Por que ler poemas? - Portal TRILHAS · PDF filePor que ler poemas? Brincar com palavras, sons e sentidos Ver: Caderno de estudos Em Convite, o poeta José Paulo Paes escreve: “Poesia

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  • Por que ler poemas?

    Brincar com palavras, sons e sentidos

    Ver:Caderno de estudos

    Em Convite, o poeta Jos Paulo Paes escreve:

    Poesia brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pioS que bola, papagaio, pio gastam, as palavras no...

    s poemas convidam o leitor a jogar com os sons e sentidos das palavras. Para as crianas, assim como para muitas pessoas, a poesia rima, algo bonito, como uma brincadeira. Poema a

    poesia em palavras e costuma ser identificado por sua forma grfica com versos e estrofes. Porm, um de seus aspectos mais importantes a sua capacidade de chamar ateno sobre si mesmo, ou seja, sobre a sua linguagem.

    A repetio um recurso lingustico que caracteriza esse tipo de texto. comum encontrar a repetio de um mesmo som por meio de aliteraes e rimas O barbeiro comprou um babeiro para a baba de seu filho: Baba agora, beb babo, de babeiro, babar bom. (O barbeiro e o babeiro, Srgio Ca-parelli). Recursos sonoros tambm so frequentes nos textos poticos. Um deles a onomatopeia, ou seja, a transcrio de um som tal como costuma ser emitido: Blim, blim, blo, dedilha o violo. Blo, blo, blim, Serafim, Serafim. (Serafim seresteiro, Srgio Caparelli). Tambm h a presena de figuras de linguagem, como comparaes e/ou metforas Leo! Leo! Leo! Rugindo como um trovo. (O Leo, Vinicius de Moraes).

    A liberdade para jogar com as palavras outra caracterstica dos textos poticos. Alm de colocar a linguagem em cena, uma das qualidades de um poema justamente a sugesto, ou seja, a propriedade de dialogar com impresses, emoes e pensamentos do leitor a partir das imagens que surgem em sua mente. Esses estmulos podem ser visuais, sonoros, tteis ou articulados em torno de pensamentos e emoes. Mas so sempre o ponto de partida para a abertura da percepo e de nossa capacidade de nos surpreender com um poema e de admir-lo. A poesia est quase sempre nos pequenos detalhes do mundo objetivo que nos colocam em contato com o nosso universo subjetivo.

    Os textos poticos na educao infantil

    A leitura de poemas pode proporcionar s crianas momentos de intenso prazer no contato com a linguagem. Aprende-se muito sobre a lngua lendo, ouvindo, recitando ou se deliciando com os sons e as rimas presentes em um poema. Fora da escola os poemas ocupam espaos nos recitais, saraus, festas populares, nos lares das crianas. Na escola, ele um tipo de texto ainda pouco trabalhado. Recente-mente, diferentes autores tm mostrado que a relao entre o oral e o escrito presente nos textos poti-cos revela-se um aspecto importante para o aprendizado da lngua e do sistema de escrita pela criana. O trabalho com poemas , portanto, possvel e desejvel, pois favorece que se criem situaes didticas com o uso de textos significativos e contribui para o processo de aprendizagem da leitura e da escrita na medida em que os aspectos sonoros, a linguagem usada, o aspecto formal, assim como a literalidade e a

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  • fixao desse tipo de texto possibilitam que as crianas reflitam sobre as relaes entre o oral e o escrito.

    possvel imaginar situaes de trabalho em sala que ampliem o repertrio das crianas e, ao mesmo tempo, garantam que elas, enquanto apreciam os versos, aprendam sobre a lngua.

    Como trabalhar com os poemas

    A matria-prima do poema a sonoridade. A forma grfica do texto em versos e estrofes favorece a ateno e sua memorizao, e permite o exerccio da recitao. A linguagem potica oferece ainda a vantagem da exigncia de que a reproduo seja literal, uma vez que qualquer alterao faz com que o poema perca sua autoria. Essas caractersticas propiciam uma srie de aprendizagens s crianas. Pode-se propor o trabalho com poemas em trs formas distintas:

    Escutar com nfase na relao entre a oralidade, a voz falada e a musicalidade.

    Ler com nfase na visualizao da linha, do verso, do pargrafo e da estrofe.

    Produzir poemas tanto por meio da reescrita como tambm da criao.

    O poema requer a voz e no s a leitura silenciosa. Requer tambm a ateno de quem escuta. Por isso conveniente que as crianas possam participar de situaes de recitao e leitura. A estrutura com-posicional dos poemas, em especial os que possuem rimas, convida recitao. A semelhana sonora entre as palavras, a organizao dos versos em estrofes e o ritmo resultante dessa interao so espe-cialmente sentidos e apreciados quando pronunciamos um poema em voz alta. A musicalidade, seja ela fluente e cadenciada, seja truncada em tropeos intencionais, uma forma peculiar de dar sentido ao que se l e ao que se ouve.

    preciso no perder de vista a capacidade de sugerir e provocar admirao, que prpria da poesia, evitando ceder lugar para a tcnica desprovida de sentido. Mais vale uma recitao polifnica, na qual vrias vozes do o tom em busca de um sentido pleno, do que uma recitao unssona, na qual predo-mina uma s tonalidade que reduz a significao em um nico ressoar. A poesia deve ecoar.

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  • Sobre os livros

    s dois livros indicados para este caderno so considerados clssicos da poesia escrita para crian-as, obras de poetas brasileiros que viveram em tempos diferentes Vinicius de Moraes (1913-

    1980) e Srgio Caparelli (poeta contemporneo) , cuja produo potica dialoga principalmente em seu aspecto ldico.

    A arca de NoVinicius de MoraesIlustraes de LaurabeatrizSo Paulo: Companhia das Letrinhas, 1991.

    A primeira edio de A arca de No foi publicada em 1970 e muito bem recebida pela crtica. A perma-nncia desses poemas no imaginrio das crianas prova de que se trata de um clssico. Como o ttulo sugere, a maioria dos poemas que compem essa obra tem como tema os animais. So 32 poemas ao todo, sendo 23 dedicados aos bichos. Os demais versam sobre desde aspectos religiosos a objetos ca-seiros e elementos da natureza. Nos poemas sobre os animais, encontramos formatos diversos para os textos: h aqueles nos quais o prprio animal se apresenta (A pulga e O porquinho), outros em que um suposto narrador conta em versos as peripcias ou caractersticas do bichinho (O pato, O peru, O gato), e tambm os que aparecem em forma de conversa (O pinguim e O elefantinho). Em todos eles, o humor se apresenta no modo irreverente como os animais desfilam em cada poema. Outro aspecto dessa obra a musicalidade dos textos. No s porque boa parte dos poemas virou msica na parceria do autor com o compositor Toquinho basta ouvir os CDs Arca de No I e Arca de No II , mas tambm pelos recursos lingusticos utilizados. As ilustraes em preto e branco de Laurabeatriz apresentam um estilo leve, que opta pelo tracejado e pelo pontilhado em alguns casos. Os desenhos ocupam um pequeno espao nas pginas e primam pela delicadeza. Folheando o livro de perto que o leitor pode apreciar as imagens e associ-las aos textos.

    Boi da cara pretaSrgio CaparelliIlustraes de CaulosPorto Alegre: L&PM, 2006.

    Dos 25 poemas que compem Boi da cara preta nenhum recebe o ttulo que d nome ao livro. No en-tanto, o universo das cantigas de ninar, trovinhas, parlendas e trava-lnguas permeia toda a obra. Com doura, os poemas embalam as crianas na candura prpria das cantigas: Dorme, dorme, meu menino/ o sono um macaquinho./ Ele cata gros de areia/ pra jogar nos teus olhinhos. (Macaquinho sem-ver-gonha) e com humor convidam a brincadeiras divertidas: Vaca amarela/ fez xixi na gamela,/ cabrito mexeu, mexeu,/ quem rir primeiro/ bebeu o xixi dela. (Vaca amarela).

    A grande presena de estrofes em forma de quadrinhas refora o carter popular dos poemas. Essa forma de organizar o texto grupos de 4 versos com rimas principalmente no segundo e no ltimo prpria dos repentes que fazem parte da tradio oral de nossa cultura e convida memorizao e recitao: A mulher barbada/ tem barba de chocolate/ e um cachorro bobo/ de bigode e cavanhaque.

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  • O tema mais recorrente so os animais: pato, tatu, barata, jacar, tigre, grilo, lagartixa, sapo e tantos outros. Em dilogos inusitados: No sou sapo, sou sabi,/ c sabia ou no sabi? (Os sapos inventores) , comportando-se como gente Uma vaca entrou num bar/ e pediu um guaran. (Guaran com canu-dinho) ou metendo-se em aventuras O tatu cava um buraco,/perde o flego, geme, sua,/ quando quer voltar atrs,/ leva um susto, est na lua os bichos trazem movimento e encantamento aos poemas.

    As ilustraes de Caulos, emolduradas em tons ocre, cinza, branco e preto, preservam o humor e a de-licadeza, ressaltando detalhes e convidando a um olhar atento. Pode-se perceber isso logo na primeira ilustrao, para o poema O que Marina quer de aniversrio. Observe-se que a menina segura nas mos um suposto buqu composto com os trs raios que esto faltando no sol que desponta na janela. Re-conhecido como uma grande obra pela crtica literria Prmio Associao Paulista de Crticos de Arte (1983); Certificado de Livro Altamente Recomendvel pela Fundao Nacional do Livro Infantil e Juvenil (1983) e selecionado para participar da Feira de Frankfurt (1994) , Boi da Cara Preta enri-quece o universo literrio das crianas por resgatar com graa e delicadeza o melhor da tradio oral e por apresentar com inteligncia e linguagem apurada aspectos da contemporaneidade que instigam o pequeno leitor.

    O que h de comum nos dois livros?

    O valor artstico dos poemas apoia-se principalmente no trabalho com a palavra e na escolha de temas que muito encantam as crianas. Em ambas as obras, encontramos poemas que tm os animais e seu curioso universo como tema. Com relao ao trabalho com a palavra, os poetas fazem uso de recursos lingusticos, como:

    1- Estrutura composicional em forma de dilogo ou suposta conversa, recheada de perguntas e respos-tas intrigantes ou engraadas. Exemplos: Bom dia, pinguim/ Onde vai assim/ Com ar apressado? Cara barata! /