POR UM JORNALISMO ALÉM DA TÉCNICA · PDF fileum curso de graduação para ... O autor de Mídia e Modernidade John Thompson ... gregos para mostrar as fragilidades do pensamento

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    POR UM JORNALISMO ALM DA TCNICA

    Tatiana Carilly Oliveira Andrade1

    Pontifcia Universidade Catlica de Gois (PUC-GO)

    [email protected]

    Fenomenologia, Tcnica e Cincia

    RESUMO

    Partindo da polmica da suspenso da obrigatoriedade do diploma do jornalismo para o exerccio profissional, esse

    artigo tem como objetivo discutir o avano da tcnica/tecnologia e sua relao indissociada com o Jornalismo e o ensino

    desse ofcio na modernidade ou atualidade, luz das ideias de autores que colocam em questo o sentido que o homem

    atual vem dando tcnica/tecnologia, ao saber jornalstico e a formao desse profissional.

    Palavras-chave: tcnica/tecnologia, jornalismo, ensino.

    O jornalismo est em crise de valores e de identidade, e, pelo jeito, o seu ensino tambm

    est sendo questionado e menosprezado(...) Assim como o jornalismo, as escolas de

    jornalismo tambm esto em crise de identidade e objetivos. Existem, mas no sabem

    muito bem para que servem ou como ensinar um ofcio em constante evoluo.

    (BRASIL, 2007, p. 184)

    Em 2009 o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a obrigatoriedade do diploma de

    jornalismo para o exerccio da profisso. Na seo que julgava o assunto,as profisses de

    jornalismo e a de cozinheiro foram comparadas na tentativa de demonstrar que ambas

    apresentavam caractersticas semelhantes ao ponto de deduzir que a no exigncia do diploma para

    o cozinheiro exercer sua profisso poderia ser pensada tambm para o profissional do jornalismo.

    A comparao foi feita com finalidade de demonstrar que o jornalismo seria um ofcio tcnico,

    cuja prtica poderia ser aprendida no dia-a-dia do fazer jornalstico, no havendo necessidade de

    um curso de graduao para tanto.

    Acerca dessa comparao, trs anos antes dessa deciso, sem desmerecer a profisso de

    cozinheiro, o autor Roberto Seabra, fez de forma didtica e pedaggica uma analogia entre a

    prtica de cozinhar e a jornalstica. Porm, ao contrrio do que o STF apresentou, sem realizar

    recortes que pudessem favorecer ou no interesses acerca de exigncia de uma formao em nvel

    1Aluna do curso de doutorado em Educao do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu da Pontifcia Universidade

    Catlica de Gois.

    mailto:[email protected]

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    superior especfica para o desempenho profissional, Seabra (2006) considerou no s as

    semelhanas, mas tambm, a existncia de diferenas entre as duas profisses.

    O jornalista Joo Roberto Piza (2008) acrescenta que o lcus universitrio ainda o lugar

    mais adequado para pensar sobre o saber jornalstico. Nesse ambiente acadmico possvel refletir

    sobre a informao fora do calor das rotinas produtivas das redaes e tentando compreender a

    tcnica envolvida em todo o processo de produo de notcias alm de uma viso meramente

    instrumental.

    Em agosto deste ano de 2012, o senado aprovou a Proposta de Emenda Constituio, N 33

    de 2009, tambm conhecida como PEC dos Jornalistas, que torna obrigatria a obteno do diploma

    no curso superior especfico de jornalismo para o exerccio da profisso. No entanto, o desfecho

    dessa histria ainda est por vir, j que a proposta deve ser ainda votada na Cmara dos Deputados.

    Vale lembrar que na histriadessa profissono a primeira vez que o curso superior em

    Jornalismo colocado em questo. A esse respeito, o jornalista e professor Carlos Chagas faz o

    seguinte alerta:

    No fundo, pretendem os inimigos do diploma evitar o que passou a acontecer aps a

    obrigatoriedade, o desembarque nos jornais de uma categoria j forjada nas salas

    universitrias, unida e cnscia de seus deveres e de seus direitos, disposta a no se curvar as

    imposies no raro ditadas por interesses econmicos, polticos ou pessoais. Como, da

    mesma forma, pronta a reivindicar salrios dignos e condies elementares de trabalho.

    Escolhendo jornalistas como se colhem frutos no pomar, de acordo com o gosto de cada um,

    os donos de jornal ficam mais vontade para exercer a ditadura de suas idiossincrasias.

    (CHAGAS, 2008, p. 135).

    Essa questo de exigncia ou no do diploma de jornalismo para o seu exerccio apresenta

    explicitamente um vis poltico-econmico em que de um lado encontram-se representantes do

    poder pblico, jornalistas prticos e grandes empresas de comunicao, e de outro os jornalistas

    graduados em Comunicao Social - habilitados em jornalismo -e o meio acadmico que se dedica a

    sua formao. Trata-se de uma luta que passa por interesses diversos que vo desde a reserva de

    mercado para a categoria, cuja graduao especfica em Jornalismo garantiria ao pblico informao

    de qualidade e de interesse pblicoat a defesa de uma suposta democratizao da informao, com

    a liberao de qualquer profissional de outra rea atuar nesse campo da Comunicao Social. Porm,

    esse artigo no tem a pretenso de levantar bandeira contra ou a favor do diploma de jornalismo,

    mas, sim, partindo das consideraes apresentadas pretende-se ento discutir o saber jornalstico,

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    tentando demonstrar como esse campo vem sendo constitudo, principalmente, levando em conta os

    impactos do avano tecnolgico na profisso do jornalista e no ensino desse ofcio. Seria ento, o

    jornalismo uma profisso meramente tcnica que dispensasse uma formao verticalizada e slida

    por meio de conhecimento adquirido em curso superior especfico de Comunicao Social

    Jornalismo? Ser que o avano tcnico/tecnolgico est mudando de fato o saber jornalstico e o seu

    ensino?

    O autor de Mdia e Modernidade John Thompson (1998)desenvolve uma teoria social da

    mdia e de seu impacto, mostrando como o seu desenvolvimento, que passa pelas tcnicas e

    tecnologias da informao vem modificando a constituio do espao e do tempo da vida social,

    criando novas formas de ao e interao. Segundo ele, fato que a indstria da imprensa2 s foi

    possvel a partir do desenvolvimento da tipografia por Gutemberg.Esse avano tcnico permitiu que

    informaes manuscritas que circulavam com a finalidade de incrementar o desenvolvimento do

    comrcio e do meio urbano durante a Idade Mdia ganhasse periodicidade e maior alcance do

    pblico devido ao aumento do nmero de exemplares. Posteriormente, a tecnologia radiofnica

    permitiu que as notcias, matria- primas do jornalismo,tivessem um alcance ainda maior do

    pblico, situado tanto no espao das cidades, quanto no meio rural, inclusive, atuando como

    principal fonte de informao em meio a grande parcela da populao ainda analfabeta.

    Com a inveno da televiso o alcance do pblico torna-se ainda maior e conforme os

    avanos tecnolgicos ocorrem nessa rea a difuso de notcias e informaes antes regional passa a

    ter amplitude nacional e at internacional. Com o desenvolvimento da internet j se pode falar em

    transmisso jornalstica em tempo real, planetria e interativa.

    Esses veculos de comunicao- o impresso, o rdio, a TV e a internet - se tornaram

    possveis graas ao avano cientfico e tecnolgico. E o jornalismo, um ofcio que se constituiu e

    vem ampliando o seu poder de forma extremamente dependente do desenvolvimento dessas tcnicas

    da informao sofreu e sofre inmeras reconfiguraes a fim de se adaptar a cada um deles e a cada

    novo avano tcnico desses meios.

    2 Imprensa se refere produo de notcias em um espao pblico. Ela est situada no interior da mdia e sendo assim

    ambas se influenciam mutuamente. J a mdia engloba alm de informaes /notcias outras manifestaes culturais que

    se voltam mais ao entretenimento tais como: novelas, filmes, desenhos, shows, entre outros. (PENA, 2005)

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    O gegrafo e professor Milton Santos (2005), entendendo a histria como um processo

    evolutivo se remete a Kant a fim de assinalar uma relao entre progresso histrico e progresso da

    tcnica indicando que a cada evoluo tcnica, uma nova etapa histrica se torna possvel. (p.24,

    2005). Alm disso, o autor aponta para a novidade de que pela primeira vez na histria da

    humanidade um sistema de tcnicas as tcnicas da informao envolve o planeta como um todo

    e faz sentir, instantaneamente, sua presena. As tcnicas caractersticas do nosso tempo, presentes

    que sejam em um s ponto do territrio, tm uma influncia marcante sobre o resto do pas, o que

    bem diferente das situaes anteriores. (p.25, 2005). Levando em conta a indissociabilidade entre

    jornalismo e tcnica pode-se dizer que na poca atual a cada evoluo datcnica/tecnologia da

    informaose abre a possibilidade para uma nova etapa histrica do jornalismo.Nessa perspectiva,o

    saber jornalstico e o seu ensino encontra uma condio de possibilidade3 de pensamento tambm

    jamais vista na histria do homem.

    Diante dessa revo