Upload
duongkiet
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
PORTO ALEGRE: RUMO À IMPLANTAÇÃO DA
VIGILÂNCIA AMBIENTAL EM SAÚDE
André Luiz Martinelli Santos Silva. Engenheiro Civil, Sanitarista, Coordenador da Equipe de Vigilância da
Qualidade da Água da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde da
Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
Maria Elaine Esmério. Bióloga, Coordenadora Adjunta da Equipe de Vigilância da Qualidade da Água da
Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Porto
Alegre.
Endereço: Avenida Padre Cacique, n.º 372, 3.º Andar. Bairro Menino Deus. Porto Alegre/RS – CEP: 90810-240.
Telefones: (51) 3289-2420, 3289-2421, 3289-2422, 3289-2423.
e-mail: [email protected], [email protected]
ÁREA TEMÁTICA: VIGILÂNCIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
Trabalho Já Apresentado Na 4ª Expoepi - Mostra Nacional De Experiências Bem-Sucedidas Em Epidemiologia, Prevenção E Controle De Doenças (Apresentação Oral) e no II. º SIMBRAVISA, II.º Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária e I.º Simpósio Pan-Americano de Vigilância Sanitária (Apresentação Pôster).
PORTO ALEGRE: RUMO À IMPLANTAÇÃO DA VIGILÂNCIA AMBIENTAL EM SAÚDE
RESUMO
O ambiente em geral, e em particular a água (considerada enquanto fator abiótico) é um fator condicionante de
considerável importância na saúde pública. O processo de reestruturação do setor saúde, deflagrado com a
Constituição Federal de 1988 e com a Lei Orgânica da Saúde, a Lei n.º 8.080/90 (processo esse que se
corporifica na efetiva implantação do Sistema Único de Saúde), visa alterar o paradigma vigente nos modelos do
passado, invertendo-se o viés, de uma lógica hospitalocêntrica para uma visão de saúde preventiva. Nesse
contexto, as ações de vigilância em saúde (concebidas como sendo um somatório das antigas ações de vigilância
sanitária, epidemiológica e de controle de zoonozes e vetores, acrescidas das ainda incipientes ações de
vigilância ambiental) vêm recebendo uma ênfase mais do que devida. É sobejamente sabido que essa forma de
atuação, em que se visa estimular os fatores que gerem saúde ao invés de atuar na cura de agravos já instalados,
tem um impacto positivo muito desejável, inclusive a curto prazo. É justamente esse tipo de visão, ainda a ser
implementada, que justifica o fato de ter sido reforçado o aporte de recursos humanos, materiais e financeiros,
objetivando a constituição de órgão de vigilância em saúde. Uma outra mudança de paradigma, que é um dos
princípios basilares do Sistema Único de Saúde (Já previsto na Constituição Federal de 1988), é a de justamente
transferir a responsabilidade pelas ações e serviços de saúde dos órgãos federais e estaduais para os municípios,
através do processo de municipalização das ações e serviços de saúde. Durante esse processo, iniciado em 1994
em Porto Alegre, com a adesão à Gestão Incipiente, e tendo continuidade em 1996 com a adesão à Gestão Semi-
Plena, convergindo para a Gestão Plena do Sistema de Saúde previsto na NOB/96, o município de Porto Alegre
constituiu um Centro de Vigilância em Saúde, com tarefas entre as quais encontravam-se contempladas a
vigilância da qualidade das águas de abastecimento público e de destinação de esgotos.
Assim sendo, o objetivo do presente trabalho é o de descrever parte desse processo desenvolvido na Secretaria
Municipal de Saúde de Porto Alegre, apresentando suas experiências como base para a futura implantação da
vigilância ambiental em saúde. No presente trabalho é analisada essa dinâmica, comparando-se a situação atual
com aquela vigente em épocas passadas, descrita em trabalhos já anteriormente apresentados em outros eventos,
analisando-se a sua evolução tanto em aspectos quantitativos quanto qualitativos.
Palavras-chave: Vigilância Ambiental, Vigilância em Saúde, Qualidade da Água, Ações Básicas, Serviços de
Abastecimento de Água, Cadastro, Sistema de Saúde Municipalizado.
OBJETIVOS
O objetivo do presente trabalho é o de discorrer brevemente acerca do processo de implantação de parte de um
sistema de vigilância ambiental em saúde no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, Brasil. Para tanto, parte-se do processo de implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e suas
respectivas quebras de paradigmas, as quais ensejam esse processo.
O ambiente em geral, e em particular a água (considerada enquanto fator abiótico) é um fator condicionante de
considerável importância na saúde pública. O processo de reestruturação do setor saúde, deflagrado com a
Constituição Federal de 1988 e com a Lei Orgânica da Saúde, a Lei n.º 8.080/90 (processo esse que se
corporifica na efetiva implantação do Sistema Único de Saúde), visa alterar o paradigma vigente nos modelos do
passado, invertendo-se o viés, de uma lógica hospitalocêntrica para uma visão de saúde preventiva. Nesse
contexto, as ações de vigilância em saúde (concebidas como sendo um somatório das antigas ações de vigilância
sanitária, epidemiológica e controle de zoonozes e vetores, acrescidas das ainda incipientes ações de vigilância
ambiental) vêm recebendo uma ênfase mais do que devida. É sobejamente sabido que essa forma de atuação, em
que se visa estimular os fatores que gerem saúde ao invés de atuar na cura de agravos já instalados tem um
impacto positivo muito desejável, inclusive a curto prazo. É justamente esse tipo de visão, ainda a ser
implantada, que justifica o fato de ter sido reforçado o aporte de recursos humanos, materiais e financeiros
objetivando a constituição de um órgão de vigilância em saúde. Uma outra mudança de paradigma, a qual é um
dos princípios basilares do Sistema Único de Saúde (Já previsto na Constituição Federal de 1988), é a de
justamente transferir a responsabilidade pelas ações e serviços de saúde dos órgãos federais e estaduais para os
municípios, através do processo de municipalização das ações e serviços de saúde.
Durante esse processo, iniciado em 1994 em Porto Alegre, com a adesão à Gestão Incipiente, tendo continuidade
em 1996 com a adesão à Gestão Semi-Plena, convergindo para a Gestão Plena do Sistema de Saúde previsto na
NOB/96, o município de Porto Alegre constituiu um Centro de Vigilância em Saúde, com tarefas entre as quais
encontravam-se contempladas a vigilância da qualidade das águas de abastecimento público e de destinação de
esgotos. Essas ações podem ser concebidas como a base para o posterior desenvolvimento de um sistema de
vigilância ambiental em saúde, o qual abrageria outros fatores de risco tanto biológicos (vetores, hospedeiros,
reservatórios) quanto não biológicos (como o ar, o solo, desastres e contaminantes) em um processo o qual ainda
está por se desenrolar, sendo o presente trabalho somente a descrição do seu início.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram utilizados na elaboração do presente trabalho relatórios elaborados pela Equipe de Vigilância da
Qualidade da Água da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Porto
Alegre/RS, dados obtidos a partir de bancos de dados próprios desta Equipe, além de dados constantes do
Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano - SISÁGUA, sistema esse
que foi desenvolvido pela então Fundação Nacional de Saúde (atual Secretaria de Vigilância em Saúde do
ministério da Saúde) no ano de 2000.
Foram também utilizados trabalhos publicados em anais de congressos e publicações específicas do setor saúde,
em particular aquelas editadas pela FUNASA.
RESULTADOS
Uma avaliação preliminar.
A constituição do Centro de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, em 1992, já
apontava para uma ruptura da visão tradicional do setor saúde, na medida em que reunia em um único centro
ações preventivas então dispersas, agregando além disso outras ações novas, que anteriormente ou não eram
executadas, ou então o eram por outros entes governamentais. Esse é o caso das ações de vigilância sobre a
destinação dos esgotos prediais, as quais eram anteriormente executadas por um setor da vigilância sanitária do
estado, e que acabaram sendo assumidas pelo município. As ações de vigilância da qualidade da água para
consumo humano, por outro lado, que não eram tradicionalmente executadas, tanto pelo nível estadual quanto
pelo nível municipal, foram assumidas inicialmente dentro dos parâmetros estabelecidos pela Portaria n.º 36/90
do Ministério da Saúde.
Todo esse processo deve ser entendido como integrante daquele de municipalização das ações e serviços de
saúde, o qual estabelecia responsabilidades distintas pautadas pelo nível de complexidade das ações, ficando as
de maior complexidade para o estado e as de menor complexidade para o município. O processo de
municipalização das ações e serviços de saúde em Porto Alegre, inicialmente no sistema de gestão Incipiente em
1994, e posteriormente no de Semi-Plena, em 1996, contemplava esses aspectos, que não vinham a ser
determinantes no que diz respeito à vigilância da qualidade da água (ações que sempre foram concebidas como
de baixa complexidade). Ainda sobre essas ações, a ênfase inicialmente era muito restrita a um único parâmetro,
a presença de teores adequados de flúor, o qual, apesar de sua importância, tornava o enfoque demasiado
limitado. Isso se devia ao fato de que no Rio Grande do Sul foram concebidos inicialmente dois sistemas
distintos, um sistema de vigilância dos teores de flúor e um outro sistema de vigilância da qualidade da água
pertinente aos parâmetros restantes1, sendo o primeiro mais afeito à política de saúde bucal e o segundo à
vigilância sanitária2. Outras ações executadas desde o início desse processo eram as de fiscalização das
condições sanitárias de reservatórios (ações essas também executadas anteriormente pela vigilância sanitária do
estado) tendo-se optado, nesses momentos iniciais por enfatizar a fiscalização das condições sanitárias dos
reservatórios de água dos hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde3, além de estabelecimentos de
ensino. Igual ênfase foi dada às fontes de abastecimento de água utilizadas pelos hospitais de Porto Alegre, ação
essa que naquela época identificou a inadequação do abastecimento de água de um grande percentual de
hospitais na cidade4, e que gerou uma intensa ação de fiscalização que resultou na adequação dos mesmos ao
previsto em lei. Um outro tipo de ação que era tradicionalmente desenvolvida pela vigilância sanitária do estado
e que já havia sido anteriormente repassada ao município (Portaria SSMA 40/90) era a de vigilância das
condições sanitárias das piscinas de uso coletivo, ações essas executadas até hoje (cabe aqui o comentário
incidental de que a importância sanitária das ações de vigilância sobre a qualidade das piscinas ainda não foi
suficientemente aquilatada pelo setor saúde).
É importante salientar também que a atuação interinstitucional foi um modo de agir encampado desde sempre
pelo Centro de Vigilância em Saúde, levando esse modo de agir à cooperação com outros órgãos municipais
responsáveis pela coleta de lixo, drenagem, abastecimento de água e coleta de esgotos, e.g.
No que diz respeito particularmente à evolução das ações de vigilância da qualidade da água consumida pela
população, pode-se ressaltar os seguintes fatos, que podem nos dar uma idéia desta ao longo dos últimos anos:
1
SILVA, Julce Clara da, et al. Panorama do abastecimento público de água no Estado do Rio Grande do Sul, traçado a partir de dados do
Setor de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano. In: CONGRESO INTERAMERICANO DE INGENIERIA SANITARIA Y
AMBIENTAL, XXVII, 2000, Porto Alegre/RS. Anais...Rio de Janeiro: ABES, 2000. 1 CD.
2
SILVA, Julce Clara da., et al. Sistema de vigilância dos teores de flúor nas águas de abastecimento público no Estado do Rio Grande do
Sul.. In: CONGRESO INTERAMERICANO DE INGENIERIA SANITARIA Y AMBIENTAL, XXVII, 2000, Porto Alegre/RS. Anais...Rio de
Janeiro: ABES, 2000. 1 CD.
3
ROSA, João Batista Franqui da, CESA, Kátia Teresa, BINS, Maria Júlia. Vigilância sanitária da qualidade da água e de instalações
prediais de esgoto sanitário no município de Porto Alegre. Porto Alegre. s.p. mimeo.
4
ROSA, João Batista Franqui da, BENDATI, Maria Mercedes, ÁVILA, Rejane Vany, SILVA, Julce Clara da. Avaliação da qualidade da
água subterrânea utilizada em hospitais de Porto Alegre/RS. In: ANAIS DO CONGRESSO DA ABES. Rio de Janeiro: ABES, 1997. p. 1-7.
(II - 023)
• Seguindo a orientação dominante em nível estadual, inicialmente eram concebidos dois sistemas: um
sistema visando a avaliação da qualidade da água propriamente dito, baseado essencialmente em
análises bacteriológicas, e um sistema visando identificar a situação e verificar a adequação em termos
de teores de flúor ao preconizado pela legislação vigente, sendo essse sistema tradicional e consolidado,
conforme já exposto anteriormente. As possibilidades de situações em termos de teores de flúor eram
em número de cinco: sem flúor, flúor agregado, flúor natural acima de 0,6 ppm., traços de flúor abaixo
de 0,6 ppm., e situação desconhecida (não informado/sem dados). Posteriormente, com a edição dos
novos padrões de potabilidade estabelecidos com a Portaria 1469, de 29 de dezembro de 2000, esses
dois sistemas deixaram existir, constituindo um único sistema. Não obstante, a adequação das águas de
abastecimento frente à este parâmetro (o flúor) não foi negligenciada, pelo contrário: a ação da
vigilância em saúde, em um processo de discussão com o principal órgão de abastecimento (o DMAE -
Departamento Municipal de Águas e Esgotos) tem resultado na adoção de métodos mais eficazes para a
adição de flúor preconizada em lei;
• A respeito da Portaria n. 1469/2000 em sí, é importante salientar alguns aspectos em particular: a
necessidade de atualização dos padrões estabelecidos anteriormente era flagrante, na medida em que
vários possíveis contaminantes presentes na água para consumo humano não encontravam-se previstos
na portaria anterior (Portaria n.º 36/90), tendo aquela aumentado o número de parâmetros passíveis de
medição com relação à esta (para um total de 75 parâmetros); o lapso de dez anos entre essas duas
normas foi reduzido a partir de agora, constando do texto da Portaria n.º 1469 o prazo para revisão de
cinco anos5; E, mais importante de tudo, o caráter democrático do qual a sua elaboração revestiu-se
deve ser elogiado, na medida em que o texto final foi resultado de um amplo processo de discussão que
se materializou em uma consulta pública, prática essa que tornou-se regra no setor saúde (o mesmo
tendo acontecido, por exemplo, com a Resolução de número 50 da Diretoria Colegiada da ANVISA, no
ano de 2002);
• A Portaria 1469/2000 foi um marco também no seguinte aspecto: anteriormente era prevista a coleta
periódica de amostras de vigilância6 da qualidade da água para consumo humano, porém estas eram
feitas em número muito variável, conforme a realidade operacional e epidemiológica local (na
dependência de surtos). A partir da edição da portaria, e também com a implantação do sistema
SISÁGUA já citado anteriormente (nos anos 2000/2001) estabeleceu-se como rotina a coleta e analise
5 Recentemente (26 de março de 2004) a Portaria 1469/2000 foi substituída pela Portaria 518, de 25.03.2004, de igual teor, e com prazo de adequação de 12 meses.
de amostras de monitoramento, coletadas pela vigilância em saúde, em número proporcional ao de
habitantes (o que não vem a se confundir com a coleta e a análise de amostras para o controle7), além
daquelas amostras coletadas pela vigilância naqueles casos antes referidos. Essa mudança de orientação
representou um aporte de uma massa de dados mais significativa, resultando, após a alimentação do
sistema, em um melhor e mais apurado conhecimento do abastecimento de água para consumo humano,
não só em nossa cidade, mas também em nível de país;
• Assim sendo, evoluiu-se de uma situação de coleta de 84 amostras de vigilância sobre o controle de
qualidade da água para consumo humano, e de 98 amostras oriundas de fontes e poços no ano de 1995,
para um montante de 501 amostras de monitoramento de vigilância sobre o controle coletadas e
analisadas em 2003, isso além daquele montante de amostras de vigilância coletas (as quais fazem parte
do sistema SISÁGUA) e aquele montante de amostras coletadas em soluções alternativas não
residenciais e em fontes e poços irregulares (resultados os quais não são digitados no SISÁGUA).
Prevê-se para o ano de 2004 a coleta e análise de um total de 600 amostras, cumprido aquele montante
previsto pela norma. A evolução, em termos de número de amostras coletadas ao longo do período de
implantação do sistema SISÁGUA é mostrado no gráfico abaixo;
6 Conforme definição da Portaria 1469/2000, artigo 4o. inciso V: "vigilância da qualidade da água para consumo humano conjunto de ações adotadas continuamente pela autoridade de saúde pública para verificar se a água consumida pela população atende à esta Norma e para avaliar os riscos que os sistemas e as soluções alternativas de abastecimento de água representam para a saúde humana".
7 Ainda conforme a portaria, artigo citado, inciso IV: " IV. controle da qualidade da água para consumo humano conjunto de atividades,
exercidas de forma contínua pelo(s) responsável(is) pela operação de sistema ou solução alternativa de abastecimento de água, destinadas a verificar se a água fornecida à população é potável, assegurando a manutenção desta condição;
390
497 501
0
100
200
300
400
500
600
2001 2002 2003
Anos
Gráfico 1 - Evolução do número de amostras de água coletadas e analisadas para o sistema SISÁGUA
Número de Amostras
• No entanto, não foi somente o número de amostras coletadas que aumentou. Também a adequação da
escolha dos pontos onde são feitas as coletas é maior atualmente, pois os pontos são escolhidos tendo
por base plantas das redes de abastecimento de cada um dos sistemas mantidos pela autarquia de
abastecimento público de água (DMAE), resultando em uma distribuição dos mesmos que é mais
significativa na descrição da qualidade da água distribuída;
• O aumento do número de amostras analisadas não teria sido possível sem um suporte laboratorial mais
robusto, fornecido pelo Laboratório Central do Estado, LACEN/RS, que é o laboratório de saúde
pública de referência para as vigilâncias em saúde de todo o estado do RS. Os recursos aportados
através do Projeto VIGISUS foram de vital importância no que diz respeito ao aparelhamento da
estrutura laboratorial;
• No que diz respeito ao abastecimento por fontes e por poços irregulares, a atuação interinstitucional
citada anteriormente possibilitou que o abastecimento pelos mesmos fosse gradativamente sendo
substituído por águas oriundas da rede pública de abastecimento, sendo pautadas essas ações por uma
postura educativa e de esclarecimento à população;
• Um fato que representa uma evolução por parte do município na execução das ações de vigilância da
água para consumo humano é a alimentação do sistema ter passado para a esfera do próprio município,
concretizando desse modo não só as espectativas originais do sistema mas também o desenho geral do
próprio Sistema Único de Saúde (o município executando ações e o estado/ a união coordenando,
capacitando e normatizando);
Informações para a ação imediata.
O SISÁGUA é potencialmente uma ferramenta para a ação do órgão de vigilância em saúde, na medida em que
podem ser obtidas informações a respeito da não-adequação da água distribuída aos padrões que são necessários
para a garantia da saúde da população, desse modo dando ensejo a ações visando a prevenção de agravos à
saúde. Essa adequação pode ser medidas através de alguns indicadores, como os citados na tabela 1, logo abaixo,
os quais foram selecionados para serem apresentados atualmente na forma de gráficos e tabelas pelo SISÁGUA.
É importante salientar que, da totalidade dos 75 parâmetros previstos pela Portaria 518, são analisados
rotineiramente os parâmetros ausência ou presença de coliformes totais, escherichia coli ou coliformes
termotolerantes, cloro residual livre, fluoretos e turbidez. Assim sendo, os indicadores selecionados para o
SISÁGUA refletem, de certo modo, a escolha atual desses parâmetros como sendo básicos.
No caso particular da turbidez, este parâmetro evoluiu recentemente o seu status de parâmetro estético para
parâmetro sanitário, pois sabe-se que certos microorganismos como enterovirus, cistos de giardia spp e oocistos
de cryptosporidium sp, somente são removidos através da ação mecânica da filtragem, resultando portanto que a
diminuição da turbidez resulta em melhor remoção de possíveis patógenos na água.
No caso particular do parâmetro flúor, o sistema ressente-se de uma opção de relatório em forma de
tabela/gráfico de um indicador específico de adequação do mesmo, levando a que a vigilância em saúde
municipal tenha de elaborá-los em softwares distintos.
Tabela 1 – Indicadores selecionados para o SISAGUA8 Grupo de Indicadores Indicadores selecionados
Qualidade bacteriológica da água
Percentual das amostras com ausência de coliformes totais na rede de distribuição; Percentual das amostras com ausência de coliformes termotolerantes na rede de distribuição.
Turbidez da água Turbidez da água - Percentual das amostras com turbidez dentro dos padrões em relação à Portaria MS nº 1.469/2000 (< 5 UT) na rede de distribuição.
Nível de cloro residual Percentual das amostras com cloro residual livre dentro dos padrões em relação à Portaria MS nº 1.469/2000 (> 0,2 mg/l) na rede de distribuição.
Cobertura de abastecimento de água Percentual da população do município atendida com sistemas de abastecimento de água.
Tratamento de água Percentual da população do município atendida com sistemas de abastecimento de água com tratamento.
Desinfecção de água Percentual da população do município atendida com sistemas de abastecimento de água com desinfecção.
Consumo per capita Consumo médio per capita da população atendida por sistemas de abastecimento de água no município.
Regularidade Percentual da população do município atendida com sistemas de abastecimento de água com intermitência.
Informações como as acima citadas podem ser obtidas na forma de gráficos, por exemplo, como os apresentados
logo abaixo, tendo como possíveis níveis de discretização tanto os sistemas de abastecimento como o município
como um todo. Os gráficos ora apresentados referem-se à totalidade do município. No tocante à discretização, a
questão do referenciamento geográfico é ainda um ponto que demanda um melhor equacionamento, pois os
níveis de discretização apresentados pelo SISÁGUA são aqueles característicos do setor saneamento. Para que
seja possível avaliarmos efetivamente o impacto das ações de vigilância da água é necessário que possamos
correlacioná-las com os casos ocorridos de doenças de veiculação hídrica registradas nas áreas de abrangência de
cada um dos estabelecimentos assistenciais de saúde da rede básica. Esse é um desafio a ser vencido no futuro,
com o aperfeicoamento do sistema, integrando-o a um sistema de informações geográficas com um dentre vários
níveis de informação (layers). A tendência é que o nível básico de discretização seja a área (ou parte dela) de
cada um dos estabelecimentos de assistência à saúde. Em nosso município alguns passos já foram dados nesse
sentido, com o completo georeferenciamento de todas as unidades e digitalização das áreas de abrangência de
cada um, e a digitalização das áreas de abrangência de cada sistema de abastecimento, cabendo-nos a partir daí
compatibilizar essas informações distintas. A título de exemplificação, é mostrada na figura 1 a distribuição das
unidades de saúde no município de Porto Alegre e na figura 2 um detalhe da mesma.
8
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Sistema de informações de vigilância da qualidade da água para consumo humano – SISAGUA (Manual Operacional). Brasília: FUNASA/CENEPI, 2003. 99 p.
Figura 1 – Distribuição das unidades de saúde no território do município de Porto Alegre. Fonte:
ASSEPLA, SMS/PMPA.
Figura 2 – Um detalhe da distribuição apresentada na figura 1. Fonte: ASSEPLA, SMS/PMPA.
Gráfico 2
Fonte: SISAGUA - Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano.
ICR-VSAA: Índice de Cloro Residual Livre na água, relativo às informações de Vigilância da qualidade da água de Sistemas de
Abastecimento de Água.
Gráfico 3
Fonte: SISAGUA - Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano. (Port. 1.469)
IT-VSAA: Índice de turbidez da água relativa às informações de Vigilância da qualidade da água de Sistemas de Abastecimento de
Água.
Gráfico 4
Fonte: SISAGUA - Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano. (Port. 1.469)
IBCT-VSAA: Índice de qualidade bacteriológica em relação a Coliforme Total, relativa às informações de Vigilância da qualidade
da água de Sistemas de Abastecimento de Água.
Gráfico 5
Fonte: SISAGUA - Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano. (Port. 1.469)
IBCTe-VSAA: Índice de qualidade bacteriológica em relação a E. Coli ou Coliforme Termotolerante, relativa às informações de
Vigilância da qualidade da água de Sistemas de Abastecimento de Água.
Os gráficos apresentados foram obtidos, conforme já foi dito acima, para o município como um todo, incluindo
seus oito (08) sistemas, para um período de um ano, não tendo sido o sistema ainda alimentado, quando de sua
geração, com dados relativos a agosto e setembro de 2004.
Uma breve análise dos gráficos aqui apresentados nos leva às seguintes conclusões:
• Os gráficos referentes aos índices de turbidez e de adequação bacteriológica relativa aos coliformes
termotolerantes apresentam-se praticamente estáveis, aproximando-se de uma linha reta, assintóticos ao
percentual 100 %, indicando uma boa adequação no tocante a esses parâmetros;
• O gráfico relativo ao índice que descreve a adequação do cloro residual livre apresenta uma tendência
decrescente desde o mês de novembro de 2003, tendência essa já identificada desde muitos meses atrás, a
qual já deflagrou inclusive da parte da vigilância em saúde cobrança junto à administração do sistema de
abastecimento. As características intrínsecas do manancial em questão (ou seja, o Lago Guaíba) levam a crer
que seja particularmente difícil a manutenção dos teores mínimos preconizados na rede. No entanto, uma
vez que a própria norma (Portaria 518/2003) em seu artigo 13, parágrafo único, estabelece a aceitação dessa
situação, não é possível legalmente manter a exigência desses níveis mínimos, pois o parâmetro cloro
residual livre (CRL) deve ser analisado em conjunto com o parâmetro ausência de coliformes
termotolerantes;
• A irregularidade do gráfico que descreve a adequação em termos de coliformes totais é mais aparente do que
real, na medida em que se está analisando uma série muito curta. No entanto, a importância desse parâmetro
é maior quando analisa-se individualmente a amostra, pois esse parâmetro indica a contaminação local,
servindo portanto para identificar-se pontos nos quais ocorram contaminação da água de abastecimento
devido à circunstâncias localizadas, já tendo sido identificadas recentemente algumas situações dessa
categoria. Nesses casos tomam-se as providências cabíveis visando resolver essas situações, eliminando as
fontes de contaminação sanando-se essas irregularidades.
Algumas perspectivas para o futuro.
Pretende-se que para o futuro as ações de vigilância da qualidade da água para consumo humano sejam mais
eficazes e resolutivas. Visando esse fim propõe-se, para a melhor representatividade do SISÁGUA:
• Definir novos roteiros de coleta de amostras de água, de modo que se tenha uma visão mais acurada da
qualidade da água de cada um dos sistemas, instituindo-se um “rodízio” entre os mesmos (de um mês para
outro se faria coleta em pontos distintos, melhorando a representatividade dessa);
• Dentro dessa idéia de melhor representatividade dos pontos formadores dos distintos roteiros, classificá-los
dentro das categorias “pontos críticos”, “pontos notáveis” e “pontos genéricos”9, atribuindo a cada uma
dessas um peso respectivo na formação dos ditos roteiros;
• Rediscutir com o órgão de abastecimento a sua amostragem para coletas de controle;
• Utilizar a totalidade das potencialidades do sistema, uma vez que existem módulos os quais ainda não foram
alimentados, até mesmo por falta de uma melhor definição de rotinas por parte dos níveis federal e estadual
(roteiros de inspeção em ETA’s, e.g.);
• Discutir com órgão responsável pela manutenção do SISÁGUA (no caso a Secretaria de Vigilância em
Saúde/MS) a adequação do sistema no sentido de fazer coincidir a discretização do sistema com a
discretização da rede assistencial, providencia essa imprescindível para que se possa estabelecer com clareza
o impacto das ações preventivas do setor saúde (conforme discutido em item anterior desse trabalho);
• Ainda no tocante à adequação do sistema, propor ao órgão responsável pela sua manutenção a inclusão da
opção de relatórios de adequação dos teores de flúor, tendo por base um indicador específico .
Além disso, é intenção da vigilância da qualidade da água de Porto Alegre qualificar o Laboratório Central do
município (o qual no momento faz somente análises clínicas) para as análises dos parâmetros básicos do
SISÁGUA, visando dotar nossa atividade de uma maior independência e presteza na obtenção dos resultados.
CONCLUSÕES
Conforme nos propomos no início do trabalho, ao longo desse foi apresentado o processo de evolução verificado
no tocante às ações de vigilância da água para consumo humano (componente VIGIÁGUA da vigilância
ambiental em saúde) executadas pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde
de Porto Alegre. As ações aqui descritas e as informações por elas geradas estão servido de base para um
processo que se desenvolve nesse exato momento, de estruturação efetiva de uma vigilância ambiental em saúde,
na medida em que novas ações sobre outros fatores devem ser agregados às atualmente desenvolvidas, e essas
novas ações em muito se beneficiarão com a experiência desenvolvida no aspecto de vigilância da água para
consumo humano10.
Espera-se que tal implantação venha a significar um avanço fundamental nas ações de promoção e proteção ã
saúde da população, por meio de um monitoramento e do controle de uma variedade de problemas decorrentes
9
Mattos, Antônio C. M. Um modelo de amostragem para o controle da potabilidade de um sistema de distribuição de água. Revista DAE ( SABESP ) nº 97 set. 1974 pp. 30-42. 10 A previsão da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde tem a previsão de estruturar a vigilância abiental em saúde em todas as secretarias estaduais de saúde e secretarias municipais de saúde das capitais, conforme programação pactuada e integrada para 2004.
do desequilíbrio do meio ambiente, visando eliminar ou reduzir a exposição humana a fatores ambientais
prejudiciais à saúde11.
Cabe notar que a experiência acumulada no tocante às ações do VIGIÁGUA e seu instrumento mais importante,
o sistema SISÁGUA, podem fornecer subsídios importantes, porém os outros componentes não terão que,
necessariamente, seguir o mesmo modelo. Na verdade, é de se esperar que em diferentes municípios ocorrerão
diferentes situações, privilegiando um ou outro parâmetro de cada um dos componentes da vigilância ambiental
em saúde (por exemplo, em determinado município a contaminação do solo pode ser muito importante em
termos de saúde pública, enquanto que em outro o principal problema seria a ocorrência de acidentes com
produtos perigosos). Assim sendo, a experiência pode ditar algumas linhas gerais, porém guardadas algumas
individualidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Sistema de informações de
vigilância da qualidade da água para consumo humano – SISAGUA (Manual Operacional). Brasília:
FUNASA/CENEPI, 2003. 99 p.
BRASIL, Fundação Nacional de Saúde. Vigilância ambiental em saúde/Fundação Nacional de Saúde. Brasília:
FUNASA, 2002. 44p.
Mattos, Antônio C. M. Um modelo de amostragem para o controle da potabilidade de um
sistema de distribuição de água. Revista DAE ( SABESP ) nº 97 set. 1974 pp. 30-42.
SILVA, Julce Clara da., et al. Sistema de vigilância dos teores de flúor nas águas de abastecimento público no
Estado do Rio Grande do Sul. In: CONGRESO INTERAMERICANO DE INGENIERIA SANITARIA Y
AMBIENTAL, XXVII, 2000, Porto Alegre/RS. Anais...Rio de Janeiro: ABES, 2000. 1 CD.
SILVA, Julce Clara da, et al. Panorama do abastecimento público de água no Estado do Rio Grande do Sul,
traçado a partir de dados do Setor de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano. In:
CONGRESO INTERAMERICANO DE INGENIERIA SANITARIA Y AMBIENTAL, XXVII, 2000, Porto
Alegre/RS. Anais...Rio de Janeiro: ABES, 2000. 1 CD.
ROSA, João Batista Franqui da, CESA, Kátia Teresa, BINS, Maria Júlia. Vigilância sanitária da qualidade da
água e de instalações prediais de esgoto sanitário no município de Porto Alegre. Porto Alegre. s.p. mimeo.
11
BRASIL, Fundação Nacional de Saúde. Vigilância ambiental em saúde/Fundação Nacional de Saúde. Brasília: FUNASA, 2002. 44p.