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UNIVERSIDADE DO MINHO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PÓS-DOUTORAMENTO NA ESPECIALIDADE DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS Alexandre da Silva Ferry ANÁLISE ESTRUTURAL E MULTIMODAL DE ANALOGIAS CONSTRUÍDAS EM SALA DE AULA POR PROFESSORES DE QUÍMICA BRASILEIROS E PORTUGUESES Belo Horizonte 2017

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UNIVERSIDADE DO MINHO – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PÓS-DOUTORAMENTO NA ESPECIALIDADE DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS

Alexandre da Silva Ferry

ANÁLISE ESTRUTURAL E MULTIMODAL DE ANALOGIAS CONSTRUÍDAS EM SALA

DE AULA POR PROFESSORES DE QUÍMICA BRASILEIROS E PORTUGUESES

Belo Horizonte

2017

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UNIVERSIDADE DO MINHO – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PÓS-DOUTORAMENTO NA ESPECIALIDADE DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS

Alexandre da Silva Ferry

ANÁLISE ESTRUTURAL E MULTIMODAL DE ANALOGIAS CONSTRUÍDAS EM SALA

DE AULA POR PROFESSORES DE QUÍMICA BRASILEIROS E PORTUGUESES

Proposta de trabalhos apresentada ao Instituto de Educação da Universidade do Minho para o Programa de Pós-doutoramento na especialidade Educação em Ciências a ser realizado a partir do dia 01/03/17 ao dia 28/02/18.

Especialidade: Educação em Ciências

Orientadora: Profª Drª Laurinda Leite

Assinatura do candidato:

Belo Horizonte

2017

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SUMÁRIO

1   INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA  ...................................................................................................  4  

1.1 -   APRESENTAÇÃO DO TEMA E OBJETO DE ESTUDO   4  

1.2 -   OBJETIVOS   4  

1.3 -   APRESENTAÇÃO DOS CAMPOS DE ESTUDOS: ANALOGIAS & MULTIMODALIDADE   5  

1.4 -   JUSTIFICATIVA   7  

1.5 -   APRESENTAÇÃO DO PESQUISADOR: TRAJETÓRIA E MOTIVAÇÕES   7  

2   REFERENCIAIS TEÓRICOS E UNIDADE DE ANÁLISE  ...........................................................  8  

3   METODOLOGIA  .....................................................................................................................................  9  

3.1 -   PARTICIPANTES E CONTEXTO DA PESQUISA   9  

3.2 -   PRODUÇÃO DOS REGISTROS E INFRAESTRUTURA ESPECÍFICA   12  

4   CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES  ..............................................................................................  12  

5   CONTRIBUIÇÕES DO PROJETO – ENSINO, FORMAÇÃO E APRENDIZAGEM  .........  13  

6   CONTRIBUIÇÕES DO PROJETO – PESQUISAS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS  ......  13  

7   QUESTÕES ÉTICAS  ............................................................................................................................  13  

8   REFERÊNCIAS  ......................................................................................................................................  14  

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1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

1.1 - Apresentação do tema e objeto de estudo

O objeto de estudo apresentado nesta proposta de trabalho é o processo de construção

de analogias no ensino de Ciências sob a perspectiva da comunicação multimodal. Trata-se do

aprofundamento dos estudos realizados pelo proponente durante as atividades de Doutorado

na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, entre os anos de 2013 e

2016.

Este projeto de pesquisa se insere entre os estudos sobre as analogias na Educação em

Ciências e os estudos sobre o papel dos múltiplos modos de comunicação orquestrados nas

interações entre estudantes e professores nas salas de aula de Ciências. Inserido entre o campo

das analogias e o campo da multimodalidade, ambos no contexto da Educação em Ciências, a

sua unidade de análise será constituída por duas dimensões – uma estrutural e outra

expressiva. A dimensão estrutural será baseada tanto na Teoria do Mapeamento Estrutural das

Analogias, de Gentner (1983), quanto na Multiconstraint theory, de Holyoak & Thagard

(1989). Para conceber a dimensão expressiva será adotada como referência a Teoria

Multimodal da Semiótica Social, de Kress et al (2001), a descrição funcional dos gestos, de

Kendon (2004) e, possivelmente, a descrição dos elementos prosódicos da linguagem oral, de

Cagliari (1992).

A fim de compreender os processos comunicativos que medeiam o uso de analogias

construídas em sala de aula para ensinar Ciências, a pesquisa proposta neste projeto será

produzida a partir do seguinte problema: quais são as relações entre as características das

analogias construídas por professores de Química experientes e os recursos expressivos por

eles utilizados?

Pretende-se, nesta pesquisa, observar, registrar e analisar episódios de ensino

mediados por analogias construídas por professores de Química brasileiros e portugueses, a

fim de investigar as relações entre as características estruturais, semânticas e pragmáticas

dessas analogias e os modos verbais, visuais, acionais e gestuais, em suas variantes culturais,

empregados na construção desse tipo de comparação para ensinar Ciências.

1.2 - Objetivos

Aprofundar na análise da constituição multimodal do processo de construção de

analogias em salas de aula de Ciências, especificamente, no ensino de Química.

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Compreender como professores experientes constroem analogias por meio do uso

coordenado de diferentes modos de comunicação.

Contribuir para a ampliação do corpus de conhecimento disponível sobre a

constituição multimodal da comunicação nas salas de aula de ciências.

Contribuir para a compreensão do uso e do papel das analogias na Educação em

Ciências, e para a ampliação do corpus de conhecimento disponível sobre os trabalhos de

análise da construção desse recurso de mediação didática.

1.3 - Apresentação dos Campos de Estudos: Analogias & Multimodalidade

O campo das analogias na Educação em Ciências

Historicamente, o estudo sobre o papel das comparações no ensino de Ciências foi

realizado, principalmente, em pesquisas sobre analogias. Tais pesquisas têm sido orientadas a

partir de inúmeros enfoques, havendo poucos trabalhos sobre como professores constroem ou

utilizam analogias em sala de aula de Ciências. Alguns trabalhos com esse enfoque foram

realizados na década de 1990 (THIELE & TREAGUST, 1994; DAGHER, 1995a). Na década

seguinte, no Brasil, encontramos os trabalhos de Ferraz & Terrazzan (2001, 2002 e 2003) ou

Bozelli & Nardi (2006 e 2012).

Na Educação em Ciências e particularmente no ensino de Química, o uso de analogias

é muito comum. O ensino da Química, como reiteram Carvalho e Justi (2005), envolve,

muitas vezes, conceitos abstratos e de difícil compreensão. Possivelmente, por causa disso, na

tentativa de facilitar o aprendizado, professores e autores de materiais didáticos desenvolvem

modelos de ensino e concebem analogias. Esses modelos são representações produzidas com

o objetivo específico de ajudar os estudantes a entenderem algum aspecto do conteúdo que se

deseja ensinar. O uso de analogias, por sua vez, parte da apresentação de uma situação, um

objeto, um fenômeno, isto é, um análogo, que seja semelhante àquele objeto ou fenômeno

cuja compreensão se pretende estimular.

Na pesquisa de doutorado que antecedeu a esse projeto, a Teoria do Mapeamento

Estrutural (Structure-Mapping Theory) proposta originalmente por Dedre Gentner

(GENTNER, 1983; GENTNER & MARKMAN, 1997) foi um dos referenciais teóricos que

fundamentaram a análise. Essa teoria nasceu na Psicologia Cognitiva e tem sido usada no

campo da Educação em Ciências em pesquisas sobre o uso de comparações nos processos de

ensino e aprendizagem (ver, por exemplo, MOZZER & JUSTI, 2013 e 2015).

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De acordo com essa teoria, a especificidade das analogias em relação aos outros tipos de

comparação pode ser identificada por meio de um mapeamento das similaridades postuladas

entre relações existentes no domínio familiar e no domínio pouco conhecido, que também são

conhecidos como, respectivamente, como domínios base e alvo. Gentner (1983, p. 156)

afirma que esses domínios são sistemas que incluem elementos (objetos, estados ou

processos), atributos (características dos elementos) e relações tanto entre os elementos,

quanto entre os atributos dos elementos.

O campo da Comunicação Multimodal

Segundo Mortimer & Scott (2002), a influência da psicologia sócio-histórica ou sócio-

cultural nas investigações em Educação em Ciências resultou no desenvolvimento gradual de

um interesse sobre o processo de construção de significados e negociação de sentidos nas

salas de aula de Ciências. Entre os artigos que se enquadram nesse campo de interesse

especial atenção pode ser dada àqueles voltados ao entendimento do papel de diferentes

modos semióticos nos processos de comunicação e compartilhamento de significados no

plano social das salas de aula de Ciências.

O papel da linguagem nos processos de ensino e aprendizagem foi objeto de

investigação em diversas pesquisas no campo da Educação em Ciências (p. ex. DRIVER et al,

1999; SCOTT, MORTIMER & AGUIAR, 2006). Esses trabalhos foram importantes no

sentido de sinalizar como os conceitos das Ciências são introduzidos no espaço social da sala

de aula por meio de processos de negociação de sentido a partir dos quais os estudantes

podem interpretar os fenômenos estudados pelas Ciências de maneira similar à intepretação

construída pelos cientistas. Sem negar a importância dessas pesquisas, Martins, Ogborn &

Kress (1999), chamam a atenção para a necessidade de que, nos processos de negociação e

compartilhamento de significados nas salas de aula de Ciências, precisamos levar em

consideração: (i) como as entidades das Ciências são construídas no discurso; (ii) como

linguagem, ação, gestos, relações pessoais se integram em atos de comunicação.

No ensino de Ciências, bem como em outros contextos de comunicação, diferentes

modos de comunicação têm papel importante. Kress et al (2001) caracterizam a seleção e o

uso integrado dos modos de comunicação como um aspecto central da tarefa docente de

promover a apropriação da cultura das Ciências por parte dos estudantes. Para esses autores,

os significados compartilhados em sala de aula não dependem apenas das potencialidades e

limitações dos diversos modos utilizados, isto é, de suas especializações funcionais, mas da

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própria maneira como esses modos são orquestrados ou, em outras palavras, utilizados de

forma coordenada. Para esses autores: (i) a orquestração dos modos produz seus próprios

significados; (ii) os professores contribuem para que os estudantes tenham acesso aos

conceitos e à cultura das Ciências, a partir do uso integrado de imagens, ações, manipulação

de objetos, fala e assim por diante.

1.4 - Justificativa

A partir dos estudos no campo da comunicação multimodal é possível afirmar que a

aprendizagem em Ciências não consiste em uma realização meramente linguística, mas

envolve a interação de estudantes e professores por meio da orquestração de múltiplos modos

de comunicação que incluem, dentre outros, proxêmica, gestos, manipulação de objetos,

interação com imagens, mudanças de postura corporal, alterações na entonação da voz e

movimentos da cabeça. Dentro dessa perspectiva, esta proposta parte da hipótese de que a

análise de processos de construção de analogias nas salas de aula de Ciências não deveria

considerar apenas o que é dito nessas ocasiões.

Os estudos sobre o papel das analogias na Educação em Ciências nos ajudam a

compreender as potencialidades e os limites das analogias no ensino e na aprendizagem da

Química como dependentes, tanto de habilidades do professor no uso desses recursos, quanto

das características das analogias. No entanto, não foram encontradas referências, na grande

quantidade de trabalhos consultada durante o desenvolvimento da pesquisa de doutorado, ao

papel de múltiplos modos de comunicação usados nas salas de aula de Ciências para a

construção de analogias.

A pesquisa de doutorado que desencadeou a presente proposta de trabalho se mostrou

promissora no sentido de permitir uma análise sistemática do processo de construção de

analogias em sala de aula sob duas perspectivas: a estrutural, que permite a caracterização da

estrutura relacional comum das analogias, bem como o seu foco, sua sistematicidade e sua

adequação pragmática; e a expressiva, que descreve os modos de comunicação verbais,

visuais, acionais e gestuais orquestrados pelo professor para construir analogias.

1.5 - Apresentação do Pesquisador: Trajetória e Motivações

Considerando o pesquisador um ser social que leva para a pesquisa tudo que o

constitui como sujeito em interação com o ambiente sócio-histórico em que vive, decidi

apresentar um breve histórico da minha trajetória de formação docente, a partir da qual me

constituí como professor e pesquisador na área de Educação em Ciências.

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Desde o ano de 2001, quando ainda estava cursando a licenciatura em Química na

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), eu tive a oportunidade de atuar como

professor de Química em escolas de Ensino Médio da rede privada em Belo Horizonte. Em

uma dessas redes privadas de ensino, de 2004 a 2013, trabalhei como consultor pedagógico de

professores e coordenadores de escolas parceiras que utilizavam o material didático produzido

por essa rede para a Educação Básica. Entre os diversos cursos de aperfeiçoamento que

ofereci para os professores de Ciências dessa rede, em 2005, desenvolvi e ministrei um curso

sobre analogias e modelos no ensino de Química.

No período de 2006 a 2008, tive a oportunidade de desenvolver minha pesquisa de

Mestrado em Educação Tecnológica sobre o uso de analogias no ensino e na aprendizagem de

modelos atômicos, orientado pelo Prof. Dr. Ronaldo Luiz Nagem. Nessa ocasião, investiguei

como alguns estudantes do Ensino Médio interpretavam determinadas comparações, feitas por

professores e livros didáticos, com o intuito de introduzir esses sujeitos entre aqueles que

conhecem e compreendem os modelos atômicos escolares.

Em setembro de 2013, eu apresentei dois trabalhos decorrentes do meu mestrado em

um congresso internacional de pesquisas em didática das Ciências ocorrido na cidade de

Girona, na Espanha, promovido pela revista Enseñanza de las Ciencias. Os dois trabalhos

tratavam das concepções de estudantes acerca de analogias elaboradas para o ensino de

teorias atômicas.

Durante o período do doutorado em Educação, com a orientação do Prof. Dr. Helder

de Figueiredo e Paula, me aproximei das concepções de multimodalidade e o papel dos gestos

na comunicação em sala de aula. Em junho de 2016 defendi a minha tese intitulada “Análise

Estrutural e Multimodal de Analogias em uma Sala de Aula de Química” a partir da qual

surgiu a presente proposta de trabalho para o estágio pós-doutoral que pretendo realizar no

Instituto de Educação da Universidade do Minho, em Portugal.

2 REFERENCIAIS TEÓRICOS E UNIDADE DE ANÁLISE

Devido às limitações referentes ao número de páginas deste projeto, impostas pelo

Edital nº 15 do Processo de seleção de candidaturas para o Programa de Pós-Doutorado no

Exterior, da CAPES, não foi possível apresentar os fundamentos e os conceitos estruturantes

dos referenciais teóricos indicados no quadro 1. A tese do candidato proponente apresenta

adequadamente tais conceitos e fundamentos (ver o capítulo 3 de FERRY, 2016).

Para investigar o uso de analogias e outras comparações construídas em sala de aula,

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durante o trabalho de pesquisa de doutorado foi concebida uma unidade de análise extraída da

referida tese (FERRY, 2016). A figura 1 apresenta os principais conceitos que estruturam a

unidade de análise deste projeto: os episódios de ensino mediados por comparações. Essa

unidade de análise está constituída por duas dimensões: (1ª) uma estrutural, que diz respeito à

identificação da estrutura relacional das comparações estabelecidas e suas restrições; e (2ª)

uma expressiva, voltada para a análise da orquestração dos diferentes modos de comunicação

utilizados por professores durante o estabelecimento de comparações.

3 METODOLOGIA

3.1 - Participantes e Contexto da Pesquisa

A figura 2 a seguir, extraída da tese que originou esta proposta de trabalho (FERRY, 2016), apresenta a sequência metodológica para análise de episódios de ensino nos quais professores de Química estabelecem, usam ou constroem analogias.

UNIDADE  DE  ANÁLISE  

Episódios  de  ensino  mediados  

por  comparações  

Teoria  Multimodal  da  Semiótica  Social    

(KRESS  et  al,  2001)  

DIMENSÃO  EXPRESSIVA  

Descrição  Funcional  dos  Gestos  (KENDON,  2004)  

Teoria  do  Mapeamento  Estrutural  

(GENTNER,  1983)  

DIMENSÃO  ESTRUTURAL    

Multiconstraint  theory  (HOLYOAK  &  THAGARD,  

1989)    

-­‐  Mapeamento  das  correspondências  entre  elementos,  atributos  e  relações  

dos  domínios  base  e  alvo;  -­‐  Limitações  e  diferenças  alinháveis;  

-­‐  Estrutura  relacional  comum;  -­‐  Consistência  estrutural,  

Foco  relacional,  Sistematicidade.  

Fatores  que  atuam  na  seleção  do  DB  e  das  relações  relevantes  

Isomorfismo  Similaridade  semântica  Centralidade  pragmática  

 

Intenção  retórica  Modos  verbais,  visuais,  acionais  e  

gestuais:  (a)  Materialidade,  (b)  meio,  (c)  especialização  funcional,  (d)  significados  ideacional,  

interpessoal  e  textual    

Unidade  gestual  /  Frase  gestual  

(1)  Funções  Referenciais:    (a)  representacionais;  (b)  dêiticas.  

(2)  Funções  Pragmáticas:  (a)  de  modo;  (b)  de  partição;  (c)  performativas  

 

Fonte:  Ferry  (2016)  

Figura  1  –  Referenciais  teóricos  e  conceitos  estruturantes  a  partir  dos  quais  nós  a  construímos  nossa  unidade  de  análise.  

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No trabalho de pesquisa que originou a presente proposta, um professor que, à época, tinha 35 anos de experiência docente, foi acompanhado durante um semestre letivo. Além de ter trabalhado como professor no Ensino Médio e no Ensino Superior, ele também desempenhava atividades de coordenação pedagógica, era autor de livros didáticos de Química e já havia desenvolvido pesquisas no ensino de Ciências, na condição de doutor formado por um programa de pós-graduação de uma universidade federal brasileira.

Os registros analisados foram gerados a partir de gravações em áudio e vídeo de aulas ocorridas em uma instituição privada de ensino superior localizada em Belo Horizonte, Minas Gerais, durante os meses de fevereiro a junho de 2014. As aulas faziam parte da disciplina Elementos de Físico-química que compõe a matriz curricular de um curso de Farmácia. A turma era constituída por 32 alunos adultos que estavam cursando o 2º período. Por meio de consentimentos livres e esclarecidos, o professor e os alunos autorizaram realizar a pesquisa naquele ambiente. A disciplina era ministrada em quatro aulas semanais (50 min/aula) concentradas em um único turno e dia da semana. Não foi possível acompanhar e registrar todas as aulas ministradas durante o semestre letivo, em função de diversos fatores alheios. Foram registrados sete encontros semanais, totalizando 822 minutos de gravação.

Durante os sete encontros semanais registrados, o professor estabeleceu 28 comparações, entre as quais havia similaridades por mera aparência, similaridades literais, metáforas e, principalmente, analogias. No trabalho de Ferry (2016) foram analisadas em certa profundidade algumas analogias construídas durante as aulas sobre Cinética Química. Portanto, há inúmeras outras analogias que o professor construiu no contexto de outros temas da Química, como a Termoquímica e o Equilíbrio Químico.

Na presente proposta de trabalho, o proponente pretende avançar e aprofundar as análises estruturais e multimodais a partir desses outros episódios de ensino registrados durante as aulas sobre Termoquímica e Equilíbrio Químico, incorporando, na medida do possível, aspectos da análise prosódica, segundo o referencial de Cagliari e colaboradores.

Pretende-se ainda, segundo as possibilidades de tempo, recursos e interesses do professor interlocutor do Instituto de Educação da Universidade do Minho, para o qual esta proposta foi encaminhada, observar e acompanhar algum professor de Química português, a fim de analisar os aspectos estruturais e multimodais das analogias construídas por ele. Uma alternativa aos procedimentos de observação e registro poderá ser a análise de vídeos gerados em outros projetos de pesquisa que por ventura tenham sido produzidos com a intenção de investigar exemplos de boas práticas de ensino.

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Figura 2 – Sequência metodológica adotada para a análise estrutural e expressiva da construção de analogias em um episódio de ensino.

Fonte:  Ferry  (2016)  com  adaptações.  

Observação  e  Registro  das  aulas  de  Química  mediante  aprovação  e  assinatura  do  TCLE.  

Levantamento  das  comparações  estabelecidas  pelos  professores;  

identificação  dos  domínios  base  (DB)  e  alvo  (DA)  em  cada  comparação.  

Transcrição  das  falas  (modo  verbal  oral)  registradas  nos  episódios  nos  quais  os  

professores  estabeleceram  as  comparações,  segundo  o  padrão  de  transcrição  do  modo  verbal  oral  desenvolvido  por  Ferry  (2016).  

Análise  estrutural  do  conjunto  de  comparações  estabelecidas  em  uma  das  aulas  observadas  e  registradas,  segundo  a  Teoria  do  Mapeamento  Estrutural  de  

Gentner  (1983).  

Análise  dos  aspectos  estruturais  (estruturas  relacionais),  semânticos  e  pragmáticos  das  duas  ANALOGIAS  selecionadas,  segundo  a  Teoria  das  Múltiplas  Restrições  de  Holyoak  

&  Thagard  (1989).  

Transcrição  dos  modos  visuais,  acionais  e  gestuais  orquestrados  pelos  professores  durante  a  construção  das  ANALOGIAS  nos  episódios  selecionados,  segundo  os  padrões  

desenvolvidos  por  Ferry  (2016).  

Análise  dos  significados  ideacionais,  interpessoais  e  textuais  compartilhados  durante  os  episódios  de  ensino  mediados  

pelas  comparações,  considerando  a  orquestração  dos  múltiplos  modos  

empregados  pelo  professor  e  os  aspectos  estruturais  das  ANALOGIAS.  

 Análise  multimodal  dos  episódios  de  ensino  mediado  pelas  ANALOGIAS,  segundo  a  Teoria  Multimodal  da  Semiótica  Social  (KRESS  et  al,  2001),  incluindo  a  prosódia  e  as  funções  dos  gestos  (KENDON,  2004).  

Seleção  de  analogias  Critério:  consistência  estrutural,  foco  

relacional,  elevada  quantidade  de  relações  de  ordem  superior,  incidência  sobre  o  

mesmo  tópico  de  conteúdo  e  o  mesmo  DA.    

Seleção  de  uma  aula  Critérios:  quantidade  de  comparações,  

presença  de  analogias,  uso  de  comparações  diferentes  para  um  mesmo  domínio  alvo.  

l  

l  

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3.2 - Produção dos registros e Infraestrutura específica

O aprofundamento das análises estruturais e multimodais pretendidas nesta proposta

de trabalho poderá ser realizado a partir do banco de episódios (vídeos de aulas) construído

pelo pesquisador proponente. A descrição e a transcrição dos vídeos poderão ser realizadas

por meio de um software específico para pesquisas qualitativas em educação: o NVivo® for

Windows (10ª versão). Esse software permite assistir cuidadosamente cada registro produzido,

mediante o uso de botões para avanço ou recuo das cenas em velocidade normal, acima do

normal ou em câmera lenta. Também é possível transcrever falas dos trechos de vídeo

selecionados com um recurso que permite a sincronização das transcrições com o vídeo.

Na oportunidade de observar e acompanhar algum outro professor português, serão

necessários equipamentos de registro em áudio e vídeo: duas câmeras com tripés, gravador de

áudio e caderno para anotações.

4 CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES

O quadro 1 a seguir sumariza o cronograma para a realização das atividades a serem

desenvolvidas ao longo do estágio pós-doutoral.

Quadro 1 – Cronograma de atividades a serem desenvolvidas. Atividades 2017 2018

Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Socialização dos resultados e procedimentos da pesquisa desenvolvida no doutorado.

X

Observação e Registro de novos episódios de ensino. X X

Levantamento preliminar de comparações estabelecidas. X X

Transcrição das falas (modo verbal oral) registradas nos episódios. X X

Mapeamento estrutural do conjunto de comparações. X X

Análise dos aspectos estruturais, semânticos e pragmáticos das analogias selecionadas.

X X

Transcrição dos modos visuais, acionais e gestuais orquestrados. X X

Análise multimodal dos episódios de ensino mediado pelas analogias. X X X

Análise dos significados ideacionais, interpessoais e textuais. X X X

Redação de artigos para publicação em periódicos X X X X X X

Elaboração do Relatório das atividades de Pós-doutoramento realizadas na UMINHO.

X X

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5 CONTRIBUIÇÕES DO PROJETO – ENSINO, FORMAÇÃO E APRENDIZAGEM

O aprofundamento da análise do uso de analogias sob a perspectiva da

multimodalidade poderá oferecer diversas contribuições para a pesquisa e o ensino das

Ciências, especificamente da Química, ao ampliar: (i) o foco dos trabalhos que, atualmente,

têm se dedicado à avaliação das analogias como recursos ou estratégias de ensino; (ii) a

compreensão da dinâmica das interações entre professores e estudantes durante a construção

de analogias nas salas de aula de Química; (iii) o entendimento dos fatores que contribuem

para que os episódios de ensino centrados na construção de analogias sejam contextualmente

adequados; (iv) a compreensão do papel dos múltiplos modos de comunicação e de sua

orquestração para a construção de analogias em aulas de Química; (v) o escopo do

conhecimento sobre as características e as estratégias de uso das analogias em processos de

formação inicial e continuada de professores.

6 CONTRIBUIÇÕES DO PROJETO – PESQUISAS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS

A fim de ampliar o nível de colaboração e de publicações conjuntas entre

pesquisadores que atuam no Brasil e no exterior e de proporcionar maior visibilidade

internacional à produção científica brasileira no campo da Educação em Ciências, a realização

deste trabalho contará com a colaboração de dois pesquisadores brasileiros:

• Prof. Dr. Helder de Figueirêdo e Paula, da UFMG, com experiência na área de

Educação, com ênfase no desenvolvimento e avaliação de recursos mediacionais para

a Educação em Ciências.

• Prof. Dr. Ronaldo Luiz Nagem, do CEFET-MG, pós-doutor em Educação em Ciências

pela Universidade do Minho, líder do grupo de pesquisa em Analogias, Metáforas e

Modelos na Tecnologia, na Educação e na Ciência – AMTEC, com interesse na

reconstrução e reprodução de modelos análogos, aplicação da metodologia de ensino

com analogias em sala de aula, e produção de textos técnicos, científicos e de

divulgação científica relacionados às analogias, metáforas e modelos.

7 QUESTÕES ÉTICAS

Para assegurar a ética em nossa pesquisa, reconhecemos a importância de (i)

considerar os participantes em primeiro lugar, conferindo-lhes a decisão de participar ou não

da pesquisa; (ii) salvaguardar os direitos, interesses e sensibilidades dos participantes; (iii)

comunicar os objetivos da pesquisa aos participantes; (iv) proteger a privacidade dos

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informantes, assegurando seu anonimato. Os termos de consentimentos livres e esclarecidos

foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais,

em Belo Horizonte, de acordo com o Parecer nº 555100/2014.

8 REFERÊNCIAS BOZELLI, F. C.; NARDI, R. O uso de analogias no ensino de física em nível universitário: interpretações sobre os discursos do professor e dos alunos. Rev. Bras. de Pesq. Educ. em Ciências. v.6, n.3, 2006. BOZELLI, F. C.; NARDI, R. Interações discursivas e o uso de analogias no ensino de Física. Investigações em Ensino de Ciências. v.17(1). p. 81-107, 2012. CAGLIARI, L. C. Da importância da prosódia na descrição de fatos gramaticais. In: ILARI, R. Gramática do Português Falado: níveis da análise linguística. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1992. v. 2, p. 39-64. CARVALHO, N.; JUSTI, R. Papel da analogia do “mar de elétrons” na compreensão do modelo de ligação metálica. Enseñanza de las Ciencias. Numero extra. VII Congresso, 2005. DAGHER, Z. Analysis of analogies used by science teachers. Journal of Research in Science Teaching, 32 (3), pp.259-270, 1995. DRIVER, Rosalind; ASOKO, Hilary; LEACH, John; MORTIMER, Eduardo Fleury; SCOTT, Philip H. Construindo o conhecimento científico em sala de aula. Química Nova na Escola, 9(31) p. 31-40, 1999. FERRAZ, D. F.; TERRAZZAN, E. A. O uso de analogias como recurso didático por professores de Biologia no Ensino Médio. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências. v.1, n. 3, 2001. FERRAZ, D. F.; TERRAZZAN, E. A. O uso espontâneo de analogias por professores de Biologia: observações da prática pedagógica. Ensaio, Pesquisa em Educação em Ciências. v. 4, n. 2, 2002. FERRAZ, D. F.; TERRAZZAN, E. A. Uso espontâneo de analogias por professores de Biologia e o uso sistematizado de analogias: que relação? Ciência & Educação (Bauru), v. 9, n. 2, p. 213-227, 2003. FERRY, Alexandre da Silva. Analogias e Contra-analogias: uma estratégia auxiliar para o ensino de modelos atômicos. Belo Horizonte: CEFET-MG, 2008. [Dissertação de Mestrado]. FERRY, Alexandre da Silva. Análise Estrutural e Multimodal de Analogias em uma Sala de Aula de Química. Belo Horizonte: Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, 2016 [Tese de Doutorado] GENTNER, Drede. Structure-mapping: A theoretical framework for analogy. Cognitive Science, 1983. GENTNER, D.; MARKMAN, A. B. Structure mapping in analogy and similarity. American Psychologist, v. 52, n. 1, p. 45–56, 1997. HOLYOAK, K. J.; THAGARD, P. Analogical Mapping by Constraint Satisfaction. Cognitive Science. v. 13, 1989. KENDON, A. Gesture: visible action as utterance. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. 400 p. KRESS, Gunther; JEWITT, Carey; OGBORN, Jon; TSATSARELIS, Charalampos. Multimodal teaching and learning: the rhetorics of the science classroom. London: Continuum, 2001. MARTINS, Isabel ; OGBORN, Jon & KRESS, Gunther. Explicando uma Explicação. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, v. 01, n. 1, p. 1-14, 1999. MORTIMER, E. F.; SCOTT, P. Atividade discursiva nas salas de aula de ciências: uma ferramenta sociocultural para analisar e planejar o ensino. Investigações em Ensino de Ciências. v. 7(3), p. 283-306, 2002. MOZZER, N.B.; JUSTI, R. Science Teachers' Analogical Reasoning. Research in Science Education, v. 43, n. 4, p. 1689-1713, 2013b. MOZZER, N. B.; JUSTI, R. “Nem tudo que reluz é ouro”: uma discussão sobre analogias e outras similaridades e recursos utilizados no ensino de Ciências. Rev. Bras. de Pesq. Educ. em Ciên., v.15, n.1, 2015. SCOTT, P. H.; MORTIMER, E. F.; AGUIAR, O.. The tension between authoritative and dialogic discourse: a fundamental characteristic of meaning making interactions in high school science lessons. Science Education, 90, 605- 631, 2006. THIELE, R.; TREAGUST, D. An interpretative examination of high school chemistry techers’ analogical explanations. Journal of Research in Science Teaching, 31 (3), 227- 242, 1994.