PÓS-GRADUAÇÃO: O CURSO DE DOUTORADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA FEA/USP

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O segmento de Cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu brasileiros apresentou um crescimento notável nos últimos anos. De 1976, ano em que teve início o processo de avaliação dos Cursos de Pós-Graduação pela Capes, a 2004, os cursos recomendados passaram de um total de 673, (desses, 183 doutorados) para 2.993 (sendo 1.034 doutorados). Na área de Ciências Contábeis, segundo dados da Capes existem 16 programas. Um deles, o Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da FEA/USP detém o único curso de doutorado na área existente no país. Dado o seu ineditismo e sua importância, o objetivo geral desta pesquisa foi resgatar a história do Programa de Pós- Graduação do Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/USP. Para atender a esse objetivo a trajetória metodológica envolveu, além da pesquisa bibliográfica, o levantamento histórico de documentação e entrevistas. O programa nasceu da vontade, necessidade e perseverança dos professores do departamento. Concluiu-se que o programa se encontra consolidado e tem no corpo docente seu ponto mais forte. A endogenia apresenta-se como o ponto mais fraco.

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    PS-GRADUAO: O CURSO DE DOUTORADOEM CINCIAS CONTBEIS DA FEA/USP

    JACQUELINE VENEROSO ALVES DA CUNHAProfessora Doutora do Programa de Ps-Graduao em Cincias Contbeis da

    Universidade Regional de BlumenauE-mail:jvac@furb

    RESUMO

    O segmento de Cursos de Ps-Graduao Stricto Sensubrasileiros apresentou um crescimento notvel nos ltimosanos. De 1976, ano em que teve incio o processo de avaliao dos Cursos de Ps-Graduao pela Capes, a 2004, oscursos recomendados passaram de um total de 673, (desses, 183 doutorados) para 2.993 (sendo 1.034 doutorados).Na rea de Cincias Contbeis, segundo dados da Capes existem 16 programas. Um deles, o Programa de Ps-Graduao em Cincias Contbeis da FEA/USP detm o nico curso de doutorado na rea existente no pas. Dadoo seu ineditismo e sua importncia, o objetivo geral desta pesquisa foi resgatar a histria do Programa de Ps-Graduao do Departamento de Contabilidade e Aturia da FEA/USP. Para atender a esse objetivo a trajetriametodolgica envolveu, alm da pesquisa bibliogrfica, o levantamento histrico de documentao e entrevistas.O programa nasceu da vontade, necessidade e perseverana dos professores do departamento. Concluiu-se que oprograma se encontra consolidado e tem no corpo docente seu ponto mais forte. A endogenia apresenta-se como

    o ponto mais fraco.

    Palavras-chave:Doutorado. Cincias Contbeis. Ps-graduao.

    ABSTRACT

    Brazilian graduate programs have experienced a remarkable growth in recent years. From 1976, when the CAPES

    evaluation process of graduate programs began, till 2004, the recommended courses increased from 673 (183 doctoral

    programs) to 2,993 (1,034 doctoral programs). There are 16 programs in the Accountancy area, according to Capes.

    One of them, the graduate Accounting program at FEA/USP offers the sole Brazilian PhD program in the field. Due

    to its importance and novelty, the goal of this research was to retrieve the history of the graduate Accounting program

    offered by the department of Accountancy and Actuarial Science at FEA/USP. To achieve this goal, the method involved

    not only a literature review, but also a historic survey of documents and interviews. The program was born from the

    will, need and perseverance of the faculty members at the department. We conclude that the program has reached a

    consolidated stage, with its faculty members as its main strength, and its endogenous growth asits main weakness.

    Keywords:PhD. Accountancy. Graduate Education.

    GRADUATE EDUCATION: THE DOCTORAL COURSE IN ACCOUNTANCY AT FEA/USP

    Recebido em 11.02.2008 Aceito em 26.06.2008 2 verso aceita em 04.08.2008

    EDGARD B. CORNACHIONE JR.Pesquisador/Instrutor Visitante do Department of Human Resource Education

    do College of Educationda University of Illinois at Urbana-Champaign (USA)eProfessor Associado do Departamento de Contabilidade e Aturia da Faculdade

    de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So PauloE-mail:[email protected]

    GILBERTO DE ANDRADE MARTINSProfessor Titular do Departamento de Contabilidade e Aturia da Faculdadede Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo

    E-mail:[email protected]

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    1 INTRODUO

    Ao serem analisados os dados da Coordenao deAperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes),instituio responsvel pelo acompanhamento e avalia-o dos Cursos de Ps-Graduao Stricto Sensu brasilei-

    ros, comprova-se o notvel crescimento desse segmentono Brasil. De 1976, ano em que teve incio o processode avaliao dos Cursos de Ps-Graduao pela Capes, a2004, os cursos recomendados passaram de um total de673, (desses, 183 doutorados) para 2.993 (sendo 1.034doutorados). O pas que, em 1987, contava com 7.914alunos matriculados nos cursos de doutorado passou, em2003, a contar com 40.213. O nmero de titulados (mes-trado e doutorado) saiu de 7.039 em 1990 para 35.724 em2003. Nesse mesmo perodo, o nmero de doutores subiude 1.302 para 8.094 (CAPES, 2004). Nos EUA, com umaps-graduao de propores gigantescas, so outorgadosmais de 38.000 novos ttulos ao ano (CHUBIN; ROBIN-

    SON, 1992, p. 334).O segmento pblico, no Brasil, responsvel pela ofer-

    ta de 82% dos cursos de mestrado e 90% dos de dou-torado. O segmento privado, tambm, cresceu muito naps-graduao, a exemplo do ocorrido na graduao. Em1996, era responsvel por 87 cursos de mestrado e 44 dedoutorado; em 2004, esse nmero passou para 346 e 96,respectivamente (CAPES, 2004).

    No entanto, segundo Guimares e Caruso (1996), a ca-pacitao docente no acompanhou o inegvel sucesso daps-graduao, principalmente quando analisada regional-mente; primeiramente, pela adoo do modelo seqencial

    no pas, com o mestrado constituindo-se em pr-requisitopara o doutorado, elevando o tempo mdio para titulao;segundo, pela competio do mercado no acadmico coma academia na disputa pelos egressos e, finalmente, emfuno da relativa perda de prestgio das profisses acad-micas com a exaltao do business(mercado corporativo).

    verdade que ainda existem muitas assimetrias esta-duais na oferta da ps-graduao. Dos 2.993 cursos exis-tentes em 2004, pode-se verificar que a regio Sudeste ab-sorve 1.765 (59%) cursos de ps-graduao, sendo 1.076mestrados e 689 doutorados; seguida pela regio Sulcom 561(19%), sendo 384 mestrados e 177 doutorados;pela regio Nordeste com 412 (14%), sendo 305 mestra-

    dos e 107 doutorados; pela regio Centro-Oeste com 168(5%), sendo 126 mestrados e 42 doutorados; e pela regioNorte com 87 (3%), sendo 68 mestrados e 19 doutorados(CAPES, 2006a).

    At meados da dcada de 1980, no entanto, acima de40% dos ttulos dos doutores brasileiros haviam sido ob-tidos em uma instituio estrangeira. Na segunda metadedos anos 1990, apenas 20% deles foram obtidos na mes-ma origem (VELLOSO, 2002, p. 39). A poltica expansio-nista, que deu prioridade formao de doutores, conse-guiu atingir seus objetivos e o pas aumentou sua taxa de

    doutores titulados a cada 100 mil habitantes: de 0,82 em1990 para 3,50 em 2001. Essa taxa de crescimento mdiode 14,23% ao ano foi maior do que a de pases como EUA,Frana, Alemanha, Reino Unido, Japo e Coria do Sul

    (MARCHELLI, 2005, p. 9). Muito provavelmente, o motivo que o projeto educacional desses pases j est consoli-dado e no em implantao como o brasileiro.

    Em decorrncia do aumento acentuado no nmero dedoutores, a pesquisa passou a ocupar um lugar de desta-que nas universidades brasileiras. Em 1990, das 131.641funes docentes em exerccio no ensino superior, apenas16.939 delas eram ocupadas por titulados com grau dedoutor (representando 12,8%). Em 1998, esse nmero su-biu para 31.073 doutores em 165.122 funes docentes,representando 19,8% (INEP). Nos primrdios de nossasinstituies universitrias (nos idos de 1920), a nica mis-so delegada a elas era a institucionalizao do ensino de

    terceiro grau. A primeira universidade brasileira, a Univer-sidade do Rio de Janeiro (1920), era apenas nominal, semintegrao acadmica, constando que foi criada somentepara conceder o ttulo honoris causaao rei Adolfo, da Blgi-ca (GRACELLI; CASTRO, 1985, p. 189). Com notvel exce-o da Universidade de So Paulo (USP) (1934), a pesquisasequer era tolerada nos primeiros tempos (GUIMARES,2002, p. 45). A USP foi criada pelo Decreto Estadual n.6.283 de 25/01/1934, assinado pelo ento interventor Ar-mando de Salles Oliveira, com a pretenso cultural e cien-tfica de ser a primeira universidade no pas digna dessenome, em que nada mais fosse feito, alm da cincia, e

    com a ambio de ajudar a reconquistar a liderana nacio-nal que o Estado de So Paulo havia perdido com a revolu-o de 1930 (SCHWARTZMAN, s.d., p. 1).

    Entretanto, o avano brasileiro nas titulaes e cursosde Ps-Graduao Stricto Sensumostra-se totalmente in-cipiente quando tratado sob a ptica da rea de CinciasContbeis. Apesar da elevao no nmero de cursos degraduao, de concluintes, abertura de vagas, inscriese ingressantes, a exemplo de todo o sistema em geral, osProgramas de Ps-Graduao Stricto Sensu em CinciasContbeis no acompanharam esse avano. Apenas paraservir como parmetro, em 1997, o Curso de Graduaoem Cincias Contbeis era o sexto em nmero de con-

    cluintes no pas (10.566, representando 3,9% do total).Em 1998, era o nono em nmero de inscries para acesso(91.843 ou 3,2% do total), o sexto em nmero de vagas(40.575 ou 5,2%) e o quinto em nmero de alunos matri-culados com 122.427 (INEP, 2000).

    Segundo dados da Capes1, existem 16 Programas dePs-Graduao cujas reas de concentrao so a Conta-bilidade, a Controladoria, a Controladoria e Contabilidadee as Cincias Contbeis. Trs deles tiveram seus proces-sos reconhecidos em 2007: Universidade Federal de MinasGerais (UFMG), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e

    1 Consulta realizada em 04 de julho de 2007.

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    Universidade Federal do Amazonas (UFAM) (em nvel pro-fissional). Dois deles, reconhecidos em 2003, mantm oMestrado Profissional: a Fundao Instituto Capixaba dePesquisas em Contabilidade, Economia e Finanas (Fuca-pe) e a Universidade Federal do Cear (UFC). Os outrosonze contam com o Mestrado Acadmico: Universidade

    de Braslia (UNB) com o Programa Multiinstitucional eInter-Regional UNB/UFPB/UFRN (Universidades Federaisda Paraba e Rio Grande do Norte, reconhecido em 2000),Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (reconheci-do em 1999), Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ) (homologado pelo Conselho Nacional de Educao- CNE em 2006), Universidade do Vale do Rio dos Sinos(Unisinos) (reconhecido em 2001), Universidade Regionalde Blumenau (Furb) (reconhecido em 2006), Pontifcia Uni-

    versidade Catlica de So Paulo (PUC/SP), UniversidadeFederal do Paran (UFPR) (reconhecido em 2006), Univer-sidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (reconhecido em2004), Universidade de So Paulo (USP), Universidade de

    So Paulo Ribeiro Preto (USP/RP), Centro Universitriolvares Penteado (Unifecap) (reconhecido em 2001). Vale

    ressaltar que, at 1999, eram apenas trs os cursos: UERJ,PUC/SP e USP.

    No mbito do Doutorado em Cincias Contbeis a USPmantm a hegemonia. A UNB, at 2007, estava com seuPrograma Multiinstitucional e Inter-Regional UNB/UFPB/UFRN reconhecido e homologado pelo CNE desde 2006,

    no entanto, no entrou em funcionamento. Apenas parafins de comparao, conforme Hasselback2 (2007), nosEUA so 91os programas de doutorado em Contabilidade,ativos, em escolas acreditadas pelaAssociation to AdvanceCollegiate Schools of Business (AACSB).

    Estabelecido um cenrio peculiar do sistema de ps-graduao na rea de Cincias Contbeis objetivo geraldeste estudo resgatar a histria do Programa de Ps-Gra-duao do Departamento de Contabilidade e Aturia daFEA/USP.

    Sob essa perspectiva, a presente pesquisa justifica-se,dada a importncia atribuda construo de uma plata-forma que resgata a histria do programa de doutorado em

    Cincias Contbeis pioneiro e ainda nico no pas.

    2 Disponvel no websitede James R. Hasselback . Acesso em: 03 fev. 2007.

    2 TRAJETRIA METODOLGICA

    A elaborao deste estudo, com abordagem histrica,envolveu, alm de pesquisa bibliogrfica, o levantamentohistrico de documentao e a realizao de entrevistas,para a construo de uma retrospectiva histrica da FEA,do Departamento de Contabilidade e Aturia e do Progra-ma de Ps-Graduao em Cincias Contbeis, particular-

    mente do Curso de Doutorado.2.1 Levantamento histrico e entrevistasPara proceder ao levantamento da histria da FEA/USP,

    do Departamento de Contabilidade e Aturia e do Progra-ma de Ps-Graduao em Cincias Contbeis, acreditava-se que o caminho seria a pesquisa bibliogrfica. Afinal, em2007, encontrava-se em andamento evento comemorativodos 60 anos da FEA/USP inclusive com um website dispo-sio com a histria da Faculdade e trabalho realizado pelaProfa. Diva Benevides Pinho, tambm em comemorao aosexagenrio. Alm disso, h o trabalho publicado pela Pro-fa. Alice Piffer Canabrava, em 1984, considerado marco nas

    comemoraes dos 35 anos da Faculdade, ocorridos h 25anos. No entanto, foi preciso muito mais. A retrospectivaexistente at ento era bastante genrica, resgatando parteda memria da FEA/USP e do Departamento de Contabili-dade e Aturia, mas muito pouco da histria do Programade Ps-Graduao em Cincias Contbeis. Assim, paraproceder a essa pesquisa histrica, foi preciso mais do queapenas a consulta a esse valioso material.

    Primeiramente, foi solicitado Secretaria de Ps-Gradua-o que disponibilizasse arquivos de defesas, pastas de pro-cessos de pedidos de implantao do mestrado, do doutorado

    e de suas alteraes sofridas ao longo dos anos. A consultaa esse material foi realizada e, para complementao, realiza-ram-se entrevistas com algumas pessoas que haviam vivido oprocesso e que fizeram parte da trajetria do programa.

    O instrumento de coleta de dados escolhido foi a en-trevista porque nela existe a oportunidade de observao

    do entrevistado e de maior flexibilidade na obteno dasinformaes, visto que entrevistador e entrevistado se en-contram face a face. a tcnica mais adequada para reve-lar informaes sobre assuntos considerados complexos,emocionalmente carregados ou, ainda, verificar sentimen-tos subjacentes a determinada opinio apresentada (SELL-

    TIZ et al., 1967, p. 272). mais utilizada em pesquisasqualitativas, pois permite explorao ilimitada dos tpicos(GALL; GALL; BORG, 2007, p. 229).

    As entrevistas foram realizadas no perodo de09/04/2007 a 13/04/2007, conduzidas pela prpria pes-quisadora e gravadas, com o consentimento dos entre-

    vistados. Foi elaborado um roteiro para sua conduo,

    no entanto, deixando espao para que o entrevistado sesentisse vontade nas suas colocaes. Foram entrevista-dos os Professores Srgio de Iudcibus (Professor Emritoda FEA/USP, chefe de departamento quando da propostade implantao do doutorado e no seu credenciamento)e Eliseu Martins (Professor titular da FEA/USP, ex-coorde-nador do programa de ps-graduao e um dos respon-sveis pela proposta do doutorado), expresses vivas damemria do programa; Masayuki Nakagawa (ex-coordena-dor do programa de ps-graduao e um dos dez primeirosdoutores titulados); Lzaro Plcido Lisboa, Diogo Toledo

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    do Nascimento e Fbio Frezatti (ex-coordenadores do pro-grama); Ariovaldo dos Santos (coordenador do programade recepo de professores de universidades pblicas pararealizao do mestrado) e Gilberto de Andrade Martins(atual coordenador do programa).

    Aps a construo dos textos a partir das entrevistas,enviou-se o material a cada entrevistado, para que pudessedar seu consentimento final para a publicao.

    3 PLATAFORMA HISTRICA

    3.1 Origem do doutoradoSegundo Clark (1992, p. 98), o Ph.D. Doctor of Phi-

    losophyamericano, no qual o modelo atual brasileiro seinspirou, tem suas razes nas universidades alems. Em1810, Johann Fichte (Universidade de Berlim) instituiu oDoctor of Philosophy e a dissertatio doctoralispassou aser produzida e examinada publicamente com nfase numapesquisa criativa e original. No sculo XIX, os Doctors ofPhilosophy multiplicaram-se. Mais recentemente, ocorreuo caminho inverso, com o modelo americano de ps-gra-

    duao inspirando iniciativas na organizao de escolasfrancesa, alem e holandesa (VELHO, 1998, p. 92).

    Park (2005, p. 191-192) confirma que foi na Alemanhaque o doutorado adquiriu umstatusespecial como grau depesquisa, devendo seu desenvolvimento, em grande par-te, iniciativa e viso de Humboldt. Foi ele o fundador daprimeira universidade de pesquisa moderna, a University ofBerlin, em 1810 (WYATT, 1998).

    O prmio pelo doutorado alemo exigia presena bem su-cedida em aulas, submisso de uma tese aceitvel e a passa-gem por um exame oral abrangente. A nfase era sobre umapesquisa criativa e original (GOODCHILD; MILLER, 1997).

    Entretanto, Engel (1966, p. 781) relata que a origemdas teses anterior ao seu uso na educao cientfica pordiversos sculos. Elas apareceram no Sculo XIII, quandoSaint Bonaventure conferiu a prtica de descrever e defen-der uma tese ou doutrina para a entrada de futuros colegasna Ordem Franciscana. As universidades medievais segui-ram esse guia e adotaram a prtica de gerao e defesa deteses, que mais tarde se tornou uma exigncia para a con-quista de um grau avanado (BOWEN, 2004, p. 4).

    Logo no incio, em torno de 1815, a credibilidade e vita-lidade acadmicas das universidades alems atraram estu-dantes brilhantes e ambiciosos, graduados na Inglaterra ena Amrica que no tinham oportunidades adequadas em

    seus pases de origem (SIMPSON, 1983; EIDMANN, 2002).Quando retornavam eram empregados por universidades einstituies de ensino superior (colleges), ajudando, assim,a elevar o perfil da pesquisa acadmica em seus pases deorigem, principalmente nas universidades norte-america-nas (SCHATTE, 1977).

    Clark (1992, p. 99-102) esclarece que, na Idade Mdia,obter o degreehabitava a mesma esfera de um ttulo de no-breza. Os estatutos estabeleciam que os candidatos estavamsujeitos: a linhagem legtima, condio de cristos, homem,idade certa e, como o conhecimento era considerado perigo-so, tambm deveriam se submeter a trs testes de coragem.

    O ttulo, portanto, era o grau com a mais alta dignidade. De

    1450 a 1550, seu prestgio declinou por duas razes: (1) em1450, o primeiro alemo acadmico retornou da Itlia comohumanista e ridicularizou o ttulo chamando-o de farsa. Re-

    jeitou-o e adotou o de Poeta em seu lugar; (2) doutoresem Teologia, Jurisprudncia e Medicina no necessitavam dettulos para existir e argumentavam que os privilgios dos

    verdadeiros doutores no deveriam se estender a outrosque no estivessem dentro dos trs campos estabelecidos. Eos privilgios no eram poucos. Incluam desde o direito deparar a construo de um prdio, sentar na presena de ma-

    gistrados, vestir a mesma roupa dos nobres e ter prefernciaao lado deles at o benefcio em caso da dvida em suspeitade crimes, no podendo ser torturados.

    Na universidade medieval chamavam-se mestres todosos licenciados que faziam parte da corporao dos profes-sores de todas as faculdades, com exceo da Faculdadede Direito, na qual os professores se intitulavam doutores.Aps o Renascimento o grau de Mestre tende a desaparecernas instituies europias (PARECER CESu/CFE 977/65).

    Na Inglaterra, o Doctor of Science entrou na Universi-ty of London entre 1857 e 1860, na Cambridge Universi-tyapenas em 1882 e a Oxford Universitys outorgou seu

    primeiro Doctor of Philosophyem 1917. A propagao doDoctor of Philosophyteve, como maior resultado, o desen-volvimento da pesquisa universitria.

    A partir de 1860, os EUA comearam a importar da Ale-manha as noes de pesquisa universitria e graus de dou-torado (PARK, 2005). A Universidade de Yalefoi a primeiraa adotar o grau de Ph.D., em 1861(PARK, 2005, p. 192;EIDMANN, 2002, p. 14; CLARK, 1992, p. 98). Foi seguidapelas Universidades de Harvard, Michigan e Pennsylvania(PARK, 2005, p. 192). O Ph.D. de Yale exigia que os es-tudantes terminassem cursos especializados, se alistassempor trs anos, demonstrassem proficincia em pelo menosuma lngua estrangeira, se submetessem a um exame abran-

    gente, apresentassem uma tese e fossem avaliados em umexame oral (BUCHANAN; HERUBEL, 1995). A expanso foirpida na Amrica do Norte, entre 1870 e 1900 e, no finaldo sculo XIX, o Ph.D. havia se tornado osine qua nondosprofessores universitrios americanos (SIMPSON, 1983).

    Tambm foi o desenvolvimento alemo que levou parao padro das teses de Ph.D. (ENGEL, 1966, p. 783) dirigi-das para produzir contribuies originais, permanecendo amarca do estudo doutoral. importante reconhecer que amaioria dos Ph.Ds. outorgados no sculo XIX, na Amrica,eram honorrios. Os graus eram conferidos por diversasrazes, como, por exemplo, anos de estudos acumulados,

    ao invs de ser por um estudo rigoroso e uma contribuio

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    original para a disciplina. Apenas aps a virada do scu-lo XIX que a prtica de outorgar os graus de doutoradocomo efetivamente conquistados tornou-se mais padroni-zada (STRICKER, 1973).

    Uma tese representa a pedra superior do doutora-mento. Seu trmino e a conseqente defesa e aceitao

    esto intimamente associados com a conferncia do graude doutor. Sua inteno representar as habilidades ad-quiridas e o conhecimento na aplicao de um projeto depesquisa apropriado, a percia do estudante em certa reade estudo e a sua contribuio original para o campo doconhecimento. Rigor apropriado deve ser demonstrado nodesenvolvimento da investigao cientfica, reviso da lite-ratura, aplicao de metodologia e anlise emprica apro-priadas, e defesa do seu projeto, anlise dos resultados eimplicaes sob exame detalhado de um comit de profis-sionais (BOWEN, 2004, p. 6).

    3.2 A Ps-Graduao no Brasil

    No Brasil, a gestao da ps-graduao durou pelomenos 30 anos. A primeira reforma educacional de car-ter nacional foi realizada no incio da era Vargas (1930-1945), autorizando e regulamentando as universidades eestabelecendo sua finalidade social. Foi instaurada peloprimeiro Ministro da Educao e Sade, Francisco Cam-pos (o Ministrio da Educao e Sade fora institudo em1930), por meio do Decreto 19.851/31. Essa reforma fi-cou conhecida como Reforma Francisco Campos e previa

    que, nos institutos de ensino superior, seriam realizadosos cursos normais, equiparados, de aperfeioamento, deespecializao, livres, de extenso e de doutorado, que sedestinavam a prolongar a atividade tcnica e cientfica dosinstitutos universitrios, em benefcio da coletividade. Asnormas para o doutoramento baseado no modelo europeu,

    principalmente o francs, ficam estabelecidas (GRACELLI;CASTRO, 1985, p. 189; SPAGNOLO; GNTHER, 1986, p.1644). Mesmo a reforma representando um avano, umareivindicao do movimento da dcada de 1920 no foiatendida: a no exclusividade pblica ao ensino superioralm de permitir o funcionamento de instituies isoladas(MARTINS, 2002, p. 5). Os primeiros cursos com o nomede Ps-Graduao s surgem no pas a partir de 1946 naUniversidade do Brasil (MARTINS; SERRA, 1998, p. 20).Mesmo assim, no havia o mestrado e o ttulo de doutorera ostentado por um nmero muito reduzido de pessoas(BEIGUELMAN, 1998, p. 33).

    Entretanto, a ps-graduao s foi regulamentada mais

    de 30 anos depois, pelo Parecer n. 977/65 do Conselhode Educao Superior (CESu), aprovado em 03/12/1965.Esse parecer definiu e fixou as caractersticas dos cursos demestrado e doutorado, traando o perfil da ps-graduaobrasileira e estruturando-a no modelo do sistema norte-americano, alm de distinguir a Ps-Graduao Lato Sensuda Stricto Sensu. O Quadro 1 , mostra as caractersticasdo sistema de Ps-Graduao norte-americano, inspiraopara a construo do modelo brasileiro.

    1. A ps-graduao constitui-se num sistema de cursos que procedem ao bacharelado, conferido pelo college;

    2. Confere os graus de Mestre (M. A. - Master of Artsou M. S. - Master of Science) e de Doutor (Ph.D, Philosophiae e Doctor);

    3. Mestrado e Doutorado representam dois nveis que se hierarquizam, entretanto, so autnomos;

    4. O doutorado em pesquisas, o Ph.D, o mais importante dos graus acadmicos conferidos pela universidade;

    5. Os doutorados profissionais tm como exemplo Doutorado em Engenharia, em Administrao;

    6. O Mestrado tanto pode ser de pesquisa quanto profissional;

    7. O Ph.D. no exige, necessariamente, o Mestrado;

    8. O Mestrado til como sinal de competncia profissional, para o magistrio secundrio e garantia de melhor remunerao;

    9. O Ph.D. o ttulo necessrio para o acesso na carreira de professor universitrio;

    10. Teoricamente, requer-se um ano para o Mestrado e dois anos para o Ph.D.;

    11. Exige-se frequncia regular aos cursos para a obteno dos crditos;

    12. Os critrios de admisso so tanto mais severos quanto mais alto for o padro da universidade;

    13. Para o Ph.D h exigncia da tese, para o M. A. pode ser dissertao, memria ou ensaio, ou apenas os exames prestados;

    14. O mtodo de instruo, por excelncia, o seminrio;

    15. A ps-graduao no se limita ao preparo da tese ou dissertao;

    16. O aluno est obrigado a uma srie de cursos com o intuito de proporcionar-lhe slida formao cientfica.

    Fonte: Parecer 977/65 CESu/CFE

    Quadro 1 Caractersticas do sistema de ps-graduao norte-americano

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    Nesse momento, encontravam-se em funcionamento,no pas, 27 cursos classificados no nvel de mestrado e 11de doutorado (FAPESP, 2001). O referido parecer destacaque a implantao de estudos de ps-graduao [...] condio bsica para transformar a universidade brasileiraem centro criador de cincias, artes e tecnologias.

    A Ps-GraduaoLato Sensu

    foi definida como repre-sentando todo e qualquer curso que se segue graduao.Normalmente cursos destinados ao treinamento, com ob-

    jetivo tcnico profissional especfico sem abranger o campototal do saber em que se situa a especialidade. Como meta,o domnio tcnico-cientfico de uma rea certa e limitadado saber ou da profisso, para a formao do profissionalespecializado. Como caractersticas fundamentais: (1) osentido eminentemente prtico-profissional e (2) concedercertificado (Parecer 977/65).

    A Ps-Graduao Stricto Sensu definiu o sistema decursos que se sobrepe graduao com objetivos maisamplos e aprofundados de formao cientfica ou cultural.

    Apresenta como caractersticas fundamentais: (1) a natu-reza acadmica e de pesquisa e mesmo atuando em se-tores profissionais tem objetivo essencialmente cientfico;(2) conferir grau acadmico e (3) possuir uma sistemticaformando estrato essencial e superior na hierarquia de cur-sos que constituem o complexo universitrio (PARECERCESu/CFE 977/65).

    A definio e as caractersticas do mestrado e doutorado,conforme texto do Parecer 977/65, compreendiam, dentre ou-tras coisas, a diviso do programa de estudos em duas fases: aprimeira, compreendendo a freqncia s aulas e culminandocom um exame geral para a verificao do aproveitamento; a

    segunda, dedicada investigao para a preparao da disser-tao ou tese; a eleio do crdito ou das unidades equivalen-tes como unidade de medida dos estudos exigidos; o total de360 a 450 horas de trabalhos escolares, aulas, seminrios ouatividades de laboratrios, por ano letivo.

    Em suas concluses, o Parecer 977/65 formulou as ca-ractersticas fundamentais dos cursos de ps-graduaocorrespondentes aos dois nveis: mestrado e doutorado,com durao mnima de 1(um) e 2 (dois) anos, respecti-

    vamente, hierarquizados, mas no se constituindo o pri-meiro em condio indispensvel inscrio no segundo.A exigncia para a matrcula em qualquer dos dois nveis o diploma do curso de graduao, cabendo s instituies

    estabelecer os requisitos para a seleo. Preparao de dis-sertao (mestrado) ou tese (doutorado) com a assistnciade orientador, cumprimento de disciplinas, exames parciaise gerais e provas de proficincia em lngua estrangeira. Aorientao para que a ps-graduao se faa em regimede tempo integral.

    Pode-se observar, pelas definies, pelo que pde servisto no Quadro 1e pela anlise do Parecer 977/65, que omodelo brasileiro reteve do sistema norte-americano algunsaspectos. Dentre eles: os dois nveis (mestrado e doutora-do), distino entre mestrado profissional e de pesquisa; asistemtica de crditos; durao varivel; exames de qua-

    lificao, domnio de lngua estrangeira; acompanhamento

    dos estudos e pesquisas por um orientador e exigncia dedissertao para o mestrado e tese para o doutorado.

    Durante as trs dcadas de intervalo entre a primeira re-forma educacional de carter nacional (1931) e a regulamen-tao da ps-graduao pelo Parecer 977/65, nos moldesdo modelo norte-americano, o ensino para graduados assu-

    miu a forma de cursos de aperfeioamento e especializao,conforme definido no art. 35 do Decreto 19.851/31, com osprimeiros destinados a ampliar conhecimentos, enquanto ossegundos estavam destinados a aprofundar os conhecimen-tos necessrios s finalidades profissionais ou cientficas.

    Tornam-se efetivas as normas de cursos de doutoramentodefinidas pelo Decreto 19.851/31 ainda seguindo a tradioeuropia. Registre-se, nesse intervalo, a criao da Faculdadede Filosofia, Cincias e Letras da Universidade de So Paulo,em 1934, e a vinda de vrios cientistas europeus implemen-tando o doutorado segundo o modelo das universidades eu-ropias, iniciando-se no Brasil a prtica da pesquisa no seioda universidade (GRACELLI; CASTRO, 1985, p. 189; SPAG-

    NOLO; GNTHER, 1986, p. 1644). A marca das atividadesde pesquisa comprova-se pelos registros dos candidatos aodoutorado, que, de um modo geral, haviam passado pelosprogramas de iniciao cientfica durante a graduao. A re-lao dos doutorandos com o professor-orientador obedeciaa um carter quase tutelar, sendo que o ttulo de doutor noconferia vantagens financeiras ou profissionais ao portador,apenas demonstrava prestgio e competncia em pesquisa.Em casos especiais e com a comprovao de trabalhos pu-blicados, era possvel defender tese sem a presena de umorientador (BEIGUELMAN, 1998, p. 34).

    Podem-se distinguir alguns fatores que concorreram

    para a implantao do sistema de ps-graduao e o de-senvolvimento cientfico e da pesquisa brasileiros nes-ses mais de 30 anos que transcorreram entre o Decreto19.851/31e o Parecer 977/65: (1) a criao, em 1948, daSociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC),catorze anos depois da fundao da Universidade de SoPaulo, como fruto de um movimento de afirmao do pen-samento cientfico, bastante motivado pela chegada aopas de grandes cientistas europeus. O fator decisivo paraa constituio da entidade foi a iniciativa intervencionistado ento Governador de So Paulo, Adhemar de Barros, detransformar um instituto de pesquisas - o Butant emuma instituio apenas produtora de soros antiofdicos.

    Para fazer frente a essa interferncia e a outros problemassemelhantes, os cientistas resolveram criar uma associa-o para defender os seus interesses e lutar pelo progressoda cincia (SPAGNOLO; GNTHER, 1986, p. 1644; SBPC,2006); (2) a criao da Coordenao de Aperfeioamentode Pessoal de Nvel Superior (Capes), com o objetivo deassegurar a existncia de pessoal especializado em quanti-dade e qualidade suficientes para atender s necessidadesdos empreendimentos pblicos e privados que visam aodesenvolvimento do pas e, tambm, do Conselho Nacio-nal de Pesquisas (CNPq), destinado ao fomento da pes-quisa cientfica e tecnolgica e formao de recursos

    humanos para a pesquisa no pas, ambos em 1951. Esses

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    rgos de fomento mantinham misses paralelas: a Capesvoltada a questes de ensino e o CNPq com preocupaesinerentes pesquisa (GRACELLI; CASTRO, 1985, p. 190;SPAGNOLO; GNTHER, 1986, p. 1644).

    A institucionalizao da ps-graduao veio com a Lei5.540/68 (Lei da Reforma Universitria), que definiu como

    seus objetivos: a) formar professores para o ensino supe-rior; b) preparar pessoal de alta qualificao para as empre-sas pblicas e particulares; c) estimular estudos e pesqui-sas cientficas por meio da formao de pesquisadores, queservissem ao desenvolvimento do pas.

    A partir da institucionalizao da referida lei, teve incioum perodo de acelerado crescimento no sistema de ps-graduao do pas, coincidente tambm com a aprovaodo Parecer n. 77/69 do Conselho Federal de Educao, es-tabelecendo as normas para credenciamento dos cursos dePs-GraduaoStrictoSensu, que deveriam obter a maioriados votos dos conselheiros e serem homologados pelo Mi-nistro da Educao. Exigia-se um alto padro dos cursos,

    com corpo docente altamente qualificado (com ttulo dedoutor), equipamentos, laboratrios, pesquisas e publica-es em livros ou revistas cientficas alm de serem realiza-das visitas in loco(PARECER CFE n. 77/69).

    O grande momento dessa expanso ocorreu entre 1969e a dcada de 1970, quando o prprio pas atravessou umagrande fase de expanso econmica, sobretudo no setor par-ticular, que, at o momento, no havia direcionado seus re-cursos para esse nvel de ensino. Em 1969, havia 135 cursosde ps-graduao que passaram para 462 em 1972, 764 em1976 e 974 em 1979 (GRACELLI; CASTRO, 1985, p. 191;SPAGNOLO; GNTHER, 1986, p. 1644; CURY, 2005, p. 16).

    Gracelli e Castro (1985, p. 199) concluem que, apesarde a ps-graduao ter comeado muito tarde, um sculodepois da norte-americana, seu ritmo de crescimento foio mais alto jamais experimentado por qualquer nvel deensino do Brasil at ento. Com o retorno dos primeirosmestres e doutores, que, inicialmente, passaram por umperodo de formao principalmente no exterior, comea-ram a ser criados os programas. Detectaram trs focos parao mpeto e velocidade na abertura dos cursos: (1) a institu-cionalizao da ps-graduao com a Lei 5.540/68 e pos-teriores medidas institucionais para o aprimoramento doquadro docente; (2) a expanso do ensino superior e (3) oincentivo financeiro fornecido pelas agncias de fomento.

    Atualmente, os docentes das universidades pblicascontinuam impostos a uma titulao ps-graduadastricto

    sensupara progresso na carreira, o mesmo ocorrendo emalgumas instituies de ensino superior particulares (porexemplo, Faculdades Novos Horizontes, Centro Universi-trio Newton Paiva, Faculdades Ibmec) e rgos pblicosou autarquias governamentais (Banco Central, Tribunal deContas do Estado de Minas Gerais, dentre outros). Tambm,o constrangimento legal das Diretrizes e Bases da Educa-o Nacional (LDB), Lei n. 9.394/96, que, em seu artigo 52,exige que uma instituio para pleitear as prerrogativas de

    universidade tenha produo intelectual institucionaliza-da, um tero do corpo docente, pelo menos, com mestradoe doutorado e um tero com tempo integral.

    A configurao atual da ps-graduao brasileira estdividida em ciclos, organizada sob uma moldura legal cen-tralizada, sujeita avaliao de pares sob o amparo de um

    rgo especfico do Estado e a um financiamento sistem-tico (FAPESP, 2001). Pode-se, no entanto, creditar ao Pa-recer 977/65 o ttulo de texto fundador da ps-graduaosistemtica no Brasil, sendo que, aps sua emisso, pareceno haver outro que articule doutrina e normatizao aomesmo tempo sobre o assunto e tenha provocado tantoimpacto nesse nvel de educao (CURY, 2005, p. 30).

    A Capes foi reconhecida como rgo responsvel pelaelaborao do Plano Nacional de Ps-Graduao Stricto

    Sensu, em 1981, por meio do Decreto n 86.791. Foi tam-bm reconhecida como Agncia Executiva do Ministrioda Educao e Cultura pelo sistema nacional de Cinciae Tecnologia, cabendo-lhe elaborar, avaliar, acompanhar e

    coordenar as atividades relativas ps-graduao, o ques fortalece seu papel (CAPES, 2006b).

    3.2.1 O sistema de avaliao dos programas Stricto Sensu3

    A Capes quem realiza a avaliao dos programas deps-graduao, desde sua implantao, ocorrida em 1976. Aavaliao da ps-graduao permite-lhe cumprir um papel defundamental importncia para o desenvolvimento da educa-o e da pesquisa cientfica e tecnolgica no Brasil. A avalia-o contribui para: (1) impulsionar a evoluo dos programasde ps-graduao, estabelecendo-lhes metas e desafios para

    o avano da cincia e tecnologia e aumento da competncianacional nesse campo; (2) aprimorar os programas de ps-graduao, fornecendo-lhes um parecer criterioso da comissode consultores sobre os pontos fracos e fortes de seu projetoe de seu desempenho e uma referncia sobre o estgio de de-senvolvimento em que se encontram; (3) estabelecer o padrode qualidade exigido dos cursos de mestrado e de doutorado,identificando os que atendem a tal padro; (4) fundamentaros pareceres do Conselho Nacional de Educao sobre auto-rizao, reconhecimento e renovao de reconhecimento doscursos de mestrado e doutorado brasileiros, exigidos para quepossam expedir diplomas com validade nacional reconhecidapelo Ministrio da Educao (MEC); (5) o aumento da efici-

    ncia dos programas para a formao de recursos humanosde alto nvel; (6) dotar o pas de um eficiente banco de dadossobre a situao e evoluo da ps-graduao e (7) oferecersubsdios para a definio da poltica de desenvolvimento daps-graduao e para a fundamentao de decises sobre asaes de fomento dos rgos governamentais na pesquisa eps-graduao. Uma oitava contribuio da avaliao manti-da pela Capes, na avaliao de Anuatti Neto (1997, p. 188),seria a introduo de um grau de competio entre os centrosde ps-graduao, ao condicionar a obteno de recursos aodesempenho na avaliao.

    3 Todas as informaes constantes desse item foram coletadas no site da Capes em: item avaliao. Acesso em: 30 ago. 2006c.

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    A avaliao da ps-graduao abrange tanto programasde ps-graduao j integrantes do Sistema Nacional dePs-Graduao (SNPG), por meio de uma avaliao trienalque define quais programas e cursos tero seu reconheci-mento renovado pelo MEC, vigorando a partir do trinioseguinte; quanto aos novos cursos de doutorado e mestra-

    do, utilizando os mesmos critrios e parmetros usados naavaliao trienal, sendo que os cursos aprovados passam aintegrar o SNPG. Os critrios de avaliao so explicitadospor reas de conhecimento e os quesitos avaliados so aproposta do programa, o corpo docente, as atividades depesquisa e formao, o corpo discente, as teses e disserta-es e a produo intelectual.

    Em 1998, foram promovidas significativas alteraesno sistema de avaliao. Dentre elas: (1) a adoo do pa-dro internacional como referncia de desempenho paracada rea; (2) a adoo de notas de 1a 7 em substituio escala anterior de cinco conceitos, de modo a permitiruma maior diferenciao entre os programas; (3) o esta-

    belecimento da nota 3 como padro mnimo de desempe-nho para validao nacional dos diplomas emitidos pelosprogramas de ps-graduao, sendo a atribuio de notasimposta a todos os cursos e (4) a avaliao feita por pro-grama e no mais por curso.

    O significado das notas atribudas o seguinte:I. notas 6 e 7: apenas para programas com oferta de

    doutorado com nvel de excelncia, desempenhoequivalente ao dos mais importantes centros inter-nacionais de ensino e pesquisa, alto nvel de inser-o internacional, grande capacidade de nucleaode novos grupos de pesquisa e ensino e cujo corpo

    docente desempenhe papel de liderana e represen-tatividade na respectiva comunidade;

    II. nota 5: alto nvel de desempenho, sendo o maiorconceito atribudo aos cursos que ofeream apenasmestrado;

    III. nota 4: bom desempenho;

    IV. nota 3: desempenho regular, padro mnimo dequalidade exigido;V. notas 1 e 2: desempenho fraco, abaixo do padro

    mnimo de qualidade exigido.

    3.2.2 Estatsticas e tendncias da Ps-Graduao Stricto Sensu

    Como se pode observar pelas Tabelas 1, 2 e 3, os resul-tados so indicadores diretos da evoluo do sistema deps-graduao ao longo do tempo, que, desde sua origem,est associada ao propsito de formao de pesquisadorese professores para a expanso do ensino superior.

    Na Tabela 1 , constata-se o crescimento de quase

    300% nos cursos de mestrado de 1976 a 2004 e de maisde 465% nos cursos de doutorado. Observe-se que a con-centrao maior de cursos de doutorado na rea pblica.Mesmo assim, o seu crescimento na rea privada foi demais de 100% num perodo de 8 anos (1996-2004).

    O nmero de alunos titulados, no perodo de 1987 a2003, apresenta um crescimento superior a 650% no mes-trado e a 830% no doutorado. Os nmeros para alunos ma-triculados e alunos novos tambm apresentaram aumentoexpressivo: mais de 145% no mestrado e quase 410% nodoutorado, para o primeiro e cerca de 275% para o mestradoe 535% para o doutorado no segundo (Tabela 2 ).

    Tabela 1 Evoluo do sistema de ps-graduao 1976 - 2004 cursos

    Nmero de cursos 1976 1990 1996 2004

    Mestrado 490 975 1.083 1.959

    Doutorado 183 510 541 1.034

    Doutorados

    Federal 230 568

    Estadual 267 370

    Particular 44 96

    Fonte: Capes, 2004

    Tabela 2 Evoluo do sistema de ps-graduao 1987 - 2003 alunos

    Alunos titulados 1987 1990 1996 2003

    Mestrado 3.647 5.737 10.499 27.630

    Doutorado 868 1.302 2.985 8.094

    Alunos matriculados

    Mestrado 29.281 37.789 45.622 72.001

    Doutorado 7.914 11.210 22.198 40.213

    Alunos novos

    Mestrado 9.440 13.014 16.457 35.305

    Doutorado 1.786 2.922 5.159 11.343

    Fonte: Capes, 2004

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    Tabela 3 Cenrios de crescimento da ps-graduao

    Doutorado 20032010

    Cenrio I Cenrio II Cenrio III

    Alunos titulados 8.094 16.918 15.280 13.818

    Alunos novos 11.343 25.739 20.679 16.754

    Alunos matriculados (final do ano) 40.213 70.336 63.218 56.801

    Mestrado

    Alunos titulados 27.630 56.956 50.910 45.667

    Alunos novos 35.305 65.496 62.156 59.065

    Alunos matriculados (final do ano) 72.001 106.837 104.465 102.191

    Docentes Doutores atuando na ps-graduao 32.354 52.974 49.020 45.432

    Fonte: Capes, 2004

    A tendncia a de que o crescimento continue. As pro-jees fazem parte do Plano Nacional de Ps-Graduao2005-2010 PNPG, que utilizou um modelo apoiado na

    varivel nmero de alunos titulados no doutorado. Essavarivel depende do nmero de alunos novos (ingressados3, 4 e 5 anos antes), do total de alunos matriculados no

    ano anterior e da evoluo das sries histricas. As proje-es foram realizadas baseadas em trs possveis cenrios:(I) considerando-se que o nmero de alunos novos con-tinuar crescendo, de forma exponencial, na mesma taxaobservada de 1987-2003; (II) considerando-se a mdiageomtrica das estimativas encontradas nos cenrios I eIII; (III) considerando-se que o nmero de alunos novoscontinuar crescendo, de forma linear, baseado no passadorecente, 1996-2003. A Tabela 3 permite uma visualiza-o dessas perspectivas.

    3.3 A Ps-Graduao em Cincias Contbeis na FEA/USP

    O tpico que se desenvolve, a seguir, foi baseado nasseguintes obras: (a) trabalho da Profa. Alice Piffer Canabra-

    va (1984), considerado marco na comemorao dos trintae cinco anos de existncia da Faculdade de Economia, Ad-ministrao e Contabilidade e no cinqentenrio da Uni-

    versidade de So Paulo; (b) trabalho da Profa. Diva Benevi-des Pinho (2006) A FEA-USP no tempo: contribuio memria de seus 60 anos; (c) folheto informativo sobre oPrograma de Ps-Graduao em Controladoria e Contabi-lidade (2002); (d) nos websitesda FEA/USP e edio come-morativa dos 60 anos da FEA (acesso em 17/04/2007); (e)na legislao pertinente; (f) em entrevistas realizadas, no

    perodo de 09/04/2007 a 13/04/2007, com os ProfessoresSrgio de Iudcibus (Professor Emrito da FEA/USP, chefede departamento quando da proposta de implantao dodoutorado e no seu credenciamento); Eliseu Martins (Pro-fessor titular da FEA/USP, ex-coordenador do programa deps-graduao e um dos responsveis pela proposta dodoutorado); Masayuki Nakagawa (ex-coordenador do pro-grama de ps-graduao e um dos dez primeiros doutorestitulados); Lzaro Plcido Lisboa, Diogo Toledo do Nasci-mento e Fbio Frezatti (ex-coordenadores do programa);Ariovaldo dos Santos (coordenador do programa de re-

    cepo de professores de universidades pblicas para rea-lizao do mestrado) e Gilberto de Andrade Martins (atualcoordenador do programa).

    A Faculdade de Economia, Administrao e Contabili-dade da Universidade de So Paulo foi criada em 1946, coma denominao de Faculdade de Cincias Econmicas e Ad-

    ministrativas (FCEA), no ano seguinte ao que foi criado ocurso de Cincias Contbeis e Atuariais em nvel superior,pelo Decreto-Lei n. 7988 de 22/09/1945. Estabelecida peloDecreto-Lei estadual n. 15.601de 26 de janeiro de 1946,instalou-se, como instituio da Universidade de So Pau-lo, nesse mesmo ano, na Rua Dr. Vila Nova. Inicialmente,manteve os cursos de Cincias Econmicas e de CinciasContbeis e Atuariais, com ingresso mediante exame ves-tibular e com vrias disciplinas em comum. O curso deAdministrao foi implementado apenas em 1964.

    Desde o incio da FEA, as cadeiras eram agrupadas emDepartamentos, inicialmente com um departamento comfuno administrativa (Departamento de Publicaes) e

    sete departamentos com funo docente Economia, Ad-ministrao, Contabilidade e Aturia, Matemtica, Estats-tica, Direito e Cincias Culturais. No entanto, na prtica,a estrutura era a de ctedras, conforme consolidado pelosdecretos estaduais de criao da USP e aprovao de seusprimeiros Estatutos, que eram preenchidas por concursode ttulos e provas. A estrutura departamental existia ape-nas do ponto de vista legal e regimental durante o perodode 1946-1969. Os Assistentes e Auxiliares de Ensino ocu-pavam funes de confiana dos catedrticos. Para o inciodo ano escolar de 1946, os catedrticos foram nomeadossem se submeterem a concursos e vrios professores foram

    contratados por trs anos, aps concurso de ttulos. Den-tre eles, para o Departamento de Contabilidade e CinciasAtuariais, o Prof. Attlio Amatuzzi, da Fundao Escola deComrcio lvares Penteado (hoje Fecap) para a Cadeira deContabilidade Geral e Pblica e, no segundo semestre, paraa Cadeira de Estrutura de Anlise de Balanos, foi contra-tado o Prof. Francisco Duria. O acesso s ctedras eraextremamente restrito e ela s mudava de titular em casosespeciais. Para a criao de novas ctedras era necessriopassar pelo crivo das j existentes. A ctedra se constituana base de poder sobre a poltica, o ensino, a pesquisa

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    universitria. Atravs de uma hierarquia muito bem defi-nida, ao professor catedrtico estava subordinado todo otrabalho acadmico (ALVES, 1984, p. 114).

    O dispndio financeiro com a manuteno da Faculda-de era enorme, comparativamente ao nmero de alunosque se formavam. A primeira turma a se formar no curso

    de Cincias Contbeis e Atuariais (no qual o fenmeno eramais sentido) tinha 5 alunos (1949). Entre 1949 e 1960, onmero de formandos girou entre 2 e 7 ao ano. A turma ti-tulada em 1961foi a primeira a superar esse nmero, con-tava com 10 formandos, dentre eles os professores Srgiode Iudcibus, Eric Dietrich Lemmermann e Edmundo boliBonini, que, posteriormente, integrariam o corpo docentedo Departamento de Contabilidade e Aturia. Nem mesmoa instituio do curso noturno, em 1950, melhorou a situ-ao. Imputam-se como causa as atribuies profissionaise competncia legal praticamente idnticas s do bacharelem Cincias Contbeis e Atuariais e do tcnico em Conta-bilidade, curso ministrado pelas Escolas de Comrcio. Essa

    situao perdurou enquanto os alunos fizeram opo pelocurso que pretendiam seguir aps a concluso do primeiroano. Os que optavam pelo curso de Cincias Contbeis eAtuariais eram sempre em nmero reduzido. A situaoatenuou-se mais recentemente, quando a opo passoua ser exigida no ato da inscrio ao processo vestibular e,mais ainda, quando se procedeu separao das carreirasde Economia, Administrao e Cincias Contbeis, aps aReforma Universitria de 1969.

    Em 12/05/1958, o Decreto n. 32.207, assinado peloento governador do Estado de So Paulo Jnio Quadros,disps sobre o doutoramento na Faculdade de Cincias

    Econmicas e Administrativas, estabelecendo que a FCEAda USP conferiria o ttulo de doutor aos que fossem apro-vados na defesa de uma tese de doutoramento perante umabanca de cinco professores indicados pela Congregao e,previamente, em duas disciplinas subsidirias. Os diplo-mas conferidos seriam: doutor em Cincias Econmicas,doutor em Cincias Contbeis e doutor em Cincias Atua-riais, devendo ser mencionada no diploma, em subttulo, adisciplina a que se referia a tese. Os candidatos, quando desua inscrio, indicariam o assunto de sua tese e poderiamescolher o orientador, que seria designado pela Congrega-o caso o candidato no o fizesse.

    Em 1964, a Faculdade passa por uma reformulao e

    o Curso de Cincias Contbeis e Atuariais separado emcursos distintos que outorgam ttulos profissionais tam-bm distintos: o Curso de Cincias Contbeis formandoContadores e o de Cincias Atuariais formando Aturios.Nos trs primeiros anos, as disciplinas eram comuns, dife-renciando-se totalmente no quarto ano. O curso de Atu-ria, no entanto, formou apenas 4 aturios at 1975, quan-do foi desativado, vindo a ser novamente implementadono ano de 2006.

    Em dezembro de 1969, com a reforma estatutria daUSP, na esteira da Reforma Universitria promovida pela Lei5.540/68, as cadeiras dos catedrticos so eliminadas e o

    Departamento torna-se a menor frao da universidade, no

    lugar delas. Naquela poca, o Departamento de Contabili-dade e Aturia tinha apenas o Prof. Antnio Peres RodriguesFilho, concursado em 1968, como Professor Catedrtico daCadeira VIII Organizao e Contabilidade Bancria; Or-ganizao e Contabilidade de Seguros, em substituio aoProf. Francisco Duria, que se aposentara. A figura mxi-

    ma da carreira universitria passa a ser o professor titular.Conforme Portaria GR n. 1.023 de 19/01/1970, passa afuncionar o modelo com os trs departamentos: Economia,Administrao e Contabilidade e Aturia. Neles ficaramdistribudas as disciplinas decorrentes das antigas Cte-dras e cada um dos departamentos ficou responsvel porum curso de graduao. Muitos dos vnculos entre os trsdepartamentos foram eliminados, apesar da manutenodas relaes de cooperao, desaparecendo o curso bsicoe o vestibular nico. Na Reforma, so criadas condies quepermitem a ascenso do docente na carreira to somentepelo seu mrito, de uma forma menos pessoal e mais ob-

    jetiva. Para tanto, deve ingressar em cursos de mestrado e

    doutorado. O grau de Professor Adjunto anterior ao deProfessor Titular e o ttulo de Livre-Docente continua comopr-requisito ascenso aos degraus superiores da carreirauniversitria. A denominao da Faculdade passa a Facul-dade de Economia e Administrao da USP. At a reformade 1969, o Departamento de Contabilidade teve como che-fes os Profs. Francisco Duria, Attilio Amatuzzi, MiltonImprota e Jos da Costa Boucinhas. Tambm, passam a serestruturados os cursos de Ps-Graduao da Faculdade emnvel de mestrado e doutorado.

    A reestruturao de 1969 trouxe em seu esteio o re-conhecimento do curso de Graduao em Contabilidade

    da FEA como o mais bem sucedido dentre os oferecidospela escola. No perodo de 1969 a 1979, era o curso queapresentava o maior retorno de investimento em educao,conforme pesquisa realizada pela Fundao Instituto dePesquisas Econmicas (Fipe), com os graduados obtendocolocaes rpidas no mercado e a demanda no vestibularcrescendo 20% ao ano. Em 1977, as 60 vagas eram dispu-tadas por 800 candidatos, 13,33 candidatos por vaga e, em1981, as 90 vagas foram disputadas por 2.000 candidatos,passando a 22,22 candidatos por vaga. Nesse momento,em que o pas passava por um rpido crescimento, o con-tador e o controllerpassaram a ser profisses valorizadasno mercado.

    Logo aps a reforma universitria, alguns fatos marcan-tes tiveram lugar na FEA: a criao, em abril de 1970, daComisso de Ps-Graduao da FEA - CPG, de acordo como disposto no artigo 7. da Portaria GR-885 de 25/08/1969,com membros dos trs departamentos e do corpo discente;a implantao do mestrado em Contabilidade no segundosemestre de 1970, j no novo formato preconizado pelo Pa-recer 977/65, autorizado em 30/09/1970 juntamente comos mestrados em Economia e Administrao; a alteraono sistema de doutoramento dos cursos de Economia eAdministrao, tambm para nova formatao; a mudanapara o campus da Cidade Universitria Armando de Salles

    Oliveira (Cuaso), em 1971.

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    16 Jacqueline Veneroso Alves da Cunha Edgard B. Cornachione Jr. Gilberto de Andrade Martins

    R. Cont. Fin. USP So Paulo v. 19 n. 48 p. 6 - 26 setembro/dezembro 2008

    O regulamento dos cursos de Ps-Graduao da FEA/USP, adaptado ao Parecer n. 977/65 do Conselho Fede-ral de Educao, foi aprovado pela Portaria n. 1.164 de29/04/1970, durante a reitoria de Miguel Reale logo aps acriao e implementao da Ps-Graduao pela Universi-dade de So Paulo, em 1969. Constituiram-se como pres-

    supostos e requisitos do regime, dentre outros, os seguin-tes: dois nveis de formao, mestrado e doutorado, como grau de mestre no se constituindo em requisito obriga-trio para obteno do ttulo de doutor e com a duraomnima de um e dois anos, respectivamente; escolha doorientador, pelo aluno, de uma relao de docentes organi-zada anualmente pela CPG, cabendo-lhe a incumbncia defixar o programa de estudos do candidato; desenvolvimen-to das atividades escolares expressas em unidades de cr-dito; elaborao de trabalho, ou dissertao, a critrio dodepartamento e da CPG, pelo candidato ao ttulo de mestree de tese com base em investigao original ao candidatoao grau de doutor, e submisso a uma comisso julgado-

    ra composta por trs e cinco membros, respectivamente;crditos obtidos em disciplinas com prazo mximo de trse quatro anos para o mestrado e doutorado, respectiva-mente; submisso comisso examinadora designada, aoexame geral de qualificao, aps trmino dos crditos cor-respondentes s disciplinas, constitudo de provas escritae oral; matrcula do candidato ao curso de ps-graduaodependente da apresentao de diploma de curso superior,exame do currculo escolar e da verificao de aptido pormeio de entrevista ou prova, a critrio do departamento,e prova de proficincia em uma lngua estrangeira para omestrado e duas para o doutorado. Foi assegurado, aos

    candidatos inscritos no doutoramento at 31/12/1969, odireito de concluir o processo de acordo com a legislaoanterior, no prazo de trs anos. Quando houve a reformauniversitria os que estavam inscritos tinham um prazopara entregar a tese e terminar o doutoramento at 31dedezembro de 1972. (Professor Eliseu Martins).

    O novo sistema de ps-graduao foi implantado noDepartamento de Contabilidade e Aturia em 1970, com amesma filosofia que ainda impera: formao de professorese pesquisadores e preparao de pessoal altamente quali-ficado para o exerccio profissional. Inicialmente, apenasem nvel de mestrado, contando com oito professores comttulo de doutor e mais cinco em processo de doutoramen-

    to. At ento, a ps-graduao no departamento existiaapenas em nvel de doutoramento, no chamado formatoantigo, sem uma poltica estabelecida pelos rgos gover-namentais, assim como em todo o pas: sem a existnciade cursos ou disciplinas oferecidas; sendo incumbncia doorientador aceitar o candidato, sugerir a aceitao da suainscrio e oferecer disciplinas da sua responsabilidade eindicando outras ctedras para as disciplinas subsidirias;sem classes ou aulas; com professores utilizando diferen-tes metodologias para diferentes candidatos. O ProfessorEliseu Martins relembra o processo do seu doutoramento:

    Voc tinha que se inscrever e a sua inscrio tinha

    que ser aceita pela Congregao da Universidade, era

    um processo totalmente individual. Voc chegava e di-zia: eu quero me inscrever para fazer o doutoramento.[...] A congregao poderia rejeitar o pedido de dou-toramento sem dar explicao, porque voc no tinhaperfil, no tinha comportamento, era muito pessoal,subjetivo, obviamente. Voc tambm tinha o problemade cercear alguns que poderiam ser desses profissio-nais que estudam, capazes, mas que no fundo, na salade aula no se sairiam bem. Mas, em compensao,podia brecar por causa de problemas pessoais ou po-deria dar um empurro para o lado e botar para dentroapadrinhados de alguns que tinham fortes poderes deconvencimento no colegiado. Ento, nem o sistemaantigo, nem o de hoje, so perfeitos. Os dois tm prse contras. Voc tinha que fazer um projeto, o que vocpretendia fazer, e ento indicava um orientador. Aceitoe nomeado o orientador, ele determinava as chamadasdisciplinas subsidirias. Eram aquelas que voc deveriafazer alm daquela ou daquelas que teria que fazer com

    o orientador. [...] Voc fazia as disciplinas com o seuorientador e fazia as disciplinas subsidirias, indicadaspor ele, desde que o professor aceitasse. Isso era feitopessoalmente e individualmente. No havia curso, ha-via tarefas. Por exemplo, eu fiz uma matria subsidiriade Valor e Formao de Preos, na rea da economia. Aprofessora me deu um livro, desse tamanho aqui (ges-to para demonstrar a espessura do livro) e falou assim:muito bem, hoje dia dez de abril tera-feira. Entodia dez de abril do ano que vem quarta-feira. Bem,ento nessa quarta-feira do ano que vem voc me pro-cura, primeiro com um resumo do livro, e da eu vou fa-

    zer um exame com voc. Durante esse perodo, se voctiver dvidas, voc me procura. Ela me deu trs biblio-grafias complementares e essa era a base que eu tinhapara fazer o resumo. Ento eu passei o ano fazendo,no me lembro de ter ido l perguntar alguma dvida,eu lembro de ter tido dvidas e ler os outros livros queela havia me dado. [...] No dia marcado eu fui, levei oresumo, e me lembro que ela no fez a prova no mesmodia. Ela decidiu primeiro ler meu resumo. Marcou outrodia e eu fui l fiz a prova, prova oral, passei um tempol, duas, trs horas, a ela me aprovou. E eu fiz outra, adisciplina Anlise de Balanos, da mesma forma, mascom exigncias totalmente diferentes. Ento, o dou-

    toramento era desse jeito, centrado praticamente natese. Voc tinha que fazer uma atividade direta com oprofessor, o que exigia um nvel de disciplina e auto-didatismo muito fortes. E no existia Qualificao, iadireto para a defesa.

    O processo de implantao do mestrado (pioneiro narea de Cincias Contbeis no Brasil) ocorreu no segundosemestre de 1970, aps discusso entre os professores seele, recm-criado pela Universidade de So Paulo, deveriaser implantado no Departamento de Contabilidade e Atu-ria de imediato, com todas as limitaes existentes ou

    apenas quando fossem atingidas condies equivalentes

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    PS-GRADUAO: O CURSO DE DOUTORADOEM CINCIAS CONTBEIS DA FEA/USP

    R. Cont. Fin. USP So Paulo v. 19 n. 48 p. 6 - 26 setembro/dezembro 2008

    s das melhores universidades do mundo. Na fala do Pro-fessor Eliseu Martins pode-se perceber como se desenvol-

    veu a discusso para implantao do mestrado:O Professor Boucinhas e o Professor Peres se digla-

    diaram para montar esse mestrado. O Professor Bou-cinhas era super perfeccionista, ento ele dizia: mes-trado tem que ser com professores em tempo integral,com origens diferentes, escolas diferentes e alunos emtempo integral. Se no for assim no mestrado. Elej queria partir para o timo que j era o modelo queexistia. O Professor Peres, altamente pragmtico, argu-mentava que se fosse assim nunca iria chegar a hora, ens tnhamos que ter o mestrado. A maioria ganhou efomos em frente, venceu a linha pragmtica.

    O primeiro mestre titulou-se em 1975, WlademiroStanderski. Em 1976, Antonio de Loureiro Gil, MasayukiNakagawa, Ceclia Akemi Kobata Chinen, Massanori Mo-nobe, Srgio Rodrigues Bio e Lzaro Plcido Lisboa. Em

    1977, Jos Rafael Guagliardi e Iran Siqueira Lima.No intervalo entre a criao do mestrado e a titula-

    o do primeiro mestre, especificamente no ano de 1974,foi criada oficialmente a Fundao Instituto de PesquisasContbeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), pelos profes-sores do Departamento de Contabilidade e Aturia, comorgo de apoio institucional a ele, tanto operacional quan-to financeiro. Instituda e constituda por escritura pbli-ca em 01/08/1974 lavrada no 22. Cartrio de So Pau-lo e registrada no 1 Ofcio de Ttulos e Documentos em12/08/1974. Nesse mesmo ano, foi instituda a FundaoInstituto de Pesquisas Econmicas (Fipe), no Departamen-

    to de Economia. A Fundao Instituto de Administrao(FIA) foi criada em 1980.Dentre os objetivos estatutrios da Fipecafi: promover

    cursos, simpsios, seminrios, conferncias e estudos vi-sando melhoria do ensino de Contabilidade; colaborarna organizao e implementao dos cursos de ps-gra-duao; implementar sistemas de bolsas apoiando a for-mao de professores e estudantes; promover a divulgaode conhecimentos contbeis, financeiros e atuariais. Suafinalidade maior, buscar manter os melhores talentos dedi-cados ao ensino e pesquisa no departamento, num cenrioem que a profisso, no entender do pblico, era conside-rada menos nobre que outras e a poltica salarial acadmi-

    ca carecia de atrativos. O Professor Lzaro Plcido Lisboaresume o papel desempenhado pela Fipecafi ao longo dosanos:

    A Fipecafi desempenhou um papel fundamental nahistria do Programa de Ps-Graduao desse Depar-tamento. Ningum ia a congresso algum, ningum sa-bia o que estava acontecendo no mundo. Se hoje vocperguntar aos professores do Departamento o que oprofessor fulano de tal pas est pesquisando, eles sa-bem. A Fundao proporciona a apresentao de tra-balhos nos Estados Unidos, Polnia, e outros lugaresdo mundo. Ento, h essa ligao, voc acompanha o

    que o outro est fazendo, at para avaliar. Hoje percebo

    que ns estamos na frente da Espanha, de Portugal eda Argentina, na nossa rea, e ter essa noo real-mente fundamental.

    A proposta de criao do doutorado em Contabilida-de s veio a acontecer em 1977, aps a consolidao do

    mestrado, com nove mestres diplomados pelo programa eo processo de credenciamento do curso de mestrado emandamento junto ao Conselho Federal de Educao (efe-tivado em 1978). Apenas como comparao, o primeiroprograma de doutorado em Contabilidade americano, datade 1938, na University of Illinois at Urbana Champaign(BEDFORD, 1997, p. 21). A proposta foi feita pelo entochefe de departamento, Prof. Srgio de Iudcibus, e pelo co-ordenador da ps-graduao, Prof. Eliseu Martins. No dia28/06/1977 foi encaminhada ao presidente da CPG, j de-

    vidamente aprovada pelo Conselho do Departamento em16/06/1977. A implantao foi autorizada pela Reitoria daUniversidade de So Paulo em 30/12/1977, iniciando-se no

    ano de 1978,no sem antes passar por um processo decomprovao de sua utilidade, conforme relata o ProfessorEliseu Martins:

    Quando foi feita a proposta para a criao do dou-toramento, que ns fizemos o processo que foi para areitoria, o prprio pr-reitor disse que no tinha comoaprovar, porque afinal de contas ps-graduao sonde existe possibilidade de fazer pesquisa, e Conta-bilidade: onde e o que tem para fazer de pesquisa? Ti-vemos que ouvir isso! Comeamos, o Professor Srgioe eu a procurar catlogos de universidades americanas,que eram as que ns tnhamos mais acesso. Juntamos

    um monte de catlogos de universidades de renome,que tinham o Ph.D. para mostrar. Foi um processo deconvencimento pessoal do pr-reitor de que se faziapesquisa sim em Contabilidade, no Brasil que no sefazia quase nada. Foi algo muito interessante, dentro daprpria Universidade de So Paulo o desconhecimentoda rea. A primeira investida no deu certo. O processos andou depois, demorou trs ou quatro vezes mais,porque tivemos que escrever para as universidades pe-dindo os prospectos, veio pelo correio. A ele aprovou.Isso foi a criao do doutorado.

    A primeira turma de doutores titulou-se em 1985: An-

    tonio de Loureiro Gil, Wlademiro Standerski e Natan Szus-ter. At o ano de 1987, titularam-se mais seis: em 1986,

    Jode da Silva Pimentel e, em 1987, Massanori Monobe,Jos Carlos Marion, Ceclia Akemi Kobata Chinen, primeiramulher a se titular como doutora em Contabilidade (ante-riormente havia sido a primeira mulher a se titular mestreem Contabilidade, em 1976), Masayuki Nakagawa e Mag-nus Amaral da Costa.

    O programa, sob a coordenao do Professor StephenCharles Kanitz e por sua iniciativa, passou a denominar-sePrograma de Ps-Graduao em Contabilidade e Controla-doria e s em 1990 passou a portar o nome de Programa de

    Ps-Graduao em Controladoria e Contabilidade, mesmo

  • 5/25/2018 P S-GRADUA O: O CURSO DE DOUTORADO EM CI NCIAS CONTBEIS DA FEA/USP

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    R. Cont. Fin. USP So Paulo v. 19 n. 48 p. 6 - 26 setembro/dezembro 2008

    ano em que a faculdade passou a se chamar Faculdade deEconomia, Administrao e Contabilidade. A mudana danomenclatura foi aprovada pelo Conselho de Ps-Gradu-ao da USP em sesso realizada em 31/05/1989. Atual-mente, denomina-se Programa de Ps-Graduao em Ci-ncias Contbeis. A rea de concentrao Controladoria

    e Contabilidade. o Professor Eliseu Martins quem d ajustificativa para a mudana de nomenclatura:O Stephen teve a idia, a coragem e a ousadia de

    propor a mudana do nome. Havia um trabalho que eletinha desenvolvido sobre o esteretipo do contador.Uma pesquisa sobre a imagem do contador. Sabemosque em marketingexistem histrias que se encontrams dezenas, de produtos que simplesmente mudam aembalagem, mudam o nome para voltar a vender, en-to ele dizia que tinha que fazer isso com a palavracontador. Tinha que mudar o nome e desaparecer comessa palavra contador que no tinha mais salvao.Ele propunha diversos nomes: engenheiro de contas,

    engenheiro contbil, ou que se inventasse outro. [...]Da ele, como coordenador do ps numa poca, mudouo nome de Mestrado em Contabilidade para Mestra-do em Contabilidade e Controladoria e, mais frente,Mestrado em Controladoria e Contabilidade. A maiorprova de que ele estava certo, acontecida muitos anosdepois, que ns tnhamos um curso de especializaoem Contabilidade e Finanas. Esse curso foi dado pelaUSP durante doze, treze, quatorze anos, curso de qua-trocentas e tantas horas. Como curso fechado foi umsucesso, como curso aberto foi uma lstima. At queento resolvemos mudar o nome para MBAController,

    a estourou. [...] Todos os produtos esto associadoss suas imagens, visuais, sonoras, de boca a boca. Nomudou a qualidade, no melhorou a qualidade, nomudou nada, s mudou a cara e o foco do produto, eento estourou.

    O ano de 1989 teve como marco a criao da RevistaContabilidade & Finanas pelo Departamento de Contabili-dade e Aturia, com o apoio da Fipecafi. Inicialmente, como nome de Caderno de Estudos, que perdurou at a ediode n. 24, no ano de 2000. At essa edio, esteve soba coordenao geral da Professora Jacira Tudora Carastan,passando, ento, ao Professor Lzaro Plcido Lisboa, que,

    em 2007, ainda a mantm.O pedido de credenciamento do doutorado ao Conse-

    lho Federal de Educao s aconteceu em 1990, j com 80mestres (dentre eles um equatoriano e um nigeriano) e 23doutores titulados e 12 anos de consolidao, juntamentecom a renovao de credenciamento do mestrado. O coor-denador do programa era o Professor Masayuki Nakagawae a chefia do departamento novamente do Professor Srgiode Iudcibus, que assinou e encaminhou o processo paraa Presidente da CPG, Profa. Dra. Ana Maria Bianchi, em19/11/1990. Em 10/12/1990, a solicitao de recreden-ciamento, em nvel de mestrado e do credenciamento em

    nvel de doutorado, foi encaminhada ao Prof. Dr. Fernando

    Affonso Gay da Fonseca, Presidente do Conselho Federalde Educao, pelo Reitor da Universidade de So Paulo,Roberto Leal Lobo e Silva Filho. O Professor Eliseu Martins

    justifica a demora na entrada do pedido de credenciamentodo doutorado:

    A universidade tinha, pela legislao da poca,uma autonomia completa. Ela no registrava no MECo mestrado, no registrava o doutorado, s implemen-tava e pronto. E a gente se preocupava apenas com aavaliao que a universidade fazia. Ento para que re-gistrar no MEC? Voc no tinha, no era obrigao, notinha avaliao do MEC e at um certo ponto, a Capesno existia. Ento a gente no se preocupava, no eraobrigatrio inclusive. A gente s foi se preocupar comisso depois quando comearam a criar as bolsas daCapes. A Capes comeou a exigir: s dou bolsa paraquem tiver credenciamento aqui. Foi a que ns noscredenciamos. Ns nos credenciamos nica e exclusi-vamente por interesse dos alunos, que precisavam de

    bolsa, seno, ningum teria se preocupado, na poca,em fazer credenciamento. Voc v quanto tempo fun-cionou sem ele.

    No ano de 1993, o departamento identificou que osaprovados para o programa de mestrado eram, essencial-mente, oriundos de So Paulo e que os professores dos cur-sos de Contabilidade das escolas pblicas no conseguiampassar no processo de seleo. Criou-se, ento, um cursode mestrado especial para esses professores de universida-des pblicas, denominado turma de estrangeiros. Esseprograma tinha como proposta criar a oportunidade para

    que esses professores participassem do curso de mestradoda FEA/USP. Para a implantao, foi criado um programaextra, semestral, denominado nivelamento, com o prop-sito de preparar esses professores para poderem cumprir oprograma de mestrado propriamente dito, em igualdade decondies com os demais mestrandos do Departamento deContabilidade e Aturia (EAC) e como uma substituio aoexame de ingresso no mestrado. Esse nivelamento era rigo-roso quanto a um aproveitamento mnimo para aprovaodo candidato e substituio ao processo de seleo normalde ingresso (teste Anpad, provas especficas e entrevista).O Professor Ariovaldo dos Santos comenta esse rigor:

    Eu sempre entendi que esse tipo de seleo era mui-

    to mais rigoroso do que o teste Anpad, porque muitomais desgastante. Voc vai fazer seu teste Anpad numdomingo, e se for reprovado e no falar com ningum,ningum fica sabendo. Se voc vier para c, do Piau, doMaranho, do Paran, ou qualquer outro Estado e pas-sar quatro meses dizendo que veio fazer um curso naUSP e depois voltar logo em seguida todos vo cobrar.Ento voc tem um grau de responsabilidade muitoforte. Mas, ns trouxemos essas pessoas, e ns fomos,com o tempo, aprendendo com o processo seletivo.

    O processo iniciava-se com o envio de um convite s

    universidades pblicas dos diversos Estados da Federao

  • 5/25/2018 P S-GRADUA O: O CURSO DE DOUTORADO EM CI NCIAS CONTBEIS DA FEA/USP

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    PS-GRADUAO: O CURSO DE DOUTORADOEM CINCIAS CONTBEIS DA FEA/USP

    R. Cont. Fin. USP So Paulo v. 19 n. 48 p. 6 - 26 setembro/dezembro 2008

    para que enviassem os currculos dos professores interes-sados em cursar o Mestrado em Controladoria e Contabi-lidade na FEA/USP. O processo de seleo baseava-se naavaliao desses currculos, mas, em princpio, optava-sepelos candidatos dos Estados que apresentassem apenasum concorrente. Na primeira turma, em 1993, os candida-

    tos vinham como alunos no registrados, sem a matrculana escola para o perodo de nivelamento. S se tornavamalunos regularmente matriculados aps o cumprimento eaprovao no nivelamento. Na segunda turma, para ga-rantir acesso bolsa de estudos, atendimento hospitalar,acesso ao restaurante, optou-se por matricular os candi-datos j para o nivelamento. No entanto, a regra conti-nuou a mesma, caso no fosse aprovado no nivelamento,estaria desligado do programa. As bolsas de estudo eramfornecidas parte pela Fipecafi e parte pelo Conselho Federalde Contabilidade (CFC). O Professor Ariovaldo dos Santosrelata:

    At a terceira turma, mesmo que existissem algu-

    mas pessoas um pouco mais fracas, ns no precisa-mos pedir para ningum voltar, ou seja, naquele pe-rodo de nivelamento todos foram aprovados, mesmoque um pudesse ter um problema de Contabilidade,um outro de ingls, outro de matemtica, avalivamostodas as provas, pois eles faziam provas de todas asdisciplinas. Fizemos uma avaliao geral e conclumos:d para levar esse aluno, quer dizer, com um poucode sacrifcio pessoal dele entendemos que ele poderiaconseguir levar o curso. Quando chegou na quarta tur-ma, ns j no tivemos o mesmo sucesso, e o que issosignificou? Significou o seguinte: da turma que veio

    para c, ns matriculamos na escola como aluno ofi-cial, com carteirinha, pagando bolsa, tudo normal, maschegou em junho, constatamos que alguns dos alunoseram muito fracos, e tivemos que fazer com que quatrodeles voltassem; os quatro voltaram, os quatro enten-deram, e um deles falou: no vou mesmo ter condiode acompanhar, e eles reconheciam e iam embora.

    Esse programa teve pleno xito, nas cinco turmas quese iniciaram em 1993, 1997, 1999, 2002 e 2004, conformepode ser comprovado pelo percentual de aproveitamentodos que ingressaram no mestrado e obtiveram o ttulo etambm em virtude daqueles que cursaram, ou esto cur-

    sando, o doutorado, conforme constante na Tabela 4 .

    Tabela 4 Turmas de mestrado dos professores de escolas pblicas 1993 - 2004

    Turma Incio Inscritos Titulados %

    1 1993 11 10 91

    2 1997 17 15 88

    3 1999 19 17 89

    4 2002 19 13 68

    5 2004 15 9 60

    Total 81 64 79

    Fonte: Coordenao do programa

    No entanto, na quinta turma o mesmo problema ocor-rido com a quarta turma repetiu-se. Um dos alunos rebe-lou-se contra a deciso e, por meio de um advogado, fezuma representao reitoria da universidade. O ProfessorAriovaldo dos Santos relata o ocorrido:

    A Reitoria nunca contestou o nosso processo se-letivo, mas contestou nosso processo de dispensa,quando reprovamos uma aluna do Maranho, juntocom mais outros trs de outros Estados. Desligamosesses quatro alunos do Programa, mas a aluna do Ma-ranho entrou com recurso junto Reitoria, que res-pondeu o seguinte: no regimento da Universidade noexiste a previso de dispensa do aluno dessa forma. Tem

    porque o aluno abandonou, porque no fez matrcula,

    porque o tempo dele estourou, porque ele foi reprovado

    trs vezes na mesma disciplina, mas no era o caso. Elano tinha sido reprovada em nenhuma disciplina, por-que ela sequer estava matriculada em alguma disciplinado programa oficial do ps; ela recebeu uma matrcula

    pro forma,para poder fazer o curso de nivelamento, enesse tempo receber a bolsa, a carteirinha e os benef-cios de quem aluno regular da escola. Isso significa,ela no aceitou a reprovao. Por que ela no aceitou areprovao e o que aconteceu? Obviamente, tudo issocriou um mal estar. [...] Na carta que ela recebeu que a carta de seleo, de convite, para que ela submetesseo currculo estava muito claro, estava l escrito se vocno for aprovado voc volta, estava escrito. Mas ela fa-lou: isso no estava escrito, eu no entendi desse jeito,no me falaram, eu no li a carta, esse tipo de coisa.Bom, ento ela ganhou. Ganhou e veio fazer o curso, e

    obviamente foi fazer as disciplinas obrigatrias que nsachvamos que ela teria problemas, e ela foi reprovada.Infelizmente, a reprovao no foi s dela, todo esseprocesso acabou reprovando tambm um programaque apresentou resultados nunca antes alcanados. Eassim no tivemos outra alternativa a no ser a de ex-tinguir um programa que trazia para c professores deuniversidades pblicas de todo pas.

    Assim, desde 2004, no foram mais formadas turmasde estrangeiros no Departamento de Contabilidade e Atu-ria da FEA/USP. A primeira turma foi coordenada pelo Prof.Dr. Masayuki Nakagawa, as outras quatro, pelo Prof. Dr.

    Ariovaldo dos Santos.

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    20 Jacqueline Veneroso Alves da Cunha Edgard B. Cornachione Jr. Gilberto de Andrade Martins

    R. Cont. Fin. USP So Paulo v. 19 n. 48 p. 6 - 26 setembro/dezembro 2008

    No segundo semestre de 1999, iniciou-se um mestra-do interinstitucional fruto de convnio entre a Universida-de de So Paulo, aps anuncia da FEA, e as UniversidadesFederais do Cear, Paraba e Pernambuco. Iniciaram o curso14 alunos, dos 26 candidatos que se apresentaram para oexame de seleo. Os candidatos eram, em sua maioria,

    professores das trs universidades participantes do con-vnio, e por elas indicados. O processo formal de seleoenvolveu aprovao no teste da Associao Nacional dePs-Graduao e Pesquisa em Administrao (Anpad),provas de conhecimentos especficos (Contabilidade Socie-tria e Teoria da Contabilidade), anlise curricular e entre-

    vistas realizadas pelos professores doutores Diogo Toledodo Nascimento, coordenador do Programa de Ps-Gradu-ao poca, e Lzaro Plcido Lisboa. O curso desenvol-

    veu-se totalmente na forma presencial, nas dependnciasda Universidade do Cear, ao longo de trinta meses (commais seis meses de prorrogao aprovados pela Reitoria daUniversidade de So Paulo) e titulou doze mestres. Aps

    a experincia, concluiu-se que, na poca, a estrutura doPrograma de Ps do EAC no comportava projetos daquelaordem (Professor Diogo Toledo do Nascimento).

    Esse projeto de parcerias ampliou-se e, em 13/03/2000,foi fechado um convnio entre o CFC e a Fipecafi, com a in-tervenincia e anuncia da FEA/USP, por intermdio do De-partamento de Contabilidade e Aturia4, para a realizaode cinco turmas de Mestrado em Controladoria e Contabi-lidade, em cinco Estados da Federao, em atendimento ademandantes por programas de mestrado ministrados par-te a distncia: Cear, Minas Gerais, Santa Catarina, MatoGrosso e Par. Dentre os objetivos especficos do convnio:

    formar docentes capacitados a difundir conhecimentosatravs de reflexo e anlise crtica renovadas; formar pes-quisadores de alto nvel; aprimorar o corpo docente e a qua-lidade das pesquisas e dissertaes, atravs de intercmbioacadmico com outras instituies de reconhecida experi-ncia na rea contbil; propiciar condies aos egressos dese candidatarem a programas de doutorado dentro e fora

    4 Baseado em Jacomini (2003), na experincia vivenciada pela autora, participante da turma do Estado de Minas Gerais e no documento formal do Convnio para desenvolvi-

    mento de Programa de Mestrado em Controladoria e Contabilidade, fechado entre as partes.

    do pas. A gesto do convnio foi exercida por um comitformado por dois representantes da Fipecafi e dois do CFC.Foram identificadas e selecionadas pelos representantes doCFC, em cada Estado, instituies de ensino superior quepudessem servir como centros de apoio administrativo epedaggico, recebendo os alunos. Tambm coube ao CFC

    o apoio para a implantao dos recursos inerentes s aulaspor videoconferncia. As normas e exigncias relativas qualidade do curso foram as mesmas estabelecidas para oPrograma de Mestrado tradicional, regularmente oferecidopelo Departamento de Contabilidade e Aturia da FEA/USP,e o corpo docente formado exclusivamente por professorescredenciados no programa tradicional. A seleo dos alu-nos para essas turmas coube aos representantes do CFC.

    O convnio destinou-se, exclusivamente, a contado-res com registro no Conselho Regional de Contabilidadede sua jurisdio e em pleno gozo de suas prerrogativas.O critrio adotado para o processo de seleo, 25 ingres-santes em cada Estado, foi anlise curricular e entrevistas.

    Da mesma forma que no mestrado de professores de ins-tituies pblicas, a primeira etapa do mestrado consistiuem um programa de nivelamento realizado durante quatromeses, tambm em substituio ao processo de seleotradicional. Os candidatos selecionados foram inscritosno programa como alunos especiais, tanto no estgio donivelamento como no curso, e assim permaneceram ato momento do exame de qualificao, quando passaram condio de alunos regulares. Foram dez as disciplinasoferecidas e cursadas pelos alunos durante o curso, par-te presencial e parte a distncia. Alm de integralizar 80crditos, obter proficincia em ingls, passar pelo exame

    de qualificao e apresentar dissertao, o programa exi-gia dos alunos um estgio presencial no Departamento deContabilidade e Aturia na Cidade Universitria, sede daUSP em So Paulo de, no mnimo, 45 dias, para finaliza-o das dissertaes. O convnio vigorou pelo prazo de 4anos. As estatsticas referentes a essas cinco turmas estona Tabela 5 .

    Tabela 5 Convnio CFC x Fipecafi - FEA/USP

    Estado CE MG SC MT PA Total

    Incio 2000/1 2000/1 2000/2 2000/2 2001/1

    Instituio de apoio UNIFOR* UNA** UNIVALE*** UNIRONDON**** UNAMA*****

    Ingressantes no nivelamento 25 25 25 25 25 125

    Ingressantes no mestrado 23 24 21 24 20 112

    Entregaram dissertao para

    qualificao22 14 16 14 13 79

    Entregaram dissertao para defesa 21 14 16 14 12 77

    Total de mestres 20 14 16 14 11 75

    *Fundao Edson Queiroz; **Unio de Negcios e Administrao; ***Universidade Vale do Itaja;

    ****Faculdades Integradas Cndido Rondon; *****Universidade da Amaznia

    Fonte: Fipecafi, 2007

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    Com o objetivo de se constituir num espao de apre-sentao e discusso de trabalhos, o Departamento deContabilidade e Aturia e a Fipecafi lanam, em 2001, o1. Seminrio USP de Controladoria e Contabilidade, soba coordenao geral do Prof. Dr. Gilberto de Andrade Mar-tins, que tambm foi seu idealizador. No ano de 2003, ele-

    vou-se aostatus

    de Congresso e passou a contar com umevento especfico para alunos de graduao, o CongressoUSP de Iniciao Cientfica. Em 2007, os eventos esto emsua 7 e 4 edies, respectivamente, sob a coordenaogeral do Prof. Dr. Welington Rocha.

    O programa tem construdo seu desenvolvimento, ape-sar de todas as dificuldades. No ltimo relatrio de avalia-o do Programa de Ps-Graduao em Cincias Cont-beis, relativo ao trinio de avaliao 2001/2003 divulgadoem setembro de 2004, a Capes considerou a proposta doprograma adequada, merecendo avaliao global muitoboa e conceito 5.

    Este Programa possui o nico Doutorado em Con-

    tabilidade e Controladoria do pas e evoluiu significati-vamente nos principais quesitos da avaliao ao longodo trinio, com destaque para a produo intelectual,teses e dissertaes e corpo discente. Cabe destacartambm que, relativamente avaliao do trinio an-terior, quando seu conceito foi reduzido de 4 para 3,houve melhora em todos os quesitos da avaliao, ten-do atingido um nvel de desempenho compatvel como conceito 5 da rea bsica de Cincias Contbeis (Jus-tificativa da comisso responsvel pela avaliao).

    Nos quesitos corpo discente, teses e dissertaes e

    produo intelectual, a melhora foi considerada forte. Al-guns problemas foram identificados: a falta de bolsistas re-cm-doutores, a presena de um nico professor visitante(em 2002), a distribuio dos projetos entre as linhas depesquisa, o nmero elevado de desligamentos no mestradoao longo do trinio e no doutorado em 2003, a participa-o dos discentes nos projetos de pesquisa do programafoi considerada muito boa, no entanto, no se refletiu demaneira sistemtica em produo discente, colocando emdvida a qualidade dessa participao. A nica recomen-dao feita pela comisso foi quanto melhoria na distri-buio da produo cientfica entre os docentes do NRD65,principalmente em peridicos.

    As avaliaes da Capes so vistas como positivas den-tro do Departamento de Contabilidade e Aturia. O Profes-sor Eliseu Martins um dos defensores:

    Eu sempre fui muito favorvel avaliao. Todosns somos avaliados e avaliamos regularmente. O que importante voc se instrumentalizar e formar meca-nismos de instituio e mecanismos de avaliao. Uminstrumento de avaliao bem dirigido fantstico,mal dirigido uma lstima. E o saldo da existncia daCapes, no que diz respeito aos programas de maneira

    5 Ncleo de Referncia Docente (NRD) frao do corpo docente que assegura caracterizao institucional e continuidade s atividades do programa. A maior referncia o

    NRD6.

    geral, no s na nossa rea, bom e acho que ns sestamos aqui conversando por causa disso.

    Mas tambm foram observados pontos negativos ne-las. Conforme relatos dos Professores Srgio de Iudcibus eEliseu Martins, respectivamente:

    As poucas referncias negativas com relao aos cri-trios da Capes referem-se, talvez, falta de consideraode algumas peculiaridades dos contadores, dos cursos decontbeis e dos professores da rea contbil. Eles insistem(a Capes) muito em um mundo ideal de uma universida-de norte-americana em que professores e alunos so detempo integral e em que professores ganham, em mdia,doze mil dlares por ms. Est muito longe da nossa reali-dade. Mas, tambm, eu no sei se esta imposio de algoque para ns ainda uma utopia, no fundo no faz comque tentemos melhorar a qualidade. Porque muito fcil agente se acomodar, fazer um pacto de no qualidade entrealunos e professores. Uma boa faculdade, de nvel inter-

    nacional, precisaria ter a maior parte dos alunos e de seusprofessores em tempo integral. Esses ltimos podendo vi-ver de seus salrios, sem precisar, mesmo que amparadospela legislao, se desviarem, dando aulas adicionaisem cursos vrios, para poder complementar suas remu-neraes, no sobrando tempo para realizar pesquisas eescrever artigos de qualidade internacional.

    O que acontece que a Capes trabalha com uminstrumental quantitativo. E isso sempre problem-tico. Ento eu reconheo que ela pode, s vezes, estarfalhando, mas acho que poderamos estar no meio de

    uma baguna sem a Capes. E teria muita gente se apro-veitando disso por a.

    No entanto, o departamento sabe reconhecer que exis-tem muitos pontos fracos no programa, como tambmpontos fortes. Dentre os pontos fracos identificados pe-los entrevistados: a endogenia (atribuda existncia deapenas um programa de doutorado em Contabilidade);o envelhecimento do departamento sem perspectiva desubstituio; a acomodao (tambm atribuda ao nicodoutorado); a dificuldade de unidade e de articulao entreos professores, significando um conjunto de professoresconversando mais sobre o programa, sabendo para aonde

    vai; o resqucio das ctedras com professores donos dasdisciplinas; o conservadorismo que provoca estagnao eletargia, falta de uma instituio ou ao que cuide da qua-lidade da produo (da qualidade das dissertaes e tesesproduzidas); a ansiedade por pontos na Capes; o forma-to do processo de admisso, considerado com uma dosede subjetivismo muito grande na escolha dos candidatos.Como pontos fortes: a lealdade e comprometimento dosdocentes ao departamento; o preparo e nvel de atualiza-o dos docentes; o fato de ser desenvolvido em uma uni-

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