e de renda), e não somente do montante arrecadado em si.

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Voltamos a repetir: o fato de a maioria dos impostos provocar distorções alocativas, conduz, na opinião de muitos financistas e tributaristas, à afirmação de que, a rigor, o único imposto que não cria efeitos indiretos perversos - ou seja, que não gera “excesso de gravame” – é o imposto per capita, igual para todo mundo (lump-sum tax).

4. Inflação, carga fiscal e o “efeito Tanzi”

A inflação afeta o conjunto dos ativos financeiros da economia, reduzindo-lhes o valor real, salvo se o valor nominal daqueles ativos estiver protegido por algum tipo de indexação ou de correção monetária.

Mesmo com a ressalva anterior – isto é, com a presença da indexação, que nunca é completa e universal – todas as rendas (salários, aluguéis, lucros) são afetadas perversamente pela inflação. E a receita do governo, traduzida na arrecadação tributária, não foge à regra. A maior ou menor perda decorrente de um processo inflacionário mais ou menos agudo depende em muito do poder de mercado do agente econômico e de sua capacidade de antecipar a taxa de inflação e de criar mecanismos de defesa contra ela.

É ponto pacífico que, nos anos 80 e 90, a aceleração inflacionária afetou em demasia as finanças governamentais. Os mecanismos de indexação dos impostos nem sempre foram suficientes para prevenir as perdas “reais” da arrecadação tributária.

A perda real da receita pública decorrente da defasagem entre a data da ocorrência das transações (fato gerador) e a data do recolhimento efetivo dos tributos sobre as mesmas, em épocas de inflação, é conhecida na literatura como efeito Tanzi (também conhecido como “efeito Oliveira-Tanzi”, já que o fenômeno foi pioneiramente medido por esses dois economistas!).

Um exemplo numérico pode clarear mais o “efeito Tanzi”: suponha uma economia com uma taxa de inflação mensal de 20% e que, por regulamentos ou por praxe, exista uma diferença de 15 dias entre a data da realização da transação e a data do

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recolhimento do imposto devido à rede bancária. Assim, uma transação no valor de R$ 100,00, sobre a qual incida uma alíquota de 30%, deve gerar uma receita nominal no valor de R$ 30,00. Contudo, como o tributo só será recolhido 15 dias depois da transação, aquela receita perderá, grosso modo, uma perda real de 10% (metade da inflação de 30 dias). Ou seja, a receita nominal de R$ 30,00 se traduziu numa receita real de R$ 27,00!

Na tentativa de minimizar estas perdas reais, o governo, naqueles períodos de inflação acelerada, procurou de todas as formas a indexação de suas receitas tributárias, da qual o exemplo mais patente foi criação da UFIR (unidade fiscal de referência). Mais ainda, o governo começou a aplicar tributos e contribuições sobre o faturamento das empresas, gerando, como conseqüência, o efeito “cascata”, ou seja, imposto sobre imposto.

Essas medidas, sem dúvida, reduziram bastante as perdas fiscais, diminuindo o “efeito Tanzi”. No entanto, num período de inflação acelerada, se os agentes econômicos não conseguem se proteger de todo contra a corrosão de suas rendas, o resultado é a evasão ou a sonegação fiscal.

O efeito Patinkin

Existe um outro efeito da inflação sobre as contas públicas mas que atua de forma oposta ao efeito Tanzi. Trata-se do efeito Patinkin. Enquanto o efeito Tanzi afirma que a inflação contribui para a redução real da receita do governo, aumentando em conseqüência o déficit público, o efeito Patinkin argumenta que a elevação dos preços, isto é, a inflação, propicia uma redução do déficit público por meio da queda real nos gastos públicos.

Para que ocorra o efeito Patinkin basta que o governo adie seus pagamentos e postergue aumentos de salários de seus servidores num ambiente de aceleração inflacionária. Apenas por curiosidade, com uma inflação anual de 1000% (como era comum, no Brasil, nos anos 80 e na primeira metade da década de 90), um atraso de 15 dias no pagamento dos salários ou no pagamento dos benefícios previdenciários acarretaria uma redução real de 10,5% nesses gastos.

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Observe que o efeito Patinkin torna-se mais forte à medida que a inflação atinge patamares mais elevados, reduzindo sem dúvida o déficit público. Há diversos estudos indicando que, no mais das vezes, o efeito Patinkin supera o efeito Tanzi, principalmente nos períodos de inflação mais elevada.

No Brasil, esse mecanismo de atrasar pagamentos do governo foi muito usado nas décadas de 80/90, quando as taxas de inflação eram absurdamente altas. Esse mecanismo era, então, conhecido como “administração dos recursos na boca do caixa”, com as liberações dos recursos sendo feitas de acordo com as pressões dos grupos nelas interessados.

5. O efeito de curto, médio e longo prazos da inflação e do crescimento econômico sobre a distribuição da carga tributária1

Uma questão que sempre se coloca quando se estuda a eqüidade e a justiça fiscal é a seguinte: quais são os efeitos da inflação e do crescimento econômico sobre a distribuição da carga tributária dos indivíduos de diferentes classes de renda?

Vale observar que, no caso da renda monetária (ou nominal), seu crescimento pode se dar tanto devido simplesmente ao aumento dos preços (isto é, por inflação), como também por aumentos da produtividade. Independentemente da causa do aumento da renda, o certo é que os indivíduos estarão sujeitos a níveis crescentes de carga tributária, pois o aumento nominal de suas rendas “joga-os” numa faixa de alíquotas mais altas. Isso só será evitado caso a tabela do imposto de renda, incluindo as deduções, seja automaticamente reajustada quando ocorrerem aqueles aumentos na renda. Vamos analisar as duas hipóteses separadamente:

Efeitos da inflação

No caso da inflação, a questão consiste em corrigir monetariamente os limites máximos e mínimos de cada faixa da

1 1 Confira Rezende, F. , Finanças Públicas, Ed. Atlas, S.Paulo, 2ª edição, 2001, Cap. 9

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tabela do imposto de renda, evitando, assim, que uma variação puramente nominal da renda do contribuinte se transforme em aumentos de sua carga fiscal.

Nesta hipótese, resta saber qual o índice de preços deve ser usado para esta correção monetária. Como os efeitos da inflação não são uniformes sobre as diversas classes de renda, torna-se difícil a escolha de um índice de preços que fosse representativo do aumento geral dos preços. De outra parte, sabe-se que as correções salariais divergem de classe para classe. Geralmente, as classes de menor renda têm menor poder de barganha e, no máximo, conseguem repor a inflação passada, enquanto as classes de renda mais altas conseguem geralmente melhores reajustes de seus salários, muitas vezes acima da taxa de inflação.

Se isso é fato, uma correção monetária uniforme das diversas faixas da tabela do imposto de renda acabaria, no longo prazo, por ter, como efeito, um aumento na progressividade da carga tributária. Mas, deve ser destacado que, para aqueles que auferem rendimentos de capitais – isto é, aumentos reais e não apenas nominais fruto de inflação – uma correção monetária uniforme da tabela de imposto de renda acaba por beneficia-los, isentando-os do pagamento do imposto que seria devido em função daqueles ganhos reais. Em outras palavras, esses grupos acabariam por ter uma redução gradual de sua carga tributária efetiva.

Efeitos do crescimento econômico

No caso de se registrar crescimento da economia, haverá, por conseqüência, um aumento geral da renda real dos indivíduos. Nesta hipótese, os coeficientes da carga tributária se elevariam para todas as classes de renda.

Como se sabe que a arrecadação tributária é elástica a variações no nível da renda agregada, observar-se-á um progressivo aumento dos índices globais da carga tributária. Resta saber, neste caso, se os ganhos reais do crescimento econômico estão se distribuindo de forma eqüitativa entre os contribuintes.

Caso o crescimento econômico se traduza numa distribuição mais eqüitativa da renda, o resultado será uma redução da progressividade efetiva do tributo. Se o resultado do crescimento

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econômico fosse mais concentrado em algumas classes de renda, ocorreria um aumento da progressividade tributária.

Esses são, em síntese, os principais efeitos e distorções que podem ser detectados num período de inflação acelerada e/ou num contexto de crescimento econômico.

* * *

Com essas considerações, encerramos esta nossa Aula 4 que cobriu, basicamente, o tópico 6 do programa do AFRFB. Nossa próxima Aula – a de n° 5 – versará sobre o tópico 7 daquele programa – Lei de Responsabilidade Fiscal, Ajuste Fiscal e Contas Públicas. Até lá!

______________________

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AULA 5: A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL; AJUSTE FISCAL; CONTAS PÚ-

BLICAS – DÉFICIT PÚBLICO; RESULTADO NOMINAL E OPERACIONAL; NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO.

Observação: Esta Aula 5 cobre o tópico n° 7

do programa do concurso do AFRFB.

1. Introdução

Dentre os vários temas econômicos que têm sido objeto de discussão nos últimos anos, dois têm merecido destaque especial dos analistas e da imprensa especializada: o déficit público e o seu correlato - o endividamento do setor público.

Por "setor público" deve-se entender as três esferas de governo - federal, estadual e municipal - e as empresas por eles controladas. Deve-se, no entanto, excluir deste conceito as instituições financeiras (como, por exemplo, o Banco do Brasil) por sua natureza primordial de intermediários de recursos de terceiros.

Importante observar que a atuação do governo é caracterizada por um conjunto de instrumentos ou medidas por ele adotadas, compreendendo tanto seus gastos como a arrecadação de recursos, através, principalmente de impostos, com o objetivo de aumentar o bem-estar da população e de evitar eventuais distorções provocadas pelo livre jogo das forças de mercado.

Nesse sentido, a ação governamental se materializa quando o governo compra bens e serviços para a manutenção da máquina administrativa, quando constrói uma estrada ou uma escola, quando altera o imposto de renda das pessoas físicas, etc. Tudo isso constitui, em última análise, uma interferência do Estado na atividade econômica - um fenômeno que tem sido crescente desde a grande depressão de 1929, particularmente no caso dos países em desenvolvimento.

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Hoje, esta interferência do Estado se manifesta de diversos modos, a saber:

a) Como produtor - O Estado produz e oferece no mercado diversos bens e serviços, como petróleo, energia elétrica, transportes ferroviário e fluvial e marítimo, e, até bem pouco tempo, telefonia, produtos siderúrgicos, minério de ferro, etc.

b) Como consumidor - O Estado se constitui no maior consumidor individual de bens e serviços produzidos pelo setor privado.

c) Como empregador - Os dados sensitários revelam que somente a administração pública direta (União, estados e municípios) emprega cerca de 1,9 milhão de pessoas, correspondendo a aproximadamente 4% do total da força de trabalho empregada no país. Esse número dobraria se fossem incluídas as pessoas empregadas nas empresas públicas e nos bancos oficiais e públicos.

d) Como regulador da atividade econômica - A presença do Estado está também voltada para a correção dos desequilíbrios regionais, para garantir o abastecimento de bens considerados essenciais - através da concessão de subsídios, facilidades creditícias e isenções fiscais - para garantir uma distribuição mais eqüitativa da renda, através da política salarial, da fixação do salário mínimo, da tributação e das transferências - e para corrigir distorções que eventualmente podem resultar das imperfeições de mercado (monopólio, oligopólios, cartéis) - através de normatizações e, não raras vezes, controles de preços (esses últimos cada vez menos freqüentes, ultimamente).

No caso dos países menos desenvolvidos, esta crescente participação do Estado na economia contribuiu sobremaneira para o seu desenvolvimento econômico, mas, de outra parte, provocou inúmeras distorções e ineficiências na atividade econômica. Assim, por exemplo, observou-se que, com o tempo, o Estado se tornara um excelente produtor de petróleo, de telefonia, de energia elétrica, etc, mas era um péssimo fornecedor de saúde, educação e segurança dos cidadãos. Sem dúvida, foi a percepção desse fato, pela sociedade, o principal argumento em prol do processo de privatização que se acentuou no

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governo de Fernando Henrique Cardoso e que, por inevitável, continua até os dias de hoje, no Brasil.

2. A Lei de Responsabilidade Fiscal

Como parte do ajuste do desequilíbrio das contas do setor público – entendido este no seu conceito mais amplo – foi aprovada pelo Congresso Nacional e publicada em 05/05/2000 a Lei Complementar n° 101 – mais conhecida como “Lei de Responsabilidade Fiscal” que, conforme constava de sua ementa, veio estabelecer normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal.

Confirme descrevem Giambiagi e Ana Cláudia1, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) representa uma série de diretrizes gerais que devem balizar as autoridades, na administração das finanças públicas dos níveis central, estadual e municipal. Entre inúmeras outras exigências, a LRF estabelece:

i) tetos para a despesa com pessoal; ii) limita o endividamento público em todas as suas esferas e níveis; iii) obriga a um retorno rápido a certos níveis de endividamento; iv) caso os limites de endividamento tenham sido ultrapassados,

estabelece regras rígidas para o comportamento do gasto com pessoal no final do mandato das autoridades; e,

v) por fim, prevê sanções para os casos de não cumprimento das regras da lei.

Além de estabelecer limites globais para o gasto com pessoal em todas as esferas de governo – federal, estadual e municipal – a LRF inovou ao fixar limites no interior de cada uma delas, dando assim um amparo legal ao poder executivo de cada instância para atender os limites globais com aqueles gastos.

Esses tetos de gasto com pessoal, definidos sempre como um percentual da receita corrente líquida (RCL)2, passaram a ser: 1 Giambiagi, F. e Além, A.C, FINANÇAS PÚBLICAS, Editora Campus, R.Janeiro, 2000, pág. 192. 2 Pela LRF, a receita corrente líquida corresponde ao somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes. Há, em cada nível de governo, algumas deduções a serem feitas. No caso da União, por exemplo, devem ser deduzidas da RCL as transferências constitucionais aos

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i) Na esfera do governo federal: 50% da RCL, sendo;

. 2,5% para o legislativo, incluindo o tribunal de contas da união;

. 6,0% para o judiciário; e,

. 41,5% para o executivo.

ii) Na esfera estadual: 60% da RCL, sendo:

. 3,0% para o legislativo, incluindo o tribunal de contas do estado;

. 6,0% para o judiciário; e,

. 51,0% para o executivo.

iii) Na esfera municipal: 60% da RCL, sendo:

. 6,0% para o legislativo, incluindo o tribunal de contas do município; e,

. 54,0% para o executivo.

O objetivo da LRF era e é, primordialmente, reverter a curto e médio prazos o quadro de descontrole das contas do setor público em todas as suas esferas e níveis, evitando os desmandos na administração pública, como os endividamentos feitos de forma irresponsável por governadores e prefeitos, deixando para seus sucessores uma herança “maldita” traduzida em órgãos endividados em níveis absurdamente elevados e, como tal, literalmente quebrados financeiramente.

Na realidade, a LRF faz parte de um processo de reforma do Estado brasileiro, do qual também fazem parte as reformas administrativa, previdenciária e tributária, o saneamento e privatização dos bancos estaduais e os acordos de ajuste fiscal entre a União e os Estados e grandes municípios.

Do ponto de vista técnico, a lógica da LRF tem fundamento na escola econômica monetarista que vê no déficit e na dívida pública fontes primárias do processo inflacionário. Isso porque o financiamento estatal vale-se da emissão de moeda e dos empréstimos e

Estados e Municípios, além da contribuição dos servidores para o custeio de seu sistema de previdência.

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financiamentos. Emissões de moeda pressionam os preços, gerando o conhecido processo de inflação de demanda. Já o recurso rotineiro a operações de crédito (empréstimos), geralmente mediante a venda de títulos públicos, eleva o nível dos juros e, em seguida, os demais preços da economia (inflação de custos).

Disso tudo se conclui que, se após a revolução keynesiana dos anos 30 do século passado, até meados dos anos 80, o volumoso gasto do governo com seu conseqüente déficit orçamentário era um valioso e poderoso instrumento para o crescimento das economias, particularmente dos países subdesenvolvidos, hoje ele é tido como o grande vilão da economia!

3. As contas públicas

Inquestionavelmente, o indicador mais importante da presença do Estado na economia é dado pelo valor dos dispêndios do setor público. No caso brasileiro, o valor global das despesas públicas (excluídas as empresas estatais) que, ao final dos anos 40, era de cerca de 15% do PIB, cresceu continuamente nas décadas seguintes, tendo atingido 20% nos anos 60, saltando para 25% ao longo dos anos 70, havendo estimativas de que tenha se estabilizado em torno de 28% do PIB a partir dos anos 90.

Para fins analíticos, as despesas podem ser classificadas sob três óticas diferentes:

i) a ótica das contas nacionais;

ii) a ótica orçamentária; e

iii) a ótica das Necessidades de Financiamento do Setor Público (NSFP).

A rigor, o que distingue uma abordagem da outra é a forma de classificar os diversos itens que compõem a despesa agregada do setor público - forma esta que está condicionada aos objetivos do analista ou do gestor das finanças públicas. Vejamos, sinteticamente, como se compõe cada uma dessas abordagens.

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3.1. A abordagem das contas nacionais

Nas contas nacionais, as despesas do governo são tratadas sob a denominação de "Administrações Públicas", englobando sob esse título os gastos da União, Estados e Municípios (apenas administração direta, autarquias e fundações públicas). Tais despesas são assim classificadas:

a) Despesas de custeio (ou de consumo) - que compreendem os gastos realizados pelo governo com a compra de bens e serviços e o pagamento de salários do funcionalismo civil e militar - ativos e inativos. Enfim, referem-se aos gastos para a manutenção da máquina administrativa (ministérios, escolas, hospitais, etc.).

b) Pagamento de transferências - compreendendo os pagamentos de aposentadorias, pensões, auxílio-desemprego, auxílio natalidade, juros da dívida pública, etc..

c) Despesas com subsídios - que são os recursos transferidos a diversos setores produtivos ou a produtos específicos com o objetivo de garantir o abastecimento e/ou a redução dos preços de produtos essenciais para os consumidores.

d) Despesas de capital (ou de investimento) - que englobam os gastos voltados, em geral, para a ampliação da infra-estrutura econômica e social, como a construção de estradas, a ampliação de redes de água e esgoto, a construção de escolas, hospitais, portos, aeroportos, etc..

A Tabela I apresenta um exemplo hipotético de como se poderia apurar o resultado das contas principais das "Administrações Públicas". Para tanto, incluímos a arrecadação do governo - que, nesse caso, se compõe da receita tributária (impostos diretos e indiretos) e outras receitas correntes (inclusive contribuições previdenciárias).

Observe-se que, mesmo que o saldo em conta corrente do governo (=A-B) seja negativo, ainda assim será chamado de "poupança do governo". Tecnicamente falando, no exemplo hipotético acima, o déficit fiscal de R$ 25,0 bilhões terá de ser financiado por:

a) endividamento interno (venda de títulos públicos); e/ou

b) endividamento externo; e/ou

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c) emissão monetária (somente no caso da União).

Tabela 1

CONTAS DOS SETOR PÚBLICO (Ótica das contas nacionais)

(Em R$ bilhões _____________________________________________________ A - Receita tributária e outras receitas correntes.....: 135,0 B - Despesas correntes (=a+b+c)...........................: 145,0 (a) Gastos de consumo (= i+ii)...................: 77,0 (i) Despesas de pessoal................: 40,0 (ii) Compras de bens e serviços.....: 37,0 (b) Transferências (=i+iii)..........................: 56,0 (i) Assistência previdenciária (pensões, aposentadorias, auxílios, etc.)..: 32,0 (ii) Juros da dívida interna.............: 24,0 (c) Subsídios.............................................: 12,0 C - Poupança em conta corrente do governo (=A-B)....: -10,0 D - Despesas de capital ..........................................: 15,0 E - Déficit (ou superávit) fiscal (=A - B - C)...............: -25,0 ____________________________________________________

3.2. A ótica orçamentária

A classificação orçamentária da despesa segue o disposto no art. 12 da Lei n. 4.320/64 - a chamada "Lei do Orçamento". Deste modo, quanto à sua natureza, a despesa assim se classifica:

I - Despesas correntes - são aquelas despesas que não produzem qualquer acréscimo patrimonial para o governo, decompondo-se em:

a) Despesas de custeio - referem-se aos gastos com manutenção, funcionamento e obras de conservação das unidades administrativas do governo (compras de bens e serviços e gastos com pessoal).

b) Transferências correntes - são as despesas realizadas pelo governo sem a devida contraprestação em bens e serviços, como aposentadorias, pensões, auxílio-desemprego, incluindo, também, os

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juros da dívida pública, bem como as subvenções para a manutenção de entidades públicas e privadas, geralmente de caráter filantrópico como, por exemplo, asilos e creches.

II - Despesas de capital - compostas de três categorias:

a) Investimentos - referem-se às despesas com obras de construção, aquisição de instalações, de máquinas e equipamentos, bem como dotações para aumento de capital de empresas públicas que não sejam comerciais e financeiras.

b) Inversões financeiras - são as dotações destinadas a: i) aquisição de imóveis ou de bens de capital usados; ii) compra de títulos ou ações de empresas, desde que não implique aumento de capital; e iii) constituição ou aumento de capital de entidades ou empresas comerciais ou financeiras.

c) Transferências de capital - são as despesas destinadas a entidades de direito público ou privado, sem a contraprestação de bens e serviços, e voltadas para investimentos ou inversões financeiras, bem como despesas com amortizações da dívida pública.

Obviamente, para se apurar o déficit ou superávit orçamentário, basta somar todas as receitas correntes do governo (tributárias e outras), subtraindo dessas o total das despesas, isto é, a soma das despesas correntes com as despesas de capital. Caso o resultado seja negativo, o financiamento deste déficit se traduzirá, necessariamente, em maior endividamento do governo junto ao setor privado, ou através de empréstimos bancários, ou - o que é mais comum - através da venda de títulos públicos junto aos bancos e ao público em geral.

3.3. A ótica das "Necessidades de Financiamento do Setor Público"- NFSP.

Este é um método de apuração das contas do setor público largamente utilizado por organismos internacionais (particularmente o FMI) em suas análises do desempenho do setor público e que, desde a crise da dívida externa (1982) se tornou rotineiro nos estudos e cálculos tanto do Banco Central do Brasil (BACEN), como da própria Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

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As NFSP são obtidas a partir da medição do chamado "Resultado do Setor Público Não-Financeiro" - RSP - já que, como foi dito anteriormente, não inclui as contas das entidades financeiras públicas. Na prática, há dois critérios para se calcular o RSP ou, o que dá no mesmo, as NFSP:

O primeiro - chamado critério "acima da linha" e que é utilizado pela STN - consiste simplesmente na apuração da diferença entre receitas e despesas orçamentárias; o segundo - denominado critério "abaixo da linha" e que é adotado pelo FMI e pelo Banco Central do Brasil - é obtido pelo lado do financiamento do déficit público, sendo calculado a partir da variação da dívida líquida do setor público junto ao setor privado.

Costuma-se dizer que esse segundo critério indicaria as pressões que o setor público não-financeiro estaria exercendo sobre os recursos disponíveis na economia e que, em princípio, se destinariam ao financiamento do setor privado. De qualquer forma, é importante deixar claro que os dois critérios devem chegar ao mesmo resultado.

Independentemente do critério utilizado, o resultado do setor público - RSP - (déficit ou superávit) pode apresentar três valores diferentes, dependendo dos itens que se incluam ou se excluam do cálculo. Esses resultados são, assim, denominados:

i) Resultado Nominal do Setor Público;

ii) Resultado Operacional do Setor Público.

iii) Resultado Primário do Setor Público; e

i) Resultado "Nominal" do Setor Público (RNSP) - consiste, simplesmente, na diferença entre o total das receitas correntes do governo (tributárias e outras receitas) e o total de suas despesas (custeio, transferências, subsídios, financeiras e de capital). Visto da ótica da dívida, corresponde à variação da dívida líquida do setor público não-financeiro em determinado período de tempo (mês, trimestre ou ano), incluindo aí a variação devida à correção monetária da própria dívida e dos ativos do setor público.

ii) Resultado "Operacional" do Setor Público (R0SP) - corresponde ao resultado obtido quando se exclui do resultado nominal

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a correção monetária da dívida pública e dos ativos do setor público. Nesse critério, assume-se que as variações da dívida são distribuídas de maneira uniforme no período considerado.

Vale mencionar que, no caso da dívida externa, não se faz qualquer exclusão, sendo o resultado no conceito operacional igual ao do conceito nominal, uma vez que a variação em dólares entre duas datas é convertida pela taxa média do câmbio do período.

iii) Resultado "primário" do Setor Público (RPSP) - corresponde ao resultado obtido quando se exclui do resultado operacional os juros líquidos reais. O resultado primário também pode ser obtido deduzindo-se do resultado nominal (RNSP) os juros líquidos nominais (que correspondem à soma da correção monetária mais os juros reais). Em outras palavras, o resultado primário do setor público é dado pela diferença entre receitas e despesas não-financeiras.

A importância desse conceito é a de possibilitar uma melhor avaliação das contas públicas no presente, isto é, sem considerar a influência dos juros que são o resultado de déficits passados e que deram origem à dívida pública.

Deve-se ressaltar que quando o Resultado - nominal, operacional ou primário - é negativo diz-se que houve déficit - nominal, operacional ou primário. Se for positivo, houve superávit - nominal, operacional ou primário. Também deve ficar claro que os três resultados - nominal, operacional e primário - são calculados tanto de forma agregada - englobando sob a denominação de setor público (NFSP) os resultados da União (ou Tesouro Nacional), da Previdência Social, das Empresas Estatais e dos Estados e Municípios - como de forma desagregada, individualizando o resultado de cada uma dessas áreas, níveis ou esferas de governo.

Para uma melhor compreensão da forma de se calcular o RSP - nominal, operacional e primário -, a Tabela 2, a seguir, mostra um exemplo hipotético das Necessidades de Financiamento do Tesouro Nacional, calculadas pelo critério "acima da linha".

Tabela 2

NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO TESOURO NACIONAL Discriminação R$ bilhões

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1 - Receita total (1) 121,3 1.1. Tributária 80,0 1.2. Previdência 35,3 1.3. Outras receitas correntes 6,0 2 - Despesa total 148,0 2.1. Pessoal e encargos 52,0 2.2. Benefícios da previdência 38,0 2.3. Juros nominais da dívida 33,0 a) Correção monetária3 22,0 b) Juros reais 11,0 2.4. Outros custeios e investimento 25,0 3 - Resultado Nominal (= 1-2) -26,7 4 - Resultado Operacional (=3-2.3.a.) -4,7 5 - Resultado Primário (= 3-2.3.) 6,3 ________________________________________________________ (1) Líquida das transferências constitucionais

4. Comentários adicionais sobre os três tipos de déficit público

Como se disse, um conceito importante para se medir o desempenho fiscal do setor público é o déficit primário – que é dado pela diferença entre as receitas e as despesas não-financeiras.

O termo “primário” se justifica porque, no fundo, este déficit representa a origem e fonte de realimentação dos déficits totais e da dívida pública. Não é outra a razão pela qual, nos acordos com o FMI, foi estabelecida a exigência de se gerar um superávit primário, inicialmente da ordem de 3% do PIB e que hoje gira em torno do 5,25% do PIB – o que significa um superávit da ordem de R$80,0 bilhões. Este montante

3 O modelo de cálculo é ainda este, muito embora já não haja correção monetária da dívida interna pública. No lugar da correção monetária, são incluídos a diferença entre os juros nominais praticados e os juros reais (estes calculados pela diferença relativa entre os juros nominais e a taxa de inflação corrente.

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destina-se exclusivamente ao pagamento de parte dos juros da dívida pública – que hoje andam na casa dos R$150,0 bilhões.

Assim, se antes o total de juros era pago com a colocação de novos títulos no mercado – razão maior do crescimento “exponencial” da dívida interna – hoje, com o pagamento de parte dos juros com o superávit primário, a trajetória de crescimento daquela dívida é amortecida, tornando-a um pouco mais administrável.

Um outro aspecto relevante do cálculo do déficit primário é que ele propicia uma identificação dos itens de despesa que mais contribuem para o déficit público, dentro da metodologia denominada “acima da linha”. Essa identificação permite responder questões do tipo: que itens da despesa crescem inercialmente? Que despesas são mais passíveis de cortes? Como estão evoluindo as contas da previdência social? Quais são os impostos mais sensíveis ao ritmo da atividade econômica?

Essas questões são relevantes no caso do governo pretender implementar um programa de ajuste fiscal.

Vejamos, agora, o chamado déficit nominal ou déficit total – que é calculado quando se agrega ao déficit primário o pagamento de juros (despesas financeiras). Este déficit nominal pode ser calculado tanto pelo método “acima da linha” como pelo método “abaixo da linha”.

O primeiro método tem a vantagem de identificar os principais focos de desequilíbrio e sua natureza – no caso de se precisar fazer um ajuste fiscal. O segundo mostra o impacto do déficit público sobre a disponibilidade de recursos financeiros da economia, isto é, sobre a poupança doméstica. Além de reduzir a disponibilidade de poupança privada que, certamente, seria destinada aos investimentos empresariais, a disputa do governo pelos recursos financeiros disponíveis contribui para pressionar a taxa de juros para cima, resultando em menores investimentos privados e, conseqüentemente, em um desempenho sofrível do PIB.

Quanto ao déficit operacional, trata-se de uma medida bastante requisitada em períodos de elevada inflação. Como já foi visto, o déficit operacional é calculado subtraindo-se das NFSP nominais a parte referente à correção monetária. E por que se faz isso? A razão é

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simples: em períodos de aceleração inflacionária, a correção nominal da dívida pública pelas taxas de inflação correntes faz com que o valor desta cresça de nominalmente forma geométrica. Com isso, torna-se difícil diagnosticar se o crescimento da dívida foi provocado por novos déficits orçamentários “reais”, ou simplesmente se foi devido apenas à atualização monetária.

Em outras palavras, em épocas de inflação elevada, mesmo que o governo consiga realizar cortes de gastos, é provável que sua dívida cresça simplesmente porque os preços cresceram. Mas, se os preços cresceram, a receita tributária do governo também cresceu e, a princípio, fica um coisa pela outra. A questão, então, reside em isolar do crescimento do déficit nominal o efeito “inflacionário” – resultando, então, no chamado déficit operacional.

Vale registrar que, com a implementação do Plano Real e a conseqüente queda das taxas de inflação, a partir de 1994, os déficits nominal e operacional convergiram para um valor aproximadamente comum aos dois.

Uma observação final sobre esses conceitos de déficits é que eles podem ser calculados tanto pelo critério de caixa, como pelo critério de competência. O primeiro critério contabiliza o déficit com base nos fluxos de pagamentos e recebimentos ocorridos no caixa do governo. Esse critério tem a vantagem de medir com maior precisão o impacto monetário da atuação do governo na economia. Mas, também pode provocar distorções no cálculo do déficit quando, por exemplo, o governo adia, intencionalmente o pagamento de funcionários, ou a fornecedores.

Já o critério de competência serve para apurar as despesas no momento de sua liquidação, ou seja, no momento em que se efetivou o direito adquirido pelo credor. Em outras palavras, o critério da competência apura a despesa quando a transação econômica foi realizada, independentemente de o pagamento ter ou não ocorrido naquela data.

No caso brasileiro, as NFSP são apuradas pelo critério de competência. Já o déficit (ou superávit) primário do governo federal –

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medido pelo método “acima da linha” – é apurado pela Secretaria do Tesouro Nacional pelo critério de caixa.

5. O déficit público e a dívida interna pública

Como já se disse, sempre que o governo gasta mais do que arrecada, surge o chamado déficit público – que terá de ser financiado ou por meio de aumento de impostos, ou por emissão monetária, ou por meio de endividamento do setor público. Nesse sentido, não se pode dizer que déficit público é sinônimo de dívida pública, embora o contrário seja verdadeiro. O endividamento – que pode ser via empréstimo bancário ou via colocação de títulos públicos federais junto ao setor privado - é apenas uma das quatro conhecidas alternativas para o financiamento do déficit do governo.

Assim, descartando, por impraticável, o aumento dos impostos, um déficit nas contas públicas terá de ser financiado por uma ou mais das três seguintes fontes:

i) emissão monetária; ii) empréstimo bancário; iii) endividamento interno.

No caso brasileiro, os empréstimos bancários, graças a um série

de restrições legais, portarias e circulares baixadas desde o final dos anos 80, deixou de ser, há alguns anos, uma alternativa de financiamento de déficit de órgãos da administração pública.

Desse modo, pode-se afirmar que:

Déficit público (DP) = emissão monetária + endividamento interno do setor público.

Dependendo da forma escolhida para o financiamento do déficit, as repercussões macroeconômicas serão distintas. Assim, por exemplo, costuma-se associar a emissão monetária com a aceleração inflacionária; já o endividamento interno tende a elevar a taxa de juros real da economia – o que contribui para aumentar ainda mais os encargos financeiros da própria dívida do governo, agravando cada vez mais os desequilíbrios das contas públicas.

6. Inflação, déficit público e senhoriagem

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A emissão monetária se constitui, sem dúvida, numa dos principais fontes de financiamento do déficit público. Trata-se de um mecanismo que, para o governo, se apresenta como prático, objetivo e de custo zero.

O governo consegue financiar parte de seu déficit com a emissão monetária baseado num argumento econômico bastante simples: caso o valor nominal do produto cresça, os indivíduos necessitarão de mais moeda para satisfazerem suas transações. Ocorre que o valor nominal do PIB pode crescer por duas razões: primeiro, porque pode ter ocorrido um crescimento real do PIB; segundo, porque os preços em geral cresceram (preços mais altos exigem mais dinheiro para as compras!).

Vamos analisar a primeira hipótese: com o crescimento real da renda ou produto da economia, os indivíduos demandarão mais moeda para suas transações – o que deve ser satisfeito pelo governo (via Banco Central) com emissão monetária suficiente para atender essa demanda monetária adicional. Esta emissão monetária não tem qualquer caráter inflacionário.

Para entender melhor esse ponto, suponha que a demanda da coletividade por moeda cresça na mesma proporção do crescimento da renda ou produto real, ou seja, se a renda crescer 5%, a demanda por moeda também crescerá 5% - o que, economicamente, significa que a demanda por moeda para transações tem elasticidade-renda unitária. Assim, se a relação meios de pagamento/PIB for, digamos, de 10%, e caso o PIB cresça 1%, o governo poderia emitir moeda no montante de 0,1% do PIB (gerando para si uma receita equivalente) sem exercer com isso qualquer pressão inflacionária, uma vez que estaria apenas atendendo as novas necessidades de moeda da economia.

Na segunda hipótese – ou seja, caso haja inflação – ocorre o mesmo fenômeno, com a diferença de que o valor maior do produto se deve a um aumento no preço deste, e não a um aumento na quantidade física do PIB. O resultado desse aumento dos preços é, da mesma forma, um aumento na demanda por moeda para satisfazer as transações. Este aumento na demanda por moeda forçará o Banco Central a emitir mais dinheiro – elevando a oferta monetária na economia.

Em síntese, o governo – via Banco Central – emite moeda por duas razões econômicas práticas: primeiro, para satisfazer o aumento da demanda por moeda decorrente do crescimento da economia; e, segundo, para fazer face à subida dos preços, isto é, à inflação.

Esta emissão monetária “compulsória” – que acaba se constituindo num mecanismo de financiamento de parte do déficit público – é denominado em finanças públicas de senhoriagem.

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A senhoriagem pode ser definida, então, como a receita do governo oriunda do aumento da base monetária, e que se compõe de dois fatores, assim:

∆%B = ∆m + лm (1)

onde, B é a base monetária; m representa a demanda por saldos monetários reais; e л corresponde à taxa de inflação.

Em outras palavras, o que a equação (1) está dizendo é que a variação da base monetária (B) pode ser decomposta em expansão dos saldos monetários reais (∆m) para transações e pelo aumento dos encaixes monetários necessário para compensar a inflação, de forma a manter os saldos monetários reais constantes (лm).

O termo лm é conhecido na literatura das finanças públicas como imposto inflacionário – e corresponde à perda ao poder aquisitivo da moeda em decorrência da inflação.

Assim, caso não haja inflação, a senhoriagem corresponderá a apenas o aumento da base monetária conseqüente do crescimento da economia; caso o produto não esteja crescendo, mas haja inflação, a senhoriagem deverá ser igual ao imposto inflacionário.

Um aspecto importante a considerar é que nem toda expansão da base monetária, provocada por emissão monetária, decorre do financiamento da parcela do déficit público não coberta pela venda de títulos ao setor privado. Na prática, há diversos outros fatores que provocam expansão da base monetária, podendo ser citados, entre outros, a acumulação de reservas internacionais e a expansão do crédito, pelo Banco Central, ao setor financeiro privado .

7. O financiamento do déficit via endividamento interno

Uma alternativa também bastante atraente e que tem sido sistematicamente utilizada para o financiamento do déficit público é endividamento interno – realizado através de venda de títulos públicos com prazos e rendimentos determinados. Sua atratividade reside no fato de que, a princípio, evita emissões monetárias e endividamento em divisas estrangeiras.

Apesar dessa aparente vantagem, não se deve esquecer que o endividamento interno, ao retirar recursos monetários da economia, reduz a disponibilidade de crédito bancário – o que eleva a taxa de juros

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e, daí, desestimula os investimentos produtivos. De outra parte, quanto maior o endividamento público, maior a necessidade de aumentar a taxa de remuneração dos títulos públicos para torná-los atraentes ao público.

Esse aumento na remuneração dos títulos se traduz, obviamente, na elevação da taxa de juros – o que, por seu turno, significa maiores despesas do setor público com o serviço de sua dívida, agravando mais ainda o déficit público no futuro mais ou menos imediato. O agravamento do déficit acabará por exigir mais emissões de moeda, criando, a partir daí, um círculo vicioso de “déficit-emissão de moeda-endividamento interno-déficit...” e que, no final das contas, significará mais inflação no futuro que, antecipada pelos agentes econômicos, acabará por gerar inflação no presente.

De outra parte, na administração da dívida pública, há dois aspectos a considerar: os prazos dos vencimentos das obrigações ou títulos emitidos e o desembolso de juros. Títulos com prazos de vencimento maiores tendem a pagar maiores juros, mas têm a vantagem de adiar as necessidades de desembolso ou de refinanciamento. Já os títulos de menores prazos, ao contrário, geralmente são colocados a juros menores, mas aumentam os custos administrativos envolvidos em sua operação.

A regra de “ouro” da administração da dívida pública seria a seguinte: caso os juros sejam pós-fixados, deve-se procurar colocar títulos de longo prazo quando a taxa de juros de mercado encontra-se alta; se a taxa de juros estiver baixa, recomenda-se a colocação de títulos de curto prazo. Se se tratar de juros pré-fixados, o procedimento deve ser o oposto.

Um outro aspecto a considerar refere-se ao limite ao endividamento. A rigor, não existe uma posição consensual a esse respeito. Tecnicamente, pode-se dizer que a expansão do endividamento guarda relação com o potencial arrecadador do governo. Nesse sentido, o importante não é tanto o endividamento total do setor público mas sim os esperados dispêndios com os encargos da dívida. Em outras palavras, a taxa de crescimento dos encargos da dívida – entenda-se, as despesas com juros – não deve superar a taxa de crescimento da arrecadação tributária.

Essa colocação nos leva a deduzir que, se há restrições (legais, técnicas ou sociais) à emissão monetária para fazer face ao déficit do governo, e se não há condições técnicas ou políticas para a imposição de novos impostos, há, então, limites operacionais para o endividamento público – o que implica que há limites ao próprio tamanho do déficit.

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8. Dívida Pública Líquida

Na análise da grau de endividamento do setor público, o conceito relevante não é simplesmente o da dívida total junto ao setor privado e ao setor externo, uma vez que o governo (ou pelo menos o Banco Central) é, por diversas razões, credor do setor privado. Na realidade, a variável relevante para análise é a "Dívida Líquida do Setor Público".

Por "Dívida Líquida do Setor Público" -DLSP- deve-se entender o total das obrigações (débitos) assumidas pela União e Banco Central, Governos Estaduais e Municipais, inclusive Empresas Estatais (excluídas as instituições financeiras) e deduzindo-se de cada grupamento os haveres (créditos) existentes, além de deduzir da Dívida Externa as reservas internacionais.

Assim entendido, a DLSP não deve ser confundida com a "Dívida Mobiliária" que, no caso do Governo Federal e Banco Central, refere-se aos títulos emitidos, que se encontram em poder do público (financeiro e não-financeiro), valorados aos preços estabelecidos para as operações compromissadas (isto é, com cláusula de recompra). Já para os governos Estaduais e Municipais, esse item compreende os títulos de emissão dos respectivos governos. Na realidade, a Dívida Mobiliária da União é apenas um subconjunto (talvez o mais importante, é verdade) da DLSP.

9. Observações finais

De tudo o que foi dito, restam, apenas, algumas observações finais, a saber:

i) Pela metodologia do Banco Central, o déficit público é calculado pela ótica do financiamento, tomando por base as informações sobre a evolução da DLSP cujo saldo é apurado pelo critério da competência, mês a mês.

ii) Na metodologia utilizada pelo BACEN, os recursos oriundos da privatização de empresas do Governo não são incluídos no cálculo das

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NFSP (sob o argumento de que não se trata de receitas de natureza fiscal).

iv) Recorde-se que, no caso da dívida externa, o critério adotado supõe que o resultado no conceito operacional é igual ao nominal, já que a variação em dólares entre duas datas é convertida pela taxa média do câmbio do período.

v) Por fim, vale ainda recordar que o resultado primário tanto pode ser obtido através da exclusão dos juros reais líquidos do conceito operacional como, também, pela dedução dos juros nominais líquidos das NFSP em seu conceito nominal.

Um última observação: de uma forma geral, os resultados das contas do setor público acompanham o ritmo da atividade econômica ou o ciclo econômico: em épocas de recessão econômica, geralmente os déficits públicos aumentam; já em épocas de “boom” econômico, os déficits tendem a ser eliminados. As principais razões para isso são:

a) a elasticidade ou sensibilidade da receita tributária em relação a variações do PIB tende a ser unitária ou mesmo maior que 1;

b) a relativa incomprimibilidade de certos itens de despesa (como juros da dívida, gastos com pessoal e com previdência), mesmo em épocas de crise econômica, agravado pela constatação de que, não raramente, as despesas do governo nessas épocas tenderem a aumentar, como tentativa de minorar os efeitos do desemprego.

* * *

Com essas considerações finais, encerramos este tópico sobre as contas públicas, o déficit público, as formas de financiamento do déficit, o aumento da base monetária e a senhoriagem e a dívida pública.

Nosso próximo e último assunto versará sobre o Código Tributário Nacional – que é último tópico do programa de Finanças Públicas. Até lá.

____________________

Bibliografia consultada:

1. Rezende, F. – Finanças Públicas – Ed. Atlas, 2ª Edição, S.Paulo, 2001.

2. Giabiagi, F. e Alem, A. – Finanças Públicas – Ed. Atlas, 1ª Edição, S.Paulo, 2004.

3. Foschete, M. – O déficit público e seu financiamento – texto mimeo., Unipac-BD, 2002.

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AULA 6: SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO. CLASSIFICAÇÃO DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA.

Nesta Aula 6, vamos tratar do sistema tributário brasileiro,

suas características e as principais mudanças após a Constituição Federal de 1988. Mais à frente, falaremos também da “classificação da Receita Orçamentária”.

Com este texto, nós encerramos todo o programa de Finanças Públicas do concurso do AFRFB, tendo coberto todos os seus tópicos.

Nossa próxima Aula – a de n° 7 – versará somente sobre exercícios e questões de provas passadas.

1. Introdução: um breve histórico

A rigor, o sistema tributário brasileiro manteve, desde a proclamação da República até 1930, praticamente a mesma estrutura vigente à época do Império. Àquela época, o Brasil era uma economia fundamentalmente agrícola e, como tal, um grande exportador de produtos agrícolas, especialmente o café. A principal fonte de receita tributária era oriunda das importações.

A primeira mudança mais significativa veio com a Constituição Federal de 1891 que separou as atribuições tributárias próprias da União e as próprias dos Estados, tendo ambas estas esferas o poder de criar novos tributos no seu âmbito. Daquela data até a Constituição de 1934, o imposto de importação continuou sendo a principal fonte tributária da União, enquanto os Estados tinham como principal fonte o imposto sobre as exportações (inclusive interestaduais). Os municípios, por seu turno, tinham sua principal fonte de receita assentada nas indústrias locais e nas profissões liberais.

Com a Constituição de 1934, foram introduzidos os impostos sobre vendas e consignações, da competência estadual, ficando,de outra parte, proibida a cobrança do imposto de exportações interestaduais.

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A Constituição de 1937 pouco alterou no sistema tributário vigente, exceto quanto à proibição de os Estados tributarem o consumo de combustíveis e de os municípios tributarem a renda das propriedades rurais.

Já a Constituição de 1946 introduziu algumas alterações importantes no sistema tributário brasileiro. Primeiro, numa tentativa de aumentar a receita dos municípios, deu a esses a competência para cobrar o imposto do selo municipal e o imposto de indústrias e profissões; segundo, introduziu um sistema de transferência de parte da arrecadação da União e dos Estados para os municípios.

Em 1956, o Brasil deu um importante passo em direção à tributação sobre o valor agregado dos produtos, com a criação do imposto sobre o consumo. No início dos anos 60, os impostos sobre o consumo e sobre vendas e consignações já representavam, em média, mais da metade da receita da União, dos Estados e dos municípios.

2. A reforma dos anos 60

Nas segunda metade dos anos 60, foram introduzidas reformas significativas no sistema tributário brasileiro cujos principais objetivos foram aumentar a capacidade de arrecadação do Estado, de forma a resolver o problema do déficit fiscal e a estimular, de outro lado, o crescimento econômico.

Sem dúvida, o principal aspecto modernizador da reforma foi a mudança da sistemática de arrecadação, priorizando a tributação sobre o valor agregado, em vez de “em cascata” – referente a impostos cumulativos.

Além disso, houve uma redução do número de impostos e uma melhor distribuição dos mesmos entre as três esferas do governo. Também foram criados dois novos impostos sobre o valor agregado: o imposto sobre produtos industrializados (federal) e o imposto sobre circulação de mercadorias (estadual) – sendo que, este último foi transformado, vinte anos depois, no atual imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS).

O ICM foi criado com uma alíquota uniforme, não interferindo, portanto, na alocação de recursos e investimentos. Já o IPI foi

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instituído com alíquotas diferenciadas, penalizando mais os produtos supostamente supérfluos.

Em resumo, com a reforma dos anos 60, os impostos foram classificados em apenas quatro categorias:

i) Imposto sobre comércio exterior – incidindo seletivamente sobre as importações e sobre as exportações - da competência da União;

ii) Imposto sobre o patrimônio e a renda – aí incluídos o IPTU (municipal), o ITBI (estadual), o ITR e o IR – ambos federais;

iii) O imposto sobre a produção e a circulação – incluindo aí os já citados IPI e ICM, e o imposto sobre serviço de transportes e comunicações (ISTC) e o IOF (ambos federais) e mais o ISS (municipal);

iv) Impostos únicos – sobre energia elétrica (IUEE), sobre combustíveis e lubrificantes (IUCL) e sobre minerais (IUM) – todos da competência federal.

Além desses tributos, foram criadas fontes de receita extra-orçamentárias como o FGTS e contribuições previdenciárias.

Como se vê, do ponto de vista da distribuição federativa da arrecadação tributária, a reforma dos anos 60 privilegiou o governo central sob o argumento de que era a esfera com responsabilidade de promover o crescimento e o desenvolvimento do país.

Nas duas décadas que se seguiram a esta reforma, as alterações introduzidas no sistema tributário objetivaram, de forma geral:

i) a centralização dos recursos arrecadados na esfera da União, com redução dos percentuais de transferências para os estados e municípios;

ii) uma ampla concessão de subsídios e incentivos à atividade produtiva, especialmente no que se refere ao IRPJ e também ao IPI e ao imposto de importação.

Em 1970, foram criados o Programa de Integração Social (PIS) - custeado por uma contribuição mensal sobre o faturamento das empresas - e o programa de Formação do Patrimônio do Servidor

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Público (PASEP) – custeado pela contribuição mensal de entidades públicas.

Esses dois fundos se constituíram, sem dúvida, num importante aporte de recursos para o financiamento de programas e projetos de investimentos públicos.

3. O sistema tributário da Constituição Federal de 1988

A Constituição Federal de 1988 teve como uma de suas principais características o fortalecimento da Federação. No campo tributário, isso se refletiu, principalmente, no aumento do grau de autonomia fiscal dos estados e municípios e na descentralização dos recursos tributários disponíveis.

A autonomia fiscal dos estados e municípios foi ampliada, com importantes mudanças nas regras de tributação. Assim por exemplo, foi atribuída a cada um dos estados a competência para fixar autonomamente as alíquotas de seu principal imposto – o ICMS. Ademais, foi retirada a competência da União de conceder isenções de impostos estaduais e municipais.

Um aspecto que tem sido levantado rotineiramente relacionado com as mudanças tributárias constitucionais diz respeito ao fato de que a Constituição de 1988 reduziu em demasia os recursos disponíveis para a União, através do aumento das transferências tributárias e da limitação de suas bases impositivas, sem contudo prever a transferências de certos encargos que eram da União e que, agora, deveriam se repassados para os estados e municípios.

Como conseqüência, nos primeiros anos pós-Constituição, e diante do agravamento do desequilíbrio fiscal e financeiro da União, o governo federal passou a adotar sucessivas medidas para compensar suas perdas – o que só contribuiu para piorar a qualidade da tributação e dos serviços prestados.

Deste modo, como a base de cálculo para as transferências tributárias para os estados e municípios se apóia exclusivamente no IR e no IPI – a União procurou recompor sua receita utilizando outros tributos. Esses novos tributos eram (ou são), tecnicamente piores que o IR e o IPI do ponto de vista da eficiência do sistema

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econômico, mas apresentando uma grande vantagem para o governo federal - a de não ter que dividir sua arrecadação com as outras esferas de governo.

De fato, na área tributária foram criados novos tributos e elevadas as alíquotas dos já existentes, em particular daqueles não sujeitos à partilha com estados e municípios. Exemplos disso foram a criação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) em 1989, e o aumento da alíquota da Cofins (antigo FINSOCIAL) que passou do nível inicial de 0,5% para 3%, em 1989. Além disso, foi aumentada a alíquota do IOF e foi criado o IPMF, que depois se tornou CPMF.

Em resumo, e a bem da verdade, a reação do governo federal ao novo sistema tributário introduzido pela Constituição Federal de 1988 resultou em uma queda na qualidade do sistema tributário sem que, entretanto, tenha ocorrido de forma definitiva uma solução de seu desequilíbrio financeiro e fiscal.

4. Principais problemas do sistema tributário brasileiro

Não resta dúvida que o sistema tributário brasileiro é eficiente e, sobretudo, eficaz no sentido de que propicia ao governo um nível elevado de receita para atender em grande medida seus (exagerados) gastos. No entanto, nosso sistema tributário padece de uma série de problemas, alguns aparentemente de fácil solução; outros, nem tanto. Listemos alguns desses problemas:

i) Carga fiscal elevada

O primeiro desses problemas reside, sem dúvida, no elevado nível da carga tributária para um país de nível médio de renda, como o Brasil. Esta elevada carga tributária fica evidente quando se compara o caso brasileiro com outros países semelhantes. Depois de apresentar um elevação constante ao

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longo dos anos 90 até o presente momento, a carga tributária bruta do Brasil situa-se, hoje, em algo como 37-38% do PIB - de longe a mais alta dentre todos os países da América latina. A grande maioria, se não todos, dos países latino-americanos têm uma carga tributária que não ultrapassa os 20% do PIB.

Numa comparação mais internacional, é importante levar em conta o PIB per capita. Isso porque, partindo do princípio de que rendas mais altas devem ser mais tributadas, ou seja, de forma progressiva, é de se esperar que países os europeus – com uma renda per capita 7 ou 8 vezes a do Brasil – apresentem elevadas cargas tributárias. Apesar desse aspecto, vale registrar que a carga tributária do Brasil não fica muito atrás da maioria dos países europeus (e perdendo feio para países como o Japão – com apenas 21%!), ficando abaixo apenas dos países nórdicos (Suécia, Noruega, Dinamarca, etc), onde a carga fiscal ultrapassa os 40%. No entanto, se forem retiradas do cálculo as contribuições para o sistema previdenciário, a carga fiscal desses países não fica muito diferente da do Brasil.

ii) A falta de eqüidade

Este é outro aspecto importante de nosso sistema tributário. Isso decorre do fato de que a tributação sobre a renda é relativamente baixa – especialmente quando se refere a pessoas físicas. O mesmo se pode dizer da carga fiscal sobre o patrimônio – principalmente quando se tem em vista a alta concentração de riqueza no Brasil.

De fato, comparando-se com outros países, especialmente com os mais desenvolvidos, a tributação de pessoas físicas no Brasil é relativamente baixa.

Como já vimos em aulas anteriores, o grau de progressividade da tributação depende da forma como o sistema está estruturado. A tributação da renda das pessoas físicas torna o sistema mais progressivo, tendo em vista que os impostos pessoais podem ser dosados conforme a renda dos indivíduos. E nesse caso, a possibilidade de transferência da carga tributária para outros contribuintes é muito menor do que no caso de impostos sobre produtos ou sobre empresas.

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Um outro fator que contribui para a falta de eqüidade é a elevada participação dos impostos incidentes sobre bens e serviços na arrecadação total. Esse tipo de tributação, como já sabemos, onera igualmente, em termos absolutos pobres e ricos (como é o caso do IPI sobre a cerveja, por exemplo).

iii) Efeitos sobre a competitividade

O Brasil tem uma estrutura tributária com forte presença de impostos cumulativos, não passíveis de desoneração plena. Ao fabricar bens cujo preço está “inchado” devido a esses tributos - contrariamente ao que ocorre nos demais países concorrentes - isso acarreta para o país problemas de competitividade, principalmente no “front” externo.

A bem da verdade, são dois os efeitos perversos desse sistema: primeiro, o produto nacional torna-se caro em face do similar importado; segundo, esse mesmo produto, no mercado externo, enfrenta a concorrência de produtos sem essa carga tributária – ou seja, o país taxa suas exportações.

Exemplos disso são os tributos cumulativos que, além de distorcerem a alocação dos recursos, reduzem a competitividade dos produtos nacionais, tanto no mercado externo, como no doméstico. São exemplos desses tributos a CPMF, a COFINS e o PIS.

Um outro exemplo de imposto com efeitos distorcidos na economia são as elevadas contribuições sobre a folha de salários – que criam uma grande diferença entre o custo do trabalhador para as empresas e o salário que eles recebem. Este fato tem estimulado as relações trabalhistas informais, o que, por sua vez, reduz a própria base de incidência desse tributos.

Com essas considerações, encerramos nosso tópico sobre o sistema tributário brasileiro. Como você deve ter notado, longe de apresentar ou descrever a estrutura de nosso sistema tributário – o que ficaria melhor na disciplina do Direito Tributário – nossa preocupação aqui foi mostrar sua evolução histórica e suas principais características quanto à sua funcionalidade, sua eficácia e sua eqüidade.

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Dito isso, passemos, agora, à estrutura das receitas do governo.

5. Classificação da Receita Orçamentária

De uma forma geral, as receitas orçamentárias públicas podem ser classificadas sob três óticas:

i – conforme a captação de recursos; ii – conforme a origem dos recursos; e, iii – conforme a vinculação orçamentária.

Vejamos uma a uma:

i – ótica da captação de recursos

Do ponto de vista da captação, as receitas são classificadas em própria ou de transferências. As receitas próprias são aquelas arrecadadas pelas próprias entidades encarregadas de sua aplicação. Este é o caso, por exemplo, do Imposto de Renda – que é uma receita própria da União – e também o caso do ICMS – que é uma receita própria do Estado.

Já as receitas de transferências são aquelas provenientes do repasse de recursos captados por outras instituições. Este é o caso, por exemplo, do Fundo de Participação dos Estados e Municípios – que são receitas transferidas pela União àquelas esferas de governo.

ii – ótica da origem dos recursos

Quanto à origem dos recursos, as receitas são classificadas nas seguintes categorias:

a) tributária – que inclui as receitas definidas como tributos pelo Código Tributário Nacional, ou seja, os impostos, as taxas e contribuições de melhoria;

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b) de contribuições – que inclui as contribuições sociais (contribuição para o financiamento da seguridade social, contribuição do salário-educação, contribuição de empregadores e trabalhadores para a seguridade social etc.), as contribuições econômicas (contribuição para o programa de integração nacional – PIN – o Proterra, etc.);

c) patrimonial – que se refere ao resultado financeiro da exploração do patrimônio, dividindo-se em receitas imobiliárias (aluguéis, arrendamentos, taxas de ocupações de imóveis, etc), receitas de valores mobiliários (juros, dividendos, remunerações de depósitos bancários, etc.), e receitas de concessões e permissões (outorga dos serviços de telecomunicações, de radiodifusão, de serviços de transportes, etc.);

d) industrial – que é proveniente da venda de mercadorias ou serviços relativa a atividades de natureza empresarial, incluindo a receita da indústria de transformação e da construção;

e) agropecuária – que inclui a receita da produção vegetal e da produção pecuária (abate de animais) e derivados.

f) de serviços – que inclui serviços comerciais, financeiros, de transporte, de comunicação, de saúde, etc.

iii – Quanto à vinculação orçamentária

Em relação ao orçamento a que estão vinculadas, as receitas podem ser do orçamento da seguridade social e do orçamento fiscal. As receitas da seguridade social são basicamente as contribuições definidas no art. 195 da Constituição Federal, além das receitas diretamente arrecadadas pelos órgãos da seguridade social.

Já as receitas do orçamento fiscal são formadas pelas receitas de impostos, de contribuições econômicas e demais receitas dos órgãos não ligados à seguridade social.

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Receitas correntes X Receitas de capital

Independentemente do fato de serem receitas próprias ou de transferências, as receitas podem ser classificadas em correntes e de capital.

As receitas correntes são definidas como o conjunto das receitas tributária, de contribuições, patrimonial, de serviços, industrial e outras, mais os recursos obtidos mediante transferências para aplicação em despesas correntes.

Já as receitas de capital são aquelas cujos fluxos são mais irregulares – incluindo aí as operações de crédito e o resultado de alienação do patrimônio -, ou ainda, que se referem a transferências previamente vinculadas a despesas de capital.

Vale observar que não existe uma associação direta entre receitas e despesas correntes e entre receitas e despesas de capital. Na verdade, o saldo da conta corrente do governo – isto é, a diferença entre as receitas correntes e as despesas correntes (que é igual à poupança do governo), é uma das fontes de financiamento das despesas de capital. De outra parte, as operações de crédito não se restringem, também, a apenas o financiamento de despesas da mesma categoria.

Finalmente, vale notar que, a partir da Constituição Federal de 1988, não mais existem receitas extra-orçamentárias. No atual modelo arrecadador-orçamentário, só ficam de fora do orçamento as contribuições para o FGTS e para o chamado sistema S (Senar, Sesi, Senai, Senac, Sesc, Incra, Sebrae, Senat, etc. – que são consideradas contribuições parafiscais. As contribuições sociais para o PIS/Pasep e para a Previdência, por exemplo, foram incorporadas ao orçamento.

* * *

Feitas estas considerações, encerramos, aqui, a parte teórica-descritiva do nosso Curso online sobre Finanças Públicas, tendo coberto praticamente todo o programa do concurso de AFRFB. Nossa próxima aula versará sobre exercícios e questões de provas passadas resolvidas e comentadas.

Abaixo segue em anexo, e apenas para ilustração, a classificação legal da receitas orçamentárias. Até a próxima, então!

_____________

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A N E X O:

Classificação das receitas orçamentárias, à luz da legislação própria

A base legal da Contabilidade Pública no Brasil é a lei federal n° 4.320/64. Conforme diz o art. 57 desta lei, “ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 3, desta lei, serão classificados como receita orçamentária, sob as rubricas próprias, todas as receitas arrecadadas, inclusive as provenientes de operações de crédito, ainda que não previstas no Orçamento”.

O art. 11 daquela Lei classifica a receita nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital.

O § 1° do art. 11 define como Receitas correntes as receitas tributárias, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Corrente. (Redação dada pelo Decreto-lei n° 1939, de 20/05/82).

Já as Receitas de Capital, de acordo com o § 2° daquele art. 11, são aquelas provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. (Redação dada pelo Decreto-Lei n° 1939, de 20/05/82).

Interessante observar que o § 3° daquele art. 11, também com a redação dada pelo Decreto-Lei n° 1939, de 20/05/82, diz que “o superávit do Orçamento Corrente resultante do balanceamento dos totais de receitas e despesas correntes, apurado na demonstração a que se refere o Anexo 1 (daquele Decreto), não constituirá item de receita orçamentária.

O § 4° do art. 11, com a redação dada pelo Decreto-Lei já mencionado classifica a receita de acordo com os seguinte esquema:

RECEITAS CORRENTES

Receita tributária Impostos

Taxas Contribuições de Melhoria

Receita Patrimonial Receitas Imobiliárias

Receitas de valores mobiliários Participações e Dividendos

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Outras Receitas Patrimoniais Receita Industrial

Receita de Serviços Industriais Outras Receitas Industriais Transferências Correntes

Receitas Diversas Multas

Contribuições Cobrança da Dívida Ativa Outras receitas diversas

RECEITAS DE CAPIAL

Operações de Crédito Alienação de Bens Móveis e Imóveis

Amortização de empréstimos Concedidos Transferências de Capital Outras receitas de Capital.

_____________________ Bibliografia consultada: 1. A parte referente ao Sistema Tributária Brasileiro foi baseada

inteiramente, com as devidas adaptações de redação, na descrição feita por Giambiagi, F. e Além, A.C. – Finanças Públicas – Editora Campus – R.Janeiro – 2ª Edição – 2001 – Cap. 9.

2. A parte referente à Classificação da Receita Orçamentária, por sua vez, foi baseada inteiramente, também com as devidas adaptações de redação, na descrição feita por Rezende, F. – Finanças Públicas – Ed. Atlas, S.Paulo, 2ª Edição – 2001 – Cap. 7.

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AULA 8: EXERCÍCIOS DE REVISÃO: 1ª BATERIA Questões retiradas de provas passadas.

Observações:

1) As questões abaixo foram retiradas dos três últimos concursos do AFRF. Como vocês poderão constatar, praticamente todas as questões podem ser respondidas pelos textos de nossas Aulas online.

2. O gabarito comentado aparece ao final das 20 questões aqui propostas..

3. Na próxima 2ª feira vocês receberão uma 2ª bateria de exercícios, ok?

* * * Questões: 1. (AFRF-2003) A tributação é um instrumento pelo qual a sociedade tenta obter

recursos coletivamente para satisfazer às necessidades da sociedade. De acordo com a teoria da tributação, aponte a opção falsa:

a) O mecanismo da tributação, associado às políticas orçamentárias, intervém diretamente na alocação dos recursos, na distribuição de recursos na sociedade e pode reduzir as desigualdades na riqueza e na renda.

b) O sistema tributário é o principal instrumento de política fiscal do governo. c) Por princípio, o sistema de tributação deve ser o mais justo possível. d) Os tributos devem ser escolhidos de forma a maximizar sua interferência no

sistema de mercado, a fim de não torná-lo mais ineficiente. e) A análise da aplicação da tributação baseia-se no princípio do benefício e no

princípio da habilidade de pagamento. 2. (AFRF-2003) Com base na imposição de um imposto, assinale a única opção

falsa: a) Quando um imposto é aplicado num mercado, há dois preços de interesse: o que

o demandante paga e o que o ofertante recebe. b) O imposto sobre a quantidade é uma taxa cobrada por cada unidade vendida ou

comprada do bem. c) O imposto sobre o valor é uma taxa expressa em unidades percentuais. d) A parte de um imposto que é repassada aos consumidores independe das

inclinações relativas das curvas de oferta e demanda. e) A produção perdida é o custo social do imposto. 3. (AFRF-2003) A forma como são estruturados os sistemas tributários determina

o impacto dos impostos tanto sobre o nível de renda como sobre a organização

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econômica. Quanto ao aspecto de afetar a distribuição de renda, não se pode afirmar que:

a) Os impostos indiretos aumentam a desigualdade na distribuição do produto nacional.

b) A implantação de um sistema tributário em que todos pagam 7% de sua renda como imposto caracteriza um sistema proporcional.

c) Os impostos diretos, tais como o ICMS e o IPI, que não incidem sobre a renda, mas sobre o preço da mercadoria, são impostos regressivos.

d) Com impostos regressivos, os segmentos sociais de menor poder aquisitivo são os mais onerados.

e) A estrutura tributária, baseada em impostos progressivos, onera proporcionalmente mais os segmentos da sociedade de maior poder aquisitivo.

4. (AFRF-2003) Suponha uma alíquota tributária de 50%, incidente sobre um

produto que agrega valor a matérias-primas, sem o uso de outros produtos que tenham passado previamente por algum processo de transformação. O valor por unidade do produto é de R$100,00. O preço do produto quando o imposto é calculado “por dentro” será:

a) R$ 125,00 b) R$ 175,00 c) R$ 150,00 d) R$ 155,00 e) R$ 200,00. 5. (AFRF-2003) Sob o ponto de vista da distribuição da incidência tributária,

indique a opção errada: a) Um imposto sobre os vendedores desloca a curva de oferta para cima, em

montante maior ao do imposto. b) Quando um bem é tributado, compradores e vendedores compartilham o ônus do

imposto. c) A única diferença entre tributar o consumidor e tributar o vendedor está em

quem envia o dinheiro para o governo. d) A incidência tributária depende das elasticidades-preço da oferta e da demanda. e) O ônus do imposto tende a recair sobre o lado do mercado que for menos

elástico. 6. (AFRF-2003) A curva de Demanda Agregada-Inflação (DAÍ) mostra, para cada

taxa de inflação, o nível do produto de equilíbrio determinado pela análise de renda-demanda. Um exemplo básico de fator que desloca a curva DAÍ é a política fiscal. Assinale a opção incorreta no que diz respeito aos fatores que diminuem a demanda agregada a cada taxa de inflação, deslocando a Curva DAÍ para a esquerda:

a) Aumento das aquisições do governo.

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b) Aumento dos impostos. c) Diminuição da riqueza. d) Aumento do pessimismo de empresas ou famílias. e) Aumento da taxa de juros a cada taxa de inflação. 7. (AFRF-2003) Aponte a única opção incorreta no que diz respeito a impostos,

déficit púbico e seus impactos: a) As despesas do governo e os impostos afetam o mercado de capitais. b) Aumentos dos impostos reduzem a renda disponível. c) O déficit público reduz a poupança nacional, provocando alta das taxas de juros

reais. d) Quando o governo gasta mais do que arrecada, precisa obter empréstimos para

financiar seu déficit. e) O déficit público provoca um aumento do investimento privado. 8. (AFRF-2002) Segundo o princípio da eqüidade, na teoria da tributação, dois

critérios são propostos: a classificação dos indivíduos que são considerados iguais e o estabelecimento de normas adequadas de diferenciação. Indique quais são esses critérios:

a) Neutralidade e eficiência b) Benefício e capacidade de pagamento c) Unidade e universalidade d) Eficiência e justiça e) Produtividade e eficiência. 9. (AFRF-2002) A principal fonte de receita do setor público é a arrecadação

tributária. Com relação às características de um sistema tributário ideal, assinale a opção falsa:

a) A distribuição do ônus tributário deve ser eqüitativa. b) A cobrança dos impostos deve ser conduzida no sentido de onerar mais aquelas

pessoas com maior capacidade de pagamento. c) O sistema tributário deve ser estruturado de forma a interferir o minimamente

possível na alocação de recursos da economia. d) O sistema tributário deve ser eficiente e maximizar os custos de fiscalização da

arrecadação. e) O sistema tributário deve ser de fácil compreensão para o contribuinte e de fácil

arrecadação para o governo. 10. (AFRF-2002) Uma abordagem do controle social dos monopólios é baseada no

controle indireto, através da taxação. Indique a única opção incorreta em relação à taxação dos monopólios:

a) A única forma de taxação dos monopólios é o imposto sobre os lucros.

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b) Permite-se que o monopolista fixe qualquer nível de preço e de produção que deseje e, então, taxa-se aquela parte do lucro operacional que foi considerada excessiva.

c) A lógica que fundamenta a aplicação de imposto sobre os lucros do monopolista é bastante simples.

d) O preço que maximiza os lucros do monopolista não muda com a aplicação do imposto sobre os lucros excessivos e o vendedor absorve todo o impacto do imposto.

e) O que torna o imposto sobre os lucros excessivos do monopolista diferente da regulação direta é que esse imposto transfere uma parte dos ganhos do monopólio para o governo.

11. (AFRF-2002) De acordo com os fundamentos de finanças públicas, assinale a

única opção correta: a) O déficit público é equivalente à diferença entre o valor dos investimentos

privados e a poupança do governo em conta corrente. b) O déficit nominal é menor que o déficit primário, diferença essa que é tanto

menor quanto maior for a taxa de inflação no período em consideração. c) A carga tributária líquida representa o total de impostos arrecadados no país. d) O financiamento do déficit público tem como única fonte de recursos a venda de

títulos públicos ao setor privado. e) O conceito de Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP)

contempla como setor público, o governo central, os governos regionais (Estados, Municípios e Distrito Federal), a previdência social, as empresas estatais, e as agências descentralizadas.

12. (AFRF-2002) Em relação à composição da receita tributária no Brasil, indique

a opção incorreta: a) Após a reforma tributária de 1988, destacou-se o aumento da participação das

receitas de contribuição, não sujeitas a partilhas com os Estados e Municípios, como percentual do PIB.

b) A tendência à elevação da carga tributária ao longo dos anos 90 decorreu principalmente da carga de tributos incidentes sobre bens e serviços, explicada em boa parte pelo crescimento da carga de impostos cumulativos, que, do ponto de vista econômico, são de boa qualidade.

c) No que diz respeito ao imposto de renda retido na fonte, destacou-se a tendência de maior tributação dos rendimentos de capital, no final dos anos 90.

d) O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) é uma fonte importante de receita do governo federal, sendo o traço mais marcante do imposto a concentração da sua arrecadação em um grupo reduzido de bens.

e) Na década de 90, observou-se um aumento da arrecadação do imposto de importação, refletindo os efeitos do processo de abertura comercial e da redução das barreiras quantitativas.

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13. (AFRF-2002) Identifique a opção falsa no tocante aos efeitos de médio e longo

prazos que podem ocorrer na distribuição da carga tributária ao se adotar o imposto sobre a Renda como instrumento de política econômica, em um contexto de inflação e de crescimento econômico:

a) Se o efeito da inflação sobre as diferentes categorias de rendimento e os diferentes níveis de remuneração forem uniformes, a utilização de um índice representativo do aumento geral nos preços durante o período não contribui para alterar o grau de progressividade do tributo.

b) A correção monetária do salário é automaticamente incluída na declaração de rendimentos, não ocorrendo o mesmo para alguns rendimentos de capital.

c) Para contribuintes que aufiram basicamente rendimentos de capital, a correção posterior dos intervalos de classe da tabela progressiva representa uma redução gradual nos respectivos coeficientes de carga tributária efetiva.

d) Quando o desenvolvimento econômico é acompanhado por uma distribuição mais eqüitativa da renda, o resultado é um aumento na progressividade efetiva do tributo.

e) Em um contexto de crescimento econômico, uma elevação geral do nível da renda real de todos os contribuintes, a longo prazo, eleva os coeficientes da carga tributária média em todos os extratos da distribuição.

14. (ARFR-2002) O multiplicador de impostos autônomos é a variação

proporcional na renda causada por uma variação nos impostos autônomos. Assim sendo, o multiplicador do imposto autônomo é um número:

a) positivo b) neutro c) negativo d) maior que 1 e) igual a 1. 15. (AFRF-2002.2) Uma forma de avaliar a eqüidade de um sistema tributário é

chamada de princípio de capacidade de pagamento. Segundo o princípio de eqüidade vertical, diz-se que o sistema é regressivo quando:

a) Os contribuintes com altas rendas pagam proporção menor de sua renda, mesmo que a quantia paga seja maior.

b) Os contribuintes com a mesma capacidade de pagamento arcam com o mesmo ônus fiscal.

c) Os contribuintes com capacidade de pagamento similares pagam a mesma quantia.

d) Os contribuintes pagam tributos de acordo com o montante de benefícios que eles recebem.

e) O percentual do imposto a ser pago aumenta quando aumenta o nível de renda.

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16. (AFRF-2002.2) Compete à União, exclusivamente, com exceção do disposto no Parágrafo ùnico do Art. 149 da Constituição Federal, instituir contribuições sociais, de domínio econômico e de interesse da categorias profissionais ou econômicas. Segundo a classificação das receitas públicas brasileiras, indique a opção que é classificada como uma receita de contribuição do governo:

a) Contribuição para o instituto de Colonização e Reforma Agrária. b) Contribuição Social para o Salário Educação. c) Contribuição para o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. d) Contribuição para o Serviço Social da Indústria. e) Contribuição para o Programa de Integração Nacional e para o Programa de

Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste. 17. (AFRF-2002.2) Identifique a única opção incorreta no que tange aos tipos de

impostos: a) Tributos diretos são aqueles cujo ônus de pagamento recai sobre o próprio

contribuinte. b) Os impostos indiretos costumam ser proporcionais ou seletivos, de acordo com a

essencialidade do produto ou serviço em que incidem. c) Os impostos diretos costumam ser progressivos, incidindo de forma graduada, de

acordo com a capacidade econômica do contribuinte. d) Os impostos indiretos., por não serem transferíveis a terceiros, permitem que a

carga tributária seja distribuída de forma eqüitativa. e) A diferenciação entre tributos diretos e indiretos é importante para a análise da

eqüidade. 18. (AFRF-2002.2) Ao discutir eficiência e eqüidade de um imposto sobre a renda,

podem ser distinguidos dois conceitos de alíquota: a alíquota média e alíquota marginal. Neste contexto, assinale o único conceito correto de alíquota marginal:

a) É a alíquota mais útil quando se tenta aferir o sacrifício feito pelo contribuinte, porque mede a parcela de renda paga em impostos pelo mesmo.

b) É a alíquota que determina o peso morto de um imposto sobre a renda. c) É a alíquota menos útil quando se deseja avaliar as distorções causadas pelo

sistema tributário. d) É a alíquota que mede o quanto o sistema tributário encoraja o trabalho árduo. e) É a alíquota obtida pela divisão do imposto total pago e a renda total. 19. (AFRF-2002.2) Modelos simples de oferta e demanda podem ser utilizados para

analisar uma ampla variedade de políticas governamentais. Com base no impacato de um imposto, aponte a única opção falsa:

a) O impacto de um imposto depende das elasticidades da oferta e da demanda. b) Se a demanda for muito inelástica em relação à oferta, a carga fiscal recairá

principalmente sobre os compradores.

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c) Se a curva de oferta for horizontal, nenhuma parcela do imposto será repassada aos consumidores.

d) Se a demanda for muito elástica em relação à oferta, a carga fiscal incidirá principalmente sobre os vendedores.

e) O ônus de um imposto é a perda líquida excedente dos consumidores e produtores resultante da aplicação do imposto.

20. (AFRF-2002.2) Com base na evolução da carga tributária no Brasil, nos últimos

30 anos, aponte a única opção incorreta: a) Ao longo dos anos 70 e 80, a carga tributária brasileira oscilou entre 23% e 26%

do PIB. b) A menor arrecadação, verificada em alguns anos pode ser atribuída ao chamado

“efeito Tanzi”, que corresponde à queda de arrecadação real do governo, observada em períodos de aceleração inflacionária.

c) Em 1990, ocorreu significativo aumento da carga tributária, provocada pelo Plano Collor, chegando a atingir quase 30% do PIB.

d) Houve forte escalada tributária após a implantação do Plano Real, pasando a carga tributária a representar mais de 30% do PIB no final da década de 90.

e) A elevação da carga tributária ocorrida nos anos 90 deveu-se, basicamente, ao aumento da carga dos tributos incidentes sobre o patrimônio e a renda.

__________________

Solução comentada das questões Questão 1:

Esta questão praticamente esgota toda a teoria sobre os princípios da tributação. A resposta óbvia é a letra d: isto porque, pelo princípio da neutralidade, os tributos devem ser escolhidos de forma a minimizar sua interferência no sistema de mercado, e não de forma a maximizar esta interferência.

Assim, a resposta é a letra d. Atente-se, no entanto, que se não fosse a obviedade desta alternativa, poder-se-ia, em tese, marcar a letra b, pois dizer que o sistema tributário é o principal instrumento de política fiscal do governo é um tanto polêmico. Alguns podem achar – como poderia ser o caso dos economistas keynesianos - que o gasto do governo é, de fato, o principal instrumento de política fiscal do governo.

Mas, a letra d é tão óbvia, que elimina qualquer outra opção. Questão 2:

Esta questão aborda a questão sobre a repartição do imposto e a análise da elasticidade-preço. Esta repartição da carga tributária entre vendedor e comprador (consumidor) depende, como já estudamos, da reação do consumidor (e do produtor)

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a uma variação do preço do bem. Ou seja, depende da elasticidade-preço da demanda e da oferta. Graficamente, porém, a magnitude da elasticidade-preço é indicada pelas inclinações das duas curvas – de demanda e de oferta. Quanto mais inclinadas forem (isto é, mais em pé), mais inelásticas elas são. E, como sabemos, quem for mais inelástico paga mais imposto.

A resposta é a letra d. Questão 3:

Todas as alternativas, exceto a letra c, estão corretas. Ocorre, porém, que a afirmativa contida na letra c está tecnicamente correta. O único erro desta opção é o fato de ter denominado de diretos o ICMS e o IPI. Isso é um erro de redação. A ênfase nesta opção não é o fato de estes impostos serem indiretos e sim o fato de serem impostos regressivos – que, de fato, são. Mas, como as demais afirmativas estão inteiramente corretas, só restou a opção c.

A resposta é a letra c. Questão 4:

Um imposto pode ser cobrado “por dentro” e “por fora”. O cálculo do imposto “por dentro” inclui o imposto na base de cálculo do valor do mesmo. Já no caso do imposto “por fora”, exclui-se o imposto da fórmula. No imposto “por dentro”, a alíquota t (50%, no caso presente) incide sobre o preço (P) do produto e o valor do imposto é computado na base de cálculo do valor do tributo. O valor de P é definido assim:

P = B + T, onde B é a base do cálculo do imposto (R$100,00, no caso presente) e T é a receita do imposto por unidade de produto e é igual a

T = t.P. Logo, P=B+ t.P >> ou, P –tP = B >> ou, P(1-t) = B >> ou, P = B/(1-t)

Assim, substituindo nesta última equaçaõ os valores de B e de t, temos: P = 100/(1-0,50) >>ou, P = 100/0,5 >> ou, P = 200.

A resposta, portanto, é a letra e. Questão 5.

Quando você achar que há duas opções que respondem à questão formulada, marque a que for mais próxima da formulação. Este é o caso desta questão 5. Claramente, a letra a está errada: um imposto sobre os vendedores desloca a curva de oferta para cima, em montante igual ao do imposto, e não maior como está dito nesta opção. Mas, a rigor, a letra b também está errada, pois se a oferta ou a demanda forem totalmente elásticas, o imposto não é compartilhado pelos dois lados, vendedores e compradores. Também, se qualquer delas – oferta ou demanda –

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for totalmente inelástica a preço, o imposto recai unicamente sobre quem for o inelástico. Ma, como a letra a é muito evidente, ficamos com esta opção.

A resposta é a letra a. Questão 6.

Exceto a letra a, todos os fatores listados reduzem a Demanda agregada, deslocando-a para a esquerda. Mesmo que você não tenha tido oportunidade de estudar a Demanda Agregada associada com taxas de inflação, você é capaz de responder esta questão desde que você tenha um mínimo de conhecimento dos modelos e teoria keynesianos. Intuitivamente, as afirmativas listadas de b a e levam a um redução nas compras, isto é , na demanda agregada.

Logo, a resposta é a letra a. Questão 7:

Este é o problema de muitas provas de concursos públicos: a existência de mais de uma opção como resposta da proposição. Novamente aqui o problema reaparece. Analisando uma a uma, verifica-se que a opção a está certa: aumentos de impostos afetam os rendimentos do mercado de capitais, desestimulando aplicações; a opção b está correta pois, quando o governo aumenta os impostos, a renda disponível das pessoas se reduz; da mesma forma, a letra c está certa porque, quando tem um déficit, o governo vai financiá-lo, geralmente, junto ao setor privado, apropriando-se de parte da poupança privada e, daí, elevando os juros; já a opção d não é inteiramente verdadeira, de vez que o governo pode financiar seu déficit (se não for exorbitante!) através de seu poder de “senhoriagem” – isto é, do poder de emitir moeda para atender as necessidades da economia. Isso significa que um déficit não gera obrigatoriamente uma dívida (mas toda dívida surge de um déficit público). Mas, como a opção e está totalmente errada, sem discussão ou polêmica, ficamos com esta alternativa. A resposta é a letra e. Questão 8:

Os princípios de tributação foram o objeto de nosso primeiro texto de Finanças Públicas (nossa Aula Zero – “demonstrativa”). Se você der uma nova recordada naquele texto verá facilmente que os dois critérios para a aplicação do princípio da eqüidade são o “benefício” e a “capacidade de pagamento” – este último também chamado de “habilidade de pagamento”.

A resposta é a letra b. Questão 9:

Vamos torcer para vir uma questão fácil como esta na sua prova. Todas as afirmativas são claramente verdadeiras, exceto a contida na letra d. Um sistema

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tributário não pode ter como característica maximizar os custos de fiscalização da arrecadação. Mas, observe que o examinador, talvez querendo induzir o candidato ao erro, elaborou uma frase (a desta letra d) em que a primeira parte é verdadeira (“o sistema tributário deve ser eficiente .. ). O restante da frase é o que a condena de forma óbvia.

Resposta: letra d. Questão 10:

O estudo da atuação do monopólio pertence à microeconomia e é um tanto complicado até mesmo para os economistas. Mas, você não precisa entender a fundo de monopólio para responder esta questão. Senão vejamos: A opção a está errada porque o monopólio, como qualquer outra empresa, pode se taxado, também, com um imposto único (lump-sum tax), como pode ser taxado sobre suas vendas, etc. (Veja nossa Aula 3 sobre Impactos do Imposto – item 4.2.). Então, esta alternativa já elimina todas as demais. Assim, mesmo que você não entenda muito as demais alternativas (aliás, muitos bons economistas também não entendem muito o que estas afirmativas querem dizer!!), a letra a é cristalinamente óbvia e, com isso, nos livra de ter de analisar e interpretar as demais alternativas.

A resposta é a letra a. Questão 11:

O déficit público não tem nada a ver com o investimento privado, a não ser o fato de que, tendo déficit, o governo busca recursos junto ao setor privado para financiar aquele déficit – o que reduz a poupança disponível para investimentos privados. Mas, não é isso que consta da letra a que, como tal, está errada. Já o déficit primário tem de ser menor que o déficit nominal pois neste último estão incluídos os juros nominais que, por sua vez, são deduzidos do déficit primário. Logo a letra b está errada. A carga líquida é definida dividindo-se a carga tributária total menos transferências e menos subsídios pelo PIB a preços de mercado. Portanto, a letra c também está errada. O financiamento do déficit público pode ser feito de várias maneiras (emissão monetária, endividamento bancário, endividamento com títulos, endividamento externo). Então, a letra d está errada. Sobrou, assim, a letra e que, por exclusão, é a resposta da questão. Dizemos “por exclusão” porque, a rigor, a definição de “setor público” contida na letra e não corresponde exatamente à verdade pois deveria excluir das “empresas estatais” as empresas públicas financeiras (B. Brasil, CEF, etc). Mas, como as demais opções estão, como dizemos, cristalinamente erradas, a “menos” errada é a letra e.

A resposta, portanto, é a letra e. Questão 12:

A opção a está correta: realmente, a partir da C.F. de 1988, o governo federal instituiu várias contribuições ou aumentou as alíquotas da já existentes, como forma

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de não ter de dividir com os Estados e Municípios estas receitas (a distribuição das receitas com os Estados e Municípios só se baseia no IPI e no IR!). A opção b está errada por várias razões: primeiro, o crescimento da carga tributária tem se baseado mais nos impostos diretos, reduzindo a participação dos impostos indiretos na arrecadação; os impostos cumulativos (como o IOF, CPMF, Cofins, etc) são de péssima qualidade do ponto de vista econômico pois distorcem os preços relativos, desestimulam a produção, não atendendo o princípio da neutralidade. As demais opções estão todas corretas e não necessitam de maiores comentários. A resposta, portanto, é a letra b. Questão 13:

A solução desta questão está toda no item 5 de nossa Aula 4. A alternativa a está correta pelo seguinte motivo: se as correções de renda por

efeito inflação forem uniformes e se se utiliza um índice representativo do aumento médio dos preços para corrigir as faixas ou tabelas do IR, o grau de progressividade dos tributos, obviamente, permanece o mesmo. A letra b é objetiva. De fato, a correção dos salários é automaticamente incluída na declaração de rendimentos, enquanto os rendimentos de capital, por serem instáveis e variáveis necessitam de uma iniciativa do contribuinte para sua inclusão na declaração. A letra c está correta porque os rendimentos de capital são ganhos reais e, como tal, deveriam pagar um imposto maior. Assim, a correção das tabelas de IR – devido à inflação, por exemplo – acabam “isentando” ou reduzindo o imposto a pagar daqueles rendimentos de capital. Quanto à letra d, vale observar que, se o crescimento econômico beneficia as classes de renda mais elevadas, estas classes acabam pagando uma carga mais alta de impostos, tornando-a mais progressiva. Mas, se os frutos do crescimento econômico forem distribuídos de forma mais equânime, não haverá aumento da progressividade efetiva dos tributos. Logo, a letra d está errada. A letra e é um tanto óbvia: se todos têm, seguidamente, aumentos reais de renda, todos pagarão mais impostos amanhã.

A resposta, portanto, é a letra d. Questão 14:

Esta é uma questão muito mais de Macroeconomia do que de Finanças Públicas. Se você fez o nosso curso de Economia 1 – online, você poderá se reportar à Aula 7 – sobre modelos keynesianos par ver como é o multiplicador dos gastos autônomos e o multiplicador do imposto autônomo.

A fórmula do multiplicador do imposto autônomo é : kt = -b/(1-b), onde b é a propensão marginal a consumir. Assim, se b = 0,8, então kt = - 4; se b = 0,9, então

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kt = -9. Ou seja, o multiplicador de variações no imposto autônomo é sempre um número negativo.

Resposta: letra c. Questão 15:

A letra a está correta. Num sistema tributário regressivo, as classes de renda mais elevadas pagam um percentual de IR menor do que as classes de menores renda, ainda que aquelas classes paguem, em valores absolutos, um valor mais alto. O que importa é a proporção da renda paga em impostos.

As opções b e c definem a eqüidade horizontal e não respondem à proposição. Já a opção d atende o princípio do benefício recebido, enquanto a opção e define um sistema tributário progressivo.

Logo, a resposta é a letra a. Questão 16:

Esta é uma questão que foge do âmbito das Finanças Públicas, pertencendo, isto sim, ao Direito Tributário. Procurando a resposta que seria a correta, por exclusão, podemos excluir as opções c e d. Estas contribuições são para-fiscais e vão direto para o Senai e o Sesi. De outra parte, sabe-se que a contribuição para o INCRA – letra a – vai direto para este Instituto, enquanto a Contribuição Social para o Salário Educação financia programas educacionais extra Ministério da Educação. Resta assim, a alternativa e: ou seja, as contribuições para o PIN e para o PROTERRA são as únicas que se constituem em receitas orçamentárias do governo.

Resposta: letra e. Questão 17:

Esta é outra questão que a gente deve torcer para cair na nossa prova, de tão simples que é, embora haja um pequeno problema na letra b. Mas, antes, vejamos o mais óbvio: A opção a está correta, muito embora a melhor definição de “tributo direto” não é dizer que é aquele que é recolhido pelo próprio contribuinte. Isso é verdade, mas não é o mais relevante. O relevante é que este imposto recai sobre a renda ou o patrimônio do contribuinte. Mas, deixa isso pra lá. A letra a pode ser considerada correta.

A opção c está correta, também. Os impostos diretos podem, de fato, ser progressivos. Já a opção e está obviamente correta. Vejamos, então, as opções b e d:

A letra d está totalmente incorreta. Os impostos indiretos são, sim, transferíveis para terceiros, tudo dependendo apenas das elasticidades da oferta e da demanda. Mas, há um probleminha na opção b que pode dar margem a questionamentos. Os impostos indiretos, como o IPI, por exemplo, são de fato seletivos, no sentido de taxar com alíquotas mais elevadas produtos considerados supérfluos, como bebidas, cigarros, etc. Mas, dizer que são proporcionais pode dar a

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entender que quem ganha mais paga mais do que os que ganham menos. Ou seja, o examinador não foi muito feliz na redação da letra b. Mas de toda forma, a alternativa mais obviamente errada é a letra d.

A resposta, portanto, é a opção d. Questão 18.

As opções a, c e d me parecem obviamente erradas. Não fazem nem sentido. Restam as opções b e e. A opção e não pode ser a opção correta porque a divisão do imposto total pagão pela renda total fornece a alíquota média e não a marginal. Resta, assim, a letra b. No entanto, esta definição é um tanto estranha, porque o “peso morto” de um imposto é medido pelo sacrifício ou perdas econômicas, latu senso, decorrentes de um imposto. A definição que nos parece correta de alíquota marginal é a seguinte: corresponde à razão entre a variação do imposto e a variação da renda. Por exemplo: Suponha que um indivíduo recebe uma renda de R$ 5.000,00 e paga um imposto de R$1.000,00. Se, por hipótese, sua renda aumentar para R$5.500,00 e, em conseqüência, seu imposto passar para R#1.100,00, então a alíquota marginal é dada por 100/500 = 0,2, ou seja : 20%.

Assim, por falta de opção, a resposta é a letra b (sob protestos!). Questão 19:

Para responder esta questão, seria interessante que você revisitasse o texto de nossa Aula nº , sobre incidência tributária (ou impactos do imposto). Lendo aquele texto você verá que as opções a, b, d e e estão objetivamente corretas, sem comentários. Resta, assim, a opção c. Se a curva de oferta for horizontal, significa que a oferta é totalmente elástica a variações de preços. E quem é totalmente elástico não paga imposto indireto. Logo, a letra c está errada e responde á questão.

Resposta: letra c. Questão 20:

Para responder esta questão, seria aconselhável que você lesse o texto de nossa Aula 2, item 5, nossa Aula, item 4 e nossa Aula 6. Por ali se vê que a opção a está correta. Também é verdadeira a afirmativa da letra b: em épocas de inflação acelerada (anos 80 e no início dos anos 90) o efeito “Tanzi” provoca perdas reais na arrecadação do governo, contribuindo para os déficits públicos. No Plano Collor foi permitido que as pessoas e empresas com depósitos retidos nos bancos pagassem seus impostos com este recurso retido – o que estimulou os agentes econômicos a porem em dia seus débitos fiscais – aumentando, em conseqüência, a carga tributária naquele ano. Logo, a letra c está correta, também. A letra d está correta: desde o início do governo Fernando Henrique observa-se um aumento contínuo da carga tributária, processo este que continua no governo Lula. Resta como alternativa incorreta a letra e – um tanto polêmica, é verdade, porque no tocante à renda houve,

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sim, um aumento da carga tributária. Mas, por falta de opção melhor, ficamos com a letra e.

Resposta: letra e. * * *

Assim, encerramos nossa 1ª bateria de exercícios de Finanças Públicas. Na próxima 2ª feira nós estaremos disponibilizando para vocês uma 2ª bateria. Até lá, então. Mz.

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AULA 8: EXERCÍCIOS DE REVISÃO: 1ª BATERIA Questões retiradas de provas passadas.

Observações:

1) As questões abaixo foram retiradas dos três últimos concursos do AFRF. Como vocês poderão constatar, praticamente todas as questões podem ser respondidas pelos textos de nossas Aulas online.

2. O gabarito comentado aparece ao final das 20 questões aqui propostas..

3. Na próxima 2ª feira vocês receberão uma 2ª bateria de exercícios, ok?

* * * Questões: 1. (AFRF-2003) A tributação é um instrumento pelo qual a sociedade tenta obter

recursos coletivamente para satisfazer às necessidades da sociedade. De acordo com a teoria da tributação, aponte a opção falsa:

a) O mecanismo da tributação, associado às políticas orçamentárias, intervém diretamente na alocação dos recursos, na distribuição de recursos na sociedade e pode reduzir as desigualdades na riqueza e na renda.

b) O sistema tributário é o principal instrumento de política fiscal do governo. c) Por princípio, o sistema de tributação deve ser o mais justo possível. d) Os tributos devem ser escolhidos de forma a maximizar sua interferência no

sistema de mercado, a fim de não torná-lo mais ineficiente. e) A análise da aplicação da tributação baseia-se no princípio do benefício e no

princípio da habilidade de pagamento. 2. (AFRF-2003) Com base na imposição de um imposto, assinale a única opção

falsa: a) Quando um imposto é aplicado num mercado, há dois preços de interesse: o que

o demandante paga e o que o ofertante recebe. b) O imposto sobre a quantidade é uma taxa cobrada por cada unidade vendida ou

comprada do bem. c) O imposto sobre o valor é uma taxa expressa em unidades percentuais. d) A parte de um imposto que é repassada aos consumidores independe das

inclinações relativas das curvas de oferta e demanda. e) A produção perdida é o custo social do imposto. 3. (AFRF-2003) A forma como são estruturados os sistemas tributários determina

o impacto dos impostos tanto sobre o nível de renda como sobre a organização

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econômica. Quanto ao aspecto de afetar a distribuição de renda, não se pode afirmar que:

a) Os impostos indiretos aumentam a desigualdade na distribuição do produto nacional.

b) A implantação de um sistema tributário em que todos pagam 7% de sua renda como imposto caracteriza um sistema proporcional.

c) Os impostos diretos, tais como o ICMS e o IPI, que não incidem sobre a renda, mas sobre o preço da mercadoria, são impostos regressivos.

d) Com impostos regressivos, os segmentos sociais de menor poder aquisitivo são os mais onerados.

e) A estrutura tributária, baseada em impostos progressivos, onera proporcionalmente mais os segmentos da sociedade de maior poder aquisitivo.

4. (AFRF-2003) Suponha uma alíquota tributária de 50%, incidente sobre um

produto que agrega valor a matérias-primas, sem o uso de outros produtos que tenham passado previamente por algum processo de transformação. O valor por unidade do produto é de R$100,00. O preço do produto quando o imposto é calculado “por dentro” será:

a) R$ 125,00 b) R$ 175,00 c) R$ 150,00 d) R$ 155,00 e) R$ 200,00. 5. (AFRF-2003) Sob o ponto de vista da distribuição da incidência tributária,

indique a opção errada: a) Um imposto sobre os vendedores desloca a curva de oferta para cima, em

montante maior ao do imposto. b) Quando um bem é tributado, compradores e vendedores compartilham o ônus do

imposto. c) A única diferença entre tributar o consumidor e tributar o vendedor está em

quem envia o dinheiro para o governo. d) A incidência tributária depende das elasticidades-preço da oferta e da demanda. e) O ônus do imposto tende a recair sobre o lado do mercado que for menos

elástico. 6. (AFRF-2003) A curva de Demanda Agregada-Inflação (DAÍ) mostra, para cada

taxa de inflação, o nível do produto de equilíbrio determinado pela análise de renda-demanda. Um exemplo básico de fator que desloca a curva DAÍ é a política fiscal. Assinale a opção incorreta no que diz respeito aos fatores que diminuem a demanda agregada a cada taxa de inflação, deslocando a Curva DAÍ para a esquerda:

a) Aumento das aquisições do governo.

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b) Aumento dos impostos. c) Diminuição da riqueza. d) Aumento do pessimismo de empresas ou famílias. e) Aumento da taxa de juros a cada taxa de inflação. 7. (AFRF-2003) Aponte a única opção incorreta no que diz respeito a impostos,

déficit púbico e seus impactos: a) As despesas do governo e os impostos afetam o mercado de capitais. b) Aumentos dos impostos reduzem a renda disponível. c) O déficit público reduz a poupança nacional, provocando alta das taxas de juros

reais. d) Quando o governo gasta mais do que arrecada, precisa obter empréstimos para

financiar seu déficit. e) O déficit público provoca um aumento do investimento privado. 8. (AFRF-2002) Segundo o princípio da eqüidade, na teoria da tributação, dois

critérios são propostos: a classificação dos indivíduos que são considerados iguais e o estabelecimento de normas adequadas de diferenciação. Indique quais são esses critérios:

a) Neutralidade e eficiência b) Benefício e capacidade de pagamento c) Unidade e universalidade d) Eficiência e justiça e) Produtividade e eficiência. 9. (AFRF-2002) A principal fonte de receita do setor público é a arrecadação

tributária. Com relação às características de um sistema tributário ideal, assinale a opção falsa:

a) A distribuição do ônus tributário deve ser eqüitativa. b) A cobrança dos impostos deve ser conduzida no sentido de onerar mais aquelas

pessoas com maior capacidade de pagamento. c) O sistema tributário deve ser estruturado de forma a interferir o minimamente

possível na alocação de recursos da economia. d) O sistema tributário deve ser eficiente e maximizar os custos de fiscalização da

arrecadação. e) O sistema tributário deve ser de fácil compreensão para o contribuinte e de fácil

arrecadação para o governo. 10. (AFRF-2002) Uma abordagem do controle social dos monopólios é baseada no

controle indireto, através da taxação. Indique a única opção incorreta em relação à taxação dos monopólios:

a) A única forma de taxação dos monopólios é o imposto sobre os lucros.

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b) Permite-se que o monopolista fixe qualquer nível de preço e de produção que deseje e, então, taxa-se aquela parte do lucro operacional que foi considerada excessiva.

c) A lógica que fundamenta a aplicação de imposto sobre os lucros do monopolista é bastante simples.

d) O preço que maximiza os lucros do monopolista não muda com a aplicação do imposto sobre os lucros excessivos e o vendedor absorve todo o impacto do imposto.

e) O que torna o imposto sobre os lucros excessivos do monopolista diferente da regulação direta é que esse imposto transfere uma parte dos ganhos do monopólio para o governo.

11. (AFRF-2002) De acordo com os fundamentos de finanças públicas, assinale a

única opção correta: a) O déficit público é equivalente à diferença entre o valor dos investimentos

privados e a poupança do governo em conta corrente. b) O déficit nominal é menor que o déficit primário, diferença essa que é tanto

menor quanto maior for a taxa de inflação no período em consideração. c) A carga tributária líquida representa o total de impostos arrecadados no país. d) O financiamento do déficit público tem como única fonte de recursos a venda de

títulos públicos ao setor privado. e) O conceito de Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP)

contempla como setor público, o governo central, os governos regionais (Estados, Municípios e Distrito Federal), a previdência social, as empresas estatais, e as agências descentralizadas.

12. (AFRF-2002) Em relação à composição da receita tributária no Brasil, indique

a opção incorreta: a) Após a reforma tributária de 1988, destacou-se o aumento da participação das

receitas de contribuição, não sujeitas a partilhas com os Estados e Municípios, como percentual do PIB.

b) A tendência à elevação da carga tributária ao longo dos anos 90 decorreu principalmente da carga de tributos incidentes sobre bens e serviços, explicada em boa parte pelo crescimento da carga de impostos cumulativos, que, do ponto de vista econômico, são de boa qualidade.

c) No que diz respeito ao imposto de renda retido na fonte, destacou-se a tendência de maior tributação dos rendimentos de capital, no final dos anos 90.

d) O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) é uma fonte importante de receita do governo federal, sendo o traço mais marcante do imposto a concentração da sua arrecadação em um grupo reduzido de bens.

e) Na década de 90, observou-se um aumento da arrecadação do imposto de importação, refletindo os efeitos do processo de abertura comercial e da redução das barreiras quantitativas.

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13. (AFRF-2002) Identifique a opção falsa no tocante aos efeitos de médio e longo

prazos que podem ocorrer na distribuição da carga tributária ao se adotar o imposto sobre a Renda como instrumento de política econômica, em um contexto de inflação e de crescimento econômico:

a) Se o efeito da inflação sobre as diferentes categorias de rendimento e os diferentes níveis de remuneração forem uniformes, a utilização de um índice representativo do aumento geral nos preços durante o período não contribui para alterar o grau de progressividade do tributo.

b) A correção monetária do salário é automaticamente incluída na declaração de rendimentos, não ocorrendo o mesmo para alguns rendimentos de capital.

c) Para contribuintes que aufiram basicamente rendimentos de capital, a correção posterior dos intervalos de classe da tabela progressiva representa uma redução gradual nos respectivos coeficientes de carga tributária efetiva.

d) Quando o desenvolvimento econômico é acompanhado por uma distribuição mais eqüitativa da renda, o resultado é um aumento na progressividade efetiva do tributo.

e) Em um contexto de crescimento econômico, uma elevação geral do nível da renda real de todos os contribuintes, a longo prazo, eleva os coeficientes da carga tributária média em todos os extratos da distribuição.

14. (ARFR-2002) O multiplicador de impostos autônomos é a variação

proporcional na renda causada por uma variação nos impostos autônomos. Assim sendo, o multiplicador do imposto autônomo é um número:

a) positivo b) neutro c) negativo d) maior que 1 e) igual a 1. 15. (AFRF-2002.2) Uma forma de avaliar a eqüidade de um sistema tributário é

chamada de princípio de capacidade de pagamento. Segundo o princípio de eqüidade vertical, diz-se que o sistema é regressivo quando:

a) Os contribuintes com altas rendas pagam proporção menor de sua renda, mesmo que a quantia paga seja maior.

b) Os contribuintes com a mesma capacidade de pagamento arcam com o mesmo ônus fiscal.

c) Os contribuintes com capacidade de pagamento similares pagam a mesma quantia.

d) Os contribuintes pagam tributos de acordo com o montante de benefícios que eles recebem.

e) O percentual do imposto a ser pago aumenta quando aumenta o nível de renda.

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16. (AFRF-2002.2) Compete à União, exclusivamente, com exceção do disposto no Parágrafo ùnico do Art. 149 da Constituição Federal, instituir contribuições sociais, de domínio econômico e de interesse da categorias profissionais ou econômicas. Segundo a classificação das receitas públicas brasileiras, indique a opção que é classificada como uma receita de contribuição do governo:

a) Contribuição para o instituto de Colonização e Reforma Agrária. b) Contribuição Social para o Salário Educação. c) Contribuição para o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. d) Contribuição para o Serviço Social da Indústria. e) Contribuição para o Programa de Integração Nacional e para o Programa de

Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste. 17. (AFRF-2002.2) Identifique a única opção incorreta no que tange aos tipos de

impostos: a) Tributos diretos são aqueles cujo ônus de pagamento recai sobre o próprio

contribuinte. b) Os impostos indiretos costumam ser proporcionais ou seletivos, de acordo com a

essencialidade do produto ou serviço em que incidem. c) Os impostos diretos costumam ser progressivos, incidindo de forma graduada, de

acordo com a capacidade econômica do contribuinte. d) Os impostos indiretos., por não serem transferíveis a terceiros, permitem que a

carga tributária seja distribuída de forma eqüitativa. e) A diferenciação entre tributos diretos e indiretos é importante para a análise da

eqüidade. 18. (AFRF-2002.2) Ao discutir eficiência e eqüidade de um imposto sobre a renda,

podem ser distinguidos dois conceitos de alíquota: a alíquota média e alíquota marginal. Neste contexto, assinale o único conceito correto de alíquota marginal:

a) É a alíquota mais útil quando se tenta aferir o sacrifício feito pelo contribuinte, porque mede a parcela de renda paga em impostos pelo mesmo.

b) É a alíquota que determina o peso morto de um imposto sobre a renda. c) É a alíquota menos útil quando se deseja avaliar as distorções causadas pelo

sistema tributário. d) É a alíquota que mede o quanto o sistema tributário encoraja o trabalho árduo. e) É a alíquota obtida pela divisão do imposto total pago e a renda total. 19. (AFRF-2002.2) Modelos simples de oferta e demanda podem ser utilizados para

analisar uma ampla variedade de políticas governamentais. Com base no impacato de um imposto, aponte a única opção falsa:

a) O impacto de um imposto depende das elasticidades da oferta e da demanda. b) Se a demanda for muito inelástica em relação à oferta, a carga fiscal recairá

principalmente sobre os compradores.

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c) Se a curva de oferta for horizontal, nenhuma parcela do imposto será repassada aos consumidores.

d) Se a demanda for muito elástica em relação à oferta, a carga fiscal incidirá principalmente sobre os vendedores.

e) O ônus de um imposto é a perda líquida excedente dos consumidores e produtores resultante da aplicação do imposto.

20. (AFRF-2002.2) Com base na evolução da carga tributária no Brasil, nos últimos

30 anos, aponte a única opção incorreta: a) Ao longo dos anos 70 e 80, a carga tributária brasileira oscilou entre 23% e 26%

do PIB. b) A menor arrecadação, verificada em alguns anos pode ser atribuída ao chamado

“efeito Tanzi”, que corresponde à queda de arrecadação real do governo, observada em períodos de aceleração inflacionária.

c) Em 1990, ocorreu significativo aumento da carga tributária, provocada pelo Plano Collor, chegando a atingir quase 30% do PIB.

d) Houve forte escalada tributária após a implantação do Plano Real, pasando a carga tributária a representar mais de 30% do PIB no final da década de 90.

e) A elevação da carga tributária ocorrida nos anos 90 deveu-se, basicamente, ao aumento da carga dos tributos incidentes sobre o patrimônio e a renda.

__________________

Solução comentada das questões Questão 1:

Esta questão praticamente esgota toda a teoria sobre os princípios da tributação. A resposta óbvia é a letra d: isto porque, pelo princípio da neutralidade, os tributos devem ser escolhidos de forma a minimizar sua interferência no sistema de mercado, e não de forma a maximizar esta interferência.

Assim, a resposta é a letra d. Atente-se, no entanto, que se não fosse a obviedade desta alternativa, poder-se-ia, em tese, marcar a letra b, pois dizer que o sistema tributário é o principal instrumento de política fiscal do governo é um tanto polêmico. Alguns podem achar – como poderia ser o caso dos economistas keynesianos - que o gasto do governo é, de fato, o principal instrumento de política fiscal do governo.

Mas, a letra d é tão óbvia, que elimina qualquer outra opção. Questão 2:

Esta questão aborda a questão sobre a repartição do imposto e a análise da elasticidade-preço. Esta repartição da carga tributária entre vendedor e comprador (consumidor) depende, como já estudamos, da reação do consumidor (e do produtor)

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a uma variação do preço do bem. Ou seja, depende da elasticidade-preço da demanda e da oferta. Graficamente, porém, a magnitude da elasticidade-preço é indicada pelas inclinações das duas curvas – de demanda e de oferta. Quanto mais inclinadas forem (isto é, mais em pé), mais inelásticas elas são. E, como sabemos, quem for mais inelástico paga mais imposto.

A resposta é a letra d. Questão 3:

Todas as alternativas, exceto a letra c, estão corretas. Ocorre, porém, que a afirmativa contida na letra c está tecnicamente correta. O único erro desta opção é o fato de ter denominado de diretos o ICMS e o IPI. Isso é um erro de redação. A ênfase nesta opção não é o fato de estes impostos serem indiretos e sim o fato de serem impostos regressivos – que, de fato, são. Mas, como as demais afirmativas estão inteiramente corretas, só restou a opção c.

A resposta é a letra c. Questão 4:

Um imposto pode ser cobrado “por dentro” e “por fora”. O cálculo do imposto “por dentro” inclui o imposto na base de cálculo do valor do mesmo. Já no caso do imposto “por fora”, exclui-se o imposto da fórmula. No imposto “por dentro”, a alíquota t (50%, no caso presente) incide sobre o preço (P) do produto e o valor do imposto é computado na base de cálculo do valor do tributo. O valor de P é definido assim:

P = B + T, onde B é a base do cálculo do imposto (R$100,00, no caso presente) e T é a receita do imposto por unidade de produto e é igual a

T = t.P. Logo, P=B+ t.P >> ou, P –tP = B >> ou, P(1-t) = B >> ou, P = B/(1-t)

Assim, substituindo nesta última equaçaõ os valores de B e de t, temos: P = 100/(1-0,50) >>ou, P = 100/0,5 >> ou, P = 200.

A resposta, portanto, é a letra e. Questão 5.

Quando você achar que há duas opções que respondem à questão formulada, marque a que for mais próxima da formulação. Este é o caso desta questão 5. Claramente, a letra a está errada: um imposto sobre os vendedores desloca a curva de oferta para cima, em montante igual ao do imposto, e não maior como está dito nesta opção. Mas, a rigor, a letra b também está errada, pois se a oferta ou a demanda forem totalmente elásticas, o imposto não é compartilhado pelos dois lados, vendedores e compradores. Também, se qualquer delas – oferta ou demanda –

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for totalmente inelástica a preço, o imposto recai unicamente sobre quem for o inelástico. Ma, como a letra a é muito evidente, ficamos com esta opção.

A resposta é a letra a. Questão 6.

Exceto a letra a, todos os fatores listados reduzem a Demanda agregada, deslocando-a para a esquerda. Mesmo que você não tenha tido oportunidade de estudar a Demanda Agregada associada com taxas de inflação, você é capaz de responder esta questão desde que você tenha um mínimo de conhecimento dos modelos e teoria keynesianos. Intuitivamente, as afirmativas listadas de b a e levam a um redução nas compras, isto é , na demanda agregada.

Logo, a resposta é a letra a. Questão 7:

Este é o problema de muitas provas de concursos públicos: a existência de mais de uma opção como resposta da proposição. Novamente aqui o problema reaparece. Analisando uma a uma, verifica-se que a opção a está certa: aumentos de impostos afetam os rendimentos do mercado de capitais, desestimulando aplicações; a opção b está correta pois, quando o governo aumenta os impostos, a renda disponível das pessoas se reduz; da mesma forma, a letra c está certa porque, quando tem um déficit, o governo vai financiá-lo, geralmente, junto ao setor privado, apropriando-se de parte da poupança privada e, daí, elevando os juros; já a opção d não é inteiramente verdadeira, de vez que o governo pode financiar seu déficit (se não for exorbitante!) através de seu poder de “senhoriagem” – isto é, do poder de emitir moeda para atender as necessidades da economia. Isso significa que um déficit não gera obrigatoriamente uma dívida (mas toda dívida surge de um déficit público). Mas, como a opção e está totalmente errada, sem discussão ou polêmica, ficamos com esta alternativa. A resposta é a letra e. Questão 8:

Os princípios de tributação foram o objeto de nosso primeiro texto de Finanças Públicas (nossa Aula Zero – “demonstrativa”). Se você der uma nova recordada naquele texto verá facilmente que os dois critérios para a aplicação do princípio da eqüidade são o “benefício” e a “capacidade de pagamento” – este último também chamado de “habilidade de pagamento”.

A resposta é a letra b. Questão 9:

Vamos torcer para vir uma questão fácil como esta na sua prova. Todas as afirmativas são claramente verdadeiras, exceto a contida na letra d. Um sistema

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tributário não pode ter como característica maximizar os custos de fiscalização da arrecadação. Mas, observe que o examinador, talvez querendo induzir o candidato ao erro, elaborou uma frase (a desta letra d) em que a primeira parte é verdadeira (“o sistema tributário deve ser eficiente .. ). O restante da frase é o que a condena de forma óbvia.

Resposta: letra d. Questão 10:

O estudo da atuação do monopólio pertence à microeconomia e é um tanto complicado até mesmo para os economistas. Mas, você não precisa entender a fundo de monopólio para responder esta questão. Senão vejamos: A opção a está errada porque o monopólio, como qualquer outra empresa, pode se taxado, também, com um imposto único (lump-sum tax), como pode ser taxado sobre suas vendas, etc. (Veja nossa Aula 3 sobre Impactos do Imposto – item 4.2.). Então, esta alternativa já elimina todas as demais. Assim, mesmo que você não entenda muito as demais alternativas (aliás, muitos bons economistas também não entendem muito o que estas afirmativas querem dizer!!), a letra a é cristalinamente óbvia e, com isso, nos livra de ter de analisar e interpretar as demais alternativas.

A resposta é a letra a. Questão 11:

O déficit público não tem nada a ver com o investimento privado, a não ser o fato de que, tendo déficit, o governo busca recursos junto ao setor privado para financiar aquele déficit – o que reduz a poupança disponível para investimentos privados. Mas, não é isso que consta da letra a que, como tal, está errada. Já o déficit primário tem de ser menor que o déficit nominal pois neste último estão incluídos os juros nominais que, por sua vez, são deduzidos do déficit primário. Logo a letra b está errada. A carga líquida é definida dividindo-se a carga tributária total menos transferências e menos subsídios pelo PIB a preços de mercado. Portanto, a letra c também está errada. O financiamento do déficit público pode ser feito de várias maneiras (emissão monetária, endividamento bancário, endividamento com títulos, endividamento externo). Então, a letra d está errada. Sobrou, assim, a letra e que, por exclusão, é a resposta da questão. Dizemos “por exclusão” porque, a rigor, a definição de “setor público” contida na letra e não corresponde exatamente à verdade pois deveria excluir das “empresas estatais” as empresas públicas financeiras (B. Brasil, CEF, etc). Mas, como as demais opções estão, como dizemos, cristalinamente erradas, a “menos” errada é a letra e.

A resposta, portanto, é a letra e. Questão 12:

A opção a está correta: realmente, a partir da C.F. de 1988, o governo federal instituiu várias contribuições ou aumentou as alíquotas da já existentes, como forma

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de não ter de dividir com os Estados e Municípios estas receitas (a distribuição das receitas com os Estados e Municípios só se baseia no IPI e no IR!). A opção b está errada por várias razões: primeiro, o crescimento da carga tributária tem se baseado mais nos impostos diretos, reduzindo a participação dos impostos indiretos na arrecadação; os impostos cumulativos (como o IOF, CPMF, Cofins, etc) são de péssima qualidade do ponto de vista econômico pois distorcem os preços relativos, desestimulam a produção, não atendendo o princípio da neutralidade. As demais opções estão todas corretas e não necessitam de maiores comentários. A resposta, portanto, é a letra b. Questão 13:

A solução desta questão está toda no item 5 de nossa Aula 4. A alternativa a está correta pelo seguinte motivo: se as correções de renda por

efeito inflação forem uniformes e se se utiliza um índice representativo do aumento médio dos preços para corrigir as faixas ou tabelas do IR, o grau de progressividade dos tributos, obviamente, permanece o mesmo. A letra b é objetiva. De fato, a correção dos salários é automaticamente incluída na declaração de rendimentos, enquanto os rendimentos de capital, por serem instáveis e variáveis necessitam de uma iniciativa do contribuinte para sua inclusão na declaração. A letra c está correta porque os rendimentos de capital são ganhos reais e, como tal, deveriam pagar um imposto maior. Assim, a correção das tabelas de IR – devido à inflação, por exemplo – acabam “isentando” ou reduzindo o imposto a pagar daqueles rendimentos de capital. Quanto à letra d, vale observar que, se o crescimento econômico beneficia as classes de renda mais elevadas, estas classes acabam pagando uma carga mais alta de impostos, tornando-a mais progressiva. Mas, se os frutos do crescimento econômico forem distribuídos de forma mais equânime, não haverá aumento da progressividade efetiva dos tributos. Logo, a letra d está errada. A letra e é um tanto óbvia: se todos têm, seguidamente, aumentos reais de renda, todos pagarão mais impostos amanhã.

A resposta, portanto, é a letra d. Questão 14:

Esta é uma questão muito mais de Macroeconomia do que de Finanças Públicas. Se você fez o nosso curso de Economia 1 – online, você poderá se reportar à Aula 7 – sobre modelos keynesianos par ver como é o multiplicador dos gastos autônomos e o multiplicador do imposto autônomo.

A fórmula do multiplicador do imposto autônomo é : kt = -b/(1-b), onde b é a propensão marginal a consumir. Assim, se b = 0,8, então kt = - 4; se b = 0,9, então

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kt = -9. Ou seja, o multiplicador de variações no imposto autônomo é sempre um número negativo.

Resposta: letra c. Questão 15:

A letra a está correta. Num sistema tributário regressivo, as classes de renda mais elevadas pagam um percentual de IR menor do que as classes de menores renda, ainda que aquelas classes paguem, em valores absolutos, um valor mais alto. O que importa é a proporção da renda paga em impostos.

As opções b e c definem a eqüidade horizontal e não respondem à proposição. Já a opção d atende o princípio do benefício recebido, enquanto a opção e define um sistema tributário progressivo.

Logo, a resposta é a letra a. Questão 16:

Esta é uma questão que foge do âmbito das Finanças Públicas, pertencendo, isto sim, ao Direito Tributário. Procurando a resposta que seria a correta, por exclusão, podemos excluir as opções c e d. Estas contribuições são para-fiscais e vão direto para o Senai e o Sesi. De outra parte, sabe-se que a contribuição para o INCRA – letra a – vai direto para este Instituto, enquanto a Contribuição Social para o Salário Educação financia programas educacionais extra Ministério da Educação. Resta assim, a alternativa e: ou seja, as contribuições para o PIN e para o PROTERRA são as únicas que se constituem em receitas orçamentárias do governo.

Resposta: letra e. Questão 17:

Esta é outra questão que a gente deve torcer para cair na nossa prova, de tão simples que é, embora haja um pequeno problema na letra b. Mas, antes, vejamos o mais óbvio: A opção a está correta, muito embora a melhor definição de “tributo direto” não é dizer que é aquele que é recolhido pelo próprio contribuinte. Isso é verdade, mas não é o mais relevante. O relevante é que este imposto recai sobre a renda ou o patrimônio do contribuinte. Mas, deixa isso pra lá. A letra a pode ser considerada correta.

A opção c está correta, também. Os impostos diretos podem, de fato, ser progressivos. Já a opção e está obviamente correta. Vejamos, então, as opções b e d:

A letra d está totalmente incorreta. Os impostos indiretos são, sim, transferíveis para terceiros, tudo dependendo apenas das elasticidades da oferta e da demanda. Mas, há um probleminha na opção b que pode dar margem a questionamentos. Os impostos indiretos, como o IPI, por exemplo, são de fato seletivos, no sentido de taxar com alíquotas mais elevadas produtos considerados supérfluos, como bebidas, cigarros, etc. Mas, dizer que são proporcionais pode dar a

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entender que quem ganha mais paga mais do que os que ganham menos. Ou seja, o examinador não foi muito feliz na redação da letra b. Mas de toda forma, a alternativa mais obviamente errada é a letra d.

A resposta, portanto, é a opção d. Questão 18.

As opções a, c e d me parecem obviamente erradas. Não fazem nem sentido. Restam as opções b e e. A opção e não pode ser a opção correta porque a divisão do imposto total pagão pela renda total fornece a alíquota média e não a marginal. Resta, assim, a letra b. No entanto, esta definição é um tanto estranha, porque o “peso morto” de um imposto é medido pelo sacrifício ou perdas econômicas, latu senso, decorrentes de um imposto. A definição que nos parece correta de alíquota marginal é a seguinte: corresponde à razão entre a variação do imposto e a variação da renda. Por exemplo: Suponha que um indivíduo recebe uma renda de R$ 5.000,00 e paga um imposto de R$1.000,00. Se, por hipótese, sua renda aumentar para R$5.500,00 e, em conseqüência, seu imposto passar para R#1.100,00, então a alíquota marginal é dada por 100/500 = 0,2, ou seja : 20%.

Assim, por falta de opção, a resposta é a letra b (sob protestos!). Questão 19:

Para responder esta questão, seria interessante que você revisitasse o texto de nossa Aula nº , sobre incidência tributária (ou impactos do imposto). Lendo aquele texto você verá que as opções a, b, d e e estão objetivamente corretas, sem comentários. Resta, assim, a opção c. Se a curva de oferta for horizontal, significa que a oferta é totalmente elástica a variações de preços. E quem é totalmente elástico não paga imposto indireto. Logo, a letra c está errada e responde á questão.

Resposta: letra c. Questão 20:

Para responder esta questão, seria aconselhável que você lesse o texto de nossa Aula 2, item 5, nossa Aula, item 4 e nossa Aula 6. Por ali se vê que a opção a está correta. Também é verdadeira a afirmativa da letra b: em épocas de inflação acelerada (anos 80 e no início dos anos 90) o efeito “Tanzi” provoca perdas reais na arrecadação do governo, contribuindo para os déficits públicos. No Plano Collor foi permitido que as pessoas e empresas com depósitos retidos nos bancos pagassem seus impostos com este recurso retido – o que estimulou os agentes econômicos a porem em dia seus débitos fiscais – aumentando, em conseqüência, a carga tributária naquele ano. Logo, a letra c está correta, também. A letra d está correta: desde o início do governo Fernando Henrique observa-se um aumento contínuo da carga tributária, processo este que continua no governo Lula. Resta como alternativa incorreta a letra e – um tanto polêmica, é verdade, porque no tocante à renda houve,

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sim, um aumento da carga tributária. Mas, por falta de opção melhor, ficamos com a letra e.

Resposta: letra e. * * *

Assim, encerramos nossa 1ª bateria de exercícios de Finanças Públicas. Na próxima 2ª feira nós estaremos disponibilizando para vocês uma 2ª bateria. Até lá, então. Mz.

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AULA 8: EXERCÍCIOS DE REVISÃO: 2ª BATERIA QUESTÕES RETIRADAS DE PROVAS PASSADAS

Observação: A 1ª bateria (Aula 8) foi constituída de questões retiradas

das provas mais recentes promovidas pela ESAF. Já agora, nesta 2ª bateria, optamos por selecionar questões de provas mais antigas (1996/1998/2000). Boa sorte!

1. (AFTN-1998) Do ponto de vista das finanças públicas, diz-se, em

relação ao princípio do benefício, que: a) Cada um deve pagar proporcionalmente às suas condições. b) Este princípio é o mais adotado, sendo as despesas de consumo a

variável que melhor explica o benefício. c) As pessoas devem ser tributadas de acordo com a vantagem que

recebem das despesas governamentais. d) A renda é uma medida para avaliar quantitativamente o benefício

advindo dos gastos públicos. e) Este princípio é de fácil aplicação, não envolvendo questões

subjetivas como o conhecimento das curvas de preferência dos consumidores.

Solução comentada:

-A opção a aplica-se ao sistema tributário dito proporcional, que não está relacionado com o princípio do benefício. -A opção b está errada porque o princípio do benefício, apesar de ser “justo” socialmente, é de difícil aplicação dada a dificuldade de se avaliar o benefício que um indivíduo recebe de uma atividade ou obra do governo. Trata-se de um conceito subjetivo de difícil avaliação. -A opção c está correta: esta é a definição do princípio do benefício. -A opção d está errada: o princípio do benefício recebido não tem relação com o nível de renda do indivíduo. -A opção e está errada pela explicação dada na opção b.

Resposta correta: opção c. 2. (AFTN-1998) Afirma-se, na Teoria da Tributação, com relação ao

princípio da neutralidade, que: a) Um tributo justo é aquele em que cada contribuinte paga ao Estado

um montante diretamente relacionado com os benefícios que ele recebe.

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b) Um imposto deve distribuir seu ônus de maneira justa entre os indivíduos.

c) Este princípio é seguido quando os tributos não alteram os preços relativos, minimizando sua interferência nas decisões econômicas dos agentes de mercado.

d) Os agentes deveriam contribuir com impostos de acordo com sua capacidade de pagamento.

e) Um indivíduo paga o tributo de maneira a igualar o preço do serviço recebido ao benefício marginal que ele aufere com sua utilização.

Solução comentada: - O conceito de tributo justo refere-se mais ao imposto sobre

renda no tocante à eqüidade horizontal (tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente).

- A opção b contém uma afirmativa verdadeira, mas não está relacionada com a proposição desta questão.

- A afirmativa c está corretíssima. Este o conceito do princípio da neutralidade.

- A afirmativa contida na letra d é um outro princípio da tributação, mas isso nada tem a ver com neutralidade.

- A afirmativa e refere-se ao princípio do benefício recebido e, não, à neutralidade tributária.

Logo, a resposta é a opção c.

3. (AFTN-1998) Assinale a opção incorreta em relação às diferenças entre contribuição de melhoria e de taxa, segundo Seligman:

a) As contribuições de melhoria não são lançadas senão em razão de melhoramentos específicos; as taxas podem ser percebidas por qualquer espécie de serviço.

b) As contribuições de melhoria são pagas de uma só vez por todas; as taxas são pagas periodicamente, por ocasião de cada serviço sucessivo.

c) A contribuição de melhoria é um imposto que não se origina do poder de tributação do Estado; a taxa se origina do poder de tributação do Estado.

d) A taxa é lançada sobre o indivíduo como tal; a contribuição de melhoria é lançada sobre os indivíduos como membros de uma classe, a dos proprietários.

e) A contribuição de melhoria está sempre condicionada à valorização do imóvel do contribuinte; a taxa é paga por um serviço que pode aproveitar outros atributos do indivíduo, sem relação com a propriedade.

Solução comentada:

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A única afirmativa que está incorreta é a letra c – que, portanto, é a resposta da questão. Todas as demais afirmativas fazem a distinção entre taxa e contribuição de melhoria. Você deve procurar guardar estas diferenças, ok? 4. (AFTN-1998) As receitas tributárias podem ser classificadas em

tributos diretos e indiretos. Afirma-se que tributos: a) Diretos incidem sobre os preços das mercadorias. b) Indiretos incidem sobre a renda das pessoas. c) Diretos são específicos, com valor fixo em unidades monetárias,

independente do valor do bem. d) Indiretos são mais justos ou equânimes do ponto de vista fiscal. e) Indiretos podem ser ad valorem, com alíquotas fixas sobre o preço

do bem.

Solução comentada: Esta é uma daquelas questões “mamão-com-açúcar” – que a

gente fica torcendo para cair na nossa prova. Senão, vejamos: - Os impostos diretos incidem sobre a renda ou patrimônio, e não

sobre os preços das mercadorias. - Os impostos indiretos incidem sobre os bens e serviços e, não,

sobre a renda dos indivíduos ou das empresas. - Os impostos diretos são percentuais incidentes sobre a renda

dos indivíduos ou das empresas. - Os impostos indiretos são os mais injustos socialmente, pois os

pobre e os ricos paga o mesmo montante de imposto quando, por exemplo, tomam uma cerveja.

- A letra e está correta. Os impostos indiretos podem ser um percentual (caso mais comum) sobre o preço do produto ou um valor específico (caso raro).

Logo, a resposta é a letra e. 5. (AFTN-1998) Um sistema tributário regressivo caracteriza-se por: a) Elevar as alíquotas à medida que a renda aumentar. b) Incidir sobre a renda e a riqueza. c) Apresentar crescimento da relação entre carga tributária e renda com

o aumento do nível de renda. d) Onerar os segmentos sociais de menor poder aquisitivo. e) Exercer um controle automático sobre a demanda agregada.

Solução comentada: - A opção a está errada porque um sistema tributário que eleva

as alíquotas à medida que a renda aumenta é progressivo.

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- Um sistema tributário regressivo pode incidir sobre bens e serviços ou até sobre a renda e o patrimônio.

- A opção c está errada porque a afirmativa é praticamente idêntica à da letra a.

- A alternativa d está correta: o sistema tributário é considerado regressivo quando penaliza ou onera mais as classes de menor renda.

- A opção e não tem qualquer lógica tributária.

- Logo, a resposta da questão é a letra d.

6. (AFTN-1998) Em relação às finanças públicas, uma das afirmativas

a seguir é falsa. Identifique-a: a) Quanto maior for o estoque da dívida pública, maior será o gasto

com juros sobre a dívida e menor será a diferença entre carga tributária bruta e líquida.

b) O tamanho do déficit dá a medida da participação do governo na atividade econômica em termos de complementação da demanda privada.

c) O déficit público é a diferença entre o investimento público e a poupança do governo em conta corrente.

d) Com base na carga tributária líquida, o governo financia seus gastos correntes.

e) Carga tributária bruta representa o total de impostos arrecadados no país.

Solução comentada:

As alternativas desta questão são, quase todas, passíveis de polêmica e de críticas. Senão, vejamos:

- A primeira parte da opção a está correta: realmente, quanto maior a dívida pública, mais o governo paga de juros. Mas, a segunda parte está errada porque a carga tributária líquida é igual ao total de arrecadação tributária menos os juros da dívida e menos os subsídios, dividida peço PIB a preços de mercado. Assim, se os juros se elevam com uma dívida alta, a diferença entre a carga tributária líquida e a carga tributária bruta fica maior. Logo, esta afirmativa está errada.

- O que dá a medida da participação do governo na atividade econômica é o tamanho do gasto do governo e, não, necessariamente, o tamanho do déficit!

- O déficit público é a diferença entre total das receitas do setor público e o total de suas despesas. A poupança do governo em

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conta corrente é um conceito das contas nacionais e, não necessariamente, corresponde ao conceito de déficit público.

- A letra d está correta.

- A carga tributária bruta corresponde ao total de tributos arrecadados pelo governo dividido pelo PIB a preços de mercado.

Como você pode ver, as alternativas b, c e e são passíveis de críticas. Mas, como a alternativa mais claramente errada é a letra a, esta é a opção a ser marcada.

Logo, a opção a é a resposta.

7. (AFTN-1998) A curva de Laffer sugere:

a) que as taxas muito baixas de imposto poderiam ser aumentadas para gerar maiores receitas tributárias.

b) que o mau desempenho da economia devia-se à excessiva tributação dos agentes privados, consumidores e produtores.

c) que a redução do ônus tributário forneceria estímulo para a recuperação econômica, aumentando a arrecadação do governo.

d) que maiores incidências produzem menores receitas. e) que, à medida que ocorre a tributação, a receita será sempre

crescente.

Solução comentada: - A curva de Laffer indica que, o aumento contínuo das alíquotas

do imposto de renda provoca uma aumento da arrecadação porém a taxas cada vez menores, até atingir um nível máximo de arrecadação. A partir daí, qualquer aumento de alíquotas terá como efeito uma redução da arrecadação tributária. Isso é curva de Laffer!

- Assim, a alternativa que mais se aproxima deste conceito é a afirmativa d, embora a afirmativa contida na letra a também seja, em princípio, verdadeira.

Deste modo, a resposta deve ser mesmo a letra d – que, por exclusão, é a que mais atende a proposição.

8. (Ass.de Orçamento-CD-1998) Assinale a alternativa incorreta: A colocação de um imposto sobre a venda de um bem provoca:

a) Uma queda na quantidade quanto maior for a elasticidade-preço da demanda.

b) Maior queda na quantidade quanto menor for a elasticidade-preço da oferta.

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c) Maior subida de preço quanto menor for a elasticidade-preço da demanda.

d) Menor subida de preço quanto menor for a elasticidade-preço da oferta.

e) Menor queda na quantidade quanto menor for a elasticidade-preço da oferta.

Solução comentada: - Quanto maior for a elasticidade-preço da demanda, menos o

produtor repassará ao preço a colocação de um imposto sobre venda. Mas, como a demanda é elástica, qualquer aumento de preço provoca uma maior queda na quantidade.

- Caso a oferta seja inelástica, menor será o repasse do imposto ao preço. E menor será a queda na quantidade. Assim, a afirmativa b, portanto, está errada.

- Caso a demanda seja inelástica, maior será o repasse do imposto ao preço. Logo, a opção c está correta.

- Caso a oferta seja inelástica, a tendência é repassar uma menor parte do imposto para o preço. A opção d está correta.

- Se a letra b está errada, então a letra e está correta.

Logo, a resposta é a letra b.

9. (Ass.de Orçamento-CD-1998) A curva de Laffer mostra que:

a) As receitas governamentais crescem com a taxa de juros até certo limite.

b) As receitas tributárias crescem à medida que as alíquotas marginais dos impostos crescem, atingem um certo limite máximo, declinando seguir com novos aumentos nas alíquotas marginais.

c) As receitas tributárias aumentam sempre que houver aumento das alíquotas dos impostos.

d) As receitas governamentais se elevam com a elevação da taxa de câmbio.

e) Os investimentos se elevam com a elevação das taxas de juros.

Solução comentada: Pela resposta e explicação dada na questão 7, acima, todas as afirmativas, exceto a opção b, estão erradas. Assim, a resposta é a opção b.

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10. (Ass.de Orçamento-CD-1998) Um imposto de renda será progressivo se sua elasticidade-renda for:

a) < 1 b) = 0 c) >1 d) >0 e) =1.

Solução comentada: -Um imposto de renda é considerado progressivo quando o percentual do imposto (alíquota) cresce à medida que a renda cresce. Em outras palavras, o sistema será progressivo se as alíquotas são crescentes à medida que a renda cresce. A elasticidade-renda (Er) de um imposto de renda é dada pela fórmula: Er = ∆%T/∆%R

onde ∆%T = variação percentual do imposto, e ∆%R = variação percentual da renda. Para que o sistema tributário seja progressivo, o numerador desta fração (∆%T) tem de ser maior que o denominador (∆%R). E sendo assim, a elasticidade-renda, neste caso, é maior que 1.

Logo, a afirmativa que responde a questão é a letra c.

11. (Esaf-APO-2002) Com base nos sistemas de tributação,

aponte a opção falsa: a) Em um sistema de impostos proporcionais, a alíquota média

é menor que a alíquota marginal. b) Em um sistema de impostos proporcionais, as alíquotas

marginal e média dos impostos permanecem as mesmas quando a renda se eleva.

c) Em um sistema de impostos regressivos, a alíquota média é maior que a alíquota marginal.

d) Em um sistema de impostos regressivos, as alíquotas marginal e média dos impostos reduzem-se quando a renda se eleva.

e) Em um sistema de impostos progressivos, as alíquotas marginal e média dos impostos aumentam quando a renda se eleva.

Solução comentada:

- Num sistema tributário proporcional, a alíquota ou percentual do imposto permanece a mesma para qualquer classe de renda. Com isso, apenas o valor absoluto do imposto cresce com o

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aumento da renda. Logo, alíquota marginal é igual à alíquota média e a afirmativa a está errada.

- Pela resposta dada no item anterior, a afirmativa b está correta.

- No caso do sistema regressivo, as alíquotas decrescem à medida que a renda cresce. Daí, a alíquota média é maior que a marginal e a opção c está correta.

- No caso de um sistema tributário regressivo, as alíquotas marginais são decrescentes e, com isso, fazem com que as alíquotas médias também se reduzam à medida que a renda cresce. Logo, a alternativa d está correta.

- No sistema tributário progressivo, por definição, ambas as alíquotas crescem quando a renda cresce.

Logo, a resposta é a opção a.

12. (Esaf-APO-2002) A Constituição de 1988 inaugurou nova etapa do federalismo fiscal brasileiro. De acordo com as suas atuais características e peculiaridades, identifique a opção pertinente:

a) Enormes disparidades regionais. b) Forte tradição municipalista. c) Centralização tributária. d) Ampliação das transferências intergovernamentais. e) Redução parcial da competência tributária federal.

Solução comentada:

Um dos aspectos mais marcantes da Constituição de 1998, no tocante ao sistema tributário, além do fortalecimento do estado federativo, foi o aumento significativo das transferências tributárias da União para os Estados e Municípios.

Logo, a resposta é a opção d.

13. (AFTN-1996) Baseado no princípio da neutralidade fiscal, assinale a resposta correta:

a) A neutralidade pressupõe o critério de benefício, atribuindo a cada indivíduo um ônus equivalente aos benefícios que ele usufruir.

b) A neutralidade do sistema tributário é obtida quando existe eqüidade vertical.

c) A neutralidade do ponto de vista da alocação de recursos pressupõe que o ônus seja repartido entre os indivíduos.

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d) A neutralidade do sistema tributário é obtida quando a forma de captação de recursos pelo governo não modifica os preços relativos dos bens e serviços.

e) A neutralidade do sistema tributário é obtida quando existe eqüidade horizontal.

Solução comentada: -A neutralidade, como princípio tributário, diz respeito tão somente à não-interferência do tributo nas decisões alocativas do setor privado. E isso ocorre quando o imposto não altera os preços relativos dos bens e serviços. Veja, novamente, a resposta dada à questão 2, acima.

Portanto, a resposta correta é a letra d.

14. (AFTN-1996) Consideram-se como contribuições parafiscais: a) juros recebidos pelo Governo. b) dividendos recebidos pelo Governo. c) contribuições à Previdência Social. d) receitas das atividades imobiliárias governamentais.

e) todas e quaisquer receitas não tributárias do governo.

Solução comentada: Contribuição parafiscal é aquela cuja arrecadação não se destina aos cofres do Tesouro Nacional, destinando-se ou ao orçamento da seguridade social ou a entidades de classe ou, às vezes, sendo fruto de contribuição de intervenção no domínio econômico. Deste modo, todas as alternativas da questão, exceto a opção c, são receitas de outra natureza (patrimoniais, industriais, etc) e que não são consideradas contribuições. A única que tem a natureza de contribuições parafiscais é a da Previdência Social.

Logo, a resposta é a letra c. 15. (AFTN-1996) Considerando o conceito mais amplo de elasticidade de uma receita fiscal, qual é a elasticidade dessa receita tributária se aumentar 30% em 10 anos e o PIB crescer 20% no mesmo período?

a) 1,5 b) 3 c) 1,2 d) 1 e) 0,7.

Solução comentada:

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Para se calcular a elasticidade da receita tributária (Ert) em relação à renda ou ao produto (PIB), usamos a seguinte fórmula:

Ert = ∆%RT/ ∆%R = 30%/20% = 1,5.

Logo, a resposta é a opção a. 16. (AFTN-1996) Quando uma indústria está trabalhando com custos decrescentes, sua curva de oferta é declinante. A imposição de um imposto per capita sobre seu produto, ceteris paribus, fará com que:

a) seu preço de venda suba menos que o valor do imposto; b) seu preço de venda suba mais que o valor do imposto; c) seu preço de venda não se altere, já que a indústria absorverá

este imposto per capita sobre o produto. d) nada se possa afirmar sobre o novo preço de venda; e) seu preço de venda dependa da acomodação dos custos.

Solução comentada:

Um imposto per capita (lump-sum tax) é único e atinge a tudo e a todos e, tecnicamente, pode ser considerado como um custo fixo, não afetando nem o custo variável nem o custo marginal da empresa. E, como tal, e independentemente do tipo de empresa ou do tipo de custos da empresa, este imposto não tem como ser repassado ao preço.

Logo, a resposta correta é a letra c.

17. (AFTN-1996) O efeito Tanzi demonstra: a) Corrosão do valor real dos impostos; b) Desaquecimento da atividade econômica. c) Menor eficiência da máquina arrecadadora. d) Redução do esforço de combate à sonegação. e) Aumento da despesa fiscal.

Solução comentada: O “efeito Tanzi” diz respeito à perda real do valor da arrecadação tributária do governo em épocas de inflação acelerada. Este efeito ocorre quando, nessas épocas, há uma defasagem entre a ocorrência do fato gerador do imposto e o seu recolhimento aos cofres públicos. Tecnicamente falando, o efeito Tanzi contribui para o aumento do déficit público.

Logo, a resposta é a letra a. 18. O efeito Patinkin diz respeito a:

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a) Perda real da arrecadação tributária em épocas inflacionárias; b) Ganho real da arrecadação tributária em épocas de inflação

acelerada. c) Aumento da carga tributária quando as faixas das tabelas do

imposto de renda não são corrigidas em época de inflação. d) Ao aumento real da receita tributária decorrente do crescimento

do PIB real. e) Ao ganho real para o governo decorrente do atraso dos

pagamentos das despesas governamentais em épocas de inflação acelerada.

Solução comentada: O “efeito Patinkin” é o oposto do efeito Tanzi. Ele ocorre quando, em épocas de inflação acelerada, o governo atrasa seus pagamentos a fornecedores e aos funcionários. Com isso, há um ganho real para as finanças públicas, pois quando o governo paga sua despesa com atraso, sem que o valor seja corrigido, o valor dessa despesa, em termos reais, já se reduziu. Logo, a resposta é a letra e. 19. (AFTN-1996) A curva de Laffer mostra que:

a) As receitas correntes do governo crescem à medida que a taxa marginal de juros cresce, atingem um ponto máximo, e, a partir daí, declinam com outros incrementos na taxa marginal de juros.

b) As receitas tributárias reais inicialmente crescem à medida que a taxa marginal de tributação cresce, alcançam um ponto máximo e, subseqüentemente, declinam com outros incrementos na taxa marginal de tributação.

c) As despesas governamentais em termos reais se elevam à medida que a taxa de juros cresce, atingem um ponto máximo e declinam com outros acréscimos na taxa de juros.

d) As despesas de capital do governo se elevam à medida que a taxa de juros cresce, atingem um ponto máximo e decrescem com outros acréscimos na taxa de juros.

e) As receitas governamentais se elevam à medida que a taxa de câmbio se eleva.

Solução comentada:

Curva de Laffer não tem nada a ver com taxa de juros, nem com taxa de câmbio. Ela está associada com aumentos da taxa de imposto de renda que, depois de atingido um certo nível, provocam queda na arrecadação tributária total.

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Uma explicação mais detalhada já foi apresentada na questão 7, desta lista.

Assim, a única afirmativa correta é a letra b. 20. (AFTN – 1996) Com relação aos impostos indiretos, afirma-se que:

a) Constituem um exemplo de sistema proporcional, uma vez que todos pagam o mesmo imposto na compra de um determinado bem.

b) Melhoram a distribuição de renda da economia. c) Não afetam a distribuição de renda da economia. d) Não se pode avaliar seus efeitos sobre a distribuição de renda. e) Aumentam as desigualdades na distribuição de renda.

Solução comentada: Os impostos indiretos são aqueles que incidem sobre as vendas ou, como se diz comumente, sobre os bens e serviços. Como seu valor está embutido no preço daqueles bens e serviços, todos que os consomem pagam o mesmo montante de imposto (lembre-se do exemplo da cerveja!). Por isso se diz que os impostos indiretos são altamente regressivos, aumentando as desigualdades na distribuição de renda. Logo, a resposta é a opção e. ________________________

T H A T’ S A L L ! Até uma próxima oportunidade!

E muita sorte pra você!

Com um abraço solidário do Professor Mozart Foschete!