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P rtela magine Distribuição gratuita Junho 2013 Periodicidade Bimestral 10 # Revista da Associação dos Moradores da Portela «A fusão das freguesias de Moscavide e da Portela é um absurdo completo» líder parlamentar do PCP e candidato à Câmara Municipal de Loures Bernardino Soares Entrevista a Joana Vasconcel a artista do momento Myriam Zaluar a activista do Que se lixe a troika Uma família de escritores

Portela magazine n.º 10

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Nesta edição, Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP, fala à Portela Magazine da situação do país e da sua candidatura à Câmara Municipal de Loures. Isabel Fraga apresenta o seu novo livro «A Música das Esperas» e a portelense Alexandra Marques revela toda a verdade sobre o maior tabu da presença portuguesa em África, num livro intitulado «Segredos da Descolonização de Angola». A artista plástica Joana Vasconcelos e a activista Myriam Zaluar também fazem parte do painel de entrevistados desta edição.

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P rtelamagazine

Distribuição gratuitaJunho 2013 Periodicidade Bimestral10#

Revista da Associação dos Moradores da Portela

« A fusão das freguesias de Moscavide e da Portela é um absurdo completo»

líder parlamentar do PCP e candidato à Câmara Municipal de Loures

Bernardino Soares

Entrevista a Joana Vasconcelos

a artista do momento

Myriam Zaluara activista do

Que se lixe a troika

Uma família de escritores

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MENSAGEM DA PRESIDENTE

Carla MarquesPresidente da Associação dos Moradores da Portela

Caros leitores:Finalmente, chegaram as merecidas férias para os nossos jovens e seniores. Após um intenso ano lectivo, cum-pre-nos desejar a todos umas excelen-tes férias, que aproveitem da melhor maneira possível.Mas agora que os nossos jovens po-dem desfrutar de umas merecidas fé-rias, temos a consciência de que, por vezes, as férias lectivas acabam por se traduzir num problema acrescido para os pais, por falta de opções na escolha da forma de ocupar o tempo livre dos seus filhos.Certamente, todos os pais se debatem nesta altura com a mesma pergunta: Qual a melhor forma de ocupar os tempos livres dos «meus» filhos no Verão? Ir à praia? Ficar em casa so-zinho? Ir para casa dos avós? O que vou fazer?...Nós, na AMP, queremos colaborar com as famílias durante este período, pelo que podem continuar a contar com o nosso Centro de Actividades – Portela Jovem durante as férias de Verão.Todos os anos, damos o nosso máxi-mo para nos reinventar e melhorar ain-da mais aquilo que temos vindo a fazer em anos anteriores. Queremos atingir padrões de diversão, de boa disposição e de qualidade superiores. Por isso, este ano esforçamo-nos para apresentar um programa de férias que vá ao encontro das expectativas dos nossos jovens e dos pais, sendo que cada semana será

diferente da semana anterior.As actividades criadas mudam diaria-mente e são renovadas de acordo com aquilo que podemos oferecer e tam-bém de acordo com o número e inte-resse dos nossos jovens, mas temos programadas diversas actividades que vão além das actividades desportivas, temos a preocupação de oferecer vá-rias opções, com o intuito de tentar cobrir os interesses próprios de cada jovem. Assim, para lá da preocupa-ção de fomentar a prática desportiva dos nossos jovens, também iremos ter tempo para ir à praia e desenvolver ac-tividades de cariz cultural e outras de puro lazer.Os nossos objetivos junto dos jovens são abrir novas perspectivas sobre o mundo que os rodeia, desenvolver o interesse para a prática do desporto e para a importância deste para um es-tilo de vida mais saudável, mas tam-bém temos a preocupação de procurar incrementar a criatividade, o conheci-mento e a capacidade de expressão, na esperança de podermos contribuir para a valorização da experiência de cada um dos jovens que nos acompa-nham.Pretendemos ser mais um contribu-to construtivo na vida dos jovens. Assim, estamos convictos da nossa missão, como meio de auxílio para a promoção do desenvolvimento pleno dos jovens que a nós recorram. Além do nosso programa de férias que está disponível no nosso site, na página de facebook da AMP e ainda nesta revista na rubrica «Vai Acon-tecer na AMP», neste ano e como já vem sendo habitual, o Portela Jovem vai realizar uma vez mais uma sema-na de acampamento, de 1 a 5 de Julho. É o 3.º ano que desenvolvemos esta actividade que tem sido um enorme sucesso e muito do agrado dos nossos jovens.Uma vez mais e porque a experiên-cia tem sido excelente, vamos para o Parque de Campismo de São Pedro de Moel, que se encontra situado numa pequena estância balnear da Costa de Prata, bastante procurada sobretudo pelos residentes da zona interior cen-tro do país. Este Parque é um dos mais atractivos da Rede Orbitur, fica situado num pi-

nhal, tranquilo e com óptimas infra-es-truturas, possui bons serviços comer-ciais, incluindo snack-bar/ restaurante. Na localidade, existem farmácia, mini-mercados e parques infantis e de me-renda.O parque está dotado de piscinas com escorregas que têm feito as delícias de todos os nossos jovens e a praia situa-se a 600 metros do parque.Este é um parque muito tranquilo e nas primeiras semanas de Julho com pou-cas pessoas, o que permite uma maior segurança para os nossos jovens. O Parque de Campismo de São Pe-dro de Moel é galardoado pelo DCC (Deutsch Camping Club) com o PRÉ-MIO DCC EUROPA 2004, pela pri-meira vez atribuído em Portugal.Mas a AMP tem mais opções, também o Portela Ténis tem um programa de ocupação dos tempos livres com mini-cursos de ténis destinados aos jovens, que é uma excelente forma de conhe-cer esta modalidade.Apesar de a nossa preocupação prin-cipal neste período serem os jovens, nem por isso esquecemos os nossos seniores, e neste ano também estamos a trabalhar no sentido de desenvolver algumas actividades que lhes serão destinadas. Assim, o Portela Sábios irá juntar-se ao Portela Jovem e convida-mos os nossos sábios a acompanharem os nossos jovens à praia, iremos ainda promover umas matinés com filmes e debates, em conjunto com a nossa pro-fessora Elisabete Carriço.Mesmo em férias, a AMP contínua disponível para todos os que quiserem partilhar connosco o tempo de lazer, quer no que respeita a actividades para jovens como para seniores… Conti-nuamos de portas abertas… e, com a vossa participação, certamente estas irão ser uma excelentes férias de Verão (se o São Pedro deixar…). Com o final de mais um ano lectivo, gostaríamos de agradecer uma vez mais a todos os que confiaram em nós os seus educandos, aos nossos jovens e aos nossos monitores pelo trabalho desenvolvido, mas também aos nossos Sábios e Professores, porque sem eles nada disto seria possível. Bem-haja a todos!

Carla MarquesPresidente da Direcção da AMP

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EDITORIAL

Portela Magazine – Revista Bimestral – Proprietário Associação dos Moradores da Portela – Director Manuel Monteiro – Redacção Eva Falcão, Filipa Assunção, Leonor Noronha – Colaboradores Armando Jorge Domingues, Bonifácio Silva, Carla Marques, Fernando Caetano, Filipa Lage, Humberto Tomaz, José Alberto Braga, Miguel Esteves Pinto, Miguel Matias, Patrícia Guerreiro Nunes, Rui Garção, Rui Rego – Sede de Redacção Associação dos Moradores da Portela, Urbanização da Portela, Parque Desportivo da AMP, Apartado 548, 2686-601 Portela LRS – Telefone 219 435 114 – Site www.amportela.pt – E-mail [email protected] – Email Comercial [email protected] – Direcção Comercial: António Nascimento – Grafismo ITW-Ideas That Work, Lda. – Impressão Nova Gráfica do Cartaxo – Tiragem 6500 exemplares – Depósito Legal n.o 336956/11 – ISSN N.o 2182-9551

Ficha Técnica

O fenómeno não é estritamente português. Vivemos numa era de pseudocientificidade da economia e das finanças, em que as

previsões e os modelos são sucessivamente desmentidos pela realidade, sem que os seus dogmas saiam minimamente arranhados. A máscara da neutralidade ideológica todos os dias rasga-se mais um bocado. Quem hoje reclama o mais vago sentido humanista é um «radical» ou um «extremista». Porque, dizem-nos, não há alternativa – e isto é todo um programa. Na técnica, na ciência, há uma solução única – na política, na democracia, há sempre alternativas, há sempre escolhas e valores. Começemos por uma simples observação da realidade. Porque é que a opinião publicada criou duas balizas – trabalhadores do público e trabalhadores do privado (assente na verdade insofismável de que tem de haver uma harmo-nização por baixo; quando o que se pretende, por trás da «justiça» deste debate, é baixar o custo do trabalho como o demonstram todas as outras medidas) –, não permitindo a discussão da re-partição do esforço entre o Capital e o Trabalho? Porque é que o enxame de comentadores não aborda este tópico quando objectivamente a ba-lança está cada vez mais desnivelada? Aquan-do do famigerado anúncio da TSU, um milhão de pessoas não veio à rua e os comentadores de serviço, sempre a reboque da crista da onda, não criticaram a medida por ser uma «transfe-rência directa do rendimento do trabalho para o rendimento do capital»? Não conseguirão per-ceber que inúmeras outras medidas são igual-mente transferências do rendimento do trabalho para o capital, como a redução da indemnização nos despedimentos, e que essa é a lógica de acção do Governo? Porque afirmou o primeiro- -ministro com ar grave que os contratos com as PPP estavam «blindados»? Acaso os contratos entre os trabalhadores no activo ou na reforma

e o Estado não deveriam também estar? Porque têm uns de ser «honrados» e outros violados unilateralmente? Porque aumentou brutalmente o Governo o IVA sobre a electricidade dos Por-tugueses sem contrapartidas igualmente brutais no ataque às rendas da EDP? O facto político mais relevante dos últimos anos correu ligeiro entre a espuma dos dias. O ex- -secretário de Estado da Energia, Henrique Go-mes, elaborou um estudo sobre a necessidade de efectuar «cortes nas rendas excessivas do sector eléctrico», o que de resto estava previsto no Memorando, e foi expeditamente demitido. Com uma inexcedível clareza, afirmou que os «privilégios do sector elétrico» se manifestam «em rendas e tarifas excessivas, financeiramen-te insustentáveis, económica e socialmente ile-gítimas e, no caso das rendas, ilegais [...] o que os Portugueses pagam a mais é drenado para fora da nossa economia. [...] A propaganda e o lobby dos grandes operadores e o silêncio do governo, igualmente ensurdecedor, têm asse-gurado os privilégios do sector eléctrico». Pior do que isso, o ministro da Economia confirmaria a demissão de Henrique Gomes por pressões do lóbi do sector da energia, dizendo: «Quando o meu anterior secretário de Estado da energia, o engenheiro Henrique Gomes, saiu, eu tive um dos principais presidentes das produtoras de energia elétrica em Portugal a telefonar para várias pessoas, a celebrar com champanhe.»O desemprego cresce imparável (só em 2012 o INE registou a maior destruição de postos de trabalho de sempre). O número de consul-tas médicas em centros de saúde desceu um milhão e meio em 2012 (um milhão e meio, quantas pessoas terão morrido mais depressa?). O rendimento estipulado para receber apoio do Fundo de Alimentos para menores baixou de 485 para 419 euros. A fome alastra entre as crianças e o Hospital de Santa Maria comunica que há crianças que chegam doentes ao hospi-tal por causa da fome. Motoristas da Carris des-maiam com fome. Os suícidios, nomeadamente na área da restauração, grassam. Os velhos escolhem entre alimentos ou comprimidos. Em 2012, o consumo de livros diminui um milhão, o

de bilhetes de cinema dois milhões e a valida-ção de viagens em transportes públicos desceu 45 milhões! Com este cenário, o ministro das Finanças vem dizer-nos que «o ajustamento de Portugal é muito bonito».A propaganda é muito forte, mas a realidade ain-da é mais. Com a retracção do emprego e do produto e os galopantes juros da dívida, de três em três meses, por vezes menos, temos novos «cortes brutais», novos impostos mascarados de um nome sugerido pelos especialistas de marke-ting (o Governo já fez 65 alterações de aumento de impostos), novas leis retroactivas atentórias de um Estado de Direito, novas previsões porque todas as anteriores falharam, renovados ataques a sectores da sociedade que têm de ser punidos com os media a cavalgarem a onda dos direitos «adquiridos» (e não «conquistados»). Bem podem propagandear que Portugal está no rumo certo – os indicadores macroeconómicos demonstram o contrário e os Portugueses sen-tem mês após mês que a sua vida está pior. Bem podem sobrecarregar mais e mais o factor trabalho – a dívida aumenta dia após dia. Bem podem dizer que Portugal é um paraíso laboral – o número de horas de trabalho de um traba-lhador português é superior à média europeia e o custo-hora metade. Bem podem dizer que a rigidez laboral aumenta o desemprego – em Por-tugal, como em Espanha, a precariedade e o de-semprego têm aumentado significativamente pari passu, sendo Portugal o terceiro país da UE mais precário laboralmente de acordo com o Euros-tat (e isto considerando apenas os contratados a prazo!). Bem podem dizer que as prestações so-ciais são generosas – apenas 44% dos desem-pregados beneficiam do subsídio de desemprego. Bem podem alardear que este é o caminho de uma pseudomodernidade – não é, quem sabe o minímo de História sabe que este é o caminho do regresso ao passado, do retrocesso civilizacional, da extinção de direitos, liberdades e garantias arduamente conquistados. Bem podem falar do número de funcionários públicos, dos gastos na saúde e na educação – todos estes números são percentualmente inferiores aos da União Europeia. Bem podem culpar o Tribunal Constitucional pelas eufemísticas contribuições adicionais – o desvio orçamental é um terço do desvio directa-mente resultante das previsões de Gaspar. Começam a escassear argumentos, bodes ex-piatórios, tretas com que o povo néscio se en-gana – só falta dizerem que a culpa é do povo, um povo militantemente estúpido e preguiçoso. É esse o derradeiro e até hoje inconfessável argumento: eles mereciam um outro povo. Um povo à altura dos seus superiores entendimen-tos e do seu solar e infatigável espírito empre-endedor.

Manuel Monteiro

No Reino da Propaganda

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FIGURAS DA PORTELA

Comunidade de LeitoresA Comunidade de Leitores, que começou na Junta de Freguesia da Portela, reúne-se na últi-ma terça-feira de cada mês às 18h00 na Asso-ciação dos Moradores da Portela nas instalações da Universidade Sénior. «É um grupo de quinze pessoas que vem sempre, mais mulheres do que homens, os homens lêem mais ensaio do que romance. Todos os homens que eu contac-tei dizem que já não lêem romance.»Em tempo de austeridade, a assiduidade na Co-munidade de Leitores não tem diminuído graças ao proverbial desenrascanço português. «Com-prar um livro por mês não é acessível a todas as pessoas. Uma lê em quinze dias, empresta a outra, e no mês seguinte trocam-se os papéis.»«Geralmente, não escolho livros que estão nas mesas das livrarias, escolho livros bons que valham a pena», afirma Isabel Fraga. Aberta a sugestões da comunidade, salienta que «as pessoas não gostaram do primeiro romance de Clarice Lispector, acharam-no muito denso». Por vezes, verifica o fenómeno de a pessoa não ter gostado do livro, mas de o querer reler após a discussão na comunidade, enriquecida com a partilha colectiva de interpretações que assimilou.Em oito anos, nunca houve exaltações. Talvez o segredo resida no seguinte: política e religião não são discutidas. «O que queremos é criar la-ços entre as pessoas.»Uma vida nas letrasIsabel Fraga tem obra publicada no conto, na poesia, no romance, sendo traduzida e lida em França. Tem também uma vasta obra na área da tradução (tradutora de Harry Potter, entre muitos outros). Neste momento, recolhe-se na poesia. «Tenho feito versos. É a melhor ma-neira de fugir a toda esta tristeza. Refugio-me um bocado na espiritualidade, o meu livro de poemas vai um bocado nessa linha. Olhando para todos os lados, não temos políticos, é um beco sem saída.»

Para Isabel Fraga, o meio editorial mudou — e para pior. «O valor da página de tradução baixou muito. Há muitos jovens tradutores a traduzir por muito pouco. Muitas editoras nem sequer pagam. As vigarices são mais do que muitas, as pessoas muitas vezes já nem lutam pelos seus direitos.»Isabel Fraga conhece bem o mundo literário português. Ser-se escritor hoje, esclarece, exige muito mais do que escrever livros. «É preciso querer fazer actividades além de escrever, o que me recuso como a minha mãe recusava. Um pivô de televisão vende imediatamente. Se o Tony Carreira amanhã decidir escrever um li-vro, vende com certeza. Além disso, o escritor não tem como controlar o número de livros que vende.» A qualidade literária tem actualmente muito mais dificuldade em se impor, sublinha. «Não há crítica literária, o que há são notícias. Nas livrarias, a montra, as mesas, o lugar são pagos; é tudo um negócio. Muitas editoras pu-blicam tudo o que lhes apareça desde que o autor pague.» À frente das editoras, estão hoje muitas vezes negociantes sem amor aos livros e profundamente ignorantes. Isabel Fraga conta que uma editora quis mudar-lhe a tradução de Madame Bovary para Senhora Bovary.Uma família de escritoresIsabel Fraga, escritora, é filha da escritora Maria

Manuel Monteiro

Isabel Fraga, uma mulher das letras

«Tenho feito versos. É a melhor maneira de fugir a toda esta tristeza»A pretexto do lançamento do seu livro A Música das Esperas no dia 9 de Maio pela Lua de Marfim, fui falar com Isabel Fraga, uma mulher afável, sensível, literata, tímida e uma excelente conversadora.

Judite de Carvalho e do escritor Urbano Tavares Rodrigues. O seu marido é o historiador e ensa-ísta Luís Fraga, professor da Universidade Sénior. As suas filhas, Inês e Sofia, trabalham no meio editorial, e Inês Tavares Rodrigues também já se estreou na literatura com Mágoas Furtadas. Isabel conviveu com escritores da época, como Ary dos Santos e Sophia de Mello Breyner, pes-soas que a marcaram muito.A mãe, cuja escrita prefere à do pai, indus-triou-a na sensibilidade literária, recomen-dando-lhe os livros na idade certa. «A minha mãe recusava-se a dar entrevistas, só queria escrever. Tudo o que ela escreveu é fortíssi-mo.» O pai, actualmente com oitenta e nove anos, continua a escrever e a publicar. «Tem uma vontade de viver e de continuar impres-sionante.» Urbano Tavares Rodrigues esteve presente no lançamento do último livro da fi-lha, A Música das Esperas, no qual discursou.Desde cedo, Isabel viu a família separada pela política. O avô havia lutado pela República, dois dos seus filhos eram do PCP e um era de direita. Quando chegava o Natal, a família desmoronava-se com as discussões políticas. «Jurei sempre que não deixaria que nem entre amigos nem na família as opções políticas de alguma maneira interferissem. Há pessoas boas em todos os quadrantes.»

Pé ante péA música recolhe sonolentaAo catre cósmicoDos seus aposentos.

Vaga e sedenta Dorme a sono soltoNo eco dos conventos.

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Filipa Assunção

Filipa Assunção

NOTÍCIAS dA FREGUESIA

No dia 24 de Abril, reali-zou-se a 1.a Caminhada do Agrupamento de Escolas

da Portela e Moscavide, que contou com o apoio de ambas as juntas de freguesia, da PSP e dos Bombeiros. Por volta das 8h30, os alunos das cinco escolas do Agrupamento saí-ram das respectivas escolas e reuni-ram-se no Jardim Almeida Garret. No ponto de encontro, deu-se início a uma actividade lúdico-desportiva e, em seguida, iniciou-se a caminha-da pela nossa freguesia. Os alunos passaram pelas principais ruas da Portela, sempre acompanhados pela PSP, captando a atenção e a curiosi-dade de todos os que desconheciam a realização da actividade. «Papel importante teve o Curso Tecnoló-gico de Desporto, a turma de 12.˚ ano, que nas três escolas do 1.˚ ci-clo acompanhou e ajudou na cami-nhada das crianças mais pequenas do pré-escolar e do 1.˚ ano. Papel

No dia 19 de Abril, a Escola Secundária da Portela pre-senteou-nos com a exposi-

ção do processo criativo dos postais que deram vida à colecção «Portela em Postal». Este projecto é da autoria da professora Teresa Pedro Ferreira e dos seus 11 alunos do 12.˚ ano, da disciplina de Desenho do curso de Artes Visuais: «A ideia é tentar trans-mitir o Lugar (Que lugar é a Portela?) Habituamo-nos a ver postais apenas de zonas históricas da cidade, en-quanto a Portela também tem as suas, aliás, nossas histórias. Quisemos tentar transmitir essas sensações», contou a professora. Os alunos es-

Portela em Postal

Caminhada

tiveram a vender os seus postais na nossa conhecida feira «Coisas e Loisas», onde dizem ter sido muito bem recebidos, conseguindo vender quase a totalidade dos seus postais. A Junta de Freguesia da Portela foi a responsável pelo financiamento do projecto, pagando as impressões dos postais, que possivelmente irão estar à venda na escola e também na Jun-ta de Freguesia. Com o dinheiro an-gariado, os alunos vão realizar uma visita de estudo a Évora, contentes com o enorme sucesso da exposi-ção e pelo retorno ter sido excelente. Mais uma vez, a Escola Secundária da Portela mostrou a sua qualidade enquanto escola de Artes Visuais. Pa-rabéns a todos!

igualmente importante tiveram os docentes Carlos Lopes e José Fortes que, quer na vertente de Educação Física, quer na vertente do projeto PES, Educação para a Saúde, foram os mentores de toda a organização. Saliento ainda o apoio dos Coor-denadores de Escola, dos docentes de todas as escolas e da Comissão organizadora do Dia do Agrupa-mento», contou a directora, Marina Simão. Para concluir a caminhada, os alunos regressaram ao Jardim e cantaram pela segunda vez, em con-junto, o Hino do Agrupamento, da autoria do professor João Cardoso. «Pretendeu dar-se uma identidade a este Agrupamento, ao vestirmos a camisola, ao sentirmo-nos todos

membros desta grande comunida-de educativa, daí a importância de ser ter cantado o Hino em dois mo-mentos», diz a directora da Escola Secundária da Portela. Este evento contou com a participação da Esco-la EB 2, 3 Gaspar Correia, da EB1 Portela, EB1 Dr. C. Gomes, da EB1 Quinta da Alegria, da Escola Se-cundária da Portela e do Externato S. Miguel Arcanjo que se juntou ao Agrupamento através de um gru-po alargado de alunos que toca-ram flautas, da responsabilidade do professor Hugo. Da parte da tarde, decorreram diferentes actividades nas respectivas escolas. O evento superou as expectativas de todos os envolvidos.

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ENTREVISTA

O PCP aposta forte na Câmara de Loures. O candidato da CDU à presidência da Câmara de Loures é o líder parlamentar do PCP, uma

cara bem conhecida dos Portugueses. Bernardino Soares afirma que se for presidente da Câmara de Loures, todas as cartas sobre problemas do con-celho terão resposta no âmbito daquilo que pre-tende ser uma política de proximidade. A Portela Magazine assinala que a CDU Loures é das raras instituições que acusam e agradecem sempre o recebimento da revista, bem como assinala o gesto de Bernardino se ter deslocado proposita-damente à Associação dos Moradores da Portela para dar a entrevista, uma prática pouco comum entre políticos e figuras públicas. Esta é a primeira de várias entrevistas da Portela Magazine aos can-didatos à autarquia de Loures.POrtUgAL E POLítiCA gErALDepois do discurso do Presidente da república no 25 de Abril, o PCP ainda tem esperança de que o actual governo se possa dissolver duran-te o seu mandato?Nós temos um governo que pela sua interven-ção, pela forma como viola a Constituição, como procura contornar as deliberações do tribunal Constitucional, como procura impor uma série de medidas que põem em causa direitos que estão consagrados, se constitui um governo que põe em causa o regular funcionamento das instituições. O Presidente da república tem de velar pelo regular funcionamento das instituições e, ao fazer aquele discurso no 25 de Abril, no fundo explicita mais aquilo que tem sido a sua prática nos últimos anos, e está de facto a transformar o governo num pro-tectorado do Palácio de Belém e a transformar-se a si próprio num apoiante do actual governo. Os governos caem não apenas por decisão do Pre-sidente da república, mas também por pressão popular, por descontentamento e nós não temos nenhuma dúvida de que esse descontentamento

vai continuar a manifestar-se com grande força e acutilância e que isso é que vai contar para der-rubar o governo.Este é para o PCP o governo mais à direita que Portugal teve após o 25 de Abril?Cada momento histórico é diferente de outro, mas acho que podemos dizer que a política seguida por este governo é a política mais anti-social e mais antidemocrática desde o 25 de Abril, embo-ra tenha partido de um patamar que já tinha sido atingido por outros governos antes. Desde 1976, tivemos uma série de governos cujo objectivo foi sendo sempre destruir uma grande parte do que se conquistou com o 25 de Abril.O País vive tempos muito difíceis, mas a esquerda persiste em não se unir. Porque há esta crónica dificuldade de união à esquerda em Portugal?

Porque há uma parte dos partidos que são nor-malmente considerados de esquerda que continua a estar vinculada a políticas de direita. Nós somos muitas vezes perguntados se estamos disponíveis para fazer uma aliança com o PS. Se é para conti-nuar com a mesma política, como temos tido nos últimos anos, então não contem connosco. Quando o PS continua a não se desvincular do Memorando da troika, quando continua a aceitar como boas as orientações dessa política, é muito difícil que nós nos possamos comprometer com um governo e uma coligação. Do ponto de vista autárquico, houve uma re-lação estável na coligação do PCP e do PS na câmara de Lisboa. Essa coligação foi muito benéfica para a cidade de Lisboa. Foi proposta pelo PCP, na altura o PCP

Manuel Monteiro

«A política seguida por este Governo é a política mais

anti-social e mais antidemocrática desde o 25 de Abril»

Entrevista a Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP e candidato à Câmara Municipal de Loures

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sair do Euro, mas em que o Governo responsável tem de preparar o cenário para a saída do Euro. Ela pode acontecer por duas razões. Uma é que nos ponham fora. A outra é por decisão própria. A moeda única é desastrosa para a nossa economia, é uma moeda feita à imagem do marco alemão, beneficiando a economia alemã e prejudicando as economias periféricas. No BE, há cerca de um ano, Francisco Louçã dizia que isso era uma coisa per-feitamente disparatada.Alguns militantes do BE, e não só, apontam o conservadorismo do PCP em matéria de cos-tumes. Uma delas é a questão da homosse-xualidade. O PCP votou unanimemente ao lado do CDS-PP contra a adopção de crianças por casais homossexuais. O que achámos é que não era o momento e que não estávamos preparados para tomar uma deci-são definitiva sobre esse medida. Foi criada uma imagem a partir desse ponto que não corresponde à realidade. Quem foi o primeiro partido que propôs que os direitos das uniões de facto se alargassem a uniões de factos do mesmo sexo? Foi o PCP. Isso ficou consagrado em lei por proposta do PCP. Quem lutou pela interrupção voluntária da gravidez, pela lei do divórcio, do casamento entre pessoas do mesmo sexo? Essas questões por vezes são instrumentalizadas por alguns para fazer mossa no PCP.O PCP ficou isolado na oposição a um voto de pesar pela morte de Vaclav Havel, figura política e cultural de relevo. O PCP, contudo, enviou as suas condolências ao povo da Coreia do Norte pela morte de Kim-Jong-il. Houve quem apro-veitasse a ocasião para voltar à sua polémica citação de que tinha dúvidas de que a Coreia do Norte não fosse uma democracia.Houve uma nota de condolências tendo em conta relações históricas. Em relação ao Vaclav Havel, nós temos permanentemente na Assembleia da República [AR] uma disputa em relação a determi-nadas personalidades institucionais, que é feita para realizar o debate político do que elas significaram na História. A nossa avaliação é de que há perso-nalidades que só por razões de anticomunismo e de procurar atingir o PCP é que são assinaladas na sua morte na AR. Recentemente, tivemos a Mar-garet Thatcher. A AR não deve ser transformada numa entidade legitimadora de uma determinada visão política. Sobre a citação, isso foi utilizado para procurar amesquinhar o PCP e neste caso o seu líder parlamentar. Essa citação não foi exactamente o teor da conversa. O nosso modelo de liberdade é o que está na nossa Constituição e no nosso pro-grama, e portanto não temos nenhuma afinidade nem com esse nem com outros regimes. Mal seria que um partido que andou quarenta e oito anos a lutar contra o fascismo tivesse qualquer dúvida em relação a essas matérias.Sobre a Síria, o PCP, designadamente por inter-médio do Avante!, tem uma posição contrária à corrente dominante.Em relação à Síria, o que dizemos é que tem de ser respeitada a soberania do país, independentemente

tinha mais votos do que o PS na cidade de Lisboa, tinha tido cerca de 25% da votação e o PS abaixo disso. Depois, porque se fez não em torno de uma distribuição de lugares ou de uma soma aritmética dos votos para conquistar o poder, mas de um programa, programa que foi sendo cumprido e que beneficiou muito a cidade de Lisboa; e que não era o programa do PCP nem o programa do PS, mas em que havia pontos em que estávamos essen-cialmente de acordo. Que cedências estaria o PCP disposto a fazer para integrar um Governo?O problema neste momento é que há questões básicas em que temos questões antagónicas. Nós, por exemplo, não podemos aceitar que continue o programa de privatizações, que os correios sejam privatizados, que a CP seja privatizada, e o PS acei-ta essa circunstância. O PS nunca se compromete com a reposição dos direitos que foram retirados. Depois, há o problema da União Europeia. Nós não aceitamos na situação em que estamos que a situ-ação seja transferir mais soberania para a UE. Isso significa no quadro actual submeter mais e mais decisões ao directório das potências maiores da UE e aos grupos económicos que estão por trás. Isso está a dar o que se vê e dará ainda piores resultados se a transferência for maior. Uma coisa é cooperação com outros países, outra é subor-dinação.Jerónimo de Sousa declarou que um trabalha-dor ser do PCP assusta um patrão, mas que ser do Bloco de Esquerda [BE] não assusta nada. Concorda? Não acha que este tipo de declara-ções só contribui para a divisão da esquerda? Tratando-se de dois partidos [o PCP e o BE] com uma larga convergência parlamentar, por-que não poderá haver uma aliança entre ambos nomedamente em tempos de crise aguda e de radicalismo do Governo? Essa afirmação pode querer dizer que há uma es-truturação maior dos direitos dos trabalhadores e que o movimento sindical de classe é uma reali-dade. É verdade que a maioria das iniciativas do BE e do PCP são reciprocamente votadas por estes partidos, mas há coisas que têm de ser assina-ladas como diferentes. Há uma linha de um certo pendor de maior conciliação daquilo a que nós chamamos «luta de classes», isso faz parte da sua matriz ideológica, embora ela seja um pouco inde-finida. Se olharmos para questões como a Europa, os seus principais dirigentes continuam a dizer que é preciso aprofundar a construção europeia. Isso significa transferir mais soberania e quanto a isso nós não estamos de acordo. Quanto ao Euro, além de termos exigido um referendo aos tratados de Maastricht e aos tratados subsequentes, que foram recusados, nós dissemos que isso ia ser dramático para a nossa economia, para o tecido económico que nós tínhamos. Praticamente, estivemos iso-lados nisso, além do professor João Ferreira do Amaral e de mais uma ou duas vozes, e hoje a realidade comprovou infelizmente que tínhamos razão. Nós temos feito muita reflexão sobre a saída da Euro. A questão não se põe em se devemos

do que se pense sobre o Governo que lá está. O que se está a preparar é um pretexto para uma intervenção que já está a ocorrer, porque aque-les grupos armados são armados pelos EUA, pela França e pela Turquia para intervir dentro daquele país. Isto tudo se enquadra numa estratégia, desig-nadamente dos EUA, de ter cada mais intervenção no Médio Oriente, como aconteceu no Iraque, no Afeganistão, onde o objectivo não foi instalar a democracia, mas tomar o poder, controlar rotas, reservas estratégicas. Basta fazermos uma com-paração com o que aconteceu na Líbia. Khadafi foi durante muitos anos um aliado dos paises ociden-tais, da NATO, Durão Barroso foi lá, encontrou-se com o presidente norte-americano. A partir de um determinado momento, já não servia essa situação e criaram-se pretextos, o regime de Khadafi não mudou de um dia para o outro, talvez porque a Líbia se tenha começado a relacionar mais em termos de trocas comerciais do petróleo e do gás natural com a Rússia e com a China. Nós cá em Portugal só lemos a partir do que a Reuteurs e a AFP publicam, somos enganados imensas vezes. A propósito das armas químicas, vemos o presi-dente Obama dizer «Se o regime sírio tiver usado armas químicas», mas depois eu vi uma decla-ração de um ministro dos Negócios Estrangeiros, penso que da Síria, dizendo que o uso das armas químicas, sim, estava comprovado, tinha sido numa cidade que é dominada pelos tais grupos armados e portanto atribuindo a esse grupo a autoria do uso das armas químicas. Não temos de acreditar mais nisto do que no contrário, mas as coisas não são normalmente como nos apresentam. Os inúmeros exemplos de imagens forjadas, de imagens que são de outros países denunciam bem que hoje há um grande controlo dos grandes grupos de co-municação daquilo que é depois a produção de informação.O PCP defende a renegociação da dívida. Os detractores desta posição escudam-se em que temos de honrar os nossos compromissos e em que não é por se querer renegociar que se consiga a renegociação.Isso é dizer que só há a renegociação que os cre-dores quiserem. Uma relação de credor-devedor também tem direitos. Quando o devedor, como acontece com o actual Governo, não reivindica nada, então estamos desgraçados. Nós achamos que há uma parte da dívida que é ilegítima, porque foi contraída em condições altamente especula-tivas, beneficiando grandes bancos, e essa dívida tem de ser cortada mesmo nos seus montantes. Queremos pagá-la, mas temos de ter condições para o fazer, quer na baixa dos juros, quer no alar-gamento dos prazos de pagamento, mas também nas condições de pagamento. Uma das propostas que estamos a fazer é que haja uma indexação do serviço da dívida anual ao nível das exportações, isto foi o que aconteceu a seguir à Segunda Guerra Mundial com a dívida pública alemã. Isto permitia que a economia se desenvolvesse e com as recei-tas que a economia ia gerando se pagasse a dívi-da. E pagou-se. Só com crescimento económico é

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ENTREVISTA

que se paga a dívida. O Governo prometeu baixar a dívida e só está a aumentá-la. Se nós temos mais recessão, onde é que é possível arranjar o dinheiro para uma dívida que é cada vez maior? Não é possível. E depois há uma série de recursos que estão a ser retirados para os encargos da dívida e que são essenciais não só para o crescimento económico, mas para garantir os direitos às pes-soas. Nós hoje pagamos mais de juros da dívida do que para o sistema público de educação. E depois vêm-nos dizer que não há dinheiro. Onde é que vamos buscar o dinheiro? Aos sete mil milhões de juros, aos dois mil e quinhentos milhões de euros de swaps, vamos buscar mil e cem milhões que só em 2013 se vão pagar para o buraco do BPN, vamos buscar às PPP que são centenas de mi-lhões euros neste ano e que continuam a ter uma taxa média de rendibilidade interna de 10%, não há nenhuma aplicação financeira que dê 10%, vamos buscar às rendas excessivas dos monopólios, de-signadamente do sector da energia. Ainda recen-temente, um ex-secretário de Estado da Energia que saiu em conflito com a postura do Governo de subserviência em relação à EDP denunciou que continuava a haver um extraordinário e escanda-loso favorecimento destes monopólios. Há dinheiro nesses sítios todos. Há quem vá mais longe, como o PCTP-MRPP e mais recentemente até Mário Soares, e defenda o não pagamento da dívida dizendo que a dívida é impagável e que renegociar é ter a troika por mais tempo. Está fora de hipótese para o PCP o não pagamento da dívida?Aí, há uma mistura de coisas que são diferentes. O não pagamento de uma parte da dívida que é ilegítima é a nossa posição. O não pagamento do montante total da dívida, isso não nos parece que seja necessário desde que haja condições para a pagar. Há uma confusão entre renegociação da dí-vida e continuação da troika cá. O Governo está a preparar um segundo resgaste. Não dá para cortar no Estado e nas pensões indefinidamente. O PS fala em renegociação do memorando e nós dizemos que tem de ser rasgado. Impuseram-nos um con-junto de restrições que tem de ser rejeitado, nós quando chegarmos ao fim do programa vamos ter um nível salarial do País muito abaixo do que era antes do início do programa, porque o desempre-go é mais elevado, o que obriga a aceitar em-pregos com salário mais baixo, porque o subsídio de desemprego foi brutalmente cortado e quando uma pessoa não tem subsídio de desemprego está compelida a aceitar um emprego com um salário mais baixo e porque há depois a retirada de uma série de direitos, quando se reduz o pagamento das horas extraordinárias para metade, por exem-

plo. Esse é que é o verdadeiro programa. Isso e reduzir as funções essenciais do Estado, na saúde, na educação. E agora prepara-se uma reforma do IRC para baixar as taxas do IRC para os grandes investimentos, aquela comissão é para fazer as grandes propostas naquilo que interessa ao grande capital embrulhado num pacote de competitivida-de, mas nós não podemos ser competitivos sendo um paraíso fiscal. Isso não nos traz mais riqueza, porque eles deixam de pagar os impostos à mes-ma. Se olharmos para os inquéritos que são feitos ao tecido empresarial, sobretudo às PME, não é da taxa máxima de IRC que elas se queixam, nem é dos rendimentos do trabalho, é da energia, do crédito. Mais de 80% das nossas empresas traba-lham para o mercado interno. Se não há poder de compra, não há mercado interno. Até podem ter zero de IRC, se não vendem, não têm hipótese de sobrevivem. O IRC devia ser modulado em função da dimensão das empresas.LOuRESQue balanço faz do mandato do Partido Socia-lista e do presidente Carlos Teixeira à frente da Câmara de Loures?É um mandato que, em termos gerais, se pode dizer que foi um mandato ou de estagnação ou de andar para trás. Loures perdeu a sua importância económica, política e cultural que tinha granjeado como grande concelho que é. Do ponto da vista da organização da câmara, dos serviços munici-palizados, há uma situação desastrosa, uma falta de perspectiva, de planeamento, de projecto, bem patente no facto de estar há mais dez anos em revisão o PDM. O PDM não depende só da câmara, mas naturalmente consideramos que não é admis-sível que esta questão continue a estar pendurada, porque ela é essencial para resolver uma série de problemas do concelho e para perspectivar o seu desenvolvimento. Fazemos um balanço negativo e pensamos que é uma gestão que está completa-mente esgotada, seja com Carlos Teixeira ou com o seu sucessor. Loures precisa de uma mudança. A aposta do PCP numa figura com responsabi-lidades ao nível nacional, uma vez que é o líder parlamentar do partido, é a prova da importân-cia do concelho de Loures para o PCP?Sim, nós entendemos que o estado a que se che-gou neste concelho exige uma alteração. Depois, é evidente que há aqui uma circunstância que leva a que eu seja candidato neste concelho: eu ser de Camarate. A minha mãe e o meu pai ainda lá vivem e sempre foi no concelho de Loures que eu estudei [designadamente, na Portela] até ir para a universidade e foi onde desenvolvi a minha vida política até ir para a Assembleia da República, e depois disso continuei a ter ligação, eu sou eleito na Assembleia Municipal desde a última eleição. Quais são as suas principais prioridades se for eleito presidente da Câmara de Loures?Em primeiro lugar, é pôr os serviços da câmara a funcionar. A funcionar para responder melhor às necessidades das populações, combatendo o desperdício e os gastos com coisas que não são prioritárias nem necessárias, como despesas com

viagens, gastos com viaturas. uma das questões essenciais é impedir a privatização dos serviços municipalizados, porque se ela vier a acontecer, o PS em Odivelas já tem isso claramente em cima da mesa, ou por deliberação assumida ou por dei-xar degradar até que isso seja uma inevitabilidade, então as pessoas passarão a pagar muito mais pela água e o serviço será tendencialmente pior como acontece em todos os concelhos em que isso foi feito. Em termos de prioridades, há uma questão essencial. Nós não podemos obrigar à criação de emprego e à instalação de empresas, mas a câmara tem de ser um interlocutor válido e imprescindível para que as empresas se fixem cá, para que as que cá estão se mantenham e se desenvolvam. Isso não tem acontecido. A desva-lorização feita na macroestrutura da câmara em relação ao Departamento de Actividades Económi-cas é um sinal. Depois, há uma série de questões, da política cultural, do apoio ao associativismo, nós precisamos de olhar para a cultura não como uma maçada ou uma despesa, mas como um aspec-to essencial para a vivência democrática. Nós não queremos uma população embrutecida, queremos uma população esclarecida, e sendo esclarecida precisa de ter acesso à cultura. Isto não significa ter grandes festivais e grandes espectáculos, há uma política cultural que é preciso ser prosseguida, de proximidade, de apoio ao associativismo, e é preciso procurar retomar uma série de iniciativas que já existiram neste concelho, em particular para os jovens artistas e que contribuem para o desen-volvimento do concelho. Nós precisamos de uma política de proximidade. uma coisa que não pode acontecer é que as pessoas escrevam, ou façam reclamações, ou contactem a câmara municipal por causa de problemas e não tenham respos-ta. Em relação à câmara, é uma obrigação legal, o Código do Procedimento Administrativo impõe que as entidades públicas respondam sempre aos cidadãos que as contactam. Não quer dizer que tenham de dar razão aos cidadãos, mas é a con-versar com as pessoas que encontramos soluções para os problemas. uma coisa que temos detecta-do é o problema dos centros urbanos, como acon-tece no centro de Loures, no centro de Sacavém, no centro de Moscavide, que sempre foram de grande vivência popular e com uma implantação do pequeno comércio muito significativa, e hoje há uma progressiva desvitalização destes centros e isto tem de ser contrariado. Tem que ver com vários factores, como o desaparecimento de ser-viços públicos, de centros de saúde, correios, com alterações dos transportes. Precisamos de nos sentar em cada sítio com os comerciantes, com os representantes da população, com as juntas de freguesia. Nós teremos seguramente algumas ideias próprias, mas de certeza que elas só serão adequadas se forem discutidas com as pessoas e terão de ser corrigidas em função do que as pessoas disserem.uma das antigas aspirações da população do concelho de Loures era a construção de um hos-pital que foi consumada no ano passado com a

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abertura do Hospital Beatriz Ângelo. Qual a políti-ca de saúde do PCP para o concelho de Loures?Entendemos que o hospital veio tarde, mas mais vale tarde do que nunca. A nossa postura será a de ter um papel de acompanhamento e de garantia de que o hospital funcione o melhor possível. O hospital é uma parceria público-privada, o privado que o gere tem obrigações e nós procuraremos en-quanto representantes da população acompanhar o seu funcionamento e isso é essencial. Depois, há o problema das cem mil pessoas desta zona do concelho que não estão referenciadas pelo Hos-pital Beatriz Ângelo. No planeamento regional da saúde, a ideia era que esta zona oriental do con-celho fosse referenciada para o hospital oriental. Acontece que esse hospital não existe e, portanto, neste momento a situação que nós temos é que há quase cem mil pessoas que estão referencia-das para o Hospital de São José. Isso é para estas pessoas uma violência. É uma violência porque sobrecarregam o hospital que já está congestio-nado e porque, em matéria de acessibilidades, de transportes, isso é completamente inapropriado. O que nós entendemos neste momento que é ade-quado é que essas pessoas possam ser referen-ciadas para o Hospital Beatriz Ângelo enquanto não for construído o hospital da zona oriental de Lisboa. Há aqui um problema de várias freguesias de aceder por transportes públicos ao Hospital Be-atriz Ângelo, além de ser caro. Estive a estudar isso, na maioria dos casos, é preciso apanhar mais do que um transporte, o que significa que o custo da viagem de ida e volta é dez euros ou mais. Precisamos de ter mais carreiras e menos custos, a possibilidade de haver por exemplo um título de transporte único que garanta o acesso ao hospital. Depois, há o problema da entrada no hospital. A generalidade das carreiras, tirando duas carreiras e só em período de fim-de-semana, não passam dentro do hospital, porque na sua construção o cir-cuito interno do hospital não foi dimensionado para autocarros normais, só para minibus. Mesmo para quem tem carro próprio, o parque é pago. É preciso dialogar e encontrar soluções, porque isso torna muito difícil o acesso ao hospital. Ainda em relação à saúde, nós precisamos de ter uma política mais reivindicativa em relação aos cuidados primários de saúde, por exemplo a concretização da nova unidade familiar de saúde em Santa Iria, novas uni-dades que fecharam entretanto em Camarate, no Prior-Velho, o alargamento do funcionamento do CATUS de Moscavide, permitindo que as pessoas para aquilo que se chamam situações agudas mas não de urgência possam ser atendidas ali, se estão com gripe ou uma dor de garganta não precisam de ir para o Beatriz Ângelo nem para o São José. Isso é uma diferença que vamos marcar. Uma câ-mara não pode impor tudo ao Poder Central, mas se se cala perde. Este concelho tem duzentas e cinco mil pessoas.Um dos projectos elogiados da Câmara Municipal de Loures foi o projecto Rodinhas, um transporte público muito mais barato, amigo do ambiente, de curta duração e que teoricamente pára onde

as pessoas querem na linha azul marcada no chão. É para manter?O Rodinhas é um projecto cuja importância é veri-ficada por haver populações que não estão abran-gidas por ele e que o querem. Não deitaremos para fora tudo o que está feito para trás se tiver efeitos positivos. O que é preciso ver agora é a susten-tação financeira dessa política, inclusivamente já foi reduzida a frequência dos carros. Esse serviço está contratado com a Rodoviária de Lisboa e há custos. É uma solução que vem responder a um problema de base que é o facto de não haver na concessão rodoviária o assegurar de necessidades da população, isto é, as carreiras normais que es-tão concessionadas não garantem o transporte que as pessoas precisam e depois a câmara teve de forma extra de ir contratar um novo serviço para suprir necessidades que supostamente quem tem a concessão devia garantir e esta é a perversida-de da situação. Tem de se intervir aqui em dois campos. Primeiro, reinvindicando junto da Adminis-tração Central, junto dos transportes, que progres-sivamente as concessões correspondam mais às necessidades da população. Depois, é preciso olhar para o projecto e procurar que ela seja melhorado e preservado. Ele começou beneficiando de fundos europeus no âmbito da ligação às estruturas ferro-viárias, penso que neste momento já não beneficia desses fundos e tudo está a ser assente no orça-mento da câmara.Os transportes públicos são uma das prioridades da sua candidatura? Sim. Nós agora temos o Metro em Moscavide, o que é uma mais-valia e temos do outro lado do concelho o Metro em Odivelas. Precisamos de ter provavelmente uma ligação entre Odivelas e Lou-res que não seja só rodoviária. Isso permitiria ter uma alternativa muito mais rápida e eficaz. Outra coisa que tem de ser equacionada é a linha da Azambuja. É um desperdício a maioria das pessoas não equacionar o comboio para o centro de Lisboa. É preciso voltar a pôr o comboio como um meio alternativo. É evidente que há uma lógica nacional de restrição, uma lógica bastante perversa de que basta garantir o percurso casa-trabalho porque as pessoas só trabalham, mas é preciso envolver as populações e ter uma resposta das autarquias.Um dos efeitos da austeridade foi o chamado «apagão» das autarquias em que houve um ra-cionamento da iluminação pública, decisão essa que afectou o concelho de Loures e a freguesia da Portela, o que pode aumentar a sinistralidade rodoviária e a insegurança pública.Não fazemos demagogia com isso. É evidente que houve restrições no financiamento da câmara. Em

relação à electricidade, isso tem de ser avaliado. Tem de haver um equilíbrio entre a possibilidade de alguma poupança, não pondo em causa a se-gurança pública e rodoviária. Aí, entra um aspecto muito importante que é a EDP. Já encontrei situ-ações no concelho em que houve uma má loca-lização das luminárias e a EDP resiste ao máximo a fazer novos investimentos. Sendo uma empresa totalmente privada, não está preocupada com a segurança das populações, está é preocupada com o seu lucro. Quando vier o Inverno, temos de olhar para isso com muita atenção, procurando adequar o dispositivo a cada sítio concreto, conversando com as pessoas, que sabem isso melhor do que ninguém.Como sabe, houve quem acusasse o PCP e o PSD de oportunismo político na oposição à limi-tação dos mandatos.Em primeiro lugar, há a lei da limitação de man-datos tal como está publicada. Nós fomos con-tra essa lei. Não estivemos de acordo que ao fim de três mandatos um presidente não se pudesse candidatar na sua freguesia ou munícipio, porque o povo é que tem de decidir. Houve autarcas que estiveram muitos anos e que depois perderam eleições, o povo é que decide e esse princípio deve ser preservado. O problema neste momento é a interpretação da lei. Dizer-se que a limitação não é apenas para o concelho, é para todos os outros, é abusiva. O direito a candidatar-se, a eleger e ser eleito é um direito fundamental. Vemos com muita preocupação um certo populismo que se gerou em torno desta questão, que é a de que os autarcas por natureza são corruptos. Nós entendemos que às vezes são e não são punidos, mas isso é um problema da justiça. Mas tanto o podem ser no primeiro como no terceiro mandatos. Não aceita-mos é uma ideia geral de que ser autarca é ter cadastro.PORTELAEm relação à freguesia da Portela, duas das rei-vindicações antigas dos seus moradores são um centro de saúde e uma esquadra. O que pode o PCP prometer aos portelenses?Compreendemos perfeitamente essas reivindica-ções. O aglomerado populacional que é a Portela justifica perfeitamente isso. Nós rejeitamos esta fu-são de freguesias, se ela não faz sentido na maior parte dos sítios, aqui é um absurdo completo. São dois núcleos absolutamente distintos no seu edi-ficado, na sua origem, na sua vivência, até na sua composição política maioritária, e não há nenhum sentido em juntar as freguesias. Procuramos ainda lutar para que a fusão das freguesias seja inverti-da. O nosso compromisso é o de que as pessoas não fiquem mais longe dos serviços, mesmo que haja fusão. Finalmente, nós sabemos que há uma diferença na Portela quer no seu nível de vida, quer na organização do seu território, como há noutros lados, mas não olhamos para isso de forma dife-rente. Nas últimas três eleições da câmara, o nos-so cabeça-de-lista era da Portela e eu próprio fui subscritor da constituição da freguesia da Portela na Assembleia da República.

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SOLIDARIEDADE

VoluntariadoFilipa Lage

O sentirmo-nos úteis perante a vida e os outros está patente em todos nós, seja através da

família, do trabalho, dos amigos ou de acções de voluntariado que cada vez mais os Portugueses abraçam.É neste sentido que nesta revista escre-vo sobre o voluntariado na AMP.No ano de 1998, a Assembleia da Re-pública promoveu a lei n.̊ 71/98 que visa promover e garantir a todos os cidadãos a participação solidária em acções de voluntariado e definiu como sendo «[…] um conjunto de acções de interesse social e comunitário realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projectos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos in-divíduos, das famílias e da comunidade desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas». Define ainda, no Artigo 3.̊ , que «o voluntariado é o indivíduo que de forma livre, desin-teressada e responsável se compromete, de acordo com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, a realizar acções de voluntariado no âmbito de uma or-ganização promotora».Felizmente, ao longo dos anos, a nos-sa Associação tem tido vários sócios,

Também desde 2009 temos tido a sorte de alguns alunos da Escola Secundária da Portela estarem presentes no projecto Portela Jovem, quer nas férias lectivas, quer mesmo durante o ano lectivo. Além dos alunos do Secundário, tam-bém alunos do Portela Sábios têm passado por este projecto e, neste ano de 2012/13, o Portela Jovem tem tido a ajuda de duas associadas e alunas da nossa Universidade Sénior e de um anti-go jogador de Futsal. Falo-vos da Maria Adelaide Ribeiro, empresária em nome individual, 62 anos, sócia da AMP e alu-na do Portela Sábios; da Maria Manuela Rego, professora primária com especia-lização no ISPA de Borderline, 64 anos, sócia da AMP e aluna do Portela Sábios; e do Filipe Afonso, estudante no ISCTE de Finanças e Contabilidade, 24 anos e antigo atleta de Futsal da AMP.Estes três voluntários são pessoas pre-sentes, disponíveis e com resultados comprovados nas notas dos nossos jo-vens. Todos, sem excepção, estão neste projecto mais do que uma vez por sema-na, como explicadores voluntários, uns de Matemática, outros de Português, História, ajudando em tudo um pouco.Todo o apoio que nos têm dado com os jovens tem sido essencial para que este espaço seja o que sempre pretendemos que fosse: um espaço Ágora em que os jovens podem fazer os trabalhos de casa, estudar e brincar, ser crianças e jo-

vens no tempo certo.A consciência de que devemos e podemos ajudar o próximo tem crescido e a AMP tem, cada vez mais, promovido ac-ções que podem ser desenvol-vidas de forma desinteressada por pessoas que disponibili-zam o seu tempo gratuitamen-te em benefício de outros. Porque a solidariedade é para todos, porque podemos ajudar e criar acções sisté-micas até no nosso bairro… Um agradecimento especial a todos os têm disponibili-zado horas a ajudar-nos no desenvolvimento dos projec-tos da Associação, sejam eles sociais ou desportivos.

e não só, que têm estado connosco no sentido de dar mais a esta comunidade portelense e em particular aos sócios da AMP. Exemplos não faltam, desde vo-luntários no Futsal, no Portela Sábios, a voluntários que estão connosco em situações pontuais, como eventos pro-movidos pela Associação.É imprescindível esta ligação que te-mos tido com todos os que de um modo consciencioso oferecem o seu tempo para nos ajudar a crescer e a desen-volver, tornando os nossos projectos (sociais ou desportivos) em projectos comunitários.Neste sentido, e porque o voluntariado deve ser promovido mais e mais na so-ciedade, temos o compromisso de pre-sentear com um especial agradecimen-to todos os que empregam o seu tempo nos projectos da AMP Desde 2009 que usufruímos da sorte de ter um leque de professores de excelên-cia que fazem parte da nossa Universi-dade Sénior. Alguns professores ainda se encontram no activo, outros são pro-fessores na pré-reforma ou mesmo re-formados (das Escolas da Portela, mas também de fora) e que ainda têm tanto para ensinar, querendo manter vivo o espírito da missão de leccionar, um bem precioso e que demonstra que estamos sempre aptos para aprender realidades novas ou apreender conceitos já adqui-ridos, mas entretanto esquecidos.

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Provavelmente, já viu a autora e o livro na imprensa, na televisão ou nas livrarias. Sabia que mora na Portela?

A autoraAlexandra Marques nasceu em 1968 e veio para a Portela com 14 anos de idade, por opção dos seus pais, que compraram casa na freguesia. Apesar de ainda ser portelen-se, confessa que na altura em que se mu-dou odiava a zona, porque nada era como actualmente :«Não tinha transportes, jardins, piscinas, não tinha nada. Era muito diferente daquilo que é hoje em dia. Posso dizer que a Portela mudou muito, e para melhor», re-lembra.O seu percurso de vida é marcado por uma passagem por várias áreas profissionais. Ti-rou o curso de História, desde 1991 que tra-balha como jornalista e durante 17 anos foi professora de alunos do 12.o ano, em regi-me de part-time, numa escola profissional. Apesar de manter a actividade jornalística, em 2010 decidiu suspendê-la para se dedi-car ao doutoramento, ainda em curso. O fascínio pelo tema da descolonizaçãoA trabalhar na tese «Deixar África 1974-1977 – Experiência e trauma dos portugueses de Angola e Moçambique», Alexandra, apesar de não ter vindo de África, de não ter lá família e de apenas ter ido a Cabo Verde, revela um fascínio enorme pelo tema: «Na altura em que os portuguesas que viviam em Angola e Moçambique chegaram a Por-tugal, a Portela ainda estava a ser constru-ída e muitos deles optaram por viver aqui. Eu sempre tive amigos de África e a ideia da tese foi-me dada por um professor. Na altura, achei o tema muito polémico, mas pensei melhor e apercebi-me de que, até hoje, nada tinha sido escrito sobre tudo o que aquela gente passou, sobre as condi-ções em que tiveram de partir, de deixar para trás a casa, as sepulturas dos pais e dos avós, etc. A minha tese baseia-se nas cartas escritas na época pelas pessoas que vieram de África», diz. No entanto, apesar de ainda estar a trabalhar nela, o ano de

Filipa Assunção

2013 é marcado pelo lançamento da sua primeira narrativa histórica: Segredos da Descolonização de Angola – Toda a verdade sobre o maior tabu da presença portuguesa em África (D. Quixote, 544 páginas). Quando começou o processo de pes-quisa de e investigação nos ar-quivos, Alexandra apercebeu-se de como é comum fazerem-se considerações acerca daquilo que os retornados passaram. «Aliás, retornados é uma pala-vra que eu nunca uso, porque é uma categorização institucional imposta pelo Estado português que não é aceite pelos próprios. No entanto, para conseguir pro-var tudo o que passaram, e se exageravam ou não nos seus depoimentos por virem afectados com o que lhes acon-teceu, fui à procura dos relatórios militares nos arquivos portugueses, para conseguir perceber o que se passou realmente em Angola e Moçambique entre 1974 e 1975», conta. Acabou por descobrir documentos inéditos, muito secretos, sobre decisões to-madas aqui em Lisboa e outras tomadas lá, que diziam directamente respeito aos portu-gueses que viviam em Angola. Por ter diante de si documentos nunca antes revelados, optou por não os utilizar para a tese, mas sim para a criação de um livro: «Apresentei

a proposta ao editor da D.Quixote e ele acei-tou. Foi há dois anos que comecei a fazer a recolha de informação nos arquivos e uns meses depois comecei a escrever, capítu-lo a capítulo. Apesar de ser um trabalho

muito cansativo, é ao mesmo tempo muito fascinante, porque podemos estar um dia inteiro a ver cinquenta documentos e de repente aparecer um que é exactamente aquilo que procu-ramos. Outros dias não desco-brimos nada que nos interesse, nada de importante e temos de continuar a procurar. As pesso-as que desistem facilmente não escrevem livros, nem investi-gam mais», diz. A autora con-

fessa que escrever um livro sempre fora um sonho seu, sendo aquilo que pretende fazer na vida. Apesar de ser o primeiro livro de investigação que publica, tem a certeza de que não será o último. Está disponível para venda, nas livrarias, desde dia 20 de Maio. A sua apresentação foi em 6 de Junho, sendo seguida de um debate que contou com a presença de alguns militares, protagonistas do livro, que estiveram em Angola nesse período. Francisco José Viegas descreve um livro como «um documento notável que nos ajudará a reconstituir a retirada portuguesa de Angola».

REPORTAGEM

Toda a verdade sobre o maior tabu da presença portuguesa em África

Segredos da Descolonização de Angola

Lançamento do livro na Associação dos Moradores da Portela, apresentado pelo ex-Procu-rador Geral da República, Pinto Monteiro

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ENTREVISTA

Seja feliz, pergunte-lhe como!

Eva Falcão

O coaching é um fenómeno relativamente recente na nossa sociedade, tendo-se

transformado numa das ferramen-tas de desenvolvimento pessoal mais utilizadas quer por particulares quer por empresas, indispensável ao crescimento individual e à gestão empresarial. O objectivo é o desen-volvimento do conhecimento e a confiança do cliente em si próprio, conduzindo-o, através de pergun-tas, à localização dos pontos débeis neutralizando-os e potenciando os pontos fortes.A consequência deste processo é uma maior clareza sobre para onde nos dirigimos, sentindo-nos com uma total motivação e com o de-senvolvimento completo de todas as nossas habilidades, para a obtenção das suas metas.A Portela Magazine foi falar com Rui Miguel Germano – RG como é conhe-cido profissionalmente –, licenciado em Direito e com um percurso pro-fissional em áreas tão distintas como a advocacia, o teatro e a formação na área comportamental. Actualmente, é LIFE e EXECUTIVE COACH aju-dando os outros a investirem em si e a trabalharem no sentido de construir a vida que sempre desejaram viver, quer pessoal quer profissionalmente. RG é um apaixonado por «pessoas», o que o ajudou a descobrir aquela que considera ser a sua missão através do COACHING: «Transformar sonhos em realidade, ajudando os outros a conquistarem as suas vidas e a vive-rem num estado de felicidade.» Foi por isso que deu início à sua incansá-vel busca e estudos, tendo participado em vários workshops e palestras, ob-tido a sua certificação Internacional como Coach, através do ICL – Insti-tuto de Coaching e Linguística. O que é o Coaching?O Coaching é um processo de desen-

viduais ou de grupo – consoante se trate de Life Coaching ou Business Coaching, respectivamente. As ses-sões são orientadas pelo Coach, para o objectivo futuro, através da desco-berta e do compromisso de realiza-ção de tarefas pelo Coachee (cliente) que visam encorajá-lo a obter novas conquistas e realizações, quer na vida pessoal, quer profissional. É um pro-cesso de co-criação de novas possibi-lidades, partindo de uma dinâmica de autoconsciência de estabelecimento de metas e da elaboração e colocação em prática de planos de acção.Que benefícios traz a quem o rece-be?As pessoas procuram-me sobretudo porque sentem que algo tem de mu-dar na sua vida, no seu comporta-mento, ou nelas próprias. O Coaching

volvimento pessoal e profissional, que te ajuda a revelar o teu potencial e te faz avançar para onde queres ir e a ser o que queres ser. É uma caminha-da que te permite alcançar com efi-ciência as tuas metas, sonhos ou ob-jectivos de vida, de uma forma mais rápida e mais fácil do que se o fizes-ses sozinho. Através do coaching, os clientes adquirem maior consciência do seu potencial, das suas reais com-petências e dos seus limites, reajus-tando-se de forma progressiva e des-cobrindo o prazer de sair da sua zona de conforto, de modo a tornarem-se capazes de enfrentar novos desafios com sucesso.Como funciona?Funciona em sessões com duração de cerca de 50 minutos (ou confor-me seja acordado) semanais – indi-

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opera essa mudança, essa transformação. Através dele é possível encontrar uma maior satisfação e realização pesso-al. O coaching tem o poder de nos transformar na pessoa que sempre sonhámos ser e de nos ajudar a alcançar o que sempre desejámos ter. Talvez o maior benefício do coaching seja, mesmo, o de nos mostrar que é possível viver a vida com que sem-pre sonhámos num estado de felicidade e equilíbrio. Cria-se algum laço específico entre o coach e a pessoa que recebe, o co-achee?Através do coaching, o coach abre as portas ao que há de mais íntimo em cada coachee, por isso a relação entre coach e coachee tende a ser uma re-lação de grande confiança, partilha e cumplicidade.Porque é que existe uma forte ten-dência para confundir coaching com psicoterapia?Existem de facto algumas dúvidas acerca do que é o coaching e do que o diferencia de outras áreas como a psicoterapia. Uma das grandes dife-renças é a de que o Coaching não tem objectivos terapêuticos, sendo ge-ralmente procurado por pessoas que querem ajuda para atingir metas e de-senvolver-se em competências espe-cíficas. O Coaching é orientado para o objectivo futuro e encoraja o cliente a obter novas conquistas e realizações, focando perfor-mance e desenvolvimento. O coaching foca-se no pre-sente e no futuro, enquanto a psicoterapia se foca mais no passado e no presente. Sendo a psicoterapia mais orientada para o problema, enquanto o coaching é fun-damentalmente orientado para a solução. Saliento que um não invalida o outro, pelo contrário, em vários casos é de todo aconselhá-vel trabalhar simultanea-mente estas duas áreas que se complementam. Que tipos de coaching existem?

Coaching é uma ferramenta, por isso, em rigor, só existe um tipo de coaching. Contu-do, existem aalguns profissionais do coaching que se especializaram em mais do que uma área, daí ser vulgar aparecerem expressões como Life Coaching, Business Coaching, Exe-cutive Coaching, etc.Considera o coaching uma ferra-menta indispensável à sociedade de hoje?O coaching é considerado por muitos como a mais poderosa ferramenta da actualidade, promotora do desenvol-vimento pessoal e humano. No actual contexto em que vivemos, onde cada vez mais as pessoas e as organizações procuram novos caminhos, novas so-luções, o coaching surge como a fer-ramenta certa para alcançar o sucesso que todos procuramos.Como aparece o coaching na vida

de um advogado?Pela necessidade de querer mais, descobrir mais, ser mais! Depois tornou-se uma paixão e uma maneira de estar na vida, ajudando os outros a concretizar e a alcançar a felicidade.A receptividade ao coaching tem sido cada vez maior?Sim, hoje em dia, mais do que em qualquer outra altura, até pela fase complicada em que vivemos, o coa-ching faz todo o sentido na vida das pessoas. O coaching desenvolve cer-tas competências como saber escutar e saber questionar, que quando bem aplicadas criam uma sensação de confiança em relação a quem as apli-ca, levando a resultados mais produ-tivos e eficazes.

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REPORTAGEM

A comunicação social re-gional está em risco. Foi este o mote e a conclusão

de uma conferência a que Portela Magazine não poderia faltar. Plano de recuperação precisa-seO sector da comunicação social local e regional encontra-se mo-ribundo e a necessitar de um pla-no de emergência. Foi a principal conclusão retirada da conferência «O Papel dos Meios de Comuni-cação Social Locais e Regionais: Desafios Actuais e Futuros», pro-movida pela Comissão Parlamen-tar para a Ética, Cidadania e Co-municação no Auditório do novo edifício da Assembleia da Repú-blica.Teresa Caeiro, vice-presidente da Assembleia da República; Carlos Magno, presidente do Conselho

Regulador da ERC; João Pal-meiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (AIP); João Paulo Faustino, professor universitário; Nuno Inácio, presi-dente da Associação de Rádios de Inspiração Cristã; José Faustino, presidente da Associação Portu-guesa de Radiodifusão; Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas; e Pedro Berhan da Costa, director do Gabinete para os Meios de Comunicação Social foram os oradores convidados. Os media regionais e locais, ape-sar de constituírem um substitu-to ou complemento dos media nacionais, quer no que respeita à informação, quer como suporte publicitário, atravessam, nos dias de hoje, uma situação económica extremamente difícil, embora nos distritos de Lisboa e Porto que absorvem cerca de 65 a 70% do

consumo de jornais nacionais a sua circulação não seja muito sig-nificativa.João Palmeiro, presidente da As-sociação Portuguesa de Imprensa (AIP) refere que no contexto de uma informação cada vez mais globalizada os media regionais e locais são cada vez mais impor-tantes. «Os media regionais e lo-cais ainda estão subaproveitados nessas dimensões, incluindo o seu papel junto dos luso-descendentes na redescoberta das suas raízes», explica acrescentando ainda que a sua importância é, também, vi-sível no crescimento de linhas de estudo, investigação e trabalhos académicos. Lembra que os me-dia regionais e locais têm tido atenção por parte dos governos no âmbito das políticas públicas, mas salienta que faz cada vez mais sentido aprofundá-las. «São

Eva Falcão

Comunicação Social Regional em estado de emergência

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subsector mais dinâmico. «Tem havido esforço nas políticas pú-blicas, mas é necessário reformar esse modelo. Parte significativa dos apoios têm sido atribuídos para a aquisição de recursos bá-sicos e não para actividades es-tratégicas. Contribuíram para o pluralismo de informação, mas também para uma grande disper-são das estruturas e recursos que fragilizaram a atividade.» É, por isso, e no seu entender, necessário empreender uma reforma que po-tencie melhor o efeito dos apoios existentes no Gabinete para os Meios de Comunicação Social, e que se criem outros complemen-tares, em articulação com outros programas como o QREN, o novo Quadro de Referência Estratégica Nacional para 2014-2020, cujos objectivos passam pelo cresci-mento baseado no conhecimento e na inovação, numa sociedade inclusiva com alta empregabilida-de e crescimento verde: uma eco-nomia competitiva e sustentável. O plano de emergência necessá-rioA privatização dos CTT, que muito provavelmente aumentará drasticamente os portes de envio e, consequentemente, os custos da distribuição dos jornais; a concor-rência dos boletins editados pelas câmaras; o desinvestimento no sector por parte do Estado; a pou-ca importância dada aos meios re-gionais; o não cumprimento da lei da publicidade institucional fo-ram factores apontados pela glo-balidade dos intervenientes como grandes responsáveis pelo estado a que chegou o sector. Francis-co Ritto do Diário da Região de Setúbal, que resulta da junção de 17 títulos de distribuição gratui-ta, alerta para a situação de falên-cia técnica em que se encontra a grande maioria das empresas. «O maior desafio actual é a sobrevi-vência e o futuro, a sustentabili-dade e é bom que os governantes tenham noção disso.» Carla Cruz, deputada do PCP, admite a existência de um pro-blema bastante sério na questão

vários os sintomas que podem de-nunciar uma crise com impacto visível no sector dos media, par-ticularmente nas empresas de im-prensa, incluindo de âmbito regio-nal e local.» O aumento acelerado e imparável dos custos de edição; o baixo crescimento da difusão e do nível de educação dos cida-dãos; a concorrência crescente de outros meios de comunicação; a deficiente gestão empresarial e falta de orientação para o merca-

do; o progressivo desfasamento entre as receitas por vendas e os custos e a emergência de produtos substitutos, tecnologias e elemen-tos disruptivos são os que mais se salientam.Panorama actualTambém para João Paulo Fausti-no, não obstante a sua importância social e económica, a fragilidade das empresas é visível em várias áreas, nomeadamente no que diz respeito à degradação dos resulta-dos líquidos, à reduzida dimensão das empresas, ao baixo número de recursos humanos, à pouca diver-sificação do negócio, à elevada dependência da publicidade, às assimetrias de desenvolvimento regional e às dificuldades de fi-nanciamento e reconhecimento.O professor universitário alerta para a importância dos apoios não serem suficientes para tornar este

da distribuição e sublinha que «o serviço público é essencial para a democracia, coesão territorial e social. A situação é de urgência, a comunicação social está a mor-rer». Mendes Bota fechou a ses-são com uma afirmação peremp-tória: «É necessário um plano de emergência!» O PECSIR – Plano de Emergên-cia à Comunicação Social «Im-prensa e Rádio» existe e incumbe a Associação Portuguesa de Im-prensa de envolver as empresas do sector e de obter o buy-in ge-ral para a criação de um fundo de apoio à Comunicação Social. Ca-berá ao Estado e à troika dispo-nibilizar parte do valor da linha de apoio à capitalização da banca para a reafectação a esse fundo. Caberá, então, às entidades ban-cárias participarem na definição das condições legais e fiscais de acesso ao fundo, e às entidades do sector o alinhamento inicial com a API sobre os parâmetros e as condições associadas que aceitarão para a criação do fun-do. API deve promover junto das entidades responsáveis a capa-citação do fundo, participar na definição das condições legais e fiscais de acesso ao fundo, ce-lebrar protocolos com as entida-des bancárias relativamente ao envolvimento operacional e de gestão de risco, divulgar activa-mente a existência do fundo de apoio à comunicação social. Às entidades bancárias cabe anali-sar as candidaturas e seleccionar os projectos a apoiar e garantir a disponibilidade financeira para apoiar as empresas do sector dos media. As entidades do sector devem apresentar oportunidades de investimento viáveis, no âm-bito da candidatura às linhas de crédito, identificar oportunida-des de melhoria da eficiência do sector e contribuir para o cum-primento de todas as disposições legais presentes na Constituição Portuguesa relativas aos meios de comunicação social e aos pro-fissionais associados a estes.É pô-lo em práctica.

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«Faço uma observação crítica de tudo aquilo

que me rodeia»Leonor Noronha

CULTURA

É uma das artistas plásticas por-tuguesas mais importantes e reconhecidas ao nível mun-

dial. A grandeza e a originalidade das suas peças não passam despercebidas a ninguém. Até 25 de Agosto, é pos-sível conhecer e apreciar o seu traba-lho no Palácio Nacional da Ajuda em Lisboa, naquela que é a maior expo-sição individual da artista.Quando é que percebeu que o for-mato XL seria a forma ideal para se expressar?A grande escala é, no meu trabalho, uma consequência de escolhas ante-riores e não um objectivo. Ou seja, e dando um exemplo concreto, como o par de sapatos Marilyn, feitos com panelas Silampos: a dimensão desta escultura resulta do facto de ter esco-lhido o tacho comum de arroz como material; a repetição deste objecto – que dá forma a um sapato tamanho 36 à escala – é que acaba por resultar no grande formato. Como funciona o processo criati-vo?O processo criativo é comum a todas as minhas obras: parte de uma ideia que, por sua vez, resulta da obser-

vação crítica de tudo aquilo que me rodeia: o quotidiano, os objectos, os símbolos, os comportamentos da so-ciedade contemporânea.Qual o principal desafio que a exe-cução das suas obras lhe dá?Cada obra traz desafios novos. Traba-lho com objectos do quotidiano que são pensados e criados para desem-penharem uma função específica e

que, no meu trabalho, acabam por ser utilizados de forma completamente diferente e, para isso, é fundamental perceber quais os objectos que melhor funcionam como veículo de um de-terminado discurso. Para além disso, esculturas de proporções quase arqui-tectónicas implicam um grande rigor do ponto de vista estrutural e de plane-amento. Felizmente, tenho uma equi-pa que reúne uma grande variedade de competências, tornando possível res-ponder a todos os desafios técnicos.Expor no Palácio de Versailles foi, até agora, o momento alto da sua carreira. Que balanço faz desta ex-periência e qual a sua importância para a sua carreira?A minha exposição foi, sem dúvida, um momento muito importante na minha carreira, não só porque fez chegar o meu trabalho a um público internacional muito vasto, mas por-que fez com que se abrissem portas para outras exposições importantes a acontecer em diferentes partes do mundo.

Joana Vasconcelos

55.ª Exposição Internacional de Arte – La Biennale di VeneziaO Trafaria Praia é um cacilheiro, símbolo de Lisboa, que Joana Vascon-celos escolheu para representar Portugal na Bienal de Veneza. Con-forme se lê no comunicado de imprensa: «Joana Vasconcelos explora três noções ou imagens comuns a Lisboa e a Veneza: a água (rio Tejo e lagoa de Veneza), a navegação e o navio. A artista debruça-se sobre um símbolo de Lisboa, o cacilheiro, que corresponde ao emblemático vaporetto de Veneza. Assim, transforma um cacilheiro, o Trafaria Praia, tornando-o simultaneamente em pavilhão flutuante e em obra.» Até dia 24 de Novembro deste ano, o cacilheiro estará em Veneza durante a Bienal, ora atracado junto aos Giardini (o mais importante local da Bienal de Veneza), ora a circular pela lagoa de Veneza, passeando visi-tantes entre os Giardini e a Punta Della Dogana (rota principal).Fundada em 1859, esta Bienal ocorre de dois em dois anos e é o mais importante evento dedicado à arte contemporânea, o que não só confere aos artistas aí presentes a consagração interna-cional como é muito significativa para a projecção cultural, ao nível mundial, do país que representam. Joana Vasconcelos e Miguel Amado, comissário do projecto

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Define-se como «mãe, jorna-lista, tradutora, explicadora, mulher-a-dias e activista»,

sendo que considera a maternidade e o activismo partes intrínsecas de si. E foi, de facto, esta faceta que a tornou (re)conhecida. Entrevistámos Myriam Zaluar, um dos rostos do movimento Que se Lixe a Troika.Porque é que o activismo é parte intrínseca de si? Herdou-o?Sim, herdei-o. Sou rebelde por natu-reza; desde pequena que questionei as coisas todas, embora digamos que só tenha uma actividade que se pos-sa considerar política há meia dúzia de anos. Antes disso, era conhecida como sendo contestária e em vá-rios locais de trabalho fui conhecida como a sindicalista, mas, na verda-de, não tinha actividade que se possa considerar política nem muito menos me destacava por isso fora do meu círculo. Nunca fui nem tenciono vir a ser filiada num partido político.O que levou ao nascimento do Que se Lixe a Troika?Esta acção nasceu para fazer o 15 de Setembro [de 2012], que, con-trariamente ao que se pensa, não foi contra a TSU. A ideia era tentar fa-zer com que as pessoas saíssem à rua em massa, algo que não acontecia há muito tempo, em protesto com o que estava a acontecer e porque não se via qualquer reacção em Portugal, ao contrário do que estava a acontecer noutros países europeus como Gré-cia, França e Itália. Em Julho, houve uma reunião com algumas pessoas e havia a consciência de que, mais ou menos, naquela data iria ser anuncia-do um novo pacote. A ideia foi tentar

Leonor Noronha

de uma forma diferente sem partidos políticos ou sindicatos.Por que motivo quiseram afastar-se dos partidos políticos?Ultimamente, há uma grande resis-tência a tudo o que tem a cara de um partido ou de um movimento e por isso resolvemos chamar as pessoas. E assim foi: escreveu-se um manifes-to, no qual se expressavam as razões que nos levavam a sair à rua, junta-ram-se pessoas que chamaram ou-tras que conheciam e assim sucessi-vamente, propusemos nomes (como a São José Lapa ou o António Pinho Vargas), de pessoas ligadas a alguns movimentos ou não. O manifesto foi assinado por 29 pessoas, mas o gran-de mobilizador de massas naquele dia foi o Pedro [Passos Coelho]. A comunicação do primeiro-ministro uma semana antes da manifestação foi uma ajuda incomensurável para o sucesso do protesto.Quem financia o Movimento?Todas as despesas que tivemos foram custeadas por nós, com contributos individuais em que cada um deu o que pôde. Sendo que, na viragem do ano, quando começámos a pensar no 2 de Março e no alargamento às pessoas que iriam assinar e assumir

a organização, o leque de possíveis contribuidores também se alargou. Mas tem havido pessoas e empre-sas/entidades, cujas identidades não posso revelar, que, concordando com o nosso posicionamento político, re-solveram ajudar.Qual a diferença da manifestação do 1 de Junho relativamente a to-das as outras que têm organiza-do?Sem dúvida que a internacionaliza-ção do protesto foi um passo muito importante.Como é que vê o movimento sindi-cal actual?Com uma enorme necessidade de renovação, de transformação. Nunca alinharei no discurso anti-sindicatos nem antipartidos, acho, inclusiva-mente, esse discurso perigoso. Há muitos anos que se verifica que o discurso do movimento sindical não está adaptado à realidade actual. Tem as suas origens no século XIX e sofreu poucas alterações. É importante di-zer que foi um movimento crucial para todas as transformações histó-ricas sociais, económicas e políticas que se viveram ao longo dos dois úl-timos séculos. Como tal, diabolizar o movimento sindical é perigosíssimo e pode levar-nos a situações muito complicadas. É necessária uma trans-formação radical neste campo e são os próprios trabalhadores que têm de ter noção de que só juntando-se, que só defendendo a contratação colec-tiva e outras questões é que poderão sair da situação complicada em que estão metidos, que é um retrocesso de mais de cem anos no desenvolvi-mento da sociedade. Para mim, isso não pode ser feito sem o movimento sindical.

ENTREVISTA

«Nunca fui nem tenciono vir a ser filiada num partido político»

Entrevista à activista Myriam Zaluar

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imprensa

Na Internet, a Portela Magazine conta com mais de 15 000 impressões no site do ISSU.Além dos 6500 exemplares distribuídos em todos os fogos, instituições e espaços comerciais da Portela (e arredores como o Bairro Cristo-Rei), disponibilizamos a revista em formato digital aos 7000 sócios da Associação dos Moradores da Portela.Recentemente, as revistas Sábado e Visão reconheceram o trabalho da Portela Magazine.

nas bocas do mundoPortela Magazine

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TECNOLOGIA

Todos nós notamos uma gran-de corrente que levou a hu-manidade a viver em torres

de betão. Este número aumentou drasticamente nas últimas décadas. Temos neste momento mais de 58% da população mundial a viver nas grandes cidades, prevendo que este número suba para 75% até 2050. Es-tes números não parecem preocupan-tes, mas são-no. Se tivermos em con-ta que as colónias betonadas ocupam apenas 3% da superfície terrestre, facilmente chegamos à conclusão de que o nosso planeta não passa de um mero deserto com alguns aglomera-dos de gente a viver em cubículos de betão.Numa primeira análise, podemos concluir que grande parte deste fenó-meno foi causado pela necessidade da facilidade de acesso à tecnologia, pois era em busca desta que todos nós cor-ríamos desenfreadamente. Quem não tinha acesso aos mais rápidos meios de transporte, às grandes redes de co-municação, aos equipamentos topo de gama, a um bom sistema de vigi-lância, a um sem-número de coisas consideradas imprescindíveis era rotulado de «campónio», «ignorante» ou «retro».Também temos de ter em conta que muitos vieram de-vido a questões laborais. Era a tecnologia que criava os postos de trabalho, mas tam-bém era a tecnologia que re-tirava os postos de trabalho. Enquanto a industrialização sugava mão-de-obra, a robo-tização aumentava o número de desempregados.Devido à concentração ma-ciça da população, é também graças à tecnologia que se vai possibilitando o regresso das pessoas às grande e isoladas

Bonifácio Peter da Silva

planícies onde o custo de vida é bas-tante mais acessível. Hoje em dia, é possível fazer-se tudo no recanto do quintal, isento de horários rigorosos, trocando as horas de trânsito por ho-ras de lazer e desporto, as filas e se-nhas das instituições públicas por sites dedicados, o barulho da confusão pelo cantarolar dos animais. Podemos, portanto, ter um nível de vida mais confortável e, acima de tudo, mais saudável. Tudo isto é possível graças à tecnologia, em que, com um simples acesso à Internet, conseguimos man-ter contacto com a sociedade conver-tendo o stresse em comodidade.

É a tecnologia que manda em nós, na nossa forma de pensar. Por exemplo, quem tem adolescentes na escola notou que hoje em dia é obrigatório usar calculadoras de mais de uma centena de euros. Isto apenas para «acelerar o conheci-mento». Como? Se não perdemos tempo a cantarolar a tabuada, po-demos investir mais tempo a solu-cionar equações complexas. Será? Ora, aqui está uma questão que nunca seria colocada no nosso tem-po. A verdade é que tudo gira em redor da tecnologia. Permitam-me acrescentar: até a estupidez.

Como a tecnologia muda o futuro dos

nossos hábitos

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ACONTECEU NA AMP

No dia 11 de Maio, realizou-se o nosso FAMP2013, festival anual da AMP, no Pa-vilhão da Escola Secundária, onde estive-

ram presentes as nossas classes de Dança Jazz, Acrobática, Dança Clássica, Karaté e demonstra-ção de miniténis.Durante a cerimónia, procedemos à entrega das medalhas aos nossos sócios com 30 anos de Associativismo, e algumas medalhas de mérito e dedicação a alguns atletas.Este espectáculo contou, como já é habitual, com o apoio da Câmara Municipal de Loures e da Escola Secundária, que nos cederam todo o material necessário.

FAMP 2013

Espetáculo de Dança – Fascínios

No dia 27 de Abril, no antigo cinema da Encarnação, decorreu a 3.ª edição do Es-pectáculo de Dança da AMP, este ano de-

nominado de «Fascínio», em que, além das nos-sas classes de Dança Jazz, Acrobática e Dança Clássica, estiveram presentes outras classes de outros clubes como convidadas que nos brinda-ram com demonstrações de Flamenco, Danças Latinas, Danças de Salão, entre outras.

Acrobática – AcroPortelaEm 4 e 5 de Maio, realizou-se

no Catujal mais uma edição de Acromix Cup, em que a AMP es-teve representada pela nossa classe de Acrobática, com vários duos e grupos.

Nos dias 1 e 2 de Junho, realizou-se no Catujal o 2.º Torneio de Desen-volvimento de Acrobática, no qual estivemos representados com duos e grupos dos vários níveis da nossa Acroportela.

A AMP esteve presente com as classes de Acrobática e Dança

Jazz no 9.º Festival de Ginástica da Portela, no dia 24 de Maio, organi-zado pelo Agrupamento de Escolas Portela e Moscavide, no Jardim Al-meida Garret.Estivemos ainda presentes com as

duas classes, no dia 26 de Maio, nas Olimpíadas da Ginástica de Formação.Nos dias 8, 9 e 10 de Junho, as nos-sas classes de Dança Jazz e Acrobá-tica participaram, como já é hábito, no Portugalgym, neste ano realiza-do na cidade de Guimarães.

Em 17 de Maio, a nossa classe de Dança Jazz foi

representar a AMP no Lou-resgym, realizado no Pavi-lhão Paz e Amizade. Esta Classe esteve ainda presente no dia 25 de Maio no sarau do GimnoFrielas.

Acrobática/Dança

Dança JazzDesporto Sénior

No dia 25 de Maio, realizou-se no Pavilhão Fe-liciano Bastos o Sarau anual do Desporto. A AMP esteve representada pelos nossos senio-

res, no projecto conjunto com a Câmara de Loures.

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No dia 16 de Abril, o Portela Sábios realizou um passeio a Tomar onde fomos visitar o Convento de Cristo e a Sinagoga. Este divertido passeio contou com a presença de 50 dos nossos sá-bios, transportados no autocarro gentilmente cedido pela Junta de Freguesia de Moscavide.

Em 4 de Maio, uma vez mais a Junta de Freguesia de Moscavide cedeu o seu autocarro para levar os nossos sócios à Exposição da Joana Vasconcelos, no Palácio da Ajuda. A dinamizadora do Clube de Leitura no Portela Sábios, Isabel Fraga, editou recentemente o seu livro de poesia intitulado A Música das Esperas, da Editora Lua de Mar-fim, e foi com enorme prazer que no dia 5 de Junho a autora e a editora elegeram a nossa Universidade Sénior para fazer a apresentação deste livro. Júlia Coutinho, historiadora, apresentou a autora e a sua obra dando particular destaque ao seu mais recente livro. Élia Gonçalves, professora de Francês no Portela Sábios, leu dois dos poemas que fazem parte desta obra. A au-tora autografou alguns dos seus livros, entre os quais um para a biblioteca da AMP, e conversou com alguns dos cerca de 80 convidados que encheram as salas do Portela Sábios para assistir a esta iniciativa. No final, foi servido um lanche, oferta de algumas das amigas de Isabel Fraga.Na Disciplina de História de Loures, continuamos a fazer a incursão pelo nosso concelho com o objectivo de conhecer melhor a nossa história e os nossos monumentos, desta vez, no dia 8 de Junho os nossos sábios foram a Torres Vedras e Bucelas Os trabalhos dos nossos alunos das aulas de pintura já ultrapassaram as fronteiras da nossa freguesia – do dia 8 ao dia 22 de Junho foi realizada uma exposição de pintura com os quadros dos nossos Sábios na Galeria Arte & Mar em Sesimbra, mostra da excelente qualidade dos seus trabalhos. No dia 15 de Junho, realizou-se a apresentação ao público do livro de Alexandra Marques, jornalista e professora do Portela Sábios em 2009/10, Segredos da Descolonização de Angola, da editora Dom Quixote. A apresentação deste livro ficou a cargo do ex-Procurador Geral da República, o juiz conselheiro Pinto Monteiro. Para marcar o encerramento de mais um ano lectivo no Portela Sábios, os nossos alunos e professores celebra-ram o final do ano passado no dia 18 de Junho com um já habitual jantar partilhado em que cada um trouxe uma iguaria para partilhar e dar a conhecer os respectivos dotes culinários.A Disciplina de Noções de Direito terminou o ano lectivo no dia 21 de Junho com a realização de um aula prática em que os alunos do Portela Sábios encenaram um Jul-gamento com a temática da morte assistida. Este «julgamento» teve como convidado especial o juiz Lopes Barata a quem agradecemos a disponibilidade para presidir a este «tribunal».

No ténis, os nossos atletas continuam a dig-nificar a bandeira da Associação dos Mo-radores da Portela, tendo obtido mais um

título de Campeão e outro de Vice-Campeão no Campeonato Regional de Veteranos Individual da ATL – Associação de Ténis de Lisboa. Parabéns ao tenista ED ZUNGAILIA por se ter consagrado Campeão Regional de 55 e ao tenista ANTONIO SERRANO pelo título de Vice-Campeão Regional de 60.No dia 15 de Julho, para marcar o encerramen-to das actividades de ténis, realizou-se o evento FAT-2013. Foram 12 horas de ténis com almoço incluído, em que os nossos sócios, além de terem praticado a modalidade, ainda puderam desfrutar de um passeio de Bicicleta até à Expo, aulas de ténis e de cardiotenis. Foi realizado um torneio e o evento culminou numa sardinhada no final do dia.

A Portela terminou o Campeonato Nacional da 2.ª Divisão de futsal em 3.º lugar. Uma das melhores classificações de sempre na

modalidade de Futsal.No entanto, não podemos deixar de recordar a gloriosa época do Futebol de Salão e do Futebol de 5 em que a Portela competiu com grande mérito com as melhores equipas nacionais, como o Sporting, Atlético, Correio da Manhã, Recorda-ção Apolo, Venda Nova e Alhões nos Campeona-tos Nacionais.

PalestrasE como o cuidado com a nossa

imagem também é importante, no dia 10 de Maio foi realizado um workshop de Maquilhagem com a Te-resa Magalhães, consultora da Mary Kay, que ensinou às nossas sábias as técnicas e segredos para cuidarem da sua imagem. Um workshop muito útil e bastante participado.Foi realizada no dia 15 de Maio uma palestra sobre o Método Supera –

Supera – Ginástica para o Cérebro, uma prática de ginástica cerebral que permite preservar o raciocínio e a memória, além de combater as doen-ças degenerativas do cérebro. O 3.º Ciclo de Palestas Portela sábios encerrou com uma Conferência Au-ditiva no dia 11 de Junho, em que o tema foi abordado, bem como quais os cuidados a ter para manter uma audição saudável.

Visita da CDUNo dia 2 de Maio, a direcção da AMP recebeu uma comitiva da CDU, constituída por diversos elemen-tos entre os quais Bernardino Soa-res, cabeça-de-lista da CDU, Paulo Piteira, vereador na CMLoures e a candidata à união de freguesias da Portela e Moscavide. Nesta reunião, procuraram conhecer melhor a AMP, inteirando-se dos projectos e dificul-dades da nossa associação. Foi-nos ainda reiterada total disponibilidade para colaborar e apoiar as activida-des da AMP que foram consideradas de elevado interesse

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VAI ACONTECER NA AMP

Tertúlia Alimentar o SerForam realizadas, respectivamen-te nos dias 27 de Abril, 17 de Maio e 22 de Junho, mais três Tertúlias «Alimentar o Ser», promovidas por alunos do Portela Sábios e abertas a amigos dos mesmos. Estas tertúlias são temáticas e sempre acompanha-das de muito boa disposição na Sala de Convívio do Portela Sábios. Uma das temáticas desenvolvidas foi a partilha de valores e a outra tertúlia teve tema livre.

No dia 22 de Maio, os alunos do Secundário da Escola Secundá-

ria da Portela vieram ao Portela Jovem fazer uma demonstração de Robôs. O Clube da Robótica da Escola Secun-dária da Portela utiliza robôs, como material pedagógico, com o objectivo de aproveitar a curiosidade dos alunos dirigindo-a para a descoberta e apre-ensão de conceitos nas áreas da Física e da Química, Matemática e Informá-tica. Pretende-se fomentar a progra-mação e apresentação de actividades experimentais, por alunos e para alu-nos, estimulando os intervenientes e promovendo o gosto pela Ciência e a auto-aprendizagem.Recorrendo a robôs (neste caso, lego Mindstorms), pretende-se captar jo-vens para actividades na área das ci-ências, em particular as engenharias e tecnologias de informação. Assim sendo, na disciplina de Aplicações In-formáticas B e no núcleo de Robóti-ca, os alunos constroem e programam protótipos para problemas-tipo. Foi um excelente momento de apren-dizagem para os nossos Jovens.A Festa do encerramento do ano lec-tivo do Portela Jovem foi realizada no dia 14 de Junho com um lanche parti-lhado entre os jovens e os pais.E depois as merecidas férias de Ve-rão…

Acrobática – AcroPortelaA AMP vai estar representada na mostra de Associativismo, em Loures, de 19

a 21 de Julho, com um programa variado sobre a nossa Associação, e uma demonstração da nossa classe de Acrobática.

O Portela Jovem vai reali-zar o 3.º Acampamento

no Parque de Campismo de São Pedro de Moel de 1 a 5 de Julho. Como já é costu-me, será uma semana muito bem passada e que é do agrado dos nossos jovens.

Além do Acampamento, a equipa do Portela Jovem já organizou

um programa para as férias de Verão para os jovens, em que estão incluídas idas à praia, passeios e a prática de ac-tividades lúdicas e desportivas, como uma visita à estação de televisão SIC,

à Maxolândia; fábrica de gelados Olá; Quinta do Conventinho; Jardim Botâ-nico Monteiro-Mor; Museu de Traje e do Teatro; Karts; Laser Tag e Bowling. Será sem dúvida uma forma divertida para passar o tempo do merecido des-canso, após um intenso ano escolar.

Reservem já o lugar para os vossos filhos – as inscrições para o Portela Jovem já se encontram abertas para o ano lectivo 2013/14. Para mais infor-mações, contactar a secretaria da AMP – telef. 21 9435114 ou 918552954, ou através de e-mail [email protected] ou [email protected]

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O Portela Ténis vai realizar durante as férias de verão minicursos de ténis… mais uma iniciativa da AMP para ocu-par os tempos livres dos seus filhos!

A AMP disponibiliza aos Jovens da Portela mais uma modalidade

desportiva… Inscreva o seu filho no Rugby.

Neste ano, o Portela Sábios re-alizará algumas actividades

durante as férias lectivas de Verão, tais como a possibilidade de irem à praia em conjunto com o Porte-la Jovem e iremos ainda promover umas matinés com filmes e deba-tes, em conjunto com a nossa Prof.ª Elisabete Carriço… Fique atento às

datas e não deixe de aparecer…As inscrições do Portela Sábios já se encontram abertas para o ano lectivo 2013/14. Para mais informa-ções, contactar a secretaria da AMP – telef. 21 9435114 ou 918552954, ou através de e-mail [email protected] ou [email protected]

Apareçam, colaborem e desfrutem da Vossa Associação!

Façam-se amigos do Portela Sábios e do Portela Jovem e da Portela Magazine através do facebook

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Morrem menos de beleza

Patrícia Guerreiro Nunes

CULTURA

O Serviço Nacional de Saú-de inglês, em colabora-ção com o Arts Council,

a Reading Agency e a associação britânica de bibliotecários, criou o programa «Books on Prescription». A ideia é simples: a partir de Maio, os médicos podem passar uma re-ceita de leituras bibliográficas aos seus pacientes na área da saúde mental. O programa parte da evi-dência de que «os livros podem ser tão eficazes como outras formas de terapia – com a vantagem de não produzirem efeitos secundários», em casos de problemas mentais moderados como stresse, anorexia, distúrbios de relacionamento ou distúrbios de sono.À parte as listas bibliográficas pou-co exigentes e a promessa errónea de isenção de efeitos secundários, é uma iniciativa louvável. De facto, as-sim como existem textos que matam, também existem textos que salvam. Não se pode viver sem literatura. Sem ela, a vida esfacela-se nos dias chãos, como uma ave incapaz de aprender as suas asas. A difícil relação entre vida e literatura é um problema bicudo e intemporal, que afecta todos, mesmo os espíritos pouco literatos. A sua pri-meira grande formulação sistemática acontece em Platão, curiosamente tematizada como pharmakon, um remédio que tanto pode curar como envenenar.A dupla condição de mulher e leitora compulsiva faz de mim uma pessoa propensa a ciclos de euforia e depres-são. Sou dependente de doses de bele-za e, se muitos dias vivo bem, fazendo arte da felicidade confortável das pe-quenas coisas, outros dias há em que sinto os ombros mastigados pela po-breza do real. A grande beleza raras ve-zes a encontrei fora da folha impressa e a sua visão faz-me sempre pressentir uma felicidade reclusa no real.

Os livros são a droga que me mantém viva e me permi-te equilibrar a mania e a me-lancolia. A arte da dosagem é difícil, tarefa verdadeiramen-te alquímica. A adolescência foi envenenada por uma autoprescri-ção sem qualquer critério, numa euforia niilista. Germinei pelas palavras de Nietzsche e Dostoiévski e ainda hoje pago o preço dessas pri-meiras leituras despudoradas. Mas mesmo as palavras que envene-nam nos dão pistas para encontrar o antídoto. Nas análises fisiológicas de Nietzsche à cultura, saúde e doença funcionam como termos reversíveis. Dei muitas quedas na vida pela lite-ratura. Na tentativa de igualar a vida à arte, cometi bastantes imprudências sentimentais e financeiras. No fim, fui sempre obrigada a regressar, falida e desiludida, a esse real pobre que mo-tivara o voo. Não há outra casa para o corpo. Numa dessas quedas, sentia-me como uma fragata batida pelo mar bravio, encontrando consolo apenas nas pala-vras de Herberto Helder. Quando um amigo meu descobriu que eu sobre-vivia apenas graças a estas palavras, pediu-me, visivelmente preocupado, que parasse de ler este autor. «Mata muitas pessoas», disse ele. Não deixei de ler Herberto. A sua rai-

va e indignação produ-ziram em mim um efei-to narcótico curativo da mágoa que me en-venenava. Noite após noite, sentei a Beleza no meu colo e inju-riei a vida, até que me senti restabelecida. O valor do fármaco não pode ser decidido cul-turalmente. «Aquilo que um indivíduo necessita para a sua saúde já é motivo de doença para outro, e muitos caminhos e

meios para se chegar à liberdade de espírito podem ser considerados por naturezas superiormente desen-volvidas como caminhos e meios que afastam da liberdade», escreve Nietzsche em Humano, Demasiado Humano. Um tranquilizante pode-se revelar um estimulante, e vice-versa. Cabe a cada corpo avaliar os seus sintomas e de-cidir as terapêuticas. A prescrição da droga escrita faz da ideia de dosagem um tópico fundamental. Numa dosa-gem certa, a droga pode ser usada para permitir a sua própria desintoxicação. Droga e literatura terão de ser sempre apreendidas como veneno e antídoto, intrinsecamente indecidíveis e trans-gressivas, jamais alistáveis numa das fronteiras com que o pensamento oci-dental dividiu a vida.Nas palavras de Hölderlin, ali onde está o perigo, mora também a salva-ção. Não sejamos ingénuos: é a litera-tura que alavanca a vida, não o inver-so. Para viver, é preciso sonhar com uma beleza maior do que a vida.

leiturasdemadamebovary.blogspot.com

A realidade é um repto. A poesia é um rapto. De uma para outra queimam-se os dedos, e como é de fogo que aqui se trata, tudo se ilumina.

Herberto Helder

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Existe uma noção generali-zada de que há algures no mundo a pessoa certa para

nós: a nossa cara-metade. Aquela pessoa que o destino quer que en-contremos. E esta tolice é, sejamos honestos, propaganda feminina.Que fique já claro: o amor verda-deiro é uma treta. Não existe. No melhor dos cenários, é raro, como um trevo de quatro folhas ou um mecânico honesto.Senhoras, têm de perceber que o homem com quem vão casar não é o amor da vossa vida. No melhor dos cenários, é o amor daquele momento.Não disputo que esse infeliz, cuja vontade própria vão castrar por via do matrimónio, seja alguém de que gostem. Mas a probabili-dade de ser «o tal» é muito bai-xa. Ele é apenas o desgraçado que estava convosco quando o vosso corpo começou a gritar: «QUERO BÉBÉS!»A excepção ao que disse até agora são, obviamente, aquelas mulhe-res que dormem com um homem diferente todas as noites, que nem quengas burras. Mas vocês não são, pois não? Burras?Na realidade, não invejo o pro-cesso pelo qual uma mulher passa na procura pelo seu cavaleiro an-dante. Elas sofrem muita pressão para seguir uma vida dita normal.Por um lado, a sociedade pensa: «Olha para ela... 35 anos, solteira e sem filhos. Deve estar estraga-da!» Como se fossem um pacote de leite dois dias fora do prazo.Por outro lado, o corpo feminino faz pressão, fazendo acreditar que se devem casar e ter filhos, em prol da perpetuação da espécie humana.Isto não é mais do que bullying psicológico e fisiológico.

Hugo Rosa

O corpo feminino está literalmen-te a dizer: «Ó chavala, orienta um bébé!»Como se isso não bastasse, as mulheres estão geneticamente co-dificadas para achar os bébés fo-finhos. É conhecido como o gene «Ohhhhhhhh».E mesmo ao lado desse gene está o gene que vos convence de que cortar dois dedos de cabelo é uma «mudança de visual». O Michael Ja-ckson... isso foi uma mudança de visual. Mas cedem à pressão, e casam com o coitado que, naquele mo-mento, naquela idade têm como companheiro. Sabem o que isto quer dizer? Que o verdadei-ro amor só chega quando o vosso corpo deixar de mandar em vo-cês. Ou seja, na menopausa.

Quando o vosso corpo vos diz: «Caguei para ti, faz o que quise-res», é quando as portas para o verdadeiro amor se abrem. E se encontrarem um homem que queira amar uma mulher na me-nopausa, agarrem-no e não o dei-xem fugir.

HUMOR

www.facebook.com/hugohrosa

O Verdadeiro Amor

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FUTSAL

Leonor Noronha

A vitória no último jogo da jornada não foi suficiente para a subida de divisão, uma vez que a equipa «dependia» dos resul-

tados de outros jogos que se jogavam à mesma hora. No entanto, a opinião de todos os jogadores é unânime: «O balanço da época é positivo ten-do em conta todos os condicionalismos e tudo o que aconteceu durante a mesma», explica Ricardo Domingues (Kiko), que acrescenta «não atingimos a subida de divisão que, no início, não era um objectivo do grupo, mas sim da direc-ção. Se conseguíssemos subir teria sido óptimo. No entanto, acho que uma equipa que, numa época, sobe da III para a II divisão e na seguin-te fica a um ponto da subida, só pode fazer um balanço positivo,» conclui. Kiko avança que, para o próximo ano, a subida «seria o culminar do trabalho da equipa. Há muitos atletas que são da Portela e seria giro para o grupo, para a as-sociação e para todos os moradores da Portela ter uma equipa na I Divisão».Também Gonçalo Farinha faz um balanço posi-tivo da época: «se bem que estávamos a contar tentar subir de divisão, o que não foi possível». Um objectivo para a próxima época. «É isso que vamos tentar fazer e penso que é a menta-lidade de todos os jogadores e até da equipa técnica.»Guilherme Castro, estudante do Instituto Superior Técnico, revela que considera a sua transição, da equipa júnior para os seniores, como uma fase de aprendizagem com jogadores mais experien-tes. «Foi o que acabou por acontecer. Não estava à espera de jogar muito e era uma fase para me adaptar a este novo ciclo». Para a próxima época, o atleta espera «continuar nesta fase de aprendizagem, continuar a evoluir como jogador, ir aprendendo e jogar o mais possível». Quanto ao grupo de trabalho, deixa um rol de elogios: «Encontrei um grande espírito de grupo. Nunca tinha estado num grupo tão coeso e tão único. Foi uma experiência muito, muito positiva», conclui.De menos palavras, mas não menos convicto, Ricardo Caturra resume a época num parágra-fo: «A expectativa era, claramente, a subida de divisão. Depois de tudo o que se passou, acho que a época foi bastante positiva. Para o ano, a expectativa mantém-se: subida de divisão.»Mais uma vez, o adjectivo «positivo» aparece para qualificar a época que agora terminou. Para João Silva, «apesar de não termos subido para a I, que era o objectivo, acho que a época foi bas-tante positiva. Começámos muito mal, ninguém

São os heróis do Futsal da AMP. Correram durante toda a época em busca do melhor resultado e, após um início conturbado,

conseguiram recuperar e obter o 3.̊ lugar na II Divisão de Futsal Série B. O plantel faz um balanço positivo da época que agora

findou e revela as expectativas para a próxima.

estava à espera que começasse dessa forma, e conseguimos recuperar os pontos que perde-mos inicialmente». Quanto ao próximo ano, as expectativas são as mesmas, contudo «espero que o começo da época seja bem melhor e que não haja tantos percalços como houve nesta».Éder Almeida prefere não falar, ainda, da próxi-ma época, pois o seu destino não está decidido. No entanto, resume o ano que terminou: «Não correu tão mal como algumas pessoas dizem que aconteceu. Acho que o balanço é positi-vo e as pessoas da Portela estão contentes. Aquilo que atingimos na época anterior, e que não conseguimos este ano, foi devido a algu-mas alterações do grupo que não resultaram, mas acabámos por encontrar um grupo forte e agradável.»Numa linguagem telegráfica, Mário Lemos resu-miu a época em poucas palavras: «Foi boa, não estava à espera que assim acontecesse [n.r.: referindo-se ao início da mesma] e foi muito bom integrar este grupo.»Marco Mateus veio do Belenenses e chegou ao clube da Portela em Fevereiro quando «a equi-pa estava a recuperar de alguns problemas por causa de novos jogadores. A partir daí, a equipa começou a recuperar, não pela minha vinda, mas sim devido aos treinos, e recuperou bas-

tantes lugares, o que fez com que acabássemos a tentar lutar pela subida. Foi uma boa época. Provou-se que a Portela tem um grande espírito e muita qualidade; este é um grupo bastante coeso, o que facilitou a minha adaptação». Para o próximo ano, «só há uma perspectiva: subir de divisão. Se nesta época morremos na praia, então para o ano temos de estar na praia».«Foi o primeiro ano que joguei aqui, vim dos ju-niores do Sporting; estava à espera de encontrar uma grande equipa, como aconteceu. O início foi um bocadinho mau, mas melhorou para o fim. Conseguimos uma boa época. No final, foi tudo positivo», é assim que João Amaral resume o ano desportivo e acrescenta: «Para o ano, temos de fazer ainda mais.»Márcio Carneiro afirma com convicção: «Gostei da experiência; aprendi muito a trabalhar com os seniores. Este escalão é mais competitivo» e acrescenta que «fui bem recebido por todos, equipa técnica e jogadores. Isto é uma família». O próximo ano ainda é uma incógnita, pois «ain-da não sei com quem vou trabalhar, mas deve ser com os juniores, apesar de ter vontade de continuar a trabalhar com os seniores». «Não pude contribuir para ajudar a equipa, devido a uma operação ao joelho, mas acompanhei-a até ao fim e os que cá estão são os que lutaram

Uma época bastante positivaPortela Futsal Época 2012/2013

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sempre pela equipa, treinadores e direcção», afirma Sandro Gandarez. Quanto ao resultado final, o atleta elogia a organização táctica da equipa, a partir da segunda volta, e acrescenta que «este grupo, apesar dos desaires que acon-teceram, conseguiu dar-lhes a volta e chegar ao melhor lugar possível». Na sua opinião, «se a equipa mantiver os seus jogadores capitais para o ano, terá fortes probabilidades de subir de divisão, que era o que queríamos este ano e não foi possível».João Pires, atleta do Sport Lisboa e Olivais na época anterior, defende que «com os jogadores que tínhamos e os objectivos que foram apre-sentados esperávamos subir à I Divisão. Mas tendo em conta as circunstâncias que foram acontecendo ao longo da época acho que foi uma época positiva. Uma equipa que sobe da III para a II Divisão, numa época, e fica em terceiro lugar, na seguinte, só pode fazer um balanço positivo. Bom, bom era termos subido, mas acho que o 3.˚ lugar nos assenta bem». Para a próxima temporada, «espero a subida e assumir claramente que se isso não acontecer é um objectivo falhado».Para João Pinheiro, o objectivo para a próxima época é claro e óbvio: «A subida de divisão. Va-mos claramente apostar nisso.» Tendo em con-ta o que se passou ao longo de toda a tempo-rada, fizemos uma óptima época, mantivemos o núcleo duro, que é o mais importante, e com este espírito certamente para o ano tudo vai correr melhor». Deixa ainda uma palavra para o público: «Esperamos continuar a contar com o apoio dos adeptos e sempre com o pavilhão cheio.»Luis Estrela reitera as dificuldades desta épo-ca. «Tínhamos tido uma época muito forte em termos de resultados e de grupo. Durante o início do campeonato, as coisas nesses dois parâmetros não correram bem, tanto na parte desportiva como na dinâmica de grupo. Houve alguns problemas.» Todavia, «as coisas foram-se compondo, fomos tendo melhores resultados desportivos. Com algumas alterações no grupo, conseguimos compor alguma harmonia que faltava. Com o passar dos meses, fomos su-bindo na classificação e conseguimos chegar às últimas jornadas ainda com possibilidades de subir à I Divisão. Infelizmente, morremos na praia, mas, na minha opinião, devemos encarar a época como de aprendizagem para o futuro», conclui. Para o ano, o atleta é convicto nos seus desejos: «Em termos de objectivos colectivos, obviamente gostávamos de subir de divisão. Se conseguirmos definir cada jogo como a parte

mais importante do nosso dia, então as vitórias vão surgindo, vamos tendo bons resultados. O mais importante é entrarmos sempre com um espírito de nos apoiarmos nos bons e nos maus momentos. Como portelense, o meu maior de-sejo para a próxima época é dignificar todas as pessoas que gostam da Portela e dar o meu máximo em todos os jogos. Jogar com muito amor à camisola e, se for possível, ajudar este grupo a subir de divisão.»Nelson Semedo (Couves) veio do Rangel: «Che-guei a meio da época e encontrei um bom es-pírito de equipa, um bom grupo; acolheram-me bem e são bons rapazes. Para o ano, espero que a equipa suba de divisão.»Para Nilson Miguel, as expectativas no início da época eram «a subida de divisão com, no máximo, uma derrota. Começou mal, mas com o tempo fomos melhorando. A equipa uniu-se mais e foi melhorando». Para a época que se aproxima, o atleta só tem um objectivo: «Subir de divisão, sem derrotas.»A opinião da equipa técnicaPara José Amado, treinador-adjunto da equipa, «a época começou com expectativas altas por parte da AMP, que pretendia que subíssemos de divisão. Parece-me claramente que não come-çámos da forma certa a todos os níveis: direc-tivos, desportivos e afins. Mas conseguimos, aos poucos, rectificar e a época foi começando a correr melhor. Conseguimos fazer melhor, te-mos de trabalhar bem, conseguir resultados e levar a Portela, mais uma vez, a um recorde». Para a próxima época, «não sei se vamos con-seguir fazer melhor do que esta, porque é uma divisão muito difícil, se calhar das mais difíceis, mas se continuarmos da mesma forma penso que vamos com certeza atingir algo mais. Acho que primeiro temos de descansar e depois é que vamos reflectir sobre isso».Mário Silva, treinador do plantel, defende que «o que interessa de uma época é o final e o resulta-do final foi positivo. Ficámos em 3.̊ lugar, naque-la que foi a melhor classificação de sempre no Futsal, e acho que isso é importante para colocar

a AMP onde merece; tem estrutura para isso, tem pessoas para isso e já era merecido ser reco-nhecida por isso». O treinador sublinha o bom trabalho da equipa: «à semelhança do trabalho que foi feito no ano passado, considero que foi uma época de sucesso». Contudo, reconhece que «naturalmente, quem fica a um ponto de conse-guir mais qualquer coisa sente sempre um pouco de frustração com o resultado final».Para a próxima época, o treinador da A. M. Por-tela pretende «não cometer os erros que come-temos este ano e que acabaram por nos pre-judicar. Temos de apostar na continuidade; esta equipa vive do espírito e do grupo que construiu e não vamos mexer nisso. Vamos acreditar que essa união aliada à qualidade de trabalho que é desenvolvida será suficiente para conseguirmos ganhar jogo a jogo e depois veremos a que é que isso corresponde».Questionado sobre a formação da equipa e pos-síveis alterações ou não, Mário Silva confirma que «para a próxima época, vamos ter maioritaria-mente a mesma equipa. É impossível conseguir a continuidade de todos, até porque tivemos de fazer alguns ajustes ao longo da temporada, no-meadamente porque temos quatro guarda-redes e o plantel original só contempla três. Portanto, a existir, serão ajustes mínimos. Poderá haver a entrada de um atleta e muito poucas saídas. O convite para continuar será extensível a todos os atletas de campo, mas não sei dizer ainda se todos irão aceitar ou não», conclui.O fisioterapeuta da equipa é um elemento de muita importância para a manutenção do bom estado físico dos atletas. Luís Mateus faz «um balanço extremamente positivo, porque além das dificuldades que tivemos, tanto em termos de lesões como de castigos, conseguimos aca-bar em 3.˚ lugar, o que foi muito importante». Para a próxima temporada, defende que «a di-recção e a equipa técnica vão querer continu-ar o bom trabalho para que consigamos um melhor resultado. Terá de ser uma época me-lhor ainda ou tão boa como esta em termos de classificação».

Uma época bastante positiva

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