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Ano 9 nº 97 março 2009 ENTREVISTA HITENDRA PATEL: EMPRESAS PRECISAM SER GLOBAIS E ATRAIR TALENTOS DO EXTERIOR PARA INOVAR E MAIS A OBRA DE MONTEIRO LOBATO EM NOVA PERSPECTIVA A REQUALIFICAÇÃO DE TRABALHADORES PELO SENAI POR QUE O PETRÓLEO VAI AJUDAR O PAÍS NA CRISE

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Ano 9nº 97março2009

EntrEvistA Hitendra Patel: emPresas Precisam ser globais e atrair talentos do exterior Para inovar

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Armando Monteiro Neto, presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria

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IndIcadores de fevereIro mostram que, depoIs da forte queda no último trimestre de 2008, a ati-vidade industrial começa a dar sinais de possível recuperação. o desempenho de alguns setores, como o automobilístico, confirma a previsão de que a desaceleração da economia brasileira poderá ser inferior à dos países desenvolvidos.

tais resultados não impedem o reconhecimen-to da gravidade da crise e de seu profundo impacto nas diferentes economias. não podemos ignorar tal realidade, mas tampouco devemos aceitar que isso possa imobilizar o País. Fomos postos à prova e devemos ser assertivos. essa é a postura que os brasileiros esperam de suas lideranças. a indústria não foge a esse compromisso.

nosso desafio não é apenas enfrentar os per-calços de curto prazo, mas, sobretudo, evitar um retrocesso duradouro na trajetória de crescimento. estamos diante da oportunidade de consolidar as agendas do crescimento e da competitividade e pre-parar a economia brasileira para um novo salto.

o brasil interrompeu o ciclo de reformas es-truturais, que precisa ser retomado. a implanta-ção de um novo sistema de impostos é uma das principais prioridades para nossa economia. no início deste mês, a cni e a câmara dos depu-tados promoveram o seminário internacional de reforma tributária.

os partidos políticos representados no con-gresso nacional devem buscar o entendimento e aprovar, com urgência, o projeto da reforma tributária, que trará maior simplicidade no paga-mento de impostos e promoverá desoneração de

investimentos e exportações. a agenda das refor-mas inclui também uma nova revisão do regime de aposentadorias e pensões da Previdência social e a modernização do sistema político.

É preciso ter pressa na adoção de medidas que melhorem o ambiente de negócios. isso requer a delimitação de poderes das agências reguladoras, além de incentivos à inovação e às exportações. o crescimento econômico depende ainda da retoma-da de investimentos em áreas como energia, trans-portes e saneamento básico.

este é também o momento de promover uma mudança no eixo da política macroeconômica. a combinação de juro alto e câmbio valorizado não é mais aceitável em um ambiente mundial recessivo e deflacionário. É necessário evitar que a moeda brasileira seja valorizada novamente. isso exige taxas de juros substancialmente menores do que se tem visto nos últimos anos. no médio pra-zo, o controle da inflação exigirá maior esforço fiscal, com a contenção nos gastos de custeio e de pessoal.

acreditamos que o brasil tem os diferenciais para sair fortalecido do processo, de forma compa-rativa aos demais países emergentes. dispomos de recursos naturais abundantes, dominamos a tec-nologia de produção de combustíveis renováveis e abrigamos um sistema financeiro sólido.

em crises passadas, o País demonstrou a capa-cidade de reagir, e o setor produtivo fez a sua par-te. essa experiência e a implementação das refor-mas serão decisivas para retomarmos o caminho do crescimento.

como a crIse pode nos fortalecerO País precisa retomar o ciclo de reformas estruturais e reduzir a taxa de juros, inaceitável em um ambiente mundial recessivo e deflacionário

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16 Capa Petrobras prevê investimentos de Us$ 174,4 bilhões entre 2009 e

2013, 57% a mais que no quadriênio 2008-2012, e um milhão de novos postos de trabalho

24 Negócios Pesquisadores de três universidades derrubam mito de que

consumidor compra por impulso e aconselham a busca de novas estratégias de marketing

30 Política congresso recebe o conjunto de propostas da reforma Política, tema

que, segundo especialista, exige debate na sociedade para a formação de consensos

36 Responsabilidade Corporativa Projeto Maturidade, do senai, oferece apoio e preparo para a

aposentadoria ao trabalhador brasileiro, cuja média de idade vem aumentando rapidamente

40 História brasileiros em bretton woods apoiaram norte-americanos, em

detrimento do que o economista John Maynard Keynes defendia, mostra pesquisa da Fundação getúlio Vargas

ARtigo

50 CeNA CultuRAl carmen Miranda fez o brasil se ouvir pela primeira vez, afirma ruy

castro no ano em que se comemora o centenário da cantora

SeçõeS

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10 eNtReviStA Hitendra Patel, diretor do iXl center, nos estados Unidos, afirma

que empresas brasileiras precisam se globalizar mais

22 teNdêNCiAS eCoNômiCAS Queda da produção industrial no quarto trimestre de 2008 foi a maior

desde que começou a ser medida; recuperação será lenta em 2009

44 CultuRA Público ganha acesso, via internet, à totalidade da obra de Monteiro

lobato, incluindo fotografias, desenhos e aquarelas assinadas pelo escritor

www.cni.org.br

DIRETORIA DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - QUADRIÊNIO 2006/2010

Presidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto (PE); Vice-Presidentes: Paulo Antonio Skaf (SP), Robson Braga de Andrade (MG), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira (RJ), Paulo Gilberto Fernandes Tigre (RS), José de Freitas Mascarenhas (BA), Rodrigo Costa da Rocha Loures (PR), Alcantaro Corrêa (SC), José Nasser (AM), Jorge Parente Frota Júnior (CE), Francisco de Assis Benevides Gadelha (PB), Flavio José Cavalcanti de Azevedo (RN), Antonio José de Moraes Souza (PI); 1º Secretário: Paulo Afonso Ferreira (GO); 2º Secretário: José Carlos Lyra de Andrade (AL); 1º Tesoureiro: Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan (MT); 2º Tesoureiro: Alfredo Fernandes (MS); Diretores: Lucas Izoton Vieira (ES), Fernando de Souza Flexa Ribeiro (PA), Jorge Lins Freire (BA), Jorge Machado Mendes (MA), Jorge Wicks Côrte Real (PE), Eduardo Prado de Oliveira (SE), Eduardo Machado Silva (TO), João Francisco Salomão (AC), Antonio Rocha da Silva (DF), José Conrado Azevedo Santos (PA), Euzebio André Guareschi (RO), Rivaldo Fernandes Neves (RR), Francisco Renan Oronoz Proença (RS), José Fernando Xavier Faraco (SC), Olavo Machado Júnior (MG), Carlos Antonio de Borges Garcia (MT), Manuel Cesario Filho (CE).

CONSELHO FISCAL Titulares: Sergio Rogerio de Castro (ES), Julio Augusto Miranda Filho (RO), João Oliveira de Albuquerque (AC); Suplentes: Carlos Salustiano de Sousa Coelho (RR), Telma Lucia de Azevedo Gurgel (AP), Charles Alberto Elias (TO).

UNICOM - Unidade de Comunicação Social CNI/SESI/SENAI/IEL Gerente executivo - Marcus Barros Pinto Tel.: (61) 3317.9544 - Fax: (61) 3317.9550 e-mail: [email protected]

ISSN 1519-7913 Revista mensal do Sistema Indústria

Coordenação editorial IW Comunicações - Iris Walquiria Campos

ProduçãoFSB ComunicaçõesSHS Quadra 6 - cj. A - Bloco E - sala 713CEP 70322-915 - Brasília - DF Tel.: (61) 3323.1072 - Fax: (61) 3323.2404

Redação Editor: Paulo Silva PintoEditora-assistente: Daniela Schubnel Editora de arte: Ludmila Araujo Revisão: Shirlei Nataline Colaboraram nesta edição: Carlos Haag, Gilse Guedes, Marcelo de Ávila e Ruy Castro

Publicidade Moisés Gomes - [email protected] Tel.: (61) 3323-1072

Impressão - Gráfica Coronário

Capa - Ingo Boddenberg/zefa/Corbis

As opiniões contidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento da CNI. iM

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IndústrIa do ConheCImentoseis unidades do projeto indústria do conhecimento estão saindo do forno em Mato grosso do sul. a Fiems concluiu a construção dos edifícios onde serão instalados os centros multimídia nas cidades de naviraí, bataguassu, três lagoas, costa rica e campo grande. ainda este mês começam as obras em iguatemi. as bibliotecas devem ficar prontas ainda no primeiro semestre e vão complementar as outras nove em funcionamento no estado, que atendem a oito mil pessoas por mês, com acervo de livros, cds e dVds, além de computadores com acesso à internet. o objetivo do projeto, parceria do sesi com o Ministério da educação, é favorecer a inclusão digital e o acesso à cultura. atualmente, 76 unidades foram inauguradas em todo o país. a meta do sesi é atingir 230 unidades até 2015.

esCola gráfICa no Paranáo senai do Paraná inaugurou em fevereiro, em curitiba, a escola gráfica senai. a unidade tem 600 m2 e está instalada na cidade industrial de curitiba. “esse empreendimento representa a retomada do senai no atendimento à indústria gráfica do Paraná. com a escola, vamos melhorar a formação de profissionais e contribuir para o aumento da produtividade do setor”, explica o diretor do senai Paraná, João barreto lopes. segundo ele, entre obras para adequação do espaço, reformas e aquisição de novos equipamentos, o senai investiu cerca de r$ 900 mil. são esperados 500 novos alunos na unidade da cic, além das 11 mil matrículas já programadas para este ano. além dos cursos de

aprendizagem em editoração gráfica, estão programados cursos de qualificação e de aperfeiçoamento. a escola conta com a parceria do sindicato das indústrias gráficas no estado do Paraná (sigep) e associação brasileira da indústria gráfica – regional Paraná (abigraf-Pr). o senai conta com 54 unidades para atendimento ao setor gráfico em 17 estados e 47 municípios. dessas, 20 oferecem cursos de aprendizagem, 12 oferecem cursos técnicos, uma, cursos de graduação, e três, de pós-graduação. além disso, o senai oferece nessas unidades mais de 117 cursos de qualificação e aperfeiçoamento.

núCleos de Inovação teCnológICao iel catarinense vai criar, em 2009, dez núcleos de inovação tecnológica em centros de ciência e tecnologia do estado. a iniciativa conta com a parceria da Universidade Federal de santa catarina (UFsc), em conjunto com a Financiadora de estudos e Projetos (Finep), a Fundação de apoio à Pesquisa científica e tecnológica (Fapesc) e a associação catarinense das empresas de tecnologia (acate). os núcleos vão complementar as cinco unidades já em funcionamento, para formar a rede catarinense de núcleos de inovação tecnológica. o objetivo é ser o elo entre a universidade e as empresas da região. a rede vai criar e manter atualizado um banco de informações sobre as competências disponíveis em cada universidade e fazer o mapeamento da produção científica e tecnológica dos centros de pesquisa onde estão instalados. o projeto contou com investimento de r$ 1,8 milhão.

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vIra vIdacomeçou a funcionar mês passado, em belém, o projeto Vira Vida. a iniciativa, do conselho nacional do sesi, vai qualificar 400 jovens, entre 16 e 21 anos, que foram vítimas de exploração sexual, facilitando sua reintegração à sociedade e inserção no mundo do trabalho. atualmente, o projeto está sendo desenvolvido em: Fortaleza, recife, natal e belém. neste mês será aberta uma turma em salvador. os inscritos participam de cursos técnicos, recebem auxílio psicológico e ajuda de custo de r$ 500,00 mensais. o projeto tem a parceria de senai, serviço nacional de aprendizagem comercial (senac) e serviço brasileiro de apoio às Micro e Pequenas empresas (sebrae). conta ainda com o apoio do Ministério do trabalho, caixa econômica Federal e infraero.

enContro eConômICo BrasIl-alemanhaVitória vai receber de 30 de agosto a 1º de setembro o 27º encontro econômico brasil-alemanha, que será realizado no centro de convenções da capital e terá o apoio de cni, Findes e Federação das indústrias da alemanha (bdi). o objetivo é promover debates em torno de questões de interesse entre os dois países, ampliar o desenvolvimento comercial e superar obstáculos ao relacionamento bilateral. a programação da 27ª edição do evento inclui painéis, workshops e reuniões temáticas. será realizada também feira, com exposição de produtos e serviços. os empresários alemães farão visitas técnicas a indústrias capixabas para conhecer o parque industrial local e a infraestrutura disponível para comercialização de bens e serviços. o encontro é realizado no brasil nos anos ímpares e na alemanha nos pares. a edição de 2008 foi em colônia. em 2007, foi realizado em blumenau (sc) e em 2006, em berlim. também contribuem para a realização do evento consulado alemão, governo estadual, prefeitura de Vitória, convention & Visitors bureau, companhia de desenvolvimento de Vitória e câmara de comércio brasil-alemanha.

PrêmIo marCantonIo vIlaçaForam divulgados os nomes dos cinco artistas vencedores da 3ª edição do Prêmio cni - sesi Marcantonio Vilaça para as artes Plásticas 2009/2010. são eles: armando Queiroz, eduardo berliner, Henrique de oliveira, rosana ricalde e Yuri Firmeza. eles receberam bolsas de trabalho individuais, no valor de r$ 30 mil cada uma, em cerimônia realizada dia 29 de janeiro, no prédio histórico que abrigará o Museu da indústria do ceará, no centro de Fortaleza. na próxima etapa da premiação, o trabalho dos artistas será acompanhado por um crítico ou curador. em seguida, serão organizadas mostras itinerantes das obras selecionadas, que visitam capitais de diferentes regiões do País, facilitando o acesso do público à arte contemporânea. o Prêmio inclui também a edição de um catálogo com os trabalhos realizados pelos artistas vencedores e a produção de material educativo para subsidiar a etapa itinerante. ao final das exposições é doada uma obra de cada artista para compor o acervo de instituições culturais brasileiras. lançado em 2004 por cni e sesi, o Prêmio Marcantonio Vilaça é hoje uma das mais importantes premiações da cultura brasileira. incentiva a produção artística, contribui para ampliar as coleções de arte institucionais e integra o conjunto de projetos de cni e sesi para promover a cultura no brasil. saiba mais pela página eletrônica (http://www.sesi.org.br/premioartes/).

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dramaturgIa na PaulIstaapreciadores e estudiosos do teatro poderão contar com um novo espaço para trocar experiências e absorver conhecimentos. a cada dois meses, o núcleo de dramaturgia sesi - british council vai realizar palestras com a participação de grandes nomes da dramaturgia brasileira contemporânea. o programa Palavra de Dramaturgo teve como primeiro convidado, no dia 10 de fevereiro, Fernando bonassi, que roteirizou filmes importantes como Um Céu de Estrelas, de tata amaral, e Carandiru, de Hector babenco. o programa funciona no Mezanino do centro cultural Fiesp – ruth cardoso, na avenida Paulista, em são Paulo. as palestras, com entrada gratuita, têm duração de uma hora e meia e são seguidas de meia hora de debate com a plateia. o programa teve início em agosto de 2008 no centro cultural Vila leopoldina, que faz parte do centro de atividades gastão Vidigal. a grande procura pelo evento levou o sesi a ampliar o espaço para receber o público. Mais informações sobre a programação e o núcleo de dramaturgia sesi - british council pela página eletrônica (www.sesisp.org.br/dramaturgia) ou pelo telefone (11) 3146-7395.

senaI na áfrICa e amérICa Centrala partir deste ano, o senai vai expandir a exportação de sua expertise em educação profissional para países da África e da américa central. a entidade já apoiou a instalação de centros de formação profissional em angola, Paraguai, timor leste, cabo Verde (foto) e guiné bissau. agora, vai também colaborar com a qualificação de trabalhadores em Moçambique, são tomé e Príncipe, Jamaica, Haiti e guatemala. são projetos de cooperação internacional entre governos, nos quais o Ministério das relações exteriores conta com a participação do senai para transferência do seu consagrado modelo educacional. “Hoje o momento do senai é de transferir conhecimento. Já contamos com a cooperação de países como alemanha e Japão no passado”, lembra o gerente-executivo de relações internacionais do senai, Frederico lamego, para quem o projeto facilita a internacionalização de empresas brasileiras. “a formação do senai é uma segurança a mais para se instalar nesses países.” outros projetos de cooperação internacional acontecem em ações de qualificação de deficientes físicos no Marrocos e da indústria automotiva do suriname.

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Produção lImPatransferência de tecnologias, criação de linhas específicas de financiamento e a instituição de sistemas tributários e incentivos à produção limpa. as propostas da cni para o combate ao aquecimento global foram apresentadas pelo diretor-executivo da instituição, José augusto Fernandes, em copenhagen, na dinamarca, em encontro organizado pela confederação da

indústria dinamarquesa, que reuniu empresários de vários países, em fevereiro. as conclusões sobre as discussões realizadas serão levadas à coP 15, conferência mundial sobre mudança do clima, que será

realizada em dezembro deste ano, também em copenhagen, para definir o acordo que substituirá o Protocolo de Kyoto a partir de 2012. durante

o evento, a cni apresentou documento que está em processo de consulta junto a empresários, federações e

associações. o estudo destaca que, no brasil, as atividades industriais são responsáveis por apenas 8,8% das emissões de gases que produzem

o efeito estufa. isso se deve em grande parte à matriz energética brasileira, cujas fontes renováveis representam 45% do total, bem acima da média mundial, que é de 14%. É mais do que o dobro dos 20%

estabelecidos pela União europeia como meta a ser atingida pela indústria dos países que a integram até 2020.

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40 anos do Ielo iel completou, no dia 29 de janeiro, 40 anos de experiência na oferta de produtos e serviços de qualidade para atender às demandas da

indústria. criado em 1969, no início do chamado “Milagre econômico” do País, os principais objetivos da instituição hoje são promover a interação entre a indústria e os centros de conhecimento, estimular a inovação no setor produtivo, preparar os dirigentes das empresas e capacitá-los para identificar riscos e oportunidades de um mercado constantemente inundado por novos desafios. conheça mais na página eletrônica do iel (www.iel.org.br).

mérIto amBIentalestão abertas até 9 de março as inscrições para a 15ª edição do Prêmio Fiesp de Mérito ambiental. Podem participar indústrias extrativas, manufatureiras ou agroindustriais de qualquer porte. empresas que já participaram do prêmio podem se inscrever, desde que com novos projetos. cada inscrito pode apresentar duas iniciativas de sucesso, mas não serão aceitos trabalhos sobre o uso racional de águas e efluentes, tema que tem um certame específico: o Prêmio Fiesp de conservação e reuso de Água. os premiados também receberão o selo do Mérito ambiental Fiesp. os quatro finalistas de cada categoria levarão menções honrosas.

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turIsmo de negóCIos em Belo horIzonte

Uma parceria do iel de Minas gerais com as secretarias de desenvolvimento econômico e de turismo do estado e com o banco interamericano de desenvolvimento (bid) irá promover o turismo de negócios na capital mineira. com o Programa de turismo de negócios na região de belo Horizonte, a ideia é criar uma rede capaz de interligar os vários setores da atividade turística, como restaurantes, hotéis e locadoras de veículos, com foco em eventos do setor corporativo. a iniciativa vai articular a realização de eventos que envolvam os principais setores da economia mineira, como mineração e siderurgia. “Pretendemos com isso gerar mais eventos para os setores e, consequentemente, trazer mais negócios para as redes hoteleiras e de restaurantes da região”, diz o coordenador de Projetos do iel/Mg, thadeu neves.

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HitendrA PAtel

o brasil precisa atrair talentosSegundo o especialista em inovação, há pessoas criativas e preparadas em todo o mundo que adorariam morar aqui. Elas só precisam descobrir isso

Por Paulo sIlva PInto

se fosse possível medIr o quocIente de IntelIgêncIa (qI) das cIdades, o de cambridge, estados Unidos, estaria entre os mais altos. na região metropolitana de boston, o pequeno município é endereço do instituto de tecnologia de Massachusetts (Mit na sigla em inglês) e da Univer-sidade Harvard. É também um cluster de organizações que pesquisam e discutem os desafios da inovação, como o iXl center, dirigido pelo engenheiro Hitendra Patel. nascido na África do sul, de uma família de origem indiana, ele é o exemplo de um novo tipo de migrante: pessoas com muito talento e preparo, que estão dispostas a se mudar para outra cidade, ou mesmo para outro país, em busca de oportunidades.

Há uma grande concentração de talentos de diversas nacionalidades em cambridge. Muitas dessas pessoas poderiam estar no brasil, se o País fizesse o mundo conhecer suas qualidades, afirma Patel. o brasil é um de seus destinos preferidos, pelo clima e pelas pessoas, que considera curio-sas, esforçadas e receptivas. ele alerta, porém, para o fato de que o mundo não sabe disso, e ainda associa o País apenas a natureza e exotismo. Mas não basta investir só em propaganda. os brasileiros precisam melhorar suas instituições e tornar as empresas – e as pessoas – mais globalizadas. em uma conversa por telefone de 45 minutos com indústria Brasileira, ele explicou como isso deve ser feito e por quê.

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12 indústr i a br asileir a M a rço 2009

HitendrA PAtel

indústria Brasileira – Quais são as tendências da inovação hoje?Hitendra Patel – a inovação hoje está basi-camente ligada aos negócios. isso significa que precisa criar valor para a empresa, seja a inova-ção de produto ou a de processo. Para atingir esse objetivo, é preciso dar ao consumidor o que ele procura: conforto, segurança e simplicidade. os casos de inovação de maior sucesso atualmente são os que, além de atender a essas necessidades, dão respostas a questões que as pessoas consideram im-portantes, como sustentabilidade, para garantir o futuro do planeta, e disponibilidade, ou seja, estar acessível o tempo todo. também têm mui-to sucesso as empresas que apostam na base da pirâmide social, nas pessoas que passam a ter acesso ao mercado de consumo.

iB – Poderia citar casos de inovação com essas cara cterísticas?HP – claro. Vou citar um exemplo de inovação que atinge a base da pirâmide. o empresário rattan tata, da Índia, observou que famílias inteiras no país se deslocam em triciclos moto-rizados, o que é bastante inseguro. seria muito

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melhor se as pessoas pudessem ser transportadas em pequenos carros. e assim surgiu o nano, o carro mais barato do mundo [que deverá ser lan-çado neste mês e aparece na foto ao lado]. Mas a ideia não basta. com o modelo tradicional de manufatura, não seria possível criar um carro tão barato. Foi preciso mudar o modelo para tornar a ideia possível. a inovação é isso: não apenas ter a ideia, mas transformá-la em algo que realmente ajude as pessoas.

iB – Pode dar um exemplo de novo produto com características de sustentabilidade?HP – a british Petroleum (bP) está trabalhando intensamente na área de painéis solares. são apa-relhos muito caros, que não fazem sentido nos estados Unidos, por exemplo, onde a energia ain-da é relativamente barata. Mas podem ser muito úteis para quem não tem nenhum acesso a ener-gia. É o caso de alguns povoados das Filipinas, onde os painéis solares garantem ao menos uma lâmpada acesa à noite durante duas horas para cada família. o governo é quem paga pelo servi-ço, por meio de grandes projetos que têm por ob-

jetivo garantir que pessoas das classes d e e cheguem ao século 21. isso tomou proporções tão grandes que, graças aos ganhos de escala, o custo dos painéis solares está diminuindo. a ge [general electric] tem

um projeto semelhante na líbia, que envolve, além de energia elétrica, dessalinização de água para consumo humano. isso é muito caro, mas o custo é relativizado quando se leva em conta que as pessoas não têm acesso a água, e o governo tem interesse em ajudá-las. levar água às pessoas pode evitar que entrem em guerra.

iB – Isso significa que grande parte da inovação está nos serviços, mesmo quando há manufatura?HP – sim, sem dúvida. Um exemplo da área de serviços propriamente dita é a locadora de car-ros enterprise, que cresceu muito nos estados Unidos recentemente, apesar de competir com

Para criar o carro mais barato do mundo, a Tata teve de inovar no modelo de produção

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EntrE vista

empresas que já estão há muito tempo no mer-cado, como a Hertz e a avis. os executivos da enterprise perceberam que muitos dos clientes não estavam preocupados com o preço do servi-ço, porque quem paga a despesa são as empresas para as quais trabalham. Mas os custos para es-sas locadoras de veículos também são muito al-tos, porque têm de conseguir espaços em lugares privilegiados nos aeroportos, bem em frente ao desembarque dos passageiros. a enterprise per-cebeu que poderia explorar um novo segmento do mercado, sem se instalar nos aeroportos. a ideia foi levar os veículos diretamente a quem precisa alugar. É o caso de quem tem de deixar o carro em uma oficina, para consertar. a partir disso, a enterprise conseguiu até mesmo fazer acordos com as seguradoras de veículos. Hoje, o serviço chega ao consumidor sem nenhum custo extra, porque é bancado pelas seguradoras.

iB – Os brasileiros são inovadores?HP – acho que o brasil como país tem sido bas-tante inovador. Quem olhar para o número de patentes registradas por brasileiros não chegará a essa avaliação, mas eu acho que essa é uma métrica errada.

iB – Por quê?HP – Veja um país como a china. eles têm poucas patentes, mas são muito inovadores.

iB – São inovadores? Os produtos que fazem já foram desenvolvidos antes nos Estados Unidos, na Europa ou no Japão, não foram?HP – sim, mas na china esses produtos estão sendo feitos pela primeira vez. Fazer algo pela pri-meira vez em seu ambiente, conseguindo ganhar dinheiro com isso, é inovar. e não se trata apenas do produto, mas também da forma de chegar ao consumidor. a natura, no brasil, é uma empre-sa extremamente inovadora em seu modelo de negócios. a braskem é extremamente inovadora no desenvolvimento de polímeros verdes, produ-zidos a partir de etanol. a embraer é também muito inovadora, ao desenvolver os aviões mais confortáveis e confiáveis de suas categorias. die

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iB – São exemplos de empresas que estão entre as melhores do País. Mas pode-se dizer que a cultura inovadora esteja espalhada na economia brasileira?HP – Há várias questões a serem consideradas nesse aspecto. os brasileiros têm uma grande abertura para parcerias internacionais, diferen-temente de outros países, em que as pessoas tendem a ser mais medrosas e tímidas. Muitas empresas brasileiras conseguem estabelecer par-cerias internacionais, o que resulta em atalhos para ganhos de tecnologia. Para uma empresa da coreia do sul ou mesmo da china, é mui-to mais difícil conseguir isso. os brasileiros são muito mais abertos e amigáveis. têm também muita vontade de aprender. consomem toda a informação que lhes é apresentada.

iB – E o que segura o desenvolvimento do Brasil?HP – Há várias coisas. Uma delas é que o país é tão grande que as empresas não pensam em se tornar globais, estão sempre olhando para den-tro, para o mercado interno. além disso, o por-tuguês não é uma língua conhecida no mundo, e muitos brasileiros se sentem desconfortáveis com línguas estrangeiras, mesmo com o inglês. isso é um grande desafio a ser superado. outro problema é um certo acanhamento das empre-sas e do mercado de trabalho no brasil. até re-centemente, eram poucas as empresas realmente grandes no País. isso significa que os profissio-nais tinham, e ainda têm, medo de perder o em-prego e não conseguir outro tão bom. esse tipo de temor torna as pessoas menos ousadas, por-tanto menos inovadoras. nos estados Unidos é completamente diferente. são tantas as empre-sas no mercado que a pessoa não tem medo de errar, de assumir riscos. se perder o emprego em uma empresa, conseguirá em outra.

Os brasileiros são muito mais abertos a parcerias do que chineses, indianos e coreanos

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iB – O que é possível fazer para mudar essa cul-tura de temor e falta de ousadia?HP – em primeiro lugar, a liderança é muito importante. o líder tem de convencer as pes-soas que trabalham na empresa de que é im-portante crescer a cada ano, de que quem não inova morre. isso é a perspectiva do comando da empresa. do ponto de vista de quem está na parte inferior da hierarquia, o importante é a pessoa garantir que está desempenhando mui-to bem suas tarefas, o trabalho para o qual foi contratada. Quem é eficiente tem maior liber-dade para arriscar e inovar. afinal, mesmo que cometa um erro, provavelmente não perderá o emprego. Finalmente há os gerentes, que são muito importantes – e podem ser muito peri-gosos se não trabalharem direito. são eles os responsáveis pelo fluxo de informações, de bai-xo para cima e de cima para baixo.

iB – Como os líderes podem convencer as pessoas que trabalham na empresa quanto à importância da inovação?HP – a mensagem da empresa quanto à im-portância da inovação deve ser transmitida, re-petida, reforçada, como nas histórias orais. Por milhares de anos, nós nos sentamos ao redor do fogo para contar e ouvir histórias. além disso, precisam garantir o fluxo de informações. boas ideias às vezes ficam estancadas em algum de-grau da hierarquia. a ge, por exemplo, pode-ria ter dado ouvidos a um de seus funcionários que criou um aparelho na década de 1930. Mas não fez isso, e assim ele saiu da empresa e criou com um colega a Hewllet-Packard, em uma ga-ragem [david Packard criou a empresa com o amigo e colega de faculdade bill Hewlett em 1939, depois de ter criado o oscilador de áudio;

a oficina onde os dois trabalharam é mantida até hoje pela empresa, conforme a foto na pá-gina ao lado]. essa é uma história que deve ser contada nas empresas para incentivar a inova-ção: de duas pessoas que começaram uma em-presa em uma garagem e criaram um negócio de Us$ 4 bilhões.

iB – O Brasil tem mais problemas gerenciais do que outros países com o mesmo nível de desenvolvimento?HP – eu não diria que os brasileiros têm mais problemas e sim que o ambiente de poucas opor-tunidades de emprego faz com que os gerentes tendam a ser mais reativos, a ficar na defensiva. Há um outro ponto em que eu acho que o bra-sil tem uma vantagem e uma desvantagem. o País é feito de descendentes de alemães, italia-nos, africanos, portugueses etc. e essas culturas são ainda muitos fortes no brasil. nos estados Unidos, tudo se transforma na américa. isso significa facilidade e muitas oportunidades para os brasileiros estabelecerem relações com pessoas de outros países. a parte negativa é que o País se sente suficientemente satisfeito com essa formação multicultural e não se preocupa em atrair novos imigrantes. algumas das pes-soas mais inovadoras nos estados Unidos hoje são as que vêm da china, da Índia e da coreia do sul. ao mesmo tempo, há norte-americanos talentosos que vão para esses países. os esta-dos Unidos têm grande preocupação em atrair talento, mas depois dos atentados de 11 de se-tembro de 2001 as leis passaram a se tornar um obstáculo a isso. o resultado é que muitas pes-soas bem preparadas se mudaram para o cana-dá e a austrália, por exemplo. o brasil poderia atrair essas pessoas. não que não haja pessoas talentosas no brasil. Mas é sempre necessário atrair mais.

iB – Mas os talentos da Índia, China e Coreia do Sul estariam interessados em migrar para o Brasil?HP – eu acho que essas pessoas, em sua maio-ria, nem sequer conhecem as oportunidades que existem no brasil. Quando pensam no País, o que vem à cabeça é carnaval, natureza,

O sistema tributário do Brasil é incompreensível

para os estrangeiros. Isso atrapalha o País d

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EntrE vista

papagaios. Mas o brasil não é isso, é uma das maiores economias do mundo. É preciso incluir na lista de obstáculos à globalização o fato de os brasileiros falarem português no brasil.

iB – O que os brasileiros devem fazer? Apren-der inglês e fazer propaganda no exterior sobre as oportunidades que existem no País?HP – sim. eu sou convidado a dar palestras em vários lugares do mundo, Índia, china etc. e um dos lugares para o qual eu mais gosto de via-jar é o brasil. gosto das pessoas, do sol. apesar dessas grandes qualidades, os norte-americanos acabam indo para a china ou a Índia, que são países muito difíceis para um estrangeiro viver e trabalhar. os norte-americanos e os brasileiros são muito parecidos com os europeus, portanto têm muito em comum. a Índia e a china são culturas completamente diferentes. além disso, há a pobreza. o brasil também tem esse proble-ma, mas na Índia é muito maior. os pobres são 90% da população, que é de mais de um bilhão de pessoas. Há miséria por toda parte, na porta dos hotéis, em frente ao taj Mahal, nas ruas. isso é muito chocante.

iB – A principal ação do Brasil deve ser melhorar sua imagem no exterior?HP – não, é necessário também melhorar o ambiente de negócios. Para um estrangeiro, o sistema tributário do brasil é incompreensí-vel. Um amigo meu, que conheço desde a fa-culdade, abriu uma empresa no brasil e ficou abismado com a quanti-dade de detalhes na área tributária. ele está sempre inseguro quanto à possi-bilidade de estar quebran-do alguma regra enquanto toca a empresa. em cin-gapura, por exemplo, o imposto é de 15%, seja para as empresas ou para as pessoas. É muito simples, o que torna o país atraente para estrangeiros. outra questão são as regras trabalhistas no brasil. nos esta-dos Unidos, é possível contratar uma pessoa

ou demiti-la a qualquer momento. no brasil, para demitir alguém os custos são altos. acho que em determinado momento isso foi impor-tante, mas hoje está impedindo o crescimento das empresas e a inovação. se uma empresa co-meça a enfrentar problemas, pode ter de demi-tir alguns funcionários, mesmo que eles sejam muito bons. o que acontece no brasil é que não se consegue demitir por falta de dinheiro. então a empresa passa a acumular problemas cada vez maiores.

iB – O senhor pensaria em morar no Brasil?HP – eu não me sinto muito confortável com a ideia de abrir um negócio no brasil. como es-trangeiro, não consigo sequer abrir uma conta bancária. Para abrir uma empresa, a burocra-

cia é muito grande, e para fechar também. Quando se abre o negócio em um país estrangeiro, é preciso ter a certeza de poder tirar os recursos de lá quando quiser. outra preocupa-ção para quem pretende

trazer a família é com a educação. o brasil certamente tem escolas muito boas, como o ita [instituto de tecnologia da aeronáutica], mas eu tenho dúvidas sobre a qualidade geral da educação.

A GE não deu espaço para a inovação de

David Packard. Ele criou a HP em uma garagem

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CAPA

o combustível da economiaCom previsão de maiores investimentos apesar da crise, o petróleo será ainda mais importante para o crescimento brasileiro do que nos últimos anos

Por gIlse guedes, do rIo de JaneIro e vItórIa

na exploração de petróleo e gás, muItos anos – às vezes décadas – separam o início da pros-pecção da fase em que começa a produção propria-mente dita. a longa maturação do investimento tende a ser vista com impaciência por quem observa o setor de fora. Mas em momentos de crise de de-manda global, como este, a espera é conveniente. considerando-se um setor que representa algo en-tre 8% e 10% do Produto interno bruto (Pib), a garantia de investimentos por longo período é um alívio para a economia.

no caso brasileiro, em particular, as pers-pectivas de exploração do petróleo na camada do pré-sal significam que os investimentos serão ainda maiores do que nos últimos anos, em que já não se investiu pouco. o Plano de negócios 2009/2013 da Petrobras, anunciado no mês pas-sado, prevê investimentos de Us$ 174,4 bilhões. são Us$ 62 bilhões a mais, o equivalente a 57%, do que o valor previsto no quadriênio 2008/2012, de Us$ 112,4 bilhões. ex-gerente de exploração da Petrobras e pesquisador do instituto alberto luiz coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de engenharia (coppe) da Universidade Federal do rio de Janeiro (UFrJ), giuseppe bacoccoli afir-ma que o Plano de negócios 2009/2013 da em-presa sinaliza o incremento de investimentos em todo o setor de petróleo no País. em entrevista a indústria Brasileira (veja box na próxima pági-na), o presidente da Petrobras, sergio gabrielli, afirma que será gerado cerca de um milhão de

empregos diretos e indiretos, e que serão adicio-nados à economia r$ 309 bilhões.

segundo bacoccoli, toda a cadeia da indústria de petróleo e equipamentos será beneficiada pelos inves-timentos da Petrobras. “a crise atrapalha pouco o se-tor, que é uma das âncoras da economia. Uma única plataforma custa cerca de Us$ 1,5 bilhão, e envolve muitos fornecedores de bens e serviços”, diz. somente em 2009, a Petrobras pode contratar seis novas plata-formas de produção e fazer o pacote de licitações de mais oito unidades da área do pré-sal, com previsão de início das operações entre 2013 e 2017.

Para bacoccoli, o Plano de negócios da Petro-bras é viável, embora ele compartilhe da avaliação de analistas de mercado de petróleo de que o gar-galo será a fonte de financiamentos para a concre-tização dos investimentos. “tomando como base os Us$ 174,4 bilhões do novo plano, temos a ne-cessidade de investimentos diários, em média, de Us$ 100 milhões.”

ex-diretor-geral da agência nacional do Petró-leo, gás natural e biocombustíveis (anP), david Zylbersztajn afirma que a Petrobras precisa conti-nuar investindo pesadamente e posicionar-se bem no futuro. “Uma empresa de petróleo não pode ficar se pautando pelo momento. embora se veri-fiquem variações de uma companhia para outra, as empresas precisam ter condições de investimento para quando a economia se recuperar.”

a Petrobras reconhece que haverá desafios para financiar os investimentos necessários para

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os quatros anos do plano. Mas garante que, para 2009, a companhia já tem garantidos os recursos, com financiamento de Us$ 11,8 bilhões do ban-co nacional de desenvolvimento econômico e social ( bndes) e Us$ 5 bilhões de bancos inter-

nacionais. Para 2010, a Petrobras planeja conseguir Us$ 18 bilhões no merca do financeiro.

bacoccoli estima que grande parte do dinhei-ro para investimentos previstos pela Petrobras deverá vir do caixa da empresa, graças à venda de

Balança voltará a ter superávitainda vai demorar para extrair petróleo em grande es-cala na área do pré-sal. Mas vários outros investimentos da Petrobras vão maturar neste ano, afirma em entre-vista por escrito a indústria Brasileira o presidente da empresa, sergio gabrielli. o volume de produção crescerá 15% em relação a 2008. também aumentará a capacidade de refino do óleo pesado nacional. graças a esses dois ganhos, a receita da Petrobras com exporta-ções voltará a ser maior do que com as importações.

Indústria Brasileira – Como a crise afeta os investimentos na exploração de petróleo?Sergio Gabrielli – O cenário de crise alterou as condições no curto prazo. Temos que buscar novas fontes de financiamento. Mesmo assim, o novo Plano de Negócios, para o período 2009/2013, foi aprovado com aumento de 57% nos investimentos previstos no período 2008/2012.

IB – Que influência terá o setor de petróleo na economia brasileira nos próximos anos? SG – Do total de US$ 174,4 bilhões de investimentos previstos no Plano de Negócios 2009/2013, US$ 157,3 bilhões serão aplicados no País. E 65% disso terá conteúdo nacional. Será gerado cerca de um milhão de postos de trabalho, considerando empregos diretos e indiretos. Adicionaremos à economia do País nos próximos cinco anos R$ 309 bilhões.

IB – O pré-sal se sustenta com a queda no preço do petróleo? SG – A produção do pré-sal é perfeitamente viável se for mantida a atual faixa de preços, entre US$ 40 e US$ 45 por barril. O Plano de Negócios 2009/2013 teve como premissa um valor de US$ 37 para 2009 e US$ 40 para 2010. Os nossos objetivos com a redução de custo do pré-sal pressupõem a aquisição de

conhecimento com os testes de longa duração para viabilizar, entre outras coisas, a redução do número de poços a perfurar, aumentando ainda mais a economicidade do projeto.

IB – Há desafios tecnológicos e ambientais para garantir a exploração da área do pré-sal? SG – O pré-sal tem sido um grande aprendizado. Dispomos de tecnologias para as profundidades de reservatório e de água, mas um dos grandes desafios é a distância do litoral, principalmente no caso das descobertas na Bacia de Santos que estão a cerca de 300 km da costa, o que torna difícil o acesso por helicóptero. Iniciamos a produção no pré-sal do Espírito Santo, no campo de Jubarte, que já está fornecendo informações importantes. Vamos instalar neste primeiro semestre uma unidade flutuante em Tupi, na Bacia de Santos, para testes. No próximo ano, teremos ali um projeto-piloto para extração de 100 mil barris de petróleo por dia [bpd, o que é também usado no caso do gás, por equivalência]. As informações obtidas nesses dois projetos serão fundamentais para balizar os sistemas de produção nas áreas do pré-sal.

IB – Quais as perspectivas de crescimento da produção da Petrobras nos próximos anos? SG – Em 2008 nossa produção total de petróleo e gás no Brasil e no exterior foi de 2,4 milhões bpd.

Estamos prevendo para 2009 um volume total de 2,76 milhões bpd. Nos anos seguintes nossa previsão é de crescimento anual de 8,8%, atingindo 3,66 milhões bpd em 2013 e 5,73 milhões bpd em 2020, incluindo a produção do pré-sal.

IB – A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estima que o pré-sal tenha de 50 bilhões a 80 bilhões de barris de petróleo e gás natural. A Petrobras trabalha com esses números? SG – Até o momento apenas as áreas de Tupi e Iara, ambas na Bacia de Santos, e a área do Parque das Baleias, na Bacia de Campos, em frente ao litoral do Espírito Santo, tiveram avaliação que permite estimar volumes recuperáveis. Nessas três áreas juntas o volume mínimo previsto é de 9,5 bilhões de barris de petróleo e gás, podendo chegar a 14 bilhões de barris, o que corresponde às reservas atuais da Petrobras no Brasil.

IB – Atualmente, o País exporta mais do que importa em volume de petróleo, mas a balança financeira ainda é negativa, porque exportamos produtos mais baratos do que o que importamos. Isso poderá mudar?SG – A afirmação não é totalmente correta. Tivemos superávits financeiros em 2005 (US$ 352 milhões), em 2006 (US$ 423 milhões) e em 2007 (US$ 73 milhões). Em 2008 batemos

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derivados do petróleo. segundo ele, utilizando-se de seus recursos para viabilizar seu plano, não será possível cumprir a prometida redução subs-tancial do preço do combustível para os consu-midores. “se houver redução, será algo pequeno,

porque a Petrobras precisará de dinheiro para cumprir o plano.”

a área de exploração e produção vai puxar a maior parte dos investimentos que deverão rever-berar em outras pontas da cadeia, incluindo as in-dústrias de bens de capital, naval e de vários outros equipamentos. no Plano de negócios 2009/2013, a maior parte dos investimentos destina-se à área de exploração e Produção (e&P), que vai deter a fatia de Us$ 104,6 bilhões, dos quais Us$ 92 bilhões no brasil. desse montante, 49% são para desenvolvi-mento de produção, segundo o diretor de e&P da companhia, guilherme estrella. em 2013, a meta de produção é de 2,68 milhões de barris de petró-leo por dia (bpd) no desenvolvimento de campos jovens e na manutenção de campos antigos, sendo que a participação da produção das áreas de pré-sal ainda será pequena. Prevê-se que na área de gás atinja-se 70 milhões de metros cúbicos em 2011.

no pré-sal (na bacia de santos e o Parque das baleias, na bacia de campos) em que o petróleo foi encontrado em profundidade nunca explorada an-tes, o custo de produção deverá ser muito alto. Há controvérsia quanto ao valor do barril de petróleo que viabiliza a exploração das reservas. o governo brasileiro estima em Us$ 30 o preço mínimo do barril para que a exploração seja viável, mas a bri-tish Petroleum, uma das maiores empresas do mun-do no setor, divulgou no mês passado um estudo em que determina patamar mínimo de Us$ 60. a cotação do barril atingiu Us$ 36 em fevereiro.

a Petrobras espera produzir entre 120 e 130 mil bpd no pré-sal em 2013. os investimentos previstos são de Us$ 29 bilhões em toda a área, dos quais Us$ 19 bilhões na bacia de santos. as primeiras plataformas entrarão em operação até 2010, in-cluindo o sistema piloto de tupi, na bacia de san-tos, cuja capacidade de produção é de 100 mil bpd, e a unidade no Parque das baleias, que engloba os campos de cachalote, baleia Franca e baleia anã, no litoral do espírito santo.

a repsol YPF também pretende manter seus in-vestimentos no brasil e garante que o País é um dos focos estratégicos de suas atividades. a empresa faz parte da lista de 72 concessionárias na exploração de petróleo ao lado da Petrobras, segundo infor-

nosso recorde de exportação de petróleo e derivados com 673 mil bpd, resultando em um saldo positivo de 103 mil bpd. O saldo financeiro negativo de 2008 foi fortemente influenciado pela diferença entre os preços internacionais do petróleo pesado exportado e do produto leve importado. Também pesaram na balança a diferença entre os preços dos derivados importados (diesel, nafta e GLP), de maior valor agregado, e os exportados, principalmente gasolina e óleos combustíveis. Com o aumento da produção de petróleo e do volume de processamento de petróleo pesado nas nossas refinarias, que estão em processo de modernização, além da maior produção de diesel, a expectativa é de superávit volumétrico e financeiro em 2009.

IB – Há frustração quanto ao avanço na produção brasileira de biodiesel. Quando o setor deslanchará? SG – O programa está avançando de acordo com nossas previsões. Criamos uma subsidiária para o setor. Nossas três usinas estão produzindo e vão atingir plena carga ainda no primeiro semestre. Estamos prevendo investir US$ 2,8 bilhões no segmento até 2013 e temos projetos previstos para Portugal, América do Sul e África. Um desafio é a consolidação do fornecimento de oleaginosas para nossas usinas por agricultores familiares, gerando emprego e renda no campo de forma sustentável social e economicamente.

IB – Como está a expansão internacional da Petrobras?SG – Continuamos com foco na América do Sul, Golfo do México e sudoeste da África, que vão receber 75% dos investimentos de US$ 15,9 bilhões previstos no Plano de Negócios 2009/2013 para a área internacional. Com isso esperamos passar dos atuais 224 mil bpd de petróleo e gás para 341 mil bpd em 2013 e 632 mil bpd em 2020.

IB – A tecnologia de águas profundas da Petrobras é a mais avançada do mundo?SG – A Petrobras detém 23% da operação mundial em águas profundas. O reconhecimento de nossa capacitação nessa área se verifica em diversos prêmios internacionais e parcerias com as maiores empresas do setor para exploração em águas profundas e ultraprofundas no Brasil e no exterior. Na maioria dessas associações atuamos como operadora, exatamente pelo reconhecimento de nossa capacidade tecnológica.

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mações da anP. a repsol tem assinado contratos para exploração de 11 blocos nas bacias de santos, campos e espírito santo e deve desenvolver suas atividades conforme seu cronograma de atividades.

na área de movimentação de cargas e de trans-portes especiais que dão suporte aos negócios do setor de petróleo, o incremento nas atividades é per-ceptível. entre as 30 maiores empresas mundiais em movimentação de cargas por meio de guindastes, a locar criou a divisão Marítima, iniciando no fim do ano passado as operações com vistas ao aumento de pedidos da Petrobras e outras empresas por equi-pamentos para exploração de petróleo offshore (no mar). a locar anunciou investimentos de r$ 70 a r$ 100 milhões nos próximos três anos para impul-sionar suas atividades nessa área. no ano passado, a empresa teve receita operacional bruta de r$ 346 milhões, 90% a mais do que os r$ 182 milhões de 2007. Para o presidente da empresa, Júlio eduardo simões, esse desempenho deve-se à demanda dos se-tores marítimo, petróleo, petroquímico, papel e ce-lulose, mineração e cimento, responsáveis por 70% do faturamento. simões espera continuar a crescer neste ano atingindo receita superior a r$ 450 mi-lhões, graças às potencialidades do mercado.

a locar deve chegar a dezembro com sete em-barcações. o novo ramo de atuação da empresa vai possibilitar um maior crescimento da companhia e deve representar 15% da receita no intervalo de três anos. atualmente, a locação de equipamentos para

infraestrutura, petróleo e gás detém a fatia de 80% do resultado da companhia. Para simões, o com-plexo Petroquímico do rio de Janeiro (comperj) e a exploração do pré-sal vão demandar mais servi-ços. com 21 anos de existência, a locar conta com 1.500 funcionários na matriz, em guarulhos (sP), e nas bases de contagem (Mg), camaçari (ba), Pojuca (ba) e serra (es), além das capitais rio de Janeiro e são luís.

outra ponta da cadeia que pode obter benefícios com os investimentos das companhias petrolíferas é o setor químico. segundo o vice-presidente-execu-tivo da associação brasileira da indústria Química (abiquim), nelson reis, o comperj da Petrobras pode levar a indústria química para um novo pa-tamar. com investimentos de cerca de Us$ 8,4 bilhões, poderá alcançar a capacidade de processa-mento de 150 mil bdp de óleo pesado nacional, com previsão de produção de petroquímicos básicos de 1ª geração, como eteno e propeno, de 2ª geração, entre eles estireno, e de 3ª geração, neste caso, bens de consumo, como copos, materiais cirúrgicos e eletrodomésticos (linha branca).

dentro do modelo de criação do comperj, a Petrobras anunciou a formação de seis empresas. de acordo com reis, várias empresas da indústria química manifestaram interesse em integrar parce-rias. “É um projeto de longo prazo. o desafio será analisar o cenário econômico e avaliar a competiti-vidade em relação ao preço das matérias-primas e dos produtos.”

o presidente do conselho temático de infraes-trutura da cni, José de Freitas Mascarenhas, afir-ma que o Plano de negócios 2009/2013 da Petro-bras aponta para a direção de crescimento do setor de petróleo no País. “a Petrobras tem sido uma âncora importante para o crescimento da eco-nomia e tem tido credibilidade. a descoberta do pré-sal abre uma imensa perspectiva para o País, embora muitos projetos sejam de longo prazo”, diz Mascarenhas. ele espera, no entanto, que a Pe-trobras explique melhor um dos pontos do plano que prevê redução na demanda de nafta, produto importante para a indústria. além disso, defende que a anP seja a responsável pela precificação do gás natural.

PETROQUÍMICA: investimentos

permitirão processar óleo

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Indústria Brasileira – Como a crise global afeta o Espírito Santo? Paulo Hartung – Nós estamos recebendo notícias ruins, mas também há notícias boas em plena crise. Tivemos, por exemplo, o anúncio da paralisação de um alto-forno da ArcelorMittal Tubarão. A empresa tem 30 anos de vida, nunca parou um alto-forno. Mas também há investimentos novos no Espírito Santo, como o Terminal de gás de cozinha. Houve ainda o anúncio da construção de um estaleiro do grupo Jurong na região de Aracruz. Além disso, a Petrobras pediu uma área no sul do estado para ampliação de uma unidade de tratamento de gás. Originalmente, produziria dois milhões de metros cúbicos de gás e agora a previsão é elevar para algo em torno de 14 milhões de metros cúbicos. Nós caminhamos para ter um fornecimento de gás superior ao da Bolívia nos próximos anos. Deveremos despachar algo próximo a 20 milhões de metros cúbicos no final de 2009. Não é só isso: a empresa norte-americana Anadarko fez a descoberta no sul do Espírito Santo, na região de pré-sal, uma região que fica localizada entre o Parque das Baleias, onde está a Jubarte, que já está produzindo, e Roncador.

IB – Quais são as expectativas do governo do Espírito Santo em relação ao pré-sal? PH – A descoberta é importante para o Brasil e para o Espírito Santo porque a área está próxima ao litoral, diferentemente dos campos de Tupi, de Júpiter, de Iara. Isso facilita a logística. E a profundidade é menor: se na região de Tupi são 7.000 metros, aqui são 4.700 metros, 4.800. O custo de produção aqui é inferior. Assim, há viabilidade de produção, mesmo com o barril de petróleo valendo pouco. A Petrobras anunciou o deslocamento de duas plataformas para tentar iniciar a produção o mais rapidamente possível. Essas boas notícias amortecem os efeitos desta crise.

IB – Alguns especialistas avaliam que o projeto do pré-sal vai demorar mais tempo do que o previsto inicialmente para chegar à etapa de produção por causa da crise econômica. O senhor compartilha dessa opinião? PH – Eu acho que no caso do Espírito Santo vai ser antecipado, não atrasado, com base nas informações que recebo da Petrobras.

mais gás do que a Bolíviacomo vários outros governadores, o capixaba Paulo Hartung vem convivendo com o clima de tensão pelos efeitos da crise global. Mas é otimista. em entrevista a indústria Brasileira, realizada no final do ano passado, afirmou que confia no aumento da produção de petróleo e gás do estado. nos próximo anos, prevê, a produção de gás ultrapassará o que é fornecido pela bolívia ao brasil.

diante das perspectivas favoráveis, todas as frentes da cadeia industrial têm demandado mão de obra cada vez mais qualificada. segundo o di-retor-superintendente da organização nacional da indústria do Petróleo (onip), eloi Fernández y Fernández, as empresas têm buscado qualificação de pessoal com a mesma ênfase em que investem no parque industrial e no aperfeiçoamento tecno-lógico. “a indústria brasileira desse setor é com-petitiva em comparação com o mercado interna-cional. o fornecedor brasileiro tem demonstrado competitividade. ele está preparado, se mantém atualizado, tem realizado investimentos. e isso de uma maneira geral, em todos os elos da cadeia.”

o senai é um dos atores fundamentais nes-se processo, atuando no Programa nacional de

Qualificação Profissional (PnQP) do Programa de Mobilização da indústria nacional de Petró-leo e gás natural (Prominp) para a formação de pessoal capacitado. a entidade é a maior execu-tora do PnQP, iniciado em abril de 2007.

de acordo com a gerente de clientes nacio-nais da Unidade de relacionamento com o Mercado do senai, anamaria Villar raposo, foram matriculados até hoje 19.818 alunos no PnQP, que contou com três ciclos. Para o quar-to ciclo, foram abertas 20 mil vagas, das quais 16 mil são para cursos que serão realizados no senai. “no momento da crise, o programa ga-nha ainda mais importância. enquanto outros setores estão se retraindo, esse setor está avan-çando”, afirma.

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tEndência s Econômica s indÚStriA

impacto inesperadoProdução industrial teve queda de 19,8% no quarto trimestre de 2008, a maior desde que a pesquisa começou a ser feita periodicamente, em 1991

Por marCelo de ávIla

o quarto trImestre de 2008 foI marcado por um recuo da atividade industrial que nunca havia sido registrado. o impacto da crise internacional na indústria brasileira ocorreu de forma dissemi-nada e surpreendente. a maior aversão para libe-rar o crédito, por parte dos bancos, e para con-sumir, por parte das famílias, norteou o brusco declínio da produção industrial. o recuo foi de 19,8% no quarto trimestre de 2008, considerada a variação na ponta, ou seja, entre os meses de se-tembro e dezembro, de acordo com os dados des-sazonalizados da Pesquisa industrial Mensal de Produção Física (PiM-PF), realizada pelo insti-tuto brasileiro de geografia e estatística (ibge). esse foi o maior recuo em um trimestre fechado desde o início da pesquisa, em janeiro de 1991. em termos de comparação, as maiores taxas ne-gativas registradas até então tinham sido as dos quartos trimestres dos anos de 1997 (-8,2%) e de 1991 (-9,5%).

os dados de dezembro de 2008 evidenciaram ainda mais o declínio do desempenho industrial no trimestre. o número de horas trabalhadas re-cuou 8%, na comparação com o mês anterior, de acordo com os dados livres de influências sazo-nais e de calendário, dos Indicadores Industriais da cni. ressalte-se que a redução das horas tra-balhadas ocorreu de forma espraiada nos diversos setores industriais. emblemático, o de veículos automotores liderou o movimento de retração das horas trabalhadas em dezembro. as férias co-letivas foram concedidas antes e de forma mais intensa do que o habitual.

somado à queda das horas trabalhadas, o emprego na indústria medido pela cni, que re-gistrou tendência de crescimento contínuo por quase três anos, passou a recuar em novembro

e dezembro, na comparação com o registrado nos meses anteriores, na série dessazonalizada. as fábricas operaram com 80,2% da capacidade instalada em dezembro, retornando aos níveis de início de 2006.

a sondagem industrial cni nos traz mais in-formações a respeito da situação com a qual a in-dústria brasileira se deparou no final de 2008. a falta de demanda passou a ser um dos principais problemas, de modo que mesmo com a redução da produção, as empresas acumularam estoques acima do planejado. em especial para as grandes, cujo nível de estoques indesejados foi recorde, com índice de 60,2 pontos (esse indicador varia de 0 a 100 pontos; valores acima de 50 pontos sig-nificam evolução positiva, enquanto indicadores abaixo de 50 pontos indicam retração).

a deterioração do nível de atividade e a re-dução da confiança dos empresários resultaram em expectativas ainda mais pessimistas para o primeiro semestre de 2009. em dezembro, em-presários de todos os portes e da grande maioria dos setores industriais esperavam, para os seis meses seguintes, queda na demanda por seus produtos, nas compras de matérias-primas, no número de empregados e em suas exportações. o maior pessimismo quanto ao futuro encontra-se nos setores de veículos automotores; máquinas e equipamentos; metalurgia básica e máquinas; e materiais elétricos.

a queda da atividade econômica foi tão in-tensa no final do ano passado que os dados refe-rentes à produção do primeiro trimestre de 2009 poderão surpreender positivamente. Mesmo que ainda seja registrada queda do Produto interno bruto (Pib) no primeiro trimestre de 2009 (em termos dessazonalizados, na comparação com o

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trimestre anterior), tal recuo poderá ser menor do que o esperado anteriormente.

alguns dados já corroboram o cenário de rela-tivo crescimento. a produção de veículos pratica-mente dobrou (92,7%) de dezembro para janeiro, segundo a associação nacional de Fabricantes de Veículos automotores (anfavea). as vendas de ve-ículos também cresceram em janeiro, mesmo que de forma muito inferior (1,5%) à produção. esse comportamento revela o processo de adequação de estoques desse setor, que estavam muito acima do desejado no final de 2008. dando continuidade a esse quadro, a Federação nacional da distribui-ção de Veículos automotores (Fenabrave) regis-trou crescimento de 8,4% no emplacamento, na primeira quinzena de fevereiro. nesse contexto, o emplacamento de veículos mais pesados, como caminhões e ônibus, cresceu, respectivamente, 21,3% e 79,1%. É prematuro, porém, acreditar em plena recuperação da indústria já no início de 2009. tanto o crescimento da produção quanto o das vendas se deram pela base muito fraca de com-paração: o mês de dezembro. além disso, a varia-ção positiva registrada nas vendas de veículos foi muito influenciada pela redução de iPi e pela polí-tica agressiva de descontos das concessionárias.

ao longo do quarto trimestre de 2008 os se-tores industriais de bens duráveis e semiduráveis, por serem mais sensíveis às oscilações do crédito, sentiram mais rapidamente os impactos da crise internacional. no início de 2009 os setores que produzem bens não-duráveis também serão afe-

tados, por serem mais sensíveis a oscilações de renda. a consolidação do cenário futuro, por-tanto, dependerá muito do mercado de trabalho, cujo cenário é de deterioração. as expectativas de que as demissões registradas em dezembro po-derão continuar ao longo do primeiro trimestre começam a se concretizar.

Perda de 102 mIl vagas

dados do cadastro geral de empregados e de-sempregados (caged), do Ministério do trabalho e emprego, referentes ao mercado formal, regis-traram em janeiro queda de 102 mil postos de trabalho em todo o brasil. esse resultado é con-siderado bastante negativo, já que em janeiro há um histórico de geração líquida de vagas. a que-da do emprego em janeiro ocorreu mesmo depois da perda de mais de 600 mil postos de trabalho em dezembro de 2008 – praticamente o dobro do registrado no mesmo mês do ano anterior. a taxa de desemprego metropolitana, medida pelo ibge, aumentou para 8,2% em janeiro (em de-zembro foi de 6,8%), voltando a superar os valo-res do mesmo mês do ano anterior.

o cenário de incerteza será a tônica do pri-meiro semestre deste ano. sinais mais claros de recuperação da indústria são esperados somente para o segundo semestre. Mas a recuperação da atividade industrial será lenta, fazendo com que dificilmente o setor alcance em 2009 metade da taxa de crescimento de 2008.

Produção industrialBase média de 2002 = 100 (dados dessazonalizados)

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FONTE: PIM-PF (IBGE)

Indicador de estoques de Produtos finais Grandes empresas, trimestre a trimestre

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IV-05 I-06 II III IV I-07 II III IV I-08 II III IV

Indicador de evoluçãoIndicador da relação Estoque Ef etivo-planejado

FONTE: SONDAGEM INDUSTRIAL CNI

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negóCioS

Comportamento do consumidor Adultos jovens e solteiros de renda elevada são responsáveis por mais de 45% das compras não planejadas

Entre as famílias chefiadas por indivíduos mais velhos, o percentual de compras espontâneas cai e fica entre 31% e 65%

Entre os consumidores que se informam pelos jornais ou pelos preços dos produtos, a compra espontânea é de menos de 25%

Pessoas que se consideram “rápidas e eficientes” são muito menos inclinadas a comprar por impulso – 82% a menos do que a média

Se o objetivo da visita ao supermercado se deve a “necessidades imediatas ou a itens que o consumidor se esqueceu de comprar”, a taxa de compras nas categorias não planejadas cai 53%

As compras espontâneas aumentam 23% se a ida ao supermercado não havia sido planejada, mas caem 13% se for a visita semanal de compras

Se a ida ao supermercado for acompanhada de paradas em várias lojas, há 9% menos de compras não planejadas na segunda e na terceira paradas

O volume de compras não planejadas chega a 44% se o consumidor vai ao supermercado de carro e não a pé

estabelecidos. na pesquisa Incidência de compras não planejadas: quem compra, como e por quê, bell e seus colegas defendem que o volume de compras não planejadas gira em torno de 20%.

a pesquisa não indica que o marketing feito no interior da loja é irrelevante, mas sim que os varejistas devem repensar suas es-tratégias. Ficou demonstrado que certas ca-racterísticas dos consumidores, como a faixa etária, por exemplo, exercem influência mais profunda sobre as compras não planejadas do que a loja propriamente dita, ou o seu

não tão irracional assimPesquisa derruba paradigmas antigos sobre as compras por

impulso, e mostra que as empresas precisam conhecer a personalidade de seus clientes

durante anos, varejIstas e fabricantes de bens de

consumo trabalharam com a ideia fixa de que apresentação

atraente, até com uma certa extrava-gância, tinha profunda influência sobre a maior parte das decisões de compras dos consumidores. o antropólogo norte-ameri-cano Paco Underhill refere-se aos supermer-cados como “locais de compras feitas por impulso” em seu livro Vamos às compras! A Ciência do Consumo (editora campus, 232 páginas, r$ 59,90), publicado em 1999.

Underhill afirma que “em torno de 60% a 70% das compras realizadas nesses locais não são planejadas, conforme demonstram os estudos feitos sobre a indústria de su-permercados”. desde então, o livro de Un-derhill e outros estudos posteriores levaram os varejistas a alocar recursos em volume cada vez maior para as promoções feitas no interior da loja. dois exemplos são a colo-cação de determinados produtos no final dos corredores e ao longo da fila dos caixas, para incentivar a compra por impulso.

a irracionalidade do consumidor não passa, porém, de mito segundo david bell, professor de marketing da wharton, escola de negócios da Universidade da Pensilvâ-nia, nos estados Unidos. a avaliação é com-partilhada por daniel corsten, professor de operações e de tecnologia da escola de negócios do instituto de empresa (ie), da espanha, e george Knox, professor de mar-keting da tilburg University, da Holanda. os três afirmam que está errada a ideia de que a maior parte das compras feitas nos supermercados não obedece a critérios pré-

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entorno. em outras palavras, diz bell, muito mais importantes do que o tipo de estímulos a que os clientes estão expostos, são os dados sobre quem são esses clientes. “É uma ques-tão de natureza versus cultura. o que será realmente importante, a faixa etária ou o es-tímulo oferecido no interior da loja? o pon-to de vista predominante favorece a cultura, mas nós defendemos que seja a natureza.”

marKetIng Interno ou eXterno?

o estudo submete o tema da compra por impulso a novos paradigmas de pesquisa, muito mais rigorosos do que foi usado até agora. baseia-se na análise detalhada do comportamento de clientes de supermerca-dos na Holanda, mas, segundo bell, as des-cobertas podem ser aplicadas ao comércio dos estados Unidos e de outros países com características semelhantes. inicialmente, os pesquisadores passaram em revista um

volume substancial da literatura acadêmi-ca respaldada pela associação de Marke-ting de supermercados e pelo instituto de Propaganda no Ponto-de-Venda (Popai na sigla em inglês), que reúne empresas de mar keting de varejo de todo o mundo. de acordo com os autores, essa literatura, que parecia corroborar o pressuposto de compra por impulso de Underhill, foi responsável pelo crescimento substancial do orçamento do marketing de interior de loja nos últi-mos anos. “o debate sobre a abrangência do volume de compras não planejadas e as motivações subjacentes a elas tem enorme significado prático”, observam. “dessa dis-cussão depende como o dinheiro destina-do ao marketing será gasto (na loja ou fora dela), e qual o volume de recursos.”

o que os pesquisadores constataram que faltava aos estudos anteriores eram “dados sólidos e adequados” de compras reais que revelassem a intenção do consumidor no

A CRENÇA na compra por

impulso levou à reconfiguração

das lojas, trazendo alguns produtos para a

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momento em que percorria a loja. estudos anteriores também não definiam claramen-te, e de modo satisfatório, para bell e seus colegas, o conceito de “compras não plane-jadas”. seria trocar o detergente de sempre por outro de marca diferente? seria talvez comprar um produto que não constava da lista de compras? e se, por acaso, o deter-gente fizer parte da lista, mas não houver marca ou tamanho especificados, a compra final teria sido planejada ou não?

o ponto de partida para o estudo de bell, que foi parcialmente financiado por uma grande empresa europeia de bens de consu-mo, consistiu na reavaliação, durante duas semanas, dos dados de 2.945 clientes de su-permercados, em julho de 2006. em 21 di-ferentes pontos-de-venda os consumidores realizaram um total de 18 mil compras em 58 categorias de produtos, como pão, cerve-ja, café, frutas, detergentes, fraldas, xampus e condicionadores. também responderam a questionários curtos sobre cada visita feita ao supermercado, assinalando as compras por categoria e indicando se havia sido “pla-nejada antecipadamente” ou se consistiu simplesmente “em decisão tomada naquele momento”. Para comprovar a informação prestada, os consumidores anexaram o tí-quete da loja ao questionário. outras infor-mações sobre as características das famílias e sua impressão sobre o supermercado onde fizeram compras foram recolhidas por meio de entrevistas de 90 minutos de duração re-alizadas na casa do cliente.

o questionário e as entrevistas fornece-ram aos pesquisadores os dados que procu-ravam, inclusive nível de renda dos consu-midores e padrão de vida; informações sobre o “estilo” das compras feitas, até mesmo se o cliente se considerava “rápido e eficien-te”; e se ele havia tomado conhecimento dos preços pelo jornal ou na própria loja. os en-trevistados responderam também a pergun-tas sobre a informação de que dispunham a respeito de uma loja específica e os preços

cobrados, bem como as ofertas de produtos em promoção e a imagem que tinham do local; se compraram em dia de semana ou no final de semana; e se a permanência na loja havia sido longa ou breve.

bell observou que o consumidor norte-americano é diferente do consumidor ho-landês no que diz respeito a pelo menos um aspecto que merece uma análise mais deta-lhada. enquanto a maior parte dos norte-americanos vai de carro ao supermercado, os holandeses podem ir a pé, de bicicleta ou de carro. e os pesquisadores constataram que os consumidores que vão a pé às com-pras são menos propensos a comprar itens não planejados do que aqueles que utilizam bicicleta ou carro.

a pesquisa revelou também um dado recorrente no que diz respeito às compras não planejadas: não houve nenhuma com-pra desse tipo em pouco mais de 60% das

QUEM vai de carro ao supermercado tem maior tendência a comprar por impulso do que quem vai a pé ou de bicicleta

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visitas às lojas. com relação às demais vi-sitas, os clientes compraram, em média, três itens não programados – bem menos do que o número apontado pela pesquisa de Underhill.

o volume de compras não planejadas au-menta conforme o número total de catego-rias de produtos adquiridos pelo consumi-dor, como pão ou leite. contudo, como um percentual menor de clientes é responsável por boa parte das compras feitas por impul-so, o número médio desse tipo de compra continua baixo.

os pesquisadores obtiveram dados ainda mais reveladores sobre o comportamento dos clientes ao verificar a correlação en-tre 32 variá veis e o fato de que na maior parte das visitas feitas aos supermercados não houve nenhuma compra por impulso. descobriu-se, por exemplo, que jovens e solteiros de renda elevada são muito mais propensos a esse tipo de comportamento do que pais e mães de famílias, sobretu-do os que têm muitos filhos (veja detalhes

O ANTROPÓLOGO Underhill,

autor da teoria da compra

por impulso, apresentada há

dez anos

no quadro da página 25). Mas há também grande variação conforme a personalidade: pessoas que se consideram “rápidas e efi-cientes” são menos irracionais nas compras, assim como as que declararam se informar sobre preços de produtos nos jornais. Mas o comportamento do consumidor nas gôn-dolas depende também do fato de a visita ao supermercado ter sido planejada ou não, entre outros fatores.

Para os autores, o estudo revela o que é e o que não é necessário fazer para vender mais. “o volume de compras não planeja-das está muito mais associado às diferenças entre um consumidor e outro do que ao am-biente da loja propriamente dito”, diz bell. “será possível incentivar a compra espontâ-nea por meio de estímulos quando, na ver-dade, a variação ocorre em maior grau entre os indivíduos?”, questiona. a resposta a essa pergunta é afirmativa, de acordo com bell e seus colegas, mas para isso serão necessá-rias estratégias de vendas baseadas em mais análises e pesquisa de mercado. os autores ressaltaram que seus dados dispõem de de-talhes em número suficiente para capacitá-los a propor aos varejistas duas estratégias possíveis para incrementar as compras es-pontâneas em suas lojas.

“É possível ‘vender mais’ com o núme-ro de clientes existente, ou então os comer-ciantes podem deliberadamente tentar atrair clientes mais inclinados a fazer compras não planejadas”, assinalam os autores. “a primei-ra estratégia pega o conjunto já existente de clientes como referencial básico e se concen-tra no ambiente interno da loja. a ‘estratégia para atrair melhores clientes’ exige uma mu-dança mais ampla na estratégia de mercado, imagem da loja, e assim por diante.”

os dados indicam que a estratégia de “vender mais” usando, por exemplo, uma sinalização mais bem elaborada no inte-rior da loja ou aumentando o número de promoções seria menos trabalhosa, porém menos eficaz do que tentar atrair um nú-

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Republicado com autorização de UniversiaKnowledge@Wharton (http://wharton.universia), o jornal on-line sobre pesquisa e análise de negócios de The Wharton School of University of Pennsylvania. A Wharton mantém parceria com o IEL para a formação de executivos.

ATRAIR consumidores jovens e solteiros, vulneráveis a compras por impulso, é uma estratégia mais eficiente do que as promoções

mero maior de clientes dispostos a comprar por impulso. os benefícios das duas estra-tégias teriam de ser ponderados em relação ao custo.

“de modo geral, as características [dos clientes] parecem mais importantes do que as condições [das lojas] no que diz respeito à geração de incidência de compras espon-tâneas”, observam os autores. “isto suscita algumas questões importantes tanto para os varejistas quanto para seus fornecedores. os primeiros talvez se perguntem se o or-çamento atual do marketing destinado ao interior da loja não seria alto demais. os fornecedores talvez queiram reavaliar a alo-cação do seu orçamento: será que deveriam priorizar ações de marketing que têm por

objetivo inserir firmemente sua marca nas compras planejadas dos consumidores? “a pesquisa mostrou, sobretudo, que a ‘recepti-vidade’ de segmentos distintos de consumi-dores varia em relação a diferentes ativida-des de marketing. Portanto, os profissionais de marketing deverão elaborar planos que levem em conta esses níveis variados de receptividade”, afirmam os pesquisadores no texto que publicaram. bell diz que uma possível forma de aprender mais sobre o grau de impulso do consumidor consiste em utilizar os dados que os varejistas co-letam por meio de seus programas de fide-lidade do cliente. “eles precisam aprender mais sobre o consumidor de um ponto de vista holístico.”

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o que precisa mudarGoverno envia projetos de Reforma Política ao Congresso, mas especialistas alertam para a falta de debate consistente sobre o tema na sociedade

Por Paulo sIlva PInto e danIela sChuBnel

o poder executIvo envIou ao congresso nacional no mês passado uma proposta de emenda à constituição (Pec) e seis pro-jetos de lei. É um conjunto que altera de forma substantiva o processo eleitoral no brasil: estabelece percentual mínimo de vo-tos para os partidos políticos terem direito a funcionamento pleno (a chamada cláusula de barrei-ra); determina que, nas eleições legisla-tivas, será escolhido o partido e não o candidato, por meio de listas fechadas; faz as campanhas eleitorais serem ex-clusivamente finan-ciadas com recursos públicos; dá maior f lexibilidade para quem tem manda-to trocar de partido em ano de eleição; cria restrições para coligações entre partidos, que pas-sam a ser vedadas em eleições para o legislativo e, no caso das eleições para o executivo, não dão mais direito à soma do horário de rádio e televisão dos diferentes partidos; e impede a eleição de candidatos que respondam a pro-cesso na Justiça (veja quadro com descrição das propostas na página ao lado).

a Pec e os projetos de lei precisam ser aprovados até o início de outubro para que passem a valer já a partir das eleições de 2010. “a reforma Política é imprescindível, pois sem ela todas as outras ficam preju-dicadas”, afirma o deputado José eduardo Martins cardozo (Pt-sP). trata-se de uma

avaliação que tem muitos adeptos no congresso e tam-bém na sociedade. debate recente-mente realizado na cni em torno dos 20 anos da cons-tituição e das pers-pectivas para o bra-sil nos próximos 20 anos identificou a reforma do siste-ma eleitoral como etapa fundamental para avanços eco-nômicos. analis-tas das instituições políticas chamam a atenção, porém, para a necessidade de amadurecer a discussão em tor-no do assunto. “as

pessoas não entendem as mesmas coisas quando falam de reforma Política. É um debate excessivamente genérico”, critica o cientista político Jairo nicolau, do instituto Universitário de Pesquisas do rio de Janei-ro (iuperj). o cientista político Fernando

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PolítiCA

limongi, do centro brasileiro de análise de Planejamento (cebrap), tem postura se-melhante: “não há consenso sobre o que é certo e o que é errado no tema da reforma Política”, afirma.

nicolau e limongi discordam da pro-pagada ideia de que as instituições políti-cas brasileiras são disfuncionais. também pensa assim o professor da Universidade de chicago roger Myerson, agraciado com o Prêmio nobel de economia de 2007. es-pecialista em teoria dos Jogos, na qual se analisam as escolhas que as pessoas fazem, Myerson se debruçou sobre o sistema elei-toral brasileiro em um de seus artigos (veja entrevista na página 34).

segundo limongi, a avaliação de que o sistema político brasileiro é disfuncional existe desde o final da década de 1980, quan-do foi promulgada a nova constituição. o então presidente José sarney afirmou que o texto tornava o País ingovernável. “ele foi o primeiro a provar que isso não era verdade. dizia-se também que a inf lação não seria controlada sem a reforma do sistema polí-tico, mas conseguiu-se fazer o Plano real.” limongi afirma que de fato é necessário e possível aprimorar as instituições políticas no brasil, mas discorda de que seja necessá-rio uma grande reforma para isso. Um ponto em que é preciso estabelecer restrição, diz, é o excessivo número de cargos nos ministé-rios e autarquias federais cujos titulares são escolhidos pelo presidente da república. outro ponto importante na sua avaliação é regulamentar o fornecimento de serviços ao poder público, sobretudo o recolhimento de lixo, contratado pelas prefeituras, e a pu-blicidade, contratada em todos os níveis de governo. essas são áreas com grandes con-tratos, o que favorece a corrupção ligada ao financiamento das campanhas eleitorais.

nicolau, do iuperj, também defende a implementação de pequenas reformas em vez de mudanças radicais. ele lembra que o Poder Judiciário tem sido responsável por

as propostas do governo

FINANCIAMENTO PÚBLICO

Ficam proibidas as contribuições privadas para as campanhas eleitorais. Todo o financiamento será realizado com recursos públicos, distribuído pelo Tribunal Superior Eleitoral. A verba será prevista em lei orçamentária, tendo como base o eleitorado do dia 30 de abril do ano de sua elaboração. A distribuição seguirá o seguinte critério: 1% dos recursos será repartido igualitariamente por todos os partidos; 19% serão divididos, também igualmente, pelos partidos com representação na Câmara dos Deputados; e 80% serão divididos pelos partidos proporcionalmente ao número de deputados federais que elegeram no pleito anterior.

FIDELIDADE PARTIDáRIA

Ocorre uma flexibilização da lei atual, que proíbe a troca de partido no ano da eleição. A proposta abre brechas para a troca de partidos até a realização das convenções, caso ocorram casos extremos como perseguição política e mudança de programa partidário, ou a criação de um novo partido.

COLIGAÇõES E PROPAGANDA GRATUITA

Ficam proibidas as coligações para as eleições legislativas. São mantidas as coligações nas disputas para o Executivo, com uma mudança essencial: o tempo a ser contado para a propaganda gratuita no rádio e televisão é o do maior partido da coligação. A regra atual prevê a soma de todas as legendas.

LISTAS FECHADAS DE CANDIDATOS

Estabelece nas eleições para o legislativo listas partidárias fechadas e pré-ordenadas. Por esse sistema, o eleitor só vota no partido, e não mais nos candidatos que conhece. São eleitos tantos candidatos quanto permitir o quociente eleitoral, na ordem pré-estabelecida pela lista. Os que não forem eleitos serão os suplentes, seguindo a ordem da lista.

PARTIDOS PEQUENOS

A adoção da cláusula de desempenho, mais conhecida como cláusula de barreira, vai dificultar a representação parlamentar dos partidos pequenos. Por ela, os partidos que não obtiverem 1% dos votos válidos na eleição para a Câmara dos Deputados, distribuídos em pelo menos um terço dos estados, com o mínimo de 0,5% em cada um deles, não poderão ter representação parlamentar, com exceção do Senado.

INELEGIBILIDADE

Impede a eleição de candidatos que respondam, na Justiça Eleitoral, a processo por abuso de poder econômico ou político; dos condenados em primeira instância em processos criminais que dizem respeito à economia popular, administração, fé e patrimônio públicos, mercado financeiro, tráfico de drogas e crimes eleitorais; e de funcionários públicos condenados por abuso de poder econômico ou político.

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modificações importantes unicamente com a interpretação das leis. Por exemplo, a que exigiu a verticalização das alianças entre partidos (não pode haver coligação esta-dual entre dois partidos que estiverem em campos opostos na eleição para presidente da república) e a que interpreta o mandato do parlamentar como algo do partido e não do eleito – quem mudar de legenda per-de a vaga. o cientista político afirma que as campanhas eleitorais deveriam receber contribuições apenas de pessoas, não de empresas. isso limitaria os valores, afinal é mais difícil tirar dinheiro do patrimônio

pessoal do que da empresa, mesmo no caso de pessoas muito ricas. a novidade tam-bém facilitaria a fiscalização. Mas ele afir-ma que, independentemente da mudança, a fiscalização deve ser intensificada. “se não for possível fiscalizar adequadamente to-dos os candidatos, deve-se fiscalizar alguns mais a fundo, por sorteio, como no caso do exame antidoping nas competições esporti-vas”, compara. o mesmo rigor de fiscaliza-ção deve valer, afirma, nas despesas com re-cursos do Fundo Partidário, que são pagas pelos contribuintes. Quanto à necessidade de aprimoramento do sistema eleitoral, ele afirma que não é uma particularidade brasileira, e sim um debate recorrente em várias democracias. “Veja o sistema norte-americano, com o colégio eleitoral para es-colha do presidente da república: é uma excrescência!”.

Um dos projetos mais radicais dentre os apresentados pelo governo é o das listas fechadas nas eleições para o legislativo. o eleitor escolheria o partido, com uma lista de candidatos em ordem previamente apre-sentada. Quanto mais votos, mais nomes da lista serão eleitos. Proposta semelhante, do deputado ronaldo caiado (deM-go), foi derrotada no início da atual legislatura pela câmara. “não vejo o que mudou desde en-tão para que o projeto possa ser aprovado agora”, afirma nicolau. “o fato de ser apre-sentado pelo governo desta vez não é grande coisa, porque na época em que foi votado, o projeto já teve apoio expressivo do Pt. seria uma novidade o apoio do Psdb, que na época derrubou o projeto, mas não acho que o partido tenha mudado de ideia.”

outra grande modificação dentre as pro-postas apresentadas pelo governo é a que impede as coligações nas eleições para o le-gislativo e, no caso das eleições para o exe-cutivo, elimina a soma de votos dos dife-rentes partidos para o cálculo do tempo de propaganda eleitoral gratuita. o deputado José carlos aleluia (deM-ba) afirma que

JAIRO NICOLAU: Microrreformas

no lugar de uma grande reforma

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PolítiCA

a proposta não será aprovada porque “atinge o patrimônio que os partidos construíram por meio do voto”. segundo ele, PMdb, Psdb e deM se opõem à proposta. “sem o apoio desses partidos, é impossível aprovar qualquer coisa”, avisa.

o financiamento público das campanhas é algo que enfrenta resistências na socieda-de. Para nicolau, do iuperj, se for aprovado transformará o sistema político-partidário brasileiro no que terá a maior dependência estatal dentre as grandes democracias. ele chama atenção para o fato de que o registro dos filiados e dos candidatos já inclui gran-de controle, e que, além disso, o estado fi-nancia parte das despesas de funcionamento dos partidos, por meio do Fundo Partidário. “os partidos se transformarão em cartórios, serão órgãos para-estatais”, prevê.

limongi, do cebrap, afirma que já exis-te substancial financiamento público hoje, por meio do horário eleitoral gratuito, na verdade tempo pago às emissoras de rádio e

agenda legislativa 2009

A CNI lançará no dia 31 deste mês a 14ª edição da Agenda Legislativa da Indústria. Elaborada com a participação de cerca de 200 representantes do setor produtivo, a publicação traz avaliações sobre os projetos de lei de interesse da indústria em tramitação no Senado e na Câmara dos Deputados. Um dos principais objetivos da agenda é contribuir com o Congresso Nacional na formulação de políticas que permitam o crescimento sustentado da economia, com aumento na competitividade das empresas. Outras duas finalidades são apoiar a participação do empresariado na discussão de assuntos legislativos de interesse da indústria e orientar o relacionamento da CNI, Federações e associações setoriais da indústria com o Congresso. Os projetos avaliados no documento foram discutidos nos dias 4 e 5 de fevereiro, no Seminário RedIndústria, realizado na sede da CNI, em Brasília. Segundo o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, que participou da abertura do seminário, a crise econômica mundial e a

proximidade das eleições de 2010 estimularão as atividades legislativas ao longo deste ano. “O ano legislativo de 2009 apresenta-se bem diferente do de 2008. Deverá ser um ano marcado por maior ativismo legislativo e por maior sentido de urgência”, afirmou.

televisão pelo estado. ele defende a revisão de algumas das regras do horário gratuito, como a que estabelece que a divisão do ho-rário deve ser a mesma em todo o País, de acordo com as bancadas dos partidos na câmara dos deputados. “isso não obedece às realidades regionais. Às vezes um parti-do é grande na câmara, mas não em deter-

LIMONGI: sistema eleitoral brasileiro não é disfuncional

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as eleições no Brasil e a teoria dos Jogoso professor da Universidade de chicago roger Myer-son, vencedor do Prêmio nobel da economia em 2007, escreveu em 1992 um artigo que teve como foco o siste-ma eleitoral brasileiro. em novembro do ano passado, o artigo foi reapresentado e discutido por ele no congresso da sociedade latino-americana de econometria, no rio de Janeiro. depois da palestra, Myerson concedeu uma entrevista de uma hora a indústria Brasileira. a seguir, os trechos em que ele analisa as eleições no brasil.

Indústria Brasileira – Por que o senhor escolheu o sistema eleitoral brasileiro como objeto de estudo?Roger Myerson – É um sistema interessante, único no mundo em sua forma de representação. Tem semelhanças com o sistema que vigorou no Japão de 1920 até o começo dos anos 1990. Só que os distritos no Japão têm entre três e cinco assentos. O eleitor vota em apenas um nome, e os cinco mais votados, no caso dos maiores distritos, são eleitos – no Brasil, os distritos equivalem a estados, e o número de eleitos chega a 70. A vantagem do sistema brasileiro é que os votos são transferidos, assim os partidos têm importância. Um problema é que o sistema faz com que os parlamentares eleitos sejam mais fiéis ao subgrupo a que pertencem do que aos interesses maiores do partido.

IB – Que tipo de modificação poderia aprimorar o sistema?RM – Eu acho que se houvesse no Brasil a possibilidade de votar em mais candidatos, haveria mais competição – um número comum em outros sistemas é três. Eles tentariam mostrar que trabalham duro, e que não estão ali para favorecer a si mesmos ou suas famílias. Acho que a

classe política tende a preferir a escolha de apenas um nome, porque isso torna mais fácil separar suas identidades. A maior parte de seus eleitores é fiel, vota neles em qualquer situação, não importando se há um escândalo ou qualquer outro problema. Mas o sistema preferido dos políticos é certamente o de lista fechada. O sistema de lista aberta é mais competitivo.

IB – Escolher três pessoas seria melhor para o Brasil do que implantar o sistema de pequenos distritos que há nos Esta dos Unidos?RM – A hipótese de alguns cientistas políticos é que alguns dos problemas da democracia na América Latina derivam do fato de que os países da região têm um sistema presidencialista com uma representação proporcional, no estilo europeu. O argumento é que o

pluripartidarismo da representação cria uma diversidade ideológica que tem de conviver com o fato de que há um presidente, o que cria uma certa tensão. Isso nunca foi provado. Mas, independentemente disso, acho que o sistema brasileiro traz o benefício de criar um certo arrefecimento ideológico, um benefício em relação à média da região. Isso é bom, porque estabiliza a democracia presidencial. O sistema de apenas uma pessoa eleita por distrito, que existe nos Estados Unidos, tende a resultar em uma concorrência entre apenas dois candidatos em cada distrito, que competem no centro do espectro ideológico. Isso resulta em um Congresso relativamente uniforme, o que torna as coisas mais fáceis para o presidente.

IB – O que é melhor: presidencialismo ou parlamentarismo?RM – As pessoas tendem a preferir o sistema com o qual têm menor familiaridade. Eu venho dos Estados Unidos e tendo a achar que o sistema parlamentarista é muito melhor [risos]. Quando escrevi sobre a Constituinte brasileira de 1988, em que quase escolheram ao parlamentarismo, achei que a adoção do sistema era uma boa ideia. Talvez o atual sistema brasileiro de lista

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As pessoas tendem a gostar do sistema político que conhecem menos

minada cidade, e acaba ficando com muito mais tempo no horário gratuito do que sua presença política ali”, explica.

Uma mudança ausente no pacote pro-posto pelo governo é a introdução do voto

distrital, que tem vários defensores. o de-putado aleluia está entre eles. Hoje, os es-tados funcionam como grandes distritos: o eleitor pode votar em qualquer dos nomes das listas estaduais dos partidos para a câ-

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PolítiCA

aberta com uma única escolha mitigue o problema de tensão do sistema proporcional de representação.

IB – Por que o senhor, sendo economista, se interessou por ciência política?RM – Este artigo que escrevi sobre o Brasil foi meu terceiro artigo em ciência política. Eu sou especialista em teoria dos jogos, que trata de métodos matemáticos para analisar competição e conflito. Isso não tem a ver com o mercado necessariamente. Eu gosto de analisar a competição política assim como a dos mercados. Acho que todos concordam que política e mercados são conectados, no sentido de que o interesse de mercado determina a política às vezes e o funcionamento dos mercados tem enorme efeito sobre o sistema político. O aumento da importância da teoria dos jogos tem apagado as diferenças entre economia e ciência política.

IB – Os políticos podem mudar um sistema que os beneficia?RM – Uma das primeiras grandes contribuições da ciência econômica foi tornar mais claro o debate em torno das tarifas alfandegárias. A barreira tarifária de um país beneficia alguns de seus produtores, mas prejudica todos os consumidores. Só que os consumidores não se preocupam muito com isso, e os produtores sim. O resultado é que há muita pressão política. Os economistas observaram o assunto dizendo que havia um interesse público maior por trás de tudo. Cientistas políticos e economistas deveriam ser capazes de dizer quais as implicações competitivas das estruturas constitucionais. Se milhões de cidadãos têm interesse em uma reforma, mas apenas um pequeno interesse, o interesse de uma minoria, os políticos, se sobrepõe a isso. Se todas as pessoas entendessem que uma reforma X seria boa para todos os eleitores, exceto os políticos, haveria políticos dispostos a apoiar a ideia, porque eles ganhariam votos. Esse é o nosso trabalho, dos cientistas sociais: articular o pequeno benefício que não é claro para as massas. Temos a obrigação de identificar esse benefício e divulgá-lo, para ajudar na produção de políticas públicas, a exemplo do que foi feito no caso das tarifas.

mara dos deputados e para a assembleia legislativa. no caso de um grande estado como bahia, explica aleluia, isso encarece e complica a campanha, obrigando o candi-dato a se deslocar de um lado para outro – a

distância de Paulo afonso, no norte, para Mucuri, no sul, chega a mil quilômetros. “eu pareço um noviço rebelde, viajando por todo o estado de monomotor”, comenta.

o economista Myerson afirma que o voto distrital tende a diminuir diferenças ideológicas, levando os candidatos para o centro do espectro político. limongi chama a atenção para uma grande dificuldade que haveria na implantação desse modelo: o de-senho dos distritos. Mesmo em locais onde o sistema já está consolidado, como nos estados Unidos, a redefinição dos limites dos distritos resulta em grandes controvér-sias – dependendo dos bairros que se inclui ou exclui em um distrito eleitoral, o resul-tado da eleição é diferente. ele afirma que ninguém sabe o que aconteceria no brasil caso o sistema fosse aprovado, porque não há simulações que deem conta disso.

nicolau acrescenta que as chances de uma modificação do porte do voto distrital passar no congresso são reduzidas, “a não ser que seja algo para ser colocado em prática duas ou três legislaturas à frente, de modo que não signifique risco imediato para os políticos”. Parlamentares reconhecem as dificuldades para transformações do sistema eleitoral. “são necessárias mudanças, mas entre o ne-cessário e o possível, há uma grande diferen-ça”, afirma aleluia. Para o petista cardozo, é difícil um Poder se autorreformar. “Mas é possível, depende de mobilização da socieda-de.” Myerson explica que a dificuldade é o resultado do confronto entre o pequeno inte-resse de muitas pessoas (os eleitores) e o gran-de interesse de poucas pessoas (os parlamen-tares). ele afirma que esse tipo de tensão não se restringe à política. na economia, é algo que pode ser visto, por exemplo, no protecio-nismo econômico. “esse é o nosso trabalho, dos cientistas sociais: articular o pequeno benefício que não é claro para as massas. te-mos a obrigação de identificar esse benefício e divulgá-lo, para ajudar na produção de po-líticas públicas.”

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o BrasIl avança com rapIdez para a maturidade. entre 2000 e 2025, o número de pessoas com mais de 60 anos praticamen-te dobrará, passando de 14,5 milhões para 32 milhões, segundo projeção da organização Mundial da saúde (oMs). a partir de 2025, o brasil passará a ter população equivalente entre os adultos abaixo e acima de 60 anos. em 1950, eram apenas dois milhões de pessoas com mais de 60 anos. a expectativa de vida ao nascer era de 50,9 anos – hoje é de 72 anos.

a tendência de envelhecimento dos brasi-leiros também é captada pelo instituto bra-sileiro de geografia e estatística (ibge) e pelo instituto de Pesquisa econômica aplica-da (ipea). segundo o ibge, foi identificado um crescimento ainda mais acentuado nas pessoas com 75 anos ou mais: em 1996 eram 23,5% da população com mais de 60 anos; em 2006 chegavam a 26,1%. Já o ipea ressal-ta que a participação dos jovens (15-29 anos) na População em idade ativa (Pia) diminui-rá substancialmente, enquanto o número de adultos (30-44 anos) da Pia se manterá está-vel, restando às populações madura e idosa o aumento mais expressivo.

realizado com o objetivo de avaliar com-parativamente os anos de 1980 e 2000, o es-

Uma nova maturidade no brasilPrograma do SENAI busca a reinserção profissional de pessoas com mais de 45 anos e a requalificação dos aposentados que querem atuar em suas comunidades

Por danIela sChuBnel

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tudo do ipea demonstrou que os brasileiros passaram a entrar mais cedo que antes na escola, mas a chegar mais tarde ao mercado de trabalho. apesar disso, se aposentam mais cedo, enquanto a vida passou a se alongar. assim, concluiu o ipea, a nova realidade é que os brasileiros passam menos tempo nas atividades econômicas do que estudando ou como aposentados. atento a essa tendência, o senai desenvolve, desde 2007, o Projeto Maturidade, dentro do Programa senai de ações inclusivas (Psai). a preocupação eco-nômica e social da entidade está também em consonância com o estatuto do idoso, que prevê o estímulo a programas que preparem os trabalhadores para a aposentadoria com antecedência mínima de um ano.

“a indústria investe anos e anos num pro-fissional que, quando se aposenta, leva consigo parte desse investimento. É um tesouro que precisamos aproveitar, há espaço no mercado de trabalho para a absorção dessas pessoas”, observa a gerente nacional do Psai, loni Ma-nica. “estamos diante de um desafio, presen-te na maioria dos países em desenvolvimento: o brasil vai envelhecer antes de enriquecer”, avisa Paula travassos, terapeuta ocupacional e sócia da interage consultoria em geronto-logia, empresa que desenvolveu para o senai a metodologia do Projeto Maturidade.

loni e Paula enfatizam, no entanto, que a intenção do projeto não é necessariamente manter as pessoas dessa faixa etária no mer-cado de trabalho formal, tirando espaço dos jovens, mas sim prepará-las para a nova fase, sob diversas formas. “a ideia é que possam ajudar os jovens, repassar sua experiência. a pessoa não tem que parar de produzir, pode continuar em outras instâncias, como con-sultor, trabalhador temporário, palestrante”, afirma loni. “nossa proposta é preparar os adultos para enfrentarem essa nova fase, que traz muitas mudanças, e continuarem ativos”, resume Paula.

o projeto teve início em 2007 com o de-senvolvimento da metodologia específica, a

sensibilização das Unidades educacionais do senai, e o treinamento dos interlocutores de cada uma delas, bem como a busca de par-cerias com indústrias, empresas e comunida-des locais.

três faIXas etárIas

são três as faixas etárias trabalhadas pelo projeto: de 45 a 55 anos são desenvolvidas ações de requalificação para a permanência no mercado de trabalho; de 55 a 60 começa a preparação para a fase de aposentadoria; e a partir dos 60 são oferecidas diferentes opor-tunidades de trabalho dentro do mercado informal, como consultoria, trabalho volun-tário e empreendedorismo, ou mesmo uma segunda carreira.

em 2008 foram realizados os primeiros projetos-piloto, com a oferta gratuita de vagas nos cursos regulares do senai para pessoas que foram captadas nas comuni-dades locais, em sindicatos e associações de aposentados. os que se formam levam o certificado do senai. a aceitação da proposta por parte dos departamentos re-gionais foi grande: 24 unidades realizaram projetos-piloto, ainda com pouca oferta de vagas, mas com grande procura e interes-se por parte do público. em 2009, além da continuidade do projeto nos estados que já iniciaram, a expectativa é que os quatro de-partamentos que não deram início em 2008 realizem seus projetos-piloto.

“Podemos considerar que o objetivo geral de inserir esse trabalhador na educação pro-fissional do senai vem sendo gradualmen-te atingido, uma vez que os departamentos regionais já estão conscientizados sobre a importância da educação profissional para essa faixa etária”, afirma Paula, que enxerga na sensibilização das indústrias uma próxi-ma etapa do projeto. “ainda são poucas as que desenvolvem esse tipo de ação de prepa-ração de seus funcionários para a aposenta-doria”, observa.

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dentre os cursos oferecidos nos projetos-piloto, o que teve maior procura foi o de atu-alização em informática, na grande maioria das unidades da Federação. “Procurei o curso para me aperfeiçoar e aprofundar. Já sabia usar o computador, mas agora tenho mais autono-mia”, conta o mecânico industrial aposentado Flávio dalmas, 62 anos. Viúvo, pai de uma fi-lha de 21 anos, o “Professor Flávio”, como é chamado, estudou e trabalhou no senai do rio grande do sul durante quase 30 anos de sua vida, e hoje se dedica a trabalhos voluntá-rios em agremiações como o rotary e o centro espírita kardecista que frequenta. “a informáti-ca não tem idade, é mais fácil do que aprender a ler e escrever, e o curso foi muito bom, pois acima de tudo foi um momento de confraterni-zação. Faz bem para a gente como ser humano, mesmo que não se faça uso profissional desse conhecimento”, diz dalmas, que ressalva não ter a intenção de voltar ao trabalho remunera-do. “a hora é dos jovens”. o professor aposen-tado diz, no entanto, que não pretende deixar de se aperfeiçoar e ajudar a comunidade. “es-tou no momento de devolver para os outros o que já recebi de conhecimento”, afirma.

o senai do rio grande do sul é o mais avançado na implementação de ações de pre-paração para a aposentadoria. antes do Pro-jeto Maturidade já dava atenção ao tema. em 2008 ofereceu 15 vagas dentro do projeto. além disso, em sua estrutura, ofereceu nove diferentes modalidades de cursos para 103 alunos com idade acima de 45 anos. “nos-sa expectativa era reaproveitar essas pessoas, a partir deste ano, mas com a crise a coisa vai ficar mais difícil”, conta eliseu Ferrigo, gerente da Unidade de negócios em Projetos especiais. ele prevê, porém, que as oportu-nidades voltem a surgir a partir do final de 2009 e em 2010.

a experiência do departamento regional de alagoas também foi considerada uma das mais significativas em 2008. conseguiu reu-nir 150 pessoas em um seminário de sensibi-lização, disponibilizou 20 vagas no projeto-

“ fiquei encantada com o senaI”

Médica alagoana, especialista em cirurgia vascular, ex-professora universitária no Rio de Janeiro, onde morou por 58 anos. Vários são os títulos da agora aposentada Merisa Garrido, de 80 anos, mas o de que ela mais se orgulha, atualmente, é o de estudante do SENAI de Alagoas, onde voltou a morar em 2003. Ela dedica seu tempo a estudar, mesmo depois das especializações em medicina realizadas no Brasil e no exterior. Optou por estudar Eletricidade Predial no SENAI, “para entender melhor” as instalações da casa e poder consertá-las – Merisa mora sozinha. Ela nem sequer esperou as turmas do Projeto Maturidade neste ano: entrou como aluna regular. A seguir, seu depoimento manuscrito, enviado a Indústria Brasileira:

“Preparei-me com bastante antecedência, psicologicamente, para minha aposentadoria. Trabalhei no serviço público dos 19 aos 70 anos, e continuei meu trabalho médico em consultório particular até os 75. Sempre fui estudiosa e frequento congressos médicos no meu país e no exterior. Interesso-me por música erudita, história geral e do Brasil. Viajo bastante.

Fiquei encantada com o SENAI. Já sabia de seu valor na educação, preparando jovens para o mercado de trabalho. É reconhecido internacionalmente. Esta é sua principal e mais importante meta, mormente nestes tempos de crise. Qualificação e requalificação profissional são indispensáveis requisitos ao desenvolvimento de uma Nação.

Atividade na velhice é necessária, mas não para ocupar o lugar dos jovens. Conviver com eles é muito gratificante. Tenho 80 anos e um de meus colegas, apenas 14 anos. Trabalhamos em equipe, é excelente. Experiência, sobretudo numa área que me despertou curiosidade e sobre a qual não possuía conhecimentos. Adquiri muitos, graças aos excelentes professores do SENAI e ao bom entrosamento da turma.”

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A médica Merisa Garrido tem aulas de

Eletricidade Predial

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piloto e deverá oferecer mais em 2009. “as empresas estão procurando a experiência, e os idosos estão aí. acho que o empresariado está cada vez mais sensível a essa questão, hoje se conhece mais a competência e a disponi-bilidade dessa parcela da população”, afirma nadja Quintino, pedagoga e coordenadora da unidade. em alagoas foram oferecidas vagas para o Maturidade em cursos de informática, corte e costura, recepcionista, eletricista e confeitaria.

“Foi muito bom, éramos cinco idosas no meio de 35 pessoas de várias idades. apren-demos muito e tivemos logo a oportunidade de colocar isso em prática”, conta Vandete ta-vares do nascimento, viúva de 74 anos, nove filhos, 25 netos e dois bisnetos, que logo após o curso de recepcionista foi aproveitada para dois eventos realizados pelo serviço social do comércio (sesc) de alagoas. “a experiência foi maravilhosa, pois a gente aprende indo e vindo. tanto nós aprendemos com eles [os jo-vens] como eles veem do que a gente ainda é capaz”, conta gilda carvalho, 62, colega de turma de Vandete que também tornou-se

como recepcionista dos eventos do sesc. “se aparecer trabalho, aceito”, diz gilda, casada, dois filhos e dois netos, secretária aposentada que trabalhou até os 59 anos.

na bahia o projeto-piloto foi tão bem-suce-dido que o departamento regional do senai pretende dobrar as vagas para 2009, na mo-dalidade informática. em 2008 foram ofere-cidas 18 vagas para o curso de informática, na unidade de Feira de santana. em 2009 serão oferecidas 18 vagas em Feira e o mesmo nú-mero em salvador, sempre para informática, a modalidade mais procurada. Quem faz o cur-so atesta a mudança na vida. “todo mês tenho que fazer a ficha de 157 famílias que atendo em campo lindo. antes fazia com a mão, agora, no computador, vai muito mais rápido”, conta a agente de saúde comunitária da Pre-feitura de Feira de santana Maria lucia dos santos costa, 51 anos, que trabalha atendendo as famílias. “É muito cansativo, são oito horas por dia debaixo do sol, mas não quero parar de trabalhar. Para quê? ajudar o próximo é mui-to bom”, reflete Maria lucia, que tem ensino Médio completo.

O MECÂNICO INDUSTRIAL aposentado Flávio Dalmas: aperfeiçoamento na computação para atuar como voluntárion

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os brasileiros em bretton woodsAo reconstituir a participação do País na conferência em que foi criado o Fundo Monetário Internacional, pesquisa demonstra alinhamento às propostas norte-americanas

Por Carlos haag

até hoje, a versão maIs conhecIda da participação brasileira na conferência Monetária e Financeira das nações Unidas, realizada em bretton woods, em 1944, são as do economista, diplomata e político roberto campos (1917-2001), descritas em seu livro de memórias, Lanterna na popa, de 1994, e em artigos esparsos. então um jovem segundo secre-

tário da embaixada do brasil em washington, cam-pos acompanhou a comitiva, dirigida pelo ministro da Fazenda do presidente getúlio Vargas, arthur de sousa costa, que, no seu pronunciamento final, afirmou: “as duas instituições que resultarão do trabalho de bretton woods são a expressão do êxi-to obtido pelo esforço concentrado sobre um único

DELEGAÇÕES de 44 países participaram

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HiStóriA

objetivo: que a felicidade seja distribuída através da face da terra. através do FMi [o Fundo Monetário internacional] será permitido enfrentar as crises tem-porárias, pelo uso de saldos igualmente transitórios, que poderão ficar disponíveis em outros países. atra-vés do bird [o banco Mundial] estará guarnecida a cooperação de longo alcance. os países que possuem maiores recursos à sua disposição colaborarão para assistir os demais, aumentando assim a riqueza de to-dos.” Qual teria sido o papel da delegação brasileira, uma dentre as de 44 países, na conferência em que a preponderância norte-americana era absoluta, sobre-pujando a inglaterra, que era liderada por ninguém menos que John Maynard Keynes (1883-1946)?

“a nossa delegação, sob a instigação do mestre eugênio gudin (1886-1986), apresentou uma pro-posta seminal, cuja não aceitação na época tornou desbalanceado o sistema monetário internacional e explica parte do azedume que hoje cerca as confron-tações entre países industrializados e setores primá-rios, no diálogo norte-sul”, observou campos no artigo À procura da ordem econômica do pós-guerra. a proposta, sobre a questão da instabilidade dos preços dos produtos primários, de total interesse do brasil da época, foi apoiada até mesmo por Keynes, mas caiu no esquecimento.

num momento em que líderes mundiais, como o presidente da França nicolau sarkozy e o primei-ro-ministro britânico, gordon brown, entre outros, clamam por um bretton woods 2 como alternativa premente de reorganizar o combalido sistema finan-ceiro internacional, é importante revisitar a conferên-cia original. Foi isso que levou o economista daniel de Pinho barreiros, professor adjunto do instituto de economia da Universidade Federal do rio de Janei-ro (UFrJ), a pesquisar, por seis meses, na Fundação getúlio Vargas (FgV), os documentos originais da comitiva enviada pelo governo Vargas aos estados Unidos em 1944. são telegramas que relatam o anda-mento cotidiano das negociações, relatórios, manus-critos de trabalho, consultas sigilosas de procedimen-tos, entre outros, que resultaram na pesquisa Atuação da delegação brasileira na formulação do Acordo Inter-nacional de Bretton Woods (1942-1944).

É possível acompanhar todo o processo, desde a reunião de washington (entre maio e junho de 1943)

e a de atlantic ciy (junho de 1944), que antecede-ram o encontro principal na cidadezinha do estado de new Hampshire em julho de 1944. nas confe-rências preparatórias, destinadas a aparar as arestas e evitar confrontos desnecessários em bretton woods, o brasil foi representado por otávio gouvea de bu-lhões (1906-1990), então chefe da seção de estudos econômicos e Financeiros do Ministério da Fazen-da e assessor técnico da comissão de Mobilização econômica. Foram nesses encontros prévios que os brasileiros tomaram contato com as duas gran-des propostas rivais que mobilizariam as discussões, o Plano Keynes, dos britânicos, e o Plano white, idealizado pelo economista americano Harry dex-ter white, professor de bulhões na época em que ele estudou nos estados Unidos. white viria a ser acusado mais tarde de ser um espião dos soviéticos. teve até de prestar depoimento no congresso em 1948, no qual negou as acusações. Morreu pouco depois, de ataque cardíaco.

também se discutiu a futura criação do Fundo Monetário internacional (FMi), com a qual o brasil, já nesse estágio preliminar, concordou de imediato. a análise da participação brasileira em meio a esse confronto de gigantes é importante, acima de tudo,

KEYNES liderou a delegação britânica em Bretton Woods

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para compreender os primeiros passos do estabeleci-mento do pensamento econômico-liberal no brasil. afinal, a FgV, principal núcleo de militância inte-lectual dos economistas liberais, foi criada no mesmo ano da conferência. “Havia pouco espaço de dúvida entre as elites quando o assunto era a ruptura com o projeto desenvolvimentista, juntamente com o po-pulismo latino-americano”, afirma barreiros. a atua-ção do grupo gudin, bulhões e campos em bretton woods, suas posturas diante da aceitação do Plano white em detrimento do Plano Keynes, bem como o “purismo” dos brasileiros sobre as funções do FMi, são reflexos desse ideário, fortalecido e organizado por meio das discussões da conferência. e foi dessa maneira que o grupo representou o brasil em bret-ton woods. segundo barreiros, a delegação brasileira acreditava que o mundo ainda não tinha maturidade para o Plano Keynes, que via como expansionista.

a conferência, calcada no passado da grande de-pressão e no presente da europa destruída pela se-gunda guerra, pretendia reconstruir a ordem econô-mica pela criação de um sistema de taxas de câmbio fixas, para impedir a repetição das desvalorizações

competitivas, as chamadas “beggar-thy-neighbor” (“empobrece teu vizinho”), como as observadas, por exemplo, na “guerra da manteiga”, de 1930, entre nova Zelândia e dinamarca, em que cada uma ten-tava vencer o seu concorrente e ganhar a competição pela desvalorização de suas moedas. bretton woods queria impedir essa política predatória ao estabelecer uma moeda como lastro no qual todas as outras mo-edas estariam ancoradas – o dólar, ancorado no ouro, saiu como vencedor na conferência. não haveria mais dinheiro flutuante e, assim, não poderia existir desva-lorização competitiva. Para dar força ao sistema, foi criado o FMi: se a taxa de câmbio de um país levasse a uma crise no balanço de pagamentos, o Fundo po-deria intervir e evitar a desvalorização indesejável.

essa foi, porém, a solução americana, o Plano white, que saiu vencedora em função da nova posi-ção privilegiada dos estados Unidos no globo. “Key-nes tinha uma proposta mais avançada e internacio-nalista de gestão da moeda fiduciária que previa a administração centralizada, pública e supranacional do sistema de pagamentos e provimento de liquidez. os países trocariam mercadoria por mercadoria e o dinheiro internacional, chamado bancor, seria redu-zido à função de moeda de conta. Mas sua utopia capitulou diante da hegemonia norte-americana que impôs o dólar como moeda universal”, explica o economista luiz gonzaga belluzzo, professor da Universidade estadual de campinas ( Unicamp). o encontro foi vendido como “multilateral”, mas era no máximo “bilateral”, com a inglaterra de um lado e américa de outro.

as pesquisas de barreiros revelam a preocupa-ção da comitiva brasileira sobre a oposição direta, nos estados Unidos, ao multilateralismo de bretton woods e, em telegrama ao presidente getúlio Var-gas, sousa costa alerta que o clima de wall street era frontalmente contrário à conferência. o espírito dos representantes brasileiros acompanhava o dos norte-americanos. o pesquisador nota que, embora em ne-nhum momento a delegação tenha apoiado qualquer um dos planos isoladamente, sousa costa se mostra-va mais inclinado a aceitar o Plano white. da mesma forma, os brasileiros nunca fizeram objeções à adoção do dólar como moeda internacional. gudin chegou mesmo a afirmar que “quem dava valor ao ouro era o

BELLUZZO: A utopia

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HiStóriA

dólar e não vice-versa”. resolvida essa posição, a ques-tão principal para a delegação brasileira transformou-se no poder de voto, relacionado à cota-parte possu-ída por cada nação, para interferir na configuração da chefia do FMi e se ela seria concentrada ou frag-mentada num órgão colegiado. a pressão aumentou quando a delegação cubana apresentou a proposta da eleição de dois membros latino-americanos para a diretoria do Fundo. aqui, há um exemplo do ca-ráter político, mais do que econômico, de bretton woods – segundo barreiros, o primordial já estava resolvido muito antes de a conferência ser iniciada. os brasileiros pretendiam jogar água na fervura cubana, insistindo na adoção de critérios técnicos e não po-líticos para a ocupação de assentos na diretoria. ao mesmo tempo, nos bastidores, agiram para garantir a tal vaga para o brasil. isso foi conseguido, e até hoje o brasil tem o poder de indicar o representante de um grupo de países latino-americanos.

função do BanCo mundIal

a participação mais importante da nossa delegação, porém, foi na questão das funções do futuro bird, em que, pressionados por Vargas e por suas ideias liberais, defenderam a busca de oportunidades para a defesa dos países agro exportadores. se, de início, a função do banco estaria ligada à reconstrução dos países euro-peus devastados pelo conflito, os brasileiros tentaram, com empenho, abrir espaço para a discussão das ne-cessidades específicas dos países agroexportadores no sistema de bretton woods. Para eles, o mercado de produtos primários, por suas condições especiais, de-veria ser protegido por um aparato institucional mul-tilateral similar ao usado para o mercado de câmbio.

a delegação brasileira encaminhou pedidos para um plano de elevação da produtividade agrícola pela importação de máquinas norte-americanas. existem até mesmo telegramas trocados entre sousa costa e Vargas com um rol de pedidos de licenças de importação de tratores, caminhões, entre outros. Mas tudo deveria seguir segundo os critérios mais puristas de gudin. À sugestão da delegação indiana de ajuda aos países subdesenvolvidos pelo FMi, gu-din foi o primeiro a se levantar na assembleia e pro-testar. afirmou que o Fundo tinha outras funções

mais importantes, como consertar os desequilíbrios nas balanças internacionais e procurar manter a pa-ridade das moedas. Para tanto, argumentava, exis-tia o bird. o purismo de gudin sobre o Fundo, no entanto, não impediu que ele tentasse flexibilizar o bird em função de investimentos em alguns setores exportadores brasileiros, ainda que nada fosse dito sob a rubrica “desenvolvimento”. a delegação nacio-nal quis garantir que o bird atuasse junto ao FMi na resolução de impasses típicos de economias que dependiam de estimulo às exportações. Para tanto, usou-se o nome “investimento especial”, meio termo entre reconstrução e desenvolvimento.

apesar do apoio de Keynes, a comitiva brasileira saiu desanimada ao verificar que os recursos do bird serviriam inicialmente apenas para a reconstrução da europa. ainda assim, o brasil foi fundamental na oposição contra o boicote que se iniciava ao ban-co, alegando que a situação “exigia certo desprendi-mento”. Para souza costa, a situação seria revertida assim que os países destruídos fossem renovados, o que permitiria ao banco, no futuro, agir em outras direções, elogiando abertamente o projeto do bird. gudin resumiu a postura brasileira ao fim do encon-tro, ao afirmar que “bretton woods não favoreceu ninguém e nem era para isso”. Há coe rência nisso: afinal, a estabilidade cambial e a institucionalização do sistema econômico internacional estavam garan-tidas e isso era de total interesse dos economistas li-berais brasileiros.

WHITE, responsável pelo plano que consolidou a hegemonia mundial do dólar, foi depois acusado de espionar para os soviéticos

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CulturA

trajetória de um furacãoPágina eletrônica reúne textos, ilustrações e fotografias produzidas por Monteiro Lobato, que ajudam a compreender a construção do Brasil industrial

Por Carlos haag

“entreI na Bolsa de valores com todos os recursos que pude reunir, certo de fazer for-tuna. errei o bote. em vez de ganhar já perdi metade do meu capital e estou ameaçado de perder o resto e ainda ficar devendo alguma coisa. direta ou indiretamente, ninguém escapou de pagar a sua cota na evaporação dos valores. Foi um monstruoso sorvete que se derreteu”, escreveu Monteiro lobato (1882-1948) à irmã, esther, exatos 80 anos atrás, de nova York, onde presenciou a crise de wall street. Pouco depois, em um outro revés, perdeu as ações da companhia edi-tora nacional. Mesmo sem abandonar de todo sua fé no progresso e na américa, onde vivia como adido comercial do governo wa-shington luís desde 1927, lobato previu mais problemas. “Vejo um ponto perigoso no sistema deles: o consumo. o povo aqui já está sacando sobre o futuro. se vier uma perturbação econômica qualquer desabará sobre a américa um cataclismo econômico de proporções únicas, capaz de se ref letir desastrosamente no mundo inteiro.”

o progresso que lobato tanto admirava, porém, tirou algo da precisão de outra aná-lise sua também feita durante a temporada

nos estados Unidos: “Um país se faz com homens e livros.” não só, como se verifi-ca na página eletrônica Monteiro Lobato e Outros Modernismos Brasileiros (www.uni-camp.br/iel/monteirolobato), acervo digital desenvolvido por pesquisadores da Uni-camp sob coordenação da professora Marisa lajolo, com apoio do conselho nacional de desenvolvimento científico e tecnológico (cnPq). estão disponíveis ao acesso público mais de dois mil itens, entre cartas (enviadas e rece-bidas por lobato), fotografias tiradas pelo escritor, desenhos e aquarelas realizados por ele ao longo de sua vida, informações biográficas e bi-b l i o g r á f i c a s , bem como te-ses e artigos sobre vários aspectos de sua obra. o projeto vem sendo desen-volvido desde 2003 e

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chegou agora à sua forma final, trazendo, de quebra, como resultado desse acesso a seus documentos, muitos deles inéditos, um estudo recém-lançado sobre suas cria-ções para o público infantil, Monteiro Lo-bato obra a obra (editora Unesp, 509 págs., r$ 62), organizado por lajolo e João luís ceccantini, em que vários estudiosos ana-lisam cada um dos livros que lobato escre-veu. a ideia dele era preparar as crianças, por meio dos livros, para mudar o país. “ele viveu entre dois brasis. Um mais agrícola, patriarcal, tradicionalista. com este brasil, lobato ajustou as contas inventando um sí-tio onde impera o matriarcado, onde em vez de gado tem um burro falante e um sabugo sábio. o outro era um brasil que mudava de cara com a industrialização. Para este se-gundo, ele foi um cidadão sob medida, feito de encomenda”, afirma Marisa lajolo.

grandeza e atualIdade

“o projeto tem como objetivo dar conta des-sa grandeza e atualidade. Queremos mon-tar uma vitrine do material para aglutinar pesquisadores de lobato espalhados pelo brasil”, explica a pesquisadora cilza car-la bignotto, que, em 1999, deu a arrancada

para a criação da página eletrônica ao doar à Unicamp o material histórico e raro que acumulou para escrever sua tese. o acervo foi organizado e os herdeiros do escritor, Joyce lobato campos e Jorge Korn bluh, se encantaram a ponto de transferir para a Unicamp toda a documentação de lobato. a abertura rendeu outros frutos, como a re-edição, desde 2008, de sua obra, incluindo-se os livros não-infantis, como O presidente negro, Cidades Mortas e Ideias do Jeca Tatu, pela editora globo, após décadas de ausên-cia das estantes por causa do litígio entre os herdeiros e a editora anterior, a brasiliense. “Há um vasto material inédito que servirá para lançar novas luzes sobre muitos aspec-tos da vida e da obra de lobato que ainda não foram compreendidos”, observa cilza. “estamos revendo tudo sobre ele a partir desses documentos disponibilizados. Há, por exemplo, um acervo rico para se estudar questões importantes do modernismo, das artes plásticas à literatura e à política, que ganham novos contornos quando se tem acesso às cartas trocadas entre oswald de andrade, Mário de andrade e lobato. esse é um patrimônio de todos os brasileiros e ao qual, agora, se pode ter acesso direto”, completa Marisa lajolo.

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CulturA

LITERATURA INFANTIL: “Quero fazer livro para a criança morar, não ler e jogar fora”

Mas, para além das questões estéticas, há muito material inédito a revelar a intimi-dade do criador da espevitada emília, em momentos de sofrimento. “como são tristes as suas cartas. eu fico frio sabendo você aí vendo o pobre edgard eternamente queima-do pelo fogo lento da febre. Venha passar algumas semanas aqui. basta de desgraças. se você se sacrifica demais, é capaz de tam-bém cair doente”, escreveu, em 1942, para Purezinha, a esposa, falando sobre a doen ça do filho (1910-1942). “tenho um presente de natal para você: um corte de ‘tropical’ azul marinho, que comprei de um america-no. espero que desta vez seja fazenda boa”, continua, tentando animar a mulher. o te-mor pela saúde de edgar se explicaria por já ter perdido o caçula, guilherme, em 1939, como se lê em outra carta a Pureza. “Po-bre edgard e pobre de você porque nada te tem sido poupado, nem mesmo a cena da hemoptise. o remédio é aderirmos à teoria espírita, única que consola e dá tudo isso como provações que são levadas a crédito dos que sofrem. se eu pudesse dar ao ed-gard a minha filosofia, seria ótimo, mas é remédio pessoal e intransferível. sinto que a maior felicidade da vida é não ter medo da morte, e até desejá-la, porque o terror

das criaturas é sempre esse erro do medo da morte. Minha ideia é que a morte é simples passagem do pior para o melhor, e quando ela vier me visitar hei de recebê-la de braços abertos como à maior amiga.”

Foi num natal em 1920 que lobato lan-çou A menina do narizinho arrebitado, com capa e desenhos de Voltolino – a preocu-pação com a edição e a ilustração de seus livros, e de outros que ele editou, foi uma constante em lobato. Fez imenso sucesso. “livro é sobremesa: tem de ser posto debai-xo do nariz do freguês para provocar a sua gulodice”, dizia. curiosa transformação do adepto da filosofia de nietzsche que cursou direito na Faculdade do largo são Francis-co, em são Paulo, foi promotor em areias, fez ilustrações e caricaturas para a revista Fon-Fon, escreveu e fez traduções para o jornal O Estado de S.Paulo.

a morte súbita do avô fez dele dono de uma fazenda na serra da Mantiqueira, cujas terras, já esgotadas pelo tempo, tentou gal-vanizar com projetos agrícolas audaciosos, típicos da sua personalidade empreendedo-ra e irrequieta. Foi a observação do mundo decadente da roça que o levou, em 1914, a escrever, para o Estado, Urupês, em que nas-cia o Jeca tatu. de início, o personagem

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era o símbolo do que considerava errado no país, a preguiça e a “lei do menor esforço”. Jeca o acompanhará por sua vida, modifi-cando-se como seu criador, de “vagabundo” para “doente” e, por fim, “vítima da injus-tiça social nacional”.

cansado do interior, voltou para são Pau-lo e, com o dinheiro da venda da fazenda, começou a trabalhar como jornalista, escri-tor e editor. insatisfeito com as traduções dos livros para crianças, criou aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore na-cional. “Um dos grandes achados de lo-bato foi romper a fronteira entre o real e o maravilhoso, colocando para conversar deuses gregos e uma cozinheira de fazenda. na época, os livros reproduziam o sistema, ou seja, criança levada era castigada. ele trocou a travessura por aventura, colocan-do ao alcance da criança o gesto libertário na figura da emília”, analisa nelly novaes

coelho, professora de literatura da UsP e especialista no escritor.

“Quero fazer livros para a criança mo-rar. não ler e jogar fora, mas morar como eu morei no robinson crusoé”, escreveu em carta ao amigo godofredo rangel. “Mas ele sabia que nem só de entreteni-mento eram feitos os livros. responsável pelo caráter e identidade cultural do indi-víduo, em especial no jovem em formação, o texto impresso traz ideias, condutas éti-cas, valores sociais e padrões de compor-tamento”, avalia Márcia camargos, autora, ao lado de Vladimir sacchetta, de Furacão na Botocúndia (como lobato chamava o brasil), biografia do escritor. “nos livros dele, descobrimos personagens cosmopoli-tas que viajaram para mais longe do que qualquer outro ser, sem perder o frescor e a simplicidade da roça, cujos quitutes, chei-ros e aconchego nos remetem ao paraíso da infância feliz e sem preocupações.”

INVESTIDOR quebrado em

Nova York vende carro: Lobato

também foi atingido pela crise de 1929

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CulturA

lobato não foi o primeiro a questionar o tratamento dado aos jovens no seu tem-po. bilac, por exemplo, já reclamava de sua “infância macambúzia em que nunca fui verdadeiramente menino e nunca fui ver-dadeiramente moço”. a república Velha pregava o ideal do moço sério, um adulto em miniatura, quieto e pronto a obedecer e aceitar os valores estabelecidos. lobato rompeu essa tradição autoritária, inspi-rando-se no e inspirando o projeto de re-novação educacional estabelecido após a revolução de 1930, quando os intelectuais passaram a pregar um novo sistema de en-sino como forma de resolver os males do País. dentre eles, destacou-se o educador baiano anísio teixeira e sua escola nova,

que pretendia democratizar o saber, fazê-lo agradável aos jovens.

sua relação com o presente nunca foi das melhores: brigou com o estado novo pela falta de liberdade e pelo desinteresse geral dos brasileiros em encontrar petróleo, tarefa a que se dedicou com entusiasmo exacerba-do, a ponto de perder, novamente, seu patri-mônio e parar na cadeia como subversivo. no final da vida, o Jeca, agora transformado em Zé brasil, lutava não mais contra doen-ças endêmicas, mas contra o latifúndio e a distribuição injusta de renda. entusiasmado pela américa, morreu no dia 4 de julho de 1948. ou melhor, virou “gás inteligente”, a forma como tratava a morte. Um inconfor-mista ideal para os nossos tempos.

PRODUÇÃO de café em São Paulo no início do século 20: o Brasil rural era alvo de críticas do escritor, que foi fazendeiro

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Ruy Castro, escritor, autor de carmen – Uma biografia (Companhia das Letras, 2005)

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faz parte do nosso “complexo de vIra-lata” (salve nelson rodrigues!) a ideia de que, se um ar-tista brasileiro “venceu” no exterior, é porque houve um mirabolante esquema internacional que o favo-receu. não acreditamos que a “vitória” do artista se deu à custa de seu simples talento.

isso ficou bem claro nas comemorações do cen-tenário de nascimento de carmen Miranda, em fevereiro. em várias publicações produzidas para a ocasião, redatores apressados repetiram a história de que carmen teria ido para os estados Unidos em 1939 – e se dado tão bem por lá – por causa da Po-lítica da boa Vizinhança, criada por nelson rocke-feller para o governo roosevelt na segunda guerra, a fim de assegurar que a américa do sul (leia-se bra-sil e argentina) não virasse as costas à sua “irmã” do norte no conflito. não que tais redatores fossem peritos em carmen, rockefeller ou boa Vizinhança. estavam apenas reproduzindo teses acadêmicas des-cosidas, publicadas nos últimos anos por mestran-dos ou doutorandos fascinados pelo assunto e por essa versão acoelhada da história.

só que nada, absolutamente nada, sustenta a dita versão. basta acompanhar os fatos por aquele critério que vive desmentindo suposições delirantes: a cro-nologia. Quando o megaempresário americano lee shubert veio ao rio no carnaval de 1939 e contratou carmen para sua companhia de teatro, os estados Unidos ainda estavam a quase três anos de entrar na guerra – o que só fariam em dezembro de 1941, na sequência do ataque japonês a Pearl Harbour. o pró-prio rockefeller levaria dois anos e meio para criar o birô de negócios interamericanos, órgão executivo da

Política da boa Vizinhança, e que só começaria a fun-cionar em agosto de 1940. aliás, quando shubert se encantou com carmen, ao vê-la e ouvi-la no cassino da Urca, ainda não havia nem a guerra – que só iria começar, e apenas na europa, em setembro de 1939.

ou seja, quando carmen estreou na broadway, em junho daquele ano, o uso de uma cantora brasi-leira como instrumento político entre as nações era tão remoto e sem sentido quanto nomear Mickey Mouse chefe do Fbi. a partir de 1942, sim, car-men – e toda Hollywood – foi mobilizada pela tal política. Mas, ali, ela já era carmen Miranda.

outra característica da vira-latice é medir a im-portância de um artista brasileiro pelo reconheci-mento que ele obteve lá fora... Foi assim que metade das perguntas que me fizeram sobre carmen nos últimos meses referiu-se ao seu sucesso no teatro, ci-nema, rádio, boates, estádios e televisão dos estados Unidos, até sua morte, em Hollywood, aos 46 anos, em 1955. É como se a carreira brasileira de carmen, entre 1929 e 1938, não tivesse existido – como se, naquele período, ela não fosse a maior estrela do dis-co, do rádio, do palco, do cinema e da moda no bra-sil e a principal inspiração para compositores como ary barroso, assis Valente, synval silva e dorival caymmi, que puseram o brasil em letra e música.

os americanos cuidam muito bem da sua car-men – a dos filmes de Hollywood, com os chapéus, sapatos e fantasias extravagantes e o sotaque quase infantil. e nós também cuidamos muito bem da carmen dos americanos – em detrimento da car-men marota, adulta e genial que um dia fez o brasi-leiro se ouvir pela primeira vez.

carmen é nossa e nInguém tascaNo centenário da cantora brasileira, pouco se vê da Carmen Miranda marota, adulta e genial que um dia fez o brasileiro se ouvir pela primeira vez